revolução industrial inglesa vista por paul mantou
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8/7/2019 revoluo Industrial Inglesa vista por Paul Mantou
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revoluo Industrial Inglesa vista por Paul Mantou
introduo
Na introduo de sua obra, A revoluo Industrial no Sculo XVIII, Paul Mantoux
define o processo de formao das Grandes indstrias como lento e originrio de um
longo e long?nquo processo, de causas puramente econmicas. no podendo ser
caracterizada unicamente pela grande dimenso dos mercados para os quais vo seus
produtos, a Grande indstria pode ser definida como um novo regime de produo
surgido na Inglaterra entre 1760 e 1800.
porm, algumas obras recentes apontam a existncia de grandes indstrias j na Frana
do sculo XVII, no reinado de Lus XIV. Conforme os estudos de M. Germain Martin, a
grande indstria francesa do sculo XVII poderia se apresentar de trs formas: Em
primeiro lugar estavam as manufaturas do Estado que existiam em funo do rei e da
corte, no esperavam lucros e ignoravam a concorrncia, funcionando exclusivamente
para produzir objetos pessoais e decorativos ao rei; Em segundo estavam as
manufaturas reais que eram privadas e produziam para o consumo pblico. Estas
manufaturas recebiam o apoio do Estado e, conseq?entemente, sofriam suas
intervenes. Geralmente eram originrias de outros pases, atra?das para a Frana pelapoltica de Colbert. at mesmo os industriais protestantes foram bem recebidos na
Frana e tiveram liberdade religiosa mesmo Aps a renovao do Edito de Nantes; Em
terceiro e ltimo lugar, Germain Martin destaca as manufaturas privilegiadas que, ainda
mais favorecidas que as manufaturas reais, tinham o direito exclusivo de fabricar e
vender certos produtos, isto ?, gozavam de monop?lio.
Estas grandes indstrias presentes na Frana do sculo XVII viviam exclusivamente dos
privilgios e caso houvesse uma diminuio da proteo estatal todas ruiriam, o que foi
observado durante o governo de Lus XV. Desta forma, o crescimento das manufaturas
reais no sculo XVII foi artificial, pois se baseava em uma interveno estatal, e no
apresentou nenhuma ligao direta com o crescimento da grande indstria do sculo
XVIII.
j na Inglaterra, apesar de tambm no encontrarmos a grandes indstrias no
sculo XVII, alguns estudos apresentam nomes de mercadores que haviam se tornado
fabricantes j no incio do sculo XVI. Entretanto estes f abricantes no tiveram o apoio
dos Tudors e seu crescimento nada teve de artificial, revelando assim um
desenvolvimento espontneo do capitalismo industrial ingls j nesta poca. Estes
embries da grande indstria fazem parte apenas de uma primeira etapa da evoluo do
capitalismo moderno: a manufatura, que submeteu a produo at meados do sculo
XVIII e j deixava explicita a separao entre capital e trabalho. alm disso, a manufatura
foi a grande respons?vel pela diviso tcnica do trabalho, aumento consider?vel da
produo e diminuio do preo final.
Conforme foi defendido por Marx, esta manufatura no era ainda a grande indstriamoderna, pois esta ltima caracteriza-se pela utilizao de mquinas. alm disso, as
mquinas levaram ao extremo a diviso do trabalho, aumentaram o capital fixo e
circulante das empresas e, conseq?entemente, aumentaram a diviso entre capital e
trabalho, determinando os quadros gerais da sociedade contempor?nea.
Se levado em considerao o avano e a eficcia da diviso do trabalho cada vez
mais rigorosa entre as regies produtoras e mesmo dentro de cada of?cio, ampliando
cada vez mais a cooperao que acaba por associar todo o mundo, o maquinismo a
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penas um fenmeno de ordem secund?ria, visto apenas como a resultante de todo um
processo de desenvolvimento do capitalismo moderno.
Para iniciar este estudo sobre a revoluo Industrial, o autor afirma que foi obrigado a
fixar limites, tamanha a amplitude do assunto. Estes limites direcionaram o seu trabalho
para o desenvolvimento da revoluo Industrial na Inglaterra, nos primeiros anos do
sculo XIX, especificamente na indstria de l?, algodo e ferro. Para tanto, foi deixado de
lado o desenvolvimento de outras indstrias, dentro e fora da Inglaterra, alm das
doutrinas e leis que regem a indstria.
