s u m Á r i o ficha técnica - ordemdosmedicos.pt · – a opinião de um médico de família ......

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Substituição de medica- mentos Porquê esta ânsia de substituir as receitas? 20 Comunicado: Ordem solicita inquérito sobre insinuações do presidente da ANF 21 Substituição de medica- mentos nas farmácias – a opinião de um Médico de Família por Luís Filipe Gomes 22 O direito de opção e o dever de informar por Rosalvo Almeida 23 Substituir a confiança e lucrar com a crise por H. Luz Rodrigues 26 A substituição de medica- mentos nas farmácias: uma proposta grave e inaceitável por Gentil Martins 28 Trocar de receita por H. Carmona da Mota 30 Substituição de medicamentos contendo o mesmo fármaco por C.A. Fontes Ribeiro 32 Fundamentação científica e ética da legislação sobre a prescrição medicamentosa por Fernando Martins do Vale Admissão por consenso na Competência em Patologia Experimental 35 Faculdade de Medicina do Algarve 37 Médicos para o Canadá – Informação 38 Carta Aberta à Ministra da Saúde OM distingue médicos por mérito 46 Medalha de Mérito da Ordem dos Médicos Vamos às carreiras – V e VI por Carlos Costa Almeida 52 Porquê, a guerra? por E. Brasão Costa 54 A DÚVIDA!?... Sobre a qualidade de Democracia na Ordem dos Médicos, uma perspectiva de Ciência Política por J. Margalho Carrilho INQUÉRIT INQUÉRIT INQUÉRIT INQUÉRIT INQUÉRITO 06 ACTUALIDADE ACTUALIDADE ACTUALIDADE ACTUALIDADE ACTUALIDADE 40 DOSSIER PRESCRIÇÃO DOSSIER PRESCRIÇÃO DOSSIER PRESCRIÇÃO DOSSIER PRESCRIÇÃO DOSSIER PRESCRIÇÃO 08 EDIT EDIT EDIT EDIT EDITORIAL ORIAL ORIAL ORIAL ORIAL 04 S U M Á R I O Ano 25 – N.º 99 – Março 2009 PROPRIEDADE: Centro Editor Livreiro da Ordem dos Médicos, Sociedade Unipessoal, Lda. SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 151 1749-084 Lisboa Tel.: 218 427 100 Redacção, Produção e Serviços de Publicidade: Av. Almirante Gago Coutinho, 151 1749-084 Lisboa E-mail: [email protected] Tel.: 218 437 750 – Fax: 218 437 751 Director: Pedro Nunes Directores-Adjuntos: José Manuel Silva Isabel Caixeiro Directora Executiva: Paula Fortunato E-mail: [email protected] Redactores Principais: José Ávila Costa, João de Deus e Paula Fortunato Secretariado: Miguel Reis Dep. Comercial: Helena Pereira Dep. Financeiro: Maria João Pacheco Dep. Gráfico: CELOM Impressão: SOGAPAL, Sociedade Gráfica da Paiã, S.A. Av.ª dos Cavaleiros 35-35A – Carnaxide Depósito Legal: 7421/85 Preço Avulso: 1,60 Euros Periodicidade: Mensal Tiragem: 39.000 exemplares (11 números anuais) Isento de registo no ICS nos termos do nº 1, alínea a do artigo 12 do Decreto Regulamentar nº 8/99 Nota da redacção: Os artigos de opinião e outros artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores, não representando qualquer tomada de posição por parte da Revista da Ordem dos Médicos. Médicos Ordem dos Ficha Técnica Ficha Técnica OPINIÃO OPINIÃO OPINIÃO OPINIÃO OPINIÃO 48 REVISTA INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO 34

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Page 1: S U M Á R I O Ficha Técnica - ordemdosmedicos.pt · – a opinião de um Médico de Família ... 30 Substituição de medicamentos contendo ... S U M Á R I O Ano 25 – N.º 99

Substituição de medica-mentos

Porquê esta ânsiade substituir as receitas?

20 Comunicado: Ordemsolicita inquérito sobreinsinuações do presidenteda ANF

21 Substituição de medica-mentos nas farmácias– a opinião de um Médicode Famíliapor Luís Filipe Gomes

22 O direito de opçãoe o dever de informarpor Rosalvo Almeida

23 Substituir a confiançae lucrar com a crisepor H. Luz Rodrigues

26 A substituição de medica-mentos nas farmácias:uma proposta gravee inaceitávelpor Gentil Martins

28 Trocar de receitapor H. Carmona da Mota

30 Substituição demedicamentos contendoo mesmo fármacopor C.A. Fontes Ribeiro

32 Fundamentação científicae ética da legislação sobrea prescriçãomedicamentosapor Fernando Martins do Vale

Admissão por consenso naCompetência em PatologiaExperimental

35 Faculdade de Medicinado Algarve

37 Médicos para o Canadá– Informação

38 Carta Aberta à Ministrada Saúde

OM distingue médicospor mérito

46 Medalha de Méritoda Ordem dos Médicos

Vamos às carreiras – V e VIpor Carlos Costa Almeida

52 Porquê, a guerra?por E. Brasão Costa

54 A DÚVIDA!?...Sobre a qualidade deDemocracia na Ordem dosMédicos, uma perspectivade Ciência Políticapor J. Margalho Carrilho

INQUÉRITINQUÉRITINQUÉRITINQUÉRITINQUÉRITOOOOO06

ACTUALIDADEACTUALIDADEACTUALIDADEACTUALIDADEACTUALIDADE40

DOSSIER PRESCRIÇÃODOSSIER PRESCRIÇÃODOSSIER PRESCRIÇÃODOSSIER PRESCRIÇÃODOSSIER PRESCRIÇÃO08

EDITEDITEDITEDITEDITORIALORIALORIALORIALORIAL04

S U M Á R I O

Ano 25 – N.º 99 – Março 2009

PROPRIEDADE:

Centro Editor Livreiro da Ordemdos Médicos, Sociedade Unipessoal, Lda.

SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 1511749-084 Lisboa • Tel.: 218 427 100

Redacção, Produçãoe Serviços de Publicidade:

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E-mail: [email protected].: 218 437 750 – Fax: 218 437 751

Director:Pedro Nunes

Directores-Adjuntos:José Manuel SilvaIsabel Caixeiro

Directora Executiva:Paula Fortunato

E-mail: [email protected]

Redactores Principais:José Ávila Costa,

João de Deus e Paula Fortunato

Secretariado:Miguel Reis

Dep. Comercial:Helena Pereira

Dep. Financeiro:Maria João Pacheco

Dep. Gráfico:CELOM

Impressão: SOGAPAL, Sociedade Gráfica da Paiã, S. A.Av.ª dos Cavaleiros 35-35A – Carnaxide

Depósito Legal: 7421/85Preço Avulso: 1,60 Euros

Periodicidade: MensalTiragem: 39.000 exemplares

(11 números anuais)Isento de registo no ICS nos termos do nº 1, alíneaa do artigo 12 do Decreto Regulamentar nº 8/99

Nota da redacção: Os artigos de opinião e outros artigos assinados são da inteira responsabilidade dosautores, não representando qualquer tomada de posição por parte da Revista da Ordem dos Médicos.

MédicosOrdem dos

Ficha TécnicaFicha Técnica

OPINIÃOOPINIÃOOPINIÃOOPINIÃOOPINIÃO48

REV

IST

A

INFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃO34

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4 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

E D I T O R I A L

Imaginávamos todos que, na sua sabe-doria, Afonso V de Portugal, e mais tar-de João III, haviam determinado a se-paração entre a actividade de médicoe de boticário a fim de proteger doen-tes e profissionais das tentações.Como Robert Reich, na sua obra Ri-queza das Nações, não deixa de assina-lar, propor um serviço e em seguidaprestá-lo abre oportunidades únicas demaximizar os proveitos que só estri-tos códigos de ética conseguem con-trolar.Para dar uma ajuda aos códigos de éti-ca, por vezes sepultados sob uma ava-lancha de livros e culturas mais recen-tes, nada como retirar ao homem a ten-tação da carne, afastando-a do seu al-cance.Como não é pressuposto que os mé-dicos ou quaisquer outros profissio-nais, políticos ou não, consigam fazeruma discriminação positiva e integrarnas suas fileiras uma percentagem su-plementar de corruptos ou venais, é-se obrigado a concluir que a separa-ção de funções garante a transparên-cia do processo.Obviamente que, em tempos em queo medicamento mais não era do que amanipulação artesanal de produtos co-lhidos directamente na natureza, a im-prescindibilidade do farmacêutico eratão evidente quanto ainda hoje é a domédico ao identificar doenças e pro-por formas de as minorar.Hoje o mundo farmacêutico fragmen-ta-se entre uma indústria que produze embala, por vezes igualmente inves-tigando os novos produtos e informan-do os médicos da sua existência e dosaspectos, em seu entender, mais apela-tivos da escolha, e um sector que ar-mazena e distribui.

«Resumindo – nos bons velhos tempos havia mil castas e destinos na Índia. Hoje em diaexistem apenas duas castas: Homens de Barriga Grande e Homens de Barriga Pequena.

E apenas dois destinos: comer – ou ser comido»

Aravind Adiga, O Tigre Branco, pág. 55ed Presença, Lisboa 2009

a proposta

Este sector, dedicado à mera venda a reta-lho ou ao comércio grossista, cedo seapercebeu que poderia ser posta em cau-sa a necessidade de formação técnica dife-renciada para um acto que pouco sedistinguia do que faz chegar a casa decada um de nós o leite ou o bacalhau.Apesar de eufemisticamente nunca seter abandonado a expressão «dispen-sa», em alternativa à mais prosaica«venda», para tentar esconder do querealmente se está a falar, alguns dosdonos das lojas deixaram-se deslizarconceptualmente para uma culturaestritamente de comércio.Desde há longos anos, protegidas poruma tradição que, como todas, se jul-ga imutável até alguém dizer que «orei vai nu», e por uma poderosa asso-ciação detentora de recursos financei-ros consideráveis, coexistem nas far-mácias uma actividade técnica e de pro-fissional de saúde e uma actividadecomercial vocacionada para o lucro.Estas tornam-se assim uns entes inca-racterísticos, divididos entre a vocaçãode loja que enche as prateleiras de cre-mes, sapatos, perfumes e óculos e avocação de saúde, que apela a minis-trar vacinação, medir tensões ou exe-cutar análises sumárias.Igualmente, coexistem nesses espaçossimples vendedores com formaçãomais ou menos rudimentar, lojistascom ou sem curso superior e jovensprofissionais de saúde. Estes, impedi-dos de desenvolver autonomamentea sua profissão por um injusto e injus-tificável sistema de alvarás, são voca-cionados para uma prestação de ser-viços de saúde estribada em conheci-mentos de química e farmacologia,quiçá exagerados para o que se lhessolicita.

É este mundo, de certa forma em bus-ca do paraíso perdido, que hesita emsob que aspecto se afirmar, esquecen-do, tanto quanto é capaz, a inexorávelimpossibilidade de coexistência endó-gena de dois paradigmas.Se num tempo reivindica e se investede profissionalismo, noutro desenvol-ve uma fuga para a frente, tentando,por engenharia financeira e tácticas damais pura economia, capturar o merca-do e esmagar a competitividade.Nesta vertente, nada os fez parar aolongo dos anos. Protegidos pelo condi-cionamento industrial à boa maneirade Oliveira Salazar, que lhes assegura-va a ausência de competidores impe-dindo a instalação dos mais novos,envolveram-se em todas as vertentesdo circuito do medicamento, procu-rando potenciar, mais do que os seuslucros, o seu poder.De uma associação de pequenos lojis-tas, que se procuravam federar numagrande cooperativa que assegurasseeconomia de escala e agilidade de lo-gística, evoluíram para uma empresamultifacetada, com intervenção na dis-tribuição grossista, na informática, naintermediação financeira e mesmo naconstrução civil.Prevendo a desregulação do sector dosmedicamentos após o expirar de paten-tes e a competição meramente comerci-al que iria inexoravelmente atingir a in-dústria de genéricos, alavancada pre-visivelmente pelos organismos públicosdesejosos de reduzir a factura, cedo seaperceberam de qual o inimigo. O ini-migo seria o sistema tradicional de ba-lanços e regulamentação de activida-de que se opunha ao crescimento doslobos no seio do rebanho. O inimigopassou a ser o até então parceiro, o

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5Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

médico, que mais que cativar ou indu-zir passou a ser obrigatório destruir.Com um mercado potencial de 3 milmilhões de euros logo ali à mão, comoestar dependente dos humores, do sa-ber ou do enviesamento da decisãomédica?Para projectos da mais rude verti-calização, desde a produção ao pontode venda, a existência de reguladores(o Estado e as Ordens profissionais) eo controlo exercido pelos comprado-res informados são obstáculos.No mercado do medicamento, quer oEstado, enquanto comprador, quer odoente, agenciam a decisão de com-pra no agente informado – o médico.Assim, a captura do mercado passoua impor como imprescindível a des-truição deste.Esta é a história dos últimos vinte anos,com surtos, com truques, com altos ebaixos, consoante a evolução da políti-ca e os amigos em lugares de decisão.Esta é a história por detrás da históriadas alegadas relações perigosas entremédicos e indústria farmacêutica.Esta é uma história que mais tarde oumais cedo teria de ter um desfecho.Após vinte anos de suspeições já nãohá desculpa para ninguém. Se algumaindústria ainda tenta corromper mé-dicos e alguns médicos ainda caem natentação de se deixar corromper háque identificar situações e punir ade-quadamente.Se o sector do retalho pretende verti-calizar e lançar um concurso público

para a compra de um só produto pormolécula, como propôs num debatetelevisivo o dr. João Cordeiro, há quelevar até às últimas consequências talproposta, já que os médicos são os úni-cos que nada têm a temer, a ganharou a perder.É que, sejamos claros, o que é impres-cindível impedir é a substituição nafarmácia do medicamento prescritopelo médico. O que é relevante é pro-teger o doente das confusões, das to-mas em duplicado e triplicado de me-dicamentos que se julgam diferentes,da ausência total de responsáveis e deinformação de farmacovigilância.Se o Governo entender intervir no mer-cado e comprar a partir de uma cen-tral o produto que contém a moléculax ou y os médicos apenas reflectirãona sua prática ambulatória o que hojeefectivamente já se passa no sectorhospitalar.Se tal significa, a médio prazo, a des-truição de pequenos produtores, no-meadamente os nacionais, a destrui-ção da imprensa médica por ausênciade interessados em comprar páginasde publicidade, ou a formação médicarestrita aos fármacos inovadores issonão passará de danos colaterais econsequências que terão de ser avali-adas por quem toma a decisão.Os riscos de uma tal decisão, a pon-deração das vantagens a curto prazoperante as desvantagens a longo, oimpacto sobre o ordenamento social,tudo isto são opções de política que

cabe aos governos tomar e assumir asconsequências dos seus actos.A nós, médicos, não nos compete deci-dir nesta matéria, mas seguramentecompete-nos estar disponíveis paracontinuar a defender a nossa autono-mia e a segurança dos nossos doentes.Ao propor que, no caso de o Gover-no estar disponível para quebrar asrelações tradicionais que desde sem-pre se estabeleceram nas profissões dasaúde ligadas ao medicamento, estessejam distribuídos directamente noshospitais, nos centros de saúde e atégratuitamente pelos médicos, a Ordemmais não fez do que expor onde levao caminho que há vinte anos está aser trilhado.Chega de insultos aos médicos e ten-tativas de menorização do seu papelsocial. Se alguém quer destruir o mun-do tal como o conhecemos que assu-ma a responsabilidade de o fazer e atotalidade das consequências.Enquanto espero que o bom sensoprevaleça, apelo aos colegas que res-pondam, via RSF, ao inquérito que pro-pomos na página seguinte. O momen-to que estamos a viver, apesar da cri-se, pode ser clarificador e expor emtoda a sua nudez o que persegue cadaactor, ou está por detrás de cada dis-curso…

E D I T O R I A L

É que, sejamos claros, o que é imprescindívelimpedir é a substituição na farmácia do

medicamento prescrito pelo médico. O que érelevante é proteger o doente das confusões, das

tomas em duplicado e triplicado demedicamentos que se julgam diferentes, da

ausência total de responsáveis e de informaçãode farmacovigilância.

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6 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

O presidente da AssociaçãoNacional de Farmácias (ANF),dr. João Cordeiro, propôs, numdebate com o bastonário daOrdem dos Médicos na SICNotícias, no passado dia 14 deAbril, que os genéricos passas-sem a ser comprados por con-curso organizado pela ANF, aquem seria concedido o direi-to de livre violação da prescri-ção médica.

Perante este quadro e o risco dasua aceitação pelo Governo, comos graves inconvenientes para asaúde que todos conhecemos, aOM apresenta uma contra-pro-

Substituição de medicamentosposta que, ao eliminar a margemdas farmácias e os bónus que hojese sabe serem parte integrantedeste negócio, permitiria signifi-cativas poupanças para o Estadoe mesmo a gratuitidade dos ge-néricos para os pensionistas ereformados.

Segundo a proposta, o Estadolançaria um concurso públicosedeado numa central de com-pras do Ministério da Saúde, coma finalidade de seleccionar umou dois fabricantes, sendo o me-dicamento depois distribuídopelas farmácias hospitalares ecentros de saúde ou directamen-

te e gratuitamente pelos médi-cos no exercício da sua activi-dade liberal.

Envie a sua opinião através dopostal RSF que se encontra co-lado a baixo e onde, para alémde responder objectivamente seconcorda ou não com esta pro-posta, pode acrescentar um co-mentário.

No caso de o espaço do postalnão ser suficiente ou não seadequar ao seu comentáriopode remetê-lo pelo [email protected]

I N Q U É R I T O

EVENTO: 61TH ANNUAL MEETING OF THE AMERICAN ACADEMY OF

NEUROLOGY

LOCAL: HawaiiDATA: 25 de Abril a 2 de Maio

EVENTO: XXIII CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRÁTICA CLÍNICA

DA DIABETES

LOCAL: LisboaDATA: 13 a 15 de maioCONTACTOS: Diabetologia – Hospital Santa MariaTel/fax: 21 795 70 27

EVENTO: IX JORNADAS DA DELEGAÇÃO CENTRO DA FUNDAÇÃO

PORTUGUESA DE CARDIOLOGIA E 6ª REUNIÃO DA ASSOCIAÇÃO

PORTUGUESA PREVENÇÃO E REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR

LOCAL: CoimbraDATA: 21 e 22 de maioCONTACTOS: Fundação Portuguesa de Cardiologia– Delegação Centro; Tel. 239 838 598 Fax: 239 827 996

EVENTO: EUROPEAN ACADEMY OF ALLERGOLOGY AND CLINICAL

IMMUNOLOGY

LOCAL: Varsóvia, PolóniaDATA: 6 a 10 de Junho

EVENTO: XII JORNADAS DE CARDIOLOGIA DE BRAGA E XVJORNADAS DE CARDIOLOGIA DO MINHO

LOCAL: Hospital de São Marcos, BragaDATA: 18 e 19 de JunhoCONTACTOS: Serviço de Cardiologia – Hospital de SãoMarcos; Tel: 253 209 155

EVENTO: 15TH MEETING OF THE EUROPEAN NEUROLOGICAL SOCIETY

LOCAL: Milão, ItaliaDATA: 20 a 24 de Junho

EVENTO: 25TH CONGRESS OF THE EUROPEAN COMMITTEE FOR

TREATMENT AND RESEARCH IN MULTIPLE SCLEROSIS

LOCAL: Dusseldorf, AlemanhaDATA: 9 a 12 de Setembro

EVENTO: 15º WONCA EUROPE CONFERENCE

LOCAL: Basileia, SuiçaDATA: 16 a 19 de Setembro

AAAAA G E N DG E N DG E N DG E N DG E N D AAAAA

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8 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

DOSSIER PRESCRIÇÃO

Comunicado da Ordem dos Médicos sobre as medidas anunciadas pela ANFEm www.ordemdosmedicos.pt

«Os portugueses estão hoje confrontados com um anúncio de violação sistemática da lei e insubordinação por partedos comerciantes retalhistas de medicamentos, desencadeada pela associação que representa os seus interesseseconómicos.É importante que se saiba que tal associação já possui uma quota importante de mercado grossista e de distribuição,preparando-se, agora, de acordo com a imprensa, para entrar no sector de produção, através de uma marca própriade medicamentos genéricos.Sob a capa da defesa dos interesses dos doentes, e alegadamente visando vender mais barato, procura a ANF, narealidade, capturar o interesse público e reforçar a sua posição monopolista a fim de assegurar a perpetuação dos seusfabulosos lucros.Perante o risco para a saúde pública que tal acção, a concretizar-se, implicaria, a Ordem dos Médicos:Recomenda que, como decorre do Código Deontológico, os médicos prescrevam sistematicamente o medicamentomais barato que assegure iguais condições de eficácia e de segurança; Determina, no exercício dos seus poderesreguladores, que todas as receitas emitidas pelos médicos tenham expressa a proibição de substituição por parte doproprietário de farmácia ou dos seus empregados; Solicita a todos os médicos que comuniquem à Ordem as alteraçõesnão autorizadas de prescrição de que tenham conhecimento, para que a Ordem dos Farmacêuticos seja informada; Eapela à Ordem dos Farmacêuticos que instaure procedimentos disciplinares aos comerciantes que, sendo simultane-amente farmacêuticos, violem a lei e as determinações éticas que regulam a sua profissão. A Ordem dos Médicos, nodesempenho da sua missão de defesa do interesse público e da qualidade da Medicina, exorta o Governo a defenderos portugueses através da tomada das seguintes medidas:Autorização imediata aos hospitais, centros de saúde e unidades de saúde familiar de fornecerem medicamentos aosdoentes em ambulatório a custos e qualidade controlados; Redução da margem de comercialização dos medicamentosem 10%, como forma de contributo dos proprietários de farmácias para vencer a crise económica e manter o ServiçoNacional de Saúde; Revogação da lei que restringe o direito de instalação e propriedade das farmácias, permitindo quemilhares de farmacêuticos consigam aceder à sua posse, quebrando de uma vez por todas o insustentável monopóliode que os actuais proprietários gozam há dezenas de anos. O Conselho Nacional Executivo,Lisboa, 1 de Abril de 2009»

Porquê esta ânsia desubstituir as receitas?

