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Domingo, 13 de abril de 2014 Gazeta do Povo Editorial / Esses moços, pobres moços Pesquisa nacional sobre o comportamento dos jovens mostra que eles estão enviando um desesperado pedido de socorro. Como estamos respondendo? Gerações de brasileiros cresceram debaixo de um poderoso bordão: “Somos um país de jovens”. De modo que políticas voltadas para a juventude sempre pareceram um desperdício de saliva. Todas as políticas, em tese, acabariam por cair no colo dos mais moços já que faziam parte da maioria. Mas esse raciocínio beira a falta de juízo. Nem o Brasil é tão jovem, como foi um dia. Nem as políticas são mecanismos tão inteligentes, a ponto de se distribuírem pelas faixas etárias com a instantaneidade com que traquitanas tecnológicas espalham mensagens. O preço pago por esse autoengano é que o Brasil acredita que faz o que não faz. E o que não faz (pelos jovens) deixa a nação dançando quadrilha em cima das cinzas. Há políticas de distribuição de renda – implementados na última década –, há mecanismos para a juventude desvalida. O Pro-Jovem mostrou que amparar esse grupo custa muito pouco. O mesmo se diga das políticas de inclusão no curso superior. Deram-se de forma rápida e mudaram a geografia do ensino no país. Mas basta? O recém-publicado 2.º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sobre comportamento juvenil, dá a medida dos nossos tropeços nos cuidados a quem devemos. O estudo é amplo. São 800 perguntas, com entrevistas em profundidade, questionários junto a 1.742 brasileiros entre 14 e 25 anos, em 149 municípios. Um primor. Quem quer que precise se debruçar sobre o perfil juvenil do país há de encontrar munição nesses números. A pesquisa, afinal, quantifica questões tão díspares como a depressão e o uso do tempo. Chamaram a atenção da imprensa dois números em especial: o dado de que 34,1% dos consultados faz sexo sem preservativo, e de que 33% dos entrevistados declararam usar semanalmente álcool ou drogas. Mas, lida no conjunto, a pesquisa da Unifesp indica o estágio de abandono dos jovens. Os pesquisadores da universidade descobriram que 21% deles têm “indicadores de depressão” – só entre as meninas, o porcentual sobre para 28%; além disso, um em cada dez jovens já pensou em se matar, e 5% já tentaram o suicídio. Os jovens estão enviando um desesperado pedido de socorro, e o que fazemos com eles? Atiramos instrumentos para que eles possam fazer tudo “com segurança”. É a isso que se propõem tantas políticas de redução de danos. E deixamos esses moços, pobres moços, respondendo ao que a sociedade lhes oferece – consumo e individualismo desmedidos. Não é de estranhar que a afetividade seja mecânica, seguindo a melodia que se está cantando por aí. É grave. Pior: tratamos os jovens como números, como “problemas de saúde pública”. Uma menina de 17 anos contaminada pelo HIV é uma questão de sanitarismo, não se

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Domingo, 13 de abril de 2014

Gazeta do Povo Editorial / Esses moços, pobres moços Pesquisa nacional sobre o comportamento dos jovens mostra que eles estão enviando um desesperado pedido de socorro. Como estamos respondendo?

Gerações de brasileiros cresceram debaixo de um poderoso bordão: “Somos um

país de jovens”. De modo que políticas voltadas para a juventude sempre pareceram um desperdício de saliva. Todas as políticas, em tese, acabariam por cair no colo dos mais moços já que faziam parte da maioria. Mas esse raciocínio beira a falta de juízo. Nem o Brasil é tão jovem, como foi um dia. Nem as políticas são mecanismos tão inteligentes, a ponto de se distribuírem pelas faixas etárias com a instantaneidade com que traquitanas tecnológicas espalham mensagens.

O preço pago por esse autoengano é que o Brasil acredita que faz o que não faz. E o que não faz (pelos jovens) deixa a nação dançando quadrilha em cima das cinzas. Há políticas de distribuição de renda – implementados na última década –, há mecanismos para a juventude desvalida. O Pro-Jovem mostrou que amparar esse grupo custa muito pouco. O mesmo se diga das políticas de inclusão no curso superior. Deram-se de forma rápida e mudaram a geografia do ensino no país. Mas basta?

O recém-publicado 2.º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sobre comportamento juvenil, dá a medida dos nossos tropeços nos cuidados a quem devemos. O estudo é amplo. São 800 perguntas, com entrevistas em profundidade, questionários junto a 1.742 brasileiros entre 14 e 25 anos, em 149 municípios. Um primor. Quem quer que precise se debruçar sobre o perfil juvenil do país há de encontrar munição nesses números. A pesquisa, afinal, quantifica questões tão díspares como a depressão e o uso do tempo.

Chamaram a atenção da imprensa dois números em especial: o dado de que 34,1% dos consultados faz sexo sem preservativo, e de que 33% dos entrevistados declararam usar semanalmente álcool ou drogas. Mas, lida no conjunto, a pesquisa da Unifesp indica o estágio de abandono dos jovens. Os pesquisadores da universidade descobriram que 21% deles têm “indicadores de depressão” – só entre as meninas, o porcentual sobre para 28%; além disso, um em cada dez jovens já pensou em se matar, e 5% já tentaram o suicídio.

Os jovens estão enviando um desesperado pedido de socorro, e o que fazemos com eles? Atiramos instrumentos para que eles possam fazer tudo “com segurança”. É a isso que se propõem tantas políticas de redução de danos. E deixamos esses moços, pobres moços, respondendo ao que a sociedade lhes oferece – consumo e individualismo desmedidos. Não é de estranhar que a afetividade seja mecânica, seguindo a melodia que se está cantando por aí. É grave.

Pior: tratamos os jovens como números, como “problemas de saúde pública”. Uma menina de 17 anos contaminada pelo HIV é uma questão de sanitarismo, não se

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discute. “Quanto ela custaria para os cofres públicos?”, perguntamos. O que incomoda é ser a saúde a única voz, como se não houvesse mais nada a dizer nem mais agentes a tomarem a palavra nessa peleja. A verdade é que nossos jovens estão órfãos de palavras.

Os jovens não querem a “segurança” oferecida pelas políticas de redução de danos. Herdeiros – filhos, netos, alunos – da geração de 68, do “é proibido proibir”, eles aprenderam a liberdade sem responsabilidade. Mas seu desespero mostra que os jovens estão à procura de quem os tire da zona de conforto. De quem lhes diga que há uma excelência a buscar, que existem modelos nobres a seguir, que a família tem de ser seu porto seguro, que a felicidade está na prática das virtudes e não na mera satisfação dos instintos, que há um amor nobre que sabe respeitar o outro. Insulta o jovem quem acha que a maneira de lidar seus problemas é aceitar o hedonismo como o “jeito jovem de ser” e se contentar em impedir que o prazer desenfreado faça vítimas por aí.

Ainda ecoam os dizeres do papa Francisco no Brasil, pedindo que se acredite no jovem. O verbo é esse mesmo: “acreditar”, o que implica fazer depósitos. Em valores. São questões que parecem não caber numa tabela. Resistem às estatísticas. Mas é difícil sustentar que cada item doído da Unifesp não tenha razões práticas e teóricas na nossa indolência para com “eles” – nós sabemos quem. Coluna do leitor / Racismo 1

Está virando moda esse negócio de racismo no futebol (Gazeta, 10/4). Vemos qualquer pessoa que não seja branca ficar incomodada com algumas situações, e querer buscar seus direitos. Mas quem é branco pode ser injuriado de “brancão”, “neve”, “polaco” e outros termos, e tem de ficar quietinho porque nenhum jurista irá querer defender nossa causa. Por favor, parem de murmurar e vamos lutar por um país mais humano, educado e unido. Enio Elimar Bonatto

Racismo 2 Como o Marino, sou negro e fiquei muito indignado com o que aconteceu na Vila Capanema. É preciso divulgação e investimento pesado em educação. Somos pessoas de direito e não podemos sofrer mais discriminação e nem racismo de ninguém. Peço que façam alguma coisa urgentemente para inibir a ação dessas pessoas. Walter José de Oliveira

Violência obstétrica Muito bom o artigo de Karen Fernandes (Gazeta, 11/4). Sem menosprezar os direitos da mulher, a autora foi muito feliz em trazer a lume

um segundo envolvido na questão cujos direitos também devem ser levados em conta: a criança por nascer. Esse é um aspecto que quase não se viu ser devidamente abordado nas análises sobre o assunto. O aborto é uma forma particularmente odiosa de violência obstétrica, dirigida não contra a mãe, mas contra a criança por nascer. É importante ter a coerência de condenar as arbitrariedades de onde quer que elas venham: o médico que faz violência contra a mãe não é muito diferente, em última análise, do aborteiro que faz violência contra a criança. Jorge Ferraz, Recife – PE Infância Esquecida / Condenados ao abandono Contrariando a legislação, 62% dos adolescentes acolhidos em Curitiba permanecem nas instituições até chegarem à maioridade Felippe Aníbal

Seis em cada dez adolescentes que vivem em casas de acolhimento de Curitiba

estão fadados a permanecer nas instituições até atingirem a maioridade. Na letra fria das estatísticas, 145 desses jovens – com idades entre 12 e 18 anos – são classificados como

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“sem possibilidade de desacolhimento”: não podem voltar a viver com pais ou familiares e dificilmente serão adotados.

Os números seguem uma tendência nacional, que escancara o alto índice de abrigamento do país. Escondem histórias de indivíduos fortes – de quem teve de, desde muito cedo, conviver com a rejeição –, mas revelam a necessidade urgente de políticas para preparar esses jovens para a fase pós-abrigo.

O levantamento é feito pelo programa piloto “Desacolher também é proteger”, do Conselho de Supervisão dos Juízos de Infância e Juventude do Paraná (Consij-PR). O grupo promoveu um pente-fino na situação processual de cada adolescente acolhido em Curitiba e deve, até a metade do ano, finalizar a análise da situação das crianças.

Assim que a apuração for concluída, o conselho pretende agilizar a adoção ou o retorno à família dos jovens que estiverem aptos para isso. Caso isso não seja possível, irão sugerir programas e parcerias para que os “sem possibilidade de desacolhimento” não fiquem esquecidos nos abrigos. O órgão deve estimular o poder público, empresas e associações a promoverem ações voltadas à qualificação e à colocação profissional desses jovens.

“É preciso um trabalho para que eles, ao atingirem os 18 anos, tenham autonomia para dar início à vida adulta, com encaminhamento profissional e educacional”, resume o presidente do Consij-PR, desembargador Fernando Wolff Bodziak. O próprio Tribunal de Justiça já estuda um programa de estágio voltado aos acolhidos.

A necessidade de políticas direcionadas a esses jovens se torna ainda mais evidente quando os dados são estratificados. Do total de adolescentes abrigados em Curitiba, 62% estão nas instituições há mais de dois anos. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fixa em dois anos o prazo máximo de permanência.

A realidade corrobora o que os números apontam. Na Casa Acácias, instituição localizada no Hauer, dos dez acolhidos, oito estão sem possibilidade de deixar o abrigo. Os outros dois estão com o processo de retorno à família em andamento, mas não querem voltar a viver com os pais. Apenas dois trabalham. Quatro batalham por emprego, mas sem experiência e especialização, veem as portas se fecharem.

