revista fossgis brasil ed 03 setembro 2011

Upload: andre-aredes

Post on 14-Jul-2015

63 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

SumrioEditorial

04 05 06 07 09 10 14 19 22 28 32 36 39 44 49 52

Nesta edio abordaremos se o uso das Geotecnologas livres nos governos j realidade ou ainda no passa de promessa. Confira alguns dos principais movimentos do mercado FOSSGIS no ltimo trimestre. Aqui voc fica por dentro dos principais eventos relacionados aos SIG livres no Brasil e no Mundo. Espao destinado s crticas, sugestes e comentrios dos leitores da revista nas diversas plataformas multimdia. Sabe aquele recurso ou tarefa que os softwares comerciais tm? Os SIG livres tambm fazem. Confira. O uso de Web Processing Services (WPS) e execuo de mdulos GRASS a partir de Openlayers. GIS Virtual Machine, uma mquina virtual para Geotecnologias Livres. O que o Geomajas e como ele est sendo utilizado mundo afora.

Mercado de GIS

Mural GIS

Espao do Leitor

Software Livre Tambm Faz

Usando WPS em Openlayers GISVM

GeoMajas

Capa Fossgis.gov.br Capa II Fossgis.gov.pt iGeo na Gesto Municipal

Saiba se a poltica nacional de incentivo aos SL tambm tem influenciado a rea de Geoprocessamento. Software Livre no Governo: O Caso de Portugal.

Veja o exemplo prtico do uso de SIG livres na administrao municipal de Joo Pessoa - PB. Entrevistamos o homem por trs do iGeo. Ele nos revela o panorama sobre a utilizao de software livre dentro do governo. Saiba tudo o que aconteceu na Conferncia Cartogrfica Internacional 2011 em Paris. Fique por dentro do Mapserver e de quebra aprenda a instal-lo em seu computador. Conhea o Ilwis, software proprietrio que livrou-se das amarras das licenas restritivas. Neste espao voc pode enviar seu mapa para ser publicado. Siga todas as normas cartogrficas e explique como o produziu.

Entrevista

Por Dentro do Geo

Web GIS

Desktop GIS

Mapa da Vez

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

EditorialGEOTECNOLOGIAS LIVRES NO GOVERNO. PROMESSA OU REALIDADE? Caros leitores, Com a criao do Comit Tcnico de Implementao de Software Livre pelo Presidente Lula (2003), o software livre comeou a ser adotado com maior fora no Brasil. Apesar da criao do Portal do Software Pblico (PSB), em 2007, e segundo relatos do SERPRO, alguns rgos ainda no seguem as diretrizes do Governo Federal, e existem rgos que nem sequer tm conhecimento da existncia do Software Livre. Isso nos leva a refletir que no basta apenas decretar o uso, mas sim estabelecer uma poltica que apie o desenvolvimento e manuteno de software livre, e a capacitao para adaptao destes softwares. No artigo de capa desta edio falaremos da situao das Geotecnologias livres no Brasil, onde sero abordados os motivos para a sua utilizao, desafios da implantao em instituies pblicas, alm de dicas para uma migrao saudvel. H ainda um breve relato de como est o uso das Geotecnologias livres em Portugal. Nesta edio ainda falaremos sobre o i3Geo na gesto pblica, um software livre brasileiro criado no Ministrio do Meio Ambiente por Edmar Moretti, que nos concedeu uma entrevista bastante informativa. Voc ainda poder saber um pouco mais sobre o ILWIS, um Desktop GIS que j foi proprietrio e hoje opensource; alm do GISVM, uma mquina virtual GIS. No deixe de ler tambm os artigos sobre os projetos GeoMajas e MapServer, a matria sobre como utilizar o padro WPS com o OpenLayers e a nova seo, com o tema Quebrando Tabus: Software livre tambm faz. Espero que gostem desta edio e nos enviem suas opinies e sugestes que so de fundamental importncia para o nosso trabalho. Boa leitura!

Publicao trimestral - Ano 1 - N 03Diretor Geral Fernando Quadro - [email protected] Editor Fernando Quadro - [email protected] Jornalista Responsvel Juliane Guimares - [email protected] Revisores Andr [email protected] Felipe Costa - [email protected] George Silva - [email protected] Raquel Monteiro da Silva Freitas Arte e Diagramao Esdras Andrade - [email protected] Luis Sadeck - [email protected] Capa Luis Sadeck - [email protected] Colaboraram nesta edio Ana Paula Gioia Anderson Maciel Lima de Medeiros Andr Mendona Carlos Alberto Ribeiro Esdras de Lima Andrade Felipe dos Santos Costa George Silva Jorge de Jesus Jos Pedro Gonalves dos Santos Luis Carlos Madeira Luis Sadeck Luiz Motta Pieter De Graef Ricardo Pinho Sylvain Desmoulire

Fale conosco

Editor - [email protected]

Publicidade - [email protected]

Fernando Quadro Analista de sistemas Editor [email protected] revista foi diagramada e produzida graficamente utilizando os seguintes softwares livres

Parcerias - [email protected]

Ubuntu

LibreOffice

Inkscape

Gimp

Scribus

O contedo assinado e as imagens que o integram, so de inteira responsabilidade de seus respectivos autores, no representando necessariamente a opinio da Revista FOSSGIS Brasil e de seus responsveis. Todos os direitos sobre as imagens so reservados a seus respectivos proprietrios.

4

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

Mercado de GISPor Lus Carlos Madeira

Nesta coluna, confira alguns dos principais movimentos do mercado FOSSGIS no ltimo trimestre.

GearScape (GGL)Foi liberada a verso 2 da Linguagem de Geoprocessamento GearScape (GGL). A novidade introduzida nesta segunda verso passa pela abrangncia de outras linguagens de programao, ao contrrio da verso 1 que apenas interpretava a linguagem SQL. Para saber mais acerca do GGL e desta nova verso em http://goo.gl/aRvE9. Baixe o GearScape em http://goo.gl/3w7Ah. Disponvel a nova verso 4.8. RC3 (para sistemas operacionais Windows 32 bits) do MapWindow, uma popular aplicao livre de SIG desktop. Saiba mais sobre este aplicativo em http://goo.gl/pQItB e faa o download em http://goo.gl/qg6le. Foi disponibilizada para download a verso 5 do Open Source Geospatial DVD. Esta iniciativa tem como objetivo reunir num mesmo dispositivo um conjunto de aplicativos SIG de cdigo aberto. Desta forma, o usrio pode testar todas as aplicaes sem ter a necessidade de instal-lo no computador. Saiba mais sobre esta verso do DVD em http://goo.gl/A8sdq. Faa o download em http://goo.gl/yF8ad. RoseCalc um software livre de origem brasileira que tem como funo elaborar clculos de Cartografia e Topografia. Para obter mais informaes acerca desse software acesse http://goo.gl/4x2Wo e para fazer o download em http://goo.gl/nfBXJ.

Julho de 2011No ltimo ms de Julho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) disponibilizou ao pblico a Malha Municipal e de Setores Censitrios e da Base de Informaes do Censo 2010. Acesse noticia de divulgao em http://goo.gl/NAtIR. Os arquivos da Malha esto disponveis em http://goo.gl/QuLxE.

Agosto de 2011Depois de lanada a verso 4.1.0 do TerraView eis que chegou a hora de anunciar a verso portable deste aplicativo desenvolvido no INPE. Confira todas as informaes e novidades sobre o TerraView em http://goo.gl/kn4lw. Para obter a verso portable do TerraView consulte um dos nossos blogs parceiros: http://goo.gl/QZhBb. No final do ms de Agosto foi lanado o Mapa ndice TOPODATA, que pretende ser uma ponte para o acesso aos dados do projeto TOPODATA do INPE. Saiba mais sobre este projeto em http://goo.gl/RFAKu. Acesse o Mapa ndice TOPODATA em http://goo.gl/4VWg1.

Setembro de 2011Foi liberada a nova verso 1.9 do framework SIG de cdigo aberto Geomajas. Para conhecer mais sobre esta verso e fazer o download do software acesse http://www.geomajas.org/.

Lus Carlos Madeira Gegrafo, Consultor em SIG [email protected]

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

5

Mural GISP o r L u s C a rl o s Ma d e i ra

1 Summit 201 he World GIS T 0a urquia), de 1 Instambul (T ro 15 de Outub es: Mais informa l/FVl5R http://goo.g

ana Latinoameric III Jornadas de gvSIG e Caribenha a 14 rasil), de 12 Iguao-PR (B de Outubro es: Mais informa l/g9MZl http://goo.g

ae e Informtic I Simpsio d ia de Geotecnolog SIGES Santarm A (Brasil), de Santarm, P utubro 17 a 21 de O es: Mais informa l/izAAa http://goo.g

Conference PostgreSQL Europe 2011 8 olanda), de 1 Amesterd (H bro a 21 de Outu es: Mais informa l/vjjTW http://goo.g

LatinoConferncia Latinoware Americana 2011 , de 19 a 21 Itaipu (Brasil) de Outubro es: Mais informa ABO Z r http://goo.gl/

acional do II Encontro N lico Brasileiro Software Pb rasil), de 25 a Braslia-DF (B 27 de Outubro es: Mais informa OlGb2 http://goo.gl/

IGSPATIAL 19th ACM S e on l Conferenc Internationa Geographic Advances in 11 Systems 20 Information L GIS 2011) SIGSPATIA (ACM e ), de 1 a 4 d hicago (EUA C Novembro a e s: Mais inform l/JRhmq http://goo.g

Brasileira Conferncia 2011 PostgreSQL 3 P (Brasil), de So Paulo, S bro a 4 de Novem es: Mais informa kJZ A3 http://goo.gl/

E CO Ecologia (EN I Encontro de B us IV da UFP P B ) d o C a mp logias 11: Geotecno Eixo temtico ecolgicos nos estudos a 25 rasil), de 23 io Tinto, PB (B R de Novembro e s: Mais informa l/4hL45 http://goo.g

o psio Brasileir SIMGEO Sim IV eodsicas e de Cincias G o a Geoinforma Tecnologias d 15 trabalhos: at Chamada para de Novembro e sil), de 5 a 9 d ecife, PE (Bra R Maio de 2012 es: Mais informa Rab Q Z http://goo.gl/

SASIG IV Jornadas a ortugal), de 2 Guimares (P ro 4 de Novemb es: Mais informa nYIhI http://goo.gl/

Internacionais 7as Jornadas de gvSIG de anha), de 30 Valncia (Esp ro 2 de Dezemb Novembro a es: Mais informa 1T 5o u http://goo.gl/

L u s C a r l o s Ma d e i r a Gegrafo, Consultor em SIG [email protected]

Espao do LeitorEmails, Sugestes e ComentriosDesde o lanamento do primeiro nmero da Revista FOSSGIS Brasil, recebemos atravs de nosso site e pelas redes sociais inmeros comentrios de leitores com suas opinies sobre o que publicamos alm de excelentes sugestes. Selecionamos abaixo apenas alguns exemplos que representam a opinio de nossos queridos GeoLeitores. A Revista FOSSGIS Brasil quer ouvir Voc. Participe! "Parabns pela revista. A revista, alm do timo contedo, trs outro lado positivo que a unio da comunidade nacional de usurios e desenvolvedores de geotecnologias livres. Isso nos fortalece. Obrigado a toda equipe pelo material." Alides Baptista Chimin JuniorGrupo de Estudos Territoriais - GETE Revista Latinoamericana de Geografia e Gnero

de ponta, portanto os artigos so de contedo extremamente confiveis. Parabns!" Renato J. F. LlisAnalista de Geoprocessamento - Base Territorial DF Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE

"Hola. Quera agradecer a todo el equipo de la revista por esta iniciativa y en especial a Ricardo Pinho por su bonito reportaje sobre Kosmo Desktop." Antonio Jess Jimnez ArrabalGegrafo, Sistemas Abiertos de Informacin Geogrfica (SAIG S.L.)