Publicamos em seguida algumas das notícias que surgiram na imprensa

generalista após o Comunicado da Ordem dos Médicos sobre substituição

de medicamentos nas farmácias contra indicação expressa do médico

prescritor. As notícias são reproduzidas por ordem cronológica.

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9Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

01 de Abril

Farmácias querem substituição dos medicamentosMédicos e farmacêuticos discordam sobre os genéricos

Em http://sic.aeiou.pt/online/noticias/

A Associação Nacional de Farmácias quer vender genéricos aos doentes, mesmo que a receita do médico não autorizea substituição. A Ordem dos Médicos diz que a medida é uma violação da leiA Ordem dos Médicos emitiu um comunicado em que, de acordo com o código deontológico, recomenda que osmédicos prescrevam sistematicamente o medicamento mais barato. A Ordem determina ainda que todas as receitasemitidas pelos médicos tenham expressa a proibição de substituição por parte do proprietário de farmácia ou seusempregados. A Associação Nacional de Farmácias quer que os farmacêuticos vendam medicamentos genéricos, mesmocontra a vontade expressa pelos médicos nas receitas. O presidente da ANF defende que a medida foi tomada tendoem conta a crise. A Ordem dos Médicos contesta a solução, por considerar que os utentes correm sérios riscos sealinharem na campanha. Os médicos vão apresentar queixa ao Ministério Público

02 de Abril

Substituição de medicamentos já «poupou» 44 mil eurosEm http://diario.iol.pt/

O presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF) assumiu, esta quinta-feira, que várias farmácias substituírammedicamentos passados por médicos que se opunham à troca e garantiu que a medida já gerou uma «poupança» de44 mil euros. A substituição em algumas farmácias de medicamentos passados por médicos que não autorizavam atroca (receitas trancadas) começou quarta-feira, com protestos das Ordens dos Médicos e dos Farmacêuticos.

Dos 44 mil euros, «14,6 mil correspondem ao montante que os doentes não tiveram de pagar a mais pelos seusmedicamentos, enquanto os cofres do Estado ficaram com 29,4 mil euros, que teriam de ser gastos se os doentestivessem optado por medicamentos de marca», avança a ANF num comunicado.

O presidente da ANF, João Cordeiro, disse à Agência Lusa que a medida está a ter «uma grande aceitação dos utentes»,cuja resposta revela «a concordância» com a iniciativa da associação.

A ANF considera que «os números são extremamente encorajadores, tendo em conta que o programa de substituiçãopor medicamentos mais baratos tem apenas um dia». «Estes números são um indicador inequívoco de que os doentese os farmacêuticos estão a aderir de forma generalizada à medida lançada pela ANF, de optar por medicamentosgenéricos», prossegue a associação.

Questionado pela Lusa sobre o número de farmácias que realizaram essa substituição de medicamentos, bem como onúmero de receitas trancadas que foram alteradas pelos farmacêuticos e os medicamentos substituídos, João Cordeiroremeteu para mais tarde informações sobre o assunto.

«Crise não é razão» para substituir medicamentos

O presidente da ANF escusou-se a comentar as declarações da ministra da Saúde, Ana Jorge, que também esta quinta-feira disse que ia acompanhar o caso e admitiu «intervir» em caso de ilegalidade. «A senhora ministra está informadade toda a nossa actuação», limitou-se a dizer à Lusa João Cordeiro.

Sobre a ameaça da bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, que quarta-feira disse que os farmacêuticos que substi-tuírem medicamentos prescritos pelos médicos por genéricos sem a autorização do clínico podem ser sancionadospela Ordem da classe, João Cordeiro disse estar à espera.

DOSSIER PRESCRIÇÃO

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10 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

06 de Abril

Ministério recusa pagar comparticipação de remédios substituídos pelas farmáciasEm http://www.rr.pt/

A ministra da Saúde anunciou hoje que o Serviço Nacional de Saúde não pagará às farmácias a comparticipação dosmedicamentos que forem substituídos pelo genérico mais barato sem autorização do médico.Ana Jorge falava aos jornalistas, em Lisboa, no final da cerimónia do Dia Mundial da Saúde.Questionada sobre os últimos desenvolvimentos, que opõem médicos e farmacêuticos, à iniciativa da AssociaçãoNacional de Farmácias (ANF) de substituir medicamentos pelo genérico mais barato, mesmo com a oposição domédico, a ministra garantiu que não tinha conhecimento desta característica da medida.Ana Jorge adiantou que apenas tinha conhecimento de que as farmácias iriam realizar uma campanha de informaçãosobre os preços dos medicamentos.A legislação em vigor estabelece que a alteração dos medicamentos prescritos no momento da dispensa apenas podeacontecer mediante pedido do utente e com autorização expressa do médico prescritor.No entanto, desde quarta-feira passada, as farmácias começaram a substituir medicamentos receitados pelos médicospor genéricos mais baratos, mesmo contra a vontade dos médicos, uma medida que o Ministério da Saúde considerou«ilegal».A ANF considera que não existe ilegalidade, já que «as farmácias se limitam a aplicar a mesma metodologia que éseguida nos hospitais».A ministra reitera que a substituição que está a ser praticada nas farmácias «é ilegal» e que nada tem a ver com a queexiste nas farmácias hospitalares.Segundo Ana Jorge, são «processos completamente diferentes», os quais obedecem em meio hospitalar a formuláriosespecíficos e que são elaborados por uma equipa multidisciplinar.Questionada sobre o que vai fazer perante esta ilegalidade, Ana Jorge anunciou que as receitas alteradas e que seguempara as Administrações Regionais de Saúde (ARS) até ao dia 10 de cada mês vão ser devolvidas às farmácias.Mensalmente as farmácias entregam às ARS, até ao dia 10 de cada mês, as receitas com vista a receberem o valor dacomparticipação que o Serviço Nacional de Saúde dá a cada fármaco prescrito pelo médico.Segundo Ana Jorge, todas as receitas substituídas contra a vontade do médico vão ser devolvidas às farmácias sem queo pagamento da respectiva comparticipação seja feito.Fonte: Lusa/SOL

Substituição de medicamentos prescritos dá direito a penalizaçãoIniciativa da Associação Nacional de Farmácias

Em http://www.alert-online.com/

Os farmacêuticos que, sem a autorização do médico, substituam os medicamentos prescritos por medicamentosgenéricos poderão ser penalizados pela Ordem dos Farmacêuticos.

A iniciativa de as farmácias começarem a vender, em substituição do medicamento prescrito pelo médico, um genéricomais barato, mesmo que o clínico se oponha a isso, partiu da Associação Nacional de Farmácias, e foi contestada pelaOrdem dos Médicos e pela Associação de Farmácias de Portugal.

Em declarações à agência Lusa, a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Elisabete Faria, afirmou que «as leis têm deser cumpridas» e que «quando um farmacêutico não cumpre a lei, o órgão disciplinar da Ordem terá de agir».

O modelo de receita médica destinado à prescrição de medicamentos, definido por uma Portaria de 2002, indica queo médico deverá indicar se autoriza ou não a dispensa de genéricos, assinalando a sua opção em local apropriado.Por outro lado, o estatuto da Ordem dos Farmacêuticos, de 2001, define que o farmacêutico deve fornecer ao doenteum medicamento em cumprimento com a prescrição médica.

A violação destes deveres, ou de outra legislação, implica a instauração de um processo, que poderá ir desde umasimples advertência até à suspensão do exercício da actividade por um período de 15 anos.

DOSSIER PRESCRIÇÃO

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11Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

07 de Abril

O Ministério da Saúde diz que é ilegal a substituição dos medicamentos receitadospelos médicos por genéricos se a receita estiver trancada

Em http://ultimahora.publico.clix.pt/

A tomada de posição de Ana Jorge surge quase uma semana depois da Associação Nacional de Farmácias (ANF) terdado ordens aos seus associados para substituírem os medicamentos receitados por genéricos, mesmo que o médiconão o autorize, desde que o doente o deseje.Neste comunicado, a ministra da Saúde diz que o seu gabinete não pode pactuar com qualquer iniciativa que nãoobserve o princípio da legalidade e que já transmitiu ao presidente da ANF a necessidade de tomar as medidasadequadas, de forma a que o acesso a medicamentos sujeitos a prescrição médica se faça de acordo com a lei.Contactado pela Renascença, João Cordeiro diz que só agora recebeu a nota da ministra. Nesta altura está a preparara resposta que deverá ser enviada amanhã a Ana Jorge.

08 de Abril

ANF suspende campanha de substituição de medicamentos de marca por genéricosEm http://tv1.rtp.pt

A Associação Nacional de Farmácias decidiu suspender a campanha de substituição de medicamentos de marca porgenéricos mais baratos, sem autorização do médico. A ANF diz não ter condições de prosseguir com a campanha semos apoios correspondentes. A decisão surge um dia depois da ministra da Saúde ter recusado comparticipar as receitasalteradas pelas farmácias. A jornalista Arlinda Brandão acompanhou a conferência de imprensa onde foi dada aconhecer a suspensão da campanha.

ANF suspende substituição de medicamentos sem consentimentoEm http://diariodigital.sapo.pt/

O presidente da Associação Nacional de Farmácias, João Cordeiro, anunciou hoje a suspensão da campanha desubstituição de medicamentos de marca por genéricos mais baratos sem autorização do médico.Em conferência de imprensa, o responsável adiantou no entanto que os doentes vão continuar a ser informados dovalor que poupariam se esta substituição fosse feira.Diário Digital/Lusa

Em nome dos «interesses e a segurança dos utentes»Ministra da Saúde admite promover alterações na legislação sobre prescrição

de medicamentosEm http://ultimahora.publico.clix.pt/

A ministra da Saúde admitiu hoje a possibilidade de o Governo vir a estudar, juntamente com o Infarmed, alteraçõesà legislação sobre a prescrição de medicamentos se isso favorecer os «interesses e a segurança dos utentes».Ana Jorge sustenta, no entanto, que qualquer alteração à legislação não pode contrariar o princípio de que a prescri-ção de medicamentos é um «acto médico» em que a «responsabilidade final» deve pertencer aos médicos.«O Governo está sempre disponível para rever estes processos com o objectivo de melhorar as condições dos utentes.Teremos que estudar este assunto com a autoridade do medicamento que é o Infarmed e se for necessário serãoencontradas melhores soluções», afirmou, na inauguração da farmácia do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC).A alteração à legislação foi defendida recentemente pelo fundador do Serviço Nacional de Saúde (SNS), AntónioArnaut, que sustenta que deve ser o doente – e não o médico ou farmacêutico – a decidir se quer substituir o

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12 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

medicamento de marca por um genérico. Ana Jorge reage com cautela a esta proposta e diz que se trata de umprocesso «complexo»: «A decisão pode ser do utente mas é evidente que a responsabilidade tem que ficar também dolado do médico. A prescrição, o diagnóstico e a decisão terapêutica são actos médicos. São os médicos que sãoresponsáveis por tudo o que diga respeito ao tratamento do doente», defendeu.Sobre a iniciativa da Associação Nacional de Farmácias (ANF) de substituir os medicamentos de marca prescritospelos médicos por genéricos mais baratos – iniciativa entretanto suspensa – Ana Jorge defende que, de acordo com alei, os farmacêuticos podem apenas «informar o doente da existência de alternativas» sendo que a alteração daprescrição compete «apenas aos médicos».No que diz respeito à escolha entre medicamentos de marca ou genéricos, a ministra da Saúde diz que tem vindo a«apelar a todos os médicos» para que «tenham em conta a situação de cada utente», olhando para os «custos globaisdos tratamentos» de modo a que seja encontrada «a melhor solução para cada caso».

Conferência de imprensaAssociação de Farmácias suspende substituição de remédios sem autorização do médico

Em http://ultimahora.publico.clix.pt/

O presidente da Associação Nacional de Farmácias, João Cordeiro, anunciou hoje a suspensão da campanha desubstituição de medicamentos de marca por genéricos mais baratos sem autorização do médico.Em conferência de imprensa, o responsável adiantou no entanto que os doentes vão continuar a ser informados dovalor que poupariam se esta substituição fosse feita e que tal informação constará da factura dos medicamentos.Ontem durante as comemorações do Dia Mundial da Saúde, a ministra Ana Jorge anunciou que o Serviço Nacional deSaúde não pagará às farmácias a comparticipação dos medicamentos que forem substituídos pelo genérico mais baratosem autorização do médico. A medida, a primeira decisão efectiva contra a decisão da ANF, pode ter levado a que aassociação recuasse.João Cordeiro diz que a ANF está disposta a processar judicialmente o Ministério da Saúde se este devolver sem pagaras receitas médicas que forem alteradas nas farmácias.Para o presidente da ANF, a ameaça de Ana Jorge trata-se de uma «medida administrativa» que terá como respostaacções em tribunal.João Cordeiro anunciou ainda que, no caso de devolução das receitas médicas sem o pagamento da comparticipaçãodo Serviço Nacional de Saúde, será a associação e não as farmácias a arcar com o prejuízo.A substituição de medicamentos de marca por genéricos, mesmo contra a decisão do médico que prescreve a receita,estava a ser praticada há uma semana pelas farmácias que aderiram a esta iniciativa da ANF. Mas a medida foiconsiderada ilegal pelo Ministério da Saúde e pela Ordem dos Farmacêuticos. A Ordem dos Médicos alertou tambémpara o facto da iniciativa representar um perigo para a saúde pública e ameaçou recorrer para o Ministério Público.Hoje, em entrevista ao «Jornal de Negócios», João Cordeiro adiantava que a ANF tinha pedido ao Infarmed umaavaliação sobre a legalidade da matéria e que, até à data da entrevista, não tinha obtido resposta, o que encarou comoum parecer positivo.João Cordeiro lançava ainda o desafio a Ana Jorge para que, caso considerasse a medida do Infarmed ilegal, queresolvesse a situação: «Se a senhora ministra da Saúde identifica alguma ilegalidade a solução é resolvê-la. Não é maisdo que assumir um compromisso que está no programa eleitoral deste Governo».

Entrevista ao «Jornal de Negócios» sobre polémica em torno dos genéricosJoão Cordeiro: «A senhora ministra tem de assumir responsabilidades e mudar a lei»

Em http://ultimahora.publico.clix.pt/

João Cordeiro, presidente da Associação Nacional de Farmácias, acusa o PS de estar a fugir a um compromisso deprograma eleitoral não permitindo a prescrição de medicamentos por princípio activo. Sobre a recente decisão dasfarmácias, de mudarem os medicamentos prescritos para genéricos a pedido do doente, mesmo contra a indicação domédico, João Cordeiro lança o desafio à tutela: «A senhora ministra tem de assumir responsabilidades e mudar a lei».Segundo João Cordeiro, antes desta iniciativa ter ocorrido, a ANF terá solicitado ao ao Infarmed uma avaliação sobrea legalidade da matéria, que, no seu entender não estava a ser violada. Não recebeu qualquer resposta, o que entende

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13Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

como um parecer positivo do organismo do medicamento sobre o cumprimento da lei pela ANF nesta matéria.João Cordeiro, que frisa que em cinco dias a quota de mercado dos genéricos subiu 9,4 por cento nos últimos cincodias, mais do que o conseguido por qualquer campanha do ministério, lança o desafio a Ana Jorge: «Se a senhoraministra da Saúde identifica alguma ilegalidade a solução é resolvê-la. Não é mais do que assumir um compromisso queestá no programa eleitoral deste Governo».O responsável da ANF esclarece a questão do envolvimento da própria associação com uma empresa de genéricos,garantindo que a Alliance Healthcare, em causa, tem uma parceria com a ANF no sentido de lançar os seus produtosno nosso mercado. Os medicamentos serão produzidos em Portugal num laboratório que não especificou, que tam-bém exportará para a Alliance internacional.Para João Cordeiro, a única capacidade de decisão que o dente exerce sobre uma prescrição de medicamentos é a delevantar ou não todos os medicamentos prescritos, o que não é, segundo o responsável admissível, e chega mesmo adenunciar «interesses envolvidos»: «A legislação dos genéricos tem sofrido alterações sucessivas, que denotam, clara-mente, os interesses envolvidos e as contradições do poder político».

Interesses económicos dos doentes devem ser salvaguardados, defendeFundador do SNS acha que opção sobre genéricos deve estar na mão dos doentes

Em http://ultimahora.publico.clix.pt/

A guerra aberta pela Associação Nacional de Farmácias (ANF) – que há uma semana incentivou as suas associadas asubstituir medicamentos de marca por genéricos mais baratos sem a permissão dos médicos - está ao rubro. Tentandopôr um travão no conflito entre a ANF e os médicos, a ministra da Saúde já sublinhou que esta troca é ilegal e deixouum aviso: as farmácias infractoras não receberão as comparticipações dos medicamentos que substituírem sem aautorização dos médicos. A ANF prometeu responder hoje em conferência de imprensa.Ontem, o advogado e fundador do Serviço Nacional de Saúde, António Arnaut, lançou mais uma acha na fogueira, aodefender que a legislação deve ser alterada para permitir que seja o doente (e não o médico ou o farmacêutico) adecidir se quer substituir o medicamento de marca por um genérico mais barato. Frisando que é um utilizador degenéricos «por princípio», Arnaut considera que a actual legislação «está mal». Por isso defende a sua mudança, aindaque «com ponderação e em diálogo entre o Ministério da Saúde e a Ordem dos Médicos». Porque, explica, há aqui doisdireitos em conflito: «o direito dos médicos à liberdade de prescrição e o direito dos utentes de escolherem» o fármacomais barato. «É preciso regular estes dois interesses em confronto. Se o genérico tem o mesmo princípio activo [que omedicamento original] e está à venda é porque tem o mesmo valor terapêutico e foi autorizado pelo Infarmed [auto-ridade do medicamento] para estar no mercado», alega, sem deixar de notar que neste conflito o que está em causasão «grandes interesses» de vários grupos de pressão.Também o CDS-PP veio defender uma mudança da lei, de forma a que os médicos passem as receitas apenas peloprincípio activo (denominação comum internacional) e não pelas marcas dos laboratórios que os fabricam.Para os médicos, o problema é bem mais complexo do que parece. «O conceito de trocar prescrições abre porta asituações muito complicadas», sustenta o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, António VazCarneiro. Até porque, nota, os fabricantes de genéricos oferecem às farmácias grandes quantidades de genéricos(bónus e descontos), «num processo de marketing inaceitável e inclassificável».Em Portugal, lembra, há actualmente mais de 60 empresas de genéricos que «competem alucinadamente umas com asoutras e isto devia ser controlado através do Ministério da Saúde e do Infarmed». Mas a verdade é que, frisa, «objecti-vamente e até prova em contrário», os genéricos são iguais aos medicamentos originais e a sua qualidade e segurançaé garantida pelo Infarmed.Para o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Pedro Nunes, o que aqui está em causa é uma «guerra económica»que envolve o monopólio das farmácias (a ANF detém 97 por cento do sector), os fabricantes dos medicamentos e oGoverno. Quando o presidente da ANF, João Cordeiro, anunciou a medida na quarta-feira passada, Pedro Nuneslembrou que a associação tem uma marca de genéricos, a Almus (controlada pela Alliance Healthcare que é detida em49 por cento pela ANF), que se prepara para entrar no mercado. Segundo o site do Infarmed, 23 genéricos da Almusjá têm autorização de venda.Substituição de medicamentos sem ordem médica é ilegal

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09 de Abril

Bastonário da Ordem dos MédicosPedro Nunes defende prescrição de medicamento mais barato quando

«em igualdade de confiança»Em http://ultimahora.publico.clix.pt/

João Cordeiro, presidente da ANF, ameaça processar Ministério da Saúde se este devolver receitas sem pagar.

O bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, defendeu ontem que «em igualdade de confiança» o médico devereceitar ao doente o medicamento «mais barato», mas admitiu ser «humano» que um médico possa ter mais confiançanum medicamento de marca do que num genérico.«O médico está a aconselhar o doente o que ele, médico, compraria para si próprio por ser melhor», referiu PedroNunes, reconhecendo que, às vezes, os «médicos pensam mais no factor técnico do que no factor preço».

