revista paraná faz ciência ed. 3

44
ROBÔS AUXILIAM MÉDICOS NO TRATAMENTO DE PACIENTES 14 ESPECIALIDADES VETERINÁRIAS GANHAM ESPAÇO 37 O CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO 3ª Edição - Dezembro/2014 - Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - Fundação Araucária

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Revista sobre ciência do Governo do Estado do Paraná/

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Page 1: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

ROBÔS AUXILIAM MÉDICOS NO TRATAMENTO DE PACIENTES 14

ESPECIALIDADES VETERINÁRIAS GANHAM ESPAÇO 37

O CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO

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Page 2: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

Beto Richa Governador do Estado do Paraná

Flávio José ArnsVice-Governador

João Carlos Gomes Secretário de Estado da Ciência,

Tecnologia e Ensino Superior

Diretoria da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico

e Tecnológico do Paraná:

Paulo Roberto Brofman Presidente

José Carlos Gehr Diretor Administrativo e Financeiro

Janesca Alban Roman Diretora Científica

Comitê EditorialSueli Édi Rufini

Coordenadora e Ciência de TecnologiaIrvana Chemin (DRT 2037/08/20v),

Ticiane Barbosa (DRT 4689/PR) e Vanessa Barazzetti (05.749/PR)

Jornalistas da Seti e da Fundação Araucária

ProduçãoGBR Assessoria de Comunicação

Jornalista ResponsávelMário Sérgio Brum (DRT 769/PR)

EquipeEdição e reportagem:

Mara Andrich (DRT 04.272/PR)Repórteres:

Marivone Ramos, Paula Meleche Rosângela Oliveira

Revisão: Debora Capella

FotografiaIsabelle Neri Vicentini, Banco de Imagens

(shutterstock.com) e Assessorias de Comunicaçãodas Universidades do Paraná e órgãos vinculados .

Projeto Gráfico e EditoraçãoSamira Harger

Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

Av. Pref. Lothário Meissner, 350Jardim Botânico

CEP 80210-170, Curitiba - PRwww.seti.pr.gov.br

Fundação AraucáriaAv. Comendador Franco, 1341

Jardim BotânicoCEP 80215-090. Curitiba - PR

www.fundacaoaraucaria.org.brwww.fappr.pr.gov.br

Distribuição Gratuita

Tiragem2.000 exemplares

ImpressãoGráfica Ipiranga

Revista semestral da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

(Seti) e da Fundação Araucária.

Direitos ReservadosÉ proibida a reprodução total ou parcial de

textos e fotos sem prévia autorização.

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2 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 3: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

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22

42

ASTRONOMIA

DIRETOR DO OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO

DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA (UEPG) FALA SOBRE OS AVANÇOS

E OS DESAFIOS DA ÁREA NO PARANÁ

INICIAÇÃO CIENTÍFICA

BOLSAS INCENTIVAM OS ALUNOS À

PESQUISA E AUXILIAM NA EVOLUÇÃO SOCIAL

INOVAÇÃO

SUPORTE PARA O DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO E SOCIAL DE UM PAÍS

MÁQUINAS “INTELIGENTES”

ROBÔS QUE FAZEM A DIFERENÇA NA

SOCIEDADE JÁ SÃO MAIS COMUNS DO

QUE SE IMAGINA

FLORESTA DAS ARAUCÁRIAS

APESAR DAS DIFICULDADES

NA PRESERVAÇÃO, PESQUISAS SÃO

DESENVOLVIDAS PARA PROTEGER A ÁRVORE

NA REGIÃO SUL

SUSTENTABILIDADE

PROJETOS DESENVOLVIDOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL BUSCAM REDUÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS

ÍNDICE

PESQUISA

FAPS POTENCIALIZAM A CIÊNCIA E O

DESENVOLVIMENTO DO PAÍS POR MEIO DO INVESTIMENTO

EM PESSOAS E IDEIAS

QUALIDADE DE VIDA

PESQUISAS BUSCAM MELHORAR A

QUALIDADE DOS ALIMENTOS QUE CHEGAM À MESA DOS BRASILEIROS

BEM ATENDIDOS

ESPECIALIDADES VETERINÁRIAS

OPORTUNIZAM MELHORES CUIDADOS

AOS ANIMAIS E TRANQUILIZAM OS

PROPRIETÁRIOS

ARTIGO

A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO

SUPERIOR NO BRASIL

3PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 4: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

UM ANO DE DIVULGAÇÃO

CIENTÍFICArevista Paraná Faz Ciência está

completando um ano de existên-

cia, e para marcar essa iniciativa

importante para a divulgação

científica do estado do Paraná,

em sua terceira edição, traz um assunto

que norteia o despertar do interesse de

uma pessoa em se tornar um futuro pes-

quisador: trata-se dos Programas de Ini-

ciação Científica (englobando Bolsas para

Iniciação Científica Júnior (PIBIC-Jr); Bolsas

para Extensão Universitária (PIBEX); o Pro-

grama Institucional de Apoio à Inclusão

Social - Pesquisa e Extensão Universitária

e Bolsas de Iniciação Científica e Inicia-

ção em Desenvolvimento Tecnológico

e Inovação (PIBIC&PIBIT), nos quais os

estudantes são estimulados a conhecer a

ciência, podendo gerar amplos e signifi-

cativos benefícios para a sociedade.

O Brasil, de modo geral, e o Paraná

de modo específico, construíram uma

grande e competente estrutura de pes-

quisa científica e tecnológica e formam

anualmente um número considerável

de pesquisadores. Como resultado, é re-

conhecida a importância da publicação

brasileira nos veículos internacionais de

ESPAÇO DO LEITOR

disseminação científica. Os avanços al-

cançados nas últimas décadas no setor

são inegáveis, resultado de esforços con-

juntos do governo, das instituições cientí-

ficas e tecnológicas e das empresas.

A inovação, tema de Capa desta edi-

ção, mostra à sociedade a necessidade

de mudanças nos modelos atribuídos à

geração do conhecimento, processo im-

prescindível para o desenvolvimento e o

enriquecimento do estado. os debates

recentes acerca do desenvolvimento do

Brasil, tornou-se consenso a importância

da integração entre Ciência, Tecnologia

e Inovação. É realidade concreta que as

nações que investiram na valorização de

processos inovadores são os potenciais

líderes mundiais. A inovação é considera-

da por muitos como a terceira revolução

industrial.

Também podem ser verificadas nes-

ta edição reportagens relacionadas aos

avanços da robótica, da medicina vete-

rinária, da tecnologia de alimentos, da

sustentabilidade e de projetos voltados

à preservação das araucárias. Como for-

ma de valorização dos pesquisadores

paranaenses, a entrevista é referente às

novidades no campo da astronomia,

com o renomado professor e diretor do

Observatório Astronômico da Universi-

dade Estadual de Ponta Grossa (UEPG),

Marcelo Emilio.

A Revista conta, ainda, com uma ma-

téria dedicada exclusivamente ao papel

das Fundações de Amparo à Pesquisa

(FAPs), com relação ao desenvolvimento

científico e tecnológico do país. Foi utili-

zada, como exemplo, a FAP do Paraná –

Fundação Araucária, que, com incentivo

e financiamento de projetos de pesquisa

e disponibilização de bolsas, contribuiu

para que as notas dos programas de

Pós-Graduação stricto sensu do estado

aumentassem a cada avaliação trienal

realizada pela Capes.

Os programas da região Sul tiveram

o melhor desempenho na última ava-

liação e, dos estados do Sul, o Paraná se

destacou, pois 27% das notas aumenta-

ram. Essas informações e muitas outras

referentes aos programas e projetos de-

senvolvidos por pesquisadores, discen-

tes e docentes paranaenses podem ser

encontradas na revista Paraná Faz Ciência.

Boa leitura!

Esse espaço é direcionado a você, leitor, para que possa contribuir com sugestões e críticas. Para isso, temos os seguintes canais: www.paranafazciencia.com.br [email protected]

4 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 5: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

ENTREVISTA

O mundo da Astronomia é objeto de estudo do professor Marcelo Emilio, da UEPG

DE OLHO NO UNIVERSO

om ampla experiência em As-

tronomia, o professor e diretor

do Observatório Astronômico da

Universidade Estadual de Ponta

Grossa (UEPG), Marcelo Emílio, é

pesquisador afiliado R5 da Universi-

dade do Havaí e doutor em Astronomia

pela Universidade de São Paulo (USP).

Realizou o pós-doutorado no Instituto

de Astronomia da Universidade do Havaí

(2012). Com experiência na área de Física

Solar, é um dos responsáveis por uma

pesquisa que mede o diâmetro do Sol.

O professor também atua em cursos de

formação continuada em Astronomia no

Paraná (FOCAR), que visa à capacitação

de professores. Marcelo Emilio conversou

com a reportagem da revista Paraná Faz

Ciência e contou detalhes sobre sua ex-

periência na área.

Foto

: Isa

belle

Ner

i

5PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 6: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

O país está avançando no processo de internacionalização para a troca de experiências no meio científico. Qual a importância dos projetos de intercâmbio com universidades es-trangeiras para o desenvolvimento da ciência aqui no Brasil?

Grandes projetos científicos são um es-

forço internacional hoje. Cito, por exem-

plo, o Projeto Genoma, o Grande Colisor

de Hádrons do CERN (Conseil Européen

pour la Recherche Nucléaire), a estação

espacial internacional (ISS) e o observa-

tório europeu do Sul (ESO). A ciência se

tornou muito cara para um único país

financiá-la. Manter e capacitar recursos

humanos é uma empreitada longa e

difícil. Projetos de intercâmbio são ne-

cessários para fazer boa ciência tanto no

Brasil quanto em qualquer outro país no

mundo. No grupo em que participo, há

pesquisadores americanos, japoneses,

russos e franceses. Dos projetos que citei,

o Brasil está se integrando ao ESO (http://

www.eso.org). A astronomia brasileira

possui boa integração internacional. Já

há experiência brasileira em projetos

internacionais de construção de teles-

cópios, como o GEMINI (http://www.ge-

mini.edu) e o SOAR (http://www.soarte-

lescope.org).

O Brasil também participará da cons-

trução de dois dos maiores telescópios

do mundo: o European Extremely Lar-

ge (E-ELT) Telescope (http://www.eso.

org/public/teles-instr/e-elt/) e o Giant

Magellan Telescope (GMT) (http://www.

gmto.org/). Como a participação do Bra-

sil no ESO é nacional, a UEPG também

terá acesso aos telescópios, possibilitan-

do continuar a desenvolver astronomia

de primeiro mundo aqui. Esse é um dos

motivos para abrirmos um curso de gra-

duação em Astronomia na UEPG. A maior

parte do financiamento para um bom

curso de graduação já está sendo feita

pelo governo federal. Atualmente, estou

buscando recursos para a participação

brasileira de um telescópio chamado

PLANETS, que será construído no Havaí

(EUA).

O senhor tem ampla experiência em pesquisas na área de Astrono-mia. Como está o Brasil em relação a outros países nessa área científica? Temos condições de avançar?

O Brasil tem boas pesquisas devido

à sua inserção internacional. Além dos

projetos de telescópios que já citei, ti-

vemos participação no satélite CoRoT.

Atualmente, estamos negociando nossa

participação em um satélite que busca-

rá planetas ao redor de outras estrelas,

chamado PLATO. O que ainda não há

no Brasil é um fluxo contínuo de editais

científicos para satélites científicos pro-

movido pela Agência Espacial Brasileira

(AEB). Essa ação fomentaria e manteria

a indústria aeroespacial e desenvolveria

tecnologia para o país.

Como foi sua experiência nos EUA com a pesquisa sobre o cálculo do diâmetro solar? Qual o próximo pas-so dessa pesquisa?

Aprendi e continuo aprendendo bas-

tante com minhas experiências em pro-

jetos internacionais. Temos atualmente

um projeto aprovado pela agência in-

ternacional americana (NASA), projeto

O que ainda não há no Brasil é um fluxo contínuo de editais científicos para satélites científicos promovido pela Agência Espacial Brasileira (AEB). Essa ação fomentaria e manteria a indústria aeroespacial e desenvolveria tecnologia para o país.

Foto: Isabelle Neri

6 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 7: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

esse de que sou coinvestigador principal

(CO-I). Trabalhei com um satélite da NASA

em meu doutorado, chamado Solar and

Heliospheric Observatory (SOHO). Atual-

mente, lançaram outro satélite, chama-

do Solar Dynamics Observatory (SDO)

e eu faço parte do time que construiu

e mantém o instrumento Helioseismi-

cand Magnetic Imager (HMI) (http://hmi.

stanford.edu/hmi_files/HMI_team.pdf).

Contribuí com parte de um software que

analisa as imagens do satélite em solo. A

cada seis meses, o SDO faz uma manobra

para obter medidas do achatamento do

Sol para nosso grupo. O desvio da sime-

tria esférica do Sol causa mudança na ge-

ometria do campo gravitacional. Isso está

relacionado a um dos testes clássicos da

teoria da relatividade geral proposta por

Albert Einstein. Em 2012, publicamos os

primeiros resultados com as medidas de

achatamento do Sol do HMI na revista

Science. Além disso, faço parte de um

grupo internacional sediado na França

que analisa dados de um tipo de estrela

quente em emissão do satélite COnvenc-

tionROtation et Transits plánetaires - Co-

RoT (http://corot-be.obspm.fr).

A expectativa de retorno financei-ro das pesquisas em curto prazo pre-judica os investimentos em ciência?

A ciência não deve ser vista unicamen-

te como geradora de riqueza. A maior

parte de pesquisas científicas não ge-

rará riqueza. Isso não só no Brasil, mas

em qualquer lugar no mundo. Tanto o

governo como empresários no Brasil

não investem suficiente em pesquisa

científica. A título de comparação, em-

presas brasileiras investem em ciência e

desenvolvimento 0,55% do PIB (Produto

Interno Bruto), enquanto na Coreia do Sul

são investidos 2,68%, e na China, 1,22%.

Quando me falam em inovação, o exem-

plo que primeiramente vem à minha me-

mória é à invenção da lâmpada por Tho-

mas Edison e a distribuição da corrente

alternada por Nikola Tesla. A iniciativa

desses homens revolucionou

nosso modo de vida e produ-

ção. Cidades puderam ser facil-

mente iluminadas e inúmeros

processos industriais puderam

ser desenvolvidos. Nada disso

seria possível sem os trabalhos

em ciência básica desenvolvi-

dos por Michael Faraday e Ja-

mes Clerk Maxwell na teoria do

eletromagnetismo clássico. A

aplicação em ciência básica é

absolutamente necessária para

o desenvolvimento tecnológi-

co, porém a geração desse co-

nhecimento não prevê retorno

financeiro. O investimento em

ciência básica é feito para gerar

conhecimento, e não riquezas

diretas.

O Observatório Astronô-mico da UEPG participou de atividades que regis-tram grandes descobertas. A mais recente foi a identi-ficação dos anéis do asteroide Chari-klo. Quais as ações desenvolvidas no Observatório?

No observatório da UEPG, é realizado o

tripé do eixo fundamental da Universida-

de: pesquisa, ensino e extensão. Há dis-

ciplinas de Astronomia na graduação e

Pós-Graduação na UEPG. Temos hoje ex-

-alunos da UEPG fazendo doutorado em

Astronomia no exterior. Tivemos tam-

bém ex-alunos passando em primeiro

lugar em testes nacionais para admissão

no curso de Pós-Graduação da Universi-

dade de São Paulo (USP), que tem a nota

máxima segundo a Capes. Estamos pro-

pondo um novo curso de bacharelado

em Astronomia na UEPG. O projeto está

em trâmite.

Atualmente, na extensão, desenvolve-

mos cursos de formação continuada em

Astronomia no estado do Paraná (FO-

CAR). Já foram realizadas nove edições

do FOCAR. Um projeto chamado Céu do

Paraná também percorre o estado com

planetários móveis.

