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Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008 1 REVISTA NPI NÚCLEO DE PESQUISA INTERDISCIPLINAR http://www.fmr.edu.br/npi.html ENDEREÇO POSTAL Faculdade Marechal Rondon FMR Endereço: Estr. Vicinal Dr. Nilo Lisboa Chayasco, 5000 - Chácara Saltinho, São Manuel - SP, 18650-000 Telefone: (14) 3842-2000 FAC São Roque Rua Sotero de Souza, 104 Centro, São Roque SP, Brasil. Telefone: (11) 4719-9300 EQUIPE EDITORIAL Editor Chefe: Prof. Dr. Anselmo Jose Spadotto [email protected] Diretor Acadêmico: Prof. Jefferson Capeletti - [email protected] Suporte Técnico: Kleber Aparecido Rossi - [email protected]

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Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

1

REVISTA NPI – NÚCLEO DE PESQUISA INTERDISCIPLINAR

http://www.fmr.edu.br/npi.html

ENDEREÇO POSTAL

Faculdade Marechal Rondon – FMR

Endereço: Estr. Vicinal Dr. Nilo Lisboa Chayasco, 5000 - Chácara Saltinho, São

Manuel - SP, 18650-000 Telefone: (14) 3842-2000

FAC São Roque Rua Sotero de Souza, 104 – Centro, São Roque – SP, Brasil.

Telefone: (11) 4719-9300

EQUIPE EDITORIAL Editor Chefe: Prof. Dr. Anselmo Jose Spadotto – [email protected] Diretor Acadêmico: Prof. Jefferson Capeletti - [email protected] Suporte Técnico: Kleber Aparecido Rossi - [email protected]

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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SUMÁRIO

A PESSOA JURÍDICA NO ÂMBITO LEGAL Thiago Ricci de Oliveira 03 - 07 A PROTEÇÃO DOS INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO Guilherme Branco de Miranda, Leonardo Ayres Canton, Juliana Vieira 08 - 11 RAÍZES ROMANAS DO DIREITO IUS VITAE AC NECIS DO PATER FAMILIAS AO NOVO CÓDIGO CIVIL Alex Luciano de Oliveira 12 - 13 RELAÇÕES ENTRE O DIREITO AMBIENTAL E O CONTROLE EXTERNO DO PATRIMÔNIO NATURAL BRASILEIRO Guilherme B. de Miranda, Aline de Oliveira 14 - 15 SONEGAÇÃO FISCAL E CONSEQUÊNCIAS LEGAIS Silvia Regina Severino 16 - 18 UMA ESTRATÉGIA BRILHANTE Raul Marinho 19 - 21 A EUTANÁSIA E O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Patrícia Barbosa Campos 22 - 22 O DIREITO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE REAÇÃO AO CONTROLE EXTERNO DO PATRIMÔNIO AMBIENTAL NATURAL BRASILEIRO João Carlos de Lima Barros, Rogério Milanesi M. Chaves 23 - 27 RELAÇÃO ENTRE O DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E A MOROSIDADE DA PRESTAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL BRASILEIRA Robson Fernando Pereira 28 - 31

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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A PESSOA JURÍDICA NO ÂMBITO LEGAL

Thiago Ricci de Oliveira

DEFINIÇÃO DE PESSOA

Para bem entender a definição de pessoa no mundo jurídico, relevante

ressaltar que todo homem tem a faculdade ou o poder de agir dentro dos limites

fixados pelo direito objetivo com o intuito de defender e gozar de seus direitos. De

acordo com Dower, Nelson Godoy Bassil (1976, p. 51), “Sendo sujeito de direito, vale

dizer, sendo uma pessoa, será dotada de personalidade e possuirá todos os direitos e

obrigações semelhantes a uma pessoa natural ou física”. Assim, todo aquele que se

enquadra como sujeito de um dever jurídico, de uma pretensão ou titularidade jurídica,

é considerado sujeito de direito. Não é apenas no ser humano que a ordem jurídica

reconhece a capacidade de ser sujeito de direitos, ou seja, de ser pessoa. A

coletividade, agrupamento de várias pessoas naturais, com finalidade social, desde

que, devidamente regulamentadas em Cartório, bem como, legalmente reconhecidas

pelo Poder Público, são caracterizadas semelhantes aos indivíduos naturais.

CONCEITO DE PESSOA JURÍDICA

Em decorrência da pequenez do ser humano face à realização de grandes

empreendimentos, surge a necessidade de uma unidade de pessoas e patrimônios,

visando conjugar esforços, adquirindo direito e contraindo obrigações. Afirma DINIZ,

Maria Helena (2007, p. 229), “pessoa jurídica é a unidade de pessoas naturais ou de

patrimônios, que visa a consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica

como sujeito de direitos e obrigações”.

NATUREZA JURÍDICA

A pessoa jurídica nasce para acudir a necessidade humana. Para tanto,

existe algumas teorias que visam explanar o fenômeno da personificação de grupos

de indivíduos, que assim se constituem para fins determinados e obtêm capacidade

jurídica. Dentre as teorias de maior relevância encontram-se a Teoria da Ficção, a

Teoria da Realidade Objetiva e a Teoria da Realidade Técnica.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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Teoria da Ficção

A Teoria da Ficção tem como principal seguidor Savigny, que parte do

princípio de que só o homem pode ser realmente sujeito de direito. Destarte, a pessoa

jurídica é uma ficção legal, isto é, uma criação artificial da lei para exercer direitos

patrimoniais e aplanar a função de certas entidades.

Teoria da Realidade Objetiva

Tendo como principal seguidor Gierke e Zitelmann, essa teoria apoia-se na

analogia à pessoa natural, assim sendo, a pessoa jurídica longe de ser mera ficção, é

um ente dotado de existência real sociológica tanto quanto às pessoas físicas.

Sustenta que a vontade é capaz de dar a vida a um organismo que passa a 3 ter

existência própria, distintas da de seus membros, tendo por finalidade a realização de

seus objetivos sociais.

Teoria da Realidade Técnica

Para os seguidores desta corrente, a pessoa jurídica é real, porém dentro

de uma realidade que não se equipara à da pessoa natural. Traduz a estrutura pela

qual o Direito encontra para reconhecer a existência de sociedades de pessoas que se

unem em prol de um mesmo fim.

CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS

Inicialmente, pode-se classificar a pessoa jurídica quanto à sua

nacionalidade, tendo em vista sua articulação, podendo ser qualificada como nacional

que é a sociedade organizada conforme a lei brasileira e tem no país a sede de sua

administração ou qualificada como estrangeira, que por sua vez, qualquer que seja

seu objetivo, não poderá, sem autorização do Poder Executivo, funcionar no País. Se

autorizada a funcionar no Brasil sujeitar-se-á às leis e aos tributos brasileiros. Quanto

às funções e capacidade, as pessoas jurídicas podem ser de direito público, interno ou

externo, e de direito privado.

