ÓrgÃo bissemanal do partido operÁrio revolucionÁrio …

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ASSAS EM DEFESA DA REVOLUÇÃO E DITADURA PROLETÁRIAS ÓRGÃO BISSEMANAL DO PARTIDO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO MEMBRO DO COMITÊ DE ENLACE PELA RECONSTRUÇÃO DA IV INTERNACIONAL ANO 19 - Nº 351 - DE 07 A 21 DE JANEIRO DE 2008 - R$ 2,00 Internacional: • A ofensiva intervencionista dos EUA • A crise capitalista e suas contradições • Manifestações da crise na América Latina • A luta das massas: rebelião das nacionalidades oprimidas e luta das massas na Europa e AL • A importância da luta do POR boliviano • A tarefa de construir o partido mundial (IV Internacional) e as seções em cada país Conferências Regionais do POR: Nacional: • A crise política e disputa interburguesa • A estatização das organizações de massa • A cisão da CUT, a disputa interburocrática e a necessidade de varrer com a burocracia • A carência de independência das massas diante do governo e das frações burguesas • As bandeiras antiimperialistas e anticapitalistas • A tarefa de construir o partido operário revolucionário

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ASSAS

EM DEFESA DA REVOLUÇÃO E DITADURA PROLETÁRIAS

ÓRGÃO BISSEMANAL DO PARTIDO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIOMEMBRO DO COMITÊ DE ENLACE PELA RECONSTRUÇÃO DA IV INTERNACIONAL

ANO 19 - Nº 351 - DE 07 A 21 DE JANEIRO DE 2008 - R$ 2,00

Internacional:• A ofensiva intervencionista dos EUA• A crise capitalista e suas contradições• Manifestações da crise na América Latina• A luta das massas: rebelião das nacionalidades

oprimidas e luta das massas na Europa e AL• A importância da luta do POR boliviano• A tarefa de construir o partido mundial

(IV Internacional) e as seções em cada país

Conferências Regionais do POR:

Nacional:• A crise política e disputa interburguesa• A estatização das organizações de massa• A cisão da CUT, a disputa interburocrática

e a necessidade de varrer com a burocracia• A carência de independência das massas

diante do governo e das frações burguesas• As bandeiras antiimperialistas e anticapitalistas• A tarefa de construir o partido operário

revolucionário

2 – MASSAS – de 07 a 21 de janeiro de 2008

Conferências Regionais do PORO POR realiza em janeiro suas conferências regionais. As conferências regionais fazem uma avaliação política daconjuntura, realizam balanços organizativos e políticos da intervenção em cada regional e tomam resoluções or-ganizativas para avançar na construção do partido. Publicamos abaixo textos sobre a conjuntura internacional enacional, que sintetizam a elaboração política coletiva realizada nos últimos meses, traduzida em artigos do jor-nal Massas. E textos de avalição política das regionais de Ceará e Rio Grande do Norte, que constituem um avan-ço na construção do partido nessas regiões, na medida que respondem aos problemas políticos regionaiscolocados.

Principais pontos de discussão sobre a situaçãointernacional

1.Crescem as tendências bélicas docapitalismo. Os Estados Unidos se po-tencializaram no período entre epós-guerras mundiais, sob a égide do ca-pitalismo na sua fase imperialista. Cons-tituíram um vasto domínio, de formaque não há conflito em que sua presençanão seja determinante. A longa guerracontra o Iraque, a ocupação do Afeganis-tão, as ameaças constantes ao Irã, os ata-ques israelenses/EUA sobre o povopalestino, os bombardeios israelenses noLíbano, os choques entre turcos e curdose os conflitos internos alimentados pelosEUA no Paquistão sinalizam o caminhopara um conflito bélico de maiores pro-porções. A convulsão no Paquistão, queresultou nesse momento no assassinatoda ex-1ª ministra Benazir Bhutto, é pro-vocada pelo controle dos EUA, que pro-curam afastá-lo dos demais paísesislâmicos. O imperialismo se utiliza dasdivisões internas e arma uns contra osoutros para exercer seu domínio. Asocupações militares e os massacres mos-tram para os explorados do mundo abarbárie imposta pelas potências aos po-vos oprimidos. Os EUA, para garanti-

rem sua hegemonia, dependem de suasmultinacionais controlarem as fontes dematérias-primas e, particularmente, ofluxo do petróleo. Para isso, está obriga-do a passar por cima das fronteiras naci-onais dos países que fornecem amatéria-prima e que pretendem exercera soberania. As tendências bélicas do ca-pitalismo mundial se manifestam assimpor todos os lados. O recente plano dosEUA de instalar bases antimísseis na Eu-ropa Oriental serviu de pretexto para ogoverno russo suspender o Tratado deControle de Armas Convencionais, assi-nado com os EUA em 1990. O governoRusso anunciou que irá desenvolver no-vos complexos nucleares e remodelar oexército. O Japão se rearma sob o argu-mento do perigo nuclear representadopela Coréia do Norte. A China impulsio-na um programa militar para fazer fren-te à hegemonia marítima dos EUA.Cresce a instabilidade mundial, que sejulgava equacionada com o fim da guer-ra fria e com o processo de restauraçãocapitalista nas economias estatizadas. Asupremacia militar dos Estados Unidosé total, mas não consegue impor a derro-

ta e ocupação definitiva do Oriente Mé-dio (Iraque, Afeganistão, Palestina, Irã,Paquistão). O crescimento econômico daChina, Índia, as tensões entre a Coréiado Norte e Japão e interesses da Rússianos países de fronteira com o Mar Negrosão problemas e contradições que nãopodem fugir do controle da maior po-tência econômica e militar, os EstadosUnidos. A deterioração econômica ali-mentará as tendências bélicas mundiais.

2.Outra característica da situaçãomundial é o acúmulo gigantesco de capi-tal financeiro, sem possibilidade plenade aplicação na produção, o que poten-cia o mercado especulativo. A burguesiafinanceira está obrigada a manter a lu-cratividade artificial e buscar aplicabili-dade onde as taxas de juros são maiscompensadoras. Está aí uma das contra-dições do sistema capitalista, que é ma-terializada na contradição entre ovolume de capital especulativo e a pro-dução de mercadorias. Inverter essa ló-gica significa alimentar a crise desuperprodução, com conseqüênciasigualmente nefastas para o capital. O

Greves na Europa e resistência no Oriente Médio marcaram o ano

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acúmulo de capital parasitário, fonte decrises constantes, é um dos sintomas dadesagregação do capitalismo.

3.O aumento das fusões bancária eindustrial, conformando gigantescosconglomerados, elevam a concentraçãode capital. As fusões não indicam estabi-lidade da economia mundial. A aparentefortaleza que representam as fusões tempor detrás a impossibilidade de transfor-mar a potencialidade das forças produti-vas em equilíbrio econômico e social. Aconcentração de capital e da produçãoatingiu níveis tão altos que poucos mo-nopólios dominam o comércio de merca-dorias e de moedas. Os Estadosimperialistas não fazem senão respon-der aos interesses das corporações mul-tinacionais. O Estado imperialista e ocapital multinacional se soldam e deter-minam a “participação” dos países semi-coloniais na divisão internacional dotrabalho. As relações de produção e dis-tribuição privadas sob o controle dosmonopólios estão nas raízes da debilida-de das fusões/corporações. As forçasprodutivas altamente desenvolvidas seacham em choque com a propriedadeprivada monopolista e a situação de mi-séria das massas mundiais.

4.Os Estados Unidos, que detêm amaior fatia no mercado mundial, estãoimersos num impasse sem precedentes.O maior exportador e importador doglobo carrega um déficit crescente na ba-lança comercial e tem a maior dívida pú-blica, boa parte financiada comempréstimos externos. Na última déca-da, o capitalismo mundial teve um cres-cimento médio considerado positivopela burguesia. O que não fez senão pre-parar uma nova etapa de crise. É o queindica o desastre do setor imobiliárionos EUA. A recente crise se estendeu aosmercados financeiros da Europa e Ásia esó não teve maiores conseqüências devi-do à intervenção direta do governo nor-te-americano e dos bancos centraiseuropeus. Os capitalistas contornamessa crise econômica da mesma formaque fizeram nas demais crises, desde ade 1987, passando pela do México,Argentina, Leste Asiático etc, utilizandomecanismos artificiais (liberação de re-cursos pelos Bancos Centrais etc) e des-carregando sobre as massas. O grandeacúmulo de capital permite a burguesiadestruir parte de riquezas. Mas não po-

dem evitar as pressões recessivas. Nabase do capital financeiro parasitário, dojogo especulativo, do incentivo artificialao crescimento econômico e da crise quese manifestou está a contradição entre asforças produtivas e as relações de produ-ção monopolistas. A distância entre ocrescimento especulativo e o produtivotende a se aprofundar, tornando-se fontede crises constantes, abruptas e mais du-radouras. Por mais que as potências te-nham pressionado para a abertura demercados e por mais que a restauraçãocapitalista na ex-URSS, Leste Europeu,China tenha facilitado a expansão do ca-pital, as forças produtivas não puderamavançar de acordo com as possibilidadesdo capital acumulado. Pelo contrário,agigantou-se ainda mais o capital finan-ceiro e recrudesceu o poder dos mono-pólios. A crise financeira se converteráem crise da indústria e do comércio. Oque repercutirá violentamente sobre avida da classe operária e da maioriaoprimida. Os capitalistas se vêem obri-gados a aumentar ainda mais a taxa deexploração e a destruírem maciçamentepostos de trabalho. Trata-se, portanto,de manifestação conjuntural da crise es-trutural do capitalismo.

5.As economias latino-americanas,que sofreram o impacto da política doConsenso de Washington, foram condu-zidas de acordo com a orientação dasinstituições financeiras imperialistas. Osserviços públicos sofreram cortes drásti-cos de recursos, parte deles privatizada,as estatais entregues ao capital multina-cional e as relações de trabalho se torna-ram mais precarizadas. Quase duasdécadas de sangria das economias naci-onais para potenciar o superávit fiscal,condição para o pagamento das dívidasinterna e externa. Os resultados forampenosos para os países e para as massasexploradas. Nos últimos 5 anos, em fun-ção do reanimamento do mercado mun-dial, a América Latina ampliou suasexportações, o que permitiu a existênciade uma balança comercial positiva, fatorimportante para o cumprimento do su-perávit fiscal, para a constituição de umareserva cambial e saldar dívidas com oFMI. Em grande medida, os resultadospositivos da economia servem aos inte-resses das multinacionais, do grande ca-pital nacional e do capital financeiro. Aocontrário, os feitos econômicos não ame-

nizaram a pobreza que atinge grandescontingentes da população lati-no-americana. As desigualdades persis-tem, o desemprego é violento e ascondições de vida para a maioria explo-rada pioraram. A conjuntura da econo-mia mundial tem permitido oressurgimento de governos de caricatu-ra nacionalista, desenvolvimentista epopulista. A propaganda de que se temcolocado a economia desses países narota do desenvolvimento nacional, sus-tentável e de inclusão social está na de-pendência do movimento que fazem aspotências em meio à crise que se mani-festou em julho nos EUA. O fato é queesses governos de fachada nacionalistaprotegem a propriedade privada dosmeios de produção, mantêm as forças re-pressivas e são de obediência às orienta-ções gerais dos organismos financeirosimperialistas. O capitalismo mundial, al-tamente concentrado e centralizado pe-las potências, não permite aconcretização de um programa nacio-nal-reformista nas semicolônias. O capi-tal imperialista se acha profundamenteenraizado nas semicolônias e as riquezasnacionais, em grande medida, estão sobseu controle. Os governos tidos naciona-listas se mostram impotentes diante dopoderio do capital financeiro e das mul-tinacionais. Esses governos temem aação das massas exploradas contra apropriedade monopolista. Isso não querdizer que não possam atritar com o im-perialismo e seus porta-vozes internos.Mas o fundamental é que são governosburgueses. A política do partido revolu-cionário é de total independência frentea esses governos e de defesa dos méto-dos e do programa da revolução proletá-ria. A estratégia de derrocada doimperialismo e das burguesias nacionaisé a dos Estados Unidos Socialistas daAmérica Latina.

6.A Bolívia é o país mais amadureci-do para a revolução proletária, porqueconta a presença do POR boliviano. Ocaudilho Evo Morales despertou ilusõesna esquerda. O PO argentino chamou ovoto no caudilho. O PT recorreu ao creti-nismo parlamentar da Constituinte.Confirmou a tese porista de que o gover-no do MAS, por seus atos, por sua ade-são à política das multinacionais, dasempresas e dos conglomerados capita-listas mais poderosos, por sua submis-

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são servil à política de Chávez e FidelCastro, que não se atreve a tocar na pro-priedade privada para transformá-la emsocial, é um governo burguês, incapazde combater a burguesia imperialista eos grandes empresários bolivianos. Osacontecimentos comprovaram que aConstituinte do MAS garante a proprie-dade privada em todas suas dimensões,junto com os restos da propriedade co-munal indígena. A oposição de direita,que é expressão da decadente burguesianativa, trava um combate ao governoEvo, apesar deste jurar respeitar a vigên-cia do regime burguês. Atuando pormeio dos Comitês Cívicos, a direita em-purrou as massas urbanas como buchade canhão da burguesia fascista. Essadisputa entre o governo e a Oposição,pelo controle dos recursos do Estado, éalheia à luta dos explorados e comprovaa falácia do governo de que é possível re-solver os problemas dos oprimidos pelavia do entendimento com os explorado-res. A tese do POR é a de que a burguesiadeve ser derrotada pela via insurrecio-nal com uso da violência revolucionária,violência exercida pelas massas contraos exploradores. A conspiração direitistadeve ser derrotada nas ruas e, para isso,é preciso passar por cima do reformismodo MAS, que desarma os explorados e osconduz à derrota. Por isso, o POR con-clamou: “nada de se deixar arrastar pelojogo burguês do enfrentamento chauvi-nista entre regiões, a luta é dos explora-dos contra os exploradores”. Anacionalização do gás e das riquezas mi-nerais ditada por Evo nada teve a vercom a estatização e expropriação dasmultinacionais do país. Apenas foi usa-da para barganhar algumas vantagenspara a burguesia nativa. Desde a primei-ra hora, enquanto toda esquerda festeja-va o triunfo do MAS ou se mostravavacilante em caracterizá-lo como servilao grande capital, o POR demonstrouseu conteúdo de classe e seu papel detrava à revolução proletária. O objetivodo proletariado e do partido revolucio-nário é sepultar o capitalismo, a proprie-dade privada e levantar a sociedadecomunista alicerçada na propriedade so-cial dos meios de produção.