“A gente percebe que faltam oportunidades e direcionamento desses jovens a um emprego. Eles só precisam de uma chance”, diz Marlene Garcia de Andrade, gestora da casa. Paraná é o quinto estado no ranking

Em números absolutos, o Paraná é a quinta unidade da federação com mais crianças e adolescentes acolhidos em instituições. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), até o fim de março, 3.504 jovens viviam em abrigos no estado. São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul lideram a lista. O CNJ disse não ter dados específicos das capitais.

Por um lado, o acolhimento em abrigos indica que os jovens estão, de alguma forma, amparados materialmente. Por outro, por melhor que seja, uma instituição jamais substituirá uma família. Nos acolhimentos, a regra é o desamparo emocional.

Medida Além disso, o acolhimento é uma medida protetiva provisória. Segundo o ECA, a prioridade deve ser tentar restaurar o vínculo da criança ou adolescente com a família. Caso não seja possível, deve-se dar encaminhamento à adoção. A permanência por tempo excessivo nas instituições revela que algo não vai bem.

A psicóloga e pesquisadora Lídia Weber avalia que uma série de fatores contribui para a “permanência” dos adolescentes nos abrigos. Entre eles, a demora no encaminhamento das crianças à adoção. De acordo com o ECA, a situação processual de cada acolhido deve ser revisada a cada seis meses, o que não ocorre. A especialista ressalta a necessidade de se olhar para esses jovens com urgência.

“Como alguém que morou a vida toda numa instituição vai sair e ter autonomia?

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Não tem. Nós não podemos achar isso normal”, diz. “Todo o processo de acompanhamento dos casos e de direcionamento à adoção precisa ser mais ágil, porque isso está diretamente ligado ao problema”, conclui. Busca por emprego aflige os mais velhos

Com a carteira de trabalho nas mãos e cheio de esperança, Ivan*, 16 anos, retomou as buscas por um emprego. Ele já percorreu o Centro de Curitiba algumas vezes distribuindo currículos, na expectativa de ser chamado. O rapaz vive há 11 anos na Casa Acácias. Neste período, frequentou só um curso de informática e um programa de menor aprendiz. Deve concluir o ensino médio ainda neste ano. Por causa da baixa qualificação, não faz grandes exigências quanto ao futuro trabalho. “O que vier está bom”, sintetiza.

Ivan conta que não tem ideia de como vai ser a vida pós-abrigo. A permanência só é permitida até os 18 anos. Sem ter frequentado um bom curso profissionalizante, se sente sem respaldo para caminhar com as próprias pernas. “Apesar do apoio da casa, não temos muito rumo. Me preocupo com a vida adulta.”

Além de Ivan, outros três adolescentes da Acácias procuram emprego. Todos miram o exemplo de Fábio*, de 17 anos. Ele participou por dois anos do programa de aprendizes da Oi, conseguiu poupar um dinheirinho e, agora, se prepara para frequentar um cursinho pré-vestibular. “Quero passar em Psicologia e trabalhar com crianças que foram abandonadas”, diz o jovem vaidoso, de cabelos bem penteados.

Além da falta de auxílio, as crianças e adolescentes que vivem em instituições esbarram em um obstáculo invisível: o preconceito. “As pessoas te olham diferente. Você é visto como ‘o órfão’. Eles preferem quem vem de uma família normal”, diz Fábio. Por causa dos “olhares diferentes”, Ivan tirou do currículo o fato de viver em uma instituição.

“Depois que conseguir o emprego, eu conto ao patrão. Mas agora, não quero arriscar.”. *Nomes fictícios.

R$ 735 mensais por criança acolhida são repassados pela prefeitura de Curitiba a oito instituições de acolhimento oficiais, do próprio município, e a 43 outras instituições conveniadas. Estuda-se ampliar o valor a partir de maio. Oportunidades / Curitiba quer ampliar participação da iniciativa privada

Apesar de contar com unidades de acolhimento próprias e conveniadas e de oferecer programas e cursos profissionalizantes, a Fundação de Ação Social (FAS), da prefeitura de Curitiba, quer ampliar a participação da iniciativa privada na rede de proteção aos jovens acolhidos. “Isso gera uma sensação de responsabilização na sociedade, que passa a ficar envolvida no processo. A iniciativa privada pode abrir outras oportunidades a essas crianças e adolescentes que o poder público não poderia oferecer”, diz a presidente da FAS, Márcia Fruet.

Um dos principais programas da prefeitura é o “Adolescente Aprendiz”, em que os jovens podem passar um período em uma empresa, aprendendo cada função. São 1.720 vagas oferecidas, prioritariamente, a jovens em vulnerabilidade social. Além de cursos profissionalizantes, como os de Liceus de Ofício, a FAS deve lançar ainda neste ano cursos de idiomas voltados a esses adolescentes. “O nosso foco é dar suporte para que este jovem seja inserido no mercado de trabalho”, explica Márcia. Polêmica / Nova norma limita publicidade infantil Resolução torna abusiva a propaganda voltada a crianças, tornando-a ilegal na prática. Mercado publicitário questiona validade da lei João Pedro Schonarth

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Já considerada ilegal pelo Código de Defesa do Consumidor, a abusividade na propaganda infantil foi tipificada por uma resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e mexeu em um vespeiro no setor da publicidade.

Pela normativa, é considerado impróprio, por exemplo, a propaganda voltada a crianças que se vale de apresentadores infantis ou com promoções de distribuição de brindes. Representantes do setor, porém, dizem que já cumprem a regra, com base na autorregulamentação do mercado, e criticam a decisão do Conanda.

A polêmica começou quando a Resolução n.º 163, que considera abusiva a publicidade e comunicação mercadológica dirigidas à criança, foi publicada em Diário Oficial, no último dia 4 de abril. O fato foi comemorado pelas entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente como sendo o fim da propaganda infantil. Por outro lado, representantes das associações de agências de publicidade e dos anunciantes criticaram a normativa, em especial a sua força de lei, que na opinião no setor, não existe.

Prático O Conanda explica, porém, que o efeito prático da normativa é ter poder vinculante ao Código de Defesa do Consumidor, que traz, no parágrafo 2.º do artigo 37, a proibição da publicidade abusiva, considerada assim aquela que se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança. Saiba Mais A Resolução nº 163 do Conanda tipificou a abusividade na publicidade infantil. Veja pontos da norma:

• São consideradas abusivas propagandas com os seguintes tópicos: linguagem infantil, efeitos especiais e excesso de cores; trilhas sonoras de músicas infantis ou cantadas por vozes de criança; representação de criança; pessoas ou celebridades com apelo ao público infantil; personagens ou apresentadores infantis; desenho animado ou de animação; bonecos ou similares; promoção com distribuição de prêmios ou brindes colecionáveis ou com apelos ao público infantil; e promoção com competições ou jogos com apelo ao público infantil.

• São classificados como comunicação mercadológica e onde não pode haver publicidade infantil: anúncios impressos; comerciais televisivos; spots de rádio; banners e páginas na internet; embalagens; promoções; merchandising; ações por meio de shows e apresentações; e disposição dos produtos nos pontos de venda.

• É considerado abusivo ainda: a publicidade e comunicação mercadológica no interior de creches e instituições escolares da educação infantil e fundamental, inclusive em seus uniformes escolares ou materiais didáticos.

Qual a sua opinião sobre a propaganda infantil? Ela deve ser banida ou a autorregulamentação já seria suficiente? Escreva para [email protected]. As catas selecionadas serão publicadas na Coluna do leitor.

Na Europa Países europeus, como Noruega, Suécia e Inglaterra também já contam com restrições semelhantes às da publicidade para crianças no Brasil. A Favor / Resolução Só Exemplifica O Que Já Está Na Lei

Uma lei que já existe e não é respeitada. É dessa forma que especialistas em Direito Comercial e do Consumidor qualificam a legislação sobre publicidade infantil. Eles dizem que o Código de Defesa do Consumidor já qualifica a propaganda voltada a crianças como abusiva, mas que a resolução vem exemplificar o que é o abuso e servir de apoio na decisão de medidas contra determinados anúncios.

O Conanda explica que possui “toda a competência para coibir e regular práticas que violem quaisquer direitos da criança e do adolescente”. É o que diz, inclusive, a Lei nº 8242/91, que criou o conselho. Pela legislação, entre as competências do Conanda está a elaboração de normas gerais da política nacional de atendimento dos direitos da criança e do adolescente.

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Essa é a posição do Instituto Alana, que defende os direitos das crianças. Para a diretora, Isabela Henriques, a resolução é um ato normativo e deve ser obrigatoriamente cumprido. “O CDC, criado pelos legisladores, já explica que a publicidade infantil é abusiva. A normativa só vem exemplificar o que é abuso.”

Claudia Silvano, coordenadora do Procon-PR, lembra que a sanção para publicidade abusiva varia de multa a imposição de contrapropaganda. “A resolução esmiúça o que o CDC já prevê. Pela lei, qualquer propaganda que se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança já pode ser punida”, ressalta. Carlos Eduardo Hapner, professor de Direito Comercial da UFPR, avalia que com a resolução as sanções administrativas e judiciais têm mais suporte. “Antes, a descrição estava aberta, agora está exemplificado ativamente o que é abusivo em relação à propaganda infantil.” Contra / Setor ameaça entrar na Justiça caso seja acionado

Considerando o Conanda sem poder para legislar, representantes do mercado publicitário ameaçam acionar a Justiça caso sejam punidos com base na Resolução nº 163, a qual consideram como apenas uma recomendação. Uma nota pública, divulgada por nove associações, entre elas a Associação Brasileira de Agências de Publicidade e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, informa que, “reafirmando seu compromisso com o Estado Democrático de Direito”, consideram que apenas o Poder Legislativo teria legitimidade para legislar sobre a publicidade. As entidades ressaltam também que é o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), em sua opinião, “o melhor e mais eficiente caminho para o controle de práticas abusivas em matéria de publicidade comercial”.

O setor defende que o próprio Conar já tem diretrizes expressas quanto à publicidade infantil, proibindo determinados anúncios, como aqueles que usam verbos no imperativo ou que trazem crianças chancelando produtos. Gilberto Leifert, presidente do Conar, disse que restrições à propaganda comercial dependem de lei federal e não de normativas. “As leis que estão em vigor, bem como a autorregulamentação, estão sendo cumpridas.”

Caso venham a ser reprimidas ou punidas, as agências vinculadas ao Sindicato das Agências de Propaganda do Estado do Paraná (Sinapro-PR) serão recomendadas a acionar a Justiça, segundo Rodrigo Havro, presidente do sindicato. “A autorregulamentação pelo Conar é uma das mais evoluídas no mundo e essa resolução é completamente desnecessária. Caso peçam para uma agência tirar uma propaganda de circulação com base na resolução, vamos acionar o Conanda e posteriormente a Justiça.” Educação / Seed determina que aulas perdidas em paralisação sejam repostas

As escolas estaduais com professores que aderiram à paralisação de 19 de março e ao movimento de dispensa da última aula (uma vez por semana, na quinta aula), ambos promovidos pelo Sindicato dos Professores do Paraná, devem rever o calendário para atender o direito constitucional dos estudantes que garante 800 horas/aula anuais.