O bastonário desmistificou a ideia de que os médicos não prescrevem genéricos, indicando que a subida de 0,2 para20 por cento na utilização de genéricos nos últimos quatro ou cinco anos se deve aos médicos que prescrevem taismedicamentos.«É uma inverdade dizer que os médicos não prescrevem genéricos», observou Pedro Nunes. O bastonário salientouque a posição oficial da Ordem é a de que, em «igualdade de confiança, o médico tem a obrigação de receitar aodoente o que for mais barato», mas lembrou que a questão levantada nos últimos dias é outra, ou seja, a «de saber seé autorizável ou não a substituição de medicamentos na farmácia».

Pedro Nunes enfatizou o «enorme risco» que essa substituição acarreta, sobretudo em doentes mais idosos, iletradosou que padecem de patologias mais graves, em que a forma do medicamento ou a cor da embalagem do medicamentopode gerar confusão.

Na polémica com as farmácias, o bastonário considerou «rídículo» que «os comerciantes de medicamentos tenham umnegócio protegido», que faz com que as farmácias em Portugal sejam as «mesmas de há 30 anos», num «monopóliosem concorrência», que abrange também «parte significativa da distribuição» de medicamentos genéricos.

Pedro Nunes questionou ainda «quando é que 12 mil farmacêuticos inscritos na Ordem dos Farmacêuticos poderãoabrir a sua própria farmácia» perante leis restritivas e de monopólio que têm permitido à Associação Nacional deFarmácias (ANF) ter o «Estado capturado».

Entretanto, a ANF suspendeu hoje a campanha de troca de medicamentos receitados mesmo sem autorização dosmédicos, em reacção a um aviso da ministra da Saúde.

Ana Jorge anunciou terça-feira que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não pagará às farmácias a comparticipação dosmedicamentos substituídos pelo genérico mais barato sem autorização do médico.A ministra da Saúde voltou hoje ao assunto para dizer que todas as receitas com «irregularidades» devido ao processode substituição de medicamentos prescritos por genéricos «serão devolvidas».«Aquilo que disse ontem [terça-feira] mantenho», afirmou aos jornalistas a ministra Ana Jorge no final do debatequinzenal no Parlamento, acrescentando que já está em curso «um processo de facturas» e que «as receitas quetenham qualquer processo de irregularidade serão devolvidas às farmácias».

Desde quarta-feira passada que as farmácias começaram a substituir medicamentos receitados pelos médicos porgenéricos mais baratos, mesmo contra a vontade dos médicos, uma medida considerada ilegal pelo Ministério da Saúdee pela Ordem dos Farmacêuticos.

A Ordem dos Médicos alertou que a iniciativa representava um perigo para a saúde pública e ameaçou recorrer aoMinistério Público.

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País: País: Portugal

Period.: Period.: Semanal

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País: País: Portugal

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País: País: Portugal

Period.: Period.: Diária

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20 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

Ordem dos Médicos

Comunicado

Ordem solicita inquérito sobreinsinuações do presidente da ANF

O presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF) proferiu ontem, dia 14 de Abril de 2009, num debatecom o bastonário da Ordem dos Médicos, na SIC Notícias entre as 23h00 e as 24h00, graves afirmações queexigem um cabal esclarecimento.Na ocasião, o dr. João Cordeiro revelou ter em seu poder receitas com origem no Serviço de Urgência do Hospitalde Cascais que indiciariam, no seu entendimento, uma forma de influência não ética da indústria farmacêutica sobreo receituário médico.Perante tais insinuações, a Ordem dos Médicos decidiu solicitar ao senhor Inspector-Geral da Inspecção-Geral dasActividades em Saúde que desencadeie o competente inquérito com vista à identificação e avaliação das eventuaisreceitas que o dr. João Cordeiro diz possuir.A OM estranha profundamente que o senhor presidente da ANF, estando na posse de tais receitas, alegadamenteindiciadoras de vício de prescrição, não o tenha imediatamente comunicado às autoridades competentes para quepudessem proceder a uma investigação sobre a matéria, limitando-se afinal a usá-las, apenas, para fazer insinuaçõesinsultuosas que manifestamente afectam toda uma classe na sua dignidade e na sua credibilidade.

O Conselho Nacional Executivo,Lisboa, 15 de Abril de 2009

Envie-nos os seus artigosPara que a revista da Ordem dos Médicos possa ser sempre o espelho da opinião dos profissionais detodo o país, agradecemos a colaboração de todos os médicos que desejem partilhar as suas opiniões,experiências ou ideias com os colegas, através do envio de artigos para publicação na Revista daOrdem dos Médicos. Os artigos devem ser acompanhados de uma fotografia do autor (tipo passe) epoderão ser enviados para os contactos que se encontram na ficha técnica (morada da redação e/ourespectivo e-mail).

DOSSIER PRESCRIÇÃO

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21Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

Para garantir, por parte dos nossosdoentes, a adesão às terapêuticas far-macológicas que cuidadosa e indivi-dualizadamente instituímos contamoscom várias estratégias: a ponderaçãodos fármacos realmente necessários,suas contra-indicações e potenciaisefeitos adversos; a utilização das do-ses mínimas eficazes pelo tempo míni-mo indispensável («primus non noce-re»!); e, muito significativamente, a sim-plificação terapêutica. Entre outras.

Utilizando o método clínico centradono paciente, baseamos os nossos pla-nos terapêuticos na decisão mútua,assente numa relação médico-pacien-te alicerçada por uma história conjun-ta de conhecimento e respeito; assim,nunca prescrevemos para uma «doen-ça» ou para os «doentes» em geral

Substituição de medicamentosnas farmácias – a opiniãode um Médico de Família

Nós, os Médicos de Família, somos os médicos das pessoas, e não das doenças;

da continuidade, e não dos episódios. A doença crónica, a co-morbilidade e a

poli-medicação constituem elemento habitual do nosso dia-a-dia.

– mas sim para aquele paciente quetemos à nossa frente num dado mo-mento.

Buscamos, então, a adaptação da tera-pêutica às necessidades do paciente.Tal implica uma partilha do conheci-mento sobre esta mesma terapêutica.Que ultrapassa a simples prescriçãopor Designação Comum Internacional(DCI).

O nosso paciente quer (e merece!) to-mar sempre (refiro-me, evidentemen-te, a medicação crónica) o mesmo me-dicamento. O mesmo comprimido, damesma cor e tamanho, na mesma em-balagem de sempre. Não quer vermudar essas características todos osmeses, ao sabor dos interesses de mer-cado. Nem nós queremos – não é sen-sato esperar boa adesão à terapêuti-ca em condições tão propiciadoras deconfusão. Para além, como é óbvio, dasconsiderações referentes aos diferen-tes excipientes e formulações, já sobe-jamente focadas por outros colegas.

Como somos «cost-effective doctors»,usamos, sempre que possível, medica-mentos genéricos – mas usamossempre os mesmos! Poucos. Aque-les em que confiamos. E de cuja quali-dade temos provas seguras. Conhece-mos o tamanho, a forma, a cor e, porvezes, até o sabor ou o maior ou me-

nor grau de dificuldade de deglutição.Sabemos quantos comprimidos (se foro caso) tem a embalagem, de que coré, e quanto custa.

E disso informamos os nossos pacien-tes!

Deixemo-nos de eufemismos – com ainsensata proliferação de medicamen-tos genéricos e respectivas firmas (74sinvastatinas de 37 firmas!!!), com aconhecida limitação de recursoshumanos, pode o Infarmed garantir asbioequivalências de todos os MG queaprova? Que as diferenças da concen-tração plasmática máxima estão con-tidas no intervalo 80 a 125 % (inter-valo cujo não significado terapêutico,desde logo, nos parece duvidoso…)?E como obtém o Infarmed essas ga-rantias? Através de inspecções? Feitaspor quantos inspectores? A todas asformulações e todas as firmas? Perio-dicamente? Com consequências paraas firmas que não cumpram? Já hou-ve algum caso de condenação? Públi-ca e notória?

Não, colegas. Não podemos permitirque as farmácias alterem as nossas pre-scrições, por meros interesses econó-micos. Respeitamos muito os nossospacientes para o aceitar e não nosdemitiremos da nossa obrigação, nemtrairemos a sua confiança!

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22 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

Informar é, afinal, a condição prévia àadesão do doente e essencial à sua ca-pacidade de decisão. Informar é nãosó reconhecer autonomia como res-peitar essa mesma autonomia.Muitos afirmam a sua fidelidade aosprincípios da ética biomédica de Beau-champ e Childress, mas outros tantosos esquecem no quotidiano. Estes prin-cípios – autonomia, justiça, fazer bemsem fazer mal – são preceitos funda-

O direito de opção e o dever de informarReceitar um medicamento é um acto médico que representa uma certa

recomendação ao doente. Tal como quando propomos uma intervenção ci-

rúrgica ou a realização de uma exame de diagnóstico, cabe-nos informar o

conteúdo da nossa proposta ou recomendação.mentais da profissão e, por isso, são abase da nossa prática.Ao prescrever, temos, assim, o deverde explicar, tendo em atenção as ca-pacidades do destinatário, o que esta-mos a propor, as suas finalidades e,quando adequado, os riscos inerentes.Não é lícito invocar que o doente nãoentende – pelo contrário, quanto maislimitada a capacidade de entender, maisse impõe a necessidade de explicar.Se existem diversas marcas comerciaisde um mesmo produto mas certifica-das pelas autoridades competentes, édever do médico prescrever a marcamais barata ou, pelo menos, permitirque o doente prefira a mais barata.Se alguém tem conhecimento de queuma marca de um determinado produ-to não tem a qualidade exigida, deve emconsciência explicar ao doente a razãoda sua rejeição. Não é lícito adoptar umaposição de princípio contra todo e qual-quer medicamento mais barato.A regra geral de que uma prescriçãonão deve ser alterada pelo vendedor éuma garantia de que o acto médico

proposto responsabiliza exclusivamen-te o prescritor.Permitir que o destinatário da prescri-ção exerça a sua autonomia e opte poruma marca mais barata, sob garantiaoficial de qualidade, é, a meu ver, umaregra que faz falta.Defender que o médico possa, arbi-trária, ideológica e preconceituosamen-te, impedir o doente de optar é, nomínimo, uma posição insensata.Se eu mandasse, corrigia os dizeres doreceituário oficial. Em vez de «autorizoo fornecimento ou a dispensa de ummedicamento genérico», colocava oseguinte: «expliquei os motivos por que,neste caso, não recomendo que hajaopção por medicamento genérico».

(*) Declaração de interesses: estou apo-sentado, retirado de todas as actividadesclínicas e não tenho qualquer interessenos lucros de qualquer farmácia ou nopoder de qualquer associação de vende-dores de medicamentos – sou consumi-dor. Este depoimento foi-me solicitadopela redacção da revista da Ordem dosMédicos.

Entre o dia 6 e 25 de Abril, Pantoja Rojão expõe no Centro de Cultura e Congressos da Secção Regional do Norteda Ordem dos Médicos. A exposição individual de pintura intitula-se «No país das uvas», nome de um poema daautoria do artista, do qual transcrevemos de seguida um extracto:

Pantoja Rojão expõe na OM, no Porto

C U L T U R A

«Nos dias festivosTocam guitarrasCanta o povoDançam as varinasHá largadas de touros

Colchas nas janelasSantos em procissãoFoguetes a estoirarE muita, muita alegria…

Há versos dum poetaUm médico que pintaQue ergue um cálice de PortoNum hino à vida.»No País das Uvas, de Pantoja Rojão

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23Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

H. Luz RodriguesPresidente do Colégio de Farmacolo-gia Clínica da Ordem dos Médicos

Este quadro testemunha uma preocu-pação que não é de hoje: garantir a qua-lidade dos medicamentos pela prepara-ção em público sob vigilância oficial. Otema não é passado e os protagonistasnão mudaram. Feitos os ajustamentosao século XXI, a indústria farmacêutica,os médicos, os farmacêuticos e as au-toridades de saúde tentam transmitiraos doentes que estão preocupados emreduzir o sofrimento e em prolongar avida. Todos juntos unidos por uma mes-ma causa. Se têm a mesma convicçãoe vontade, o que os separa?

Antes de mais, analisemos como sedispõem os actuais actores no proscé-nio da saúde.

A indústria farmacêutica produz medi-camentos cada vez mais sofisticados naconcepção e na preparação. As recen-tes descobertas na área da biologia mo-lecular mostram resultados terapêu-ticos que poderão levar a breve prazoao controlo do cancro ou das doen-

Substituir a confiançae lucrar com a criseTenho diante de mim um quadro de Giuseppe

Guidicini, pintor bolonhês do século XIX (1818),

mostrando a preparação de medicamentos. Numa

grande sala vêm-se enormes vasos cercados por

pessoas que em grande azáfama misturam subs-

tâncias. Por detrás destas vislumbra-se um con-

junto de cavalheiros que analisam estas activida-

des e, por cima, nas galerias que circundam a sala,

está a multidão.ças neurológicas. De igual modo, omaior conhecimento dos mecanismosgenéticos que regulam a acção dos fár-macos poderá tornar possível a admi-nistração de medicamentos à medidadas necessidades de cada doente. Masestes progressos terapêuticos custammuito dinheiro que tem que ser pagopelos doentes e/ou pelos contribuin-tes. Procurar o retorno do investimentofeito na investigação científica é essen-cial para a sustentabilidade e rentabi-lidade das empresas, e para continuara pesquisa científica. Pressionar as ven-das influenciando a prescrição médicaé uma tentação que deve merecer sem-pre a análise crítica e a rejeição dosmédicos.

Os médicos são os gestores da utiliza-ção dos medicamentos. Os conheci-mentos dos mecanismos e da evolu-ção da doença, bem como do perfilfisiológico e psíquico do doente, con-ferem-lhe uma posição profissionalúnica na opção pelas melhores esco-lhas terapêuticas. A sua articulação nainformação com a indústria farmacêu-tica para esclarecimento dos efeitos be-néficos e adversos dos medicamentos

é inevitável e desejável. Todavia, há li-mitações éticas e deontológicas, e im-posições legais neste relacionamento.Não é permitido ao médico usufruirde benefícios pecuniários pelas suasopções farmacoterapêuticas, nem àindústria farmacêutica disponibilizá-los.Contudo, grande parte do financiamen-to da formação médica é feita pela in-dústria farmacêutica. Ao invés das ou-tras actividades profissionais, as enti-dades patronais na saúde, em particu-lar o Ministério da Saúde, não disponi-bilizam directamente meios financeirospara os médicos se actualizarem. Comoconsequência, a formação médica é pa-ga pelo próprio ou subvencionada pelaindústria farmacêutica ou pelos pro-dutores de dispositivos médicos.

As farmácias são geridas por farma-cêuticos que são responsáveis pela dis-pensa adequada dos medicamentosprescritos pelos médicos. A separaçãoentre a prescrição médica e a dispen-sa ocorreu no século XII com FredericoII, Imperador da Alemanha e rei da Sicí-lia, e em Portugal com D. Afonso V, doisséculos depois (1461). Esta decisão foicorroborada por D. João III em 1561proibindo as sociedades entre médi-cos e boticários, assim como a dispen-sa de medicamentos por boticário pa-rente do médico que os receita. Em-bora esta partição de competências efunções tenha em Portugal mais de cin-co séculos, desde os anos 80, após afundação da Associação Nacional deFarmácias (1975), várias têm sido astentativas das farmácias substituírema prescrição médica por medicamen-tos genéricos.

Em Portugal, a autoridade de saúdeque regula o medicamento começoupor se designar Instituto Nacional daFarmácia e do Medicamento de queresultou o acrónimo INFARMED. Estacomponente expressa à farmácia foimudada e actualmente denomina-seINFARMED – Autoridade Nacional doMedicamento e Produtos de Saúde, I.P.A alteração observada foi acompanha-da por um alargamento das compe-tências técnicas e por uma maior

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interacção com os profissionais de saú-de, incluindo, os médicos. Todavia, asubmissão ao poder político tornam oINFARMED susceptível a críticas acér-rimas e indesejáveis para uma institui-ção que deveria ter uma intervençãoessencialmente técnica.

Como se depreende desta sumáriaapresentação dos agentes envolvidosna problemática do medicamento, aevolução das regras que têm reguladoo exercício dos diversos intervenientesproduz aceso debate. Actualmente aquestão major levantada pela ANF é asubstituição da prescrição médica pormedicamentos genéricos.

Para além do inevitável argumento deproporcionar ao doente medicamen-tos mais baratos, a ANF tenta confun-dir a imagem dos médicos e da indús-tria farmacêutica, acusando-os de co-nivência de interesses. Entretanto, re-toma a possibilidade de verticalizar onegócio através da participação numaempresa inglesa produtora de gené-ricos, a Almus Pharmaceuticals, depoisde ter deixado cair há alguns anosum outro projecto com a alemã StadaArzneimittel AG. Enquanto o proces-so decorre, os laboratórios produto-res de genéricos apostam em gran-des descontos nas compras efectuadaspelas farmácias, promovendo redu-ções de 5 a 15 % na parcela nãocomparticipada do preço ou bónusde 100 ofertas na compra de 50 em-balagens. Estas «promoções» não têm,no entanto, qualquer repercussãopara o doente ou para o Estado nopreço de venda.

Independentemente das exigências daANF, a quota de mercado dos medica-mentos genéricos continua a aumen-tar, registando em 2008 um valor su-perior a 18 %, correspondendo a ven-das de 622 milhões de euros, segundo

o INFARMED. No entanto, alguns mé-dicos não confiam nos medicamentosgenéricos e outros só confiam em de-terminadas empresas produtoras. Di-versos factores explicam esta descon-fiança, nomeadamente, a globalizaçãoda produção dos medicamentos coma acompanhante falta de controlo dequalidade de fabrico de unidades deprodução que se situam em países forada jurisdição europeia. Argumenta-seainda que o INFARMED garante a qua-lidade dos genéricos, mas muitos duvi-dam de uma fiscalização em que o ins-pector também se confunde a promo-ção esses medicamentos em todos osmeios de comunicação.

Torna-se assim óbvio que a argumen-tação demagógica da ANF não é pro-porcionar medicamentos mais baratos,mas controlar o mercado e usufruirda sua actual posição monopolista nadispensa dos medicamentos. As conse-quências económicas da falta de con-corrência, com um controlo do mer-cado de 3,3 mil milhões de euros(INFARMED, 2008), não necessitam deser enfatizadas.Apesar das evidências,numa perspectiva imediatista, algunspolíticos parecem acreditar que as al-terações das leis da concorrência sãoirrelevantes para os cuidados médicos,e pretendem conceder às farmácias opoder de alterar a prescrição médica.Se isto ocorrer, sem o consentimentodo médico prescritor, será mais umcontributo na diminuição do relacio-namento do médico com o doente. Aperda de controlo das decisões clíni-cas e o aumento exponencial da bu-rocracia têm conduzido à frustraçãocom os cuidados prestados e à perdada ligação com os doentes. O actomédico tem como objectivo a preven-ção, o diagnóstico, a cura, ou o alíviodo sofrimento e rege-se por um códi-go de conduta moral assumido na for-ma de um compromisso com a socie-

dade. Para cumprir estes objectivos, osmédicos têm como imperativo éticomanter os seus conhecimentos actua-lizados de acordo com os progressostécnico-científicos e procurar um con-tínuo aperfeiçoamento de modo a ofe-recerem aos seus doentes o melhor tra-tamento.

A prescrição médica faz parte do actomédico. A decisão de prescrever umasubstância ou várias substâncias parao tratamento de determinada patolo-gia pode demorar breves instantes, masresulta de um complexo processo dematuração de conhecimentos e da ex-periência clínica. A relação entre omédico e o doente não termina com aprescrição medicamentosa. O acom-panhamento dos resultados terapêu-ticos induzidos pelos efeitos farmaco-lógicos, a identificação dos efeitos in-desejáveis de cada fármaco ou das inte-racções entre eles, ou o despiste deco-morbilidades que se possam con-fundir com os efeitos adversos dos me-dicamentos são tarefas da competên-cia e da responsabilidade médica. Esteprocesso continua o iniciado pelo do-ente que confessou ao seu médico assuas queixas corporais e psíquicas, eque aceitou ser observado ao porme-nor, declinando as dificuldades ineren-tes à exposição e ao pudor, desenca-deando assim um relacionamento deconfiança. Este recato da consulta mé-dica continua-se pela prescrição. A te-rapêutica representa um dos mais no-bres actos da consulta médica, portransmitir a esperança e a convicçãoao doente das capacidades do médicona resolução dos seus problemas. Su-jeitar a prescrição médica a um inter-posto comercial regido por proveitoseconómicos não contribui para o es-paço de saúde que as farmácias dese-jam nem para o estabelecimento deuma relação de confiança dos profissi-onais de saúde com os doentes.

