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CRACK Um subproduto da cocaína? SMARTPHONES Perícias frequentes e cada vez mais desafiadoras 9 771806 807001 ISSN 1806-8073 Ano XVI – Número 36 - dezembro de 2015 Centro Nacional de Capacitação e Difusão de Ciências Forenses Museu Nacional de Ciências Forenses Itiel Dror Doutor em psicologia pela Universidade de Harvard e pesquisador da University College London ENTREVISTA Conheça um pouco da história da criminalística e os detalhes sobre dois dos mais importantes projetos da perícia criminal federal

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REVISTA DA POLICIA FEDERAL NUMERO 36 - 2016

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Page 1: Revista Pf 36

CRACKUm subproduto da cocaína?

SMARTPHONES Perícias frequentes e cada vez mais desafiadoras

9771806807001

ISSN

180

6-80

73

Ano XVI – Número 36 - dezembro de 2015

Centro Nacional de Capacitação e Difusão de Ciências Forenses

Museu Nacional de Ciências Forenses

Itiel D

ror

Doutor e

m psicologia pela Universi

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pesquisa

dor da Universi

ty College London

ENTREVISTA

Conheça um pouco da história da criminalística e os detalhes sobre dois dos mais importantes projetos da perícia criminal federal

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ACREDiretor Regional - Diogo Otávio Scalia PereiraVice-Diretor - Leandro Bezerra di BarcelosDiretor Financeiro - Luiz Fernando dos SantosE-mail - [email protected]

Willy Hauffe Neto Presidente

Fabricio Fonseca TheodoroVice-Presidente

ALAGOASDiretora Regional - Keyla Wanderley de CerqueiraVice-Diretor - Thiago Costantin SandovalDiretor Financeiro - Dario Alves Lima Junior E-mail - [email protected]

AMAPÁDiretor Regional - Renato Chacon Vieira PaesVice-Diretor - Rafael Guimaraes AlvesE-mail - [email protected]

AMAZONASDiretor Regional - Marco Antônio Mota FerreiraVice-Diretor - Ricardo Lívio Santos MarquesDiretora Financeira - Martha Fernanda Barros AlfaiaE-mail - [email protected]

BAHIADiretor Regional - Carlos Alberto Doria de M. NetoVice-Diretor - Andrei Rocha de AlmeidaDiretor Financeiro - Pompílio José S. Araújo JuniorE-mail - [email protected]

ARAÇATUBADiretor Regional - Eustaquio Veras de OliveiraVice-Diretor - Mario Sergio Gomes de FariaDiretor Financeiro - Nevil Ramos VerriE-mail - [email protected]

CAMPINASDiretor Regional - Carlos Henrique Da Silva PereiraVice-Diretor - Lorival Campos MoreiraDiretor Financeiro - Fernando Juliano de CastroE-mail - [email protected]

JUAZEIRODiretor Regional - Marco Antonio Valle AgostiniVice-Diretor - Lucas Martins EvaldtE-mail - [email protected]

CEARÁDiretor Regional - Eurico Monteiro MontenegroVice-Diretor - José Carlos Lacerda de SouzaDiretor Financeiro - Daniel Paiva ScarparoE-mail - [email protected]

DISTRITO FEDERALDiretor Regional - Emerson Santos de LimaVice-Diretor - Dângelo Victor Gonçalves SilvaDiretor Financeiro - João Carlos Gonçalves PereiraE-mail - [email protected]

ESPÍRITO SANTODiretor Regional - Bruno Teixeira DantasVice-Diretor - Leonardo ResendeDiretor Financeiro - Cristiano Martins PintoE-mail - [email protected]

Planejamento e produção: Assessoria de Comunicação da APCF - [email protected]ção: Danielle Ramos e Taynara FigueiredoCoordenação e edição: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

Capa, arte, diagramação e revisão:Abril Design CTP e Impressão: Athalaia Gráfica e EditoraTiragem: 10.000 exemplares

MARANHÃODiretor Regional - José de Carvalho Azevedo FilhoVice-Diretor - Lucian Ricardo Guedes FidelisDiretor Financeiro - Gerson Vasconcelos MalaguetaE-mail - [email protected]

GOIÁSDiretor Regional - Gabriel Renaldo LaureanoVice-Diretor - Isleamer Abdel Kader dos SantosDiretor Financeiro - Rodrigo Albernaz BezerraE-mail - [email protected]

MATO GROSSO DO SULDiretor Regional - André Luís de Abreu MoreiraVice-Diretor - Frederico Natividade Ortiz

Diretor Financeiro - Gleison Macedo Rocha E-mail - [email protected]

MINAS GERAIS Diretor Regional - Marcelo Carvalho LasmarVice-Diretor - Maurício de SouzaDiretor Financeiro - Marcus Vinícius de O. AndradeE-mail - [email protected]

UBERLÂNDIADiretor Regional - Ronaldo CordeiroVice-Diretor - Jorge Eduardo de Sousa AguiarDiretor Financeiro - Glycon Sousa RodriguesE-mail - [email protected]

PARÁDiretor Regional - Gustavo Pinto VilarVice-Diretor - Jordânio José RibeiroDiretor Financeiro - Luis Felipe Monteiro VieiraE-mail - [email protected]

PARANÁDiretor Regional - Marlon KonzenVice-Diretor - Luiz Spricigo JuniorDiretor Financeiro - Ricardo Andres Reveco HurtadoE-mail - [email protected]

PIAUÍDiretor Regional - Ramysés de Macedo RodriguesVice-Diretor - Rômulo Vilela FerreiraDiretor Financeiro - Roberto Leopoldo N. BrilhanteE-mail - [email protected]

RIO DE JANEIRODiretor Regional - Rodrigo Ricart SantoroVice-Diretora - Raquel de Souza LimaDiretor Financeiro - Adriano Arantes BrasilE-mail - [email protected]

Vice-Diretor -

E-mail -

RIO GRANDE DO NORTEDiretor Regional - Clint Eastwood Costa Freitas

Cezar Silvino GomesDiretor Financeiro - César de Macedo Rego

[email protected]

E-mail -

RIO GRANDE DO SULDiretor Regional - Marco Antônio ZattaVice-Diretora - Carina Maria Bello de CarvalhoDiretor Financeiro - Leonardo da Cunha

[email protected]

RORAIMADiretor Regional - Luis Gustavo Canesi FerreiraVice-Diretor - Augusto Cesar FurlanettoDiretor Financeiro - Alexandre Salgado Junqueira E-mail - [email protected]

SÃO PAULODiretor Regional - Ronaldo de Moura RamosVice-Diretor - Alexandre Bernard AndreaDiretora Financeira - Roberta G. M. JulianiE-mail - [email protected]

PORTO VELHODiretor - André Abreu MagalhaesVice-Diretor - David Gomes GuimaraesDiretor Financeiro - Naraiana Ribeiro Santos E-mail - [email protected]

SANTA CATARINADiretor Regional - Daniel Pereira de OliveiraVice-Diretor - Eduardo ZacchiDiretor Financeiro - Antônio Cesar da Silveira Junior E-mail - [email protected]

PRESIDENTE PRUDENTEDiretor Regional - Ricardo Samu SobrinhoVice-Diretor - Raimundo Chabowski E-mail - [email protected]

Diretor Financeiro - Renato Garrido Leal Martins

SÃO JOSÉ DOS CAMPOSDiretor Regional - Jose Augusto Melonio FilhoVice-Diretor - Bruno Altoe Duar

E-mail - [email protected]

MARÍLIADiretor Regional - Clayton José Ogawa Vice-Diretor - Antônio José dos Santos Brandão E-mail - [email protected]

SERGIPEDiretor Regional - Alex Souza SardinhaVice-Diretor - André Fernandes BrittoDiretor Financeiro - Reinaldo do Couto Passos E-mail - [email protected]

SOROCABADiretor Regional - Adriano Jorge Martins Corrêa Vice-Diretor - Ulisses Kleber de Oliveira GuimarãesDiretor Financeiro - Ricardo Bernhardt E-mail - [email protected]

TOCANTINSDiretor Regional - Eduardo Henrique de Oliveira MendesVice-Diretor - Erich Adam Moreira Lima Diretor Financeiro - Koichi OukiE-mail - [email protected]

Felipe Gonçalves MurgaSecretário-Geral

Wilson Akira Uezu Diretor Financeiro

Carlos Antônio Almeida de OliveiraSuplente de Secretário-Geral

Fábio da Silva BotelhoSuplente de Diretor Financeiro

Evandro Mario LorensDiretor Técnico-Social

Eduardo Roberto RosaSuplente de Diretor Técnico-Social

Hélio Buchmüller Lima Diretor de Comunicação

Carlos Eduardo Palhares MachadoSuplente de Diretor de Comunicação

Bruno Gomes de Andrade Diretor de Assuntos Jurídicos

Erick Simões da Camara e SilvaSuplente de Diretor de Assuntos Jurídicos

Meiga Áurea Mendes MenezesDiretora de Administração e Patrimônio

Alexandro Mangueira Lima de Assis Suplente de Diretor de Administração e Patrimônio

João Carlos L. Ambrósio Diretor de Assuntos Parlamentares

Henrique Mendonça Oliveira de Queiroz Suplente de Diretor de Assuntos Parlamentares

Paulo Roberto FagundesDiretor de Aposentados e Pensionistas

José Arthur de Vasconcelos NetoSuplente de Diretor de Aposentados e Pensionistas

Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais

Diretoria Executiva Nacional

Conselho Fiscal Deliberativo

Diretorias Regionais

Revista Perícia Federal

André Luiz da Costa Morisson Presidente

Marcos de Almeida CamargoVice-Presidente

Marco Giovanni Clemente CondeMembro-Titular

Walvernack Beserra1º Suplente

Fábio Caus Sicoli 2º Suplente

Eduardo Monteiro de Queiroz3º Suplente

SANTOSDiretor Regional - Francisco Artur Cabral Gonçalves Vice-Diretora - Priscila Dias Sily E-mail - [email protected]

A revista Perícia Federal é uma publicação da APCF e não se responsabiliza por informes publicitários nem opiniões e conceitos emitidos em artigos assinados.

Correspondência para: Revista Perícia FederalSHIS QI 09, conjunto 11, casa 20 – Lago Sul – Cep: 71.625-110 Brasília/DF Telefones: (61) 3345-0882/3346-9481 - E-mail: [email protected] - Assinatura da revista: www.apcf.org.br

E-mail -

Vice-Diretor - Fernando Rosemann

FOZ DO IGUAÇU

Diretor Financeiro - José Ricardo Rocha Silva [email protected]

Diretor Regional - Denir Valêncio de Campos

MATO GROSSODiretor Regional - Lenildo Correia da Silva JuniorVice-Diretor - Joao Luiz FreixoDiretora Financeira - Edna Aparecida SilveiraE-mail - [email protected]

GUAÍRADiretor Regional - Devair AloísioVice-Diretor - André Rodrigues LimaDiretor Financeiro - Eduardo de Olveira BarrosE-mail - [email protected]

LONDRINADiretor Regional - Eduardo MarafonVice-Diretor - Roberto Maurício Américo do CasalaE-mail - [email protected]

E-mail -

PERNAMBUCODiretor Regional - Rhassanno Caracciollo PatriotaVice-Diretor - Felipe Campelo de Melo MouraDiretor Financeiro - Diogo Laplace C. da Silva

[email protected]

Caro leitor,Ciência e tecnologia são as temáticas da edição

36 da revista Perícia Federal. A capa traz uma via-gem pelo passado, presente e futuro da perícia cri-minal federal. Convido você, leitor, a entender um pouco mais da história da criminalística e conhecer dois dos mais recentes e importantes projetos da perícia da Polícia Federal: o Centro Nacional de Ca-pacitação e Difusão de Ciências Forenses e o Museu Nacional de Ciências Forenses, um sonho que, em breve, se tornará realidade.

Em outubro, a Perícia Federal participou da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia realiza-da em todo o país. Em Brasília, o evento contou com um estande da Perícia Federal, onde peritos criminais federais apresentaram alguns dos princi-pais equipamentos usados na rotina de trabalho. Confira mais detalhes em uma reportagem que fala do evento.

Quando o assunto é tecnologia, os smartpho-nes ganham destaque e são uma verdadeira febre. Leia a reportagem que aborda os desafios dos pe-ritos criminais federais para acompanhar as atuali-zações e realizar exames periciais nesses aparelhos.

Na coluna ‘Áreas da Perícia’, conheça a Quími-ca Forense. Entre os artigos assinados por colegas, o perito José Viana fala sobre o papel da prova pe-ricial como elemento minimizador das misérias do processo penal e, o perito Fernando de Jesus, so-bre a forma que a psicologia influencia o trabalho da criminalística.

Boa leitura!

André MorissonPresidente da APCF

CRACKUm subproduto da cocaína?

SMARTPHONES Perícias frequentes e cada vez mais desafiadoras

9771806807001

ISSN

180

6-80

73

Ano XVI – Número 36 - dezembro de 2015

Centro Nacional de Capacitação e Difusão de Ciências Forenses

Museu Nacional de Ciências Forenses

Itiel D

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Doutor e

m psicologia pela Universi

dade de Harvard

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dor da Universi

ty College London

ENTREVISTA

Conheça um pouco da história da criminalística e os detalhes sobre dois dos mais importantes projetos da perícia criminal federal

PASSADO, PRESENTE E FUTURODanielle Ramos e Taynara FigueiredoPágina 8

ENTREVISTADr. Itiel DrorPágina 4

ÁREAS DA PERÍCIAPeritos criminais federais Adriano Maldaner, Elvio Botelho, Gabriele Hampel, Marcos Camargo e Núbia Fernanda Gomes PereiraPágina 6

CRACK: UM SUBPRODUTO DA COCAÍNA?Danielle RamosPágina 16

PROVA PERICIALPerito criminal federal José Viana AmorimPágina 19

UTEC DE RIBEIRÃO PRETO Perito criminal federal Jesus Antônio VelhoPágina 24

PERÍCIA EM CELULARESTaynara FigueiredoPágina 26

PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA Perito criminal federal Fernando de JesusPágina 29

SEMANA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIATaynara FigueiredoPágina 34

Convido você, leitor, a entender um

pouco mais da história da criminalística

e conhecerdois dos mais

recentes e importantes

projetosda perícia.

