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  • Cad. Bras. Ens. Fs., v. 22, n. 2: p. 240-262, ago. 2005.240

    A CINCIA, A VERDADE E O REAL: VARIAES SOBREO ANARQUISMO EPISTEMOLGICO DE PAULFEYERABEND+*

    Rodrigo Siqueira-BatistaFundao Educacional Serra dos rgos (FESO)Ncleo de Estudos em Filosofia e Sade (NEFISA) FESODepartamento de Cincias SociaisEscola Nacional de Sade Pblica (ENSP) Fundao Oswaldo CruzRomulo Siqueira-BatistaFundao Educacional Serra dos rgos (FESO)Ncleo de Estudos em Filosofia e Sade (NEFISA) FESOTerespolis RJFermin Roland SchrammDepartamento de Cincias SociaisEscola Nacional de Sade Pblica (ENSP)Fundao Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)Instituto Nacional do Cncer (INCA)Rio de Janeiro RJ

    Resumo

    A cincia pode ser concebida como a atividade humana que tem comomister a descrio fidedigna do real. Este horizonte abre uma srie deperspectivas para indagao, tais como a natureza deste real, a pre-ciso da linguagem utilizada para represent-lo e, por conseqncia,o alcance de sua cognoscibilidade. Vrias tm sido as (precrias) so-lues propostas, produzindo um intenso debate conceitual, especial-mente no sculo XX. No corao destas controvrsias se inscreve opensamento original do filsofo Paul K. Feyerabend, defensor de umanarquismo epistemolgico como melhor alternativa para a prxis ci-entfica. Discutir as formulaes feyerabendianas acerca das relaes

    + Science, truth and real: Variation on epistemological anarchism by Paul Feyerabend* Recebido: abril de 2004.

    Aceito: maro de 2005.

    Trabalho realizado no Ncleo de Estudos em Filosofia e Sade (NEFISA), Fundao EducacionalSerra dos rgos e no Departamento de Cincias Sociais, Escola Nacional de Sade Pblica(ENSP), Fundao Oswaldo Cruz.

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    entre o discurso cientfico e a realidade, demarcando suas implica-es no mbito da educao em cincia, so os objetivos do presentetrabalho.

    Palavras-chave: Paul Feyerabend, anarquismo epistemolgico, cin-cia, real, ensino cientfico.

    Abstract

    Science may be conceived as the human activity that has the purposeof describing the real by a reliable process. This horizon opens a se-ries of perspectives to investigation, such as the nature of this real, thelanguage accuracy used to represent it and therefore, the reach of itscognoscibility. There have been several (poor) solutions proposed,producing an intense conceptual debate, especially in the 20th cen-tury. In the heart of these controversies lies the original thought of thephilosopher Paul K. Feyerabend, defender of an epistemological an-archism as the best alternative to the scientific praxis. Discussing theFeyerabend's conceptions about the relations between the scientificdiscourse and the real, delimiting their implications in the educationin Science, are the aims of the present paper.

    Keywords: Paul Feyerabend, epistemological anarchism, Science,real, scientific teaching.

    I. Introduo

    No sei se homens devem dividir-seentre naturais e artificiais, entre re-alistas e ilusionistas: creio que bas-ta pr de um lado os que so ho-mens e os que no so. Estes ltimosnada tm a ver com a poesia (...).

    Pablo Neruda

    Ainda que o debate epistemolgico no sculo XX tenha sido extremamen-te fecundo, trazendo, entre outros problemas, indagaes sobre a natureza da cincia, indiscutvel que a questo do conhecimento [cientfico] muito mais antiga, remon-tando, na cultura ocidental, aos gregos. Em verdade, poder-se-ia retornar s origens dopensamento filosfico mapeando a transformao ocorrida no bojo das relaes entre apalavra e o real ou entre (logos) e (physis) , na medida em que aquela pretendida como veculo da verdade para este ltimo. Parece ser mais propriamente

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    nesta efervescncia espiritual helnica que tomada a deciso conjunturalmente im-posta, no mbito da (polis)? (VERNANT, 1973) pela separao definitiva en-tre logos e physis, podendo se recontar a histria do pensamento no Ocidente comouma tentativa de tornar o primeiro decisiva e fidedignamente relacionado segunda.1

    Obviamente, no se trata de refazer este percurso, obra que ocuparia mui-to mais de uma vida, mas to somente colocar o problema como ele foi originariamen-te formulado. A partir de ento, na tradio clssica, o trabalho da cincia passou a serconcebido, pictoricamente, como confronto de uma dada teoria com o maior nmeropossvel de fatos reais, de tal modo que estes ltimos possam corroborar (ou refutar)a formulao terica como veraz (OLIVA, 1990). Para isto, construiu-se um mtodoindutivo, o qual ganhou um formato mais definitivo a partir das idias de Francis Ba-con (BACON, 1955). Assim, pois, vrios matizes podem ser contemplados, como osbinmios idealismo/realismo, objetivismo/relativismo e racionalismo/empirismo. Nes-tas duas ltimas tenses, sobretudo, se inscreve boa parte do agonismo epistemolgicomanifesto nos ltimos 100 anos.

    O primeiro grande golpe sofrido pela concepo empirista de cincia nosculo XX foi desferido, indubitavelmente, por Karl Popper nos anos 30. Em seu ALgica da Pesquisa Cientfica, Popper estabelece uma aguda crtica ao positivismolgico (POPPER, 1985), formulao segundo a qual a atividade do cientista seria fun-

    1 Esta tentativa de tornar o primeiro fidedignamente relacionado segunda pode ser contrapostaao papel da palavra nas sociedades mticas arcaicas, nas quais h uma identidade cabal entre o que sediz e o que , naquilo que foi possvel caracterizar, em outra oportunidade, como palavra mtico-arcaica (ver SIQUEIRA-BATISTA R. O lgos e o real: o nascimento da filosofia e o ocaso da ver-dade. AnaLgos, 2004). Neste mbito, o discurso nada diz sobre o real, ele o real, criando o (cosmo), como no caso do xam que, pela palavra, capaz de fazer chover. Se h perda daidentidade entre palavra (P) e real (R), estabelecendo-se a separao entre ambos, trs conseqnciaspodem advir: (1) P faz referncia indiscutvel a R, como no caso da poesia helnica, na qual so can-tados os grandes feitos de um passado herico, sem se perguntar sobre a veracidade deste ltimo; (2)P no faz referncia a R, ou por ser impossvel sab-lo ou porque, simplesmente, este ltimo noexiste (como no caso das dvidas lanadas pelos sofistas); (3) P ambiciona dizer algo legtimo sobreR (ou dizer o que R ), o que parece ter sido o caminho tomado pela metafsica, como na louvveltentativa feita por Plato, mormente pelo reconhecimento de que h um mundo de aparncias corruptvel, efmero, to somente superfcie, manifesto na impermanncia e na mortalidade , a rea-lidade, a qual encobre, em suas profundezas, uma essncia, perene e cognoscvel, o real. De fato,em toda a tradio metafsica o real o algo a mais da realidade, como em Plato (mundo sensvelversus mundo inteligvel) e em Immanuel Kant (fenmeno e nmeno) (PLATO, 1987; KANT,1966). Tal distino tambm reiterada por Georg W. F. Hegel, na Fenomenologia do Esprito(HEGEL, 1992), e por Jacques Lacan, que considera o real aquilo que sobra como resto do imagin-rio, incapaz de ser capturado pelo simblico, permanecendo impenetrvel ao sujeito do desejo paraquem tem uma natureza fantasmtica (LACAN, 1971). Tentar dizer algo sobre este real, qui atra-vs da realidade, eis o reiterado anseio que perpassou o Ocidente aps o aparecimento dos amigosda sabedoria. Com base nestas isaggicas consideraes, as palavras real e realidade, neste ensaio,estaro sendo utilizadas no sentido metafsico clssico.