Pessoas jurídicas de direito público

Referidas pessoas são caracterizadas não só pela personalidade jurídica

de direito público como também pelo regime jurídico de direito público a que se

submetem. Destarte, as pessoas jurídicas de direito público podem ser 4 consideradas

de direito público externo ou interno. As de direito público externo são os países e

organizações públicas de ordem internacional regulamentadas pelo direito

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internacional, abarcando as nações estrangeiras, Santa Sé, uniões aduaneiras e

organismos internacionais. E, são consideradas pessoas jurídicas de direto público

interno de administração direta, a União, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e

Municípios legalmente constituídos, conforme trata o artigo 41, incisos de I a III do

atual Código Civil “São pessoas jurídicas de direito público interno: I - a União; II - os

Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - os Municípios”. Aludido artigo, elenca,

nos incisos IV e V, as pessoas jurídicas de direto público interno de administração

indireta, ou seja, órgãos descentralizados, criados por lei, com personalidade jurídica

própria para o exercício de atividades de interesse público, como as autarquias, as

associações públicas e demais entidades de caráter público.

Pessoas jurídicas de direito privado

A pessoa jurídica de direito privado é toda entidade originária da vontade

individual, destinando-se à realização de interesses e fins privados, em benefício dos

próprios instituidores ou de determinada parcela da coletividade. Conforme o artigo 44,

I a V, do Código citado acima, as pessoas jurídicas de direito privado dividem-se em:

associações; sociedades; fundações; organizações religiosas e partidos políticos.

O COMEÇO DA EXISTÊNCIA LEGAL DA PESSOA JURÍDICA

A pessoa jurídica tem existência autônoma que lhe permite ser titular de

direitos e obrigações de forma independente, não confundindo seus atos com os 5

praticados pelas pessoas que a compõem ou dirigem. Pode-se dizer que a pessoa

jurídica tem seu início, em regra, com um ato jurídico ou com normas. Ocorre, no

entanto, uma diferença indispensável entre a averiguação existencial das pessoas

jurídicas de direito privado e de direito público. O nascimento das pessoas jurídicas de

direito privado está diretamente ligado com a vontade humana. Assim, o fato originário

é a conjugação de vontades. Já as pessoas jurídicas de direito público iniciam-se em

razão de fatos históricos, de criação constitucional, de lei especial e de tratados

internacionais, quando da pessoa jurídica de direito público externo. Logo, todas as

pessoas jurídicas de direito público são organizadas por leis públicas, que

estabelecem de modo geral as clausulas de aquisição e exercício de direitos e a

instituição de seus valores. O processo originário da pessoa jurídica de direito privado

exibe duas fases. A primeira fase é a do ato constitutivo, que deve ser por escrito e a

segunda fase é a do registro público. No ato constitutivo tem-se a constituição da

pessoa jurídica por ato jurídico unilateral inter vivos ou causa mortis nas fundações e

por ato jurídico bilateral ou plurilateral inter vivos nas associações e sociedades. Há,

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portanto, uma manifestação expressa de vontade. Nesta fase existe o elemento

material que abrange atos de associação, fins a que se propõe e conjunto de bens,

bem como, o elemento formal, pois a constituição deve ser dada por escrito. A

segunda fase dá-se com o registro, pois para que a pessoa jurídica de direito privado

exista legalmente é necessário inscrever os atos constitutivos, ou seja, contratos e

estatutos, no seu registro característico, regulado por lei especial. 6 No momento em

que se opera o assento do contrato ou do estatuto no registro competente, a pessoa

jurídica começa a existir, passando a ter aptidão para ser sujeito de direitos e

obrigações, a ter capacidade patrimonial, constituindo seu patrimônio, que não tem

nenhuma relação com a dos sócios, adquirindo vida própria e autônoma, não se

confundindo com os seus membros, por ser uma nova unidade orgânica. O registro

tem força constitutiva, pois além de servir de prova possibilita a aquisição da

capacidade jurídica.

CAPACIDADE DA PESSOA JURÍDICA

A capacidade da pessoa jurídica é limitada à finalidade para a qual foi

criada, distinguindo-se da pessoa física ou natural que tem capacidade plena, pois a

capacidade é decorrência lógica da personalidade atribuída à pessoa. Os poderes

outorgados à pessoa jurídica estão delimitados nos atos constitutivos, em seu

ordenamento interno (contrato social, estatutos), bem como delimitados pela lei porque

os estatutos não podem contrariar normas cogentes, quando a atuação de

determinadas pessoas jurídicas é autorizada ou fiscalizada (em sentido estrito) pelo

Estado. Há restrições de ordem legal, por vezes impostas pelo Estado, que obrigam a

certo controle estatal. É o que ocorre entre nós, por exemplo, no tocante às

instituições financeiras. Assim, uma vez registrada a pessoa jurídica, o Direito

reconhece-lhe a atividade no mundo jurídico, decorrendo daí, portanto, a capacidade

que se estende por todos os campos do Direito e em todas as atividades compatíveis

com a pessoa jurídica. Como já citado, as pessoas jurídicas sofrem limitações, que

podem ser decorrentes de sua natureza, pois, não sendo dotada de um organismo

biopsíquico, falta-lhe titularidade ao direito de família, ao parentesco e 7 a outros que

são inerentes ao ser humano, não podendo assim praticar diretamente os atos da vida

jurídica, necessitando, portanto de um representante legal que exteriorize sua vontade.

Doutro lado, sofre também a pessoa jurídica limitações impostas pela norma, mesmo

no campo patrimonial, em virtude de razões de segurança pública.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vislumbra-se, portanto, que a pessoa jurídica tem capacidade para exercer

todos os direitos compatíveis com a natureza especial de sua personalidade.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da

República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jan. 2002. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 15 abr.

2008.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria geral do direito civil, 24

ed. São Paulo: Saraiva, 2007, 8v., v1, p 229.

DOWER, Nelson Godoy Bassil. Curso moderno de direito civil: Parte geral, São

Paulo: Nelpa, 1976, v1, p 51.

SAVIGNY, Frédéric Charles de. Traité de droit romain. v.2. Bruxelas: Didot, 1841.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: Parte geral, 6 ed. São Paulo: Atlas, 2006, 8v.,

v1, p 241.

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A PROTEÇÃO DOS INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS NO CÓDIGO DE DEFESA

DO CONSUMIDOR E O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Guilherme Branco de Miranda, Leonardo Ayres Canton, Juliana Vieira

INTRODUÇÃO

A partir do século XX às relações comerciais se tornaram cada vez mais

complexas e a doutrina e a jurisprudência cuidaram de tratar dessa nova ordem ao

longo do século passado. A acentuada tendência social à publicização do Direito

Privado concretiza-se com o advento do Novo Código Civil em 2002. Diante dessas

complexas relações e, dentre outros, da crescente utilização de tecnologias de

produção e dos meios de comunicação de massa com a conseqüente utilização da

publicidade e propaganda de produtos colocou o consumidor numa situação de

desamparo e em muitas das vezes desguarnecido.

Com a finalidade de trazer proteção jurídica ao consumidor, em 11 de

setembro de 1990 foi sancionada a Lei nº 8.072, conhecida como Código de Defesa

do Consumidor – CDC, que além de trazer proteção à clássica relação jurídica credor-

devedor, veio ao encontro do que então já era preconizado pela Constituição Federal

de 1988 no que concerne à proteção dos interesses difusos e coletivos. O presente

trabalho propõe uma análise da proteção dos interesses transindividuais no Código de

Defesa do Consumidor e a atribuição do Ministério Público como legitimado para

propositura das ações civis públicas para o desempenho da defesa dos interesses.

