ribeiro, luiz antonio de almeida. a coordenação do apoio

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LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA RIBEIRO A COORDENAÇÃO DO APOIO LOGÍSTICO ÀS OPERAÇÕES MILITARES DE APOIO ÀS CALAMIDADES PÚBLICAS: UMA PROPOSTA DOUTRINÁRIA RIO DEJANEIRO - RJ 2011 ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA CURSO DE ALTOS ESTUDOS DE POLÍTICA E ESTRATÉGIA

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Page 1: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA RIBEIRO

A COORDENAÇÃO DO APOIO LOGÍSTICO ÀS OPERAÇÕES MILITARES DE APOIO ÀS CALAMIDADES PÚBLICAS: UMA

PROPOSTA DOUTRINÁRIA

RIO DEJANEIRO - RJ 2011

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

CURSO DE ALTOS ESTUDOS DE POLÍTICA E ESTRATÉGIA

Page 2: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA RIBEIRO

A COORDENAÇÃO DO APOIO LOGÍSTICO ÀS OPERAÇÕES MILITARES DE APOIO ÀS CALAMIDADES PÚBLICAS: UMA

PROPOSTA DOUTRINÁRIA

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentado ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra, como requisito à diplomação do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Antonio Celente Videira - Cel Int R/1

RIO DE JANEIRO – RJ 2011

Page 3: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

Almeida Ribeiro, Luiz Antonio de

A coordenação do apoio logístico às operações militares de apoio às calamidades públicas: uma proposta doutrinária. / Luiz Antonio de Almeida Ribeiro. Rio de Janeiro : ESG, 2011.

46 f.: il.

Orientador: Antonio Celente Videira - Cel Int R/1 Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011.

1. Logística humanitária. 2. Operações militares. 3. Desastres

naturais. I. Título.

Copyright © 2011 – ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG.

_______________________________________

LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA RIBEIRO

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Page 4: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

AGRADECIMENTOS

Ao meu Senhor Deus, meu Pai e criador de todas as coisas visíveis e

invisíveis, a nosso Senhor Jesus Cristo, salvador do mundo e meu também, a Nossa

Senhora, Maria, Mãe de Jesus e minha Adorada Mãe, que me abençoaram com a

possibilidade de realizar este Curso, com o qual sonhei durante toda a minha

carreira no Exército Brasileiro.

À minha querida esposa Nádia, minha filha Raíssa e minha mãezinha Maria

Julia, que estiveram comigo dia após dia, mantendo-me na senda da dedicação e

amor às minhas convicções e fazendo-me acreditar que eu posso ser útil na

construção de um mundo melhor para os brasileiros, especialmente para as

crianças, bem como a manter o alto prestígio da minha querida Força Terrestre no

coração dos brasileiros.

Aos meus filhos Luiz Felippe, Julianna e Ariane, distantes fisicamente e

sempre próximos do meu coração de pai, com a certeza de que estou fazendo o

melhor de mim para ser um bom exemplo e orgulho para vocês.

Aos meus amigos da Turma Segurança e Desenvolvimento, a melhor turma

que já passou pela Escola Superior de Guerra, pela paciência de me ouvir e o

carinho com o qual fui agraciado por todo o tempo que passei com vocês.

Page 5: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

“Nosso cuidado não deve ser o de viver muito e sim o de andar bastante, porque o primeiro

depende do destino e o segundo de nós mesmos”.

Sêneca (4 a.C – 65 d.C.)

Page 6: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

RESUMO

O presente trabalho apresenta um estudo do desempenho episódico de algumas

operações militares destinadas ao apoio civil e humanitário aos desastres naturais. A

finalidade é a de estabelecer uma proposta doutrinária, voltada ao melhor

desenvolvimento da logística para apoiar essas operações militares, proporcionando

a organização colaborativa dos meios e recursos pré-alocados, bem como dos

meios e recursos alocados após a divulgação das dificuldades e prejuízos

decorrentes do desastre ambiental sob acontecimento. O foco do estudo logístico

será o do suprimento, incluindo os procedimentos para obtenção, coleta,

armazenamento, separação, distribuição, e o controle do consumo, assim como o

uso de técnicas e tecnologias modernas para agilizar o controle e a manipulação dos

suprimentos. Os procedimentos técnicos deste trabalho foram organizados em três

etapas: a primeira apresenta levantamento teórico e o estudo dos dados logísticos

referentes à atividade de suprimento em episódios recentes; a segunda etapa

responde ao estudo realizado com a proposição de uma doutrina para o suprimento

das operações militares de auxílio e restabelecimento da ordem pública,

especializando essa proposta doutrinária em operações voltadas aos desastres

naturais; e a terceira etapa, contemplando as conclusões obtidas e as sugestões de

providências para o melhor atendimento da população envolvida no desastre

ambiental trabalhado.

Palavras-chave: logística humanitária, ordem pública, suprimento, operações

militares, defesa, desastres naturais.

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ABSTRACT

This paper presents an episodic study of the performance of some military operations

for civilian and humanitarian support to natural disasters. The purpose is to establish

a doctrinal proposal, aimed at better development of logistics to support such military

operations, providing a collaborative organization of resources and pre-allocated

resources, as well as the means and resources allocated following the release of the

difficulties and losses arising from environmental disaster in the event. The focus of

the study will be the logistics of supply, including procedures for obtaining, collecting,

storing, sorting, distribution, and consumption control, as well as the use of modern

techniques and technologies to expedite the control and manipulation of supplies.

The technical procedures of this work were organized in three stages: the first

presents theoretical survey and study of logistics data concerning the activity of

supply in recent episodes, the second stage responds to the study of the proposition

of a doctrine for the supply of military aid and restoring public order, specializing in

operations doctrine that proposal aimed to natural disasters, and the third step,

looking at the findings and suggestions for action to better meet the population

involved in the environmental disaster worked.

Keywords: humanitarian logistics, public policy, procurement, military operations, defense, natural disasters.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Frequëncia e intensidade de tempestades severas ................................. 17

Figura 2 – Índices sulamericanos de precipitação ..................................................... 18

Figura 3 – Os 10 países com maior número de desastres naturais em 2009 ........... 21

Figura 4 – Representação gráfica das fases da logística humanitária ...................... 25

Figura 5 – Portal de RFID na entrada de um armazém militar .................................. 33

Figura 6 – Acampamento montado para as vítimas do terremoto no Haiti ................ 34

Figura 7 – Tanque para tratamento e armazenagem de água .................................. 35

Figura 8 – Símbolo do LSS ....................................................................................... 36

Figura 9 – Diagrama de fases para implantação dos postos de atendimento ........... 44

Figura 10 – Diagrama de fluxo de materiais e informações ...................................... 50

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação dos desastres naturais segundo a intensidade ................. 16

Tabela 2 – Tipologia dos desastres naturais ............................................................. 17

Tabela 3 – Características das logísticas empresarial e humanitária ........................ 24

Tabela 4 – Relação entre tarefas e funções logísticas .............................................. 30

Tabela 5 – Nivel de emergência para avaliação de desastres naturais .................... 42

Tabela 6 – Categorização das operações de logística humanitária .......................... 43

Page 10: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9

2 DESASTRES NATURAIS .................................................................................. 12

2.1 CONCEITUAÇÃO ......................................................................................... 14

2.1.1 Desastres naturais ............................................................................... 14

2.1.2 Perigo .................................................................................................... 15

2.1.3 Risco ..................................................................................................... 15

2.2 CLASSIFICAÇÃO ......................................................................................... 15

2.3 INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ............................................ 17

3 LOGÍSTICA HUMANITÁRIA .............................................................................. 20

3.1 CONCEITUAÇÃO ......................................................................................... 22

3.2 RELAÇÕES COM A LOGÍSTICA EMPRESARIAL ....................................... 22

3.3 RELAÇÕES COM A LOGÍSTICA MILITAR .................................................. 26

3.4 FUNÇÕES LOGÍSTICAS MAIS APROPRIADAS ......................................... 28

3.5 CLASSIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE SUPRIMENTOS ........................ 30

3.5.1 Classificação ........................................................................................ 30

3.5.2 Identificação do material ........................................................................ 31

4 TECNOLOGIAS DE APOIO ............................................................................... 32

4.1 RFID ............................................................................................................. 32

4.2 BARRACAS .................................................................................................. 34

4.3 TANQUES PLÁSTICOS PARA ÁGUA E COMBUSTÍVEL ............................ 34

4.4 SISTEMAS DE COMANDO, CONTROLE E ACOMPANHAMENTO ............ 35

4.5 CENTRO MÓVEL DE COMPUTAÇÃO ......................................................... 37

5 PROPOSTA DOUTRINÁRIA ............................................................................. 38

5.1 SISTEMA INTEGRADO DE AJUDA HUMANITÁRIA - SIAH ........................ 38

5.2 AÇÃO DOS ELEMENTOS AVANÇADOS .................................................... 38

5.3 DETERMINAÇÃO DAS NECESSIDADES .................................................... 42

5.4 MOBILIZAÇÃO E DESLOCAMENTO ........................................................... 46

5.5 PROCESSOS E SISTEMAS PARA APOIO E DIVULGAÇÃO ...................... 47

5.6 SISTEMÁTICA PARA CONCENTRAÇÃO DE ITENS DE SUPRIMENTO .... 48

5.7 REALIMENTAÇÃO INFORMACIONAL ........................................................ 49

5.8 CONTROLE DOS PROCESSOS.................................................................. 50

5.9 PRESTAÇÃO DE CONTAS .......................................................................... 51

6 CONCLUSÃO .................................................................................................... 52

REFERENCIAS ...................................................................................................... 55

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9

1 INTRODUÇÃO

As mudanças climáticas, em curto espaço de tempo, passaram ao centro dos

debates públicos como um dos mais importantes desafios do século XXI. Apesar de

os cientistas expressarem preocupações com o aquecimento global há várias

décadas, tem sido difícil para os governos e a população em geral encarar o assunto

com a devida seriedade, tendo em vista a complexidade do tema e o caráter abstrato

e incerto de muitas dessas mudanças, considerando os consequentes impactos.

Os números estatísticos de episódios, pessoas vitimadas e prejuízos

decorrentes dos desastres naturais têm aumentado ao longo últimos anos. Em 2010,

segundo os dados publicados no Annual Disaster Statistical Review (ADSR - 2010),

o número registrado para os desastres de grandes proporções, na escala mundial,

chegou a 385, vitimando 217,3 milhões de pessoas e impondo prejuízos da ordem

de 47,6 bilhões de dólares.

No Brasil, um estudo técnico realizado pela Confederação Nacional dos

Municípios (Estudo Técnico/CNM – Maio de 2010) aponta um intenso crescimento

no número de desastres naturais. De 1o de janeiro a 16 de junho de 2010, foram

registrados 1635 reconhecimentos dos casos de Situação de Emergência e Estado

de Calamidade Pública, número maior do que os 1389 registrados em todo o ano de

2009. Além desses, os números relativos aos gastos governamentais com a

resposta aos desastres apontam uma escalada da ordem de 500 milhões de reais

por ano, progressão verificada desde 2007 e que superou os 2,8 bilhões de reais em

2010.

A evolução dos números e impactos dos desastres, bem como o aumento dos

esforços para realizar o socorro às vítimas, ressaltaram a importância do

desenvolvimento da doutrina e dos meios para oferecer resposta a esses desastres.

