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Na margem das discussões Revista trimestral sobre proteção e combate aincêndio, resgate e emergência, atendimento pré-hospitalar e emergências químicas

DIRETORAlexandre Gusmão

SedeRua Lucas de Oliveira, 49 - cj 401Fone (51)2131-0400 - Fax (51)2131-044593510-110 - Novo Hamburgo - RSE-mail:[email protected]: www.revistaemergencia.com.br

São PauloAv São Luís, 86 - cj 191Fone/fax (11)3129-458001046-000 - São Paulo - SP

REDAÇÃOFone: (51)2131-0422E-mail: [email protected]

Editora: Paula Barcellos

Textos: Cristiane Reimberg, Lia Nara Bau e PaulaBarcellos

Foto de capa: CBMERJ

Foto desabamento do metrô: Fernando Busian /Defesa Civil/SP

Ilustrações: Gabriel Renner

Editoração Eletrônica: Karina Brito e ScheilaCristina Wagner

Consultores Técnicos: Cloer Vescia Alves, DavidSzpilman, Edson Haddad, Jorge Alexandre Alves,Marco Secco, Randal Fonseca, Rogério Crotti eMárcio Vicente dos Santos

PUBLICIDADERio Grande do Sul:Fone/fax: (51)2131-0430E-mail: [email protected]: Rose Lanius

São Paulo:Fone/fax: (11)3129-4580E-mail: [email protected]: João Batista da Silveira

CIRCULAÇÃOFone/fax: (51)2131-0400E-mail: [email protected]: Cristina Juchem

Assinatura1 ano (4 edições) R$48,002 anos (8 edições) R$82,00Assinatura exterior:1 ano (4 edições) US$30.00Exemplar avulso: R$15,00

ASSINATURAS NOS ESTADOS São Paulo (11)3129-4580 Minas Gerais (31)3081-

0802 Goiás: (62)3945-5711 Rio de Janeiro(21)2580-8755 Rio Grande do Sul (51)2131-0400

Reprodução de artigos somente com a autorizaçãodo editor. Emergência não se responsabiliza poropiniões emitidas em artigos assinados, sendo estesde responsabilidade de seus autores.

Tiragem de 10.000 exemplares auditada pelo IVC(Instituto Verificador de Circulação)

Emergência é filiada à ANATEC - AssociaçãoNacional das Editoras de Publicações

A revista Emergência é editada pela

Impressão: Sociedade Vicente Pallotti

Não é de hoje que os bombeiros sofrem com poucoefetivo e recursos materiais. Os serviços atingem, se-gundo a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pú-blica), 12% do território nacional e este contingente é pou-co praticável se formos considerar as mudanças da socie-dade brasileira em crescimento constante. O problema éque, com este crescimento, surgem mais desastres, comopudemos ver no início deste ano, quando o acidente dometrô parou a cidade de São Paulo. Mas, quem estava lá?Eles mesmos: os bombeiros, profissionais a quem a popu-lação e parentes desesperados das vítimas depositavamsua fé durante os resgates.

Apesar de toda esta importância, estes profissionais

parecem estar sempre na marginalidade das políticas pú-blicas em nível nacional. As alternativas estão surgindocomo os bombeiros voluntários, comunitários, municipais,porém, estes, ainda lutam por um reconhecimento, atémesmo de colegas de profissão. Mas, deixando de foraparticularidades e méritos sobre os tipos de bombeiro, aquestão parece ter um ponto maior a ser discutido, poispara a sociedade, não interessa se é militar, voluntário oumunicipal. O que importa é que ela possa se sentir segurade que um bombeiro estará por perto quando ela precisar.É este o ponto. Um serviço de bombeiros se mede por suaagilidade, competência e presença na comunidade. É nistoque se deve pensar.

ENTREVISTAMédico e militar, o paraibano Fábio de Almeida Gomes

fala da importância do APH em várias forças deatendimento, como bombeiros, polícia e Exército.

04

PRODUTOS PERIGOSOSQualificação dos profissionais que atuam na

emergência deve envolver treinamento com baseem ítens nacionais e internacionais.

32

ESPECIALSem abranger grande parte do território nacional

e com problemas de recursos materiais e humanos,profissionais do fogo buscam alternativas para atender

população. Especialistas do setor sugerem que problemapoderia ser contornado com a adoção de uma

política nacional de bombeiros.

20

RESGATEMaior acidente aéreo da aviação brasileira, até então,

vôo da Vasp matou 154 pessoas, em 1982, e precisouque as operações de resgate fossem reiniciadas.

37

INTERNACIONALTradução do National Safety Council traz panorama

de como empresas e órgãos de atendimentoàs urgências no mundo estão preparados

para uma pandemia de gripe aviária.

6767TRAGÉDIA DO METRÔ

Desabamento dasobras da estação demetrô Pinheiros/SPexigiu articulação e

intensa atividadefísica e psicológica

dos profissionaisde resgate.

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24 HORASReportagem acompanhou o trabalho da Defesa Civil de

São Paulo na articulação dos órgãos de emergênciae no atendimento à população no acidente

do metrô na capital paulista.

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REPORTAGEMProfissionais de Atedimento Pré-Hospitalar

necessitam estar atentos às questõesde biossegurança nas operações

evitando doenças.

5656

Emergência 3MARÇO / 2007

OPINIÃO

SEÇÕES

AVIAÇÃOA importância dos comissários como

First Responders durante os vôos paraum melhor resultado em salvamentos

de passageiros.

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ENTREVISTA

MARÇO / 2007Emergência4

FÁBIO DE ALMEIDA GOMESTenente-Coronel médico da Polícia Militar do Estado

da Paraíba, especializado em Sistemas de Emergênciase Traumas pelo Rambam Medical Center, em Haifa, Es-

tado de Israel, e em Medicina de Tráfego, pela A-BRAMET (Associação Brasileira de Medicina de

Tráfego). Médico formado em1984 pela Univer-sidade Federal da Paraíba, fez Residência Mé-dica em Cirurgia Geral e Urologia, entre osanos de 1985 e 1988, na cidade do Rio deJaneiro, tendo, porém, largado a especiali-dade urológica há cerca de cinco anos parase dedicar à Medicina de Tráfego, área ondeo APH está fortemente inserido. Hoje, o Te-nente-Coronel também é professor da Univer-sidade Federal da Paraíba, e de duas Univer-sidades Privadas (Faculdade de Ciências Mé-dicas da Paraíba e Faculdade de Medicina NovaEsperança) onde já conseguiu inserir no cursode Medicina as disciplinas de Suporte Básicode Vida e Medicina de Tráfego.

PERFIL

APH conquista espaço◗Médico da Polícia Militar da Paraíba defende a disseminação do Atendimento Pré-Hospitalarno Exército, polícia, bombeiros, profissionais da saúde e na sociedade como um todo

N unca fui de ficar muito parado”. A frase reflete o espírito ativodo médico e militar paraibano Fábio de Almeida Gomes que,há mais de dez anos, adentrou na área de APH de corpo e

ENTREVISTA

alma. Formado no curso de Suporte Básico de Vida, instrutor do ATLS(Advanced Trauma Life Support) e do PHTLS (Prehospital Trauma LifeSupport), este professor universitário ainda encontra fôlego para ba-talhar pela disseminação do APH em várias categorias de atendimentocomo bombeiros, policiais, Exército e, inclusive, entre os próprios enfer-meiros e médicos. Exemplos disso são as conquistas recentes como ainserção das disciplinas de Suporte Básico e Medicina de Tráfego noscursos de Medicina em duas Universidades Privadas na Paraíba. Naárea acadêmica, também está lutando pela criação de uma Residênciaem Medicina de Tráfego, especialidade que tem como um dos vértices

de atuação a área do APH. Mas o esforço não acaba aí. Responsávelpelo treinamento na área de APH dos policiais e bombeiros da ForçaNacional de Segurança Pública, quando ela esteve na Paraíba, Fábiovai além e, baseado na especialização feita em Sistemas de Emergênciae Trauma, em Haifa, Estado de Israel, no ano de 2003, diz que equipesdo Exército no mundo todo necessitam cada vez mais se especializarem Atendimento Pré-Hospitalar, dentro do moderníssimo conceito daMedicina de Combate.“Num cenário de guerra ou você intervém ra-pidamente ou a vítima vai morrer”, destaca. Sobre estas visões, experi-ências, a preparação dos profissionais e o futuro do APH no Brasil,Fábio fala nesta entrevista exclusiva para a Revista Emergência.

PODERIA FALAR MAIS SOBRE ORESGATE TÁTICO A PARTIR DO SEUCURSO FEITO EM ISRAEL?

Isso é uma coisa nova, inclusive na sextaedição do livro traduzido do PHTLS, que sairáem breve, haverá mais questões relacionadasa essa parte da Medicina Militar. Mas, por quê?Desde o atentado de 11 de setembro, o medo

do terrorismo internacional e as guerras em queos Estados Unidos estiveram envolvidos,também em Israel, fizeram com que as equipesdas forças armadas, as equipes policiais, ob-servassem que naquele cenário tático, de áreaconflagrada, o bombeiro, assim como o médicocivil, não têm muito acesso porque não estãopreparados para atuarem em área conflagrada.Portanto, é uma cena insegura e quem acabatendo que prestar o primeiro socorro ao com-

batente é o próprio combatente. Então, hoje,para aqueles times da SWAT, por exemplo, oudo Exército norte-americano, já é previsto umtreinamento para que o próprio combatenteseja, ao mesmo tempo, um socorrista treinadoe ele possa no local do conflito auxiliar o seucompanheiro que foi ferido em combate, poisnão existe segurança na cena e os recursoslogísticos são mínimos. Neste caso, ou vocêintervêm rapidamente ou a vítima vai morrer.Esse é um treinamento novo que está surgindoagora, mas que, sobretudo, as equipes militarestêm que ter e não pode ser improvisado, precisaser baseado em protocolos específicos, comoaqueles encontrados nos programas ATLS,PHTLS e BLS.

ESTA TÁTICA PODERIA SER APLICADAPARA A NOSSA POLÍCIA?

Realmente, essa violência não está só nocampo de batalha não, mas em cidades bra-sileiras como São Paulo, Rio de Janeiro , Recifee outras onde há muitos conflitos. Como alémde médico eu sou militar, me preocupo em verque equipes táticas de grupos especiais de po-lícias, ou do próprio Exército, têm que ter tam-bém essas noções de Suporte Básico em situa-ção tática, porque nem sempre vão ter um a-poio de serviço pré-hospitalar profissional. Épreciso dar uma formação ao combatente, lo-gicamente, orientado e treinado por um pessoalda área de Saúde. Eu acho que esta é umatendência internacional, tanto é que a NAEMT(Associação Norte-Americana de Técnicos deEmergências Médicas) já tem um departamen-

Paula Barcellos

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ENTREVISTA

MARÇO / 2007Emergência6

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to dedicado só a essa parte de Medicina Militar,que está, justamente, criando protocolos. Hojeé obrigatório todo o soldado americano ter ocurso de treinamento pré-hospitalar voltado pa-ra essa situação tática que é uma coisa bemespecífica. Além disto, mesmo que se criasseum grupo de saúde específico para isso, nemtodo o médico está apto a trabalhar neste tipode situação, pois exige vocação, condiciona-mento físico e um treinamento militar especí-fico.

TÊM REQUISITOS PARA ISTO...Mesmo a Medicina Pré-Hospitalar não é para

quem gosta, é para quem pode. Um médicoobeso com 110 Kg, não pode se adequar atrabalhar no pré-hospitalar. O médico tem quecarregar sua bolsa, ajudar a carregar a vítimana prancha, enfim, é preciso bom condicio-namento físico. Isso no pré-hospitalar civil, ima-gine no ambiente tático...

O SENHOR FEZ UM TREINAMENTO COMA FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇAPÚBLICA. COMO FOI ESTE TRABALHO?

A Força não é uma nova Polícia que surge,ela é apenas um departamento da SENASP(Secretaria Nacional de Segurança Pública),que está vinculado ao Ministério da Justiça. Es-te contingente especializado é selecionado etreinado a partir de militares estaduais de todasas unidades da Federação para que em situa-ções extremadas de violência, onde a forçapolicial local não faça frente àquela contingên-cia, eles possam ser convocados. Ela tem oobjetivo de nivelar o treinamento de policiaismilitares e bombeiros, homens e mulheres, detodos os estados e Distrito Federal, pois víamospoliciais com tecnologia, equipamentos e trei-namentos de diferentes padrões variando entreas diversas regiões brasileiras. Para sanar esse

tipo de disparidade, foi criado o programa detreinamento de nivelamento, com instruções dearmamento, gerenciamento de crises, controlede distúrbios, de direitos humanos e tambémde Suporte Básico de Vida, seja para o comba-tente, seja para o bombeiro. A Força já tevetreinamento em alguns estados, pois começouno Distrito Federal, passando pelo Rio Grandedo Sul, Rio de Janeiro e Paraíba. Na Paraíbaeles ficaram de fevereiro até junho de 2006,quando tive a honra e o prazer de conhecer ocoronel Ferreira - Coordenador Nacional daFNSP - que, de imediato, compreendeu e a-poiou o projeto de contemplar na grade curri-cular dos militares em treinamento o tema doAPH, sempre dando um enfoque ao atendi-mento tático. É bom ressaltar que esse enfoquejá havia sido iniciado com instruções minis-tradas pelo capitão Antunes e outros militarescom conhecimento na área. A nossa participa-ção veio tão somente enfatizar o apoio médico.Dentro disto, os combatentes aprendem a de-sobstruir uma via área, como se portar numavítima desacordada, têm treinamento de trans-porte de feridos, praticados por eles mesmos,etc.

O SENHOR TEM DEFENDIDO AQUI NOBRASIL O APH NA FORMAÇÃO DOSMÉDICOS. POR QUÊ?

Tenho observado que no currículo do médicoexiste formação em Neurocirurgia, Cirurgiaplástica, Cardiologia e não há a formação bá-sica em emergência. O médico termina os es-tudos, vai para o interior trabalhar ou faz umaespecialidade, mas não sabe sequer abordaruma vítima desacordada ou com convulsão.Falta isso no currículo e, em João Pessoa, naParaíba, estamos tentando implantar, com areforma curricular, essa parte de Emergência,o Suporte Básico de Vida.

QUAL A IMPORTÂNCIA HOJE DE UMMÉDICO TER NOÇÕES BÁSICAS DEEMERGÊNCIAS?

Primeiro porque a emergência ocorre emqualquer local e a qualquer hora. Eu acho quenão é nem uma questão da formação do mé-dico apenas. Trata-se de uma questão de todoprofissional de saúde e até do cidadão.

É UMA RESPONSABILIDADE DE TODA ASOCIEDADE...

Sim, e aí entra a questão do DesfibriladorExterno Automático usado por leigos. Nós sa-bemos que, hoje, quem tira da parada cardíacamesmo não é a RCP e sim o uso precoce dodesfibrilador. Por outro lado, vemos que estáhavendo uma invasão de pessoas que não sãohabilitadas atuando nesta área. Como, por e-xemplo, algumas ONGs que atuam no pré-hos-pitalar. Não que o problema sejam as ONGs,mas quem está atuando nestas organizações.São pessoas que, muitas vezes, não têm umaformação adequada para estarem dandocursos de formação em BLS. Desde sua im-plantação, há uns quatro anos, o SAMU temtentado unificar e coordenar o Sistema de A-tendimento Pré-Hospitalar ao longo do territóriobrasileiro, pois não havia uma coordenaçãoúnica. Se presenciarmos um atropelamento emvia pública, boa parte da população ainda nãosabe se aciona o telefone 193 ou o 192. Muitasvezes, liga para os dois números e chegamduas viaturas, uma do Samu, outra dos bombei-ros. O ideal é que num país continental comoo nosso houvesse um único número para to-das as emergências.

A QUE O SENHOR ATRIBUI ESTADESARTICULAÇÃO?

Acho que é porque o Atendimento Pré-Hos-pitalar no Brasil é relativamente novo. Vocêvê regiões que não tem nada como o Norte eoutras que têm demais como a Sudeste,especialmente, São Paulo. Outro problemaque detectamos está nos eventuais conflitosque chegam a existir entre as várias equipesque atuam no APH. Chega-se ao ponto dehaver disputa para ver quem chega primeiroem determinada ocorrência. Tudo isso fruto deuma falta de Coordenação do Sistema de E-mergências Médicas. Além do mais, cadaserviço tem sua atribuição específica. Porexemplo, há ocorrências em que as equipesdo Samu, mesmo aquelas de Suporte A-vançado, necessitam do apoio operacional dasequipes dos bombeiros, como ocorre nassituações de resgate, onde há vítimas presasem ferragens, locais de difícil acesso ouacidentes com produtos perigosos. Isto é

Equipes táticasprecisam ternoções de APH

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Emergência 7MARÇO / 2007

trabalhar em conjunto, respeitando as au-tonomias.

E EXISTE BEM CLARO O LIMITE DEONDE COMEÇA O TRABALHO DE UM EONDE TERMINA O DO OUTRO?

O bombeiro, basicamente, trabalha com res-gate, retirando vítimas presas em ferragens,em locais de difícil acesso, como em altura, naágua, atendimento com produtos perigosos.Essa é uma atribuição exclusiva do bombeiro,seja ele militar ou civil. Já o Samu tem as e-quipes de Suporte Básico e Avançado que dãoo atendimento clínico ou às vítimas do trauma,além de acorrerem a casos de obstetrícia epsiquiatria. Percebeu a diferença de atribui-ções? Lógico que, historicamente, como ante-riormente não havia Samu, o bombeiro come-çou a fazer, inclusive, em alguns locais, ocor-rências clínicas, trabalho de parto, emergênciascardiológicas. Mas dentro disto, você já temuma outra variante: Têm estados no Brasil emque os bombeiros trabalham com médicos emsuas equipes, como, por exemplo, em Pernam-buco, em São Paulo e no Rio de Janeiro. NoRio tem o oficial médico bombeiro militar. Jáem São Paulo e Recife o médico é civil, traba-lhando junto com as guarnições de bombeiros.E existem bombeiros, como lá na Paraíba quenão têm nenhum médico, só fazem o SuporteBásico de Vida. Então você tem, hoje, um bom-beiro equipado, treinado, mas que, infelizmen-te, só se limita à parte de Suporte Básico e oideal é que todos os bombeiros tivessemtambém um Suporte Avançado. Não só médico,mas uma ambulância com todos os equipa-mentos do Suporte Avançado de Vida.

