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Bernardo Schmitt Ruptura do tendão calcâneo comum em cão: Relato de caso Porto Alegre RS 2013

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Bernardo Schmitt

Ruptura do tendão calcâneo comum em cão: Relato de caso

Porto Alegre – RS

2013

Bernardo Schmitt

Ruptura do tendão calcâneo comum em cão: Relato de caso

Porto Alegre – RS

2013

Monografia apresentada como requisito para

conclusão do Curso de Pós-graduação,

Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica

de Pequenos Animais, do Centro de Estudos

Superiores de Maceió, da Fundação

Educacional Jayme de Altavila, orientado pelo

MSc. Fernando Wiecheteck de Souza.

Bernardo Schmitt

Ruptura do tendão calcâneo comum em cão: Relato de caso

Porto Alegre - RS

, _______ de __________________ de 20___

– Orientador –

Porto Alegre – RS

2012

Monografia apresentada como requisito para

conclusão do Curso de Pós-graduação,

Especialização em Clínica Médica e

Cirúrgica de Pequenos Animais, do Centro

de Estudos Superiores de Maceió, da

Fundação Educacional Jayme de Altavila,

orientado pelo MSc. Fernando Wiecheteck

de Souza.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer em primeiro lugar aos meus pais Arnaldo e Iara por

sempre apoiarem minhas decisões e escolhas, passando tranqüilidade e confiança em

suas ações. Agradeço aos meus familiares Pedro, Antônia, Ana Lúcia, Ana Clara,

Joseane, Leila, Maria Eduarda e Nair pelo incentivo e apoio que me deram durante

minha vida acadêmica.

Em especial aos meus tios Paulo Sérgio e Luis Fernando, por serem os

responsáveis pela minha decisão de cursar Medicina Veterinária, tendo primeiro contato

com a profissão graças a eles aos oito anos de idade. Ao meu irmão Luciano pela grande

amizade, companheirismo e parceria que será levada para toda a vida.Agradeço

imensamente a minha noiva Tainã, pela amizade, amor, carinho e respeito dedicado.

Também ao colega, amigo e orientador Fernando pela excelente orientação neste

trabalho.A todos vocês o meu muito obrigado!

Resumo

Este trabalho é uma revisão bibliográfica atual das técnicas mais utilizadas na tenorrafia

do tendão calcâneo comum, também conhecido como tendão de Aquiles (TA), e formas

de imobilização temporária para a região do tarso que são vistas rotineiramente na

rotina cirúrgica. Também para melhor visualização e exemplificação das técnicas, fez-se

aqui um relato de caso de ruptura total do tendão calcâneo comum, mostrando soluções

para complicações que podem ocorrer no pós-operatório, devido a problemas na

imobilização da articulação tarsocrural e o tempo de cicatrização mais prolongado que o

tendão necessita para restabelecer suas funções motoras.

Palavras-chave: Ortopedia; Claudicação; Tenorrafia

Lista de Figuras

Figura 1 – Exame ortopédico: (A) posição plantígrada do paciente; (B) Coto

espessado do TA (seta preta) ................................................................................. 13

Figura 2 – Em (A), flape de fáscia lata; (B) fixação do flape no TA; (C) tenorrafia

completa com o flap enxertado; (D) radiografia evidenciando a falha da

imobilização com pino de steinmann ............................................................... .... 14

Figura 3 – Em (A), fixação da sutura festonada no osso calcâneo; (B) sutura festonada;

(C) preparação da sutura de kesslermodificada; (D) sutura de kessler

modificada concluída ............................................................................................ 16

Sumário

Introdução ................................................................................................................................. 6

1.Revisão bibliográfica ............................................................................................................. 7

1.1 Ruptura de tendão de Aquiles. ....................................................................................... 7

2. Relato de caso ...................................................................................................................... 12

2.1 Discussão. ....................................................................................................................... 16

Conclusão. ............................................................................................................................... 18

Referências .............................................................................................................................. 19

INTRODUÇÃO

Com o aumento da população de pequenos animais pelo mundo, observa-se

uma maior preocupação por parte do proprietário para que seu animal de estimação seja

bem tratado, principalmente, quando seu cão ou gato sofre ruptura do tendão calcâneo

comum, causado por atropelamento, esforço físico excessivo ou ainda por lesão cortante

direta (JOHNSON, 2005).