O tema dos desastres tem sido abordado em diversas resoluções da OEA e

vários compromissos têm sido ratificados pelos países membros desta organização,

seja como grupos hemisféricos ou regionais, seja individualmente. Verifica-se,

porém, que esses compromissos, por vezes, não se transformam em ações efetivas,

sendo implementados apenas parcialmente, por razões diversas.

Page 12: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

10

É de se ressaltar que em todos os Estados nacionais existem organizações

com tarefas específicas nessa área, porém merecem destaque as características

das Instituições Militares, tais como:

a capacidade de planejamento e mobilização;

a flexibilidade organizacional;

a autossustentabilidade;

a adaptabilidade dos meios;

os sistemas integrados de logística e comunicações;

a existência em suas estruturas de unidades de apoio médico e de

engenharia;

a possibilidade de realizar ações de busca e resgate;

a possibilidade de rápido deslocamento, em virtude do estado de

prontidão de seus efetivos e meios; e

a disponibilidade de meios de transporte próprios.

Essas características apresentam as Forças Armadas como instrumentos

possíveis de, em curto prazo, desenvolverem esforços de mitigação dos efeitos dos

desastres naturais. Assim, elas têm se mostrado importantes para ações a serem

desenvolvidas nos primeiros momentos após a ocorrência desses desastres,

permitindo serem empregadas em países amigos atingidos por catástrofes, tão logo

seja recebida uma solicitação formal, ou até mesmo por força de acordos bilaterais

ou multilaterais. Por outro lado, as ameaças contemporâneas, dentre as quais os

desastres, apresentam consequências ou ramificações em vários setores, incluindo

os campos da Defesa e da Segurança.

Na maioria dos países, as Forças Armadas destinam-se primordialmente à

defesa da pátria e dos interesses nacionais e à manutenção da soberania. Não

obstante, os recursos de Defesa também podem ser utilizados em ações de

Assistência Humanitária, seja internamente, ou em auxílio a nações amigas. A

ameaça, nesses casos, estaria consubstanciada nas perdas humanas e materiais

decorrentes de uma catástrofe.

As respostas aos desastres naturais desenvolvem-se pelo estabelecimento de

cadeias de ajuda humanitária, com a participação de organizações e pessoas dos

segmentos público e privado, tendo a missão específica de prover as pessoas

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11

afetadas com abrigo, alimentos e assistência médica, incluindo o fornecimento de

medicamentos.

Mesmo parecendo que o trabalho a realizar seja simples, a imprevisibilidade,

a urgência e a falta de informações consistentes sobre episódios anteriores aumenta

o grau de incerteza sobre as operações e oferece dificuldade à mobilização dos

recursos. A variedade de itens a mobilizar é muito grande e a identificação do tipo da

catástrofe não indica as reais necessidades, de maneira que o reconhecimento

prévio, no caso da logística humanitária, é uma tarefa praticamente obrigatória.

Há outros desafios e riscos associados com a manutenção das operações

logísticas, especialmente os ligados ao fornecimento. Os processos de aquisição e

entrega dos suprimentos são complexos e caros, tendo em vista a necessidade de

vencer as dificuldades de acesso à região afetada pela catástrofe, cujas vias

principais ficam, normalmente, congestionadas e com o revestimento comprometido.

Para contornar esses desafios, os sistemas logísticos de alguns países,

principalmente os europeus, desenvolveram a técnica de pré-posicionar os

suprimentos em locais estratégicos, melhorando a capacidade de responder

rapidamente aos desastres e de oferecer a continuidade às operações logísticas.

O pré-posicionamento de itens demanda altos investimentos e ainda não

corresponde à realidade econômica e orçamentária brasileira. O País tem um vasto

território, ainda tem problemas graves de infraestrutura, são inúmeras as áreas de

risco e a variedade desses riscos, o que torna ainda mais distante a possibilidade de

pré-posicionar suprimentos. A solução para as demandas crescentes e a

irredutibilidade das restrições é desenvolver uma técnica que atenda os detalhes

ontológicos brasileiros e que envolva, da forma mais organizada e eficiente possível,

todos os segmentos da sociedade, para o que se destina este trabalho, com enfoque

específico para a atividade de suprimento.

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12

2 DESASTRES NATURAIS

Desde o último século, o número de registro de desastres naturais em várias

partes do mundo vem aumentando consideravelmente. Isto se deve, principalmente,

ao aumento da população, à ocupação desordenada e ao intenso processo de

urbanização, às mudanças climáticas e à industrialização.

As características essenciais da urbanização contemporânea são sua

velocidade e generalização, o que acarreta grande sobrecarga para a rede de

serviços públicos, acentua os contrastes entre a zona urbana e a rural e aprofunda

as insuficiências econômicas de produção, distribuição e consumo. Os sistemas de

produção estrangulam-se, enquanto as necessidades de consumo aumentam em

proporções geométricas. O somatório de todos esses fatores acaba por produzir um

estado de desequilíbrio.

Em função do congestionamento, a cidade tende a expandir seus limites e

nascem assim bairros, subúrbios e a periferia, que com o passar do tempo dão

origem a novas cidades. A urbanização estendida a uma grande área circundante

origina uma nova morfologia urbana, onde se montam os grandes centros

populacionais e um conjunto ininterrupto de habitações, social e economicamente

conhecidos como zonas metropolitanas. Independentemente da forma que assume,

o processo de urbanização apresenta sempre uma hierarquia, isto é, cidades de

tamanhos diferentes e com funções diversas: capitais, dormitórios, turismo,

industriais e outras.

Qualquer que seja sua função, a cidade não é apenas uma unidade de

produção e consumo, caracterizada por suas dimensões, densidade e

congestionamento. Representa também uma força social, uma variável

independente no interior de um processo mais amplo capaz de exercer as mais

variadas influências sobre a população e cuja principal consequência é o surgimento

de uma cultura urbana. No plano material, essa cultura cria um meio técnico para

inúmeras exigências concretas: água, esgoto e serviços em geral. No plano

psicossocial, manifesta-se pelo aparecimento de uma nova personalidade.

A deterioração do meio urbano é uma das consequências mais evidentes da

rapidez com que se processa a urbanização. Em decorrência, esse meio apresenta-

se incompleto e imperfeito: favelas, habitações deterioradas, zonas a renovar e

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13

recuperar, superposição de funções e outras anomalias. O remanejamento exige

mais do que o planejamento material simples: aumento da rede de serviços,

ampliação da oferta em habitações e racionalização da ocupação do solo. Torna-se

fundamental a criação de novas estruturas, correspondentes à nova realidade.

Todos esses defeitos no surgimento das cidades não passam despercebidos

pelas leis da natureza, que tem cobrado, a preços cada vez mais altos, toda a

destruição causada pelo homem e pelas características contemporâneas de

apropriação dos recursos naturais.

É neste momento histórico que os grandes desastres começam a aparecer. O

homem, outrora nômade, passa a se fixar e construir suas habitações em terras

produtivas e abundantes de víveres. Na identificação desses locais também era

levado em consideração a possibilidade de transporte, comunicação e comércio com

outros sítios antropogênicos. Assim, as primeiras cidades foram consolidadas,

geralmente, sobre as planícies dos grandes rios, no litoral e nas encostas

vulcânicas.

Entretanto, nas últimas décadas, as pesquisas têm demonstrado que houve

um aumento considerável não só na frequência dos desastres naturais, mas também

na intensidade, o que resultou em sérios danos e prejuízos sócio-econômicos. De

acordo com alguns cientistas, este cenário pode estar vinculado ao aquecimento

global, como uma das consequências diretas das mudanças climáticas (Kobiyama et

al. 2006).

Dentre os principais fatores que contribuem para desencadear estes

desastres nas áreas urbanas destacam-se a impermeabilização do solo, o

adensamento das construções, a conservação de calor e a poluição do ar. Enquanto

que nas áreas rurais, destaca-se a compactação dos solos, o assoreamento dos

rios, os desmatamentos e as queimadas.

Sendo assim, estes desastres que tanto influenciam as atividades humanas

vêm historicamente se intensificando devido ao mau gerenciamento das bacias

hidrográficas, especialmente pela falta de planejamento urbano. Além disso, o

aquecimento global tem aumentado a frequência e a intensidade das adversidades

Page 16: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

14

climáticas, como precipitações extremas, vendavais, granizos entre outros, o que

acarreta no aumento da incidência de desastres naturais.

2.1 Conceituação

2.1.1 Desastres naturais

A ocorrência de um evento físico perigoso, tal como uma inundação, erupção

vulcânica, terremoto, desabamento, furacão, incêndio florestal ou outro fenômeno

natural que cause vítimas ou que provoque perdas econômicas, direta ou

indiretamente, aos seres humanos, conhece-se como um desastre natural. Em áreas

onde não há nenhum interesse humano, os fenômenos naturais não resultam em

desastres naturais.

Kobiyama et al. (2006), define que os fenômenos naturais intensos, ocorridos

em locais onde os seres humanos vivem e que resultem em danos (materiais e

humanos) e prejuízos (sócio-econômico) são considerados como “desastres

naturais”.

Segundo Castro (1999), desastre é definido como resultado de eventos

adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável),

causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos

econômicos e sociais.

Os desastres naturais são, normalmente, súbitos e inesperados,

desenvolvendo gravidade e magnitude capazes de produzir danos e prejuízos

diversos, resultando em mortos e feridos. O trabalho de restituir a ordem e as

condições mínimas de sobrevivência e subsistência nas localidades atingidas não é

possível aos procedimentos rotineiros, implicando no envolvimento incontornável dos

setores público e privado. Muitos autores e pesquisadores sobre os desastres

naturais apontam para este detalhe como o mais significativo para concluir sobre a

ocorrência de um desastre natural.

Os fenômenos naturais que mais comumente podem resultar em desastres

naturais são:

Subsidências;

Ciclones e furacões;

Page 17: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

15

Deslizamento de terra ou escorregamento;

Erupções vulcânicas;

Incêndios florestais;

Inundações;

Queda de meteoros;

Sismos;

Tempestades de areia, de gelo, de granizo, de raios.

Tornados;

Tsunamis;

Rajadas violentas de vento.

2.1.2 Perigo

É um fenômeno natural que ocorre em épocas e região conhecidas que

podem causar sérios danos nas áreas sob impacto. Assim, perigos naturais (natural

hazards) são processos ou fenômenos naturais que ocorrem na biosfera, podendo

constituir um evento danoso e serem modificados pela atividade humana, tais como

a degradação do ambiente e urbanização (UNDP, 2004). Dessa forma, um

fenômeno atmosférico extremo, como um tornado, que costuma ocorrer em uma

determinada região e época conhecida, gera uma situação de perigo.

2.1.3 Risco

Segundo a ISDR (2004), risco é a probabilidade de ocorrer consequências

danosas ou perdas esperadas (mortos, feridos, edificações destruídas e danificadas,

etc.), como resultado de interações entre um perigo natural e as condições de

vulnerabilidade local. Simplificando-se, risco é a probabilidade (mensurável) de um

perigo transformar-se num desastre.