A reposição das aulas foi determinada pela Secretaria de Estado da Educação em comunicado para os Núcleos Regionais, que deverão acompanhar a complementação do calendário escolar para assegurar a totalização mínima da carga horária. “Os alunos que não tiveram aulas certamente terão prejuízo pedagógico e é exatamente isso que não pode acontecer. Existe um calendário escolar que deve ser cumprido e quem descumpriu agora deverá se organizar para reposição”, diz a superintendente da Educação, Eliane Rocha.

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Entrelinhas / Violência doméstica O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Curitiba recebeu

no ano passado 750 denúncias de agressão, cerca de 60 por mês. O volume de trabalho é considerado muito alto para a estrutura da vara, que conta com apenas um juiz, dois assessores, três psicólogos e um assistente social, além de técnicos e oficiais de justiça.

Conforme critérios estabelecidos pelo Tribunal de Justiça, com mais de 300 denúncias por ano já é recomendável criar uma segunda vara. Por causa da falta de estrutura, o próximo mês disponível para audiências no juizado é julho de 2015. Celso Nascimento / Seus problemas acabaram

Teria o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, ficado com receio das algemas, ou, enfim, acabara apenas por reconhecer que a demora na liberação dos empréstimos ao Paraná se devia apenas à própria teimosia e má vontade motivadas por suposta discriminação política?

Não importam exatamente quais as razões que o levaram a anunciar, na última sexta-feira, que todos os financiamentos e avais solicitados pelo governo paranaense seriam imediatamente atendidos, mas pelo menos três fatos precisam ser relacionados à sua decisão – dois anteriores e um terceiro cujos efeitos serão avaliados em futuro breve.

O primeiro deles, antecedente, foi a mudança de direção que permitiu à Procuradoria Geral do Estado (PGE) – que há apenas 20 dias foi colocada nas mãos de profissionais mais experimentados no ofício de fazer a defesa jurídica do estado – agir com mais resolutividade e clareza, atributos antes escassos.

Sucessivas liminares pleiteadas pela PGE ao Supremo Tribunal Federal (STF) convenceram os ministros Marco Aurélio e Luís Roberto Barroso a apertar o cerco sobre a STN. Eles reconheceram – embora em caráter preliminar e, portanto, precário – o direito do Paraná de ver seus empréstimos liberados. Caso não o fossem, que o titular da STN, Arno Augustin, ficasse sujeito até mesmo à prisão.

Outro fato recente que contribuiu para acelerar a decisão favorável ao estado foi a iniciativa de dois parlamentares do PMDB, o estadual Luiz Cláudio Romanelli e o federal João Arruda. Deles partiram os primeiros esforços para que um grupo pluripartidário de parlamentares fosse recebido, na última quarta-feira, pelo chefe da STN. A audiência serviu, no mínimo, para desanuviar o ambiente até então contaminado por radicalismos de natureza política que em nada contribuíam para a solução do impasse.

Muito bem, agora está tudo resolvido. Bastam apenas a assinatura do ministro da Fazenda e a publicação em Diário Oficial para que a grana caia nos cofres do estado. O primeiro e mais expressivo depósito será o dos R$ 817 milhões do Proinveste.

Consequência: se era este o obstáculo que empacava o governo de Beto Richa, que sequer podia manter as viaturas policiais rodando por falta de combustível; que não tinha fundos para pagar a ração dos cachorros farejadores da PM; e que acumulava dívida de R$ 1,1 bilhão junto a fornecedores – seus problemas acabaram.

Pode ser uma solução “tabajara”: falta tão pouco para o término da gestão que é improvável que neste curto período se operem mudanças espetaculares na administração. Do ponto de vista reeleitoral, no entanto, sobrará ao governador o já manifesto gosto de ter derrotado o que supõe ter sido obra da adversária senadora Gleisi Hoffmann.

Olho vivo Esperança O senador Alvaro Dias (PSDB) manifestava este fim de semana, em Curitiba, sua esperança de que a ministra Rosa Weber, do STF, vai garantir a instalação da CPI da Petrobras nos moldes propostos pela oposição. Alvaro considera que a outra CPI, governista – que inclui entre seus objetos assuntos que não têm conexão com a Petrobras – será reconhecida como ilegal pela ministra.

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Vai longe 1 “A coisa é séria e vai longe. Começou com André Vargas e o PT, mas vai parar muito mais alto”. A afirmação é de um graduado servidor que desde 2002 acompanha os passos do doleiro Alberto Youssef, preso há duas semanas pela Operação Lava Jato da Polícia Federal sob suspeita de chefiar quadrilha de lavagem e de negócios escusos na Petrobras.

Vai longe 2 Há 12 anos, Youssef esteve envolvido em outro escândalo – o da Copel-Olvepar, que teria desviado, em valores de hoje, mais de R$ 250 milhões de dinheiro público. Secretários de estado, deputados e até conselheiros do Tribunal de Contas foram indiciados. Duas ações, uma cível e outra criminal, foram propostas, mas sequer saíram do 1.º grau. Moral da história: se o caso não tivesse sido abandonado pelo Ministério Público e pela Justiça, Youssef não estaria ainda hoje causando tanta confusão.

Tourada O fato novo da eleição do Paraná é a exploração de touros. Primeiro o pré-candidato Orlando Pessuti desfilou no dorso de um formidável exemplar que acabou como personagem de blogs políticos. Na última quinta, em Londrina, outro foi montado por Beto Richa, com direito a novas fotos nas redes sociais. Não há ainda pesquisa que indique a preferência do eleitorado por touros. Estatal Investigada / Partidos fatiam cargos na Petrobras Quatro legendas são responsáveis por indicar principais dirigentes da companhia, que será alvo de uma CPI no Congresso Nacional Euclides Lucas Garcia E Taiana Bubniak

No epicentro da crise que colocou em cena os três poderes da República, a

Petrobras deve ser alvo de investigação parlamentar nos próximos meses, seja numa CPI específica ou numa CPI “do fim do mundo”. A apuração, porém, não interessa nem um pouco a quatro partidos da base aliada no Congresso: PT, PMDB, PP e PTB. As legendas são responsáveis pelas indicações dos principais postos de comando da estatal e das suas subsidiárias, alguns deles diretamente envolvidos nos casos que serão investigados.

Diante desse cenário, o objetivo tem se mostrado claro: minimizar ao máximo o “estrago” que a comissão possa causar, sobretudo num ano eleitoral.

Donas de um orçamento maior do que o de todos os 39 ministérios – R$ 84,1 bilhões para investimentos em 2014 –, a Petrobras e as empresas ligadas a ela despertam o interesse de todos os políticos com poder de decisão em Brasília. Não à toa, historicamente partidos da base costumam repartir os postos chave das companhias.

O desfecho de indicações políticas como essas, porém, resultou na crise enfrentada agora. Indicado pelo PP, por exemplo, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi preso pela Polícia Federal, na Operação Lava Jato, por suspeita de participação numa organização criminosa que teria movimentado mais de R$ 10 bilhões.

Já Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional da estatal e apadrinhado de senadores do PT e do PMDB, foi o responsável por elaborar o relatório apresentado ao conselho de administração da empresa em 2006, que embasou a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. O gasto total foi de US$ 1,18 bilhão, muito mais do que os US$ 42,5 milhões pagos um ano antes pela empresa belga Astra Oil.

Investigação Diante da impossibilidade de prever os resultados que uma CPI pode apontar, parlamentares aliados, com o aval do Palácio do Planalto, vêm tentando incluir temas desconexos na investigação, para atingir partidos da oposição (leia ao lado). Nesse caso, como a CPI tem um prazo determinado – pode durar até 180 dias –, a estratégia deve dificultar a apuração dos fatos. “Do ponto de vista jurídico, é impossível ouvir todos os envolvidos e coletar as provas nesse tempo”, explica Paulo Ricardo Schier, especialista em Direito Constitucional.

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Do ponto de vista político, por outro lado, uma comissão que reúna vários temas tende a ser um prato cheio. “Essa investigação vai chamar a atenção da mídia, da população e o desgaste político de quem estiver envolvido será forte”, avalia Schier. Ele aponta, entretanto, que é impossível que o desenrolar de uma CPI como a que está sendo proposta tenha resultados práticos. “É praticamente impossível que alguma providência seja encaminhada ao Ministério Público, que seria o desfecho ideal”, projeta.

“Além disso, o contexto pré-eleitoral acaba afetando a CPI. A intenção de incorporar diversos assuntos que não têm uma conexão direta pode tornar o trabalho muito genérico e improdutivo.”

De acordo com Schier, levando-se em conta a perspectiva jurídica, seria mais legítimo se fosse instalada uma comissão para investigar cada assunto. “As CPIs são instrumentos legítimos, mas se forem usadas com objetivo eleitoral, o resultado vai ser a desmoralização e o enfraquecimento do dispositivo”, critica. Tabela mostra esquema de doações

Documentos revelados neste fim de semana pela revista Veja e pelo jornal Folha de S.Paulo mostram que várias empresas poderiam estar ligadas a um esquema de doações de recursos a políticos. Os papéis foram apreendidos pela Polícia Federal na casa de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras preso na Operação Lava Jato.

Uma tabela dividida em três colunas registraria o nome das empresas, os executivos ligados a elas e aquilo que supostamente seria o estado de uma negociação para a intermediação financeira. Segundo a Folha, nesta terceira coluna há anotações como “Está disposto a colaborar”, ou “Já está colaborando, mas vai intensificar mais para a campanha a pedido do PR”. PR poderia ser a abreviação do nome de Paulo Roberto.

Segundo a revista Veja, o senador Fernando Collor (PTB-AL) teria sido um dos beneficiados pelo esquema, com uma doação de R$ 8 mil. Na parte destinada a registrar as entradas de receitas, estaria registrado a palavra “Primo”, que segundo as investigações pode ser o nome com que era chamado o doleiro Alberto Youssef, também preso na mesma operação. Loteamento partidário / Com orçamento para investimentos neste ano previsto em R$ 84,1 bilhões, a Petrobras e suas subsidiárias têm seus postos de comando divididos entre pessoas indicadas por PT, PMDB, PP e PTB. Isso ajuda a explicar a razão pela qual uma CPI para investigar a estatal é tão temida. Petrobras / Previsão de investimentos em 2014: R$ 63 bilhões

Paulo Roberto Costa – ex-diretor de Abastecimento, indicado pelos ex-deputados do PP José Janene (PR) e Pedro Corrêa (PE)

Nestor Cerveró – ex-diretor da Área Internacional, indicado pelos senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e Renan Calheiros (PMDB-AL)

Jorge Zelada – ex-diretor da Área Internacional, afilhado da bancada do PMDB na Câmara

José Carlos Cosenza – diretor de Abastecimento, indicado pelo PMDB do Senado, em acordo com PT e PP

José Eduardo Dutra – diretor Corporativo e de Serviços, Indicado pelo PT, Transpetro / Previsão de investimentos em 2014: R$ 2,25 bilhões

Sérgio Machado, presidente – Apadrinhado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)

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BR Distribuidora / Previsão de investimentos em 2014: R$ 912,9 milhões José Lima de Andrade Neto – presidente, Indicado pelo senador Fernando

Collor (PTB-AL) e pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão Luis Alves de Lima Filho – diretor da Rede de Postos de serviço, apadrinhado

do senador Fernando Collor (PTB-AL) Vilson Reichemback – diretor de Operações e Logística, apadrinhado do senador

Fernando Collor (PTB-AL) Andurte de Barros Duarte – diretor de Mercado Consumidor, apadrinhado da

bancada do PT da Câmara CPI/ Rosa Weber dá prazo de 48 horas para que Renan dê informações Agência O Globo

Ao invés de conceder a liminar pedida pela oposição na terça-feira, para garantir a

instalação da CPI exclusiva para investigar a Petrobras, a ministra relatora do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, deu na noite desta sexta-feira um prazo de 48 horas para que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), preste informações. A liminar, portanto, só poderá ser concedida depois que o Congresso se posicionar sobre a disputa com o governo, na terça-feira.

