ricardo rippel tese de doutorado apresentada ao programa...
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Ricardo Rippel
Migrao e desenvolvimento econmico no Oeste do estado do Paran:
uma anlise de 1950 a 2000
Tese de doutorado apresentada ao Programa de Doutorado em Demografia do Instituto De Filosofia e Cincias Humanas da Universidade Estadual De Campinas sob orientao do Prof. Dr. Jos Marcos Pinto da Cunha.
Este exemplar corresponde redao final da Tese defendida e aprovada pela Comisso Julgadora em 30/11/2005.
BANCA:
Prof. Dr. Jos Marcos Pinto da Cunha (Orientador)
Profa. Dra. Rosana Aparecida Baeninger
Prof. Dr. Daniel Joseph Hogan
Prof. Dr. Alexandre Magno Alves Diniz
Prof. Dr. Jandir Ferrera de Lima
Prof. Dr. Alberto Augusto Eichman Jakob (Suplente)
Prof. Dr. Roberto Luiz do Carmos (Suplente)
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FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DO IFCH - UNICAMP
Palavras chave em ingls (Keywords): M igration. Colonization. Boundar ies. Economic Development. rea de concentrao: Mobilidade Espacial da Populao. Titulao: Doutor em Demografia. Banca examinadora: Jos Marcos Pinto da Cunha, Rosana Aparecida Baeninger , Daniel Joseph Hogan, Alexandre Magno Alves Diniz, Jandir Fer reira de L ima. Data da defesa: 30/11/2005.
Rippel, Ricardo R483m Migrao e desenvolvimento econmico no Oeste do Estado do
Paran: uma anlise de 1950 a 2000 / Ricardo Rippel. - - Campinas, SP : [s. n.], 2005.
Or ientador : Jos Marcos Pinto da Cunha. Tese (doutorado ) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Cincias Humanas.
1. M igrao. 2. Colonizao. 3. Fronteiras. 4. Desenvolvimento econmico. I . Cunha, Jos Marcos Pinto da. I I . Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Cincias Humanas. I I I .Ttulo. (cc/ifch)
ii
RESUMO
O desenvolvimento de uma regio de modo geral se vincula dinmica populacional e organizao do capital; que transformam as condies ambientais locais , moldando-as segundo seu interesse. Como o deslocamento de pessoas e de investimentos para uma rea determinada est relacionado com o comportamento da economia e com o processo de insero e unificao dos mercados das regies, a anlise da relao migrao e desenvolvimento relevante. O Oeste do Paran o objeto de pesquisa por conjugar uma situao na qual o seu desenvolvimento deu-se conectado com a migrao na rea. De formao socioeconmica recente, a regio inseriu-se no modelo de desenvolvimento nacional de ocupao de fronteiras e no processo de transnacionalizao do capital agrcola. Embora na etapa de ocupao de seu territrio tenha atrado grande leva de imigrantes, seu desenvolvimento inverteu este processo, tornando a rea um lugar de elevada evaso populacional, em curto espao de tempo. De modo que ao estudo interessa aferir os nveis de interferncia das migraes no desenvolvimento da rea e vice-versa. Para analisar este processo, foram utilizados dados censitrios de diferentes escalas espaciais, abrangendo os nveis interestaduais, intra-estadual e intra-regional.
ABSTRACT
The development of an area is linked in general to the population dynamics and to the organization of the capital that transform the "local environmental" conditions, molding them according to its interest. As peoples displacement and investments in a determined area is related to the behavior of the economy and to the insertion process and unification of the markets of the region it is relevant to analyze the relationship between migration and development. In this study, the West of Paran state is the research object due to the conjugation of a situation in which the development is connected to the migration in the area. As a result of recent socioeconomic formation, this area was inserted in the model of national development of occupation of borders and in the process of transnationalization of the agricultural capital. Although in the period of occupation the territory has attracted a great amount of immigrants, its development inverted this process transforming the area into a place of high population escape, in a short space of time. Thus, the aim is to check the levels of interference of the migrations in the development of the area and vice-versa. In the analysis of this process, census data of different space scales were used, including the following levels: interstate, intra-state and intra-regional.
iii
Valderice e Sara,
meus amores.
iv
Sbio o homem que d pelo po o trabalho. Ignorante o homem que
d pelo po a alma. (Annimo)
A nica vitria que perdura a que se conquista sobre a prpria
ignorncia. (Confcio)
v
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus, por sua imensa bondade e misericrdia para comigo.
Valderice, por seu amor, fora e dedicao:
Sara, minha filha, por seu carinho e amor.
H ambas desculpas pela solido em Campinas e pela ausncia no desenrolar deste
trabalho. Sem vocs eu no teria conseguido .
Ao meu cunhado Padre Anselmo, por seu auxlio e presena que muito nos ajudou nos
incontveis momentos de solido em Campinas e tambm depois.
Aos meus sogros por suas oraes, pelo apoio e pela compreenso nas horas mais
difceis.
Aos meus pais, E a minha Tia Iolanda.
Ao Prof. Dr. Jos Marcos Pinto da Cunha, pela irrestrita disponibilidade na orientao
deste trabalho, pelas recomendaes, que apoiadas em sua experincia e conhecimentos
representaram segurana quando surgiram dvidas, e pela gentileza e respeito com que apontou
falhas e sugeriu mudanas.
Ao Prof. Dr. Daniel Joseph Hogan e a Profa. Dra. Rosana Aparecida Baeninger, pelas
observaes, crticas e sugestes nos seminrios de tese, bem como pelo apoio nas vrias etapas.
Aos demais professores do curso, por sua pacincia e colaborao.
Ao amigo e colega Alberto, por sua amizade ao longo de todo este percurso, e por seu
inestimvel auxilio na rodagem dos dados e na elaborao dos mapas; muito obrigado.
Ao professor e amigo Clio Escher por seu trabalho de reviso e sugestes.
Ao Lucir por seu imprescindvel auxlio nos ajustes finais.
Aos funcionrios do NEPO e aos da ps graduao do IFCH, pessoas que me auxiliaram
e me proporcionaram o apoio necessrio durante minha passagem pelo curso.
Vera, Luzia, Biro e lvaro, meus colegas de turma, agradeo por sua amizade e pelo
auxlio nos vrios momentos de nosso percurso.
Ao Colegiado do Curso de Cincias Econmicas da Unioeste Campus de Toledo PR,
em especial aos professores Carlos, Jandir, Jefferson, Miriam, Moacir, Pery e Weimar, por seu
apoio fundamental para o sucesso desta empreitada.
Unioeste, pela liberao e incentivo recebido, e UNICAMP, pela oportunidade.
SUMRIO:
I - INTRODUO................................................................................................................................1
1.1. O Problema e sua Importncia................................................................................................5
1.1.1 Caracterizao e Justificativa do Objeto de Estudo................................................. 10
1.2. Procedimentos Metodolgicos............................................................................................. 17
II REFERENCIAL TERICO....................................................................................................... 21
III - A OCUPAO DO OESTE DO PARAN: UM RETROSPECTO ECONMICO-DEMOGRFICO...................................................................................................................... 71
3.1. A Regio, a Marcha para o Oeste e sua Insero na Poltica Nacional ............................. 76
3.1.1 A dinmica de Crescimento da populao no Oeste do Paran frente consolidao de sua economia. ............................................................................................. 84
3.2. A Imigrao e a Colonizao no Oeste do Paran de 1950 a 1960 - as Dcadas Cruciais. ........................................................................................................................................ 88
3.3. A Formao da Base Agrcola Exportadora - o Perodo de 1960-69 e as dcadas seguintes........................................................................................................................................ 95
IV - ALGUNS CONDICIONANTES DA MIGRAO E DO XODO RURAL NO OESTE DO PARAN................................................................................................... 111
4.1. As transformaes produtivas na agricultura do Oeste do Paran e os impactos demogrficos............................................................................................................................... 123
4.2 A Modernizao da agricultura e o comportamento da PEA no Oeste do Paran rebatimentos migratrios. .......................................................................................................... 129
V - OS FLUXOS MIGRATRIOS DO OESTE DO PARAN E A DINMICA DEMOGRFICA REGIONAL DE 1970 A 2000....................................................... 139
5.1. Os movimentos migratrios do Oeste do Paran de 1970-2000: Explicaes Gerais.... 142
5.2. Migrao Interestadual do Oeste do Paran 1970/2000................................................ 144
5.3. Migrao Intra-Estadual: o Oeste Paran e as demais Microrregies Homogneas do Estado..................................................................................................................................... 157
5.3.1 O Oeste Paranaense e os movimentos migratrios intra-estaduais........................ 159
5.4. Dinmica Migratria Intra-Regional do Oeste do Paran no perodo de 1970-2000..... 175
VI - CARACTERSTICAS DA MIGRAO NO OESTE DO PARAN................................. 187
VII - CONCLUSO......................................................................................................................... 211
vii
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................................ 227
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA................................................................................................. 237
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1: Proporo da populao no-natural da UF em que foi recenseada em relao populao total, nos Estados da Regio Sul - 1960/1991.................................................6
Tabela 3.1: Municpios e populao do Oeste do Paran de 1940 a 2000...................................... 83
Tabela 3.2: Populao Total e Taxas de Crescimento Populacional Anuais - Oeste do PR, Paran e Brasil - 1940-2000......................................................................................... 86
Tabela 3.3: Regio Oeste do PR Municpios e Data de Criao................................................ 101
Tabela 3.4: Algumas das principais reas de atrao populacional no Brasil segundo participao da Imigrao Lquida Estimada para o Perodo de 1960-70 na variao Absoluta da Populao Total ......................................................................... 102
Tabela 3.5: Estado do Paran - Populao Total em 1970 - Variao Absoluta e Componente Migratrio - Perodo 1960-1970, Segundo Microrregies Homogneas................................................................................................................... 103
