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A Arma Secreta de Deu

Francisco Gabriel Paiva Dutra nasceu em Fortaleza, no dia 01 de fevereiro de1996, onde morou até os sete anos de idade, quando se mudou para Acaraú, interior do Ceará. Desde pequeno se interessou por rabiscar papel.“Agradeço a Deus por ter me feito e a meu irmão Cleiton Junior por ter me ensinado os primeiros traços de desenho.”

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A Arma Secreta de Deu

Horácio Bruno Dote Maciel nasceu em Fortaleza no dia 27 de Novembro de 1985. Por ter pai bancário morou em vários lugares e através deles desenvolveu sua imaginação. Sempre teve carinhos pela leitura e pela escrita.

“Agradeço primeiramente a Deus por ter me concedido a dádiva de escrever, ler e que sempre está ao meu lado me dando inspiração e proteção. Aos meus pais e minha irmã que sempre apoiaram minha ânsia por livros e filmes. Não posso deixar de agradecer a minha esposa Maria Madalena de Andrade Maciel, que batizou essa obra com seu título final e a quem devo minutos de atenção e companhia, que ao invés de terem sido dedicados a ela, pessoa a quem tanto amo e entrego minha vida, foram tomados pelo universo desse livro. Amo-te muito Madalena e saiba que existe

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A Arma Secreta de Deu

muito de você nestas páginas. Sou muito agradecido a minha grande e verdadeira amiga Andy Geane que ajudou a regar a semente dessa ideia quando era ainda um sonho distante , escutando, lendo e opinando sobre minha visão do mundo novo que está relatado nesse livro. Uma amiga de críticas verdadeiras, correções detalhadas e mente aberta com quem tenho o enorme prazer de dividir o universo de Joshua Raziel. Muito obrigado Geane pelo seu toque mágico que faz com que todas as páginas dessa obra brilhem ainda mais e por sua companhia nessa odisseia a quem tanto amamos. O universo da Arma Secreta de Deus deve muito a você, muito obrigado”.

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A Arma Secreta de Deu

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A Arma Secreta de Deu

Aos que leem este diário, desejo que sintam em suas letras a pureza de um amor, a sede de uma paixão, o horror de uma guerra e a coragem de um casal que enfrentou o abismo que um dia eu senti.

Ele era como qualquer órfão, só queria descobrir de onde tinha vindo.

Havia sido abandonado quando criança, porém, quem lhe deixou ali havia tomado o cuidado para que ele fosse encontrado.

O bebê estava enrolado com uma manta vermelha escarlate e seu nome estava

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A Arma Secreta de Deu

escrito nela. Não estava bordado, impresso ou escrito à mão, nunca conseguiram descobrir que tipo de material era aquele, só estava ali: Joshua Raziel.

Desde pequeno, Joshua sabia que era diferente. E sentia que todos tinham a impressão que ele escondia algo. Um segredo que guardava dentro de si de tal forma que nem mesmo ele, era capaz de encontrar a resposta para sua inexplicável origem, ou a resposta para algo maior.

Mesmo nunca tendo treinado nenhuma arte, Joshua Raziel sempre se destacava

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A Arma Secreta de Deu

nas atividades que fazia e continuamente ajudava quem precisava mesmo indo contra seus princípios.

Um dia, durante um eclipse lunar interminável e uma escuridão desoladora, o rapaz desapareceu. Dizem que ele ficou sumido por muito tempo, e que nesse período conheceu uma jovem, a qual de acordo com as convenções humanas e celestiais seria impossível tal união.

Mas o que ele não sabia é que estariam juntos para sempre até o último momento de sua vida.

Todas as noites, diante de 8

A Arma Secreta de Deu

meus filhos, eu presencio meu pai dar vida a esta impressionante narrativa e chego a rir sozinho. Por mais que ele tente relatá-la com precisão e emoção, nunca conseguirá chegar perto do que realmente vivemos juntos, ou do que foi à vida do jovem Joshua Raziel.

A história a seguir ficou resumida a um simples relato, às vezes, contado sem vida ou emoção, porém nunca esquecido ou questionado se verdadeiro ou não.

Por isso, peço aos que leem esse diário que sintam em suas letras a pureza de um amor, a sede de uma paixão, o

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horror de uma guerra e a coragem de um casal que enfrentou o abismo, mudou a história e passou despercebido aos olhos da maioria.

Essa é a história de Joshua Raziel, a Arma Secreta de Deus, não uma lenda, mas uma vida...

SUMÁRIO

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A Arma Secreta de Deu

Capítulo Página

Despertar--------------------------13Casa-------------------------------27

O Negociador -------------------54Como o Mar----------------------82

A Dádiva de Deus -------------101Passeio Noturno ---------------134Estreitas Ligações -------------161Encontro com as Trevas-----176Como a Própria Sombra----186O Grupo da Luz--------------200

O Ladro Negro de um Anjo-217O Início------------------------225

O Momento Pelo Qual Raziel Nasceu-247

O Fim da Primeira Batalha---26911

A Arma Secreta de Deu

Êxodo ------------------------------------279

A Origem do Mal ---------------------288

Surge uma Nova Esperança -------295

Desafiando os Limites --------------302

Aliadas Aladas ------------------------314

Onde Menos se Espera --------------325

Um Antigo Caminho -----------------332

Cercados --------------------------------344

O Deserto de Dudael -----------------353

O Salvador ----------------------------12

A Arma Secreta de Deu

366Utopia ----------------------------------

378Lado a Lado --------------------------

385A Vingança do Ceifador -----------

404A Queda ------------------------------420Fé --------------------------------------429Tudo ou Nada -----------------------

440Teimosia ------------------------------

456Sangue ------------------------------------

469Sempre ------------------------------------

482Sozinho -----------------------------------

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DESPERTAR

O corpo quicou duas vezes no chão de pura pedra e ele cuspiu sangue.

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Enquanto lutava contra a dor, Joshua abriu os olhos bem devagar. Estava grogue pela pancada, mas começou a levantar-se balançando a cabeça. Sorriu ironicamente, ainda estava vivo.

O jovem com esforço ficou de quatro no chão quando viu se aproximar aquele pé nu e sentiu uma mão fria puxar seus cabelos da nuca levantando sua cabeça:

- Devo admitir, eu esperava mais de você. O tão famoso rapaz que praticamente venceu meu exército inteiro está agora caído e humilhado.

- O que posso dizer?- respondeu o rapaz, esforçando-se para sorrir. – Eles não eram muito espertos.

A bravura do rapaz era algo admirável. Tentava com certeza esconder a dor mesmo sendo ela quase capaz de sentir-se ao longe.

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Joshua tentou falar, mas seu rosto foi enterrado violentamente no chão que rachou com a pancada.

- Está doendo, garoto? Não se preocupe, serei gentil, logo não sentirá mais nada e comecemos pelo tato.

A sensação era de escorregar por uma descida íngreme cheia de lâminas cortantes, sentindo sua pele rasgar e depois cair em uma piscina de álcool, sentindo sua dor aumentar a um limite insuportável.

Aquelas palavras penetraram nas veias do jovem Raziel que passou a não sentir seus dedos, ou qualquer outro contato, mas sabia ele que ainda estava no chão e que podia se mover.

Esforçou-se para mexer os dedos da mão e com muito custo os mexeu.

- Agora o paladar.

O gosto de sangue na boca não deveria ser agradável, mas sentia algo escorrer de seus lábios até pingar no chão e não conseguir discernir do que se

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tratava eram bem mais doloroso. O precioso líquido da vida manchava o chão na sua frente.

- Sinto seu desespero e sua dor. – falou a voz, enquanto os passos se distanciavam. – Ajoelhe-se aos meus pés e peça clemência.

Joshua fez um grande esforço e seu joelho direito começou a erguer seu corpo ferido e depois sua perna esquerda exerceu sua função. Primeiro os joelhos, depois sua coluna, mas ele não a sentia. Colocou sua mão em cima de suas coxas e jogou o corpo para frente levantando-se, os ossos estralaram.

Naquele momento todos desejaram que ele pedisse clemência, não se aguentava o sofrimento, mas Joshua Raziel era teimoso demais.

Suas pernas tremiam enquanto ele ficava de pé e seus braços já não eram sustentados, mas mesmo assim com a face tremendo, ele sorriu.

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A Arma Secreta de Deu

- Admiro sua teimosia. Um garoto de coragem como você não merece morrer. Porém como consegue ficar de pé se os ossos de suas pernas estão destroçados?

O barulho de ossos quebrando só não foi maior do que o grito de dor que o rapaz soltou.

Joshua caiu de rosto no chão, seus membros formigavam, sua respiração falhava e agora suas pernas tinham lhe abandonado.

- Olhe para mim.

A mão inimiga levantou a cabeça de Joshua novamente, desta vez, suavemente pelo queixo.

- Olhe em meus olhos.

O tom da voz era hipnotizante. Era impossível não olhar para olhos tão bonitos e vivos. Havia algo de diferente neles, talvez a própria morte.

- Está vendo?- ele o instiga. - A dor, o medo, o desgosto, a incerteza,

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tudo pelo que você luta destruído. Esse é o meu reino e você vai ser meu principal servo. Olhe bem.

O corpo de Joshua parou de tremer, começou a torna-se pálido e seus olhos não piscavam, seu sangue deixou de molhar o chão e seus lábios perderam qualquer traço de cor avermelhada.

- Essa foi sua última visão.

Joshua pareceu que ia gritar novamente, mas a dor foi tão grande que nenhum som saiu de sua boca.

Sua retina queimou ao olhar no ébano dos olhos de seu inimigo, foi esmagada por uma escuridão que tomou conta de seus olhos.

- Agora só pode me ouvir. Vai ouvir o lamento e o desespero de seus aliados. Vai ouvir a voz do jovem e inocente futuro em minhas mãos. Vai ouvir sua garota gemer de prazer ao meu leito e vai sentir a dor de não poder fazer nada e como golpe de misericórdia, você...

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A Arma Secreta de Deu

A sentença foi interrompida por uma flecha dourada fincada no chão, poucos milímetros dos pés do Anjo traidor.

- Chegou atrasada “virgenzinha”. Seu herói não é mais que casca de órgãos.

Seu cabelo negro voava com o vento. A saia de seu vestido azul tremulava como uma bandeira e seus olhos azuis transmitiam uma paz e uma determinação só vista no jovem Raziel, agora caído.

Embora fosse superior o homem que agredia Joshua sentiu algo estranho na atmosfera que antes dominava. Uma sensação de outrora que lhe fazia falta, porém não vacilou.

- Está escrito que o soldado da paz não poder ser derrotado, ainda que suas forças se extingam. Enquanto tiver vida, por menor que seja em qualquer parte do mundo. A própria vida e o tempo serão seus aliados.

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A Arma Secreta de Deu

Ao ouvir aquela voz, Raziel se sentiu novo, porém não sentindo seus braços levantou seu tronco até a cintura e a dor foi insuportável.

- Belas palavras, rainha soberana. Mais veja o seu protetor.

Joshua sentiu as mãos finas tocar sua face e notou que elas tremiam. As reconhecia e de certa forma aquele toque o fazia esquecer-se da dor.

- Não está tão ruim – falou Raziel, com dificuldade. – Não sangre, não na frente de seus inimigos.

- Eu sabia que devia ter retirado sua voz e só depois o paladar. – falou o agressor com ironia, mas gostando de ver o rapaz sofrer.

- Estou aqui, acabou. –falou a jovem, passando a mão sobre os cabelos do rapaz. —Não lute mais, por favor. Você não pode... Não consegue nem se levantar, não precisa fazer isso, não precisa...

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A Arma Secreta de Deu

- Eu preciso. – interrompeu Joshua, sua voz saiu mais confiante do que ele realmente estava. – Sabe que eu preciso.

Joshua sentiu uma lágrima lhe cair no rosto, ela chorava. O beijou a testa e passou a mão em seus lábios sem sangue.

- Agora chega! – gritou o Anjo traidor. – À hora do guerreiro chegou.

O Anjo traidor estendeu seu dedo, o corpo de Joshua escapou das mãos dela e caiu no penhasco.

Acabou. Por um minuto um silêncio ensurdecedor, no outro a visão dos cabelos dela jogados ao ar, enquanto ela se virou com seu arco pronto para o disparo.

Porém, por que disparar? Estava tudo acabado.

Mas uma vida não começa pelo fim.

O começo foi como nascer de novo, acordar sem saber que dormiu.

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A Arma Secreta de Deu

Sem explicação, sem dor, simplesmente aconteceu.

Joshua abriu os olhos, pesados e viu aqueles olhos verdes claro que lhe olhavam bem próximo de seus próprios.

A dona daqueles charmosos e penetrantes olhos estava sentada em cima do jovem Joshua Raziel que se assustou ao ouvir o grito daquela moça:

- Ele acordou! Acordou!

A bela desconhecida passou sua perna direita charmosamente por cima do rosto assustado do jovem e ficou de pé, enquanto lhe sorria de um jeito diferente.

Era um sorriso meio tímido, mas um tanto desafiador. Seus cabelos iam até o queixo e a cor ruiva deles fazia contraste com a cor branca de sua pele.

- Seja bem-vindo! – falou a jovem, entusiasmada, estendendo sua mão direita. – Quer ajuda para usar suas pernas ou sabe se levantar sozinho?

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A Arma Secreta de Deu

Antes que Joshua pudesse responder à jovem pegou seu braço direito e o ajudou a levantar-se.

Foi no momento, o qual estava se levantando que o jovem Raziel, pode ver aquelas pernas que só eram protegidas por uma curta saia, apreciar aquele abdome saudável e aquele top de couro da cor creme.

- Você deve estar meio tonto. – falou a jovem e continuou como se estivesse decorado a frase. – É por causa do Acordar. Todo mundo passa por isso. O enjoo que possivelmente você está sentindo, também é por causa dele.

- Dele? – falou o jovem Raziel, sem entender.

- É você sabe... Do Acordar...

- Acordar? – falou a rapaz sorrindo ironicamente.

- Aí, você fica repetindo tudo que os outros falam? O menorzinho não fez isso quando chegou aqui.

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A Arma Secreta de Deu

- O menorzinho?

- É... Você está bem? Ele disse que chamam a ele de pequeno Will. Eu particularmente acho um nome meio estranho, mas...

- Will está aqui?

- Josh! – gritou uma voz conhecida.

Joshua olhou para trás, foi quando ele teve a primeira noção de onde estava.

Era um grande salão, com brilhantes paredes de cor azul-turquesa.

Em um canto uma enorme porta de quase vinte andares feita de madeira.

Um menino de aparentemente sete anos, pulou e se agarrou ao pescoço de Joshua, contente. Seus cabelos eram castanhos e seus olhos negros e vivos.

- Que bom que você acordou. – falou Will. – O pessoal aqui é meio estranho, sabe? A Emanuelle te mostrou como é lá fora?

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A Arma Secreta de Deu

- Hei, vamos com calma, tá? – falou Joshua, passando a mão nos cabelos do menino. – Você está bem? Quem é Emanuelle?

- Eu!- falou a moça desconhecida, levantando seu dedo indicador. – Eu devia ter me apresentado antes. É que eu estava vendo como você é bonito, quando você acordou e... O resto você já sabe. Já que as apresentações estão terminadas, vamos ao que interessa.

- Vamos. – falou Will, confiante, soltando-se dos braços de Joshua. – Você vai adorar!

- Devagar William. – falou Joshua, virando-se para Emanuelle – Muito bem moça...

- Meu nome é Emanuelle.

- Emanuelle é um prazer, acredite. Mas as pessoas não ganham minha confiança somente me dizendo seus nomes e o que você quer dizer com, vamos ao que interessa?

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Emanuelle sorriu, caminhou charmosamente até a grande porta do salão, encostando suas costas e segurou as grossas maçanetas douradas com suas duas mãos.

- Prepare-se, Joshua Raziel. Quando eu abrir essas portas seus sonhos mais fantásticos, suas fantasias mais impossíveis e tudo que você pensava ser inimaginável irá se tornar realidade está pronto?

- William fique atrás de mim. - falou Joshua, desconfiado. – Muito bem, vamos abrir essa porta.

Emanuelle girou as maçanetas e empurrou a grossa porta que se abriu deixando a forte luz do sol entrar no salão, fazendo Joshua estreitar seus olhos.

- Aproxime-se Raziel. – falou Emanuelle, suavemente. – E deixe ser surpreendido.

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Joshua caminhou para fora do salão e não conseguiu esconder sua expressão fascinada com o que via.

Uma grande floresta de um verde nunca visto. Deslumbrante lagos e cachoeiras pareciam servir de tapete para um magnífico castelo medieval, onde bandeiras, com o brasão de um leão tremulavam e suas paredes brilhavam rodeadas por milhares de pequenas casas circundadas por uma alta muralha de fogo.

O céu era da cor de um azul intenso e por ele voavam vários Anjos, de todas as idades e tamanhos, formas e aspectos.

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Emanuelle29

A Arma Secreta de Deu

CASA

O vento era suave e confortante. Por alguns momentos se tinha a sensação dele próprio ser um Anjo sem asas com uma coreografia sobre o jardim.

Todo o lugar transmitia uma paz e uma harmonia nunca antes sentida, mas inexplicavelmente saudosa.

Porém, diante de tamanha beleza, naquele momento, o que mais chamava atenção naquela fabulosa terra, não era aquele verde, as cachoeiras, as casas ou o castelo e sim o olhar de Joshua Raziel.

O cabelo de Joshua era liso tinha uma coloração negra especial, de tão escura parecia às vezes ser de cor azul forte. Os olhos castanhos claros percorreram todo o lugar sem piscar, possuía um brilho, não diria especial, mas diferente e confiante.

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A Arma Secreta de Deu

Raziel nunca foi um rapaz de músculos. Porém de seu corpo uma estranha sensação de força era transmitida as pessoas ao seu redor.

- E então, tentação? – perguntou Emanuelle, mordendo seu lábio inferior, charmosamente. – Surpreso?

- Na verdade... – falou Joshua, sorrindo envergonhado, enquanto passou sua mão direita em seu cabelo. – Estou me sentindo em casa.

Emanuelle olhou para Joshua, na verdade ela estava surpreendida.

O jeito como Joshua sorriu e passou a mão no cabelo era um jeito típico de um rapaz tímido, porém o jeito como falava era tão verdadeiro que parecia ser de alguém bem mais forte.

- Vamos ficar aqui parados? – perguntou William. – Quer dizer, olha quantas coisas para se explorar! Quanta terra para correr e olhem aquelas cachoeiras...

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A Arma Secreta de Deu

- Podemos descer então. – falou Emanuelle.

O salão de onde o grupo havia saído estava no cume de uma montanha e o único acesso a ele era uma escadaria de degraus incontáveis e brilhantes.

A descida parecia muito mais curta do que quando foi vista pela primeira vez. Na verdade seus degraus davam a sensação de passar pelos pés dos três companheiros, ao invés de se deixarem pisar, aproximando-os a cada passo pelos menos cinco metros do jardim. A escada parecia viva e apressar a chegada de seus visitantes ao final dela.

- Mas que merda de escada é essa? – perguntou William.

- Will, onde aprendeu esse vocabulário? – perguntou Joshua.

- Me desculpem. O que eu quis dizer é que essa escada é estranha, não acham?

- É uma escada viva, Will. – falou Emanuelle.

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- Uma escada viva?

- Ela avalia sua personalidade e os fatos de sua vida enquanto você anda por ela. A pessoa que não merece estar aqui não consegue chegar ao fim dos degraus e acaba por ser tragada por eles.

- É assim que vocês dão as boas vindas aqui?- perguntou William. – Através de uma escada?

- Na verdade, é um jeito bem simples de separar as pessoas. – respondeu Joshua, pensando alto. —Um modo bem excludente, que não da nenhum trabalho para ninguém.

Emanuelle parou de descer e olhou para Joshua sem entender e o rapaz respirou fundo:

- Só acho que todo mundo merece uma segunda chance. As ações são consequências de fatos que não podem ser controlados então porque julgar pelo o que as pessoas fazem em situações que não queriam estar?

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A Arma Secreta de Deu

- Hei, vejam! – falou William, apontando em direção à floresta.

Passando entre as árvores como espíritos flutuantes, três cavalos se aproximaram com uma velocidade assustadora.

Não eram cavalos normais, suas crinas eram compridas e brilhantes. Suas caudas eram bem penteadas e tocavam o chão. Suas patas não podiam ser vistas quando estavam correndo, pois elas assumiam a forma de esferas de luz prateadas que deixavam os magníficos animais, de cores tão intensas e diversas, ainda mais misteriosos. Não havia celas, embora em seus dorsos os cavalos tivessem uma mancha como se indicassem onde deveriam montar.

- Nosso transporte chegou. – falou Emanuelle, terminando de descer a escada. – Estamos sendo aguardados.

- Onde? – perguntou Joshua, seriamente.

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- Uau!- falou William, passando a mão na crina de um dos cavalos. – É quase como se eu fosse ele.

- Em casa. – falou Emanuelle, montando em um dos cavalos. – Estamos sendo aguardados em casa, Raziel.

A sensação era maravilhosa.

Imagine o vento batendo em seu rosto como se lhe fizesse carícias e seus cabelos sendo carregados pela velocidade. As árvores pareciam estar em uma corrida magnífica, enquanto o chão passava quase sem ser visto.

O clima era um misto perfeito de calor e frio e a paisagem mudava ao passarem pela floresta. Ora fechada como mata virgem, o que fez o cavalo projetar-se com maestrias em alguns saltos, ora com pequeno lagos e cascatas.

Enquanto estava sentado em seu cavalo, Joshua sentiu como se uma saudade fosse erradicada de seu

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A Arma Secreta de Deu

coração, uma sensação de conforto, liberdade e ao mesmo tempo de entusiasmo tomou conta do jovem, que estreitou os olhos e segurou firme na crina do animal que o carregava.

O cavalo de Raziel que estava correndo bem a frente dos outros, aumentou ainda mais o ritmo de seu galope, ficando agora quase sem poder ser visto.

Um grito de alegria foi ouvido do jovem, que se espalhou por entre as arvores e fez uma grande variedade de pássaros coloridos sobrevoar o céu.

- Eu não sabia que Josh sabia montar. – falou William, pensativo.

- Acredite menorzinho, Joshua Raziel ainda vai nos surpreender muito, ele veio para isso.

- Meu nome não é menorzinho. – falou William, em protesto. – Já disse que meu nome é William, mas pode me chamar de Will.

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A Arma Secreta de Deu

- Muito bem pequeno Will, seja bem-vindo a Fortaleza das Nuvens. Não é o nome oficial, mas é como gosto de chamá-la.

O muro de fogo se erguia entre colunas de água cristalina, margeado por um lago e desenhos de Anjos de cor azul-turquesa.

Sua elevação equivalia a trinta homens, mas, ainda assim, diante de toda aquela altura esplendorosa se podia ver a maior torre do castelo que ficava protegido por aquela muralha.

Ao aproximar-se da construção, os cavalos diminuíram sua marcha acelerada e Emanuelle parou sua condução ao lado de Raziel, que esperava por ela e William perto do muro.

- Você monta bem, tentação. – falou Emanuelle. —Agora vamos entrar.

As pessoas saíam de suas casas à medida que os três amigos se aproximavam delas. A rua era feita de

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A Arma Secreta de Deu

pequenos pedaços de pedra, todos de formato triangular encaixado um ao lado do outro de modo que não se via um espaço entre eles e terminava em uma grande porta de madeira, do tamanho de um prédio de dez andares que era uma das entradas do castelo.

Todas as ruas se fundiam no centro do lugar, de modo que em cada final de rua existia uma porta de entrada para o castelo, permitindo livre acesso as pessoas que desejassem entrar.

As casas eram simples.

Teto de telha avermelhada, uma porta e uma janela. Não eram maiores do que um carro, mas de dentro delas saíam dezenas de pessoas.

Essas traziam olhares curiosos, sorrisos animados e alguns adultos que seguravam crianças, apontavam orgulhosos para Joshua e sussurravam algo no ouvido dos pequeninos, que se animavam e faziam um sinal de confiança.

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A Arma Secreta de Deu

Alguns homens pararam de cuidar das plantas que ficavam a frente de casas.

As mulheres respiravam profundamente e passavam à mão em seu rosto como se não acreditassem no que viam e temessem acordar de um sonho.

Antes de chegar ao castelo, um grande gramado estava cheio de jovens. Alguns rapazes corriam, enquanto outros estavam em filas treinando movimentos de luta, com o auxílio de um Anjo que ajudava na correção das ações. Havia casais de namorados deitados sobre a grama, abraçados, olhando para as nuvens. Algumas moças correram para perto da rua e ficaram observando o movimento, enquanto algumas crianças corriam e pulavam na tentativa de agarrar-se a algum dos Anjos, que brincavam com elas.

- Dê um sorriso, tentação. – falou Emanuelle. – Essas pessoas esperaram muito para ver você.

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- Eu não sou muito popular. – falou Joshua, envergonhado, enquanto Will cumprimentava as pessoas.

- Ah, ele é tímido! – falou Emanuelle, sorrindo. – Vamos, depois iremos dar um jeito nisso, por hora um sorriso basta.

Os três amigos desceram de suas montarias e Joshua respirou fundo e sorriu, enquanto acenava para as pessoas.

- Hei vejam, ele está acenando! – gritou um rapaz.

As pessoas se aproximaram e todas elas pareciam fazer questão de apertar a mão de Joshua e William, enquanto falavam algo como:

- Seja bem-vindo meu rapaz.

- Vejam que sorriso encantador que ele tem!

- Que menorzinho simpático!

- É um prazer apertar a mão de duas pessoas tão especiais.

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- Sorte, meus jovens. Desejo sorte aos dois.

- Senhor Raziel... Senhor Raziel... – falou um rapaz, passando entre as pessoas. – Com licença, deixe-me passar. Senhor Raziel... Meu nome é Anderson e saiba que luto muito bem para minha idade e que o senhor pode contar com minha ajuda sempre que precisar. Adoraria lutar ao seu lado somente por um instante que fosse.

- Anderson, não é? —perguntou Joshua, apertando a mão do rapaz. – Obrigado por se oferecer Anderson. Fique sabendo que vou cobrar e espero que se prepare para isso.

- Irei, pode deixar.

- Senhor Raziel... – gritou uma mulher, caindo de joelhos, aos pés do Joshua, com lágrimas nos olhos. – Eles levaram Thiago, por favor, traga meu filho de volta.

- Não se preocupe. – falou um Anjo de grande estatura, pousando bem ao

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lado de Joshua. – Vamos pegar seu filho senhora.

O Anjo tirou uma discreta corneta de dentro de sua roupa virou-se para Joshua e estendeu sua mão:

- Senhor Raziel é um prazer conhecê-lo. Meu nome é Micael.

- O prazer é meu.

- Prazer em conhecer você também garoto. – falou Micael, sorrindo para William.

- Ele me chamou de garoto!

- E quanto ao filho dessa senhora? – perguntou Joshua.

- Não se preocupe, vou cuidar disso agora. – falou Micael, começando a voar. – Cuide bem dele Emanuelle.

Micael voou até ultrapassar os muros da cidade e tocou sua corneta e logo dois outros Anjos lhe acompanharam voando em direção à floresta.

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- Temos que ir agora. – falou Emanuelle.

A grande porta de madeira do castelo se abriu no meio e os três amigos entraram, enquanto as pessoas acenavam alegremente.

- Seja bem-vinda Emanuelle. – falou um Anjo, que se aproximou. – Esse é ele?

- Uriel, eu lhe apresento Joshua Raziel. – falou Emanuelle, fazendo uma reverência. – E esse menino esperto ao lado é William.

- Seja bem-vindo Raziel. – falou Uriel com cortesia. – Espero que tenha sido bem recebido por nossos amigos.

- Realmente sabem como fazer alguém se sentir em casa.

- Ótimo. William, o que você acha de conhecer nossas salas de diversão, enquanto Emanuelle leva seu irmão a uma reunião?

- Está bem.43

A Arma Secreta de Deu

- Will... – falou Joshua, seriamente. – Não apronte nada, ouviu?

- Hei você me ofende, eu tenho cara de quem se mete em encrenca?

- Obedeça a Uriel. – falou Joshua, estreitando os olhos.

- Está bem...

- Vamos. – falou Emanuelle, passando seu braço pelo de Joshua e o segurando. – Está na hora.

Emanuelle conduziu Joshua por uma imensa escadaria que levava a torre mais alta do castelo e o rapaz perguntou, curioso:

- Posso saber onde está me levando?

- Você sabe muito bem porque veio aqui né? Ele lhe espera para discutir questões sobre sua missão.

- Me desculpe, mas acho isso injusto. – falou Joshua, enquanto Emanuelle o levou até uma porta de cor azul. – Ele deveria lutar por seus próprios

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ideais. Quantos já se sacrificaram pela causa?

- Milhares. Agora você entra sozinho. – falou Emanuelle, ajeitando o cabelo do rapaz. – Não discuta, apenas escute e não é permitido que você, lhe olhe aos olhos.

- Sozinho? E porque “ele” não luta sozinho? – falou Joshua, abrindo a porta com força. – Um homem luta suas próprias batalhas sabia?

Um vento forte atingiu o jovem Raziel, que teve que estreitar os olhos para que eles se acostumassem mais rápido com a enorme claridade que tinha na sala por causa do sol.

O salão não tinha qualquer tipo de parede. Era um lugar grande com piso feito do próprio fogo, porém este não queimou o rapaz. O teto era feito de estrelas de incessante brilho e relâmpagos que constantemente iluminavam o lugar. Tinha somente uma mesa que ia de uma ponta a outra, e

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algumas cadeiras, que rodeavam outra maior, todas de madeira.

A cegante luz do salão vinha do próprio Sol, que ficava nas costas da grande cadeira como se viesse dela mesma. Foi quando os ouvidos de Joshua lhe chamaram atenção para passos vindos contra a luz.

Um menino de aparentemente sete anos colocou sua mão esquerda em cima do encosto da cadeira maior. Seus cabelos castanhos contracenavam com a luz do próprio Sol, seus olhos claros entraram aos de Joshua como uma flecha que transpassa a carne e realizou um sorriso doce antes de falar:

- Vou lembrar-me disso. Realmente você está certo quando diz que o homem deve lutar suas próprias batalhas, cada um tem o peso de sua própria cruz, mas ainda não sou um homem de verdade, para que eu possa lutar minhas próprias lutas. Espero que Emanuelle não tenha dito para que não olhe diretamente para mim.

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A Arma Secreta de Deu

Pessoalmente acho essas antigas regras enfadonhas e desgastantes.

- Eu esperava alguém mais... – começou a falar Joshua surpreso.

- Experiente? – perguntou o menino, sorrindo.

A porta do salão se fechou e o menino se aproximou.

- Não o culpo por isso, as pessoas ainda montam uma imagem de alguém mais velho? – perguntou o menino. – Porém elas esquecem que eu mesmo disse que devemos ser como as crianças.

- E você levou ao pé da letra.

- Você é que parece mais velho do que da última vez que o vi. Seus pais ficariam orgulhosos. Alguém já lhe falou sobre eles?

- Tudo que sei, vem de poucas lembranças.

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- Sarakiel Raziel seu pai, e Gisele sua mãe. Sente-se, vou falar um pouco sobre sua origem.

Joshua pegou uma cadeira e sentou-se curioso, enquanto o menino sentou na cadeira maior.

- Ele era como você. Um jovem considerado por muitos como teimoso e impertinente, mas eu particularmente que tive grande contato com ele, considero essas características como qualidades: coragem e determinação. É incrível a semelhança entre você e ele, o jeito do cabelo, o olhar sério e penetrante. Sem falar na característica marcante de ser atraído por encrencas. Ele foi um dos Anjos mais guerreiros que já tive ao meu lado, mas a maldade é mais sedutora que a bondade. Sarakiel foi corrompido, não por ser fraco, mas ao contrário, ele perdeu a própria consciência. Já sua mãe, Gisele... O que posso dizer? Ela era linda. Um Anjo a frente de seu tempo. Corajosa, destemida, charmosa e uma esgrimista excelente, ela ensinou seu pai a

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manusear uma espada de forma incrível. Acho que tudo que aconteceu não poderia ter sido diferente no sentido de... Sarakiel Raziel e Gisele apesar de brigarem muito na infância e de sempre se considerarem grandes rivais nas artes da luta, nasceram um para o outro. Você Joshua é igual a eles, sei que terá um grande futuro e será um diferencial, nasceu para isso. Afinal, seu próprio nome Joshua Raziel significa a Arma Secreta de Deus.

- O que aconteceu com eles?

- Eles foram testemunhas de meu maior ensinamento, o amor. Um Anjo corrompido é um soldado sem sentimentos, sem dor ou alma. Porém Gisele ensinou tudo de novo a Sarakiel. Não foi fácil, acredite, mas eles estavam de certa forma “prometidos um ao outro”. Quando você nasceu, o primeiro filho de um ladrão de almas com um Anjo de luz, tudo se abalou. Eu tentei protegê-los, eu juro, mas naquela noite...

O menino abaixou a cabeça e de repente, toda a luz do Sol foi substituída

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pelas estrelas que tomaram forma de um casal de jovens, que seguravam um recém-nascido e a imagem se transformava de acordo com as palavras do jovem.

- Lúcifer sabia que seu nascimento era o início do ponto final de toda essa guerra. Há muito se diz que um Raziel será o braço mais forte na batalha. Seu pai protegeu você e sua mãe até o fim. Seu sacrifício provou o tamanho de sua força e sua mãe lutou ao seu lado, uma luta nunca antes travada, onde um servo da escuridão e um Anjo lutaram ao mesmo lado. Quando tudo acabou, você estava sozinho. Um recém-nascido, com sangue de Anjo e de servos de Lúcifer, escondido, caído na Terra. Um Nefilins, com todas as características que devia possuir.

- Eles se foram?

- Estão mortos. – falou o menino e as estrelas vagarosamente voltaram a sua posição, dando lugar ao Sol.

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- Para onde eles foram? – perguntou Joshua, levantando-se, novamente em espírito de defesa. – Estamos no céu, pelo amor de Deus, sem querer ofender, mas é para cá que as almas dos mortos veem. Então, onde eles estão?

- A guerra aqui traz consequências terríveis. Todo ser que perde a essência da vida aqui, só pode renascer novamente quando toda a guerra acabar. Está escrito que somente terão direito a redenção após o julgamento final.

- Sua guerra! – falou Joshua, estendendo seu dedo indicador. – Sua maldita guerra me tirou dos meus pais.

- Estava...

- Não me venha dizer que estava escrito, porque sabe muito bem que não é assim. Sabe muito bem que temos o livre arbítrio, Jesus.

Depois do nome mencionado, o salão foi invadido por um silêncio

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enlouquecedor e Jesus levantou sua cabeça bem devagar:

- É por isso que está aqui. Você é a arma secreta de Deus.

- Qual o seu problema? Você pode muito bem estralar os dedos e tudo estará resolvido. Todos sabem que é assim. Agora mesmo uma mulher caiu chorando aos pés, porque seu filho havia sido levado. Até aqui, onde todos deveriam viver a paz eterna, as pessoas são perturbadas. As pessoas estão morrendo de fome lá em baixo, sabia? Seus preciosos filhos morrem nas mãos de outros, a natureza castiga milhares e tudo que você faz é dizer que é para isso que estou aqui! Então, qual a sua função?

- Você tem razão em dizer que todos tem o livre arbítrio e quando digo todos, incluo Arazyel também.

- Arazyel?

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- Ou Lúcifer, se preferir. Ele também tem o direito de fazer escolhas e tem como realizá-las.

- Pensei que as escrituras dissessem que ele está preso e não será libertado até que o fim esteja próximo.

- Seu corpo está preso. Eu mesmo mandei Radael prender suas mãos e pés e jogá-lo na escuridão. Porém seu espírito, como de qualquer outro, é livre e seus servos obedecem fielmente as suas ordens. O menino que foi levado deve estar sendo consumido agora pelas palavras da escuridão, porque ele está roubando nossas crianças e jovens para aumentar seu exército.

- Isso é loucura!

- Preciso de sua ajuda, Raziel.

- Muito bem, eu darei ajuda, mas fique sabendo que ajudar uma pessoa não significa fazer tudo por ela.

Joshua virou-se para a porta e ela se abriu rapidamente:

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- Vou começar a pensar no que vamos fazer amanhã. Agora Jesus, você também tem que fazer sua parte.

Jesus sorriu ao ver Raziel sair do salão e balançou a cabeça como sinal de esperança.

- Como foi? – perguntou Emanuelle, curiosa, enquanto a porta se fechou.

- Foi uma conversa direta. Estou cansado, pode me levar para algum lugar para descansar?

- Vou levá-lo ao seu quarto.

- E William?

- Deve estar com as outras crianças. Vocês conversaram sobre o que?

- Sobre como vou vencer esse inferno de guerra. Meu Deus! Ele é só um menino!

O quarto de Joshua era bem maior do que ele realmente precisava. Suas paredes e teto eram de água cristalina e

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constantemente peixes passavam por elas. Uma cama de madeira grossa e forte, alguns móveis e uma mesa. No canto ao contrário da cama a estátua de um Anjo de asas e mãos abertas, feita de pedra de cor branca ia até o teto e uma sacada levava a uma varanda com vista para a floresta e o oceano.

Joshua foi até a sacada e viu o grande oceano que rodeava as costas do castelo e sentiu a boa brisa do início de noite.

As estrelas brilhavam de um jeito diferente de como eram vistas na Terra. Eram mais fortes e vibrantes, pareciam conversar uma com as outras e até mesmo com a própria lua que naquela noite se refletia com beleza inigualável sobre as águas do mar.

- Gosta do mar? – perguntou Emanuelle observando o rapaz.

- Meu pai adotivo, o pai biológico de Will... Sempre me disse que ele é profundo, intenso, calmo e ao mesmo tempo valente e enorme.

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- Já viu algo tão bonito?

- Não, acho que não existe.

Emanuelle sorriu cordialmente para Joshua e o rapaz passou a mão direita em seus cabelos timidamente e ficou de frente com a moça.

- Você é muito gentil. – falou Joshua.

- Vou deixá-lo descansar em paz agora. – falou Emanuelle, se aproximando de Raziel e lhe dando um beijo no rosto. – Boa noite Joshua Raziel.

A lua cheia parecia querer ver o jovem Raziel, ficando bem em frente, com seu bonito brilho na sacada do quarto do rapaz.

Sem aviso Joshua se levantou da cama e respirou fundo indo até a sacada, o suor escorria por seu corpo e sua respiração era ofegante.

Ao olhar para o mar, o jovem percebeu um pequeno barco tripulado por somente uma pessoa que saiu do

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castelo e se aproximou da margem perto da floresta, onde um homem entrou e sentou-se.

O primeiro tripulante da embarcação permaneceu como uma sombra, uma capa com capuz lhe cobria o corpo.

De repente, uma flecha saiu do meio das árvores com uma corda presa a ponta e a misteriosa figura de capuz tentou pular do barco, mas foi agarrada pelas costas pelo homem que lhe acompanhava na embarcação, que começou a ser puxada até a margem oposta ao castelo em direção à floresta.

Joshua estreitou os olhos e percebeu que a figura misteriosa tinha a silhueta de uma jovem mulher, mas não conseguiu ver seu rosto antes que fosse arrastada para fora do barco a caminho da escuridão.

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Jesus58

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O NEGOCIADOR

- Tem uma mulher precisando de ajuda! – gritou Joshua, abrindo a porta de seu quarto e encontrando Emanuelle andando pelo corredor.

- O quê?- perguntou Emanuelle. – Teve um pesadelo?

- Uma mulher... – falou Joshua impaciente, entrando em seu quarto e indo até a sacada, seguido por Emanuelle. – Estão sequestrando alguém.

Joshua apontou para baixo e mostrou a mulher de capuz que conseguiu escapar durantes alguns segundos, mas foi capturada novamente.

Eram dois homens contra uma moça, mas ela empurrava-os e até lhes batia no rosto com muita coragem.

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- Vou avisar a alguém. – falou Emanuelle. – Não se preocupe vou buscar ajuda.

O jovem Raziel olhou ironicamente para Emanuelle, respirou fundo, deu alguns passos para trás e saltou da sacada de seu quarto em direção ao oceano.

- Ou podemos saltar charmosamente em direção ao mar... – gritou Emanuelle, surpresa. – Você decide, nossa!

Foi uma queda de dez andares e um mergulho profundo na fria água do mar.

- Me solte! – falava a moça, quando se ouviu bem perto do barco onde ela antes estava, algo caindo na água. – Vai se arrepender.

- O que foi isso? – perguntou o homem que lhe segurava, já a puxando para cima de sua montaria que estava escondida entre as árvores da floresta. – Ouviu alguma coisa na água?

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Joshua submergiu de repente, procurando desesperadamente por oxigênio.

A água estava mais fria do que ele esperava e a queda lhe tinha feito perder o fôlego.

- Temos companhia. – falou o outro raptor para seu companheiro que estava entre as árvores, já com a moça em cima de seu cavalo. – Vá eu vou tentar atrasá-lo.

O companheiro do sequestrador pegou um arco que estava aos seus pés e atirou uma flecha na direção de Joshua, que mergulhou rapidamente, enquanto a flecha lhe arranhou o braço debaixo da água.

- Vamos logo embora. – falou o raptor, mantendo a moça em seu cavalo. – Temos uma carga preciosa aqui.

- Vai ter um olho a menos se continuar com essa besteira. – falou a moça tentando soltar-se. —Vai se arrepender de não me soltar.

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- Acredite, sofrerei mais se não levá-la até ele. Vamos embora.

Joshua saiu do oceano com a mão em seu braço que sangrava, por causa do arranhão da flecha, bem a tempo de ver os dois raptores e sua vítima afastando-se com suas montarias.

O vento da noite castigou ainda mais sua pele e o rapaz olhou para os lados em busca do que fazer.

Seus lábios tremiam e sua respiração formava uma pequena aglomeração de vapor por causa do frio.

- Hei rapaz... – falou Micael, aproximando-se montado em um cavalo. – Você está bem?

- Eles a levaram. – falou Joshua, passando a mão direita em seus cabelos molhados. – Temos que fazer algo.

- Quem levou quem?

Joshua ia responder, mas pareceu ter uma ideia melhor e se aproximou de Micael, falando seriamente:

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- Preciso de seu cavalo.

- Do que está falando?

- Confie em mim.

Micael olhou bem para Joshua, respirou fundo e desceu do cavalo a contragosto.

- Está em encrencas? – perguntou Micael, enquanto Joshua montava.

- Sempre estou.

- Então vai precisar disso. – falou Micael, enfiando sua espada entre seu cavalo e sua sela. – Sabe usá-la?

- Pelo sim ou pelo não é uma hora excelente para aprender. – falou Joshua, fazendo o cavalo começar a correr. —Emanuelle foi avisar aos outros.

O vento da noite era congelante.

A única luz que lutava contra a escuridão da floresta era a da lua cheia que ainda permitia que o jovem Raziel visse os vultos de quem perseguia.

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Entre uma árvore e outra. O barulho de cascas de folhas sendo pisoteado, o próprio barulho dos cascos da montaria de seu inimigo, tudo era motivo para um desvio rápido em busca dos raptores.

- Vamos, vamos. – falou Joshua, enquanto tentava fazer seu cavalo correr mais. – Você consegue amigão, só mais um pouco.

O raptor que segurava a moça olhou para trás e falou seriamente para seu companheiro:

- Estamos sendo seguidos. Cuide dele.

O segundo sequestrador parou seu cavalo e deu a volta pela esquerda e ficou esperando.

- Quem é ele? – perguntou o primeiro raptor para sua vítima.

A moça olhou para trás e pode ver o jovem rapaz que cortava o vento em sua direção.

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A lua lhe dava a coloração azulada, seus cabelos eram esvoaçados com o frio cortante e seu rosto jovial permanecia confiante em sua direção.

- Eu... – falou a mulher, sem parar de olhar. – Eu nunca o vi.

Joshua diminuiu a velocidade de seu cavalo ao se aproximar do raptor que estava parado a sua espera:

- Eu aconselho a você voltar agora, rapaz. – falou o sequestrador cujo rosto não se podia ver.

- Desculpe, nunca fui bom em seguir conselhos – falou Joshua, mantendo seu cavalo em movimento pronto para uma disparada. – Vai me deixar passar?

- Não posso. Acredite é para seu próprio bem, não sobreviveria muito tempo onde ela está sendo levada. Ela mesma não sobreviverá.

- Então porque não me deixa passar? Se você tem a certeza de minha morte então não tem do que temer.

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- Explique-se melhor.

- Se não vou sobreviver, não terei como resgatá-la, então seu amigo poderá levá-la.

- E seu você conseguir resgatá-la?

- Então terei de voltar por esse mesmo caminho e você poderá me impedir. Será o herói de sua terra por me matar e recapturar sua vítima. Reconhecimento sempre é bom.

- E se você me matar quando voltar?

Joshua sorriu e pegou a espada que Micael lhe havia emprestado e a fincou no chão.

- Você está armado e eu não. – falou Joshua, fazendo seu cavalo dar uma volta ao redor da espada recém-fincada. – Então como o mataria?

O raptor sorriu e abaixou a cabeça, pensativo:

- Geralmente eu o mataria aqui e agora. Porém provou ser louco soltando

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sua arma e ter um grande desejo de tentar resgatar a moça, então passe por mim em trotes rápido e saiba que se voltar será morto sem piedade. Faço isso não pelo fato de ter gostado do seu jeito, mas pela chance de lhe dar esperança e ver você derrotado ao perdê-la. Siga sempre em frente.

Joshua colocou seu cavalo para correr e passou por seu futuro adversário em grande velocidade.

Depois de algumas horas de cavalgada sem saber para onde estava indo, Joshua avistou uma montanha bastante alta com um grande lago em sua frente. Uma densa formação de nuvens saia de seu cume e escurecia a luz da lua.

- Deseja atravessar meu rapaz? – perguntou um homem encapuzado, com um barco.

- Você é o barqueiro?

- Sim, deseja que o sirva?

- Estou atrás de uma mulher.67

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- Ela passou por aqui alguns minutos atrás. Já deve estar lá em cima.

- Pode me levar até o outro lado?

- Estou aqui para isso.

A montanha pareceu muito maior quando Joshua chegou à outra margem e a respiração do jovem pareceu ficar muito mais difícil com o odor de carne podre que existia no ar.

Só quando chegou bem perto o rapaz poder perceber que não era uma montanha e sim um vulcão que estava a sua frente.

- Eu não ficaria muito tempo desse lado do lago se fosse você. – falou o barqueiro, com voz bem arrastada ao chegarem à margem. – Todos que chegam desse lado da travessia começam de certa forma, a morrer. Qualquer tipo de sentimento, seja ele forte o quanto for, começa a ser extinto assim que seus pés pisam nessa terra amaldiçoada. Dentro de um dia você será um jovem sem forças e sem vida

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que sofrerá a dor de viver a agonia eterna.

- Vou lembrar-me disso. – falou Joshua descendo do barco. – Não tenho nada para lhe dar agora.

- Não se preocupe. Vamos encarar como um favor.

– Espere aqui, vou voltar logo. Obrigado.

A subida do vulcão era difícil.

Sua terra cinza era movediça. As pedras eram escorregadias e em alguns pontos muito quentes para serem tocadas.

O cheiro de carne podre se tornava mais forte a cada passo dado e o oxigênio cada vez mais difícil de ser encontrado.

No alto daquela terra misteriosa, lavas e fumaça saíam como querendo vencer a lua pelo domínio da noite.

Um pouco adiante, a sombra de dois homens armados com espadas que

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protegiam a entrada de dois pilares em formato de cruz caída.

- O que faz aqui? – perguntou um dos guardas.

- Eu... - começou a responder Raziel com dificuldade para respirar.

- Já mandaram negociar a volta da moça? – perguntou o outro vigia precipitadamente.

- Sim... – falou Joshua, percebendo a chance. – Estou aqui para negociar.

- Ótimo, ele não gosta de esperar. Vou levá-lo a presença dele.

Joshua respirou fundo e começou a seguir o guarda até a beirada do vulcão.

Lá pôde ver uma grande estátua, a maior que já viu, transpassando as nuvens em forma de um Anjo negro. Ela que tinha sua mão direita estendida segurando uma espada cuja lâmina era verdadeira, servindo como ponte que levava até a outra margem do vulcão.

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- O pessoal lá em baixo parece estar se divertindo. – falou o guarda sorrindo, enquanto andava sobre a lâmina. – Venha logo.

O jovem Raziel olhou para baixo e sua pele estremeceu ao ver milhares de pessoas que estavam no centro do vulcão, alguns metros abaixo da ponte.

Algumas pessoas estavam sendo chicoteadas e maltratadas por guardas que pareciam se divertir. Outras estavam ajoelhadas na ponta de finas agulhas, como se rezassem, enquanto seu sangue escorria. Havia ainda guardas que cortavam pedaços do corpo de seus prisioneiros que gritavam de dor e comiam como se fosse uma comida qualquer.

Gritos de horrores eram ouvidos, espadas sujas de sangue cortavam o ar antes de atingir a pele de um homem uma, duas, três, até que ele caísse no chão.

—Você continua daqui. – falou o guarda, sorrindo da expressão assustada

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de Joshua. – Vá se acostumando e se você demorar muito aqui será mais um lá embaixo.

—Não faz meu tipo de hotel.

Joshua passou pelo guarda com uma vontade de derrubá-lo rapidamente, mas logo o sentimento de raiva foi substituído pelo o de surpresa ao ver vários móveis e compartimentos sem paredes, em um piso brilhante.

Como em cerâmicas de uma casa o piso refletia em sua escuridão imagens, porém não eram elas quaisquer imagens. Mostravam pessoas sendo maltratadas, outras gritando, agonia e medo. Pediam socorro e pareciam querer segurar o pé de quem lhes pisava.

—Ele já o aguarda. – falou o guarda. – Por isso não fique parado aí.

—Ele?—Sim, eu. – falou um homem se

aproximando.

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Ao ouvir aquela voz, Joshua levantou a cabeça bem devagar.

Cada parte de seu corpo estremeceu com a aquela frase.

A face do jovem deu lugar a uma expressão de medo e ao mesmo tempo de coragem, quando seu olhar viu aquele homem, que a cada passo que dava deixava uma nuvem negra sobre o chão.

De longe se percebia não ser uma pessoa qualquer. Não era um corpo normal que estava se aproximando, era mais uma sombra, um espírito incompleto, que tentava ser corpo novamente. Qualquer humano seria capaz de contemplar aquela face inocente, singela e ambígua. A pele branca, fina, quase translúcida destacava o negro e a profundidade daqueles olhos penetrantes.

Um sorriso temido e sedutor de lábios finos e rosados.

Nariz afilado, reinando ali um conjunto de beleza quase feminina, envolto em uma alma de mistérios masculinos.

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A calça de napa preta colada ao corpo magro com o tórax a mostra definia o sexo escolhido. Em seu peito a misteriosa cicatriz em forma de cruz, simbolizando a dor, o sofrimento e o exílio.

Aquele ser que ao mesmo tempo aparentava a sensibilidade e fragilidade de um belo príncipe revelava-se um animal impiedoso, furioso e sedento de maldades.

Tudo nele parecia ambíguo.Seu olhar às vezes nos permitia

presenciá-lo como uma vítima da humanidade em busca da salvação. Revoltado por não partilhar das alegrias do rebento e viver condenado nas sombras da escuridão e da desolação da humanidade.

Aquele olhar era capaz de transportar qualquer ser vivo para as trevas de seu reinado, um antro quente, fétido, por onde Joshua tinha passado com tanto horror, cheio de dores e sofrimentos de almas condenadas.