2.2 Classificação

Os desastres, como um todo, são distinguidos principalmente em função de

sua origem, isto é, da natureza do fenômeno que o desencadeou. De acordo com as

normativas da Política Nacional de Defesa Civil, existem três tipos de desastres:

naturais, humanos e mistos (CASTRO, 1999). Os naturais, que são aqueles

provocados por fenômenos naturais extremos, que independem da ação humana; os

humanos, que são os causados pela ação ou omissão humana, como os acidentes

Page 18: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

16

de trânsito e a contaminação de rios por produtos químicos; e os desastres mistos,

associados às ações ou omissões humanas, que contribuem para intensificar,

complicar ou agravar os desastres naturais. Nessa abordagem, a diferença está

basicamente no nível de intervenção humana. Entretanto, se considerarmos

somente este critério, a grande maioria dos desastres conhecidos como naturais,

seriam de fato desastres mistos.

A avaliação da intensidade dos desastres é muito importante para facilitar o

planejamento da resposta e da recuperação da área atingida. As ações e os

recursos necessários para socorro às vítimas dependem da intensidade dos danos e

prejuízos provocados, conforme a verificação dos dados da tabela seguinte,

adaptada por Kobiyama et al (2006):

Nível Intensidade Situação

I Desastres de pequeno porte (Prejuízo menor que 5% PIB municipal)

Facilmente superável com os recursos do município

II De média intensidade (Prejuízos entre 5% e 10% PIB municipal)

Superável pelo município, desde que envolva uma mobilização e

administração especial. III De grande intensidade

(Prejuízos entre 10% e 30% PIB municipal) A situação de normalidade pode ser restabelecida com recursos locais, desde que complementados com

recursos estaduais e federais. (Situação de Emergência – SE)

IV De muito grande intensidade (Prejuízos maiores que 30% PIB

municipal)

Não é superável pelo município, sem que receba ajuda externa.

Eventualmente necessita de ajuda internacional.

(Estado de Calamidade Pública – ECP)

Tabela 1 – Classificação dos desastres naturais segundo a intensidade

Os desastres de origem natural podem estar relacionados com a dinâmica

interna ou externa da Terra, ou seja, eventos ou fenômenos internos causados pela

movimentação das placas tectônicas, que têm reflexo na superfície do planeta

(terremotos, maremotos, tsunamis e atividade vulcânica); ou de origem externa

gerada pela dinâmica atmosférica (tempestades, tornados, secas, inundações,

ressacas, vendavais, etc).

Outra classificação importante aponta a categoria e o tipo do desastre natural,

com alguma variação entre autores ou centros de pesquisa. No caso deste trabalho,

seguir-se-á a classificação que compreende os eventos mais comuns no cenário

brasileiro, apresentada por Kobiyama et al (2006):

Page 19: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

17

CATEGORIA TIPOS DE DESASTRES

Metereológicos

Furacões, ciclones, tufões Vendaval Granizo Tornado Nevasca Geada Onda de frio Onda de calor

Hidrológicos Inundações Seca / Estiagem Incêndio florestal

Geofísicos

Terremotos Vulcanismo Tsunamis Escorregamentos Subsidências

Tabela 2 – Tipologia dos desastres naturais

2.3 Influência das mudanças climáticas

Nas últimas décadas, tem ocorrido um aumento considerável na frequência

anual de desastres naturais em todo o globo. Conforme dados do EM-DAT (2007), a

média de desastres ocorridos na década de 70 foi de 90 eventos por ano, saltando

para mais de 260 eventos na década de 90 (Figura 10).

Estes números refletem diretamente a elevação na frequência e intensidade

dos desastres causados pelas tempestades severas, como mostrado pela linha azul

na figura a seguir.

Figura 1 – Frequëncia e intensidade de tempestades severas

Page 20: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

18

Dentre os principais fatores responsáveis pelo aumento dos desastres

naturais em todo o mundo cita-se: o crescimento populacional, a segregação sócio-

espacial (aumento das favelas e bolsões de pobreza), a acumulação de capital em

áreas de risco (ocupação da zona costeira), o avanço das telecomunicações

(registro e disseminação de informações) e as mudanças climáticas globais

(MARCELINO et al., 2006).

A comunidade científica tem dado grande ênfase às mudanças climáticas,

como resultado do aquecimento global, principalmente a partir da publicação do 4o

Relatório do IPCC (IPCC, 2007). Esse relatório menciona que no Brasil os desastres

naturais de origem atmosférica tendem a continuar aumentando, com destaque para

as tempestades e os eventos de precipitações intensas sobre as regiões Sul e

Sudeste do Brasil e o agravamento da seca no nordeste e avanço sobre as regiões

norte e centrooeste.

Figura 2 – Índices sulamericanos de precipitação

Na figura acima, estão representadas em azul as áreas onde os índices de

precipitação estarão acima da média (até 20%) no final do século XXI. Em amarelo

estão marcadas as áreas que estarão com deficiência de precipitação. Enquanto

que, em branco são as áreas que estarão com índices na média ou próximo da

média.

Nota-se que a tendência é que aumentem ainda mais os desastres causados

pelas tempestades no sul e sudeste do Brasil, nos meses de verão (DJF), e as secas

no norte, nordeste e centro-oeste nos meses de inverno (JJA), como já demonstram

os dados coletados até então.

Page 21: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

19

O aumento da precipitação nas regiões Sul e Sudeste não aponta

necessariamente para uma boa distribuição anual das chuvas. Pelo contrário, a

tendência é que as precipitações ficarão ainda mais intensas e concentradas, ou

seja, chuvas muito fortes e em poucos dias, como já vendo sendo observado

(LIEBMANN et al., 2004; BOULANGER et al., 2005; GROISMAN et al, 2005;

MARENGO, 2006).

Em Campinas (SP), o número de dias de fortes chuvas (>50 mm/h) tem

aumentado consideravelmente, passando de aproximadamente 12 dias nas décadas

de 60 e 70, para mais de 25 dias na década de 80 e 90 (VICENTE e NUNES, 2004).

Um padrão similar também foi encontrado para a região metropolitana de Curitiba

(PR). Nessa região os índices de precipitação demonstram uma mudança

comportamental a partir da década de 70, com uma elevação significativa no número

de dias com precipitações acima de 40 mm/h (SILVA e GUETTER, 2003). Em Santa

Catarina, também foi observado um aumento considerável de inundações bruscas

(enxurradas) a partir da década de 90, quando os registros ultrapassaram a média

de 23 casos/ano para o período 1980-2003 (MARCELINO et al., 2004).

As inundações bruscas (enxurradas) ocorrem associadas a elevados índices

de precipitação (> 25 mm/h), e são altamente perigosas e destrutivas (DOSWELL et

al., 1996; MARCELINO et al, 2004). Em virtude do aumento das precipitações

intensas, somado aos desmatamentos de encostas, a ocupação das planícies de

inundação, ao assoreamento dos rios e a impermeabilização urbana (asfaltamento

de ruas, construções, etc.), as inundações bruscas em áreas urbanizadas se

tornarão um dos principais problemas ambientais que a região Sul e Sudeste do

Brasil terão que enfrentar para as próximas décadas.

Por isso, em caráter de urgência, é necessário estabelecer medidas

preventivas que minimizem as consequências deste fenômeno, visando sempre à

diminuição do número de pessoas afetadas e vitimadas, objetivo da logística

humanitária, cujos aspectos principais são descritos a seguir.

Page 22: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

20

3 LOGÍSTICA HUMANITÁRIA

Os trabalhos científicos desenvolvidos na área de logística, tradicionalmente

focam a logística empresarial e o setor de serviços, consumidores naturais dos

conceitos logísticos e que fazem desta arte o diferencial competitivo para fazer frente

aos seus concorrentes. Dispor do produto certo, com preço adequado, na

quantidade, local, tempo e qualidade desejada pelo cliente, poderá ser decisivo no

momento de sobreviver à forte concorrência que o mercado impõe.

Razoavelmente, a arte da logística se propõe a conseguir o máximo de

produtividade com o menor custo, organizando meios para alcançar melhores

receitas e a diminuição de perdas. Nesse sentido e verificando o crescimento dos

casos desastrosos que a natureza tem imposto nas últimas décadas, visando à

recuperação da capacidade social e econômica de populações afligidas pelos

desastres naturais, surgiu a necessidade de formar um novo conceito dentro do

ramo logístico: a logística humanitária.

A comunidade internacional tem reconhecido que a magnitude, o número de

pessoas afetadas e a recorrência de desastres produzidos por fenômenos de ordem

natural ou não, têm aumentado. Episódios como o terremoto e o tsunami na Ásia em

2004, os furacões no Caribe e Estados Unidos, os terremotos no Paquistão em

2005, o terremoto na China em 2008, sem deixar de falar dos acontecidos no Brasil,

com as enchentes e deslizamentos ocorridos no sul em 2008, as enchentes no

nordeste em 2009, entre outros, têm demonstrado a vulnerabilidade das sociedades

atuais e evidenciado a necessidade da logística humanitária e o desenvolvimento de

estudos nesta área.

Recentemente, alguns pesquisadores desenvolvem trabalhos científicos

sobre esse novo segmento social-administrativo, ainda com pouca participação de

brasileiros, haja vista para o desconhecimento dos segmentos público e privado dos

números alarmantes que o País possui nas estatísticas internacionais sobre os

desastres naturais, situando-se entre as 10 nações que mais sofreram com os

desastres naturais em 2009, conforme pode ser visto no gráfico abaixo,

disponibilizado pelo Annual Disaster Statistical Review 2009 - CRED (2009).

Page 23: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

21

Figura 3 – Os 10 países com maior número de desastres naturais em 2009

Grandes desafios de pesquisa são apontados na direção da implementação

de processos logísticos sistematizados com foco na logística humanitária,

merecendo destaque o desenvolvimento de tecnologias para os processos

informacionais, bem como das técnicas logísticas apropriadas, que tratem de

aspectos como: recebimento de suprimentos e doações, centrais de assistência

médica e social, locais de abrigo, reconstrução de vias de acesso, etc.

Pesquisas na área de logística humanitária viabilizam, em ocorrências

desastrosas para a sociedade, o uso de conceitos logísticos como contribuição

significativa para o sucesso de uma operação para o restabelecimento das

condições mínimas para a sobrevivência de pessoas e da economia da região

afetada. Neste sentido, grandes desafios são apontados na direção da

implementação de processos logísticos sistematizados, merecendo destaque:

aspectos ligados à infraestrutura, localização de centrais de assistência,

coordenação de processos (pessoas, suprimentos, informações, materiais).

Page 24: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

22

3.1 Conceituação

O conceito de logística humanitária foi desenvolvido a partir dos objetivos da

logística de vencer tempo e distância na movimentação de materiais e serviços de

forma eficiente e eficaz. Esse conceito que vem sendo desenvolvido e aplicado

principalmente em países da Europa e nos Estados Unidos, mas que ainda é muito

recente no Brasil. A logística humanitária é a função logística exercida para

assegurar, com eficiência e eficácia, o fluxo de suprimentos e pessoas com o

propósito de salvar vidas e aliviar o sofrimento de pessoas afligidas por desastres

(adaptado de Thomas, 2004). Tal conceito destaca não somente a eficiência, mas

também a eficácia, ou seja, o auxilio deve chegar ao seu destino na medida certa,

no tempo certo, na qualidade exigida e com o menor custo possível.

Segundo a Federação Internacional da Cruz Vermelha (apud Meirim, 2007):

“Logística humanitária são processos e sistemas envolvidos na

mobilização de pessoas, recursos e conhecimento para ajudar

comunidades vulneráveis, afetadas por desastres naturais ou

emergências complexas. Ela busca à pronta resposta, visando atender o

maior número de pessoas, evitar falta e desperdício, organizar as diversas

doações que são recebidas nestes casos e, principalmente, atuar dentro

de um orçamento limitado.”