7.Diferentemente da Bolívia, a Vene-zuela carece de um partido revolucioná-rio. Chávez diz que implanta em seupaís “a revolução bolivariana”, o “socia-

lismo do século XXI”, que diz ser a trans-formação econômica, política e social deforma pacífica. Derrotou a Oposiçãoburguesa, que protagonizou o golpe de2002, mas não conseguiu quebrá-lacomo agente do imperialismo. Chávezelaborou modificações na Constituiçãoe, sob a pressão oposicionista, a subme-teu ao referendo, instrumento da demo-cracia burguesa. A Oposição ganhou oapoio da Igreja e setores da classe média,em particular dos estudantes, e travouum combate que levou à derrota de Chá-vez no referendo. A Reforma Constituci-onal se concentrava no fortalecimentoda presença do Estado em setores daeconomia considerados estratégicospelo nacionalismo. Não propunha ex-propriar o grande capital nacional emultinacional e conservava intacto o ca-pital financeiro, pretendia apenas esta-belecer disciplina estatal. Onacionalismo chavista se mostra limita-do diante da pressão dos capitalistas.Está voltado apenas a assegurar algunsbenefícios às camadas pobres, a realizaruma reforma agrária ultra-limitada, a es-tabelecer a co-gestão às empresas decla-radas falidas e maior controle estatal naprodução petrolífera. O que vale dizerque a economia venezuelana continuadeterminada pelo grande capital nacio-nal e imperialista. A ausência do partidoda classe operária faz com que os opri-midos permaneçam sob o controle polí-tico e burocrático do governo. Setoresempobrecidos da classe média estão sen-do arrastados pela oposição direitista. Atarefa de construção do partido da revo-lução proletária, para impor o socialis-mo, é a única via para pôr fim aosconflitos burgueses em torno do Estado.

8.A situação em que vivemos conduza duas vias: a) a do capital, que é a deamenizar os efeitos com medidas queagudizam a contradição fundamental,que é a incompatibilidade entre as forçasprodutivas e as relações monopolistasde propriedade; b) a do proletariado,que é de protagonizar a luta de classes. Oproblema está em que a classe operáriadesorganizada e controlada pela políticaburguesa não pôde ainda liderar ummovimento contrário ao intervencionis-mo bélico e econômico do imperialismoe desenvolver o programa da revoluçãosocialista. A luta de classes internacionalvem crescendo. As manifestações contra

a guerra imperialista no Iraque, a revoltados palestinos contra a ofensiva de Isra-el, a retomada da guerrilha dos Talebansno Afeganistão, a guerra que se trava nasruas do Paquistão contra o governo, agreve geral na França contra as medidasde Sarkosy que destroem direitos e pos-tos de trabalho, os conflitos constantesnas ex-repúblicas soviéticas, os protestoscontra as leis repressivas aos imigrantesnos EUA e França indicam que cresce arevolta das massas contra seus governose os embates à ofensiva bélica imperialis-ta. Cabe aos revolucionários fazeremuma propaganda e agitação, ampla e sis-temática, contra o intervencionismo béli-co, apoiada nas reivindicações dosexplorados. A resposta do proletariadotem de ser o Programa de Transição daIV Internacional. Este une as reivindica-ções mais elementares de salário e em-prego com o programa socialista dedestruição do capitalismo. Trata-se davanguarda potenciar o programa da re-volução proletária trabalhando no seiodas massas com as bandeiras an-ti-imperialistas e anti-capitalistas.

9.As condições para construir o par-tido são favoráveis. Essa tarefa dependeda assimilação do programa da IVInternacional e da militância revolucio-nária. A revolução social será materiali-zada pelas massas exploradas, dirigidaspela classe operária. A direção políticado proletariado é o Partido OperárioRevolucionário. O objetivo é destruir apropriedade privada e erguer a socieda-de comunista alicerçada na proprieda-de social dos meios de produção. A lutapela sociedade comunista não pode serlimitadamente nacional, tem de ser ne-cessariamente internacional. Por isso, aluta pela revolução social tem de estarsoldada ao trabalho de reconstrução daIV Internacional. A ausência do partidomundial da revolução proletária fazcom que o imperialismo continue im-pondo massacres, guerras e barbárie so-cial. Construir o partido-programa é atarefa colocada, assimilando a expe-riência histórica do proletariado mun-dial e compreendendo a realidadenacional. O Comitê de Enlace de re-construção da IV Internacional, que ob-jetiva pôr em pé o partido mundial darevolução socialista, irá se potenciarcom o avanço da construção dos parti-dos programas.

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Principais pontos de discussão sobre a situaçãonacional

1.Um ano após as eleições que deuvitória ao PT/Lula e de constituição deum governo de coalizão com o maiorpartido oficial, o PMDB, a crise políticado primeiro mandato continua com oacirramento das disputas interburgue-sas. A derrota do governo na prorroga-ção da CPMF, depois de ceder aomáximo às exigências do PSDB/DEM ede garantir as promessas de cargos aoPMDB, expressa as dificuldades de cen-tralização de sua própria base aliada. AOposição tem como tática não permitirque Lula faça seu sucessor. A redução damargem de manobra assistencialista deLula tornou-se uma necessidade para oPSDB/DEM. Tais frações da burguesia,juntamente com a Fiesp e a grande im-prensa, pressionam o governo para queaprove medidas de cortes de despesas,dificulte ainda mais as aposentadorias,elimine direitos sociais, faça a reformafiscal de redução dos encargos sociais,aplique com mais severidade a lei anti-greve e o arrocho salarial ao funcionalis-mo, que mercantilize cada vez mais aeducação pública e que privatize as fer-rovias e rodovias. Daí as dificuldades degovernabilidade da coalizão PT/PMDB.

2.Uma das características do governoLula é que não consegue centralizar asfrações burguesas, embora administre oEstado em favor dos interesses gerais daclasse capitalista. O mesmo ocorre comas instituições do Estado, a polícia e o Ju-diciário. O poder judiciário e a polícia,que em tese devem estar sob o comandodo governo, ganharam certa autonomiapolítica, de forma que favorecem os con-flitos partidários no seio do Estado. Issopassou a ser um obstáculo ao andamen-to do governo Lula, que volta e meia édenunciado e se vê diante de novas re-gras de funcionamento do Estado. Aparticularidade da crise do governo estáno fato do PT e do caudilho Lula nãoconstituírem uma força orgânica da bur-guesia. Lula e o PT não nasceram do seioda classe burguesa. Traíram a confiançada classe operária e dos oprimidos. Paragovernar, Lula necessitou reduzir a in-fluência de seu partido no Estado e darpoderes a uma aliança com partidos fisi-ológicos e oligárquicos, como o PMDB.

Mas isso não impediu que a luta peloaparelho do Estado diminuísse entre acoligação (maioria parlamentar) e a opo-sição, nem mesmo dentro da própria co-ligação. A crise política do primeiromandato de Lula se manteve, embora ascondições econômicas se tornassemmais favoráveis para que pudesse fazerdemagogia em torno do assistencialismoe do desenvolvimentismo. Conta tam-bém com a aliança da burocracia sindical(CUT e Força Sindical) na defesa da polí-tica governamental. A crise estrutural docapitalismo não possibilita a estabilida-de de nenhum governo, mas não pode-mos desconhecer o momento favorávelda economia aos capitalistas e as parti-cularidades do governo Lula. Trata-sede um governo que influencia as massasnão apenas por meio do Estado mas fun-damentalmente pelo controle sindical epopular. Reconhecer essa particularida-de é decisiva para a tática de desmasca-ramento de seu caráter burguês.

3.O governo Lula tem tido a seu fa-vor os índices positivos de crescimentoda economia, que têm favorecido os ban-cos, o grande capital industrial, os ex-portadores agrícolas e as multinacionais.Apóia-se no crescimento econômico, noimpulso a determinados ramos econô-micos para afastar-se da crise política.Procurou estancar a crise de corrupção,que envolveu o PMDB, não fez estarda-lhaço em torno da corrupção do PSDB deMinas Gerais, não denunciou os inúme-ros processos de ladroagem promovidospelo DEM e fez de tudo para conter osescândalos das ONGs e do mensalão, di-vulgados pela oposição burguesa. Mes-mo assim, encontra dificuldades deimpor o PAC e outras medidas. Por ou-tro lado, as massas exploradas não semoveram pelas denúncias da Oposiçãoburguesa ao governo. Milhões depen-dem do assistencialismo e outros mi-lhões continuam iludidos com Lula e sãocontrolados pelas direções dos movi-mentos popular e sindical. O fato é queos explorados são vítimas, porque reca-em sobre eles os impostos, a destruiçãodos serviços públicos, a fome e a miséria.A luta contra os corruptos não se dá noterreno de disputa interburguesa (elei-

ções, parlamento, CPIs), porque aí a bur-guesia é hegemônica. Os exploradosdevem atuar com seus métodos e no seucampo de classe. A corrupção burguesasó pode ser eliminada por meio do pro-grama da classe operária, que tem comoestratégia o combate de conjunto ao sis-tema capitalista. Remoção e cassação depolíticos corruptos não alteram as rela-ções de promiscuidade que sustentam oEstado. As denúncias da podridão dapolítica burguesa e de seu Estado ser-vem para demonstrar o quanto a classedirigente é decomposta e a necessidadede destituí-la de todo o poder. Os méto-dos da luta de classes são os únicos quepoderão punir os corruptos, como os tri-bunais populares criados pelo movi-mento social.

4.As massas terão de sair em lutapara evitar retrocesso em suas condiçõesde existência. No primeiro ano de gover-no, as manifestações do funcionalismopúblico e dos estudantes das universida-des ganharam projeção. Ocupações deReitorias na USP e Federais expressaramresistência ao REUNI e às medidas pri-vatizantes. A direção da UNE – PCdoB –atacou o movimento e defendeu aberta-mente a política educacional do gover-no. A Conlute – PSTU – não foi capaz dedar unidade nacional. O isolamento dasocupações e a não massificação facilita-ram o uso da tropa de choque em váriasuniversidades. Frente às tendências dofuncionalismo de ir à luta, Lula procu-rou a via da regulamentação da lei anti-greve e só não foi às últimasconseqüências porque o STF, sob a pres-são da Oposição burguesa, impôs a re-gulamentação contrária à greve. Houvealgumas paralisações da classe operária,conduzidas pelas Centrais, em torno doapoio ao veto de Lula a Emenda 3, queescancara a precarização do trabalho. OMST realizou as jornadas de abril, ocu-pando terras, prédios públicos e marchaà Brasília, com intuito de pressionar ogoverno para que cumpra com as metasde assentamentos e recursos aos já as-sentados. Aumentou a criminalização ea repressão contra os camponesessem-terra. Nenhuma lei repressiva con-tra os camponeses pobres foi removida

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ou contestada nesses cinco anos de go-verno Lula. Em São Paulo, os professo-res protagonizaram manifestaçõescontra o governo Serra, que impôs aSP-Prev e as avaliações de desempenho,com o objetivo de excluir parte do funci-onalismo da previdência do estado e de-mitir os que não se ajustarem às metasestipuladas pelo PDE de Lula e de Serra.A burocracia dos metroviários se viupressionada a realizar uma limitada gre-ve pelas reivindicações, mesmo assim ogoverno do PSDB respondeu punindocom demissões das lideranças. Os ban-cários paralisaram os bancos estatais exi-gindo reposição salarial e garantia deconquistas. A burocracia cutista restrin-giu o movimento aos estatais e mutilou aunidade nacional do setor. Por outrolado, a resistência desses setores nãopôde contar com a presença da classeoperária. As campanhas salariais meta-lúrgicas foram abortadas pela burocra-cia sindical. O fato da grande maioriados sindicatos operários estar nas mãosda CUT e da Força Sindical, apoiadorasdo governo, dificultou que o proletaria-do saísse em luta e ocupasse um papelde destaque no combate às medidas pa-tronais e governamentais e impusessereajustes acima dos índices oficiais. Aburocracia de esquerda (Conlutas eIntersindical) conduziram o movimentopara o plebiscito pela anulação do leilãoda Vale do Rio Doce, contra o pagamen-to da dívida externa, contra o aumentodas tarifas e contra a reforma da previ-dência. Pretendiam atrair setores daCUT, que se posicionaram pelo plebisci-to mas a favor somente da primeiraquestão.Tudo não passou de um fiasco.A burocracia da CUT boicotou e o PSTUe seus aliados procuraram realizá-lo,mas sem repercussão entre os explora-dos. A divisão em torno da cédula doplebiscito revela as disputas interburo-cráticas, que nada têm a ver com a vidados explorados. Comprovou-se, maisuma vez, que esse tipo de plebiscito éuma forma distracionista, alheio às ne-cessidades das massas e que não podeorganizar a luta unitária do campo e dacidade contra as medidas governamen-tais. O primeiro ano do governo Lula, as-sim mesmo, foi marcado por resistênciade uma parcela dos explorados e da ju-ventude. A limitação ao movimento porparte da burocracia foi, sem dúvida, um

fator importante para o governo admi-nistrar as disputas interburguesas e evi-tar o aprofundamento da crise política.A tarefa consistia e consiste na convoca-ção de assembléias e de uma plenária na-cional para responder com a ação diretaas reivindicações dos trabalhadores. Aúnica possibilidade das massas ganha-rem força para se defenderem dos ata-ques capitalistas é a unificação ecentralização das lutas. Combater a fun-do as burocracias sindicais que impe-dem que as bandeiras dos explorados sechoquem contra o governo. A indepen-dência do movimento social e de suas or-ganizações frente ao governo é umatarefa essencial. As reivindicações maissentidas pelas massas (emprego, salárioe direitos sociais) permitem unificar aslutas, ultrapassar os limites impostos pe-las direções burocráticas e desenvolver aluta de classes.

5.O governo Lula cumpriu a promes-sa de “legalização” das Centrais Sindica-is. Depois da derrota na Câmara, oSenado aprovou a emenda que garante oacordo de Lula com as burocracias sindi-cais. A legalização das Centrais não temoutro objetivo senão o de institucionali-zá-las como braço estatal no manejo dossindicatos e na aplicação da política decolaboração de classes. Em nome de aca-bar com a legislação intervencionista deVargas, a burocracia reforça o interven-cionismo. As burocracias galgaram pos-tos no Estado e servem-se deles parasubordinar o movimento sindical ao go-verno. A aprovação do reconhecimentosignificou o repasse de 10% do impostosindical para as Centrais que estão den-tro das normas estabelecidas pelo Fó-rum Nacional da Reforma Sindical. Aburocracia das Centrais menores trata-ram de fundir os aparelhos para ter o di-reito à partilha do imposto. E o PCdoBrecorreu à divisão e formação de umnovo aparato. A legalização das Centraise o farto dinheiro nas mãos dos burocra-tas permitirão negociações por cima dasassembléias dos sindicatos. Trata-se deum passo para impor a reforma traba-lhista, que amplia a redução de direitos.Os explorados devem continuar denun-ciando a trama armada pela burocraciapara se apossar do imposto sindical eusá-lo contra a vida das massas. Exigir ofim da reforma sindical e trabalhista e detoda legislação repressiva, que impede a

livre organização e ação dos sindicatos.E defender que o reconhecimento dasCentrais pelo Estado deve ser fruto daação do movimento social e não da con-cessão do Estado por meio de negocia-tas.