"Gostaria de parabenizar a todos contribuintes da revista que revoluciona o Mercado de Geotecnologias publicando matrias que s so tratadas aqui. Contribuindo para o desenvolvimento e o pensar em geotecnologias." Marcelus Oliveira de JesusEngenheiro Ambiental, Especialista em Geoprocessamento

"Queridos Amigos, Mi nombre es Rolo Gualfert Betanzos Migues, soy Boliviano, pero radico en Panam, soy abogado especialista en catastro y topografo actualmente trabajo en el proyecto de Catastro Metropolitano de Panama como Coordinar de Campo de la Zona2. Que grato poder contar con una revista que no ayude a conocer mas de este tema que seguro en adelante ira creciendo mas y mas, los felicito por su iniciativa y por su dedicacion de ahora en adelante estare pendiente de las proximas publicaciones. Nuevamente felicitaciones y sigan adelante. Saludos." Rolo G. Betanzos M. "Quando li a primeira edio j fiquei impressionado com a 'avalanche' de informaes. Mais impressionado ainda fiquei com a segunda edio. Pra mim j leitura obrigatria para os profissionais da rea. E melhor, a equipe da revista

"Gracias por darnos la oportunidad de recibir buenas noticias acerca del uso de software libre. Es para nosotros una excelente idea crear y mantener una revista de tan buena calidad. Felicitaciones y xitos." Franklin Vargas ERRATA: Primeiramente gostaria de parabenizar a todos pela iniciativa da FOSSGIS Brasil e ao autor da matria "Experincias de capacitao com Terraview" pelo excelente artigo. Entretanto, o artigo passa a sensao de que o programa SipamCidade desenvolvido integralmente pelo SIPAM em conjunto com a UFPA. Tal fato, ocorre na rea de abrangncia do Centro Regional de Belm (CR-BEL) do SIPAM. Nas reas de abrangncias dos Centros Regionais de Manaus (CR-MAO) e Porto Velho (CR-PVH) o programa foi desenvolvido em parceria com outras instituies e individualmente pelo SIPAM em municpios de toda a Amaznia Legal. Ernesto Filho

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

7

Continue enviando seus comentarios, crticas e sugestes [email protected]

QUEBRANDO TABUS Software Livre tambm fazP o r L u s C a rl o s Ma d e i ra

Nesta 3 edio da revista inauguramos uma nova coluna: Quebrando Tabus: Software Livre tambm faz. Esta iniciativa foi primeiramente idealizada pelo nosso colega Lus Lopes, que no seu blog comeou a criar uma srie de postagens com o intuito de, como ele refere, quebrar tabus em relao ao uso de software livre na realizao de vrias tarefas. Este movimento, chamemos-lhe assim, conseguiu atrair a ateno da comunidade e de outros blogueiros que comearam a postar sobre a temtica e desta forma vem contribuindo para o enriquecimento da cultura do Software Livre. Como hoje em dia tudo o que est na internet tem que passar, obrigatoriamente, pelas redes sociais, os respectivos autores criaram uma hastag (#SLGeoTbFaz) no Twitter para reunir todos os tpicos acerca deste assunto. Hoje vamos indicar para voc dois procedimentos que podem ser realizados em vrios softwares livres de SIG: Gerao de pontos aleatrios e Ferramenta Dissolver. Confira ao lado os quadros contendo os links de acesso s matrias. Na prxima edio vamos continuar a indicar para voc os melhores tutoriais, para que possa desenvolver as suas capacidades de

utilizao de geotecnologias livres. Contamos tambm com o leitor para nos enviar as suas matrias para que possamos continuar a enriquecer este arquivo de procedimentos.

L u s C a r l o s Ma d e i r a Gegrafo, Consultor em SIG [email protected]

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

9

Olly Wright @ flickr

ARTIGO DO LEITOR Usando WPS (Web Processing Ser vice) em OpenLayersPor Jorge Samuel Mendes de Jesus

Web services um termo na moda mas pouco explorado na sua potencialidade. O mundo GIS j comeou a tomar a ateno e a consumir web services, como WMS (Web Mapping Service), WCS (Web Coverage Service) e WFS (Web Feature Service). Estes trs tipos de servios disponibilizam dados do tipo matricial (o WMS normalmente fornece PNG; e o WCS, imagens em formato geoTiff) e vetorial (WFS em formato XML). Mas os web services no servem s para descarregar dados, tambm servem para executar algoritmos. Em particular o Web Processing Service permite a um utilizador (cliente) executar um processo GIS com entradas (inputs) e sadas (outputs) especficos. Um processo um algoritmo que pode realizar varias operaes como a transformao de dados, obteno de novos dados entre outros. Funcionalidade do WPS O WPS um web service especfico para dados geogrficos, ou seja, especialmente desenhado para lidar com grande quantidade de dados e com processos que podem levar

segundos, minutos, horas, ou dias em execuo. Um exemplo de operao seria um algoritmo interpolador, bastante usado na modelagem de superfcies.

Exemplo de uma interpolao usando WPS e posteriormente sobreposta em Google Earth1

10

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

Cortesia: www.PhysX.de

O WPS usa duas maneiras de transferir dados: - Contedo transferido como input e/ou output - Referencia, onde o WPS pode entrar os dados (input), e/ou onde o cliente pode encontrar o resultado do processo (output) As referncias usadas em WPS so URLs (p.ex.: http://foo/servicoWPS/dadosGML.gml) que podem ser passados de um servio para o outro, sem que os dados sejam transferidos de volta para o cliente. A segunda grande capacidade do WPS permitir a execuo de algoritmos que podem levar bastante tempo para executar, ou seja, mais tempo do que o permitido at que um utilizador receba a fatdica mensagem: HTTP 408 Request Timeout. A estratgia usada em WPS de responder imediatamente com um URL onde o cliente pode obter informao sobre o estado de execuo do processo e os dados resultantes, caso o processo tenha terminado.

Apenas trs operaes definem o WPS: getCapabilities, describeProcess e Execute. As duas primeiras servem para descrever os processos disponibilizados pelo servidor, ou seja, o nome dos processos, tipos de input/output e se o processo assncrono (resposta imediata sobre onde vo ser depositados os resultados quando terminado). A terceira operao a mais importante e ordena a execuo do processo, tendo o cliente de indicar os inputs, ouputs e se o resultado deve ser dado por referncia. Na imagem abaixo apresenta-se um exemplo de resposta a um describeProcess para o servico v.net.path. O uso de XML bastante conveniente em web services mas, para leigos, pode ser um tanto quanto difcil de perceber. So permitidos trs tipos de Input/Ouputs: - Literal - ComplexData - Bounding-box

Exemplo de resposta a um describeProcess Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

11

Os Literal inputs so simples nmeros ou texto (strings). Os ComplexData podem ser tudo e mais alguma coisa, ou seja, uma imagem (em formato base64), um contedo em XML, etc. O terceiro tipo Bounding-box (bbox) que corresponde a um par de coordenadas que descreve o canto inferior esquerdo e o canto superior direito de um polgono que delimita uma regio no espao (ex: -10,-10,10,10). Os mais atentos notaro que o WPS no define formatos, por exemplo, no diz se o cliente deve usar GML3.2, um shapefile (comprimido), um geoTiff ou um netCDF. A definio do formato usado aberta deciso do programador do servio. Esta situao tem causado problemas de intercompabilidade entre WPS, j que no existe um formato padro de transferncia de dados, mas s uma descrio de como deve ser feita a transferncia. Implementao O suporte para o WPS bastante variado e com vrios sabores e linguagens de programao. Por exemplo os adeptos do JAVA tem sua disposio a implementao da 52North2 ou deegree3. No caso do Python temos o PyWPS4,5 e em C/Python temos o projeto ZOO6. Atualmente o projeto Geoserver tambm fornece servios WPS7 mas de uma maneira mais limitada que os projetos mencionados. O PyWPS uma implementao em python que segue a filosofia de baterias no includas, ou seja, o PyWPS fornece toda a estrutura de implementao mas no os processos em si, cabendo ao usurio a deciso sobre que formatos usar e como programar os algoritmos que sero servidos como processos. Normalmente o PyWPS usado em conjunto com GRASS-GIS8 j que permite o uso dos comandos GRASS sem grandes problemas. Outra grande ajuda vem do projeto Rpy9 que permite o uso da linguagem R e das suas funcionalidades dentro do PyWPS. Seguindo a filosofia python, o objecto do projeto PyWPS permitir o acesso a programas j existentes e o seu uso como web service. Atualmente o projecto GRASS-WPS-Bridge10 permite que o PyWPS, 52North e ZOO sirvam automaticamente os mdulos de GRASS 7.0 como servios WPS, o que uma grande ajuda para quem no aprecia programao. Chamar e consumir servios WPS usando Javascript no complicado. A estratgia mais direta ser criar os pedidos WPS usando XML, depois usar AJAX11 para realizar o pedido e

posteriormente fazer a verificao da resposta. Outra opo mais eficiente ser usar o cliente fornecido pelo projeto PyWPS12,13 que pode ser facilmente integrado ao OpenLayers. Este cliente realiza a gesto de contedo (tipos de input/output), tipo de operao pedida ao WPS (getCapabilities, describeProcess e Execute) e a estratgia a usar conforme o tipo de resposta dados pelo WPS. O cliente WPS tem ainda a capacidade de perceber se a resposta dada pelo servidor uma excepo (erro) ou um resultado vlido ou de continuamente verificar o servico at obter o resultado final (pedidos em assncrono). Com o uso do WPS possvel aplicar operaes GIS a dados visualizados no Openlayers, j que o contedo das camadas pode ser usado como input e o resultado pode ser integrado e visualizado no mesmo. A adoo do WPS tem sido difcil e lenta, em parte devido necessidade de programao (e de conhecimentos tcnicos) para montar servios e tambm falta de interoperabilidade entre servios em si. Uma vez que o WPS no define formatos, por exemplo, um servio pode usar geoTiff enquanto um outro usa NetCDF, e portanto estes dois servios tero problemas em comunicarem-se entre si. Alm disso a falta de plugins e de API's clientes tem sido tambm um problema. Felizmente existe j um plugin para o QGIS. Exemplo prtico Passando da teoria pratica, a imagem abaixo apresenta um exemplo de uso do WPS que pode ser testado em http://rsg.pml.ac.uk/wps/example/index.html.