E ESTAS DIFERENÇAS ACABAMINFLUINDO NO ATENDIMENTO?

Os que fazem apenas o Suporte Básico fi-cam restritos só à parte de imobilização e trans-porte e, hoje, o Conselho Federal de Medicinae o Conselho Federal de Enfermagem estãoem cima dos chamados atos de cada profissão.Se você é bombeiro e não tiver curso de Téc-nico de Enfermagem, você não pode fazer umacesso venoso, porque é exercício ilegal daprofissão. Por isso, eu acredito ser o APH lugardo bombeiro, do enfermeiro e do médico. Todostrabalhando juntos.

O SENHOR TAMBÉM ATUA NA MEDICINADE TRÁFEGO. FALE UM POUCO DELA EDA RELAÇÃO COM O APH?

A Medicina de Tráfego é uma especialidadereconhecida pelo Conselho Federal de Medi-cina, mas é relativamente nova, pois chegouaqui no Brasil há pouco mais de 20 anos. Ela

surgiu da Medicina Legal, porque os legistasamericanos começaram a notar, desde 1960,que estava morrendo muita gente vítima de a-cidente de trânsito. Então, foi criada a IATAM(Associação Internacional de Medicina e Aci-dentes de Trânsito) que evoluiu e chegou aoBrasil por volta de 1984. A Medicina de Tráfegotem, basicamente, quatro áreas. A área pre-ventiva, a área ocupacional, que é mais ligadaà Medicina de Trabalho, a parte de medicinade viagens e a parte, que é a que eu mais meidentifico, que é justamente o APH, uma dasespecialidades que está inserida não só naparte do trauma, na parte das vítimas deacidentes de causas externas, como tambémna parte clínica, nas emergências clínicas enas emergências cardiológicas. Atualmente,estou trabalhando exclusivamente nesta área.

INCLUSIVE SE ESTÁ FALANDO EMRESIDÊNCIA MÉDICA PARA ESTA ÁREA...

Há o intuito de se criar o programa de Re-sidência Médica em Medicina de Tráfego queestá evoluindo. Em São Paulo, existe um projetode criar na USP a primeira Residência Médica,mas ainda não conseguiram implementar. Eutenho um plano de tentar implementar na Paraí-ba também.

ESTA ESPECIALIDADE SERIAFUNDAMENTAL PARA OS MÉDICOS QUEATUAM EM EMERGÊNCIAS?

Claro. Hoje uma das portas do mercado detrabalho é a Emergência. Hoje o trauma é aprimeira causa de morte entre 15 e 38 anos deidade, e engloba acidente de trânsito, tiro, faca-da, suicídio, violência, abuso sexual, intoxica-ção, queimadura, tudo o que venha a compre-ender as chamadas “causas externas”. Há umaestimativa que em 2025 o trauma venha asuperar doenças cardíacas e o câncer e passea ser a primeira causa de mortalidade geral,inclusive nas faixas etárias acima dos 38 anos.Só no trânsito, aqui no Brasil, nós somos oscampeões mundiais de acidente nesta cate-goria. Por isto, é imprescindível que o profissio-nal da área de Emergência esteja preparadopara tudo isto. Além disto, o atendimento àsemergências, por ser uma atividade desgastan-te, e que requer vigor físico, geralmente, são

escalados os recém formados sem qualificaçãopara tal. E quando se tenta criar uma espe-cialidade desta, é justamente para dar aomédico recém formado, desde cedo, uma for-mação adequada para que ele venha a desem-penhá-la com segurança e qualidade. Eu con-segui colocar nas duas faculdades privadas naParaíba, dentro do curso de Medicina, as dis-ciplinas de Suporte Básico e Medicina de Trá-fego e é impressionante como esses temasdespertam a atenção e o interesse dos alunosda graduação já no quarto período de formaçãomédica.

COMO O SENHOR AVALIA OSTREINAMENTOS E CURSOS DADOS NAÁREA DE APH NO PAÍS?

Esses cursos, o PHTLS, o ACLS, que é sóde emergências cardiológicas, mais o ATLS,são reconhecidos por certificadoras internacio-nais norte-americanas, por exemplo, Socieda-de Norte-Americana de Cardiologia, Colégio A-mericano de Cirurgiões, etc. São cursos oficiaise baseados em protocolos clínicos, os quaisestão sendo sempre revisados a cada cincoanos. Um exemplo disto é o protocolo para RCP,a manobra de Ressucitação Cardiopulmonar,onde, antigamente, se faziam 15 compressõesnuma parada cardíaca para duas ventilações.Atualmente, o protocolo mudou, pois você faz30 compressões para duas ventilações. Só queainda tem gente dando essa instrução no pro-tocolo antigo. Então, isso requer um processode educação continuada, exigindo dos profis-sionais atualizações constantes .

EXISTE UM MODO DE SABER QUEM ÉHABILITADO E QUEM NÃO É?

Não tem. É difícil. Temos que ver o que?Quais são as certificadoras realmente reconhe-cidas. Eu acho o seguinte: quem quer trabalharcom essa parte de Urgência e Emergênciadeve estudar, se habilitar para isso e não ficarapenas na curiosidade e empolgação.

QUAL SUA AVALIAÇÃO GERAL SOBREAS EMERGÊNCIAS NO PAÍS?

Eu acho que nos últimos quatro anos me-lhorou muito e o Samu tem dado uma grandecontribuição para que isso ocorra, pois disse-minou essa cultura das Urgências e Emer-gências, bem como da regulação médica. Oque falta é que os gestores municipais im-plantem nos seus municípios estes progra-mas e que haja uma melhor integração comos Corpos de Bombeiros, pois estes estão, nasua grande maioria, sucateados, defasados emtreinamentos, com algumas ilhas de exce-lência.

O APH é lugar do bombeiro,do enfermeiro e do médico.Todos trabalhando juntos.“

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Emergência MARÇO / 20078

ATUALIZANDO

Ambulâncias paradasVeio à tona, no início de fevereiro, o

possível superfaturamento em contratode manutenção de uma frota de ambu-lâncias do Samu do Rio de Janeiro. Apartir de um processo simulado de dis-pensa de licitação, com base em umabrecha na Lei de Licitações, que permi-te esta prática em caso de emergência,a Secretaria de Saúde do Estado do Riorealizou a contratação direta de umaoficina mecânica, alegando situação deemergência por se tratar de ambulânci-as do Samu. As cifras envolvidas na ma-nutenção, no entanto, chegaram a cer-ca de 2,3 milhões de reais, o suficientepara adquirir uma nova frota equipadade ambulâncias. Outro fator que cha-mou a atenção foi que seja pouco pro-vável que 23 ambulâncias, de um totalde 74 adquiridas em 2005, tenham que-brado de uma vez só. Ou seja, na medi-da em que foram quebrando ou sofre-ram acidentes, foram sendo encostadas.

Em junho de 2005, o Ministério daSaúde entregou 64 ambulâncias à Se-cretaria da Saúde do Estado do Rio deJaneiro, avaliadas em mais de R$10 mi-lhões. A frota estava destinada ao aten-dimento de cerca de 170 pessoas pordia na cidade do Rio de Janeiro. Em maiode 2006, o Ministério fez um levanta-

Manutenção da frota de viaturasdo Samu gera polêmica no RJ

mento e verificou que 23 estavam para-das, incluindo 19 de atendimento bási-co e quatro UTI’s móveis.

SOLUÇÃOA nova direção da Secretaria da Saú-

de que assumiu em 2007 demitiu o res-ponsável pela frota de ambulâncias e amulher dele, que ocupava o cargo dediretora operacional do Samu no Rio.O serviço está sendo administrado peloCorpo de Bombeiros, a quem cabe ago-ra consertar as ambulâncias, inlusive asque ficaram paradas na oficina. O supe-rintendente de Urgência e Emergênciada Secretaria de Estado da Saúde e De-fesa Civil do Rio de Janeiro, coronel Fer-nando Suarez Alvarez, afirma que quan-do assumiu o cargo, em 02/01/07, en-controu mais de 30% da frota parada.“Passamos quase um mês de sufoco.Hoje, estamos operando com a frotapraticamente normal, apenas sete am-

SAMU

bulâncias estão paradas e foi abertasindicância para apurar o caso”, avalia.Suarez frisa que um serviço de emergên-cia não pode, em hipótese alguma, teruma ambulância parada. “Isto aumentao nosso tempo-resposta. Agora, com asambulâncias do Samu sob a gestão doCorpo de Bombeiros, dispomos de maisde cem ambulâncias, contabilizando osdois serviços”, aponta. O coronel des-taca ainda que foi possível, em um mês,aumentar em 40% o número de atendi-mentos. “Estamos, inclusive, realizandouma distribuição de acordo com o geo-referenciamento, disponibilizando am-bulâncias de acordo com aspectos téc-nicos da área de chamada”, explica.

A Secretaria da Saúde nomeou umacomissão interna de sindicância para aapuração do caso. Até o fechamentodesta edição, um relatório que deveráser entregue ao secretário Sérgio Côrtesainda não havia sido concluído.

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A preparação dos órgãos de segu-rança pública e de emergência para osJogos Pan-americanos, que ocorrerãode 13 a 29 de julho, no Rio de Janeiro,é intensa desde o ano passado. A Se-nasp (Secretaria Nacional de Seguran-ça Pública), do Ministério da Justiça,realiza, desde novembro, o Curso deBrigada Socorrista. No total, serão for-mados mil brigadistas socorristas quetrabalharão como voluntários para aju-dar nos casos de emergência. O cursopermite que os brigadistas previnam in-cêndios ou qualquer outro acidente noseu local de trabalho e comandem os

Órgãos de emergência em alertaPAN 2007

procedimentos iniciais, como isolamen-to da área e atendimentos às vítimas atéa chegada dos bombeiros.

Dentro desta programação para o Pan,o Corpo de Bombeiros do Rio de Janei-ro recebeu, em novembro, um curso mi-nistrado pela Guarda Costeira dos EUA.Os instrutores ministraram o curso Sis-tema de Comando de Incidentes para44 bombeiros militares e integrantes deoutras forças de segurança, como poli-ciais militares, capacitando-os para se-rem multiplicadores desses ensina-mentos.

Já a Subsecretaria de Estado de Defe-

sa Civil criou, recentemente, o Gabi-nete de Gestão Operacional para o pla-nejamento de segurança dos Jogos. A-poiar o Comitê Olímpico - Rio (Co-Rio)na análise dos projetos de segurançacontra incêndio e pânico, bem comodefinir as necessidades de viaturas eequipamentos operacionais a seremapresentados à Senasp para aquisiçãosão algumas das atribuições do gabine-te. “Nosso planejamento operacionalestá avançado no que se refere à estru-tura de prevenção contra incêndio epânico em todas as instalações espor-tivas, na Vila Pan-Americana, nos ho-téis e nas vias especiais”, afirmou o co-ordenador do gabinete, coronel SérgioSimões.

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Emergência MARÇO / 200710

ATUALIZANDO

Trocas de comandoNo dia dois de janei-

ro ocorreu a solenida-de de transmissão decargo ao novo coman-dante do CBMERJ(Corpo de BombeirosMilitar do Estado doRio de Janeiro), coro-nel Pedro Marco CruzMachado, que ocupa-rá também o cargo desubsecretário Estadualde Defesa Civil. O tra-balho integrado deu otom da cerimônia, jáque a Subsecretaria está vinculada à re-cém criada Secretaria de Estado de Saú-de e Defesa Civil, que englobará as a-ções das duas antigas pastas. Isto por-que a Secretaria Estadual de Defesa Ci-vil foi extinta no novo governo, unindo-se à Secretaria da Saúde. “Defesa Civile Saúde fazem parte da mesma estraté-gia, que é a defesa da vida. O Corpo deBombeiros vai continuar a trabalhar mui-to na área da saúde, como já fazem os

Novo Comandante no CBMERJ é também subsecretário de Defesa Civil

BOMBEIROS

militares que são médi-cos e dentistas. E estaCorporação, que jápresta um grande servi-ço à população, terámaior presença noshospitais do Rio”, afir-ma o governador SérgioCabral.

Para o novo coman-dante, que recebeu ocargo do coronel CarlosAlberto de Carvalho, aintegração vai agilizaros trabalhos, benefician-

do a população. Com a unificação, oSamu do governo federal, o ProgramaEmergência em Casa do governo doEstado e o GSE (Grupamento de Socor-ro de Emergência) do Corpo de Bom-beiros terão uma única central de aten-dimento, facilitando o trabalho de regu-lação desses serviços. “A população pas-sará a ser atendida de forma coordena-da e com maior capacidade de respos-ta”, diz coronel Machado.

Primeiro Samurodoviário do País

O Ministério da Saúde, em parceriacom a Secretaria Estadual de Saúde doRio Grande do Norte e a Secretaria Mu-nicipal de Saúde de Natal, inauguraram,no dia 18 de dezembro, o primeiro Ser-viço de Atendimento Móvel de Urgên-cia Rodoviário da Rede Nacional Samu192 no país. O novo Samu, denomina-do Samu Metropolitano do Rio Grandedo Norte, está localizado às margens daBR-304, na região metropolitana deNatal. O serviço atende oito municípi-os, além de vítimas de acidentes nosprincipais acessos rodoviários federaisda região - BRs 101, 226, 406 e 304.

A escolha da BR-304 para a constru-ção do Samu Metropolitano do RioGrande do Norte foi feita consideran-do-se alguns fatos, entre eles, a necessi-dade de se implantar um AtendimentoPré-Hospitalar móvel na BR-304, popu-larmente conhecida como “rodovia damorte” e a facilidade de acesso das via-turas para as bases descentralizadas nosmunicípios. De acordo com a coorde-nadora geral de Urgência e Emergênciado Ministério da Saúde, Irani Ribeiro deMoura, a localização do novo Samu vaimelhorar o tempo-resposta em casos deurgência. “Os habitantes dos municípi-os atendidos vão se beneficiar de umserviço rápido, uma vez que as ambulân-cias transitarão por rodovia”, salientou.

ITÁLIAPela primeira vez, o Samu brasileiro

foi apresentado aos profissionais de saú-de na Europa. A apresentação - feita pelacoordenadora Irani Ribeiro de Moura -aconteceu no mês de novembro último,durante o V Congresso da SociedadeItaliana de Medicina de Urgência eEmergência (Simeu), na Itália. O Samu,implantado no Brasil em 2003, tem sedestacado por levar atendimento de ur-gência a mais de 89 milhões de brasilei-ros. A apresentação abordou a atuaçãodo Samu e a adaptação do serviço àrealidade local de cada região do Brasil,como a integração de ambulanchas (em-barcações adaptadas como UTIs mó-veis) à frota dos Samus de Belém/PA eManaus/AM.

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Pedro Marco assume Corporação

ATUALIZANDO

CONFIRA QUAIS CORPORAÇÕES TROCARAM DE COMANDONOME SITUAÇÃO COMANDANTECB Militar do Estado do Acre Troca José H. B. de AlbuquerqueCB Militar de Alagoas Mantido Jadir Ferreira CunhaCB Militar do Amapá Mantido Giovane T. Maciel FilhoCB Militar do Amazonas Mantido Franz Marinho de AlcântaraCB da Polícia Militar da Bahia Mantido Sérgio Alberto da S. BarbosaCB Militar do Estado do Ceará Troca João Vasconcelos SouzaCB Militar do Distrito Federal Troca José Anício Barbosa JúniorCB Militar do Espírito Santo Troca Fronzio Calheira MotaCB Militar de Goiás Mantido Uilson Alcântara ManzanCB Militar do Maranhão Troca Délcio de Castro BarrosCB Militar do Mato Grosso Troca Sérgio Roberto D. CorreiraCB Militar do Mato Grosso do Sul Mantido Arquimides Leite de A. SobrinhoCB Militar de Minas Gerais Mantido José Honorato AmenoCB Militar do Pará Troca Paulo Gerson N. de AlmeidaCB da Paraíba Mantido Raimundo da Silva NascimentoCB da Polícia Militar do Paraná Mantido Almir Purcides JúniorCB Militar de Pernambuco Troca Carlos Eduardo P. A. CasanovaCB do Piauí Mantido Francisco Barbosa da MotaCB Militar do Estado do Rio de Janeiro Troca Pedro Marco Cruz MachadoCB Militar do Rio Grande do Norte Mantido Cláudio C. Bezerril da SilvaCB da Brigada Militar do Rio Grande do Sul Troca Sérgio KlunckCB Militar do Estado de Rondônia Troca Ronaldo Nunes PereiraCB Militar de Roraima Mantido Paulo S. Santos RibeiroCB Militar de Santa Catarina Mantido Reomar KalsingCB da Polícia Militar do Estado de São Paulo Mantido Antonio dos Santos AntonioCB Militar de Sergipe Mantido Reginaldo Santos MouraCB Militar de Tocantins Mantido Sirivaldo Sales de Lima

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Emergência 11MARÇO / 2007

Queda de aeronave em SPIncêndio em aeronave e residências

próximas, rastro de combustível com fo-go, vazamento de gás, estruturas colap-sadas, fios energizados pelo chão, víti-mas, abandono desordenado de pesso-as, fogo em veículos estacionados nasproximidades. Calma, tudo isto não foireal. Este foi o cenário montado peloCorpo de Bombeiros Militar de São Pau-lo para a realização de um exercício si-mulado. Todos os anos, a corporaçãoorganiza um simulado de atendimentoa catástrofes e, em 2006, a simulaçãofoi de uma situação de emergência daqueda de uma aeronave em área urba-na. Realizado no dia 26 de novembro,em SP, o exercício teve a participaçãode vários órgãos públicos e privados,como Polícia Militar, Grupamento Aé-reo da PM, Serviço de AtendimentoMédico de Urgência, Polícia Civil, Polí-cia Científica, Força Aérea, Infraero, De-fesa Civil, hospitais e outros.

