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PUBLICAÇÃO OFICIAL Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

VOLUME 242ANO 28

ABRIL/MAIO/JUNHO 2016

Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIAGabinete do Ministro Diretor da Revista

DiretorMinistro Napoleo Nunes Maia FilhoChefe de GabineteFrederico Leandro GomesServidoresGerson Prado da SilvaMaria Anglica Neves SantAnaMarilisa Gomes do AmaralTcnica em SecretariadoMaria Luza Pimentel MeloMensageiroCristiano Augusto Rodrigues Santos

Superior Tribunal de Justiawww.stj.jus.br, [email protected] do Ministro Diretor da RevistaSetor de Administrao Federal Sul, Quadra 6, Lote 1, Bloco C, 2 Andar, Sala C-240, Braslia-DF, 70095-900Telefone (61) 3319-8055/3319-8003, Fax (61) 3319-8992

Revista do Superior Tribunal de Justia. No. 1 (set. 1989). -- Braslia : STJ, 1989 - .

Periodicidade varia: Mensal, do no. 1 (set. 1989) ao no. 202 (jun. 2006), Trimestral a partir do no. 203 (jul/ago/set. 2006).

Volumes temticos anteriores com diferentes organizadores e coordenadores na sequncia dos fascculos: no. 241 organizado pelo Diretor da Revista, Ministro Napoleo Nunes Maia Filho e por Mariana Costa de Oliveira.

Repositrio Ofi cial da Jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia. Nome do editor varia: Superior Tribunal de Justia/Editora Braslia Jurdica, set. 1989 a dez. 1998; Superior Tribunal de Justia/Editora Consulex Ltda, jan. 1999 a dez. 2003; Superior Tribunal de Justia/ Editora Braslia Jurdica, jan. 2004 a jun. 2006; Superior Tribunal de Justia, jul/ago/set 2006-.

Disponvel tambm em verso eletrnica a partir de 2009: https://ww2.stj.jus.br/web/revista/eletronica/publicacao/?aplicacao=revista.eletronica.

ISSN 0103-4286

1. Direito, Brasil. 2. Jurisprudncia, peridico, Brasil. I. Brasil. Superior Tribunal de Justia (STJ). II. Ttulo.

CDU 340.142(81)(05)

MINISTRO NAPOLEO NUNES MAIA FILHO Diretor

Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

OrganizadoresMinistro Napoleo Nunes Maia Filho

Mariana Costa de Oliveira

RSTJ 242 - Direito Tributrio

ColaboradoresAilyn Santoro

Arthur M. Ferreira NetoBruno Baruel Rocha

Eduardo Pugliese PincelliFernando Brando Whitaker

Hamilton Dias de SouzaHenry Gonalves Lummertz

Hugo de Brito MachadoHugo Funaro

Ives Gandra da Silva MartinsJamyl de Jesus Silva

Jos Roberto Pernomian Rodrigues

Lus Henrique da Costa PiresMarcelo Reinecken de Arajo Mrio Luiz Oliveira da CostaRafael de Paula GomesRafael Fukuji WatanabeRaquel Xavier BragaRegina Helena CostaRicardo Mariz de OliveiraSacha CalmonSchubert de Farias MachadoValcir Gassen

Resoluo no. 19/1995-STJ, art. 3o.RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, 1o., e 23.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIAPlenrio

Ministro Francisco Cndido de Melo Falco Neto (Presidente)Ministra Laurita Hilrio Vaz (Vice-Presidente)Ministro Felix Fischer Ministra Ftima Nancy Andrighi Ministro Joo Otvio de Noronha (Corregedor Nacional de Justia)Ministro Humberto Eustquio Soares Martins (Diretor-Geral da ENFAM)Ministra Maria Th ereza Rocha de Assis MouraMinistro Antonio Herman de Vasconcellos e BenjaminMinistro Napoleo Nunes Maia Filho (Diretor da Revista)Ministro Jorge Mussi Ministro Geraldo Og Nicas Marques Fernandes (Corregedor-Geral da Justia Federal)Ministro Luis Felipe SalomoMinistro Mauro Luiz Campbell MarquesMinistro Benedito GonalvesMinistro Raul Arajo FilhoMinistro Paulo de Tarso Vieira SanseverinoMinistra Maria Isabel Diniz Gallotti RodriguesMinistro Antonio Carlos FerreiraMinistro Ricardo Villas Bas Cueva (Ouvidor)Ministro Sebastio Alves dos Reis JniorMinistro Marco Aurlio Gastaldi BuzziMinistro Marco Aurlio Bellizze OliveiraMinistra Assusete Dumont Reis MagalhesMinistro Srgio Luz KukinaMinistro Paulo Dias de Moura RibeiroMinistra Regina Helena CostaMinistro Rogerio Schietti Machado CruzMinistro Nefi CordeiroMinistro Luiz Alberto Gurgel de FariaMinistro Reynaldo Soares da FonsecaMinistro Marcelo Navarro Ribeiro DantasMinistro Antonio Saldanha PalheiroMinistro Joel Ilan Paciornik

CORTE ESPECIAL (Sesses s 1 e 3 quartas-feiras do ms)

Ministro Francisco Falco (Presidente)Ministra Laurita Vaz (Vice-Presidente)Ministro Felix FischerMinistra Nancy AndrighiMinistro Joo Otvio de NoronhaMinistro Humberto MartinsMinistra Maria Th ereza de Assis MouraMinistro Herman BenjaminMinistro Napoleo Nunes Maia FilhoMinistro Jorge MussiMinistro Og FernandesMinistro Luis Felipe SalomoMinistro Mauro Campbell MarquesMinistro Benedito GonalvesMinistro Raul Arajo

PRIMEIRA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms)

Ministro Herman Benjamin (Presidente)

PRIMEIRA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministro Srgio Kukina (Presidente)Ministro Napoleo Nunes Maia FilhoMinistro Benedito Gonalves Ministra Regina Helena CostaMinistro Gurgel de Faria

* Desembargadora convocada (TRF3)

SEGUNDA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministra Assusete Magalhes (Presidente)Ministro Humberto MartinsMinistro Herman BenjaminMinistro Mauro Campbell MarquesMinistra Diva Prestes Marcondes Malerbi *

SEGUNDA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms)

Ministro Raul Arajo (Presidente)

TERCEIRA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministro Marco Aurlio Bellizze(Presidente)Ministra Nancy Andrighi Ministro Paulo de Tarso SanseverinoMinistro Villas Bas CuevaMinistro Moura Ribeiro

QUARTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministra Isabel Gallotti (Presidente)Ministro Luis Felipe SalomoMinistro Raul ArajoMinistro Antonio Carlos Ferreira Ministro Marco Buzzi

TERCEIRA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms) Ministro Sebastio Reis Jnior (Presidente)

QUINTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministro Felix Fischer (Presidente)Ministro Jorge MussiMinistro Reynaldo Soares da FonsecaMinistro Ribeiro DantasMinistro Joel Ilan Paciornik

SEXTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministro Rogerio Schietti Cruz (Presidente)Ministra Maria Th ereza de Assis Moura Ministro Sebastio Reis JniorMinistro Nefi CordeiroMinistro Antonio Saldanha Palheiro

COMISSES PERMANENTES

COMISSO DE COORDENAO

Ministro Marco Buzzi (Presidente)Ministra Regina Helena Costa Ministro Gurgel de Faria Ministro Nefi Cordeiro (Suplente)

COMISSO DE DOCUMENTAO

Ministro Jorge Mussi (Presidente)Ministro Raul ArajoMinistro Villas Bas CuevaMinistro Moura Ribeiro (Suplente)

COMISSO DE REGIMENTO INTERNO

Ministro Luis Felipe Salomo (Presidente)Ministro Benedito GonalvesMinistro Marco Aurlio BellizzeMinistro Jorge Mussi (Suplente)

COMISSO DE JURISPRUDNCIA

Ministro Mauro Campbell Marques (Presidente)Ministra Isabel GallottiMinistro Antonio Carlos FerreiraMinistro Sebastio Reis JniorMinistro Srgio KukinaMinistro Rogerio Schietti Cruz

CONSELHO DA JUSTIA FEDERAL (Sesso 1 sexta-feira do ms)

Ministro Francisco Falco (Presidente)Ministra Laurita Vaz (Vice-Presidente)Ministro Og Fernandes (Corregedor-Geral da Justia Federal)

Membros EfetivosMinistro Mauro Campbell MarquesMinistro Benedito Gonalves

Membros SuplentesMinistro Raul ArajoMinistro Paulo de Tarso SanseverinoMinistra Isabel Gallotti

ESCOLA NACIONAL DE FORMAO E APERFEIOAMENTO DE MAGISTRADOS - ENFAM

Ministro Humberto Martins (Diretor-Geral)Ministro Herman Benjamin (Vice-Diretor)Ministro Og Fernandes (Diretor do CEJ/CJF)

MEMBROS DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

Ministra Maria Th ereza de Assis Moura (Corregedora-Geral)Ministro Herman Benjamin (Efetivo)Ministro Napoleo Nunes Maia Filho (1 Substituto)Ministro Jorge Mussi (2 Substituto)

SUMRIO

RSTJ No. 242 - DIREITO TRIBUTRIO

APRESENTAO ................................................................................................ 19

JURISPRUDNCIA

Primeira Seo ............................................................................................. 25REsp 1.353.111-RS (Rel. Min. Mauro Campbell Marques) .................. 27REsp 1.459.779-MA (Rel. Min. Benedito Gonalves) ........................... 69

Primeira Turma .......................................................................................... 117AgRg no REsp 1.529.066-PE (Rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho) . 119AgRg no REsp 1.535.048-PR (Rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho) . 127EDcl no REsp 1.070.441-SC (Rel. Min. Srgio Kukina) ..................... 134RMS 41.759-RJ (Rel. Min. Gurgel de Faria) ....................................... 146REsp 1.125.528-RS (Rel. Min. Srgio Kukina) ................................... 149REsp 1.388.789-RJ (Rel. Min. Benedito Gonalves) ........................... 156REsp 1.390.875-RS (Rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho) ............. 182REsp 1.519.685-RS (Rel. Min. Gurgel de Faria) ................................. 197REsp 1.532.348-SC (Rel. Min. Benedito Gonalves) .......................... 202

Segunda Turma .......................................................................................... 207REsp 1.246.317-MG (Rel. Min. Mauro Campbell Marques) .............. 209REsp 1.286.705-SP (Rel. Min. Humberto Martins) ............................ 257REsp 1.354.409-CE (Rel. Min. Herman Benjamin) ........................... 277REsp 1.437.172-RS (Rel. Min. Herman Benjamin) ............................ 285REsp 1.450.286-CE (Rel. Min. Humberto Martins) ........................... 330REsp 1.586.158-SP (Rel. Min. Herman Benjamin) ............................ 338

DOUTRINA

Excluso do ICMS e do ISS da Base de Clculo da Contribuio Previdenciria sobre a Receita Bruta-CPRB ......................................... 351AILYN SANTORO

Aspectos Tributrios Controversos da Chamada Lei de Repatriao de Bens no Exterior No Declarados ao Fisco .......................................... 379ARTHUR M. FERREIRA NETO

REsp no. 1.144.469/PR. Anlise da Validade Jurdica da Incluso doICMS na Base de Clculo do PIS/PASEP e da COFINS ..................... 423EDUARDO PUGLIESE PINCELLIRAFAEL FUKUJI WATANABE

Conformao do ITCMD Causa Mortis e a sua Equalizao peloSuperior Tribunal de Justia ................................................................. 441FERNANDO BRANDO WHITAKER

O Novo Cdigo de Processo Civil e a Necessidade de Revisitar a Jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia Acerca do Lanamentopor Homologao ............................................................................... 457HAMILTON DIAS DE SOUZAHUGO FUNARO

Mudana de Jurisprudncia e Proteo da Confiana .......................... 473HENRY GONALVES LUMMERTZ

A Base de Clculo do Imposto de Importao e as Despesas Realizadas no Territrio Nacional ......................................... 519HUGO DE BRITO MACHADO

Os 50 Anos do Cdigo Tributrio Nacional ........................................ 525IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

Comentrios ao Acrdo proferido nos Autos do RESP 1.246.317/MG, Relator Mauro Campbell Marques .................. 539JOS ROBERTO PERNOMIAN RODRIGUESBRUNO BARUEL ROCHA

ERESP em RESP no. 1.163.553 ......................................................... 565LUS HENRIQUE DA COSTA PIRES

Responsabilidade dos Representantes de Pessoas Jurdicas SobreDbitos Fiscais da Sociedade: A Jurisprudncia do STJ e do STF.

