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  • Revista Anual de J-Jistria

    Ano XIII '2006- Nmero 13

    ~========~~==~////,~~==~===========.. CumpT'inJo o. lei municipal nO '2.160,

    de 18 de De7emb1"O de 1974, edita o volume:

    Revista nO 13 do ano '2006

    Apoio:

    PT'6feituT'o. do Municpio de piracicaba

    e

    Secretaria de AiJo CultuT'al

    ~~~~~~~~////,~~~~~~~~

    COPYT'ight - '2006 IWGP

    Todos 0' direito, re,eT'Vados ao II-JGP

    Impres>o no B,.,,,,l - Printed in BT'Gl7il

    ~~~~~~~~////,~~~~~~~~

    No

  • INSTITUTO HISTRICO E Im,OC;R,,FIC;O DE PIRACI

    DIRETORIA (2006 .2006)

    Presidente PAULO CELSO BASSETTI

    Vice~Ptesidente

    HALDUMONT NOBRE FERRAZ

    1 Secretrio SERMO DORIWTTO

    2- Secretaria MYRIA MACHADO BOTELHO

    1" Tesoureiro I Ff

  • V Votorantim ICelulose e Papel

    ,

    )RESENTE RESPONSAVEL. FUTURO SUSTENTADO.

    Impresso em papel couch Starmax 90 91m2,

    da Votorantm Celulose e Papel - VCP.

    Papel produzido com florestas plantadas de eucalipto.

    Preservando matas nativas, em harmonia com o meio ambiente.

  • RELATRIO DAS ATIVIDADES

    00 IHGP NO ANo DE 2006

    i') Completou a digitalizao do jornal Gazeta de Piracicaba (1882-1937)

    2') Instalao do Cenlro de Pesquisa e Desenvolvimento Histrico

    3') Instalao do Cadastro Temtico do IHGP, em ordem alfabtica

    4') Catalogao da Biblioteca do IHGP petos alunos estagirios da Unimep

    5') Feita a inscrio do Instituto Histrico e Geogrfico de Piracicaba no oPACo, da Secretaria de Cultura do Estado de So Paulo

    6') Homenageou o Centenrio da Corporao Musical Banda "Unio Operria"

    7') Realizou a Pesquisa da Hislrla da Banda "Unio Operria"

    8') Elaborou o lanamento da Revista "O Passar da Banda"

    9') Publicou a Revista Cientfica do IHGP, 0'13, ano 2006

    10') Instalou a Biblioteca do Prol. Flvio Toledo Piza

    11') Promoveu a l' Semana de Esludos Cemltenals, com palestras e seminrios

  • 12') Em elaborao: Dicionrio de Ruas de Piracicaba, 10 Volume, 500 pginas

    13') Pesquisas: Histria das Corridas Automobilsticas de Piracicaba

    Histla do Basquetebol em Piracicaba

    14') Exposies: Exposio com fotos do acervo do IHGP, com participao da

    Secretaria de Ao Cultural, Secretala da Educao e diversas Escolas, entre elas o liceu Terras do Engenho

    - Exposio sobre Ecologia no Carrefour

    Exposio de Fotografia de. Jazigo com obra artstica no salo da Acipi

  • RELAO DE MlITER.lAL DO ACERVO PERMANENTE DO

    IHGP- DISPONIBILIZADOS PARA CONSULTA E PESQUISA.

    (GESrOES 2.002. A 2.006)

    PERiDICOS:

    1. REVISTAS DE ESTUDOS HISTRICOS E CINCIAS CORRELATAS.

    Revista do IHGB (Revisla do Instituto Histlco e Geogrfico Brasileiro) - a revista mais antiga publicada no Brasil. Nunca deixou de ser produzida, desde seu primeiro nmero lanado no ano de 1839. O IHGB foi uma instituio criada pelo Govemo Imperial, quando D. Pedro 11 era regente do Brasil. Essa instituio leria por objetivo incentivar pesquisadores de vrias reas de estudos cientificas a investigar, relatar e produzir conhecimento sobre as diversas regies geogrficas do Pais e os grupos sociais existentes nelas, seus modos de vida, suas culturas. Todas as informaes recolhidas eram levadas sede da instituio, que fica at hoje na cidade do Rio de Janeiro. Elas eram analisadas e os estudos considerados importantes eram ento publicados na revista. Desse modo, o Govemo Imperial, com agentes espalhados por inmeros canlos do Brasil, obtinha informaes relevantes sobre a diversidade dos recursos naturais e humanos existentes pelo lerritrio. Era uma forma de fazer conhecer as reas mais distanles da capital e permitir com isso que se planejassem estratgias de proteo e controle das fronteiras territoriais do Pais. No acelVo do IHGP (Insliluto Histrico e Geogrfico de Piracicaba), temos os nmeros que vo de 1839 a 1990 coleo quase completa; Revista do Instituto Histrico e Geogrfico de So Paulo (revista do mesmo gnero que a do Instituto Histrico e GeogrfiCO Brasileiro)-O IHGSP era um Instituto Provincial e linha a funo de reunir informaes importantes sobre a Provincia paulista mais especificamente; Revista do Instituto Histrico e Geogrfico da Paraiba; Revista do Instituto Histrico e Geogrfico de Minas Gerais;

  • Revista de Histria (produzida pelo Departamento de Histria,

    Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So

    Paulo, nasdcadas de 1960 a 1980) - uma importante revisla

    de artigos de acadmicos ligados rea de Histria e Memlia,

    Brasil e geral;

    Revista Anhembi (rene uma srie de artigos literrios e

    outros estudos) - coleo quase completa;

    Revista do Arquivo Municipal de So Paulo (rene uma srie

    de artigos voltados para estudos sobre a capital e o intenor

    paulista; gneros de estudos diversificados);

    Revista do Arquivo Pblico Mineiro;

    Revista da Academia Paulista de Letras;

    Revista de Genealogia;

    Revista do Conselho Esladual de Cultura;

    Revista de Informao legislativa;

    Revista do Museu Paulista.

    2. PUBLICAO DE DOCUMENTAES (ORGANIZADAS).

    Atas da Cmara Municipal de So Paulo (registros das sesses ordinrias e extraordinrias ocorridas no exerccio das atividades da Cmara de S. Pauto) -Abrange os sculos

    XVIII, XIX e XX;

    Atas da Sociedade Beneficente Portuguesa - Piracicaba;

    Registro Geral da Cmara Municipal de So Paulo (sculos

    XVII, XVIII e XIX);

    Cartas de Datas de Terra (registro de pedidos e doaes de

    terras concedidas pelo Ministrio do Governo para

    arrendamentos) - Abrange os sculos XVII, XVIII e XIX;

    Documentos Interessantes (rene uma srie de documentos de ordem ofcial, pblicos e variados quanto aos tipos) Sculos XVIII, XIX e XX;

    Anais da Assemblia legislativa (sculo XX);

    Anais da Assemblia legislativa da Provncia (sculo XIX);

    Anais do Museu Paulista;

    leis e Decretos do Estado de So Paulo (fins do sculo XIX

    eXX).

    3. COLEES DE JORNA1S~

    Gazeta de Piracicaba (1882-1937)

    Jornal de Piracicaba (1900-1995)

    O Dirio de Piracicaba (1936--1993)

    O Dirio (1962-1993)

    A Tribuna Piracicabana (1966--1994)

    A Provncia (1988)

    Jornal do Povo Piracicabano (1978-1979)

  • o Democrata (1993--1994)

    Folha Piracicabana (1962-1968)

    O Monumento (1930-1933)

    Dirio da Manh (1929-1930)

    A Tarde (1918)

    O Maio (1901 - nico exemplar)

    A Bigorna (nico exemplar)

    O Planalto (1940-1942)

    Dirio de So Paulo (1954)

    Folha da Manh (1954)

    ICONOGRAFIAS:

    4. FOTOGRAFIAS.

    Cenas cotidianas na cidade e reas rurais em Piracicaba (sculos XIX e XX -aproximadamente 1,200); Obras pblicas, acervo fotogrfico da Prefeitura de Piracicaba (sculos XIX e XX - aproximadamente 1,000),

    5. IMAGENS DIGITALIZADAS:

    Fotografia, telas, postais, desenhos (aproximadamente 1.100).

    DOCUMENTAO ELETRNICA:

    6. JORNAIS: 40.000 imagens

    7. DOCUMENTOS AVULSOS: 2,000

    8, REV1.TAS: 20 nmeros - inlegral (aproximadamente 4.000 pginas)

    9. OBRAS RARAS: 2 Titulos - integral (aproximadamente 500

    pginas)

    E GEOGRFICO DE

    PIRACICABA Ano XIII 2006

  • RELAO DE PESQUISAS

    Piracicaba, 29 de novembro de 2006

    DE: Luiz FrancscoAlbuquerque de Miranda - Docente do Curso de Histria da Unimep

    'i. ;;11!I~X:" PARA: Instituto Histrico e Geogrfico de ,':,' Pracicaba - IHGP

    ~,.~.x;...~. REF.: Relao de pesquisas vinculadas ao ;~",;..~,,;;.~, Curso de Histria da Unimep que recorreram s

    ~;::::'p:~j f2ti;~.,.:' fontes disponfvels no IHGP

    Prezados professores,

    Atendendo solicitao da diretoria do IHGP, apresento a seguir os discentes do Curso de Histria da Unimep que utilizaram fontes disponveis no referido Instituto na composio de seus Trabalhos de Concluso de Curso, assim como os ttulos de suas pesquisas.

    Discen!es concluintes em 2005:

    BORBA, Giovana Carpin, Guerreiros inconstantes, heris indolentes: as representaes do indigena pelo IHGB, Orien tador: ProL-DL Luiz Francisco A. de Miranda.

    REDIVO, Rute Luciancencov, O mestio e suas qualidades laboriosas. Orientador: Prof.-Dr.Luiz FranciscoA. de Miranda,

    SPOTO, Eduardo FilieI. Civilizao e catequese: contenda poltica entre Es!ado e Igreja no sculo XIX. Orientador. Prol. Dr. Luiz Francisco A. de Miranda.

    Discentes concluin!es em 2006:

    FERREIRA, Joo Paulo Ponte. F, lei e miscigenao: anlise do sistema colonial brasileiro por Rober! Southey. Orientador: ProLDr, Luiz Francisco A de Miranda.