Na operação, estiveram envolvidosmais de 200 bombeiros, além de, apro-ximadamente, 120 figurantes (entre alu-nos bombeiros e estudantes). A propos-ta da simulação foi integrar todos os ór-gãos envolvidos para o atendimento auma grande emergência, preparando-ospara o atendimento de ocorrências des-sa natureza.

PREPARAÇÃOPara o simulado, foi desenvolvida uma

aeronave com dimensão próxima de u-m modelo de médio porte de, aproxi-madamente, 15 metros, pesando duastoneladas. A cidade cenográfica, tam-bém planejada pelo Corpo de Bombei-ros, contou com uma área de aproxima-damente 2.000 m2. O simulado teve iní-cio com a partida fictícia da aeronavede Cumbica, transportando cinco tripu-lantes e vinte passageiros, com destinoà Brasília. Não alcançando a pista maispróxima, a aeronave atingiu as ruas deuma vila comercial e residencial. Ela caiusobre fachadas comerciais e residen-ciais, postes com fiação energizada, umposto de gasolina e uma oficina mecâ-nica. Houve explosões e, na oficina, va-

Bombeiros montam cenário de acidente

zamento de acetile-no com fogo. Foramtrês seqüências de ex-plosões, sendo uma ori-unda do posto de gasoli-na e duas provenientesdo vazamento de com-bustível da aeronave.

Na aeronave, foram 23vítimas carbonizadas eduas com traumas e queimaduras deterceiro grau que, apesar do socorroimediato, não resistiram aos ferimentos.O total de cem vítimas, foi dividido con-forme a gravidade: estado clínico grave,queimaduras e traumas, as que estavam

SIMULADOS

O Corpo de Bombeiros Militar de SãoPaulo, através de sua unidade em SãoJosé dos Campos, também realizou umexercício simulado no mês de novem-bro, chamado Simulado do Trauma, queé realizado todos os anos pela corpora-ção. O exercício envolveu equipes doSamu, da Polícia, Corpo de Bombeirose empresas da região, totalizando cercade 300 participantes.

O exercício consistiu em um showmusical, onde ocorreu um tumulto ge-neralizado, causando pânico na platéia.O público saiu correndo do local, viti-mando 40 pessoas que apresentaramluxação, fraturas, mal súbito, óbitos, en-tre outros. Devido à proporção do even-to, o médico presente no local, com

Exercício no Vale do Paraíbaduas ambulâncias, acionou o Centro deOperações Integradas (COI) dos bom-beiros para solicitar apoio e iniciou atriagem das vítimas e montagem do Pos-to Médico Avançado. O COI, assim, a-cionou para o local o Corpo de Bom-beiros, Polícia Militar, Defesa Civil, en-tre outros órgãos. O oficial do Corpode Bombeiros responsável pelo atendi-mento também solicitou ao Centro deComunicações do Corpo de Bombeirosde São José dos Campos o acionamentode recursos junto à Rinem (Rede Inte-grada de Emergência), do Vale do Paraí-ba, para envio de ambulâncias. No lo-cal, as ações foram coordenadas pelooficial do Corpo de Bombeiros no Pos-to de Comando, juntamente com as de-mais autoridades municipais. De acor-do com o tenente do 11º Grupamentode Incêndio que atua no Vale do Paraí-ba, Márcio André Silva Nunes, todos osanos o Corpo de Bombeiros de São Pau-lo promove exercícios simulados, nosmunicípios que tem postos de bombei-ros, para organizar e administrar recur-sos para que, se necessário, sejam em-pregados em situações reais. “Além dadivulgação da questão prevenção deacidentes, tem o objetivo de treinarmos,integrarmos e catalogarmos recursospara eventos reais”, destaca.

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impedidas de se locomoverem e as comestado clínico menos grave - queimadu-ras leves -, intoxicação, casos clínicos,outras que se locomoviam sozinhas e,entre elas, algumas que necessitavam detransporte a hospitais.

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Emergência MARÇO / 200712

ATUALIZANDO

Quase meio século de dedicaçãoQuase meio século de dedicaçãoCriado em 1957, o esquadrão já participou de mais de 3.000 operações reaisCriado em 1957, o esquadrão já participou de mais de 3.000 operações reais

O Segundo Esquadrão do DécimoGrupo de Aviação da Força Aérea Bra-sileira, conhecido como Esquadrão Pe-licano, completou, no dia 6 de dezem-bro, 49 anos de existência. O Esquadrãofoi criado em 6/12/1957 e teve comosede, inicialmente, a Base Aérea de SãoPaulo. “Ao Esquadrão foi atribuída a mis-são de executar as buscas e salvamen-tos em todo o território brasileiro e foradele quando solicitado, tanto sobre omar quanto sobre a terra”, explica o co-mandante do Esquadrão, Marco Cuin.Em 1972 o serviço transferiu-se para aBase Aérea de Florianópolis/SC e maistarde, em 1981, para a Base Aérea deCampo Grande/MT, ficando em umponto mais central do país.

Histórias emocionantes para ilustrar atrajetória do Esquadrão Pelicano não fal-tam. Uma delas marcou a história recen-te como uma grande tragédia: o resga-te do Boeing da Gol que caiu em se-tembro do ano passado, ao sul do Pará,em uma região de mata fechada e de

difícil acesso. A equipe do EsquadrãoPelicano estava entre os primeiros a che-gar ao local dos destroços. A mata fecha-da, com árvores de até 40 metros dealtura, insetos, chuva e o difícil acessoao local, tornaram a missão extrema-mente dura. Ao longo de sua existên-cia, o Esquadrão participou de mais de3.000 operações reais, voando mais de25 mil horas e resgatando mais de 6.000pessoas. O Esquadrão age como formade suporte a todas as operações da FAB,bem como resgatando aeronaves civis,militares, navios e embarcações.

Porém, muitas vezes, a base do heli-cóptero de resgate encontra-se distantedo local do acidente e como o pousodo avião exige pista, o papel do pára-quedista nessas circunstâncias torna-sefundamental. Os homens de resgate po-dem ser lançados a partir de uma aero-nave de busca, agilizando, assim, o aten-dimento aos sobreviventes. “Quandonosso objetivo é localizado por uma ae-ronave e o local do sinistro oferece con-dições para o salto de pára-quedistas,este é realizado para que sejam presta-dos os primeiros socorros até a chega-da do helicóptero de resgate”, explicaCuin. Além do acidente com o avião daGol, Cuin cita outras missões que mar-caram os 49 anos da equipe: a buscado C-47 2068 da FAB, em 1967, a aju-da nas enchentes ocorridas em Tubarão/SC, em 1971, o auxílio às vítimas do ter-remoto do Peru, em 1970, e a busca doBoeing 737-200 da Varig, em 1989.

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Orçamentosquestionados

O site da ONG Contas Abertas, quese dedica a analisar a aplicação de re-cursos do Orçamento Federal, denun-ciou, no início do ano, que o governoteria descuidado da prevenção. Deacordo com o órgão, dos R$ 110,36milhões autorizados no Orçamento2006 para investimentos em “Preven-ção e Preparação para Emergências eDesastres”, o governo executou ape-nas 33,2% (R$ 36,74 milhões). E, naverdade, a maior parte desta despesaexecutada (R$ 28,64 milhões) foi derestos a pagar, ou seja, de despesasrelativas aos anos anteriores. O minis-tro da Integração Nacional, Pedro Bri-to, porém, rebateu o levantamento fei-to pela ONG e afirmou que a estatís-tica está certa, o que estaria errado éa interpretação dos números. “O mon-tante destinado a desastres tem queestar relacionado com a quantidadedo desastre. Se houver necessidadede 200, 300, 400 milhões, nós temosque alocar isso, é determinação dopresidente Lula”, explica. Brito diz que,dos R$ 130 milhões previstos para aexecução do programa, o Ministériocumpriu integralmente sua parte, eque o restante não teria sido gasto porse referir às emendas parlamentaresfora dos limites orçamentários.

O ministro afirma que, quando enca-minhada para o Congresso, a previsãoorçamentária era de R$12 milhões,mas com emendas parlamentares essevalor chegou a R$130 milhões. “Atéo final do ano de 2006 não houve dispo-nibilidade de limites para que se empe-nhasse esse valor. Do ponto de vistada programação do Ministério, a nos-sa execução foi de 100%”, ressaltaBrito. Já para 2007, a previsão do Mi-nistério se manteve em R$12 milhões,mas novamente, através de emendas,chegou-se a R$140 milhões. “Para quese chegue à execução dos R$140 mi-lhões há necessidade que haja limiteorçamentário disponível. Nós vamoster que aguardar que ao longo do anohaja ou não disponibilidade orçamen-tária para se empenhar tudo ou partedesses valores”, analisa Brito.

GOVERNO

Esquadrão atuou no acidente da Gol, em 2006

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ESQUADRÃO PELICANO

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Emergência MARÇO / 200714

ATUALIZANDO

Cariacica reuniu profissionais de Defesa Civil do país em evento nacional

Ações bem sucedidas

Entre os dias 23 e 24 de novembro,foi realizado, em Cariacica/ES, o III Fó-rum Nacional de Defesa Civil. Duranteo encontro, cujo tema foi “Em busca daexcelência nas ações de Defesa Civil”,foram discutidas práticas de sucesso queforam desenvolvidas na área. O eventoteve quatro eixos temáticos envolven-do ações de prevenção, preparação, res-posta e recuperação de áreas afetadaspor desastres, com os objetivos de atua-lizar conhecimentos técnicos e científi-cos, promover debates de opiniões econhecer as demandas dos profissionaisda área. Com o Fórum, a Secretaria Na-cional de Defesa Civil busca o aprimo-

FÓRUM

ramento do Sistema Nacional de DefesaCivil (Sedec).

O encontro reuniu cerca de 300 par-ticipantes, entre agentes de Defesa Ci-vil de todo o país, técnicos de órgãosde proteção ao meio ambiente, repre-sentantes de universidades e profissio-nais das administrações federais, esta-duais e municipais.

ATLASNo primeiro dia houve a apresenta-

ção da atuação da Sedec no país e olançamento do Atlas das Áreas com Po-tencial de Riscos do Espírito Santo, re-sultado de uma parceria entre o Corpo

de Bombeiros Militar, Coordenação Es-tadual de Defesa Civil e Instituto de Pes-quisas Jones dos Santos Neves. A pes-quisa levou um ano para ser concluídae foi dirigida pelo professor AlexandreRosa dos Santos. Além da versão impres-sa, está disponível a versão eletrônica,através do site www.defesacivil.es.gov.br. Presente no evento, o secretário Na-cional de Defesa Civil, coronel Jorge doCarmo Pimentel, ao conhecer o teor doAtlas de Risco, lançou um desafio paraque o Corpo de Bombeiros do Estadofizesse o mesmo para o Brasil. Já no se-gundo dia do evento foi apresentada aatuação da Defesa Civil para respostasa desastres e acidentes com produtosperigosos e, ainda, a exposição de boaspráticas em Defesa Civil de outros esta-dos da federação.

O Fórum é uma parceria da Sedeccom a Coordenadoria Estadual de Defe-sa Civil do Espírito Santo e a Coordena-doria Municipal de Defesa Civil de Caria-cica.

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Dia do Voluntariadoé lembrado

Em função do Dia Internacional do Vo-luntariado, comemorado em 5 de de-zembro, e Dia Nacional da Cruz Ver-melha, a filial gaúcha da entidade reali-zou um evento comemorativo em Por-to Alegre. O evento aconteceu com olema “As mãos que mudam a realida-de” e contou com a presença da Secre-taria Municipal da Juventude e tambémdo professor e voluntário da Cruz Ver-melha, Wambert Gomes Di Lorenzo,que abordou questões ligadas ao Direi-to Humanitário Internacional.

O presidente da Cruz Vermelha Brasi-leira - filial RS, Nício Brasil Lacorte, sali-entou a relevância do trabalho voluntá-rio. “A nossa filial possui cerca de 500voluntários no Estado, os quais minis-tram cursos sobre dependência quími-ca, primeiros socorros e educação co-munitária para casos de desastres e ca-lamidades. Na nossa sede em Porto Ale-gre, possuímos um ambulatório, ondesão atendidas 30 pessoas por dia. É desuma importância que aproveitemos da-tas como esta, para refletirmos da impor-tância de ser solidário”, destacou.

COMEMORAÇÃO

Discutir o panorama atual do Atendi-mento Pré-Hospitalar foi a proposta cen-tral do I Encontro de Atendimento Pré-Hospitalar do Distrito Federal, ocorridode 1º a 3 de dezembro na capital fede-ral. De acordo com o coordenador doNúcleo de Educação e Urgência do Sa-mu/DF, Márcio Melo, o objetivo do e-vento era promover a integração entreos serviços de Atendimento Pré-Hospi-talar. “O encontro proporcionou ampladiscussão e reflexão, não somente dosproblemas existentes, mas também dassoluções implementadas para o futuro”,disse Melo.

Estiveram em pauta temas diversifica-dos, tais como o panorama atual da Polí-tica Nacional de Atenção às Urgências,

Encontro discute realidade do APHINTEGRAÇÃO

em um painel ministrado pela coorde-nadora nacional do Samu 192, Irani Ri-beiro de Moura. Também foram realiza-das mesas redondas para discussão dediversos assuntos, entre eles a regulaçãomédica, com a participação do consul-tor médico do Ministério da Saúde, Pau-lo de Tarso, o Suporte Básico e Avança-do de Vida, APH em cardiologia, forma-ção e treinamento em APH, uso de trom-bolíticos no APH, situações especiais emAPH e acidentes com múltiplas vítimas.

O evento foi uma iniciativa do Samu/DF, com a participação da AMIL Resga-te, Corpo de Bombeiros Militar do Dis-trito Federal, Cruz Vermelha, Polícia Ci-vil e Militar, Polícia Rodoviária Federal eDetran.

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Emergência 15MARÇO / 2007

Prevenção e resposta em pauta

O Seminário Nacional de Produtos Pe-rigosos trouxe palestrantes de mais de37 instituições, entre elas Ministério doMeio ambiente, Cetesb, Polícia Rodovi-ária Federal e Polícia Militar Rodoviária.Mais de 150 pessoas participaram doevento, ocorrido dias 12 e 13 de dezem-bro passado, em Florianópolis/SC, quecontou com o apoio do Ceped (CentroUniversitário de Estudos e Pesquisas so-bre Desastres) e o Departamento Esta-dual de Infraestrutura. O objetivo do se-minário foi de integrar os diversos ór-gãos e instituições que tratam direta ouindiretamente do tema, seja nas açõesde prevenção, como é o caso das agên-cias fiscalizadoras, seja nas ações de res-posta, visando eliminar ou diminuir ospossíveis danos humanos, materiais e/

Florianópolis realiza Seminário Nacional de Produtos Perigosos

PRODUTOS PERIGOSOS

ou ambientais, quando da ocorrência deacidentes.

A programação contou com uma me-sa redonda sobre a fiscalização do trans-porte rodoviário de produtos perigosose palestras sobre o programa catarinensede controle do transporte rodoviário, oatendimento a emergências e atuaçãodo Corpo de Bombeiros, entre outrostemas. A geógrafa e pesquisadora doCeped, Cristiane do Nascimento, expli-ca que não existe nenhum produto quí-mico que seja tão perigoso que não pos-sa ser manuseado, transportado ou ar-mazenado, desde que sejam conheci-das e respeitadas as precauções neces-sárias. “Existem normas internacional-mente preconizadas para que o manu-seio, transporte e armazenagem ocor-ram com o menor risco possível”, frisa.O encerramento do seminário ocorreuna rodovia SC-401, com a realização deum exercício simulado, envolvendo umacidente rodoviário com produtos peri-gosos, possibilitando aos participantesobservarem na prática a atuação da e-quipe de primeira resposta especializa-da em uma emergência envolvendo estetipo de sinistro.

Nos dias 7 e 8 de fevereiro, a Asso-ciação Nacional do Transporte de Car-gas (NTC) realizou o 8º SeminárioTransporte e Manuseio de Produtos Pe-rigosos, em São Paulo. O evento reu-niu autoridades do assunto para deba-ter as responsabilidades nos processosde expedição e transporte de produ-tos perigosos, orientando sobre comorealizar as operações de forma segurae com base na legislação vigente nopaís. “O seminário foi muito bom, poisatualizou o segmento com relação àsnovas regulamentações publicadaspela ANTT, como a Resolução nº1.644, de 26/09/06, que aprova as ins-truções complementares ao regula-mento do transporte terrestre de pro-dutos perigosos. Um aspecto novo doseminário foi a ênfase dada às ques-

tões ambientais, como a gestão am-biental da atividade de transporte ro-doviário de produtos perigosos e so-bre a lei de crimes ambientais”, frisouEdson Haddad, gerente da Divisão deGerenciamento de Riscos da Compa-nhia de Tecnologia de SaneamentoAmbiental de São Paulo (Cetesb).

MANUALDurante o evento, foi lançada a 8ª

edição do Manual de Autoproteçãopara Manuseio e Transporte Rodoviá-rio de Produtos Perigosos - PP8. Omanual traz normas técnicas, legisla-ções e orientações, visando tornar aatividade mais segura para os profissio-nais envolvidos com produtos perigo-sos. Outras informações em www.pro-dutosperigosos.com.br.

Transporte e manuseio de produtos

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Emergência MARÇO / 200716

ATUALIZANDO

NR-33 traz novas orientações

Publicada em 27 de dezembro de2006, a Norma Regulamentadora nº 33(Segurança e Saúde nos Trabalhos emEspaços Confinados) do MTE (Ministé-rio do Trabalho) deve ser cumprida portodas as empresas que possuem locaisconfinados. Um item em especial, o33.4, Emergência e Salvamento, diz res-peito às orientações que as empresasdevem adotar para garantir o atendimen-to a seus funcionários em caso de emer-gência.

