revoltarte março #1

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1ª Edição do Magazine Cultural AEISCSP, Março 2011.

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Page 1: RevoltARTE Março #1
Page 2: RevoltARTE Março #1

2

_ficha técnica

Editor-in-chief & Director Criativo

Jo~o Pedro Padinha

Design Gráfico e Edição

Jo~o Pedro Padinha, Rui Salvador e Sara Lima

Editor de Música

Rui Salvador

Editora de Cinema

Catarina D’Oliveira

Editora de Moda

Isabela Campos

Editora de Literatura

Sara Lima

Editora de Magna Tuna

Joana Pereira

Colaboradores nesta edição

António Carvalho, Catarina Severino, Gonçalo Moura, Jo~o Fernandes Silva, Jo~o Pedro Borba, Rui Bajouca, Sara Aires, Tiago Mour~o

Fotografia capa João Pedro Padinha Modelo João Pedro Borba

Page 3: RevoltARTE Março #1

3

_índice

5. Editorial

7. Música

Reviews

10. Música

Rewind

11. Música

Antevisões

12. Música

A Árvore da Birra

13. Cinema

Black Swan

16. Cinema

Reviews

19. Cinema

And the Oscar goes to… You!

22. Teatro

T.U.T.—Teatro da U.T.L.

23. Editorial Fotográfico

I’ll Start a Revolution from my Bed

35. Moda

DIY - Do It Yourself

36. Moda

Especial Fashion Week

39. Literatura

Letras Encontradas

40. Literatura

Review

41. Literatura

Mês da Poesia

43. Entrevista

Martim Vicente

49. Actualidade

A Identidade

51. Tuna

53. Crónica

Page 4: RevoltARTE Março #1

4

Caro Leitor,

Desde Pessoa que se ouve: "Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce." Bem, se Deus existe ou não depende de cada um. Não somos dados a religiões ou dogmatismos teológicos. Aliás, falando por mim, a religião nunca me interessou. Nem mesmo com os floreados do paraíso.

O certo é que sonhámos, e criámos. Disso temos a certeza. Sonhos megalómanos que nunca pensámos concretizar. A vida é feita de surpresas, e esta sim, foi uma boa surpresa. Gostamos de acreditar que o que criámos ficará para a história e que fará burburinho, daquele que se ouve quando se passa por entre muita gente. Porque quando há vontade há tudo.

Somos uma Magazine Cultural da Associação de Estudantes do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. A Magazine Cultural! Viemos para agitar-vos a vós, estudantes que ainda estão em fase de crescimento, que ainda têm poder na voz, que ainda são a geração seguinte, aquela que ambiciona mudar o mundo. Não vamos ser a vossa voz, nem o vosso veículo motor. Vamos sim, metaforizando a coisa, ser a gasolina, para que com isto consigam abrir novos horizontes, ganhar novas ambições, e querer vencer novas lutas e mais do que tudo isto: quebrar a barreira entre utopia e realidade! A luta começa agora.

É hora de o fazermos à nossa medida, à nossa estrutura e à nossa vontade. Porque a Vontade tem a força da pessoa que a sente, e nós, temos muita. .

Para que no final, o que sobrar seja ARTE e uma boa história para contarmos às gerações seguintes, tão inquietas como nós.

Creio que não dissemos o nome: Somos a RevoltARTE, e não viemos em paz.

_editorial

*Esta magazine não foi escrita sob o novo acordo ortográfico. Não somos de modas.

jp

Page 5: RevoltARTE Março #1

5

_editorial

Page 6: RevoltARTE Março #1

6

Q uatro anos após o In Rainbows, os

Radiohead lançam o seu oitavo

|lbum de originais, The King of

Limbs. Com menos de 40 minutos de

duraç~o o disco segue um caminho

completamente diferente do seu

predecessor, que era definitivamente mais

catchy, com uma maior aposta no formato

canç~o e num Rock mais directo. Em The

King of Limbs, Thom Yorke e companhia

voltam { experimentaç~o, { electrónica

abusiva, compulsiva e agrad|vel que

explodiu com o lançamento de Kid A, em

2000. Os sons são como os Radiohead nos

acostumaram: hipnotizantes. Porém, na

maioria das músicas do |lbum esses sons

est~o em loop constante. É de resto essa

aposta em loops e samples que tira algum

brilho ao disco, tornando-o de certa forma

entediante em alguns casos. Este “abuso”

n~o retira, no entanto, a qualidade a que a

banda j| nos habitou, o que corresponde, na

maior parte, a um |lbum que é (mais uma)

aposta ganha.

Radiohead_the King of lim

bs

RS

_música

Page 7: RevoltARTE Março #1

7

Quando em 2010 começou a

vaguear na blogosfera um

tema chamada Plumy Tale,

rapidamente as expectativas

para o lançamento de um

longa duraç~o em 2011 se

tornaram bastante altas.

Dumbo Gets Mad, assim assina

o artista, nomeadamente um

multi-instrumentalista italiano,

lança ent~o em 2011 o |lbum

Elephants at the Door que nos

leva ao psicadelismo dos anos

60/70. Ali|s, o psicadélico e a

experimentaç~o andam de

m~os dadas neste |lbum que

apresenta alguns dos mais

belos temas do ano. A

produç~o, totalmente a cargo

do artista em quest~o, resulta

num som quente e os

pormenores, que muitas vezes

precisam de ser escutados

v|rias vezes para se darem a

entender perfeitamente. Um

must listen para quem procura

um Pop/Rock experimental,

psicadélico e repleto de

efeitos.

Quem tem acompanhado a

carreira dos Mogwai est| mais

que habituado {s músicas

desta banda Post-rock

escocesa: começam de

mansinho com progressões

bastante agrad|veis,

crescendo depois até a uma

explos~o de guitarras

barulhentas e agressivas num

género de clímax. Ao sétimo

|lbum, Hardcore Will Never Die

But You Will, os Mogwai soam

mais simples, mais compactos.

Ao invés do crescendo, a

banda constrói os temas

simplesmente acrescentando e

acrescentando mais sons e

mais instrumentos aos que j|

se encontram a tocar, o que

culmina em instrumentais

bastante agrad|veis, que

fogem, aqui e ali, ao Post-rock

típico dos rapazes. Neste disco

os Mogwai est~o muito mais

directos, apostam mais no

formato canç~o e sem dúvida

que, barulhentos como

sempre, saem por cima.

Abandonada a

introspectividade de White

Chalk, PJ Harvey sobe ao topo

da colina e brada, afirma e

reafirma vestida com uma

armadura e com uma espada a

reluzir ao nascer do sol. Tudo

isto porque o |lbum n~o era o

que esper|vamos dela.

Militarista, espiritual (sem

superficialidades new age ou

conversões a religiões mais

sérias), e, sobretudo,

profundamente Inglês.

Rodeada pelos amigos e

colaboradores John Parish e

Mick Harvey, Polly Jean

elabora temas como On

Battleship Hill ou In The Dark

Places em autênticas provas de

força, onde a voz surge

inspirada, com bons floreados

e letras de igual valor. Se este

ano de 2011 for um bom ano

musical, que tenha os

trompetes militares de The

Glorious Land (bem conhecidos

pela maioria das pessoas) a

anunciar as hostilidades. RS RS GM

Dumbo gets mad

Elephants at the door

MOGWAI

Hardcore will never die, but you will

PJ HARVEY

LET ENGLAND SHAKE

_música

Page 8: RevoltARTE Março #1

8

Os Yuck s~o uma banda

brit}nica que ao primeiro

|lbum (homónimo)

apresentam um conjunto de

canções bastante

diversificado mas que

mantém, transversal a todo o

|lbum, um cheiro intenso a

fim dos anos 80/primeira

metade dos anos 90. Esta

ser| ali|s uma das críticas a

fazer a este |lbum: As

influências da banda est~o {

flor da pele, o que poder|

levar alguns a questionar a

originalidade das

composições. Porém, mesmo

que algum (muito mesmo) do

som dos Yuck seja “pedido

emprestado”, esse pormenor

é (quase) absorvido pela

qualidade dos temas, que v~o

desde baladas lo-fi a canções

pop/rock simples e

descontraídas, bastante

atraentes ao ouvido. Este

disco agradar| certamente o

simples e apaixonado ouvinte

de música.

Ritual resume-se a: ambiç~o

de est|dio, sintetizadores,

sintetizadores, sintetizadores,

amor, morte, sexo, amor,

separaç~o, morte, amor...j|

tinha dito amor, certo? N~o

que seja totalmente mau (os

White Lies até mostram um

razo|vel talento para os

ganchos pop, como em The

Power and The Glory). Mas os

clichés repetitivos do Livro do

Rock (Joy Division, Echo &

The Bunnymen, Depeche

Mode) s~o demasiados, n~o

deixando espaço para respirar

ou tentar perceber a raz~o de

ser de determinadas letras

atiradas ao calhas como "Bad

sex and ethanol/High scores on

Solitaire" (em "Streetlights.