3.2 Relações com a logística empresarial

O principal objetivo da logística empresarial é entregar os produtos certos na

quantidade exata aos locais corretos no tempo adequado. Neste sentido, o processo

envolvido abrange todas as atividades associadas com o fluxo e transformação da

mercadoria e informação desde o ponto inicial até o ponto final.

Apesar de a logística humanitária ter semelhanças com a cadeia de

abastecimento comercial, em termos de estrutura e atividades logísticas, a logística

humanitária difere em vários aspectos. O caráter imprevisível, dinâmico e caótico do

ambiente no qual a cadeia de assistência humanitária está inserida é único e tem

características próprias.

As condições enfrentadas no ambiente comercial são diferentes das

enfrentadas por organizações de assistência humanitária. Neste sentido, a logística

Page 25: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

23

humanitária e a logística empresarial apresentam características que levam a

distintas abordagens. Segundo Moore (2000), essas características incluem:

- fontes de renda: as fontes de renda são uma das principais diferenças entre

a abordagem empresarial e a humanitária. No enfoque humanitário, normalmente as

fontes de renda são obtidas por meio de incentivos governamentais, doações

individuais e coorporativas. Na abordagem empresarial, as fontes de renda estão

basicamente relacionadas à venda de produtos e serviços aos clientes. Em geral, as

organizações de assistência humanitária asseguram seus rendimentos de pessoas e

organizações que esperam outros benefícios que não um retorno econômico;

- objetivos: o objetivo principal no enfoque empresarial é obter lucro e

rendimento financeiro satisfatório aos interessados. Por outro lado, a geração de

lucro não deve ser o objetivo principal de uma organização de assistência

humanitária. No entanto, as organizações de assistência humanitária não devem

deixar de se preocupar com o bem-estar financeiro, pois a estabilidade financeira é

fundamental para a realização das missões e sobrevivência das organizações. As

organizações de assistência humanitária devem monitorar seus gastos e cumprir

com o orçamento, mas seu sucesso não pode ser medido financeiramente;

- intervenientes: definidos como qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar

ou ser afetado pela conquista dos objetivos de uma organização. As empresas e as

organizações de assistência humanitária são distintas em termos das características

dos seus intervenientes. As empresas têm um grupo de interesses claramente

definido, normalmente traduzido em termos financeiros. Por outro lado, as

organizações de assistência humanitária não têm fins lucrativos e buscam atender

objetivos de doadores financeiros, destinatários de serviços, funcionários e

voluntários e esses objetivos podem ser heterogêneos.

Thomas (2003) descreve que as condições enfrentadas pelas empresas são

diferentes das enfrentadas em uma situação de emergência. Neste sentido, há

características específicas da logística humanitária que diferem da tradicional

abordagem empresarial. Essas características incluem: as questões ligadas à vida

humana, a inexistência de informações confiáveis e a demanda gerada por eventos

Page 26: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

24

aleatórios, sendo possível a comparação entre os dois modelos de logística pela

interpretação dos dados do quadro abaixo:

PARÂMETROS LOGÍSTICA EMPRESARIAL LOGÍSTICA HUMANITÁRIA

Demanda

Estável e previsível. Ocorre

para locais pré-determinados

e em quantidades conheci-

das e pré-fixadas

É gerada por eventos Alea-

tórios e imprevisíveis, espe-

cialmente sob os aspectos

de tempo, localização, quali-

dade e especificação técnica.

Processa-se por estimativa e

após a ocorrência do de-

sastre.

Lead Time

Determinado nas necessida-

des, desde o fornecedor até

o consumidor final.

É praticamente zero.

Centrais de

Distribuição e

Assistência

Bem definidas em termos de

número e localização

Desafiadoras pela natureza

desconhecida (localização,

tipo e tamanho necessário)

Controle de

Estoques

Utilização de métodos bem

definidos, baseados em Lead

Time, demanda e níveis de

serviço.

Desafiador pela grande va-

riação da demanda e da lo-

calização da mesma.

Sistemas de

Informação

Geralmente bem definidos,

usando alta tecnologia.

Informações com pouca con-

fiabilidade ou até mesmo

inexistentes.

Objetivo Maior qualidade, ao menor

custo.

Salvar vidas e aliviar o sofri-

mento.

Foco Produtos e serviços Pessoas e suprimentos.

Tabela 3 – Características das logísticas empresarial e humanitária

Uma das principais diferenças entre a logística humanitária e a empresarial

está no modelo de demanda. Na logística empresarial, a demanda é relativamente

Page 27: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

25

previsível, ocorre em locais pré-estabelecidos, em intervalos relativamente regulares.

Na logística humanitária, a demanda ocorre de maneira imprevisível, frequentemente

em locais desconhecidos e é estimada após a ocorrência da necessidade.

A estrutura básica de uma missão assistencial é apresentada na figura a

seguir. A análise da referida figura mostra que existem 4 fases distintas (Thomas,

2003):

1. Avaliação: Identificação das necessidades baseada nas características

específicas da ocorrência. Nesta fase são necessários poucos recursos.

2. Organização: Necessidade crescente de recursos, de encontro às

características levantadas na fase de Avaliação.

3. Sustentação: Período de tempo no qual as operações são sustentadas e

os recursos mantidos.

4. Reconfiguração: As operações e recursos são reduzidos até finalizarem

por completo.

Figura 4 – Representação gráfica das fases da logística humanitária

Este ciclo será vivenciado com tempo de resposta diferente para cada

situação emergencial específica. É importante observar que, na maioria dos casos,

existem muitos recursos nas fases 1 e 2, amplamente divulgadas na mídia. No

entanto, na fase 3 pode existir uma carência de recursos devido, principalmente, à

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

Acionamento Avaliação

Organização Sustentação

Reconfiguração

Fases da Logística Humanitária

Page 28: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

26

mudança de foco da mídia, onde o desastre acaba caindo no esquecimento e a

viabilização de recursos é mais difícil.

3.3 Relações com a logística militar

A logística militar é, por definição do Manual de Campanha – C 100-10 –

Logística Militar Terrestre, editado e publicado em 2003, o conjunto de atividades

relativas à previsão e à provisão de recursos humanos, materiais e animais, quando

aplicável, e dos serviços necessários à execução das missões das FA. Para isso,

estrutura-se em funções, atividades e tarefas, como descrito a seguir:

Função logística: é a reunião, sob uma única designação, de um

conjunto de atividades logísticas afins, correlatas ou de mesma

natureza. As funções logísticas são: Recursos Humanos, Saúde,

Suprimento, Manutenção, Transporte, Engenharia e Salvamento.

Atividade logística: é um conjunto de tarefas afins, reunidas segundo

critérios de relacionamento, interdependência ou de similaridade.

Tarefa: é um trabalho específico e limitado no tempo, que agrupa

passos, atos ou movimentos interligados segundo uma determinada

sequência e visando à obtenção de um resultado definido.

Para aproximar as relações entre a logística militar e a logística humanitária, o

elenco de princípios básicos para o desencadeamento da logística militar terrestre é

suficiente para demonstrar a capacidade singular que as forças militares dispõem

para realizar as ações de restabelecimento das condições mínimas às populações

afligidas por desastres naturais. Esses princípios básicos são listados a seguir:

Objetivo - É o efeito final desejado e é definido, normalmente, na

missão. Ele é fundamental. Sem um objetivo claramente definido,

haverá o risco de os demais princípios tornarem-se sem sentido e de

obscurecer a finalidade para dar ênfase ao emprego dos meios.

Continuidade - É o encadeamento ininterrupto de ações, assegurando

uma sequência lógica para as fases do trabalho.

Page 29: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

27

Controle - É o acompanhamento da execução das atividades

decorrentes do planejamento, no sentido de permitir correções e

realimentações, a fim de atingir o propósito estabelecido, com o

sucesso desejado.

Coordenação - É a conjugação de esforços, de modo harmônico, de

elementos distintos e mesmo heterogêneos, com missões diversas,

para a consumação de um mesmo fim.

Economia de meios - É a busca do máximo rendimento, por intermédio

do emprego eficiente, racional e judicioso dos meios disponíveis. Não

implica economia excessiva, mas distribuição adequada dos meios

disponíveis, elegendo-se como prioritário o apoio na área da ação

principal.

Flexibilidade - É a possibilidade de adoção de soluções alternativas,

ante a mudança de circunstâncias.

Interdependência - É a dependência recíproca que a logística mantém

com a Estratégia e a Tática.

Objetividade - É a identificação clara das ações que devem ser

realizadas e a determinação precisa dos meios necessários à sua

concretização.

Oportunidade - É o condicionamento da previsão e da provisão dos

meios ao fator tempo, a fim de que as necessidades possam ser

atendidas de forma adequada.

Prioridade - É a prevalência do principal sobre o secundário ou

acessório.

Segurança - É a garantia do pleno desenvolvimento dos planos

elaborados, a despeito de quaisquer óbices. Consiste nas medidas

necessárias para evitar a surpresa, a observação, a sabotagem, a

espionagem e a inquietação, a fim de assegurar a liberdade de ação do

comandante. Não implica precaução exagerada, nem evitar o risco

calculado.

Simplicidade - É o uso da linha de ação mais simples e adequada ao

desenvolvimento das atividades Log, de modo a serem compreendidas

e executadas com facilidade.

Page 30: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

28

Unidade de comando - É a existência de autoridade e programa únicos

para um conjunto de operações com a mesma finalidade. Uma

eficiente unidade de comando requer uma cadeia de comando bem

definida, com precisa e nítida divisão de responsabilidades, um sistema

de comunicações adequado e uma doutrina logística bem

compreendida, aceita e praticada pelos comandantes em todos os

níveis.

Verificando-se as funções logísticas, também há a total compatibilidade com

os anseios da logística humanitária, com mais propriedade atribuída às funções

logísticas de suprimento, transporte, manutenção, engenharia e salvamento. Cada

uma dessas funções se desenvolve, basicamente, em três fases: determinação das

necessidades, obtenção e desenvolvimento das ações.

Pela característica de iniciar os procedimentos logísticos, a determinação das

necessidades destaca-se das demais, bem como se relaciona diretamente com o

sucesso do percurso das ações logísticas. Nesse particular, o grau de incerteza

sobre os dados logísticos a serem trabalhados nas ações humanitárias,

especialmente urgentes em razão de decorrerem de aflições por desastres naturais,

torna-se o maior e mais desafiador problema.

3.4 Funções logísticas mais apropriadas

Para elucidar a escolha das funções logísticas com maior significação aos

trabalhos humanitários para fazer frente aos desastres naturais, torna-se importante

a reprodução de um cenário característico desses momentos de crise, para o qual foi

escolhido o episódio acontecido em janeiro de 2010, no Haiti. Naquela oportunidade,

estava à frente da Força-Tarefa Norte-Americana o Tenente-General Ken Keen, que

entrevistado pela Revista Diálogo – Forum das Américas (Volume 20 – nº 2 – 2010),

reproduziu o seguinte cenário:

“Esse tipo de situação não permite à operação militar nenhuma

preparação, pois não há aviso do que está para acontecer. Não é como

um furacão, pois você não vê um terremoto chegar. Diferentemente de

uma operação militar, não há sinais que mostrem como uma situação está

se desenvolvendo, o que permite que você se prepare.