O ex-comandante do Corpo de Bom-beiros de São Paulo e instrutor de primei-ros socorros e resgate, Luiz Roberto Car-chedi, explica que as orientações da NR-33 devem ser adotadas pelos bombeirosprivados, que são passíveis de fiscaliza-ção pelas Delegacias Regionais do Tra-balho. “Os bombeiros públicos não sãoregidos pela CLT e, portanto, o MTE nãotem poder de fiscalização”, afirma. Des-ta forma, sem a obrigatoriedade de cum-primento da norma, ele aponta que osprofissionais públicos podem acabar seexpondo a riscos em espaços confina-dos, entrando em contato com atmos-feras perigosas, uma vez que as empre-sas podem se valer também do serviçopúblico. Para o tenente coronel do Cor-po de Bombeiros Militar do Distrito Fe-deral e engenheiro de Segurança do Tra-

Equipes de resgate públicas e privadas devem atentar para a norma

ESPAÇOS CONFINADOS

balho, Eduardo Loureiro, apesar da NR-33 não se aplicar às instituições públicasque não são regidas pela CLT, continuaexistindo, por parte dos gestores dessasinstituições, a responsabilidade de zelarpela segurança e saúde dos funcionários.

AÇÃOLoureiro também ressalta que a equi-

pe de emergência para salvamento emespaços confinados deve possuir umtreinamento específico para o espaçoconfinado em que poderá atuar. “Ape-sar das diretrizes básicas de segurançaserem as mesmas, em função das con-dições comuns que caracterizam essasáreas, a realização de um salvamentoem um silo graneleiro, por exemplo, re-quer ações bem distintas de uma ope-ração de salvamento em uma galeria deesgoto, o que demanda um treinamen-to específico para cada ambiente”, frisa.

Loureiro destaca ainda que deve haverplanejamento, disponibilidade de equi-pamentos e treinamentos de emergên-cia e resgate. “Apenas adquirir equipa-mentos de segurança e resgate podegerar uma falsa sensação de segurança.Durante o planejamento das ações énecessário considerar, por exemplo, adistância do Corpo de Bombeiros maispróximo da empresa”, salienta.

Atenção àsurgências em debate

Entre os dias 28 de novembro e 1º dedezembro de 2006, a cidade de Niterói/RJ sediou o VI Congresso da RBCE (RedeBrasileira de Cooperação em Emergên-cias) e I ALACED (Encontro Brasileiro daAssociação Latinoamericana de Coope-ração em Emergências e Desastres).Contando com painéis, fóruns temáti-cos, conferências e cursos, o Congres-so reuniu profissionais e convidados depaíses como Cuba, Chile e França.

Um dos destaques do evento foi a pa-lestra “Avaliação institucional da implan-tação da Política Nacional de Atençãoàs Urgências, publicada pela PortariaGM/MS 1863”, apresentado pela coor-denadora-geral de Urgência e Emergên-cia do Ministério da Saúde e da RedeSamu 192, Irani Ribeiro. O painel trou-xe os desafios enfrentados na implanta-ção de uma política nacional de urgên-cia, que inclui os serviços hospitalares epré-hospitalares, como o Samu.

SAÚDE

Cardiologistasensinam leigos

A Sociedade de Cardiologia do Esta-do de São Paulo (Socesp) realizou, em16 de dezembro, a primeira edição doprojeto Em São Paulo, nós cuidamos doseu coração. Trata-se de um programapermanente de educação em ressusci-tação cardiovascular para leigos, quevisa ensinar pessoas comuns a prestarum primeiro socorro competente às ví-timas de eventos cardíacos.

As doenças cardiovasculares estão en-tre as principais causas de morte, res-ponsáveis por cerca de 30% dos óbitosdo país. Anualmente, no Brasil, 360 milpessoas têm morte súbita, o que signifi-ca 986 óbitos por dia, ou 1,4 morte acada dois minutos. Porém, cerca de 52%dos óbitos ocorrem antes de a vítimachegar ao hospital ou de receber pré-atendimento. Em 2007 o projeto abran-gerá o interior do Estado de São Paulo.Informações pelo fone (11)3179-0044ou no site www.socesp.org.br.

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Emergência MARÇO / 200718

LEIS & NORMAS

Registro de acidentes é determinado pelo Contran

HIDRANTES E MANGUEIRAS

A NBR 13714 (Sistemas de Hidrantes ede Mangotinhos para Combate a Incêndio)e a NBR 12779 (Inspeção, Manutenção eCuidados em Mangueiras de Incêndio), queseriam encaminhadas para consulta públi-ca no início do ano, sofrerão ainda mais al-gumas alterações. Na NBR 13714 foi deci-dido incluir mais um anexo referente a abri-gos de mangueiras, enquanto não houveruma norma específica. “Numa reavaliaçãodo andamento dos trabalhos, foi estimadomais seis meses de trabalho na comissão,após isso, a ABNT leva cerca de 90 dias pa-ra disponibilizar para consulta”, explica o se-cretário da Comissão de Estudos de Hidran-tes, Mangotinhos e Acessórios, MaurícioFeres. Já referente à NBR 12779, a Comis-são decidiu aguardar a realização de en-saios com mangueiras antigas. SegundoFeres, os resultados desses ensaios irãofornecer subsídios técnicos para a elabora-ção de novos requisitos e ensaios.

INCÊNDIO FLORESTAL

A Comissão Viaturas de Combate a In-cêndio recebeu o projeto da norma NBR14096 (Viaturas de Combate a Incêndio Flo-restal) para efetuar correções. Segundo osecretário da Comissão, Paulo Chaves deAraújo, o projeto havia sido encaminhadopara consulta pública, mas necessita aindase adequar aos procedimentos de elabora-ção de normas.

CHUVEIROS AUTOMÁTICOS

A NBR 10897 (Proteção Contra Incêndiopor Chuveiro Automático) esteve em con-sulta pública até o mês de novembro. Emfevereiro, a Comissão realizou a análise dosvotos e agora a norma será encaminhadapara a ABNT para a última verificação an-tes da publicação. De acordo com o coor-denador da comissão, Marcelo Lima, a nor-ma deverá ser publicada até o mês de abril.“Após a emissão da norma, o objetivo éconvocar novamente a Comissão para re-visar a NBR 13792, que trata de sistemasde chuveiros automáticos para proteção deáreas de armazenamento”, adianta Lima.

BOMBEIRO PRIVADO

A NBR 14608 (Bombeiro Privado), quefoi recentemente revisada, segue em con-sulta nacional até o dia 11 de maio, no sitewww.abnt.org.br/cb24. Uma das novidadesda norma será a carga horária para a for-mação do bombeiro privado, que passaráde 56h/aula para 240h/aula.

Perfil do trânsito brasileiro

O Brasil passará a contar em 2007com uma base nacional de estatísticasde trânsito que irá subsidiar a elabora-ção de estudos e pesquisas para a me-lhoria da segurança viária no País. A Re-solução 208 do Contran (Conselho Na-cional de Trânsito), publicada no DiárioOficial em 10 de novembro passado, es-tabelece as bases para a organização eo funcionamento do Renaest (RegistroNacional de Acidentes e Estatísticas deTrânsito). O Rio Grande do Sul foi o pri-meiro Estado a aderir ao registro de aci-dentes e estatísticas de trânsito atravésdo SCAT (Sistema de Cadastro de Aci-dentes de Trânsito), já em fase de imple-mentação no Detran/RS.

Segundo Ana Bernardes, coordenado-ra da Assessoria de Estatística do Detran/

RS, o sistema irá evitar sobreposição ediscrepância de dados. “Vamos contarcom um cadastro que irá possibilitar tra-çar um perfil tanto da vítima, do condu-tor, da via, como do veículo. Teremosdados mais consistentes com filtros quedarão credibilidade aos números deacidentalidade no País”, explica.

Outra meta do Renaest será a integra-ção entre os órgãos e instituições quecoletam dados de acidentes: BrigadaMilitar, Polícia Rodoviária Federal, Co-mando Regional da Brigada Militar, pre-feituras e municípios. Com a reuniãodesses dados, será possível a elaboraçãode estudos e pesquisas para a tomadade decisões, correta orientação e aplica-ção de diferentes medidas por essesórgãos e entidades.

PINGA FOGOCB 24 - ABNTRESOLUÇÃO

FISCALIZAÇÃO

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A Comissão de Minas e Energia apro-vou, em janeiro, o Projeto de Lei 2751/03, que torna obrigatório o cadastra-mento de fontes radioativas. A medidase aplica a todos os municípios commais de cem mil habitantes, nos quaissejam realizadas atividades radioativas,como enriquecimento de urânio. O ob-jetivo é implementar medidas de fiscali-zação para evitar acidentes como oocorrido em Goiânia, em 1987, como Césio-137. Fica estabelecido que o res-ponsável pela fonte radioativa deverá co-

Cadastro de fontes radioativas é obrigatóriomunicar previamente ao órgão gestor docadastro qualquer mudança que impli-que alteração dos dados fornecidos.

O projeto determina ainda que o pro-prietário de equipamento que utilizeurânio enriquecido comunique qualquermudança de localização ao órgão de-signado pela prefeitura para acompa-nhar o assunto, como as Secretarias Mu-nicipais de Meio Ambiente ou as insti-tuições de Defesa Civil. Quem descum-prir a lei ficará sujeito a multa que irávariar de R$ 1 mil a R$ 50 milhões.

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Emergência 19MARÇO / 2007

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Foi finalizada, pela Comissão Especi-al Temporária de Estudos de Procedi-mentos de Acesso por Corda, a elabo-ração de uma norma para regulamen-tar esse tipo de trabalho, definindo osprocedimentos práticos. São recomen-dações e orientações no uso do códigode prática dos métodos de acesso porcorda para todas as pessoas comprome-tidas com atividade que envolva altura.A norma, futura NBR da ABNT, esteveem consulta pública durante 60 dias, atéo dia 5 de fevereiro, e será votada noinício de março. “Este trabalho é inédi-

Norma de acesso por corda foi finalizada

Qualificandoprofissionais

ALTURA

to no Brasil. Hoje, a atividade não é re-gulamentada, por isso, a normalizaçãocontribui para a padronização dos pro-cessos referentes ao uso da corda comoforma de acesso”, frisa Elton Fagundes,da Stonehenge Mountain, participanteda comissão.

Com a normalização, será facilitadoo ingresso de novos profissionais nestemercado que, hoje, depende de certifi-cações internacionais. Outras informa-ções podem ser obtidas pelo telefone(11)5586-3195 ou e-mail [email protected].

DESASTRES

O governo federal enviará ao Congres-so Nacional um projeto de lei criandoum fundo agrícola para atender os pro-dutores rurais em casos de prejuízoscausados por desastres naturais. O Fun-do de Catástrofes vem se somar à LeiComplementar 126/07, sancionada nodia 15 de janeiro, que permite a atua-ção de resseguradoras nacionais e es-trangeiras no país. Segundo o secretá-rio de Política Agrícola do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento,Edilson Guimarães, o Fundo de Catás-trofes funcionará em casos de graves fe-nômenos naturais que possam devastarregiões rurais, dizimando rebanhos eplantações. “Vamos mandar em breveao Congresso, tão logo a gente feche aredação, o projeto que cria o novo fun-

Fundo para catástrofes no campo

do. É a “perna” que está faltando ao se-guro rural, após a abertura do mercadode resseguros”, disse Guimarães. O pro-jeto de lei deveria ter seguido para oCongresso em dezembro, mas o gover-no aguarda as sugestões das segurado-ras do segmento rural para fechar a pro-posta.

Foi publicada no Diário Oficial do Es-tado de São Paulo, em 31 de janeiro, aLei nº 12.541, de 30/01/07. Ela estabe-lece que os usuários de rodovias esta-duais recebam socorro emergencial eremoção, em caso de acidente, por am-bulância devidamente equipada. O so-corro deverá incluir atendimento por u-ma equipe médica e a remoção da víti-ma e acompanhante até o hospital maispróximo ou mais adequado à ocorrên-cia, sem custos para o usuário. As despe-sas decorrentes da execução desta leicorrerão por conta de recursos própri-os dos órgãos responsáveis pela admi-nistração das rodovias estaduais.

RODOVIAS

Socorro obrigatório

A Prefeitura de Belo Horizonte/MGtornou obrigatório o uso do aparelhodesfibrila-dor emestabele-cimentospúblicosou priva-dos comfreqüên-cia su-perior amil pessoaspor dia. A lei foi sancionada nodia 19 de janeiro e deve entrar em vigorassim que a fiscalização for regulamen-tada. Os estabelecimentos também se-rão obrigados a ter pessoas qualificadaspara operar o aparelho. Se usado ematé cinco minutos após a parada cardía-ca, as chances de sobrevivência ficamem 50%, contra apenas 2% sem o seuuso. Além dos estabelecimentos commovimento maior que mil pessoas, a Câ-mara Municipal, o Aeroporto da Pam-pulha, shopping centers e universida-des também deverão possuir o desfi-brilador.

A Secretaria Municipal de Saúde deBelo Horizonte informou que o treina-mento, a fiscalização e a pena pelo des-cumprimento da lei ainda não foram es-tabelecidos. Segundo a assessoria de im-prensa do órgão, os critérios serão defi-nidos assim que a lei for regulamenta-da.

DESFIBRILADOR

Belo Horizonte sanciona lei

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ESPECIAL

Emergência MARÇO / 200720

ESPECIAL

MARÇO / 2007Emergência20

BUSCANDOBUSCANDOPanorama do serviço de bombeiros no país sinaliza

para a necessidade de se discutir uma políticanacional de combate a incêndio, enquanto isto, acategoria cria estratégias para um atendimento completo

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Emergência 21MARÇO / 2007

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Reportagem de Lia Nara Bau

esde os primórdios da históriada humanidade, os corpos debombeiros, sejam civis, milita-

res, profissionais ou voluntários, têm co-mo missão a prevenção e combate a in-cêndios, a busca e o salvamento de pes-soas. Estas são as funções primordiais eos motivos pelos quais a sociedade bus-cou organizar corporações de bombei-ros. Na era atual, porém, a organizaçãoda sociedade tornou-se bem mais com-plexa e, conseqüentemente, os corposde bombeiros também. Hoje, corpora-ções civis e militares disputam um espa-ço que não teria motivos para conflitos,já que cerca de 4.000 municípios brasi-leiros não dispõem de serviços de bom-beiros. O assessor da Senasp (Secreta-ria Nacional de Segurança Pública) doMinistério da Justiça e coronel do Cor-po de Bombeiros Militar do Distrito Fe-deral, Carlos Rocha, fala que o númerode municípios cobertos, atualmente,com serviços de bombeiros no país éde 12%.

Segundo uma pesquisa feita junto àSecretaria Estadual da Fazenda do RioGrande do Sul, o custo de um bombei-ro militar é de 28 reais para cada habi-

tante do Estado. Isso para apenas70 municípios, entre os 496

atendidos por quartéisda Brigada Militar

naquele Esta-do. No res-

tante dopaís, a

Emergência 21MARÇO / 2007

situação não é diferente. De acordocom um perfil das organizações de se-gurança pública elaborado pela Senasp,a distribuição de gastos dos corpos debombeiros militares entre os Estados semostra bastante desigual. Enquanto oParaná, que mais teve gastos, utilizoumais de R$ 480 milhões, Tocantins, queapresentou o menor gasto, ficou comcerca de R$ 2 milhões. Na média naci-onal, o maior gasto apresentado foi comfolha de pagamento, representando65,2% do total de R$ 1,7 bilhão investi-dos em 2004. A distribuição do efetivoexistente e do necessário, por sua vez,também é bastante discrepante. No en-tanto, em alguns Estados como Tocan-tins, que possui o menor efetivo do país- 196 profissionais -, é onde os núme-ros do efetivo necessário e existente sãomais próximos. A pesquisa constatou aexistência de 60.652 profissionais nototal de efetivo dos corpos de bombei-ros. Baseado neste número, verifica-seque o efetivo existente no Brasil é cer-ca de 70% do total necessário.

Para o coronel da reserva e ex-oficialdo Corpo de Bombeiros de São Paulo,Marco Antônio Secco, o serviço públi-co é incapaz de suprir as necessidadesdos serviços de emergência. “O Estadoprecisa assumir suas reais obrigações,dotando o aparelho público de recur-sos humanos competentes e equipa-mentos eficientes”, diz. Ele reconheceque isto implica em grandes gastos,porém lembra que o dinheiro existe, sóprecisa ser bem aplicado. “A utilizaçãoadequada das taxas cobradas da popu-lação e não em desvios, por exemplo,proveria os serviços públicos de meiosnecessários para o devido atendimentodas suas necessidades”, esclarece.

OBSOLETOOutro item do estudo da Senasp, os

equipamentos de transporte, demons-trou que grande parte constitui viaturaspequenas de transporte de pessoal, vi-aturas para combate a incêndio urbanoe para Atendimento Pré-Hospitalar. Asviaturas de socorro, que têm valor ele-vado, têm prioridade secundária na horada compra, como viaturas para comba-te a incêndio florestal e aeronaves, porexemplo. O engenheiro mecânico e

coordenador da Comissão de Viaturasde Combate a Incêndio do CB-24 daABNT, Cesar Corazza Nieto, destacaque questões políticas podem interferirna estrutura das corporações. “Em ge-ral, as corporações estão defasadas emrelação a países de primeiro mundo, porrazões políticas. A lei de licitações, em-bora intencionalmente boa, engessa aadministração pública. Com certeza osbombeiros gostariam e mereciam ter osmelhores equipamentos, mas a ingerên-cia política, muitas vezes, não permiteque isso ocorra”, revela.

De acordo com Nieto, que comercia-liza equipamentos para diversas corpo-rações do país, há excelentes profissio-nais do fogo na maioria dos Estados, sen-do que a carência está nos recursos ena forma como são administrados. “Emrecente visita ao Nordeste, presenciei acarência de recursos local. No entanto,debaixo de uma lona reluzia uma viatu-ra importada, cuja plataforma aérea nãopodia ser usada, pois não tinha bombaprópria e a rede de hidrante local nãotinha pressão. Foram alguns milhares dedólares gastos onde o bombeiro nãopossui nem EPI de qualidade”, critica.