DESENVOLVIMENTO

Segundo Gonçalves (2002), o Código de Defesa do Consumidor – CDC

(Lei nº 8.072/90) prevê que a proteção do consumidor deve iniciar-se em momento

anterior ao da celebração do contrato de consumo, ou seja, na fase da oferta que é

feita através da publicidade. Esta, inclusive, deverá integrar o contrato quando o

fornecedor a veicular ou utilizar-se dela. Para a proteção do consumidor, o CDC

instituiu uma série de normas e princípios para controle da publicidade, coibindo todas

as modalidades de anúncios enganosos ou abusivos, para resguardar a boa-fé dos

consumidores. A relação jurídica clássica credor-devedor, com enfoque à proteção do

direito individual, está fadada a apresentar-se como exceção.

Em decorrência da reestruturação econômica mundial, o consumidor

individual vai cedendo ao consumidor coletivo. De uma forma geral, os interesses da

coletividade, 3 assumem proporções cada vez mais acentuadas – denominados de

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direitos transindividuais, que pode ser dividida em virtude de suas espécies em:

difusos, coletivos e individuais homogêneos, cuja abrangência decresce nessa ordem.

O Ministério Público, que nos termos da Constituição Federal de 1988 tem como uma

das suas principais funções a proteção dos interesses transindividuais passa a ter

maior importância neste novo cenário das relações de consumo. (GUIMARÃES, 2003).

O Estatuto Consumerista trata dos casos de publicidade e propaganda

enganosa de forma contraditória, embora a intenção do legislador tenha sido

desestimular tal conduta, as sanções aplicadas relativas à esfera penal e as quais

estão previstas nos arts. 66 a 68 do CDC não resultam do efeito esperado, pois são

considerados pelo legislador como crimes de menor intensidade. O art. 37, parágrafo

1º, do CDC traz em seu texto o conceito de propaganda enganosa e comparando ao

crime de estelionato (art. 171 do Código Penal), conclui-se que o legislador privilegiou

os publicitários, pois devido a semelhança dos delitos as penas não deveriam ser tão

diferentes. Já no que diz respeito às esferas civil e administrativa o Estatuto atua de

forma apropriada e efetiva. (LEDIER, 2005).

O CDC não visa apenas a proteger os interesses difusos e coletivos

preconizados pela Constituição Federal, essencialmente com relação ao direito do

consumidor, passa a ter maior efetividade com o seu advento em 1990. Embora o

Código Consumerista trate somente da defesa em juízo de 4 interesses individuais

homogêneos com a aplicação subsidiária da Lei de Ação Civil Pública – LACP (Lei nº

7.347/85), ambos, conjuntamente, regem as ações que versem sobre quaisquer tipos

de interesse coletivo e, mais especificamente, aqueles que visam à proteção de

interesses difusos e coletivos. (LOVATO, 2006).

O CDC também prevê infrações penais de aplicabilidade duvidosa como,

por exemplo, a infração prevista no art. 66, onde: “Fazer afirmação falsa ou enganosa,

ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade,

segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços”

acarretará em pena de detenção de 03 (três) meses a 01 (um) ano e multa. O agente

praticante da infração penal prevista no CDC não é passível de reinserção,

reeducação e reabilitação social como é o caso das infrações penais previstas no CP,

e que a inaplicabilidade desde artigo ao agente infrator leva a maior prática desse

delito. Assim o que socorrerá o consumidor será a adoção de sanções administrativas

já previstas no próprio CDC. (BAGGIO, 2008)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proteção dos denominados direitos transidividuais passou a ter maior

importância neste novo cenário das relações de consumo, vez que, de uma 5 forma

geral, os interesses da coletividade assumem proporções cada vez mais acentuadas.

Devido às dificuldades na aplicabilidade das penas previstas para a prática de

infrações penais, a atuação do Ministério Público, através de Ação Civil Pública –

aplicado subsidiariamente ao Código de Defesa do Consumidor, faz-se necessária

para socorrer a coletividade na amplitude da proteção dos direitos previstos no

Estatuto Consumerista.

REFERÊNCIAS

BAGGIO, Alexandro Rodeguer. Inaplicabilidade do Artigo 66 do Código de Defesa do

Consumidor – Indicativos para Adoção do Direito Administrativo Sanciador. Revista

do Direito Público. Janeiro a Abril de 2008. Disponível em:

<http://www2.uel.br/revistas/direitopub/pdfs/VOLUME_3/num_1/Alexandre%20B

aggio%5B1 5D.pdf>. Acesso em: 07/maio/2008

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.

Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.

Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso

em: 03 mar. 2008.

GONÇALVES, João Bosco Pastor. Princípios gerais da publicidade no Código de

Proteção e Defesa do Consumidor. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 58, 1

ago. 2002. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/3181>. Acesso em: 23 abr. 2008.

GUIMARÃES, Márcio Souza. Aspectos coletivos das relações de consumo.. Revista

Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 62, 1 fev. 2003. Disponível em:

<https://jus.com.br/artigos/3789>. Acesso em: 22 abr. 2008.

LEDIER, Roberto Angotti. O estelionato privilegiado e a publicidade enganosa.

Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 647, 16 abr. 2005. Disponível em:

<https://jus.com.br/artigos/6573>. Acesso em: 07 maio. 2008.

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LOVATO, Luiz Gustavo. Direitos transindividuais do consumidor em juízo e os

princípios fundamentais. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 946, 4 fev.

2006. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/7920>. Acesso em: 30 abr. 2008.

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RAÍZES ROMANAS DO DIREITO IUS VITAE AC NECIS DO PATER FAMILIAS AO

NOVO CÓDIGO CIVIL

Alex Luciano de Oliveira

INTRODUÇÃO

O Direito Romano foi um marco na história do mundo ocidental, sua

influência ainda nos atinge como um eco de princípios e conceitos. Tratando das

posses às relações da família e Estado, muito mudou no mundo moderno, porém suas

bases no direito ainda nos rodeiam.

OBJETIVO

O trabalho tem como objetivo mostrar paralelos e diferenças distintas entre

o Direito moderno e conceitos antigos abordados no Direito Romano.

DESENVOLVIMENTO

O direito tem inicio na antiguidade clássica como forma de se harmonizar a

sociedade, mas é em Roma que atinge o ponto de maior destaque com espantoso

desenvolvimento e complexidade.

Em sua base temos a família romana, composta do Pater familias como

chefe máximo da instituição familiar e cujo poder (ius vitae ac necis) era absoluto

sobre a esposa e descendentes, tendo poder de vida e morte sobre eles. Esse poder

se ameniza por influencia cristã, pois já nas institutas de Justiniano há restrição do

poder patriarcal sobre a vida da família.

Dessa forma podemos constatar de onde advém a idéia de que o homem é

o núcleo da família e que a mulher é inferior, idéia essa presente até o Código de

1916, sendo descartada na Constituição de 1988 e novamente no novo Código Civil

de 2002.

