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IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem 07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR 1842 Revista Geração Pop e a juventude brasileira: análise sobre o movimento pop e o design gráfico na sessão “SOMPOP” (década de 1970) Lívia Weyl Costa 1 Eixo temático: Cultura Material e imagem Resumo O presente texto tem como objetivo explorar alguns aspectos da cultura material como suporte para a constituição de identidades sociais. Para tanto, tomamos como objeto de estudo o projeto editorial da revista Geração Pop, título em circulação no Brasil durante a década de 1970. Direcionada ao público jovem, esta revista definia-se como um guia de informações, dicas e serviços, focado nos interesses desse grupo geracional. Dentre as seções de publicação regular, destacamos a intitulada “SOMPOP”. Especializada em notícias sobre o mundo da música – dando destaque para personalidades famosas, tanto nacionais quanto estrangeiras – esta seção propunha uma abordagem gráfica arrojada, que dialogava com as linguagens visuais de vanguarda no período, entre elas, o movimento pop. Como recorte de análise, escolhemos a “SOMPOP” publicada na edição número 5, de março de 1973. Mediante a apresentação desse exemplo, visamos discutir as estratégias empregadas pela revista no uso das imagens e do design gráfico como recursos para a construção de uma linguagem gráfica em diálogo com a cultura jovem que se constituía no Brasil, naquele período. Palavras-chave: design gráfico brasileiro; movimento pop; anos 1970. Abstract This paper aims to explore some aspects of material culture as support for the constitution of social identities. Therefore, we take as the object of study design magazine's editorial Generation Pop, title in circulation in Brazil during the 1970s. Aimed at a young audience, this magazine was defined as an information guide, tips and services, focused on the interests of this generational group. Among the sections of regular publication, we highlight titled "SOMPOP." Dedicated to news about the world of music - for highlighting famous personalities, both domestic and foreign - This section proposed a bold graphical approach, 1 Graduanda no curso de Bacharelado em Design da Universidade Tecnológia Federal do Paraná. Bolsista PIBIC pela fundação Araucária, ligada ao projeto de pesquisa “O design Pop nos periódicos brasileiros: representações culturais e transformações culturais nos anos 1970”, sob orientação da Profa. Dra. Marinês Ribeiro dos Santos. [email protected].

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IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem

07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR

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Revista Geração Pop e a juventude brasileira: análise sobre o movimento

pop e o design gráfico na sessão “SOMPOP” (década de 1970)

Lívia Weyl Costa1

Eixo temático: Cultura Material e imagem

Resumo

O presente texto tem como objetivo explorar alguns aspectos da cultura material como

suporte para a constituição de identidades sociais. Para tanto, tomamos como objeto de estudo

o projeto editorial da revista Geração Pop, título em circulação no Brasil durante a década de

1970. Direcionada ao público jovem, esta revista definia-se como um guia de informações,

dicas e serviços, focado nos interesses desse grupo geracional. Dentre as seções de publicação

regular, destacamos a intitulada “SOMPOP”. Especializada em notícias sobre o mundo da

música – dando destaque para personalidades famosas, tanto nacionais quanto estrangeiras –

esta seção propunha uma abordagem gráfica arrojada, que dialogava com as linguagens

visuais de vanguarda no período, entre elas, o movimento pop. Como recorte de análise,

escolhemos a “SOMPOP” publicada na edição número 5, de março de 1973. Mediante a

apresentação desse exemplo, visamos discutir as estratégias empregadas pela revista no uso

das imagens e do design gráfico como recursos para a construção de uma linguagem gráfica

em diálogo com a cultura jovem que se constituía no Brasil, naquele período.

Palavras-chave: design gráfico brasileiro; movimento pop; anos 1970.

Abstract

This paper aims to explore some aspects of material culture as support for the constitution of

social identities. Therefore, we take as the object of study design magazine's editorial

Generation Pop, title in circulation in Brazil during the 1970s. Aimed at a young audience,

this magazine was defined as an information guide, tips and services, focused on the interests

of this generational group. Among the sections of regular publication, we highlight titled

"SOMPOP." Dedicated to news about the world of music - for highlighting famous

personalities, both domestic and foreign - This section proposed a bold graphical approach,

1 Graduanda no curso de Bacharelado em Design da Universidade Tecnológia Federal do Paraná. Bolsista PIBIC pela fundação Araucária, ligada ao projeto de pesquisa “O design Pop nos periódicos brasileiros: representações culturais e transformações culturais nos anos 1970”, sob orientação da Profa. Dra. Marinês Ribeiro dos Santos. [email protected].

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which talked with the avant-garde visual languages in the period, among them pop movement.

As clipping analysis, we chose the "SOMPOP" published in issue number 5, of March 1973.

On presentation of this example, we aim to discuss the strategies employed by the magazine

in the use of images and graphic design as resources for building a graphical language in

dialogue with the youth culture that was constituted in Brazil at that time.