A presença de Corpos de Bombeirosnas regiões do país é bastante crítica. ONordeste é uma delas. No Rio Grandedo Norte, entre 166 municípios, o ser-viço de bombeiros existe em apenas trêscidades. O comandante geral do Cor-po de Bombeiros Militar do Rio Grandedo Norte, Cláudio Christian Bezerril daSilva, salienta, porém, que o planejamen-to estratégico da corporação prevê mais20 unidades de socorro, com projetosdesenvolvidos pelo Corpo de Bombei-ros Militar, de baixo custo de constru-ção, operação e manutenção. A maiordificuldade, segundo o comandante, équanto ao número do efetivo. “O efeti-vo da corporação nunca acompanharáo crescimento populacional das cidadesa que busca servir. Contudo, aproveita-mos o pequeno número de bombeirospara qualificá-los e melhorar a qualida-de do serviço”, pondera. Para ele, a defa-sagem deve ser contornada com a quali-ficação dos profissionais existentes, poisum “efetivo suficiente para atender a de-manda operacional é utópico”, desaba-fa. Já no Estado de Rondônia, no Norte,o Corpo de Bombeiros Militar cobre cer-ca de 19% do território, estando pre-

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ESPECIAL

Emergência MARÇO / 200722

Inserção de civis e estagiários em algumasatividades nas corporações são alternativasencontradas pelos órgãos para superar defasagem

CORPORAÇÕESDEFASADAS

sente em dez dos 52 municípios. O co-ordenador de Operações, Ensino e Ins-trução do Corpo de Bombeiros Militarde Rondônia tenente coronel LiobertoCaetano, acredita que seria interessan-te haver um plano de um período nãosuperior a cinco anos para cada corpora-ção ter um efetivo adequado.

O ex-comandante do Corpo de Bom-beiros de São Paulo e instrutor de pri-meiros socorros e resgate, Luiz RobertoCarchedi, revela que existe a Lei nº8.239, de 04/10/1991, que regulamen-ta o serviço militar alternativo, promul-gada há mais de cinco anos, que permi-te o emprego do pessoal alistado, masnão aproveitado pelas forças armadas,nos serviços públicos de emergências,como os bombeiros, por exemplo. “Masela não é utilizada como deveria. E porquê? Por causa da inércia do modelomilitar, atualmente, adotado e pela faltade cultura profissional e iniciativa inova-dora daqueles que têm a responsabili-dade de gerenciar os corpos de bom-beiros”, critica.

ALTERNATIVASEnquanto o Estado não pode arcar

com despesas de aumento de efetivose corporações, entidades militares, civise voluntárias sugerem alternativas paracontornar a situação. O diretor secretá-rio da Fecabom (Federação Catarinensede Bombeiros Comunitários) e coman-dante do 5º Batalhão de Bombeiros deLages/SC, Altair Lacowicz, cita uma al-ternativa: “A substituição de bombeiros

em atividades meio por funcionários ci-vis e estagiários, potencializando as ati-vidades de bombeiro para as quais sãocontratados”. O major da Assessoria deComunicação Social do CBMERJ (Cor-po de Bombeiros Militar do Estado doRio de Janeiro), Alexandre da Silva Ro-cha, relata a alternativa encontrada noRio de Janeiro. “A solução encontradaaqui foi a negociação com os municípi-os, que fornecem seus cadastros deIPTU, que servem como base para a co-brança da taxa de incêndio e, em con-trapartida, a corporação instala um des-tacamento na cidade”, explica.

O historiador e professor universitá-rio Carlos Eduardo Riberi Lobo, do Cen-tro Universitário Assunção, de São Pau-lo/SP, está realizando doutorado com otema Bombeiros e Defesa Civil em SãoPaulo, 1964-2000. Internacionalização,Americanização e Técnicas Nacionais nassuas Atividades. O estudo compara oserviço de bombeiros de São Paulo comoutros países, em especial, Argentina,Chile, Uruguai e Paraguai, além dos Es-tados Unidos e França. Para Lobo, a al-ternativa viável seria a atuação em con-junto das três esferas administrativas, fe-deral, estadual e municipal. “O Estadopoderia atuar com planos de reequipa-mento e manutenção dos bombeiros emtodo o país”, afirma.

O assessor da Senasp, Carlos Rocha,coordenou o trabalho de planejamentoestratégico dos corpos de bombeiros mi-litares do Brasil. “No diagnóstico da se-gurança pública realizado pela Senasp

já se identifica a necessidade do fortale-cimento de uma política que privilegieos municípios”, destaca. Para ele, contor-nar os obstáculos de recursos para am-pliação do serviço de bombeiros é umaquestão de visão e atitude do governoe da sociedade. Segundo Rocha, esteprimeiro trabalho de planejamento estra-tégico autoriza a Secretaria a avançarem um plano de contingência nacional.“Por meio desse planejamento estraté-gico é possível identificar os pontos fra-cos, estabelecendo um esforço para su-perar as dificuldades, bem como os pon-tos fortes, reforçando-os e utilizando-oscomo modelos a serem seguidos”, ava-lia.

Além destas melhorias, a Senasp visao estabelecimento de ações para padro-nização de procedimentos com a metade definir uma legislação nacional desegurança contra incêndio e pânico.Desta forma, desde 2003, os corpos debombeiros militares passaram a fazerparte do Sistema Único de SegurançaPública (SUSP) e, com a regulamenta-ção da Lei 10.746/03 entraram tambémpara o rol das contemplações do FundoNacional de Segurança Pública. “Essainclusão traz ao Brasil um novo prog-nóstico para o desenvolvimento da pre-venção e da segurança”, frisa Rocha.

Para o comandante Silva, do Rio Gran-de do Norte, a alternativa é investimen-to. “Hoje os corpos de bombeiros têmum potencial enorme de prestação deserviços, principalmente, nas lacunasdeixadas pelo Estado no apoio social.Assim, qualquer governante um poucomais atento investiria nos Corpos deBombeiros Militares e, conseqüente-mente, esse investimento seria transfor-mado em ações às comunidades”, ava-lia. Já para Carchedi, o importante é teruma política pública que contemple oproblema. “O Brasil não tem uma Agên-cia Nacional de Bombeiros como, porexemplo, existe no Chile. Uma agênciaque fomentasse a criação de corpos debombeiros voluntários, com aporte derecursos, tecnologia, treinamento e su-porte administrativo, seria o caminho”,aponta. Ele relata que em recente via-gem à Argentina e Chile viu cidades com517 habitantes com rede de hidrantese guarnição de bombeiros, enquantoSão Paulo tem cidades com mais de 350mil habitantes sem serviço de bombei-ros.

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Emergência 23MARÇO / 2007

Instituição em suspensoFalta de recursos e efetivo coloca o modelo militar em xeque

Militares, civis, voluntários, comunitá-rios, municipais. Para a sociedade, nãoimporta a origem do profissional que vi-rá em seu socorro, desde que ele estejacapacitado para tal. Atualmente, estascorporações mesclam-se pelo país, aten-dendo a demandas de diferentes comu-nidades. A mais antiga delas e o mode-lo oficial de bombeiros, presente no Bra-sil há 150 anos, é a corporação militar.No entanto, esta instituição parece so-frer com problemas políticos e financei-ros. “O número total de bombeiros nopaís, aproximadamente 60 mil, é insufi-ciente para uma população de 180 mi-lhões. O ideal seria a existência de umbombeiro para cada mil habitantes, ouseja, deveria existir no país cerca de 180mil bombeiros, o triplo dos efetivos atu-ais”, lamenta o historiador e professorCarlos Lobo. Para isto, ele aponta a atu-ação conjunta como uma saída. “Nessesentido, também o Governo Federal po-deria fazer mais, tanto com a comprade equipamentos e o desenvolvimentoda indústria nacional na área de DefesaCivil, como na Criação de um Corpode Bombeiros Nacional que supervisio-naria a ação dos Corpos de BombeirosMilitares, voluntários, municipais e priva-dos e coordenaria a ação no caso de u-ma tragédia de grande porte”, destaca.

Com base em sua tese, Lobo afirma

que a situação do Corpo de Bombeirosde São Paulo é boa, tanto em relação aequipamentos, treinamentos quanto ca-pital humano.

De acordo com o tenente Miguel Jo-das, do Departamento de ComunicaçãoSocial do Corpo de Bombeiros do Esta-do de São Paulo, o efetivo atual da cor-poração é de 10.008 profissionais. Se-gundo ele, a capacitação é a base daqualidade do atendimento. “O treina-mento e os diversos cursos realizadosnos permite prestar um serviço cada diamais profissional e com qualidade”,aponta.

VÍNCULOPara o coordenador da Comissão de

Viaturas de Combate a Incêndio do CB-24, da ABNT, César Nieto, o trabalhode todas as pessoas engajadas nos bom-beiros é de uma dedicação exemplar,sejam civis, militares ou voluntários, masa forma de organização é o grande em-pecilho. “Por que essa formação militar?O inimigo do bombeiro se combatecom conhecimento técnico e não comarmas”, sentencia. Carchedi lembra queno Brasil sempre se procura seguir osmodelos norte-americanos ou europeus,mas, no caso dos bombeiros, parece quese caminha na direção contrária. “O nos-so modelo, militar e estadual, é único

no mundo e começo a crer que não sãoos outros que estão errados. A persis-tência na manutenção da atual estrutu-ra só fará aumentar a nossa distância dosmodelos reconhecidamente eficientesna prestação de serviços de emergên-cia”, avalia. Jorge Alexandre Alves,paramédico, Fire Chief Officer NYSFA ediretor técnico da Fire & Rescue CollegeBrasil, lembra que, no Brasil, o bombei-ro militar entra primeiro para uma corpo-ração a partir de um concurso públicoe depois será formado, porém, não éreconhecido legalmente como profissi-onal bombeiro, mas sim como militar.“Como conseqüência disto, temos o au-mento dos custos para o Estado e a fal-

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ESPECIAL

Emergência MARÇO / 200724

ta de profissionais para o mercado pri-vado e mesmo público em outras esfe-ras de governo”, destaca. Para ele, exis-te uma carência de instituições civis,públicas e privadas de ensino técnico esuperior com cursos de formação ecapacitação de profissionais das áreasde proteção contra Incêndio e emergên-cias. O Coronel da reserva e ex-oficialdo Corpo de Bombeiros de SP, MarcoSecco, compara que os corpos de bom-beiros públicos estão investindo muitona formação e no aprimoramento téc-nico, mas estão engessados pelo poderpúblico, principalmente, no que tangeà falta de recursos financeiros e ao per-fil militar imposto para uma atividadeque em todo o resto do mundo é civil.

Em quatro Estados brasileiros, os Cor-pos de Bombeiros são vinculados à Po-lícia Militar: Rio Grande do Sul, Paraná,São Paulo e Bahia. Lobo explica que,desde a Constituição de 1988, foi pos-sível a separação dos bombeiros dasPolícias Militares, pois, anteriormente, osbombeiros militares eram somente se-parados no Rio de Janeiro – primeirobombeiro do país, fundado em 1856 - eno Distrito Federal. “Portanto, o mode-lo de bombeiros vinculado à PolíciaMilitar parece ser cada vez mais umaexceção. Nos Estados onde os bombei-ros são vinculados à PM o número debombeiros é insuficiente, pois a PM temcomo função principal a segurança pú-blica, e não a Defesa Civil, portanto, as

necessidades dos bombeiros são aten-didas em segundo plano, quando sãoatendidas, e a defasagem em equipa-mentos e pessoal é enorme”, salienta.Como exemplo, ele cita o Corpo deBombeiros Militar do Estado do Rio deJaneiro, que possui, aproximadamente,15 mil bombeiros, o do Distrito Fede-ral, com 6.500 e o de São Paulo comdez mil, quando necessitaria de pelo me-nos o triplo. Os dois primeiros são bom-beiros autônomos em relação à PM. “Aseparação dos bombeiros seria até be-néfica para as Polícias Militares, quepoderiam preencher o efetivo dos bom-beiros com mais policiais nas funçõesde policiamento”, avalia.

EFICIÊNCIATenente coronel da reserva, Paulo

Chaves, ressalta, no entanto, que estenão é, necessariamente, um indicadorde qualidade ou eficiência. “Uma corpo-ração independente, teoricamente, temmuito mais condições de ser mais efi-ciente, mas este não é o principal indi-cativo”, afirma. Para ele, um exemplodisto são as corporações do Rio de Janei-ro e de São Paulo. Em São Paulo, a cor-poração, que pertence à Polícia Militar,possui quatro coronéis e está presenteem cerca de 140 municípios. Já no Riode Janeiro a corporação, que sempre foiindependente, possui mais de 40 coro-néis e está presente em cerca de 70 mu-nicípios. O major Alexandre Rocha, do

CBMERJ, também frisa a defasagem doefetivo da corporação. “Ao longo dosúltimos anos, foram criadas várias no-vas unidades no Estado. Porém, estamoshá quatro anos sem a realização de con-curso para admissão de soldados, o quenos causa um déficit de efetivo parasuprir plenamente os quadros dessasunidades”, pondera.

A corporação de Rondônia desvincu-lou-se da PM em 1998 e, de acordo como tenente coronel Caetano, a desvincula-ção trouxe benefícios. “Após a desvincu-lação a corporação passou a estabele-cer convênios com o Detran e Infraero,por exemplo, e também criou o FundoEspecial do Corpo de Bombeiros (Funes-bom), que é hoje uma lei estadual queprevê a cobrança de taxas específicaspelos serviços não emergenciais presta-dos pela corporação”, explica.

Carlos Rocha, do Senasp, vê com bonsolhos a desvinculação. “Entendemosque quem se especializa atende melhorem todos os sentidos. Basta fazer umaanálise e pesquisa em qualquer corpode bombeiros do Brasil que se separoue observar sua evolução. Seja nos as-pectos de qualidade no atendimento,tempo-resposta, formação e qualifica-ção, aquisição de pessoal e material esatisfação da tropa, do comandante aosoldado. Quem ganha com isso, eviden-temente, é a sociedade, o cidadão. Cre-mos que em pouco tempo todos os Es-tados estarão desvinculados”, aponta.

Para Carchedi, os Estados vinculadossão atrasados no que diz respeitoà gestão pública moderna. “Infelizmen-te, a sociedade nesses estados ainda nãoatentou para o alto custo do serviço.Para se ter uma idéia, no Estado de SãoPaulo para ter um tenente bombeiroatuando com proficiência, são necessá-rios cinco anos e meio de formação (pri-meiros quatro anos formando-o comopolicial, depois um ano e meio, comobombeiro), tudo pago com os impostosda população. Mas Carchedi crê que osCorpos de Bombeiros Militares vivemuma fase de definição. “Precisam deci-dir se querem permanecer com o mo-delo de estrutura organizacional militarque é custoso, burocrático e pouco efi-ciente para a prestação de serviços deemergências, ou migrarem para mode-los mais enxutos e adequados para pres-tarem serviços de qualidade no atendi-mento de emergências”, sentencia.

Forma de organizaçãodos bombeiros é umgrande empecilho,segundo algunsprofissionais

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Emergência 25MARÇO / 2007

Conquistando espaçoVoluntários se aperfeiçoam e se apresentam como alternativa

No Brasil, elas ainda são um fenôme-no sulista. Enquanto a sua expansão évista com reserva por uns, outros acre-ditam que ela seja a melhor alternativa.Mas o que a maioria concorda é que acriação de corporações voluntárias podeser uma solução em complemento aosCorpos de Bombeiros Militares. Em San-ta Catarina, ao todo, são 49 corporaçõesvoluntárias e no Rio Grande do Sul, 37.Além destes dois Estados, há cincocorporações voluntárias em Minas Ge-rais, duas em São Paulo e duas no Riode Janeiro.

O tenente coronel da reserva PauloChaves é também consultor de bombei-ros voluntários e, por isto, conhece bema realidade das corporações do sul dopaís. “O trabalho dos Corpos de Bom-beiros Voluntários é de boa qualidade,bem administrado, possui boas instala-ções e viaturas e atende em um tempo-resposta muito bom”, frisa.

O presidente da Voluntersul (Associa-ção dos Bombeiros Voluntários do Esta-do do Rio Grande do Sul), Frederico Zor-zan, incentiva a instalação de voluntári-os em municípios pequenos. “Tanto nós,da Voluntersul, como os membros deentidades de outros estados, temos porconsenso estimular a criação de bom-beiros voluntários em cidades com po-pulação entre 2.000 e 50 mil habitan-tes. Os municípios pequenos são maio-ria no país e seu atendimento atravésda mobilização comunitária daria fôle-go ao Estado para concentrar seus re-cursos nas cidades maiores”, ressalta.Segundo César Nieto, do CB-24, a cria-ção de corporações voluntárias e muni-cipais é a principal alternativa para con-tornar a situação. “Onde o Estado nãopode estar, deve abrir espaço para obombeiro voluntário, já que não pode-rá investir em aumento de efetivos emcurto prazo”, frisa.

Primeira instituição do gênero no Bra-sil, a Sociedade Corpo de BombeirosVoluntários de Joinville/SC completou114 anos em 2006. Inspirada no mode-lo adotado na Alemanha, a corporaçãoconta hoje com cerca de 2.000 pesso-as, entre voluntários e efetivos. Para o

comandante da instituição, ValmorMaliceski, as entidades civis desempe-nham um papel importante onde o Es-tado não está presente. “O que o cida-dão quer é ser atendido, não importase por um bombeiro militar ou civil”, res-salta. Ele salienta que o sistema voluntá-rio evoluiu muito, reflexo do amadure-cimento das corporações. “Hoje, refu-tamos qualquer instalação de bombei-ros voluntários em municípios novossem que haja uma avaliação preliminarde viabilidade técnica e operacional,atuando em sintonia com os organismosdaquele município”, afirma.

Para o historiador e professor CarlosLobo, os bombeiros voluntários realizamum trabalho fundamental no país. “Seformos avaliar, em outros países, o mo-delo de bombeiros voluntários é predo-minante. Nos EUA e Canadá correspon-dem a cerca de 70% das instituições, omesmo ocorrendo na França, Alemanhae em outros países da Europa, como noJapão também”, ressalta.

Para Luiz Roberto Carchedi, as cor-porações de bombeiros voluntários sãoessenciais em um país que quer ter umapolítica de Defesa Civil. Ele acredita queexistam condições e espaço para oscorpos de bombeiros voluntários, sejamcomunitários ou municipais, exerceremseu papel na sociedade.

