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Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

1

REVISTA ACADÊMICA ELETRÔNICA

ISSN: 2447-455X

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

2

FACULDADE SÃO FRANCISCO DE JUAZEIRO

Diretor acadêmico/administrativo: Richard Douglas

COLEGIADO DE COMUNICAÇÃO – PUBLICIDADE E PROPAGANDA

Coordenadora: Teresa Leonel

COLEGIADO DE FISIOTERAPIA

Coordenadora: Bruna Angela Antonelli

COLEGIADO DE ADMINISTRAÇÃO

Coordenadora: Giovanna Aléxia Meireles

COLEGIADO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Coordenador: Wellington Dantas de Sousa

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO – NUPPEX

Coordenadora: Késia Araújo

Supervisor de projetos: Pablo Michel Magalhães

Administrativo: Andréa Nascimento

Design gráfico

Ruy de Carvalho Rocha Júnior

Layout para internet

Adão Roniedson Santos Silva

Luécito de Sousa Filho

OBJETIVO DA REVISTA

A revista Expansão Acadêmica possui como objetivo o ideal de fomento à pesquisa acadêmica,

integrando professores e alunos da Faculdade São Francisco de Juazeiro neste processo

científico, divulgando por meio de suas edições os saberes produzidos nesta instituição, bem

como as colaborações advindas dos mais variados espaços acadêmicos do país, oferecendo à

comunidade científica e à sociedade em geral contribuições através dos debates aqui

promovidos.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

3

Conselho Editorial

Administração - Ciências Contábeis

Prof. Fabio Feitosa da Silva - Especialista

Prof. Hesler Piedade Caffé Filho - Mestrando

Prof. José Adelson Gonçalves de Almeida - Especialista

Prof. Mario Cleone de Souza Junior - Mestre

Prof. Wellington Dantas de Sousa - Mestrando

Prof.ª Erika Jamir - Mestrando

Prof. Augusto Jorge - Mestre

Fisioterapia

Prof.ª Bruna Angela Antonelli - Mestre

Prof.ª Caroline Dieder Dalmas de Andrade - Mestre

Prof. Carlos Dornels Freire de Souza - Mestre

Prof.ª Daniela C. Gomes Goncalves e silva - Mestre

Prof. Denilson José de Oliveira - Especialista (Mestrando)

Prof.ª Roberta Machado – Doutora

Prof.ª Paula Telles Vasconcelos - Mestre

Prof. Fabricio Olinda - Mestre

Comunicação

Prof.ª Aline Francisca dos Santos Benevides - Mestranda

Prof. Cecilio Ricardo de Carvalho Bastos - Mestrando

Prof.ª Késia Araújo - Especialista

Prof.ª Teresa Leonel Costa - Mestre

Prof.ª Vera Medeiros - Mestre

Áreas convergentes

Prof.ª Eliene Matos e Silva - Doutora

Prof.ª Jordânia de Cassia de Araújo Costa - Mestre

Prof. Jorge Messias Leal do Nascimento – Mestre (Doutorando)

Prof.ª Maria Aline Rodrigues de Moura – Mestre

Prof.ª Maria da Conceição Araújo Carneiro – Mestre (Doutoranda)

Prof. Pablo Michel Cândido Alves de Magalhães – Mestre

Prof. Ronilson Sousa – Mestre

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

4

SUMÁRIO

Editorial........................................................................................................................................ 7

UMA VISÃO CRÍTICA ACERCA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O

SEMIÁRIDO. ................................................................................................................. 8

Inaldo Moreno

GESTÃO DA QUALIDADE: UMA ANÁLISE COMPARATIVA SOBRE

DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS ADMINISTRADORES EM

ORGANIZAÇÕES PRESTADORAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS. ..................... 28

Erika Maria Jamir de Oliveira

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A ESCOLA: AINDA UM DESAFIO. ............... 44

Maurício Teixeira dos Reis

A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA FORMAÇÃO ESCOLAR DO FILHO .. 55

Lindomar Nunes do Nascimento

A QUESTÃO AMBIENTAL E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: REVISÃO DE

LITERATURA ........................................................................................................... 69

Antônio Flávio Pereira de Sousa Amorim

O USO DO SOLO PARA A PRÁTICA AGRÍCOLA NA COMUNIDADE

BAIXÃO DO ANÍSIO, EM VÁRZEA BRANCA- PI ............................................. 91

Janete Paes de Macêdo

A FORMAÇÃO CONTINUADA DO EDUCADOR AMBIENTAL .................... 105

Veridiana Rodrigues Aires

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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UMA ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A GRADE CURRICULAR DO ENSINO

MÉDIO DAS ESCOLAS PÚBLICAS BRASILEIRAS NA PREPARAÇÃO DOS

ESTUDATES PARA O INGRESSO E PERMANÊNCIA NO ENSINO

SUPERIOR ...................................................................................................... 119

Raulito Lopes da Silva

Jorge Messias Leal do Nascimento

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA IMPORTÂNCIA, DIFICULDADES NA SUA

PRÁTICA ........................................................................................................ 132

Neusa de Sousa Silva

SISTEMA MUNICIPAL DE CULTURA DE EXU-PE: DESAFIOS E POLITICAS

DO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO. ................................................................. 145

Ladslany Costa

Osmar Viveiros de Carvalho

Hesler Piedade Caffé Filho

A GESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NO MUNICÍPIO DE SIMPLÍCIO

MENDES/PI ............................................................................................................... 164

Neilany Araújo de Sousa

ASPECTOS HISTÓRICOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE

ENFRENTAMENTO A HANSENÍASE: DO MUNDO AO NOVO MUNDO. ... 180

Carlos Dornels

VERÃO CHEGOU: A MULHER POR TRÁS DE UM GOLE DE CERVEJA

OS SIGNOS E SIGNIFICADOS PARTICULARES NA CONSTRUÇÃO DA IDEIA

GERAL DA PROPAGANDA “SAINDO DO MAR” DA CERVEJA ITAIPAVA .......... 195

Gabriela Alves Canário

Inês S. Guimarães

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

6

ENSAIO SOBRE A SEMIÓTICA DE PEIRCE E A SEMIÓTICA DE UMBERTO

ECO APLICADAS A UMA PEÇA PUBLICITÁRIA ........................................... 204

Caroline Ramos Freitas

Luiza Nayara Gonçalves Rodrigues

“CHUPA-CHUPS”: ANÁLISE DO PROCESSO SEMIÓTICO A PARTIR DE

PEIRCE E ECO. ....................................................................................................... 213

Jacqueline Santos

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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EDITORIAL

Chega ao público mais uma edição da Revista Expansão Acadêmica, dando

continuidade à sua tradição de proporcionar debates interdisciplinares nas mais variadas

áreas de conhecimento, além de dar enfoque aos saberes construídos no Vale do São

Francisco. O lançamento deste número 2 simboliza a consolidação dos esforços

empreendidos em torno do fomento à pesquisa e sua consequente difusão entre as

comunidades acadêmicas em Juazeiro/BA e, especificamente, na Faculdade São

Francisco de Juazeiro – FASJ, instituição da qual a Expansão Acadêmica é o periódico

científico oficial.

Não podemos esquecer que o sucesso desta revista está intimamente ligado à

realização do Congresso de Integração Acadêmica e Social – CONINTA, que teve sua

estreia no ano de 2015, e reuniu em seus três dias de realização uma grande parcela da

população da região do Vale do São Francisco. Os trabalhos científicos compuseram a

edição n. 1 desta revista, publicada no semestre 2015.2.

Neste novo número, as colaborações giram em torno de temáticas as mais

variadas possíveis: educação ambiental, saberes pedagógicos, semiárido e políticas

públicas, gestão pública, semiótica aplicada ao marketing. Promover o encontro dessas

ideias é o que movimenta a equipe editorial da Expansão Acadêmica, que fica grata em

fazer parte de debates que em tudo colaborarão com a construção de uma cultura de

pesquisa interdisciplinar na região do Vale do São Francisco.

Convidamos você, caro(a) leitor(a), a aproveitar nosso material.

Boa leitura,

Prof. MsC. Pablo Michel Magalhães

Editor

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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UMA VISÃO CRÍTICA ACERCA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O

SEMIÁRIDO.

Inaldo Moreno de Sousa1

RESUMO

Este trabalho apresenta uma reflexão sobre as políticas públicas - Uma Visão Critica Acerca

das Políticas Públicas para o Semi – Árido, delineada pela visão da autora Silva e Silva

(2001), constituição do problema ou da agenda governamental, formulação de alternativas,

adoção da política, implementação ou execução dos programas. O processo que envolve as

políticas públicas, desde a sua formulação até a sua implementação, passa por distintas fases e

envolve vários sujeitos. As elaborações destas políticas implicam a definição de quem decide o

quê, quando, com que consequência e para quem. Assim, pretende-se com este trabalho, a

realização de um estudo teórico a respeito da sociedade, da natureza, do desenvolvimento

econômico, da pobreza, da exclusão social e do desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: políticas públicas, desenvolvimento econômico, intervenção governamental.

1. INTRODUÇÃO

A análise aqui empreendida fundamenta-se no paradigma que propõe a

integração das diferentes ramificações da produção do conhecimento em problemas

sociais e ambientais, tendo como tema central: Uma visão crítica acerca das políticas

públicas para o Semiárido. Por se tratar de um trabalho interdisciplinar, procurou-se

utilizar metodologias e técnicas advindas de várias ciências. Busca-se a composição de

um discurso ponderado capaz de unificar os valores dados a todos os elementos que

compõem o espaço analisado.

Os discursos e as verdades têm o seu valor reconhecido como um referencial

no tempo. Valem para cada instante considerado. A posteriori, pode vir a ser entendido

1 Graduado no curso de Licenciatura Plena em Geografia com Especialização em Educação

Ambiental pelo Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco (CESVASF), Mestre em

Ciências da Educação pela Unisal (Universidade San Lorenzo/Uniaméricas), Professor Efetivo

do Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco (CESVASF), Professor de Geografia,

Artes e Ecumenismo na Escola Professora Odete Lustosa (EPOL), Colégio Nossa Senhora do

Patrocínio (CNSP) - ([email protected]).

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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como um produto intelectual ultrapassado em função dos novos rumos trilhados por

uma dada sociedade. Além do que não existe aqui a pretensão de descobrir a verdade e,

menos ainda, a possibilidade de elucidar todos os aspectos sócioeconômicos e

ambientais da área estudada. Neste artigo, buscam-se caminhos que levem a verdades

diversas, contanto que os propósitos de conciliar o uso dos recursos naturais com justiça

social e equilíbrio econômico possam ser alcançados.

Para um melhor entendimento acerca dessa temática, fez-se um levantamento

da visão de alguns autores no sentido de torná-la mais compreensiva.

De acordo com Silva e Silva (2001, p. 37), políticas públicas são entendidas

como uma forma de regulação ou intervenção na sociedade. Articula diferentes sujeitos,

que apresentam interesses e expectativas diversas. Constitui um conjunto de ações ou

omissões do Estado, decorrente de decisões e não decisões, constituída por jogos de

interesses, tendo como limites e condicionamentos os processos econômicos, políticos e

sociais. Isso significa que uma política pública se estrutura, se organiza e se concretiza a

partir de interesses sociais organizados em torno de recursos que também são

produzidos socialmente. Seu desenvolvimento se expressa por momentos articulados e,

muitas vezes, concomitantes e interdependentes, que comportam sequências de ações

em forma de respostas, mais ou menos institucionalizadas, a situações consideradas

problemáticas, materializadas mediante programas, projetos e serviços. Ainda, toda

política pública é um mecanismo de mudança social, orientada para promover o bem-

estar de segmentos sociais, principalmente os mais destituídos, devendo ser um

mecanismo de distribuição de renda e de equidade social.

O processo que envolve as políticas públicas, desde a sua formulação até a sua

implementação, passa por distintas fases e envolve vários sujeitos, que se constituem

em: grupos de pressão, movimentos sociais e outras organizações – potenciais

beneficiários dos programas; partidos políticos ou políticos individualmente – que

propõem e aprovam políticas; administradores e burocratas – responsáveis pela

administração dos programas; técnicos, planejadores e avaliadores – responsáveis pela

formulação de políticas e execução de programas. Assim, há uma diversidade de

sujeitos, que são orientados por racionalidades e interesses mediados pelo Estado.

Entende-se que o Estado, como ente público, tem obrigação maior com a

sociedade na aplicação dessas políticas públicas através de seus estados-membros, suas

autarquias e fundações ou, ainda, delegando as ONGs e organizações sobre sua

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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supervisão. Assim, para que ele possa agir, é necessário promover ações e atuar em

diversos segmentos que compõem a sociedade: segurança pública, infraestrutura,

educação, saúde, agricultura, meio ambiente, etc. Desenvolver ações e atuar

diretamente em diferentes áreas, tais como saúde, educação, meio ambiente.

Os principais objetivos das Políticas Públicas perpassam pelo atendimento das

demandas, especialmente dos setores sociais marginalizados. Buscam a ampliação e a

efetivação da cidadania, além da promoção do desenvolvimento, com a criação de

alternativas de geração de emprego e renda, visando a compensação de ajustes criados

por políticas estratégicas (econômicas). Estas Políticas Públicas também se destinam a

equilibrar os conflitos entre os distintos atores que compõem a sociedade que, apesar de

hegemônicos, manifestam interesses contraditórios às quais as forças de mercado são

incapazes de resolver.

As políticas públicas configuram-se, então, num processo dinâmico, permeado

por negociações, pressões, mobilizações, alianças ou coalizões de interesses. Alguns

elementos de conteúdo e de processo na estruturação de tais políticas estão claros:

sustentabilidade, democratização, eficácia, transparência, participação e qualidade de

vida.

Em conformidade com a Constituição Brasileira (BRASIL. Constituição

Federal, 1988), as Políticas Públicas originam-se concomitantemente com o Estado de

direito, que tem por função maior assegurar o pleno direito no que tange à liberdade,

segurança, bem-estar, desenvolvimento, igualdade, justiça e exercício dos direitos

sociais e individuais, ou seja, é através das Políticas Públicas que os bens e serviços

sociais são distribuídos para atender à demanda da sociedade.

Todavia, essa definição é fonte de numerosas críticas que consideram as ações

do Estado paliativas e incapazes de solucionar os problemas básicos da população, que

são mais estruturais do que conjunturais. Geralmente, em países e regiões pobres, as

políticas econômicas, bem como as políticas sociais de saúde, habitação, educação e

seguridade social, constituem ferramentas fundamentais para a manutenção da paz

social.

2. SOCIEDADE, NATUREZA E DESENVOLVIMENTO - FUNDAMENTOS

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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2.1. A sociedade moderna e a crise ambiental

Desde que desceu das árvores, como disse Heilbroner (1996), na sua obra “A

História do Pensamento Econômico”, o homem tem enfrentado a questão da sua

sobrevivência como membro de um grupo social e não como indivíduo. O fato de esta

espécie ainda existir sobre a face da Terra, mesmo que permeada por tantas diferenças, é

uma comprovação que o sucesso desta empreitada foi parcial. Não tem sido fácil para os

agrupamentos humanos garantir, sem percalços, a sua sobrevivência.

Nos primórdios da história humana e, ainda hoje, em diversos lugares do

mundo, a natureza tem proporcionado espetáculos de abundância, assim como crises de

abastecimento. Como forma de resolver estas vicissitudes, o homem desenvolveu,

apesar de mostrar uma aparente tendência ao egocentrismo, a cooperação e a vida em

sociedade, como forma de assegurar seu bem-estar e o de sua família. Além disto, e por

ser destituído de atributos especiais que outros animais possuem, como grande força

física, visão e faro aguçados, passou a utilizar a inteligência na fabricação de

ferramentas que pudessem tornar mais fáceis e produtivas suas atividades diárias.

Progressivamente, a vida em sociedade vai se tornando mais e mais complexa e

dependente da cooperação, a não ser que os ditos interesses egocêntricos ponham em

risco a estabilidade do grupo.

Heilbroner (1996) lembra, ainda que, ao longo dos séculos, as sociedades têm

buscado garantir sua sobrevivência sem passar pelos percalços resultantes dos

“imprevisíveis desvios humanos”, de três formas: a) pela tradição, quando cada

indivíduo substitui o pai em dado ofício, como no sistema de castas da Índia; b) pelo

autoritarismo, para garantir que as tarefas necessárias à sobrevivência do grupo sejam

executadas, como no Egito antigo e na Ex-União Soviética ; c) através de mecanismo de

mercado, onde existe uma regra de ouro que garante que cada indivíduo pode fazer o

que for mais conveniente e rentável para si, sem infringir as leis da sociedade em que

está inserido.

Comentando o sucesso do sistema de mercado, Heilbroner (1996) afirma que

“era o fascínio do lucro, não a força da tradição ou o chicote da autoridade” que

determinava as obrigações de cada pessoa. Apesar da simplicidade da ideia, a

humanidade teve de esperar até o século XVIII para que um grupo de pessoas, os

economistas, pudesse tornar um pouco mais claro as regras que regem a produção

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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econômica. Lamentavelmente, as tentativas de explicar as crises e a má distribuição dos

bens produzidos ainda estão à espera de soluções.

São visíveis as contradições em que vive o homem moderno: miséria e

opulência convivem, não sem conflitos, num mesmo espaço, qualquer que seja sua

dimensão. Também é consenso considerar que, em toda a história humana, jamais

houve tamanho progresso material. No entanto, a miséria encontra-se disseminada por

todo o planeta. A situação dos pobres é uma ameaça constante à paz e à estabilidade de

governos, mesmo daquelas nações que alcançaram maior grau de desenvolvimento.

Nos países pobres, a luta pela sobrevivência tem sido árdua, inclusive naqueles

considerados subdesenvolvidos e industrializados, como o Brasil. A situação de penúria

em que vive a maioria da população mundial, além de inaceitável, é a comprovação de

que algo urgente deve ser feito no sentido de reduzir as desigualdades sociais hoje

existentes. A ausência ou a baixa eficácia das políticas públicas voltadas para o combate

à pobreza e à fome tem acarretado uma significativa pressão sobre os recursos naturais.

Deve-se considerar, também, que nos países ricos, ditos desenvolvidos, onde a

sociedade atingiu outro estágio de desenvolvimento denominado de pós-industrial, o

intenso consumo de bens e o desperdício de matérias-primas e energia, por exemplo,

têm sido igualmente danosos para o meio ambiente. O ritmo da produção,

constantemente incrementado pelos avanços da tecnologia, a curta vida útil dos bens,

além dos modismos de estação, têm causado muitos transtornos. São problemas comuns

nesses países a emissão de poluentes atmosféricos, dificuldades para acondicionar ou

processar o lixo gerado pelas cidades, entre tantos outros.

Desta forma, é comum a afirmação, por parte de especialistas, de que a

civilização atual, resultante do modo de produção capitalista dominante, enfrenta um

momento crítico na sua convivência com o meio ambiente.

Aplicar os mesmos princípios de desenvolvimento econômico para todos os

países do mundo, indistintamente, é uma falácia. Produzir bens capazes de proporcionar

a todos os habitantes do planeta um padrão de vida semelhante ao desfrutado pelos

ricos, é uma utopia. A inviabilidade desta proposta reside na constatação de que a

natureza não dispõe de recursos suficientes para todos, além de que os dejetos

resultantes deste padrão de consumo seriam capazes de sufocar o planeta.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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Torna-se evidente, a partir destas considerações, que a humanidade deve

buscar novos rumos capazes de possibilitarem o surgimento de uma sociedade com

maior eficiência econômica, com equilíbrio e justiça social e em harmonia com o seu

ambiente. Em outras palavras, cabe à humanidade procurar o desenvolvimento

econômico e a igualdade social sem destruir os recursos ambientais. Por enquanto, esta

forma de desenvolvimento tem sido denominada de “sustentável”, “sustentada”,

“durável”, entre outras.

2.2. Ideias sobre Desenvolvimento Econômico, Pobreza e Exclusão Social

Na Idade Média, ou recuando aos tempos bíblicos, dar esmolas aos pobres era

uma das formas de garantir a salvação da alma sem ter que se tornar um deles. Mesmo

com o incentivo espiritual, a ajuda é feita de maneira calculista, ou seja, a doação faria

bem, tanto ao doador quanto ao beneficiário.

Nos primeiros anos da Revolução Industrial, os necessitados eram vistos como

vadios e avessos ao trabalho a quem o Estado deveria assistir dar instrução e moldá-los

à vida das fábricas. Na Inglaterra, por exemplo, a Lei dos Pobres, de 1834, tinha como

propósito determinar que as paróquias devessem ajudar a alimentar os pobres. Houve

resistência a esta ideia. A mais famosa, ironicamente, foi obra de um religioso: o

reverendo Thomas Malthus.

Para Malthus, esta ajuda representava um risco à estabilidade social, uma vez

que, entre outros fatores, tal benefício concorreria para o incremento demográfico e

consequente escassez de alimentos. O debate sobre como eliminar ou reduzir a pobreza

teve aí o seu início, sob a ótica da ciência econômica. Apoiar ou combater Malthus

continua alimentando discussões mundo afora.

A era moderna é marcada pela ideia de que o progresso é sinônimo de

segurança e de otimização do tempo de vida do ser humano. Sob influência do

pensamento darwinista, o termo progresso torna-se sinônimo de evolução. Progredir é

também uma forma de superar a submissão à morte, que marcou a era medieval. Dar

ajuda é propagar os avanços e conquistas da civilização ocidental.

A modernidade trouxe ainda profundas transformações para o sistema

produtivo e para a reorganização do espaço mundial, inclusive sob a ótica política. O

Estado-Nação consolida-se como força maior, capaz de reordenar o mundo, agora sob o

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domínio do capitalismo (CIDADE, 2001). Com a difusão da industrialização e com a

ascensão da economia norte-americana à posição de primeira do mundo, surge um novo

modelo produtivo, baseado na tecnologia intensiva, na produção e no consumo em

massa. Trata-se do modelo fordista, implantado nos Estados Unidos no início do século

XX. O ritmo da vida e da cultura moderna passa a ser ditado pelo ritmo da máquina. O

trabalho é fragmentado em inúmeras e pequenas tarefas, altamente especializadas, o que

levou o trabalhador a perder a noção de conjunto. Em contrapartida, o aumento dos

salários estimulou o consumo de maneira formidável. O sucesso do fordismo

transformou-se na nova filosofia do capitalismo industrial. Grande parte dos seus

fundamentos resiste até os dias de hoje.

2.3. O Desenvolvimento Sustentável

O projeto desenvolvimentista surgido no século passado concorreu para o

surgimento de necessidades novas e crescentes, mesmo antes de resolver todas as

contradições que trazia consigo. Embora seja o pobre o que mais sofre diante da

impossibilidade de consumir, o rico parece nunca estar satisfeito com o que possui.

Reside aí o grande dilema posto pelo pensamento econômico dominante, qual seja o de

que o atual modelo econômico jamais conseguirá satisfazer todas as necessidades

anteriormente previstas ou definidas até pelo planejamento mais rigoroso.

Some-se a este o fato de que, em pequenas comunidades, a satisfação das

necessidades de um grande número de pessoas passa por uma rede de relacionamentos

não monetarizados e por diversas formas de solidariedade e reciprocidade que a teoria

econômica não alcança. O mesmo acontece com pequenas atividades desenvolvidas no

interior das comunidades e que não têm espaço dentro do novo mundo de alta

tecnicidade e competitividade, como o artesanato, a criação de pequenos (e poucos)

animais, a coleta de frutas e a pesca para consumo do grupo familiar, entre outras.

Durante pelos menos três décadas subsequentes a Segunda Grande Guerra, a

ideia de desenvolvimento confundiu-se com a ideia de crescimento econômico. Mesmo

no momento atual, estes conceitos continuam sendo sinônimos para muitos. Com esta

visão estritamente monetária e quantitativa, muitos planejadores consideravam, e alguns

continuam considerando, o aumento persistente da renda como o caminho mais seguro

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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para o desenvolvimento econômico e para a redução ou eliminação das desigualdades

econômicas, principalmente para as nações ditas subdesenvolvidas.

Para a zona rural, o desenvolvimento significaria, neste primeiro instante, a

absorção de inovações tecnológicas capazes de mudar o perfil produtivo, garantirem

maior produção e maior produtividade de forma contínua e, por conseguinte,

proporcionar a melhoria das condições de renda do homem do campo.

Leite (1999) discute esta visão considerando que o termo mais adequado e

preciso para designar este sentido dado ao desenvolvimento seria o de desenvolvimento

agrícola. Já o termo desenvolvimento agrário, surgido algum tempo depois, poderia ser

atribuído a interpretações estruturais do espaço rural. Tais estudos buscavam entender

os mecanismos que regem as relações de produção no espaço agrário, assim como

desvelar os papéis dos atores sociais que configuravam um determinado contexto. As

análises teriam como foco o acesso a terra, o papel do Estado, a situação do mercado de

trabalho e a comercialização da produção, entre outros. A ação do Estado, tentando

modificar as condições sócio-produtivas de uma determinada região, deu origem, entre

os anos de 1950 e 1970, ao que se convencionou chamar de desenvolvimento rural.

Partindo de metas, estratégias e metodologias pré-estabelecidas, o poder público busca

“despertar” regiões consideradas atrasadas. Através de políticas de incentivos à

produção, cessão de terras, difusão de métodos de irrigação, por exemplo, busca-se

tornar regiões pobres iguais ou próximas àquelas consideradas modernas ou

desenvolvidas.

Após as crises econômicas da década de 1980 e as reformas do Estado

ocorridas na última década do século XX, tais termos passaram a ter conotações

ligeiramente diferentes.

Surgem duas novas expressões para designar as ações estatais, ou não, sobre o

espaço rural, visando alterar as condições de vida e as formas de produzir do campo:

desenvolvimento rural sustentável e desenvolvimento local sustentável.

No primeiro caso, o conceito de desenvolvimento rural sustentável herda parte

das discussões sobre a questão ambiental. Aplicado ao setor rural, tem significado, entre

outras acepções, a necessidade de incorporar ao discurso desenvolvimentista a variável

ambiental.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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Para Buarque (2002), a segunda expressão pode ser entendida como “um

processo endógeno de mudança, que leva ao dinamismo econômico e à melhoria da

qualidade de vida da população em pequenas unidades territoriais”. A expressão deriva

da atuação localizada de organizações não governamentais em oposição ao processo de

globalização, quando pretende descobrir potencialidades locais capazes de impulsionar

a economia de certa comunidade, ou em consonância com ele, ao propor o

fortalecimento de grupos de produção que pretendem disputar o mercado global.

3. A QUESTÃO NORDESTINA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE

DESENVOLVIMENTO

A região Nordeste do Brasil é formada por nove Estados (Maranhão, Piauí,

Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia). Possui

uma extensão territorial superior a 1,5 milhão de km2 e uma população que ultrapassa

os 47 milhões de habitantes. A geografia da região é composta por um quadro físico e

socioeconômico bem diversificado.

Do ponto de vista ambiental, cerca de 1,1 milhão de km2 do espaço nordestino

está incluído no Polígono das Secas, região marcada pela irregularidade têmporo-

espacial das precipitações pluviométricas e onde predomina o bioma da caatinga.

Caracteriza ainda este espaço temperaturas elevadas (média de 26° C), insolação anual

estimada em cerca de 3.000 h, o que ocasionam acentuados índices de

evapotranspiração (em média, cerca de 2.000 mm/ano), podendo atingir, em algumas

regiões, cerca de 7,0 mm/dia. A geologia nordestina é dominada em 70% por rochas

cristalinas, o que dificulta o armazenamento e utilização da água subterrânea, além de

originar solos pouco profundos, pobres em matéria orgânica e uma rede hidrográfica

constituída, predominantemente, por rios temporários (SUASSUNA, 2002).

A Região Nordeste continua sendo um grande desafio nacional face à sua

elevada dívida social. Possuindo apenas um terço da população brasileira, o Nordeste

responde por 55% dos analfabetos do País, igual número de indigentes e 45% das

famílias com rendimento per capta inferior a meio salário mínimo. Neste espaço, a seca

continua sendo um problema social agudo, fazendo com que quase toda a população de

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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trabalhadores rurais e pequenos produtores busquem os programas assistenciais do

Governo a cada estiagem (ARAÚJO, 1995).

Tais especificidades, dentre muitas outras, transformaram o Nordeste em alvo

de ações planejadas por parte do Poder Central, visando minimizar esses graves

problemas.

Grande parte dessas ações tinha como foco o meio rural, que, pelas suas

fragilidades de caráter ambiental, econômico-social, científico-tecnológica e político-

institucional, demandavam ações e políticas públicas urgentes e específicas no combate

à miséria e suas implicações.

3.1. Trajetórias das intervenções governamentais no Nordeste

As intervenções governamentais no Nordeste, postas em prática desde o

Império até a década de 1940, referem-se às ações casuísticas e mal planejadas de

combate às secas. Acreditava-se, então, que o problema seria resolvido pela simples

acumulação de água no território afetado pela precariedade das chuvas. Este período foi

denominado pelos historiadores como fase da “solução hídrica”.

Estas iniciativas ganham maior destaque a partir de 1909, quando o Presidente

Nilo Peçanha criou a Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), posteriormente,

designada de Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS - 1919) e

Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS - 1945), destinada a

construir obras que possibilitassem o armazenamento de água para enfrentar a estiagem.

Trata-se da montagem de uma infraestrutura considerada de fundamental importância

para impulsionar a economia, como a construção de estradas, açudes e poços. A partir

da década de 1960, deu-se maior impulso à agricultura irrigada, com o intuito de

promover o abastecimento dos centros urbanos que cresciam em ritmo acelerado.

Segundo Hall (1978), embora a adoção da irrigação como estratégia antisseca

tenha sido proposta desde 1890, o DNOCS só resolveu adotá-la realmente nos fins dos

anos de 1960. Existiram segundo este autor, pelo menos duas razões para isso:

dominado por engenheiros, o órgão media seu sucesso pela quantidade de água

acumulada nas represas e adotar a irrigação em grandes áreas exigiria a expropriação de

terras de latifundiários, pessoas com as quais o órgão mantinha estreita relação .

Somente depois da criação da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste

(SUDENE), por ocasião da grande seca de 1958, é que o DNOCS se viu pressionado a

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alterar sua política de priorizar a construção de açudes. Além disto, o órgão tinha a

prerrogativa de executor das políticas gestadas pela SUDENE. Não faz parte da história

desse órgão, portanto, pensar numa política de desenvolvimento regional capaz de

transformar a situação de pobreza do nordestino.

Sampaio et. al, (1979) consideram que a intervenção governamental no

Nordeste, no período anterior à criação da SUDENE, é fragmentada e desordenada:

cada órgão ou instituição agia de forma isolada, caracterizando uma ação paliativa do

governo nas épocas de crise, ou seja, “a ação governamental mais reagia a situações de

crise, e o fazia tipicamente criando novos órgãos, do que se antecipava a estas,

buscando reforçar a economia regional”.

Oliveira (1981) traduz a ação do DNOCS como um dos mecanismos,

utilizados pelas classes dominantes do Nordeste, capazes de promover a acumulação

primitiva do capital. Utilizando-se dos recursos do Estado, com formas de

financiamento generosas, para a implantação de obras de açudagem nas suas

propriedades, os latifundiários tomaram o Estado como refém. Esta engrenagem de

controle do Estado garantiu, por longos anos, o poder político dessas oligarquias. O

caso do Ceará, que manteve o controle do DNOCS e onde está situada a sede do Banco

do Nordeste do Brasil (BNB), instituição de crédito criada especificamente para atender

à Região Nordeste, ilustra bem esta situação. Deve-se levar em conta que, sozinho, o

Estado cearense é, de longe, o possuidor do maior número de açudes construídos no

Nordeste. “Falar do DNOCS no Ceará era o mesmo que falar da oligarquia e vice-

versa”, conclui Oliveira.

Bursztyn (1984) assinala que a implantação de perímetros irrigados representa

a adoção de uma estratégia inédita de intervenção estatal no Nordeste. Antes, o

paternalismo do Estado limitava-se à socialização dos custos dos investimentos em

infraestrutura dos coronéis; agora, as ações estariam voltadas para promover a

modernização capitalista na região, mediante o estímulo à produção em larga escala

para o mercado e a implantação de uma nova mentalidade empresarial entre os

pequenos produtores. A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

(CODEVASF) comandaria o patrocínio da grande produção capitalista no Vale do São

Francisco, hoje importante pólo frutícola e vitrine das políticas públicas para o

semiárido. Ao DNOCS, até então voltado para a construção de obras, competiria criar e

gerenciar projetos de assentamento e produção agrícola de tamanho familiar,

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transformando pequenos agricultores em produtores capitalistas. Neste caso, o

paternalismo, combinado com grandes doses de autoritarismo, deveria promover

mudanças então “inexistentes ainda na estrutura social e econômica arcaica do

Nordeste”.

3.2. A política de recursos hídricos para o Nordeste

Represar rios, escavar poços e controlar estoques de água é uma das estratégias

mais antigas de dominação. Existem registros de poços escavados e protegidos por

muralhas na Mesopotâmia há cerca de 8 mil anos a.C. O controle de rios foi a base do

poder na Mesopotâmia há 4 mil anos a.C.; no Egito há 3,4 mil anos a.C. e na China há 3

mil anos a.C.

Nos dias atuais, o conflito mais grave pela água envolve israelenses e

palestinos, cujos estoques hídricos têm que ser usados após acordos com a Jordânia,

Síria, Líbano, Egito e Arábia Saudita. O controle de Israel sobre a Palestina inclui as

áreas de recarga de aquíferos já intensamente exploradas. De uma relação de dez países

mais pobres de água estão incluídas sete nações árabes (REBOUÇAS, 1999).

O vocábulo açude vem do árabe Assad ou As-sudd, que significa represar

água, resquício da influência moura sobre os colonizadores portugueses do Nordeste do

Brasil.

Lagos e represas correspondem a importantes estoques regulares de recursos

hídricos que podem ser submetidos a operações de gerenciamento racional. Além disso,

o represamento tem grande importância como mecanismo regularizador do regime

torrencial dos rios das regiões áridas e semiáridas. Embora seja uma prática muito

antiga, a sua disseminação só atingiu escala global nas últimas décadas (MOLLE, 1994;

CUNHA, 1996; REBOUÇAS, 1999).

O espaço brasileiro destaca-se no cenário mundial como possuidor de uma das

mais densas redes hidrográficas do globo e por conter 12% das reservas de água doce

existente no planeta. Contudo, o problema do abastecimento é dos mais graves, causado

não só pela irregular distribuição geográfica deste recurso, como também pelo elevado

crescimento do consumo em áreas localizadas e pela degradação da qualidade das águas

em níveis insuportáveis (REBOUÇAS, 1999).

Como exemplos das situações aqui colocadas têm-se a Amazônia, com

população reduzida e grande disponibilidade hídrica e o Nordeste brasileiro,

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reconhecido por sua limitada disponibilidade de água em função da sua irregularidade

pluviométrica, dentre outros fatores. Já a Região Sudeste possui a maior aglomeração

populacional do Brasil, exigindo estoques cada vez maiores de água limpa, num espaço

onde o processo de industrialização e urbanização foi feito à custa da conspurcação dos

corpos líquidos, como o rio Tietê.

A construção de açudes como suposta solução para o problema das secas e dos

seus desdobramentos no Nordeste brasileiro vem sendo encetada desde o século XIX.

Após a grande seca de 1877, que durou três anos e causou grande comoção e

mortandade de nordestinos, muitas foram as propostas de leigos, políticos e

especialistas na busca de soluções para o problema. Muitas destas contribuições

agregaram novos conhecimentos e visões racionais da chamada questão nordestina.

Outras, por serem no mínimo exóticas, fazem parte do folclore que mais confundem do

que colaboram para um equacionamento final do drama nordestino (CAMPOS &

STUDART, 2003).

Surgem, dessa forma, operações paliativas para os danos causados pela seca no

nordeste, acarretando o surgimento de programas de emergência para minimizar os

problemas sociais no Nordeste, o que contribui, muitas vezes, para desvios e má

aplicação dos recursos público, lesando o Estado e contribuindo ainda mais para a crise

nordestina em longos períodos de seca. A Indústria da Seca torna-se, assim, o malefício,

pois se utiliza de calamidade para conseguir mais recursos, subsídios, incentivos fiscais,

concessões de crédito e anistia de dívidas valendo-se da ideia que de o nordestino está à

beira da miséria e morrendo de fome. A Indústria da seca é responsável, muitas vezes,

por obras sem sentido, que nada ajuda ao homem sertanejo e, ainda, desperdiça o

dinheiro público.

Euclides da Cunha (1996), autor de “Os Sertões”, cita o Instituto Politécnico

do Rio de Janeiro como o nascedouro das mais diferentes propostas para combater a

seca. Após a grande seca de 1877, o corpo técnico desta instituição sugeriu: …luxuosas

cisternas de alvenarias; miríades de poços artesianos, perfurando as chapadas; depósitos

colossais, ou armazéns desmedidos para as reservas acumuladas; açudes vastos, feitos

cáspios artificiais; e por fim, como para caracterizar bem o desbarate completo da

engenharia, ante a enormidade do problema, estupendos alambiques para a destilação

das águas do Atlântico!

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O que talvez o erudito engenheiro não soubesse é que todos estes ‘desbarates’

devem compor parte das soluções. Todas as medidas e soluções devem ser consideradas

e, uma vez comprovada a sua eficiência, devidamente adaptadas a um dado espaço.

Deve-se considerar ainda a viabilidade técnica, política, econômica e ambiental de cada

proposta.

Como a região nordestina é composta de paisagens diversificadas, não se deve

considerar que apenas uma solução seja capaz de resolver todos os problemas,

indistintamente.

Para Guerra (1981), entusiasta da açudagem, o açude representa “o grande

esteio da economia mista (sic) do sertão”, porque não se pode pensar na existência

humana e em sociedades, sem o precioso líquido. Diante do dilema nordestino de seca

ou inundação, cabe ao homem atenuar os efeitos de uma e de outra. Atribui à nossa

pouca experiência em irrigação o retardamento do progresso regional, somando-se a isto

o fato de os açudes serem mal aproveitados.

4. CONCLUSÃO

Neste trabalho, buscou-se averiguar as Políticas Públicas e Programas

direcionados ao semiárido a partir da década de 1990, principalmente, quanto à

dimensão econômica da sustentabilidade. Para tanto, promoveu-se uma discussão acerca

do desenvolvimento sustentável, bem como das Políticas Públicas, além da principal

estrutura organizacional e produtiva da região.

Dentre os problemas regionais, o que mais se destaca são: a falta de unidade

quanto à definição da região, o que dificulta a ação de Políticas e Programas e leva a um

descompasso entre as agências executoras na eleição da área a ser trabalhada; a intocada

concentração da estrutura fundiária, que representa outro empecilho para o

desenvolvimento do semiárido já que muitas famílias que não têm onde trabalhar

acabam sendo subaproveitados e oferecem sua mão-de-obra a grandes latifundiários,

podendo também haver migração para os centros urbanos; a manutenção de velhas

práticas emergenciais e assistencialistas; a descontinuidade dos programas; a questão

cultural que envolve o subdesenvolvimento da região, levando a crer que o fenômeno

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das secas é o grande responsável por tal conjuntura; o baixo nível educacional da

população.

A partir da caracterização da região, verificou-se, em conformidade com os

índices levantados, que a principal base econômica do semiárido, ou seja, a atividade

agropecuária, retroagiu ao longo da década de 1990, o que permite concluir que houve

pouca ou insatisfatória evolução da economia dos municípios que a compõem.

As Políticas adotadas não contribuíram para que a população do semiárido se

desvencilhasse da secular dependência das ações oficiais, não sendo possível a geração

de renda de forma autônoma e sustentada, dado que a maioria das atividades

tradicionalmente utilizadas como fonte de renda e sustento, tais como: agricultura e

pecuária, apresentaram-se em decadência, aliadas às constantes modificações de

estratégias, à falta de continuidade dos programas, à falta de preparo dos receptores e à

falta de acompanhamento técnico. Assim, ocorreu um infeliz agrupamento desses

fatores, que acabam convergindo para a ineficiência das Políticas Públicas destinadas a

reverter o quadro de subdesenvolvimento que atinge a região.

O semiárido carece de Políticas Públicas e Programas voltados exclusivamente

ao atendimento das necessidades de seu povo, o que implica a utilização de

instrumentos adequados à sua realidade e que considerem as suas especificidades. Os

programas identificados são quase sempre de cunho nacional ou regional (Nordeste),

contemplando o semiárido no Estado de forma estratificada, com o privilégio de um ou

outro município isoladamente. Tal diagnóstico é evidente ao se analisar os programas

executados pelas agências como o SEBRAE, o BNB, a CODEVASF, a EMBRAPA,

dentre outras.