Como o prazo começa a ser contado a partir do momento em que Renan receber a intimação, sem contar sábado e domingo, a decisão sobre a medida cautelar para cessar os efeitos que impedem a instalação da CPI só deve acontecer depois de terça-feira, quando será votado, em plenário, parecer do senador Romero Jucá (PMDB-RR) favorável à ampliação de escopo da CPI. Os governistas pretendem aumentar os temas da investigação para incluir apuração sobre denúncias de irregularidade no metrô de São Paulo durante o governo do PSDB e do Complexo de Suape, em Pernambuco, estado governado pelo PSB de Eduardo Campos. Para o mesmo dia está marcada a sessão do Congresso em que deverão ser lidos os requerimentos de mais duas CPI, dessa vez mistas.

“Considerada a relevância do tema em debate, assino o prazo de 48 horas à autoridade impetrada para prestar, querendo, as informações que entender pertinentes, antes do exame da liminar”, escreveu em seu despacho a ministra Rosa Weber. Judiciário / Paraná vai insistir no STF para tentar liberar mais 4 empréstimos Entrave relativo a gastos com saúde foi resolvido. Falta estender efeitos de decisão dizendo que estado respeita limite de gastos com pessoal André Gonçalves, Correspondente

A Procuradoria-Geral do Estado (PGE) vai entrar nesta semana com uma nova

ação cautelar no Supremo Tribunal Federal (STF) para destravar quatro empréstimos internacionais que somam R$ 1,5 bilhão. O objetivo é estender o alcance de uma decisão liminar concedida em fevereiro pelo ministro da corte Marco Aurélio Mello que suspendeu as restrições ao governo do Paraná provocadas pelo descumprimento dos limites legais de gastos com pessoal.

Na semana passada, o estado conseguiu autorização da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) para receber o empréstimo de R$ 817 milhões do Banco do Brasil, dentro do Programa de Apoio ao Investimento de Estados e do Distrito Federal (Proinveste). O aval só saiu graças a outra liminar, concedida pelo ministro Luís Roberto Barroso, referente ao cumprimento dos gastos com saúde. A decisão de Barroso também abrange os demais quatro empréstimos internacionais.

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O Proinveste saiu antes dos demais, contudo, porque era o único alcançado pela decisão anterior de Marco Aurélio referente a pessoal. “Vamos entrar com outra ação para os demais empréstimos até para resolver o assunto de uma vez e evitar a discussão de filigranas jurídicas com a STN”, diz o procurador-geral adjunto, Sérgio Botto de Lacerda.

Indicadores A avaliação de empréstimos feita pela STN mede uma série de indicadores das finanças públicas de estados e municípios, como os limites de gastos com pessoal e saúde previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal. Financiamentos que não exigem garantia da União contêm menos etapas burocráticas. Os que demandam o aval, como no caso dos cinco negociados pelo Paraná, são mais complexos.

Das operações que ainda não foram liberadas, duas ainda precisam da aprovação do Senado e depois voltam para apreciação do Ministério da Fazenda – US$ 557 milhões do Credit Suisse e US$ 67,2 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As outras duas, de US$ 8,5 milhões e US$ 60 milhões (ambas do BID), já foram aprovadas pelos senadores e estão sob consulta do departamento jurídico do Ministério da Fazenda.

O Paraná deveria fazer mais empréstimos para aumentar a capacidade de investimento?

Escreva para [email protected]. As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

R$ 1,5 bilhão É o valor dos quatro empréstimos que o governo paranaense ainda tenta liberar no Supremo Tribunal Federal. O empréstimo já liberado é de R$ 817 milhões. Entenda o caso / A disputa judicial sobre os empréstimos no STF começou em fevereiro deste ano e se arrastou por dois meses. Veja os principais lances:

• 14/2 – O ministro Marco Aurélio Mello concede liminar na Ação Cautelar 3492, apresentada pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE). A decisão determina que a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) deve acatar a aferição dos gastos com pessoal do governo estadual feitas pelo Tribunal de Contas para a concessão de garantia do empréstimo de R$ 817 milhões do Banco do Brasil, dentro do Proinveste.

• 3/4 – Marco Aurélio entende que a decisão da liminar concedida no âmbito da Ação Cautelar 3492 foi descumprida e determina multa diária de R$ 100 mil à União. A STN entende que não está descumprindo a liminar. Segundo o órgão, o empréstimo não é liberado porque o estado não cumpriu os gastos mínimos com saúde – e não mais com pessoal.

• 8/4 – A PGE apresenta outra petição na Ação Cautelar 3492 e solicita majoração da multa diária, a fixação de uma multa pessoal ao secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, e a expedição de um mandado de prisão contra o secretário, por crime de desobediência. Marco Aurélio ainda não se pronunciou sobre o pedido.

• 10/4 – O ministro Luís Roberto Barroso concede outra liminar, no âmbito da Ação Cautelar 3600, apresentada pela PGE no dia 3 deste mês. A decisão suspende as restrições impostas pela União ao governo do Paraná pelo descumprimento do limite legal de 12% dos gastos com saúde em 2013. Os efeitos abrangem as cinco operações de crédito negociadas pelo estado em análise na STN e devem destravar imediatamente o empréstimo do Banco do Brasil. Para os demais, a PGE vai entrar com uma nova petição no STF para estender os efeitos da Ação Cautelar 3492. Judiciário / “É preciso lutar”, diz juiz sobre a criação dos TRFs Antonio Cesar Bochenek, presidente eleito da Ajufe Taiana Bubniak

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Eleito para presidir a Associação Nacional dos Juízes Federais (Ajufe), o paranaense Antonio Cesar Bochenek diz que pretende lutar pela implantação dos novos Tribunais Regionais Federais que já foram autorizados, inclusive no Paraná. Além disso, à frente do órgão, ele quer advogar a favor da carreira dos magistrados, que, de acordo com ele, é um segmento que não tem definições. “Juízes que estão entrando na função ganham a mesma coisa que aqueles que estão se aposentando”, comenta. Até fevereiro, Bochenek presidiu o braço da associação no Paraná e diz que a passagem pela Apajufe vai ajudar nos trâmites que envolvem a criação dos novos TRFs. Ele conversou com a Gazeta do Povo sobre os desafios da gestão da associação. Confira alguns trechos da entrevista.

Quais são as propostas para o mandato à frente da Ajufe? Os principais compromissos assumidos com os associados estão relacionados com

a atuação corporativa e institucional. A primeira, na defesa dos direitos, interesses e prerrogativas da magistratura. A atuação institucional esta focada no aperfeiçoamento da Justiça Federal e do Poder Judiciário. O resgate do padrão remuneratório da magistratura federal é um ponto fundamental, pois nos últimos anos o processo inflacionário deteriorou o valor nominal do subsidio, inserido num processo de desvalorização da magistratura. Outro ponto de destaque serão as ações para a democratização do Judiciário como as eleições diretas e participação efetiva dos juízes de primeiro grau no processo de tomada de deliberações administrativas. Também são compromissos com os associados o trabalho para a criação e ampliação dos TRFs e a estruturação das Turmas Recursais.

Quais são as principais necessidades da magistratura federal e como a associação pode atuar para consegui-las?

Hoje a magistratura é um dos poucos segmentos que não apresenta um sentido de carreira. Os magistrados que ingressam recebem os mesmos valores daqueles que estão próximos da aposentadoria. A aprovação da PEC 63, que trata do adicional por tempo de magistratura, é uma prioridade para recuperar o sentido e carreira e valorizar os magistrados pelo tempo de trabalho dedicado à magistratura. Vale lembrar que o magistrado não pode exercer outra atividade, salvo a de professor.

O senhor presidiu a Apajufe [Associação Paranaense dos Juízes Federais] até fevereiro. De que forma essa atuação pode ajudar ou influenciar na atuação nacional?

A experiência de presidir a Apajufe foi relevante, principalmente por ter trabalhado de forma constante no processo de criação dos novos TRFs. Também foi possível ampliar as ações em curso da associação e me aperfeiçoar na gestão e no relacionamento político associativo. A Ajufe é muito maior, mas as experiências adquiridas com os colegas do Paraná certamente serão úteis neste novo desafio.

As demandas dos juízes federais no Paraná são as mesmas do resto do país ou aqui há alguma particularidade?

A maior parte das demandas coincide, pois são melhorias de condições de trabalho, remuneração e o aperfeiçoamento do sistema de Justiça. A associação regional trata mais de questões relacionadas diretamente aos TRFs, enquanto que a Ajufe tem um papel de coordenação da frente associativa em questões macro relacionadas às searas administrativas (Conselho da Justiça Federal, Conselho Nacional de Justiça) legislativas (Congresso Nacional) e judiciais (Justiça Federal, STJ e STF).

Com relação aos novos TRFs, inclusive no Paraná, existe alguma estratégia para destravar a criação dos tribunais?

O procurador-geral da república apresentou o parecer na ADI 5017 e agora cabe ao ministro relator, Luiz Fux, apresentar o voto e ao presidente do STF, Joaquim Barbosa, pautar a ADI para julgamento. Ressalto também que a liminar deferida foi

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apoiada em fundamentos técnicos do Ipea, e nos últimos dias a imprensa divulgou reportagens da posição política daquele órgão, sem a isenção anteriormente propagada.

É preciso continuar a lutar pelo julgamento da ADI, tanto pela ausência de legitimidade para o ajuizamento da ação quanto pela improcedência da demanda.

Como o sr. vê o pagamento de auxílios como o “vale alimentação” e “vale moradia” para juízes? Se esses benefícios forem concedidos, quais critérios devem ser levados em conta?

São benefícios previstos na legislação e devidos aos magistrados. Assim como os trabalhadores têm direitos, os magistrados também possuem direitos previstos em lei. Os critérios, em regra, são definidos a partir da previsão orçamentária. Judiciário / 17 são réus no mensalão do DEM Justiça aceita denúncia feita pelo Ministério Público e abre processo contra envolvidos em esquema de desvio de dinheiro no Distrito Federal Agência O Globo

A 7.ª Vara Criminal de Brasília aceitou a denúncia do Ministério Público do Distrito

Federal e Territórios (MPDFT) sobre o mensalão do DEM e abriu 17 ações penais contra os envolvidos na Operação Caixa de Pandora. Entre os réus estão o ex-governador José Roberto Arruda e o ex-vice Paulo Octávio, pelo pagamento de propina a deputados distritais em troca de apoio político. De acordo com as investigações da Polícia Federal, o esquema de corrupção era abastecido por dinheiro desviado dos contratos de informática do governo do Distrito Federal. O escândalo veio à tona em 2009.