Espao para Reavaliao do Entendimento Consagrado no RESP 1.104.900/ES submetido Sistemtica dos Recursos Repetitivos(artigo 543-C do CPC/1973) Tema 103. Impacto do EntendimentoAtual sobre a Teoria de Agncia e a Governana Corporativa ............... 573MARCELO REINECKEN DE ARAJO RAFAEL DE PAULA GOMES

Comentrio Doutrinrio acerca do Acrdo proferido no AgRg no ARESP no. 155.240/SP (STJ, Primeira Turma,Rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho, julgado em 6.8.2013) ............ 601MRIO LUIZ OLIVEIRA DA COSTA

A Lei de Repatriao BrasileiraAnlise de Alguns Aspectos da Lei no. 13. 254/2016 Luz daIgualdade Tributria, Retroatividade da Lei e Presuno de Inocncia ... 613RAQUEL XAVIER BRAGA

Tributao e Direitos Fundamentais: uma Viso Contempornea ........ 633REGINA HELENA COSTA

Breves Consideraes sobre o Significado da Disponibilidade daRenda na Formao do Fato Gerador do Imposto de Renda ................ 645RICARDO MARIZ DE OLIVEIRA

A Lei Complementar como Agente Normativo Ordenador do Sistema Tributrio e da Repartio das Competncias Tributrias ..................... 665SACHA CALMON

O Encargo Legal nas Execues Fiscais da Unio e o Novo CPC ......... 687SCHUBERT DE FARIAS MACHADO

Matriz Tributria, (in)Justia Fiscal e Objetivos do Estado Brasileiro ... 701VALCIR GASSENJAMYL DE JESUS SILVA

NDICE ANALTICO .......................................................................................... 721

NDICE SISTEMTICO ....................................................................................... 731

SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................................................. 735

REPOSITRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA ..................................................................... 741

APRESENTAO

I

Com a publicao deste volume da Revista do STJ, d-se prosseguimento ao seu objetivo de se divulgar a jurisprudncia desta Corte Superior, neste caso, a jurisprudncia tributria, e s contribuies doutrinrias dos melhores especialistas do Pas, quais os que apresentaram, de muito bom grado e melhor ateno, refl exes valiosas e cientfi cas, que aqui se encartam.

Cultivamos a convico de que a evoluo do Direito Tributrio, pela via processual, somente ocorre quando os julgadores abrem as portas de sua mente para a recepo de pensamentos novos, oriundos, principalmente, dos confrontos e embates que se travam no processo judicial, como, nas primeiras dcadas do sculo XX preconizava o Professor ROSCOE POUND, que durante muitos anos foi Reitor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

O Direito Tributrio, nobilssimo ramo do Direito Pblico, o campo preferencial para discusses de interesses que afl uem da sociedade e dos seus agentes produtivos, em contraposio aos interesses fi scais do Estado, que crescem e se agigantam na mesma proporo em que aumentam as suas intervenes no domnio privado, inclusive mediante regulaes cada vez mais severas e especfi cas.

Na encruzilhada em que se acham os contribuintes e o poder tributante, em embates jurdicos que se amidam e se agravam, o julgador tributrio no um mero expectador privilegiado, embora a alguns possa parecer que a posio de neutralidade seria a mais conveniente ou adequada; ao ver de outros, pelo contrrio, o juiz tributarista deve observar a repercusso de suas decises no sistema econmico e produtivo do Pas, velando para que o poder de tributar no se descambe para o poder de destruir, como observou certa vez um famoso Ministro da Suprema Corte dos Estados Unidos.

II

Neste ano em que se comemora o primeiro cinquentenrio do Cdigo Tributrio Nacional, relevante recordar as fi guras patriarcais dos seus elaboradores, sobretudo a do Professor RUBENS GOMES DE SOUZA e a do Ministro ALIOMAR BALEEIRO, cujas inteligncias privilegiadas estavam comprometidas, naquele tempo, com o equilbrio que deveria presidir as relaes entre o Fisco e os seus contribuintes, talvez at produzindo a sempre desejvel harmonia.

III

A biografi a do Estado moderno, desde a sua fase autoritria e, depois, na sua fase dita liberal, no parece abonar essa perspectiva harmoniosa, porque as tenses s se tm agravado com o passar do tempo, exigindo da magistratura tributria o desenvolvimento de tcnicas jurdicas compensatrias, o que nem sempre entendido como medidas salutares, principalmente quando se leva em conta o argumento da demanda de mais recursos destinados ao atendimento de responsabilidades fi nanceiras estatais crescentes.

Os textos dos autores que este volume guarda refl etem, com exmia inteligncia, os contornos desse confronto e, por outro lado, desenvolvem anlises deveras estratgicas no sentido da sua boa e exata compreenso, fazendo preponderar no desate dos litgios, o sentimento garantstico de base constitucional, mas sem menosprezar o peso e a importncia das demandas do errio.

Ousaria dizer que hoje, mais do que nunca, a magistratura tributria defronta a necessidade de expanso do sentimento constitucional de que falava o Professor RAUL MACHADO HORTA, inesquecvel mestre mineiro e juspublicista de escol; sem este sentimento, talvez no seja vivel a construo do equilbrio, isso porque a cada dia mais se exige que a interpretao das leis tributrias captem a imaterialidade dos seus princpios, porque, como o Professor ROBERT ALEXY magistralmente exps, o ordenamento jurdico no se compe apenas de regras, mas tambm de princpios, de modo que encontr-los e aplic-los (os princpios) a chave da nova hermenutica constitucional, como adverte com absoluta pertinncia o Professor PAULO BONAVIDES.

IV

Este o cenrio em que se lana esta Revista do STJ, pensada, elaborada e editada com a grande esperana de contribuir para aumentar o interesse de todos pelos estudos do Direito Tributrio, que tem tantos cultores excelentes, tantos profi ssionais atentos e zelosos, como do prova os trabalhos forenses, os arrazoados e as sustentaes orais que todos temos a ventura de ler, ouvir e presenciar.

V

Este o segundo e ltimo volume da Revista do STJ editado sob a minha direo, porque a minha eleio para o colendo Tribunal Superior Eleitoral me obriga a afastar-me da Revista; levo do breve tempo em que a dirigi, a melhor recordao e a mais grata lembrana; sou testemunha e benefi cirio do empenho da equipe da Revista em produzir trabalhos de primeira grandeza, pelo que quero deixar registrada a minha permanente gratido, sobretudo pelo seu entusiasmo, pela sua dedicao e pela sua invarivel competncia; fao estes agradecimentos na pessoa do Doutor Frederico Leandro Gomes, Chefe de Gabinete da Revista do STJ, mas extensivos a todos os integrantes de nossa Equipe.

A partir de agora, a Revista do STJ ter a direo segura e prospectiva do eminente Ministro LUIS FELIPE SALOMO, magistrado de inteligncia invulgar, capacidade de trabalho reconhecida e louvada e notria dedicao ao aperfeioamento intelectual e cultural dos magistrados do Brasil; fora de dvida que a Revista do STJ estar, doravante, em mos melhores.

Braslia, agosto de 2016.Napoleo Nunes Maia Filho

JURISPRUDNCIA

PRIMEIRA SEO

RECURSO ESPECIAL No. 1.353.111-RS (2012/0233737-7)

Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUESRecorrente: Fazenda NacionalAdvogado: Procuradoria-Geral da Fazenda NacionalRecorrido: Sociedade Educacional Monteiro LobatoAdvogados: Mrio Luciano do Nascimento e outro(s)

Dnio Stefanoski

EMENTA

Processual Civil. Tributrio. Recurso representativo da controvrsia. Art. 543-C, do CPC. COFINS. Conceito de receitas relativas s atividades prprias das entidades sem fi ns lucrativos para fi ns de gozo da iseno prevista no art. 14, X, da MP no. 2.158-35/2001. Ilegalidade do art. 47, II e 2o., da Instruo Normativa SRF no. 247/2002. Sociedade civil educacional ou de carter cultural e cientfi co. Mensalidades de alunos.

1. A questo central dos autos se refere ao exame da iseno da COFINS, contida no art. 14, X, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001), relativa s entidades sem fi ns lucrativos, a fi m de verifi car se abrange as mensalidades pagas pelos alunos de instituio de ensino como contraprestao desses servios educacionais. O presente recurso representativo da controvrsia no discute quaisquer outras receitas que no as mensalidades, no havendo que se falar em receitas decorrentes de aplicaes fi nanceiras ou decorrentes de mercadorias e servios outros (vg. estacionamentos pagos, lanchonetes, aluguel ou taxa cobrada pela utilizao de sales, auditrios, quadras, campos esportivos, dependncias e instalaes, venda de ingressos para eventos promovidos pela entidade, receitas de formaturas, excurses, etc.) prestados por essas entidades que no sejam exclusivamente os de educao.

2. O pargrafo 2o. do art. 47 da IN no. 247/2002 da Secretaria da Receita Federal ofende o inciso X do art. 14 da MP

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REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

no. 2.158-35/2001 ao excluir do conceito de receitas relativas s atividades prprias das entidades, as contraprestaes pelos servios prprios de educao, que so as mensalidades escolares recebidas de alunos.

3. Isto porque a entidade de ensino tem por fi nalidade precpua a prestao de servios educacionais. Trata-se da sua razo de existir, do ncleo de suas atividades, do prprio servio para o qual foi instituda, na expresso dos artigos 12 e 15 da Lei no. 9.532/1997. Nessa toada, no h como compreender que as receitas auferidas nessa condio (mensalidades dos alunos) no sejam aquelas decorrentes de atividades prprias da entidade, conforme o exige a iseno estabelecida no art. 14, X, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001). Sendo assim, fl agrante a ilicitude do art. 47, 2o., da IN/SRF no. 247/2002, nessa extenso.