A gravidade das dificuldades da população do semiárido não permite mais que

essa questão seja esquecida com o passar da seca, embora tal prioridade venha sendo

reafirmada inúmeras vezes no discurso político e nas mesas decisórias. O que fica claro,

nas Políticas e Programas levantados na década de 1990, é que as linhas de

desenvolvimento adotadas continuam a desconsiderar o principal objeto e fim delas: a

população.

Nesse sentido, faz-se urgente, renunciar ao discurso teórico das boas intenções,

do engano político, dos apegos a ideologias regionais. O caminho para a verdadeira

transformação social e econômica do semiárido repousa na retomada do

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desenvolvimento, confiscado por equívocos administrativos e analíticos, na reorientação

de padrões e objetivos que levem à universalização dos direitos de cidadania.

No entanto, infelizmente, a problemática do semiárido provavelmente ainda

perdurará por muito tempo, bem como as soluções imediatistas com efeitos de curto

prazo, que definitivamente não colaboram para a transformação tão necessária e

esperada da pobreza nessa região. O mito da “miséria feliz”, culturalmente disseminado

e arraigado nessa população, com profunda contextualização religiosa, atribui à

“vontade divina”, numa cultura meio calvinista e sem explicação, agregada a

autopiedade e complexo de vira-lata. Nota-se, ainda, que o “capitalismo selvagem”

também se aplica à essa situação, visto a exploração da mão de obra pelos mais forte; a

cultura do coronelismo que ainda existe em pequenas cidades, a falta de escrúpulos de

políticos corruptos, a inércia do Estado. Todos esses fatores causam o sofrimento

descomunal causado pelas desumanas condições de vida a que a população é submetida,

gerando toda uma sorte de equívocos ideológicos, que, a bem da verdade, infelizmente,

acabam favorecendo a eternização dos exaustivamente identificados problemas que

acometem o semiárido, o que dificulta, em demasia, a adoção e o sucesso de medidas

enérgicas e pontuais para se tentar resolver e/ou contornar toda essa situação de agrura,

de penúria e de ostracismo. Requer, urgente, que o Estado desempenhe o seu real papel

político, se não da forma aristotélica, pelo menos de digne a executar o valor real da

palavra política: a arte de bem servir ao povo.

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GESTÃO DA QUALIDADE: UMA ANÁLISE COMPARATIVA SOBRE

DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS ADMINISTRADORES EM

ORGANIZAÇÕES PRESTADORAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS

Erika Maria Jamir de Oliveira2

Resumo

Este trabalho foi realizado com o objetivo de compreender os desafios enfrentados pelos

administradores para o construto de uma gestão da qualidade eficaz na prestação de serviços

públicos, levando-se em consideração a elevada complexidade e criticidade da gestão de

serviços e, em maior grau, a gestão dos serviços de saúde. A pesquisa foi realizada através de

uma análise comparativa em uma unidade de Atendimento Multifuncional Especializado (AME)

em Petrolina, que presta serviços de saúde, versus o Expresso Cidadão, programa do Governo

do Estado de Pernambuco que disponibiliza serviços ao cidadão. Inicialmente, foram levantadas

informações a respeito das especificações das organizações prestadoras de serviços e

prestadoras de serviços de saúde. Após exaustiva leitura e análise acerca do tema, seis variáveis

foram escolhidas. Em seguida, foi construído um quadro para comparação dos desafios dos

administradores nas respectivas organizações. Posteriormente, foram realizadas entrevistas com

os administradores sobre as variáveis. A ferramenta utilizada foi o questionário, com seis

perguntas abertas. Os resultados obtidos permitiram traçar um perfil das características e

desafios enfrentados pelos administradores nessas organizações e possibilitaram concluir que há

diferença entre essas organizações, bem como que as organizações de saúde são muito mais

complexas e desafiantes devido à elevada personalização do output (saída) e, ainda, concluir

pela impossibilidade de controlar o lead time, mas que, apesar disso, os administradores destas

organizações são tradicionalmente destituídos do seu devido status.

Palavras-chave: organizações, serviços, saúde, gestão da qualidade.

1. Introdução

Com o advento da Era da Informação nos anos 1990, o capital financeiro cedeu o

trono para o capital intelectual, as mudanças tornaram-se extremamente mais rápidas.

Neste cenário, os líderes, a Gestão da Qualidade e suas respectivas ferramentas devem

entrar em cena para possibilitar que uma organização permaneça competitiva no

mercado. Retendo seu capital intelectual e alcançando seus objetivos continuamente.

Essa sociedade moderna oferece problemas de natureza intrinsecamente complexa,

2 Professora efetiva da Faculdade São Francisco de Juazeiro/FASJ. Colegiado de Administração.

Professora temporária da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina/FACAPE. MBA em Gestão Empresarial/ Centro Universitário Maurício de Nassau/UNINASSAU. Pós-graduanda em Gestão Pública Secretaria de Educação a Distância/UNIVASF. E-mail: [email protected].

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causados pela interação de diferentes fatores, e esses problemas aumentam, em maior ou

menor grau, o número de variáveis que os administradores devem considerar em suas

decisões. As grandes indústrias passam a dividir e até perder certo espaço para as

empresas de serviços (CHIAVENATO, 2003; MAXIMINIANO, 2002).

Simultaneamente no âmbito público, ocorre a Reforma do Estado, que foi

implementada em 1995, por meio da redefinição do papel do Estado, que deixou a

responsabilidade direta pelo desenvolvimento econômico e social pela via da produção

de bens e serviços, para tornar-se promotor e regulador do desenvolvimento. O tema

acerca da eficiência da administração pública (necessidade de reduzir custos e manter a

qualidade dos serviços) tendo o cidadão como beneficiário passou a ser primordial. A

reforma foi orientada predominantemente pelos valores da eficiência e qualidade na

prestação de serviços públicos e pelo desenvolvimento de promovendo uma cultura

gerencial nas organizações (KLERING, 2010).

Vários são os conceitos de qualidade e todos eles falam o mesmo idioma por meio

de vários dialetos, fundamenta-se na figura do cliente seja ele, interno ou externo. No

entanto, o gerenciamento eficaz da Gestão da Qualidade, retenção dos recursos

humanos, e por conseguinte o alcance dos objetivos organizacionais, só são possíveis

por meio da figura do administrador. Kotter (apud ROBBINS 2010, p. 359) conceitua

administração como o gerenciamento da complexidade.

O objetivo do estudo foi compreender quais são os principais desafios enfrentados

pelos administradores nas organizações de serviços públicos para o alcance efetivo de

uma Gestão da Qualidade, a partir da comparação do comportamento de seis variáveis

relevantes. Abiko (2011) alerta que os serviços públicos devem ser prestados ao cidadão

conforme princípios como: permanência, generalidade, eficiência, modicidade e

cortesia. E se algum desses requisitos não for observado, é dever da Administração

Pública intervir para regular o funcionamento do serviço.

Segundo Oakland (1994) qualquer tipo de organização seja um hospital, uma

universidade, um banco, uma administração municipal, uma companhia aérea, uma

fábrica, a competição está presente: por clientes, por estudantes, por pacientes, por

recursos, por fundos. Poucas pessoas ainda precisam ser convencidas de que a qualidade

é a mais importante arma para competitividade (MELLO, 2008).

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2. Organizações Prestadoras de Serviços

Antes da análise mais profunda dos desafios enfrentados pelos administradores

nas organizações prestadoras de serviços públicos, é necessária uma breve apresentação

da base teórica que norteou a abordagem da pesquisa, em seguida, analisar quais são as

diferentes dificuldades enfrentadas pelo administrador no processo de Gestão da

Qualidade em organizações que prestam serviços públicos.

As atividades características do setor de serviço são bastante heterogêneas

quanto ao porte das empresas, à remuneração e o grau de uso das tecnologias

disponíveis.

Martins e Lurengi (2006) aponta algumas das características específicas das

organizações prestadoras de serviço são:

Alto contato com o cliente: na prestação do serviço, a presença do cliente é parte

do processo. O grau de contato varia de acordo com o tipo de serviço.

Participação do cliente no processo: a participação do cliente no processo é tão

importante que sucinta um tipo específico de análise.

Altamente perecível: o serviço é altamente perecível. De modo geral deve ser

consumido na hora.

Não estocável: não se pode armazenar serviço.

Mão-de-obra intensiva: o termo serviço está intimamente ligado a pessoas. Hoje

existe um grande número de sistemas automatizados de prestação de serviços,

com a utilização crescente de máquinas e equipamentos de controle

computadorizado, mas o custo da mão de obra ainda é mais alto que os demais;

Curtos leads times: O tempo não deve ser longo, pois o cliente se cansaria;

Output variável e não padronizável: o mesmo serviço prestado por diferentes

pessoas terá uma alta variabilidade;

Intangibilidade: o serviço é um bem intangível;

Dificuldade de se medir produtividade: a medida da produtividade em serviços é

mais difícil;

Dificuldade em se medir qualidade: qualidade em serviços é altamente subjetiva;

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

31

O Expresso Cidadão é um programa do Governo do Estado de Pernambuco que

objetiva simplificar a vida do cidadão, através da disponibilização de diversos serviços

num só local, com qualidade, rapidez e eficiência. Este programa é vinculado à

Secretaria de Administração, que reúne órgãos públicos das esferas federal, estadual e

municipal, além de empresas privadas (PERNAMBUCO, 2015).

2.1. Caracterizando as Organizações de Prestação de Serviços de

Saúde

Segundo Mezomo (2001) a área de saúde no Brasil necessita de melhorias no

seu sistema, sua estrutura, em seus processos, e em seus resultados. A administração da

saúde deve ser redesenhada para alcançar a eficácia necessária. Só assim o sistema e os

serviços terão efetividade e chegarão aos resultados com eficiência, ou seja, a eficiência

visa a otimização dos recursos na consecução dos resultados e a efetividade é a medida

do nível de obtenção dos objetivos globais dos serviços de saúde.

O sistema de saúde é tido como um dos sistemas mais complexos da sociedade

contemporânea (MINTZBERG, 1994). Apesar da complexidade da função do

administrador da saúde, tem sido tradicionalmente visto como sendo de menor

importância e destituída do devido status (MEZOMO, 2001).

Mezomo (2001) explica que a administração da saúde é específica, apesar dos

aspectos comuns com outros tipos de administração e de suas relações com outros tipos

de atividades de cuidados médicos e de saúde, ela possui características que lhes são

próprias como estas:

O serviço prestado é individual, a administração e a organização devem ser

combinadas com a previsão do serviço. E os serviços devem ser adaptados às

necessidades particulares dos grupos e de seus membros.

A indústria dos cuidados médicos é a com maior profissionalização da

sociedade contemporânea. Membros de várias profissões trabalham nela, tanto

como prestadores de serviços, como diretores de instituições, agências e

programas.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

32

A saúde e o seu sistema em si, são extremamente complexos. De fato, os

usuários, os fornecedores e os vários mecanismos para colocá-los juntos

interagem através de muitos caminhos complexos.

O debate aqui sobre a organização do processo de trabalho em saúde vai tomar

como base as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), pois uma das organizações

analisada foi a AME- Petrolina PE, unidade de Atendimento Multifuncional

Especializado, que foi criada com o fim de modificar o conceito de saúde pública da

região, atendendo à comunidade local e circunvizinha com serviços básicos (MOURA,

2014).

O artigo 196 da Constituição Federal estabeleceu que a saúde é direito de todos e

dever do Estado, estabelece ainda que, a Política Nacional de Atenção Básica, deve ser

executada em todos os municípios do Brasil garantindo o direito à saúde dos cidadãos, e

ainda que a Estratégia de Saúde da Família deve representar avanço na extensão da

cobertura da atenção primária. Todos os esforços e forças sociais foram mobilizados

para aumentar a destinação de recursos financeiros para a Atenção Básica,

especialmente nas esferas Federal e Estadual. As três esferas precisam garantir que a

Rede de Atenção Básica, seja a porta de entrada do SUS, com agenda aberta e

acolhimento humanizado nas unidades básicas de saúde, prestando atenção integral,

igualitária, resolutiva e multiprofissional, assim, garantindo cuidado ao usuário nos

diferentes serviços (BRASIL, 2011).

2.2. Certificações da Gestão da Qualidade

Chiavenato (2003) conceitua a Qualidade como o atendimento das exigências dos

clientes. Juran (2009) define o cliente como: qualquer pessoa que seja impactada pelo

produto ou processo, externo ou interno. Os clientes externos são aqueles que compram

o produto, os departamentos reguladores do governo e o público. Os clientes internos

costumam ser chamados de “clientes”, a despeito do fato de não o serem no sentido

estrito da palavra.

Segundo Mezomo (2001) qualidade deve ser entendida como uma extensão da

própria missão da organização, que é a de “atender e exceder as necessidades e

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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expectativas de seus clientes”. Assim, entendemos a qualidade como sendo um conjunto

de propriedades de um serviço (produto) que o tornam adequado à missão de uma

organização (empresa) concebida como resposta às necessidades e legítimas

expectativas de seus clientes.

Definir qualidade de modo que seja útil em sua administração, é fundamental incluir

na sua avaliação as verdadeiras exigências do cliente, as suas necessidades e

expectativas (OAKLAND, 1994). No fundo, os inúmeros conceitos de qualidade falam

o mesmo idioma por meio de vários dialetos. Por trás de todos os conceitos de

qualidade está a figura do cliente interno e externo.

Segundo Maximiano (2002) enfoque da qualidade surgiu para resolver, a princípio,

o problema da uniformidade. O crescimento da produção em massa, que utiliza e produz

grandes quantidades de peças virtualmente idênticas, inspirou os estudos da qualidade

industrial, para os engenheiros e industriais do início do século XX, qualidade era

uniformidade ou padronização. Da busca de soluções para o problema da uniformidade

exigida pela fabricação massificada nasceu o controle estatístico da qualidade. Passou

por diversos estágios, até chegar à administração da qualidade total da atualidade

É pouco provável que uma empresa sobreviva hoje com clientes insatisfeitos. Para

reter os clientes e mantê-los satisfeitos, é necessário atender aos requisitos. A ISO 9000

é um sistema elaborado e testado por especialistas de todo o mundo para gerenciar a

empresa com o objetivo de atender às especificações e expectativas dos clientes

(MARTINS; LURENGI 2006).

As normas ISO 9000 (2000) e ISO 9004 (2000) apresentam oito princípios de gestão

da qualidade. Segundo a ABNT/CB-25 (2000), um princípio de gestão da qualidade é

considerado uma regra abrangente o suficiente para conduzir e operar uma organização,

buscando melhoria contínua no seu desempenho em longo prazo, com foco nos clientes,

e cuidando das necessidades de todas as partes interessadas (MELLO, 2008).

Segundo Maximiano (2002) a qualidade é problema de todos e envolve todos os

aspectos da operação da empresa. A qualidade exige visão sistêmica, para integrar ações

das pessoas, máquinas, informações e todos os outros recursos envolvidos na

administração da qualidade. Essa ideia implica a existência de um sistema da qualidade.

Oakland (1994) enfatiza que para alcançar a eficácia e eficiência na empresa, o

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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gerenciamento da qualidade total deve ser de fato aplicado em todas as áreas e começar

no topo, com o diretor executivo ou seu equivalente. Os diretores e gerentes do mais

alto nível devem demonstrar que levam a qualidade a sério.

Ao aplicar os oito princípios da gestão da qualidade, as organizações produzirão

benefícios para a sociedade em geral. De acordo com a ABNT/CB-25,0 (2000) os oito

princípios da gestão da qualidade são: foco no cliente, liderança, envolvimento das

pessoas, abordagem de processo, abordagem sistêmica para a gestão, melhoria contínua,

abordagem factual para a tomada de decisão e benefícios mútuos nas relações com os

fornecedores (MELLO, 2008).

2.3.1 Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção

Básica

Devido ao elevado alcance de uma cobertura, a questão da qualidade da gestão e das

práticas das equipes de Atenção Básica assume relevância na agenda dos gestores do

Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde propôs algumas iniciativas na

qualificação da Atenção Básica e, entre elas, pode-se destacar o Programa Nacional de

Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) (BRASIL, 2012).

O Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade instituído em 2011,

foi produto de um processo de negociação entre as três esferas de gestão do SUS,

formulou-se soluções para viabilizar um desenho do programa para permitir a

ampliação do acesso e melhoria da qualidade da atenção básica em todo o Brasil.

Visando garantir de um padrão de qualidade comparável nacional, regional e

localmente, e ainda, maior transparência e efetividade das ações governamentais

remetidas à AB em Saúde (BRASIL, 2012).

2.3. Conceito e Papel da Liderança na Implementação de Processos de

Mudança

Maximiano (2002) argumenta que a liderança é o processo de conduzir as ações ou

influenciar o comportamento e a mentalidade de pessoas. Maximiano diferencia a

autoridade formal da liderança, o gerente, em uma organização formal, ocupa uma

posição numa hierarquia regida por normas impessoais como mostra o quadro 1.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

35

Quadro 1. Diferenças entre autoridade formal e liderança.

AUTORIDADE FORMAL LIDERANÇA

Fundamenta-se em leis aceitas de comum

acordo, que criam figuras de autoridade

dotadas de poder de comando.

Fundamenta-se na crença dos seguidores a

respeito das qualidades do líder e de seu

interesse em segui-lo.

O seguidor obedece à lei incorporada na

figura de autoridade, não à pessoa que

ocupa o cargo.

O seguidor obedece ao líder e à missão

que ele representa.

A lei é instrumento para possibilitar a

convivência social.

O líder é instrumento para resolver

problemas da comunidade.

A autoridade formal é limitada no tempo e

no espaço geográfico, social ou

organizacional. Os limites definem a

jurisdição da autoridade.

A liderança é limitada ao grupo que

acredita no líder ou precisa dele. Os

limites da liderança definem a área de

influência do líder.

A autoridade formal é temporária para a

pessoa que desempenha o papel de figura

de autoridade.

A liderança tem a duração da utilidade do

líder para o grupo de seguidores.

A autoridade formal inclui o poder de

forçar a obediência das regras aceitas para

a convivência.

Os líderes têm o poder representado pela

massa que os segue.

A autoridade formal é atributo singular. A liderança é produto de inúmeros fatores.

Não é qualidade pessoal singular.

Fonte: MAXIMIANO, 2002 p. 304

Para Petracca (1992 apud MAXIMIANO 2003, p. 308) “Líderes

são os que, em um grupo, ocupam uma posição de líder, que têm

condições de influenciar, de forma determinante, todas as

decisões de caráter estratégico. O poder é exercido ativamente e

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

36

encontra legitimação na correspondência com a expectativa do

grupo”.

Kotter (apud ROBBINS 2010, p. 359) diz que administração diz respeito ao

gerenciamento da complexidade, a liderança, por sua vez, ao gerenciamento da

mudança. O líder é visionário sabe ir além do presente e se antecipa ao futuro. Não

precisa controlar, motiva as pessoas por sua postura e seu exemplo, entusiasma a

elevação da produtividade. Respeita as pessoas e os seus sentimentos, é um agente de

mudança e está sempre comprometido com o melhor, não tem medo do crescimento das

pessoas e procura estimulá-lo, defende seus funcionários e colaboradores e educa

continuamente (MEZOMO, 2001).

A liderança eficaz, junto com o gerenciamento da qualidade, leva à organização

a fazer as coisas certas, de modo correto na primeira vez (OAKLAND, 1994). Robbins

(2010) conceitua a liderança como a capacidade do indivíduo em influenciar um

conjunto de pessoas para alcançar metas e objetivos. Os líderes são os responsáveis por

estabelecer uma unidade de propósitos e o rumo da organização. Eles devem criar e

manter um ambiente interno, no qual as pessoas possam estar totalmente envolvidas no

propósito de atingir os objetivos da organização (MELLO, 2008).

Para Oakland (1994) há cinco requisitos para uma liderança eficaz são:

1. Desenvolver e publicar a crença e os objetivos da organização- sua missão;

2. Desenvolvimento de estratégias claras e eficazes e planos de apoio para

realizar a missão e atingir os objetivos.

3. Identificação dos fatores de sucesso e dos processos críticos.

4. Revisão da estrutura gerencial: Tendo sido definidas as estratégias e

objetivos da organização, pode se tornar necessário revisar a estrutura

organizacional.

5. Delegação de autoridade: É necessário que a gerência trabalhe bem próximo

dos empregados, desenvolvendo comunicações efetivas para o alto e para

baixo e através da organização.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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3. Metodologia

Inicialmente foi realizada uma leitura, análise e interpretação da literatura, para,

então definir as seis variáveis utilizadas na pesquisa, como critério de seleção

considerou-se a relevância e criticidade das variáveis para efetiva Gestão da Qualidade

nas organizações. As seis variáveis selecionadas foram (hierarquia, processo de

elaboração dos objetivos, avaliação da produção e da qualidade, leads times, output,

estudos e práticas da Gestão da Qualidade).

Em seguida buscando compreender os desafios dos administradores para

implementação e gerenciamento da qualidade nas organizações, elaborou-se um quadro

comparativo com sete variáveis analisando como se comporta uma organização de

serviço com uma organização dos serviços de saúde e almejou-se chegar a uma

conclusão sobre os desafios da administração para uma efetiva mudança organizacional

para a qualidade. O tipo de pesquisa utilizado foi a descritiva qualitativa que Bertucci

(2012, p. 50) afirma que têm como objetivo descrever as características de determinada

população ou fenômeno e a técnica foi a pesquisa documental, por meio de livros e

artigos de autores renomados.

Depois de elencadas em um quadro, foi possível perceber que apenas a pesquisa

bibliográfica não era o suficiente para explicar e compreender dimensões de tamanha

complexidade. Então, na busca incansável por respostas realizou-se entrevistas com os

administradores de duas organizações públicas prestadoras de serviço públicos.

Continuando a ideia central da comparação escolheu-se como amostra uma prestadora

de serviços de saúde, a AME Atendimento Multifuncional Especializado e o Expresso

Cidadão um Programa do Governo do Estado que presta serviços de atendimento ao

cidadão, e por meio de um questionário com seis questões, tentou-se entender como

essas variáveis se comportam nas duas organizações.

4. Analise dos Resultados

Foram analisadas como as variáveis se comportam para organizações que estão em

busca de uma efetiva Gestão da Qualidade, confrontaram-se os desafios dos

administradores numa empresa prestadora de serviços e numa que presta de serviços de

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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saúde e por fim tenta-se, então, chegar a uma conclusão de quais são os desafios do líder

especificamente no âmbito da saúde, como pode ser visto no Quadro 2.

Quadro 2.

Variáveis de

análise

Organização de serviço Organização de serviço de

saúde

Desafios do administrador

Hierarquia O Diretor Executivo de uma

organização deve aceitar a

responsabilidade e o

comprometimento com uma

política da qualidade, na qual ele

realmente acredita (OAKLAND,

1994).

Duas linhas de comando

com lógica, valores e

interesses diferentes

(MINTZBERG, 1989).

Ao contrário do que ocorre

em organizações de

serviço comuns em que há

apenas uma linha de

comando, com objetivos

claros, em algumas

organizações de saúde o

administrador terá que

negociar, com grupos de

diferentes interesses.

Processo de

elaboração dos

objetivos

Os executivos devem expressar

valores, crenças e objetivos por

meio de uma visão clara, se

constituem um elemento essencial

de união, para diretores, gerentes

e empregados

(OAKLAND, 1994).

O diretor e o administrador,

cabe a criação da visão e a

estratégia a ser seguida pela

organização (MEZOMO,

2001).

A definição dos objetivos

nas organizações deve ser

elaborada pela alta direção

e os administradores

devem ser o promotor da

mudança.

Avaliação da

produção e da

qualidade

A qualidade em serviços é

altamente subjetiva (MARTINS;

LURENGI 2006).

A necessidade de avaliar

qualitativamente e

efetivamente

(MEZOMO, 2001).

Nas organizações de

serviço a produção e a

qualidade são mais

complexas.

Leads times O tempo não pode ser longo, pois

o cliente se cansaria (MARTINS;

LURENGI 2006).

As cirurgias complicadas

podem durar horas

(MARTINS; LURENGI

2006).

Nas organizações de

serviço comum se busca

leads times curtos, já nas

organizações de saúde o

administrador não pode

prever o lead time.

Output

variável e não

padronizável

É muito difícil obter a

padronização quando se trata de

pessoas (MARTINS; LURENGI

2006).

Os serviços prestados são

altamente personalizados.

(DAFT, 1999; MEZOMO,

2001)

Em organizações que

prestam serviços é muito

difícil padronizar o output,

em organizações que

prestam serviço de saúde é

impossível.

Estudos e

práticas da

Gestão da

Qualidade

Com a globalização a gestão da

qualidade tornou-se essencial

para as organizações e os líderes

(MELLO, 2008)

A área da saúde ainda não

foi “contaminada” pelo

“vírus” da qualidade

(MEZOMO, 2001)

Os estudos da gestão da

qualidade na saúde ainda

se encontram incipientes e

prematuros, pouco se

divulga evidências das

melhores práticas.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

39

Em seguida foi realizada as entrevistas a respeito das variáveis previamente

estabelecidas, que revelaram informações relevantes, e ainda, algumas foram

contraditórias ao que foi encontrado na pesquisa bibliográfica. Inicialmente procurou-se

entender como estava organizada a estrutura hierárquica das organizações, a

administradora relatou que:

“Cada AME tem um gestor, no total são 12 unidades, mas há

também um coordenador geral e a diretoria de Atenção Básica.

O administrador é o responsável por todo o trabalho da AME,

mas quando o assunto é sobre saúde, a decisão é tomada em

conjunto com a Equipe Multidisciplinar, no total são 4 equipes

de Saúde da Família”.

O administrador do Expresso cidadão explicou sobre sua estrutura hierárquica da

seguinte forma, “há uma gerência em Recife, e um administrador em cada unidade, mas

dentro do Expresso Cidadão atuam 11 órgãos e cada órgão têm um supervisor”.

A segunda questão buscou compreender como funciona o processo de elaboração

dos objetivos, a administradora da AME “a secretaria de saúde determina os objetivos,

mas cada administradora tem seu jeito de trabalhar, o objetivo para todas as unidades é

o mesmo: atendimento de qualidade, mas cada unidade com sua particularidade”. O

administrador do Expresso Cidadão alegou que “é a gerência geral de atendimento ao

cidadão a responsável pela elaboração dos objetivos, nós aqui, apenas executamos”. Em

seguida procurou-se entender como é feita a avaliação da produção e da qualidade, a

administradora da AME disse que:

“Mensalmente é passado para Secretaria de Saúde a quantidade

de atendimentos realizados, inclusive, a respeito das

dificuldades nos atendimentos para que possam assim ser

resolvido. O controle da Qualidade também é realizado pelo

PMAQ, a unidade faz parte do programa e uma vez ao ano

recebem notas a respeito dos serviços, o que possibilita saber

quais são as deficiências e assim poder melhorar”.

Ainda sobre avaliação da produção e da qualidade o administrador do Expresso

Cidadão afirma que “a avaliação da produção é feita mensalmente por meio de análises

estatísticas”.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

40

A quarta questão vislumbrou compreender como funciona o controle dos leads

Times nas organizações, segundo a administradora da AME “não existe esse controle. A

respeito disso, apenas limitamos a quantidade de pacientes no turno por médico. Por

exemplo, o clínico atende 20 pessoas por turno e o dentista atende 10 pacientes por

turno”. Ao contrário do que ocorre na AME, o administrador do Expresso Cidadão diz

que “os supervisores de cada órgão controlam o tempo de atendimento, há certo cuidado

também em padronizar o tempo de atendimento dos servidores”. Sobre o output, é

possível verificar a disparidade do que ocorre nas organizações, pois para a

administradora da AME “o output é totalmente personalizado, cada um com suas

necessidades, por exemplo, o paciente pode passar no clínico apenas para trocar a

receita ou pode estar com dor nas costas e precisar ser encaminhado para um

especialista”. Entretanto, no Expresso Cidadão, o administrador diz que “há uma

tentativa de padronizar o output, para necessidades iguais, atendimento igual”.

A última questão tratou sobre as práticas da Gestão da Qualidade, e pôde-se

perceber enorme diferença nas organizações, na AME:

“Além do PMAQ que é realizado anualmente e do

acompanhamento da Secretaria de Saúde de Petrolina mensal,

enxergo Qualidade na forma de administrar, pois sempre escuto

o paciente, eles não saem daqui sem resposta e também realizo

acompanhamento posterior a sua alta”.

No Expresso Cidadão, as práticas da Gestão da Qualidade “por meio de reuniões,

que são realizadas a cada 2 meses, e os pontos de discussão são as reclamações e

sugestões dos servidores e dos “requerentes” (o cidadão)”.

5. Conclusão

O cenário atual de problemas extremamente complexos, concorrência e a

importância das pessoas remete a atenção das organizações públicas e privadas para

implementar os fundamentos da Gestão da Qualidade e gerenciar aplicando tais

fundamentos. Enfatizar, aqui, a figura do administrador é fundamental, tendo em vista

que é ele que conduz a organização. Através da leitura da literatura disponível acerca

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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dos temas propostos, foram escolhidas seis variáveis relevantes para organizações

prestadoras de serviço e, especificamente, organizações que prestam serviços de saúde

para implantação da Gestão da Qualidade. Em seguida, elaborou-se um quadro

comparativo para identificar os desafios enfrentados pelos administradores das

organizações para implementação da Gestão da Qualidade. O tipo de pesquisa utilizado

foi descritiva qualitativa, que objetiva descrever determinadas características ou

fenômenos de determinada população, e a técnica empregada foi a pesquisa

bibliográfica.

Posteriormente, foram realizadas entrevistas com os gestores de duas organizações

prestadoras de serviços públicos com perfis diferentes, seguindo a proposta inicial de

comparar desafios. Pôde-se perceber, através da comparação do comportamento das

variáveis, que algumas respostas foram semelhantes às encontradas na pesquisa

bibliográfica, como a impossibilidade de controlar o lead time e a elevada

personalização do output nas organizações de saúde. No entanto, as variáveis

“hierarquia” e “estudos e práticas da Gestão da Qualidade" se comportaram muito

diferente do que foi esperado, pois não há duas linhas de comando na AME e porque os

Estudos e práticas da Gestão da Qualidade se mostraram bem mais avançados na

organização que presta serviços de saúde do que no Expresso Cidadão, o exemplo disso

é o PMAQ.

A presente pesquisa partiu do pressuposto de que os serviços de saúde precisam

melhorar, não apenas por uma questão econômico-financeira, e sim por uma questão de

ética. Essa pesquisa se constitui em um ponto de partida para uma análise mais

profunda, pois ainda há inquietações acerca da qualidade dos serviços de saúde.

6. Referências

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44

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A ESCOLA: AINDA UM DESAFIO

Mauricio Teixeira dos Reis3

RESUMO

O presente trabalho tem o objetivo fazer uma análise sobre a importância de se trabalhar

Educação Ambiental nas escolas. A Educação Ambiental na escola significa ampliar o

entendimento a cerca do que é o ambiente e como o homem está inserido nele. Com

base nos princípios e na metodologia que envolve a comunidade escolar na defesa do

meio ambiente, com realização de ação educativa permanente de forma efetiva para a

melhoria de qualidade de vida, com ângulo na formação continuada e a prática

pedagógica, frente a toda sua extensão. O método aplicado caracteriza-se como um

artigo de revisão literária, onde a Educação Ambiental faz-se necessário desenvolver a

criança, desde cedo aprender cuidar da natureza, no seio familiar e na escola e que se

deve iniciar a conscientização ecológica em cada educando no cuidado com o meio

ambiente, é importante, no sentido de promover a articulação das ações educativas

voltadas às atividades de proteção, recuperação e melhoria socioambiental, e de

potencializar a função da educação para as mudanças culturais e sociais, que se insere a

educação ambiental. Como também cabe destacar a importância de se trabalhar a

interdisciplinaridade em todas as etapas e modalidades da Educação Básica, vale

também ressaltar a relevância e complexidade da transdisciplinariedade em todo o

contexto da educação.

Palavras-chave: Educação Ambiental; Defesa; Alfabetização Ecológica.

Introdução

Conforme as referências dadas pela Constituição Federal (CF), de 1988, no

artigo 225, tratam da Educação Ambiental (EA) no Brasil, onde determina que o Poder

Público deva a promover. Ao citar que “todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade

de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-

lo para os presentes e futuras gerações” (BRASIL, 2012).

Neste mesmo processo, a Educação para cidadania, onde o artigo 205 da

Constituição Federal de 1988 informa que “a educação, direito de todos e dever do

estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,

3 Licenciado em Pedagogia pela Faculdade Integrada do Brasil – FAIBRA, Mestrando em

Educação – Anne Sullivan University. E-mail: [email protected]

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

45

visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania, e sua

qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988). A Educação Ambiental traz relações ao

seu conteúdo e sua importância na educação formal, a política nacional de Educação

Ambiental da lei n° 9.795/99, bem como das diretrizes Curriculares de Educação

Ambiental. Por meio dela foi estabelecida a obrigatoriedade de Educação Ambiental

continuada, em todos os níveis do ensino formal na educação Brasileira (BRASIL,

1999). Ainda complementa a ideia o artigo 3°, inciso II, onde traz “instituições

educativas promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas

educacionais que desenvolvem” (BRASIL, 1999).

Nesse sentido, a Lei nº. 9.795/99, que dispõe especificamente sobre a Educação

Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). No entanto

com o desenvolvimento de uma teoria pedagógico e apresenta um modelo de

desenvolvimento simplesmente propõe que devemos aprender a viver dentro dos nossos

mecanismos, além de auxilia a transformar cada um de nós, e, assim, nós podemos

transformar nossas realidades. Porém, um componente essencial e permanente da

educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e

modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.

Ao analisar a formação dessa relação, da Educação Ambiental, Segundo Lima

(2004), diante deste processo, cabe à escola dar o primeiro passo para estabelecer

conexões e informação, capaz de criar um ambiente de disseminações e alternativas que

estimulem os alunos a terem concepções e posturas cidadão cientes de suas

responsabilidades e, principalmente, perceberem-se como integrantes do meio ambiente,

com o desenvolvimento de valores e atitudes comprometidos com a sustentabilidade

ecológica e social. No entanto para (Vieira & Fontan, 2011, p. 24) as conexões e

informação se encontra na zona de aproximação de informação a comunidade na

formação continuada, principalmente na universidade onde se pode desempenhar papel

importante na medida em que tem a possibilidade de oferecer subsídios relevantes para

transformações em grande escala nos padrões culturais dominantes. (Freire, 1996)

explica que na educação se busca a capacidade de assumir uma presença consciente no

mundo, efetivada por meio do conhecimento.

Segundo a UNESCO (2005), a Educação Ambiental deve continuar fazendo

parte do dia-a-dia, como é uma disciplina bem estabelecida que enfatize a relação dos

homens com o ambiente natural, as formas de conservá-lo, preserva-lo e de administrar

seus recursos adequadamente.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

46

A partir destas considerações, vislumbra-se na Educação Ambiental, destacar

os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) afirma que a Educação Ambiental deve

ser trabalhada na escola não por exigência, mas sendo necessário desfragmentar os

conteúdos e reunir as informações dentre do mesmo contexto, nas varias disciplinas.

Portanto, neste artigo tem por finalidades discutir reflexões sobre o

desenvolvimento da consciência ecológica na formação, de forma permanente e

continuada para todos. Uma educação que possibilitem o respeito à diversidade,

colocados sobre a formação.

A Importância da Educação Ambiental nas Escolas

Segundo (Polli e Signorini, 2012, p. 100) mostra posicionamento claro e

contundente, ao discutir a Educadora Ambiental, onde considera uma forma abrangente

de educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, através de um processo

pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma consciência

crítica sobre as problemáticas ambientais, compreendendo-se a capacidade de captar a

gênese, a evolução, e os processos de reversão de tais danos ao meio ambiente.

Na visão de (Pontalti, 2005) a Educação Ambiental constitui-se na mais

poderosa de todas as ferramentas, a escola é o espaço social e o local onde o aluno dará

sequência ao seu processo de socialização, iniciado em casa, com seus familiares. Desse

modo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’s amplia a preocupação em

relacionar a educação com a vida do aluno, em seu meio, sua comunidade, não é

novidade. Ela vem crescendo construtivamente nos sistemas de ensino especialmente

desde a década de 60 no Brasil. Porém, Um importante passo foi dado com a

Constituição Federal de 1988, quando a Educação Ambiental se tornou exigência a ser

garantida pelos governos federal, estaduais e municipais (artigo 225, § 1º, VI)

(BRASIL, 1998).

Segundo a Embrapa (2008) A Educação Ambiental tem um proposito principal

estimular a criação de culturas e quebras de paradigmas individualmente e

coletivamente, que consiste em contribuir para a compreensão da complexidade do

ambiente em suas dimensões ecológicas, econômicas, sociais, culturais, políticas, éticas

e tecnológicas.

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, em

seu Artigo 2° a lei dispõe que “[...] uma dimensão da educação, é atividade intencional

da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

47

em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar

essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética

ambiental” (BRASIL, 2002).

Analisando os princípios e objetivos das Diretrizes Nacionais Curriculares de

Educação Ambiental que os norteiam, os capítulos, I e II que dispõe a lei n° 9.795, de

1999. De acordo com Adams (2012) citado por Beserra (2015, p. 9), destaca que os

princípios delimitados como norteadores das práticas de Educação Ambiental devem ser

bem compreendidos pelo corpo docente para que seja possível alcançar os objetivos da

Educação Ambiental como amplos abrangentes e remetem para uma educação voltada

para o desenvolvimento do senso crítico em que vivemos relacionando aspectos

socioambientais e cidadania.

A Lei da Política Nacional, nº. 9.795, de 27 de abril de 1999, dispõe sobre a

educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras

providências.

Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio

dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,

conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a

conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial

à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e pertinente

da educação nacional e devendo estar presente, de forma articulada,

em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em carácter

formal e não formal. (BRASIL, 1999).

Art. 10º A educação ambiental será desenvolvida como uma prática

educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e

modalidades de ensino formal. (BRASIL, 1999).

Ao analisar com cuidado os princípios e objetivos insculpidos respectivamente

nos artigos 4º e 5º da Lei 9.795/99. Verifica-se de forma inquestionável o seu caráter

participativo, bem como de suas práticas, seus objetivos e suas potencialidades, desde

os anos iniciais, pois é nesta faixa etária que estamos formando o caráter do cidadão,

seja no âmbito social ou ambiental. Porém, necessário da definição do conceito da

Educação Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ALGUNS CONCEITOS

A transversalidade da questão ambiental é justificada pelo fato de que seus

conteúdos, de caráter tanto conceituais como procedimentais e também atitudinais que

formam campos com determinadas características em comum, podem ser abordados a

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

48

partir de uma multiplicidade de áreas; envolvem fundamentalmente procedimentos e

atitudes, buscando uma transformação dos conceitos e valores e a inclusão de uma

metodologia vinculada à realidade cotidiana da sociedade. (BRASIL. 2001b).

Segundo Paul (2011) a transdisciplinaridade, por sua vez, vai mais além ao

tentar articular uma nova compreensão da realidade entre e para além das disciplinas

especializadas, ou seja, ir além de uma forma de conhecimento já estabelecida.

Podemos perceber que a educação libertadora, de (Freire, 2013, p. 94) faz

referência as práticas educativas socioambiental quando o autor faz abrangência da

“problematizadora”, já que não pode ser o ato de depositar, ou de narrar, ou de

transferir, ou de transmitir “conhecimento” e valores aos educandos, meros pacientes, à

maneira da educação “bancária”, mas um ato cognoscente. [...] a educação

problematizadora coloca, desde logo, a exigência da superação da contradição

educador-educandos.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) destacam que é necessário

eleger a cidadania como eixo vertebrado da educação escolar, implica colocar-se

explicitamente contra valores e práticas sociais que desrespeitem aqueles princípios,

comprometendo-se com as perspectivas e as decisões que os favoreçam (BRASIL.

2001). Porem para (Campiani, 2001, p. 94) é pouco clara a definição do conceito de

transversalidade, suas implantações nas práticas pedagógicas precisam ser elucidadas.

Para o autor a capacitação de atores transformadores (educadores) a serem incorporados

novos conceitos e metodologias, e ir ao encontro da realidade socioambiental, ao

depreender de modos antigos e propor novas mudanças com quebras de paradigmas

sociais, para um olhar educativo ambientais nas escolas.