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    damentar, na lgica clssica do princpio de identidade [A=A], uma cincia emprico-formal da natureza, produzindo-se assim uma linguagem lgica, rigorosa, objetiva eprecisa sobre o real (MARCONDES, 1998). Neste mbito recoloca-se a questo(grega) das relaes entre as descries cientficas e o prprio real. Sem embargo,Popper ainda se situa em uma esfera realista, haja vista que suas concepes pressu-pem a existncia de coisas fora do sujeito cognoscente, capazes de refutar ouvalidar as teorias cientficas:

    Assim, as teorias so invenes nossas, idias nossas, o que foiclaramente percebido pelos idealistas epistemolgicos. No en-tanto, algumas dessas teorias so to ousadas que podem entrarem conflito com a realidade: so essas as teorias testveis da ci-ncia. E quando podem entrar em conflito, a sabemos que huma realidade (...). por esta razo que o realista tem razo(POPPER, 1989, p. 25, grifo nosso).

    Ainda que se considere um kantiano, Popper pressupe um real exterior eobjetivo, mas em alguma medida, acessvel2, no que discorda do mestre, uma vezque as teorias so confrontveis com a natureza. Apesar deste ponto conflitivo em re-lao s concepes de Immanuel Kant3, a aproximao inequvoca na postura ra-cionalista de ambos, a razo , para um e outro, o grande fiel da balana quando setrata do conhecimento, na medida em que legitima o enfrentamento entre teorias efatos.

    2No excerto acima parece que Popper utiliza realidade como sinnimo de real ao menos no senti-

    do que estas palavras esto sento entendidas presentemente , na medida em que as teorias possamentrar em conflito com uma instncia obscura e exteriores a si mesmas.

    3Na Crtica da Razo Pura, Immanuel Kant formula uma teoria do conhecimento que busca, em

    ltima anlise, compor os impasses existentes entre o empirismo e o racionalismo. Na primeira parteda obra, A Esttica Transcendental, trata da participao das formas puras da sensibilidade intui-es de espao e tempo no processo de conhecer; a segunda seo, a Analtica Transcendental,avalia a contribuio dos conceitos puros do entendimento as categorias para o conhecimento,alm de investigar, nas pginas relativas unidade sinttica de apercepo e ao esquematismo darazo pura, como o engendramento da sensibilidade com o entendimento se compem para fornecera experincia cognitiva. Deste modo, para o filsofo, aquilo que cognoscvel no o real a coisa-em-si (Ding an sich) , mas sempre este em relao ao sujeito cognoscente, constituindo-se, assim, omundo dos fenmenos, os objetos do conhecimento. Quanto coisa-em-si mesma (o real), o nme-no, este inacessvel ao conhecer. Assim, pode-se apresentar o cerne da epistemologia kantiana co-mo a sntese de trs pressupostos: (1) a coisa-em-si (nmeno) incognoscvel; (2) o conhecimentohumano est limitado ao mundo fenomnico; e (3) o mundo fenomnico surge na conscincia huma-na a partir da ordenao do material sensvel segundo as formas a priori da intuio e do entendi-mento. Para aprofundamento destas questes ver KANT, I. Crtica da Razo Pura. Traduo J.Rodrigues de Mereja. Rio de Janeiro: Edies de Ouro, 1966.

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    Este um dos aspectos do pensamento de Popper sobre o qual incide aaguda crtica do pensador austraco Paul Feyerabend, um dos mais eclticos intelectu-ais do ltimo sculo, alm de cientista (Doutor em Fsica), Feyerabend trabalhou comofilsofo, crtico de teatro (foi um fecundo colaborador de Bertold Brecht), tendo rece-bido o ttulo de Doutor Honoris Causa em Letras e Humanidades pela Universidadede Chicago. Sua abordagem articula frontais oposies ao racionalismo4, trazendo no-vos tons para a questo do conhecimento cientfico, os quais compem uma elegantepaisagem, defendendo a adoo de uma metodologia pluralista, a partir de uma es-tratgia reconhecida como anarquista. Neste mbito, podem se colocar, no horizonteconceitual do epistemlogo, tanto perguntas sobre a possibilidade de um real fora dosujeito cognoscente, quanto sobre as relaes entre o discurso e o real. Buscar a pro-blematizao destas formulaes o escopo do presente artigo.

    II. Feyerabend e o anarquismo

    Paul Feyerabend define-se como um anarquista epistemolgico. Por trsdesta autodenominao, ao invs de uma renncia a toda e qualquer forma de proce-dimento metodolgico, subscreve-se uma iniciativa contra as diferentes tentativas dese instaurar um conjunto de normas que se pretenda universalmente vlido e cujo efei-to imediato seja a distino entre aquilo que se define como cincia, cientfico eaquilo que no-cincia, no cientfico.

    Mas, quais so os pressupostos de Feyerabend? Pode se dizer que seuprocedimento filosfico encontra no anarquismo (metodolgico) suas bases conceitu-ais. O termo anarquismo de origem grega: (anarquia) pode ser decompos-to em (denotando negao) e (palavra com mltiplos significados: come-o, ponto de partida, origem, princpio; causa material este ltimo presen-te, pela primeira vez, em Anaximandro5 , fundamento; poder, autoridade; car-go, magistratura, reino), remetendo idia de no-governo (da = nogovernado, independente). No mbito do pensamento poltico, o anarquismo se referea um modo de vida sem Estado este um construto da modernidade , tendo sido umconceito forjado no final do sculo XIX (Vincent, 1995).