Assim o direito romano se estende sobre vários campos a exemplo da

propriedade, sua a classificação era dividida em: publica: pertencente ao Estado para

uso de todos. Ex: praias, leitos de rios construções publicas e etc; privada: comprada

ou adquirida pelo cidadão. Ex: casa, propriedade rural e bens móveis; neutra: advinda

dos deuses ou a eles dedicado. Ex: templos, oráculos e etc. Desses exemplos nos

vem a idéia do privado e do publico, tendo o neutro se incorporado pelo publico.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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De Roma nos chega ainda um principio grego muito disseminado no direito

romano que é a boa fé e a ética no processo e na vida civil, portanto impulsionando a

justiça e uma vida justa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os pontos comuns e divergentes entre o direito atual e o Romano são

deveras inúmeros, desta forma foi objetivado neste trabalho mostrar uma parcela

ínfima dessa influência do Direito Romano sobre nossos conceitos e até preconceitos

atuais.

BIBLIOGRAFIA

RIBEIRO, Simone Clós Cesar. As inovações constitucionais no Direito de Família.

Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 58, 1 ago. 2002. Disponível em:

<https://jus.com.br/artigos/3192>. Acesso em: 13 fev. 2008.

TOMASZEWSKI, Adauto de Almeida. Breves Considerações Sobre o Direito Das

Coisas no Novo Código Civil. 2003 Disponível em:

<http://www.mundojuridico.adv.br/cgi-bin/upload/texto618.rtf> Acesso em: 03 set

2007.

OUSA, Luiz Gustavo de Lacerda. O instituto da arbitragem no processo civil romano.

Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 581, 8 fev. 2005. Disponível em:

<https://jus.com.br/artigos/6288>. Acesso em: 22 jun. 2007.

CAVALCANTI, Wilker Batista. União estável e entidade familiar: breves considerações.

Jurisway. 2008. Disponível em: <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=869 >

Acesso em: 16 nov. 2008..

JUSTINIANO, Flavius Petrus Sabbatitus. Institutas Do Imperador Justiniano. 1.ed.

São Paulo: EDIPRO, 2001.

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RELAÇÕES ENTRE O DIREITO AMBIENTAL E O CONTROLE EXTERNO DO

PATRIMÔNIO NATURAL BRASILEIRO

Guilherme B. de Miranda, Aline de Oliveira

INTRODUÇÃO

Os recursos naturais do Brasil têm um valor quase incalculável e é

cobiçado pelos interesses estrangeiros desde há muito tempo. A exploração

clandestina realizada por empresas e governos do exterior ocorre, apesar dos

esforços das autoridades brasileiras em bloquear tal atitude. Porém, mesmo com a

tecnologia para rastreamento territorial disponível atualmente, não é possível proteger

tão grande extensão territorial.

OBJETIVO

O objetivo deste trabalho foi motivar discussões sobre como a educação

ambiental poderia diminuir a pressão de exploração externa e injusta dos recursos

naturais brasileiros, sem uma prévia avaliação do custo/benefício para as gerações

futuras do país.

DESENVOLVIMENTO

Um modo de se iniciar essa discussão é questionando como a

aplicabilidade do conhecimento, no que se refere à questão ambiental, está sendo

disponibilizada no Brasil. O país está “vendendo” seu patrimônio natural de modo

consciente ou está sendo vítima de predação insustentável?

Não se trata especificamente de uma discussão no âmbito educacional. Há que

promover um olhar atento sobre como a construção da consciência ambiental está

sendo elaborada pela sociedade civil e pelas organizações, reverberando na esfera do

direito.

Mesmo atualmente, com toda a tecnologia disponível, é difícil avaliar os

custos das riquezas disponíveis no Brasil. A Contabilidade Ambiental tem se esforçado

nesse sentido, mas os parâmetros técnicos (ou variáveis ambientais) são tantos que

esse trabalho é deveras complexo. Entretanto, muita coisa foi realizada, e é possível

ter, atualmente, bons meios de cálculos ambientais para embasar o Direito Ambiental.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através de um modelo que não leva em conta a relação sobre as perdas e

ganhos para a exploração econômica do patrimônio natural disponível, o homem,

desde o período colonial da história brasileira, vem consumindo os recursos naturais

renováveis e não renováveis numa proporção crescente. Motivar a discussão sobre a

importância da educação ambiental para fomentar a quebra desse processo é de

suma importância.

BIBLIOGRAFIA

ANTUNES, P de B. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris Ltda.,

1996. 446p.

CARNEIRO, R. Direito ambiental: Uma Abordagem Econômica. 1 ed. Rio de

Janeiro: Editora Forense, 2001. 161p

CONAMA, Conselho Nacional de Meio Ambiente, Resolução Conama n.º 001, de 23

de janeiro de 1986. 320p.

DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro, 16 ed. v. 7. São Paulo: Editora

Saraiva, 2002. 582p.

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SONEGAÇÃO FISCAL E CONSEQUÊNCIAS LEGAIS

Silvia Regina Severino

INTRODUÇÃO

Para aperfeiçoar o sistema romano de arrecadação, foi instituída por

Diocleciano (imperador romano de 234 a 305), a fiscalização no combate a sonegação

fiscal por parte dos proprietários de terras. Passados mais de 1.700 anos, o crime de

sonegação fiscal continua sendo praticado. No Brasil, a Lei nº 8.137/90 define crimes

contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo; o Código

Penal, no art. 337-A, trata da contribuição social previdenciária.

OBJETIVO

Pretendeu-se analisar a sonegação fiscal e algumas conseqüências frente

ao ordenamento jurídico brasileiro.

DESENVOLVIMENTO

Parte dos contribuintes evitam o pagamento dos tributos por motivos

diversos, alguns dos quais poderiam até ser considerados "legítimos“. Se os motivos

são diversos, são várias as formas de fugir à tributação: alguns simplesmente não

pagam sua obrigação tributária, enquanto outros utilizam-se de meios fraudulentos,

para que esse não pagamento não deixe vestígios.

O Estado aplica multas e encargos financeiros, para coibir a inadimplência,

cobrando administrativa e judicialmente os tributos devidos. Já com relação aos

fraudadores, a resposta mostra-se mais enérgica, conferindo a tais condutas o status

de crimes, considerados como sonegadores fiscais.

O Direito Penal Tributário deve existir, com sanções sendo impostas as infrações por

sonegação fiscal e tributária, com os valores a ela introduzidos, e não como um

instrumento de arrecadação e substituindo a LEF (Lei 6830/1980).

O intérprete da lei deve ordenar os elementos dos tipos penais com a

sistemática penal, pois mediante a apuração do ilícito tributário pode-se configurar o

fato gerador, daí sim poderá ser apurado o ilícito penal sob pena de violação dos

axiomas nullum accusatio sine probatione e nulla probatio sine defensione, pois, para

provimento condenatório, o MP deve provar a materialidade da sonegação fiscal ao

longo do processo.