Tabela 3.6: Oeste paranaense - rea colhida das principais culturas temporrias - variao percentual - 1960 1970............................................................................................... 106
Tabela 3.7: Evoluo da rea plantada (ha), de algodo, milho, soja e trigo, na MRH Oeste do Paran 1960/80 (ha e %)................................................................................ 108
Tabela 4.1: Nmero de Estabelecimentos (propriedades rurais) do Oeste do Paran de 1975 a 1999. Participao Percentual por faixa no Total da rea produtiva rural da regio. Taxas de Crescimento Geomtrico e Variao Percentual por Perodo ........ 117
Tabela 4.2: Evoluo da Composio da Populao e Densidade Demogrfica do Oeste Paran. Por rea urbana ou rural de residncia - de 1970 a 2000............................... 121
Tabela 4.3: Evoluo qinqenal da produo da soja e do trigo no Oeste do Paran 1970-2000....................................................................................................................... 126
Tabela 4.4: Saldos Migratrios Estimados para o Oeste do Paran Segundo Situao do Domiclio e Sexo - 1970/80, 1980/90, 1990/2000....................................................... 126
Tabela 4.5: Taxas de Migrao Lquida Anual - Estimadas para o Oeste do Paran Segundo Situao do Domiclio e Sexo - 1970/80, 1980/90, 1990/2000.................................. 128
Tabela 4.6: Nmeros de arados, mquinas e tratores na regio Oeste do Paran nos anos de 1975, 1980, 1985 e 1995 ............................................................................................... 128
Tabela 4.7: Oeste Paranaense - Populao Economicamente Ativa - PEA por Setor da Economia de 1970 a 2000, dados censitrios e taxas de crescimento anuais............ 132
viii
Tabela 5.1: Dezessete Maiores Municpios e Regio Oeste do Paran - Populao Urbana e Rural em 1970, 1980, 1991e 2000............................................................................... 141
Tabela 5.2: Principais Municpios do Oeste do Paran Volumes de Emigrao - Imigrao Interestadual qinqenal1970 a 2000........................................................................ 144
Tabela 5.3: Migrao Lquida, Bruta e ndice de Eficcia Migratria do Oeste do Paran Calculados para 1975-80 (ltima etapa); 1986-91 e 1995-2000 (data fixa)............... 149
Tabela 5.4: Principais Estados brasileiros como Destino e Origem dos Fluxos Migratrios no Oeste do Paran. 1970-2000 Qinqnios de 1975-80 (U.E.), 1985-91 e 1995-2000 (D.F.). .......................................................................................................... 151
Tabela 5.5: Movimentos Migratrios Intra-Estaduais de ltima Etapa e Data Fixa Principais Municpios do Oeste do Paran Qinqnios de 1976-1980, 1986-1991 e 1995-2000. ......................................................................................................... 160
Tabela 5.6: Movimentos Migratrios Intra-Estaduais - Emigrao e Imigrao e Migrao Lquida Na Mesorregio Oeste do Paran de 1975 a 2000 em Trs Qinqnios - 1975-80 (UE), 1986-91 (DF), 1995-2000 (DF)......................................................... 166
Tabela 5.7: Oeste do Paran e Principais Cidades da Regio - Migrao Lquida, Migrao Bruta e ndice de Eficcia Migratria de 1975-1980 e de 1986-1991........................ 174
Tabela 5.8: Movimentos Migratrios Intra-Regionais do Oeste do Paran Tipo ltima Etapa e Data Fixa -Perodos de 1975-80, 1986-91 e 1995-2000. .............................. 176
Tabela 5.9: Movimentos Migratrios Intra-Regionais do Oeste do Paran Migrao Lquida, Migrao Bruta e ndice de Eficcia Migratria. Do Tipo ltima Etapa. Perodos de 1975-1980 e 1986-1991............................................................................ 184
Tabela 6.1: Arranjos Familiares dos Chefes de Famlia Imigrantes no Oeste do PR Organizados por tipo de Migrao 1980, 1991 e 2000. ........................................... 195
Tabela 6.2: Chefes de Famlia Imigrantes Interestaduais com Tempo de UF menor do que 10 anos, Economicamente Ativos segundo Insero Produtiva no Oeste do PR. 70/80; 81/91; 90/2000.................................................................................................... 200
Tabela 6.3: Chefes de Famlia Migrantes segundo Anos de Estudo / Escolaridade, Principais Municpios e Oeste do Paran Participao Percentual nos perodos: 1960/70, 1970/80, 1981/91 e 1990/2000...................................................................... 206
LISTA DE GRFICOS
Grfico 3.1: Taxa Decenal de Migrao de 1960 a 1970 das Microrregies Homogneas do Paran............................................................................................................................. 104
ix
Grfico 4.1: Taxas de Crescimento Populacional Anuais - Paran, Oeste do PR e Brasil - 1940-2000....................................................................................................................... 114
Grficos 4.2, 4.3, 4.4, 4.5, 4.6 : Evoluo da Distribuio Fundiria do Oeste PR de 1970 a 1999 ................................................................................................................................ 118
Grfico 4.3: Evoluo da Populao segundo situao de domiclio - Oeste do Paran - 1970/2000....................................................................................................................... 122
Grficos 5.1: 5.2 e 5.3 Principais Municpios de origem dos emigrantes interestaduais do Oeste do PR 1975 a 2000........................................................................................... 146
Grficos 5.4, 5.5 e 5.6: Principais Municpios destinos dos imigrantes interestaduais do Oeste do PR 1975 a 2000........................................................................................... 147
Grficos 6.1, 6.2 e 6.3: Pirmides Etrias de Imigrao Inter-Estadual no Oeste-PR 1975-2000 ................................................................................................................................ 188
Grficos 6.4, 6.5 e 6.6: Pirmides Etrias de Imigrao Intra-Estadual no Oeste-PR 1975-2000 ................................................................................................................................ 190
Grficos 6.7, 6.8 e 6.9: Pirmides Etrias de Imigrao Intra-Regional no Oeste-PR 1975-2000 ................................................................................................................................ 192
Grfico 6.6: Chefes de Famlia Imigrantes no Oeste do Paran Segundo Escolaridade de 1960 2000 Participao percentual em termos de anos de Estudo.......................... 209
LISTA DE MAPAS
Mapa 1.1: Sub-regies administrativas do Estado do Paran.............................................................9
Mapa 1.2: Regio Oeste do Paran Macro-fronteiras e Lago Itaipu 2005................................ 10
Mapa 1.3: Regio Oeste do Paran Municpios e Fronteiras 2005........................................... 14
Mapa 3.1: Rota dos Capitais para a regio Oeste do Paran - sculos XIX e XX. ........................ 74
Mapa 3.2: Expanso brasileira e fluxo migratrio no Oeste do Paran.......................................... 78
Mapa 3.3: Estado do Paran municpios existentes de 1940-49 (destaque para a Mesorregio 288 Oeste do Paran).............................................................................. 80
Mapa 3.4: Estado do Paran municpios existentes de 1950 a 59 (destaque para a Mesorregio 288 Oeste do Paran).............................................................................. 92
Mapa 3.5: Estado do Paran municpios existentes no ano de 1969 (destaque para a Mesorregio 288 Oeste do Paran).............................................................................. 94
Mapas 5.1, 5.2 e 5.3: Principais fluxos de emigrao interestadual do Oeste do Paran 1975-80, 1986-91 e 1995-2000..................................................................................... 152
x
Mapas 5.4, 5.5, 5.6: Principais fluxos de imigrao interestadual do Oeste do Paran 1975-80, 1986-91 e 1995-2000..................................................................................... 155
Mapa 5.5: Microrregies Homogneas do Paran.......................................................................... 158
Mapa 5.6, 5.7 e 5.8: Emigrao Intra-Estadual do Oeste do PR 1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000....................................................................................................................... 168
Mapa 5.9, 5,10, 5.11: Imigrao Intra-Estadual no Oeste do PR 1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000....................................................................................................................... 170
Mapa 5.12, 5.13 e 5.14: Principais Municpios do Oeste do PR em volume de Emigrao Intra-Regional 1975-1980 e 1986-1991. ..................................................................... 178
Mapas 5.15, 5.16 e 5.17: Principais Municpios do Oeste PR em volume de Imigrao Intra-Regional 1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000................................................ 180
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1: Mecanismos por meio dos quais a Mecanizao e a Mercantilizao da Produo Rural no Oeste do Paran propiciaram Emigrao Rural ............................. 68
Figura 5.1: Etapas de Polarizao, Urbanizao e Movimentao Populacional ......................... 182
Figura 7.1: Fases e Fatores de Interferncia na Ocupao Migratria no Oeste do Paran - 1946/2000....................................................................................................................... 213
I - INTRODUO
A discusso da interdependncia entre populao e desenvolvimento reflexo de
situaes prticas no dia-a-dia das populaes, situaes que atraem a ateno dos
pesquisadores de diversas reas das cincias sociais aplicadas. As razes histricas dessa
discusso, segundo Szmrecsnyi (1991), remontam a pocas anteriores prpria existncia
da economia e da demografia como cincias, sendo que essa relao tem atrado a ateno
de diversos pensadores desde a mais remota Antiguidade.
J Singer & Szmrecsnyi (1991), ao analisarem a conexo entre dinmica
populacional e desenvolvimento, sustentam que em primeiro lugar se deve definir com
preciso os termos a serem utilizados, pois a correta definio dos mesmos fundamental
para uma maior compreenso dos dois processos (o de desenvolvimento e o da dinmica
populacional); para ento, num momento posterior, entender de modo mais claro a inter-
relao que se estabelece entre ambos. Assim, definem o desenvolvimento como sendo
muito mais do que o mero crescimento econmico de um pas ou de uma regio, seja ele
apontado de forma total ou per capita.
O desenvolvimento tambm bem mais do que a simples ampliao da renda de
sua populao, pois ele no , segundo os autores, um processo puramente quantitativo e
mecnico passvel de ser medido estatisticamente ano a ano. Sustentam, ento, que o
desenvolvimento um processo qualitativo de mudana estrutural; histrico em sua
essncia, no apenas porque leva tempo para se materializar, mas porque configura uma
evoluo entre duas ou mais situaes estruturalmente diversas.
