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7/23/2019 Revista Galileu - EDT MATERIA IMPRIMIR - O Lado Srio Da Hipnose

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portagem/ hipnose

O lado srio da hipnose

A cincia explica como a tcnica tem ajudado pacientes a deixar deumar, perder peso, combater estresse e tratar dores crnicas

uilherme Pavarin e Tiago Mali

psicloga Lina Schlachter ouve gritos vindos da emergncia do centro mdico da Universidade dennessee, nos Estados Unidos, e se apressa. No corredor do setor de traumas, depara-se com umecnico de 42 anos urrando de dor. Ele teve a perna direita destroada aps um acidente em uma das


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bricas da regio e est imobilizado, suando muito. Aps encontrar com Lina, pouco a pouco, os gritospaciente se transformam em gemidos, cada vez mais baixos. Dez minutos depois, ele relata que a dor,

tes insuportvel, no o incomoda mais. No lugar, diz haver apenas um formigamento. Tudo isso, semnhum sedativo.

cearense Lina, doutora em psicologia clnica pela Universidade do Tennessee, no faz mgica. Foramerccios de respirao e uma srie de sugestes para que ele se concentrasse, pensasse no lugar de queais gosta de passear e comeasse a relaxar, diz. O caso do acidente, apresentado em uma confernciadica nos Estados Unidos em 2008, um exemplo de como a medicina tradicional tem se aliado a certas

cnicas de hipnose para combater diversos problemas de sade. Ele se soma a uma srie de pesquisasblicadas em alguns dos peridicos cientficos mais rigorosos do mundo, como Science, The Lancet eoceedings of the National Academy. E o que esses estudos afirmam? Que d, sim, para tratar doresnicas, insnia, enxaqueca, obesidade, vcios, fobias, doenas de pele, entre outros males, com hipnose.as no aquela hipnose de estalar dedos e fazer com que o problema desaparea. So sesses comtodo definido, em tratamentos que podem levar meses.

o toa, h cada vez mais cientistas e pesquisadores hipnotizados pelo tema. O nmero de estudosblicados por ano sobre o assunto cresceu 50% na ltima dcada, chegando a 280 s em 2009 (ltimoo com nmeros fechados), segundo o banco de dados cientfico Pubmed. Entre as pesquisas recentes,

staca-se levantamento com 124 mulheres realizado em 2010 na Universidade de Stanford que constatoue a prtica da hipnose pode atenuar o sofrimento de pacientes com cncer de mama. Outro trabalho,ito em 2008 na Universidade da Califrnia, avaliou fumantes que usaram a tcnica para largar o cigarroo grupo de hipnotizados teve 50% mais sucesso no tratamento em relao ao outro time.

uem hipnotiza hoje no so showmen com ar sombrio, jeito de ilusionista e papo de charlato. Os novospnotizadores tm diploma de mdico, psiclogo ou dentista, e preferem ser chamados de hipnlogos.o se encontram em programas de variedades, mas em locais como o Hospital das Clnicas, o A.C.amargo e o So Camilo, todos em So Paulo, alm de clnicas mdicas renomadas. A prtica vemescendo bastante no Brasil, principalmente contra problemas de somatizao, quando uma doena seanifesta ou se agrava por causa de algum distrbio emocional. Os conselhos federais de medicina,icologia, odontologia e fisioterapia j a aprovam, diz a psicloga Miriam Pontes, vice-presidente da

ociedade Brasileira de Hipnose, que conta com 2 mil profissionais associados em todo o Brasil.


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Crdito: Victor Affaro

BISTURI SEM ANESTESIA > Ao saber que teria de arrancar um ndulo mamrio no seio, adiarista Andreia Peres Maranho, 34 anos, ficou com medo de no conseguir maisamamentar. Ela havia acabado de ter um beb e, com o efeito dos anestsicos, o leite poderiaser comprometido. Quando a anestesista Cristiane Hikiji lhe contou sobre a possibilidade derealizar anestesia por hipnose, Andreia decidiu experimentar. Foram 12 sesses preparatrias

at a cirurgia. J tinha tirado outro tumor no seio e foi difcil recuperar, mas com a hipnosefoi rapidinho, no doeu em nenhum momento

