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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO TOCANTINS COMARCA DE PARAÍSO DO TOCANTINS 1ª VARA CÍVEL# Rua 13 de maio n.º 265, Centro, Fórum, Fones (063)3361-1127 e 3602-6683, CEP 77.600-000 Processo nº 0004310-21.2016.827.2731 DECISÃO LIMINAR 1 1. RELATÓRIO. FRANCISCO JOSÉ FERREIRA LIMA (CPF: 477.183.901-87) propôs Tutela Provisória de Urgência de Natureza Cautelar (em caráter liminar) em desfavor da CÂMARA MUNICIPAL DE MONTE SANTO/TO (CNPJ: 01.908.716/0001-54), representada na pessoa de seu Vereador Presidente o Senhor Celso Dias Silvério, tendo por objetivo o autor, segundo a petição inicial: O deferimento da tutela de urgência para o fim específico de suspender os efeitos da decisão administrativa constante na Sessão Legislativa 23ª, ocorrida no dia 22/06/2016 e especialmente o Decreto Legislativo nº 03/2016, que reprovou as contas consolidadas do postulante referente ao exercício de 2013, por tratar-se de decisão de pleno direito, excluindo o nome do postulante da lista de inelegíveis, considerando o gestor elegível para quaisquer efeitos, sob pena de aplicação de multa diária; O autor apresenta como causa de pedir: (a) nulidade do parecer 006/2016 da Comissão de Constituição e Justiça, Redação, Finanças e Orçamento que contrariou o parecer emitido pelo TCE, além de ausência de fundamentação; (b) nulidade da sessão que votou o parecer, porque uma das cédulas estava marcada, o que contamina a lisura da votação e (c) porque não foi deferido o pedido de vistas de um vereador, para análise do parecer. Aponta o fumus boni iuris nos documentos carreados aos autos, especialmente a certidão negativa emitida pelo TCE, que, segundo suas alegações, comprova a quitação de débitos perante a Corte de Contas, bem como, nos próprios termos que fundam os acórdãos guerreados, os quais não derivam de prova cabal de locupletamento ilícito, dolo, má-fé, desvio de dinheiro ou apropriação indébita. No tocante ao periculum in mora relata que o postulante é pré-candidato a reeleição, e teme que o referido processo não seja julgado em tempo hábil de participar das convenções marcadas para o próximo dia 29.07.2016, vez que, a permanência do nome do requerente na “lista suja” do TCE, certamente lhe causará obstáculos intransponíveis para sagrar-se escolhido como candidato perante correligionários e firmar alianças políticas, vez que, a própria classe política temerá elegê-lo candidato. Indica que acaso a medida liminar pretendida não seja deferida, causará prejuízo irreparável à pretensão do Postulante, haja vista que o mesmo ainda terá seu nome constante na Relação de Responsáveis por Contas Julgadas Irregulares e, desta forma, estará impedido de obter o registro de sua candidatura. Pede seja deferida a liminar com a Imediata suspensão dos efeitos da decisão administrativa constante na Sessão Legislativa 23ª ocorrida no dia 22.06.2016 e especialmente o Decreto Legislativo nº 03/2016, que reprovou

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Processo nº 0004310-21.2016.827.2731 DECISÃO LIMINAR

1

1. RELATÓRIO.

FRANCISCO JOSÉ FERREIRA LIMA (CPF: 477.183.901-87) propôs Tutela Provisória de Urgência de Natureza Cautelar (em caráter liminar) em desfavor da CÂMARA MUNICIPAL DE MONTE SANTO/TO (CNPJ: 01.908.716/0001-54), representada na pessoa de seu Vereador Presidente o Senhor Celso Dias Silvério, tendo por objetivo o autor, segundo a petição inicial:

O deferimento da tutela de urgência para o fim específico de suspender os efeitos da decisão administrativa constante na Sessão Legislativa 23ª, ocorrida no dia 22/06/2016 e especialmente o Decreto Legislativo nº 03/2016, que reprovou as contas consolidadas do postulante referente ao exercício de 2013, por tratar-se de decisão de pleno direito, excluindo o nome do postulante da lista de inelegíveis, considerando o gestor elegível para quaisquer efeitos, sob pena de aplicação de multa diária;

O autor apresenta como causa de pedir: (a) nulidade do parecer 006/2016 da Comissão de Constituição e Justiça, Redação, Finanças e Orçamento que contrariou o parecer emitido pelo TCE, além de ausência de fundamentação; (b) nulidade da sessão que votou o parecer, porque uma das cédulas estava marcada, o que contamina a lisura da votação e (c) porque não foi deferido o pedido de vistas de um vereador, para análise do parecer.

Aponta o fumus boni iuris nos documentos carreados aos autos, especialmente a certidão negativa emitida pelo TCE, que, segundo suas alegações, comprova a quitação de débitos perante a Corte de Contas, bem como, nos próprios termos que fundam os acórdãos guerreados, os quais não derivam de prova cabal de locupletamento ilícito, dolo, má-fé, desvio de dinheiro ou apropriação indébita.

No tocante ao periculum in mora relata que o postulante é pré-candidato a reeleição, e teme que o referido processo não seja julgado em tempo hábil de participar das convenções marcadas para o próximo dia 29.07.2016, vez que, a permanência do nome do requerente na “lista suja” do TCE, certamente lhe causará obstáculos intransponíveis para sagrar-se escolhido como candidato perante correligionários e firmar alianças políticas, vez que, a própria classe política temerá elegê-lo candidato. Indica que acaso a medida liminar pretendida não seja deferida, causará prejuízo irreparável à pretensão do Postulante, haja vista que o mesmo ainda terá seu nome constante na Relação de Responsáveis por Contas Julgadas Irregulares e, desta forma, estará impedido de obter o registro de sua candidatura.

Pede seja deferida a liminar com a Imediata suspensão dos efeitos da decisão administrativa constante na Sessão Legislativa 23ª ocorrida no dia 22.06.2016 e especialmente o Decreto Legislativo nº 03/2016, que reprovou

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as Contas Consolidadas do Postulante referente ao exercício de 2013, por tratar-se de decisão de pleno direito, excluindo o nome do Postulante da lista de inelegíveis, considerando-o gestor ELEGÍVEL para quaisquer efeitos, sob pena de multa diária no importe de R$ 1.000,00 (mil reais), nos termos do art. 537, § 2º, CPC/15;

Requer ainda que seja mantida a decisão, quer na forma de tutela ou liminar deferida, até o julgamento final do mérito da ação ordinária anulatória; (i) Com a concessão da tutela de urgência antecipada antecedente pleiteada, havendo recurso do réu, requer-se o prazo de 15 (quinze) dias ou outro maior que Vossa Excelência determinar, para aditar a presente inicial; (ii) Com o aditamento da presente inicial nos termos do inciso I do § 1º do art. 303 do Código de Processo Civil, o Postulante requererá a citação do réu para responder ao pedido definitivo. (iii) A citação da requerida, através de seu representante legal, para que apresente a resposta que julgar necessária, no prazo legal, sob pena de confissão e revelia; e que ao final, seja julgado totalmente procedente os pedido veiculados na inicial para o fim de manter a decisão que antecipou cautelarmente os efeitos da decisão e reconhecer a nulidade da sessão legislativa nº 23ª realizada em 22/06/2016, bem como, o Decreto Legislativo nº 03/2016, que reprovou as Contas Consolidadas do Postulante referente ao exercício de 2013, visto que o mesmo deriva de atos ilícitos e viciados, produzidos de forma unilateral pelo grupo da oposição na Casa de Leis Municipal., determinando-se a anulação dos atos administrativos (julgamento de contas contido nas Sessões Ordinárias da Câmara Municipal de MONTE SANTO/TO – consistente na rejeição da prestação das contas consolidadas do autor referente ao ano/exercício 2012, por violação ao contraditório, ampla defesa, devido processo legal e da motivação e fundamentação das decisões.