Isto soa tudo a "despacho

incoerente emocional

masculino", antes de se

levantarem e cumprirem o

h|bito brit}nico de se

afundarem nos copos no pub.

Quando tomei conhecimento

da reediç~o do |lbum de

estreia do supergrupo Orelha

Negra com remisturas e

presença de convidados, n~o

me convenceu. A qualidade

do primeiro é ineg|vel mas é

uma surpresa ver o |lbum a

ser reinventado, com

excelentes aspectos, mas n~o

com o mesmo impacto e

perfeiç~o do primeiro. A

Melhor Rima de Sempre a.k.a.

M.I.R.I.A.M. do Valete, é o

melhor ponto do |lbum. As

letras atingem um novo

significado com a respectiva

faixa. Destaque para o

trabalho vocal de Tiago

Bettencourt e de Lúcia Moniz

na Saudade e Tripical,

respectivamente. E a primeira

faixa Since You’ve Been Gone

a.k.a. A Memória merece um

thumbs up pela excelente

escolha para o registo vocal.

De resto, nada de

extraordinariamente novo.

RS gm rb

yuck

yuck

White lies

ritual

Orelha negra

Mix tape

_música

Page 9: RevoltARTE Março #1

9

O Shoegaze (ou Shoegazing) foi

um subgénero formado nos em

finais dos anos 80 e inícios dos

anos 90, caracterizado por guitarras

ensopadas em feedback, vocais etéreos,

elementos melódicos v|rios e, como

pejorativamente diz o termo, um grande

uso de efeitos através de pedais, o que

fazia com que os músicos, em palco, se

focassem na música e n~o no seu ego.

Tendo como precursores grupos como os

Cocteau Twins, The Jesus & Mary Chain,

Velvet Underground, Sonic Youth ou The

Smiths, o movimento pautou-se por

jornadas sónicas. Jornadas essas que

começaram com os singles e |lbuns dos

My Bloody Valentine. Isn't Anything foi o

primeiro |lbum a estabelecer essa paleta

sónica. Com o tempo, surgiram v|rios

grupos, com v|rias características em

comum, mas cada um retendo a sua

marca distinta. Grupos como os Ride,

Slowdive, Lush, Boo Radleys,

Chapterhouse ou os Verve.

Um dos termos em voga na altura que

decreviam os concertos destes grupos

era The Scene That Celebrates Itself (A

Cena Que Se Celebra A Si Própria),

devido ao facto de a maioria dos grupos

assistir aos concertos dos outros, fosse

por gostarem, fosse por darem apoio ou

mesmo para aprender uns truques.

Sucederam-se outros marcos, como o

2º |lbum dos My Bloody Valentine,

Loveless, que se tornaria o "Alfa e o

Ómega" do movimento, Nowhere, dos

Ride, Souvlaki, dos Slowdive ou Split,

dos Lush.

No entanto, o impacto crescente das

bandas de Seattle levou a um

progressivo desinteresse do público e

da crítica, e ao desintegrar da cena,

que levou a que v|rias bandas

percorressem caminhos diferentes,

fosse na música Ambiente (Slowdive),

no Lo-Fi (Adam Franklin dos

Swervedriver no pseudónimo artístico

de Toshack Highway), no Britpop (Boo

Radleys e Lush) ou no Rock mais

convencional, ainda que alinhado com

o Britpop (The Verve).

No entanto, houve um subgénero

sucessor, o Nu-Gaze, que tornou a por

em voga este género. Nada que nao

seja explicado pelos primeiros versos

de Vapour Trail, ex-libris do majestoso

Nowhere, dos Ride:

"First you look so strong

Then you fade away.

The sun may well blind my eyes,

I love you anyway".

Guitarras em sinfonia_shoegaze REWIND

gm *Sonic Youth ao vivo na foto

_música

Page 10: RevoltARTE Março #1

10

antevisoes 2 1 e

22

de

Março, estes

s~o os dias

em que

Roger

Waters, ex-

baixista/

mentor dos

Pink Floyd,

vai estar no Pavilh~o Atl}ntico, em

Lisboa, para um concerto que faz

parte da digress~o dos 30 anos de The

Wall.

Depois das v|rias complicações, que

aconteceram na primeira tentativa de

uma apresentaç~o ao vivo do mítico

|lbum, as expectativas s~o altas para

ver Mr. Waters derrubar o muro que ele

próprio construiu. Vai haver no palco

uma parede de 10m de altura e 73m de

largura que ser| derrubada durante o

concerto. Escusado ser| dizer que (para

quem j| tiver bilhetes ou ainda

conseguir arranjar algum) é um

concerto a n~o perder, uma celebraç~o

de um disco que é mais que um disco,

de um músico que n~o é somente um

músico e que fez parte de uma banda

que n~o foi

simplesmente

uma banda.

Este mês ter|

também a

presença da Joan as Police Woman em

cinco localidades de Portugal. Joan

Wasser, a ex-namorada do falecido Jeff

Buckley vai apresentar o novo |lbum

“The Deep field” no Centro de

Espect|culos de Tróia no dia 12 de

Março pelas 19h, no Auditório dos

Oceanos de Lisboa no dia 13 pelas 21h,

no Hard Club do Porto no dia 15 pelas

19h, no Centro de artes e espect|culos

em Guimar~es no dia 16 pelas 19h e

por fim no Cine-Teatro de Estarreja no

dia 17 também pelas 19h.

European Carnage Tour, assim se chama

a Tournée que traz a Portugal dois dos

monstros do Thrash Metal. A 30 de

Março sobem ao palco do Pavilh~o

Atl}ntico os Megadeth e os Slayer.

Depois da doença de Jeff Hanneman,

guitarrista do Slayer que est| a contas

com uma bactéria comedora de carne

(sim, isso mesmo que acabaram de ler) e

do recente internamento do vocalista

Tom Araya, espera-se que a banda da

Califórnia se apresente na m|xima força,

agora com Gary Holt, dos Exodus, a

substituir Hanneman.

js

~

_música

Page 11: RevoltARTE Março #1

11

A árvore da birra.

H | quem faça birras, h| quem seja estúpido por

natureza. H| quem faça música execr|vel durantes

anos, simplesmente porque lançou um |lbum

satisfatório (genial para muitos!). H| quem tenha a mania que é o

John Lennon. E h| quem seja tudo e ainda tenta, constantemente,

irritar/”aborrecer” os colegas/amigos/desconhecidos.

Claro, só h| um Liam Gallagher. E sim, se est~o chocados, o

(What’s the Story) Morning Glory? É SÓ um |lbum satisfatório;

relativamente bom, admito. Curiosamente, este mesmo Liam que

vive {s custas e arrasta a carcaça desde 2000 com produções e

lançamentos que roçam o esterco, conseguiu fazer algo

definitivamente bom, agrad|vel com os Beady Eye.

Mas como sempre, este mesmo rapaz gosta de borrar a escrita

com críticas escusadas e afirmações ridículas. E mais uma vez os

Radiohead n~o claudicam, e sim, s~o o porta-estandarte da grande

música proveniente da Gr~ Bretanha, algo que os Oasis nunca

atingiram. Talvez a cara da música, mas n~o da boa música.

RB

_música

Page 12: RevoltARTE Março #1

12

H | muito interessado

pelos lugares frios e

desesperados onde

os sonhos nos

podem levar, Darren Aronofsky

desenvolveu gradualmente o seu

vocabul|rio visual para condizer

com as suas ambições

vision|rias, chegando ao filme

mais completo e audacioso da

sua carreira. Black Swan.

Nina (Natalie Portman) é

uma bailarina que sabe que n~o

triunfar| no mundo competitivo

do ballet se n~o se "matar a

tentar". A sua dedicaç~o espelha-

se no seu próprio corpo: o que

n~o est| partido ou ferido, est|

coberto de nódoas negras. A sua

m~e, Erica, que também foi um

dia bailarina, acompanha o seu

treino em casa protegendo-a em

demasia, tentando mantê-la

eternamente numa redoma que

preserva a inocência da inf}ncia.

O objectivo de Nina? O papel

principal em "O Lago dos Cisnes"

de Tchaikovsky, livre depois do

abandono forçado da famosa

bailarina Beth (Wynona Ryder).

Thomas (Vincent Cassel) é o

director da companhia e é

enfeitiçado pela inocência de

Nina como o Cisne Branco.

Todavia, considera que lhe falta o

fogo da seduç~o necess|rio para

o seu alter-ego, o Cisne Negro.

