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Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009 1 REVISTA NPI NÚCLEO DE PESQUISA INTERDISCIPLINAR http://www.fmr.edu.br/npi.html ENDEREÇO POSTAL Faculdade Marechal Rondon FMR Endereço: Estr. Vicinal Dr. Nilo Lisboa Chayasco, 5000 - Chácara Saltinho, São Manuel - SP, 18650-000 Telefone: (14) 3842-2000 FAC São Roque Rua Sotero de Souza, 104 Centro, São Roque SP, Brasil. Telefone: (11) 4719-9300 EQUIPE EDITORIAL Editor Chefe: Prof. Dr. Anselmo Jose Spadotto [email protected] Diretor Acadêmico: Prof. Jefferson Capeletti - [email protected] Suporte Técnico: Kleber Aparecido Rossi - [email protected]

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Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

1

REVISTA NPI – NÚCLEO DE PESQUISA INTERDISCIPLINAR

http://www.fmr.edu.br/npi.html

ENDEREÇO POSTAL

Faculdade Marechal Rondon – FMR

Endereço: Estr. Vicinal Dr. Nilo Lisboa Chayasco, 5000 - Chácara Saltinho, São

Manuel - SP, 18650-000 Telefone: (14) 3842-2000

FAC São Roque Rua Sotero de Souza, 104 – Centro, São Roque – SP, Brasil.

Telefone: (11) 4719-9300

EQUIPE EDITORIAL Editor Chefe: Prof. Dr. Anselmo Jose Spadotto – [email protected] Diretor Acadêmico: Prof. Jefferson Capeletti - [email protected] Suporte Técnico: Kleber Aparecido Rossi - [email protected]

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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SUMÁRIO

ALGUNS ASPECTOS ACERCA DO ISSQN - IMPOSTO SOBRE SERVIÇO DE

QUALQUER NATUREZA

Vinícius Bellini Russo

02 - 04

ASPECTOS DO ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO

Ricardo Caroprese, Luis Gustavo Gonçalves, Vanessa Arruda Longano

05 - 12

ALGUNS ASPECTOS DO DIREITO INDIGENA NA ATUALIDADE

Giovana Daniele Sabonaro Segura, Jeremias Augusto de Moraes Sabonaro Segura,

Rosana Pellegrini Hernandes

13 - 19

ASPECTOS GERAIS DA USUCAPIÃO E USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL

Fabiana Ciarrochi

20 - 21

ASPECTOS JURÍDICOS DO DIREITO AMBIENTAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL

POR DANOS AMBIENTAIS

Carlos Roque Dalla Dea

22 - 23

DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS

Amélia Rodrigues Machado

24 - 29

EUTANÁSIA DIREITO DE VIVER E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Natália Domingues Elias Felix Bueno

30 - 33

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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ALGUNS ASPECTOS ACERCA DO ISSQN - IMPOSTO SOBRE SERVIÇO

DE QUALQUER NATUREZA

Vinícius Bellini Russo

RESUMO

Tem este trabalho de conclusão de curso a finalidade de demonstrar aspectos gerais a

cerca o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISSQN, o qual tem sua

doutrina calcada no Direito Tributário, bem assim, os tipos de serviços desenvolvidos

para que haja a incidência deste tributo. O ISSQN é de competência Municipal e

complementa os recursos próprios da municipalidade, através dos serviços realizados

dentro ou fora de suas limitações territoriais.

Este trabalho possibilitará ao leitor conhecimentos básicos, sobre Tal tributo no que

tange o seu fato gerador, a base de cálculo e alíquota, do referido imposto, pois

mesmo sendo de competência municipal, todos os municípios seguem regras próprias,

contudo com observância das diretrizes impostas pela Constituição Federal.

Palavras-chave: Imposto sobre serviço, direito tributário

REFERÊNCIAS

BALEEIRO, Aliomar de Andrade. Direito Tributário Brasileiro. 11 ed. Rio de Janeiro:

Editora Forense, 2005.

CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Tributário. 24 ed. São Paulo: Editora

Malheiros, 2008

CASTRO, Alexandre Barros. Noções de Direito Tributário. São Paulo: Editora

Saraiva, 2008.

______________________. Procedimento Administrativo Tributário. São Paulo:

Editora Saraiva, 2008.

______________________. Processo Tributário: Teoria e Prática. 3 ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2007.

CHIMENTI, Ricardo Cunha. Sinopses Jurídicas: Direito Tributário. 11 ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2007.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20 ed. São Paulo: Editora

Atlas, 2007.

HARADA, Kioshi. ISS Doutrina e Prática. São Paulo: Editora Atlas, 2008.

MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário, tomo II: Previdência

Social. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2003.

MARTINS, Sérgio Pinto. Manual de Imposto Sobre Serviços. 7 ed. São Paulo:

Editora Atlas, 2006.

PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico, 25 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense,

2004.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 22 ed. São

Paulo: Editora Cortez, 2002.

SOUSA, Rubens Gomes de. Compendio de Legislação Tributária. São Paulo. 1975.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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ALGUNS ASPECTOS DO ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE

TRABALHO

Ricardo Caroprese, Luis Gustavo Gonçalves, Vanessa Arruda Longano

INTRODUÇÃO

O trabalho exposto acerca do Assédio Moral tem a finalidade de

demonstrar alguns aspectos no âmbito profissional, no que diz respeito ao assédio

moral que vem sendo exposto ultimamente, não somente por nós operadores do

Direito, mas pelos meios de comunicação em geral, como por exemplo, artigos de

revistas, sites, jornais ou meio televisivo etc. Ao enfatizar o tema temos as

denominações que são utilizadas com a mesma finalidade ou mesma função em

diversos países, dando seqüência ao trabalho demonstram se as estatísticas pela

renomada Dra Margarida Barreto. E vem dela também o trecho que diz: “(...) a

exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e

constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no

exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e

assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e a ética

de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s),

desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização,

forçando-o a desistirem do emprego.

Com o tema exposto temos ainda os aspectos ou as estratégias utilizados

pelo agressor ao coagir ou coibir seus subordinados dando ênfase ao próximo tópico

que é a natureza psíquica do empregado e por fim do conteúdo programático temos o

projeto de lei – relação jurídica o qual pretende incluir o art. 146-A. Sendo que a

finalidade é a exclusão da vítima, seja pela pressão deliberada da empresa para que o

empregado se demita.

O objetivo desse trabalho foi o de demonstrar o tema assédio moral no

ambiente de trabalho de maneira para as futuras discussões.

DESENVOLVIMENTO

Contesto social em diferentes países sobre o tema Assédio Moral A

expressões utilizadas pelos outros países segundo Patrícia Martins as denominações

do assédio moral é o harcèlement moral (assédio moral) da França; bullying (tiranizar)

da Inglaterra; mobbing (molestar) dos Estados Unidos e murahachibu (ostracismo

social) do Japão significam aquilo que no Brasil denomina-se de assédio moral, de

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maneira psíquica aterrorizar ou desestabilizar o ambiente de trabalho, denunciado pela

jornalista inglesa Andréa Adams, no livro "Bullying at Work" em 1992. Falecida em

1995 propugnou a tipificação do assédio moral no trabalho como forma delituosa. A

Suécia, Alemanha, Itália, Austrália e Estados Unidos já legislaram em favor das

vítimas dessa forma distorcidas de relacionamento no trabalho. Embora se trate de

ocorrência tão antiga quanto o próprio trabalho, no Brasil, em nível de serviço público

ou privado, o tema surge apreciado de forma tímida, conforme iremos ver no evoluir

deste trabalho (MARTINS, 2005)

Estatística do assédio moral

No Brasil atinge 36% dos brasileiros. O assédio vem ganhando espaços

cada vez maiores na mídia e nas discussões que envolvem os trabalhadores por ser

uma das várias formas de violência que atingem, principalmente, a mulher. Uma

pesquisa realizada pela médica do trabalho Margarida Barreto da PUC de São Paulo.