Despacho no evento 2 determinando ao autor o recolhimento das custas judiciais e despesas de ingresso.

No evento 3, em que pese não intimado, a requerida, CÂMARA DE VEREADORES DO MUNICÍPIO DE MONTE SANTO/TO, via advogado, com mandato outorgado (evento 1, PROC2), apresenta MANIFESTAÇÃO PRELIMINAR, aduzindo ao bojo da referida peça processual as seguintes alegações:

Em primeiro lugar, em relação ao pedido de vista realizado pelo Vereador, vê-se que o Autor da ação, para além de não possuir legitimidade para sustentá-lo, pois trata-se de direito alheio1 – pertencente ao Vereador, a quem caberia cobrá-lo, fosse esse o caso, foi indeferido pelo Plenário da Câmara de Vereadores em conformidade com o art. 135 do Regimento Interno da Câmara de Vereadores;

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Em relação à votação, consta, diferentemente do que dito pelo Autor, que as contas foram reprovadas por 8 votos a 1 voto, sendo que 1 dos 8 votos dados para reprovar as contas foi anulado porque os escrutinadores notaram que na cédula foi assinalada marca fora do lugar destinado ao voto, concluindo-se que ocorreu neste caso a identificação do voto. Insista-se: o voto anulado, caso fosse validado, seria computado junto aos que reprovaram as contas, de modo que, em verdade, a anulação do referido voto foi benéfica ao Autor, não tendo havido, portanto, qualquer prejuízo a ele. Nesse sentido registrou-se na ata da sessão a aprovação do parecer da Comissão da Câmara de Vereadores e, consequentemente, a reprovação das contas do Autor;

Reforça que todos os direitos inerentes ao contraditório e à ampla defesa foram assegurados ao Autor, conforme ele mesmo reconhece no ofício mandado à Câmara de Vereadores;

Observa-se que o Decreto-Legislativo em que se formalizou a reprovação das presentes contas, publicado no DOE do Tocantins de 27 de junho de 2016, páginas 54 e 55 (DOC. ANEXO), constaram os seguimentos motivos concretos para a referida reprovação. Portanto, ao contrário do que dito na inicial, houve sobrados motivos concretos para a reprovação das contas, de modo que não se tratou de ato arbitrário ou genérico, como busca fazer crer, sem razão, o Autor.

Requer seja negada a medida liminar, visto que a Câmara de Vereadores apenas cumpriu o seu dever constitucional, não tendo havido no procedimento qualquer vício de legalidade que torne necessária a intervenção do Poder Judiciários nos atos interna corporis do Legislativo de Monte Santo do Tocantins.

Espontaneamente, antes mesmo da intimação do despacho do evento 2, a parte autora providencia o necessário recolhimento da taxa judiciária e despesas de ingresso.

Passo, pois, a apreciar o pleito liminar.

Relatei. DECIDO.

2. FUNDAMENTAÇÃO.

2.1 DA ANÁLISE DO PEDIDO PELO PODER JUDICIÁRIO.

Inicialmente gize-se que ao Poder Judiciário é permitida a análise da regularidade formal do procedimento adotado pelo Poder Legislativo para julgar as contas públicas apresentadas pelo chefe do Poder Executivo Municipal, bem como a verificação da existência dos motivos ensejadores de

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sua rejeição, sem, contudo, a emissão de juízo de valor a respeito dos motivos que levaram a Câmara Municipal à rejeição das contas.

De outra parte, aplicável ao caso o ensinamento de HELY LOPES MEIRELLES, referindo-se às decisões administrativo-punitivas, segundo o qual cabe ao Judiciário exercer o controle quanto à regularidade do processo e à existência de motivos. A respeito esclarece o insigne e saudoso jurista:

“O que o Judiciário não pode é valorar motivos, para considerar justa ou injusta a deliberação do Plenário, mas poderá e deverá sempre que solicitado, examinar a regularidade formal do processo e verificar a real existência dos motivos e a exatidão do enquadramento no tipo descrito pala lei definidora da infração. Assim decidindo, a Justiça não estará emitindo Juízo de valor sobre a conduta político-administrativa do acusado, mas juízo de legalidade sobre o processo e sobre a realidade dos motivos determinantes da deliberação da Câmara” (Direito Municipal Brasileiro, págs. 665-666, RT, 4ª ed., 1981)”.

Constata-se que o Superior Tribunal de Justiça considera possível a análise da “existência dos motivos atinentes ao ato de rejeição de contas”. Todavia, não é permitido ao Judiciário a valoração, ou seja, a análise de mérito dos motivos que levaram à rejeição das contas.

“ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE NULIDADE C⁄C DECLARATÓRIA DE REGULARIDADE DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. EX-PREFEITO. REJEIÇÃO DE CONTAS PELA CÂMARA MUNICIPAL. 1. Falta de prequestionamento do disposto nos arts. 165 e 458, II, do Código de Processo Civil. Incidência da Súmula 211⁄STJ. 2. Ausência da omissão apontada pelo recorrente. Inexistência de violação ao art. 535, II, do Código de Ritos. 3. Ao Poder Judiciário é permitida a análise da regularidade formal do procedimento adotado pelo Poder Legislativo para julgar as contas públicas apresentadas pelo chefe do Poder Executivo Municipal, bem como a verificação da existência dos motivos ensejadores de sua rejeição. Por outro lado, não lhe cabe emitir juízo de valor a respeito dos motivos que levaram a Câmara Municipal à rejeição das contas. 4. Recurso especial improvido.” (STJ - RECURSO ESPECIAL Nº 453.504 - MG (2002⁄0090749-4) - Segunda Turma - Rel. Min. CASTRO MEIRA – dj: Brasília, 16 de dezembro de 2004).

“Prestação de contas. Prefeito. Rejeição pela Câmara de Vereadores por falta de quorum. Ação anulatória, prevista no art. 1º, inciso I, letra 'g', da Lei Complementar nº 64, de 1990. Cabimento. Âmbito. I - A ação anulatória, referida no citado preceito legal complementar, é cabível contra a decisão da Câmara de Vereadores, incluindo-se, no seu âmbito, as questões relativas à regularidade do processo e à existência dos motivos atinentes ao

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ato de rejeição das contas. II - Recurso especial conhecido e provido” (STJ - REsp 80.419⁄MG, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro).

De toda esta linha de argumentação discordo apenas da assertiva, no sentido de que “as deliberações da Câmara, em matéria de cassação de mandatos de Prefeitos, como de Vereadores constituem decisões “interna corporis””.

Em verdade, tais decisões não se limitam ao âmbito de interesse das assembléias municipais. Elas penetram o âmbito de interesses pessoais dos titulares dos mandatos desconstituídos. Em se tratando cassar mandato de Prefeito, o processo, invade o próprio âmbito de autonomia do Poder Executivo.

