ribeiro, luiz antonio de almeida. a coordenação do apoio
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LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA RIBEIRO
A COORDENAÇÃO DO APOIO LOGÍSTICO ÀS OPERAÇÕES MILITARES DE APOIO ÀS CALAMIDADES PÚBLICAS: UMA
PROPOSTA DOUTRINÁRIA
RIO DEJANEIRO - RJ 2011
ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA
CURSO DE ALTOS ESTUDOS DE POLÍTICA E ESTRATÉGIA
LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA RIBEIRO
A COORDENAÇÃO DO APOIO LOGÍSTICO ÀS OPERAÇÕES MILITARES DE APOIO ÀS CALAMIDADES PÚBLICAS: UMA
PROPOSTA DOUTRINÁRIA
Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentado ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra, como requisito à diplomação do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Antonio Celente Videira - Cel Int R/1
RIO DE JANEIRO – RJ 2011
Almeida Ribeiro, Luiz Antonio de
A coordenação do apoio logístico às operações militares de apoio às calamidades públicas: uma proposta doutrinária. / Luiz Antonio de Almeida Ribeiro. Rio de Janeiro : ESG, 2011.
46 f.: il.
Orientador: Antonio Celente Videira - Cel Int R/1 Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011.
1. Logística humanitária. 2. Operações militares. 3. Desastres
naturais. I. Título.
Copyright © 2011 – ESG
Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG.
_______________________________________
LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA RIBEIRO
Biblioteca General Cordeiro de Farias
AGRADECIMENTOS
Ao meu Senhor Deus, meu Pai e criador de todas as coisas visíveis e
invisíveis, a nosso Senhor Jesus Cristo, salvador do mundo e meu também, a Nossa
Senhora, Maria, Mãe de Jesus e minha Adorada Mãe, que me abençoaram com a
possibilidade de realizar este Curso, com o qual sonhei durante toda a minha
carreira no Exército Brasileiro.
À minha querida esposa Nádia, minha filha Raíssa e minha mãezinha Maria
Julia, que estiveram comigo dia após dia, mantendo-me na senda da dedicação e
amor às minhas convicções e fazendo-me acreditar que eu posso ser útil na
construção de um mundo melhor para os brasileiros, especialmente para as
crianças, bem como a manter o alto prestígio da minha querida Força Terrestre no
coração dos brasileiros.
Aos meus filhos Luiz Felippe, Julianna e Ariane, distantes fisicamente e
sempre próximos do meu coração de pai, com a certeza de que estou fazendo o
melhor de mim para ser um bom exemplo e orgulho para vocês.
Aos meus amigos da Turma Segurança e Desenvolvimento, a melhor turma
que já passou pela Escola Superior de Guerra, pela paciência de me ouvir e o
carinho com o qual fui agraciado por todo o tempo que passei com vocês.
“Nosso cuidado não deve ser o de viver muito e sim o de andar bastante, porque o primeiro
depende do destino e o segundo de nós mesmos”.
Sêneca (4 a.C – 65 d.C.)
RESUMO
O presente trabalho apresenta um estudo do desempenho episódico de algumas
operações militares destinadas ao apoio civil e humanitário aos desastres naturais. A
finalidade é a de estabelecer uma proposta doutrinária, voltada ao melhor
desenvolvimento da logística para apoiar essas operações militares, proporcionando
a organização colaborativa dos meios e recursos pré-alocados, bem como dos
meios e recursos alocados após a divulgação das dificuldades e prejuízos
decorrentes do desastre ambiental sob acontecimento. O foco do estudo logístico
será o do suprimento, incluindo os procedimentos para obtenção, coleta,
armazenamento, separação, distribuição, e o controle do consumo, assim como o
uso de técnicas e tecnologias modernas para agilizar o controle e a manipulação dos
suprimentos. Os procedimentos técnicos deste trabalho foram organizados em três
etapas: a primeira apresenta levantamento teórico e o estudo dos dados logísticos
referentes à atividade de suprimento em episódios recentes; a segunda etapa
responde ao estudo realizado com a proposição de uma doutrina para o suprimento
das operações militares de auxílio e restabelecimento da ordem pública,
especializando essa proposta doutrinária em operações voltadas aos desastres
naturais; e a terceira etapa, contemplando as conclusões obtidas e as sugestões de
providências para o melhor atendimento da população envolvida no desastre
ambiental trabalhado.
Palavras-chave: logística humanitária, ordem pública, suprimento, operações
militares, defesa, desastres naturais.
ABSTRACT
This paper presents an episodic study of the performance of some military operations
for civilian and humanitarian support to natural disasters. The purpose is to establish
a doctrinal proposal, aimed at better development of logistics to support such military
operations, providing a collaborative organization of resources and pre-allocated
resources, as well as the means and resources allocated following the release of the
difficulties and losses arising from environmental disaster in the event. The focus of
the study will be the logistics of supply, including procedures for obtaining, collecting,
storing, sorting, distribution, and consumption control, as well as the use of modern
techniques and technologies to expedite the control and manipulation of supplies.
The technical procedures of this work were organized in three stages: the first
presents theoretical survey and study of logistics data concerning the activity of
supply in recent episodes, the second stage responds to the study of the proposition
of a doctrine for the supply of military aid and restoring public order, specializing in
operations doctrine that proposal aimed to natural disasters, and the third step,
looking at the findings and suggestions for action to better meet the population
involved in the environmental disaster worked.
Keywords: humanitarian logistics, public policy, procurement, military operations, defense, natural disasters.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Frequëncia e intensidade de tempestades severas ................................. 17
Figura 2 – Índices sulamericanos de precipitação ..................................................... 18
Figura 3 – Os 10 países com maior número de desastres naturais em 2009 ........... 21
Figura 4 – Representação gráfica das fases da logística humanitária ...................... 25
Figura 5 – Portal de RFID na entrada de um armazém militar .................................. 33
Figura 6 – Acampamento montado para as vítimas do terremoto no Haiti ................ 34
Figura 7 – Tanque para tratamento e armazenagem de água .................................. 35
Figura 8 – Símbolo do LSS ....................................................................................... 36
Figura 9 – Diagrama de fases para implantação dos postos de atendimento ........... 44
Figura 10 – Diagrama de fluxo de materiais e informações ...................................... 50
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Classificação dos desastres naturais segundo a intensidade ................. 16
Tabela 2 – Tipologia dos desastres naturais ............................................................. 17
Tabela 3 – Características das logísticas empresarial e humanitária ........................ 24
Tabela 4 – Relação entre tarefas e funções logísticas .............................................. 30
Tabela 5 – Nivel de emergência para avaliação de desastres naturais .................... 42
Tabela 6 – Categorização das operações de logística humanitária .......................... 43
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9
2 DESASTRES NATURAIS .................................................................................. 12
2.1 CONCEITUAÇÃO ......................................................................................... 14
2.1.1 Desastres naturais ............................................................................... 14
2.1.2 Perigo .................................................................................................... 15
2.1.3 Risco ..................................................................................................... 15
2.2 CLASSIFICAÇÃO ......................................................................................... 15
2.3 INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ............................................ 17
3 LOGÍSTICA HUMANITÁRIA .............................................................................. 20
3.1 CONCEITUAÇÃO ......................................................................................... 22
3.2 RELAÇÕES COM A LOGÍSTICA EMPRESARIAL ....................................... 22
3.3 RELAÇÕES COM A LOGÍSTICA MILITAR .................................................. 26
3.4 FUNÇÕES LOGÍSTICAS MAIS APROPRIADAS ......................................... 28
3.5 CLASSIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE SUPRIMENTOS ........................ 30
3.5.1 Classificação ........................................................................................ 30
3.5.2 Identificação do material ........................................................................ 31
4 TECNOLOGIAS DE APOIO ............................................................................... 32
4.1 RFID ............................................................................................................. 32
4.2 BARRACAS .................................................................................................. 34
4.3 TANQUES PLÁSTICOS PARA ÁGUA E COMBUSTÍVEL ............................ 34
4.4 SISTEMAS DE COMANDO, CONTROLE E ACOMPANHAMENTO ............ 35
4.5 CENTRO MÓVEL DE COMPUTAÇÃO ......................................................... 37
5 PROPOSTA DOUTRINÁRIA ............................................................................. 38
5.1 SISTEMA INTEGRADO DE AJUDA HUMANITÁRIA - SIAH ........................ 38
5.2 AÇÃO DOS ELEMENTOS AVANÇADOS .................................................... 38
5.3 DETERMINAÇÃO DAS NECESSIDADES .................................................... 42
5.4 MOBILIZAÇÃO E DESLOCAMENTO ........................................................... 46
5.5 PROCESSOS E SISTEMAS PARA APOIO E DIVULGAÇÃO ...................... 47
5.6 SISTEMÁTICA PARA CONCENTRAÇÃO DE ITENS DE SUPRIMENTO .... 48
5.7 REALIMENTAÇÃO INFORMACIONAL ........................................................ 49
5.8 CONTROLE DOS PROCESSOS.................................................................. 50
5.9 PRESTAÇÃO DE CONTAS .......................................................................... 51
6 CONCLUSÃO .................................................................................................... 52
REFERENCIAS ...................................................................................................... 55
9
1 INTRODUÇÃO
As mudanças climáticas, em curto espaço de tempo, passaram ao centro dos
debates públicos como um dos mais importantes desafios do século XXI. Apesar de
os cientistas expressarem preocupações com o aquecimento global há várias
décadas, tem sido difícil para os governos e a população em geral encarar o assunto
com a devida seriedade, tendo em vista a complexidade do tema e o caráter abstrato
e incerto de muitas dessas mudanças, considerando os consequentes impactos.
Os números estatísticos de episódios, pessoas vitimadas e prejuízos
decorrentes dos desastres naturais têm aumentado ao longo últimos anos. Em 2010,
segundo os dados publicados no Annual Disaster Statistical Review (ADSR - 2010),
o número registrado para os desastres de grandes proporções, na escala mundial,
chegou a 385, vitimando 217,3 milhões de pessoas e impondo prejuízos da ordem
de 47,6 bilhões de dólares.
No Brasil, um estudo técnico realizado pela Confederação Nacional dos
Municípios (Estudo Técnico/CNM – Maio de 2010) aponta um intenso crescimento
no número de desastres naturais. De 1o de janeiro a 16 de junho de 2010, foram
registrados 1635 reconhecimentos dos casos de Situação de Emergência e Estado
de Calamidade Pública, número maior do que os 1389 registrados em todo o ano de
2009. Além desses, os números relativos aos gastos governamentais com a
resposta aos desastres apontam uma escalada da ordem de 500 milhões de reais
por ano, progressão verificada desde 2007 e que superou os 2,8 bilhões de reais em
2010.
A evolução dos números e impactos dos desastres, bem como o aumento dos
esforços para realizar o socorro às vítimas, ressaltaram a importância do
desenvolvimento da doutrina e dos meios para oferecer resposta a esses desastres.
O tema dos desastres tem sido abordado em diversas resoluções da OEA e
vários compromissos têm sido ratificados pelos países membros desta organização,
seja como grupos hemisféricos ou regionais, seja individualmente. Verifica-se,
porém, que esses compromissos, por vezes, não se transformam em ações efetivas,
sendo implementados apenas parcialmente, por razões diversas.