Page 31: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

29

A reação imediata é levar tudo que você puder e resolver depois o que

fazer. O principal é salvar vidas e aliviar o sofrimento do povo haitiano. É

simples assim. Isso significa contar com equipes de busca e resgate,

entregar alimentos e água, trabalhar juntamente com as forças da ONU,

que já estão aqui proporcionando assistência humanitária e segurança.

Ficou óbvio para mim que precisávamos de uma Força Tarefa Conjunta e

que ela precisaria ser suficientemente forte para controlar um contingente

tão grande.

A primeira coisa na qual nos concentramos foi reabrir o aeroporto, pois eu

sabia que não poderíamos ajudar os que estavam sob os escombros na

cidade se o aeroporto não estivesse aberto, permitindo que as equipes de

busca e resgate chegassem, que as organizações de ajuda chegassem.

Ele teria que estar operando e permanecer aberto. Para isso,

precisávamos dos melhores pilotos do mundo, o mais depressa possível.

A prioridade agora é obter abrigo para cerca de 700 mil pessoas. Os

acampamentos estão sobrecarregados com 40 mil pessoas, onde não

deveria haver mais de 10 mil. Cerca de um quarto ou um terço da cidade

está reduzida a escombros e você precisa remover os escombros para

que as pessoas possam voltar para suas casas e suas vidas. Em frente

ao Palácio Presidencial há 29 mil pessoas vivendo em cabanas e tendas.

Além disso, precisamos de terrenos para onde as pessoas possam se

mudar e se estabelecer. O governo tem cinco lotes de terra para

assentamentos, onde serão instaladas unidades de tratamento médico e

segurança, para que as pessoas não se sintam sujeitas a gangues e

criminosos nas ruas.”

Diante do cenário haitiano e das preocupações do Ten-Gen Keen, este

estudo verificou as seguintes tarefas logísticas básicas, devidamente relacionadas

às funções logísticas competentes:

TAREFA LOG FUNÇÃO LOG

Fornecimento de água potável

Engenharia Montagem a aprestamento de abrigos

Remoção de escombros em busca de vitimados

Restabelecimento das vias de acesso

Page 32: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

30

TAREFA LOG FUNÇÃO LOG

Restabelecimento dos serviços básicos de água, esgoto, energia elétrica e telecomunicações

Reparação e manutenção de motores ligados aos serviços básicos

Manutenção

Assistência médica e hospitalar Saúde

Fornecimento de alimentos

Suprimento

Fornecimento de medicamentos

Fornecimento de roupas e calçados

Fornecimento de roupas de cama e banho

Fornecimento de material de higiene individual

Coleta, cadastramento e separação das doações

Transporte de suprimentos e doações Transporte

Transporte de feridos

Tabela 4 – Relação entre tarefas e funções logísticas

3.5 Classificação e identificação de suprimentos

3.5.1 Classificação

A classificação de suprimentos visa à identificação, codificação e catalogação

de todos os itens materiais necessários ao processo logístico e constitui-se,

juntamente com a atividade de obtenção dos itens, em fator crítico para o sucesso

da operação logística.

O sistema de classificação é primordial para qualquer área de material, pois,

sem ele, não pode existir um planejamento eficiente de estoques, aquisições

corretas de material e procedimentos adequados nas atividades de armazenamento.

As fontes de consulta sobre a logística e a cadeia de suprimentos tratam o

assunto sob diversas formas, sendo mais comum a classificação pela importância

econômica do item de suprimento, exatamente no foco científico da logística

empresarial. No caso da logística humanitária, é mais próprio classificar os itens

necessários segundo seus atributos de:

Finalidade: qual o tipo de consumo será feito do item material.

Exemplos: alimentação, vestuário, tratamento médico, limpeza

doméstica, construções e reparos, etc.

Mortalidade: qual o tempo previsto para o armazenamento do material

em depósito. Exemplos: alta, média, baixa, cross-docking, etc.

Page 33: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

31

Validade: qual a data especificada para o material ser considerado

como impróprio ou não-recomendável para o consumo.

Perecibilidade: qual a capacidade temporal do material ser

armazenado em depósito.

Inflamabilidade: se o produto é inflamável ou não.

Criticidade: se o material está na linha urgente para uso ou consumo.

3.5.2 Identificação do material

Na administração de uma cadeia de suprimento, mais do que necessário, é

indispensável o reconhecimento sistêmico da origem (de onde veio) e destino (para

onde vai) dos itens. Os processos de recebimento, movimentação, armazenamento

e distribuição não resistem ao desconhecimento da natureza do item de suprimento

sob trabalho logístico.

Diversas técnicas se apresentam para cumprir a finalidade de identificar os

itens de suprimento, com variações significativas de complexidade, tecnologia

aplicada, custo, indexação, presença de dados, mídia utilizada e serialização

controlada. A qualidade da informação com relação à precisão e velocidade de

resposta está intimamente relacionada à complexidade do sistema utilizado. É

possível integrar facilmente toda área de produção, logística a jusante e montante,

bem como distribuição “picking”, utilizando apenas o padrão de identificação.

Page 34: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

32

4 TECNOLOGIAS DE APOIO

As tecnologias de apoio são materiais, equipamentos e sistemas que foram

pensados e desenvolvidos para servir ao aprimoramento ou à redução de perdas de

desempenho em processos ou procedimentos.

No caso específico da logística, o desenvolvimento tecnológico processa-se

especialmente para impor o máximo de velocidade aos processos e procedimentos,

garantindo a eficácia, a eficiência e o menor custo para as organizações que

investem no uso das novas tecnologias, transformando o potencial tecnológico em

vantagem competitiva para ganhar ou manter-se no mercado, cada vez mais

exigente de menores preços e níveis de serviço com o máximo de excelência.

Os mecanismos intrínsecos de expansão social e econômica apressam a

difusão das tecnologias, que podem gerar ou veicular todas as formas de lucro. Por

isso há interesse em ampliar o alcance da sua difusão, para poder atingir o maior

número possível das pessoas economicamente produtivas, isto é, das que podem

consumir.

Mas o objetivo não se distancia do lucro. Tanto as tecnologias como os

serviços que elas propiciam crescem pela organização empresarial que está por trás

e que as torna viáveis numa economia de escala. Em outras palavras, quanto maior

a expansão no mercado, as novas tecnologias tornam-se mais baratas e, com isso,

mais acessíveis.

Nesse sentido, desenvolver tecnologias para emprego em processos ou

procedimentos não-empresariais, eminentemente filantrópicos ou assistenciais, é

economicamente inviável e não desperta o interesse de pesquisadores e indústrias

de artefatos tecnológicos. A solução se mostra em prospectar a adaptação de

algumas dessas novas tecnologias para o uso em atividades assistencialistas.

A seguir, serão elencados alguns exemplos de novas tecnologias aplicáveis

na logística humanitária.

4.1 RFID

Apesar do seu grande potencial de aplicação em diversos segmentos, o uso

do RFID (Radio Frequency Identification) - Identificação por radiofrequência - se

mostra ainda num estágio inicial de adoção pela logística das organizações

Page 35: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

33

brasileiras. Mesmo assim, baseado em recentes informações específicas a respeito

do uso e aplicabilidade desta tecnologia, observa-se uma movimentação

considerável no interesse de adoção desta tecnologia, incentivada pelo segmento

varejista, de forma geral, devido à necessidade de maior integração, flexibilidade,

precisão e controle nas suas operações.

A RFID consiste num sistema como um todo, e não num produto isolado.

Esse sistema utiliza espectros eletromagnéticos para transmitir informações sem

contato e sem linha de visão (Miller, 2000).

A RFID também pode ser definida como uma tecnologia de identificação que

utiliza a radiofrequência para o intercâmbio de dados, permitindo realizar

remotamente o armazenamento e recuperação de informações usando um

dispositivo chamado de etiqueta de rádio-identificação, um pequeno objeto que

poderá ser afixado a ou incorporado em um produto, bem ou até num ser vivo

(Stanton, 2004).

Figura 5 – Portal de RFID na entrada de um armazém militar

Usada predominantemente em ambientes de armazenamento, a tecnologia

RFID utiliza uma etiqueta inteligente, também chamada de smart-tag, e-tag, ou

simplesmente tag, dotada de um microchip capaz de armazenar uma quantidade

limitada de informações. A tag comunica o seu conteúdo de dados por intermédio de

um link de radiofrequência, onde uma antena realiza a leitura e o identifica,

utilizando-se de uma aplicação computacional conhecida como middleware.

Page 36: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

34

Em relação ao sistema de código de barras, a tecnologia RFID ganha em

precisão e agilidade, uma vez que diversos objetos podem ser identificados ao

mesmo tempo, dispensando a leitura dos Tags individualmente, proporcionando

maior visibilidade, velocidade no rastreamento e sincronização da cadeia de

suprimentos, com total confiabilidade.

4.2 Barracas

A montagem de um acampamento para abrigar as pessoas vitimadas pelos

desastres naturais é um trabalho que requer o máximo de conforto, proteção,

aproveitamento dos espaços, mobilidade das pessoas no interior e no exterior dos

alojamentos, com o mínimo de tempo, esforço e custo para a operação humanitária.

Figura 6 – Acampamento montado para as vítimas do terremoto no Haiti

Na atualidade, as barracas de uso militar e civil apresentam-se às demandas

com alta tecnologia, permitindo o melhor atendimento das pessoas a serem

abrigadas, com baixo custo e facilidade de montagem. O ganho logístico das

barracas modernas está na compactação do material, o baixo custo e a leveza, o

que facilita os procedimentos de aquisição, manuseio e transporte.

4.3 Tanques plásticos para água e combustível

Um dos grandes problemas decorrentes dos desastres naturais é o

comprometimento da qualidade de suprimentos líquidos armazenados em tanques

subterrâneos, como é o caso de cisternas e tanques de combustível.

Page 37: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

35

Figura 7 – Tanque para tratamento e armazenagem de água

Para resolver este tipo de problema, algumas indústrias de lonas e plásticos

desenvolveram soluções extremamente práticas e portáveis para armazenar água

potável e combustíveis, sendo que alguns desses reservatórios dispõem, inclusive,

de bombas para fornecimento.

4.4 Sistemas de Comando, Controle e Acompanhamento

O Sistema de Gestão Humanitária Abastecimento (SUMA) foi desenvolvido

como um esforço conjunto dos países da América Latina e Caribe, com a

cooperação técnica da Organização Pan-Americana e do Escritório Regional para as

Américas da Organização Mundial de Saúde. A significativa contribuição financeira

para viabilizar o projeto do sistema foi fornecida pelos governos dos Países Baixos,

Inglaterra, Estados Unidos, Canadá e Alemanha, além do Serviço Europeu para os

Assuntos Humanitários, ECHO. O objetivo principal do sistema é melhorar a gestão

da assistência humanitária, através do reforço das capacidades nacionais para a

gestão eficaz de suprimentos, permitindo que estes materiais cheguem no tempo

hábil e eficaz para ajudar a população afetada.

O Sistema de Apoio Logístico (LSS) foi criado para expandir a experiência do

SUMA no ambiente internacional, promovendo uma interface global para servir às

agências e ONGs especializadas em assistência humanitária, assim como regulando

as doações de pessoas e países. Para a criação do LSS, foram realizadas três

reuniões, patrocinadas pelas organizações: WFP, OCHA, WHO e PAHO,

Page 38: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

36

concentrando o expertise de mais de 50 peritos da ONU e das ONGs para definir os

parâmetros da ferramenta.