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Gentil Martins

Numa altura em que se procura clarifi-car e definir o Acto Médico, parece pelomenos despropositado e aberrante, veras Farmácias proporem-se fazer o se-guimento dos diabéticos e outras do-enças crónicas – Que espaço gostari-am de reservar, no futuro, para osMédicos?...Receitar é sem dúvida um Acto Médicoe como tal da sua competência específi-ca. É pois essencial recusar liminarmentea violação do receituário Médico.Sempre estranhei que a Ordem dosMédicos não reagisse ao anúncio am-plamente publicitado (e há já muitosanos), sugerindo aos Doentes, com dú-vidas sobre uma medicação que per-guntem «ao Médico ou ao Farmacêu-tico», como se o valor da informaçãofosse idêntico. Haverá alguém, minima-mente consciente e sério, que não com-preenda que Medicina e Farmácia, em-bora com igual dignidade e valor, sãoCursos diferentes e levando a saberesdiferentes?Se o Ministèrio da Saúde não cumpreos acordos que terá feito com a Asso-ciação Nacional de Farmácias é certa-mente grave e reprovável. Mas isso nãopode justificar que não se cumpra alei. A lei actual não permite a substitui-ção e ninguém deverá ter dúvidas deque as leis devem ser para cumprir.Isto embora, «candidamente», João Cor-deiro afirme que a lei deverá ser muda-da para suporte da sua proposta! poisela seria economicamente mais favo-

A substituição de medicamentos nas far-mácias: uma proposta grave e inaceitável

Quem conhece a actividade e o percurso do recem-reeleito Presidente da

Associação Nacional das Farmácias, não pode estranhar uma proposta ina-

ceitável e de consequências potencialmente graves para os Doentes, como o

ser permitido aos Farmaceuticos substituir um medicamente por outro, não

respeitando a orientação do Médico.rável ao SNS e aos Doentes... e, se ca-lhar, não só...A proposta é tanto mais questionávele grave, quando advoga que cada Far-mácia (e parece que a esmagadoramaioria delas é Membro da Associa-ção Nacional a que preside o Dr. JoãoCordeiro), tenha apenas dois tipos degenéricos. Isto no momento em que areferida Associação se propõe ficar, elapropria, ligada ao fabrico dos mesmos.À mulher de César não basta que sejaséria... E a limitação a apenas dois me-dicamentos genéricos, representariauma séria limitação a um mercado, quese deseja concorrencial.Mesmo se admitirmos que ninguém éinfalível e que todos nos podemos en-ganar, se o Farmacêutico tiver dúvidas(até porque a letra do Médico nem sem-pre é muito clara...) nada mais lhe res-tará do que contactar o Médico pres-critor (que, aliás tem o seu contactoidentificado na própria receita). Domesmo modo, perante preços diferen-tes e qualidade supostamente identica,não será ilegítimo indagar do Médicose concorda com a substituição. Mas,seguramente, se não é desejável nemcorrecto tentar influenciar o Doentena sua escolha, pior ainda será ser oFarmaceutico a tomar a decisão.E já se terá pensado que Doentes anal-fabetos (e ainda os há..., sobretudo ido-sos e mais vulneráveis), apenas conhe-cem os medicamentos pela embalagemou pela cor e, pensando que são dife-rentes podem vir a tomar uma dosedupla, com eventuais efeitos adversos

e até possivelmente graves?Defender os genéricos que se consi-deram de acção identica aos medica-mentos de marca é uma opção lógica,racional e económica. Mas a verdadeé que nunca me pude esquecer do que,embora já há muitos anos, me disseum conceituado hematologista: com aVitamina B12 de um determinado fa-bricante curava as anemias, mas não oconseguia fazer com um medicamen-te, «teoricamente idêntico», fabricadopor um outro laboratório... O mesmotenho verificado, actualmente, com cer-tos medicamentos, de que são exem-plos o anestésico Propofol e o analgé-sico e anti-inflamatório Ibuprofeno.E perante a substituição, que claramen-te repudiamos, a quem caberia a res-ponsabilidade por uma eventual reac-ção adversa?O facto do Doente assinar a receitavai desresponsabilizar quem fez a tro-ca. Mas será que, para além de ilegal,será moralmente legítima essa desres-ponsabilização?E não será que o mais importanta é aconfiança que o Doente tem no seuMédico e o levará a não desejar alte-rar a prescrição deste, mesmo perantea pressão de certos farmaceuticosmenos escrupulosos?

Nota: Ao ter agora conhecimento deque o Dr. João Cordeiro até estava dis-posto (a bem dos Doentes e do SNS),a prescindir de fabricar Genéricos,comovi-me ......e só pude pensar no«cordeiro pascal»!

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1. A resposta terapêutica ao medica-mento não se reduz à que a farmacolo-gia prevê. A eficácia terapêutica depen-de da adequação terapêutica, da eficá-cia do princípio activo e do efeito pla-cebo. Se o médico não confiar (ou nãoactuar como se confiasse) no que pres-creve, o doente apercebe-se e o efeitoplacebo evapora-se.É o que acontece quando médicos efarmacêuticos se não entendem – seo médico prescrever um medicamen-to e a farmácia lhe fornecer outro, mes-mo que a droga seja a mesma.2. A vantagem do genérico é o preço.Se o objectivo for ajustar os custos damedicação ao necessário, mais impor-tante que reduzir o preço dos medica-mentos será racionalizar a terapêutica.Acontece que vivemos num país demédicos ansiosos e ansiogénios:

• Quase metade da população portu-guesa está directamente afectada peloalcoolismo. 4ª Conferência dos Alcoó-licos Anónimos, Março 2002• Quase metade dos portugueses temhipertensão. Congresso PortuguêsdeCardiologia. DN 20-4-2009• 3 milhões de portugueses precisamde tratamento. (Simposium Rota-pharmMadaus). Saúde Pública 2-4-2009• 9 em cada 10 portugueses sofrem de

Trocar de receitaTomem genéricos, portugueses! Tomem genéricos!

Olhem que não há mais metafísica no mundo senão genéricos.

cefaleias ao longo da vida. Saúde Pú-blica 2-4-2009• Panorama português de doenças car-diovasculares é assustador. Saúde Pú-blica 2-4-2009• Dois milhões de pernas inquietas. Pú-blico 27-6-2007• Dois milhões de portuguesas sofremde varizes. SIC. Dia Mundial da saúde.7-4-2008• Dois milhões com o pé-de-atleta. Pú-blico 19-7-2007• Dois milhões com dor crónica diá-ria. SIC. Dia Mundial dos Cuidados Pa-liativos. 7-10-2006• Rinite, asma, rinoconjuntivite – ini-migos sazonais de mais de 1,5 milhõesdeportugueses. Público 21-3-2002• O número de crianças a sofrer dealergias aumenta assustadoramente.Uma doença muitas vezes subestima-da, mas que pode provocar a morte.• Um milhão sofre de doenças da ti-róide. DN 25-5-2008• Um milhão de pessoas com doençasmentais. Público 11-10-2007• Diabetes já afecta um milhão de por-tugueses. DN 24-3-2009• Um em cada três portugueses pade-ce de uma das mais de cem as doen-ças reumáticas. DN 31-3-2008• Um terço dos portugueses são alér-gicos; metade não sabe. TV 5-4-2009• Um em cada três portugueses sofrede pelo menos uma doença crónica.DN 7-05-2002• Nove em cada dez portugueses des-conhecem que arritmias cardíacas po-dem serfatais. Instituto Português doRitmo Cardíaco. Lusa. 17-2-2009

Não admira que Portugal esteja cadavez mais hipocondríaco:«Num país em que a ocupação geral éestar doente». Eça de Queiroz. Os Maias(1888)Os portugueses são hipocondríacos –29% consideram que o seu estado de

saúde é «mau» ou «muito mau», emcontraste com 9% dos espanhóis.A Península Ibérica em Números 2007 (INE).E que um quarto esteja em sofrimentopsicológico (Inquérito Nacional de Saúde)Como seria de esperar, os portugue-ses gastam muito em medicamentos:«Per capita», só os EUA, a Alemanha ea França gastam mais; relativamente aoPIB, não há país que gaste mais. (OECDEconomic Surveys, Portugal 1998). Portu-gal, a seguir à França, regista o maiornúmero de medicamentos prescritospor consulta (6,2). (OMS)Portugal é o segundo país da Europaque mais consome antibióticos. (DGS)Os portugueses gastam demais e nãoapenas em medicamentos:Quanto ao número de telemóveis e decarros por mil habitantes, poucos paí-ses superam Portugal, onde existemmais aparelhos do que pessoas e maisde um automóvel por cada duas pes-soas. (572 vs 454‰ ). (A Península Ibéri-ca em Números 2007 (INE))Para reduzir substancialmente o con-sumo excessivo de medicamentos (eexames supérfluos e consultas desne-

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cessárias) bastaria seguir o padrão dos países dereferência:«Portugal ... é um dos países onde mais fármacossão consumidos por pessoa e onde se verifica umamaior prescrição por consulta. ... em 1996 consu-miam-se uma média de 22,3 fármacos por pessoaenquanto que, em países como o Reino Unido, aDinamarca e a Suécia, os valores não ultrapassa-vam os dez medicamentos por pessoa.»(António Hipólito Aguiar. Medicamentos, que realidade? –Passado, Presente e Futuro 2002)Poderíamos fazer ainda melhor — bastaria pres-crever apenas quando se justificasse e procurandoa terapia de eficácia comprovada. A CochraneLibrary ajuda-nos a saber se a eficácia de tal me-dicamento está provada quando indicado.Creio que estas medidas fundamentariam uma te-rapêutica de sólido rigor científico que poderia re-duzir os gastos na farmácia (e nos hospitais) a 1/3do actual, sem prejuízo da eficácia terapêutica sese explicasse isso aos doentes, eles também, comoos médicos, os jornalistas e os feitores de opinião,«farmacolizados»* – demasiado crentes na neces-sidade de medicamentos.A Cochrane Library ajuda-nos a saber se a efi-cácia de tal medicamento está provada quando in-dicado mas não há Cochrane para a Medicina de-fensiva nem para o médico «farmacolizado». Tere-mos que ser nós a avaliar se, para aquele doente,tal probabilidade de benefício justificará tal custo;concertando a estratégia com o doente sempre quese justifique. Não é fácil mas é isto que assinala omédico.Par evitar que o mercado, que nos impôs as suasregras, nos imponha também o seu paradigma –como tudo se pode adquirir no bazar, tudo se re-sumirá a conseguir medicamentos ao mais baixopreço – um mero problema orçamental. O marketingjá conseguiu impor a crença que o fármaco é aarma nobre da Medicina. Os médicos tal como osutentes parecem idolatrar os medicamentos. «Me-tade dos portugueses não deixaria de interpelar o mé-dico se ele terminasse a consulta sem lhe receitar umfármaco». Villaverde Cabral. «A Saúde e a Doença em Por-tugal» 2001. Se nos libertarmos desta idolatria, po-deríamos dizer a quem nos consulta o que seis emdez médicos de família britânicos gostariam de po-der dizer aos doentes: «Confie em mim, não precisa deremédios. E não estou só a tentar poupar-lhe dinheiro.»Se mais vale prevenir do que remediar, tambémvale mais tentar resolver os problemas do queremediá-los.

* H. C. Mota. Novo paradigma da Medicina (II). O médicodependente. Rev Ordem dos Médicos 2005;60:32-4

CURSO DE

ACUPUNCTURAE MOXIBUSTÃO

77777.º Curso de Acupunctura.º Curso de Acupunctura.º Curso de Acupunctura.º Curso de Acupunctura.º Curso de Acupunctura e Moxibustão e Moxibustão e Moxibustão e Moxibustão e Moxibustão

CURSO DE

ACUPUNCTURAE MOXIBUSTÃO

Universidade do Porto

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) Universidade de Santiago de Compostela – Master de

Acupuntura Médica (Espanha) Sociedade Portuguesa Médica de Acupuntura (SPMA) Ordem dos Médicos

77777.º Curso de Acupunctura.º Curso de Acupunctura.º Curso de Acupunctura.º Curso de Acupunctura.º Curso de Acupunctura e Moxibustão e Moxibustão e Moxibustão e Moxibustão e Moxibustão

A criação da Competência Médica em Acupunctura pelaOrdem dos Médicos em 14 de Maio de 2002 justificou ainstituição desta pós-graduação. São objectivos deste cursopromover e desenvolver os conhecimentos de Acupuncturana vertente assistencial e de investigação clínica. O programabaseia-se no modelo de curso de pós-graduação aprovadopela Ordem dos Médicos para acesso a Competência.

Destinatários: Licenciados em Medicina inscritos na Ordem dosMédicosCandidaturas: 1ª fase – 15 de Junho a 10 de Julho2ª fase – 24 a 28 de Agosto (caso existam vagas)Curriculum com um máximo de três páginasSelecção de candidatos: 1ª fase – até 22 de Julho2ª fase – até 4 de SetembroInscrições: 1ª fase – 3 a 14 de Agosto2ª fase – 10 e 11 de SetembroPropinas: 2.400 eurosNúmero de vagas: 25Duração: 300 horasHorário: 6.as feiras (16-20h), Sábados (9-19h), Domingos (9-13h)Local: ICBASCalendário lectivo: início em Outubro de 2009INFORMAÇÕES: Dr.ª Zélia Lopes – Tel.: 222062211/932062204;

[email protected] – www.icbas.up.ptINSCRIÇÕES: Secretaria de alunos do ICBAS – Largo Prof. AbelSalazar, n.º 2 – 4099-033 Porto; Tel.: 222062211; Fax: 222062232

Homologado no âmbito do Processo de Bolonha 30 ECTS

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30 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

C. A. Fontes RibeiroProfessor catedrático de FarmacologiaInstituto de Farmacologia e Terapêuti-ca Experimental, Faculdade de Medi-

cina da Universidade de Coimbra

Os medicamentos cedidos numa far-mácia comunitária podem ser os me-dicamentos inovadores ou de referên-cia mas também podem ser, e sê-lo-ãoaté com maior frequência, cópias oumedicamentos genéricos. Estes dois úl-timos são medicamentos que para asua autorização de introdução no mer-cado (AIM) apenas necessitaram de umprocesso abreviado ou bibliográfico.Ou seja, apenas necessitam de docu-mentar bibliograficamente as suas ca-racterísticas fármaco-toxicológicas eclínicas, não sendo dispensados dos es-tudos farmacêuticos, o que significaque a qualidade farmacêutica (qualida-de) está garantida – composição, graude impurezas, estabilidade, granulação,dissolução, etc. Aliás, o Decreto-Lei176/2006, no Artigo 17º (ControloLaboratorial) refere que «o INFARMEDpode submeter ou exigir que o reque-rente submeta ao laboratório oficial decomprovação da qualidade do Institu-to ou a um laboratório de reconheci-da idoneidade, público ou privado, omedicamento, as matérias-primas, osprodutos intermédios ou outros, desig-nadamente para certificar em ensaiolaboratorial a adequação dos elemen-tos referidos».Recordo que segundo o Decreto-Leinº 176/2006, existem quatro tipos deprocessos para a AIM na União Euro-peia: nacional, reconhecimento mútuo,descentralizado e centralizado. O me-dicamento genérico pode ter AIM por

Substituição de medicamentoscontendo o mesmo fármaco

Não existe qualquer problema na substituição de medicamentos contendo o

mesmo fármaco? É uma questão que actualmente se coloca e que iremos

analisar neste pequeno texto.qualquer um destes tipos de AIM, sen-do a exigência de documentação simi-lar para os diversos tipos de AIM.O Decreto-Lei 176/2006, de 30 deAgosto, refere que a Comissão de Ava-liação de Medicamentos do INFAR-MED (CAM) pode exigir estudos debioequivalência para os genéricos, oque tem acontecido. A este respeitosomos de opinião que não deveria ha-ver apenas a possibilidade mas a exi-gência ou obrigatoriedade de estudosde bioequivalência, evitando-se assimleituras de uma eventual menor trans-parência no processo.Mas é suficiente a bioequivalência?Segundo a norma ou guideline CPMP/EWP/QWP/1401/98 («Note for gui-dance on the investigation of bioavaila-bility and bioequivalence») a bioequi-valência entre dois medicamentos émedida através das razões para oCmax (ou valor máximo de concen-tração sanguínea após a administra-ção do medicamento) e a AUC («areaunder curve», até ao último ponto decolheita de sangue (AUC0-t) ou extra-polada até ao infinito (AUC0-inf) en-tre o fármaco teste (T), que poderá sero genérico, e o fármaco inovador oude referência (R). Estas razões T/R po-dem ser com valores com ou sem loga-ritmização. Pode haver ainda a exigên-cia de não haver uma diferença signifi-cativa entre T e R para o Tmax. Aindasegundo a mesma norma, os valoresde Cmax e AUCs, com ou sem logarit-mização, não podem ser significativa-mente diferentes entre T e R.De acordo com a norma referida, ointervalo de confiança a 90% admissívelpara T/R, relativo ao Cmax e às AUCs,pode variar entre 0,80 e 1,25. Ou seja,

para o mesmo princípio activo pode-mos ter o genérico T que esteja a 80%e o genérico T´ que esteja a 125%, rela-tivamente ao medicamento de referên-cia. Daqui se conclui que pode haverdois genéricos que difiram quase 50%entre si.É esta diferença aceitável?Um dos princípios da Farmacologia éo efeito dependente da concentração,sendo esta dependente da dose admi-nistrada. Este facto torna questionável,para não dizer inaceitável, esta varia-ção. Evidentemente que se pode argu-mentar que só em casos pontuais po-dem surgir esta diferença, já que o pres-suposto impõe que os dois genéricosestejam nos pontos opostos da bioe-quivalência. Mas atendendo a que exis-te uma dose mínima e uma dependên-cia da dose, haverá necessidade demaior precaução na aquisição e cedên-cia de medicamentos do tipo das có-pias ou genéricos.Mesmo para uma menor variação, seo fármaco tiver uma margem ou jane-la terapêutica estreita mais razões exis-tem para questionar aquele intervalode confiança a 90%. Será o caso dedigitálicos, alguns antiepilépticos, al-guns antibióticos, moduladores da imu-nidade... Talvez que para estes o acon-selhável seja um intervalo de 90 a110%. Sobre esta questão é de referirque já está em discussão uma novaGuideline sobre Bioequivalência(CPMP/EWP/QWP/1401/98 Rev.1),cuja data limite para discussão teráterminado em 31 de Janeiro deste ano(www.emea.europa.eu).

Outro aspecto a considerar na substi-tuição diz respeito à relação médico-

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doente/utente. É sabido que um en-saio clínico aberto tem melhores re-sultados do que um oculto. A ocultaçãopermite diminuir o efeito placebo, quederiva principalmente da relação comos profissionais de saúde. Benedetti(Placebo effects: Understanding themechanisms in health and disease, Ox-ford University Press, 2009) demons-tra que um placebo administrado demodo aberto tem uma «eficácia» du-pla do mesmo placebo administradode modo oculto, o que sublinha a im-portância do curador para o doente.Estes efeitos não são de estranhar, aten-dendo às expectativas do doente e aocondicionamento clássico.Como corolário destes nossos consi-derandos, somos de opinião que sãonecessários alguns princípios na cedên-cia de genéricos:

1. Prescrever e ceder o mesmo gené-rico ou cópia ao mesmo doente, nacontinuação do mesmo tratamento.2. Exigir os valores que determina-ram bioequivalência, de modo a seescolherem fármacos com valoresde T/R próximos (ou seja, um livroou base de dados de genéricos comvalores de bioequivalência, à seme-lhança dos outros valores assina-lados para a farmacocinética).3. Rever a norma para bioequiva-lência, restringindo e indicando cla-ramente o intervalo para os fár-macos de margem de segurança es-treita (já está a ser feito), que de-vem ser listados.

Claro que existe a contra-argumenta-ção a estes nossos princípios:

1. Os genéricos são feitos na mes-ma fábrica, obedecendo obrigato-riamente às Boas Práticas de Fabri-

co, não havendo, por isso, diferen-ças assinaláveis entre eles.2. Durante uma determinada sequên-cia temporal e para o mesmo trata-mento o médico prescreve diferentesgenéricos para o mesmo doente.3. O número de genéricos é muitoelevado, o que torna impossível agestão de uma farmácia.4. A maioria dos genéricos actuaem doses e concentrações muitoamplas, o que torna as diferençasentre eles pouco significativas.5. O custo de aquisição pelo do-ente é significativo, tornando-se im-perioso ceder os mais baratos, des-de que o doente concorde.

Quanto ao primeiro ponto, nem todossão feitos na mesma fábrica e o seu fa-brico deve obedecer às especificaçõespróprias do «dossier comprado», quehabitualmente já inclui o estudo debioequivalência. O princípio activo podeser o mesmo mas os excipientes, agranulação, a compressão e outros as-pectos podem tornar significativamentediferente a biodisponibilidade. Para ul-trapassar as eventuais dúvidas nesteaspecto, as inspecções do INFARMEDtêm de ser visivelmente activas, dandonotícia dos seus resultados. Quanto àcompra do dossier e respectivo estudode bioequivalência (ou biodisponibili-dade relativa), é um assunto que pelasua importância merece ser abordadonoutra ocasião, noutro texto.No que respeita ao segundo ponto, aprescrição sequencial de diferentesmedicamentos genéricos com o mes-mo princípio activo só se pode justifi-car pelo surgimento de ineficácia, quenão seria de esperar, ou por reacçõesadversas devidas aos excipientes. Mu-dar de genérico devido à pressão domarketing é má prática clínica.