10
É de se ressaltar que em todos os Estados nacionais existem organizações
com tarefas específicas nessa área, porém merecem destaque as características
das Instituições Militares, tais como:
a capacidade de planejamento e mobilização;
a flexibilidade organizacional;
a autossustentabilidade;
a adaptabilidade dos meios;
os sistemas integrados de logística e comunicações;
a existência em suas estruturas de unidades de apoio médico e de
engenharia;
a possibilidade de realizar ações de busca e resgate;
a possibilidade de rápido deslocamento, em virtude do estado de
prontidão de seus efetivos e meios; e
a disponibilidade de meios de transporte próprios.
Essas características apresentam as Forças Armadas como instrumentos
possíveis de, em curto prazo, desenvolverem esforços de mitigação dos efeitos dos
desastres naturais. Assim, elas têm se mostrado importantes para ações a serem
desenvolvidas nos primeiros momentos após a ocorrência desses desastres,
permitindo serem empregadas em países amigos atingidos por catástrofes, tão logo
seja recebida uma solicitação formal, ou até mesmo por força de acordos bilaterais
ou multilaterais. Por outro lado, as ameaças contemporâneas, dentre as quais os
desastres, apresentam consequências ou ramificações em vários setores, incluindo
os campos da Defesa e da Segurança.
Na maioria dos países, as Forças Armadas destinam-se primordialmente à
defesa da pátria e dos interesses nacionais e à manutenção da soberania. Não
obstante, os recursos de Defesa também podem ser utilizados em ações de
Assistência Humanitária, seja internamente, ou em auxílio a nações amigas. A
ameaça, nesses casos, estaria consubstanciada nas perdas humanas e materiais
decorrentes de uma catástrofe.
As respostas aos desastres naturais desenvolvem-se pelo estabelecimento de
cadeias de ajuda humanitária, com a participação de organizações e pessoas dos
segmentos público e privado, tendo a missão específica de prover as pessoas
11
afetadas com abrigo, alimentos e assistência médica, incluindo o fornecimento de
medicamentos.
Mesmo parecendo que o trabalho a realizar seja simples, a imprevisibilidade,
a urgência e a falta de informações consistentes sobre episódios anteriores aumenta
o grau de incerteza sobre as operações e oferece dificuldade à mobilização dos
recursos. A variedade de itens a mobilizar é muito grande e a identificação do tipo da
catástrofe não indica as reais necessidades, de maneira que o reconhecimento
prévio, no caso da logística humanitária, é uma tarefa praticamente obrigatória.
Há outros desafios e riscos associados com a manutenção das operações
logísticas, especialmente os ligados ao fornecimento. Os processos de aquisição e
entrega dos suprimentos são complexos e caros, tendo em vista a necessidade de
vencer as dificuldades de acesso à região afetada pela catástrofe, cujas vias
principais ficam, normalmente, congestionadas e com o revestimento comprometido.
Para contornar esses desafios, os sistemas logísticos de alguns países,
principalmente os europeus, desenvolveram a técnica de pré-posicionar os
suprimentos em locais estratégicos, melhorando a capacidade de responder
rapidamente aos desastres e de oferecer a continuidade às operações logísticas.
O pré-posicionamento de itens demanda altos investimentos e ainda não
corresponde à realidade econômica e orçamentária brasileira. O País tem um vasto
território, ainda tem problemas graves de infraestrutura, são inúmeras as áreas de
risco e a variedade desses riscos, o que torna ainda mais distante a possibilidade de
pré-posicionar suprimentos. A solução para as demandas crescentes e a
irredutibilidade das restrições é desenvolver uma técnica que atenda os detalhes
ontológicos brasileiros e que envolva, da forma mais organizada e eficiente possível,
todos os segmentos da sociedade, para o que se destina este trabalho, com enfoque
específico para a atividade de suprimento.
12
2 DESASTRES NATURAIS
Desde o último século, o número de registro de desastres naturais em várias
partes do mundo vem aumentando consideravelmente. Isto se deve, principalmente,
ao aumento da população, à ocupação desordenada e ao intenso processo de
urbanização, às mudanças climáticas e à industrialização.
As características essenciais da urbanização contemporânea são sua
velocidade e generalização, o que acarreta grande sobrecarga para a rede de
serviços públicos, acentua os contrastes entre a zona urbana e a rural e aprofunda
as insuficiências econômicas de produção, distribuição e consumo. Os sistemas de
produção estrangulam-se, enquanto as necessidades de consumo aumentam em
proporções geométricas. O somatório de todos esses fatores acaba por produzir um
estado de desequilíbrio.
Em função do congestionamento, a cidade tende a expandir seus limites e
nascem assim bairros, subúrbios e a periferia, que com o passar do tempo dão
origem a novas cidades. A urbanização estendida a uma grande área circundante
origina uma nova morfologia urbana, onde se montam os grandes centros
populacionais e um conjunto ininterrupto de habitações, social e economicamente
conhecidos como zonas metropolitanas. Independentemente da forma que assume,
o processo de urbanização apresenta sempre uma hierarquia, isto é, cidades de
tamanhos diferentes e com funções diversas: capitais, dormitórios, turismo,
industriais e outras.
Qualquer que seja sua função, a cidade não é apenas uma unidade de
produção e consumo, caracterizada por suas dimensões, densidade e
congestionamento. Representa também uma força social, uma variável
independente no interior de um processo mais amplo capaz de exercer as mais
variadas influências sobre a população e cuja principal consequência é o surgimento
de uma cultura urbana. No plano material, essa cultura cria um meio técnico para
inúmeras exigências concretas: água, esgoto e serviços em geral. No plano
psicossocial, manifesta-se pelo aparecimento de uma nova personalidade.
A deterioração do meio urbano é uma das consequências mais evidentes da
rapidez com que se processa a urbanização. Em decorrência, esse meio apresenta-
se incompleto e imperfeito: favelas, habitações deterioradas, zonas a renovar e
13
recuperar, superposição de funções e outras anomalias. O remanejamento exige
mais do que o planejamento material simples: aumento da rede de serviços,
ampliação da oferta em habitações e racionalização da ocupação do solo. Torna-se
fundamental a criação de novas estruturas, correspondentes à nova realidade.
Todos esses defeitos no surgimento das cidades não passam despercebidos
pelas leis da natureza, que tem cobrado, a preços cada vez mais altos, toda a
destruição causada pelo homem e pelas características contemporâneas de
apropriação dos recursos naturais.
É neste momento histórico que os grandes desastres começam a aparecer. O
homem, outrora nômade, passa a se fixar e construir suas habitações em terras
produtivas e abundantes de víveres. Na identificação desses locais também era
levado em consideração a possibilidade de transporte, comunicação e comércio com
outros sítios antropogênicos. Assim, as primeiras cidades foram consolidadas,
geralmente, sobre as planícies dos grandes rios, no litoral e nas encostas
vulcânicas.
Entretanto, nas últimas décadas, as pesquisas têm demonstrado que houve
um aumento considerável não só na frequência dos desastres naturais, mas também
na intensidade, o que resultou em sérios danos e prejuízos sócio-econômicos. De
acordo com alguns cientistas, este cenário pode estar vinculado ao aquecimento
global, como uma das consequências diretas das mudanças climáticas (Kobiyama et
al. 2006).
Dentre os principais fatores que contribuem para desencadear estes
desastres nas áreas urbanas destacam-se a impermeabilização do solo, o
adensamento das construções, a conservação de calor e a poluição do ar. Enquanto
que nas áreas rurais, destaca-se a compactação dos solos, o assoreamento dos
rios, os desmatamentos e as queimadas.
Sendo assim, estes desastres que tanto influenciam as atividades humanas
vêm historicamente se intensificando devido ao mau gerenciamento das bacias
hidrográficas, especialmente pela falta de planejamento urbano. Além disso, o
aquecimento global tem aumentado a frequência e a intensidade das adversidades
14
climáticas, como precipitações extremas, vendavais, granizos entre outros, o que
acarreta no aumento da incidência de desastres naturais.
2.1 Conceituação
2.1.1 Desastres naturais
A ocorrência de um evento físico perigoso, tal como uma inundação, erupção
vulcânica, terremoto, desabamento, furacão, incêndio florestal ou outro fenômeno
natural que cause vítimas ou que provoque perdas econômicas, direta ou
indiretamente, aos seres humanos, conhece-se como um desastre natural. Em áreas
onde não há nenhum interesse humano, os fenômenos naturais não resultam em
desastres naturais.
Kobiyama et al. (2006), define que os fenômenos naturais intensos, ocorridos
em locais onde os seres humanos vivem e que resultem em danos (materiais e
humanos) e prejuízos (sócio-econômico) são considerados como “desastres
naturais”.
Segundo Castro (1999), desastre é definido como resultado de eventos
adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável),
causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos
econômicos e sociais.
Os desastres naturais são, normalmente, súbitos e inesperados,
desenvolvendo gravidade e magnitude capazes de produzir danos e prejuízos
diversos, resultando em mortos e feridos. O trabalho de restituir a ordem e as
condições mínimas de sobrevivência e subsistência nas localidades atingidas não é
possível aos procedimentos rotineiros, implicando no envolvimento incontornável dos
setores público e privado. Muitos autores e pesquisadores sobre os desastres
naturais apontam para este detalhe como o mais significativo para concluir sobre a
ocorrência de um desastre natural.
Os fenômenos naturais que mais comumente podem resultar em desastres
naturais são:
Subsidências;
Ciclones e furacões;
15
Deslizamento de terra ou escorregamento;
Erupções vulcânicas;
Incêndios florestais;
Inundações;
Queda de meteoros;
Sismos;
Tempestades de areia, de gelo, de granizo, de raios.
Tornados;
Tsunamis;
Rajadas violentas de vento.
2.1.2 Perigo
É um fenômeno natural que ocorre em épocas e região conhecidas que
podem causar sérios danos nas áreas sob impacto. Assim, perigos naturais (natural
hazards) são processos ou fenômenos naturais que ocorrem na biosfera, podendo
constituir um evento danoso e serem modificados pela atividade humana, tais como
a degradação do ambiente e urbanização (UNDP, 2004). Dessa forma, um
fenômeno atmosférico extremo, como um tornado, que costuma ocorrer em uma
determinada região e época conhecida, gera uma situação de perigo.
2.1.3 Risco
Segundo a ISDR (2004), risco é a probabilidade de ocorrer consequências
danosas ou perdas esperadas (mortos, feridos, edificações destruídas e danificadas,
etc.), como resultado de interações entre um perigo natural e as condições de
vulnerabilidade local. Simplificando-se, risco é a probabilidade (mensurável) de um
perigo transformar-se num desastre.
2.2 Classificação
Os desastres, como um todo, são distinguidos principalmente em função de
sua origem, isto é, da natureza do fenômeno que o desencadeou. De acordo com as
normativas da Política Nacional de Defesa Civil, existem três tipos de desastres:
naturais, humanos e mistos (CASTRO, 1999). Os naturais, que são aqueles
provocados por fenômenos naturais extremos, que independem da ação humana; os
humanos, que são os causados pela ação ou omissão humana, como os acidentes
16
de trânsito e a contaminação de rios por produtos químicos; e os desastres mistos,
associados às ações ou omissões humanas, que contribuem para intensificar,
complicar ou agravar os desastres naturais. Nessa abordagem, a diferença está
basicamente no nível de intervenção humana. Entretanto, se considerarmos
somente este critério, a grande maioria dos desastres conhecidos como naturais,
seriam de fato desastres mistos.