    GOMES, Luiz Rafael. A liga Operria de Piracicaba e a greve geral de 1919: sindicalismo revolucionlio, reformismo, cultura e imprensa. Orientadora: Profa.-Dra. Joseli Maria Nunes Mendona. .

    MELLO, Patricia Ferraz de. A questo da origem dos ndios na Revista do IHGB, Orientador: ProL-Dr. Luiz Francisco A. de Miranda.

  • Alm dos Trabalhos de Concluso de Curso anteriormente referidos, encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciao Cientfica financiada pelo FapiclUnimep que tambm uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP, A pesquisa tem por titulo Representaes do homem do serto na Revista do IHGB (1839-1859), conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientao do Prof.-De. Luiz Francisco A, de Miranda, Esse trabalho deve apresentar seu relatrio final em agosto de 2007,

    Colocamo-nos disposio para qualquer esclarecimento e goslaramos, mais uma vez, de agradecer ao IHGP e sua diretoria o apoio recebido,

    Atenciosamente.

  • SCULO XVTII:

    A AMmCA PORTUGUESA E A

    SrroAAO GERAL DE

    INSEGURANA NO BRASIL """'"'

  • 3 Ibidem, p.323. 4 Ibidem, p.368.

    determinao do Governo Colonial, correntes povoadoras da Capilania de So Paulo se direcionaram para as novas fun]iaes municipais, as Vilas de paranagu (1648), So Francisco do Sul (1668), para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688), aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcao de Tordesilhas. Todas essas ocupaes erarn lidas como pertencentes Capitania de So Paulo, Iicavam sob a sua administrao e figuravam na sua carta geogrfica'.

    O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundao da Colnia Militar do Santssimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia, num antigo stio em que comercianles portugueses, durante o dorninio espanhol (1580--1640), haviam desenvolvido lucralivo comrcio com as provncias platinas. A fundao militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrao comerciat, porque por meio dela agia o imperialismo ingls, acarretando prejuzos na arrecadao fiscal das suas colnias. As conlraprovidncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundao das praas de Montevidu e Maldonado, na banda onenlal do Prata, bern como na expanso pelo territrio da bacia do rio Unuguai, em sua rnargem lesle.

    Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva, a Coroa portuguesa detenminou, entre 1737 e 1752, correntes povoadoras oriundas de So Paulo e dos Aores para a ocupao do territrio do Rio Grande do Sul de So Pedro e dos santos Mrtires. Os caminhos abertos por sertanistas, entre 1728 e 1733, em breve se transfonmaram em estradas para a rnovimentao dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar, estreitando as distncias, alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba, a sudeste. No tange dos Campos do Viamo, foi fundada a povoao de Porto Alegre (1773), mas logo se viu que a formidvel expanso povoadora, o comrcio e a articulao entre o Sul, o Sudeste e o Sudoeste geravam contradies, no se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as provncias hispano..americanas,

    A defesa das posies assumidas no Prata pelas duas Coroas ibricas moveu exrcitos adversrios que sustentaram uma guerra in.. terrnitente na fronteira sul do Brasil, havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quartis-generais. Em meados do sculo XVIII, a situao agravou-se frente s necessidades de defesa do Brasil contra a cobia estrangeira, ao avano dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de So Pedro e dos Santos Mrtires, convertendo-se em preocupao permanente para o Secretrio de Estado Sebastio Jos de Carvalho e Melo, o Marqus de Pombal, durante todo o reinado de Dom Jos 1(1765-1777).

    Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal, pois, alm de lhe haver sido devolvida a COlnia do Sacramento, militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715, valeram as suas disposies como prvio acerto nas fronteiras sul-amencanas, ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogao ao Tratado de Tordesilhas de 1492. A caducidade deste e a reivindicao de um novo principio de direito internacional, o ulipossidelis, pesaram entre os argumentos diplomli

  • cos que levaram ao Tratado de Madri (1750), sendo Fernando IV rei de Espanha e D. Jos I rei de Portugal'.

    Naquele momento tambm se bl:scou infundir uma nova organizao polticoadministrativa na Amrica portuguesa, extinguindo-se o Estado do Maranho para criar-se o Estado do GroPar e Maranho com capilal em Belm (1751). Por sua vez, o Estado do Brasil configurava-se numa grande unidade geogrfica, desde o C!1ar at a Colnia do Sacramento, havendo por capital a cidade de So Salvador. Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de So'Paulo (1748) que j passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geogrfica (Minas Gerais, Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina, Gois e Mato Grosso) que a reduziram a So Paulo propriamente dito e Paran. Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privao das suas principais reas de minerao e comrcio, pela falta de representatividade no governo colonial, a partir de 1748, e, deste at 1765, periodo que os manteve em estrita subordinao Capitania do Rio de Janeiro, agravada pela pobreza.

    Na determinao diplomtica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750), coube a Portugal a posse da Bacia Amaznica e, para consolid-Ia, foi con.s/ruda a rede de fortificaes que chegou at o Mato Grosso. No Sul Vingaram os desacerlos, pOis havendo de abandonar a Colnia do Sacramento, receberia em troca as ocupaes castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai. a terra das Misses. Mas a inconformao dos padres jesuitas, associada resistncia dos nativos, bem como a incompreenso dos governos, gerou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a prpria anulao do Tratado de Madri.

    O segundo Tratado (Paris, 1763) relaciona-se com nova intercorrncia na poltica europia, dada pela emergncia de uma poln.cia expansionisla, a Prssia, em bloco de aliana com a Inglaterra, fat que levou quebra do equilbrio alcanado com a Paz de Utrecht (1713). Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu, os atia dos, ustria, Rssia e Frana tiveram grandes pemas militares, en quanto a ltima viu os seus porlos bloqueados, pemendo para a Inglaterra as suas principais colnias na Amrica, sia e. frica. Em 1761, Luis XV convocou a unio de tOdos os Bourbons num Pacto de Famlia do qual Portugal deixou de participar sob presso inglesa. Por represlia, teve o seu territrio invadido por um exrcito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza, enfrentando guerra simultnea na Europa e na Amrica'. Entre 1761 e 1767, movimentaram-se de Cdiz para Buenos Aires e, desta cidade conlra o Estado do Brasil, para a Colnia do Sacramento, Rio Grande do Sul e Ilha de San!a Catarina, as esquadras e os exrcitos a comando dos generais D. Pedro de CevalJos, D. Francisco Bucarely y Ursua e D. Juan Jos de Vertiz. Tais operaes infligiram pemas territoriais alarmantes, fazendo perigar o Sul, o Sudoeste e a prpria cidade do Rio de Janeiro, considerada o maior emprio colonial e o porto do ouro da Amrica portuguesa.

    A defesa do Sul do Brasil j se convertera num projeto de guer ra colonial americana, longa e exaustiva, adminIstrada por 30 anos,

    SAnlnicG MaltosQ,op. cil., pAlaI1.

  • 6: Srgio B, de Hollanda (coord), op, dI., p.376, 1 Carla do Morgado' de Mateus dirigida a Oeyras, In Doc. InL. v,XXIII, pAO.DAESP.

    desde 1733, pelo General Gomes Freire de Andrade, ;arnom Capito General do Rio de Janeiro e responsvel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste, O ano de 1762 foi dos mais crticos: a guerra houve por determinar nova alterao administrativa, cabendo cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil, enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antnio lvares da Cunha) para Vice-Rei e Capito General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767). Nesse mesmo ano os dois blocos adversrios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763), pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum.

    Exorbitando, os castelhanos devolveram apenas a Colnia do Sacramento a Portugal, enquanto asseguravam a posse militar nos territrios meridionaIS, sem deixar de continuar assediando e aumentando o seu poder'. A paz jamais se estabeleceu por completo, exigindo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marqus de Grimaldi) e de Lisboa (Marqus de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro, bem como os seus comandos militares.

    A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado, capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro, detenminaram a restaurao da Capitania de So Paulo (1765) e a nomeao de D. luis Amnia de Souza Botelho Mouro, Morgado de Mateus, para o cargo de seu Capito General. Este se tornou o responsvel pelos novos destinos da terra paulista e pela operao estratgica desastrosa, denominada "Divertimento para o Oeste", de que veio a resultar a fundao da fortaleza e colnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia. Justificada como recurso tUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de So Pedro e dos Santos Mrtires, tomou-se objeto de fracasso mililar e razo de tragdia para a sociedade paulista,

    A partir do momento em que se concebeu o projeto, os sertes e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previses do Capito General, sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaes a serem criadas por ele na Capitania de So Paulo (1765)'. Viabilizada em 1767, a pequenina Povoao de Piracicaba serviu por uma dcada como retaguarda da Praa de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoao de So Franciso de Paula de Yguatemi, tornou-se O principal centro de produqo das canoas que conduziram TIet abaixo as mones de abastecimento de gneros, munies, soldados e povoadores para aquela malfadada colnia militar (1767-1777).

    A Guerra do Sul motivou esforos inusitados ao Brasil Colnia. A partir de 1764, comandos militares saidos de Buenos Aires promoveram incurses avassaladoras no Rio Grande, exigindo o reforo militar da regio e o conseqente envio de todas as foras que o Vice-Rei do Brasil pde ajuntar, sob pena de pesado recrutamento que recaa notadamente sobre a Capilania de So Paulo. Em 1774, assumiu o posto de General m Chefe de todas as tropas do Brasit o austraco Joo Henrique Boehm, e, dos anos mais tarde, chegou-se ali ao mximo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino, do Rio de

  • Janeiro, de Minas Gerais, da Bahia e de So Paulo. Tratava-se do derradeiro esforo para enfrentar a estratgia castelhana de conquistar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaes de defesa do Rio Grande e Colnia do Sacramento. Por parte do Estado do Gro-Par e Maranho, tambm foram tomadas providncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso, Guapor, Rio 8ranco e Par erguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas provenientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra.

    O momento decisivo chegou no incio do ano de 1777, quando partiu de Cdiz uma grande esquadra comandada por D. Pedro Cevallos. Aps a conquista da Ilha de Santa Catarina, este buscou unir-se com os exrcitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Colnia e atacar Boehm no Rio Grande, restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episdios pouco conhecidos da guerra colonial na Amrica luso-castelhana, sobressaiu o m,;to das milcias da Capitania de So Paula, porque durante todo o tempo a legio de So Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre. Sertanistas de origem, mestios e inditicos, os paulistas combateram numa guerra que no compreendiam, sob as piores condies imaginveis, por um rei que desconheciam e contra outro que os ignorava. Os sacrifcios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metforas em seu imaginrio, latentes em seu regionalismo nas dcadas posteriores. A refor-las, o conhecimento de que no hemisfrio norte outros povos da Amrica enfrentavam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno, armados da doutrina liberal. Noutras Capitanias j se achavam ardendo os archotes do Iluminismo.