12

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

A imagem anterior ilustra um exemplo em OpenLayers usando o servio v.net.path para obter o percurso mais curto entre dois pontos. O WPS chamado sempre que os ponto inicial/final alterado. Neste exemplo foi usado o plugin com OpenLayers, fornecido pelo projeto PyWPS, e um servio (v.net.path)[14,15] criado usando GRASSWPS-Brige em PyWPS. O modulo v.net.path determina o caminho mais curto entre dois pontos numa rede grfica. Basicamente o WPS funciona como o crebro do sistema, consumindo a camada com a rede grfica e os pontos inicial e final, disponibilizados pelo OpenLayers, e devolvendo um resultado que pode ser facilmente integrado como uma camada-resultado, sobreposta sobre a rede grfica. De modo a evitar incompatibilidade entre OpenLayers e GRASS, foi usado GML2.12 que comum a ambas plataformas. Considerando que os web services funcionam na WWW e que, segundo as leis de Murphy: se alguma coisa pode dar errado, com certeza dar, o WPS tem a capacidade de informar o cliente de erros surgidos durante a execuo do processo e, portanto, permite que o cliente tome medidas em caso de erro (ou no). No exemplo usado, uma simples falta de informao sobre o formato usado nos dados (GML 2.1.2) calculados faz com que o processo v.net.path devolva uma notificao que existiu um erro. No exemplo o erro mostrado ao utilizador como um pop-up.

Concluso O Openlayers uma excelente plataforma de visualizao, mas ainda relativamente limitada quanto a funcionalidades SIG que requerem uma maior capacidade de computao, fora do alcance de um simples navegador web. O WPS permite integrar vrias funcionalidades SIG de diferentes origens, seja GRASS-GIS, Geotools, Geokettle, Rpy ou simplemente algoritmos de raiz, usando uma estratgia de web services onde o cliente pede ao servidor que execute o algoritmo. O uso de web services obriga a uma maior ateno a erros gerados pelo sistema, j que executar servios remotamente aumenta os riscos de "alguma coisa dar errado". Felizmente o WPS foi desenhado de modo a permitir a fcil transmisso de erros e problemas surgidos.Links[1] http://www.intamap.org [2] http://52north.org/communities/geoprocessing/ [3] http://www.deegree.org/ [4] http://pywps.wald.intevation.org/ [5] http://wiki.rsg.pml.ac.uk/pywps/Main_Page [6] http://www.zoo-project.org/ [7] http://docs.geoserver.org/stable/en/user/extensions/wps/index.html [8] http://grass.fbk.eu/ [9] http://rpy.sourceforge.net/rpy2/doc-2.1/html/index.html [10 http://code.google.com/p/wps-grass-bridge/ [11] http://pt.wikipedia.org/wiki/AJAX_%28programa%C3%A7%C3%A3o%29 [12] http://pywps.wald.intevation.org/documentation/course/client/ [13] http://wiki.rsg.pml.ac.uk/pywps/OpenLayers [14] http://grass.fbk.eu/gdp/html_grass64/v.net.path.html [15] http://rsg.pml.ac.uk/wps/vector.cgi

Exemplo de um erro do WPS.

Dr. Jorge Samuel Mendes de Jesus Scientifical programmer Plymouth Marine Laboratory [email protected]

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

13

Uma ponte vir tual para as geotecnologias livresPor Ricardo Pinho

GI S V M

As vantagens de utilizao de software de cdigo aberto e licenciamento livre, na rea das Geotecnologias, so hoje reconhecidas internacionalmente. indiscutvel o seu sucesso em inmeros projetos, incluindo os de grande envergadura e complexidade, demonstrando a maturidade e a fiabilidade daquelas solues. Apesar disso, persistem ainda dificuldades dos usurios em dar os primeiros passos na adoo de software livre, principalmente os que usam software fechado e que demonstram uma natural inrcia mudana para esse novo mundo. A GISVM, do ingls Geographic Information System Virtual Machine, uma mquina virtual construda exclusivamente com software livre, e concebida para facilitar a iniciao em solues de software livre para Sistemas de Informao Geogrfica (GIS). Criada na plataforma VMware, tem prinstalado o sistema operacional Ubuntu (Linux) e um conjunto de aplicativos para GIS, devidamente configurados e prontos para utilizao. Do vasto conjunto de aplicativos disponveis no mercado de software livre para GIS, foram selecionados alguns dos mais populares de forma a disponibilizar as principais ferramentas que um usurio possa

necessitar para a rea das Geotecnologias. Verses Desktop e Server A GISVM foi inicialmente disponibilizada na verso Desktop, isto , com uma interface grfica para interagir com o usurio. Essa a verso mais completa em termos de variedade de aplicativos GIS. Nela possvel encontrar todo o tipo de aplicativos, seja de visualizao, edio, anlise e publicao. Nesse conjunto inclui-se: um sistema de base de dados relacional com componente geogrfica (PostgreSQL, PostGIS), solues de servios Web SIG (Mapserver, Geoserver), diversas solues Desktop GIS (GRASS, Quantum GIS, gvSIG + Kosmo + OpenJump + uDIG) e diversos utilitrios e bibliotecas (OpenEV + GDAL/OGR + Proj4 + OGDI). Na verso Servidor (Server) disponibilizada apenas a interface de linhas de comando, sem qualquer interface grfica. Nela possvel encontrar um maior nmero de aplicativos do tipo servidor, que funcionam como servios que so executados em background. Essa verso funciona como um servidor GIS no seu computador e em sua rede, pronto a disponibilizar servios. Uma das principais razes para o seu

14

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

daniele_b @ flikr

lanamento foi permitir ser utilizado de forma interopervel com qualquer aplicativo GIS Desktop, de licenciamento livre ou fechado, que se tenha instalado no computador ou na rede local. Mas, tal como um computador fsico, a GISVM totalmente personalizvel, permitindo ao usurio altera-la sem qualquer limitao, podendo adicionar dados e instalar novos aplicativos a partir do imenso repositrio de software livre do Ubuntu. Na Imagem abaixo, apresenta-se o ambiente de trabalho das verses Desktop e Server da GISVM, onde so disponibilizados atalhos rpidos para acesso aos aplicativos instalados e a outras informaes teis.

abrir o arquivo com esse aplicativo e de imediato estar a executar mais um computador (mquina virtual) numa janela do seu sistema operacional. Esse processo pode ser repetido, permitindo a execuo em simultneo de diversos computadores (virtuais) num nico computador fsico. As mquinas virtuais funcionam em simultneo, de forma isolada entre elas e do sistema operacional base e sem perdas significativas de desempenho. Apesar do isolamento total das mquinas virtuais e dos seus sistemas operacionais, mantida a capacidade de interligao entre os vrios interfaces grficos e os ambientes de trabalho. A interligao consegue-se por interaes grficas do tipo drag & drop, copy & paste, ou por interconectar as mquinas virtuais em rede com o computador fsico e os demais computadores existentes na rede local. Porqu usar As capacidades da mquina virtual: - Independncia do hardware e software, permite a sua utilizao em qualquer computador e sistema operacional (Windows, Mac OS, Linux, etc). - Isolamento total, em relao ao computador onde corre e s restantes mquinas virtuais que correm em simultneo, permite uma execuo segura e independente em caso de falhas ou erros de sistema. - Toda a mquina virtual e o seu estado so armazenados em arquivos, tornando a sua duplicao, transferncia, transporte e arquivo (backup) to fceis como para arquivos. - altervel durante a sua utilizao, permitindo acrescentar dados, instalar novos aplicativos e personalizar os que j possui, adaptando-se facilmente a cada situao e s necessidades especficas do usurio. - Utilizada sobre o sistema operacional existente, permite a utilizao simultnea e a interao total com o sistema operacional e com todos os aplicativos j instalados, assim como o compartilhamento de todos os dispositivos do computador fsico e da rede local. E todas as vantagens da tecnologia aberta (software livre): - Sem restries de instalao e atualizao do software de licenciamento fechado. - Sem limites de utilizao, de numero de usurios, numero de instalaes, etc. - Permite qualquer tipo de uso: pessoal, estudante, comercial, empresarial ou institucional. - Variedade de aplicativos, desde os completos

GISVM Desktop e Server rodando em simultneo num MacBook

Como usar Uma mquina virtual pode rodar nos mais diversos cenrios, seja em servidores, usando um hypervisor, e at em cloud computing. Mas a utilizao mais comum da GISVM no computador desktop ou laptop, em simultneo com o sistema operacional, seja ele Windows, Mac OS ou Linux. Desta maneira o usurio continua a usar o seu computador como antes, mas tem agora disposio um segundo computador (virtual) contendo diversos aplicativos GIS prontos para uso. Ultrapassa assim, de imediato e sem qualquer compromisso, as barreiras entrada no mundo do software livre, normalmente associadas s dificuldades de instalao, configurao e incompatibilidades com sistemas operacionais fechados. Para isso o usurio necessita de instalar em seu computador um aplicativo gratuito que execute mquinas virtuais. Exemplos mais conhecidos destes aplicativos so o VMWare Player e o Virtual Box. Depois de baixar do site (www.gisvm.com) os arquivos que contem a mquina virtual, s

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

15

GIS Desktop, passando pelas base de dados, servidores Web-GIS e bibliotecas de processamento e edio de dados. Estas virtudes combinadas tornam a GISVM uma soluo muito prtica para diferentes usurios, em diversas situaes e reas de utilizao. Os testemunhos recebidos manifestam uma utilizao diversificada da GISVM, comeando por alunos e professores, usando-a para aprendizagem, individual ou colectiva, em casa ou na sala de aula, por administradores de sistemas e programadores, na concepo e desenvolvimento de solues, por comerciais, fazendo demonstraes a clientes, por operacionais no terreno, usando-a para levantamento e atualizao de dados em campo, em servios institucionais, como servidor Web-SIG para pequenos projetos na Intranet, ou como posto de trabalho GIS adaptado s tarefas de cada operador, por exemplo. O projeto livre GISVM Nasce de uma iniciativa pessoal, lanada em Setembro de 2008, com um simples site na Internet e anunciado por e-mail em fruns e listas de discusso. Pelo carter inovador da ideia, a cada anncio seguiram-se picos de acessos e de downloads. Chegaram tambm inmeros e-mails com felicitaes pela iniciativa. Logo desde o primeiro ms, o sucesso do projeto arranca com um nmero de visitantes nicos ao site na ordem dos 4.000 por ms, e downloads na ordem dos 1.000 por ms, atingindo picos acima dos 100 por dia nas datas de lanamento de novas verses. Na Imagem a seguir, salienta-se a disperso geogrfica dos visitantes desde 2008. Ressalvando o fato de ter sido nos fruns portugueses onde existiu maior divulgao, verificou-se um predomnio de acessos da Europa, EUA e do Brasil.