Keywords: Brazilian graphic design; pop movement; 1970s.

Introdução

As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por períodos de grandes contestações,

principalmente por parte de uma juventude insatisfeita com preceitos conservadores que

faziam cada vez menos sentindo diante de seus ideais de paz, harmonia e igualdade. Através

de movimentos como o gay power, o girl power, o flower power e o black power grupos de

jovens passaram a reagir objetivando alcançar suas crenças quanto ao que seria um “mundo

melhor”.

No Brasil, uma grande responsável por trazer esses acontecimentos no exterior e

apresentá-los aos leitores brasileiros foi a revista denominada Geração Pop. A Geração Pop

circulou no país durante a década de 1970 e tratava dos mais variados assuntos, dentre eles:

música, automóveis, moda, profissão, viagens, religião, esportes, televisão, teatro e livros.

A partir da escolha desses temas a revista buscou construir uma imagem de juventude,

a qual acabou sendo adotada por inúmeros leitores ao redor do país. Um grande aliado

escolhido pela revista para construir essa representação do que seria ser jovem foi o design

pop.

Com o passar dos anos a Geração Pop se consolidou como guia comportamental. É a

partir desse preceito que seu estudo se torna interessante, pois, ao se analisar as ideias

defendidas e os temas apresentados pela revista, é possível adquirir maior compreensão sobre

todo um grupo geracional, que a comprava e se apropriava das informações nela propagadas,

utilizando-as como um reforço para construir as suas identidades.

Para uma análise à parte, foi escolhida a sessão SOMPOP -edição número 5, de 1973-

responsável por oferecer dicas de artistas do meio musical e, graficamente, ser uma grande

representante do movimento pop na revista. Através de contextualização histórica, definição

de conceitos referentes ao movimento pop e da análise de 4 imagens dessa edição da

SOMPOP, busca-se compreender melhor o que seria essa noção de “juventude” defendida e

propagada pela revista.

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Cultura material e a revista POP

O estudo da cultura material relacionado ao consumo permite que, a partir da análise

de um bem consumível se possa levantar uma série de questões sobre o ambiente ao qual ele

pertencia, ou seja, a partir de um objeto é possível problematizar todo um período histórico e

as pessoas que nele viveram. Como afirma a Revista de Antropologia da USP, em uma

entrevista com o pesquisador Daniel Miller (2009, p.416,):

Miller, ao longo dos últimos anos tem defendido que as coisas físicas, sejam elas artefatos, mercadorias ou objetos, permitem que se olhe para a maneira como os domínios do mundo material são empregados socialmente, fabricando, assim, o mundo cultural

No caso do foco de estudo desse artigo, a revista Geração POP, a citação acima se

aplica no sentido de como a revista se apropriou de vários itens que constituiam o universo

jovem na década de 70 e escolheu quais eram os mais interessantes para construir uma

imagem de juventude específica. O processo de construção dessa imagem será melhor

explorado no decorrer do texto.

Marcelo Rede, na citação a seguir, discorre sobre a relação entre indivíduo e mundo

material (2003, p. 283-284):

pode-se dizer que o universo material é parte constitutiva da própria corporalidade, que o corpo se constrói pela materialidade que lhe é exterior a princípio. Mais do que uma prótese do corpo – que lhe supriria, então, uma lacuna – , a cultura material participa de uma síntese que, longe de ser estática, implica interação dinâmica entre os elementos em jogo: corpo, objeto, espaço. marcelo rede 283-284.

Ao interpretar as infomações apresentadas na revista, o público leitor poderia escolher

o que estava de acordo com suas opniões, e até tomar algumas das ideias apresentadas para si.

Em ambos os casos, os indivíduos, a partir dessa interação, poderiam encontrar meios de

reafirmar suas próprias identidades e de se constituirem como sujeitos. (Marcelo Rede, 2003,

p 285).

Essa afirmação pode ser melhor exemplificada após entendermos o que foi -no sentido

de ideias defendidas e assuntos tratados- a Geração POP.

A revista geração POP, existiu entre novembro de 1972 e abril de 1979. Era lançada

mensalmente, possuía cerca de 100 páginas, entre coloridas e preto e branco, dividida em

sessões permanentes e em matérias variadas. Com alcance nacional, tinha como público

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privilegiado os jovens. Na sessão dedicada a responder cartas enviadas por leitores, publicada

na edição número 5, em março, de 1973, a revista explica sua proposta editorial:

“Pop é uma abreviatura de popular, em inglês, mas também estourar, estalar (dai nasceu popcorn, pipoca). Em 1962, a Pop Art invadia Nova York. Andy Warhol, um cara muito louco, pintava enormes latas de sopa Campbell que depois ficaram sendo o símbolo do movimento que surgia. Na mesma época, os Beatles estouravam na Inglaterra e depois nos Estados Unidos, seguindo um roteiro inverso ao da Pop Art, que logo se espalhou pela Europa. Esse sucesso era devido principalmente ao fato de que a Pop Art era agressivamente realista, destacando o cotidiano do povo americano, a rua, a fábrica, as prateleiras dos supermercados, os anúncios luminosos, a produção em massa, a realidade concreta, bruta, crua, Marilyn Monroe, Elvis Presley e outros ídolos da juventude tornaram-se um tema constante da Pop Art, ao lado de enormes garrafas de Coca-Cola, recortes de Popeye e fotos da princesa Margaret, da Inglaterra. Por que essa loucura toda? Era uma forma de agredir o público, mostrando a realidade diária, triste e cruel. Este foi o primeiro ponto de contato entre a Pop Art e a Pop Music. Assim como a Pop Art fez explodir a arte abstrata, a música pop abriu as portas da música popular a todas as experiências. Nossa revista, Geração POP, tem esse mesmo espírito, além de uma grande preocupação com o serviço, a dica, a informação. Queremos que você saiba não só curtir, mas também como curtir”

Apesar da informação a respeito da Pop Art ter surgido nos Estados Unidos estar

equivocada -o movimento pop surgiu com um coletivo inglês denominado “Independent

Group” nos anos 1950- e da definição de movimento pop ter sido apresentada de forma

generalista, o texto é bastante útil no sentido de ilustrar a imagem descontraída que a revista

objetivava transmitir aos seus leitores, para assim, possivelmente gerar uma maior

aproximação entre ambos. Essa atitude “relaxada” pode ser vista na linguagem escolhida,

bastante informal e com a presença de gírias.

Por fim, a ideia do texto é concluída quando a revista faz uma relação entre Pop Art,

Pop Music e si própria. Partindo do princípio que as duas primeiras possuíram o “poder” de

redefinir padrões -“explodindo” a arte abstrata e permitindo “todas as experiências” para

música popular-, a Geração Pop promete levar aos seu leitores “serviços, dicas e

informações”, e não apenas isso, pretende: “que você saiba não só curtir, mas também como

curtir”, ou seja, almeja se tornar um verdadeiro guia comportamental.

Graficamente, a revista era majoritariamente representada pelo design pop, as vezes

com presença da vertente do psicodelismo, conforme será discutido na próxima sessão. A

“filosofia” hippie era frequentemente encontrada em reportagens sobre viver em comunidade,

contato com a natureza e religião. No que diz respeito aos assunto tratados, a Geração POP

privilegiava matérias sobre música, dando ênfase para o rock, tanto nacional como

internacional, e comportamento.

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Por meio desses temas a Geração POP buscava construir a imagem de juventude

idealizada pela revista: jovens “antenados”, os quais se interessavam em informações de

caráter nacional, e internacional -proveniente principalmente da Europa e dos Estados

Unidos- amantes da música, descontraídos, prezavam seu bem estar através da prática de

esportes, almejavam um corpo saudável -magro e bronzeado- , não lidavam com drogas, se

interessavam em roupas da moda e procuravam sempre estar na moda.

Foi mediante a construção desse perfil que a Geração POP conseguiu se consolidar

como um veículo privilegiado de valores e comportamento, pois foi capaz de representar um

tipo de grupo geracional brasileiro durante a década de 70.

A década de 70, o movimento POP e o Psicodelismo

A Geração POP circulava na década de 70 no Brasil. Logo, é importante discutir o

que essa década significou para o país e para os jovens que a vivenciaram.

Primeiro, os anos 70, devido a influencia dos anos 60, podem ser considerados como um

período de “ressaca” da década anterior, como afirma Paulo Sérgio do Carmo em seu livro

“Culturas da Rebeldia” (2001). Vejamos, então, alguns acontecimentos importantes que

antecederam os anos 1970.

Na política, em 1964, os militares promovem o golpe militar, e a censura e o

sofrimento causados pela tortura fizeram crescer indignação e desejo por liberdade junto aos

jovens brasileiros, sobretudo no âmbito de organizações estudantis.

No meio musical, a bossa nova se popularizava, calma, com seu “banquinho e violão”.

Mais para o final da década, surge o tropicalismo, protagonizado por Caetano Veloso e

Gilberto Gil. Ambos os movimento são temas de reportagens publicados na revista Geração

POP, porém, o segundo ganha mais destaque, como veremos posteriormente.

Ainda no final de 1960, nos Estados Unidos, acontecia o festival de Woodstock; na

França, a revolta estudantil levava milhares de jovens às ruas. Artistas como: Rolling Stones,

Jimi Hendrix e Janis Joplin cantavam hinos de libertação, enaltecendo a juventude, a rebeldia.