A avaliação da intensidade dos desastres é muito importante para facilitar o
planejamento da resposta e da recuperação da área atingida. As ações e os
recursos necessários para socorro às vítimas dependem da intensidade dos danos e
prejuízos provocados, conforme a verificação dos dados da tabela seguinte,
adaptada por Kobiyama et al (2006):
Nível Intensidade Situação
I Desastres de pequeno porte (Prejuízo menor que 5% PIB municipal)
Facilmente superável com os recursos do município
II De média intensidade (Prejuízos entre 5% e 10% PIB municipal)
Superável pelo município, desde que envolva uma mobilização e
administração especial. III De grande intensidade
(Prejuízos entre 10% e 30% PIB municipal) A situação de normalidade pode ser restabelecida com recursos locais, desde que complementados com
recursos estaduais e federais. (Situação de Emergência – SE)
IV De muito grande intensidade (Prejuízos maiores que 30% PIB
municipal)
Não é superável pelo município, sem que receba ajuda externa.
Eventualmente necessita de ajuda internacional.
(Estado de Calamidade Pública – ECP)
Tabela 1 – Classificação dos desastres naturais segundo a intensidade
Os desastres de origem natural podem estar relacionados com a dinâmica
interna ou externa da Terra, ou seja, eventos ou fenômenos internos causados pela
movimentação das placas tectônicas, que têm reflexo na superfície do planeta
(terremotos, maremotos, tsunamis e atividade vulcânica); ou de origem externa
gerada pela dinâmica atmosférica (tempestades, tornados, secas, inundações,
ressacas, vendavais, etc).
Outra classificação importante aponta a categoria e o tipo do desastre natural,
com alguma variação entre autores ou centros de pesquisa. No caso deste trabalho,
seguir-se-á a classificação que compreende os eventos mais comuns no cenário
brasileiro, apresentada por Kobiyama et al (2006):
17
CATEGORIA TIPOS DE DESASTRES
Metereológicos
Furacões, ciclones, tufões Vendaval Granizo Tornado Nevasca Geada Onda de frio Onda de calor
Hidrológicos Inundações Seca / Estiagem Incêndio florestal
Geofísicos
Terremotos Vulcanismo Tsunamis Escorregamentos Subsidências
Tabela 2 – Tipologia dos desastres naturais
2.3 Influência das mudanças climáticas
Nas últimas décadas, tem ocorrido um aumento considerável na frequência
anual de desastres naturais em todo o globo. Conforme dados do EM-DAT (2007), a
média de desastres ocorridos na década de 70 foi de 90 eventos por ano, saltando
para mais de 260 eventos na década de 90 (Figura 10).
Estes números refletem diretamente a elevação na frequência e intensidade
dos desastres causados pelas tempestades severas, como mostrado pela linha azul
na figura a seguir.
Figura 1 – Frequëncia e intensidade de tempestades severas
18
Dentre os principais fatores responsáveis pelo aumento dos desastres
naturais em todo o mundo cita-se: o crescimento populacional, a segregação sócio-
espacial (aumento das favelas e bolsões de pobreza), a acumulação de capital em
áreas de risco (ocupação da zona costeira), o avanço das telecomunicações
(registro e disseminação de informações) e as mudanças climáticas globais
(MARCELINO et al., 2006).
A comunidade científica tem dado grande ênfase às mudanças climáticas,
como resultado do aquecimento global, principalmente a partir da publicação do 4o
Relatório do IPCC (IPCC, 2007). Esse relatório menciona que no Brasil os desastres
naturais de origem atmosférica tendem a continuar aumentando, com destaque para
as tempestades e os eventos de precipitações intensas sobre as regiões Sul e
Sudeste do Brasil e o agravamento da seca no nordeste e avanço sobre as regiões
norte e centrooeste.
Figura 2 – Índices sulamericanos de precipitação
Na figura acima, estão representadas em azul as áreas onde os índices de
precipitação estarão acima da média (até 20%) no final do século XXI. Em amarelo
estão marcadas as áreas que estarão com deficiência de precipitação. Enquanto
que, em branco são as áreas que estarão com índices na média ou próximo da
média.
Nota-se que a tendência é que aumentem ainda mais os desastres causados
pelas tempestades no sul e sudeste do Brasil, nos meses de verão (DJF), e as secas
no norte, nordeste e centro-oeste nos meses de inverno (JJA), como já demonstram
os dados coletados até então.
19
O aumento da precipitação nas regiões Sul e Sudeste não aponta
necessariamente para uma boa distribuição anual das chuvas. Pelo contrário, a
tendência é que as precipitações ficarão ainda mais intensas e concentradas, ou
seja, chuvas muito fortes e em poucos dias, como já vendo sendo observado
(LIEBMANN et al., 2004; BOULANGER et al., 2005; GROISMAN et al, 2005;
MARENGO, 2006).
Em Campinas (SP), o número de dias de fortes chuvas (>50 mm/h) tem
aumentado consideravelmente, passando de aproximadamente 12 dias nas décadas
de 60 e 70, para mais de 25 dias na década de 80 e 90 (VICENTE e NUNES, 2004).
Um padrão similar também foi encontrado para a região metropolitana de Curitiba
(PR). Nessa região os índices de precipitação demonstram uma mudança
comportamental a partir da década de 70, com uma elevação significativa no número
de dias com precipitações acima de 40 mm/h (SILVA e GUETTER, 2003). Em Santa
Catarina, também foi observado um aumento considerável de inundações bruscas
(enxurradas) a partir da década de 90, quando os registros ultrapassaram a média
de 23 casos/ano para o período 1980-2003 (MARCELINO et al., 2004).
As inundações bruscas (enxurradas) ocorrem associadas a elevados índices
de precipitação (> 25 mm/h), e são altamente perigosas e destrutivas (DOSWELL et
al., 1996; MARCELINO et al, 2004). Em virtude do aumento das precipitações
intensas, somado aos desmatamentos de encostas, a ocupação das planícies de
inundação, ao assoreamento dos rios e a impermeabilização urbana (asfaltamento
de ruas, construções, etc.), as inundações bruscas em áreas urbanizadas se
tornarão um dos principais problemas ambientais que a região Sul e Sudeste do
Brasil terão que enfrentar para as próximas décadas.
Por isso, em caráter de urgência, é necessário estabelecer medidas
preventivas que minimizem as consequências deste fenômeno, visando sempre à
diminuição do número de pessoas afetadas e vitimadas, objetivo da logística
humanitária, cujos aspectos principais são descritos a seguir.
20
3 LOGÍSTICA HUMANITÁRIA
Os trabalhos científicos desenvolvidos na área de logística, tradicionalmente
focam a logística empresarial e o setor de serviços, consumidores naturais dos
conceitos logísticos e que fazem desta arte o diferencial competitivo para fazer frente
aos seus concorrentes. Dispor do produto certo, com preço adequado, na
quantidade, local, tempo e qualidade desejada pelo cliente, poderá ser decisivo no
momento de sobreviver à forte concorrência que o mercado impõe.
Razoavelmente, a arte da logística se propõe a conseguir o máximo de
produtividade com o menor custo, organizando meios para alcançar melhores
receitas e a diminuição de perdas. Nesse sentido e verificando o crescimento dos
casos desastrosos que a natureza tem imposto nas últimas décadas, visando à
recuperação da capacidade social e econômica de populações afligidas pelos
desastres naturais, surgiu a necessidade de formar um novo conceito dentro do
ramo logístico: a logística humanitária.
A comunidade internacional tem reconhecido que a magnitude, o número de
pessoas afetadas e a recorrência de desastres produzidos por fenômenos de ordem
natural ou não, têm aumentado. Episódios como o terremoto e o tsunami na Ásia em
2004, os furacões no Caribe e Estados Unidos, os terremotos no Paquistão em
2005, o terremoto na China em 2008, sem deixar de falar dos acontecidos no Brasil,
com as enchentes e deslizamentos ocorridos no sul em 2008, as enchentes no
nordeste em 2009, entre outros, têm demonstrado a vulnerabilidade das sociedades
atuais e evidenciado a necessidade da logística humanitária e o desenvolvimento de
estudos nesta área.
Recentemente, alguns pesquisadores desenvolvem trabalhos científicos
sobre esse novo segmento social-administrativo, ainda com pouca participação de
brasileiros, haja vista para o desconhecimento dos segmentos público e privado dos
números alarmantes que o País possui nas estatísticas internacionais sobre os
desastres naturais, situando-se entre as 10 nações que mais sofreram com os
desastres naturais em 2009, conforme pode ser visto no gráfico abaixo,
disponibilizado pelo Annual Disaster Statistical Review 2009 - CRED (2009).
21
Figura 3 – Os 10 países com maior número de desastres naturais em 2009
Grandes desafios de pesquisa são apontados na direção da implementação
de processos logísticos sistematizados com foco na logística humanitária,
merecendo destaque o desenvolvimento de tecnologias para os processos
informacionais, bem como das técnicas logísticas apropriadas, que tratem de
aspectos como: recebimento de suprimentos e doações, centrais de assistência
médica e social, locais de abrigo, reconstrução de vias de acesso, etc.
Pesquisas na área de logística humanitária viabilizam, em ocorrências
desastrosas para a sociedade, o uso de conceitos logísticos como contribuição
significativa para o sucesso de uma operação para o restabelecimento das
condições mínimas para a sobrevivência de pessoas e da economia da região
afetada. Neste sentido, grandes desafios são apontados na direção da
implementação de processos logísticos sistematizados, merecendo destaque:
aspectos ligados à infraestrutura, localização de centrais de assistência,
coordenação de processos (pessoas, suprimentos, informações, materiais).
22
3.1 Conceituação
O conceito de logística humanitária foi desenvolvido a partir dos objetivos da
logística de vencer tempo e distância na movimentação de materiais e serviços de
forma eficiente e eficaz. Esse conceito que vem sendo desenvolvido e aplicado
principalmente em países da Europa e nos Estados Unidos, mas que ainda é muito
recente no Brasil. A logística humanitária é a função logística exercida para
assegurar, com eficiência e eficácia, o fluxo de suprimentos e pessoas com o
propósito de salvar vidas e aliviar o sofrimento de pessoas afligidas por desastres
(adaptado de Thomas, 2004). Tal conceito destaca não somente a eficiência, mas
também a eficácia, ou seja, o auxilio deve chegar ao seu destino na medida certa,
no tempo certo, na qualidade exigida e com o menor custo possível.
Segundo a Federação Internacional da Cruz Vermelha (apud Meirim, 2007):
“Logística humanitária são processos e sistemas envolvidos na
mobilização de pessoas, recursos e conhecimento para ajudar
comunidades vulneráveis, afetadas por desastres naturais ou
emergências complexas. Ela busca à pronta resposta, visando atender o
maior número de pessoas, evitar falta e desperdício, organizar as diversas
doações que são recebidas nestes casos e, principalmente, atuar dentro
de um orçamento limitado.”