Das diversas formas de utilizao da GISVM, destaca-se a sua utilizao no ensino. Os professores adicionam GISVM os dados, aplicativos e exerccios para a adaptar s necessidades da aula e matria que pretendem lecionar. Posteriormente distribuem essa verso adaptada a todos os alunos, que assim passam a ter um ambiente de aprendizagem pronto para uso, eliminando o tempo de aula que gasto em tarefas irrelevantes, de instalao e configurao. Esta abordagem permite tambm aos alunos continuar a aprendizagem aps a aula em seus computadores pessoais. Um dos exemplos desta prtica foi reportada pelos professores Dr. Stefano Casalegno e Dr. Giuseppe Amatulli, que usaram a GISVM em diversas aes de formao na rea de anlise ambiental e ecolgica, recorrendo a modelagem espacial com ferramentas de software livre GIS. Os cursos ministrados em diversas universidades: de Zaragoza (Espanha), de Basilicata / Potenza (Itlia) e de Copenhague (Dinamarca), utilizando o conceito GISVM, resultaram numa maior eficcia e satisfao dos alunos pelo uso de ferramentas GIS em software livre (http://spatial-ecology.net). Desta forma a GISVM tem dado o seu contributo para a adoo de software livre no ensino de GIS, onde de enorme relevncia, conforme explicado em detalhe na anterior edio desta revista. Presena no FOSS4G 2009 (Sydney / Austrlia) Em 2009, a GISVM marcou presena no evento mundial FOSS4G (http://foss4g.org) com a apresentao intitulada: "GISVM, the ultimate tool for teaching FOSS4G" (http://alturl.com/5v9rq). A partir desse momento o projeto sofre um novo impulso, com reflexo direto nas estatsticas de acesso, passando o nmero de pginas visitadas das 20.000 para as 90.000 pginas/ms. Ainda antes da realizao do evento, Cameron Shorter, como responsvel pela organizao, lanou o desafio de usar a GISVM na elaborao do LiveDVD para o FOSS4G. Pretendeu-se basear a produo desse DVD no conceito GISVM e a sua integrao num projeto de desenvolvimento colaborativo, envolvendo todos os produtores de software livre GIS do mundo. Atravs de uma plataforma de trabalho cooperativa (trac+svn) foram criadas dezenas de sequencias (scripts) de instalao para a GISVM. No final, com a execuo de todas as sequncias de instalao, produziu-se a mquina virtual que posteriormente foi convertida no LiveDVD, designado Arramagong , distribudo a todos os participantes na conferncia.

Visitantes com origem conhecida, por cidade (fonte: Google Analytics)

16

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

A verso Base Aproveitando o trabalho realizado no projeto LiveDVD foi concebida uma nova verso da GISVM, designada por Base. Como o nome indica, uma mquina virtual base com um mnimo de componentes instalados, e que permite ao usurio decidir que aplicativos GIS pretende instalar na GISVM, por intermdio de um duplo clique nos respectivos atalhos de instalao. Na Imagem 3 apresenta-se o ambiente de trabalho desta mais recente verso da GISVM, onde se mostram os atalhos para a instalao dos diversos aplicativos. A verso Base composta pelo sistema operacional Ubuntu na sua verso JeOS (Just Enough Operating System), especialmente desenvolvida para mquinas virtuais. Em termos de aplicativos GIS vem instalado apenas com uma base de dados relacional e sua componente geogrfica (PostgreSQL, PostGIS) e um servidor Web-GIS (Mapserver). Mas o nmero de aplicativos possveis de incluir no GISVM Base praticamente ilimitado. Para alm dos vrios atalhos de instalao j disponibilizados, possvel adaptar os inmeros scripts de instalao criados para o LiveDVD.

Desktop. Esta forma de distribuio recomendada pela prpria Fundao de Software Livre (http://fsf.org) e no interfere em nada com as liberdades do licenciamento GPL, usado nos produtos GISVM. Atualmente apenas a verso Base encontra-se disponvel para baixar gratuitamente, como forma de promover um primeiro contacto com o conceito GISVM. Para manter o projeto e continuar a melhor-lo, necessrio muito tempo de trabalho e despesas cada vez maiores. O reconhecimento e o apoio dos usurios, atravs de donativos, um dos fatores mais motivadores e mais apreciados por quem se dedica a partilhar com os outros o produto do seu trabalho. OBRIGADO A TODOS! Concluses A Internet um meio de excelncia para tornar as ideias em realidade. Foi o caso do projeto GISVM, que nasceu e cresceu no esprito do software livre: de abertura, do trabalho colaborativo, de entre-ajuda e de complementaridade. Este esprito permitiu chegar muito mais longe do que a mais optimista expectativa inicial. A sua pertinncia e utilidade so comprovadas pelo aproveitamento do conceito, quer pelos casos descritos quer por muitos outros casos de adoo por usurios do mundo inteiro. O potencial futuro do conceito enorme, suportado no crescente sucesso da virtualizao e do cloud computing. Atualmente o projeto lana-se num novo desafio, de se tornar sustentvel e evoluir para oferta de produtos e servios comerciais. A estratgia futura assenta na oferta de servios para a criao e suporte de mquinas virtuais para GIS, medida do cliente. E tambm na oferta de contedos de formao para solues livres em Geotecnologias. Tem-se como alvo o mercado internacional, mas tambm o mercado lusfono e Brasileiro em particular. Pretende-se deste modo garantir uma melhor qualidade e aproveitamento das potencialidades do conceito, mas manter-se sempre fiel aos princpios da colaborao, complementaridade e liberdade, basilares do software livre. A todos os interessados em obter mais informaes sobre a GISVM e sobre o seu desenvolvimento futuro, agradeo contato para o email abaixo ou pelo site oficial: http://gisvm.com.

GISVM Base rodando no Windows

Pedido de Doaes Tratando-se de um projeto sem qualquer apoio financeiro, desde o seu lanamento que se pediram doaes aos usurios e simpatizantes do projeto, usando o PAYPAL, para tentar reduzir os inevitveis custos financeiros associados. Para complementar esse pedido, foi tambm implementado um pagamento simblico para baixar a verso Server e posteriormente a

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

17

VIRTUALIZAO E MQUINAS VIRTUAISHoje a virtualizao ruma para a onipresena1 no universo da tecnologia. O conceito bastante antigo, o termo mquina virtual comeou a ser usado nos anos 60 pela IBM, mas no teve grande desenvolvimento. S em 1999, com a introduo da Virtualizao x862 pela VMWare, se deu inicio rpida entrada da tecnologia no mundo dos servidores, pela fora da rentabilizao de recursos e reduo de custos, estando hoje em domnio total nessa rea. Est tambm a entrar com fora no universo dos desktops e verificamos j que o seu alcance ir expandirse para o horizonte das aplicaes, dos dispositivos mveis e das metodologias de tratamento de dados. O uso do termo virtualizao foi assim evoluindo ao longo do tempo e alargado a diversas formas e para descrever funcionalidades distintas no que diz respeito s infraestrutura de recursos computacionais, tornandose em certas ocasies num verdadeiro buzzword. A percepo do seu sentido chega a ser confundida com o outro termo relacionado e tambm de uso cada vez mais lato, o cloud computing. Ao dizer por exemplo que o arquivo est virtualizado, imagina-se que esteja alocado em algum ponto do ciberespao. Considera-se assim importante esclarecer os leitores qual a definio do termo Virtualizao e de Mquina Virtual assumida aqui. Uma definio resumida de Virtualizao (do ingls: Virtualization) pode ser: uma tcnica de software que permite a criao de uma camada de abstrao que separa o hardware do sistema operacional, permitindo uma maior eficincia e flexibilidade na utilizao dos recursos de hardware. A aplicao desta tcnica permite compartilhar e utilizar os recursos de um nico sistema computacional em vrios outros, denominados de mquinas virtuais. Uma mquina virtual um computador fictcio, criado por software, completo e muito similar a uma mquina fsica, oferecendo memria, processador, disco rgido, interface de rede e outros recursos virtuais padronizados, independentes dos recursos reais do computador fsico. Com isso, em cada mquina virtual pode ser instalado qualquer sistema operacional e aplicativos existentes, sem necessidade de modificao, que reconhecem os recursos virtuais como se fossem de uma mquina real. possvel ainda interconectar (virtualmente) cada uma dessas mquinas virtuais atravs de interfaces de rede, switches, roteadores e firewalls virtuais, e lig-las redes do computador fsico. Deve-se distinguir Virtualizao de Emulao, sendo a principal diferena que, em virtualizao, o processador da mquina virtual obrigatoriamente

Esquema representativo de duas das muitas formas de Virtualizao N o ta s d e r o d a p

compatvel com o processador fsico, no existindo qualquer emulao das instrues que formam os programas da mquina virtual. Deste modo no possvel, por exemplo, num computador fsico com um processador compatvel x86 criar uma mquina virtual com um sistema operacional e aplicativos para PowerPC. Esta condio garante que em virtualizao no existe perda de desempenho significativa de uma mquina virtual em relao a uma mquina real, enquanto que em emulao a mquina emulada executa com apenas 5% a 10% do desempenho que teria numa m q u i n a re a l . Ainda associado aos termos virtualizao e mquinas virtuais, usado o termo Virtual Appliances como mquinas virtuais pr-configuradas com um sistema operacional e aplicativos, pronto para funcionar. A GISVM uma Virtual Appliance para GIS.

[1] Ttulo do artigo na computer world: http://alturl.com/sp6nz [2] Wikipedia: definio de Virtualizao x86: http://alturl.com/ut6nv

R e fe r n c i a sIntroduo Virtualizao (ingls): http://alturl.com/juirp Portais sobre Virtualizao: http://virtualization.info , http://virtualization.net , http://virtualization.com

R i c a r d o Mi g u e l Mo r e i r a d e P i n h o Eng. Civil, Especialista em Sistemas de Informao Geogrfica para ambientes corporativos e autor do projeto GISVM.com [email protected]

GEOMAJAS EM PRODUOP o r P i e t e r D e G ra e f

O que e como ele est sendo utilizado mundo a fora

Um Sistema de Informao Geogrfica (SIG) uma coleo de software e dados geogrficos utilizados para capturar, administrar, analisar e visualizar todas as formas de informaes georreferenciadas. A maioria dos SIGs so pesadas aplicaes desktop na forma de pacotes proprietrios de software, mas isto est mudando de forma rpida. As vantagens dos pacotes SIG open-source comparados aos SIG proprietrios no podem ser negadas, a medida em que os projetos se tornam mais maduros. Outra tendncia igualmente importante que todas as aplicaes SIG tornam-se cada vez mais mveis e baseadas em tecnologias na nuvem, permitindo fcil implantao e uma maior proximidade ao usurio final do SIG. Em linha com estas tendncias de mercado o governo do estado de Flandres, na Blgica, realizou um chamado para a construo de um prottipo open source de um SIG genrico para o egoverno, ou geGIS for Government. Este projeto resultou no framework SIG Geomajas. Desde ento, este software tem sido utilizado como a

base de diversos projetos dentro do governo de Flandres. Alm disso, a tecnologia foi disponibilizada sob uma licena Gnu Affero GPL e uma comunidade viva nasceu do projeto, que est disponvel em: www.geomajas.org. O que o Geomajas pode fazer por voc? Geomajas um componente web para construo de RIA (sigla em ingls para: Aplicaes ricas para internet) com capacidades sofisticadas de visualizao, manipulao e gerenciamento de informaes geogrficas. um framework com peas chaves, permitindo desenvolvedores adicionarem mapas e dados geogrficos em suas aplicaes web. Se por um lado, este produto pode ser utilizado para construir sistemas de webmapping, do tipo popularizado pelo Google Maps, com um foco em visualizao e navegao, por outro lado pode ser utilizado para construir poderosas aplicaes SIG, aproveitando as capacidades avanadas de segurana, edio e integrao de dados e o suporte a modelos de domnio