EDITORIAL: André Morisson, presidente da APCF SUMÁRIO

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3Perícia Federal

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que “a impressão digital não mente”. Eu res-pondia “a impressão digital não mente, mas a impressão digital não fala. É o examinador forense que tem que comparar a impressão digital, ou comparar o DNA, ou a arma de fogo ou a escrita”. O examinador, o perito criminal, é o principal instrumento dessa análise e temos que pensar sobre isso. Mas, de uns três anos para cá, já aceitam me-lhor. Por exemplo, no Reino Unido, há cinco anos, a BBC promoveu um debate comigo e o Regulador Forense do governo. Eu di-zia que era necessário olhar para a questão cognitiva, para o viés e para o julgamento. Ele dizia que não, que a subjetividade não era parte das ciências forenses. Porém, em outubro deste ano, o Regulador Forense do Reino Unido emitiu uma orientação oficial que regula a forma que organizações fo-renses devem lidar com viés cognitivo. Por-tanto, não somente eles aceitaram a exis-tência do viés cognitivo, como agora eles emitiram um guia oficial para os peritos cri-minais.  Na Finlândia, na Holanda, na Itália, no Reino Unido, no Canadá, na Austrália, a comunidade forense está de acordo. Mas não foi sempre assim, porque não era mui-to agradável ouvir que você não é perfei-to. Isso não significa que você não é muito bom, mas que existem outros problemas e é preciso consertá-los.Existe uma confusão entre viés cogniti-vo e questões éticas.  Como os peritos criminais e todos os outros envolvidos, como juízes e promotores, deveriam en-carar esses conflitos?

Definitivamente existe uma confusão e isso é um sinal de que eles não entendem o que é o viés cognitivo. Viés cognitivo é como o cérebro processa a informação. Quanto mais inteligente o perito for, quanto mais especialista em algo ele for, maior será o seu viés. É um sinal de inteligência. Viés cogniti-vo é inconsciente e baseado na experiência. Isso significa que você usa sua experiência passada para te ajudar no futuro. Porém, também significa que você tem uma opinião

Como as organizações policiais em todo o mundo estão lidando com essas novas questões de viés cognitivo?

No início, onde quer que eu estivesse, as pessoas ficavam muito nervosas comi-go. Elas me diziam que a ciência forense é objetiva, que não se cometem erros. Dessa forma, quando comecei a ministrar pales-tras nessa área, dez anos atrás, havia muita resistência. Quando comecei, eles diziam

antes de ver a nova evidência. Portanto, você tem certa expectativa baseada no que você espera, e interpreta a informação baseada na sua expectativa. Nesse caso, seu estado mental está afetando você e isso definitiva-mente não é uma questão ética. Eu sei que viés tem uma conotação negativa, portanto, frequentemente eles não chamam de viés, eles chamam de “contaminação cognitiva”. Peritos criminais entendem a contaminação física e fazem muito esforço para proteger os vestígios. Utilizam luvas e máscaras de for-ma a não contaminar a evidência. Eu falo de contaminação cognitiva e dos procedimen-tos necessários para evitar que as evidências contaminem a mente do perito. Então, mui-tas vezes, ao invés de chamar isso de “viés”, chamam isso de “contaminação cognitiva”. Soa melhor. O senhor falou que viés tem uma conota-ção negativa. E, normalmente, quando um erro forense ocorre, as pessoas associam isso a um profissional ruim ou a alguém que tem motivos ocultos para fazê-lo, ra-zão antiética para forjar uma evidência. Como você faria para eliminar esse mito? Como faria para mostrar para as pessoas que não tem nada a ver com razões éticas, mas sim com o viés cognitivo?

As pessoas precisam entender que co-metem erros e que a ciência não é perfeita. E os peritos criminais precisam, algumas vezes, serem um pouco mais modestos em suas afirmações. Nos meus workshops e nas minhas aulas eu faço as pessoas comete-rem erros e mostro que todos são passíveis de errar. Muitas vezes, a evidência na cena do crime é de baixa qualidade, de pouca quantidade e nós temos que extrapolar, nós temos que interpretar, precisamos fazer julgamentos. Quando fazemos isso, existe o perigo de cometermos um erro. Erros po-dem ser muito raros, mas eles acontecem e precisamos aprender a minimizá-los. As pessoas que reconhecem isso são aquelas que irão melhorar e aprender com eles. No relatório da Academia Americana de

Ciências (National Academy of Sciences – NAS), publicado em 2009, existem algu-mas recomendações para a comunidade de ciências forense. Uma delas é a des-vinculação dos laboratórios ou institu-tos forenses das organizações policiais ou do Ministério Público. Como o senhor enxerga essa desvinculação para evitar o viés cognitivo?

Eu escrevi um artigo sobre isso critican-do o relatório da NAS nessa questão. Muito do relatório da NAS eu acho que é muito bom, mas retirar os laboratórios forenses das polícias e colocá-los em outro lugar não resolve esse problema [viés cognitivo]. O laboratório forense pode estar dentro da polícia e ser bem independente. E o labo-ratório forense pode estar fora da polícia, mas não independente. A questão não é se os institutos forenses estão na polícia ou não. A questão é como os institutos prote-gem os peritos criminais para serem inde-pendentes e realizarem um bom trabalho baseado nos vestígios. E esse problema existe em todos os lugares. Portanto, não acho que você tem que tirar o instituto forense da polícia, a questão é como dar a eles independência mental para fazer o trabalho deles.

Por outro lado, acho que seria mais fácil alcançar isso em um instituto de ciências forenses independente. Fazer isso dentro da polícia é mais difícil, ainda que possível. Portanto, acho que é mais fácil constituir um instituto forense independente fora da estrutura administrativa da polícia, que se comunica com os promotores e a polícia, mas também com a defesa, e cujo foco seja a aplicação isenta da ciência.Como obter essa independência mental?

O primeiro passo é estabelecer que o examinador forense é importante, que o examinador forense é o instrumento de análise, que ele não é irrelevante e, na ver-dade, é o principal fator de tomada de de-cisão. O passo seguinte é entender o pro-cesso decisório do perito forense e, então,

podemos tomar medidas para otimizar esse processo, para fazer com que os peritos o executem melhor. Uma vez superada essa fase, a otimização é relativamente fácil. Em seguida, há muitas técnicas que desenvolvi e que outros pesquisadores também de-senvolveram, para melhorar a tomada de decisão forense. Uma medida desenvolvida para se evitar viés chama-se desvendamen-to sequencial linear, onde o perito criminal é cego para informações irrelevantes. O perito não sabe se a pessoa é culpada ou não, se o suspeito tem uma ficha policial ou tem sen-tenças passadas por estupro ou assassinato, se o suspeito confessou o crime, ou se há testemunhas oculares. O examinador foren-se, estando ou não na polícia, não é autori-zado a ver o suspeito, não pode ver a escrita do suspeito, ou as impressões digitais, ou o perfil de DNA. Primeiro, eles têm que anali-sar a evidência questionada e documentar todos os passos, todas as análises, todos os resultados. Só após essa etapa de análise e documentação é que o perito criminal terá acesso ao material de comparação. Dessa forma, caminhamos da evidência em dire-ção ao suspeito. Atualmente, parte-se do suspeito e buscam se evidências para con-firmar essa suspeição. O senhor já publicou uma série de artigos sobre esse tema*. Em um deles, afirma que é possível treinar o próprio especialista.

Sim, é possível. Não somente possível, mas você deve fazer isso. No mês que vem eu darei esse treinamento no NYPD, Depar-tamento de Polícia de Nova York. É o sexto workshop que eu estou dando para eles. No primeiro, houve muita resistência. Eles estavam muito nervosos comigo, mas você precisa fazê-los compreender os objetivos. E o que faço? Eu não somente explico para eles como o cérebro funciona, e como o sis-tema cognitivo processa a informação. Eu digo a eles: “Vou influenciar vocês. E desafio vocês a não serem influenciados. Eu quero que vocês sejam objetivos”.  Em seguida, dou a eles um exercício prático e peço a

Entrevista Dr. Itiel DrorItiel Dror é doutor em psicologia pela

Universidade de Harvard e pesquisador da University College London. Ele

tem se dedicado, nos últimos anos, a pesquisar em como os viés cognitivo influencia os resultados nas ciências

forenses, tendo publicado dezenas de artigos sobre o assunto. Dr. Dror tem

ministrado palestras e workshops para diversas organizações ao redor do

mundo, como o FBI e a polícia de Nova York, nos Estados Unidos, bem como

na Austrália, na Holanda, na Finlândia, entre outros. Leia abaixo a entrevista

com o especialista realizada pelos diretores da APCF, Hélio Buchmüller e

João Ambrósio.

eles para fazerem algo, e eu os influencio e mostro para eles que todos foram intencio-nalmente influenciados por mim. E todos ficam chocados “Meu Deus, eu não acredito que interpretei errado a evidência. Eu não acredito que ignorei essa parte da evidên-cia”. Mas eles têm que ter essa experiência. Não é suficiente dizer a eles.O senhor mencionou como a tecnologia tem afetado cientistas forenses no senti-do de criar um largo número de combi-nações, o que desvia o examinador em olhar para as primeiras combinações. E sobre exames não tecnológicos, você tem alguns estudos sobre como o viés afeta áreas que não são relacionadas à tecnolo-gia ou comparação?

Sim. Em todos os domínios das ciências forenses suas experiências passadas e sua expectativa influenciam nas decisões, e não somente se algum investigador te falar que a pessoa confessou o crime ou não. Se o perito está acostumado a achar a evidên-cia em certo lugar, ou está acostumado a achar certos resultados, então, isso influen-cia o perito antes mesmo dele olhar para a evidência. Experiências passadas o colo-cam numa expectativa do que irá achar. E isso é um viés porque não depende da evi-dência em si: você chega com uma certa hipótese e ideia sobre como olhar para a evidência. Não baseado na evidência, mas baseado no que aconteceu no passado. Es-crevi um artigo sobre viés cognitivo e uso da tecnologia em ciências forenses*. Nele, mostramos que a tecnologia te dá expe-riências passadas que podem influenciar em decisões. Mas claro, não é somente tecnologia, você tem experiências passa-das em muitas outras formas, e concorda com isso e, então, você aprende com isso. Qualquer que sejam suas experiências, elas guiam e desviam você em como olhar para informações futuras.

* Vários artigos publicados pelo Professor Dr. Itiel Dror estão disponíveis em http://www.cci-hq.com/index.php?sub=drorspublist.

4 5Perícia Federal Perícia Federal

ENTREVISTA: Dr. Itiel DrorENTREVISTA: Dr. Itiel Dror

Page 4: Revista Pf 36

A identificação de substâncias como ferramenta na análise de vestígios é a atribuição da química forense

na perícia criminal. A tarefa, contudo, está longe de ser trivial, uma vez que qualquer tipo de substância – sólida, líquida ou gaso-sa – poderá necessitar de identificação ine-quívoca dependendo da situação delituosa em questão. Além do número incrivelmen-te elevado de tipos de vestígios que podem ser utilizados para a produção de provas materiais por meio da análise química, de-ve-se considerar, também, quais técnicas e equipamentos estão disponíveis para a pe-rícia, bem como se os peritos designados para o caso têm a formação e a capacitação para executar tarefas de análise e interpre-

tar resultados obtidos, mantendo-se o rigor científico demandado na tarefa da busca pela verdade.

A química forense na Polícia Federal atua rotineiramente na verificação da pre-sença e quantificação de drogas de abuso e demais substâncias, lícitas ou ilícitas, bem como na caracterização físico-química de materiais diversos vinculados com ativida-des delituosas, tais como: metais ou mine-rais; produtos químicos precursores de dro-gas de abuso; medicamentos; agrotóxicos; explosivos ou resíduos de explosões e in-cêndios; bebidas alcoólicas; combustíveis; tintas e pigmentos; resíduos e poluentes; e, também, em análises toxicológicas que envolvam determinação de drogas ou me-tabólitos em matrizes biológicas.

ACREDITAÇÃO

No Instituto Nacional de Criminalística, o Serviço de Perícias de Laboratório (SEPLAB) recebeu, em setembro de 2014, o certifica-do de acreditação pelo cumprimento da Norma ISO/IEC 17025:2005, que define re-quisitos para a gestão da qualidade em la-boratórios analíticos.

O certificado foi concedido pela AN-SI-ASQ (National Accreditation Board/FQS Forensic Accreditation), um organismo inter-nacional que atesta a qualidade de análises realizadas em laboratórios forenses, sendo o SEPLAB o primeiro laboratório da área de química forense da América Latina a rece-ber esse reconhecimento internacional.