Na pesquisa científica, temos contri-

buições importantes em revistas como

Nature e Science sobre a forma do Sol e

participação em medidas de tamanho

de objetos transnetunianos e pela con-

tribuição na descoberta do primeiro anel

encontrado em torno de um asteroide.

A ciência se tornou muito cara para um único país financiá-la. Manter e capacitar recursos humanos é uma empreitada longa e difícil.

Foto: Isabelle Neri

7PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 8: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

CAPA

Há muitas definições para inovação. No entanto, é praticamente um consenso que ela é o imperativo

para o desenvolvimento de qualquer nação

onsiderada uma das condi-

ções primordiais para o de-

senvolvimento de um país, a

inovação tem um significado

muito mais amplo do que se

imagina: só podemos chamar de inova-

ção quando o conhecimento elaborado

ou desenvolvido, por meio de pesquisas,

é aplicado e gera benefício para a socie-

dade. Sendo assim, a inovação pode (e

deve) se transformar em geração de ri-

queza para o país; no entanto, o que gera

essa riqueza é a aplicação do conheci-

mento, e não somente a pesquisa.

Assim, muitos especialistas e pesqui-

sadores da área defendem o incentivo e

Tudo que melhora a condição

de vida da sociedade é inovação.

Cristina Quintella

PARANÁ FAZ CIÊNCIA8

Page 9: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

1º ESTADOS UNIDOS (2,2 MILHÕES)

2º JAPÃO (1,6 MILHÃO)

3º CHINA (875 MIL)

4º COREIA DO SUL (738 MIL)

5º ALEMANHA (549 MIL)

6º FRANÇA (490 MIL)

7º REINO UNIDO (459 MIL)

PATENTESVÁLIDAS

NO MUNDO 2012

De acordo com a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), o número de pedidos de patentes cresceu 9,2% em 2012 — um recorde nos últimos 18 anos. Dos 20 países pesquisados, 16 registraram crescimento. Os maiores foram: China (24%), Nova Zelândia (14,3%), México (9%), Estados Unidos (7,8%) e Rússia (6,8%). No Brasil, também houve aumento (5,1%). A Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/1996) diz que, a partir da data de depósito no INPI, a patente de invenção tem prazo de validade de 20 anos, e a de modelo de utilidade, 15 anos.

Fonte: Relatório anual da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em 2014.

19º BRASIL (41 MIL)

investimentos para a inovação.

A doutora em Ciências Molecu-

lares pela Universidade de Sussex

(UK), professora e coordenadora de

Inovação da Universidade Federal

da Bahia (UFBA), Cristina Quintella,

diz que, quando se fala em inova-

ção tecnológica, deve-se pensar em

transferência de tecnologia. “Tudo

que melhora a condição de vida da

sociedade é inovação”, completa.

Segundo Cristina, qualquer inova-

ção deve impactar o Produto Interno

Bruto (PIB) e o Índice de Desenvolvi-

mento Humano (IDH), dois grandes indi-

cadores do desenvolvimento de uma na-

ção. Porém, a apropriação de tecnologia

ainda é baixa no Brasil (veja o infográfico).

“Em outros países, o pesquisador se apro-

pria da patente e publica, mas aqui ainda

não temos procedimentos e rotina nessa

direção”, comenta.

As transferências de tecnologias e

os registros de patentes — passos im-

portantes para a inovação — são fato-

res igualmente apontados pelo diretor

executivo da Agência de Inovação da

Universidade Federal do Paraná (UFPR),

Emerson Camargo. “Apesar de a UFPR

contar com bons índices de depósitos

de patentes (são 327 hoje) e contratos de

transferência de tecnologia (44), os nú-

meros ainda são muito baixos, se compa-

rados aos de outros países”, comenta.

O professor acredita que no Brasil falta

um contato maior entre universidade e

empresa, por isso, é mais difícil a trans-

ferência do conhecimento gerado na

universidade para a sociedade. “É ne-

cessária uma mudança desse paradig-

ma. Acredito que a inovação precisa

ser feita conjuntamente, entre indústria

e academia”, afirma.

No Paraná, um dos incentivos para

aproximar o pesquisador e a academia,

do meio empresarial é a feira Inovatec,

realizada em Curitiba, com o apoio

da Secretaria da Ciência, Tecnologia e

Ensino Superior. Durante o evento rea-

lizado em setembro de 2014, o coorde-

nador de Serviços Tecnológicos da Secre-

taria de Desenvolvimento Tecnológico e

Inovação (Setec) do Ministério da Ciência,

Tecnologia e Inovação (MCTI), Jorge Ma-

rio Campagnolo, destacou a necessidade

de aproximar ainda mais a academia do

mundo dos negócios e apontou alguns

avanços no Brasil na área de inovação. “A

Inova Empresa — criada em 2011 com o

objetivo de fomentar projetos de apoio

à inovação no país — e a Empresa Bra-

sileira de Pesquisa e Inovação Industrial

(Embrapii) — cuja missão é apoiar ins-

tituições de pesquisa tecnológica em

selecionadas áreas de competência —

executam projetos de desenvolvimento

de pesquisa tecnológica para inovação,

em cooperação com empresas do setor

industrial”, afirmou.

Acredito que a inovação precisa ser feita conjuntamente,

entre indústria e academia.

Emerson Camargo

Jorge Mario Campagnolo: incentivo à ciência e à tecnologia.

Foto: Agência FIEP

9PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 10: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

avançar mais, visando transformar esse

potencial científico em riqueza”, afirma.

Na opinião de Audy, o país evoluiu

muito em termos científicos nos últimos

anos, está hoje entre os 15 países do

mundo que mais produzem conheci-

mento, fruto de políticas muito efetivas

de agências públicas, como a Capes e

o CNPq. “Nosso grande desafio é gerar

desenvolvimento econômico e social,

agregando valor aos produtos e serviços

que nossas empresas, públicas e priva-

das, produzem, gerando mais emprego e

renda para nossa gente”, afirma.

AVANÇOS“ECOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO”

O Paraná passou a contar com uma

lei específica, em 2012, para nortear as

ações voltadas para a inovação no estado

(Lei nº 17.314, de 24 de setembro de 2012),

que define que 2% do orçamento esta-

dual sejam destinados à inovação.

A regulamentação aconteceu no co-

meço de 2013. Um de seus principais

objetivos é fortalecer as parcerias públi-

co-privadas de transferência de conheci-

mento e tecnologia entre universidades

e empresas.

Um grande diferencial da lei paranaen-

se com relação às demais aplicadas nos

outros estados brasileiros foi o destaque

dado para a sustentabilidade nos mode-

los de aplicação das políticas de incenti-

vo e de produção tecnológica. A Lei esta-

belece medidas de incentivo à inovação

e regulamenta as parcerias entre univer-

sidades e centros de pesquisa públicos e

a iniciativa privada no âmbito do estado.

A Lei também estabelece os disposi-

tivos legais para a incubação de empre-

sas no espaço público e a possibilidade

de compartilhamento de infraestrutura,

equipamentos e recursos humanos, pú-

blicos e privados, além de criar regras

claras para a participação do pesquisa-

dor público nos processos de inovação

tecnológica desenvolvidos no setor pro-

dutivo.

Em 2015, serão investidos cerca de

R$ 11 milhões para projetos de empresas

inovadoras ou outros empreendimen-

tos privados que tenham por finalidade

criar um ambiente favorável à inovação.

A primeira lei brasileira que trata do rela-

cionamento universidades (e instituições

de pesquisa) e empresas para estimular o

incremento à transferência de tecnologia

completa 10 anos em dezembro de 2014

(Lei nº 10.973).

Apesar de o Brasil produzir conheci-

mento, a inovação como aplicação do

conhecimento — o verdadeiro sentido

da inovação — ainda é incipiente. O pró-

-reitor de Pesquisa, Inovação e Desen-

volvimento da Pontifícia Universidade

Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS),

vice-presidente da Associação Nacional

de Entidades Promotoras de Empreendi-

mentos Inovadores (Anprotec), membro

do Conselho Nacional de Desenvolvi-

mento Científico e Tecnológico (CNPq) e

presidente da Associação Internacional

de Parques Tecnológicos e Áreas de Ino-

vação (IASP América Latina), Jorge Audy,

salienta que é preciso criar no Brasil

“ecossistemas de inovação”, ou seja, não

deixar tudo a cargo apenas das universi-

dades e criar ambientes onde as

pessoas “respirem inovação”. “Isso

permitiria criar uma cultura em-

preendedora que levaria nossos

empresários e pesquisadores a

transformar a pesquisa de ponta

que produzimos em desenvolvi-

mento para o nosso país”, ressalta.

Essa opinião é compartilhada

pelo coordenador-geral do Nú-

cleo de Inovações Tecnológicas

(NIT) da Universidade Estadual

do Oeste do Paraná (Unioeste),

Camilo Morejon, especialmente

no que se refere às universidades.

“Pouco ou quase nada tem sido

feito na criação de ambientes de

inovação. O maior volume do co-

nhecimento se encontra represa-

do nas universidades”, explica.

Segundo Audy, outro dificulta-

dor para o desenvolvimento des-

ses “ecossistemas de inovação” é

o fator cultural, além da falta de

informação. Para o professor, é

necessário mudar essa cultura. “O

que nos falta é mais ousadia para

Nosso grande desafio é gerar

desenvolvimento econômico e social, agregando valor aos

produtos e serviços que nossas empresas, públicas

e privadas, produzem, gerando mais emprego

e renda para nossa gente.

Jorge Audy

Foto: divulgação

PARANÁ FAZ CIÊNCIA10

Page 11: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

A taxa geral de inovação da indústria

ficou em 35,6% em 2011, em relação a

2008, quando era 38,1%.

A falta de mão de obra qualificada

aparece como um dos principais obs-

táculos à inovação. Cerca de 70% das

empresas industriais atribuem a falta de

inovação a esse motivo.

Custos elevados e burocracia foram

apontados por 81,7% das empresas

como razões da dificuldade de investi-

mentos em inovação.

As indústrias despenderam 0,71% de

sua receita líquida de vendas para a ino-

vação em 2011. Em 2008, foi despendido

0,62%.

A aquisição de máquinas e equipa-

mentos ainda é a atividade considerada

mais relevante para 75,9% das empresas.

Assim, o financiamento para a compra de

máquinas e equipamentos é de 27,4%, e

para inovação, apenas 0,8%.

Fonte: Pesquisa de Inovação

(PINTEC), do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE).

INOVAR NÃO É APENAS TER UMA IDEIA

INOVAÇÃO EM XEQUE

NÚMERO DE MESTRES E DOUTORES NO BRASIL

Inovar é muito mais do que fazer ci-

ência e desenvolver tecnologia. Inovar é

aplicar uma ideia nova para gerar negó-

cios lucrativos e sustentáveis, por meio

de processos e produtos que benefi-

ciem a sociedade.

“Inovar é transformar um conheci-

mento novo em negócios sustentáveis

de alto impacto”, afirma o gerente exe-

cutivo do Centro Internacional de Ino-

vação do Senai Paraná (SENAI C2i), Filipe

Cassapo. A definição é bastante contun-

dente, e ao mesmo tempo clara, visto

que se baseia em dois conceitos centrais:

geração de conhecimento e negócios

de alto impacto.

Mestres(81.124)

Doutores(117.348)

No Brasil, a atividade científica e

tecnológica começa com o surgimen-

to das primeiras universidades, entre

1920 e 1930. Posteriormente, o siste-

ma é reforçado com a criação do Con-

selho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq) e da

Coordenação de Aperfeiçoamento

de Pessoal de Nível Superior (Capes),

ambos em 1951; em 1962, surgem as

fundações de amparo à pesquisa; em

1967, a Financiadora de Estudos e Pro-

jetos (Finep); e em 1985, surge o Minis-

tério de Ciência e Tecnologia (MCT),

cujo nome foi alterado em 2011 para

Ministério de Ciência, Tecnologia e

Inovação (MCTI).

Filipe Cassapo

Foto: Agência FIEPOu seja: para inovar, é preciso gerar

ou transferir conhecimento novo so-

bre determinado assunto, para que a

pesquisa desenvolvida a partir disso

se torne necessariamente um negó-

cio lucrativo, que cause um resultado

positivo na sociedade. “Inovar não é

modernização, não consiste em fa-

zer mais do mesmo, de forma mais

eficiente”, ressalta. Assim, de forma

simples, é possível afirmar que fazer

ciência permite transformar dinheiro

em conhecimento. “Já a inovação con-

siste na operação recíproca: converter

o conhecimento gerado em riqueza”,

observa Cassapo.

Fonte: Dados

da Plataforma Lattes,

do CNPq, em 31 out. 2014.

11PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 12: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

As agências (ou núcleos) de inovação

tecnológica têm como objetivo proteger

o conhecimento gerado nas universida-

des e fazer a transferência de tecnologia

resultante das pesquisas científicas. “Mas

a competência das agências é mais

ampla; não é só proteger e transfe-

rir o conhecimento, mas também

avaliar a viabilidade econômica de

sua aplicação no mercado”, explica

o diretor da Agência de Inovação e

Propriedade Intelectual da UEPG,

João Irineu de Resende Miranda. Ele

acredita, no entanto, que hoje não

existe dificuldade de aproximação

entre academia e empresas.

O professor defende que seja

invertido o processo: as empresas

hoje esperam algo inovador da aca-

demia e, muitas vezes, não finan-

ciam os projetos porque aquilo não

atende às suas necessidades imedia-

tas. “Pode acontecer de termos uma

boa pesquisa, mas que não tem

aplicabilidade na indústria. Então é

melhor ouvir o que a indústria ne-

cessita e pesquisar em cima disso”,

defende. A Agipi tem hoje 46 patentes

depositadas (há três anos havia somente

um pedido para isso) e quatro contratos

de licenciamento de tecnologia.

Miranda também defende que as uni-

versidades sejam classificadas pelo nú-

mero de acordos de cooperação cientí-

fica, e não pela quantidade de patentes

depositadas. A UEPG, por exemplo, conta

com bolsistas que ajudam a universidade

a concluir Acordos de Cooperação com

empresas, os quais resultam em paten-

tes.

O doutor em Química e diretor da

Agência de Inovação (Novatec), da Uni-

versidade Estadual do Centro-Oeste

(Unicentro), Paulo Rogério Rodrigues,

também acredita que o mercado não

acompanha as inovações. Para ele, al-

gumas mudanças devem ser operadas

para que a inovação dê saltos, como

leis federais que isentem as universida-

des das taxas de patentes, por exemplo,

mais pressão por parte dos governos

estaduais para que os órgãos federais

modifiquem algumas formas de ava-

liação (hoje a nota da Capes é obtida

por meio da produção acadêmica e

tecnológica). “Mas poderiam avaliar pri-

meiramente as patentes, depois os arti-

gos. Estamos jogando nossa tecnologia

fora”, comenta.

Ao mesmo tempo que a fração orgâni-

ca do lixo, quando descartada de forma

inadequada, gera problemas ambientais,

essa fração orgânica, quando separada

na fonte, se constitui num dos principais

materiais com grande potencial de apro-

veitamento. A explicação é do coordena-

dor do Núcleo de Inovações Tecnológi-

cas da Universidade Estadual do Oeste

do Paraná (Unioeste), Camilo Morejon.

Para tentar auxiliar nessa questão, uma

usina para industrialização de resíduos

orgânicos domésticos e transformação

em fertilizante e biogás foi desenvolvida

pela Unioeste e já está sendo utilizada na

cidade de Paudalho, localizada próximo

a Recife (PE). De acordo com Morejon,

por meio de um contrato de transferên-

cia de tecnologia, nos moldes da Lei de

Inovação, está em fase de implementa-

ção uma usina para a industrialização de

resíduos orgânicos nesta cidade.