Se qualquer criatura vivente penetrasse aquele olhar à primeira vista

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inofensivo, era imediatamente sugado para as profundezas do inferno.

—Deixe-me sozinho com o negociador. – falou o desconhecido suavemente. – Temos que conversar.

—Sim senhor. – falou o guarda se retirando.

—E então... Você é muito jovem para ser um negociador. O Jovem das Luzes parece ficar menos prudente a cada dia.

—Isso! Ou eu sou muito corajoso. – respondeu Joshua prontamente, ele mesmo se surpreendeu com o tom de sua voz serena.

O homem sorriu discretamente e estreitou os olhos seriamente olhando para Raziel. Parecia ali ler cada parte de sua alma e estudar cada ponto obscuro da mente do rapaz como se estivesse procurando algo.

—Coragem é algo que admiro rapaz, acredite. – falou o homem desviando o olhar e dando um sorriso. —

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Prove ser realmente um jovem de virtudes fortes e eu as corromperei em um piscar de olhos.

Joshua se lembrou do que Jesus havia falado de seu pai. De como ele havia sido corrompido não por ser fraco, mas por ser valioso aos olhos de Deus.

—E a mulher? —perguntou Raziel, ainda pensativo.

—A moça será corrompida e sentará ao meu lado como minha rainha. Um troféu em tempos de guerra, não pode me culpar, não é?

—Eu vim aqui para levá-la de volta e não vou voltar sem ela.

—Desculpe. – falou o homem, levantando a mão como se não tivesse culpa. – Mas não sou de libertar almas por caridade.

—Arazyel, eu...

—Você pronuncia meu nome sem medo! —interrompeu Arazyel em tom de surpresa. —Como se chama?

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O jovem Raziel olhou seriamente para Arazyel e o homem fixou seu olhar no rosto daquele corajoso negociador novamente.

Joshua sentiu que talvez tivesse ido longe demais com as palavras.

—Joshua... Meu nome é Joshua. - respondeu o rapaz desviando o olhar. - Talvez prefira que lhe chame de Lúcifer.

—E sobrenome?

—Como você, eu gosto de usar somente o primeiro nome.

—Deseja ser como eu, então? – falou Lúcifer, andando vagarosamente ao redor de Joshua. Ele o estudava com atenção e começava a sentir certo interesse pelo rapaz. —Estaria eu sentindo um desejo escondido? Estaria o jovem negociador querendo sucumbir a mim?

—Tenho uma proposta.

—Não respondeu minha pergunta.

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—Você disse que não é de libertar almas por caridade. Isso realmente não faz parte de sua natureza. Porém não sou de fazer caridades também.

—Continue...

—Proponho uma troca.

—Uma alma por outra? – falou Lúcifer, dizendo exatamente o que Joshua pensava no momento. —Porém devo avisar que a alma que estou possuindo é muito valiosa, terá que ser substituída por outra de pelo menos quase o mesmo valor. O que considero impossível.

—A minha. – falou Joshua, como se fosse a coisa mais obvia a se falar. —A minha alma pela da moça.

O Anjo do mal sorriu e levantou as mãos para o alto como se estivesse impressionado:

—Você é corajoso e agora provou ser bastante confiante. Porém sua mísera alma não chega perto de ser tão

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valiosa quanto a da moça que deseja resgatar.

— E se eu lhe fosse útil? Se eu dissesse que o jovem senhor das luzes recebeu a visita de um rapaz muito especial hoje pela manhã?

—Com certeza ninguém que mereça minha atenção.

— Mesmo? O rapaz pareceu importante Ouvi dizer que é metade demônio e metade Anjo.

Arazyel olhou seriamente para Joshua, que sorriu confiante. Por alguns segundos o senhor do vulcão havia deixado escapar seu interesse pelo assunto.

— Alguém chamado Raziel. - continuou a falar Joshua com ar incrédulo. —Porém como diz ninguém que mereça sua atenção, naturalmente.

— Você disse Raziel? – perguntou o Anjo com dificuldade. – Tem certeza disso?

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— Você tem um ouvido bom, sabia? Deviam te chamar de orelhudo em vez de chifrudo, afinal você nem tem mulher, pra... Você sabe.

- Ele está acompanhado?

- Não. Está sozinho.

- Não, você deve estar errado. Ele não deveria vir sozinho. – falou mexendo a mão, pensativo. – Deveria trazer alguém, uma pessoa mais jovem. Os dois devem se encontrar com um ser daqui e assim o triângulo estaria fechado.

- Do que está falando? – perguntou Joshua, se aproximando. – De que triângulo está falando?

De repente agora era Joshua que tinha se interessado pelo assunto. Como Arazyel sabia que William estava com ele? Quem era a pessoa que eles encontrariam? Seria Emanuelle? E que triângulo deixaria Lúcifer, o Anjo, tão interessado?

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- Nada que envolva você. - respondeu depois de alguns minutos de raciocínio. —Porém me ajudou muito, acredite. Não sou tão ingrato como às pessoas pensam. Em troca da informação que você acabou de me dar, mais detalhes sobre o rapaz e a sua alma, eu soltarei a moça como deseja.

- Agradeço.

- Não deveria, acredite.

- Posso vê-la antes?

- Não vejo por que não. Vou pedir para alguém acompanhá-lo até os aposentos de visitantes. Armers...

O som de palavras sendo sussurradas invadiu o lugar, era um dialeto que Joshua desconhecia, da sombra de um dos móveis do lugar, uma figura sombria se levantou do chão, vagarosamente.

Era o ser mais estranho e repugnante que Joshua havia visto. Com o corpo assumindo a forma de um homem, metade roedor. Sua pele era

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avermelhada, como se estivesse coberto de queimaduras de terceiro grau e olhos que só podiam ser distinguidos do resto do corpo por causa do assustador branco proporcionado por sua esclerótica.

- Chamou senhor? – perguntou a estranha figura, rastejante, com uma voz suave e devagar.

Ao falar uma fina calda saiu das costas de Armers e chicoteou o ar, parecendo proporcionar um estranho prazer ao seu dono que balançou sua cabeça, estralando seu pescoço.

- Armers leve nossa mais nova aquisição para o quarto onde nossa visitante está hospedada.

- Será um prazer. – falou Armers, virando-se para Joshua. —Vamos meu rapaz?

- Eu o espero aqui para acertarmos seu posto no exército. – falou Arazyel em despedida. – Temos um pacto. – lembrou.

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- Temos certeza de que ainda vamos nos encontrar. – falou Joshua, sorrindo.

Joshua tentava manter certa distância de Armers, que começou a levá-lo até uma escada de pedra polida em direção ao centro do vulcão. O rapaz não sabia se sentia mais repugnância da pele de Armers ou do cheiro de carne podre vindo de seu corpo.

- O senhor das trevas pareceu bem animado com você. – comentou Armers, descendo as escadas. —Pessoalmente não encontro em você nenhuma qualidade apreciada em um bom guerreiro.

- É mesmo?

O silêncio predominou nos minutos de descida para o vulcão.

Raziel observava as atrocidades que sofriam as pessoas naquele lugar e como o território era grande.

Armers parou de andar perto de um grande buraco na parede e olhou

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friamente para Joshua. Encontravam-se os dois em um pequeno salão de entrada.

- A moça está no fim da caverna. – falou Armers, apontando para a escuridão. – O caminho é estreito, mas vá em frente.

- Pensei que ela estivesse nos aposentos de hóspedes, como Lúcifer, seu senhor, falou.

- E aonde acho que estamos?

Joshua respirou fundo e entrou na caverna, sem tirar os olhos de Armers.

A luz na caverna era fraca.

Poucas tochas, distantes uma das outras, eram encarregadas de aliviar a solidão daquele lugar. Mesmo assim ainda pouco se podia ver.

O chão, a parede e as rochas eram quentes por causa do centro vulcão, que estava bem perto agora. Os poucos pingos de água passavam entre as

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pedras, pareciam ser suor vindo das mesmas.

- Ela está no fim do corredor. – falou Armers, entregando uma tocha para Joshua.

- Obrigado.

Joshua esticou seu braço direito, carregando a tocha e continuou a caminhar pela caverna, com o olhar atento a todos os detalhes.

Após alguns minutos de caminhada, que levou Joshua em linha reta, a temperatura mais fria indicava que o vulcão estava ficando distante e o jovem Raziel pode ouvir o barulho de água, que foi encontrada após mais algum tempo de caminhada.

Uma grande cachoeira no interior da caverna, que ia desde o teto da cavidade, até um cristalino lago corrente a vários metros abaixo.

Com a ajuda da tocha, Raziel iluminou o caminho e viu que para atravessar a cachoeira devia atravessar

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por uma ponte de pedra, estreita, por trás da queda de água. A luz da tocha pareceu que ia sucumbir aos pingos refrescantes de água que caíam fortemente, molhando Joshua que continuou com passos firmes nas pedras escorregadias.

Finalmente, no fim da caverna, a luz de fogo anunciou que existia algo mais a frente e finos feixes de pedra cercavam um grande pilar de concreto no canto da parede onde um guarda vigiava.

- Você é o rapaz que veio trocar de lugar com a moça? – perguntou o guarda.

- Como sabe?

- Armers esteve aqui.

Joshua olhou em direção as suas costas sem entender e percebeu que não havia mais sinal de Armers lhe vigiando.

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- Ele é rápido. – falou o guarda, sorrindo e dando um passo para o lado. – Venha ela está presa no pilar.

Joshua passou a mão em seus cabelos molhados, por causa da cachoeira e caminhou em direção ao local indicado.

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Lúcifer

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COMO O MAR

Joshua passou entre os finos feixes de pedra que rodeavam o pilar de concreto, seguido pelo guarda que vigiava o lugar.

Um grande rato passou correndo perto dos pés do jovem Raziel, que sorriu e olhou ironicamente para frente.

Bem perto da parede, a dez passos de distância de onde o guarda e o jovem “negociador” se encontravam estava presa ao pilar de concreto à moça que Joshua procurava, iluminada pela fraca luz da lua que passava por um buraco no teto sobre sua cabeça.

A jovem cujo capuz cobria de sombras seu rosto parecia sem esperança.

Estava caída ajoelhada em cima de suas próprias pernas, que se encostavam ao chão de pedra da caverna sem qualquer cuidado. O corpo da moça pendia grosseiramente para

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A Arma Secreta de Deu

frente, deixando seu tronco desconfortável porque em seus pulsos uma grossa corda lhe prendia ao pilar de pedra.

O vestido de cor branca e detalhes azuis claro que antes devia estar perfeito, agora rasgado e sujo de terra. Por um dos buracos de tecido, Joshua pode ver a bela coxa feminina de pele branca.

Mesmo estando visivelmente maltratada do corpo da moça podia se sentir um cheiro de perfume.

- Vai ficar aí parado, garoto? – perguntou o guarda, impaciente. – Não temos tempo a perder.

- Não. – falou Joshua, com em engasgo. – Posso falar com ela?

- Não foi autorizado.

- Não vou trocar de lugar com ela, até que eu mesmo veja se não lhe fizeram nenhum arranhão. – falou Joshua com ar de superior. —Deseja que seu mestre culpe você por me perder?

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A Arma Secreta de Deu

- Você tem pouco tempo, poucos minutos bastarão.

Joshua se aproximou do pilar e ao chegar bem perto da moça, percebeu que ela afastava seu corpo vagarosamente para longe.

- Está tudo bem. – falou Joshua, se ajoelhando na frente da moça. – Não vou machucá-la.

- É muito difícil acreditar em suas palavras se você é desse lugar. – falou a moça, firmemente.

- Mais eu não sou desse lugar. Posso...?

Joshua estendeu seu braço e suas mãos se aproximaram bem devagar do capuz que cobria o rosto da moça e começou a tirá-lo bem devagar.

A fraca luz da lua que iluminava a moça apresentou ao jovem Raziel à comprida, lisa e bela cabeleira negra que caiu sobre os ombros delicados da moça, que permaneceu de cabeça baixa, sem olhar para Joshua.

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A Arma Secreta de Deu

- Hei, pode olhar para mim. – falou Joshua colocando seu dedo indicador no queixo da moça e levantando seu rosto com cuidado. – Confie em mim.

A moça fechou os olhos e um fino feixe de cabelo molhado, lhe caiu sobre a testa deixando aquele rosto delicado, ainda mais primoroso. O nariz em seu estado de perfeição competia com os belos lábios vermelhos, para ver quem mais chamava a atenção do jovem Raziel, que preferiu acompanhar o abrir daqueles cílios tão delicados, que eram como o pôr do sol naquele rosto de formato redondo.

O guarda estava certo, poucos minutos bastaram para os dois jovens.

Quando o jovem Joshua Raziel viu aquele olhos azuis-claros, sentiu-se como se estivesse presenciando o crepúsculo.

Foi como ver o imenso mar pela primeira vez e Joshua viu sua imagem refletida dentro daqueles brilhantes olhos sedutores.

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A Arma Secreta de Deu

Era certo que Joshua estava ali para resgatar a moça e não para se apaixonar perdidamente por ela, porém alguns minutos de simples distração foram o bastante para perceber que o momento de gostar havia chegado.

- Quem é você? – perguntou à jovem, ao olhar para o rapaz.

- O negociador.

- E o que você deu em troca?

- Seu tempo acabou garoto. – falou o guarda se aproximando. – Você deve deixá-la ir embora agora.

- Desculpe... – falou Joshua, se levantando e ficando de costas bem perto do guarda. – Mas agora que eu a encontrei prefiro levá-la a salvo pessoalmente.

- O quê? – perguntou o guarda sem entender.

Joshua se virou para o guarda rapidamente. A jovem virou o rosto, enquanto o inexperiente rapaz que a

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A Arma Secreta de Deu

vigiava sentiu os punhos de Raziel acertando seu estômago e depois uma forte pancada em seu queixo, pela outra mão de Joshua e caiu de costas no chão inconsciente.

A moça esperou em silêncio e quando olhou para frente, viu Joshua pegando a espada do vigia abatido e a girando entre seus dedos.

- Não se preocupe! – falou Joshua, virando-se para a moça e sorrindo marotamente. – Sou Joshua Raziel e vim aqui para salvá-la.

- Você disse Raziel? – perguntou a moça, enquanto Joshua cortava a corda que prendia seu braço esquerdo.

- Isso. – falou Joshua, soltando o outro braço da jovem e pegando em sua mão, levantando-a. - Agora vamos sair daqui.

- Espere. – falou a moça, puxando o rapaz. – Meu nome é Maria.

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A Arma Secreta de Deu

Os olhos de Joshua percorreram o rosto delicado da moça e engoliu a seco, enquanto Maria lhe sorriu, falando:

- Como vai me tirar daqui?

- Bem, eu ainda não pensei nesse detalhe do plano.

- Não pensou? – perguntou a moça, surpresa. – Como pode vir até aqui sem ter um plano, me admiro que tenha conseguido chegar até onde chegou. Belo resgate!

- Eu vou muito mais além do que você imagina moça e eu não vim até aqui sem pensar em algo.

- E então?

- Só deixei a fase da fuga para a última hora, vamos.

Maria pareceu que ia falar algo, mas Joshua lhe deu as costas e começou a caminhar em direção a entrada da caverna, então a moça respirou profundamente e começou a segui-lo.

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A Arma Secreta de Deu

Os jovens já estavam bem perto da cachoeira, quando Joshua viu luz de tochas se aproximando poucos metros a sua frente.

- Eu acho melhor, acharmos outro caminho. – falou Joshua, pensativo.

- Por quê?

- Temos companhia.

Um grito sufocante foi ouvido, na direção das costas dos jovens e uma sombra começou a se aproximar. Sem conseguir explicar como, os jovens estavam cercados.

- O que foi isso? – perguntou Joshua.

- Você é novo aqui, certo? Estamos cercados. - concluiu Maria.

- Ótimo!- falou o rapaz erguendo os ombros ironicamente.

- Ótimo? Você é louco? – perguntou inconformada.

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A Arma Secreta de Deu

- Você pode ficar apavorada agora, mas eu tenho que pensar. Por isso faça silêncio.

- O quê?

- E essa maldita cachoeira, que faz tanto barulho que não me deixa pensar. – gritou Joshua. – Pense Raziel, pense.

- Como quer pensar se está gritando?

- A cachoeira, é isso. – falou Joshua, sorridente. – Claro como água!

- É isso, o que?

- Vamos!

Joshua e Maria foram até a estreita ponte que passava nas costas da cachoeira e puderam ver vários guardas que se aproximavam pela direita. Todos com armas em mãos e um deles seguido de um batalhão do outro lado gritou:

- Hei vocês...

- Muito bem, espero que saiba nadar. – falou Joshua, olhando para o

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A Arma Secreta de Deu

lago cristalino, que corria alguns metros abaixo. – Vai ser o segundo banho está noite.

- Está brincando!

- É nossa única saída e temos que nadar rápido.

- Tente nadar rápido com um vestido, Raziel.

Joshua respirou fundo e sem paciência e olhou para a espada que segurava. Pois-se em frente á Maria e rasgou o vestido rapidamente deixando a grande barra dele como se fosse uma saia.

- Está bem assim? – perguntou impaciente.

- Você é surpreendente...

- Maria, agora não, por favor. Vamos pular.

- Matem os dois. – gritou um guarda, raivosamente.

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A Arma Secreta de Deu

Maria respirou impaciente e segurou a mão de Joshua firmemente e o rapaz sorriu, enquanto os guardas corriam em sua direção.

Os dois jovens pularam a tempo de os soldados verem somente o vulto que desapareceu entre a cachoeira.

Um peixe nadava no tranquilo lago formado pela queda d’água, quando sua casa foi invadida por Joshua e Maria que mergulharam por alguns segundos e submergiram.

- Muito bem... – falou Maria, tirando seus cabelos molhados do rosto. – E agora?

- Esse é um lago corrente, deve ter alguma passagem ou algo assim, para que possamos sair junto com a água.

- Vamos ter que mergulhar.

- É! – falou Joshua, respirando fundo e mergulhando.

Submerso, Joshua observou o interior do lago de olhos abertos e

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A Arma Secreta de Deu

apontou para Maria, que mergulhou ao seu lado, quando viu alguns peixes indo por um canto entre as pedras.

O jovem casal começou a nadar por uma passagem estreita, que não permitiria que eles voltassem caso precisassem de ar, sem saber para onde estava indo. Alguns metros à frente a correnteza aumentou jogando o casal para fora da montanha.

Longos minutos depois, Maria submergiu procurando oxigênio, seguida por Joshua que tossiu quase sem ar.

- Saímos? – perguntou Maria.

Joshua olhou ainda ofegante para os lados e pode ver bem longe o vulcão onde estavam anteriormente e sorriu percebendo que estava agora em um lago bem perto da floresta.

- Conseguimos!

Os dois nadaram até a margem e jogaram seus corpos exaustos na grama.

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A Arma Secreta de Deu

A lua cheia brilhava com maestria e a estrelas pareciam dançar feito pequenas bailarinas pelo céu escuro.

- E você pensou que não íamos conseguir. – falou Joshua, sem ar. – Eu disse para não se preocupar. – completou confiante.

- Devo admitir... Foi um belo resgate.

- Obrigado!

- Pena que tenha que ter um final triste. – falou um guarda, se aproximando com sua espada pronta acertar Joshua.

Joshua girou na grama e o guarda acertou somente o chão com a lâmina de sua espada.

Imediatamente Raziel reconheceu seu novo adversário, era o mesmo que havia lhe deixado passar com a certeza de que não voltaria a vê-lo ou pela esperança de poder matá-lo ainda naquela noite.

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A Arma Secreta de Deu

- Então, você ainda está aí!- falou Joshua se levantando. – Pensei que tinha ido embora.

- Fizemos um trato lembra? Eu deixava você passar, para que caso conseguisse sair com vida, eu estaria aqui o esperando-o para matá-lo.

- Sou só eu, ou você também acha que sai em desvantagem nesse trato?

- Devia ter pensado nisso, antes. – falou guarda, girando a espada em direção a Joshua.

Quando o guarda estava pronto para acertar o jovem Raziel, a lâmina de uma espada atravessou seu corpo fazendo o sangue do inimigo sujar a camisa de Joshua, que sem entender viu seu oponente cair no chão.

- Você é louco? – perguntou Anderson, enquanto tirava sua espada do corpo do guarda. – É não é?

- Eu penso a mesma coisa. – falou Maria, se aproximando.

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A Arma Secreta de Deu

Joshua sorriu, estava salvo. A sorte estava ao seu lado e Anderson olhou Maria e fez uma reverência.

– Senhora... Peço desculpas que tenha que ter visto cena tão violenta.

—Não se desculpe, eu agradeço.

—Estão todos procurando pelo senhor Raziel. – falou o rapaz olhando para Joshua com admiração e surpresa. —Eu vim por esse lado. Vi quando saíram da água e o guarda se aproximando pelas costas.

—Eu te agradeço parceiro. – falou Joshua, respirando fundo. – Não me chame mais de senhor, está bem? Meu nome é Joshua, mas pode me chamar de Josh.

—Josh? Vou lembrar-me disso. Agora vamos, o castelo espera por vocês.

Anderson entrou no pátio principal do castelo seguido por Joshua que tinha sua roupa suja de sangue e por Maria com seu vestido rasgado.

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A Arma Secreta de Deu

- Tentação... - gritou Emanuelle, descendo as escadas correndo. – Estava te procurando como todo mundo, mas quando a notícia se espalhou que tinha sido encontrado eu corri para cá.

- Josh!- gritou Will, entrando no pátio chateado. – Como pôde me deixar aqui? Da próxima vez que tiver a possibilidade de você sair e voltar com sangue na roupa, eu quero ir junto.

- Está tudo bem, o sangue não é dele. – falou Maria, como se não fosse grande coisa.

- Senhora... – falou Emanuelle, fazendo uma reverência.

- Uau!- falou Will, ajeitando seus cabelos. – Bela moça você arranjou, mano.

- Esse é Will. – falou Joshua, sorrindo. – Will, essa é Maria.

- Maria? Quer dizer, a Maria? Aquela dos Anjos e tudo mais? A Maria?

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- Eu mesma! – respondeu Maria, sorrindo. – É um prazer conhecê-lo.

- Espera aí, você é essa Maria? – perguntou Joshua surpreso. – Nunca te imaginei deste jeito.

- Também me surpreendi com você Raziel.

- Nossa! – falou Will, como se estivesse pensando alto. —Você é bonita mesmo.

- Vem cá, eu tenho um presente para você. – falou Maria, pegando o cordão com um crucifixo que usava. – Ele é mais do que um simples crucifixo, mais a arma secreta para que funcione está na sua imaginação.

- Agradeça. – falou Joshua com educação.

- Valeu moça.

- Vejo que estão todos bem. – falou Jesus, descendo as escadas. – Fico feliz. Porém essa noite nos mostrou o quanto estamos vulneráveis e de quanto minha

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A Arma Secreta de Deu

mãe precisa de proteção, eu sugiro uma guarda especial. Anderson, Will e Joshua, vocês se candidatam?

- É claro que sim! – falou Joshua.

- Seria uma grande honra. – falou Anderson sem saber o que dizer.

- Não!- falou Maria, de repente. –O jovem Raziel vai ter muito o quê fazer aqui para perder tempo ficando ao meu lado.

- Na verdade, eu adoraria aceitar essa função. – falou Joshua, olhando fixamente para Maria. – Porém, acho que a própria Maria deve dizer o que acha.

Todos olharam para Maria, que ajeitou seus cabelos impaciente e respirou fundo:

- Muito bem, que seja feita a vontade de meu filho.

- Ótimo. – falou Jesus, sorrindo. – Vocês devem descansar agora, amanhã terão que ir até o Templo da Dádiva.

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A Arma Secreta de Deu

- Templo da Dádiva? – falou Joshua, respirando fundo. – Outro resgate?

- Saberá do que se trata amanhã.

- Acho melhor eu ir, então. – falou Anderson prestando reverência.

- Tem muito espaço no meu quarto, se quiser ficar. – falou Joshua se dirigindo a Anderson. – Afinal, vamos ter que ficar muito tempo juntos agora. Eu, você, Will, Emanuelle e Maria.

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Maria

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A Arma Secreta de Deu

A DÁDIVA DE DEUS

O sol ainda não tinha tirado a virgindade da escuridão da lua quando um grupo de cinco cavalos foi levado até a frente do castelo por um querubim.

Tudo ainda estava em silêncio e uma brisa suave adentrou pela sacada do terceiro quarto mais alto da torre principal. Nele dois rapazes dormiam.

O primeiro já era conhecido daquelas terras magníficas. Seu nome é Anderson e sua inexperiência em combate estava ficando para trás, desde que na noite passada, tinha salvado uma moça e um rapaz no meio da floresta.

Esse jovem que tinha sido salvo, lhe ofereceu com imenso prazer uma cama para dormir em seu quarto e trata-se do segundo adolescente a sonhar em outro compartimento do aposento.

Uma noite mais escura e fria que essa.

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A Arma Secreta de Deu

A floresta estava assustada, não eram bons tempos aqueles.

O silêncio das árvores tinha sido maculado por violentos galopes de cavalos de guerra e cada lugar já tinha sido vasculhado pelo exército dos Satãs, que galopavam firmemente sobre a terra, passando por cima de folhas, troncos caídos ou qualquer animal que estivesse em seu habitat.

A busca pelo jovem guerreiro, que traiu aquele que um dia havia sido o mais bonito entre os Anjos e que poucos tinham coragem de pronunciar o nome naqueles dias, tinha sido reforçada quando Lúcifer soube de um herdeiro com sangue divino e amaldiçoado.

Porém somente uma pessoa sabia onde o jovem casal e a pequena criança estavam. Um segredo que somente a pessoa mais confiável tinha conhecimento.

Porém tudo que pareceu segurança provou ser engano quando a

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A Arma Secreta de Deu

porta de madeira da velha cabana veio ao chão e ele entrou com passos fortes:

—Eu vim adorar a criança.

Lúcifer era a felicidade em pessoa. Havia encontrado sua presa e a vontade de possuí-la lhe proporcionava um sorriso em seus lábios que causava medo e angústia aos demais.

Sarakiel Raziel era um rapaz de poucas palavras, porém suaves e fortes.

De seus olhos saíram faíscas e sua expressão de felicidade foi tomada pelo ódio, duas coisas que ele não fazia e não sentia, antes de ser corrompido. Antes de carregar toda a dor das chamas do inferno em suas costas e de cair de joelhos sem consciência aos pés de Lúcifer, proclamando-o como seu dono.

—Por que está tão nervoso Sarakiel? —perguntou Lúcifer, sorrindo. —Seu chefe não é bem-vindo quando vem visitar seu filho? Está é sua escolhida?

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A Arma Secreta de Deu

Se Gisele não fosse um Anjo de verdade, alguém a classificaria assim por causa de sua beleza. Cabelos ruivos e olhos verdes eram o que aquela moça tão valente e determinada trazia em seu semblante agora ao mesmo tempo selvagem e calmo.

Os dois jovens se conheciam desde crianças, tinham passado por muitas coisas juntas e aprendido a pureza e a veracidade de uma paixão.

O que mais chamava a atenção dentro daquela velha e pequena cabana não era os olhos faiscantes de Samuel, a força de Gisele ou o mestre da escuridão, mas o jovem garoto que dormia enrolado em um reluzente cobertor vermelho escarlate. Dentro das veias desse jovem e inocente bebê corria o sangue divino e amaldiçoado de um demônio e um Anjo.

—Bem... Chega de apresentações. - falou Lúcifer, enquanto um Satã passou pela porta. —Traga o menino para mim, tenho planos para ele.

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A Arma Secreta de Deu

O jovem soldado se aproximou de Gisele e quando ia tocar em seu bebê, a moça colocou um punhal em seu pescoço e falou seriamente:

—Tire suas mãos de meu filho.

Lúcifer bateu palmas e Sarakiel foi até um canto da parede e pegou a bainha com sua espada.

O som da espada do jovem saindo de seu “sono” pareceu cortar o ar e o pequeno Raziel que dormia em um berço, feito dentro de um tronco de árvore, sem saber o perigo que corria começou a chorar.

- Ah, eu odeio choro de criança. - falou Lúcifer. – Traga logo o menino.

Embora com um punhal em seu pescoço e sabendo que Gisele era bem capaz de destruí-lo, o jovem Satã havia recebido ordens e era melhor morrer sobre a lâmina da jovem Anjo do que sofrer nas mãos de seu mestre por não tê-lo obedecido.

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A Arma Secreta de Deu

Porém antes que pudesse ter o menino em suas mãos, Gisele passou o punhal em seu pescoço e ele caiu ajoelhado na cabana enquanto um líquido prateado lhe fazia sufocar até cair sem vida.

—Você não vai tê-lo. - falou Sarakiel, com sua espada erguida na direção de Lúcifer. – Não sem antes me enfrentar.

—Ora vamos, Sarakiel... Sabe muito bem que sempre tenho o que eu quero de um jeito ou de outro, você é a prova viva disso. O mais valente Anjo que de repente foi corrompido. Deve ter doído muito tudo o que fiz com você, mas não fique triste, logo seu filho lhe fará companhia.

Barulhos. Utensílios sendo jogados ao chão, um grito de dor vindo da escuridão e espadas ensanguentadas. Depois a sombra de uma mão se aproximando do rosto do bebê Raziel e sempre acontece à mesma coisa.

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A Arma Secreta de Deu

Sempre a mesma sensação de falta de ar e de um medo grandioso e sem explicação, que termina como sempre, com Joshua acordando.

Joshua sentou-se rapidamente em sua cama.

O suor corria por seu corpo e a sensação de medo não havia sumido. Joshua já devia ter se acostumado, afinal, toda noite aquele mesmo pesadelo lhe envolvia nos braços, mas a insegurança não lhe abandonava.

—Senhor Raziel... – falou Anderson, entrando no compartimento onde Joshua dormia. – Aconteceu algo? Precisa de alguma coisa?

—Josh. Meu nome é Joshua, mas pode me chamar de Josh. – falou Joshua, se levantando e passando a mão em seus cabelos suados enquanto ia até a sacada de seu quarto. – Estou bem, foi somente um pesadelo.

—Ficarei acordado para lhe fazer companhia.

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A Arma Secreta de Deu

—Não precisa. Eu só... Só preciso de um tempo para respirar.

—Tudo bem, eu nunca gostei de dormir, mesmo antes de vir para cá eu não gostava.

—Vir para cá? – perguntou Joshua, virando-se na direção de seu companheiro. – Tenho tanta coisa para pensar que me esqueci de que um dia você já foi...

—Vivo. Fui. – falou Anderson indo apreciar a vista da sacada com seu companheiro. —Um dia, há muito tempo.

—Qual é a sensação de morrer?

—É como nascer, só que ao contrário. Você dorme e sonha caminhar na areia da praia, passa por uma grande porta que não consegue ver o que tem do outro lado e acorda no salão da Vida Eterna, o mesmo em que você conheceu Emanuelle.

—O que aconteceu para você vir parar aqui tão cedo?

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A Arma Secreta de Deu

—Você me acha jovem? – perguntou Anderson, cruzando os braços, pensativo. – Eu era ainda mais quando cheguei aqui. Só tinha sete anos de idade, mas a dama de preto não escolhe por idade suas vítimas. Câncer foi o que eu tive.

—Não sei o que dizer. Com certeza você deixou muita saudade.

Três toques na porta foram ouvidos e Emanuelle a abriu com receio de acordar alguém:

—Com licença... Ora, já estão acordados? Temos que partir logo se quisermos chegar ao Templo da Dádiva.

—Templo da Dádiva... – falou Joshua, dando um passo a frente com tom de ironia. – E porque eu quereria ir ao tal lugar?

—Ora, tentação... – falou Emanuelle, passando seu dedo indicador no peitoral do jovem. – Porque todo grande guerreiro, precisa de uma grande arma.

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A Arma Secreta de Deu

Os primeiros raios de sol já saíam por trás do castelo, quando Joshua e Anderson passaram pelo portão e viram seus companheiros em seus respectivos cavalos.

—O que aconteceu com vocês? – perguntou Joshua. – Caíram da cama?

- Está brincando? – perguntou William, sorridente. – Quem consegue dormir nesse lugar? Tanta coisa para se conhecer, explorar...

- Você fica rapazinho.

- O quê?

- Eu não vou levar você para nenhum Templo de Dívida.

- É Dádiva! E o que devo fazer? Ficar aqui e esperar por vocês?

- Serei uma boa opção. – falou Joshua, passando a mão em sua montaria. —Que raça de cavalo é essa exatamente?

O cavalo de Joshua era particularmente diferente dos outros.

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A Arma Secreta de Deu

Sua cabeça era alongada e seu corpo era visivelmente musculoso. Patas fortes, cor branca como neve e olhos acinzentados e profundos.

- É um Filho do Vento. – respondeu William, como se fosse à coisa mais óbvia. – Eu sei mais coisas do que você, então eu deveria ir e você ficar.

- Eu o protejo. – falou Maria, confiante enquanto acariciava seu cavalo. – Deixe que eu proteja William.

- Muito bem... – falou Joshua, montando. – Eu acho que você também não deveria ir.

Maria olhou seriamente para Joshua e o rapaz balançou a cabeça confirmando o que tinha acabado de dizer.

- Me desculpe, mas foi você que aceitou me proteger. – falou Maria sorrindo. – Como vai fazer isso sem estar por perto. Estou lhe fazendo um favor indo com você.

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- Agora ela te pegou. – falou William, sorrindo.

- Estão todos prontos?- perguntou Anderson. – Joshua se eu fosse você segurava firme quando fosse cavalgar.

- Por quê?

- Os Filhos do Vento é uma raça muito peculiar de cavalo. Eles conseguem quebrar à distância de cinco dias em apenas dois.

- Muito bem... – falou Joshua, passando a mão em seu cavalo calmamente. – Vamos ver o quanto você corre.

Joshua nem tinha terminado sua frase direito, quando seu cavalo começou a correr.

O corpo do jovem pendeu para trás com a velocidade, mas o rapaz segurou nas rédeas firmemente e ajeitou-se em sua montaria, enquanto balançava a cabeça sorrindo satisfeito.

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Quando Anderson falou que os Filhos do Vento são uma raça de cavalos bem peculiar, o rapaz não estava exagerando.

O cavalo deixava uma densa nuvem de poeira ao correr e do alto se confundia com um pequeno ponto branco. Se a corrida acontecesse na neve, se tornaria impossível distinguir o animal do território.

A cabeça do animal se projetava para frente, deixando seu corpo quase como uma linha perfeita, diminuindo a resistência do ar.

Alias resistência é algo também muito apreciado em um Filho do Vento. O animal consegue correr até três dias sem parar, mantendo sempre o ritmo de corrida ao máximo. Consegue isso porque cavalga tão rápido que cria uma espécie de casulo de ar que protege a ele e seu cavaleiro do vento permitindo assim que não se canse, ou sofra resistência do ar.

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A noite já mesclava o céu com sua escuridão, quando o pequeno grupo de viajantes chegou à frente de um grande templo, que era moldado no terreno de uma montanha em forma de Anjo, ao seu redor somente um grande deserto.

—Chegamos. – falou Emanuelle, enquanto descia de seu cavalo ao lado de Joshua. – O que achou da viagem?

—Gostosa.

—Como você?

Maria desceu de seu cavalo e observou William, pensativo, fazendo carinhos em sua montaria.

—Algum problema? – perguntou a moça se aproximando do menino.

—Está ficando frio. Não gosto de frio.

—Tome. – falou Maria, tirando seu capuz e o colocando nas costas do menino. – Não se preocupe você ficará bem.

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Joshua estava passando a mão em seu cabelo sem graça, enquanto Emanuelle lhe olhava, quando observou o arco que estava nas costas de Maria, antes escondido pelo capuz.

—Hei... – falou Joshua, se aproximando. – Você sabe usar esse arco?

—Quando preciso, sim.

—Acho melhor entrarmos. – falou Anderson, olhando para o deserto que o rodeava. – A noite está chegando e não estamos mais em território seguro.

—O que ele quer dizer com território seguro? – perguntou William, enquanto caminhava ao lado de Maria e Joshua.

—Não estamos mais nas proximidades do castelo, mas também não estamos perto de Lúcifer. – falou Maria pensativa. —Trata-se de um território neutro.

—Alguém vivi aqui? – perguntou Joshua, entrando no templo.

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—Acredite, não vai querer saber. Digamos que não são amigáveis, mas conseguimos manter relações estreitas com eles. Porém se houvesse uma guerra de grandes proporções, eles com certeza seriam contra nós e quando tudo estivesse acabado e nós derrotados, seriam contra Lúcifer.

—Mais que povo individualista! – falou William.

—Josh, vem cá. – gritou Anderson, que estava mais a frente.

Joshua foi até Anderson e adentrou no templo.

O teto do templo era o mais alto já visto.

A altura junto com a pintura de nuvens confundiria o visitante que se entrasse pela manhã, que não saberia se estava do lado de fora, olhando para céu ou para o teto de um templo.

As paredes eram decoradas com pinturas em alto-relevo de Anjos lutando com demônios em batalhas bastante

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realistas e no meio delas passava um estreito caminho de pedra, cheio de um líquido.

—É óleo. – falou Anderson, colocando o dedo no líquido. – O que acha Josh?

Uma tocha acendeu de repente, sem ninguém tocar, bem do lado de Joshua e o rapaz respirou fundo a pegando.

Joshua passou a mão em seu cabelo e olhou seriamente para Anderson, se aproximando do óleo.

—Afaste-se. – falou Joshua, encostando a tocha no óleo. – E Deus disse: faça-se a luz.

Ao tocar a tocha acesa no óleo, o fogo se espalhou começando a iluminar todo o templo, que se mostrou magnífico tanto em tamanho, quanto em pinturas, terminando muito longe dali em várias estátuas.

—Puxa! – falou William. – Quem construiu isso aqui tinha mania de grandeza.

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—Muito bem, fiquem todos juntos. – falou Joshua, começando a caminhar em direção às estátuas. – Anderson...

- Não se preocupe. - falou Anderson, pegando sua espada. – Cuido do lado direito.

- Estou no seu lado esquerdo, tentação. – falou Emanuelle atenta.

- E eu cuido de suas costas. – falou Maria.

- Está brincando. – falou Joshua, parando de andar. – Eu não preciso de ninguém me protegendo.

- Eu não estou vendo você com uma arma.

- Já chega vocês dois. – falou William em protesto. – Todo mundo protege todo mundo e não se discute mais.

Joshua olhou seriamente para Maria, que sorriu e se virou continuando a andar em direção as estátuas.

A cada passo as estátuas foram tomando às formas de gigantes leões que faziam reverência a outra fera em

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diamante cintilante, que trazia na sua boca, preso por seus dentes afiados a lâmina empoeirada de uma espada.

- A Dádiva de Deus. - falou Maria, ao ver a espada. – É magnífica.

Joshua subiu alguns degraus que iam até o leão que guardava a espada e percebeu uma escritura abaixo dele.

- Vamos ver o que esse leão gigante quer nos dizer.

O jovem Raziel afastou com sua mão a grossa teia de aranha que estava na frente da escritura e soprou, afastando a poeira e lá encontrou escrito com letras douradas: essa espada pertence aos Raziel, somente a eles.

- Ela é sua, príncipe. – falou Emanuelle. – Pegue-a.

Joshua respirou fundo. Ficou de lado estendendo sua mão esquerda em direção à espada, não piscava e segurou a coronha de sua arma.

A arma empoeirada começou a brilhar e toda a poeira começou a cair no chão, revelando a coronha de ouro, onde Joshua segurava e a perfeita lâmina

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brilhante da arma que possuía um brilho esverdeado.

O jovem Raziel sorriu, gostando da espada e a puxou, porém a arma não saiu do canto.

- O que houve? – perguntou Anderson sem entender.

- Ela não quer sair. – respondeu Joshua, forçando a espada.

- Como assim? —perguntou Emanuelle. – Puxe-a.

- Estou puxando... Maria, você é a rainha aqui. De todos conhece essas loucuras melhor que ninguém, então explique o que tenho que fazer.

- Eu não sei.- Como não sabe? Que tipo de

rainha é você?- Sou rainha não um tira dúvidas.- Não me venha...A frase de Joshua foi interrompida

por um grito de William, que ecoou por todo o templo:

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A Arma Secreta de Deu

- Quer tirar logo essa merda de espada daí?

O eco do templo realçou a frase de William que ficou sem graça quando todos lhe olharam.

- Esse garoto é muito impaciente. – falou Emanuelle.

Um grito forte, parecido com o rugido de um leão, unido com o de uma águia ecoou por todo o templo.

- O que é isso? – perguntou Joshua olhando para as paredes do templo.

- Luciferus. – sussurrou Maria, pegando seu arco em suas costas. – Protejam-se.

Um frio intenso atingiu todos os presentes.

Joshua sentiu os pelos de seu pescoço começar a se arrepiar vagarosamente e a própria respiração entalar no peito. O frio penetrou mais fundo em sua pele. Chegou ao fundo do peito, ao seu próprio coração...

Joshua fechou os olhos, com força. Estava se afogando no frio. Sentia um

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A Arma Secreta de Deu

farfalhar nos ouvidos que lembrava água correndo. Estava sendo puxado para o fundo, o farfalhar aumentou parecendo mais um grito que soou alto...

Três sombras tomaram forma na entrada do templo.

Eram três criaturas enormes. Pareciam grandes águias, porém andavam como homens, provocando o estremecer do chão.

As asas eram um grosso couro, brilhante. Em suas pontas, dois afiados ossos que traziam com um brilho ameaçador e no final, nervuras irregulares, como um tecido rasgado sem cuidado.

Suas pernas ficavam levemente dobradas e seus pés eram grandes garras de quatro unhas afiadas, que faziam um barulho ao tocar o chão de tão grandes que eram. Ficavam em pé com uma das garras à frente e a outra atrás fincada no solo, dando suporte aquele imenso corpo.

Todo o peitoral era uma carapaça dura de osso puro que o protegia.

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A Arma Secreta de Deu

Seus braços fortes tinham como dedos, afiadas garras negras e brilhantes.

No pescoço da grande criatura, grandes esferas de osso rodeavam sua cabeça de águia, com um perigoso bico afiado e olhos negros atentos.

Os braços e pernas eram enrolados por faixas de pano rasgado e ao verem os jovens, os Luciferus soltaram mais um grito e abriram suas mãos, fazendo suas garras tremerem.

- Estamos com problemas. – falou Joshua, enquanto andava para trás.

- Emanuelle, fique entre William e Joshua. Prepare-se. – falou Anderson, parecendo ter uma estratégia. —Maria se não estiver disposta a lutar para valer proteja-se em um canto seguro.

- Não se preocupe comigo. – falou Maria colocando uma flecha em posição de disparo e esticando o tendão de seu arco.

- Will... - falou Joshua, sem olhar para o menino. – Tente se proteger.

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A Arma Secreta de Deu

- Está bem... – sussurrou William, medrosamente.

Anderson segurou sua espada com suas duas mãos e começou a correr na direção dos Luciferus, que avançavam.

- Josh... – falou Maria, mantendo seu arco estendido e seu olhar no inimigo. – Lembre-se o único lugar que é capaz de se ferir um Luciferus é no pescoço, entre as esferas de osso e seu bico. É estreito e arriscado, mas é a única maneira de destruir algo assim.

- Vou lembrar-me disso.Anderson ia acertar o Luciferus

que estava na frente com sua espada, mas a criatura defendeu-se com seu braço e a lâmina da arma do rapaz nem o arranhou. A outra fera levantou o rapaz segurando-o pelo pescoço o jogou violentamente em direção à parede.

O corpo de Anderson girou no ar sem controle e o rapaz quase perdeu a consciência ao bater suas costas na parede e cair no chão, com o terceiro Luciferus já na sua frente, pronto para matá-lo.

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A Arma Secreta de Deu

- Muito bem... – falou Emanuelle, respirando fundo. – Vamos à festa.

Nas costas de Emanuelle surgiram dois traços paralelos, como se sua pele se rasgasse em um corte profundo e de dentro deles um pedaço de osso começou a sair, perfurando cada vez mais as costas, relevando penas que se tornaram grandes asas que envolveram o corpo da jovem.

- Asas? – falou Joshua, surpreso. – Sério?

Emanuelle abriu suas asas rapidamente, provocando uma ventania que fez Joshua bater suas costas em uma das estátuas de leão.

- Legal!- falou William.- Você nunca me disse que tinha

asas. – falou Joshua, tentando mais uma vez pegar a Dádiva de Deus dos dentes da estátua, em desespero.

- Eu sou um Anjo, o que você esperava? – falou Emanuelle, estralando o pescoço.

Emanuelle olhou para os Luciferus que avançavam e juntou suas mãos

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A Arma Secreta de Deu

como se rezasse e delas um estranho brilho surgiu, dando forma depois a uma clava, que a moça girou entre seus dedos.

A jovem Anjo saltou rapidamente em direção da primeira criatura, que tentou acertar suas garras em seu corpo, mas a moça girou no ar e passou por debaixo de seu braço, acertando depois sua arma fortemente no peitoral do Luciferus que estava logo atrás.

Anderson girou seu corpo bem a tempo de desviar das garras de seu oponente e ainda usou sua espada para causar um pequeno arranhão no pescoço da criatura, que ficou mais zangada e pegou a arma do rapaz jogando-a para longe.

O primeiro Luciferus continuou avançando em direção a Joshua, William e Maria, que puxou mais o tendão de seu arco, fazendo-o soltar alguns estalos e o soltou.

A flecha seguiu sua trajetória retilínea, girando em torno de si mesma e soltando um silvo cortante no ar e acertou o Luciferus no meio de seus olhos, mas caiu sem nenhum efeito.

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A Arma Secreta de Deu

- Se eles só morrem quando são atingidos no pescoço por que mirou na testa? – perguntou Joshua, procurando um lugar seguro.

- Não quero matar só assustar.- Assustado é o que estou agora. -

falou William. – E sem querer que vocês também fiquem... Eu só quero falar que tem uma águia gigante vindo em nossa direção.

Joshua deu um passo e ficou na frente de Maria e William, enquanto o grande Luciferus se aproximava pisando forte.

Quando o jovem Raziel ficou a poucos metros de distância, o rapaz correu na direção de oponente e se jogou deslizando no chão, passando por entre as pernas de seu adversário deu um murro onde deveria estar sua virilha e levantou-se impulsionando seu corpo com suas pernas. O Luciferus olhou para Joshua, sem qualquer tipo de dor e tentou acertar seu rosto com suas garras, mas o jovem abaixou e começou a caminhar para trás, até que escorregou na espada de Anderson e caiu de costas no chão.

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A Arma Secreta de Deu

Anderson afastou seu rosto e as garras de seu oponente atingiram a parede bem perto do rapaz, entrando no cimento e rachando a estrutura. O rapaz aproveitou a distração da criatura e bateu três vezes seu cotovelo na cabeça do monstro, que não expressou dor e o pegou pelo pescoço e o levantou pressionando contra a parede rachada.

Emanuelle girou sua clava, pronta para acertar o pescoço de seu inimigo, mas ele desviou e a arma da moça ficou presa na parede. Quando a jovem olhou para o rosto da criatura, só teve tempo de ver as garras afiadas vindo em sua direção. A moça soltou sua arma e juntou seus braços na frente de seu rosto, como se fosse protegê-lo e um escudo surgiu absorvendo uma parte do golpe, mas, mesmo assim, a guerreira foi jogada para trás violentamente.

O Luciferus andou para frente e ficou em pé com Joshua no meio de suas pernas e pegou impulso jogando a cabeça para trás e direcionou seu bico no pescoço do jovem, que agiu rapidamente e colocou suas mãos nas pernas da criatura e puxou, deslizando seu corpo entre as pernas do oponente,

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A Arma Secreta de Deu

que acertou o chão com seu bico. O jovem Raziel parou do lado da espada de Anderson e observou o rapaz sendo enforcado, então segurou a arma do rapaz e se levantou.

- O que vamos fazer? – perguntou William, andando para trás tentando manter distância de um Luciferus.

- Cuidado!- gritou Maria.William se virou, dando as costas

ao Luciferus que estava próximo para começar a correr, mas a criatura enfiou suas garras na capa do capuz que o menino usava e o puxou, derrubando-o no chão aos seus pés.

O menino fechou os olhos, tudo que queria era um escudo para se proteger naquele momento. Ouviu uma pancada oca e ao abrir os olhos percebeu uma barreira invisível, que tinha lhe protegido do golpe. No pescoço de William, o crucifixo que Maria havia lhe dado, brilhava.

Anderson já estava perdendo a consciência sem conseguir respirar, por causa do Luciferus que lhe apertava o pescoço, quando Joshua jogou a espada

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A Arma Secreta de Deu

do rapaz, que ficou fincada fortemente na parede, poucos centímetros da criatura que dilacerava o pescoço de Anderson. A fera que enforcava o rapaz olhou ameaçadoramente para Raziel.

- Vamos. – chamou Joshua, passando a mão em seu cabelo. – Venha me pegar, o solta.

O Luciferus soltou Anderson, que caiu sentado no chão e soltou um grito na direção de Joshua, fazendo os cabelos do rapaz, esvoaçar.

Emanuelle olhou furiosa para o Luciferus que lhe enfrentava e suas asas, se fecharam e abriram rapidamente, provocando uma grande ventania que jogou a criatura do outro lado do templo. Quando o inimigo bateu na parede, só pode ver a Anjo se aproximando voando e sentiu a dor da clava sendo cravada em seu pescoço.

- Acabou!- falou Emanuelle, pressionado com força sua clava no pescoço do Luciferus.

A criatura soltou um forte grito e caiu pesadamente no chão.

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A Arma Secreta de Deu

William ainda estava tentando entender o que havia acontecido, quando o Luciferus se preparou novamente para lhe matar, porém uma flecha atingiu sua asa, rasgando-a, enquanto passava direto.

- Will, levante-se. – falou Maria.A jovem rainha soltou mais uma

flecha, que atingiu a outra asa do Luciferus, que soltou um grito de dor.

William se levantou e correu para as costas de Maria, que começou a caminhar em direção à criatura, atirando várias flechas, uma atrás da outra, rasgando as duas asas do Luciferus, que pulou na direção da jovem, jogando o arco da rainha para longe e soltou um grito de ódio.

O Luciferus que enfrentava Joshua saltou e começou a voar na direção do rapaz, jogando suas pernas para frente e com elas atingiu o peitoral do jovem, que caiu para trás, batendo sua cabeça no chão e sentindo o hálito quente da criatura em seu pescoço.

- Tentação, não! – gritou Emanuelle.

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A Arma Secreta de Deu

- Mano... - gritou William.Anderson começou a correr na

direção do Luciferus e saltou, enquanto a criatura já estava com seu bico há poucos centímetros do pescoço de Joshua.

William olhou para os lados procurando alguma coisa que pudesse ajudar e sem pensar, pegou a Dádiva de Deus da boca do leão e a retirou facilmente jogando-a na direção de Joshua.

A lâmina da espada brilhou cintilante, enquanto girava no ar.

Anderson empurrou o Luciferus para longe de Joshua e rolou no chão, sem saber se havia conseguido salvar seu amigo.

Joshua se levantou rapidamente e estirou o braço, pegando a espada com sua mão direita.

- A espada... – falou Emanuelle. – Will conseguiu tirá-la.

- O que? – perguntou William, sem entender.

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A Arma Secreta de Deu

A espada de nome, Dádiva de Deus teve em sua lâmina um rastro de luz, que pareceu subir pelo braço de Joshua, que fechou os olhos e os abriu.