Portanto, não se pode considerá-las interna corporis. Mais apropriado seria tê–las como externa corporis. Não vejo como imunizá-las ao crivo do Poder Judiciário.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que afasta do controle judicial os atos interna corporis das casas legislativas deve ser encarada à luz dos esclarecimentos contidos no primoroso voto do eminente Ministro CELSO DE MELLO, no julgamento do MS 21.371/STF:

“interna corporis são só aquelas questões ou assuntos que entendem direta e imediatamente com a economia interna da corporação legislativa, com seus privilégios e com a formação ideológica da lei, que, por sua própria natureza, são reservados à exclusiva apreciação e deliberação de Plenário da Câmara. Tais são os atos de escolha da Mesa (eleições internas), os de verificação de poderes e incompatibilidades de seus membros (cassação de mandatos, concessão de licenças, etc.) e os de utilização de suas prerrogativas institucionais (modo de funcionamento da Câmara, elaboração de Regimento, constituição de Comissões, organizações de Serviços Auxiliares, etc) e a valoração das votações.”

Daí não se conclua que tais assuntos afastam, por si só, a revisão judicia. Não é assim. O que a Justiça não pode é substituir a deliberação da Câmara por um pronunciamento judicial sobre o que é da exclusiva competência discricionária do plenário, da Mesa ou da Presidência. Mas pode confrontar sempre o ato praticado com as prescrições constitucionais, legais ou regimentais, que estabeleçam condições, forma ou rito para o seu cometimento.

Nesta ordem de idéias, conclui-se que é lícito ao judiciário perquirir da competência das Câmaras e verificar-se se há inconstitucionalidades, ilegalidades e infringências regimentais no seus alegados interna corporis,

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detendo-se, entretanto, no vestíbulo das formalidades, sem adentrar o conteúdo de tais atos, em relação aos quais a corporação legislativa é ao mesmo tempo destinatária e juiz supremo de sua prática.

Nem se compreenderia que o órgão incumbido de elaborar a lei dispusesse do privilégio de desrespeitá-la impunemente, desde que o fizesse no recesso da corporação. Os interna corporis só são da exclusiva apreciação das Câmaras naquilo que entendem com as regras ou disposições de seu funcionamento e de suas prerrogativas institucionais, atribuídas por lei.

É de registrar – ainda que estas observações sejam inaplicáveis ao caso presente – que a infração a norma do Regimento Interno, que não possua extração constitucional, pode revelar-se passível de controle pelo Judiciário, desde que o exercício abusivo do poder pelo Presidente da Casa legislativa implique a nulificação de direitos conferidos aos parlamentares pelo próprio texto da Lei Fundamental, como o de oferecer emendas às proposições normativas (CF, art. 65, parágrafo único: art. 166, § 3º) ou o de recorrer, ainda que coletivamente, da deliberação das comissões legislativas tomada na forma do art. 58, § 2º I, da Carta Política.

Os atos interna corporis – não obstante abrangidos pelos círculos de imunidade que excluem a possibilidade de sua revisão judicial – não podem ser invocados, com essa qualidade e sob esse color, para justificar a ofensa ao direito público subjetivo que os congressistas titularizam e que lhes confere a prerrogativa institucional à devida observância, pelo órgão a que pertencem, das normas constitucionais e regimentais pertinentes ao processo de atuação da instituição parlamentar.

É preciso reconhecer neste ponto – consoante advertiu o saudoso Min. Luiz Galloti em julgamento neste Supremo Tribunal (v. Arnoldo Wald, “O Mandado de Segurança e sua Jurisprudência”, tomo II/889) que

“Desde que se recorre ao Judiciário alegando que um direito individual foi lesado por ato de outro poder, cabendo-lhe examinar se esse direito existe e foi lesado. Eximir-se comodamente com a escusa de tratar-se de ato político, seria fugir ao dever que a Constituição lhe impõe, máxime após ter ela inscrito entre as garantias fundamentais, como nenhuma outra antes fizera, o princípio de que nem a lei poderá excluir da apreciação do poder judiciário qualquer lesão de direito individual”.

Não obstante o caráter político dos interna corporis, é essencial proclamar que a discrição dos corpos legislativos não pode exercer-se – conforme adverte Castro Nunes (“Do Mandado de Segurança”, pág. 223, 5ª ed.) – nem “...fora dos limites constitucionais ou legais”, nem “...ultrapassar as raias que condicionem o exercício legítimo do poder”.

Lapidar, sob, este aspecto, o magistério, erudito e irrepreensível, de Pedro Lessa (Do Poder Judiciário, pág. 65), verbis:

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“Numa palavra: a violação das garantias constitucionais, perpetrada à sombra de funções políticas não é imune à ação dos tribunais. A estes sempre cabe verificar se a atribuição política abrange nos seus limites a faculdade exercida. Enquanto não transpõe os limites das suas atribuições, o Congresso elabora medidas e normas, que ultrapassa a circunferência, os seus atos estão sujeitos ao julgamento do poder judiciário, que, declarando-os inaplicáveis por ofensivos a direitos, lhe tira eficácia jurídica.” (RTJ 144/494).

Ainda nesse pormenor, é oportuno assinalar que a nossa Carta Magna, no art. 5º, XXXV, estabelece claramente que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

Nesse sentido o Supremo Tribunal Federal (STF):

“O Poder Judiciário, quando intervém para assegurar as franquias constitucionais e para garantir a integridade e a supremacia da Constituição, desempenha, de maneira plenamente legítima, as atribuições que lhe conferiu a própria Carta da República. O regular exercício da função jurisdicional, por isso mesmo, desde que pautado pelo respeito à Constituição, não transgride o princípio da separação de poderes. Desse modo, não se revela lícito afirmar, na hipótese de desvios jurídico-constitucionais nas quais incida uma comissão parlamentar de inquérito, que o exercício da atividade de controle jurisdicional possa traduzir situação de ilegítima interferência na esfera de outro Poder da República.” (STF-MS 23.452, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 16-9-99, Plenário, DJ de 12-5-00).

No mesmo sentido: STF/MS 24.458-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 18-2-03, DJ de 21-2-03.

E o Superior Tribunal de Justiça (STJ):

“ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE NULIDADE C/C DECLARATÓRIA DE REGULARIDADE DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. EX-PREFEITO. REJEIÇÃO DE CONTAS PELA CÂMARA MUNICIPAL. 1. Falta de prequestionamento do disposto nos arts. 165 e 458, II, do Código de Processo Civil. Incidência da Súmula 211/STJ. 2. Ausência da omissão apontada pelo recorrente. Inexistência de violação ao art. 535, II, do Código de Ritos. 3. Ao Poder Judiciário é permitida a análise da regularidade formal do procedimento adotado pelo Poder Legislativo para julgar as contas públicas apresentadas pelo chefe do Poder Executivo Municipal, bem como a verificação da existência dos motivos ensejadores de sua rejeição. Por outro lado, não lhe cabe emitir juízo de valor a respeito dos motivos que levaram a Câmara Municipal à rejeição das contas. 4. Recurso especial improvido.” (STJ - REsp 453.504/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/12/2004, DJ 18/04/2005, p. 249).

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“ADMINISTRATIVO – EX-PREFEITO - REJEIÇÃO DAS CONTAS PÚBLICAS PELA CÂMARA MUNICIPAL – PARECER DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO - APRECIAÇÃO DO JUDICIÁRIO – CABIMENTO - L.C. 64/90, ART. 1º, INC. I "G" – PRECEDENTES. - O ato de rejeição das contas de ex-prefeito, pela Câmara de Vereadores, com apoio em parecer Técnico dos Tribunais de Contas, é de natureza administrativa e, como tal, sujeito à apreciação do Judiciário como ocorre com os atos administrativos em geral, seja quanto aos seus aspectos formais, seja no tocante à procedência da sua motivação (REsp. 80.419/MG). - Recurso conhecido e provido, determinando o retorno dos autos ao Tribunal de origem, que dará prosseguimento ao julgamento.” (STJ - REsp 151.529/MG, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/09/2002, DJ 11/11/2002, p. 171).