Para que a transversalidade seja de fato efetivada na pratica pedagógica,

Oliveira (2000) objetiva assegurar o contínuo processo de socialização e ajustamento

dos novos indivíduos à sociedade e ao mesmo tempo os desenvolver a educação é uma

das atividades básicas de todas as sociedades humanas, pois a sobrevivência de qualquer

sociedade depende da transmissão de sua herança cultural aos jovens. “Se a educação

sozinha não transforma a sociedade sem ela tampouco a sociedade muda” (FREIRE,

2000, p. 67).

Segundo Morim (1996) a transdisciplinariedade e vista com relevância e

complexidade para se lidar com a educação ambiental. E dentro desta moldura

ecológico emerge como foco de interesse no mundo da educação formal, que atuam de

forma interdisciplinar com enfoque sistêmico e global das realidades para identificar

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

49

projetos locais, que promovam um modo de conhecimento capaz de aprender os objetos

em seu contexto, complexidade e conjunto.

De acordo com (Leff, 2000, p. 22) apresenta como um tema transversal no

currículo, a interdisciplinaridade implica assim um processo de inter-relação de

processos, conhecimentos e práticas que transborda e transcende o campo da pesquisa e

do ensino no que se refere estritamente às disciplinas científicas e suas possíveis

articulações.

Portanto, é possível perceber, através do que foi exposto, que a Educação

Ambiental apresenta-se como uma temática na educação, que vieram somar-se ainda

outros aspectos para a discussão sobre inter e transdisciplinaridade, possível para mudar

atitudes, centrada no processo de aprendizagem do conhecimento, construindo e

reconstruindo continuamente a essência da educação para a cidadania. Contudo

centrado nos Parâmetros Curriculares Nacionais veio a estimular o engajamento da

escola, e, assim, interligam e se relacionam com a realidade na comunidade na qual o

aluno esta inserido.

O enfoque interdisciplinar, presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais para

a Educação Básica em todas as suas etapas e modalidades reconhecem a relevância e a

obrigatoriedade da Educação Ambiental. No entanto, o atributo “ambiental” na

Educação Ambiental brasileira não é empregado para especificar um tipo de educação,

mas se constitui em elemento estruturante que demarca um campo político de valores e

práticas, mobilizando atores sociais comprometidos com a prática político-pedagógica

transformadoras e emancipatória capaz de promover à ética e a cidadania ambiental,

buscando de fato um desenvolvimento mais sustentável (BRASIL, 2012).

Segundo o capítulo 36 da Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, uma das bases para a ação exigida no ensino do

desenvolvimento sustentável, no entanto, o ensino tem fundamental importância na

promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo para

abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento. Assim, é

inclusive o ensino formal, a consciência pública e o treinamento

devem ser reconhecidos como um processo pelo qual os seres

humanos e as sociedades podem desenvolver plenamente suas

potencialidades. [...] que o ensino básico sirva de fundamento para o

ensino em matéria de ambiente e desenvolvimento, este último deve

ser incorporado como parte essencial do aprendizado (CNUMAD,

2014, p. 2).

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

50

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável -

Rio+20, traz os posicionamentos em que se deve buscar a ampliação do acesso em todas

as esferas, da pré-escola à pós-graduação, é necessária a promoção de práticas

educacionais que contribuam para a mudança dos padrões de interação com o meio

ambiente, que faz referencia, a crise global é também uma crise da educação – assumida

como educação ao longo da vida – de seu conteúdo e sentido, pois há deixado

gradualmente de conceber-se como um direito humano e se tem convertido no meio

privilegiado para satisfazer as necessidades dos mercados, demandantes de mão-de-obra

para a produção e consumo (CNUMAD, 2012).

A partir deste entendimento, de uma educação para o desenvolvimento

sustentável, por diversas culturas, no momento em que conhecimentos são propagados

com o fim de despertar no educando, o exercício da cidadania sobre o desenvolvimento

sustentável e, portanto, num contexto sociocultural muito diverso daquele que originou

o atributo ambiental para a EA. Para tanto é importante o fortalecimento do fator

educacional como ferramenta para o desenvolvimento da conscientização das questões

ambientais.

Neste contexto, Silva (2008) defende a EA a partir do campo social e propõe a

ação educativa continuada permanente pode mediar a transformação de estilos de vida e

fomentar uma revisão dos costumes, da mentalidade e das práticas em relação ao

ambiente. Mais que isso, pode inaugurar um processo permanente de reflexão da

sociedade sobre seus fundamentos e sobre sua ação, com vistas à busca de saídas

alternativas, responsáveis e sustentáveis de apropriação da natureza. E, ainda, com

vistas à revisão da relação dos homens com suas alteridades humanas e não humanas.

De acordo com Guimarães (2007), citado por (GRZEBIELUKA, KUBIAK E

SCHILLER, 2014, p. 3885) a educação ambiental como um todo se apresenta como

uma dimensão do processo educativo voltada para a participação de seus atores,

educando e educadores, na construção de um novo paradigma que contemple as

aspirações populares de melhor qualidade de vida socioeconômica e um mundo

ambientalmente sadio. Aspectos esses que são intrinsecamente complementares;

integrando assim Educação Ambiental e educação popular.

Segundo (CARVALHO, 2004, p. 18) o trabalho educacional é componente

essenciais, necessário e de caráter emergencial, onde o mesmo consiga compreender as

relações sociedade-natureza e intervir sobre os problemas e conflitos ambientais.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

51

Segundo Sato (2003, p. 25),

Há diferentes formas de incluir a temática ambiental nos currículos

escolares, como atividades artísticas, experiências práticas, atividades

fora da sala de aula, produção de materiais locais, projetos ou

qualquer outra atividade que conduza os alunos a serem reconhecidos

como agentes ativos no processo que norteia a política ambientalista.

Seguindo as definições de Sato, onde assegura todas as ações e impulsiona os aspectos

físicos, biológicos, sociais e culturais dos seres humanos. Ainda Sato (2002) sustenta

que o processo pedagógico sob diferentes formas, ainda complementa uns com os

outros de diferentes formas de incluir a temática ambiental nos currículos escolares,

como atividades artísticas, experiências práticas, atividades fora de sala de aula,

produção de materiais locais, projetos ou qualquer outra atividade que conduza os

alunos a serem reconhecidos como agentes ativos no processo que norteia a política

ambientalista. Cabe aos professores, por intermédio de prática interdisciplinar,

proporem novas metodologias que favoreçam a implementação da Educação Ambiental,

sempre considerando o ambiente imediato, relacionado a exemplos de problemas

atualizados.

A Educação Ambiental tem inúmeras responsabilidades sendo elas voltadas

para a aquisição de conhecimento dos indivíduos, ela tem como principal função

sensibilizar e capacitar os alunos para as tomadas de decisões, que, portanto, devem ser

conscientes e praticas (CARVALHO, 2006).

Nesta perspectiva, um dos aspectos centrais da Educação Ambiental é a

vinculação entre o desenvolvimento social e a educação. No entanto, o progresso da

sociedade está ligado a uma função importante que é “educação” e liberdade de cada

indivíduo. Para tanto é importante preparar os homens para desempenhar os diferentes e

harmônicos papéis sociais, que serão responsáveis e multiplicadores de Educação

Ambiental no futuro, como também à educação no meio ambiente e educação para o

ambiente.

Considerações finais

Dentro do escopo deste trabalho, é possível chegar à conclusão de que é

preciso desenvolver no ser humano a consciência sobre o meio ambiente. A Educação

Ambiental ainda hoje, convive com diferentes abordagens teóricas. Com base no

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

52

exercício de sua cidadania é que a Educação Ambiental faz-se presente nos conteúdos

curriculares, sendo que a participação da sociedade é fundamental para dar lugar às

futuras gerações.

Pela educação, não há como si pensar em uma Educação Ambiental sem ter

uma escola sustentável do ponto de vista socioambiental sem mudança de paradigmas

na própria escola, mas, principalmente, em cada pessoa q compõe a comunidade

escolar. Toda educação é de grade importância para o desenvolvimento do ser humano,

sendo que, a Educação Ambiental necessita de novos olhares que possam propiciar

novos hábitos sociais, com cabeças velhas e não apenas politicas públicas.

Explicitados alguns dos fundamentos à ambientalização da escola e da

sociedade, precisa atuar de forma transversal, isto é perpetuado todas as áreas do

conhecimento e atingir indistintamente todos os públicos, visando à sustentabilidade,

como princípio educativo e por centrar-se na ideia da participação dos indivíduos em

seus diferentes níveis. No entanto, para fazer acontecer a prática da interdisciplinaridade

e, para além dela na perspectiva transversal e transdisciplinar da educação, que seja

parte de um processo permanente de aprendizagem, assim a formar cidadão

comprometidos com o meio ambiente.

Portanto, cabe a nós, refletir verdadeiramente sobre como fazê-lo, trabalhar

para que as iniciativas no campo das políticas públicas possam garantir melhorias no

processo educativo.

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Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

55

A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA FORMAÇÃO ESCOLAR DO FILHO

Lindomar Nunes do Nascimento4

Resumo

O presente trabalho faz uma abordagem sobre a família como instituição responsável

pela educação do filho. Ao mesmo tempo, sujeitando-se às transformações e as

diversidades da sociedade capitalista, na qual a educação torna-se um elemento

essencial para o futuro dos filhos. Em especial as famílias de baixa renda quando estas

precisam conciliar trabalho e estudo, bem como outros obstáculos presente no cotidiano

das mesmas. No que diz respeito às famílias da classe média, estas sempre almejaram a

escola particular para os filhos como forma de prosperidade e manutenção do padrão de

vida econômica que levam, mas que nos últimos anos estão cada vez mais à procura

pela escola pública, uma vez que a crise econômica em vigor é justificativa para tal. Por

fim uma análise sobre a gastança no setor educacional que, na visão de muitos não

condiz com a situação em que se encontra à educação do país. Contudo, fica a esperança

de os gestores do poder público conceder uma resposta à altura dos gastos com

educação, não só em atenção aos filhos de famílias da classe média, mas todos os filhos

das famílias com padrões de vida econômicos diferentes, sem distinção de cor e raça.

Palavras-chave: Família. Educação. Classe social e Trabalho

Introdução

A família sempre foi e será um setor institucional muito importante para natureza dos

indivíduos (DURKHEIM, 1973), pois devem estes, constituir os aspectos relevantes de

uma sociedade de costumes e tradições milenares, onde advém de mudanças no tempo e

espaço.

As características de valores diferencia uma geração da outra, mudanças de

comportamento visivelmente são observadas nas sociedades contemporâneas. Essas

mudanças se deram através das revoluções: científica, industrial e tecnológica

(RONAN, 1987). Nesse embaso, as transformações correlacionadas às questões étnicas,

culturais, morais e sociais ocorreram de forma inevitáveis. As transformações são

visivelmente nítidas, onde o empirismo encontra respaldo científico. Ideias arcaicas são

4 Mestrando em educação pela ANNE SULLIVAN UNIVERSITY

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

56

reelaboradas, consolidando novos desafios, relacionados à maneira da qual a família se

posiciona frente às diversidades. Os jovens são instigados a se comportarem de acordo

com o que lhes são oferecidos pela sociedade do capital da qual faz parte. Isso acarreta

uma adrenalina nunca vista antes na história da humanidade, no que se refere ao

acúmulo de informações e estímulos (MANA, 2005, apud. SIMMEL).

Segundo Durkheim (1973), ao nascer, o indivíduo encontra uma sociedade já pronta a

recepciona-lo. Com isso, a família é a primeira instituição ter contato com o novo ser, o

qual deve, continuamente, adaptar-se à determinada cultura, sujeitando-se às normas e

regras de convivência social.

Nem sempre a família percebeu a escola como fator relevante que adestrasse o filho

para o embate social, principalmente quando se refere às famílias de classes inferiores.

Muitas vezes o processo de escolarização se redimia à própria convivência familiar,

quando os pais ensinam as regras e normas de convivência em sociedade,

principalmente quando se refere às atividades de subsistência da própria família. Com

isso, não havia necessidade de uma escolarização sistematizada com o propósito de

preparar o filho para lidar com questões diversas na sociedade mercantilizada. Ainda

mais quando as mesmas se inspiravam na agricultura como forma principal de

subsistência (TEMPOS MODERNOS, 2013). Mas, com a revolução industrial (século

XVIII), houve à demanda por pessoas cada vez mais qualificadas para atender as

necessidades da indústria. Com isso, o processo migratório do campo para cidade foi

muito intenso, onde a preocupação profissional passou a ganhar força, vista à escola

como alvo principal para à qualificação do sujeito que, ao ganhar novos sentidos,

passou a funcionar como uma espécie de passaporte para o trabalho, oportunizando,

maciçamente os jovens para o primeiro emprego. E nesse caso, segundo Pochmann

(2000), o primeiro emprego é decisivo para a carreira profissional do indivíduo, que nas

palavras do autor,

O primeiro emprego representa uma situação decisiva sobre a

trajetória futura do jovem no mercado de trabalho. Quanto melhores

as condições de acesso ao primeiro emprego, proporcionalmente mais

favorável deve ser a sua evolução profissional. O ingresso precário e

antecipado do jovem no mundo do trabalho pode marcar

desfavoravelmente o seu desempenho profissional. (POCHMANN,

2000, p. 9).

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

57

É necessário que a família tenha consciência dessa magnitude e pensar o futuro

profissional como uma oportunidade de estabilidade no mercado de trabalho, poder

crescer com sucesso e, futuramente gratificar a própria como recompensa pelo apoio

concebido. Para Carrano (2006), quanto maior é o grau de escolaridade alcançado,

maiores serão as chances de se formalizar no mercado de trabalho.

No que diz respeito o ensino em família, esta, juntamente com a comunidade, pode

condicionar um tipo de ensino, de acordo a sua cultura e costumes. É possível afirmar

que desde as comunidades tribais, havia uma educação voltada para a formação escolar

dos indivíduos. Eram ensinamentos condizentes à religião, ao trabalho, à tradição e os

costumes (BRANDÃO, 2003). E, que ainda existe.

Atualmente, Independentemente da classe social na qual a família se classifica muito

mais dinâmica se torna a vida em sociedade, seja no ambiente de trabalho, na educação

dos filhos, nos afazeres domésticos, enfim, situação na qual o tempo torna-se um

obstáculo imenso. Segundo Araújo (2013), ao mesmo tempo em que os pais deixam os

filhos na creche ou na escola para irem ao trabalho, pode também, compartilhar

informações nas redes sociais, desta forma a tecnologia da informação torna-se uma

aliada muito importante para o processo socializador das famílias.

O fator tempo é, sem dúvida, um requisito importante na vida das famílias hoje. Muitos

apelam para tecnologia da informação como forma de minimização dos obstáculos

gerados pela insuficiência do mesmo, no que diz respeito às diversas situações

cotidiana. Ainda segundo a autora explicitada acima, as mudanças na forma de

convivência familiar no Brasil, se deu a partir do processo migratório, no qual houve

significativas influências de outras culturas, juntamente com as necessidades de uma

nova concepção de sociedade urbanizada, mais envolvente com o processo industrial.

Consequentemente houve novas formas de socialização, de valores e costumes.

Com isso, a maneira de educar as crianças foi imprescindível para agregação do sujeito

ao meio social modernizado. Além disso, as diferenças de classes interferiram

diretamente na educação dos filhos, de modo que, para as famílias de baixa renda a

forma de educar e como conceber uma educação de qualidade aos seus filhos difere

muito da educação concebida aos filhos de famílias de classe média, fato que tornou,

desde o período colonial, um aspecto de relevância social, entranhado na alma da

população brasileira.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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Os transtornos vivenciados pelas famílias pobres como, desavenças na relação,

consequências negativas pela má condição financeira, ausência de políticas públicas no

meio em que vivem, muitas vezes violento, enfim, tem como consequência o abandono

por parte do aluno. Segundo dados de uma pesquisa com a participação da Fundação

Getúlio Vargas em 2009, comprova que dentre os motivos principais da evasão escolar

na faixa entre 15 a 17 anos de idade estão à necessidade de trabalhar e a falta de

interesse, tanto dos pais que não tem a plena consciência dos fatos, quanto do aluno que

não consegue medir a consequência dos impactos5.

Assim, a participação da família na escola deve ser sempre uma constante viável para

que lhe dignifique como parte integrante e essencial do progresso. Para Lima (1992), a

participação da família tende a colaborar dentre outros fatores, para democratização,

regulamentação, envolvimento e orientação junto à unidade escolar. E, desta forma,

harmonizar o ensino com mais eficácia e eficiência. Contudo, os resultados da pesquisa

de autoria da mestranda Machado (2011) apontam que a presença dos pais ou

responsáveis dos alunos na escola pública acontece em maior frequência na infância, ou

seja, nos primeiros anos de escola. Isso é preocupante, uma vez que se constatam cada

vez mais episódios de desordem, vandalismo e violência provocados por adolescentes,

iniciando a fase adulta e que cursam as séries finais da educação básica.

A prática dos bons costumes é uma ferramenta que deve ser preservada entre pai e filho.

Assuntos ligados a religião, ao trabalho, ao lazer, as práticas respeitosas entre as

famílias e a própria leitura de mundo, contribuem para uma educação intrínseca, no que

diz respeito à formação ética e moral do sujeito. Diante disso, Filipouski (2006),

menciona as práticas de leitura como importante elo entre pais e filhos. Nas palavras do

mesmo,

[...] a maneira como as famílias se relacionam com a língua escrita

pode condicionar a relação que as crianças terão com os textos. Se a

leitura está na receita da cozinha, no livro de oração, no estudo, no

lazer ou no trabalho, certamente ler e escrever parecerão ter mais

sentido na escola. Se ao contrário, a palavra escrita/lida estiver restrita

à presença de situações repressivas ou disciplinadoras (o cartaz que

pede silêncio nos hospitais, o “Mantenham-se em fila!” dos Postos de

saúde ou o auto de infração recebido por pais e ou irmãos), bem

diferente será a inferência infantil. Nesse caso, haverá descontinuidade

5 Marcelo Neri: Economista chefe do Centro de Políticas Sociais do IBRE, da EPGE e da

REDE da Fundação Getúlio Vargas.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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entre a vida – movida pela oralidade em todas as suas manifestações

(as pregações religiosas, a música, a televisão) e a escola. Em

consequência, ela terá muito maior dificuldade de inferir significados

à palavra escrita. (FILIPOUSKI, 2006 p.164)

O que é muito viável criar estratégias em sala de aula, possibilitando ao aluno lidar ao

mesmo tempo, com situações diversas, que não seja apenas seguir o ritual padrão de

leituras e escritas das diferentes disciplinas, mas, construir visões através dos demais

instrumentos que fazem parte da rotina social dos alunos.

A Classe Média e a Escola pública

Na história recente da educação brasileira, a elite burguesa esteve sempre á frente dos

bens de serviços e produção. Dentre eles, uma educação diferenciada. Para Almeida

(2000), no final do século XIX, havia muito preconceito por parte da camada rica com a

camada pobre da população. Camada esta considerada até então, sem valor moral e

ético, na visão capitalista. Segue-se que,

As crianças das classes razoavelmente abastadas não vão a escola

publica porque seus pais tem preconceito de cor ou porque temem, e

com razão, pela moralidade de seus filhos, em contato com esta

multidão de garotos cujos pais enviam a escola apenas para se verem

longe deles algumas horas (ALMEIDA, 2000, P. 90).

Ou seja, desde o Brasil Imperial até os dias de hoje, segundo Almeida (2000), a

educação brasileira ainda não concebeu um atendimento generalizado que, de fato atinja

a todos por igual, sem distinção de classe ou raça.

Faz sentido frisar que tal dimensão não se atribui de forma generalizada, pois é possível

que, muitas escolas públicas estão padronizadas de acordo ao modelo almejado pela

classe média, logicamente que estas se localizam, demasiadamente, nos desenvolvidos

centros urbanos.

Se a classe média não adere à educação pública, tendo ela, maior suporte moral de

influência para questionar uma educação mais eficiente e próspera junto às autoridades

competentes, o problema fica agravado à classe pobre, com isso foge do interesse da

gestão pública, já que esta lhe desperta pouca rentabilidade de poder nas relações

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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decisórias da política econômica, consequentemente, pouco esforço e importância de

investimento para uma educação pública de qualidade. Para Castro (2014), educação é

assunto prioritário, ao invés de se preocupar, veementemente com o número de

matrícula, deveria o Estado se preocupar mais com a qualidade da educação e

estruturação das escolas que, nas palavras de Marcondes6,

Mesmo pais de classe média que manifestam abertamente seu apreço

pela escola pública inscrevem muitas vezes os seus próprios filhos em

escolas particulares, por suporem que o que está em jogo, nessa

escolha é, antes de mais nada a qualidade do ensino elementar a ser

ministrado aos seu filhos (CADERNOS CENPEC, 2006 n. 2).

Ainda segundo o autor uma escola única não é visto na prática como

Instrumento necessário à ascensão dos seus filhos na escala social. A

rigor, a classe média não precisa da escola pública, enquanto espaço

institucional onde podem coexistir todas as classes sociais, para

promover a ascensão individual dos seus filhos na escala social. Muito

pelo contrário: inscrevê-los numa escola particular, onde o alto preço

da mensalidade não só garante a qualidade do ensino como também

elimina uma parte dos futuros concorrentes, delineia-se como a

estratégia mais adequada para a consecução desse objetivo

(CADERNOS CENPEC, 2006, n. 2).

Para Saes7, está na classe média á preocupação de manter seu padrão econômico e

social, através da educação escolar dos filhos uma futura geração de trabalhadores. A

autora Débora Yuri8 enfatiza em seu texto “A Matéria” que os filhos de famílias de

classe média em vários países do mundo preferem a escola particular, não por que

querem ser diferentes dos demais, mas pela garantia da qualidade do ensino. Importante

frisar que, essa escolha não se restringe apenas à classe média. Pesquisas demonstram

que a maioria dos professores da rede pública escolhe a rede privada de ensino para

matricular seus filhos9.

Pode-se dizer que, a opção da classe média não se identificar com o sistema público de

ensino consiste em uma educação cada vez mais desigual e, assim, hierarquizando dois

6 Adalberto Wodianer Marcondes é jornalista, diretor e editor da agência de notícias

Envolverde e foi presidente da Associação de Pais e Mestres da Escola Estadual Profº Antonio Alves

Cruz durante dois anos. Coordena o Núcleo de Comunicação do Cenpec 7 Décio Azevedo Marques de Saes é professor da Faculdade de Educação e Letras da

Universidade Metodista de São Paulo. Em seu texto a Classe média e escola capitalista- critica marxista,

1997. 8 Cf. a matéria “Opção de mestre / saiba como dez especialistas em educação escolheram as

escolas de seus filhos”, de autoria de Débora Yuri e publicada na Revista da Folha, de 17 de agosto de

2003, pp. 25 – 27. 9 Cf. a matéria publicada na Folha de São Paulo de 30 de março de 2002, p. C 3, e intitulada:

“Professor prefere filho na rede privada”.

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modelos de ensino no país que, segundo Teixeira (1966), foi o qual predominou no

Brasil desde o período colonial. Uma escola diferenciada que atendesse a elite,

composta das séries primárias e secundárias, enquanto às famílias das classes inferiores,

chamadas de “classe média emergente” se contentara apenas com o ensino primário

limitado. Fato que perdurou por muito tempo, apesar dessa dualidade permanecer até

hoje, em que as famílias da classe média alta utilizam-se do capital para arcar com uma

educação de primeira linhagem aos filhos, prosperando um retorno compensatório aos

investimentos aplicados.

Porém, nos últimos anos a Classe Média se estendeu significativamente graças às

políticas econômicas adotadas no país. Mas com o agravamento da crise econômica,

ultimamente as famílias da classe média estão migrando cada vez mais para escola

pública, mesmo que esses alunos tendem a passar por adaptações rigorosas. O que

acontece é que, as famílias da classe alta estão com dificuldade em continuarem a levar

uma vida de padrão elevado em tempos de crise, tendo que ceder ao ensino público, o

que é visto como um progresso em termos de igualdade de oportunidade, se levar em

conta os benefícios que esta mudança pode proporcionar. O sistema de ensino, com isso

deverá se preocupar mais com a qualidade ao mesmo tempo em que atende esse

público. Uma classe mais exigente e com um senso crítico mais elevado, uma vez que o

retrocesso econômico não faz parte dos planos. (CENPEC, 2006, n. 2)

Com isso uma situação que envolve as famílias de alunos de baixa renda, é o abandono

à escola pública. Apesar de o índice de abandono ter diminuído nos últimos anos10

, mas

que ainda preocupa as instituições públicas de ensino. A decisão para o abandono e à

evasão escolar, podem se justificar pela forma deficiente de alguns setores da educação

pública. Dentre os quais, escolas más estruturadas, sem suporte para lazer e atividades

lúdicas, material humano muitas vezes fraco para o exercício do cargo. Que, segundo

Jesus (2004), a má qualificação do professor e as péssimas condições de trabalhos

implicam diretamente no interesse do aluno em seguir com os estudos.

A convivência do alunado com professores desmotivados pode transmitir, ao mesmo

tempo, uma mensagem negativa. Que nas palavras de Moran,

Alunos curiosos e motivados facilitam enormemente o processo,

estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se

10

Fonte: CPS/FGV através do processamento dos microdados PMF/IBGE.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professor-

educador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais,

ajudam o professor a ajudá-los melhor. (MORAN, 2000, p.17-18)

Enfim, muitas vezes o baixo nível econômico das famílias torna-se um obstáculo e

acaba exigindo que o filho entre na zona de trabalho cada vez mais cedo, mesmo que

informalmente, o que leva ao abandono escolar indesejável. Com isso, possíveis

consequências se resumem nas palavras de Bajoit (1998), para o qual “o indivíduo sai

do sistema de interação, rompe a relação social, cessa de cooperar, subtrai-se à

autoridade, ao poder que exerce ou que sofre”.

Segundo uma amostra de estudo realizada pela mestranda Fernanda Conceição Silva

Pinheiro Gonzalez Machado11

, quanto ao nível de formação dos pais,

surpreendentemente, os que concebem maior formação escolar, são os que menos

frequentam a escola dos filhos para colaborar. Serão estes mais ocupados, sem espaço

de tempo para a escola dos filhos, ou será pelo fato de já constituir um nível de

formação e achar que é de responsabilidade da escola se encarregar sozinha pela

educação do filho? O que parece haver é um convencimento maior pela primeira

temática, já que, quanto maior é o grau de ensino, maiores serão as chances de ocupação

no mercado de trabalho (POCHMANN, 2000), assim os pais se atarefam muito com

intuito de melhorar a renda financeira. “Para algumas pessoas subirem outras têm de

desocupar a posição que ocupam. O peso da qualificação, competência e educação

aumentou, quanto se compara os dados de 1996 com os de 1973” (Pastore e Silva, 2000,

p. 7).

Nesse contexto, duas coisas chamam a atenção, segundo o estudo realizado pela

mestranda em Educação, Fernanda Conceição Silva Pinheiro Gonzalez Machado, no

que diz respeito ao acompanhamento mais incisivo das famílias na educação dos filhos

quanto, à referência da instituição escolar e à proximidade da mesma com as residências

das famílias. Com isso deve a escola suprir às necessidades não só do aluno, mas

também, adequar-se à realidade das famílias, bem como tentar compreender seu

cotidiano geográfico.

A falta de escolarização das famílias de baixa renda é um fator que implica diretamente

na educação escolar dos filhos, quando se refere à classe mais pobre da sociedade.

11

Amostra de um estudo realizado em 2011, por Fernanda Conceição Silva Pinheiro Gonzalez

Machado - Mestrado em Educação pelo Instituto Superior de Educação e Trabalho.

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Apesar de serem justamente esses pais que consentem maior preocupação com

educação dos filhos, segundo a mestranda supracitada anteriormente. Certamente pela

falta de oportunidades em prosseguir com os estudos na fase adequada, mas que,

firmam o desejo de oportunizar aos filhos um futuro melhor.

A condição econômica é, muitas vezes o fator determinante para força o aluno a

trabalhar, a fim de contribuir com os custeios da casa. Mas que, muitas vezes não

consegui conciliar escola e trabalho. Porém, é nesse contexto de dificuldade que os pais

devem ampliar os esforços para acompanhar melhor o desenvolvimento escolar dos

filhos. Ao se envolver, mutuamente, no processo de ensino segundo Davies (1989),

haverá benefícios futuros para todo o conjunto. Assim,

O envolvimento dos pais proporciona múltiplos e diversos benefícios:

para o desenvolvimento e aproveitamento escolar das crianças, para os

pais, para os professores e as escolas e para o desenvolvimento de

uma sociedade democrática. (DAVIES, 1989, p. 37).

Ainda, segundo Diogo (1998), deve o pai envolver-se de forma significativa no

cotidiano do filho para que este venha adquirir melhores performances acadêmicas. É

evidente de que, como a família é a base do processo que dá origem a vida, um aluno

que perde tais origens terá maiores dificuldades em seguir em frente com o projeto de

formação acadêmica. Com isso é necessário que a instituição de ensino, juntamente com

a comunidade “adote” esse aluno com intuito fraterno e exemplo de humanismo com o

propósito de inserir na sociedade.

A problemática de alguns setores da educação brasileira

Muitos problemas ainda persistem no setor da educação pública brasileira, entre os

quais se destaca a má formação dos professores, somado às péssimas condições de

trabalho como, sala de aula sem conforto que possa propiciar tranquilidade aos alunos e

professores12

, salários ainda a desejar. Sem salário digno os profissionais ficam

estáticos, sem conseguir avançar na carreira e se “equipar” melhor para atender às

exigências do mercado capitalista (UNESCO, 2013/14). Enfim, são fatores importantes

para que a educação brasileira não funcione de forma correta.

12

Fontes: Q Edu, da Fundação lemonn, com dados do inep.

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Segundo Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à

Educação. “Redes maiores, com estruturas adequadas, laboratórios e bibliotecas e

professores com melhor formação, são mais eficientes”.

Um dos principais fatores que implica diretamente a ineficiência do setor educacional, sem

dúvida é a falta de transparência para com os recursos destinados ao mesmo. Se o

investimento público é, significativamente alto se comparado a países desenvolvidos,

que injetam em média 5,6% do PIB, segundo dados da OCDE em 2011. Porém, pode

consistir uma educação bem mais avançada do que no Brasil. Com isso, infere-se que,

realmente o que falta no Brasil é eficiência nos gastos públicos, com relação à educação,

bem como em outros setores.

Segundo economistas, mesmo o Brasil investindo 10% do PIB em programas

educacionais como prevê o PNE até 2024, não significa sanar todos os problemas da

educação em detrimento às mazelas existentes no país. Pelo que se entende, somente

injetar mais verba não será a solução, mas sim, aplicá-la de forma correta nas estruturas

das escolas, melhorar às condições de trabalho do professor, bem como, melhorar o

conforto do aluno para melhor recepciona-lo. Falta de materiais ou, quando têm ficam

estocados, sem utilização por questões burocráticas. Consequência disso é a falta de

interesse por parte do aluno em seguir, principalmente, o ofício de ser professor, visto

como uma profissão desvantajosa, já que lhe exige anos de estudos e como recompensa,

muito desprezo por parte do sistema político brasileiro.

Sabe-se que o aluno por si convive, cotidianamente, com seus professores, desde a

infância à fase adulta (PACHECO)13

. No entanto, o que, na maioria das vezes ele ouve

desses, argumentos negativos relacionados às condições de se manter com essa

profissão, argumentos que parece já fazer parte da disciplina em sala de aula, muitas

vezes, cabendo ao aluno aderir como última opção de trabalho, exceto os que encontram

nessa pleiteada uma vocação para tal ou, vontade própria de mudar uma realidade, caso

contrário, sua contribuição como professor (a) caminha para dar continuidade às

angústias sofridas por seus antecessores, uma vida de muito estresse, segundo o

educador explicitado acima.

13

Educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal) [email protected]

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Conclusão

Com relação à postura da escola, deve a mesma proporcionar uma participação maior

dos pais em seu entorno. Eles precisam de vez e voz para contribuir de forma eficiente

com a escolarização dos filhos. Ao sentir-se parte integrante da unidade escolar, os pais

poderão proporcionar uma melhor responsabilidade e compromisso com a educação de

modo geral.

As estruturas das escolas também deverão adequa-se para uma nova realidade, não

apenas fisicamente, mas também didática. Já que, num possível tempo integral deve o

aluno satisfazer todas as necessidades que lhe necessita, tanto metodológica quanto

fisiológica. Assim, possibilitando sanar o impasse de uma educação limitada e exclusiva

(FERREIRA)14

.

As escolas das periferias precisam, portanto, de uma atenção maior por parte dos seus

representantes. Contudo, evitar estoques de materiais que, se querem chega a ser usados

pelos alunos, servindo apenas de esconderijos para insetos do que mesmo servir de

alguma utilização por parte do estudante. Condiz-se, ao mesmo tempo para uma

realidade na qual o professor necessita de apoio na carreira acadêmica, a fim de

contribuir melhor em sala de aula.

Apesar de coexistir um possível interesse por parte da classe média à escola pública,

mesmo pela questão da crise econômica atual, deve o setor público abraçar esta gente e

trata-la de forma igual às demais camadas sociais, buscar melhorar o que não está bem a

fim de promover uma educação autêntica, que de fato beneficie a todos por igual.

14

Windyz Ferreira é PhD. em Educação e Mestre em Pesquisa Educacional pela

University of Manchester (Inglaterra). Realiza pesquisa e consultoria (nacional e internacional) no campo da Educação Inclusiva, Formação de Professores e na área de Deficiência. É consultora do Banco Mundial, UNESCO e Save the Children (Reino Unido e Suécia). Atualmente, é coordenadora do Projeto Educar na Diversidade da SEESP/ MEC.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL SUA RELEVÂNCIA NA CONSCIENTIZAÇÃO DO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: REVISÃO DE LITERATURA

Antônio Flávio Pereira de Sousa Amorim15

RESUMO

A revolução industrial e tecnológica propiciaria ao homem avanços que por algum

tempo eram inimagináveis, no entanto, tais transformações levaram o homem a usar

todos os recursos naturais, renováveis e não renováveis em uma escala cada vez maior

e, muitas vezes sem a preocupação e o cuidado de conservar, preservar e recuperar o

ambiente natural. O movimento ecológico surgido na década de 60 levou o homem a se

preocupar cada vez mais com o ambiente natural, pois se comprovou que o homem sem

esse habitat não pode sobreviver, e assim se ele levar a estagnação dos recursos naturais

exterminar, extinguir diversas vidas e ecossistemas, como já fez no passado, estará

propiciando a si mesmo a extinção natural. Daí se fez necessário à elaboração, a

formulação de leis, legislação que regessem as ações dos homens diante da natureza,

punindo aqueles que viessem a causar danos ambientais. Com base nesse pressuposto

desenvolvesse um estudo a respeito da educação ambiental como instrumento de

conscientização e preventivo dos danos ambientais.

Palavras-chaves: Meio ambiente. Danos ambientais. Educação Ambiental.

1. INTRODUÇÃO

Desde os primórdios o homem se ocupa da terra e dela tira inegáveis proveitos. O uso

dos recursos naturais se dá desde os primórdios, o homem sempre necessitou da

natureza para sobreviver. Com a evolução social do homem e o avanço tecnológico fez

com que o homem usufruísse cada vez dos recursos naturais, levando-a quase que a

completa estagnação e desequilibrando vários ecossistemas. Consequentemente

comprometendo sua sobrevivência e das outras espécies (STEIGLEDER, 2004).

15 Licenciatura Plena em Pedagogia, Pós Graduado em Gestão Pública, Pós Graduado em Gestão de Pessoas, Pós Graduado em Psicopedagogia Institucional e Clinica, Mestrando em educação - linha de pesquisa em políticas públicas em Educação.

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70

Com a evolução da humanidade e o desenvolvimento econômico, ele preocupou-se tão

somente em acumular riquezas e descobrir novos rumos, não importando que para isso

sacrificasse de um modo voraz, o meio ambiente e, em última análise, a si próprio.

Evidente que a velocidade e o nível a que chegaram as degradações ambientais

repercutiram sobremaneira no mundo jurídico (ANTUNES, 2010).

É possível brecar a degradação ambiental por meio da educação? Qual o papel da

educação ambiental? Sabe-se que a sociedade, em virtude das mudanças climáticas e

dos efeitos noviços sentidos nos dias atuais devido ao uso descontrolado dos recursos

naturais, tem buscado e lutado pela preservação e conservação daqueles ecossistemas

que ainda não sofreram a ação do homem, bem como a recuperação dos que já sofreram

e estão degradados (STEIGLEDER, 2004; ANTUNES, 2010).

Dentro deste contexto, o ordenamento jurídico, que sempre regeu as relações sociais,

criando normas e leis, teve de se adaptar à nova realidade, criando políticas, leis e

normas que regem o uso do meio ambiente, particularmente dos recursos naturais,

visando à preservação do equilíbrio, conforme determina a Constituição Federal de

1988 (artigo 225). Sendo que em relação aos danos ambientais, as sanções

administrativa e penal têm um caráter meramente retributivo, isto é, preocupam-se

basicamente com a punição dos agentes causadores do dano, já a sanção civil vai além,

apresentando caráter retributivo e restitutório, buscando total reparação do meio

ambiente degradado.

A reparação do dano ecológico tem, antes de tudo, sentido educativo, já que funciona

tanto na prevenção específica como na prevenção geral. A prevenção específica consiste

em incutir no agente causador do dano a consciência da reprovabilidade de seu ato. A

prevenção geral visa imprimir na sociedade a certeza da punição (SILVA, 2007).

Com base nestes pressupostos objetiva-se com este estudo enfatizar a importância que a

sociedade tem dado as questões ambientais e como a educação ambiental pode ser um

instrumento preventivo conscientizando os indivíduos sobre a necessidade de se

preservar e conservar o meio ambiente.

O presente estudo, pretende contribuir com os profissionais da educação, no sentido de

evidenciar aos mesmos a importância de se inserir a educação ambiental nos seus

planejamentos e, desta forma induzir aos alunos, em especial aqueles da educação

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infantil, fundamental e médio, a desenvolverem uma consciência ambiental, direcionada

a sustentabilidade, pois somente assim será possível amenizar os efeitos das ações

antrópicas em relação ao uso e usufruto dos recursos naturais.

2. A Questão Ambiental

Incialmente se faz necessário entender o que vem a ser meio ambiente. Segundo Mateo

citado por Silva (2007, p.19) a palavra “ambiente” denota círculo, âmbito, em que

vivemos. Em certo sentido, nela já se insere a palavra “meio”, a que se leva a admitir

certa redundância na expressão “meio ambiente”. Também admite a redundância. Em

sentido diverso, a doutrina italiana menciona somente a palavra “ambiente”, que por si

só engloba a paisagem, o solo, o ar, a água e o meio urbano.

Na realidade, o ambiente é composto de elementos naturais e artificiais, cuja interação

constitui o meio em que se vive. Daí porque a expressão “meio ambiente” se apresenta

mais rica de sentido. A expressão “meio ambiente” é mais globalizante, pois envolve o

meio artificial e natural (PINTO, 1999).

Destas noções, se deflui o conceito de meio ambiente, de Silva (2007, p.20), como “[...]

a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o

desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”. Desse conceito

extraem-se expressões de grande significância para o meio ambiente, quais sejam,

interação e desenvolvimento equilibrado da vida. Interação pressupõe a junção de

elementos naturais e culturais. Já o desenvolvimento equilibrado da vida implica em

desenvolvimento sustentável, princípio tão apregoado por ambientalistas e

doutrinadores que se ocupam da ciência ambiental. Por isso, a preservação do meio

ambiente é dever vinculante do Poder Público, porque ele forma a ambiência em que se

situa a vida humana.

Já para Milaré (1993. p. 257-277), a expressão “meio-ambiente” é redundante, eis que

“ambiente” já compreende a noção de “meio”. Essa opinião é também partilhada pela

maioria dos doutrinadores. É uma expressão “camaleão”. Todavia, já é consagrada pela

língua nacional. Vale trazer à baila o seu julgamento acerca do tema, segundo o autor

supracitado o ambiente, elevado à categoria de bem juridico essencial à vida humana,

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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em todas as dimensões, envolve um conjunto de elementos (naturais, artificiais e

culturais) os quais devem beneficiar a todos, sem distinção.

A legislação brasileira conceitua o meio ambiente, bem como o dano, assim sendo, de

acordo com Lei nº. 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e

dá outras providências, a expressão “meio ambiente” entende-se como “(...) o conjunto

de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que

permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (art. 3º, I). Percebe-se, portanto,

que a definição consignada pela Lei nº. 6.938/81 é bem ampla.

