Órgão da corrente o trabalho do partido dos...

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Órgão da Corrente O Trabalho do Partido dos Trabalhadores – Seção Brasileira da 4 a Internacional www.otrabalho.org.br R$ 4,00 (solidário R$ 5,00) n o 767 – 11 a 24 de junho de 2015 CONUNE Jornada de luta contra cortes na educação pág. 2 Reforma política Com esse Congresso não dá, Constituinte! pág. 8 Espanha Urnas mostram repúdio a Rajoy pág. 11 História A Comuna de Paris pág. 10 Chega do recessivo PLANO LEV Y

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Órgão da Corrente O Trabalho do Partido dos Trabalhadores – Seção Brasileira da 4a Internacional www.otrabalho.org.br R$ 4,00 (solidário R$ 5,00) no 767 – 11 a 24 de junho de 2015

CONUNEJornada de luta contra cortes

na educaçãopág. 2

Reforma políticaCom esse Congresso não

dá, Constituinte!pág. 8

EspanhaUrnas mostram repúdio

a Rajoypág. 11

HistóriaA Comuna

de Parispág. 10

Chega do recessivo

PLANO LEVY

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2 O TRABALHO ■ 11 a 24 de junho de 2015

Na plenária dos delegados do CONUNE é aberta a bandeira “redução é roubada”

Juventude

Congresso da UNE aprova luta contracortes na educação

Volta às universidades deve incluir mobilização para o calendário de junho a agosto

O 54o Congresso da União Na-cional dos Estudantes reuniu

cerca de 10 mil estudantes emGoiânia. A principal decisão foi aconvocação de uma jornada de lu-tas contra os cortes na Educação, quecomeça já em junho com um acam-pamento no planalto central, o Ocu-pa Brasília, e inclui calouradas uni-ficadas, paralisações nas universida-des como parte da Jornada de Lutasde 11 de agosto, e uma grande cara-vana a Brasília.

A aprovação deste calendário sedeveu a um verdadeiro combate dosestudantes agrupados na tese “UNEé pra lutar!”, incluindo militantes daJuventude Revolução, que ao longodo segundo dia do Congresso dialo-garam com quase mil jovens, reco-lhendo assinaturas em apoio à apro-vação de uma jornada. O dialogocom todos os presentes no Congres-so possibilitou que representantes datese, junto com outros companhei-ros do Campo Popular que tambémapoiaram a proposta, conseguissemconstruir uma proposta de resoluçãoem unidade com a UJS, organizaçãoque dirige a UNE. A resolução foi

aprovada pela maioria dos delegadose diz que os estudantes não aceita-rão o corte. Ela também coloca adefesa da Petrobrás e de iniciativascomo a Campanha da Constituintedo Sistema Político.

“É preciso unidade dos estudantescontra o ajuste fiscal, e o congresso daUNE mostrou que é possível essa uni-dade. Nós precisamos de ações con-cretas, precisamos sair desse congres-so e ir para Brasília dizer não aos cor-tes!” Essa foi a fala de Sarah Lindalva,

candidata eleita à direçãoda UNE pela tese UNE épra Lutar!, na defesa dachapa Campo Popular,que reunia outras cincoforças (Levante Popular,Articulação de Esquerda,Mudança, Esquerda Po-pular e Socialista e Mili-tância Socialista), e foi asegunda chapa mais vo-tada no Congresso.

Agora os estudantes,com suas entidades, pre-cisam organizar ativida-

des e chamar a UNE a encaminhar ocalendário. Um passo foi dado nocongresso, mas é pela mobilizaçãona base que se pode levar até o fim amudança de postura da direção daentidade, marcada pelo imobilismofrente aos cortes impostos pelo ajus-te, nesse início de ano.

No segundo dia do Congresso, aUNE promoveu um ato na cidade,contra os cortes da Educação. Docarro de som se ouvia vários gritosde “Fora Levy!”. Entre os manifestan-tes, repercutiu o funk cantado pelaJuventude Revolução que dizia “forao ministro que cortou da educação,a luta do estudante vai botar o Levyno chão”. Mas o pedido de demis-são do ministro não foi submetidoa voto dos delegados, por bloqueioda UJS.

Guerra de torcidaDesde o início do Congresso, os

delegados da UNE é pra Lutar! seconcentraram em debater e dialogarcom todos os estudantes presentes,e decidiu não tomar parte da brigade torcidas que tomou conta dosGrupos de Discussão e, principal-mente, da plenária final no ginásiodo Serra Dourada.

Dayse Rodrigues de Jesus, estudan-te da UnB, conta que nunca partici-pou da UNE porque não se reconhe-cia na entidade. “Chegando aquipude comprovar toda a guerra detorcidas que tem, mas entendi naprática a importância de debater osrumos do Movimento Estudantil”,ela afirma. Julia Godoi, da UNESPAraraquara, diz que esse foi um dosprincipais pontos positivos: “gosteida nossa posição de não fazer parteda guerra, isso atrapalha demais, etambém da nossa participação nosgrupos, ficamos focados. Volto paracasa sabendo a importância de fazerchegar a discussão na base e depolitizar o meu Centro Acadêmico”.

Disposição ao diálogo não era apostura das organizações que com-põem a UNE.. Entre UJS e Oposiçãode Esquerda, principalmente, impe-raram as palavras de ordem de ofen-sas mútuas ao longo dos cinco diasde congresso. Equivocadamente, asorganizações que compõem o Cam-po Popular, entraram nessa lógica.Como o Levante Popular da Juven-tude, que na plenária final tocava for-temente uma bateria, dentro do gi-násio, para impedir que estudantesque falavam fossem ouvidos.

Reivindicações adotadas

Propostas apresentadas pela “UNEé pra lutar!” entraram na pauta daentidade. Uma delas foi a ampliaçãoda verba para assistência estudantil,para R$ 2,5 bilhões. Paula Ferreira,

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OPOSIÇÃO DEESQUERDA, OU DEESQUERDISTAS?

O PSOL, uma das principais for-ças da Oposição de Esquerda,

deu um show de sectarismo. Nãoqueria aceitar a proposta de defe-sa da Petrobrás como uma linhade consenso entre as forças, dizen-do que seria o mesmo que defen-der o governo. Acabou recuando ea proposta foi aprovada. Depois,não aceitou a crítica ao aumentode juros, dizendo que é preciso sercontra a própria existência dos ju-ros. Neste caso, eles não recua-ram. Para completar, Luciana Gen-ro, numa mesa sobre a luta dosprofessores da qual participoutambém a presidente da APEOESP-CUT, Maria Isabel (Bebel), sindica-to em greve há oitenta dias, e umarepresentante da APP-CUT sindica-to no PR, numa dura greve contraBeto Richa, não poupou arrogân-cia: “Essa velha esquerda, o PT, aCUT, são todos pelegos”.

da UFSC, participou do grupo sobreo assunto. “A abordagem do temadas creches universitárias foi, a meuver, uma das mais acertadas! Dentroda comissão de mulheres da JR, ha-víamos discutido a urgência de di-vulgar a existência do decreto 977/1993, que veta a criação de novascreches universitárias, indo comple-tamente contra as necessidades dasmães estudantes.” Houve a distribui-ção de um fanzine sobre o assunto,e vários estudantes procuraram os re-presentantes da tese para manifestarseu apoio.

Ana Carolina dos Santos, estudan-te de Biomedicina da UniversidadeGuarulhos, quer fazer pesquisa, masnão pôde participar de um edital doPrograma Institucional de Bolsas deIniciação Científica por ter vínculoempregatício. “O graduando recebeuma bolsa auxilio de R$400,00, ten-do que cumprir uma carga horáriade 12 horas semanais dedicadas aoestudo da pesquisa que foi aprovadapela instituição. O valor do auxílioda bolsa teve o último reajuste em2013! O graduando não poderá tra-balhar, mas terá que pagar mensali-dade (no caso das faculdades priva-das)”, ela explica. A UNE agora tam-bém defende a recomposição do or-çamento do Ministério de Ciência eTecnologia.

Priscilla Chandretti

UNIDADE: NÃO ÀREDUÇÃO!

Durante a plenária final do Con-gresso houve um momento de

emoção entre os estudantes. Umbandeirão contra a redução damaioridade penal foi sacudido pe-las bancadas de todas as teses. Oginásio gritava a plenos pulmões“Não! Não! Não à redução!” Houvegrande vibração dos estudantes,empolgados por uma demonstra-ção de unidade poucas vezes vis-ta nos congressos da UNE, onde ocomum é ver agressões verbais deuma organização à outra. A como-ção mostrou que os estudantesquerem se unir para defender ajuventude.

Sarah Lindalva, estudante de Letras na UnB, militante da JR,eleita para a direção da UNE

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311 a 24 de junho de 2015 ■ O TRABALHO Editorial

Quem somos

O jornal O TRABALHO é o órgão da Corrente O Trabalho do PT, seção brasileira da 4a

Internacional. Sua edição no 0 foi lançada em 1o de maio de 1978, em plena ditaduramilitar. Um jornal a serviço da luta dos trabalhadores, no Brasil e no mundo, ele semantém fiel deste então à luta pelo fim do capitalismo, pela emancipação dos traba-lhadores que será obra dos próprios trabalhadores. Em toda sua história, manteve ocompromisso assumido em 1o de maio de 1978: “um jornal independente dos patrões,de seus partidos e governo”. É por isso que ele se sustenta, exclusivamente, pelavenda junto aos trabalhadores e jovens, os nossos leitores. Ele é vendido de mão emmão ou por assinaturas e toda arrecadação é para manter o próprio jornal.Site: www.otrabalho.org.br Facebook: www.facebook.com/jornalotrabalhoArte: Antônio do Amaral Rocha

Memória

PT SE CONSTRÓI EM ENCONTROS DE BASE

Os trabalhadores brasileiros, noúltimo final de semana, alcan-

çaram mais uma importante vitóriacom a realização de dezenas de pré-convenções distritais e municipaisdo PT em vários estados do país.Estas pré-convenções permitem adiscussão democrática no interiordo partido, uma forma de passar porcima da legislação partidáriacastrativa do regime militar (...).

São reuniões onde (...) milharesde jovens e trabalhadores podemexpressar o anseio de organizar umpartido seu, independente da bur-guesia. E mais do que expressareste anseio, podem, efetivamente,contribuir, na prática, para a cons-trução desse instrumento de com-bate que é o PT.