A pesquisa realizada entre 2001 e 2005, em todos os Estados brasileiros,

mostrou que o assédio moral acontece de Norte a Sul do País. De um universo de

42,4 mil trabalhadores de empresas públicas, privadas, governos e organismos não-

governamentais, dez mil haviam sofrido algum tipo de humilhação no trabalho. Aponta

que 36% da população brasileira economicamente ativa, que está trabalhando, passa

por violência moral. Nos países europeus, segundo a organização internacional do

Trabalho, esse índice cai para 10% e nos Estados Unidos, para 7%.

Define-se por assédio moral toda "exposição prolongada e repetitiva do

profissional a situações humilhantes e vexatórias no ambiente de trabalho". De acordo

com Margarida Barreto, "essas humilhações se caracterizam por relações hierárquicas

desumanas e autoritárias onde a vítima é hostilizadas e ridicularizadas diante dos

colegas e isolada do grupo". O assédio moral se manifesta das mais diferentes formas,

sendo que a principal delas é a pressão para produzir mais e prolongar a jornada de

trabalho.

As humilhações psicológicas exercidas por chefes e colegas são

manifestações cada vez mais comuns (BARRETO, 2006). A pesquisadora afirma que

o assédio moral é uma das consequências do modelo econômico neoliberal, que força

as empresas ao cumprimento rígido de metas, com a diminuição dos postos de

trabalho, sobrecarregando quem permanece no emprego. Observa-se que o

empregador, na ânsia de cada vez mais auferir lucros e benefícios para si próprios,

acaba se esquecendo que o mercado de trabalho é composto por seres humanos

munidos de sentimentos, vontades e direitos a serem respeitados. E é nessa busca

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desenfreada pelo acúmulo de riquezas que o assédio moral ganha espaço e destrói

aqueles cuja importância é cada vez maior dentro do cenário de desenvolvimento

econômico.

Envolvido nessa rotina de aumento da produtividade, o trabalhador nem

sempre percebe o problema – ou para piorar, passa a ser cúmplice do próprio martírio,

aumentando sua jornada, tornando-se um adversário dos colegas para demonstrar

suas capacidades e reduzindo prazos e equipes, para não ser apontado como “peça

discordante do sistema”. De posse desses contrapontos iniciais, deve ser analisada a

atual conjuntura enfrentada pelos trabalhadores ante a ausência de uma proteção

legislativa por parte da CLT, mas com um sopro de esperança frente a novos projetos

de leis em âmbitos territoriais diferentes, embora com objetivos idênticos e resultados

cada vez mais inesperados. Dando enfoque, como prioridade, a formas de prevenção

ao assédio moral no ambiente de trabalho.

Em consequência disso, a busca desenfreada pelo poder influencia o

âmago de algumas pessoas e as faz tornar o ambiente de trabalho um lugar de

conflitos sem escrúpulos. O homem está fragmentado porque não trabalha em um

ambiente adequado e não há valorização do seu trabalho (MAZZNI, 2003). O trabalho,

que a princípio era voltado ao domínio da natureza é deturpado para dominar o

homem. Incidente na base do sistema econômico da atualidade, na condição de

componente fundamental, foi ele subordinado aos interesses do capital, transpondo

suas características para os demais espaços societários, particularmente o político e o

jurídico. Pode-se afirmar que o assédio moral nas relações de trabalho é um dos

problemas mais sérios enfrentados pela sociedade atual.

Conforme visto, ele é fruto de um conjunto de fatores, tais como a

globalização econômica predatória, vislumbra somente da produção e do lucro, e a

atual organização de trabalho, marcada pela competição agressiva e pela opressão

dos trabalhadores através do medo e da ameaça (FERREIRA, 2004, p. 33).

Em que pese o tema em questão seja alvo de atual discussão no âmbito

“jus trabalhista”, no que tange às decisões jurisprudenciais, este fenômeno tem se

expandido notavelmente nos últimos dez anos, influindo no meio ambiente de trabalho

com consequências pós-traumáticas ao trabalhador assediado quando a situação é

habitual e inerente às condições de trabalho e o ambiente em laborar é hostil,

intimidatório e humilhante.

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Conceito de assédio moral

O assédio moral no âmbito “jus trabalhista” é a exposição de trabalhadores

e trabalhadoras a situações que são humilhantes e constrangedoras. O assédio moral,

ou ainda terror psicológico como também é conhecido, destina-se a definir uma

violência pessoal, moral e psicológica. Nada mais é do que uma forma de submissão

do trabalhador a situações vexatórias, constrangedoras e humilhantes, de maneira

reiterada e prolongada, durante a jornada de trabalho ou até mesmo fora dela, em

razão das funções que exerce.

É conceituada também como uma conduta abusiva (gestos, palavras,

comportamentos, atitudes...) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a

dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, trazendo como

conseqüências, a degradação do ambiente de trabalho, a vulnerabilidade e

desequilíbrio da vítima, dentre outras. Resultando, dessa forma, sérios riscos à saúde

física e psicológica do trabalhador e às estruturas da empresa e do Estado

(TERRIN,2007). Cada localidade em específico vem, à sua maneira, atribuindo uma

denominação, aliada a uma conceituação, diante da forma como o assédio se realiza

perante seus olhos.

A pesquisa mais completa foi realizada por Hirigoyen, pois ela selecionou

visões diversificadas do fenômeno em vários países. "Por assédio moral em um local

de trabalho temos que entender toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se,

sobretudo, por comportamentos, palavras, gestos, escritos, que possam trazer dano à

personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em

perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho (HIRIGOYEN, 2002, p. 67)".

Estratégias do agressor (sujeito ativo)

É escolher a vítima e isolar do grupo; impedir a vítima de expressar sem

motivos aparentes; fragilizar, ridicularizar, inferiorizar, menosprezar em frente ao

grupo; culpabilizar ou responsabilizar publicamente – tendo comentários de sua

capacidade ultrapassar o âmbito profissional atingindo sua família em seu ambiente

domestico; desestabilizar emocionalmente e profissionalmente atingindo sua

autoconfiança e o interesse profissional; atingir sua saúde (doenças preexistentes);

livrar-se da vítima que são forçadas a pedir demissão – geralmente por

insubordinação; se impor para que a produtividade aumente – tendo assim maior

autonomia sobre seus subordinados. (BARROS, 2000).

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Natureza Psicológica

Na formulação atual, o assédio moral é concebido como uma forma de

"terror psicológico" praticado pela empresa ou pelos colegas, que também é definido

como "qualquer conduta imprópria que se manifeste especialmente através de

comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos capazes de causar ofensa à

personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, de

colocar seu emprego em perigo ou de degradar o clima de trabalho", ou mesmo como

"prática persistente de danos, ofensas, intimidações ou insultos, abusos de poder ou

sanções disciplinares injustas que induz naquele a quem se destina sentimentos de

raiva, ameaça, humilhação, vulnerabilidade que minam a confiança em si mesmo".

Um dos elementos essenciais para a caracterização do assédio moral no

ambiente de trabalho é a reiteração da conduta ofensiva ou humilhante, uma vez que,

sendo este fenômeno de natureza psicológica, não há de ser um ato esporádico capaz

de trazer lesões psíquicas à vítima (NASCIMENTO, 2003).

Segundo Nascimento (2003) demonstra como se esclarece o acórdão

proferido no TRT da 17ª Região, "a humilhação repetitiva e de longa duração interfere

na vida do assediado de modo direto, comprometendo sua identidade, dignidade e

relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde física e mental, que

podem evoluir para a incapacidade laborativa, desemprego ou mesmo a morte,

constituindo um risco invisível, porém concreto, nas relações e condições de trabalho."