Leite et al. (1996, p.74) diz que: “qualquer que seja o conceito que se adotar, o meio

ambiente engloba, sem dúvida, o homem e a natureza”.

Já Fiorillo et al. (1996, p.31) acreditam que há uma amplitude no conceito de meio

ambiente:

Trata-se, pois, de um conceito jurídico indeterminado, que, propositadamente

colocado pelo legislador, visa criar um espaço positivo de incidência da

norma, ou seja, ao revés, se houvesse uma definição precisa do que seja meio

ambiente, numerosas situações, que normalmente seriam inseridas na órbita

do conceito atual do meio ambiente, poderiam deixar de sê-lo, pela eventual

criação de um espaço negativo inerente a qualquer definição.

Deve-se destacar, conforme Leite et al (1996) que o meio ambiente, antes tido como não

pertencente a ninguém, hoje reflete um bem que pertence a todos indistintamente, senão

vejamos:

No passado, o meio-ambiente era tido como “res nullis”, ou seja, não pertencente a

ninguém. Tal conotação, atualmente, se alterou, considerando os desastres ecológicos

havidos e a percepção, pelo ser humano, que os recursos naturais são finitos e limitados.

Hoje, pelo contrário, tem-se a clara definição que o meio-ambiente pertence a toda

sociedade, portanto, caracteriza-se o mesmo como “res omnium” (Leite et al., 1996).

No direito positivo brasileiro, quanto à temática ambiental, desponta-se como marco

basilar a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente, criada pela Lei nº. 6.938,

de 31.08.1981, com o propósito de determinar fins e mecanismos para a concretização

da política. Até então, o que existia era uma legislação fragmentada.

A Política Nacional do Meio Ambiente é composta pelo Sistema Nacional do Meio

Ambiente (SISNAMA), cujo órgão superior é o Conselho Nacional do Meio Ambiente

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(CONAMA) e Cadastro Técnico Federal de atividades e instrumentos de defesa

ambiental.

A lei “in comento” é que aqueceu a conceituação de meio ambiente, pois antes do seu

advento, havia carência da definição legal de meio ambiente, segundo consideração de

Paulo Affonso Leme Machado, citado por Geraldo Ferreira Lanfredi (2002, p.76).

Por essa lei, conceitua-se meio ambiente como conjunto de condições, leis, influências e

interações de ordem física, química e biológicas, que permite, obriga e rege a vida em

todas as suas formas (art. 3º, I), considerando o meio ambiente como um patrimônio

público a ser necessariamente segurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo (art.

2º, I).

O art. 2º da Lei contém princípios de máxima importância para o meio ambiente. Mas,

da análise dos princípios elencados, merece enfoque especial o inciso X, que determina

a obrigatoriedade da educação ambiental em todos os níveis de ensino.

Realmente, há que se ponderar que a Educação Ambiental só passou a existir após a

propagação da lei. O que falta é o homem tomar consciência do seu papel de cidadão e

colocar em prática a bela exposição da lei. Muitos consideram utópica vislumbrar por

um período em que todos os seres humanos exercam plenamente sua consciência

ambiental e, dessa maneira consiga viver em harmonia com o meio ambiente, num

conceito concreto de desenvolvimento sustentavel. Ainda que a legislação continue

apontar institutos como o zoneamento industrial, o estudo do impacto ambiental, a

licenciamento ambiental, imprescindíveis na aplicação dos Princípios da Precaução e da

Prevenção.

A questão ambiental vem sendo considerada como cada vez mais urgente e importante

para a sociedade, pois o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a

natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais disponíveis.

Assim, à medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para

satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto ao

uso do espaço e dos recursos em função da tecnologia disponível.

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A tecnologia empregada evoluiu rapidamente com consequências indesejáveis que se

agravam com igual rapidez. A exploração dos recursos naturais passou a ser feita de

forma demasiadamente intensa (FALCONERI, 2006).

O legislador ao enunciar a educação, direito de todos e deve do Estado e da família, [...]

(art. 205), pretendeu fazer um paralelo com o art. 225, que se refere ao meio ambiente,

pretendendo acentuar a relevância dos dois elementos: educação e meio ambiente. Com

efeito, assim em relação à educação (direito de todos) como ao meio ambiente (todos

têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado), destaca o legislador que se

trata de um direito comum da população, bem como, em face da magnitude da

empreitada, não incumbe só ao Estado, mas também incentivá-los (A educação [...]

dever do Estado e da família será promovida e incentivada com a colaboração da

sociedade. E, por outro lado, impõe-se ao Poder Público e à coletividade o dever de

defender e preservar o meio ambiente (SILVA, 2007)).

Assegura a CF/88 que somente a educação ambiental determina a efetividade do direito

ao meio ambiente, quando preconiza a educação ambiental em todos os níveis de ensino

e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente (art. 225, §, VI).

Através da educação ambiental que se cria uma consciência social sobre o problema

ecológico. Afinal, o homem, como integrante do planeta terra, já se conscientizou da

preservação da natureza, tanto para a sua subsistência como para o seu próprio

equilíbrio. Ciente dessa realidade, que o legislador de 1988 determinou a

obrigatoriedade de educação ambiental em todos os níveis de ensino, a fim de que se

garantam as gerações futuras.

Portanto, pode-se dizer que falta é o amor e o respeito à terra, à água, à fauna, à flora,

enfim, à toda espécie de vida, assim como declarou São Francisco de Assis no Cântico

das Criaturas, no qual trata todos os seres da natureza como irmãos; e também o

Cacique Seattle, quando, no ano de 1885, se pronunciou ao respeito da defesa da

natureza.

Mundialmente, referindo-se a questão ambiental, chegou-se às conclusões de que se

deve investir na mudança da mentalidade, na conscientização dos povos quanto à

necessidade de se preservar e conservar o meio ambiente, de se utilizar de maneira

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sustentável dos recursos naturais. Na Conferência Internacional Rio/9216

, assinou-se um

tratado que reconhecia o papel central da educação para a “construção de um mundo

socialmente justo e ecologicamente equilibrado, o que requer responsabilidade

individual e coletiva em níveis locais, nacional e planetário”. Assim, a Educação

Ambiental no Brasil tem esse papel, a qual assumiu um papel obrigatório no cenário

educacional brasileiro desde a Constituição Federal de 1988.

Salienta-se que decisões e tratados internacionais evidenciam a importância atribuída

pelas lideranças mundiais para a Educação Ambiental como meio indispensável para se

conseguir criar e aplicar formas cada vez mais sustentáveis de interação homem-

natureza, sociedade-natureza e soluções para os problemas ambientais. No entanto,

ressalva-se que a educação sozinha não é suficiente para mudar os rumos do planeta,

mas certamente é condição necessária para tanto.

Nesse contexto, fica evidente a importância de se educar os futuros cidadãos brasileiros

para que, como empreendedores, venham a agir de modo responsável e com

sensibilidade, conservando o ambiente saudável no presente e no futuro.

Ressalta-se que embora seja recomendada por todas as conferências internacionais,

exigida pela Constituição e declarada como prioritária por todas as instâncias de poder,

a educação ambiental está longe de ser uma atividade tranquilamente aceita e

desenvolvida, porque ela implica mudanças profundas e nada inócuas (BENJAMIN,

1995; SLVA, 2007).

3. Metodologia

Quanto à metodologia usada para o desenvolvimento deste estudo, se fez uso da

abordagem dialética, segundo Vieira Pinto (1999, p. 20), a dialética interpreta o

processo da realidade vendo nela uma sucessão de fenômenos, cada um dos quais só

existe enquanto contradição com as condições anteriores, só surge por negação da

realidade que os engendra, e se revelará produtivo de novos efeitos objetivos

unicamente na medida em que estes, sendo o ‘novo’ recém surgido, negam aquilo que

os produziu.

16

Reunião Internacional, que reuniu 172 países, entre os quais o Brasil, ocorrida na cidade do Rio de

Janeiro, onde houve várias discussões a respeito do meio ambiente.

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O procedimento a ser adotado será à análise histórica e comparativa que de com

Skocpol (1994) “a análise histórica comparativa é, na verdade, o modo de análise

multifacetado ao qual se recorre quando há muitas variáveis e não há casos suficientes”.

Documentação indireta será à técnica usada por meio de pesquisa bibliográfica

especializada, periódicos e bibliotecas virtuais.

Por ser um estudo bibliográfico não necessitou de aprovação prévia do Comitê de Ética

de Pesquisa (CEP), entretanto, foram observadas as diretrizes expostas na Resolução do

Código de Ética 196/96 sobre pesquisa em seres humanos.

A análise dos dados foi realizada após leitura e releitura dos artigos selecionados. Por

meio da análise buscou-se fazer a categorização, pois de acordo com Minayo (2010) os

conceitos mais importantes dentro de uma teoria são as categorias, este procedimento

facilita a compreensão e interpretação dos dados coletados (SKOCPOL, 1994) .

4. Resultados e Discussões

Por meio da revisão de literatura, construiu-se três categorias: a educação ambiental; a

instituição educacional; objeto da educação ambiental. Apresentadas abaixo.

4.1. A Educação Ambiental

Hoje, acredita-se que a educação constitui o mecanismo de maior significância para se

prevenir à ocorrência de danos à natureza. Para se desenvolver esta mentalidade, é

imprescindível que a educação básica trabalhe em cooperação com a educação

ambiental. E esta educação ambiental se processa de duas formas: educação Informal

(proporcionada pela imprensa escrita e falada) e a educação Formal (oferecida nas

escolas aos jovens e adultos). Ao se referir à Educação Ambiental como procedimento

preventivo destinado a evitar danos ambientais, urge mencionar o instituto da reparação

(CASTRO, 2008).

A primeira vista, denota um distanciamento entre a Educação Ambiental e a reparação.

No entanto, há de se ponderar que ambos guardam estreita relação, no momento em que

a educação voltada ao meio ambiente representa a prevenção; ao passo que reparação,

instituto do Direito Civil, normatiza o caráter repressivo, que se imprime ás infrações

ambientais.

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Mas, daí a pergunta: Educar significa punir? A resposta é negativa, no sentido de que

“reparar” consiste em tarefa de reprimir danos futuros ao meio ambiente. Deste modo,

ambos se completam e se interagem.

A educação, especialmente a ambiental, deve estar focada em conscientizar os futuros

profissionais em prol do desenvolvimento sustentável. A conscientização ambiental

contribui com a redução dos problemas que ocasionam alterações e transformações nos

recursos naturais e até mesmo desemprego, pois hoje é de notório conhecimento que os

modos de produção implicam em desequilibrio ambiental, enquanto o desenvolvimento

sustentável vislumbra um modo de produção ecologicamente equilibrado.

ara que se atinja o desenvolvimento sustentável, mister se faz que o homem se volte ao

conhecimento sistêmico e integrado, na tentativa de concepção de vida melhor. A

sustentabilidade não se faz noite para o dia. É um processo gradual (CASTRO, 2008).

E nesse momento, evidencia-se o papel da Educação Ambiental que, com seu caráter

interdisciplinar, auxiliará o homem na busca da interação entre ser humano e natureza.

Deste modo, desponta-se a educação ambiental como meta prioritária da

sustentabilidade (CASTRO, 2008).

Nesse sentido a Lei n. 9.934/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira

(LDB/96), ao considerar o Ensino Médio como última e complementar etapa da

Educação Básica, e a Resolução CNE/98, ao instituir as Diretrizes Curriculares

Nacionais para o Ensino Médio, que organizam as áreas de conhecimento e orientam a

educação à promoção de valores como a sensibilidade e a solidariedade, atributos da

cidadania, apontam de que forma o aprendizado de Ciências e de Matemática, já

iniciado no Ensino Fundamental, deve encontrar complementação e aprofundamento no

Ensino Médio. Nessa nova etapa, em que já se pode contar com uma maior maturidade

do aluno, os objetivos educacionais podem passar a ter maior ambição formativa, tanto

em termos da natureza das informações tratadas, dos procedimentos e atitudes

envolvidas, como em termos das habilidades, competências e dos valores

desenvolvidos.

Mais amplamente integrado à vida comunitária, o estudante da escola de nível médio já

tem condições de compreender e desenvolver consciência mais plena de suas

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responsabilidades e direitos, juntamente com o aprendizado disciplinar (OLIVEIRA,

2007).

No nível médio, esses objetivos envolvem, de um lado, o aprofundamento dos saberes

disciplinares em biologia, física, química e matemática, com procedimentos científicos

pertinentes aos seus objetos de estudo, com metas formativas particulares, até mesmo

com tratamentos didáticos específicos. De outro lado, envolvem a articulação

interdisciplinar desses saberes, propiciada por várias circunstâncias, dentre as quais se

destacam os conteúdos tecnológicos e práticos, já presentes junto a cada disciplina, mas

particularmente apropriados para serem tratados desde uma perspectiva integradora

(SILVA, 2007).

No nível fundamental, centra-se principalmente no desenvolvimento de valores, atitudes

e posturas éticas, e no domínio de procedimentos, mais do que na aprendizagem de

conceitos, uma vez que vários dos conceitos em que o professor se baseará para tratar

dos assuntos ambientais pertencem às áreas disciplinares.

Além do que a natureza da temática ambiental, vem da dificuldade de se eleger uma

gama de conteúdos que contemple de forma satisfatória as exigências e a diversidade

que compõem a realidade brasileira. Pois mais que um elenco de conteúdo, o tema meio

ambiente consiste em oferecer aos alunos instrumentos que lhes possibilitem

posicionar-se em relação às questões ambientais.

Note-se que a interdisciplinaridade do aprendizado científico e matemático não dissolve

nem cancela a indiscutível disciplinaridade do conhecimento. O grau de especificidade

efetivamente presente nas distintas ciências, em parte também nas tecnologias

associadas, seria difícil de aprender no ensino fundamental, estando naturalmente

reservado ao ensino médio. Além disso, o conhecimento científico disciplinar é parte

tão essencial da cultura contemporânea que sua presença na educação básica e,

consequentemente, no ensino médio, é indiscutível. Com isso, configuram-se as

características mais distintivas do ensino médio, que interessam à sua organização

curricular.

Os objetivos do ensino médio em cada área do conhecimento devem envolver, de forma

combinada, o desenvolvimento de conhecimentos práticos, contextualizados, que

respondam às necessidades da vida contemporânea, e o desenvolvimento de

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conhecimentos mais amplos e abstratos, que correspondam a uma cultura geral e a uma

visão de mundo. Para a área das ciências da natureza, matemática e tecnologias, isto é

particularmente verdadeiro, pois a crescente valorização do conhecimento e da

capacidade de inovar demanda cidadãos capazes de aprender continuamente, para o que

é essencial uma formação geral e não apenas um treinamento específico.

Ao se denominar a área como sendo não só de ciências e matemática, mas também de

suas tecnologias, sinaliza-se claramente que, em cada uma de suas disciplinas, pretende-

se promover competências e habilidades que sirvam para o exercício de intervenções e

julgamentos práticos. Isto significa, por exemplo, o entendimento de equipamentos e de

procedimentos técnicos, a obtenção e análise de informações, a avaliação de riscos e

benefícios em processos tecnológicos, de um significado amplo para a cidadania e

também para a vida profissional.

Com esta compreensão, o aprendizado deve contribuir não só para o conhecimento

técnico, mas também para uma cultura mais ampla, desenvolvendo meios para a

interpretação de fatos naturais, a compreensão de procedimentos e equipamentos do

cotidiano social e profissional, assim como para a articulação de uma visão do mundo

natural e social. Deve propiciar a construção de compreensão dinâmica da nossa

vivência material, de convívio harmônico com o mundo da informação, de

entendimento histórico da vida social e produtiva, de percepção evolutiva da vida, do

planeta e do cosmos, enfim, um aprendizado com caráter prático e crítico e uma

participação no romance da cultura científica, ingrediente essencial da aventura humana.

A condução de um aprendizado com essas pretensões formativas, mais do que do

conhecimento científico e pedagógico acumulado nas didáticas específicas de cada

disciplina da área, depende do conjunto de práticas bem como de novas diretrizes

estabelecidas no âmbito escolar, ou seja, de uma compreensão amplamente partilhada

do sentido do processo educativo. O aprendizado dos alunos e dos professores e seu

contínuo aperfeiçoamento devem ser construção coletiva, num espaço de diálogo

propiciado pela escola, promovido pelo sistema escolar e com a participação da

comunidade.

Um ensino médio concebido para a universalização da educação básica precisa

desenvolver o saber matemático, científico e tecnológico como condição de cidadania e

não como prerrogativa de especialistas. O aprendizado não deve ser centrado na

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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interação individual de alunos com materiais instrucionais, nem se resumir à exposição

de alunos ao discurso professoral, mas se realizar pela participação ativa de cada um e

do coletivo educacional numa prática de elaboração cultural. É na proposta de condução

de cada disciplina e no tratamento interdisciplinar de diversos temas que esse caráter

ativo e coletivo do aprendizado afirmar-se-á.

O aprendizado deve permitir a compreensão da natureza viva e dos limites dos

diferentes sistemas explicativos, a contraposição entre os mesmos e a compreensão de

que a ciência não tem respostas definitivas para tudo, sendo uma de suas características

a possibilidade de ser questionada e de se transformar. Deve permitir, ainda, a

compreensão de que os modelos na ciência servem para explicar tanto aquilo que

podemos observar diretamente, como também aquilo que só podemos inferir; que tais

modelos são produtos da mente humana e não a própria natureza, construções mentais

que procuram sempre manter a realidade observada como critério de legitimação.

Ao longo do ensino médio, para garantir a compreensão do todo, é mais adequado

partir-se do geral, no qual o fenômeno vida é uma totalidade. O ambiente, que é produto

das interações entre fatores abióticos e seres vivos, pode ser apresentado num primeiro

plano e é a partir dessas interações que se pode conhecer cada organismo em particular

e reconhecê-lo no ambiente e não vice-versa.

Para promover um aprendizado ativo, que realmente transcenda a memorização

(SILVA, 2007).

4.2. A Instituição Educacional

Os pressupostos até aqui estudados evidenciam que a principal função da Educação

Ambiental (EA) é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para

decidirem e atuarem na realidade socioambiental da sociedade, local e global. Para

tanto, faz-se necessário que, mais do que informações e conceitos, a instituição de

ensino se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a

aprendizagem de habilidades e procedimentos. Ou seja, os comportamentos

“ambientalmente corretos” poderão ser aprendidos no cotidiano da instituição, através

de gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes,

participação em pequenas negociações podem ser exemplos disso.

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Além do que, a sociedade como um todo, o comportamento familiar e as informações

vinculadas pela mídia exercem influenciam sobre as crianças, portanto, esses também

devem ser orientados, reeducados a agirem de maneira correta com relação ao meio

ambiente, dando exemplo nas suas ações para conservação e preservação do mesmo

(MACHADO, 1996).

Para que o processo de ensino-aprendizagem alcance as metas e objetivos estipulados

no que se refere a EA, deve trabalhar a partir da visão de que cada grupo social tem um

significado do termo “meio ambiente” e, principalmente como cada grupo percebe o seu

ambiente e os ambientes mais abrangentes em que está inserido. São fundamentais, na

formação de opiniões e no estabelecimento de atitudes individuais, as representações

sociais são dinâmicas, evoluindo rapidamente. Daí a importância de se identificar qual

representação social cada parcela da sociedade tem do meio ambiente, para se trabalhar

tanto com os alunos como nas relações escola-comunidade (ANTUNES, 2010)

Entre os mecanismos, pedagogias e estratégias para se ensinar a EA, destaca-se aqui

aquela didática que consiste na identificação dos elementos que constituem sues

subsistemas ou parte deles. Assim se distinguem os elementos naturais e construídos,

urbanos e rurais ou físicos e sociais do meio ambiente. No entanto, o educador deve ter

em vista o fato de que a própria abordagem ambiental implica ver que não existem tais

categorias como realidades estanques, mas há gradações.

Após discorrer sobre o destaque da educação ambiental como fator de agregação

convergente para o melhor desempenho da política ambiental, agora serão enfocadas

pequenas linhas de como se processar a aprendizagem na educação ambiental.

Na realidade, não existe uma técnica apropriada para o ensino da educação ambiental. O

professor deve inserir a dimensão ambiente dentro do contexto local, sempre

construindo modelos através da realidade e pelas experiências dos próprios alunos, que

são a família, os locais preferidos de passeios, os jogos, os locais de brincadeira, os

animais domésticos ou as árvores presentes nos arredores das escolas, entre outros.

Técnicas como jogos, atividades fora da sala de aula simulações, teatros ou produções

de materiais pedagógicos são recomendados para o desenvolvimento da educação

ambiental, pois possibilitam trazer para a sala de aula situações reais que, muitas vezes,

são impossíveis de serem vivenciadas. Além disso, essas atividades possibilitam que os

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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alunos sejam avaliados por suas atitudes, seus comportamentos ou suas atuações

participativas.

É preciso também reconhecer que a educação ambiental é interdisciplinar, devendo

permear todas as áreas que compõem o currículo. Embora a educação ambiental possa

ser desenvolvida nas diversas disciplinas, é recomendável repensar o contexto que cada

uma se propõe a oferecer.

A EA é desenvolvida com o objetivo de auxiliar os alunos na construção de uma

consciência global das questões relativas ao meio para que possam assumir posições

afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria. Para isso é importante que

possam atribuir significado àquilo que aprendem sobre a questão ambiental.

A perspectiva ambiental oferece instrumentos para que o aluno possa compreender

problemas que afetam a sua vida, da de sua comunidade, a de seu país e a do planeta.

Muitas questões políticas, econômicas e sociais são permeadas por elementos

diretamente ligados à questão ambiental, neste sentido, as situações de ensino-

aprendizagem devem se organizar de forma a proporcionar oportunidades para

compreender a realidade e atuar sobre ela.

O trabalho com a realidade local possui a qualidade de oferecer um universo acessível e

conhecido e, por isso, passível de ser campo de aplicação do conhecimento. Para a EA o

trabalho com a realidade local é de importância vital, pois as questões ambientais

oferecem uma perspectiva particular por tratar de assuntos que por mais localizados que

sejam, dizem respeito direta ou indiretamente ao interesse do planeta como um todo.

Portanto, para que os alunos possam compreender a complexidade e a amplitude das

questões ambientais, é fundamental oferecer-lhes uma visão abrangente que englobe

diversas realidades e uma visão contextualizada da realidade ambiental, o que inclui,

além do ambiente físico, as condições sociais e culturais.

Os conteúdos de meio ambiente devem ser integrados ao currículo através da

interdisciplinaridade, pois serão tratados nas diversas áreas do conhecimento, de modo a

impregnar toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, criar uma visão global e

abrangente da questão ambiental.

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Assim, em acordo com PCNs (1997) a EA deve ensinar: as formas de estar atento e

crítico com relação ao consumismo; a valorização e a proteção das diferentes formas de

vida; a valorização e o cultivo de atitudes de proteção e conservação dos ambientes e da

diversidade biológica e sociocultural; o zelo pelos direitos próprios e alheios a um

ambiente cuidado, limpo e saudável na escola, em casa e na comunidade; o

cumprimento das responsabilidades de cidadão, com relação ao meio ambiente; o

repúdio ao desperdício em suas diferentes formas; a apreciação dos aspectos estéticos da

natureza, incluindo os produtos da cultura humana; a participação em atividades

relacionadas à melhoria das condições ambientais da escola e da comunidade local.

O educador dentro desse contexto deve assumir uma postura crítica diante da realidade,

de informações veiculadas pela mídia e daqueles trazidos de casa, pois tem por objetivo

desenvolver, promover a formação de cidadãos críticos e participativos.

O educador deve favorecer ao aluno, no que se refere aos temas associados ao meio

ambiente, o reconhecimento de fatores que produzam real bem-estar; ajudá-lo a

desenvolver um espírito crítico às induções ao consumismo e o senso de

responsabilidade e solidariedade no uso dos bens comuns e recursos naturais, de modo a

respeitar o ambiente e as pessoas da sua comunidade. A responsabilidade e a

solidariedade devem ser expressar desde a relação entre as pessoas com seu meio, até as

relações entre povos e nações, passando pelas relações sociais, econômicas e culturais.

Sendo o convívio escolar um fator determinante para a aprendizagem de valores e

atitudes, pois a escola é um dos ambientes mais imediatos do aluno, a compreensão das

questões ambientais e as atitudes em relação a elas se darão a partir do próprio cotidiano

da vida escolar do aluno.

A aprendizagem de procedimentos adequados e acessíveis é indispensável par ao

desenvolvimento de capacidades ligadas à participação, à corresponsabilidade e à

solidariedade. Assim, fazem parte dos conteúdos procedimentais desde formas de

manutenção da limpeza do ambiente escolar (jogar lixo nos cestos, cuidar das plantas,

manter banheiro limpo) ou formas de evitar desperdício, até como elaborar e participar

de uma campanha ou saber dispor dos serviços existentes relacionados com as questões

ambientais.

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4.3. Objeto da Educação Ambiental

Preliminarmente, falou-se em meio ambiente ecologicamente equilibrado, como bem de

uso comum de uma coletividade. Sob a mesma ótica, pregou-se também a

imprescindibilidade da interação entre o homem e a natureza.

Como ponto de equilíbrio, argumentou-se sobre desenvolvimento sustentável, cuja

premissa maior, se não fundamental, postulou-se no realce que deve assumir a educação

ambiental, até mesmo para cumprir mandamento constitucional.

A educação ambiental é sistematizada pela lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que

instituiu Política Nacional de Educação Ambiental. Mas, antes de se falar em Educação

Ambiental, existem os elementos integrantes do meio ambiente, ou seja, meio ambiente

natural, meio ambiente artificial.

Agora, cabe a indagação: como garantir a preservação desses bens tão essenciais ao ser

humano? Então, nesta circunstância, emerge o instituto da “tutela”, para afiançar a

existência desses bens.

O meio ambiente natural é composto pelo solo, água, fauna e flora, e é considerado bem

de uso comum do povo, por isso, é chamado de direito difuso ou de terceira geração,

conforme opinam determinados ambientalistas.

O solo tem grande importância no clima e na vegetação. Representa a base de nutrição

da humanidade. Ademais, no solo penetram água para chegar aos lençóis freáticos, que

correm para os rios, lagos e para o mar. No entanto, independentemente do tipo do solo,

nada impede que deterioração atinja sua qualidade, sua forma, suas características

naturais. Silva (2007) classifica as formas de deterioração do solo em: poluição,

degradação, erosão e esgotamento.

A poluição consiste na contaminação do solo e do subsolo, por resíduos sólidos,

denominado lixo, que derivam de condutas humanas nocivas. A degradação é uma

espécie de poluição que se faz por agrotóxicos, os pesticidas, os herbicidas, os

fungicidas e os inseticidas. A erosão é a destruição física do solo, fazendo-o perder sua

qualidade natural (SILVA, 2007).

O esgotamento é exaurimento do solo, como consequência da excessiva extração de

nutrientes, sem a devida reposição, o que pode ser remediado por fertilização ou rotação

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de cultura. Ante as práticas prejudiciais, processos de conservação do solo se impõe,

quais sejam, vegetativas, consistentes em florestamento, formação de pastagens,

culturas; proteção direta do solo, para garantir os elementos nutrientes do solo;

mecânicas, visando distribuição adequada de terras; sistemas de manejo: rotação de

culturas, preparo do solo, subsolagem, plantio direto (SILVA, 2007).

Para tutelar bem de vital importância, despontam-se o Código Nacional de Saúde, de 21

de Janeiro de 1961; a portaria 53, de 01 de Março 1979 e a resolução 6, de 15 de Maio

1988, do CONAMA.

O ar compõe-se o ar de 78% de hidrogênio e 21% de oxigênio, além de argônio, ozônio,

dióxido de carbono e vapor de água. Sendo elemento indispensável á respiração dos

seres vivos, além de filtrar os raios solares, arrefecer o calor e equilibrar o ecossistema.

Se faltar, a vida se extinguirá. Se sua natureza for gravemente comprometida, sua

função ecológica perecerá (SILVA, 2007).

O desequilíbrio do ambiente atmosférico é ocasionado pela dosagem desigual de seus

componentes, em cuja origem estão fatores naturais ou artificiais. Os fatores naturais

são passageiros e podem ser ventanias ou erupções vulcânicas. Os artificiais decorrem

da ação do homem, da poluição causada por veículos movidos a combustíveis líquidos

ou gasosos e das indústrias. Também derivam de desmatamentos e queimadas de

florestas, provocando o efeito estufa, de alta periculosidade para a saúde do homem

(SILVA, 2007).

Juridicamente, o ar recebe proteção do Decreto – lei 1.413/75, do Programa de Controle

de Poluição do Ar por veículos Automotores (PROCONVE– Resolução CONAMA

18/86) e do Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar (PRONAR – Resolução

CONAMA 5/89).

Através da história, a água tem sido para o homem escrava e senhora. Grandes

civilizações foram criadas onde havia fartura de água. Decaíram quando o suprimento

de água deixou de ser abundante. Houve homens que se mataram uns aos outros por um

poço de água lamacenta. Muitas vezes, quando deixava de chover por longos períodos,

as plantações secavam e a fome assolava a região. Outras vezes, as chuvas caíam com

muita intensidade e repentinamente, então os rios transbordavam, cobrindo e afogando

tudo e todos que se achassem no caminho de suas águas (BENJAMIN, 1995).

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Hoje em dia, mais que nunca, a água é escrava e senhora do homem. Usa-se a água para

limpeza, na cozinha, no banho, e para eliminar resíduos. Usa-se a água para irrigar as

plantações, de maneira a produzir mais alimentos. Nas fábricas, o material mais usado é

a água. Usa-se a água dos grandes rios e cachoeiras para produzir eletricidade.

Em casa, usa-se água em quantidade muito maior do que a necessária simplesmente

paras nos manter vivos. Precisa-se de água para a cozinha, a limpeza, o banho, e para

levar os resíduos pelo esgoto abaixo. Para muita gente, essa água é um luxo, milhões de

casas na Ásia, África, América do Sul e Oceania não dispõem de água corrente. As

pessoas têm de tirar água no poço, ou carregá-la em lata ou pipas, desde o rio ou lagoa

longe de suas casas (BENJAMIN, 1995; LEITE, 2003).

O homem, depois de ter aprendido a construir pequenos barcos rústicos, começou a

utilizar os rios e lagos para transportar pessoas e mercadorias. Mais tarde, construir

embarcações maiores e navegou pelos mares, em busca de novas terras e novas rotas de

comércio. Atualmente, o homem ainda depende da água quando se trata de transportar

produtos como maquinaria, minério de ferro, cereais e petróleo.

O homem instala a maioria de suas áreas de recreação perto de lagos, rios e mares.

Todos apreciam os esportes aquáticos, tais como: a natação, a pesca, o velejar, e

também a beleza de um lago calmo, uma cachoeira com sua espuma, ou as ondas que

arrebentam na praia. Ou seja, a água é um elemento essencial ao ser humano. Encontra-

se na forma líquida, sólida e de vapor, sendo 97% salgada. E se classificam em águas

subterrâneas (lençóis freáticos) e superficiais (rios, lagos); bem como em internas ou

interiores (rios, lagos baías, golfos) e externas (mar territorial, alto-mar) (BENJAMIN,

1995; LEITE, 2003).

A poluição da água consiste em alteração das suas propriedades físicas, químicas ou

biológicas, que possam acarretar prejuízo à saúde.

A tutela da água, de acordo com Antunes (2010), obedece a seguinte hierarquia:

competência da União; Código de águas, aprovado pelo Decreto 24.643/34, modificado

pelo Decreto – lei 852/38; Código Penal; Lei 5.357/67; Decreto 23.777/34; Decreto

50.877/61.

Fauna, inexiste, por enquanto, política efetiva de proteção da fauna, ainda que a

Constituição tenha ditado normas a respeito da matéria. No entanto, destacam-se o

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87

Código de Pesca (Decreto – lei 221/67); a Lei 5.197/67, que instituiu o Conselho

Nacional de Proteção à Fauna (CNPF).

Além disso, a Lei 9.605/98, no art. 37, permite o abate de animais para saciar a fome do

agente ou de sua família (estado de necessidade), bem como para proteger lavouras ou

rebanhos, ou ainda por ser nocivos o animal.

Por outro lado, é proibida a pesca nos períodos de piracema17

(Decreto – lei 221/67),

bem como a pesca de cetáceos, baleias e botos não é admitida em jurisdição de território

nacional (Lei 7.643/87).

A Constituição de 1988 estabeleceu competência comum da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios preservarem as florestas, a fauna e a flora (CF, art. 23,

VII), bem como legislar corretamente sobre florestas, proteção do meio ambiente e

controle da poluição (CF, art. 24 VI), além do que impôs ao Poder Público a tarefa de

proteger a fauna e a flora, especialmente a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica (CF,

art. 225, § 4º).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão ambiental tem sido considerada cada vez mais urgente e relevante a

sociedade, pois o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a

natureza e seu uso pelo homem. Assim, a medida que a humanidade aumente sua

capacidade de intervir na natureza para satisfação de necessidades e desejos crescentes,

surgem tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e recursos em função da tecnologia

disponível.

A tecnologia empregada evoluiu rapidamente com consequências indesejáveis que se

agravam com igual rapidez. A exploração dos recursos naturais passou a ser feita de

forma demasiadamente intensa.

Compreendeu-se nesta etapa a concepção de meio ambiente, inclusive a jurídica e, ainda

ficou evidente que a questão ambiental tem sido muito reclamada na sociedade regional,

nacional e mundial, enfim, a sociedade tem reivindicado um posicionamento do

ordenamento jurídico no sentido de reter os danos ambientais.

17

Piracema, segundo o Dicionário Melhoramentos da Língua Portuguesa, migração anual dos peixes rio

acima, na época da desova.

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Não há dúvida que o Brasil deu um importante passo com a criação de normas

protetoras ao meio ambiente, buscando sempre soluções mais adequadas e eficazes na

prevenção e reparação do dano ambiental.

Não há dúvida que o Brasil deu um importante passo com a criação de normas

protetoras ao meio ambiente, buscando sempre soluções mais adequadas e eficazes na

prevenção e reparação do dano ambiental.

Mas, salienta-se que não basta existir a lei. E faz necessário que os operadores do direito

coíbam as ações predatórias ao meio ambiente, garantindo uma saudável qualidade de

vida aos cidadãos e uma real proteção ao ecossistema. Essa preocupação deve imperar

sobre os interesses meramente particulares, coibindo-se que violências contra o meio

ambiente sejam perpetradas, em prejuízo de toda a comunidade.

6. REFERÊNCIAS

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O USO DO SOLO PARA A PRÁTICA AGRÍCOLA NA COMUNIDADE

BAIXÃO DO ANÍSIO, EM VÁRZEA BRANCA- PI.

Janete Paes de Macêdo18

Resumo

Este artigo parte de uma reflexão sobre o uso do solo para a prática agrícola, na comunidade

Baixão do Anísio, Várzea Branca no estado do Piauí,cuja a distância da capital Teresina é de

585km. A comunidade situa- se no sudoeste piauiense do sertão nordestino, onde predomina a

vegetação da caatinga e o clima semiárido. Objetivou- se com este trabalho analisar as

principais práticas agrícolas adotadas pelos agricultores, bem como suas consequências para o

meio ambiente, em virtude das poucas informações e conhecimentos que os agricultores

possuem em relação as práticas conservacionistas e manejo adequado do solo, tendo em vista

que essa é uma temática bastante discutida no âmbito da pedologia ou ciência do solo, com o

intuito de mobilizar a sociedade para o uso consciente e inteligente do solo. O presente trabalho

teve como procedimentos metodológicos as revisões bibliográficas, questionários e observações

in loco. Diante dessa abordagem fica claro a necessidade de maior compromisso e

responsabilidade de toda a sociedade na preservação do solo para as futuras gerações.

Palavras chaves: Prática agrícola; conservação do solo; meio ambiente.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, ampliou-se a preocupação e a discussão sobre a aplicação

de práticas conservacionistas e manejo adequado do solo, que promovam condições

favoráveis para preservar as características do solo, haja visto que a demanda por

alimentos tem crescido de forma significativa, isto porque a população mundial também

tem aumentado em ritmo acelerado, e no entanto é preciso selecionar as práticas ou

sistemas que preservem as propriedades do solo.

Para atender as suas necessidades a humanidade depende do solo, este deve ser

utilizado de forma diversa e com o propósito de conserva- lo para que as gerações

futuras também possam usufruir deste bem precioso com a mesma ou com melhor

utilidade que apresenta atualmente. Mas para conservar o solo é necessário que haja

políticas públicas, leis ambientalistas voltadas para o uso da terra, consciência e

participação de toda sociedade.

18

Graduada em Licenciatura plena em Geografia- UESPI; Especialista em Psicopedagogia- Faculdade Montenegro; Mestranda do Curso Internacional em Educação- Anne Sulivan University.

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Diante desta perspectiva é que procurou-se analisar e discutir as informações que

os agricultores da comunidade Baixão do Anísio, no município de Várzea Branca- Pi,

possui sobre o uso e manejo do solo. Este trabalho apresenta grande importância no que

se refere a questão ambiental e sobretudo para o solo, pois esta é uma temática bastante

discutida pelos cientistas e estudiosos do meio ambiente.

Diante dessa pesquisa buscou- se analisar o seguinte questionamento: é possível

utilizar o solo para a prática agrícola sem danificá- lo gravemente?

A referida pesquisa procurou ainda detectar problemas decorrentes do uso do

solo, na comunidade Baixão do Anísio em Varzea Branca- Pi. Dentro dos específicos

logo espera- se identificar as práticas agrícolas utilizados pelos agricultores e

compreender a importância da conservação do solo para as gerações atuais e futuras.

O presente trabalho teve como procedimentos metodológicos as revisões

bibliográficas, questionários e observações in loco. Inicialmente houve pesquisa

bibliográfica, parte imprescindível para a realização deste trabalho, pois a mesma requer

momentos de reflexão para realizar um paralelo entre a teoria e a prática. Nesse

contexto foi realizado um roteiro de perguntas através de questionários, com os

agricultores da referida comunidade, as questões foram estruturadas a fim de obter

informações a respeito do tema ora apresentado. Além da observação realizada em

campo, na intenção de conhecê-lo e relacioná-lo com as bibliografias utilizadas na

pesquisa.

A importância do solo.

O estudo do solo, é relativamente recente, isto porque as pesquisas e estudos

relativos ao solo tem por base a Pedologia ou a ciência do solo, que foram lançadas

somente em 1880 na União Soviética por Dokuchaiev, a partir deste período que houve

interesse por conhecer melhor as características e propriedades do solo.

O estudo do solo é tema relevante a cerca da questão ambiental, pois o

solo é elemento do ambiente que sofre graves interferências da ação

humana. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente (Pnuma), órgão ligado a ONU, está ocorrendo sérios

problemas ambientais, as vezes irreversível, ameaçando assim a

sustentabilidade do planeta (BITAR, 2004. p. 81).

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As definições de solo são abrangentes porque englobam vários outros campos, como: da

engenharia, agricultura, agronomia, entre outros. “Para o pedólogo, o solo é a coleção

de corpos naturais dinâmicos, que contem a matéria viva, e é resultante da ação do

clima e da biosfera sobre a rocha matriz” (LEPSCH, 2002. p. 09).

O solo é resultante de diversos fatores, dentre eles os mais importantes são: os

microrganismos, a variação climática e a ação dos seres vivos que interagem entre si

causando a decomposição e a formação do solo.

A relação entre os componentes bióticos e abióticos é intima no solo,

que por definição consiste de uma camada intemperizada da crosta da

Terra com organismos vivos misturados com produtos de sua

degradação. Há uma estreita relação entre os seres não vivos e vivos

na Terra, ambos se misturam causando o intemperismo, a degradação

e a consolidação do solo (ODUM, 2008. p. 187).

O solo é um dos elementos de vital importância, que constitui o meio ambiente. O solo

não é algo estático, é dinâmico, cuja formação teve inicio com a desintegração da rocha-

mãe, que em contato com a matéria viva e interação com o clima se decompôs e com o

passar do tempo consolidou- se, dando origem ao solo.

O conceito de solo é variável, pois depende do ponto de vista do profissional que está

analisando o mesmo, ou seja, a definição de solo é muito ampla. Conforme Lepsch

A pedologia é o ramo da ciência que se dedica a estudar os solos

considerando sua constituição, sua origem, sua morfologia, suas

classificações e seus mapas, formando a base para as informações do

seu melhor uso, dentro dos princípios de proteção ambiental

(LEPSCH, 2002. p. 150).