Surgiu o black power, o gay power, o girl power. Direitos civis foram exigidos,

posicionamentos conservadores foram questionados: porque pessoas negras não possuíam os

mesmos direitos que pessoas “brancas”? porque as mulheres deveriam ser subalternas de

homens? Porque pessoas do mesmo sexo não podiam se amar? Grupos de jovens se reuniam

para se fazer esses questionamentos, reivindicando a liberdade, tanto do corpo -especialmente

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da sexualidade- quanto da mente. O uso de drogas era comum para potencializar os

resultados.

Nesse contexto surge nos Estados Unidos o movimento hippie, grupo que tinha como

lema “paz e amor”. Em oposição a guerra no Vietnã, defendiam: “contra o poder das armas, o

poder da flor”. A vida em harmonia com a natureza, e com as pessoas valia muita mais a

pena. Acreditavam no amor livre e na livre utilização do corpo -fosse por meio da escolha de

roupas, do uso de substâncias ou tendo relações sexuais com quem desejassem- usavam

drogas para aumentar sua percepção e sensibilidade e se baseavam em religiões orientais,

como o budismo, e o hare krishna, que pregavam o desapego ao mundo material. O grupo

musical brasileiro que se encaixava no movimento hippie chamava-se Novos Baianos, por

vezes ele foi retratado na Geração POP, inclusive na sessão SOMPOP da edição número 6

(1973). A harmonia com a natureza e as religiões orientais, eram temas que apareciam com

frequência na revista, como por exemplo na matéria intitulada: “Esse menino é um guru”.

Pertencente a edição número 2 (1972), apresenta Maharaj Jr, considerado pela revista, o líder

espiritual mais famoso do mundo.

Nos anos 1970, o Brasil ainda vivia a ditadura militar. Essa questão, porém, não é

abordada na revista Geração POP. A influência do movimento hippie se fortaleceu, e muitos

jovens desejavam sair de casa para morar em comunidade, sem cobranças paternas: “bastava

colchão no canto do piso, som ao lado, discos e revistas empilhados, almofadões no lugar do

sofá”, “pegar um navio e viajar pelo mundo” (Carmo, 2001, p.118). Esses anseios são

tematizados em várias matérias da Geração POP. Por exemplo, na reportagem “Como

conhecer a Europa com a cara e a coragem” (Geração Pop, 1972, n2, p.32) conta a história de

um jovem que vai do Brasil até a Europa num navio de carga.

Segundo o livro “Anos 70 enquanto corria a barca” de Lucy Dias, 2004, o “milagre

econômico” -momento de aparente euforia e tranquilidade econômica vivida pelo país-

fortaleceu a rebeldia dos jovens das classes médias. A autora afirma que “mamãe e papai

estavam numa boa”, podiam comprar casas de veraneio, financias a escolar, o lazer, e até

mesmo o consumo deu revistas, como a Geração POP. Certo conforto financeiro aliado ao

incremento do acesso à escolaridade possibilitou o afrouxamento na cobrança de padrões mais

rígidos de comportamento.

Lucy Dias (2004, p.64-69) comenta, como outro fator que contribuiu para a rebeldia

dos anos 70, o fato de os filhos dessa década terem sido criados por pais que viveram a

década de 60. Tomados pela vontade de viver fora de modelos padronizados de criação,

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alguns deles, como Nazaré Ohana e Leila Diniz, queriam que a educação dos filhos fosse

baseada na liberdade, adotando a máxima “é proibido proibir”, como já dizia Caetano Veloso

em sua música de mesmo nome.

Eram esse jovens, então, que buscavam na Geração POP, mais um meio de se

constituir como grupo. A Geração POP se apresentava como um guia que os compreendia e

representava, dando dicas, por exemplo, do que ouvir ou de como se vestir. A revista se

tornou o/a melhor amigo/a “descolado/a” de seu público leitor.

A revista Geração POP escolheu como sua principal forma de representação gráfica, a

linguagem pop. Para discorrer sobre essa linguagem, vamos tomar como base o livro “Arte

pop”, de David McCarthy, 2002.

A arte pop se consolidou no início da década de 60. A economia mundial se reerguia

no pós segunda guerra mundial, e embora o mundo vivesse insegurança da guerra fria, alguns

países, especialmente os Estados Unidos, viviam certa euforia advinda da prosperidade

econômica. O consumo era constantemente incentivado através das mais variadas

publicidades. Santos (2010, p.181), comenta esse momento de euforia:

O crescimento econômico e os avanços na área tecnológica potencializaram um clima de otimismo e crença no futuro, sustentado pelo acesso a grande variedade de bens e serviços entendidos como signos de conforto e status social.

A felicidade e a liberdade eram os valores mais procurados e poderiam estar em todo

lugar, até em prateleiras de supermercado repletas de garrafas de coca cola. Como enfatiza

McCarthy, (2002, p.28):

Parecia que o sonho americano não era mais definido pela liberdade politica, mas sim medido pelo número de mercadorias que os cidadãos podiam adquirir. Os norte americanos estavam consumindo revistas populares, cinema televisão, musica pop e rock’n’roll, automóveis e utensílios domésticos em quantidades crescentes. Eles eram estimulados pela propaganda que interpretava deliberadamente o consumo como uma medida de sucesso financeiro e bem estar psicológico.