Análises de Explosivos Apesar de ser uma especialidade rela-

tivamente recente do SEPLAB, as análises em explosivos e resíduos de pós-explosão possuem demanda expressiva e um cres-cente número de pedidos de análises está sendo encaminhado ao setor. O significa-tivo aumento de crimes cometidos com o uso de explosivos e os grandes eventos rea-lizados no Brasil (Copa do Mundo e Olim-píadas) reforçaram a necessidade de ter-se uma estrutura bem equipada e efetiva de perícias de explosivos. Reconhecendo essa necessidade, a SESGE/MJ aprovou a com-pra de novos equipamentos (Cromatógrafo de Íons e Cromatografia Líquida/Q-TOF) e a realização de treinamentos específicos de análise e coleta. A expectativa é que os pro-cedimentos estejam validados e que, até junho de 2016, as análises em explosivos e resíduos de pós-explosão já façam parte do escopo da acreditação ISO 17025.

dos Principais Ingredientes Ativos em Agrotóxicos Ilegais Apreendidos pela Polícia Federal do Brasil; Revista Virtual de Química, 2015; in press.

análise por cromatografia gasosa (GG-FID) em amostras apreendidas em diferentes estados brasileiros. Análise de 210 amos-tras, apreendidas entre 2009 e 2012, mostra pureza média de cocaína de 71% (expressa como base). A maioria das amostras não oxidadas foi apreendida nos estados que fazem fronteira com os países produtores. A forma de base livre é a mais comumente encontrada (59%) e mais de 50% das amos-tras analisadas não apresentaram nenhum adulterante majoritário. Dentre os fármacos adulterantes identificados, fenacetina foi a mais abundante (30% das amostras). Leva-misol, cafeína e lidocaína também foram identificadas. O projeto PeQui tem sido uti-lizado regularmente para prover informa-ções técnicas cientificamente embasadas para a análise de inteligência em segurança pública e de dados estatísticos que podem contribuir para um melhor entendimento do tráfico de cocaína2.

Exames Toxicológicos Apesar da inexistência na PF de um la-

boratório específico para análises toxico-lógicas, é observado um aumento na de-manda por análises forenses post mortem, tais como suspeitas de envenenamento de animais e indígenas, incidentes envol-vendo viaturas e aeronaves, e até mesmo solicitações relacionadas a inquéritos das polícias civis. Eventos de grande reper-cussão também desafiam a toxicologia do SEPLAB, como as recentes suspeitas de morte por envenenamento durante o período da ditadura militar brasileira, onde a PF teve papel importante na coor-denação técnica dos trabalhos de exu-mação do ex-presidente João Goulart e nas análises dos seus restos mortais, que foram realizadas em laboratórios estran-geiros, com acompanhamento de peritos toxicologistas da PF.

2. Botelho, E.D. e colaboradores; Chemical profiling of cocaine seized by Brazilian Federal Police in 2009-2012: Major components; J. Braz. Chem. Soc., Vol. 25, No. 4, 611-618, 2014.

Áreas da Perícia A atualização tecnológica e inserção

da discussão forense em fóruns científicos de alto nível é uma necessidade constan-te da área. As atuais possibilidades globais de comunicação e interação devem ser utilizadas pelos peritos para agregar co-nhecimento, melhorar as relações de co-laboração com pesquisadores diversos e auxiliar na construção de bancos de dados e informações de inteligência forense. Nes-se contexto, diversas atividades de coo-peração com professores/pesquisadores universitários têm agregado valor aos pro-cedimentos periciais, uma vez que técnicas e conhecimentos científicos são incorpora-dos do contexto acadêmico e utilizados na produção de laudos periciais.

ÁREAS DE FORMAÇÃO DOS PERITOS

Nesta área, atuam predominantemente peritos das áreas de formação da química, engenharia química e ciências farmacêuticas.

A Polícia Federal conta com cerca de 200 peritos criminais federais da área espa-lhados por todo o País.

EXEMPLOS DO USO DA QUÍMICA FORENSE

Análise de Agrotóxicos Contrabandeados

Em um trabalho em cooperação com o IQ/UnB, foi realizada uma compilação de laudos de agrotóxicos apreendidos pela PF, que mostraram que metsulfurom-me-tílico, imidacloprido, fipronil, tebuconazol, clorimurom-etílico e glifosato são os prin-cipais ingredientes ativos (IA) importados ilegalmente. Esses IA não estão entre os agrotóxicos mais comercializados no País, provavelmente devido ao alto preço das formulações registradas. Com base nesse estudo, amostras de agrotóxicos contra-bandeados apreendidos contendo tebu-conazol e metsulfurom-metílico foram analisadas quantitativamente utilizando, respectivamente, cromatografia gasosa e líquida. Tebuconazol apresentou concen-trações concordantes com as informações dos rótulos, enquanto que a maioria das amostras de metsulfurom-metílico, rotu-lado como 600g/kg, apresentou concen-trações mais baixas nas análises químicas (média de 337g/kg)1.

1. Fraga, W. G. e colaboradores; Identificação e Determinação

Perfil Químico Quantitativo de Cocaína e Adulterantes

Desde 2006, a Polícia Federal tem tra-balhado em seu próprio perfil químico de impurezas da cocaína (projeto PeQui), que inclui resultados para identificação de componentes majoritários (pureza da cocaína, grau de oxidação e fármacos uti-lizados como adulterantes), por meio da

6 7Perícia Federal Perícia Federal

ÁREAS DA PERÍCIA: Peritos criminais federais Adriano Maldaner, Élvio Botelho, Gabriele Hampel, Marcos Camargo e Núbia Fernanda Pereira.ÁREAS DA PERÍCIA: Peritos criminais federais Adriano Maldaner, Élvio Botelho, Gabriele Hampel, Marcos Camargo e Núbia Fernanda Pereira.

A QUÍMICA FORENSE

Page 5: Revista Pf 36

PASSADO, PRESENTE E FUTURO NA PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL

A leitura das próximas páginas será como uma viagem no

tempo. Nesta edição, a Perícia Federal convida o leitor a

entender um pouco mais do histórico da perícia criminal federal

e vislumbrar dois dos grandes projetos que irão transformar e

contribuir ainda mais para as ciências forenses do País

O Departamento de Polícia Federal conta hoje com 1.160 peritos criminais federais, muitos mestres e doutores, lotados em todo o território nacional. Parte desses profissionais está lotada no Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília.

A maioria está espalhada nas 50 unidades descentralizadas da criminalística federal, pre-sente em todas as capitais e em 23 cidades do interior e, a outra parte, lotada na Acade-mia Nacional de Polícia e outras diretorias.

O INC é o órgão central de investigação científica da Polícia Federal e referência da criminalística mundial. O Instituto existe desde quando Brasília tornou-se a capital federal e possui uma estrutura moderna e inovadora com equipamentos e tecnologia de ponta, que o torna comparável aos institutos forenses de países como Estados Unidos, Inglaterra e França. Agora com os novos projetos da perícia como o Centro Nacional de Capacitação e Difusão de Ciências Forenses e o Museu Nacional das Ciências Forenses, a criminalística avança ainda mais.

Futura sede do MuseuPrédio que abrigará o CNCDCF9Perícia Federal 8 Perícia Federal

PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

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O Instituto de Criminalística (IC) foi instalado em Brasília no ano de 1960, juntamente com a mudança

da capital. O IC fazia parte do Departamen-to Federal de Segurança Pública (DFSP), lo-calizado no Rio de Janeiro e com atuação regional. Naquele ano, com a transferência da capital, o Departamento Regional de Polícia de Brasília (DRPB) foi extinto e subs-tituído pelo DFSP, que passou oficialmen-te a ter abrangência nacional. O então IC transformou-se em INC. O diretor Antônio Carlos Villanova foi removido para Brasília e se tornou o primeiro diretor do Instituto Nacional de Criminalística.

O INSTITUTO NACIONAL DE CRIMINALÍSTICA

Naquela mesma época, o projeto Pro-motec/Pró-Amazônia proporcionou à perí-cia federal a aquisição de instrumentos que os antigos profissionais não dispunham, e tudo isso proporcionou uma revolução positiva na ampliação, na qualidade e na di-versidade dos exames realizados. “Naquele momento já contávamos com computa-dores poderosos para análise complexa de sistemas de informática, de áudio e de vídeo e de geoprocessamento. Enfim, uma infini-dade de equipamentos que vinham sendo utilizados para colocar a Perícia Federal na vanguarda das ciências forenses na América Latina”, relatou Murga.

No entanto, o INC praticamente não contava com uma equipe consolidada de peritos criminais federais das áreas de me-

dicina e odontologia, apesar do corpo téc-nico contar com profissionais dessas gra-duações. “Esses peritos socorriam o INC na análise de atos médicos e outras demandas na área de medicina, mas eles não tinham ingressado no quadro de peritos criminais federais com essa formação. Só em 2004 que foi aberto o concurso para o ingres-so de peritos com formação nessas áreas”, completou o perito Murga.

A concepção inicial do Bloco F era para contemplar laboratórios e salas de perícia da área de medicina e odontologia legal, como câmaras frias, ginecologia, histopa-tologia, antropologia, salas de radiografia, toxicologia, além de laboratórios de análise ambiental e de ensaios físico-mecânicos, que não havia no complexo do INC e já se

Atualmente, o Instituto Nacional de Cri-minalística ocupa cerca de 10 mil metros quadrados e possui uma estrutura moder-na, inovadora e com equipamentos e tec-nologia de ponta. A ideia da construção do atual prédio teve início na década de 90 com o chefe do Serviço de Perícias de La-boratório, o perito criminal federal Octávio Brandão Costa Netto, que vislumbrou a ne-cessidade de ampliação do corpo de peritos e do parque de equipamentos da crimina-lística federal, tanto do órgão central como das unidades descentralizadas. Foi na ges-tão do diretor do INC, Antônio Augusto, que o projeto começou a ganhar corpo.

Após algumas pausas nas negociações, em 1998, o contrato foi assinado e o projeto executado a partir de 2002, na administra-ção do diretor do INC Eustáquio Márcio de Oliveira. No ano seguinte, começaram ser feitas as primeiras aquisições de equipa-mentos para o novo instituto, inaugurado somente em 2005 quando Geraldo Bertolo era diretor técnico-científico e Octávio Bran-dão já ocupava o cargo de diretor do INC.

Dois anos depois da inauguração do prédio, Bertolo constituiu um grupo de trabalho formado por peritos criminais fe-derais de diferentes áreas para elaboração de projeto básico para contratação de uma empresa especializada em engenharia e arquitetura para construção do anexo do prédio, que viria a abrigar, inicialmente, a Divisão de Medicina Legal (DML) e os labo-ratórios de ensaios físico-mecânicos e de análise ambiental. Essa construção fora de-nominada de Bloco F do complexo do INC.

“O complexo do INC já era formado por cinco edificações (blocos A a E) que compreendiam salas e laboratórios de perícia, túnel balístico, toda a área admi-nistrativa, de logística e de tecnologia da informação, auditório e estacionamento subterrâneo. Naquela época se questiona-va se haveria demanda para essa amplia-ção”, comentou o perito criminal federal e diretor da APCF Felipe Murga.

Vista do antigo prédio do INC na época da mudança da capital da república.

Primeira sede do Instituto ficava em um barracão de madeira, localizado na atual Candangolândia, região administrativa do Distrito Federal.

Complexo do Instituto Nacional de Criminalística - INC .

Alguns dos peritos que faziam parte daquele órgão permaneceram na capital carioca, o que implicou a necessidade de formação de uma turma de novos peritos, coordenada por Villanova.

O perito criminal federal aposentado e ex-diretor do INC, Maurício José da Cunha, participou ativamente da consolidação do INC em Brasília. Em 1957, o pioneiro da cri-minalística no Distrito Federal já trabalhava na Policia Técnica do Departamento Regio-

“No início da perícia na nova capital eram muitas ocorrências de

local de crime. Era morte violenta, acidente de

tráfego, arrombamentos, afogamentos no Lago

Paranoá”

nal de Polícia de Brasília. Segundo o perito Maurício, a primeira sede do Instituto ficava em um barracão de madeira, localizado na atual Candangolândia, região administrati-va do Distrito Federal, onde funcionou de 1957 a 1960.

mostravam necessários diante da demanda que chegava nessas áreas de perícia.

No ano de 2007, com a chegada do novo diretor técnico-científico, perito criminal fe-deral Paulo Roberto Fagundes, a proposta do Bloco F foi reanalisada e deu um grande salto. Antes se tratava de um projeto que pretendia atender às novas demandas que alcançavam a Perícia Federal, mas passou a ser o projeto de uma construção que abrigaria salas de treinamento e laboratórios em diversas áreas das ciências forenses com o objetivo de via-bilizar a efetiva integração e cooperação da Perícia Federal e Estadual por meio da troca contínua de conhecimento e de capacita-ção conjunta. Dessa reestruturação nasceu o Centro Nacional de Capacitação e Difusão de Ciências Forenses (CNCDCF).

10 11Perícia Federal Perícia Federal

PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

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PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo.

O NOVO PRÉDIO

Fagundes havia reunido os peritos criminais federais Hélvio Peixoto, Fe-lipe Murga, Carlos Perruso e Joseane

Granja de Souza, que fizeram a elaboração do Plano de Trabalho do Centro Nacional de Capacitação e Difusão de Ciências Forenses (CNCDCF), cujo projeto foi apresentado em maio de 2008 ao PRONASCI. O projeto foi aprovado dentro do programa juntamente com outros projetos prioritários definidos pelo então diretor-geral da Policia Federal, delegado Luiz Fernando Corrêa.

O Centro tem como objetivo tornar o Brasil referência mundial na pesquisa, qualificação, validação, doutrina e disseminação de proce-dimentos e técnicas de perícias e identificação. E o projeto contempla também a criação de uma Rede Brasileira de Laboratórios Forenses centralizada no Instituto Nacional de Crimina-lística, com a finalidade de reunir e difundir po-líticas para promover a garantia da qualidade, na busca por resultados de excelência.

O projeto do CNCDCF antecipou uma série de recomendações presentes um ano mais tarde no relatório da Academia Nacio-nal de Ciências dos Estados Unidos, publi-cado em 2009 e intitulado Strengthening Forensic Science in the United States: A Path Forward. Mais detalhes podem ser vistos a seguir.

A visão vanguardista do então diretor Paulo Fagundes tinha por finalidade propi-ciar às forças periciais brasileiras uma infraes-trutura nacional que viabilizasse a coopera-ção e a integração entre a União, o Distrito Federal e os Estados, no que diz respeito à qualificação, democratização, racionalização e implementação de ações de treinamento e capacitação nas ciências forenses.