Para que haja preservação do solo é necessário que o homem conheça o solo em sua

totalidade, quais as propriedades são mais resistentes a ação do ser humano e quais

solos apresentam maior fertilidade.

O solo pode ser considerado um elemento central dos ecossistemas terrestres, porque a

maioria das atividades produtivas se desenvolve com base nos nutrientes e fertilizantes

presentes no solo, sendo utilizados de forma consciente os nutrientes são regenerados e

reciclados durante a decomposição no solo antes de se tronarem disponíveis para os

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94

produtores primários (plantas), “assim o solo não é apenas um fator do ambiente, para

os organismos, mas também produzidos por ele” (ODUM, 2007. p. 187).

É notório que o solo é um recurso natural de fundamental importância para a vida na

Terra, sem ele não teria como produzir alimentos e garantir a diversidade das espécies.

Segundo Lepsch “o solo é a base fundamental de qualquer nação, a sua conservação

relaciona- se principalmente á produção de alimentos, assumindo assim grande

importância econômica, como garantia da própria estabilidade social do país”

(LEPSCH, 2002. p. 152).

O solo necessita de cuidados especiais, uma vez que é a base para o desenvolvimento de

qualquer nação, pois quase tudo que são consumido pela sociedade é proveniente do

solo, ele é suporte para a produção de alimentos, sendo assim exerce grande influencia

na economia e na estabilidade social do país. E ainda é um recurso natural básico,

constituindo um componente fundamental dos ecossistemas e dos ciclos naturais, um

reservatório de água, um suporte essencial do sistema agrícola e um espaço para as

atividades humanas e para os resíduos produzidos.

O enfoque sobre a importância do solo e sua qualidade vem ganhando destaque no

cenário mundial no que se refere a questão ambiental, assim com os demais recursos

naturais, ele necessita de cuidado e proteção, pois a qualidade do solo é um bom

indicador da qualidade do meio ambiente.

A qualidade do solo foi definida pelo Soil Science SocietyofAmerica, como:

A capacidade de um tipo particular de solo funciona dentro dos limites

de um ecossistema natural ou gerenciado de forma a sustentar a

produtividade vegetal e animal, manter ou aumentar a qualidade da

água, e sustentar a saúde e habitação humanas (SSSA, 1994 apud

ODUM, 2008. p. 193).

Diante desta questão percebe- se, que a qualidade do solo é um fator determinante para

garantir a saúde e a produtividade dos ecossistemas dos ambientes a ele relacionados.

Todavia, diferentemente do ar e da água, para os quais existem padrões de qualidade, a

definição e quantificação da qualidade do solo não é simples em decorrência da

complexidade dos fatores envolvidos e de não ser o solo consumido diretamente pelo

homem e animais.

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95

Contudo, avaliar a qualidade do solo não é uma tarefa simples, pois ao contrário dos

demais recursos naturais, ele não é consumido diretamente pela população, com isso os

atributos considerados para medir sua qualidade são intrínsecas como: cor, textura, a

densidade de agregados orgânicos, e os fatores externos como as relações do homem

com a terra, o uso de máquinas e agrotóxicos, entre outras.

Conservação do solo.

A conservação do solo é uma temática complexa, pois exige responsabilidade de toda a

sociedade e para que os nutrientes do solo possam ser mantidos é necessário que o ser

humano tenha uma relação harmônica e consciente com o solo. “A conservação do solo

tem por finalidade usar e cuidar da terra, isto é, usar a terra para produzir um maior

rendimento e ao mesmo tempo protegendo- a para que não perca sua capacidade

produtiva” (FEPLAM, 1975. p. 09). É inquestionável que o uso e manejo do solo de

maneira consciente e inteligente garantem uma terra fértil por muito mais tempo e um

rendimento mais significativo, capaz de suprir a demanda da população, sem agredir

seriamente o meio ambiente. Conforme, Lepsch

O objetivo da conservação dos solos agrícolas é fomentar sua

adequada utilização quando a vegetação natural é substituída por

lavouras, pastagens ou reflorestamento. Preservar o solo e

proporcionar maior estabilidade e seus impedimentos se para isso

tiverem vontade, os meios materiais e os conhecimentos necessários

(LEPSCH, 2002. p. 152).

A conservação do solo deve ser constante, para que este possa propiciar maiores

rendimentos na produtividade agrícola, mas para que isso aconteça é necessário

empenho, força de vontade e informações para utilizar o solo de modo mais

conveniente, e evitar assim danos ao meio ambiente. “Apesar de tanto falar sobre a

conservação do solo, o homem não tem usado sua habilidade para manipular a terra com

toda sabedoria e precaução” (DOWNES, 1983. p. 15).

Segundo Ibid

A consequência do mau uso da terra tem sido a degradação do meio

ambiente, como: erosão do solo, compactação, falta de escoamento da

água, salinização, perda do “habitat” natural, entre tantos outros. Estes

são os resultados das faltas de aptidões e de compreensão humana

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96

sobre como usar apropriadamente a terra e seus recursos (DOWNES,

1983. p. 65).

Diante dessa questão faz- se relevante a urgente adoção de práticas conservacionistas,

ou seja, práticas adequadas que causem menos impacto ao meio ambiente, objetivando

manter ou melhorar a qualidade do solo para o desenvolvimento agrícola, caso contrário

irá faltar alimentos para atender a demanda, em razão de o crescimento populacional ser

acelerado.

Conforme a Embrapa

A redução da movimentação do solo é um dos princípios básicos em

manejo e conservação do solo, em função dos seguintes benefícios

que proporciona: menores possibilidades de compactação do solo,

manutenção da estrutura do solo, maior infiltração de água no solo,

menores perdas de solo e água por erosão, maior disponibilidade de

água para as plantas e redução de custos (AZEVÊDO, 2007. p. 67).

Para que o solo mantenha suas características e propriedades, é preciso evitar muitos

movimentos no solo e assim terá maior produtividade e menos perdas. A cobertura

vegetal do solo é outro elemento básico que proporciona a preservação do solo, pois

reduz os impactos das chuvas, a lixiviação dos nutrientes da terra, além de aumentar a

capacidade de infiltração da água no solo (AZEVÊDO, 2007). Em última instância, o

destino de sistemas no solo depende da vontade da sociedade de intervir no mercado

para abdicar de alguns benefícios de curto prazo, a fim de preservar os solos e proteger

o capital natural em longo prazo (ODUM, 2007. p. 193).

Contudo, a preservação do solo depende do compromisso e do conhecimento da

sociedade, para que possa cuidar do solo com mais responsabilidade, renunciando os

benefícios de curto prazo e traçar metas alcançáveis ao longo prazo, esta é uma maneira

de estar protegendo o capital natural (solo). Mas para que isso ocorra

[...] propõe- se que sejam abordados alguns itens como:

Noções de manejo e conservação do solo: erosão e suas causas

[...], necessidades e formas de uso de insumos agrícolas;

A necessidade e principais formas de preservação, conservação,

recuperação e reabilitação ambientais, de acordo com a realidade local

(BRASIL, 1998. p. 60).

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97

Neste contexto, o ser humano é visto como um dos elementos que compõem a

natureza e, para tanto é necessário que o mesmo saiba utilizar os recursos naturais de

forma sustentável, sem causar desperdícios e grandes alterações nos ecossistemas. Deve

explorar os recursos naturais de forma adequada com a adoção de práticas ou sistemas

que promovam a conservação, a preservação e reabilitação do solo.

O uso do solo para agricultura.

O solo é o suporte para o desenvolvimento agrícola, ou seja, para produção de

alimentos, “e, no entanto uma grave degradação da terra vem ocorrendo no Brasil,

simplesmente porque sistemas agrícolas inadequados estão sendo usados, sem a devida

precaução” (DOWNES, 1983. p. 29).

Convém ressaltar que o uso do solo sem os devidos cuidados podem ocasionar graves

problemas, afetando de forma danosa a qualidade do solo, reduzindo a produtividade do

mesmo. “A degradação em terras agrícolas está causando á perda de nutrientes e a

deterioração da estrutura do solo e reduzindo, assim, o rendimento das colheitas”

(DOWNES, 1983. p. 29).

Em relação o uso do solo para a atividade agrícola é preciso que haja especialmente por

parte dos agricultores, conhecimentos e informações precisas sobre o uso e manejo

adequado do solo, a fim de amenizar os impactos que esta atividade causa no meio

ambiente. “Desde os primórdios da agricultura mais intensiva, o homem percebeu as

consequências desta atividade para o meio ambiente, e o desgaste dos solos foram

impelindo as fronteiras agrícolas para novas áreas” (LEPSCH, 2002. p. 151).

Em um período após a última era glacial, cerca de 10.000 anos atrás (LEPSCH, 2002),

grande parte dos humanos começou fixar- se em determinados territórios e iniciar o

cultivo de plantas, e a medida que os nutrientes do solo se esgotavam, as áreas

cultiváveis eram transferidas para outro local. “Nos anos finais do século XX, atenção

cientifica e a publicidade sobre as variedades de cultura de alto rendimento desviaram a

atenção do fato de que manter altos rendimentos depende da manutenção e da qualidade

do solo” (ODUM, 2008. p. 193).

O panorama ambiental evidencia sérios problemas relativos ao solo, como: erosão,

perda de fertilidade, desertificação, salinização de solos, queimadas entre outros

(BITAR, 2004). Atualmente há muitos estudiosos a favor da conservação do solo, e esta

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98

deve ser uma preocupação de todas as esferas da sociedade, pois “em termos de estudos

pedológicos, os trabalhos da comissão dos solos tiveram efeito catalisador” (IBGE,

2007. p. 29).

Ultimamente a preocupação com a qualidade do solo, tem sido bastante questionada

pela comunidade cientifica, isto porque a produção de alimentos atualmente é um

desafio mundial e, contudo, depende da qualidade do solo. Diante desta reflexão é

necessário escolher um sistema produtivo adequado para cada tipo de solo, e assim

manter a fertilidade do mesmo.

O uso do solo para a prática agrícola na comunidade Baixão do Anísio em Várzea

Branca- Pi.

A análise dos resultados que está sendo exposta resulta- se de uma pesquisa realizada

através de análises bibliográficas, observação em campo e questionários com os

agricultores da comunidade em estudo. A observação em campo “desempenha papel

importante nos processos observacionais no contexto da descoberta e obriga o

investigador a um contato mais direto com a realidade” (MARCONI; LAKATOS, 2003.

p. 191).

A comunidade Baixão do Anísio pertencente ao município de Várzea Branca no estado

do Piauí localiza- se a 585km da capital Teresina. A comunidade situa- se no sudoeste

piauiense do sertão nordestino, onde predomina a vegetação da caatinga e o clima

semiárido. Baixão do Anísio é a comunidade mais próxima da sede de Várzea Branca,

com apenas 3km de distância, deste modo a proximidade é um fator que privilegia aos

moradores da comunidade que realizam compras, pagam contas, entre outras atividades

importantes na cidade.

A referida comunidade é pequena, com apenas 20 habitantes, e 05 famílias, constituída

em sua maioria por pessoas do sexo masculino com faixa etária entre 51 a 60 anos. A

principal ocupação dos moradores é agricultura, e as terras (solos) são de uso coletivo

das famílias, pois as mesmas são herança dos pais.

Os solos varzeabranquenses classificam- se em: latossolo vermelho- amarelo

distróficos que associados a areias quartzosas distróficas, ou seja, é formado pelo

processo de laterização ou latossolização que se desenvolve em ambiente tropical, é

um solo seco e arenoso, porém rico em minerais; solos litólicos eufóricos, que são solos

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pobres para a agricultura, pois contém grande teor de ácido e ainda são considerados

rasos; e solos brunos não cálcicos, que também são pouco profundos, com somente 40 a

60 cm de solum acima da rocha, relativamente ricos em nutrientes e ainda apresenta

uma camada de pedras e cascalhos (CEPRO,2011).

Segundo os moradores, as terras são brancas, planas e rasas em sua maioria e, que

geralmente os moradores chamam a mesma de baixão, outra parte é avermelhada e mais

elevada, e os moradores a chamam de chapada. Conforme Lepsch

No sertão nordestino os solos estão vinculados á vegetação do tipo

caatinga em suas diversas formas. Nas partes mais baixas, onde o

relevo é quase plano ocorrem em sua maioria solos salinizados, os

planaltos e chapadas nordestinas compreendem uma destacada

paisagem inserida nas rebaixadas zonas das caatingas, onde as

temperaturas são menos elevadas, a precipitação pluviométrica é

maior e os solos são mais profundos (LEPSCH, 2002. p. 130).

Devido as características do solo, as principais culturas desenvolvidas na comunidade

Baixão do Anísio, respectivamente são: feijão, milho e mandioca, sendo que o feijão e o

milho são cultivados nas terras mais planas, enquanto que a mandioca é cultivada nas

terras mais elevadas e avermelhadas, que os agricultores chamam de chapada. A

seguinte tabela mostra a opinião dos agricultores em relação a qualidade do solo local.

Qualidade dos solos.

Razoável 70%

Bom 25%

Ruim 05%

A colheita do feijão e do milho ocorre entre os meses de janeiro e abril e, é de

fundamental importância para o consumo das famílias, que além de consumir estes

alimentos na forma verde, os agricultores ainda armazenam os grãos em vasilhames,

como: latas, galão de plástico e até mesmo em garrafas pet (figura 01), para o consumo

no decorrer do ano, ou até encontrar a época de novas colheitas.

Figura 01: Grãos de feijão armazenados em garrafas pet.

Fonte: pesquisa direta.

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100

Já a colheita da mandioca ocorre entre os meses de junho a agosto, esta é uma atividade

que requer maior quantidade de mão- de- obra, pois a colheita inicia- se na roça e

termina na casa de farinha e as tarefas são divididas por sexo, os homens arrancam,

ralam a mandioca e fazem a farinha (figura 02), enquanto que as mulheres raspam a

mandioca (figura 03) e espremem a massa para tirar a tapioca, da qual faz- se o beiju,

que é uma comida típica da região.

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101

Figura 02: Homem fazendo a farinha Figura 03: Preparação da mandioca

de mandioca. Fonte: pesquisa direta.

Fonte: pesquisa direta.

Em função da qualidade do solo, do clima semiárido, a escassez e má distribuição das

chuvas, estas são as culturas que melhor se adaptam a região e, estes são os principais

fatores observáveis pelos agricultores da referida comunidade, para a realização de seus

cultivos. Segundo Lepsch

No sertão semiárido do nordeste, os solos são, em sua maioria, ricos

em elementos nutritivos para as plantas, mas muitos deles apresentam

serias limitações para a agricultura, sendo a maior relacionada com a

pouca espessura do solum e o regime incerto e escasso das chuvas

(LEPSCH, 2002. p. 133).

A partir dos questionários foi possível conhecer o modo como os agricultores preparam

o solo para a plantação, eles cultivam apenas para o consumo utilizando práticas

tradicionais como: queimada e aração manual, e conta com ferramentas simples, dentre

elas podemos destacar enxada, facão, foice, entre outros. Lepsch afirma que “[...] se a

queimada for efetuada com muita frequência, deixa o solo desnudo, o que aumenta a

erosão, volatiliza elementos úteis a nutrição das plantas bem como contribui para a

poluição atmosférica” (LEPSCH, 2002. p. 161).

A tabela abaixo aponta que mesmo na modernidade, muitos ainda cultivam a terra de

forma arcaica, com práticas agrícolas rudimentares.

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102

Práticas agrícolas mais utilizadas pelos agricultores.

Queimadas 50 %

Aração manual 50%

A produção é pequena, porém é saudável, pois os agricultores não utilizam agrotóxicos,

mas por outro lado causa danos ao solo, pois as queimadas eliminam os nutrientes, ou

seja, os fertilizantes naturais da terra, e com o passar do tempo o solo se torna

improdutivo. E apesar da rotação de cultura ser uma prática simples e barata os

agricultores não adotam, alguns até tem informações a respeito dessa prática, mas não a

utiliza.

Embora a rotação de culturas seja tecnicamente recomendada pelos

seus benefícios no controle da propagação de pragas e doenças e na

reciclagem de nutrientes, a decisão final fica por conta do agricultor,

que dá muito mais ênfase á questão econômica do que o aspecto da

sustentabilidade do sistema como um todo (SILVA; RESCK, 1996. p.

67).

Outra prática que os agricultores do Baixão do Anísio adotam, é cultivar a terra por

alguns anos em torno de 03 a 05 anos, abandonar e fazer derrubadas para formar novas

áreas cultiváveis.

Com relação a essa temática, as práticas conservacionistas mais viáveis para os

agricultores da referida comunidade seria adubação orgânica, “que consiste em colocar

no solo o adubo preparado pelo próprio agricultor e, constitui- se de restos de vegetais,

adubo verde e esterco de curral” (FEPLAM, 1975. p. 38).

Outra maneira seria evitar as queimadas, esta que é uma prática tradicional ainda muito

utilizada pelos agricultores da comunidade e que deve ser combatida, pois a mesma

queima a fertilidade natural do solo. Ao invés disso deveriam misturar os restos vegetais

da lavoura anterior com a terra, “todo esse material orgânico por sua vez se decompõe

no solo, formando ótimos elementos nutritivos” (FEPLAM, 1975. p. 38).

Diante desta questão foi constatado que os agricultores do Baixão do Anísio ainda

praticam a agricultura de forma tradicional, sem grande preocupação quanto a

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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conservação do solo e que os mesmos não fazem uso de agrotóxicos devido as lavouras

serem pequenas e até mesmo por falta de informações técnicas a respeito dessa prática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A discussão sobre o solo não é algo recente, desde os primórdios os homens já se

preocupavam em encontrar solos mais férteis para a plantação agrícola. Ao longo do

tempo técnicas agrícolas foram aprimorando- se, algumas que beneficiaram o

tratamento com o solo, outras não.

Na comunidade de Baixão de Anísio, no município de Várzea Branca, Pi,

observou- se que as técnicas agrícolas usadas ainda são muito tradicionais, através de

ações ofensivas ao solo, como queimadas, e ainda utilizam- se ferramentas muito

arcaicas, o que diminui a rentabilidade de seu trabalho, e consequentemente a produção.

Eles não possuem assistência técnica, nem conhecimento sobre práticas agrícolas não

prejudiciais ao solo, o que dificulta o entendimento sobre a conservação do mesmo.

Assim sendo, fica evidente que mesmo alguns moradores conhecendo práticas

conservacionistas para o solo, os mesmos utilizam apenas seus conhecimentos

adquiridos ao longo do tempo e através de suas experiências sobre o solo, além de

observarem os sinais da natureza, que segundo eles indicam se o ano vai ser bom ou

ruim para a colheita.

Diante dessa concepção, logo nota se a necessidade de um trabalho de

conscientização junto aos agricultores da comunidade ora mencionada, com a finalidade

de mostrar os impactos ambientais decorrentes do mau uso do solo.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

Meio Ambiente e Saúde. Brasília, 1997.

BITAR, Omar Yazbeck. Meio ambiente e geologia. São Paulo: Editora Senac, 2004.

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DOWNES, Ronald G. A institucionalização da conservação do solo e da água no

Brasil. Brasília, 1983.

AZEVÊDO, Claudio Luiz Leone. Solos. 2ª edição. EMBRAPA, 2007. Acesso dia

18/07/2015 as 20h.

Disponível em:

https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Citros/CitrosBahia_2ed/sol

os.htm

FEPLAM. Manual de Conservação do solo. 2ª edição. Porto Alegre- RS: FEPLAM,

1975.

FUNDAÇÃO CENTRO DE PESQUISAS ECONÔMICAS E SOCIAIS DO PIAUÍ

(CEPRO). Diagnóstico socioeconômico- Várzea Branca. Piauí: CEPRO, 2001.

Acesso dia 12/03/2016 as 10h.

Disponível em :

http://www.cepro.pi.gov.br/download/201106/CEPRO21_0c6476a50c.pdf

IBGE. Manual Técnico de Pedologia. 2ª edição. Rio de Janeiro, 2007.

LESPCH, Igo F. Formação e conservação dos solos. São Paulo: Oficina de Textos,

2002.

ODUM, Eugene P. Fundamentos da ecologia. São Paulo: CengageLearming, 2008.

SILVA, J. E. da; RESCK, D. V.S. Plantio direto: o caminho para uma agricultura

sustentável. In: Congresso Brasileiro de Plantio Direto para uma agricultura

sustentável. Ponta Grossa, PR: 1996.

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105

A FORMAÇÃO CONTINUADA DO EDUCADOR AMBIENTAL

Veridiana Rodrigues Aires1

RESUMO

O presente artigo tem por temática a formação continuada do educador ambiental; tendo

como objetivo geral explanar sobre a fundamental presença do educador ambiental, bem

como sua devida capacitação continuada. Que tal tema se justifica em função da

necessária participação do professor versado em educação ambiental tendo o mesmo

uma formação continuada, e o mesmo com tal conhecimento expor as informações

necessárias para o aluno, as quais repercutirão no âmbito social de forma positiva. O

trabalho em alusão sobre a educação educacional faz menção sobre a legislação que

rege tal sistemática, além de fazer uma explanação bem concisa sobre a formação

continuada do educador ambiental no contexto brasileiro. Foi utilizado como

metodologia pesquisa de cunho bibliográfico, sendo fundamenta também em artigos e

dissertações, sendo feita uma direta e objetiva análise da situação do educador

ambiental na conjuntura do Brasil. O educador ambiental tem um papel fundamental

nessa complexa conjuntura, sendo um dos expoentes para ativar de forma educacional e

proativa uma mobilidade e conscientização da necessidade de ação ética individual e

coletiva ao mesmo tempo, o que motivará uma saúde ambiental e social constante.

Palavras-chave: Educação. Educador ambiental. Formação continuada.

INTRODUÇÃO

No sentido de entender o percurso da Educação Ambiental no Brasil, no

Currículo escolar, visualizou-se em primeiro momento, por evidenciar a sua evolução

no âmbito das legislações que irão institucionalizar e direcionar a sua práxis enquanto

educação formal e, em outra situação por enfatizar os Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCNs), que determina as orientações gerais para o desenvolvimento da

Educação Ambiental no ensino da escola básica.

A temática justifica-se em função da necessidade de se abordar a formação

continuada do docente em Educação Ambiental a partir da perspectiva da educação em

valores, para formar um cidadão eticamente responsável para com o meio ambiente,

considerando-se os graves problemas sócio-ambientais que imperam no Brasil e no

mundo ORTEGA; MINGUEZ; GIL, 1996 citado por (BARRA, 2000, p. 80).

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

106

A metodologia do estudo se fundamentou em pesquisa de cunho bibliográfico,

qual segundo Marconi e Lakatos (2007, p.185), “abrange toda bibliografia já tornada

pública em relação ao tema de estudo, (...)”, acerca do contexto do docente do ensino

superior, e sua importância social na vida contemporânea.

Assevera Marconi e Lakatos (2007, p.185) a bibliografia bem fundamentada

“oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como

também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente”,

valorizando o enfoque sobre o assunto tratado.

A pesquisa bibliográfica estimula a desenvoltura de uma visão acadêmica

lançando perspectivas para um raciocínio lógico fundamentado em postulados de

natureza científica, os quais são expansivos dentro de procedimentos reflexivos,

controlados, sendo observado dentro de uma dinâmica de criticidade que permite

descobrir novos fatos, acatar ou contrapor os dados relacionados às leis ou conceitos,

em qualquer campo do conhecimento (GIL, 2008).

Neste estudo, partimos da observação de fatos ou fenômenos cujas causas

desejamos conhecer. A seguir, procuramos compará-los com a finalidade de descobrir

as relações existentes entre eles. Por fim, procedemos à generalização, com base na

relação verificada entre os fatos.

Utilizamos como procedimento o método de pesquisa que tem como princípio o

estudo de um caso em profundidade que pode ser considerado representativo de muitos

outros ou mesmo de todos os casos semelhantes (GIL, 2008).

O presente trabalho possui como objetivo discutir a formação continuada do

educador ambiental.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

A educação ambiental é fundamental para todo e qualquer país que deseja

preserva o ambiente natural, ou procurar equilibra o seu “habitat” natura, ou que ainda

resta dele.

No Brasil, a Educação Ambiental foi oficializada pelo Decreto Federal

n° 73.030 de 30/10/73; porém, foi com a Política Nacional do Meio

Ambiente, pela Lei n° 6.938/81, que ficou definida a Educação

Ambiental para todos os níveis de ensino e em programas específicos

direcionados à comunidade (BARRA, 2000, p. 51; CARNEIRO,

1999, p. 30).

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

107

A preocupação com a temática se deu no início da década de 1970 ainda não foi

suficiente para implementar uma ação educacional e efetiva no sentido de preservação e

principalmente conscientização da sociedade.

Assim, no Decreto n° 88.351/83, que regulamentou a Lei 6.938/81,

ficou estabelecido que compete ao Poder Público, nas suas diferentes

esferas de governo, "orientar a Educação, em todos os níveis, para a

participação efetiva do cidadão e da comunidade na defesa do meio

ambiente, cuidando para que os currículos escolares das diversas

matérias obrigatórias contemplem o estudo do meio ambiente"

(BRASIL, 1994, p. 35).

A legislação brasileira possui sua relevância na propagação e valorização da

educação ambiental, o que realmente falta é uma aproximação do texto legal

direcionada ao cidadão em todas as classes sociais, visto que, muitos não possuem

acesso ou entendimento da temática, com isso, a devida conscientização deixa a desejar

visto que, não há uma reciprocidade entre as determinações legais e o cidadão.

A Lei em questão é reforçada pela publicação do Parecer 226/87, do

Conselho Federal de Educação (Ministério de Educação), que

ressaltou a urgência da formação de uma consciência pública voltada

para a conservação da qualidade ambiental e, com isto, enfatizando a

necessidade de inclusão da Educação Ambiental nos currículos

escolares de 1º e 2º o graus (atualmente ensino fundamental e médio)

numa abordagem interdisciplinar, ficando recomendada a

disseminação de centros de Educação Ambiental no País (BARRA,

2000, p. 54; MEDINA, 1994; CARNEIRO, 1999, p. 39).

É evidente que os órgãos competentes se desdobram no cumprimento de sua

missão no tocante a educação ambiental, sendo feita uma abordagem interdisciplinar, a

qual necessita ser repassada para a sociedade de forma constante; a escola nesse sentido

serviria como local de aprendizado, mas também deveria servir de elo importante social

na difusão da educação ambientalista.

Enfatiza-se também, neste contexto, que faz menção à Educação Ambiental, na

medida em que se faz necessária uma educação com mentalidade preventiva integral,

evidenciando-se não só as situações de riscos que envolvem o consumo de drogas, a

contaminação por doenças transmissíveis, a gravidez indesejável, a perda de valores de

convivência, mas também o meio ambiente, observando o papel do indivíduo no

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

108

equilíbrio dos ecossistemas (Portaria 1656 de 28/11/1994 do Ministério da Educação e

do Desporto) (MEC).

É fato que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB) não

se refere com especificidade à órbita ambiental na educação escolar. Segundo Carneiro

(1999, p. 46-47):

Em nada diminui seu estatuto institucional e, menos ainda, sua

importância sócio-pedagógica; sobretudo, tendo-se em vista o

contexto das disposições legais e medidas administrativas brasileiras

sobre a questão ambiental e a própria Educação Ambiental. Na

verdade, os artigos da LDB dão uma abertura suficiente para a

realização da Educação Ambiental no processo educativo em geral

(CARNEIRO, 1999, p. 46-47).

No final da década de1990 entrou em vigor a Lei n° 9.795/99 veio expor, no

âmbito nacional, a política de Educação Ambiental, reforçando dessa maneira o que já

vinha sendo tratado em leis anteriores. Assim, no Cap. I, Art. 2o, a Lei impõe a

obrigatoriedade da aplicação, em abrangência nacional, da Educação Ambiental "de

forma articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter

formal e não formal"; e o Art. 3o obriga o Poder Público a "definir políticas públicas"

para promover a Educação Ambiental no âmbito formal e não formal (BRASIL, 1999).

No Art. 4o são destacados os princípios básicos da Educação

Ambiental, entre os quais estão: "a concepção de meio ambiente em

sua totalidade", considerando as interrelações entre o meio natural,

socioeconómico e cultural, sob o enfoque da sustentabilidade

ambiental; concepções pedagógicas que valorizem o pluralismo de

ideias "na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade"; a

relação "entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais" uma

avaliação crítica permanente do processo educativo; "a abordagem

articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e

globais"; o reconhecimento da pluralidade e diversidade cultural dos

indivíduos e grupos sociais (BRASIL, Lei n° 9.795/99).

Enquanto que no Art. 5o são observados os objetivos fundamentais da Educação

Ambiental, sendo destacado:

Compreensão do meio ambiente em suas múltiplas e complexas

relações - aspectos ecológicos, psicológicos, legais, sociais,

econômicos, científicos; o desenvolvimento de "uma consciência

crítica sobre a problemática ambiental e social"; "o incentivo a

participação individual e coletiva" responsável no cuidado para com o

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

109

meio em vista de sua qualidade ambiental enquanto "valor inseparável

do exercício da cidadania".

O artigo acima mencionado é fundamental para aplicabilidade da educação

ambiental, com isso seria importante e fundamental uma logística com educadores

atualizados com ampla capacitação e implantação de forma integral em todo o Brasil

uma ação educação ambiental jamais vista, pois, o contexto brasileiro urge por

providências práticas que atinja diretamente a sociedade de forma positiva.

O Decreto n° 4.281/02 regulamenta esta Lei e recomenda como

orientação à educação básica, os Parâmetros e as Diretrizes

Curriculares Nacionais, buscando-se a integração da Educação

Ambiental às disciplinas por meio do tema transversal meio ambiente

de modo contínuo e permanente. Assim, tem-se hoje como consenso

que a Educação Ambiental, enquanto proposta educativa, implica a

formação de uma cidadania ambiental, diz respeito à noção de

direitos, deveres e responsabilidades cívicas, em vista de uma

sustentabilidade ambiental (LOUREIRO (2000, p. 30).

A sustentabilidade ambiental é algo que tem que fazer parte do dia-a-dia na

sociedade brasileira, e deve atingir a sociedade como um todo dentro dos vários

contextos e contradições sociais que há no Brasil. O educador ambiental tem um papel

fundamental nessa complexa conjuntura, sendo um dos expoentes para ativar de forma

educacional e proativa uma mobilidade e conscientização da necessidade de ação ética

individual e coletiva ao mesmo tempo, o que motivará uma saúde ambiental e social

constante.

A FORMAÇÃO CONTINUADA DO EDUCADOR NO BRASIL

A temática ambiental pode ser, então, uma síntese do modelo da ciência atual em

desenvolvimento. Tal temática exige novos raciocínios e novas, sérias e sólidas

estratégias educativas de formação dos educadores em geral e dos educadores

ambientais em particular. O distanciamento das disciplinas nos cursos de graduação

exige que esses cursos sejam profundamente revistos e avaliados de forma urgente. A

formação dos educadores não pode ser mais articulada como um somatório de

conhecimentos costurados artificialmente.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

110

Segundo Reis (2002, p.83):

Ao estudar a formação dos educadores ambientais nos cursos de

graduação através das representações de seus professores acerca da

educação ambiental, foi preciso definir quem é o educador ambiental.

Os cursos de graduação formam, mesmo que de forma assistemática, e

muitas vezes invisível, educadores ambientais que atuam em

diferentes espaços educativos e sociais: nas escolas de ensino

fundamental e médio, públicas e privadas, no ensino superior em

universidades ou faculdades, públicas e privadas, nas entidades

ambientalistas, no movimento ambientalista, nos movimentos sociais

em geral, em animação cultural e de lazer, no turismo, nos meios de

comunicação, na educação popular, na saúde etc. Se considerarmos os

três cursos estudados, podemos dizer que em todos os espaços sociais

em que atuam os biólogos, químicos e geógrafos, de empresas

públicas e privados de todas as modalidades – na indústria, comércio e

agricultura – às escolas de todos os níveis e modalidades, atuam os

educadores ambientais. Isso porque entendo por educador ambiental

desde aquele que exerce atividades sistematizadas de educação

ambiental até aquele que, em sua prática social profissional cotidiana,

tem possibilidades de desenvolver, de forma mais ou menos

consciente, a dimensão educativa presente em todas as relações

humanas (TOZONI-REIS, 2002, p.83).

A atuação do educador ambiental é algo abrangente e necessário, além de ser

fundamental no sistema educacional no presente século, tendo em vista as necessidades

dos alunos e da sociedade como um todo necessitarem assimilar e praticar tendências de

motivações a preservação o sistema ambiental de forma racional.

Assim, a prática educativa ambiental, desenvolvida por esses

educadores, traz para a sua formação todos os condicionantes sócio-

históricos dessas atividades. A complexa relação entre sociedade e

educação define o cenário da formação dos educadores. Desta forma

não podemos pensar a formação dos educadores – e a formação dos

educadores dos educadores ambientais – como solução definitiva para

os problemas socioambientais. Considerando a amplitude e a

complexidade do campo de atuação profissional dos educadores

ambientais, penso que a universidade tem reduzido a função desses

profissionais – todos aqueles que vão trabalhar com a temática

ambiental – à dimensão técnica da atuação profissional no mundo do

trabalho, mundo esse complexo e contraditório, mas concreto e

histórico. Aqui se coloca a urgente necessidade de escolha entre a

concepção ampliada e a concepção restrita de formação profissional

dos nossos alunos. A ideologia da eficiência tem sido um forte

obstáculo à formação crítica dos profissionais no ensino superior,

alojada na organização fragmentada dos recortes disciplinares do

conhecimento (TOZONI-REIS, 2002, p.92).

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

111

A formação educacional no âmbito ambiental feita de forma sistemática e

constante vai oferecer a sociedade uma mentalidade prática de como ter uma vida e

existência saudáveis. É uma forma de aproximar mais o educador, a escola e sociedade,

visto que, há um entrave relacional complexo entre a sociedade e a educação ambiental.

É, fundamental implantar nos Municípios e Estados-Membros escolas ativamente

compromissadas na consolidação da educação ambiental, com a participação do

educador capacitado e motivado para esse relevante exercício.

Formar profissionais de educação ambiental, com competência para formular

sínteses socioambientais, exige um esforço criativo nos cursos de graduação que não

significa só, mas também, propostas de reformulação formal dos currículos dos cursos.

Exige reformulação radical que, as universidades, pelo menos no que diz respeito à

circulação de ideias sobre novos paradigmas, estão a solicitar, embora suas estruturas

institucionais sejam grande obstáculo.

PERSPECTIVAS DA FORMAÇÃO CONTINUNADA DE DOCENTES

A profissionalização e capacitação técnica é fundamental no desenvolvimento

das atividades do conhecimento, principalmente no âmbito acadêmico e mais

precisamente no âmbito pedagógico de uma nação que necessita evoluir urgentemente

no segmento educacional.

A formação continuada de professores no segmento ambiental é algo que

preliminarmente necessita de valorização, conscientização e suporte contínuo. É uma

atividade que deve ser desenvolvida continuamente de forma profunda e espontânea.

Em se tratando de educador ambiental o contexto brasileiro é bastante delicado, sendo

necessário uma ação extremamente focada na urgência e aplicação de dispositvos que

envolvem a problemática em alusão.

A formação continuada pode melhorar a qualidade do ensino, no

entanto o educador deve ter noção que sua formação não termina no

Ensino Superior. Formar (ou reformar) o formador para a

modernidade através de uma formação continuada proporcionará ao

mesmo, independência profissional com autonomia para decidir sobre

o seu trabalho e suas necessidades.

"Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se

faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

112

prática e na reflexão da prática" (MAFRA E GUERRA, 2009, p.2

apud FREIRE, 1991).

A formação continuada de qualidade pode mudar sensivelmente a vida do

professor de nível superior, tendo em vista que tal profissional necessita da expansão do

conhecimento como formador e informador de conhecimento, e no tocante ao segmento

ambiental é necessário estratégias sólidas e convincentes para desempenhar tal

atividade. Evidentemente o referido profissional vai se mantendo dentro de uma linha

de padronização educacional organizada, firme e atualizada, sempre observando o

conteúdo programático como também a atualização quanto aos dispositivos legais.

A capacitação do docente de nível superior no segmento ambiental deve ser

encarada não apenas como uma reclassificação profissional, ou título a ser adquirido,

mas, uma atividade de conscientização e normal para que se consiga uma evolução,

adquirir conhecimentos e servir com essa bagagem.

É um vínculo criado entre o profissional e o seu ofício com atualizações

constantes, com um planejamento estratégico, diante das demandas que a problemática

exige, gerando assim, um acentuado nível de capacitação.

Tal capacitação é algo que deve uma intimidade com os aplicativos tecnológicos

de mídia eletrônica, acessando tal dispositivo como ferramenta, e não como o principal,

visto que, muitos profissionais são dependentes da informática e de seus múltiplos

acessos, se esquecendo de sua fonte principal de conhecimento que são as diversas

literaturas e títulos disponíveis. As bibliografias convencionais são ainda algo que

legitimam a consolidação do conhecimento, a informática é um importante instrumento

que vem ajudar, facilitar e agilizar a organização do conhecimento, e não substituí-lo.

Segunda Mafra e Guerra (2009, p.2):

O Ensino Superior apresenta caminhos para a sua habilidade e

desenvolvimento da profissão, mas cada educador vai percorrer uma

especialização que mais interessar, estando motivado, aprendendo

com prática, as pesquisas, as observações, se tornado um profissional

reconhecido e competente ao longo da sua caminhada profissional. A

qualidade de ensino pode ser obtida com profissionais formados que

continuam a se aperfeiçoar e modernizar com o apoio da formação

continuada, pois sua formação é um processo permanente, e associada

ao cotidiano escolar desenvolvendo práticas pedagógicas eficientes e

inovadoras.

A formação continuada em educação ambiental é o tipo do conhecimento de

grande relevância para o momento, é uma sistemática de conhecimento que vem dar

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

113

uma nova identidade ao professor de ensino, tendo em vista a sua importância não só no

âmbito acadêmico, mas, a sociedade como um todo.

Vivemos tempos de degradação da natureza não só no âmbito local do território

brasileiro, o planeta em sua essência estrutural clama por atitudes de preservação de seu

contexto ecológico. Para isso, é fundamental a participação de profissionais habilitados,

capacitados, atualizados e comprometidos com a preservação e educação ambiental.

Tal consciência é fácil de explanar, mas difícil de praticar em função da ausência

de uma conscientização cidadã, e comprometida com o bem estar da comunidade como

uma amplitude de ações e deveres que devem ser inseridos nas praticas sociais.

A visão e atitude devem ser não somente de cunho particular ou com

partidarismo, mas a educação ambiental é uma semente que deve ser aplicada com uma

mentalidade de consciência de vida, e bem estar com visão ampla de comunidade e

interação social justificada pelo bem comum e do planeta como organismo vivo, além

de ser preservado, deve ser valorizado, ou seja, é o nosso ambiente macro, e como tal

deve existir um intenso cuidado no sentido de ocorrer cuidados constantes.

Para que isso ocorra a visão educacional é um segmento que deve ser implantado

com prioridade, tendo em vista que, os seres necessitam de ordem, descência,

planejamento e desenvolvimento de seus ambientes com relação a natureza. Não é

saudável viver de forma improvisada, ou com atitudes nocivas ao meio ambiente.

Segundo Mafra e Guerra apud Brzezinski (1994):

A modernidade exige atualização e aperfeiçoamento do educador e a tecnologia se torna um desafio a quem se formou há mais de dez anos. A concepção moderna de educador exige "uma sólida formação científica, técnica e política, viabilizadora de uma prática pedagógica crítica e consciente da necessidade de mudanças na sociedade brasileira".

O educador ambiental é um indivíduo que além de se capacitar e atualizar-se,

deve desenvolver uma análise de conjuntura, isto é, fazer um estudo e análise de seu

contexto de maneira imparcial, além de uma solidez de conhecimento científico e

tecnológico. A pedagogia moderna exige do profissional atualização constante além de

conhecer bem o público alvo para quem var ministrar o conhecimento assimilado.

Se, na experiência de minha formação, que deve ser permanente,

começo por aceitar que o formador é o sujeito em relação a quem me

considero o objeto, que ele é o sujeito que me forma e eu, o objeto por

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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ele formado, me considero como um paciente que recebe os

conhecimentos-conteúdos-acumulados pelo sujeito que sabe e que são

a mim transferidos (FREIRE, 1996, p.23).

A transmissão de conhecimentos atualizados lança uma projeção para

formatação de novos aplicativos para consolidação e aplicação do conhecimento. O

educador recebe conhecimento e repassa tais informações, sendo sujeito da relação e ao

tempo um formador e moderador das concepções a serem transmitidas em sala de aula.