“Go home and touch yourself”, diz

-lhe ele.

_cinema

Page 13: RevoltARTE Março #1

13

A certa altura, o tom muda ligeiramente e

assistimos a um filme de terror onde a linha que

separa a realidade da alucinaç~o é cada vez

menos visível. Nina veste-se de branco mas vê a

sua cara em mulheres vestidas de negro. As

obsessões levam-na a arrancar a própria carne,

revoltar-se contra a m~e e partir freneticamente

para a acç~o com Lily, uma bailarina rival. Uma

espécie de erupç~o cut}nea começa a crescer

nas suas costas e, a certa altura, algo parece

começar a nascer. Uma pena negra.

Black Swan é um daqueles filmes cujas

críticas nunca poder~o ser resumidas { palavra

“meio-termo”. Porque é t~o audacioso, é por

vezes risível (ainda que faça parte do seu charme

natural), mas sempre urgente e impossível de

n~o ser visto com enorme fascínio. Black Swan

quer uma resposta: ama-me ou odeia-me, mais

nada. Eu, confesso, fiquei-me pela primeira,

ainda que sentisse traços da segunda em alguns

momentos demasiado literais que mais tarde

entendi necess|rios. As reacções desencadeadas

pelo visionamento s~o um reflexo perfeito do

filme: a tens~o entre opostos, as lutas interiores.

Odiamos o filme, amamos o filme, odiamo-lo

mais um pouco, e amamo-lo. Nós somos o filme.

Partindo do argumento de Mark Heyman,

Andres Heinz e John McLaughlin, o realizador

Darren Aronofsky é um vision|rio sem medos.

Depois de ensaios da loucura como Pi ou

Requiem for a Dream e dramas humanos como

The Wrestler, Aronosfky funde as melhores

características de todos num híbrido que se

apresenta como o seu trabalho mais completo.

A "quase-obra-de-arte" serpenteia entre o

controlo e o abandono, entre a criatividade e a

loucura, e entre as experiências objectivas e

subjectivas. Nas suas pequenas falhas, ou

momentos risíveis como falei talvez cruelmente

no início, tende a literalizar demais, ainda que

seja por vezes um sacrifício necess|rio. Todavia,

constitui-se como um thriller astuto e épico

passado no mundo sadomasoquista e de

clausura do ballet, que desafia a audiência com a

sua graça, inteligência e profundidade. Um h|bil

retrato de uma metamorfose, mas n~o apenas

isso.

A fita provoca as nossas expectativas antes

de tirar o ch~o debaixo dos nossos pés. Nina

mostra-se como uma profissional perseguida e

aterrorizada por terceiros que a prejudicam

(afinal, vemos toda a acção sob o seu ponto de

vista). Mas { medida em que avançamos na

Black swan_darren aronofsky

GOOGLE IMAGES

_cinema

Page 14: RevoltARTE Março #1

14

dissipando, tal como outras.

Thomas é a promessa de um

bandido manipulador que usa as

suas bailarinas para satisfaç~o

de prazeres pessoais. Todavia,

quando o filme termina, temos

uma ideia completamente

diferente de um homem cujo

motor é artístico e n~o carnal. O

mesmo princípio aplica-se a Lily,

e { medida que o filme progride,

interrogamo-nos sobre o que

aconteceu realmente de mau e

o que foi apenas uma projecç~o

da mente perturbada de Nina.

Aronofsky apontou Black

Swan como uma espécie de

metade de The Wrestler, ainda

que seja muito mais ambíguo –

ambos s~o, de uma forma ou

outra, um filme de personagem,

cujo arco se desenvolve de

forma semelhante, embora em

cen|rios completamente

opostos. Tal como na história de

Randy The Ram, o final de Black

Swan fica em aberto para

interpretações. Todavia, a

história de Randy é mais

propícia a respostas emocionais

fortes, sendo uma tragédia mais

tradicional. Black Swan não é

menos intenso, mas, sendo

intelectualmente mais exigente,

os métodos de storytelling

empregues obrigam a uma certa

dist}ncia entre o espectador e a

protagonista Nina, ainda que

vejamos tudo da sua

perspectiva .

Ainda como fez em The

Wrestler mas agora respeitando

a questões meramente técnicas,

Aronofsky filma muitas vezes

Portman por tr|s; uma

elaboraç~o pertinente do ponto

de vista imersivo do filme (um

estilo que é particularmente

bem usado, uma vez que a

postura de Portman diz tanto da

história da personagem).

Técnica recorrente utilizada

pelo realizador é ainda o

grafismo extremo em

momentos específicos, cujo

objectivo é transportar o

espectador o mais possível para

a dor sentida pela personagem.

Este grafismo foi visto em

Requiem for a Dream, The

Wrestler, e agora Black Swan

que é, por vezes, extremamente

difícil de ver.

_cinema

Page 15: RevoltARTE Março #1

15

CO

_cinema

GOOGLE IMAGES

O hand-held shooting de

Matthew Libatique e a banda

sonora de Clint Mansell que exala

todo o temor da obra de

Tchaikovsky s~o duas

importantes adições ao tornado

de emoções. Aronofsky filma

close-ups íntimos e intensos que

seguram as personagens bem

perto. Nas filmagens firmemente

enquadradas de Nina, n~o vemos

tanto da dança como a sua

absorç~o e interpretaç~o da

mesma – a concentraç~o de uma

profissional que abriu m~o de

todo o egoísmo e egocentrismo

em prol da carreira. A fotografia é

altamente evocativa, usando

}ngulos pouco comuns e

contrastes fortes entre o preto e o

branco.

A performance da bailarina

que se desintegra

psicologicamente est| num

patamar muito superior ao

alcançado pelo mero elogio. O

desempenho arrebatador tem o

selo de Natalie Portman, a

mesma actriz que, com apenas 13

anos deu que falar com The

Professional (1994). Portman, no

papel da sua carreira (pelo menos

até agora), esvai-se em ansiedade

e solid~o – uma jovem mulher (ou

menina) cujos sonhos e ambições

s~o maiores que a vida. Mesmo

nos extremos, é impossível vê-la

representar. E isto acontece,

meus amigos, quando estamos

perante aquelas raras

performances, aqueles tour de

force que nos mostram para que

servem o Oscar, e quaisquer

outros prémios e

reconhecimentos.

O restante elenco sofre pelo

brilhantismo da protagonista,

mas n~o deve ser esquecido,

especialmente, as duas actrizes

secund|rias Mila Kunis e Barbara

Hershey. A primeira demonstra

uma feliz capacidade de actuar

em algo mais do que comédias e

dramas leves. A partir de uma

abordagem narrativa que lhe

requer a interpretaç~o de três

papéis distintos (pelas diferentes

formas como Lily é vista e

entendida), Kunis arranja boas

formas de diferenciar as três e,

ainda assim, manter um elo de

ligaç~o entre todas. Ainda que

viva na sombra de Portman, é um

trabalho que merece

reconhecimento. Quanto a

Hershey, actua com um poder

enorme, ajudando Portman a

construir uma relaç~o m~e-filha

aterradora e encorporando uma

personagem que é t~o f|cil de

odiar como de entender.

N~o ser| o favorito de todos,

mas estou aqui para vos assegurar

que este conto de loucura, dança

e repress~o é completamente

esmagador desde que os

primeiras frames invadem o nosso

fr|gil globo ocular. A loucura é,

ali|s, intencional e tem um

objectivo derradeiro - uma

mancha negra ao serviço da arte.

O acto criativo e o impulso

destrutivo est~o unidos no

pavoroso sopro das últimas

palavras da protagonista: “It was

perfect”. E talvez tenha sido

mesmo. Assim, Black Swan é um

dos melhores e mais

empolgantes filmes estreados em

2011.

GOOGLE IMAGES

Page 16: RevoltARTE Março #1

16

O

nde é

que o

grande

vencedor dos

Oscars 2011

falha? Bom, n~o

é propriamente

falhar, mas eu tenho algumas

dificuldades em consider|-lo um

grande filme. Na verdade, acho

que três filmes ser~o

relembrados dos ano de 2010:

The Social Network, Inception e

Black Swan, por razões

diferentes, é claro. O que

acontece é que The King's Speech

repousa nas expectativas do

género e é um típico crowd-

pleaser.