A lista de crimes praticados pelos 17 denunciados no Mensalão do DEM inclui crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e quadrilha. No geral, há pedidos de ressarcimento aos cofres públicos em valores que chegam a R$ 739.528.912.

Delator do esquema de corrupção que operou de 2003 a 2009 no governo do DF, começando na gestão de Joaquim Roriz e terminando na de Arruda, o ex-secretário Durval Barbosa prestou depoimento nesta sexta-feira à 2.ª Vara de Fazenda em outro processo em que os réus respondem sobre improbidade administrativa. Durval, que ficou famoso por gravar vídeos entregando dinheiro de propina para parlamentares distritais, e para o próprio Arruda, disse que, ao longo desses anos, passaram por suas mãos R$ 170 milhões. “Sim, dinheiro ilícito, de corrupção. Era dinheiro captado junto a empresas de informática que tinham contratos com o governo”, disse Durval Barbosa.

Durante o depoimento, foram exibidos trechos de alguns vídeos gravados por Durval. Uma das cenas mostradas foi a que Durval entrega R$ 50 mil num envelope para Arruda. Na imagem, Arruda pede uma cesta. Um assessor do então deputado federal desce com o dinheiro do prédio onde estavam. Questionado nesta sexta-feira por que o político não queria ele mesmo levar o dinheiro, Durval respondeu. “É que na Codeplan [onde Durval era o secretário] tem 60 câmeras instaladas”, disse.

O advogado de Arruda, Edson Sminoto, perguntou a Durval quantos processos respondia na Justiça. “Não sei quantos, mas estou quase empatado com seu cliente”, afirmou. Durval Barbosa afirmou que Arruda lhe ofereceu R$ 100 milhões para que ele não revelasse o vídeo em que o ex-governador do DF aparece recebendo dinheiro. Segundo Durval, Arruda até indicou as fontes de onde viriam esses recursos: as obras do veículo leve sobre trilhos (VLT) e do veículo leve sobre pneus (VLP) em Brasília.

Durval disse que em 2009, antes de se beneficiar da delação premiada, mostrou as imagens que flagravam Arruda recebendo dinheiro ao atual governador do DF, Agnelo Queiroz. Na época, Agnelo ainda não tinha mandato e articulava sua candidatura ao governo.

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“Foi bem próximo da delação. Por que eu mostrei? Eu já tinha dado depoimento, e estava muito difícil a Procuradoria tomar a decisão. Eu pedi a ajuda dele para que a Procuradoria-Geral da República mandasse logo para a Polícia Federal”, afirmou Durval.

“Mostrei uma imagem reduzida. Só o resumo”, disse. Segundo Durval, Agnelo se comprometeu a atender a solicitação feita. “Atendeu [a solicitação]?”, questionou o juiz.

“Não sei se atendeu, mas não demorou muito não. Ele ficou muito decepcionado com a imagem”, respondeu Durval. Folha de Londrina Espaço Aberto - Tráfico: ser humano transformado em objeto É intolerável que milhares de pessoas ainda sejam oprimidas e exploradas como meros objetos Marcelo Adriano da Silva é promotor da Vara do Trabalho e membro da União Juristas Católicos em Londrina

"Quando um imigrante habitar com vocês no país, não o oprimam. O imigrante

será para vocês um concidadão: você o amará como a si mesmo, porque vocês foram imigrantes na terra do Egito. Eu sou Javé, o Deus de vocês." (Lv, 19, 33-34).

Sob o lema "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5, 1), a Campanha da Fraternidade de 2014 pretende conclamar a sociedade a refletir sobre a crueldade que envolve o tráfico humano, o qual se caracteriza pela prática de retirar pessoas de um determinado local para levá-las para outra região de um mesmo país ou de outra nação para fins de exploração.

O Protocolo Adicional à Convenção de Palermo, em seu artigo 3º, define o tráfico de pessoas como "o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamento ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração".

A pobreza, o desemprego, o analfabetismo funcional e a falta de perspectivas para o futuro fazem com que muitas pessoas sejam facilmente seduzidas por aliciadores inescrupulosos, que, mediante falsas promessas de trabalho e de altos ganhos financeiros, submetem suas vítimas a formas cruéis de exploração, especialmente a prostituição, a venda de órgãos e o trabalho em condições análogas à escravidão. Além da fraude e do engano, é comum os traficantes recorrerem à ameaça, à força e a outras formas de coação, com o objetivo de subjugarem suas vítimas.

Grande parte dos casos de tráfico humano diz respeito a imigrantes ilegais, que, devido a sua situação de clandestinidade, ficam ainda mais vulneráveis a toda sorte de exploração. Por receio de serem descobertos pelas autoridades locais e deportados para seu país de origem, essas pessoas submetem-se a condições de trabalho e de vida aviltantes: habitam em alojamentos precários, cumprem jornadas exaustivas de trabalho, prestam serviços em ambientes insalubres e inseguros e recebem salários irrisórios, que por vezes servem apenas para cobrir despesas de deslocamento, alimentação e moradia.

O combate ao tráfico de pessoas passa necessariamente pelo enfrentamento de suas principais causas: o subdesenvolvimento econômico e o subemprego crônico. Enquanto isso não acontece, algumas medidas podem ser adotadas para, ao menos, coibir a sua ocorrência, como a rigorosa persecução criminal de todo aquele que

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comprovadamente concorrer para a prática desse ilícito e o reconhecimento da responsabilidade civil e trabalhista de empresas, quando verificadas situações de tráfico humano ao longo de sua cadeia produtiva.

É absolutamente intolerável que, com todo o avanço proporcionado pela expansão do conhecimento e por novas tecnologias, milhares de pessoas ainda sejam oprimidas e exploradas como meros objetos para atender a interesses de gananciosos. Qualquer ser humano, independentemente de sua origem ou condição social, possui a mesma dignidade perante Deus e à luz do Direito. Resta a esperança de que algum dia o amor e a fraternidade superem a cobiça, o egoísmo e a indiferença, de tal modo que pessoas fragilizadas, em busca de uma vida melhor em outro país ou região, sejam tratadas com o respeito e a ternura que merecem. Mulheres na Política / 'Nosso sistema de cotas não garante assentos no parlamento' Para estudiosa, o envolvimento das mulheres com a política "é grande", mas ainda não passa pela via eleitoral Vítor Ogawa, Reportagem Local

O voto feminino ainda é uma conquista relativamente recente na história brasileira. Ele só foi consolidado nacionalmente em 1932, quando entrou em vigor o Código Eleitoral Provisório. Desde então as mulheres lutam para conquistar mais espaço na política brasileira. Embora representem mais da metade do eleitorado brasileiro, as mulheres possuem baixa participação e representação política nos cargos eletivos. No Congresso Nacional, menos de 10% das vagas são ocupadas por elas. Na Câmara dos Deputados, são 45 deputadas contra 468 homens, na atual legislatura. No Senado, dos 81 senadores, 13 são mulheres (16%).

Para falar sobre o assunto, a reportagem da FOLHA conversou com a professora Lucia Merces de Avelar, que possui doutorado em Ciência Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, título obtido discorrendo sobre o voto feminino no Brasil. Lúcia também possui pós-doutorado no Instituto Universitário Europeu (ITA) e na Universidade de Yale (EUA). Em seus estudos mais recentes, ela tem explorado a dinâmica do recrutamento de candidatos às eleições para os legislativos estaduais sob a perspectiva de gênero, com o intuito de procurar as razões da baixa presença das mulheres na política representativa.

Com base nos dados das eleições de 2010 e também por meio de entrevistas com mulheres militantes de partidos obtidas nos últimos anos, ela tem investigado se um dos principais obstáculos à entrada das mulheres na política formal se encontra nas organizações partidárias que, na maioria das vezes, tratam as mulheres de forma discriminada. A hipótese dela é que os partidos são a principal fronteira a ser superada se as mulheres almejam incrementar sua presença na política. Ela destacou que a Lei das Eleições (9.504/1997) determinou que "cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas do mesmo sexo", mas isso não garantiu que elas conquistassem os assentos de fato. Leia trechos da entrevista:

Segundo dados da IPU (Inter-Parliamentary Union) no ano passado, em um ranking de 189 nações, o Brasil está em 121º lugar no ranking de igualdade entre homens e mulheres na política. Isso coloca o País atrás de nações como o Iraque e o Afeganistão. Por que estamos tão atrás?

A situação acontece porque temos elites partidárias de natureza oligárquicas. Eu ministro cursos de formação política e, segundo o relato das mulheres com as quais tenho contato, elas se queixam do tratamento que recebem. Algumas me revelaram que existem dificuldades para que sejam aceitas pelos próprios partidos. Nós temos um

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sistema de cotas que na verdade não garante assentos no parlamento, ou seja, não são cotas reais, mas de possíveis candidaturas. O preenchimento dessas cotas é leigo, volátil e, às vezes, é preenchido por mulheres que não possuem comprometimento com a política e com o desenvolvimento do País. As mulheres que realmente querem se envolver mais e que querem sair candidatas para as eleições têm muita dificuldade para conseguir financiamento para suas candidaturas e também não conseguem uma boa exposição nos horários eleitorais.

Como isso acontece? É uma situação em que há um fechamento mesmo, uma obstrução dos partidos

em relação à entrada das mulheres. Aos poucos isso está mudando, mas eu participo continuamente desses cursos em vários partidos e é sempre tudo igual. As queixas são sempre as mesmas. Elas me perguntam como devem agir para superar essas dificuldades e como devem fazer para quebrar esse obstáculo. Eu sinceramente não tenho uma resposta. Eu acredito que isso só vai acontecer quando houver uma renovação dessas elites, uma renovação geracional, com pessoas mais abertas para a igualdade entre os sexos. Só aí que teremos uma igualdade maior para que as mulheres sejam aceitas pela política.

O ministro Marco Aurélio Mello (que integra as Cortes do TSE e do STF) recentemente mencionou o problema das candidatas "laranjas". Os partidos políticos têm sido criticados por chamarem mulheres apenas para cumprir a cota obrigatória por lei. Eles não se preocupam com o desenvolvimento da ala feminina do partido?

De jeito nenhum. Os partidos pouco se preocupam com isso. Quem procura ajudar na formação política das mulheres são algumas fundações de direitos humanos, como a Konrad Adenauer Stiftung. Isso acontece também com outras ongs que obtêm financiamentos de várias partes. Só mais recentemente é que algumas secretarias municipais de mulheres vêm desenvolvendo com recursos próprios algumas ações no âmbito municipal para a formação política desse público, mas isso depende do partido que está governando, se ele possui ligação com os movimentos das mulheres. Tem que haver uma boa vontade, mas onde há partidos muito elitizados, sem raízes com os movimentos, isso não ocorre.

No entanto, mesmo os partidos que defendem a participação das mulheres no processo eleitoral enfrentam dificuldades de cumprir as cotas. Por que isso ocorre?

Porque eles não trazem as mulheres para a cúpula administrativa dos partidos. Tudo começa aí. Elas não ocupam cargos de direção nos diretórios de partido. Se houvesse mais mulheres nessa esfera, elas sairiam mais facilmente como candidatas. Se você olhar internamente na organização dos partidos, a presença da mulher é muito pequena. Assim também acontece nos sindicatos que são uma espécie de elo ou degrau para a ascensão política.