Essa foi a contrapartida que a Polícia Federal deu ao Pronasci para que o pro-grama financiasse a ampliação. Ou seja, que o INC se transformasse em um gran-de Centro de Difusão de boas práticas de

criminalística em âmbito nacional e tam-bém internacional.

A reestruturação do INC com a adição de uma nova edificação visa a harmoniza-ção e a difusão de melhores metodologias relativas à produção de provas nas diversas áreas da criminalística. Além do foco em treinamento e capacitação, a implantação desta infraestrutura será essencial para o desenvolvimento de novas técnicas e da padronização de procedimentos no âmbito da perícia criminal brasileira.

O INC já atua de forma inovadora, porém limitada, como um centro de treinamento, capacitação, pesquisa e desenvolvimento de metodologias de trabalho em crimina-lística. Diversas ações de treinamento e ca-pacitação são desenvolvidas em conjunto com as Secretarias de Segurança Pública nas mais diversas áreas de perícias, sendo que mais de duzentos profissionais já parti-ciparam de tais ações, demonstrando assim a capacidade técnica e o compromisso da instituição proponente em executar ações em um projeto desta envergadura.

Além disso, o fato do Instituto Nacional de Criminalística apresentar capilaridade em todos os estados da Federação, por meio de unidades descentralizadas de Criminalística, que são, em parte, dotadas de salas de mul-timídia para treinamento à distância, é um fator de peso, já que podem proporcionar maior disseminação das propostas deste projeto por meio da integração com as Se-cretarias de Segurança Pública.

Com a construção do Bloco F, o Instituto Nacional de Criminalística passa definitiva-mente a exercer a função de Centro Nacio-nal de Capacitação e Difusão de Ciências Forenses. Com uma área total aproximada de 20 mil metros quadrados, o Instituto Na-cional de Criminalística contemplará salas de aula multiuso integradas a laboratórios forenses, tais como:

Análise forense de crimes ambientais

Genética forense

Reconstrução forense 3D

Análise forense de registros de áudio e processamento digital de imagens

Toxicologia forense

Análise de vestígios de locais de crime

Pós-explosão e incêndio

Medicina legal

Antropologia forense

Odontologia legal

Análise de solos e pavimentos

Informática forense

Documentoscopia

Crimes financeiros

O projeto tem um cronograma de exe-cução de dois anos. O investimento é de mais de 41 milhões de reais em obras de engenharia, serviços e bens permanentes. A construção do novo prédio está em es-tágio avançado, com previsão de término em 2016.

RECOMENDAÇÕES DO RELATÓRIO DA ACADEMIA NACIONAL DE CIÊNCIAS DOS ESTADOS UNIDOS PRESENTES NO ESCOPO DO PROJETO DO CNCDCF

a) O Instituto Nacional de Ciências Forenses (National Institute of Forensic Science, NIFS) deve ter uma cultura fortemente relaciona-da às ciências, ligada à pesquisa nacional e à comunidade científica, incluindo os labo-ratórios federais; b) O NIFS deve focar-se em garantir as melhores práticas para os laboratórios de ciência forense, assim como estabelecer padrões para a acreditação dos laboratórios e certificação dos cientistas forenses em toda a rede; c) O NIFS deve trabalhar em conjunto com os laboratórios estaduais, as universidades, os laboratórios privados e os grupos de tra-balhos científicos, de modo a desenvolver ferramentas e estabelecer protocolos, mé-todos e práticas para os exames forenses; d) O NIFS deve desenvolver estratégias para aperfeiçoar os programas de treinamento e pesquisa nas ciências forenses em âmbito nacional; ee) O NIFS deve estabelecer uma terminolo-gia padrão que deve ser usada nos diversos laudos e na defesa oral, bem como deve propor padronização de laudos em diferen-tes áreas das ciências forenses e especificar as informações mínimas que neles devem estar incluídas.

Colaboraram os peritos criminais federais: Felipe Murga, Hélvio Peixoto, Paulo Roberto Fagundes e Harley de Moraes.

12 13Perícia Federal Perícia Federal

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PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

O MUSEU

A s ciências forenses do País têm mais um motivo para comemorar. Em 2016, começam as obras do Museu

Nacional de Ciências Forenses (MNCF), que ficará na capital mineira, na Rua Conde de Linhares 141, Cidade Jardim. O projeto é inovador e inédito na América Latina e tem como objetivo criar um centro de tecnolo-gia forense de padrão internacional, focado em educação, cultura, ciências e justiça.

Inicialmente foi instituída uma comis-são especial de trabalho com a finalidade de coordenar as ações relativas à implanta-ção desse projeto. Com o apoio do supe-rintendente da Polícia Federal em Minas Gerais, Sérgio Barboza Menezes e também da Direção Geral da Polícia Federal, o proje-to se concretizou formalmente com a pu-blicação da Portaria nº 913, de 2 de junho de 2014, assinada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Segundo o superintendente Sérgio Me-nezes, o museu é uma ferramenta inovado-ra nessa área. “Dentro da Polícia Federal é um projeto que virá agregar valores interes-santes à atuação da nossa perícia criminal, interagindo com a sociedade, com o públi-co e sendo um novel nas práticas relacio-nadas à área da perícia. É um museu vivo”, afirmou Menezes.

De acordo com o perito criminal fede-ral Gyovany Gomes, o MNCF também será um canal para se discutir polícia preventiva. “Quando em pleno funcionamento, o MNCF promoverá ações educativas itinerantes, le-vando os programas de ciência aplicada de combate ao crime a todo território nacional, com estimativa de alcançar entre 100 a 120 mil pessoas por ano”, destacou Gomes.

Marcus Vinícius de Oliveira Andrade, chefe do Setor Técnico-Científico de Minas Gerais, e um dos membros da comissão de

implantação do projeto, complementou: “O MNCF funcionará como uma espécie de museu-universidade, elevando e disse-minando o uso das ciências na análise das provas materiais em prol da Justiça. A ideia é que discussões aconteçam por meio de linhas de pesquisa, exposições, seminários, debates e conferências.”

Para o perito criminal federal e mem-bro da comissão Wenderson Carmo Maia, o museu irá ajudar a divulgar aos operadores do direito as modernas metodologias utili-zadas pelas ciências forenses na elucidação das questões judiciais.

Com previsão para ser inaugurado em 2019, alguns lugares do mundo con-tam com museus com esta proposta. Em Washington, o Crime Museum, que foi inau-gurado em 2008, tem como objetivo ofe-recer aos visitantes de todas as idades uma visão do crime e suas consequências, a apli-cação da lei, as ciências forenses e a investi-gação da cena do crime por meio de uma experiência, interativa, divertida e educativa.

Eduardo Cardoso, outro membro da co-missão de implantação, destaca que: “Mu-seus de ciência são polos indutores e disse-minadores do conhecimento. O Museu de Londres, por exemplo, é o quinto lugar mais visitado do Reino Unido e o Museu de Paris é o sétimo lugar mais visitado da França. O projeto do MNCF é um projeto estruturante de cérebros”.

O museu oferecerá ao público, entre outras atrações, a possibilidade de visitar um circuito interativo de laboratórios, onde as pessoas poderão observar o trabalho pe-ricial sendo executado em tempo real. Ha-

verá, também, laboratórios de experimen-tação simulada, em que o visitante poderá vivenciar a experiência de se tornar “perito por um dia”, praticando metodologias apli-cadas pelas ciências forenses.

Além disso, o MNCF também abrigará o Setor Técnico Científico da Superintendên-cia da Polícia Federal de Minas Gerais, onde peritos criminais federais desenvolverão suas atividades cotidianas e produzirão co-nhecimento científico.

Promover e realizar estudos e pesquisas no campo da histó-ria das ciências forenses

Pesquisar, preservar e tornar acessíveis à sociedade acervos de ciência e coleções ligadas à história das ciências forenses

Promover e difundir o ensino das ciências forenses em diver-sos níveis

Desenvolver ações de difusão cultural por meio de exposi-ções públicas permanentes, temporárias e itinerantes

Prestar serviços à comunidade na sua área de atuação

Manter uma biblioteca espe-cializada em publicações na área de ciências forenses

Desenvolver ações educativas de polícia cidadã por meio de programas voltados para estu-dantes do ensino fundamental, médio e superior, profissionais do ensino e comunidade em geral, notadamente para as populações de baixa renda

O PRÉDIOO MNCF será implantado no edifício

antes ocupado pela Faculdade de Odon-tologia da UFMG. O prédio tem seis mil m² e estava sem utilização desde 2002. Em setembro de 2013, foi tombado pelo Con-selho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município e destinado à Polícia Federal. Agora, será revitalizado para receber as mo-dernas instalações do museu.

A construção será de acordo com proje-tos arquitetônicos e museológicos que res-peitam as diretrizes de tombamento e a Lei Municipal que regulamenta a área ocupada pelo prédio. “O imóvel possui três pavimen-tos e um subsolo. Foi construído numa qua-dra de formato triangular sem afastamentos, resultando em um volume arquitetônico de forte presença visual no entorno”, destacou o perito Alexandre Sausmikat.

No mês de maio deste ano, durante a Semana Nacional de Museus, moradores do bairro Cidade Jardim, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, se mobilizaram para de-fender a recuperação do prédio em que será instalado o museu. Por iniciativa de peritos criminais federais, cerca de 800 pessoas com-pareceram ao local e se juntaram para reali-zar um abraço ao prédio como ato simbólico para chamar a atenção das autoridades.

Na oportunidade, a senhora Maria Ignez Mantovani, presidente do Conselho Inter-nacional de Museus no Brasil, participou do ato cívico e expressou a importância de museus de ciência para o País. Segun-

São objetivos do museu:

do Maria Ignez, o Brasil conta com cerca de 3.200 museus e somente 190 são des-tinados à popularização de ciência, ou seja, apenas 6% dos museus são dedicados à ciência e à técnica.

No mês de setembro, como resultado da mobilização dos moradores durante o ato cívico, o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, escalou uma equipe do Serviço de Limpeza Urbana para retirar o entulho de dentro do imóvel. Foram reti-rados 10 caminhões de lixo da edificação, cerca de 40 toneladas de entulho.

Em que pé está – As autoridades legis-lativas vislumbraram o projeto como uma iniciativa de grande alcance social. Vinte e seis deputados federais e um senador da bancada de Minas Gerais destinaram, ao orçamento federal de 2016, emendas par-lamentares individuais, totalizando o mon-tante de R$6.850.000,00 para o início das obras. Também, o escritório da UNESCO no Brasil propôs um acordo de cooperação internacional para participar do processo de implantação do MNCF. Aqueles que qui-serem saber mais ou contribuir com ideias para o projeto podem enviar um email para [email protected].

Colaboraram os peritos criminais federais Gyovany F. Gomes, Marcus Vinícius O. Andrade, Wenderson Carmo Maia, Eduardo Cardoso e Alexandre Sausmikat.

14 15Perícia Federal Perícia Federal

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O artigo conta com a assinatura de três peritos criminais federais: Adriano Malda-ner, Élvio Botelho e Jorge Zacca; junto aos peritos estaduais Raimundo Melo (DF), José Costa (SP), Ivomar Zancanaro (GO), Celinalva Oliveira (BA) e Leonardo Kasakoff (MT); e do professor da USP, Thiago Paixão. “Esse tipo de publicação é de grande valia para os peritos criminais, tanto para o crescimento acadê-mico quanto de grande contribuição para a área pericial e investigativa, já que possibilita olharmos diferentes locais, com uma mesma metodologia”, completou o perito.

De acordo com o perito Maldaner, exis-tem diversas maneiras de se obter o perfil químico da droga. Cada maneira é aplicada de acordo com as diferentes técnicas dispo-níveis nos laboratórios. No caso da que foi aplicada neste trabalho, foi possível quan-tificar a cocaína, dosar algumas das subs-

632 amostras de drogas de rua de cinco estados do País foram analisadas utilizando a metodologia do PeQui – Perfil Químico, desenvolvida pelo Serviço de Perícias de La-boratório (Seplab) do Instituto Nacional de Criminalística (INC). Os resultados das análises apontam que o produto consumido por usuá-rios de crack desses estados possui elevado grau de pureza de cocaína, que chega até a 70%. O artigo reafirma que o crack não é um subproduto da cocaína, mas sim uma droga com alta concentração desta substância.

Durante aproximadamente um ano e meio, peritos criminais de diferentes esta-dos foram convidados por peritos criminais

federais a realizarem, juntos, análises das amostras de drogas de rua no laboratório do INC em Brasília. A metodologia aplicada nas análises faz parte do escopo do projeto de “Perfil Químico de Drogas” (PeQui) e tem como objetivo analisar quimicamente as drogas de abuso de forma detalhada, com o intuito de identificar as características de origem e permitir a ligação entre as amos-tras. “Os peritos estaduais passaram de duas a três semanas conosco no laboratório e realizamos as análises em conjunto. As amostras analisadas eram todas oriundas de apreensões”, contou o perito criminal fe-deral Adriano Maldaner.

Estado Região Número de amostras

Acre (AC) Norte 61

Bahia (BA) Nordeste 50

Distrito Federal (DF) Centro-Oeste 34

Goiás (GO) Centro-Oeste 206

São Paulo (SP) Sudeste 291

Tabela 1 – Massa média percentual das amostras de canabis.

Foram recebidos peritos criminais do Distrito Federal, de Goiás, de São Paulo, da Bahia e do Mato Grosso sendo que as amos-tras trazidas pelo perito Leonardo Kasakoff, do Mato Grosso, foram apreendidas no esta-do do Acre. Para cada etapa realizada, foram elaborados relatórios parciais segmentados por estados e o artigo agora publicado reu-niu o resultado global. “Já existem vários tra-balhos de perfil químico de drogas de rua, até mesmo feitos pela perícia federal, mas esse trabalho analisou 632 amostras, o que, em termos de número de amostras analisa-das, é de grande relevância por ser o maior”, destacou o perito Maldaner.