Foi em diálogo com esse contexto que a arte pop surgiu, sendo definida pelo

Independent Group, -coletivo de artistas ingleses considerado por McCarthy o grupo precursor do movimento- como: “popular, consumível, de baixo custo, produzida em massa, jovem, espirituosa, sexy, chamativa, glamorosa e um grande negócio” (McCarthy, 2002, p.8). Nos Estado Unidos, os artistas que aderiram ao movimento se focaram no presente, reproduzindo na arte, a produção em massa que acontecia nas indústrias, como pode ser visto em obras como as famosas sopas Campbel de Andy Wahrol, ou nos quadros fortemente influenciados pela linguagem das histórias em quadrinho de Roy Litchtenstein. Conforme explica McCarthy (2002, p.25):

Essa nova sensibilidade, apesar de heterogênea, pode ser resumida através da atenção a forma e ao tema, assim como ao processo. A forma inclui com frequência cores

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saturadas, falta de pinceladas pictóricas, formas simples, contorno e delineamento nítidos e supressão do espaço profundo. O temas frequentemente derivam de fontes preexistentes e manufaturadas para consumo de massa. Entre essas fontes estão fotografias de jornais, anúncios coloridos, letreiros comerciais, histórias em quadrinhos.

A arte pop abusava da serigrafia e de colagens, sempre apoiada em temas da cultura de

massa. Marylin Monroe, Elvis Presley e Mick Jagger foram representados por Andy Warhol

de maneira repetida e em inúmeras cores. Embora não exista como ter certeza se os artistas

estavam sendo irônicos ou apenas celebrando a sociedade de consume -provavelmente

estavam oscilando entre ambos- (referencia 4 pessoas; Torrent e Marín (2007), o mais

importante é o sentimento por trás da arte pop. A celebração do presente. Brincando com o

desejo das pessoas, seja representando seus ídolos ou os produtos de sonho de consumo, seja

usando cores fortes e a linguagem baseada nos quadrinhos para lhes constituir um aspecto de

trivialidade e jovialidade; seja permitindo que mesmo algo desgastado pela repetição possa

ser, de alguma forma, único, como, novamente, as imagens das sopas Campbel de Warhol.

Essa brincadeira com o desejo e o prazer, também se aplica ao design pop. Sua relação

com o universe jovem parece ter sido o motivo da revista Geração POP ter o escolhido essa

linguagem como inspiração para seu projeto gráfico. Assim, a revista construia um ideal de

jovialidade para seus leitores, ao usar de recursos visuais fora dos padrões tradicionais.

Como parte do vocabulário pop, uma referência gráfica importante, amplamente

explorada na sessão SOMPOP, é o psicodelismo. O termo psicodelismo vem de psicodélico,

que, segundo Torres apud Larrouse Cultural (1999), pode ser definido como:

O psicodélico é apresentado comumente como: 1. Relativo ao estado de espírito de quem está sob efeito de um alucinógeno. 2. Diz-se da droga que produz tal estado. 3.Diz-se da produção intelectual (pintura, música, etc.) elaborada sob (ou como se estivesse sob) o efeito de um alucinógeno. 4. Diz-se daquele ou daquilo que sai totalmente fora dos padrões tradicionais, em matéria de roupas, atitudes, decoração, etc. 5. Música psicodélica, estilo de rock do final dos anos 60, que pretendia ser a tradução musical dos efeitos provocados dos alucinógenos, principalmente o LSD.

Nesse registro, o psicodelismo se refere a tipos de produção intelectual ou artística que

se propõem a ser a “tradução” das alterações psíquicas dos efeitos do uso de drogas

alucinógenas (Torres, 2005, p.34). Figueiredo; Faria; Meirelles; Navalon, apud Tambini

(2004, p. 22-23) discorrem sobre essa, e outra influências encontradas no movimento

psicodélico:

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Enquanto os modernistas olhavam apenas para o futuro em busca de inspiração, o psicodelismo olhava para todos os lugares, muitas vezes através das névoas das drogas alucinógenas. Seus artistas buscavam inspiração no início do século, incorporando aspectos da art noveau e da secessão de Viena em seu trabalho; olhavam para o oriente e regrediam até o Egito antigo em busca de referências; olhavam também para seu próprio mundo, criando uma linguagem visual inspirada na droga que visava a um público seletivo

Com forte influência da art noveau, e utilizando formas orgânicas que remetem a

elementos fluidos da natureza (flora, ar, água), cores com alto contraste entre si e tipografias

que se mesclam com a figura de fundo formando um único elemento, as obras do

psicodelismo buscavam estimular sensorialmente seus expectadores. Muito utilizado em

cartazes de concertos de bandas de rock nas décadas de 60 e 70, o design psicodélico tornou-

se famoso entre jovens pela associação com assuntos que os agradavam muitos na época

(experimentalismo, drogas alucinógenas e música).