    Aos povos coloniais da Amrica parecia tanto incompreensvel quanto injusto o xadrez diplomtico europeu, Envolvida a Frana na guerra da Independncia dos Estados Undos, e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra, exigiu e obteve a cessao das hostilidades no Sul, onde mediam foras os dois Imprios Ibricos'. Em setembro de 1777, concertou-se a paz mediante um armistcio, embora estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina, a Colnia do Sacramen!o, a rea das Misses e parte da campanha do Rio Grande.

    Recorde-se que, desde o ms de fevereiro (1777), em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina, mudanas polticas ocorriam na Peninsula Ibrica, pressionando os acontecimentos no sul das Amncas. Naquele comeo de ano, D. Jos I veio a falecer (24/2). cabendo a regncia a sua filha, a futura D.Maria I. que logo afastou do governo o Marqusde Pombal (4/3).Quase no mesmo perodo. o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (29/2) e foi este quem assinou, em parceria com D. Marlinho de Mello e Castro, o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1/10/1777), de nefastas conseqncias

    O Estado do Brasil perdeu a Colnia do Sacramento, as Misses do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de So Pedro e dos Santos Mrtires, enquanto o Estado Gro-Par e Maranho perdeu as reas do rio Japur e do vale do rio Negro. Por esse diploma

    S Franc",co Adolfo de Vamhagen. Histria Geral do Brasil, 1.4Q , 51 ad., p.206. 9 Ibidem, p.268.

  • leonino, cujos artigos foram ditados "quase com as armas nas mos", apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir. Esse Tratado teve por apndice o de EI Pardo (11/3/1778) sobre amizade, garantias e comrcio entre os povos, assinado entre Carlos III da Espanha e D, Maria I de Portugal, porm os desacertos sobre as fronteiras s vieram a ter soluo muito posterior, sob outro contexto diplomtico, nos sculos XIX e XX,

    Malgrado o armistcio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso, as foras castelhanas continuaram ameaando, inclusive procederam ocupao da fortaleza de Yguatemi (26/10/ 1777), por meio da investida do governador do Paraguai, Augusto Pinedo, em franco desrespeito paz concertada anteriormente, Expostos ao adversrio e seus aliados ndios, os militares da praa e as famlias povoadoras da colnia empreenderam a desocupao associada ao trgico xodo para o porto de Araraitaguaba, no mdio Tiet, onde os aguardavam a intolerncia, a incompreenso e a injustia das autoridades coloniais. Na fronteira ocidental do Estado do Brasil. permaneceu controversa a raia demarcatria entre os rios Igurei e Jaruru. fato que, associado crnica insegurana no Rio Grande de So Pedro e dos Santos Mrtires, demandou a continuidade dos mtodos arbitrrios do recrutamento na Capitania de So Paulo edo miltariado no Sul, at o sculo XIX, Homens vlidos, que eram levados sem o prprio consentimento para morrer na fronteira, deixando as famlias desfalcadas na lavoura, filhos na orfandade e todo o tipo de privaes, reforavam o clamor da sociedade contra as injustias coloniais.

    As duas ltimas dcadas do sculo XVIII se mantiveram em tenso permanente a Sudeste, Sul e Sudoeste do Brasil, recaindo a odiosa prtica do recrutamento sobre as populaes civis nos distritos das Vilas, medida indispensvel ao abastecimento das Tropas Auxiliares que reforavam os Regimentos do Reino. Na Capitania de So Paulo, o que se convertera em clamor dos moradores reforava o velho hbito das evases para os matos e s bocas-de-serto. conquanto a violncia fosse o principal motivo de queixa contra os Captesmores nas Vilas e suas Povoaes, Tal prtica atingia os bairros rurais mais distantes, sequer poupava aqueles que se dirigiam s igrejas para as desobrigas. Algemados e escoltados por corpo militar, eram postos no caminho de So Paulo como recrutas e embarcados de Santos, aps breve treinamento, para reforo s tropas de linha. Sorocabanos, ituanos. parnaba nos, bragantinos, jundiaienses compartilharam essa violncia,

    A pequenina Povoao de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbtrio das auto.. ridades coloniais, mas pde abrigar, no obstanle o clima de insegurana, os moradores do Oeste Paulista que fugiam em pnico ao recrutamento e s injustias da poca, Por uma dcada serviu de retaguarda a Ygualemi, recebeu os trnsfugas do sistema e, aps 1777, os seus deslroos humanos, suprstites queda daquela Praa, Cornunlcaes dos Capites Generais s Chegavam a Piracicaba, via Itu, aps oito dias penosos de viagem, por guas e por lerra, Morar nesle

  • fim de mundo guardava o seu altssimo preo, mas recompensava em segurana as famllias que possuam filhos adolescentes, que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos. Tal expediente facilmente observado no censo de 1773, particularmente na famlia de Domingos Rodrigues do Prado".

    Na Amrica colonial, at o sculo XIX, nunca foi assaz conjurado o perigo de novos confrontos entre os dois imprios ibricos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda, em 14/211788, pelo Ministro Martinho de Mello e Castro, dirigida ao Vice-Rei e Capito General de Mar e Terra do Estado do Brasil, D. Luiz de Vasconcelos e Souza, dava conta de provvel intercorrncia belicosa no Leste Europeu. O risco de novo desequilbrio despertava cuidados com o Sul do Brasil, deilando imediato alerta sobre a odiosa prtica do recrutamento que a Capitania de So Paulo e a gente paulista tanto abominavam. A espada continuava pendente.

    O Ministro no escondia a preocupao diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus, ao ser informado que na prxima primavera (1788) ustria e Rssia. desejosas de se expandir na peninsula Balcnica e no mar Negro, preparavam uma campanha contra o Imprio Turco. O fato despertava o interesse das outras potncias imperialistas, a Frana, a Inglaterra, a Holanda e podia fazer romper os Tratados, quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercusses na Amrica portuguesa. A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D. Luiz de Vasconcelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil, tais como expressa vigilncia e organizao sobre as Tropas Pagas e Auxiliares, em terra, mar e fortatezas. A informao devia ser repassada aos Capiles Generais, incluindo So Paulo, em sigilo para no despertarreao ""Jazendo por agora sem maiorruido as mais prprias e melhor combinadas disposies,,:".

    Os grandes esforos de Carlos 111 (Espanha), objetivando recuperar as suas possesses no Mediterrneo e na Amrica frente Gr-Bretanha, a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos, bem como para inibir a expanso desla na Amrica Portuguesa com correspondente reao do Estado do Brasil, pareciam os estertores de Castela diante do inevitvel, a crise fatal do sistema colonial ibrico e o esfacelamento do imprio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimento das primeiras naes sul-americanas' . Naquele final do sculo XVIII, um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacional se faziam acompanhar de doutrinas filosficas e modelos impaclantes de organizao poltica que melilor se adequavam s jovens naes da Amrica, nclusive o Brasil.

    10 Maos de Populay30,

    Itu,1773.DAESP.

    11 Carta de M. Mello e Cas~

    Ira ao ViceRei do Brasil. In

    Doc. Int ..v.lXV. p.443-44, DAESP.

    12 J.Vcens VIVes (crg.), His

    tria da Espana y Amrica

    social y econmca. v.lV, p.184.

  • RECREIO DO CoRUMBATA

    Frei &mno Dorizotto

    Em maro de 1532, Dom Joo 111, rei de Portugal, determina a primeira diviso administrativa do Brasil colonial, aplicando ao territrio a experincia do arquiplago da Madeira, com a entrega de cartas de doao de capitanias hereditrias a particulares de recursos e aptides para a colonizao das novas terras. O Brasil Colnia foi dividido em 15 quinhes, apesar de terem sido conferidas apenas doze capitanias. As cOncesses outorgadas pelas cartas eram bem amplas. A doao era perptua e o donatrio passava a se chamar de governador e capito das ferras e adquina uma srie de regalias, entre elas a de distribuir sesmarias, pores de terras devolutas, segundo as leis do reino de Portugal, com uma diferena: em Portugal eram entregues para o cultivo s as terras abandonadas.

    Com a falncia das capitanias particulares, esse oficio foi desempenhado pelos governadores e capites-generais das capitanias, hoje Estados do Brasil. O capito-general enfeixava em suas mos os poderes administrativo, execulvo, fiscal, judicirio e militar.

    A histria do EstadO de So Paulo est ligada Capitania de So Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza, oUlorga de 1535. Piratninga, hoje cidade de So Paulo, foi elevada sede da Capitania de So Vicente em 22 de maro de 1681, por proviso do donatrio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Souza, Marqus de Cascaes.

    Com a descoberta de minas de ouro, capitanias particulares foram retomadas pelo governo portugus, tornando-se capitanias reais. Assim, no ano de 1709, a Coroa Portuguesa comprou as Capitanias de So Vicente e Santos de Seus antigos donatrios, criando, com a Carta rgia de 23 de novembro de 1709, a Capitania Real de So Paulo e Minas de Ouro, com sede em Ouro Prelo, a qual compreendia os atuais territrios de So Paulo. Minas Gerais, Gois, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, at a Colnia do Sacramento'. Em 1720. por alvar de 2 de dezembro, foi criada a Capitania de Minas Gerais, permanecendo ainda para aregUio de So Paulo as futuras cidades de Uberaba, Uberlndia e Arax. Em 11 de agosto de 1738, perdeu So Paulo o tenitrio de Santa

    1 BACELLAR. Carlos de Almeida Prado; BRIOSCHI, lucila Reis (Orgs.). Na es.. irada do Anhangoera: uma viso regional da histria paulista" So Paulo: Humanltas; FFLCH/USP. 1999, p_ 37.

  • 2 SYLOS. Hontio de. so Paulo e seus caminhos. So Paulo: McGraw-Hill do Brasil, '1976. p, 47. 3 Cf. LIMA, Ruy Gime. Pe~

    quena histria territorial do Brasil: Sesmarias e (erras devolutas. So Paulo: Sec.elaria de Estado da Cultura, 199L 4 ALVES FILHO, Ivan. Brasil: 500 anos em documenlos. Rio de ~lanejto: Mauad, 1999. p. 3940.