    O anarquismo possui vrias correntes. No dizer de A. Vincent (1995)seriam a individualista, a coletivista, a comunista, a mutualista e a anarco-sindicalista,mas, de um modo ou de outro, todas so centradas na defesa contnua da liberdade

    4Ao longo de seu Contra o Mtodo, a crtica de Feyerabend dirigida com especial nfase ao repre-

    sentante mais atual desta linhagem filosfica, o racionalismo crtico de Karl Popper.5

    Conforme DIELS, H. Die Fragmente der Vorsokratiker. 7a ed. Berlim: WeidmannscheVerlagsbuchhandlung, 1954.

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    individual contra as mais diferentes formas de arregimentao e coero.6 Nega-se apossibilidade de se reconhecer, inequivocamente, a autoridade de um Estado, pregan-do-se assim a superao deste ltimo (ARVON, 1979). Muito provavelmente foi esteo grande aprendizado de Feyerabend com o anarquismo, entendido como oposiodeclarada a uma nica absoluta e imutvel, ou seja, o epistemlogo se colocacontra a instituio de um procedimento metodolgico fixo, nico e restrito, com re-gras que se pretendam utilizveis em toda e qualquer situao, capaz de legitimar in-condicionalmente o fazer cientfico, colocando-o como horizonte final para qualquercampo que se pretenda conhecimento (REGNER, 1996). No se trata, entretanto, derefutar toda e qualquer possibilidade de mtodo, mas de reconhecer que estes tm limi-taes (FEYERABEND, 1977) e que, de uma forma geral, as mais diferentes tradiesculturais podem contribuir, de um modo ou de outro, para a atividade cientfica. As-sim, como o anarquista epistemolgico no se recusar a examinar uma concepo,qualquer que seja ela, pelo simples fato de parecer menos racional ou cientfica, ao seumodo, estabelece um dilogo com a tradio racionalista da histria do pensamento noocidente, criticando-a por ter substitudo a rica pluralidade de procedimentos teri-cos que provm de esferas diversas mitos, lendas, cosmogonias, rituais, epopias, eoutros pelo princpio que formula a unidade abstrata do conhecimento e a uniformi-dade de seu procedimento argumentativo e sempre em busca de justificao.7 Pode-seconceber, deste modo, que o anarquismo poltico est para o Estado assim como o a-narquismo epistemolgico est para o racionalismo, embora no se deva confundir asposies adotadas por Feyerabend com mero irracionalismo.

    6Uma ressalva precisa ser feita: os anarquistas comunistas pressupem que a coletividade, uma vez

    organizada, capaz de impor algumas limitaes aos indivduos; entretanto, h meios elaboradosno seio do prprio pensamento anarquista capazes de contornar este problema, os quais no serodiscutidos aqui, uma vez que isto fugiria ao escopo do presente artigo. Cf. Vincent, Andrew. Ideolo-gias Polticas Modernas. Traduo Ana Lusa Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. p. 121-145.7

    De fato, a crtica de Feyerabend parece dirigir-se contra uma concepo bastante limitada de razoe de cincia, que reduz a primeira a uma mera abstrao muito exgua (contrariamente concepobem mais ampla do logos grego, que implica tambm algo como uma razoabilidade) e a segunda amero clculo e aplicao de um mtodo vlido em qualquer circunstncia, quando, de fato, trata-sede atividades situadas. Por outro lado, o anarquista epistemolgico considera que atividade cientfi-ca bastante peculiar, ou seja, uma experincia cientfica algo especfico (descobrir o desconhe-cido, corroborar uma hiptese) e que no pode ser considerada, imperialisticamente, como modelopara qualquer tipo de experincia. Para Stephen Toulmin (2003), Feyerabend, ao escrever Contra oMtodo, no queria ser contra a cincia e o mtodo como atividades, mas, sim, contra a concepoque alguns cientistas tinham deles e, ademais queria proteger os cientistas contra limitaes em nadarazoveis, [visto que no pode existir] um conjunto de regras determinadas para fazer descobertascientficas, como tampouco no pode hav-las para realizar uma grande pera ou um bom filme(TOULMIN, 2003, p. 134).

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    Inspirada em princpios humanistas, a crtica filosfica de Feyerabend to-ma como base a prpria discusso das dificuldades epistemolgicas implicadas emqualquer proposta de mtodo universal para a orientao do conhecimento. Para ele, onus est em se tentar conciliar princpios fixos e universalmente vlidos com aquiloque o estudo da Histria indica. Feyerabend argumenta insistentemente que a pesquisahistrica no deixa margens para que se duvide de qualquer conjunto de regras estabe-lecido uma vez por todas para definir o desenvolvimento da atividade cientfica, umavez que tal procedimento se mostrou recorrentemente violvel. H deflexes no magoda racionalidade8 aplicada prtica cientfica que, em ltima anlise, escapam a umaracionalidade estreita, tal qual a preconizada pelo Crculo de Viena, conferindo otom do prprio processo de se fazer cincia (LAKATOS, 1987). Para o epistemlo-go, o pensamento cientfico, em seus momentos mais fecundos, como sugere o exem-plo bastante explorado da cincia galileana, move-se na ateno das circunstncias eno em observncia a um nico mtodo. Conforme procura explicar atravs da discus-so de certos aspectos da estratgia de Galileu para convencer os aristotlicos daplausibilidade da teoria de Coprnico, o desenvolvimento da cincia no apenas admi-te, mas, muitas vezes, exige a introduo e a defesa de hipteses ad hoc. Esta eferves-cncia de possibilidades, de diferentes formas de se apreender o mundo, detectadapor Feyerabend na prpria Antigidade grega clssica:

    O que fascinava aos atenienses pois Atenas era agora o cen-rio onde se enfrentavam as distintas vises era a multiplicida-de das idias propostas, a estranha natureza de algumas delas ea possibilidade de provar uma tese tanto como a sua contrria.Havia muitas ofertas; uma pessoa em busca de conhecimento te-ria que eleger no apenas entre os resultados, mas tambm entreos mtodos de argumentao (FEYERABEND, 2001, p. 223,grifo nosso).

    Destarte, a discusso sobre o desenvolvimento histrico e os rumos da ci-ncia aparecem articulados s questes de ordem cultural, poltica, social e religiosa.Sua epistemologia pluralista, ou antes, seu pluralismo metodolgico, leva em conside-rao certa concepo de realidade em oposio ao real. Trata-se de coloc-la na pau-ta dos debates filosficos e discuti-la.

    8Para Feyerabend, os critrios de regras racionalistas seriam: (1) s aceitar hipteses que se ajustem

    a teorias confirmadas ou corroboradas; e (2) eliminar hipteses que no se ajustem a fatos bem esta-belecidos.