6.O PSTU apresentou como respostaà integração da CUT ao Estado a cisão e aformação de uma nova central, a Conlu-tas. Lançou uma campanha pela desfilia-ção da CUT e, onde dirige, filiação àConlutas. Onde é oposição, restringiu àdefesa de um plebiscito junto aos filia-dos dos sindicatos. Com isso, pretendearrancar do controle da burocracia daCUT os sindicatos, para em seguida,atraí-los para a Conlutas. O método doplebiscito não corresponde à democraciaoperária, que se apóia nas decisões cole-tivas e não nas individualizadas. OPSTU procura atrair parte do PSOL, vin-culada à Intersindical, para a divisão daCUT. Trata-se de um divisionismo apa-relhista, não é expressão da luta dos tra-balhadores. A divisão em váriosaparatos é política de burocracias, sejamelas de direita ou de esquerda. Próximoà legalização das Centrais, o PCdoBrompeu com a CUT e criou sua própriaCentral, uma forma de fugir ao comandodo PT que controla a CUT e de se apossardo imposto sindical. A cisão dos estali-nistas com os petistas é, portanto, pura-mente de ordem burocrático/financeira.Do ponto de vista político, estão juntoscom os petistas para assegurar a gover-nabilidade de Lula. Criaram uma centralprópria para praticar a colaboração declasses. O PSTU, ao liderar a divisão daCUT em nome de um pólo classista, nãofez senão enfraquecer o combate à buro-cracia divisionista e estatizante. Frente àdivisão estalinista da CUT, o PSTU nãoteve como questioná-la. Terá de se colo-car no mesmo campo de disputa apare-lhista do PCdoB. Por mais fechado queesteja o campo de atuação dos revolucio-nários nos sindicatos e Central, não sedeve partir para a divisão que não ex-presse a ruptura das massas com a buro-cracia. O trabalho de constituição dafração revolucionária com um programaclassista no interior da CUT e de seussindicatos é a via para combater as buro-cracias traidoras.

7.A oposição de esquerda ao gover-no Lula, protagonizada pelo PSTU ePSOL compareceu como via eleitoral.

MASSAS – de 07 a 21 de janeiro de 2008 – 7

O PSOL é um partido que nasceu doventre do PT e não se desvencilhou doreformismo. O PSTU, que se submeteuà frente eleitoral com o PSOL em tornoda candidatura de Heloisa Helena, re-presenta a esquerda centrista, por nãodefinir o programa da revolução e dita-dura proletárias. O que faz oscilar en-tre o reformismo e posiçõesproletárias. Isso explica o apoio eleito-ral ao PSOL. Frente ao congresso doPSOL, o PSTU se posicionou pela apro-vação da fusão da Intersindical com aConlutas e a reedição da frente de es-querda eleitoral. O PSOL adiou a deci-são num claro jogo oportunista eaparelhista. A Conlutas, para se forta-lecer como aparelho, depende da fusãocom a Intersindical. Por outro lado, aIntersindical corre o risco de se dissol-ver se permanecer isolada e indecisaquanto à reorganização do aparato. Háuma trava ao processo de fusão que é adisputa partidária entre PSTU e PSOL.O PSOL se constituiu como concorren-te sindical e eleitoral do PSTU. O pro-blema está em quem arrasta quem. Ocontrole de sindicatos é decisivo parapotenciar a política eleitoral dessascorrentes, inclusive materialmente.

8.O combate à burocracia cutista eforcista é central. Não será levada adi-ante com a divisão da CUT e formaçãode novos aparatos. Essa linha do PSTU

não conduz à derrocada da política es-tatizante da burocracia. O problemafundamental está na direção dos sindi-catos e da Central. Não se pode confun-di-la com os sindicatos e centrais. É umgrave erro estratégico supor que a ci-são e um novo aparato constituído àmargem da maioria dos trabalhadoresservirá de instrumento de luta pela in-dependência e democracia sindicais. Ocaminho da divisão aparelhista enfra-quece a ala esquerda do sindicalismo,dificulta o trabalho revolucionário nointerior dos sindicatos burocratizadose alimenta confusão política e disper-são organizativa dos trabalhadores.Até o momento, a experiência tem de-monstrado que o PSTU manobra emtorno da fundação de uma nova cen-tral, tarefa essa deixada em aberto peloConat, que não aprovou estatuto e nãoelegeu a direção. A política de desfilia-ção da CUT tem levado a uma disputaaparelhista nos sindicatos, prejudicialao combate à direção burocrática pormeio do programa de reivindicaçõesdos explorados e do método da ação di-reta. O chamado de desfiliação e o usodo método plebiscitário vêm incenti-vando o conservadorismo de setoresdos explorados que não conseguemidentificar o papel da direção sindical eo confundem com o próprio sindicato.Permanecem a defesa e a tarefa de

constituir frações revolucionárias nossindicatos e na CUT. A constituição deuma única central, que funcione comoestado maior da luta de classes contra aburguesia, continua sendo estratégicapara a unidade e independência dosexplorados frente à classe capitalista,seus partidos e seu Estado.

9.A tarefa é potenciar política e orga-nizativamente o partido revolucionárioatuando no seio das massas, defendendoas reivindicações que unificam os explo-rados e combatendo as burocracias sin-dicais colaboracionistas. O avanço naconstrução do partido-programa esbar-ra não só nas ilusões despertadas pelodemocratismo reformista, mas tambémno aparato centrista do PSTU. Este temconseguido aglutinar uma camada demilitantes que se desprende do refor-mismo petista. O que torna obrigatóriotambém o combate sistemático às posi-ções do PSTU, sobre a base da experiên-cia própria dos explorados. Odesenvolvimento do centrismo, que os-cila entre o marxismo e o reformismo, éum fato que exige do POR a aplicação datática frentista. O POR trabalha por ela-borar o programa da revolução proletá-ria no Brasil. Essa é a fortaleza dopartido revolucionário, que atua na lutade classe com o método do proletariadoe a estratégia da revolução e ditaduraproletárias.

Milite no POR, um partido de quadros, marxista-leninista-trotskista.Discuta nosso programa.

CAIXA POSTAL Nº 01171 - CEP 01059-970 - SÃO PAULO

Estudantes (na foto, USP) e bancários protagonizaram lutas contra medidas governamentais em 2007, e sofreram repressão

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Balanço Político da Regional do Ceará1 – Governo burguês de Cid, continuísta dos governos cam-

bebistas, é de ataque aos trabalhadores; descarrega a crise capi-talista sobre os ombros dos assalariados. Mantém o arrochosalarial, corte de recursos e o favorecimento aos grandes capita-listas. Governo Cid (PSB) tem no PT, PSDB e no próprio PSB,seus principais sustentáculos. O PMDB, apesar do peso parla-mentar maior que o PT, comparece como força política secun-darizada nos rumos do governo. O Governo continua, naprática, a não enfrentar oposições nem no parlamento (exce-ções parciais aos PR e PDT com um deputado cada) nem nosmovimentos sociais, uma vez que a CUT e os demais sindica-tos, arrastados pelo PT/PC do B, dão sustentabilidade ao go-verno. O governo Cid não tem encontrado resistência parafazer aprovar seus projetos mais importantes (leis, orçamentoetc). O Governo tem apostado ainda mais na militarização doestado para fazer frente à crescente escalada da violência urba-na e da crise social. A implantação definitiva do Ronda do Qu-arteirão e sua ampliação de efetivos tem mostrado que aresposta ao problema da pobreza e da criminalidade, por partedo governo, continuará a ser a da violência policial. Por outrolado, os escândalos de roubo de armas na polícia, incontrolabi-lidade dos grupos de extermínio ligado aos altos escalões dapolícia, etc tem demonstrado que o governo não consegue con-ter a podridão dentro da máquina do Estado. A saúde e a edu-cação tendem a manter-se em crise. O governo prossegue amunicipalização da educação, fechamento de escolas e manu-tenção das terceirizações e contratos temporários. A saúde pú-blica estadual, por sua vez, depende em grande medida dosaportes do Governo Federal para não entrar em colapso.

2 – Aumentam as fricções entre o PSDB e o PT/PSB no Go-verno CID. Trata-se de uma disputa interburguesa. Interessaao PSDB a luta por mais espaço no governo, controle sobre par-te da máquina (justiça etc), arregimentação de prefeituras e/oufortalecimento das que já estão sob seu controle a fim de acu-mular forças para a disputa eleitoral em 2008, passo fundamen-tal para a tentativa de retomada da máquina em 2010. Talpretensão tem levado a um aumento dos choques com oPT/PSB. A discussão na Assembléia Legislativa sobre o localonde se construiria um novo Centro de Feiras e Eventos foi oestopim para uma crise. O PSDB reclamou da falta de espaço,da recusa do governo em querer dialogar determinadas ques-tões, da inacessibilidade ao Secretário de Governo, Ivo Gomes,e da dificuldade em serem recebidos por secretários petistas.Também o recente episódio da aprovação da CPMF no Senadoconstituiu mais um ponto de atrito como o PSDB que rebateu ascríticas feitas por Cid Gomes aos senadores tucanos. A disputainterburguesa entre os partidos da base do governo levou tam-bém a uma crise interna no próprio PSDB. Ao passo que os par-lamentares faziam críticas ao Governo, os Secretários BismarkMaia e Marcos Cals saíram em defesa do governo ou minimiza-ram os ataques. O senador tucano Tasso Jereissati, um dos res-ponsáveis pela entrada do PSDB no governo, teve de intervir ebuscar um entendimento com Cid. O governo necessita doPSDB que possui a maior bancada na Assembléia Legislativa econcedeu a este duas importantes secretarias de governo (Justi-

ça e Turismo), todavia não pode deixar o PSDB atuar sobre amáquina com demasiada influência, como nos governos anteri-ores cambebistas, o que faz da relação com o PSDB uma relaçãoinstável e que pode evoluir para uma ruptura com o governo.PT e PSB, os elementos mais estáveis do governo, tendem amanter um bloco para fazer frente às pressões dos tucanos, aomesmo tempo em que procuram não deixar o PSDB afastar-seda gestão Cid.

3 – Da CUT aos demais sindicatos estaduais de servidores,predomina a estatização das entidades. As teses do POR de queo Fórum das entidades dos servidores estaduais, composta decerca de 40 sindicatos e associações, e sua mesa central de nego-ciação seriam de engessamento da luta tem se confirmado. O go-verno não negocia com nenhuma entidade que esteja fora do talFórum e exige que este tenha uma clara hierarquia, aprove esta-tutos e deixe de ser uma frente única de sindicatos para negociarcom o Governo. A mesa de negociação permanente a que o PORchamava de ‘mesa de enrolação permanente’, mostrou ser umacompleta farsa. Tais entidades não permitem a democracia sin-dical (assembléias unificadas dos servidores, aprovação de umapauta de reivindicações e um plano de lutas etc). O Governo doEstado tem pretensões de ampliar ainda mais a estatização sobreas entidades por meio do cadastro destas para a obtenção dasconsignações (desconto em folha da contribuição sindical do ser-vidor filiado para repasse às entidades). O Governo exige queestas entreguem todos os seus dados, incluindo dados pessoaisde todos os diretores das entidades. Tem-se ampliado os atritosentre o funcionalismo e o governo. Em certa medida tal atritotem obrigado a própria burocracia sindical a fazer críticas, aindaque tímidas, a este. O episódio das consignações (que provocouum protesto surdo e impotente das burocracias no Fórum), doreajuste salarial, dado em julho (de apenas 3,5% em média paratodos os servidores e diferenciado de 7% para educação e segu-rança) e principalmente as greves da Polícia Civil, dos delegadose dos professores da UECE foram exemplos desse choque. Nocaso da greve da polícia civil que durou mais de 40 dias, as basesobrigaram as direções a encaminharem a greve contra a sua von-tade e, conjuntamente com a greve dos delegados, ajudaram aestes setores dos servidores a superarem suas ilusões com o Go-verno Cid/PT/PSDB. A greve da polícia teve também efeitos so-bre o próprio Fórum, já que este se dividiu entre as burocraciasque defendiam um maior confronto com o governo, sem, toda-via deixar de apoiá-lo, e a aquelas mais governistas que defendi-am apenas o diálogo com este. A greve da UECE que reivindicoumelhores salários por meio do PCCSV (plano de cargos, carreira,salários e vencimentos) foi a primeira greve dos docentes do en-sino superior contra o Governo Cid, que havia prometido, quan-do candidato, resolver o problema do plano de carreira daUniversidade Estadual. Tais greves demonstram que parte dofuncionalismo tem disposição de enfrentar-se com Cid para de-fender suas reivindicações mais sentidas. O próximo ataque dogoverno aos servidores estaduais com a implantação do ISEC(Instituto de Saúde dos Servidores do Estado – plano de saúdeque possibilita privatizar o atual IPEC), tende a encontrar umamaior resistência.

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4 – A vitória do ex-prefeito de Quixadá, Ilário Marques, apartir de uma ampla coalizão interna de correntes petistas (DS,TM, Articulação de Esquerda, e vários nomes do PT estadual:Luiziane Lins, Dep. Raquel Marques, Dep. Artur Bruno, Íris Ta-vares) contra o candidato da Democracia Radical (JoaquimCartaxo), ligado ao Dep Federal José Nobre Guimarães repre-sentará uma maior pressão para que o PT ganhe espaço no Go-verno. A Ala de Guimarães/Cartaxo que foi a responsávelpelas alianças do PT em 2006, defende uma completa integra-ção do PT ao estado e um arco de alianças mais amplo com ospartidos burgueses. A dissolução da bancada petista no blocoPT-PSB-PMDB, representou que o PT não atuaria como banca-da livre, mas adaptada ao restante bloco do governo. A vitóriade Ilário, não significa nenhuma possibilidade de atuação inde-pendente do PT em relação à gestão estadual, de críticas a esta,e muito menos da defesa da saída do PSDB do governo. Signifi-ca apenas que o PT manterá uma maior independência, em re-lação aos aliados (PMDB, PSB) para disputar maior espaço nogoverno visando as eleições de 2008. A vitória apertada dosopositores (7.277 votos contra 7.217) e a contestação do resulta-do do PED (processo de eleição direta), feita pela DR no Diretó-rio Nacional significam que as pressões para uma integraçãodo PT ao governo e aliados continuará forte. A derrota da alade Guimarães/Cartaxo, depois de 20 anos de comando da siglano estado, é um fator de divisão interna do PT. Os oposicionis-tas vencedores já buscam apaziguar os ânimos internamente epreservar a unidade para a reeleição de Luzianne em Fortaleza,entretanto, o envolvimento desta na derrota de Cartaxo já pro-voca críticas da democracia radical a gestão de Luizianne epode ter conseqüências sobre a disputa em 2008.