    Catarina. Quatro anos depois, loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitania. tigada ao Rio de Janeiro. Em 1748 se separam Mato Grosso, Gois e Tringulo Mineiro, conforme proviso de Dom Joo V. E para humilhar os paulistas, a corte portuguesa retira-lhes o govemo prprio, e a Capilania de So Paulo subordinada ao Rio de Janeiro por alvar rgio de 9 de maio de 1748. So Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos. A Capitania s foi restaurada por Dom Jos I aos 6 de janeiro de 1765. Por fim, em 1853, foi criada a Provincia do Paran, perdendo So Paulo seu ltimo territrio'.

    A Capitania de So Paulo e as sesmarias

    Por uma das mltiplas explicaes do vocbulo, sesmaria vem do antigo verbo sesmar. que significa dividir; neste caso especifico, dividir terras. Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres, fidalgos e ricos, no intuito de expandir o cultivo e a produo dos cereais e gros, principalmente do trigo e da cevada. Quando as terras no se tornavam produtivas, eram retoma~ das, pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de explor-Ia, no seu dom.inio. Todas as terras estavam, Inclusive as do Brasil, sob a jurisdio eclesistica da Ordem de Cristo. devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donatrio da capitania ou o tributo ao reI.

    Em algumas regies da Peninsula Ibrica, imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna, a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado, conforme a necessidade de cada municipe e o nmero de seus familiares. A repartio real encarregada da diviso e concesso de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses, responsveis pela entrega da terra, eram conhecidos como sesmeiros. S mais tarde a palavra passou a indicar tambm quem recebia a terra.

    A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I, rei de Portugal, em 26 de junho de 1375, forava a lavrao e o cultivo de todas as terras, em vista da baixa produo de cereais e de outros frutos necessrios ao suslento do povo. O rei objetivava levar os proprietrios a plantar nas prprias terras, d-Ias a cultivar a outros ou ainda arrend-Ias a lavradores. A lei, baseada numa determinao anterior de 1211, obrigava tambm os ociosos e vadios ao trabalho rural, evitando aumentar a mendicncia e coibindo os espertalhes. Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos, com bons salrios e no enfrentar o trabalho do campo, Para vigiar o cumprimento da lei, eram escolhidos dois sesmeiros em cada regio, encarregados da aplicao das disposies legais.

    Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joo I em 1427 e complemenladas pelas orientaes de Dom Duarte em 1436. Toda a legislao sobre sesmarias est compilada nas Ordenaes Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11'.

    Esse costume e essa legislao do Reino de Portugal foram transplantados para as colnias, inclusive para o Brasil, e aqui vigoraram at 18??, quando se aceitou, como primeira lei, a prpria posse da terra.

  • A legislao impunha condies para a legalizao definitiva das conCeSses de sesmarias. como a medio e demarcao judicial da rea, a confirmao pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras. Em geral, em dois anos, a pessoa devia iniciar o cultivo e, se nada colhesse em olo anos, podla perder o direito sobre as terras, Essa legislao bsica foi alterada e complementada sempre de novo,

    O processo para conseguir a aprovao de uma sesmalia era complicado, demorado e custoso. A pessoa tinha que se apresentar como algum de recursos abundantes para cultivar as terras, povolas e desenvolv-Ias.

    Existiam tambm alguns estratagemas utilizados para conSeguir sesmarias. Os pretendentes adquiriam vrias posses, umas prximas das outras, e ento pediam a concesso. Depois de obtida, a mesma era medida, demarcada e os papis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei. Muitos pretendentes se associavam aos posseiros, no objetivo de conseguirem a sesmaria &, Se no havia acordo, o requerente, depos de conseguir a Carta de Sesmaria, entregava ao posseiro o documento "pro r13ta,,6, correspondente ao Quinho proporcionaI s lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo, e mantinha o restante para si.

    O documento de 14 de maro de 1822 ordenava que as provises e demarcaes de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros, com culturas efetivas no terreno, preservando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras cultivadas. Por precauo, as cartas de sesmarias j vinham reconhecendo os direitos dos posseiros. isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundirios. A Lei das Terras de 1850, porm, ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra, liquidou o regime das posses ou ocupao das terras devolutas. A partir dai, elas s podiam ser compradas de particulares possuidores de ttulos ou do governo. O resultado foi o fortalecimento do latifndio e o enfraqueci

    , ,menta da pequena propnedade "

    O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

    Porto do Corumbata, posteriormente Porto Recreio, era o nome da primitiva povoao existente junto ao Rio Corumbatal, distante, em linha reta pela margem do rio, aproximadamente quinze quilmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio. J o Recreio atual tem sua histria ligada fazenda da margem direita do Rio Corumbatai, Fazenda Bom Retiro, cujas divisas foram regulariza. das pela Ao Amigvel de Demarcailo e Diviso de Terras, com homologao em 14 de agosto de 1889, com medio e mapa do engenheiro Jos Pereira Rebouas, ao promovida entre outros por Joo Baptista da Cruz Leite, adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeiros e da viva de Alb~no de Toledo e Silva',

    5 MELLO, J. Silveira, A fun~ dao de Praccaba. In: Almanaque de Piracicaba. 1900. p_ 115. GPro rara; m;presso latiM.

    slgntncando I.) dlrel!o do posseiro sobre a poro de ter* ra cultivada por sua famlia, 7 MARCiuo, Maria Luiza. Crescimento demogrfico e evojuo agrria paulista; 1700~1836. So Paulo: EOUSP.2000. p. 187. S 1-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA, Iil/ro 132. fls,47-4tt

  • 9 ARQUIVO DO ESTADO. Requerimenlos de Sesmarias. CO 0323a" aO"5A4.

    : 26

    o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado estao da Estrada de Ferro Ituana, posterionnente Sorocabana, construo da Capela Santo Antnio, ao comrcio atraido para a praa da capela, como criao da escola estadual Estao do Recreio. A desativao do porto e a mudana natural da vila para junto da estao, no final do sculo XIX e do sculo XX, condenaram o Porto Recreio, chamado ento Recreio Velho, gradual extino, Hoje l es!l!o apenas algumas rui nas. A antiga chamin do engenho da famlia Nalin resiste ao tempo!

    A povoao antiga do Porto Recreio estava historicamente ligada ao Rio Corumbatai e sua funo natural no passado, de via de comunicao.

    O requerimento pelo qual quatro cidados pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio fundamental e esclarecedor:

    Dizem o CapitamAnt6nio Jaz da Cruz e Joaquim Francisco da Cruz e Bemardo Jaz Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Povoaao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracora no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Supplcantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIs Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certi'io palio dito caminho adiante para o que pedem a V. Ex. seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P. R, M.re.

    Antes da concesso da carta de sesmaria. deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa. representante do Reino de Portugal, e a Cmara da cidade, neste caso a de Ilu.

    Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795, pois contm o seguinte despaCho: "Infonne a Cmara e responda o DL Procurador da Coroa. So Paulo 23 de Janeiro de 1795"'. No requerimento havia um erro, pois no se davam mais do que trs lguas de terras para 'cada pedido e se solicitam trs lguas para cada um dos quatro pretendentes. O problema foi contomado por meio duma explicao em que se dizia ter havido um equivoco, assinada esta por Tobias Carneiro Soares, provavelmente o procurador deles, Por outro lado, o engano surtiu um feito inesperado e compensador, pois o grupo recebeu mais de trs lguas em quadra de sesmaria.

    Sobre esse documento, assentam-se diversas reflexes. A regio era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores. Todo porto local de Chegada e salda de passageiros e cargas, portanto um centro de movimento, de enconlro; rota sem dvida para outros lugares. fossem sitias. posses e aqu o serto. O grupo escolheu um timo lugar para explorar matas, terras e lavouras. Mrio Neme comenta:

  • Ainda em 1795, comeam as atenes a se voltar novamente para elmPraciceba, incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal, movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas, No ato citado, qualro interessa dos requerendo em conjunto, Antonio Jos da Cruz, Joaquim Fran cisco da Cruz, Bernardo Jos Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros j ai estabelecidos), pe dem trs lguas da 'outra parie do rio Corumbataf, no distrilo de Pirocicaba, no caminho que segue para os campos de Aroraquaro'~ este lote faria pio no 'porio do fio Corumbatal e a sua testada, acompanllando a margem direita desse fio, seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara' ,

    Essa obra de Mrio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973, Urna anlise correta do seu conjunto , portanto, im posslve!. Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado, O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa: as sesmarias do rio Corumbata formaram outros municpios, como Rio Claro. Corumbatai e Analndia. Sem dvida, mas as pri meiras esto ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambm no de Charqueada", O autor afirma ainda que alguns dos sesmeros so "certamente posseiros"', Na realidade so pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz,

    O Capito Antnio Jos da Cruz nasceu em Portugal. no Arcebispado de Braga, Termo da Vila de Barcelos, filho de Dionzio Gonalves da Cruz e Antnia M. de Menezes, Seu testamento de 18 de maro de 1799, registrado pelo Tabelio Matheus Jos Botelho Mouro de lIu. O Capilo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu inven trio de 20 de maio de 1815 (1805?), sendo requerente sua esposa Maria da Candelria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente, de pois Capito, Joaquim Francisco da Cruz",

    Antnio Jos da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pesso as conceituadas, incumbidas em diversos momentos pela Cmara de lIu, de investigar conflitos de terras, Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria", um investidor de terras! no posseiro. No cartrio de !tu existem procuraes assina~ das em conjunto por ele e seu !lo Bernardo Jos Alvares, vereador em 1803,

    O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais. ordenado por Dom Joo VI pelo Aviso rgiO de 1817, realizado entre 1817-1818, na Freguesia de Piracicaba, Bair ro do Corumbatai Acima, como n' 243: "Possue trs quartos [de lgua] de terras de testada e uma lgua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz, e as possue por sesmaria", Continuava por tanto como proprietno residindo a lguas de distncia. no era em absoluto posseiro, mas um bom fazendeiro, possuindo a sua gle08 de

    1sesmaria dezenas de alqueires ".

    Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos in teresses, investindo nas terras, esperando tambm explorar as matas

    10 NEME, Mrio. Apos$a~ menta do solo e evoluo da propriedade rural na zona de Piraecaba,V.1 Museu Paulis!a, Sfle: de Hist ria, 1974. p. 81, 11 NE.ME, op. cil" p. 127 e 1" TABE.LlO DE NOTAS DE PIRACICABA, Iwro 7, fls. 26~31 v. 12MUSEU REPUBLICANO

    DE I1'U; Autos de Cartas de: Testamento, 16 OfiCio, Fun do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu, M R C 11M P/USP, 0:20 a. 13 ARQUIVO DO ESTADO,

    CO 0234, et6.3 e CO 0293, 1.2.28 e 29. I sAo PAULO (Es!ado). Secretaria de Es~ tado da Cul!ura. Repertrio das Sesmarias, So Paulo, 1994. p. 262. 14 ARQUIVO DO ESTADO,

    T

  • da regio, Pela Porto Recreio haveria fcil comercializao e transporte dos produtos, Tambm no se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara, via nalural de comrcio com o serto, Influncia poltica e recursos financeiros no faltavam ao grupo,

    Aos 6 de oulubro de 1795, o Govemo de So Paula, com aprovao da Cmara da Vila de Itu, em resposta ao requerimento anteriormente apresentado, concede Carta de Sesmaria ao cidado portugus Capito Antnio Jaz da Cruz, O Capito recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz, com o cidado Bernardo Jos Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria.

    A sesmaria recebida peto capito, a primeira junto ao Rio Corumbalai, tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz,

    CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTONIO JOS DA CRUZ, E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERRAS DE TESTADA, E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAGEM, QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOAO DE PIRACICABA

    Bernardo Jos de Lorena li, Fao saber aos que esta mlnl,a carta de Sesman'a virem, que a/tendendo a me representarem o Capito Antonio Jos da Cruz, Joaquim Francisco da Cruz, Bernardo Jos Alvares e Joaquim da Costa Garcia, que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas, que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy, deslriclo da povoao de Piracicaba no Caminho, que segue para os Campos de Araraquara, no porto do dito Rio Corumbalahy, fazendo ahy pio, me pedio os supplicanles lhes concedesse por: Sesmaria trs legoas de lerras para suas lavouras, e creaoens, seguindo melade da leslada Rio acima, e a outra melade Rio abaixo, ficando o dito caminho no meyo da referida testada, correndo o Certo o espao de Lgoa e meya pelo mencionado caminho em diante: e sendo visto () seu requerimento, em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu, por ser do daslricto, e responder ella, que nas /erras, que pedio os supplicanles, para a parte do Rio abaixo, estavoo arranchados alguns moradores pobres, e que para Rio acima, veznhando a Povoao, estava devoluto; ao que respondeo:o Dou/ar Procurador da Coroa, e Fazenda, a quem tambm se du visla, que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras, que pediro, e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem, hajo de preferir pro rala, naquella poro, que segundo a possibilidade de cada hum, lhe for preciza, para o seu estabelecimento, como assim o defermino as mesmas Reaes Ordens, e sem prejuizo de lerceiro havendo: Visto Inteligllncia, Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade / em virtude da sua Real Ordem de 15 de junho de 1711/ aos ditos Cappito Anlonio Jos da Cruz, Joaquim Francisco da Cruz, Bernardo Jos Alvares, e

  • Joaquim da Costa Garcia as terras, que pedem na paragem mencionada, com as confrantaoens atraz indicadas, e sem prejuzo de terceiro, ou do direito que alguma pessoa tenha a e/Ias: com declarao que as cultivaro, e mandaro confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos, e no o fazendo se lhe denegar mais tempo. Pelo que mando ao Mfnistro, e mais pessoas, o que o conhecimento desta pertencer, dem posse aos ditos Capito Antonio Jos da Cruz, Joaquim Francisco da Cruz, Bernardo Jos A/vares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras, na forma que pedem. E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas, que se cumprir inteiramente como nalla se contm, e se Registrar nos Uvros da Secretarfa deste Governo, e mais partes, O que tocar, e se passou por duas vias, Dada nesta Cidade de So Pauto. Manuel Cardozo de Abreu a fez aos: seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretrio do Govemo Jos Romo Junior a fez escrever = Bernardo Jos de Lorena 11',

    Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramarino em 24 de abril de 1799, com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal. O prazo j havia expirado, mas os requerentes afirmam no ter enviado os papis anterormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestao dos inimigos nos Males"i

    6,

    Trs pontos devem ser ressaltados: 1- A existncia dum porto, com a respectiva povoao. Os rios

    tambm eram caminhos para a conquista do serto. Os portos surgiam naturalmente, dependendo da importncia das ligaes estratgicas do local. Quem constituia a povoao acima mencionada? Indios, mamelucos, desordeiros, fugidos da justia, pescadores, caadores, comerciantes, lenhadores e madeireiros? Talvez um pouco de tudo! Ai no faltariam tambm os prticos dos caminhos do serto.

    2-A presena de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupao de pores de terra, aceitando sua presena e entregando-lhes o documento pro rata", para serem regulanzadas as posses na medio e demarcao judicial da sesmaria, Entre os posseiros do Rio Corumbatai, estavam at fundadores da povoao de PiracicabaI

    3- A estrada na meio das matas, em direo aos Campos de Araraquara. Partindo de Piracicaba, Boca do Serto, pela estrada ou pelo Rio Corumbatai, atravs do Porto Recreio era possivel adentrar toda regio do serto, Gois e Cuiab inclusive, atravs dos campos de Araraquara. Essa estrada se manteve aberta ainda com a construo da estrada de ferro. Seu uso s foi interrompido com o advento da era dos caminhes, mas seu traado ainda perceptiveljunto ao Rio Corumbata, nas paragens So Joaquim e So Bernardo, municpio de Piracicaba, inclusive na propriedade da Famlia Boarettn, Acima do porto, num trecho muito propicio do Corumbatal, o leito do rio fomlado de areia e cast;alho e, na poca da BsUagem, concedia passagem segura para os

    1S ARQUIVO DO ESTADO, CO 0369. livro 26, Os. 114115'1 I sAo PAULO (Estado). secretaria de Estado da Cultura. RepertriQ ds Sesmaria!" So PaUlo. 1994, p. 57, 16 Documentos manuscfi~

    los avulsos da Capl1anja de So PaulO (1616-1823): Catalogo 2' - Mendes Gouveia. Coordenao geral de Jos Jobson de Andrade Arruda, Organizao de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Srgio Mafos Reis. Bauru. SP: EDUSC; So Pauto; FAPESP: Imprensa OficiaI do Estado, 2002, n~ 3646, p. 562,

  • 17 BARROS. Mar1a Paes de. No Tempo de Dantes. So Pau!o; Paz e Terra., 199B. p.89. 18 PERECIN, Mafly Thefe~

    zinha Germano. Piracbba ~8oa do Sert!o''. Revista do IHGP,ano3,n.3,p.. 11

  • primeira tentativa documentvel de povoamento da regio de Piracicaba, patrocinada por Felipe Cardoso, constata o fracasso desse empreendimento. O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera: o trnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiab e Gois em 1737; a perda por So Paulo dos tenitrios mineiros de Gois e Mato Grosso em 1748 e a proibio de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros, estrada que levava s minas de Mato Grosso e Gois, saindo de Piracicaba. Diz ainda a historiadora que, "o serto continuou a ser freqentado pelos aventureiros, pelos fugnivos e, principalmente, pelOS madeireiros ligados armao monoeira de Araritaguaba"". De fato, Francisco Galvo de Frana, no seu juramento, para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio, confessa j ser proprietrio duma sesmaria de campos, agora desejava uma de matas". .

    Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai, bastante caudaloso na poca, era o meio de desova natural das grandes rvores necessrias para a construo das canoas, utilizadas pelos monoeiros. O relatrio da Estrada de Ferro Ituana diz que, pela estao de Recreio, s no segundo semestre de 1900, foram exportadas 314 toneladas de madeira . A fazenda Recreio, cuja sede estava junto do Porto, manteve sua serraria ainda em plena atividade nos primeiros anos do sculo XX", A Fazenda Paraso, confrontante da Fazenda Recreio, exportava enormes toras nas dcadas de quarenta. e cinqenta do sculo passado.

    Marly Perecin acrescenta: "As canoas. esta riqueza gerada em Piracicaba. produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura. orientadas para a explorao capitalista"".

    No sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso. A prpria povoao de Piracicaba, fundada oficialmente no dia 1" de agosto de 1767, foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbata, conforme aparece no mapa de 1770, conservado no Museu Ultramarino de Lisboa, Ningum impediria os aventureiros de subir o Rio Corumbatai, sempre muito piscoso, desbravan~ do os sertes e fundando aglomerados humanos. Com certeza isso j tinha sido feito h dezenas de anos!

    A avaliao feita pela Cmara de Itu ao requerimento do Capito Antnio Jos da Cruz, solicitando terras na regio, lana mais luz sobre o assunto. Ela contm diversas assinaturas de Oficiais da Cmara de lIu, como muitos nomes de posseiros:

    o que nos consta das terras que pedem neste Requerimento he que do caminllo que vai da Povoailo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy, que he onde querem os Supploantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha dal!y para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Jos, Agostinho Leme, Manoel Pas, Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia, Rafael

    19 PERECIN, Marly There zinha Germano. Revista do IHGP, anoS, n,S,1994. p. 23. 20 ARQUIVO DO ESTADO. Requerimentos de Sesmarias. co 0329,84.1.34. 21 Relatrio da Estrada de Ferro Uuana. 1900 e 1902. 22 1~TABEUODENOTAS DE PIRACICABA, Ilvrodees,.. cri1uras nO 168, fls.B8v. a 90, 23 PEREC1N, Marty Therezlnha Germano. RevIsta do IHGP. ano 4, n. 4, 1995, p. 21.

    http:0329,84.1.34

  • 24 ARQUIVO DO ESTADO. Requerimentos de Sesmarias. CO 0323 a., 80.6.44. 25 SARROS, Antonio da Costa, (org.). Pjracicaba: Noiva da Colina. Piracicaba: Prefeitura do Municiplo. Ed. Alolsi. 1975. p. 36. 26 Constiluio: Nome de Piracicaba quando Vila. 27 1" TABELIO DE NO~ TAS DE PIRACICABA. livro de escrUuras nO 13, f!s. 19v; livro au:(jJlar nO 19, fls, 5 e li~ vro 179, fls, 18. 28 1TABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA, !iVode escriluras n

  • o Capito Jos Jeremias Ferraz, innuente personalidade da histria de Rio Claro, deve ter adotado Piracicaba como segundo lar, pois a adquiriu a casa do Alferes Joaquim Jos de Oliveira e de sua mulher, Maria Cndida de Barros e Oliveira, aos 5 de fevereiro de 1860".