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    III. O real e a realidade

    A filosofia feyerabendiana pressupe a inexistncia da primazia concedi-da s explicaes cientficas em relao s outras formas de se ver o mundo. Na ver-dade, a prpria indagao sobre o real e a realidade sempre possuiu uma grande rele-vncia para o epistemlogo, como ele pde escrever em sua autobiografia Matando oTempo (1996):

    O problema da realidade, por outro lado, sempre me fascinou demodo especial. Por que tantas pessoas esto insatisfeitas com oque podem ver e sentir? Por que elas procuram surpresas atrsde eventos? Por que elas acreditam que, tomadas em conjunto,estas surpresas formam um mundo inteiro e por que, ainda maisestranhamente, elas tm como garantido que este mundo oculto mais slido, mais confivel, mais real do que o mundo do qualpartiram? A busca de surpresas natural; no fim das contas, o-corre freqentemente que o que vemos como uma coisa revela-seoutra. Mas por que supor que todos os fenmenos enganam-se eque a verdade est oculta no abismo (Demcrito)? (FEYE-RABEND, 1996b, p. 179, o grifo do original)

    Qual o tratamento dado por Feyerabend a esta questo da tessitura do re-al? Poder-se-ia situ-lo entre os realistas ou os idealistas? H coisas fora daqueleque opera os conceitos? Alguns de seus trabalhos dirigiram-se a estas perguntas. Noartigo O Realismo (La Conquista de la Abundancia, 2001) Feyerabend almeja de-monstrar que uma primeira e germinal separao entre logos e real pode ser perce-bida j na Ilada de Homero (Canto IX, versos 318ss), quando Aquiles esboa umadiferenciao entre a honra e a idia que desta se tem (FEYERABEND, 2001). Esteaspecto da epopia homrica reaparece, com grande e definidora clareza, entre os fil-sofos pr-socrticos, na medida em que estes reconhecem a existncia de uma essncialtima e ntima, fundamental s coisas, de onde elas provm (e, em alguns casos, paraonde tornam). Assim pois, Tales de Mileto concebeu a gua como origem de todasas coisas, Anaximandro de Mileto atribuiu ao (apeiron = ilimitado) a condi-o fundamental de , e Anaxmenes de Mileto postulou o ar como origem, so-mente para se mencionar os trs primeiros pensadores (DIELS, 1954; SIQUEIRA-BATISTA, 2003a). O que salta aos olhos o caracterstico monismo primevo i-dentificao daquilo que com apenas uma fonte, a qual subjaz s transformaes le-gtimas detectadas na termo que pode ser aproximado ao conceito contem-porneo de natureza. Assim, da substncia primeira derivaria a multiplicidade de obje-tos que compem a natureza viva (LUCE, 1994), aguando a separao entre estesdois estratos da realidade: o primordial e aquele captado pelos sentidos, o uno e o

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    mltiplo, ambos, entretanto, intrinsecamente reais. Ademais, o logos j se encontraclaramente apartado da , na medida em que diferentes discursos se pretendem caracterizao daquilo que real.

    Esta imagem foi radicalizada pela refinada abstrao instituda com Par-mnides de Elia (KIRK et al, 1994), cuja expresso foi (to on), o Ser, inaugu-rando, ou melhor, atualizando a oposio entre aquilo que o real, o ser imvel ea aparncia, mutvel e fugidia. Estabeleceu-se assim um impasse, uma vez que o elea-ta vedou o estatuto de real (1) ao tempo, (2) ao movimento e (3) s transformaes nanatureza, na medida em que o identifica com o Ser subjacente, caracterizando-o, assimcomo os milsios, como objetiva e independente das idiossincrasias humanas. O cami-nho do Ser aquele que permite a certeza, pois conduz verdade; o caminho do no-ser permanece imperscrutvel ao homem:

    Pois bem, dir-te-ei e tu escuta a minha palavraQuais as nicas vias de pesquisa que se podem pensar:Uma que (o ser) e no possvel que no seja o caminho da persuaso, porque vai direto verdadea outra que (o ser) no e necessrio que no seja;e digo-te que esta uma via fechada a toda a pesquisa:de fato, no poderias conhecer o que no , pois no possvelnem o poderias exprimir.(Parmnides, frag. 2, Apud Reale, 1999, p. 107)

    Todas as coisas devem ser remetidas, em sua intimidade, ao Ser ingnito,eterno, imvel e incorruptvel, configurando-se assim um real definitivo, o qual podeser cognoscvel, desde que atingido pela razo, haja vista que, para Parmnides, ser epensar o mesmo (fragmento 3), ou seja, o ser a medida do pensar (BORNHEIM,1999). Deste modo, o eleata rejeita a crena de que o mundo possa ser revelvel pelossentidos (KIRK et al, 1994), abrindo-se um fosso entre a compreenso humana comume a investigao racional, tal qual o apresentado no fragmento 6 (DIELS, 1954). Omundo das aparncias, das coisas que no-so, no permite a articulao de um dis-curso verdade , sendo isto uma prerrogativa apenas do que . Falar j no pressu-pe, como nas sociedades arcaicas, o fazer ser, o tornar real, o precipitar das palavrasem plena realidade (ELIADE, 1995; SIQUEIRA-BATISTA, 2004), como o xam a-maznico que canta e dana, fazendo trovejar. Discursar sobre o mundo tal qual a per-cepo que se tem dele enquanto multiplicidade, sujeito a todo tipo de transforma-es uma via inaudita para se buscar a verdade.

    Assim fica demarcado um panorama inicial com elementos reconhecida-mente decisivos no Esprito helnico (e ocidental) a separao entre uma realidadegenuna e uma aparente e a disjuno logos-physis , percepo, esta, solidria ob-

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    tida por Marcel Detienne em seu Mestres da Verdade na Grcia Arcaica (1988). Am-pliando um pouco mais os horizontes das discusses, Feyerabend confronta esta pers-pectiva parmendea com o pensamento atomista antigo (SIQUEIRA-BATISTA,2003b) e com a filosofia aristotlica, tica a Nicmaco (ARISTTELES, 1985), coma abertura de novas perspectivas e delineamento de concluses interessantes:

    [...] podemos dizer que na poca que nos ocupa (sculosV-IV a.C.) existiam ao menos trs modos diferentes de es-tabelecer o que real: [...] Parmnides estabeleceu umarealidade objetiva no sentido que era imune s idios-sincrasias humanas. Seguindo um enfoque diferente, A-ristteles introduziu uma realidade que dependia da na-tureza, dos desejos e particularmente dos interesses doshumanos. Leucipo, Demcrito e alguns outros mantive-ram uma posio intermediria: se moviam em direoao senso comum mas se detiveram no caminho (FEYE-RABEND, 2001, p. 226).