Os sinais clínicos predominantes são edema, dor no local sem apoio do peso

no membro acometido. Posteriormente, ocorre uma fibroplasia nos cotos dos segmentos

rompidos, facilmente palpável com apoio do peso apresentando posição plantígrada sem

manifestação de dor no local (PIERMATTEI, et al. 2006).

Por este motivo, o presente trabalho, tem por objetivo fazer uma revisão de

literatura atual das técnicas mais utilizadas na tenorrafia do tendão calcâneo comum,

também conhecido como tendão de Aquiles, e formas de imobilização temporária para a

região do tarso que são vistas rotineiramente na rotina cirúrgica. Também para melhor

visualização e exemplificação das técnicas, fez-se aqui um relato de caso de ruptura

total do tendão calcâneo comum.

1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 Ruptura de Tendão de Aquiles

A unidade do tendão de Aquiles (TA) é composta de tendões que surgem

dos músculos gastrocnêmio, flexor digital superficial e de um tendão comum, originário

dos músculos semitendinoso, grácil e bíceps femoral (JOHNSON, 2005;

PIERMATTEI, et al. 2006; DENNY & BUTTERWORTH, 2006 a).

Os tendões são rodeados por uma bainha de tecido conjuntivo frouxo

denominado paratendão ou, alternativamente, em áreas que requerem lubrificação, pelas

bainhas sinoviais, compostas de camadas parietal e visceral, que continuam através do

mesotendão. O fascículo é a unidade funcional básica, junto com vasos sanguíneos e

nervos são envoltos pelo endotendão, que prossegue com a camada mais externa do

tendão, o epitendão (PAYNE ; TOMLINSOM,1993).

Rupturas musculares ocorrem por contração poderosa durante uma

hiperextensão forçada da unidade musculotendinosa, com maior predisposição em raças

esportivas de cães e atletas como greyhounds de corrida (JOHNSON, 2005).

O TA pode ser avulsionado do calcâneo pela atividade normal, sem trauma

externo, durante a corrida quando o cão firma as extremidades dos membros pélvicos no

solo, o que é muito comum em raças de grande porte usadas em esportes ou trabalho,

geralmente com cinco anos de idade ou mais. Dobermann Pinscher e Labrador

Retrieversão raças com maior incidência desta condição ortopédica (PIERMATTEI, et

al. 2006).

Sua maior ocorrência é com cães atléticos, mas sem predisposição racial,

idade ou sexo, podendo afetar também gatos. Os animais apresentam claudicação com

sustentação de peso após atividade extenuante. Quanto maior o tempo para que seja

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feito o reparo mais difícil fica a aproximação das extremidades rompidas do tendão

(JOHNSON, 2005).

A lesão mais comum é a ruptura parcial ou total do TA. Essa lesão pode ser

causada por trauma agudo (quedas ou ferimentos penetrantes) ou um estiramento

progressivo crônico como uso excessivo e deterioração do tendão, podendo ser bilateral

(JOHNSON, 2005; PIERMATTEI, et al. 2006).

Doenças sistêmicas como diabetes, hiperadrenocorticismo e obesidade são

comuns nesses casos (PIERMATTEI, et al. 2006).

A maioria das lesões são traumáticas devido à sobrecarga e/ou trauma direto

externo. Lesões de TA foram classificadas em três tipos:

- Tipo 1 completa ruptura do TA;

-Tipo 2 alongamento do sistema TA;

Subtipos:

a- Ruptura musculotendinosa;

b- Ruptura do TA com paratendão intacto;

c- Avulsão do tendão gastrocnêmio com tendão flexor superficial

digital íntegro;

- Tipo 3 tendinose e/ou peritendinite.