Neste contexto, Kuznets (1983), analisando a questo do desenvolvimento
econmico, comenta e conceitua o crescimento econmico das naes, em suas palavras:
Identificamos o crescimento econmico das naes com um aumento sustentado
do produto per capita ou por trabalhador, acompanhado muitas vezes de um aumento
populacional e geralmente de mudanas radicais de estrutura. Nos tempos modernos, so
mudanas da estrutura industrial, dentro da qual o produto foi gerado e os recursos foram
empregados fora das atividades agrcolas e no sentido das atividades no agrcolas, num
2
processo de industrializao na distribuio da populao entre o campo e as cidades,
num processo de urbanizao. (Kuznets, 1983; p. 7)
J, Sandroni (1999) define desenvolvimento econmico como sendo o crescimento
econmico (aumento do produto per capita de um pas ou de uma regio), acompanhado
por efetivas melhorias do padro de vida da populao, bem como por alteraes
fundamentais na estrutura de sua economia. Tal posicionamento acarreta a necessidade de
se assumir que o desenvolvimento um processo de transformao estrutural no qual os
indivduos da rea sob anlise tm real participao e vivenciam os resultados, que
implicam necessariamente na elevao de sua qualidade de vida.
Desta forma, observa-se que os debates referentes aos problemas do
desenvolvimento tm evoludo constantemente, principalmente aps as anlises de Rostow
(1978). Segundo ele, o desenvolvimento econmico ocorre em estgios que possuem um
papel fundamental. A cada uma destas etapas o autor sustenta ser imprescindvel a
participao dos indivduos, pois, em sntese, eles so os responsveis e os usurios deste
fenmeno e dos seus resultados.
Nesse processo histrico, segundo Ravenstain (1980), o cenrio do
desenvolvimento econmico de uma regio tem influncia nos deslocamentos
populacionais que para l se dirigem e de l se originam. Sustenta o autor que, nesse
movimento de crescimento da economia, a migrao importante fator no processo; ora
influenciando o mesmo, ora sendo influenciada por ele. Argumenta ele que tais fluxos tm
rebatimentos econmicos importantes, de tal modo que a questo merece uma anlise mais
detalhada.
Mediante isto, e com o evoluir das cincias sociais aplicadas, percebeu-se essa
realidade de modo mais evidente. De tal modo que, por exemplo, os enfoques de anlise
regional tm se constitudo em importantes ferramentas de estudos, realizados em diversos
segmentos e setores das sociedades, principalmente quando so abordados por enfoques
socioeconmicos relativos populao. E, quando se adota tal enfoque, transparece a
participao dos indivduos e suas famlias, que constituem o componente demogrfico da
questo.
A importncia deste elemento tem-se configurado, na histria do Brasil, como
essencial para a consolidao e desenvolvimento de diversas reas do pas, especialmente
3
nos ltimos 40 anos. De modo que uma anlise apurada permite ver que a migrao de
indivduos e famlias tem sido muito comum ao longo de nossa histria, bem como tem
sido determinante na configurao de diversas caractersticas das reas de colonizao e
desenvolvimento recente da ptria.
Apesar de os estudos sobre a migrao interna j estarem numa situao melhor do
que vinte anos atrs, ela continua a merecer novas anlises, dadas as suas variadas facetas e
peculiaridades, tudo isso com o intuito de se compreender melhor os seus condicionantes e
conseqncias, principalmente ao nos referirmos colonizao e ocupao das chamadas
reas de fronteira recente. Embora diversos pesquisadores tenham se manifestado a favor
de maiores investimentos em pesquisas sobre a imigrao interna, tais estudos muitas vezes
no tm sido realizados. (Martine, 1990).
Isto acaba revelando uma incongruncia, pois as transformaes ocorridas na
sociedade brasileira tm sido objeto de debates e de anlises intensas de vrias cincias.
Nestes estudos se percebe que o contexto no qual ocorreram e ocorrem as migraes
caracterizado: por deslocamentos de expressivos contingentes humanos; reordenaes
geogrficas; e pela produo de espaos existenciais que so historicamente construdos e
que derivam da adoo de prticas produtivas decorrentes das relaes cotidianas. E que
isto, via de regra, surge das relaes que os indivduos estabelecem e que so atreladas s
potencialidade das regies de ocupao.
Assim, como um fenmeno social importante, as migraes internas so, ao
mesmo tempo, condicionadas e resultantes de um processo global de mudanas sociais e
econmicas, das quais no podem ser separadas. De modo que este estudo procura tratar da
produo e das transformaes na realidade social do Oeste do Paran a partir das
repercusses das migraes ocorridas na regio; principalmente no que se refere ao seu
comportamento, suas caractersticas e sua relao com o crescimento econmico e o
desenvolvimento regional.
Embora se reconheam as dificuldades tericas que permeiam as questes
referentes ao desenvolvimento regional, o alvo principal deste estudo compreend-las a
partir dos movimentos migratrios. Por isso, as anlises da dinmica populacional, com um
especial enfoque da migrao, contribuem efetivamente para uma melhor compreenso do
problema do desenvolvimento regional. Esse desenvolvimento impacta diretamente no
4
processo migratrio e vice-versa, e isto repercute no comportamento demogrfico e
econmico de diversas regies do pas, inclusive o Oeste do Paran.
Nesse sentido, observa-se que o desenvolvimento de uma regio encontra-se
vinculado dinmica e organizao do capital, que necessita transformar as condies
ambientais locais , moldando-as segundo seu interesse e necessidade de expanso, dado
que normalmente o deslocamento de pessoas e de investimentos para uma rea determinada
est diretamente relacionado tanto com o comportamento geral da economia quanto com o
processo de insero e unificao de mercados e da regio no mercado. (Santos, 2003).
Frente a esta constatao, o Oeste do Paran um importante objeto de pesquisa.
De formao socioeconmica recente, resultante de movimentos migratrios colonizadores,
especialmente oriundos do Sul do Brasil, na segunda metade da dcada de 1940, a regio
do Paran inseriu-se no modelo de desenvolvimento nacional voltado para a ocupao das
fronteiras e no processo de transnacionalizao do capital. A rea acolheu grandes
contingentes populacionais internos provindos, em sua maior parte, das antigas zonas de
colonizao agrcola do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, estruturadas em base
pequena propriedade familiar.
Assim, as transformaes dessa regio, ocorridas a partir da modernizao do pas,
via reordenao da economia mundial e da internacionalizao do capital aps a II Guerra
Mundial, imprimiram relaes sociais competitivas no pas e estabeleceram condies
favorveis para o processo de ocupao da rea, fato que se deu dentro da marcha para a
Oeste , deflagrada pelo governo de Getlio Vargas1 .
Assim, ao estudo interessa aferir os nveis de interferncia das migraes e seu
volume na organizao territorial e no desenvolvimento do Oeste paranaense. Pois, na
construo histrica dos municpios da regio, a produo e as transformaes das
atividades econmicas da sociedade regional indicam o perfil do migrante da rea,
principalmente a partir da compreenso dos seus movimentos no espao regional.
1 Neste contexto, a definio de uma nova diviso internacional do trabalho e da produo, a universalizao do mercado e a internacionalizao do capital constituiu-se num movimento que incidiu diretamente sobre a organizao e o comportamento dos povos e das comunidades, notadamente nos pases de economia dependente. No Oeste do Paran, os novos municpios que se formaram, alm de permitirem certa continuidade cultural, similar existente no local de origem, provocaram nos mesmos a existncia de influxos dos padres de consumo, das relaes individualizadas e competitivas e de novos referenciais culturais e tcnicos impostos pela cultura hegemnica do capitalismo transnacional (Gregory, 2000).
5
Desta forma, a explicitao das mudanas provocadas pelo processo no plano da
economia regional e da organizao social assume relevada importncia neste estudo, pois
estas representaes do mundo social, embora aspirem universalidade, esto sempre
relacionadas a um determinado contexto que as produziu. Da a necessidade de relacionar
as correntes migratrias do Oeste do Paran com a produo e as transformaes da
realidade social da regio e do pas.
O estudo detm um contedo maior de relevncia quando se considera que,
segundo Martine (1994), a regio foi, durante muitos anos, da dcada de 1950 at meados
da de 1970, uma das de maior atrao migratria do Brasil. Entretanto, isto no a impediu
de se transformar rapidamente numa rea com altos ndices de emigrao, que impactaram
diretamente no desenvolvimento regional.
1.1. O Problema e sua Impor tncia
Segundo o IPARDES (1997), nas ltimas cinco dcadas, os Estados da regio Sul
do Brasil apresentaram uma dinmica populacional condicionada por movimentos
migratrios, sendo esse fato conseqncia das diversas fases de transformao da estrutura
produtiva nacional e regional no contexto de sua integrao econmica a nvel de Brasil.
De modo que esses movimentos imprimiram distintos ritmos de crescimento demogrfico
na rea ao longo do tempo, ora determinando a elevao das taxas de incremento
populacional, ora provocando a reverso de tendncias.
Assim, durante 30 anos (de 1940 a 1970), o Sul apresentou crescimento
populacional superior s demais regies e mdia nacional, exceo ao Centro-Oeste.
Nesse perodo, assistiu-se a uma acelerada expanso e consolidao da fronteira agrcola
em extensas reas da regio, movimento que foi mais intenso e perdurou mais no Paran; e,
em decorrncia da abertura de novas reas para a atividade agrcola, expressivos fluxos
migratrios provenientes de diferentes reas do pas foram atrados.
Deste modo, o ciclo de ocupao da fronteira agrcola do Sul se desenvolveu
mediante ritmos diferenciados no seu interior, esgotando-se inicialmente no Rio Grande do
6
Sul, mais tarde em Santa Catarina, e num momento posterior, no Paran. No caso do
Paran, sua ocupao e o povoamento foi realizada em parte por paulistas, mineiros,
nordestinos, e grande parte disso deveu-se participao de imigrantes gachos e
catarinenses. Tanto que, em 1960, cerca de 40% da populao residente no Estado no era
natural do mesmo (Tabela 1).