Necessidade do dano psíquico-emocional: Uma das discussões atuais sobre o tema,

que foi, inclusive, levantada durante debate no 18º Congresso Brasileiro de Direito

Coletivo e Individual do Trabalho é a questão da necessidade de existência do dano

psíquico-emocional para que o assédio moral esteja configurado.

De um lado, argumenta-se que se a comprovação da existência do dano

for condição para a configuração do assédio moral, será criada uma situação na qual

as "vítimas" que tivessem uma estrutura psicológica mais preparada estarão

desprotegidas. Desse modo, a conduta assediadora não será condenada ou coibida

pelas autoridades, vez que não haveria a figura do assédio moral a ser punida.

Defendeu-se, portanto, que a efetiva comprovação do dano emocional não poderia ser

requisito para a configuração do assédio, pena de, indiretamente, permitir a ação

assediadora com relação aos empregados emocionalmente mais resistentes. Visto,

pois, o assédio moral é uma das formas de se configurar o dano aos direitos

personalíssimos do indivíduo. Assim, um ato violador de qualquer desses direitos

poderá configurar, dependendo das circunstâncias, o assédio moral, o assédio sexual

ou a lesão ao direito de personalidade propriamente dita.

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A diferença entre eles é o modo como se verifica a lesão, bem como a

gravidade do dano. Dessa forma, teríamos o assédio moral como uma situação de

violação mais grave que a "mera" lesão do direito de personalidade, eis que acarreta

um dano à saúde psicológica da pessoa, à sua higidez mental, o que deve ser mais

severamente repreendido pelo ordenamento. Tal repreensão se revela,

principalmente, no tocante à valoração da indenização advinda do assédio moral, que

deve ser analisada de modo diverso daqueles critérios comumente utilizados para as

demais formas de pleito do dano moral. Nota-se que não é dado ao assediado a

devida atenção valorativa na reparação do dano sofrido, pois, como forma mais grave

de violação da personalidade e da saúde mental do trabalhador, mereceria

indenização superior.

Estudos feitos por médicos e psicólogos do trabalho mostram que o

processo que desencadeia o assédio moral pode levar à total alienação do indivíduo

do mundo social que o cerca, julgando-se inútil e sem forças e levando, muitas vezes,

ao suicídio. Levando isso em conta, a não configuração do assédio moral pela

ausência do dano psíquico não exime o agressor da devida punição, pois a conduta

será considerada como lesão à personalidade do indivíduo, ensejando o dever de

indenizar o dano moral daí advindo.

A pessoa que resiste à doença psicológica, seja por ter boa estrutura

emocional, seja por ter tido o cuidado de procurar ajuda profissional de psicólogos ou

psiquiatras, não será prejudicada, pois sempre restará a reparação pelo dano moral

sofrido, ainda que o mesmo não resulte do assédio moral. Assim, reiteramos nosso

entendimento no sentido de que nem todo dano à personalidade configurada sobre o

assédio moral, como se percebe na maioria dos estudos jurídicos atuais e,

principalmente, nas decisões da Justiça do Trabalho. Para concluir esse ponto, reitero

que: a) a existência do dano psíquico, emocional ou psicológico é requisito para

configuração do assédio moral; b) é necessária a prova técnica do dano, que se daria

por meio de laudo médico afirmando existir a doença advinda do trabalho; c) a vítima

da conduta assediadora que não sofrer esse tipo específico de dano não ficará

desprotegida, pois ainda poderá pleitear danos morais pela ofensa aos seus direitos

de personalidade.(NASCIMENTO,2005).

Principais aspectos do assédio moral no ambiente de trabalho Aspecto

subjetivo: a grande maioria direciona a vedação do assédio moral a todos os

servidores, não fazendo distinção entre superiores hierárquicos ou funcionários entre

si, exceto a lei da cidade de Natal, a qual sujeita tão-somente aqueles nomeados para

cargos de confiança, excluindo os efetivos. Sanção: estabelecem as seguintes

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penalidades: advertência, suspensão, a qual pode ser cumulada com a participação

em curso de aprimoramento profissional e multa, e exoneração/ demissão,

obedecendo a um critério de gradação.

Procedimento: a parte ofendida ou a autoridade que tiver conhecimento da

infração poderá, de ofício, iniciar procedimento administrativo para apuração daquela,

sendo assegurada a ampla defesa. Projeto de Lei Federal Para Sônia Mascaro

NASCIMENTO, temos o PL 4742/2001, o qual pretende incluir o art. 146-A no Código

Penal Brasileiro com a seguinte redação: “Art. 146-A. Depreciar, de qualquer forma e

reiteradamente a imagem ou o desempenho de servidor público ou empregado, em

razão de subordinação hierárquica funcional ou laboral, sem justa causa, ou tratá-lo

com rigor excessivo, colocando em risco ou afetando sua saúde física ou psíquica”.

Pena - detenção de um a dois anos.” O mesmo encontra-se junto à Mesa Diretora da

Câmara dos Deputados desde 01.12.2003.

Finalidade do assédio moral: Como já se ressalvou, o objetivo principal do

assédio moral é a exclusão da vítima, seja pela pressão deliberada da empresa para

que o empregado se demita, aposente-se precocemente ou ainda obtenha licença

para tratamento de saúde, bem como pela construção de um clima de

constrangimento para que ela, por si mesma, julgue estar prejudicando a empresa ou

o próprio ambiente de trabalho, pedindo para ausentar-se ou para sair definitivamente.

Tal finalidade, como já observado, guarda traços discriminatórios, uma vez que,

imotivadamente, cria-se uma situação para furtar-se de despesas com verbas

trabalhistas ou ainda para excluir alguém indesejado simplesmente pela competição

entre colegas, discriminando a vítima com objetivos ilícitos (NASCIMENTO, 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Assédio Moral consiste na degradação das condições de trabalho,

prevalecendo atitudes e condutas negativas, como por exemplo, as situações

humilhantes e constrangedoras afetando a parte psíquica emocional do indivíduo,

lesando o seu direito de personalidade. Consiste em atos repetitivos de ofensa, ou

constrangimento e geralmente acontece do superior aos seus subordinados e uma

relação de hierarquia. Esta agressão moral influi na perda da auto-estima do

trabalhador, gerando inúmeros problemas nas relações afetivas - sociais e danos à

saúde física e mental, que evoluem para a incapacidade “laborativa”. Se este

problema não for sanado nas empresas, terão uma perspectiva sóbria, pois no

ambiente de trabalho predominará as depressões, angustias e outros danos psíquicos,

envolvendo a globalização, que caracteriza o trabalho desenfreado, a busca pelo

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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dinheiro a qualquer custo, esquecendo que o bem maior é a “vida”, a saúde, o bem

estar, viver em harmonia com os outros.

REFERÊNCIAS

BARRETO, M. Uma jornada de Humilhações. FAPESP/ PUC. 2000. Disponível em:

<http//www.ilo.org/public>. Acesso em: 10 fev.. 2009.

FERREIRA, H. D. B.. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. 1 ed., São Paulo:

Russel. 2004.

HERINGOYEN, M.. Assédio Moral: A violência preservada no cotidiano. Bertan, Rio

de Janeiro: Bertan, 2002.

MAZZNI, F. Ambiente de Trabalho deve ser Humanizado. Folha de Londrina.

Disponível em: <http://www.bonde.com.br/folhadelondrina> Acesso em: 28 out. 2009.

NASCIMENTO, Sônia A.C. Mascaro. O assédio moral no ambiente do trabalho.