O Trabalho no 109 – 10/6/1981

O melhor é o PT dizer NÃO ao plano LevyN

o período que antecede o 5o Congresso doPT a grande imprensa, de maneira estriden-

te, como se fosse participante, intervém na dis-cussão. Prossegue a ofensiva das forças reacio-nárias contra o PT, sabendo bem que para faci-litar tal operação, o melhor é apostar no cami-nho que afasta o partido de suas bases sociais,ao apoiar uma política que responde aos inte-resses dos mesmos que atacam o PT.

O plano Levy, elogiado pelo FMI, pois atendeao capital financeiro, atinge os trabalhadorescom a recessão que já implicou em 500 mil de-missões em 2015, e a restrição de direitos. Atin-ge as famílias, cujas rendas, comprimidas, di-minuem o consumo, inclusive de alimentos.Atinge estudantes e professores, com os cortesna educação. Os docentes das UniversidadesFederais começam a entrar em greve diante aocaos instalado nessas instituições de ensino. Oscortes impostos pelo ajuste fiscal penalizam asfamílias que precisam de casa para morar ou deterra para trabalhar.

Nesse cenário ocorre o congresso do PT.Enquanto nos encontros estaduais predomi-

nou a rejeição da base ao ajuste, agora dirigen-tes aprofundam suas declarações destoantes edisseminam nas organizações sindicais e popu-lares, um sentimento de que não há o que fazer,de passividade, como se simplesmente se fosse“virar a página” e passar para outro assunto.

O líder do governo na Câmara, José Guima-rães, como quem sofre de uma repentina am-nésia, afirma “Só há uma política econômica:não existe Levy sem Dilma e Dilma sem Levy”.

Há apenas oito meses, Dilma reeleita só exis-tiu porque a maioria rejeitou a política anti-tra-balhador e anti-nação do PSDB, a qual Levycomanda com desenvoltura.

É fato, Levy foi nomeado por Dilma que, ree-leita, empenhou-se em outra direção. A presi-dente terá todo respaldo dos que a elegerampara livrar-se da política do ajuste e de seu con-dutor, adotando outra política econômica, sin-tonizada com os interesses dos trabalhadorese da nação.

lendário de mobilizações contra as medidas doajuste – enfrentando a ofensiva da direita e osectarismo da ultra-esquerda que muitas vezesdenunciava as manifestações de “governistas”.

Agora vem a público um manifesto de diri-gentes petistas da CUT, uma verdadeira ajudaao congresso do PT: “consideramos que a polí-tica de ajuste fiscal regressivo e recessivo inau-gurada com a nomeação de Joaquim Levy parao Ministério da Fazenda, coloca o PT contra aclasse trabalhadora.” O melhor não é que o PTescute esse alerta?

No 5o Congresso o PT tem a chance de resga-tar seus compromissos com a maioria trabalha-dora do país. Passado o Congresso, que nin-guém duvide, os trabalhadores seguirão buscan-do suas organizações para prosseguir a luta emdefesa de seus interesses. Não aceitarão “goelaabaixo”, como vêm demonstrando, os sacrifíci-os que querem lhes impor os que criaram a cri-se do atual sistema.

O melhor é que o Congresso do PT diga nãoao Plano Levy e some-se à luta que vai conti-nuar, em defesa dos interesses dos trabalhado-res e da nação.

Esse combate que desenvolvemos no partidoe nas lutas concretas, levaremos ao Congressodo PT com os delegados e delegadas identifica-dos com o Diálogo e Ação Petista. Um combateque vai prosseguir, ao lado dos trabalhadores.

“Agora é tempo de parar de falar em ajuste efalar de investimento, emprego e distribuição derenda”, segundo o presidente do PT, Rui Falcão.

Parar de falar não, parar de fazer! As conse-quências do plano Levy – onde não cabe inves-timento, preservação e criação de emprego –estão aí e vão aprofundar, se o governo e o PTpersistirem nesse caminho.

No primeiro semestre, a CUT liderou um ca-

AJUSTE REGRESSIVO E RECESSIVOCONTRA A CLASSE TRABALHADORA

DESEMPREGO SOBEA taxa de desemprego segundo a

Pesquisa Nacional por Amostragemde Domicílios (Pnad) Contínua doIBGE chegou a 8%. Segundo o coor-denador de Trabalho e Renda do IBGE“isso é reflexo do que aconteceu lá (noPIB). Se não gera trabalho, se a pro-dução reduz, a consequência é essa”.Foram geradas no país 629 mil vagasno primeiro trimestre de 2015, masainda assim, segundo o IBGE, a filade desempregados aumentou em 985mil trabalhadores. Os cortes de tra-balhadores na construção civil e naadministração pública foi de 1,1 mi-lhão de empregos.

DEMISSÕES NAS FÁBRICASDesde janeiro de 2015 6,3 mil tra-

balhadores perderam seus empregosnas montadoras de veículos. Apenasem maio de 2015 foram 1,4 mil de-missões. Em maio de 2014 eram152,3 mil trabalhadores nas monta-doras. Em maio de 2015 o númerode trabalhadores caiu para 138,5mil. No setor de revenda de veículosjá ultrapassam 12 mil demissões.

PARALISANDO A PRODUÇÃOSegundo a associação patronal das

montadoras (Anfavea) há atualmen-te apenas nas montadoras 25 mil tra-balhadores em férias coletivas oususpensão de contrato de trabalho

(lay-off). Na General Motors de SãoJosé dos Campos (SP), Gravataí (RS),Joinville (SC), Mogi das Cruzes (SP)vão ser 5 mil trabalhadores em fé-rias por duas semanas. Em São Cae-tano do Sul (SP) mais 5,5 mil traba-lhadores ficaram em casa por ummês. A Scania, no ABC paulista, sus-penderá o trabalho de 3,4 mil traba-lhadores por 10 dias. Também emBetim (MG) a Fiat colocou 16 milfuncionários de férias, a Mercedes-Benz de São Bernardo do Campo(SP) colocou 7 mil e a Hyundai/Caoa em Anápolis (GO) outros 1,65mil. Nas fábricas de pneus Bridges-tone e Michelin 5 mil operários sãocolocados em férias.

JUVENTUDE E DESEMPREGODe 2002 até 2014 a taxa de desem-

prego entre jovens com até 24 anoscaiu de 23,2% para 12%, uma re-dução de 11,2 pontos percentuais.Nesse ano, de janeiro até abril, emquatro meses de “Plano Levy”, a taxade desemprego entre os jovens sal-tou para 16%. Em quatro meses, 4%a mais de jovens sem trabalho. Umespecialista explica no Estadão (7/6): “Em geral, o jovem é menos ex-periente, está em processo de esco-larização e é menos produtivo.Numa recessão, a tendência é justa-mente cortar os trabalhadores me-nos produtivos”.

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ESTAGNAÇÃO DA REFORMA AGRÁRIA

O corte anunciado no dia 22 de maio reduziu em 49,4% as dotações doMinistério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para este ano.

Alexandre Conceição, da direção nacional do MST, afirma: “A presidentaDilma já entrou pra história do Brasil como a pior presidenta do períodorecente para os trabalhadores rurais Sem Terra. O seu governo foi responsá-vel por paralisar a Reforma Agrária, retomar as teses do Banco Mundial, quenos últimos quatro anos burocratizou os processos de desapropriações, fa-zendo com que menos de 15 mil famílias fossem assentadas em todo Brasilem 2014. Com essa paralisia e agora com a tesoura do Ministério da Fazen-da, não temos expectativas de melhora na disposição de terras para a Re-forma Agrária. Com o corte é economicamente inviável que o ministro PatrusAnanias cumpra com a promessa de assentar todas as famílias acampadasno Brasil, que hoje já são mais de 120 mil” (site do MST).

Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, no anúncio docorte orçamentário

70 bilhões cortados do orçamentoContingência de verbas dos Ministérios para garantir superávit fiscal primário

O governo federal anunciou, nodia 22 de maio, o corte de 70

bilhões de reais do Orçamento Ge-ral da União como parte do ajustepara “fazer superávit fiscal de 1,2%do PIB neste ano”, ou seja, para pa-gar parte dos juros da dívida.

O governo determinou, via decre-to, limites de despesas para cadaministério que, além disso, tambémtêm verbas contingenciadas (ou seja,cortadas até segunda ordem).

Cidades, Saúde e Educação

Os ministérios das Cidades, daSaúde e da Educação lideraram oscortes no Orçamento Geral da Uniãode 2015. Juntas, as três pastas con-centraram 54,9% do contingencia-mento de R$ 70 bilhões de verbasda União.

No Ministério das Cidades, o cor-te ultrapassa os R$17 bilhões. NaSaúde, o bloqueio aproximas-se dosR$12 bilhões. Na Educação, são ou-tros R$ 9,5 bilhões. E o ministériodos Transportes perde R$6 bilhões.

Ademais, a cada dois meses, o ta-manho do corte para cada ministé-rio poderá ser reavaliado.

Retração do PIBA própria equipe econômica já

vem admitindo que o PIB deve cair1,2% em 2015, mais do que o pre-visto até então. A receita com impos-tos registrou o menor resultado parao mês de abril em cinco anos, comqueda real de quase 5% em relaçãoa abril de 2014.

E isso ocorre mesmo com os au-mentos de impostos de Levy (PIS,Cofins sobre combustíveis etc).

Essa contradição resulta do próprioajuste. Por um lado, os cortes de gas-tos do governo reduzem enormemen-te as vendas de seus fornecedores –

empresas privadas –, que demitem ereduzem a produção. Num efeitodominó, toda a economiaacaba reduzindo a geraçãode renda e, portanto pa-gando menos impostos.

Por outro lado, o Ban-co Central – que atua co-ordenado com Levy –quase dobrou a taxa dejuros (a Selic) nos últimosdois anos. Só nos primei-ros cinco meses deste ano,a Selic já saltou de 11,75%para 13,75%. Com isso,a indústria e empresas em

4 Nacional O TRABALHO ■ 11 a 24 de junho de 2015

Petroleiros rejeitam proposta de BendinePresidente da Petrobras fala em abrir o Pré-Sal para investidores

Embora a presidente Dilma tenhaafirmado recentemente que não

haverá mudanças no regime de parti-lha, o presidente da Petrobras, AdemirBendine, voltou a defender as mudan-ças, dessa vez na primeira reuniãocom os dirigentes sindicais da Fede-ração Única dos Petroleiros (FUP-CUT) realizada no último dia 28.

Na reunião, Bendine defendeu aabertura de participação de outrosinvestidores. Segundo matéria do jor-nal Valor Econômico, uma das pro-postas do presidente da Petrobras se-ria transformar a BR Distribuidora

numa holding de empresas privadas.Em resposta, os dirigentes sindicais

se colocaram categoricamente contraa venda de ativos no Brasil. O Coor-denador da FUP, José Maria Rangel,falou da luta de resistência da catego-ria contra a privatização da estatal e aluta atual para que a Petrobras conti-nue sendo a indutora do desenvolvi-mento econômico e social do país.