5 – A gestão Luizianne Lins na Prefeitura de Fortaleza, emmãos da tendência petista, Democracia Socialista - DS, tem de-monstrado de forma definitiva o fracasso do reformismo. Nãoenfrenta os grandes grupos empresarias ou fracassa diante desuas pressões (mesmo em situações críticas de destruição am-biental, como foi o caso da construção do Iguatemi empresarialno parque do Cocó); não se contrapõe a permanência do PSDBno governo Cid, não se contrapõe ao cartel do Sindiônibus, masao contrário mantém boas relações com este, ao invés de impul-sionar os movimentos sociais, procura neutralizá-los ou estati-zá-los (MCP - movimento dos conselhos populares);implementa a farsa do orçamento participativo, capitula atémesmo diante das igrejas (projeto bíblia nas escolas) e mantémum política de arrocho salarial e ataque aos trabalhadores, aexemplo do que ocorreu nas greves dos PCCS’s. A cisão com ovice Carlos Veneranda, que rompeu com o PSB e filiou-se aoPDT (oposicionista), e a saída do PSOL da Prefeitura, não pro-vocaram grandes abalos na gestão. O PSOL, hoje rompido coma Luizianne Lins, tem procurado trazer à tona denúncias sobreas condições de ensino e a situação das crianças no município(por meio do CEDECA) que não ousava levantar antes quandoestava ligado à gestão petista. O objetivo por trás das denúnciasé preparar o terreno para a disputa eleitoral. A votação dosPCCS’s na Câmara Municipal demonstrou, por outro lado, quea Prefeitura tem conseguido manter uma sólida base de apoiono legislativo municipal, sem sobressaltos e crises, graças aacordos com diversos partidos burgueses (PSL, PV, PMN, PPS,

PR etc) uma vez que o PT tem uma bancada pequena de apenas3 vereadores.

6 – Prefeitura petista enfrentou resistência unicamente dofuncionalismo. Os estudantes e movimentos populares estive-ram fora de qualquer movimento que se confrontasse com aPrefeitura. O funcionalismo chocou-se com a gestão petista en-torno dos PCCS’s. O PT agiu como salvaguarda do estado, paraque se mantivesse o arrocho salarial e poucas conquistas fos-sem cedidas. A prefeitura teve de enfrentar greves apenas domagistério, médicos do IJF e dos agentes de sanitaristas (que re-ivindicavam melhores condições salariais e concurso). As de-mais categorias (trabalhadores da saúde, Emlurb, AMC,Guarda municipal, assistentes sociais etc) protagonizaram al-gumas lutas sem aprovar qualquer paralisação. As lutas dofuncionalismo foram fragmentadas, devido, principalmente, àpolítica traidora das direções do movimento, o que possibilitouuma vitória da Prefeitura sobre a maioria dos movimentos.

7 O MST manteve seu calendário de lutas no estado. Na se-mana nacional de luta pela Reforma agrária, houve ocupaçãodo Incra, Banco Central e do DNOCS em Fortaleza. Foram mo-bilizados 1500 trabalhadores de 60 municípios. O MST reivin-dicou desapropriação de duas fazendas e uma política deassistência para os trabalhadores agrícolas que enfretavam es-tiagem. No Dnocs os camponeses em terra foram duramentereprimidos pela polícia do governo Cid/PT/PSDB. Existemhoje mais de 1700 famílias em 23 acampamentos no estado, oque significa que os conflitos pela terra no Ceará não cessarão.

8 – O movimento operário no Ceará encontra-se completa-mente amordaçado pelas direções reformistas/stalinistas/cen-tristas e direitistas e encontra-se paralisado. Não tem havidolutas. Uma das poucas greves ocorrida, na Vicunha em ju-lho/agosto de 2007, terminou em derrota, ocasionada pela con-duta criminosa da direção do Sindtêxtil de Maracanaú (ForçaSindical) de isolar a greve dos têxteis. Ressaltando-se aí que talconduta contou com aval da CUT-CE. A derrota permitiu a re-pressão dos patrões sobre os grevistas (demissões, persegui-ções etc) e um aumento da desconfiança do método de luta dagreve.

9 – A Conlutas, neste último período, teve um crescimento,ao filiar o Sindicato das costureiras, que desfiliou-se da CUT emfins de outubro. A Conlutas no Ceará passou a ter 5 sindicatos fi-liados (Assibge, Gráficos, Sindicato dos trabalhadores na Cons-trução Civil, Sindicato das Costureiras, SindUECE) e algunssindicatos simpatizantes (Sindfort). Esteve presente na grevedos bancários e na Marcha a Brasília, todavia não realizaram ne-nhuma campanha política ou lutas no Ceará. O seminário orga-nizado pela Conlutas, no começo de novembro, foi esvaziadocontando com apenas 40 ativistas. Por outro lado alguns seg-mentos da Conlutas no estado, (LBI) denunciando a burocratiza-ção desta, tem voltado a levantar a bandeira da construção daCOCEP. A desfiliação do Sinprece (sindicato dos previdenciári-os) da CUT, aprovada no último congresso desta entidade, doqual participou a Conlutas, não pode ser entendida como vitóriadesta já que o PC do B, com maior peso na entidade também a

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defendeu, mas com vistas a filiá-la na sua central. A defesa dadesfiliação do Sinprece (que passará por um plebiscito para defi-nir a qual central se filiará) por parte do PC do B expressa que atendência da fragmentação sindical deve ampliar-se ainda maisno estado. O fato do PC do B no Ceará controlar quase um terçodos sindicatos filiados à CUT mostra bem a dimensão que a ci-são pode alcançar no movimento. A Conlute continua a não terexistência prática no movimento estudantil. Estiveram presentesna luta contra o REUNI na UFC, mas completamente ausentesda luta dos estudantes secundaristas pela isenção da taxa do ves-tibular da UFC.

10 – A fragmentação do movimento sindical que vai ga-nhando corpo, de um lado, e a estatização das entidades, emmaior ou menor grau atreladas ao estado e aos governos, de

outro, colocam na ordem do dia a urgência da estruturação deuma partido-programa, marxista-leninista-trotskista capaz deforjar frações revolucionárias e combater a burocracia dentrodas entidades sindicais, romper com a paralisia das lutas e pro-mover um combate conseqüente contra toda fragmentação quesó enfraquecem a luta dos explorados. O POR tem combatido aburocracia e perseguido o objetivo da formação de quadros re-volucionários. Não há outro caminho possível para a derrotaideológica da burguesia e seus agentes no interior dos movi-mentos (os reformistas/stalinistas) senão a construção de qua-dros que penetrem na luta dos trabalhadores, especial nomovimento operário que elevem politicamente os trabalhado-res, a partir de suas reivindicações elementares, para a tarefa dadestruição do capitalismo putrefato e construção do socialismopela revolução proletária.

Balanço político da Regional do RN1. O governo de Vilma de Faria (PSB) é um governo aliado

de Lula/PT. Em seu segundo mandato, tem contado com abase aliada no estado do PCdoB e PT, que têm cargos no gover-no. Embora estes partidos justifiquem que seu apoio ao gover-no dá-se por ser um dos mais democráticos que já assumiram oestado, o governo de Vilma tem sido repressivo, agido contraos movimentos com truculência, arrochado os salários, demiti-do servidores e avançado a política de implementação das me-didas adotadas pelo governo Lula/PT, a exemplo da LeiAnti-greve.

2. No RN, o PSDB é um partido inexpressivo que adminis-tra 4 prefeituras. Conta apenas com o usineiro e ex-senador Ge-raldo Melo, que em nível estadual não tem expressão política.Na eleição para governo, o PSDB aliou-se aoPSB/PT/PCdoB/etc.

3. O PMDB, dirigido pela oligarquia Alves, embora di-ga-se de oposição, neste último período tem buscado a unida-de com o PSB para as próximas eleições, uma vez que contacom parte da oligarquia no PSB, como o prefeito de Natal, Car-los Eduardo Alves.

4. O DEM é um partido de oligarquia, sustentado pelo se-tor latifundiário. No RN, é aliado do PMDB. Essa unidade seexpressou na indicação do senador Garibaldi para a presidên-cia do Senado. É liderado, no estado, pelo corrupto José Agripi-no Maia, hoje se auto intitula a moralidade em pessoa.

5. Todos os partidos são oriundos de oligarquias no esta-do e que a cada eleição fazem oposição de conveniência, ora sãooposição, ora situação. O que percebemos é que o governo deVilma consegue dirigir sem que os setores inter-burgueses te-nham grandes atritos. Dentro deste contexto, é importante des-tacar o papel desempenhado pelo PT e PCdoB, que tem servidopara barrar a resistência dos movimentos.

6. A greve dos policiais militares culminou com a suspen-são de salários e prisão de policiais, que posteriormente foi re-vertida, no entanto, as lideranças do movimento como apresidente da associação, sargento Regina, foi sumariamentedemitida, juntamente com o cabo Jeovás. Tal demissão contoucom o apoio do PT e PCdoB. A greve da educação não foi trata-da de forma diferente. A governadora tratou a greve da educa-ção com repressão e levando a direção do Sinte a ficar de mãos

atadas perante a categoria, pois seu partido era aliado da go-vernadora e não poderia responder a repressão instalada. Oque levou ao desgaste ainda maior da direção do sindicato pe-rante a categoria. Em nenhuma destas greves a categoria teveconquistas, pelo contrário, o governo já saiu alardeando as me-didas tomadas pelo governo Lula no sentido de coibir as gre-ves. Ambas as greves tinham como pano de fundo o reajustesalarial.

7. A educação no RN tem se destacado como uma das pio-res do Brasil e o governo tem se apegado a estes índices paraimplementar com mais força as medidas de privatização. Osprojetos como “Amigos da Escola”, “Adote uma Escola” etc.chama o empresariado a “assumir” a escola em troca da isen-ção de impostos. O fechamento de salas no turno noturno, di-minuição de turmas nas escolas estaduais tem sido reflexo doalto índice de evasão. O governo tem responsabilizado o traba-lhador em educação. A falta de profissionais concursados temsido outro problema enfrentado nas escolas, uma vez que o go-verno se nega a convocar os aprovados no ultimo concurso,pois sai mais barato para o estado a contratação de estagiáriospagando quase a metade e só no final do contrato. O RN inicia oano letivo em 2008 com um déficit de 1600 professores, conti-nuando com contratos muitas vezes de próprios servidores quedeveriam ter sido convocados. Diante de toda essa crise, a go-vernadora ainda conseguiu aprovar a redução de 0,8% dos re-cursos da educação. Dos 3 bilhões destinados para gastos naárea social, a educação ficou apenas com 14% deste valor, o querepresenta a miséria de 550 milhões/ano.

8. O processo de tercerização, no estado, tem avançadoenormemente, tanto nas áreas de saúde como educação. Na sa-úde, a recente crise que enfrenta o HWG é reflexo da tentativade beneficiamento do Hospiital Marial Alice que tem convêniocom o estado e que agora o governo pretende remanejar os mé-dicos pediatras do HWG, com claro propósito de beneficiar aempresa que tem convenio com o estado, deixado o Walfredosem atendimento. Na educação, a não realização de concursopara determinadas áreas já é expressão da tentativa do governoimplementar empresas tercerizadas.

9. O movimento sindical, no RN, é em sua maioria dirigi-do pelo PT e PCdoB, que sustentam o governo não organizado

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a luta de suas categorias que sofrem com o arrocho salarial.Alguns sindicatos estão rompendo com o PT/CUT, no entanto,não se definiram nem pela Conlutas, nem pela intersindical.Isso tem criado burocracias alheias a qualquer tipo de discus-são política.

10. O movimento camponês está integralmente ligado tan-to ao governo federal quanto estadual. Este ano, praticamente,não houve lutas e ocupações por parte do MST. O movimentotem se diluído na política assistencialista de criação de ONG’s eformação de cooperativas, que não tem resolvido o problemada grande maioria dos trabalhadores do campo. No entanto,continuam submetidas às direções burocráticas do MST e dissi-dentes como MLST, que comprovadamente mostram-se tãoburocrático quanto o MST e todos sustentam o governo federale estadual.

11. A Conlutas não tem aparecido como instrumento deenfrentamento com os governos, uma vez que, não diferentedo seu inicio, conta com a participação de algumas direções desindicatos que proclamaram o rompimento com a CUT, masque suas bases não têm conhecimento claro que possibiliteuma participação nas atividades chamadas pela Conlutas.Embora se proponha a ser uma central sindical diferente daCUT, a Conlutas não conseguiu impulsionar nenhuma lutaem nível estadual. Neste último semestre, ocorreu mais umencontro da Conlutas que contou com pouca participação dabase dos sindicatos, o que só vem provar seu existismo. Aexemplo da burocracia cutista, os encontros são burocratiza-dos, o único setor de oposição que está presente nas ativida-des é o POR que tem participado no sentido de denunciar adivisão do movimento. Em nenhum dos encontros realizadosdiscutiu-se uma plano de luta para organizar e combater osgovernos e a burocracia subserviente. O pouco tempo da Con-

lutas é gasto na disputa por novos sindicatos de forma buro-crática e aparelhista. A intersindical não tem nenhumaexpressão no movimento e tem atuado junto com a Conlutasem alguns debates, também limitando-se a alguns dirigentessindicais.

12. A Conlute não tem nenhuma atuação no movimento es-tudantil. Tem colocado como conquista da Conlute a chegada adireção de alguns grêmios em Natal. Mas tem se comprovadonão ser diferente da Conlutas, não conseguiu aparecer como al-ternativa a UNE e UBES.

13. O PSTU em CM é direção da regional do Sinte. Até omomento não encaminhou no setor da educação a luta. Tantoque a prefeitura não discutiu a pauta de negociação aprovadano inicio do ano. O partido que se diz trotskista tem buscadométodos de negociação não diferentes da burocracia. Pretendeatravés de negociações de cúpula buscar conquista para os tra-balhadores. Amortece o instinto de luta da classe trabalhadora.E comprovadamente o método não leva a elevação da catego-ria. E diante da repressão tem se utilizado da omissão e deixadoos trabalhadores à mercê da política das Dired’s, que têm tenta-do castigar os trabalhadores fazendo-os trabalhar até fevereiro,repondo aula de greve. A regional tem atuado distante dos tra-balhadores e isso tem sido bom para o governo municipal epara o governo estadual.

14. O POR tem atuado chamando a unidade do movimento,a conformação de uma oposição de enfrentamento à política dogoverno federal, estadual e municipal, onde estes governostêm atuado de forma unitária na implementação das reformas eataque aos trabalhadores. No entanto, o maior obstáculo para acomposição de uma frente tem sido o PSTU com sua política dedivisionista, burocrática que não tem conseguido trabalharcom as divergências.

Conseqüências da votação da CPMF

Disputas interburguesas e derrota de LulaDepois de nove meses de nego-

ciação entre a Oposição burguesa eo governo Lula, a votação contráriaà prorrogação da CPMF venceu noSenado, anteriormente aprovadana Câmara de Deputados. Os votosdos senadores Jarbas Vasconcelos(PMDB), Mão Santa (PMDB), Ro-meu Tuma (PTB), César Borges(PR), Expedito Júnior (PR), Geral-do Mesquita (PMDB) (todos dabase governista) contra o impostodeu vitória à Oposição. Apesar dosdiscursos ameaçadores, o governonão conseguiu reverter os votos deseis senadores de partidos de sua basede apoio, composta de 53 parlamentares.