Todavia, presenteia-nos com

um drama sólido com um clímax

emocionante - uma peça histórica

bastante satisfatória que atinge

os padrões dram|ticos que se

requeriam sem sacrificar a técnica

ou a precis~o histórica. É uma

combinaç~o sagrada para receber

prémios que junta o melhor de

Inglaterra com os princípios de

Hollywood, que nos permite

assistir a dois actores brilhantes a

recriar um teste de vontades

monumental. The King's Speech

parece estar admiravelmente livre

de respostas f|ceis e finais felizes;

é uma vers~o "desviante" da

história, mas uma vers~o bem

polida. Uma das razões para o

filme de Tom Hooper resultar t~o

bem é que opera em v|rios níveis

diferentes com sucesso, incluindo

a nível técnico, de onde devemos

destacar a banda sonora e a

fotografia lindíssimas.

Um filme extraordin|rio

sobre uma extraordin|ria

amizade, e que, aumentando o

seu estatuto de raridade, honra a

inteligência da audiência.

O realizador

David O.

Russel sempre

se deu bem a encontrar novas

formas de utilizar actores

familiares, e as performances em

The Fighter provam isso mesmo

uma vez mais. Enquanto o filme

se aguenta bastante bem "dentro

do ringue", fora dele é brilhante

no retrato de uma família da

classe oper|ria que brutaliza o

seu membro mais novo em

nome de alguma espécie de

reconhecimento. The Fighter

tenta algumas manobras

arriscadas, mas elas acabam por

se mostrar boas escolhas; tal

como no boxe, o resultado final é

que conta. A grande fraqueza do

filme est| no papel principal, e

esta crítica n~o é dirigida a Mark

Wahlberg, que j| se mostrou

capaz noutras oportunidades;

aqui n~o tem simplesmente muito

com que trabalhar na

personagem menos interessante

da trama. Por outro lado,

Christian Bale domina a cena

como Dicky Eklund, um tagarela

que deixou fugir a própria

carreira. De resto, h| personagens

t~o repulsivas que é difícil

preocuparmo-nos com o que lhes

acontece, mas devido ao elenco

soberbo, acabamos mesmo por

querer saber delas. Com um

corpo de trabalho bastante sólido

e um coraç~o maior do que

qualquer outra coisa na sua

génese, fica a um ou

dois suissinhos de ser um filme

grandioso, mas a técnica

empregue em todo o projecto é

magistral. É uma fita que sabe o

que é, n~o tenta ser outra coisa e

que nos atinge com tal violência

que seguimos directos para K.O.

The kings speach

The fighter

_cinema

Page 17: RevoltARTE Março #1

17

O filme

segue

talvez

o legado de

Precious – nunca

compreendemos

bem onde

termina a profundidade e onde

começa o desolamento de um

enredo t~o negro. Apesar de n~o

me ter conquistador totalmente,

é um daqueles exemplares raros

que prova que os thrillers n~o

têm de ser barulhentos e

espalhafatosos para manter a

atenç~o do espectador. Winter’s

Bone parece desenrolar-se num

mundo completamente { parte,

com a sua própria lógica moral e

códigos de conduta. Poderia

parecer uma espécie de pris~o

decrépita sen~o estivesse a jogar

t~o obviamente em casa.

A heroína Ree Dolly

(fant|stica Jennifer Lawrence)

enfrenta uma crise semelhante

{quela apresentada em Frozen

River (2008): um homem

desaparece deixando dívidas a

uma mulher, neste caso, { jovem

filha, respons|vel pelo resto da

família. Este é um drama negro e

realista sobre uma comunidade

dizimada pela pobreza e por uma

esperança desaparecida h|

muito tempo, mas ligada por

laços profundos de sangue,

género e classe social. Debra

Granik filmou em |reas reais e

recrutou v|rios locais como

actores, e tanto os visuais como

as adições ao elenco misturam-

se discretamente entre os

profissionais.

Espectacular pela

humanidade, beleza austera e

urgência, n~o podemos deixar de

achar que este parece n~o ser

um filme para nós, e o que salva

Winter’s Bone de ser uma peça

elitista é a protagonista, cujo

car|cter n~o é revelado por

discursos vazios, mas por acções

e um foco inabal|vel. Winter’s

Bone é definitivamente tough to

love, mas Lawrence faz do

investimento emocional um

ganho certo.

C omo

sempre,

elementos

visuais dos Coen s~o originais e

puros. Os contrastes nos

interiores iluminados pelo fogo

s~o lindíssimos, e Roger Deakins

mantém a c}mara perto,

resistindo, em grande parte das

situações, {s vistas panor}micas

tradicionais.

No seus próprios termos, é um

filme bem sucedido – n~o como

um filme dos Irm~os Coen, mas

como uma história bem contada.

A melhor forma de o abordar

é baixar as expectativas. O

problema n~o est| no filme que

é, na verdade, magnífico em

muitos pontos - a fotografia é

lindíssima e sem dúvida uma das

melhores do ano, a banda sonora

é fant|stica e confunde-se com a

história, e as interpretações s~o

fant|sticas (excepto o Matt

Damon que, a meu ver, n~o faz

nada de extraordin|rio, todavia é

também o personagem mais

ingrato) – mas True Grit é

provavelmente o filme menos

irónico da m|quina

cinematogr|fica que s~o os

irm~os Coen, e é talvez o filme

“menos Coen” de todos.

Nada disto quer dizer que a

fita seja menos valida do que

qualquer outra, mas estes

realizadores j| puseram a fasquia

t~o elevada que este True Grit

n~o consegue evitar deixar um

pouco a desejar.

Winter’s Bone

CO True grit

_cinema

Page 18: RevoltARTE Março #1

18

A vossa prateleira est| demasiado

vazia? Precisam de uma boa arma

para dar cacetadas ao vosso irm~o

mais novo? Querem ter a oportunidade de

agradecer { m~e, ao pai, ao irm~o, ao c~o e ao

gato? Trazemos-vos a resposta – ganhar um

Oscar! Simples como beber um copo de |gua, e

hoje todos ficar~o a saber o que fazer para

ganhar um.

1º PASSO - GÉNERO

OK, comecemos por pensar em que género

nos vamos meter para esta nossa alucinante

viagem até { vitória de um prémio da Academia.

Estritamente proibido:

Se planeiam fazer comédias, filmes de

adolescentes, filmes de terror, filmes animados

ou algo do género, mais vale estarem quietos,

porque assim n~o chegam l|.

Filmes de Guerra:

A pancadaria sempre deu lucro, se for em

doses industriais e tiver metralhadoras e bombas

ainda melhor! Desde um cheiro da 1ª Grande

Guerra com All Quiet on the Western Front (2

estatuetas) { 2ª Grande Guerra com Patton (7

estatuetas), até ao Vietname com Platoon (4

estatuetas). Se tiver uma boa carrada de drama

ent~o...ui nem se fala! Veja-se Saving Private

Ryan (5 estatuetas), Schindler’s List (7 estatuetas)

e The Pianist (2 estatuetas) são a prova disso

mesmo. Juntem-se as tropas!

Drama:

A sério... É preciso explicar porquê?

L-O-V-E:

A maior parte das histórias de amor

modernas quase nos fazem arrancar os cabelos

de t~o impossíveis e irritantes que s~o. Em

relaç~o a essas, amigos, tirem o cavalinho da

chuva porque além de actuarem ao lado da

Jennifer Aniston ou do Matthew Mccaughney…

pouco mais têm a ambicionar. O que resulta s~o

mesmo aqueles amores impossíveis ou aquelas

histórias de amor tr|gicas tipo Shakespeare in

Love (7 estatuetas), Out of Africa (7 estatuetas),

Annie Hall (4 estatuetas), Kramer vs. Kramer (5

estatuetas).

2º PASSO - REALIZAR OU

INTERPRETAR? Para Melhor Realizador:

Façam MUITOS filmes. Carradas. Em

quantidades industriais. Quando n~o tiverem o

que fazer, aqueles momentos mortos... yep!

Façam filmes! Mesmo que n~o sejam

nomeados, um dia h~o-de ser honrados de t~o

entupidos que deixaram os cinemas com os

vossos contributos para a sétima arte. Alternar

géneros também é uma boa técnica (ex.:

Spielberg);

Façam um filme com hobbits;

Actores / Realizadores também fazem

sucesso, veja-se o caso de Mel Gibson, Clint

Eastwood, Robert Reford e Kevin Costner;

Rezem um bocadinho para o vosso filme

ganhar a categoria de Melhor Filme – ajuda

bastante;

Ser Homem: a verdade é dura e crua…só

uma mulher ganhou em 2010, Kathryn Bigelow,

com The Hurt Locker (2008).

And the oscar goes to… You!

_cinema

Page 19: RevoltARTE Março #1

19

Para Melhor Actor/Actriz:

• Realizadores por que procurar:

Agarrem-se que nem carraças a um filme de

Clint Eastwood ou Martin Scorsese - os velhotes

safam-se bem. Se estes dois j| estiverem

ocupados, tentem uma personagem inst|vel de

Paul Thomas Anderson ou um esgrouviado dos

irm~os Coen...