    A decisiva separao logos-physis ou seja, logos-real possibilitouuma grande liberdade discursiva, utilizada com extrema habilidade pelos sofistas(REALE, 1999), mas com o alto preo de no mais se poder referir diretamente, com acerteza de outrora, ao que . Esta novidade trouxe, entre outras coisas, todo um esfor-o ulterior para tornar legtimo este logos, assumido originariamente pela filosofia e,nos ltimos 300 anos, desde Galileu, pela cincia. Ademais, se existem discursos quepretendem uma descrio do real e no mais a narrativa irrefutvel acerca daquilo que (mbito mtico), torna-se possvel a elaborao das mais dspares formas para secompreender o real, caracterizando assim a construo de muitas e no apenas umarealidade(s). Novas concepes de real tiveram de ser, ento, forjadas, ganhando ex-trema preeminncia no pensamento helnico: Empdocles de Agrigento pressups aexistncia de quatro elementos: gua, ar, terra e fogo (KIRK et al, 1994); os atomis-tas sintetizaram o Ser (tomos esfricos, ingnitos, eternos) com o no-ser (o vazio),concebendo assim a possibilidade de movimento (SIQUEIRA-BATISTA, 2003b); osmdicos gregos entenderam o processo sade-doena como interaes entre quatrohumores: sangue, flegma, blis amarela e blis negra (SIQUEIRA-BATISTA, 2003a).De modo similar, o prprio Aristteles, na Fsica, parece ter concebido um real consti-tudo por matrias intermedirias (ARISTTELES, 1931). Assim, o que passa a estarem jogo a maneira segundo a qual se compreende o fundamento de todas as coisas,com as diferentes respostas possveis, em detrimento do que elas so, efetivamente,em sua [suposta] intimidade. Por esta via de raciocnio, Feyerabend coloca, acertada-mente, que o problema da realidade tem muitas solues (FEYERABEND, 2001,

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    p. 227), ou seja, h dspares modos pelos quais possvel se aproximar da tessitura oufundamento da realidade.

    Este breve retorno ao passado longnquo do mundo helnico resgata aquesto sobre o estatuto do real, a qual se mantm profundamente viva na cincia con-tempornea, sobretudo se entendida a profunda influncia daquela cultura nos ca-minhos trilhados no Ocidente. Os matizes so similares nos detalhes: uma vez que oscientistas utilizam procedimentos metodolgicos diferentes, suas concluses sobre arealidade so dspares, sendo as mesmas, no entanto, corroboradas ou refutadas porsupostos fatos:

    [...] todas as matrias mencionadas tem obtido xito em confir-mar as noes de realidade implcitas em suas teorias. Inclusiveforam corroboradas concluses extravagantes que iam contra osentido comum da fsica (FEYERABEND, 2001, p. 228).

    H um provvel mundo fora do homem idia que a priori pressu-posta e aceita no fazer cientfico , o qual pode ser perscrutado pelo arguto intelectohumano, criador de construes tericas que so validadas, ou no, atravs das obser-vaes e experimentaes. Sem embargo, na dependncia do foco que se utilize, oreal poder apresentar esta ou aquela conformao, eventualmente bastante distintas,reconhecendo continuamente a ldima dvida sobre a possibilidade de haver efetiva-mente um (nico?) real. Este problema se torna explcito no comentrio de Niels Bohr,ao se referir mecnica quntica:

    Essa descoberta [do quantum de ao] revelou, nos processosatmicos, uma caracterstica de globalidade inteiramente desco-nhecida da concepo mecnica da natureza, e tornou evidenteque as teorias da Fsica Clssica so idealizaes, vlidas ape-nas na descrio de fenmenos em cuja anlise todas as aessejam suficientemente grandes para permitir que se despreze oquantum. Embora essa condio seja amplamente satisfeita nosfenmenos em escala comum, nos deparamos nos fenmenos a-tmicos, com regularidades de um tipo muito novo, que desafiama descrio pictrica determinista (BOHR, 1995, p. 5-16).

    Os horizontes da fsica, na primeira metade do sculo XX, trouxeram aimpresso de realidades descontnuas e mltiplas, na medida em que os modelos utili-zados para a apreenso do mundo cotidiano se mostravam inapropriados, e por vezesconflitantes, quando utilizados para explicar o funcionamento da textura subatmica.Este foi justamente um dos dilemas da teoria quntica em suas prprias origens. Quereal este que se apresenta de modo to assombroso diante dos olhos? Que mundo

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    (novo?) este que a teoria quntica trouxe existncia? Os paradoxos, como o Prin-cpio da Incerteza de Heisenberg, emergiram com fora descomunal, invocando a ar-caica questo sobre o real, de certa forma esquecida aps o gigantesco sucesso dafsica newtoniana, a qual representou, por mais de 200 anos, uma suposta descriofiel e acabada da natureza, de tal sorte que, para Feyerabend, h grande aproximaoentre a filosofia helnica e as concepes cientficas hodiernas (FEYERABEND,2001). Teorias to diferentes, como a mecnica clssica, a relatividade geral e a fsicasubatmica, mas que com suas distintas metodologias parecem efetivamente desve-lar aquilo que . Qual seria, assim, o estatuto deste real, na medida em que se traba-lha com uma realidade permeada por dissonncias, constitutivamente ambgua9, quicomo o mundo dos deuses helnicos:

    O mundo divino fundamentalmente ambguo. A ambigidadenuana os deuses mais positivos: Apolo o Brilhante (), mas Plutarco nota que, para alguns, ele tambm o Obscuro() e que, se para uns, as Musas e a Memria se pem aseu lado, para outros, aparecem Esquecimento () e Silncio(). Os deuses conhecem a Verdade, mas sabem tambmenganar pelas aparncias e pelas palavras. [...] A ambigidadedo mundo divino corresponde dualidade do humano(DETIENNE, 1988, p. 42).

    Tais colocaes trazem luz ou mais obscuridade? sobre as divergn-cias que permeiam a noo de real; em verdade, vrios processos de carter distinto,como vises, intuies, experincias religiosas, xtases msticos e sonhos, entre ou-tros, so recrutados categoria de realidade, evocando debates, por vezes acalorados,sobre suas respectivas condies. De tal modo, no apenas a razo, mas tambm ou-tras relevantes funes do Esprito, tais quais a emoo e a f, aparecem como re-querentes da prerrogativa de se referir s coisas que existem.

    Estas formulaes porejam com um grande vigor na prpria viso demundo e do que a atividade cientfica concebidas por Feyerabend, em especial noque se refere ao problema da existncia (ou no) de um real fora do homem. No huma resposta acabada, mas se torna perceptvel que o epistemlogo, a seu modo,tambm assume um certo grau de realismo:

    [o] mundo que desejamos explorar uma entidade em grandeparte desconhecida. Devemos, pois, conservar-nos abertos paraas opes, sem restringi-las de antemo. [...] A tentativa de fazer

    9Tais dissonncias tornam-se melhor compreensveis se h concordncia com a idia de que, em

    verdade, o ponto de vista que cria o objeto, entendido no como o real, mas como aquilo que podeser conhecido graas s estruturas e estratgias cognitivas, ou seja, a realidade.