Provavelmente por esse motivo, foi adotado pela revista Geração pop na sessão

SOMPOP, destinada a apresentar músicos e bandas “de peso” ao público leitor.

Sessão SOMPOP

Para discorrer sobre a SOMPOP, neste texto tomo como exemplo a matéria publicada

na edição número 5, lançada em março de 1973. Seu objetivo era promover artistas

renomados da época, que se destacavam no mundo da música jovem. Nas palavras da própria

revista: “Olha que barato! Aqui você vai sacar novos lances de caras e grupos da pesada.”

(Geração POP, n5, 1973, p. 49).

No que concerne ao aspecto gráfico, a principal característica da sessão estava na sua

diagramação diferenciada. Através do uso da apropriação de características do design pop e

do psicodelismo, os artistas eram apresentados - músicos, nacionais e internacionais -

acompanhados de textos curtos. Abusando de filtros coloridos, desenhos e recortes, de jogos

inusitados entre o posicionamento de imagem e texto, da decorrência a fontes tipográficas

variadas, a SOMPOP, visualmente, se torna uma das sessões mais atraentes da revista.

A valorização dos aspectos visuais da SOMPOP pode ser apreendida no seguinte

enunciado: “Corte, recorte, pendure e cole. Ou então veja, leia e guarde pra curtir. São os

conjuntos e cantores da pesada.” (Geração POP, n2, 1972, p.55).

Os artistas representados na matéria em questão são: Ravi Shankar, segundo o texto:

“o maior citarista da atualidade e o primeiro que conseguiu tornar popular no resto do mundo,

a mágica indiana”; Carole King, única artista feminina com “dois LPs na parada de sucesso”,

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Little Richard, responsável pela música Tutti Frutti, marco do rock’n’roll ao lado de Elvis

Presley; Macalé, inicialmente considerado como representante da bossa nova, mas que

posteriormente entrou para o movimento tropicalista; Gilberto Gil, grande representante do

movimento tropicalista; The Osmonds, espécie de “boy band” estadunidense que fazia muito

sucesso na época e James Brown, grande representante da música soul.

Inicialmente, analisando apenas os artistas escolhidos para figurar na reportagem,

podemos perceber como a cena musical dos anos 70 é associada aos gostos dos jovens. Ravi

Shankar remete à influencia do movimento hippie vivida no momento. Little Richard lembra

o início do rock’n’roll. Gilberto Gil e Jards Macalé, são representantes do movimento

tropicalista, vertente importante da música brasileira, definida por Carmo (2001, p.67) , como

uma “releitura pop e hippie da antropofagia de 1922”. A presença do The Osmonds mostra o

sucesso gerado pelas “boybands”, bandas constituídas apenas por rapazes e que cativavam fãs

por todo o mundo, como os Beatles, por exemplo. James Brown representa o Soul, estilo

musical que surgiu entre a comunidade negra nos Estados Unidos e é influenciado pelo R&B

e o gospel, também estilos musicais.

Pra uma leitura mais detalhada, escolhi quatro imagens apresentadas na sessão. A

primeira de Ravi Shankar, a segunda de Gilberto Gil, a terceira de James Brown e a última, a

própria logo da sessão SOMPOP. Para a análise de cores usarei como base o livro “Introdução

à Teoria da Cor” (Silveira, 2011), e, também, Silveira apud Pastoreau “Dicionário das Cores

do nosso tempo” (1997).

Figura 1: Ravi Shankar. Fonte: Geração Pop, n5, 1975, p.48-49

A figura 1 mostra Ravi Shankar. Responsável pela popularização da musica Indiana na

década de 1960. Foi professor de artistas importantes, como o ex integrante da banda “The

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Beatles”, George Harrison. Seu intuito como citarista era fazer com que as pessoas “viajassem

com a música, e apenas isso”, como afirmou a revista Rolling Stones (n.1117, 2012). A

presença do músico na sessão, lembra a forte influência da cultura oriental na década de 1970.

Ravi está sentado no chão, em cima de um tapete, suas pernas estão cruzadas. Parece

tocar a cítara sem dificuldades, os olhos estão fechados, ele aprecia a música que está

tocando, ela o está levando a "algum lugar", a uma possível elevação espiritual.

A imagem central, parece estar emoldurada pelos quadriláteros sobrepostos em tons de

azul claro e azul escuro. A sobreposição destes gera uma sensação de terceira dimensão,

lembrando mais uma corrente que fez parte do movimento pop, a Op Art. Através da

manipulação de formas geométricas estáticas, a Op Art simulava uma impressão de

tridimensionalidade e movimento (Roza, 2005, p.18).

As cores presentes na imagem são: duas tonalidades de azul, rosa, e variações de

branco, preto e cinza.