• Ser britânico:

Esta é daquelas coisas mais chatas e difíceis

de contornar. Se n~o forem brit}nicos, a sorte n~o

é vossa amiga, porque é certo e sabido que

quando os brit}nicos s~o nomeados…

enfim! Helen Mirren, Daniel Day-Lewis, Judi

Dench, Jim Broadbent, Rachel Weisz, Kate Wins-

let…dizem alguma coisa? Yep! O-S-C-A-R. Mas a

esperança é a última a morrer, como se costuma

dizer… reinventem-se como brit}nicos e con-

tratem um BOM treinador para a vossa pronúncia

n~o sair { Mourinho ou { Madonna.

• Improvisar...no sotaque:

Interpretem alguém com sotaque

Se n~o d| para serem brit}nicos, interpretem um.

Ou ent~o algum outro sotaque agreste, da África

do Sul, Austr|lia ou algo do género.

• Realismo acima de tudo:

Protagonizem um filme biogr|fico em que

interpretam uma pessoa real. Se puder ser

alguém que ninguém conheça ent~o… ui! ( Ben

Kingsley com Gandhi, Charlton Heston em Ben-

Hur, Robert DeNiro em Raging Bull, F. Murray

Abraham em Amadeus, Forrest Whitaker em The

Last King of Scotland)

• Fora do normal:

Interpretem um louco ou alguém

mentalmente inst|vel (Jack Nicholson fê-lo em

One Flew Over the Cuckoo's Nest e As Good as It

Gets, Tom Hanks em Forrest Gump, Dustin

Hoffman em Rain Man, Geoffrey Rush em Shine).

Interpretar um deficiente também d| bons

resultados entre a Academia - Daniel Day-Lewis

em My Left Foot, e Al Pacino em Scent of a

Woman.

• Concorrência Desleal:

NUNCA se deixem ficar no mesmo elenco que

Meryl Streep, Cate Blanchett e Kate Winslet ou

Jack Nicholson e Dustin Hoffman. Eu compreendo

a vontade de contracenar com grandes nomes,

mas a verdade é que se o fizerem com estas

alminhas, v~o ser cilindrados…traduç~o: eles s~o

nomeados; vocês n~o.

• Perecer on screen:

Morrer no final do filme é sempre bom. Bom

para o actor, claro. Para o personagem é sempre

uma maçada como calculam. Como m|rtir, ou

morrendo aos olhos da felicidade ou com uma

doença terminal é o melhor caminho. Estes

últimos ent~o s~o bem propícios a ter daqueles

discursos filosóficos sobre a vida e oportunidades

perdidas que nos fazem enriquecer a indústria dos

cleanexes. (Gladiator, Philadelphia, Ed Wood,

Leaving Las Vegas, Dead Man Walking, Titanic... )

• Beleza interior:

Se forem bonitos/as, interpretem alguém

menos bonito (Nicole Kidman – The Hours,

Charlize Theron – Monster) ou transformem-se

drasticamente a nível físico (novamente Charlize

Theron em Monster, Robert DeNiro em Raging

Bull).

• O antigamente:

Protagonizem um daqueles filmes com roupas

catitas do antigamente e sets elaborados ou

gettos perigosos e problem|ticos com histórias

moralistas (um drogado no tempo dos Afonsinhos

seria uma nomeaç~o pela certa).

_cinema

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Para Melhor Filme:

•Catchy-phrase

Ter uma frase daquelas mesmo que fique no

ouvido e para sempre na história do cinema (“Life

is like a box of chocolates”)

• Guiões

Guiões insuport|veis mas com cenas tensas

com pouco di|logo ou com monólogos que nunca

mais acabam s~o bons prenúncios. Nada grita

mais “OSCAR” do que um daqueles filmes que

fazem menos dinheiro do que uma banca de

limonada gerida por dois miúdos de quatro anos.

Conclus~o: o público n~o compreende, nem

vocês compreendem, e o filme só lucrou 15 € ?

N~o entrem em p}nico; os Oscars v~o chegar.

• The end

Quanto aos finais dos filmes, é na base do 8

ou 80: ou super-hiper-mega felizes, ou super-

hiper-mega dram|ticos e depressivos. O final

perfeito acaba “feliz” com um personagem

realmente bom falecido.

*** *** *** *** ***

Uma vez trilhado o caminho para a nomeaç~o e,

posteriormente, para a vitória… h| que ter o

GRANDE agradecimento bem preparado.

E n~o nos esquecemos dessa parte…

1. Chorem como se não houvesse amanha

e até ficarem desidratados - além de fazerem

menos chichi na cama, fica sempre bem;

2. Agradeçam a toda a gente, incluindo

{quela senhora que uma vez tomou conta do

vosso c~o quando estavam a decorar o vosso

papel de figurantes nos Morangos com Açúcar;

3. Agradeçam a Deus, ainda que façam

macumbas sat}nicas no mato e decapitem

galinhas inocentes;

4. Passem-se da cabeça quando a banda

começar a tocar a musiquinha de fundo que

significa um gentil convite a abandonar o palco.

CO

_cinema

Page 21: RevoltARTE Março #1

21

cs

Caes sao permitidos, mas

a máscara fica lá fora

~ ~

Q uem disse que no teatro só

existe espaço para actores?

Nós, estudantes, pessoas

mundanas, perdidos entre os livros, as

aulas, empregos e noitadas, todos

sofremos de um mal comum: o peso da

m|scara social. Em n~o raras vezes a

nossa identidade, ideologias, e

pensamento, que julgamos serem livres,

s~o altamente condicionados por

constrangimentos sociais que nos

roubam visam periférica, ideias próprias

e personalidade. Tendemos, assim, a

misturarmo-nos com o os padrões que

nos dizem ser correctos, em detrimento

de nós próprios.

Quando procuras o teu espaço,

o teu lugar no mundo, tens de, primeiro,

te encontrar a ti próprio fora de

par}metros sociais castradores e de

frases feitas. H| que experienciar o

ridículo, a criaç~o individual, as reais

perspectivas sobre a existência o que, no

final de contas, engloba muito mais que

o que nos é perceptível num olhar

supérfluo.

Foi exactamente isto que

pensei antes de me “alistar” na grande

família que é o Teatro da Universidade

Técnica (TUT). Não era, de todo, o meu

objectivo envergar por esta opç~o

profissional, mas sim encontrar-me.

Avancei e dei de caras com um

cen|rio de 20 pessoas a saltar como

índios, a soltar imensas gargalhadas e

fonemas { velocidade da luz, a tomarem

um objecto que, sendo, a título de

exemplo, uma garrafa de |gua, se

transforma num osso, num telefone,

numa bola, em qualquer coisa que seja

possível { imaginaç~o criar. Intimidou-

me o { vontade daquela gente.

Intimidou-me que eles n~o receassem o

troçar por parte de outrem.

No entanto, pus termo {s

minhas inseguranças de um coraç~o

irrequieto e deixei-me ficar, apesar de o

meu instinto estandardizado para a

comum definiç~o de bem e de mal me

repetir continuamente “isto n~o é para

ti, n~o te enquadras”,

Hoje, cada ensaio é o ponto

alto do meu dia. J| aprendi tanto, tudo

apinhado de variedade, qualidade e,

principalmente, utilidade. Hoje sei fazer-

me ouvir, sei lidar com o espaço em meu

redor e com os outros, tenho uma muito

maior consciência do meu corpo, dos

seus movimentos. Hoje, descobri sítios

novos, dentro e fora de mim. Se sou

actriz? N~o me parece que o seja, mas

sou, sem sombra de dúvida, muito mais

feliz.

_teatro

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_fotografia

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*AUTOR DESCONHECIDO

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_moda

DIY

D IY surge da abreviaç~o do inglês Do It Yourself e teve o seu inicio com o movimento Punk nos anos 70, em que se

pretendia que a produç~o musical fosse inteiramente independente. Característico dessa mesma ideologia, o DIY era um manifesto anti-consumista e anticapitalista, reflectindo um espírito empreendedor, criativo e autónomo. Promove a ideia de que qualquer pessoa pode completar tarefas, criar objectos e afins sem depender de outrem.

Na moda, o "DIY" possibilita criar peças semelhantes a outras {s quais dificilmente teríamos acesso, e é também uma maneira de reaproveitar roupas antigas e acessórios.

Com o fim dos saldos e o regressos {s aulas ir {s compras pode ficar mais complicado, por isso deixamos-te aqui, diversas ideias de como aplicar o DIY!

Tens o arm|rio cheio de t-shirts e camisolas velhas e não sabes o que fazer com elas?

Deixamos te aqui algumas sugestões. N~o tenhas medo de usar a tesoura: corta, rasga, fura, inventa!