Enquanto isso continua tramitan-do no Senado o projeto de lei deautoria do senador tucano José Ser-ra (SP), o PL 131/2015, que altera aLei nº 12.351, que estabelece a par-

ticipação mínima da Petrobras noconsórcio de exploração do pré-sale a obrigatoriedade de que ela sejaresponsável pela condução e execu-ção, direta ou indireta, de todas asatividades de exploração, avaliação,desenvolvimento, produção e desa-tivação das instalações de exploraçãoe produção.

O projeto desobriga a Petrobras deintegrar consórcios de exploração dopré-sal e exclui a cláusula estabele-cida na lei de partilha que condicio-na a participação da estatal em, nomínimo, 30% em cada licitação.

O projeto entrou na pauta da Co-missão de Constituição, Justiça eCidadania em 20 de maio, com ovoto favorável do relator, SenadorRicardo Ferraço (PMDB), que o re-cebeu de volta para reexame do Re-latório.

De 1 a 5 de julho a FUP realizarásua Plenária Nacional na qual, entreas teses que serão defendidas, está adefesa da Petrobrás e do Pré-salcomo garantia da democracia e con-quistas sociais históricas dos traba-lhadores.

Nilton de Martins

CUT REPUDIA ELEVAÇÃO DATAXA DE JUROS

Em nota a CUT afirma ser “contrá-ria a mais esse aumento da taxa

Selic, para 13,75%, maior patamardesde dezembro de 2008. Para aCUT, a medida é ineficaz no comba-te a inflação, encarece o crédito paraconsumo e para investimentos, cau-sa mais desemprego, queda de ren-da, piora o cenário de recessão daeconomia e ainda contribui para di-minuir a arrecadação do governo. Emais: concentra cada vez mais ren-da nas mãos de banqueiros e espe-culadores financeiros.

Se o governo precisa cortar gas-tos, que o faça onde ele gasta maisque é justamente com juros e fi-nanciamento da dívida pública enão tirando recursos das políticassociais e dos mais pobres! A CUTdefende a imediata redução dataxa de juros, para que se possainvestir mais em infraestrutura,políticas sociais como saúde, edu-cação e habitação, assim comomelhorar as condições de financia-mento para o setor produtivo epara o consumo e, principalmen-te, uma política econômica quepriorize de fato o crescimento daeconomia, a geração de empregoe renda, a redução da desigualda-de social, o combate à pobreza e adistribuição de renda”.

geral suspendem investi-mentos, tanto porque ficamais caro tomar dinheiroemprestado (terão de pagarmais juros) para adiantar osinvestimentos, quanto por-que preferem investir seu lu-cro na especulação financei-ra (receberão mais juros). As-sim empregos, produção erenda deixam de ser geradose, com isso, mais impostosdeixam de ser arrecadados.

Para piorar a absurda contradição,esse aumento da Selic eleva os gas-

tos com os juros da dívida pública.Ou seja, o pretexto do ajuste seriareduzir o endividamento. Mas defato ele acaba por aumentá-lo. O paístodo enfraquece, exceto os banquei-ros, que lucram com os juros pagospelo Tesouro.

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MANIFESTO ÀS DELEGADAS E DELEGADOS

DO 5º CONGRESSO DO PT“O PT nasce da decisão dos explorados de lutar contra um sistema econômico e político que não pode

absorver os seus problemas, pois só existe para beneficiar uma minoria de privilegiados.”Manifesto de Fundação do PT (1980)

O Diálogo e Ação Petista pela pri-meira vez se apresenta ao con-

gresso do partido com a tese “Res-gatar o petismo no PT”. Nós não cre-mos que o Manifesto de Fundação en-velheceu ou não é adaptado à globa-lização.

A crise que hoje ameaça o PT, aocontrário, tem a ver com o abandonodas bases da Fundação. Pois comtudo de novo no cenário, essencial-mente continua a exploração e aopressão. A desigualdade no Brasilé enorme. E só pela luta de classe ostrabalhadores se emanciparão. Paraisso precisam de um partido.

Três questões, em nossa opinião,concentram os problemas atuais, quenenhuma covardia política permiteadiar mais:

1 . Luta pela Constituinte Sobera-na e Exclusiva da Reforma Política

É imprescindível para abrir caminhopara as reformas populares. Comesse Congresso não dá!

Essa luta é parte também do com-bate ao carreirismo disseminado econtra o cretinismo parlamentar.

Ou mudamos esse sistema, ou osistema terminará de mudar o PT fun-dado para defender os trabalhadores.

É graças ao regime de “presidencia-lismo de coalizão” que o golpismo,para além do PSDB-DEM e da cúpulado Judiciário, ataca inclusive dentrodo ministério dominado pelo PMDB.

Criminalizam o próprio PT – aí estáa absurda prisão de Vaccari, mais umamanipulação do Judiciário das elites.Avançam na contrareforma política,anunciam a revisão do regime de par-tilha do pré-sal e tentam regredir osdireitos sociais e democráticos.

2. Não ao plano de ajuste de LevyÉ impossível conviver com o ajuste

regressivo e recessivo que joga opartido contra a sua base. É inacei-tável cortar R$ 70 bilhões do Orça-mento, mais R$ 12 bilhões de direi-tos trabalhistas e previdenciários,depois de dar R$ 100 bilhões de de-sonerações aos empresários!

A defesa do mandato da presiden-te Dilma não é a defesa suicida des-ta política do ministro do Bradesco.

Nós conclamamos o partido a re-chaçar esta guinada, que nega e es-

vazia as conquistas sociais dos últi-mos anos.

Não queremos repetir a tragédiados partidos socialistas que no go-verno traíram seu programa e foramvarridos. Queremos:•derrubada dos juros e centralização

cambial•fim do superávit primário, investi-

mento público e reestatização•reindustrialização e proteção co-

mercial•reforma agrária e reforma urbana•reforma tributaria com taxação das

heranças e das grandes fortunas

3. Reconstrução do PTSomos pelo fim do famigerado PED

e pela volta aos encontros democráti-cos de base, onde os delegados dis-cutem olho no olho, deliberam a orien-tação e elegem os seus dirigentes.

A reforma política começa no PT!Defendemos o fim do financiamentoprivado nas eleições, mas tambémdentro das eleições internas no PT.

Chega da manipulação e do carre-gamento de votos do PED. O podereconômico está igualando o PT aosdemais partidos. Terá o “campo ma-joritário” coragem e desprendimentopara ajudar a salvar o PT? Chega decurrais eleitorais dentro do PT!

Companheiras e companheiros,A situação é muito grave.Já nas últimas eleições, o PT, ape-

sar de ter sido o partido mais votadoe graças à militância ter reeleito apresidente, o PT perdeu em vários deseus principais redutos. Agora, umasombra paira sobre nosso futuro.

Em abril cortou-se 100 mil empre-gos (50 mil na indústria), o pior re-sultado para o mês desde 1992. Ain-da segundo o IBGE, no 1o. trimestre,caiu o consumo do povo brasileiro,pela primeira vez desde 2003. E adiretora do FMI, Lagarde, veio aquidar mão forte a Levy e pedir mais.Conforme o seu último relatório, oFMI questiona agora até a “legisla-ção trabalhista arcaica” e os reajus-tes reais do salário mínimo.

Os economistas e intelectuais ami-gos do PT condenam essa política deajuste fiscal. Os dirigentes dos movi-mentos populares, como o MST, a CMPe o MTST, assim como a UNE e as or-ganizações de juventude, criticam e

combatem os cortes orçamentários. Eos dirigentes da CUT, de forma con-tundente, pedem a mudança da polí-tica econômica. Afinal, já são quase500 mil demissões este ano. Chegade Plano Levy, nem mais um mêsdeste ajuste!

Companheiras e companheiros,Nós viemos ao Congresso dispos-

tos a discutir com todos uma saída.Não somos os donos da verdade.

Também não reconhecemos uma dire-ção infalível e nem lideranças geniais.

A saída tem que ser construída co-letivamente, no terreno do PT.

Sim, a construção de uma frente énecessária, para enfrentar a reação ar-ticulada com os centros imperialistas.

Mas ela não vai substituir o parti-do dos trabalhadores – mais do quenunca o PT é necessário! Ainda étempo, as reservas políticas do PT,

reservas morais e organizativas, exis-tem. São oportunistas os que hojeabandonam o nosso partido. A rea-ção ataca, é verdade, até pela “extin-ção do PT”, mas as bases estão aípedindo uma resposta.

Discutamos sem preconceitos. Ape-lamos à consciência dos petistas.

Ouçam as organizações sindicais epopulares. Reflitam sobre os últimosmeses de mobilização das bases pe-tistas sob iniciativa da CUT e dosmovimentos populares, apesar dapassividade da cúpula partidária.Em defesa do PT!Abaixo o Plano Levy!Fim do PED e volta dos Encontros!Constituinte Soberana e Exclusivado Sistema Político!10 de junho de 2015Dialogo e Ação Petistawww.petista.org.br

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CONGRESSO EM SANTA CATARINA

Reunião organiza intervenção do DAP

Militantes do PT de Florianópolis,São José, Lages e Joinville reu-

niram-se no dia 30 de maio para ava-liar os atos e a participação no dia29 e também organizar a interven-ção na defesa de tese, grupos de tra-balho e plenária final no CongressoEstadual do PT SC que acontecia nomesmo dia.

Todas as delegações em especialde Lages e Joinville foram totalmen-te financiadas pelos trabalhadores,com destaque para a presença im-portante de setores fabris, metalúr-gico e têxtil, na atividade.

O Plano Levy e a política de auste-ridade foram abordados por diferen-tes companheiros, desde os estudan-tes relatando os problemas com a di-minuição de verbas para Assistência

Estudantil na UFSC, aos operáriosque relataram as demissões que co-meçam em Joinville

O vereador Lino Peres foi enfáticoao dizer que neste congresso de cri-se precisamos acabar com o PED eretomar os congressos de base e aeleição da direção a partir dos deba-tes de tese em congresso. Não pode-mos mais continuar com este siste-ma. Só nós distribuímos tese aqui.Onde estão as outras teses para osdelegados avaliarem as posições?

Durante o congresso o trabalhocom as emendas Fim do PED e Abai-xo o Plano Levy obteve apoios impor-tantes. O congresso adotou as duasemendas para a etapa nacional.