3.2 Relações com a logística empresarial
O principal objetivo da logística empresarial é entregar os produtos certos na
quantidade exata aos locais corretos no tempo adequado. Neste sentido, o processo
envolvido abrange todas as atividades associadas com o fluxo e transformação da
mercadoria e informação desde o ponto inicial até o ponto final.
Apesar de a logística humanitária ter semelhanças com a cadeia de
abastecimento comercial, em termos de estrutura e atividades logísticas, a logística
humanitária difere em vários aspectos. O caráter imprevisível, dinâmico e caótico do
ambiente no qual a cadeia de assistência humanitária está inserida é único e tem
características próprias.
As condições enfrentadas no ambiente comercial são diferentes das
enfrentadas por organizações de assistência humanitária. Neste sentido, a logística
23
humanitária e a logística empresarial apresentam características que levam a
distintas abordagens. Segundo Moore (2000), essas características incluem:
- fontes de renda: as fontes de renda são uma das principais diferenças entre
a abordagem empresarial e a humanitária. No enfoque humanitário, normalmente as
fontes de renda são obtidas por meio de incentivos governamentais, doações
individuais e coorporativas. Na abordagem empresarial, as fontes de renda estão
basicamente relacionadas à venda de produtos e serviços aos clientes. Em geral, as
organizações de assistência humanitária asseguram seus rendimentos de pessoas e
organizações que esperam outros benefícios que não um retorno econômico;
- objetivos: o objetivo principal no enfoque empresarial é obter lucro e
rendimento financeiro satisfatório aos interessados. Por outro lado, a geração de
lucro não deve ser o objetivo principal de uma organização de assistência
humanitária. No entanto, as organizações de assistência humanitária não devem
deixar de se preocupar com o bem-estar financeiro, pois a estabilidade financeira é
fundamental para a realização das missões e sobrevivência das organizações. As
organizações de assistência humanitária devem monitorar seus gastos e cumprir
com o orçamento, mas seu sucesso não pode ser medido financeiramente;
- intervenientes: definidos como qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar
ou ser afetado pela conquista dos objetivos de uma organização. As empresas e as
organizações de assistência humanitária são distintas em termos das características
dos seus intervenientes. As empresas têm um grupo de interesses claramente
definido, normalmente traduzido em termos financeiros. Por outro lado, as
organizações de assistência humanitária não têm fins lucrativos e buscam atender
objetivos de doadores financeiros, destinatários de serviços, funcionários e
voluntários e esses objetivos podem ser heterogêneos.
Thomas (2003) descreve que as condições enfrentadas pelas empresas são
diferentes das enfrentadas em uma situação de emergência. Neste sentido, há
características específicas da logística humanitária que diferem da tradicional
abordagem empresarial. Essas características incluem: as questões ligadas à vida
humana, a inexistência de informações confiáveis e a demanda gerada por eventos
24
aleatórios, sendo possível a comparação entre os dois modelos de logística pela
interpretação dos dados do quadro abaixo:
PARÂMETROS LOGÍSTICA EMPRESARIAL LOGÍSTICA HUMANITÁRIA
Demanda
Estável e previsível. Ocorre
para locais pré-determinados
e em quantidades conheci-
das e pré-fixadas
É gerada por eventos Alea-
tórios e imprevisíveis, espe-
cialmente sob os aspectos
de tempo, localização, quali-
dade e especificação técnica.
Processa-se por estimativa e
após a ocorrência do de-
sastre.
Lead Time
Determinado nas necessida-
des, desde o fornecedor até
o consumidor final.
É praticamente zero.
Centrais de
Distribuição e
Assistência
Bem definidas em termos de
número e localização
Desafiadoras pela natureza
desconhecida (localização,
tipo e tamanho necessário)
Controle de
Estoques
Utilização de métodos bem
definidos, baseados em Lead
Time, demanda e níveis de
serviço.
Desafiador pela grande va-
riação da demanda e da lo-
calização da mesma.
Sistemas de
Informação
Geralmente bem definidos,
usando alta tecnologia.
Informações com pouca con-
fiabilidade ou até mesmo
inexistentes.
Objetivo Maior qualidade, ao menor
custo.
Salvar vidas e aliviar o sofri-
mento.
Foco Produtos e serviços Pessoas e suprimentos.
Tabela 3 – Características das logísticas empresarial e humanitária
Uma das principais diferenças entre a logística humanitária e a empresarial
está no modelo de demanda. Na logística empresarial, a demanda é relativamente
25
previsível, ocorre em locais pré-estabelecidos, em intervalos relativamente regulares.
Na logística humanitária, a demanda ocorre de maneira imprevisível, frequentemente
em locais desconhecidos e é estimada após a ocorrência da necessidade.
A estrutura básica de uma missão assistencial é apresentada na figura a
seguir. A análise da referida figura mostra que existem 4 fases distintas (Thomas,
2003):
1. Avaliação: Identificação das necessidades baseada nas características
específicas da ocorrência. Nesta fase são necessários poucos recursos.
2. Organização: Necessidade crescente de recursos, de encontro às
características levantadas na fase de Avaliação.
3. Sustentação: Período de tempo no qual as operações são sustentadas e
os recursos mantidos.
4. Reconfiguração: As operações e recursos são reduzidos até finalizarem
por completo.
Figura 4 – Representação gráfica das fases da logística humanitária
Este ciclo será vivenciado com tempo de resposta diferente para cada
situação emergencial específica. É importante observar que, na maioria dos casos,
existem muitos recursos nas fases 1 e 2, amplamente divulgadas na mídia. No
entanto, na fase 3 pode existir uma carência de recursos devido, principalmente, à
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
Acionamento Avaliação
Organização Sustentação
Reconfiguração
Fases da Logística Humanitária
26
mudança de foco da mídia, onde o desastre acaba caindo no esquecimento e a
viabilização de recursos é mais difícil.
3.3 Relações com a logística militar
A logística militar é, por definição do Manual de Campanha – C 100-10 –
Logística Militar Terrestre, editado e publicado em 2003, o conjunto de atividades
relativas à previsão e à provisão de recursos humanos, materiais e animais, quando
aplicável, e dos serviços necessários à execução das missões das FA. Para isso,
estrutura-se em funções, atividades e tarefas, como descrito a seguir:
Função logística: é a reunião, sob uma única designação, de um
conjunto de atividades logísticas afins, correlatas ou de mesma
natureza. As funções logísticas são: Recursos Humanos, Saúde,
Suprimento, Manutenção, Transporte, Engenharia e Salvamento.
Atividade logística: é um conjunto de tarefas afins, reunidas segundo
critérios de relacionamento, interdependência ou de similaridade.
Tarefa: é um trabalho específico e limitado no tempo, que agrupa
passos, atos ou movimentos interligados segundo uma determinada
sequência e visando à obtenção de um resultado definido.
Para aproximar as relações entre a logística militar e a logística humanitária, o
elenco de princípios básicos para o desencadeamento da logística militar terrestre é
suficiente para demonstrar a capacidade singular que as forças militares dispõem
para realizar as ações de restabelecimento das condições mínimas às populações
afligidas por desastres naturais. Esses princípios básicos são listados a seguir:
Objetivo - É o efeito final desejado e é definido, normalmente, na
missão. Ele é fundamental. Sem um objetivo claramente definido,
haverá o risco de os demais princípios tornarem-se sem sentido e de
obscurecer a finalidade para dar ênfase ao emprego dos meios.
Continuidade - É o encadeamento ininterrupto de ações, assegurando
uma sequência lógica para as fases do trabalho.
27
Controle - É o acompanhamento da execução das atividades
decorrentes do planejamento, no sentido de permitir correções e
realimentações, a fim de atingir o propósito estabelecido, com o
sucesso desejado.
Coordenação - É a conjugação de esforços, de modo harmônico, de
elementos distintos e mesmo heterogêneos, com missões diversas,
para a consumação de um mesmo fim.
Economia de meios - É a busca do máximo rendimento, por intermédio
do emprego eficiente, racional e judicioso dos meios disponíveis. Não
implica economia excessiva, mas distribuição adequada dos meios
disponíveis, elegendo-se como prioritário o apoio na área da ação
principal.
Flexibilidade - É a possibilidade de adoção de soluções alternativas,
ante a mudança de circunstâncias.
Interdependência - É a dependência recíproca que a logística mantém
com a Estratégia e a Tática.
Objetividade - É a identificação clara das ações que devem ser
realizadas e a determinação precisa dos meios necessários à sua
concretização.
Oportunidade - É o condicionamento da previsão e da provisão dos
meios ao fator tempo, a fim de que as necessidades possam ser
atendidas de forma adequada.
Prioridade - É a prevalência do principal sobre o secundário ou
acessório.
Segurança - É a garantia do pleno desenvolvimento dos planos
elaborados, a despeito de quaisquer óbices. Consiste nas medidas
necessárias para evitar a surpresa, a observação, a sabotagem, a
espionagem e a inquietação, a fim de assegurar a liberdade de ação do
comandante. Não implica precaução exagerada, nem evitar o risco
calculado.
Simplicidade - É o uso da linha de ação mais simples e adequada ao
desenvolvimento das atividades Log, de modo a serem compreendidas
e executadas com facilidade.
28
Unidade de comando - É a existência de autoridade e programa únicos
para um conjunto de operações com a mesma finalidade. Uma
eficiente unidade de comando requer uma cadeia de comando bem
definida, com precisa e nítida divisão de responsabilidades, um sistema
de comunicações adequado e uma doutrina logística bem
compreendida, aceita e praticada pelos comandantes em todos os
níveis.
Verificando-se as funções logísticas, também há a total compatibilidade com
os anseios da logística humanitária, com mais propriedade atribuída às funções
logísticas de suprimento, transporte, manutenção, engenharia e salvamento. Cada
uma dessas funções se desenvolve, basicamente, em três fases: determinação das
necessidades, obtenção e desenvolvimento das ações.
Pela característica de iniciar os procedimentos logísticos, a determinação das
necessidades destaca-se das demais, bem como se relaciona diretamente com o
sucesso do percurso das ações logísticas. Nesse particular, o grau de incerteza
sobre os dados logísticos a serem trabalhados nas ações humanitárias,
especialmente urgentes em razão de decorrerem de aflições por desastres naturais,
torna-se o maior e mais desafiador problema.
3.4 Funções logísticas mais apropriadas
Para elucidar a escolha das funções logísticas com maior significação aos
trabalhos humanitários para fazer frente aos desastres naturais, torna-se importante
a reprodução de um cenário característico desses momentos de crise, para o qual foi
escolhido o episódio acontecido em janeiro de 2010, no Haiti. Naquela oportunidade,
estava à frente da Força-Tarefa Norte-Americana o Tenente-General Ken Keen, que
entrevistado pela Revista Diálogo – Forum das Américas (Volume 20 – nº 2 – 2010),
reproduziu o seguinte cenário:
“Esse tipo de situação não permite à operação militar nenhuma
preparação, pois não há aviso do que está para acontecer. Não é como
um furacão, pois você não vê um terremoto chegar. Diferentemente de
uma operação militar, não há sinais que mostrem como uma situação está
se desenvolvendo, o que permite que você se prepare.