Os olhos do rapaz assumiram a cor cinza e faíscas de fogo saíram deles.

Raziel começou a correr segurando a espada com suas duas mãos em direção ao Luciferus, que o olhou sem entender o que havia acontecido.

Um silêncio ensurdecedor invadiu o templo.

O Luciferus que enfrentava Maria, agora sem arco, direcionou suas garras para o abdome da moça, que pegou uma flecha, na bolsa em suas costas e a enfiou no pescoço da criatura, que piscou os olhos e caiu morta no chão, enquanto a rainha respirou aliviada.

A cabeça rolou... A cabeça do oponente de Joshua caiu no chão, cortada pela lâmina de sua espada e o corpo da criatura caiu pesado no chão.

- Isso!- gritou Emanuelle, orgulhosa.

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A Arma Secreta de Deu

Anderson sorriu, exausto e William gritou alegre:

- Eu sabia! Ele é meu irmão!Joshua se virou para seus

companheiros e seus olhos soltaram faíscas, cinzas, que assustaram a todos, mas logo o jovem Raziel fechou os olhos e quando os abriu, estavam novamente castanhos.

- Josh... – sussurrou William, assustado. – É você?

- Eu estou bem. – falou Joshua, caindo ajoelhado. – Estou bem. O que aconteceu?

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Luciferus

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PASSEIO NOTURNO

A Dádiva de Deus descansava nas mãos da estátua em forma de Anjo que ficava no quarto de Joshua, ela que parecia ter sido construída sobre encomenda para servir de descanso para a arma.

Raziel encontrava-se perdido em pensamentos, seus olhos estavam à procura de uma resposta pela sacada de seu quarto.

O vento frio teimava em desarrumar os cabelos do rapaz, uma carícia em um jovem perdido em suas dúvidas. Sua respiração estava solitária e seu desejo íntimo de não ser incomodado por ninguém foi negado quando batidas foram ouvidas na porta do quarto.

- Pode entrar. – respondeu Joshua, respirando profundamente e piscando os olhos vagarosamente.

- Raziel? – falou Maria, enquanto abria a porta. – Você está bem?

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A Arma Secreta de Deu

- Só pensando na vida. – sorriu percebendo a ironia da situação. —Estou no céu, pensando na vida.

- Você não desceu para jantar. – falou Maria, se aproximando do rapaz. – Não está com fome?

- Não.- Está tudo bem mesmo?Joshua virou o rosto evitando o

olhar da moça.Adoraria apreciar aquele momento

com a jovem, o primeiro depois de tantas situações de adrenalina, mas não sabia se conseguiria, sentia-se vencido por seus sentimentos de dúvida.

- Vamos dar uma volta. – falou Maria, decidida. – Sei do que você precisa.

- Não quero sair daqui. Se não se importa eu gostaria de ficar...

- Vou levá-lo a um lugar especial. – interrompeu a moça. – Lá poderá ficar o tempo que quiser a sós.

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A Arma Secreta de Deu

- Que parte do “não quero sair”, você não entendeu?

- A noite está muito linda para você ficar no quarto. Vamos a um lugar e não aceito um não como resposta.

- Eu...- Hei! Não é permitido dizer um

não a uma rainha. – falou Maria, pegando as mãos do rapaz e as apertando com segurança. – Te espero lá em baixo.

Joshua levantou a cabeça e a balançou como sinal de que não ia, mas a moça sorriu e ele se rendeu sorrindo disfarçadamente.

- Lá em baixo. – falou Maria, saindo do quarto. – Não esquece.

- Não esquecer o que? – perguntou Emanuelle, quando Maria abriu a porta.

- De descer. – falou Joshua, rapidamente. Não queria perder a chance de sair sozinho com Maria. – Ainda não jantei.

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A Arma Secreta de Deu

- Bem, já vou indo. – falou Maria, colocando seus cabelos para trás das orelhas. – Não esquece.

- Pode deixar, mas antes pretendo visitar uma pessoa.

Maria sorriu e olhou para Emanuelle que olhou para os dois jovens e sorriu sem entender. Havia algo de incomum no ar, um sentimento de que escondiam algo.

William estava sentado em sua cama abraçado em suas pernas, quando Maria passou no corredor e viu o menino.

—Uma criança não deve ficar tão preocupada quanto você. – falou Maria, entrando no quarto. – Problemas? Não estão te tratando direito?

—Não... Você viu Josh no templo, ele...

—Ele é o mesmo de sempre. – falou moça sentando-se na cama ao lado do menino.

- Os olhos dele... Estavam cinza, frios. —William olhou para Maria, seus olhos estavam mareados. —Eu não gosto de frio.

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A Arma Secreta de Deu

- Ele ainda é o mesmo.- Não sou idiota. Tenho ouvidos

sabia? Escuto o que as pessoas dizem. Algumas delas comentaram algo sobre Joshua ser filho de um cara do mal e um Anjo, isso é verdade?

- Sim. É por isso que ao pegar a Dádiva de Deus, Joshua mudou, por um momento, agora ele é o mesmo de sempre.

- Sempre soube que Josh era adotado, mas agora...

- Ele sempre vai ser seu irmão. – falou Maria vagarosamente.

William tentou falar algo as palavras não saíram de sua boca e uma lágrima molhou seu rosto. Maria acariciou os cabelos da criança suavemente, um brilho intenso podia ser visto em seu olhar e seus lábios projetavam um leve sorriso.

- Se ele é meu irmão, então porque ele mudou naquele instante?

- Por ser filho de um soldado de Lúcifer, Joshua carrega em seu corpo um tipo de sangue, digamos obscuro...

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A Arma Secreta de Deu

- Amaldiçoado?- falou William começando a demonstrar interesse pelo assunto, enquanto enxugava suas lágrimas. —Foi assim que as pessoas falaram.

- É... Amaldiçoado... – falou Maria, passando a mão em seu cabelo e colocando alguns fios para trás de sua orelha. – Que seja. Esse sangue corre nas veias de Joshua junto com o de sua mãe, um Anjo.

- Como ele consegue? Como pode ter os dois lados, o bem e o mal, correndo pelo seu corpo e ainda ser ele mesmo?

- Todos nós não somos assim? Essa pergunta tem como resposta o mistério que é Joshua Raziel e nem eu posso responder.

- O mistério também é aquilo que aconteceu com ele?

- Também. O que estou tentando dizer é que quando a espada, a Dádiva de Deus, foi usada pelo pai de Joshua para ferir Arazyel...

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A Arma Secreta de Deu

William olhou surpreso para Maria que pareceu analisar a situação por alguns minutos e continuou:

- Quando Joshua tocou na espada pela primeira vez e não conseguiu tirá-la, ele não sentiu nada porque ela estava “adormecida”, afinal uma dádiva não é dada facilmente. – explicou Maria, como se ela também tentasse entender. – Talvez tenha sido por isso que Raziel não conseguiu arrancar a arma da estátua, afinal, uma dádiva é algo que é dado ou cedido e não tomado à força. Acredito, porém que quando você a entregou foi como se ao tocar na bainha da arma parte do sangue corrompido de Arazyel, que em algum momento esteve em contado com a espada fez o mesmo com Joshua.

- Então o sangue amaldiçoado ficou mais forte que o abençoado?

- De certa forma... – falou Maria, pensativa. – Você entendeu?

- Claro. - falou William animado. —É como se o sangue de Joshua tivesse que manter certa estabilidade entre o que é bom e o que é ruim, mas quando

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A Arma Secreta de Deu

ele usa a Dádiva de Deus tudo se descontrola certo?

- Nossa! Você entendeu mais do que eu!

A porta grossa se abriu ferozmente e Joshua entrou com passos firmes e apontou com seu dedo indicador para o menino que estava sentado em uma cadeira de madeira:

- Você... Você é o mais confiável aqui, eu sei disso, todos sabem. Meus pais só contaram onde estavam escondidos para uma pessoa e você, Jesus, é o mais confiável. Era o argucio do segredo deles.

- Raziel...- Por quê? – gritou Joshua,

raivosamente. – Por que traiu meus pais? Eles confiaram em você.

- Você está pensando como todos e deixando-se tomar por conclusões obvias.

- Você devia ter guardado o segredo. Deveria tê-los protegidos.

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- Seus pais sabiam os riscos. – falou Jesus um pouco mais ríspido. – Podemos conversar ou veio aqui somente para gritar?

Joshua respirou fundo colocando a mão esquerda na cabeça expressando sua indignação.

- Por sua culpa... – começou a falar o rapaz calmamente, tentando manter a calma. – Por sua culpa meus pais estão mortos. Meus pais! Tudo que quero saber é por quê... Por que traiu a eles, Jesus?

- Você tem razão em dizer que seus pais foram traídos, mas não fui o culpado.

- Ah, claro!- falou Joshua tentando controlar sua indignação. —Você nunca tem culpa de nada.

- Realmente eu fui à escolha de seus pais para que guardasse o segredo do esconderijo, mas naquela mesma noite, poucos minutos antes da partida dos dois, nos reunimos novamente. Todos esperavam que eu guardasse a localização de vocês e por isso, no último minuto, resolvemos que eu não seria a melhor indicação e outra pessoa

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foi escolhida para que o segredo fosse revelado.

- O que está dizendo? Outra pessoa?

- Acredite, se eu soubesse onde seus pais estavam naquela noite eu mesmo teria ido protegê-los, mas eu não tive essa escolha.

- Quem? – perguntou Joshua, seriamente: - Quem foi o novo escolhido?

- Nem mesmo eu tenho essa resposta.

- Claro bem típico. Porque você Senhor de tudo e todos saberia de algo assim, não é mesmo? – ironizou.

Jesus bateu na mesa seriamente e se levantou olhando firme:

- Tudo que estou pedindo Raziel é que por um minuto acredite em mim. Um minuto! Eu não fui o delator de seus pais e não sei quem foi. O poder de protegê-los naquela noite não estava em minhas mãos. Por que não acredita em mim?

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- Porque não tenho motivos. Eu vi Jesus... Observei a dor das pessoas lá embaixo, morte, fome, doenças... Todas elas rezam para você, pedem paz e sossego e você não faz nada. Por isso, você não pode pedir para que eu acredite em você. De onde eu vim todos os dias, as pessoas clamam por um salvador enquanto morrem.

- Não repita o que você acabou de dizer. Eu faço tudo que posso.

- Parece não ser suficiente. – falou Joshua, sorrindo ironicamente. – Sendo assim, só me resta acreditar que Arazyel é mais poderoso que você.

- Está com raiva de mim Raziel, ou de não conseguir controlar seus próprios sentimentos?

Um minuto se silêncio cortou a sala e Joshua engoliu a seco, era uma pergunta sobre um assunto que não estava pronto para falar.

- Sabe muito bem, você é mais do que aparenta ser. – falou Jesus, recuperando sua calma. – As pessoas aqui conhecem a Joshua Raziel muito mais do que você mesmo, isso te

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assusta? E hoje no templo, você perdeu o controle por um momento e essa fração de segundo foi o bastante para que degolasse um ser vivo.

- Ele ia nos matar.- Mesmo assim, doeu em você, não

foi? Você sabe que ele respira, pensa, sente... Sabe o que aconteceu não é? Tem medo de você mesmo. Não seria a hora de aceitar minha ajuda?

- Está querendo que eu peça? Que eu me ajoelhe aos vossos pés e reze?

- Por que tem tanta raiva de mim?- Por que não me deixa em paz?- Se é isso que pensa, acho que

nossa conversa termina aqui. Deveria tentar encontrar primeiro a paz dentro de si para depois avaliar o resto do mundo.

- Obrigado por me ceder uns minutos de sua atenção. – falou Joshua, se virando para a porta que se abriu. – Pena que eles não serviram de nada.

Jesus respirou fundo e ficou pensativo.

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As estrelas brilhavam como faróis.A lua cheia parecia servir como

holofote para Maria, quando Joshua saiu do castelo e a encontrou segurando as rédeas do seu cavalo e de Joshua.

A moça vestia um leve vestido de cor branca, quase arrastava no chão, suas mangas cobriam seus braços até perto de seus dedos. No rosto seus lábios vermelhos contracenavam com sua pele branca e seus olhos azuis sorriram ao ver o rapaz.

Joshua respirou fundo e passou a mão direita no cabelo timidamente. Suas roupas pareciam roupas antigas, porém ainda eram novas. Uma camisa creme de mangas compridas sem botões, somente alguns fios que deixavam parte do peitoral do rapaz a mostra e calça de tecido leve na cor creme.

- Tem certeza? – perguntou Joshua, pegando as rédeas de seu cavalo.

- Qual o problema Joshua Raziel? – perguntou Maria com ar de provocação enquanto montava. – Está com medo?

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- Medo? – falou Joshua, montando. – Aventura faz parte da minha vida rainha.

- Muito bem, aceita uma corrida?- Até onde?- Até onde eu te levar, você ficar

atrás de mim mesmo. Vai perder a corrida, enfim, sem perigo de se perder.

- É o que veremos. – falou Joshua, acariciando seu Filho do Vento. —Não vamos deixá-la ganhar, certo Suspiro?

- Suspiro?- É o nome que dei a ele. – explicou

Joshua.- Sabe Raziel... Você fala de mais.Dizendo isso Maria fez um

movimento com suas rédeas e seu cavalo começou a correr pelas ruas da cidade.

Joshua sorriu e Suspiro começou a correr cortando o vento como sempre fazia.

As pessoas que estavam nas ruas e em suas casas olharam sorridentes aos

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dois jovens que passavam como o vento, lado a lado.

Soldados abriram o portão da cidadela e os jovens passaram em alta velocidade pelos muros da cidade, adentrando sem parar pela floresta.

- Está indo bem Raziel. – gritou Maria, enquanto seus cabelos se esvoaçavam.

- Você ainda não viu nada, vamos Suspiro!

Suspiro aumentou a velocidade de seu galope e o rapaz passou o cavalo da moça em disparada, deixando um pouco de poeira.

Um tronco de árvore caído na floresta não foi problema para Suspiro, que saltou belamente o obstáculo, enquanto Joshua se abaixou para desviar de alguns galhos baixos quando de repente o animal parou sua corrida.

Pedregulhos despencaram por um abismo bem à frente e gotículas de água podiam ser sentidas vindas de uma cachoeira bem perto.

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Joshua respirou animado e olhou para a grande cachoeira a sua frente, com uma queda d’água exuberante, a qual desaguava em um rio corrente.·.

- Raziel. – falou Maria, passando pelo rapaz continuando a cavalgar pela beirada da cachoeira. – Vai ficar aí parado?

Joshua sorriu e Suspiro não precisou de um novo aviso para começar a percorrer seguindo o cavalo da rainha, que ao pisar na água que costeava a cachoeira, fazia com que leves gotas ficassem para trás molhando o rosto do jovem Raziel. Os pingos pareciam ser de cor néon por causa do reflexo da luz da lua naquela noite.

Maria olhou para trás e ficou surpresa ao ver que não havia rastro de Suspiro, quando sentiu alguém batendo em seu ombro levemente:

- O que está procurando lá atrás? – perguntou Joshua, quando a moça olhou para o lado. – Pisque de novo e não estarei mais aqui.

Os dois cavalos permaneceram correndo lado a lado, acompanhando

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toda a cachoeira, descendo até o rio, quando Maria começou a diminuir o galope de sua montaria até parar.

- Foi uma bela corrida. – falou Maria, sorrindo enquanto desmontava. – Agora vamos a pé.

- Onde?- Não tenha medo, não te vou

sequestrar.Maria entrou no rio puxando as

rédeas de seu cavalo e Joshua a seguiu passando pela queda de água da cachoeira.

Atrás do véu de noiva de água cristalina escondia-se uma caverna.

- Está bem à frente. – falou Maria, soltando seu cavalo que se recolheu para um canto escuro da caverna. – Deixe Suspiro aqui.

- O que está à frente? – perguntou Joshua, soltando Suspiro.

- Feche os olhos.- Não... Não mesmo.

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- Vamos. – falou Maria, indo até as costas do rapaz e colocando suas mãos nos olhos do rapaz. – Você me pediu para confiar em você quando estávamos cercados pelos soldados de Lúcifer, lembra? Agora você terá que confiar em mim.

Não podendo negar Joshua se deixou vendar pelas mãos da rainha, que lhe conduziu para frente alguns passos e falou suavemente no ouvido do rapaz, antes de deixá-lo ver:

- Você me resgatou e sou grata por isso. Agora chegou minha vez de resgatar uma parte de Joshua Raziel.

Quando Joshua pôde ver onde estava, encontrou a lua cheia por trás de uma velha cabana.

Logo atrás uma cachoeira, seguida de várias outras quedas da água, dentro de um rio corrente e uma grande floresta que se perdia de vista. O barulho de animais era ouvido passando pelas árvores.

- Foi aqui que seus pais... – começou a falar Maria, quando foi interrompida.

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- Moraram. Eu sei. – falou Joshua, alegre. – A cabana, a cachoeira onde mamãe e papai tomavam banho e me davam banho. A floresta... Lá tem frutas deliciosas, me lembro do gosto e da sensação de meu pai voando comigo para pegá-las, já provou delas?

- Já, já. – falou Maria, rindo do jeito animado do rapaz. – São realmente inesquecíveis.

- E os animais? Lembro-me deles também, mas como se lembrar de tudo isso?

- São lembranças celestes. É assim que chamamos. São momentos que você viveu aqui antes de ir viver na terra. São apagadas quando você nasce lá embaixo, mas como você não seguiu esse ciclo acredito que...

- Isso é incrível!- falou Joshua, animado. – Senti o vento? Quase posso ouvir a voz de meus pais. Em noites assim, meus pais faziam uma fogueira em frente à cachoeira, logo ali, eles conversavam sobre a vida... Mamãe sempre pegava uma fruta diferente para provarmos, nunca era a mesma.

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- Essa floresta é enorme e a quantidade de frutos é quase incontável. Não quer entrar na cabana?

- Na cabana...? Posso?- Claro!A porta velha se abriu com

facilidade. Não era uma moradia grande, mas ainda continuava confortável.

Os lençóis ainda estavam desarrumados em cima do colchão furado por algumas flechas. Era visível que as pessoas que moravam ali tiveram que sair às pressas.

Maria entrou na cabana e encontrou Joshua sentado na cama, olhando pensativo para a bainha de uma espada que segurava. Era preta como ébano e adornos de cor prata em alto-relevo.

- Eu não trouxe você aqui para cair na tristeza. – falou Maria, sentando ao lado do rapaz. – Acabo de pensar que talvez não tenha sido uma boa ideia afinal.

- Não estou triste, acredite, ao contrário. – falou Joshua observando

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toda a cabana, e revivendo uma lembrança em cada canto. - Foi aqui que tudo começou, onde tudo podia ter sido diferente...

- Se fosse diferente não estaríamos aqui, não desse modo. Você teria se tornado um soldado do exército de Jesus e não nos veríamos com tanta frequência. Provavelmente já estaria casado e teria filhos com uma moça que você salvou em uma de suas aventuras. Não conheceria o Will e não teria esse jeito tão humano.

- Talvez tenha razão. Essa bainha vazia era da espada de meu pai. Ele colocava sua espada ali, perto da cama. Mamãe, que também não deixava suas armas de lado, as colocava do outro lado. Assim dormíamos a maioria das vezes os três na mesma cama, protegidos.

- Tenho certeza de que foram muito felizes.

- Somos. – falou Joshua, se levantando. – Essa bainha agora é minha, vai ser o descanso da Dádiva de Deus, dentro dela a lâmina de minha espada dormirá. Assim meu pai cuidará

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de minha arma como sempre quis. Quanto a minha mãe, sei onde posso encontrar uma lembrança dela.

Joshua saiu da cabana com passos apressados e Maria o seguiu até a beirada do rio, onde observou o rapaz ir até o meio e se abaixar pegando um par de luvas negras e um de cor branca com dourado.

- Essas luvas... – falou Joshua, se aproximando de Maria e sentando-se na beirada do rio. – Eram de minha mãe, as brancas. As pretas eram de meu pai. Eles enterraram debaixo de uma pedra no meio do rio como sinal de que não lutariam mais. Quero que fique com as de minha mãe.

- Não posso. – falou Maria, sem saber o que dizer. – Agradeço, mas não.

- Vai precisar delas quando a guerra de verdade começar. – falouJoshua, colocando as luvas nas mãos da moça. – Quero você liderando um exército de arqueiros.

- Josh... – falou a moça sentando-se na beira do lago. —Não vou poder lutar, sou uma rainha tenho deveres a cumprir.

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Se acontecer algo comigo Jesus não terá ninguém para lhe defender.

- Você vai liderar um exército de arqueiros. – falou Joshua, segurando as mãos da moça com segurança e sorrindo confiante. – Vamos juntos vencer essa droga de guerra.

- Não sabe o que está me pedindo. – falou Maria, se levantando e se afastando. —Eu não posso...

- Só estou pedindo ajuda e você pode. – falou Joshua, seguindo a moça e a segurando pelo braço. —Sabe disso, você pode!

- Sou apenas uma rainha. Não por sangue ou qualquer poder divino, mas simplesmente por ser mãe do filho de Deus e pela fé que tenho nele. – aproximando- se do rosto do rapaz, como se a proximidade fosse convencê-lo. – Não sou uma guerreira.

- Não somos aquilo que mostramos ser, mas o que nossas atitudes dizem.

- Belas palavras para quem estava preocupado com o que tinha acontecido algumas horas atrás.

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A Arma Secreta de Deu

- Sabe que é diferente. – falou o rapaz, soltando a rainha. – Você conheceu meus pais?

- Não tanto quanto gostaria.- Saberia dizer se eles tinham

algum amigo muito próximo? Alguém a quem contariam um segredo?

- Eles conheciam muita gente. O que está procurando?

- Um delator. Estive pensando sobre a guerra e andei tendo algumas ideias.

- Estou ouvindo.- Quantos temos do nosso lado?- Uns cinquenta...- Milhões?- Trilhões. – respondeu Maria

sorrindo. – No que está pensando?- Quantos do lado de Dele?- A mesma quantia ou o dobro, não

sabemos ao certo. A cada dia ele carrega crianças para o lado deles e as corrompe.

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A Arma Secreta de Deu

—Um exército de crianças? Por que me sinto tão enojado de repente?

—O seu plano é...?—Conhece o território onde podem

estar?—Claro!—Perto do castelo de nosso amigo

das trevas?—Não muito, mas é mais longe do

nosso.—Território neutro?—Território dos Luciferus.—Você me mostra o caminho e eu

cuido do resto. Sendo perto daquelas criaturas é melhor eu ter uma conversa com elas antes. Depois cuidamos das crianças.

—Estamos falando de grandes criaturas com garras, asas e bicos afiados.

—E eu estou falando de uma conversa. Diga para que lado eu deva ir.

—Eu vou com você.169

A Arma Secreta de Deu

—Pensei que tinha dito que era uma rainha não uma guerreira.

—Você está atrás de salvar o meu povo, portanto nada mais justo, não acha?

—Não! Diga a direção.—Nada disso. Ou você me leva

junto ou nada feito Raziel.Joshua sorriu ironicamente e

começou a caminhar na direção de Maria:

—Onde fica?—Nem vem. – respondeu Maria,

andando de costas para manter distância. – Mantenha a distância.

—Me diz onde fica.—Não mesmo.—Maria...Maria deu mais um passo para trás

e caiu de costas no chão. Joshua tentou impedir a queda, mas acabou desabando também.

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A Arma Secreta de Deu

A jovem rainha passou a mão em seu rosto e começou a rir, enquanto sentava-se.

—Do que está rindo? – perguntou Joshua, deitando-se melhor no chão.

—Eu vou junto e nada que você falar ou fizer vai mudar minha decisão.

—É uma ordem real?Os jovens aproximaram seus

rostos e a moça sorriu, enquanto o rapaz passou a mão em seu cabelo.

Os raios lunares fizeram os rostos dos jovens assumirem uma cor azulada e somente eles impediam a aproximação perigosa dos dois.

Um vento forte pareceu dar o passo inicial para o que veria a seguir e com ele todo o som da cachoeira, das folhas das árvores e de qualquer animal que se movesse parou.

- Não sei o que estamos fazendo agora. – sussurrou Joshua suavemente, enquanto engolia a seco. – Porém desde o momento em que ti encontrei, tive vontade de...

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A Arma Secreta de Deu

Parecia que uma força invisível segurava o olhar de ambos.

O vento continuava a soprar, esvoaçando os cabelos de Joshua e os de Maria fazendo-a mover serenamente para o lado.

- Uma rainha e um guerreiro. – continuo Joshua - Acha que isso vai acabar bem? – perguntou Joshua em transe.

- Sabe Joshua Raziel, você pensa de mais.

Maria colocou sua mão direita na nuca de Joshua e a distância que separava os lábios dos jovens foi transpassada por um beijo.

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A Arma Secreta de Deu

Entrada para o jardimESTREITAS LIGAÇÕES

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A Arma Secreta de Deu

O clima estava agradável.

A floresta havia ficado para trás e já não se podia ver a torre mais alta do castelo ou qualquer construção.

O vento soprava forte de cima da montanha e o vestido de Maria tremulava quando ela desceu de seu cavalo e se aproximou de Joshua Raziel que olhava para baixo do alto em direção a um abismo.

- Está me esperando há muito tempo? – perguntou a moça, ajeitando o arco e a algibeira de flechas que carregava nas costas. – Suspiro está correndo cada dia mais rápido.

- Aquela é a aldeia? – perguntou o rapaz pensativo.

Maria olhou para onde o rapaz mostrava e seus olhos encontraram uma pequena aglomeração de casas feitas de pedra e folhas.

Quando Joshua se referiu ao lugar como aldeia ele estava sendo bastante otimista.

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A Arma Secreta de Deu

O lugar parecia mais um monte de pedras e folhas juntas sem nenhum propósito, a não ser formar um semicírculo ao redor de uma construção maior. Embora fosse mais imponente que as demais ela ainda não tinha formato de nenhuma construção que os dois tenham visto. Parecia um monte irregular de terra.

-Você tem certeza que deseja ir até lá? – perguntou Maria, preocupada. – Não temos contato com eles a eras.

- Como chegamos até lá?

- Temos que descer a encosta da montanha e se aproximar caminhando no espaço aberto. Vamos ser visto assim que dermos o próximo passo. Os Luciferus possuem uma visão muito boa.

- Espero que estejam de bom humor.

A encosta da montanha era escorregadia e íngreme. Pedras provocavam deslizamentos e afiados espinhos serviam como defesa natural da descida.

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Longe dali, vigiando do outro lado da montanha, há centenas de quilômetros, um Luciferus que parecia uma estátua ajoelhada levantou-se bem devagar, seus olhos haviam encontrado suas próximas presas e pela primeira vez, elas estavam vindo em sua direção e não precisariam ser caçadas.

Armers agitava sua cauda nervoso, seu mestre andava pensativo nos últimos dias e geralmente no final do período de silêncio grandes ações tinham de ser realizadas, façanhas idealizadas por seu dono.

- Aproxime-se. – ordenou Arazyel após uma reflexão.

A criatura aproximou-se devagar e esperou por suas ordens.

- Quais as últimas notícias?

- Nosso informante diz que espionar Raziel está sendo bem proveitoso. O rapaz tem dito discussões alteradas como Jesus. Em sua última façanha conseguiu resgatar a Dádiva de Deus da boca do leão de esmeralda e parece ter elaborado um plano sobre as crianças desaparecidas.

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A Arma Secreta de Deu

- Irá tentar resgatá-las. Bem previsível.

- Meu mestre se me permite dizer tentar um resgate tão audacioso seria burrice. Nosso espião informou que ele saiu do castelo com a rainha e ainda não retornou.

- A rainha e o rapaz tem passado muito tempo juntos desde que ele a resgatou, não acha Armers? Ele ainda acredita que conseguiu me enganar fingindo ser um negociador?

- Creio que sim, mestre. Ele estava ocupado demais contando como realizou o resgate para pensar em como foi fácil.

- Fácil para ele e proveitoso para mim. Foi à oportunidade que esperei por muito tempo. Chegar perto dele e sentir toda aquela força e energia me fez ver porque a profecia diz que ele será tão importante. Diga-me ele ainda não voltou de seu “passeio” com a rainha não é mesmo?

- Ainda não meu senhor.

- Nosso espião não sabe onde ele está?

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- Não senhor. Se aproximar fará com que o jovem perceba sua presença por mais que ela seja discreta.

- Diga a nossa espião que comece a se arriscar, quero detalhes dos acontecimentos no castelo. Enquanto isso se prepare para invadir o lugar você mesmo. A ocasião não poderia ser mais perfeita. Enquanto Raziel brinca com a rainha, você me fará um favor e causará muita dor ao jovem. Siga minhas instruções corretamente e será agraciado.

As instruções foram como sussurros do vento e quase que imediatamente dois cavalos negros partiram em velocidade em direção ao castelo deixando passos de horrores por onde passavam.

Joshua e Maria se aproximaram da primeira construção da aldeia e quando iam chegar mais perto uma flecha foi fincada grosseiramente na frente dos dois.

- Estão no território errado. – falou um dos Luciferus, de cima do telhado da casa. – Estão longe demais de casa.

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- Viemos em paz. – informou Maria, confiante.

- Isso é o que dizem todos.

A fera saltou e batendo suas asas poucas vezes pousou na frente dos jovens.

- Queremos conversar com seu líder. – falou Maria com ar de soberania. – Sou Maria, mãe do rei Jesus e desejo conversar.

- Ele já foi avisado da invasão de vocês. Deve estar se aproximando.

- Não invadimos nada. – falou Joshua seriamente.

- Sim, vocês invadiram. – falou outro Luciferus se aproximando com uma legião.

O último Luciferus que falou era maior que os demais.

De longe podia se sentir o ar majestoso que ele detinha.

Os panos rasgados que vestiam seu corpo eram de cor dourada e seu tamanho equivalia o triplo de seus

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A Arma Secreta de Deu

companheiros de espécie, que já eram altos por natureza.

Ao pisar no chão suas patas rachavam a superfície e seus olhos eram cinza e vazios.

O soberano se aproximou de Joshua e ficou de pé, enquanto seu peito cheio de músculos passou pela cabeça do rapaz ficando de frente para o abdome da criatura que lhe olhou de cima com ar de repugnância.

- Grande Karnak, viemos em paz. – falou Maria, fazendo uma reverência longa com seu vestido. – Queremos conversar. Eu sou...

- Eu sei quem você é. A pergunta é o que fazem aqui armados se querem conversar.

Suspiro bateu forte sua pata duas vezes no chão e a bainha da Dádiva de Deus se mexeu em sua cela. O animal pareceu querer desafiar Karnak.

- Quieto Suspiro. – falou Joshua, acariciando seu cavalo. - Estamos só conversando, não é mesmo?

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- Quem é você? – perguntou Karnak, olhando novamente Joshua com seu olhar superior.

- Sou Joshua Raziel, vim falar de uma aliança entre os Luciferus e o povo do Jesus.

Um dos Luciferus que acompanhava tudo arregalou os olhos e seu bico tremeu.

Karnak sorriu. Sua gargalhada demoníaca invadiu o ar como um trovão em tempo de sol e os Luciferus que acompanhavam seu rei também riram.

- Você é Joshua Raziel? – perguntou Karnak, ainda rindo e olhando para seus companheiros. – O rapaz que todos esperam?

- Ele é o guerreiro que estávamos esperando. – falou Maria, desarmando-se. – Coloco meu arco no chão como sinal de paz.

- Muito bem, mesmo sendo quem diz ser perdeu seu tempo rapaz. Luciferus não fazem alianças. Principalmente com alguém que matou dois deles no templo.

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- Eles nos atacaram. – falou Joshua, acariciando Suspiro na tentativa de manter-se calmo.

- Eles estavam fazendo o trabalho deles. - falou Ranar afastando-se com grande tristeza. - Proteger a espada que chamam Dádiva de Deus era missão deles.

- Se não fazem alianças com ninguém, porque guardavam a minha espada?

- Há muito tempo essa missão nos foi passada e como você a retirou, ela não é mais problema nosso.

- A guerra irá começar. - falou Joshua, se aproximando de Karnak deixando Suspiro de lado.

- Ela já começou. Não percebe isso?

- De que lado o seu povo irá lutar? – falou Joshua, olhando discretamente para Maria. – Uma pessoa me disse que os Luciferus são um povo muito individualista...

- Lutamos somente pelo o que acreditamos.

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- O que lhe impede de acreditar em mim?

- É jovem demais para ser o guerreiro da lenda. Eu esperava mais!

- Posso ser jovem, mas vou ser um dos que irá ficar de pé quando tudo isso acabar. Não queremos que o nosso povo seja extinto, não é?

- O que o faz pensar que vencerá?

- Prefiro ser um otimista e ver as coisas de um jeito particular, do que ser um pessimista e não lutar por um futuro.

- Propõe então que eu o siga Raziel?

- Proponho que lute pelas coisas certas. - falou Joshua respirando fundo. - Não peço que morra idealizando um mundo melhor, mas que o ajude a construir.

- Suas palavras são fortes para um jovem, mas somente elas não podem me convencer. – falou Karnak, virando as costas ao casal de visitantes. - Voltem para seu território.

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- E quanto a sua ajuda? – perguntou Maria. – Vamos tê-la?

- Paciência é uma virtude. Se na próxima lua que surgir nenhum mensageiro de meu povo procurar por vocês, então saibam que sua invasão em meu território foi considerada ofensiva e sem propósito. Agora saiam de minhas terras.

- É um bom líder Karnak. – falou Joshua, montando em Suspiro. – Espero que tenha um povo para governar no futuro.

A lua já estava alta quando Joshua e Maria conseguiram atravessar a floresta, mas a visão da torre principal que eles pensavam que iria dar tanto alívio, por terem conseguido voltar para casa, não foi tão generosa.

Uma nuvem negra de fumaça saía da construção e Anjos tentavam apagar o fogo com baldes cheios de água.

- Vá à frente. – falou Maria, segurando as rédeas de seu cavalo. – Suspiro é mais rápido, podem precisar de ajuda.

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A Arma Secreta de Deu

- Vamos! – gritou Joshua e Suspiro saltou contra o vento.

Os cascos de Suspiro pareciam não tocar o chão de pedra da cidade quando Joshua entrou como relâmpago e as pessoas abriram espaço quando viram o jovem se aproximar.

- Josh... – falou Emanuelle, aliviada, vendo o rapaz desmontar.

O rosto de Emanuelle estava borrado por cinzas como sua roupa e suas mãos. Os olhos mareados da jovem sorriram.

- O que aconteceu? – perguntou Joshua, se aproximando da torre. – Estão todos bem?

- O fogo começou à tardinha. Conseguimos retirar todos da torre.

- Como aconteceu?

- Alguém de dentro do castelo. Parece ter jogado uma tocha nas cortinas do quarto.

- Quarto? No meu quarto? Anderson estava lá? Ele está bem?

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- Ah, Josh nem tudo funciona só por causa de você. – falou Emanuelle, chorosa. – Não foi no seu quarto.

Joshua olhou seriamente para a moça e um pensamento ruim surgiu em sua mente.

- Onde está Will? – perguntou Joshua, empurrando Emanuelle e entrando na torre: - Onde ele está?

A respiração do rapaz era falha. Seus olhos estavam cheio de terror e suas pernas estavam pesadas de medo.

- Quando entramos no quarto dele já tinha acontecido. – falou a moça enquanto o seguia. - Os guardas viram uma sombra pulando pela janela, mas não identificaram ninguém.

- Onde ele está? – perguntou Joshua, irritado.

Emanuelle apontou para uma sala fechada e Joshua empurrou a porta entrando sem pensar.

Um grupo de Anjos rodeava uma cama onde William estava desacordado e antes que Joshua fosse até lá Anderson se aproximou:

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- Estão fazendo o possível.

- O que aconteceu com ele?

- A pessoa que incendiou o quarto parece ter feito alguma coisa antes com Will.

- O que?

- Ele foi envenenado. – falou Anderson com ar pesado. - Os Arcanjos estão tentando impedir que o veneno avance.

- Eles precisam extrair esse veneno e não impedir que ele avance.

- Por ora, impedir o avanço do veneno é o que podem fazer. O antídoto existe, mas tem de ser retirado da mesma criatura que forneceu o veneno.

- Quem e onde?

- Armers, a criatura das profundezas. Seu suor é veneno e seu sangue é o antídoto.

Maria entrou no castelo apressada e só teve tempo de ver Joshua que passou mais rápido por ela, seguido Anderson que pegava sua espada.

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A Arma Secreta de Deu

- Talvez possamos alcançá-lo antes que chegue ao vulcão. – falou Joshua, montando em Suspiro.

- Ele vai estar acompanhado. – falou Anderson, montando em seu cavalo. – Covardes nunca andam sem proteção.

Os cavalos com os dois jovens saíram em disparada enquanto Emanuelle se aproximou de Maria e colocou a mão em seu ombro como sinal de esperança.

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William

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ENCONTRO COM AS TREVAS

A crina de Suspiro parecia lâminas de fogo cortando o vento.

O animal estava fazendo o que nasceu para fazer. Sua cor branca lutava contra a escuridão da floresta. Seus olhos acinzentados brilhavam como fogo e sua cabeça imponente cortava o vento como se ele não fosse nada. Seus cascos pareciam trovões caindo dos céus a cada passada, que parecia estar satisfeito por poder correr tão rápido.

A camisa de Joshua esvoaçava com o vento. Seus cabelos tremulavam violentos e seus olhos permaneciam estreitos, por causa da velocidade, mas atentos a cada ponto da floresta.

Não foi preciso muito esforço para que Joshua conseguisse avistar seus inimigos. Naquele momento, ele reafirmou o que era dito outrora, um filho do vento quando encontra em seu dono: a força e determinação que precisa, torna-se a melhor de todas as montarias e alcançar os cavalos normais

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que seus oponentes usavam não era problema.

Eram no total de dois homens que batiam em seus cavalos tentando chegar ao seu destino o mais rápido possível.

Entre eles estava Armers com sua cauda chicoteando sua montaria, enquanto de sua boca saía entre seus dentes afiados sua saliva.

O segundo cavalheiro em fuga era quase uma sombra. Um homem vestido de preto, montado em um cavalo da mesma cor. A capa negra que vestia parecia com uma mão escura tocando as árvores por onde passava.

Suspiro correu pelo lado direito de quem perseguia e subiu uma pequena montanha com seus cascos fortes sem esforço, ele diminuiu sua velocidade ao perceber que os perseguidos faziam o mesmo.

Os perseguidos por Joshua Raziel haviam parado. Achavam que estavam seguros depois da distância que percorreram a galopes tão rápidos. Os cavalos precisavam descansar, o acompanhante de Armers ascendeu uma

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fogueira e os dois sentaram-se na relva verde da floresta com olhos atentos, embora tivessem certeza que não haviam sido seguidos.

Meia hora depois Anderson encontrou Joshua. O cavalo do rapaz não um Filho de Vento como Suspiro, por isso estava cansado e com sede como a montaria de seus inimigos.

Joshua observava em silêncio seus oponentes enquanto dava um nó em uma corda. A lâmina da Dádiva de Deus brilhava ao seu lado, a espada parecia saber que logo saciaria sua sede de sangue novamente.

Suspiro estava comendo algo entre as árvores escondido. Sua cor branca poderia despertar a atenção de seus inimigos, por isso estava afastado.

- Estão descansando. – falou Joshua, passando a corda por sua cintura com força, olhando para baixo do alto onde estava. – Você estava certo Armers não está só. Sabe que tipo de guerreiro é aquele com ele?

- Um dos filhos de Lúcifer. – falou Anderson, verificando a lâmina de sua

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espada. – Um Satã. A pele deles é dura como uma armadura. Só existem dois pontos vulneráveis como qualquer boa proteção. Entre as pernas e abaixo do braço, acima das costelas. Ele é forte, rápido e sua espada é mais forte que a minha.

- Muito bem, então eu cuido dele. Você cuida de Armers.

- Devemos pegar Armers vivo. Precisamos do antídoto.

- Quanto tempo acha que Will ainda tem?

- O veneno é vagaroso. Ele aumenta a temperatura do corpo até que os órgãos não suportam mais. Tivemos sorte de o socorrermos logo, mas devemos nos apressar.

Joshua pegou sua espada e seu brilho vermelho subiu por seu braço. Seus olhos ficaram cinza e faiscantes, enquanto o rapaz fincava duas flechas no chão e soltava um arco perto delas.

- Luto com o Anjo corrompido aqui em cima e você luta lá embaixo. – falou Joshua acochando mais o nó da corda em sua cintura e dando passos para trás.

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– Só salte para pegar Armers quando eu voltar para cá.

Joshua olhou para a corda que rodeava um grosso tronco de árvore e a viu esticar completamente enquanto Suspiro bateu fortemente no chão com sua pata e observou a outra ponta da corda na cela do animal.

- Vamos lá. – falou Joshua, ajeitando as luvas negras de seu pai que ele usava. – Que meus pais me ajudem!

Após o pronunciamento, Joshua começou a correr até a beirada da montanha onde estava e saltou. A corda foi se desenrolando no chão, enquanto o rapaz esticava os braços no meio de sua queda.

- Não podemos demorar muito aqui. – falou Armers, enquanto se aquecia perto da fogueira. – O mestre ficará alegre com nosso sucesso.

- Espere! – falou seriamente o Satã que lhe acompanhava. – Algo se aproxima.

O Satã levantou-se atento e segurou a bainha de sua espada.

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Sem aviso os braços de Joshua, que estava dependurado de cabeça para baixo, passaram por baixo dos braços do guerreiro e os abraçaram com força.

- O que? – gritou Armers, assustado.

- Agora! – gritou Anderson.Suspiro começou a correr com

força, fazendo Joshua ser puxado para cima rapidamente por causa da outra ponta de corda que estava presa na cela do animal e o rapaz e o Satã foram inçados para cima.

No momento em que Joshua chegou ao alto da montanha o rapaz jogou o guerreiro no chão e cortou a corda de sua cintura, segurando sua espada com força enquanto a lua brilhava em suas costas.

Anderson saltou rápido e derrubou Armers que tentava fugir em seu cavalo, aproveitando para amenizar sua própria queda no corpo de seu adversário.

- Vai se arrepender por isso, rapaz tolo. – falou o Satã seriamente, enquanto erguia sua espada.

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- É o que veremos.Joshua girou a Dádiva de Deus

entre seus dedos e investiu sua lâmina contra seu oponente que defendeu o golpe com sua espada. As duas lâminas ficaram se roçando com força uma contra a outra até que seus donos se afastaram e ficaram dando passos em círculo analisando um ao outro.

Armers rolou no chão e apontou duas espadas contra Anderson, que investiu um golpe contra ele, mas o demônio acabou conseguindo desviar-se e usou sua segunda espada para perfurar o pescoço do jovem de onde saiu sangue.

O Satã investiu feroz e rápido contra Joshua que defendeu seus golpes com destreza, rolando no chão e o empurrando com seus pés e acertando o peito de seu oponente com a Dádiva de Deus, sem qualquer efeito. Sua pele era realmente dura como uma armadura.

- É só isso que sabe fazer? – perguntou o Satã sorrindo. – Agora é minha vez.

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Dizendo isso asas negras surgiram nas costas do Satã e ele saiu voando em direção de Joshua que tentou escapar, mas foi pego pelo pé e erguido em direção aos céus por seu inimigo.

- Você pode ser ágil como guerreiro. – falou o Satã voando o mais alto que podia ainda o segurando de cabeça para baixo. – Mas não vai sobreviver a essa queda.

Raziel tentou aproveitar que estava de cabeça para baixo para acertar sua espada entre as pernas de inimigo, ponto fraco, segundo Anderson, mas o adversário soltou seu pé no momento exato do golpe.

Joshua começou a cair sem defesa em direção ao chão. Seu corpo girou no ar e os olhos do rapaz olharam com medo o chão que se aproximava, quando algo rápido o segurou pela camisa.

Raziel olhou para cima e observou perplexo o Luciferus que o havia salvado, voando com suas garras afiadas brilhando na escuridão da noite.

- Você está bem Raziel? – perguntou a fera, quando colocou o

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jovem a salvo no chão. – Sou Ranar, filho do rei Karnak, vim avisar que pode contar com os Luciferus para protegê-lo, até...

A frase foi interrompida pelo Satã que veio voando rápido e agarrou Ranar pelas costas. Os dois lutadores rolaram pelo chão entre golpes, chutes e gritos de dor, enquanto Raziel pegou o arco e uma das flechas que havia deixado fincadas ao chão.

Ranar fincou suas garras dos pés no peito de seu adversário e o jogou para ar com esperança de afastá-lo, nesse momento Joshua disparou sua flecha.

A seta girou cortando o vento e derrubou a espada do Anjo de suas mãos, então o jovem pegou a outra haste que estava fincada no chão e a preparou para disparar.

O Satã olhou raivoso para o jovem, de seus olhos saíram fogo e começou a voar rapidamente na direção de seu inimigo, foi quando Ranar o acertou novamente com suas garras no rosto. O barulho foi como se uma barra de aço

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atingisse violentamente outra e, os dois guerreiros sentiram dor.

Quando o Anjo atingido foi derrubar Ranar com um murro, só sentiu uma dor fina vinda debaixo de seu braço e quando olhou viu a flecha de Raziel fincada em seu ponto fraco acima das costelas e olhou o jovem que segurava ainda o arco com firmeza.

O Satã caiu morto no chão fazendo poeira subir e Joshua abaixou seu arco respirando forte.

Anderson foi jogado contra uma árvore e Armers subiu rapidamente contra seu cavalo, mas o jovem jogou sua espada contra a pata do animal que caiu indefeso sangrando e a criatura rolou no chão.

- Onde pensa que vai? – perguntou Anderson, segurando Armers pelo pescoço.

- O que querem de mim? – perguntou Armers.

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Suspiro

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COMO A PRÓPRIA SOMBRA

A porta da sala se abriu e o corpo de Armers foi jogado ao chão, onde escorregou e bateu na parede com violência.

Os Anjos que rodeavam a cama onde William estava desacordado olharam com repugnância para criatura que tentava se levantar, enquanto Joshua se aproximou dela e a ergueu com uma de suas mãos segurando a Dádiva de Deus com a outra, ele a direcionando a arma para o pescoço de Armers.

Os cabelos de Raziel estavam espetados e eram contornados por pequenos raios que pareciam sombrear sua cabeça, enquanto seus olhos soltavam faíscas maiores.

- Me deixe em paz. – gritou Armers em desespero, enquanto se contorcia. – Eu não fiz nada, não fiz nada.

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Os pés de Armers aranhavam a parede com suas unhas, diante do brilho que da ponta da lâmina da Dádiva de Deus encostada em seu pescoço.

-Pode soltá-lo agora Joshua. – falou Anderson, vendo a raiva do rapaz. – Ele não vai a lugar nenhum.

Raziel pareceu não ter escutado seu companheiro. As faíscas que saíam de seus olhos eram intensas e ele apertou mais o pescoço de sua presa.

- Peça para ele me soltar. – falou Armers, tentando fugir. – Ele está louco, eu não fiz nada.

- Não fez nada? – gritou Joshua com raiva.

Joshua arrastou Armers até o pé da cama onde William estava deitado e segurou sua cabeça forçando-o a olhar para o menino.

- Ele é só uma criança!- falou Joshua, apertando o pescoço de Armers.

- Está me matando! – gritou Armers sufocando-se.

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Uma gota de sangue desceu do pescoço de Armers, mas Joshua não sentiu pena continuou apertando com suas unhas o pescoço da criatura.

- Solte-o Josh. – pediu Maria, entrando na sala.

- Por quê?

- Você já o tem. – falou Maria, pegando um frasco pequeno das mãos de um Anjo e recolhendo um pouco de sangue de Armers que saía de seu pescoço. – Pronto senhores, isso deve dar para fazer o antídoto.

- Solte-me, seu louco. – falou Armers, tentando se soltar.

- Está tudo bem. – falou Maria, tirando os dedos de Joshua do pescoço de Armers. – Pode soltá-lo agora.

Armers caiu no chão, passou sua língua comprida em seu pescoço limpando seu sangue, enquanto se refugiava no canto na parede.

- Obrigado rainha. – falava Armers repetidamente. - Ele é louco, queria me matar.

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- Levem-no para a prisão. – falou Maria cordialmente. – Lhe entregue comida e água e certifiquem-se de que ele não precise de nada.

Dois Anjos saíram arrastando Armers e Maria respirou aliviada.

- Desculpe. – falou Joshua, guardando a Dádiva de Deus em sua bainha e enquanto seus olhos voltaram ao normal.

- Tudo bem. – falou Maria.

- É que eu ainda não consigo controlar a espada direito.

- Está tudo bem Josh, já passou. Vocês estão bem?

- Estamos. – falou Anderson, olhando se seu pescoço ainda sangrava. – Foi só um arranhão.

- Precisam descansar. Vou pedir para ninguém perturbá-los.

- Pare! – gritou um Anjo do lado de fora da sala.

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Gritos de medo foram ouvidos e a porta abriu com o corpo de um Anjo que foi jogado compartimento adentro e os três jovens olharam para Ranar que tentava se livrar de um Anjo que havia pulado em suas costas.

- Está tudo bem. – falou Joshua indo até Ranar. – Ele está conosco.

- Mas é um Luciferus. – falou um Anjo, confuso.

- Sim, é um Luciferus, mas ele salvou minha vida.

- Então Karnak mandou sua resposta. - falou Maria, observando Ranar que se via aliviado do peso em suas costas.

- Pelo menos temporariamente. – respondeu Ranar, seriamente.

- O que quer dizer temporariamente? – perguntou Anderson. – Pensei que os Luciferus tinham tomado sua decisão.

- A decisão ainda não foi acertada, completamente.

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- Você me disse que tinham tomado a decisão a nosso favor. – falou Joshua confuso.

- O que eu quis dizer foi que os Luciferus decidiram não se tornar omissos a guerra, mas o lado que vamos ficar ainda será decidido pelo conselho. Fui enviado para protegê-lo, caso decidam estar ao seu lado você ainda deve estar vivo. Sou Ranar, filho de Karnak o rei e devo provar que posso liderar meu povo protegendo você.

- Notícia realmente animadora. – falou Joshua, sorrindo ironicamente. – Venha vamos para o meu quarto para conversarmos.

A tarde chegou cansativa para os jovens que ficaram reunidos no quarto de Raziel.

Apesar de surgirem vários assuntos no momento todos tentavam achar a resposta para a sombra misteriosa que havia deixado o quarto de William antes do incêndio.

O corpo de Armers seria visivelmente reconhecido, portanto sua pessoa teria sido identificada e todos

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reconhecem muito bem o jeito de um Satã, então as duas hipóteses estavam descartadas.

- As histórias antigas contam sobre uma criatura sem definição. – falou Ranar, pensativo. – Mas são somente histórias.

- Os guardas foram bem específicos ao falarem de uma sombra e nada mais saindo pela janela. – falou Emanuelle, pensativa. – Não podem ter se enganado.

- Já ouvi falar da criatura sem definição, mas pensei que fosse somente uma história. – falou Maria pensando alto. – Talvez estejamos lidando com ela.

- Uma criatura sem corpo próprio. – falou Anderson. – Nada mais do que um vulto que ocupa espaços. Seria realmente um espião perfeito, difícil de detectar.

- Talvez tenhamos que perguntar ao próprio inimigo. – falou Joshua seriamente.

- Em que está pensando? – perguntou Maria.