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

19

complexos do Geomajas. O software um verdadeiro framework SIG opensource para uso no setor pblico e privado. Alm disso, o Geomajas, como um produto open-source, oferece uma barreira muito pequena experimentao, sendo muito simples um usurio avali-lo e iniciar seu uso. Inclusive, possvel que o usurio possa inspecionar o cdigo do programa, alter-lo ou estend-lo, de forma a atender suas necessidades. O que h de to especial no Geomajas? O que faz do Geomajas um produto nico a combinao de diversas funcionalidades. Como um cliente fino, toda a aplicao roda dentro de um navegador-web padro. No existe a necessidade de instalaes no software do usurio final. Clientes finos so diferentes dos chamados clientes largos ou clientes ricos, modalidade nas quais o custo de manuteno e instalao so mais altos. De um ponto de vista tcnico, temos o fato de que a aplicao um framework cliente-servidor com capacidades de cache e segurana embutidas. O Geomajas pode ler, analisar e projetar dados geogrficos no servidor antes de envi-lo ao cliente. Utilizando o Google Web Toolkit (GWT) no cliente, todo o desenvolvimento feito em Java, facilitando o desenvolvimento para times de desenvolvedores. O GWT d bastante poder ao ambiente Java para desenvolvimento e teste de aplicaes JavaScript. O GWT tambm resolve os problemas de compatibilidade entre diferentes navegadores ou at mesmo ambientes mveis. Esta facilidade libera os desenvolvedores para focar nos casos de uso ao invs de detalhes como compatibilidade entre navegadores, ganhando tempo do ponto de vista de desenvolvimento. Utilizando todas as ferramentas que o ambiente Java proporciona e o GWT observou-se uma reduo no tempo de desenvolvimento (at cinco vezes mais rpido). O Geomajas foi desenhado considerando a capacidade de extenso, facilitando o atendimento de requisitos especficos e, ainda assim, mantendo o seu ncleo o mais estvel possvel. O sistema de plugins fornecido permite que o ncleo do software e outras funcionalidades diversas possam evoluir

em ritmos diferentes, proporcionando novas oportunidades de negcio (comercializao) para todos os parceiros tecnolgicos do Geomajas. Toda a tecnologia Geomajas foi lanada sob a licena open source AGPL. A licena GNU Affero GPL ou GNU AGPL suportada pela Fundao do Software Livre (FSF). Ela comparvel licena GNU GPL, com suporte adicional para o uso do software sobre uma arquitetura de servidor de aplicaes. Isto torna possvel proteger seus interesses comerciais em um modelo de negcios SaaS (Software as a Service software como um servio) ou Nuvem. Toda a arquitetura do Geomajas tambm foi desenhada levando em considerao a escalabilidade. possvel servir milhes de vetores para milhares de pessoas simultaneamente. Como todo o processamento ocorre do lado do servidor possvel melhor-lo para estender a capacidade de servio. Mecanismos de cache esto previstos para aumentos repentinos na demanda. Todas as comunidades das tecnologias web e SIG reforam a necessidade de padres abertos como um meio de alcanar a interoperabilidade. Muitos clientes criam requerimentos especficos, onde sistemas comprados ou desenvolvidos devem trabalhar em conjunto com os padres abertos. No que diz respeito a servios web, navegadores e informaes geogrficas, o Geomajas busca compatibilidade mxima. Suporte comercial A Geospac uma organizao comercial que prov suporte profissional para o Geomajas, incluindo treinamento, consultoria e experincia com a arquitetura e projeto Geomajas, suportando contratos com SLAs (Service level agreements). Ela trabalha com uma rede de parceiros certificados para estender sua presena em nvel local. Parceiros locais, apoiados pela Geosparc, desenvolvem aplicaes especficas para suas localidades ou setores. Aplicaes O time por trs do Geomajas tem grande experincia com o uso e desenvolvimento de aplicaes SIG. O Geomajas foi criado do desejo de se ter uma tecnologia web para SIG que fosse capaz de lidar com as necessidades reais de desenvolvedores e usurios dos SIGs. Assim, o Geomajas muito mais do que uma tecnologia de web mapping. Embora as funcionalidades mais brilhantes estejam em seu componente de mapas,

20

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

suas foras concentram-se por trs da interface de usurio. O software tem funcionalidades para processamento de dados complexos e administrao de dados. Exemplos so a criao de mapas para impresso, edio de dados geogrficos e funes de anlise espacial (buffers, vizinho mais prximo, etc). Aplicaes baseadas no Geomajas incluem: - Gerencimento de impostos rurais - Informaes e registros para escritrios - Comportamento ambiental - Informaes tursticas - Coleta de dados para cadastro - Aplicaes mobile - Coleta de dados de referncia (ex: OpenStreetMap); - Notificao de doenas, desastres biolgicos. MagdaGeo Uma das aplicaes mais interessantes baseadas no Geomajas a plataforma MagdaGeo do governo de Flandres. O objetivo do MagdaGeo criar um mapa de todos os pequenos e mdios negcios e reas industriais de Flandres e Bruxelas. Com este projeto, cidados, oficiais de governo e empresrios pode ter uma viso clara das atividades econmicas em sua regio. A plataforma tem uma interface amigvel, navegao avanada e funcionalidade de pesquisa, bem como capacidade de edio via navegador. O que torna esta aplicao to especial a diversidade de grupos de usurios e suas variadas opes de pesquisa, permitindo a possibilidade de combinar filtros baseados em atributos alfanumricos com filtros geogrficos.

Explorer Outra aplicao baseada no Geomajas o Explorer, onde usurios podem buscar por objetos geogrficos e visualiz-los em um mapa combinado com diversas camadas sobrepostas e controles de opacidade. Aps o log-in, o usurio tem a possibilidade de criar, rotular e salvar suas prprias marcaes.

HoookUP Um terceiro exemplo nos traz para o ramo imobilirio, onde o Geomajas est sendo utilizado como uma plataforma para compra e venda de imveis. Usurios podem designar reas no mapa onde eles tem interesse em comprar propriedades.

Pieter De Graef Gerente da Comunidade Geosparc e Presidente do Geomajas [email protected] Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

21

CAPA Fossgis.gov.brPor Felipe Costa e Luiz Motta

Desde meados de 2004, por meio de Decretos, Instrues Normativas (IN) e outras publicaes oficiais1, o governo brasileiro vem investindo prioritariamente na adoo de softwares livres (SL) na administrao pblica federal. Com isso, tem consolidado sua poltica de incentivo ao uso de SL no Brasil, inclusive fora da esfera governamental. O governo tambm tem contribudo de forma significativa na criao de comunidades por meio de portais dedicados ao tema e patrocinando eventos de SL pelo Pas. Principais motivos para utilizao de FOSSGIS no governo Algumas lideranas dentro da administrao pblica perceberam que alm de utilizar melhor os recursos alocados para a rea de Tecnologia da Informao, pois o uso de SL muitas vezes gera economia por no adquirir licenas de software proprietrias2, a adoo de SL serve como meio de fortalecer o mercado de desenvolvimento de software nacional,

incentivando o desenvolvimento tecnolgico e a inovao. Alm dessas questes, outros fatores pesam a favor da disseminao do software livre no setor pblico3, como: necessidade de adoo de padres abertos para o Governo Eletrnico (eGov) para promover a interoperabilidade entre dados e sistemas; a segurana proporcionada pela auditabilidade dos sistemas; a independncia tecnolgica e de fornecedor nico; e o desenvolvimento de conhecimento local. Os requisitos bsicos das licenas dos SL, que permitem acesso irrestrito ao cdigo, e a possibilidade de modificao e redistribuio do software e suas alteraes so os diferenciais em relao ao software proprietrio pois estas caractersticas permitem maior auditabilidade dos sistemas, oferecendo maior segurana e autonomia ao governo brasileiro em relao as tecnologias que adota. As comunidades que se formam em torno do SL so um outro fator que pesa em favor da

22

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

http://www.flickr.com/photos/extraketchup/408727666/lightbox/

adoo de SL. Qualquer cidado pode participar do desenvolvimento de ferramentas que so adotadas pelo governo, podendo contribuir com cdigo, documentao e no menos importante, com sugestes de melhoria que podem influir inclusive na eficincia dos servios pblicos prestados. Atravs dessas comunidades, o governo est incentivando diretamente uma maior participao da sociedade nas suas decises e contribuindo para o amadurecimento da democracia. A adoo do SL por parte do governo d maior segurana ao mercado que passa a consider-lo como alternativa s solues proprietrias. O governo dessa forma fomenta o mercado de prestao de servios como pode ser constatado no Portal do Software Pblico Brasileiro (PSPB)4, onde milhares de pessoas cadastram-se como prestadores de servio de uma determinada soluo disponibilizada no portal e podem divulgar os seus servios de consultoria e desenvolvimento. Atualmente no PSPB existem duas

solues de SL para a Geomtica (FOSSGIS): i3Geo com mais de 8000 membros e 61 prestadores de servios e Prefeitura Livre com mais de 6500 membros e 107 prestadores de servios. O portal, e suas comunidades, so importantes fontes de informao acerca da adoo de SL na administrao pblica e funciona como um termmetro do impacto das aes do governo na sociedade. Todavia apenas projetos tupiniquins esto presentes no portal, dessa forma uma outra importante fonte de informaes sobre projetos livres a OSGEO (Open Source Geospatial Foundation), fundao que promove FOSSGIS a nvel mundial. Os projetos do PSPB, i3Geo e Prefeitura Livre, por exemplo, utilizam na sua arquitetura projetos apoiados pela OSGEO. Uma outra contribuio resultante da adoo de SL que muitas vezes essa mudana necessariamente implica no desenvolvimento de programas de capacitao que valorizam os servidores. Estas capacitaes devem permitir-

Portal do Software Pblico Brasileiro

lhes aprender no apenas a utilizar os softwares mas ter maior entendimento dos processos internos de funcionamento daquela ferramenta especfica e a teoria necessria para desempenhar melhor suas atividades, devem, sobretudo, transformar os usurios de meros apertadores de botes em tcnicos especializados na sua rea de

competncia. Embora seja uma mudana benfica para todos, nem sempre uma tarefa indolor pois implica em mudana de cultura. Desafios para implantao de software livre no setor pblico Muitos usurios questionam a necessidade