29
A reação imediata é levar tudo que você puder e resolver depois o que
fazer. O principal é salvar vidas e aliviar o sofrimento do povo haitiano. É
simples assim. Isso significa contar com equipes de busca e resgate,
entregar alimentos e água, trabalhar juntamente com as forças da ONU,
que já estão aqui proporcionando assistência humanitária e segurança.
Ficou óbvio para mim que precisávamos de uma Força Tarefa Conjunta e
que ela precisaria ser suficientemente forte para controlar um contingente
tão grande.
A primeira coisa na qual nos concentramos foi reabrir o aeroporto, pois eu
sabia que não poderíamos ajudar os que estavam sob os escombros na
cidade se o aeroporto não estivesse aberto, permitindo que as equipes de
busca e resgate chegassem, que as organizações de ajuda chegassem.
Ele teria que estar operando e permanecer aberto. Para isso,
precisávamos dos melhores pilotos do mundo, o mais depressa possível.
A prioridade agora é obter abrigo para cerca de 700 mil pessoas. Os
acampamentos estão sobrecarregados com 40 mil pessoas, onde não
deveria haver mais de 10 mil. Cerca de um quarto ou um terço da cidade
está reduzida a escombros e você precisa remover os escombros para
que as pessoas possam voltar para suas casas e suas vidas. Em frente
ao Palácio Presidencial há 29 mil pessoas vivendo em cabanas e tendas.
Além disso, precisamos de terrenos para onde as pessoas possam se
mudar e se estabelecer. O governo tem cinco lotes de terra para
assentamentos, onde serão instaladas unidades de tratamento médico e
segurança, para que as pessoas não se sintam sujeitas a gangues e
criminosos nas ruas.”
Diante do cenário haitiano e das preocupações do Ten-Gen Keen, este
estudo verificou as seguintes tarefas logísticas básicas, devidamente relacionadas
às funções logísticas competentes:
TAREFA LOG FUNÇÃO LOG
Fornecimento de água potável
Engenharia Montagem a aprestamento de abrigos
Remoção de escombros em busca de vitimados
Restabelecimento das vias de acesso
30
TAREFA LOG FUNÇÃO LOG
Restabelecimento dos serviços básicos de água, esgoto, energia elétrica e telecomunicações
Reparação e manutenção de motores ligados aos serviços básicos
Manutenção
Assistência médica e hospitalar Saúde
Fornecimento de alimentos
Suprimento
Fornecimento de medicamentos
Fornecimento de roupas e calçados
Fornecimento de roupas de cama e banho
Fornecimento de material de higiene individual
Coleta, cadastramento e separação das doações
Transporte de suprimentos e doações Transporte
Transporte de feridos
Tabela 4 – Relação entre tarefas e funções logísticas
3.5 Classificação e identificação de suprimentos
3.5.1 Classificação
A classificação de suprimentos visa à identificação, codificação e catalogação
de todos os itens materiais necessários ao processo logístico e constitui-se,
juntamente com a atividade de obtenção dos itens, em fator crítico para o sucesso
da operação logística.
O sistema de classificação é primordial para qualquer área de material, pois,
sem ele, não pode existir um planejamento eficiente de estoques, aquisições
corretas de material e procedimentos adequados nas atividades de armazenamento.
As fontes de consulta sobre a logística e a cadeia de suprimentos tratam o
assunto sob diversas formas, sendo mais comum a classificação pela importância
econômica do item de suprimento, exatamente no foco científico da logística
empresarial. No caso da logística humanitária, é mais próprio classificar os itens
necessários segundo seus atributos de:
Finalidade: qual o tipo de consumo será feito do item material.
Exemplos: alimentação, vestuário, tratamento médico, limpeza
doméstica, construções e reparos, etc.
Mortalidade: qual o tempo previsto para o armazenamento do material
em depósito. Exemplos: alta, média, baixa, cross-docking, etc.
31
Validade: qual a data especificada para o material ser considerado
como impróprio ou não-recomendável para o consumo.
Perecibilidade: qual a capacidade temporal do material ser
armazenado em depósito.
Inflamabilidade: se o produto é inflamável ou não.
Criticidade: se o material está na linha urgente para uso ou consumo.
3.5.2 Identificação do material
Na administração de uma cadeia de suprimento, mais do que necessário, é
indispensável o reconhecimento sistêmico da origem (de onde veio) e destino (para
onde vai) dos itens. Os processos de recebimento, movimentação, armazenamento
e distribuição não resistem ao desconhecimento da natureza do item de suprimento
sob trabalho logístico.
Diversas técnicas se apresentam para cumprir a finalidade de identificar os
itens de suprimento, com variações significativas de complexidade, tecnologia
aplicada, custo, indexação, presença de dados, mídia utilizada e serialização
controlada. A qualidade da informação com relação à precisão e velocidade de
resposta está intimamente relacionada à complexidade do sistema utilizado. É
possível integrar facilmente toda área de produção, logística a jusante e montante,
bem como distribuição “picking”, utilizando apenas o padrão de identificação.
32
4 TECNOLOGIAS DE APOIO
As tecnologias de apoio são materiais, equipamentos e sistemas que foram
pensados e desenvolvidos para servir ao aprimoramento ou à redução de perdas de
desempenho em processos ou procedimentos.
No caso específico da logística, o desenvolvimento tecnológico processa-se
especialmente para impor o máximo de velocidade aos processos e procedimentos,
garantindo a eficácia, a eficiência e o menor custo para as organizações que
investem no uso das novas tecnologias, transformando o potencial tecnológico em
vantagem competitiva para ganhar ou manter-se no mercado, cada vez mais
exigente de menores preços e níveis de serviço com o máximo de excelência.
Os mecanismos intrínsecos de expansão social e econômica apressam a
difusão das tecnologias, que podem gerar ou veicular todas as formas de lucro. Por
isso há interesse em ampliar o alcance da sua difusão, para poder atingir o maior
número possível das pessoas economicamente produtivas, isto é, das que podem
consumir.
Mas o objetivo não se distancia do lucro. Tanto as tecnologias como os
serviços que elas propiciam crescem pela organização empresarial que está por trás
e que as torna viáveis numa economia de escala. Em outras palavras, quanto maior
a expansão no mercado, as novas tecnologias tornam-se mais baratas e, com isso,
mais acessíveis.
Nesse sentido, desenvolver tecnologias para emprego em processos ou
procedimentos não-empresariais, eminentemente filantrópicos ou assistenciais, é
economicamente inviável e não desperta o interesse de pesquisadores e indústrias
de artefatos tecnológicos. A solução se mostra em prospectar a adaptação de
algumas dessas novas tecnologias para o uso em atividades assistencialistas.
A seguir, serão elencados alguns exemplos de novas tecnologias aplicáveis
na logística humanitária.
4.1 RFID
Apesar do seu grande potencial de aplicação em diversos segmentos, o uso
do RFID (Radio Frequency Identification) - Identificação por radiofrequência - se
mostra ainda num estágio inicial de adoção pela logística das organizações
33
brasileiras. Mesmo assim, baseado em recentes informações específicas a respeito
do uso e aplicabilidade desta tecnologia, observa-se uma movimentação
considerável no interesse de adoção desta tecnologia, incentivada pelo segmento
varejista, de forma geral, devido à necessidade de maior integração, flexibilidade,
precisão e controle nas suas operações.
A RFID consiste num sistema como um todo, e não num produto isolado.
Esse sistema utiliza espectros eletromagnéticos para transmitir informações sem
contato e sem linha de visão (Miller, 2000).
A RFID também pode ser definida como uma tecnologia de identificação que
utiliza a radiofrequência para o intercâmbio de dados, permitindo realizar
remotamente o armazenamento e recuperação de informações usando um
dispositivo chamado de etiqueta de rádio-identificação, um pequeno objeto que
poderá ser afixado a ou incorporado em um produto, bem ou até num ser vivo
(Stanton, 2004).
Figura 5 – Portal de RFID na entrada de um armazém militar
Usada predominantemente em ambientes de armazenamento, a tecnologia
RFID utiliza uma etiqueta inteligente, também chamada de smart-tag, e-tag, ou
simplesmente tag, dotada de um microchip capaz de armazenar uma quantidade
limitada de informações. A tag comunica o seu conteúdo de dados por intermédio de
um link de radiofrequência, onde uma antena realiza a leitura e o identifica,
utilizando-se de uma aplicação computacional conhecida como middleware.
34
Em relação ao sistema de código de barras, a tecnologia RFID ganha em
precisão e agilidade, uma vez que diversos objetos podem ser identificados ao
mesmo tempo, dispensando a leitura dos Tags individualmente, proporcionando
maior visibilidade, velocidade no rastreamento e sincronização da cadeia de
suprimentos, com total confiabilidade.
4.2 Barracas
A montagem de um acampamento para abrigar as pessoas vitimadas pelos
desastres naturais é um trabalho que requer o máximo de conforto, proteção,
aproveitamento dos espaços, mobilidade das pessoas no interior e no exterior dos
alojamentos, com o mínimo de tempo, esforço e custo para a operação humanitária.
Figura 6 – Acampamento montado para as vítimas do terremoto no Haiti
Na atualidade, as barracas de uso militar e civil apresentam-se às demandas
com alta tecnologia, permitindo o melhor atendimento das pessoas a serem
abrigadas, com baixo custo e facilidade de montagem. O ganho logístico das
barracas modernas está na compactação do material, o baixo custo e a leveza, o
que facilita os procedimentos de aquisição, manuseio e transporte.
4.3 Tanques plásticos para água e combustível
Um dos grandes problemas decorrentes dos desastres naturais é o
comprometimento da qualidade de suprimentos líquidos armazenados em tanques
subterrâneos, como é o caso de cisternas e tanques de combustível.
35
Figura 7 – Tanque para tratamento e armazenagem de água
Para resolver este tipo de problema, algumas indústrias de lonas e plásticos
desenvolveram soluções extremamente práticas e portáveis para armazenar água
potável e combustíveis, sendo que alguns desses reservatórios dispõem, inclusive,
de bombas para fornecimento.
4.4 Sistemas de Comando, Controle e Acompanhamento
O Sistema de Gestão Humanitária Abastecimento (SUMA) foi desenvolvido
como um esforço conjunto dos países da América Latina e Caribe, com a
cooperação técnica da Organização Pan-Americana e do Escritório Regional para as
Américas da Organização Mundial de Saúde. A significativa contribuição financeira
para viabilizar o projeto do sistema foi fornecida pelos governos dos Países Baixos,
Inglaterra, Estados Unidos, Canadá e Alemanha, além do Serviço Europeu para os
Assuntos Humanitários, ECHO. O objetivo principal do sistema é melhorar a gestão
da assistência humanitária, através do reforço das capacidades nacionais para a
gestão eficaz de suprimentos, permitindo que estes materiais cheguem no tempo
hábil e eficaz para ajudar a população afetada.
O Sistema de Apoio Logístico (LSS) foi criado para expandir a experiência do
SUMA no ambiente internacional, promovendo uma interface global para servir às
agências e ONGs especializadas em assistência humanitária, assim como regulando
as doações de pessoas e países. Para a criação do LSS, foram realizadas três
reuniões, patrocinadas pelas organizações: WFP, OCHA, WHO e PAHO,
36
concentrando o expertise de mais de 50 peritos da ONU e das ONGs para definir os
parâmetros da ferramenta.