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A Arma Secreta de Deu

As portas grossas da cela se abriram vagarosamente. Dois Anjos foram preciso para empurrá-las. Suas dobradiças velhas rangeram quando ela se abriu e a escuridão pareceu se afastar da pouco luz que entrou.

O chão de pedra polida estava em parte ensopado e as paredes velhas estavam lodosas.

- Podem me deixar a sós com ele. – pediu Joshua.

Os dois Anjos fecharam a porta e a escuridão reinou no lugar.

O som de um pingo de água caindo no chão ecoou no silêncio da cela e uma voz arrastada que parecia vir de todos os lados foi ouvida:

- Que honra a minha ser visitado por Raziel. – falou Armers.

- Quero conversar. – falou Joshua, tentando localizar a origem da voz. – Tenho perguntas a fazer.

- Não estou autorizado a responder nada.

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A Arma Secreta de Deu

- Quero saber sobre o espião que me persegue.

- Sei que quer.

- Ele é uma sombra como os velhos escritos dizem?

- Os velhos escritos foram feitos por sábios, suas palavras não se questionam. Noto que está cansado Raziel, talvez essa vida de correrias e resgates seja demais para você. Tente dormir um pouco. Por hora não responderei mais nada, mas pode me visitar se quiser.

- O verei mais vezes. – falou Joshua, batendo na porta da cela para que a abrissem. – Tenho mais perguntas a fazer.

- Será um prazer.

Maria esperava do lado de fora da cela e se aproximou apreensiva quando ela se abriu

- Estávamos certos sobre nosso espião. – falou Joshua. – Will já acordou?

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A Arma Secreta de Deu

- Está dormindo por ora. Você está bem?

- Estou cansado, só isso.

Ambos dobraram as escadas deixando a prisão para trás, observaram que não havia mais nenhum guarda lhes observando e foram até a uma janela.

- Estive pensando sobre o que aconteceu com a gente no jardim da cabana. – falou Joshua, tentando medir suas palavras. – Aliás, não consigo parar de pensar.

- Eu também não. Acha que agimos certo?

- Talvez tenha sido um erro.

- Somos jovens, podemos errar muito.

- Acha que é um erro que irá se repetir?

- Espero que sim.

Joshua passou sua mão direita envolvendo a cintura da moça e sua mão esquerda deslizou por sobre os cabelos

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A Arma Secreta de Deu

negros da jovem e os dois se beijaram novamente.

A lua pediu licença ao sol para tomar seu lugar e o vento suave anunciou que seria uma noite de chuva.

As águas cristalinas do oceano próximo ao castelo serviam como banheira para Raziel que tentava aliviar sua cabeça da correria que estava sendo sua vida.

Seus dias haviam se transformado de uma vida normal como qualquer outro adolescente, para algo sem explicação. Ainda procurava respostas em seu interior enquanto lembranças de um passado a muito vivido lhe visitavam e estratégias para o presente eram traçadas. Além disso, tinham seus sentimentos pela rainha que não sabia bem ao certo como definir ou controlar.

As ondas suaves e a água morna da noite relaxavam o rapaz, quando tudo parou.

O oceano pareceu um lago sem vida e o vento paralisou. Uma folha que estava caindo em direção ao chão parou no ar e não se moveu.

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A Arma Secreta de Deu

Joshua olhou atento e preparado para o que viesse. Na margem oposta ao castelo Arazyel tocava a água pensativo e sorriu para Joshua.

- Surpreso por me ver tão perto de Jesus? – perguntou, enquanto Joshua se aproximava. – Esqueceu que já fui guarda desse castelo? Conheço passagens e caminhos não usados.

- O que você quer? – perguntou Joshua, saindo da água.

- Conversar. Soube que capturou Armers e procura por meu espião.

- Seu espião é bem rápido. O que ele usa um cavalo?

- Se está perguntando para reunir pistas sobre como e onde ele está não conseguiu nada. A água está boa, não é?

- Se veio levar Armers de volta também perdeu seu tempo. Não vou entregá-lo.

- William já acordou? Soube que ele não tem se divertido tanto.

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A Arma Secreta de Deu

- O que você quer? – perguntou Joshua, com raiva.

- Calma Raziel. Está quase deixando seus sentimentos de fúria dominá-lo. Eu posso querer isso, mas você não quer.

Três Anjos de asas negras se aproximaram como sombras e cercaram Joshua.

- Então veio me levar? – perguntou Joshua, sorrindo. – Acha que não vou conseguir escapar?

- Tenho certeza que tentará, talvez até consiga, mas até isso acontecer terei comigo o que quero. Quer respostas? Então venha e se faça presente em minhas masmorras. A não ser que queira fugir de seu passado e futuro em uma batalha sangrenta, onde meu amigo e não amado por você Raziel de olhos faiscantes surgirá e matará mais alguém.

A chuva começou a cair forte no momento em que o cavalo onde Joshua estava começou a subir a terra fétida e escorregadia do vulcão das terras Lúcifer

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A Arma Secreta de Deu

e a lua foi envolvida pelas nuvens e o silêncio.

Ranar que descansava nos jardins do castelo levantou-se perturbado diante do grito de dor como nunca ouvido antes. O berro invadiu expandindo-se entre as terras de Jesus, a aldeia dos Luciferus e o vulcão de Arazyel. A tortura havia começado e Joshua estava em apuros.

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Lúcifer o estrategista

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A Arma Secreta de Deu

O GRUPO DA LUZ

Maria andava com passos fortes de um lado para outro e seus dedos se mexiam como se brigassem entre si.

Agora, Ranar observava a floresta pela janela e Emanuelle e Anderson estavam sentados testemunhando a situação.

William que havia se recuperado do veneno após uma boa noite de sono estava tão apreensivo quanto Maria que falou decidida:

- Um esquadrão. Um ataque organizado de nossos Anjos.

- Arazyel corromperia qualquer Anjo que se aproximasse. – falou o Jesus, pensativo. - Sabe que meus Anjos não podem se aproximar do vulcão.

- Tudo bem. Concordo que não podemos mandar um esquadrão de Anjos até as terras deles, mas não podemos ficamos parados.

- Então devemos ir nós mesmos. – falou William, irritado. – Não vamos deixá-lo lá.

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A Arma Secreta de Deu

- O menino tem razão. – falou Ranar saindo de perto da janela. – Minha missão é proteger Raziel e não posso deixá-lo lá. Aliás, já deveria ter ido e não ter ficado perdendo tempo com essa discussão absurda.

- Resgatar Raziel é primordial. – falou o Jesus, pensativo. – Mas tomem cuidado.

Os jovens estavam saindo da sala quando Jesus falou novamente:

- Mãe fique um pouco. Quero conversar.

A porta se fechou pesadamente e o menino respirou fundo:

- Não acha perigosa sua presença lá novamente?

- Está pedindo para eu não ir?- Seu envolvimento com Raziel

parece bem forte, embora eu ainda não o entenda propriamente. Gosta dele de maneira especial?

- Ele é Raziel. O jovem das lendas, quem não gosta dele?

- Tome cuidado para não se envolver de maneira errada. Você é uma rainha e tem um povo para governar.

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A Arma Secreta de Deu

- Não preciso que me lembre de minhas responsabilidades.

- Só não quero saiam machucados dessa amizade.

- Não se preocupe. Colocarei minha posição de rainha em primeiro lugar, como sempre foi, haja o que houver.

Correntes apertadas prendiam e mantinham os braços de Raziel abertos.

Os joelhos do rapaz sangravam encostados no chão de pedra afiada. Sua camisa havia sido retirada e as marcas de chicotes e outros maus-tratos deixavam claro que o rapaz estava sendo torturado.

Sua respiração falha era alta e descompassada e o rapaz não conseguia mais manter a cabeça erguida.

- O que houve Raziel? – perguntou um Anjo corrompido, socando com toda sua força o abdome do rapaz fazendo-o cuspir sangue. – Não está se divertindo?

- Estou desapontado. – falou outro Anjo.

Dizendo isso o Anjo ergueu seus chicotes e bateu com força nas costas e nas pernas do rapaz que soltou um grito

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A Arma Secreta de Deu

de dor e as correntes começaram a tremer.

- Eu esperava mais.- Tirem as correntes dele. – falou

Arazyel, entrando. – Nossa, seu sangue realmente fede Raziel.

Os guardas soltaram as correntes e o rapaz caiu no chão sem forças.

- Achou mesmo que eu deixaria barato você ter matado um de meus filhos? – gritou Lúcifer. - Acredite há mais maneiras de obter seu sangue precioso com você morto do que vivo.

O Anjo das trevas fez um sinal com a cabeça e Joshua começou a ser chutado pelos dois Anjos que o olhavam.

O sangue da boca de Raziel sujou o chão e de repente o rapaz segurou a perna de um dos seus inimigos, antes que o acertasse com outro chute.

-Isso!- falou Lúcifer, contente. – Mostre sua raiva. Bata nele, você pode derrotar os dois rapidamente e sabe disso. Nasceu para vencer qualquer guerreiro. Então deixe sua raiva dominar seus sentidos e mate-os. A profecia diz que você é a arma secreta de Deus,

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Raziel, mas já se perguntou de que deus?

Os olhos Raziel ficaram cinza e faíscas saíram deles, mas o rapaz soltou o pé de seu inimigo e abaixou a cabeça, enquanto os chutes em seu corpo recomeçavam. Precisava de alguma forma manter-se calmo.

- Pegaram todo o armamento necessário? – perguntou Anderson, apertando a cela de seu cavalo. – Vamos iniciar uma guerra oficialmente hoje.

- Minhas garras são o armamento necessário para mim. – falou Ranar, seriamente. – Não existe nada mais afiado.

- Calma garoto! Calma! – falou William dirigindo-se a Suspiro e trazendo-o por suas rédeas. – Ele está agitado, sabe que Joshua está precisando de ajuda.

- Muito bem, podemos ir agora. – falou Maria, se aproximando com uma bolsa de couro cheia de flechas de ouro nas costas. – Já devíamos estar lá.

- Ah, o gosto de sangue, eu sentia isso antes de ter um exército ao meu favor. – falou Arazyel. – Está ficando

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A Arma Secreta de Deu

tarde e mais alguns segundos de tortura irão matá-lo. Seus amigos já devem estar a caminho. Preciso me retirar agora, coisas a planejar.

Não houve lua naquela noite e das terras ao pé do vulcão do Mestre da Escuridão se podia ouvir os gritos de desespero e o odor de sangue.

As águas que rodeavam o lugar estavam quentes e o barqueiro não apareceu para receber os jovens que vieram resgatar Raziel.

- Temos dois companheiros que voam. – falou Anderson, pensativo. – Ranar pode carregar uma pessoa em suas costas não pode?

- Sim, posso. – afirmou Ranar, enquanto suas narinas bufavam. – Mesmo assim ainda ficam dois de nós.

- Posso carregar uma pessoa. – falou Emanuelle, decidida. – Não por muito tempo, mas posso levar alguém até a entrada.

- Sou o menor. – falou William segurando as rédeas de Suspiro. – Emanuelle pode me levar até lá.

- Tenham cuidado. – falou Anderson para Maria. – Posso dar a volta

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A Arma Secreta de Deu

e procurar um meio de cruzar o lago com Suspiro. Não vou poder ajudá-los até chegar lá em cima.

- Não temos muito tempo. – falou Maria, decidida.

Maria tirou a capa com capuz que adornava, o vestido havia sido substituído por uma malha de couro e nós fortes a prendiam. A bolsa de couro com flechas douradas foi ajustava em suas costas, enquanto caminhava até o cavalo retirando da outra bolsa presa à cela: um punhal de esmeraldas, que logo o escondeu em suas botas.

- Assim que chegarmos lá uma legião de guardas irá cair em cima de nós. – falou Maria, pegando uma espada da cela de seu cavalo e colocando na bainha presa a sua roupa. – Não podemos nos separar, procurem a entrada das celas de prisioneiros e assim que acharem Joshua busquem a torre mais alta e sinalizem com uma das tochas. Anderson deve nos guiar de volta por onde ele entrou. Já estive presa aqui e recomendo que ninguém demore nesse lugar.

Três guardas vigiavam a porta mais alta do vulcão.

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Um deles olhava sorrindo vendo os prisioneiros sendo massacrados na cratera e os outros viam quem era mais forte na queda de braço, quando de repente o vento parou de trazer o odor de sangue e carne podre.

- Tem algo estranho aqui. – falou um dos guardas, se aproximando da sacada.

Quando o vigia se aproximou da margem do vulcão tentando ver o que tinha acontecido encontrou grandes asas brancas abertas e uma explosão de luz o jogou inconsciente.

- Mais o quê? – perguntou outro vigia, quando uma clava foi pesadamente jogada contra seu estômago, esmagando-o.

O terceiro vigia não teve tempo de pronunciar nada, quando Emanuelle e William pousaram na torre e a Anjo o prendeu contra a parede.

- Onde está Raziel? – perguntou Emanuelle.

A porta principal da fortaleza de Lúcifer foi aberta pelo corpo de um guarda que foi jogado violentamente por Ranar que enfiou suas garras no pescoço

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A Arma Secreta de Deu

de outro vigia que piscou os olhos, enquanto jorrava sangue de sua boca e o corpo caía sem vida.

Outro guarda veio correndo em direção de Maria que atirou uma flecha dourada em sua direção. O brilho do ouro da flecha foi à última coisa que ele viu enquanto caía de costas morto com a haste em sua testa.

Um guarda se aproximou correndo, Maria girou sem tirar os pés do chão, retirou sua espada da bainha em suas costas e girando no ar, enfiou-a com toda sua força, no estômago do vigia, enquanto seus cabelos se esvoaçavam.

- Vamos achar Josh. – falou Maria, entrando na fortaleza de Lúcifer, seguida por Ranar.

- Estamos sendo atacados como era previsto meu senhor. – falou um Anjo corrompido, se ajoelhando aos pés de Arazyel. – Porém são ataques simultâneos tanto por dentro como por fora do vulcão e isso não estava planejado. Talvez tenhamos dificuldades em derrotá-los.

- Então eles tinham alguém deles aqui dentro?

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- O senhor não entendeu. Aconteceu algo maior.

Arazyel olhou direto nos olhos de seu servo e pela primeira vez o mestre da escuridão sentiu medo em sua vida.

Emanuelle desceu as escadas apressada seguida por William e os dois encontraram Ranar que jogava um guarda pela janela da torre, enquanto Maria segurava sua espada firmemente.

- Estão todos bem?- perguntou Maria.

- Temos que nos apressar. – falou Emanuelle.

O grupo caminhou rápido por um corredor extenso e ao chegar ao fim deles Maria apontou sua espada para a bifurcação a esquerda, enquanto Ranar empurrou uma pesada porta.

Uma infantaria de cinquenta guardas estava dentro da sala onde os jovens entraram, mas eles não atacaram.

Estavam ocupados demais tentando sobreviver a um ataque inesperado.

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Os próprios jovens ficaram assustados por alguns segundos.

No meio daquele bolo de guardas sendo atacados, enquanto corpos eram jogados para o ar e o barulho do metal das espadas gritava sem efeito, estava Raziel.

Dos olhos do jovem Joshua faíscas saíam como relâmpagos cortando o céu. Seus cabelos estavam espetados para cima e seus dentes pareciam estar mais afiados. De suas costas, manchadas e marcadas grosseiramente de sangue, duas asas negras saíam ameaçadoramente.

Um guarda tentou covardemente atacar Joshua pelas costas, mas a asa direita do rapaz se moveu rapidamente e cortou a lâmina de sua espada ao meio. Raziel virou-se rápido ergueu seu rival raivosamente ao ar, com seus dois braços e partiu sua coluna vertebral ao meio.

- Josh? – sussurrou William amedrontado.

- Temos que sair daqui. – gritou Ranar. – Ele está matando tudo que encontra.

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O grupo de guardas que tentava deter Joshua se afastou enquanto o rapaz os amedrontava com gritos que faziam as tochas que iluminavam a escuridão temerem apagar. Cinco Anjos corrompidos se aproximaram munidos de armas mortais em suas mãos.

- São cinco deles. – falou Maria. – Ele não vai conseguir. Temos que salvá-lo.

Dizendo isso Maria correu passando entre os guardas que saíam do salão buscando salvar suas vidas e Ranar pareceu que ia segui-la, mas Emanuelle o segurou pelo braço.

- Tire Will daqui. – pediu Emanuelle, seriamente.

Ranar balançou a cabeça informando que tinha entendido e puxou Will fortemente pelo braço o colocando em suas costas entre suas asas.

- Não!- gritou Will, tentando se soltar. – Ele é meu irmão, me deixem com ele. Não!

Ranar saiu voando o mais rápido que pode com Will em suas costas e Emanuelle girou suas clava entre seus

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dedos e foi passando entre os guardas, confiante.

Um Anjo corrompido rasgou o peito de Joshua com uma corrente de espinhos e o sangue banhou o corpo do rapaz que o puxou fortemente e sem piedade. Com rapidez, ele quebrou seu pescoço com seus dedos, enquanto os cortes em seu tronco curavam-se rapidamente.

- Pare! – falou Maria abraçando Joshua, de repente. – Pare, por favor!

Joshua olhou para moça e ela pode sentir que não havia sido reconhecida.

Enquanto ambos se distraíram por alguns segundos, um dos Anjos corrompidos armado com flechas atirou contra as costas de Joshua.

A flecha soltou um fino assobio, enquanto cortava o ar ferozmente. Sua ponta girava em torno de si, pronta para atingir a coluna de Joshua, quando foi interrompida bruscamente por algo.

Um silêncio sagrado invadiu a atmosfera.

Jesus em sua torre sentiu um arrepio em sua espinha e sussurrou, enquanto uma lágrima caiu sobre seu rosto:

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A Arma Secreta de Deu

- Emanuelle.Emanuelle caiu de joelhos

pesadamente.Os Anjos corrompidos baixaram

suas armas em forma de respeito ao Anjo que caía em sacrifício.

Os olhos de Maria encheram-se de lágrimas e a moça soltou Joshua, indo se ajoelhar na frente de Emanuelle.

- Ele ia acertar Joshua. – sussurrou Emanuelle, com dificuldade.

Maria olhou a flecha fincada nas costas da jovem. Ela estava em sua coluna vertebral, cravada entre suas asas, ponto mortal para os Anjos.

- Sei que está no canto certo. – falou Emanuelle, caindo nos braços de Maria. – O desgraçado acertou em cheio o alvo.

Uma lágrima saiu dos olhos verdes de Emanuelle e suas asas antes firmes quando abertas, deixaram-se murchar vagarosamente, enquanto a jovem Anjo deu um sorriso e fechou os olhos.

Joshua virou-se devagar.Olhou para as duas jovens

ajoelhadas no chão e o sangue vermelho 231

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intenso que saía das costas de Emanuelle. Nesse momento, a sede de justiça o dominou fazendo com que ele puxasse um dos Anjos corrompidos que haviam parado de lutar e o jogasse no chão sem piedade, estraçalhando as asas.

O Anjo corrompido soltou um grito de dor desesperado e suas asas foram arrancadas, enquanto ele caiu sem vida.

Joshua abriu seus braços como sinal de vitória e suas asas negras se abriram tomando quase todo o salão.

Raziel olhou para todos que estavam no salão e correu em direção à janela, pulando-a enquanto batia as asas em direção ao céu.

Os Anjos corrompidos soltaram suas armas.

Podiam ser inimigos de Maria e Emanuelle, mas a morte de um Anjo em sacrifício era um dos piores acontecimentos que podia haver, eles saíram do salão em silêncio e sem olhar para trás.

Suspiro entrou com galopes fortes, pisando no sangue e nos corpos que estavam no chão do salão e Anderson

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observou Emanuelle morta sem conseguir dizer uma palavra.

- Vamos. – falou Maria, deitando o corpo de Emanuelle no chão e levantando-se. – Temos que sair daqui.

Maria montou em Suspiro que também parecia lamentar a morte de Emanuelle e falou com voz chorosa:

- Suspiro leve-me até Joshua.Suspiro bateu sua pata com

intensidade no chão e em respeito deu galopes rápidos circundando o salão onde estavam.

Ao passar pela porta do salão Maria olhou para trás e levantou sua mão para o corpo de Emanuelle. Começando dos pés até a cabeça, então o corpo da jovem Anjo transformou-se em um fino pó de ouro.

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SatãO LADO NEGRO DE UM

ANJO

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Suspiro diminuiu seus velozes cascos à medida que se aproximou da cachoeira.

Tanto o cavalo quanto Maria, já haviam estado ali.

Quanto a Anderson, ele ficou impressionado com o potente jorrar da queda d’água.

A única visão surpreendente para Maria, naquela já conhecida queda d’água eram os pingos que pareciam serem feitos de luz néon e as enormes asas negras que permaneciam abertas sobre o alto da cachoeira como se a água brotasse delas.

Joshua parecia vigiar a entrada da caverna que estava por atrás da queda d’água, lugar onde seus pais haviam se escondido nos primeiros meses em que ele havia nascido.

A noite estava escura, chovia e não havia lua.

Os únicos sinais de luz que invadiam aquela floresta escura eram as várias faíscas que saíam dos olhos de Raziel e o brilho escuro dos cabelos

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agora espetados em direção aos céus de Joshua.

- Vá até o castelo. – falou Maria, enquanto descia do cavalo. – Conte o que aconteceu a meu filho e ele tomará as providências necessárias.

- Espero por vocês no castelo. – falou Anderson, puxando as rédeas de Suspiro. – Iniciamos uma guerra não é seguro andar sozinha pela floresta.

- Estou com Josh, estou segura.Anderson partiu em direção ao

castelo, enquanto Maria se aproximou da cachoeira.

Joshua virou a cabeça para o lado direito levemente, tinha ouvido a moça pisar na margem da cachoeira que ficava nas suas costas e a chuva aumentou sua força.

- Não me aproximo mais se você não quiser. – falou Maria, respirando fundo.

Raziel levantou suas asas abrindo-as mais. A água da chuva banhava seu peito nu molhando também seu rosto, e logo depois, gotículas d’água que

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insistiam em se aproximar eram evaporadas rapidamente, devido às faíscas reluzentes que eram visíveis em seus olhos que permaneciam fechados. Quanto aos ferimentos de seu corpo causados pela tortura nas terras de Lúcifer haviam desaparecidos.

- Está tudo bem? – falou Maria, se aproximando. – Você não se lembra de mim?

- Saia daqui. – falou Joshua, seriamente. – Ou lembre-se que eu avisei antes de matá-la.

Joshua abriu os braços e deixou-se cair de costas.

O rapaz mergulhou de cabeça na queda livre da cachoeira e com um leve movimento de suas asas, passou pela água antes que caísse no lago entrando na caverna atrás do véu de noiva.

- Hoje eles nos deram um motivo para que sejam atacados. – falou Arazyel, firmemente. – Entraram em nosso território e destruíram muitos de nossos irmãos de armas. Quando entrarmos na Fortaleza das Nuvens não estaremos somente concretizando

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finalmente o motivo pelo o qual vocês vivem, mas estaremos acima de tudo vingando o que tem de ser vingado e destruindo o que um dia pensou que poderia nos destruir. A arma principal deles foi corrompida e Jesus é apenas uma criança. Essa noite pegaremos nossas armas, nossos cavalos e nossos corações e os usaremos para destruir tudo o que mais odiamos. Diferente do menino das luzes, não preciso esperar um jovem que não passa de uma criança crescida para que lutemos. Hoje é o dia de pegarmos o que é nosso, as vidas patéticas de nossos inimigos será finalmente nossa.

As paredes do vulcão de Lúcifer tremeram.

Gritos de alegria e o barulho de metal tiritando um no outro fez toda a estrutura tremer.

Uma incontável horda de guerreiros negros erguia suas armas e comemorava. O número de Anjos de corrompidos que sobrevoavam o vulcão e o pandemônio que vinha do alto fez uma revoada de pássaros fugirem assustados da floresta.

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Quando Maria passou pela caverna e avistou a floresta escondida pela queda d’água por trás da antiga cabana, onde os pais de Joshua haviam se escondido, ela encontrou o jovem Raziel sobrevoando o local olhando-a assustadoramente.

- Eu a avisei para sair daqui! - gritou Joshua pousando ameaçadoramente na frente da moça e colocando a mão direita em cima da coronha da Dádiva de Deus pronto para atacar. - Este lugar já foi violado antes e não deixarei que aconteça novamente.

- Sou uma rainha não costumo receber ordens.

- Então volte para seu reino e me deixe em paz.

- Você no fundo lembra-se de mim, não é?

- Não me lembro de pessoas insignificantes. Acha-se importante para mim, mas não é nada.

- Então porque veio para cá? Justo o lugar onde eu o trouxe? Eu sei. Por que, se sente seguro aqui, por isso veio.

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- Rainhas sempre falam demais.- Eu disso isso a você.As asas de Joshua fecharam-se um

pouco deixando Maria entre elas e o corpo do rapaz.

- Eu poderia matá-la, sem problemas e você sabe disso. – falou Joshua, enquanto uma faísca saiu forte de seus olhos. – Mas esse corpo a deseja.

- Fala como se o desejo não fizesse parte de você.

-E não faz. Ele faz parte de um Raziel que está dentro de mim, mas que não vou deixar sair.

- Então deixe que eu o tire daí.A chuva aumentou e os raios

cortaram os céus.As asas de Joshua fecharam-se

mais e não existia mais nada entre o corpo do rapaz e o de Maria e mesmo mostrando indiferença Raziel não resistiu à beleza da rainha.

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- Temos que nos preparar. – falou o Jesus, apressado. – Vou avisar para Gabriel reforçar as defesas do castelo.

- Não sei se poderemos contar com Joshua eu nunca vi nada parecido com o que ele está agora.

- Eu já.

- Está falando de quando Arazyel se corrompeu?

- Não. Estou falando de quando o ser vivo que está em nossas masmorras foi corrompido.

- Está dizendo que Armers era um Anjo?

- Um Anjo que sofreu muito nas mãos de Lúcifer antes de ser corrompido.

- Por quê?

- Parece que Armers sabia de algo que ele queria muito saber. Não sei dizer ao certo do que se trata, mas antes de corrompido achei que Armers fosse

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morrer por isso ele é daquele jeito que o conhecemos.

-Arazyel queria saber algo que Armers sabia?

A mão direita de Maria deslizou sobre as costas nuas de Raziel.

Joshua beijou o pescoço da rainha desejosamente e a jovem fechou os olhos sentindo seu corpo arrepiar-se. O rapaz deslizou sua mão direita pelo ombro da jovem e começou a retirar seu vestido vagarosamente expondo seu busto e o encostando a seu peito.

Os jovens deitaram-se na grama. A chuva aumentou molhando seus corpos nus e a respiração do casal tornou-se eufórica enquanto se beijavam sem fôlego.

Anderson estreitou os olhos e alguns segundos depois as portas da prisão de Armers se abriram com força.

- Você! – gritou Anderson, apontando para Armers. – Você foi o Anjo

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que traiu o segredo do esconderijo dos pais de Joshua!

O INÍCIO

A escuridão e o cheiro fétido da masmorra parecia ser a única presença dentro daquela cela.

Anderson permanecia parado com seu dedo indicador esticado em direção ao canto escuro do lugar. Seus cabelos lhe caíam cansados sobre a testa e seus olhos penetrantes cortavam a escuridão como a lâmina de uma espada.

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Ele acabara de acusar uma pessoa e qualquer homem que o visse parado ali confiaria nele sem precisar ouvir suas provas.

No canto escuro para onde o jovem apontava Armers encolhia suas pernas contra o corpo. Apertando-se contra a parede parecendo tentar passar entre os tijolos da construção em busca de uma fuga.

- Era amigo deles, não era? – perguntou Anderson, finalmente abaixando seu dedo de sentença. – Conhecia os Raziel.

- Não... – sussurrou Armers, se contorcendo, enquanto seus olhos brilhavam. – Não pode falar sobre isso. Não pode obrigar a Armers a contar. É doloroso demais, Armers se arrepende de ter aceitado aquela noite.

- Desculpe. – falou Anderson, sentando-se no chão. – Não queria assustá-lo. Mas preciso de sua ajuda.

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- Ajuda? Armers não é bom em dar ajuda, ele trai aqueles que pedem ajuda.

- Foi isso que aconteceu então?

- Armers gostava dos Raziel. Eram bons com Armers e sempre foram amigos dele. Mas eu não estava satisfeito em ver a felicidade dos dois naquele tempo em que Armers perdeu tudo. Enquanto tempos sombrios dominavam a todos, eles pareciam possuir toda a felicidade que deveria ser nossa, por quê?

- O que você quer dizer?

- A família de Armers foi morta pelos soldados do espectro da escuridão. A irmã menor de Armers, ainda não sabia andar quando a levaram e nunca mais a viram. Mas os Raziel estavam felizes, família ia aumentar e bebê era o da profecia. A profecia que diz que os Raziel trarão o equilíbrio de volta.

- Então você os traiu?

- Antes de trair, Armers foi à reunião. Ele estava nervoso e os Raziel

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precisavam de um lugar para se esconder, mas acima de tudo, antes de um lugar seguro precisavam de um argucio.

- Um argucio?

- Sim. Em antigas tradições sagradas quando alguém deseja esconder alguma coisa ela confia a uma pessoa que nunca a trairia, a essa pessoa chamamos de argucio. Quando o argucio é nomeado, ele se torna a única pessoa há saber onde está o objeto escondido. O próprio segredo torna-se a pele do argucio. A essência do segredo entra pelos olhos do escolhido e passa a fazer parte de sua alma. Uma segunda sombra.

- E você foi escolhido pelos Raziel.

- Não era para ter sido Armers. Tente entender, era uma época de medo e desconfiança e a reunião contou com as maiores personalidades da época. O líder dos Luciferus, o barqueiro chefe do vulcão, um Anjo guerreiro, o chefe dos cavalos chamados Filhos dos Ventos, eu

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e o próprio Jesus. Todos compareceram ao local secreto da reunião, tomando os maiores cuidados. Lúcifer sabia que se quisesse por as mãos na criança teria de escutar o que seria dito na reunião, mas ele não conseguiu. O lugar era sagrado e escondido demais. Então todos os presentes estavam ali pelo mesmo propósito, ser escolhido como argucio.

- Qualquer um?

- Todos tinham ligações com os Raziel. Eles eram muito bondosos e importantes. Ao líder do Luciferus deram à missão de proteger a espada chamada Dádiva de Deus, relíquia sagrada cujo somente um Raziel pode manejar. Ao barqueiro coube ajudar na travessia do lago negro do vulcão a qualquer membro da família Raziel. Os cavalos Filhos do Vento ofereceram a honra de serem montados pelos membros da família Raziel e somente por amigos mais fiéis a eles.

- Sobraram você e Jesus.

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A Arma Secreta de Deu

- Sim. Todos esperavam que o argucio fosse o menino e por essa razão Gisele Raziel teve a ideia de nomear a mim como fiel. Assim enquanto pensassem que Jesus, a figura mais protegida e forte do reino era o guardião do segredo a verdade estaria protegida comigo.

- E você acabou por trair os Raziel.

- Armers não queria, mas foi mais forte que ele. Embora Lúcifer não tivesse conseguido comparecer a reunião, ele soube por meio de seu espião mais confiável, quem havia sido o escolhido e assim ele chegou a mim. No início eu tive medo dele, como todos, mas ele mostrou-se bondoso e paciente. Prometeu mostrar onde estava irmã menor de Armers se o ajudasse, era uma troca de favores e ainda me ofereceu o cargo de braço direito de seu reino e não resisti.

- Então, foi por isso? Entregou vidas inocentes por isso?

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A Arma Secreta de Deu

- Armers se arrependeu depois, tentou avisar, mas era tarde demais. Não imagina a dor de Armers ao ver a cabana dos Raziel violada, a notícia da morte do casal, mas Armers ainda ajudou aos amigos naquela noite trágica.

- O que quer dizer?

- Armers chegou à cabana naquela noite no meio do ataque. Os Raziel estavam cercados e por alguns minutos, cego pela sua ânsia de matar o casal sem piedade, Lúcifer e seus guardas esqueceram a criança.

- Joshua?

- Sim Joshua Raziel. Estava ali, deitado, choroso, sozinho no meio do sangue que jorrava das espadas, então Armers ajudou. Levei o bebê dali rapidamente. Fui perseguido enquanto corria com o bebê em meus braços, fui ferido na perna por uma flecha e sabendo que não chegaria ao castelo seguro do menino das luzes, eu levei o jovem Raziel até o Salão da Vida Eterna,

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A Arma Secreta de Deu

onde fica a escada de seleção do reino e deixei o menino cair no Poço da Vida.

- Jogou um bebê na terra pelo Poço da Vida?

- Sim. Lá Lúcifer não pode ir pessoalmente e o destino se encarregou de uma pessoa bondosa encontrar o bebê e o criar como filho protegendo-o dos olhos do Mestre da Escuridão. Por causa dessa traição, ele não devolveu a irmã mais nova de Armers e ainda por cima transformou Armers na criatura que você observa agora: Braço direito do mestre, mas constantemente vigiado pelo espião.

- Então você não é o espião que está no castelo?

- Não. Armers não é. Mas Armers avisa, ele dificilmente será encontrado, mas vive perto de Armers.

Anderson estreitou os olhos procurando entender o que Armers havia lhe dito sobre o espião, quando o som de

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A Arma Secreta de Deu

uma corneta invadiu o ar logo seguida por várias outras.

No pátio principal do castelo uma guarnição de Anjos se reuniu preparando suas armas.

William e Ranar correram até a janela e observaram atônitos ao movimento.

Cinco torres gigantescas se aproximavam das muralhas do castelo.

Eram torres de cerco. Uma grande torre de madeira, cobertas com couro molhado para minimizar sua vulnerabilidade ao fogo e ao óleo quente. Grandes rodas de madeira rangiam enquanto aproximavam a construção da murada do castelo, onde uma porta se abriria sobre a construção e guerreiros poderiam invadir a fortaleza saindo do interior da torre.

Atrás das torres grandes toras de madeira eram fincadas ao chão por Anjos corrompidos, estavam montando outra arma.

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A Arma Secreta de Deu

- Estão montando um Trebuchet. – falou Ranar, seriamente.

- Um o quê?

- Um Trebuchet, pequeno Will. Uma espécie de catapulta gigante de cerca de 20 metros de altura. Vão usar para jogar pedras grandes e fogo dentro das muralhas do castelo. A guerra vai começar.

William correu a porta do seu quarto e a abriu. De lá ele observou a correria no corredor.

Anjos corriam para pegar suas armas, enquanto apressados se esbarravam.

Mulheres e crianças que cuidavam do castelo se reuniam assustados em um canto à procura de um lugar seguro.

- Temos que sair daqui. – falou Ranar.

Quando William passou pela porta principal do castelo, a correria de

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A Arma Secreta de Deu

guardas que ele observava se multiplicou.

Hordas inteiras de Anjos tomavam posições. Arqueiros corriam pelos corredores estreitos da muralha protetora e vários caldeirões ferventes eram colocados em pontos estratégicos na muralha.

- Eles vão terminar a construção do Trebuchet e mandaram um negociador antes de atacar. Enquanto isso, os comandantes me sigam temos que traçar uma estratégia. – gritou um Anjo olhando para William e Ranar: - Vocês dois venham comigo.

Anderson corria pelo corredor enquanto ajeitava o cinto que prendia sua espada na cintura.

O rapaz esbarrou-se com uma jovem, mas não teve tempo de pedir desculpas. Continuou a correr até a porta principal de onde avistou Ranar e William e escorregou um pouco ao aumentar sua corrida em direção à cabana para onde eles tinham entrado.

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A Arma Secreta de Deu

- Precisamos proteger a muralha com arqueiros. – falou um dos Anjos comandantes. – Temos que fechar as entradas com toda a força possível e não deixar que as portas sejam derrubadas.

Anderson abriu a porta da cabana apressado e um Anjo colocou sua espada perto de sua garganta.

- Tudo bem. – falou outro Anjo. – Ele é um dos nossos.

- Não vamos durar muito tempo depois que o Trebuchet for construído. As torres do castelo vão ser destruídas.

- Onde está Raziel?

Quando a menção do nome Raziel foi dita, todos ficaram em silêncio e William deu um passo à frente.

Teria de explicar que Raziel, guerreiro tão esperado para lutar, não estava mais de seu lado.

Foi quando uma gritaria de euforia foi ouvida no pátio principal, as pessoas

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A Arma Secreta de Deu

pareciam gritar de alegria ao invés de medo.

William correu e abriu a porta da cabana e seus olhos brilharam de alegria ao ver a sombra das grandes asas de Joshua que havia chegado ao castelo trazendo Maria em seus braços.

- Tenho que pegar mais flechas e me preparar. – falou Maria, quando aterrissou com Joshua no pátio principal.

- Os comandantes devem estar reunidos, vou me unir a eles.

William aproximou-se correndo.

As grandes asas negras de Joshua agora eram tão brancas que a luz do sol refletia nelas. Vagarosamente, elas se recolheram para dentro das costas do rapaz.

- Josh!- gritou o menino pulando nos braços do rapaz. – Você voltou!

- Eu nunca deixei você.

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A Arma Secreta de Deu

- Josh. – falou Anderson, estendendo a mão para o amigo. – É bom vê-lo de novo.

- Obrigado. Ranar acha que pode saber se o conselho dos Luciferus já tomou sua decisão?

- Sim, posso Raziel. Terei de deixá-los então nesse momento de ataque.

- Vou com você. – falou William, decidido.

- Raziel... - falou um dos comandantes apertando a mão do rapaz. – Estamos reunidos na cabana, esperamos por você.

Joshua aproximou-se da reunião e foi direto para a mesa onde estavam os mapas do castelo.

- Eles estão concentrados aqui. – falou um dos comandantes, apontando a posição no mapa.

- Estão perto demais das portas. – falou Joshua pensativo. – Não vamos poder impedir que eles entrem mais

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A Arma Secreta de Deu

cedo ou mais tarde. Quantas pessoas não podem lutar?

- Muitas. Serão massacradas se as portas não aguentarem.

- Temos que tirá-las de lá, mas colocá-las aonde?

- No castelo. – falou Anderson em sobressalto. – O castelo é grande o bastante para proteger a todos. Podemos não impedir a queda das portas para o pátio, mas...

- Mas no castelo eles não vão entrar. – continuou Joshua. – Quantos arqueiros temos nas muralhas?

- Uns 800.

- Peçam para ficar a cinco passos de distância um do outro assim vão poder se movimentar. Quanto aos Anjos guerreiros, eles vão ter que agir primeiro.

- Mas Raziel, eles lutam melhor que os homens.

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A Arma Secreta de Deu

- Por isso mesmo, atacamos com a força e os que conseguirem passar pelos guerreiros celestiais não vão sobreviver aos homens. Quanto tempo até Trebuchet ficar pronto?

- Dois ou três dias.

- Existem saídas escondidas pela muralha certo? Temos que deixar somente uma delas livre, as outras vamos proteger com caldeirões ferventes. Acho que vamos conseguir.

Raziel olhou nos olhos de cada comandante da cabana e todos pareceram sérios demais.

Maria saiu de seu quarto colocando novas flechas de ouro em sua bolsa de couro e sua serva leal se aproximou.

- Espalhou a notícia como pedi? – perguntou Maria, enquanto ajeitava suas luvas e caminhava.

- Pareceram temerosas no começo, mas estão prontas agora.

- Ótimo, me leve até elas.259

A Arma Secreta de Deu

Ranar levantou-se. Sua sombra monstruosa se projetou na torre mais alta do castelo e William montou em suas costas.

- Teremos de passar pelo meio do exército inimigo.

- Então vamos logo.

O Luciferus deixou seu corpo cair da torre em velocidade alta com William em suas costas.

- Segure-se, Will. - gritou Ranar, enquanto suas enormes asas começaram a bater-se e os dois amigos começaram a ganhar altitude ultrapassando os muros do castelo.

William olhou para baixo, seus olhos expressaram todo o espanto que o menino sentiu.

A visão do exército inimigo acampado abaixo deles, foi substituída por tantas flechas que pareciam preencher cada centímetro do ar.

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A Arma Secreta de Deu

Ranar girou no ar. Uma flecha passou a poucos centímetros de sua cabeça. William segurou-se com força no pescoço do companheiro, suas pernas ficaram soltas no ar e as garras dos pés de Ranar seguraram algumas flechas em pleno movimento e as partiram ao meio.

- São muitas flechas. – falou William, enquanto Ranar girava e o menino pode novamente sentar-se em suas costas.

- Você está bem? Dificilmente vamos conseguir passar pelas flechas sem um arranhão. Proteja a cabeça e o peito.

- Não será preciso.

William apoiou suas pernas o mais firme que conseguiu nas costas de Ranar e vagarosamente soltou suas mãos, ficando de pé enquanto seus cabelos se esvoaçavam com o forte vento.

- O que está fazendo? – perguntou Ranar.

- Nos protegendo.

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A Arma Secreta de Deu

O jovem Will pegou o pingente preso em seu pescoço que Maria havia lhe dado e o segurou com força. A joia imediatamente começou a brilhar e um escudo se projetou ao redor dele e de Ranar.

- Sua armadura senhor Raziel. – falou um jovem Anjo, entregando um tecido para Joshua quando ele saiu da cabana.

- Não me chame de senhor, meu nome é Josh. – falou Joshua, pegando o tecido e o abrindo.

Um tecido negro brilhante e quase transparente foi aberto por Joshua.

- O que é isso? – perguntou Joshua.

- Sua armadura. – respondeu Anderson, enquanto pegava uma para si.

- Armadura? Posso ver minha mão através desse pano. Como querem que ele me proteja sendo tão fino?

- Acredite, ele vai mudar! Onde está indo? – vendo Joshua afastar-se.

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A Arma Secreta de Deu

- Vestir minha armadura e depois tenho um último assunto para resolver antes de lutar.

Havia cerca de quinhentas mulheres atrás do castelo. Elas seguravam arcos e flechas e estavam vestidas com roupas de guerreiros, ao ver Maria uma das jovens lhe entregou um arco dourado e uma espada.

- Estão prontas? – perguntou a rainha, enquanto prendia seu cabelo com a lâmina de um punhal e guardava outro dentro de suas botas.

- Estão todas esperando suas ordens rainha.

- Ótimo, esperemos o momento agora.

Joshua começou a se vestir com o tecido que haviam lhe dado.

Depois que o rapaz terminou de colocá-lo, imediatamente o tecido se ajustou ao seu corpo se transformando em uma roupa negra e brilhante com golas alta que lhe protegiam boa parte de seu pescoço. Era dura como uma armadura, seu peso não podia ser

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A Arma Secreta de Deu

sentido devido sua leveza e a liberdade que proporcionava aos movimentos de quem a usava.

- Ora vejam só! – exclamou Joshua, olhando-se no espelho. – Nada mal.

O Jesus terminava de ajeitar-se em uma armadura branca em sua sala, quando Joshua entrou pisando forte.

A luz do sol bateu na roupa de Joshua e ela brilhou fortemente. O tecido também havia envolvido seus pés e se transformado em botas fortes.

- A Armadura Leve ficou bem em você. - falou o Jesus.

- Está um pouco justa demais. Se eu vestisse isso em uma festa com certeza iria chamar a atenção das garotas. Só tem um problema à gola aperta demais o pescoço.

- Tudo tem seu propósito. – falou o menino sorrindo.

- Mas eu não vim aqui falar sobre a roupa. Tenho algo mais sério para falar com você.

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A Arma Secreta de Deu

- Veio começar mais uma de nossas discussões? Tem uma guerra começando lá fora, então se não se importa eu...

- Não é isso. – interrompeu Joshua, se ajoelhando. – Vim fazer um pedido. Sei que não temos sido bons amigos, mas tenho algo a pedir.

- Não precisa se ajoelhar.

- Não estrague o momento está bem. Eu quero pedir sua benção antes da guerra começar e... Quero sentir toda a dor de meus amigos.

- Sabe o que está pedindo?

- Eles já me ajudaram demais agora é a minha vez. Quando eles forem feridos durante a batalha, quero que eu sinta a dor e não eles.

- Está me pedindo algo muito sério.

- Pode fazer isso por mim?

- Está nervoso Raziel?

- Esperei minha vida toda por esse dia e me preparei cada segundo, mesmo

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A Arma Secreta de Deu

não sabendo que me preparava para algo tão grande. – respondeu Joshua, enquanto levantava-se. - Sabe o que é engraçado? Por mais que tenha me preparado, não sei se estou pronto.

- Acredite, vai saber quando chegar à hora.

A quantidade de homens era de se perder de vista quando Joshua abriu a porta principal do castelo.

No céu quase não se podia ver a luz do sol por causa das várias asas dos Anjos que sobrevoavam o local.

Anderson esperava logo no primeiro degrau da escada e sorriu quando viu Joshua respirar fundo.

- Esperam por seu discurso.

-Discurso, está brincando!

- Enfrenta feras, Anjos, o próprio Lúcifer e tem medo de discursar?

- Me sinto mais a vontade com uma espada.

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A Arma Secreta de Deu

- Todo grande comandante faz um discurso antes de começar uma guerra e todo grande guerreiro tem sua própria espada.

Os homens afastaram e um corredor humano foi aberto.

Sons fortes como trovões foram ouvidos se aproximando.

Suspiro entrou correndo pelo portão.

O chão de terra virava poeira quando suas patas o tocavam. Sua crina branca se mexeu em sincronia com o vento e seu corpo forte. Os músculos de seu peito estavam protegidos por uma armadura negra e brilhante como a de Joshua. Em seu dorso uma cela de couro, a qual o deixou mais imponente.

Suspiro parou as margens dos degraus e ficou de lado. A bainha da espada chamada Dádiva de Deus, presa a cela brilhava como se estivesse viva.

Joshua desceu os degraus seriamente e com passos firmes estava pronto para iniciar seu discurso, mas antes ergueu a Dádiva de Deus em

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A Arma Secreta de Deu

direção aos céus e de sua lâmina um brilho vermelho ofuscou os olhos dos guerreiros.

O MOMENTO PELO QUAL RAZIEL NASCEU

Os cavalos batiam suas patas inquietas no chão e a poeira subia com o vento. De suas narinas o bufar nervoso misturava-se ao ar. Os olhos penetrantes e atentos dos animais fixavam-se no único homem em movimento entre os mais de mil.

Era bem mais jovem do que a maioria de seus companheiros.

O cabelo negro esvoaçava com a força do vento. Os olhos encaravam o olhar de mais de mil homens e tanto sua armadura como suas mãos impacientes pareciam prontas para agarrar suas armas e acabar logo com tudo.

Foi dessa maneira, como um verdadeiro guerreiro que alguns dos homens ali presentes observaram pela última vez Joshua Raziel ao lado de Anjos e Arcanjos.

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A Arma Secreta de Deu

Muitos sabiam que poderia ser aquela a última vez que seus olhos viam o sol brilhar e ter a sensação do ar entrando em seus pulmões com facilidade. Alguns não se sentiam preparados para o que estava por vir, mas permaneciam firmes em sua vontade de defender suas casas.

- Hoje é o dia. Não digo isso porque diante de mim, vejo uma quantidade tão grande de homens que se torna impossível de contar. Também não digo isso pela razão de termos um exército mortal do outro lado desses muros. Mas porque cada minuto, cada segundo, cada fração de vida que tive até agora esperou por esse dia e quando acordei hoje, observei o sol e tive a certeza que cheguei ao meu objetivo. Peço que se um de vocês não desejar lutar, que se retire sem nenhum tipo de vergonha ou represália. Aos que ficarem eu afirmo: Não estou aqui lutando porque dizem que nasci para esse dia, estou aqui pronto para lutar e talvez morrer porque eu posso fazer isso. – falou Joshua, parando um pouco, respirando fundo e sorrindo: - Não lutemos hoje para nós, lutemos pelo o que virá. Pelas pessoas que morrem com a ideia de que o céu é

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A Arma Secreta de Deu

perfeito e para que quando chegarem aqui não encontrem uma guerra de tamanho descomunal como a que está por vir. Peço que lutem por vocês, suas mulheres, filhos, netos, por seu vizinho, amigo e inimigo. Vamos lutar hoje, porque simplesmente podemos e se nós vencermos, venceremos porque merecemos e não deveremos nada, a ninguém.

Centenas de espadas, arcos, machados e adagas foram suspensas ao céu e um grito ensurdecedor tomou conta do dia, fazendo uma revoada de pássaros invadir o ar como sinal de boa esperança.

- Eu não faria um discurso melhor. - falou Maria, subindo as escadarias em direção a Joshua, enquanto o grupo de mulheres que ela liderava se aproximava. – Vejo que perdeu sua timidez.

- Não foi tão bom assim. Quem são elas?

- Minha esquadra feminina pessoal.

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A Arma Secreta de Deu

- Não está pensando em fazer essas mulheres lutar, está? – perguntou Joshua, indo até Suspiro.

- Uma pessoa me pediu para lutar algum tempo atrás. Não sou o tipo de rainha que é desafiada e cruza os braços.

- Estou falando sério. – falou Joshua, olhando para Maria, enquanto certificava-se que a cela de Suspiro estava bem colocada. —Você deveria se preocupar em proteger essas mulheres e tirar as crianças e idosos da cidade para dentro do castelo. Preciso de você e de seu arco, mas não desta maneira.

- Não vou discutir com você Raziel, eu vou...

A frase da rainha foi interrompida pelo forte grito de um dos arqueiros que estavam na muralha, que fez toda a euforia dos homens ser substituída pela seriedade:

- Um negociador se aproxima.- Raziel? – perguntou um Anjo,

seriamente. —Deseja que alguém vá ao seu lugar?

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A Arma Secreta de Deu

- Não precisa. Eu vou. – falou Joshua, montando em Suspiro. – Se deseja mesmo lutar rainha, peça que suas arqueiras fiquem lado a lado com os Anjos arqueiros na muralha e em cima das torres mais altas. Precisamos defender o território. Peça para que elas se certifiquem que não errem nenhuma flecha, vamos precisar de tudo que temos. Também precisamos que alguém coloque panos embebidos com vinho ou cânfora para que possamos fazer uso de flechas com fogo.

- Raziel, estou pronto. – falou Anderson, montado em seu cavalo um pouco a frente.

- Mais uma coisa rainha. Leve as mulheres, crianças e idosos para dentro do castelo.

- Vou precisar de tempo para isso.- Infelizmente é uma coisa que não

temos. - frisou Joshua.- Vou fazer o melhor que puder.

Tome cuidado lá fora.- E você cuide-se aqui dentro. A

propósito, você ficou muito bem nessas roupas.

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A Arma Secreta de Deu

O casal ficou se olhando por um momento, com um sorriso nos olhos antes de Joshua dar sinal para que Suspiro começasse a caminhar em direção ao negociador.

O portão principal feito de madeira pura e grossa era um dos grandes monumentos da Cidade das Nuvens. Era preciso cerca de seis homens para levantar todas as suas defesas internas e mais quatro homens para que pudessem empurrar suas portas devido seu peso.

- Porque mandam um negociador se sabemos que não querem a paz? – perguntou Anderson, enquanto o portão abria.

- Precisamos ganhar tempo para que as pessoas possam ficar em segurança e para que nossos homens estejam todos prontos.

- Como pretende fazer então?O portão se abriu o bastante para

que dele passasse apenas uma pessoa a cavalo.

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A Arma Secreta de Deu

O negociador do exército dos espectros era um dos comandantes do primeiro esquadrão.

Cada esquadrão do exército de espectros era formado por quinhentos homens e vinte Satãs que podiam voar por cima das muralhas inimigas e atacar a fortaleza. No total eram cinquenta esquadrões que faziam a composição do exército.