Principais pontos de entrada: fronteiras com países produtores como Colômbia, Peru e Bolívia.Pontos de exportação e principais mercados nacionais: Rio de Janeiro e São Paulo.

17Perícia Federal 16 Perícia Federal

CRACK: um subproduto da cocaína?Em artigo aceito para publicação no Journal of the Brazilian Chemical Society, peritos

criminais federais, em parceria com peritos oficiais dos estados e junto a um professor

da USP, afirmam que o crack não está sendo significativamente adulterado e que os

usuários dessa droga estão consumindo um produto com alto conteúdo de cocaína.

PEQUI: Danielle Ramos PEQUI: Danielle Ramos

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tâncias (alcaloides) que apontam se aquela droga foi refinada ou não (que é o chamado grau de oxidação) e também quantificar nove fármacos adulterantes. Entre os resul-tados, conclui-se que 34% das amostras não possuem nenhum adulterante.

O PeQui é uma ferramenta no enfren-tamento ao tráfico internacional de drogas, sendo desenvolvido desde 2006 a partir da análise de amostras apreendidas nos seguintes estados: Amazonas, Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Pau-lo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

Após as análises de amostras apreen-didas pelas polícias civis dos estados, o PeQui constatou que a droga consumida nessas regiões possui um teor elevado de cocaína (até 70 %, com valor médio de 49,8 %). Esses dados apontam que a co-caína fumada e que é consumida no mer-cado de rua é similar ao perfil do tráfico internacional encontradas nas apreensões realizadas pela PF, ou seja, não apresentam grandes distinções no que diz respeito ao grau de pureza.

QUEBRANDO MITOSQuando se pensa em crack, o senso co-

mum leva ao conceito de que se trata de um subproduto oriundo do refino da cocaína. A imprensa reforça a informação dessa forma

A grande maioria das amostras de rua na forma fumada (cocaína base livre) não sofre oxidação, isto é, deve chegar pasta base do exterior e ser simplesmente convertidas em crack ou vendida da forma como está sem refino significativo (purificação por oxidação). Já as amostras de cocaína sal, que são comumente conhecidas como “pó”, sofrem uma maior incidência de refino (oxidação). Outra coisa importante é que temos uma série de amostras que não conseguimos classificar como forma de apresentação base ou sal, porque na rua são misturadas a tantas outras coisas que o método não consegue identificar exatamente o que é

“ao leitor, e, pelo fato do preço do crack ser bai-xo, o entendimento sobre esse tipo de droga é esse. Mito! O crack possui cocaína, e muita. ‘“Os resultados mostram que, no Brasil, o crack não passa por processos de refino para ser produzido, ele é produzido diretamente por meio da pasta base”, disse Maldaner.

O artigo aponta que o crack não está sen-do significativamente adulterado antes de alcançar o mercado de rua, e os consumido-res estão consumindo um produto com alto conteúdo de cocaína, não apenas em São Paulo, mas também em todas as outras re-giões que foram analisadas. Essa informação é crucial para profissionais da área de saúde, envolvendo aspectos médicos, psicológicos e toxicológicos da dependência de crack.

“O trabalho do perfil químico também tem a função de nortear esses profissionais. Como não se trata de um produto legal, é importante ter informações cientificamen-te embasadas do que são feitas essas dro-gas, se trata-se de um produto com alto ou baixo percentual de cocaína, quais são os adulterantes contidos nela e quais as con-sequências”, finalizou.

O papel da prova pericial como elemento

minimizador das “misérias do processo

penal”, descritas na obra de Francesco

CarneluttiO artigo a seguir tem como objetivo contextualizar a

máxima, afirmada por Carnelutti, que diz que “o direito

não pode fazer milagres e, o processo, ainda menos”.

Nessa ótica, o texto insere o debate pontuando o

sistema de justiça criminal brasileiro e o papel da prova

pericial como elemento minimizador dos efeitos das

“misérias” do processo penal.

Em sua obra “Le Miserie del Processo Penale”, Francesco Carnelutti (1957), jurista italiano e titular das Universi-

dades de Milão e Roma, revela o drama da Justiça Penal, abordando alguns dilemas vivenciados por seus atores na tentativa de reconstruir a história do ilícito para identifi-car a autoria e a materialidade do delito e decidir, ao final do processo, se o acusado é inocente ou culpado.

Para o autor, é preciso reconhecer que o mecanismo jurídico do processo penal, infelizmente, é imperfeito e imperfectível, pois, além de produzir alguns erros ou “mi-sérias”, é também incapaz de evitá-los, a exemplo de quando condena um inocente ou absolve um culpado, inclusive por insu-

ficiência de provas. Esse quadro leva Carne-lutti a afirmar que “o processo penal não é, infelizmente, mais que uma escola de inci-vilização”, não só porque o delito decorre de um drama da inimizade e da discórdia, mas também porque, na relação estabelecida entre quem é acusado e aqueles que atuam no processo penal ou o assistem, muitas ve-zes influenciados pelos efeitos da mídia, o homem acaba sendo tratado como coisa, principalmente quando, ao final do proces-so, é sentenciado a ficar fechado nas jaulas, parecendo homens de mentira ao invés de homens de verdade.

Diante dessa perspectiva, apesar de Carnelutti afirmar que “o direito não pode fazer milagres e, o processo, ainda menos”,

este artigo pretende contextualizar o de-bate com a realidade do sistema de justiça criminal brasileiro. Para isso, abordará, espe-cificamente, o papel da prova pericial como elemento minimizador dos efeitos das “mi-sérias” do processo penal, face à potencia-lidade que possui para subsidiar os atores desse sistema (peritos criminais, delegados, promotores/procuradores, juízes, advoga-dos e assistentes técnicos das partes). Dessa forma, buscará reconstruir, principalmente sob o ponto de vista objetivo e técnico--científico, a história do fato ilícito passado e a encontrar a verdade real ou, ao menos, se aproximar dela, permitindo, ao final do processo, que o Estado-juiz tome a decisão mais acertada possível ao sentenciar.

18 19Perícia Federal Perícia Federal

PEQUI: Danielle Ramos PROVA PERICIAL: perito criminal federal José Viana Amorim

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O PAPEL DO SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL

Antes de tratar da relevância da pro-va pericial em si, é preciso lembrar que o Estado moderno, visando evitar a prática da vingança privada (fazer justiça com as próprias mãos), possui um aparato orgâ-nico e processual atualmente conhecido como sistema de justiça criminal. No caso, as instituições são responsáveis pelo con-trole sobre a violência e a criminalidade como um bem coletivo, mediante a obe-diência a diversos institutos legais que estabelecem os fluxos de suas atividades e os parâmetros de seus poderes de atua-ção (Sapori, 2009).

A figura 1, adaptada de Amorim (2014, p. 185), ilustra como esse sistema está or-gânico e processualmente estruturado no Brasil para executar a persecução penal, destacando o fato de os órgãos responsá-veis pela produção da prova pericial, ge-ralmente conhecidos como Institutos de Criminalística ou Polícias Científicas, terem uma atuação transversal1 ao longo de todas as fases da persecução penal e se encon-trarem, na maioria dos Estados, atualmente desvinculados da estrutura orgânica das Polícias Civis (Brasil, 2013)2.

Essa figura demonstra que, após a ocor-rência de um crime, o fluxo da persecução penal é realizado por três subsistemas dis-tintos, mas interrelacionados. Cada um é responsável pela execução de uma fase es-pecífica, a saber:

1 A despeito de os órgãos de criminalística estarem inseridos no subsistema policial, Amorim (2012) justifica a transversalidade da função no fato de a prova pericial não servir de suporte decisório apenas para os delegados de polícia, mas também para diversos outros atores do sistema de justiça criminal, ao longo de toda as fases da persecução penal, com destaque para o juiz, seu destinatário principal e final, ao qual compete apreciar o conjunto probatório e decidir a lide penal, segundo o princípio do livre convencimento motivado.2 De acordo com o estudo realizado pelo Ministério da Justiça (2013), os órgãos de perícia encontram-se desvinculados das Polícias Civis em 16 Estados, quais sejam: AP, AL, BA, CE, GO, MT, MS, PA, PR, PE, RN, RS, SC, SE, SP e TO. Recentemente, nos estados de Rondônia e Amazonas a perícia também se desvinculou da Polícia Civil.

PolíciasFederal e Civil

(investigar)Subsistema Policial

Fase pré-processual

Fase

exe

cuçã

o Pe

nal

Fase processual ou judicial

Subsistema de Execução Penal

Subsistema da Justiça Criminal

PolíciaCientí�ca

Criminalístic

a

CRIME

Cadeia/Presídio(punir/recuperar)

Judiciario(julgar)

Min. Público(invest./acusa)

Acusado(defender)

Conj. Probatório

Figura 1 – Estrutura orgânica e processual do sistema de justiça criminal brasileiro.

Tabela 1 – Taxas sobre o fluxo do Sistema de Justiça Criminal, de acordo com a agência e com o significado das informações.

a. Subsistema Policial ou de Segurança Pública: executa a fase pré-processual da persecução penal, na qual as polícias judiciárias realizam os procedimentos in-vestigatórios necessários à identificação do crime e da autoria, reduzindo-os a um instrumento administrativo, formal e escrito, denominado inquérito policial;

b. Subsistema de Justiça Criminal: exe-cuta a fase processual ou judicial da persecução penal, que se inicia quando a denúncia feita pelo Ministério Público contra o acusado, após receber o in-quérito policial ou concluir as próprias investigações, é aceita pelo Judiciário, formando-se a tríade processual, na qual as partes (acusação e defesa), sob o crivo do princípio da paridade das armas, de-vem atuar em igualdade de condições; e

c. Subsistema de execução penal ou prisional: sendo o réu julgado “culpado”, ao final do processo penal, cabe ao juiz definir a pena, cujo cumprimento dará início à fase da execução penal, cabendo ao Estado assumir a custódia e, em tese, a recuperação social.Sendo assim, ao tomar conhecimento

desalinhado de um ato considerado crimi-noso e passível de punição, o Estado deve

exercer o poder-dever de promover a Justi-ça como um bem coletivo, mobilizando os órgãos que atuam nesse sistema para, ini-cialmente, investigar e denunciar a pessoa sobre a qual recaem os indícios de autoria e materialidade do delito. Dessa forma, cabe posteriormente ao Estado-juiz analisar a re-construção da história dos fatos, por meio do conjunto probatório, e decidir se o réu é culpado ou inocente, sendo essa decisão, segundo Carnelutti, um dos principais pro-blemas (ou miséria) do processo penal.

EFETIVIDADE DO SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL BRASILEIRO

De acordo com os dados do “Sistema de Indicadores de Percepção Social-SIPS" e do ”Anuário Brasileiro de Segurança Pú-blica”, publicados pelo IPEA3 e FBSP4, res-pectivamente, a efetividade do sistema de

3 Desde 2010, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) usa o Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) para pesquisar a percepção da população em relação a diversos serviços de utilidade pública.

4 O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) publica, por meio do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, dados e estatísticas sobre a área de segurança pública no Brasil, a exemplo do Índice de Confiança na Justiça Brasileira (ICJBrasil), da Escola de Direito da FGV/SP, elaborado desde 2009 a cada trimestre.

justiça criminal no Brasil há muito tempo apresenta índices insatisfatórios, levando a sociedade a ter baixos níveis de confiança nas instituições.

Para Lemgruber (2001), a efetividade dos órgãos que atuam nesse sistema pode ser mensurada por meio das chamadas “taxas de atrito”, as quais, partindo-se do total de crimes cometidos, estimado por meio de pesquisas domiciliares de vitimi-

zação, expressam a proporção das perdas ocorridas em cada etapa da persecução penal, calculando a parcela registrada pela Polícia, a parcela esclarecida, transformada em processo, e a parcela que resultou em condenação. Nesse contexto, Ribeiro e Sil-va (2010) apresentam as seguintes taxas para avaliar o desempenho dos órgãos que atuam nesse sistema:

TAXA SIGNIFICADO AGÊNCIA

Esclarecimento § Percentual de inquéritos esclarecidos, considerando o total de ocorrências registradas. Polícia Civil

Processamento§ Percentual de processos iniciados, considerando o total de crimes registrados.§ Percentual de processos iniciados, considerando o total de ocorrências registradas.§ Percentual de processos iniciados, considerando o total de inquéritos cuja autoria fora esclarecida.

Ministério Público

Sentenciamento

§ Percentual de processos que alcançaram a fase de sentença, considerando o total de ocor-rências registradas.

§ Percentual de processos que alcançaram a fase de sentença, considerando o total de proces-sos iniciados.

Judiciário

Condenação § Percentual de condenações, considerando o total de ocorrências registradas.§ Percentual de condenações, considerando o total de sentenças proferidas.

Judiciário

Outra utilidade das taxas de atrito diz respeito ao fato de explicarem o chamado “efeito funil” (SAPORI, 2008) na dinâmica do Sistema de Justiça Criminal, à medida que demonstram a diferença entre o nú-mero de crimes cometidos (topo do funil), conhecidos nas pesquisas de vitimização, e o número de crimes cujos autores são condenados (base do funil). Segundo Ri-beiro e Silva (2010), quanto mais elevadas forem essas taxas, maior será o efeito funil e, subsequentemente, maior será a ideia de impunidade nesse sistema. Contextua-lizando essa questão com a obra de Carne-lutti, depreende-se que a intensificação do efeito funil pode ser decorrente de diver-sos problemas (ou “misérias”) do processo penal, com destaque para aqueles relacio-nados à incapacidade de seus autores para reconstruírem a história do fato ilícito pas-

sado narrado na ação penal, aumentando o drama do julgador, no momento de to-mada de decisão, e o próprio risco dessa decisão acentuar o efeito da incivilidade do processo penal. Daí porque, segundo Carnelutti, o magistrado precisa entender o valor que tem o processo penal para a civilidade de um povo.