Figura 8 – Símbolo do LSS
O LSS proporciona um importante auxílio na administração dos suprimentos
que chegam ao ponto de entrada da cadeia de assistência, bem como dos
suprimentos que estão nos armazéns. O sistema tem a capacidade de registrar
doações, entregas, pedidos e oleodutos, bem como a troca de informações entre
locais diferentes. Além disso, o sistema pode consolidar ações, em modo pipeline, o
rastreamento de suprimentos fornecidos pelas agências e pelas ONGs, usando
arquivos de Excel simples.
Na gestão assistencialista dos desastres, um dos principais problemas é
identificar, com precisão e oportunidade, quais os suprimentos de ajuda chegaram,
onde foram armazenados, e como eles serão úteis. Muitas vezes, os doadores bem-
intencionados, mas desinformados, enviam itens que não são particularmente úteis,
dada a natureza da emergência, bem como as condições no terreno.
Estritamente falando, este é um problema técnico, mas tem sérias
repercussões para a implementação da assistência às vítimas, quando se leva em
conta os seguintes aspectos:
Com demasiada frequência, os espaços requeridos para o
armazenamento, transporte e recursos humanos dedicados às ações
de assistência são escassos e, portanto, devem ser alocados de forma
tão eficiente quanto possível;
As informações técnicas sobre os suprimentos que chegam aos postos
de coleta, na maioria das vezes não existe, tornando mais difícil a
tarefa de distribuir esses suprimentos;
Os doadores e os meios de comunicação recebem a impressão
negativa dos esforços de gestão, muito em função dos defeitos do
37
pouco controle ou regulação nos momentos de divulgar as
necessidades e de coletar as ajudas materiais.
4.5 Centro Móvel de Computação
O Centro Tecnológico do Exército desenvolveu o projeto do Módulo de
Telemática Operacional (MTO) para a comunicação de dados, voz e imagens em
situações operacionais. Todo o módulo foi construído para ser operado remotamente
ou embarcado na Viatura de Comando e controle (VCC), desenvolvida dentro do
projeto e visa a proporcionar flexibilidade e robustez às comunicações das
operações militares.
O MTO providencia as comunicações via rádio, com integração à rede pública
de telefonia fixa ou celular, transmissão de vídeo a dezenas de quilômetros, acesso
à Internet com até 100 km de distância da base de operações, emprego de
tecnologia VoIP e integração a qualquer cenário remoto através de sistemas de
comunicações via satélite.
As MTO permitem o uso de:
Rádios HF, VHF e UHF;
Modem ADSL e DSLAM;
Integração de voz via rádio/fio/celular;
Rede sem fio 802.11 a/b/g;
Repetidoras 802.11 a/b/g com painéis solares;
Voz sobre IP;
Geradores a diesel com supressão de ruído;
Rotas de comunicações redundantes;
Seleção automática da rota mais eficiente;
Transporte em aeronave C-130
38
5 PROPOSTA DOUTRINÁRIA
5.1 Sistema Integrado de Ajuda Humanitária - SIAH
O detalhamento técnico e tecnológico de sistemas de informação em
plataforma computacional não é parte dos objetivos traçados para esta Monografia,
mas algumas características do Sistema Integrado de Ajuda Humanitária merecem
ser apresentadas, haja vista para a imprescindibilidade de suas funções no
desenvolvimento das partes técnicas e logísticas das operações de suprimento
voltadas à assistência humanitária prestada nos casos de desastre natural, assim
como para conduzir o raciocínio dos leitores a despeito de um sistema de
informações que ainda não existe de fato.
Trata-se de um sistema de informações com a finalidade de prover
transações, consultas e relatórios nos níveis operacional, tático, gerencial e
estratégico, funcionando em plataforma web e com módulos desenvolvidos
especificamente para todas as áreas de atuação da logística humanitária, das quais
destacam-se neste trabalho as atinentes à atividade de suprimento, como descrito a
seguir:
Levantamento das necessidades;
Recebimento das doações;
Administração das necessidades;
Transporte e reunião dos suprimentos;
Distribuição aos postos de atendimento;
Distribuição e emprego nos postos de atendimento;
Controle e prestação de contas;
Cadastro de melhores práticas.
5.2 Ação dos elementos avançados
No momento em que a operação de assistência for acionada, um escalão de
pessoas e equipamentos deverá partir na direção da área afetada, com o objetivo de
levantar os dados mais próximos sobre o acidente para firmar o planejamento final e
providenciar o ajuntamento de meios para desencadear efetivamente os trabalhos
logísticos.
39
Uma característica que marca a atualidade dos meios de comunicação é a
divulgação, em tempo real, dos fatos mais importantes ao conhecimento da
sociedade. Acontece que a tradução dos fatos em notícias empobrece o processo
informacional, quando a inteireza é desfeita para valorizar os aspectos que mais
comovem e prendem a atenção dos leitores ou dos telespectadores. Dessa forma,
usar os dados midiáticos como base para o planejamento pode ser considerado
como um grave erro, demandando a presença de elementos técnicos para verificar e
constatar as reais necessidades logísticas para a operação de apoio.
Os dados mais relevantes ao conhecimento dos agentes avançados são os
seguintes:
número aproximado de desabrigados;
instalações aproveitáveis para armazenagem de itens;
existência de portos ou aeroportos próximos da área atingida;
comprometimento das forças de segurança locais;
O levantamento prévio dos dados relativos ao desastre deve ser realizado
para determinar a situação da emergência, bem como a capacidade administrativa e
logística local de atuar em socorro das vítimas, providenciando dados e informações
relativas a dois momentos de extrema relevância:
Avaliação imediata: conduzida durante os primeiros dias após o
desastre e deve fornecer a base para a concessão da ajuda
humanitária, com os primeiros dados relativos às vítimas, ao desastre e
às condições de trânsito e acesso à área de operações, bem como
levantar as possibilidades de elementos locais de reagir ao desastre.
Outro objetivo desse levantamento prévio é o de substanciar o pedido
de recursos para desencadear a operação de logística humanitária.
Avaliação detalhada: conduzida entre a segunda e a terceira semana
de operações e deve fornecer informações mais específicas e
completas sobre as necessidades das vítimas e dos trabalhos de
recuperação das condições mínimas de sobrevivência e desempenho
econômico da região afetada pelo desastre.
Avaliação de continuidade: conduzida a partir da quarta semana de
operações e deve avaliar a evolução do diferencial entre as
40
necessidades e as possibilidades locais, auxiliando as autoridades
demandantes no processo de determinação sobre a continuidade ou o
encerramento das operações.
Os agentes avançados devem decidir sobre o método de coleta dos dados,
utilizando os processos de: discussões de grupo, entrevistas individuais, entrevistas
domiciliares, reuniões com líderes locais, representantes de comunidade,
representantes de industriários, comerciários ou entidades de classe.
Os relatórios relativos aos levantamentos devem ser endereçados ao
Comando-Geral e ao Comando Logístico da operação humanitária, bem como para
outras autoridades e organizações que demandarem ou solicitarem participar da lista
de distribuição dos documentos de operações. Os cabeçalhos deverão detalhar:
O tipo de avaliação realizada.
Os nomes e funções dos membros da equipe de levantamento,
incluindo sexo, idade e experiência.
Os locais visitados, incluindo o nome e função das pessoas
entrevistadas.
As perguntas realizadas nas entrevistas.
A consolidação das respostas e a percepção técnica sobre os dados e
informações levantadas, com emissão de parecer às autoridades-
clientes do relatório.
No levantamento das informações prévias, é importante o uso de um roteiro
de perguntas para obter o máximo da realidade do fato e os dados mais relevantes
para o estudo logístico que demandará as necessidades iniciais do suprimento para
mobilizar e deslocar para a área da operação logística humanitária, sugerindo-se
providenciar respostas para as seguintes perguntas:
Para levantar a situação da emergência:
o Qual o tipo e natureza do desastre?
o Quando ocorreu, precisamente, o desastre?
o Onde, precisamente, o desastre promoveu os danos?
o O governo local dispõe de cartas, levantamentos topográficos ou imagens
de satélite da área afetada?
o O governo local dispõe de estrutura organizada para atuar na defesa civil e,
41
caso positivo, qual a capacidade dessa estrutura para fazer frente aos
danos do desastre em curso?
Para levantar a situação da população afetada:
o Quais os dados populacionais da região afetada pelo desastre natural,
especializando os números relativos às pessoas e famílias, como sexo,
idade, condição econômica e a média de pessoas por residência familiar?
o Qual o número estimado de pessoas afetadas, incluindo mortos, feridos e
desaparecidos? Se possível, os dados devem retratar o sexo, idade e
condição econômica das vítimas, bem como o percentual de participação
em relação ao total de pessoas vitimadas.
o Há outros órgãos agindo para o alívio dos danos causados pelo desastre
na área e, caso positivo, quais as ações, em quais segmentos operativos e
qual a parcela da população beneficiada?
o Há estoques de suprimentos disponíveis, planejados e em recebimento
para utilização no local da operação?
o Quais os métodos e meios de coleta de necessidades estão sendo
utilizados pelos demais órgãos em ação na área?
o Qual o número de pessoas, especializado por sexo e idade, que
demandem necessidades específicas, como crianças não acompanhadas,
pessoas portadoras de deficiência física, doentes crônicos, pacientes
internados portadores de doenças infecto-contagiosas, famílias compostas
de idosos, mulheres grávidas, lactantes e crianças órfãs?
o Existem questões sociais dividindo a população atingida?
o Houve partes da população que sofreram maiores danos em relação às
demais?
o Qual a situação da população em relação aos indicadores de emergência1
listados abaixo?
CRITÉRIO NÍVEL DE EMERGÊNCIA
Taxa de mortalidade Maior que 2/10000 por dia
Estado nutricional das Mais do que 10% com peso abaixo da relação peso-
1 Fornecido pelo Sphere Handbook e pelo UNHCR Handbook for Emergencies (2007). Este conjunto de indicadores tem reconhecimento internacional para validar a necessidade do desencadeamento de operações de natureza humanitária para as forças de segurança das Nações Unidas.
42
CRITÉRIO NÍVEL DE EMERGÊNCIA
crianças altura ou peso-idade
Alimentação Menos de 2100 calorias/pessoa/dia
Quantidade de água potável
Menor do que 7,5 litros/pessoa/dia
Qualidade da água Mais do que 25% das pessoas com diarréia
Espaço local Menos do que 30 m2 por pessoa
Espaço para abrigo Menos do que 3,5 m2 por pessoa
Não consumíveis Menos do que um kit completo de roupas, roupa de cama, sabão e utensílios de cozinha por pessoa
Tabela 5 – Nivel de emergência para avaliação de desastres naturais
Coleta de sugestões:
o Quais as necessidades sugeridas pela população nas seguintes áreas:
Proteção
Água potável
Higiene e saneamento básico
Nutrição e alimentos
Não consumíveis
Abrigos, seleção e preparação do local
Saúde
Apoio psicossocial
Segurança
Educação
Ambiente
Desenvolvimento econômico e meios de subsistência
5.3 Determinação das necessidades
Os estudos logísticos feitos sobre os dados inicialmente levantados
conduzirão, para a mobilização e os primeiros movimentos de pessoas, materiais e
equipamentos, as necessidades estimadas para a operação de ajuda humanitária. E
nesse particular avulta-se a importância de prever o apoio na forma mais justa e
próxima da real necessidade, pois os desvios na justeza implicarão no desperdício
de recursos ou na incapacidade logística de prestar o apoio solicitado.