Correspondente

Plenária da etapa estadual do congresso do PT em Santa Catarina

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6 O TRABALHO ■ 11 a 24 de junho de 2015Partido

Interrogações sobre um partido em criseEmbalada pelo Cristo-Levy, a cúpula abraça o PED

O que se pode dizer à véspera da2a sessão do 5o Congresso do

PT, na verdade, duas vezes adiado?A preparação foi fraquíssima. As

“etapas estaduais” preparatórias, de-pois de “municipais” irregulares, ti-veram pouca presença.

Os delegados nacionais eleitos háquase dois anos, desembarcarão emSalvador sem muita discussão. E re-ceberão um novo texto do “campomajoritário”, divulgado três dias an-tes, sem muita conexão com o textoinicial de março.

Por exemplo, o texto inicial era crí-tico ao ajuste fiscal, e o clima das“etapas estaduais”, na média, foi ain-da mais pesado com as medidas do

ministro Levy. Mas o texto final, tal-vez influenciado pela presidente Dil-ma que disse que Levy não pode servisto “como Judas”, ainda mais queo vice-presidente Temer garantiu queele está “mais para Cristo”..., não falanada das medidas do ajuste que de-sapareceu!

Teria ele subido ao céu, santifica-do, junto com o cristo-Levy?

A segunda interrogação é sobre asituação do partido. Nos últimosmeses, inclusive dirigentes da “maio-ria” questionaram a adaptação do PTàs instituições corruptas, discutindoo fim do PED e a volta aos encontros.

Mas depois do um texto inicialomisso, o texto final agora defende

“manter o PED” com a enésima ten-tativa de “aprimorá-lo desvinculan-do o voto da contribuição financei-ra do filiado que não exercer cargo”.Fica a dúvida: quem financiará o PTque não deve receber mais das em-presas. Serão os dirigentes, parla-mentares e membros de governo?Mas não ditarão ainda mais a políti-ca do partido segundo seu estreitointeresse?

A desfaçatez da proposta remete aregulamentação a um Seminário em90 dias e daí ao Diretório Nacio-nal..., apesar do tema ser posto napauta desta 2a sessão pela sessão an-terior do Congresso, há um ano!

O grupo dirigente, eleito pelo fa-

Encontros Estaduais registramdesconforto da base

Limitados pelo esvaziamento e pouca discussão, mas marcados pela crítica à atual política

São PauloNa abertura, 22 de maio, com a

presença anunciada de Lula, eramesperados 1000 petistas. Com cercade 600, as cadeiras vazias era um sin-toma da crise que atravessa o parti-do. Lula cancelou presença.

No dia seguinte, eram não maisque 400. Alexandre Pimentel, verea-dor do PT em Carapicuíba (grandeSão Paulo), apresentou a tese “Res-gatar o Petismo no PT”, do Diálogoe Ação Petista (DAP). “Nossa tese sebaseia em dois documentos históri-cos do PT, seu Manifesto de Funda-ção e seu programa”. Falou que alémda ofensiva da direita, o PT hoje “so-fre chantagem da base do governo.Temos que pôr fim a esse presiden-cialismo de coalizão”. E completou:“É lamentável a atual política eco-nômica. Não podemos aceitar, nos-so governo está tirando dinheiro dasaúde e da educação. Não podemosaceitar que nosso governo, com esseplano Levy, já levou a cerca de 500mil demissões esse ano.”

Na mesa de discussão sobre organi-zação partidária, Misa Boito apresen-tou as propostas do DAP. “Para enfren-tar a crise que atravessa o PT é neces-sária uma resposta política aos traba-lhadores, mas também medidas orga-nizativas. Nosso partido nasceu comoum partido de massa, mas com umabase militante. O PED afastou os mi-litantes da definição dos rumos do PT,chamados a votar, a cada quatro anos,como meros cidadãos”. Saudando o

companheiro Patrus “que teve a cora-gem de dizer que o PED virou ummecanismo de manipulação”, propôso fim do PED e a volta dos encontros.A principal polêmica foi com Môni-ca Valente (CNB) que se perguntan-do sobre que crise é essa que tanto sefala, defendeu o PED para eleger adireção, relegando a discussão políti-ca a encontros que nada decidem,pois, afinal, a direção e a orientaçãoseguiriam sendo decididas nas urnasdo PED. As propostas contra o planoLevy e pelo fim do PED, subscritas pordelegados de várias teses, foram re-metidas ao 5o Congresso.

BahiaNo dia 30 de maio o PT BA reali-

zou seu Encontro Estadual. A execu-tiva do partido, cancelou a etapa li-vre, priorizando um ato com “alia-dos” como o senador Otto Alencar(PSD) defensor da redução da mai-oridade penal, quando na verdadedeveria prevalecer o debate políticodos mais de 300 delegados sobre asteses ao 5o Congresso.

bates foi sobre o PED.. O ministroPatrus Ananias, que participou damesa de encerramento, foi enfático emsua defesa pelo fim do PED, dizendoser preciso “acabar com o financia-mento privado no partido, assimcomo dos candidatos a postos execu-tivos e parlamentares”, e que o PEDestabeleceu no partido “o coronelismoe o voto de cabresto”. Defendeu a vol-ta dos encontros de base onde “a dis-cussão era feita olho no olho”.

Ceará“Petistas do Ceará, diante de Rui Fal-

cão e de líder do Governo, pedem saí-da de Levy”. Foi assim que o Jornal Diá-rio do Nordeste registrou a etapa cea-rense do 5o Congresso do PT (foto).

Num simulacro para cumprir tabe-la, foi a intervenção do DAP no en-contro, reduzido a uma manhã, quepolarizou as atenções dos delegados.Dos mais de 400 delegados eleitos,se inscreveram apenas 213.

O encontro foi aberto por Rui Fal-cão que gastou a maior parte de seutempo convocando o partido aapoiar o ajuste fiscal.

Os representantes do DAP se con-centraram na explicação do PlanoLevy e na necessidade de resgatar amilitância petista por meio da reto-mada do encontros. A intervençãodos oradores da CNB teve de se con-centrar na resposta às resoluçõesapresentadas pelo DAP, ensejando ainterpretação do jornalista do Diá-rio do Nordeste.

As falas, de deputados como o lí-der do PT Sibá Machado, do gover-nador do PT Rui Costa e outros di-rigentes e parlamentares, tentavamreanimar a militância com discur-sos inflamados, afirmando que o PTdeveria retomar sua ligação com osmovimentos e sindicatos. No entan-to, “esqueceram” de citar que o dia29 de maio havia ocorrido uma pa-ralisação nacional chamada pelaCUT contra o ajuste fiscal de Levy eque o PT deveria estar ao lado daCUT. O ministro Jaques Wagner atétentou defender o ajuste, mas foi in-terrompido pelos gritos “Ei Dilmademita o Levy” chamado por dele-gados do DAP em conjunto comoutras teses que surpreendeu no ple-nário. Sem ter o que dizer Wagnerassumiu o compromisso de dar orecado a Dilma que “na Bahia fala-ram contra Levy”. Foram aindacoletados adesões à emenda pelofim do PED, remetida ao 5o Con-gresso.

Minas GeraisOs 500 delegados definidos foram

reduzidos a 300 pela Executiva Esta-dual. Credenciaram-se 211 e partici-param dos debates ao redor de 160delegados.

Na mesa sobre conjuntura nacio-nal o ajuste fiscal foi o tema centralonde ficou evidente a insatisfação degrande parte dos delegados com apolítica do governo Dilma.

Outra discussão que marcou os de-

lido método do PED, acha mesmoque vai convencer alguém no paísque está disposto à mudança, a “re-conhecer os erros” e ajudar a salvaro partido?

Estas questões não tiram a serieda-de do debate, inclusive em outrosaspectos, até positivos, no novo tex-to da “maioria”.

Mas não é possível defender o PTdo ataque da reação nem o manda-to do 2o turno presidencial do gol-pismo, sem girar, sem abandonar ocorrupto sistema do PED, e reatar umdialogo com os trabalhadoresrechaçando o ajuste do plano Levy.

Markus Sokol

Cartaz no encontro do Ceará

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711 a 24 de junho de 2015 ■ O TRABALHO

13 de março: no dia nacional de luta em defesa dos direitos, em São Paulo a avenida Paulistafoi tomada por manifestantes, chamados pela CUT. Momento importante de uma jornada quecomeçou em janeiro, contra as medidas do ajuste fiscal

Partido

“O PT de volta para a classe trabalhadora”Manifesto de sindicalistas ao congresso do PT

Em 11 de junho, com mais de 400adesões, foi publicado o mani-

festo de sindicalistas cutistas e pe-tistas dirigido ao 5o congresso dopartido.

Encabeçado pelo presidente daCUT, Vagner Freitas, e por todos osmembros da executiva nacional dacentral, o manifesto sintetiza posi-ções que vem sendo defendidas pu-blicamente desde o início deste ano.Abaixo trechos:

“Nós, sindicalistas CUTistas ePeTistas, estamos nos dirigindo aosdelegados e delegadas do 5o Congres-so Nacional do PT (Salvador, 11 a 13de junho de 2015) por considerar-mos muito grave a situação de nos-so partido neste momento.

O PT, que completou 35 anos,hoje está imerso numa profundacrise. Aquele partido de militância,que organizava núcleos de base noslocais de moradia e trabalho, quenasceu ‘da decisão dos exploradosde lutar contra um sistema econô-mico e político que não pode ab-sorver os seus problemas, pois sóexiste para beneficiar uma minoriade privilegiados’ (Manifesto de fun-dação), foi pouco a pouco transfor-mando-se numa espécie de ‘federa-ção de mandatos parlamentares’,onde, cada um deles, com raras ehonrosas exceções, passou a agircomo um ‘micropartido’. O PT aco-

modou-se a um sistema eleitoralque privilegia o financiamento deempresas para suas campanhas, emdetrimento de suas característicasoriginais que privilegiavam a suamilitância. (...)

Vieram as eleições de outubro de2014, onde a CUT e os movimentossociais foram imprescindíveis para areeleição de Dilma em defesa dosdireitos e contra o retrocesso. Mas ogoverno, em vez de dar continuida-de a essa relação positiva quegarantiu a vitória no 2o turno, optoupor uma guinada na política econô-mica, com medidas de ataques a di-reitos dos trabalhadores, sem sequerdialogar com as centrais sindicais.Aproveitando-se dessa situação, aoposição e a direita cresceram nasruas e nas instituições, com o apoioda grande imprensa.