OMO FUNCIONAhe fixamente nos meus olhos e esquea toda aquela ideia de pndulo, comer cebola achando que a, cocoricar feito um galo e outras pirotecnias. Cientificamente falando, a hipnose um estado em quepercepo, a memria e as aes de algum podem ser alteradas por sugesto de outra pessoa. Algunsm facilidade imensa em serem hipnotizados; outros, raramente conseguem. O indivduo fica

nsciente, mas o crebro temporariamente suprime as tentativas de confirmar as informaes vindas dosntidos. O senso crtico baixa e h uma ateno maior no que o hipnotizador sugere, diz Osmar Cols,ordenador do Grupo de Estudos da Hipnose da Escola Paulista de Medicina. Trabalhadaequadamente, essa hiperateno pode, por exemplo, fazer com que a gente ignore sensaes enviadaslo corpo. como um jogador de futebol quando sofre uma pancada forte na perna durante a final dompeonato, mas continua jogando, s sentindo a dor depois do trmino da partida.

o crebro, j descobrimos algumas das regies onde esse fenmeno ocorre. Estudos com neuroimagensostram que o giro do cngulo anterior direito, uma rea responsvel por levar informaes dos sentidos a nossa parte racional, atingido pela hipnose. A sugesto chega a essa regio intermediria, que

em vai decidir para onde vai a ateno, como se inoculasse um pensamento na cabea da pessoa, dizohamad Bazzi, mdico brasileiro que estuda hipnose h duas dcadas. ali que pesquisadoresreditam que a autentificao falha.

oi provavelmente o que aconteceu com o mecnico citado no comeo desta reportagem quando, aps aspetidas sugestes, deixou de se focar na informao de dor da perna destroada. O caso dele, no entanto,


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o regra: apenas 10% da populao mundial altamente suscetvel hipnose (veja como isso medidoquadro abaixo). Para pessoas menos passveis, leva-se tempo at chegar a um transe profundo e,

nda assim, no h garantia de que ela consiga atingir esse estado. A diarista Andreia Peres Maranho, 34os, por exemplo, precisou passar por 12 sesses durante um ms at estar pronta para uma cirurgia detirada de um ndulo mamrio, feita em transe hipntico. J tinha tido uma experincia ruim comestesia antes e estava amamentando [a amamentao teria de ser interrompida por conta do uso dodativo], diz.

urante as sesses, a anestesista Cristiane Hikiji Nogueira fazia com que Andreia treinasse seu crebro a

sviar a dor. No comeo, girava uma caneta em frente aos olhos da paciente, que comeava a relaxar.nto, passava a espetar Andreia com agulhas finas e dizia que aquela regio no seria mais sentida. Nassses seguintes, conforme ela ia conseguindo ignorar a dor, o dimetro das agulhas aumentava at seroximar do tamanho que seria equivalente ao bisturi. Os anestsicos tradicionais tambm forameparados na operao, para o caso de emergncias, mas se mostraram desnecessrios. J fiz mais de 30rurgias s com hipnose e nunca tive problemas, afirma Cristiane, que hipnotizou Andreia no Hospitals Clnicas de Ribeiro Preto. Como toda essa preparao demorada, a hipnose na maioria das vezesaba sendo a segunda opo, usada principalmente quando o paciente tem pavor ou alergia anestesia.

mbm possvel juntar as duas coisas: hipnose e anestsicos. Foi o que fez a professora paulistana

abriela Talarico, 32 anos, ao retirar dois dentes do siso. Gabriela, que tinha medo demais de anestesia,tava em pnico quando chegou ao consultrio do dentista Marcelo Martins. Com repetidas sugestes delaxamento, Martins fez Gabriela entrar em transe, ficando menos suscetvel s reaes de dor, eministrou apenas um tero da quantidade normal de anestsico. Como no houve preparao, apnose no foi to profunda, mas foi o suficiente para acalm-la e obter melhorias de cicatrizao e dentrole de sangramento, afirma.

o Centro de Dor do Hospital das Clnicas de So Paulo, tcnicas mais longas so ensinadas para lidarm dores crnicas como enxaqueca e fibromialgia. Ensinamos exerccios de auto-hipnose para que oscientes repitam em suas casas, diz Adriana Loduca, psicloga do hospital. Uma das tcnicas comeam exerccios de respirao em seis etapas e depois evolui para concentrao em algum tipo de imagem,ra que o crebro se desvie da dor.