2004. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=5433>. Acesso

em 17 de jun. de 2009.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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ALGUNS ASPECTOS DO DIREITO INDIGENA NA ATUALIDADE

Giovana Daniele Sabonaro Segura, Jeremias Augusto de Moraes Sabonaro Segura,

Rosana Pellegrini Hernandes

RESUMO

Pretendeu-se com o presente trabalho tecer algumas linhas gerais sobre o Direito

Indígena mediante uma linha cronológica que remonta os tempos remotos até a

atualidade, sem, contudo exaurir o tema. O Direito Indígena ainda hoje, tem muitos

campos para discussão, pois no decorrer dos séculos, com a “evolução” pouco se

mudou em respeito aos índios. Este trabalho apontou alguns aspectos do Direito

Indígena na atualidade, que muitas vezes não são respeitados, que embora esteja

elencado na carta magna, não são observados com o rigor necessário que o tema

exige. Este trabalho visa à discussão do tema que ora é levado com irrelevância pela

sociedade. Este trabalho visou, também, discorrer sobre a questão indígena, e toda

problemática que a envolve, e vem sendo discutida há tempos sob diferentes prismas.

Palavras-chave: Indígena, Historia Colonização, proteção, dignidade.

INTRODUÇÃO

A identidade de um povo se faz com a participação de todos, inclusive dos

índios. No Brasil, desde a época da colonização, tem-se observado um maior apego

social para com os povos chamados de civilizados, o mesmo ocorrendo na América

Latina em geral. Assim, muito tem se perdido em termos culturais e,

conseqüentemente, na formação da identidade do povo brasileiro. Como resultado

dessa negligência social para com a cultura indígena, as leis brasileiras tem se

moldado criando uma falsa realidade nacional quanto ao que é o povo brasileiro.

Diante dessa realidade, o direito e a sociedade não podem permanecer

inertes, e as leis de proteção ao índio deveriam ir além da proteção da pessoa humana

do índio e da demarcação de terras. Infere-se, portanto, que se trata de preservar a

identidade nacional. O Direito Indígena, ainda hoje, motiva muita discussão, pois ao

decorrer dos séculos pouco se mudou nas tutelas legais ao índio atribuídas. Como

será evidenciado adiante, há pouca tutela na legislação nacional que trata dos

indígenas e da sua proteção em geral e no aspecto cultural. Encontram-se referências

no Código Civil, na Constituição de 1988 e no Estatuto do Índio. Estigmatizados como

selvagens, os índios merecem dignidade, mas, ao invés disso, são assassinados,

explorados, perseguidos e sua cultura tem sido dilacerada.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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Existe preconceito contra o índio no Brasil, um país que nega sua

plurietnicidade. Nesse diapasão, a sociedade brasileira e as nossas leis estão longe

de assegurar aos índios e aos povos ou comunidades indígenas a possibilidade de

livre escolha dos seus meios de vida e de subsistência, assim como de promover o

respeito à organização social, aos usos, costumes, línguas e tradições dos povos e

comunidades indígenas, a todos os seus bens, seus modos de viver, criar e fazer,

seus valores culturais e artísticos e demais formas de expressão, conforme nossas leis

acalentam. O objetivo desse trabalho foi o de analisar o tema direito indígena

buscando oferecer novas ferramentas para discussão na área jurídica ou em áreas

relacionadas.

DESENVOLVIMENTO

São considerados povos indígenas, grupos de pessoas espalhados ao

redor do mundo e que são diferentes entre si tanto no seu modo de viver, quanto por

sua cultura. Segundo a Lei 6001/73 em seu artigo. 3º, I, Índio para efeito legal é: “Índio

é todo indivíduo de origem e ascendência pré- colombiana que se identifica e é

identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o

distinguem da sociedade nacional”. Ou seja, para ser caracterizado índio,

necessariamente o individuo deverá possuir as características e qualidades que a lei

expõe.

Destarte que algumas noções gerais acerca dos direitos e deveres

inerentes aos indígenas, como bem se pode verificar na Lei 6001/73 em seu Capitulo

III art. 12. Art. 12. “Os nascimentos e óbitos, e os casamentos civis dos índios não

integrados, serão registrados de acordo com a legislação comum, atendidas as

peculiaridades de sua condição quanto à qualificação do nome, prenome e filiação”.

Como bem demonstra o artigo acima o indígena tem o direito ao registro de

nascimento e óbito.

O indígena poderá também possuir direito a um registro na comunidade

onde nasceu, configurando, assim, uma identificação étnica. Verifica-se no exercício

do direito a cidadania no que tange ao direito de voto, todo cidadão brasileiro pode

votar, inclusive os índios desde que possua registro eleitoral. Porem se viverem em

aldeia e a maioria decide não votar, prevalece a vontade, pois é garantia constitucional

o direito aos costumes como também é ressaltado na Lei 6001/73, em seu art. 1º

parágrafo único: “Aos índios e às comunidades indígenas se estende a proteção das

leis do País, nos mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros,

resguardados os usos, costumes e tradições indígenas, bem como as condições

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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peculiares reconhecidas nesta Lei”. Destaca-se ainda no Brasil o multilinguismo

indígena que conta com mais de 180 línguas e dialetos.

Tendo em vista o processo de colonização no Brasil, a língua Tupinambá,

foi incorporada por grande parte dos colonos e missionários, sendo ensinada aos

índios nas missões e reconhecida como língua geral. Até hoje, muitas palavras de

origem Tupi fazem parte do vocabulário cotidiano dos brasileiros. Em meio a essa

diversidade, apenas 11 línguas têm acima de cinco mil falantes: Baniwa, Guajajara,

Kaingang, Kayapó, Makuxi, Sateré-Mawé, Terena, Ticuna, Xavante, Yanomami e

Guarani [guarani-nandeva / guarani mbya], sendo esta duas Revista NPI/FMR -

Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Ano V 3 últimas faladas por aproximadamente 30

mil pessoas.

Em contrapartida, cerca de 110 línguas contam com menos de 400

falantes. (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL ISA, 2008, pag.02). Com o contato com a

nossa sociedade muitas mudanças ocorreram na vida dos indígenas, e sob o prisma

de que a cultura em si não é estática, com a cultura indígena também não é diferente,

mesmo que não sofra influencia da nossa cultura, ela por si só vai sofrendo

transformações. Porem as mudanças ocorridas por intermédio do contato com a nossa

sociedade são visíveis e preocupantes, inúmeras aldeias perderam suas línguas e só

falam hoje o português. No Brasil há pelo menos 46 referências de "índios isolados".

Assim são chamados aqueles cujo contato com o órgão indigenista oficial (Fundação

Nacional do Índio – Funai-1967) não foi estabelecido. Não se sabe ao certo quem são,

onde estão, quantos são e que línguas falam. O pouco que se sabe é que cerca de 26

dessas referências encontram-se em Terras Indígenas já demarcadas ou com algum

grau de reconhecimento pelos órgãos federais. E, do total das 46, 12 já foram

confirmadas pela FUNAI, porem a FUNAI não obteve contato ainda. Desde 1987, a

FUNAI possui uma unidade especifica que tem por finalidade localizar e proteger os

índios isolados, a CGII (Coordenaçao geral dos índios isolados). Em 1967 criou-se a

FUNAI, órgão governamental encarregado de aplicar as políticas indígenas, que

continuam a desempenhar papel central em relação à situação dos direitos humanos

dos povos indígenas. (DHnet Direitos Humanos,2002). Desse modo, o exercício da

tutela jurisdicional fica, inevitavelmente, condicionado a política indigenista do Poder

Federal.

E o mais grave, como lembra-nos Lásaro Moreira da Silva (2003): “Estado-

tutor não tem responsabilidade civil objetiva no exercício dessa tutela, porque somente

responde por prejuízos causados se houver prova da existência de dano ao patrimônio

ou de que o ato foi praticado de forma contrária à lei, não sendo bastante para

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

16

caracterizar a responsabilidade mera prova de que a conduta se mostrou prejudicial ao

patrimônio ou aos direitos e interesse dos indígenas como vem ocorrendo no caso da

prescrição trabalhista em que tutor, vale dizer, o Estado não age e quando chamado a

assegurar o direito violado simplesmente declara, impunemente, que a ação que

deveria ter sido por ele ajuizada em tempo oportuno e não o foi, encontra-se prescrita.”