4. Precedentes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais - CARF: Processo no. 19515.002921/2006-39, Acrdo no. 203-12738, 3a. TURMA / CSRF / CARF / MF / DF, Rel. Cons. Rodrigo Cardozo Miranda, publicado em 11.3.2008; Processo no. 10580.009928/2004-61, Acrdo no. 3401-002.233, 1a. TO / 4a. CMARA / 3a. SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Emanuel Carlos Dantas de Assis, publicado em 16.8.2013; Processo no. 10680.003343/2005-91, Acrdo no. 3201-001.457, 1a. TO / 2a. CMARA / 3a. SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Mrcia Helena Trajano Damorim, Rel. designado Cons. Daniel Mariz Gudio, publicado em 4.2.2014; Processo no. 13839.001046/2005-58, Acrdo no. 3202-000.904, 2a. TO / 2a. CMARA / 3a. SEJUL / CARF / MF. Rel. Cons. Th iago Moura de Albuquerque Alves, publicado em 18.11.2013; Processo no. 10183.003953/2004-14 Acrdos no. 9303-01.486 e 9303-001.869, 3a. TURMA / CSRF, Rel. Cons. Nanci Gama, julgado em 30.5.2011; Processo no. 15504.019042/2010-09, Acrdo no. 3403-002.280, 3a. TO / 4a. CMARA / 3a. SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Ivan Allegretti, publicado em 1.8.2013; Processo no. 10384.003726/2007-75, Acrdo no. 3302-001.935, 2a. TO / 3a. CMARA / 3a. SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons.

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Jurisprudncia da PRIMEIRA SEO

RSTJ, a. 28, (242): 25-115, abril/junho 2016

Fabiola Cassiano Keramidas, publicado em 4.3.2013; Processo no. 15504.019042/2010-09, Acrdo no. 3403-002.280, 3a. TO / 4a. CMARA / 3a. SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Ivan Allegretti, julgado em 25.6.2013; Acrdo no. 9303-001.869, Processo no. 19515.002662/2004-84, 3a. TURMA / CSRF / CARF / MF, Rel. Cons. Julio Cesar Alves Ramos, Sesso de 7.3.2012.

5. Precedentes em sentido contrrio: AgRg no REsp no. 476.246/RS, 2a. Turma, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJ 12.11.2007, p. 199; AgRg no REsp no. 1.145.172/RS, 2a. Turma, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 29.10.2009; Processo no. 15504.011242/2010-13, Acrdo no. 3401-002.021, 1a. TO / 4a. CMARA / 3a. SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Odassi Guerzoin Filho, publicado em 28.11.2012; Smula no. 107 do CARF: A receita da atividade prpria, objeto de iseno da COFINS prevista no art. 14, X, c/c art. 13, III, da MP no. 2.158-35, de 2001, alcana as receitas obtidas em contraprestao de servios educacionais prestados pelas entidades de educao sem fi ns lucrativos a que se refere o art. 12 da Lei no. 9.532, da 1997.

6. Tese julgada para efeito do art. 543-C, do CPC: as receitas auferidas a ttulo de mensalidades dos alunos de instituies de ensino sem fi ns lucrativos so decorrentes de atividades prprias da entidade, conforme o exige a iseno estabelecida no art. 14, X, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001), sendo fl agrante a ilicitude do art. 47, 2o., da IN/SRF no. 247/2002, nessa extenso.

7. Recurso especial no provido. Acrdo submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resoluo STJ no. 8/2008.

ACRDO

Vistos, relatados e discutidos esses autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Primeira Seo do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas, o seguinte resultado de julgamento: Prosseguindo no julgamento, a Seo,

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REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

por maioria, vencidos os Srs. Ministros Benedito Gonalves e Srgio Kukina, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

As Sras. Ministras Assusete Magalhes (voto-vista) e Regina Helena Costa e os Srs. Ministros Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1a. Regio), Herman Benjamin, Napoleo Nunes Maia Filho e Og Fernandes votaram com o Sr. Ministro Relator.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Humberto Martins.Braslia (DF), 23 de setembro de 2015 (data do julgamento).Ministro Mauro Campbell Marques, Relator

DJe 18.12.2015

RELATRIO

O Sr. Ministro Mauro Campbell Marques: Trata-se de recurso especial interposto pela Fazenda Nacional, com fundamento no art. 105, III, a, da Constituio da Repblica, contra acrdo do Tribunal Regional Federal da 4a. Regio cuja ementa segue transcrita (e-STJ, fl s. 619/625):

COFINS. Iseno. Entidade sem fim lucrativo. Inciso X do art. 14 da MP no. 2.158-35/2001. Pargrafo 2o. do art. 47 da IN no. 247/2002. Restries lei. Impossibilidade.

1. O pargrafo 2o. do art. 47 da IN no. 247/2002 da Secretaria da Receita Federal ofende o inciso X do art. 14 da MP no. 2.158-35/2001 ao excluir do conceito de receitas relativas s atividades prprias das entidades, as contraprestaes pelos servios prprios, que so as mensalidades recebidas de alunos.

2. iseno da COFINS aplica-se o seguinte raciocnio: se a entidade sem fins lucrativos aufere receitas por meio das atividades para os quais houver sido instituda, tais como prestao de servios de educao, prpria.

3. Igualmente isentas so as aplicaes financeiras concernentes, j que se trata de reflexos da atividade prpria da entidade, portanto tm a mesma natureza desta.

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Jurisprudncia da PRIMEIRA SEO

RSTJ, a. 28, (242): 25-115, abril/junho 2016

O particular ops embargos de declarao, que foram parcialmente providos, apenas para efeito de prequestionamento pelo Tribunal de origem (e-STJ, fl s. 642/648).

No recurso especial, a Fazenda Nacional aponta ofensa ao art. 14, X, da MP no. 2.158-35/2008, e defende que o conceito de receitas prprias para o fi m da iseno da COFINS no alcana a remunerao pela prestao de servios profi ssionais de ensino e de treinamento. Entende que a COFINS no incide sobre as receitas prprias das entidades. Contudo, sustenta que a COFINS incide sobre as receitas de carter contraprestacional, tais como as provenientes da prestao de servios e/ou venda de mercadorias, ainda que a seus associados. Assim, requer o provimento do recurso especial para que a iseno da COFINS no se estenda s mensalidades pagas pelos alunos da instituio de ensino como contraprestao ao servio prestado (e-STJ fl s. 633/641 e 650/651).

Contrarrazes s e-STJ fl s. 655/685.O recurso foi admitido na origem (e-STJ fl s. 686/687).Verifi cando que o tema do recurso, apesar de repetitivo no mbito

da Primeira Seo do STJ, ainda no havia sido submetido a julgamento pelo novo procedimento do artigo 543-C do Cdigo de Processo Civil, regulamentado pela Resoluo STJ no. 8/2008, determinei seu processamento como recurso representativo da controvrsia.

Foram comunicados os Ministros da Primeira Seo do STJ e os Presidentes dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justia, e sobrestados os julgamentos dos demais recursos sobre a matria versada no presente recurso especial, consoante preceitua o 2o. do art. 2o. da Resoluo STJ no. 8/2008.

Parecer do Ministrio Pblico Federal pelo conhecimento e provimento do recurso especial Fazendrio (e-STJ fl s. 704/706).

s e-STJ fl s. 708/717 consta nova manifestao da FAZENDA NACIONAL em defesa de seu recurso especial.

Tendo em vista a alta repercusso da matria a abranger as instituies educacionais sem fi ns lucrativos de todo o pas, determinei fossem ofi ciadas a Associao Brasileira de Instituies Educacionais Evanglicas - ABIEE, a Associao Nacional de Educao Catlica do Brasil - ANEC, a Associao Brasileira das Universidades Comunitrias

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- ABRUC e a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade - CNEC, como entidades representativas do setor para, em querendo, se manifestar (e-STJ fl . 718).

A Associao Brasileira das Universidades Comunitrias - ABRUC se manifestou no sentido de que a discusso sobre atividades prprias e no prprias viola o principio contbil da entidade, pois a instituio de educao sem fi ns econmicos um todo nico. Considerou que, sejam atividades tpicas de educao ou outras com ela relacionadas, todas essas aes concorrem para manuteno da instituio, revertendo sempre ao seu objetivo institucional. Concluiu que o art. 47, da IN/SRF no. 247/2002 ilegal, pois viola o art. 14, da MP no. 2.158-35/2001 (e-STJ fl s. 729/756).

J a Associao Nacional de Educao Catlica do Brasil - ANEC contribuiu com a juntada de trabalho acadmico s e-STJ fl s. 759/903.

o relatrio.

VOTO

O Sr. Ministro Mauro Campbell Marques (Relator): A questo central dos autos se refere ao exame da iseno da COFINS, contida no art. 14, X, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001), relativa s entidades sem fi ns lucrativos, a fi m de verifi car se abrange as mensalidades pagas pelos alunos de instituio de ensino como contraprestao desses servios educacionais. Deve ser registrado que o presente recurso representativo da controvrsia no discute quaisquer outras receitas que no as mensalidades, no havendo que se falar em receitas decorrentes de aplicaes fi nanceiras ou decorrentes de mercadorias e servios outros (vg. estacionamentos pagos, lanchonetes, aluguel ou taxa cobrada pela utilizao de sales, auditrios, quadras, campos esportivos, dependncias e instalaes, venda de ingressos para eventos promovidos pela entidade, receitas de formaturas, excurses, etc.) prestados por essas entidades que no sejam exclusivamente os de educao.

No caso em anlise, o Tribunal de origem considerou como receitas derivadas das atividades prprias as mensalidades recebidas dos alunos e, com isso, afi rmou estarem abrangidas pela norma de iseno COFINS.

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A COFINS constitui tributo criado para o financiamento da seguridade social da Lei Complementar no. 70, de 30 de dezembro de 1991, e alterada posteriormente, de forma signifi cativa, pelas Leis no. 9.718/1998 e 9.732/1998, bem como pelas Medida Provisrias no. 1.807, de 29 de janeiro de 1999 e no. 2.158-35, de 24 de agosto de 2001.

Sobre a iseno da COFINS, a matria atualmente regida pela Medida Provisria no. 2.158-35, de 24 de agosto de 2001 (originalmente MP no. 1.858-6, de 29 de junho de 1999), que assim dispe no que interessa ao tema ora em anlise:

Art. 13. A contribuio para o PIS/PASEP ser determinada com base na folha de salrios, alquota de um por cento, pelas seguintes entidades:

I - templos de qualquer culto;II - partidos polticos;III - instituies de educao e de assistncia social a que se refere o

art. 12 da Lei no. 9.532, de 10 de dezembro de 1997;IV - instituies de carter filantrpico, recreativo, cultural,

cientfico e as associaes, a que se refere o art. 15 da Lei no. 9.532, de 1997;

V - sindicatos, federaes e confederaes;VI - servios sociais autnomos, criados ou autorizados por lei;VII - conselhos de fiscalizao de profisses regulamentadas;VIII - fundaes de direito privado e fundaes pblicas institudas

ou mantidas pelo Poder Pblico;IX - condomnios de proprietrios de imveis residenciais ou

comerciais; eX - a Organizao das Cooperativas Brasileiras - OCB e as

Organizaes Estaduais de Cooperativas previstas no art. 105 e seu 1o. da Lei no. 5.764, de 16 de dezembro de 1971.

Art. 14. Em relao aos fatos geradores ocorridos a partir de 1 de fevereiro de 1999, so isentas da COFINS as receitas:

(...).X - relativas s atividades prprias das entidades a que se refere o

art. 13.