RELEVÂNCIA DA PROVA PERICIAL PARA A EFETIVIDADE DO SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL

Relatos de que, desde a época do Im-pério Romano, médicos eram chamados pelos governantes para esclarecer as cir-cunstâncias de morte (França, 1998, apud Velho et al. 2011) demonstram que há mui-

to tempo a investigação dos crimes, nota-damente contra a vida e a integridade física das pessoas, tem exigido conhecimentos técnico-científicos para analisar os vestígios relacionados ao fato criminoso, sendo a Medicina Legal a primeira ciência forense a prestar esse auxílio à Justiça.

Contudo, na sociedade moderna, mui-tos crimes foram se tornando cada vez mais complexos e praticados mediante uso de técnicas delituosas mais avançadas, demandando, consequentemente, o uso instrumental de técnicas e métodos cientí-ficos de outras áreas das ciências forenses para solucioná-los. A título de exemplo, isso ocorre, atualmente, nos crimes cibernéticos, nos crimes de falsificação que usam moder-nas tecnologias (e.g. papel moeda, medica-mentos, pirataria etc.), nos crimes contábeis e financeiros (e.g. corrupção, lavagem de

20 21Perícia Federal Perícia Federal

PROVA PERICIAL: perito criminal federal José Viana Amorim PROVA PERICIAL: perito criminal federal José Viana Amorim

Page 12: Revista Pf 36

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RIBEIRO, Ludmila; SILVA, Klarissa. Fluxo do sistema de justiça criminal brasileiro: um balanço da literatura. Caderno de Segurança Pública, Rio de Janeiro, ano

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VELHO, Jesus Antônio; GEISER, Gustavo Caminoto; ESPÍNDULA, Alberi. Ciências Forenses: uma introdução às principais áreas da criminalística moderna.

Campinas-SP: Millennium, 2011.

GUZMÁN, Carlos Alberto. Manual de criminalística. Bueno Aires-ARG: Ediciones La Rocca, 2000.

dinheiro, evasão de divisas etc); nos crimes que exigem exames laboratoriais de alta tecnologia (e.g. confronto balístico, exames de DNA, drogas sintéticas etc.), entre outros.

Adequando-se a essa perspectiva do uso das ciências forenses na solução dos crimes, o ordenamento jurídico brasileiro tem conferido relevância ao exame pericial desde a edição original do Código de Pro-cesso Penal (1941) – quando essas ciências sequer eram desenvolvidas e valorizadas –, estabelecendo as seguintes regras básicas:

(i.) quando ocorrer um crime, a autorida-de deve preservar o local até a chega-da dos peritos (Art. 169);

(ii.) se o crime deixar vestígios, será in-dispensável o exame pericial, não podendo supri-lo a confissão do acu-sado (Art. 158), devendo o exame ser realizado por perito oficial, podendo ser nomeado perito ad hoc, somente em sua falta (Art. 159 e § 1º);

(iii.) não sendo possível o exame pericial, por terem desaparecidos os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir--lhe a falta (Art. 167);

(iv.) a não realização do exame pericial im-plica a anulação absoluta do processo penal, com a ressalva da possibilidade de a prova testemunhal suprir-lhe a falta (art. 564, III, b);

(v.) o exame pericial deve ser requisitado pela autoridade ao diretor da reparti-ção (Art. 178);

(vi.) o perito, ainda quando não oficial, está sujeito à disciplina judiciária (Art. 275) e, face ao requisito da imparcialidade de sua função, também é extensivo a ele o disposto sobre suspeição dos juízes, no que for aplicável (Art. 280). Recentemente, a Lei nº 12.030/2009 passou a assegurar a autonomia téc-nica, científica e funcional à atividade de perícia oficial de natureza criminal,

além de reconhecer como peritos ofi-ciais os peritos criminais, os peritos médico-legistas e os peritos odonto-legistas com formação superior.

A título de exemplo, essa relevância pode ser visualizada na hipótese em que uma pessoa inocente tenha sido submetida a uma investigação policial ou a um proces-so penal por um crime que não cometeu.

Nesse caso, a prova pericial pode for-necer subsídios técnico-científicos para que os principais destinatários possam, em qualquer fase da persecução penal, identifi-car esse ato de incivilidade e repará-lo, ado-tando, para esse fim, as seguintes medidas:

(vii.) delegado de polícia: pode decidir não indiciar a pessoa investigada e pedir o arquivamento do inquérito policial;

(viii.) membro do Ministério Público: pode não oferecer a denúncia, mesmo que o delegado tenha efetuado o indiciamento;

(ix.) juiz: pode decidir pela absolvição sumária, pela absolvição ao final do processo penal ou, ainda, pela absol-vição de um condenado, na fase da execução penal, ao final de um pro-cesso de revisão criminal. De modo in-verso, esse mesmo ato de incivilidade também pode ocorrer em relação à vítima, quando, por exemplo, o verda-deiro agressor é absolvido por insufi-ciência de provas. Por isso, de acordo com Carnelutti, no momento da esco-lha entre o “não” do defensor e o “sim” do acusador, os termos “absolver” ou “condenar” precisam ter o verdadeiro significado desvelado pelo juiz.

Nesse contexto, a partir de outro es-tudo realizado por este autor (Amorim, 2012), depreende-se que a relevância da prova pericial para a efetividade do sistema de justiça criminal decorre de sua própria natureza, a qual pode ser subdividida nos

seguintes aspectos:

(a.) Técnico-científico: trata-se de uma pro-va produzida por um especialista em determinada área das ciências foren-ses, que faz uso de técnicas ou méto-dos científicos para analisar os vestígios relacionados ao crime investigado;

(b.) Objetivo: do caráter técnico-científico resulta, por conseguinte, em sua na-tureza objetiva, face à possibilidade de permitir que outros profissionais, a exemplo dos assistentes técnicos das partes, reexamine o objeto periciado, confirmando ou refutando os resul-tados obtidos nos exames realizados pelo perito criminal;

(c.) Instrumental: há determinados exa-mes (falsidade de documentos, crimes cibernéticos, balística forense, exame de DNA etc.) que, geralmente, só po-dem ser realizados, de forma mais pre-cisa, por meio do uso instrumental das técnicas e metodologias desenvolvi-das pelas ciências forenses;

(d.) Teleológico: significa que, embora te-nha uma destinação transversal ao lon-go da persecução penal, à medida que pode ser demandada em todas as fases por diversos atores do sistema de justiça criminal, a prova pericial tem como fina-lidade precípua atender ao Estado-juiz, subsidiando a decisão ao sentenciar;

(e.) Ontológico: está no “ser” da prova pe-ricial a imparcialidade, razão pela qual quanto maior for a garantia de que foi produzida de forma isenta e qualifi-cada, com lastro na autonomia técni-co-científica e funcional, maior será a probabilidade dos seus destinatários tomarem a decisão mais justa e acer-tada possível, especialmente quanto à decisão tomada pelo Estado-juiz, ao final da persecução penal;

(f.) Dos Direitos Humanos: face à natureza objetiva e técnico-científica, além de ser produzida com isenção, a prova pericial contribui para a garantia dos direitos in-dividuais do cidadão à medida que pode servir tanto para condenar como para absolver uma pessoa indevidamente investigada ou acusada em processo pe-nal, refutando a tese acusatória desenvol-vida no curso da persecução penal.

Conforme ratifica GUZMÁN (2000, p.

38), os vestígios criminais são verdadeiras “testemunhas silenciosas ou mudas”, so-mente sendo possível comprovar a ocor-rência dos crimes após sua revelação, por meio da análise pericial.

Como resultado da análise realizada sobre o pensamento de Carnelutti, pon-derado pela análise da relevância da pro-va pericial para a efetividade do sistema de justiça criminal, o presente estudo conduz ao entendimento de que o forta-

lecimento dos Institutos de Criminalística ou das Polícias Científicas apresenta-se como uma das medidas necessárias para minimizar as misérias do processo penal a que se refere esse autor em sua obra, tendo em vista o papel que tem a prova pericial no sentido de iluminar o caminho obscuro da reconstrução histórica do fato ilícito passado, auxiliando os atores da persecução penal, notadamente o juiz, a tomar decisões mais acertadas.

22 23Perícia Federal Perícia Federal

PROVA PERICIAL: perito criminal federal José Viana Amorim PROVA PERICIAL: perito criminal federal José Viana Amorim

Page 13: Revista Pf 36

Equipe da UTEC/DPF/RPO/SP

A Unidade Técnico-

Científica de Ribeirão PretoEsta edição da revista Perícia Federal traz, na série

de reportagens sobre o processo de interiorização da

Perícia Federal, mais detalhes sobre o funcionamento

da Utec de Ribeirão Preto/SP

O Estado de São Paulo possui nove Unidades/Setores Federais de Criminalística, sendo oito unida-

des localizadas no interior e destinadas a atender às demandas de 15 delegacias da Polícia Federal de São Paulo. Dessa forma, as demandas das delegacias Araraquara, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto são direcionadas para a UTEC de Ribeirão, dis-tante cerca de 300 km da capital do estado.

A UTEC de Ribeirão foi criada em janeiro de 2008 e, hoje, ocupa 140 m2 da Delegacia da Polícia Feral da localidade, divididos em: laboratório de documentoscopia, de infor-mática, de química forense, salas de peritos e secretaria.A responsável pela unidade, a perita criminal federal Andrea Nicole Pey, diz que as demandas mais frequentes são em perícias documentoscópicas e de informáti-ca, seguidas de exames em veículos, de quí-mica forense e de meio ambiente. “Um dos maiores problemas da unidade é o baixo efe-tivo frente à alta demanda que recebemos”, afirmou a perita.

Segundo dados do Sistema Nacional de Criminalística, no ano de 2015, a Utec de Ribeirão Preto possuía em seu quadro 0,9% do efetivo nacional de peritos federais, mas recebeu uma demanda equivalente a 2,0% das requisições nacionais, se destacando como a segunda maior produtora de lau-dos por perito do Estado de São Paulo e a sexta maior produtora de laudos por perito

se comparada a todos os setores/unidades de perícia federal do Brasil. Por outro lado, apresenta a quarta maior pendência por pe-rito do país, evidenciando um claro descom-passo entre requisições de perícia e efetivo pericial. Segundo a perita Andrea, além das atribuições de realização de perícias, a equi-pe acumula ainda funções de fiscalização de contratos da delegacia, fiscalização de

químicos e ações educativas voltadas para o combate a drogas de abuso (palestras).

Apesar da elevada demanda por perito, bem superior à média nacional, a unidade, que já contou com 13 peritos, hoje dispõe de apenas nove, das seguintes áreas: infor-mática (4), ciências contábeis (1), engenha-ria agronômica (1), engenharia florestal (1), ciências biológicas (1) e química (1).

A UTEC DE RIBEIRÃO EM NÚMEROS

Ano de criação 2008

Espaço físico da unidade 140 m2

Número de peritos lotados 9

Número de municípios atendidos 162

População da circunscrição de atendimento

4,63 milhões de habi-tantes (IBGE, 2010)

Delegacias da Polícia Federal atendidas 3

Laboratório de Documentoscopia e Informática

Sala de peritos

24 25Perícia Federal Perícia Federal

UTEC: perito criminal federal Jesus Antônio Velho UTEC: perito criminal federal Jesus Antônio Velho

Page 14: Revista Pf 36

Em alta! O crescimento de smartphones, aplicativos e

redes sociais têm desafiado a perícia criminal

federal. Os profissionais da criminalística

precisam estar sempre atualizados para

realizar esse tipo de perícia, cada vez mais

frequente no Brasil

De acordo com a Anatel, em julho de 2015, o Brasil tinha 281,5 milhões de celulares, uma média 137 aparelhos

para cada 100 habitantes. Os smartphones viraram febre entre as pessoas e, conse-quentemente, se tornaram uma importan-te ferramenta de investigação criminal.

A perícia da Polícia Federal recebe hoje, em média, 25 aparelhos para serem pericia-dos por dia. Segundo o perito criminal fede-ral da área de informática, Evandro Lorens, a grande maioria dos casos é solucionada, mesmo considerando aqueles aparelhos recém-lançados com tecnologia de ponta.

As análises em telefones são diversas. Com o uso de equipamentos específicos, e em questão de minutos, é possível re-cuperar ligações realizadas, perdidas, não atendidas, mensagens SMS, de voz, todos os dados registrados no aparelho, mesmo que tenham sido apagados.

O perito Lorens explica que os apa-relhos mais novos, às vezes, demandam mecanismos específicos para a quebra de senhas para que, em seguida, sejam anali-sados. “Usamos uma grande variedade de equipamentos na perícia de smartphones, dada a variedade de tipos de aparelhos e de mecanismos de proteção como senhas, criptografia, biometria, bloqueios e outros”, explicou o perito.

Os exames periciais em celulares po-dem demorar horas ou até meses, depen-dendo da importância da prova. “Tudo precisa ser feito com muito cuidado, para que não sejam perdidos os dados que bus-camos. Um simples erro pode colocar tudo a perder”, destacou.

Por isso, a perícia conta com profissio-nais capacitados para esse tipo de análises. Dada a evolução rápida das tecnologias e a necessidade de ferramentas que acompa-nhem a evolução tecnológica, os próprios peritos também desenvolvem programas e ferramentas para uso da criminalística em todo o Brasil. Muitas dessas são con-sideradas melhores e mais completas que as soluções comerciais desenvolvidas por empresas especialistas em todo o mundo.

“Com o crescimento acelerado do uso de smartphones, é importante que este-jamos atualizados, porque a expectativa é que, em pouco tempo, o número des-ses aparelhos supere o de computadores. Atualmente, o crescimento da demanda por perícias em smartphones cresce à ordem de 85% ao ano, enquanto o cres-cimento da demanda por perícias em mídias convencionais cresce em 35%”, re-velou Lorens.