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Crdito: Victor Affaro

TERAPIA CONTRA O FUMO > Acostumado a fumar um mao de cigarros por dia, oauxiliar de enfermagem Anderson Soares da Silva, 34 , tentou usar adesivos e remdios paraparar. "Ficava irritado demais. Ele se livrou do vcio no fim de 2009, quando experimentoua hipnose aliada psicoterapia por trs meses. Nas sesses, o mdico Luiz Velloso pedia paraque ele imaginasse o cheiro forte do cigarro na sala vazia at se tornar algo incmodo.Depois, sugeria imagens de praias paradisacas e mensagens metafricas para reforar suafora de vontade em largar o fumo. Nunca mais senti vontade, afirma.

CINCIA DA HIPNOSEpesar de impressionantes, exemplos desse tipo eram antes encarados com ceticismo por acadmicos.omo provar que no se tratava de efeito placebo, ou que alguns desses casos no eram forjados? A maiorrte dessas dvidas caiu em 1998, quando os cientistas com Ph.D. Stephen Kosslyn, da Universidade dearvard, e David Spiegel, de Stanford, usaram o PET (tomografia por emisso de psitrons, um exame de


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magem sofisticado) para fotografar a hipnose. Eles sugestionaram indivduos a enxergarem cores emm painel preto e branco e constataram que os crebros agiam como se realmente existissem cartazesloridos na frente. O fluxo sanguneo no crebro repetiu o padro de quando a pessoa enxerga colorido.u seja, o crebro estava realmente vendo aquilo, diz Spiegel, que estuda hipnose desde os anos 1970.

onsiderado um divisor de guas, o estudo gera frutos at hoje. Tanto que, em 2010, o pesquisador Devinrhune, de Oxford, usou um princpio parecido para mostrar como a hipnose poderia ser usada para umito antes tido como impossvel: reverter a sinestesia. A doena rara leva a uma confuso de sentidos norebro, como, por exemplo, enxergar imagens inexistentes ao ouvir determinados sons. No caso da

luntria tratada pelo experimento, cores fortes surgiam no seu crebro todas as vezes em que ela via umsto. Induzindo o transe, Terhune desviou o caminho cerebral durante o fenmeno fazendo com que elanorasse as cores que apareceriam em sua mente. Um eletroencefalograma confirmou o efeito. Elalatou que no tinha mais espasmos de cor ao ver faces e, ao mesmo tempo, a rea ligada confusoental no crebro reduziu sua atividade eltrica, afirma Terhune. O pesquisador ressalva que tudo isso sncionou porque a voluntria era altamente hipnotizvel.

Crdito: Victor AffaroRETIRADA DE SISO DURANTE O TRANSE > Toda vez que ouvia falar em anestesia nodentista, a professora Gabriela Talarico, 32 anos, sentia a espinha arrepiar. Quando soube queteria que arrancar dois sisos, no conseguiu disfarar a tenso. Para acalm-la, oodontologista Marcelo Martins pediu para fazer alguns exerccios de hipnose e teve umaresposta positiva. No doeu nada na hora ou depois", diz Gabriela. "Senti uma calma fora docomum. As sugestes hipnticas, segundo Martins, ainda fizeram a cicatrizao ser trs diasmais rpida e potencializaram o efeito do anestsico, usado em um tero da quantidadehabitual

SICOLOGIA A MAISacar a dor o efeito mais conhecido dessa reorganizao mental, mas est longe de ser o nico. A maiorrte das possibilidades est na rea de distrbios psicossomticos e comportamentais. Males comosnia, fobias, hipertenso e obesidade muitas vezes esto bastante relacionados a fatores psicolgicos. sses casos e no em todos que a hipnose pode dar uma boa ajuda. Foi o que mostrou em 1995


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ving Kirsch, um dos maiores especialistas em hipnose clnica do mundo e Ph.D. em psicologia pelaniversity of Southern California. Em uma grande reviso de estudos, Kirsch constatou que a prticaelhorava, em 70% dos casos, os efeitos positivos das terapias baseadas em psicologia cognitivo-mportamental, que a forma mais popular e difundida de tratamento para esses problemas.

relaes-pblicas Simone Arajo, 35 anos, comprovou esse benefcio. Ela sofre de dermatite atpica,ma doena incurvel que provoca descamao, coceira e manchas avermelhadas pelo corpo, e que pioram momentos de estresse. Aps tentar uma srie de tratamentos e tomar dezenas de remdios, ela

nseguiu uma grande melhoria do problema usando hipnose aliada psicoterapia. Era minha ltima

perana. Antes, estava difcil at mesmo abraar meus filhos porque eu sentia muita dor com a peleachucada. Hoje abrao, beijo e levo at belisco, diz Simone.