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    crescer a liberdade, de atingir vida completa e gratificadora e atentativa correspondente de descobrir os segredos da natureza edo homem implicam, portanto, rejeio de todos os padres uni-versais e de todas as tradies rgidas (FEYERABEND, 1977, p.68, grifo nosso).

    Ainda que fique mais ou menos explcito, neste excerto, que Feyerabendno abre mo da noo de real, j no mais possvel formular, do ponto de vistacientfico, uma nica e definitiva realidade (Ziman, 1980). Sai de cena a unidade dan-do lugar multiplicidade.10 O mundo a ser explorado, esta realidade que se apresen-ta, no una, mas sim fragmentria: existe mais de uma forma de vida e, em conse-qncia, mais de um tipo de realidade, diz Feyerabend (2001, p. 239), de tal sorteque:

    Igualmente mltiplas so as possibilidades de nossa conduta di-ante da natureza, e igualmente mltipla tambm a realidadeque contemplamos nela. A circunstncia de que hoje somente pa-rece dominar uma forma de contemplar a natureza no pode se-duzir-nos a errar e fazer-nos pensar que afinal de contas, apesarde tudo, tenhamos alcanado a realidade (FEYERABEND,1996a, p. 152, grifo nosso).

    Ou ainda:

    A realidade ltima [poder-sei-a ler aqui, perfeitamente,real], se que se pode postular tal entidade, inefvel. Oque conhecemos so as diversas formas de realidade ma-nifesta, quer dizer, as formas complexas em que a reali-dade ltima atua no domnio (o nicho ontolgico) davida humana. Muitos cientistas identificaram a realidademanifesta particular que desenvolveram com a realidadeltima. Este simplesmente um equvoco (FEYERA-BEND, 2001, p. 253, grifo do original).

    Por todo o exposto, torna-se compreensvel o fato de Feyerabend no a-bortar completamente a noo de real, por ele chamado de realidade ltima, em suaepistemologia. Todavia, um real irrevogavelmente apartado do homem e qualificvelcomo limite definitivo para a validao da cincia, j no pode mais ser concebido. Aocontrrio, h diferentes estratos da realidade, construdos pelas teorias cientficas, im-possibilitando-se, mesmo, a factibilidade de se atingir um Ser ltimo das coisas, no

    10Ou seja, se a realidade mltipla, o real o deveria ser, a fortiori.

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    que o filsofo se aproxima do conceito kantiano de nmeno. A aderncia de Feyera-bend a esta espcie de realismo movedio traz marcantes implicaes na concepode verdade enquanto prerrogativa (ou busca) da cincia, tal qual ser discutido a se-guir.

    IV. Os revezes da verdade: relativismo, humanismo e educao

    A verdade pode ser entendida como a concordncia do logos com um es-tado de coisas objetivo, ou seja, traduzindo-se como um juzo vlido sobre o real. Oconceito de verdade remonta (aletheia) da Grcia arcaica, termo que deno-ta contraposio a (esquecimento), estando j presente nos poemas homricos(DETIENNE, 1988). Neste mbito, no se estabelece uma contradio11 entre o ver-dadeiro e o falso, mas sim entre a reminiscncia a memria e o esquecimento(SIQUEIRA-BATISTA, 2003a).12 Este papel inequvoco da verdade nas narrativasmticas helnicas recorrente no pensamento filosfico originrio, em um momento noqual h a introduo de conceitos abstratos no repertrio espiritual grego. Se a filoso-fia reconhecida como produo de conceitos, tal qual concebida por Deleuze &Guattari (1996), esta tentativa de articulao discursiva com o real se tornou decisivanas veredas percorridas pela tradio ocidental ulterior.

    Em todo o processo de amadurecimento de sua filosofia da cincia, Fe-yerabend parece abdicar peremptoriamente da noo de verdade. Isto se torna maisclaro se esta confrontada com a percepo de real desenvolvida pelo epistemlogo:se no h uma nica realidade capaz de servir como fiel para legitimar (ou no) asteorizaes cientficas, ento a verdade deixa de ser um problema central, uma vez queno h contra o que mais propriamente confrontar o discurso:

    11Sobre a tenso / fala M. Detienne: As potncias antitticas Altheia e Lthe no

    so contraditrias: no pensamento mtico, os contrrios so complementares. Cf. DETIENNE, M.Os Mestres da Verdade na Grcia Arcaica., p. 43.12

    necessrio, entretanto, pontuar que a interpretao de para M. Heidegger distinta,tendo um sentido muito mais aproximado de desvelamento, como diz o prprio filsofo O simples,certamente, no nos dado pelo fato de pronunciarmos e reproduzirmos, de maneira simplista, osignificado literal de aletheia () como des-encobrimento. Des-encobrimento o traofundamental daquilo que j apareceu e que deixou para trs o encobrimento. Este o sentido doalfa () que compe a palavra grega aletheia e que somente recebeu a designao de alfa privativona gramtica elaborada pelo pensamento grego tardio. A relao com lethe (), encobrimento eo prprio encobrimento no perdem de forma alguma o peso pelo fato de se experienciar direta-mente o descoberto como o que apareceu, como o que entrou em vigncia, como vigente. Cf. HEI-DEGGER, M. Ensaios e Conferncias. Traduo de Emmanuel Carneiro Leo, Gilvan Fogel e Mar-cia S Cavalcante Schuback. Petrpolis: Vozes, 2002. p. 229.

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    [...] no podemos descobrir o mundo a partir de dentro. H ne-cessidade de um padro externo de crtica: precisamos de umconjunto de pressupostos alternativos ou uma vez que essespressupostos sero muitos gerais, fazendo surgir, por assim di-zer, todo um mundo alternativo necessitamos de um mundoimaginrio para descobrir os traos do mundo real que supomoshabitar (e que, talvez, em realidade no passe de outro mundoimaginrio) (FEYERABEND, 1977, p. 42-43, o grifo do origi-nal).

    O que se torna plausvel fomentar uma discusso sobre os possveismundos, imaginrios ou no: a(s) realidade(s). Assim, se no possvel estabelecerqual , ou o que , ou se h um mundo real, a conseqncia no se faz tardar:

    O conhecimento... no um gradual aproximar-se da verdade., antes, um oceano de alternativas mutuamente incompatveis(e, talvez, at mesmo incomensurveis), onde cada teoria singu-lar, cada conto de fadas, cada mito que seja parte do todo foraas demais partes a manterem articulao maior, fazendo comque todos concorram, atravs deste processo de competio, pa-ra o desenvolvimento de nossa conscincia. Nada jamais defi-nitivo, nenhuma forma de ver pode ser omitida de uma explica-o abrangente (FEYERABEND, 1977, p. 40).