Em operações de logística humanitária desenvolvidas em socorro a pessoas
atingidas por desastres naturais, relacionam-se com a determinação das
necessidades as seguintes condicionantes: o tipo de desastre ocorrido; o tempo de
43
resposta exigido; o nível de preparação das forças locais, regionais e federais para
lidar com o desastre ocorrido; e as informações específicas sobre o fato ocorrido.
Os desastres naturais, segundo os maiores ou menores prejuízos que
causam à sociedade no local afetado, determinam o tipo de apoio, o tempo de
resposta e a previsão do tempo de permanência do apoio logístico que será
prestado, como descrito no quadro abaixo:
TIPO DE DESASTRE TIPO DE OPERAÇÃO APOIO NECESSÁRIO
Terremoto Furacão
Deslizamento Enxurrada Tsunami
Rápida
Provimento emergencial de comida, abrigo e serviços para as vítimas do desastre
Seca Enchente Inundação Estiagem
Lenta
Desenvolvimento de ativi-dades ou trabalho de aju-da contínua, visando ao restabelecimento da auto-suficiência e sustentabi-lidade da comunidade atingida
Tabela 6 – Categorização das operações de logística humanitária
Adaptado de Wassenhove (2006)
Os trabalhos de auxílio às pessoas atingidas por desastres naturais,
principalmente os desastres que imponham prejuízos e sofrimentos maiores,
desenvolvem-se em 5 fases distintas, caracterizadas por diferentes níveis de
emprego de materiais e recursos, como pode ser visto no gráfico abaixo:
Mobilização
Iniciação
Desenvolvimento / Sustentação
Encerramento
Desmobilização
Para cada uma dessas fases é necessária uma condição relativa aos
suprimentos de apoio, assim como sugere-se o aprestamento dos postos de
assistência seguindo as mesmas características relativas à fase de apoio, conforme
previsto na figura abaixo:
44
Figura 9 – Diagrama de fases para implantação dos postos de atendimento
O resultado do estudo logístico apontará o número de postos de atendimento
a serem desdobrados, bem como os números logísticos relativos a cada um dos
postos, como a quantidade estimada de pessoas que serão atendidas, o material
necessário ao desdobramento, o perfil de atendimento e a relação especificada do
material e suprimentos para iniciar o serviço. Todo esse inventário evoluirá com o
funcionamento dos postos, especialmente o perfil de atendimento, de acordo com as
fases previstas no planejamento logístico.
Para a iniciação dos postos de atendimento, serão mobilizados e deslocados
para a área de atuação todos os recursos pessoais e materiais julgados necessários
ao desdobramento desses postos. Assim que esses recursos chegarem aos locais
preconizados para cada posto, ocorrerá o desembarque e descarregamento,
seguido do esforço de montagem da estrutura dos postos. A prioridade de
INICIAÇÃO
ENCERRAMENTO
D
E
S
E
N
V
O
L
V
I
M
E
N
T
O
45
montagem deverá beneficiar a antecipação doa abrigos, instalações da
administração, instalações sanitárias, reservatórios para água e o posto médico,
tendo em vista que a população afetada pelo desastre natural está aflita e atordoada
pelas baixas e pelo sofrimento, além de ter percebido a chegada da força de auxílio,
aumentando a urgência em providenciar os primeiros trabalhos de ajuda
humanitária. Nesse sentido, uma parte do escalão inicial para colocar cada um dos
postos em funcionamento deverá ter doutrina, material e suprimentos para, de forma
organizada e em distância aproximada de 200 metros do limite da área prevista para
o desdobramento do posto, iniciar o trabalho efetivo de ajuda humanitária, saneando
as primeiras necessidades da população e melhorando o espaço para manobrar os
recursos e montar eficientemente o posto de atendimento.
Nos dois primeiros dias de funcionamento dos postos de atendimento, todas
as pessoas sob a responsabilidade logística do posto (apoiadores e apoiados) serão
alimentados com rações humanas operacionais e de salvatagem. O fornecimento de
rações quentes requer o deslocamento de gêneros alimentícios secos, refrigerados e
frigorificados, os quais demandam grandes pesos e volumes, além do pesado
esforço para a mobilização e para o transporte desses suprimentos.
Outro detalhe que não perde de importância em relação aos demais é a
segurança alimentar, tendo em vista as possibilidades de contaminação,
características dos espaços expostos nas áreas afetadas por desastres naturais,
com o comprometimento das redes de esgotos, abastecimento de água, animais
mortos, o trânsito descontrolado de roedores, o contato do ar com as chagas dos
feridos e a decomposição de pessoas e animais mortos.
Para os abrigos, serão necessárias as instalações fixas aproveitáveis,
segundo o levantamento dos elementos avançados, complementadas pela
montagem de barracas militares e civis.
O atendimento médico necessitará, também, de instalações fixas
aproveitáveis e da complementação com a montagem de barracas militares. Uma
parte dessas barracas militares será utilizada com a finalidade específica de montar
os postos de triagem de feridos e outra parte deve ser utilizada para conter os
corpos dos falecidos. O esforço inicial é por curativos , imobilizações e tratamento
específico para pessoas em choque. Os pacientes mais graves devem ser
prontamente evacuados para centros médicos próximos.
46
5.4 Mobilização e deslocamento
A mobilização dos recursos é decorrente das necessidades levantadas e do
estudo logístico feito sobre esses dados, mas no caso da logística humanitária esse
trabalho de mobilização é contínuo e dinâmico, adequando-se constantemente à
evolução do apoio nos diversos postos desdobrados.
No caso das operações de logística humanitária, a cadeia de mobilização e
suprimento é montada a cada evento, normalmente motivada pela divulgação feita
pela imprensa local, regional, nacional, continental e até mundial. Quanto maior a
amplitude das distâncias entre o fornecedor e o consumidor da cadeia de assistência
humanitária, maior é a importância do trabalho de coordenação dos esforços de
mobilização e de suprimento, até para fazer com que materiais desnecessários não
sejam coletados e transportados, comprometendo o transporte de cargas realmente
necessárias.
Nesse sentido, dez aspectos merecem relevância especial:
1o) cada um dos postos de atendimento deve manter, durante todo o período
de operações, o esforço em levantar as necessidades reais e imediatas, lançando-as
no SIAH – Sistema Integrado de Ajuda Humanitária;
2o) o site internet do SIAH deverá informar o que está sendo solicitado no
local de operações (materiais e suprimentos necessários), bem com os locais para
onde deverão ser encaminhados os materiais doados;
3o) os pontos de coleta deverão receber as doações e registrá-las no SIAH,
de maneira que as necessidades e as disponibilidades sejam reajustadas.
Esclarecendo-se esses procedimentos, os potenciais doadores saberão, on line, das
potenciais necessidades. As doações serão encaminhadas, diariamente, ao centro
de recebimento mais próximo;
4o) os centros de recebimento deverão encaminhar, diariamente, os
suprimentos ao Centro de Distribuição;
5o) os potenciais doadores que não se encontrem próximos aos postos de
coleta poderão participar da cadeia de assistência pela forma financeira, doando
recursos diretamente à conta bancária aberta para a operação;
47
6o) os materiais necessários e que não tenham sido coletados nas doações,
serão adquiridos pela equipe administrativa da operação, cuja entrega será
especificada para o Centro de Distribuição;
7o) as necessidades serão atendidas por consolidação logística relativa aos
postos de atendimento;
8o) dentro das possibilidades reais, as necessidades dos postos de
atendimento serão atendidas com a destinação especificada diretamente às
pessoas, facilitando o trabalho de separação no final da cadeia de assistência, ou
seja, a efetiva distribuição à população atingida pelo desastre natural;
9o) a prioridade no uso dos recursos para atender às necessidades logísticas
da operação deverá atender a seguinte ordem:
(material adquirido) = (necessidade) – (material doado)
(recursos orçamentários) = (necessidade de aquisição) – (recursos doados)
10o) o grande esforço da operação é para salvar vidas e aliviar o sofrimento
das pessoas, mas a possibilidade de prestar contas sobre o que foi feito e,
principalmente, adquirido não deve ser jamais esquecida ou negligenciada.
5.5 Processos e sistemas para apoio e divulgação
Os órgãos de mídia que desenvolvem trabalhos jornalísticos em jornais,
televisão e rádio têm a capacidade de interagir pronta e positivamente com o
sucesso das operações logísticas humanitárias. Pelo alcance das mensagens
divulgadas nas reportagens sobre os desastres naturais, os esforços de mobilização
e da manutenção dos processos de suprimento podem ser coordenados para
acontecer com a máxima eficiência e brevidade.
Pela voz da imprensa, a população afetada pelos desastres naturais pode
conhecer os locais onde estão sendo concentradas as ajudas humanitárias; pode ter
conhecimento das notícias atualizadas sobre a evolução da periculosidade e riscos
das áreas e zonas da região afetada; pode receber instruções de como salvar uma
pessoa que ainda espera pela chegada de socorro; pode conhecer as necessidades
dos postos de atendimento em especialidades profissionais e humanitárias; e muitas
outras informações de utilidade ao alívio do sofrimento e ao trabalho específico de
salvar e zelar pela vida das pessoas.
48
Mas a divulgação do endereço eletrônico do site do SIAH e o estímulo para
que as pessoas interessadas em ajudar façam uso das informações e orientações
do site é a melhor oportunidade para conjugar esforços com a mídia.
Esses e outros trabalhos de função midiática podem e serão melhor
realizados pela ação profissional de uma Assessoria de Imprensa ou de uma Seção
de Comunicação Social, orgânica da Força Militar responsável pela operação
logística humanitária.
5.6 Sistemática para recebimento e concentração de itens de suprimento
A definição da sistemática que conduzirá o recebimento e concentração de
suprimentos necessários à logística humanitária requer que antes sejam definidas a
amplitude e os meios da rede de transporte, assim como a localização e capacidade
técnica dos locais especificados para coletar e concentrar o material recebido.
Consoante com a estratégia de manter o mínimo de suprimentos estocados
nos postos de atendimento e o máximo no Centro de Distribuição, permitindo
gerenciar os suprimentos com maior eficiência, a estrutura básica para o
recebimento dos itens específicos da cadeia de suprimento humanitário deve prever:
Os Postos de Coleta de Doações: organizações militares das Forças
Armadas, Polícias Militares, Corpos de Bombeiros Militares, Aeroportos
sob administração da Infraero e outras organizações cadastradas,
habilitadas, localizadas dentro da área tributável para a mobilização da
operação logística em curso e devidamente divulgadas no site internet
do SIAH. Cumprem o papel de receber a doação de pessoas e
empresas, unitizar e deslocar o material recebido ao Centro de
Concentração ao qual estiver diretamente ligado.
Os Centros de Concentração: organizações militares de suprimento
das Forças Armadas. São responsáveis por receber o material dos
Postos de Coleta, classificar e unitizar o material para transporte e
estabelecer as ligações técnicas com a rede de transportes para o
deslocamento do material até o Centro de Distribuição.