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Com a criação da lei 8.137/90, que permite ao Estado aplicar as sanções

de combate à sonegação fiscal, o mesmo passou a criar dispositivos legais que,

contrariamente, passaram a privilegiar esses crimes, tem-se possibilitado a extinção

da punibilidade pelo pagamento do tributo a qualquer tempo; ou a suspensão do

processo pelo parcelamento dos débitos. Esses privilégios demonstram que na

verdade, o Estado está se valendo do direito penal tributário como instrumento de

arrecadação, não importa o crime cometido para sonegar, desde que o Estado receba

o que lhe é devido. Do outro lado, existem os demais crimes, com uma punibilidade

rigorosa e implacável, sendo que alguns desses delitos possuem uma característica

típica muito semelhante aos crimes de sonegação fiscal, somente diferindo-se por

atentarem contra bens jurídicos, do que os delitos contra a ordem tributária. Diante

desta realidade aos crimes comuns não tem sido dado o mesmo tratamento legal

benéfico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que, atualmente, a tentativa de sonegação fiscal tem

aumentado inversamente á arrecadação tributária. Os entes estatais têm se deparado

com delitos fiscais cada vez mais elaborados, o que poderia criar dificuldades na

arrecadação, além de motivar a edição de normas cada vez mais contundentes.

BIBLIOGRAFIA

BARROSO, Luís Roberto. Temas de Direito Constitucional, v. 3, Rio de Janeiro:

Renovar, 2005.

BRASIL, Lei nº 8.137, de 27 de Dezembro de 1990. Define crimes contra a ordem

tributária, econômica e contra as relações de consumo, e dá outras providências.

Diário Oficial da Republica Federativa do Brasil, de 28 de dezembro de 1990.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8137.htm>. Acesso em: 22

fev. 2008.

LOPES, Carlos Côrtes Vieira. O problema social decorrente da sonegação fiscal.

Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1345, 8 mar. 2007. Disponível em:

<https://jus.com.br/artigos/9572>. Acesso em: 23 mar.. 2008.

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SIQUEIRA, Flávio Augusto. A Sonegação Fiscal à Luz do Garantismo Penal: O

Parcelamento do Débito Tributário e a Interligação das Instâncias Administrativas e

penal. UEL. 2006 Disponível em: <http://www2.uel.br/revistas/direitopub/pdfs/vol

_01/ANO1_VOL_1_02.pdf> Acesso em:03 set. 2008.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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UMA ESTRATÉGIA BRILHANTE

Raul Marinho

Com o sucesso que o filme “UMA MENTE BRILHANTE” está fazendo, a

história do matemático John Forbes Nash Jr. se tornou popular. Mas suas ideias ainda

não. Muito mais interessante que sua esquizofrenia ou seu casamento, o trabalho de

Nash foi tão revolucionário que não foi aceito como tese de doutorado em Princeton

em 1950 (ao contrário do que o filme dá a entender) para ser reconhecido com o

Nobel em 1994. Na verdade, aquele Nobel foi um reconhecimento da comunidade

científica sobre um trabalho desdenhado 44 anos antes.

Nash trabalhou sobre o que ficou conhecido como “Teoria dos Jogos”. Esta

teoria foi concebida em 1944 por dois outros matemáticos: Oskar Morgenstern e John

von Neumann; este último famoso por ter sido um dos pais da bomba atômica e do

computador digital. A “Teoria dos Jogos”, assim como o trabalho de Nash, é

extremamente polêmico. Morgenstern e Neumann conceberam uma série de “jogos”

onde os “jogadores” se defrontavam com situações em que tinham que realizar

escolhas com base na escolha do outro “jogador”. O “jogo” mais famoso ficou

conhecido como “O Dilema do Prisioneiro”, uma função matemática que explica a

cooperação ou não-cooperação entre os “jogadores”. O que Nash fez foi explicar o

ponto de equilíbrio desta cooperação, no que ficou conhecido como “O Equilíbrio de

Nash”. Mas o que o matemático fez de realmente notável foi expandir esses conceitos

puramente matemáticos para o mundo das ciências sociais, inicialmente a economia.

Da economia, a “Teoria dos Jogos” migrou para a sociologia, a

antropologia e ficou especialmente interessante quando chegou à biologia. Hoje em

dia, o que existe de mais moderno em direito, administração, psicologia, e uma série

de outras disciplinas aplicadas deriva da “Teoria dos Jogos”. E, após o Nobel de Nash,

o assunto ganhou tanta importância que hoje norteia importantes correntes

acadêmicas de pensamento no mundo. Na biologia, a “Teoria dos Jogos” encontrou

grande receptividade na zoologia em geral e na etologia em particular quando se

percebeu que os animais também “jogavam”, em muitos casos de forma análoga ao

homem. Neste ponto, houve a mistura de conceitos e disciplinas diversas, o que

dificultou a compreensão do todo. Seria a matemática (“Teoria dos Jogos”) explicando

o comportamento animal (etologia) que, por sua vez, explicaria o comportamento

humano (Sociologia e Antropologia) que levaria a consequências no dia-a-dia humano

(economia, administração, direito, psicologia, etc.). Além da complexidade de cada

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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assunto em particular, existe o agravante deles geralmente serem estudados por

grupos antagônicos. Os matemáticos pertencem a um grupo diferente dos biólogos e

dos cientistas sociais e, frequentemente, não se compreendem. Fora isto, quando os

conceitos evolucionistas de Darwin se incorporam a esta salada, volta à tona a

polêmica ética e religiosa com os criacionistas. Somente para ilustrar: segundo uma

pesquisa realizada em 2001 pelo instituto Gallup nos EUA, 57% dos norte-americanos

não acreditam que o homem é uma evolução dos símios. Note-se que isto decorre do

trabalho de Darwin feito no século XIX (1859, para ser preciso). Se Darwin ainda é

polêmico hoje em dia, imagine Neumann, Morgenstern e Nash! Este assunto é

extenso, complexo e fascinante.

Os desdobramentos dele atingem o que de mais interessante existe nas

relações humanas. Na economia, existem exemplos fantásticos, como o tema do

Nobel de 2001 sobre informações assimétricas. Em sociologia e antropologia, estudos

sobre cupins e formigas levaram à criação da sociobiologia, com conceitos muito

interessantes para explicar nosso complexo arranjo social. Estudos sobre símios

revelaram um novo conceito psicossocial, o MPI (Male Parental Investment ou, mal

traduzindo, Taxa de Investimento Paterno) que explicaria as razões básicas

emocionais que levariam uma mulher a se interessar por um homem. No direito e na

justiça, inúmeros conceitos de “Teoria dos Jogos” vêm sendo utilizados para a

formatação de concorrências públicas mais eficazes e contratos mais justos e

aplicáveis, assim como está sendo mais fácil prever a ocorrência de crimes como

estupro.

Em administração de empresas, a aplicação da etologia em geral e da

“Teoria dos Jogos” em particular oferece um vasto campo de trabalho. Aplicações de

conceitos de observação de chimpanzés, por exemplo, nos ensinam muito sobre as

estruturas de poder nas relações corporativas. Estudos sobre a repetição contínua do

“Dilema do Prisioneiro” por outro lado, levam a conclusões surpreendentes sobre

estratégias profissionais de longo prazo. Tudo isto leva à criação de estratégias

empresariais verdadeiramente brilhantes, onde a grande vantagem é a aderência à

mecânica comportamental do ser humano.