    Na margem oposta do rio, margem direila, na "poro de terras" citada, foi construida pela famlia Ferraz a sede duma nova fazenda, intitulada Fazenda Recreio. Grande parte dessa fazenda s foi aberta no inicio do sculo XX pelos irmos Dorizzotto, Luigi e Giacomo, imigrantes vnetos, provenientes de Lugugnana, Comune de Portogruaro, aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898. Depois de breve estada junto parada Macuco da Ituana, entre Charqueada e So Pedro e na Fazenda Tamandup, fixaram-se no Porto Recreio, desmaiando a regio, plantando canade-acar e produzindo aguardente de cana. Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio, So Loureno e Paraiso".

    Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio, de 11 de janeiro de 1906, encontrase a descrio: duzentos e tnnta alqueires de terra, plantaes, pastos, casa de morada, engenho de cana e serra, prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas. Vinte e sete alqueires de terra so Isenlados da ao de hipoteca e so ciladas os nomes de oito famlias:

    [. ..) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetu am d hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares, Jos Baptista, Joaquim Baptista, Lzaro de /aI, Manoel da Silva, Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessores, Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri',

    Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade. remanescentes do desmembramento da fazenda So Loureno. O fazendeiro tinha o domnio das terras, mas, na prtica I reconhecia no ter a posse delas. E no se pode esquecer: essa fazenda foi vendida ao Capito Jos Jeremias Ferraz, antes do Stio So Joaquim de 1858, porAntnio Joaquim de Moraes Sarmento, comprador dela, nos antanhos, de Pedro Jos da Silva, que aparece como proprietrio no Bairro do Rio Corumbata Acima no recensea mento de 1817-1818". Isso comprova a existncia de antigos posseiros na rea formando o ncleo da povoao do Porto na margem dire;ta do rio, onde estava localizada a fazenda Recreio.

    Junto sede dela, as casas tinham sido construdas mais prxi. mas umas das outras. enquanto na margem esquerda, onde estava o cals, estavam espalhadas. Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa, ou, conforme a linguagem do lugar, de barrote, cuja tcnica consistia em preparar uma armao de taquaras ou lascas de bambu entrelaadas e recobrilas, dos dois lados, de barro. Os telhados das mais antigas eram de sap ou de folhas e troncos de coqueiros :J.~.

    O porto do Corumbala continuou sendo bastante utilizado, pois o rio permaneceu como via fcil de escoamento de produtos, at a inaugurao da Estrada de Ferro Ituana em 1886.

    29 1" TABEUAo DE NO TAS DE P1RAC!CABA. livro 13, fls. 1911.

    1430 TABELIO DE NO. TAS DE PIRACICABA, livro d'f escrlluras nC 204, (ls. 90v.~ 91 V.; livro n 210, fls, 26 e livro 339, fls, 89 e 89v. 31 1" TABEUO DE NO

    TAS DE PIRACICABA, IJvro de escrituras 16B, Os. 8v.~ 90. 32ARQU1VO DO ESTADO.

    CO 9869. Tombamento dos Terrenos da provlncia de So Paulo, Flash de Porio Feliz, fr.eguesia de Piracicaba. Sairro do Rio Corumba1ahy Acima, n. 218. 33 2" Tabetio de Notas de Piracicaba, livro K. p. t 18, n, 16.446.

  • 34 GUERRINI, Leandro. Histria de Plraelcaba em Quadtinhos. Pira

  • Sobre a via, rumo noroeste, j se encontram aluses em 1606 e referncia expressa num papel oficial, ou seja, na avaliao do inventrio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650: "Mais se botou neste inventrio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do serto que vae para o serto dos

    jBilreiros" '. Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em maro de 1649, antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva, diante dos perigos a enfrentar no serto. L de fato veio a falecer".

    Os blreiros, tambm conhecidos como caiaps, senhores absolutos de todo o interior da capitania de So Paulo at meados do sculo XVii, e sua "estrada velha do serto' foram longamente investi41gados por Mrio Neme em !l0is de seus mais conhecidos artigos .

    Esses caiaps, chamados por alguns autores de caiaps meridionais, tribo J, hoje extinta", eram ndios receptivos aos brancos. Uma conhecida descrio dos caiaps provm da Breve Noticia do Capito Antnio Pires:

    Este gentio de aldeias, e povoa muita terra por ser muita gente, cada aldeia com seu cacique, que o mesmo que governador, a que no Estado do Maranho chamam principal, o qual os domina, estes vivem de suas lavouras, e no que mais se fundam so batatas, milho e outros legumes, mas os trajes destes brbaros viverem nus, tanto homens como mulheres .... "

    Essa muita terra povoada pelos caiaps meridionais compreendia "vasla regio que se estendia a noroeste da vila de So Pauto, ao norte de Cuiab e a leste e ao norte de Gois'''. Sua presena constante e dilia tomou '0 nome 'Cayaps' to vulgarlsado n 'outro tempo nas provncias de S. Paulo, Goyaz e Minas, que se dava ndistinctamente ao ndio que ali apparecesse qualquer que fosse a ., sua raa" .

    Os caiaps meridionais, pressionados sempre mais pelos mineradores, sertanistas e pela guerra incessante movida pelo governo, forando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais, foram se internando sempre mais no serto. Aps represso bruta!, praticamente desapareceram Como etnia diferenciada, no sem antes opor renhida resistncia.

    O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antnio Pires de Cam pos, o moo, alcunhado de Pay Pyr. Tendo-se tomado uma espcie de cacique dos bororos, com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo, investiu contra os caiaps, a partir de 1739, queimando suas aldeias, matando mulheres e crianas e reduzindo os adultos escravido. Pay pyr, atngido no brao por uma flecha envenenada dos prprios caiaps, faleceu no arraial de Paracatu, Minas Gerais, em fins de 1751 ou incio de 1752".

    Existem dois periodos na histria dos ndios caiaps em sua retao com os paulistas. As primeiras entradas e bandeiras foram sempre bem recebidas e comercializavam tranqilamente com esses ndi os, trocando mantmentos e obtendo provavelmente guias para o ser

    39 Inventrios e Testamentos. So Palrlo: ARQUIVO DO ESTADO, 1921. v, 15. p, 176-117 e 161. 40 FRANCO. Francisco de Ass!s CaNalha, Dicionrio de Bandeirantes e Sertanistas do Brast Be!o Horizonte; Itatiaia; So Paulo: Editora da USP, 1989. p. 12. 41 NEME, Mrio, Qo.isAnU~ 90s Caminhos de Sertal1lslas de So Paulo e Dados para a Histria dos Indios Calap.ln: Anais do Museu Paulista. v. 23,1969. p. 7-147. 42 SCHAOEN. Egon , Os

    primitivos habitantes do territ6rio paulista. In: Revista de Histria. n.18, So PavIo, 1954. p. 396-397. 43 areve Noticia qlre d o Capito Antonio Pires de Campos. In: Relatos Settanislas. Colelnea. introduo e notas de Afonso da E. Taunay. So Paulo: Li vrarla MaItns Editora, 2-' ti ragem.11976]. p. 161. 44 KOK. Glria. O Serto Itinerante: Ex:pedies da capitania de So Paulo no Sculo XVIII. So Paulo: Hucltec; Fapesp, 2004. p. 137. 45 OLIVEIRA, Machado d'. Os cayaps. Revista Trimestral do Instituto Hislrico. Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil. Rio de Janeiro: t 24,1861, p, 492

    http:Calap.ln

  • 46 fRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Oicionrlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil. Belo HorIzonte: Itatiaia; So Paulo: Editora da USP, 1989. p. 103~104. 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL, ano 2, v, 20. 1936. p. 62. 48 FRANCO, Francisco de Assis CarvalhO. Dicionrio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil, Belo HoriZonte: Itatiaia; So Paulo: Editora da USP, 1989. p, 107-108, 49 Apud Mrio Neme. Da~ dos para a Histria dos jndi~ os Caiap.ln: Anais dO' Mu. seu Paulista. v. 23, 1969. P 113-115. 50 FRANCO. op. cit. p. 431

    e Revisla doAtqUivo Municipal de So Paulo. anO' 3, Y. 25, p, 97, 51 Aclas da Camara da Villa

    de S. PaulO', 1596-1622. v. 2. p.343. 52 BARROS, Antonio da Costa (org.). Piracicaba: Noiva da Colina. Piraelcaba: Prefeitura Municipat, E.Atois!, 1975. p. 19.

    to, S eles tinham conhecimento do terreno, das regies de caa e pesca e dominavam todas as antigas trilhas. Os oficiais da Cmara de So Paulo, em petio de 26 de outubro de 1725, so obrigados a reconhecer, mesmo a contragosto e por interesses escusos, os valores e qualidades da gente da terra:

    [..,] e Como Sem a gente parda, se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser S e/Ia a q', Sabe Talar o erto e navegar os Rios, Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaoins Sendo - a di/a gente parda a que Sustenta aos Settanislas, assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheimen/o que tem de tudo que possa Servir de alimenlo, [.,-i'

    O bom relacionamento com os paulistas no incio do sculo XVII testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607". A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra, os documentos provam o con!rlio, As descries dessa bandeira demonstram o comrcio amigvel com os bilreiros e na partilha dos prisioneiros s se fala em gentio Tememn"'.

    Essa aliana foi rompida, ao que tudo indica, em 1612 com Garcia Rodrigues Velho", Esse ex-capito e ex-vereador da vila de So Paulo fez uma entrada ao serto dos caiaps, retornando logo no ano seguinte, trazendo muitos deles cativos. A Cmara da Vila de So Paulo, indignada pelo fato de ele ter atacado os blreiros, reage mandando nOlifTcar, aos trinta de novembro de 1613, a Garcia Rodrigues, como cabea e capito do grupo:

    Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por ser informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos brlquos que la i~o porque no hera rezllo que os repartls seno que foss postos em sua aldea e liberdade como forros

    41 que sao...

    A cmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade, no acetando sua diviso como escravos entre os componentes da entrada.

    Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues, responderam esses bilreiros, caia ps do Tiet, internando-se mais profundamente no serto e s reaparecendo na histria como 'volantes e inimigos cruis", 'corsrios de outros gentios" e eptetos semelhanles, at praticamente sua extino,

    Deve-se guerra movida contra os caia ps um dos primeiros documentos relativos histria de Piracicaba, a resposta de 28 de maro de 1733, do sertanista Manoel Correa Arzo, dispondo-se, como vassalo de Sua Majeslade, a ir " conquista dos Brbaros que infestam as minas de Cuiab", por convocao do l,0vernador Dom Antnio de Tvora, de vinte e dois de maro de 1733 .

    http:Caiap.ln

  • Dom Luis Antonio de Souza, escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capito Jos Gomes da Gouvea, encarregado de preparar nova expedio para Iguatemi, usa de um expediente revelador do esprito da poca, com relao aos indios caiaps. Como ningum se candidatava para iguatemi, para conseguir voluntrios, manda "dar a entender q. he p." dar no Gentio Cayap, q- agora nos infesta a Navegao do Cuyab desde Avanhandava em t o Rio Pardo"._." Caar, escravizar ou matar caiap tinha se tomado uma paixo na capitania, causa mesmo de fama e vanglria, a ponto de atrair voluntosl Augusto de Saint-Hlaire, referindo-se aos paulistas, chega a afinnar, de forma exagerada, que "a caa aos indgenas constitula sua nica ocupao'''.

    Donde procedia e para onde se encaminha a "estrada velha do serto dos bUreiros"? Derivava do caminho geral, tambm chamado caminho imperial, que, proveniente de So Paulo, passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regio de lIu e Porto Feliz. Derivando desse caminho, junto ao monro Putrbu, seguindo rumo noroeste, "a estrada velha do serto dos bilreiros", provvel rota de Luis Pedroso, passava pela paragem de Capivar, em direo do rio Piracicaba. Mrio Neme observa que, se este caminho atravessava o Piracicaba, "obedecendo ao seu wprio traado inicial, prosseguiria na direo dos campos de Araraquara"". E a rea de Rio Claro constituir-se-a num cruzamento de dois caminhos, ou numa inteJ1igao da "estrada velha do serto dos bilreiros" e o 'caminho dos batatais'": a estrada de Cuiab de Lus Pedroso e a estrada doAnhangera. Femando Altenfelder Silva salienta: 'A estrutura mOrfolgica da regio descrita como rea de Rio Claro confere-Ihe o carter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratrios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteOeste"". E o engenheiro Lus DAlincourt, no incio do sculo XIX, prope um traado ideal para nova estrada Provncia do Cuab". Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da 'estrada velha do serto dos bilreiros', a partir de Ipena al o no Paranl Acrescenta D'Alincourt "ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes); e os Direitos Pblicos em Goyaz". Desse expediente j se utilizavam muito bam os comen::!antes ituanos, percorrendo a "estrada velha do serto dos bilreiros', agora chamada de Picado de Luis Pedroso!

    A professora Hlia Maria de Ftima Gimenez Machado, em sua dissertao de mestrado 'Uma Histria para Ipena", elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), obleve uma excelente entrevista, dum antigo moradorde lpena, Sr. Pedro Ferreira:

    Meu av chegou a Rio Claro junto com a ferrovia, vieram de Portugal. Ele tinha 20 anos, sabia ler e escrever. A (amllia foi irabalhar no "avanamenlo" dos trilhos da ferrovia, era a Companhia Paulista. Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO. Chegaram na poca da inaugurao da esiao felTOvlria de Rio Claro [1876J. Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos no seguiu a construo de novos trilhos. O trabalho era muito duro e o ganho era pouco, ento eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros,

    53 DOCUMENTOS INTERESSANTES. v. 7. p. 133. 54 SAINT-HILAIRE.

    Augusto de. Segunda Viagem a So PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de So Paulo. Traduo e in~ traduo de Alonso de E. Taunay. So Paulo: Livraria Martins Editora, 2" Uragem, 1'976]. p. 164. 55 NEME. Mario. Dois An~

    Hgos Caminhos de Sertanistas de So Paulo. Anais do Museu Paulista. S,o Paulo. tomo 23, p. 40. 1969, 56 NEM!:., op. cit, p. 40.

    51 D'AUNCOURT, Luiz. Vi~ agem do Porto de Santos cidade de Cuiab. So Paulo: livraria Mal11ns Edj tora, 2~ tiragem, 11976]. p, 16-17.

  • 58 MACHADO, Hlla Maria de Ftma Gimenez. Uma HistrIa para lpemii'l. Dissertao de Mestradoelaborada para a UNES? Rio Cla~ ro. 2004. p. 57-58.

    fornecendo lenha para as mquinas. A Paulista era de Rio Claro para Jundial, de l para frente era aquela mais antiga, nao me lembro o nome, mas sei que chegava at Santos.

    A famlia Ferreira foi procurar local para explorar madeira. Comearam a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia. Chegaram serra de Itaqueri. No Unham dinheiro para comprar terras, cortavam madeira e vendiam. A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras. Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira, encontraram uma aldeia, "coisa pn"mitiva, com cabo~ elos meio ariscos, custou eles terem amizade. Imagine, eles eram estrangeiros, aqueles caboclos quase Indios. Aquela meia dzia de casebres que deveriam estar ali para aproveilar gua da cabeceira. Em volta de~'sa aldeia era s6 'sambambaieiro' e mais nada... Era um mun~ do aberto entre o que hoje o municlpio de trona, ltirapina, e quem sabe at So Carlos. Onde hoje tpena niJo tinha nada.

    Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ... ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos, nao eram de trabalhar muito ... tinham roa de milho e mandioca, nllo tinham roupa. Faziam de tecido tirado das rvores, eles mesmos, No Unham arma de fogo nem ferramenta, caavam com arapuca ou assobiando para o passan'nho. Se fosse macho, assobiavam imitando fmea, e se fosse fmea, assobiavam como macho. O passarinho vinha e eles matavam com vara. Tinham uma pontaria que Deus me livre, matavam com vara." a gente do meu av6 foram ficando com eles e, quando ia escurecendo, as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela... e iam vindo! e acertavam volta" Eles contavam que nesse lugar tambm ficavam os mascates e os tropeiros.

    A "gente da terra" a quem o sr. Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos, que ali viviam, sem inco~ modar os donos da terra que, por sua vez, permliam que eles sobrevivessem por ali. Sempre que tentvamos aprofundar as perguntas na busca de informaes mais especficas sobre o tipo de vida e de atividades desses primeiros moradores, o sr. Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caavam os passarinhos, ou como eram os rios e matas do lugar. Em sua rememorao, as informaes que mais interessavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo. Hoje, j velho, a memria do Sr. Pedro sobre aquele perodo tinha sido organizada e construda atravs dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histria contada por seu pai, que ouviu de seu av!l9.

    "No tinham arma de fogo .. Tinham uma pontaria que Deus me livre, matavam com vara".,. Esse espanto do sr. Pedro Ferreira. entrevistado da professora Hlia Machado, j foi expresso por muitos estudiosos dos caiaps.

  • Pe. Jcome Monteiro, em sua "Rel",o da Provncia do Brasil de 1610", falava em uns ndios que eram chamados bilreiros por trazer nas mos uns paus rolios a modo de bilros, com os quais guerreiam com tania destreza. como com espingamas. e so to certos no tiro que raramente erram e com tal fora despendem o pau que at os ossos moem com a pancada ..:". O capito Antonio Pires de Campos, em 1723. escrevendo sobre o gentio caiap, expressa a mesma admirao, "e tambm usam de garrotes. que so de pau de quatro ou cinco palmos com uma grande cabea bem-feita. e tirada. com os quais fazem um lira em grande distncia. e lo certo que nunca erram a cabea; arma que mais se fiam. e se prezam muito dela"". Em 1727. o Capito Joo Cabral Camello identifica os caiaps como "o gentio que usa de porrete, ou bilro".. ". Por volta de 1734, "Francisco Palcio descreve, com detalhes, outra ttica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas: 'Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra, e estareis olhando para elles, sem divizares q. he gente, e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o j nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra, e basta hum s gentio desta nas!lo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens'."". J Egon SChaden, em 1954, descrevendo os ndios de grande extenso do noroeste do Estado de So Paulo, afirma que os calaps meridionais "serviam~se de grandes cacetes"G .

    O sr. Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo: "Eles contavam que nesse lugar tambm ficavam os mascates e os tropeiros: Pudera, por l era a rota do Picado de Luis Pedroso, antiga trilha dos caiaps.

    Muitas lendas se formaram na histria de Piracicaba sobre os ndios paiaguas. 10 provvel a presena anual deles subindo o Rio piracicaba na poca da pracema, perseguindo os cardumes apressados em busca de refgios propicias para a desova. Os paagus, porm, nunca abandonariam suas canoas para enfrentar, nas matas dos rios Piracicaba e Corumbata. os to temveis bilreiros, os caiaps meridionais!

    Arquivos Consultados

    Arquivo do Estado de So Paulo.

    Arquivo Central da Comarca de ytu, M R C II M P I USP.

    Arquivo do l' Tabelio de Notas de Piracicaba,

    Arquivo do 2 Tabelio de Notas de Piracicaba.

    59 LEITE, Serarlm, Histria da Companhia de Jesus no Brasil. V.a. Lisboa: Livraria Portugalia, [1938]. p. 396. 60 CAMPOS,Antonio Pires de. Breve Notcia que d o Capito Antonio Pires de Campos. In: Relatos Sertanistas, So Paulo: ljw vraria Martins Editora, 2~ tIragem, [1976t. p. 161182, 61 CAMEllO, Joo Anlo~ nio Cabral. Noticias Prticas das Minas de Cuiab e GOiases,.,. In; Relatos Mnoeiros. So Paulo: livraria Martins Editora, 2' lf.. .agem, (1976], p, 115. 62 KOK. Glria, O Serto Itinerante: Expedies da Caplania de So Paulo no Sculo XVIII. So Paulo: Hucltec; Fapesp. 2004. p. 143. 63 SCHAOEN, Egon . Os

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    SYLOS, Honr;o de. So Paulo e seus Caminhos. So Paulo : McGraw-Hill do Brasit, 1976.

    TAUNAY, Affonso de E. Relatos Monoeiros. Belo Horizonte: Editora Itataia; So Paulo, Ed. da Universidade de So Paulo, 1981.

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  • Atas e Relatrios

    Aclas da Carnara da ViUa de S. Paulo, 1596-1622, vol.2.

    Relatlo da Estrada de Ferro ytuana, 1900.