Figura 8 – Símbolo do LSS

O LSS proporciona um importante auxílio na administração dos suprimentos

que chegam ao ponto de entrada da cadeia de assistência, bem como dos

suprimentos que estão nos armazéns. O sistema tem a capacidade de registrar

doações, entregas, pedidos e oleodutos, bem como a troca de informações entre

locais diferentes. Além disso, o sistema pode consolidar ações, em modo pipeline, o

rastreamento de suprimentos fornecidos pelas agências e pelas ONGs, usando

arquivos de Excel simples.

Na gestão assistencialista dos desastres, um dos principais problemas é

identificar, com precisão e oportunidade, quais os suprimentos de ajuda chegaram,

onde foram armazenados, e como eles serão úteis. Muitas vezes, os doadores bem-

intencionados, mas desinformados, enviam itens que não são particularmente úteis,

dada a natureza da emergência, bem como as condições no terreno.

Estritamente falando, este é um problema técnico, mas tem sérias

repercussões para a implementação da assistência às vítimas, quando se leva em

conta os seguintes aspectos:

Com demasiada frequência, os espaços requeridos para o

armazenamento, transporte e recursos humanos dedicados às ações

de assistência são escassos e, portanto, devem ser alocados de forma

tão eficiente quanto possível;

As informações técnicas sobre os suprimentos que chegam aos postos

de coleta, na maioria das vezes não existe, tornando mais difícil a

tarefa de distribuir esses suprimentos;

Os doadores e os meios de comunicação recebem a impressão

negativa dos esforços de gestão, muito em função dos defeitos do

Page 39: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

37

pouco controle ou regulação nos momentos de divulgar as

necessidades e de coletar as ajudas materiais.

4.5 Centro Móvel de Computação

O Centro Tecnológico do Exército desenvolveu o projeto do Módulo de

Telemática Operacional (MTO) para a comunicação de dados, voz e imagens em

situações operacionais. Todo o módulo foi construído para ser operado remotamente

ou embarcado na Viatura de Comando e controle (VCC), desenvolvida dentro do

projeto e visa a proporcionar flexibilidade e robustez às comunicações das

operações militares.

O MTO providencia as comunicações via rádio, com integração à rede pública

de telefonia fixa ou celular, transmissão de vídeo a dezenas de quilômetros, acesso

à Internet com até 100 km de distância da base de operações, emprego de

tecnologia VoIP e integração a qualquer cenário remoto através de sistemas de

comunicações via satélite.

As MTO permitem o uso de:

Rádios HF, VHF e UHF;

Modem ADSL e DSLAM;

Integração de voz via rádio/fio/celular;

Rede sem fio 802.11 a/b/g;

Repetidoras 802.11 a/b/g com painéis solares;

Voz sobre IP;

Geradores a diesel com supressão de ruído;

Rotas de comunicações redundantes;

Seleção automática da rota mais eficiente;

Transporte em aeronave C-130

Page 40: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

38

5 PROPOSTA DOUTRINÁRIA

5.1 Sistema Integrado de Ajuda Humanitária - SIAH

O detalhamento técnico e tecnológico de sistemas de informação em

plataforma computacional não é parte dos objetivos traçados para esta Monografia,

mas algumas características do Sistema Integrado de Ajuda Humanitária merecem

ser apresentadas, haja vista para a imprescindibilidade de suas funções no

desenvolvimento das partes técnicas e logísticas das operações de suprimento

voltadas à assistência humanitária prestada nos casos de desastre natural, assim

como para conduzir o raciocínio dos leitores a despeito de um sistema de

informações que ainda não existe de fato.

Trata-se de um sistema de informações com a finalidade de prover

transações, consultas e relatórios nos níveis operacional, tático, gerencial e

estratégico, funcionando em plataforma web e com módulos desenvolvidos

especificamente para todas as áreas de atuação da logística humanitária, das quais

destacam-se neste trabalho as atinentes à atividade de suprimento, como descrito a

seguir:

Levantamento das necessidades;

Recebimento das doações;

Administração das necessidades;

Transporte e reunião dos suprimentos;

Distribuição aos postos de atendimento;

Distribuição e emprego nos postos de atendimento;

Controle e prestação de contas;

Cadastro de melhores práticas.

5.2 Ação dos elementos avançados

No momento em que a operação de assistência for acionada, um escalão de

pessoas e equipamentos deverá partir na direção da área afetada, com o objetivo de

levantar os dados mais próximos sobre o acidente para firmar o planejamento final e

providenciar o ajuntamento de meios para desencadear efetivamente os trabalhos

logísticos.

Page 41: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

39

Uma característica que marca a atualidade dos meios de comunicação é a

divulgação, em tempo real, dos fatos mais importantes ao conhecimento da

sociedade. Acontece que a tradução dos fatos em notícias empobrece o processo

informacional, quando a inteireza é desfeita para valorizar os aspectos que mais

comovem e prendem a atenção dos leitores ou dos telespectadores. Dessa forma,

usar os dados midiáticos como base para o planejamento pode ser considerado

como um grave erro, demandando a presença de elementos técnicos para verificar e

constatar as reais necessidades logísticas para a operação de apoio.

Os dados mais relevantes ao conhecimento dos agentes avançados são os

seguintes:

número aproximado de desabrigados;

instalações aproveitáveis para armazenagem de itens;

existência de portos ou aeroportos próximos da área atingida;

comprometimento das forças de segurança locais;

O levantamento prévio dos dados relativos ao desastre deve ser realizado

para determinar a situação da emergência, bem como a capacidade administrativa e

logística local de atuar em socorro das vítimas, providenciando dados e informações

relativas a dois momentos de extrema relevância:

Avaliação imediata: conduzida durante os primeiros dias após o

desastre e deve fornecer a base para a concessão da ajuda

humanitária, com os primeiros dados relativos às vítimas, ao desastre e

às condições de trânsito e acesso à área de operações, bem como

levantar as possibilidades de elementos locais de reagir ao desastre.

Outro objetivo desse levantamento prévio é o de substanciar o pedido

de recursos para desencadear a operação de logística humanitária.

Avaliação detalhada: conduzida entre a segunda e a terceira semana

de operações e deve fornecer informações mais específicas e

completas sobre as necessidades das vítimas e dos trabalhos de

recuperação das condições mínimas de sobrevivência e desempenho

econômico da região afetada pelo desastre.

Avaliação de continuidade: conduzida a partir da quarta semana de

operações e deve avaliar a evolução do diferencial entre as

Page 42: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

40

necessidades e as possibilidades locais, auxiliando as autoridades

demandantes no processo de determinação sobre a continuidade ou o

encerramento das operações.

Os agentes avançados devem decidir sobre o método de coleta dos dados,

utilizando os processos de: discussões de grupo, entrevistas individuais, entrevistas

domiciliares, reuniões com líderes locais, representantes de comunidade,

representantes de industriários, comerciários ou entidades de classe.

Os relatórios relativos aos levantamentos devem ser endereçados ao

Comando-Geral e ao Comando Logístico da operação humanitária, bem como para

outras autoridades e organizações que demandarem ou solicitarem participar da lista

de distribuição dos documentos de operações. Os cabeçalhos deverão detalhar:

O tipo de avaliação realizada.

Os nomes e funções dos membros da equipe de levantamento,

incluindo sexo, idade e experiência.

Os locais visitados, incluindo o nome e função das pessoas

entrevistadas.

As perguntas realizadas nas entrevistas.

A consolidação das respostas e a percepção técnica sobre os dados e

informações levantadas, com emissão de parecer às autoridades-

clientes do relatório.

No levantamento das informações prévias, é importante o uso de um roteiro

de perguntas para obter o máximo da realidade do fato e os dados mais relevantes

para o estudo logístico que demandará as necessidades iniciais do suprimento para

mobilizar e deslocar para a área da operação logística humanitária, sugerindo-se

providenciar respostas para as seguintes perguntas:

Para levantar a situação da emergência:

o Qual o tipo e natureza do desastre?

o Quando ocorreu, precisamente, o desastre?

o Onde, precisamente, o desastre promoveu os danos?

o O governo local dispõe de cartas, levantamentos topográficos ou imagens

de satélite da área afetada?

o O governo local dispõe de estrutura organizada para atuar na defesa civil e,

Page 43: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

41

caso positivo, qual a capacidade dessa estrutura para fazer frente aos

danos do desastre em curso?

Para levantar a situação da população afetada:

o Quais os dados populacionais da região afetada pelo desastre natural,

especializando os números relativos às pessoas e famílias, como sexo,

idade, condição econômica e a média de pessoas por residência familiar?

o Qual o número estimado de pessoas afetadas, incluindo mortos, feridos e

desaparecidos? Se possível, os dados devem retratar o sexo, idade e

condição econômica das vítimas, bem como o percentual de participação

em relação ao total de pessoas vitimadas.

o Há outros órgãos agindo para o alívio dos danos causados pelo desastre

na área e, caso positivo, quais as ações, em quais segmentos operativos e

qual a parcela da população beneficiada?

o Há estoques de suprimentos disponíveis, planejados e em recebimento

para utilização no local da operação?

o Quais os métodos e meios de coleta de necessidades estão sendo

utilizados pelos demais órgãos em ação na área?

o Qual o número de pessoas, especializado por sexo e idade, que

demandem necessidades específicas, como crianças não acompanhadas,

pessoas portadoras de deficiência física, doentes crônicos, pacientes

internados portadores de doenças infecto-contagiosas, famílias compostas

de idosos, mulheres grávidas, lactantes e crianças órfãs?

o Existem questões sociais dividindo a população atingida?

o Houve partes da população que sofreram maiores danos em relação às

demais?

o Qual a situação da população em relação aos indicadores de emergência1

listados abaixo?

CRITÉRIO NÍVEL DE EMERGÊNCIA

Taxa de mortalidade Maior que 2/10000 por dia

Estado nutricional das Mais do que 10% com peso abaixo da relação peso-

1 Fornecido pelo Sphere Handbook e pelo UNHCR Handbook for Emergencies (2007). Este conjunto de indicadores tem reconhecimento internacional para validar a necessidade do desencadeamento de operações de natureza humanitária para as forças de segurança das Nações Unidas.

Page 44: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

42

CRITÉRIO NÍVEL DE EMERGÊNCIA

crianças altura ou peso-idade

Alimentação Menos de 2100 calorias/pessoa/dia

Quantidade de água potável

Menor do que 7,5 litros/pessoa/dia

Qualidade da água Mais do que 25% das pessoas com diarréia

Espaço local Menos do que 30 m2 por pessoa

Espaço para abrigo Menos do que 3,5 m2 por pessoa

Não consumíveis Menos do que um kit completo de roupas, roupa de cama, sabão e utensílios de cozinha por pessoa

Tabela 5 – Nivel de emergência para avaliação de desastres naturais

Coleta de sugestões:

o Quais as necessidades sugeridas pela população nas seguintes áreas:

Proteção

Água potável

Higiene e saneamento básico

Nutrição e alimentos

Não consumíveis

Abrigos, seleção e preparação do local

Saúde

Apoio psicossocial

Segurança

Educação

Ambiente

Desenvolvimento econômico e meios de subsistência

5.3 Determinação das necessidades

Os estudos logísticos feitos sobre os dados inicialmente levantados

conduzirão, para a mobilização e os primeiros movimentos de pessoas, materiais e

equipamentos, as necessidades estimadas para a operação de ajuda humanitária. E

nesse particular avulta-se a importância de prever o apoio na forma mais justa e

próxima da real necessidade, pois os desvios na justeza implicarão no desperdício

de recursos ou na incapacidade logística de prestar o apoio solicitado.