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Os mencionados artigos 12 e 15 da Lei no. 9.532/1997, por sua vez, estabelecem que a iseno se aplica s instituies de educao ou de assistncia social que prestem os servios para os quais houverem sido institudas e os coloquem disposio da populao em geral, em carter complementar s atividades do Estado, sem fi ns lucrativos (caso do art. 12) e que a iseno se aplica s instituies de carter fi lantrpico, recreativo, cultural e cientfi co e s associaes civis que prestem os servios para os quais houverem sido institudas e os coloquem disposio do grupo de pessoas a que se destinam, sem fi ns lucrativos (caso do art. 15).

Para regular o conceito de atividades prprias das entidades foi publicada pela Secretaria da Receita Federal a Instruo Normativa SRF no. 247/2002, cujo art. 47, regulamentando a iseno prevista em lei para as referidas entidades, assim dispe:

Art. 47. As entidades relacionadas no art. 9o. desta Instruo Normativa:

(...).II so isentas da Cofins em relao s receitas derivadas de suas

atividades prprias. 1o. - Para efeito de fruio dos benefcios fiscais previstos neste

artigo, as entidades de educao, assistncia social e de carter filantrpico devem possuir o Certificado de Entidade Beneficente de Assistncia Social expedido pelo Conselho Nacional de Assistncia Social, renovado a cada trs anos, de acordo com o disposto no art. 55 da Lei no. 8.212, de 1991.

2o. - Consideram-se receitas derivadas das atividades prprias somente aquelas decorrentes de contribuies, doaes, anuidades ou mensalidades fixadas por lei, assemblia ou estatuto, recebidas de associados ou mantenedores, sem carter contraprestacional direto, destinadas ao seu custeio e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais.

A FAZENDA NACIONAL defende a literalidade da Instruo Normativa que restringiu o conceito de receitas decorrentes de atividades prprias das entidades s contribuies, doaes, anuidades ou mensalidades fi xadas por lei, assemblia ou estatuto, recebidas de associados ou mantenedores, sem carter contraprestacional direto,

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destinadas ao seu custeio e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais. Afi rma que o conceito dado pelo art. 47, 2o., da IN/SRF no. 247/2002 no passa de um resgate da defi nio dada pelo Parecer Normativo CST no. 5, de 22 de abril de 1992 (DOU de 23.4.1992, Seo 1, p. 5.022).

O exame do tema merece cautela.Decerto, o conceito estabelecido no art. 47, 2o., da IN/SRF no.

247/2002 tem origem histrica naquele trabalhado no mbito do Parecer Normativo CST no. 5, de 22 de abril de 1992 (DOU de 23.4.1992, Seo 1, p. 5.022), que considerou a no-incidncia da COFINS sobre as receitas derivadas de contribuio, anuidade ou mensalidade fi xada por lei, assemblia ou estatuto social e destinadas ao custeio das atividades essenciais, de associaes, sindicatos, federaes, confederaes, organizaes reguladoras de atividades profi ssionais e outras entidades classistas. Isto porque a base de clculo da COFINS, poca, estava adstrita ao disposto nos arts. 1o. e 2o., da Lei Complementar no. 70/1991, ou seja, ao faturamento, compreendido este como sendo a receita bruta das vendas de mercadorias, de mercadorias e servios e de servios de qualquer natureza. Sendo assim, compreendeu-se no parecer que tais receitas dessas entidades no consistiam em faturamento, sendo faturamento somente aquelas outras receitas, das mesmas entidades, decorrentes da prestao de servios e/ou da venda de mercadorias, mesmo que exclusivamente para seus associados, incindo aqui a COFINS, por no haver iseno legalmente prevista.

Posteriormente, com o advento do art. 3o., 1o., da Lei no. 9.718/1998, a base de clculo da COFINS foi ampliada para abarcar todo e qualquer tipo de receita (ao menos era o que o Fisco pensava at a declarao de inconstitucionalidade proferida pelo STF em repercusso geral no RE no. 585.235 RG-QO, Relator Ministro CEZAR PELUSO, julgado em 10.9.2008, DJe de 27.11.2008). Desse modo, aquelas receitas derivadas de contribuio, anuidade ou mensalidade fi xada por lei, assemblia ou estatuto social e destinadas ao custeio das atividades essenciais, de associaes, sindicatos, federaes, confederaes, organizaes reguladoras de atividades profi ssionais e outras entidades classistas que antes estavam fora do campo de incidncia da COFINS passariam a ser por ela tributadas, no fosse o advento da Medida Provisria no. 1.858, de 26 de junho de 1999 (atual MP no. 2.158-

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35/2001) que em seu art. 14, X, promoveu a iseno da COFINS relativa s atividades prprias das entidades a que se refere o art. 13.

Em razo disso, para o Fisco, a iseno concedida pelo art. 14, X, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001) teria se dado na justa medida das receitas que outrora no eram tributadas pela COFINS, ou seja, na justa medida do que defi nido no Parecer Normativo CST no. 5, de 22 de abril de 1992.

Ocorre que o referido art. 13, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001) faz meno a uma srie de entidades cujas atividades normais a elas inerentes tambm podem possuir natureza contraprestacional, ainda que sem fi ns lucrativos. Tal o caso, para exemplo, das instituies de educao ou de assistncia social previstas no art. 12, da Lei no. 9.532/1997 e das instituies de carter fi lantrpico, recreativo, cultural e cientfi co e as associaes civis previstas no art. 15, da Lei no. 9.532/1997. Em ambas as situaes, no por acaso, os artigos 12 e 15 da Lei no. 9.532/1997 mencionaram que a instituio deve prestar os servios para os quais houver sido instituda. Identifi cou-se ali, na prpria lei, o ncleo do que se chamou de atividades prprias, que seriam esses mesmos servios.

Decerto, ao contrrio da entidades pblicas, que em regra esto proibidas de cobrar mensalidades pelos servios que prestam, haja vista que a Unio funciona como sua mantenedora, as entidades privadas tm garantido o direito ao auto-fi nanciamento.

Essa natureza contraprestacional inerente e necessria sobrevivncia de tais entidades e constitucionalmente incentivada para que possam atuar de forma complementar ao Estado, inclusive foi reconhecida pelo prprio Supremo Tribunal Federal ao conceder medida liminar na ADIN no. 2.028-DF, para suspender a efi ccia do art. 55, III e 3o., da Lei no. 8.212/1991, inseridos pelo art. 1o., da Lei no. 9.732/1998, que exigiram a gratuidade (ausncia de contraprestao) como condio para o gozo da imunidade constitucional do art. 195, 7o., da CF/1988. Transcrevo trecho do voto do Min. Moreira Alves, ento relator da ADIn no. 2.028-DF:

Com efeito, a Constituio, ao conceder imunidade s entidades beneficentes de assistncia social, o fez para que fossem a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios auxiliados nesse terreno

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de assistncia aos carentes por entidades que tambm dispusessem de recursos para tal atendimento gratuito, estabelecendo que a lei determinaria as exigncias necessrias para que se estabelecessem os requisitos necessrios para que as entidades pudessem ser consideradas beneficentes de assistncia social. evidente que tais entidades, para serem beneficentes, teriam de ser filantrpicas (por isso, o inciso II do artigo 55 da Lei no. 8.212/1991, que continua em vigor, exige que a entidade seja portadora do Certificado ou do Registro de Entidade de Fins Filantrpicos, fornecido pelo Conselho Nacional de Servio Social, renovado a cada trs anos), mas no exclusivamente filantrpica, at porque as que o so no o so para o gozo de benefcios fiscais, e esse beneficio concedido pelo 7o. do artigo 195 no o foi para estimular a criao de entidades exclusivamente filantrpicas, mas, sim, das que, tambm sendo filantrpicas sem o serem integralmente, atendessem s exigncias legais para que se impedisse que qualquer entidade desde que praticasse atos de assistncia filantrpica a carentes, gozasse da imunidade, que total, de contribuio para a seguridade social, ainda que no fosse reconhecida como de utilidade pblica, seus dirigentes tivessem remunerao ou vantagens, ou se destinassem elas a fins lucrativos. Alis, so essas entidades - que, por no serem exclusivamente filantrpicas, tm melhores condies de atendimento aos carentes a quem o prestam - que devem ter sua criao estimulada para o auxilio ao Estado nesse setor, mxime em poca em que, como a atual, so escassas as doaes para a manuteno das que se dedicam exclusivamente filantropia.

De outra parte, no tocante s entidades sem fins lucrativos educacionais e de prestao de servios de sade que no pratiquem de forma exclusiva e gratuita atendimento a pessoas carentes, a prpria extenso da imunidade foi restringida, pois s gozaro desta na proporo do valor das vagas cedidas integral e gratuitamente a carentes, e do valor do atendimento sade de carter assistencial, o que implica dizer que a imunidade para a qual a Constituio no estabelece limitao em sua extenso o por lei (ADIn no. 2.028-DF - Tribunal Pleno, Rel. Min. MOREIRA ALVES, julgado em 11.11.1999).

Posteriormente, o legislador ordinrio, com o advento da Lei no. 12.101/2009, tambm reconheceu a existncia e importncia dessas atividades contraprestacionais, estabelecendo apenas patamares mnimos de servios gratuitos que precisariam ser cumpridos para o gozo in totum das benesses fi scais de imunidade e iseno, verbo ad verbum:

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Lei no. 12.101/2009Da SadeArt. 4o. Para ser considerada beneficente e fazer jus certificao,

a entidade de sade dever, nos termos do regulamento:[...]I I - ofertar a prestao de seus servios ao SUS no percentual

mnimo de 60% (sessenta por cento);[...]Art. 8o. No havendo interesse de contratao pelo Gestor local

do SUS dos servios de sade ofertados pela entidade no percentual mnimo a que se refere o inciso II do art. 4o., a entidade dever comprovar a aplicao de percentual da sua receita em gratuidade na rea da sade, da seguinte forma: (Redao dada pela Lei no. 12.453, de 2011)

I - 20% (vinte por cento), se o percentual de atendimento ao SUS for inferior a 30% (trinta por cento);

II - 10% (dez por cento), se o percentual de atendimento ao SUS for igual ou superior a 30 (trinta) e inferior a 50% (cinquenta por cento); ou

III - 5% (cinco por cento), se o percentual de atendimento ao SUS for igual ou superior a 50% (cinquenta por cento) ou se completar o quantitativo das internaes hospitalares e atendimentos ambulatoriais, com atendimentos gratuitos devidamente informados de acordo com o disposto no art. 5o., no financiados pelo SUS ou por qualquer outra fonte.

Pargrafo nico. (VETADO) 2o. A receita prevista no caput ser a efetivamente recebida da

prestao de servios de sade. (Includo pela Lei no. 12.453, de 2011)

[...]

Da Educao[...]A rt. 13. Para os fins da concesso da certificao de que trata

esta Lei, a entidade de educao dever aplicar anualmente em gratuidade, na forma do 1o., pelo menos 20% (vinte por cento) da receita anual efetivamente recebida nos termos da Lei no. 9.780, de 23 de novembro de 1999.

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[...]

Da Assistncia SocialArt. 18. A certificao ou sua renovao ser concedida entidade

de assistncia social que presta servios ou realiza aes assistenciais, de forma gratuita, continuada e planejada, para os usurios e a quem deles necessitar, sem qualquer discriminao, observada a Lei no. 8.742, de 7 de dezembro de 1993.