Hoje em dia, governos e empresas têm utilizado a “Teoria dos Jogos” para

suas estratégias microeconômicas. Basicamente, sempre que a sua decisão é

interdependente e simultânea em relação à decisão do outro, estes conceitos podem

ser aplicados. Um bom exemplo são as estratégias mais ou menos protecionistas que

os governos adotam no comércio internacional, onde o objetivo é maximizar o

rendimento total variando o grau de cooperação entre países em função da reação do

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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restante do mundo relacionada à sua própria decisão. Simplificando a “Teoria dos

Jogos”, o que se pretende é responder à pergunta: “O que é mais vantajoso para mim,

tendo em mente que a minha decisão vai implicar em uma reação da(s) outra(s)

parte(s): cooperar ou desertar?” A resposta a esta pergunta leva a desdobramentos

espetaculares, onde a melhor estratégia nem sempre é o que parece ser. Exatamente

aí é que está o brilho desta estratégia. Brilho nem sempre percebido, diga-se.

BIBLIOGRAFIA

FIANI, Ronaldo. Teoria dos jogos. São Paulo: Elsevier Brasil, 2006.

NEGRA, Carlos Alberto Serra. Teoria dos jogos aplicados à educação a distância.

Expediente, p. 128, 2007.

SALVO, Mauro. A Teoria dos Jogos e as Negociações da ALCA. Análise–Revista de

Administração da PUCRS, v. 18, n. 1, 2007.

TYSZLER, Marcelo. Teoria dos jogos. Revista de Administração de Empresas, v.

46, n. 3, p. 142-142, 2006.

Leia aqui a biografia de John Nash Jr., escrita por ele mesmo:

www.nobel.se/economics/laureates/1994/nash-autobio.html

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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A EUTANÁSIA E O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA

HUMANA

Patrícia Barbosa Campos

RESUMO

O presente trabalho aborda a eutanásia, sua evolução histórica, as suas espécies, as

correntes favoráveis e contrárias a sua prática e sua perspectiva atual ante as

legislações vigentes. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana e o

princípio da autonomia da vontade são os pontos fundantes das correntes favoráveis a

prática da eutanásia e são discutidos no presente estudo, onde encontramos à

discussão doutrinária a cerca do direito de morrer, do direito à vida e do direito sobre à

vida. Há ainda a diferenciação entre a eutanásia e o suicídio assistido. O presente

estudo, visa elencar os aspectos determinantes que devem ser considerados, para

que o ser humano tenha garantida a sua dignidade mesmo diante um estágio

avançado de doença terminal. Palavras-chaves: eutanásia, suicídio assistido,

dignidade da pessoa humana e autonomia da vontade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARCELLOS. Ana Paula de. A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: O

principio da dignidade da pessoa humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

BURGIERMAN. Denis Russo. O direito de morrer. São Paulo: Revista Super

Interessante. ano 15, n° 3, p.42-50, março 2001.

DINIZ. Maria Helena. O estado atual do biodireito. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

NUNES. Luiz Antônio Rizatto. O princípio constitucional da dignidade da pessoa

humana: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2002.

RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993.

SZTAJN, Rachel. Autonomia privada e direito de morrer: eutanásia e suicídio

assistido. São Paulo: Cultural Paulista – Universidade da Cidade de São Paulo, 2002.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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O DIREITO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE REAÇÃO AO

CONTROLE EXTERNO DO PATRIMÔNIO AMBIENTAL NATURAL BRASILEIRO

João Carlos de Lima Barros, Rogério Milanesi M. Chaves Faculdade Marechal Rondon

INTRODUÇÃO

Quando se pretende interferir na natureza para a exploração de seus

recursos, devem- se considerar os custos e benefícios sociais ao longo do tempo. Por

exemplo, um método agrícola que inicialmente pode fornecer grande produtividade

pelo uso de certos produtos pode, em um tempo seguinte, provocar tamanha perda ao

meio ambiente natural que seu incremento produtivo não compensaria. Em todos os

casos, caberia identificar e medir as perdas e ganhos (custo/benefício), em valores

econômicos, com que arcará a sociedade.

O patrimônio ambiental brasileiro (ou, mais propriamente dito, patrimônio

natural brasileiro) envolve os recursos naturais (em termos genéricos), os recursos

naturais renováveis e os recursos naturais exauríveis ou não renováveis. Os recursos

naturais, em termos genéricos, são entendidos como os mais variados meios de

subsistência que as pessoas obtêm diretamente da natureza. Os recursos naturais

renováveis, uma vez aproveitados em um determinado lugar e num dado tempo,

permitem ser utilizados neste mesmo lugar em tempo decorrente de sua valia. Já os

recursos naturais exauríveis são aqueles sobre os quais toda exploração traz consigo

sua irreversível diminuição. É importante observar que o termo “meio ambiente” pode

se referir ao meio ambiente natural ou artificial, sendo fulcro deste trabalho o primeiro

caso.

O Direito Ambiental diferencia-se de legislação ambiental por considerar,

além do conjunto de textos dos diplomas e normas legais, as jurisprudências e demais

instrumentos da ciência jurídica aplicados ao meio ambiente. Atualmente, tem

surgido a nomenclatura “Direito Ecológico”, sendo esta de pouco uso por ter sido

considerada imprópria, por induzir ao entendimento de que se refere somente aos

ecossistemas.

Diante da complexidade interativa da sociedade e do meio, é pertinente

pensar a educação ambiental fazendo uso de uma idéia de MORIN (1993) que propõe

três níveis de aprendizagem: (a) a transferência de informação; (b) o conhecimento – o

desenvolvimento de habilidades relativas à significação e à inter-relação dessas

informações; e (c) a aplicabilidade do conhecimento - desenvolvimento da capacidade

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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de disponibilizar o conhecimento adquirido para benefício do mundo através da sua

atuação cidadã e consciente. Dessa forma, a educação ambiental pode se constituir

como um processo no qual o ser humano aprende a fazer uso desses três níveis da

aprendizagem, podendo construir uma relação ética e coerente com o meio ambiente.

Segundo a Resolução Conama no 02/85, o processo de informação social dever ser

orientado para: (I) o desenvolvimento de consciência crítica sobre a problemática

ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a

evolução dos problemas ambientais, tanto em relação aos seus aspectos biofísicos,

quanto sociais, políticos, econômicos e culturais; (II) o desenvolvimento de habilidades

e instrumentos tecnológicos necessários à solução dos problemas ambientais; e (III) o

desenvolvimento de atitudes que levem à participação das comunidades na

preservação do equilíbrio ambiental.

O objetivo deste trabalho foi motivar discussões sobre como a educação

ambiental poderia diminuir a pressão de exploração externa e injusta dos recursos

naturais brasileiros, sem uma prévia avaliação do custo/benefício para as gerações

futuras do país.

DESENVOLVIMENTO

Um modo de se iniciar essa discussão é questionando como a

aplicabilidade do conhecimento, no que se refere à questão ambiental, está sendo

disponibilizada no Brasil. O país está “vendendo” seu patrimônio natural de modo

consciente ou está sendo vítima de predação insustentável?

Não se trata especificamente de uma discussão no âmbito educacional. Há

que promover um olhar atento sobre como a construção da consciência ambiental está

sendo elaborada pela sociedade civil e pelas organizações, reverberando na esfera do

direito.

Mesmo atualmente, com toda a tecnologia disponível, é difícil avaliar os

custos das riquezas disponíveis no Brasil. A Contabilidade Ambiental tem se esforçado

nesse sentido, mas os parâmetros técnicos (ou variáveis ambientais) são tantos que

esse trabalho é deveras complexo. Entretanto, muita coisa foi realizada, e é possível

ter, atualmente, bons meios de cálculos ambientais para embasar o Direito Ambiental.