A questão do número exagerado degenéricos é provavelmente a que esta-rá na origem primeira do desentendi-mento entre profissionais de saúde, ape-sar de tanto os médicos como os farma-cêuticos concordarem neste ponto.Todavia, somos uma economia de mer-cado e não se poderá limitar o núme-ro de genéricos. Talvez que reuniõesconjuntas de médicos e farmacêuticos,à semelhança da Holanda, e maiortransparência e fiscalização no marke-ting e na comercialização possam ul-trapassar estes problemas, tanto a ní-vel médico como farmacêutico.Quanto ao custo dos medicamentos,tem de ser uma preocupação do mé-dico, já que o medicamento deve serprescrito em função da eficácia (ouefectividade, quando existe), da segu-rança, da conveniência e do custo. Pro-vavelmente o custo dos genéricos emPortugal é excessivo, atendendo àscampanhas feitas junto do médico edo farmacêutico, o que poderá ser fa-cilmente ultrapassado se houver umadescida do custo para valores que nãodeixem margem demasiado significati-va para duvidosas «ofertas». Quanto aeste aspecto devemos dizer que prefe-rimos medicamentos genéricos, excep-to quando o índice terapêutico ou mar-gem terapêutica são estreitos, mas quena cedência de um genérico numa far-mácia nunca nenhum farmacêutico nosexplicou as vantagens e desvantagensna escolha de um determinado medi-camento genérico! Porém, não será pornós que haverá desvio da prescriçãode medicamentos genéricos para medi-camentos inovadores muito mais ca-ros, porque quem perde é o ServiçoNacional de Saúde, o que significa quenós (todos?), como portugueses, per-demos.

([email protected])

DOSSIER PRESCRIÇÃO

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1 – O Presidente da ANF, na defesa doseu monopólio, obsessivamente con-testa a actual legislação sobre a pres-crição médica. Ao que tem sido escri-to sobre os interesses económicos sub-jacentes às motivações do Presidenteda ANF, gostaria de acrescentar bre-ves notas sobre os riscos da violaçãoda legislação sobre a prescrição medi-camentosa.2 – Os genéricos são medicamentoscom o mesmo princípio activo (fárma-co) de medicamentos de marca cujapatente caducou, mas, os excipientes(substâncias habitualmente inertes, usa-das com estabilizantes, solubilizantes,etc) e o processo de fabricação domedicamento podem ser diversos econduzir à presença de contaminantescausadores de efeitos adversos, comorecentemente foi descrito nos USAcom algumas heparinas que causaramreacções alérgicas graves e óbitos (NEngl J Med 358:2457, 2008) ou podehaver erros de dosagem como recen-temente a FDA relatou (http://www.fda.gov/medwatch/safety/2008/safety08.htm#Ethex).

Fundamentação científica e éticada legislação sobre a prescriçãomedicamentosa

3 – O controlo de qualidade dos me-dicamentos no mercado é fundamen-tal, começa com o fiscalização do pro-cesso de fabrico e deve seguir com aná-lises periódicas e aleatórias da compo-sição química dos produtos. Nos USA,apesar da FDA fazer este controlo pre-ventivo apertado sobre a qualidadedos produtos no mercado americano,alguns produtos defeituosos passameste crivo e causam problemas (v. ca-sos acima referidos), cuja detecçãoprecoce pelo segundo sistema de se-gurança que é a FarmacovigilânciaMédica é crucial para a Saúde Pública.4 – A Farmacovigilância é o segundosistema de controlo do mercado, já quepermite identificar precocemente osproblemas causados pelos medicamen-tos (quer pelo fármaco, quer pelos con-taminantes) e retirá-los do mercado.Se o farmacêutico alterar a receita domédico a detecção destes efeitos ad-versos pelos clínicos fica anulada ouviciada prejudicando gravemente aFarmacovigilância e a Saúde Pública,já que os efeitos adversos causadospelo medicamento defeituoso, são re-latados pelo médico (que ignora a alte-ração da sua receita) como associa-dos ao medicamento que prescreveu.São os médicos, e não os farmacêuti-cos, que seguem os doentes e têm com-petência para diagnosticar e identifi-car estas reacções adversas (diferenci-ando-as da sintomatologia própria dasdoenças). O médico é o técnico com-petente para avaliar a eficácia e a se-gurança dos medicamentos, e o farma-cêutico é o técnico habilitado para fa-bricar medicamentos e vendê-los.O INFARMED para autorizar os gené-ricos faz antes da sua introdução nomercado análises químicas dos consti-

tuintes e exige a prova da biodisponi-bilidade (que garante níveis do fármacono sangue equivalentes aos do medica-mento original), mas ignoro se depoisrepete estes estudos, com que frequên-cia os faz e onde os publica os resulta-dos. Mas, num país com problemas fi-nanceiros e logísticos como Portugal(as análises laboratoriais aos medica-mentos são caras), quando se anula estecrivo final da Farmacovigilância, o con-trolo da qualidade dos medicamentosno mercado fica seriamente agravado,pelo que a atitude da ANF não só éuma violação da Lei e pode eventual-mente configurar um crime contra aSaúde Pública.5 – A ANF justifica a sua posição pelaaplicação do mesmo princípio segui-do nos hospitais – prescrição pelo fár-maco. Porém, nos hospitais a situaçãoé diversa, já que a Comissão de Farmá-cia (que inclui farmacêuticos) opta pelogenérico mais barato cuja origem ins-pira confiança e sabe o produto queescolheu, pelo que a prescrição pelofármaco nos hospitais não prejudica aFarmacovigilância.6 – Sendo o farmacêutico parte inte-ressada na venda de medicamentos,não deve escolher aquilo que vai ven-der. As velhas Ordenações Afonsinasjá sabiamente separavam as águas: in-terditavam aos médicos a venda dosmedicamentos, e proibiam aos boticá-rios o acto de receitar os produtos quevendiam (Medicamentos, Ética, Econo-mia e o obsoleto monopólio das Farmá-cias. Vale, FM Revista Ordem Médicos2005, N 58: 60-61). A defesa dos inte-resses da ANF é legítima por parte doseu presidente, mas tem que haver li-mites impostos pela Ética, que funda-menta a Deontologia e a Lei. Ao de-

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fender obsessivamente o direito à alte-ração do receituário médico pelo far-macêutico, o presidente da ANF violanão só a lei como também a Deonto-logia, que o Bastonário dos Médicos, aMinistra da Saúde e a própria Basto-nária dos Farmacêuticos vieram lem-brar.7 – A ANF está muito preocupada comas dificuldades económicas dos portu-gueses face aos custos dos medicamen-tos, mas curiosamente é contra as far-mácias hospitalares, ou a liberalizaçãodos medicamentos de venda livre emlocais reservados nos hipermercados

(onde já tenho comprado medicamen-tos mais baratos que na farmácia).8 – O farmacêutico deve dar aconse-lhamento técnico (cautelas a observarcom os medicamentos), mas parecemuito mal, sendo parte interessada navenda (lucros diferentes consoante osprodutos) dar aconselhamento comer-cial sobre aquilo que vende. Só o doen-te tem competência para escolher aqui-lo que paga, devendo comunicar aomédico.9 – Não há motivos válidos para aposse exclusiva das farmácias por far-macêuticos (desde que haja um como

director técnico), impedindo qualquerpessoa (excepto os médicos como oautor destas linhas) de possuir farmá-cias. Para bem dos doentes é imperi-oso liberalizar o número e a posse dasfarmácias, pois só a livre concorrên-cia (nunca o monopólio) defende oconsumidor. Acresce que o enormelucro das farmácias é completamenteinjustificado, não só por ser um ne-gócio de baixo risco (que ficou porconta dos fabricantes), mas tambémpor penalizar a carteira dos doentescom quem o Dr. Cordeiro está tãopreocupado.

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34 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

I N F O R M A Ç Ã O

Admissão por consenso na Competênciaem Patologia Experimental

Informam-se os interessados que foi prorrogado o prazo de admissão

por consenso na Competência em Patologia Experimental pelo período

de cinco meses a contar da data de publicação deste anúncio. Para o

efeito, republicam-se os critérios de admissão por consenso.

Requisitos para a Inscrição na Competência de Patologia Experimental

1º. O Período transitório para a aquisição da Competência Médica em Patologia Experimental por consenso, com base naavaliação curricular termina no dia 30 de Setembro de 2009.

2º. A aquisição da competência neste período é atribuída com base na avaliação curricular, considerando-se dois pontosfundamentais:

a. Actividade cientifica na área da Patologia Experimental – traduzida sobretudo por participação activa em projectos deinvestigação, comunicações cientificas e publicação de artigos de investigação.b. Formação na área de Patologia Experimental – num curso de pós-graduação ou Mestrado que dê formação aprofundadana ara da Patologia Experimental.

3º. Durante o período transitório pode adquirir a competência médica em Patologia Experimental todo o médico com carteiraprofissional válida em Portugal que cumpra pelo menos um dos seguintes critérios:

Critério 1: participação em actividades de I&D há mais de cinco anos e ser co-autor de pelo menos três artigos, na área dePatologia Experimental, publicados em revista de circulação internacional com arbitragem;

Critério 2: Ter frequentado e sido aprovado num curso de pós-graduação ou na parte curricular de um curso de Mestrado que dêformação aprofundada na área de Patologia Experimental e ter comunicações e publicações na área da Patológica Experimental;

Critério 3: Ter apresentado e defendido uma tese de mestrado ou de doutoramento com a componente de PatologiaExperimental e ter comunicações e publicações na área da Patologia Experimental in vivo;

Critério 4: Reger uma disciplina num curso de pós-graduação ou curso de Mestrado ou ser orientador (ou co-orientador) deuma tese de mestrado em curso que dê formação aprofundada na área de Patologia Experimental e ser co-autor decomunicações e publicações na área de Patologia Experimental in vivo.

Os documentos a apresentar para instruir o processo devem ser enviados em suporte papel para a Comis-são Instaladora da competência em Patologia Experimental da Ordem dos Médicos, para a Secção Regionalonde está inscrito e constará de:

1º. Fotocópia do bilhete de identidade2º. Requerimento dirigido à Comissão Instaladora da Competência, identificando o número da cédula profissional3º. Três exemplares do curriculum vitae.

Os interessados deverão apresentar a sua candidatura, junto da sua Secção Regional até ao próximo dia 30 deSetembro de 2009.

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Assunto: Audiência sobre a Faculdade de Medicina do Algarve.

A oitava Faculdade de Medicina em Portugal, que vai iniciar a seu percurso no ano lectivo de 2009-2010 naUniversidade do Algarve, levanta uma série de questões de extrema importância, com delicadas implicações futuras,que a Ordem dos Médicos gostaria de analisar com V. Ex.a, pelo que vem solicitar uma audiência formal com esseobjectivo.

Recentemente a Ordem dos Médicos e a Universidade do Algarve trocaram comunicados públicos sobre a novelFaculdade de Medicina, afirmando as posições e argumentos de cada uma das Instituições.

Sobre os itens referidos pela Universidade do Algarve, não podemos deixar de sublinhar que é perturbador queuma Universidade pública recorra a elaborada semântica para explicar o inexplicável, revele desconhecimentosobre a realidade do numerus clausus para Medicina e uma inqualificável incapacidade para fazer cálculos.

No ano lectivo de 2008-2009 abriram 1614 vagas para Medicina nas sete Faculdades de Medicina portuguesas. Semultiplicarmos este número por 30 anos, significa que se formarão, durante este período de tempo, 48420 médicos.A este número deveremos somar os cerca de 12000 médicos formados nos dez anos anteriores, que pelas novasregras de aposentação, terão que exercer pelo menos durante 40 anos. Quer isto dizer que, em 30 anos, sem sequercontar com os estudantes de medicina portugueses no estrangeiro e com os eventualmente formados na Universi-dade do Algarve (UA), Portugal irá duplicar o seu actual número de Médicos!

Para que vai precisar Portugal de mais de 60000 médicos no activo, particularmente quando se prevê uma reduçãoda sua população total?

PRESIDENTEAv. Almirante Gago Coutinho, 151

Telef. 218 427 100 Fax 218 427 1991749-084 LISBOA

A Sua ExcelênciaO Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino SuperiorProf. Doutor José Mariano GagoMinistério da Ciência, Tecnologia e Ensino SuperiorPalácio das Laranjeiras, Estrada das Laranjeiras, 197 a 2051649-018 Lisboa

I N F O R M A Ç Ã O

Faculdade de Medicina do AlgarveCom a aproximação do início de actividade da oitava faculdade de medicina

de Portugal, a Ordem dos Médicos solicitou uma audiência ao Ministro da

Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, com o objectivo de analisar conjunta-

mente com a tutela as questões que se colocam com a abertura desta facul-

dade e as eventuais implicações futuras. Transcreve-se o referido pedido de

audiência.

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Portugal terá actualmente cerca de 30000 médicos no activo, um número exactamente sobreponível à médiaEuropeia. O actual problema da saúde em Portugal, salvo algumas situações pontuais, não é de falta de Médicos massim de falta de organização, como reconheceu a própria Ministra da Saúde, com propriedade, em recente entrevista.

O rotundo êxito do programa específico de combate às listas de espera para cirurgia das cataratas ilustra ampla-mente esta indisputável verdade. Com um pequeno investimento adicional, que permitiu a rentabilização da capa-cidade já instalada no SNS, em poucos meses acabou-se com as listas de espera de cataratas, sem que fossemnecessários mais oftalmologistas ou recorrer ao envio de doentes para o estrangeiro.

E se se prevê que, no curto prazo, possa haver alguma dificuldade transitória de Médicos, ela não será resolvida pelaUniversidade do Algarve, pois só daqui a dez anos começarão os seus primeiros licenciados a completar as respec-tivas especialidades, numa altura em que já terão sido ultrapassadas essas mesmas dificuldades. Este problematransitório será facilmente resolvido se o Governo atrair os Médicos que estão actualmente perto da sua reformapara se manterem mais meia dúzia de anos no activo.

E para solucionar a falta de Médicos para o INEM, também não é necessário importar Médicos, bastando que todosos licenciados das Faculdades de Medicina adquiram, durante o curso ou nos dois primeiros anos de internato, acompetente formação em emergência pré-hospitalar e os cursos de suporte avançado de vida e de suporte avança-do de vida em trauma, assim constituindo facilmente uma enorme e inesgotável reserva de recrutamento de jovenspara trabalhar nas VMERs e Helicópteros medicalizados.

A indesmentível verdade é que, em termos quantitativos, a Faculdade de Medicina do Algarve se vai limitar a formarMédicos para o desemprego ou para exportação.

Aliás, quem faz contas de forma honesta e transparente sabe que, a partir de 2010, o numerus clausus paraMedicina deveria começar a diminuir para evitar o desemprego médico.

Médicos a menos prejudicam as populações pelas dificuldades de acesso, mas Médicos a mais constituirão umdesperdício para o país e uma ameaça para os cidadãos saudáveis, pois será difícil evitar a tentação de inventardoentes para sobreviver e, com isso, iatrogenizá-los e fazer disparar os custos globais da saúde.

E numa altura em que o país se debate com uma profunda crise económica, em que as Universidades estãoasfixiadas e em que o SNS, por falta de recursos, está a ser minimalizado e comprometido na qualidade dos serviçosdisponibilizados aos doentes, é um dever patriótico que todos se questionem sobre as razões subjacentes a umadecisão contrária a critérios técnicos, e que custará dezenas de milhões de euros ao país.

Perante a crueza dos números, por si próprios indesmentíveis, é evidente e incontestável que Portugal não precisade mais quaisquer Faculdades de Medicina para além das sete já existentes.

Além da problemática relacionada com o numerus clausus e o futuro número de Médicos, outras sensibilidades têmde ser abordadas.

Num país como Portugal, dizemo-lo com frontalidade mas com grande tristeza, um método de selecção que incluauma entrevista é completamente inaceitável por estar sujeito a todo o tipo de influências externas e não garantir aigualdade de oportunidades. Não é necessário um grande exercício intelectual para prever o curriculum vitaedaqueles que irão ser qualificados como tendo uma enormíssima vocação para Medicina. Se a Universidade doAlgarve quer ser transparente deve definir uma fórmula de selecção imune a subjectividades.

A Comissão Científica Internacional (CCI), conforme o texto reproduzido no comunicado da UA, produziu umelogio no condicional à metodologia escolhida para o curso porque, na realidade, não existe Medicina Baseada naEvidência que comprove que o método PBL, que é extraordinariamente exigente, ministrado por um corpo docentemaioritariamente sem experiência, seja globalmente superior aos métodos de ensino presentemente utilizados. Seassim fosse e se este país fosse consistente e coerente, a CCI e o Ministério do Ensino Superior deveriam terrecomendado que todas as Faculdades de Medicina adoptassem o mesmo método.

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Um dos graves problemas do país é que passamos a vida a fazer experiências que, depois, nunca são avaliadas nemextraídas conclusões consequentes. Elogiamos deslumbradamente todas as experiências, mas nunca aprendemoscom os resultados. E assim estamos cada vez mais na cauda da Europa.

A Faculdade de Medicina do Algarve não é necessária, pelo que a sua nova experiência, por muito interessante eestimulante que seja, é supérflua. Caso se pretenda testar a experiência de ensino integral em PBL em Portugalentão que se faça a experiência numa Faculdade de Medicina já existente.

A colaboração com a Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa ilustra e comprova as iniludíveis dificuldadesrelativas ao corpo docente deste novo curso e a necessidade de recorrer ao que já foi chamado turbo-professores,uma realidade totalmente incompatível com o método PBL e uma experiência que não deu bons resultados nopassado, pelo que não se entende porque se repete no presente e para o futuro! Só seria minimamente compreen-sível e aceitável se a Faculdade de Medicina da UA fosse absolutamente essencial para o país. Todavia, é exactamenteao contrário.

Finalmente, é incontornável que licenciaturas em outras áreas não conferem aos alunos a mesma formação dosprimeiros anos dos Cursos de Medicina, pelo que a Ordem dos Médicos encara com enorme preocupação aqualidade dos futuros licenciados pela Faculdade de Medicina do Algarve.

Sejamos claros, a decisão tecnicamente correcta é a de não continuar com a Faculdade de Medicina do Algarve. Oónus da decisão política vai ser pago por todo o país. Esperemos que prevaleça o bom senso e não se abra nemmais uma Faculdade de Medicina em Portugal.

Aguardando uma resposta positiva de V. Ex.a ao pedido de audiência agora formulado, subscrevemo-nos comrespeito e apresentamos os nossos melhores cumprimentos,

O Presidente

Pedro M. H. Nunes

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Médicos para o Canadá – InformaçãoA redacção da ROM informa que o anúncio inserido na página 48 da edição de Fevereiro, sobreo pedido de médicos para o Canadá é feito por uma empresa de ‘Consultoria de Emprego’ quevende o dossier de documentação para os profissionais que pretendam tentar emigrar para essepaís e aí exercer a sua actividade. Embora o espaço esteja identificado como publicidade, a redac-ção não tinha conhecimento desse pormenor, caso contrário teria exigido a sua inclusão no anún-cio para o tornar mais claro. A redacção agradece aos médicos que, com a informação prestada,nos permitiram detectar e esclarecer esta situação.

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38 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

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Exmª Senhora Ministra da Saúde

É Vª Exª, se a memória não me atraiçoa, o segundo médico, em democracia, a deter a pasta da Saúde.Esse facto, não sendo de especial mérito, investe Vª Exª de responsabilidade acrescida, porque sendo médica tem ummaior conhecimento dos reais problemas dos doentes, dos profissionais de saúde, das instituições, das suas virtualidadese dos seus bloqueios.Vários temas teria para escrever. Mas escolho três ou quatro para não ser demasiado comprida e monótona estamissiva pública.Começo pelo tema para mim fulcral do Serviço Nacional de Saúde (SNS). A existência do SNS é aceite por todo oleque partidário como sendo peça estruturante da nossa Democracia. Concordo completamente.Como concordo completamente com as premissas do Prof. Vital Moreira, que no Jornal «Público» de 31 de Marçoúltimo dizia: «…o SNS conferiu-lhe uma grande base social de apoio e uma grande legitimação política na sociedadeportuguesa, como condição de igualdade social e de cidadania efectiva.» E, mais à frente: «…Toda a proposta dereforma tende a ser acusada de destruir o SNS e a suscitar resistências a qualquer mudança.».Já em relação às conclusões temos opiniões divergentes já que afirma ainda, nesse mesmo artigo: «…Toda a propostade reforma tende a ser acusada de «pretender destruir o SNS» e a suscitar resistências à sua mudança, mesmo quandotrata de melhorar o seu desempenho e de aumentar a sua eficiência, como sucedeu, por exemplo, com as reformasdesencadeadas pelo anterior ministro da saúde, Correia de Campos,…»A nossa discordância é total.O Prof. Correia de Campos veio, na minha perspectiva, agravar tudo o que de negativo o SNS possuía: a burocratização,a desumanização, terminando com Serviços de Urgência essenciais para a população, sem lhes dar alternativas credíveis:SNS desenhado na mesa dum burocrata, teórico, dizem que brilhante, da Saúde, professor da classe dirigente da saúdeem Portugal, mas sem ligação com as reais necessidades e dignidade das populações (que aliás perceberam isso, o queobrigou o Sr: Eng. Sócrates a substitui-lo).Entretanto por todo o lado é dito que há falta de médicos no País.A Srª Ministra, segundo a revista «Focus», para obstar a essa falta, «importa» médicos do estrangeiro e vai tentar quemédicos reformados continuem a trabalhar no SNS.Tenta-se ainda aumentar o número de vagas nas Faculdades de Medicina.Todas estas soluções são para mim correctas e devem ser levadas à prática.Mas é bom que fique claro que Portugal tem um número de médicos por 100 mil habitantes (328) ligeiramente inferiorà média europeia (330) e superior à de países como a Inglaterra, Suécia, Finlândia, Luxemburgo, Holanda etc..Fácil é deduzir que não será só a falta de médicos o problema, mas antes a sua má distribuição, a deficiente gestão eorganização dos recursos humanos. (Diga-se entretanto e entre parêntesis que o número de enfermeiros por 100 milhabitantes (425) é que nos coloca na cauda de 27 países da Europa, só sendo pior na Roménia, Grécia e Chipre!)As minhas propostas para melhorar este SNS, mantendo-o universal, tendencialmente gratuito mas com maior dignidadedas pessoas, mais equitativo e mais imune às pressões das seguradoras e dos grupos privados, vão em sentido oposto.Sugiro à Srª Ministra, que tal como o único antecessor médico na pasta da saúde, Dr. Paulo Mendo, autorizou que todoo médico pudesse passar as receitas do SNS em qualquer sítio onde exercesse, pudesse agora fazer o mesmo com osexames complementares de diagnóstico.E, se a coragem política ainda lho permitisse, determinar que cada pessoa possa escolher o médico e a instituição que entenda.Se alguma dúvida houvesse sobre a bondade desta medida pedia-lhe que perguntasse ao círculo das classes dirigentes,dos mais poderosos, dos que têm melhores condições económicas, sociais ou, simplesmente, de amizades: quandoestão doentes a que médico e instituição vão?Se for urgência/emergência claro que ao sítio mais perto capaz de lhe resolver os problemas.