2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO CONTRADITÓRIO, DA AMPLA DEFESA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. OBSERVÂNCIA PELO LEGISLATIVO/CÂMARA MUNICIPAL. AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA.

2.2.1 Introdução. Doutrina e Jurisprudência.

O controle externo das contas municipais, especialmente daquelas pertinentes ao Chefe do Poder Executivo local, representa uma das mais expressivas prerrogativas institucionais da Câmara de Vereadores, que o exercerá com o auxílio do Tribunal de Contas (CF, art. 31), verbis:

Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei.

§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.

§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.

§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO TOCANTINS COMARCA DE PARAÍSO DO TOCANTINS – 1ª VARA CÍVEL#

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Essa fiscalização institucional, por sua vez, é desempenhada pelo Poder Legislativo do Município, no âmbito de procedimento revestido de caráter político-administrativo, tal como acentuado, em preciso magistério, pelo saudoso e eminente HELY LOPES MEIRELLES (“Direito Municipal Brasileiro”, p. 588, 13ª ed., São Paulo, 2003, Malheiros Editores):

“A função de controle e fiscalização da Câmara sobre a conduta do Executivo tem caráter político-administrativo e se expressa em decretos legislativos e resolução do plenário, alcançando unicamente os atos e agentes que a Constituição Federal, em seus arts. 70-71, por simetria, e a lei orgânica municipal, de forma expressa, submetem à sua apreciação, fiscalização e julgamento. No nosso regime municipal o controle político-administrativo da Câmara compreende a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, através do julgamento das contas do prefeito e de suas infrações político-administrativas sancionadas com cassação do mandato.”

Esse entendimento doutrinário - que enfatiza a imprescindibilidade da observância da garantia constitucional da plenitude de defesa e do contraditório (CF, art. 5º, LV) - reflete-se na autorizada lição de JOSÉ NILO DE CASTRO (“Julgamento das Contas Municipais”, p. 26/39, itens ns. 1-2, 2ª ed., 2000, Del Rey), que também adverte, a propósito do procedimento político-administrativo de controle parlamentar das contas do Prefeito municipal, que a deliberação da Câmara de Vereadores sobre as contas do Chefe do Poder Executivo local, além de supor o necessário respeito ao postulado constitucional da ampla defesa, há de ser fundamentada, sob pena de a resolução legislativa importar em inaceitável transgressão ao sistema de garantias consagrado pela Constituição da República.

Cabe referir que essa mesma percepção do tema é revelada, em substancioso estudo, pelo eminente Professor EDUARDO BOTTALLO (“Julgamento de Contas de Prefeito e Princípio da Ampla Defesa”, in “Direito Administrativo e Constitucional - Estudos em Homenagem a Geraldo Ataliba”, vol. 2/334-338, 1997, Malheiros), cujo magistério, no tema, assim por ele foi resumido:

“a) a apreciação das contas de Prefeito, prevista no art. 31, § 2º, da Constituição da República, é tarefa que não se contém no âmbito do “processo legislativo” de competência das Câmaras Municipais; trata-se, ao revés, de julgamento proferido dentro de processo regular, cuja condução demanda obediência às exigências constitucionais pertinentes à espécie;

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b) não é correto o entendimento de que, no caso de apreciação de contas de Prefeito, o exercício do direito de defesa se dá apenas perante o Tribunal de Contas durante a fase de elaboração do parecer prévio, e isto porque esta instituição não julga, atuando apenas como órgão auxiliar do Poder Legislativo Municipal a quem cabe tal competência;

c) o julgamento das contas de Prefeito pela Câmara Municipal deve observar os preceitos emergentes do art. 5º, LV, da Constituição da República, sob pena de nulidade.” (grifei)

Não se pode perder de perspectiva, neste ponto, considerada a essencialidade da garantia constitucional da plenitude de defesa e do contraditório, que a Constituição da República estabelece que ninguém pode ser privado de sua liberdade, de seus bens ou de seus direitos sem o devido processo legal, notadamente naqueles casos em que se estabelece uma relação de polaridade conflitante entre o Estado, de um lado, e o indivíduo, de outro.

Cumpre ter presente, bem por isso, que o Estado, em tema de restrição à esfera jurídica de qualquer cidadão (titular, ou não, de cargo público), não pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva ou arbitrária, desconsiderando, no exercício de sua atividade, o postulado da plenitude de defesa, pois - cabe enfatizar - o reconhecimento da legitimidade ético-jurídica de qualquer medida imposta pelo Poder Público, de que resultem, como no caso, conseqüências gravosas no plano dos direitos e garantias individuais, exige a fiel observância do princípio do devido processo legal (CF, art. 5º, LV), consoante adverte autorizado magistério doutrinário (MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, "Comentários à Constituição Brasileira de 1988", vol. 1/68-69, 1990, Saraiva; PINTO FERREIRA, "Comentários à Constituição Brasileira", vol. 1/176 e 180, 1989, Saraiva; JESSÉ TORRES PEREIRA JÚNIOR, "O Direito à Defesa na Constituição de 1988", p. 71/73, item n. 17, 1991, Renovar; EDGARD SILVEIRA BUENO FILHO, "O Direito à Defesa na Constituição", p. 47-49, 1994, Saraiva; CELSO RIBEIRO BASTOS, "Comentários à Constituição do Brasil", vol. 2/268-269, 1989, Saraiva; MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, "Direito Administrativo", p. 401-402, 5ª ed., 1995, Atlas; LÚCIA VALLE FIGUEIREDO, "Curso de Direito Administrativo", p. 290 e 293-294, 2ª ed., 1995, Malheiros; HELY LOPES MEIRELLES, "Direito Administrativo Brasileiro", p. 588, 17ª ed., 1992, Malheiros, v.g.).

A jurisprudência dos Tribunais, notadamente a do Supremo Tribunal Federal, tem reafirmado a essencialidade desse princípio, nele reconhecendo uma insuprimível garantia, que, instituída em favor de qualquer

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pessoa ou entidade, rege e condiciona o exercício, pelo Poder Público, de sua atividade, ainda que em sede materialmente administrativa ou no âmbito político-administrativo, sob pena de nulidade da própria medida restritiva de direitos, revestida, ou não, de caráter punitivo (RDA 97/110 - RDA 114/142 - RDA 118/99 - RTJ 163/790, Rel. Min. CARLOS VELLOSO - AI 306.626/MT, Rel. Min. CELSO DE MELLO, in Informativo/STF nº 253/2002 - RE 140.195/SC, Rel. Min. ILMAR GALVÃO - RE 191.480/SC, Rel. Min. MARCO AURÉLIO - RE 199.800/SP, Rel. Min. CARLOS VELLOSO, v.g.):

“RESTRIÇÃO DE DIREITOS E GARANTIA DO “DUE PROCESS OF LAW” - O Estado, em tema de punições disciplinares ou de restrição a direitos, qualquer que seja o destinatário de tais medidas, não pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva ou arbitrária, desconsiderando, no exercício de sua atividade, o postulado da plenitude de defesa, pois o reconhecimento da legitimidade ético-jurídica de qualquer medida estatal - que importe em punição disciplinar ou em limitação de direitos - exige, ainda que se cuide de procedimento meramente administrativo (CF, art. 5º, LV), a fiel observância do princípio do devido processo legal. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem reafirmado a essencialidade desse princípio, nele reconhecendo uma insuprimível garantia, que, instituída em favor de qualquer pessoa ou entidade, rege e condiciona o exercício, pelo Poder Público, de sua atividade, ainda que em sede materialmente administrativa, sob pena de nulidade do próprio ato punitivo ou da medida restritiva de direitos. Precedentes. Doutrina.” (RTJ 183/371-372, Rel. Min. CELSO DE MELLO).