Sê original, aproveita todo o tipo de t-shirts que tiveres posto de lado no arm|rio e cria algo novo.

Vem aí o verão porque não aproveitar umas calças que j| não uses e torna-las em calções?

As antigas calças da LEVI’S, ligeiramente subidas s~o perfeitas para este DIY. Sendo bastante f|cil de fazer, é uma óptima maneira de aproveitar n~o só as tuas calças antigas como as dos teus pais. Basta cortares as calças { certa, e n~o fiques só por ai, uma vez calções, podes sempre rasga-los um pouco tanto nas pontas como nos bolsos, conforme preferires.

Farta da bijutaria que tens em casa?

Cria os teus próprios colares, pulseiras e brincos. Porque n~o utilizar correntes para o fazer? Vejam, por exemplo, a colecç~o da Chanel Spring 2011, inspirem-se!

N~o se limitem só {s correntes, juntem -lhe outras coisas, ou pintem-nas!

ic

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_moda Especial fashion week

Acne Fall 2011 Paris

Das melhores colecções masculinas vistas nas semanas de moda pelo mundo. A ACNE, { semelhança de outros, optou por cortes e formas cl|ssicas, cores na sua maioria neutras e acessórios minimalistas que n~o se destacam mas que completam o look. Passa uma imagem 'casual' mas ao mesmo tempo elegante. Convenceu a 100%. Preppy but never too preppy. Rapazes aqui fica a dica: apostem nestes looks!

Burberry Prorsum Fall 2011 londres

Skinny pants, fatos e grandes casacos. É assim que se resume esta colecç~o da Burberry, que seguindo uma linha cl|ssica na calças e nos calçado, inova e esbanja cor e padr~o nos casacos e camisolas, mantendo as grandes malas de cores essencialmente neutras como acessório.

Conquista-nos, assim, mais uma vez. A originalidade teve presente na invulgar escolha de materiais utilizados em casacos e boinas, e pelo invulgar design do calçado. A

simplicidade dos looks é rematada pela complexidade de uma peça, neste caso a parte de cima. Ficamos { espera que marcas como a Zara se inspirem nesta colecç~o, pois se as peças são de cortar a respiração, o preço das mesmas não fica atr|s!

Coleccoes masculinas ~

´

ic

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_moda

Especial fashion weeks

Gucci Fall 2011 milao

A Gucci abriu a semana da moda em Mil~o, seguindo uma linha inspirada nos anos 70, onde esbanjou as cores turquesa e fúchsia, juntamente com os grandes chapéus e peles. Pessoalmente, gostei bastante, apesar de ser semelhante aquilo que j| tinham apresentado previamente, n~o deixa de ser uma colecç~o que apela para o 'chic' e que arrisca em duas cores que, de facto, se conjugam. Ao contr|rio da colecç~o da Prada que apesar de inovadora, pouco tinha de apelativa e funcional, desiludindo depois da sua colecç~o primavera/ver~o 2011.

Burberry prorsum Fall 2011 Londres

A Burberry Prorsum trouxe { semana da Moda em Londres um desfile de cores vibrantes e formas luminosas . Focou-se nos padrões e nas peles. Proporcionando um regresso aos 60's chic com um toque inovador para a estaç~o. Mais uma vez a

Burberry n~o falha em encantar e desta vez arriscou nas cores e o fez de maneira brilhante. Como lhe é habitual, cativa especialmente

pelos pequenos detalhes. Tem vindo a tornar-se uma favorita e um must see durante a semana da moda.

Coleccoes femininas ~

´ ~

ic

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F oi em busca de qualquer coisa que n~o carregasse o aspecto

brilhante e muitas vezes piroso dos blogs que encontr|mos estes

tumblrs. Queríamos coisas simples e que acalmassem a vista ao

mesmo tempo que afastavam o tédio.

O tumblr divide o gosto por um mesmo motivo: a maior parte deles

baseia-se somente em fotografias que viram algures e que copiaram para o deles,

por lhe acharem graça ou qualquer coisa parecida. Onde est| a criatividade?

Contudo, aqui e ali somos capazes de encontrar umas pérolas de imagens ou

citações que apesar de j| terem viajado meio mundo, n~o chegariam até nós se

n~o fosse por esta arte de “rebloggar” (aportuguesando o termo “reblog” utilizado

no site, e termo esse, que ganha pelo menos com a tentativa de conservar, de

alguma maneira, os “direitos de autor”). Encontr|mos estes dois:

http://nomadismo.tumblr.com/

http://lifeofliterature.tumblr.com/

O primeiro por se balançar, saudavelmente, entre citações,

desabafos sensíveis e sinceros e fotografias próprias. Um tumblr com

personalidade e um sossego de dedos que parecem mexer só quando o corpo j|

n~o aguenta mais. O segundo, por servir de consolaç~o a quem se vê preso no

mundo dos livros. Uma consolaç~o para quem os devora sem piedade ou

discriminaç~o. Consolaç~o por aqui se encontrar pessoas em igual, ou pior

situaç~o. Um trago de inveja por imagens de livrarias, bibliotecas e cafés

espalhados pelo mundo onde os livros cobrem as paredes.

Queremos deixar aqui, também, este blog pela surpresa que foi.

Uma boa escrita tanto de literatura, como relatos humorísticos da vida que leva o

seu autor, Bruno Nogueira. Aconselhamos o texto Dói”s”-me e (o texto

imediatamente abaixo) Mente sem Abrigo ambos “postados” (outro

aportuguesamento, que gostamos particularmente de alguns) em Agosto de 2005.

http://corpodormente.blogspot.com/

Letras encontradas

_literatura

SL

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…O Livro mais triste que h| em Portugal!

N ~o que precisemos de mais tristeza. Realmente n~o

precisamos. Precisamos é de poesias e atitudes destas! O

que António Nobre trouxe com esta obra foi novidade a

tresandar de ousadia. Romper com o usual, com o

politicamente correcto tanto pode ser mais f|cil (para quem j| nasce com o

espírito ou tem convicções bem fincadas) ou mais difícil (para quem ainda

tem medo da sociedade e da sua validaç~o). Mas Só surpreendeu com o

car|cter inesperado dos temas e com a novidade das opções formais e

estilísticas. Integrado na geração de poetas da década de 90, Nobre revela o

desejo de renovação da linguagem poética próprio de uma estética finissecular,

integrando temas e registos de língua cujo acesso { expressão poética estivera

outrora vedado. Em termos tem|ticos, destaca-se o pessimismo profundo da

sua visão do mundo; em termos formais, a presença da linguagem popular e a

utilização expressiva das marcas da coloquialidade.

Um livro para ler e reler, quantas vezes forem necess|rias nem que seja

para nos sentirmos menos Sós.

AUTOR: António Nobre

EDITORA: PORTO EDITORA

ANO DA ÚLTIMA EDIÇÃO: 2011

PREÇO: 6,60 €

_literatura

SL

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40

_literatura

A

qui ficam algumas sugestões para

onde, como e quando celebrar o Mês da Poesia da melhor

maneira possível, na melhor companhia possível – dando o

maior descanso { carteira possível.

Onde_ Casa da América Latina (Lisboa)

Avenida 24 de Julho, nº118-B Tel- 21 395 53 09

Como_ Festa da Poesia

Quando_ -Dia 16 (Quarta) A América Latina em Portugal

18h30 Recital por Lauren Mendinueta com a

participaç~o de Luís Represas;

-Dia 23 (Quarta) Sor Juana Inés de la Cruz: No limiar da liberdade

intelectual no México Colonial

18h30 Comunicaç~o por Isabel Araújo Branco;

-Dia 23 (Quarta) Dos dois lados do mar

19h30 Recital por Júlia Lello e Jo~o Roque;

-Dia 25 (Sexta) Das seis { meia-noite

18h-00h Maratona de Poesia.

-Feira do Livro

Com a Livraria «Poesia Incompleta»

(nas sessões de festa)

- Mais informações em www.casamericalatina.pt

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_literatura

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_entrevista

Page 43: RevoltARTE Março #1

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_entrevista

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_entrevista

M al sabíamos nós que aqueles

trinta segundos de fama no

primeiro casting do talent

show da SIC onde muito

abruptamente se ouviria cantar Hit the Road Jack

valeriam a Martim Vicente uma escalada

repentina até ao panorama musical e uma

afirmaç~o de que a música portuguesa est| bem e

de boa saúde. Valendo o seu talento pelas

interpretações de E Tudo o que Eu te Dou de Pedro

Abrunhosa ou Me and Mrs. Jones de Billy Brown, o

segundo classificado dos Ídolos carrega consigo a

cruz e a espada da boa voz portuguesa.