O DEM, desde o início, declarou-secontrário à CPMF. O PSDB, que estavadividido sobre a questão, procurou, até o

último momento, convencer seus dissi-dentes a votar pelo Não. Para isso, Fer-nando Henrique Cardoso e o presidenteda Fiesp (Paulo Skaf) intervieram comfirmeza para demover os vacilantes, queestavam sob influência dos governado-

res de Minas Gerais (Aécio Ne-ves) e São Paulo (José Serra). AOposição reuniu 34 votos e osgovernistas 45. O PSol, JoséNery, votou com o DEM ePSDB. O governo precisava de49 votos.

Embora com maioria folga-da na Câmara federal, que lhedá garantia de aprovação desuas medidas, no Senado, comuma maioria apertada, nãopôde evitar que a Oposição tri-unfasse. O voto dos senadoresse sobrepõe ao dos deputados.

A cúpula oligárquica se encontra con-centrada no Senado.

As disputas interburguesas tomaramconta do Congresso Nacional e tiveramconseqüências em outros poderes, parti-cularmente no Judiciário. A Câmara de

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Deputados ficou paralisada à espera dasnegociações que se processavam no Se-nado em torno dos escândalos de cor-rupção de Renan Calheiros e daprorrogação da CPMF. De um lado, osoposicionistas que desgastavam o go-verno e tiravam vantagens eleitorais e,de outro, a corrida do PT e do PMDBpara segurar seus rebanhos.

Nas disputas acirradas – como emtorno da CPMF –, pesam os interessespessoais e regionais dos parlamentares,a exemplo do peemedebista Mão Santa,que disputa com o PT o governo do esta-do do Piauí. O PMDB atuou exigindomaior presença no Estado e a não cassa-ção de Renan. O PT foi fiel ao PMDB nocaso Renan, ora se abstendo para favore-cer o aliado, ora se limitando ao seu afas-tamento da Presidência do Senado.Negociou a renúncia de Renan para evi-tar a cassação e sua substituição por Ga-ribaldi Filho, um reconhecido crápula dapolítica oligárquica do Rio Grande doNorte. Fez parte das negociatas o favore-cimento ao PMDB de grande quantia dedinheiro destinado às emendas parla-mentares. Conseguiu o cargo da presi-dência de Furnas Centrais Elétricas. Lulaprometeu a diretoria internacional daPetrobrás. Para comprar o voto de ValterPereira, foi oferecido o Incra e o Ibamade Mato Grosso. O PMDB reclamou a re-tomada do Ministério das Minas e Ener-gia, que perdeu com as denúncias e oafastamento de Silas Rondeau. Em rela-ção ao PSDB, o governo tentou romper abancada oposicionista, oferecendo na úl-tima hora toda arrecadação da CPMFpara a saúde, o que beneficiaria os go-vernadores. Em defesa de interesses pró-prios, os governadores do PSDBpressionaram o partido a votar naCPMF. Não poderiam desconhecer a de-pendência dos estados de São Paulo eMinas Gerais do repasse de recursos dogoverno federal.

As negociações tiveram vários episó-dios. Inicialmente, Lula prometeu criarum teto para a isenção do imposto, faziauma redução da alíquota e se compro-metia a rediscuti-lo após um ano. Em se-guida, dispôs-se a aumentar o valortransferido para a saúde. Os governado-res peessedebistas jogaram uma últimacartada propondo que o governo desti-nasse a totalidade da CPMF à saúde. Aliderança do PSDB no senado, Arthur

Virgílio, ameaçou renunciar à chefia dabancada, caso o PSDB apoiasse o impos-to. Alguns senadores declararam-se dis-postos a abandonar o partido, casohouvesse liberação para votar. Os atritosentre Serra e Fernando Henrique torna-ram públicas as divergências internas dopartido. Com receio de que alguns deseus senadores mudassem de opinião, adireção do PSDB exigiu que seus sena-dores votassem de acordo com a legendae, por quatro votos a favor e nove contra,o partido decidiu conforme a maioria. Ogoverno chantageou Ivo Cassol (RO) eExpedito Junior (PR-RO), que pretendi-am negociar a redução da dívida do esta-do em troca do apoio, mas não teveêxito. Lula foi mais longe: ofertou aosempresários a redução de tributos (2%no primeiro ano e 1% em cada um dostrês anos) sobre a folha salarial. E maisum pacote de incentivos à política indus-trial. Nas negociações, os senadores opo-sicionistas exigiam que os acordos nãofossem promessas futuras. Por isso, Lulachegou ao ponto de fazer uma carta aoSenado se responsabilizando com atransferência do dinheiro à saúde.

Configurou-se, assim, o triunfo doDEM sobre o PSDB e do PSDB sobre de-putados da base aliada. Por cima, estevea Fiesp, que atuou abertamente comofração organizada do capital. Para oDEM e para a fração peessedebista diri-gida por Fernando Henrique Cardoso, asupressão de 40 bilhões de Reais do or-çamento do governo constituiu um im-portante embate em torno do poder.

Preservar a aliança oposicionista(PSDB e DEM) para extrair dividendoseleitorais foi o objetivo de FHC e FIESP.A Convenção Nacional do DEM tevecomo discussão as eleições presidencia-is, candidatura própria e/ou apoio aoSerra. O PSDB não poderia jogar fora seualiado futuro e nem deixar que o DEMcarregasse sozinho o nome de oposição àCPMF.

O fato é que todos os partidos são fa-voráveis à CPMF, criada por FernandoHenrique. O voto contrário foi a mani-festação da Oposição para que o gover-no Lula corte gastos e não sejabeneficiado politicamente com fartos re-cursos endereçados ao assistencialismo,a exemplo do Bolsa Família. Não permi-tir que Lula faça seu sucessor, é a estraté-gia dos oposicionistas. Sabem que Lula

conta com os resultados positivos daeconomia. E que o quadro de empregocombinado com o assistencialismo ga-rante a aprovação popular ao governo.Sabem também que Lula não pode seaventurar a um terceiro mandato. O cau-dilho tem de fazer um sucessor, que nãonecessariamente seja do PT. A reduçãoda margem de manobra assistencialistade Lula tornou-se uma necessidade polí-tica para o DEM/PSDB. Dessa forma,acirram os choques e revelam as dificul-dades de governabilidade da coalizão.

As disputas em torno da CPMF nãopoderiam ir ao extremo de extinguir aDesvinculação de Recursos da União(DRU), também criação de FHC, que re-tira dinheiro da saúde e educação. ADRU, ao contrário da CPMF, retira re-cursos da educação e saúde para cobrirgastos governamentais com as dívidasinterna e externa.

Governo e burocracia sindical

O governo tentou tirar vantagensjunto aos explorados. Depois da derrotada CPMF, Lula responsabilizou a Oposi-ção de impedir que a saúde pública me-lhorasse e de não poder contratar ereajustar os salários do funcionalismo.Elogiou os governadores do PSDB queajudaram na campanha pelo imposto.Em visita à multinacional Ford e na ina-uguração de um posto da Previdência,Lula discursou demagogicamente em fa-vor dos pobres e condenou os ricos quevotaram pela extinção de mais recursosao SUS. Mas os comandantes da econo-mia trataram de amenizar os impulsosde Lula e procuram enfatizar a linhamestra do governo, que é a manutençãodo superávit primário.

O Ministro da Fazenda, Guido Man-tega, anunciou que pretende criar outroimposto semelhante à CPMF, que o pa-cote que era previsto para os empresári-os estava suspenso e que manterá a metafiscal (3,8%) no próximo ano. Esse era orecado que o capital financeiro precisa-va. O governo enfatizou que o Bol-sa-Família será mantido. Para manter ocurso da administração, o governo estáobrigado a criar outros mecanismos paraaumentar a arrecadação. Outras dispu-tas interburguesas, provavelmente, da-rão continuidade à crise política.

A burocracia sindical, que se dizia

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contrária a CPMF, colocou-se em favorda prorrogação. A CUT defendeu o tetoproposto por Lula para os descontos nasmovimentações bancárias, em torno deR$ 2.800,00, e, em seguida, fez coro comos governistas de que os prejudicadossão os trabalhadores que usam a saúdepública. Certamente, pretende tirar van-tagens eleitorais para o PT. A Força Sin-dical, que era radical opositora à CPMF,ficou calada para assegurar o seu Minis-tro do Trabalho. Isso reforça a constata-ção de que as Centrais Sindicais, quedirigem a grande maioria dos sindicatos,estão submetidas ao governo e expres-sam a luta interburguesa no seio dos ex-plorados.

O PSOL, que dirige a Intersindical,votou com o DEM e PSDB, inclusive semnenhuma diferenciação. Heloisa Helena,que adora comparecer no Parlamentopara apresentar recursos contra a cor-rupção, desta vez ficou bem distante dosacontecimentos, deixando que o senadordo PSOL agisse solitariamente.

As Centrais, ao serem arrastadas pelaluta interburguesa, sustentam um go-verno que maneja o Estado em favor daburguesia e da manutenção da explora-ção do trabalho. A esquerda, como se au-to-intitula o PSOL, por sua vez, searrasta por detrás da política oposicio-nista do DEM e PSDB.

O governo monta uma armadilhaquando apela aos pobres, que seriam osbeneficiados pela CPMF. Os trabalhado-res, ao serem taxados, têm parte de seusganhos confiscados para que o governoutilize esses recursos para a sustentaçãodo Estado, que é a máquina administra-tiva dos negócios dos exploradores. Amaior parte dos impostos é paga pelosassalariados, direta e indiretamente.

A classe operária não pode e nãodeve apoiar nenhum imposto que elamesma tenha de arcar. No caso daCPMF, a resposta é: que apenas os capi-talistas sejam taxados. Mas não se podeparar aí. É preciso levantar a bandeira defim de todos os impostos que recaem so-bre os explorados.

Na disputa interburguesa em tornoda CPMF, o governo recorreu ao proble-ma da saúde pública. Assim, permitiuque a classe operária também pudesseresponder a essa questão fundamental.Era necessário denunciar que mesmocom a CPMF a calamidade da saúde pú-

blica se mantém. Os recursos são ínfimose ainda por cima o governo há anos usa aDRU para arrancar parte do orçamentoda saúde. Com uma mão Lula destinavaparte da CPMF à saúde e com a outra re-tirava por meio da DRU para encher oscofres dos banqueiros.

A resposta operária é estatização semindenização da rede privada da saúde,constituição de um sistema único públi-co e orçamento calculado pela popula-ção organizada em assembléias sindicaise populares.

A classe operária não pôde se posici-onar assim porque carece de um partidorevolucionário organizado em seu seio,porque se acha controlada pela burocra-cia sindical, porque a política do PT con-tinua influenciando a maioria oprimida.A luta pela independência da classe ope-rária frente ao governo Lula e às dispu-tas interburguesas é decisiva parafortalecer a vanguarda revolucionária econstruir o partido.

Novas medidas tributárias

Lula teve de prometer ao DEM ePSDB que não lançaria nenhum pacotefiscal para conseguir a aprovação daDRU. Depois de se ver derrotado no em-bate da CPMF, o Ministro Mantegaanunciou que elaborava medidas queserviriam de compensação. A Oposiçãocontra-atacou com ameaça de imporuma segunda derrota na votação daDRU. Lula teve de desautorizar seu mi-nistro e se rastejar como réptil frente àOposição no Senado.

Mas, no início de janeiro, o governoanunciou o aumento do IOF (Impostosobre Operações Financeiras) e CSLL(Contribuição Social sobre o Lucro Lí-quido). Em fins de dezembro, o governoestabeleceu a norma de que os bancos te-rão de informar à Receita Federal as mo-vimentações financeiras acima de cincomil reais, de forma que possa controlar asonegação.

Os partidos da Oposição acusaramLula de quebrar o acordo. Motivo queservirá para sustentar o confronto. O quese esperava é que o governo convocassea oposição a replanejar os gastos do Esta-do, dando-lhe assim força governamen-tal. Se Lula assim o fizesse, reconheceriaa capacidade da Oposição e refletiria afraqueza de seu governo. Escolheu o ca-

minho de quebra do acordo. Os dadoseconômicos lhes eram e são favoráveis.A burguesia está ganhando dinheiro e asmassas estão controladas pelo assisten-cialismo e pela contenção do desempre-go.

O ano de 2008 não promete ser umano tranqüilo para o governo, que temenfrentado crise sobre crise. A fração in-dustrial, representada pela Fiesp, foi res-ponsável pelo fim da CPMF. Não gostoudas novas medidas, ainda que o governoas tivesse direcionado ao capital finance-iro. Os banqueiros também não as assi-milaram, embora obtenham altas taxasde lucratividade. O governo, sob pres-são, imediatamente isentou os emprésti-mos para a casa própria. Tudo isso pararepor 10 bilhões dos 40 bilhões de reaisda CPMF.

As tímidas medidas servirão de so-corro imediato ao orçamento. A compli-cação envolve os 30 bilhões restantes.Segundo previsões, com o desempenhoeconômico, aumentará a arrecadação doEstado, mas mesmo assim não tem comoo governo manter o planejamento ante-rior sem repor boa parte da CPMF.

A burguesia, a Oposição e parte dosaliados do governo não querem mais im-postos. Lula está pressionado a fazer o quenão queria: reduzir gastos por meio decortes orçamentários. A questão é ondecortar. A Oposição exige que ataque maisfundo o funcionalismo, reestruture os mi-nistérios, reduza dispêndios com o assis-tencialismo e retome a reforma daprevidência. O governo tem como cortaraltas despesas do Legislativo e Judiciário.A reação a medidas nesse sentido foi esbo-çada pelo presidente do Tribunal SuperiorEleitoral. É bem possível que os próximosmeses sejam consumidos pela continuida-de das disputas em torno do orçamento.

Certamente, a burocracia sindical man-terá o apoio ao governo e argumentará queo aumento do IOF e CSLL recai sobre o ca-pital financeiro e que é preciso defender apolítica assistencialista vigente.

Na realidade, os impostos continua-rão sendo descarregados sobre os assala-riados. O governo de Lula é burguês eenfrenta a crise política com medidas dedefesa da grande propriedade e continu-idade da exploração. Nossa luta se con-centra em torno da independência dosexplorados frente à política burguesa deconjunto.