1o. As entidades de assistncia social a que se refere o caput so aquelas que prestam, sem fins lucrativos, atendimento e assessoramento aos beneficirios, bem como as que atuam na defesa e garantia de seus direitos.

2o. As entidades que prestam servios com objetivo de habilitao e reabilitao de pessoa com deficincia e de promoo da sua integrao vida comunitria e aquelas abrangidas pelo disposto no art. 35 da Lei no. 10.741/2003 podero ser certificadas, desde que comprovem a oferta de, no mnimo, 60% (sessenta por cento) de sua capacidade de atendimento ao sistema de assistncia social.

[...]

Desse modo, no resta dvida alguma que o conceito extravel da expresso atividades prprias das entidades a que se refere o art. 13, contida no art. 14, X, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001), bem mais amplo que o conceito estabelecido no art. 47, 2o., da IN/SRF no. 247/2002 e que aquele trabalhado no mbito do Parecer Normativo CST no. 5, de 22 de abril de 1992, abarcando algumas, no todas, as atividades contraprestacionais das referidas entidades.

Refora essa compreenso o fato de que com a declarao de inconstitucionalidade do art. 3o., 1o., da Lei no. 9.718/1998 pelo STF em repercusso geral no RE no. 585.235 RG-QO, a vingar o entendimento restritivo da Secretaria da Receita Federal do Brasil - RFB, restaria totalmente incuo o art. 14, X, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001), j que estaria concedendo iseno para algo que j estaria fora do campo de incidncia da COFINS por fora do RE no. 585.235 RG-QO.

Com efeito, so muitos os julgados administrativos proferidos no mbito do Conselho Administrativos de Recursos Fiscais - CARF no

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sentido de que o art. 47, 2o., da IN/SRF no. 247/2002 extrapolou o disposto no art. 14, X, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001), fazendo restrio indevida, in litteris:

Assunto: Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Perodo de apurao: 1.11.2001 a 31.10.2006 ENTIDADE BENEFICENTE DE ASSISTNCIA SOCIAL. IMUNIDADE. ABRANGNCIA. SERVIOS CONTRAPRESTACIONAIS. REQUISITOS. ART. 55 DA LEI No. 8.212/1991. Obedecidos os requisitos estabelecidos pelo art. 55 da Lei no. 8.212/1991, a entidade beneficente de assistncia social faz jus iseno da Cofins, que abrange inclusive a receita oriunda de servios contraprestacionais relacionados com o seu objeto social. SMULA No. 2. INCONSTITUCIONALIDADE DE LEIS. O Segundo Conselho de Contribuintes no competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de legislao tributria. COFINS. BASE DE CLCULO. As receitas financeiras e outras receitas integram a base de clculo da contribuio. SMULA No. 03. TAXA SELIC. cabvel a cobrana de juros de mora sobre os dbitos para com a Unio decorrentes de tributos e contribuies administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil com base na taxa referencial do Sistema Especial de Liquidao e Custdia - Selic para ttulos federais. Recurso provido especial em parte (Processo no. 19515.002921/2006-39. Acrdo no. 203-12738. 3a. TURMA/CSRF/CARF/MF/DF. Rel. Cons. Rodrigo Cardozo Miranda. Publicado em 11.3.2008).

Assunto: Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Perodo de apurao: 1.4.1999 a 28.2.2004 ENTIDADE BENEFICENTE DE ASSISTNCIA SOCIAL. ISENO. REQUISITOS. ART. 55 DA LEI No. 8.212/1991. ABRANGNCIA. POSSIBILIDADE DE SERVIOS CONTRAPRESTACIONAIS. Obedecidos os requisitos estabelecidos pelo art. 55 da Lei no. 8.212/1991, a entidade beneficente de assistncia social faz jus iseno da Cofins, que abrange inclusive a receita oriunda de servios contraprestacionais relacionados com o seu objeto social. (Processo no. 10580.009928/2004-61. Acrdo no. 3401-002.233. 1a. TO/4a. CMARA/3a. SEJUL/CARF/MF. Rel. Cons. Emanuel Carlos Dantas de Assis, publicado em 16.8.2013).

Assunto: Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Perodo de apurao: 1.1.2000 a 31.12.2001 ENTIDADE BENEFICENTE DE ASSISTNCIA SOCIAL.

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ISENO. REQUISITOS. ART. 55 DA LEI No. 8.212/1991. ABRANGNCIA. POSSIBILIDADE DE SERVIOS CONTRAPRESTACIONAIS. Obedecidos os requisitos estabelecidos pelo art. 55 da Lei no. 8.212/1991, a entidade beneficente de assistncia social faz jus iseno da Cofins, que abrange inclusive a receita oriunda de servios contraprestacionais relacionados com o seu objeto social. Recurso Voluntrio provido. (Processo no. 10680.003343/2005-91. Acrdo no. 3201-001.457. 1a. TO/2a. CMARA/3a. SEJUL/CARF/MF. Rel. Cons. Mrcia Helena Trajano Damorim, Rel. designado Cons. Daniel Mariz Gudio. Publicado em 4.2.2014).

Assunto: Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Perodo de apurao: 1.1.2000 a 31.12.2004 COFINS. IMUNIDADE. ART. 14, X, DA MP no. 2.158-35/2001. ART. 46 DO DECRETO No. 4.524/2002. ART. 99 DO CTN. ATIVIDADE PRPRIA. A prestao de servios e explorao dos bens patrimoniais para auferir receita a ser destinada a suas finalidades assistenciais constitui uma das atividades prprias da entidade beneficente, prevista em seu estatuto social, sendo ilegal restringir o conceito de atividade prpria para excluir aquelas que envolvem contraprestao direta, porquanto o art. 14, X, da MP 2.158-35/2001, e o art. 46 do Decreto no. 4.524/2002 assim no o fizeram. COFINS. IMUNIDADE. ART. 195, 7, DA CF/1988. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 14, X, DA MP no. 2.158-35/2001. SMULA CARF No. 2. Os argumentos da recorrente, que passam pela defesa da inconstitucionalidade da legislao que lastreia o auto de infrao, por ofensa imunidade, prevista no art. 195, 7o., da CF/1988, no merecem ser conhecidos, consoante encartado na Smula CARF no. 2: Recurso voluntrio conhecido em parte. Na parte conhecida, recurso voluntrio provido (Processo no. 13839.001046/2005-58. Acrdo no. 3202-000.904. 2a. TO/2a. CMARA/3a. SEJUL/CARF/MF. Rel. Cons. Thiago Moura de Albuquerque Alves. Publicado em 18.11.2013).

Assunto: Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Perodo de apurao: 1.1.2006 a 31.12.2007 COFINS. IMUNIDADE DAS CONTRIBUIES PARA A PREVIDNCIA SOCIAL. ART. 195, 7o., CF. ART. 55 DA LEI no. 8.212/1991. CEBAS. Na vigncia do art. 55 da Lei no. 8.212/1991, a imunidade prevista no art. 195, 7o., da Constituio estava condicionada, dentre outros requisitos, a que a instituio fosse portadora do Registro

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e do Certificado de Entidade Beneficente de Assistncia Social (CEBAS), fornecidos pelo Conselho Nacional de Assistncia Social, renovado a cada trs anos. COFINS. ISENO. ENTIDADE EDUCACIONAL SEM FINS LUCRATIVOS. ART. 14 DA MP no. 2.158/2001. RECEITA DA ATIVIDADE PRPRIA. A iseno da Cofins prevista no art. 14, X, c/c art. 13, III e IV, da MP no. 2.158-35/2001, ao se referir s receitas relativas s atividades prprias, aplica-se principalmente em relao s receitas auferidas em contraprestao pelo desempenho das atividades para as quais foram constitudas as entidades, no caso, pela prestao de servios educacionais, culturais e cientficos. Precedentes (CSRF, Acrdos no. 9303-01.486 e 9303-001.869) (Processo no. 15504.019042/2010-09, Acrdo no. 3403-002.280, 3a. TO / 4a. CMARA / 3a. SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Ivan Allegretti, publicado em 1.8.2013).

Assunto: Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Perodo de apurao: 1.1.2003 a 31.12.2003 ENTIDADES DE ASSISTNCIA SOCIAL. ISENO. RECEITAS DE ATIVIDADES PRPRIAS. ABRANGNCIA. vista da deciso do Supremo Tribunal Federal na medida cautelar na ADI no. 2.028, os requisitos de exclusividade e gratuidade na prestao de servios no podem ser exigidos das entidades de assistncia social para a caracterizao da imunidade constitucional s contribuies sociais. Assim, o conceito de receitas de atividades prprias, para efeito da iseno de PIS e Cofins das entidades que tenham certificado de entidade beneficente de assistncia social, abrange tambm as receitas retributivas destas entidades, relativamente aos servios prestados que faam parte de seu objeto social. Recurso Voluntrio Provido (Processo no. 10384.003726/2007-75, Acrdo no. 3302-001.935, 2a. TO / 3a. CMARA / 3a. SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Fabiola Cassiano Keramidas, publicado em 4.3.2013).

Assunto: Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Perodo de apurao: 1.1.2006 a 31.12.2007 COFINS. IMUNIDADE DAS CONTRIBUIES PARA A PREVIDNCIA SOCIAL. ART. 195, 7o., CF. ART. 55 DA LEI no. 8.212/1991. CEBAS. Na vigncia do art. 55 da Lei no. 8.212/1991, a imunidade prevista no art. 195, 7o., da Constituio estava condicionada, dentre outros requisitos, a que a instituio fosse portadora do Registro e do Certificado de Entidade Beneficente de Assistncia Social (CEBAS), fornecidos pelo Conselho Nacional de Assistncia Social,

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renovado a cada trs anos. COFINS. ISENO. ENTIDADE EDUCACIONAL SEM FINS LUCRATIVOS. ART. 14 DA MP no. 2.158/2001. RECEITA DA ATIVIDADE PRPRIA. A iseno da Cofins prevista no art. 14, X, c/c art. 13, III e IV, da MP no. 2.158-35/2001, ao se referir s receitas relativas s atividades prprias, aplica-se principalmente em relao s receitas auferidas em contraprestao pelo desempenho das atividades para as quais foram constitudas as entidades, no caso, pela prestao de servios educacionais, culturais e cientficos. Precedentes (CSRF, Acrdos no. 9303-01.486 e 9303-001.869). Recurso provido. (Processo no. 15504.019042/2010-09, Acrdo no. 3403-002.280, 3a. TO / 4a. CMARA / 3a. SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Ivan Allegretti, julgado em 25.6.2013).

COFINS. IMUNIDADE DE INSTITUIO DE EDUCAO. INEXISTNCIA No se aplica s instituies de educao a imunidade relativa COFINS deferida pelo art. 195, 7o. da Constituio Federal, pois no se confundem Educao e Assistncia Social. INSTITUIES DE EDUCAO. ISENO. O art. 14, inciso X da Medida Provisria no. 1.858/1999 apenas exigiu que as instituies de educao sejam sem fins lucrativos e prestem os servios para que foram constitudas populao em geral. Suas receitas prprias, sobre as quais se aplica a iseno, so as decorrentes do servio prestado. (Processo no. 19515.002662/2004-84 Acrdo no. 9303-001.869, 3a. TURMA / CSRF / CARF / MF, Rel. Cons. Julio Cesar Alves Ramos, Sesso de 7.3.2012).