Da génese ao futuro, Martim Vicente.

RevoltArte- Em pequenino quais foram as

primeiras pisadas pela música e o primeiro ídolo?

Martim – Em pequeno comecei a cantar por volta

dos 4 ou 5 anos. Cantava por casa as músicas das

telenovelas da altura, a música de Parabéns do

Herman… A primeira vez que agarrei numa guitarra

foi aos 8 anos. Nessa altura n~o cheguei a ter um

ídolo em termos musicais, n~o queria ser igual a

ninguém. A primeira coisa por que ganhei um gosto

foram p’raí os Excesso, mas nada de mais.

Page 45: RevoltARTE Março #1

45

_entrevista

R- Porquê participar neste “Ídolos” e

não em edições anteriores ou na

Operação Triunfo por exemplo?

M- A verdade é que j| me picavam para

ir as edições anteriores. Mas o ídolos

funciona como uma espécie de teste {s

nossas capacidades, e é um teste que pode

ser passado ou n~o na televis~o nacional.

Eu tenho uma relaç~o e um gosto

demasiado especial pela música para na

altura arriscar a ir a um sítio em que

publicamente me dissessem que n~o era

bom para isto, “cantas bem mas n~o és

assim t~o bom ...” e isso seria a destruiç~o

de um sonho. Num programa destes onde

est|s sujeito a isto, tens de estar

capacitado a ouvir estas coisas sem que

isso signifique a destruiç~o de um sonho.

Se a coisa tivesse corrido mal n~o sei se eu

teria ficado bem, mas felizmente...

Decidi que ia ao Ídolos porque, para j|,

foi a primeira coisa que apareceu na

televis~o portuguesa e depois, porque o

Ídolos tem uma maior exposiç~o que a

Operaç~o Triunfo.

R- Maior expectativa que tinhas e

como se verificou?

M- A maior expectativa que eu tinha era

conseguir entrar no programa e n~o passar

despercebido. Consegui chegar ao

segundo lugar com muitos votos e as

pessoas reconhecem-me na rua, pelo meu

trabalho e por quem sou. As pessoas falam

do meu trabalho! E por isso acho que o

meu principal objectivo foi cumprido.

R- Em que é que o Ídolos contribuiu,

de facto, para a tua evolução enquanto

músico?

M- Em termos técnicos, musicais e

noutras coisas do género, n~o ganhei nada

com o Ídolos. N~o é esse o objectivo do

programa. O programa n~o tem qualquer

tipo de objectivo de ensinar, no m|ximo

desenvolve a tua capacidade de aprender.

Eu aproveitei para aprender muita coisa.

Mas ninguém me ensinou a tocar melhor

guitarra ou piano, nem a cantar melhor. O

programa tem uma vertente que obriga a

trabalhar mais em certos aspectos. Acaba

n~o por ser uma escola de música, mas

uma escola de profissionalismo. A press~o

em que és colocado no programa, as coisas

pelas quais tens de passar, as tarefas,

responsabilidades perante a realizaç~o da

produç~o – coisas que te comprometes a

fazer. Ninguém pode chegar ao Ídolos, a

uma gala, e fazer o que lhe apetecer. Se

formos contra a produç~o ou a realizaç~o

as coisas provavelmente n~o v~o correr t~o

bem porque o trabalho n~o fica t~o bem

feito. Apesar de o sujeito principal ser o

músico, existem mais profissionais de

outras |reas em quem temos de confiar

porque eles est~o a trabalhar para que o

músico seja o melhor. Para se ser um

músico profissional também temos de

saber ouvir essas pessoas, saber critic|-las,

saber organizar cosias com elas…No Ídolos

aprendemos a trabalhar com elas. É um

trabalho de equipa.

Page 46: RevoltARTE Março #1

46

_entrevista

R- Agora sem o júri à frente a primazia

será dada ao conteúdo e forma da música ou

ao ‘aspecto de ídolo’? Até que ponto é que

esse ‘aspecto’ é realmente importante?

M- O Júri sempre foi uma coisa muito

ambígua. O que o júri queria nem sempre

significava o que o público queria. Est|vamos ali

para ser os Ídolos de Portugal e n~o para ser os

ídolos do Manuel Moura dos Santos, Laurent

Filipe, Roberta Medina ou do Pedro Boucherie.

Obviamente que a opini~o conjunta dos quatro

dava um bom bolo para se saber o que era

necess|rio para sermos um ídolo. Também era

relativo noutras coisas, por exemplo, por ganhar

o concurso n~o queria dizer que nos torn|vamos

automaticamente ídolos de Portugal. Isso é o

Tony Carreira, o David Fonseca, a Marisa, o

Jorge Palma, o Sérgio Godinho e por aí fora.

Esses sim s~o os Ídolos de Portugal. Os ídolos

que o programa intitula s~o os que conseguem

ganhar alguma coisa com o concurso.

Obviamente que eu agora quero ser

avaliado pelo meu trabalho. A partir de agora

vou passar a construir a minha carreira e

começar a trabalhar para que as pessoas me

reconheçam pelo meu trabalho. Que gostem,

que comprem, que criticam, que se debatam por

ele. Esse é o meu objectivo agora. N~o é agradar

o júri, um certo tipo de pessoas, mas ser

reconhecido e que as pessoas apreciem o meu

trabalho.

R- Achas que a tua participação no

programa te deu ou tirou credibilidade

perante um público mais difícil de agradar –

tendo até em conta todos os exemplos

anteriores ?

M - O Ídolos, como qualquer talent show,

tem as suas vantagens e desvantagens. Torna-te

alguém medi|tico e alguém que é facilmente

conhecido e ouvido. Como desvantagem tens o

facto de haver sempre um público que n~o te

consegue ver como um cantor ou músico e só te

vêm como um producto de televis~o. É um

estereótipo que temos de ultrapassar mas que

n~o se ultrapassa só sendo bom. Para convencer

essas pessoas acho que só tenho de me manter

fiel {quilo de que gosto, saber ouvir, trabalhar

muito, ser rodeado pelas pessoas certas (que

n~o sei quais s~o), para que as pessoas daqui a

uns tempos j| n~o pensem assim. J| ninguém se

lembra de que o Jo~o Pedro Pais ficou em

segundo lugar no Chuva de Estrelas! É uma coisa

que com o tempo se ganha e se cria.

Page 47: RevoltARTE Março #1

47

_entrevista

R– Daqui em diante, quais serão os

horizontes da tua música?

M- Quero começar a trabalhar nos meus

originais. Tenho de aproveitar enquanto somos

esse produto televisivo para dar alguns

concertos (Idolomania em tournée é boa para

nos treinar, uma espécie de est|gio. A sensaç~o

de palco é diferente da de estúdio). Aproveitar o

dinheiro que ganho com isso para um pé de

meia, para a carreira. J| tenho 21 anos e j|

tenho de me começar a fazer { vida para n~o ser

só mais um licenciado desempregado. Começar

a trabalhar a sério nos meus originais

para se conseguir fazer um |lbum.

R- O que é que falta à juventude

hoje em dia, em termos musicais?

M - Embora seja verdade que toda a

gente gosta de música, ouvir música,

e que cada um tem os seus gostos,

também é verdade que nem toda a

gente gosta de Músicos...

R- Por que é que achas que isso

acontece? Por que é que nem toda a

gente gosta de músicos?

M – Acho que a juventude actual tem

um grande problema, que é próprio e

comum desta idade, que se chama

inveja. O jovem normal tem alguma

dificuldade em ser Super Fã de um

músico ou um cantor; pode gostar de

ir a um concerto dele, mas porque o

intérprete o diverte, n~o por que este

o admira.

Page 48: RevoltARTE Março #1

48

N um mundo dessacralizado, muitos

duvidam da “simetria progressista” que

intenta um progresso humano

indissoci|vel dos avanços tecnológicos e

científicos. Talvez o aparente desequilíbrio

evolutivo esteja na base do desaparecimento de

verdadeiros filósofos e teóricos - “agitadores”

das consciências - emergindo uma nova tentativa

reconciliadora para com os cl|ssicos e seu

contributo moral ({ falta de inspiraç~o suscitada

pelo homem moderno, amoral e acrítico).

Para além do imediatismo informativo, os

avanços tecnológicos potenciaram um fenómeno

de “desinformaç~o” que se alastrou de forma

perigosa ao espaço individual, no qual cada um

encontrava o distanciamento necess|rio para

“repensar” o mundo, assumindo-se espectador e

crítico da realidade.

O excesso de informaç~o, bem como os

sucessivos e ininterruptos bombardeamentos

publicit|rios firmaram uma nova (e falsa) noç~o

identit|ria que, esvaziada de verdadeira

significaç~o interior, converteu-se num conceito

exterior abstracto que induz ao n~o

questionamento.