Para o tenente coronel Caetano, osbombeiros voluntários realizam um tra-balho louvável no Sul do país, mas de-vem ser observadas as especificidadesde cada região. “É importante que seobserve o perfil cultural da localidade,pois nem sempre a prestatividade quese verifica no Sul do país, onde os esta-dos são bastante desenvolvidos e comuma identidade cultural muito forte, seaplica a estados novos”, conclui.

DIVERGÊNCIASMas nem todos são a favor do mode-

lo voluntário como uma entidade civilautônoma. Alguns profissionais defen-dem o voluntariado, porém, atrelado àforça estatal. O diretor secretário da Fe-cabom, Altair Lacowicz, explica que, atéo final de 2006, 5.696 bombeiros comu-

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ESPECIAL

Emergência MARÇO / 200726

Fonte: Voluntersul

Corpo de Bombeiros Municipal - Organiza-ção civil mantida pelos municípios, com afinalidade de auxiliar nos serviços de preven-ção e combate aos incêndios, no salvamentode vidas e na proteção dos bens, em caso dedesastres e em outras atividades de DefesaCivil.

Corpo de Bombeiros Voluntários - Socie-dade civil sem fins lucrativos, com a finalidadede auxiliar na prevenção e combate a incên-dios, no salvamento de vidas e proteção dosbens, em caso de desastres e em outras ati-vidades de Defesa Civil.

Corpo de Bombeiros Comunitário ou Misto- Organização civil que dispõe, além de volun-tários, de funcionários municipais ou estaduais,com a finalidade de auxiliar nos serviços deprevenção e combate a incêndios, no salva-mento de vidas e proteção dos bens, em casode desastres e em outras atividades de DefesaCivil.

Corpo de Bombeiros Particular ou Privado- Organização civil, do tipo Brigada de Incêndio,mantida por empresa ou grupo de empresas,com vínculo empregatício próprio, que normal-mente atua na área física de suas instalações,podendo prestar socorro à comunidade ondeestá inserida, em casos de desastres, de formasistemática ou quando solicitada.

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nitários - nome que o voluntário recebequando atua nas organizações estadu-ais - foram formados pelo Corpo deBombeiros Militar de Santa Catarinapara atuarem no serviço voluntário daInstituição. “Somos totalmente a favordos bombeiros voluntários, porém, nonosso entendimento, serviço voluntárioé o serviço prestado sem remuneração,e não como ocorre em algumas cida-des onde o serviço não tem a participa-ção do Estado”, afirma Lacowicz. Rocha,da Senasp, concorda. Ele lembra que aLei 9.608/98 (Lei do Serviço Voluntário)estabelece que se trata de “atividadenão remunerada prestada por pessoafísica a entidade pública ou privada defins não lucrativos”. “Contrariando essedispositivo, muitos municípios de Santa

Catarina e Rio Grande do Sul mantêmentidades privadas, denominadas Cor-pos de Bombeiros Voluntários, cujos fun-cionários são assalariados, sendo mes-clados com voluntários, esses prestan-do serviços em horários de suas folgas.E funcionando à revelia do órgão oficialdo Estado. Segundo a Constituição Fe-deral, os serviços de bombeiros são decompetência exclusiva do Estado”, sen-tencia. Para Rocha, um modelo a serseguido são as corporações comunitá-rias existentes em Santa Catarina. “EmSanta Catarina há um trabalho bastantedesenvolvido com estas entidades vo-luntárias, denominado bombeiros comu-nitários, onde o Estado participa ativa-mente com bombeiros militares e omunicípio usa a força do voluntariado.É, sem sombra de dúvidas, um grandeprograma, que conta com o nosso a-poio”, analisa.

Silva, comandante do Corpo de Bom-beiros Militar do Rio Grande do Norte,acredita que não estamos culturalmen-te maduros para a realidade do volunta-riado. “Tenho experiências boas deações conjuntas, porém, também pre-senciei pessoas usando da credibilidadede um serviço para auferir lucro pesso-al”, aponta.

COMUNITÁRIOSUma alternativa encontrada para con-

tornar as divergências, já apontada porRocha, da Senasp, é a criação de Cor-pos de Bombeiros comunitários ou mis-tos. O modelo comunitário une a força

do voluntariado às forças dos poderespúblico estadual e municipal. AltairLacowicz relata que o modelo comuni-tário, atualmente, atende 63,53% dapopulação catarinense. “Nesse mode-lo, o Estado continua sendo o principalexecutor e também é responsável pe-los serviços, entretanto, tem a partici-pação da prefeitura e da comunidadede cada município”, esclarece.

Os Corpos de Bombeiros Comunitá-rios são regulados mediante convênioentre Estado e município, cabendo acada um dos entes públicos uma partedo custeio. “Os bombeiros comunitári-os (voluntários) prestam serviço junto aoCorpo de Bombeiros do Estado, medi-ante termo de adesão, conforme previs-to pela Portaria da Secretaria de Segu-rança e Defesa do Cidadão e Lei Fede-ral 9.608/98”, explica Lacowicz. “Enten-demos que o modelo que vem sendoadotado em Santa Catarina é uma gran-de solução, principalmente, para os mu-nicípios menores”, salienta.

Paulo Chaves cita, porém, alguns obs-táculos enfrentados pelas corporaçõesmistas. “Em dois municípios de São Pau-lo que visitei, constatei alguns conflitosgerados, principalmente, em decorrên-cia de certa incompatibilidade do mili-tar em aceitar os municipais e voluntári-os como parceiros, achando, muitas ve-zes, que são seus subordinados”, lamen-ta. Zorzan, no entanto, acredita não ha-ver problemas na atuação conjunta demilitares e civis. “Na hora de uma ocor-rência, bombeiro é bombeiro, trata-se

Voluntários: no Brasil eles ainda são um fenômeno sulista

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Emergência 27MARÇO / 2007

de uma irmandade acima da esfera degoverno. Não interessa se o vermelhodo caminhão que chega é do Estado oufoi pago por uma comunidade. Não merecordo de alguma vez em que voluntá-rios e militares envolvidos em uma mes-ma ocorrência tenham tido problemasde relacionamento ou o trabalho tenhasido prejudicado por causa de suas ori-gens”, aponta.

CIVISUma categoria relativamente nova no

país, mas que vem crescendo, é a dosbombeiros civis ou privados. O bombei-ro privado possui seu espaço definido,mas ainda não regulamentado em lei.Ele executa um trabalho de primeirossocorros, prevenção e combate a incên-dios e acidentes nas instalações indus-triais, comerciais, casas de espetáculose grandes condomínios. A formação dobombeiro civil é recomendada pela nor-ma da ABNT, a NBR 14608 (BombeiroPrivado), que foi recentemente revisa-da e se encontra em consulta públicaaté 11 de maio. O bombeiro privadoainda é um fenômeno concentrado noSudeste brasileiro, pois a categoria estámais presente em São Paulo, Rio de Ja-neiro e Minas Gerais. “Acredito que tudotem o seu tempo e, um dia, teremos uma

Federação. Tenho certeza que em bre-ve iremos nos organizar”, avalia o presi-dente da ABCERJ (Associação dos Bom-beiros Civis do Estado do Rio de Janei-ro) Wesley Pinheiro.

Já as corporações de bombeiros mu-nicipais são poucas no país. Elas são for-madas por bombeiros civis e, normal-mente, ligadas à prefeitura. “Elas enfren-tam grandes dificuldades por falta derecursos, por falta de treinamento ade-quado e de apoio dos bombeiros mili-tares”, aponta Chaves. Um bom exem-plo é o Corpo de Bombeiros de Itatiba/SP, estruturado conforme os padrõesNorte-Americanos. Jorge AlexandreAlves implantou-o e, desde 1999, elefunciona sem dependência do Estadoquanto a recursos materiais e humanos.“O problema do bombeiro municipal éque quando muda o prefeito, nem sem-pre a escolha do comandante segue cri-térios profissionais e técnicos, aí o restoda história todos nós já conhecemos”,revela Chaves.

Alves pondera: “Qualquer serviço pú-blico está sujeito à má gestão, mas en-tendo que o bombeiro municipal deveestar contemplado na estrutura adminis-trativa do município, através da legisla-ção com definição de formação de seusservidores”.

FORMANDO VOLUNTÁRIOS

Montar uma corporação de bombeiros volun-tários autônoma não é uma brincadeira. Manteresta corporação atendendo a sociedade tambémexige muito preparo e capacitação técnica. O queacontece, na maioria dos casos, é que a prefeituraentra com viaturas e instalações físicas, ou, então,há a participação de empresas ou entidades locais.Em seguida, deve-se pensar na formação dosprofissionais que irão atuar na linha de frente, ouseja, no atendimento à população.

Em Santa Catarina, os voluntários são formadosna Escola Estadual de Bombeiros, em Jaraguádo Sul. “O currículo e todos os conteúdos pro-gramáticos foram ajustados e homologados econtarão com a certificação do Senac”, destacaValmor Maliceski. No Rio Grande do Sul, a forma-ção do bombeiro voluntário é realizada em parceriacom Universidades, Exército e Academia de Bom-beiros do Distrito Federal e do Chile, entre outras.

Corporação autônomarequer preparo e capacitaçãotécnica dos membros

LEIA atividade voluntária é assegurada pela

Constituição Federal, pela Lei nº 9.608 de 18/02/1998 e Lei nº 9.790 de 23/03/1999, além das le-gislações específicas de cada Estado. A Lei Fe-deral 9.608 regulamenta o serviço voluntário nopaís e fornece amparo legal para as OrganizaçõesNão Governamentais de Bombeiros Voluntários ePrefeituras. Já a Lei Federal 9.790 – conhecidacomo Lei OSCIP (Organização da Sociedade Civilde Interesse Público) -, tem como principal objetivorestringir as ações do Estado àquelas funções quelhe são próprias, reservando os serviços não ex-clusivos para a iniciativa privada.

Ainda assim, o professor e historiador CarlosLobo crê que uma legislação que regulamentassea profissão de bombeiro, tanto militar quanto civilou voluntário, seria muito importante para a cate-goria. “No caso dos bombeiros voluntários, se al-gum bombeiro falecer ou ficar inválido durante umaocorrência, quem garantirá a aposentadoria deleou dos seus familiares? Realmente deveria haveruma regulamentação que pudesse dar conta detodos os tipos de bombeiros existentes no país”,complementa.

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ESPECIAL

Emergência MARÇO / 200728

Criando soluçõesEducação e parcerias também são alternativas empregadas

Para minimizar as dificuldades enfren-tadas e suprir a carência da sociedadenas emergências, muitas corporações in-vestem no aspecto educacional da co-munidade, através de palestras e disse-minação de informações sobre primei-ros socorros e prevenção de incêndios.Valmor Maliceski, Comandante da Soci-edade Corpo de Bombeiros Vountáriosde Joinville, acredita que o preparo doscidadãos permite reduzir as perdas devidas e de patrimônio. “Por que não e-ducar preventivamente e ensinar o míni-mo de técnicas de atendimento emer-gencial? Há registros de mortes que o-correm pela demora do atendimento,embora, haja pelo menos 20 expecta-dores próximos”, lamenta. A educaçãoda sociedade, para Frederico Zorzan, daVoluntersul, é fundamental. “Em servi-ços de bombeiros, costumamos dizerque a melhor ocorrência é a que nãoocorre. E isso se consegue com preven-ção. É uma realidade que faz parte dosvoluntários e, tenho certeza, faz partetambém do dia-a-dia dos bombeiros mi-litares, dos mistos, privados ou munici-pais”, acredita. Zorzan cita o DecretoFederal 5.376/05, que criou o SistemaNacional de Defesa Civil. “Tudo o queprocuramos fazer está reforçado ali,onde menciona a importância de se pre-parar vários setores da comunidade paraações de defesa comunitária”, salienta.

O historiador e professor Carlos Lobovê essas medidas como excelentes. “EmSão Paulo, o Corpo de Bombeiros, insti-tuição que estudo no meu doutorado,vem realizando essas medidas preventi-vas desde os grandes incêndios da dé-cada de 1970 ocorridos nos edifíciosAndraus e Joelma, diminuindo conside-ravelmente o número de incêndios atra-vés do trabalho de prevenção”, relata.Para Wesley Pinheiro, da ABCERJ, no en-tanto, mudar a cultura do país levariaanos. Paulo Chaves concorda: “O trei-namento da população é fundamental,mas, para isso, é necessário existir umcorpo de bombeiros no município parafazer o treinamento das pessoas e osatendimentos de emergência”, avalia.

Para o Comandante Cláudio ChristianBezerra da Silva, da corporação do RioGrande do Norte, a prevenção é a prin-cipal arma dos bombeiros no Brasil epode estar nas escolas. Luiz RobertoCarchedi diz que a educação públicafaz parte das missões dos corpos debombeiros de todo o mundo. “Propagara prevenção é dever dessas instituições,mas os conteúdos são escolhidos de mo-do não padronizado. Uma Agência Na-cional poderia estipular conteúdosmínimos e nacionais”, analisa.

Jorge Alexandre Alves acredita quemesmo com a divulgação maciça emcampanhas de âmbito nacional, ainda

teremos um período de aprendizagemmuito acima de nossa melhor expecta-tiva de resultados. Marco Secco, coro-nel da reserva, admite que os resulta-dos sejam razoáveis, entretanto, crê queainda é muito pouco. “Acredito que de-veria ser implantado um programa edu-cacional a exemplo do que ocorre nosEstados Unidos, onde professores sãotreinados para aplicação de um progra-ma escolar”, afirma.

CÓDIGOMuitos Estados possuem o seu Códi-

go de Proteção Contra Incêndio, mas anecessidade de criação de um CódigoNacional já é sinalizada por muitos pro-fissionais e especialistas. Carlos Lobo crêque a iniciativa seria interessante para osetor de incêndio. “Criaria apenas umalegislação para todo o país, com possí-veis adaptações em cada Estado ou re-gião. Não existem, por exemplo, doiscódigos nacionais de trânsito, o que ser-ve de exemplo para essa questão”, fri-sa.

A criação de um Código Nacional pa-rece animar os profissionais. “O Códi-go Nacional, com a idéia da unificaçãoda normatização e fiscalização, poderácontribuir na evolução dessa atividade,bem como facilitará a atuação dos pro-fissionais da engenharia e dos bombei-ros, que terão profissionais falando amesma linguagem em todo o Brasil”,complementa o diretor secretário daFecabom, Altair Lacowicz.

Alguns, no entanto, fazem suas ressal-vas. “Se funcionar como referencial, dei-xando certa autonomia para os municí-pios, a quem cabe legislar sobre o as-sunto, guardando suas especificidadeslocais, sem dúvida, será um grande avan-ço”, analisa Valmor Maliceski. Para Zor-zan, uma normalização nacional só seráboa se for completa. “Entre os Estados,os códigos mais completos são os deSão Paulo e do Distrito Federal. Se hou-ver uma lei nacional, que seja nos mol-des desses dois”, assinala. Para Carchedi,entretanto, a criação do Código seriaconseqüência de uma estrutura organi-zada. “Um Código Nacional seria umavanço, mas acredito que mais impor-tante seria criar a Agência Nacional deBombeiros, que teria a incumbência deelaborar o Código e inúmeras outras a-ções necessárias para criar um novo pa-radigma na cultura bombeiril”, afirma.

Educação para medidas emergenciais éatividade adotada por todos os Corposde Bombeiros

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Emergência 29MARÇO / 2007

Cenário internacionalBrasil não segue linha organizacional de outros países

O cenário internacional, como ocor-re com a maioria de nossos produtos eserviços, é o precursor de muitas me-lhorias que acabam sendo implantadascom o tempo. Carlos Lobo explica queos modelos europeus e americanos sãoos que mais influenciaram as instituiçõesno país ao longo do período republica-no. “Em termos de equipa-mento, nos últimos anosvem ocorrendo o predomí-nio de viaturas e EPIs de ori-gem americana, porém a in-fluência européia ainda ésignificativa, principalmente,com equipamentos oriun-dos da França Alemanha,Suécia e Finlândia”, afirma.

Em termos de organiza-ção ocorre uma diferença,esclarece ele, pois nessespaíses citados, assim comona Argentina, Chile eParaguai, predomina o vo-luntariado como modeloinstitucional e o seu vínculoao poder local. “Em termos de Américado Sul, os países dessa região, devidoao voluntariado, possuem mais bombei-ros por habitante que o Brasil, sendo vo-luntário e vinculado ao poder munici-pal como na maioria dos países”, relata.No Chile, só existem bombeiros volun-tários. O efetivo é de 41 mil bombeirosvoluntários em 270 corporações, deno-minadas Companhias. Os equipamen-tos e veículos são fornecidos pelo Go-verno Federal e eles têm uma das me-lhores academias de bombeiros domundo. “Lá, existe uma mentalidadebem mais avançada no quesito seguran-ça comunitária. A população aprendeudesde cedo a participar mais ativamen-te da solução de seus problemas”, ex-plica Frederico Zorzan. “No Chile, o sis-tema funciona muito bem porque háuma representatividade nacional e o re-conhecimento dos bombeiros é cons-tatado nas esferas de governo munici-pal, estadual e federal”, ressalta Mali-ceski, que também destaca: “Se com-pararmos com o Brasil, estamos cente-nas de anos atrasados, pois essa solu-

ção bombeiros voluntários não animaos nossos governos”.

Para Marco Secco, os serviços debombeiros voluntários não se desenvol-vem no país porque, entre outros moti-vos, não estão regulamentados. “Há quese colocar também que, infelizmente,não possuímos uma mentalidade volta-

da para a comunidade, provavelmente,por estarmos em um país onde o nú-mero de catástrofes é diminuto, não ha-vendo o envolvimento da população”,salienta.