Smula no. 107 do CARF: A receita da atividade prpria, objeto de iseno da COFINS prevista no art. 14, X, c/c art. 13, III, da MP no. 2.158-35, de 2001, alcana as receitas obtidas em contraprestao de servios educacionais prestados pelas entidades de educao sem fins lucrativos a que se refere o art. 12 da Lei no. 9.532, da 1997.

Registro, no entanto, a existncia de posies contrrias, tanto no mbito do CARF quanto aqui neste Superior Tribunal de Justia, in verbis:

Assunto: Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Perodo de apurao: 31.1.2006 a 31.12.2007 IMUNIDADE. ART. 150, VI, c, IMPOSTOS. ART. 195, 7o., CONTRIBUIES SOCIAIS. A imunidade prevista na alnea c, do artigo 150 da Constituio Federal hospeda a proteo contra a

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incidncia dos impostos e no das contribuies sociais. A imunidade em relao s contribuies sociais, dentre as quais se insere a Cofins, est prevista no artigo 7o., do art. 195, da Constituio Federal. INSTITUIO DE EDUCAO E DE ASSISTNCIA SOCIAL. ENTIDADE BENEFICENTE DE ASSISTNCIA SOCIAL. SERVIO SOCIAL AUTNOMO CRIADO OU AUTORIZADO POR LEI. SEBRAE. O objeto social do Sebrae indica a sua natureza de um servio social autnomo criado ou autorizado por lei, no podendo ser considerado como dentre as instituies de educao e de assistncia social e/ou como uma entidade beneficente de assistncia social. ISENO. ATIVIDADES PRPRIAS. Somente esto isentas da Cofins as receitas decorrentes das atividades prprias da entidade, por estas entendidas as contribuies, doaes, anuidades ou mensalidades fixadas por lei, assemblia ou estatuto, recebidas de associados ou mantenedores, sem carter contraprestacional direto, destinadas ao seu custeio e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais, tal qual definio fixada no 2o. do inciso II, do art. 47 da IN SRF no. 247, de 21 de novembro de 2002. Leitura do disposto no artigo 14, X, c/c com o artigo 13, VI, da Medida Provisria no. 2.158-35, de 24.8.2001. Recurso Voluntrio Negado (Processo no. 15504.011242/2010-13, Acrdo no. 3401-002.021, 1a. TO / 4a. CMARA / 3a. SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Odassi Guerzoin Filho, publicado em 28.11.2012).

Tributrio. COFINS. Fundao de direito privado. Atividades remuneradas. Contraprestao. Fatos geradores no-isentos.

As receitas da associao oriundas da remunerao pela prestao de servios profissionais de ensino e de treinamento no so isentas da COFINS.

Agravo regimental improvido (AgRg no REsp no. 1.145.172/RS, STJ, 2a. Turma, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 29.10.2009)

Tributrio. Fundao de direito privado. Atividades remuneradas. Contraprestao. Fatos geradores no isentos. Incidncia da COFINS. Reexame ftico-probatrio inexistente. Norma de iseno tributria. Interpretao dada na jurisprudncia do STJ.

1. A controvrsia essencial dos autos restringe-se aos seguintes aspectos: a) suposta existncia de reexame do conjunto ftico probatrio na deciso agravada; b) alegado equvoco na interpretao da norma de iseno da COFINS.

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2. Do exame da deciso agravada, constata-se, ao contrrio do alegado pela agravante, que o carter contraprestacional de servios profissionais de ensino e de treinamento implica incidncia da COFINS e prescinde de reexame ftico-probatrio contido nos autos.

3. A legislao de regncia foi aplicada na forma da jurisprudncia dominante do STJ. Denota-se que, ao contrrio do decidido pelo Tribunal de origem, o STJ entende que segundo a exegese do art. 111, inciso II, do CTN, a legislao tributria que outorga a iseno deve ser interpretada literalmente. Portanto, inexiste suposta iseno no caso, uma vez que a agravante aufere receita oriunda da remunerao pela prestao de servios.

Agravo regimental improvido (AgRg no REsp no. 476.246/RS, STJ, 2a. Turma, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJ 12.11.2007, p. 199)

Essa ltima jurisprudncia, data vnia, compreendo que deva ser superada pelos motivos que alinhavei.

No caso, estamos diante de uma entidade que tem por fi nalidade precpua a prestao de servios educacionais. Trata-se da sua razo de existir, do ncleo de suas atividades, do prprio servio para o qual foi instituda, na expresso dos artigos 12 e 15 da Lei no. 9.532/1997. Nessa toada, no h como compreender que as receitas auferidas nessa condio (mensalidades dos alunos) no sejam aquelas decorrentes de atividades prprias da entidade, conforme o exige a iseno estabelecida no art. 14, X, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001). Sendo assim, fl agrante a ilicitude do art. 47, 2o., da IN/SRF no. 247/2002, nessa extenso.

Tese julgada para efeito do art. 543-C, do CPC: as receitas auferidas a ttulo de mensalidades dos alunos de instituies de ensino sem fi ns lucrativos so decorrentes de atividades prprias da entidade, conforme o exige a iseno estabelecida no art. 14, X, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001), sendo fl agrante a ilicitude do art. 47, 2o., da IN/SRF no. 247/2002, nessa extenso.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao presente recurso especial.

Porquanto tratar-se de recurso representativo da controvrsia, sujeito ao procedimento do art. 543-C do Cdigo de Processo Civil, determino,

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aps a publicao do acrdo, a comunicao Presidncia do STJ, aos Ministros dessa Colenda Primeira Seo, bem como aos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justia, com fi ns de cumprimento do disposto no pargrafo 7o. do artigo 543-C do Cdigo de Processo Civil (arts. 5o., II, e 6o., da Resoluo no. 8/2008).

como voto.

VOTO-VISTA

Ementa: Tributrio. Recurso especial. COFINS. Iseno. Receitas referentes a atividades prprias. Instituio de ensino sem fi ns lucrativos. IN no. 247/2002. Legalidade. Artigo 111 do CTN. Interpretao restritiva. Precedentes desta Corte. Recurso especial provido, divergindo do voto do ministro relator.

O Sr. Ministro Benedito Gonalves: Trata-se de recurso especial interposto pela Fazenda Nacional, com fundamento na alnea a do permissivo constitucional em face de acrdo proferido pelo Tribunal Regional Federal da Quarta Regio, assim ementado (fl . 625):

COFINS. Iseno. Entidade sem fim lucrativo. Inciso X do art. 14 da MP no. 2.1.58-35/2001. Pargrafo 2o. do art. 47 da IN no. 247/2002. Restries lei. Impossibilidade.

1. O pargrafo 2o. do art. 47 da IN no. 247/2002 da Secretaria da Receita Federal ofende o inciso X do art. 14 da MP no. 2.158-35/2001 ao excluir do, conceito de receitas relativas s atividades prprias das entidades, as contraprestaes pelos servios prprios, que so as mensalidades recebidas de alunos.

2. iseno da COFINS aplica-se o seguinte raciocnio: se a entidade sem fins lucrativos aufere receitas por meio das atividades para as quais houver sido instituda, tais como prestao de servios de educao, prpria.

3. Igualmente isentas so as aplicaes financeiras concernentes, j que se trata de reflexos da atividade prpria da entidade, portanto tm a mesma natureza desta.

Os embargos de declarao foram providos, to somente para fi ns de prequestionamento, nos termos do voto de fl s. 642-648.

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Em suas razes, a Fazenda Nacional alega que o acrdo recorrido afronta os artigos 14, X, da MP de no. 2.158-35/2008, bem como do artigo 111 do CTN, na medida em que a referida Medida Provisria veicula iseno da COFINS sobre as atividades prprias destinadas, dentre outras, s entidades de educao sem fi ns lucrativos que no faam jus imunidade prevista no artigo 195, 7o. da Constituio (fl . 636).

Nesse sentido, defende que a discusso dos autos se restringe discusso acerca do alcance da iseno prevista no artigo acima referido, alm de citar precedente desta Corte que acatou a tese ora defendida, no sentido de que o conceito de receitas prprias para o fi m da iseno da COFINS no alcana a remunerao pela prestao de servios profi ssionais de ensino e de treinamento (fl . 638).

Sob esse enfoque defende a legalidade da IN SRF no. 247/2002, no que disps a respeito das receitas prprias das instituies de educao e assistncia social, defi nindo-as como aquelas decorrentes de contribuies, doaes, anuidades ou mensalidades fi xadas por lei, assemblias ou estatuto, recebidas de associados ou mantenedores, sem carter contraprestacional direto, destinadas ao seu custeio e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais, de forma que no estariam abrangidas pela iseno aquelas receitas decorrentes da contraprestao direta, especialmente em face do disposto no artigo 111 do CTN.

Assim, conclui que as receitas tributadas no caso concreto - aluguis, aplicaes fi nanceiras e mensalidades dos alunos - no decorrem das atividades prprias das instituies educacionais.

Contrarrazes s fl s. 655-685.Deciso positiva de admissibilidade s fl s. 686-687.Por meio da deciso de fl s. 696-697, o Sr. Ministro Relator Mauro

Campbell Marques afetou a controvrsia ao regime do artigo 543-C do CPC.

Em parecer acostado s fl s. 704-706 dos autos, o Ministrio Pblico opinou pelo provimento do apelo especial.

O Sr. Ministro Relator proferiu voto pela negativa de provimento do recurso especial, em sntese, aos seguintes argumentos: (i) o artigo 13 da atual Medida Provisria no. 2.158-35/2001 menciona vrias entidades cujas atividades normais a elas inerentes tambm podem possuir natureza

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contraprestacional, independentemente de no serem destinadas a fi ns lucrativos; (ii) a natureza contraprestacional inerente s entidades que prestam servios educacionais, as quais so constitucionalmente incentivadas para atuarem de forma complementar ao estado, foi reconhecida pelo STF, que deferiu liminar na ADIn no. 2.028-DF para suspender o artigo 55, III e 3o. da Lei no. 8.212/1991, que exigiu a gratuidade como condio para o gozo da imunidade prevista no artigo 195, 7o. da CF/1988; (iii) a Lei no. 12.101/2009, reconhecendo a importncia das atividades contraprestacionais, estabeleceu apenas patamares mnimos de servios gratuitos que precisariam ser cumpridos para o gozo in totum das benesses fiscais; (iv) h vrios e recentes julgamentos do CARF - Conselho Administrativo de Recursos Fiscais que entendem ter a IN/SRF no. 247/2002 extrapolado os limites do artigo 14, X da MP no. 2.158-35/2001.

Para melhor refl exo acerca da controvrsia, pedi vista dos autos.De incio, registro o brilhantismo do voto apresentado pelo Sr.

Ministro Relator, rico em detalhes acerca da legislao discutida, como de costume.

Entretanto, peo vnias, para divergir do entendimento que foi proposto e prestigiar os precedentes desta Corte existentes sobre o tema.

Com efeito, nos termos relatados, cinge-se a discusso em saber se as receitas obtidas pelas instituies de ensino por meio do pagamento direto de mensalidades pelos alunos consistem em receitas advindas das atividades prprias de tais entidades, para fi ns da obteno da iseno relativamente COFINS, prevista no artigo 14, inciso X, da MP no. 2.158-35/2001.