Então desde o momento da colonização nada mais se conseguiu se não discriminar os

indígenas, o papel principal que era proteger, não aconteceu de fato necessário se faz,

portanto, que a questão seja revista, inclusive quanto ao órgão tutor para que ele

possa se legitimar perante as aldeias indígenas. Em 1500 Portugal considerou todo o

território brasileiro como parte integrante do seu domínio, por mais de dois séculos, em

razão disso não foram feita quaisquer considerações relativas aos indígenas, por

estarem habitando já as terras antes da chegada dos portugueses, e não se cogitava a

possibilidade de dar nenhum direito aos colonizados. Revista NPI/FMR - Núcleo de

Pesquisa Interdisciplinar Ano V 4

Com o advento do alvará régio de 1680 é que Portugal reconheceu o

direito dos índios, e conseqüentemente o direito da posse sobre suas terras por serem

eles os primeiros ocupantes e donos naturais. Entretanto esse alvará não teve força o

suficiente para acabar com o esbulho por parte dos colonos, continuando assim o

desrespeito em relação aos índios e suas terras. Com o advento da Carta Régia de

1808 as terras que foram conquistadas foram declaradas devolutas, e ainda hoje se

encontram problemas dessas terras. As demais tentativas da coroa português em

ordenar a ocupação territorial indígena serviram para dar um território pequeno para

os índios, e o restante do território para o processo de colonização. Esta política,

associada à praxe de transformar todos os demais espaços em terras devolutas sobre

as quais se permitia a titulação a terceiros, vai gerar o caos fundiário, de fato e de

direito, no qual os índios se viram envolvidos. Basta ver que, no período do Império, a

chamada Lei de Terras, de 1850 – a primeira lei que tratou de regulamentar a

propriedade privada no território brasileiro – assegurou o direito territorial dos índios,

vinte e seis reservando terras para a sua colonização. Isso, segundo Carlos Moraes,

“era na verdade a reafirmação do indigenato”, instituto do período colonial que

reconhecia os índios como os primeiros e naturais senhores da terra. Entretanto, logo

depois, o mesmo Império tratou de criar outra regra que permitisse desviá-lo do

respeito aos direitos que ele pretendia garantir: foram expedidas instruções que

consideravam como devolutas as terras das aldeias que tivessem sido abandonadas

pelos índios.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

17

De fato, isso gerou novas práticas nocivas, pois os presidentes de

províncias passaram a simplesmente atestar que terras indígenas haviam sido

abandonadas pelos índios, sem que isso necessariamente correspondesse à

realidade. Tudo com vistas a facilitar o processo de titulação das terras para terceiros,

agravando o quadro de esbulho aos direitos dos índios. Na mesma linha dos atestados

de abandono de terras, surgiram mais tarde as “certidões negativas” expedidas pelo

SPI e, até hoje, pela própria FUNAI, que consistem em atestar a priori, a pedido de um

particular ou quem mais for interessado, que uma dada terra não é terra indígena. É

preciso que se diga que muitos abusos foram cometidos em nome de tais certidões

negativas, gerando para os índios, em alguns casos e ainda hoje, a tarefa descomunal

de ter que provar que existem ou que sempre estiveram lá. ARAÚJO et al .(2006).

Os povos indígenas reivindicam direitos legais sobre 11% do território

nacional e têm obtido importantes reconhecimentos dos mesmos. Em sua grande

maioria, as terras indígenas (aproximadamente 95%) situam-se na Amazônia,

ocupando cerca de 18% da região, e nelas vivem pouco menos de 50% dos indígenas

brasileiros. Em contraste, outros 50% dos indígenas são habitantes de áreas do sul do

Brasil, cuja superfície é inferior a 2% do total dos territórios indígenas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante minha caminhada na Faculdade me deparei com um tema que

ficará marcado em minha vida, o escolhi como tema do TCC (Trabalho de Conclusão

de Curso), justamente por sua significância na historia do Brasil, que foi marcada por

colonizações e conflitos. Dentro do tema, pois é preciso resgatar a dignidade dos

povos indígenas, respeitando e evidenciando seus direitos, sua historia, e

principalmente seus valores culturais que são albergados por norma constitucional e

infraconstitucional dos quais faço menção da convenção 169 da OIT e a lei 6001/73

denominada Estatuto do Índio, e o principal respeitarem o seu direito de ter direito.

Ao garantir os direitos aos índios estaremos demonstrando realmente em

um Estado Democrático de Direito. Estabelecendo as garantias fundamentais às

minorias, que ainda hoje com todo avanço que sofremos nada se mudou em relação a

eles. No decorrer dos anos não se efetivando os direitos os indígenas foram

lesionados, sofreram usurpação de terras, imposições da cultura do homem branco, e

quase perderam sua cultura, o estado ao invés de proibir tais pratica se mantém,

mesmo com a pressão inclusive de órgãos internacionais. Infelizmente um ato

lamentável. Necessário se faz, portanto que o direito dos indígenas seja compreendido

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

18

por nossa sociedade de forma a angariar uma convivência em torno de uma

democracia justa e verdadeira.

Necessário, ainda, que haja emenda a legislação completando os pontos

lacunosos, albergado pela Constituição Federal de 1988. Necessário se faz sim de

possuirmos leis fundamentais e disposições internacionais, entretanto o essencial é

que na pratica os mesmos sejam efetivados e respeitados. Pois mesmo com a

evolução da sociedade, ainda hoje em pleno Século XXI, nada mudou em relação aos

índios. Pois como bem ressalta o principio da isonomia, elencado Constituição Federal

a igualdade dos Direitos assegurados a pessoa humana. Mesmo o indígena possuindo

legislação especial possui igualdade de direito e deveres.

O Direito Indígena vem demonstrar que a maioria dos problemas

desencadeados é pelo desconhecimento do assunto, pela ignorância e total

desinteresse da sociedade. Pois o que eles se esquecem de sua verdadeira historia,

pois a primeira civilização constituída no Brasil era a dos indígenas. O índio e o

percussor da nossa civilização, e o direito tutelam a sociedade das quais índios e

brancos fazem parte. Portanto como toda obra humana, este trabalho não têm a

pretensão de ser perfeito, nem de esgotar todas as questões temáticas nele tratado,

deixando uma lacuna para quem, por este tema, possa se interessar e desenvolver.

Com o intuito de trazer o tema à tona, para futuros questionamentos, não deixando

que se torne um tema obsoleto, pois possui uma total relevância tanto para o âmbito

Jurídico, quanto para a Sociedade.

BIBLIOGRAFIA

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20

ASPECTOS GERAIS DA USUCAPIÃO E USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL

Fabiana Ciarrochi

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem a finalidade de demonstrar a

usucapião especial rural ou pro labore, que decorre do trabalho produtivo da terra,

visto que o espírito da lei decorre da fixação do homem no campo, prestigiando

aqueles que trabalham na terra. Exigindo a ocupação produtiva do imóvel, devendo

neste morar e trabalhar. Constituindo a consagração do princípio ruralista de que deve

ser dono da terra rural quem tiver frutificado com o suor, tendo nela sua morada e da

sua família. A modificação de alta importância que prevaleceu na Constituição de 1988

foi a incidência sobre bens públicos dominicais, particulares sobre terras devolutivas. A

razão pela qual o tema foi escolhido deve-se pela necessidade de se buscar novas

alternativas para que a situação econômica e social do país seja contornada; por isso

a pesquisa se delimitará a analisar o que vem ser a usucapião e a usucapião especial

rural, com a função de alertar a incoerência do legislador em não aceitar a incidência

de usucapião em terras devolutas, mesmo que este instituto tenha como objetivo a

construção de pequenas propriedades rurais, aumentando a mão de obra no campo.