No campo psicológico, o azul remete, entre outros significados, ao infinito, ao sonho e

a fé. Fisiologicamente, gera sensação de paz e tranquilidade. O branco, o preto e o cinza -que

retratam Shankar- abandonam seus significados particulares e geram um tipo de contraste que

evidencia a forma, destacando o citarista. O rosa dialoga com o vermelho (paixão) e o branco

(espiritualidade), quebra o predomínio dos tons frios e gera energia e dinamismo para a

composição.

O contraste estabelecido entre as cores e a forma que estas fogem as representações

“reais” caracterizam a influência do psicodelismo. Outra influência perceptível -no

quadrilátero rosa, por exemplo- é a do Hard Edge. Movimento que usava cores planas para

preencher formas geométricas simples com contornos rígidos (Roza, 2005, p.34).

Quanto ao posicionamento da imagem na página, é interessante notar que o texto está na

vertical, pedindo ao leitor que vire a página para lê-lo. Inovações como essa não apenas

reforçavam a imagem de inovadora da SOMPOP, como também, somavam dinamismo à

sessão.

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Figura 2: James Brown. Fonte: Geração Pop, n5, 1973, p.52

A figura 2 é uma ilustração de James Brown. Cantor que se tornou famoso por suas

habilidades vocais e por performances de muita energia. Na época, era grande representante

da música Soul, estilo musical que surgiu no final da década de 1950, começo de 1960 e que

possuía como principais influencias musicais o R&B e o Gospel. O blues surgiu nos Estado

Unidos entre a comunidade negra, e na sessão SOMPOP, pode ser visto como representante

do “black power”, movimento em destaque no final da década de 1960 e começo de 1970,

formado por negros e afro descendentes, defendia o orgulho racial e objetivava a

valorização/criação de seus direitos políticos. O cantor era um dos poucos artistas afro-

americanos com poder de influência tão grande sobre a música pop da época.

Na imagem, James Brown está cantando, vemos apenas seu rosto e mão que segura o

microfone, o ângulo escolhido para representá-lo, -baixo para cima- dá maior impacto à

imagem. Três estrelas adornam seu cabelo “black power”, na parte inferior da figura nota-se

um arco íris repleto de curvas, elas se entrelaçam até atingir o pulso do cantor. No canto

inferior direito, dedos “saem” do arco-íris.

As cores presentes são: amarelo, rosa, vermelho, roxo, verde e azul, formando o arco-

íris; roxo misturado com preto, cinza e branco, constituindo o cantor. Mais amarelo nas

estrelas e tons de cinza nos dedos.

Novamente, o contraste estabelecido entre as misturas do roxo com preto, branco e

cinza valorizam a forma, enfatizando mais ainda a imagem de James Brown. A presença do

arco-íris e das estrelas pode, somado aos dedos e ao contraste notado nas cores apresentadas,

remeter, mais uma vez, ao psicodelismo. Ao mesmo tempo, também é possível que façam

referência ao movimento “black power” -como representação de luta por justiça- e ao design

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pop: a forma que as estrelas “saem” de cabelo do cantor e as curvas do arco-íris “passeiam”

formando um rastro até alcançar a mão que segura o microfone, lembram as representações de

super poderes encontradas em histórias em quadrinho e desenhos animados da época, como

por exemplo: as estrelas que representam a “Mulher-Maravilha” e o poder emanado pelo

machado de “Thor”, ambos heróis criados pela editora DC comics.

Figura 3: Gilberto Gil. Fonte: Geração Pop, n5, 1973, p.52

A figura 3 dá destaque para Gilberto Gil, que ao lado de Caetano Veloso foi um dos

grandes representantes do movimento Tropicalista. O qual é definido por Chico Homem de

Mello e Elaine Ramos no livro “Linha do Tempo do Design Gráfico no Brasil” (2011, p.341):

O movimento Tropicalista foi responsável não apensa por uma ruptura musical e

comportamental, como também por uma ruptura gráfica. Resgatando a antropofagia

da Semana de 22, ele se empenhou em conectar a cultura musical brasileira ao cenário

internacional, em particular ao pop e ao rock europeus e americanos.

O movimento tropicalista se apropriou de várias características do movimento pop nas

suas representações visuais. Rogério Duarte, designer brasileiro, participou ativamente da

construção dessa imagem. Responsável por capas de álbuns renomados, como: “Caetano

Veloso” (1968), onde aplicou o psicodelismo, e “Tropicália ou Panis et Circense” (1968), no

qual usa a linguagem pop (Mello; Ramos, 2011, p.341).

Na imagem, Gil olha para o lado, a sobrancelha levemente arqueada somada a camisa

desabotoada geram uma linguagem corporal de quem “não se importa com o julgamento dos

outros”. O cabelo, como o de James Brown, representa o movimento “black power”, e a

jaqueta remete a motivos militares. O fundo, formado por pequenas bolas alternadas em

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espaços constantes, gera um padrão. A imagem, retangular, possui os canto arredondados e

está levemente inclinada para a esquerda aumentando a dinamicidade da página.