a trabalhou sua ansiedade nas sesses de hipnose. Fazia uma srie de exerccios de respirao quetimulavam o seu relaxamento at entrar em transe. Esse estado era realado por instrues para

maginar situaes de tranquilidade. Amenizava a ansiedade, era como uma boa noite de sono. Sentiama melhora grande at a prxima sesso. O humor de Simone melhorava e, depois do segundo ms, asanchas tambm.

ajuda na parte psicolgica, a hipnose tambm tem efeito contra vcios como o tabaco e pode ser usada

ntra transtornos obsessivos compulsivos. Para o auxiliar de enfermagem Anderson Soares da Silva, 34os, a hipnose foi o componente que faltava em seus tratamentos. Antes, ele havia tentado largar ogarro com adesivos e at antidepressivos, mas ficava no mximo dois dias sem fumar. S deu certoando juntei hipnose a outros remdios. Foi um processo de dois a trs meses at conseguir pararfinitivamente, diz Anderson Soares, que conta um ano sem cigarros.


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SEM ESTRESSE > Logo depois que terminou a faculdade, a publicitria carioca FabrssiaLima, de 23 anos, passou a enfrentar crises de ansiedade devido s presses do trabalho.Sentia muita angstia, ficava asfixiada, no conseguia frequentar lugares fechados, nemandar de metr. Por sugesto de uma conhecida, procurou a psicloga Miriam Pontes paratentar dar uma aliviada no estresse e na tenso. Em menos de quatro meses, com uma sessode hipnose por semana, Fabrssia notou grandes melhorias no humor e na sua capacidade deconcentrao

ERDER PESOmagine se algum lhe dissesse que, para emagrecer, no seria necessrio fazer cirurgia de estmago, masenas fingir ter feito uma? Pois mais ou menos esse o tratamento j vendido a 500 pacientes por cercaR$ 3.400 na clnica de hipnose Elite, em Mlaga, Espanha. A terapia tambm diz usar esse efeito

icolgico da hipnose. O paciente sugestionado a pensar que passou por uma cirurgia de reduo detmago, diz o hipnlogo espanhol Martin Shirran, scio da empresa. Para aumentar o poder de


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rsuaso, armada uma espcie de teatrinho, simulando no ambiente cheiro, tato e sons tpicos de umocedimento em uma sala de cirurgia. No final, diz Shirran, o paciente fica com uma imagem noconsciente de que o estmago est menor, uma espcie de alucinao, e sente que no suporta muitamida. O tratamento virou febre no Reino Unido depois de ter sido usado pela cantora Lily Allen e pela-Spice Girl Geri Halliwell.

arquiteto Felipe Caribe diz ter obtido sucesso com uma experincia parecida em Curitiba. Aps vriastras tentativas, ele diz ter emagrecido 14 quilos em trs meses de sesses de psicoterapia somadas pnose. Fui sugestionado a sentir que existe um balo inflado dentro do meu estmago que me impede

comer muito, diz Caribe, que ainda tem 103 quilos e 1,80 m. Apesar da ideia extravagante, h estudosrios mostrando que a hipnose pode, sim, em casos relacionados ansiedade, ajudar na reduo de pesoembora nenhum cite esse tipo de cirurgia hipntica.

UTURO DAS PESQUISASm dos prximos passos da cincia da hipnose se aproxima um pouco do teatrinho da clnica espanhola. um grupo de cientistas ingleses da Universidade de Greenwich estudando como um ambiente dealidade virtual pode potencializar os efeitos da prtica. Outra frente de pesquisadores tenta entender asractersticas genticas que levam algumas pessoas a serem mais hipnotizveis que outras. Pelo menosatro estudos j mostraram que um gene chamado COMT est relacionado suscetibilidade, mas sua

o exata ainda no totalmente compreendida.

tambm vrios grupos de estudo que desejam simular doenas por meio de hipnose para entend-laselhor. Um dos lderes dessa corrente o britnico David Oakley, Ph.D. em psicologia clnica e professorUniversity College London. Ele publicou uma reviso de iniciativas na rea em 2009, em que reneperimentos nos quais pessoas so hipnotizadas para sentir alucinaes auditivas, calor e tipos diferentesdor, fazendo com que o crebro simule algo imaginrio. Esses estados cerebrais induzidos poderiam

r usados em um ambiente controlado para entender melhor como algumas doenas afetam as pessoas.ma que j est sendo pesquisada o transtorno de converso, que pode gerar paralisia, cegueira eficuldades motoras.