Lobo comenta que talvez o Corpo deBombeiros mais próximo ao modelo bra-sileiro seja o de Paris, vinculado ao Exér-cito Francês. “Porém, mesmo na Fran-ça, os bombeiros voluntários estão pre-sentes em mais de 80% das instituições,e o modelo militar é exceção”, diz. NosEstados Unidos e Canadá, bem comoem diversos países europeus, como Itá-lia, Alemanha, França, Portugal e Holan-da, entre outros, as organizações volun-tárias respondem por, aproximadamen-te, 80% dos bombeiros existentes. Jor-ge Alexandre Alves também ressalta queo modelo de serviços de bombeiros noBrasil - estatal e militar - é diferente damaioria dos outros países. “Este mode-lo, apesar da indiscutível disciplina, traztambém limitações na cobertura de to-dos os municípios e na responsabilida-de da utilização de recursos e custos”,aponta. Conforme recomendação da

ONU, a proporcionalidade é de umbombeiro para cada mil habitantes deuma cidade. “Não é considerado queuma cidade legalmente existente nãopossua uma corporação de bombeiros”,ironiza Alves.

PARCERIAMas aqui no Brasil, a união parece ser

o caminho já escolhido por muitos parasuperar as dificuldades, enquanto nãose cria uma política nacional para osbombeiros. Wesley Pinheiro acreditaque a parceria entre as instituições é de

fato a melhor alternativa. “Seas instituições firmassem par-cerias e convênios, na hora deagirem juntas não haveria pro-blemas nem vaidades”, susten-ta. Para Paulo Chaves, há es-paço no Brasil para todos ostipos de corporações, desdeque exista menos corporati-vismo e mais cidadania. “Oideal seria que trabalhassemem conjunto para reformular

a legislação federal e es-tadual, a fim de definirclaramente o espaço decada um, para evitarconflitos”, assinala.

Para Valmor Maliceski, pre-cisamos eliminar a cultura paternalista,onde o Estado tem obrigação de aten-der todos os males sociais. “Precisamosarregaçar as mangas e procurar alterna-tivas que favoreçam os cidadãos comestímulo ao terceiro setor, antes que oquarto setor - a criminalidade - tome con-ta”, destaca, e complementa: “É neces-sário que haja mais engajamento dosgovernos que, ao invés de estimular, im-põem obstáculos a todo instante parainibir ações que visam unicamente o bemcomum”. O presidente da Voluntersul,Frederico Zorzan, acredita que não háuma fórmula pronta, pois cada comuni-dade tem a sua realidade específica.“Como há comunidades onde a melhorresposta é o voluntariado, há outras on-de o serviço vai depender de investimen-to direto da prefeitura, ou ainda de umaparceria com o Estado”, cita. Jorge Ale-xandre Alves observa que, acima de to-dos os conflitos e atritos, somando todasas corporações ainda estamos muito a-quém do mínimo necessário para a co-bertura e peculiaridades de atendimen-tos a todas as emergências no Brasil.

Brasil não possui umamentalidade voltadapara segurançacomunitária

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Emergência MARÇO / 200730

Brasil semchamas

José Carlos TominaSuperintendente do CB-24, da ABNT/[email protected]ÊNDIO

ATIVIDADESQuanto ao Estudo Prospectivo, a base metodo-

lógica dele foi assentada nas vertentes teóricasde aplicação do enfoque sistêmico, de aplicaçãode técnicas de prospecção de cenários futuros eno estudo do mercado de tecnologia e sua seg-mentação. O diagnóstico realizado consistiu em:modelar as cadeias produtivas (segmentação,fluxos econômicos, limites e necessidades de as-pirações), analisar o desempenho das cadeiasprodutivas com base em indicadores propostos,identificar os fatores críticos ao desempenho dascadeias produtivas analisadas, identificar as for-ças propulsoras e restritivas à melhoria do de-sempenho das cadeias produtivas e quantificara evolução histórica dos fatores críticos. Em re-lação ao Marco Regulatório, foi realizado o le-vantamento da legislação direta e correlata, nosâmbitos federal, estadual e municipal e os as-pectos legais relacionados às responsabilidadessobre as ações pertinentes à segurança contraincêndio, visando o aperfeiçoamento do MarcoRegulatório da área. Já no Observatório, foi rea-lizado um levantamento dos observatórios exis-tentes, inclusive internacionais, procurando ava-liar as possibilidades de interação e de definiçãodo melhor modelo a ser adotado. A etapa de mo-delagem do Observatório foi iniciada, assim como

eventos que impactam negativamente na qua-lidade de vida das populações urbanas e ru-rais, com conseqüências também perversas aomeio ambiente. Via de regra, são trágicos e cau-sam: mortes, danos físicos e psicológicos, per-das materiais/patrimoniais, comprometimentoda competitividade das empresas/mercado,desempregos, perdas de bens culturais insubs-tituíveis, demandam recursos públicos para re-paração dos problemas e apoio às vítimas, da-nos à biodiversidade, imagem negativa e des-gaste político de maneira geral.

O problema é complexo, mas o primeiro pas-so para a sua solução é conhecer, de formamais aprofundada, as suas causas e conseqü-ências, quantificando-as e qualificando-as. Esteé o objetivo do projeto Brasil Sem Chamas, emdesenvolvimento, que consiste em um estudoprospectivo, de bases tecnológica, legal e insti-tucional, composto por um conjunto de diagnós-ticos, prognósticos e avaliações críticas sobreas questões relativas à segurança contra incên-dio. Os resultados deste estudo subsidiarão, emespecial, a proposição de ações integradas earticuladas entre as várias entidades que atu-am no setor, no sentido da formulação de umPrograma Nacional para a área de segurançacontra incêndio que promova:

A melhoria da qualidade de equipamentos,sistemas e serviços e, conseqüentemente, aampliação do setor produtivo nacional;

A implantação de programas de normaliza-ção técnica e de avaliação da conformidade(inspeção, ensaios, etiquetagem, certi-ficação e declaração do fornecedor);

O aperfeiçoamento do marco regu-latório;

A formação e a capacitação de re-cursos humanos;

A implantação de programas seto-riais da qualidade;

O apoio à pesquisa, ao desenvolvi-mento e à inovação, para o aprimora-mento da prevenção, do combate e dainvestigação/perícia de incêndio;

A estruturação e operação de umObservatório para acompanhamentodo mercado e dos resultados das açõesestabelecidas pelo Programa Nacio-nal.

Até o presente momento foram de-senvolvidas algumas atividades comoo Estudo Prospectivo, Marco Regula-tório, Observatório e Consulta a Espe-cialistas, explicados a seguir.

as suas rotinas básicas de busca e a elabora-ção dos seus procedimentos de operação. Aparte de Consulta a Especialistas encontra-seem andamento, com base na técnica Delphi, aconsulta feita a, aproximadamente, uma cente-na de especialistas, que foram escolhidos pararesponder um questionário e emitir suas opini-ões e sugestões sobre os assuntos em estudo.

PRIMEIRA FASEA primeira fase do projeto está relacionada

ao meio urbano e seu término está previsto paramaio deste ano. Em seguida, está prevista asegunda fase, contemplando a continuidadedeste estudo e a ampliação do seu escopo paraas áreas florestais, industriais e petroquímicas.Com base nos estudos desenvolvidos, já foipossível constatar, entre outros itens, a falta de:Informações técnicas a respeito das quantida-des, causas e perdas humanas e materiais emconseqüência dos incêndios; Informações eco-nômicas entre as cadeias produtivas do setor;Políticas adequadas e integradas para o apri-moramento dos setores públicos e privados epara o estímulo ao desenvolvimento de tecno-logias nacionais apropriadas; Capacidade téc-nica dos vários segmentos para gerenciamento,com base em conceitos e ferramentas que in-corporam novas exigências de qualidade, com-petitividade e custos; Capacidade do setor deavaliar corretamente as tendências do merca-do, os cenários econômicos futuros e identifi-car novas oportunidades de crescimento.

O projeto está recebendo apoio financeiro daFINEP (Financiadora de Estudos e Projetos),

do MCT (Ministério de Ciência e Tec-nologia), e contando com as partici-pações diretas da Ligabom (Liga Na-cional dos Corpos de Bombeiros Mili-tares), do IPT (Instituto de PesquisasTecnológicas do Estado de São Pau-lo), do INT (Instituto Nacional de Tec-nologia) e da USP (Universidade deSão Paulo) EPUSP (Escola Politécni-ca) e FAU (Faculdade de Arquitetura).A realização do Projeto Brasil SemChamas representa um marco na áreade segurança contra incêndio e estápromovendo a integração de esforçose de ações em prol do aprimoramen-to do marco legal e dos produtos, dosserviços e da competitividade do se-tor, o que, certamente, resultará emexpressiva melhoria da qualidade dascondições de segurança contra incên-dio da sociedade e do meio ambien-te.

O s incêndios, em seus múltiplos aspectos,representam um dos mais significativos

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Emergência MARÇO / 200732

ARTIGO TÉCNICO

◗Preparação para resposta a emergências com produtosperigosos melhora a atuação dos profissionais

Capacitação parao atendimento

despreparo e a falta de conheci-mento técnico sobre os produ-tos perigosos e sua capacidadeO

potencial de risco, aliado à limitação derecursos materiais e humanos, além de co-locar em risco o atendimento, podem con-tribuir para aumentar os danos e prejudi-car ainda mais o cenário da emergência.Algumas empresas utilizam suas brigadasde incêndio para realizar o atendimento àemergência com produtos perigosos, masisso não deveria ser uma prática recomen-dável, haja vista a qualificação da equipede atendimento a emergências tecnológi-cas serem diferentes das brigadas de com-bate ao fogo. Por isso, algumas empresasoptam por formarem as brigadas de emer-gência, onde constam na formação, alémda carga horária normal da brigada de in-cêndio, conteúdo básico sobre emergên-cia com produtos perigosos. Priorizamoso uso do termo produto perigoso por eleser bastante amplo e largamente utiliza-do. Se falássemos em emergência quími-ca, estaríamos restringindo nossa atuaçãonessa área específica.

Infelizmente, no Brasil, não existe exigên-cia por parte do Ministério do Trabalho eEmprego para a qualificação de profissio-nais envolvidos no atendimento a emer-gência com produtos perigosos. Mas, a le-gislação determina que é obrigação doempregador a devida capacitação de qual-quer trabalhador que venha a ficar expostoa um determinado risco.

NÍVEISA OSHA (Administração Americana de

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Marco Aurélio Nunes da Rocha -Técnico de Segurança, Bombeiro

Profissional Civil,Especialista Resgate

Técnico, EspaçoConfinado e atua no PAMde Rio Grande/RS

Emergência32

ARTIGO TÉCNICO

Segurança e Saúde Ocupacional), dosEUA, partindo de informações estatísticasque as vítimas iniciais de um incidente comprodutos perigosos representavam 1/3 dasvítimas fatais totais e os 2/3 restantes cons-tituíam os respondedores e público em ge-ral, viu a real necessidade de regular a in-tervenção das equipes e dos equipamen-tos de resposta, fixando os níveis mínimosde treinamento para padronizar o corretoatendimento, buscando reduzir, ao máxi-mo, os danos aos respondedores. A OSHAresolveu, desta forma, estabelecer cinconíveis de treinamento para resposta a e-mergência, estabelecidos no quadro Níveisde Treinamento para Resposta (página 36).

REFERÊNCIASAntes dos protocolos de atendimento e

capacitação internacionais serem adota-dos no Brasil, eram utilizados os conheci-mentos técnicos de empresas, entidades,órgãos públicos e profissionais que aten-diam as emergências. Referências interes-santes são as NBRs (Normas Brasileiras)da ABNT (Associação Brasileira de Nor-mas Técnicas). Citamos como exemplo aNBR 14064 – Atendimento a Emergênciano Transporte Terrestre de Produtos Peri-gosos, onde além de falar dos procedimen-tos e ações a serem desenvolvidas, já cita-va algumas atribuições, entre elas: Atribui-ções gerais e atribuições específicas. NasAtribuições gerais, todas as entidades eempresas que participam direta ou indire-tamente, do atendimento a emergênciasgeradas pelo transporte de produtos peri-gosos, têm algumas atribuições, entre elas:Treinar periodicamente suas equipes deatendimento, de forma individual e/ou in-tegrada com outros órgãos; Manter siste-mas de plantão permanente para o aten-dimento às emergências; Independente-mente do acionamento e mobilização deoutros órgãos, a primeira entidade presen-te no local do acidente deve adotar medi-

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Emergência 33MARÇO / 2007

Se a empresa não dispor de profissionalcapacitado ou consultoria para atendimen-to a emergência com produtos perigosos,ela mesma deverá lembrar que atuar ememergência é algo muito sério e que trazriscos inerentes à operação. Por isso, é im-portante que os profissionais envolvidos,mesmo não sendo especialistas na árearecebam treinamento básico e alguns as-pectos devem fazer parte da qualificaçãoindividual deles. O primeiro é saber utili-zar equipamento de respiração autônoma(PA). Conhecer e dominar o uso de equi-pamentos de avaliação e monitoração am-biental, tais como: oxi-explosímetros, oxí-metros, detectores de gases, bomba deamostragem direta e outros é um segundoaspecto importante. O terceiro é possuirconhecimentos sobre socorro de urgên-cia, resgate e salvamento, entre outros. Umquarto aspecto é conhecer e estar familia-rizado com o uso dos equipamentos deprevenção e combate a incêndio e, naseqüência, saber identificar as classes dosprodutos perigosos e técnicas de aciona-mento dos órgãos públicos. Por último, énecessário conhecer as rotinas, procedi-mentos e documentos de emergência.

PREMISSAA premissa principal durante o atendi-

mento de uma emergência química é quenenhum profissional pode atuar sem estarqualificado e devidamente protegido. Es-tes profissionais devem ser mantidos trei-nados e, periodicamente, reciclados parao devido atendimento. Alguns itens bási-

cos devem ser atendidos frente a uma e-mergência. Um deles é a aproximação dosprofissionais na cena que deve ser feitacom precaução, obedecendo-se distânci-as de segurança recomendadas para a uti-lização da devida proteção individual, deacordo com os riscos do produto. Deve-se, ainda, atentar para a classificação dasáreas e os respectivos níveis de proteção(quente, morna e fria). Outro item é o com-bate e/ou contenção a derrames, com vis-tas a impedir o aumento do dano ambien-tal e humano. Transferência segura da car-ga, quando não seja possível evitar, presta-ção inicial do combate a incêndio até quea autoridade da Defesa Civil e Corpo deBombeiros possa assumí-lo, quando a es-tes for dada a responsabilidade, são itensa serem atendidos. Constante contato coma coordenação da emergência, órgãos pú-blicos e consultorias especializadas, a fimde receber instruções, solicitar apoio e ou-tras providências operacionais e técnicastambém fazem parte dos itens. Por fim,na medida do possível e após prévia per-missão da autoridade responsável, liberara via afetada pelo sinistro ao tráfego nor-mal no menor tempo possível com a de-vida segurança a fim de que possa se nor-malizar as atividades e acompanhar a re-moção e neutralização do material peri-goso remanescente no local realizado pe-las equipes especializadas ou consultorias.

CONTROLEDevemos ter ciência que contenção é

uma ação ofensiva a fim de tentar manter

Treinamento básico e outros aspectos importantes precisamfazer parte da qualificação individual dos envolvidos

Observações mínimas

das iniciais para controle da situação, taiscomo: Avaliação preliminar da ocorrência;Sinalização do local; Identificação do(s)produto(s) envolvido(s); Socorro às víti-mas; Acionamento de outras entidades.

Nas Atribuições específicas, sem preju-ízo das atribuições legais, próprias de cadaórgão, nas situações de emergência notransporte de produtos perigosos, os ór-gãos e empresas envolvidas têm algumasatribuições específicas pertinentes à suaresponsabilidade, entre estes órgãos/em-presas podemos citar: Policiamento rodo-viário (Estadual e Federal) e policiamentourbano; Órgãos de trânsito ou da ferrovia

e concessionárias de rodovias ou ferrovi-as; Órgãos de meio ambiente; Corpo deBombeiros (voluntários, civis e militares);Defesa Civil; Empresas de consultoria; Pla-nos de Auxílio Mútuos - PAMs; Transporta-dores; Fabricantes, expedidores ou desti-natários.

Hoje, utilizamos todo nosso conheci-mento técnico/operacional em intercâm-bio com os protocolos de atendimento in-ternacionais, visando a máxima eficácia eo menor dano no atendimento da emer-gência. Pois na emergência não há lugarpara o brilhantismo e sim para o profissio-nalismo.

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Emergência MARÇO / 200734

ARTIGO TÉCNICO

o produto restante dentro de seu recipien-te. Muitos profissionais confundem o ter-mo “contenção” com “confinamento”, is-so nos faz pensar que são atividades simi-lares. Porém, sabemos que não são e, por-tanto, requerem objetivos, ações, procedi-mentos e medidas operacionais diferenci-adas e específicas. Nas ações de conten-ção (ação ofensiva) e confinamento (açãodefensiva) somente pessoas treinadas e ca-pacitadas poderão fazer parte da equipede resposta à emergência.

Segundo a NFPA (National Fire Protec-tion Association) o termo contenção signi-fica: “Ações e procedimentos tomados pa-ra manter o produto (material) dentro deseu recipiente/compartimento”. Por isso,a prioridade inicial é atuarmos na conten-ção do produto, com vistas a evitar que ovazamento continue e cause maiores da-nos. Em alguns casos simples, a ação ope-racional de conter o vazamento, poderáse refletir no simples processo de fecha-mento de uma válvula. Outras mais com-plexas podem requerer a fixação e colo-cação de reparos internos das válvulas econexões, utilizando para este fim equipa-mentos adequados tipo: cunhas de madei-ra e de espuma, parafusos de auto-enros-camento com arruelas, braçadeiras paratubulações, tampões de expansão, chapasmetálicas e até epóxi de secagem rápida.

A atividade operacional de contenção

é perigosa, uma vez que coloca a equipede atendimento em contato direto com oproduto perigoso vazado, bem como como recipiente danificado, tornando essa ati-vidade uma operação de alto risco. Porisso, previamente, devemos fazer uma aná-lise da situação sobre quatro aspectos. Oprimeiro, sobre a natureza do produto va-zado, suas propriedades físico-químicas,incompatibilidades, possíveis reações comágua e toxicidade específica. Um segun-do aspecto de análise envolve as caracte-rísticas do reservatório/recipiente, sua lo-calização, pressão, quantidade armazena-da, danos ao vazo, proximidade de fontes

de calor, possíveis falhas em dispositivosde segurança. O terceiro, a avaliação geralda situação, resultado da ação inicial, evo-lução do atendimento e procedimentos,condições iniciais, impactos ambientaisprevistos e possíveis. O quarto aspectoenvolve os fatores adversos e modifica-dores como locais, relevo, vegetação, ve-locidade do ar, temperatura e outras con-dições adversas.