De posse dos dados contábeis ambientais, é possível estimar-se o

patrimônio natural brasileiro, se não em todas as suas formas, pelo menos em áreas

definidas dentro de certos ecossistemas. Não somente pelo saber contábil ambiental

exteriorizado, mas, e principalmente, pela sua apropriação para o desenvolvimento

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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pró-ativo da consciência do valor do patrimônio ambiental em questão. A constituição

desse patrimônio tem, em verdade, dupla relevância para o universo da cidadania. Ou

seja, respectivamente, o participar da contabilidade ambiental como saber “per si”,

propiciando o planejamento e sua aplicabilidade no setor produtivo, valorizando a

relação de perdas e ganhos (custo/benefício) e, com destaque, a apropriação desse

conhecimento para o desenvolvimento da consciência pelo cidadão do valor do

patrimônio ambiental.

As ações na sociedade estão substanciadas pela lei. Cabe ao Estado

efetivar políticas públicas para proteger e preservar o meio ambiente como possibilitar

a sua exploração de forma sustentável. É raciocínio seqüencial prever que maior será

a possibilidade de êxito do legislador ao criar normas reguladoras quando, de um lado,

exista a posse dos dados da contabilidade ambiental para análise e, de outro, uma

sociedade consciente do valor do patrimônio natural brasileiro.

A defesa ambiental tem sido uma preocupação constante. Visível está que

muito ainda há para se caminhar. Em parte, o problema resulta da falta de dimensão

cultural da gestão do patrimônio natural ambiental. A disseminação dos

conhecimentos advindos tanto da Educação Ambiental como do Direito podem

transformar práticas tradicionais de gestão ambiental e instrumentalizar eficientemente

para a defesa interna e externa dos recursos naturais.

Quanto ao preparo dos operadores da lei, esforço de grande envergadura

deverá ser empreendido fundamentado numa práxis multidisciplinar de diálogo com a

complexidade da questão ambiental. A educação ambiental está hoje no escopo das

mais diversas áreas do conhecimento. Uma vasta bibliografia está disponível para o

diálogo, necessitando de urgente integração. Não é o caso aqui de colocar de lado a

importância do estudo da norma jurídica como elemento de entendimento das relações

sociais. Ao contrário: a regulamentação da política ambiental é de importância basilar

para um modelo econômico mais justo e menos predatório em relação aos recursos

naturais, sendo portanto fundamental a sua análise e conhecimento. Mas a norma em

separado não é suficiente para a compreensão do todo. As leis e os regulamentos

compõem apenas uma parte do processo social e esse corpo jurídico necessita para

seu fundamento do contexto fático e valorativo. Esse diálogo entre o direito e as

demais ciências faz-se urgente para a eficiente articulação entre os conhecimentos no

contexto ambiental.

Entretanto, a lei de nada vale se não for possível a sua aplicação e, no

caso deste trabalho, quando se trata de proteger o patrimônio natural brasileiro, ativar

a participação do cidadão através da aplicabilidade do conhecimento na esfera da

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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educação ambiental: um titânico desafio para a nação, compromisso inadiável tanto

para o Estado como para a sociedade. Efetivar as intenções e princípios do diploma –

Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999, que estabelece sobre a educação ambiental e

institui política nacional de educação ambiental – é premente e requer uma apreciável

vontade política no desempenho das atividades estatais. É na esfera sócio-cultural que

se insere a política de educação ambiental. Ela está intimamente vinculada ao grau de

mobilização da sociedade de maneira a ancorar as organizações políticas públicas

para conceber e executar os princípios constitucionais e as intenções e normas das

legislações infra-constitucionais. Primeiramente, o cidadão deve estar consciente do

seu papel na relação para com o outro e na conservação dos recursos exauríveis e,

secundariamente, mas não posteriormente, deve estar preparado para atuar com

relação ao controle externo do patrimônio ambiental natural brasileiro. Para cuidar é

necessário valorizar. Assim, o cidadão com presença de espírito disponibilizará

habilidades para zelar de forma a evitar ou diminuir as ações externas no Brasil, que

tentam explorar injustamente suas reservas naturais. Sabido está que a educação é o

caminho para a plena realização da lei. A educação ambiental, com ênfase no

patrimônio ambiental natural brasileiro, poderia trabalhar conjuntamente com sistemas

legais ágeis (leis e processos), dando sustentação a uma efetiva reação ao controle

externo do patrimônio ambiental natural do Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através de um modelo que não leva em conta a relação sobre as perdas e

ganhos para a exploração econômica do patrimônio natural disponível, o homem,

desde o período colonial da história brasileira, vem consumindo os recursos naturais

renováveis e não renováveis numa proporção crescente. Motivar a discussão sobre a

importância da educação ambiental para fomentar a quebra desse processo é de

suma importância. Destaca-se a necessidade de se lançar um novo olhar para a

questão ambiental e gerar meios para a sua proteção e exploração econômica

sustentável. É preciso repensar as bases que estruturam essa relação a partir de um

novo paradigma científico multidisciplinar movido por outros conceitos, métodos,

princípios, instrumentos e práticas que, em seu conjunto, ampare políticas públicas as

quais equacionem a dinâmica entre a economia e o meio ambiente. Em relevo, o

Direito e a Educação são pilares na execução final de um controle interno para evitar

ou diminuir o controle externo na exploração dos recursos ambientais naturais

brasileiros.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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BIBLIOGRAFIA

ANTUNES, P de B. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris Ltda., 1996. 446p. CARNEIRO, R. Direito ambiental: Uma Abordagem Econômica. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2001. 161p. BRASIL. Resolução CONAMA no 001 de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 de fevereiro de 1986. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=23>. Acesso em: 18 jun. 2005. DAJOZ, R. Ecologia geral. Trad. Francisco M. Guimarães. Petrópolis: Editora Vozes e Universidade de São Paulo, 1973. 472 p DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro, 16 ed., v. 7. São Paulo: Editora Saraiva, 2002. 582p. DIXON, John A. et al. Economic Analysis of Environmental Impacts, 2 ed.. London: Earthscan Publications, 1994. 420p. GUIMARÃES, M. A. Dimensão ambiental na educação. 1 ed.. São Paulo: Editora Papirus, 1995. 350p. MORIN, E. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 3 ed.. São Paulo: Editora Cortes, 2001. 116p. FOLHA DE SÃO PAULO. Tofler e Morin debatem sociedade pós-industrial. Folha de São Paulo World Media. São Paulo, 12 dez. 1993. SÉGUIN, E. O Direito Ambiental: Nossa Casa Planetária. 1 ed.. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000. 343p. SPADOTTO, A. J.; CARVALHO, J. A.; MÜLLER, J. A.; GABRIEL FO, A.; BARBERIS, P. L. Tópicos de tecnologia fractal no manejo da biodiversidade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CONSERVAÇÃO E MANEJO DA BIODIVERSIDADE, 1, 1999. Ribeirão Preto. Anais ... Ribeirão Preto: CEA, 1999. 1 CD-ROM. SPADOTTO, A. J.; GARCIA, L. H.; BARBERIS, P. L.; AZEVEDO, R. B; REZENDE, M. A. Drainage basin’s analysis through the fractal dimension. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON ENVIRONMENTAL GEOTECHNOLOGY AND GLOBAL SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 5, 2000. Belo Horizonte, Brazil. Electronic Proceedings... UFMG, 2000. 1 CD-ROM. WEBSTER'S. Webster's third new international dictionary. Chicago, G. & C. Merriam Co., 1976. 3 v. 3136 p.