Outro resultado positivo do NIT da

Unioeste é a transferência de tecnologia

inerente a um sistema de tratamento de

efluentes de frigoríficos de peixes. Nesse

caso, a empresa Inomaq, de Toledo (PR),

fabricou e comercializou o produto. Um

frigorífico da cidade se interessou pela

tecnologia e, no momento, já se encon-

tra em operação. Morejon conta que a

Unioeste possui um total de 13 transfe-

rências de tecnologias firmadas nos mol-

des da Lei de Inovação.

AGÊNCIAS DE INOVAÇÃO

AMENIZANDO O PROBLEMA DO LIXO

A competência das agências é mais

ampla; não é só proteger e transferir

o conhecimento, mas também avaliar a

viabilidade econômica de sua aplicação

no mercado.João Irineu de

Resende Miranda

12 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 13: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

Neste ano, durante a Inovatec Regional

realizada em Guarapuava (PR), uma trans-

ferência de tecnologia está se concreti-

zando. Desta vez, quem teve seu trabalho

reconhecido foi a Novatec, da Unicentro.

Ainda em fase de ajustes, a tecnolo-

gia inerente à dissertação de Mestrado

em Engenharia Química da Unioeste de

Toledo, Andy Saavedra, tem o objetivo de

identificar poluentes e suas concentrações,

em tempo real, por meio de um software

embarcado em um sistema eletrônico. Esse

software, denominado de “nariz digital”,

tem sensores, microchips e um sistema

de comunicação por rádio-frequência

que permite o monitoramento por meio

de um computador localizado a 500 me-

tros do ponto de medição. Segundo Saa-

vedra, o projeto já despertou o interesse

de empresas, e pode beneficiar, ainda, ór-

gãos de fiscalização ambiental. A tecno-

logia já conta com interessados. “Poderá

auxiliar na qualificação e na quantificação

dos poluentes gasosos das indústrias, e

elas poderão otimizar seus sistemas de

controle. Órgãos como o Instituto Am-

biental do Paraná (IAP) também poderão

utilizá-lo para os mesmos fins. Afinal, no

Brasil, e em particular na região oeste do

Paraná, existem várias atividades indus-

triais que emitem poluentes gasosos”, ex-

plica. No atual cenário, as demandas por

tecnologias para o monitoramento de

poluentes é cada vez maior. A tecnologia

desenvolvida na Unioeste, após a prote-

ção intelectual, deverá atender essas de-

mandas. “Nas universidades brasileiras,

em particular na Unioeste, não existem

espaços apropriados para atuar com pes-

quisas na área de inovação nem recursos

financeiros”, critica Saavedra (na foto, à

esquerda).

O MEIO AMBIENTE AGRADECE

CONTRATOS FIRMADOS

Fotos: Isabelle Neri

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Durante o evento, uma palestra minis-

trada por Guido Ganassali, diretor de Ne-

gócios, Tecnologia e Inovação da empresa

Ciser Parafusos e Porcas, de Joinville (SC),

foi o ponto inicial para essa transferência

de tecnologia.

Até o momento, quatro projetos estão

engatilhados para parcerias de futuras

transferências de tecnologia entre a Uni-

centro e a Ciser. Um deles prevê a proteção

da corrosão de parafusos e porcas, substi-

tuindo as tradicionais zincagem e croma-

ção. “Estamos repassando para a empresa

os custos diretos e indiretos dos projetos,

para execução de um Plano de Trabalho

e, também, para viabilizar o contrato de

transferência de tecnologia por ambas as

partes. Nesse plano, haverá inicialmente

investimentos em bolsistas e reagentes”,

conta Paulo Rogério Rodrigues. O Grupo

de Pesquisa em Eletroquímica da Unicen-

tro-GPEL será o parceiro efetivo nas pes-

quisas a serem desenvolvidas, visando ao

uso em escala piloto industrial.

O projeto está sob sigilo, mas já foi tes-

tado em escala laboratorial — o próximo

passo é a escola semi-industrial — e já tem

carta-patente. “Em breve, informaremos os

resultados que poderão levar aos primei-

ros royalties em inovação tecnológica na

Unicentro”, comemora. Paulo ressalta que

esses contratos foram frutos de uma gran-

de e bem-sucedida parceria.

13PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 14: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

ROBÓTICA

14 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 15: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

Ele vem deslizando pelos corredores

do Hospital Universitário de Maringá

(HUM) e chamando a atenção de todos:

funcionários, médicos, pacientes e acom-

panhantes. É o R1T1, robô de telepresen-

ça, desenvolvido pela Project Company,

que acaba de retornar ao hospital todo

“turbinado”. Projetado por Antonio Hen-

rique Dianin, coordenador da Project

Company, o robô ganhou bateria com

Desenvolvimento de robôs “inteligentes” reforça vanguarda das universidades do

Paraná na área e transforma a vida das pessoas

“Amei! Queria um desses lá em

casa para brincar”, disse Jucileide

Alves Rodrigues, mãe de Vitória, de

11 meses, que estava internada e se di-

vertia com as figuras que surgiam na tela

do robô. Carlos Marescalchi acompanha-

va a filha Giovana, de 1 ano, com pneu-

monia. Ele também ficou impressionado.

“Já tinha visto na televisão. Acho que gos-

tei mais do que ela.”

O robô é capaz de desviar de obstá-

culos e manter uma distância ideal de

conversação com os humanos graças

a sensores sonares, de infravermelho e

câmeras. De acordo com seu idealiza-

dor, ele consegue enxergar em 3D, por

isso não colide com objetos e pessoas.

“O desvio dele é muito natural. Ele tem

sensores de identificação e sabe qual é

a área do outro numa intercomunicação

pessoal. Estou muito feliz por ter ficado

tão natural”, comenta Dianin.

duração de 24 horas

(no início, eram apenas

duas horas), câmera com

2.5 K de resolução, tela

touch com dez pontos de

contatos simultâneos e tinta

antibactericida que não absorve

água.

Dianin está muito satisfeito com as

inovações, principalmente porque o

R1T1 é o primeiro robô de telepresença

desenvolvido na América Latina. Os fun-

cionários do hospital também têm co-

memorado a presença do novo “colega”,

pois o utilizam para possibilitar o contato

de pacientes internados com seus paren-

tes distantes. Sem contar a alegria na ala

de pediatria do hospital, onde as crianças

ficam fascinadas pelo robô. A imagem

delas aparece na tela do aparelho e ga-

nha acessórios divertidos, como cartola,

nariz de palhaço, máscara de rena e uma

infinidade de desenhos, tudo controlado

por controle remoto. “É como brincar de videogame”, simplifica Dianin.

Queria um desses lá em

casa para brincar.Jucileide Alves Rodrigues

15PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 16: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

Geovana Andrade dos Santos tem 17

anos e é aluna do Ensino Médio no Colé-

gio Estadual Vandyr de Almeida, em Cor-

nélio Procópio. Até o segundo semestre

de 2013, ela estava decidida a cursar Me-

dicina Veterinária. Estava. Porque desde

que conheceu o projeto Ninho de Par-

dais, da Universidade Federal Tecnológi-

ca do Paraná (UTFPR), mu-

dou seus planos: agora vai

cursar Engenharia Elétrica.

Esse é justamente um

dos objetivos do projeto

financiado pela Agência

Brasileira de Inovação (Fi-

nep): atrair alunos do Ensi-

no Médio para as áreas de

engenharia por meio da

robótica. E tem dado certo.

Vanderlei Ferreira, 22 anos,

começou no Ninho de Pardais em 2010,

está no 5º semestre de Engenharia Elétri-

ca e ainda não bateu asas. “Eu pretendia

fazer Física, mas encontrei aqui o que eu

esperava”, diz Vanderlei, que já deu uma

grande contribuição ao projeto, desen-

volvendo um sensor de toque adaptável

a qualquer outro kit de robótica.

O projeto tornou-se realidade em 2008,

graças ao empenho do professor Marcos

Banheti Rabello Vallim, coordenador do

curso de Engenharia Elétrica na UTFPR

de Cornélio Procópio. “O objetivo do edi-

tal era atrair alunos do Ensino Médio para

os cursos de engenharia e o nosso pro-

jeto está entre os 42 aprovados no Brasil

todo”, conta.

Aprovado o edital, foi construído um

bloco de quase 300 m² especialmente

para o Ninho de Pardais, com laboratórios

e um ambiente ideal para pesquisa. Hoje,

os alunos participam de competições in-

ternacionais, como a RoboCup, realizada

em 2013 na Holanda, da qual participa-

ram 38 países. Nessa ocasião, o projeto

ganhou dois prêmios: o primeiro lugar

na modalidade “Special Award Enter-

tainment Value”, em que o robô partici-

pa de uma coreografia e a apresentação

reúne tecnologia, arte e criatividade; e o

primeiro lugar numa apresentação em

equipe com Hungria e Austrália.

Do projeto saem os tutores que cui-

dam das oficinas de robótica nas escolas

de Ensino Médio. Ao todo são cinco colé-

gios que receberam kits

robótica, um notebook,

e desenvolvem as ativi-

dades no contraturno

escolar. Os estudantes

interessados participam

de um treinamento no

Ninho de Pardais e, de-

pois, são selecionados

de acordo com desem-

penho, interesse e res-

ponsabilidade. Outras

características necessá-

rias são proatividade e

habilidade para traba-

lhar em grupo.

Alex Soares Duarte,

22 anos, aluno de Engenharia Elétrica,

é tutor no núcleo do Colégio Estadual

Zulmira Marchesi da Silva. No primeiro

semestre de 2014, ele atuou no projeto

como voluntário.

Já no meio do ano, conseguiu uma

bolsa de iniciação científica que o ajuda

tanto na vida pessoal longe da família

quanto na compra de componentes ele-

trônicos. Segundo Alex, os núcleos se re-

únem cerca de três a quatro horas, uma

vez por semana, e trabalham conceitos

de matemática, equações e criatividade,

tudo aplicado à robótica.

Além de atuar como tutor, ele também

inventa robôs. Um deles joga jokempô e

outro se parece com um guindaste: ele

pode pegar uma bolinha no solo, por

exemplo, e transportá-la para outro lugar.

MUDANDO ORUMO DOS JOVENS

Projeto Ninho de Pardais: mudando os rumos da vida dos jovens.

Foto: UTFPR/Cornélio Procópio

16 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 17: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

O R1T1 foi lançado em 2013, logo de-

pois do registro da patente. Para introdu-

zi-lo no ambiente hospitalar, foi preciso

obedecer a uma série de exigências da

Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(Anvisa), por causa do risco de infecção.

Por exemplo, ele é todo arredondado

para que não haja acúmulo de água ou

sujeira. O Hospital Universitário de Ma-

ringá foi o primeiro do país a receber tal

tecnologia.

Atualmente, a Project Company tem

seis robôs prontos para venda a um cus-

to de R$ 48 mil anuais, que incluem to-

das as atualizações e a manutenção. “É

possível acessar os mais variados dados

do paciente no robô e acoplar uma série

de aparelhos: ultrassom, estetoscópio”,

comenta.

A robótica é uma realidade no merca-

do industrial há mais de três décadas. Os

robôs industriais são amplamente utiliza-

dos na manufatura de automóveis, por

exemplo. Dentre as aplicações correntes

da robótica na indústria, destacam-se

a soldagem, a pintura, a montagem e o

transporte dos produtos em processo.

O robô R1T1 é utilizado na área médi-

ca, mas segundo o professor Dianin, ele

também pode ser muito bem aprovei-

tado em outros setores, como educação

e marketing, por exemplo. E os especia-

listas garantem que logo teremos robôs

dentro de casa. “Em um futuro próximo

nós teremos robôs trabalhando em cada

setor da economia, dentro de cada casa,

eles se tornarão tão naturais quanto nos-

sos celulares. Eles serão amigos, avatares,

vigias, limparão nossas piscinas e calhas”,

acredita Dianin.

Mesmo com as perspectivas positivas,

tudo isso ainda depende de muita pes-

quisa científica. O professor Vallim, por

sua vez, avalia que embora já existam

muitos trabalhos bem estabelecidos na

área de robótica, as soluções em termos

de produto ainda não são acessíveis. “O

custo é elevado e a confiabilidade deixa

a desejar. O Brasil tem centros de excelên-

cia na pesquisa acadêmica em robótica

industrial, porém, tal como acontece em

outras áreas, o conhecimento científico

produzido não tem gerado patentes e

produtos disponíveis no mercado, na

mesma proporção”, avalia Vallin.

O professor Dianin também acredita

que o Brasil está “engatinhando” no as-

sunto, principalmente se compará-lo a

outros países que desenvolvem pesqui-

sas na área, como o Japão e os Estados

Unidos. “Nós sentimos na pele essa difi-

culdade, mesmo que 80% do desenvol-

vimento do R1T1 seja nacional, hoje con-

tamos com mais parcerias internacionais

do que nacionais”, conta Dianin. Países

como Holanda, Canadá e Alemanha já

utilizam amplamente os robôs para os

cuidados com os idosos, por exemplo.

“Em um futuro não muito distante, a ex-

pectativa é que robôs desse tipo sejam

disponíveis como um eletrodoméstico,

tal como hoje compramos uma máqui-

na de lavar inteligente”, diz o professor

Vallin.

MERCADO

“É possível colocar todos os dados do paciente no robô

e acoplar qualquer aparelho: ultrassom,

estetoscópio.”

Antônio Henrique Dianin

R1T1 é utilizado na área médica, mas pode ser aproveitado

em outros setores.

O papel da universidade é desenvolver conhecimento

sobre o processo de produção, inclusive

dos materiais.Marcos Banheti Rabello Vallim

Foto: Isabelle Neri

Foto: Isabelle Neri

17PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 18: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

O R1T1 começou a “trabalhar” efetivamente no

Hospital Universitário de Maringá em maio de 2014,

em atividades de controle de infecção. “Ele circulou

pelos corredores, apresentou músicas, vídeos”, lem-

bra a coordenadora de pesquisa do Núcleo de Pes-

quisa Clínica do HUM, Sandra Regina Bin Silva. “Fo-

ram atividades mais lúdicas e as pessoas viram com

outros olhos. Tivemos bons resultados”, assegura.

A ideia agora, segundo Sandra, é continuar reali-

zando trabalhos também direcionados à área aca-

dêmica. Já foi testado, por exemplo, o acompanha-

mento de um atendimento ambulatorial. Na sala de

consulta, ficam o preceptor, um ou dois alunos, além

do robô e da turma, que podem acompanhar a dis-

cussão do lado de fora.

Segundo Sandra, o R1T1 poderá ajudar também

as crianças que permanecem muito tempo interna-

das e, por isso, têm que ficar longe das salas de aula.

“Mesmo tendo o acompanhamento de professores e

pedagogo no ambiente hospitalar, seria interessante

ter esse contato com a escola”, observa Sandra.

O laboratório de protótipos do Ninho

de Pardais recebeu uma impressora 3D

de última geração, a partir da qual os

pesquisadores pretendem fazer mol-

des e desenvolver kits com preços mais

acessíveis para os colégios. A primeira

experiência já foi feita com uma figura

tridimensional bastante detalhada em

resina polimérica (único material que a

impressora reconhece, mas muito caro).

A partir da matriz, fizeram um molde em

Salvar a vida de recém-nascidos. As-

sim pode ser definido o principal obje-

tivo do projeto Care On, desenvolvido

pelo estudante de Engenharia de Con-

trole e Automação (Mecatrônica) da

Pontifícia Universidade Católica do Para-

ná (PUCPR), Matheus von Biveniczko To-

mio. Trata-se

de um par de

pulseiras que

emitem um

sinal sonoro

quando os

pais se afas-

tam do filho

mais de 10

metros. O projeto foi concebido para

evitar que crianças sejam esquecidas no

interior de um veículo, ou para localizar

aquelas que sofrerem sequestros.