No quadro clínico, lesões do tipo 1, o paciente apresenta postura

plantígrada, quando tenta apoiar o membro acometido. Na palpação identifica-se os

cotos rompidos, pode ter ferida externa e se consegue fazer uma flexão completada

articulação tarsocrural sem efeito sobre a tensão flexora nos dedos (DENNY;

BUTTERWORTH, 2006 a).

No tipo 2, ocorre uma leve a moderada flexão ou queda do tarso, quando

apoiado. Tipo 2a graus de tumefação na junção musculotendinosa, tarso parcialmente

flexionado sem alteração na posição dos dedos. Tipo 2b é como no tipo 1, mas palpa-se

o paratendão integro entre os cotos do tendão, já a postura do tarso é como no tipo 2a.

Tipo 2c caracterizado por engrossamento entre o TA e o calcâneo, queda do tarso e

cerramento dos dedos, em virtude da tensão aumentada no tendão flexor superficial

digital. Já no tipo 3 TA está espessado com postura normal, sem possibilidade de

flexionar o tarso e não há tensão nos dedos (DENNY; BUTTERWORTH, 2006 a).

Frequentemente observa-se hiperflexão tarsal em paciente acometidos, se a

lesão for de um episódio traumático agudo o paciente fica incapaz de sustentar o

membro com flacidez do TA em uma flexão dorsal passiva do tarso quando a soldra

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está estendida. Se a ruptura for crônica, o paciente apresenta uma posição plantígrada

com sustentação do peso, devido à hiperflexão do tarso. Nesses casos crônicos o

paciente pode apresentar vários graus de hiperflexão, dependendo do período de tempo

transcorrido da ruptura (JOHNSON, 2005).

Logo após a lesão, os sinais clínicos predominantes são edema e dor no

local sem apoio do peso no membro acometido. Posteriormente, ocorre uma fibroplasia

nos cotos dos segmentos rompidos, facilmente palpável com apoio do peso

apresentando posição plantígrada (PIERMATTEI, et al. 2006).

Caso haja envolvimento do complexo tendinoso, o tarso e os dedos se

hiperflexionarão; se não envolver o tendão do músculo flexor superficial, o tarso

hiperflexionará e os dedos se flexionarão. Alterações posturais como um edema

palpável do tendão de Aquiles confirmam o diagnóstico (JOHNSON, 2005).

Na fase aguda, a radiografia mostra edema e o tendão retraído. Se for

avulsão pode observar fragmentos ósseos. Já na fase crônica, visualizam-se

irregularidades na tuberosidade do calcâneo e o tendão retraído, é raro verificar grande

fragmento ósseo proveniente do calcâneo fixado ao tendão retraído (PIERMATTEI, et

al. 2006).

O exame de ultrassonografia é útil para localizar a lesão, mas às vezes fica

difícil diagnosticar se existe ruptura parcial ou total. O único tratamento disponível é

cirúrgico, através de técnicas de tenorrafia (JOHNSON, 2005).

São conhecidas algumas técnicas para o reparo de tendões, as mais

utilizadas em medicina veterinária são suturas de Kessler modificada ou laço de

travamento, polia de três laços e de Bunnell-Mayer (JOHNSON, 2005).

Em casos de lesão aguda, são identificados cada um dos componentes do

complexo do TA e é possível suturá-los individualmente, o que não ocorre em casos

crônicos pois as extremidades tendinosas se contraem e ocorre deposição de tecido

fibroso, e os componentes individuais não são identificados senão tratado com uma

única estrutura (JOHNSON, 2005).

A maioria das células dos tendões maduros são fibrócitos relativamente

inativos, com mínima capacidade para dividir-se ou sintetizar proteína fibrosa, em

quantidade suficiente para desenvolver uma forte união entre os segmentos rompidos.

Então a maior parte da cicatrização tendínea ocorre por síntese e deposição de colágeno

realizado por células extrínsecas, que tendem a fazer aderências, pois a ferida que

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envolve diferentes tecidos cicatriza como uma única unidade (PEACOCK; VAN

WINKLE, 1976).