Montado em seu cavalo acompanhado por seu escudeiro, um dos comandantes negros, enviado para negociar esperou impaciente o porta-voz da Cidade das Nuvens, mas fora surpreendido.

Anderson veio correndo em seu cavalo, enquanto gritava em plenos pulmões contra seu inimigo.

O jovem escudeiro negro sentiu suas pernas tremerem ao ver se aproximar aquele corajoso jovem desconhecido.

O comandante negro tentou dar meia volta com seu cavalo, enquanto pegava sua espada, mas Anderson o alcançou no caminho.

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A Arma Secreta de Deu

O vento pareceu parar e todos os homens, do exército negro e da Fortaleza das Nuvens observavam atônitos.

A lâmina da espada de Anderson cortou o ar em direção à cabeça do comandante.

O negociador negro desviou sua coluna em direção as costas e a lâmina de Anderson triscou com força o ferro de seu elmo tirando-lhe faíscas.

Já o jovem escudeiro negro, que havia ficado um pouco mais atrás, começou a correr em direção do exército negro em busca de proteção, quando uma flecha lhe ultrapassou a coluna vertebral e o fez tombar morto em segundos.

Raziel passou pelo portão ainda com seu arco em mãos e atirou mais uma flecha, dessa vez em direção aos céus. A haste subiu ao ponto de quase se perder de vista e começou a cair.

O comandante negro ajeitou-se em seu cavalo com a euforia de quem havia escapado da morte certa e só teve tempo de observar a cabeça de seu

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A Arma Secreta de Deu

cavalo ser ultrapassada pela flecha de Raziel que havia descido das nuvens e atingido seu alvo certo.

O tombo do animal e de seu comandante pareceram quebrar a magia da cena.

- Ataquem!- gritou outro comandante do exército negro, dominado pela raiva em suas veias.

Anderson deu a volta com as patas traseiras de seu cavalo derrapando no chão e abaixou-se enquanto flechas inimigas tentavam acertá-lo, enquanto Raziel passou com Suspiro em disparada na direção do exército inimigo.

Suspiro bufou confiante enquanto corria em direção ao inimigo e Raziel pegou na bainha da Dádiva de Deus e girou a espada em seus dedos.

Os arqueiros que preenchiam a linha de frente do esquadrão mais próximo prepararam suas flechas em direção ao cavalo e o cavalheiro adversário. O tendão de porco que era preso à madeira de árvores centenárias, formando os arcos, rangeram com a força que os guerreiros o puxaram.

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A Arma Secreta de Deu

- Agora! – ordenou Raziel, para à Suspiro.

O cavalo deu a volta levantando a poeira, fazendo os arqueiros perderem a visão e soltarem suas flechas aleatoriamente.

Do denso pó Raziel surgiu com suas grandes asas brancas pulando no meio do exército inimigo.

Os pés de Raziel caíram firmes em terra. Como viva sua armadura envolveu sua cabeça formando um elmo que lhe protegeu o rosto.

Os arqueiros passaram a mão em seus olhos limpando a poeira que Suspiro havia jogado e só perceberam que Raziel estava entre eles quando a lâmina da Dádiva de Deus ultrapassou o peito de um deles.

Os arqueios agora se encontravam em desvantagem e foram atacados corpo a corpo, sem nada poderem fazer em meio à euforia de um combate.

Um cavalo negro cruzou como um raio as ruas da cidade da Luz. Maria o montava com maestria de uma guerreira

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A Arma Secreta de Deu

treinada e o povo a seguia em direção ao castelo.

Mulheres tropeçavam, crianças choravam e velhos tentavam acompanhar a marcha pela sobrevivência enquanto mais e mais soldados se posicionavam em pontos estratégicos da cidade.

Sangue, suor e medo era tudo que os arqueiros viam em sua frente enquanto Raziel golpeava com força e agilidade sua infantaria. Esmurrando e golpeando quem encontrasse pela frente.

Toda a ação durou poucos minutos, quando o exército negro se deu conta da derrota momentânea.

Joshua saltou batendo suas asas mais uma vez e pousou um pouco a frente dos arqueiros feridos, onde Suspiro o aguardava.

Aproveitando os minutos finais sem reação, o jovem Raziel ainda cortou a cabeça de um dos guerreiros na sua frente, enquanto com sua mão direita segurou na cela de Suspiro jogando suas pernas para cima do corpo do cavalo

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A Arma Secreta de Deu

montando-o enquanto ele o levava de volta a salvo para dentro da cidade.

O portão foi fechado rapidamente e Joshua desceu de Suspiro abraçando seu animal e o acariciando como um irmão.

Anderson se aproximou eufórico e o elmo de Joshua desceu por seu pescoço formando novamente a gola alta de sua armadura.

- Conseguimos uma distração e tanto. – falou Anderson.

- Estamos apenas começando. Espero podermos contar com a sorte novamente.

- Sorte? - falou Anderson sorrindo. - Eu errei a cabeça do comandante.

- E eu estava mirando minha flecha nele e acertei o cavalo que ele montava. Eu chamo isso de sorte.

Embora tivessem sofrido perdas o exército negro não perdeu tempo em preparar novamente sua formação, agora não precisavam mais perder tempo mandando um negociador para manter as aparências.

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Um comandante negro foi à frente do exército dos espectros e levantou sua espada. Reconhecendo o sinal novos arqueiros, prepararam suas flechas e esperaram, até que o comandante apontou sua espada em direção à muralha inimiga e elas foram disparadas.

Joshua subia as escadas com Anderson quando percebeu a nuvem de flechas que se aproximava. Pegando a tampa de um barril que estava ali perto os dois se protegeram encostando-se a parede da muralha, enquanto flechas ficavam fincadas no escudo improvisado.

Uma corneta foi tocada e os arqueiros que protegiam a muralha dispararam em direção aos céus.

Girando no ar e agarrando as hastes com suas mãos e as quebrando um esquadrão de Anjos corrompidos se aproximava da Cidade das Nuvens.

Anjos e Arcanjos voaram em direção de seus inimigos no momento em que Raziel e Anderson terminaram de subir as escadas.

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Os corpos dos guerreiros aladas se entrelaçavam ao meio ao combate mortal, enquanto suas asas se mexiam com o vento batendo em suas penas.

- Como estamos? – perguntou Joshua.

- Sofremos perdas com as flechas inimigas e eles mandam agora o primeiro esquadrão de Satãs. Estamos tentando mantê-los afastados com nossos aliados alados. – respondeu um Anjo, enquanto disparava sua flecha. – A propósito boa negociação.

- Notícias de Ranar e William?- Eles conseguiram cruzar o

exército inimigo, porém não possamos garantir que não foram feridos.

- A maioria das pessoas conseguiram entrar no castelo. – falou Anderson, ofegante olhando ao seu redor. – Maria fez um bom trabalho.

- Cuidado!- gritou um arqueiro.Destroçando os tijolos da muralha,

a poucos centímetros do rosto de Joshua e Anderson um dos Anjos corrompidos

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A Arma Secreta de Deu

passou com sua clava pronto para dar o golpe mortal em um dos jovens.

Anderson conseguiu se segurar, mas Joshua virou por cima da parte interna da muralha e caiu pelo telhado de uma das casas dos moradores.

O simples telhado quebrou-se com a pancada e Joshua caiu no interior da casa sumindo da vista de Anderson, que lhe procurou preocupado.

Maria organizava com esforço a entrada das pessoas no castelo, impaciente por querer saber como estava à batalha.

- Estaremos seguros aqui minha rainha?- perguntou um senhor de idade, que mal conseguia ficar de pé.

- Aqui vocês estarão longe da batalha, pelo menos por enquanto.

- Meu pai está lutando agora. – falou uma garotinha, abraçada ao seu urso de pelúcia. – Ficará aqui com a gente rainha?

- Sinto muito, mas não posso. – falou Maria, fechando a porta enquanto pensava.

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A Arma Secreta de Deu

Um Anjo aproximou-se tentando derrubar o dono da clava que atacou Raziel.

Os dois seres alados agarraram-se pelos ombros e seus corpos giraram no ar, até que o guerreiro corrompido aproveitou que caíam e girou o corpo de seu agressor fazendo suas costas serem arrastadas pelo chão até que o soltasse.

O Satã rolou seu corpo algumas vezes no chão, por causa da queda, mas seus leves arranhões não foram nada comparados com seu oponente que tentava manter-se consciente, enquanto levanta-se visivelmente machucado.

- Pensa que pode me derrubar? – perguntou o Anjo corrompido. – Pobre capacho alado.

O Anjo da escuridão retirou sua espada de lâmina vermelha de sua bainha e suas mãos prepararam-se para o golpe mortal enquanto seu oponente ainda tentava se levantar.

- Espero que sinta muita dor.O Anjo negro levantou sua espada

e preparou-se para introduzi-la na nuca

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A Arma Secreta de Deu

de seu oponente, quando ouviu um longo assobio.

O guerreiro curiosamente virou-se na direção do som e a lâmina de Dádiva de Deus perfurou seu coração. Sem tempo de reação, o Anjo caiu com a espada enfiada em seu peito.

- Não acha que devia terminar comigo primeiro? – perguntou Joshua, retirando a Dádiva de Deus de seu adversário e continuando a andar lhe dando as costas.

- Acha que acabou? – falou o Anjo corrompido, se contorcendo em dor. – Sabe muito bem que um Anjo só morre quando seu ponto mais fraco é atingido e você nem chegou perto.

Joshua virou-se para o Anjo corrompido vagarosamente.

O vento soprou no rosto dos dois oponentes e eles seguraram firmes suas armas.

O Anjo corrompido levantou-se vagarosamente com a ajuda de sua espada e no local, onde a Dádiva de Deus havia atingido um líquido viscoso e prateado escorria.

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A Arma Secreta de Deu

Por alguns minutos os dois oponentes andaram em circulo. Estudaram o modo como seu oponente segurava a espada e o ritmo de sua respiração.

- Então você é o grande Raziel?O Anjo deu um passo à frente

mirando a lâmina de sua espada na direção da cabeça de Raziel, mas o mesmo defendeu com sua arma e tentou revidar acertando o peito já ferido do oponente, também sem resultado.

Anderson esticou o tendão de porco de seu arco e o soltou. Sua flecha acertou o ombro de um dos homens do exército negro que caiu.

- Preparem-se. – gritou um Anjo ao lado do rapaz.

Por alguns minutos Anderson ficou paralisado em um misto de encanto e medo.

Uma grande construção móvel se aproximava.

Uma torre de madeira grossa coberta por um pano cinza meio rasgado da altura de um prédio de quinze

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A Arma Secreta de Deu

andares. Aos seus pés rodas de madeira haviam sido colocadas e eram empurradas por várias soldados negros em direção à muralha da Fortaleza das Nuvens

- As torres de cerco se aproximam. – explicou o Anjo ao seu lado. – Se chegarem perto o bastante da muralha uma escotilha abrirá e os vários soldados que estão dentro dela invadirão a cidadela e em poucos minutos toda a fortaleza.

- Temos que impedi-los.- Que tal flechas com fogo? –

perguntou Maria, se aproximando.- Seria muito arriscado. – explicou

Anderson, pensativo. – Enquanto estivermos tentando acertá-las em vão, um grupo de soldados pode se aproximar o bastante para apoiar as escadas ou subir por grampos pela muralha. Seremos invadidos de qualquer maneira.

- Eu digo que devemos tentar.- Ninguém conseguirá acertar as

torres, é perda de tempo.

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A Arma Secreta de Deu

Maria respirou fundo. Pensou por alguns instantes e pegou seu arco de suas costas.

Observando a primeira torre que se aproximava constatou que pelo menos mais cinco delas estavam vindo em seu encalço e pegou uma de suas flechas douradas na bolsa em suas costas.

Anderson percebeu que a moça ia tentar mesmo depois de sua explicação, pegou um pano molhado em cânfora e colocou na ponta da flecha da rainha.

- Se vamos tentar, iremos com tudo. – falou o rapaz, confiante. – Vamos lá.

- Joshua me deu essas luvas. – falou Maria, enquanto Anderson ascendia o pano na ponta de sua flecha. – Era de sua mãe e ela nunca errou uma flecha. Espero que ela nos ajude.

- Muito bem. – falou Anderson apreensivo. – Que as mulheres arqueiras se preparem como a rainha, se ela acertar vocês também acertam. Arqueiros façam de tudo para proteger a muralha de outras tentativas de invasão.

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A Arma Secreta de Deu

- Senhor... – falou um rapaz de treze anos, vestido como guerreiro. – Estão tentando derrubar o portão oeste, se eles entrarem...

- Estou indo lá.Maria esticou com toda sua força o

tendão de seu arco até ouvi-lo estalar. O arco dourado da rainha envergou o máximo que podia e o ombro da guerreira não tinha mais força para segurar o tendão.

A jovem manteve seus olhos abertos mirou no meio da torre de cerco, no pano que a cobria e em movimento ascendente apontou seu arco em direção ao sol.

Ainda mantendo o tendão esticado a moça sentiu seu braço tremer e o soltou.

Anderson corria em direção ao portão oeste, observando a torre de cerco que havia aparecido primeiro e prendeu a respiração quando uma flecha parecida vindo do próprio sol caiu como lâmina no meio dela.

Em poucos segundos o fogo começou a se espalhar pela construção,

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A Arma Secreta de Deu

alguns soldados tentaram apagá-lo desesperadamente, mas várias outras flechas atingiram o mesmo alvo e em poucos segundos estava completamente em chamas.

Homens saíram da torre correndo para apagar as chamas de suas roupas ao rolar no chão, enquanto outros tentavam ainda sair, quando ela ruiu caindo por terra.

Joshua tentou mais uma vez investir contra seu inimigo que defendeu seu golpe e conseguiu acertar seu braço arranhando-o, porém seu arriscado contra golpe lhe custou um corte em seu rosto feito pelo reflexo de Raziel. Dos dois ferimentos um pouco de sangue escorreu.

- Você luta bem para alguém tão jovem. – falou o Anjo corrompido.

- Me imagine há alguns anos quando eu estiver com sua idade.

Os dois espadachins avançaram mais uma vez. Agora suas espadas se encontraram no meio do movimento e ficaram se enroscado entre os dois

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A Arma Secreta de Deu

lutadores que tentavam empurrar um ao outro.

De repente, a luz do sol foi interrompida e os dois lutadores olharam para o céu.

Várias flechas cortavam as nuvens como abelhas em ordem de ataque e começaram a cair.

Os dois jogaram-se em cantos que achavam seguros e se esconderam o máximo que puderam.

O Anjo negro juntou seus dois braços e um escudo semitransparente o protegeu das flechas de seus próprios companheiros de exército que atiravam contra a fortaleza.

Joshua olhou para os lados em busca de algo para se proteger e encontrou o corpo de um homem morto por uma flecha e o ergueu ficando debaixo do corpo atingido novamente várias vezes.

Depois de alguns minutos a chuva de flecha passou e os dois lutadores olharam-se prontos novamente para o combate.

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- Vamos acabar com isso. – falou o Anjo corrompido, voando em direção a Joshua.

O jovem Raziel jogou o corpo que havia usado como escudo, enquanto seu adversário se aproximava pronto para atacá-lo, quando ele já estava bem perto o jovem saltou girando por cima do inimigo e lâmina da Dádiva de Deus saiu cortando as costas do Anjo, que caiu no chão bolando na terra violentamente.

O Anjo tentou se levantar, já não conseguia falar. Tropeçou em suas próprias pernas. Seu ponto fraco havia sido atingido pelo golpe do jovem e de sua boca um líquido prateado escorreu antes dele cair morto.

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Joshua Raziel

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O FIM DA PRIMEIRA BATALHA

A batalha no portão oeste havia atingido um nível de violência crítico.

Arqueiros atiravam suas flechas, alguns escorregavam no sangue de seus companheiros já mortos e acima de suas cabeças Anjos travavam uma batalha épica.

- Rápido guerreiros... – gritou um homem com rosto ensanguentado. – Eles vão ascender o pavio!

Anderson observou o lado externo da muralha e sentiu o medo em seu estômago.

Um grupo de arqueiros satânicos de trinta homens atirava com destreza e mira perfeita contra os guerreiros em cima da Fortaleza da Nuvens. Todas as flechas atingiam seu alvo, enquanto uma equipe, de cinco Anjos corrompidos, usava escudos formando um círculo ao redor de um guerreiro com uma tocha na mão.

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Logo a frente do grupo um barril de pólvora que havia sido colocado próximo da muralha com o objetivo de explodir os muros e invadir a cidadela.

Anderson não se preocupou em pensar. Pegou uma adaga escondida no cinto de sua armadura e a atirou.

A lâmina girou e passou por poucos centímetros por entre os escudos dos Anjos corrompidos atingindo, já em sua queda, a panturrilha do guerreiro que carregava a tocha.

Gritando de dor o jovem soltou a tocha jogando-a para frente e como peça desastrosa do destino atingiu o pavio do barril.

Com os olhos gritando em pânico, Anderson virou-se para os guerreiros que estavam na muralha ao seu lado e saltou à parte interna do muro em direção as casas gritando:

- Vai explo...Primeiro uma luz de fogo passou

por entre os tijolos na muralha vinda de baixo para cima. A estrutura tremeu e rachou-se ao meio, então o barulho de explosão tomou conta do ar.

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A Arma Secreta de Deu

Maria estava a caminho do lado oeste da muralha onde esperava ser útil quando avistou a sua frente Joshua subir novamente a muralha pelas escadarias.

Tudo pareceu ficar sem som o rapaz olhou para a rainha e caminhou em sua direção.

Por alguns segundos toda aquela matança foi esquecida, como se o tempo em que o casal estava fosse outro.

Ela o recebeu com um sorriso nos olhos e um segundo depois pôde sentir a mão pesada de Raziel em sua nuca, puxando-a carinhosamente e beijando-a. O momento terminou em meio ao tremer que atingiu a muralha.

- A muralha oeste. – falou a moça interrompendo o beijo para segurar-se.

Raziel soltou um forte grito de dor e caiu ajoelhado aos pés da rainha.

Anderson e os soldados foram jogados em várias direções e até mesmo o grupo de Anjos corrompidos foi atingido pela pólvora sendo destruída.

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A poeira invadiu o ar e nada pôde se ver. O cheiro de sangue misturou-se ao ambiente.

Anderson abriu os olhos surpreso. Virou seu corpo caído para ficar de lado e admirou-se. Onde se esperava um rapaz destroçado havia um jovem bem vivo sem entender como havia sobrevivido.

A silhueta Dele apareceu com sua mão direita estirada, a poeira obedeceu a sua ordem e começou a dissipar. Os tijolos quebrados que estavam espalhados começaram a refazer-se e todos os elementos voltaram a formar a muralha antes parcialmente destruída.

- Você está bem? – perguntou Jesus abaixando sua mão, enquanto a muralha terminava de refazer-se.

- Estou senhor... – falou Anderson, ajoelhando-se rapidamente. – Embora não saiba como.

- Eu sei! – falou Maria aproximando-se enquanto um Anjo lhe ajudava a carregar Joshua.

- Conversamos depois. – falou Jesus decididamente. – O exército

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inimigo dará uma trégua agora. Eles precisam pensar em um novo jeito de adentrar as muralhas. Reúnam os generais e os Arcanjos.

As unhas das garras de Ranar racharam o chão quando o enorme Luciferus pousou.

A fera colocou Willian no chão e o menino caiu ajoelhado com suas roupas encharcadas enquanto o escudo ao redor da dupla de dissipou.

- Chegamos? – perguntou Willian, exausto.

Do alto das casas feitas de rocha da vila dos Luciferus várias feras saíram das sombras e apontaram suas armas para Willian e Ranar.

- É acho que sim. - falou o menino ficando de pé.

- Então você retornou irmão. – falou uma grande sombra a frente.

Um Luciferus saiu das sombras carregando um cetro.

- Não basta ter ido proteger um simples guerreiro contra minha primeira

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A Arma Secreta de Deu

ordem como rei, mas ainda retorna montado por um filhote humano!

- Sua primeira ordem como rei, Jax, contrariou a última ordem de nosso pai. Ele me pediu pessoalmente para proteger Raziel. – falou Ranar serenamente. - Sou fiel ao nosso pai e seu rei.

- Nosso pai está morto! – gritou Jax com raiva em seus olhos.

- Você é um príncipe? – falou Willian, surpreso. – Esse tipo de detalhe se conta.

- Irmãos... – falou Ranar, direcionando-se aos Luciferus que lhe observavam. – Chegou a hora. A Cidade das Nuvens está sendo atacada pelo exército de Lúcifer, o traidor. Devemos nos unir ao exército de Jesus.

- Por quê? – perguntou Jax, ironicamente. – Por que devemos nos meter em um luta que nunca irá terminar? Temos nossas terras e casas. Não precisamos lutar.

- Se querem continuar tendo suas terras e casas amanhã então sugiro que

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lutem. – falou Ranar, mantendo-se calmo.

- E quem é você para sugerir algo? – gritou Jax com um rosnado. – Abandonou seu próprio povo para defender um humano fraco e previsível.

- Não queira disfarçar sua covardia com as possíveis fraquezas dos outros.

Jax deu um passo ameaçador em direção a seu irmão e Willian reascendeu novamente seu pingente, porém Ranar simplesmente respirou fundo.

- Será realmente necessário? – perguntou Ranar afastando Will com seu braço esquerdo, enquanto a mão direita foi para o ombro de seu irmão. – É algo que não tem mais volta.

- Temos contas para acertar a muito tempo irmão. – respondeu Jax retirando a mão de seu irmão de seu ombro.

O restante das feras que assistia a discussão fez um círculo ao redor dos dois irmãos, que andaram circundando um ao outro, esperavam por quem daria o primeiro golpe.

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- Você sempre foi o favorito de nosso pai. – falou Jax com raiva. – Sempre um exemplo que eu devia seguir. Um grande nome para seu povo.

- Podemos ser grandes juntos. Você foi o escolhido para reinar sobre nosso povo e não eu. Isso prova que nosso pai nos amava com sabedoria e igualdade.

- Mas você recebeu a missão! Você foi o escolhido de nossa espécie! A fera da profecia, aquele destinado a proteger Raziel. Enquanto eu assumia o trono, nosso pai lhe colocava na história. Reis morrem irmão, mas grandes guerreiros são sempre eternos no tempo.

Jax tentou estocar seu irmão com sua garra direita, mas Ranar simplesmente deu um passo para a esquerda e empurrou a mão de seu irmão que passou pelo seu corpo sem causar nenhum dano.

- Podemos os dois fazer história. Não fique contra mim irmão, lute ao meu lado. – falou Ranar como último pedido.

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A resposta de Jax veio com um chute oco no meio do peito de Ranar, que caiu de costas no chão.

William deu um passo à frente para ajudar seu amigo, mas um Luciferus lhe agarrou pelas costas e prendeu suas mãos e boca.

Ranar rolou no chão, enquanto seu irmão tentava pisá-lo, até que parou, segurou a perna do atacante e o torceu fazendo com que ele também fosse ao chão.

Os dois irmãos pararam por um momento.

Suas respirações eram tensas e suas garras cresceram brilhando em meio à luz, enquanto levantavam-se.

Jax deu um passo à frente e novamente preparou-se para enfiar suas garras da mão direita no peito de seu irmão, mas Ranar defendeu pela segunda vez.

Sem hesitar as garras da mão esquerda de Jax entraram violentamente no ombro de seu irmão, transpassando-lhe a carne.

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A Arma Secreta de Deu

Ranar soltou um grito de agonia, além de ter sido ferido estava preso ao irmão cujo, as garras transformando-se em ganchos e se prenderam ao seu corpo machucando mais.

- Não sabe quanto tempo esperei por isso. – falou Jax sorrindo.

Jax acertou um chute na virilha de Ranar, que caiu ajoelhado enquanto seu ombro sangrava.

- Agora sim entrarei para a história, não como o irmão fraco que ficou sentado em seu trono enquanto seu irmão tornava-se um grande guerreiro, mas sim como a fera que matou a ele.

Jax preparou suas garras da mão direita para enfiar no pescoço de irmão.

Ranar sentia-se grogue. Seu ombro ardia às garras de seu oponente pareciam ter sugado sua força, quando em um esforço dilacerante enfiou com o restante de suas forças as garras de suas duas mãos no peito de seu rival. Jax olhou para a couraça de seu peito como se não soubesse o que havia acontecido.

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A plateia sem palavras viu as garras de Ranar transpassar o corpo de seu irmão que nem mesmo conseguiu dizer uma palavra antes de cair pesadamente sem vida no chão.

ÊXODO

O Castelo das Nuvens que antes era um recinto de paz e beleza, agora

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havia se tornado uma espécie de hospital improvisado.

Crianças, homens, mulheres, Anjos, Arcanjos e querubins feridos estavam sendo tratados o mais rápido possível, todos com a atenção e cuidado no qual a situação pedia.

As pequenas casas que formavam um grande círculo pela parte externa do castelo estavam desertas e algumas ardiam com o fogo que teimava em continuar seus ataques, mesmo naquele breve momento de paz.

Um jovem rapaz ferido conseguiu suportar a dor e chegou suando de agonia a sala de Jesus. Joshua Raziel era seu nome, e ele já estivera em melhores condições.

- A verdade é que estamos presos dentro de nossas próprias muralhas. – argumentava um Anjo quando o jovem entrou.

- Encaremos os fatos. – falou outro. – Não vamos aguentar por muito tempo. Podemos surpreendê-los com um ataque direto a sua linha de batalha.

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A Arma Secreta de Deu

- E assim daríamos nosso último suspiro. – falou Joshua, apoiando-se a uma cadeira que circundava a mesa, antes que fosse ao chão.

- Josh... – falou Maria indo até o rapaz. – Não deveria estar aqui.

- As pessoas precisam me ver para acreditar que ainda posso ajudá-los. Jesus, estamos indo tão mal assim?

- Temos como sobreviver por um bom tempo. – respondeu o menino, apontando para um mapa que estava em cima da mesa. – Mas isso dependerá da força dos ataques que sofreremos de agora em diante.

- Eles não tentarão a muralha novamente, certo?

- Imaginamos que não. – respondeu Anderson, entrando na sala. – Depois que eles viram o quanto Jesus foi rápido ao levantar novamente os muros duvido que tentem algo parecido.

- E quanto a Arazyel? Alguém o viu?

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Os Anjos que estavam na sala pareceram pouco a vontade ao ouvirem mencionado aquele nome.

- Ele não estava na batalha. – respondeu Maria. – Como sempre covarde demais para assumir suas responsabilidades.

- Não podemos ficar presos aqui. – falou Joshua decidido. – Temos que organizar uma evacuação geral do castelo.

- As antigas passagens do subsolo serviram como caminho. – falou Jesus pensativo. – Mais a pergunta é... Para onde?

- Conheço um lugar. – falou Joshua enquanto pensava. - Quanto tempo até estarmos prontos para partir?

- Com esforço senhor... – respondeu um Arcanjo perto. – Sairemos em até cinco horas.

- Muito bem, vamos fazer em duas. – falou Jesus.

A notícia se espalhou rápido.

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Os Anjos e Arcanjos mais rápidos trataram de espalhar a tática de evacuação nos pontos mais distantes enquanto querubins e humanos tentavam organizar uma fuga sem perdas.

O caminho era gasto. As passagens ficavam bem abaixo do castelo e haviam sido pouco usadas mesmo na época de sua construção.

Urros e gemidos eram constantemente ouvidos e um vento estranho corria pelos estreitos corredores que desciam cada vez mais por entre a pedra pura escavada.

Jesus e Anderson faziam a seleção de prioridades para a entrada nas passagens do subsolo, mais a frente, Joshua e Maria aconselhavam como deveriam proceder pela caminhada pelos túneis. Eram eles as últimas pessoas que os fugitivos viam com clareza antes de entrar na passagem escura.

- Os cavalos não vão conseguir passar por aqui. – falou Joshua pensativo. – É estreito demais.

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- Podemos orientá-los para que cheguem ao destino certo. – respondeu a rainha, enquanto ajudava um ancião a passar pela entrada dos túneis.

- E se eles forem seguidos?- Está pensando em alguma coisa?- Temos que nos dividir. Uma parte

coordena e leva o grupo ao esconderijo a outra passa pelas linhas inimigas levando os cavalos, armas e as pessoas que não conseguiram ir pelo subsolo.

- Isso é loucura!- Talvez se for louco o bastante

possa dar certo. – falou Jesus se aproximando. – Ainda há muitas pessoas para passar. Seria uma forma de ganhar tempo e nos certificar que levaremos tudo que precisamos.

- De novo essa história de tempo. – falou Anderson chateado. – Porque ele não está do nosso lado?

- Está ferido Josh! – falou Maria apreensiva. – Ir de encontro com a linha de batalha de um exército é loucura.

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- O exército inimigo não sabe que estou ferido. – falou Joshua seriamente. - Não vou me dar ao luxo de perder mais nenhuma vida.

- A não ser a sua.- E se eu for? – falou Anderson

interrompendo a discussão. – Posso usar a única passagem da muralha que deixamos livre e tentar contornar nossos inimigos.

- Precisaria de uma distração. – falou Jesus virando-se para o Arcanjo que estava perto. – Miguel preciso mais uma vez de seus serviços.

- Estou a sua disposição. – respondeu o Arcanjo.

Dois Satãs brigavam por um pedaço de carne assada.

Estavam em frente à fogueira mais próxima da muralha. Eram vários os focos de fogo que aqueciam o exército dos agressores.

Antes que se decidisse de quem era a refeição, uma corneta foi ouvida e no meio da noite um esquadrão de Anjos e Arcanjos avançou contra seus inimigos saindo da parte interna da muralha.

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O exército de alma perdidas não estava pronto para um ataque naquele mesmo dia, mas seus guerreiros atenderam prontamente ao chamado de combate.

Em meio à luta corpo a corpo o portão principal da Cidade das Nuvens foi aberto e vários cavalos saíram correndo por ele sem carregar ninguém em sua montaria. A frente deles Suspiro ia mostrando o caminho a seus companheiros de acordo com as orientações de Joshua.

Acima das nuvens onde era imperceptível ao inimigo vê-los, um número de seres alados atravessava o campo de batalha com seus passageiros para longe do combate em segurança.

O cansaço noturno era consequência do dia agitado que os habitantes do castelo haviam tido. Depois de um dia de combate e horas de fuga sem parar, finalmente chegavam ao jardim que serviu como esconderijo para os pais de Raziel.

Do lado de fora do local dezenas de Anjos haviam se espalhado e protegiam a entrada da cachoeira.

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Um acampamento havia sido improvisado no jardim e floresta.

Dentro da cabana deitado suando de dor e agonia estava Joshua Raziel deitado no leito que antes havia sido dos seus pais.

Um Anjo retirou a armadura leve do rapaz e pôde observar um ferimento profundo e ensanguentado que estava nas costelas do lado direito do jovem agonizante.

- O corte é profundo. – falou o Anjo, limpando o sangue. – Raziel perdeu muito sangue.

- Ele estava na minha frente quando aconteceu. – falou Maria preocupada. – Não foi atingido por nada.

- Foi um favor que ele me pediu. – explicou Jesus. – Ele carregará todas as dores de seus amigos consigo durante a batalha.

- Isso é uma besteira!- falou Anderson, lembrando a queda que havia sofrido da muralha na hora da explosão. – Por isso eu não senti nada quando fui mandado pelos ares.

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- Como pôde conceder tal pedido? - perguntou Maria em fúria.

- De qualquer forma com o resto da noite de descanso e sem esforço por algum tempo logo Raziel irá se recuperar. – falou o Anjo após o exame e a medicação que havia ministrado. - Temos que deixar o rapaz descansar por um bom tempo.

O Anjo saiu da cabana deixando somente Maria, Anderson e Jesus na companhia do desacordado Joshua.

- Poderia fazê-lo. – falou Maria acariciando os cabelos de Raziel.

- Você sabe que devo deixar minhas energias para a hora derradeira. – respondeu Jesus.

- Do que estão falando? – perguntou Anderson sem entender.

- Então eu o farei. - falou Maria. - Em seu nome.

Maria ajoelhou-se de frente para o ferimento de Joshua e retirou suas luvas brancas um pouco sujas de sangue do rapaz. Fechou os olhos e deixou sua mão repousar sobre o ferimento do jovem e o

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A Arma Secreta de Deu

lugar foi invadido por um silêncio profundo.

O cheiro de rosas invadiu o ar e um calor sem explicação começou a sair dos dedos de Maria que estavam sobre o ferimento de Raziel. A moça levantou a cabeça sussurrando algo e seu rosto foi tocado por uma paz inquebrável.

A jovem retirou sua mão e onde havia uma ferimento profundo apenas uma cicatriz ficou.

- Deixemos que ele descanse agora. – falou Jesus pensativo. - Ele merece uma pausa.

Joshua abriu os olhos vagarosamente e como em instinto passou a mão onde deveria estar ferido, encontrando somente sua nova cicatriz.

- Está tudo bem. – falou Maria sorrindo.

- As pessoas estão bem?- Todos conseguimos. Suspiro

trouxe os cavalos como você o orientou e boa parte dos Anjos de nosso ataque à frente de batalha inimiga retornou.

- Ótimo!313

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- Acho que chegou o momento de conversarmos sobre nosso grande inimigo Raziel. – falou Jesus seriamente. – Lhe contarei como Arazyel deixou de ser um ser de luz para ser o senhor das trevas.

A ORIGEM DO MAL

Quando o planeta que vocês chamam de Terra ainda era a mais nova aquisição do universo existiam junto ao pai os Anjos, Arcanjos, Querubins e os seres celestiais. Todos obedeciam sem questionar a mim, porque para isso foram gerados.

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Sentindo falta de um ser vivente que fosse capaz de fazer grandes coisas e evoluir de acordo com sua própria vontade, Deus criou o homem e a mulher a sua própria imagem e semelhança e lhes dei o poder de escolher, o Livre Arbítrio.

A eles foi dada a responsabilidade de governar sobre todos os seres viventes do Paraíso e eram amados como filhos que o são.

Porém ambos me desobedeceram e comeram do fruto proibido. O fruto de sua própria carne praticando fornicação. Deixaram-se levar por seus desejos mais intensos e praticaram o sexo antes da benção do pai.

Ao ter conhecimento disto, Deus os puniu expulsando-os do Paraíso e os mandando para a Terra onde suas necessidades são saciadas em vista de seu suor e a dor pode lhes alcançar.

Para que não pudessem voltar ao Paraíso, Deus ordenou que fossem vigiados por duzentas Sentinelas, constituída de alguns Anjos, Arcanjos e Querubins.

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Para liderá-los foram escolhidos dezoito líderes de plena confiança: Samyaza, Urakabarameel, Akibeel, Tamiel, Ramuel, Danel, Azkeel, Sarknyal, Asael, Armers, Batraal, Anane, Zavebe, Samsaveel, Ertael, Turel, Yomyael e Arazyel.

Dentre estes um foi nomeado como líder. O mais fiel ao pai era Arazyel, por isso o mais belo aos seus olhos e a quem lhe foi dado o título de Lúcifer, o seja, portador da luz.

A paz reinou por muito tempo, os sentinelas assumiram na Terra a aparência de homens, porém mais fortes, medindo trezentos cúbitos, que para os homens chegava a torno de seiscentos metros e, capazes de proezas inimagináveis.

Os filhos dos homens expulsos do Paraíso multiplicaram-se sobre a terra e nasceram elegantes e belas filhas. Estas, por sua vez despertaram a atenção dos Sentinelas de Deus.

Estes se reuniram no monte Hermon, que em hebreu significa herem, ou monte da maldição, o mesmo lugar onde mais tarde eu me transfiguraria em frente aos meus discípulos, ali fizeram o

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juramento de que apesar de se manterem alertas em suas tarefas de sentinelas teriam relações com as filhas dos homens.

Destas mulheres os Sentinelas receberam o nome de Naphelins ou Elioud, ou seja, grandes gigantes que assumindo o aspecto humano, passaram a ter relação carnal com elas e a povoar a Terra. Destes relacionamentos nasceram os Nefilins. Também seres grandes mais um tanto menores e menos providos de força que seus pais, porém avançados em relação aos demais homens.

Durante muito tempo, o pai observou este tipo de relacionamento. A raça dos homens expulsos do Paraíso aprendeu muito com seus servos.

Arazyel lhes ensinou a fazerem espadas, facas, escudos, espelhos, braceletes, ornamentos, pinturas, pedras preciosas e fazer uso de todos os corantes conhecidos e assim passou a ser visto como líder dos seres viventes.

Samyaza lhes ensinou sortilégios e as divisões das raízes. Armers a solução para sortilégios. Urakabarameel a observar as estrelas. Akibeel a

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interpretar os sinais. Tamiel a astronomia e Asael o movimento da lua.

Porém, sem condições de se nutrirem do que os homens produziam para sua existência os Sentinelas ou Naphelins começaram em sua ânsia por comida a alimentar-se de homens e animais, bebendo também seu sangue.

A situação mostrou-se grave e Deus reuniu-se em conselho com cinco Arcanjos: Miguel, Gabriel, Radael, Suryal e Uriel. Juntos julgaram o acontecido condenando à atitude dos Sentinelas.

Como castigo Deus ordenou que Uriel aparecesse na Terra e prevenisse, a um homem de sangue puro, de um grande dilúvio que limparia a linhagem dos homens impuros e destruiria o sangue corrompido que dominava a Terra. Assim ele anunciou a Noé que tratou de construir uma arca de acordo com as especificações Dele.

Para Radael foi dada a missão de capturar aquele considerado o culpado de toda a impureza, o líder dos Sentinelas, Arazyel.

O mesmo foi preso amarrado mãos e pés e lançado na escuridão, sendo

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jogado no deserto de Dudael. Pedras agudas foram lançadas sobre ele, sufocando-o com a escuridão e fogo. Como forma de que não voltasse foi lhe tirado todas as graças celestiais, deixando suas asas negras e sem vida e sua pele queimou ardorosamente. Completamente desfigurado ele virou uma besta a quem chamaram de Satã, o acusador e senhor da escuridão.

Miguel tratou de anunciar a condenação aos outros Sentinelas e Deus os prendeu por mais de setenta gerações, prometendo libertá-los somente no julgamento final.

Me pai teve grande pesar em destruir suas obras e a maioria de seus filhos, mas fez isso preparando a Terra para a vinda do Filho do Homem, que somente poderia nascer de uma linhagem de sangue puro e que não tivesse sido contaminada pelos Naphelins.

Sabendo que seus filhos morreram no dilúvio, Satã jurou roubar, matar e destruir qualquer ser que Deus amasse ou criasse daí seu ódio pela raça humana a quem apesar de ter errado, Ele perdoou e os ama até hoje.

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Apesar dos esforços, os Nefilins, filhos de meus Sentinelas sobreviveram e foi um deles que Davi enfrentou em sua jornada em busca de sabedoria para comigo, vocês o conhecem como Golias.

Ao contrário do que muitos pensam Arazyel é bem esperto e sempre fez com que a impureza sobrevivesse. Embora em número reduzido os Nefilins continuam a caminhar sobre a Terra como espíritos maus a comando do próprio Satã que usa sua essência para lhes passar ordens. Eles oprimem, corrompem, caem, contendem e confundem de acordo com a ordem de seu mestre.

Assim nasceu Satanás, ou Satã. A essência do próprio Arazyel que um dia foi meu mais belo Anjo e foi conhecido como um ser de luz, Lúcifer.

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SURGE UMA NOVA ESPERANÇA

O sol nasceu com força e a aparência dos exército aliado a Joshua Raziel foi renovada.

A floresta onde se refugiavam estava tomada de seres alados que tiravam dela a alimentação necessário para todo o grupo.

Joshua saiu da cabana e sentiu-se contente ao ver que todos estavam bem.

- Bom dia Raziel. – falou um Anjo sorrindo. – Somente hoje tive certeza que conseguimos sucesso em nossa fuga.

- Como vai Josh? – falou Anderson aproximando-se. – Nossos vigias não declararam nada suspeito pelas proximidades.

- Will e Ranar voltaram?- Vai ser difícil que nos encontrem.

Afinal, saímos da cidade e eles não foram avisados.

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- Podemos mandar um grupo de guias. – falou Maria aproximando-se. – Tenho certeza que a floresta dará a camuflagem que precisamos.

- Antes disso eu gostaria de conhecer Radael.

Borboletas apreciavam o café da manhã do trio de amigos quando um Arcanjo jovem pousou bem perto.

- Eu sou Radael, ou Rafael. – falou a Arcanjo apresentando-se. – Queria me conhecer Raziel?

- Ouvi falar muito de você. – falou Joshua lhe apertando a mão. – Soube que foi você quem enfrentou e capturou Lúcifer quando lhe foi ordenado.

- Infelizmente sua essência ainda está livre.

- Gostaria que ajudasse a manusear minha espada, a Dádiva de Deus.

- Já é um grande guerreiro. Além das habilidades atribuídas a sua idade.

- Porém não conheço o estilo de luta dele. Com certeza não deve lutar com honra.

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- Sendo assim terei prazer em encontrá-lo hoje à tarde na floresta para que possamos aprender juntos.

O clima estava úmido na floresta fora do acampamento do exército.

Patrulhas haviam passado para certifica-se que estava tudo bem com todos os Anjos que vigiavam a passagem atrás da cachoeira e agora Raziel, Maria e Anderson caminhavam pela mata fora do território seguro.

- Estive pensando... – falou Joshua enquanto caminhava com sua espada em suas costas. – Talvez seja finalmente hora de resgatarmos as crianças que Lúcifer sequestrou.

- Seria um golpe em Lúcifer sofrer a perda delas. – falou Maria sorrindo.

- Ali estão eles! – apontou Anderson olhando para o céu.

Entre as nuvens a sombra de Ranar e William sobrevoava acima do trio.

Joshua subiu em uma arvore e com a lâmina de sua espada direcionou um raio de sol na direção deles.

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- Logo chegaremos ao castelo. – falou William animado. – Vamos ter que passar por cima do exército inimigo de novo, mas vou adorar dizer a Josh sobre você e os Luciferus.

Em seus olhos Ranar sentiu um raio de sol e ao olhar para baixo observou um brilho estranho entre a floresta que insistia em lhe alcançar.

- O que acha? – perguntou William.- Vamos dar uma olhada. Em todo

caso é melhor se preparar para o pior.Ranar mergulhou em direção à

floresta e ao chegar mais perto pode ver Maria e Anderson entre as árvores.

- O que fazem aqui? – perguntou Ranar pousando. – Não é seguro.

- Ao contrário meu amigo. – falou Anderson, lhe apertando a mão. – Aqui é mais seguro.

- O castelo está abandonado. – falou Maria enquanto abraçava William. – Temos outro refúgio agora.

- E novos aliados também. – falou William animado. – Tinham que ter visto

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Ranar venceu um combate mortal e agora é o rei dos Luciferus.

- Então estão do nosso lado agora. – falou Joshua pulando de uma árvore para o chão. – Como você está irmão?

- Nossa você está um caco!- Mas o que houve com o castelo?

– perguntou Ranar. – Não estávamos indo tão mal quando nos ausentamos.

- É uma longa história. – respondeu Anderson pensativo. – Creio que deva descansar agora. Siga em frente e alguns amigos o encontrarão.

- Aonde vão? – perguntou William curiosamente.

- Trazer alguns amigos para você. – respondeu Maria sorrindo.

Fios de luz do sol passavam entre as espessas folhas de árvores da floresta.

As copas das árvores formavam um escudo natural entre o céu azul celeste e o chão coberto de folhas caídas. Diferente de alguns relatos antigos poucos animais se encontravam agora na mata.

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O trio de jovens cavalgava com maestria entre os caminhos estreitos da floresta e não acuaram quando as árvores desapareceram. À frente um grande abismo e logo abaixo um deserto de chão rachado.

- Estamos chegando perto. – falou Maria saltando devagar de seu cavalo. – Temos que descer com cuidado agora, e andar mais um pouco.

- Ainda bem que eu trouxe água. – falou Anderson, sorrindo. – Algo me diz que vamos precisar.

Longe da proteção da floresta e sem qualquer acúmulo de água avistável, os jovens percorreram mais algumas horas até avistarem bem ao longe um tipo rudimentar de cerca de pedras.

- Muito bem daqui para frente eu proponho um resgate rápido. – falou Joshua, desmontando. – Entramos e saímos sem ser notados.

- Acha que não vão perceber a falta das crianças? – perguntou Maria desmontando. – Com certeza estão sendo vigiados!

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- E nossos cavalos estão exaustos Josh. – observou Anderson sentindo a respiração de seu animal. – Eles não são como Suspiro. Sair correndo daqui sendo seguidos por algo que nem sabemos o que é ainda, com certeza vai ser mais difícil do que realmente é. Talvez se nos dividíssemos seria melhor.

- Muito bem. Vamos pelo menos entrar com cautela e ver o que vamos enfrentar. Temos que contar com o elemento surpresa. – falou Joshua, olhando depois para Suspiro: - E você parceiro tem que cuidar dos outros cavalos. Estão em um campo muito aberto, volte e encontre um bom lugar.

Suspiro bateu sua pata direita no chão como sinal que tinha entendido e os jovens pegaram as armas de suas montarias.

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DESAFIANDO OS LIMITES

O estado das crianças era deplorável. Havia crianças revoltadas e chorosas, outras conformadas e sem esperanças de um breve resgate, e outras executando serviços brutais – tudo sob os olhares sádicos dos guardas satãs que as chicoteavam sem misericórdia.

Joshua observava a cena do esforço descomunal que elas praticavam ao fazer o carregamento de sacos de pedra para uma das carroças que estavam no local. Enquanto o suor corria-lhe no rosto, os guardas se divertiam dando-lhes pontapés e empurrões.

- Este está no ponto! – falou um dos guardas chutando uma criança caída. – Levem-no.

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Joshua contornou a carroça onde estava escondido.

Era fantasmagórico. Uma cena tão grotesca que desafiava a própria compreensão. Raziel não sabia o que fazer. Isto se sobrepunha a qualquer coisa que envolvesse mesmo os mais horríveis rituais que aconteciam no vulcão de Arazyel.

O jovem passou a mão na coronha de sua espada e estava pronto para agir quando, ouviu a súplica de uma criança. Concentrou-se no barulho que vinha atrás de uma grande pedra de rocha pura, encostou suas costas nela e resolveu que observaria melhor subindo no obstáculo. Foi de lá que viu um guarda corpulento e de peito nu espancando cruelmente o pequenino e miserável escravo.

A fúria invadiu Raziel sem controle. Cerrou os punhos, rangeu os dentes, pode sentir seus cabelos levantando e seus olhos tornando-se cinzas, era a primeira vez que isso acontecia sem estar usando a Dádiva de Deus. O rapaz

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balançou a cabeça lutando contra seus sentimentos, precisava se concentrar e voltou ao normal.

O guarda pareceu sentir a intensa pressão do olhar de Joshua nas suas costas e observou a sombra do rapaz projetada no chão de pedra rachada a sua frente. Parou de bater na criança, olhou para cima e viu Raziel que olhava para baixo. Os seus olhares encontraram-se, fixaram-se e combateram-se.

O Satã estava um pouco distante dele: Joshua poderia ainda partir, se assim o desejasse, mas não era essa sua intensão.

Raziel pegou o arco em suas costas, ergueu, pegou uma flecha com cuidado. Estendeu o tendão de porco de sua arma e mirou em postura militar.

O Satã estralou os dedos e preparou-se.

A flecha saiu na direção de seu alvo a uma boa velocidade, mas o

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guarda limitou-se a segurá-la no ar. Pouco se moveu apenas a segurou. Sorrindo mais uma vez, ele quebrou a haste ao meio e voltou a olhar para Raziel.

Os seus olhos encontraram-se de novo, mais uma vez o guarda parecia se divertir, só que, desta vez, estava a memorizar o rosto de Joshua: imprimindo cada pormenor no seu cérebro, de modo a não esquecer este intruso que se atrevera a perturbá-lo. Joshua retribuiu o sorriso, embora compreendesse que não ganhara nada com este seu primeiro ataque.

O escravo, surpreendido, olhou para ele, chocado. Recuperou a postura vigorosamente e partiu correndo entre aos intrigados Satãs que saíram de dentro de uma cabana para ver de que se tratava aquela confusão.

- Posso começar agora? – perguntou Joshua, usando somente o polegar de sua mão esquerda para sacar um pouco sua espada da bainha.

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Um guarda lhe agarrou pelas costas. Foi aí que o rapaz percebeu a emboscada.

Raziel foi empurrado da pedra e caiu de costas no chão, com o impacto soltou sua espada que caiu distante de sua mão.

O Satã que havia lhe surpreendido pelas costas pulou da rocha e caiu logo na sua frente.

- E agora o que vai fazer grande guerreiro? – falou o Satã sorrindo.

Raziel deu um chute com força na virilha de seu oponente e ele caiu ajoelhado gemendo de dor enquanto o rapaz levantou e terminou o serviço lhe esmurrando o queixo repetidas vezes, causando-lhe o desequilíbrio pela força que tinha colocado nos golpes.

O Satã de peito nu que observara Joshua antes, se aproximou por trás e sacou seu punhal pronto para acertar as costas do rapaz, mas uma flecha lhe desarmou no momento fatal.

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- O que houve com o elemento surpresa?- perguntou Maria preparando seu arco para um novo disparo.

Uma carroça prendeu um dos Satãs contra a parede de pedra da cabana. Anderson empurrava o veículo com todas as suas forças tentando trucidar seu oponente ainda surpreendido.

Apesar de desarmado, o Satã gigante investiu contra Joshua tentando lhe acertar o rosto com seu punho direito. Joshua segurou o golpe de seu inimigo com a esquerda e lhe acertou um murro em seu queixo com a direita.

Os dois se afastaram por um momento, ergueram os punhos em posição de luta. Estavam desarmados e não pareciam se importar com isso.

De alguma forma, Joshua sentiu que seu ódio havia lhe dado força. Sem saber explicar estava conseguindo controlar seus sentimentos gerando uma energia além do comum.

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Raziel adiantou-se acertou o pulso com força nas costelas do lado direito de seu oponente, bateu com seu cotovelo em seu nariz e lhe dobrou as costas lhe dando uma joelhada bruta no queixo.

O Satã cambaleou.

A força daquele rapaz não era comum, e bem superior ao seu oponente.

Sabendo que deveria acabar o mais rápido possível com a luta o Satã agarrou Joshua pelo tecido da roupa em uma investida rápida e girou seu corpo jogando-o contra uma carroça. O veículo que carregava pedras partiu-se ao meio com o impacto.

- Josh! – gritou Maria preocupada.

A jovem rainha apontou sua flecha na direção do Satã de peito desnudo e avançou pronta para atacá-lo, mas outro inimigo se aproximou voando por trás e a agarrou pela cintura, erguendo-a a uma altura atordoante.

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- Não se preocupe. – falou o Satã segurando a moça. – Você é preciosa ao mestre e não vai morrer aqui.

- Tenho certeza disto!

Maria pegou rapidamente um punhal entre suas botas e o enterrou com força no ombro de seu inimigo que soltou um grito de dor. A jovem jogou seu corpo e girando-o subiu nas costas de oponente direcionando-o ao chão.

O Satã que Anderson pressionava contra a cabana cansou da investida de seu oponente e colocando uma de suas mãos debaixo da carroça a jogou para o lado. O veículo girou duas vezes no ar e foi parar a alguns metros de distância, sem ele Anderson que o empurrava caiu de joelhos no chão.

O guarda se aproximou e se preparou para esmagar o rapaz com seu pé, mas o jovem rolou passando entre suas pernas, lhe acertou um chute na virilha e jogou-se ferozmente contra ele, lhe jogando ao chão pela cintura.