Isso significa, portanto, que assiste, ao cidadão, mesmo em procedimentos de índole administrativa ou de caráter político-administrativo, a prerrogativa indisponível do contraditório e da plenitude de defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, consoante prescreve a Constituição da República, em seu art. 5º, inciso LV.

Quanto ao due process of law (devido processo legal) é necessário esclarecer que...

O Poder Legislativo Municipal está subordinado à necessária observância dos preceitos constitucionais, que assegurem ao Prefeito Municipal, dentre eles, a prerrogativa do direito ao devido processo legal, da ampla de defesa e do contraditório.

Essas prerrogativas estão garantidas no art. 5º, da Constituição Federal, que assim prescreve:

Art. 5º - (...)

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LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

LV - Aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral, são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Os dispositivos ora invocados alvitram que a fiscalização das contas não pode ser exercida, de modo abusivo e arbitrário, tendo em vista que ninguém pode ser privado de sua liberdade, de seus bens ou de seus direitos sem o devido processo legal, precipuamente nos casos em que se estabelece uma relação de polaridade conflitante entre o Estado, de um lado, e o indivíduo, de outro, como no julgamento das contas municipais.

Outrossim, importa asseverar que não se pode, indubitavelmente, julgar alguém sem que a este seja assegurada a ampla possibilidade de se defender. Subtrai-se tal garantia do chamado due process of law, plenamente acolhido por grande parte dos Estados, notadamente por aqueles de conotação de Estado Democrático de Direito.

A efetiva observância à garantia constitucional do due process of law controla, de modo estrito, o exercício dos poderes investidos à Câmara de Vereadores, notadamente no controle externo das contas municipais, cuja violação descaracteriza a legitimidade jurídica dos seus atos, principalmente em razão de os efeitos das deliberações importarem em graves restrições à esfera jurídica do prestador de contas afetado pela rejeição das contas.

Importa ressaltar, a título de esclarecimento, que as consequências advindas da rejeição das contas incidem nos âmbitos político (Lei Complementar nº 64/90, que prevê a inelegibilidade por oito anos, a partir da data da rejeição das contas); administrativo (Lei Federal nº 8429/92, Lei de Improbidade Administrativa); civil (reparação de danos); e, também, criminal (Decreto-Lei nº 201/67, que prevê pena que pode chegar até 12 anos de reclusão).

Noutro giro, a respeito do que se vinha afirmando sobre as garantias constitucionais do due process of law, relevante salientar que são direitos amplamente difundidos na doutrina jurídica. Moraes (2007, p. 100) leciona que:

O devido processo legal configura dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito material de proteção ao direito de liberdade, quanto no

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âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de condições com o Estado-persecutor e plenitude de defesa (direito a defesa técnica, à publicidade do processo, à citação, de produção ampla de provas, de ser processado e julgado pelo juiz competente, aos recursos, à decisão imutável, à revisão criminal).

(...) Por ampla defesa, entende-se o asseguramento que é dado ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de omitir–se ou calar–se, se entender necessário, enquanto o contraditório é a própria exteriorização da ampla defesa, impondo a condução dialética do processo (par conditio), pois a todo ato produzido pela acusação caberá igual direito da defesa de opor-se-lhe ou de dar-lhe a versão que melhor lhe apresente, ou, ainda, de fornecer uma interpretação jurídica diversa daquela feita pelo autor. (…)

Tratando especificamente da necessidade da ampla defesa e do contraditório, no julgamento das contas municipais, o professor Nilo de Castro assim se manifestou:

“(...) é julgamento a deliberação da Câmara Municipal, no aprovar ou rejeitar as contas que o Prefeito anualmente tem de prestar, não há como afastar-se desse procedimento – julgamento – a aplicação do preceito constitucional do art. 5º, LV, (...).

(...) o contraditório e a ampla defesa constituem vigas-mestras de todos os processos judiciais, administrativos e político-administrativos. É que a Constituição não se preocupou com o direito formal à defesa, mas como o real e efetivo direito a ela.” (CASTRO, José Nilo de. Julgamento das contas municipais. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 27-41).

A Câmara Municipal, quando aprecia as contas do Prefeito, atua não só como órgão de deliberação, mas também e principalmente como órgão julgador e, em tais circunstancias, deve conceder aos acusados ou a quem se atribuir a prática de irregularidades a oportunidade da mais ampla defesa.

2.2.2 DA MOTIVAÇÃO OU FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES DO PARLAMENTO. EXIGÊNCIAS CONSTITUCIONAIS. CUMPRIMENTO PELA CÂMARA MUNICIPAL. VALIDADE DO JULGAMENTO DAS CONTAS. AUSÊNCIA DE ERRO NO JULGAMENTO.

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A Câmara Municipal, no julgamento das contas anuais, além de ter que observar os preceitos constitucionais da plenitude de defesa, terá que, também, fundamentar sua decisão, sob pena de a decisão legislativa padecer de vício insanável que enseja a sua nulidade.

A necessária fundamentação das decisões do julgamento das contas possui seu desdobramento jurídico na Norma Suprema brasileira. É que à Câmara Municipal, sendo o juiz natural para julgar as contas anuais do seu respectivo Prefeito, atuando atipicamente como órgão julgador, atrai, analogicamente, a incidência do art. 93, IX, da Constituição Federal, o qual dispõe que:

Art. 93- Lei Complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observado os seguintes princípios:

(...)

IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

Essa previsão constitucional condiciona a validade do julgamento das contas à existência de sua respectiva fundamentação, tornando-se um ato obrigatório por parte do órgão julgador, cuja ausência implica, inarredavelmente, a nulidade da decisão.

Acerca do tema, Nilo de Castro define que:

“As decisões (julgamentos) têm de ser motivadas, sob pena de nulidade. E a câmara municipal, quando no exercício de sua função fundamental de julgar (quer as contas dos agentes políticos locais, quer seus mandatos eletivos, v. G.), não está liberada do poder-dever de motivação, como tem de fazê-lo o judiciário (art. 93, IX, CF/88).” (CASTRO, José Nilo de. Julgamento das contas municipais. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 37).

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No mesmo sentido já se posicionou o Ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do RE 235.593/MG, do qual extraímos o seguinte excerto:

(...)

A deliberação da Câmara de Vereadores sobre as contas do Chefe do Poder Executivo local, além de supor o indeclinável respeito ao princípio do devido processo legal, há de ser fundamentada, sob pena de a resolução legislativa importar em transgressão ao sistema de garantias consagrado pela Constituição da República.

(...)

Acertado o entendimento supracitado, porquanto, tratando-se de atividade de julgamento, a fundamentação da decisão proferida pela Câmara Municipal é imperiosa, não podendo esta se afastar de tal mister, devendo, sobremaneira, explicitar os fundamentos pelos quais consubstanciou sua decisão, no ato deliberativo final das contas.

Nery Júnior apresenta uma diretriz técnica sobre o ato de fundamentar uma decisão:

“Fundamentar significa o magistrado dar as razões, de fato e de direito, que o convencem a decidir a questão daquela maneira. A fundamentação tem implicação substancial e não meramente formal, donde é lícito concluir que o juiz deve analisar as questões postas a seu julgamento, exteriorizando a base fundamental de sua decisão. Não se consideram „substancialmente‟ fundamentadas as decisões que afirmam que „segundo os documentos e testemunhas ouvidas no processo, o autor tem razão, motivo por que julgo procedente o pedido‟. Essa decisão é nula porque lhe falta motivação.” (NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 8. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. Coleção estudos de direito de processo Enrico Tullio Liebman; v. 21, p. 218).