Tabela 1.1: Proporo da populao no-natural da UF em que foi recenseada em relao populao total, nos Estados da Regio Sul - 1960/1991
ESTADOS 1960 1970 1980 1991
Paran 39,3 35,6 27,1 21,4 Santa Catarina 10,7 10,7 11,8 12,2
Rio Grande do Sul 1,4 1,5 2,6 3,3
FONTE: Censo Demogrfico IBGE apud IPARDES (1997)
Diante desse cenrio, evidencia-se que a migrao na regio Sul do pas exerceu
grande influncia nas caractersticas demogrficas das populaes de cada um destes
Estados. Sendo, que no conjunto o Estado do Paran, historicamente foi o que absorveu um
maior volume de imigrantes exgenos ao seu territrio.
De tal destaque decorre que, os processos migratrios ocorridos no Paran vm se
constituindo em objeto de anlise de diversas reas do pensamento cientfico,
principalmente daquelas que acoplam o desenvolvimento como uma terminologia
abrangente na qual se concebe que no h desenvolvimento se no se considerar no
processo a participao da populao. Segundo Kleinke, Deschamps & Moura (1999), as
reas de desenvolvimento e de estudo populacional tm destacado que a migrao no
Paran exerceu forte influncia, num passado recente, no crescimento da sua populao,
tendo tambm participao direta nas diversas etapas de desenvolvimento que o mesmo
vivenciou. Pois, segundo elas:
A migrao tem se constitudo em fator de preocupao e objeto da rea de
Estudos Populacionais por sua forte influncia, num passado recente, no crescimento da
populao do Paran e, no presente, por uma distribuio espacial que configura extensas
reas de esvaziamento em oposio acentuada e crescente concentrao em
determinados pontos do Estado (Kleinke, Deschamps & Moura, 1999; p. 1).
7
Alm desta argumentao a respeito do assunto, sustentam tambm que:
Como fronteira agrcola e frente de ocupao do territrio brasileiro nas
dcadas de 40 a 60, o Paran teve sua atratividade pautada em padres produtivos que
adensaram o espao rural e urbano, articulando atividades e servios que absorveram uma
populao numerosa vinda das mais diversas regies do pas. Isso fez com que o Paran
consolidasse uma ocupao regional equilibrada e apresentasse nesse perodo as mais
elevadas taxas de crescimento populacional do pas [ ...] contudo o esgotamento das
oportunidades de fronteira agrcola coincide com o desenvolvimento agroindustrial e
mudanas no padro produtivo, e o perodo que segue marcado por grandes fluxos de
sada do Estado que passa a apresentar as menores taxas de crescimento do pas .
(Kleinke, Deschamps & Moura, 1999; p. 4-10).
Segundo Piffer (1997), isto ocorreu porque o processo de formao, organizao e
estruturao do capitalismo tm se caracterizado pela presena de uma redistribuio
espacial das atividades econmicas. Isso repercutiu e repercute diretamente nos
movimentos migratrios de pessoas e de capitais, inserindo novos territrios, novas
fronteiras ao processo dinmico da produo capitalista nacional.
Para melhor entender esse cenrio, preciso considerar que o desenvolvimento
econmico brasileiro foi alavancado pela industrializao em dois momentos importantes: a
dcada de 1930 (marco inicial do processo) e a de 1950 (fase de entrada de capitais
externos no Pas). Esse desenvolvimento possibilitou o surgimento de um ncleo dinmico
central no pas, o eixo econmico-poltico Rio/So Paulo, que foi formado por grandes
indstrias estrangeiras, estatais; bem como por parcerias entre ambas.
Esse ncleo desenvolvimentista caracterizou-se pela produtividade, por elevados
ganhos de escala e pela adoo de tecnologia avanada que, na dcada de 1960, expandiu
seu raio de influncia, integrando novas regies brasileiras, vinculando-as dinmica do
capital nacional. As transformaes que ocorreram no Paran, principalmente as do setor
agrcola, deram-se como decorrncia desse processo. O Estado passou, num curto espao
de tempo, a partir dos anos 1970, de uma economia agrcola tradicional para uma economia
de transformao econmico-industrial e de acelerada industrializao.
Esta transformao deu-se com grande intensidade particularmente no Oeste do
Estado, impulsionada pelo acesso dos produtores s tecnologias avanadas de mquinas,
8
equipamentos, sementes tratadas, crdito abundante, etc., instrumentos estes direcionados
para a consolidao do binmio produtivo agrcola soja/trigo na regio, que teve efeitos
importantes no comportamento das populaes da rea, principalmente rurais. (Rippel et al.
2005a).
Dessa forma, o crescimento econmico regional vinculou-se historicamente
consolidao de sua base de produo econmica, direcionada para a exportao (soja e
trigo); isto porque, na anlise regional, a base de exportao constitui-se num dos
elementos fundamentais para explicar o desenvolvimento2. Mediante isto, pode-se inferir
que grande parte do crescimento de uma regio decorre do aumento da demanda por
produtos estimulados pela expanso dos mercados externos sua rea e sua capacidade de
gerar empregos, pois, via de regra, crescendo a base, crescendo os empregos, cresce a
regio.
Desta forma, novas regies crescem quando aumentam as demandas sobre seus
produtos. A demanda por seus produtos depende do mercado consumidor. Assim, a
integrao econmica e social de uma determinada rea ou territrio como o do Oeste do
Paran no cenrio nacional s pode ser efetivamente compreendida quando inserida no
sistema poltico e econmico do pas.
Constata-se, ento, que o comportamento de uma regio implica o conhecimento
da dinmica espacial do pas, da forma como essa dinmica afeta a rea sob estudo e da
capacidade de a regio expandir seu mercado consumidor. Nesse processo, verifica-se
tambm a necessidade de se entender melhor a participao e a importncia do fator
humano no mesmo, o que coloca em evidncia a demografia e a migrao como elementos
fundamentais no desenvolvimento principalmente como fonte de demanda para a estrutura
produtiva local. Tanto isto procedente que, segundo Lluch (1979), os fluxos migratrios
atuam como importantes fatores condicionantes das transformaes nas estruturas
econmicas e sociais dos pases e das regies.
Por isso, este estudo ser conduzido com o foco nas variaes dos fluxos
migratrios no Oeste paranaense, para auxiliar na realizao de anlises do
2 Constituem a base de exportao aquelas atividades denominadas bsicas, que produzem bens e servios vendidos fora da regio, exportados seja para outros pases ou para outras regies. As atividades no bsicas so produzidas para consumo e investimento interno regio e decorrem do crescimento das atividades bsicas.
9
desenvolvimento da regio, vez que ela permite verificar que seu crescimento
socioeconmico est intrinsecamente relacionado s migraes ali ocorridas. Estas, por sua
vez, relacionam-se, de forma direta, com os ciclos econmicos presentes na rea, bem
como com as alteraes socioeconmicos regionais. Essa regio comporta duas das seis
maiores cidades do Estado do Paran Foz do Iguau e Cascavel e formada por trs
RAs - regies administrativas (12-Cascavel, 18-Toledo e 20-Foz do Iguau), como se pode
observar no Mapa 1.1 a seguir:
Mapa 1.1: Sub-regies administrativas do Estado do Paran
FONTE: INTRANET PARAN, 2003.
V-se, ento que a Mesorregio Homognea 288 o Oeste do Paran abrange as
RAs Estaduais n 12 (Cascavel), n 18 (Toledo) e n 20 (Foz Do Iguau). A regio, segundo
Linhares (1978), detm importante posio estratgica no pas, pois possui divisas
geogrficas internas com os Estados do Mato Grosso do Sul e de Santa Catarina, e divisas
internacionais com o norte do Paraguai (os Estados paraguaios de Canindiy, Alto Paran
10
e Itapu), bem como com o noroeste da Argentina (especificamente com a regio de
Missiones), como se pode verificar no Mapa 1.2.
Mapa 1.2: Regio Oeste do Paran Macro-fronteiras e Lago Itaipu 2005
FONTE: Unioeste/Itaipu, 2002.
1.1.1 Caracter izao e Justificativa do Objeto de Estudo
Segundo Wachowicz (1988) e Magalhes (1996), o Oeste paranaense foi a ltima
regio geogrfica do Paran a ser colonizada, e seu processo de ocupao deu-se no centro
do movimento poltico-econmico nacional denominado Marcha para o Oeste ,
deflagrado no incio da dcada de 1930, logo aps a revoluo. Contudo, distintamente de
11
outras reas do pas colonizadas a partir da, caso do interior de Gois, o Oeste do Paran s
viu seu processo de colonizao ser realmente estimulado a partir da segunda metade da
dcada de 1940, logo aps o trmino da Segunda Guerra Mundial.
Deste perodo em diante, quatro grandes empresas colonizadoras: a Industrial
Madeireira Rio Paran MARIP, a Rio Paran, a Pinho e Terras e a Norte do Paran
obtiveram dos governos federal e estadual a autorizao para a aquisio das glebas de
terras para a ocupao e dimensionamento e posterior venda de lotes para colonizadores
migrantes, cuja grande maioria provinha do Norte e do Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul, e das regies Oeste, Noroeste e Sudoeste do Estado de Santa Catarina.
Aps a primeira etapa de colonizao quando acontece a reduo ou mesmo o
esgotamento dos recursos naturais do extrativismo na dcada de 40 at fins da dcada de
1950 , ocorre um momento de transio na regio, ligando as experincias de decadncia e
da expanso da fronteira agrcola aos movimentos de capital no espao nacional; de tal
modo que, na dcada de 1960, ocorre na rea um perodo de ajustes nos setores produtivos
agrcolas que d incio a uma acelerada modernizao das atividades produtivas no campo.
Assim, quando se inicia a dcada de 1970, o Oeste do Paran se insere de forma efetiva nos
projetos nacionais de base exportadora. (Rippel, 1995).