Esta nova “identidade” surge ent~o

totalmente

vinculada { imagem. A originalidade,

outrora do pensamento, converte-se numa

procura exterior de distinç~o que gera um

sentimento de rivalidade face o outro, face a

semelhança atroz que neste encontra. Pois a

diferença enquanto m|xima identit|ria torna a

igualdade grotesca, tornando-se mesmo

contr|ria { própria natureza humana, de

sociabilidade - de uni~o. De pertença.

Tal recriaç~o identit|ria, para além de

reforçar o individualismo característico das

sociedades modernas, torna-se indispens|vel {

manutenç~o de um sistema assente no consumo

e consequente embrutecimento das massas. O

inconformismo e a revolta tornam-se assim

meras representações exteriores sem força e,

talvez por isso, o ser que se diz “inconformado”

tenha tanta ou maior preocupaç~o em

exterioriz|-lo, face aos seres “indistintos”, que

caminham ordeiramente com o restante

“rebanho”.

O problema surge quando o inconformismo

n~o vai além da indument|ria. A ilus~o

identit|ria acabou por assumir verdadeira chefia

na nossa mente, levando-nos a desperdiçar o

nosso potencial criativo numa utopia que, se

assume contr|ria a esse sonho que outrora

comandava a vida – “Eles n~o sabem, nem

sonham, / que o sonho comanda a vida, / que

sempre que um homem sonha /o mundo pula e

avança”. Pois o mundo “pula e avança” com

ideias e, enquanto procurarmos a nossa

singularidade fora de nós mesmos perpetuamos

esse estado de adormecimento colectivo, que

tanto criticamos.

A identidade

_ACTUALIDADE

Page 49: RevoltARTE Março #1

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Todas as formulações que enalteçam um

pressuposto de singularidade assente na

aparência têm como objectivo o

entorpecimento das mentes, o fomento do

acriticismo e da ignor}ncia. N~o basta

aparentarmos um certo inconformismo e

rebeldia. N~o basta assumirmo-nos diferente,

é preciso que pensemos diferente.

A mudança por que tanto ansiamos nasce

do questionamento profundo, de um

verdadeiro desprendimento da

superficialidade.

Repensemos então esse “sonho”, no qual

repousa grande parte da construç~o de nós

próprios, pois tal ilus~o torna cada vez mais

difícil a percepç~o de um outro para além de

nós mesmos. N~o queiras um outro mundo, sê

parte integrante deste. Recria este mundo,

recriando-te a ti mesmo.

Por isso despe-te. Despe-te agora da ideia

em torno da qual firmas-te a tua identidade.

Olha em redor. Ver|s o mundo de outra forma

e ver-te-|s decerto de outra forma. A

verdadeira mudança emerge do interior de

cada um de nós.

Sa

_ACTUALIDADE

Page 50: RevoltARTE Março #1

50

_magna tuna

N o dia 17 de Março três

aprendizes de doutor

juntaram-se para formar

um grupo que combinasse

o amor pela música com o espírito boémio e

a vida académica: a Magna Tuna

ApocalISCSPiana. O grupo foi crescendo,

tal como a paix~o e a vontade de aprender e

evoluir, e, com quase 18 anos, a MTA conta

no seu currículo a presença em v|rios

encontros e festivais, j| palmilhou Portugal

e voou além fronteiras. Somos uma tuna

orgulhosamente mista que procura na

música e na amizade a fórmula-chave para

levar o nome do ISCSP a tascas, arraiais,

coliseus ou {s ruas de Lisboa. Porque n~o

queremos que o percurso na universidade

seja apenas uma passagem, unimo-nos com

vontade de que nas nossas memórias

permaneça o espírito académico e a música

que nos juntou.

Quanto mais bebo, melhor canto

Iv apocaliscspiano

VIII apocaliscspiano

2006

2004

1996

Page 51: RevoltARTE Março #1

51

_magna tuna

Em 1999 organiz|mos o I

ApocalISCSPiano, o encontro de tunas que se

realiza todos os anos na nossa faculdade, onde

reunimos as novas e as mais antigas gerações

da MTA, amigos, família, copos e música,

enchendo deste modo as paredes do nosso

ISCSP com uma tunalidade diferente.

É com orgulho que este ano a Magna

Tuna atinge a maioridade e, { semelhança de

anos anteriores, fazemos sempre quest~o de

juntar a velha guarda da MTA com os novos

rebentos num jantar de convívio. O espírito que

nos une é sem dúvida intemporal e percorre

cada um de nós, deixando sempre alguma

nostalgia por cada ano que passa. Olhamos

para o futuro com alguma ansiedade, olhamos

para o passado com algum carinho, mas

vivemos o presente de forma intensa, sempre

fiéis a nós próprios e com vontade de alcançar e

tocar cada um dos estudantes do ISCSP.

Porque a Magna Tuna ApocalISCSPiana é a

tuna da tua faculdade e, por isso também é a

TUA Tuna!

Cartaz XI ApocalISCSPiano (2009)

jp

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M uita gente tem as suas ideias brilhantes no banho. Eu tenho as minhas no autocarro e ao mesmo tempo que as tenho as

vou perdendo, t~o r|pida é a viagem. Sou das poucas que me posso gabar de demorar quinze minutos até chegar { faculdade e que vou quase sempre comodamente sentada a ouvir as conversas dos outros, a ver como adormecem ou como se colam ao telemóvel logo desde as oito da manh~. A palavra “comodamente” poder-se-ia ligar a tantas outras descrições de actividade de tanta gente como eu. A inércia com que levamos a vida, sempre numa bossa-nova suave, numa brisa primaveril com cores neutras que d~o com tudo, é t~o aborrecida que d| jeito. D|-nos jeito que tudo esteja t~o longe quanto est| o nosso pé esquerdo e d|-nos, sobretudo jeito, termos alguma coisa com que reclamar. Se tudo estiver bem, somos hipócritas. Se tudo estiver mal, somos hipócritas. Se n~o nos mexemos e reclamarmos de vez em hora com o motorista ou com a velhota que se sentou ao nosso lado, j| somos inteligentes e conseguimos decidir melhor a nossa posiç~o – consoante nos leve a conversa e a manchete do jornal.

J| vi muita coisa neste autocarro, tanto que o pude comparar { vida que levamos em conjunto. N~o digo em comunidade, repare-se, mas em conjunto uma vez que estamos todos fisicamente no ano de 2011. Imaginem ent~o este mesmo autocarro, pequenino, cheio do barulho do motor, abafado de toda a gente que j| passou por l| e do ar condicionado (que ninguém sabe se est|, ou se alguma vez esteve, ligado), a cumprir o caminho que cumpre sempre. E assim, vendo de tanta coisa, vi que antónimos eram afinal sinónimos mal traduzidos. O eu é tão diferente do outro, tal como o outro é completamente o oposto do eu.

Se eu sou eu ao mesmo tempo que sou o outro, e o outro o é ao mesmo tempo que é eu,

ent~o j| n~o sei o que sou ou para quem. Só sei que sou diferente daqueles tipos. Independentemente como acabarem estas observações de pessoas e como é que essas pessoas se processam, cheguei { conclus~o de que o autocarro vai andando enquanto as pessoas se julgam umas {s outras – e do inútil que s~o esses julgamentos. O autocarro leva-as ao mesmo sitio, forem as pessoas quem forem. Estamos comodamente no nosso lugar a passar o tempo a olhar para os outros, em vez que olharmos, primeiro, para nós.

Até porque dói olharmos para nós. Dói ver que tent|mos passar { margem e mesmo assim falhamos redondamente e chafurdamos ou na hipocrisia ou numa apatia-apapagueada (a tal do diz que disse, com uma cara muito indignada, mas que no fundo n~o est| assim tanto).

Posto tudo isto parece-me, que a revoluç~o deve realmente começar por nós, pelos nossos olhos e sobretudo pelas nossas m~os. Da introspecç~o rapidamente para a acç~o. Libertarmo-nos dos clichés e do politicamente correcto, mandar { merda quem o tiver de ouvir, e depois conversar com censo.

Amanh~ é dia é pormos as duas m~os na massa – até ao cotovelo. Amanh~ é dia de devolvermos ao espírito o orgulho de ser saber que h| uma causa que precisa que luta e vontade de agir. Amanh~ é dia de actuar, mais n~o seja, para que nos possamos orgulhar de sermos seres humanos que lutam. Sim, que lutam e que vencem. Gosto de palavras, juro-vos que gosto, mas neste momento estou farta delas. As palavras movem, mas os corpos alteram a realidade. Amanh~, porque hoje a revolta começa por nós.

sl

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