Em verdade, a decisão final da Câmara Municipal deve ser emanada de ampla discussão, oportunidade em que se fará o confronto

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das irregularidades apresentadas nas contas com toda a matéria de defesa deduzida pelo alcaide municipal, motivando a decisão a partir da matéria evidenciada. Trata-se de um direito de o Prefeito Municipal ver suas alegações de defesa confrontadas no julgamento de suas contas, consoante nos ensina o eminente Ministro do STF, Gilmar Mendes:

“Sobre o direito de ver seus argumentos contemplados pelo órgão julgador, que corresponde, obviamente, ao dever do juiz de a eles conferir atenção, pode-se afirmar que envolve não só o dever de tomar conhecimento, como também o de considerar, séria e detidamente, as razões apresentadas.

É da obrigação de considerar as razões apresentadas que também deriva o dever de fundamentar as decisões (art. 93, IX, da CF/88)

A motivação válida é, portanto, aquela produzida a partir da análise dos elementos de provas produzidas no julgamento das contas, tornando-se idônea e apta a gerar seus efeitos, quando pautada no conjunto fático e jurídico delineado nos autos.” (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 592).

Quando, no entanto, os vereadores não indicam os pressupostos de fato e os preceitos jurídicos, motivando sua decisão em descompasso do produzido no julgamento das contas, não há que falar em validade do ato de deliberação das contas. Nesse azo, verbera Nilo de Castro:

“(…). Se a câmara julga contrariamente às provas, tem-se deliberação nula, por faltar à motivação a produzir aquele resultado punitivo. Abre-se ao prestador a oportunidade de ir ao judiciário postular a nulidade do julgamento da câmara (arts. 5º, XXXV, LV, da CF, e 1º, I, g, da Lei Complementar Nº. 64, de 19.5.90)” (CASTRO, José Nilo de. Julgamento das contas municipais. Belo Horizonte: Del Rey, 2005).

O julgamento das contas anuais municipais se reveste de um ato que não dá azo a discricionariedade dos membros da Casa Edilícia, ou seja, é indeclinável a fundamentação da decisão da Câmara

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Municipal, que deverá justificar seu ato deliberativo com esteio no ordenamento jurídico. Segundo nos ensina Celso Mello:

“Dito princípio implica para a Administração o dever de justificar seus atos, apontando-lhes os fundamentos de direito e de fato, assim como a correlação lógica entre os eventos e situações que deu por existentes e a providência tomada, nos casos em que este último aclaramento seja necessário para aferir-se a consonância da conduta administrativa com a lei que lhe serviu de arrimo” (MELLO. Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 19. Ed. São Paulo: Malheiros, 2005).

São reiteradas as decisões do STJ no mesmo sentido:

“ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE NULIDADE C/C DECLARATÓRIA DE REGULARIDADE DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. EX-PREFEITO. REJEIÇÃO DE CONTAS PELA CÂMARA MUNICIPAL. 1. Falta de prequestionamento do disposto nos arts. 165 e 458, II, do Código de Processo Civil. Incidência da Súmula 211/STJ. 2. Ausência da omissão apontada pelo recorrente. Inexistência de violação ao art. 535, II, do Código de Ritos. 3. Ao Poder Judiciário é permitida a análise da regularidade formal do procedimento adotado pelo Poder Legislativo para julgar as contas públicas apresentadas pelo chefe do Poder Executivo Municipal, bem como a verificação da existência dos motivos ensejadores de sua rejeição. Por outro lado, não lhe cabe emitir juízo de valor a respeito dos motivos que levaram a Câmara Municipal à rejeição das contas. 4. Recurso especial improvido.” (STJ - REsp 453.504/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/12/2004, DJ 18/04/2005, p. 249).

“ADMINISTRATIVO – EX-PREFEITO - REJEIÇÃO DAS CONTAS PÚBLICAS PELA CÂMARA MUNICIPAL – PARECER DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO - APRECIAÇÃO DO JUDICIÁRIO – CABIMENTO - L.C. 64/90, ART. 1º, INC. I "G" – PRECEDENTES. - O ato de rejeição das contas de ex-prefeito, pela Câmara de Vereadores, com apoio em parecer Técnico dos Tribunais de Contas, é de natureza administrativa e, como tal, sujeito à apreciação do Judiciário como ocorre com os atos administrativos em geral, seja quanto aos seus aspectos formais, seja no tocante à procedência da sua motivação (REsp. 80.419/MG). - Recurso conhecido e provido, determinando o retorno dos autos ao Tribunal de origem, que dará prosseguimento ao julgamento.” (STJ - REsp 151.529/MG, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/09/2002, DJ 11/11/2002, p. 171).

"ADMINISTRATIVO. REJEIÇÃO DE CONTAS PÚBLICAS PELA CÂMARA MUNICIPAL. PREFEITO. I - Configurado o dissídio e com base no artigo 1º, I, "g" da LC 64/90, afastou-se a carência de ação e reconheceu-se que cabe ao Poder Judiciário examinar a regularidade do processo administrativo e a existência do motivo que levou a Câmara Municipal

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a rejeitar as contas do autor. II - Recurso conhecido e provido para que o tribunal de origem prossiga no julgamento do feito." (STJ - REsp. 176.616-MG, D.J. 16.04.01, Rel. Min. Francisco Falcão).

No caso em testilha, há que fincar-se de pronto que o julgamento proferido pela Câmara Municipal de MONTE SANTO foi motivado, fundamentado, não prosperando a irresignação da parte autora.

Desse modo, não há como acolher a tese defensiva formulada pelo autor, em sua peça inicial, de ausência de motivação e fundamentação, eis que a decisão da Câmara Municipal de Monte Santo/TO é estribada no PARECER CONJUNTO das Comissões de Constituição, Justiça e Redação e de Finanças e Orçamento n.º 006/2016, senão vejam-se no evento 1, ANEXOS PET INI6, ANEXOS PET INI 8, ANEXOS PET INI9 e ANEXOS PET INI10).

Repita-se à exaustão, não se observa violação qualquer aos artigos 31 e 93, IX e X, da Constituição Federal, por isso que ao adotar a desaprovação das contas do autor, o inquinado DECRETO Nº 003/2016 de 24 de junho de 2016 do Legislativo Monte-Santense, afastando os fundamentos técnicos do parecer prévio do TCE/TO para rejeitar as contas do Prefeito Municipal, não se pode pretendê-la despida de fundamentação.

Houve motivação ou fundamentação da decisão, como se observa pelo parecer do Relator em seu parecer, no sentido da rejeição do parecer prévio do TCE/TO que foi acatado pelos membros e pelo plenário do parlamento.

No seu parecer, restou inegavelmente demonstrado a formação do juízo de convencimento ou simples motivação da análise, como um todo, do conjunto das contas consolidadas anuais, de competência do Legislativo. Ora, quer o autor afirmar que não houve motivação da decisão, quanto a decisão, para chegar à análise das contas consolidadas anuais faz, em passant uma varredura analítica das contas do ordenador de despesas para, com maiores subsídios, analisar as contas consolidadas anuais, reprovando-as e, levado o parecer ao Plenário do Legislativo ser o mesmo votado, com reprovação das contas do Prefeito autor.

Não se pode exigir que a fundamentação seja juridicamente correta, na solução das questões de fato ou de direito da lide, mas apenas que sejam declinadas na decisão as premissas, corretamente assentadas ou não, mas coerentes com os fatos em julgamento.