O educador ambiental esta na verdade cumprindo uma missão não só para dado

momento, se entender o real sentido de sua missão isso se estenderá para o resto de sua

existência.

O Ensino Superior apresenta caminhos para o desenvolvimento de

habilidades à profissionalização docente, mas cada educador vai

percorrer seu próprio caminho para a especialização, aprendendo na

prática, nas pesquisas, nas observações, se tornando um profissional

reconhecido e competente ao longo da sua caminhada profissional. A

qualidade de ensino pode ser obtida com profissionais formados que

continuam a se aperfeiçoar e atualizar com o apoio da formação

continuada, pois sua formação é permanente, e associada ao cotidiano

escolar desenvolvendo práticas pedagógicas eficientes. A

universidade ocupa um papel essencial, mas não o único, para a

formação do professor. Às universidades, cabe o papel de oferecer o

referencial epistemológico e metodológico para desenvolver o

potencial físico, humano e pedagógico do futuro docente (MAFRA E

GUERRA, 2009, p. 5).

Diante de tantas concepções provenientes de estudos em Educação e Educação

Ambiental, é perceptível que a formação continuada é um caminho de uma forma educação

permanece ativa buscando incentivos, os quais fomentam alcançar um nível aceitável de

capacitação profissinal direcionada ao docente.

Tal dinâmcia permite ao docente transpor de obstáculos de natureza

epistemológica, problemáticas pedagógicas e lacunas em sua preparação preliminar,

buscando experiênca da interdisciplinaridade, produzindo projetos e atividades que

proporcionem uma evolução constante, com a utilização de aplicativos tecnológicos,

entre outros.

Com o intuito de levar a otimização da qualidade do ensino e enfrentamento das

mazelas e problemáticas socioecológicas, uma vez que esta não é uma exclusividade

apenas dos educadores do segmento ambiental, mas implica no envolvimento e

conscientização de toda comunidade escolar.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

115

É perceptível que após a inserção da capacitação da formação continuada, os

docentes assimilar novos referenciais teóricos e caracterísitcas metodológicas no intuito

de ampliar seus projetos e dinâmicas educacionais, com isso fica evidente a evolução

epistemológica que notabiliza na propagação prática do desenvolvimento do

conhecimento no ambiente pedagógico.

Apesar das dificuldades inseridas no ambiente de trabalho como educador o

exercício profissional do docente buscando vinculação com a utilização dos seguintes

instrumentos: livro didático, revistas populares, notícias em sites da internet, como

suporte instrumental para combater a ausência do saudável hábito da utilização da

literatura correspondente área socioambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sem dúvidas é fundamental para o destino organizado e racional da sociedade a

participação efetiva de educadores ambientais, tendo em vista que a sociedade brasileira

precisa acelerar o nível de conscientização nessa importante área de preservação do

ambiente.

É relevante ter um rol de legislação que providencie a atualização da

participação efetiva do professor ou educador ambiental, com amplas condições de

consolidar sua missão educadora e social.

Diante da realidade em que vivemos é extrema importância organizar a vida

educacional consciente e firme em um propósito de linhagem ambiental, fundamentado

em formação educadora. Para isso é necessário dar um suporte mesmo uma dinâmica

profissional de capacitação e atualização de natureza continuada. Dessa forma, a

sociedade terá um nível de consciência partindo da escola gerando influência constante

para as demais gerações prestando um relevante serviço para todo o complexo social do

Brasil.

A formação continuada dos educadores em educação ambiental é uma ação que

deve ter um apoio significante por parte das políticas pública, as quais devem ser

utilizas de forma constante e com amplitude profissional, sendo uma forma de modelo

de gestão educacional de forma constante.

A consciência e conhecimento se desenvolvem no âmbito da comunidade

escolar, mas os gestores educacionais devem possuir a devida conscientização social e

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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educadora, não apenas para liberação de verbas públicas, mas devem estrategicamente

serem utilizadas de forma coerente sem excessos, mas com aplicabilidade útil à

educação e a toda sociedade.

O mundo contemporâneo padece por ausência de uma gestão educadora

ambiental de qualidade. No Brasil não é diferente, a disseminação da educação

ambiental ainda não chegou no nível aceitável, visto que, existem na prática resistência

externas e pouca mobilização da sociedade em relação do nível de gravidade ambiental

do mundo presente.

Conforme evidenciou Paulo Freire, a educação sozinha não pode fazer nada, mas

só a educação é capaz de efetuar uma transformação. Diante dessa assertiva, é relevante

existir no ensino superior uma amplitude considerável a valorização e implantação com

qualidade total não só de capacitação profissional de docentes, mas, uma mobilidade e

flexibilidade em todos os cursos superiores em discernir sobre a temática da educação

ambiental, já que vivemos em uma sociedade capitalista, e em função de atender as

demandas de produção do comando dos segmentos industríais e econômicos, o planeta

terra e as sociedades que nele se encontram se tornaram vítimas de um sistema que está

aos poucos matando o complexo social existente.

Sem uma atividade educadora ambiental difundida de forma consistente, não

teremos resultados suficientes, no senido captar resultados práticos, para aplicabilidade

dos conhecimentos pedagógicos compatíveis com as necessidades da sociedade

presente. O que se vê em larga escala é uma negligência que macula a presença humana

na terra, e existem indivíduos que promovem a desorganização ambiental como algo

natural.

O maior modelo que se encontra em nossa sociedade é fomentar a

conscientização ambiental de forma sólida, a formação continuda de professor de nível

superior é um grande passo, quando isso, for levado a sério por todos os segmentos

educacionais públicos e privados.

A formação continuada dos profissionais da educação ambiental é motivo de

regozijo, como também de se encarar com uma grande responsabilidade a ser

desenvolvida, a qual marcará as demais gerações sobre o fator de integral importância

pedagógica da temática para o futuro da educação e da sociedade.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

117

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ciências da Educação do Departamento de Métodos e Técnicas de Investigação do

Comportamento e da Educação, Universidade de Santiago de Compostela.

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1981, e a Lei n° 6.902, de 27 de abril de 1981, que dispõem, respectivamente, sobre

a Política Nacional do Meio Ambiente e sobre a criação de Estações Ecológicas e

Áreas de Proteção Ambiental, e dá outras providências. Senado Federal, Brasília-

DF, 1981.

BRASIL, LEI nº 6.938/81, Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus

fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília-DF,

1981.

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: 1988. Texto

Constitucional de 05 de outubro de 1988 com as alterações adotadas pelas Emendas

Constitucionais de n° 1, de 1992 a 22, de 1999, e pelas Emendas Constitucionais de n° 1

a 6 de 1994. 11 ed. Brasília, DF, 1994.

BRASIL, Portaria 1.656 de 28 de novembro de1994.

BRASIL, LEI 9.795/99 da Educação Ambiental, de 28 de abril de 1999. Dispõe sobre a

Educação Ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras

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CARNEIRO, S. M. M. A dimensão ambiental da educação escolar de la-4\ Séries do

ensino fundamental na rede escolar pública da cidade de Paranaguá. Curitiba-PR,

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118

1999. 320 f. Tese de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Universidade

Federal do Paraná.

FREIRE, M. A Formação Permanente. In: Freire, Paulo: Trabalho, Comentário,

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LAKATOS, E. M. & MARCONI, M. A. Metodologia do trabalho científico. 7ª ed.

São Paulo: Atlas, 2007.

LOUREIRO, C. F. B.; LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. S. Sociedade e Meio

Ambiente: a educação ambiental em debate. São Paulo: Cortez, 2000.

MAFRA, A. I. ; GUERRA, A. F. S. Formação continuada para educadores

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Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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UMA ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A GRADE CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO

DAS ESCOLAS PÚBLICAS BRASILEIRAS NA PREPARAÇÃO DOS ESTUDANTES

PARA O INGRESSO E PERMANÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

Raulito Lopes da Silva 19

Jorge Messias Leal do Nascimento2

RESUMO

Este artigo faz uma análise crítica a respeito da Grade Curricular do Ensino Médio das escolas

públicas brasileira na preparação de indivíduos para ingresso e permanências no ensino

superior. Esta última etapa da educação básica está sendo alvo de discussões e debates no

cenário educacional ultimamente, sendo a grade curricular um componente em foco, esta

modalidade de ensino é considerada por muitos educadores a antessala para o Ensino Superior,

neste sentido faz se necessário uma análise de sua grade curricular como adequada/suficiente na

preparação dos indivíduos para o mundo da profissionalização e do sucesso pessoal de muitos

alunos. O ingresso no ensino superior é um desafio para uma grande parte da população

brasileira, tais desafios se dão justamente porque a maiorias desses estudantes saem do Ensino

Médio despreparados e sem os adereços mínimos exigidos para continuar a aprender. De modo

que nos deparamos com diversas situações como: analfabetos funcionais, alunos que não fazem

uma leitura de mundo clara e coerente, alunos com a capacidade de reflexão e criticidade

reduzida. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica e análise textual discursiva de

diversos artigos, onde foi possível analisar de forma critica a Grade Curricular do Ensino

Médio.

Palavras-chave: Ensino Médio; Grade Curricular; Escolas Públicas; Ensino Superior

INTRODUÇÃO

O Ensino Médio brasileiro atual compreende sua Grade Curricular em Português

(incluindo o idioma Português e as literaturas portuguesa e brasileira), língua estrangeira

(Inglês geralmente, espanhol em alguns estados), Artes, História, Geografia,

19

Licenciado em Física pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz, Pós – Graduado

em Metodologia do Ensino de Matemática pela FHR- Faculdade Hélio Rocha e em Gestão Educacional

pela FRFCLC – Faculdade Regional de Filosofia Ciências e Letras de Candeias, Mestrando em Educação

pela ANNE SULLIVAN UNIVERSTY, e-mail: [email protected].

2 Orientador; Jorge Messias Leal do Nascimento

, Bel. Zootecnista, Mestre em Ciência Animal - Produção

Animal (Univasf), Doutorando em Ciências Agrárias - Fitotecnia (UFRB)

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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Matemática, Física, Química e Biologia. A Filosofia e Sociologia, que foram proibidos

durante a ditadura militar (1964-1985), tornaram-se obrigatórios novamente, formando

um total de 12 disciplinas.

O acesso à Educação Superior é considerado um desafio muito grande por parte

da maioria dos estudantes que saem do Ensino Médio, pois apesar de uma Grade

Curricular recheada de diversidade nesta modalidade de ensino, tais diversidades ainda

não atende as necessidades educacionais da maioria dos jovens. (BRASIL.2013).

Atualmente o único dispositivo de acesso ao Ensino Superior em algumas

universidades a nota do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) como passaporte

para conseguir uma vaga nas universidades públicas ou bolsa em instituições de ensino

particular. Algumas universidades estaduais e particulares utilizam o Enem como

critério de seleção de parte ou de todas as vagas dos cursos superiores disponíveis. A

nota do ENEM pode ser utilizada de diversas maneiras como: bônus no vestibular,

como 1ª fase, para preencher vagas com ou sem o Sistema de Seleção Unificada (SISU)

ou como critério único de seleção das vagas remanescentes.

Para (CARNEIRO, 2012), Alcançar essa nota para ter oportunidade de participar

do processo de entrada no ensino superior seja ele qual for não é tarefa fácil, nem

sempre é alcançada pela maioria dos nossos estudantes. De modo que o não alcance

implica em baixa qualidade na oferta do Ensino Médio, desespero, desestímulo.

O Brasil vem passando por mudanças na oferta educacional. A partir das duas

últimas décadas, observou-se redução significativa do analfabetismo e universalização

na educação básica. Houve também uma expansão no ensino superior, apesar dessa

expansão, o acesso dos jovens ao ensino superior é ainda muito restrito e concentrado

nas camadas mais ricas da população, onde as maiorias destes alunos concluíram o

Ensino Médio nas escolas particulares e tiveram oportunidades de fazer cursinhos pré –

vestibulares a outra parte não. (CARNEIRO, 2012).

Na tentativa de sanar estes problemas recorrentes do Ensino Médio, muitos

professores e profissionais da educação aponta como solução uma reforma na grade

curricular vigente, se adequando as atuais necessidades dos alunos.

Neste sentido este artigo faz uma análise crítica sobre a grade curricular do

ensino médio das escolas públicas brasileira na preparação de indivíduos para ingresso

no ensino superior e sua permanência.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

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Esse artigo está organizado em um capítulo e três subcapítulos, sendo que o

capítulo discute o ensino médio como um direito de todos e os subcapítulos discute, em

linhas gerais, a real situação, desafios da Grade Curricular do Ensino Médio.

1 ENSINO MÉDIO UM DIREITO DE TODOS

A educação passou, por muitas lutas e discussões, para ser reconhecida como um

direito fundamental (direito do ser humano), nesta luta o Ensino Médio também fez

parte e presenciou todas suas nuances. Até 2009 o Brasil era o único país em que o

Ensino Médio não se constituía, de fato, como obrigatório, somente com a alteração da

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº9394/96 que a Educação

Básica passa a ser obrigatória dos 4 aos 17 anos e, portanto, o Ensino Médio passa a se

constituir em direito de todos os jovens de 15 a 17 anos.

A LDB 9;394/96 seção IV, Artigo 35 diz que o Ensino Médio é a última etapa da

educação básica, tendo uma duração mínima de três anos, sendo que a primeira

finalidade é consolidar e o aprofundar os conhecimentos adquiridos no ensino

fundamental, possibilitar o prosseguimento de estudos; a segunda finalidade preparar o

estudante para o trabalho e a cidadania plena do educando, podendo leva-lo continuar a

aprender; como terceira finalidade visa aprimorar o educando como pessoa humana,

incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do

pensamento crítico; e por ótimo leva os mesmos a compreensão dos fundamentos

científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática,

no ensino de cada disciplina escolar.

O que se tem percebido e se discutido é que o que a LDB propõem, parte dela não

acontece na prática de maneira tal que os efeitos implica nos resultados indesejado das

avaliações externas no caso o ENEM, ANA, PISA entre outras.

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122

Com a aprovação da Lei 13.005, no dia 25 de junho de 2014, onde define o Plano

Nacional de Educação (PNE), acionou uma contagem regressiva para o Brasil

implementar políticas públicas que visem o cumprimento de metas e diretrizes

educacionais até 2024 (para dez anos), nos âmbitos federal, estadual e municipal. Onde

os defensores do Ensino Médio no Brasil tem oportunidade e espaço para manifestar

suas insatisfações e angustias.

O PNE discute a educação para dez anos, tempo considerado longo pra alguns

educadores, mais curto para outros principalmente quanto se tem uma proposta voltada

para executar projetos e obter resultados, no que tange o Ensino Médio ficou

estabelecido a seguinte meta: “Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda

a população de 15 a 17 anos e elevar, até o final do período de vigência do PNE, a taxa

líquida de matrículas no Ensino Médio para 85%”. (PNE, 2015, p.20).

A universalização é uma ação muito importante na educação uma vez que a

mesma está associado à igualdade de direitos, Tal ação se debruça diante de um grande

desafio, desvio de dinheiro público, má administração dos recursos financeiros pelos

gestores escolares ou até mesmo recursos financeiros insuficientes. (UNESCO,2005).

A LDB 9;394/96 diz ainda, Artigo 02 e 03 – no que se refere os Princípios e Fins da

Educação Nacional que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos

princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por

finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o

exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3º O

ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I -

igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II -

liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o

pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de

concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à

tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de

ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos

oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII -

gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da

legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de

qualidade; X - valorização da experiência extra-escolar; XI -

vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

XII - consideração com a diversidade étnico-racial.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

123

O que os professores e profissionais da educação discutem, questionam e

debatem entre si sobre o ensino médio atualmente é uma cobrança que nos foi proposta

há 19 anos, que infelizmente até os dias de hoje não se consolidou, tornando o ensino

médio atual capenga, defasado e desestimulante.

1.1 Discutindo a Atual Grade Curricular do Ensino Médio das Escolas Públicas

Brasileiras

O resultado do ENEM de 2014 aponta baixo nível de aprendizagem dos alunos

do ensino médio, fato que tem sido o pivô das inúmeras discussões sobre a real situação

desta modalidade de ensino no Brasil, sendo que 529.374 inscritos tiveram nota zero na

redação, dos 6,2 milhões de participantes inscritos. A nota zero em redação está em

destaque pelo quantitativo exagerado, mas em outras áreas como a Matemática houve

queda significativa. (FAPESP, 2015)

Atualmente a grade do Ensino Médio na maioria dos estados brasileiro é

composta por 12 (disciplinas) sendo elas: (Português e as Literaturas Portuguesa e

Brasileira), língua estrangeira (Inglês geralmente, também espanhol e francês hoje

muito raro), História, Geografia, Matemática, Física, Química, Arte, Biologia, Filosofia

e Sociologia.

Numa visão unilateral a grade está perfeita, e é suficiente para que os alunos

consiga êxito em seus estudos, pois tais disciplinas desenvolvem habilidades como:

(CARNEIRO, 2012).

Língua Portuguesa - oferece ao aluno condições de ampliar o domínio da

Língua e da Linguagem, aprendizagem fundamental para o exercício pleno da

cidadania. Bem como, desenvolver seus conhecimentos discursivos e lingüísticos,

sabendo ler e escrever conforme seus propósitos e demandas sociais. Dentro dessa

disciplina encontram-se as partes: Gramática, Técnica de Redação, Interpretação de

Texto e Literatura. Podendo ser reorganizada por cada estado, dando maior foco o que

considerar mais importante.

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Matemática – oferece o acesso ao conhecimento matemático, que possibilite de

fato a inserção dos alunos como cidadãos, no mundo do trabalho, das relações sociais e

da cultura. Preconizando quantificar, calcular, localizar um objeto no espaço, ler

gráficos e mapas, fazer previsões, etc.

História – incentiva o aluno aprender a realidade na sua diversidade nas

múltiplas dimensões temporais, propõe estudos das questões locais, regionais, nacionais

e mundiais.

Geografia – incentiva o aluno perceber-se como atores na construção de

paisagens e lugares, compreender que a geografia de uma região está intimamente

ligada à natureza em constante mudança e às transformações exercidas pelo homem.

Biologia - propõem conhecimento em função de sua importância social, de seu

significado para os alunos e de sua relevância científico-tecnológica. Tem como

proposta estimular a análise, a capacidade de compor dados, informações e argumentos

produzindo significados a conceitos científicos básicos, como sistema, energia,

transformação, vida, hereditariedade, tempo e espaço.

Física - favorecem os conhecimentos dos princípios básicos e das teorias da

concepção do Universo e das leis que o regem. Bem como, a compreensão dos estudos

das grandes mentes da humanidade (Galileu, Newton, Einstein, Plank etc). Ou seja,

compreender os fenômenos da natureza na totalidade.

Química - busca desenvolver estudos da composição dos elementos químicos,

que basicamente formam a vida conhecida por todos, e da possível transformação destes

elementos na natureza.

Educação Física - integra os alunos na cultura corporal do movimento, com

finalidade de lazer, de expressão de sentimentos, afetos e emoções, de manutenção e

melhoria da saúde, busca o desenvolvimento da autonomia, da cooperação, da

participação social.

Artes - têm como objetivo levar as artes visuais, a dança, à música e o teatro

para serem aprendidos na escola.

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125

Inglês ou outros idiomas – preconiza a expansão da globalização, visando

desenvolver habilidades comunicativas em função de sua especificidade e das condições

existentes no contexto escolar.

Filosofia – procura desenvolver no aluno a aquisição dos conhecimentos

necessários para obter inteligência crítica de habilidades, de iniciativas e de

competências na resolução de problemas.

Sociologia - incentiva a compreensão de si mesmo e da sociedade em que vive.

Preparando este individuo para o exercício consciente da cidadania.

A grosso modo, as habilidades acima mencionada é suficiente para que o alunos

ingresse no Ensino Superior com sucesso e permaneça nele até concluir o curso, o fato é

que o meio mais fácil para o ingresso no Ensino Superior atualmente é o ENEM, e

maioria das escolas de Ensino Médio dos estados brasileiros trabalham estas disciplinas

de forma isoladas.

As questões desse exame são elaboradas levando em consideração 04 (quatro)

grandes áreas do conhecimento (Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e

suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologia, Ciências Humanas e suas

Tecnologias) de forma contextualizada, fazendo sempre uso da interdisciplinaridade.

Conforme Frigotto (2004) “definir a política pública de Ensino Médio a partir

dos sujeitos jovens demonstra a ruptura de uma perspectiva abstrata para uma

interpretação sócio-histórica do processo formativo e da construção do conhecimento”.

Alguns estados brasileiros já estão se adequando as novas exigências educacionais da

atualidade, inserindo na grade métodos novas como: aulas de TCs, aulas de núcleo,

aplicação de simulados, concursos de redação, profissionalização do ensino médio,

incentivo ao protagonismo juvenil através de projetos culturais e esportivos, enfim

buscando inovar.

O PME – 2015 prevê a criação de um programa nacional de renovação do

Ensino Médio, isso mexe com a grade curricular a fim de atrair os jovens com práticas

pedagógicas interdisciplinares e estruturadas pela relação entre teoria e prática. A

mesma atenção com os Anos Finais do Ensino Fundamental deve existir senão políticas

voltadas ao Ensino Médio podem não surtir efeito o efeito desejado.

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126

1.2 Ingresso e Permanência dos alunos no Ensino Superior

Muito se tem discutindo sobre o ingresso e os meios para a entrada dos alunos

oriunda das escolas públicas no ensino superior, mas atualmente as discussões têm

tomado um direcionamento diferente chegando até a permanência desses alunos no

ensino superior.

O Plano Municipal da Educação – 2015, estabelece como meta para os

próximos dez anos:

Elevar a taxa bruta de matrícula na Educação Superior para 50% e a

taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, asseguradas a

qualidade da oferta e a expansão para, pelo menos, 40% das novas

matrículas no segmento público. Elevar a qualidade da Educação

Superior pela ampliação da proporção de mestres e doutores do corpo

docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de Educação

Superior para 75%, sendo, do total, no mínimo, 35% de doutores.

Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto

sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil

doutores. (PME-2015).

Se o próprio governo estabelece metas para a elevação da taxa de matriculas no

Ensino Superior com números significativos é porque, algo precisa ser feito pra

possibilitar o acesso dos alunos oriundos do Ensino Médio das escolas públicas na

universidade. O fato é que o ingresso no Ensino Superior está cada dia mais

complicado. Tanto pelo meio como se dá o ingresso, como a qualidade da oferta do

Ensino Médio. (CARNEIRO, 2012).

De acordo com alguns autores, como Catani et al. (2006) e Neves et al. (2007),

discutem que a democratização da educação superior se restringe apenas à ampliação do

acesso. No entanto, a equidade nesse nível do ensino fica comprometida por dois fatores

determinantes: a qualidade no Ensino Fundamental e Médio, e a permanência na

educação superior, seja pelo aspecto econômico, social ou cultural.

Se por um lado o acesso ao ensino superior dos alunos das escolas públicas é

complicado pelo motivos já expostos no presente trabalho, por outro, uma boa parte dos

alunos que entram no ensino superior não permanecem, os fatores são velhos

conhecidos como: poder aquisitivo para a compra de livros e apostilas solicitadas pelos

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127

professores, didática desajustada, dificuldades no transporte, escolha do curso, situações

pessoais e familiares, condições sociais e culturais, etc.

É inquestionável o crescimento do ensino superior nos últimos dez anos em

relação ao número de matrículas, ao número de IES e aos programas federais para

promover esse processo. Um aspecto significativo e merece destaque é o fato do

aumento das vagas ter ocorrido, sobretudo, no setor privado, o que favorece uma

inclusão instável, principalmente para as camadas mais populares, que necessitam de

condições econômicas e socioculturais para garantirem sua permanência com qualidade

no ensino superior até o final do curso.

De acordo com os dados do Censo da Educação Superior divulgados pelo

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) (2014)

no ano de 2013. foram 268.289 matriculados a mais que em 2012, um crescimento de

3,8%, sendo 1,9% na rede pública e 4,5% na rede privada.

Não é possível discutir Educação Superior sem antes discutir a Educação Básica

( Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), pois ambas as modalidades

precisam umas das outras. Não basta oferecer o acesso à educação superior, é preciso

cuidar e acompanhar esses alunos das classes A, B, C, enfim, qualquer classe durante o

curso até o término. Se isso não acontecer vamos avançar muito pouco, e a deficiências

vão continuar existindo.

1.3 Desafios do Ensino Médio das Escolas Públicas brasileiras Frente as Exigência

Educacionais Atuais

O Ensino Médio, como última etapa da educação básica brasileira, tem como

objetivo formar cidadão crítico, capaz de conviver em sociedade e preparar para o

mercado de trabalho. Neste sentido, deve ser oferecido de forma plena, oportunizando

os estudantes o suporte necessário para enfrentar os desafios da sociedade moderna.

Segundo Marcondes (1997) A modernidade se caracteriza por uma ruptura com

a tradição que leva à busca, no sujeito pensante, de um novo ponto de partida alternativo

para a construção e a justificação do conhecimento. O indivíduo será, portanto, a base

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

128

deste novo sistema de pensamento. Da mesma maneira como a sociedade caminha rumo

às mudança provocada pela globalização, o Ensino Médio também deve sofrer

mudanças. Nós como indivíduos de uma sociedade devemos estar preparados para

conviver em sociedade por meio da educação, levando conosco nossa cultura e

costumes.

O mundo cada vez mais capitalista no qual vivemos nos incita se apropriar da

educação como elemento crucial para abrir novas portas nas empresas, para utilizarmos

os meios de comunicação, para utilizarmos as tecnologias disponíveis, para melhoramos

como ser humano, para sermos livres, podendo ir e vir para qualquer lugar, para

enfrentarmos as concorrências existentes no mercado de trabalho e no ingresso do

ensino superior. Nesta perspectiva o Ensino Médio tem uma contribuição significativa

por isso deve ser voltado para as reais situações que a sociedade enfrenta. "Para saber,

para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação"

(Brandão, 1981, p.7).

Para Chieco (2003) evidencia ainda, que em nível de Ensino Médio a educação

brasileira tem convivido com grandes problemas e que, na maioria das vezes, o que é

assegurado em Lei, dificilmente é concretizado na prática. Assim, preparar alunos para

o ensino superior, não é tarefa fácil, uma vez que o que o aluno aprende durante o

Ensino Médio não é suficiente, e muitos alunos acabam procurando quando conclui essa

etapa cursinhos preparatórios, por que não se sentem preparados para concorrer com os

demais de forma igualitária.

O Ensino Médio atual além de dá conta das (dozes) disciplinas que compõe sua

grade curricular, ainda tem que se atentar a matriz de referência do ENEM onde

contempla quatro grandes áreas do conhecimento, cada uma delas possui habilidades

específicas e diferentes.

Para atender as demandas da sociedade atual o Ensino Médio deve se adequar a

ela, por muito tempo culpa-se o abandono, a evasão, a falta de interesse dos alunos, a

necessidade do aluno ir para o mercado de trabalho, mas de um tempo pra cá vimos que

a culpa tem se voltado para outras vertentes como a grade curricular a formação de

professores, os procedimento metodológicos, enfim a maneira como o Ensino Médio

está sendo ofertado nas escolas públicas brasileiras.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

129

Os jovens mudam rapidamente um passo a mais que até mesmo a própria

sociedade, a maneira como as aulas eram ministradas antigamente, não atende mais esta

clientela, novidades, novas técnicas devem ser inseridas como aulas de TICs, aulas fora

do espaço escolar, aulas de núcleo, momentos de preparação para o ENEM, ou seja, o

ensino médio precisa de uma reforma para que possa contribuir de forma efetiva no

ingresso e permanência do aluno oriundo de escolas públicas no ensino superior.

2 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação ainda é o primeiro instrumento para a construção de uma sociedade

melhor, sem sombra de dúvida, a mesma deve não apenas preparar o indivíduo para se

enquadrar no sistema social, mas sim fazer com que, de forma crítica e consciente

participe do processo social, político e educacional, sendo ele, o protagonista de sua

própria história.

A Grade Curricular é elemento importante em qualquer modalidade de ensino

como em qualquer curso superior, pois é ela que determina que conhecimentos,

habilidades e competências os alunos iram adquirir durante o período de estudo.

No que se refere o Ensino Médio a grade curricular tem sido alvo de discussões

incessantes, tanto pela a importância que é essa modalidade de ensino como os

subsídios necessários que esta grade pode dar ou não para ingresso dos alunos no ensino

superior.

Alguns estados brasileiros já tem tido esta preocupação, e estão tentando mudar

esta realidade, , mas tais mudanças deve ser feitas considerando o que o MEC determina

para esta modalidade de ensino, mesmo tentando fazer algumas mudanças, tais

mudanças acaba não suprindo na totalidade as demandas da sociedade moderna.

Vimos que o Ensino Médio é uma etapa da vida escolar do aluno essencial, que

exige atenção, dedicação, olhar diferenciado, objetivando formar cidadãos cada vez

mais críticos, capaz de conviver em sociedade de forma harmoniosa, competindo de

igual para igual, naquilo que ele vier escolher para melhoria de sua própria vida como

sujeito dono de sua liberdade.

Em suma a grade curricular do Ensino Médio deve contribuir para o ingresso e

permanência dos alunos oriundos das escolas pública no ensino superior e essa atual

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

130

grade não está dando esta contribuição na plenitude, à sociedade, professores e

profissionais da educação, levando-os a clamar por uma reestruturação.

As discussões sobre o Ensino Médio não para nas considerações deste artigo,

apenas uma parte dos problemas dessa modalidade de ensino foi analisada, haja vista

que se percebe a necessidade de ir além tomando como base a visão crítica deste artigo

para novos estudos e pesquisa.

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Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

132

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA IMPORTÂNCIA, DIFICULDADES NA SUA

PRÁTICA.

Neusa de Sousa Silva20

RESUMO

O presente artigo salienta destacar a conceituação e entendimento sobre a Educação

Ambiental e as principais dificuldades encontradas para sua aplicação, nos levando uma

abordagem que nos aproxima de forma reflexiva sobre a importância da formação de

qualidade, na busca da melhoria do planeta mediante a busca pela qualidade de vida e

pelas melhores condições ambientais via campo da Educação Ambiental, e tendo a

Educação e as políticas públicas como principais aliadas.

Palavras chaves: Educação Ambiental; Dificuldades, Importância, Qualidade.

1. INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental é um ramo da educação cujo objetivo é a disseminação

do conhecimento sobre o ambiente, a fim de ajudar à sua preservação e utilização

sustentável dos seus recursos. É um processo permanente, no qual os indivíduos e a

comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos,

habilidades, experiências, valores e a determinação que os tornam capazes de agir,

individual ou coletivamente, na busca de soluções para os problemas ambientais,

presentes e futuros, a educação ambiental apresenta-se como um elemento indispensável

para a transformação da consciência ambiental e pode levar à mudança de valores e

comportamentos e através dela podemos modificar o mundo em que vivemos.

20

Docente da área de Pedagogia da Educação – Universidade Estadual do Piauí. Pós-

Graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica da Faculdade Latino Americana de

Educação – FLATED, do estado do Ceará e Mestranda na ANNE SULLIVAN UNIVERSITY. Email: [email protected]

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133

2. DESENVOLVIMENTO

A importância da educação ambiental na sociedade é um assunto fundamental

para a vida de todos, pois as situações em que pessoas presentes no meio social não

conseguem exatamente entender quais os verdadeiros riscos e as proporções do mau uso

dos recursos ambientais, necessita de explanação e entendimento para compreensão e

ação para reversão de alguns feitos prejudiciais ao planeta.

A industrialização, a globalização, o mundo capitalista e o consumismo

desenfreado, o crescimento populacional descontrolado, países em subdesenvolvimento,

comunidades sem estrutura adequada onde faltam todas as alternativas para construir

uma vida saudável e que seja de convívio mútuo com a natureza, todas essas situações

contribuem para a crise ambiental.

A educação ambiental deve ser inserida na sociedade ao ponto de ser

transformada em sinônimo de cidadania, ela deve caracterizar uma nova consciência

para todos os cidadãos do planeta. O uso da educação ambiental deve ser aplicado no

dia a dia, seja nas escolas, nas ruas, no trabalho, dentro de casa. A educação pode

cumprir a tarefa de garantir a todas as pessoas o direito de desfrutar de um ambiente

saudável.

No Brasil, a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, sobre educação ambiental,

decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pela presidência da República, dispõe

no artigo 1º:

Entendem por educação ambiental os processos por meio dos quais o

indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimento,

atitudes e competências voltadas para a conservação do meio

ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sua qualidade de

vida e sua sustentabilidade.

A Lei dispõe, no artigo 2º:

A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação

nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e

modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.

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134

A chave mestra é termos a Educação como aliada da Educação Ambiental (EA),

pois andando lado a lado, facilita o processo de disseminação de conhecimento, no

ensino-aprendizagem. Em contrapartida são inúmeras as dificuldades encontradas para

suas aplicações.

Na relação docente versus discente versus ambiente escolar, pluraliza-se as

concepções de que a educação ambiental é um tema somente para as aulas de ciências e

biologia, as limitações decorrentes dos aspectos infra estruturais, tais como falta de

recursos didáticos específicos, tempo para a preparação de novas propostas

metodológicas, grande número de alunos por salas, as políticas institucionais contrárias

a um trabalho orientado para a mudança de valores e atitudes diante da realidade,

dificuldades de o professor lidar com uma proposta de educação abrangente.

Existem também outros aspectos negativos que dificultam a disseminação e

contextualização da EA, são bons exemplos: a descontinuidade da formação docente ou

a formação continuada inadequada e a falta da reflexão profunda, séria e

compromissada do seu papel social, da sua ação pedagógica nos ambientes de

aprendizagem, em todos os níveis escolares.

A educação ambiental está intimamente relacionada com o desenvolvimento

sustentável, porque tem como finalidade primordial encontrar uma forma de

desenvolvimento que atenda às necessidades do presente sem comprometer as próximas

gerações de suprir suas próprias necessidades. (Instituto Nacional de Educação

Ambiental, 2015).

SUSTENTABILIDADE

Sustentabilidade é um termo usado para definir ações e atividades humanas que

visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das

próximas gerações. Ou seja, a sustentabilidade está diretamente relacionada ao

desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente, usando os

recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro. Seguindo

estes parâmetros, a humanidade pode garantir o desenvolvimento sustentável.

(KAUFFMANN, 2015).

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

135

O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu durante a Comissão de

Brundtland, na década de 1980, onde foi elaborado o relatório Our Commom Future,

quando a primeira ministra norueguesa, Gro Harlem Brundtland, apresentou a seguinte

definição para o conceito: “É a forma com as atuais gerações satisfazem as suas

necessidades sem, no entanto, comprometer a capacidade de gerações futuras

satisfazerem as suas próprias necessidades” (Relatório Brundtland, 1988).

Segundo Salvador (2006) o conceito de sustentabilidade formulado em Nosso

Futuro Comum coloca questões novas em relação à problemática socioambiental. Em

primeiro lugar, ele se reporta não apenas aos limites impostos pelo caráter finito da

natureza, mas à noção de necessidade básica, particularmente, às “necessidades

essenciais dos pobres do mundo”. Assim formulado, o conceito de sustentabilidade

passa a ter uma dimensão social peculiar.

O desenvolvimento sustentável não se refere especificamente a um problema

limitado de adequações ecológicas de um processo social, mas a uma estratégia

ou modelo múltiplo para a sociedade, que deve levar em conta tanto uma

viabilidade econômica quanto ambiental. Num sentido abrangente a noção de

desenvolvimento sustentável remete à necessária redefinição das relações

sociedade humana – natureza, e, por tanto a uma mudança substancial do

próprio processo civilizatório. Entretanto, a falta de especificidade e as

pretensões totalizadoras tem tornado o conceito de desenvolvimento

sustentável, difícil de ser classificado em modelos concretos e operacionais e

analiticamente precisos. Por isso, ainda é possível afirmar que não se constitui

num paradigma no sentido clássico do conceito, mas uma orientação ou um

enfoque, ou ainda uma perspectiva que abrange princípios normativos (Jacobi,

1997; Ruscheinsky, 2004; Guimarães, 2001).

A Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente de Desenvolvimento (Rio- 92)

através da Agenda 21, um Plano de ação para o século XXI, com o objetivo de

promover o desenvolvimento sustentável, a estratégia mais viável para enfrentar esse

desafio. Reconhece também que o desafio fundamental para a construção de uma

sociedade sustentável é a Educação. A Educação Ambiental foi identificada como o

elemento crítico para a promoção desse novo modelo de desenvolvimento (DIAS,

2004).

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136

A adoção de ações de sustentabilidade garante a médio e longo prazo um planeta

em boas condições para o desenvolvimento das diversas formas de vida, inclusive a

humana. Garante os recursos naturais necessários para as próximas gerações,

possibilitando a manutenção dos recursos naturais (florestas, matas, rios, lagos,

oceanos) e garantindo uma boa qualidade de vida para as futuras gerações.

(SANTANNA, 2015).

Através da “coligação”, diga-se de passagem, entre a educação em todo o seu

aparato e a EA, sob os conceitos já descritos pode-se presumir excelentes premissas

para modificar o meio em que estamos com resultados satisfatórios.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA IMPORTÂNCIA, DIFICULDADES NA SUA

PRÁTICA

As questões ambientais vêm conseguindo certa penetração na sociedade

moderna, a fragilidades dos ambientes naturais coloca em jogo a sobrevivência humana,

mas existem certa problemática por parte dos educadores ao explanar a importância e

aplicação da educação ambiental. Os professores têm uma série de dificuldades para

trabalhar o tema Meio Ambiente em sala de aula, como por exemplo a grande parte não

têm condições de infraestrutura para poderem trabalhar (ambiente escolar adequado,

incluindo material), o mal uso do ambiente ao redor que poderia ser bem explorado, a

desvalorização profissional contribui de forma negativa para o desenvolvimento de um

bom trabalho, assim também como a grande maioria não possui curso de capacitação

disponível para abordar o tema, dentre outras. Por parte dos docentes a dificuldade

maior é em absorver o que está sendo explanados a eles, seja por falta de ensinamentos

adequados, seja por falta de bons exemplos, conscientização e ou até mesmo a falta de

saneamento básico, que é um problema bastante agravante que acaba inviabilizando as

boas práticas de conservação e preservação do meio ambiente por parte dos cidadãos.

Quando se fala de educação ambiental não é apenas abordar que devemos cuidar

da água, do lixo, mas das relações entre os indivíduos e o meio inserido para uma vida

melhor a todos. Para muitos as escolas ou centros de formação é o único contato com a

cultura, o que faz do ambiente escolar em todas as suas vertentes um ser contaminador e

que afeta a todos.

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137

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O ENSINO-APRENDIZAGEM

“É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.”

(Aristóteles)

A partir da frase de Aristóteles pode-se traçar os primeiros percalços para um

ensino adequado e mais próximo da educação ambiental, é necessário aprender para se

fazer e assim por diante. A educação ambiental merece atenção, não apenas por ser

paliativa ao mau causado ao meio ambiente, mais por nós ensinar a sermos melhores

como seres humanos e ao meio em que estamos inseridos.

A Educação Ambiental precisa ter definida o seu lugar nos parâmetros

curriculares brasileiros, para dizer a que veio e o que pretende: não somente se ocupar

do ensino sobre a natureza, porém, para educar “com” e “para” a natureza.

Dentro da nova ordem mundial, o novo conceito educacional que se pretende

desenvolver, propõe que a escola deva ter um perfil – antes de tudo, moldado para uma

aprendizado cognitivo que enseje ações em prol do meio ambiente de forma individual

e, simultaneamente, de forma coletiva – redimensionando a relação entre os atores

sociais envolvidos na comunidade escolar, enfatizando – fundamentalmente o papel do

professor, que não obstante seja de coadjuvante neste inusitado conceito de

escola/ensino/aprendizagem para a formação do novo ser sócio ambiental para o século

XXI, se torna a perfeita tradução do que indica Freire (1997, p. 28): O educador

democrático não pode negar-se o dever de, na sua prática docente, reforçar a capacidade

crítica do educando, sua curiosidade, sua submissão. […] percebe-se assim a

importância do papel do educador e a certeza de que faz parte de sua tarefa docente, não

apenas ensinar conteúdos, mas, também ensinar a pensar certo. A formação de

educadores, a necessidade e urgência que a envolve são fatores oriundos do imediatismo

inexorável das soluções para as questões ambientais. Na nova ordem mundial faz-se

necessária uma formação para os profissionais de educação que não seja, meramente,

transplantada dos procedimentos convencionais de aprendizagem, e que venha a

travestir a Educação ambiental de uma visão equivocada. (CARVALHO, COSTA,

2015, p 3).