PRIMEIRA PARTE - OS ANTECEDENTES
captulo I - A Antiga indstria e a sua evoluo
A indstria lan?fera, desenvolvida Aps as conquistas normandas, foi o tipo mais
caracterstico e mais completo da antiga indstria e respons?vel por grande parte do
enriquecimento ingls. Esta atividade, cem por cento nacional, drenou para a Inglaterra
ouro e prata, aumentando o tesouro comum. Desta forma, a indstria de l? tornou-se
para os ingleses 'a indstria por excel?ncia, a indstria fundamental, essencial do reino'
(pg. 24). Vista como um objeto sagrado, a l? tornou -se a base de toda a riqueza inglesa epara protege-la, foi criada umasrie de leis, alm de ser um dos assuntos preferidos nas
discusses da imprensa, da cmara dos Comuns e da cmara dos Lordes.
Para demonstrar a importncia desta indstria na Inglaterra, o autor descreve os
principais centros da indstria de l? no incio do sculo XVIII, dando destaque aos
condados do centro e do norte, regio principa l deste fenmeno. Ao descrever a
paisagem inglesa neste perodo, Paul Mantoux chama a ateno para a forma como a
indstria se encontra dispersa por todo territ?rio da ilha. Outro aspecto curioso a
forma como subsistem paralelamente as oficinas dos mestres artesos e as
manufaturas. Aps apresentar as principais caractersticas da indstria de l? nos
condados do centro e do norte, o autor descreve a produo no distrito de Yorkshire
que, baseada em um sistema domstico, difundia seus produtos por toda Inglaterra,alm de exportar para outras regies da Europa e mesmo para fora desta.
Conforme se dava o desenvolvimento da indstria domstica, foi de vital
importncia para o fabricante vincular-se a um comerciante, podendo assim escoar seu
produto para o mercado nacional e no estrangeiro. Assim, Aps a associao entre
fabricante e mercador, o primeiro passa a assumir alguns detalhes no processo de
fabricao, transformando gradualmente o capital comercial em capital industrial. Como
a indstria ainda era uma atividade que complementava a renda familiar, em sua maioria
oriunda da agricultura, problemas naturais que dificultassem esta atividade colocavam o
trabalhador em uma posio de depend?ncia ao mercador manufatureiro, que lhe
concedia empr?stimos em troca do penhor do tear. Assim, cada vez mais o instrumento
de trabalho deixava de pertencer ao trabalhador e passava para as mos do capitalista.
Pior ainda seria a situao do trabalhador se este habitasse a cidade e no o campo.
Neste perodo o operrio ainda trabalhava em casa, no estando submetido
disciplina fabril . Essas transformaes caracterizaram a passagem do sistema
domstico para a manufatura, ainda no que chamamos de 'Hausindustrie', que se deu
sobretudo nos condados do sudoes te e do leste, onde predominava a indstria de l? de
pente, de preo elevado, o que exigia mais capital, dando condies mais favor?veis
para o desenvolvimento da indstria capitalista. Conforme a agricultura passa a assumir
uma posio secund?ria diante da indstria, o tecelo torna-se cada vez mais
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dependente do capitalista, o que causava queda cada vez maior dos n?veis salariais.
alm disso, a concentrao industrial e a abund?ncia de mo-de-obra tambm
contribu?ram para agravar este quadro.
Com o surgimento dessas duas classes, uma que controlava o capital e outra que
vendia o trabalho, manifestou-se um antagonismo inevit?vel, abrindo espao para o
surgimento das primeiras trade unions que, ao contrrio do que pensamos, no surgeentre os mais oprimidos e sim entre aqueles que conservaram maior independncia
como, por exemplo, os operrios penteadores que se encontravam em nmero reduzido.
porm, rapidamente o Parlamento adotou en?rgicas medidas de represso ?s coalizes
de trabalhadores e as greves passaram a ser punidas com severas penalidades. O
antagonismo era crescente: de um lado estava o capitalista que, para reduzir os gastos
com mo-de-obra, passava a recrutar crianas abandonadas para o trabalho; de outro
lado estavam as associaes de trabalhadores que aumentavam a freqncia das greves
e os ataques ?s mquinas.
Aps relatar as transformaes que caracterizaram a passagem da antiga indstria
para a indstria moderna, o autor se prop?e a identificar os elementos que retardaram
essa transformao. Entre eles pode ser observada a extrema regulamentao do
processo produtivo que impedia o aperfeioamento t?cnico, graas a uma 'legislao
medieval', que s foi sofrer seu primeiro golpe em 1776, com Adam Smith. Outro
elemento que se tornou um entrave ao desenvolvimento t?cnico foi a exacerbada
proteo dada indstria lan?fera, afastando qualquer necessidade de inovao. O
medo da concorrncia externa, os privilgios, o conservadorismo e os preconceitos,
castravam as renovaes tcnicas e impediam que a revoluo Industrial se iniciasse
dentro da indstria lan?fera. Isto nos deixa bem claro que estes primeiros capitalistas da
indstria de l? ainda procuravam encontrar o lucro nas atividades comerciais e no nas
atividades produtivas.