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

23

de mudana de software, proprietrio para livre, uma vez que o software que utilizam e o qual esto familiarizados atende as suas demandas e expectativas. Nesta hora comum, usurios e dirigentes, utilizarem-se da mxima que diz que em time que est ganhando no se mexe. A questo principal a ser levantada se os benefcios do uso de um software proprietrio so equivalentes aos custos de mant-lo, e normalmente efetuar essa conta no tarefa trivial, principalmente no setor pblico, onde ainda no habitual avaliar o retorno do investimento. A justificativa mais utilizada para convencer os gestores da necessidade de migrao a inexistncia de custo com aquisio de licenas de software (o que no significa que todos SL sejam gratuitos). Porm, essa no deve ser a nica justificativa j que realizar a migrao no uma tarefa isenta de custos. Existem custos, por exemplo, envolvidos em atividades de capacitao, manuteno e adaptao nos softwares. Todavia, possvel constatar que em uma migrao bem feita o investimento em SL traz um retorno muito maior em mdio e longo prazo j que no sero necessrios investimentos posteriores a cada atualizao de software, sendo que dentro do ecossistema livre as atualizaes e novas funcionalidades so muito mais frequentes. Alm disso a mudana de cultura da organizao faz com que o ambiente seja muito mais propcio a inovaes, o que certamente algo difcil de mensurar mas que agrega valor instituio. Essa mudana de cultura, que um dos maiores desafios encontrados em qualquer migrao, sem dvida a maior contribuio do SL, pois amplia o compartilhamento e a colaborao em todas as esferas, no apenas em relao a softwares ou solues tcnicas mas tambm em relao aos dados e principalmente os entendimentos coletivos na rea de negcio da empresa, o que torna a mquina pblica mais eficiente e sustentvel. Um outro grande desafio na implantao de SL na administrao pblica a descontinuidade das aes, e isso ocorre por inmeros fatores. Um deles a alta rotatividade dos gestores j que a maioria ocupa cargos polticos e normalmente, pelo menos de quatro em quatro anos, uma mudana geral no quadro de gestores realizada. Nem todo gestor tem a mentalidade de dar prosseguimento s aes que esto dando certo e preferem cancelar tudo que se referia a administrao passada para criar seus novos projetos originais. Para mitigar esse fator importante que as instituies tenham dentro de seus quadros profissionais com um vnculo mais estvel, e que tecnicamente defendam

junto aos gestores a manuteno de aes e projetos benficos para a populao. E a j entramos em outro desafio que permeia o setor pblico, principalmente na rea de Geomtica, que a escassez de recursos humanos qualificados, com vnculos estveis, para dar suporte e continuidade aos projetos. Por esse motivo, vemos muitos projetos de disseminao de dados na web ficam inacessveis ou obsoletos aps 2 anos de inaugurao. Muitas vezes os profissionais que implantaram os sistemas, por serem geralmente bastante qualificados, so muito procurados pelo mercado e decidem por trabalhar em outras instituies, outros, por terem vnculos precrios de terceirizao veem-se forados a abandonar seus projetos quando um contrato encerrado e na nova licitao outra empresa vencedora. O ideal ter um quadro mnimo de servidores que se aproprie dos conhecimentos tcnicos necessrios para dar continuidade aos projetos de Geomtica desenvolvidos em SL. Geralmente mais fcil para um gestor aprovar a aquisio de uma grande infraestrutura computacional e a aquisio de vrias licenas de software do que aprovar investimentos em capacitao de pessoal que, no caso de solues livres, o que acaba sendo mais importante. essencial portanto que as instituies, como preconizado pela IN 04/20085, deem a devida ateno aos processos de transferncia tecnolgica nos contratos de TI e a capacitao de seus quadros tcnicos. No paradigma do software proprietrio, o eixo principal de desenvolvimento feito pela tecnologia utilizada, ou seja, as pessoas adaptamse e conformam-se a inovao da tecnologia proposta pelo fabricante do software. A diferena marcante no uso de software livre ocorre portanto na autonomia dos colaboradores que passam, eles mesmos, a definirem e promoverem o desenvolvimento na rea. Embora exista demanda e um grande volume de recursos empregados na rea de Geomtica pelo governo federal, um outro desafio a ser enfrentado para implantao de FOSSGIS a escassez de empresas especializadas, com maturidade suficiente para tocar projetos de grande porte. Algumas licitaes para consultoria, desenvolvimento e manuteno de solues em FOSSGIS tem sido facilitadas utilizando-se da regra da inexigibilidade contida na lei de licitaes 8.666/936 dada a falta de concorrncia nesse mercado. necessrio que as empresas de desenvolvimento de SL amaduream e voltem seu olhar para a informao geogrfica de forma a dar suporte cada vez melhor as aes da administrao pblica.

24

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

Al g u mas d i cas p ara mi g raoA migrao para FOSSGIS numa organizao um processo de mudana de paradigmas e depende muito do estgio de maturidade da organizao em relao ao uso da Geomtica. Basicamente podemos classificar em trs estgios de maturidade quanto ao uso de SIG (Sistema de Informaes Geogrficas) numa organizao:

A - Inicial - A organizao no utiliza informaes geogrficas; B - CAD - Possui um acervo de informaes geogrficas em formatos de desenho (programas de CAD - Desenho assistido por computador) e; C - SIG - A organizao j trabalha num ambiente de SIG.Em quaisquer das trs situaes imprescindvel a criao de um plano de mudana. Tendo como componentes bsicos do plano: a capacitao, o projeto piloto e o plano de migrao de dados. Para cada estgio da organizao no uso de informaes geogrficas temos variaes nos componentes bsicos da migrao. A seguir aborda-se cada componente associado ao estgio de cada organizao. A capacitao visa a absorvio da tecnologia pelos funcionrios da empresa, diminuindo ao longo do tempo a dependncia de consultorias. As formas de aquisio de conhecimento numa rea especfica variam basicamente em funo do tempo a ser dedicado na rea, indo de palestras, cursos relmpagos, at cursos de psgraduao (lato e stricto sensu). Um item comum a todos os diferentes estgios (A, B e C) a necessidade de palestras sobre SL, como por exemplo sobre tipos de licenas, o que so projetos abertos e quem os desenvolvem, o mercado e cursos sobre padres de dados espaciais. Organizaes que esto no estgio A e B so necessrios cursos em que sejam abordados os fundamentos da Geomtica e SIG. tambm aconselhvel um curso sobre banco de dados espaciais, principalmente pela necessidade de implementar a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE), e pelo benefcios em fazer processamento em ambiente de banco de dados. O projeto piloto tem como objetivo dar aos servidores da organizao a vivncia de trabalho com uma nova tecnologia e mostrar resultados iniciais concretos aos gestores das vantagens da migrao. Nesta etapa, que pode ser feita em conjunto com uma consultoria especializada, os participantes vo aprender a resolver uma necessidade especfica da organizao em relao a informao geogrfica utilizando-se de FOSSGIS. Naturalmente, cada estgio de maturidade ter as suas especificidades: A - Para as organizaes que se encontram no estgio inicial, o projeto piloto contemplar: fase de coleta, preparo de dados espaciais e povoamento em banco de dados espaciais. Um aspecto interessante a passagem direta para padres abertos e utilizao de banco de dados espaciais, fazendo com que os usurios possam lidar com FOSSGIS de maneira natural por ser seu primeiro contato. B - Converso de dados, originalmente em CAD, para padres abertos de forma a poderem ser utilizados em SIG. Nessa etapa necessrio enfocar a mudana da viso de usurio e na sua forma de trabalho, pois trabalhando com dados geogrficos em SIG, ele no operar mais apenas com desenhos mas com dados estruturados em um Sistema Gerenciador de Banco de Dados. C - Adequao do gerenciamento das informaes, a partir de uma viso de administrao de dados induzida pelos softwares proprietrios para uma viso de dados padronizada. Para as organizaes nesse estgio existe um grande esforo em mostrar, nas ferramentas FOSSGIS, como os processos que antes eram realizados com o software proprietrio sero agora realizados. A lgica de trabalho com arquivos, por exemplo shapefiles, gradualmente substituda por uma lgica de trabalho em que as operaes e anlises so feitas utilizando-se das ferramentas de bancos de dados. Muito embora seja possvel usar FOSSGIS e manter o esquema de trabalho com shapefiles, no o recomendado. O plano de migrao de dados a fase em que temos o maior esforo da equipe, tendo que manter e trabalhar com os sistemas legados ao mesmo tempo em que se constri um ambiente novo, at que o ambiente migrado possa atender plenamente as demandas feitas com o sistema legado. Naturalmente, as empresas no estgio inicial (A) no tero esse componente, sendo substitudo pela fase de construo da base de dados. Nos casos das empresas do estgio C, que possuem sistemas j bem estabelecidos, estveis e funcionais, no recomendada a substituio total, j que possvel trabalhar em ambientes mistos (proprietrio e livre), devido principalmente a grande compatibilidade dos FOSSGIS com os mais diversos formatos de arquivos e a adeso cada vez maior aos padres de intercmbio de dados por todas as empresas do ramo. O que no deve ser perdido de vista a busca da melhoria contnua, no descartando solues que atendem plenamente a demanda. Nesse sentido, necessrio analisar o custo de manuteno das solues e onde novas necessidades devem ser atendidas com os novos sistemas, abrindo espao dessa forma para adoo de FOSSGIS.

Casos de sucesso de FOSSGIS no Governo FederalAtualmente, o principal uso de FOSSGIS na administrao pblica est no provimento de servios de disseminao de dados geogrficos na Internet utilizando os padres da OGC (Open Geospatial Consortium), sendo este um requisito fundamental para os rgos federais, estaduais e municipais que desejam aderir a INDE (Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais). Diversas instituies federais tem feito uso dos projetos de SL apoiado pela OSGEO. Destacam-se os programas para prover servios na web, como o catlogo de dados geogrficos Geonetwork; os servidores de mapas e dados Geoserver e Mapserver; a extenso PostGIS para o banco de dados PostgreSQL a soluo livre preferida para armazenamento de dados espaciais; e nos Desktops softwares como Quantum Gis (QGIS) e o gvSIG. Porm, ainda que difundidos entre diversas instituies, a utilizao desses softwares ainda incipiente, assim como acontece em outros pases, onde h um predomnio de programas proprietrios. O Ministrio do Meio Ambiente (MMA) foi um dos pioneiros na utilizao de FOSSGIS dentro do governo federal. Desde 2004, um grupo de profissionais da Geomtica passou a fazer parte da Coordenao Geral de Tecnologia da Informao do MMA e desenvolveram importantes projetos de divulgao de mapas interativos na web e catalogao de metadados dos dados geogrficos oriundos de diferentes instituies7. Para a divulgao de mapas interativos na web e de dados por meio de webservices (WMS e WFS) foi adotado o servidor de mapas Mapserver. A partir dele, utilizando-se principalmente das linguagens Javascript e PHP/Mapscript foi desenvolvida a soluo I3Geo que passou a ser a ferramenta referncia para disseminao de dados em vrios rgos pblicos nos diferentes nveis da administrao. Esta equipe do MMA tambm foi responsvel pelo treinamento de equipes de diferentes rgos do governo e implantao de algumas interfaces de I3Geo e Geonetwork, alm de disponibilizar, por meio de acordos, dados geogrficos oriundos dessas instituies em ambiente web, devidamente catalogados.

i3Geo - Software Livre brasileiro para visualizao de dados geogrficos na internet

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) tambm pioneiro dentro da administrao pblica no desenvolvimento de software livre para rea de Geomtica. Sua estratgia ousada de desenvolvimento prprio rendeu contribuies significativas para a comunidade acadmica e sociedade de forma geral. Softwares como Spring, recentemente disponibilizado sob licena livre8, a biblioteca livre Terralib e seus diversos softwares derivados (Terraview, Terra ME ) so exemplos de desenvolvimento de SL dentro de instituies governamentais. No bastasse essas contribuies que pe o Brasil em lugar de destaque na comunidade de Geomtica internacional, o INPE tambm utiliza e contribui para o desenvolvimento de FOSSGIS, sendo um dos principais apoiadores da OSGEO. Mais recentemente o Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA), em parceria com o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA) e o Sistema de Proteo da Amaznia (SIPAM), lanou o programa Terra Legal9, um grande projeto que tem como objetivo fazer a regularizao fundiria das terras da Amaznia Legal, de forma descentralizada, valendo-se de FOSSGIS e formatos abertos. Enfim, diversas outras instituies em vrias esferas da administrao pblica vem fazendo uso das ferramentas FOSSGIS, seria invivel descrever todos os projetos. No box seguem os links com alguns dos vrios exemplos existentes.