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Balanço da situação da educação e do movimentode resistência

1.O ano de 2007 iniciou com a criação do Plano de Desenvol-vimento da Educação (PDE). Trata-se de um conjunto de medi-das, formuladas pelo governo Lula, que devem ser implantadasem todas as esferas da federação. É uma resposta institucional aofracasso escolar e um novo ordenamento para a continuidade daReforma Educacional, que vem sendo imposta desde 1996. A es-sência dessa reforma é mantida: municipalização, financiamen-to por meio da política de fundos, piso salarial não superior atrês salários mínimos, flexibilização de direitos trabalhistas, eli-minação de conquistas dos Planos de Carreira, avaliação externae mecanismos de expansão do ensino privado. O PDE não alteraa legislação que materializou a Reforma (LDB). O objetivo doPDE é aumentar a centralização do Estado sobre a educação, queestá materializada nas metas a serem alcançadas até 2021. Aco-bertado por um palavreado reformista - autonomia, inclusão,respeito à diversidade, qualidade etc - o PDE diz combater as fal-sas oposições entre a educação básica e o ensino superior e a vi-são fragmentada da educação. Tem como rótulo a melhoria daqualidade e a visão “sistêmica” da educação. Professa a necessi-dade de formação do professor e de um regime de colaboraçãoentre União, estados e municípios para a educação dar um saltode qualidade. Conclama a “sociedade para “fiscalizar” o cum-primento das metas/ações. Para as Universidades Federais, oPDE cria o REUNI (reestruturação e expansão das universidadesfederais), uma fórmula para adequar a universidade pública àsleis de mercado. Ou seja, estabelece o critério de aumento de alu-nos por professor, redução da durabilidade dos curso, aprovei-tamento de créditos de cursos distintos e condicionamento derecursos à aplicação do Reuni. Em relação ao ensino superiorprivado, o PDE reforça o Prouni e o FIES. Em São Paulo, Serra eKassab, seguindo as diretrizes do PDE, lançaram o Plano de Me-tas e a Reestruturação do Ensino Municipal. O conteúdo das me-tas se resume nas avaliações externas para os alunos etrabalhadores da educação, combinação entre desempenho e re-ajuste salarial, regulamentação do fim da estabilidade dos con-cursados e maior fiscalização sobre os trabalhadores do ensino.O Plano de Reestruturação institui o provão para os professorescomo instrumento de evolução funcional, aumento da jornadade trabalho, critérios mais rígidos de avaliação desempenho egratificações de acordo com o cumprimento das metas. Portanto,o PDE e suas variantes nos estados e municípios tem a função dedar à educação pública caráter empresarial. (gestão/gesto-res/metas/fiscalização/avaliação/custo/contratação/demis-são). O objetivo central é acabar com a estabilidade dosconcursados.

2. O PDE foi defendido pelas direções sindicais que apóiamo governo. A CNTE, Apeoesp, UNE etc enfatizaram o Planocomo uma conquista para os trabalhadores e estudantes.Endossaram o Prouni e Reuni como mecanismos de inclusãosocial e de expansão do acesso ao ensino superior público. Esta-beleceram uma falsa diferenciação entre o Fundef e Fundeb, di-zendo que o Fundeb “abre o caminho para a construção de umnovo perfil para o ensino médio”...que o “Eja ganha novo im-pulso”... “faz com que a educação básica seja um processo úni-

co, contínuo e articulado”. De forma envergonhada, dizem queo PDE “falha” quanto à valorização dos trabalhadores do ensi-no porque a vincula a medidas de “mérito individual”. A buro-cracia dos sindicatos de São Paulo procura separar o PDE deLula do Plano de Metas de Serra e da Reestruturação de Kas-sab. Descarregam tintas nas críticas às medidas de Serra e Kas-sab. São favoráveis às avaliações externas e as avaliações pormérito, nesse caso com a ressalva de que seja um processo de-mocrático. Ou melhor, uma farsa democrática. O fato é que tra-balharam contra a organização dos trabalhadores e estudantespara que o PDE e os outros planos governamentais fossem reje-itados por meio da luta.

3.A reação ao PDE ganhou evidência quando os estudantesocuparam as Reitorias, paralisando as universidades federaisda Bahia, São Paulo, Ceará, Paraná. Houve um movimento na-cional de rejeição ao Reuni, que compareceu de forma fragmen-tada. A UNE por ser a favor ao PDE atuou contra a mobilizaçãodos estudantes. As ocupações das universidades, algumas ul-trapassaram um mês, foram arrancadas pela repressão do Esta-do. Havia disposição dos estudantes de combate ao Reuni esuas conseqüências para a universidade pública, mas estavamisolados e à mercê da enorme campanha mentirosa e de exorta-ção à repressão por parte da imprensa. Os governos e a buro-cracia acadêmica aproveitaram a situação para desfecharem arepressão policial. A tropa de choque restabeleceu o funciona-mento das universidades. O movimento dos professores emSão Paulo foi abortado pela burocracia após a grande manifes-tação de 30 mil nas ruas contra as medidas de Serra. A unidadecom os sindicatos da rede estadual foi circunstancial e limitadaaos atos, porque eram contrários à deflagração da greve. A se-qüência de atos, sem uma ofensiva grevista contra o governo,acabou no esvaziamento e no fim da campanha. O governoaproveitou o bloqueio imposto pelas direções sindicais e enfati-zou o Plano de Metas e as medidas punitivas aos professoresque não cumprirem os objetivos. Por outro lado, a burocraciado sindicato dos municipais, que teve seis meses para rejeitar aReestruturação, fez campanha de que nesse projeto havia pon-tos positivos e que era possível incorporar outros. O resultadofoi a aprovação sem resistência dos trabalhadores.

4.É fato o fracasso do ensino. Os alunos pouco aprendem eos professores estão cada vez mais com dificuldades de pôr emprática seus planos de aula. Os governos aplicaram as avalia-ções, Prova Brasil, Saresp, Enade, Enem, e os resultados são ca-tastróficos. Demonstrou o que já era evidente. As avaliaçõesnão tiveram a função de demonstrar nada. Mas sim de servir deinstrumento para justificar um plano de medidas severas con-tra os trabalhadores da educação. A manobra da burguesia vaimais longe. Ganha plano internacional. O Brasil ocupa um dosúltimos lugares nas provas de matemática, ciências e leitura.Reforça a idéia de que a rede pública no Brasil necessita de ge-renciamento, fiscalização e controle sobre o professor. Assim, ofracasso da aprendizagem que é de inteira responsabilidade doEstado é atribuído pelos governantes aos trabalhadores daeducação. Nas universidades, o mesmo se repete.

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5.A privatização do nível superior e o raquistismo da redepública universitária constituem um brutal bloqueio à maioria.São 2.398 universidades privadas contra 257 públicas. 10% dosestudantes chegam à universidade. O investimento total para aeducação é de menos de 4% do PIB. As justificativas de inclu-são, qualidade e outros adjetivos servem para acobertar a vio-lenta destruição do ensino público. Uma das maiores fraudes éa implantação do ensino à distância. È uma fraude em nome dademocratização do ensino e uma fraude contra a aprendiza-gem. As reformas favoreceram a expansão das empresas quemercantilizam a educação. O ensino superior privado, alémdas fusões, agora abrem o capital na Bolsa de Valores. A empre-sa Anhanguera Educacional S.A, com as aplicações no mercadofinanceiro, fundiu com outras universidades e passou de 24 milalunos (2006) para 53 mil (2007). A rede Pitágoras, que temcomo um dos donos o corrupto Walfrido dos Mares Guia, se-guiu o caminho da Anhanguera. O mesmo ocorre com a Uni-versidade Estácio de Sá e outras. O especuladores estrangeirosvêm nas empresas de educação um negócio rendoso. Mercanti-lização e desnacionalização do ensino é o que vivemos.

6.Para rejeitar o PDE, que contém o Reuni, Prouni, Plano deMetas e a Reestruturação, é preciso levantar a bandeira de edu-cação pública e gratuita a todos em todos os níveis e fim da redeprivada. Essa reivindicação se choca com o caráter privatizantedo PDE e da reforma educacional dos governos. Denuncia a“inclusão” de uma minoria explorada no nível superior, geral-mente nas universidades privadas, por meio de recursos públi-cos. Mostra que nada tem a ver com qualidade de ensino, aocontrário, são instrumentos para corte gastos. As metas, avalia-ção por mérito, estágio probatório e o provão são para demitir emanter o salário baixo; as salas superlotadas, para contratarmenos professores; a formação docente, para expandir o ensinoà distância; os gestores, para fiscalizar os professores; as mu-danças curriculares, para eliminar disciplinas e ampliar o ensi-no semi-presencial. Portanto, são medidas que estão nacontramão do anunciado ensino de “qualidade” e da necessi-dade de acesso a todos. O PDE e suas variantes nos estados emunicípios reforçam o caráter seletivo e privatista da educa-ção. Combatê-los é se colocar pela estatização de todo o ensino,sob o controle de quem estuda e trabalha.

Pacote de Serra para 2008:mercantilização e centralização do ensino

A Corrente Proletária da Educação (órgão do Partido OperárioRevolucionário – POR), há muito tempo, denuncia o processo demercantilização e centralização do ensino em todo o país. Do gover-no Lula / PT ao governo do PSDB em São Paulo, tem destacado asmedidas que favorecem as empresas privadas. São as compras devagas ociosas em instituições de ensino superior (ProUni) ou garan-tia de pagamentos das mensalidades dos estudantes transformadosem estagiários das escolas (Programa Ler e Escrever), isenção fiscalpara os “parceiros” das escolas, dentre outras medidas.

A educação tem se tornado um negócio em que as empresas lu-cram de uma maneira ou de outra, ao mesmo tempo em que o Esta-do corte recursos nesta área, fechando salas de aulas, arrochandoos salários, desempregando etc. Para agir assim, o governo tem deaumentar a repressão e o controle sobre os trabalhadores. Centrali-za-se o lado administrativo e “pedagógico” e descentraliza-se asformas de custeio do ensino, que vão se tornando uma mina deouro para os capitalistas. Trata-se uma diretriz imposta pelo BancoMundial / FMI.

MERCANTILIZAÇÃO, DESEMPREGO ESUBCONTRATAÇÃO

Na segunda quinzena de dezembro de 2007, Serra lançou seteResoluções e outras medidas que compravam o avanço da privati-zação do ensino e, conseqüentemente, ampliam os ataques sobreos trabalhadores..

Através da resolução nº 92, o governo altera a organização curri-cular do Ensino Médio, criando: a) o curso de sólida formação básica eb) o curso de formação básica e profissional. Nos dois casos, há reduçãode aulas e, portanto, de jornada e salário para os professores efeti-vos, e desemprego para os contratados, além de aprofundar-se a di-ferença entre o ensino para os filhos dos ricos (estudantes de escolasparticulares) e os filhos dos pobres (estudantes de escolas públicas),já que a mudança atinge as escolas da rede estadual.

O curso de formação básica retira 6 aulas na 3ª série para desti-na-las às “disciplinas de apoio curricular”. Tais disciplinas são as já

existentes, mas só da Base Comum (que inclui três áreas), ou seja,duas disciplinas da Parte Diversificada (Sociologia e Psicologia)foram eliminadas. Além disso, a redistribuição dessas 6 aulas fica-rá a critério da direção escolar, seguindo regras que excluem di-versos professores tanto contratados (OFA´s) como efetivos: 1)cada área só receberá 2 aulas e para uma disciplina; 2) privilegiaros professores efetivos para complementação de jornada; 3) esco-lher professores “que demonstrem familiaridade com ferramentas de

multimídia e que disponham de condições para sessões de estudos e pes-

quisas”, pois utilizarão “recursos tecnológicos inovadores”. Como vis-to, tais aulas se tornarão um fardo para os professores, que terãomaior carga de trabalho para, no máximo, obter 2 aulas. Mas isso étemporário, já que a tendência é o governo estabelecer parceriastambém nessa modalidade de curso.

O curso de formação básica e profissional traz mais mudançaspara o período diurno, mexendo também com a 2ª série. No total, ogoverno retira 18 aulas que ficarão a cargo do Instituto Paula Sou-za em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Ou seja, é este omercado que o governo abre para as empresas na área da educaçãopública, com possibilidade de mais 6 aulas na 2ª série do períodonoturno, se as escolas conseguirem montar turmas para cursaremos módulos profissionalizantes aos sábados. Esse curso, será reali-zado através de telessalas e do ensino à distância, oferecendo aosalunos nada mais que os telecursos da Rede Globo. De imediato,como não conseguiu organizar totalmente a rede para o lucro dasempresas, diz que, “excepcionalmente”, as 6 aulas da 3ª série, doperíodo diurno, serão distribuídas pelo diretor para um único

professor de uma disciplina da Base Comum, de preferência efeti-vo. Porém, só pode ser aquele professor “cuja área de atuação guarda

estreito vínculo de ordem programática com o conteúdo profissionalizante

proposto para a disciplina”. Além disso, ele “exercerá não só função de

professor dessas disciplinas, como desempenhará em horários diversos, a

função de tutor da respectiva turma de alunos”. Para tanto, terá só mais5 aulas semanais, isto é, menos de R$ 50,00 por semana.

A Resolução nº 86 aprofunda a mercantilização do ensino atra-

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vés da ampliação do Programa “Ler e Escrever”, na Região Metro-politana da Grande São Paulo, para todas as séries do EnsinoFundamental I (em 2007 valia só para a 1ª série), é o caso dos “2 pro-fessores por sala”. Sob a mentira de “alfabetizar, até 2010, a todos os

alunos com idade de até oito anos do Ensino Fundamental da Rede Estadual

de Ensino”, o governo destinará, no mínimo, três vezes mais recursosàs universidades privadas que oferecerem “estagiários”. Estes têmsuas mensalidades pagas diretamente pelo governo, ou seja, são su-perexplorados, pois não ganham nada.. Por outro lado, para os pro-fessores envolvidos no programa, o governo só pagará mais 4 horassemanais para fazerem planejamento e capacitação (menos de R$40,00). Miséria que não será paga caso haja afastamento do profes-sor, “a qualquer título”, isto é, mesmo por licença saúde.

Serra também impôs aos funcionários da educação uma nova re-moção. Ou seja, o concurso de remoção ocorrido em outubro nãoatendeu ao objetivo do governo e da Secretaria de Educação: concen-trar os funcionários efetivos em algumas escolas para, em outras, rea-lizar a total terceirização / privatização dos serviços. Por isso, elespressionam os funcionários a escolher uma escola de uma lista jápronta ou a serem removidos compulsoriamente. Há anos, o governovem prejudicando os funcionários por meio das Frentes de Trabalhoe Cooperativas, em que ganham um salário de fome e não têm direi-tos trabalhistas. Agora quer avançar neste processo. Primeiro realizaa remoção forçada dos efetivos e a dispensa dos funcionários das coo-perativas. Depois, fará uma seleção (uma prova) para contratar funci-onários pela Lei 500/74, mas temporariamente (previsão de 1 ano),isto é, “enquanto não ocorre a terceirização”. Por isso, é que o gover-no exige que: “Todos os funcionários das escolas que serão terceirizadas de-

verão se inscrever na remoção. Obrigatoriamente”.Para se livrar de uma boa parcela de professores contratados,

Serra, tal como vem fazendo o PSDB, há mais de uma década, utili-zou o concurso público, em que se livra dos mais antigos (mais “ca-ros”) e fica com os mais novos (mais “baratos” e receptivos às suaspropostas “inovadoras”). Em 2008, efetivará apenas 17.852 profes-sores, quando, em 2007, havia 106.787 contratados. Ou seja, mes-mo que os efetivos estivessem entre estes últimos, ainda sobrariamcerca de 89 mil professores sem aula ou com jornada e salário mui-to reduzidos. É mais dsemprego e subemprego.