Ordem dos Médicos Distrito Médico de Évora

Carta Aberta à Ministra da Saúde

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E nas restantes situações?Não será que procuram o médico em que têm mais confiança?! E se assim for, como penso, não será um exercício dehipocrisia dar aos outros o que para nós e para os nossos não queremos?

Outro tema: Serviços de Urgência (SU): Não acredita decerto a Srª Ministra, tal como eu, que os doentes encham esses serviços,esperem neles horas, sem necessidade. Procuram-nos porque são a alternativa menos má para alívio do seu sofrimento.Também não concorda, decerto, que os doentes permaneçam dias, em macas nos corredores dos SU, aguardando vaganos serviços de internamento.E qual a causa deste caos nos SU? Em primeiro lugar o excesso de doentes que aí acorrem por não terem melhor sítioonde ir. A lógica economicista do seu antecessor na pasta da saúde que levou ao encerramento de vários SU deproximidade, associado à falta de visão na melhoria do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que fomentasse a maioracessibilidade dos doentes ao seu médico-assistente, levou a um aumento da procura aos SU que sobreviveram.Associa-se a incapacidade de internamento pelos actuais hospitais da rede pública dos doentes que dele precisam. Ea que se deve esta falta? A um cada vez maior envelhecimento da população, a uma cada vez maior incapacidade dasfamílias assistirem os seus doentes em casa, ao não se fomentar a ida dos médicos e enfermeiros aos domicílios, ao nãose abrirem hospitais de proximidade, ao facto de alguns Conselhos de Administração, pela mesma lógica economicista,encerrarem camas de agudos.

Outro tema que, estou certo, a Srª Ministra compreenderá: Sabe Vª Exª porque me aposentei da função pública? Sabeporque se aposentaram tantos médicos da função pública, muitos ainda sem 60 anos?Por um lado, pela facilitação dada pelo Governo do Eng. José Sócrates para que os funcionários públicos, duma forma global,se aposentassem, conseguindo assim diminuir o deficit público e também contratando mão de obra mais barata e mais «dócil».Por outro, no caso mais específico dos médicos, pelo assalto que foi feito aos órgãos de decisão por indivíduos semcompetência, sem qualidade, nomeados por critérios partidários ou por serem «braços armados» dessa politica semvalores. O critério válido é o economicista, do número –este tantas vezes forjado no conluio entre actividade públicae privada ou na diminuição das listas de espera cirúrgicas à custa do erário público e sem qualquer equilíbrio nas reaisnecessidades dos doentes.Os directores clínicos (dc) são nomeados. Deixaram, há anos, de serem eleitos.O Conselho Médico-órgão consultivo que englobava os directores de serviço e os adjuntos do dc- foi extinto. Quandoexerci cargo de direcção já achei essa situação errada. Não poderia a Srª Ministra, com o poder que agora detém,repor alguns princípios neste assunto? Evitaria a indiferença que muitos dos dcs hoje têm e os consequentes disparatesque fazem, vinganças que executam e impunidades de que dispõem.Esta indiferença e esta incompetência repercutem-se no dia-a-dia se sobre o nosso trabalho.Obviamente que quem pode vai-se embora!E, num jornal diário («Correio da Manhã) de 6 de Abril último, podia-se ler: «Listas de espera com 655 mil utentes».Poder-me-á dizer: e porque não disse tudo isso na altura certa, enquanto estava vinculado à função pública?Mas eu disse-o por todas as formas hierarquicamente ao meu alcance :assinei abaixo-assinados, escrevi cartas ao Conselho de Administração(CA) do Hospital, ao CA da ARS.Nas reuniões com o CA disse sempre o que se passava.O caminho da prepotência, da falta de respeito por valores da competência, isenção e humanismo continuaram.Só, quando três anos mais tarde, sou eleito Presidente do Conselho Distrital da Ordem dos Médicos (OM), pude assimdenunciar publicamente o que de grave se passava no SU é que a resposta surgiu.E sabe V.Exª que resposta foi?Uma queixa do Presidente do CA do Hospital ao Bastonário da OM sobre a minha atitude e falta de colaboração.Desta carta foram enviadas cópias para a Srª Ministra, para a Srª Presidente da ARS, para Directora do SU e para mim próprio.Exerci então direito à minha defesa e informei os destinatários da referida da carta da minha visão do que de grave se passava.Bem andou o Dr. Pedro Nunes que, da carta do Presidente do CA e da minha defesa, mandou instaurar um processodisciplinar ao Director Clínico.De V. Exª nada soube!...E, ou eu disse a verdade ou não.Em qualquer das situações as deveria haver consequências

José Eduardo CorreiaPresidente do Conselho Distritalde Évora da Ordem dos Médicos

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40 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Março 2009

Foi durante a cerimónia de encerra-mento que este grupo de médicos viuo seu nome ecoar numa sala repletade colegas que quiseram estar presen-tes, para lhes prestarem a devida ho-menagem. António António José Go-mes da Silva, director do Serviço deCirurgia Geral do Hospital de SantoAntónio foi um dos galardoados. Es-pecialista em cirurgia geral, fez parte,durante muitos anos, de órgãos de de-

XIV Congresso Nacional de Medicina

OM distingue médicos por méritoUm grupo de 14 profissionais foi recentemente homenageado com a Meda-

lha de Mérito da Ordem dos Médicos. Esta distinção que decorreu durante o

Congresso Nacional de Medicina no Centro de Congressos de Lisboa e des-

tacou figuras de renome, que se evidenciaram não só na sua área profissional,

mas também pelas suas qualidades em campos tão diferentes como, por exem-

plo, o da escrita. De salientar a enorme capacidade de comunicação e a con-

tribuição para o desenvolvimento e dedicação à causa da saúde em geral dos

médicos distinguidos.cisão que lutaram por causas e defen-deram convictamente a classe médica.Ocupou o cargo de vice-presidente doConselho Regional do Norte, entre2005 e 2007, foi presidente da Mesade Assembleia e da Comissão Directiva,entre outros cargos. Por estas razões,a OM concluiu que, «por ter contribuí-do politicamente para a saúde e emparticular para a vida da Secção Regi-onal do Norte da OM, por ter sido um

marco na sua especialidade, destacan-do-se também a sua actividade em prolda OM em Viana do Castelo», AntónioJosé Gomes da Silva merecia uma dis-tinção pelos seus pares.

António Lobo Antunes, uma referên-cia não só na psiquiatria como tam-bém na escrita. Este médico, que nas-ceu em Lisboa no ano de 1942, faz partede uma família ilustre na área da me-

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dicina. Já diz o ditado que «quem saiao seus não degenera» e António LoboAntunes seguiu o percurso dos seusascendentes. Acabou por se licenciarna Faculdade de Medicina de Lisboaonde se especializou em psiquiatria.O apelo da escrita cedo se revelou e,em 1979, publicava o primeiro livro.«Memória de Elefante». Dos livros aosprémios literários foi um pequeno pas-so. Várias distinções fazem parte do seucurrículo, entre as quais o Grande Pré-mio de Romance e Novela da Associa-ção Portuguesa de Escritores, o PrémioD. Diniz da Fundação Casa de Mateuse alguns outros galardões internacio-nais como o Prémio de Literatura Euro-peia do Estado Austríaco, o PrémioOvidius da União de Escritores Rome-nos e o Prémio Pablo Neruda. Alémda homenagem da OM com que foiagraciado no dia 21 de Fevereiro, járecebeu outras distinções: do EstadoFrancês com as insígnias de Comen-dador das Artes e das Letras e da Uni-versidade de Trás-Os-Montes e AltoDouro com o título de Honoris Cau-sa. A medalha de mérito, recebida dasmãos do bastonário da Ordem dosMédicos, Pedro Nunes, e da presiden-te do Conselho Regional do Sul, IsabelCaixeiro, foi-lhe atribuída por tudoaquilo que aqui foi referido e tambémpor «ser o maior testemunho vivo dagrande tradição de médicos escritoresque orgulham a medicina portuguesae que honram a condição humana».

Mais um psiquiatra distinguido: falamosde António dos Reis Marques. Naturalde Canas de Senhorim, licenciou-se emmedicina na Faculdade de Coimbra.Com cerca de 40 artigos já publica-dos, na área da saúde mental – temdedicado boa parte da sua vida aosHospitais da universidade de Coimbra.Foi Presidente da Assembleia Médicae é actualmente membro do seu Con-selho Geral, em representação da Câ-mara Municipal de Coimbra. Destaca-do membro da área associativa estevepresente em 1982, na primeira Direc-ção do Sindicato dos Médicos da ZonaCentro. Foi membro fundador da As-sociação dos Médicos de Carreira Hos-

A C T U A L I D A D EXIV Congresso Nacional de Medicina

Pedro Nunes, bastonário da OM, congratula António Lobo Antunes

José Manuel Silva, actual presidente do Conselho Regional do Norte,coloca a medalha de mériot em António dos Reis Marques

Pedro Nunes e Moreira da Silva, presidente do Conselho Regional doNorte da OM, entregaram a medalha a António José Gomes da Silva

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pitalar, mas é a partir de 1984 que setorna uma figura de destaque enquan-to dirigente. Assume a vice-presidên-cia do Conselho Regional do Centroda OM a que se segue a presidência,até 2004. A OM distingue este médi-co porque «nunca se esqueceu dosseus deveres para com a profissão ededicou-se à OM durante mais de 20anos. Por ter dedicado uma importan-te parte da sua vida ao serviço damedicina é com todo o mérito que lheé atribuída esta medalha».

Carlos Rodrigo Magalhães Ramalhãonasceu em 1944 no Porto. 24 anosmais tarde tinha já a licenciatura em

medicina nas suas mãos. Em 1975 foia vez da especialidade em cardiologiae em 1979 o Doutoramento atribuí-do pela Universidade do Porto. Se atéaqui tinha feito um percurso invejávelnos bancos da universidade, era chega-da a hora de mostrar o seu profissio-nalismo e a dedicação à causa da saú-de. Em 1980 torna-se Chefe de Servi-ço de Cardiologia no Hospital de S.João. Torna-se especialista em Medici-na Interna em 1983. Um feito que con-seguiu por unanimidade. Em 1986 aUniversidade abre-lhe as portas, des-ta vez para leccionar, enquanto pro-fessor catedrático. Durante 9 anos éregente da disciplina de Introdução à

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Medicina. Membro da Academia Portu-guesa de Medicina, da Sociedade Por-tuguesa de Cardiologia e da congénereeuropeia, Carlos Rodrigo MagalhãesRamalhão tem ocupado todo o seutempo com a profissão. Outros cargosficaram por enumerar mas não podía-mos deixar de salientar a tarefa quetem ao, anualmente, organizar as im-portantes Jornadas de Cardiologia doNorte, às quais preside. Por todas asevidências aqui referidas e «pelo mui-to que tem contribuído na área da for-mação», este médico foi agraciado coma Medalha de Mérito.

Nascido nas «margens do Guadiana»,mais precisamente na bonita região deMértola, Francisco Eduardo Allen Bar-reto Gomes dedicou-se à psiquiatriacomo área de intervenção. Licenciou-se em 1968 e está inscrito como espe-cialista desde 1975. Colaborou no en-sino da sua especialidade na Faculda-de de Medicina da Universidade deCoimbra e é um dos pioneiros na áreada sexologia clínica. Cotado interna-cionalmente, foi responsável pela for-mação de muitos médicos, bem comopor muita da investigação feita emPortugal na área da sexologia. É autorde muitas e incontornáveis obras cien-tíficas. Presidente da Sociedade Portu-guesa de Sexologia Clínica, é de espe-cial relevo destacar a importante con-tribuição que teve na desmistificaçãoda sexualidade no nosso país. Conside-rado tema tabu, foi graças à sua capa-cidade de comunicação, especialmen-te junto da Comunicação Social, no-meadamente em programas de televi-são, que fez com que este tema fosseabordado de forma natural, sem cons-trangimentos. Esta distinção visa des-tacar «o autor de incontornáveis obrascientíficas e por ter sido pioneiro nacontribuição decisiva na desmistifica-ção da sexualidade, graças à sua capa-cidade de excelente comunicador».

Vendas-Novas, ano de 1937. NasceJoão Luís da Silva Sequeira que viria atornar-se médico pediatra e exerceriao cargo de responsável pelo Serviçode Urgência Pediátrica do Hospital de

Francisco Eduardo Allen Barreto Gomes

Isabel caixeiro parabeniza Carlos Rodrigo Magalhães Ramalhão

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Santa Maria, onde esteve durante maisde três décadas. A par da sua activida-de ao serviço das crianças, a docênciafoi também uma paixão que abraçoufervorosamente, enquanto assistenteconvidado na Faculdade de Medicinade Lisboa. Mas a vida médica passa poroutros patamares de interesse e Luísda Silva Sequeira quis estar ainda maisao serviço da sua profissão tendo in-gressado em vários órgãos da Ordemdos Médicos: primeiro assumiu a fun-ção de secretário da Assembleia Regi-onal de Lisboa e mais tarde vogal doConselho Regional do Sul e Presiden-te do Júri da prova de ComunicaçãoMédica. Fez também parte da Comis-são Nacional do Internato Médico eda Comissão Regional do Sul do Inter-nato (Unidade de Saúde). «A sua dedi-cação como médico às causas mais no-bres, aos doentes e à defesa da suaprofissão, justifica a distinção que hojelhe é atribuída».

Jorge de Sousa da Veiga Torres é espe-cialista em Cirurgia Geral e desempe-nhou vários cargos enquanto membrodo quadro clínico do Hospital Distritalde Viana do Castelo: director do Servi-ço de Cirurgia Geral, chefe de equipado Serviço de Urgência, presidente daComissão do Bloco Operatório, mem-bro do Conselho Técnico Hospitalar,presidente do Grupo de Trabalho Mis-to de elaboração do Protocolo de Ar-ticulação entre Cuidados de Saúde Pri-mários e Cuidados de Saúde Secundá-rios. Coordenador Hospitalar no Euro-pean Collaborative Health Services Tra-ces. Actualmente é presidente da Mesade Assembleia Distrital de Viana doCastelo, cargo que ocupa desde 2004.É sócio titular da Sociedade de Ciên-cia Médicas de Lisboa e da SociedadePortuguesa de Cirurgia.

José Germano Rêgo de Sousa é natu-ral dos Açores. Já no continente viriaa licenciar em medicina pela Faculda-de de Coimbra. Conhecida a sua dedi-cação a causas nobres, empenhou-seem duas área distintas, para além damedicina como médico patologista: or-ganizações médicas e docência univer- José Germano Rêgo de Sousa

João Luís da Silva Sequeira

Jorge de Sousa da Veiga Torres

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sitária. A sua dedicação e envolvimentonas organizações associativas médicaslevaram-no a ocupar o cargo de vice-presidente da Associação Europeia deMédicos Hospitalares entre 1989 e1992. Como destacado patologista foitambém director do Serviço de Pato-logia Clínica nos Hospitais do Dester-ro, dos Capuchos e do Hospital Fernan-do da Fonseca, onde é administradorda Sociedade Gestora do Serviço dePatologia Clínica. A carreira docenteinclui o cargo de professor associadoconvidado da Faculdade de CiênciasMédicas de Lisboa, e de regente do cur-so de mestrado em Patologia Quími-ca, da Faculdade de Ciências Médicas

da Universidade Nova de Lisboa. Ac-tualmente é presidente da SociedadePortuguesa de Patologia Clínica e jáocupou a cadeira de bastonário du-rante 5 anos. «Por todo o seu percur-so profissional mas, principalmente,pelo zelo e empenho que dedicou àOM, no exercício das suas funções, é-lhe hoje entregue a medalha de méri-to da Ordem dos Médicos».

Manuel Louzã Henriques nasceu emCastanheira de Pêra e formou-se emmedicina em 1967. Inscrito como es-pecialista na área da psiquiatria desde1971, foi assistente de neurologia e depsiquiatria da Faculdade de Medicina

de Coimbra. Personalidade cultural-mente multifacetada, a sua militânciapolítica e a recusa em resignar-se, fize-ram-no engrossar a lista de presos polí-ticos, no Portugal de Salazar. Afastadoda função pública como medida de re-presália, dedicou-se à poesia, à etno-grafia e à antropologia cultural. Hojeé, sem dúvida, um especialista nestasáreas. É exemplo de um humanismocontagiante, inesquecível para quemcom ele priva. Louzã Henriques é ver-dadeiramente o médico que ilustra opensamento de Abel Salazar: «Ummédico que só sabe de medicina, nemde medicina sabe». Louzã Henriquesnão esteve presente durante a cerimó-nia mas a medalha ser-lhe-á entregueposteriormente.

Maria Helena Couceiro de Lima nas-ceu em Angra do Heroísmo, no anode 1955. Obteve a licenciatura na Fa-culdade de Ciências Médicas de Lis-boa e é assistente graduada em gine-cologia e obstetrícia no hospital da suaterra natal, onde concretizou o seupercurso profissional. Durante anosintegrou a Unidade de EvacuaçõesAéreas dos Açores, onde se entregoude corpo e alma, tendo-se mantido emmissão até ao dia em que sofreu umacidente: chamada a proceder à eva-cuação de uma grávida na Ilha de SãoJorge, o helicóptero que a transporta-va caiu em plena pista do aeroporto,causando danos graves à médica. So-freu uma fractura da coluna, o que aobrigou a uma baixa prolongada. Oacidente ocorreu em Novembro de2007. Um ano depois volta a exercera profissão mas com algumas limita-ções, nomeadamente a impossibilida-de de retomar a sua actividade naUnidade de Evacuação dos Açores, umtrabalho meritório que fazia com gran-de orgulho e dedicação graças ao seuespírito de bem servir o próximo emsituações de emergência e urgência.Com a atribuição desta medalha a OMpretende que todos os médicos que,de forma voluntária, participam naUEA, se sintam também eles distingui-dos. Uma participação desinteressadaque deverá ser sempre enaltecida como

Maria Helena Couceiro de Lima

Miguel Jorge Santos de Oliveira Leão

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uma missão de grande importânciahumanitária e assistencial, feita pormédicos plenamente conscientes dosriscos para a sua saúde, integridade fí-sica e até mesmo para a própria vida.

Miguel Jorge Santos de Oliveira Leãotem dedicado importante parte da suavida à Ordem dos Médicos. Especialis-ta em neurologia e em genética médi-ca, subespecialista em neurologiapediátrica, professor convidado de me-dicina forense da Universidade Católi-ca de 1983 a 1995, Miguel Leão foi se-cretário do Conselho Regional do Norteda OM durante dois anos, presidentedo Conselho Regional do Norte, nadécada de 90, durante 5 anos, e, entre2005 e 2007, assumiu funções de pre-sidente da Assembleia Regional da SRN.Pela sua contribuição na evolução dainstituição, pelo tempo dedicado, MiguelLeão foi um dos distinguidos.

Norberto Jaime Rego Canha foi o cri-ador e director do Serviço de Cirurgiae Ortopedia do Hospital Militar 241na Guiné. Aí desenvolveu várias técni-cas cirúrgicas e começou os primeirostrabalhos de linfografia directa elinfografia indirecta com radioisótopos,tema que constitui a sua tese dedoutoramento. Foi director clínico doHospital Universitário e director dosserviços de Cirurgia e Ortopedia, dobloco operatório e do laboratório deRadioisótopos, em Lourenço Marquesonde desenvolveu várias técnicas e foitambém regente de cadeiras como or-topedia, propedêutica cirúrgica e clí-nica cirúrgica. Já em Portugal, foi pro-fessor da cadeira de ortopedia, vice-presidente da Faculdade de Medicinae director dos Hospitais da Universi-dade de Coimbra. É o fundador doServiço de Ortopedia dos HUC. MasNorberto Jaime Rego Canha destaca-se também noutra áreas: foi Fundadorda Escola de Artes ARCA e da Univer-sidade Vasco da Gama.Pelo trabalho desenvolvido em Portugale além fronteiras, pelo contributo naevolução de novas técnicas e pela gran-de força que sempre demonstrou, foiagraciado com a medalha de mérito.