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2.2.3 Da análise de ocorrência de lesão: Ausência de contraditório e da ampla defesa. Inocorrência

A análise da presente causa indica, ao menos neste juízo prefacial, que se oportunizou ao Prefeito do Município de Monte Santo/TO, ora autor, FRANCISCO JOSÉ FERREIRA LIMA, o pleno exercício do direito de defesa, observância ao contraditório e o devido processo legal, razão pela qual deve ser NEGADA a concessão dos efeitos da tutela antecipada pretendida pelo autor.

Explico detalhadamente em linhas que se seguem.

A parte autora argumenta em sua peça vestibular que a Casa de Leis do Município de Monte Santo, por 7 (sete) votos favoráveis a 2 (dois) contra, votou pela REPROVAÇÃO, exarando o Decreto Legislativo n.º 006/2016, e que o Senhor Presidente e os demais vereadores, com o objetivo de verificar e aprovar e/ou reprovar as Contas Consolidadas Exercício de 2013, resolveram sem elementos concretos pela reprovação das contas, mesmo diante do Parecer do Tribunal de Constas recomendando a APROVAÇÃO.

Continua sua pretensão afirmando que não só a sessão de votação da referida constas deva ser declarara nula, como também deve ser rechaçado os fundamentos do relatório que contrariou o Parecer do Tribunal de Contas do Estado – TCE/TO.

Aduz ainda que durante a ordem do dia, ou seja, no momento da votação, o vereador Sr. Manuel Messias Benício solicitou, através do Oficio n º 001/2016 conforme consta na ata da sessão 23ª de 22.06.2016, vistas aos autos cujo pedido foi negado e que a negativa de vista ofendeu o art. 135 do regimento interno da casa, o que seria suficiente para assegurar a nulidade da sessão.

Por derradeiro, arrazoa que houve vício na votação, com nítido propósito de violação do resultado, sob a justificativa que, na própria ata da sessão restou consignado que uma das cédulas estava marcada conforme ata da sessão 23ª de 22.06.2016, fato que contamina a lisura do procedimento e determina a declaração da nulidade da votação, por ofensa aos princípios administrativos.

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Analisando com acuidade todos os elementos deduzidos pela parte autora no evento 1, tenho que suas alegações não são condizentes com a situação espelhada no amplo acervo probatório, na medida em que a Mesa Diretora da Câmara de Vereadores do Município de Monte Santo/TO propiciou ao autor a amplitude do seu direito de defesa.

Com efeito, impende trazer à baila a demonstração de que o Decreto Legislativo n.º 003/2016 e o Parecer Conjunto n.º 006/2016 emitido pelas Comissões de Constituição, Justiça e Redação e de Finanças e Orçamento estão suficientemente motivados, não havendo quaisquer máculas capazes de torná-los nulos. Senão vejamos:

Consta no evento 1, ANEXOS PET INI6 o Decreto Legislativo n.º 003/2016 de 24 de junho de 2016 que reprovou as contas consolidadas do exercício de 2013 do Prefeito Municipal de Monte Santo/TO.

Referido decreto elucida satisfatoriamente os atos que antecederam o julgamento das contas, bem como os motivos que levaram os vereadores a rejeitarem a aprovação das contas, senão, veja-se:

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Ora, quanto a cédula marcada, como consta da ata da sessão de julgamento, tal voto foi anulado, não havendo que falar-se em nulidade e, ainda mais porque, se tal voto fosse computado, o me3smo seria a favor da aprovação do parecer, com a reprovação das contas do autor.

Em relação a alegação de cerceamento de defesa por negativa do pedido de vistas ao vereador Manuel Messias Benício, é indiscutível que o autor não possui interesse e legitimidade para pleitear em juízo direito que não lhe pertence (NCPC, art. 17 e 18).

Por outro lado, na forma do Regimento Interno do Legislativo, o seu pedido de vista foi indeferido pelo Plenário, não havendo qualquer eiva de ilegalidade.

Veja-se o que dispõe o art. 135, do Regimento Interno do Legislativo de Monte Santo:

“Art. 135. A disposição da Ordem do Dia, só poderá ser interrompida ou alterada por motivo de urgência, preferência, adiamento ou vistas, solicitadas por requerimentos, apresentados no início da Ordem do Dia e Aprovado no Plenário”.

Assim, não houve nenhuma irregularidade na sessão do legislativo, que votou pela desaprovação ds contas do autor.

Extraem-se das imagens suso anexadas que o decreto legislativo exarado pela Câmara Municipal de Monte Santo preocupou-se em externar a regularidade dos atos administrativos, inclusive, esclarecendo esmiuçadamente todos os atos praticados no julgamento das contas consolidadas do Prefeito Municipal referente ao exercício de 2013.

Outrossim, o parecer conjunto elaborado pelas Comissões de Constituição, Justiça e Redação e de Finanças e Orçamento (evento 1,

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ANEXOS PET INI8, ANEXOS PET INI9 e ANEXOS PET INI10 são claros ao estabelecerem os motivos pelos os quais entenderam o relator e os membros das comissões pela NÃO APROVAÇÃO das contas consolidadas do exercício de 2013. A propósito, trago à lume alguns trechos retirados do parecer a fim de melhor elucidar a questão.

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Superados tais pontos, mister se faz afastar a pretensa alegação de cerceamento de defesa e ausência de motivação e fundamentação dos atos administrativos, bem como a malfada tese de perseguição política.

Desse modo, não hão como se sustentarem os argumentos alinhavados na petição inicial, mormente pela inafastável observância, pela Mesa Diretora da Câmara Municipal de Monte Santo/TO, das garantias constitucionais do contraditório, do devido processo legal e da ampla defesa.

Entrementes, o que se observa da questão posta em análise é que oportunizou-se todos os meios de prova ao autor, não havendo comprovação documental de quaisquer das falhas alegadas pelo autor em sua exordial.

Demais disso, vale acrescentar que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é assente no sentido de assegurar-se ao gestor público o direito de defesa no momento do julgamento pela Câmara Municipal sobre suas contas, senão veja-se:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE DO MUNICÍPIO. ACOLHIMENTO. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA EM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. IRRESIGNAÇÃO. REJEIÇÃO DAS CONTAS APRESENTADAS POR EX-PREFEITO. CONDENAÇÃO IMPUTADA AO AUTOR. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PARA SESSÃO DE JULGAMENTO. PREJUÍZO COMPROVADO. VIOLAÇÃO À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO. NULIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO. PRECEDENTES DO STF E DOS TRIBUNAIS PÁTRIOS. SENTENÇA REFORMADA. PROVIMENTO DO RECURSO. Consoante o entendimento pacificado pelo Supremo

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Tribunal Federal, é assegurado ao gestor público municipal o direito de defesa quando da deliberação da Câmara Municipal sobre suas contas. Considerando a comprovação da ausência de intimação do autor para o devido acompanhamento processual, cujo julgamento acarretou em prejuízo para a referida parte, revela-se eivado de vício o aludido ato administrativo, razão pela qual impõe-se a sua anulação. (TJPB - ACÓRDÃO/DECISÃO do Processo Nº 00029831520128150371, 2ª Câmara Especializada Cível, Relator DES OSWALDO TRIGUEIRO DO VALLE FILHO, j. em 15-03-2016) (TJ-PB - APL: 00029831520128150371 0002983-15.2012.815.0371, Relator: DES OSWALDO TRIGUEIRO DO VALLE FILHO Data de Julgamento: 15/03/2016, 2 CIVEL, Data de Publicação: 29/03/2016)

Logo, in casu, não há que se falar em cerceamento de defesa, haja vista que todos os atos praticados pela Casa de Leis do Município de Monte Santo forma praticados em observância à Constituição Federal e às legislações infraconstitucionais.