Nessa situação, o PT ficou no meiodo fogo, ora dando sustentação àsmedidas de ajuste fiscal do governo,ora defendendo corretamente as nos-sas bandeiras, como na luta contrao PL 4330 da Terceirização. Causouprofunda decepção na militânciasindical petista a aprovação das MPs664 e 665, que restringem o acessodas camadas mais vulneráveis denossa classe a direitos trabalhistas eprevidenciários. (...)

Consideramos que a política deajuste fiscal regressivo e recessivoinaugurada com a nomeação de Jo-

aquim Levy para o Ministério da Fa-zenda coloca o PT contra a classe tra-balhadora e as camadas popularesque sempre foram sua principal basede apoio. Trata-se de uma políticaeconômica que diminui o papel doEstado, corta investimentos e elevajuros, acabando por restringir direi-tos sociais, rebaixar salários e au-mentar o desemprego, com impac-tos negativos no PIB.

Sabemos o que ocorreu na histó-ria recente com partidos de esquer-da que aplicaram políticas de ajustefiscal inspiradas pelo FMI, como seviu em alguns países da Europa: en-traram em crise, foram derrotados

em eleições, perderam sua base so-cial. Não queremos que o mesmoaconteça com o PT! (...)

É nosso dever, como dirigentes sin-dicais petistas, defender a classe tra-balhadora. Jamais abdicaremos dis-so, inclusive quando houver confli-to de posições entre nós, partido egoverno. (...)

Ainda é tempo de mudar de polí-tica e de plano econômico, o que,na nossa opinião, é essencial para asobrevivência do PT como partidodos trabalhadores. E é com esse es-pírito que queremos intervir neste 5o

Congresso: queremos o PT de voltapara a classe trabalhadora!“

“Antes, o PT ajudava nas eleições,agora atrapalha”!?

Declaração do secretário do prefeito Haddad, Jilmar Tatto, falando da disputa em 2016

Acrise que o partido atravessa co-loca a necessidade de defender

o PT e preservar o maior patrimônioconstruído pela classe trabalhadorabrasileira.

Mas, frente aos ataques contra opartido, muitos dos que entraram noPT apenas para galgar uma carreira,agora, de maneira oportunista, preo-cupados com as eleições municipaisde 2016, buscam condições mais se-guras de disputa em outras legendas.

Prefeitos e vereadores, sem qual-quer relação com a trajetória e com-promissos do PT junto à classe tra-balhadora, abandonam o barco,pensando “salvar a pele”. Que se vãoos oportunistas!

Mas, o problema não para aí.

No último dia 29, uma entrevista,publicada no jornal Valor Econômi-co, de Jilmar Tatto, secretario de trans-portes da prefeitura paulista, é um ver-dadeiro cavalo de troia dentro do PT.

“O PT ficou velho e perdeu o dis-curso inovador. Ajudava nas eleições,mas agora pode atrapalhar. O prefei-to de São Paulo, Fernando Haddad,no comando da principal capital pe-tista, representa a modernidade queo partido não conseguiu e, para ree-leger-se em 2016, deve se descolar daimagem da legenda. Essa é a análisede um dos principais aliados deHaddad, o secretário de Transportes,Jilmar Tatto, que, ao Valor, fala da es-tratégia para a próxima eleição”. As-sim o jornal apresenta a entrevista. A

apresentação corresponde ao fato.Depois de afirmar que gostaria que

Marta Suplicy não saísse do PT, “masrespeito”, Jilmar avalia o PT “não émoderno”, e conclui: “o PT ficouvelho, mas o Haddad não. Haddadrepresenta essa coisa nova para a ci-dade, para a juventude. Na campa-nha eleitoral vai ter 50% do tempo[de TV]. Ele estará no segundo turnoe os outros vão se matar para a dis-puta”. Perguntado se “o problemaentão é o PT”, responde: “o PT nopassado mais ajudava do que atra-palhava. O PT tinha essa força na ci-dade de 20%, 25%, às vezes 30%[dos votos]. [Em 2012] o esforço foifazer o eleitor do PT votar noHaddad. Agora é o contrário. Essa

eleição vai destacar mais a pessoa emenos o PT nessa turbulência. Ditoisso, o PT ainda tem uma força las-cada na periferia.” Declarações pu-blicadas entre aspas e não desmen-tidas, elas revelam uma linha que sóajuda aos que querem acabar com oPT. Afinal, numa disputa “entre omoderno e o atraso” como Jilmardefine as eleições de 2016, é precisodesvincular Haddad do PT! Quemodernidade é essa? Para acabartambém “com a força lascada” queo PT ainda tem “na periferia”, ondeestão os trabalhadores que se identi-ficam com o PT? Resta saber se tal“estratégia” eleitoral para 2016 defingir que Hadda não é candidato doPT está só na cabeça de Jilmar Tatto.

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8 O TRABALHO ■ 11 a 24 de junho de 2015Nacional

Contrarreforma política sob comando deEduardo Cunha

Discussão e votação no Congresso passam longe dos interesses do povo

No dia 26 de maio a Câmara dedeputados, sob direção de Eduar-

do Cunha (PMDB), começou a vota-ção para preservar, ou piorar, o dis-torcido sistema político brasileiro.

Entre as medidas aprovadas, pararegras eleitorais, destaca-se a intro-dução, na Constituição, do financia-mento de empresas para partidospolíticos, reforçando o papel do po-der econômico na definição dos re-sultados eleitorais.

No dia 26, essa medida havia sido

derrotada. Mal deu tempo dos depu-tados do PT, que defende financia-mento público de campanha, come-morarem.

Menos de 24 horas depois, comum golpe numa regra Constitucio-nal (uma emenda prejudicada emuma votação não poder ser votadana mesma legislatura), e algumaspressões, Eduardo Cunha recolocouo financiamento empresarial em vo-tação. Os votos saltaram dos 264 nodia anterior para 330.

Dilma anuncia pacote de concessões para o capital privadoRodovias, ferrovias, portos e aeroportos entregues a grandes empresas

Em 9 de junho, dois antes da aber-tura do 5o Congresso do PT, a

presidente Dilma, ao lado do minis-tro Levy, anunciou um plano de con-cessões de serviços públicos para ocapital privado diante de uma pla-téia de grandes empresários emBrasília.

O plano pretende atrair um inves-timento privado de R$ 198,4 bi-lhões, sendo 86,4 bi para ferrovias,66,1 bi para rodovias, 37,4 bi paraportos e 8,5 bi para aeroportos. Dadaa ausência das grandes empreiteirasatingidas pela Lava Jato na cerimô-nia de anúncio do plano, é possívelimaginar que as mesmas terão difi-culdades de disputar os leilões deconcessão, o que abre ainda mais aporta para as multinacionais, in-cluindo as chinesas, abocanharem asprincipais concessões, desnacionali-zando ainda mais o setor de infraes-trutura em nosso país.

Depois de ter defendido o minis-

tro Levy de críticas, dizendo que ele“não é Judas”, Dilma insiste em fi-car bem com o “mercado”, oferecen-do o que deveria ser serviço públicopara a exploração de grandes gruposcapitalistas. A guinada na políticaeconômica com a nomeação de Levy,portanto, continua: depois de res-tringir direitos trabalhistas e previ-denciários, vem um plano de con-cessões/privatizações de 15 rodovias,5 ferrovias, 12 portos e 10 aeropor-tos. O próximo passo pode ser um

acordo de livre comércioentre Mercosul e UniãoEuropeia, que Dilma dis-se apoiar em sua visita aBruxelas (sede da UE)em 10 de junho.

Diminuição do papel doEstado

Como diz o Manifestode sindicalistas dirigidoao congresso do PT (verpágina 7), ao tratar do

ajuste fiscal de Levy: “Trata-se de umapolítica econômica que diminui opapel do Estado, corta investimentoe eleva juros, acabando por restrin-gir direitos sociais, rebaixar saláriose aumentar o desemprego, com im-pactos negativos no PIB”.

O empresariado e a mídia a seuserviço “pagam para ver” se o pla-no vai dar certo. Apesar do governoreduzir exigências, abandonar omodelo de menor tarifa e retomar

o sistema tucano de concessões queantes criticava, os porta vozes do ca-pital ainda vêem “entraves”, dizemque está “aquém das necessidades”e que os efeitos só serão sentidos em2018, ou seja no fim do mandatode Dilma!

A reação dos trabalhadores virá nospróximos dias. Ainda antes do anún-cio do Plano de concessões, tanto oSindicato nacional dos aeroportuá-rios (Sina-CUT), quanto a Federaçãonacional dos portuários (FNP-CUT)já alertavam suas categorias e criti-cavam as concessões/privatizações.

Mais do que nunca, tratando-se deum governo encabeçado pelo PT, épreciso mudar de política econômi-ca, sob pena, como disse o econo-mista e petista histórico Paul Singerem entrevista na Folha de São Pauloem 10 de junho, “do PT perder suabase social”.

Julio Turra

Nenhuma das decisões aprovadaspelo Congresso corresponde à neces-sária reforma política para superar umsistema que trava as mudanças em be-nefício da maioria do povo e da na-ção. Muito pelo contrário, represen-tam uma deformação ainda maiorpara preservar os interesses dos quese beneficiam do atual sistema.

Bem dizendo, não foi surpresa paraninguém. Do congresso, o mais rea-cionário desde 1964, não se poderiaesperar outra coisa.

O PT havia adotada uma linha de“redução de danos” e chegou a fazeracordo, com o PSDB (!) em apoioao voto distrital misto (o PT defen-de o voto em lista), contra o distritãode Cunha, considerando que a prin-cipal questão era barrar o financia-mento privado (que o PSDB apoia).

Com o resultado, o partido deve-ria concluir que a verdadeira “redu-ção de danos” passa por retirar dasmãos desse Congresso a tarefa quesó poderá ser realizada dando a pa-lavra ao povo.

Em junho de 2013 as mobilizaçõescolocaram na ordem do dia a ques-tão da Constituinte. Em setembro de2014, quase oito milhões de brasi-leiros disseram Sim à Constituinte.

9 de junho: presidente Dilma no anúncio do pacote de concessões

PCdoB VOTA NO DISTRITÃO DE CUNHA

O PCdoB, que votou a favor do “distritão”. Proposta do presidente daCâmara Eduardo Cunha, esse modelo distorceria ainda mais a repre-

sentação, onde as candidaturas prevaleceriam sobre os partido. Em nota,assinada pela bancada na Câmara dos deputados o PCdoB explica:

“(...) optamos pelo acordo de voto a favor do Distritão para, em contrapar-tida, defender a sobrevivência no Parlamento não apenas do PCdoB, masde todos os partidos de matizes ideológicas e que possuem profunda rela-ção com a representação popular e com histórico de luta democrática e quenão se configuram legenda de aluguel. Estes partidos têm história e identi-dade e não podem se transformar em sublegenda de partidos grandes”.