Em operações de logística humanitária desenvolvidas em socorro a pessoas

atingidas por desastres naturais, relacionam-se com a determinação das

necessidades as seguintes condicionantes: o tipo de desastre ocorrido; o tempo de

Page 45: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

43

resposta exigido; o nível de preparação das forças locais, regionais e federais para

lidar com o desastre ocorrido; e as informações específicas sobre o fato ocorrido.

Os desastres naturais, segundo os maiores ou menores prejuízos que

causam à sociedade no local afetado, determinam o tipo de apoio, o tempo de

resposta e a previsão do tempo de permanência do apoio logístico que será

prestado, como descrito no quadro abaixo:

TIPO DE DESASTRE TIPO DE OPERAÇÃO APOIO NECESSÁRIO

Terremoto Furacão

Deslizamento Enxurrada Tsunami

Rápida

Provimento emergencial de comida, abrigo e serviços para as vítimas do desastre

Seca Enchente Inundação Estiagem

Lenta

Desenvolvimento de ativi-dades ou trabalho de aju-da contínua, visando ao restabelecimento da auto-suficiência e sustentabi-lidade da comunidade atingida

Tabela 6 – Categorização das operações de logística humanitária

Adaptado de Wassenhove (2006)

Os trabalhos de auxílio às pessoas atingidas por desastres naturais,

principalmente os desastres que imponham prejuízos e sofrimentos maiores,

desenvolvem-se em 5 fases distintas, caracterizadas por diferentes níveis de

emprego de materiais e recursos, como pode ser visto no gráfico abaixo:

Mobilização

Iniciação

Desenvolvimento / Sustentação

Encerramento

Desmobilização

Para cada uma dessas fases é necessária uma condição relativa aos

suprimentos de apoio, assim como sugere-se o aprestamento dos postos de

assistência seguindo as mesmas características relativas à fase de apoio, conforme

previsto na figura abaixo:

Page 46: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

44

Figura 9 – Diagrama de fases para implantação dos postos de atendimento

O resultado do estudo logístico apontará o número de postos de atendimento

a serem desdobrados, bem como os números logísticos relativos a cada um dos

postos, como a quantidade estimada de pessoas que serão atendidas, o material

necessário ao desdobramento, o perfil de atendimento e a relação especificada do

material e suprimentos para iniciar o serviço. Todo esse inventário evoluirá com o

funcionamento dos postos, especialmente o perfil de atendimento, de acordo com as

fases previstas no planejamento logístico.

Para a iniciação dos postos de atendimento, serão mobilizados e deslocados

para a área de atuação todos os recursos pessoais e materiais julgados necessários

ao desdobramento desses postos. Assim que esses recursos chegarem aos locais

preconizados para cada posto, ocorrerá o desembarque e descarregamento,

seguido do esforço de montagem da estrutura dos postos. A prioridade de

INICIAÇÃO

ENCERRAMENTO

D

E

S

E

N

V

O

L

V

I

M

E

N

T

O

Page 47: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

45

montagem deverá beneficiar a antecipação doa abrigos, instalações da

administração, instalações sanitárias, reservatórios para água e o posto médico,

tendo em vista que a população afetada pelo desastre natural está aflita e atordoada

pelas baixas e pelo sofrimento, além de ter percebido a chegada da força de auxílio,

aumentando a urgência em providenciar os primeiros trabalhos de ajuda

humanitária. Nesse sentido, uma parte do escalão inicial para colocar cada um dos

postos em funcionamento deverá ter doutrina, material e suprimentos para, de forma

organizada e em distância aproximada de 200 metros do limite da área prevista para

o desdobramento do posto, iniciar o trabalho efetivo de ajuda humanitária, saneando

as primeiras necessidades da população e melhorando o espaço para manobrar os

recursos e montar eficientemente o posto de atendimento.

Nos dois primeiros dias de funcionamento dos postos de atendimento, todas

as pessoas sob a responsabilidade logística do posto (apoiadores e apoiados) serão

alimentados com rações humanas operacionais e de salvatagem. O fornecimento de

rações quentes requer o deslocamento de gêneros alimentícios secos, refrigerados e

frigorificados, os quais demandam grandes pesos e volumes, além do pesado

esforço para a mobilização e para o transporte desses suprimentos.

Outro detalhe que não perde de importância em relação aos demais é a

segurança alimentar, tendo em vista as possibilidades de contaminação,

características dos espaços expostos nas áreas afetadas por desastres naturais,

com o comprometimento das redes de esgotos, abastecimento de água, animais

mortos, o trânsito descontrolado de roedores, o contato do ar com as chagas dos

feridos e a decomposição de pessoas e animais mortos.

Para os abrigos, serão necessárias as instalações fixas aproveitáveis,

segundo o levantamento dos elementos avançados, complementadas pela

montagem de barracas militares e civis.

O atendimento médico necessitará, também, de instalações fixas

aproveitáveis e da complementação com a montagem de barracas militares. Uma

parte dessas barracas militares será utilizada com a finalidade específica de montar

os postos de triagem de feridos e outra parte deve ser utilizada para conter os

corpos dos falecidos. O esforço inicial é por curativos , imobilizações e tratamento

específico para pessoas em choque. Os pacientes mais graves devem ser

prontamente evacuados para centros médicos próximos.

Page 48: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

46

5.4 Mobilização e deslocamento

A mobilização dos recursos é decorrente das necessidades levantadas e do

estudo logístico feito sobre esses dados, mas no caso da logística humanitária esse

trabalho de mobilização é contínuo e dinâmico, adequando-se constantemente à

evolução do apoio nos diversos postos desdobrados.

No caso das operações de logística humanitária, a cadeia de mobilização e

suprimento é montada a cada evento, normalmente motivada pela divulgação feita

pela imprensa local, regional, nacional, continental e até mundial. Quanto maior a

amplitude das distâncias entre o fornecedor e o consumidor da cadeia de assistência

humanitária, maior é a importância do trabalho de coordenação dos esforços de

mobilização e de suprimento, até para fazer com que materiais desnecessários não

sejam coletados e transportados, comprometendo o transporte de cargas realmente

necessárias.

Nesse sentido, dez aspectos merecem relevância especial:

1o) cada um dos postos de atendimento deve manter, durante todo o período

de operações, o esforço em levantar as necessidades reais e imediatas, lançando-as

no SIAH – Sistema Integrado de Ajuda Humanitária;

2o) o site internet do SIAH deverá informar o que está sendo solicitado no

local de operações (materiais e suprimentos necessários), bem com os locais para

onde deverão ser encaminhados os materiais doados;

3o) os pontos de coleta deverão receber as doações e registrá-las no SIAH,

de maneira que as necessidades e as disponibilidades sejam reajustadas.

Esclarecendo-se esses procedimentos, os potenciais doadores saberão, on line, das

potenciais necessidades. As doações serão encaminhadas, diariamente, ao centro

de recebimento mais próximo;

4o) os centros de recebimento deverão encaminhar, diariamente, os

suprimentos ao Centro de Distribuição;

5o) os potenciais doadores que não se encontrem próximos aos postos de

coleta poderão participar da cadeia de assistência pela forma financeira, doando

recursos diretamente à conta bancária aberta para a operação;

Page 49: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

47

6o) os materiais necessários e que não tenham sido coletados nas doações,

serão adquiridos pela equipe administrativa da operação, cuja entrega será

especificada para o Centro de Distribuição;

7o) as necessidades serão atendidas por consolidação logística relativa aos

postos de atendimento;

8o) dentro das possibilidades reais, as necessidades dos postos de

atendimento serão atendidas com a destinação especificada diretamente às

pessoas, facilitando o trabalho de separação no final da cadeia de assistência, ou

seja, a efetiva distribuição à população atingida pelo desastre natural;

9o) a prioridade no uso dos recursos para atender às necessidades logísticas

da operação deverá atender a seguinte ordem:

(material adquirido) = (necessidade) – (material doado)

(recursos orçamentários) = (necessidade de aquisição) – (recursos doados)

10o) o grande esforço da operação é para salvar vidas e aliviar o sofrimento

das pessoas, mas a possibilidade de prestar contas sobre o que foi feito e,

principalmente, adquirido não deve ser jamais esquecida ou negligenciada.

5.5 Processos e sistemas para apoio e divulgação

Os órgãos de mídia que desenvolvem trabalhos jornalísticos em jornais,

televisão e rádio têm a capacidade de interagir pronta e positivamente com o

sucesso das operações logísticas humanitárias. Pelo alcance das mensagens

divulgadas nas reportagens sobre os desastres naturais, os esforços de mobilização

e da manutenção dos processos de suprimento podem ser coordenados para

acontecer com a máxima eficiência e brevidade.

Pela voz da imprensa, a população afetada pelos desastres naturais pode

conhecer os locais onde estão sendo concentradas as ajudas humanitárias; pode ter

conhecimento das notícias atualizadas sobre a evolução da periculosidade e riscos

das áreas e zonas da região afetada; pode receber instruções de como salvar uma

pessoa que ainda espera pela chegada de socorro; pode conhecer as necessidades

dos postos de atendimento em especialidades profissionais e humanitárias; e muitas

outras informações de utilidade ao alívio do sofrimento e ao trabalho específico de

salvar e zelar pela vida das pessoas.

Page 50: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

48

Mas a divulgação do endereço eletrônico do site do SIAH e o estímulo para

que as pessoas interessadas em ajudar façam uso das informações e orientações

do site é a melhor oportunidade para conjugar esforços com a mídia.

Esses e outros trabalhos de função midiática podem e serão melhor

realizados pela ação profissional de uma Assessoria de Imprensa ou de uma Seção

de Comunicação Social, orgânica da Força Militar responsável pela operação

logística humanitária.

5.6 Sistemática para recebimento e concentração de itens de suprimento

A definição da sistemática que conduzirá o recebimento e concentração de

suprimentos necessários à logística humanitária requer que antes sejam definidas a

amplitude e os meios da rede de transporte, assim como a localização e capacidade

técnica dos locais especificados para coletar e concentrar o material recebido.

Consoante com a estratégia de manter o mínimo de suprimentos estocados

nos postos de atendimento e o máximo no Centro de Distribuição, permitindo

gerenciar os suprimentos com maior eficiência, a estrutura básica para o

recebimento dos itens específicos da cadeia de suprimento humanitário deve prever:

Os Postos de Coleta de Doações: organizações militares das Forças

Armadas, Polícias Militares, Corpos de Bombeiros Militares, Aeroportos

sob administração da Infraero e outras organizações cadastradas,

habilitadas, localizadas dentro da área tributável para a mobilização da

operação logística em curso e devidamente divulgadas no site internet

do SIAH. Cumprem o papel de receber a doação de pessoas e

empresas, unitizar e deslocar o material recebido ao Centro de

Concentração ao qual estiver diretamente ligado.

Os Centros de Concentração: organizações militares de suprimento

das Forças Armadas. São responsáveis por receber o material dos

Postos de Coleta, classificar e unitizar o material para transporte e

estabelecer as ligações técnicas com a rede de transportes para o

deslocamento do material até o Centro de Distribuição.