26

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

Al g u n s caso s d e su cesso d e F O S S G I S n o Brasi l- INDE Mapas Interativos http://www.i3geo.inde.gov.br/i3geo Catlogo de Metadados http://www.metadados.inde.gov.br/geonetwork - MMA Mapas Interativos (Meio Ambiente) http://mapas.mma.gov.br/i3geo Catlogo de Metadados http://mapas.mma.gov.br/geonetwork/srv/br - IPEA Mapas Interativos (Dados scio-econmicos) http://mapas.ipea.gov.br/i3geo - Secretaria de Vigilncia em Sade Mapas Interativos (Indicadores de Sade) http://geoepilivre.aids.gov.br/svs/atlas - IBGE Catlogo de Metadados http://www.metadados.geo.ibge.gov.br/geonetwork/srv/br - INPE / CPTEC Mapas Interativos (Previso do Tempo) http://sigma.cptec.inpe.br/sigma Mapas Interativos (Fiocruz Observatrio da Sade) http://sisam.cptec.inpe.br/msaude - SIPAM Catlogo de Metadados (Amaznia) http://www2.sipam.gov.br/geonetwork - FUNAI Mapas Interativos (Terras Indgenas) http://mapas.funai.gov.br - CPRM Mapas Interativos (Recursos Minerais) http://siagasweb.cprm.gov.br

Concluso O governo, por meio de suas diversas instituies, tem desempenhado um importante papel no fomento expanso do software livre no Brasil. Suas aes nesse sentido fortalecem a inovao, o desenvolvimento tecnolgico e econmico, a formao de capital intelectual nacional e a eficincia no uso dos recursos pblicos. As ferramentas FOSSGIS vem cada vez mais sendo utilizadas e reconhecidas como importantes instrumentos de trabalho dentro das reparties pblicas e isso tem um grande impacto na prestao de servios e divulgao de informaes populao. cada vez mais necessrio que os projetos de FOSSGIS desenvolvidos pelo governo possam ter sua sustentabilidade garantida, para tanto necessrio ter um quadro de servidores efetivos qualificados. Dessa forma, por meio da insero do software livre, deve ocorrer uma mudana na lgica de investimento onde o principal passa a ser o capital humano em detrimento do gasto, muitas vezes desnecessrio, com licenas. Essa mudana de paradigma favorece a cooperao e cria o ambiente propcio para o desenvolvimento de projetos em conjunto, colaborando ainda mais para a diminuio de custos por meio de investimentos multiinstitucionais, aumentando dessa forma a sinergia entre as instituies, o que seguramente trar importantes benefcios para o pas como um todo. Espera-se portanto que as prximas fases na evoluo do uso de FOSSGIS na administrao pblica sejam: o desenvolvimento dos sistemas de tecnologia de informao em ambientes abertos,

ou seja, sistemas sendo desenvolvidos com a interao da comunidade (pessoas e empresas) em toda a suas fases utilizando ambientes ricos de interao para projetos de softwares; e contribuio de rgos pblicos com cdigos de programas para os projetos abertos de FOSSGIS que utilizam.Referncias[1] Portal do Software Livre Documentos Oficiais - http://alturl.com/d2p38 [2] Portal do Software Livre Economia gerada pelo SL - http://alturl.com/bztm9 [3] Guia Livre - http://alturl.com/k4e4b [4] Portal do Software Pblico - http://alturl.com/bvr7g [5] Instruo Normativa 04/2008 - http://alturl.com/b3kuf [6] Lei 8.666/1993 - http://alturl.com/gj7r4 [7] I3Geo - http://alturl.com/azq9f [8] Spring - http://alturl.com/bqkcm [9] Terra Legal - http://alturl.com/6pu2h

Felipe dos Santos Costa Analista de sistemas, Mestre em engenharia da Computao com nfase em Geomtica pela UERJ e Tecnologista em Sade Pblica no Instituto Lenidas e Maria Deane - Fiocruz Amaznia. [email protected]

Luiz Motta Engenheiro Florestal, MsC. em Cincia Florestal com foco em SIG, Analista Ambiental IBAMA - SIPAM, Mentor no uso de FOSSGIS no programa Terra Legal e Colaborador no projeto QGIS. [email protected]

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

27

CAPA Fossgis.gov.pt Software Livre no gover no: o caso de Por tugalPor Ricardo Pinho

Em Portugal verifica-se uma lenta, mas progressiva, adeso ao software livre no Governo e na Administrao Pblica (AP). Essa adeso tem resultado de iniciativas pontuais e dispersas, promovidas por utilizadores e responsveis setoriais que individualmente promovem e optam, na sua atividade e em projetos especficos, pela utilizao de software livre. A tendncia aparece tambm por contgio da adeso no setor privado e pela crescente oferta de solues tecnolgicas baseadas em Software Livre (SL). Destacam-se algumas referncias, como o CAIXAMAGICA (www.caixamagica.pt) e o IPBRICK (www.ipbrick.pt), que oferecem famlias consolidadas de produtos e servidores baseados em linux e software livre para clientes institucionais. Iniciativas legislativas Em relao a polticas governamentais e iniciativas legislativas, nos ltimos anos tm sido apresentadas pela oposio, algumas propostas para apoio e promoo do software livre no Governo e A.P. Destaca-se a Resoluao da

Assembleia da Republica (AR) n. 66/2004 que recomenda ao Governo a tomada de medidas com vista ao desenvolvimento do software livre em Portugal. (http://alturl.com/x6ufa). Em 2007 o grupo parlamentar do Partido Comunista Portugus (PCP) v aprovado um dos dois diplomas propostos, o projeto de resoluo n. 227 (http://alturl.com/tpe9u) relativo iniciativa de adoo de SL no Parlamento1. A votao permitiu a aprovao do diploma, com alteraes introduzidas pelo Partido Socialista (PS), Partido Social Democrata (PSD) e Partido Popular (CDS/PP), onde se prev a utilizao de formatos abertos nos documentos produzidos pela AR; a instalao em todos os postos de trabalho de ferramentas de produtividade em software livre; e a disponibilizao de aes de formao orientadas ao uso do Software Livre pelo centro de formao da AR. Em paralelo ser feita uma avaliao contnua dos sistemas informticos da AR de modo a atingir uma adoo plena e exclusiva de Software Livre. Desde 2002 o grupo parlamentar do Partido

28

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

torange.biz

do Bloco de Esquerda (BE) com o apoio da ANSOL7 tem apresentado projetos de lei que visam tornar obrigatria a adoo de software livre pela A.P. A ltima tentativa ocorreu em 20102, com a apresentao do Projeto de Lei 126/IX (http://alturl.com/gq64g), que acabou por ser rejeitado em Reunio Plenria n. 10. Nele o BE defendia a imposio da utilizao de software livre na AP como nica forma de inverter a tendncia dominante pela opo por software proprietrio. Decorrente tambm de projetos de lei do BE, do PCP e apoio do CDS-PP, a 21 de Junho do corrente ano, foi aprovada e publicada no Dirio da Repblica a Lei 36/2011 (http://alturl.com/shkjf) que estabelece a adoo de normas abertas para a informao em suporte digital na AP, promovendo assim a liberdade tecnolgica dos cidados e organizaes e a interoperabilidade dos sistemas informticos do Estado3. A lei prev a elaborao pela Agncia para a Modernizao Administrativa (AMA) de um regulamento Nacional de interoperabilidade digital, no prazo de 90 dias, que vai definir as normas e os formatos digitais a serem adotados pela AP. Antes da sua entrada em vigor, este regulamento ser submetido a discusso pblica durante 30 dias. A inexistncia de favorecimento, a nvel legislativo, para a utilizao de software livre na AP reflete a opo poltica do atual partido no poder (PSD), claramente expressa nas respostas a um questionrio feito aos diversos partidos pela ANSOL durante as legislativas de 2011 (http://alturl.com/5quqe) onde se expressa a seguinte ideia: Pergunta ANSOL: Defendero que as administraes e servios pblicos, quer centrais quer locais, incluam sempre a opo de Software Livre nas suas escolhas, compras e desenvolvimentos prprios? Resposta PSD: No fazemos distines artificiais entre as diferentes formas de desenvolver e licenciar software. Todas as escolhas de software nas Organizaes referidas, como quaisquer outras aquisies, devem pautar-se por critrios (isentos, objetivos e transparentes) de eficcia e custos. Esta resposta contrasta com as polticas atuais de outros governos, nomeadamente do Brasil, onde se defende claramente a necessidade

de distino e favorecimento do Software Livre para acelerar a sua adeso na AP e assim obter benefcios em diversas reas de desenvolvimento do pas. Esse princpio est claramente expresso na diretiva3 do Governo Eletrnico do Brasil: O Software Livre um recurso estratgico para a implementao do Governo Eletrnico" (http://alturl.com/v85rq): O software livre deve ser entendido como opo tecnolgica do governo federal. Onde possvel, deve ser promovida sua utilizao. Para tanto, deve-se priorizar solues, programas e servios baseados em software livre que promovam a otimizao de recursos e investimentos em tecnologia da informao. Entretanto, a opo pelo software livre no pode ser entendida somente como motivada por aspectos econmicos, mas pelas possibilidades que abre no campo da produo e circulao de conhecimento, no acesso a novas tecnologias e no estmulo ao desenvolvimento de software em ambientes colaborativos e ao desenvolvimento de software nacional. A escolha do software livre como opo prioritria onde cabvel, encontra suporte tambm na preocupao em garantir ao cidado o direito de acesso aos servios pblicos sem obrig-lo a usar plataformas especficas. Iniciativas da sociedade civil e empresarial Neste enquadramento a sociedade civil e empresarial tem vindo a responder no sentido de quebrar o status-quo que beneficia as empresas dominantes de software proprietrio e os apoiantes do copyright e de patentes, atravs da criao de Associaes e da promoo de Iniciativas de apoio utilizao de software livre na AP, destacando-se:

O portal Software Livre na AP (http://alturl.com/7x5zw), uma iniciativa que surge no mbito dos trabalhos de coordenao da utilizao de tecnologias de informao na Administrao Pblica que so assegurados pela Comisso Intersectorial de Tecnologias de Informao para a Administrao Pblica (CITIAP) e que rene representantes das Entidades de

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

29

Coordenao Setorial (ECS) e presidida pelo Instituto de Informtica (II). A Associao Nacional para o Software Livre (ANSOL) (http://ansol.org/) uma associao portuguesa sem fins lucrativos que tem como fim a divulgao, promoo, desenvolvimento, investigao e estudo da

Uma iniciativa de vrias associaes empresariais e sociais da rea do Software Livre de ambos os lados do Atlntico, criada com o objetivo de estabelecer canais de comunicao que resultem na realizao de projetos com impacto global. Fazem parte deste Acordo Atlntico as seguintes associaes: - AGASOL: Asociacin Galega de Empresas de Software Libre Galicia, Espaa. - ASL: Associao SoftwareLivre.Org Brasil. - ASOLiF: Federacin Nacional de Empresas de Software Libre Espaa. - CAdESoL: Cmara Argentina de Empresas de Software Libre Argentina. - ESOP: Associao de Empresas de Software Open Source Portuguesas Portugal. - SoLAr: Asociacin Civil Software Libre Argentina Argentina. Estas entidades estiveram ao longo dos ltimos meses a trabalhar conjuntamente num Plano de Ao para o desenvolvimento econmico e social da tecnologia Open Source entre pases de ambos os lados do Atlntico. O Acordo Atlntico constitui portanto a primeira pedra colocada por estas organizaes para consolidar processos de internacionalizao durante os prximos anos. Representa tambm uma prova de maturidade e viso global das organizaes participantes do acordo, que refora o ponto alto que o Software Open Source est a passar em todo o mundo e, particularmente, nos pases hispnicos e lusfonos.