Norberto Jaime Rego Canha ao lado de familiares e Carlos Mesquita,médico da direcção da Competência em Emergência Médica

Isabel Caixeiro

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Medalha de Mérito da Ordem dos MédicosTendo em atenção o interesse em instituir uma distinção a conferir pela Ordem dos Médicos, aos seus membrosque, pela sua actividade e mérito pessoal tenham contribuído relevantemente para a dignificação da profissãomédica, da medicina em geral e da humanidade, identificando-se assim com os valores desde sempre defendidos poresta Ordem, delibera o Conselho Nacional Executivo instituir o galardão com a denominação de «Medalha deMérito da Ordem dos Médicos» e aprova o Regulamento que prevê a sua atribuição.

REGULAMENTO DA ATRIBUIÇÃO DA MEDALHA DE MÉRITO

DA ORDEM DOS MÉDICOS

Artigo 1º

É instituído o galardão «Medalha de Mérito da Ordem dos Médicos»

Artigo 2º

A «Medalha de Mérito» é conferida aos médicos que tenham contribuído relevantemente, pela sua actividade emérito pessoal, para a dignificação da profissão médica da medicina em geral e da humanidade.

Artigo 3º

a) A atribuição desta distinção depende da deliberação tomada pelo Conselho Nacional Executivo, a proposta dequalquer dos seus membros;

b) O Conselho Nacional Executivo é assessorado por uma comissão da qual fazem parte os ex-Bastonários, osPresidentes das Assembleias Regionais e os Presidentes dos Conselhos Nacionais Consultivos, que deverá serconsultada e ter um parecer favorável na atribuição da Medalha de Mérito.

Artigo 4º

Os homenageados com a «Medalha de Mérito da Ordem dos Médicos» terão direito a usá-la em todas as cerimóniassolenes promovidas pela Ordem dos Médicos.

Artigo 5º

a) A entrega da «Medalha de Mérito» será feita pelo Presidente da Ordem dos Médicos em sessão solene.

b) Cabe à Ordem dos Médicos, através do Conselho Nacional Executivo, dar a necessária publicidade ao evento.

Artigo 6º

A «Medalha de Mérito da Ordem dos Médicos» deverá ter o desenho, formato e demais características da Medalhada Ordem dos Médicos, banhada a Ouro e com colar de cor amarela.

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O P I N I Ã O

Outra influência notável queas carreiras médicas tiveramfoi nos internatos médicos.

Eram duas estruturas que, pode-se di-zer, se completavam, imbuídas do mes-mo sentido de progressão pela forma-ção, pela aquisição de conhecimentos,pelo trabalho feito, tudo avaliado pe-riodicamente e conferindo cada vezmais autonomia e responsabilidade.Os internatos, as suas regras e pro-gramas, os orientadores, os responsá-veis pela formação, tudo isso assenta-va nas carreiras, e vai sobrevivendoporque, pelo menos teoricamente, elasse mantêm. Mas à medida que os maisvelhos forem saindo – e estão a sairde forma acelerada e prematura – cor-re o risco de rapidamente estiolar eperder valor e sentido.Já há sinais claros dessa tendência, pa-ra quem os quiser ver. Um dos pontosaltos no começo duma carreira eraquando pela primeira vez um especia-lista se via designado para integrar umjúri de exame final de internato. Nãosó isso traduzia o reconhecimento pe-los seus pares de que estava em con-dições de avaliar outros, àquele nível,como era um factor de enriquecimen-to curricular na sua vida profissional.Pois agora há jovens especialistas que,pura e simplesmente, recusam desem-penhar essas funções. Recusam inter-romper o seu trabalho diário hospita-

Vamos às carreiraslar, deslocar-se a outro hospital, «per-der tempo» a examinar candidatos aespecialistas na sua área. E, vendo bem,não terão razão? Vejamos: não estãointegrados em nenhuma carreira, sãocontratados para fazer um determina-do trabalho clínico, ganham em gran-de medida à peça ou à hora, quantosmais doentes tratarem mais bem vis-tos serão por quem dirige o hospital,não precisam dum currículo diferentedesse para poderem ser nomeados poresses dirigentes para lugares de res-ponsabilidade, até mesmo directores deserviço ou de departamento. É assimou não é? Poderá achar-se incorrectaa atitude daqueles colegas?!A preocupação com a aprendizageme o ensino era uma constante comumaos internatos e às carreiras, enfor-mados, na realidade, à volta disso, con-duzindo à evolução profissional e àascensão a funções e lugares cada vezde maior importância, responsabilida-de e poder e obrigação de decisão.No início, aliás, o internato era o pri-meiro grau da carreira. Num dado mo-mento, o Ministério da Saúde retirouos internos da carreira médica, porrazões administrativas, e agora reti-rou todos os médicos, por razões domesmo tipo. Ficaram apenas os quejá estavam integrados nelas, ocupan-do lugares a extinguir quando vaga-rem, uma vez que não há novas en-tradas. Curiosamente, nestas condi-ções os concursos para os graus e lu-gares vão-se multiplicando nos vári-os hospitais, numa autêntica girândolade fim de festa. Unicamente porquequem entrou tinha a expectativa e tempor isso o direito de tentar progrediraté ao topo.Os especialistas contratados pelos hos-pitais EPE não pertencem às carreirasmédicas, não podem por isso concor-rer nesses concursos nem, por maio-ria de razão, integrar os respectivosjúris. Antes desta nova lei de gestão, asua entrada na carreira fazia-se no fimdo internato, agora não se faz nunca.Pertencem ao colégio da sua especia-

lidade, e é só por isso que podem fa-zer parte de júris de fim de internato.Já vimos que com razão para grandefalta de motivação – a mesma que parao ensino, seguramente.Também seria legítimo pensar que adesierarquização hospitalar provocadapela lei de gestão EPE iria reflectir-senegativamente na prossecução dos in-ternatos. Vejamos: quem é o responsá-vel máximo pela formação em cada Ser-viço? O director de serviço, natural-mente. Mas é natural que esse não sejao mais diferenciado no Serviço? Ou,pelo menos, um dos mais diferencia-dos? Aceite como tal pelos outros? Issocorresponde obviamente a uma deses-truturação, que é a maneira melhor dedestruir uma estrutura.A pouca ou nenhuma preocupação evi-denciada com a desestruturação na áreada formação ressalta desde logo, tam-bém, do facto de se nomearem comopresidentes de júris finais de internatoassistentes hospitalares em júris que in-tegram, para além deles, chefes de servi-ço. É uma antevisão do futuro imediato:como serão formados, e estruturados, osjúris de fim de internato? Com que cri-térios? Quando não houver necessida-de de progredir numa carreira técnicapara se ser seja o que for dentro de umhospital? E em qualquer júri?Ao longo desta série de artigos temosvindo a enumerar as consequências ne-gativas da actual lei de gestão hospita-lar nas carreiras médicas. E na forma-ção pós-graduada e no serviço nacio-nal de saúde. A Saúde no nosso paísassentava num tripé: Carreiras Médi-cas, Internatos Médicos, Serviço Naci-onal de Saúde. Com este conjunto con-seguiram-se resultados notáveis, numpaís pequeno e de poucos recursos,pondo-o a ombrear nesta matéria comos melhores, gastando muito menosque eles. Um dia alguém resolveu mu-dar a parte administrativa, por razõesexclusivamente desse foro. Dessa mu-dança intempestiva – e parece que pou-co pensada – resultou a aniquilaçãode um daqueles pés, as carreiras, car-

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VI

O P I N I Ã O

comido por uma doença (a dita lei degestão), em vias de se propagar rapida-mente aos outros (os internatos e oSNS). Coxo dum pé, o tripé abana etomba rapidamente. Pretendeu-se, naprática, substituir a gestão clínica poruma gestão preponderantemente ad-ministrativa, e disso não se vislumbramquaisquer ganhos, nem sequer admi-nistrativos e económico-financeiros.Como consequência directa, apenasum incremento notável da burocracia,acompanhando o aumento galopantedo número de administradores noshospitais e a sua actividade, recompen-sada, aliás, com aumentos de ordena-do e prémios pecuniários.O responsável principal pelo descala-bro diz a quem o convida para dizerque faria tudo da mesma maneira –ainda não se apercebeu. Um dos Se-

cretários de Estado da Saúde afirmaque não sabe o que o Serviço Nacio-nal de Saúde virá a ser no futuro –começou a aperceber-se. Os médicosjá sabem, os doentes virão rapidamen-te a saber.Se algo bem estruturado, tendo passa-do no teste do tempo, operacional, comum resultado global invejável num paísem que tudo o mais anda por baixoquando comparado com o que se pas-sa lá fora, é alterado nalguns aspectose fica por isso, de repente, desestru-turado e cambaleante, seria lógico pen-sar que haveria de se corrigir o que sefez e que perturbou severamente oconjunto. Quer dizer – e temo-lo ditonas raríssimas vezes que fomos cha-mados a emitir opinião – seria lógicoesperar-se que algo na lei de gestãohospitalar fosse corrigido. Mas não,

pretende-se teimosamente enveredarpelo caminho de mudar tudo o resto.Na verdade, acabou por se entenderagora que há necessidade de recuperaro que ficou lesado, nomeadamente ascarreiras médicas. Mas, a manterem-seinalteradas as mudanças desestru-turantes, afigura-se muito improvável vir-se a obter um novo equilíbrio eficaz eduradouro, isto é, um novo tripé compés fortes e estáveis. Parece-nos um tra-tamento unicamente sintomático e nãoetiológico, quando se conhece a etiologiae se tem cura para ela. Os médicos nãoactuam assim. Ou não devem.Carreiras assentes num contrato co-lectivo de trabalho são a proposta ac-tual. Será possível compatibilizá-lascom a gestão EPE? E com a avaliaçãoSIADAP que se anuncia para os médi-cos?

Terminamos agora esta sé-rie de seis artigos sobre ascarreiras médicas. Neles

procurámos elencar o que elas tinhame conseguiram de bom, e mostrar oque as colocou em agonia. E o que oseu desaparecimento previsivelmentearrastará. Procurando ao mesmo tem-po mostrar o que há a fazer, e tambéma não fazer, para eventualmente as res-suscitar. Duma forma positiva, e paraque não nos acusem de estarmos en-tre todos os que se calaram, ou aco-modaram ou, pior ainda, se aproveita-ram. Façamos uma resenha final. A nova lei de gestão hospitalar con-duziu acima de tudo a uma «adminis-tradorização» dos hospitais, com pas-sagem da gestão clínica para um pla-no totalmente secundário, perfeitamen-te subsidiário da gestão administrati-va, da contabilidade pura e dura, torna-da o centro de tudo. Foi uma mudan-ça radical em instituições que deveri-am estar centradas na actividade clíni-ca, desempenhada e gerida pelos mé-dicos, com o contributo directo do pes-soal dos laboratórios e de enfermagem.Assistiu-se, por via dessa lei, a um au-mento enorme do número de adminis-tradores nos hospitais, assumindo eleso papel de capatazes dos médicos. Sem

que nada, absolutamente nada, os qua-lifique para essas funções. Quer dizer,o acessório tornou-se a si próprio cen-tral, e secundarizou o que é o âmagoimprescindível e nuclear duma empre-sa para ser um hospital.Em termos económico-financeiros ascoisas não melhoraram, já vimos. EmFrança procura-se reduzir custos coma saúde – recordemos que era a me-lhor da Europa nesse campo (quandoPortugal era 6º), mas com uma despe-sa de 14 % do seu PIB, contra os nos-sos 10%, do nosso pobre PIB. Para issoeles têm procurado recriar e desen-volver os hospitais públicos, no senti-do do que nós tínhamos e ao invés doque temos vindo a fazer. A primeiramedida de contenção que tomaram foireduzir drasticamente as despesas comadministradores e administrativos– também ao arrepio do que por cá setem feito…Em termos médicos desencadeou-seuma total desierarquização nos servi-ços hospitalares, com chefes nomea-dos apenas porque alguém «achou»que sim. Só isso levaria ao colapso dascarreiras, assentes na hierarquia pro-fissional conferindo autoridade e res-ponsabilidade. Foi, mais uma vez, a ideiade substituir líderes por capatazes: o

resultado está à vista. Toda a práticada medicina hospitalar foi posta emcausa, e isso vai-se reflectir na quali-dade dos serviços prestados. Que di-minuirá ainda mais à medida que aformação for sofrendo, por essa mes-ma ausência de estruturação baseadanos conhecimentos científicos, na di-ferenciação técnica, nas provas dadas.As carreiras soçobraram, os interna-tos estão em perigo, o Serviço Nacio-nal de Saúde torna-se periclitante.Como já referimos, o grande respon-sável por isto continua a dizer que fa-ria tudo igual – ainda não se aperce-beu do que fez. Um Secretário de Es-tado diz que não sabe o que vai ser doServiço Nacional de Saúde – já se co-meçou a aperceber.O Ministério da Saúde, agora lideradopor uma médica, reconhece finalmen-te que as carreiras médicas estão aca-badas mas fazem falta (o que durantemuito tempo afirmámos quase sozi-nhos, criticados até por quem não que-ria que se falasse sequer nisso). Mas,em vez de aceitar modificar o que veioprovocar a derrocada, insiste apenasem tentar remediar os estragos. Seráque isso é possível? Ou estar-se-á, tam-bém aqui, a trocar o essencial pelo aces-sório?

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Pretende-se que as carreiras sejambaseadas num acordo colectivo de tra-balho, dele derivando um contratocolectivo a que só pode aceder quemestiver inscrito no sindicato que subs-creveu o acordo. Quer dizer, quemquiser entrar numa carreira terá de es-tar obrigatoriamente sindicalizado. Eno sindicato certo. Isto é, um médico,para além de ter de estar inscrito naOrdem, para poder exercer medicina,passa a ter de ser sócio dum sindicatopara poder percorrer a sua carreiraprofissional.Uma orientação política na saúde, quepareceu conduzir a uma liberalizaçãonessa área, acabou por redundar naproletarização dos médicos. Tão gran-de e completa que, para poderem tra-balhar integrados numa carreira, terãode estar sindicalizados. Quem não oquiser estar poderá tentar um contra-to individual de trabalho, mas sem aces-so à carreira.É isto que parece desenhar-se para ofuturo, e que levanta, obviamente, vári-as dificuldades. Desde logo, e se os sin-dicatos existentes não se entenderem?Se um fizer um acordo com o Ministé-rio e o outro não? Se a carreira passara ser tão dependente dum sindicato, querazão impedirá os médicos de se junta-rem em sindicatos que melhor defen-dam os seus interesses na sua área oumodo de trabalho específicos?

O estabelecimento de graus baseadosem concursos inter-pares, como os quehavia, não levanta dificuldades. Mas oque obrigará cada unidade empresari-al hospitalar, que contrata quem quer,do modo que entende, para fazer o queachar melhor, sem quadro fixo, a pa-gar mais a um médico por ter subidona carreira, ainda por cima para conti-nuar a fazer o mesmo que fazia antes?Quem obrigará as empresas-hospital,geridas com independência quase ab-soluta, por administrações lá coloca-das como se fossem donos, a atribuirmais responsabilidade, mais autono-mia, funções de chefia e de direcçãotécnica, aos médicos que forem subin-do na sua carreira? É evidente que alei de gestão aqui em causa teve comoum dos seus fins, precisamente, que-brar essa hierarquia de competência,paralela e atentatória das nomeaçõespelos chamados «bons serviços». Daía avaliação SIADAP que se preparapara os médicos, o que, como tambémdesde logo dissemos a quem nos quisouvir, já se previa após a desagrega-ção das carreiras.Trata-se de um sistema de classifica-ção que existe para si próprio, que nãoderiva naturalmente da actividade nor-mal dos trabalhadores. Quer dizer,obriga a que cada um faça o que ébom para a classificação, embora issonão corresponda ao seu trabalho nor-

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mal. É algo estranho enxertado na acti-vidade clínica do hospital, que conso-me esforço e tempo a esses trabalha-dores e veio obrigar a toda uma buro-cracia extra – também aqui mais admi-nistradores e funcionários administra-tivos – usada depois por quem rege ohospital do modo que quiser. O que éque isto tem a ver com uma carreiraprofissional? Nada. Quando ainda porcima os avaliadores são os chefes no-meados «ad hoc» pelas administrações.É evidente, a nosso ver, que a progres-são na carreira tem de ser a base daprogressão no hospital, justificando aevolução remuneratória. Os chefes te-rão de ser os mais graduados, com aautoridade que daí deriva, liderando aequipa com a aceitação de todos, eorientando depois a avaliação do de-sempenho dos seus colaboradores.Qualquer coisa que não leve a isto nãofará reviver as carreiras. Reconhece-mos as suas virtualidades e acredita-mos que seria possível recriá-las, masem convivência com o que as matou éque não cremos que possam ter muitasaúde e vitalidade. Continuaremos alutar por elas, com o apoio que temossentido dos colegas, dizendo frontal-mente o que pensamos. Mesmo queisso nos afaste dos que tomam deci-sões e dos que participam nelas. Mascom a consciência tranquila, e espe-rança no futuro.

No dia 7 de Abril de 2009 celebrou-se o Dia Mundial da Saúde. Paraassinalar a data a Direcção-Geral da Saúde realizou uma sessão comemo-rativa no Auditório do Infarmed, a qual foi presidida por Ana Jorge, minis-tra da Saúde. Além das comemorações em torno dos 30 anos do ServiçoNacional de Saúde, o programa contemplou a atribuição do Prémio Naci-onal de Saúde 2008 e ainda de Medalhas a diversas entidades e organiza-ções que se destacaram pela intervenção tida no domínio da Saúde. Assim,depois de ouvido o Conselho de Administração do Centro HospitalarCova da Beira pela ARS Centro, o ilustre urologista Álvaro Rascão FerreiraPinto, foi seleccionado para receber das mãos da Ministra da saúde umaMedalha de Ouro. Homenagem mais que merecida, segundo João Casteleiro,presidente do CHCB e que «nos deixa a todos muito honrados, por ter-mos entre nós um médico, que mais que um exemplo de vida, foi e é umainspiração para muitos profissionais e doentes».

Urologista distinguido com medalha de ouro

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O que leva o guerreiro a defender oseu território, com o mesmo pundo-nor com que ataca o do vizinho? Oque legítima a sua causa, de modo aaceitar a morte e a destruição?Como se passa da resistência à hostili-dade aberta? Como nasce o ânimo beli-coso do guerreiro?Como explicar, não só a matança deGaza, como a naturalidade complacen-te com que se aceitam os seus moti-vos: uma «legítima defesa» que alinha13 mortos por rockets, de um lado, com1.300 mortos e 5000 feridos gravespor bombardeamentos maciços deconfinadas áreas residenciais?Em nome de Deus, de uma fé, de umacegueira que legítima um «inimigo», naincapacidade de o entender?Porquê, o conflito entre a Ordem e osSindicatos na defesa das carreiras mé-dicas?O que leva médicos dedicados, comprovas dadas na defesa da profissão, anão reconhecerem a simbiose neces-sária de uma vertente «técnico-cientí-fica» com a vertente «técnico-funcio-nal» da sua profissão?Apenas, porque essas vertentes nãoestão perfeitamente identificadas nonosso enquadramento profissional.O nosso enquadramento profissionalé ainda de «faz de conta». Não desco-lamos facilmente os conceitos de Saú-de e de Medicina. Deixamo-nos atro-pelar por «modernas» formatações quejustificam diversos modos de adminis-trar, «fornecer», explorar, de oferecercuidados e «ganhos» em saúde.A Medicina, subestimada, como ciên-cia e função primacial na lógica, na eco-nomia, na eficácia e eficiência de qual-quer sistema de saúde que mereça essenome. Não apenas pela universalida-de na prestação de cuidados, sobretu-do, pelo equilíbrio, interacção e quali-dade dessa prestação.A administração (regional/nacional) desaúde consegue passar para segundoplano, ou dispensar, a administraçãotécnico-científica e técnico-funcional daMedicina.E, o pior, é que a explicação para istonão se resume a uma, habitual, falta de

Porquê, a guerra?poder médico das Direcções Clínicaslocais; à falta de gestão dos valorestécnico-científico e funcional da Medi-cina, a observar numa região.Não se resume à falta de um Plano deSaúde Nacional que se oriente pelosobjectivos da ciência e arte médicas, aoserviço do bem-estar físico, psíquico esocial de uma nação; antes, pela aplica-ção de medidas avulsas, com o sentidodo lucro ou de supostos ganhos emsaúde que não são, todavia, respalda-dos em «medidas» de Saúde Pública.Medidas avulsas que afirmam o econo-micismo descaracterizador da igualdade,perante Deus e os homens, do doenteque procura e merece ter um médico– o seu médico, na nossa sociedade.A verdade é que nós, os médicos, sub-servientes funcionários da «saúde», queconvivemos e toleramos, diariamente,com todas as assimetrias e bizarrias or-ganizacionais que nos atravessam nocaminho; que tolhem a nossa forma-ção e actualização profissional; que fe-rem a relação de ensino-aprendizagem,que nos caracteriza; que nos afastamdas prioridades que sabemos identifi-car no cuidar dos nossos doentes; quenos impedem de enquadrar as classesprofissionais que são, verdadeiramen-te, subsidiárias da nossa profissão; quenos impedem de obter o melhor, parao(s) nosso(s) doente(s).Nós, os médicos, não sabemos aindaidentificar, quanto mais defender, os ins-trumentos que nos são específicos (ci-tando o mestre Barros Veloso) e quenunca poderemos dispensar:

• Uma relação «médico-doente»(qualificada).• A sectorialidade (modular) do sis-tema de saúde.