DIMINUINDO DISTÂNCIAS

BENEFICIANDO PESSOAS

silicone e o preencheram com plástico. “É

um encapsulamento de R$ 100 para um

produto de R$ 1. Então, com essa rota

tecnológica, o custo de uma peça pode

ser reduzido, por exemplo, de R$ 100

para R$ 1, quando produzida em esca-

la”, compara o professor Marcos Vallim.

“Estamos dominando essa tecnologia

para baixar custos. Não somos indústria.

O papel da universidade é desenvolver

conhecimento sobre o processo de pro-

A bateria do equipamento dura até dez

dias e é recarregada por indução eletro-

magnética. O projeto já foi patenteado

pela PUCPR e a meta agora é miniaturizar

a placa de transmissores para baratear

o custo e disponibilizar o dispositivo no

mercado. Existe a possibilidade ainda

que o equipamento funcione via aplicati-

vo de celular. “Dessa forma, será possível

calibrar a distância. Outra possibilidade é

a utilização de sensores diferentes que de-

tectam quando a pulseira é tirada, o que

alerta em caso de sequestros”, explicou.

Outro projeto desenvolvido por Ma-

theus é o exoesqueleto, uma órtese in-

teligente que devolve ou auxilia o movi-

mento dos membros de pacientes que

perderam a mobilidade, seja por alguma

doença ou um acidente. Também batiza-

do de NSA2, o equipamento foi projeta-

do a pedido do Instituto Sabrina Belon,

uma organização humanitária sem fins

lucrativos que atua no desenvolvimento

de projetos de alta tecnologia para medi-

cina, acessibilidade e reabilitação. A pre-

sidente do instituto, Michele de Souza,

explica que o exoesqueleto consiste em

um eletrodo que fica em contato com a

superfície da pele e capta a mensagem

do cérebro, fazendo com que o mem-

bro realize o movimento. Segundo ela, o

NSA2 deverá ser implantando em breve

em um paciente com sequelas de polio-

mielite.

Matheus von Biveniczko Tomio

dução, inclusive dos materiais.” Conforme

Vallim, com os dispositivos produzidos

no Ninho de Pardais, é possível montar

um mesmo robô com 33% a menos de

peças que os kits disponíveis no merca-

do. “Agora temos que transformá-los em

produtos.”

Foto

: Isa

belle

Ner

i

Projeto Care On: pulseiras emitem sinal sonoro.

Foto: Isabelle Neri

MATERIAIS DE ÚLTIMA GERAÇÃO

18 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 19: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

ENGENHARIA FLORESTAL

SALVANDO AS ARAUCÁRIAS

Diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas para tentar diminuir os danos causados à floresta

de araucária na região Sul do país

Diversas pesquisas e iniciativas vêm

sendo desenvolvidas para tentar mitigar

os danos causados à floresta de araucária

na região Sul do país, após longos perío-

dos de devastação.

Considerado o ‘missionário da arau-

cária’, o professor do Programa de Pós-

-Graduação em Produção Vegetal do Se-

tor de Ciências Agrárias da Universidade

Federal do Paraná (UFPR), Flávio Zanet-

te, dedica-se há 29 anos ao estudo e ao

desenvolvimento de novas tecnologias

para proteger e divulgar a espécie. Entre

seus trabalhos, está o popularmente cha-

mado de “pinheiro de proveta” e o cruza-

mento artificial. Atualmente, Zanette está

investindo na enxertia de araucária,

uma técnica de melhoramento ge-

nético, para a produção de pinhões

- fruto da araucária -, o que ele de-

fende que pode ser uma saída para

estimular o plantio econômico da

espécie e contribuir com sua pre-

servação. “Não conseguimos salvar

a araucária pelo coração, então

resolvemos salvar pelo bolso”, co-

menta.

De acordo com dados do Institu-

to Brasileiro de Geografia e Estatísti-

ca (IBGE), em 2012, a extração de pi-

nhão gerou quase R$ 14,5 milhões

nos três estados do Sul, um aumen-

Flávio Zanette: produção de pinhão pode ser alternativa para salvar as araucárias.

Foto: Isabelle Neri

19PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 20: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

to de cerca de 32% em relação ao ano an-

terior. Zanette destaca que, na natureza,

é possível encontrar árvores produzindo

mais de 100 quilos de pinhões por ano.

“É possível clonar pela enxertia. Quando

adultas, essas araucárias poderão produ-

zir 70 quilos de pinhões em média por

ano”, afirma. Um pomar pode render, se-

gundo Zanette, de R$ 15 mil a R$ 20 mil

por hectare/ano, a custo zero, a partir de

As previsões, infelizmente, não são oti-

mistas para a araucária. A espécie, cuja

floresta chegou a abranger uma área de

200 mil quilômetros quadrados – equiva-

lente ao tamanho do estado do Paraná

– possui hoje menos de 3% de sua co-

bertura original, e somente 0,22%, o que

equivale a cerca de 41 hectares, está sob

proteção em unidades de conservação.

No entanto, diversos especialistas apon-

tam uma série de sugestões que podem,

não reverter, mas melhorar esse qua-

dro.

Registros históricos apontam que a

rápida devastação da floresta de arau-

cária teve início a partir do século XIX,

quando o Sul do Brasil começou a ser

ocupado por imigrantes europeus que

vieram para o país atraídos pela pro-

messa de uma vida melhor. A madeira

era utilizada para a construção de ha-

bitações, móveis e artigos domésticos.

Houve, igualmente, o desmate de tre-

chos para a prática da policultura de

alimentos, seguido de exportações para

diversos mercados.

Sem mecanismos oficiais para barrar

a exploração, as medidas de proteção

da floresta chegaram tarde. Em 1992, o

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis (IBA-

MA) incluiu a araucária na lista oficial de

espécies da flora brasileira ameaçadas de

extinção. E somente em 2001 o Conselho

Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)

Ana Paula Dalla Corte: estudo para analisar parte da Floresta Ombrófila

Mista no Paraná auxilia no entendimento da situação da planta no estado.

Foto: Isabelle Neri

proibiu a extração e a comercialização da

espécie.

Um trabalho coordenado pela pro-

fessora do departamento de Ciências

Florestais do Setor de Ciências Agrárias

da UFPR, Ana Paula Dalla Corte, apon-

tou que, da cobertura florestal nativa

em parte da Floresta Ombrófila Mista no

Paraná, 26,36% estão em estágio médio

e avançado de desenvolvimento, e ape-

nas 10,27% estão em estágio inicial, ou

seja, na situação de uma floresta mais

jovem. O trabalho foi realizado em 51

municípios na região de maior ocor-

rência da espécie a partir da utilização

de imagens de satélite e levantamen-

tos de campo, com mais de 100 pon-

tos de controle para o enquadramento

da vegetação segundo o seu desen-

volvimento. “Esse estudo teve como

objetivo realizar um levantamento das

florestas de araucária, ou seja, produzir

um retrato da situação da cobertura

florestal em parte do estado”, explica a

pesquisadora.

15 anos do plantio, mantendo-se produ-

tiva ao longo de 150 anos. “É um retorno

que vai para os netos e bisnetos do pro-

dutor”, diz o pesquisador.

Entre as vantagens da araucária

enxertada, está o início de produ-

ção em período inferior a dez anos

na propagação natural por meio de

sementes, a produção começa entre 12

e 15 anos. Além disso, será possível se-

lecionar materiais genéticos de matrizes

de alta qualidade produtiva e variedades

mais atrativas ao consumidor.

A Embrapa Florestas mantém, há 35

anos, material genético em um banco

ativo de germoplasma. A pesquisadora

e doutora na área de Recursos Genéticos

Florestais da Embrapa Florestas, Valderes

Aparecida de Sousa, explica que o banco

reúne coletas feitas em regiões de maior

ocorrência da araucária no Paraná, em

Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e

em Minas Gerais, e tem como objetivo

conservar geneticamente o gene que

pode ser usado para melhoramento e

promover uma conservação indireta.

“Os bancos são tentativas de salvar

os genes importantes para o futuro da

espécie”, diz Valderes. No entanto, ela

entende que a solução para o não de-

saparecimento da araucária vem de um

conjunto de ações. Entre elas, o incen-

tivo ao plantio com a proposta de uma

conservação mais participativa, com o

envolvimento dos proprietários de áreas.

“A conservação para o uso será bem mais

efetivo”, pondera.

20 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 21: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

Outras ameaças surgem para colocar a

araucária ainda mais em risco. As mudan-

ças climáticas, por exemplo. Um trabalho

de pesquisa da mestranda do Programa

de Pós-Graduação em Engenharia Flo-

restal da UFPR, Lara Clímaco de Melo, vi-

sou explorar as relações entre o clima e a

floresta, buscando, em linhas gerais, co-

nhecer como a Floresta Ombrófila Mista

– como é denominada a floresta de arau-

cária no Brasil – responderia a possíveis

mudanças no clima. Cenários climáticos

foram projetados com base no IPCC por

meio da geoestatística para 2100 (0,3°C;

2,4°C; 4,8°C e 6°C) e cruzados com os da-

dos de cobertura original (ocorrência) de

10 espécies, dentre elas, elas a araucária.

“Olhando de forma isolada a araucária,

observamos que, em um cenário otimis-

ta – aumento de 0,3°C na temperatura

– a espécie perderia 11% de sua área de

ocorrência. Já em um cenário extremo

– aumento de 6°C –, ela estaria critica-

mente em perigo de extinção, perdendo

81% da sua área natural de ocorrência”,

explica Lara. Para a pesquisadora, esses

resultados demonstraram a urgência da

necessidade em se investir em pesquisas,

ações e políticas que promovam o ma-

nejo florestal e na conservação desses

fragmentos.

Já o professor do curso de Engenharia

Florestal da UFPR, especialista em pes-

quisa em araucária e autor de três livros

sobre o tema, Carlos Roberto Sanquetta,

afirma que, por ser uma espécie de de-

senvolvimento lento, houve muito pou-

co estímulo dos órgãos públicos para

o plantio e a proliferação da floresta de

araucária. “Os governos pensam em cur-

to prazo”, observa.

Em seu mais recente trabalho “Pesquisa

com Araucária e suas Transições – Pesqui-

sas Ecológicas de Longa Duração”, lan-

çado neste ano, Sanquetta reúne uma

série de observações sobre a floresta de

araucária ao longo de 20 anos de pes-

quisas. Entre elas está a potencialidade

desse ecossistema em fixar e acumular

biomassa e carbono. “Estima-se que as

florestas em geral, quando conservadas

ou manejadas sustentavelmente, são

capazes de absorver cerca de 16% do

carbono atmosférico, acumulando-o em

seus diversos componentes, enquanto o

desmatamento e a degradação desses

ecossistemas, juntamente com a agricul-

tura, são responsáveis pela emissão de

31% dos gases do efeito estufa”, defende

o pesquisador.

O pesquisador da área de Agrometeo-

rologia da Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA), unidade Flo-

restas, Marcos Silveira Wrege, afirma que

a araucária é uma espécie primitiva con-

siderada um ‘fóssil vivo’, que dificilmente

terá condições de se manter diante das

mudanças climáticas e de pluviosidade.

Segundo ele, até o final deste século exis-

te uma projeção para um aumento da

temperatura na região Sul do Brasil entre

4 e 5 graus. “A araucária é uma espécie

de clima frio e que necessita de um regi-

me de chuva regular para se desenvolver.

Além disso, ela tem um ciclo reprodutivo

de quatro anos, e qualquer interferência

nesse período, compromete sua manu-

tenção”, observa.

Em outros países onde também existe

a presença de floresta de araucária, como

no Paraguai, os pesquisadores já estão

observando a mortalidade da espécie

em função das mudanças climáticas. Isso

se deve não só à elevação da tempera-

tura em si, mas também porque esse

aumento facilita a proliferação de pragas

e doenças. De acordo com Wrege, no

Brasil, em virtude da fragmentação das

florestas, esse fenômeno ainda não foi

observado, “mas também será preciso

ficar alerta”, pondera.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Carlos Sanquetta e Lara Melo: mudanças climáticas contribuem para a diminuição

da ocorrência das araucárias.

Foto: Isabelle Neri

21PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 22: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

CONSCIÊNCIACONSTRUTIVA

SUSTENTABILIDADE

Casa da Tecverde: habitação sustentável para a população de baixa renda.

Foto: Isabelle Neri

Foto: Isabelle Neri

Foto: Isabelle Neri

PARANÁ FAZ CIÊNCIA22

Page 23: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

Foto: Gilberto Abelha/UEL

Foto: Isabelle Neri

romover a cultura da

habitação sustentá-

vel na população

de baixa renda.

Essa é a intenção

do projeto ZEMCH

Network, que concentra

esforços para implementar

inovações tecnológicas e geren-

ciais nas construções. Construí-

das em apenas três horas, as casas

do ZEMCH são feitas de um sistema

de painéis de madeira que se encai-

xam para formar paredes pré-moldadas.

Inicialmente, serão construídos cinco

modelos, que terão o uso monitorado.

Pretende-se melhorar a produtividade,

reduzir a geração de resíduos, diminuir

os gastos dos usuários com moradia e

agregar mais valor ao produto.

Em um momento em que a questão

ambiental norteia qualquer atividade, o

setor da construção civil vem buscan-

do alternativas para se adequar às

metas globais de desenvolvimento

sustentável. Entre todas as indús-

trias, a da construção civil é no-

tadamente a que mais ocasiona

impactos ambientais. Estima-se

que entre 14% e 50% dos recur-

sos naturais extraídos no planeta

sejam consumidos pelo setor cons-

trutivo, de acordo com dados da tese

do professor Vanderley John, da Escola

Politécnica da Universidade de São Pau-

lo (USP). Porém, mesmo em atividades

altamente impactantes, a aplicação de

práticas sustentáveis é possível e neces-

sária. Para isso, vários projetos buscam

menor impacto ambiental, racionaliza-

ção de matéria e energia e diminuição

do volume de resíduos sólidos gerados.

O ZEMCH Network é um deles. Trata-se

de uma rede internacional de pesqui-

sa científica, e um dos projetos está

sendo desenvolvido por um grupo

da Universidade Estadual de Lon-

drina (UEL).

As casas elaboradas para o pro-

jeto devem atender a requisitos de

eficiência energética e tecnologias que

favoreçam a sustentabilidade e a cus-

tomização em massa. Por isso, optou-se

pela utilização da tecnologia wood frame

pré-fabricada, desenvolvida pela empresa

Tecverde Engenharia, de Curitiba. Os pai-

néis de madeira que formam as paredes

são revestidos internamente por placas

de gesso e, externamente, por placas ci-

mentícias. Para auxiliar no desempenho

térmico, as paredes são preenchidas por

lã de PET ou de vidro. “Um dos fatores

que nos levaram a adotar essa tecnologia

é a velocidade de produção, com um

mínimo de geração de resíduos de

construção”, explica Ercília Hitomi

Hirota, coordenadora do Grupo de

Pesquisa em Gestão de Projetos

Integrados da UEL.

Outro ponto relevante do proje-

to é a customização em massa, uma

estratégia de desenvolvimento de

produtos que busca atender ao máxi-

mo os requisitos dos clientes.

A tecnologia desenvolvida pela Tecver-

de já recebeu homologação, requisito

que permite o financiamento das habi-

tações, e poderá ser viabilizada por meio

do programa Minha Casa, Minha Vida, do

governo federal.

O setor da construção civil vem buscando alternativas para se adequar às metas globais de redução de impactos ambientais e, primordialmente, trazer

alternativas benéficas para toda a sociedade

23PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 24: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

Práticas ambientalmente sustentáveis

visam aumentar o ciclo de vida dos ma-

teriais utilizados na construção civil. Um

dos materiais que apresentam ótimo

resultado é o subproduto da queima

de bagaço da cana-de-açúcar, aplicado

para substituir parcialmente a areia e o

cimento em argamassas, concretos e

pavers (blocos para pavimentação).