Informtica Livre e das suas repercusses sociais, polticas, filosficas, culturais, tcnicas e cientficas. A Associao de Empresas de Software Open Source Portuguesas (ESOP) (http://www.esop.pt), que defende e promove junto das empresas os conceitos de Software Aberto, Interoperabilidade, Normas Abertas e Independncia de Plataforma.4 A ANSOL e ESOP tm promovido diversas iniciativas junto do Governo e grupos parlamentares, no sentido de alertar para a necessidade de investir em Software Livre. Uma das mais recentes aes mediticas foi a Press Release da ESOP: Estado gasta 160 milhes de Euros por ano em software (http://alturl.com/n7dis), que em tempo de conteno oramental tem vindo a despertar muito interesse da mdia e da classe poltica. Recentemente a ESOP anunciou a sua participao no Acordo Atlntico Open Source (http://alturl.com/zbv63).

30

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

Geotecnologias livres em Portugal A adeso do Governo e da AP ao Software Livre na rea das Geotecnologias tem sido tambm lenta, mas progressiva. Apesar disso continua-se a assistir a avultadas despesas pblicas em licenas de software SIG. Um exemplo disso so as despesas realizadas por adjudicao direta do estado e que facilmente podem ser consultadas no portal Despesa Publica: http://alturl.com/34ynm (pesquisando por ESRI e INTERGRAPH, as principais empresas fornecedoras de solues SIG em Portugal).

(IGP) (http://alturl.com/2d6rr), o GESLIG, um grupo de trabalho interno do IGP dedicado explorao da alternativa do Software Livre para Informao Geogrfica promoveu, entre outras iniciativas, a organizao do primeiro encontro nacional de software livre na AP: ESLAP20095. Naquele encontro, alm das diversas mostras de iniciativas e projetos baseados em software livre, foi demonstrado o interesse e a dinmica na adoo de solues SIG em software livre em diversos projetos da AP6.

Mesmo sem o apoio poltico e legislativo, o software livre SIG vai lentamente trilhando o seu caminho em Portugal e comea a ser visto como uma alternativa futura, face s fortes restries oramentais que se avizinham para o pas. Como diz o provrbio: h males que vm para o bem!Referencias[1] Parlamento encontra sintonia na liberdade de escolha do software dentro da AR TekSapo http://alturl.com/r76sk [2] Bloco de Esquerda prope software livre obrigatrio na AP TekSapo http://alturl.com/btk6e [3] Normas abertas na Administrao Pblica ComputerWorld

A adeso ao SL resulta em grande parte dos movimentos de utilizadores, em comunidades constitudas em Mailling Lists, como a LUSOGIS (http://alturl.com/yxi4f) e a OSGeo Portugal (http://wiki.osgeo.org/wiki/Portugal). Esta ultima promoveu j trs encontros nacionais, SASIG (http://www.osgeopt.pt/node/9) dedicados essencialmente divulgao de casos de estudo e de formao em software livre SIG. Nesses eventos ficou demonstrado o interesse de adeso com a presena de muitos funcionrios pblicos e diversos casos de aplicao de SL em solues Municipais e Centrais da AP. Os eventos comprovaram tambm o aparecimento de empresas a prestar servios de implementao e suporte tcnico em solues SIG baseadas em Software Livre. Nascido tambm da ao de promoo do Software Livre SIG, entre 2005 e 2007, no frum de utilizadores do Instituto Geogrfico Portugues

http://alturl.com/vvgkp [4] Software Livre na Administrao Pblica ANSOL http://alturl.com/rgqha [5] Encontro sobre Software Livre na Administrao Pblica (ESLAP 2009) http://alturl.com/6zqkw [6] Notas sobre Informao Geogrfica no ESLAP 2009 http://alturl.com/rhvrg

Ricardo Miguel Moreira de Pinho Eng. Civil, Especialista em Sistemas de Informao Geogrfica para ambientes corporativos e autor do projeto GISVM.com [email protected]

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

31

CAPA Utilizao do iGeo para gesto municipalPor Carlos Alberto de Mendona Ribeiro

Como gerir um plano diretor? possvel fomentar crescimento? E cont-lo? Que recursos naturais proteger? Onde? Quais so as reais necessidades? Uma determinada comunidade precisa de determinado equipamento pblico? Para todas essas respostas um aliado em comum pode ser utilizado para ajudar a respond-las. Os sistemas de informaes geogrficas ou simplesmente SIG (GIS em ingls). Pensar geograficamente uma caracterstica do ser humano, desde o inicio dos tempos usamos a localizao geogrfica para tomar decises, fizemos isso pra fins blicos, no passado e assim, por exemplo, definamos territrios e hoje continuamos fazendo, dessa vez beneficiados das tecnologias, que nos permitem no apenas definir coordenadas atravs de posicionamento por satlite, mas tambm realizar aes de planejamento gerando transparncia e trazendo benefcios a toda comunidade. medida que as informaes geogrficas

deixam as planilhas e ganham coordenadas em mapas o acrscimo de informao enorme. Por mais rica que seja uma tabela de dados, no se compara ao nvel de informao que um dado cartogrfico pode trazer. Apesar de esse conhecimento parecer ftil, para quem j trabalha com geoprocessamento o trabalho de convencimento ainda necessrio. Sabemos que as metodologias de tratamento de dados presas a planilhas dificultam enxergar a informao, justamente ai que se da a importncia dessa visualizao, meus dados deixam de ser apenas quantitativos e passam e ser tambm qualitativos, os mapas nada mais fazem do que cumprir essa funo, eles so ldicos, ilustrativos, eles nos permitem enxergar as informaes. Nesse sentido a utilizao de sistemas de informaes geogrficas pelo poder pblico algo fundamental. Um exemplo prtico correlacionar s bases municipais com os indicadores socioeconmicos do IBGE. Esse simples exerccio pode apontar qual o melhor local para instalar

32

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

Prefeitura Municipal de Guaratuba-PR por Clecio

qualquer equipamento pblico ou responder se aquela populao realmente precisa. Porm, esse simples exerccio pode se tornar difcil j que as informaes de muitos bancos de dados ficam restritas ao conhecimento dos prprios gestores ou de setores especficos das prefeituras. A disponibilizao de dados geogrficos na internet atravs de um sistema de Informaes Geogrficas (SIGWEB) permite que a informao inicialmente concentrada nas mos do poder pblico, seja de domnio de qualquer cidado que se interesse pela administrao do municpio. Alm disso, pode tornar prtico o acesso s informaes como a de uso e ocupao do solo, informaes sobre reas protegidas ou de uso restrito e que potencialmente podero vir a servir de instrumento de resoluo de conflitos fundirios urbanos. Como disponibilizar? A prefeitura Joo Pessoa-Paraba, (BR) disponibiliza parte de sua base de dados para consulta pblica. Parte desse acervo pode ser consultado atravs do Jampa em mapas, emhttp://www.joaopessoa.pb.gov.br/jampaemmapas.

O nome escolhido para aplicao desenvolvida utiliza o software i3geo (Interface Interativa para Internet de Ferramentas de Geoprocessamento), um aplicativo desenvolvido pela CGTI (Coordenao Geral de Tecnologia de Informao) do Ministrio do Meio Ambiente que consiste em um servidor de mapas baseado em softwares livres, principalmente MapServer, associado a outros softwares e bibliotecas como: GDAL, PROJ4, OGR, R, CPAINT, YUI, entre outros

e utiliza como plataforma de funcionamento os navegadores para internet (Brasil, 2008). Alm da vantagem de no haver custo na aquisio das licenas de programas proprietrios similares, o i3geo apresenta como caracterstica o uso de vrias interfaces, entre elas o Google Earth, permitindo atravs da imagem de satlite que o observador perceba em perspectiva o contexto geral da rea de estudo, assim como as limitaes naturais, colabora com uma maior variedade de informaes a serem exibidas tendo em vista que uma imagem de satlite pode revelar detalhes acerca de uma rea especfica como nenhuma outra tecnologia. A iniciativa de elaborar mapas dinmicos da Prefeitura Municipal de Joo Pessoa - PMJP, substituindo a forma bsica de publicar mapas estticos (atravs de imagens) na internet permite uma maior interao com o usurio possibilitando que qualquer pessoa, atravs de um navegador (browser), possa acessar a aplicao desenvolvida no I3Geo e interagir com os mapas por meio de comandos como zoom (aproximao, afastamento), pan (mover), e realizar consultas. Por meio do qual possvel gerar mapas detalhados de quadras, contendo informaes dos nomes das ruas, nmeros do lotes, entre outras, alm de visualizar a posio de um determinado lote na quadra, observar os aspectos gerais de suas formas e dimenses, assim como associar informaes referentes situao cadastral dos lotes, possibilitando perceber se houve desmembramento, remembramento ou se o lote est ou no, edificado, o chamado Overlay. Tambm possvel obter informaes a partir do cruzamento com dados referentes ao zoneamento ou a proximidade de equipamentos pblicos ou de recursos naturais do municpio bem como aspectos naturais, como por exemplo, os aspectos da hidrografia. Levando em considerao os conceitos de Governo 2.0 (que pem o cidado e o governo em alto nvel de interao e que trata o cidado como um multiplicador da viso, j que ele tem a capacidade de ver o problema da forma que ele esta acontecendo) esta em desenvolvimento uma

Revista FOSSGIS Brasil | Setembro 2011 | www.fossgisbrasil.com.br

33

ferramenta que ao ser implementada ao Jampa em mapas permitir que com um clique no mapa o usurio possa pontuar onde esta acontecendo um determinado problema e requisitar um servio para solucion-lo.

inicial da configurao seria abrir com qualquer editor de texto o arquivo mapfile \i3geo\aplicmap\geral1.map (para linux) ou geral1windows.map (para windows). Na imagem a seguir observ