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Joshua balançou a cabeça atordoado. Seu corpo cambaleou um pouco enquanto seu inimigo se aproximou limpando o sangue que lhe escorria do nariz, resultado do golpe que havia recebido do jovem anteriormente.

- Me fez sangrar!- gritou o Satã se aproximando.

- Posso fazer muito mais.

Joshua acertou mais uma vez o rosto de seu oponente, desta vez com um golpe mais forte de direita.

O Satã cambaleou novamente e irado pegou o rapaz pelo pescoço e o ergueu até a altura de seus olhos.

Raziel sentiu a forte mão que pressionava seu pescoço. Sentiu seus ossos em tempo de quebrarem e tentou soltar-se dobrando seu tronco e enroscando o braço de seu oponente com suas pernas e empurrando o pescoço de seu inimigo com o pé.

Com o rosto sento empurrado pelo solado da bota de seu inimigo, o Satã

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levou Joshua até o alto de um monte e o ergueu na beira de um fosso que não se podia ver o fundo.

Joshua olhou para baixo, seus olhos já estavam vermelhos por razão do sufocamento e agora se preocupava com a queda que sofreria.

O Satã apunhalado por Maria caiu pesadamente de peito no chão, a jovem rainha rolou na superfície de pedra rachada e levantou-se já preparando seu arco para disparar no guarda que segurava Raziel que se contorcia enquanto era sufocado.

- Solte-o. – ordenou a rainha.

- Escolha ruim de palavras – falou o Satã sorrindo e soltando o rapaz.

O grito de Raziel foi ouvido enquanto ele caiu pelo fosso sumindo de vista.

Anderson levantou com suas roupas sujas de terra e chutou seu oponente inconsciente.

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- E fique aí. – falou o rapaz exausto.

Maria soltou sua flecha na direção do Satã gigante e o guerreiro simplesmente deixou a haste passar ficando de lado.

- Vai pagar por isso. – falou Maria pegando sua espada em suas costas.

O som de um forte vento aproximando-se foi ouvido.

Admirada Maria observou Joshua sair voando do fosso, enquanto erguia em direção aos céus o Satã que havia lhe jogado no buraco lhe segurando pelo pescoço. Com a velocidade do voo pedregulhos e poeira saltaram ao vento.

- Você tem asas! – falou o Satã enquanto Joshua lhe segurava pelo pescoço e lhe esmurrava o abdome com a outra mão.

- É de família.

Os dois lutadores socavam-se incessantemente em pleno ar e Joshua

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mergulhou e passou a voar rasante enquanto jogava a cabeça de seu oponente contra o chão de pedra que se rachava a cada pancada.

O Satã usou toda sua força jogando o corpo de Joshua para longe e caiu pesadamente no chão formando um caminho de pedra rachada e poeira.

Joshua girou no ar com o empurrão e bateu no chão duas vezes antes de conseguir parar agachado com sua mão direita no chão e suas asas abertas prontas para qualquer movimento.

O silêncio prevaleceu por alguns minutos até que Maria e Anderson se aproximaram seguidos pelas crianças escravas, que assistiam a briga entre os dois lutadores.

Raziel sorriu limpando o sangue que escorria de sua boca e suas asas recolheram-se para suas costas, enquanto o Satã começou a levantar-se pesadamente.

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O forte e grande adversário ainda conseguiu erguer-se antes de cair definitivamente de rosto no chão inconsciente.

Um forte grito de alegria veio das crianças enquanto Joshua tirava a poeira de suas roupas e seus amigos guardavam suas armas exaustos.

- Ele não era tão durão afinal de contas. – falou Maria sorrindo para Joshua.

- Eu só estava me aquecendo. – respondeu o rapaz passando a mão em seu rosto dolorido.

- Pode até saber voar Raziel... – falou Anderson sorrindo. – Mas vai ter que aprender a aterrissar!

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ALIADAS ALADAS

Um Satã entrou apressadamente na sala do trono do castelo de Jesus. Parecia trazer em suas costas todo o peso da raiva que Arazyel sentirá quando a notícia que ele lhe trazia fosse dada.

- Não é maravilhoso! - exclamou Arazyel observando a sala de Jesus. -Não acha uma besteira dar um lugar como este a si mesmo? Ele me condenou por querer ser o líder em seu lugar, mas a pergunta é: quem o elegeu? E então como foram as buscas?

- Sem resultado meu senhor. Não encontramos ninguém vivo.

- Como milhares de pessoas somem de uma fortaleza cercada? – gritou o Anjo da escuridão a um dos guardas que lhe ouvia. – É o cúmulo da incompetência. Foram enganados por velhos, crianças e um batalhão de

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guerreiros sem esperança de vitória!- exprimiu em tom sereno.

- Havia uma passagem pelo subsolo senhor a qual termina muito longe do castelo. – falou um dos guardas vagarosamente. – Não pensávamos que poderiam usá-la, afinal, abandonaram tudo.

- Não é feito para pensar e sim matar, roubar e destruir! Saiam da minha frente, queimem as casas e botem abaixo o muro de fogo que protege a cidadela. Construam um de ouro para mim e meu novo castelo. Saiam pela floresta e não deixe nenhuma planta que não tenha virado cinza.

- Existe a possibilidade de eles estarem em outro refúgio.

- Pois queimem também. Faça-os ficar sem opção e aí sim eles virão contra mim!

O acampamento estava em festa.

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Ao menos naquela noite a sombra da guerra e do sofrimento havia sumido com a chegada das crianças.

Jesus, Raziel e Rafael conversavam sobre as medias a serem tomadas contra seus inimigos e todos se divertiam ao redor da grande fogueira que havia sido acesa para a noite.

William mostrava a habilidade que seu crucifixo havia lhe dado formando pequenas sombras vivas que usava para contar histórias.

- Trouxe muita alegria hoje Raziel. – falou Rafael pensativo. – Uma esperança em tempos sombrios.

- E ainda estou me recuperando disto.

- Amanhã estará pronto para outra luta. – falou Jesus sorrindo. – Esperemos que fique inteiro dela também, pelo bem de nosso futuro.

- Por falar em futuro... – falou Joshua lembrando-se de algo. – Em meu primeiro encontro com Arazyel ele

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comentou algo sobre William. O que me deixou preocupado, porém agora sei que um espião lhe fornece informações. Ele falou sobre um triângulo que deveria ser fechado.

- Três pessoas destinadas a se encontrar aqui. – falou Jesus comendo uma fruta. – Simbolizam o passado, o presente e o futuro.

- O tempo que deve ser dominado por Lúcifer se ele quiser conquistar a humanidade. – falou Rafael pesadamente. – Se isso acontecer tudo que fizemos, todas as pessoas que sofreram, terá sido em vão.

- Mas quem?- perguntou Joshua curioso. – Quem são essas pessoas?

- Você não percebeu? – perguntou Jesus sorrindo. – É tão evidente. Uma delas é você, o presente. A outra é William, o futuro e por último fechando o triângulo Maria, minha mãe, o passado. Três pessoas ligadas a mim e com grande força. Por isso o sentimento de união entre vocês é tão forte.

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Dominando uma dessas pessoas o tempo sairá do controle.

- Por isso ele tentou sequestrar Maria. – falou Joshua seriamente. – Não chegará tão perto da próxima vez. De nenhum dos dois.

- Tem que aprender a dominar sua raiva Raziel. – falou Rafael. – Se perder a calma Lúcifer o corromperá.

- Acho que estou começando a entender como funciona a raiva em meu corpo, me deixa mais forte e ágil.

- Então deve aprender a usá-la em seu favor. – falou Jesus pensativo. – Porém se ficar com muita raiva estará perdido.

- Se me dão licença vou descansar agora. – falou Raziel levantando-se. – Amanhã começamos nosso treinamento Rafael.

Joshua caminhou em direção à cabana e ao abrir a porta Maria lhe puxou dando-lhe um beijo, enquanto o rapaz tirava sua blusa.

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A grama era de cor verde intenso.

A brisa estava agradável e os pássaros voavam alegres naquela manhã.

Joshua sentiu o chão refrescante e toda a força que a natureza daquele lugar exercia sobre seu corpo. Seus pés descalços lhe transmitiam paz.

Rafael também estava descalço e começou a voar suavemente seguido por Raziel enquanto Maria lhe observava ao longe.

- O treinamento com Rafael ajudará Josh a ter segurança em seus voos. – falou a rainha preparando o café da manhã.

- Raziel é formidável. – falou Anderson. – A forma como luta é realmente algo que eu nunca havia visto.

- Está ficando cada dia mais forte.

- Sua força parece não ter limites.

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- Suas habilidades também estão sendo de bom uso Anderson.

- É bom ser útil em tempos como esses. E ser parceiro de Raziel é algo que nunca pensei.

- Não fale isso perto dele. – falou Maria sorrindo. – Ficará muito convencido!

Joshua voava em grande velocidade, mas não conseguia acompanhar Rafael que havia sumido entre as árvores.

As folhas batiam em seu rosto e os desvios para não chocar-se contra os troncos lhe faziam girar em pleno ar e fazer manobras para evitar a colisão.

De repente Joshua ficou com o pé preso em um cipó de um galho e balançou de cabeça para baixo enquanto Rafael se aproximava.

- Tem que sentir o ambiente ao seu redor. – falou Rafael ajudando o rapaz a soltar-se. – Para ter um bom resultado em uma luta alada tem usar cada nervo

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do seu corpo em seus golpes e deixar que seu instinto lhe conduza pelo ar.

- Quando acho que estou melhorando, me esbarro em algo. – falou Joshua voando livre.

- Suas asas são fortes, mais até que muitas outras que conheço. Porém o fato de elas serem novas para você deixa a batalha em ambientes estreitos e fechados mais difícil.

- Ainda tenho que me acostumar com elas.

- E elas a você.

- O que quer dizer?

- Venha até aqui. – falou Rafael, começando a descer até a grama. – E observe.

Raziel concentrou-se e começou a descer bem devagar.

Rafael juntou suas mãos à frente de seu corpo e um brilho intenso surgiu fazendo Joshua proteger seus olhos com

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sua mão. Quando a luz sumiu uma espada estava na mão do Anjo.

- Suas asas são peças vivas de seu corpo. – começou a explicar o Anjo, enquanto fincou sua espada no chão. – Por serem vivas são tão sensíveis como qualquer ser. Sofrem com você, sentem seu medo, sua força e sua vontade. Os antigos escritos não são claros quanto às asas de um Anjo e a personalidade que elas expressam, mas...

- Personalidade? – interrompeu Raziel pensando alto. – Quer dizer que agem por conta própria?

- Elas pensam e sentem. Estive estudando sobre suas asas e elas me parecem ter surgido em dois momentos bem distintos. No primeiro quando você era refém de Arazyel e segundo relatam elas eram de cor negra, apesar de que quando você retornou ao castelo elas já estavam brancas. Pergunto-me o que as fez mudar?

Como um flash, a lembrança de sua primeira noite com Maria surgiu em

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sua mente e apesar de não ter percebido no momento, lembrou-se de suas asas terem brilhado muito intensamente quando a relação estava em seu auge.

- No segundo momento em que suas asas lhes prestigiaram com sua ajuda contaram-me que você estava novamente em apuros.

- Espera, está dizendo que elas me protegem?

- Ou se protegem ou protegem você. – respondeu Rafael sorrindo. – Como eu disse nem mesmo os antigos escritos nos explicam direito sobre nossas amigas aladas. Porém, uma das pessoas que mais as entendeu e sabe ainda usá-las como ninguém me disse uma vez que elas reagem de acordo com nossa personalidade.

- Se eu estiver com raiva...

- Elas serão negras como seus sentimentos.

- O mesmo Anjo que me disse isso completou dizendo que estava

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descobrindo tantas habilidades em suas próprias asas que estava começando a pensar que a quantidade das penas delas era igual ao que elas poderiam nos proporcionar.

- Está falando de armas?

- Escudos, roupas, força... Uma quantidade inigualável de habilidades.

- Podem ser dominadas?

- Dominadas não é a palavra e sim parceiras de sua imaginação. Não existem parceiras melhor e mais confiáveis para um Anjo do que suas próprias asas.

- Então tudo depende do que eu imagino e que de alguma forma elas tornam real. Parece muito com o crucifixo que Maria deu a Will.

- E do que você acha que ele foi feito?

- Esse Anjo que você falou ser tão grande conhecedor sobre asas ainda vive?

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- É o mesmo Anjo que matou seus pais e causou as mazelas da humanidade, Lúcifer.

-Por isso ele era tão valoroso

- Digamos que ele compreendeu uma coisa Raziel... O céu não é mais o limite.

- Eram amigos?

- Parceiros de luta...

- Raziel... – falou um Anjo se aproximando voando rápido. – Desculpe interromper, mas é uma emergência.

- Aconteceu alguma coisa com o acampamento?

- Não é a floresta, ela está em chamas!

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ONDE MENOS SE ESPERA

O fogo se espalhou rápido pela mata virgem.

Aos poucos, os animais corriam assustados em busca de proteção, enquanto outros eram resgatados por Anjos ou Arcanjos.

Os habitantes do acampamento olhavam por entre a cachoeira com olhos mareados.

Diversas árvores centenárias e solo fértil eram reduzidos a cinzas.

- Estão nos deixando sem escolha. – falou Jesus seriamente. – Quando o fogo passar nada os impedirá de que em um voo descobrir a cachoeira e nosso acampamento em seguida.

- Então temos que sair daqui, fugir novamente. – falou um Anjo. – A pergunta é para onde?

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- Onde ele nunca pensará em procurar. – falou William pensativo. – Acho que tenho uma ideia.

Joshua olhou sem entender para o pequeno irmão e ele sorriu confiante.

As pessoas arrumavam suas coisas enquanto dentro da cabana, William contava sua proposta a seus amigos:

- Quando eu e Josh brincávamos de esconde-esconde, ele sempre teve muita dificuldade em me encontrar. Isso quando encontrava.

- Mais isso não é uma brincadeira. – falou Ranar sem entender.

- Você não entendeu rei das feras. Josh tinha dificuldade em me encontrar porque eu sempre me escondia onde ele menos esperava, no lugar em que ele mais usava como esconderijo. As pessoas procuram as outras onde acham que elas estariam e não onde elas próprias costumam se esconder.

- Ainda não entendi. – rosnou Ranar impaciente.

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- Eu sim. – falou Jesus sorrindo para William. – Brilhante! Perigoso, mas simplesmente brilhante. Onde Lúcifer se esconde?

- Em sua Fortaleza. – respondeu Maria pensativa.

- Quer dizer no vulcão? – perguntou Joshua.

- Não! Quando Rafael prendeu Lúcifer ainda não existia nenhuma fortaleza naquele vulcão. – falou Anderson entendendo a ideia de William. – Ele foi isolado no deserto de Dudael!

- Onde Rafael o jogou. – falou Joshua sorrindo. – É isso!

- Tem razão Jesus é brilhante! – falou Maria animada. – O corpo de Lúcifer está aprisionado abaixo do deserto de Dudael, mas sua alma ou essência não. Aposto que ele tem ódio daquele lugar.

- Então é o último lugar que ele iria procurar. – falou Jesus sorrindo.

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- E alguém sabe onde fica exatamente o deserto de Dudael? – perguntou Anderson.

- Eu sei! – falou Joshua satisfeito. – Está claro para mim agora. Quando fui até ele resgatar Maria, me recebeu na construção acima do vulcão. Foi esperto demais para não deixar que eu me aproximasse de seu corpo e medroso para voltar o lugar onde ele está. Porém, ele não construiria nada onde seu exército ficasse muito longe de seu corpo, afinal se algo acontecesse precisaria de proteção. Então, portanto...

- O deserto de Dudael fica abaixo do vulcão de Arazyel. – completou Maria em êxtase.

- Então é isso? – perguntou Ranar. – Vamos levar toda essa gente para o covil do demônio literalmente?

- Tenho uma ideia melhor. – falou William. – Aposto que até mesmo os Satãs possuem certo receio dos Luciferus. Poderia falar com eles e pedir que alguns fiquem de vigia na entrada

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de nosso refúgio. Arazyel terá medo de que acabem virando adversários enquanto poderiam ser os grandes aliados.

- Posso pedir que permaneçam de vigia com a desculpa de que estão decidindo que lado apoiar na guerra. – falou Ranar. – Assim não vão suspeitar da passagem atrás da cachoeira.

- E ganhamos tempo. – falou Anderson. – Enquanto isso, nós estaremos indo até o deserto de Dudael. Vou preparar nossas armaduras leves caso precisemos.

- Vocês não conseguem ficar parados não é mesmo? – perguntou Ranar balançando a cabeça.

A notícia da ideia de William se espalhou e todos se prepararam para colocá-la em ação.

O sol estava se pondo quando Joshua se aproximou com Anderson de uma elevação rochosa e lá encontraram

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três Anjos vigiando Armers que se encontrava amarrado em uma rocha.

- Gostaríamos de conversar com ele. – falou Raziel aos Anjos.

- Estaremos por perto se precisar. – respondeu um deles enquanto se retiravam voando.

Anderson posicionou-se por perto e Raziel se aproximou do prisioneiro que observava ao longe o acampamento.

- É novamente uma honra ser visitado por Raziel. – falou Armers suavemente.

- Temos um plano que talvez funcione. Mas não queremos que chegue aos ouvidos do seu chefe.

- Então não devia me contar. – falou Armers enquanto sua calda sibilava.

- Você disse a Anderson que não é um espião, mas que ele está sempre com você.

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- Fico contente que minhas palavras sejam parte do pensamento de Raziel.

- Alguns dias atrás eu estava conversando com um amigo e ele me contou sobre as asas dos Anjos. Antes de meus pais serem assassinados, segundo Anderson, você era um Anjo, não era?

- Faz tanto tempo que ninguém me chama de Anjo. Boas lembranças!

- O que me leva a perguntar... – falou Joshua pensativo. – Onde foram parar suas asas?

Armers sorriu, mas não respondeu. Um barulho como um estalo foi ouvido pelas costas da criatura e de repente sua calda começou a rastejar pelo chão em fuga, igualmente a uma cobra.

Já preparado pelas costas de Raziel onde Armers não podia enxergar Anderson jogou seu punhal e a calda da criatura ficou presa espetada por ele na parede rochosa.

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A estranha calda se bateu ferozmente tentando soltar-se, parecendo um peixe fora d’água.

- Como você desconfiou. – falou Anderson se aproximando.

- Só juntei as peças. – falou Raziel virando-se para Armers. – Por isso você não podia falar quem era o espião. Ele esteve sempre com você e se o traísse ele o mataria.

- Lúcifer transformou minhas asas neste ser asqueroso. – falou Armers enquanto uma lágrima lhe correu o rosto. – Era parte de meu castigo.

- Agora está livre. – falou Joshua soltando Armers de suas amarras.

- Comentou sobre um plano... – falou Armers levantando-se vagarosamente. – Não quero saber qual ele é. Já sofri demais por saber certas coisas, mas lhe desejo sorte em sua investida.

- Pode vir conosco se quiser. – falou Anderson.

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- Desculpe, mas prefiro ficar aqui e descansar. Não é sempre que se pode voltar ao Paraíso.

UM ANTIGO CAMINHO

De longe, o grupo avistou a fumaça das lavas e o odor de carne podre que parecia estar mais forte.

Percebia-se que a movimentação, próxima ao vulcão estava mais intensa e as chamas mais altas.

Da terra escura do vulcão, a fumaça contaminava o ar e as nuvens escuras que rodeavam o lugar pareciam mais espessas e vorazes soltando raios e trovões que iluminavam as águas ao redor da elevação.

Só uma coisa naquelas terras escuras permanecia calma, mas tão

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mortal como uma espada, as águas do lago que rodeavam o vulcão.

- É de se admirar que tenha sobrevivido ao dia de nosso primeiro encontro. – falou o barqueiro se aproximando das margens.

- Fico feliz em te ver também amigo. – falou Joshua desmontando. – Creio que vamos precisar de um barco maior desta vez.

- Ainda não aprendeu que tudo nesta terra amaldiçoada é mais do que parece? Entre com todos os seus amigos e compreenda.

Todo o grupo subiu na canoa e havia espaço para mais de cem pessoas.

- Preciso de mais um favor seu amigo. – falou Raziel sentando-se na embarcação. – Não queremos simplesmente chegar à outra margem, queremos ir abaixo dela.

- É um pedido incomum este. São as primeiras pessoas que vão pisar

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naquele lugar esquecido depois de um longo período.

- Já esteve lá? – perguntou Anderson enquanto a embarcação começou a movimentar-se.

- Nunca ninguém esteve lá. – respondeu o barqueiro seriamente. - O que está lá não é para ser visitado ou tocado. Esse maldito vulcão parece um castelo de Anjos se comparado ao que vão encontrar. Ainda a tempo de voltar.

- Não podemos. – falou Maria. – Muitos dependem de nós.

- Embora essa ideia não seja das piores. – falou William para Ranar.

As águas do lago permaneciam calmas. Havia com certeza algo diferente nelas. Eram de aspecto oleoso e produziam um reflexo incomum das estrelas dando a impressão que a embarcação navegava no próprio céu.

O barco contornou a margem esquerda do vulcão até chegar a suas costas, onde um buraco em suas terras

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parecia levá-los para o interior do mesmo cada vez mais abaixo dele.

Os ocupantes da embarcação permaneceram tensos e atentos. O barqueiro conduzia a todos com maestria no estreito fio de água que os levava ao subsolo.

- Daqui em diante, não tem luz. Até chegarmos ao nosso destino. – informou o barqueiro. – Se ficarmos dentro do barco e não muito próximos das bordas da embarcação chegaremos todos em segurança. Não respondam a nenhum barulho. - informou.

William pareceu querer perguntar o que poderia lhes trazer perigo naquela travessia, mas a escuridão serviu como resposta e ele preferiu ficar calado.

Por alguns momentos vozes e gritos de socorro foram ouvidos e a embarcação pareceu ser puxada para os lados. Algo queria subir a bordo, mas logo somente barulhos estranhos e frases de uma língua desconhecida puderam ser ouvidos.

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Ao longe começou a se perceber uma pequena luz que dançava na parede o que pareceu esquisito aos tripulantes da embarcação. Ao chegar mais perto perceberam que se tratava de uma tocha acesa na entrada de um corredor.

- Só posso levá-los até aqui. – falou o barqueiro aproximando-se da margem. – Creio que não precisem se preocupar com ataques. Não se ficarem sem ser notados. Logo após o corredor estarão acima de onde realmente querem estar.

O grupo desceu da embarcação e o barqueiro começou a se afastar sem despedir-se.

- Ele não é muito de conversar não é? – perguntou William.

- Devemos nos manter em prontidão. – falou Ranar. – Não sabemos se podemos confiar nele.

O corredor os levou por uma estreita passagem onde tochas se ascendiam sozinhas à medida que

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passavam, iluminando fracamente o caminho.

Ao chegar ao final do corredor uma estreita escada de pedra no lado direito os levava mais abaixo e na sua frente e a esquerda somente um abismo escuro. Porém antes de descer por ela o grupo observou as várias escadarias que teriam que percorrer.

As escadas formavam um verdadeiro labirinto que terminava em uma construção rudimentar de pedra e areia parecida com a aldeia dos Luciferus, porém mais antiga e vistosa.

Era uma descida perigosa em degraus estreitos que saíam da pedra que formava a parede da caverna e um abismo do outro lado que mal se podia enxergar o fim.

- Isso não se parece com um deserto. – falou Anderson.

- Talvez a essência de Arazyel tenha tentando de alguma forma proteger seu corpo de ataques. –

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respondeu Maria pensativa. – Nosso amigo barqueiro pode estar enganado quanto às visitas a este lugar.

- Não confio em escadas principalmente antigas. – falou Ranar observando os degraus. – E se a rainha estiver certa deve haver outras passagens para este lugar.

- Tem razão. - falou Raziel pensativo: - Se tivermos que enfrentar alguém nestes degraus antigos não será muito seguro.

- Talvez possamos melhorá-la. – falou William pegando em seu crucifixo.

O amuleto do menino começou a brilhar e uma corda feita de feixes de luz começou a sair dele. Era feita de luz pura e seu tamanho era incalculável.

- Muito bem proponho que nos amarremos pela cintura e comecemos a descer bem devagar. – propôs Anderson.

- Ainda assim temos que descer as escadas. – falou Ranar em protesto.

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- Eu vou à frente. – falou Raziel passando a corda por sua cintura. – Se as escadas não estiverem em boas condições pelo menos posso voar.

- Não domina isso muito bem. – falou Maria em protesto.

- Está tudo bem. Tudo é questão de concentração.

Joshua desceu o primeiro degrau com cuidado. Passou a bota sentindo se a pedra que o formava realmente era segura e prosseguiu.

Logo após Raziel, Maria e Anderson se aventuraram também seguros pela corda de luz na cintura. A escada pareceu aguentar bem.

William olhou preocupado para seu companheiro Ranar e este lhe falou seriamente:

- Não deixarei que se machuque.

O grupo inteiro estava sobre os degraus e os descia com cuidado.

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Entre um minuto e outro alguns pedregulhos caíam do teto da caverna.

Raziel sorriu aliviado, pior seria se a lava do vulcão sobre suas cabeças escorresse e caísse sobre eles.

Ranar ainda não estava plenamente confiante em descer a escadaria. Suas garras que lhe serviam como pés, porém eram grandes demais para os degraus e suas unhas roçavam procurando um lugar para se sustentar sem nenhum resultado.

- Quem construiu essas escadas sabia o que estava fazendo. – falou Anderson tentando quebrar o silêncio.

Uma voz grave respondeu vinda da parede:

- Obrigado.

Joshua olhou assustado na direção de onde a voz vinha e a pedra que formava a parede começou a inchar como uma bolha prestes a estourar.

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Pouco a pouco a rocha tomou forma e pode se observar um corpo se formando, na verdade, se moldando de dentro da parede sólida.

Raziel observou abismado o corpo estranho quando o reconheceu e os pelos de sua nuca arrepiaram-se, um comum sinal de perigo.

- São Satãs!- gritou Raziel, enquanto a rocha que costeava todo o grupo se moldava em corpos. – Corram!

O grupo começou a correr o mais rápido que pode, Ranar tentou voar, mas suas asas batiam na formação rochosa de onde seus inimigos eram aos poucos formados.

Quando o corpo de um Satã estava totalmente pronto, apenas faltando-lhe adquirir sua coloração normal, Joshua foi empurrado por ele em direção ao abismo.

- Os empurrem para a morte. – ordenou o Satã que havia empurrado o rapaz.

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Antes, porém que os outros Satãs fizessem o serviço à corda que prendia o grupo pela cintura puxou o restante deles arrastando-os em direção ao abismo.

- Tolos... - falou um Satã sorrindo. – Anteciparam sua morte!

Joshua teve vontade de gritar enquanto caía, mas respirou fundo em plena queda e tentou se concentrar em suas asas.

Começou a sentir que elas nasciam, mas sua compenetração foi interrompida pelo o grito de seus companheiros que despencavam em queda livre, enquanto Ranar tentava em vão voar carregando todo o peso. Sem poder se concentrar e sendo puxado pela corda em sua cintura, Joshua continuou em queda livre até que uma ideia surgiu em sua mente.

Pegando a Dádiva de Deus em suas costas lhe retirando da bainha, a fincou com todas as suas forças na

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parede rochosa da caverna ficando dependurado por sua coronha.

Raziel olhou para baixo e viu seus amigos em queda enquanto segurou o máximo que pôde.

A corda esticou e feixes de luz saíram dela, porém não foi quebrada.

Ranar conseguiu com o contra peso de Joshua diminuir a velocidade da queda de seus companheiros e ao olhar para Raziel viu de suas costas sair grandes asas brancas.

Raziel concentrou-se, guardou sua espada novamente e com Ranar pousou seu grupo no teto da construção de pedra no centro das escadarias.

CERCADOS

Maria pegou o arco em suas costas e preparando uma flecha o apontou ameaçadoramente para seus inimigos. O mesmo fizeram Anderson e Raziel com suas espadas enquanto William fazia seu

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crucifixo emitir uma forte luz azul, as garras de Ranar se cravaram firmemente ao chão e a corda de luz que os prendia pela cintura se dissolveu no ar em pequenas luzes douradas.

- Estão cercados. – gritou um dos Satãs satisfeito.

O formato em funil da caverna fez com que a voz do espectro fosse seguida por um grande eco que tomou conta de todo o lugar.

- Se alguém tiver alguma ideia fale baixo. – sussurrou Joshua mantendo-se em posição de batalha. – Qualquer comentário que deva ser compartilhado deve permanecer entre o grupo. Cuidado com o que falam.

- O Satã tem razão. – sussurrou Anderson.

- Não é um comentário muito animador. – sussurrou Joshua decepcionado.

- Não foi intencional.

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- Rendam-se e ajoelhem-se perante Lúcifer e suas vidas serão poupadas. – gritou outro Satã.

- Mas nossas almas não. – respondeu Maria ao inimigo.

- Talvez eu tenha uma ideia. – sussurrou Ranar pensativo. – Mas é um tanto maluca.

- Então talvez funcione. – sussurrou William. – Nossas melhores ideias sempre são um tanto malucas.

- As escadarias... – começou a contar Ranar enquanto ainda formulava seu plano.

- Você não gosta mesmo de degraus, não é? – interrompeu William.

- Talvez passe a gostar. – respondeu Ranar discretamente. – Todos os soldados inimigos estão sobre as escadas e elas são velhas.

- Está sugerindo quebrar os degraus? – perguntou Maria analisando a situação.

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- Joshua e eu podemos combater os Satãs que podem voar. – explicou Ranar. – Pelo menos ganhar um tempo.

- E quanto aos degraus? – perguntou Anderson. – São de pedra pura quem os derrubaria?

- O que estão sussurrando? – gritou um Satã. – O tempo de vocês está se esgotando. É melhor que decidam antes de nosso mestre chegar e ele já está a caminho.

Maria soltou o tendão de seu arco e sua flecha atingiu o Satã que havia acabado de falar em sua garganta derrubando-o vários metros até perto do grupo.

- Estava pensando que William poderia usar seu crucifixo para isto. – respondeu Ranar.

- Eu? – perguntou William incrédulo. – Não sei se é uma boa ideia.

- De qualquer forma Will é a única opção que temos. – falou Joshua. – Sei que vai conseguir.

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- E depois? – perguntou Anderson. – Josh e Ranar fazem nosso apoio alado, eu e Maria protegemos William enquanto ele tenta derrubar tudo em cima de nós. É suicídio!

- A cabana. – falou Maria animada. – Podemos entrar e estaremos seguros.

- Acha que uma construção velha feita de pedras vai nos proteger de milhares de rochas em queda livre? – perguntou Joshua incrédulo.

- Confie em mim.

- Muito bem isto basta. – falou Joshua, guardando sua espada na bainha em suas costas. – Ranar, amigo, é hora de voar.

Ranar desprendeu-se voando ferozmente mostrando suas garras e presas e Joshua fechou os olhos respirando fundo e saltou enquanto começava a levitar com suas asas abrindo-se completamente.

- Eu pego os mil da direita. – falou Anderson enquanto atirava uma flecha e

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aproximava-se de William. – Este lado eu protejo.

- Não se preocupe Will. – falou Maria se aproximando do lado esquerdo do menino. – Eu seguro a outra metade deste lado.

Joshua e Ranar voavam em espiral e sentido contrário um do outro. Assim enquanto um derrubava os adversários pela esquerda pelo outro lado o outro fazia o mesmo.

Os Satãs embora surpresos com a reação do grupo começaram seu contra ataque com flechas.

Um dos espectros pulou nas costas de Raziel enquanto o rapaz estava em pleno voo e tentou apunhalá-lo pelas costas, mas bem a tempo o jovem passou raspando perto da parede em grande velocidade, fazendo a cabeça de seu passageiro indesejado bater repetidamente nas pedras que formavam a caverna. Sem qualquer chance de chance de reação o Satã caiu sem vida.

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William estava concentrado. Sentiu o sangue fervilhar em seu cérebro e suas veias se dilatarem. Pedia com insistência para que seu amuleto não lhe deixasse na mão naquele momento.

Um Satã abriu as asas e mergulhou no abismo da caverna, mas seu corpo bateu na couraça que protegia as costas de Ranar e quicou chocando-se contra a escadaria indo ao chão em queda livre.

O som e o eco de algo sendo contorcido foi ensurdecedor.

Durantes alguns segundos o silêncio e a espera por algo grande acontecer tomou conta dos ocupantes do lugar. O clima de tensão só foi quebrado quando a mais alta fileira de escadaria da caverna rachando-se violentamente.

- Está dando certo! – falou Anderson admirado. – Seja o que for que está fazendo Will continue.

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- Preparem-se. - falou Maria atenta. – Vamos ter que entrar na construção de pedra antes de tudo desabar.

Ranar degolou um dos Satãs violentamente com suas unhas.

Joshua agarrou um de seus inimigos pelo pescoço e usou todas as suas forças para jogá-lo para cima.

O corpo da criatura girou indefeso no ar em direção ao teto da caverna, mas antes que se chocasse com a pedra ele começou a cair.

Joshua preparou-se e quando o corpo do espectro estava perto de passar pelo seu, ele acertou-lhe um murro no rosto.

O barulho de ossos se quebrando foi ouvido e o corpo do Satã continuou sua queda inconsciente, enquanto um forte grito foi ouvido:

- Raziel!

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Joshua olhou para cima, seus cabelos esvoaçaram-se em meio ao combate.

Na mais alta sequência de degraus, no topo da caverna, Lúcifer olhava ferozmente para Joshua. O ódio de seu olhar parecia ser capaz de explodir todo o lugar.

- Droga, ele chegou. – falou Anderson.

- Preparem-se. – falou William rangendo os dentes tensionados. – Está vindo um desmoronamento.

Arazyel direcionou suas mãos as suas costas e delas retirou uma espada.

Sua lâmina era brilhante e em um de seus lados havia sido forjada com pequenas elevações que lembravam dentes.

O Anjo destruidor começou a descer as escadarias, mas sentiu um leve tremor ao pisar em um dos degraus e sem ter tempo de reação viu o apoio de seus pés destruírem-se virando pó.

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O primeiro andar de escadas caiu sobre o segundo e assim sucessivamente os degraus começaram a desmoronar proporcionando a queda de Arazyel.

Os Satãs que não podiam voar procuravam desesperadamente algo em que se agarrar para evitar a queda mortal.

Alguns se agarram por reflexo aos seus companheiros voadores que por não aguentar o peso despencavam para a morte.

Ranar golpeava todas as sombras que via, gostando do massacre que proporcionava.

- Ranar, vá para a construção de pedra. – falou Joshua empurrando um dos Satãs que lhe puxava a cabeça. – Proteja os outros. Irei logo em seguida.

Maria ajudou William a descer do teto da construção de pedra onde estavam e Anderson entrou na mesma.

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Grandes asas, de cor cinza como fumaça saltaram das costas de Lúcifer que estava em queda livre e empurrou um Satã que tentou salvar-se segurando nele.

Raziel tentava livrar-se de cinco criaturas que haviam se jogado em cima de seu corpo e asas.

Calculava o tempo que tinha antes do desmoronamento da caverna e o de ser alcançado por Lúcifer que se aproximava voando rápido.

Se contorcendo, tentando desesperadamente se ver livre dos inimigos que lhe agarravam com gana, Raziel lembrou-se das palavras de Rafael, então fechou os olhos e se entregou as suas asas.

As asas brancas de Raziel fecharam-se em torno do rapaz como um casulo, jogando os Satãs indesejados para longe, enquanto o corpo do rapaz caia em queda livre.

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Grandes pedras atingiram as asas de Joshua, mas não pareciam causar nenhum efeito sobre elas.

Ranar em grande velocidade passou voando sobre o teto da construção de pedra destruindo-o, sumindo em um grande buraco, e Raziel caiu nele ainda dentro do casulo de suas asas.

O DESERTO DE DUDAEL

As mãos de Joshua tatearam o lugar onde ele estava deitado. Sentiram algo quente e pequenos grãos lhe passaram sobre os dedos.

Joshua abriu os olhos, seu corpo doía. Ainda podia sentir as pancadas que havia levado e a sensação de que algo havia mordido seu pescoço lhe incomodava.

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O jovem percebeu que estava caído em um areal. Virou-se e contemplou por um momento o forte sol que iluminava sua cabeça e pode perceber, da altura de uma estrela, o buraco de onde havia caído.

Sentou-se bem devagar e sorriu.

Suas asas haviam lhe salvado a vida e agora sabia que eram realmente parceiras e de grande valor.

Ao seu lado o restante de seu grupo pareceu despertar de um sono profundo. Estavam exausto.

Raziel levantou-se e pôde senti o calor quase insuportável. Ficando de pé o rapaz pôde finalmente observar onde estava, um deserto sem vida.

- Onde estamos? – perguntou William levantando-se.

- No deserto de Dudael. – respondeu Anderson, protegendo os olhos da luz do sol.

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- Finalmente chegamos. – falou Maria apontando para uma grande torre de areia que estava à frente. – Lá em cima deve estar o corpo dele.

- Então vamos até lá. – falou Joshua limpando a areia de suas roupas. – Mas como sabia que o interior da construção nos traria aqui?

- São como as casas de minha vila. – respondeu Ranar pensativo enquanto o grupo começava a andar em direção a torre. – E as casas do reino de Jesus. Por fora são apenas pequenas construções, mas por dentro escondem a verdadeira essência da casa.

- Acha que vamos enfrentar novamente os Satãs? – perguntou William acompanhando o grupo.

- Arazyel e seus aliados com certeza não foram destruídos. – respondeu Maria.

- De qualquer forma desta vez estaremos preparados. – falou Anderson tirando de dentro de suas roupas alguns

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tecidos. – Vamos estar em um ponto mais alto onde poderemos administrar a batalha e eu trouxe nossas Armaduras Leves.

- Sempre preparado! – falou Joshua sorrindo, enquanto recebia sua armadura. – Desta vez estaremos prontos.

O caminho até a torre de areia foi feito sem problemas, apesar do clima muito quente e da areia frouxa e cansativa.

Ranar e Joshua levaram seus companheiros voando até o topo da construção sem portas e o grupo adentrou junto em um grande salão de mármore onde no centro estava um corpo acorrentado em cima de um altar.

Joshua observou o corpo de Lúcifer acorrentado e admirou-se.

Era um lindo Anjo de vestes brancas que parecia dormir inocentemente. Alguém preso sem culpa

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e acorrentado sem qualquer tipo de misericórdia.

- Assim até parece inofensivo. – falou Joshua pegando sua espada.

- Ele escolheu o caminho dele. – falou Maria observando o corpo. – Tem que ser feito.

Joshua subiu os três degraus que levavam ao altar. Uma sensação de paz parecia sair do corpo do Anjo adormecido e o Raziel respirou profundamente enquanto erguia Dádiva de Deus em cima do peito do Anjo acorrentado.

A ponta da espada de Joshua brilhou e como em ato reflexo o corpo de Lúcifer se movimentou e ele abriu os olhos. Neles havia somente um profundo vazio negro.

- Raziel. – falou Anderson olhando para o deserto. – Acho que deveria ver isto.

Maria e Joshua se aproximaram de Anderson e observaram que ao redor da

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torre de areia, um grande buraco começava a sugar toda a areia do deserto transformando-o em um grande abismo.

- Temos que fazer logo isso Josh. – falou Maria amedrontada. – Talvez o corpo esteja se defendo e a próxima coisa a ser sugada pelo abismo seja esta torre.

Joshua balançou a cabeça positivamente e voltou a se aproximar do altar.

Ao subir o primeiro degrau observou um brilho intenso vindo do peito do Anjo acorrentado e ao afastar as correntes, Joshua percebeu que o corpo tinha a mesma cicatriz em carne viva em formato de cruz que havia visto na essência de Lúcifer. Porém com um detalhe de diferença, o coração podia ser visto pulsando calmamente no meio da cicatriz.

Joshua ergueu a Dádiva de Deus, segurou firme em sua coronha e a cravou com suas duas mãos no coração

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do Anjo adormecido, enquanto virava o rosto como se não pudesse ver o que estava fazendo.

Um grande trovão vindo do abismo foi ouvido.

O coração parou de bater tornando-se cinzas e o deserto silenciou.

Uma respiração começou a ser sentida, vindo das profundezas do abismo.

- Eu sabia que tinha sido fácil demais. – falou William assustado.

- Só pode ser uma coisa. – falou Anderson olhando assustado para Maria.

- Sim. –respondeu a rainha seriamente. – A besta fera, o anticristo.

- E ele terá companhia. –falou Ranar apontando em direção do buraco no céu por onde haviam caído da caverna.

Joshua observou ao longe a figura raivosa do Anjo da escuridão que se

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aproximava voando com sua espada em mãos.

- Ele é meu. – falou Raziel começando a vestir sua armadura leve.

- Muito bem, vamos acabar com isso. – falou Maria prendendo seus cabelos com uma flecha de ouro.

- O que sabem sobre esta besta fera? – perguntou Ranar concentrando-se para a batalha.

A pergunta de Ranar não precisou ser respondida por ninguém.

Uma grande sombra saída do abismo tomou conta da torre de areia onde o grupo estava.

Saindo do mar de areia, que caía no abismo sem fundo, saiu voando uma grande fera de sete cabeças e dez afiados chifres.

Sobre os chifres dez coroas cravejadas com diamantes que formavam palavras de insultos.

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A aparência da besta era a de um enorme leopardo até o tronco, seus pés eram de um urso de pêlo negro. Sua boca era de um leão de dentes afiados e famintos. Um grande rabo serpenteava subjugando o vento.

Seu grito parecia uma ordem de morte e seus olhos eram grandes e azuis como o céu.

O próprio sol foi coberto por seu tamanho e suas garras pareciam ferir os céus revelando o firmamento, enquanto seu corpo voava livre sobre o deserto.

- Temos que cortar onde todos os pescoços se colidem. – falou Maria ajeitando suas luvas. – Suas garras possuem veneno e sua calda é tão afiada como qualquer espada, um arranhão dela e você tem sua alma corrompida.

- Sugiro um ataque ordenado. – falou Anderson pensando em um plano. – Ranar pode cuidar para que ela não dê tanta atenção ao restante de nosso grupo?

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- Com aqueles olhos duvido que exista algo que ela não veja. – falou William.

Ranar saltou deixando-se cair no abismo durante alguns minutos depois abriu suas asas e voou em direção à cabeça da fera.

O Luciferus deu a volta pelo pescoço da fera analisando-o. Era da espessura da coluna de um grande templo e podia se ver suas veias bombeando sangue nervosamente.

- Como vamos chegar perto daquela coisa? – perguntou William. – Não existe mais deserto, só um abismo.

Arazyel pousou desajeitadamente no alto da coluna de areia. Parecia um pouco grogue e suas asas exaustas.

- Doeu eu ter matado seu corpo? – perguntou Raziel observando seu oponente respirar com dificuldade. – Devo dizer que foi até fácil.

- Seu tolo. – falou ele se recompondo. – Não sabe o favor que me

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prestou. Agora não preciso me preocupar em dividir ou proteger absolutamente nada.

- O que você quer dizer?

- O que você matou não passa de uma prisão sem muros. Embora eu parecesse livre tinha que me preocupar com a sobrevivência dele, que nada o violasse. Parte de minhas habilidades tinham que ser divididas com este ambiente para que nada interferisse em meus planos.

- Como assim dividir habilidades com o ambiente?

Arazyel sorriu. Um sorriso fino e sombrio.

Raziel sentiu-se perturbado. Seus instintos lhe avisavam de um perigo eminente, mas seus olhos não viam nada que lhe pudesse causar qualquer tipo de problema.

- Josh... – falou Maria olhando para seus pés. – Tem algo errado com o piso.

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Joshua olhou para os pés da rainha e observou o granito negro começar a envolver o pé da moça tomando-o por completo.

- Não consigo me soltar. – falou Maria tentando livrar seus pés.

- Está subindo pela minha perna! – gritou William.

- Isso é impossível. – falou Anderson golpeando o mármore que já estava em sua coxa com sua espada.

Raziel olhou assustado para seus companheiros.

O mármore que antes não passava de um piso qualquer consumia ferozmente o corpo dos jovens afundando-os cada vez mais como uma areia movediça e quanto mais tentava soltar-se mais o grupo era consumido em direção à escuridão do piso.

- Pare com isso. – gritou Joshua virando-se raivosamente para o Anjo da escuridão.

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- Não está sendo muito educado. – falou ironicamente. - Também o que esperar de um moleque que cresceu sem os pais?

- Josh, eu não consigo respirar direito. – falou William enquanto o mármore já começava a consumir seu pescoço.

- Deixe-os em paz. – gritou Joshua em desespero. – Está matando eles!

- Não sou surdo. Gritar não é a solução.

- Eu me ajoelho perante você, mas deixe-os em paz.

- Não faça isso Joshua ou... – a frase de Maria foi interrompida pelo mármore negro que tomou conta de sua boca como uma mão.

Os olhos de Maria arregalaram-se em dor e desespero.

O mármore envolveu o cabelo da jovem até o último fio e subiu pelo nariz

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deixando somente os seus olhos azuis claros em ar de agonia.

Josh soltou sua espada e correu em desespero na direção de seus amigos jogando-se ao chão onde derrapou, mas não chegou a tempo de tocar em nenhum dos companheiros que afundaram no mármore negro sem vestígio.

- Não. – sussurrou Joshua em desespero tateando o piso que lhe grudava nas mãos. – Por favor, não.

Enquanto Joshua lamentava-se, o granito negro começou a percorrer seu corpo deixando somente seus olhos fitarem Arazyel que sorria vitorioso.

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O SALVADOR

O barulho de passos apressados passou a ser ouvido a uma grande distância.

Tons de vozes conhecidas começaram a torna-se cada vez mais audíveis e Anderson acordou atordoado.

Procurou qualquer traço do mármore que antes lhe sufocava e consumia, não encontrou nada e ficou sem entender quando percebeu que estava de pé nas portas da Fortaleza das Nuvens.

O lugar estava em perfeito estado, não havia sinais da grande batalha que havia sido traçada ali poucos dias atrás e a calma contaminava o ar.

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- Senhor Anderson está tudo bem? – perguntou um jovem Anjo. – A armadura leve ficou muito bem no senhor.

Anderson olhou para o rapaz se entender e passou a dar atenção à roupa que vestia. Era a armadura leve de Joshua, perfeitamente adequada a sua estrutura corporal.

- Podemos sair? – perguntou o Anjo sem entender a expressão de surpresa de Anderson.

- Claro... – falou Anderson ainda procurando entender.

A quantidade de homens era de se perder de vista quando Anderson abriu a porta principal do castelo. No céu quase não se podia ver a luz do sol por causa das várias asas dos Anjos que sobrevoavam o local.

- Estão esperando pelo seu discurso. Todo grande comandante faz um discurso antes da guerra e todo grande soldado tem sua espada.

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Os homens afastaram e um corredor humano foi aberto.

Sons fortes como trovões foram ouvidos se aproximando. Suspiro entrou correndo pelo portão. O chão de terra virava poeira quando suas patas batiam em peso no chão. Sua crista branca se mexia em sincronia com o vento e seu corpo forte. Os músculos de seu peito eram protegidos por uma armadura negra e brilhante como a que Anderson agora usava e em seu dorso uma cela de couro.

Suspiro parou na beirada dos degraus e ficou de lado. A bainha da espada chamada Dádiva de Deus, brilhava como se estivesse viva presa na cela.

- Espere tem algo errado. – falou Anderson sorrindo sem entender.

- O que houve senhor? – perguntou o Anjo. – Está tudo bem?

- Isso já aconteceu. – falou Anderson virando para o jovem alado. – Não desta maneira, mas esse momento já ocorreu.

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- Não entendo? – falou a Anjo começando há ficar um pouco nervoso.

- De alguma forma estou no lugar de Joshua.

- Não sei quem é Joshua e estamos todos esperando por suas palavras senhor.

- Tem algo errado. – falou Anderson decididamente. – E algo me diz que você sabe do que estou falando?

O Anjo olhou para o jovem sem saber o que dizer. Talvez até pensasse que Anderson estivesse louco ou inventando tudo aquilo com medo da batalha que teria de travar.

Porém após alguns minutos de silêncio, Anderson percebeu que alguns homens que estavam a sua frente prontos para a batalha começaram a evaporar no ar, consumidos por uma fumaça negra.

- Você tinha que dar uma de esperto não é garoto? – falou o jovem Anjo com um tom de voz arrastado.

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Anderson olhou para seu companheiro, suas vestes de batalha gradualmente mudaram para roupas negras feitas de poeira.

- Não podia ter aceitado essa realidade? – falou o jovem enquanto seus olhos tornavam-se negros. – Tinha que reagir não é mesmo?

Como os olhos do jovem Anjo tudo ao redor de Anderson começou a torna-se escuro e frio.

O céu pareceu ser rasgado por grandes unhas e transformou-se em uma escuridão total. Assim aconteceu com o castelo, Suspiro e tudo que os olhos de Anderson pudessem identificar deixando o rapaz em um ambiente sem qualquer tipo de luz. Ele enxergava apenas o Anjo na sua frente.

- Teve a chance de ver a sua maior ambição torna-se real. – falou o jovem sorrindo. – Porque ficar a sombra de um guerreiro como Joshua Raziel quando poderia ser você o mais aclamado? Em

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seu íntimo você se pergunta: por que ele tinha que ser o escolhido e não eu?

- Não sei do que está falando! Quem é você?

- Eu sou Ertael. Sou um dos Anjos Sentinelas cuja missão foi um dia proteger a porta do Paraíso de homens indignos como você.

- E um dos dezoito comandantes do exército de Arazyel também. – falou Anderson em ato reflexo procurando sua espada.

- Não adianta. Sua espada não está com você. – falou Ertael, enquanto a lâmina de uma espada saia de seu pulso até que a arma estivesse toda em sua mão. – Mais a minha está.

Ertael investiu contra Anderson que desarmado limitou-se a sair do ângulo do golpe de seu oponente e lhe acertar um chute na virilha.

- Acha que sinto dor tão fácil como você? – perguntou Ertael, sorrindo. – Sou

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A Arma Secreta de Deu

um dos Anjos caídos. Meu sangue é tão puro e forte como o seu jamais será.

Mais uma vez Ertael golpeou contra seu inimigo, desta vez lhe acertando o ombro com um arranhão profundo.

Anderson caiu ajoelhado. Seu ombro latejava e ardia de uma forma incomparável.

- Achou mesmo que seria o salvador de seu povo? – perguntou Ertael, ironicamente. – É patético se acha que poderia tomar o lugar de Raziel. Ele mesmo não tem a mínima chance. Será somente mais um dos comandantes da escuridão. Mais um Anjo caído.

- O que você fez com meu ombro?

- Eu fiz? Nada! Isso tudo que nos rodeia, essa escuridão é somente um ambiente capaz de projetar sua maior ambição, seu desejo mais sombrio e escuro. O veneno deste pecado, de você não aceitar quem é e desejar a vida do

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A Arma Secreta de Deu

seu próximo banhou minha espada e agora acabará por matá-lo com seu próprio desejo carnal.

- O que está dizendo?

- Estará completamente paralisado em questão de segundos e seus olhos serão a única parte de seu corpo capaz de implorar que eu o mate. Caridade que farei com grande prazer.

Anderson deixou-se deitar de costas no chão. Sentia algo corroendo seu corpo por dentro, destruindo-o pouco a pouco, queimando todos os seus órgãos. Sabia que tinha que pensar uma maneira de como se livrar da morte certa.