A resoluo da controvrsia, necessariamente, passa pelo exame da redao do referido dispositivo legal, juntamente com a regra que lhe regulamenta, motivo pelo qual, seguem transcritos:

MP no. 2.158-35/2001[...]Art. 13. A contribuio para o PIS/PASEP ser determinada com

base na folha de salrios, alquota de um por cento, pelas seguintes entidades:

[...]

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III - instituies de educao e de assistncia social a que se refere o art. 12 da Lei no. 9.532, de 10 de dezembro de 1997;

IV - instituies de carter filantrpico, recreativo, cultural, cientfico e as associaes, a que se refere o art. 15 da Lei no. 9.532, de 1997;

[...]14. Em relao aos fatos geradores ocorridos a partir de 1 de

fevereiro de 1999, so isentas da COFINS as receitas:[...]X - relativas s atividades prprias das entidades a que se refere o

art. 13.

Lei no. 9.532/1997[...]Art. 12. Para efeito do disposto no art. 150, inciso VI, alnea c,

da Constituio, considera-se imune a instituio de educao ou de assistncia social que preste os servios para os quais houver sido instituda e os coloque disposio da populao em geral, em carter complementar s atividades do Estado, sem fins lucrativos. (Vide artigos 1o. e 2o. da Mpv 2.189-49, de 2001) -35, de 2001).

IN no. 247/2002 da SRF[...]Art. 47. As entidades relacionadas no art. 9o. desta Instruo

Normativa:I no contribuem para o PIS/Pasep incidente sobre o faturamento;

eII so isentas da Cofins em relao s receitas derivadas de suas

atividades prprias. 1o. Para efeito de fruio dos benefcios fiscais previstos neste

artigo, as entidades de educao, assistncia social e de carter filantrpico devem possuir o Certificado de Entidade Beneficente de Assistncia Social expedido pelo Conselho Nacional de Assistncia Social, renovado a cada trs anos, de acordo com o disposto no art. 55 da Lei no. 8.212, de 1991.

2o. Consideram-se receitas derivadas das atividades prprias somente aquelas decorrentes de contribuies, doaes, anuidades ou mensalidades fixadas por lei, assemblia ou estatuto, recebidas de

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associados ou mantenedores, sem carter contraprestacional direto, destinadas ao seu custeio e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais

De incio, cumpre frisar que, no caso concreto, no se discute a imunidade das instituies de ensino sem fi ns lucrativos, a qual se refere to somente aos impostos, nos exatos termos do artigo 150, inciso VI, alnea c, da Constituio Federal, verbis:

Art. 150. Sem prejuzo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios:

[...]VI- instituir impostos sobre: (Vide Emenda Constitucional no. 3,

de 1993)[.. .]c) patrimnio, renda ou servios dos partidos polticos, inclusive suas

fundaes, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituies de educao e de assistncia social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;

O objeto de anlise no presente feito , portanto, a extenso da iseno (ou seja, favor fi scal concedido pelo legislador e que pode ser revogado) relativa COFINS, concedida pelo j citado artigo 14, inciso X, da MP no. 2.158-35/2001, o qual se refere s receitas relativas s atividades prprias das instituies de educao mencionadas pelo art. 12 da Lei no. 9.532/1997.

O mencionado artigo 12, por seu turno, faz referncia s instituies de educao que prestem os servios para os quais houver sido instituda e os coloque disposio da populao em geral, em carter complementar s atividades do Estado, sem fi ns lucrativos.

A Receita Federal, ao regulamentar a iseno em questo, disps que as receitas advindas das atividades prprias das entidades, mencionadas na lei, no abrangem aquelas que possuem carter contraprestacional direto, mas apenas as decorrentes de contribuies, doaes, anuidades ou mensalidades fixadas por lei, assemblia ou estatuto, recebidas de associados ou mantenedores, destinadas ao seu custeio e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais.

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Rogando, mais uma vez, vnias ao Sr. Ministro Relator, entendo que a Instruo Normativa em questo no ultrapassou os limites da lei que regulamenta.

De fato, no h como considerar isentas da COFINS as receitas obtidas pelas instituies de ensino que decorram de relao contratual e sinalagmtica, ou seja, aquelas oriundas da prestao de servios em troca de pagamento direto realizado pelos alunos.

Isso porque tais receitas no podem ser entendidas como derivadas das atividades prprias das instituies de educao mencionadas pelo art. 12 da Lei no. 9.532/1997, pois estas, de acordo com a referida previso legal, so as que prestam os servios para os quais so institudas e os coloca disposio da populao em geral, em carter complementar s atividades do Estado, sem fi ns lucrativos.

Sob esse enfoque, que a Instruo Normativa em comento limitou a iseno s receitas obtidas por meio de contribuies, doaes, anuidades ou mensalidades fixadas por lei, assemblia ou estatuto, recebidas de associados ou mantenedores, sem carter contraprestacional direto, destinadas ao seu custeio e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais.

Ora, se as instituies de ensino mencionadas pelo artigo que concedeu o benefcio fi scal so aquelas que no buscam fi ns lucrativos, no vejo ilegalidade na instruo normativa que detalha se referir a iseno to somente s receitas prprias das atividades, entendidas como aquelas diretamente relacionadas natureza das referidas instituies e necessrias ao cumprimento dos seus fi ns, sem que se vise a obteno de lucro.

As receitas obtidas por meio do pagamento de mensalidades, apesar de ajudarem no desempenho das atividades da instituio educacional (e de no descaracterizarem sua fi nalidade no lucrativa), no se relacionam diretamente com a fi nalidade das instituies de ensino, que so de carter social (prestao de servio destinado comunidade em complementao quele feito pelo Estado) e, por esse motivo, foram excludas da iseno em discusso.

Assim, o fato de as instituies de ensino sem fi ns lucrativos poderem desenvolver atividades econmicas ou investimentos com o escopo de

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obter recursos que auxiliem na realizao de seus objetivos sociais, ainda que no distribuam lucros, no permite, por si s, que as receitas da advindas sejam excludas da base de clculo prevista pelos artigos 2o. e 3o. da Lei no. 9.718/1998.

Por outro lado, destaco que a interpretao segundo a qual as receitas decorrentes das mensalidades pagas como contraprestao pelos alunos s instituies de ensinos estariam abrangidas pela iseno concedida pelo artigo 14, X, da MP no. 2.158-35/2001, acaba por estender o benefcio fi scal a situao nele no prevista, em clara contrariedade ao artigo 111, inciso II, do CTN, segundo o qual a legislao tributria referente outorga de iseno deve ser interpretada literalmente.

A esse respeito, peo vnia para colacionar os precedentes desta Corte a respeito do tema (grifos nossos):

Tributrio. Fundao de direito privado. Atividades remuneradas. Contraprestao. Fatos geradores no isentos. Incidncia da COFINS. Reexame ftico-probatrio inexistente. Norma de iseno tributria. Interpretao dada na jurisprudncia do STJ.

1. A controvrsia essencial dos autos restringe-se aos seguintes aspectos: a) suposta existncia de reexame do conjunto ftico probatrio na deciso agravada; b) alegado equvoco na interpretao da norma de iseno da COFINS.

2. Do exame da deciso agravada, constata-se, ao contrrio do alegado pela agravante, que o carter contraprestacional de servios profissionais de ensino e de treinamento implica incidncia da COFINS e prescinde de reexame ftico-probatrio contido nos autos.

3. A legislao de regncia foi aplicada na forma da jurisprudncia dominante do STJ. Denota-se que, ao contrrio do decidido pelo Tribunal de origem, o STJ entende que segundo a exegese do art. 111, inciso II, do CTN, a legislao tributria que outorga a iseno deve ser interpretada literalmente. Portanto, inexiste suposta iseno no caso, uma vez que a agravante aufere receita oriunda da remunerao pela prestao de servios.

Agravo regimental improvido (AgRg no REsp no. 476.246/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, Segunda Turma, julgado em 23.10.2007, DJ 12.11.2007, p. 199).

De fato, a extenso da iseno para fi ns de abranger receitas que no so prprias das instituies de ensino sem fi ns lucrativos, dado o

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seu carter ntido de contraprestao, como o caso das mensalidades pagas diretamente pelos alunos, ofende a diretriz do Cdigo Tributrio Nacional de que as isenes devem ser interpretadas de forma literal.

Ante o exposto, peo vnia ao Ministro Relator para dele divergir e dar provimento ao recurso especial da Fazenda Nacional.

como voto.

VOTO-VISTA

A Sra. Ministra Assusete Magalhes: Trata-se de Recurso Especial, interposto pela FAZENDA NACIONAL, com fundamento na alnea a do permissivo constitucional, contra acrdo do Tribunal Regional Federal da 4a. Regio, assim ementado:

COFINS. Iseno. Entidade sem fim lucrativo. Inciso X do art. 14 da MP no. 2.158-35/2001. Pargrafo 2o. do art. 47 da IN no. 247/2002. Restries lei. Impossibilidade.

1. O pargrafo 2o. do art. 47 da IN no. 247/2002 da Secretaria da Receita Federal ofende o inciso X do art. 14 da MP no. 2.158-35/01 ao excluir do conceito de receitas relativas s atividades prprias das entidades, as contraprestaes pelos servios prprios, que so as mensalidades recebidas de alunos.

2. iseno da COFINS aplica-se o seguinte raciocnio: se a entidade sem fins lucrativos aufere receitas por meio das atividades para os quais houver sido instituda, tais como prestao de servios de educao, prpria.

3. Igualmente isentas so as aplicaes financeiras concernentes, j que se trata de reflexos da atividade prpria da entidade, portanto tm a mesma natureza desta (fl. 625e).

Opostos Embargos Declaratrios, foram parcialmente acolhidos, para fi ns de prequestionamento (fl s. 642/648e).

Em seu Recurso Especial, a FAZENDA NACIONAL alega ofensa ao art. 14, X, da Medida Provisria no. 2.158-35/2001, ao argumento de que tal dispositivo, ao isentar de Contribuies para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) as receitas relativas s atividades prprias das instituies de educao, sem fi ns lucrativos, no excluiu, do mbito

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de incidncia da exao, a remunerao obtida pela prestao de servios de ensino e treinamento.

Sustenta que incide COFINS sobre receitas de carter contraprestacional, obtidas pela entidade educacional sem fi ns lucrativos, tais como as provenientes das mensalidades pagas pela prestao de servios de ensino ou venda de mercadorias, ainda que a seus associados.

Assevera que a Receita Federal editou a Instruo Normativa SRF no. 247/2002, que, no seu art. 47, 2o., excluiu, do conceito de receitas relativas s atividades prprias das entidades sem fins lucrativos, a contraprestao pelos servios de educao.

Requer, assim, o provimento do Recurso Especial, para que a iseno da COFINS no se estenda s mensalidades pagas pelos alunos da instituio de ensino, como contraprestao ao servio prestado.

Nesse contexto, tem-se que a tese discutida no presente Recurso Especial, em sntese, a seguinte: as mensalidades pagas pelos alunos da instituio de ensino sem fi ns lucrativos, em contrapartida aos servios educacionais, so alcanadas pela iseno de COFINS, prevista na Medida Provisria no. 2.158-35/2001?