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UM POUCO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

A preocupação com a proteção legal do meio ambiente no Brasil é antiga, sendo

que a primeira referência realizada para o controle dos recursos naturais ocorreu no

período colonial. A partir desse momento a legislação ambiental vai evoluindo

gradativamente. Para proteger as diversas áreas em relação aos aspectos ambientais se

tornou primordial criar leis, decretos e códigos específicos. Assim, hoje, há uma série

destes documentos que determinam medidas de proteção e conservação do meio

ambiente.

Nos últimos anos houve um avanço significativo no que diz respeito à discussão

das questões ambientais no Brasil. Está cada vez mais visível o limite do planeta, tanto

para o fornecimento de recursos naturais quanto para a absorção de resíduos produzidos,

diariamente, pelos indivíduos. Diante dessa realidade, o Estado deve assumir um papel

ativo em relação à preservação e conservação do meio ambiente, com o envolvimento

dos diversos setores representativos da sociedade. (FARIAS, MAZZARINO,

OLIVEIRA, 2013, p 182).

A criação de políticas públicas ambientais é pensada, principalmente, a partir da

Constituição Federal de 1988, que incluiu um capítulo específico para a questão do

meio ambiente. O artigo 225 estabelece que, “todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade

de vida, impondo-se ao poder e à coletividade o dever de defende-lo para as presentes e

futuras gerações” (BRASIL, 1988).

De acordo com a Constituição Federal de 1988, para garantir a realização dos

direitos ao meio ambiente, compete ao Poder Público: preservar e restaurar os

processos ecológicos; preservar a diversidade do patrimônio genético do País;

definir espaços territoriais a serem protegidos; exigir estudo prévio de impacto

ambiental; controlar a produção e emprego de substâncias que comportem risco para a

vida e o meio ambiente; promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino;

proteger a fauna e a flora entre outras finalidades (BRASIL, 1988).

Existem alguns eventos, programas e documentos importantes que direcionam a

Educação Ambiental, são eles:

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139

Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e

Responsabilidade Global - é um documento elaborado por educadores ambientais,

jovens e pessoas ligadas ao meio ambiente de vários países do mundo, publicado

durante a 1º Jornada de Educação Ambiental, que se tornou referência para a Educação

Ambiental.

Tornou-se a Carta de Princípios da Rede Brasileira de Educação Ambiental, e

das demais redes de EA a ela entrelaçadas, e subsidia também o Programa Nacional de

Educação Ambiental, do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental

(MMA e MEC).

O Tratado contou com a participação de educadoras e educadores de adultos,

jovens e crianças de oito regiões do mundo (América Latina, América do Norte, Caribe,

Europa, Ásia, Estados Árabes, África, Pacífico do Sul) e foi inicialmente publicado em

cinco idiomas: português, francês, espanhol, inglês e árabe.

Foram estabelecidos 16 parágrafos nos quais alegava-se que a Educação é um

direito de todos, deve ter como base um princípio crítico e inovador, deve ser neutra,

possuir uma visão holística tratando de questões globais sem desmerecer nenhum dos

povos. Deve valorizar as formas de conhecimento, planejar e capacitar as pessoas para a

Educação Ambiental, cooperar o diálogo entre indivíduos e instituições.

Como plano de ação, o Tratado estabeleceu 22 parágrafos e entre suas principais

diretrizes de ação, estão destacadas: O incentivo à produção de conhecimento, a

instituições que tenham compromisso com a sustentabilidade, cooperar com Ongs e

Governos a questões ambientais e mobilizar organizações e movimentos sociais na

melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente.

PRONEA - Programa iniciado em 1996 pelo governo federal e que tem

por objetivo promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para garantir o meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente e Amazônia Legal, contempla

as seguintes linha de ação:

- Capacitação do sistema de educação formal, supletivo e profissionalizante,

revisão de bibliografia e material pedagógico, visando a abordagem da ecologia como

tema transversal nos currículos, ou seja, interdisciplinar;

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140

- Capacitação dos profissionais de comunicação (jornalistas, escritores, artistas,

etc.), através de cursos, seminários, treinamentos e similares, a fim de promover a

democratização das informações ambientais;

- Apoio às iniciativas ambientais comunitárias, de órgãos governamentais e não

governamentais e outras instituições externas ao sistema educacional, visando a

participação cada vez maior da sociedade na construção da consciência ambiental;

- Incentivo à criação de organismos próprios, em nível estadual, para desenvolver

estudos, pesquisas e inovações práticas para a disseminação da Educação Ambiental;

- Promoção de encontros, seminários e conferências em níveis local, estadual,

nacional e internacional, destinados para os agentes institucionais multiplicadores da

consciência ambiental e das práticas da Educação Ambiental;

- Realização de campanhas que visem conscientizar produtores/usuários de

recursos naturais (pescadores, mineradores, criadores, etc.) a fim de garantir a

sustentabilidade e promover a qualidade de vidas das populações envolvidas:

Carta da Terra - é uma declaração de princípios fundamentais para a

construção de uma sociedade global no século XXI, que seja justa, sustentável e

pacífica.

Rio +20 - é um evento onde governantes e membros da sociedade civil se

reunirão para discutir como podemos transformar o planeta em um lugar melhor para

viver, conhecida como Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento

Sustentável.

O evento ocorreu no Rio de Janeiro entre os dias 13 a 22 de junho de 2012. Esse

encontro marcou o vigésimo aniversário da Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento que aconteceu na capital carioca no ano de 1992, e ficou

conhecido como Rio-92, e também os dez anos da Cúpula Mundial sobre

Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu em Johanesburgo, África do Sul, no ano de

2002.

Lei 9795/99 – lei que regulamenta a educação ambiental.

A Legislação Ambiental Brasileira é uma das mais avançadas do mundo. No

plano da Constituição Federal, existe um capítulo inteiro dedicado ao meio ambiente,

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

141

com regramento moderno e inovador do direito a propriedade, condicionado por vários

princípios, entre os quais se inclui a proteção ao meio ambiente.

REFLEXÃO SOBRE O MEIO AMBIENTE E A IMPORTÂNCIA DA

ABORDAGEM SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O meio ambiente precisa de ajuda

Desperdício, exagero, poluição. O homem tem consciência de que desmatando,

provocando queimadas, poluindo, enfim, terá muito prejuízo, mas o que causa

indagações é que ainda assim a sociedade não faz nada para evitar e amenizar esses

desastres. Não é só papel do governo, da prefeitura, da associação de moradores do seu

bairro, é nosso dever preservar.

Críticas são feitas a todo momento aos governantes, mas aí surge a dúvida: o que

podemos fazer para ajudar ?

Segundo a colunista Fanna Favalessa (2014) do site Gosto de Ler, podemos ter

atitudes das mais diversas formas, como por exemplo: reciclar é um ato de humanidade,

e olha que nem é difícil separar o seu lixo e levá-lo a um ponto de reciclagem, não jogar

lixo nas ruas, em mares, em lagos e rios, não é um bicho de sete cabeças, não nos custa

nada guardar aquele papelzinho de bala no bolso para jogá-lo fora numa lixeira. As

queimadas agravam o aquecimento global e o efeito estufa, pois produzem dióxido de

carbono atingindo a atmosfera.

Antigamente a floresta amazônica era considerada o pulmão do mundo, o que já

foi comprovado por cientistas que não é verdade. O gás carbônico que é produzido na

floresta é consumido ali mesmo através da fotossíntese, aumentando a sua biomassa.

Com a sua diversidade, existem compostos biodinâmicos ainda desconhecidos que

podem ser fundamentais na medicina moderna. A floresta é considerada responsável

pelo controle climático e hídrico da terra por abrigar cerca de 20% da água doce do

mundo.

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Nosso oxigênio na realidade é produzido em grande parte (55%) pelas algas

marinhas e de água doce, e ocupam uma área bem maior que as florestas. Esses vegetais

aquáticos são basicamente responsáveis pelo surgimento de plantas e animais, afinal a

3,5 bilhões de anos, foram eles que lançaram oxigênio na terra.

Vê-se que não é só a Amazônia que precisa ser preservada, mas sim a todo o

meio ambiente.

O futuro de nossos filhos e netos é incerto e desconhecido, a liberação da

exploração danosa do meio ambiente e lucrativa para poucos, refletirá em um meio

ambiente pobre e sem biodiversidade, portanto vamos fazer uma campanha para que

nossas crianças cantem: “com certeza você já se banhou na queda de uma cachoeira,

sentindo a sensação da sua alma sendo purificada por inteira” (Com certeza – Planta e

Raiz), e saibam o significado do que estão cantando. Lutemos por um meio ambiente

limpo e saudável, só assim poderemos respirar e não engolir um seco de fumaça, sejam

humanos, sejam limpos.

A educação ambiental faz-se necessária durante a formação dos cidadãos, por

isso deve ser fomentada e posta em prática, superando as dificuldades e amenizando os

problemas já existentes, se possível cessá-los e evitar problemas futuros.

3. CONCLUSÃO

Este artigo buscou explanar e conceituar sobre a Educação Ambiental e as

dificuldades de sua inserção coerente no processo de ensino aprendizagem e sua

propagação adequada.

A educação ambiental na modernidade reflexiva também pode favorecer uma

vida democrática de alta intensidade, promovendo espaços de (inter) locução e

participação – como forma de ampliar a democracia – e de intervenção sócio-política,

para enfrentamento coletivo da crise ambiental, como também com o intuito de

prevenir, atenuar ou eliminar riscos.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

143

Conclui-se que se necessita de belas e grandiosas reformulações nas práticas

pedagógicas e aplicações em todos os níveis de formação, assim como também políticas

adequadas para as devidas aplicações.

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Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

145

SISTEMA MUNICIPAL DE CULTURA DE EXU-PE: DESAFIOS E POLITICAS

DO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO.

Ladslany Costa da Silva21

Osmar Viveiros de Carvalho22

Hesler Piedade Caffé Filho23

RESUMO

É inerente ao ser humano o convívio em comunidades, essa aglomeração exige organização

social através de forças atuantes que sejam competentes para estabelecer um convívio pacífico,

impedindo a dissolução do agrupamento social. A partir dessa perspectiva, surge a necessidade

de desenvolver conceitos e mecanismos para solucionar conflitos. Sendo o sistema político, o

principal mecanismo de regulação da sociedade moderna, composto por várias subdivisões

conceituais, como policy, politics, entre outros. Oriundos das subdivisões do sistema político

também existem mecanismos de gestão que visam resguardar e garantir os direitos dos entes sob

a ação do poder político em meio às interrelações sociais, como, por exemplo, o Sistema

Municipal de Cultura (SMC) que é considerado uma importante ferramenta de gestão cultural

no âmbito municipal. Infelizmente, poucos municípios apresentam capacidade para implantar e

garantir seu pleno funcionamento. Embora seja do conhecimento da gestão que essa ferramenta

corresponde a um avanço na consolidação da valorização da gestão cultural nos entes

municipais, surgindo a seguinte indagação: quais são as possíveis dificuldades a serem

enfrentadas na implantação do SMC da cidade de Exu-PE? O presente trabalho teve como

objetivo a análise dessas dificuldades enfrentadas na implantação do SMC da cidade de Exu-PE,

evidenciando os conceitos e elementos integrantes da política e da gestão pública, através da

avaliação da legislação vigente que dispõe sobre o SMC/Exu-PE e identificando cenários que

envolvam a politics do processo. A metodologia adotada neste trabalho foi a pesquisa

qualitativa de natureza exploratória, fazendo uso do estudo de caso realizado na Secretaria

Municipal de Cultura, Turismo e Desporto. Obtendo como resultado duas vertentes que

impedem a implantação do SMC. A primeira incide na falta de recursos financeiros do órgão

responsável por esta implantação. O segundo advém do nível defasado de capacitação em que se

encontra os servidores municipais que supostamente seriam responsáveis pela implantação e

gerenciamento desse sistema.

PALAVRAS-CHAVE: Política. Gestão. Sistema Municipal de Cultura.

21

Graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de

Petrolina – FACAPE, Pós-graduanda em Gestão Pública pela Universidade Federal do Vale do São

Francisco – UNIVASF, atualmente Coordenadora Administrativa da Empresa Granville e Bazan. suporte-

[email protected] 22

Graduado em Ciências Biológicas e Pós-graduado em Ecologia pela Universidade Regional

do Cariri - URCA, Pós-graduando em Gestão Pública pela Universidade Federal do Vale do São

Francisco - UNIVASF, atualmente Assistente em Administração da Universidade Federal do Recôncavo

da Bahia – UFRB. E-mail: [email protected] 23

Graduado em Administração pela Estácio de Sá, Pós-graduado em Gestão Estratégica de

Negócios pela Esc. Eng. Eletromecânica da Bahia - EMBA, Pós-Graduado em Marketing Institucional

pela Faculdade São Francisco de Juazeiro - FASJ, Mestrando em Gestão de Políticas Públicas pela

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. Atualmente Administrador e Docente da Pós-

Graduação em Gestão Pública da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF e Docente

Carreira Superior da FASJ – Faculdade São Francisco de Juazeiro. E-mail: [email protected]

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

146

1. INTRODUÇÃO

Na sociedade moderna, o principal propulsor da regulação entre os seres

sociais é o sistema político, responsável em assegurar a estabilidade de uma estrutura

pluralista fundamentada nas bases conceituais, doutrinarias e normativas. O sistema

político é norteado por uma grande complexidade, que o incube da adequação entre

vontades, poderes e limites dos indivíduos em sociedade, fato que exige mecanismos

responsáveis em gerir as variantes e especificidades que surgem da interação entre os

entes sociais.

Esses mecanismos são tidos como ferramentas de administração de conflitos e

manifestações sociais, recebendo, portanto, conceituação específica. Encontramos na

literatura vários termos utilizados para conceituar as diversas ferramentas que compõem

um sistema político, tendo destaque os conceitos de Politics ou Política e Policy, por ser

a base do sistema e, também pelo próprio radical do vocábulo.

Decorrentes desses três conceitos surgem outros com definições que, no

universo investigado, tem também notória importância, sendo eles: Políticas públicas,

Gestão pública e Gestão pública cultural. Dependendo da conjuntura onde esses

conceitos são aplicados podem somar ou impulsionar a criação de outros, interagindo

para realização de objetivos direcionados para o bem comum. Dessas interações

complexas surge uma trama que envolve hierarquias, arenas, âmbitos, entes e esferas

que são termos utilizados para expressar grandezas como espaço de abrangência, área

de atuação, entre outras.

O presente trabalho descreve elementos resultantes da aplicação, na esfera

municipal, dos conceitos supracitados, especificamente trata do diagnóstico do processo

de implantação do Sistema Municipal de Cultura (SMC) no município de Exu –

pequena cidade do interior de Pernambuco com cerca de 31.636 habitantes. Localizado

na BR-122, altura da Serra do Araripe, apresentando uma distância em linha reta para a

capital do estado - Recife de 535.89 km, entretanto a mesma distância sendo percorrida

de condução alcança 617 km, compreendendo um diferencial entre ambas de 81,11km.

A implantação desse sistema caracteriza-se como o resultado da atuação em

conjunto dos elementos anteriormente abordados, ou seja, o SMC é um componente

oriundo de uma política pública implementada pela gestão pública cultural que se

caracteriza como uma subdivisão da gestão pública, intimamente ligada ao resultado do

implemento de conceitos integrantes de um sistema político. Contudo, os esforços em

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

147

conjunto objetivando um resultado, nem sempre são alcançados satisfatoriamente,

devido à deficiência na implantação das bases de trabalho, fato evidenciado mediante

análise do processo de implementação do Sistema Nacional de Cultura (SNC).

Embora, o SNC seja um sistema que abarca uma política integrada com a

finalidade de valorizar a cultura e consequentemente a consolidação de um direito

social, ainda não se encontra em efetivo funcionamento devido às dificuldades dos entes

municipais com a criação da estrutura necessária para implantação do SMC e posterior

adesão ao SNC.

Nessa perspectiva, visando conhecer melhor o objeto de estudo, esta pesquisa

analisou as ações desenvolvidas para a implantação do Sistema Municipal de Cultura do

município de Exu, apontando as dificuldades encontradas pelo ente municipal na efetiva

consolidação desse sistema.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 SITEMA POLÍTICO, POLICY E POLITICS: CONCEPÇÕES E

INTERLIGAÇÕES.

O termo sistema político é composto por dois substantivos comuns, um de que

a grosso modo significa reunião de várias partes e o outro que tem sua gênese na

palavra polis, que faz alusão a urbano, cidade e estado. Nesse contexto, o termo se

consolida como “um ser abstrato” do que propriamente domínios territoriais físicos.

Deste modo, pode se observar que a acepção de Sistema Político está

intimamente ligada à ideia de agrupamento social, e que esse conceito pode ser descrito

contemporaneamente como um conjunto de mecanismos e concepções que buscam a

harmonização dos seres humanos como indivíduos sociais, sendo usado como mediador

de conflitos de interesses particulares e coletivos, com o intuito de resguardar os limites

que equilibram as vontades individuais e as necessidades do grupo como um todo.

Nessa perspectiva, segundo Bobbio (1984), o sistema político é a base de

sustentação do estado como ser abstrato e complexo, sua execução resulta numa forma

de poder, que não se respalda na coercetividade, e sim na sua conformação de

ferramenta de proteção dos direitos do ser social.

Dessa relação intrínseca entre o sistema político e este ser singular, surgem

vários conflitos que põem em risco o equilíbrio entre a vontade do particular e da

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

148

coletividade. Na percepção de Rua (2012), politics e policy são os principais conceitos

que servem de base para mecanismos integrantes do próprio arcabouço estrutural do

sistema político utilizados como ferramentas para suprir a demanda de especificidades

resultantes das inter-relações entres os seres sociais e destes com o estado.

Entende-se por politics ou política todo o processo resultante das relações entre

os diversos atores que compõem as representações e lideranças do estado. Esse processo

envolve impasses decorrentes de discussões, surgimento de concepções, negociações e

construção de acordos, visando o atendimento de reivindicações.

Para Rua (2012), o termo policy é utilizado como referência às ações ou

atividades dos atores que tem competências governamentais, através de organizações

públicas, formulam propostas e tomam decisões inerentes à implementação das políticas

públicas, a partir do processo da política.

2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS: DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

Quando o termo “políticas públicas” é abordado na mídia, a impressão

geralmente causada é de familiaridade – isso decorre da frequente utilização desse

termo em discursos políticos e pronunciamentos oficiais. No entanto, a opinião popular

sobre o significado da expressão em questão difere, empiricamente, em relação ao

conceito dentro do que se consideraria adequado.

Isso não pode ser entendido como falha na concepção política do cidadão

comum, embora bombardeados por discursos incrustados com o termo, esses discursos

são, geralmente, excessivamente eloquentes, sendo pouco ou nada instrutivo, além de

dificultar o entendimento do que seria uma política pública em termos conceituais.

Destarte, os questionamentos estão presentes em todo conceito apresentado

pelas correntes de pensadores divergentes, pois o tema ‘políticas pública’ constitui-se

num vasto campo de estudo que envolve vários aspectos, abordados tanto por

perspectivas teóricas quanto empíricas (MUZZI, 2014)

A inserção numa política pública, não significa que o cidadão comum entende

a concepção do conceito abordado. Sendo assim, o que se pode entender como conceito

de política pública? A resposta a essa pergunta possibilita uma interessante discussão,

fundamentada na ausência de senso comum quanto ao conceito, entre os autores que

discorrem extensivamente sobre o tema.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

149

Mesmo com a divergência de vocábulos na conceituação do termo em questão,

existe entre os autores a compatibilidade de ideias sobre os objetivos, a importância e o

âmbito de atuação das políticas públicas. Em razão da ausência de uma conceituação

comum, torna-se coerente trabalhar com uma definição genérica evitando um conceito

absoluto.

Então o direcionamento correto da indagação anteposta seria: o que são

políticas públicas? Considerando os pontos comuns entre alguns autores, pode-se

afirmar que políticas públicas consiste no conjunto de diretrizes que direcionam a

criação, implantação, avaliação e correção de programas, ações e decisões resultantes do

processo político que busca solucionar, de maneira racional e harmônica, os conflitos

envolvendo bens e recursos públicos. Conflitos originados das relações de poder e

interesses dos diversos segmentos da sociedade (SOUZA, 2006).

De maneira similar a conceituação e a classificação das políticas públicas

também diferem entre os autores. A classificação mais conhecida é a de Theodor Lowi,

composta de quatro tipologias (Distributivas, Redistributivas, Regulatórias e

Constitutivas), porém, há uma classificação básica e comum de maior aceitação que

contemplada a divisão das políticas públicas em Distributivas, Redistributivas e

Regulatórias.

Neste trabalho, optou-se por evidenciar as três classificações supracitadas. As

políticas públicas distributivas são voltadas para uma clientela, embora não seja

exclusivista, pois, estão disponíveis a qualquer cidadão que necessitar, custeadas por

orçamento público e oferecidas em forma de bens e serviços como hospitais, escolas,

estradas, pontes, vacinas aplicadas, medicamentos distribuídos, livros didáticos entre

outros.

Diferentemente das distributivas, as políticas públicas redistributivas apesar de

ser também um tipo de política voltada para solução de problemas sociais, causam

grandes debates e opiniões contrarias à efetividade de seus programas, talvez pelo fato

de serem financiadas pelo dinheiro da totalidade e favorecer diretamente apenas alguns.

Contemplam apenas indivíduos ou grupo social enquadrados dentro da considerada

situação de risco. Nesse caso, há uma solidariedade compulsória onde se evidencia

claramente quem beneficia e quem é beneficiado.

Já, as políticas públicas regulatórias não têm como objetivo oferecer serviços

nem benefícios sociais, sua incumbência restringe-se a criação de normas que

regulamentam as políticas distributivas e redistributivas dentro dos seus campos de

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

150

atuação, definindo as regras, sanções, interdições e critérios para a realização de

empreendimentos, concessões e utilização de recursos (RUA, 2012).

Toda política pública, segundo Rua (2012), passa pelo processo de gênese

chamado de forma didática de Ciclo de Políticas Públicas, que consiste na divisão da

vida de uma política pública em quatro etapas distintas e suas respectivas subdivisões:

Quadro 1 – Processos de Comunicação

ETAPA 1 ETAPA 2 ETAPA 3 ETAPA 4

Ocorre quando uma

situação qualquer é

reconhecida como

um problema

político e a sua

discussão passa a

integrar as

atividades de um

grupo de

autoridades dentro

e fora do governo,

consiste nas

seguintes

subdivisões:

a) Formação

da agenda;

b) Definição

do problema;

c) Análise

do problema.

Ocorre quando,

após a inclusão do

problema na agenda

e de alguma análise

deste, os atores

começam a

apresentar

propostas para sua

resolução, detém as

seguintes fases:

a) Formação

das alternativas;

b) Tomada

de decisão.

Consiste em um

conjunto de decisões

a respeito da

operação das rotinas

executivas das

diversas

organizações

envolvidas em uma

política, de tal

maneira que as

decisões

inicialmente

tomadas deixam de

ser apenas intenções

e passam a ser

intervenção na

realidade, formada

pelas fases:

a)

Implementação;

b)

Monitoramento.

Caracteriza-se como

um conjunto de

procedimentos de

julgamento dos

resultados de uma

política, segundo

critérios que

expressam valores,

dividido em:

a)

Avaliação;

b) Ajuste.

Fonte: Rua (2012).

A quarta etapa é considerada de extrema importância para o ciclo de políticas

públicas. Possibilita a extração do resultado da intervenção adotada (política pública),

permite a visualização da efetividade almejada, bem como, parâmetros para possíveis

correções. Esse resultado é alcançado pelo uso de ferramentas de gestão chamadas de

indicadores sociais e configura-se como a base para que os atores que fazem parte do

processo de elaboração de uma política pública possam reestruturar a política

inicialmente implantada (RUA, 2012).

Dessa forma, na elaboração de uma política pública os atores podem participar

de forma parcial ou integral, ou seja, na criação ou apenas no acompanhando do ciclo de

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

151

vida. O processo de gênese e consolidação das políticas públicas envolve vários atores,

sendo o presidente da república, ministros, parlamentares, governadores e prefeitos, os

principais.

Como grande parte destes atores são gestores públicos e se utilizam dessas

políticas como ferramenta de gestão, pode-se afirmar que a gestão pública é parte

integrante da efetivação das políticas públicas que podem ser descritas como o resultado

do processo da tomada de decisão em torno de um problema ou questão de interesse

público, a partir de alternativas formuladas no âmbito técnico-político (RUA, 2012).

2.3 POLÍTICAS CULTURAIS, GESTÃO PÚBLICA CULTURAL E O SISTEMA

MUNICIPAL DE CULTURA.

Como visto anteriormente, a política é a 'trama' de todo o complexo sistema de

adequação e equilíbrio entre o poder, o dever, o agir, o ter e o ser. Elementos que, por

sua vez, formam a ampla dinâmica das diferentes relações entre os indivíduos como

seres sociais e por consequência, politizados. Natural que surjam dentro de alguns

contextos, pormenorizações para lidar com especificidades geradas nesses contextos,

como, por exemplo, as já abordadas políticas públicas, criadas para subsidiar o processo

de gestão de contingências originadas da organização e dos conflitos sociais dentro de

um sistema político.

Deste modo, pode-se afirmar que as políticas públicas são ferramentas de

gestão e caracterizam-se como processos de elaboração e implantação de ações

envolvendo a distribuição e redistribuição de recursos, levando-se em conta o papel do

social nos processos de decisão, buscando a repartição de custos e benefícios sociais,

traduzindo-se em formas de exercício do poder político.

A cultura abordada como política pública vem ganhando consistência por meio

de normatizações que reconhecem a importância de cuidar do patrimônio cultural da

sociedade. Essas normatizações estão incluindo no ordenamento jurídico do Brasil bases

para o desenvolvimento e implantação das supracitadas políticas e de sua gestão, como

por exemplo, a emenda constitucional de nº 71, de 29 de novembro de 2012 e as

diversas leis com gênese nessa emenda.

Tais políticas públicas no âmbito cultural fazem parte do conjunto de

ferramentas pertencentes à Gestão Pública Cultural, que também é um conceito

relativamente novo, nascido da necessidade de se ter uma pasta pública dotada de

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

152

profissionais detentores de capacidades conceituais necessárias para gerir as

especificidades e complexidades contidas na área cultural.

Assim, a gestão pública cultural, segundo Rodrigues (2010), caracteriza-se

como uma subdivisão da gestão pública, podendo ser vista como uma delimitação do

campo da administração pública que trata do gerenciamento do patrimônio cultural de

um povo. No Brasil, encontramos um conjunto de fortes traços regionais e peculiares

criados pelas culturas locais, são esses traços marcantes que delimitam as unidades de

manifestações culturais, gerando no estado brasileiro um patrimônio com grande

diversidade cultural.

A gestão cultural, segundo Silva (2010, p. 3), se traduz em um conjunto de

processos e atividades relacionados a:

[...] concepção, implementação, gerenciamento e avaliação de planos,

políticas, programas, projetos e ações voltadas para a conservação

multiplicação e disseminação do patrimônio cultural, ela tem ganhado grande

destaque atualmente, prova disso são os cursos de formações específicos para

a área, a criação de instituições culturais e grupos cooperativistas, o

investimento em manifestações culturais por empresas privadas, o fomento e

incentivos a projetos culturais, entre outros.

Outro fator, que estar tomado visibilidade é a vinculação do desenvolvimento

sustentável através das potencialidades locais e regionais à gestão da cultura.

A gestão da cultura no âmbito da administração pública, no Brasil, tem

respaldo legal na Constituição Federal de 1988 no seu Título VIII (Da Ordem Social),

Capítulo III (Da Educação, da Cultura e do Desporto), Seção II (Da Cultura), artigos

215 a 216-A, este incluído pela, já mencionada, emenda constitucional nº 71. O artigo

215 traz no seu caput a obrigação do estado em garantir o pleno exercício dos direitos

culturais e o acesso às fontes da cultura nacional, bem como, o apoio e incentivo a

valorização e a difusão das manifestações culturais.

Este mesmo artigo, em seu parágrafo terceiro, traz uma importante ferramenta

de gestão: o Plano Nacional de Cultura, que tem como objetivo principal o

desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público,

[...] visando a defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; da

produção, promoção e difusão de bens culturais; da formação de pessoal

qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; da

democratização do acesso aos bens de cultura; e da diversidade étnica e

regional (BRASIL, 2012).

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

153

O artigo 216 conceitua e descreve o patrimônio cultural brasileiro, trazendo em

seu rol uma sequência de elementos de natureza material e imaterial. Já o artigo 216-A

prever outra grande ferramenta da gestão pública cultural do Brasil, ele descreve o

Sistema Nacional de Cultura (SNC), que consiste em um sistema descentralizado,

participativo e organizado por meio de colaboração e composto pelos órgãos gestores da

cultura; pelos conselhos de política cultural; pelas conferências de cultura; pelas

comissões intergestores; pelos planos de cultura; pelos sistemas de financiamento à

cultura; pelos sistemas de informações e indicadores culturais; pelos programas de

formação na área da cultura; e pelos sistemas setoriais de cultura. O SNC tem um papel

fundamental na efetivação do processo de gestão cultural, evidenciado no próprio texto

constitucional:

O Sistema Nacional de Cultura, organizado em regime de colaboração, de

forma descentralizada e participativa, institui um processo de gestão e

promoção conjunta de políticas públicas de cultura, democráticas e

permanentes, pactuadas entre os entes da Federação e a sociedade, tendo por

objetivo promover o desenvolvimento humano, social e econômico com

pleno exercício dos direitos culturais (BRASIL, 2012).

Em vista da atuação da gestão pública da cultura envolver processos de

trabalho em harmonia com outros campos de atuação do estado, sua consolidação

também requer diretrizes, planejamento, execução e avaliação de resultados. Essa

compreensão identifica o caráter regional das diretrizes como sendo o diferencial da

gestão pública cultural dos outros âmbitos de intervenção dessa gestão. Nesse sentido, a

grande diversidade cultural do nosso país, impossibilita uma política cultural em âmbito

nacional dotada de especificidades e com aplicabilidade em âmbito geral.

Dentro desse contexto, observamos a importância da descentralização e

regionalização da gestão pública cultural, institutos, também previstos no texto

constitucional em seu artigo 216-A, parágrafos terceiro e quarto:

§ 3º Lei federal disporá sobre a regulamentação do Sistema Nacional de

Cultura, bem como de sua articulação com os demais sistemas nacionais ou

políticas setoriais de governo.

§ 4º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão seus

respectivos sistemas de cultura em leis próprias.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

154

Esse aspecto regionalizado das diretrizes norteadoras da gestão pública cultural

vem ganhando efetividade com a implantação do Sistema Integrado de Cultura, formado

pelo Sistema Nacional de Cultura (SNC), os Sistemas Estaduais de Cultura (SEC) e os

Sistemas Municipais de Cultura (SMC) (CALABRE et. al., 2005).

O Sistema Municipal de Cultura (SMC) é uma parte de fundamental

importância do Sistema Nacional de Cultura (SNC) que consiste em um modelo de

gestão criado pelo Ministério da Cultura (MinC) visando estimular e integrar

as políticas públicas culturais implantadas pelo governo nas esferas federal, estadual e

municipal.

O SNC tem como objetivo descentralizar e organizar o desenvolvimento

cultural do país através da gestão pública cultural e de sua estrutura de atuação,

garantindo a continuidade de todos os projetos de fomento às culturas locais, regionais e

nacionais, mesmo com a alternância de governos.

O SMC tem sua importância evidenciada no fato de o governo municipal estar

diretamente em contato com os diversos grupos de manifestações culturais e linguagens

artísticas locais, conhecendo de perto suas origens, dinâmicas e anseios. A consolidação

do SMC requer um considerável esforço por meio do ente público municipal, pois sua

implantação depende da assinatura do acordo de cooperação ou termo de adesão ao

SNC, onde é estabelecido a incumbência das partes envolvidas, tendo em vista o

desenvolvimento do SNC.

Feita a adesão o governo municipal fica comprometido com a implantação da

estrutura cultural mínima estabelecida pelo Ministério da Cultura, composta por uma

secretaria de cultura, um conselho de política cultural, uma conferência periódica de

cultura, um plano de cultura e um sistema de financiamento (fundo de cultura).

Tanto o SMC, quanto a estrutura necessária para sua implantação, devem ser

instituídos por meio de lei própria, encaminhada pelo prefeito do município à Câmara

de Vereadores. Nessa lei devem estar previstas as considerações acerca do SMC e os

principais objetivos dos cinco componentes da estrutura cultural.

Como exemplo da espécie de lei supracitada, pode-se observar a lei nº

1.223/2014, que institui o SMC no âmbito do município de Exu-Pernambuco, essa lei

foi aprovada pelo Plenário Luiz Gonzaga, em Sessão Ordinária do dia 09 de maio de

2014. Tendo como conteúdo principal a instituição do Sistema Municipal de Cultura de

Exu – PE, ela é composta pelos 88 artigos, organizados em três títulos.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

155

O TÍTULO 1, formado pelos artigos 2º ao 27, define a política cultural a nível

municipal e estabelece o papel do poder público municipal na gestão da cultura, também

conceituando o que seriam os direitos culturais e as dimensões da cultura e da economia

cultural. Já, o TÍTULO 2, detentor dos artigos 28 ao 76, traz consigo a descrição e

conceituação do Sistema Municipal de Cultura, elencando seus princípios, objetivos e

sua estrutura. Estando tal estrutura presente no artigo 33, que define quais os

componentes estruturais do SMC, dividindo-os em quatro categorias:

1 - Coordenação;

Secretaria Municipal de Cultura - SECULT.

2 - Instâncias de Articulação, Pactuação e Deliberação;

Conselho Municipal de Política Cultural - CMPC

Conferência Municipal de Cultura - CMC

3 - Instrumentos de Gestão;

Plano Municipal de Cultura – PMC;

Sistema Municipal de Financiamento à Cultura – SMFC

Fundo Municipal de Cultura – FMC

Sistema Municipal de Informações e Indicadores Culturais – SMIIC

Programa Municipal de Formação na Área da Cultura – PROMFAC

4 - Sistemas Setoriais de Cultura;

Sistema Municipal de Patrimônio Cultural - SMPC

Sistema Municipal de Museus - SMM

Sistema Municipal de Bibliotecas, Livro, Leitura e Literatura - SMBLLL.

Todos os componentes acima mencionados estão descritos ao longo do

TITULO 2, estando as considerações sobre a SECULT nos artigos 34 ao 37, sobre o

CMPC nos artigos 39 ao 47, sobre o CMC no artigo 48, sobre o PMC nos artigos 50 e

51, sobre o SMFC no artigo 52, sobre o FMC nos artigos 53 ao 63, sobre o SMIIC nos

artigos 64 ao 67, sobre o PROMFAC nos artigos 68 e 69, e sobre os três sistemas

setoriais nos artigos 70 ao 76.

Por fim, o TÍTULO 3, trata nos artigos 77 ao 85, dos recursos, da gestão

financeira, do planejamento e do orçamento do SMC. Restando apenas os artigos 1º,

que expõe a disposição preliminar e os artigos 86 a 88, que se incubem das disposições

finais e transitórias.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

156

3. METODOLOGIA

Os procedimentos metodológicos propostos para realização do presente estudo

foram divididos em estratégia metodológica da pesquisa e instrumentos de coleta e

análise dos dados.

A estratégia metodológica utilizada no presente estudo foi a pesquisa

qualitativa de natureza exploratória. Optou-se pelo estudo de caso realizado na

Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Desportos, na cidade de Exu. De acordo

com Gil (1999, p. 73), “é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um

determinado objeto”. A escolha desse método é relevante para reunir informações

numerosas e detalhadas com vista em aprofundar o conhecimento a respeito da

implantação do Sistema Municipal de Cultura.

Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram os primários e os

secundários. A coleta de dados primários por meio de entrevistas semiestruturadas

“permite a captação imediata e corrente da informação desejada”. Nesse contexto,

conforme propósito da pesquisa as pessoas selecionadas de acordo com o objetivo a ser

alcançado foi o chefe da secretaria, os funcionários mais antigos e a ex-secretária

(LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 23).

Quanto aos métodos secundários optou-se pela pesquisa documental, por

permitir tratamento analítico aos documentos disponíveis e encontrados na coleta de

dados, segundo Silva e Grigolo (2002, p. 45), este tipo de pesquisa “seleciona, trata e

interpreta a informação buscando extrair dela algum sentido e introduzir algum valor”,

visando contribuir com a comunidade científica.

Os documentos analisados foram as leis municipais, ofícios, memorandos,

cartas de anuência, convênios entre outros. O corte temporal foi referente aos anos de

2013 a 2015, período que compreende a análise dos arquivos impressos e digitais.

Utilizou-se, ainda, a pesquisa bibliográfica, que segundo Beuren (2006, p. 86;

129), permite “conhecer e analisar as contribuições científicas existentes sobre o tema”.

Para fundamentar essas contribuições científicas, a observação direta foi tomada como

referência, por ser uma técnica que permite o pesquisador “observar de maneira

espontânea como os fatos ocorrem e controla os dados obtidos”.

Assim, a observação feita pelo pesquisador no período de três meses na

instituição foto deste trabalho foi decisiva para embasar suas conclusões sobre as

interferências que impedem a implantação do SMC no município de Exu.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

157

Os dados coletados foram submetidos a uma análise de conteúdo proposto por

Bardin (2009) que considera a descrição ou preparação do material, a inferência ou

dedução e a interpretação como os pilares para a análise do conteúdo.

4. DISCUSSÃO

A estrutura de gestão da política cultural no âmbito do município de Exu é

constituída por um único órgão integrante da administração direta do referido

município, este órgão foi criado através da lei 814/93 de 17 de janeiro de 1993,

precisamente pelo caput do artigo 7º, artigo este, detentor de três parágrafos que

resumem seu âmbito de atuação.

Essa lei também atribui ao órgão supracitado a denominação de Secretaria de

Cultura, Turismo e Desportos. Embora, esteja estruturada como uma unidade

administrativa, esta secretaria detém a gestão de três pastas distintas, resultando, por

consequência, no gerenciamento de três categorias de políticas públicas: o apoio ao

turismo local e regional, o fomento as manifestações e linguagens culturais e o

desenvolvimento de atividades desportivas.

A própria criação do órgão gestor da cultura no ente municipal já se caracteriza

como uma pequena vitória para este campo de atuação do estado, ao passo que, nem

sempre tal área recebe a devida atenção por parte da administração pública. Em geral os

órgãos municipais de gestão cultural quando recebem status inferiores ao de uma

secretaria e são acoplados a outros tipos de secretarias como, por exemplo, secretaria de

educação.

Dentro deste contexto, essa supressão está associada à existência de exigências

constitucionais que atrelam os recursos às atividades fim dessas secretarias, o que

geralmente acaba direcionando a atenção do gestor exclusivamente para o cumprimento

destas determinações legais, criando uma “cultura” de que tais secretarias são mais

importantes que um mero órgão gestor da cultura.

A expressão pejorativa de “menos importante”, serve como base para o

aparecimento do desafio para os gestores culturais no âmbito municipal, pois desta

rotulação decore a maioria dos problemas enfrentados pelas secretarias municipais de

cultura no desempenho de sua política pública.

No caso da secretaria de cultura de Exu o nome cultura se destaca na tríade

formada pela cultura, turismo e o desporto. Embora, tais pastas detenham mesmo valor

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

158

social, o turismo e o desporto são “afagados” pelo contexto amplo e abrangente do

conceito de cultura, porém, esse destaque alcançado pela pasta cultural restringe-se

apenas a um escalonamento de evidência inerente a sua própria composição tríplice.

Infelizmente este destaque não agrega importância à cultura, por ser incapaz de

originar injeções de aportes financeiros significativos por parte do ente municipal. Vale

ressaltar que, o maior impasse na execução das atividades fim da secretaria em questão

é justamente a falta de recursos financeiros, tanto para estruturação e composição da sua

maquinaria administrativa, como para fomento das atividades precípuas de suas três

pastas.

A estrutura atual da Secretaria de Cultura, Turismo e Desportos de Exu está

distante de ser o ideal para um órgão que tem como base para atuação o

desenvolvimento de três políticas públicas essenciais ao lazer da sociedade. Os

problemas que circundam a Secult/Exu vão desde a simples inadequação logística da

parte física, onde se encontra a sede da secretaria, até a falta de recursos financeiros e

materiais, culminando na reduzida força de trabalho.