A cláusula de barreira é um retrocesso, sem dúvida. Combatê-la é preci-so. Mas a esse preço? Acordos feitos, a cláusula de barreira foi aprovada,garantindo a sobrevivência dos 28 partidos que já têm representação par-lamentar. Ficam de fora PCB, PSTU, PCO e PPL.

O que já foi aprovado: fim da re-eleição para cargos executivos

(prefeitos, governadores e presiden-te); financiamento de empresas apartidos políticos; cláusula de bar-reira: terão acesso a tempo de TV efundo partidário os partidos que te-nham pelo menos um deputado ousenador (hoje todos têm direito).

O que está em discussão e vota-ção: voto facultativo, duração dosmandatos, eleições municipais egerais no mesmo dia, data da possepresidencial, entre outros assuntos,bem alheios aos interesses do povo.

A contrarreforma vai seguir emvotação no Congresso. Passa por umsegundo turno na Câmara e depoisvai para o Senado.

Já estando mais que comprovadoque com esse Congresso não dá, éhora de recolocar com força a lutapela Constituinte. A Secretaria Ope-rativa da campanha, por decisão daúltima plenária nacional, começa aorganizar o Encontro Nacional Po-pular pela Constituinte Soberana eExclusiva do Sistema Político, parasetembro de 2015.

Misa Boito

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911 a 24 de junho de 2015 ■ O TRABALHO Luta de classe

Depois do 29 de maio, não baixar a guarda!Paralisações e manifestações em todo o país em defesa dos direitos

O 29 de maio, dia nacional de pa-ralisação e mobilização convo-

cado pela CUT e outras centrais, rea-lizou-se em todo o país.

Em Porto Alegre, Recife e Belo Ho-rizonte, com a paralisação dos trans-portes, o clima era de greve geral. EmSão Paulo, onde o metrô não parouna capital, mais de 50 mil trabalha-dores desfilaram pelas ruas de SãoBernardo depois de paralisação nasmontadoras. Nas faixas que encabe-çavam manifestações em todos osestados o protesto contra as MPs 664e 665 e a exigência de derrubada doPL 4330 da terceirização, agora noSenado como PLC 30.

Assim, se o 29 de maio não foiigual, foi um pouco maior em ter-mos de paralisação que o 15 de abril.O que não deixa de ser positivo, poisos trabalhadores sofriam o impacto

negativo da aprovação das MPs doajuste fiscal de Levy no Senado.

A resolução da Executiva da CUTde 2 de junho chama a continuida-de da luta, agora pela derrubada doPLC 30 que está no Senado, apon-tando para a greve geral caso a ter-ceirização ilimitada seja aprovada,exigindo o veto de Dilma. Apontatambém para uma manifestação emjulho, diante do Ministério da Fa-

zenda, contra o planoLevy de ajuste fiscal:“nossa luta tem comocentro o combate àpolítica de ajuste fis-cal promovida peloMinistro JoaquimLevy, que penaliza ostrabalhadores com aretirada de direitos, oaumento do desem-

prego, a redução e piora das políti-cas sociais.”

Começam os CECUTsEm Alagoas e Brasília os congres-

sos estaduais da CUT (CECUTs)ocorreram entre 28 e 30 de maio,sendo interrompidos para manifes-tações no dia 29. Em ambos forameleitas novas direções com base emchapas únicas, expressando o balan-

“Negocia Dilma!”Direção do Andes dificulta ampliação da greve nas universidades federais

Diante do corte de R$ 70 bilhõesno orçamento, do plano de

ajuste de Levy, com graves prejuízospara a educação, os docentes das uni-versidades federais iniciaram umagreve nacional. O governo Dilma serecusa a negociar a pauta específicado Andes (sindicato nacional), queprevê piso salarial igual ao mínimodo DIEESE, além de pontos da pau-

ta unificada dos servidores federais,como o reajuste de 27,3% e a pari-dade entre ativos e aposentados.

Mas a greve encontra dificuldades.Das 63 universidades federais, ape-nas 24 aderiram. O Andes-SN, cujadireção é ligada à CSP-Conlutas, nãose apoiou no dia nacional de parali-sação de 29 de maio, chamado pelaCUT e outras centrais. Assim, no

Conselho de ADs (CONAD) de 2 e3 de maio sequer foi discutido o dia29, o que só veio a ocorrer após o“sinal verde” dado pela Conlutas.

Em 4 de junho, um comunicadodo Comando Nacional de Greve se-quer menciona a pauta do movimen-to, nem a exigência central de que ogoverno federal negocie, apresentan-do a greve como uma ação de oposi-

ção e denúncia. Os docentes buscamapoiar-se agora no 12 de junho, umdia nacional em defesa da EducaçãoPública, para estender a greve ao con-junto das universidades federais.Para isso é preciso colocar no centrodas mobilizações a exigência de “ne-gocia, Dilma” e reavivar a pauta con-creta do movimento.

Fernando Cunha

Vitória dos servidores em FlorianópolisAssembleia rejeitou o acordo rebaixado

feito pela direção sindical

Barrar a terceirização no Serviço FunerárioO prefeito Haddad (PT) de São Paulo dá péssimo exemplo

Em plena luta contra o PL 4330,hoje PLC 30 no Senado, liderada

pela CUT, a prefeitura de São Pauloquer terceirizar o quadro de moto-ristas do Serviço Funerário. O pre-gão está marcado para 17 de junho.Para o Sindsep (filiado à CUT), sin-dicato dos servidores municipais,isso é inaceitável. Após o anúncio doprefeito, os trabalhadores já para-ram, por duas horas, nos dias 20 e29 de maio.

A luta contra a terceirização não éde hoje. Em 2003, o Sindsep impôsum recuo à prefeita Marta Suplicy enão permitiu a terceirização de mo-toristas. Numa greve em 2011, o pre-feito Gilberto Kassab foi à justiça,multou o sindicato e abriu proces-sos para punir trabalhadores. Mas agreve foi vitoriosa, conquistando acontratação de motoristas e sepulta-dores através de concurso público.

Com a eleição de Haddad, os tra-balhadores esperavam o fim do su-cateamento do Serviço Funerário edas ameaças de terceirização. Masocorreu o inverso.

O pregão prevê contratar 30 carroscom motoristas terceirizados (sendotrês de luxo, com ajudante). Seriamcerca de 130 motoristas terceiriza-dos, número similar ao de motoris-tas concursados que existem hoje. Asuperintendência argumenta que aatividade de motorista não é “servi-ço fim”, por isso poderia ser terceiri-zada. Ora, isso atropela a lei que ins-tituiu o Serviço Funerário, que dizque é de sua exclusividade o transla-do de corpos.

O Sindsep defende que nenhumserviço deva ser terceirizado e exigedo prefeito Haddad que cancele opregão de terceirização.

João B.Gomes

Em maio, os servidores municipaisde Florianópolis (SC) fizeram

uma das maiores greves da catego-ria, paralisando 100% das unidadesescolares, 80% das unidades de saú-de e assistência social e 60% dos ser-viços de obras.

Diante da negativa do prefeito emresponder à pauta da categoria, a gre-ve foi deflagrada em 13 de maio,contra a posição da direção do Sin-trasem, ligada à corrente EsquerdaMarxista, que queria jogá-la para odia 19. A reposição de perdas salari-ais era a principal reivindicação.

O prefeito apresentou uma contra-proposta que atendia parcialmenteas reivindicações, com uma reposi-ção salarial de 7% parcelada em qua-tro vezes (até janeiro de 2016). A di-reção do sindicato acordou essa pro-posta com a prefeitura e na assem-

bleia defendeu o fim da greve. Mas,os mais de 6 mil trabalhadores pre-sentes, por ampla maioria, votaramna continuidade da greve defendidapor companheiros de “O Trabalho”e outros setores, rejeitando o acordofeito pela direção sindical.

Foram 19 dias de greve, apesar dadecretação de sua ilegalidade e dedescontos de salário, ao final dosquais a categoria arrancou a reposi-ção salarial integral das perdas, 11%no vale-alimentação, aplicação donovo Plano de Carreira, concursopúblico, um grupo de trabalho paragarantir a aplicação do estatuto domagistério na hora-atividade, a reti-rada da ação contra a greve e a devo-lução do desconto de 30% feito nossalários, impondo assim uma derro-ta ao prefeito Cesar Junior (PSD).

Renê Munaro

ço positivo da ação da CUT desde oinício deste ano.

As propostas da “CUT independen-te e de luta” (sindicalistas ligados àO Trabalho e independentes) foramapresentadas e aprovadas nos doiscongressos já realizados. Os próxi-mos CECUTs serão o de Pernambu-co (10 a 13/6) e Ceará (18 a 20/6).

Os desafios são enormes, mas,como disse Julio Turra na aberturado congresso da CUT Brasília: “ACUT pôde ocupar o lugar de pontode apoio para a resistência em defe-sa dos direitos e contra a ofensiva dadireita, numa situação de paralisiado PT e de medidas equivocadas dogoverno, porque soube ser indepen-dente de governos e autônoma dian-te de partidos políticos”.

Lauro Fagundes

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Dia Nacional de Paralisação em frente a Volkswagen em SBCampo

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10 O TRABALHO ■ 11 a 24 de junho de 2015História

A Comuna de Paris e a 1a Internacional:ensinamentos de grande atualidade

Durante 71 dias Paris viveu o primeiro governo operário da história

A insurreição começou em 18 demarço de 1871, quando operá-

rios e operárias parisienses, esfomea-dos por meses de cerco prussiano àcidade, se confraternizam com os sol-dados enviados para lhes tomar os ca-nhões que eles tiveram que pagar dopróprio bolso em razão da incúria dogoverno provisório burguês (1).

Nem a população e nem os solda-dos sabiam que estavam em vias deconstituir o primeiro governo ope-rário da história. Um governo queiria durar pouco mais de dois mesesaté ser esmagado em sangue em con-dições tais que, até hoje, cento e qua-renta anos depois, é impossível lersem emoção e raiva a descrição dasexecuções, linchamentos, fuzilamen-tos em massa – que atingiram o pa-roxismo criminoso na chamada Se-mana Sangrenta, de 21 a 28 de maio.

Desde o início, da eleição e da re-gra de revogabilidade dos mandatospara o Conselho da Comuna, desdea instituição dos delegados operáriospelos próprios operários, todos sedavam conta de que era uma revolu-ção de um novo tipo. E que, pela pri-meira vez, os operários não iriamcombater para depois a burguesia ti-rar proveito, como aconteceu em1830, ou em fevereiro de 1848 ou ain-da setembro de 1870. Tratava-se dainstauração de uma nova ordem, peloproletariado, para o proletariado.