    Com base em toda esta discusso pode-se depreender a impossibilidadepara se efetuar uma descoberta do mundo e, ainda menos, um alcance da verdade.A verdade, como a realidade, um constructo do homem, medida de seu prprio mun-do. A preocupao maior da cincia, do cientista, no a busca de um padro de ra-cionalidade que d conta e permita a descoberta do veraz, ou mesmo o ganho de con-tedo emprico. As solues metodolgicas, em ltima anlise, so arbitrrias e parci-ais, no conseguindo incorporar em suas definies todo espectro de alternativas deque se dispe. Ademais, poder-se-ia ir um pouco mais longe e ponderar que estas ds-pares vises, mesmo no mbito exclusivo das cincias, no so diretamente compa-rveis pela simples resolutividade de uma ou outra. Na verdade, as teorias tm umainterseo na Histria, pertencem a um tempo e um espao prprios, do conta de di-ferentes problemas e sendo, portanto, em grande medida, incomensurveis. Para queduas concepes sejam incomensurveis necessrio que os diferentes conceitos deuma dada tradio de pesquisa sejam inaplicveis em outra cosmoviso. Neste parti-cular h ntida aproximao com as formulaes de Thomas Kuhn, que concebe para-digmas incomensurveis entre si, como no caso das fsicas aristotlica e galileana

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    (KUHN, 1979).13 No h por sua vez critrio lgico que permita recusar esta ou aquelateoria, seja ela cientfica ou no. Assim, pois, que:

    [a] cincia um continente de muitas opinies, procedimentos,fatos, princpios. No uma unidade coerente. Diversasdisciplinas (a antropologia, a psicologia, a biologia, a hidrodi-nmica, a cosmologia, etc.) e escolas dentro de uma mesma dis-ciplina (tendncias empricas e tericas na astrofsica, a cosmo-logia e a hidrodinmica; a fenomenologia e a grande teoriana fsica de partculas elementares; a morfologia, a embriologia,a biologia molecular, etc., na biologia, e assim sucessivamente)empregam procedimentos que diferem muito entre si, tem dife-rentes vises de mundo, debatem sobre elas e tem resultados: anatureza parece responder positivamente a muitos enfoques, noa um s (FEYERABEND, 2001, p. 250, grifo do original).

    O mago da questo pode ser formulado do seguinte modo: (1) se no huma realidade ltima (ou seja, o real) e, se houvesse, esta seria inatingvel, qui co-mo o nmeno de Immanuel Kant, (2) se a verdade no faz sentido pela intangibilidadeentre o lgos e o real, supondo-se a sua existncia, e (3) a atividade cientfica tosomente uma construo pelos investigadores de realidades manifestas, como se sus-tenta logicamente a primazia do saber-fazer cientfico em relao a outras manifesta-es do Esprito? A resposta do filsofo peremptria: tal prerrogativa da cincia um engodo, haja vista que no h nenhuma razo para se supor que a cosmoviso ci-entfica seja melhor ou pior que, por exemplo, as narrativas mticas homricas ou osrituais xamnicos das tribos amaznicas:

    [s]e a cincia realmente um conjunto de enfoques dife-rentes, alguns exitosos, outros completamente especulati-vos, ento no h motivos para se desdenhar do que su-cede fora dela. Muitas tradies e culturas, algumas de-las extraordinariamente acientficas (se dirigem s di-vindades, consultam orculos, realizam rituais sem sen-tido para purificar o corpo e a alma) tem obtido xitono sentido de tornar possvel que seus integrantes levemuma vida moderadamente rica e plena (FEYERABEND,2001, p. 232).

    13 Entretanto, tal posicionamento adotado por Kuhn pode ser criticado, na medida em que h contaminao, de fato,entre paradigmas, na prtica cientfica; caso contrrio, haveria apenas igrejas e no comunidades de investigaocientfica , marcadas por fundamentalismos diversos, inclusive de tipo cientfico.

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    O grande argumento de que a cincia um caminhar direcionado verda-de14 trazendo imponderveis benefcios civilizao aqui claramente esvaziado peloepistemlogo. No apenas as diferentes formas de ver o mundo so capazes de con-templar s questes humanas mais recnditas, imprimindo um sentido existncia,respondendo aos mais dspares anseios psquicos, tratando enfermos com a utilizaodas mais diferentes prticas, confortando coraes e almas, como no caso das narrati-vas mticas nas sociedades arcaicas (SIQUEIRA-BATISTA, 2003a), tendo sido assimao longo dos sculos, como tambm a tecnocincia no um bem em si mesmo, namedida em que parece amplificar a qualidade da vida humana, mas, outrossim, tam-bm origem de tamanhos problemas, estando o mundo contemporneo apinhado deles(buracos na camada de oznio, reduo dos recursos hdricos como conseqncia dapoluio, entre outros). claro que se morre menos pelas doenas infecciosas, mas sesucumbe mais pelas enfermidades cardiovasculares e pelos acidentes de automvel; oavio encurtou enormemente as distncias, mas igualmente uma poderosa mquinade guerra; as unidades de terapia intensiva salvam vidas antes condenadas morte,mas tambm so as modernas catedrais do sofrimento humano, arrastando pessoaspara um fim tantas vezes marcado pelo miservel sofrimento (PESSINI, 1996; SI-QUEIRA-BATISTA; SCHRAMM, 2004).

    Se o problema da cincia no pode ser esgotado atravs de uma nica so-luo lgica, ou metodolgica, se no se dispe de um critrio eficaz para optar poresta ou aquela alternativa, como proceder? Feyerabend parece forjar uma resposta quearticula o impasse epistemolgico inspirao humanista que rege seu pensamento. Setudo fico, no se estar agrilhoado a uma alternativa, que em ltima anlise, fun-ciona como obstculo ao pleno desenvolvimento da condio humana? Existiro pos-sibilidades melhores? O filsofo parece responder afirmativamente a estas questes.Na medida em que as diferentes concepes de mundo no possuem um estatuto supe-rior ao da fico e a cincia , igualmente, um entre tantos contos de fada, ento,que se faa a melhor fico cabvel.

    possvel alterar este panorama de fantasiosa primazia da cincia? Aresposta de Feyerabend afirmativa, quase que otimista. A perpetuao do status quopassa pelos prprios mecanismos de criao de novos recursos humanos para a inves-tigao, uma vez que o problema de uma unvoca forma de ver o mundo, e de um ni-co mtodo de fazer cientfico, tem j sua gnese no prprio processo de formao dospesquisadores. Para Feyerabend a educao cientfica contempornea tem status de

    14 Uma boa imagem para isto seria a do ser humano, trazendo o lgos em mos e sob seus olhos, tal qual um mapa,caminhando de costas e em direo luz do real. Ainda que o homem pressinta sua progressiva aproximao do ser,jamais poder virar-se em sua direo e, definitivamente, apreender o que h; ademais, por no experienciar este real,est impossibilitado de afirmar que o lgos que traz em suas mos genuinamente o mapa que descreve a luz que nose pode ver. Tudo o que possvel fazer permanecer se deslocando, crendo que o caminho aponta para a realidadeltima, e que os toscos rabiscos em mos podem auxiliar, de algum modo, a inatingvel jornada.