A função deslizante do tendão é comumente afetada pela formação

excessiva de tecido cicatricial, portanto, é de fundamental importância uma técnica

cirúrgica atraumática, sem comprometer o fluxo venoso e linfático, evitando edema, dor

e claudicação pós-operatória, que podem ser minimizados por fisioterapia nos estágios

avançados da cicatrização (DENNY; BUTTERWORTH, 2006 b).

O ponto mais importante para recuperar a função deslizante do tendão, não é

a prevenção de aderências aos tecidos adjacentes, mas a redução de cicatriz, que só

consegue atingir com técnicas com o mínimo de trauma a esses tecidos, evitando

hematomas, formação de abscesso, e proporcionar repouso ao local operado para que

ocorra ótima cicatrização. Quanto maiores as rupturas de aderências, maior o processo

inflamatório, consequentemente maior a cicatriz, acarretando em comprometimento

negativo da função motora (JOHNSTON, 1985).

Schmitt et al. (1993), verificaram que tendões calcâneos de cães irradiados

com laser de arseneto de gálio em dosimetria de 4J/cm2, por 10 dias, apresentaram

melhor vascularização, menos aderências e cicatrização com melhor estética. Já na

microscopia, não teve significativo aumento nos fibroblastos e na síntese de colágeno.

A reparação do tendão, quanto ao tempo, pode ser primária, primária

protelada, secundária e secundária protelada. A reparação primária é feita em até 12h, a

primária protelada em até 10-14 dias. A reparação secundária é feita após esse período e

a secundária protelada após quatro semanas. Se a ferida permitir, o tendão deverá ser

reparado logo que possível. Reparações tardias, após quatro semanas, com contratura do

músculo, podem requerer reconstrução ou uso de enxerto (WANG, 1998).

Em animais, o objetivo básico é manter a função de sustentação do tendão

rompido, enquanto a função de deslizamento é de importância secundária. A reparação

secundária é necessária em animais quando falha a reparação primária, ou não tenha

sido tentada e deve ser realizada em duas a quatro semanas após cicatrização da ferida

inicial. Ela oferece boa função de sustentação, mas a função deslizante pode ser perdida

(KILLINGSWORTH, 1993).

Métodos de tratamento para traumas ocorridos em tendões vêm sendo

testados, porém, os resultados são frustrantes quando considerados o tempo de

cicatrização e a qualidade do tecido cicatricial. Pesquisas recentes têm dado importância

ao traumatismo de tendão, particularmente do calcâneo, efetuando técnicas corretivas

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com a utilização de membranas como enxerto autógeno de fáscia lata (HADDAD et al.,

1997), tendão homólogo (RAISER, 2000), peritônio bovino preservado (COSTA NETO

et al., 1999) e pericárdio equino (SARTORI FILHO et al., 1997). Entretanto, mais

recentemente as pesquisas têm voltado sua atenção para o potencial terapêutico da

engenharia celular quando aplicadas a enfermidades complexas ou lesão de difícil

cicatrização (HUANG et al., 2006) e terapia celular tendínea com células

mononucleares (OLSSON, 2009).

2. RELATO DE CASO E DISCUSSÃO

Foi atendido no Hospital de Clínicas Veterinária da Universidade Federal de

Pelotas, um canino, macho, sem raça definida (SRD), com aproximadamente cinco anos

de idade e que fora adotado há pouco tempo pelo proprietário. As principais queixas

eram de ferida que não cicatrizava no membro pélvico direito (MPD), e no membro

pélvico esquerdo (MPE) dificuldade em caminhar com postura diferente em relação ao

apoio do membro. No exame clínico geral, o paciente apresentava estado geral bom,

consciência alerta, hidratação normal, mucosas róseas, sem aumento de linfonodos,

temperatura retal 38,2º C, tempo de perfusão capilar (TPC) 2 segundos e peso corporal

18,8 kg. Foram observadas claudicação no MPE e lesão com conteúdo mucopurolento

no MPD.