Existe uma rejeição dos eleitores contra as mulheres políticas? Se você olhar para o lado da sociedade, em pesquisas recentes, muitos

entrevistados concordam que as mulheres estão preparadas para ocupar cargos políticos. Por outro lado as mesmas pesquisas indicam que cerca de 30% acham que lugar

da mulher não é na política. Temos uma sociedade que tem um núcleo duro bastante conservador. A modernização da sociedade é um processo muito lento. Somos recém urbanizados e nossas raízes ainda são rurais. A urbanização do País se deu nos últimos 40 anos, por isso muitas mudanças ainda estão ocorrendo. É possível observar que as gerações mais novas possuem um tratamento de igualdade entre eles. É possível ver isso nas universidades. Mas as mudanças mais profundas ocorrem aos poucos na sociedade.

A senhora acredita que isso possa mudar somente com uma lei estabelecendo paridade de gêneros nos cargos eletivos?

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Eu acredito que sim, mas isso não vai acontecer agora, nem tão cedo. Aliás, nem sei quando isso vai acontecer. A cada vez que se fala em reforma política, a gente acha que vai dar um passo para a frente, mas dá um passo para trás. Não há meios de pressionar os legisladores para mudar essa lei. Eles não vão alterar uma regra que os beneficia. Isso só ocorrerá quando a sociedade caminhar nessa direção, pressionando, como aconteceu no caso da Lei da Ficha Limpa, porque eles não têm a menor disposição para mudar as regras do jogo. E isso acontece não só em relação aos direitos das mulheres, mas também com o financiamento de campanhas políticas. É muito difícil ser otimista e imaginar que essa mudança seja possível a curto prazo.

Segundo o demógrafo José Eustáqui Diniz Alves (ENCE/IBGE), de 1992 a 2012 o avanço da participação feminina no âmbito municipal foi em média de 1% no número total de eleitas a cada pleito municipal. Seguindo este ritmo, a paridade entre os sexos só irá acontecer em 150 anos. Como lidar com isso?

Por isso estamos vivendo essa outra realidade política. Se olharmos a participação pelo viés eleitoral estamos mal, mas se olharmos o lado extra eleitoral, estamos bem. Eu venho trabalhando com a representação política sem autorização eleitoral, que é realizada por meio de outros núcleos de participação. O envolvimento das mulheres com a política atualmente é grande, mas isso não acontece pela via eleitoral, mas pela participação na sociedade civil organizada, nos conselhos municipais, nos movimentos civis, nas ongs e nos orçamentos participativos. Assim elas têm conseguido grandes mudanças, inclusive nas legislações ligadas à saúde, à segurança do trabalho e na legislação sobre a violência contra a mulher. A Lei Maria da Penha foi uma conquista obtida dessa forma. Nós temos milhares de outras conquistas semelhantes e isso por meio de uma representação política que nada tem a ver com a eleição, pois isso demoraria muito mais para ser concretizado. Importação via Correios é alvo do fisco Compras feitas no exterior pela internet poderão sofrer fiscalização mais intensiva da Receita Federal Mie Francine Chiba, com Folhapress, Reportagem Local

A Receita Federal quer aumentar a fiscalização sobre produtos que chegam via Correios do exterior. O número de pacotes que entraram no Brasil em 2013, entre cartas, produtos e outras remessas, aumentou 44% em comparação com o ano anterior.

O estímulo para o crescimento teria como uma das causas o desenvolvimento do comércio on-line de empresas estrangeiras, sobretudo da China, o que aumentou as compras feitas no exterior via internet.

Sobre produtos que chegam de fora ao País incide imposto de 60%. De acordo com o diretor de Inteligência do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), Othon de Andrade Filho, estão isentas as mercadorias com preço abaixo de US$ 50 compradas por pessoas físicas. Produtos como livros e medicamentos com receita também. Mas muitos dos produtos sobre os quais deveria incidir a alíquota de 60% passam sem a fiscalização da Receita.

O autônomo Guilherme Vasconcelos já fez diversas compras pela internet de produtos originados da China. Lanternas, cobertor térmico, bússola, canivete, ferramentas e utensílios domésticos são alguns exemplos. A maior parte das encomendas não passou dos US$ 50, justamente para fugir da tributação. "Quando eu queria comprar mais coisas, fazia dois pedidos. Agora, quando se trata de coisas mais caras, aí vira uma roleta russa, porque pode ser que chegue em casa ou pode ser que seja tributado."

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Esta semana, a Receita Federal anunciou uma parceria com os Correios para implantar um sistema informatizado que permite rastrear estas encomendas desde que o pedido é feito na internet. A expectativa é que o sistema fique pronto até o final do ano. O objetivo é também fazer com que o consumidor pague os tributos de forma proativa, com facilidades de poder fazer o pagamento da alíquota via débito e receber a mercadoria em casa. Atualmente, quando a encomenda é tributada, o consumidor deve pagar o imposto e buscar o produto em uma agência dos Correios pessoalmente.

Obrigação Na opinião do diretor do IBPT, Othon de Andrade Filho, a responsabilidade sobre o pagamento do imposto é do próprio consumidor. Na visão dele, o consumidor deveria ter a consciência da necessidade de pagar seus tributos, e ir por conta própria até os Correios realizar o pagamento do imposto. "A obrigação é do próprio cidadão. Compete a ele pagar o tributo que lhe é devido. À Receita, compete apenas fiscalizar. O tributo serve para custear as despesas sociais do Estado."

Conforme o advogado empresarial Frederico Reis, o imposto sobre produtos adquiridos no exterior tem a função de manter o equilíbrio do mercado para produtos que também são produzidos no País. "Se não houvesse (o imposto), ninguém compraria no Brasil."

Porém, para Andrade Filho, a própria burocracia para o pagamento de impostos pode representar um obstáculo para que os cidadãos cumpram suas obrigações. No link www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/, é possível fazer a simulação do valor do tributo, mas os cálculos podem confundir um pouco o consumidor. "A burocracia acaba causando dificuldades ao cidadão com boas intenções."

Por causa de outras prioridades, pode ser difícil o consumidor pessoa física ser pego pelo fisco, diz o diretor do IBPT. Porém, caso fosse pego, caberia o pagamento do imposto, mais multa de 150% sobre o valor. Segundo o advogado Frederico Reis, trata-se de crime de descaminho.

A reportagem tentou contato com a Receita Federal em Brasília, mas não conseguiu falar sobre o assunto no órgão. Saúde em alerta / País vive cultura da cesárea Preferência pelo parto cirúrgico, presente há mais tempo na rede particular e conveniada, ganha espaço sem precedentes também no serviço público Silvana Leão, Reportagem Local

Além de chamar a atenção pelo extremismo da decisão, o caso da gestante

gaúcha Adelir Carmen de Góes, de Torres, que na semana passada foi obrigada por decisão judicial a submeter-se a uma cesariana, contra sua vontade, trouxe à tona um problema que agrava-se a cada ano no País: a realização indiscriminada de partos cirúrgicos. Na rede de saúde suplementar (particular e convênios) o índice chega a 84% dos nascimentos. No Sistema Único de Saúde (SUS), onde historicamente a prioridade sempre foi o parto natural, as cesarianas também passaram a ganhar espaço até que, em 2013, as duas formas da dar à luz praticamente se igualaram.

Segundo dados parciais do Ministério da Saúde em 2013 foram realizados 1 milhão e 17 mil partos cesáreos (48%), contra 1 milhão e 95 mil partos normais (52%).

O índice de cesarianas está muito acima do limite máximo preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 15%.

O preço da preferência tem sido alto para o serviço público de saúde: além dos custos maiores por tratar-se de um procedimento cirúrgico, o parto cesáreo oferece maiores riscos de infecções à mãe, requer mais tempo de internação, maior aparato médico e riscos potencializados de nascimento prematuro, acima de tudo nos casos em que é feito o pré-agendamento de acordo com a conveniência de pais e profissionais.

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A situação é tão preocupante que o governo federal lançou em 2011 a estratégia Rede Cegonha, que tem como metas principais incentivar o parto normal humanizado e intensificar a assistência integral à saúde de mulheres e crianças. Uma das ações é o custeio de Centros de Parto Normal (CPN), na tentativa de reduzir cada vez mais a taxa de mortalidade materna e as ocorrências de cesarianas realizadas desnecessariamente na rede pública de saúde. A concepção dos CPNs se espelha em experiências positivas desenvolvidas em países como Holanda, França e Inglaterra. O Ministério da Saúde informou que, desde o lançamento da Rede, já foram investidos mais de R$ 3,3 bilhões para o desenvolvimento de ações em todo o País.

No Paraná, onde as cesarianas representaram 63,6% de todos os partos realizados em 2013, foi criada a Rede Mãe Paranaense, para a organização da atenção materno-infantil nas ações do pré-natal e puerpério, além de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças, em especial no primeiro ano de vida.

A iniciativa inclui a diminuição das cesáreas desnecessárias e eletivas. "Atualmente há mulheres escolhendo a data de nascimento do filho para coincidir

com o aniversário de alguém da família. O parto deve ser algo natural, é o organismo que deve dar o sinal do momento em que o bebê está pronto para nascer", defende Shunaida Sonobe, chefe da Divisão da Mulher da Secretaria de Saúde do Paraná (Sesa).

Shunaida lembra que ao escolher com antecedência uma data para o parto, aumentam muito os riscos de a criança nascer prematura, potencializando também as chances de morte. "Os exames de ultrassom ainda são passíveis de erros", argumenta.

Para a representante da Sesa, a mulher tem o direito de escolher o tipo de parto ou tratamento que deseja, mas é preciso investir em uma política de esclarecimento. "As mulheres precisam estar cientes de que a cesárea é uma cirurgia, com todos os seus riscos, e deve ser reservada para os casos em que realmente é necessária, como pré-eclâmpsia, prolapso do cordão umbilical e descolamento da placenta, entre outros", diz.

A decisão sobre o melhor tipo de parto, afirma Shunaida, deve ser tomada em consenso com o médico e sempre levando em consideração se existe risco para a mãe ou bebê. De acordo com a chefe da Divisão da Mulher, hoje no Paraná as gestantes atendidas na rede pública são divididas em três grupos – de risco habitual, risco intermediário e alto risco – e passam a receber atendimento de acordo com esta classificação. As de alto risco, por exemplo, são atendidas em hospitais de referência. A estratificação de risco é feita já nas primeiras consultas do pré-natal, o que diminuiu em quase 40% o índice de mortalidade materna no Paraná nos últimos anos.

Em 2009 o Ministério da Saúde requisitou ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) uma pesquisa nacional sobre parto e nascimento. Em fevereiro de 2010 foi iniciado o projeto Nascer no Brasil, coordenado por um grupo de pesquisadores de diversas instituições universitárias, Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em três anos foi aplicado um inquérito em 24 mil puérperas em todo o país, para conhecer as complicações maternas e as dos recém-nascidos, de acordo com o tipo de parto.