Isto trouxe para a regio novas culturas agrcolas e novas relaes de tecnologia e
de produo. Estas novas culturas passaram a servir como produtos componentes da base
de exportao regional; como o caso da soja. Vrios autores, entre os quais citam-se
Piffer (1997), Mellos (1988) e Silva et al. (1989), apontam que a maior parte das
transformaes ocorridas na agricultura da regio estavam intrinsecamente associadas
modernizao agrcola ocorrida no pas, principalmente na dcada de 1970.
Tal modernizao consistiu num processo de transformao da estrutura agrria
decorrente das inovaes tcnicas introduzidas na produo nacional e que se ampliou para
as novas regies do pas. A origem deste movimento, segundo Piffer (1997), advm da
crescente insero da reproduo agrcola ao movimento de reproduo do capital, no qual
a agricultura exerce um papel de subordinao aos setores de concentrao e centralizao
do capital, em especial ao setor industrial3. Deste modo, percebe-se que, na dcada de
3 Assim, o que se verifica que a agricultura se apresenta como um mercado crescente para os meios de produo do setor industrial (mquinas, tratores, equipamentos, fertilizantes, defensivos, etc.), e este setor
12
1970, a agricultura da regio sofreu transformaes resultantes da modernizao na
agricultura brasileira, modernizao esta incentivada pelo Estado e tendo como base uma
poltica de crdito com juros reais abaixo da taxa de inflao, acompanhada pela
comercializao dos principais produtos (soja e trigo), para o atendimento da demanda
externa em grande escala, primordialmente da crescente demanda por protenas vegetais no
mercado internacional4.
Este fato, somado condio geofsica da regio, ausncia de solos montanhosos,
pedregosos e inundveis, possibilitou a mecanizao de vastas reas, o que rebateu
diretamente no comportamento de absoro ou repulso de indivduos na rea ao longo do
tempo. Com efeito, o que se percebe que a grande expanso populacional das dcadas de
1950 a 1970 na regio est atrelada s grandes quantidades de vendas das terras agrcolas,
fato que estimulou o crescimento da rea e que encontrou na migrao elemento
fundamental para o processo, e que, justamente por causa destas caractersticas econmicas
e culturais dos migrantes, embasou a economia regional inicialmente na policultura. (Piffer,
1997).
Entretanto, a partir da dcada de 1970, com a modernizao da produo agrcola
regional com vistas exportao, ocorre uma grande alterao na capacidade de absoro e
manuteno de mo-de-obra no campo, resultando numa forte queda no fluxo de imigrantes
para a regio. Isso, mais as dificuldades observadas no setor agrcola no final da dcada passa a demandar os produtos agropecurios, os quais se constituem em matrias-primas que sero utilizadas por outras indstrias. Assim, a partir dos anos 60, a integrao tornou-se mais intensa entre a agricultura e a indstria, com reflexos considerveis sobre a modernizao da agricultura. Cumpre, neste contexto, apontar que, os principais elementos responsveis e que se relacionam com a modernizao agrcola no Brasil foram: a) a operacionalizao do sistema nacional de crdito rural, com o objetivo de expandir a produo agrcola, bem como modernizar a agricultura; b) o estabelecimento de estmulos dados pela Unio e Estados, com a finalidade de difuso das inovaes tcnicas na agricultura atravs da assistncia tcnica - principalmente por meio da criao da Empresa Brasileira de Assistncia Tcnica e Extenso Rural - EMBRATER, em 1974; c) a ocorrncia, no perodo, da fase de expanso acelerada da economia nacional (Milagre Econmico) no perodo de 1968/73; d) a implementao do segundo Plano Nacional de Desenvolvimento - II PND, cujo objetivo foi a ampliao do setor de bens de capital e principalmente de insumos bsicos, entre os quais se destacam os produtos qumicos e fertil izantes. 4 V-se ento que, segundo o IPARDES (1981: 44-61) a evoluo do cultivo da soja no Extremo-Oeste, cujo resultado a participao em mais de 1/3 da produo estadual em 1970, explica-se basicamente a partir de duas destinaes dadas ao produto. A primeira refere-se ao fato de que o alto valor protico deste produto foi responsvel pela sua difuso na alimentao animal, especialmente do rebanho sunos. E que a partir desta destinao que se explica a introduo da soja na regio, bem como no Sudoeste Paranaense, ainda na dcada de 1950, pelos colonos, os quais consorciavam o cultivo da soja com o do milho. Outra destinao dada ao produto era a comercializao, atravs da qual o mesmo seguia para as indstrias de leos vegetais ou para a exportao. Esta destinao que foi introduzida no Paran ainda nos anos cinqenta passou a predominar a partir do final da dcada de 1960, impulsionada pela demanda externa.
13
gerou diversos problemas sociais e provocou, a partir de 1980, um declnio substancial nas
condies socioeconmicas ali existentes, resultando num movimento de expulso de
pequenos proprietrios de suas reas, tal qual apontado por Magalhes (1996).
Desse modo, num curto espao de tempo, uma verdadeira revoluo tecnolgica
ocorreu no Estado, e na regio, suscitando transformaes econmicas profundas, com
efeitos contundentes sobre a dinmica de crescimento e de distribuio da populao, pois,
segundo Martine (1994), de regio receptora de grandes fluxos migratrios, o Oeste
paranaense passou, em curto espao de tempo, a constituir-se numa das principais reas de
emigrao do pas, com um acelerado de xodo rural e urbanizao concentradora.
O resultado final desse processo foi que alguns municpios da regio detm
distintos graus de influncia no crescimento e no desenvolvimento regional. Destes,
destacam-se Toledo, Cascavel e Foz do Iguau, que possuem graus de centralidade mais
expressivos que os demais da regio. Estes graus de centralidade, de certo modo, tambm
expressam-se em nveis de atrao e repulso migratria destacados, implicando
historicamente no fato de que estes municpios capitanearam o crescimento econmico e
demogrfico da regio mediante o ocorrido no cenrio estadual e nacional. (Rippel et al.
2005b). Comportamento este que pode ser visualizado de modo mais eficiente no Mapa 1.3
a seguir:
14
Mapa 1.3: Regio Oeste do Paran Municpios e Fronteiras 2005
FONTE: Adaptao do autor a partir de RIPPEL et al. (2005b).
V-se, ento, que o desenvolvimento da regio est intrinsecamente ligado
dinmica da economia e da populao. E, desde o comeo da sua colonizao, embora de
forma no acentuada, mantinha relaes de troca com boa parte do territrio nacional e com
o resto do mundo5. (Rippel, 1995)
Essa relao deu-se essencialmente atravs de dois produtos de exportao: a
madeira e a erva-mate, marcando o princpio da insero da rea em distintos mercados,
5 Outros autores que j estudaram a rea, tratam-na como autnoma, com aspectos particulares, dentro de um enfoque de auto-suficincia. Esse foco resulta em uma anlise limitada, pois, segundo Milton Santos: [ ...] no h, pois, como considerar a regio como autnoma. [ ...] Compreender uma regio passa pelo entendimento do funcionamento da economia ao nvel mundial e seu rebatimento no territrio de um Pas, com a intermediao do Estado, das demais instituies e do conjunto de agentes da economia (Santos, 1997, p. 46).
15
internos e externos, fato que acabou atuando como primeiro fator de atrao de migrantes
para a regio. (Oberg & Jabine, 1960; p. 15-27).
O estudo e a anlise dos movimentos migratrios na regio se justificam e portanto
dada a importncia e a necessidade de se conhecer de forma mais aprofundada a maneira
pela qual se desencadeou, num primeiro momento, a ocupao e, num segundo momento, a
repulso populacional regional e quais as caractersticas socioeconmicas geradas por tais
movimentos.
Alm disso, diversos argumentos mais especficos podem ser enumerados para
justificar a realizao deste estudo. Um dos mais importantes , sem dvida, o relativo
escassez de trabalhos relacionados anlise da dinmica populacional do Oeste do Paran e
das conseqncias que essa dinmica acarretou ao desenvolvimento da rea.
Outro argumento se refere ao fato de que, por se tratar da ltima regio do Estado
a ser colonizada, a rea vivenciou profundas mudanas em sua estrutura populacional e
fundiria. Essa estrutura, apesar de atualmente encontrar-se muito alterada quando
comparada com o incio da colonizao e dos movimentos de imigrao para l, ainda
mantm caractersticas fundirias e agrcola nas quais pequenos e mdios proprietrios
rurais representam parte importante da economia da regio6, o que implica dizer que ali
ainda significativa a populao rural.
Um terceiro argumento favorvel realizao deste trabalho refere-se ao fato de
que, apesar de sua colonizao recente, a rea praticou num espao de tempo bastante
exguo, duas experincias demogrficas divergentes: um processo de intensa recepo de
migrantes (imigrao) e uma forte expulso (emigrao), tudo num espao de tempo de
menos de pouco mais de duas dcadas.
Mediante isto, o presente estudo tem por objetivo maior analisar a evoluo
populacional da mesorregio do Oeste do Estado do Paran7, desde o perodo de insero
da economia da regio na base econmica de exportao do pas at o final da dcada de
1990, com o intuito de identificar a importncia da migrao no desenvolvimento regional,
6 Segundo dados do Relatrio de Indicadores do Desenvolvimento do Estado do Paran, elaborado pelo IPARDES (2000), a agropecuria e a agroindstria da regio colocam-se como as mais importantes do Estado. 7 Neste texto denominada Oeste do Paran, simplesmente.
16
tentando relacionar este fenmeno e suas caractersticas s transformaes demogrficas da
realidade social e econmica que ali ocorreram.
Para tanto, pretende-se: a) analisar os processos migratrios que marcaram a
dinmica demogrfica da regio, em cada etapa do seu desenvolvimento, com um destaque
maior aos fluxos, volumes, tipos e etapas dos movimentos ocorridos a partir da dcada de
1970; b) identificar quais so os principais fatores influentes no processo; c) apontar se, e
de que forma, as variaes nos nveis destas migraes se relacionam ou relacionaram com
os ciclos econmicos produtivos mais relevantes ali praticados, tentando distingui-las por
perodos; e, d) Indicar quais as principais caractersticas dos imigrantes na regio.