Sem dispor deles em plenitude, o exer-cício médico, ainda que involuntaria-mente, pode resvalar da pantomimapara a pantomina.Não se pode regular o exercício téc-nico da Medicina, apenas pela lineari-dade de uma relação médico-doente,mais ou menos qualificada consoantea arte, o conhecimento e a confiança,mais ou menos informada, do pacien-te num médico.

Hoje em dia, o exercício técnico daMedicina é indissociável da organiza-ção e desenvolvimento das diversasespecialidades, da distribuição do tipode cuidados e, da tipologia de relaçãodo doente com o(s) seu(s) médico(s).Como aceitar a caixa de Pandora emque o serviço de saúde se transformou,no nosso país? Como aceitar a, já pa-tente, regressão da qualidade de cui-dados de saúde, que sabemos coexis-tir com a involução da prática médica(por falta de condições para utilizar-mos os nossos instrumentos)?Será que o médico congregado (o quefaz a defesa técnico-científica da pro-fissão) se concebe divorciado do mé-dico sindicalista (que faz a defesa téc-nico-funcional da profissão)?Será que este concebe cargos e fun-ções de uma carreira profissional, semrelação com as características técni-co-científicas que iluminam (!) essescargos e funções?Porque nasce este espírito guerreirointer pares? Porque não conseguemcriar uma «Administração» (local/re-gional/nacional) da profissão médica?Porque esperam, para associar uma re-lação «médico-doente» qualificada àcoexistência, técnica e cientificamenteequilibrada, dos diversos tipos de cui-dados de saúde (em Medicina) numaregião? À coexistência, fundamentadae organizada, das diversas especialida-des pelos ratios internacionais, neste pe-queno país de 10 milhões de habitan-tes?Porque esperam, para «organizar» umacarreira com cargos e funções orienta-das pelas necessidades de formação edesenvolvimento em Medicina, ditadaspor uma «Entidade Reguladora» daMedicina, como arte e ciência milenar?Esperam que alguém lhes ofereça opoder da lógica e de princípios em fun-ção dos quais devem articular a (nos-sa) realidade?Baixem a guarda… Entendam-se!Saibam fazer-nos merecer um futurodiferente.

E. Brasão CostaCh. Ser. Ortopedia

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1) O sistema democrático repre-sentativo presidencialista e/ou di-rectorial da Ordem dos Médicos

No passado dia 21 de Fevereiro de 2009,como conclusão do «III Congresso daComunidade Médica de Língua Portu-guesa/V Congresso Nacional do Médi-co Interno/XIX Congresso Nacional deMedicina», em que num sucesso geralhá a realçar acima de tudo a assinaturade um protocolo (com apoio da CPLP edo Instituto Internacional de Língua Por-tuguesa) pela O.M., para um Centro dePós-Graduação Médica na República deCabo Verde, de excelência, certamente,para a Medicina de língua portuguesa…o regresso estratégico ao «Oceano Mo-reno» do eterno mestre de Ciência Polí-tica, Prof. Doutor Adriano Moreira, sur-giu após o Almoço no Programa e naagenda: «2ª. Assembleia Geral dos Mé-dicos: Carreiras Médicas».Certamente pelo calor que este temaatravessa neste momento, a Classe Mé-dica portuguesa e pela boa fé e gene-rosidade de contribuir para um «brain-storming» naquele espaço físico dispo-nibilizado, o Presidente e PresidenteExecutivo do Congresso e/ou a nívelda impressão gráfica pelo Secretaria-do do Congresso, chamou-lhe indevi-damente «Assembleia Geral»… o quelevou a uma tentativa de manipulaçãodesastrosa, mas triste, muito triste naminha perspectiva, em termos públi-cos, desse pequeno erro de léxico doPrograma, por parte de certos cole-gas, que concertadamente tentaramtransformar o facto, numa tragédia anti-democrática da O.M.. Disseram-medepois que esses colegas tinham actua-do concertadamente, por possuírem

A DÚVIDA!?...Sobre a qualidade de Democracia na Ordem dos

Médicos, uma perspectiva de Ciência PolíticaJ. Margalho Carrilho – Médico Psiquiatra*

uma raiz ideológica comum e com pro-jecto próprio político-partidário paraa O.M., já sufragado, com a derrota nopassado, em eleições democráticas pelovoto popular recente na O.M.?! Nãome irei manifestar sobre esta interpre-tação que me fizeram chegar, pois asideologias em Ciência Política são aonível pessoal, tal como a religião, ori-entação sexual, etc. convicções ou con-dições de reserva da intimidade da vidaprivada de cada cidadão, que a demo-cracia permite exprimir, em igualdade,em movimentos associativos como osPartidos políticos, associações cívicas,sindicatos, agremiações patronais, etc.sujeitos periodicamente a sufrágio po-pular pelo voto secreto, interno e ex-terno, de forma igual e directa. Mas jáno que respeita à tentativa de essescolegas terem tentado transformar umerro de léxico ou terminologia «As-sembleia Geral», numa tragédia antide-mocrática da Ordem dos Médicos edos seus órgãos dirigentes eleitos de-mocraticamente (em vez de discutir asCarreiras Médicas como era propos-to) importa meditar em termos deCiência Política, para contributo demelhoria qualitativa de actos eleitoraisfuturos na Ordem dos Médicos portodos os seus membros licenciados emMedicina.Constitucionalmente, a República Por-tuguesa é um Estado de Direito Demo-crático… e funda-se na legalidade… ena validade das leis (art. 2º. e art. 3º.CRP).Embora a Ordem dos Médicos estatu-tariamente exerça a sua acção comtotal independência em relação ao Es-tado, ao ser uma Associação de inte-resse público, deve pautar os seus prin-

cípios fundamentais, por analogia, comos Constitucionalmente previstos paraa Administração Pública do Estado:«prossecução do interesse público, res-peito pelos direitos e interesses legal-mente protegidos dos cidadãos, prin-cípios da legalidade, igualdade, propor-cionalidade, justiça, imparcialidade eboa fé» (artº. 266 CRP), acima de tudopara uma prestação de elevada quali-dade ético-deontológica e de conheci-mento, dos actos médicos, de formauniversal e igual, a todos os cidadãoscom necessidades de cuidados de saú-de médicos (Serviço Nacional de Saú-de universal e geral, tendencialmentegratuito, art. 64 CRP).Estatutariamente o sistema democrá-tico regula a orgânica e vida internada Ordem dos Médicos, constituindo-se o seu controlo um dever e um direi-to de todos os médicos associados, no-meadamente no que respeita à eleiçãoe destituição de todos os seus dirigen-tes e à livre discussão de todas as ques-tões das sua vida associativa. Mas osmesmos estatutos, na nossa perspecti-va de Direito Público, não permitem odireito de tendência permanente e or-ganizada, entre os actos eleitorais naO.M., pois o mesmo artigo 4º afirma«A liberdade de opiniões e o livre jogodemocrático previstos… não justificama constituição de quaisquer organismosautónomos dentro da O.M. que pos-sam falsear ou influenciar as regras nor-mais da democracia e possam condu-zir à divisão entre os seus membros».Estatutariamente e portanto por prin-cípio da legalidade, que fundamenta umEstado de Direito Democrático, nãoexiste na Ordem dos Médicos uma«Assembleia Geral», certamente por

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razões objectivas operacionais de im-possibilidade de uma assembleia-geralde 40.000 aproximadamente hipoté-ticos participantes – médicos associa-dos, mas também porque em 1977 sepressupôs (talvez esta triste actuaçãode alguns, no dia 21 Fev. seja uma de-monstração prática do contrário) tera Classe Médica um avançado nível deformação cívica e politológica em De-mocracia Representativa, pelo que seadoptou um modelo de descentraliza-ção regional e distrital de «colégios»representativos de um corpo de ideiase programa eleitoral, sujeito sempre asufrágio distrital, regional e nacionaligual, directo, secreto e periódico pe-los médicos eleitores no gozo dos res-pectivos direitos estatutários.A distância geográfica e elevada dimen-são de cidadãos eleitores leva sempretendencialmente ao surgimento destessistemas complexos de Democraciarepresentativa (os exemplos históricossão os sistemas eleitorais, querfederalista dos EUA, quer mais recen-te da União Europeia, como misturaentre o modelo de federação de Esta-dos-nação e/ou Estados de cidadãoseleitores), sem que esteja em causa aqualidade dessa democracia ou a legi-timidade dos Órgãos eleitos, confor-me esses colegas quiseram, intencional-mente ou não, fazer crer ao grupo deassociados reunidos nessa tarde de 21de Fevereiro, para apenas debater en-tre si as Carreiras Médicas, no fórumcedido pela Ordem dos Médicos…Não existe pois estatutariamente «as-sembleia-geral» e muito menos vota-ção não secreta e por expressão pú-blica corporal do votante na Ordemdos Médicos.Embora o Estatuto da Ordem dos Mé-dicos seja essencialmente um sistemapresidencial e/ou directorial (Basto-nário da O.M.) com participação «se-natorial» (Conselho Nacional Execu-tivo) ao nível do poder executivo, oque mais se aproxima de um poderlegislativo ou parlamentar, em termosde câmara baixa – «comuns/congres-so» – é o Plenários dos Conselhos Re-gionais – P.C.R.Este órgão é uma mistura de eleição

representativa e eleição directa, em listapor sufrágio directo, secreto e univer-sal («membros consultivos e membrosexecutivos»), mas mantém-se o predo-mínio e preponderância do sistemapresidencial e/ou directorial, com par-ticipação senatorial (câmara alta), poisa mesa do Plenário dos Conselhos Re-gionais é presidida pelo Presidente daOrdem dos Médicos e as suas compe-tências legislativas estão limitadas adecidir a dar parecer, conforme aproposta do Conselho Nacional Execu-tivo (ou dos conselhos regionais) e dis-cutir e aprovar os regulamentos quelhe forem submetidos pelo ConselhoNacional Executivo (o poder judicial di-ferencia-se em dois órgãos por matéri-as, que são o Conselho Fiscal Nacionale o Conselho Nacional de Disciplina).

2) Ideias actuais em Ciência Polí-tica sobre a qualidade da Demo-cracia e a Ordem dos Médicos

O Prof. Doutor Robert Shapiro de Ci-ência Política, da Universidade deColumbia (EUA), define democracia emestados republicanos ou governo repre-sentativo, aquele em que a vontade doscidadãos faz parte e é respeitada pelogoverno. Os requisitos normativos são:

1. Existem instituições e procedimen-tos que permitem o controlo peloscidadãos da que se chama DEMO-CRACIA INSTITUCIONAL E PRO-CEDIMENTAL (eleições periódicasque permitem substituir pelo voto aselites governantes de diferentes ideo-logias e partidos, num quadro de exer-cício de governação enquadrado pe-los guardiões constitucionais – ex. Tri-bunal Constitucional e prevenindo oabuso de poder e não cumprimentodo programa executivo sufragado).

2. Existe uma razoável e reconhe-cível representatividade dos cida-dãos no que o poder executivo pra-tica de governação, que é a DE-MOCRACIA SUBSTANTIVA.

3. Existem protegidos rigorosamen-te os direitos, liberdades e garanti-as dos cidadãos. Já no que respeitaà visão do Prof. Doutor Robert A.Dahl de Ciência Política, da Univer-sidade de Yale, justifica as institui-ções para satisfazer necessidadesem Democracia de Poligarquia (pa-ra distinguir a regulação por todos,da regulação por um – monarquiaou por poucos, como a oligarquiaou aristocracia) da seguinte forma:

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Como já afirmámos, a Ordem dos Mé-dicos, nos seus Estatutos, torna-a numsistema presidencial e/ou directorial degovernação representativa complexo.O sistema de governação presidenciale o sistema de governo directorial as-sentam ambos na independência recí-proca quanto à subsistência dos titula-res, do órgão de poder executivo e doórgão de poder legislativo. Nem o pri-meiro responde perante o segundopoliticamente, nem a assembleia podeser dissolvida em caso algum. A dife-rença entre governação presidencial edirectorial é que na governação presi-dencial o órgão de poder executivo ésingular – um Presidente da Repúbli-ca – e no governo directorial é umórgão colegial restrito, um directórioou um conselho (na O.M. ConselhoNacional Executivo). No sistema Pre-sidencial e no sistema directorial exis-tem apenas dois órgãos de poder, oParlamento e o Presidente ou o colé-gio directorial, nas palavras do nossoConstitucionalista Prof. Doutor Jorgede Miranda que exemplifica como mo-delo presidencialista os EUA e direc-toriais certos Estados da América doSul.Muito haveria a explanar sobre ciên-cia básica, na disciplina de Ciência Po-lítica, e qualidade de Democracia naOrdem dos Médicos, mas até agora ficaclaro que estatutariamente a O.M. éum modelo complexo de DemocraciaRepresentativa, mais do tipo Presiden-cial e/ou directorial, em que as carac-terísticas institucionais, procedimentaise substantivas da Democracia estãorespeitadas, não sendo permitidas ten-dências permanentes e organizadasinternamente e formalmente entre ci-clos eleitorais para eleição do Presi-dente, órgão directorial restrito (Con-selho Nacional Executivo) e outrosórgãos eleitos.

3) RECOMENDAÇÕES futurasem Ciência Política para a gover-nação, inclusive da O.M.

Mas a democracia mais avançada temde eliminar os aspectos de exclusão(racial, imigração, participação plena

económica e política e incapacidadesadquiridas, como o estigma permanen-te de culturas de pobreza). Assim, odilema vai surgindo entre os proble-mas catastróficos de necessidades decuidados de saúde materno infantil,SIDA, malária, tuberculose, etc. dospaíses ditos subdesenvolvidos, com es-cassez de médicos (e enfermeiros) euma crescente necessidade destes re-cursos humanos nos países ditos de-senvolvidos, devido ao envelhecimen-to demográfico dos países e o conse-quente aumento dos cuidados de saú-de desta população envelhecida (segun-do o JAMA, em 2012 os EUA terão800.000 enfermeiros e 400.000 médi-cos emigrados do resto do mundo).Voltando ao início, congratulando aOrdem dos Médicos pelo protocoloassinado durante o seu Congresso, doCentro de Ensino e Educação Médicapós-graduada de língua portuguesa naRepública de Cabo Verde (com o apoioda CPLP e do Instituto Internacionalde Língua Portuguesa) … temos agoraque olhar ao nível interno, até com fu-turas implicações externas, numa pers-pectiva da Declaração Universal dosDireitos do Homem.À Ordem dos Médicos é devida com-petência exclusiva, imprescindível einalienável, nas áreas da Ética, Deon-tologia e Formação Profissional pós-graduada no ensino e educação doconhecimento médico (e não compe-tências sindicais, muitas vezes comcariz ideológico). A crescente privati-zação hospitalar, em que a gestão porobjectivos, tem na generalidade um úni-co denominador comum, bem pobre,apenas o do custo-benefício financei-ro; assim como a crescente e brutalqueda de recursos humanos médicosportugueses, à medida que se vai pas-sando para as gerações universitáriasdos «numerus clausus», com a aposen-tação das anteriores gerações médicas(podem ser quedas de 800 médicos/ano), levem ao «sugar» a outros paí-ses, de recursos humanos médicos,quer de países de Leste, quer Africa-nos, quer da América do Sul já tão de-pauperados … Surge aqui uma outravertente e desafio à Ordem dos Médi-

cos, para além das competências já ci-tadas, a da responsabilidade social eda inclusão plena desses profissionais,trabalhando no território nacional eenquanto praticarem actos médicos naRepública Portuguesa… também elesdevem beneficiar, com orgulho, na par-ticipação activa das actividades éticas,deontológicas e de formação profissi-onal da Ordem dos Médicos – Associa-ção Médica Portuguesa.Mesmo que um dia, ultrapassado o de-ficit demográfico médico português,algum dia decidam regressar aos seuspaíses de origem, será bom que em ter-mos de solidariedade e prossecuçãodo interesse público de cidadania mun-dial, regressem com outras mais-valiascomo a ética, a deontologia e um co-nhecimento médico mais avançado,aos seus países e às suas populações,e não apenas com o aforro financeiroobtido como tarefeiros no sistema pri-vado de saúde, que apenas tem o piordo liberalismo selvagem para oferecer,como valores institucionais.Na minha perspectiva pessoal politoló-gica e estratégica, deve ser para estesmédicos associados imigrantes que oConselho Nacional Executivo e o Con-selho Nacional de Ensino e EducaçãoMédica devem investir proactivamente,no curto-médio prazo, como responsa-bilidade social da O. M. para a sua in-clusão plena (aos Sindicatos, em cola-boração com a Autoridade para asCondições de Trabalho, deverá exigir-se para eles maior fiscalização e au-sência de abusos das entidades empre-gadoras privadas).

4) A DÚVIDA e a qualidade da De-mocracia em Portugal versus Or-dem dos Médicos

Apenas para finalizar e sobre a dúvidalançada por certos colegas, no XIVCongresso Nacional de Medicina, nareunião sobre Carreiras Médicas rea-lizada no dia 21 de Fevereiro, acercada duvidosa qualidade de democrati-cidade dos Órgãos e dos Estatutos daOrdem dos Médicos, recordarei so-mente o que nessa assembleia mani-festei verbalmente.

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A minha dúvida não é sobre a comple-xidade transparente da democracia re-presentativa, consagrada nos Estatutosda Ordem dos Médicos …, ao contrá-rio, a minha dúvida como então ex-pressei é sobre a qualidade actual daDemocracia Portuguesa da III Repú-blica.Para além da sociedade virtual de in-formação, tão bem retratada por umintelectual da esquerda francesa sobrea tirania da informação (Ignacio Ramo-net – Director do «Le Monde Diplo-matique»), surge a dúvida da promis-cuidade entre o público e o privado.Apenas dois exemplos: o bastonárioda Ordem dos Advogados alertou paraa inconstitucionalidade, nos princípi-os gerais de universalidade e igualda-de, de um órgão de soberania (nos seuscomponentes – magistratura dos tri-bunais judiciais (juízes) e magistraturado Ministério Público) – os Tribunais-terem Sindicatos, ao contrário de ou-tros órgãos de soberania Presidente daRepública, Assembleia da República eGoverno, que não têm nos seus com-ponentes Sindicatos!?...Recentemente, o ex-Presidente da Re-pública, Dr. Mário Soares, símbolo má-ximo da defesa ideológica da Demo-cracia Representativa da III República,afirmou que quando ele e o Dr. Salga-

do Zenha decidiram dedicar-se à polí-tica, por razões éticas de separação deinteresses públicos e privados, fecha-ram de imediato os seus escritórios deadvocacia, o que infelizmente não temacontecido com boa parte dos depu-tados eleitos para a Assembleia daRepública de diversos Partidos…Como eu disse na reunião, metafori-camente, a situação assemelha-se aoenamoramento e paixão de um em-pregado pelo patrão e respectiva rela-ção passional… fica sempre a dúvidapara os restantes elementos da orga-nização laboral, se na almofada do lei-to conjugal, são apenas discutidos te-mas dessa índole ou, de forma privile-giada e desigual, a gestão interpessoalda organização e seus empregados!?A qualidade da democracia na Ordemdos Médicos, apesar de complexa easséptica de ideologias sindicalisto-par-tidárias, como é sua competência, estásã, é transparente e recomenda-se aoresto do país e à III República, no seumodelo próprio de sistema presidenci-al e/ou directorial em Ciência Política.

BIBLIOGRAFIA- Constituição da República Portugue-sa. Coimbra: Edições Almedina S.A. Se-tembro 2007- Estatuto da Ordem dos Médicos (D.L.

nº. 282/77 de 5 Julho) in: Curado,Manuel. DIREITO BIOMÉDICO – Co-lectânea de legislação e outros elemen-tos. 1ª. Edição, Lisboa: Quid Juris?– Sociedade Editora Lda. 2008- LOCKE, John. SEGUNDO TRATA-DO DO GOVERNO – Ensaio sobre averdadeira origem, alcance e finalida-de do governo civil. 1ª. Edição, Lisboa:Fundação Calouste Gulbenkian – Ser-viço de Educação e Bolsas. 2007- Montesquieu, Charles de Secondat,Baron de. O ESPÍRITO DAS LEIS. 3ª.Edição, S. Paulo -Brasil: Livraria MartinsFontes Editora, Lda.- Moreira, Adriano. CIÊNCIA POLÍTI-CA. 3ª. Edição. Coimbra: EdiçõesAlmedina, S.A. 2006- Miranda, Jorge. CIÊNCIA POLÍTICA– FORMAS DE GOVERNO. Rio deMouro: Paulo Ferreira Editor. 1996

* Professor convidado de Ciência Po-lítica – Políticas públicas de Nicotina,Álcool e outras drogas em MeioLaboral – E.S.S.M. – M.D.N.- «Fellow of the Academy of PoliticalScience founded in 1880 – USA (Co-lumbia University) USA» (convidado es-trangeiro)- Membro executivo eleito do Plená-rio dos Conselhos Regionais (Sul) daOrdem dos Médicos

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