A SOCIEDADE EDUCACIONAL MONTEIRO LOBATO, ora recorrida, afi rma, em suas contrarrazes, que o art. 47, 2o., da IN no. 247/2002 ofende o inciso X do art. 14 da Medida Provisria no. 2.158-35/2001, ao excluir do conceito de receitas relativas s atividades prprias das entidades, as contraprestaes pelos servios prprios que so as mensalidades recebidas de alunos, pelo servio de educao que lhes prestado (fl . 622e).

Em vista da multiplicidade de recursos tratando da matria deduzida nos autos, foi o Recurso Especial submetido ao rito do art. 543-C do Cdigo de Processo Civil, sendo afetado Primeira Seo do Superior Tribunal de Justia (fl s. 696/697e).

O Ministrio Pblico Federal manifestou-se pelo provimento do Recurso Especial (fl s. 704/706e).

Iniciado o julgamento do Recurso Especial, perante a Primeira Seo desta Corte, o Relator do feito, Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, votou pelo improvimento do apelo.

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Asseverou o Ministro Relator, para tanto, em apertada sntese, que: a) as mensalidades escolares, pagas pelos alunos de instituies de ensino sem fi ns lucrativos, esto includas no conceito de receitas relativas atividade prpria da entidade, fazendo jus, portanto, iseno de pagamento de COFINS, de acordo com o art. 14, X, da Medida Provisria no. 2.158-35/2001; b) a natureza contraprestacional inerente e necessria sobrevivncia das entidades sem fi ns lucrativos, que prestam servios educacionais e que so constitucionalmente incentivadas para atuarem de forma complementar ao Estado foi reconhecida, pelo STF, que deferiu liminar, na ADIn no. 2.028/DF, para suspender o art. 55, III e 3o., da Lei no. 8.212/1991, que exigiu a gratuidade (ausncia de contraprestao) como condio para o gozo da imunidade prevista no art. 195, 7o., da CF/1988; c) a Lei no. 12.101/2009, reconhecendo a importncia das atividades contraprestacionais, estabeleceu, em seu art. 13, apenas patamares mnimos de servios gratuitos que precisariam ser cumpridos, para o gozo, in totum, dos benefcios fi scais de imunidade e iseno; d) h vrios e recentes julgados do CARF - Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, que entendem ter o art. 47, 2o., da Instruo Normativa SRF no. 247/2002 extrapolado os limites do art. 14, X, da Medida Provisria no. 2.158-35/2001; e) a questo central dos autos se refere ao exame da iseno da COFINS, contida no art. 14, X, da Medida Provisria no. 1.858/1999 (atual MP no. 2.158-35/2001), relativa s entidades sem fi ns lucrativos, a fi m de verifi car se abrange as mensalidades pagas pelos alunos de instituio de ensino como contraprestao desses servios educacionais. O presente recurso representativo da controvrsia no discute quaisquer outras receitas que no as mensalidades, no havendo que se falar em receitas decorrentes de aplicaes fi nanceiras ou decorrentes de mercadorias e servios outros (vg. estacionamentos pagos, lanchonetes, aluguel ou taxa cobrada pela utilizao de sales, auditrios, quadras, campos esportivos, dependncias e instalaes, venda de ingresso para eventos promovidos pela entidade, receitas de formaturas, excurses, etc.) prestados por essas entidades que no sejam exclusivamente os de educao.

Em sequncia, o Ministro BENEDITO GONALVES, inaugurando divergncia, manifestou-se, em voto-vista, pelo provimento do Recurso Especial da FAZENDA NACIONAL, nos seguintes termos, in verbis:

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As receitas obtidas por meio de pagamento de mensalidades, apesar de ajudarem no desempenho das atividades da instituio educacional (e de no descaracterizarem sua finalidade lucrativa), no se relacionam diretamente com a finalidade das instituies de ensino, que so de carter social (prestao de servio destinado comunidade em complementao quele feito pelo Estado) e, por esse motivo, foram excludas da iseno em discusso.

Assim, o fato de as instituies de ensino sem fins lucrativos poderem desenvolver atividades econmicas ou investimentos com o escopo de obter recursos que auxiliem na realizao de seus objetivos sociais, ainda que no distribuam lucros, no permite, por si s, que as receitas da advindas sejam excludas da base de clculo prevista pelos artigos 2o. e 3o. da Lei no. 9.718/1998.

Por outro lado, destaco que a interpretao segundo a qual as receitas decorrentes das mensalidades pagas como contraprestao pelos alunos s instituies de ensino estariam abrangidas pela iseno concedida pelo artigo 14, X, da MP no. 2.158-35/2001, acaba por estender o benefcio fiscal a situao nele no prevista, em clara contrariedade ao art. 111, inciso II, do CTN, segundo o qual a legislao tributria referente outorga de iseno deve ser interpretada literalmente.

Aps a prolao do voto-vista, pelo Ministro BENEDITO GONALVES, pedi vista dos autos, para melhor anlise da controvrsia.

Tenho, com a vnia do posicionamento contrrio, que o Recurso Especial da FAZENDA NACIONAL no deve prosperar.

A Medida Provisria no. 2.158-35/2001 (anterior MP no. 1.858/1999), ao tratar da iseno de COFINS, em benefcio de entidades sem fi ns lucrativos, dispe:

Art. 13. A contribuio para o PIS/PASEP ser determinada com base na folha de salrios, alquota de um por cento, pelas seguintes entidades:

I - templos de qualquer culto;II - partidos polticos;III - instituies de educao e de assistncia social a que se refere o

art. 12 da Lei no. 9.532, de 10 de dezembro de 1997;

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IV - instituies de carter filantrpico, recreativo, cultural, cientfico e as associaes, a que se refere o art. 15 da Lei no. 9.532, de 1997;

V - sindicatos, federaes e confederaes;VI - servios sociais autnomos, criados ou autorizados por lei;VII - conselhos de fiscalizao de profisses regulamentadas;VIII - fundaes de direito privado e fundaes pblicas institudas

ou mantidas pelo Poder Pblico;IX - condomnios de proprietrios de imveis residenciais ou

comerciais; eX - a Organizao das Cooperativas Brasileiras - OCB e as

Organizaes Estaduais de Cooperativas previstas no art. 105 e seu 1o. da Lei no. 5.764, de 16 de dezembro de 1971.

Art. 14. Em relao aos fatos geradores ocorridos a partir de 1 de fevereiro de 1999, so isentas da COFINS as receitas:

(...)X - relativas s atividades prprias das entidades a que se refere o

art. 13.

A Lei no. 9.532/1997, por sua vez, ao delimitar o conceito de entidade educacional e de assistncia social sem fi ns lucrativos, f-lo nos seguintes termos:

Art. 12. Para efeito do disposto no art. 150, inciso VI, alnea c, da Constituio, considera-se imune a instituio de educao ou de assistncia social que preste os servios para os quais houver sido instituda e os coloque disposio da populao em geral, em carter complementar s atividades do Estado, sem fins lucrativos.

1o. No esto abrangidos pela imunidade os rendimentos e ganhos de capital auferidos em aplicaes financeiras de renda fixa ou de renda varivel.

2o. Para o gozo da imunidade, as instituies a que se refere este artigo, esto obrigadas a atender aos seguintes requisitos:

a) no remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos servios prestados;

b) aplicar integralmente seus recursos na manuteno e desenvolvimento dos seus objetivos sociais;

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c) manter escriturao completa de suas receitas e despesas em livros revestidos das formalidades que assegurem a respectiva exatido;

d) conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco anos, contado da data da emisso, os documentos que comprovem a origem de suas receitas e a efetivao de suas despesas, bem assim a realizao de quaisquer outros atos ou operaes que venham a modificar sua situao patrimonial;

e) apresentar, anualmente, Declarao de Rendimentos, em conformidade com o disposto em ato da Secretaria da Receita Federal;

f ) recolher os tributos retidos sobre os rendimentos por elas pagos ou creditados e a contribuio para a seguridade social relativa aos empregados, bem assim cumprir as obrigaes acessrias da decorrentes;

g) assegurar a destinao de seu patrimnio a outra instituio que atenda s condies para gozo da imunidade, no caso de incorporao, fuso, ciso ou de encerramento de suas atividades, ou a rgo pblico;

h) outros requisitos, estabelecidos em lei especfica, relacionados com o funcionamento das entidades a que se refere este artigo.

3o. Considera-se entidade sem fins lucrativos a que no apresente supervit em suas contas ou, caso o apresente em determinado exerccio, destine referido resultado, integralmente, manuteno e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais. (Redao dada pela Lei no. 9.718, de 1998)

4o. A exigncia a que se refere a alnea a do 2o. no impede:I - a remunerao aos diretores no estatutrios que tenham vnculo

empregatcio; eII - a remunerao aos dirigentes estatutrios, desde que recebam

remunerao inferior, em seu valor bruto, a 70% (setenta por cento) do limite estabelecido para a remunerao de servidores do Poder Executivo federal.

5o. A remunerao dos dirigentes estatutrios referidos no inciso II do 4o. dever obedecer s seguintes condies:

I - nenhum dirigente remunerado poder ser cnjuge ou parente at 3o. (terceiro) grau, inclusive afim, de instituidores, scios, diretores, conselheiros, benfeitores ou equivalentes da instituio de que trata o caput deste artigo; e (Includo pela Lei no. 12.868, de 2013)

II - o total pago a ttulo de remunerao para dirigentes, pelo exerccio das atribuies estatutrias, deve ser inferior a 5 (cinco)

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vezes o valor correspondente ao limite individual estabelecido neste pargrafo.

6o. O disposto nos 4o. e 5o. no impede a remunerao da pessoa do dirigente estatutrio ou diretor que, cumulativamente, tenha vnculo estatutrio e empregatcio, exceto se houver incompatibilidade de jornadas de trabalho.

Deve-se destacar que a Lei no. 9.532/1997 estabelece os requisitos para que entidades educacionais ou de assistncia social sejam consideradas sem fi ns lucrativos, para fi ns de aplicao da imunidade prevista no art. 150, inciso VI, alnea c, da Constituio Federal. A Medida Provisria no. 2.158-35/2001, aproveitando-se da defi nio legal existente, fez remisso Lei no. 9.532/1997, com o escopo de determinar quais instituies de ensino ou de assistncia social fariam jus iseno da COFINS.

Da leitura das normas transcritas, conclui-se que as receitas relativas s atividades prprias da instituio de educao ou de assistncia social que preste os servios para os quais houver sido instituda e os coloque disposio da populao em geral, em carter complementar s atividades do Estado, sem fi ns lucrativos, esto isentas do pagamento de COFINS, em relao aos fatos geradores ocorridos a partir de 1 de fevereiro de 1999.

Ocorre que a Instruo Normativa no. 247/2002, da Secretaria da Receita Federal, ao regulamentar a iseno da COFINS, instituda pela Medida Provisria no. 2.158-35/2001, estipulou o seguinte:

Art. 47. As entidades relacionadas no art. 9o. desta Instruo Normativa:

(...)II - so isentas da Cofins em relao s receitas derivadas de suas

atividades prprias. 1o. - Para efeito de fruio dos benefcios fiscais previstos neste

artigo, as entidades de educao, assistncia social e de carter filantrpico devem possuir o Certificado de Entidade Beneficente de Assistncia Social expedido pelo Conselho Nacional de Assistncia Social, renovado a cada trs anos, de acordo com o disposto no art. 55 da Lei no. 8.212, de 199