ricardo iii (resenha)

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Resenha sobre Ricardo III, de William Shakespeare, que fiz pra faculdade. Meia boca, mas já ajuda!

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Ricardo III, de William ShakespeareResenha de Guilherme Marins[footnoteRef:2]1 [2: Acadmico do 3o ano do curso de Letras da Unioeste, Campus Foz do Iguau.]

Ricardo III, da obra homnima de William Shakespeare, sem dvida um personagem fascinante e um vilo que entretm. Talvez seja o uso que Shakespeare fez da Lngua Inglesa, e tambm seu timo emprego de drama e profundidade psicolgica, que fazem de suas peas to impactantes e profundamente memorveis. E embora lhe carea acuracidade histria, a obra no nos deixar esquecer da brilhante personagem de Ricardo III.Ricardo maquinador e manipulador inteligentssimo, destitudo de todo e qualquer escrpulo. Possui, tambm, uma severa deformao fsica. Os inevitveis sentimentos de inadequao, inveja e frustrao que isso gera so avivados quando seus talentos militares deixam de se fazer necessrios. A Guerra das Rosas enfim terminaram (por ora) e, inapto como Ricardo est para os prazeres do dia a dia, ele no tem alternativa seno se distrair por outros meios. Afirma, imaturo, desde o comeo que est determinado a se tornar um vilo. Destarte procede atravs da pea, a praticar o que anelara, cometendo vrios atos cada vez mais prfidos de traio e crueldade. No tarda para que, na pea, Ricardo nos demonstre, usando seu irmo Clarence e sua futura esposa Lady Anne, como exemplos de sua habilidade para controlar as percepes e decises alheias, e sua prontido em ir to longe quanto necessrio para obter o que quer.No se pode evitar imaginar como foi que Shakespeare se deparou com essa vvida caracterizao, e o quanto ele de fato sabia a respeito das pessoas sobre as quais escreveu. Ele provavelmente no se importava muito. difcil culpar Shakespeare por sua spera representao de Ricardo. Vivendo como ele viveu durante o reino de Elizabeth I, neta de Henrique VII, o escritor tinha acesso a uma variedade muito limitada de fatos. Naturalmente, os Tudors, que destruram a Casa de York na Batalha de Bosworth em 1485, no iam desejar que o ltimo rei York tivesse uma aura de simpatia. Da o desejo de dobrar a verdade. Os fatos transmitidos a Shakespeare, a maior parte deles atravs de Thomas More, acabaram sendo to desfigurados e deformados quanto o corpo desse Ricardo ficcional. O prprio More, claro, obtinha suas informaes diretamente da fonte: John Morton, o traioeiro bispo que cultivava morangos da pea de Shakespeare. Ento, quem poderia duvidar das provas de algum que Ricardo havia sentenciado priso por traio? Mas no estava nos planos do dramaturgo ser subversivo. Ele tomou o que lhe foi concedido e no fez perguntas. As provas imparciais de vrios cronicistas e documentos legais, tanto antes quanto depois do reino de Ricardo, da Inglaterra como do mundo todo, demonstram que se tratava de um monarca justo, um tio atencioso, e um irmo leal. Talvez no tenha sido estonteante de belo pelos padres, mas certo que era longe de deformado: foi um guerreiro hbil (o que nem Shakespeare nega) e um excelente danarino. Seu perodo como rei foi curto, mas no porque se punha sufocado em sua teia emaranhada de tramas malficas, mas sim porque ele carecia da faculdade da intriga que Shakespeare atribui a ele.Outra discrepncia contundente a insistncia de Shakespeare em misturar e comprimir datas e nomes. Os trs irmos da Rainha Elizabeth, por exemplo, so, na verdade, uma inveno vinda de seu verdadeiro irmo, Anthony Woodville. A pea inteira, que, de acordo com o monlogo na abertura comea logo aps a Batalha de Tewkesbury, parece durar no mximo um ou dois anos, pois quase nenhuma marcao de tempo inserida no texto da pea. Ricardo mal tem tempo de expressar seu descontentamento com o tdio do paz, quando corre pra seduzir Lady Anne, expedindo assassinos para Clarence com uma mo e acenando adeus a Edward moribundo com a outra. Ele se apoderas do trono em meros minutos, varrendo os jovens prncipes pra debaixo do tapete, e logo aparece Henrique Tudor. Obviamente por motivos de ritmo, Shakespeare precisou extrair os destaques dos quinze anos durante os quais esses eventos de fato ocorreram. Acuracidade de lado, Shakespeare de fato se deixa levar pelo personagem de Ricardo. Sempre escapando ao da pea, Ricardo conversa diretamente com o pblico, dividindo seus pensamentos, seus sentimentos, e seus esquemas. O prprio Shakespeare arrebatado pela admirao da destreza, da malcia e da maldade pura e exuberante do personagem que criou. com profundo pesar que despacha Ricardo para a morte em Bosworth. O monlogo de Ricardo depois que visitado pelos fantasmas de suas vtimas tem o papel de condenar a ele e a seus atos odiosos, para mostrar que sua conscincia enfim voltou tona. O monlogo cumpre esse desgnio de maneira admirvel. Contudo, ao mesmo tempo em que Ricardo exclama, em desespero, que no h criatura que o ame (mais ao final), no podemos evitar perceber que ns mesmos o amamos, e assim tambm quer Shakespeare.