Lembrou-se de Emanuelle e de sua força angelical. A primeira vítima de seus amigos desde que Raziel havia chegado.

A imagem de Maria veio a sua mente. Sua rainha, forte e decidida. Sabia que podia contar com ela, afinal, e quem mais poderia suportar tantas

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A Arma Secreta de Deu

provações se não a própria mãe de Deus? Aquela que viu seu filho ser crucificado sem nada poder fazer.

Os olhos infantis de William tomou conta de seus pensamentos. Divertia-se com o menino e percebeu que até mesmo alguém tão jovem poderia ser de grande ajuda se for dotado de grande vontade.

Pensar em ajuda também lhe fez sentir Ranar. Jamais imaginou lutar ao lado de uma fera como um Luciferus, muito menos do rei deles. Havia ali um sinal que a aparência esconde grandes amizades.

O corpo de Anderson começou a tremer e não precisou esforço para lembrar-se de Josh, seu amigo Joshua Raziel. Sentiu a força de luta de seu companheiro durante os vários momentos juntos e lamentou ao lembrar o quanto o mesmo jovem que podia salvar os homens, era capaz de ferir-se como qualquer outro.

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A Arma Secreta de Deu

Um pensamento invadiu sua mente.

Seus amigos haviam chegado até ali graças às habilidades de todos.

Uma união improvável havia salvado a vida de cada um e Raziel também precisava de ajuda. Joshua não era especial por seu sangue tão desejado por Lúcifer e sim pelo espírito que não conhece rendição.

Os dedos da mão direita de Anderson começaram a enrolar-se em agonia e foi aí que ele sentiu algo em sua palma.

- O que está havendo? – perguntou Ertael assustado. – Isso não pôde ser verdade?

Anderson sentiu suas forças voltarem lentamente ao seu corpo e ao fechar sua mão direita percebeu que sua espada estava ali.

- Como consegue? – perguntou Ertael admirado. – Como um simples

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A Arma Secreta de Deu

homem pode ir contra seu maior pecado?

- Eu digo como... – falou Anderson levantando-se aos tropeços. – Percebi que apesar de Joshua ser importante eu também sou. Todos os meus amigos são.

- Vai morrer carcaça maldita de órgãos! – gritou Ertael investindo contra Anderson.

Anderson ergueu sua espada.

As duas armas se cruzaram no ar e os dois lutadores pressionavam suas lâminas com a força de seu ser.

- Sou um comandante!- gritou Ertael raivosamente. – Um verme como você não é capaz de me vencer.

- Está errado. – falou Anderson confiante. – Você mesmo disse que esse lugar é somente uma escuridão capaz de projetar minha maior ambição. Neste momento não a nada que eu ambicione mais do que destruir você.

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A Arma Secreta de Deu

Ainda mantendo suas armas cruzadas no ar, os dois lutadores usavam todas as suas forças. Suas veias dilatavam-se com o esforço.

Ertael olhou para os olhos de Anderson. Nunca havia visto tanta determinação em um homem.

Anderson girou seu corpo tirando a lâmina de sua espada do confronto com a arma de seu oponente, ajoelhou-se ficando de costas para Ertael e rasgou seu abdome.

O comandante negro ficou paralisado. Seu sangue escorria. Não acreditava que havia sido derrotado por um homem comum.

Anderson respirou profundamente, enxugou o suor de sua testa e andou calmamente até as costas de seu inimigo.

Os joelhos de Ertael dobraram-se e ele ficou ajoelhado no chão.

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A Arma Secreta de Deu

- Agora lhe farei uma caridade. – falou Anderson erguendo sua espada com suas duas mãos.

Usando suas duas mãos Anderson cravou com todas as suas forças sua espada nas costas de Ertael e a lâmina ultrapassou seu abdome enquanto seu sangue pingava no chão.

UTOPIA409

A Arma Secreta de Deu

Joshua se mexeu em sua cama.

Seu corpo todo agradecia o descanso e aproveitava o colchão macio e os lençóis limpos. Estava finalmente em paz.

- Acorda! – uma voz infantil gritou. – Acorda!

Raziel virou-se a contra gosto, estava em total estado de relaxamento para ser acordado.

Algo subiu na cama e jogou-se em cima do rapaz.

Raziel acordou assustado e viu os olhos castanhos alegres que lhe observavam atenciosamente.

Era um menino de aproximadamente cinco anos que se deitou em cima de Raziel animado.

- Alena já saiu com o tio Anderson para cavalgar. – falou o menino como se tentasse lembrar Raziel de algo. –

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A Arma Secreta de Deu

Prometeu que me daria aulas de voo hoje!

- Aulas de voo? – perguntou Raziel sentando-se em sua cama.

O quarto não era o mesmo que Raziel estava acostumado a dormir na Fortaleza das Nuvens.

Era mais espaçoso e alegre.

A cama parecia bem maior do que de costume e Raziel não conseguiu identificar onde estava.

- Não vai deixar para outro dia. – falou o menino chateado. – Vai pai?

Raziel olhou assustado para o menino. Acabara de ser chamado de pai por uma criança desconhecida que parecia saber muito bem quem era.

- Mateus Raziel não está incomodando seu pai tão cedo está? – falou Maria entrando no quarto.

A jovem estava mais bonita do que Raziel lembrava.

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A Arma Secreta de Deu

Seus cabelos negros estavam presos por uma trança que lhe caía do lado direito. Seu vestido azul escuro torneava seu corpo e seus olhos verdes brilhavam intensamente.

- Bom dia querido. – falou Maria dando um beijo em Joshua. – Sabe que quando promete algo para Matt ele não esquece. Aliás, ele tem ficado a cada dia mais parecido com você.

- Comigo? – perguntou Joshua sem entender.

- Vive me deixando louca!

- Mais eu preciso ter aulas de voo para poder participar da exibição dos Arcanjos no dia da comemoração do fim da guerra. – falou Matt sem paciência.

- Fim da guerra? – perguntou Raziel.

- Esqueceu que dentro de dois dias vamos comemorar a vitória que tivemos contra Arazyel? – perguntou Maria estranhando o jeito de Raziel. – Você está bem querido?

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A Arma Secreta de Deu

- Estou... – falou Joshua pensativo e depois sorrindo. – Acho que nunca estive melhor.

- Ótimo! – exclamou Matt, pulando da cama. – Então vamos voar!

- Não antes de seu pai tomar o café da manhã. – falou Maria ajeitando o cabelo do menino. – Aliás, senhor Matt Raziel, você também tem que comer alguma coisa.

Joshua nunca havia sentido tanta alegria e paz nos corredores do castelo.

Todos pareciam felizes e animados com a comemoração que se aproximava e o grande salão estava sendo preparado para a festa com luzes e enfeites.

- Ranar mandou um mensageiro para confirmar que seu povo chega amanhã para a comemoração. – falou Maria agarrando o braço de Raziel carinhosamente enquanto andavam pelo corredor. – Vai ter tempo de conversar

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A Arma Secreta de Deu

com ele e Anderson sobre as lembranças de nosso grupo.

Matt correu passando a frente do casal e abriu a porta do salão que estava bem à frente.

Uma grande mesa com um banquete servido estava no meio do salão e um casal comia sentado em cadeiras na ponta oposta do móvel.

Joshua Raziel, a princípio não reconheceu quem eram as duas pessoas que comiam, mas ao aproximar-se mais notou que era um casal.

Sarakiel e Gisele Raziel, seus pais, comiam tranquilamente enquanto conversavam. Joshua sentiu seu coração acelerar aos ver seus pais vivos.

- Vovô, papai vai me dar lições de voo hoje!- falou Matt enquanto sentava-se para comer.

- Voar está no sangue da família, é quase um instinto. – respondeu Sarakiel contente.

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A Arma Secreta de Deu

- Como estão os preparativos para a comemoração Maria? – perguntou Gisele enquanto comia.

- Adoraria ter sua ajuda com a recepção de nossos amigos. Não quero que nada dê errado. Há algo errado com a comida querido?

- Não... - falou Joshua sentando-se para comer. - Está tudo maravilhoso!

O verde da floresta parecia vivo e os animais que antes eram raros viviam em paz e sossego com as pessoas.

- Suas asas são como extensões de seu corpo. – explicou Raziel. – Tem que se concentrar para poder senti-las.

- Não podemos somente pular de um canto bem alto e ver no que dá. – protestou Matt impaciente. – Esse troço de concentrar não é comigo.

- Você parece seu tio Will. – falou Joshua sorrindo.

- Quem é Will?

Raziel olhou para seu filho.415

A Arma Secreta de Deu

O jovem não entendia a razão de seu próprio filho não saber quem era William. Por mais que tivessem se separado por alguma razão ele jamais esqueceria seu irmão mais novo.

- William, meu irmão adotivo. – falou Joshua pensativo. – Nós o chamamos de Will ás vezes.

- Pai você nunca teve irmãos.

Ao ouvir a resposta de seu filho Raziel percebeu que ele realmente não sabia quem era William e a sensação de perigo surgiu em sua mente.

- Está tudo bem pai?

- Tem algo errado. – respondeu Joshua olhando ao redor. – Isso está errado.

- Pai, está me assustando.

Joshua se aproximou do menino. Tentando obter explicações lhe agarrou os dois braços e olhou concentrado para os olhos da criança.

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A Arma Secreta de Deu

- Estava bom demais para ser verdade. – falou Raziel sorrindo ironicamente.

- Do que está falando? Está me machucando!

- Estou falando dessa paz. – pronunciou Raziel, soltando o menino e se afastando andando para trás. – Estou falando de você.

- Não faça isso pai. – falou Matt tristemente. – Não jogue sua chance fora.

- Do que está falando e quem é você?

- Sou o filho que você terá se aceitar essa chance. Tudo que você enxerga aqui neste lado da realidade faz parte de seu tempo no presente. Porque sofrer lutando em uma guerra correndo o risco de morrer se pode dar um salto no tempo e viver seu futuro em paz?

- Se você for realmente parte de meu futuro então de alguma forma

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A Arma Secreta de Deu

vamos nos encontrar. Agora me leve de volta para meus amigos.

- Aqui tem tudo o que você sempre quis. Seus pais estão vivos e bem. Não existem mais guerras. Você e Maria podem expressar livremente seu amor e poderá desfrutar dela todas as noites em sua cama. Seu corpo é jovem e precisa satisfazer os desejos da carne que você começou a descobrir recentemente.

- Pare com isso!

- E quanto a mim e Alena? – perguntou Matt chorosamente. – Tem a chance de criar uma família.

- Você não entende. – respondeu Joshua se aproximando do menino. – O fato de eu lutar nesta guerra não é algo imposto e sim uma questão de escolha. Nessa realidade realmente tenho tudo o que quero, mas não faço parte disso, a não ser que eu conquiste.

- Vai me deixar pai?

- Não! Eu vou merecer ter você.

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A Arma Secreta de Deu

Matt Raziel sorriu e estendeu a mão para Joshua.

- Eu te vejo daqui a alguns anos pai.

- Vou estar pronto, e esperando por você, acredite!

Joshua Raziel apertou a mão do menino e o abraçou. Seu corpo foi tomado por um formigamento e tudo ficou escuro.

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A Arma Secreta de Deu

LADO A LADO

- Josh, você está bem?

Joshua Raziel abriu os olhos sonolentamente e encontrou Anderson ao seu lado olhando para os lados como se estivesse cercado.

- Anderson... – falou Raziel sentando-se rapidamente. – O que aconteceu?

- Calma, está tudo bem. – falou Anderson respirando fundo. – Graças a Deus você acordou. Pensei que tínhamos perdido você.

Raziel levantou-se e percebeu que estava tudo bem com seu companheiro e consigo.

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A Arma Secreta de Deu

- Onde estamos? – perguntou Raziel. – Que tipo de piso é esse? Espero que não sejamos novamente “engolidos” por ele.

- Não se preocupe. – falou Anderson, sorrindo. – Não estamos mais no deserto de Dudael.

- O quê?

Anderson apontou para uma janela que havia na sala onde estavam e somente agora Raziel observou que estava em um lugar desconhecido.

A luz do lugar era fraca e Raziel teve que estreitar seus olhos para olhar pela janela que Anderson havia lhe mostrado, pois a luminosidade vinda do lado externo lhe cegava.

Ao olhar pela janela seu coração sentiu-se pesado ao perceber que estava novamente no interior do vulcão de Lúcifer e acima deles a ponte feita pela lâmina da espada que estava na mão da estátua do Anjo negro passava por suas cabeças.

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A Arma Secreta de Deu

- Como chegamos aqui? – perguntou Joshua colocando a mão na bainha de sua espada que estava vazia. – Onde está minha espada?

- No mesmo canto que a minha. – respondeu Anderson preocupado. – Estamos dentro da fortaleza do inimigo, e desarmados. Acho que tiveram medo...

Joshua olhou para o canto da sala e encontrou duas espécies de casulos abertos.

- Estávamos ali dentro? – perguntou Joshua.

- O corpo sim, mas a mente não.

- Entendo o que você quer dizer e os outros?

- Algo me diz que estão lá em cima. Alguma ideia de como saímos daqui?

- Essa janela é de madeira, certo?

- Não estou gostando...

- Tem medo de altura?422

A Arma Secreta de Deu

Arazyel entrou apressado em um dos compartimentos de sua fortaleza.

Uma jovem satã aproximou-se e abaixou sua cabeça em sinal de respeito.

- Ela está pronta?- perguntou impaciente.

- Preparamos a moça como o senhor pediu. – falou a mulher vagarosamente. – Ela está pronta para conceber uma criança. Preparei seu corpo para que engravide de qualquer homem que a possuir hoje. Porém existe um problema...

- Fale.

- A moça já está grávida.

Lúcifer olhou para sua informante.

Seus lábios tremeram de excitação e seus olhos arregalaram-se em espanto.

- Maria, a mãe de Jesus, está grávida novamente? – perguntou Arazyel. – Então ela não é mais...

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A Arma Secreta de Deu

- Sim ela é. – completou a informante. – De alguma forma ela ainda continua virgem. Não me peça para explicar é algo impossível de entender.

- Nada é impossível para Ele. – falou, tirando sua camisa. – Isso impossibilitará que eu a engravide?

- Como o senhor não é um ser normal e, além disso, seu filho possuíra características peculiares, eu devo informar que se tiver relações com a moça hoje, ela engravidará, mas a nova criança matará a que ela já carrega.

- Isso não é problema. – falou Arazyel satisfeito. – Mande os guardas reforçarem a segurança deste quarto e vigie pessoalmente ao jovem Will.

- Deseja que eu faça algo ao menino? – perguntou a informante sorrindo discretamente.

- Tudo que você fizer a ele será feito ao futuro da humanidade. Trate de corrompê-lo vagarosamente e envenená-lo com suas malícias femininas.

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A Arma Secreta de Deu

Um guarda vigiava o corredor.

Suas vestimentas eram escuras e pareciam ser feitas de fumaça e não teve tempo de olhar para trás antes de Anderson pular em suas costas batendo com seu cotovelo fortemente em sua nuca.

- Não podemos sair voando o tempo todo. – falou Anderson enquanto pegava a espada de seu inimigo inconsciente.

- Tem razão. – falou Raziel aterrissando e observando se havia movimento no corredor. – Fique com a espada. Minhas asas já me dão certa vantagem.

- O corredor é cheio de portas e...

Raziel colocou rapidamente seu dedo indicador em sua boca como sinal de silêncio e os dois moveram-se rapidamente em direção a uma das portas, refugiando-se dentro de um recinto carregando com eles o corpo do guarda desacordado.

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A Arma Secreta de Deu

- Não fico à vontade sabendo que Raziel está tão perto. – comentou um dos vigias que andava pelo corredor.

- Bem que poderíamos causar um pequeno acidente com ele. – idealizou seu companheiro de posto. – Um pequeno corte pode fazer um grande estrago.

Anderson segurou sua espada com força e Joshua lhe fez sinal com as mãos para que esperasse.

Os dois vigias ficaram bem próximos da porta do esconderijo onde a dupla estava e Raziel fez contagem regressiva com o dedo indicador.

A porta se abriu.

Raziel abriu sua asa direita violentamente jogando um dos vigias contra a parede. O guarda nem teve tempo de ver o pulso de Joshua antes de cair inconsciente.

O segundo guarda tentou sacar sua espada da bainha, mas Anderson apertou sua mão contra a coronha da

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espada de seu inimigo, não deixando que ele usasse a arma e acertou seu rosto com seu cotovelo tornando-o inconsciente.

-Pronto. - falou Anderson, pegando a espada de um dos guardas e a jogando para Raziel. - Agora estamos mais seguros.

- Sua confiança em mim é assustadora. - falou Joshua sorrindo ironicamente. - Continuamos subindo?

William mexeu-se em vão.

Suas mãos e pernas estavam acorrentadas e haviam retirado sua camisa e pingente deixando-o completamente preso a dois pilares de outro maciço.

A moça que conversava com Lúcifer, no compartimento onde Maria estava, entrou na sala e sorriu aproximando-se do menino.

- Pena que é tão novo. - falou a jovem. - Poderia ensinar-lhes algo prazeroso.

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-Quem é você?

- Me chamam de muito nomes... - respondeu a moça acariciando o queixo do menino. - Você é muito bonito.

William afastou sua cabeça rispidamente e a moça sorriu aproximando seus lábios do ouvido do menino.

- Não se preocupe. Não vou machucá-lo, vou transformá-lo em um homem.

Anderson abriu a porta da sala rapidamente e por alguns segundos ele e Raziel ficaram observando a cena sem palavras.

- Temos companhia. - falou a moça com segundas intenções. - Posso cuidar dos três.

- Josh... - falou Anderson sem acreditar.

- Muito bem... - falou Joshua sorrindo ironicamente enquanto fechava a porta da sala em suas costas. - Eu não

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A Arma Secreta de Deu

sei o que está acontecendo aqui, mas como irmão mais velho eu não permito qualquer tipo de orgia com Will.

- Muito engraçado Josh. - criticou William. - Muito engraça...

O protesto de William foi interrompido quando a Satã misteriosa jogou um punhal na direção dos dois recém-chegados, que saíram da trajetória em reflexo e a lâmina acertou o peito de um Anjo corrompido que por acaso abria a porta.

A Satã saltou para cima de Anderson que estava mais próximo e enrolando seus pés no pescoço do rapaz o levou ao chão violentamente.

Joshua aproveitou o momento de distração do Anjo apunhado e com um chute empurrou ainda mais a lâmina no peito do adversário que pareceu não sentir dor e sorriu voltando-se agora para Raziel.

- O que pensa que eu sou? - perguntou o Anjo retirando o punhal

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A Arma Secreta de Deu

encravado de seu peito. - Não sou um mero Satã, sou um Anjo de Lúcifer.

Anderson gemeu de dor enquanto sua adversária se levantava sorrateiramente.

- Tão jovem e tão puro. - falou a Satã colocando seu pé em cima do peito de Anderson. - Adoro.

O Anjo corrompido investiu contra Raziel com o punhal que havia retirado de seu peito.

Joshua deu um passo para trás desviando de três tentativas de estocadas de seu adversário e lhe acertou um rápido murro em seu nariz.

William tentou mais uma vez soltar-se e ao observar melhor a sala avistou no trinco da porta da sala seu crucifixo dependurado.

A Satã sentou-se em cima do peito de Anderson e o rapaz rolou no chão ficando agora por cima da jovem que ficou deitada no chão.

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A Arma Secreta de Deu

- Prefere esta posição? - perguntou a Satã sorrindo.

- O quê?

A jovem bateu violentamente sua cabeça no rosto de Anderson, que caiu com seu nariz sangrando e levantou-se elegantemente, mas o rapaz enlaçou suas pernas nas dela levando-a novamente ao chão.

O crucifixo começou a vibrar no trinco da porta.

William mantinha seu contato visual na joia. A veia de sua testa dilatou-se e o jovem estreitou seus lábios em esforço.

O pingente moveu-se lentamente e se desprendeu do trinco da porta começando a flutuar pela sala.

O Anjo corrompido acertou um chute no peito de Raziel que foi jogado para trás.

Joshua bateu na parede violentamente. A estrutura rachou-se

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A Arma Secreta de Deu

com a pancada e o jovem impulsionou-se pulando na direção de seu inimigo.

Os dois combatentes observaram-se em pleno ar.

Seus braços direitos estavam com o pulso pronto para acertar o rosto um do outro. Suas veias tencionaram-se com uma força nunca antes exercida.

Os olhos fitavam e combatiam um com o outro quando o pequeno crucifixo passou levitando entre os corpos de ambos tirando-lhe a concentração.

O Anjo Negro sentiu-se hipnotizado pelo brilho do pingente e pela forma que passava avesso aos combates naquele ambiente. Em êxtase esqueceu-se da situação em que se encontrava e seu braço, antes pronto para destruir seu oponente, estendeu-se para o crucifixo, tentou pegá-lo, mas o pingente lhe escapou do toque e do pulso fechado de Raziel que acertou o rosto do guerreiro que desmaiado ultrapassou a parede da sala.

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A guerreira corrompida que enfrentava Anderson tentou acertar seu cotovelo no rosto do rapaz que segurou seu braço, o torceu, imobilizando o corpo da jovem pressionado ao chão, em seguida lhe acertou uma pancada a nuca que a fez desmaiar.

O pingente aproximou-se de William que estava de olhos fechados. O menino rapidamente o prendeu entre os dentes e as correntes que o seguravam dissiparam-se imediatamente.

- Teve problemas com nossa amiga sensual? - perguntou Joshua ajudando Anderson a levantar-se.

- Aquilo era ser sensual?

- Algo me diz que vamos ter muita companhia.

Joshua foi até a porta da sala e a abriu.

As vozes de vários guardas e suas sombras se aproximavam do corredor.

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A Arma Secreta de Deu

- Alguma sugestão? - perguntou Raziel fechando a porta.

- Não podemos sair voando. - falou Anderson disfarçando o alívio que sentia. - Somos pesados demais para você carregar.

- Você está bem? - perguntou Joshua abraçando William.

- Já estive pior.

As paredes do vulcão tremeram.

Um forte estrondo invadiu o ar, enquanto as paredes próximas viradas para a parte interna do vulcão desabaram com uma onda de erosão.

O chão aos pés de Anderson cedeu e ele saltou em reflexo segurando-se a um dos pilares de ouro onde William esteve preso, enquanto Raziel pegou William começando a voar para um local seguro.

- Anderson? - gritou William preocupado.

- Estou aqui!434

A Arma Secreta de Deu

A sala onde o trio estava havia parcialmente desabado.

Anderson segurava-se sem jeito no pilar somente com um braço envolvido na estrutura, enquanto tentava erguer seu corpo dependurado para segurar-se melhor.

- Segure, já estou chegando aí. – gritou Joshua virando-se na direção da voz de Anderson, mas sem conseguir vê-lo.

- Não se apresse. - falou Anderson ironicamente.

Um barulho oco foi ouvido e Anderson olhou para baixo na direção do som.

Toda a lava do vulcão começou aos poucos mover-se em redemoinho e sua velocidade começou a aumentar enquanto o líquido fervente diminuía.

- Ham, Josh... - começou a falar Anderson. – Sabe o que eu disse sobre não ter pressa?

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A Arma Secreta de Deu

Mais uma vez a parede do vulcão estremeceu.

Arazyel deitou Maria em sua cama. E por um momento, o senhor da escuridão contemplou a beleza da jovem desacordada.

O Anjo traidor sorriu e aproximou seus lábios aos da jovem, quando sem aviso seu quarto estremeceu.

Joshua não pensou duas vezes e saltou no interior do vulcão enquanto suas asas saíam de suas costas.

Sem aviso, a besta fera que enfrentava Ranar no deserto de Dudael, saiu pelo buraco que havia tragado toda a lava, violentamente em direção ao cume do vulcão.

Raziel girou no ar encostando-se ao paredão de pedra na parte interna do vulcão e virou seu rosto para protegê-lo, ainda sentindo o corpo quente devido à fera ter passado raspando em seu corpo em pleno voo.

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A Arma Secreta de Deu

Anderson encolheu-se assustado e por poucos minutos seus olhos encontraram os de Ranar que se debatia nas paredes, preso pelas garras da fera.

- Peguei você. - falou Joshua agarrando o braço de Anderson, enquanto desviava da calda da fera que se bateu na parede bem perto a quebrando.

- Quando a situação piorou tanto? - perguntou Anderson enquanto Raziel lhe colocava a salvo ao lado de William.

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A Arma Secreta de Deu

A VINGANÇA DO CEIFADOR

Arazyel observou com ar de vitória sua besta fera sair voando de seu vulcão.

O Anjo virou-se com ar de sorriso para sua cama, observou mais uma vez Maria desmaiada sobre ela. Aproximou-se novamente dela quando um par de asas brancas se interpôs em seu caminho.

O Anjo da escuridão estreitou seus olhos e sorriu não acreditando na criatura que ousava lhe desafiar:

- Devo dizer que por muito tempo esperei para que nos encontrássemos novamente, mas nunca imaginei que cometesse suicídio vindo aqui.

As penas das asas começaram a se desentrelaçar, como correntes transpassando seus elos e Rafael

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A Arma Secreta de Deu

mostrou-se levantando seus joelhos do chão.

- Não irá se aproximar mais dela. - falou o Arcanjo seriamente.

- É o que veremos.

Arazyel tentou dar mais um passo, mas uma pena das asas de Rafael atirou-se na direção de seu ombro ferindo-o como um punhal.

O Anjo Negro sorriu e passou sua mão direita sobre o ferimento que logo se curou.

- Vejo que tem melhorado o controle de suas asas.

- Você notou?

Com muito esforço e quase perdendo a consciência Ranar conseguiu soltar-se das garras da besta fera que olhou para lua com ar de triunfo e soltou um grito de vitória.

Ranar deixou-se cair por um determinado tempo, até se aproximar do

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A Arma Secreta de Deu

vulcão, posicionando-se para pouso em uma das margens.

- Você está bem? - perguntou Joshua em pleno voo.

- Só preciso de um minuto de descanso. - respondeu o Luciferus ao se levantar.

- Que tal tentarmos juntos agora?

- Só estou esperando você.

- Tenho que ajudá-los. - falou Anderson apreensivo.

- Onde está Maria? - perguntou William recolocando seu cordão.

- Não a encontramos ainda. – respondeu Anderson calculando melhor a situação. - Acha que Ranar e Joshua dão conta do monstro enquanto a procuramos?

- Acredite, Josh veria como um favor.

A porta da sala foi aberta bruscamente e William apontou para ela

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A Arma Secreta de Deu

fazendo-a fechar-se violentamente na mão do Satã que a havia aberto.

- Não vamos passar por aqui. - falou William sorrindo.

- Vamos ter que escalar. - falou Anderson apontando para uma parte que havia desabado e mostrava a sala acima deles.

Arazyel posicionou-se como um animal diante de sua presa, adiantando sua perna direita um pouco à frente da esquerda:

- Não devia ter vindo aqui!

O Anjo negro bateu seu pé direito no piso e ele rachou-se entre os pés de Rafael que cambaleou para trás sacando sua espada de suas costas.

Arazyel adiantou-se no primeiro golpe sacando também sua espada e Rafael o defendeu, porém um pó negro saiu das asas do Anjo traidor invadindo os olhos de seu oponente e o cegando temporariamente.

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A Arma Secreta de Deu

Rafael recuou tentando tirar o pó de seus olhos e Lúcifer o agarrou pela cintura e o jogou pela parede a fora de seu quarto.

O Arcanjo sentiu a parede quebrar-se em suas costas e seu corpo ultrapassou toda a espessura do vulcão indo enterrar-se no paredão de pedra do outro lado.

As mãos de Rafael conseguiram retirar parte do pó de seus olhos, a tempo de se proteger do novo ataque do inimigo que se aproximou voando pronto para lhe acertar.

Rafael aproveitou que Arazyel pareceu confuso por seu golpe ter sido defendido e o segurou pelos ombros encostando-o agora na parede, onde ele estava antes, acertando várias vezes o abdome de seu oponente com suas duas mãos, em uma sequência de murros intercalados.

Ranar alcançou e perfurou com suas garras o pescoço da besta fera. O monstro urrou de dor, enquanto Raziel o

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A Arma Secreta de Deu

surpreendeu furando um dos olhos da criatura com sua espada.

- A rainha disse para acertarmos a parte em que as cabeças se colidem. - falou Ranar se aproximando de Raziel

- Eu cuido da distração. – falou Joshua, girando sua espada entre seus dedos.

Rafael esmurrava incansavelmente o abdome de Arazyel.

Suas mãos já estavam ficando vermelhas e entre o nó de seus dedos o sangue já parecia rasgar sua pele por causa da força dos golpes do Arcanjo.

O Anjo negro sorriu e adentrou nos olhos confiantes de Rafael, sentindo neles, o poder de sua dignidade.

- Já chega!- gritou Lúcifer.

As asas negras do Anjo traidor cravaram-se feito duas espadas nas costas de Rafael que soltou um grito de dor, não satisfeito Arazyel lhe acertou o rosto com sua mão direta.

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A Arma Secreta de Deu

O sangue saiu da boca do Arcanjo e Lúcifer começou a enforcá-lo enquanto suas asas lhe perfuravam incessantemente suas costas.

Raziel abriu suas asas parando em pleno ar.

O rapaz respirou fundo e guardou sua espada em sua bainha enquanto a criatura lhe olhou.

A besta fera adiantou-se contra Raziel, tentando mordê-lo.

Joshua girou no ar enquanto uma das cabeças do monstro perfurou a distância, passando pelo rapaz que por centímetros não foi atingido.

A segunda cabeça se aproximou rápido, mas o rapaz pisou em cima dela e saltou mortalmente em direção a terceira acertando-lhe com um murro.

A fera contorceu-se em dor.

O golpe de Raziel fez o monstro despencar do ar em direção ao vulcão

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A Arma Secreta de Deu

arrancando do rapaz um sorriso vitorioso e exausto.

Lúcifer pousou triunfante em seu quarto.

Arazyel trazia Rafael carregado por suas asas negras fincadas em suas costas enquanto seu corpo estava encostado ao seu peito nu.

- Achou mesmo que poderia me derrotar novamente? - perguntou Arazyel, enquanto tirou um punhal de suas asas e o enfiou entre as costelas de Rafael.

O Arcanjo contorceu-se de dor e seu grito invadiu o quarto enquanto parte do teto da sala despencava com a cauda da besta fera que caiu pesadamente perto dos dois lutadores.

William abriu a porta do quarto e Anderson adentrou na frente com sua espada em mãos.

- Rafael!- falou Anderson vendo o Arcanjo cair ajoelhado no chão enquanto sangrava.

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A Arma Secreta de Deu

- Maria... - falou William correndo até a cama onde a moça estava.

-Afaste-se!- ordenou Rafael apontando para Anderson. - Leve a rainha e o garoto daqui rápido.

- Isto mesmo. - falou Lúcifer sorrindo para Anderson. - Você não conseguiria salvar o valoroso Rafael não é páreo para mim!

Anderson segurou sua espada com força. A visão de Rafael ensanguentado no chão lhe dava vontade de lutar.

- Não escute ele. - falou Rafael firmemente. - Saia.

- Isso, não me escute. - falou o Anjo da escuridão começando a enforcar, Rafael que se encontrava ajoelhado aos seus pés. - Deixe o Arcanjo morrer aqui.

Ranar voava em direção à criatura que tentava se recuperar do último golpe. Seu foco era o pescoço da besta fera, onde as cabeças se fundiam, ele velozmente preparou suas garras para o

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A Arma Secreta de Deu

golpe fatal no mostro, mas uma das cabeças começou a vir rapidamente pelas costas do guerreiro que não a viu.

Quando os dentes da fera estavam prontos para destroçar os pés de Ranar, Joshua se pôs entre eles e abriu sua mão em direção ao mostro ocasionando uma explosão de ar que destruiu uma das cabeças da fera.

O Luciferus sem perceber o perigo que havia passado ultrapassou o pescoço da besta fera, transpassando com suas garras até o lado oposto onde estava.

Anderson investiu contra Lúcifer com seus olhos cheios de raiva.

William tocou no rosto de Maria e a jovem acordou em desespero a tempo de ver Anderson ser jogado por cima da cama onde ela estava e bater-se na parede caindo inconsciente.

- Jovem prepotente e fraco. - falou Lúcifer enojado. - Agora vamos acabar nossa conversa Rafael.

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A Arma Secreta de Deu

Rafael tirou um punhal de suas roupas ensanguentadas e tentou cravá-lo no peito de Lúcifer que segurou o golpe do Arcanjo com as duas mãos.

- Solte-o!- ordenou Maria levantando-se da cama.

- Sinto muito, mas ele não é mais um de seus guerreiros.

A asa direita de Lúcifer ergueu a ponta da cauda da besta fera que havia destruído parte do teto do quarto ao cair no aposento e a usou para cortar as costas de Rafael dolorosamente.

Rafael arregalou seus olhos e Lúcifer sorriu falando:

- Você é meu servo agora!

As mãos de Rafael soltaram o punhal que segurava e as veias de todo o corpo do Arcanjo tornaram-se escuras.

Os olhos do Arcanjo pareceram querer gritar antes que uma escuridão os possuísse e as asas de Rafael foram

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A Arma Secreta de Deu

lentamente tornando-as negras e afiadas.

O corpo de Rafael tremia em dor.

- Não... - falou Maria sem acreditar.

Arazyel sorriu enquanto Ranar e Joshua pousaram no quarto onde o grupo estava a tempo de ver a última pena branca das asas de Rafael ser consumida pelas negras.

- Rafael... - sussurrou Joshua sem acreditar no que via.

O corpo da besta fera começou a degenerar-se em uma fina poeira negra que contaminou o ar do interior de todo o vulcão e Arazyel saltou em direção à lua.

- Temos que sair daqui. - falou Ranar firmemente. - Não podemos respirar estas cinzas.

- Ele tem razão. - falou Maria indo até Anderson que estava desmaiado. - Ele desmaiou, temos pouco tempo.

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A Arma Secreta de Deu

Rafael levantou-se e olhou para o grupo.

Seus olhos negros cintilaram e foi à última coisa que o grupo viu do Arcanjo antes dele ser consumido pela poeira.

- Você está bem? - perguntou Joshua abraçando Maria.

- Desarmada, mas bem e você está ferido?

- Posso levar os dois. - falou Ranar colocando Anderson desacordado em seus ombros e indo até William. - Você e a rainha ficarão bem Raziel?

- Não se preocupe conosco e tome cuidado.

Ranar agarrou William pela cintura e saiu voando carregando seus companheiros.

- Temos pouco tempo agora. - falou Maria, enquanto Joshua lhe abraçou pelas costas. - O que aconteceu com

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A Arma Secreta de Deu

Rafael nos deu uma grande desvantagem.

Joshua saindo voando pelo quarto segurando Maria pela cintura.

As finas cinzas na qual havia se transformado o corpo da besta fera deixava a visibilidade quase nula e o oxigênio difícil de encontrar.

Raziel saiu voando do meio da nuvem de poeira apressadamente e preocupado em achar um canto seguro aterrissou na margem do lago que rodeava o vulcão, agora destruído.

- Respire fundo agora. - falou Raziel vendo se Maria estava realmente bem. - Conseguimos sair de lá.

Suspiro aproximou-se em trote e pareceu estar contente em ver que o casal havia saído com vida do vulcão.

- Algo me diz que vai piorar muito ainda. - falou Maria apontando para o céu.

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A Arma Secreta de Deu

Joshua olhou para onde a moça apontava e encontrou Rafael voando ao lado de Lúcifer.

O poderoso Arcanjo parecia receber instruções que Lúcifer sussurrava em seus ouvidos, enquanto observava o casal de jovens a salvo.

- Por favor, Suspiro leve-a em segurança. - pediu Raziel começando a levitar em direção de seus inimigos.

Antes que Joshua se distanciasse Maria montou em Suspiro e segurou o rapaz em sua mão.

- Tome cuidado, por favor. - pediu Maria passando a mão de Joshua em seu rosto.

- Não se preocupe. - falou Raziel deixando-se aproximar do chão novamente e beijando a moça. - Terei cuidado de não deixar nosso inimigo me ver sangrando.

Maria balançou a cabeça fazendo um gesto de que havia entendido e

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A Arma Secreta de Deu

Raziel começou a elevar-se aos céus com grande velocidade.

Suspiro por sua vez, saiu dali em passos rápidos enquanto Rafael se distanciava a ponto de ficar apenas um ponto no horizonte.

A QUEDA

- Vejo que não é tão inocente como eu pensei Raziel. - falou Arazyel parado no ar enquanto Joshua se aproximou. - Você e Maria, sério?

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A Arma Secreta de Deu

- Você não tem nada haver com isso. - respondeu Joshua parando no ar, na frente de seu adversário.

- Está destruindo a ideia que as pessoas tem dela. - falou o inimigo ironicamente enquanto gesticulava. - Tem noção do favor que está me fazendo?

- Não se aproximará dela!

- Não preciso. Sabe Raziel você é realmente uma criança teimosa. Alguém interessante de ser observado. Quantos mais do que convivem com você terei de destruir? Primeiro: Armers, pobre Anjo patético que tentou me desafiar. Segundo, seus pais. Teria tido muito prazer se sua mãe tivesse sido fraca como seu pai e tivesse deixado ser corrompida.

- Não foi por ser fraco que corrompeu meu pai! - falou Raziel voando com raiva em direção de Arazyel.

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A Arma Secreta de Deu

Raziel desempunhou a Dádiva de Deus segurando-a com força e a levantou pronto para decapitar Lúcifer que simplesmente estendeu a mão.

Joshua sentiu como se todo o ar a sua volta se aglomerasse na sua frente e até mesmo o oxigênio do seu corpo lhe sumiu por alguns segundos.

O acúmulo de ar era tão denso que uma esfera de vento se formou na frente do rapaz que sentiu uma força explosiva jogar seu corpo para trás e somente depois seus ouvidos captaram a explosão. Arazyel havia feito o ar explodir.

A força da detonação jogou Raziel em direção a terra com a mesma potência e velocidade que o rapaz estava exercendo para atacar seu oponente.

O corpo de Raziel quicou sobre a terra.

Suas asas embolaram-se em suas pernas, durante alguns segundos o

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A Arma Secreta de Deu

rapaz sentiu como se elas fossem partir-se ao meio.

Ainda deitado e com o ouvido zunindo, Raziel mexeu-se no chão enquanto cuspia sangue. Ele deitou-se de lado enquanto Lúcifer aterrissou na sua frente.

- Como eu dizia antes de ser interrompido... - recomeçou a falar Lúcifer cordialmente. - Em terceiro, a pobre Anjo Emanuelle. Esta sim amava você com toda sua essência e você a retribuiu como?

- Pare! - falou Raziel levantando-se.

- A tratou como lixo. Desprezou até no momento de sua morte.

- Morte que você causou. - falou Raziel com raiva enquanto suas pernas ainda fraquejavam em lhe manter de pé.

- Eu? Foi você que perdeu a cabeça e por você ela deixou-se ser atingida mortalmente. Mas entendo sua lógica... Porque se envolver com uma guerreira

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quando pode ter uma rainha? Com ela já são três, quanto mais terão que sofrer?

- Não vai se aproximar de mais nenhum deles. - falou Joshua levantando novamente sua espada.

Raziel saltou e tentou investir novamente contra seu inimigo, mas o Anjo da escuridão simplesmente lhe olhou e o corpo do jovem parou no ar sem movimento.

- Se acha forte Raziel? – perguntou Arazyel sorrindo enquanto estralavam seus dedos. O corpo de Joshua neste momento perdeu seu domínio deixando a espada cair.

Joshua sentia sua coluna ser tensionada e suas asas paralisadas no ar.

- Se tu és tão forte e especial porque posso te controlar como um brinquedo?

- O que vai fazer? - perguntou o jovem com dificuldade.

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A Arma Secreta de Deu

- O que vou fazer? Corrompê-lo seria fácil demais, mas você destruiu minha fera, então terei de castigá-lo. Essa é sua espada tão famosa?

Lúcifer pegou a espada de Raziel e a analisou com cuidado.

Sem esperar, a lâmina da Dádiva de Deus começou a brilhar intensamente e o Anjo Negro sorriu ao ver a espada transforma-se em água e escorrer por entre seus dedos, voltando a sua forma normal ao tocar o chão.

- Não toque mais nela! - gritou Raziel em fúria, enquanto tentava soltar-se de seu cativeiro invisível.

- Nem se eu quisesse poderia. –respondeu Arazyel sorrindo. - Quando eu a forjei tive instruções bem específicas para que ela fosse somente manejada por um membro da família Raziel e mais ninguém.

- Quando você a forjou?

- Sim, eu ensinei muito aos homens. Coisas que Deus não queria

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que eles soubessem. Antes de eu perceber que Ele me tratava somente como mero fantoche e que eu poderia ser como Ele, o próprio me pediu para forjar sua espada. Um presente para membros de uma família especial, dizia o pedido, uma dádiva. Se eu soubesse que minha obra prima me traria tantos problemas eu não a teria construído tão perfeita, mas será ela capaz de salvar o próprio Deus?

- Do que está falando?

- Do fim desta guerra Raziel. - falou Lúcifer sorrindo, abrindo os braços e olhando a paisagem violenta das terras ao redor do vulcão. – Sobre a profecia que fala sobre os Raziel. Ela diz que eles trarão equilíbrio para que esta batalha acabe. Que eles são a arma secreta de Deus, porém, uma profecia pode ser interpretada de muitas maneiras.

- O que você quer dizer?

- Que você realmente trouxe oportunidade para que esta guerra

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A Arma Secreta de Deu

acabasse. Até deu-me a chance de matar a Jesus.

- Está blefando. - falou Raziel sorrindo forçadamente. - Ele está seguro e você nem sabe onde.

- Tem razão. Porém meu mais novo comandante Rafael, sabe.

Os olhos de Raziel encheram-se de pânico enquanto Lúcifer lhe sorriu.

A visão do acampamento sendo destruído e de Jesus nas mãos de seu inimigo lhe consumiu a alma.

- Enquanto estamos conversando, ele está sequestrando Jesus em seu esconderijo seguro e irá levá-lo a torre da destruída Cidade das Nuvens. Onde eu matarei o menino na frente de todos os seus leais súditos. Assim acabará a guerra.

- Não permitirei.

- Sei que tentará algo, tolo e heroico, como sempre. Porém terá que sobreviver para fazer isso.

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Arazyel sorriu e corpo imóvel de Joshua obedeceu a suas ordens virando-se ao inimigo, e servindo-lhe as costas. Em seguida o Anjo Negro pegou sua espada.

- Realmente suas asas são lindas Raziel! Espero que o filho que Maria espera possa ter asas parecidas com estas quando me servir. - falou Lúcifer passando sua mão nas asas de Joshua. - É uma pena...

Sem mais nenhuma palavra Lúcifer colocou suas mãos sobre as asas de Raziel e as quebrou fazendo o rapaz soltar um grande grito de dor.

A visão de Raziel ficou turva e sem reação seu corpo caiu inconsciente no chão.

- Não se preocupe... - falou Lúcifer segurando a cabeça desacordada de Joshua. – Você não tinha a menor chance.

Um Anjo que estava próximo à cachoeira de entrada do jardim onde

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A Arma Secreta de Deu

seus companheiros se escondiam ouviu alguém ultrapassando a queda de água e colocou a mão em cima da bainha de sua espada.

- Quem está aí?

- Sou eu. - falou Rafael invisível pela escuridão da caverna.

- Ah Rafael. - falou o Anjo aliviado. - Pensei que podia ser um desses Luciferus que nos protegem. O único daquela raça a quem confio é Ranar e ele acabou de chegar com William e Anderson. Raziel e a rainha estão com você?

Sem qualquer chance de defesa o Anjo sentiu seu corpo ser atravessado pela espada de Rafael que saiu das sombras e sussurrou em seu ouvido antes que seu corpo caísse:

- Não se preocupe eu já cuidei dos Luciferus.

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A Arma Secreta de Deu

- Joshua acorde!

A frase se repetia como um sussurro do vento nos ouvidos de Raziel que parecia senti-la distante.

- Joshua acorde!

Raziel abriu os olhos e seus dedos tatearam a rocha escura e fria de onde estava deitado.

- Você está bem?463

A Arma Secreta de Deu

Joshua olhou onde estava. Montanhas de rochas negras deixavam o clima frio e úmido enquanto um vento congelante atingiu seu corpo.

Um rio de águas escuras corria com sua forte correnteza até desembocar em uma queda d’água que parecia não ter fim, lá era possível ouvir gritos de socorro e desespero.

- Você está bem? – perguntou uma voz feminina.

Raziel virou-se e seus olhos assustados constataram a presença de seus pais e Emanuelle ao seu lado.

- Gatinho!- falou Emanuelle lhe abraçando.

- Está tudo bem filho? - falou Gisele, passando a mão nos cabelos de Joshua carinhosamente. - Não precisa ter medo.

- Onde estou? - perguntou Raziel sem entender.

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A Arma Secreta de Deu

A pedra negra onde Joshua estava dissolveu-se e o rapaz começou a ser levado lentamente pela correnteza do rio em direção à cachoeira sem conseguir mover seus pés.

- Está onde as pessoas que são mortas na guerra ficam. - respondeu Sarakiel.

- Então estou morto?

O corpo de Joshua não sentia nenhuma dor e o rapaz não conseguiu encontrar nenhum ferimento que pudesse ter lhe causado a morte. Foi quando a agonia de ter sentido suas asas serem quebradas brutalmente invadiu sua mente como um flash.

Raziel olhou melhor onde estava o lugar lhe transmitia paz e dormência. Sua mente parecia surpresa e cansada, jamais havia imaginado um lugar como aquele para alguém que morre. Seus pensamentos pareciam distantes e vazios.

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A Arma Secreta de Deu

- Ainda não está morto. - falou Gisele carinhosamente. - Por isso estamos aqui.

- Vocês também ainda não estão mortos? – perguntou Joshua tentando entender a situação.

- Infelizmente já caímos da cachoeira há muito tempo. - falou Sarakiel. - Mas Emanuelle ainda não alcançou seu fim.

- Por isso estamos aqui Josh. - falou Emanuelle animada. - Não podemos deixar que você morra, ainda.

- O que quer dizer?

- Como já deve saber só poderemos voltar quando a guerra final acabar filho. - respondeu Sarakiel. - Até lá ficamos aqui esperando pelo dia do juízo final. Ao cair à cachoeira, você ficará conosco preso aqui.

- Não pode cair filho. - falou Gisele confiante. - Não pode desistir ainda.

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- Mas como? - respondeu Raziel sem esperança. - Estou preso aqui.

- Ainda não despencou a cachoeira. - falou Emanuelle. - Tem que voltar!

- Como? Eu até poderia sair voando, mas ele destruiu minhas asas.

- Não entendeu ainda filho? - perguntou Sarakiel. - Os olhos são a janela da alma, porém nem sempre podemos depender somente deles para viver.

- Suas asas estão dentro de você, filho. - falou Gisele, pegando no peito de Joshua. - Elas fazem parte de seu corpo assim como seu sangue. Pode não poder contar com elas durante alguns momentos, mas podem se recuperar.

- Tem que sair daqui Josh. - falou Emanuelle suavemente.

- Como?

- Acreditando. - falou Sarakiel naturalmente. - Não somos importantes

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A Arma Secreta de Deu

por aquilo que fazemos ou dizemos, mas pelo o que acreditamos. Se não acreditar em seus objetivos nunca irá alcançá-los.

- Eu ainda não sei como, eu não compreendo!

- Então apenas acredite sem compreender. Tem que subir de volta. - falou Gisele, pensativa. - Não tenha medo, sua vida ainda não acabou se tiver fé, porém é preciso coragem para voltar filho.

- Então me ajudem a obter essa coragem.

- Precisa ter fé. - falou Sarakiel com firmeza. - Precisa ter fé para aceitar tudo que lhe foi dado. Se você não sabe do que é capaz quem sabe? Teste seus limites, sofra de exaustão, mas saiba até onde aguenta e cada vez mais tente aguentar mais.

- Não podem mesmo vir comigo?

- Estamos há muito tempo aqui. - falo Gisele com tristeza. - Sou grata por

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A Arma Secreta de Deu

poder vê-lo tão grande e forte. Meu bebê...

- Vamos nos ver um dia filho. - falou Sarakiel, abraçando Raziel. - Temos orgulho de você.

- E você Emanuelle? - perguntou Joshua pensativo. - Meu pai disse que você ainda alcançou o fim da cachoeira.

- Seria arriscado e sem asas não me alcançaria a tempo.

- Então me mostrem como posso encontrar minhas asas agora!

- Tenha fé e força. - falou Sarakiel apertando o ombro do filho com esperança.

- Pode não enxergar suas asas, mas quem disse que precisa delas para voar? - falou Gisele sorrindo.

Raziel fez um sinal positivo com a cabeça.

O jovem respirou profundamente.

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A Arma Secreta de Deu

Sua mente começou a ser invadida por tudo que havia acontecido com ele até aquele momento. As dores sentidas, as lutas travadas, a sensação de voar e o amor que sentia por Maria.

Raziel sentiu toda a dor e desespero das almas perdidas daquele lugar. O silêncio atordoante. A dificuldade de raciocinar.

Joshua concentrou-se nas palavras dos seus pais e sentiu a importância de ter sobrevivido até aquele momento.

Os tropeços, as dores, as descobertas, os sentimentos – tudo o fortaleceu, embora já trouxesse em seu sangue a força de um lutador foi no tempo que viveu na Terra e seus amigos que lhe fizeram ser um guerreiro.

A cada vitória seu corpo tornou-se mais forte e Joshua sentiu-se confiante novamente. Uma energia emanou de seu ser, transpassando-se do seu corpo físico e consumindo a própria carne como uma luz quente e intensa.

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A Arma Secreta de Deu

A luz de Raziel aumentou ainda mais e as montanhas escuras começaram a ser iluminadas pelo rapaz que sentiu cada célula de seu corpo encaminhando-se para suas costas e membros lhe dando forças.

Os cabelos de Raziel espetaram-se e seus olhos brilharam intensamente enquanto a luz de seu corpo formaram asas de fogo em suas costas, tornando-as depois reluzentes como prata.

- Tem que ir agora filho. - falou Gisele lhe beijando o rosto. - Não pode demorar mais aqui.

- Nos veremos ainda. - afirmou Sarakiel sorrindo.

Joshua sentiu seus pés desprenderem-se suavemente das águas do rio e começou a flutuar na frente de seus pais.

- Obrigado. - falou Raziel esperançoso. –Não sei como, mas nos veremos.

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Sarakiel sorriu e Gisele abraçou seu marido orgulhosamente enquanto Raziel olhou para Emanuelle:

- Quando eu te pegar segure firme. Não vou deixar você cair.

Terminando estas palavras Raziel olhou por alguns segundos para seus pais, então começou a voar com grande velocidade deixando somente um rastro de luz no céu escuro e foi em direção à cachoeira sumindo de vista em sua queda.

O jardim do Paraíso ardia em chamas e a cabana estava destruída.

Corpos sem vida enchiam o chão que antes era seguro e um Anjo gravemente ferido assustou-se quando ouviu um estrondo ao seu lado.

Raios saíram do chão que havia rachado se explicação e no meio deles Raziel ergueu-se com uma forte luz margeando seu corpo e Emanuelle ao seu lado.

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- Raziel... - sussurrou o Anjo com dificuldade.

- Está tudo bem. - falou Emanuelle ajoelhando-se para ajudar o companheiro ferido. - O que aconteceu aqui?