A utilização de concreto nas constru-

ções cresce anualmente e, consequen-

temente, eleva o consumo de cimento

Portland (veja quadro “Emissões de

CO2”) e agregados naturais na confec-

ção de concretos. Buscando reduzir o

custo do produto e diminuir a degra-

dação ambiental, várias pesquisas vêm

sendo desenvolvidas para substituir

componentes do concreto por mate-

riais alternativos.

No processo de beneficia-

mento da cana-de-açúcar, o

maior subproduto gerado é

o bagaço da cana-de-açú-

car, utilizado em larga es-

cala como combustível em

caldeiras para geração de

energia (vapor) que resulta

em uma cinza pesada e leve.

Com as pesquisas, chegou-

-se à conclusão de que a

cinza pesada pode substi-

tuir 20% da areia comum na

construção civil sem alterar

suas características. Já a cinza leve apre-

sentou ótimo resultado de pozolanici-

dade (característica de cimento) e pode

ser utilizada na substituição parcial do

cimento em até 7,5%. “Um ótimo ganho

econômico e ambiental, pois substitui o

cimento, um produto caro

cuja produção é muito po-

luidora”, afirma Carlos Hum-

berto Martins, coordenador

do curso de Engenharia Civil

da Universidade Estadual de

Maringá (UEM) e coordena-

dor do projeto de uso de

resíduos para a produção de

argamassa.

Na proposta, a cinza pesada será

reaproveitada por meio da substi-

tuição parcial da areia na confecção

dos pavers. Isso contribuiria para a

diminuição da extração desse mate-

rial de forma irregular de rios. A cinza

leve será substituída parcialmente no

cimento Portland para evitar a dispo-

sição final incorreta do resíduo (veja

quadro “Cinzas maléficas e benéfi-

cas”).

O pesquisador destaca que a in-

corporação tanto de cinza leve como

pesada em pavers será benéfica para

as indústrias e para o meio ambien-

te. “Serão reduzidos o consumo de

cimento e a poluição atmosférica

gerada pela produção. Também será

reduzida a extração de areia dos rios,

e as usinas realizarão a des-

tinação correta por meio

da reciclagem desses resí-

duos”, salienta Martins.

De acordo com a Com-

panhia Nacional de Abas-

tecimento (Conab), na

safra de 2013/2014, foram

geradas 650 mil toneladas

de cinza leve. Porém, essa

cinza gerada na usina pos-

sui aproximadamente 100%

de umidade. Dessa forma, a

geração de cinza leve seca

é de aproximadamente 325

mil toneladas que poderiam ser utiliza-

das como cimento, ou, aproximadamen-

te, 6.5 milhões de sacos de cimento. “Se

pensarmos hoje, que a média de 1 saco

de 50 kg de cimento custa R$ 30, pode-

ríamos obter uma economia de apro-

ximadamente R$ 195 milhões. Esse é o

aspecto econômico do reaproveitamen-

to dessa cinza como cimento”, ressalta o

engenheiro.

BAGAÇO SUSTENTÁVEL

Foto

: Isa

belle

Ner

i

Foto

: Isa

belle

Ner

i

[o subproduto da queima de bagaço de cana-de-açúcar] é um ótimo ganho

econômico e ambiental, pois

substitui o cimento, um produto caro cuja produção é muito poluidora.

Carlos Humberto Martins

24 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 25: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

O concreto autoadensável (CAA) pro-

porciona a diminuição de falhas de con-

cretagem decorrentes da segregação

resultante do excesso de vibração no

concreto convencional. Outra vantagem

é a redução da mão de obra para serviços

de concretagem, já que não é necessário

adensar e os serviços de espalhamento

e nivelamento são facilitados. Essas pro-

priedades são conferidas ao CAA devido

à composição dos materiais que o cons-

tituem.

A cinza do bagaço de cana-de-açúcar,

resíduo gerado pelo setor da agroindús-

tria, também pode ser fonte de matéria-

-prima para a composição do CAA, que

apresenta grande fluidez e alta trabalha-

bilidade, ou seja, é muito plástico. “Para

se ter ideia, somente no Paraná, na safra

2013/2014, teríamos a possibilidade de

produzir 300 mil toneladas do produto se

todo o bagaço fosse queimado para co-

geração de energia”, explica Romel Dias

Vanderlei, chefe do Departamento de En-

genharia Civil da UEM e coordenador do

projeto de desenvolvimento de concreto

com cinza do bagaço da cana-de-açúcar.

Vanderlei destaca que uma das contri-

buições que justificam o desenvolvimen-

to do CAA se refere à durabilidade do

elemento estrutural. Além disso, o CAA

permite a concretagem de peças com

pequenas seções ou densamente arma-

das sem que haja vazios.

Existe uma tendência de constru-ção de edificações sustentáveis, principalmente nos grandes cen-tros urbanos. A eficiência energé-tica faz parte desse cenário, tanto vinculada aos procedimentos das certificações ambientais quanto por meio do programa brasileiro de etiquetagem de edificações

do Inmetro, que apresenta pro-cedimentos para classificação do nível de eficiência energéti-ca. A habitação desenvolvida no ZEMCH terá nível A de eficiência energética, ou seja, demandará menos energia elétrica ao longo de sua vida útil.

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

O cimento Portland é o principal ligante hidráulico

utilizado no concreto. A fabricação de uma

tonelada de clínquer* de cimento Portland lança uma tonelada de gás carbônico

(CO2) na atmosfera. Assim, a produção anual mundial de cimento chega a 1,5 bilhão de toneladas, responsável

por quase 7% das emissões globais de CO2 (MEHTA;

MONTEIRO, 2008). Segundo dados do Sindicato Nacional

da Indústria do Cimento (SNIC), em 2012 estima-se

que o Brasil tenha produzido 68,787 milhões de toneladas

de cimento (SNIC,2013). *clínquer é o material a partir

do qual é fabricado o cimento.

Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do

Cimento (SNIC), em 2012 o Brasil produziu 68,787 milhões

de toneladas de cimento. Segundo as pesquisas, é possível substituir até 5% de cimento por cinza leve, ou seja, seriam necessárias

aproximadamente 3,4 milhões de toneladas de cinza, e atualmente são

geradas aproximadamente 325 mil toneladas.

EMISSÕES DE CO2

CIMENTODESNECESSÁRIO

EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA

Romel Dias Vanderlei: grandes avanços com o concreto autoadensável.

Foto

: Isa

belle

Ner

i

Somente no Paraná, na

safra 2013/2014, teríamos a

possibilidade de produzir

270 mil toneladas do

produto se todo o bagaço

fosse queimado para

cogeração de energia.Romel Dias Vanderlei

25PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 26: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

Estima-se que entre 14% e 50% dos recursos

naturais extraídos no planeta sejam consumidos

pelo setor construtivo.

Na safra 2013/2014, foram processadas 652 milhões de

toneladas de cana-de-açúcar no país, gerando aproximadamente

3,9 milhões de toneladas de cinza pesada e 650 mil toneladas de cinza leve.

Fonte: Companhia Nacional

de Abastecimento (Conab).

CINZAS MALÉFICAS

E BENÉFICAS

RECURSOS AMEAÇADOS

07

CANA-DE-AÇÚCAR

BAGAÇO

COMBUSTÍVEL EM CALDEIRAS

DE GERAÇÃODE ENERGIA

CINZA PESADA

SUBSTITUI AREIA COMUM

06CINZA LEVE

SUBSTITUICIMENTO

05

04

03

02

01Fo

to: Is

abelle Neri

26 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 27: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Bolsas de iniciação científica estimulam os estudantes a pesquisar desde muito cedo e podem resultar em amplos e significativos benefícios para a sociedade

Levar os resultados de pesquisas cien-

tíficas para a grande massa é o objeto de

estudo da consultora externa do Conse-

lho Nacional de Desenvolvimento Cien-

tífico e Tecnológico (CNPq) e professora/

coordenadora do Laboratório de Pesqui-

sa e Ensino de Leitura e Redação da Uni-

versidade Federal de Santa Maria (UFSM),

Désirée Motta Roth. Por meio da Linguís-

tica Aplicada, ela estuda como o discurso

científico do contexto acadêmico é retex-

tualizado na mídia. Ou seja, como os tex-

tos chegam aos livros didáticos, a revistas

e até a editais. “O discurso passa por pro-

cessos tendo em vista outros interlocuto-

res. Cada instância tem sua função”, diz.

Segundo a pesquisadora, o que ocorre

é uma percepção errônea por parte de

quem produz sobre quem é seu leitor. “As

pessoas acabam não entendendo o que

leem.” Désirée informa que uma pesqui-

sa do Ministério da Ciência e Tecnologia

apontou que entre 2006 e 2010 houve

um aumento do número de entrevista-

dos com interesse em aprender mais por

meio de jornais e revistas (de 41% para

65%). “As pessoas dizem que se interes-

sam, mas não compreendem o que está

escrito.” Em 2006, essa mesma pesquisa

revelou que 85% dos 2.004 entrevistados

de diferentes classes sociais e em todo o

país afirmaram não compreender textos

sobre ciência.

O estudo foi coordenado por Ildeu Mo-

reira, diretor do Departamento de Popu-

larização e Difusão da Ciência e Tecnolo-

gia do Ministério da Ciência e Tecnologia,

e demonstrou, em 2006, que somente

15% das pessoas abordadas foram capa-

zes de citar uma instituição científica im-

portante no Brasil ou o nome de um cien-

tista famoso. Na opinião de Désirée, são

necessários cada vez mais estudos sobre

quais estratégias discursivas utilizar, sobre

a organização da informação no texto, e

que temáticas estão a serviço da socieda-

de. “Se não, a ciência fica enclausurada”,

avisa. “O pensamento científico, seja na

matemática, física, química ou arte, deve-

ria ser estudado intensivamente na esco-

la para que qualquer sujeito fosse capaz

de se relacionar com a ciência”, opina.

A professora comenta que as áreas

de informática, biologia e ecologia, por

exemplo, são mais exploradas nos jornais,

o que não ocorre com o letramento e o

ensino de leitura e produção de textos,

práticas fundamentais para a educação,

segundo sua avaliação. Consequente-

mente, os financiamentos tendem mais

para outras áreas. Ressalta, ainda, que a

mídia só faz ciência de um sujeito e não

traz a voz da sociedade. “Só quem fala é

o cientista.”

O processo de fazer com que as infor-

mações relacionadas à ciência cheguem

até a população pode ser realizado a par-

tir do programa de iniciação científica im-

plantado nas universidades. Camila Bour-

guignon de Lima, que cursa Licenciatura

em Artes Visuais na Universidade Esta-

dual de Ponta Grossa (UEPG), utiliza esse

programa para dar sequência ao estudo

da presença da mulher na arte contem-

porânea (séculos XX e XXI). “Elas ainda

não são reconhecidas em seu potencial

artístico em museus, galerias”, relata. Se-

gundo Camila, as exposições de artes

em galerias e museus são predominante-

mente de artistas homens, “porque visam

a mais público e lucro”. Como a arte é

NOVOSOLHARES

Camila Bourguignon de Lima, estudante de Licenciatura em Artes Visuais na UEPG: bolsas auxiliam em sua pesquisa sobre a

presença da mulher na arte contemporânea.

Foto: Isabelle Neri

27PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 28: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

A crescente oferta de bolsas reflete na

procura por cursos de Pós-Graduação,

como ocorreu na Universidade Estadual

do Centro-Oeste (Unicentro). O primei-

ro curso de Pós-graduação stricto sensu da universidade é de 2006. Hoje são 17,

resultado dos projetos e das bolsas de

iniciação científica na graduação que, a

cada dia, têm estimulado mais estudan-

tes a seguirem os caminhos da pesquisa.

A conclusão é do pró-reitor de Pesquisa e

Pós-Graduação Marcos Ventura Faria. “Na

verdade, a base da criação da Pós-Gradu-

ação na Unicentro foi a iniciação científi-

ca. Se analisarmos os gráficos do cresci-

mento de projetos de iniciação científica

e da ampliação dos cursos na pós, vere-

mos que são coincidentes”, revela. Faria

está na Unicentro há 12 anos e pôde

acompanhar esse incremento na área de

pesquisa. “Os alunos enxergam outras pos-

sibilidades além da graduação. Toda a visão

do graduando mudou”, observa.

Ventura orienta vários projetos que fa-

zem parte do Programa de Melhoramen-

to Genético de Milhos Especiais.

A pesquisa está dividida em milho

forrageiro (alimentação animal) e milho

doce (consumo industrializado). O prin-

cipal objetivo é desenvolver novos hí-

bridos adaptados às condições regionais

que sejam competitivos no mercado. O

aluno do curso de Agronomia da Unicen-

tro Carlos Augusto da Silva comenta que

o projeto é essencial para auxiliar na for-

mação do curso. “O projeto abre as por-

tas do mercado de trabalho, princi-

palmente para quem quer continuar

os estudos cursando mestrado ou

doutorado. Agrega conhecimento

para quem quer focar em milhos

especiais e entender os nichos de

mercado”, diz ele.

“O diretor de pesquisa da Pró-Rei-

toria de Pesquisa e Pós-Graduação

da Universidade Estadual Norte do

Paraná (UENP), Fernando Moreno da

Silva, conta que, dos cinco mil alu-

nos da UENP, pelo menos 200 estão

inseridos em programas de financia-

mento. Ele explica que a iniciação

científica basicamente tem duas

funções. “Converter conhecimento

Marcos Ventura e seus alunos Carlos Augusto da Silva, Reginaldo Calixto e

Emanuel Gava (da esquerda para a direita): Ventura orienta vários projetos que fazem

parte do Programa de Melhoramento Genético de Milhos Especiais.

Foto: Isabelle Neri

ESTÍMULO À PÓS-GRADUAÇÃO

expressão da sociedade num determina-

do tempo, ela considera essa discussão

bastante importante. Camila estudou 30

quadros de artistas mulheres de vários

países do Ocidente e observou que elas

ainda não são vistas como criadoras de

arte, mas “apenas como um objeto a ser

contemplado”, sem convites para partici-

pação em exposições de artes.

A estudante identificou que algumas

artistas têm em sua temática o cotidia-

no feminino, outras, padrões de beleza

como uma forma de crítica às exigências

estéticas ao corpo feminino. O fato de

ser pesquisadora dessa área abriu à es-

tudante as portas da Faculdade de Belas

Artes, em Lisboa (Portugal) onde pôde

intensificar seus estudos. Ela conta que

também pôde comprar diversos livros e

participar de eventos relacionados à sua

área de estudo. Camila é orientada pela

professora Lenir Mainardes, doutora em

Serviço Social e representante do Comitê

de Iniciação Científica na UEPG.

em utilidade pública e criar a cultura de

pesquisa na universidade desde seus pri-

meiros anos”, salienta. Um dos projetos

orientados por ele é o da aluna do curso

de Letras Samantha Isabela Pinto, cujo tí-

tulo é “Estilo dos Jornais Paranaenses”. Na

pesquisa, Samantha analisou o perfil de

alguns leitores de dois dos maiores jor-

nais do estado (Gazeta do Povo e Folha de

Londrina). A aluna pesquisou 14 edições

de cada jornal, de uma determinada se-

mana, e chegou à conclusão de que os

leitores da Folha são mais tradicionais,

preferem ler sobre temas mais regionais;

e os da Gazeta preferem temas macro, de

economia ou internacionais.

Na opinião do pró-reitor de Pesquisa e

Pós-Graduação da Universidade Estadu-

al do Paraná (Unespar), Frank Mezzomo,

também coordenador do Programa de

Pós-Graduação interdisciplinar Socieda-

de e Desenvolvimento do campus de

Campo Mourão, a iniciação científica

torna a vivência do aluno mais intensa

dentro da universidade e mais assídua.

“A formação é para o estudante e para o

professor, que potencializa sua pesquisa”,

observa. Em sua visão, a comunidade

Professor Fernando Moreno (ao centro) com alunos de iniciação científica.