OS APLICATIVOS DE COMUNICAÇÃO

E se os smartphones são um sucesso, muito se deve aos aplicativos e às redes sociais, que também viraram objeto de in-vestigação criminal. Mais um desafio para o corpo de peritos federais.

O WhatsApp, um dos aplicativos mais famosos do momento, permite a troca de mensagens e informações pelo celular de forma instantânea, por meio da Internet. O problema é a que ferramenta sofre atualiza-ções das configurações frequentemente, o que dificulta o trabalho pericial. “Precisamos estar sempre buscando novos programas que acessem as novas versões dos siste-mas, que extraiam o conteúdo de dados dos aplicativos. Às vezes, um equipamento acessa os dados de uma versão mais antiga de um aplicativo, mas não consegue aces-sar os de uma versão mais recente”, expli-cou Lorens.

Mas o perito diz que não há nenhum dado que não possa ser recuperado. “Se a gente não consegue no primeiro momen-to, é uma questão de tempo. Sempre en-contramos um método mais eficiente de acesso, especialmente em casos difíceis, em que a prova depende muito da análise que fazemos”, afirma.

Apesar da popularidade do WhatsApp, a maior demanda direta de análise em smar-tphones ainda está relacionada às ligações realizadas e recebidas e à base de contatos contida nos aparelhos. Entretanto, à medida em que o WhatsApp e os aplicativos simi-lares crescem em preferência como ferra-menta de comunicação entre as pessoas, a importância de se recuperar esses dados também cresce.

FACEBOOK Diferentemente dos aplicativos que

guardam dados e comunicações nos apa-relhos dos usuários, no Facebook, o maior

volume de dados dos perfis e de comuni-cações é mantido em servidores da rede social na Internet. E, uma vez que os perfis não são totalmente acessíveis, muitas vezes é necessário solicitar os dados à empresa proprietária da rede social. Sediado dos Es-tados Unidos, o Facebook frequentemente cria obstáculos à cessão de dados e nem sempre acata os pedidos das polícias bra-sileiras no curso das investigações ou as determinações dos mandados judiciais da justiça brasileira.

Mesmo com a vigência de alguns termos de ajuste de conduta firmados pelo Facebook e por outras empresas de tecnologia estrangeiras, é comum a demora ou a negativa de informações à justiça do Brasil. A falta de uma legislação específica para esses casos faz com que, em muitas situações, a verdadeira justiça não seja realizada

““

26 27Perícia Federal Perícia Federal

PERÍCIA EM CELULARES: Taynara Figueiredo PERÍCIA EM CELULARES: Taynara Figueiredo

Page 15: Revista Pf 36

Foi o caso de Raíssa Lopes, de apenas 15 anos. Em setembro de 2012, a jovem foi assassinada cruelmente pelo ex-namo-rado em um ponto de ônibus, na cidade de Porto Velho, Rondônia. O Caso Raíssa, como ficou conhecido popularmente na região onde o homicídio ocorreu, teve uma peculiaridade em relação aos moti-vos que levaram o autor do crime a prati-cá-lo: supostas mensagens postadas pela vítima via Facebook.

O autor do crime, que respondia em liberdade, alegou que a ex-namorada pos-tou mensagens na rede social, as quais lhe causaram desarranjo emocional, fato que o levou a desferir disparos de arma de fogo, em plena via pública, contra a vítima, que veio a óbito no local.

Sendo assim, a autoridade judiciária, as-sessorada pelo perito criminal federal André

Abreu Magalhães, por meio do dispositivo de cooperação jurídica internacional entre Brasil e Estados Unidos da América (MLAT - Mutual Legal Assistance Treaty), requisitou informações sobre o perfil do Facebook de Raíssa Lopes, tendo este sido negado pelas autoridades estadunidenses, sob o argu-mento de que as evidências fornecidas não eram suficientemente fortes para que se concedesse a quebra de sigilo telemático.

O tema foi debatido na CPI de Crimes Cibernéticos, na Câmara dos Deputados. “Nós, peritos criminais federais, participa-mos da audiência onde ficou demonstra-da a necessidade de se melhorar os acor-dos de cooperação internacional, tendo a CPI colocado como prioridade a celebra-ção de novos acordos internacionais e a melhoria dos já existentes”, afirmou o pe-rito André Magalhães.

Para o perito Lorens, outra questão que precisa evoluir no Brasil é a lacuna de autonomia das polícias na interação com empresas que mantêm dados de comuni-cação de pessoas, como as de redes e de telecomunicações. “Em países como os Es-tados Unidos, por exemplo, a polícia pode solicitar direto e, formalmente, ao operador de rede social os dados de perfil de um usuário que esteja praticando crimes pela Internet, o que agiliza as investigações e a solução dos crimes. Mais uma vez, no Brasil, a falta de uma legislação que viabilize esse tipo de requisição com a devida responsa-bilização da polícia pelo uso dos dados en-tregues, oferece aos criminosos tempo para apagar vestígios de seus delitos e dificultar sua captura, já que dados assim só são en-tregues mediante um mandado judicial”, ponderou.

Psicologia Criminalística A inteligência pericial na cena do crime

A criminalística baseia-se no pressuposto de que um criminoso (na maior parte das ve-zes, sem estar consciente) deixa sempre, no

local (cena) do crime, alguns vestígios; e que, por outro lado, também recolhe, na pessoa, na roupa e no material, outros vestígios presentes no ambiente (LOCARD, 2010). Estes vestígios geralmente são im-perceptíveis visualmente, mas possíveis de serem identificáveis e processados como prova material. No entanto, também existirão situação nos locais de crime e nos fatos criminais em que os vestígios não serão obtidos ou estarão contaminados, destruídos ou perdidos pelos mais variados motivos. Nestes ca-sos, resta a necessidade de que o perito possa utili-zar os conhecimentos da psicologia criminal.

28 29Perícia Federal Perícia Federal

“A legislação brasilei-ra precisa ser mais

dura com empresas que não colaboram com a justiça e que colaboram com o

crime, porque obstru-ir, atrasar ou invia-

bilizar o trabalho da polícia e da justiça é colaborar com os criminosos”, perito

criminal federal Evan-dro Lorens

PERÍCIA EM CELULARES: Taynara Figueiredo PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA: perito criminal federal Fernando de Jesus

Page 16: Revista Pf 36

Daí advém a importância de conheci-mentos da ciência Psicologia para que se possa compreender qual a explicação e a previsão do comportamento criminal e, dessa maneira, discutirmos qual a dinâmica da ocorrência do fato criminal (criminalísti-ca dinâmica), conforme Garrido (1994).

Baseando-nos nessa premissa é que po-deríamos sustentar, em última análise, que se possuirmos todos os vestígios de um crime, seria possível reconstruir todas as fases e che-gar até ao autor. Na realidade, trata-se sim-plesmente de procurar a prova de uma culpa-bilidade baseando-se em indícios aos quais se aplicarão todos os métodos de investigação científicos necessários e quais os comporta-mentos dos atores na cena de crime.

O conceito de sistema está fortemente relacionado com a doutrina criminalística. A doutrina de que todo contato deixa um vestígio remete-se à necessidade de com-preender qual o papel do sistema na Crimi-nalística (SAFERSTEIN, 2011).

Esse entendimento não é novo porque Hans Gross, em 1893, quando publicou a obra System der Kriminalistik, já tratava do conceito de sistema dentro do pensamen-to criminalístico em seu livro mais funda-mental. O mesmo realizou no livro Psicolo-gia do crime sobre a aplicação da psicologia na elucidação da autoria criminal (GROSS, 2009), sendo considerado, assim, o funda-dor da Criminalística.

INFORMAÇÃO E PROVA PERICIAL

O tratamento de dados consiste em dar sentido aos fatos e indícios. Ele busca iluminar um pouco o presente e o futuro para que possamos tomar decisões com maior segurança. Estamos frequentemen-te tratando dados de forma consciente ou inconsciente. Quando planejamos uma via-gem, buscamos dados e informações ne-cessários para maximizar nossa satisfação, ao mesmo tempo em que teremos, em

algumas situações, variáveis de restrição nesse tratamento, como tempo, dinheiro, custo de oportunidade etc.

Assim, a necessidade de informação para a tomada de decisão surge para suprir uma lacuna do conhecimento. A pessoa que conhece tudo e sabe tudo não terá ne-cessidade de informação, mas sabe-se que atualmente essa pessoa não existe.

Inicialmente, temos que quantificar e qualificar qual é a real necessidade da in-formação. A correta avaliação da necessi-dade possibilitará buscarmos os recursos e os conhecimentos necessários para sa-tisfazê-la. Logo, a necessidade irá preceder à aquisição do saber porque irá fornecer a elaboração da informação essencial, que é a formulação das perguntas e quesitos.

de informação que não deverá ser maior nem menor do que a capacidade da or-ganização em manter a qualidade no pro-cessamento e na aplicação útil das infor-mações geradas.

Conforme Popper (1999), a tarefa da ciência é buscar explicações satisfatórias, que dificilmente podem ser compreen-didas sem o fundo da realidade (observa-ção). A explicação satisfatória é a que não somente atende a um caso, mas a que pode ser aplicada a outros também. Essa explicação deverá ser aprofundada para as camadas mais profundas da explicação, que quanto mais simples, mais significa-tivas são. Ainda Popper (1999, p. 177) diz: “De fato, é com as nossas teorias mais ou-sadas, inclusive as que são errôneas, que mais aprendemos. Ninguém está isento de cometer enganos; a grande coisa é aprender com eles”.

A inteligência pericial pode ser definida como a coleta, a análise, o pro-cessamento e a disse-minação das infor-

mações e dos conhecimentos, visando a solução de uma necessidade, para a toma-da de decisão.

O perito irá utilizar os recursos dispo-níveis para dar o tratamento adequado aos dados e às informações. O tratamento da informação pressupõe duas grandes etapas: a aquisição e a análise. A análise deve ser capaz de avaliar a credibilidade de uma informação e de fazer uma síntese de um conjunto de variadas informações de forma integrada.

O raciocínio pericial pode ser reconheci-do como uma forma de pensamento, pois está inserido em processos como a percep-ção, a solução de problemas, a categoriza-ção e a tomada de decisão. Por outro lado, a atividade de inteligência busca o ofereci-

mento de conhecimento essencial e relevante para que o toma-

dor de decisão possa oti-mizar a sua resposta dian-te de um determinado problema (JESUS, 2005).

As habilidades cog-nitivas descritas ante-

riormente só se tor-

A questão fundamental: qual é a pergunta essencial? Geralmente, ignora-se a pergunta mais profunda sobre direção e resultados esperados em longo prazo, buscando-se somente a solução da crise atual.

A permanência da negligência em rela-ção à pergunta faz com que outra crise surja com aspectos diferentes, provocando nova-mente a reflexão: qual é a causa subjacente? Provavelmente, a necessidade não foi satis-feita, isto é, a pergunta não foi totalmente respondida.

Constatar que se trata de um ciclo de perguntas e respostas que continuamen-te busca o aprimoramento do tratamento dos dados e o fornecimento de informa-ções úteis ao processo de tomada de de-cisão. Existirá, então, uma rotação do ciclo

nam efetivas se realmente forem aplicadas, ou seja, é difícil imaginar um analista de inteligência que deseja ter sucesso despro-vido de um raciocínio crítico desenvolvido.

O perito deve ser dotado de um racio-cínio crítico que inclui em seu desenvolvi-mento (JESUS, 2005):

Espírito indagador e formulador de perguntas;

Busca manter-se constantemente informado com qualidade de fontes;

Atenção para o uso de raciocínio crítico;

Confiança e certeza no uso do processo lógico;

Mente aberta para ouvir as opiniões de outras pessoas, afastando modelos mentais;

Flexibilidade na aceitação de ideias diversas;

Reconhecimento dos próprios preconceitos, estereótipos e tendências egocêntricas;

Prudência na suspensão, mudança ou alteração de julgamentos;

Disposição para reconsiderar e revisar conceitos contrários; e

motivação para buscar sempre a melhoria da qualidade em sua atividade.

A comunicação linguística possui uma importância fundamental para o analista de inteligência, porque sem ela não haveria literatura, nem ciência, nem lei. Em síntese, nenhum acúmulo de conhecimento, seja ele teórico ou prático. Dessa forma, pode-ríamos dizer que as pessoas expressam um comportamento linguístico que as identi-fica e que revela suas características pecu-liares. Esse será um dos principais materiais sobre os quais o analista exercerá suas ativi-

dades, mesmo porque o seu acesso é visi-velmente mais fácil (JESUS, 2014).

Quando uma informação é comuni-cada, ocorrerá uma premissa inicial e um objetivo. A premissa é a informação de que um indivíduo pronunciou ou escreveu cer-ta sentença. O objetivo é descobrir o que o indivíduo processava em pensamentos ao emitir essa sentença.

A premissa e a conclusão de um pro-cesso interpretativo bem-sucedido são ori-ginariamente complexas, todavia em graus diferentes. Por exemplo, quando alguém diz: “É tarde”. A conclusão pode ser que essa pessoa tenha que ir para casa (horário), po-rém, essa premissa e conclusão envolvem uma metarrepresentação, isto é, possuem uma representação da representação, não devendo representar exatamente o signi-ficado que foi apresentado anteriormente.

A PERCEPÇÃO DA SUBJETIVIDADE PARA A PRODUÇÃO DA PROVA MATERIAL

Os mais variados estados da inteligência, diante da verdade, estão ligados à prova e, consequentemente, à tomada de decisão.

A prova é o somatório dos meios utili-zados para a produção da verdade. Logo, a prova, quer em processo civil, quer em pro-cesso penal, tem por objetivo a certeza. Ain-da, a prova pode ser definida como o meio pelo qual o raciocínio atinge a descoberta da verdade (JESUS, 2010, HANEY, 1980).