As ações de contenção por trazerem ris-cos reais e diretos, só devem ser executa-das nos casos em que exista real possibili-dade de obter-se êxito na operação e quejustifique, desta forma, tal ação. Essa açãoé uma operação que visa minimizar as con-seqüências calamitosas do acidente, evi-tando, desta forma, efeitos nocivos e, àsvezes, devastadores bem como transtor-nos e riscos à comunidade. A ação de con-tenção satisfatória protege local e áreasem que o confinamento não seria eficien-te.

A escolha do método de contenção de-ve envolver procedimentos operacionaiscom baixo risco para a equipe de emer-gência e só pode ser executada, no míni-mo, por técnico em produtos perigosos,já que se trata de uma ação ofensiva.

Já a atividade de confinar é uma açãodefensiva que visa isolar o produto quevazou, na tentativa de mantê-lo dentro deum limite da área física já sinistrada, im-pedindo, desta forma, o alcance de ou-tras áreas, tentando-se, reduzir o impactoe dano posterior. Somente após o confina-mento é que serão utilizadas ações derecolhimento do produto e prévia descon-taminação do local (neutralização), dosmateriais, equipamentos e pessoal envolvi-do na atividade.

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AÇÕES DE CONTENÇÃORachaduras em tanques: Tampar, remendar ou fechar a rachadura com uso de cunhas

(batoques), tampões, esponjas, almofadas, conjunto apropriado para remendo, chapas metá-licas (quando a situação assim permitir) ou cola epóxi.

Válvulas com vazamento: Bloquear, tampar ou isolar a válvula correspondente com con-juntos apropriados para o produto vazado ou substituí-la e repará-la.

AÇÕES DE CONFINAMENTOConstrução de diques ou represas, utilizando-se areia, terra, argila para desviar o fluxo do

produto vazado.

Valas ou trincheiras com vistas a canalizar o produto para uma área predeterminada paraposterior recolhimento e neutralização.

Uso de barreiras absorventes para captar e conter o produto.

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Emergência MARÇO / 200736

ARTIGO TÉCNICO

para proteção pessoal para os diferentes níveisoperacionais;

Entender os termos técnicos básicos relacionadosaos produtos perigosos;

Realizar operações básicas de controle, conten-ção e confinamento dentro das capacidades edos recursos humanos e materiais disponíveis;

Implementar procedimentos básicos de des-contaminação;

Entender os procedimentos normais de operaçãoe finalização da emergência.

São indivíduos que respondem a emergênci-as ou possíveis emergências com o propósito decontê-las. Assumem uma postura mais direta eagressiva que as pessoas treinadas no níveloperacional. O técnico poderá atuar nas seguin-tes áreas:

Implementar um Plano de Emergência;

Classificar, identificar e verificar produtos co-nhecidos e desconhecidos, mediante a utiliza-ção de equipamentos de monitoramento;

Entender e atuar dentro de um sistema de co-mando de incidentes;

Selecionar e utilizar equipamentos especia-lizados apropriados para proteção pessoal con-tra produtos químicos;

Técnicas de medição de risco e perigo;

Realizar operações avançadas de controle, con-tenção e confinamento;

Implementar procedimentos de descontami-nação e finalização da emergência;

Entender a terminologia básica do comportamen-to de produtos químicos e tóxicos.

É aquele que auxilia e promove o apoio aostécnicos em produtos perigosos. Os especialistasem produtos perigosos podem também servir deenlace com as autoridades federais, estaduais elocais quando em atividades de emergência. Osespecialistas em produtos perigosos são, normal-mente, o suporte técnico avançado nas emergên-cias. Também deverão ter a capacidade para atu-arem nas seguintes áreas:

Implementar um plano local de resposta à emer-gência;

NÍVEIS DE TREINAMENTO PARA RESPOSTA

Nele, o atendente é um indivíduo que tem apossibilidade de descobrir ou de ser testemu-nha de uma emergência com produtos perigo-sos, possuindo capacidade para identificar àdistância sinais de vazamentos e acionar o sis-tema de atendimento à emergência, vindo anotificar as autoridades competentes sobre oincidente. Neste nível, o respondedor não toma-rá ações operacionais práticas. Os atendentesiniciais que estão no nível de reconhecimentoterão experiência ou treinamento necessáriopara, objetivamente, mostrar competência nasseguintes áreas:

Entendimento do que são substâncias perigo-sas e os riscos associados com as mesmasdurante um incidente;

Reconhecer as conseqüências potenciais asso-ciadas à emergência quando estão presentessubstâncias perigosas;

Reconhecer a presença de substâncias pe-rigosas em uma emergência e identificá-las,se isto for possível;

Conhecimento das ações básicas como primei-ro no local, do Plano de resposta a emergênci-as, incluindo a segurança e controle do cená-rio sinistrado;

Utilizar e compreender o guia de resposta aemergências específico (DOT/ABIQUIM) e asinformações contidas nas fichas técnicas dosprodutos (ex: FISPQ);

Fixar-se na necessidade para acionamento derecursos adicionais e fazer as comunicaçõesapropriadas aos centros de comunicações.

São os indivíduos capazes de forneceremsuporte inicial a equipes e atuarem preventiva-mente à distância segura sem participarem di-retamente no controle do vazamento. Têm comomissão a proteção das pessoas, propriedade emeio ambiente diretamente afetados pelo inci-dente. O nível operacional tem demonstrado su-ficiente experiência para apresentar capacida-de nas seguintes áreas, incluindo as do nívelde reconhecimento:

Conhecer as técnicas básicas de medição eavaliação dos riscos;

Selecionar e utilizar equipamento apropriado

Classificar, identificar e verificar materiais co-nhecidos e desconhecidos por meio da utiliza-ção de equipamentos de monitoramento;

Conhecer os planos de resposta à emergên-cia dos órgãos governamentais;

Selecionar e utilizar equipamentos especializa-dos para proteção pessoal contra produtos quí-micos;

Conhecer a fundo as técnicas de análise e ava-liação de riscos e perigos;

Realizar operações avançadas de controle,contenção e confinamento;

Determinar e implementar procedimentos dedescontaminação;

Habilidade e capacidade para desenvolver umplano para segurança e controle do cenário;

Entender a terminologia e o comportamentodos produtos químicos, radiológicos e toxico-lógicos.

É o profissional que assumirá o controle dolocal do incidente e a coordenação da Emer-gência. O comandante de incidentes pode atuarda seguinte forma:

Conhecer e estar capacitado para implementaro sistema de comando de incidentes e atendi-mento a emergência;

Implementar um plano de resposta a emergên-cias;

Compreender os riscos e perigos associadosaos usuários que trabalham com roupas de pro-teção química;

Conhecer o plano local de resposta à emer-gência das equipes municipais, estaduais e fe-derais;

Compreender a importância dos procedimentosde descontaminação e finalização da emergên-cia;

Desenvolver um plano para a segurança e con-trole do cenário da emergência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:- Emergency Response Training Center – TTCI, Hazardous Ma-terial Cource, São Paulo/SP;- OSHA 191.120 (q) e NFPA 472;- Manual Básico de Resposta a Emergência com Produtos Pe-rigosos, Safety Sul Consultoria e Treinamento em Saúde, Se-gurança e Emergência, RS - Brasil;- NBR 14064 - Atendimento a Emergência no Transporte Ter-restre de Produtos Perigosos da ABNT.

Respondedor inicial(Nível de Reconhecimento - Awareness)

Nível 1

Nível de operações

Nível 2

Técnico em produtos perigosos(Hazardous Materials Technician)

Nível 3

Especialista em produtos perigosos

Nível 4

Comandante de incidentes

Nível 5

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Emergência 37MARÇO / 2007

Tragédia nocéu do Ceará

a madrugada do dia 8 de junhode 1982, uma pequena cidadechamada Pacatuba, na região me-

Reportagem de Lia Nara Bau

Ntropolitana de Fortaleza, Ceará, foi acor-dada por um enorme estrondo nos céus.Sem saber, os moradores da cidade ha-viam ouvido o que foi considerado o maioracidente aéreo do país, superado apenasem setembro de 2006, quando o aviãoda companhia aérea Gol chocou-se como jato Legacy, da Embraer, matando 154pessoas. Em 1982, a tragédia do Ceará vi-timou 137 pessoas, quando o Boeing 727-200 da Vasp chocou-se com a Serra daAratanha. O impacto com a Serra acon-teceu a uma altura de, aproximadamente,600 metros, em uma área de muita vege-tação, causando a destruição do avião eda maioria dos corpos dos ocupantes do727. O acidente foi tão forte que muitosmoradores relataram ter ouvido uma ex-plosão, seguida de um ligeiro tremor deterra.

O acidente teve início na noite do dia 7de junho, quando o vôo 168 decolou doAeroporto de Congonhas, em São Paulo,às 22h53, levando 68 pessoas, entre pas-

RESGATE

sageiros e tripulantes. Cerca de uma horadepois, a aeronave pousou no Galeão, noRio de Janeiro, cumprindo a única escalade vôo com destino a Fortaleza. Já pertode seu destino, por volta das 2h30 da ma-drugada, o 727 solicitou ao controle detráfego aéreo o início do procedimentode descida. Após atingir a altitude soli-citada e já tendo obtido referências visuaisao avistar a cidade de Fortaleza, o coman-dante optou por continuar a descida paraa faixa de 1.500 pés (cerca de 500 metros),que é a altitude de tráfego visual em For-taleza. Neste momento, de acordo cominformações da caixa-preta da aeronavedivulgadas posteriormente, o comandanteFernando Vieira assobiava na cabine doBoeing. De repente, deu um grito.

Às 2h45, o Boeing chocou-se contra aSerra da Aratanha, próximo ao municípiode Pacatuba, a uma velocidade de cercade 700km/h. Segundo informações da cai-xa-preta, o co-piloto teria alertado o co-mandante sobre a existência de alguns“morrotes à frente”, sem que o mesmo in-terrompesse a descida. No Aeroporto Pin-to Martins, as famílias esperavam os passa-geiros do vôo 168. Às 3h da manhã, quan-do o acidente já havia ocorrido, a Vasp

informou aos familiares que o Boeing 727estava desaparecido e somente por voltadas 5h o acidente foi confirmado. Após,às 8h30, a companhia aérea divulgou aprimeira lista dos passageiros embarcadosna aeronave, dos quais nenhum so-breviveu.

Segundo dados da FAB (Força AéreaBrasileira), na época, as condições meteo-rológicas do Aeroporto Pinto Martins, emFortaleza, permitiam operações visuais,com ventos fracos, visibilidade acima de10km, céu encoberto, teto de nuvens a600 metros e temperatura na marca dos24 graus.

RESGATENo local da queda, o primeiro sinal da

colisão era um pedaço da asa do Boeing,com cerca de dois metros. Segundo in-formações do Corpo de Bombeiros doCeará, os primeiros a chegar, oficialmente,ao local da queda do avião, a partir dalipodiam ser vistas partes do avião, pedaçosde corpos e peças de roupas no chão ependuradas nas árvores. Restos da aero-nave se espalharam por um raio de milmetros. Um membro da equipe de resgateafirmou, na ocasião, que a maior parte de

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◗Há quase 25 anos, oacidente com o boeing daVasp já anunciava lições

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RESGATE

Emergência MARÇO / 200738

CRONOLOGIA DA TRAGÉDIA

22h53 O vôo 168 decola do Aeroporto deCongonhas, em São Paulo.

DIA 07/06/82

um corpo que havia encontrado havia sidomeio tórax. Ao saber do acidente, muitaspessoas subiram a Serra para recolherpartes da aeronave e pertences das víti-mas, com intuito de vendê-las. O caminho,percorrido por centenas de pessoas, foiinterditado após algumas horas para ini-ciarem os trabalhos de resgate da Aero-náutica, Polícia e Corpo de Bombeiros. Otenente do Corpo de Bombeiros Militardo Ceará, Francisco Pinto da Costa, atuou,juntamente com cerca de cem bombeirosda Corporação, no resgate das vítimas.“Trabalhamos durante quatro dias, mas oque encontramos foram somente fragmen-tos de pessoas”, salienta. De acordo comCosta, a FAB retirava os sacos contendoos restos mortais das vítimas com helicóp-teros, levava até a cidade de Pacatuba e,de lá, os despojos seguiam para o InstitutoMédico Legal (IML) de Fortaleza. O pri-meiro helicóptero com material humanochegou às 16h45, 14 horas após a quedado 727. Naquele primeiro dia, mais cincoviagens foram feitas.

Os trabalhos no local foram dificultadospela encosta da Serra ser extremamenteacidentada, com muitas pedras e densa-mente florestada. Segundo Costa, o acessoao local da queda e aos corpos das vítimasque ficaram presos nas árvores foram asprincipais dificuldades encontradas na é-poca. “O acesso foi muito difícil, pois nãohavia como chegar ao local, tiveram queser abertas trilhas para as equipes chega-rem até lá”, relata. Em alguns casos, sol-dados da FAB ficavam pendurados emcordas sob helicópteros que pairavam so-bre as árvores para retirar partes de corposque estavam presos nos galhos mais altos.O forte impacto no momento da colisãolançou destroços em uma grande extensãode área, alguns a mais de 500 metros. Às18h os trabalhos foram interrompidos ecerca de 30 soldados da Aeronáutica fica-ram no local para evitar novos saques.

FALHADurante três dias, as equipes de resgate

trabalharam no local. No entanto, apósserem finalizadas as buscas e liberada aárea, no dia 11 de junho, dois corpos fo-ram encontrados embaixo de uma dasturbinas, indicando que o resgate pudesseter sido falho. O prefeito de Pacatuba naépoca, então, contratou várias pessoas dalocalidade para continuar as buscas. Estasencontraram mais quatro corpos e váriosfragmentos humanos no local. O governa-dor de Estado avisou a FAB de Fortalezasobre os fatos e ordenou à Polícia Militarque fizesse uma busca milimétrica da Serra

da Aratanha e recolhesse os corpos efragmentos que haviam sido deixados paratrás. Para Costa, no entanto, o trabalhorealizado foi equivalente à realidade daépoca.

LIÇÃOAssistindo na televisão as notícias sobre

o acidente da Gol, no ano passado, Costadiz ter recordado da tragédia de 1982, poisé grande a semelhança entre ambas. Qua-se 25 anos depois, ele acredita que muitascoisas foram aperfeiçoadas no resgate,mas ainda há o que melhorar. “Hoje, como avanço da tecnologia, estamos mais e-quipados, mas ainda falta muita coisa”, la-menta. Ele aponta que as corporaçõesdeveriam ter todos os equipamentos àdisposição, o que muitas vezes não acon-tece, pois faltam recursos. “Seria necessá-rio que as instituições tivessem mais auto-nomia”, critica. Para ele, também deveriaser dada maior atenção à melhoria da ca-pacitação dos profissionais. “Estamos avan-çando, porém precisamos nos preocuparmais em capacitar, nos preocupar com aqualidade do serviço oferecido e abrir maisespaço para esses profissionais”, comple-menta.

Logo após o desastre, o então presi-dente João Figueiredo criou um ComitêNacional de Prevenção de Acidentes, oCenipa, que incluía representantes de qua-tro ministérios, empresas aéreas e o sindi-cato dos aeronautas. O Comitê pretendiaorganizar recursos para assegurar o aten-dimento às vítimas, numa tentativa de re-duzir a precariedade dos aeroportos brasi-leiros. Para se ter uma idéia, a edição daRevista Veja de 16 de junho de 1982 de-nunciava que nem mesmo o aeroporto deBrasília – capital federal – estava equipadocom ambulâncias, médicos, enfermeirose remédios.

Muitas hipóteses das causas do aciden-te foram levantadas na época: descuidoda tripulação, pane na aeronave, explosãoe até mesmo um suicídio do comandan-te. Segundo o relatório do Cenipa doMinistério da Aeronáutica, a falha huma-na da tripulação foi a principal responsá-vel pela queda do Boeing. O relatóriotambém mostra alguns fatores operacio-nais que contribuíram para a tragédia. Masa realidade é que algo errado aconteceunaquela madrugada para que três compe-tentes tripulantes técnicos e uma aeronavede 22 milhões de dólares (valores daépoca), com apenas cinco anos de idade,protagonizassem um dos maiores aciden-tes aéreos do país, levando consigo 137pessoas.

23h35 O avião pousa no Aeroporto do Ga-leão, no Rio de Janeiro, cumprindo a

única escala de vôo com destino a Fortaleza.

A Força Aérea deixa o local,mas pessoas contratadas

pelo prefeito de Pacatubapara continuar as buscas

encontram mais seiscorpos dos ocupantes

do Boeing.

00h12 O Boeing decola do Aeroporto doGaleão, com destino a Fortaleza.

DIA 08/06/82

2h27 O Boeing faz o último contato com atorre de controle, a 260 km de Forta-

leza.

2h44 Perto do Aeroporto Pinto Martins, emFortaleza, o co-piloto adverte o co-

mandante sobre a existência de “morrotes àfrente”, sem que o mesmo interrompa a descida.

2h45 O avião choca-se contra a serra daAratanha, a 30 km de Fortaleza.

3h Vasp avisa aos familiares que esperampelo vôo que o Boeing 727 está desa-

parecido.

5h10 A Vasp confirma o acidente com o vôo168.

7h As equipes de resgate já trabalham nolocal do acidente.

8h30 Vasp divulga a lista dos passageirosdo Boeing 727.

16h45 Helicóptero da Força Aérea traz osprimeiros restos mortais dos passa-

geiros.

18h O trabalho de resgate é interrompido.

DIAS 09 E 10/06/82

8h Os trabalhos de resgate prosseguemdurante todo o dia.

DIA 11/06/82

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