Foto: Tiago Ângelo

28 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 29: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

Comer uma fruta ou hortaliça sem

resíduos de agrotóxicos é o que deseja

o mercado consumidor na atualidade.

E é um dos objetivos das pesquisas da

professora doutora em Fitopatologia

Maristella Dalla Pria, da UEPG, que há vá-

rios anos se dedica a pesquisar alternati-

vas naturais aos fungicidas em conjunto

com pesquisadores da UFPR. “Existem

várias substâncias, extratos vegetais que

não são considerados agrotóxicos e po-

dem ser utilizados no controle de fitopa-

tógenos”, afirma.

Segundo a pesquisadora, os

experimentos são conduzidos

no campo, em laboratório e na

Casa de Vegetação do cam-pus da UEPG e UFPR. Os mais

recentes foram realizados nas

culturas de soja, feijão, milho

e frutíferas, com alguns resul-

tados promissores. Há uma

ampla gama de substâncias

que ainda podem ser testadas,

as quais, além de terem sua

eficiência comprovada, não

podem deixar resíduos nos alimentos

e no ambiente. Essas substâncias são

escolhidas com base na literatura e na

curiosidade dos próprios pesquisadores.

Maristella trabalha com dois alunos de

iniciação científica júnior, três alunos de

iniciação científica, três de mestrado e

quatro de doutorado. “O importante da

iniciação científica é que mantemos o

contato do aluno da graduação com a

pesquisa e podemos encaminhá-lo para

a Pós-Graduação. Na iniciação científica,

já conseguimos visualizar alunos que

têm aptidão para a pesquisa”.

Um de seus alunos, do curso de Agro-

nomia da UEPG, Alex Gatto, pesquisa o

uso de óleos essenciais no controle de

doenças do milho. Segundo Alex, o Pro-

jeto de Iniciação Científica possibilitou a

compreensão de todas as fases neces-

sárias antes de uma nova tecnologia ser

implementada no mercado. “As empre-

sas buscam quem já tem experiência. É

um diferencial na contratação”, disse o

estudante.Alex Gatto e Maristella Dalla Pria: contato do aluno da graduação com a pesquisa.

Foto: Isabelle Neri

CONTROLE BIOLÓGICO EM ESTUDO

ganha com um egresso mais bem pre-

parado tanto na área acadêmica quanto

no mercado de trabalho, porque não se

pode mais pensar hoje em uma “ciência

encastelada”. Ele ressalta que as pesqui-

sas não devem ser feitas individualmen-

te, mas de forma ampla e conjunta. “Pode

ocorrer de o pesquisador estar investi-

gando algo que possa contribuir para o

projeto de outro pesquisador e que pode

ser relacionado ao mesmo assunto e vi-

ce-versa”, reforça.

Investigar o perfil do jovem universitá-

rio — com relação à religião e à política

— é o objetivo de uma das pesquisas

desenvolvidas na Unespar. Por ser uma

universidade nova, ainda não existe o

mapeamento dos perfis dos alunos da

instituição. Outro projeto realizado na

Unespar que conta com a participação

de alunos da iniciação científica é o es-

tudo das representações da mulher pre-

sentes no jornal Folha do Norte do Paraná

— veiculado de 1962 a 1979, na região

norte do Paraná (sediado em Maringá).

Esse trabalho foi dividido em três fases:

digitalização dos jornais, tabulação dos

dados e avaliação do material coletado.

Além de ajudar a preservar documentos

históricos, o objetivo também é estudar

como o jornal se reportava às mulheres

naquela época, já que era organizado

pela Igreja Católica, e como esse trata-

mento influenciava a opinião das pesso-

as.

Os exemplos de Désirée e Camila mostram, na prática, o crescimento da iniciação cientí�ca em todo o país: em torno de 40% na última década. No Paraná, esse índice sobe para

quase 70%, segundo o CNPq.

Em 2004, eram 34.977 bolsistas em todo o país. Neste ano, são 50.125. Nos últimos quatro anos, foram �nanciadas pela Fundação Araucária, em parceria com o CNPq,

mais de 11.000 bolsas de iniciação cientí�ca, um investimento acima de R$ 52 milhões.

BRASIL

200434.977bolsas

201450.125bolsas

PARANÁ

2010 a 2014

11.000bolsas

52 milhões em investimentos

29PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 30: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

FAPs

As FAPs são responsáveis pelo desenvolvimento do país à medida que estimulam a ciência e a

tecnologia por meio de apoio a pesquisas

INVESTIMENTO EM PESSOAS E IDEIAS

crescimento de países

emergentes como o Brasil

tem proporcionado à

população o acesso a

uma melhor qualidade de

vida. Mas essa evolução depen-

de de mecanismos capazes de suportar

o avanço de diversos segmentos produ-

tivos no país. Nesse campo, destacam-

-se as políticas de desenvolvimento de

ciência, tecnologia e inovação, as quais

têm encontrado respaldo nas Fundações

de Amparo à Pesquisa (FAPs). O Brasil

conta com 26 fundações estaduais

em funcionamento, cuja finalidade é

dar apoio a projetos de pesquisa, en-

sino, extensão e de desenvolvimento

institucional, científico e tecnológico

para instituições de ensino superior

e institutos de pesquisa. “As FAPs são

grandes instrumentos para potenciali-

zar a ciência e a tecnologia no Brasil. O

número e o alcance das nossas funda-

ções são fatores inéditos em qualquer

país em desenvolvimento semelhante

ao nosso”, avalia o presidente da Coorde-

nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (Capes), Jorge Guimarães.

Os impactos da ciência, da tecnologia

e da inovação são percebidos em diver-

sos setores e atividades, como promoção

da saúde, redução nos preços de equi-

pamentos e produtos, oferta de novas

tecnologias, conservação dos recursos

naturais, orientação ao desenvolvimento

de políticas públicas e aumento da com-

petitividade pela incorporação de novas

tecnologias. O presidente do Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científi-

co e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva,

destaca que, por meio das agências de

fomento, pesquisadores e docentes pas-

sam a ter mais oportunidades de forma-

ção e capacitação, além de “perspectivas

de intercâmbio com instituições e pes-

quisadores estrangeiros, possibilitando

um incremento das atividades de educa-

ção e pesquisa no país”.

O presidente do Conselho Nacional

das Fundações Estaduais de Amparo

à Pesquisa (Confap), Sérgio Gargioni,

também destaca as parcerias interna-

cionais. Dentre elas, a parceria com o

Fundo Newton, do Reino Unido, com

o Conselho Britânico e a norte-ameri-

cana Fundação Bill & Melinda Gates.

“Já estamos em estudos adiantados

para parcerias com instituições do

Canadá e da Comunidade Europeia,

as quais possibilitarão ainda mais o

apoio a pesquisas para o Brasil e para

parceiros”, conta.

Já estamos em estudos adiantados para parcerias

com instituições do Canadá e da Comunidade Europeia, as quais possibilitarão ainda

mais o apoio a pesquisas para o Brasil e para parceiros.

Sérgio Gargioni

30 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 31: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

O Paraná está entre os estados de refe-

rência quando o assunto é apoio à ciên-

cia e à tecnologia. A Fundação Araucária

— única FAP no país de personalidade

jurídica de direito privado sem fins lucra-

tivos —, vinculada à Secretaria de Estado

de Ciência e Tecnologia, deu um salto

em qualidade e atendimento nos últimos

quatro anos desde que passou a focar

sua gestão em pessoas e ideias, ou seja,

disponibilizando boa parte de seus recur-

sos para bolsas e projetos.

O presidente da Fundação Araucária,

Paulo Brofman, explica que a gestão da

entidade foi feita “a quatro mãos”, já

que as linhas de atuação da fundação

foram definidas a partir das deman-

das da comunidade universitária.

Somente de 2011 a 2014, a entida-

de financiou mais de 14 mil bolsas,

o que representa 50% da demanda;

além de apoiar outros 4 mil projetos.

“O Paraná conta hoje com 290 pro-

gramas de Pós-Graduação e mais

de 15 mil alunos. Isso faz com que

a demanda para bolsas e financia-

mentos seja muito grande”, comenta

Brofman. Para tentar ampliar o aten-

dimento, a fundação vem mantendo

parcerias, principalmente com as agên-

cias de fomento do governo federal, o

que possibilitou dobrar a quantidade de

financiamentos. Essas parcerias são pos-

síveis em função da credibilidade que a

Fundação Araucária conquistou. “Hoje

nós somos uma FAP de referência em

acordos assinados. E quando existe um

saldo de recursos de entidades como

a Capes, essas verbas são direcionadas

para nós, que temos condições de exe-

cutar rapidamente”, analisa.

Outro ponto positivo na gestão da

fundação foi o investimento na reestru-

turação administrativa, com novos pro-

gramas de informática, visando garantir

mais agilidade e facilitar os processos de

todos os envolvidos. O apoio da Funda-

ção Araucária aos programas de Pós-Gra-

duação stricto sensu foi um dos motivos

que ajudaram a colocar o Paraná em des-

taque novamente na classificação dos

programas de Pós-Graduação realizada

pela Capes.

O Paraná também manteve a lideran-

ça em relação à melhora na qualificação,

com 27% dos programas, enquanto a

média nacional foi de 23%. “Isso é méri-

to das universidades, dos institutos de

pesquisas e dos docentes e discentes

envolvidos”, disse Paulo Brofman.

Para o presidente da Fundação Arau-

cária, apesar de todos os avanços, ainda

existem desafios a serem alcançados.

Um deles é transformar a fundação em

política de estado. Outro é possibilitar

o recebimento por duodécimos, assim

como diminuir a burocracia da libera-

ção dos recursos. “Dependendo do

projeto, que os recursos possam ser

destinados diretamente para o pes-

quisador, pessoa física, e não somente

para as instituições”, explica.

PARANÁ

Hoje nós somos uma FAP de referência em

acordos assinados. E quando existe um saldo de recursos de

entidades como a Capes, essas verbas são direcionadas para nós,

que temos condições de executar rapidamente.

Paulo Brofman

31PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 32: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

extensão têm atendido comunidades

muitas vezes isoladas pela distância, e

são grandes possibilidades de transfor-

mação social”, ressalta.

Para Bruno Cesar Elias, graduado em

Medicina Veterinária pela Universidade

Federal do Paraná (UFPR) e integrante do

programa de Pós-Graduação de Ciência

Animal da Universidade Estadual de Lon-

drina (UEL), ter apoio para custear os es-

tudos é fundamental para uma vida aca-

dêmica. “Eu tenho a bolsa de mestrado e

acredito que esse auxílio é de vital impor-

tância, pois oferece ao aluno estabilidade

econômica e, consequentemente, vida

acadêmica plena”, afirma.

A Fundação Araucária elegeu quatro

eixos temáticos de atuação: verticaliza-

ção do ensino superior e formação de

pesquisadores, produção científica e tec-

nológica, disseminação científica e tec-

nológica, e o quarto eixo, que representa

outras ações financiadas. Além dos pro-

gramas tradicionais que vem desenvol-

vendo ao longo de 14 anos de atividades,

a fundação criou três novas bolsas: bolsa

técnico (que estimula a presença de pes-

quisadores responsáveis em laboratórios),

bolsa sênior (que destina bolsas a profes-

sores prestes a se aposentar para conti-

nuarem na orientação de mestrandos e

doutorandos) e bolsa pós-doc empresas

(com bolsas para pesquisadores desen-

volverem projetos dentro de empresas).

O coordenador de pesquisa e desen-

volvimento da Imunova — empresa

curitibana que atua com novas tecnolo-

gias para a indústria veterinária —, Celso

Fávaro Júnior, conta hoje com dois pós-

-doutorandos trabalhando no desenvol-

vimento de novos produtos na empresa.

Ele afirma que, se não fosse por meio

FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA

da bolsa da fundação, não teria

condições de manter esses pro-

fissionais. “Além de podermos

contar com a excelência da pes-

quisa, também existe uma inte-

gração empresa-universidade

que é fundamental”, avalia.

A pós-doutoranda da empre-

sa Imunova, Clarissa Cavarsan, enxerga

essa bolsa como algo agregador para

sua carreira. “É uma oportunidade muito

interessante, porque passamos a ter um

foco diferente da academia e podemos

verificar a real aplicabilidade da pesquisa”.

Outra preocupação da fundação é

ampliar o envolvimento da comunidade

acadêmica com a sociedade. E isso tem

sido possível por meio do Programa Ins-

titucional de Bolsas de Extensão (PIBEX),

que incentiva a participação

de alunos de graduação no

desenvolvimento de ativida-

des de extensão universitária.

A pró-reitora de Extensão e

Cultura da Universidade Esta-

dual do Centro Oeste (Unicen-

tro), Marquiana

de Freitas Vi-

las Boas Go-

mes, diz que

atualmente

a instituição

conta com 24

alunos bolsis-

tas que desenvolvem

atividades nas áreas

de atendimento à

saúde, meio am-

biente, educação,

cultura, tecnologia,

trabalho e direitos so-

ciais. “Esses projetos de

32 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 33: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

Métodos e tecnologias atendem à demanda do consumidor por praticidade no preparo e saúde na mesa

rato típico na mesa dos

brasileiros, o feijão deve

ter o consumo incenti-

vado por suas qualidades

nutricionais, que incluem pro-

teínas, fibras, ácido fólico e mine-

rais, como o ferro e o potássio. Porém,

o tempo necessário para o preparo

doméstico tem diminuído o consumo

e, consequentemente, a demanda por

produção. Dados do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE) mos-

tram que, na última década, houve uma

redução de 26,4% no consumo do grão

pela população brasileira, quando se

comparam os anos de 2003 e 2009.

A informação reflete a influência que

o modo de vida exerce sobre a forma

como nos alimentamos. Com a correria

do dia a dia, ganham espaço na casa

do consumidor produtos que oferecem

praticidade no preparo e que, além de

nutrir, também ofereçam benefícios à

saúde. Seguindo a tendência, a indús-

tria alimentícia procura atender a essa

demanda e está cada vez mais interes-

sada em métodos e tecnologias que ra-

cionalizem a produção, evitando perdas

e melhorando a competitividade.

Dessa forma, oferecer um produto

previamente processado, com cozi-

mento mais rápido, mantendo todas as

suas características nutricionais, é um

33PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 34: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

dos focos do estudo sobre feijão realiza-

do no Programa de Pós-Graduação em

Engenharia Agrícola da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)

em parceria com a Embrapa. O projeto

pretende reduzir o tempo de preparo

por meio da técnica de maceração, prá-

tica de deixar o feijão de molho antes

de cozinhar. “Assim, o feijão fica pronto

em apenas sete minutos, bem menos

que os 30 minutos necessários para cozi-

nhar o grão comum”, ressalta Silvia Renata

Machado Coelho, coordenadora e profes-

sora do Programa de Pós-Graduação em

Engenharia Agrícola da Unioeste (campus

Cascavel).

Silvia Renata Coelho (terceira, da esquerda para a direita): reduzir o tempo de preparo por meio

da técnica de maceração, prática de deixar o feijão de molho

antes de cozinhar, é o objetivo de uma de suas pesquisas.

Foto: Isabelle Neri

A elaboração de novos alimentos ou a alteração de produ-

tos já existentes envolve o conhecimento de como combi-

nar recursos para atender às demandas do consumidor. Uma

proposta para atingir a busca de uma alimentação focada na

qualidade de vida é a produção de derivados cárneos com a

adição de okara —resíduo obtido do preparo de leite de soja

e de outros produtos, como fibra da casca de aveia.

A intenção é aproveitar ingredientes residuais com caracte-

rísticas funcionais e agregar valor comercial a produtos com

baixo valor comercial. “Foram testados empanados de frango

(nuggets) e salsicha de frango, ambos com ótima aceitação”,

CARNE FUNCIONAL

Mayka Pedrão: pesquisas visam aproveitar ingredientes residuais com características funcionais e agregar valor

comercial a produtos com baixo valor comercial.