Mesmo se é justo dizer que a Co-muna foi filha da Primeira Interna-cional, é preciso esclarecer que osmembros da Internacional não pas-savam de uma pequena minoria eque seu programa era muito poucoconhecido. A Comuna não foi nemo produto de um complô saído daimaginação dos revolucionários –como cacarejam todos os jornalistasservis desde 1789 – nem de um pla-no pré-estabelecido que os revolu-cionários teriam ditado à classe ope-rária. Muito ao contrário.

Mesmo Marx e Engels não hesita-ram em rever posições porque a his-tória em geral e a da Communa de

Paris, em particular, nuançou e atémesmo corrigiu seus pontos de vistainiciais.

Foi assim que, em 1872, numareedição do Manifesto do PartidoComunista, referindo-se ao capituloII eles afirmavam: “Em mais de umaspecto, esse trecho seria, hoje, redi-gido de outro modo. Tendo em vistao progresso colossal da grande indús-tria nos últimos vinte e cinco anos eo correspondente progresso alcança-do pela organização da classe ope-rária em partido; tendo em vista asexperiências, primeiro, da Revoluçãode fevereiro [de 1848] e, sobretudoda Comuna de Paris que, durantedois meses, colocou pela primeiravez o poder político nas mãos doproletariado, certos pontos desseprograma tornaram-se ultrapassa-dos. A Comuna, principalmente,demonstrou que ‘para alcançar seusobjetivos próprios, a classe operárianão pode se limitar a tomar posseda máquina do Estado que já se en-contra montada e colocá-la em fun-cionamento’”.

Estas últimas palavras são da Men-sagem da Primeira Internacional so-bre A Guerra Civil na França: era pre-ciso quebrar o aparelho de Estado ea Comuna de Paris, foi, por sua ação,por seus métodos, “a forma enfim

encontrada” daquilo que chamamosa ditadura do proletariado. Não foio cérebro genial de Marx que inven-tou essa “forma enfim encontrada”,mas a vida real do movimento ope-rário com suas contradições, suasinsuficiências e suas organizações.

Essa recusa permanente de dar or-dens ou lições à classe operária éuma das características mais marcan-tes da política de Marx e dos que delese reivindicam.

Assim, em 1881, Marx escrevenuma de suas cartas: “A questão quevocês levantam (sobre as medidas

(1) Contexto histórico

Desde setembro de 1870 Paris foi sitiada por tropas da Prússia e outrosestados alemães que ocuparam o norte da França após derrotar exército deNapoleão III, provocando sua queda. Em janeiro de 1871, um armistíciofoi negociado com o chanceler prussiano Bismarck pelo governo republica-no burguês que sucedeu Napoleão III. Mais hostil aos “revolucionários pa-risienses” do que às tropas de ocupação, esse governo, dirigido por AdolpheThiers, tenta desarmar a cidade, enviando um destacamento do exércitopara tomar da Guarda Nacional de Paris 227 canhões que a própria popula-ção havia pago para se defender do cerco prussiano. A recusa de entregar oscanhões dá início à insurreição. (Nota da redação de OT)

“UM CORPO OPERANTE, EXECUTIVO E

LEGISLATIVO AO MESMO TEMPO”da Mensagem da Primeira Internacional

AComuna foi formada por conselheiros municipais, eleitos por sufrágio

universal nos vários bairros da cidade, com mandato revogável a qual-

quer momento. A maioria dos seus membros eram naturalmente operários

ou representantes reconhecidos da classe operária. A Comuna havia de ser

não um organismo parlamentar, mas um corpo operante, executivo e legis-

lativo ao mesmo tempo. Em vez de continuar a ser o instrumento do governo

central, a polícia foi logo despojada dos seus atributos políticos e transfor-

mada em instrumento da Comuna, responsável e revogável a qualquer mo-

mento. O mesmo aconteceu com os funcionários de todos os outros ramos

da administração. Desde os membros da Comuna até o mais baixo escalão,

os funcionários públicos eram remunerados por um salário de operário. Os

direitos adquiridos e os subsídios de representação dos altos dignitários do

Estado desapareceram com os próprios dignitários do Estado. As funções

públicas deixaram de ser a propriedade privada dos testas-de-ferro do go-

verno central. Não só a administração municipal, mas toda a iniciativa até

então exercida pelo Estado foram entregues nas mãos da Comuna.

Uma vez abolido o exército permanente e a polícia, instrumentos do po-

der material do antigo governo, a Comuna assumiu a tarefa de quebrar a

ferramenta espiritual de opressão, o “poder dos padres”. Ela decretou a

dissolução e a expropriação de todas as igrejas que detivessem posses.

Os padres foram devolvidos ao calmo retiro da vida privada, para aí vive-

rem das esmolas dos fiéis, da mesma forma que seus predecessores, os

apóstolos. Todos os estabelecimentos de ensino foram abertos ao povo

gratuitamente e ao mesmo tempo desembaraçados de toda a interferên-

cia de Igreja e do Estado.”

legislativas que devem ser adotadascaso os socialistas cheguem ao po-der) me parece mal colocada. O quese deve fazer num determinado mo-mento do futuro depende natural-mente das circunstâncias históricasnas quais será preciso agir. Vossaquestão pertence ao país das nuvense, portanto, representa um problemafantasmagórico, ao qual só se poderesponder criticando a própria ques-tão. Nós só podemos resolver umaequação se, em seu enunciado, elajá inclui os elementos da solução”. Eele retoma o exemplo da Comunade Paris para acrescentar: “A anteci-pação doutrinária e necessariamen-te fantasmagórica do programa deação de uma revolução futura serveapenas para nos desviar da luta dopresente”.

A Comuna de Paris foi uma gran-de lição em particular para os mar-xistas e, em geral, para todos os re-volucionários. Nesse sentido, conti-nuar a evocá-la, hoje, não é umahomenagem formal, pois ela é deuma viva atualidade.

Jean-Marc Schiappa

(trechos do texto publicado no jornal

“Informations Ouvrières”, do Partido

Operário Independente da França, edi-

ção no 354)

Barricada Voltaire Lenoir, Comuna de Paris, 1871

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1111 a 24 de junho de 2015 ■ O TRABALHO Internacional

Na Espanha, urnas mostram repúdio a RajoyFalta uma força política que transforme a rejeição em campanha imediata pelo fim do governo

As eleições municipais realizadasno Estado espanhol, em 24 de

maio, representaram uma grande der-rota para o Partido Popular (PP, di-reita neofranquista) e para seu gover-no, conduzido pelo primeiro-minis-tro Mariano Rajoy. Em primeiro lu-gar, não houve a “grande mobiliza-ção eleitoral” anunciada. Abstenção,votos brancos e nulos, somaram 38%do eleitorado, resultado semelhanteao do pleito municipal de 2011.

Em comparação com essas eleiçõesanteriores, o PP baixou de 8,5 mi-lhões de votos para 6 milhões. OPSOE (Partido Socialista), que em2011 obtivera seu pior resultado des-de 1979, como efeito da política decortes orçamentários do antigo gover-no “socialista” de Zapatero, recuoumais, caiu de 6,2 milhões para 5,6.

A coalizão Esquerda Unida (IU,sigla em espanhol), dirigida peloPartido Comunista, caiu de 1,4 mi-lhão para 1 milhão, mas a compara-ção com o resultado anterior é maisdifícil, porque agora se apresentouintegrada a outras diferentes coali-zões em 40% das municipalidades.

Finalmente, entre as candidaturasapoiadas pelo Podemos, as que defen-deram a luta contra os cortes orçamen-tários obtiveram bons resultados. É ocaso de Ada Colau, em Barcelona, ede Manuela Carmena, em Madri.

Vontade de mudançaAs urnas exprimiram a imensa re-

jeição dos trabalhadores e da juven-

tude à política de cortes e de privati-zação dos serviços públicos aplica-da nas municipalidades pelo PP e,em nível de toda a Espanha, pelogoverno Rajoy. Nenhum de seus opo-nentes, porém, fez uma campanhaclaramente decidida a acabar com ogoverno do PP.

A política de Pedro Sanchez, doPSOE, não é vista como uma verda-deira mudança, principalmente porcausa de suas referências à herançapodre do governo Zapatero. Como épossível anunciar uma pretensa“prioridade aos serviços sociais” e aomesmo tempo posicionar-se pelamanutenção do artigo 135 da Cons-tituição, que dá prioridade ao paga-mento da dívida? Como se pode fa-lar em revogar a reforma trabalhistade Rajoy mas não a de Zapatero?

IU se encontra à margem. A coali-zão governou a Andaluzia e ali apli-

cou os cortes orçamentários apro-vados por Rajoy e pela União Euro-peia (UE).

No que se refere ao Podemos, apre-sentado como a grande novidade epossível alternativa aos partidos tra-dicionais da classe operária, suamarcha acelerada a uma “modera-ção” conduziu a resultados mais fra-cos do que se esperava. Dias antesdas eleições, Pablo Iglesias, secretá-rio-geral do Podemos, em uma cartapropunha “utilizar as instituiçõespara melhorar a vida de cada pessoa,pensando apenas no bem comum enão no benefício de alguns”, ou seja,renunciando a qualquer proposta determinar com o regime monárquicoapodrecido, para se dispor a traba-lhar no quadro dessas instituições.

A central sindical UGT acaba deanunciar a posição de exigir eleiçõesantecipadas. Cabe às demais forças

PODEMOS: RESPEITO AO

CALENDÁRIO ELEITORAL

OPodemos alcança certa au-

diência por ser uma força polí-

tica não identificada com a corrup-

ção ou com a política de cortes or-

çamentários. Mas seu documento

intitulado “Princípios políticos” afir-

ma que “as batalhas eleitorais ocu-

pam hoje o centro do confronto po-

lítico”, o que tem uma consequên-

cia prática: o partido não se posi-

ciona pelo fim imediato do gover-

no Rajoy, dispondo-se a respeitar

o calendário eleitoral do regime,

que garante mais seis meses ao

atual primeiro-ministro. Sobre essa

política, leia na revista “A Verdade”

no 84, à venda com os militantes

de O Trabalho, o artigo “Dos Indig-

nados ao Podemos”.

Escancarada a corrupção na FifaPrisão de dirigentes, ponta do iceberg do “grande negócio” que é a Copa do Mundo

sociais e políticas que representama vontade de mudança se associarema essa exigência e transformá-la emuma campanha política imediata.Para os trabalhadores, o central ésaber quem irá defender suas reivin-dicações e suas conquistas. Essasquestões estarão no centro da confe-rência operária nacional do Comitêpela Aliança dos Trabalhadores e dosPovos, marcada para 27 de junho,em Madri.