As hipteses do trabalho so as seguintes:
1) As transformaes originadas pelo processo de reestruturao da produo
nacional, que transformaram os quesitos de localizao de atividades econmicas bem
como os da qualificao da fora de trabalho do pas, vm configurando espacialmente, nas
ltimas dcadas, o aparecimento de novos fluxos migratrios no Oeste paranaense. Tal
configurao tem se dado particularmente do ponto de vista da origem e destino, bem como
das etapas e volumes da migrao.
Na regio Oeste do Paran, esse processo envolveu grande parte da populao da
rea, com alteraes em sua estrutura de distribuio e transferindo grandes contingentes de
indivduos das reas rurais para as urbanas num curto espao de tempo. Esse movimento
provocou grandes mudanas econmicas na regio, aumentando a importncia do setor
agropecurio na agregao de valor anual da rea, ao mesmo tempo em que gerou um
excedente populacional de origem rural respeitvel que, em grande parte, migrou para as
reas urbanas, para outras regies do Estado ou mesmo para outras unidades da Federao.
2) Por causa das transformaes no perfil econmico produtivo da regio Oeste do
Paran nas ltimas dcadas, modificaram-se tambm a intensidade e a direo dos
movimentos migratrios, porm a tecnificao da produo agropecuria da regio nem
sempre foi o fator preponderante na expulso dos indivduos que efetuam movimentos
migratrios ali. O conjunto das transformaes econmicas que foram desencadeados no
Oeste do Paran, notadamente aquelas relativas modernizao de produo agrcola,
somam-se aos fatores atrativos dos locais de destino, cujo destino maior a mesorregio
Metropolitana de Curitiba, as demais regies mais urbanizadas do Estado e a microrregies
17
homogneas vizinhas ao Oeste do Paran, superando muitas vezes os destinos inter-
estaduais.
3) O perfil da imigrao na regio Oeste do Paran primeiramente caracterizado
por uma imigrao de mo-de-obra com baixa qualificao, com reduzido nvel de
escolaridade e que se inseriu produtivamente, via de regra no setor primrio da economia
regional. Com o passar do tempo, dada a modernizao da produo rural da rea e a
acelerada urbanizao ali ocorrida, que passou a exigir mo-de-obra educacionalmente
mais avanada, os imigrantes caracterizaram-se por indivduos mais qualificados,
detentores de nveis educacionais mais elevados, que se inseriram produtivamente de modo
destacada no setor tercirio da economia da regio.
1.2. Procedimentos Metodolgicos
As etapas a serem adotadas no desenvolvimento do estudo e seus procedimentos
operacionais fundamentar-se-o no cumprimento dos seguintes passos:
a) Ampla reviso bibliogrfica sobre o tema, buscando situar a discusso nos
clssicos e trazendo o mesmo para o estado da arte atual da discusso e dos debates
sobre o assunto.
b) Seleo e identificao dos dados a serem utilizados, notadamente dados
secundrios, principalmente os de origem censitria obtidos juntos aos censos demogrficos
nacionais de 1970, 1980, 1991 e de 2000, que captem as transformaes econmicas e
sociais recentes na rea, e que possam apontar o grau de desenvolvimento da mesma e seu
inter-relacionamento com as questes migratrias.
Utilizou-se tambm de estudos realizados no mbito da prpria regio objeto da
pesquisa, e dados e informaes disponveis nas instituies pblicas que atuam na rea,
tais como: Empresa Paranaense de Assistncia Tcnica e Extenso Rural (EMATER/PR),
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econmico e Social (IPARDES), Universidade Estadual do Oeste do
Paran (UNIOESTE), prefeituras municipais, etc.
18
c) Crtica dos dados selecionados, que sero ajustados e padronizados para serem
apresentados em grficos, mapas e tabelas que indiquem visualmente o comportamento da
rea ao longo do perodo de tempo sob anlise. Sendo que, por meio de tcnicas de
interpretao, buscar-se- apontar os nveis de desenvolvimento da regio e a efetiva
participao da migrao no processo este procedimento ser levado a cabo ora cruzando-
se os dados socioeconmicos com o fator migrao, ora no.
d) Realizar-se-, para tanto, tambm um diagnstico detalhado das caractersticas
migratrias da regio, bem como mapeamento das reas que se julgam relevantes enquanto
origem e destino das mesmas.
Este estudo tem como universo de investigao a regio do Oeste do Paran, sendo
que as unidades de anlise de referncia a serem utilizadas no desenrolar da presente tese
sero os indivduos e as famlias, que efetivamente assumiram um importante papel na
ocupao, colonizao e crescimento econmico regional, e que representam elementos de
mensurao do desenvolvimento regional.
Assim, fazendo uso dos dados disponibilizados nos censos demogrficos
brasileiros j apontados, sero cruzadas as informaes referentes aos migrantes ligados
regio Oeste paranaense, tanto na condio de imigrante como de emigrante. Assim, sero
medidos os movimentos migratrios de carter intra-regional, intra-estadual e interestadual,
visando estabelecer um panorama abrangente do mesmo, cuja forma de clculo ser
apresentada no decorrer do texto quando utilizada.
Dessa forma, para a realizao deste estudo, alm dos censos demogrficos
brasileiros, utilizar-se-o alguns censos agropecurios, industriais e de servios todos
elaborados pela Fundao IBGE. Alm dos estudos j realizados obtidos junto s
bibliotecas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), da Universidade de So
Paulo (USP), da Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), Universidade
Federal do Paran (UFPR), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre (UFRGS), da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico
e Social (IPARDES), da Fundao Municipal de Desenvolvimento de Toledo (FUNTEC),
da Fundao de Desenvolvimento Tecnolgico de Cascavel (FUNDETEC), dos dados
elaborados pela Secretaria de Gesto e Planejamento da Itaipu Binacional, dos relatrios do
19
Projeto de Caracterizao Econmico, Social e Demogrfica da Mesorregio do Oeste do
Paran convnio Itaipu e Unioeste.
Quanto aos migrantes, sero utilizados os tipos de migraes que envolvem
Unidade da Federao (UF) atual, UF anterior e UF de nascimento, assim como os que
envolvem o municpio atual e municpio anterior. Como sero utilizados os dados
censitrios, o migrante ser definido como o indivduo residente no local em que foi
recenseado, com menos de cinco anos de residncia neste.
20
I I REFERENCIAL TERICO
Entender um processo de desenvolvimento muitas vezes algo difcil de ser
realizado, pois isso implica em dificuldades oriundas dos limites relativos capacidade de
mensur-lo, pois o mesmo envolve diversos aspectos e um processo amplo e complexo.
E, se, tarefa, forem agregados os indicadores econmicos, sociais e demogrficos como
elementos componentes da questo, a dificuldade se amplia.
Assim neste trabalho, optou-se pela realizao de um estudo de uma regio
especfica, porm para tanto se percebe a necessidade de compreender com profundidade
esse espao , procurando suprir o estudo de um arcabouo conceitual que permita
identificar, descrever e analisar a estrutura histrica do desenvolvimento e das migraes
ali ocorridos, para que se possa chegar a consideraes que efetivamente contemplem a
populao da regio como um fator fundamental para o desenvolvimento regional.
Cumpre, ento, resgatar alguns conceitos bsicos a respeito de desenvolvimento.
Para tanto, reportamo-nos inicialmente definio de Kuznetz (1983) para quem o
desenvolvimento , na sua essncia, um processo de crescimento econmico acompanhado
pela melhoria do padro de vida da populao, bem como por alteraes fundamentais na
estrutura de sua economia8.
Assim, para diversos autores, especialmente para Hirschmann (1961) e Furtado
(1987), a ocorrncia do desenvolvimento depende dos seguintes fatores: a) situao
geogrfica, b) passado histrico, c) extenso territorial, d) populao, e) cultura, e f)
recursos naturais. Verifica-se, ento, que a participao da populao no processo de
desenvolvimento fundamental, e isto ocorre de tal forma que, segundo Lluch (1979), na
obteno do desenvolvimento, pode-se verificar que as mudanas que caracterizam o
processo constituem-se essencialmente no aumento da atividade industrial em comparao
8 Genericamente, o estudo do desenvolvimento parte da constatao da profunda desigualdade existente entre os pases que se industrializaram e atingiram elevados nveis de bem-estar material, bem-estar este compartilhado por amplas camadas da populao, e aqueles que no se industrializaram e que convivem com uma acentuada situao de pobreza e de grandes desnveis sociais. A guinada para o desenvolvimento, ocorrida aps a II Guerra Mundial, foi sempre precedida por mudanas polticas profundas, e a partir da fortaleceu-se a idia de desenvolvimento como um processo de transformao estrutural, cujo maior objetivo o de superar o atraso histrico em que se encontravam esses pases e alcanar, no prazo mais curto possvel, o nvel de bem-estar dos pases considerados desenvolvidos (Sandroni, 1999).
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com a atividade agrcola, migrao da mo-de-obra do campo para as cidades, reduo das
importaes de produtos industrializados e das exportaes de produtos primrios e menor
dependncia de auxlio externo.
Hirchmann (1961) trata o desenvolvimento como um acontecimento amplo que, em
sua ocorrncia, implica a elevao dos nveis qualitativos de vida. Suas proposies
expressam-se na crtica s teorias convencionais de desenvolvimento, que colocavam a
inexistncia ou a escassez de alguns pr-requisitos estruturais indispensveis9 como sendo
os fatores responsveis pela impossibilidade de se levar adiante um processo de
desenvolvimento. Busca, ento, a identificao de um mecanismo capaz de induzir ao
crescimento econmico e o desenvolvimento, e acaba por perceber que o mesmo se d por
meio de uma sucesso preestabelecida de etapas, e super-las constitui-se no elemento
essencial sua obteno10.