No exame ortopédico, evidenciou-se claudicação no MPE, grau 3, que ao

passo claudicava e ao trote poupava o membro afetado (classificação de 1 a 4), quando

em repouso o animal adotava uma postura plantígrada (Fig. 1A), na palpação notou-se

ausência de deslizamento do TA tanto na extensão como na flexão e aumento de volume

próximo ao calcâneo e distal a ele, cerca de 4 cm acima, confirmando ruptura do TA,

grau 1, sugestivo de lesão secundária protelada (Fig. 1B).

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Figura 1– Exame ortopédico: (A) posição plantígrada do paciente; (B) Coto espessadodo TA (seta)

No MPD, verificou-se lesão profunda na porção distal da tíbia, que no

exame radográfico confirmou-se osteomielíte. Neste caso, apesar do cão ter um foco de

infecção, o hemograma não teve alterações significativas. O animal foi então

encaminhado para realização da técnica de tenorrafia no MPE.

Realizou-se jejum alimentar de 6 horas e hídrico de 2 horas, e como forma

de medicação pré-anestésica (MPA) foi realizada associação de sulfato de morfina

0,3mg.kg-1, IM, midazolan 0,3mg.kg-1, IM e acepromazina 0,05mg.kg-1, IM, após 15

minutos, realizou-se a tricotomia para o acesso venoso e o campo operatório. Em

seguida dentro do bloco cirúrgico efetuou-se a venóclise e posterior indução com

propofol (6mg/kg), então fez-se a intubação orotraqueal, sendo a manutenção com

isoflurano via inalatória ao efeito com 100% de oxigênio. Também realizou-se analgesia

trans-operatória com fentanil 0,005mg/kg, nos momentos em que o paciente apresentou

dor no decorrer do procedimento.

A tenorrafia do MPE foi realizada, com a utilização de enxerto autógeno da

fáscia lata (Fig. 2 A, 2 B e 2 C), para imobilização temporária da articulação tarsocrural

utilizou-se um pino de steinmann de 2,5 mm, introduzido pelo calcâneo e fixado na

porção distal da tíbia, em ângulo de 45º.

Sete dias de pós-operatório o paciente já apresentava novamente postura

plantígrada do membro operado, devido a perda da estabilização articular da região do

calcâneo. No exame radiográfico visualizou-se o pino curvado e fora da região do

calcâneo (Fig. 2 D), necessitando uma nova intervenção cirúrgica. Esse tipo de

imobilização, apesar de ser indicado por Piermattei, et al. (2006) e Denny e Butterworth

(2006), na prática tem se mostrado insuficiente, devido o paciente ficar com postura

A B

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hiperextendida, fazendo com que ele apoie antes o membro acometido, causando maior

estresse sobre o pino, levando a uma deformação e perda de estabilidade.

A reintervenção cirúrgica ocorreu em decúbito lateral direito, a antissepsia

foi realizada desde a articulação fêmuro-tibio-patelar até a região metatarso-falangiana,

o campo operatório foi fixado utilizando pinças de backaus e realizou-se incisão

caudolateral, abrangendo pele e subcutâneo, então divulsionou-se essa região e os vasos

sangrantes foram hemostatizados e ligados com fio de ácido poliglicólico nº 4-0,

chegando até o local da lesão propriamente dita, observando os cotos do tendão, que

estavam engrossados, com deposição de tecido conjuntivo, confirmando lesão crônica

(secundária protelada).

Então retirou-se três centímetros do enxerto autógeno da fáscia lata, em

seguida seccionou-se três milímetros de cada coto, para estimular a cicatrização. Logo

realizou-se a tenorrafia com quatro suturas de kessler modificada, englobando cada

Figura 2– Em (A), flape de fáscia lata; (B) fixação do flape no TA; (C) tenorrafia completa com o flap enxertado; (D) radiografia evidenciando a falha da imobilização com pino de steimann.

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porção do tendão e mais uma sutura de reforço contínua festonada, fixada no calcâneo

com auxílio de uma agulha 40x12 mm, realizadas com fio de náilon nº 2-0 (Fig. 3A -

D). Como não foi possível fazer a anastomose do tendão essas suturas de kessler

modificada, serviram como guia para orientar o sentido da cicatrização. Após a

tenorrafia realizada, irrigou-se a ferida cirúrgica e iniciou-se a redução do espaço morto

em duas camadas, a primeira com contínua simples com fio de náilon nº 3-0 na tentativa

de reconstruir a bainha tendínea, a mesma sutura foi utilizada na segunda linha de

redução do subcutâneo, finalizando com síntese de pele suturando com contínua

intradérmica com fio de náilon nº 4-0.