Outra maneira utilizada para se livrar de OFA’s é a dispensados atuais (6.649) professores coordenadores. Muitos contratadosvaliam-se desta função para manterem seu emprego no magisté-rio, sendo, em 2007, 2.819 professores. Agora, para se tornarem co-ordenadores, além de enfrentar uma verdadeira maratona(elaboração de projetos ultra-acadêmicos, entrevistas, provas etc.),terão de ter, no mínimo, 10 aulas atribuídas nas escolas em quepretendem atuar. E, no final, serão mesmo escolhidos pelos direto-res de escola e supervisores de ensino.

CENTRALIZAÇÃO DO ENSINOA Resolução nº 88 define que os novos coordenadores serão

“gestores implementadores” das propostas da Secretaria da Edu-cação. Por isso, dentre os objetivos que estes terão, há a total vigi-lância sobre o que os professores ensinam e como ensinam. Ouseja, transforma os coordenadores em chefes dos demais.

Conforme as resoluções nºs 89 e 90, os coordenadores deverão,por exemplo:• “observar a atuação do professor em sala de aula, com a finalidade de re-

colher subsídios para aprimorar o trabalho docente, com vistas ao avan-

ço da aprendizagem dos alunos”, isso em todos os níveis de ensino;• com a desculpa de “auxiliar” e “orientar”, controlar a rotina de

trabalho dos professores, verificando o planejamento de suasatividades semanais e mensais, no Fundamental I;

• no Fundamental II e Ensino Médio, verificar se os professoresestão aplicando “as propostas curriculares organizadas pelos órgãos

próprios da Secretária da Educação”;• “monitorar” as avaliações bimestrais e os projetos de recupera-

ção bimestral;• “orientar e auxiliar os docentes... na identificação das atitudes e valores

que permeiem os conteúdos e os procedimentos selecionados, imprescin-

díveis à formação de cidadãos afirmativos” (o grifo é nosso);• sob a máscara do “apoio”, interferir nas “organizações estudantis

que fortaleçam o exercício da cidadania e ações / organizações que

estimulem o intercâmbio cultural, de integração participativa e de

socialização” (o grifo é nosso).Para que os coordenadores cumpram esses objetivos, o gover-

no atrelou-os às oficinas pedagógicas das Diretorias de Ensino, sobo controle de dirigentes e supervisores.

O governo ainda lançou a Resolução 87, que estabelece maiorcontrole no cumprimento do calendário escolar e obriga os profes-sores a realizarem “atividades para reflexão e discussão dos resultados

do SARESP/2007”. Ao mesmo tempo, está proibida “a realização de

eventos ou atividades não programadas no calendário escolar, em detri-

mento das aulas previstas”, podendo haver a penalização de mem-bros das escolas.

Antes ainda dessas medidas, o governo já havia lançado o De-creto que estabelece as normas para a avaliação dos novos professo-res efetivos. Trata-se do Estágio Probatório, que existe há décadas,mas nunca com critérios tão prejudiciais aos professores, tais como:assiduidade, disciplina, capacidade de iniciativa, responsabilidade,comprometimento com a Administração Pública, eficiência e pro-dutividade. O professor será avaliado por 3 anos para daí ter suaefetivação confirmada, do contrário será exonerado. Quem o avalia-rá? Uma Comissão montada pelo próprio governo, que é a mesma aque se recorrerá caso não concorde com o resultado.

Finalmente, após toda uma campanha da imprensa burguesaaliada ao governo, este último lançou um Projeto de Lei Comple-mentar sobre as faltas dos servidores, incluindo o professor. Só se-rão possíveis 6 faltas ao ano para, no máximo 1 por mês, paratratamento de saúde, para que não haja desconto do dia / hora detrabalho. Isso porque, segundo o governo os servidores têm abusa-do das faltas com atestados médicos não “idôneos”.

Como visto, não são poucas as medidas que visam o controledos professores, funcionários e alunos nas escolas. O controle ideo-lógico se dá sobre todos. O controle para que não tenham ações po-líticas contrárias as medidas governamentais também (desde nãopoder faltar para manifestações até ter o grêmio estudantil contro-lado pelo coordenador).

DIREÇÕES BUROCRÁTICAS NÃO PREPARAM ARESISTÊNCIA

Na realidade, antes de assumir o governo Serra já destacava aintenção de realizar algumas destas medidas. Se havia alguma dú-vida, em meados de agosto, Serra deixou claro ao ditar as “DezMetas para Educação”.

Mesmo diante de todos os ataques anunciados e ocorridos em2007 (reforma da Previdência dos Servidores em São Paulo), nem adiretoria da APEOESP (Sindicato dos professores) nem a daAFUSE (Sindicato dos Funcionários de Escola) organizaram a lutados profissionais de educação. Criaram uma farsa com outras enti-dades do magistério (sindicatos de diretores, supervisores, apo-

MASSAS – de 07 a 21 de janeiro de 2008 – 17

sentados etc.): realização de atos conjuntos, que nada decidem. Aassembléia geral só ocorreu quando houve o esvaziamento do mo-vimento promovido pelas próprias direções burocráticas. Aí, o anojá estava encerrado.

A democracia operária, assembléias massivas e unificadas, co-mandos de mobilização unificados tirados na base, e a ação direta(greves, bloqueios, manifestações de rua etc.) são rechaçados por es-sas direções porque se opõem ao seu burocratismo, sua conciliaçãocom o governo e os capitalistas. Mas, não pára aí.

Mais recentemente, diante das medidas do governo, qual foi aresposta da APEOESP? Reclamando que o governo é autoritário,orientou os professores a realizarem Conselhos de Escolas extraor-dinários para manter a grade curricular atual e escolherem seus co-ordenadores. Ou seja, só destacou dois problemas: perda de aulase desligamento dos coordenadores. Depois, para um ataque geraldo governo, em âmbito estadual, dá uma resposta localizada: cadaescola define em seu Conselho, como se este tivesse poder paraisso. Nada de luta, nada de organização dos trabalhadores em edu-cação.

Assim, também respondeu a AFUSE. Primeiro, disse que trata-va de boato, mas ainda assim, estava recorrendo à Justiça. Depois,admitiu que o governo estava pressionando os funcionários, masreforçou que ela estava buscando as medidas judiciais cabíveis ehavia apelado a um deputado.

Pressão parlamentar, recorrer a justiça e aos organismos esta-belecidos pelo próprio governo (Conselho de Escola) com poderesultra-limitados: esse é o campo proposto pelos pelegos. Comba-tê-los faz parte da luta contra o pacote do governo.

NOSSA RESPOSTAO pacote de ataques do governo está pronto. Precisamos ur-

gentemente preparar a luta! Defendemos:

• Organização de uma assembléia massiva e unificada no início doano letivo. Para tanto, não apenas os lutadores, mas sobretudo osdiretores do sindicato deverão trabalhar de fato, mobilizando asescolas e colocando o dinheiro do sindicato a favor da luta;

• Propagandear a greve como única ação capaz de responder a al-tura os ataques do governo. Greve unificada, com comando deorganização e negociação unificada, composto pela base, eleitoem assembléia;

• Pauta de reivindicações, que inclua:� Abaixo toda a reforma educacional de Serra e Lula e da legis-

lação e medidas que a sustenta, incluindo as avaliações exter-nas (Saresp, Prova Brasil etc.);

� Abaixo a Avaliação de Desempenho;� Salário Mínimo Vital para todos os trabalhadores da educa-

ção de, no mínimo, R$ 2.500,00 e, a partir deste piso, EscalaMóvel de Reajuste (acompanhando a inflação);

� Emprego a todos através da Estabilidade imediata e EscalaMóvel das Horas de Trabalho (divisão das horas de trabalhoentre os trabalhadores da educação);

� Reabertura de salas e escolas fechadas e construção de novasescolas onde for necessário;

� Máximo de 25 alunos por sala;� Aulas de 40 minutos no período noturno e 45 no diurno.� Escola pública, gratuita, laica, para todos em todos os níveis,

sob o controle de quem trabalha e estuda. Ou seja, estatizaçãoda rede privada e fim dos vestibulares;

� Ensino vinculado à produção social. Os jovens devem traba-lhar, no máximo 4 horas, e o restante deve servir para estudoe lazer, com um salário que realmente atenda suas necessida-des e ter um ensino que una teoria e prática;

� Garantia do direito de locomoção da juventude: Passe Livrepara todos os estudantes.

1X CONGRESSO DO CONDSEFDe 5 a 9 de dezembro ocorreu o IX Congresso dos Trabalhado-

res do Serviço Público Federal, em Belo Horizonte. A Corrente Pro-letária da Saúde apresentou uma avaliação deste Congresso.

A pauta do Congresso deveria ser sobre as reformas dos gover-nos e a aprovação de um plano de lutas. O objetivo, portanto, erade pôr em pé ações para a resistência unificada dos trabalhadoresaos ataques governamentais. Mas não foi o que se passou.

O congresso foi dirigido para aprovar o apoio ao governo Lula.Assim, dos 800 delegados presentes, mais de 500 votaram em favor dasmedidas do governo. Apenas dois estados da região Norte, Rondôniae Pará, foram contra a destruição destes direitos. Mas as direções sindi-cais não estão empenhadas em organizar a resistência contra as refor-mas. Isso por que estão nas mãos de lideranças eleitoreiras.

Um dos pontos debatidos foi sobre a desfiliação da CUT. O Con-gresso aprovou a não desfiliação. Porém, não deliberou sobre ocombate à burocracia dirigente da CUT, que é um braço do governoLula no movimento sindical. Os que defenderam a desfiliação são osque propõem a cisão da CUT e a criação de novas Centrais. Recusamtravar a luta pela derrota da burocracia petista traidora.

Outro ponto aprovado que revela a colaboração de classes foisobre os afastamentos. Os servidores afastados por meio de laudosmédicos devem retornar ao trabalho a fim de serem avaliados, sobas mesmas condições dos servidores da ativa. Isso é grave. EmRondônia, os servidores da FUNASA. passam por sérios proble-mas de saúde, provenientes da intoxicação dos pesticidas, usados

na pulverização dos mosquitos. Estes, pela decisão do congresso,terão de retornar ao trabalho.

Há um outro fato também grave que o congresso deveria ter res-pondido. Trata-se da assistência que o funcionalismo da FUNASApresta na região Norte e, em particular em Rondônia. O governoLula pretende fechar esta entidade entregando os serviços presta-dos por eles aos estados e municípios. As conseqüências já se fazemsentir, pois quando algum funcionário se aposenta ou morre, nãosão substituídos. Portanto, os postos de trabalho do funcionalismoacabam fechando e a responsabilidade pela febre amarela, malária eoutras epidemias ficam a cargo dos prefeitos e governadores. Opovo pobre acaba sendo vítima das medidas governamentais.

A Corrente Proletária defendeu um plano de lutas, apoiado nasseguintes reivindicações:

1. Fim das reformas governamentais que retiram direitos e des-troem postos de trabalho.

2. Paridade entre ativos, aposentados e pensionistas. Fim da re-forma da previdência. Sistema único de previdência estatal, sob ocontrole dos trabalhadores;

3. salário mínimo vital, que em nossos cálculos deve ser de R$2.500,00.

4. Fim das medidas de Lula que impõem o arrocho salarial aofuncionalismo;

5. Emprego a todos, por meio da escala móvel das horas de tra-balho.

18 – MASSAS – de 07 a 21 de janeiro de 2008

Não existe uma terceira via para o socialismo,(Apesar do que o PO fala)

O jornal do Partido Obrero (o PO argentino de Jorge Altamira)dedica toda sua contracapa analisando as dificuldades da revolu-ção boliviana.

Decidimos polemizar com este artigo porque contribui com ogrande dano que permanentemente fazem os morenistas e os revi-sionistas do trotskismo atacando a única referencia revolucionariana Bolívia, e dessa forma pretender isolá-lo da vanguarda militan-te. Contribuindo assim para ocultar e deformar as posições revolu-cionárias, injetando seu veneno democratizante, que tantoconhecemos aqui na Argentina.

Este artigo critica o MAS (Movimento ao Socialismo, partidodo Presidente boliviano Evo Morales), e caracteriza o POR Bolivia-no como “ultimatista”

Em primeiro lugar, o artigo não menciona o fato do PO ter cha-mado o voto em Evo Morales e que na ocasião de sua vitória na ele-ição ter saudado calorosamente seu triunfo, (apesar dosaltamiristas não terem influência alguma na luta de classes na Bolí-via, são responsáveis de terem apoiado o governo de Evo Mora-les). Fazemos este esclarecimento porque talvez algum leitordesprevenido possa pensar que o PO sempre criticou e manteveuma posição de independência de classe frente a Evo.

Em segundo lugar, chamamos os companheiros do PO, e nestecaso a Christian Rath, a conhecer, revisar, discutir e criticar toda a in-tervenção do POR boliviano sobre bases corretas, sobre seus docu-mentos, seus jornais, suas intervenções concretas. Só assim se podedebater seria e profundamente. Do contrário, podemos supor quenão está trabalhando de boa fé ou ignora o que está falando.

É mentira que o POR boliviano não tenha analisado as expectativasque gerava nas massas a ascensão de Evo Morales. O POR bolivianodedicou uma grande parte de sua propaganda combatendo as ilusõesdemocráticas, como cabe a qualquer organização revolucionária.

Desde muito antes de se apresentar a estas eleições, desde queapareceu no cenário político pretendendo se passar por represen-tante dos camponeses cocaleiros. Suas mentiras têm sido combati-das duramente desde o princípio.

Rath afirma falsamente que o POR… “ignora a situação políticadominada pelo protagonismo das massas camponesas e indíge-nas”. Muito pelo contrário, o POR colocou em relevo esta situaçãodesde sempre e trava uma dura batalha, em todos os terrenos, paracindir esse movimento da direção burguesa do MAS. Não fazê-lo,em nome de que as massas têm ilusões nesse partido e nessa dire-ção, é capitular abertamente, renunciar a uma política operária.

Rath omite dizer que, no momento das eleições dos constituin-tes, as ilusões estavam esfaceladas porque as massas estavam ven-do como negociavam as concessões com a direita para lhes daremtodas as garantias. A escassa presença da base do MAS na apresen-tação de seus candidatos a Constituinte já antecipava a perda deentusiasmo, como reconheceram Evo e Garcia Linera (vi-ce-presidente e ideólogo do partido) nesse momento. A abstenção,o voto branco e nulo nas eleições (32,2%) foi uma clara mostra doacerto da política porista.

Mente Rath quando afirma que “ninguém na Bolívia discutiu oproblema da organização da derrubada e da tomada do poder”.Basta olhar para algumas dezenas de edições do jornal do POR deantes, durante e depois das mobilizações de Outubro para vercomo estavam colocando a luta pelo poder, e como isto ficou refle-tido na própria imprensa burguesa.