Correspondente

No último dia 27, oito dirigentesda Fifa, entidade privada que or-

ganiza o futebol profissional nomundo, foram presos na Suíça apósinvestigação do (Polícia Federal es-tadunidense) que aponta para aocorrência de corrupção, fraude e la-vagem de dinheiro na entidade. Asprisões, acompanhadas do indicia-mento de outros seis dirigentes, re-percutiram em todo o mundo e le-varam à renúncia do presidente daFifa recém-reeleito, Joseph Blatter.

Entre os presos está o cartola bra-sileiro José Maria Marín, ex-presi-dente da CBF e ex-governadorbiônico de São Paulo, que, em suacolaboração com o regime militarbrasileiro, é implicado como um dosresponsáveis pela perseguição polí-tica ao jornalista Vladmir Herzog,morto sob tortura nos porões da di-

tadura em 1975. Após as prisões, oatual presidente da CBF, Marco Polodel Nero, deixou a Suíça às pressasantes mesmo de poder representar oBrasil no Congresso da entidade.

O envolvimento da Fifa e da CBFescancara o “modus operandi” dasentidades de futebol ao redor domundo, com diversas acusações decontratos corruptos e fraudulentoscom empresas esportivas e pagamen-to de propinas milionárias que en-volvem desde erros de arbitragem atéa escolha dos países-sede das copasdo mundo desde 1998, na França,até 2022, a ser realizada no Catar.Nenhuma novidade para quem tempresenciado o futebol profissional setornar um grande negócio, com en-riquecimento de cartolas e empresá-rios, sem prestação de contas às au-toridades ou à população. Também

evidencia quão sistemática é a cor-rupção entre empresas privadas, quenão é “privilégio” do setor público,diferente do que faz parecer a gran-de mídia em seus ataques à gestão eaos serviços públicos.

O papel dos EUAO fato de as investigações terem

sido lideradas pelos Estados Unidosindica que pode haver outros interes-ses envolvidos. O presidente russoVladmir Putin fala em pressões polí-ticas na eleição da presidência da Fifa.Alguns analistas denunciam que oocorrido faz parte de uma briga emtorno de fatias do mercado futebolís-tico visado por empresas americanas,o que envolveria a candidatura dosEUA como sede para a Copa do Mun-do de 2022. O mercado do futebol,crescente nos EUA, já conta com mais

de 70 milhões de torcedores e algu-mas das principais empresas patroci-nadoras do esporte são deste país.

Dessa forma, não surpreende quea declaração da procuradora-geraldos Estados Unidos de que “o De-partamento de Justiça do país estádeterminado a acabar com a corrup-ção no mundo do futebol” não te-nha levado à investigação e puniçãoigualmente rigorosas às empresasestadunidenses implicadas nos es-cândalos. Sem nenhuma ilusão nasboas intenções do FBI e do Departa-mento de Justiça estadunidense, esseepisódio, que reforça a ideia dos EUAcomo ‘xerifes do mundo’, deve levan-tar todas as suspeitas para os inte-resses financeiros deste país em umdos principais mercados esportivosno mundo.

Pablo Valente

Mariano Rajoy, durante a campanha eleitoral: "trabalhar, fazer, crescer"

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12 O TRABALHO ■ 11 a 24 de junho de 2015

David Oxygène

Internacional

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“Não é possível haver eleições livres em um país ocupado”O que se prepara no Haiti é mais “uma manobra das forças de ocupação da ONU”

Estão marcadas para os meses deagosto e outubro, respectiva-

mente, as eleições legislativas e pre-sidenciais no Haiti. David Oxygène,dirigente do partido CoordenaçãoDessalines (KOD) e do movimentode liberdade e igualdade dos haitia-nos pela fraternidade (Moleghaf) falada situação.

que esse poderreacionário, an-tipopular, anti-classe operáriapoderia organi-zar eleições li-vres e democrá-ticas. As eleiçõesanunciadas nopaís não serãooutra coisa quenão uma enési-ma manobra fei-ta pelas forças deocupação dasNações . E preci-so, por fim, dizeruma vez maisque a organização das eleições emobediência ‘as forças de ocupação daONU terminará em uma outra catás-trofe, como ocorreu em 2010, quan-do Michel Martelly, sem nenhumarelação com a vida política, foi im-posto presidente.

Sobre a recente visita do presiden-te francês, François Hollande aoHaiti.

Oxygène: O presidente francês,François Hollande, ministros de seugoverno e homens de negócio fran-ceses estiveram no dia 12 de maiode 2015 no Haiti para uma visita de24 horas. O presidente Martelly e oschefes de Estado e de governo da re-gião e da África participaram, em 10de maio, em Pointe-a-Pitre (Guada-lupe), da inauguração do “MemorialActe”, centro caribenho de expressãoe memória da escravidão. O momen-to foi forte e altamente simbóliconessa data de comemoração da abo-lição da escravidão. Sobretudo quan-do o presidente Hollande anunciou:“Quando chegar ao Haiti, quitarei adívida que temos”.

Depois dessa declaração, algumashoras mais tarde, uma mensagem daassessoria do presidente francês ex-plicou à imprensa nacional e inter-nacional que houve um mal-enten-

Oxygène: Primeiro, é preciso dizerque, quando um país está ocupado,não é possível falar em eleições livrese democráticas, não é possível falarsequer de eleição soberana. Se foremorganizadas eleições em um país comoo Haiti, estas acontecerão sob o con-trole de grandes potências imperialis-tas. Um país ocupado quer dizer queo voto está ocupado também.

A ideia essencial das eleições queo presidente Martelly lançou depoisde alguns meses é precisamente a desubstituir alguns quadros por novos,com o objetivo de permitir que asclasses dominantes haitianas e asforças imperialistas possam se sus-tentar melhor, assegurando, assim,sua dominação sem choques comum novo governo por trás de suasexigências e que não resolverá nada.Diante da ocupação do país, apenasos ingênuos e os minoritários daclasse dominante podem acreditar

dido, que as intenções do presiden-te Hollande referem-se unicamenteà uma dívida moral e não financei-ra, como alguns acreditaram ter com-preendido. Pode-se dizer que a di-plomacia francesa e o presidenteHollande se riem de nós.

A visita de Hollande foi uma jor-nada provocadora e humilhante paraos filhos e filhas de Dessalines [lí-der da revolução haitiana que der-rotou o exército francês, em 1803,NdT]. Na verdade, estamos diante deum verdadeiro complô para destruiro povo haitiano e esse complô visadesintegrar os fundamentos da revo-lução antiescravista e anticolonial de1804. Durante sua turnê caribenhaem Porto Príncipe, Hollande não res-peitou sua declaração feita em Gua-dalupe, relativa à dívida de 17 bi-lhões de euros extorquidos da naçãohaitiana no momento da indepen-dência.

Milhares de pessoas estavam noCampo de Marte. MOLEGHAF esta-va presente também para exigir a res-tituição e reparação da dívida da in-dependência. Em diversos cartazespodia-se ler “Viva a restituição, vivaa reparação, abaixo a ocupação, foraFrançois Hollande”. A luta pela res-tituição e reparação deve prosseguiraté o final, até a vitória.

11 ANOS BASTAM!

Em 1o de junho, respondendo ao

chamado feito pela Coordena-

ção Haitiana pela retirada das tro-

pas, em alguns países do continen-

te, como nos EUA e México, além

do próprio Haiti, foram realizadas

atividades com essa exigência.

No Brasil, em 22 e 23 de maio,

um seminário organizado por diver-

sas entidades levantou a exigência

da retirada imediata das tropas, sob

o comando brasileiro. O Comitê “De-

fender o Haiti é Defender a nós mes-

mos” participou da atividade, na li-

nha da mais ampla frente única na

luta pela retirada das tropas.

Bárbara Corrales que representou

o Comitê, explica que o que o com-

promisso se concentra na exigên-

cia, assim expressa no seminário:

“Ao mesmo tempo registramos a de-

claração do ministro da Defesa

Jaques Wagner, na Comissão de

Relações Exteriores do Senado, ‘a

missão no Haiti acaba o ano que

vem, não por decisão nossa, por-

que, na medida em que nos incor-

poramos a um programa desse, fi-

camos um pouco submetidos à de-

cisão das Nações Unidas’. Declara-

ção essa que enseja uma questão:

por que esperar até lá? Nossa exi-

gência inequívoca é a retirada in-

condicional das tropas brasileiras

do Haiti!. Onze anos bastam”.

Propostas sobre outras questões

apresentadas no seminário são de

responsabilidade das entidades

que as apresentaram.

De fato, passou da hora do Bra-

sil retirar as tropas, como, aliás, já

fizeram Argentina e Equador.

Ouve-se muito falar sobre a or-ganização as eleições no Haiti, oque diz sobre isso?

Oxygène: De fato, o que está nacrista da onda na mídia é a questãodas eleições com a presença das for-ças de ocupação em territóriohaitiano.

O Conselho Eleitoral Provisório(CEP) já publicou a lista definitivados candidatos que poderão dispu-tar as eleições legislativas. O CEPpassou por várias etapas, mas semque um orçamento tenha sido vali-dado. Fala-se de 64 milhões de dó-lares, o que ultrapassa largamente osorçamentos dos ministérios do Co-mércio, do Turismo e do Desenvol-vimento reunidos. Com efeito, fala-se muito de eleições no Haiti, mas oprimeiro-ministro de fato, o sinistrooportunista Evans Paul, após umencontro com os proprietários deFundos em 23 de abril, revelou que50% dos recursos financeiros neces-sários para a organização das eleiçõesmunicipais, legislativas e presiden-cial não foram ainda levantados.Fala-se de eleições, mas sem fundospara as eleições.

Até hoje, apenas 38 milhões dedólares, geridos pelo Programa dasNações Unidas para o Desenvolvi-mento (PNUD), estão disponíveispara a organização dos escrutínios.

E preciso entender que o dinheirodisponível para as eleições não é con-trolado pelo governo haitiano, maspelo PNUD, que é pura e simples-mente a ocupação do país pelas gran-des potências imperialistas por meiode suas instituições financeiras. Fala-se muito em eleições, fala-se muitonesses últimos dias da impossibili-dade de eleições em 2015. Prevemostormentas no horizonte.

Eleições livres e democráticascom a ocupação das tropas da Mi-nustah?

Soldados das tropas brasileiras assegurando a farsa eleitoral de 2010