A cor verde presente no fundo, na cultura ocidental, possui, entre outro significados, o

da juventude, da liberdade e da libertinagem. Fisiologicamente, dentre as possibilidades, gera

sensação de não necessidade material, de jovialidade, de energia e de liberdade. O laranja,

empregado no cantor, é uma mistura das cores vermelha e amarela, e gera, entre outros,

sentimentos de alegria, intensidade e inquietude.

O padrão criado pelas bolas verdes no fundo e o laranja sem variações de tonalidades -

gerando nenhum contraste além do já existente na fotografia- dialoga diretamente com a

linguagem das história em quadrinhos, técnica pertencente ao movimento pop,

frequentemente encontrada nos quadros do artista Roy Lichtenstein.

Figura 4: Logo SOMPOP. Fonte: Geração Pop, n5, 1973, p.49

Por fim, a figura 4 destaca um dos ícones mais interessantes da SOMPOP, sua logo,

que passou a ser utilizada a partir dessa edição da revista.

A imagem é composta por uma mão fazendo o símbolo “paz e amor” -gesto simbólico

associado ao movimento hippie- segurando uma medalha onde se lê a palavra “SOM” e

repousando em cima de uma nuvem onde esta escrito a palavra “POP.

A logo aparece na capa de abertura da sessão, na vertical, acompanhada do texto

mencionado anteriormente, divido da seguinte maneira: “Olha que barato! / Aqui você vai /

sacar novos / lances de / caras e grupos / da pesada.” (Geração Pop, n5, 1973, p.49). As frases

se encontram ao lado da figura, inclinadas para a esquerda, como se girassem a partir de um

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eixo. No decorrer da matéria a logo aparece -sem textos- novamente, em tamanhos e

posicionamentos variados, gerando sensação de movimento e até certo caráter lúdico.

As cores que a compõe variam entre as edições da revista. No caso dessa edição

notamos a mão em verde escuro e o medalhão em amarelo, os quais podem carregar os

significados mencionados anteriormente -libertinagem, liberdade, energia, inquietude- porém,

combinados, também lembram as cores da bandeira brasileira. O preto pertencente ao termo

“SOM” carrega significados que remetem a poderes de julgamento, introspecção e autoridade.

Os dedos estão representados em vermelho, azul e branco, o que pode gerar sentimentos

relacionados a felicidade intensa, beleza, infinito, sonho, paz e espiritualidade, entretanto,

também remetem as cores da bandeira dos Estados Unidos.

A nuvem é azul clara potencializando a sensação de estar num “mundo dos sonhos” o

branco visível na palavra “POP” lembra harmonia e equilíbrio.

As cores que não condizem com a realidade usadas na mão e nos dedos, e o contraste

estabelecido entre elas remetem ao psicodelismo, com influências do hard edge devido a

característica “plana” das mesmas. Outro item que remete ao movimento psicodélico é a

nuvem, composta por formas orgânicas lembram fluidez, característica presente

frequentemente em várias obras psicodélicas, como as produzidas pelo artista Wes Wilson,

importante representante do movimento (Roza, 2005, p.12).

Quanto a tipográfica utilizada: Ambas se encaixam no estilo fantasia, e por isso,

dialogam com o design pop. Porém, geram sensações bem diferentes. “SOM” está escrito em

preto, desbotado em alguma partes, gera sensação de “sujo”, pesado, impactante;

Possivelmente representa a força e a rebeldia pertencentes aos artistas apresentados na sessão.

Ao mesmo tempo, “POP”, escrito como na capa de todas as edições da Geração Pop, está em

branco, com formas arredondadas e completamente preenchidas, lembra embalagens

encontradas nos supermercados, trazendo o lado lúdico e comercial do movimento pop.

Assim, as soma dos dois tipos de escrita é capaz de sintetizar os dois lados da SOMPOP. O

primeiro, “SOM”, rebelde, representa o lado libertador e contestador da música, depois,

vemos o “POP” lembrando o caráter popular e comercial da música produzida pelos artista

que nela apareciam.

Conclusão

Levando em consideração os resultados alcançados mediante essa pesquisa, é possível

perceber que a revista Geração Pop não apenas se firmou como um guia representante dos

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interesses e anseios de uma geração de jovens brasileiros na década de 1970, mas também, se

tornou uma grande representante da produção do design pop no Brasil. Com forte

embasamento teórico -no que diz respeito às técnica utilizadas pelo movimento pop- a revista,

em especial a SOMPOP, soube se aproveitar da combinação de cores e posicionamento de

imagens para sair do conceito comum do que a diagramação de uma revista deveria ser.

Constituindo- se, assim, como marco importante na produção cultural brasileira.

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