Palavras chaves: usucapião, rural, direito civil.

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22

ASPECTOS JURÍDICOS DO DIREITO AMBIENTAL E A RESPONSABILIDADE

CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS

Carlos Roque Dalla Dea

RESUMO

O presente tema tem por objeto a análise dos riscos ambientais a que toda sociedade

está sujeita, pelo contínuo progresso e desenvolvimento econômico, além de mostrar

a responsabilidade civil daqueles que causarem degradação ambiental, mostrando as

formas de poluição ao meio ambiente, bem como as formas de prevenção e processos

judiciais que permitem a reparação, encontrando amparo na proteção ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado assegurado pela Constituição Federal de 1988,

bem como no dever por ela imposto ao poder público e à sociedade de cuidar por tal

equilíbrio. A importância do estudo decorre da natureza de direito fundamental ligado

ao meio ambiente, cuja preservação, repita-se, cabe a toda a coletividade e ao Estado,

que deve trabalhar cuidadosamente para prevenir, punir, reparar ou fazer com que se

repare os danos ambientais causados por seus agentes ou por terceiros. Para o

desenvolvimento do tema, faz-se necessário examinar, à luz da Constituição Federal,

os instrumentos de lei que tratam da responsabilidade civil por dano ao meio

ambiente, mostrar as características do meio ambiente e do dano causado a ele para,

daí então, examinar as diversas teorias desenvolvidas para a distribuição da

responsabilidade civil decorrente do dano ao meio ambiente. A responsabilidade civil

em relação ao meio ambiente necessita ainda de muito amadurecimento e

aprofundamento, já que trata-se de um tema relativamente novo. A proteção ao meio

ambiente resguarda os valores mais importantes do ser humano, como a saúde e a

qualidade de vida. Este trabalho terá como meta a análise da responsabilidade civil em

matéria ambiental, principalmente sob o aspecto moral da coletividade, que é

modalidade de reparação civil consagrada em lei, descrevendo sobre a

responsabilidade civil em si e sobre a responsabilidade civil em matéria ambiental.

Palavras chaves: Responsabilidade, civil, danos, meio ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS

Amélia Rodrigues Machado

INTROUÇÃO

“São direitos reais aqueles que recaem diretamente sobre a coisa” (Dower,

2004, p. 18). Os direitos subjetivos, o de possuir o bem, em sua doutrina, Maria

Helena Diniz faz menção desses direitos como: “Os direitos subjetivos concernentes

ao domínio são os direitos reais chamados direito de propriedade.” (Diniz, 2008, p.

369) O artigo 1225 do Código Civil dispõe os Direitos Reais como: “propriedade,

superfície, servidões, usufruto, uso, habitação, direito do promitente comprador do

imóvel, penhor, hipoteca, anticrese”. Em relação a classificação, Fábio Ulhoa Coelho

os classifica da seguinte forma: “direitos sobre a própria coisa e direitos sobre coisas

alheias” (Coelho, 2006, p. 221).

Didaticamente a doutrina em sua maioria, entendeu por bem agrupá-los da

seguinte forma: Direitos sobre Coisas Alheias e, Direitos sobre Coisa Própria, dos

quais, será tomado o primeiro.

O objetivo deste estudo é ter um breve conhecimento dos direitos reais

sobre coisas alheias, sendo este a base dos direitos de: gozo e fruição; reais de

garantia; reais de aquisição.

DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS

Conceito

Direito, um conjunto de normas, leis, destinadas à conduta das pessoas, a

conduzir, a reger uma sociedade, sendo considerado como direito objetivo. Diz-se

também, sistema de normas jurídicas, determinado a reger um país, um grupo social

maior, com seus costumes, culturas, e tudo o que caracteriza um povo. Como nas

relações sociais, o Direito é a ciência que estuda esse sistema de normas, que o

esmiúça, para melhor entendimento e aplicação, o qual rege os seres humanos em

sociedade. Didaticamente, ou seja, para que se entenda o Direito, dividiu-se esse

estudo em diversos ramos, tais como: direito comercial, direito civil, direito penal,

direito administrativo, direito constitucional e outros. Cada um deles tem como objetivo

dar uma clareza maior e melhor naquilo que pertine a área abrangida, nas relações

interpessoais e nos diversos aspectos do quotidiano de uma sociedade. Como sistema

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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de normas, Direito é constituído para dirimir, superar conflitos ou resolvê-los, quando

possível, de comportamentos do ser humano.

Dentre esses conflitos, têm aqueles, sobre bens (animais, vegetais,

minerais, etc.) que a sociedade vive dia-dia. O estudo dos direitos reais e direitos

pessoais faz parte da disciplina do Direito Civil. O homem, desde os tempos

primórdios, sempre viveu o direito de posse, de ter como sua a coisa, ou seja, o direito

das coisas para dispô-las limitadamente, como quisesse, com respeito, ponderação e

aplicação. Com maior clareza, direito real por excelência é a propriedade, a qual, a

princípio, engloba todos os atributos desse poder sobre a coisa. A esse respeito Silvio

Rodrigues diz em sua doutrina: “O direito real mais completo é o domínio, pois confere

ao seu titular a prerrogativa de usar, gozar e dispor da coisa, bem como de reivindicá-

la de quem quer que injustamente a possua” (Rodrigues, 2003, p. 259). No entanto,

pode-se conceber, ou se constituir direito real sobre um bem, cujo exercício tem por

privilégio um dos atributos da propriedade.

Os direitos pessoais são decorrentes, isto é, provindos de lei ou contrato,

os quais vêm conferir a alguém a possibilidade de exigir da outra parte, determinada

prestação de uma obrigação, ou mesmo exigir que outrem se abstenha de fazer algo,

capaz de gerar uma obrigação e, em não a cumprindo (obrigação), o direito a

indenização. Diferentemente de direito na coisa, é direito à coisa, ou, ainda melhor,

direito à determinada coisa. Muito presente nos direitos pessoais, o lado econômico da

obrigação/ prestação, explica o fato da possibilidade de se resolver em indenização, a

fim de que, a parte, vítima da inadimplência da outra, seja compensada dos prejuízos

disto decorrentes. À vista disto, fundamentalmente se estabelece diferença entre os

direitos reais e pessoais, e que, o primeiro é oponível contra todos que não o titular, o

segundo somente contra determinada pessoa. Algumas características dos direitos

reais: Jus in re (direito sobre a coisa); tipicidade, a enumeração trazida pelo Código

Civil como taxativa, inclusive, isto também se constitui em diferença entre os direitos

reais e pessoais, pois não ficam ligados a uma enumeração legal.

Quanto ao sujeito passivo, são todas as pessoas que não o titular do

direito, no entanto, para assim ser, há de se ter dado publicidade através do registro

em caso de imóveis. Tende a ser perpétuo, por serem mais estáveis e duradouros.

Seqüela, o direito real recaindo sobre determinado bem grava-o, ao titular é dado o

poder de perseguir a coisa e reivindicá-la, esta característica, bem como a

imediatamente anterior se mostram muito presas ao chamado caráter absoluto do

direito real, hoje não há como sustentar o caráter absoluto dos direitos reais, com a

concepção que em tempos já idos teve a saber, só como exemplo, a própria função

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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social que a propriedade, direito real por excelência deve ter, bem como o Poder de

Polícia exercido pelo Estado que serve justamente para impor limites que esses

direitos absolutos deverão se revestir.