Para a imobilização temporária da articulação tarsocrural empregou-se um

método mais resistente, conhecido como fixador esquelético externo (FEE) tipo II

fixado com barras de acrílico. No pós-operatório utilizou-se analgésicos como cloridrato

de tramadol 4 mg.kg-1 durante três dias t.i.d e por mais dois dias b.i.d e também

meloxicam 0,1 mg.kg-1s.i.d por cinco dias. Foi efetuada ainda antibióticoterapia

utilizando a cefalexina 22 mg.kg-1bid por mais 30 dias, devido a osteomielite

intercorrente no MPD.

O fixador esquelético externo foi retirado após 120 dias da cirurgia, sem

sinal de dor ou alteração de postura no membro. O animal com um ano de pós-

operatório encontra-se recuperado, apoiando o membro operado normalmente.

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Figura 3– Em (A), fixação da sutura festonada no osso calcâneo; (B) sutura festonada;

(C) preparação da sutura de kessler modificada; (D) suturade kessler

modificada concluída.

Para obter sucesso na tenorrafia é de fundamental importância que se imobilize a

articulação tarsocrural por no mínimo 21 dias (RAISER, 2000). No caso aqui relatado,

na primeira imobilização não se obteve estabilidade adequada, devido o peso do

paciente e por este manter o membro estendido. Esse fato fazia com que o paciente

apoiasse primeiro o membro operado proporcionando maior sobrecarga acarretando no

encurvamento do pino e perda da estabilização da articulação do tarso. Com a execução

do segundo procedimento de tenorrafia, utilizou-se uma imobilização muito mais

resistente através do FEE tipo II, com três pinos proximais e dois pinos distais a

articulação tarsocrural, sendo esse FEE mais efetivo na imobilização articular em cães

de maior porte.

É esperado que o período de imobilização seja maior, porque quanto maior

for à distância entre os cotos reparados, mais tempo demorará a cicatrização, fato que

aconteceu com o paciente, pois este voltou a apoiar o membro com mais de três meses

após a última cirurgia. O procedimento cirúrgico foi realizado o mais breve possível,

17

pois quanto mais antiga for a lesão mais difícil será a tenorrafia. Neste caso não existia

contaminação na região da tenorrafia da articulação tarsocrural o que de certo modo

melhorou o prognóstico (JOHNSON, 2005).

Um agravante na recuperação é o tempo necessário para que a cicatrização

ocorra e dê sustentação ao membro. Em torno de oito semanas, a resistência do tendão

estará aumentada, eventualmente, os fibroblastos tornam-se tenócitos inativos. A

remodelação pode demorar 112 dias o que não ocorreu neste caso, onde o fixador

esquelético foi retirado com 120 dias, tempo insuficiente para a completa cicatrização

do tendão, podendo levar mais de um ano. Após dois anos, o paciente está totalmente

recuperado e embora tenha ocorrido aderências no tendão, o animal sustenta seu peso

sem dificuldades, restabelecendo suas funções locomotoras (WANG, 1998).

CONCLUSÃO

Independente da técnica de tenorrafia utilizada, podendo ser: sutura de

kessler modificada, polia de três laços ou de Bunnell-Mayer, associado ou não a

enxertos e/ou terapias adjuvantes como laser de arseneto de gálio e fisioterapia visam

agilizar o processo de cicatrização do tendão calcâneo comum. O que torna-se

indispensável para obter êxito no procedimento é a técnica cirúrgica atraumática e

imobilização resistente da articulação tarsocrural em posição de estação, até que se

tenha a cicatrização completa do tendão de Aquiles, que pode levar meses ou até anos,

com preservação da função de deslizamento, para que o paciente restabeleça suas

funções motoras e tenha uma vida normal.

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