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    treinamento, ou, ainda mesmo, de adestramento. Esta postura, argumenta, inibidorada criatividade, na medida em que obsta a imaginao atravs da difuso do temor deque fatores exteriores sua esfera de controle doutrinas mticas, especulaes meta-fsicas e outras provoquem obscuridades que venham a atravancar a evoluo cient-fica. Deste modo, a tirania desta concepo de mundo impe uma suposta indepen-dncia e neutralidade do homem formado atravs dela, eliminando paulatinamente as-pectos constitutivos da individualidade. Para ser bem sucedido no mundo delimitadopor esta tradio de pensamento, o cientista deve, supostamente, buscar uma total neu-tralidade em relao a sua prpria trajetria, livrando-se de compromissos religiosos,polticos e culturais. A uniformidade aparece aqui disfarada atravs do ideal de uni-versalidade. Para isto, h necessidade de uma educao genuinamente humanista des-de a infncia (TERRA, 2002), possibilitando o desenvolvimento do manancial de pos-sibilidades do futuro homem e tornando-o capaz de construir e se inserir na realidade:

    Educadores progressistas tm sempre tentado desenvolver a in-dividualidade de seus discpulos, para assegurar que frutifiquemos talentos e convices particulares e, por vezes, nicos queuma criana possua. Contudo, uma educao desse tipo tem sidovista, muitas vezes, como um ftil exerccio, comparvel ao desonhar acordado. Com efeito, no se faz necessrio preparar ojovem para a vida como verdadeiramente ela ? [...] Ao final,no levar este processo a um divrcio entre a realidade odiadae as deliciosas fantasias, entre a cincia e as artes, entre a des-crio cautelosa e a irrestrita auto-expresso? Os argumentosem prol da pluralidade evidenciam que isso no precisa aconte-cer. preciso conservar o que mereceria o nome de liberdade decriao artstica e us-la amplamente no apenas como trilha defuga, mas como elemento necessrio para descobrir e, talvez,alterar os traos do mundo que nos rodeia (FEYERA-BEND, 1977, p. 71).

    Uma vez mais se tornam presentes, em seu pensamento, os reflexos doEsprito helnico (SNELL, 2001). Tal como o concebido por Plato no Timeu (passo87b), a educao capaz de mudar o homem tornando-o mais harmonizado vida.Eis o ideal grego de (paideia), termo que pode ser traduzido por educao(JAEGER, 1995), no sentido mais amplo de formao dos seres humanos, participaona vida e crescimento da sociedade (estruturao interna e desenvolvimento espiritual)e constituio da prpria condio de humanidade.

    Embora no aprofunde muito este aspecto de sua crtica, Feyerabendmenciona repetidas vezes ao longo de Contra o Mtodo que imprescindvel que sebusque uma orientao humanista para a cincia e a educao contemporneas. Ao

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    invs de articular o problema do conhecimento, e mais especificamente o problema doconhecimento cientfico, s categorias tradicionais do pensamento racionalista tais co-mo verdade, justia e mtodo universal, entre outros, Feyerabend procura orien-t-lo atravs de um paradigma de humanidade. Embora no se possa detalh-lo nestebreve ensaio, uma leitura atenta da obra feyerabendiana autoriza a caracteriz-la comoum ideal para a busca do livre desenvolvimento da individualidade e a recusa da sub-misso do homem a um nico padro de formao que, a despeito das pretenses maisaltas de boa parte do pensamento filosfico, j no mais detm fora de verdade, no-o que, como discutido, formalmente rechaada por Feyerabend. Esta recusa pe-remptria permite, em certa medida, caracteriz-lo como um relativista.

    V. Ponderaes finais

    A natureza mesma do debate epistemolgico contemporneo, aporticoem relao s diferentes nuances que almejam uma melhor definio de mtodo, ex-plorado de modo competente por Feyerabend no sentido de colocar sob suspeita certospressupostos tradicionais do pensamento filosfico constituio e apego a um nicomtodo, existncia inquestionvel do real, cincia enquanto busca da verdade, racio-nalidade desencarnada (sem corpo, sem contexto, mera forma e quantificao) ,deslocando o foco desta logia no sentido de redirecion-lo ao homem. Para o episte-mlogo, a ausncia de definio no aspecto lgico deve permitir que o pensamentoatente para as lies da Histria, que ensina o quanto anrquico o processo de de-senvolvimento cientfico e a pluralidade de suas veredas, e para uma aspirao quecoloque o pleno desenvolvimento da individualidade e da liberdade. Eis uma soluoarbitrria, sem dvida, mas que parece se assumir enquanto tal, em face de outras so-lues igualmente arbitrrias, mas que, de modo distinto, se pretendem a divisor deguas da verdade.

    Por todo este manancial de idias, Feyerabend mostra-se, simultaneamen-te, um realista (pressupe, ainda, um real fora do homem, mesmo mantendo um pe-rene tom de questionamento), e um relativista, haja vista que este real mostra-se ina-cessvel, mas, outrossim, manifesto e descritvel das mais diferentes maneiras (caracte-rizando mltiplas realidades), de acordo com a formulao terica que se articule parainvestig-lo. H um real que no pode ser coagido no fazer cientfico... ou melhor, nose pode esperar nenhum compromisso entre as teorias da cincia e este real: tudo umsonho, devendo assim ser encarado como tal. exatamente neste sentido que se podeentender Feyerabend como arauto de um realismo relativista. A cincia traz imagens construes dos cientistas distanciadas daquilo que efetivamente .

    Situar o mson, a centralidade do debate epistemolgico, no homem ex-prime-se como outra rotunda e ousada caracterstica do filsofo, tornando-o um huma-

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    nista, na perspectiva em que prescreve a libertao das amarras de um forjado obscu-recimento cientfico. Um arauto do humanismo e simptico ao relativismo... Assim,pois, Paul Feyerabend, o epistemlogo com um qu de sofista qui como herdeirode um Protgoras de Abdera , pois seu homem construtor de teorias acaba porser, de algum modo, a medida de todas as coisas.

    Agradecimentos

    Os autores so gratos aos rbitros que avaliaram o manuscrito, uma vezque os comentrios apresentados foram de grande valia para o enriquecimento domesmo.

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