O Centro de Distribuição: instalação de armazenagem desdobrada na

proximidade da área de operações, apoiado a cavaleiro de grandes

eixos rodoviários de transporte e com ligações facilitadas aos Postos

Page 51: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

49

de Atendimento. É responsável por receber, desconsolidar e

reconsolidar o material transferido pelos Centros de Coordenação, bem

como os materiais adquiridos pela administração da operação logística.

A reconsolidação do suprimento em novas cargas será feito segundo a

programação e necessidade dos Postos de Atendimento, aliviando a

necessidade de instalações especializadas para o armazenamento de

materiais, diminuindo as possibilidades de contaminação de gêneros

alimentícios e de artigos para o uso em tratamentos médicos e

ambulatoriais.

Os Postos de Atendimento: instalação com baixa capacidade de

armazenagem, estocando material para uso em, no máximo, dois dias.

Recebe o material do Centro de Distribuição, desconsolida e organiza

a carga e faz a entrega dos itens às diversas equipes de trabalho

restritas ao seu desdobramento.

5.7 Realimentação informacional

Os procedimentos informacionais são extremamente importantes para a

logística, tendo em vista que a movimentação dos itens ao longo da cadeia de

suprimentos acontece com base no processamento das informações logísticas.

Dentro do modelo estabelecido nesta proposta doutrinária de atuação, o

processo informacional deverá caminhar nos dois sentidos da cadeia de

suprimentos, de maneira que o elo anterior conheça o estoque do elo posterior e

possa planejar e especificar a próxima distribuição, bem como o elo posterior

conheça o estoque do elo anterior e possa planejar e especificar o próximo pedido.

Simplificadamente, o esquema do trânsito de informações e materiais pode

ser verificado na figura abaixo.

Page 52: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

50

Figura 10 – Diagrama de fluxo de materiais e informações

5.8 Controle dos processos

Como os trabalhos de assistência humanitária desenvolvem-se em ambientes

colaborativos, não são poucos os procedimentos que deixam a área de atuação dos

gestores para acontecer em ambientes sujeitos à vontade popular, como é o caso

das doações, cujo controle é de baixo impacto na eficiência ou na eficácia.

As ações dos gestores voltam-se, então, para acompanhar o desenvolvimento

desses processos e, seguindo os princípios técnicos e da oportunidade, para

comandar a realização de procedimentos alternativos, desta vez, utilizando um

ambiente de recursos sob a ingerência e competência exclusiva dos gestores.

Exemplificando-se o controle das vias de processo, as necessidades

logísticas partem da constatação feita pelas equipes técnicas de cada um dos

postos de atendimento, passam pela consolidação dos gestores dos postos de

atendimento e depois pela consolidação do Centro de Distribuição. Essas

necessidades serão inseridas no site de doações da internet e, por um período não-

superior a 24 horas, estarão à disposição dos doadores para conduzir as suas

doações. Encerrado o prazo disponível para as doações, a diferença não doada será

passada aos elementos administrativos de obtenção, que terão outras 24 horas para

providenciar a integralização das necessidades e a disponibilização do material para

a distribuição aos postos de atendimento.

Page 53: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

51

A importância do trabalho de controle e acompanhamento dos processos

logísticos da assistência humanitária relaciona-se com a manutenção da atividade

nos postos de atendimento e, consequentemente, com o bem-estar das pessoas

atendidas nesses postos e até mesmo com a continuidade das vidas dessas

pessoas.

5.9 Prestação de contas

O Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC, por intermédio do Decreto no

7.257, de 04 de agosto de 2010, dispõe normas especificando a prestação de contas

sobre os recursos transferidos para as ações de socorro, assistência às vítimas,

restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução das áreas atingidas por

desastres naturais. O foco para a verificação e auditoria dos recursos empregados

restringe a prestação de contas especificamente relativa aos créditos orçamentários

repassados pela Secretaria Nacional de Defesa Civil, como integrante do Ministério

da Integração Nacional.

Para os recursos financeiros e materiais doados, ainda não existe

normatização específica. A proposta neste caso é, tratando-se dos recursos

financeiros, apropriar o numerário recebido para uma conta do Tesouro Nacional e

somá-lo aos recursos recebidos do SINDEC, de maneira a uniformizar a prestação

de contas de todos os recursos recebidos para a ajuda humanitária, independente

da fonte dos recursos. Quanto às doações em material, o inventário de todos os

itens recebidos comporá o processo de prestação de contas dos recursos

financeiros e as eventuais sobras serão recolhidas a uma das unidades militares de

suprimento das Forças Armadas, onde deverão permanecer até que um outro

evento catastrófico apresente a necessidade de sua utilização.

Propõe-se, também, que um Conselho de Personalidades Locais seja

composto para analisar os dados lançados no processo de prestação de contas da

operação logística humanitária, atribuindo o máximo de transparência aos gastos

financeiros e à utilização do material, tudo do interesse e da utilidade pública.

Page 54: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

52

6 CONCLUSÃO

As relações da humanidade com o meio-ambiente estão cada vez mais

tensas e os prejuízos para ambos os lados, em razão da eficiência alcançada pelos

meios e processos de comunicação, tornam-se visíveis, constatados, contabilizados,

trabalhados e apontados, mas os mecanismos de resolução dos conflitos entre o

homem e a natureza ainda não conseguem o almejado sucesso.

Se o homem, na busca frenética e inconsequente pelo desenvolvimento,

agride fortemente a natureza, não passa esse processo de agressão impunemente,

haja vista para os significativos prejuízos impostos pelos desastres naturais,

mecanismo que a natureza encontrou para manifestar que não está satisfeita com a

forma pela qual tem sido tratada pelo homem.

Evidenciado o problema, mas trazendo o foco para a solução, os atuais

embates deixam significativas baixas para trás, que devem ser corrigidas para o

restabelecimento da normalidade para ambos os lados. Os diversos órgãos,

organismos e agências responsáveis pelo meio-ambiente atuam na recuperação das

características anteriores à ação do homem, recompondo a cobertura vegetal por

intermédio de reservas ambientais, garantindo a manutenção dos cursos d‟água pela

proteção das nascentes, dentre inúmeras ações de proteção e recuperação do meio-

ambiente.

Pelo lado humano, as ações reparadoras variam de acordo com a capacidade

econômico-tecnológica, a estatura política e o estágio de socialização como um ou

outro país percebe e atribui importância aos impactos provenientes dos desastres

ambientais. Dessa forma, as ações de resposta aos desastres vão do simples alívio

dos sofrimentos à recuperação completa das condições sócio-econômicas anteriores

ao desastre.

Seja qual o enfoque a ser dado a um desastre natural, as providências iniciais

destinam-se a socorrer os vitimados e, principalmente, salvar vidas. E com a

responsabilidade pela manutenção da vida, avultam de importância a rapidez, a

precisão e a qualidade, atributos característicos da logística, neste particular

aplicado à questão humanitária.

Até pelas características formativas da fisiografia brasileira, a classificação de

intensidade e a tipologia dos desastres naturais que participam das estatísticas não

Page 55: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

53

favoreceram a pesquisa científica sobre a logística humanitária aplicada ao socorro

das vítimas dos desastres de grandes proporções. Ainda assim, os dados do EM-

DAT (2010) colocam o Brasil na 6a posição mundial em número de acidentes e

vítimas nos últimos 10 anos, sem contar o elevado percentual anual de aumento dos

casos e de vítimas dos desastres naturais no Brasil.

Sem a intenção de criticar qualquer órgão ou autoridade brasileira

responsável pelo tratamento dos desastres naturais, verifica-se uma imaturidade

política ao conceber ações de resposta vinculadas à descentralização de recursos

orçamentários, como se o dinheiro, na sua forma mais pura, pudesse comprar o

alívio de sofrimentos ou o salvamento de vidas humanas. Mais do que a vontade

política de ajudar e os recursos orçamentários descentralizados pela comoção em

frente aos impactos catastróficos, é necessário o conhecimento das técnicas e

práticas dos procedimentos assistenciais humanitários, bem como o aprestamento e

adestramento das forças constituídas para cumprir as missões de natureza

humanitária.

Mobilizar uma unidade operacional, militar ou civil, para cumprir missões

humanitárias é um complexo conjunto de ações que demanda tempo, técnica e

muita reflexão, de sorte que a unidade ou força mobilizada tenha todas as condições

para postar-se de frente para as pessoas afligidas e afetadas pelos desastres

naturais. As forças constituídas devem dispor de material específico, pessoas

treinadas, suprimento em condições de iniciar o apoio e uma cadeia de

abastecimento pré-estabelecida para ser compatível com a manutenção do apoio.

O mecanismo de pré-estabelecimento da cadeia de abastecimento

humanitário, como descrito no corpo deste trabalho, deve cercar-se de tecnologia

compatível com o tempo de resposta especificado para socorrer um determinado

desastre, bem como apoiar-se em um sistema informatizado e integrado para

transacionar a logística de cada um de seus elos. Batizado carinhosamente de SIAH

– Sistema Integrado de Ajuda Humanitária, caracteriza-se pela responsabilidade de

impor a sinergia absoluta a todas as partes da cadeia de abastecimento, trocando

informações, em tempo real, entre as necessidades e as disponibilidades.

Pelas imposições inerentes à urgência e aos tipos clássicos de desastres

percebidos como perigosos pela sociedade brasileira, as operações de logística

humanitária em território nacional caracterizam-se, segundo Wassenhove (2006)

Page 56: RIBEIRO, Luiz Antonio de Almeida. A coordenação do apoio

54

como rápidas e destinam-se a prover abrigo, alimentos e assistência médica, cujas

capacidades mínimas são bem suportadas por forças militares.

Outra característica importante nas operações de logística humanitária é a

participação da sociedade para compor as soluções à crise causada pelos desastres

naturais, fornecendo suprimentos por doações e participando ativamente nas

operações com a mão-de-obra voluntária. A captação das ajudas, principalmente

das doações, pela presença e distribuição das unidades por todos os rincões

brasileiros, reforça a peculiaridade militar aos procedimentos específicos da logística

humanitária.

Feitas as aproximações entre os fatos e as organizações, guardando a

coerência com os objetivos deste trabalho, destacou-se a atividade de suprimento

para a proposta doutrinária de atuação, aspecto que não desmerece a importância

de todas as demais carências que compõem as aflições e sofrimentos das pessoas

afetadas pelos desastres naturais. O suprimento tem íntima relação com a

capacidade de atuar, bem como a doutrina especifica uma forma para atuar.

Organizar esses dois aspectos cria as condições para prestar o apoio, bem como

proporciona agir com eficiência, máximas inalienáveis da logística praticada desde

os primórdios.

Na montagem da doutrina, procurou-se reduzir o tempo de resposta ao

desastre, bem como proporcionar a facilidade na manutenção das operações,

especificando-se o tráfego das informações e disciplinando-se o fornecimento

“magro” dos suprimentos, aliviando as necessidades especializadas de instalações

para armazenagem e reduzindo as possibilidades indesejáveis de contaminação ou

comprometimento técnico do material.

Importante, também, é destacar a parte da proposta doutrinária que trata da

prestação de contas, para complementar a transparência dos recursos utilizados na

operação e conquistar, cada vez mais, a participação popular no grande esforço

para cuidar das repercussões catastróficas impostas pelos desastres naturais.

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