A verdade é a conformidade da arquite-tura das provas com a realidade. A decisão do juiz é a conformidade do pensamento do julgador com a realidade contida no processo, pois ele julga secundum acta e probata. Surge, então, o adágio processual que diz: “O que não está no processo, não está no mundo”. Sendo assim, existem si-tuações dentro do processo em que as informações apresentadas não estão ba-

30 31Perícia Federal Perícia Federal

PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA: perito criminal federal Fernando de Jesus PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA: perito criminal federal Fernando de Jesus

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seadas em provas diretas (materiais) e sim indiretas, necessitando de que as provas in-diretas sejam processadas de forma a serem mais objetivas para a inserção no processo.

A atuação criminal tem sido indesejável em nossa sociedade desde tempos remotos e durante séculos existe o desejo de pene-trar na mente do autor do delito para desco-brir o que o diferencia dos demais cidadãos. A maior parte das pesquisas encontrava dificuldades de execução somente sendo dirigidas a identificar características físicas dos criminosos conhecidos, sendo limitada desde então a resultados distorcidos.

Hans Gross, magistrado austríaco, pro-fessor universitário de Criminologia na Universidade de Praga e depois de Direito Penal na Universidade de Graz, considera-do o fundador da Ciência Criminalística, já dizia que um dos requisitos importantes para permitir que um investigador criminal trabalhe com precisão é possuir um conhe-cimento profundo do ser humano, em sua obra System der Kriminalistik, publicada em 1893. Dessa forma, deverá ser capaz de, a partir da natureza do crime, definir o modus operandi do autor. À medida que a ciência se desenvolvia, novas metodologias foram formuladas, concentrando atenção tanto nos métodos de identificação de crimino-sos quanto na prevenção dos delitos. No entanto, somente nos últimos cem anos foi que as autoridades legais e policiais conse-guiram compreender que uma análise de comportamento de uma pessoa não iden-tificada poderia fornecer indícios acerca do aspecto físico, educação, personalidade, posição social e de outras variáveis que po-deriam auxiliar o investigador a construir um perfil criminal. Com o desenvolvimento da tecnologia de informação nos dias de hoje, é possível trabalhar com um número elevado de informações e processar tal aná-lise de forma mais acurada.

A partir desse raciocínio foi que surgiu a ideia da Psicologia Criminalística, que não se preocupa somente com a prova material,

Logo, acessar a mente criminosa é uma ferramenta que começa a adquirir grande importância no processamento de um local (cena) de crime, embora outras eta-pas devam ser vencidas para que possam, também, serem produzidas provas sufi-cientes para o convencimento judicial. Daí a possibilidade de usar os conhecimentos da Psicologia e da Criminalística para obter informações relevantes para a solução do caso, resultando em aplicação da Psicolo-gia Criminalística.

CONCLUSÃO A validade da aplicação dos conheci-

mentos da ciência Psicologia na análise do comportamento e da mente humana é provada internacionalmente, auxilian-do, assim, os operadores do Direito em suas atividades de justiça (PETRELLA; POYTHRESS, 1983)

Conclui-se então que o perito criminal pode utilizar de conhecimentos da ciência Psicologia por meio da Psicologia Crimina-lística, aplicando os conhecimentos de inte-ligência para a produção de prova material e elucidação de casos criminais, especial-mente quando se tratar de locais de locais e cenas de crime, quando não existirem vestí-gios materiais a serem processados.

mas também com a atuação dos persona-gens envolvidos com a cena criminal. Sendo assim, quando a Criminalística não obteve sucesso em apresentar vestígios, evidências ou provas materiais, foi necessária a produ-ção de informações que possam subsidiar o início do processo de investigação.

Ocorrem discussões profissionais sobre qual instituição utilizou primeiramente, aos perfis, os termos psicológico ou criminal, embora a primeira aplicação sistematizada da técnica se tenha verificado em 1972 pela Unidade de Ciência do Comportamento do FBI e com o conseguinte desenvolvimento do VICAP (Violent Criminal Apprehension Pro-gram) em 1984. Inicialmente, houve uma concentração nos crimes em série, de vio-lação e rapto, isto é, crimes contra a pessoa, porém, gradualmente a técnica foi aplicada a outros tipos criminais.

A utilização de perfis criminais especial-mente para casos de assassinatos em série e violações desenvolveu-se rapidamente por mais de duas décadas, até tornar-se bastante conhecida em 1992, por meio do

filme O Silêncio dos Inocentes, baseado na obra de um romance de Thomas Harris, que retrata um sociopata canibal, Dr. Han-nibal Lecter, que já surgira em uma obra anterior denominada Dragão Vermelho, publicada em 1981.

Não foi surpresa o êxito que o filme O Si-lêncio dos Inocentes originou a várias séries televisivas de ficção muito populares. Essas séries trouxeram o grave inconveniente da população acreditar que os perfis criminais e as análises comportamentais possuem um poder mágico e que eram infalíveis na captura de um criminoso. Embora a expe-riência clínica e intuição sejam importantes, a chave do sucesso reside na integração de dados, indícios e provas dispersas. John Douglas, um dos primeiros policiais a par-ticipar da Unidade de Ciências Comporta-mentais do FBI, disse que o espetáculo te-levisivo faz crer ao telespectador que tudo é psíquico, mas o sucesso é o resultado de entrevistas, pesquisas, discussões dos com-portamentos dos envolvidos e reunião com outras informações.

REFERÊNCIAS GARRIDO, E. M. Relaciones entre la psicología y la ley. In: ARCE, R.; PRIETO, A. SOBRAL, R. Manual de psicología jurídica. Barcelona: Paidós, 1994.GROSS, Hans. Criminal Psychology. London: General Books, 2009.HANEY, C. Psychology and legal change: on the limits of a factual jurisprudence. Law and Human Behavior, 4, 147-199, 1980.JESUS, Fernando. Perícia e Investigação de fraude: uma análise psicológica e operacional na evidenciação de fraude. 3. ed. Goiânia: AB Editora, 2005.____ Psicologia aplicada à Justiça. 3ª edição. Goiânia: AB Editora, 2010.____ Delitos de cuello blanco y corrupción: mecanismos subyacentes de inteligencia jurídica en la producción de prueba subjetiva. Tesis pos doctoral inédita. Universidad Nacional de La Matanza, 2014.LOCARD, Edmond. Manual de Técnica Policíaca. Valladolid (Espana): Editorial Maxtor, 2010.NASCIMENTO, E. D. Lógica aplicada à advocacia: técnica de persuasão. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 1995.PETRELLA, R. C., POYTHRESS, N. G. The quality of forensic evaluations: an interdisciplinary study. Journal of Consulting and Clinical Psychology, n. 51, p. 76-85, 1983.POPPER, Karl. Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. Tradução Milton Amado. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1999.SAFERSTEIN, Richard. Criminalistics: an introduction to Forensic Science. 10th edition. Upper Sadle River (NJ): Prentice Hall, 2011.

A partir deste raciocínio foi que surgiu a ideia da Psicologia

Criminalística, que não se preocupa somente com a prova

material, mas também com a atuação dos personagens

envolvidos com a cena criminal.

32 33Perícia Federal Perícia Federal

PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA: perito criminal federal Fernando de Jesus PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA: perito criminal federal Fernando de Jesus

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Perito High TechTecnologias usadas por peritos criminais no dia a dia são apresentadas na 12ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

P ela primeira vez, a perícia criminal federal compare-ceu à Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que ocorreu entre os dias 19 e 25 de outubro. Em sua

12º edição, o evento, realizado em todo território nacional, trouxe para este ano o tema  Luz, Ciência e Vida, em refe-rência ao Ano Internacional da Luz, estabelecido pela Or-ganização das Nações Unidas (ONU) para 2015. Em Brasília, uma exposição tecnológica chamou a atenção do público, com destaque para o estande da criminalística, idealizado pela Diretoria Técnico-Científica (Ditec), com apoio da As-sociação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF).

Uma das atrações que mais chamou a atenção dos visitantes foram os óculos com um vídeo gravado em 360°. Na plata-forma de realidade virtual, o usuário pôde experimentar a sensação de ser um perito criminal, assistindo a um vídeo por diversos ângulos e visualizando tudo o que acontece em uma cena de crime.

A perita Márcia Aiko conta que o vídeo foi gravado por eles mesmos, na sede da APCF. “O vídeo foi feito com uma câmera especial que faz esse tipo de gravação, em 360 graus. Quando visualizado com os ócu-los, nos dá a sensação de estarmos dentro do vídeo, participando dele. Gravamos a si-mulação de duas cenas de local de crime: uma de arrombamento (que foi utilizada na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, pois o público era formado principalmente por crianças), e uma de morte violenta (vol-tada ao público adulto). O vídeo foi transfe-rido para aparelhos celulares, reproduzidos e visualizados com um aplicativo específico,

Os peritos tiveram 130m² à disposição para mostrar as tecnologias que utilizam no dia a dia e que desper-tam a atenção dos curiosos e dos interessados nos CSI brasileiros. Crianças, jovens e adultos passaram pelo lo-cal nos sete dias de exposição e puderam tirar dúvidas sobre o que é o trabalho e o que fazem os peritos, que foram esclarecidas pelos próprios profissionais. Peritos criminais federais do Distrito Federal, de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Piauí fizeram questão de responder a todas perguntas do público e mostrar o funcionamento de cada equipamento.

por meio dos óculos conhecidos como car-dboard ou rift. Os roteiristas, os produtores e os atores dos vídeos somos nós mesmos, peritos” explicou Márcia.

O scanner a laser 3D, que produz ima-gens de alta precisão em três dimensões, também estava exposto no evento. Foi com esse equipamento que os peritos reprodu-ziram o acidente com o avião da Tam em 2007, responsável por tirar a vida de 187 pes-soas, assim como em diversos outros casos, cujos vídeos foram exibidos para o público.

O robô antibombas foi outro destaque. A ferramenta é utilizada pelos esquadrões antibombas para desativar diferentes ti-pos de explosivos em espaços abertos e fechados. Nos grandes eventos, como as Olimpíadas de 2016, é um equipamento que não pode faltar. Assim como os veí-culos aéreos não tripulados, os drones são responsáveis por colherem imagens aéreas

Participar do evento foi uma experiência muito rica, de mão dupla, pois pudemos explicar para a população o papel do perito e, ao mesmo tempo, pudemos receber o retorno de como o cidadão vê o nosso trabalho. Ficamos felizes por percebermos como somos reconhecidos e como a perícia desperta o interesse das pessoas.

““

Disse o perito criminal federal Guilherme de Miranda.

e ajudam nos exames periciais que exigem uma visão aérea do local de crime.

Na área de documentoscopia, o trues-can foi o grande atrativo. O aparelho permi-te, por meio de luzes branca, infravermelho e ultravioleta, a rápida verificação de auten-ticidade de qualquer documento impresso, como passaportes, cédulas (dinheiro), car-tões de identificação, entre outros.

Os peritos federais também deram no-ções da matemática utilizada nos locais dos crimes e demonstraram o uso da luz forense. Foram exibidos vídeos explicativos sobre a perícia criminal e também sobre o projeto do Museu Nacional de Ciências Fo-renses, em Minas Gerais.

Um teatro de fantoches com o texto do Cordel “A peleja do diabo com o perito criminal”, de autoria do perito José Alysson Medeiros, agradou as crianças.

Parabéns. Não tem CSI que barre

a competência de vocês. Abraços

Para mim, esse foi o melhor estande da feira. Estão todos de parabéns e espero um dia está do mesmo lado que vocês

Muito boa a iniciativa. Espero que o projeto cresça e al-

cance escolas do Brasil e até do mundo

Gracieli Rios

Anônimo

Aline Rocha

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34 35Perícia Federal Perícia Federal

SEMANA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA: Taynara Figueiredo

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A perícia em documentos atraiu o público O presidente da APCF, André Morisson, visitou o estande

O Scanner 3D chamou a atenção do público

Visitantes tiveram a oportunidade de experimentar a sensação de ser um perito criminal, assistindo a um vídeo, como se estivessem dentro de uma cena de crime

Perito demonstra o funcionamento da luz forense

Os peritos tiraram as dúvidas dos estudantes

As crianças adoraram o teatro de fantoches

O estande tinha 130m²

Os óculos 3D foram a sensação do estande

O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera, visitou o estande e acompanhou o funcionamento do robô antibomba

Maleta de local de crime

Fotos: André Zímmerer

36 37Perícia Federal Perícia Federal

SEMANA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA: Taynara FigueiredoSEMANA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA: Taynara Figueiredo

Page 20: Revista Pf 36

JUSTITIA

P E RSCIENTIA

2016

A Sociedade Brasileira de Ciências Forenses (SBCF) confirmou a realização da quinta edição do Encontro Nacional de Química Forense – ENQFor, simultaneamente ao 2º Congresso da SBCF, no período de 2 a 6 de setembro de 2016, na cidade de Ribeirão Preto-SP.

Segundo o presidente da SBCF, perito criminal federal Jesus Antonio Velho, estarão entre os temas de destaques da próxima edição:

• as novas drogas sintéticas e os avanços para a classificação das novas substâncias psicoativas;

• a perícia em movimentos migratórios;

• o gerenciamento de erros em exames periciais;

• a gestão da qualidade em análises forenses;

• a maconha e o uso de produtos à base de Canabidiol;

• a perícia em obras de artes;

• a obtenção de padrões forenses, entre outros.

A última edição do evento foi realizada em 2014 e reuniu, aproximadamente, 500 participantes, integrando peritos criminais, professores universitários, pesquisadores, membros do Judiciário e do Ministério Público, estudantes de graduação e pós-graduação.

38 Perícia Federal

5º ENCONTRO NACIONAL DE QUÍMICA FORENSE

Page 21: Revista Pf 36

Itiel D

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Doutor e

m psicologia pela Universi

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