Foto: Isabelle Neri

do feijão submetido à maceração. Estão

sendo analisadas também a presença

de substâncias que levam ao envelheci-

mento do grão, e sua correlação com o

armazenamento. A qualidade culinária,

nutricional e de mercado é influenciada

pelo tempo e pelo modo como é arma-

zenado pós-colheita.

Além do benefício para a população

em geral — com um produto de mais

fácil cozimento e com maior qualida-

de —, os produtores também saem

ganhando. Quando comercializado, é

ideal que o feijão tenha no máximo seis

meses de armazenamento, mas o grão

acaba sendo vendido mesmo quando

ultrapassa esse tempo. Dessa forma, di-

minui o valor de mercado, mas também

a qualidade do produto que chega ao

consumidor. “Os produtores sinalizam

muito interesse em pesquisas na área

que venham solucionar essa questão”,

afirma Silvia

O efeito é obtido quando se co-

loca o grão de molho em solução

salina. Na pesquisa, observou-se

que a utilização de bicarbonato

de sódio contribui para reduzir o

tempo de cozimento. “Estão sen-

do testadas diversas variedades de

feijão para analisar qual apresenta

o melhor resultado”, salienta Silvia.

No resultado, os grãos ainda apre-

sentam uma coloração escurecida,

por isso, ainda é preciso otimizar o pro-

cesso para melhorar a aparência.

Foram testados feijões cozidos com e

sem a utilização da água do molho, e o

melhor resultado foi obtido quando se

descarta a água

em que o grão

ficou imerso. A

maceração dos

grãos em água

de 12 a 16 horas

demonstrou que

o amido tornou-

-se mais digerível

e fatores antinu-

tricionais, como

fitatos e taninos,

tiveram remoção

mais efetiva, sem

alterar o valor nutritivo.

Outro estudo investiga a influência do

armazenamento nos teores nutricionais

“O feijão fica pronto em apenas sete

minutos, bem menos que os 30 minutos

necessários para cozinhar o grão comum.”

Silvia Renata Machado Coelho

34 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 35: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

Medianeira e também professora de

Tecnologia de Carnes.

No caso de carnes suínas, há um es-

forço em reduzir carnes PSE (pálida, flá-

cida e exsudativa) e DFD (escura, firme e

seca). Esses produtos, salienta Cristiane,

precisam de cuidados ao serem utiliza-

dos na elaboração de produtos cárne-

os. A qualidade pode ficar comprome-

tida, não em relação à sanidade, mas

quanto às propriedades tecnológicas.

“Presuntos, por exemplo, podem ficar

com cor alterada, com partes mais cla-

ras e outras mais escuras”, explica.

Para minimizar esse problema, estão

sendo realizados vários estudos envol-

vendo melhoramento genético, ma-

nejo adequado e atendimento à legis-

lação de abate humanitário, que prevê

o respeito aos animais (eles devem ser

abatidos sem sofrimento). “Com isso, o

consumidor ganha uma carne macia,

saborosa e dentro dos padrões de se-

gurança alimentar exigidos pela legisla-

ção”, afirma a professora.

MELHORAMENTO GENÉTICO

Ingrediente importante nas principais

refeições dos brasileiros, a carne é tema

de estudo de muitos pesquisadores.

Atualmente, outra questão de destaque

é o melhoramento genético por meio

de cruzamento de raças puras. A inten-

ção é aumentar a produtividade, o ren-

Foto: UTFPR/Medianeira

conta Mayka Pedrão, pesquisadora co-

laboradora do projeto desenvolvido na

Universidade Federal Tecnológica do

Paraná (UTFPR), em conjunto com a

professora Neusa Fátima Seibel e co-

ordenado pelo professor Fábio Au-

gusto Garcia Coró, ambos da UTFPR.

Estima-se grande viabilidade na

execução do projeto, pois, além de

agregar valor, é uma alternativa para

funcionalidade com enriquecimen-

to com fibras em produtos cárneos.

“O desenvolvimento desse tipo de

produto é uma tendência diante dos

dimento e a qualidade da carne, princi-

palmente no que diz respeito à maciez

e ao sabor.

O Brasil está entre os maiores produ-

tores e exportadores do mundo e as

pesquisas contribuem para o atendi-

mento do mercado externo e do con-

sumidor mais exigente.

O estudo da utilização

da genômica é um dos

que contribuem para a

melhoria da qualidade

da carne. “A intenção é

avaliar interações entre

diferentes genes que

influenciam as caracte-

rísticas do tecido con-

juntivo, o conteúdo de

gordura, a composição

das fibras musculares

e a maturação da car-

ne”, destaca Cristiane

Canan, tecnóloga em

alimentos, professora

da área na UTFPR de

anseios dos consumidores em relação

à melhor alimentação associada à qua-

lidade de vida”, destaca Mayka.

O benefício se estende à comunida-

de científica e às indústrias de alimen-

tos, que estão cientes da importância

da utilização integral de todos os

subprodutos. Além das perdas nu-

tricionais, há também prejuízos fi-

nanceiros. A pesquisadora ressalta

que um aproveitamento adequado

pode minimizar essas perdas, além

de originar novos produtos com

diferenciação de mercado em rela-

ção à sua funcionalidade.

“O desenvolvimento desse tipo de produto [adição

de okara] é uma tendência diante dos anseios dos

consumidores em relação à melhor alimentação associada

à qualidade de vida.”Mayka Pedrão

35PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 36: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

A farinha de trigo é o ingrediente

responsável por conferir aparência,

aroma, sabor e textura a pães e bis-

coitos. O que pouca gente sabe é que

existem diversas variedades de trigo

e, para chegar a elas, são realizadas

pesquisas que procuram melhorar a

qualidade do produto. Desde 1976,

o Instituto Agronômico do Paraná

(Iapar) estuda o assunto. Já foram

desenvolvidas 33 variedades de tri-

go com diversas características. “São

realizados inúmeros cruzamentos e

muitos testes de campo e depois no

laboratório para selecionar as melho-

res variedades”, explica Maria Brígida

dos Santos Scholz, pesquisadora do

Iapar. Essas variedades são classifica-

das nas categorias melhorador, pão,

doméstico e básico.

Os testes seguem protocolos espe-

ciais para se estudar a qualidade da

farinha sem a influência dos demais

ingredientes. Os diversos tipos de

trigo também são testados antes da

colheita para que seja conhecida a

resistência à germinação. “Quando o

trigo germina ainda no campo, per-

de toda a sua qualidade tecnológica

e traz inúmeros prejuízos ao produ-

tor”, ressalta a pesquisadora.

MAIS SAÚDE

TRIGO DE QUALIDADE

Em busca de uma vida mais saudá-

vel, há uma tendência cada vez maior

do consumo dos chamados alimentos

funcionais. Nessa classe, destacam-se

os que contêm probióticos, alimentos

que apresentam microrganismos vivos,

não patogênicos e que, quando consu-

midos diariamente e em concentração

adequada, conferem efeitos benéficos

à saúde.

Os probióticos são bactérias que me-

lhoram o sistema imunológico e a flora

intestinal, e são adicionados a alimentos

lácteos, como iogurtes e leites fermen-

tados. No organismo, as bactérias mais

conhecidas que exercem essas funções

são Bifidobacterium e Lactobacillus. Es-

tudos mais recentes mostram que, além

desses benefícios, tem sido verificada a

capacidade de os probióticos promo-

verem a descontaminação por micro-

toxinas (toxinas produzidas por algas,

hidrocarbonetos policíclicos, que são

compostos tóxicos resultantes da quei-

ma de gordura etc.).

“Os probióticos se ligam a compostos

tóxicos e, portanto, podem reduzir e/

ou eliminar a toxicidade deles”, revela

Deisy Alessandra Drunkler, professora

do Programa de Pós-Graduação em

Tecnologia de Alimentos da UTFPR de

Medianeira. Além dos alimentos lácteos

tradicionais, a adição dos probióticos

tem sido testada também em produtos

como chocolates, sucos de frutas e fór-

mulas infantis.

De acordo com as pesquisas realiza-

das na UTFPR, a viabilidade dos probió-

ticos pode ser aumentada por meio da

microencapsulação e, também, com o

emprego de prebióticos — compostos

não digeridos pelo trato digestório, mas

utilizados pelos probióticos. O emprego

conjunto de pro e prebióticos resulta na

obtenção de um alimento simbiótico.

Dessa forma, o emprego de probióticos

em produtos alimentícios pode ser po-

tencializado por esses efeitos que têm

sido pesquisados nos últimos anos, im-

pulsionando ainda mais esse mercado.

Foto: UTFPR/Medianeira

Maria Brígida Scholz: estudos sobre variedades de trigo

buscam a melhoria do grão.Foto: Isabelle Neri

36 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 37: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

BEM CUIDADOSOs animais de estimação estão cada vez mais presentes na

rotina das famílias. Paralelamente, a Medicina Veterinária vem se desenvolvendo e se especializando em diversas áreas

MEDICINA VETERINÁRIA

37PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 38: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

Também serão estudados hormônios

relacionados à obesidade como a insuli-

na, leptina e adiponectina. Esses hormô-

nios possuem importância na proteção

ou no desenvolvimento das complica-

ções da obesidade. “O tecido adiposo

produz substâncias pró-inflamatórias,

como as citocinas, que estimulam infla-

mação crônica leve inespecífica”, informa

o veterinário. O objetivo é concluir os es-

tudos até junho de 2015.

Cães e gatos saíram dos

quintais e foram morar

em apartamentos. Perde-

ram liberdade, tornaram-

-se mais sedentários, obe-

sos e, consequentemente,

mais suscetíveis a doenças. A maior pro-

ximidade com os donos, entretanto, fez

com que essas doenças fossem mais

rapidamente percebidas e, assim, logo

diagnosticadas.

A Medicina Veterinária tem que se

adaptar às mudanças. Assim, vem se

dividindo cada vez mais em especiali-

dades para tratar pequenos e grandes

animais, como nas áreas de neurologia,

dermatologia, odontologia, ortopedia,

oncologia, diagnóstico por imagem,

endocrinologia, oftalmologia e homeo-

patia, o que possibilita tratamentos mais

eficazes.

O Conselho Federal de Medicina Ve-

terinária (CFMV) reconhece atualmente

apenas algumas especialidades: aneste-

siologia, cirurgia, patologia, homeopatia,

medicina veterinária intensiva e acupun-

tura. As outras são consideradas ainda

“áreas de atuação”.

Mesmo com tantas especialidades,

dificilmente alguém leva seu cão ao ve-

terinário porque ele está gordo. Mas, na

verdade, é preciso estar atento a isso, pois

os especialistas alertam que a obesidade

pode estar ligada a várias doenças, como

diabete, bronquite, dermatite, hiperten-

são, tumores, artrite e até problemas car-

díacos. Além disso, cães obesos podem

viver até 20% menos.

Uma pesquisa realizada entre a Univer-

sidade Norte do Paraná, de Bandeirantes

(UENP), a Universidade Estadual de Lon-

drina (UEL) e a Universidade Estadual

Paulista (Unesp) está estudando 60 cães

obesos e 60 cães com peso normal para

detectar os malefícios que o problema

traz para o animal. Segundo o coorde-

nador da pesquisa, professor da UENP,

Mauro José Lahm Cardoso, com base no

resultado, pretende-se conscientizar a

população sobre como cuidar melhor de

Mauro Cardoso com sua aluna Laissa Iglesias: 60 cães foram submetidos a vários exames para pesquisa sobre obesidade.

Foto: Isabelle Neri

seu animal de estimação e alertar os ve-

terinários clínicos para diagnósticos mais

precisos.

A primeira etapa da pesquisa do pro-

fessor começou em janeiro deste ano e

consiste na aplicação de um questioná-

rio virtual pela rede social Facebook (fa-

cebook/obesidadecanina) e outro físico

com os donos dos cães, que levantará

dados sobre como são tratados os ani-

mais, além de apontar o perfil socioeco-

nômico das famílias.

A segunda parte será identificar altera-

ções no sangue, medir biomarcadores da

obesidade, incluindo exames de coleste-

rol, glicemia e triglicérides, além de medir

a pressão arterial para checar as compli-

cações causadas pela obesidade. O coor-

denador da pesquisa explica que os cães

do estudo terão a gordura corporal esti-

mada por meio de cálculos matemáticos,

semelhante ao Índice de Massa Corpórea

(IMC) usado em humanos.

O terceiro ciclo da investigação será a

campanha de conscientização para man-

ter animais mais saudáveis em casa. Se-

gundo Cardoso, cerca de 35% a 50% dos

cães estão acima do peso e é necessário

identificar as causas. Porém, já se sabe

que os principais fatores são a superali-

mentação, o sedentarismo, os fatores ge-

néticos e a castração.

38 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 39: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

A pesquisa do professor Cardoso é

apenas uma das várias investigações que

vêm sendo desenvolvidas nas universida-

des com o intuito de melhorar a vida dos

animais. Essas pesquisas também refor-

çam a importância das especialidades na

área, já que os casos acometem determi-

nadas partes do corpo dos animais.

Os problemas tratados pela neurolo-

gia, por exemplo, são os mais diversos,

desde hérnia de disco ou doença do

disco invertebral, fraturas de coluna, epi-

lepsia, encefalites, meningites, neopla-

sias cerebrais e até o Mal de Alzheimer.

Conforme explica a médica veterinária

Mônica Vicky Bahr Arias, docente das dis-

ciplinas de Técnica Cirúrgica e Clínica Ci-

rúrgica de Pequenos Animais na UEL, no

caso da doença do disco invertebral tipo

1 (hérnia de disco), o animal sente muita

dor e pode ficar paraplégico ou tetra-

plégico se não tratado adequadamente.

“Nós fazemos o diagnóstico e optamos

pela cirurgia ou pelo método conserva-

tivo, dependendo da gravidade do caso”,

explica.

Raças pequenas como teckel, lhasa

apso e shitsu, diz a professora, têm um

tipo de nanismo, por isso são chamadas

de raças condrodistróficas (possuem

membros encurtados e, frequentemente,

apresentam o canal vertebral mais estrei-

to). “Nesses animais, o disco intervertebral

sofre um tipo de degeneração diferente

do que ocorre nas outras raças”, observa.

Animais condrodistróficos, já aos 4 anos,

podem apresentar a doença do tipo 1;

enquanto outras raças não apresentam

essa doença com frequência, porém po-

dem apresentar a doença do tipo 2, me-

nos grave, mas cujo tratamento ainda é

controverso.

Segundo Mônica, a do-

ença do disco intervertebral

tipo 1 causa sinais agudos

e necessita de cirurgia de

emergência; já a hérnia ou

doença do disco tipo 2 é crô-

nica e atinge as raças maio-

res. “Estamos encontrando

essa hérnia tipo 2 em animais

trazidos para atendimento

devido a outros problemas

clínicos e que não apresen-

tam dor ou dificuldade de

locomoção”, explica.

A equipe começou a fazer esse estudo

porque notou outros animais com alte-

rações neurológicas nos quais era diag-

nosticada por exame a hérnia tipo 2, sem

melhora após a cirurgia. “Acreditamos

que outras doenças medulares, talvez

degenerativas, sejam as responsáveis pe-

los sinais neurológicos, sendo assim, nem

sempre é necessária uma intervenção

cirúrgica”, diz a veterinária. “Estamos pes-

quisando o porquê dessa alteração para

não indicarmos uma cirurgia desnecessa-

riamente.”

Alunas do curso de Medicina Veterinária da UENP com o professor Mauro Cardoso.

Foto: Isabelle Neri

NEUROLOGIA NÃO É RECONHECIDA

ESPECIALIDADES SALVAM CADA VEZ MAIS ANIMAIS

A professora Mônica é vice-presidente da Associação Brasileira de Neu-

rologia Veterinária (ABNV). Ela acredita que ainda serão necessários alguns

anos para que a especialidade seja oficialmente reconhecida, devido às exi-

gências do CFMV, aliadas à necessidade de realização de provas para avalia-

ção de títulos e dos conhecimentos da área.