utros estudos interessantes so desenvolvidos pelo neurocientista israelense Avi Mendelsohn, queostrou como o crebro de pessoas suscetveis ao esquecimento aps a hipnose (10% da populao) podeoquear a ativao da memria. Seus estudos tambm apontam a possibilidade de criar lembranaslsas. No futuro acredito que muitos podero usar a hipnose para bloquear as memrias que estorturbando suas vidas, ou ao menos suprimir emoes ruins ligadas a essas recordaes, afirma.

UIDADOS muito de hi-tech nas novas pesquisas, mas o que a maioria dos cientistas da rea ainda quer

nfirmar a eficcia do tratamento para outros tipos de doenas. H um esforo em melhorar a qualidades estudos. Alguns so bons, mas boa parte ainda precisa se adequar a padres de qualidade mais altosra no serem contestados, afirma Donald Robertson, diretor do UK College of Hypnosis &ypnoterapy, que revisou dezenas de estudos sobre o tema.

om mais e mais livros a respeito (s na Amazon, foram registradas 660 novas publicaes em 2010), hentao de se provar rapidamente a eficcia contra vrios males. Temos que entender que a hipnoseo uma panaceia, no tem nada de milagroso. Para a maioria das pessoas, s funciona junto com outrascnicas e em um tratamento prolongado. Ningum vai dizer pronto, a partir de agora voc no fumaais. Isso no existe, diz Mohamad Bazzi.g

S MITOS DA HIPNOSE

entistas esclarecem enganos sobre a prtica


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Depois de hipnotizada, a pessoa esquece tudo esquece quando o hipnotizador d um comando para que isso acontea. Esse fenmeno no espontneochamado amnsia ps-hipntica e s possvel em pessoas muito suscetveis hipnose, cerca de 10%populao mundial

O hipnotizado faz tudo o que o hipnotizador quisers pessoas podem sair do transe se sugestionadas a fazer algo que v contra os seus princpios. Tambm entira que algum possa no voltar de um transe ou ser hipnotizado revelia. A hipnose depende dantade de seguir as orientaes do hipnotizador

Imaginao frtil fundamental diversos modos de induo ao transe, como as sugestes baseadas em palavras e repeties, que noigem habilidade de projeo mental

Hipnose similar ao sonomagens cerebrais mostram que o hipnotizado fica acordado e consciente

Relaxamento essencial para o transembora o mais comum seja induzir hipnose com tcnicas de relaxamento, em 1999 pesquisadores da

niversidade do Texas e de Wisconsin fizeram um grupo de pessoas altamente hipnotizveis entrar emanse enquanto pedalavam bicicletas ergomtricas e desconstruram o mito

Pessoas com maior senso crtico so difceis de hipnotizaro h, at hoje, nada que ligue sensibilidade hipntica personalidade. Os estudos, alis, vo nominho oposto: de mostrar que esse tipo de caracterstica indiferente. Pesquisas recentes do indciosque existam alguns genes ligados suscetibilidade

QUO HIPNOTIZVEL VOC ?

Escala de Stanford a avaliao mais usada pelos cientistas para determinar at que ponto algum gestionvel. So 12 atividades para testar a profundidade da hipnose, com pontuao indo de 0 (paraem no responde a nenhuma sugesto) a 12 (indivduos profundamente hipnotizveis). A maioriantua entre 5 e 7, e 95% das pessoas marcam pelo menos 1. Veja ao lado uma verso simplificada dacala e entenda o teste:

PESO INVISVEL

pessoa levanta o brao direito no nvel do ombro, com a palma da mo para cima. O pesquisador pedee o indivduo imagine segurar um objeto pesado e sugere que o peso se torna cada vez maiorARCA-SE PONTO: Se, dez segundos aps a sugesto, o brao abaixar pelo menos 15 centmetros

SEPARAO DE MOStendem-se os braos para frente com uma palma da mo voltada outra, mas no encostadas. Pede-sera imaginar que uma fora separar as duas mos. A instruo repetida vrias vezes MARCA-SE