captulo II - O Surto Comercial
De acordo com a afirmao de Paul Mantoux, o progresso da produo e o
progresso das trocas se estimulam reciprocamente.
graas ao seu grande poder de transformao, a grande indstria estimula a
conquista de novos mercados e o desenvolvimento dos transportes que, por sua vez,
tambm contribui para a expanso do mercado. Por outro lado, a expanso do comrcio
e a relao de concorrncia que se estabelece com outros pases estimulou os avanos
t?cnicos. Como exemplo, o autor apresenta o caso da Holanda que teve seu
desenvolvimento industrial graas supremacia naval que detinha. O mesmo pode ser
observado na 'Inglaterra, onde o surto comercial precedeu as transformaes da
indstria' (pg. 73). alm disso, este pas contou com outro elemento vital para o
desenvolvimento de seu transporte, comercio e, conseq?entemente, de sua indstria:sua posio geogr?fica.
A posio insular, a atuao dos corsrios, a criao de companhias comerciais
privilegiadas, os Atos de Navegao de Cromwell, a marinha mercante e, finalmente, a
revoluo Gloriosa de 1688, que deu Inglaterra um governo livre, foram essenciais para
que a ilha se transformasse na 'Rainha dos mares'. E foi durante a revoluo de 1688 que
surgiu o Banco da Inglaterra que futuramente serviria como um dos alicerces do
desenvolvimento da grande indstria, graas aos crditos por ele fornecido. Este
conjunto de elementos que caracterizou o triunfo do mercantilismo ingls no estava
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imune a ataques irrepar?veis, como a Guerra contra a Frana e a revoluo Americana
que ocasionaram depresso no comrcio internacional da Inglaterra. porm, passada a
crise houve um rpido e brusco reerguimento dessas atividades, o que se deve
principalmente ao desenvolvimento do maquinismo.
Podemos ver assim que a indstria auxiliou o desenvolvimento comercial que, por
sua vez, tambm auxiliou no desenvolvimento industrial. Tomemos como exemploLiverpool que, ao contrrio do que se pensa, foi primeiramente um centro comercial e,
posteriormente, industrial.
Ao mesmo tempo em que o desenvolvimento do transporte martimo mostrava-se
espl?ndido e, como j vimos, foi um dos fatores determinantes no surgimento da grande
indstria, o desenvolvimento comercial no interior da Inglaterra apresentava-se um tanto
quanto feudal. Este comrcio interno baseava-se na existncia de feiras peri?dicas,
atividade de mascates e precariedade dos meios de transporte, o que pode ser explicado
pela riqueza de portos naturais em seu litoral que beneficiava a navegao martima em
detrimento do transporte terrestre que ainda era feito no lombo de mulas. Este quadro
somente passou por mudanas significativas com a criao dos turnpike acts que foram
responsveis pela crescente facilidade e seguran?a do transporte terrestre, o que
impulsionou o comrcio interno em toda Inglaterra.
Outro problema de transporte interno foi o retardado desenvolvimento do transporte
fluvial que, apesar de encontrar na ilha condies naturais favor?veis, foi ofuscado pela
existncia de um grande nmero de portos martimos e pela pequena dist?ncia entre as
cidades do interior e a costa. porm, este problema tambm passou a ser combatido
com a crescente utilizao da hulha que, por ser material pesado e de grande
importncia para a grande indstria, necessitava de um meio de transporte mais barato e
eficiente, o que impulsionou a construo de um complexo sistema de canais que, em
apenas trinta anos, j cruzava toda a superf?cie da Inglaterra. Entretanto, no foi o
carvo o nico produto beneficiado por esta rede de canais. Circulavam agora pela rede
fluvial todos os produtos requeridos pelas mais long?nquas regies da Gr? -Bretanha,
sem necessitarem de intermedi?rios. Este tipo de transporte interno somente perdeu suahegemonia com o advento das ferrovias.
Aps analisarmos todo o processo de desenvolvimento do transporte e do
comrcio, seja ele interno ou externo, podemos observar que o desenvolvimento
comercial precedeu e impulsionou o desenvolvimento da grande indstria, pois o
comrcio, ou melhor, o livre comrcio, representa a diviso do trabalho levada ao seu
ponto mximo, permitindo a cada pas especializar-se nas mercadorias que pode
produzir a menor custo.
BIBLIOGRAFIA
MANTOUX, Paul, A revoluo Industrial no S?culo XVIII - Estudo sobre os prim?rdios da
grande indstria moderna na Inglaterra. trad. de Sonia Rangel. so Paulo, Hucitec/Unesp.
p. 1 - 120.