Diante disto, busca localizar, na realidade das regies e dos pases, as condies
que pensava serem essenciais para alcanar o desenvolvimento. Procura, ento, respostas de
cunho interno nas prprias economias, e no apenas condies externas. Assim elabora uma
teoria fundamentada na idia de que o desenvolvimento fruto de uma ou de vrias
situaes de desequilbrio econmico ou social e que o mesmo obtido quando as
sociedades e as economias buscam superar tais desequilbrios e, como resultado, alcanam
o desenvolvimento.
Adotando uma abordagem terica de cunho administrativo e de planejamento,
Hirschmann (1961) sustenta que uma das principais causas do subdesenvolvimento a
inexistncia de uma mentalidade adequadamente progressista nas reas sob anlise,
mentalidade que quando presente resulta em habilidade gerencial considerada por ele
elemento inerente qualidade de vida a que os indivduos tm acesso, e que serve de
alavanca para o processo.
Isto, segundo Sandroni (1999), evidencia que modernamente no possvel se
conceber desenvolvimento sem se levar em considerao o preponderante papel dos
9 Entre esses pr-requisitos estruturais podem ser citados os seguintes fatores: a) recursos naturais, b) fontes geradoras de energia, c) existncia de recursos humanos devidamente treinados e preparados, d) capacidade administrativa e gerenciadora, e) capacidade de gerao de novas tecnologias, principalmente via investimento em P&D. 10 Segundo diversos autores perfeitamente possvel a existncia de crescimento econmico sem a ocorrncia de desenvolvimento, porm desenvolvimento seu crescimento econmico no.
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indivduos e da sociedade no processo, o que nos permite inferir, ento, que ele no ocorre
sem a participao da populao e que, neste contexto o prprio comportamento
demogrfico explica e explicado pelo processo de desenvolvimento que ocorre na regio
sob anlise.
Com esses argumentos, emergem ao primeiro plano dos estudos do
desenvolvimento as pesquisas a respeito dos mecanismos e dos elementos prprios da
dinmica econmica por meio dos quais fatores como a renda, o emprego, a produo e o
investimento interagem de modo que se tornam interdependentes, pois passam a
retroalimentar-se conforme um determinado ritmo de expanso e da criao de novas
oportunidades de investimentos do capital, afetando diretamente o bem-estar das
populaes.
[ ...] nossa proposio leva-nos a procurar por presses e mecanismos
indutores , que mobil izaro e induziro uti l izao ao mximo possvel destes
recursos. [ ...] A formulao do problema do desenvolvimento que aqui proposta
impe ateno particular ao fato de que o uso de diferentes recursos econmicos tem
repercusses muito diferentes ou feedback effects (Hirschmann, 1961, p.25-28).
Percebe-se ento que para o autor, a promoo do desenvolvimento passa
necessariamente pelo crescimento de determinados setores econmicos, o que gera uma
srie de presses sobre outros setores, e que origina por sua vez, uma seqncia de presses
sociais (Hirschmann, 1961, p. 106-112), e isto muitas vezes resulta em movimentos
migratrios.
J, segundo Chabaribery (1999), esse conceito traz subjacente a idia de progresso
tcnico e econmico, como tambm de melhoria das condies de vida para os indivduos
medida que a sociedade se transforma e passa a mobilizar-se em torno de objetivos que
tragam mudanas qualitativas.
Essas mudanas qualitativas transparecem em: a) elevao dos nveis de educao,
b) melhores nveis de sade, c) melhoria da qualidade e preservao do meio ambiente, d)
elevao dos nveis e da qualidade da habitao para a populao, e) aprimoramento ao
acesso e distribuio mais eqitativa da renda nacional, etc. Assim, percebe-se que, num
mundo globalizado, as sociedades no se desenvolvem isoladas e as transformaes que
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levam ao desenvolvimento expandem-se por meio de contatos e canais que geram difuso
de informaes e conhecimento.
Entretanto, importante ressaltar que estas caractersticas do desenvolvimento no
se encontram presentes apenas nos dias atuais, mas podem ser percebidas ao longo da
histria, surgindo e se consolidando paulatinamente, e uma das formas mais conhecidas ao
longo da histria de se perceberem mudanas nos padres de desenvolvimento das regies
sob anlise reside no estudo dos movimentos migratrios realizados pelos indivduos.
Assim, percebe-se que as populaes em geral, e mais ainda a migrao, so
efetivamente influenciadas pelo modo como o desenvolvimento de uma regio ocorre, e
que tambm detm a capacidade de influenciar e at estimular um determinado processo de
desenvolvimento. Nesse sentido, quando se observa o caso brasileiro com um olhar mais
arguto v-se o importante papel que as migraes internas, vivenciadas nas ltimas quatro
dcadas, tiveram na obteno do atual estgio de desenvolvimento nacional.
De tal forma que, a migrao interna de um pas adquire especial significado, pois
um dos fatores que compem o conjunto maior de transformaes que acontecem nas
regies e no pas, mediante um determinado modelo de desenvolvimento. Assim, neste
trabalho diversos pressupostos desenvolvidos pela corrente histrico-estrutural de anlise e
estudo das migraes constituem-se na base na qual se definiu o problema que ora
investigamos.
Desta maneira, foram utilizados vrios autores que tm importante participao na
elaborao das bases tericas do estudo da migrao, entre eles podem ser citados: Lopes &
Patarra (1975), Singer (1976), Oliveira, Garcia e Stern (1980), Martine (1987, 1990, 1992a,
1992b e 1994), Martine e Camargo (1984), Renner & Patarra (1991), Szmrecsnyi (1991),
Salim (1992), Pacheco e Patarra (1998), Brito (1997 e 2000), Brito, Garcia e Souza (2004),
Cunha (2000, 2003a, 2003b e 2004), Baeninger (1998a, 1998b, 1999, 2000, 2002 e 2004),
Cunha e Baeninger (2001), Cunha e Dedecca (2000), Patarra (1997) e outros. Vejamos.
Sob o embasamento histrico-estrutural de anlise da migrao, Oliveira, Garcia &
Stern (1980) sustentam que tal abordagem permite que um movimento de migrao interna
passe a ser enfocado como uma conseqncia do desenvolvimento da sociedade em
questo, adquirindo, no seu desenrolar, caractersticas especficas segundo as modalidades
desse processo de desenvolvimento.
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Verifica-se, ento, que esta abordagem busca explicar o desenvolvimento e a
migrao numa sociedade a partir de um enfoque das caractersticas estruturais que surgem
na sua formao, destacando as formas de vinculao entre uma e outra caracterstica, em
especial os fatores polticos e econmicos que nele (no processo de desenvolvimento)
estejam presentes e atuando.
Assim, fundamental que as migraes sejam encaradas como sendo um processo
onde se encontram envolvidos grupos sociais, e no uma populao como entidade abstrata
ou mesmo como sujeitos isolados que se deslocam no espao em decorrncia de
transformaes econmicas e mesmo sociais num determinado local. Da mesma forma, a
compreenso dessas transformaes fundamentada na dinmica presente nas relaes de
produo, do processo de expanso crescimento e da acumulao do capital e que so
historicamente estabelecidas (Singer, 1977 e Martins, 1986).
Como qualquer outro fenmeno social de grande significado na vida das naes,
as migraes internas so sempre historicamente condicionadas, sendo o resultado de um
processo global de mudana, do qual elas no devero ser separadas. Encontrar, portanto,
os limites da configurao histrica que do sentido a um determinado fluxo migratrio
o primeiro passo para o seu estudo (Singer, 1977; p. 31).
Portanto, as migraes so concebidas, neste trabalho, dentro do marco terico
histrico-estrutural que integra os pressupostos, de cujos elementos centrais aqui nos
utilizamos. Primeiramente h que se explicitar a idia das migraes como sendo um
fenmeno historicamente condicionado, pois suas formas de manifestao so decorrentes
de condies especficas que se fazem presentes numa determinada sociedade. Nessa
sociedade os processos de mudana estrutural que se encontram na base desses movimentos
populacionais so especficos, mas devem ser analisados globalmente, considerando os
contextos sociais onde se verificam e dos quais fazem parte.
Deste modo, a abordagem geral destas questes mostra que so as mudanas
estruturais que vo definir particularidades dos fluxos migratrios, sua intensidade, sua
direo e suas caractersticas, pois tais mudanas incidem sobre o processo produtivo e
remetem o movimento migratrio prpria dinmica de expanso do capitalismo e das
decorrentes transformaes das relaes de produo.
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Assim, tornam-se elementos fundamentais ao processo os aspectos histricos e
institucionais que se configuram em fatores de composio do quadro de determinaes
estruturais vigentes na sociedade, interferindo, como conseqncia, no processo migratrio.
[ ...] as migraes internas (sem falar das internacionais, que poderiam, em boa
parte, ser explicadas do mesmo modo) no parecem ser mais que um mero mecanismo de
redistribuio espacial da populao que se adapta, em ltima anlise, ao rearranjo
espacial das atividades econmicas. Os mecanismos de mercado que, no capitalismo,
orientam os fluxos de investimentos s cidades e ao mesmo tempo criam os incentivos
econmicos s migraes do campo cidade, no fariam mais que exprimir a
racionalidade macroeconmica do progresso tcnico que constituiria a essncia da
industrializao (Singer, 1977; p. 33).
Faz-se, ento, necessrio evidenciar o carter social das migraes e, neste
horizonte, fica evidente que, nas motivaes das migraes encontram-se acima de tudo
causas estruturais que se convertem em fonte e origem do processo. Isso assim porque, as
transformaes estruturais no afetam da mesma maneira aos diferentes grupos
componentes da estrutura social, levando a que apenas determinados segmentos da
sociedade sejam impelidos a migrar.
que as causas das migraes podem abranger desde alteraes e mudanas na
localizao das atividades econmicas at diferenas espaciais de crescimento da produo
cujas conseqncias, segundo Singer (1976), no so ou sero iguais para os distintos
segmentos da sociedade, o que acaba por indicar a presena de uma dimenso de
seletividade no movimento migratrio, o que, segundo o autor, objetivo e surge com um
contedo discriminador de grande rebatimento social.