Mas disse algo muito interessante sobre o chefe do MAS: “EvoMorales se manteve ausente da rebelião de Outubro para não assu-mir a responsabilidade política por um desenlace revolucionário, ecolocou antes que qualquer um o apoio a saída constitucional e ‘a re-volução na democracia’...”. Mesmo levando em conta que Evo prega-va claramente um desvio do processo revolucionário, para esmagá-lodemocraticamente, como bem disse Rath, o PO chamou o voto nele.

Rath fala com pouca ênfase contra um Evo ao qual chamou aapoiar e que agora parece querer se desligar. Para o POR no há ne-nhuma mudança na política de Evo e do MAS. Não se poderia es-perar nada diferente desta direção.

Em terceiro lugar, Rath tampouco admite que a caracterizaçãopolítica de que a vida da Constituinte seria curta também era corre-ta. Justamente o que demonstra a luta aberta na Bolívia é que istoera só uma farsa, uma forma de desviar a atenção das massas.

Rath considera que “a classe operária pode jogar um papel diri-gente se orientar os camponeses e indígenas em torno de duas outrês consignas: a expulsão da oligarquia fascista da Constituinte, aexpropriação dos latifúndios, e a nacionalização sem pagamentodos combustíveis fósseis”. Sua Posição revela que quem na verda-de tem muitas ilusões que a Constituinte jogue algum papel é opróprio Rath. Tem ilusões também que os deputados do MAS pos-sam fazer uma Constituinte boa para as massas se não tiver a pre-sença da oligarquia fascista. Devemos dizer com absoluta clarezaque a expropriação dos latifúndios e a nacionalização sem paga-mento dos hidrocarburantes não será resolvida pela Constituinte,do contrário se contribui com o engano.

Nesta edição:• Não existe uma terceira via para o

socialismo,(Apesar do que o PO fala)

• As Históricas Jornadas de 19 e 20 deDezembro, 6 anos depois

Comitê de Enlacepela Reconstruçãoda IV Internacional

Artigos do Cerqui

MASSAS – de 07 a 21 de janeiro de 2008 – 19

As Históricas Jornadas de 19 e 20 de Dezembro,6 anos depois

O Que dizíamos em 27 de dezembro de 2001?Em primeiro lugar, as jornadas de 19 e 20 foram um estouro po-

pular que não foi produto da convocação de nenhum partido pa-tronal, nem da burocracia sindical.

Os protagonistas da rebelião foram a classe operária desempre-gada e os setores mais golpeados pela política do regime. Impor-tantes setores da classe média se mobilizaram na Praça de Maio;com o panelaço, se quebrou o estado de sítio ditado na noite do dia19.

A luta pela ocupação da Praça de Maio mostrou o caráter políticodo movimento, o que estava em jogo era uma luta pelo poder.

A explosão dos dias 19 e 20 aparecem como a expressão do pro-cesso de luta do funcionalismo estatal, dos bloqueios de rua e mo-bilizações, cada vez mais radicalizados, dos movimentospiqueteiros. Na eleição anterior, se antecipava o descrédito nas ins-tituições democráticas burguesas, com uma alta porcentagem de

votos brancos, nulos e de protesto, destacando-se o alto grau deabstencionismo etc.

A mobilização de 19 e 20 também é produto da resistência dostrabalhadores à aplicação dos planos imperialistas, (flexibilizaçãodo trabalho, redução salarial, etc.).

Nenhum dos partidos de esquerda pôde se transformar em di-reção do movimento.

A política de De la Rua aprofundou o papel de semicolônia daArgentina.

Existia uma super-concentração dos poderes no Ministro Cavallo,através dos “super-poderes”, que deixavam a nu, ante a população, aincapacidade da burguesia nacional de levar adiante uma democra-cia burguesa ao estilo dos países desenvolvidos.

As eleições só buscavam legitimar os mesmos politiqueiros quejá haviam sido questionados. As massas buscavam concretizar o“que se fossem todos”, sem que isto significasse que pudessem dar

O que deveria fazer a classe operária para expulsar a oligarquiada Constituinte? Isso Rath não diz.

Evo em seu desespero ante o fracasso seguiu o conselho deRath: fez a Plenária da Assembléia Constituinte ocorrer num quar-tel sem os representantes da “oligarquia fascista” para poder apro-var o Projeto de Constituição Política.... que reafirma a vigência dapropriedade privada sobre os meios de produção.

Esta jogada transformou o desespero num rotundo fracasso queempurrou um setor das massas por detrás da direita fascista. A turbaenfurecida ocupou a cidade de Sucre, expulsou a polícia, os constituin-tes tiveram de fugir na calada da noite e os “Ponchos Rojos” (a van-guarda do movimento camponês, pretensamente sobre o comando deEvo) e outros setores que supostamente manchariam sobre Sucre paragarantir a continuidade da constituinte recuaram sem dar batalha.

Não se pode fazer uma Lei, sem modificar a realidade. Se nãose destrói a burguesia, ou seja, a suas bases materiais, não se podecomeçar a transformar a realidade.

No momento em que Evo assumiu, quando tinha um apoiomassivo da população, no lugar de chamar os operários a tomar ospoços, no lugar de tirar o comando das forças armadas, de chamaros cocaleiros a impor o livre cultivo, fez todo o possível para calar“institucionalmente” os reclamos. Nada diferente esperávamos, jáque o POR boliviano caracterizou antes qual plano levaria adiante.O mal-chamado “capitalismo andino” na verdade é isso: capitalis-mo, ou seja: respeito a propriedade privada dos meios de produção.

Rath se espanta pela caracterização do POR da Bolívia de que ogoverno do MAS é um governo burguês ... lacaio do capitalismomundial, do imperialismo. Como eles o caracterizam? É um gover-no de qual classe? Sobre quais bases nós marxistas definimos o ca-ráter de classe de um governo? Rath não o diz, mas pelo seu nojodevemos entender que considera o governo do MAS como de ou-tra classe. Será talvez um governo operário e camponês? Não falaassim na cara dura, mas sugestivamente afirma “... o campesinatodas comunidades ... e os operários que foram reconvertidos à ativi-dade agrária, .... ocupam o centro do processo político”.

Rath diz que o “POR elaborou há muito tempo a «tese» da «in-viabilidade da democracia burguesa» na Bolívia, dando as costasaos processos políticos eleitorais em qualquer circunstância emnome da imediata «ditadura do proletariado»”. O que entendemosdesse parágrafo é que Rath não está de acordo com esta «tese»,

considerando que pode ser viável a democracia burguesa numpaís atrasado, revisando assim outro conceito essencial.

Os parágrafos onde afirma que o POR considera que existe demo-cracia burguesa na Bolívia desqualificam ao próprio Rath que se des-taca como um soberano ignorante. Qualquer um que minimamenteconhece as posições poristas sabe qual é a posição sobre este ponto.

O POR participou dos processos eleitorais bolivianos quandoconsiderou que correspondia fazê-lo. O POR como partido marxis-ta-leninista-trotskista faz propaganda todo o tempo da estratégiada ditadura do proletariado, (a qualificação imediata é um agrega-do grotesco de Rath). Em compensação o PO não faz propagandada estratégia proletária, nunca, muito menos na campanha eleito-ral, uma atividade eminentemente de propaganda política, outroconceito essencial perdido pelo PO.

Lamentavelmente estas são experiências desastrosas, e muitoricas para a classe operária. A experiência da Frente Popular noChile com Allende e a infinidade de terceiras vias que na verdadesó habilitam o caminho da direita.

E isto é o que está se passando na Bolívia. A direita se arma e seorganiza, arrastando parte da população que se encontra em meioa uma situação que beira a “guerra civil”.

O POR boliviano não tem uma política ultimatista, o POR boli-viano sustenta que não existam terceiras vias para o socialismo,luta pela revolução proletária.

Rath se queixa porque “a esquerda renunciou a criticar o fracas-so do POR como partido revolucionário da classe operária”, certa-mente a esquerda reformista, como a que ele representa, tão exitosa,não pode criticar ninguém pelas consignas nem pelas contribuiçõesao programa da revolução na Bolívia. Pois qual contribuição deramos autamiristas à teoria da revolução na Argentina? Como foi suacampanha pela Assembléia Constituinte na Argentina, que foi colo-cada umas poucas vezes como consigna política democrática centrale pouco tempo depois desaparece sem deixar rastros em seus mate-riais, para voltar alguma outra vez numa palestra para logo depoisvoltar a desaparecer. Qual é o balanço desse seu eleitoralismo?

Nós gostaríamos de conhecer, se é que houve uma autocríticapública por parte do PO a sua política de apoio a Evo. Se foi revisa-da profundamente a linha seria conveniente mostrar porque de se-melhante desvio.

(Extraído do Masas Argentino nº 112, de Dezembro de 2007)

20 – MASSAS – de 07 a 21 de janeiro de 2008

uma saída ao impasse.A esquerda levantou a proposta de uma Assembléia Constitu-

inte com todas suas variantes (é uma instituição da burguesia).Quem defendia essa política só tentava recompor as ilusões demo-cráticas, não entendiam que o movimento das massas se orientavaem outro sentido.

As massas estavam percorrendo um caminho de desilusão comas instituições burguesas, apoiadas na ação direta. Buscando pôrem pé inumeráveis assembléias de bairros, que procuravam se or-ganizar de forma independente do Estado.

Nem a Constituinte, nem a aliança com um setor da burguesia,poderiam ser uma saída para a classe operária e a maioria oprimi-da.

O papel da burocracia da CGT e da CTA foi o de frear o levante,e apoiar qualquer figura (como a de Rodríguez Saá), para recomporas instituições burguesas, que haviam explodido.

Que modificações ocorreram a partir de então?Foi colocada em marcha uma política, a partir do Estado, de

institucionalização dos movimentos piqueteiros e desmantela-mento/isolamento daqueles que enfrentaram o governo.

Uma política que buscou a recomposição das ilusões das mas-sas nas instituições burguesas, afirmando que o governo resolveriatodas as reivindicações populares.

Colocaram muita ênfase em reconstruir a imagem desacredita-da da Justiça, com a mudança da super-corrupta Corte Suprema eatravés da política de defesa dos Direitos Humanos, cooptando asorganizações de Direitos Humanos mais conhecidas, colocando nacadeia Maria Julia etc.

Neste processo, verificamos uma adaptação cada vez mais forteà democracia burguesa, da parte dos partidos de esquerda.

Atualmente, em lugar de serem os desempregados os que saemàs ruas, o protagonismo passou aos trabalhadores estatais, geran-do crises nos governos com suas lutas radicalizadas.

O grau de exploração capitalista se aprofundou, as jornadas detrabalho são mais intensas, quase 50% dos postos de trabalho sãoprecarizados, informais.

As Frentes de Trabalho foram institucionalizadas e se as utili-zam como mão-de-obra do Estado, por exemplo, para garantir ta-refas de limpeza.

Nenhum dos partidos patronais, que historicamente tinhampenetração de massas, pôde se recompor, somado à sua incapaci-dade de mobilizar espontaneamente.

O que se mantém?Mantém-se e se aprofunda o grau de desnacionalização da ter-

ra e da economia argentina; o pagamento da dívida externa, a per-seguição aos lutadores (com o agravante da lei anti-terrorista),destruição dos recursos naturais (soja e desertos verdes para abas-tecer as fábricas de papel, desertificação de terras de pastoreio edas cultiváveis).

Os subsídios milionários para as empresas privatizadas e paraas privadas.

A prática de fazerem leis que garanta juridicamente as multi-nacionais…

A política de privatização de novas áreas do trabalho social(educação, saúde).

A prática da fuga de milionárias somas ao exterior por parte deBancos, empresas, privatizadas, pela via de pagamentos de royal-ties, dividendos e outras coisas mais.

O subsídio da produção para a exportação, que dá lucros milio-nários para as empresas e nenhum benefício para a Nação.

A desvalorização do salário, a fome e a desnutrição.O problema da moradia continua sendo estrutural, um setor

das massas já não espera que o governo lhes solucione o problemada terra, e começa a tomá-la.

Qual é a tarefa?Não se pode negar que a tendência para a ação direta das mas-

sas, os instintos de revolta, seguem se aprofundando. Nos últimostempos, temos visto isto nas grandes greves protagonizadas pelostrabalhadores estatais, como em Neuquén e Santa Cruz (professo-res, trabalhadores da saúde), as reações da população frente aoatraso do transporte, os bloqueios de estrada contra as fábricas depapel, as mobilizações dos trabalhadores ligados à produção pes-queira, os petroleiros, os trabalhadores no setor de serviços etc.

Tudo isto nos indica que é muito provável que possa se produ-zir um novo estouro social. Sem dúvida, existe uma questão quecontinua pendente, que é a questão da organização e da direçãodas massas.

Devemos expulsar a burocracia de nossos sindicatos e organi-zações, com todos os métodos ao nosso alcance, para romper comseu pacto social.

A vanguarda deve rechaçar qualquer tentativa por parte da bu-rocracia e da burguesia que procure recompor as ilusões democrá-ticas na população. Por exemplo, a proposta de Constituinte Socialque está sendo impulsionada pela CTA (Central dos Trabalhado-res Argentinos).

Devemos unificar os trabalhadores, as massas, tendo comobase uma única pauta de reivindicações e um plano de luta unifica-do, superando as lutas setoriais e transformando-as em uma amplamobilização política das massas contra o regime capitalista e seusgovernos.

Está mais vigente do que nunca o Programa de Transição esuas consignas, que se ligam cada vez mais com a necessidade dasmassas, e pôr a nu a putrefação do regime burguês.

A tarefa da vanguarda é levantar as consignas transitórias,para ajudar a transformar as lutas reivindicatórias em luta abertapela conquista do poder pela classe operária.

Em nosso país, de desenvolvimento capitalista atrasado, semi-colônia, com uma burguesia parasitária dominada completamentepela burguesia imperialista, se mesclam as reivindicações mais ele-mentares da classe operária (como salário e pleno emprego) comconsignas democrático-burguesas, antiimperialistas, e com as rei-vindicações de setores empobrecidos do campo e a cidade.

A tarefa dos revolucionários é tomar para si a luta dos campo-neses empobrecidos e dos setores médios oprimidos (não igno-rá-los como faz um setor da esquerda que propõe a formação deuma Frente Única Proletária, como se a Argentina fosse igual àFrança).

A forma de concretizar esta tarefa é através da Frente ÚnicaAntiimperialista. Isto é, a classe operária dirigindo as massas empo-brecidas do campo e a cidade, sob seu programa e direção política.

Para que a classe operária possa jogar este papel necessita tor-nar-se independente politicamente, construir seu próprio partido, opartido que expresse sua estratégia revolucionária, o partido operá-rio revolucionário. Não conglomerados sob formas de frentes ou departidos que só querem ganhar mais votos.

A crise de 2001 não foi encerrada, apesar dos esforços da bur-guesia em reconstruir as ilusões democráticas, desmobilizando,dividindo, confundindo os lutadores.

(Extraído do Massas Argentino nº 112, de Dezembro de 2007)