Entrementes, mesmo que assim não fosse, tenho que tal pedido não influenciaria no julgamento das contas consolidadas, haja vista que o pedido de vistas fora realizado na sessão que fora realizada a votação. Naquele momento, já havia sido emitido o parecer conjunto n.º 006/2016, sendo apenas levado ao conhecimento dos vereadores para votação.

Nesse enfoque, tal pedido de vistas não alteraria o parecer conjunto elaborado pelas comissões e pronto para ser votado

Arrematando, tem-se nesta análise perfunctória que, ao contrário do que afirma o autor no petitório inicial, o julgamento prolatado pela Câmara Municipal de Monte Santo/TO, bem como a sessão de julgamento, e por consectário lógico, a votação não pode ser declarada nula.

Em verdade, ao que se extrai dos elementos de prova constantes no evento 1, no mesmo instante que fora verificada a rasura na cédula de votação, a Presidência afastou aquele voto, tornando-o nulo, não interferindo no resultado da votação.

Assim, conclui-se que, em que pese se cuidasse de procedimento de índole político-administrativa, foi proferida uma decisão escorreita, julgando a Câmara Municipal as CONTAS CONSOLIDADAS do exercício de 2013.

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2.3 Da análise do mérito do ato atacado. Impossibilidade manifesta.

Em relação às decisões administrativas-punitivas, cabe ao Judiciário exercer o controle quanto à regularidade formal do processo e à existência de motivos (motivação ou fundamentação da decisão).

Não cabe ao Poder Judiciário emitir juízo de valor a respeito dos motivos que levaram a Câmara Municipal à rejeição das contas, em substituição ao emanado pelo Poder Legislativo, sob pena de indevida intromissão em ato “interna corporis”, que o princípio da interdependência e separação dos poderes assegura.

O Judiciário não pode valorar motivos, para considerar justa ou injusta a deliberação do Plenário, mas poderá e deverá, sempre que solicitado, examinar a regularidade formal do processo e verificar a real existência dos motivos e a exatidão do enquadramento no tipo descrito pela lei definidora da infração. Assim, decidindo, a Justiça não estará emitindo juízo de valor sobre a conduta político-administrativa do acusado, mas juízo de legalidade sobre o processo e sobre a realidade dos motivos determinantes da deliberação da Câmara.

Neste sentido a orientação do STF:

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO. DEMISSÃO. PRÁTICA DA CONDUTA VEDADA PELO ART. 117, IX, DA LEI 8.112/90. MÉRITO DO ATO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO PELO PODER JUDICIÁRIO. DISCUSSÃO QUE DEMANDARIA, ADEMAIS, DILAÇÃO PROBATÓRIA. INVIABILIDADE, EM SEDE DE MANDADO DE SEGURANÇA. PROPORCIONALIDADE ENTRE A CONDUTA E A PENA APLICADA. INOCORRÊNCIA DE DISCRICIONARIEDADE. LESIVIDADE DO ATO PRATICADO CONFIGURADA. 1. O Supremo Tribunal Federal possui entendimento de que, “se o ato impugnado em mandado de segurança decorre de fatos apurados em processo administrativo, a competência do Poder Judiciário circunscreve-se ao exame da legalidade do ato coator, dos possíveis vícios de caráter formal ou dos que atentem contra os postulados

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constitucionais da ampla defesa e do due process of law” (RMS 24.347/DF, Rel. Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, DJ 04/04/2003). Nessas circunstâncias, não compete ao Poder Judiciário adentrar o mérito do ato administrativo, especialmente se, para isso, for necessário reexaminar provas. 2. Não houve ofensa ao princípio da presunção de inocência, pois o ato de demissão decorreu de processo administrativo disciplinar no qual se observou os princípios do contraditório e da ampla defesa, além de se encontrar subsidiado por diversas provas constantes dos autos. 3. Não se sustenta a alegação de que a pena de demissão afronta o princípio da proporcionalidade e o disposto no artigo 128 da Lei 8.112/90, porquanto a autoridade administrativa não tinha discricionariedade para aplicar pena diversa da demissão, por força do disposto no art. 132, XIII, da mesma lei. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STF - RMS 27934 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 23/06/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-151 DIVULG 31-07-2015 PUBLIC 03-08-2015)

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. PRESTAÇÃO DE CONTAS. CÂMARA MUNICIPAL DE PAULÍNIA. REJEIÇÃO PELO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. AÇÃO ANULATÓRIA. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL, À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO, ALÉM DA FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. SÚMULA 279 DO STF. 1. Os princípios da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, bem como a verificação dos limites da coisa julgada e da motivação das decisões judiciais, quando a verificação da violação dos mesmos depende de reexame prévio de normas infraconstitucionais, revelam ofensa indireta ou reflexa à Constituição Federal, o que, por si só, não desafia a instância extraordinária. Precedentes: AI 804.854, 1ª Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, AI 756.336-AgR, 2ª Turma, Rel. Min. Ellen Gracie. 2. A Súmula 279/STF dispõe, verbis: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”. 3. É que o recurso extraordinário não se presta ao exame de questões que demandam revolvimento do contexto fático-probatório dos

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autos, adstringindo-se à análise da violação direta da ordem constitucional. 4. In casu, o acórdão recorrido assentou: “APELAÇÃO – ação anulatória de ato administrativo – Prefeitura Municipal de Paulínia – Tribunal de Contas rejeitou as contas dos anos de 1997 e 1998 – respeito aos princípio do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal – o Poder Judiciário não pode julgar o mérito da questão, mas tão somente as irregularidades formais – Recurso improvido.” 5. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STF - ARE 662458 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 29/05/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-120 DIVULG 19-06-2012 PUBLIC 20-06-2012).

“O que a Constituição exige, no art. 93, IX, é que a decisão judicial seja fundamentada; não, que a fundamentação seja correta, na solução das questões de fato ou de direito da lide: declinadas no julgado as premissas, corretamente assentadas ou não, mas coerentes com o dispositivo do acórdão, está satisfeita a exigência constitucional” (STF - RE 140.370, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 21.5.1993).

Nesse palmilhar, nada mais adequado no presente caso do que a NÃO CONCESSÃO DO EFEITO SUSPENSIVO ao DECRETO Nº 003/2016 de 24 de junho de 2016 exarado pela Mesa Diretora da Câmara de Vereadores do Município de Monte Santo, Estado do Tocantins, haja vista que o procedimento realizado pela Câmara Municipal, ao menos neste momento inicial, não ofendeu aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, estando corretamente motivado e fundamentado, efetuando o julgamento das contas consolidadas do exercício de 2013.

Ao final e ao cabo, conclui-se que o indeferimento da medida liminar cautelar de urgência antecedente pretendida, é medida que se impõe.

3. DISPOSITIVO/CONCLUSÃO.

3.1 Ante o exposto, e tendo em consideração todas as razões suso delineadas, INDEFIRO a antecipação dos efeitos da tutela provisória urgente formulada pelo autor.

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3.2 Ante a inadmissibilidade da autocomposição em razão da presença de direitos indisponíveis, CITE-SE a requerida, CÂMARA MUNICIPAL DE MONTE SANTO/TO, na pessoa de seu(s) Presidente pessoalmente, para no prazo de DEZ (10) DIAS (NCPC, arts. 183 e 306), RESPONDER/CONTESTAR a presente ação, sob pena de revelia e confissão quanto a matéria de fato.

4. Cite-se, Intimem-se e Cumpra-se.

Paraíso do Tocantins/TO, 22 de JULHO de 2.016.

Juiz ADOLFO AMARO MENDES Titular da 1ª Vara Cível