Nessa perspectiva, perfeitamente possvel que se fale em vrios fluxos
migratrios de um nico territrio ou regio, tendo em vista a diversidade das situaes e
dos grupos sociais que podem ser atingidos pelas transformaes das condies estruturais
do mercado e da produo. Assim, cabe, neste ponto da reflexo, introduzir uma dimenso
essencial da abordagem histrico-estrutural, a das migraes temporrias. Trata-se da noo
de origem-destino dos fluxos migratrios que Martins (1986) utiliza em seu trabalho e
sobre a qual aplica uma reavaliao.
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Sustenta ele que, na medida em que os fluxos migratrios so compreendidos
como um movimento de um dado segmento social, eles no podem ser reconstitudos
unicamente na base do deslocamento dos indivduos entre dois pontos no espao num
determinado perodo de tempo, pois o que existe, na verdade, um trajeto marcado por
diversos pontos de origem e destino, no qual a atuao de determinantes estruturais na
origem vai atuar como o fator privilegiado na definio dos desdobramentos espaciais e
temporais das migraes, proposio compartilhada por Singer (1977).
Tal concepo nos leva a reavaliar os conceitos de rea de origem e rea de
destino dos fluxos migratrios. A primeira reflexo tecida sobre a definio da rea de
origem, que deixa de ser simplesmente o local de onde provm os migrantes e passa a ser
aquela onde se deram as transformaes sociais e econmicas que colocaram em
movimento um ou vrios grupos sociais. J a rea de destino passa, nesta abordagem, a ser
identificada no apenas pelo saldo migratrio positivo. Ela deve ir alm, pois h que se
deve levar em considerao um elemento fundamental do processo, que o de que existem
etapas e retornos no processo. (Singer, 1977).
Cabe, assim, destacar que as migraes so compreendidas neste trabalho como
sendo um processo acima de tudo social, no qual grupos sociais se deslocam no espao
geogrfico, motivados, estimulados por alteraes econmicas e sociais que acontecem
numa rea X num dado momento de tempo especfico (Singer, 1977; p. 30-33).
Em termos genricos, nossos conceitos, embora originados na abordagem
demogrfica, so centrais no pensamento histrico-estrutural, e foram recolocados em
evidncia por Singer (1977) a partir da sua anlise da realidade brasileira, dando contedo
histrico e terico s noes que muitas vezes tm referncia emprica.
O autor, em sua abordagem, faz uso de uma hiptese econmica que relaciona os
movimentos migratrios com a industrializao, descrevendo a maneira como as alteraes
econmicas industriais ocorridas no Brasil na dcada de 1970 acarretaram profundas
transformaes na distribuio espacial da indstria nacional, gerando um processo de
aglomerao espacial econmica muito distinto da organizao econmico-espacial anterior
do pas e resultando em importantes rebatimentos na migrao interna.
H que ressaltar que o uso de Singer (1977) nesta base terica se justifica porque o
perodo de tempo das dcadas de intensa ocupao populacional do Oeste do Paran, os
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perodos das dcadas de 1950 e de 1960, constituem o momento histrico do qual o autor se
ocupava em sua anlise do cenrio nacional das migraes internas.
E, em seu estudo, sustenta, que a indstria tem necessidade de utilizar uma infra-
estrutura de produo e de servios j previamente estabelecida e especializada, fator que
lhe que permite usufruir economias externas ou seja, de estruturas econmico-produtivas
j estabelecidas que redundam em ganhos de escala11. Em sntese, a utilizao destas
economias externas na produo industrial decorre da complementaridade que se verifica
entre estabelecimentos industriais e de servios (encadeamentos produtivos), que so
gerados no processo de produo e que repercutem em ganhos de escala.
Isto acontece fundamentalmente em funo de que a industrializao no consiste
apenas numa alterao do conjunto das tcnicas de produo e da diversificao de
produtos, mas tambm resultante de uma profunda alterao da diviso social do trabalho:
Numerosas atividades manufatureiras, que antes eram combinadas com
atividades agrcolas, so separadas destas, passando a ser realizadas de forma
especializada em estabelecimentos espacialmente aglomerados. A aglomerao espacial
da atividade industrial se deve necessidade de utilizao de uma mesma infra-estrutura
de servios especializados (de energia, gua, esgotos, transporte, comunicaes, etc.) e s
economias externas que decorrem da complementaridade entre os estabelecimentos
industriais. Para reduzir os custos de transporte que consubstanciam estas economias
externas, as empresas que realizam intenso intercmbio de mercadorias tendem a se
localizar prximas umas s outras. Surge da a cidade industrial. Uma vez iniciada a
industrializao de um stio urbano, ele tende a atrair populaes de reas geralmente
prximas. O crescimento demogrfico da cidade torna-a, por sua vez, um mercado cada
vez mais importante para bens e servios de consumo, o que passa a constituir um fator
adicional de atrao de atividades produtivas que, pela sua natureza, usufruem de
vantagens quando se localizam junto ao mercado de seus produtos. Tal o caso das
indstrias de bens de consumo no durvel, dos servios de consumo coletivo (escolas,
hospitais, etc.), de certos servios de produo (comrcio varejista) e assim por diante.
(Singer, 1977; p. 32).
11 Genericamente falando, os ganhos de escala so os que a empresa passa a obter por vantagens competitivas que consegue por se inserir numa regio onde j se fazem presentes muitos dos servios que utilizar.
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H que destacar que justamente este panorama de acontecimentos que se fizeram
presentes na regio Oeste do Paran no perodo referente s dcadas de 1950 e 1960,
quando a regio vivenciou um movimento de ocupao fundamentalmente rural, que, com
o passar do tempo, assumiu um configurao mais urbano-industrial e de servios.
Contudo o prprio Singer (1977) critica esse posicionamento, apontando que isto
reduziria a migrao a um mero acontecimento que derivado diretamente do processo
industrial, o que resultaria numa prtica que acabaria implicando o abandono da
incorporao de aspectos fundamentais do processo que tm participao direta nos
movimentos migratrios, sejam eles elementos institucionais ou histricos. Assim, com a
inteno de demonstrar de que modo estes elementos formam encadeamentos e se
superpem nos fatores de caracterizao dos movimentos migratrios, procura ento
realizar uma decomposio pormenorizada da questo, propondo ento uma abordagem
analtica estrutural da migrao demarcada pelos condicionantes estabelecidos pelo modo
de produo capitalista.
Assim, entende o autor que os arranjos tcnicos produtivos do pas, tanto no
campo quanto na cidade, so enquadrados em sua essncia pela sanha acumulativa presente
no capitalismo que coloca a elevao do lucro como objetivo maior do processo. Para ele
estes condicionantes do sociedade um perfil concorrencial, o que implica dizer que o
meio ambiente no qual se d a migrao tambm definido pelo sistema. Insto ocorre de
tal modo que Singer sustenta que a industrializao no um processo que ocorre de forma
espontnea, pois ela somente se viabiliza atravs de arranjos institucionais e pela existncia
de fatores condicionantes historicamente dados.
A industrializao em moldes capitalista est longe de ser um processo
espontneo, promovido exclusivamente pelo esprito de iniciativa de "entrepreneurs"
inovadores. Ela s se torna possvel mediante arranjos institucionais que permitem, de um
lado, acelerar a acumulao do capital e, do outro, encaminhar o excedente acumulvel s
empresas, que incorporam os novos mtodos industriais de produo. Como foi visto, os
arranjos institucionais que promovem a industrializao nem sempre so os mesmos,
dependendo sua natureza do contexto histrico: a industrializao britnica requereu um
tipo de poltica de comrcio externo (livre cambismo) ao passo que a alem e a americana
exigiram outra, oposta (protecionismo). No obstante, a interveno institucional no jogo
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econmico imprescindvel industrializao capitalista, tornando-se mais ampla,
multiforme e direta na medida em que o avano tecnolgico e a concentrao do capital
tornam mais inoperantes os mecanismos clssicos de mercado como reguladores da
alocao de recursos e repartio da renda . (Singer, 1977; p. 34).
Para o autor, esses arranjos tm natureza diferenciada, que determinada
conforme o contexto histrico e com a interveno de fatores institucionais que favorecem
a concentrao do capital e a concentrao espacial das atividades econmicas. Mediante
isto, sustenta que a industrializao envolve sempre um deslocamento significativo de
atividades e de populao, do campo para as cidades, movimento este que no
equilibrado, provocando desigualdades regionais, de tal forma que algumas reas ficam
esvaziadas e outras muito adensadas em termos de tamanho de populao.
Essas diferenas regionais constituem-se em fatores-chave na anlise de um
processo migratrio, caracterstico da industrializao capitalista, no qual as populaes das
regies empobrecidas que so, via de regra, detentoras de poucas oportunidades
econmicas e sociais de insero, vivem mediante um quadro de rebaixamento da
qualidade de vida, fazendo surgir uma situao favorvel expulso de grandes
contingentes populacionais; que, em diversas situaes, so necessrios em outras reas,
que vivenciam um processo de crescimento econmico e que so atratoras de migrantes.
Neste conjunto de elementos, analisando a questo da expulso populacional,
Singer (1977) identifica dois tipos de fatores que atuam nas migraes: a) os fatores de
mudanas decorrentes da introduo de relaes capitalistas no campo, e b) os fatores de
estagnao, relacionados com limitaes na disponibilidade de terra cultivvel, seja pela
monopolizao da posse desta por grandes proprietrios, seja pela prpria insuficincia
fsica de novas reas de plantio12.
H que se ressaltar que sua construo terica datada, e que foi realizada a partir
do modo como viu e analisou um momento especfico da realidade brasileira, e mediante
12 Atualmente, o conceito de expulso da populao que resulta na emigrao, de certo modo, simplificador diante da complexidade com que a realidade se expressa, principalmente face s transformaes