    Relatrio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana, 1902,

    Jornais

    o ESTADO DE So PAULO, So Paulo, 18 fev, 2004. Caderno 6,

    JORNAL DE PIRACICABA. Piracicaba, 15 abro 2004. Caderno A7.

    JORNAL DE PIRACICABA. Piracicaba, 1 dez. 2004. Caderno A11.

    JORNAL DE PIRACICABA. Piracicaba, 1 dez. 2005. Caderno AlO.

    Revistas

    Revista do Arquivo Municipal. So Paulo: Arquivo do Estado de So Paulo, ano 2, v.20, fev.1936.

    REVISTA DO INSTITUTO HISTRICO E GEOGRFICO DE PIRACICABA. Piracicaba, ano 3, n.3, 1994.

    ______ ' Piracicaba, ano 4, n.4,1995,

    ______ ' Piracicaba, ano 5, n.5, 1997,

    ______ ' Piracicaba, ano 6, n.6, 1999.

    ______. Piracicaba, ano 11, n.11, 2004.

    REVISTA DE HISTRIA. So Paulo, n.18: 1954.

    REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTRICO, GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL. Rio de Janeiro, 1.24,1861.

  • MIGUELZINHO DUTRA (Tpicas Bio9rlifico5)

    G~ifbenHe vtti I

    Aqui vo transcritos, na ortografia atual, referncias a esse multiforma talento artstico, Miguel Arcanjo Sencio Assuno Dutra, encontradas nos anais da Cmara Municipal. Esperamos sejam de ajuda a bigrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Colna.

    'O Sr. Castanho indicou que, havendo certos dinheiros designados por lei para as obras da Matriz, convinha Cmara nomear um encarregado, e julgou capaz dessa comisso Miguel Arcanjo Senicio, visto que ao Vigrio no lhe resta tempo a este fim. O Se. Mello concorda com a indicao, mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigrio, por ser quem tem loda a ingerncia na Igreja. O Sr. Castanho indicou que o Sr. Mello no esl ao falo que os encarregados das igrejas so independentes, !anta assim que, em Itu e Campinas tm, maiormente que a nossa igreja no acabada. Posto discusso, ficou adiado ... ' (Atas, 8 - Fls. 27).

    "O Sr. Castanho indicou que, consultando o Dr. Felipe, este aconselhou que podia a Cmara nomear um encarregada da obra da Matriz, por isso entendia que essa nomeao deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio. O Sr. Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes. O Se. Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e no tem a inteligncia do Miguel, que entende de arquitetura, riscos de Geometria e, por isso, poder reparar qualquer defeito que possa aparecer na obra. O Sr. Lele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro, por isso linha valado nele. PoslO votao, passou na fOnTIa de indicao do Se. Castanho, contra os votos do Sr. Presidente e Ferraz ..." (Alas 8 - Fls. 30) .

    "O Sr. Presidente fez sentir Cmara que ainda no foi decidido o parecer da comisso acerca do cemitrio, e propunha para encarregado dessa subscrio a Miguel Arcanjo Sen ieio, Joo Jos Corra e Joo Antonio de Siqueira .. : (Atas 8, Fls, 39 v).

    1 Guilherme ViUi scio Iuo dador e ExPresidente do Insti!u(o Histrico e Googf rICo de Piracicaba.

  • "Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra, fazendo sentir que h de se transladar a Imagem da Boa Morte e que, havendo procisso, na qual sara o Santssimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procisso necessitada de alguns reparos, por isso pedia que a Cmara autorizasse a quem competia, a fim de fazer ditos reparos. Posto em discusso, foi deferido dito requerimento. a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros.. : (Atas, 8 - Fls. 71 v).

    ...

    "O mesmo Senhor Presidente fez sentir Cmara que era ne

    cessrio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Matriz, e que, na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra, se reuniam boas qualidades para isto, porm, que era preciso que se lhe marcasse uma gratificao, porque estes servios necessariamente haviam de o distra~ ir de ou Iras suas ocupaes. Foi esla indicao aprovada e encarrega~ do o Sr. Floriano leite para disto tratar..." (Atas, 9 - Fls. 155 v).

    .., 'Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra, convidado pelo

    Vereador Floriano leite, para a Cmara contratar a obra da igreja Matriz e. entrando a Cmara em ajustes com o mesmo, acordaram pela maneira seguinte: Miguel Arcanjo Bencio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz, ficando ela debaixo de Sua direo, percebendo pelo seu trabalho, a diria de dois mil ris, por ser a obra de Santo Antonio. Foi isto aprovado pela Cmara e deliberado que, primeiramente, o Diretor promovesse um conserto na torre velha. que est arruinada, quanto antes, e depois principiasse com a nova, indo esta no centro da Matriz, com o plano dado pelo mesmo ..." (Atas, 10 - Fls. 157 v) .

    ...

    "Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Bencio, em o qual

    pedia que a Cmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba, mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma, a fim de conhecer-se se est em termos de por ela transitarem carros, Entrando em discusso, foi deliberado nomear-se uma comisso para examinar a ponte e seu estado de solidez, e deferiu-se o requerimento, e foram eleitos os Srs. Capito Joo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa, apresentando seu parecer ao Sr. Presidente, para este deferir ou indeferir o requerimento, vista do parecer da comisso. com a condio, porm, de aterrar-se o lugar com terra, sem o que no podero transitaL.: (Atas, 10 - Fls. 84) .

    ...

  • "Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio, zelador da igreja da Boa Morte, requerendo providncias sobre aquela rua. Entrando em discusso, o Sr. Presidente informou que se passa a dar as necessrias providncias, e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte: j o Presidente da Cmara deu as Providencias,.: (Alas, 10 - Fls. 145 v).

    "Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Bencio Dutra, requerendo que a Cmara mande consertar a rua da Boa Morte. Entrando em discusso. o sr. Almeida Cunha disse que votava a favor, visto achar-se justo o seu alegado. Foi finalmente deferido, da maneira seguinte: Deferido, ficando a cargo do peticionrio fazer os mesmos consertos, consultando com o sr. Presidente da Cmara a respeito ..: (Atas, 10 - Fls. 171).

    .00

    'Quanto, porm, plantao (de rvores) ao redor do ptio da Matriz, ficou para dele ser encarregado, Miguel Arcanjo Benicio Dutra, consultando igualmente ao sr. Presidente.. : (Atas, 10 - Fls. 173 v).

    ,.. "Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra, ze

    lador da igreja da Boa Morte, mandou-se passar ..: (Atas, 11 - Fls. 58 v) .

    ...

    "Foram mais tidos e assinados dois oficios, um ao Administra

    dor das obras da Matriz desta cidade, Marcelino Jos Pereira, outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra, este para mandar demolir o Teatro, dando-se o prazo de sessenta dias, pena de a Cmara mandardemolHo custa de quem ao mesmo pertence ..." (Atas, 11 - Fls. 79 v).

    o,.

    "Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio, no mesmo senlido (refere-se a construo do puxado em sua casa), Teve o mesmo destino (encaminhamento comisso) ... " (Atas, 11 - Fls. 138). _.

    "Requerimento de Miguel Arcanjo Bencio, em que requer COncesso para levan!ar um puxado na al!ura e seguimento de sua casa que j tem, para o lado da Boa Morte. A Cmara deferiu o requerimenlo.. : (Alas, 11 - Fls. 186).

    ...

  • "Indicou o Dr. Eullia que, tendo a Cmara passada, nomeado uma comisso, composta do Dr. Felipe Xavier da Rocha, Comandador Francisco Jos da Conceio a Vigrio Joaquim Cipriano de Camargo, para cuidarem da aquisio de meios para as obras da igreja Matriz, e da administrao dessas mesmas obras, e tendo, ao depois, passado esses trabalhos ao cargos de outros cidados, como o Vigrio Francisco Galvo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Bencio Dutra, a Cmara convidasse esses Senhores a virem com suas contas na prxima sesso ordinria a 7 de Julho prximo luturo, para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tm dispostos e quais as despesas feitas, e tomar providncias a respeito de tais obras ...' (Atas, 11 - Fls. 278).

    "Seu nome consta da lista dos presentes reunio destinada compra de aes pera a instalao do ramal da estrada de lerro Ituana, at nossa cidade .. .' (Atas, 11 - Fls. 65).

    "Prestao de contas entregue na sesso da Cmara, de 5 de janeiro de 1873. Apenas a citao da prestao". (Atas, 12 - Fls. 73) .

    ...

    "Receberam-se ofcios do ... e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra,

    zelador da Irmandade da Boa Morte, prestando inlormaes pedidas em ofcio de 23 de Novembro ltimo ... " (Atas, 12 - Fls. 91). _.

    "O Sr. Dr. Manoel de Morais Barros, na qualidade de relator da comisso incumbida de verificar se o terreno em aberto, em frente ao Colgio da Assuno, pblico ou perticular, diz que a mesma comisso verificou que esse terreno particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigrio Francisco Ga!vo Paes de Barros, que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Du!ra, por escrilura pblica de 22 de levereiro de 1882, nas notas do Tabelio Frana ... " (Atas, 13-Fls. 136 v).

    E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cmara Mu~ nicipal. No livro de ofcios de 1839 e 1655, fls. 79 v, h um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia, com referncia ao mesmo Miguel, apesar de no ser citado nomnalmenle:

  • "Excelentssimo Senhor: Tendo esta Cmara pedido Assemblia Provincial que, na lei do

    oramento deste presente ano, fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila, ela, atendendo a esta urgente necessidade, segundo a exposio feita por esta Cmara, no vacilou em decretar a quantia de dois conlos de ris para esla obra, e da mesma forma, a Cmara espera que V, Exa" atendendo a esta necessidade que, de dia em dia, cresce, determina que, quanto antes, seja salisfeita esta quantia de esses dois contos, para que no parem os Irabalhos em dita igreja, este templo apenas comeado, por falta de recursos, teve de estar parado por muito tempo, at que, h ano e tanto, um particular, tomando a si todo o peso da administrao desta obra, e mendigando esmolas dos fiis que prontamente tm conconido com quantias superiores s suas foras, s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristo, tem dado um grande impulso a esta obra; mas acontecendo que os fiis j se acham exauridos ej por isso, em circunstncias de pararem os trabalhos, caso no venha desde j essa quantia. ACmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V. Exa" de que esperam toda a proteo e coadjuvao para esta obra. Hoje se acham os oficiais trabalhando no retbulo, que ainda est em princpio e, tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoao, que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famlia, durante esta obra, acontecer que, uma vez parali