- Rafael... - respondeu Joshua observando o cenário de destruição. - Ele já esteve aqui!

Suspiro saiu da caverna.

O cavalo correu apressado e seus olhos expressavam terror e medo.

- Ei, amigo. - falou Joshua acariciando o cavalo. –Calma. O que aconteceu?

- Tem alguém na caverna. - falou Emanuelle seriamente.

A caverna estava escura e mais úmida do que Raziel lembrava.

O jovem acompanhado de Emanuelle caminhou com cuidado e segurou a bainha de sua espada

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observando e esperando algum movimento nas sombras.

- Temos que ir. - sussurrou uma voz feminina com dificuldade a frente.

- Maria? - perguntou Raziel esperançoso.

Maria virou-se assustada para Joshua e respirou aliviada vendo que era o rapaz.

- Josh... - falou William contente. - Você está bem!

- Como você está? - perguntou Maria abraçando o rapaz. - Tememos que algo ruim tivesse lhe acontecido com que Rafael nos contou.

- Emanuelle? - falou Anderson dolorosamente encostado a parede da caverna. - É você?

- Longa história, mas você não parece muito bem.

- Quebrou duas costelas na luta contra Lúcifer. - respondeu Ranar seriamente. - Tem sorte de ter sido

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somente isso. A inveja por não ter sido eu a tentar acertar aquele traidor está me doendo.

- Eu cuido disso. – falou Emanuelle aproximando-se do rapaz machucado.

- Onde está Jesus? - perguntou Raziel seriamente.

- Ele o levou. -respondeu Maria insatisfeita. - Não pudemos fazer nada para impedir.

- Então vamos pegá-lo de volta. Ainda temos alguém do nosso lado?

- Rafael e os Satãs levaram a todos. Não estavam preparados para esse tipo de ataque.

- Vamos ter que ser o bastante então.

- Não sabemos para onde eles foram.

- Eu sei!

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TUDO OU NADA

O muro de fogo da Fortaleza das Nuvens havia sido posto até a metade no chão.

As casas haviam sido derrubadas e a extensão de seu território havia sido tomada por observadores.

Alguns estavam ali de boa vontade para ver o desenlace da guerra, outros haviam sido tomados como reféns e sentiam-se sem esperança de sair de lá com vida.

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Anjos corrompidos e Satãs cercavam todo o território em pontos estratégicos, mas a maior parte deles havia sido deslocada para um canto do lado direito onde os seres alados que não serviam a Lúcifer foram postos como prisioneiros.

A multidão ultrapassava os muros da cidadela e focos de discussão eram constantemente provocados pelos servos de Lúcifer que tratavam de manter seus prisioneiros em estado de tensão.

O castelo que antes era conceito de luz agora parecia uma construção sem vida ou propósito.

O Sol nasceu naquele dia iluminando com tristeza a Cidade das Nuvens. Os pássaros não se aproximaram da construção.

Como único ponto opositor aos invasores da cidadela, estava o oceano que teimava em chocar-se cada vez mais forte contra o muro medieval.

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Na torre mais alta do castelo alguns observadores atentos avistavam a figura de Arazyel que olhava triunfante para a multidão que lhe aguardava.

- Podemos começar senhor? - perguntou um Satã pelas costas do anjo.

- Sim. - respondeu o Anjo soberano sem olhar para o servo. - O Sol já está nascendo no primeiro dia do meu governo na épica Cidade das Nuvens. Junto a ele, o menino deverá ser sacrificado.

O Satã sorriu e deu três passos andando de costas para depois virar-se e abrir a porta da torre.

Rafael aproximou-se com uma corrente e Lúcifer virou-se para ver Jesus sendo puxado pelo pulso aos grilhões.

- Aproxime-se logo!- falou Rafael puxando a corrente com força.

Jesus caiu ajoelhado, mas levantou-se com firmeza olhando para Lúcifer que se aproximou.

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- Não precisa ser grosseiro com o garoto. - falou o Anjo ironicamente. - Afinal ele é o filho preferido de Deus.

- Vejo que lembra com certa saudade. - falou Jesus sorrindo. - Ainda há tempo para se arrepender.

Arazyel aproximou-se mais de Jesus e lhe deu uma tapa com força, fazendo o menino cair no chão, enquanto gritava:

- Não tente me envolver em seus jogos!

- Não é inteligente o bastante para bater com as palavras ao invés das mãos? - perguntou Jesus passando a mão em seu rosto.

- Não vai me dar a outra face? Não foi o que disse aos seus companheiros: "Que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra face"?

- Também foi dito... - falou Jesus levantando-se: - "Não tentarás o Senhor teu Deus".

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- Deseja que o cale? - perguntou Rafael.

- Não está tudo bem! - falou Arazyel pacientemente. - Quando você o fizer será definito.

- Então é esse seu plano? Vai ordenar que Rafael me mate ao invés de você o fazer.

- Já tivemos nossas brigas, não é mesmo garoto? - respondeu Lúcifer aproximando-se da murada da torre para ver a multidão. - Sempre que lhe causo mal, você acaba por contornar a situação. Agora serei mais esperto e demonstrarei o quanto sou piedoso, não o salvarei, mas não serei seu algoz. Traga-o.

Rafael puxou a corrente, mas Jesus fixou seus pés fortemente no chão e por mais que o Arcanjo tentasse lhe tirar do lugar, ele não se mexia.

- Seu tolo!- falou Lúcifer.

O senhor da escuridão pegou a corrente que prendia Jesus a puxou

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A Arma Secreta de Deu

fazendo o menino dar um passo mais à frente.

- Não me atrase mais garoto!- falou com raiva.

Rafael foi até as costas de Jesus e tentou lhe golpear com a bainha em sua nuca, mas o menino simplesmente quebrou as correntes e segurou seu golpe com um só dedo.

- Já chega!- falou Arazyel soltando as correntes e pegando Jesus por seu pescoço. - Venceu a morte uma vez, vejamos se consegue novamente.

A multidão estava impaciente, e alguns observadores desatentos só perceberam o que estava acontecendo quando os gritos de horrores de um pequenos grupo de pessoas atentas à cena invadiu o ar.

Uma força invisível segurava o menino Jesus fora da primeira torre na direção do chão, enquanto o jovem tentava soltar-se em vão.

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A Arma Secreta de Deu

A altura da torre ultrapassava a de oitenta andares e a queda terminava em um chão duro de pedra pura nas portas do castelo.

Rafael deu um salto e suas asas abriram-se para que ele pudesse alcançar o alto da murada da torre, pegando sua espada.

- Espere... - falou Lúcifer entregando sua espada ao Arcanjo. - Faça com esta espada.

O Arcanjo guardou sua espada e estendeu sua mão para pegar a arma de seu senhor, quando uma forte sombra tomou a lâmina antes que pudesse ser segurada.

- Não acho que é assim que se trata o filho de Deus. - falou Raziel girando a espada de Lúcifer entre seus dedos. - Alguém precisa aprender modos.

- Raziel... – exclamou Arazyel virando-se para o jovem. - Voltou do mundo dos mortos?

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A Arma Secreta de Deu

- Estive em seu mundo e em outro, mas nada me faria perder a chance de surrar sua cara.

Surgindo da murada Ranar aterrissou na torre trazendo Anderson e William em suas costas.

Emanuelle aproximou-se com Maria que atirou uma flecha sem ao menos pisar direito na cobertura da torre.

A haste girou no ar e atingiu o ombro de Rafael que gritou de dor.

Próximo dali, William encontrava-se agachado entre a multidão que ainda acompanhava Jesus suspenso no ar, com destreza, aproximando-se de onde os Anjos e Arcanjos eram mantidos presos.

- Ei... -sussurrou William para um dos prisioneiros. - Mande que se afastem um pouco.

O Anjo começou a passar a mensagem para seus companheiros adiante quando um dos Satãs que vigiavam estranhou à movimentação:

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A Arma Secreta de Deu

- O que está acontecendo aí?

Sem ter tempo para sua resposta os Anjos abastados e os Satãs que vigiavam os guerreiros prisioneiros ergueram-se no ar em surpresa e só tiveram tempo de encontrar o olhar brilhante de William antes de serem arremessados para a floresta.

- Agora vão. - falou William. - Precisamos da ajuda de todos vocês.

Sem esperar que mais um segundo se passasse os Anjos e Arcanjos que estavam presos abriram suas asas em direção à batalha.

Arazyel sorriu demonstrando paciência e observou mais uma vez Jesus flutuando no ar tentando livrar-se da força invisível que o segurava, até que se virou completamente para Raziel.

- Vejo que recuperou suas asas!- falou Lúcifer fechando os punhos. – Não sei como fez isso, mas duvido que consiga fazer o mesmo com sua cabeça quando eu a cortá-la.

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A Arma Secreta de Deu

- Vai ter que chegar perto o bastante para isso.

Rafael puxou a flecha de seu ombro e saltou em direção as costas de Joshua, mas Emanuelle lhe pegou em pleno ar pelo calcanhar e o jogou ao chão.

- Como ousa me desafiar!- falou Rafael, batendo suas asas e ficando de pé novamente. – Acha que pode vencer a mim?

- Podemos tentar. – falou Anderson, aproximando-se com sua espada.

Um Anjo corrompido passou voando rapidamente pela cobertura da torre onde todos estavam e uma flecha atingiu suas costas fazendo-o cair pesadamente sobre os muros da construção e tombar em direção ao chão.

Ranar saltou em direção aos céus e mergulhou em direção aos portões do castelo enquanto ao seu redor Anjos começavam a batalhar.

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A Arma Secreta de Deu

O Luciferus desviou de algumas lutas em plena queda e quando estava bem próximo ao chão, ergueu seu corpo novamente em direção as nuvens, enquanto a mão de William surgiu agarrando o corpo do companheiro, que por sua vez, ergueu-se do meio da confusão formada entre os guardas e pessoas que tentavam salvar-se.

Maria aproximou-se da murada da torre e tentou em vão alcançar Jesus com seu braço estirado.

Enquanto Jesus balançava em pleno ar a jovem rainha escalou com habilidade a murada da torre onde estava, ajustando seu arco nas costas e arriscando um salto.

O pulo atingiu seu objetivo e Maria segurou nos pés do filho que a ajudou a subir oferecendo seu corpo de apoio.

- Está querendo me salvar ou ficar presa aqui também? – perguntou Jesus sem entender.

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A Arma Secreta de Deu

- Precisa ter mais fé em mim. – falou Maria respirando fundo. – Pode me ajudar a disparar uma flecha com uma corda em direção à torre?

- Pretende nos puxar?

- Alguma ideia melhor?

O senhor da escuridão investiu contra Raziel com sua espada, o rapaz abaixou-se enquanto a lâmina inimiga passou sobre sua cabeça e ergueu sua espada bem a tempo de confrontar a do adversário que tentava novamente acertá-lo.

- Enfim chegamos ao nosso confronto definitivo. – falou Lúcifer enquanto mantinha sua espada enroscada com a de seu inimigo.

- Fala como se fosse sentir saudades!

Emanuelle baixou sua clava com toda a força que tinha em suas mãos e o joelho de Rafael cedeu indo ao chão enquanto o Arcanjo se defendia com um

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A Arma Secreta de Deu

escudo de luz que se projetou em seu braço.

Anderson deu a volta pelas costas de Rafael que ainda estava ajoelhado defendendo-se do golpe da clava de Emanuelle e saltou pronto para apunhar as costas do rival com sua espada, mas o novo corrompido soltou uma das mãos de seu escudo e a abriu em direção ao jovem, que foi jogado com violência contra a muralha da torre e Emanuelle o segurou pela armadura antes que ele caísse.

- Vamos ter que ser melhores que isso. – falou Emanuelle respirando fundo. – Como estão as costelas?

- Nada que não dê para suportar. – falou Anderson pegando em suas costelas machucadas. - Acho que tive uma ideia, mas não vai ser fácil.

- E quando foi? O que vamos fazer?

- Vamos deixa-lo um pouco cansado antes.

Maria respirou fundo.488

A Arma Secreta de Deu

Suas pernas estavam presas à cintura de Jesus, que se mexia sem resultado em pleno ar.

A jovem rainha segurou seu arco com firmeza, seus cabelos esvoaçavam-se em direção ao chão. Era a primeira vez que dispararia uma flecha de cabeça para baixo arriscando uma queda mortal acaso suas pernas viessem a falhar.

- Muito bem, será agora. – falou Maria esticando o tendão de seu arco. – Aguente só mais um pouco.

Arazyel acertou seu cotovelo no nariz de Joshua que recuou dois passos passando mão no rosto, mas logo avançou para o inimigo e arranhou o braço do adversário com a lâmina de sua espada.

Emanuelle esmurrou o rosto de Rafael e Anderson chutou a parte de trás do joelho do Anjo que caiu de joelhos, sem conseguir manter a concentração o guerreiro corrompido esqueceu que estava usando suas habilidades para manter Jesus preso no ar.

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A Arma Secreta de Deu

A flecha da rainha fincou nas pedras que formavam a torre no momento em que o corpo de Jesus e o seu começou a cair por não ter as habilidades de Rafael para mantê-los flutuando.

A corda amarrada na flecha esticou-se ao máximo rapidamente enquanto a outra ponta acochou o pulso de Maria que a havia enrolado em seu braço direito e esticando o esquerdo segurou Jesus salvando-o.

Joshua girou seu corpo de lado e saltou mortalmente para trás enquanto sentia a lâmina da espada de Arazyel golpear o ar próximo as suas costas e instintivamente Raziel pisou na lâmina da espada do oponente prendendo-a ao chão.

Arazyel tentou acertar o rosto de Joshua com um seu punho, mas o jovem abaixou-se e acertou-lhe o estômago com um murro enquanto o braço inimigo passou direto cortando o ar.

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A Arma Secreta de Deu

- Acha mesmo que pode me vencer assim? – perguntou Arazyel avançando para Joshua dando-lhe uma cabeçada em seu rosto.

Raziel ficou tonto, mas ainda conseguia enxergar o Anjo da escuridão tentar soltar sua espada e uma névoa de cinzas negras surgirem em sua mão formando um punhal que veio ligeiramente em sua direção.

Joshua desviou-se com agilidade da mira de Arazyel sem tirar o pé da espada inimiga ainda presa ao chão.

O corpo jovem de Raziel cortou o ar em uma tentativa de acertar seu inimigo com sua espada, mas Lúcifer segurou o braço do rapaz e o torceu fazendo-o soltar a Dádiva de Deus.

Ranar jogou um Satã contra as muradas da torre enquanto voava em direção à cobertura onde seus amigos estavam. Em suas costas William projetava um escudo de ar e derrubava seus inimigos com pequenos feixes de luz que saíam de sua mão.

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A Arma Secreta de Deu

Rafael estendeu sua mão para Anderson e o rapaz novamente foi jogado violentamente contra a murada da torre, a qual Maria se segurava com esforço.

- Não se preocupe eu peguei você. - disse Anderson enquanto desviava da lâmina de Rafael que resvalou a murada ao seu lado e segurava o braço de Maria.

- Agradeço quando estiver aí em cima. – falou Maria sorrindo sem graça.

- Está vendo o que a vida me oferece Raziel. – perguntou Lúcifer olhando para Anderson ajudar Maria, enquanto ainda mantinha seu braço torcendo o de Joshua. – Posso matar a maioria de seus amigos sem muito esforço.

- Não!- gritou Joshua prendendo seu pé no calcanhar de Arazyel, puxando e derrubando-o.

O Anjo caiu de costas.

Mesmo em queda Arazyel jogou seu punhal na direção das costas de

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A Arma Secreta de Deu

Anderson e Joshua saltou logo atrás segurando a arma em pleno ar, enquanto seu corpo caia pesadamente no chão.

Raziel sorriu aliviado no chão, mas antes que pudesse reagir o pé de Arazyel que acertou seu estômago com um chute violento.

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A Arma Secreta de Deu

TEIMOSIA

Raziel sentiu seu corpo involuntariamente dobrar-se de dor.

Seus olhos arregalaram-se e suas pupilas tremeram em agonia.

Seus ouvidos estavam tomados pela pressão do ar, quando foi surpreendido por outro chute em seu abdome, o qual jogou o jovem violentamente contra a entrada da torre.

A parede de pedra pura rachou-se com o choque do corpo, antes que ele despencasse no chão bruscamente.

O barulho da batalha antes quase ensurdecedor perdeu-se nos poucos segundos que Joshua perdeu a consciência quando bateu sua cabeça.

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A Arma Secreta de Deu

O corpo quicou duas vezes no chão de pedra e Raziel cuspiu sangue.

Enquanto lutava contra a dor, Joshua abriu os olhos devagar, ele ainda estava grogue pelo baque, mas ergueu sua cabeça e sorriu após se dar conta que ainda estava vivo. Institivamente observou o ambiente e visualizou Anderson na tentativa de salvar Maria e Jesus.

Ainda recuperando-se, Joshua sentiu uma sombra de forma indefinida aproximar-se. Era o Anjo da escuridão que guardava sua espada enquanto sua armadura se desfazia de seu corpo como poeira no vento.

O pé nu de Arazyel estava bem próximo de Raziel, quando ele sentiu a força da mão fria do Anjo negro puxar seus cabelos da nuca levantando sua cabeça:

- Devo admitir, esperava mais de você. O tão famoso rapaz que praticamente venceu meu exército inteiro está agora caído e humilhado.

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A Arma Secreta de Deu

- O que posso dizer?- respondeu o rapaz, esforçando-se para sorrir. – Eles não eram muito espertos. – completou expondo sua bravura e tentando esconder a dor mesmo sendo ela visível.

- Josh... – falou Maria vendo o rapaz humilhado.

Antes que Maria pudesse ajudar o rapaz, Rafael aproximou-se em voo rasante quebrando a murada da torre e indo em direção ao abismo com Emanuelle em suas costas.

- Tudo bem... – falou Anderson, girando sua espada entre seus dedos e respirando fundo. – Tudo faz parte do plano...

Maria olhou para Anderson ainda tentando entender o que o rapaz havia dito e o viu aproximar-se da murada quebrada dando um passo à frente caindo em direção ao abismo, enquanto erguia sua espada com as duas mãos.

Rafael segurou o braço de Emanuelle que o agarrava pelas costas

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entre suas asas e a puxou colocando a jovem em sua frente enquanto depositou as mãos no pescoço da valente guerreira em plena queda da torre.

- Achou que eu seria derrotado somente com seus simples esforços? – gritou Rafael enforcando-a.

O vento passava cortante pelas asas de Rafael que parecia não se importar em cair em direção ao chão de pedra.

A queda era significativa e Emanuelle estava sem fôlego e Rafael a olhou com um sorriso de vitória estampado no rosto percebeu a aproximação das costas da jovem Anjo com o chão e visualizando sua morte.

Os olhos de Emanuelle, que expressavam o medo que a jovem sentia, brilharam enquanto a guerreira começou a sorrir e falou com dificuldade:

- Somente com meus esforços não!

Rafael não entendeu o que ela queria dizer até que viu pela pupila da

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A Arma Secreta de Deu

jovem o reflexo de Anderson se aproximando em queda com sua espada segura em suas mãos.

O Anjo sentiu a lâmina entrar no meio de suas asas, lugar capaz de causar um ferimento mortal em qualquer Anjo, enquanto olhou para Emanuelle que, por sua vez, puxou as mãos que seguravam seu pescoço, livrando-se do aperto do inimigo.

Sem nem ao menos um último suspiro o corpo de Rafael começou a transforma-se em cinzas e Anderson soltou sua espada enquanto Emanuelle o agarrou parando-o no ar, a poucos centímetros do chão.

Joshua tentou falar, mas seu rosto foi enterrado violentamente no chão que rachou com a pancada e Maria adiantou-se pegando seu arco, mas Jesus a segurou pelo braço.

- Foi para isso que ele veio.

- Está doendo, garoto? – perguntou Arazyel ironicamente. - Não se preocupe,

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serei gentil, logo não sentirá mais nada e comecemos pelo tato.

Foi como escorregar por uma descida íngreme cheia de lâminas cortantes, sentindo sua pele rasgar e depois cair em uma piscina de álcool, sentindo sua dor aumentar a um limite insuportável.

Sem o controle do corpo Joshua sentiu que suas veias dilatavam-se e seu estômago se contorceu em uma dor agonizante.

Aquelas palavras penetraram nas veias do jovem Raziel que passou a não sentir seus dedos, ou qualquer outro contato, mas ele sabia que ainda estava no chão e que podia se mover. Fez um esforço para mexer seus dedos da mão direita e com muito custo os mexeu.

Joshua sentiu seu corpo tremer em convulsão.

Arazyel sorriu, virou-se para Maria e Jesus. Sentiu a vontade de lutar da moça e a força que o menino fazia para

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A Arma Secreta de Deu

não se envolver. Como ele, o jovem também sabia da importância daqueles minutos.

Parecendo se divertir com a tensão que envolvia o momento Lúcifer pisou nas costas de Raziel e sorriu enquanto falava:

- Agora o paladar.

Pingos de sangue tornaram o chão na frente de Raziel manchado de vermelho e o rapaz passou sua mão em sua boca. O líquido da vida escorria por seus lábios, mas o jovem não conseguia senti-lo, sensação que não lhe foi agradável.

Raziel não sabia, o quanto poderia suportar e de onde tiraria forças para revidar, até aquele momento, havia enfrentado o Anjo da escuridão como um guerreiro, mas as habilidades que ele revelava agora eram sobre-humanas e o jovem não sabia se estava pronto para resistir.

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A Arma Secreta de Deu

- Posso sentir seu desespero e sua dor. – falou Arazyel, enquanto seus passos se distanciavam. – Ajoelhe-se aos meus pés e peça clemência.

Joshua fez um grande esforço e seu joelho direito começou a erguer seu corpo ferido e depois sua perna esquerda exerceu sua função.

O rapaz colocou as mãos em cima de suas coxas e jogou o corpo para frente levantando-se, os ossos estralaram.

Naquele momento, todos entenderiam sua clemência, tamanho era o sofrimento, mas Joshua Raziel era teimoso demais, até mesmo para morrer.

Suas pernas tremiam enquanto ele ficava de pé e seus braços já não eram sustentados, mas ainda assim, com a face tremendo ele sorriu.

- Admiro sua teimosia. – começou a falar Arazyel sem conseguir conter seu sorriso. - Um garoto de coragem como você não merece morrer. Mas como

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consegue ficar de pé se os ossos de suas pernas estão destroçados?

O barulho de ossos quebrando só não foi maior do que o grito de dor que Raziel soltou.

Joshua caiu de rosto no chão, seus membros formigavam, sua respiração falhava e agora suas pernas tinham lhe abandonado.

- Olhe para mim!

A mão inimiga levantou a cabeça de Joshua novamente, desta vez, suavemente pelo queixo.

- Olhe em meus olhos. – ordenou. - Como diz a profecia: Seu próprio nome diz o que você será, a arma secreta de Deus, mas seu corpo aguentará o bastante? – perguntou.

O tom da voz era hipnotizante. Era quase impossível não olhar para aqueles olhos tão intensos adornados com a própria morte.

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A Arma Secreta de Deu

- Está vendo a dor, o medo, o desgosto, a incerteza? Tudo pelo que você luta destruído! – gritou Lúcifer segurando o rosto de Joshua. - Esse é o meu reino e você vai ser meu principal servo. Olhe bem!

O corpo de Joshua parou de tremer, começou a torna-se pálido e seus olhos não piscavam, seu sangue deixou de molhar o chão e seus lábios perderam qualquer traço de cor avermelhada.

- Essa foi sua última visão.

Joshua pareceu que ia gritar novamente, mas a dor foi tão grande que nenhum som saiu de sua boca.

Sua retina queimou e foi esmagada por uma escuridão que tomou conta de seus olhos.

- Agora só pode me ouvir. Vai ouvir o lamento e desespero de seus aliados. Vai ouvir a voz do jovem e inocente futuro em minhas mãos. Vai ouvir sua garota gemer de prazer ao meu leito e

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vai sentir a dor de não poder fazer nada e como golpe de misericórdia, você...

A sentença foi interrompida por uma flecha dourada fincada no chão, poucos milímetros dos pés do Anjo traidor.

- Chegou atrasada “virgenzinha”. – falou Arazyel, sem paciência. – Sua flecha chegou atrasada. Seu herói não é mais que casca de órgãos.

O tempo pareceu trazer uma onda de esperança no ar e o vento soprou frio e forte.

Seu cabelo negro voava com o vento. A saia de seu vestido azul tremulava como uma bandeira e seus olhos azuis transmitiam uma paz e uma determinação só vista no jovem Raziel, agora caído.

Jesus estava logo atrás com seu olhar julgador e Maria respirou fundo.

Embora se achasse superior, Arazyel sentiu algo estranho na atmosfera que dominava. A sensação

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era de falta, mas ele próprio não sabia do que se tratava e não vacilou.

- Está escrito que o soldado da paz não poder ser derrotado, ainda que suas forças se extingam. – falou Maria fazendo a madeira de seu arco estralar, com a força que o segurava. – Está parte da profecia você esqueceu? Enquanto tiver vida, por menor que seja em qualquer parte do mundo... A própria vida e o tempo serão seus aliados.

Ao ouvir aquela voz Raziel se sentiu novo e mesmo não sentindo seus braços levantou seu tronco até a cintura. Seu corpo doía.

- E vocês esquecem que agora que me fizeram o favor de destruir meu corpo não posso ser morto. – respondeu Lúcifer sorrindo. – A cada pecado cometido na Terra mais forte eu fico. Conte uma simples mentira e eu serei capaz de destruir o mundo! São belas palavras rainha soberana, mas veja seu protetor...

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A Arma Secreta de Deu

Maria olhou para Joshua e parecendo não ser dona de suas próprias ações soltou seu arco e apressou-se indo até Raziel.

Joshua sentiu as mãos finas tocar sua face e notou que elas tremiam. As reconhecia e de certa forma aquele toque o fazia esquecer a dor.

- Não está tão ruim... – falou Raziel, com dificuldade. – Não sangre não frente de seus inimigos.

- Eu sabia que devia ter retirado sua voz depois do paladar. – falou Arazyel com ironia, satisfazendo-se com o sofrimento de Raziel.

- Estou aqui, acabou. –falou a jovem, passando a mão sobre os cabelos do rapaz. —Não lute mais, por favor. Você não pode... Não consegue nem se levantar, não precisa fazer isso, não precisa...

- Eu preciso. – interrompeu Joshua, sua voz saiu mais confiante do que ele realmente estava. – Sabe que eu preciso.

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A Arma Secreta de Deu

Joshua sentiu uma lágrima lhe cair no rosto, Maria chorava.

A jovem lhe beijou a testa e passou a mão em seus lábios sem sangue.

- Agora chega! – gritou o Anjo traidor. – À hora do guerreiro chegou!

Arazyel estendeu seu dedo, o corpo de Joshua escapou de Maria e caiu no penhasco.

Acabou.

SANGUE507

A Arma Secreta de Deu

Por um minuto, um silêncio ensurdecedor.

Maria sentiu-se em desespero.

Jesus tentou permanecer impassível, mas foi vencido pela primeira vez por suas emoções.

O momento poderia ser dividido em dois olhares particulares.

O primeiro era a visão dos guerreiros alados e terrestres que batalhavam mortalmente no território do castelo.

Cada gota de sangue... Movimento de armas, Anjo que caía, gritos de dor, tudo transmitia um cenário celestial nunca imaginado por nenhum homem.

No meio dele estava Emanuelle golpeando a esmo qualquer ser que se aproximasse.

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A Arma Secreta de Deu

Anderson ainda tentava escolher seus adversários entre defesas por reflexo e estocadas precisas.

Ranar e seus Luciferus destruíam seus inimigos sem piedade, embora conseguissem ver de relance alguns de seus irmãos de espécie cair sem vida em meio ao campo de batalha, onde William também se defendia e atacava lutando contra o cansaço de seu próprio corpo e o medo que insistia em bombardear sua mente.

No outro campo de visão, os cabelos de Maria jogados ao ar, enquanto ela se virou com seu arco pronto para o disparo.

Porém, por que disparar? Estava tudo acabado.

- Vai mesmo continuar com isso? – perguntou o inimigo, virando-se para a rainha e abrindo os braços. – Não vai funcionar, você sabe.

- Pelo menos teria o prazer de tentar.

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A Arma Secreta de Deu

- Acabou... A arma secreta de Deus foi destruída.

Maria esticou mais o tendão de seu arco, seus dedos tremiam com a raiva que sentia. O brilho da afiada ponta da flecha feita de ouro refletiu a luz do sol.

- Não seja tola. Dispare está flecha e farei voltar-se com aquilo que tem de mais precioso. – falou Arazyel abaixando a cabeça e sorrindo discretamente.

Os olhos da rainha arregalaram-se perdidos em pensamentos.

Maria analisou suas escolhas durante alguns segundos.

Olhou para Jesus apenas virando seus olhos e mantendo sua postura de disparo em direção ao coração do Anjo da escuridão.

Raziel estava estirado em cima de uma das pedras onde o mar rebentava antes de bater nas paredes do castelo.

O jovem não teve tempo de fechar seus olhos.

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A Arma Secreta de Deu

O sangue escorria por seus lábios e fraturas expostas perfuravam sua pele.

Foi quando sem explicação Joshua piscou os olhos desafiando as leis da vida e da morte.

A flecha de ouro permanecia riste em sua posição de ataque.

Parecia que ela também analisava as últimas palavras que havia escutado enquanto pensava: Valeria a pena arriscar a vida do que ela possuía de mais precioso? Arriscar a vida do seu próprio filho? A vida de Jesus?

- Não duvide de minhas palavras. – falou Arazyel naturalmente. – Não tem chance de me vencer.

- Não é por você que eu ainda estou segurando esta flecha!

- Espero que não seja por mim também! – falou Jesus seriamente. – Dispare.

- Mas e se...

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A Arma Secreta de Deu

- Estou avisando para não fazer. – falou o Inimigo em alto tom. – Não reagirei ao ataque da rainha, mas sua própria flecha voltará contra aquilo que lhe é mais precioso.

- Eu cuido de mim. – falou Jesus decidido. – Não perca a chance.

Sem esperar mais, Maria respirou fundo e voltou a olhar para o alvo.

Seus olhos azuis brilhavam torcendo para que sua flecha acertasse o ponto desejado. O tendão de porco do arco rangeu e a flecha de ouro saiu de seu descanso a caminho de sua vítima soltando poeira do arco agora vazio.

Jesus levantou os braços até a altura de seus ombros e abriu suas mãos como se fizesse um escudo invisível ao seu redor.

A flecha parou no ar deixando um filete de sangue escorrer do peito de Arazyel quando sua ponta encostou-se ao alvo, então se virou de repente dando as costas ao Anjo e voltou a mover-se

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A Arma Secreta de Deu

com a mesma força e velocidade que havia sido atirada.

Raziel pousou com força na muralha da torre. Sua armadura envolveu seu corpo completamente e sua cabeça foi tomada por seu elmo.

O próprio inimigo virou o rosto para não ver a flecha de ouro atingindo seu novo e belo alvo.

A ponta brilhante adentrou rasgando o peito e o sangue molhou o corpete de Maria.

- Não!- gritou Jesus desfazendo o escudo que protegia seu corpo.

Joshua não teve tempo de pensar, adiantou-se com uma velocidade quase imperceptível aos olhos e segurou o corpo da jovem rainha em seus braços antes que caísse sobre o chão de pedra.

- Maria... – falou Joshua deitando as costas da moça no chão.

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A Arma Secreta de Deu

O sol refletiu fraco sobre parte da flecha de ouro no peito de Maria que sentiu seu corpo formigar.

- Josh... – sussurrou Maria. – Nunca me deixou cair não é?

- Está tudo bem. – falou Raziel olhando para a flecha no corpo da moça sem saber o que fazer. – Não está tão ruim.

- Mentir não é um de seus pecados. – falou Maria fechando os olhos. – Eu ainda posso vê-lo vencer se for rápido.

- Eu a avisei. – falou Arazyel tentando justificar-se.

- Disse que a flecha se voltaria contra aquilo que lhe é mais precioso! – gritou Jesus com raiva.

- Precioso a você Jesus. – gritou raivoso. – Nunca quis ataca-la, mas sempre desejei destruir você!

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A Arma Secreta de Deu

- Não... - gritou Josh, encostando a cabeça de Maria em seu peito. – Você a matou! Seu desgraçado!

- Já lhe matei duas vezes Raziel. – falou Lúcifer com ar de interesse. – E sempre volta para me insultar não é mesmo? Vejo que aprendeu a usar as habilidades de suas asas. Como sobreviveu?

- Não percebeu não é? – perguntou Joshua levantando-se com raiva, após deitar com cuidado o corpo de Maria no chão. – Não acertou nenhum de seus golpes em mim. Nenhum de seus castigos ou dores que queria me causar eu senti. Enquanto pensava que estava me matando, estava na verdade sofrendo uma ilusão projetada por minhas asas.

- Tenho que admitir realmente brilhante.

- Está pronto para a segunda rodada? Vou fazê-lo sentir a mesma dor da flecha que usou contra ela!

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A Arma Secreta de Deu

- Desta vez será o último confronto! –falou Jesus observando sua mãe morta. – Eu mesmo cuidarei disto.

- Vai me matar? – perguntou Lúcifer em desdenho. – Vai usar o que? Seus brinquedos? Sou um espírito esqueceu? Uma força inexplicável que não pode ser morta.

- Não... – respondeu Jesus olhando friamente para Lúcifer. – Vou prendê-lo e não poderá voltar mais para este céu. Não neste...

- E como vai fazer isso?

- Vou usar minha arma secreta.

Arazyel sentiu o medo em seu corpo e olhou para Joshua que puxou a flecha do peito de Maria e fez um movimento no ar como se segurasse um arco invisível.

O Anjo Negro estendeu sua mão.

Procurou atingir Raziel com qualquer coisa que pudesse, mas Jesus colocou-se entre os dois e abriu seus

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braços, sem saber como e nem poder controlar seu corpo, o Anjo da escuridão sentiu seu corpo obedecer aos movimentos do menino.

As asas de Raziel abriram-se fortemente como um estrondo e suas penas começaram a vibrar na mesma intensidade de sua raiva que crescia a cada segundo.

Um fino pó branco surgiu das penas que formavam as asas de Raziel tomando forma de um arco que partia de suas mãos, pronto para ser disparado.

Uma gota de sangue de Maria pingou da ponta da flecha de ouro e Joshua olhou firmemente dentro dos olhos de Lúcifer e soltou a haste dourada.

A flecha passou por cima dos ombros de Jesus, bem perto de seu ouvido esquerdo, fazendo os fios de cabelo do menino se esvoaçar com o vento produzido pela haste de ouro.

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Arazyel não teve tempo nem de piscar antes que a flecha se instalasse em seu peito tirando um fio de sangue de seu corpo.

- Agora é a minha vez. – falou Jesus abaixando seus braços.

O corpo do Anjo pendeu para frente e ele caiu de joelhos enquanto colocava a mão na haste da flecha de ouro em seu peito.

- Idiotas... – falou, enquanto sentia o gosto de sangue subir por seu estômago e sua voz falhou. – Acham mesmo que podem me derrotar com uma simples flecha?

- Não, eu não acho. –falou Joshua colocando sua mão direita na direção de suas costas e segurando sua espada que surgiu entre suas asas. – Por isso vou cortar sua cabeça.

- Espere... – falou Jesus seriamente. – Não vai adiantar.

- Isso mesmo... – respondeu Arazyel apoiando suas mãos no chão,

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ficando de quatro, devido à dor que sentia. – A cada mentira, cada roubo, assassinato ou pecado por menor que seja... Eu me recuperarei e você Raziel não poderá fazer nada. Sou eterno e você?

- Sempre haverá um Raziel. – respondeu Joshua. – De um jeito ou de outro.

- Agora chega!- falou Jesus apontando para o Inimigo.

Como se obedecesse às ordens das mãos de Jesus, o sangue que escorria do peito de Arazyel e gotejava no chão começou a flutuar retornando e grudando no corpo do Anjo caído.

- O que está fazendo? – perguntou Lúcifer sem entender. Neste momento, uma gota de seu sangue grudou-se em seu rosto.

- Não podemos mata-lo tem razão. –falou Jesus sorrindo. – Mas já o prendemos uma vez e embora um dia

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você se solte, demorando ou não a acontecer, sempre estaremos aqui.

O corpo de Lúcifer começou a ser erguido do chão e seu sangue já cobria quase seu rosto por completo.

- Desta vez, não só o prenderemos como... – continuou Jesus sorrindo. – O seu próprio sangue pecador e maldito cuidará de seu cativeiro.

Arazyel olhou para Jesus, logo depois percebeu seu corpo envolto em uma bolha avermelhada formada pelo o seu sangue que começou a subir em direção ao sol.

- Então é assim que acaba? – perguntou Joshua apoiando a lâmina de sua espada em seu ombro, enquanto ajoelhava-se ao lado do corpo de Maria. – Não, por favor...

Os Anjos corrompidos e os Satãs começaram a flutuar e foram sugados pela nova prisão de Lúcifer que sumiu em meio a forte luz do sol de onde se aproximava.

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A Arma Secreta de Deu

Percebendo que haviam vencido a batalha os guerreiros do castelo começaram a comemorar.

Os gritos de vitória invadiram o ar enquanto abraços surgiam na multidão e outros erguiam suas armas.

Foi quando o grito de desespero e dor de Joshua Raziel invadiu o ar assustando a todos.

SEMPRE

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A Arma Secreta de Deu

Ranar pousou na cobertura da torre com William em suas costas e os dois que comemoravam o fim da batalha sentiram o sorriso desaparecer de seus rostos quando viram Raziel aos prantos com o corpo de Maria em seus braços.

- Josh... ? – sussurrou William sem acreditar.

Jesus aproximou-se do corpo de sua mãe e tentou tocar em Raziel para consolá-lo, mas o jovem gritou ainda mais de desespero e empurrou a mão do menino.

Emanuelle e Anderson também não acreditavam no que viam ao abrir a porta da torre chegando perto de seus amigos.

- Ela está...? – perguntou Ranar procurando manter sua postura de guerreiro.

- Não pode ser. – falou Emanuelle. – Não ela...

Anderson balançou a cabeça e jogou sua espada no chão em protesto,

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A Arma Secreta de Deu

enquanto observou todos comemorando ao redor da torre no pátio metros abaixo.

- Acabou... – falou Joshua se balançando enquanto chorava agarrado ao corpo sem vida de Maria. – Pode acordar agora. Por favor...

- É uma perca muito grande. – falou Jesus ajoelhando perto dos jovens. – Mesmo para uma guerra tão poderosa.

- Pode trazê-la de volta?- perguntou Joshua sem olhar para Jesus. – Pode, não pode?

- Ainda não é chegada a hora para este tipo de ação.

Joshua sorriu em protesto e abraçou mais o corpo de Maria.

- Talvez não seja para você. – falou Joshua, deitando Maria no chão. – Mais eu não aceito isso.

- O que vai fazer? – perguntou Anderson aproximando-se. – Existe alguma chance de trazê-la de volta?

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A Arma Secreta de Deu

- Não posso desistir sem ao menos tentar. – falou Joshua levantando-se e virando para Jesus. – Eu conseguiria?

- Talvez... – respondeu Jesus pensativo. - Se abrisse mão delas.

- Abrisse mão de quem? – perguntou William sem entender. – Do que estão falando?

- Não está pensando em ir atrás dela de onde me trouxe. – falou Emanuelle, em protesto. – Está?

- Me disseram que elas podem fazer de tudo. – falou Joshua pensativo.

- Isso o faria incompleto. – falou Jesus. – Não irá pertencer a mundo nenhum se abrir mão delas. Não será daqui, ou da Terra.

- Do que estão falando? – perguntou William impaciente.

- Minhas asas. – respondeu Joshua respirando fundo.

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A Arma Secreta de Deu

Emanuelle se adiantou em protesto, mas Ranar a segurou e passou sua frente.

- É um preço muito grande mesmo para a situação. – falou Ranar cautelosamente. – Poderá ainda não funcionar.

- Correrei o risco. – falou Joshua, enquanto sua armadura se transformava em um simples pano. – Preciso saber se, pelo menos ouvirei sua voz novamente.

- Isso não será possível. – falou Jesus. – Mesmo que funcione levará mais tempo do que você e William possuem.

- Como assim? – perguntou William. – Tempo que possuímos?

- Temos que voltar para casa. – falou Joshua respirando fundo. – Se ficarmos aqui não sabemos as consequências.

- O que você quer dizer?

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- Não podemos ficar aqui Will. Temos que voltar para casa, a guerra acabou e não somos mais necessários.

- Sabe que não é esta a explicação... – falou Jesus.

- Poderiam nos deixar a sós? – pediu Raziel diante do corpo de Maria.

Mesmo a contra gosto, o grupo retirou-se da cobertura da torre e antes da porta fechar, observaram Raziel ajoelhar-se novamente ao lado do corpo.

Joshua ergueu o corpo sem vida de Maria e o abraçou com força.

- De todas as maneiras que eu imaginei que seria nossa despedida, esta com certeza não chegou nem perto. – sussurrou Joshua no ouvido da moça. – Nós conseguimos! De alguma forma deixei você segura novamente, eu sei que você está morta, mas... Se estivesse podendo falar diria que falo demais. Tenho que ir embora, mas quero que guarde uma coisa pra mim. Quando nos encontrarmos não será mais passageiro,

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e você poderá me devolver, guarde com carinho...

Raziel passou a mão pelos cabelos de Maria tirando alguns fios de cima do rosto da jovem e a beijou.

O sol começou a desaparecer por entre as árvores da floresta e tentando manter a luz com a mesma intensidade naquele fim de tarde, as asas de Raziel tornaram-se resplandecentes e abriram-se por cima dos jovens.

Ainda beijando Maria, Joshua sentiu os ossos de sua coluna se desprendendo, ele posicionou a moça no chão enquanto a dor lhe consumiu por inteiro.

Os olhos de Joshua ficaram cinza e os pingos prateados, em que suas asas haviam se transformado, dirigiram- se ao ferimento no peito de Maria.

A noite veio fria e silenciosa.

Ainda comemorando, os habitantes da Cidade das Nuvens, nome dado por alguns moradores aos arredores do

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castelo de Jesus, acenderam tochas e dirigiram-se a floresta começando a iluminar o caminho em direção ao salão onde fica o Poço da Vida.

Joshua e William já haviam estado na escadaria e no salão de onde se aproximavam. Local que foram recepcionados por Emanuelle quando chegaram.

Porém a noite deixou o lugar muito mais cinzento e sem brilho.

- Vai se cuidar certo amigo? – falou Joshua desmontando de Suspiro. – Não vá fazer nenhuma besteira.

O cavalo bateu sua pata firmemente no chão e passou sua cabeça no peito do rapaz em despedida.

- Eu sei... – falou Joshua respirando fundo. – Também não gosto de despedidas melosas.

A escadaria tornou-se um motivo para Joshua e William ficar mais alguns minutos ali.

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William estava particularmente calado e Raziel passou a mão nos cabelos do menino como sinal que sabia o que ele sentia.

- Josh... – falou William quando terminou de subir a escadaria. – Não podemos ficar? Só mais alguns dias...

- Sinto muito. – falou Raziel como se não houvesse nenhum tipo de frase melhor.

- Mais que droga!

- Will, onde aprendeu esse vocabulário? – perguntou Emanuelle aproximando-se. – Pelo visto certas coisas nunca mudam.

Joshua sorriu havia acontecido muita coisa desde que esteve ali pela última vez e seu carinho por aquele lugar era inexplicável.

- Está bonita! – falou William sorrindo.

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Emanuelle passou a mão em seus cabelos orgulhosamente e ajeitou o vestido que usava:

- Só me arrumo em ocasiões especiais.

- É mentira... – falou Anderson se aproximando. – Na verdade ela não gosta de sapatos!

Os jovens sorriram e Ranar pousou bruscamente ao lado de Joshua.

- Ainda me assusta quando faz isso. – falou Joshua colocando a mão no ombro do amigo. – Um “oi” pode ajudar sabia?

- Não posso fazer isso Raziel.

- Não é capaz de dizer um “oi” grandão? – perguntou William dando um pequeno soco no braço de Ranar.

- Não sou capaz de me despedir, ainda.

- Quem diria um Luciferus sentimental!- falou Jesus aproximando-

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se. – Creio que ele não seja o único que veio se despedir.

Joshua olhou sem entender para Jesus e o menino apontou para as costas do rapaz que se virou.

A quantidade de tochas que iluminavam a floresta até os degraus da escada do salão era incontáveis.

- Estão felizes pelo fim desta batalha. – falou Jesus sorrindo. – Mas tristes porque vão partir.

- Logo agora que eu ia me divertir!- exclamou William respirando fundo.

- E ela? – perguntou Joshua seriamente.

Todos ficaram sérios de repente, enquanto a porta do salão se abriu nas costas dos jovens.

- Nada que possamos comemorar ainda. – respondeu Jesus seriamente. – Sinto por isso.

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- Tudo bem. – falou Joshua estendendo a mão para Jesus. – Não nos demos bem no inicio e não foi um passeio o nosso convívio. Mas isso não tirou a graça.

- Creio que não... – respondeu Jesus apertando a mão de Joshua. – Você é realmente diferente Joshua. Ainda vamos nos ver. Utilize suas novas habilidades na Terra com inteligência.

William se aproximou de Jesus para se despedir e Joshua sorriu indo até Ranar.

- Não me faça passar vergonha. – falou Joshua pegando sua espada e a entregando nas mãos de Ranar. – Seu povo fez um bom trabalho a guardando para mim, pode fazer o mesmo novamente?

- Com prazer. – respondeu Ranar segurando a espada com firmeza. – Foi um prazer conviver e lutar ao seu lado Raziel.

- Vou sentir falta disso!

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Emanuelle deu uma leve tossida disfarçada e aproximou-se de Raziel tentando sorrir.

- Como você está?- perguntou Joshua ficando de frente para a moça. – Não vai chorar não é? Seria uma surpresa para mim se fizesse isso... Na minha frente.

- Se você me visse chorar Raziel seria sua última visão. – falou a moça abraçando Joshua. – Tome cuidado e não se meta em encrencas, não estarei lá para salvá-lo.

- Eu não me meto em encrencas. – falou Joshua soltando o corpo da jovem. – Elas que não me largam.

Emanuelle deu um rápido beijo no rosto de Joshua e sorriu.

- Ainda continuo achando você meio louco. – falou Anderson sorrindo e balançando a cabeça. – Um louco diferente, mas louco.

- Aposto que não esperava tanta aventura quando disse em nosso

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primeiro encontro que poderia me ajudar. – falou Joshua apertando a mão de Anderson. – Obrigado!

- Foi um prazer, acredite. E Josh... Cuidarei dela quando acordar.

- Vou ficar te devendo muita coisa então.

Joshua olhou mais uma vez para as pessoas que haviam vindo ver sua partida e sorriu.

De alguma forma Raziel sabia que jamais deixaria aquele lugar, o povo e seus amigos.

Sentiu-se um pouco incomodado por desejar que a prisão de Arazyel não fosse forte o bastante, assim poderia voltar logo àquela que era sua verdadeira casa.

- Josh... – falou William segurando a mão do rapaz. – Estou pronto.

William e Joshua caminharam sozinhos para dentro do salão que começou a fechar suas grossas portas.

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Naqueles minutos restantes Joshua se lembrou do que havia vivido naquele lugar e o desejo de que Maria estivesse ali o invadiu.

Lembrou-se de como tudo estava bem entre eles, quando se encontravam sem ninguém perceber.

Imaginou a jovem por um segundo ao lado de Emanuelle vendo-o partir. Sem dizer nada, somente o observando...

Percebeu que havia ficado algo dela dentro dele, e sempre que quisesse poderia achar seus sinais dentro de sua mente e seu cheiro em seu corpo.

O oxigênio pareceu faltar para Joshua e por um segundo ele pensou que poderia sair dali e correr em direção onde Maria estava. Segurá-la em seus braços novamente.

Raziel sentiu William apertar sua mão e voltou de sua viagem mental a tempo de ver a porta do salão se fechando e como um raio de luz que

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surge todos os dias pela manhã, ao nascer do sol, Joshua teve a impressão de ter visto Maria terminando de subir as escadas apressadamente.

O retorno foi como o piscar de olhos.

Sem nenhum aviso Joshua se viu sentado em sua cadeira costumeira da sala de aula e falou sem ao menos pensar:

- O resultado é trinta e dois.

Todos os estudantes que estavam na sala olharam em susto para Joshua que sentiu seu rosto ficar corado e ajeitou-se na cadeira.

- Muito bem, Josh. – falou a professora escrevendo no quadro o resultado da operação matemática.

O aviso sonoro do término das aulas soou.

Joshua pegou sua mochila. Passou uma das alças por seu ombro direito e saiu apressadamente da sala.

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Em meio aos adolescentes que saíam do colégio, Joshua Raziel encontrou William o esperando como sempre fazia.

- Will... – falou o rapaz, abraçando o menino. – Você está bem?

- Claro que estou!

- Nada de estranho aconteceu com você?

O som de um tiro invadiu o ar e todos os estudantes assustaram-se.

Alguns adolescentes saíram correndo enquanto um estranho de rosto coberto por uma máscara saiu de um comércio na esquina.

William olhou para o lado a procura de Joshua e não o encontrou mais.

O assaltante entrou em um carro que estava próximo e acelerou em fuga.

De repente uma árvore que estava na calçada caiu pesadamente sobre o capô do carro evitando a fuga do ladrão.

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Antes que o mascarado pudesse reagir Joshua arrancou a porta do carro, jogando-a para longe, só com uma de suas mãos e o retirou erguendo-o pela camisa.

- O que está fazendo garoto? – perguntou o estranho sem entender.

Todos os estudantes olharam assustados Joshua que jogou o ladrão em direção ao muro do colégio que desabou com a força da pancada.

- Então foi real... – sussurrou William sorrindo.

Joshua respirou fundo e olhou para todas as pessoas que lhe olhavam.

Acenou para William discretamente com a cabeça e saltou indo parar no teto de um prédio de dez andares que estava próximo.

SOZINHO538

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Está foi à última vez que alguém viu realmente Joshua Raziel.

Eu, William, resolvi colocar este relato em meu diário como forma de nunca esquecer o que passamos juntos.

Não que eu seja capaz de esquecer. Uma experiência assim não nos abandona.

Pode parecer loucura, mas enquanto escrevia senti como se Joshua estivesse ao meu lado. Sinto sua falta e meu filho me pergunta a razão de

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seu tio aparecer tão pouco em nossa casa.

Espero que quando você terminar de ler esse diário encontre um motivo para acreditar em minhas palavras. Você não me conhece, mas peço que acredite em cada sílaba das palavras deste relato.

Até hoje sinto o vento suave que soprava sobre aquelas terras distantes e me pergunto se algum dia eu voltarei até lá, sei que é burrice, todos que merecem vão ter esse prazer, mas será que mereço?

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Hoje a noite está fria e a lua parece mais brilhante do que o normal.

Será que meus amigos estão vivos?

Acompanho no noticiário nacional sobre estranhos salvamentos que acontecem e que nem mesmo especialistas conseguem explicar. Assim sei que Josh ainda vive e de alguma forma finalmente fazendo para o que nasceu para fazer.

Ele não sabe se ela está viva ou simplesmente teve uma alucinação ao ver sua imagem subindo as escadas

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naquele dia, mas uma coisa é certa...

O que o mantém vivo é a esperança de ainda ser digno e de um dia estar ao lado dela, para sempre.

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