Recentemente foram divulgados os dados preliminares da pesquisa, que encontra-se na reta final. Segundo o inquérito, 53% dos partos no Brasil ocorrem por cesariana, com prevalência nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. Outros resultados prévios do projeto Nascer no Brasil indicam que apenas 45% das mulheres que dão à luz no País planejam de fato a gravidez.

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Saúde em alerta / Baixa remuneração e despreparo influenciam opção por cesárea Médico ginecologista defende medidas que melhorem a assistência, como mais investimentos em saúde e educação Silvana Leão, Reportagem Local

Baixa remuneração do médico, despreparo dos profissionais para dar assistência

plena obstétrica, cultura das ações judiciais, violência nas grandes cidades, dificuldades de deslocamento. Todos estes fatores, segundo o ginecologista e obstetra Roberto Benzecry, professor titular aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e associado da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), colaboram para a grande prevalência dos partos cesáreos no Brasil. "Com o valor pago hoje ao médico por um parto, ele não tem como ficar até 12 horas assistindo uma paciente em trabalho de parto", defende.

Baseado em sua experiência na área acadêmica, Benzecry afirma que houve uma queda na qualidade do ensino no País, e que os médicos, ao se formarem, não estão suficientemente preparados para assistir partos mais complicados, por isso optam pela cesárea. "Há também os casos em que o médico não se sente seguro, por medo de ser acionado judicialmente pela família." A violência urbana é outro fator destacado pelo médico. Segundo ele, são muito comuns os casos de assaltos a médicos que têm que se dirigir a hospitais de madrugada, daí a preferência por agendar os horários dos partos.

"São vários fatores que colaboram para o aumento dos partos cesáreos e exigem medidas que melhorem a assistência como um todo, mas infelizmente parece que os governantes não estão preocupados com a saúde e a educação da população", critica o médico.

Tranquilidade Não só para os médicos é mais tranquilo ter os partos de suas pacientes agendados com antecedência. Para as futuras mães, este também é um fator de peso. A empresária Inauê Gomes Adolfo Bianchini, 32 anos, conta que durante a gestação de seu primeiro filho, hoje com 7 anos, ficou indecisa até o momento em que começaram as contrações, mas no fundo sempre teve mais confiança no procedimento cirúrgico. "A gente sempre tem medo de que aconteça alguma complicação quando se trata de parto normal." Por isso, assim que o médico lhe informou que estava com pouca dilatação e, que provavelmente levaria horas para seu bebê nascer, ela optou pela cesariana. "Ele chegou pra mim e disse que o trabalho de parto duraria de oito a dez horas.

Mas que eu optasse pela cesárea, em 20 minutos estaria com meu filho nos braços. Não pensei duas vezes." E de fato, segundo a empresária, o parto foi rápido e tranquilo.

Dois anos depois, quando engravidou do segundo filho, Inauê nem chegou a cogitar outro tipo de procedimento. "Foi tudo agendado. Na véspera fui à cabeleireira, fiz unha, maquiagem, tudo para estar bonita na hora do parto. Mas dessa vez a recuperação da anestesia foi bem mais difícil e demorada. Senti muita dor de cabeça, um frio que não passava e muita coceira pelo corpo. Achei que ia morrer", lembra. Mesmo assim, a empresária diz que faria cesariana de novo, se fosse preciso. "Acho bonito o parto normal, mas acho que não é para mim." 'Mecânica do nosso corpo é preparada para o parto'

A jornalista e empresária Stella Meneghel, de 37 anos, não planejou ter filhos, mas quando eles vieram, fez de tudo para que eles nascessem sem a necessidade de cesariana. "Eu já tinha noção que o parto normal é o melhor para a mãe e o bebê. Mas aí fui me informar melhor e vi que, biologicamente, não tem comparação. A mecânica do nosso corpo é perfeita e preparada para isso", argumenta. Stella, que tem uma filha de 4

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anos e um filho de 1,5 ano, conta que sua mãe teve quatro filhos, ambos de parto normal.

Assim que ficou grávida pela primeira vez, Stella passou a frequentar as reuniões do Gesta Londrina – Grupo de Apoio à Gestante a ao Parto Ativo, o que deu lhe confiança para acreditar que seria capaz de ter sua filha de forma natural. "Sempre fui muito tranquila e sempre me preparei para que tivesse um parto tranquilo. Sabia que ia sentir dor, mas sabia também que a intensidade dela do quanto estamos preparadas. Quanto maior o medo, maior a dor", argumenta a empresária, lembrando que a cesárea não livra a mulher das dores. "Só que em vez de sentir dor por algumas horas apenas, vai sentir durante dias, e o que é pior: com o filho no colo."

Stella ressalta que o parto cesáreo não é algo ruim, mas que não pode tornar-se rotina, como vem acontecendo. "A vontade da mulher deve ser respeitada. Hoje em dia são criados muitos medos nas mulheres para induzi-las à cesariana. O parto deve ser um momento de serenidade. O que se vê no dia a dia dos hospitais é uma violência. Isso é muito sério", alerta.

Para Stella, as mulheres precisam tomar consciência de sua capacidade de colocar um filho no mundo, e a rede de saúde precisa estar preparada para isso. "A imensa maioria das mulheres tem condições para isso. Tenho amigas na Europa que tiveram filhos e nem se cogitou fazer uma cesárea. Uma delas ficou mais de 20 horas em trabalho de parto. Essa é a melhor opção, a que oferece menos riscos. Achar que optar pela cesárea é melhor para o filho é um engano."

A artista Andréa Pimenta, 36 anos, mãe de Alice e Heitor, de 3 anos e de 7 meses, respectivamente, conta que desejava ter os filhos por parto normal mesmo antes de engravidar. Quando a primeira gestação se confirmou, passou a procurar profissionais que pudessem assisti-la e a respaldasse em sua intenção. "Não foi fácil. Tive, inclusive, que mudar de médico."

Sua primeira filha nasceu na água, inaugurando a banheira de parto do Hospital Evangélico. Apesar do sucesso do parto, porém, Andréa optou por ter o segundo filho em casa. Uma equipe de enfermeiras especializadas veio de Maringá para assisti-la, além do médico. "Eu tive que me instruir, me informar muito dos riscos. Sabia que se meu corpo desse qualquer sinal de que não daria conta, seria induzida à cesárea, e precisava estar segura", afirma.

Andréa defende a importância de a mulher fazer um pré-natal, se exercitar, não enxergar gravidez como doença, continuar levando uma vida normal. A equipe médica, por sua vez, deve estar preparada e sensibilizada para respeitar o desejo da mulher. "A natureza é sábia, é o bebê que deve dar os sinais de quando está pronto para nascer. Acho muito preocupante os partos agendados." (S.L.) Publicidade infantil / Proibição polêmica Entidades de defesa dos direitos da criança defendem resolução que restringe propagandas; representantes dos anunciantes questionam legalidade do documento Carolina Avansini – Reportagem Local

A publicação da resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do

Adolescente (Conanda), que considera abusiva a prática de publicidade voltada a crianças no Brasil, instalou uma polêmica sobre a competência de estabelecer regras sobre o que é permitido ou não no que se refere aos anúncios voltados a pessoas com até 12 anos de idade. Enquanto as entidades que atuam na defesa dos direitos das crianças argumentam que a resolução é um avanço na medida em que protege meninos e meninas do consumo sem consciência, representantes dos anunciantes questionam a legalidade do documento, ao afirmarem que o foro legítimo para discutir questões

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inerentes à publicidade comercial é o Congresso Nacional. Em meio ao debate, pais e mães convivem diariamente com a pressão do consumismo e o esforço para não sucumbir aos apelos dos filhos.

No texto publicado no dia 4 de abril deste ano, o Conanda afirma que é abusiva "a prática do direcionamento de publicidade e comunicação mercadológica à criança com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço".

A advogada Isabella Henrique, diretora do Instituto Alana, voltado à defesa dos direitos da criança e do adolescente em questões relacionadas ao consumo, explica que o Conanda é um conselho deliberativo e não tem o poder de legislar. "Quem proíbe a publicidade abusiva é a lei e, no caso, a proibição já consta do Código de Defesa do Consumidor", avalia. A resolução, segundo ela, apenas define o conceito de "abusiva" que não está descrito no Código. "O Conanda dá maior alcance a este dispositivo do Código de Defesa do Consumidor, na medida em que elenca o que é o direcionamento abusivo de publicidade voltada para crianças e adolescentes", completa. Ela afirma que, apesar de não ser lei, o documento tem "força de lei" e obrigação de ser cumprido.

Cristiano Lobato Flores, diretor de assuntos legais da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), discorda da posição da diretora do Insituto Alana e defende que o órgão invadiu uma atribuição do Congresso Nacional. Em conjunto com outras oito entidades, a associação publicou nota afirmando que "reconhecem o Poder Legislativo, exercido pelo Congresso Nacional, como o único foro com legitimidade constitucional para legislar sobre publicidade comercial" e que confiam "que a autorregulamentação exercida pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) é o melhor – e mais eficiente – caminho para o controle de práticas abusivas em matéria de publicidade comercial".

"A resolução vai muito além de definir o que é abusivo, pois na essência proíbe a publicidade infantil", diz. Flores argumenta que a própria Constituição Federal estabelece a possibilidade do Congresso Nacional definir restrições em relação ao assunto, mas jamais poderia proibir. Defende, também, que a autorregulação exercida pelo Conar é eficiente a ponto de ser considerada case de sucesso no mundo. Segundo ele, o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária reprova, por exemplo, o merchandising de produtos dirigidos às crianças, o que considera um grande avanço. Ele afirma que o mercado publicitário não vai realizar qualquer mudança com relação à publicidade para crianças.

Isabella Henriques afirma que os pais que sentirem-se lesados podem denunciar as propagandas aos órgãos competentes, como Procons, Promotorias da Infância e Adolescência e Defesa do Consumidor, Ministério Público Federal, Defensorias Públicas e Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça. "As sanções podem ser administrativas ou judiciais", informa. A diretora explica ainda que o objetivo da resolução é preservar as crianças de uma exposição comercial para a qual não estão preparadas.

'É difícil competir com as propagandas'

Luana, de 10 anos, passou meses sonhando com uma maquininha registradora de brinquedo estampada com uma personagem famosa do universo infantil. A mãe, a consultora de beleza Eliani Vieira, tentou adiar ao máximo a compra do objeto que custava quase R$ 300 – considerado caro para o orçamento familiar. A veiculação exaustiva de comerciais sobre o produto na programação de um canal infantil da TV a cabo não deixaram Luana esquecer do brinquedo. Com medo que a filha pudesse adoecer, tamanha a vontade que ela manifestava de possuir a registradora, Eliani acabou cedendo. Quando chegaram em casa e tiraram o brinquedo da caixa, a euforia deu lugar à decepção. O produto, bem menor do que mostrava a TV, não era capaz de proporcionar a diversão exibida pelo anúncio.

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"Depois disto, ela entendeu que não dá para acreditar em tudo que passa na TV. Mas é difícil competir com a quantidade de propagandas que ficam repetindo a

mesma coisa o dia inteiro", analisa. A solução encontrada por Eliani foi reduzir a uma hora por dia o tempo em frente ao aparelho. "No começo a Luana estranhou. Depois, passou a ler mais, brincar mais com os brinquedos que já possui. A mudança foi para muito melhor", acredita.