Foto: Daniel Procópio/UEL

Mônica Arias: doenças do disco intervertebral são exemplos de problemas estudados pela Neurologia Veterinária.

39PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 40: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

É comum, por questões culturais, a

ideia de que o genoma humano é todo

exclusivo da espécie humana. “Na rea-

lidade, nosso genoma não é tão nosso

assim. A maioria dos genes humanos é

compartilhada pelos mamíferos e, em

boa parte, por outros vertebrados”. A

afirmação é do veterinário geneticista

Enio Moura, professor de Genética e de

Biologia Molecular da Pontifícia Universi-

dade Católica do Paraná (PUCPR). Sendo

assim, a maioria das doenças genéticas

“humanas” ocorre em outros mamíferos

também, inclusive com o mesmo padrão

de herança.

O estudo das doenças genéticas e dos

defeitos congênitos de animais contribui

para o esclarecimento de aspectos da

etiologia e da patogenia e para o desen-

volvimento de tratamentos, reduzindo o

sofrimento tanto dos animais quanto dos

humanos. Moura ressalta que todos os

casos que estuda de doenças genéticas

e defeitos congênitos são espontâneos,

nenhum induzido por tecnologia gené-

tica ou cruzamentos intencionais.

Conforme o pesquisador, a partir dos

estudos genéticos, muitos animais que

antes eram sacrificados porque se des-

conhecia a doença puderam ter uma

sobrevida de qualidade com tratamentos

adequados. Exemplo disso foram seus

próprios cães, que tinham displasia ec-

todérmica hipoidrótica ligada ao X, uma

genodermatose que acomete principal-

mente machos por ser causada por uma

mutação recessiva de um gene localiza-

do no cromossomo X. “A aparência dos

animais é característica, havendo alope-

cia (falta de pelos) em áreas específicas

do corpo desde o nascimento, além de

oligodontia (poucos dentes) e dentes co-

noides (dentes malformados e com for-

ma cônica)”, descreve. Segundo ele, com

alguns cuidados simples, os cães afeta-

dos têm boa qualidade de vida.

Erros de diagnóstico já levaram mui-

tos clínicos a optarem pela eutanásia. “É

uma situação comum diante da suspeita

de uma doença genética, uma vez que

é bastante difundida a ideia de que se

a causa é genética, nada pode ser fei-

to”, diz o geneticista. Embora possa ser

verdadeiro para determinadas doenças,

para outras, não é. Dependendo do caso,

pode haver soluções cirúrgicas ou proce-

dimentos que proporcionam boa quali-

dade de vida ao paciente.

Outra pesquisa desenvolvida no De-

partamento de Clínicas Veterinárias da

UEL é sobre a doença espondilomielopa-

tia cervical caudal, que causa dificuldade

de locomoção e necessita de tratamento

cirúrgico. Há mais de 25 tipos de cirurgias

descritas, mas nenhuma com mais de

80% de efetividade. Na medicina huma-

na, existe uma doença semelhante e o

tratamento envolve uma prótese.

O mesmo começou a ser feito nos

Estados Unidos há poucos anos para o

tratamento dos cães, mas a prótese de-

senvolvida lá apresentou algumas com-

plicações. “Estamos tentando melhorar

essa prótese numa parceria com um pro-

fessor do Departamento de Design da

UEL e com outro professor da Universi-

dade de São Paulo – Ribeirão Preto (USP),

que está orientando o desenvolvimento

do material na parte biomecânica”, co-

menta Mônica.

Ênio Moura: doenças genéticas “humanas” também

ocorrem nos animais.

Foto: Isabelle Neri

Crânio de cão que teve “Sequência de Pierre Robin”.

Foto: Isabelle Neri

BICHOCOM DOENÇA

DE GENTE

40 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 41: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

DE OLHO NELES

RARIDADESALZHEIMER CANINO

Os problemas de visão também afe-

tam os pequenos animais. E quando eles

começam a ter dificuldade para enxergar,

somente o olhar atento dos donos detec-

ta essa alteração.

A oftalmologista veterinária Miriam Si-

liani Batista de Souza, da UEL, vem pes-

quisando há alguns anos a glândula da

terceira pálpebra (glândula encontrada

em muitos animais), que produz parte

da lágrima e, muitas vezes é retirada por

meio cirúrgico indevidamente. “Alguns

animais podem desenvolver olho seco. E

hoje tentamos preservar essa glândula.”

Geralmente, os casos são de hiperplasia

(aumento de tamanho) ou protusão

(movimentação ou deslocamento

para a frente) da glândula.

A professora fez mestrado em Ce-

ratoplastia (transplante de córnea).

“Juntamos os casos para que os alu-

nos pudessem estudar um caso úni-

co”, informa. Já no doutorado, reali-

zado na Escola Paulista de Medicina,

da USP, estudou ceratoplastia com

aplicação de membrana amniótica e

abriu um novo projeto de extensão.

Alguns trabalhos já foram levados

para congressos e publicados.

Pode parecer estranho, mas sintomas

semelhantes aos da Doença de Alzhei-

mer, que acomete humanos, podem

estar afetando cães. Investigar isso é um

dos objetivos do doutorando em Ciência

Animal da UEL, Rogério Anderson Mar-

casso. Em sua pesquisa, cães idosos que

morreram por diversas doenças estão

sendo estudados no Departamento de

Medicina Veterinária em conjunto com

o Departamento de Clínicas Veterinárias.

Marcasso está pesquisando a disfunção

cognitiva em cães que vieram a óbito.

Essa disfunção é uma doença neuroló-

gica degenerativa que se assemelha à

Doença de Alzheimer em humanos, cuja

patogenia não é completamente com-

preendida. Animais acometidos apresen-

tam sinais como alterações do ciclo do

sono, se perdem dentro de casa e dei-

xam de reconhecer os donos.

Da mesma forma que na Doença de

Alzheimer, o diagnóstico definitivo só é

O professor Enio Moura cita dois casos

interessantes por envolverem anormali-

dades registradas pela primeira vez em

animais, embora sejam conhecidas há

muito tempo no ser humano. Um deles é

o caso de associação VACTERL (ou VATER)

em uma gata. VACTERL é um acrônimo

(em inglês) para se referir a defeitos verte-

brais, atresia de ânus (ânus sem abertura

ou inexistente), defeitos cardíacos, fístula

traqueoesofágica (comunicação entre

a traqueia e o esôfago), anormalidades

renais e defeitos nos membros torácicos.

O outro caso é o de sequência de

Pierre Robin, afetando um cão da raça

dachshund. Trata-se de uma condição

em que a anormalidade primária é a mi-

crognatia (malformação caracterizada por

uma mandíbula muito pequena), que, por

sua vez, provoca uma sequência de outras

anormalidades do desenvolvimento.

possível por meio do exame histopato-

lógico, e o estudo nos cães que natural-

mente desenvolvem a doença auxilia no

entendimento da patogenia. O douto-

rando destaca que os sinais clínicos pre-

sentes na disfunção cognitiva se asseme-

lham aos de outras doenças que afetam

o cérebro, como doenças infecciosas,

neoplásicas e metabólicas. Foram encon-

tradas várias dessas outras doenças além

da disfunção cognitiva nos cérebros dos

44 cães estudados até o momento.

Diagnóstico do Alzheimer canino é obtido com

exame histopatológico.

Foto: Daniel Procópio/UEL

Miriam Souza, professora da UEL: transplante de córnea é uma das cirurgias realizadas pela Oftalmologia Veterinária.

Foto: Daniel Procópio/UEL

41PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 42: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES

DE ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

a sociedade do conheci-

mento em que vivemos,

as universidades desem-

penham papel central

na formação de quadros

para a consolidação dos países e o desen-

volvimento da pesquisa que sustenta a

sociedade. Embora o cenário universitário

seja bastante heterogêneo, com institui-

ções de ensino superior (IES) de tama-

nhos e vocações diferentes, um interesse

comum se destaca: a internacionalização

da educação superior.

Ainda que reconhecida como im-

portantíssima dimensão da educação

superior, o verdadeiro significado da in-

ternacionalização ainda não é suficiente

e adequadamente compreendido. Uma

definição que julgo descrever bem o con-

ceito é a da canadense Jane Knight, que

define internacionalização como “proces-

so de integração da dimensão internacio-

nal, intercultural ou global nos propósitos,

funções e realização de educação supe-

rior”. Essa definição mostra a distância

que a maioria das instituições de ensino

superior brasileiras ainda tem em relação

a uma efetiva internacionalização.

Além disso, como indicou José Marques

dos Santos, Reitor da Universidade do Por-

to, em evento realizado na Universidade

Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

(Unesp) em 2012, deve-se compreender

que “a internacionalização não é um fim

só por si, mas um instrumento hoje indis-

pensável para cumprir os objetivos estra-

tégicos que emanam da missão de cada

universidade”.

As universidades de maior prestígio no

mundo atuam de forma estratégica para

integrar a internacionalização transversal-

mente em suas estruturas e dinâmicas de

funcionamento. Para tanto, contam com

unidades e equipes profissionais que atu-

am em diferentes setores e respondem

pelas diversas atividades de internaciona-

lização desenvolvidas por essas institui-

ções, focadas em objetivos bem definidos,

como parcerias interinstitucionais, proje-

tos conjuntos de pesquisa, captação de

estudantes internacionais, programas de

estudos de curta duração no exterior etc.

A situação no Brasil é bem diferente.

Em 2011, quando o governo federal lan-

çou o Programa Ciência sem Fronteiras

(CsF), com o objetivo de enviar 100 mil

estudantes ao exterior, a falta de estrutura

adequada para tratar da mobilidade de

estudantes — uma das principais ativida-

des do processo de internacionalização

das IES —, expôs uma grande lacuna ain-

da existente no país. Poucas instituições

contam com um escritório internacional

estabelecido, com dotação orçamentária

e recursos humanos bem capacitados

para desenvolver suas atividades. Muitas

instituições tiveram que rapidamente se

adequar e criar escritórios de relações in-

ternacionais, tanto para operar as ativida-

des associadas ao Programa CsF quanto

para acolher as inúmeras delegações de

IES estrangeiras que passaram a vir cada

vez mais ao Brasil, em busca de parcerias

e de alunos.

Desse modo, pode-se dizer que esse

programa, ao mesmo tempo que foi um

É importante reconhecer que tanto as grandes IES

brasileiras, nas quais a pesquisa atua como motor

de desenvolvimento e o processo de

internacionalização já é mais desenvolvido, como

as IES menores e mais voltadas para a formação

de pessoas podem e devem se beneficiar das

oportunidades trazidas pela internacionalização. Para

cada tipo e tamanho de IES, existem oportunidades a

serem exploradas.

ARTIGO

42 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Page 43: Revista Paraná Faz Ciência Ed. 3

grande catalisador, também ressaltou o

problema da falta de estrutura e, sobre-

tudo, a enorme importância do tema da

internacionalização da educação superior

no atual cenário internacional.

Mas, se as IES já estão se adaptando

para tratar da questão da mobilidade de

estudantes, muitas outras atividades in-

ternacionais ainda precisam ser mais ade-

quadamente abordadas.

A principal delas é como efetivamente

implementar a transversalidade da inter-

nacionalização na estrutura e no funcio-

namento das IES. Como transformar um

escritório, que muitas vezes funciona com

apenas um profissional, em agente e mo-

tor de transformação das instituições.

Isso depende fundamentalmente da

vontade política e do compromisso dos

dirigentes da instituição. Esse é o primei-

ro e mais importante passo no caminho

do sucesso. A conscientização de todo o

ambiente acadêmico para a importância

e as vantagens associadas à internacio-

nalização da educação superior também

tem um papel central, pois apenas com

o compromisso de todos os envolvidos

é possível construir um efetivo projeto de

internacionalização.

A questão da mobilidade também me-

rece ser aprofundada. O Programa CsF,

com a oferta de bolsas de mobilidade

no exterior para estudantes e docentes,

certamente contribuiu para a internacio-

nalização de parte das instituições. A visi-

bilidade internacional obtida deve poder

ser aproveitada para se construir parce-

rias que contribuam para o processo de

internacionalização de cada instituição,

levando em conta seus objetivos e suas

vocações.

É importante reconhecer que tanto as

grandes IES brasileiras, nas quais a pesqui-

sa atua como motor de desenvolvimento

e o processo de internacionalização já é

mais desenvolvido, como as IES menores e

mais voltadas para a formação de pessoas

podem e devem se beneficiar das oportu-

nidades trazidas pela internacionalização.

Para cada tipo e tamanho de IES, existem

oportunidades a serem exploradas.

Mas é necessário ir além da questão da

mobilidade. Outras ações de internacio-

nalização devem ser efetivamente abor-

dadas pelas IES brasileiras. A chamada

“Internacionalização em Casa” (Internatio-

nalization at Home), que envolve o desen-

volvimento de atividades internacionais

no campus, voltando-se para aqueles que

não têm a oportunidade de ir ao exterior.

A “Internacionalização do Currículo”, que

prevê, dentre outras atividades, a inclu-

são de componentes internacionais nos

currículos dos cursos, o ensino de línguas

estrangeiras (principalmente o inglês) e

o aumento da presença de estudantes e

professores estrangeiros (que passa pela

oferta de disciplinas em inglês) são algu-

mas das ações a serem desenvolvidas

Para que tudo isso possa ser realizado

adequadamente, é necessário que os res-

ponsáveis estejam capacitados para essas

tarefas. É nesse contexto que atua a Asso-

ciação Brasileira de Educação Internacio-

nal (FAUBAI). Criada há mais de 26 anos,

conta atualmente com representantes

de mais de 200 IES de todos os setores

(federal, estadual, comunitário e privado)

e regiões do país e tem forte atuação no

aperfeiçoamento do intercâmbio e da co-

operação internacionais e na inserção da

educação superior brasileira no cenário

mundial. A FAUBAI realiza anualmente a

mais importante conferência sobre a in-

ternacionalização da educação superior

no país, contribuindo de forma efetiva

para o processo de internacionalização

das IES brasileiras.

Em 2014, o evento contou com cerca

de 400 inscritos, 137 deles estrangeiros,

representando IES dos Estados Unidos, da

Austrália, da Nova Zelândia, da Irlanda, da

França, dentre outros países.

Francisco Marmolejo, coordenador de

Educação Superior do Banco Mundial,

proferiu a conferência de abertura sobre

novos cenários para a internacionalização

da educação superior. Presidentes das

mais importantes associações de edu-

cação internacional do mundo — como

Fanta Aw, da Association of International

Educators (NAFSA), Laura Howard, da

European Association for International

Education (EAIE), Helen Zimmerman, da

International Education Association of

Australia (IEAA), Lavern Samuels, da Inter-

national Education Association of South

Africa (IEASA) — discutiram a declaração

conjunta “Global Dialogue on the Future

of Internationalisation of Higher Educa-

tion”, proposta em 2013, na África do Sul,

com bases para uma efetiva internaciona-

lização da educação superior no mundo.

A FAUBAI 2015 ocorrerá em Cuiabá

(Mato Grosso), de 25 a 29 de abril de 2015,

com o tema geral “Criando parcerias sus-

tentáveis através de uma internacionaliza-

ção equilibrada”, e espera-se um número

ainda maior de participantes e uma im-

portante representação da América La-

tina, o que, sem dúvida, contribuirá para

que a educação superior brasileira alcan-

ce cada vez mais padrões internacionais

de excelência.

Se as IES já estão se adaptando para tratar da

questão da mobilidade de estudantes, muitas outras atividades internacionais ainda precisam ser mais

adequadamente abordadas.

José Celso Freire Junior éAssessor de Relações Externas (AREX)

da UNESP (Universidade Estadual Paulista) e Presidente da FAUBAI

(Associação Brasileira de Educação Internacional).

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43PARANÁ FAZ CIÊNCIA

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