ONTO: Se, depois de 10 segundos, as mos se afastarem 15 centmetros ou mais

MOSQUITO

hipnotizador sugere que h um mosquito voando pela sala e que ele pousa sobre a mo, voa, e volta aerrissar no brao do voluntrioARCA-SE PONTO: Qualquer careta ou sinal de que o pouso do mosquito foi sentido

GOSTOugere-se que um gosto doce vai se tornando cada vez mais forte na boca e, depois, que um sabor azedo


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torna predominanteARCA-SE PONTO: Se o entrevistado diz ter percebido os dois sabores fortemente. Sentir apenas umostinho no considerado

RIGIDEZ DO BRAOpesquisador pede para o indivduo estender o brao direito e diz que ele est ficando cada vez maisro, que no ser mais possvel dobrar o cotovelo. Depois, pede que a pessoa tente flexionar aticulaoARCA-SE PONTO: Se, aps 10 segundos, o indivduo no tiver conseguido dobrar o brao a 5

ntmetros da posio inicial

SONHOpessoa deve se deitar enquanto ouve que ir dormir e sonhar. O hipnotizador d a ela 2 minutos dencioARCA-SE PONTO: Se, aps esse tempo, a pessoa disser que sonhou e descrever em detalhes o que viu

REGRESSO DE IDADEsugerido um retorno quarta srie do primrio, como se a pessoa estivesse na sala de aula. Otrevistador acorda o hipnotizado e pede que a idade seja escrita no papel

ARCA-SE PONTO: Se a idade escrita no for correspondente com a atual

PESO DO BRAOindivduo testado levado a pensar que seu brao esquerdo comea a ficar cada vez mais pesado efcil de levantar. O hipnotizador pede para que ele tente mover o brao para cimaARCA-SE PONTO: Depois de 10 segundos, se a pessoa no conseguir mover o brao mais de 2ntmetros

CHEIROhipnotizador repete que a pessoa no ser capaz de sentir nenhum odor. Depois, abre uma garrafa comeo de hortel ou com amnia sob o nariz do indivduo e pede para que ele cheireARCA-SE PONTO: Se a pessoa no conseguir sentir o odor

ALUCINAO DE VOZEShipnotizador mente dizendo que um colega, fora dali, quer fazer outras perguntas ao indivduosquisado, e que elas podero ser ouvidas em segundos por um alto-falante afixado na paredeARCA-SE PONTO: Se pelo menos uma resposta dada s questes imaginrias

ALUCINAO VISUAL

pesquisador coloca trs objetos coloridos de plstico sobre a mesa, mas diz ao voluntrio que, quandoe abrir os olhos, enxergar dois objetosARCA-SE PONTO: Se o hipnotizado contar apenas dois objetos

INSTRUO PS-HIPNTICAo final da sesso, o hipnotizador diz que a pessoa sair do transe depois que ele contar at 20, mas antesesquecer de tudo o que aconteceu. Ele tambm afirma que, depois de acordar, a pessoa ter vontade de

vantar e mudar de cadeira assim que vir o pesquisador pegar determinado lpisARCA-SE PONTO: Se a pessoa, depois de sair do transe, fizer qualquer movimento parcial em respostafato de o hipnotizador pegar o lpis

NTREVISTA: SCOTT LILIENFELD

ratar s com hipnose um erro"


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pecializado em estudar riscos da hipnose, o Ph.D. em psicologia Scott Lilienfeld revisou criticamenteversos estudos sobre o tema. Segundo o professor da Emory University, existem evidncias denefcios em tratamentos com a sugesto, mas h de se tomar cuidados. Confira o que ele pensa sobre atica.

s mdicos devem usar hipnose?s pesquisas indicam que essa tcnica provavelmente no recomendvel como um tratamento por si s.as h evidncias fortes nos ltimos anos sugerindo que ela pode ser til, se acompanhada de tratamentospsicologia comportamental contra distrbios, somatizao e dores.

or que no us-la sozinha?a no contm os ingredientes comprovadamente efetivos para mudanas de comportamento. Para trataransiedade eficientemente, por exemplo, temos de expor as pessoas aos medos e fazer com que elas osnfrontem, de maneira sistemtica. A hipnose no faz isso sozinha.