Na família da dona de casa Fabiana Rodrigues Aranha, poupar as filhas Sarah, 9,e Laura, 3, do consumismo possivelmente incentivado pela publicidade é um desafio diário.

O último objeto de desejo da mais velha foi uma boneca de quase R$ 300 que estava em todos os canais infantis no ano passado. Depois de quase um ano, os pais resolveram presentear a filha no Natal. Não contavam, porém, que a filha mais nova também ia querer o brinquedo que via na TV. "Acabamos comprando outra boneca e estamos pagando até hoje", lamenta, revelando que as filhas nem brincam com as bonecas como deveriam. Fabiana reclama também que as filhas se iludem com os cenários em que os brinquedos são apresentados na TV e depois se decepcionam. "É propaganda enganosa, porque o brinquedo ‘real’ é sempre frustrante", critica. (C.A.) O Diário do Norte do Paraná Lei seca / Juiz aceita testemunho em condenação por embriaguez Recusa ao teste do bafômetro após acidente não garantiu impunidade a motorista de 26 anos. Sentença determinou prisão em regime aberto e participação do réu nos alcoólicos anônimos Murilo Gatti

O juiz da 3ª Vara Criminal de Maringá, Joaquim Pereira Alves, condenou um

homem de 26 anos a seis meses de detenção e multa por dirigir embriagado. A sentença foi proferida no dia 9 de abril e levou em consideração, como prova da ingestão de bebidas alcoólicas, os depoimentos dos policiais militares (PMs) que, na madrugada do dia 26 de abril de 2013, atenderam ao acidente de trânsito provocado na Rua Antônio Salema, Zona 2, onde o veículo derrubou parte da grade e do muro de uma casa.

A pena de detenção imposta pode ser cumprida em regime aberto, mas o juiz determinou que o réu compareça mensalmente à Vara de Execuções Penais para comprovar que passou a frequentar o grupo de apoio dos Alcoólicos Anômicos (AA). O motorista também terá de demonstrar o "seu progresso na libertação da dependência química", determinou Alves.

O juiz afirmou que existem outras sentenças proferidas por ele que passaram a levar em consideração as provas testemunhais, por exemplo, para comprovar o estado de embriaguez de motoristas que se recusam a fazer o teste do bafômetro. A alteração na lei passou a vigorar no começo de 2013, justamente para evitar a argumentação de motoristas infratores de que, sem um exame sobre a presença de álcool no sangue, não haveria provas da embriaguez.

"A medida é um avanço para a sociedade. As pessoas têm que evitar dirigir embriagadas. Isto não tem sentido. Já causou tanto sofrimento para tantas pessoas... Os motoristas precisam se conscientizar. Quantas mortes e quantas pessoas ficaram paraplégicas por esta razão?", considerou o magistrado. Na sentença, ele explicou que a defesa tentou fundamentar a inocência do réu pela ausência do bafômetro, o que não foi aceito. "As alegações da douta defesa, em requerer a absolvição do acusado com fundamento na ausência do teste de alcoolemia, não merecem acolhimento", ponderou.

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O próprio motorista condenado admitiu, tanto em depoimento na delegacia quanto em juízo, que havia bebido. Na delegacia, consta que ele afirmou que "ingeriu um pouco de cerveja enquanto se divertia na noite, e por volta das 4 horas, quando se deslocava para sua residência, perdeu o controle do seu veículo, bateu contra a grade do muro de uma residência e invadiu o quintal da casa", aponta o depoimento.

Em juízo, o réu tentou amenizar a versão e declarou que foi "convidado por amigos a ir a um barzinho e ficou lá um pouco e tomou um gole de cerveja, mas foi coisa pouca", afirmou. O jovem de 26 anos também relatou ao juiz que "pagou o prejuízo da vítima, de R$ 5 mil, que perdeu o carro e o seguro não pagou, e que é representante e empregado, tirando R$ 2,5 mil por mês."

Um dos PMs que atenderam ao acidente disse em depoimento à Justiça que "o condutor apresentava sinais de embriaguez e foi convidado a fazer o exame etilométrico, mas se recusou." Diante da resposta do motorista, os policiais confeccionaram o laudo de sinais de embriaguez e encaminharam o motorista para a delegacia. "Ele estava bem falante, com odor etílico e eufórico", afirmou o PM.

O outro policial contou que no dia do acidente, após serem chamados pela dona da residência atingida, eles encontraram "um veículo que acabou por não fazer a curva, subiu na calçada e entrou na residência." Sobre as condições do motorista, o policial descreveu que o jovem "estava com a fala mais 'mansa'." "A gente foi para conversar com ele, mas ele não estava conversando muito bem; a gente ofereceu para fazer o bafômetro, mas ele não se interessou em fazer", contou.

O mesmo policial revelou que o motorista foi auxiliado por um amigo a entrar na viatura e, depois, ofereceu resistência. "Ele ficou nervoso na viatura e deu uns chutes no banco traseiro. A gente foi conversar com ele, que exalava cheiro de álcool". Saiba Mais / Código de Trânsito Brasileiro (CBT)

Nova redação do Art. 306 dada pela Lei 12.760, de 20 de dezembro de 2012:"Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:

§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por: I - Concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou

igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da

capacidade psicomotora. § 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de

alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova." Petição defende lei mais rigorosa

O Movimento "Não Foi Acidente" junta assinaturas por todo o País para defender que a lei contra a embriaguez ao volante se torne mais rigorosa. Atualmente, a proposta de mudanças na legislação sugeridas pelo grupo se encontra em tramitação no Congresso.

Entre as principais alterações defendidas está a ampliação da pena mínima de prisão para quem dirige sob a influência de álcool, de seis meses para um ano. Ao mesmo tempo, eleva a pena para quem mata no trânsito por estar dirigindo embriagado de 5 para 8 anos de prisão.

Dentro do projeto, também é sugerido que a direção sob o efeito de álcool deixe de ter uma infração administrativa (multa) para o motorista, que muitas vezes é a única pena aplicada ao infrator. Desta forma, o ato de dirigir depois de beber passaria a ser tratado unicamente como crime.

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No portal do movimento "Não Foi Acidente" há relatos de familiares de vítimas que morreram por conta de motoristas que dirigiam sob a influência de bebidas. "Estas 305 pessoas representam apenas 0,00765% das vítimas que morrem todos os anos no Brasil, nas mãos de irresponsáveis ao volante", informa a publicação.

Entre as histórias está a da morte de um rapaz de 21 anos. "Segundo testemunhas, o assassino estava bebendo em um restaurante perto do local e estava visivelmente embriagado. Contaram também que é hábito dele fazer isso. Ele estava em alta velocidade quando perdeu o controle, bateu no meio fio e invadiu o outro lado da pista. Na hora, um conhecido passou e levou o motorista infrator, que ficou foragido por vários dias". Duas Perguntas / Delegado-Chefe Da 9ª SDP de Maringá Sérgio Luiz Barroso Direito maior é do coletivo

O delegado-chefe da 9ª Subdivisão Policial de Maringá, Sérgio Luiz Barroso, concorda com a utilização de outras provas, além do bafômetro e do exame de sangue, para comprovar os crimes praticados pelos motoristas que dirigem depois de consumir bebidas alcoólicas.

1 O senhor acredita que esta mudança na legislação conseguiu acabar com o argumento dos motoristas de não se expor ao teste do bafômetro para evitar provas contra si mesmos para depois serem beneficiados com isto no julgamento?

- Este argumento de que as pessoas usam, de que a lei protege e não obriga a fazer provas contra si mesmo, não pode se sobrepor ao direto coletivo. O que está em jogo é um prejuízo, que quem bebe e dirige, pode causar como um todo à sociedade.

Acredito que isto está acima do direito individual da pessoa. Foi muito importante a mudança na legislação, pois a palavra do policial ou de outras pessoas podem ser usadas para comprovar a embriaguez.

2 São muito comuns os casos de embriaguez ao volante registrados na Delegacia de Maringá?

- Todas as semanas registramos casos de embriaguez ao volante. As pessoas continuam teimando em beber e dirigir, mesmo sabendo que com a ingestão do álcool, elas perdem a coordenação, a agilidade e correm mais risco de bater o carro, atropelar e até matar alguém. Diário dos Campos Programa educacional atinge 400 beneficiados Jeferson Augusto

Um programa educacional desenvolvido no sistema penitenciário de Ponta Grossa

atingiu a marca de 400 participantes. Desenvolvido na Penitenciária Estadual de Ponta Grossa (PEPG) e em parceria com a Polícia Militar, Batalhão de Patrulha Escolar Comunitária (BPEC), para integrantes do regime fechado e semiaberto.

De acordo com a assistente social Regina Lima Franke, chefe da DIAS - Divisão Assistencial, o como principal resultado é a diminuição do número de evasão dos presos por ocasião das saídas temporárias, benefício este previsto Lei de Execuções Penais e a publicação do livro "Manuscrito de Fé: um outro olhar sobre o Universo das Drogas", lançado em dezembro de 2013, pela Editora UEPG. Este projeto é uma adaptação do

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PROERD - Programa de Educacional de Resistência às Drogas e à Violência", já aplicado para as crianças que estudam na rede pública de ensino fundamental. Este ciclo de palestras foi adaptado para o trabalho de orientação para os presos e familiares.

O projeto existe desde 2010, e conta com a participação de três policiais militares, uma psiscóloga e uma assistente social. São integrantes destes programa educacional o sargento Henrique José Medeiro, do Batalhão de Patrulha Escolar Comunitária (BPEC) e mentor do PROERD, Saulo Vinicius Hladyszwski, comandante do 5º Pelotão da 1ª Companhia do BPEC e instrutor do PROERD, Renata da Rocha Frota, psicóloga e Chefe da Divisão Assistencial, além da própria Regina. Paraná conta com 15 Patronatos Penitenciários Agência Estadual

O Paraná tem hoje 15 patronatos municipais em funcionamento, inclusive um

deles em Ponta Grossa, em articulação com o Patronato Central do Estado, com sede em Curitiba. Como parte do modelo de uma nova política de execução penal, implementada em 2012 pela Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, os patronatos têm potencial para atender cerca de de 30 mil egressos do sistema penal no Estado.

Apucarana, Campo Mourão, Francisco Beltrão, Guarapuava, Jacarezinho, Irati e Pitanga são outros municípios que já criaram o patronato municipal e vêm desenvolvendo uma série de ações e cursos permanentes. Destaca-se a implementação de programas específicos como o “Saiba”, de atenção aos usuários de drogas; o “Basta”, de intervenção junto ao autor de violência doméstica; o “Blitz”, de intervenção junto ao autor de crimes no trânsito; o “E-Ler”, que visa a reinserção dos assistidos no ensino formal e em cursos de qualificação profissional e o “Ética e Cidadania”, que entre outros temas aborda também diversos aspectos da drogadição.

A secretária estadual da Justiça, Maria Tereza Uille Gomes, explica que esses patronatos têm a incumbência de acompanhar, fiscalizar e executar as determinações do Poder Judiciário quanto ao cumprimento de pena ou medida alternativa, promovendo a inclusão social dos assistidos. “Com uma atuação na própria região é possível fortalecer e resgatar vínculos familiares, além de viabilizar acesso ou retorno à educação formal ou profissionalizante, como forma de reinserção social”, destaca.