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RELAÇÃO ENTRE O DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E A MOROSIDADE DA

PRESTAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL BRASILEIRA

Robson Fernando Pereira

INTRODUÇÃO

“A justiça tarda, mas não falha”. Num Estado Democrático de Direito, é

inadmissível que ditados populares como este, sirvam de consolo àqueles que

buscam a prestação da tutela jurisdicional, para solução de seu problema.

Aprendemos, em I. E. D., que o Direito é uma ferramenta para equilibrar as

relações sociais, de modo que, o Estado chamou para si a responsabilidade de

administrar os conflitos evitando assim, que os mais “fortes” ou “favorecidos”

sobrepujem os mais “fracos” ou “desfavorecidos” num conflito de interesses.

Veremos adiante, em Direito Administrativo, que um dos princípios da

Administração Pública é a eficiência, logo, se o Estado é responsável pela

prestação da tutela jurisdicional, não poderia fazê-la de outra maneira, senão

eficientemente, pois aquele que a suscita, tem um problema que não conseguiu

resolver por si só, e almeja essa solução o mais rápido possível.

E como dizer, hoje, que o Estado presta ou administra a justiça de maneira

eficiente, sendo que a média de lapso temporal entre o ajuizamento de uma ação

e a prolação de uma sentença de primeiro grau é de três a quatro anos? Além

disso, ressalta-se que o nosso ordenamento jurídico prevê a ampla defesa,

sendo que, um princípio inerente a ela, é a possibilidade de revisão de uma

sentença por um órgão “hierarquicamente superior”, ou seja, o duplo grau de

jurisdição. Nesse caso, uma ação, dependendo de como é conduzida, pode se

estender pelo dobro, triplo ou até mesmo o quádruplo desse tempo.

O objetivo desse trabalho é o de verificar ou não o relacionamento

entre a atual morosidade da prestação da tutela jurisdicional brasileira e o duplo

grau de jurisdição.

DESENVOLVIMENTO

Não adianta apenas ficar reclamando da morosidade da Justiça. Há de se

indicar as causas das deficiências e apresentar propostas para soluções ou

melhora do problema em nossos Tribunais.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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Para que se obtenha uma razoável duração do processo judicial é

imprescindível pesquisar as causas da morosidade e propor soluções adequadas,

dentro de nossa realidade. Primeiro seria importante encontrar o equilíbrio entre

a celeridade e a outorga de ampla defesa, sem violação do devido processo

legal.

A legislação brasileira, principalmente em se falando de processo civil,

prevê uma gama de recursos para diversos fins. Isso é válido, devido a

falibilidade do ser humano; porém, essa grande quantidade de recursos

proporciona ao operador do Direito, a condição de dirigir o processo de acordo com

o que interessa ao seu cliente, deixando às vezes a Justiça de lado, fazendo-se

com que uma ação se arraste por vários anos.

Outro aspecto a ser pensado, liga os recursos a "tradição" brasileira, má

tradição, por sinal, de estruturar toda a Justiça com base no princípio do duplo

grau de jurisdição, na suposição de que este seja uma exigência constitucional. A

Justiça é uma instituição cara, o que desaconselha que seja prestada, como regra,

em mais de um grau de jurisdição, sem que a causa, pelo seu alcance, justifique o

seu trâmite.

Nesse sentido há opiniões favoráveis e desfavoráveis ao duplo grau de

jurisdição. Favoravelmente, afirma-se que a revisão das decisões do juízo “a

quo” proporciona um controle da atividade do juiz, além de que um juiz de

segundo grau tem mais experiência e por isso, maior capacidade de fazer surgir

soluções para casos concretos. Desfavoráveis, são as opiniões de autores que

afirmam que a imediação feita pelo juiz de primeiro grau capacita- o a propiciar

uma justiça de melhor qualidade, aliado ao fato de que, se toda decisão de

primeiro grau for revista, haverá uma banalização desse juízo. Percebe-se

então que, os argumentos com os quais a doutrina tenta justificar o duplo

grau de jurisdição não são científicos, mas emocionais, pois não se pode

conceber que, pelo fato de a parte vencida se mostrar inconformada com a

sentença, se lhe abram todas as chances de reformá-la, em detrimento daquela

que venceu a demanda; além do que, nem sempre a justiça dos tribunais é mais

justa do que a do juiz singular.

Há que se falar também na imensa quantidade e má qualidades das leis

brasileiras, que proporciona dúvidas de interpretação e descontentamento social;

no maior conhecimento que o cidadão passou a ter sobre seus direitos; na

situação econômica que o país atravessa, além de outros. Tudo isso aumenta a

demanda de ações ajuizadas no Judiciário e conseqüentemente a demora da

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume III Número 3 2008

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prestação jurisdicional.

No dia 7 de fevereiro de 2006, o presidente Lula sancionou a Lei 11.276,

que altera diversos dispositivos do Código de Processo Civil. Segundo esta lei, “O

juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em

conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo

Tribunal Federal”. Pois bem, essa lei limita o recurso de apelação e tem o

evidente escopo de solucionar a imensa carga de trabalho do Judiciário, mas

atropela a Constituição e agride nossa estrutura jurídica, aviltando o aplicador

do Direito.

Então, percebemos que princípios fundamentais estão a se defrontar: de um

lado, o da certeza e segurança jurídicas, do qual, sem nenhuma dúvida, mais se

aproximará quanto mais se reexaminar o julgado; de outro, o da celeridade na

prestação jurisdicional a pedir um provimento dentro de tempo razoável. A

conciliação dos dois princípios - certeza e segurança jurídica; e celeridade -

resultará numa decisão justa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após analisar o assunto, percebe-se que existe sim uma relação íntima

entre a morosidade da prestação jurisdicional do Estado e o duplo grau de

jurisdição, porém viu-se que não é cerceando direitos e editando leis que a

questão será solucionada, e sim com a melhor formação do profissional operador

do Direito, reestruturação do Poder Judiciário e pensando-se em afastamento do

duplo grau de jurisdição, dever-se-ia optar, dentre os males, pelo menor, ou seja,

adotar-se o entendimento - mais próximo da realidade - de Marinoni, de forma que

o duplo grau de jurisdição fosse afastado apenas nas causas de menor

complexidade (não nas de menor valor econômico), nas quais, segundo ele mesmo

anotou, as chances de reforma da decisão em grau de recurso é pequena.

REFERÊNCIAS

CAMARGO, M.L.J.A.; CAMARGO, L. C. A. Restrição de Agravos. Revista

Consultor Jurídico, 2006. Disponível em:

http://conjur.estadao.com.br/static/text/41983,1. Acesso em: 27 mai. 2007.

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OLIVEIRA, L. L. Da morosidade judicial. Associação dos Magistrados Brasileiros,

2006. Disponível em:

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