transe da hipnose comprovado?hipnose existe, mas no vejo boas evidncias de que o transe seja um estado distinto de conscincia, aontrrio do que dizem muitos cientistas. Eles esto vendo modificaes cerebrais por meio de tcnicas deuroimagem. Identificaram que o cngulo anterior direito fica mais ativo durante a hipnose, o que no

o surpreendente porque essa a rea responsvel por conflitos no crebro. Esses estados cerebraismbm acontecem em outras ocasies.

usos no indicados de hipnose?qui nos Estados Unidos, a maioria dos estados admite que relatos de hipnose sejam usados como provas

m julgamentos, o que temerrio. Muitos investigadores hipnotizam testemunhas para conseguir maistalhes de uma cena do crime, por exemplo. No h estudos em nenhum lugar que deem suporte a essaeia. As evidncias, pelo contrrio, sugerem que a hipnose mais aumenta o risco de suscitar umaemria falsa do que de recuperar uma memria verdadeira. As pessoas hipnotizadas mostram maisntade de reportar qualquer coisa, incluindo fatos sobre os quais elas no tm certeza.

IPNOSE E CIRCO

ndulos, agulhas atravessando a pele sem dor e pessoas passando constrangimentos so alguns doschs pelos quais a maior parte de ns conheceu a hipnose. A maior questo desses espetculos no rem de verdade ou no (boa parte usa tcnicas que realmente existem), mas o efeito que podemovocar. Para mdicos e estudiosos, h dois malefcios. O primeiro toda a aura de ocultismo que

rmanece sobre o tema, em boa parte por causa da impresso causada pelos shows. O segundo que aamada hipnose de palco, se executada por gente inexperiente, tambm pode gerar distrbiosicolgicos.

m caso famoso envolve um ex-combatente do exrcito americano que, aps um ano de aposentadoria nacada de 70, entrou em um surto psictico assim que foi hipnotizado durante uma apresentao.nsando ser um prisioneiro de guerra, assaltou um estabelecimento e, depois de trs horas, j no se

mbrava do ocorrido. O homem s saiu do surto aps meses de sesses de psicoterapia e, segundo otudo do Ph.D. em psicologia Harold J. Wain, mostrou que pessoas como ele, com algum trauma ouedisposio a problemas psquicos, podem ativar uma patologia numa sesso de hipnose mal guiada.

Qualquer prtica medicinal levada por leigos perigosa, diz o pediatra Luiz Carlos Motta, presidente daociedade Brasileira de Hipnose e Hipniatria.

as tambm h exemplos positivos relacionados hipnose de palco. No Brasil, o mais famoso showmanmodalidade, Fbio Puentes, treinou profissionais na rea de hipnose do Grupo de Dor do Hospital dasnicas, em So Paulo. Ele voluntrio no hospital. Quando temos algum com muita dor e que


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rapalha a recuperao, como um cncer na mandbula, chamamos o Fbio para nos ajudar, diz aicloga Adriana Loduca. Seria uma exceo?

ALILEU HIPNOTIZADA

olocamos prova o hipnotizador Fbio Puentes, que conseguiu sugestionar trs profissionais da equiperevista. Confira o relato do diretor de arte Ricardo Martins, que entrou em transe profundo e teve seuscoo atravessado por uma agulha mdica sem sentir dor

Depois que fechei os olhos e relaxei, ele comeou a pressionar as minhas plpebras, dizendo que eu nonseguiria mais abrir. Quando tirou a mo, eu, de fato, no conseguia. Fiquei um pouco preocupado,as, por alguma razo, isso no parecia to importante. Vinha minha mente a voz dele dizendo para euntinuar relaxado, e aquilo parecia fazer mais sentido. Quando ele me balanou, perdi o equilbrio e noo natural, que seria me apoiar. Acabei caindo na cadeira, mas sem me sentir impotente. Pensei, depois,

amos levantar e acabar logo com isso, s que, em seguida, a voz dentro da minha cabea diziaontinue relaxado. Era um conflito interno, mas a instruo do Fbio era mais forte. No tinha vontademe mover ou reagir, mas ouvia e entendia tudo o que estava acontecendo ali. No senti o momento eme ele atravessou o meu pescoo com uma agulha, embora pensei que pudesse acontecer alguma coisa

rada quando ele disse no vai doer. Fui me deixando levar, como se o meu crebro quisesse fazeruilo, embora no fosse uma vontade totalmente minha. O mais impressionante que sabia que estavando induzido, mas tudo parecia seguro. No senti medo. Eu tinha certeza de que isso era charlatanismo,as vi que h algo srio por trs."

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