O objeto há de ser coisa certa e determinada, ou seja, certo quanto a

existência e determinado quanto a extensão e limites objetivos. Fábio Ulhoa Coelho,

em sua doutrina classifica direitos reais sobre coisas alheias da seguinte forma: “Os

direitos reais sobre coisas alheias se subdividem em três classes: direitos reais de

gozo (servidão, usufruto, uso, etc.), de garantia (penhor, hipoteca e anticrese) e à

aquisição (titulados pelo promitente comprador)” (COELHO, 2006, p. 221).

Cesar Fiúza traz como direitos reais sobre coisas alheias a análise de um

concreto como exemplo: “A toma empréstimo bancário, oferecendo em garantia de

pagamento sua casa. Neste momento, surge para o banco (credor) direito real a casa

de A (devedor). Este direito recebe o nome de hipoteca. É oponível erga omnes, no

sentido de que apenas o banco é titular de direito de hipoteca sobre o imóvel. Poderá

exigir de todos os “não-titulares” que respeitem seu direito. Se, por acaso, A alienar a

casa e não pagar sua dívida, o banco, por força de seqüela, perseguirá o imóvel,

tomando-a das mãos de quem quer que o tenha adquirido”. (FIUZA, 2007, p. 1999).

Os Direitos reais sobre coisas alheias, são aqueles onde, a pessoa

devedora, independente dela ter ou não a posse do bem, ela terá que ser a

proprietária dele, esses direitos recaem sobre o imóvel e, o credor terá em garantia, a

tradição, a posse desse bem, se a modalidade de direito assim lhe permitir, senão a

posse continua com o proprietário. Esses direitos, por serem sobre coisas alheias,

devem sempre advir de leis específicas.

Espécies

Quanto às espécies, o objetivo é de facilitar os estudos, e em sua doutrina,

Nelson Godoy Bassil Dower faz referências a respeito: “Os direitos reais sobre coisas

alheias podem ser direitos de fruição, que alcança a substância da coisa, ou seja, a

substância da coisa fica a serviço do titular; o direito de garantia, que recai sobre o

valor da coisa, pois o papel econômico desse direito é assegurar o cumprimento da

obrigação pela sua vinculação a determinados bens”. (DOWER, 2004, p. 21- 2).

São espécies dos direitos reais sobre coisa alheia, as quais constituem

esse direito: Direitos reais limitados de gozo ou fruição, Direitos reais de garantia e,

Direitos reais de aquisição. Sendo que, direitos reais de garantia, será estudado mais

detalhadamente, por ser alvo do tema proposto.

Direitos Reais Limitados de Gozo ou Fruição.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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Sobre fruição Caio Mário da Silva Pereira diz: “Pela sua razão de ser, o

usufruto implica a faculdade de fruir as utilidades da coisa, estendendo-se aos

acessórios dela (...)” (PEREIRA, 2008, p. 293). Aqui, os direitos reais de gozo ou

fruição, serão, o ato de usufruir daquilo que o bem traz de benefícios ou serventia da

coisa, além desses direitos serem limitados, a pessoa credora, deverá ter autorização

para esse gozo ou uso da coisa.

Maria Helena Diniz subdivide esse tema da seguinte forma: “enfiteuse,

servidões prediais, usufruto, uso, habitação superfície, concessão de uso especial

para fins de moradia e, concessão de direito real de uso” (DINIZ, 2008, p.361). Já

Silvio de Salvo Venosa trata como direitos reais e os subdivide da seguinte maneira: “a

enfiteuse, as servidões, o usufruto,o uso, a habitação, as rendas expressamente

constituídas sobre imóveis (...)”. (VENOSA, 2008, p. 401). Percebe-se se um consenso

dos doutrinadores, de levar ao leitor ou estudante a melhor maneira de se

compreender a matéria.

Direitos Reais de Garantia.

Como alvo do tema proposto nesse estudo, Direitos Reais de Garantia, a

saber: penhor, anticrese, hipoteca e em garantia, alienação fiduciária que, como

instrumentos concebidos pelo Direito Civil, vêm garantir à pessoa credora seja

cumprida a obrigação, ou, pode-se dizer, seja pago o seu crédito, pelo que, se não

cumprida essa obrigação, que o pagamento recaia sobre determinado bem do

devedor, que, por via de consequência, pode retirar-lhe a propriedade ou apenas

atributo dele, tudo conforme aquilo que o direito propõe, que houve por eleger o

patrimônio como base de satisfação dos interesses humanos de ordem econômica, ou

pelo menos uma parte destes. Arnold Wald, em sua obra, fala dos objetivos que os

direitos de garantia pretendem alcançar: “A garantia real visa a corrigir os

inconvenientes oriundos da instabilidade das situações patrimoniais, prevenindo a

destruição dos móveis e assegurando, nos casos de perecimento ou de destruição dos

móveis ou imóveis, a sub-rogação do credor no direito do devedor, para receber a

indenização oriunda do poder expropriante ou do seguro ou enfim do terceiro causador

do dano”. (WALD, 2002, p. 265).

Visando resolver os conflitos, os direitos reais cercam, o credor de

garantias maiores, como as pessoais ou fidejussórias, sendo esta última provinda do

contrato de fiança.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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Direito Real de Aquisição.

Nos Direitos Reais de Aquisição, é necessário que se tenha o

compromisso ou a promessa de uma das partes interessada na venda da coisa,

satisfazendo e garantindo o direito de aquisição da outra parte. Conforme dispõe a

legislação, no artigo 1417 do Código Civil, “mediante promessa de compra e venda...”,

esse artigo dá garantias à sociedade, na realização de seus negócios, em que, a

pessoa interessada em vender a coisa, se ainda não houve arrependimento de uma

das partes do ato combinado, através de um contrato entre vendedor e comprador,

instrumento este que pode ser público ou particular, registrado no Cartório de Registro

de Imóveis, pelo qual se consuma o negócio e, a partir desse momento, a parte que

comprou a coisa se torna titular de um direito real.

Cesar Fiúza fala dos direitos reais de aquisição como: “São direitos reais

de aquisição, que conferem a seu titular a faculdade de adquirir coisa alheia. Em

nosso direito, encontram-se pelo menos dois: a promessa irretratável de compra e

venda de imóvel e a retrovenda”, (FIUZA, 2007, p. 922). O artigo 1418, do Código

Civil, garante que “a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme

disposto no instrumento preliminar”, essa promessa de venda não pode ter

arrependimento, é um ato feito de própria vontade do vendedor, e conforme esse

mesmo artigo “o disposto no instrumento preliminar”, se isto não acontecer, a parte

que se interessou em realizar o negócio, deve entrar com uma ação judicial e requerer

ao juiz a adjudicação da coisa. Esse tipo de negócio é muito comum nos dias atuais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo trata de direitos reais e mais do que isso, sobre coisas alheias.

Toda negociação depende de acordos, da vontade de duas ou mais partes e sobre

coisas alheias. O assunto esclareceu com detalhes o que se aplica nos negócios

quotidianamente, como direito real de aquisição, direito real de garantia, etc. Enfim, o

aprofundamento do tema trouxe maior conhecimento, com possibilidades de melhores

aplicações nos negócios, como profissional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2006.

DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

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________. Curso de direito civil brasileiro. 23 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

DOWER, Nelson Godoy Bassil. Direito civil: Direito das coisas. 2 ed. São Paulo:

Nelpa, 2004.

FIUZA, César. Direito Civil: curso completo. 10 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Direito das coisas. 28 ed. São Paulo: Saraiva,

2003.

WALD, Arnoldo. Direito das coisas. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil. 19 ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2008.