O Centro de Distribuição: instalação de armazenagem desdobrada na
proximidade da área de operações, apoiado a cavaleiro de grandes
eixos rodoviários de transporte e com ligações facilitadas aos Postos
49
de Atendimento. É responsável por receber, desconsolidar e
reconsolidar o material transferido pelos Centros de Coordenação, bem
como os materiais adquiridos pela administração da operação logística.
A reconsolidação do suprimento em novas cargas será feito segundo a
programação e necessidade dos Postos de Atendimento, aliviando a
necessidade de instalações especializadas para o armazenamento de
materiais, diminuindo as possibilidades de contaminação de gêneros
alimentícios e de artigos para o uso em tratamentos médicos e
ambulatoriais.
Os Postos de Atendimento: instalação com baixa capacidade de
armazenagem, estocando material para uso em, no máximo, dois dias.
Recebe o material do Centro de Distribuição, desconsolida e organiza
a carga e faz a entrega dos itens às diversas equipes de trabalho
restritas ao seu desdobramento.
5.7 Realimentação informacional
Os procedimentos informacionais são extremamente importantes para a
logística, tendo em vista que a movimentação dos itens ao longo da cadeia de
suprimentos acontece com base no processamento das informações logísticas.
Dentro do modelo estabelecido nesta proposta doutrinária de atuação, o
processo informacional deverá caminhar nos dois sentidos da cadeia de
suprimentos, de maneira que o elo anterior conheça o estoque do elo posterior e
possa planejar e especificar a próxima distribuição, bem como o elo posterior
conheça o estoque do elo anterior e possa planejar e especificar o próximo pedido.
Simplificadamente, o esquema do trânsito de informações e materiais pode
ser verificado na figura abaixo.
50
Figura 10 – Diagrama de fluxo de materiais e informações
5.8 Controle dos processos
Como os trabalhos de assistência humanitária desenvolvem-se em ambientes
colaborativos, não são poucos os procedimentos que deixam a área de atuação dos
gestores para acontecer em ambientes sujeitos à vontade popular, como é o caso
das doações, cujo controle é de baixo impacto na eficiência ou na eficácia.
As ações dos gestores voltam-se, então, para acompanhar o desenvolvimento
desses processos e, seguindo os princípios técnicos e da oportunidade, para
comandar a realização de procedimentos alternativos, desta vez, utilizando um
ambiente de recursos sob a ingerência e competência exclusiva dos gestores.
Exemplificando-se o controle das vias de processo, as necessidades
logísticas partem da constatação feita pelas equipes técnicas de cada um dos
postos de atendimento, passam pela consolidação dos gestores dos postos de
atendimento e depois pela consolidação do Centro de Distribuição. Essas
necessidades serão inseridas no site de doações da internet e, por um período não-
superior a 24 horas, estarão à disposição dos doadores para conduzir as suas
doações. Encerrado o prazo disponível para as doações, a diferença não doada será
passada aos elementos administrativos de obtenção, que terão outras 24 horas para
providenciar a integralização das necessidades e a disponibilização do material para
a distribuição aos postos de atendimento.
51
A importância do trabalho de controle e acompanhamento dos processos
logísticos da assistência humanitária relaciona-se com a manutenção da atividade
nos postos de atendimento e, consequentemente, com o bem-estar das pessoas
atendidas nesses postos e até mesmo com a continuidade das vidas dessas
pessoas.
5.9 Prestação de contas
O Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC, por intermédio do Decreto no
7.257, de 04 de agosto de 2010, dispõe normas especificando a prestação de contas
sobre os recursos transferidos para as ações de socorro, assistência às vítimas,
restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução das áreas atingidas por
desastres naturais. O foco para a verificação e auditoria dos recursos empregados
restringe a prestação de contas especificamente relativa aos créditos orçamentários
repassados pela Secretaria Nacional de Defesa Civil, como integrante do Ministério
da Integração Nacional.
Para os recursos financeiros e materiais doados, ainda não existe
normatização específica. A proposta neste caso é, tratando-se dos recursos
financeiros, apropriar o numerário recebido para uma conta do Tesouro Nacional e
somá-lo aos recursos recebidos do SINDEC, de maneira a uniformizar a prestação
de contas de todos os recursos recebidos para a ajuda humanitária, independente
da fonte dos recursos. Quanto às doações em material, o inventário de todos os
itens recebidos comporá o processo de prestação de contas dos recursos
financeiros e as eventuais sobras serão recolhidas a uma das unidades militares de
suprimento das Forças Armadas, onde deverão permanecer até que um outro
evento catastrófico apresente a necessidade de sua utilização.
Propõe-se, também, que um Conselho de Personalidades Locais seja
composto para analisar os dados lançados no processo de prestação de contas da
operação logística humanitária, atribuindo o máximo de transparência aos gastos
financeiros e à utilização do material, tudo do interesse e da utilidade pública.
52
6 CONCLUSÃO
As relações da humanidade com o meio-ambiente estão cada vez mais
tensas e os prejuízos para ambos os lados, em razão da eficiência alcançada pelos
meios e processos de comunicação, tornam-se visíveis, constatados, contabilizados,
trabalhados e apontados, mas os mecanismos de resolução dos conflitos entre o
homem e a natureza ainda não conseguem o almejado sucesso.
Se o homem, na busca frenética e inconsequente pelo desenvolvimento,
agride fortemente a natureza, não passa esse processo de agressão impunemente,
haja vista para os significativos prejuízos impostos pelos desastres naturais,
mecanismo que a natureza encontrou para manifestar que não está satisfeita com a
forma pela qual tem sido tratada pelo homem.
Evidenciado o problema, mas trazendo o foco para a solução, os atuais
embates deixam significativas baixas para trás, que devem ser corrigidas para o
restabelecimento da normalidade para ambos os lados. Os diversos órgãos,
organismos e agências responsáveis pelo meio-ambiente atuam na recuperação das
características anteriores à ação do homem, recompondo a cobertura vegetal por
intermédio de reservas ambientais, garantindo a manutenção dos cursos d‟água pela
proteção das nascentes, dentre inúmeras ações de proteção e recuperação do meio-
ambiente.
Pelo lado humano, as ações reparadoras variam de acordo com a capacidade
econômico-tecnológica, a estatura política e o estágio de socialização como um ou
outro país percebe e atribui importância aos impactos provenientes dos desastres
ambientais. Dessa forma, as ações de resposta aos desastres vão do simples alívio
dos sofrimentos à recuperação completa das condições sócio-econômicas anteriores
ao desastre.
Seja qual o enfoque a ser dado a um desastre natural, as providências iniciais
destinam-se a socorrer os vitimados e, principalmente, salvar vidas. E com a
responsabilidade pela manutenção da vida, avultam de importância a rapidez, a
precisão e a qualidade, atributos característicos da logística, neste particular
aplicado à questão humanitária.
Até pelas características formativas da fisiografia brasileira, a classificação de
intensidade e a tipologia dos desastres naturais que participam das estatísticas não
53
favoreceram a pesquisa científica sobre a logística humanitária aplicada ao socorro
das vítimas dos desastres de grandes proporções. Ainda assim, os dados do EM-
DAT (2010) colocam o Brasil na 6a posição mundial em número de acidentes e
vítimas nos últimos 10 anos, sem contar o elevado percentual anual de aumento dos
casos e de vítimas dos desastres naturais no Brasil.
Sem a intenção de criticar qualquer órgão ou autoridade brasileira
responsável pelo tratamento dos desastres naturais, verifica-se uma imaturidade
política ao conceber ações de resposta vinculadas à descentralização de recursos
orçamentários, como se o dinheiro, na sua forma mais pura, pudesse comprar o
alívio de sofrimentos ou o salvamento de vidas humanas. Mais do que a vontade
política de ajudar e os recursos orçamentários descentralizados pela comoção em
frente aos impactos catastróficos, é necessário o conhecimento das técnicas e
práticas dos procedimentos assistenciais humanitários, bem como o aprestamento e
adestramento das forças constituídas para cumprir as missões de natureza
humanitária.
Mobilizar uma unidade operacional, militar ou civil, para cumprir missões
humanitárias é um complexo conjunto de ações que demanda tempo, técnica e
muita reflexão, de sorte que a unidade ou força mobilizada tenha todas as condições
para postar-se de frente para as pessoas afligidas e afetadas pelos desastres
naturais. As forças constituídas devem dispor de material específico, pessoas
treinadas, suprimento em condições de iniciar o apoio e uma cadeia de
abastecimento pré-estabelecida para ser compatível com a manutenção do apoio.
O mecanismo de pré-estabelecimento da cadeia de abastecimento
humanitário, como descrito no corpo deste trabalho, deve cercar-se de tecnologia
compatível com o tempo de resposta especificado para socorrer um determinado
desastre, bem como apoiar-se em um sistema informatizado e integrado para
transacionar a logística de cada um de seus elos. Batizado carinhosamente de SIAH
– Sistema Integrado de Ajuda Humanitária, caracteriza-se pela responsabilidade de
impor a sinergia absoluta a todas as partes da cadeia de abastecimento, trocando
informações, em tempo real, entre as necessidades e as disponibilidades.
Pelas imposições inerentes à urgência e aos tipos clássicos de desastres
percebidos como perigosos pela sociedade brasileira, as operações de logística
humanitária em território nacional caracterizam-se, segundo Wassenhove (2006)
54
como rápidas e destinam-se a prover abrigo, alimentos e assistência médica, cujas
capacidades mínimas são bem suportadas por forças militares.
Outra característica importante nas operações de logística humanitária é a
participação da sociedade para compor as soluções à crise causada pelos desastres
naturais, fornecendo suprimentos por doações e participando ativamente nas
operações com a mão-de-obra voluntária. A captação das ajudas, principalmente
das doações, pela presença e distribuição das unidades por todos os rincões
brasileiros, reforça a peculiaridade militar aos procedimentos específicos da logística
humanitária.
Feitas as aproximações entre os fatos e as organizações, guardando a
coerência com os objetivos deste trabalho, destacou-se a atividade de suprimento
para a proposta doutrinária de atuação, aspecto que não desmerece a importância
de todas as demais carências que compõem as aflições e sofrimentos das pessoas
afetadas pelos desastres naturais. O suprimento tem íntima relação com a
capacidade de atuar, bem como a doutrina especifica uma forma para atuar.
Organizar esses dois aspectos cria as condições para prestar o apoio, bem como
proporciona agir com eficiência, máximas inalienáveis da logística praticada desde
os primórdios.
Na montagem da doutrina, procurou-se reduzir o tempo de resposta ao
desastre, bem como proporcionar a facilidade na manutenção das operações,
especificando-se o tráfego das informações e disciplinando-se o fornecimento
“magro” dos suprimentos, aliviando as necessidades especializadas de instalações
para armazenagem e reduzindo as possibilidades indesejáveis de contaminação ou
comprometimento técnico do material.
Importante, também, é destacar a parte da proposta doutrinária que trata da
prestação de contas, para complementar a transparência dos recursos utilizados na
operação e conquistar, cada vez mais, a participação popular no grande esforço
para cuidar das repercussões catastróficas impostas pelos desastres naturais.
55
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