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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EUTANÁSIA DIREITO DE VIVER E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Natália Domingues Elias Felix Bueno

INTRODUÇÃO

Desde as antigas civilizações a questão da eutanásia já é discutida e

praticada em algumas partes do mundo. Alguns usavam critérios culturais e de

costume, já outras, adotavam critérios filosóficos e religiosos. No sistema jurídico

brasileiro nunca foi aceita a prática da eutanásia, mas a questão paira no pensamento

de vários estudiosos e legisladores, em relação a certos casos de incurabilidade, onde

a distanásia estaria ferindo o princípio da dignidade da pessoa humana e a prática da

eutanásia ou ortotanásia estaria ferindo a constituição dispondo de um bem

indisponível, que é a vida.

OBJETIVO

A finalidade deste trabalho foi de realizar uma breve exposição sobre

alguns aspectos favoráveis e desfavoráveis da prática da eutanásia, ortotanásia e

distanásia, com base nos princípios e direitos constitucionais e legislação penal.

DESENVOLVIMENTO

Segundo Da Silva (2000) a questão do consentimento para realizar a

eutanásia não é clara, pois a pessoa que sofre com dores não está em perfeito estado

psíquico para entender ou querer algo, sendo que pode ser momentâneo e alheio a

sua vontade. Em relação à questão da incurabilidade, se existisse mesmo males

incuráveis a Medicina não estaria no nível que está hoje, e permitir que o ser humano

disponibilize de um direito que é o Direito á vida, seria o mesmo que banalizar tudo,

pois estaria violando totalmente a constituição. Sendo assim se tornasse isento de

penalização aquele que praticasse á Eutanásia, seria o mesmo que concordar com

mais um crime dentre todos os que já existem, e se tornaria também mais um pretexto

para a prática de crimes.

Para Dodge (2000) no Direito brasileiro a Eutanásia sempre foi

considerada um ato ilícito, pois conflita com valores fundamentais e princípios que

regem bens jurídicos de maior relevância, como a vida, e de outro lado, a dignidade da

pessoa humana. O fato de haver ou não consentimento do paciente em relação à

prática, não extingue a ilicitude do ato, sendo a assim considera-se homicídio, conduta

típica, ilícita e punível. Nos tribunais brasileiros, a eutanásia muitas vezes é entendida

Revista NPI – Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Volume IV Número 4 2009

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como um homicídio privilegiado, que é nada mais que o homicídio cometido por motivo

de valor moral em decorrência de interesse particular e mediante forte emoção, sendo

que, mediante tais interesses há alteração da pena inicial, aplicando o artigo 121, § 1°

do Código Penal, a questão da Eutanásia é algo muito antigo no mundo, e gera

discussões desde a antiguidade. ”Nascer, viver e morrer” essas são as etapas que

todos irão passar, porém poucos são aqueles que aceitam a forma de como ela

ocorrerá e por isso em certos casos, muitos seriam a favor de tal prática, como

também em outras situações seriam totalmente contra.

Há um grande conflito de Direitos em relação á Eutanásia, tanto da passiva

quanto da ativa, pois o Direito a vida está assegurado na Constituição Federal em seu

artigo 5º caput (Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) e a Dignidade da

Pessoa Humana é assegurada pelo artigo 1º, III (Dos Princípios Fundamentais) da

Constituição Federal, e ambos não podem ser violados. Todavia, fica a questão:

Continuar vivendo em estado vegetativo sem dignidade ou dispor de sua própria vida

para ter um fim digno e sem tanto sofrimento? Muitos países chegaram a uma

conclusão e em certos casos Aprovam a prática da Eutanásia, já o ordenamento

jurídico brasileiro desaprova totalmente e considera a prática ilícita. (PEREIRA

JUNIOR, 2002)

Segundo Toledo (2006) citando Luiz Vicente Cernicchiaro, no ponto de

vista jurídico não há diferenças entre a eutanásia e a ortotanásia. De acordo com tais

informações a exclusão de ilicitude citado no § 4º do artigo 121 do Anteprojeto de

Reforma do Código Penal de 1998 é incoerente, pois se no âmbito jurídico não há

diferenças entre os diversos tipos de prática para ter uma “boa morte”, deverá ser

tratado da mesma forma. No caso da Ortotanásia em que o Médico, por ação e

omissão, deixa de utilizar meios (desliga aparelhos respiratórios, por exemplo) comete

homicídio, pois, ninguém tem o direito de tirar a vida do outro. Sendo assim, essa

prática é um crime comissivo por omissão.

O Anteprojeto do Código Penal de 1998 apresenta a inclusão de dois

novos parágrafos ao art. 121 do Código Penal, estes com objetivo de determinar a

tipicidade da Eutanásia Ativa e a exclusão de ilicitude da ortotanásia (eutanásia

passiva), pois o fato de ministrar de substância (veneno) para acelerar a morte no

pretexto de amenizar o sofrimento nos casos irreversíveis é um homicídio. Quando se

deixa de se esgotar os meios para tentar manter o paciente vivo, ou seja, deixa o

paciente morrer, “morte piedosa”, ou Eutanásia, o ser humano mostra o quanto falível

e comodista é; incapaz de assumir a responsabilidade de cuidar de alguém e fracos

diante de acompanhar e apoiar um ente querido em momento de dor e agonia. A

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eutanásia não está relacionada somente a morte, mas também a dignidade da pessoa

humana e tal questão é inaceitável pelo Estado, não admitindo a impunidade daquele

que pratica a Eutanásia, tanto passiva, quanto ativa, porém relaciona casos de

diminuição de pena, exposto no § 1º do artigo 121 do Código Penal. Muitos são

contra, outros a favor, porém seja justo julgar inocente, isento de pena, quando só

pratica a Eutanásia com um sentimento, piedoso de querer amenizar o sofrimento,

deveria ser entendido pelo legislador como ação piedosa e não como homicídio.

A razão para não se tornar possível a adoção da inexigibilidade de conduta

diversa na prática da eutanásia para exclusão de culpabilidade, para alguns

doutrinadores seria o mesmo que tornar o Código Penal isento de reprovações. (DA

COSTA, 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o que foi relatado a prática de eutanásia é algo discutido

no mundo inteiro desde a antiguidade e até os dias atuais. Há pessoas a favor e

muitos contra, mas para o Direito brasileiro tal prática sempre foi considerada como

ato ilícito. Porém, a questão da eutanásia em certos casos poderia ser entendida como

uma ação piedosa, com a finalidade de amenizar o sofrimento de quem se encontra

em estado terminal e não ser considerada como homicídio. Alguns legisladores

entendem que, se a prática da eutanásia não fosse considerada um ato ilícito, seria o

mesmo que tornar o Código Penal como não contendo reprovações. A questão da

eutanásia gera grandes dúvidas, pois há um conflito de direitos, ambos (Direito a Vida

e a Dignidade da Pessoa Humana) assegurados pela Constituição Federal. Eis uma

questão: Viver em estado vegetativo sem dignidade ou dispor de sua própria vida para

ter um fim digno e sem tanto sofrimento? Optar por qualquer uma dessas alternativas

não solucionaria tal conflito.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário

Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 08 de dezembro de 1940.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-

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BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário

Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 05 out. 1988. Disponível

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em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>.

Acesso em: 10 fev. 2009.

DA COSTA, Flávio Ribeiro. A questão da eutanásia como causa supra legal de

exclusão da culpabilidade. Busca Legis, 2008. Disponível em:

<http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/anexos/13589-13590-1-PB.pdf>. Acesso

em: 23 maio 2009.

PEREIRA JUNIOR, Geraldo. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Monografia.

Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 2002.60p.

SILVA, Sônia Maria Teixeira da. Eutanásia. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 5,

n. 48, 1 dez. 2000. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/1863>. Acesso em: 12

jul. 2009.

TOLEDO, Luiza Helena Lellis Andrade de Sá Sodero. Eutanásia, ortotanásia e

legislação penal. Jus navigandi, 2006. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11093>. Acesso em: 22 maio 2009.