O problema da falta de orçamento próprio não é exclusividade da secretaria de

cultura de Exu, vários são os municípios que criam órgãos municipais de gestão

cultural, mas não lhes conferem autonomia financeira para o desempenho de suas

funções, quando muito, amortizam apenas as despesas correntes imprescindíveis,

condicionando qualquer outro tipo de gasto à prévia autorização do chefe do executivo

municipal, pois o resquício do rateio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM),

entre outras secretarias, é a única fonte de custeio das atividades da secretaria de cultura

de Exu. Fato que, impede a adoção de um planejamento estratégico efetivo,

inviabilizando a adoção de uma política de reestruturação organizacional.

Uma possível solução para os problemas enfrentados pela secretaria municipal

de cultura seria a adesão ao Sistema Nacional de Cultura (SNC) e posterior implantação

do Sistema Municipal de Cultura (SMC), já que este sistema municipal tem em sua

composição originária o fundo municipal de financiamento que prever diversas fontes

de custeio para as atividades culturais, dentre os quais se destaca o promissor e

almejado repasse financeiro direto do ministério da cultura para o fundo municipal de

cultura.

Desse modo, sendo o Sistema Municipal de Cultura considerado uma

importante ferramenta de gestão cultural no âmbito municipal que levaria a possível

solução de diversos impasses principalmente o de cunho financeiro, é inevitável a

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

159

seguinte indagação: quais são as dificuldades enfrentadas pela secretaria de cultura de

Exu na implantação desta ferramenta que se caracteriza como um avanço na

consolidação da valorização da gestão cultural no âmbito municipal?

Talvez a resposta esteja no cenário gerado pelas disfunções oriundas da falta de

recurso próprio para a implementação das políticas públicas culturais, recurso esse, que

na maioria das vezes encontra-se com previsão na LOA municipal. O problema é que

essa previsão orçamentária nem sempre é executada de forma fidedigna. Esse fato, além

de uma evidência da desvalorização da cultura como política pública, denota também o

quando é importante a consolidação do SMC, que traria consigo o seu respectivo fundo

de financiamento.

Quando a emenda constitucional de nº 71 foi incluída na Constituição Federal a

Secretaria de Cultura de Exu já se encontrava em plena atuação, deste modo, quando as

políticas culturais a nível nacional ganharam força, a Prefeitura Municipal de Exu já

detinha um dos requisitos básicos necessários para a implementação do SMC, que pode

ser considerado até como requisito propulsor dos posteriores.

De modo que, teoricamente já estaria em atuação, no ente municipal, uma

equipe propulsora dos trâmites necessários para o trabalho de adesão ao SNC. Através

da lei municipal nº 1.223/2014, o gestor que se encontrava à frente da secretaria de

cultura articulou a suposta criação da estrutura obrigatória para implantação do SMC,

dando início no ano de 2013 com a realização da Primeira Conferência Intermunicipal

de Cultura, em parceria com a cidade de Granito e Bodocó, e por meio, também, da lei

municipal nº 1.223/2013 instituiu o Conselho Municipal de Políticas Culturais.

Entretanto, mesmo sendo relatado pela gestão que o município aderiu ao

Sistema Nacional de Cultura, não consta nos arquivos da Secretaria de Cultura nenhum

indício da criação do Plano Municipal de Cultura (PMC), nem do Fundo Municipal de

Cultura (FMC), requisitos obrigatórios tanto para adesão ao SNC, quanto para a

implantação do SMC.

Ausência também, na plataforma online do SNC qualquer registro que indique

a adesão do município ao Sistema Nacional de Cultura. Na referida plataforma

encontram-se as publicações dos termos de adesão e vários outros documentos nos

quais permite a visualização da atual situação dos municípios aderidos ao SNC, não

constando entre tais arquivos qualquer menção ao município de Exu.

Sendo assim, mesmo que o município de Exu de fato tenha realizado sua

adesão ao SNC, seu cadastro não se encontra ativo, sendo necessário outro

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

160

cadastramento para que se possa reiniciar os trabalhos efetivos de adesão. Tendo em

vista que o município detém um órgão gestor da política cultural em âmbito municipal e

um aparato normativo que servem como alicerce para a consolidação de grande parte do

SMC, fica evidente que as dificuldades de efetivação são de mera execução material,

pois falta ainda profissionais com formação específica para atuar na área da Gestão

Cultural.

Uma averiguação do quadro funcional e do atual plano de desenvolvimento dos

servidores da secretaria de cultura, notamos claramente a carência de recursos humanos

tanto para suprir as demandas internas de funcionamento da secretaria, quanto às

externas de atendimento ao público, o que dirá para gerenciar um sistema complexo que

requer empenho, trabalho constante e sistematizado de profissionais capacitados com

conhecimentos e habilidades conceituais e técnicas, essenciais e específicas para atuar

na gestão de um Sistema Municipal de Cultura.

5. CONCLUSÃO

A principal dificuldade na implantação do SMC no município de Exu incide na

falta de recursos financeiros do órgão responsável por esta implantação, já que os outros

problemas como inadequação do espaço físico, a deficiência de recursos matérias e a

carência de recursos humanos especializado são resultantes desse impasse principal.

Vale ressaltar que, embora a dificuldade, apontada em primeiro plano como

fato gerador, seja de cunho financeiro, um repasse de verba maior não garantiria, por si

só, a fiel implantação do SMC, pois como afirmado, a escassez de recursos é causa

geradora de outros problemas pontuais que permeia o âmbito de atuação da secretaria de

cultura.

Sendo assim, as dificuldades reais de consolidação do SMC seriam, na

verdade, consequências da falta de recurso próprio. Outro fator que causa deficiência e,

consequentemente impedimento do processo de implantação do SMC é o nível defasado

de capacitação em que se encontra os servidores municipais que supostamente seriam

responsáveis pela implantação e gerenciamento do SMC.

A formação destes servidores seria uma medida que sem dúvida sanaria esse

problema. Sendo que a própria política nacional de valorização da cultura poderia

resolver essa questão por meio de ações como avocar a incumbência de capacitar os

servidores que atuam nas secretarias municipais de cultura.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

161

O próprio SNC poderia incluir, dentro de sua política, um plano nacional de

formação em Gestão Cultural em Rede, inclusive usando as Instituições de Ensino

Superior Federais e as ferramentas da educação à distância, como vem sedo realizado

por diversas Instituições de Ensino Superior, como, por exemplo, a Universidade

Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF que atualmente oferece cursos de

especialização em Gestão e cursos de capacitação de Conselheiros Municipais em

Educação.

Essa capacitação sem dúvida impulsionaria de maneira significativa a

implantação do SMC, pois formaria profissionais capazes de atuar em grupos ou

comissões de trabalho preparadas especificamente para gerir os paradigmas inerentes à

efetiva organização e funcionamento do SMC, estimulando a plena atuação do Conselho

Municipal de Políticas Culturais, consolidando o Plano Municipal de Cultura através do

Fundo de Financiamento da Cultura, gerando assim, recursos necessários para o

desenvolvimento local, por meio da valorização das diversas manifestações e

linguagens culturais, criando renda direta e indireta, resultando numa economia cultural

local e sustentável, acarretando no fortalecimento da identidade cultural do povo

exuense.

6. REFERÊNCIAS

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sobre o Sistema Municipal de Cultura de Exu – PE, seus princípios, objetivos, estrutura,

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PREFEITURA MUNICIPAL DE EXU-PE. LEI MUNICIPAL Nº 814/1993. Dispõe

sobre criação das Secretarias Municipais de Exu suas atribuições e dá outras

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8, nº 16, jul/dez 2006.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

164

A GESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NO MUNICÍPIO DE SIMPLÍCIO

MENDES-PI

Neilany Araújo de Sousa24

Resumo: O saneamento básico compreende um conjunto de procedimentos adotados

numa determinada região que visa proporcionar uma situação higiênica saudável para os

habitantes. Entre os procedimentos do saneamento básico, podemos citar: tratamento de

água, canalização e tratamento de esgotos, limpeza pública de ruas e avenidas, coleta e

tratamento de resíduos orgânicos (em aterros sanitários regularizados) e matérias

(através da reciclagem). Com estas medidas de saneamento básico, é possível garantir

melhores condições de saúde para a população, evitando a contaminação e proliferação

de doenças e, ao mesmo tempo, garantindo a preservação do meio ambiente. Dentro

deste contexto, buscou-se neste artigo apresentar as principais e complexas

características da gestão do saneamento básico, tendo como estudo de caso o município

de Simplício Mendes-PI, analisando como a administração pública se encontra hoje e, a

partir desta análise, propor melhorias para o município. Percebe-se que esta

administração envolve uma ampla gama de serviços, com alto valor social agregado,

como devem ser definidos os serviços de saneamento básico. A análise realizada

proporciona uma rica contribuição para a melhoria não só do serviço de saneamento

básico no município, mas para a qualidade de vida da população com um todo.

Palavras-chave: Saneamento básico. Gestão. Simplício Mendes.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca contribuir para a gestão do saneamento básico na

administração pública e, mais especificamente, na gestão atual do saneamento básico do

município de Simplício Mendes - PI. O acesso das pessoas a serviços de saneamento

básico, especialmente nos chamados “países em industrialização”, como o Brasil, ainda

é restrito a sua classe econômica e sua distribuição geográfica. Isso acaba criando

“bolsões” de pobreza, pois, em lugares onde não há saneamento básico, geralmente

faltam hospitais, escolas, postos policiais, ou seja, a população é completamente

desassistida de equipamentos essenciais para garantir o seu bem-estar.

24

Graduação em Administração pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), especialista em Gestão

Hospitalar pela Faculdade Integrada de Jacarepaguá (FIJ), tutora presencial do curso de Administração da

Universidade Aberta do Piauí (UAPI) e professora da rede estadual de ensino. E-mail:

[email protected].

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

165

O crescimento acelerado da população nas áreas urbanas dos municípios

brasileiros não é acompanhado no mesmo ritmo pelo crescimento de políticas públicas

que possibilitem garantir o bem-estar da população que hoje vive nessas áreas. Como

consequência, o que se verifica é a falta de condições de vida digna às pessoas,

faltando-lhes as necessidades básicas para a sua convivência. Entre estas necessidades

está a falta de saneamento, tornando estas regiões propícias para o desenvolvimento de

doenças e demandando grandes problemas de saúde pública.

Atualmente a importância do Saneamento Básico é um tema debatido

mundialmente e há varias formas de pressão e incentivo aos países em desenvolvimento

para que desenvolvam projetos de saneamento nos centros urbanos, tendo em vista que

esses projetos de atualmente têm uma abordagem multifacetada, pois os gestores do

saneamento público também são responsáveis pela gestão de saúde e de meio ambiente

de uma comunidade, o que se reflete na sustentabilidade da população mundial.

Diante disto, a questão que irá nortear essa pesquisa foi pautada na necessidade

de diagnosticar os principais problemas percebidos na gestão do saneamento básico do

município de Simplício Mendes e analisar as variáveis condicionantes entre as políticas

públicas, e seu quadro institucional. A análise realizada contemplou temas como os

baixos índices de cobertura de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, o

tratamento do lixo, os motivos e as expectativas para o setor e em especial a importância

da participação da sociedade e conscientização da mesma para as possíveis melhorias

deste setor.

No Brasil se observa que em regiões onde o índice de saneamento básico é

baixo, como é o caso de algumas regiões do Norte e Nordeste e de periferias das

grandes cidades, regiões onde se vê esgoto a céu aberto e lixo jogado nas ruas, a

proliferação de doenças ligadas à falta de saneamento. Desta forma, a pesquisa tem

como objetivo geral apresentar a realidade dos problemas gerados pela atual gestão do

saneamento no município de Simplício Mendes-PI, mostrando pontos importantes para

uma boa gestão e a viabilidade da sua aplicação, tendo como enfoque uma melhor

administração destes problemas e a implantação deste serviço de forma a atender o

maior número de pessoas possível.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

166

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Saneamento é definido pela Organização Mundial de Saúde – OMS, como “o

controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem efeitos deletérios

sobre o seu bem estar físico, mental ou social”. É importante salientar que quando se

trata de saneamento fala-se de todas as ações que determinam os serviços prestados

pelos agentes envolvidos nesse processo. Entre os procedimentos do saneamento básico,

podemos citar: tratamento de água, canalização e tratamento de esgotos, limpeza

pública de ruas e avenidas, coleta e tratamento de resíduos sólidos e orgânicos (em

aterros sanitários regularizados) e matérias (através da reciclagem). Com isto, é possível

garantir melhores condições de saúde para a população dos municípios brasileiros,

evitando a contaminação e proliferação de doenças.

O saneamento desenvolveu-se de acordo com a evolução das diversas

civilizações, ora retrocedendo com a queda das mesmas, ora renascendo com o

aparecimento de outras. Na Índia, por exemplo, foram encontradas ruínas de uma

civilização que se desenvolveu a cerca de 4.000 anos, onde foram encontrados

banheiros, redes de esgoto nas construções e drenagem nas ruas. Porém, entre as

práticas sanitárias coletivas mais marcantes na antiguidade destacam-se a construção de

aquedutos, banhos públicos, termas e esgotos romanos, tendo como símbolo histórico a

conhecida Cloaca Máxima de Roma25

(SILVA, 2007).

Entretanto, a falta de difusão dos conhecimentos de saneamento levou os povos

a um retrocesso, originando o pouco uso da água durante a Idade Média, quando o

consumo per capita de certas cidades europeias chegou a 1 litro por habitante por dia.

Nessa época, houve uma queda nas conquistas sanitárias e consequentemente sucessivas

epidemias. O quadro característico desse período é o lançamento de dejetos na rua.

(SILVA, 2007).

Segundo Silva (2007), somente em meados do século XX é que se começou a

dispensar maior atenção à proteção da qualidade de água, desde sua captação até sua

entrega ao consumidor. Essa preocupação se baseou nas descobertas que foram

realizadas a partir de então, quando diversos cientistas mostraram que havia uma

25

Uma das mais antigas redes de esgotos do mundo. Foi construída na antiga Roma nos finais do século VI a.C. pelos últimos reis de Roma, iniciada por Tarquínio Prisco e concluída Tarquínio, o Soberbo, que usufruiram da experiência desenvolvida pela engenharia etrusca para drenar as águas residuais e o lixo de uma das populosas cidades do mundo, Roma, para o rio Tibre, que atravessa a cidade, em direção ao Mar Tirreno, a alguns quilômetros a Oeste. Fonte: http://www. pt.wikipedia.org/wiki/Cloaca_Maxima.

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167

relação entre a água e a transmissão de muitas doenças causadas por agentes físicos,

químicos e biológicos. Mas, ainda nos dias de hoje, mesmo com os diversos meios de

comunicação existentes, verifica-se a falta de divulgação desses conhecimentos.

No Brasil, pesquisas realizadas no início dos anos 90 pela Associação

Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) e pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), possibilitam uma visualização do quadro sanitário do

país, evidenciando as condições precárias a que está exposta grande parte da população

brasileira (SILVA, 2007).

Neste quadro, em 1991, o Brasil possuía uma população de 152,3 milhões de

habitantes, sendo que 77% destes viviam em áreas urbanas e apenas 23% em áreas

rurais. Do total da população brasileira, menos de 70% dos habitantes eram atendidos

por sistemas coletivos de abastecimento de água. Atualmente, estatísticas do Ministério

da Saúde revelam que cerca de 90% da população urbana brasileira é atendida com água

potável.

Com relação ao esgotamento sanitário, os dados são ainda mais

impressionantes, uma vez que, em 1995, apenas 30% da população brasileira eram

atendidas por redes coletoras. Neste mesmo período, o volume de esgoto tratado era

extremamente baixo, com apenas 8% dos municípios apresentando unidades de

tratamento.

2.1 O saneamento e a sustentabilidade ambiental

A preocupação com a preservação ambiental é recente e as ações de prevenção

ainda são pouco implementadas. Verifica-se ainda pouca divulgação da importância dos

recursos do meio ambiente, o que poderia já ser enfatizado nos primeiros anos da

atividade escolar, para que a criança já vivenciasse a necessidade da preservação

ambiental.

Segundo Cavalcanti (2003), sustentabilidade significa a possibilidade de se

obterem continuamente condições iguais ou superiores de vida para um grupo de

pessoas e seus sucessores em dado ecossistema.

É da responsabilidade do governo prover os meios de formação da população,

garantindo-lhes acesso a escolas e centros comunitários, além de investir na construção

de estações de tratamento de água e esgoto. Para formar educadores ambientais

devemos pensá-los como agentes participativos que tornarão possível a reaproximação

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

168

do homem com a natureza, de forma que educadores e seus educandos participem de

um processo de mudança de atitudes e comportamentos com relação ao ambiente,

repensando sua presença no planeta como mais uma espécie que precisa respeitar todas

as outras.

Guimarães, Carvalho e Silva (2007) explicam que investir em saneamento é

uma das formas de se reverter o quadro existente. Dados divulgados pelo Ministério da

Saúde afirmam que para cada R$1,00 investido no setor de saneamento, economiza-se

R$4,00 na área de medicina curativa.

Dizemos que a responsabilidade pela saúde envolve a parceria

governo/sociedade, entretanto muitas ações da vigilância sanitária extrapolam os limites

territoriais e políticos do município, exigindo planejamento e ações conjuntos. Portanto,

à medida que problemas regionais como o saneamento básico e fornecimento de

recursos às populações (como água e energia elétrica) forem solucionados em cada

município, seja individualmente ou em parceria com outros municípios, haverá uma

redução dos problemas ambientais causados pela poluição generalizada.

Os centros urbanos, objeto de maior preocupação no que tange aos problemas

ambientais populacionais, precisam ser reestruturados a partir de um novo conceito de

desenvolvimento que abandone os padrões de produção e consumo adotados até então,

embora essa sentença também seja válida para as regiões menos povoadas, como é caso

do município de Simplício Mendes.

No entanto, esta é uma tarefa difícil não só nas grandes áreas urbanizadas, pois

o nível de vida, tanto nas áreas ditas urbanas, como em áreas rurais se apresenta

satisfatória para alguns poucos grupos privilegiados da sociedade. Se de um lado têm-se

grupos satisfeitos com o seu nível de vida, consumindo alimentos e provocando o lixo

urbano dos mais diversos tipos têm-se, por outro lado, a população pobre, com baixo

nível cultural, que se estabelece em áreas não recomendáveis, provocando também, a

degradação ambiental.

Diante deste quadro de urbanização irreversível existem concepções de gestão

e política ambiental que estão baseadas em duas vertentes: a regulação direta e a

regulação pelo mercado. Com relação à regulação direta, trata-se da intervenção dos

órgãos públicos na implementação de leis e normas, bem como na sua viabilização

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

169

(técnica e política), na fiscalização e penalização acerca da observância das mesmas

pelo setor produtivo. (SANTOS,1998).

Um elemento central dessa forma de regulação são os padrões de limites de

emissão de poluentes, no ar, na água e no solo, para cada composto químico residual de

uma atividade produtiva, caracterizando um enfoque de remediação de impactos

socioambientais, e centrado nos processos. Além disso, existem problemas conceituais

na mensuração e avaliação de impactos ambientais como o tratamento do lixo e o

esgotamento sanitário.

A regulação pelo mercado é um conjunto de instrumentos voluntários que os

produtores podem adotar (SANTOS, 1998). A regulação se dá pela interação do setor

produtivo com o consumidor supostamente consciente, que opta por adquirir produtos

cujos impactos ambientais sejam menores (produtos “ecológicos”, ou “verdes”).

Exemplos de mecanismos de regulação são “as certificações tipo ISO – 14.000

(quatorze mil), as Avaliações do Ciclo de Vida do Produto (ACV’s), as auditorias

ambientais e a rotulagem ecológica” (SANTOS 1998; MACEDO, 1994; FIGUEIREDO

& JARDIM, 1994). Estes instrumentos caracterizam um enfoque preventivo e centrado

nos produtos e sua dinâmica, o que representa uma evolução de mentalidade do setor

produtivo.

Todavia, sua eficácia depende de um alto grau de conscientização ecológica e

de cidadania da população, o que é um assunto difícil, e ainda incipiente. Além disso, é

muito baixo o incentivo que se dá aos produtos ecológicos, de forma que eles são de

alto custo, e, portanto pouco acessíveis para a população. Dessa forma, as autoridades

sanitárias devem constantemente fiscalizar o uso correto do destino do lixo e sua devida

separação para não comprometer a saúde da população.

A título de exemplo, tomam-se os setores produtivos de bens intermediários no

Brasil, como propõe Torres (1993). Especificamente a exploração de minerais não

metálicos, a metalurgia, a indústria de papel e celulose e química, apresentaram

estruturas produtivas de maior crescimento nos últimos 10 anos, e consequentemente,

maiores índices de poluição e demanda de recursos naturais. Essas indústrias ainda

apresentam o perfil de se instalarem em grandes centros urbanos, o que gera um maior

número de impactos no meio ambiente.

De acordo (SILVA, 2010, p. 67) questão ambiental é considerado como um

conjunto de deficiências na reprodução do sistema, o qual é ocasionado pela falta de

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

170

disponibilidade de elementos do processo produtivo advindos da natureza, tais como

matérias-primas e energia e seus desdobramentos ideopolíticos. Podendo ser tratada

também como incapacidade do planeta de promover, vagamente, os recursos

necessários à reprodução da vida, em condições históricas e sociais demarcadas pelo

elevado nível de produção e consumo.

A partir das últimas décadas a questão ambiental tornou-se uma preocupação

mundial. Entretanto, a complexidade dos problemas ambientais exige mais do que

medidas pontuais que busquem resolver problemas a partir de seus efeitos, ignorando ou

desconhecendo suas causas. É o que se investiga a partir de agora com a análise não só

dos efeitos dos problemas da gestão do saneamento no município, mas da análise das

causas destes problemas.

3 METODOLOGIA

Este trabalho utilizou-se do método descritivo e qualitativo, do qual serviu para

preparação do mesmo alguns dados obtidos através de pesquisa bibliográfica, periódicos

e sites da internet, o que, dessa forma, proporcionou melhor compreensão acerca do

assunto tratado. Para tanto essa pesquisa de caráter qualitativo utilizou como

instrumentos de coleta de dados a entrevista semiestruturada junto aos moradores do

município e funcionários da prefeitura municipal, além de observação.

Na análise da administração do município de Simplício Mendes, procurou-se

observar a adequação e mobilização de todos os entes envolvidos para uma gestão

eficaz do saneamento básico local. Tomou-se como referência os aspectos da situação

atual do município de Simplício Mendes, especificamente seu papel diante da atuação e

níveis de competência relacionados ao serviço de saneamento.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com relação à gestão do saneamento urbano em Simplício Mendes, este, assim

com a grande maioria dos municípios piauienses, é deficitário, e apresenta muitos

fatores que necessitam de maior relevância, como mostrado nas tabelas de Infraestrutura

básica e condições sanitárias abaixo (Tabelas A, B, C e D).

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FORMAS DE

ABASTECIMENTO

DOMICÍLIOS ATENDIDOS

Nº ABSOLUTO %

Rede geral da distribuidora 1.667 64,7

Poço ou nascente 321 12,5

Outra 586 22,8

TOTAL 2.574 100,0

Tabela A: Distribuição dos domicílios segundo as formas de abastecimento d’água. Fonte: IBGE, Censo

Demográfico – 2000

FORMAS DE DISPONIBILIZAÇÃO DOMICÍLIOS ATENDIDOS

Nº ABSOLUTO %

Dispunham 1.944 75,5

Não dispunham 630 24,5

TOTAL 2.574 100,0

Tabela B: Distribuição dos domicílios segundo as formas de disponibilização de energia elétrica. Fonte:

IBGE, Censo Demográfico – 2000.

EXISTÊNCIA DE BANHEIRO OU

SANITÁRIO

DOMICÍLIOS ATENDIDOS

Nº ABSOLUTO %

Dispunham 1.684 65,4

Não dispunham 890 34,6

TOTAL 2.574 100,0

Tabela C: Distribuição dos domicílios segundo a existência de banheiro ou sanitário. Fonte: IBGE, Censo

Demográfico – 2000

DESTINO DADO AO LIXO

DOMICÍLIOS ATENDIDOS

Nº ABSOLUTO %

Coletado 1.374 53,4

Outro destino 1.200 46,6

TOTAL 2.574 100,0

Tabela D: Distribuição dos domicílios segundo o destino dado ao lixo. Fonte: IBGE, Censo Demográfico

– 2000.

Apesar de apenas 39,2% da população viver na zona rural e 60,8% da

população vivem na zona urbana, ainda assim o sistema de abastecimento de água,

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172

operado pela AGESPISA (Águas e Esgotos do Piauí S.A.) não apresenta capacidade de

adução e tratamento de água suficientes para atender a demanda atual da população.

De acordo com Barros et al. (1995), o Sistema de Abastecimento de Água

representa o "conjunto de obras, equipamentos e serviços destinados ao abastecimento

de água potável de uma comunidade para fins de consumo doméstico, serviços públicos,

consumo industrial e outros usos".

No entanto, verifica-se que o sistema de abastecimento do município em

análise é deficitário na rede de distribuição e no tratamento, que não é acessível a alguns

bairros da periferia da cidade, são atendidos por poços semiartesianos. Neste caso, o

tratamento da água é feito com adição de cloro, geralmente executados pela Prefeitura

do município.

Constata-se que os domicílios não estão ligados à rede coletora de esgoto,

portanto a alternativa é a utilização de fossas rudimentares. O município conta com

energia elétrica, operada pela CEPISA (Eletrobrás Distribuição do Piauí) e limpeza

urbana, operada pela Prefeitura Municipal, sendo que a varrição atinge 100% das vias

pavimentadas.

A gestão do Saneamento básico no município é realizada pela prefeitura

municipal, especificamente pelo setor de vigilância sanitária, ligado à Secretaria de

Saúde. Diante dos vários problemas do município, os relacionados à infraestrutura e ao

saneamento básico são os mais evidentes, existindo uma desestruturação na ocupação

do espaço físico como um todo.

Em seu Art 2º, a lei dispões que “A educação ambiental é um componente

essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma

articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e

não-formal”. Com essa diretriz, os sistemas de ensino têm obrigação legal de promover

oficialmente a prática de Educação Ambiental (BRASIL, 2002).

Como afirma Unesco (1971, apud SOUZA, 2003, s/p), essas práticas servem

para

Formar uma população mundial consciente e preocupada com o

ambiente e com os problemas que lhe dizem respeito, uma população

que tenha conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as

motivações e o sentido de participação e engajamento que lhe

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

173

permitam trabalhar individualmente para resolver problemas atuais e

impedir que se repitam.

Observa-se que não há ações articuladas da Secretaria de Saúde com a

Secretaria de Educação para promover ações de educação ambiental dentro das escolas

voltadas para a conscientização e conhecimento dos educandos sobre a importância do

meio ambiente e ainda é muito fraca a iniciativa das secretarias e dos gestores, o que

dificulta a efetivação possíveis ações para sanar os problemas do saneamento.

Seja no âmbito da escola formal, seja na organização comunitária, a Educação

Ambiental pretende provocar processos de mudanças sociais e culturais que visam obter

do conjunto da sociedade tanto a sensibilização à crise ambiental e à urgência em mudar

os padrões de uso dos bens ambientais quanto o reconhecimento dessa situação e a

tomada de decisões a seu respeito (CARVALHO, 2008, p. 158).

Seja nas periferias ou em bairros mais nobres, o poder público deve administrar

as cidades como um todo, centrando-se no uso adequado dos seus recursos. Não é o que

se observa no município de Simplício Mendes, pois, analisando as fotos abaixo (Foto 01

e 02), é clara a diferença entre a infraestrutura do bairro Centro e dos bairros mais

afastados, como o bairro Vila Henrique Costa.

Foto 01: Foto da área central da cidade de Simplício Mendes, onde se pode ver que uma infraestrutura

razoavelmente boa. Fonte: http://wikimapia.org

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Foto 02: Foto da rua Arnaldo Ferreira de Carvalho em Simplício Mendes, onde se pode observar a

diferença das vias da área central com total falta de infraestrutura. Fonte:

www.forcatarefapopular.blogspot.com

Segundo Kraemer (2003), o crescimento demográfico, adicionado ao

consumismo excessivo e a degradação do meio ambiente, exigem da sociedade ações

corretivas ao seu desenvolvimento e crescimento econômico. Diante disso, surgiu a

sustentabilidade buscando conciliar o desenvolvimento econômico e social à

preservação ambiental.

A elaboração estrutural na ocupação dos espaços é de fundamental importância

seja nas áreas urbanas ou rurais, dessa forma haverá um equilíbrio entre os habitantes e

o espaço físico onde estão inseridos.

Tal equilíbrio não se observa no município de Simplício Mendes, pois os

órgãos responsáveis não cumprem seu papel burocrático, em que se deve construir um

planejamento voltado para a realidade local e solidamente fundamentado na ética, na

justiça e na educação. Além destas necessidades há ainda limites e dificuldades do

município em suprir recursos financeiros, humanos e, até mesmo, materiais.

4.1 O problema do lixo

A questão do lixo também é um problema de natureza grave para o município

de Simplício Mendes, pois os moradores deste município convivem com a presença de

uma lixeira a céu aberto, e não há aterro sanitário no município, portanto os problemas

causados pelos lixões a céu aberto são inúmeros, pois os resíduos sólidos causam

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

175

prejuízos ao meio ambiente, como também para o lençol freático e, consequentemente,

para a população.

Segundo Zacarias (2000), no Brasil convivemos com a maioria do lixo que

produzimos. Segundo dados do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT (2007), são

produzidas diariamente no país 140.911 toneladas de lixo. Deste total, estima-se que

cerca de 40% não sejam sequer coletados. Da parcela coletada a maior parte tem um

destino inadequado, como o seu lançamento em córregos, rios, praias, encostas e canais,

além dos lixões a céu aberto. O problema se torna complexo com o aumento de

produtos descartáveis - plástico, alumínio, vidro - e com a crescente presença de

substâncias tóxicas como removedores, tintas, pilhas, baterias, etc.

Esses lixões recebem toneladas de lixo diariamente, proveniente de vários

municípios, sendo que o Ministério Público ainda não deu nenhum parecer para que os

prefeitos desses municípios assinem um termo de ajustamento de conduta para a

implantação de um aterro sanitário na região.

Outro problema gerado pela falta de um aterro sanitário controlado é a questão

dos catadores, pois eles convivem diariamente neste ambiente, disputando espaço com

caminhões e urubus, sem nenhum tipo de cuidado, como, por exemplo, uso de luvas,

botas e máscaras que seriam os equipamentos mínimos para que possam se proteger dos

riscos aos quais estão expostos diariamente.

Como explica Cavinatto (1992):

Evitar a disseminação de doenças veiculadas por detritos na forma de

esgotos e lixo é uma das principais funções do saneamento básico. Os

profissionais que atuam nesta área são também responsáveis pelo

fornecimento e qualidade das águas que abastecem as populações.

Para minimizar este grandioso problema, foi recentemente implantado no

município o processo de separação do lixo, ou seja, foi implantado um Programa de

coleta seletiva direcionado aos comerciantes e também à conscientização da

comunidade. Neste sentido, o Departamento de Vigilância Sanitária do município de

Simplício Mendes buscou incorporar ao seu trabalho ações que sensibilizassem a

população para os cuidados com o lixo através do monitoramento de resíduos sólidos

recicláveis.

A boa operação e a incorporação das modernas tecnologias, no entanto não

eliminam a necessidade de políticas públicas voltadas para mudanças nos padrões de

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176

consumo, incentivo à minimização da geração de resíduos, à coleta seletiva e à

reciclagem, também importantes ferramentas do processo de gerenciamento integrado

de resíduos sólidos que está cada vez mais deixando de ser resíduo para se transformar

em novos produtos, num círculo virtuoso para a saúde pública e o meio ambiente

(APETRES, 2009).

A proposta foi bem aceita pela comunidade, que vem participando ativamente

da coleta seletiva. Os seguintes resultados foram obtidos: colaboração da população na

limpeza pública, cidade mais limpa, diminuição de pernilongos, baratas, mosquitos e

ratos, entre outros. Este programa visa sensibilizar a população local a repensar sua

maneira de viver, produzir, consumir e descartar, respeitando o meio ambiente através

de atitudes simples como coletar o lixo seletivamente e destiná-lo à reciclagem,

contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade de vida da comunidade.

No entanto, mesmo com a implantação deste programa o problema da

inexistência de um aterro sanitário controlado continua presente, pois não basta apenas

separar o lixo, mas dar uma destinação adequada a ele. Tomar esta atitude requer

investimentos, pois o município não é capaz sozinho de gerir o lixo que é oriundo não

só da sua população, mas também dos municípios vizinhos e de tal forma iria atingir a

real causa do problema do município de Simplício Mendes.

4.2 Esgotamento sanitário

Com a construção de um sistema de esgotos sanitários em uma comunidade

procura-se atingir os seguintes objetivos: afastamento rápido e seguro dos esgotos;

coleta dos esgotos individual ou coletiva (fossas ou rede coletora); tratamento e

disposição adequada dos esgotos tratados, visando atingir benefícios como conservação

dos recursos naturais; melhoria das condições sanitárias locais; eliminação de focos de

contaminação e poluição; eliminação de problemas estéticos desagradáveis; redução dos

recursos aplicados no tratamento de doenças; diminuição dos custos no tratamento de

água para abastecimento (LEAL, 2008).

Para o abastecimento de água, a melhor saída é a solução coletiva, exceto no

caso das comunidades rurais que se encontram muito afastadas. As partes do Sistema

Público de Água são: captação; adução (transporte); tratamento; reservação

(armazenamento) e distribuição (LEAL, 2008).

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

177

Diante disto percebemos que o município de Simplício Mendes ainda caminha

a passos lentos para a obtenção desses objetivos expressos por Leal, pois utiliza para a

coleta de esgotos sanitários (águas negras) sumidouros, fossas rudimentares e privadas

higiênicas, fruto de um trabalho realizado pela unidade de saneamento da Prefeitura.

Nas comunidades rurais, a maioria das famílias usa sanitários, construídos fora da casa

principal, representando o módulo sanitário da Fundação Nacional de Saúde. De acordo

com os Censos Demográficos do IBGE, a fossa rudimentar é o tipo e instalação

sanitária mais utilizada, seguida da fossa séptica, que vem ganhando importância como

destino de dejetos humanos entre os moradores do município.

Ainda em relação ao sistema de esgoto, em algumas ruas é comum a presença

de fossas estouradas e galerias em estado crítico de estrutura e conservação. Nas demais

localidades esse serviço não é prestado e os moradores contam apenas com serviços de

fornecimento de água e energia.

É importante ressaltar que o material e o acabamento inadequados nas

habitações podem favorecer a proliferação de ratos, mosquitos, carrapatos, piolhos etc.,

animais estes transmissores de doenças. Um exemplo é a infestação dos barbeiros, que

são os vetores da doença de Chagas (PHILIPPI JR., 2004).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Saneamento promove a saúde pública preventiva, reduzindo a necessidade

de procura aos hospitais e postos de saúde porque elimina a chance de contágio por

diversas moléstias. No desenvolvimento do presente trabalho o objetivo principal foi

diagnosticar a realidade dos problemas gerados pela atual gestão do saneamento no

município de Simplício Mendes-PI que, foi atingindo por meio dos resultados

correspondestes, onde podemos destacar como principais resultados o sistema de

abastecimento de águas deficitário; a inexistência de ações de educação ambiental

dentro das escolas; inadequada disposição do lixo; condições sanitárias locais precárias.

Dessa forma, enfatiza-se a importância da gestão eficaz dos serviços de

saneamento básico, assim, sugere-se a adoção de medidas baseadas em um

planejamento de acordo com a realidade do município, como a elaboração de um Plano

Municipal de Saneamento Básico, que envolvam todas as questões como saúde,

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

178

educação, economia, meio ambiente, dentre outros, contemplando todo o conhecimento

da atuação em saneamento e considerando toda sua amplitude ambiental.

Dentro deste contexto, no desenvolver da investigação surgiram

questionamentos que poderão ser investigados futuramente, em outras pesquisas. Uma

deles é a verificação do controle social com a participação da sociedade civil organizada

no desenvolvimento de ações de saneamento conjuntas com o poder público.

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Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

180

ASPECTOS HISTÓRICOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE

ENFRENTAMENTO A HANSENÍASE: DO MUNDO AO NOVO MUNDO

Carlos Dornels Freire de Souza26

RESUMO

Considerada a aristocrata de todas as doenças, por ser a mais antiga e, por muito tempo, a mais

misteriosa, a hanseníase mantém lugar privilegiado na comunidade científica como uma das

mais danosas da história da humanidade. Esse lugar de destaque pode ser explicado por ser uma

das poucas enfermidades que causa a morte social do indivíduo. Ao longo da história, muitas

políticas públicas foram implantadas no sentido de conter os avanços da doença. Tais políticas,

na sua gênese, receberam influência tanto da ciência quanto da religião para legitimar práticas,

hoje, repudiadas, como o isolamento em hospitais colônias. Desde as práticas isolacionistas até

a atual poliquimioterapia, muitas políticas foram implantadas no mundo e no Brasil. Este artigo

tem como objetivo discutir a origem e a evolução das políticas públicas de enfrentamento à

Hanseníase no decorrer dos tempos, resgatando os principais marcos teóricos e históricos que

acompanharam e explicam, atualmente, a doença.

Palavras-Chave: Políticas públicas; hanseníase; história.

INTRODUÇÃO

Todas as comunidades criam, através da história, uma imagem do passado

de modo a revelar sua identidade, conhecer seus membros e refletir sobre seu futuro. A

partir da análise sistemática do passado e do exame aprimorado do conhecimento, é

possível a construção de uma nova imagem-objetivo. Imagem-objetivo que direciona o

caminho a ser percorrido no enfrentamento aos problemas sociais e de saúde.

A história da hanseníase exemplifica bem essa dimensão, de sorte que a

reflexão sobre seu passado e sobre sua evolução ao longo dos séculos é de extrema valia

para a compreensão das políticas públicas que temos implantado recentemente, bem

como para apontar as razões para a não eliminação da doença enquanto problema de

saúde pública no Brasil contemporâneo.

A hanseníase é considerada uma das doenças mais antigas da humanidade.

Antigamente conhecida, genericamente, como “Lepra”, a atual definição buscou

diferenciar um processo frequentemente benigno da lepra bíblica, temível e terrível.

26 Fisioterapeuta Sanitarista. Coordenador do departamento de Epidemiologia de Juazeiro. Doutorando

em Saúde Pública pela Fiocruz Pernambuco.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

181

Embora o conhecimento a seu respeito tenha se difundido a partir de citações bíblicas,

registros históricos anteriores já demonstravam características clínicas compatíveis com

as que conhecemos hoje (MONOT et al., 2005).

A doença tem no elemento “estigma” a principal diferença das demais

enfermidades. (Pre)conceitos, como “Senhor do perigo e da morte”, levaram a adoção

de estratégias de cunho discriminatório para com os acometidos (GARCIA, 2001). O

envoltório estigmatizante da Lepra não foi atributo de uma única nação ou povo, ele

permeia a sua história e a de todos os continentes e países que a tiveram em seu

território, de modo que continua a exercer grande influência sobre os paradigmas

contemporâneos (DORNELES, 2005; CUNHA, 2005; CLARO, 1995).

Na Europa, os primeiros casos registrados podem ter origem nas tropas de

Alexandre, o Grande, aproximadamente nos anos 300 a.C. A chegada da hanseníase no

Brasil tem direta relação com o processo de colonização das Américas pelos Europeus.

Com a "invasão" das Américas por Colombo, em 1492, e posterior chegada de

imigrantes para a ocupação das terras, além de todo o patrimônio moral e cultural,

desembarcaram também infinitos problemas sanitários, dentre os quais merece destaque

a Hanseníase (MAURANO, 1939; TRAUMAN, 1994).

Com o aumento dos casos de hanseníase em todo o mundo, foi imperativa a

necessidade de medidas de controle. A primeira política pública conhecida foi proposta

pelo norueguês Amauer Hansen na I Conferência Internacional de Lepra, no ano de

1897, em Berlim, Alemanha. A política pública inicial tinha como base o isolamento do

doente, na perspectiva de que esse mecanismo reduzisse a cadeia de transmissão e, por

conseguinte, o número de enfermos (SANTOS; MENEZES, 2008; SAVASSI, 2010).

Nesse mesmo lado, a Igreja Católica foi responsável, ao menos

indiretamente, por ações ainda mais severas. Na Idade Média, com a constatação de

contaminação pela doença, quando não expulsos do meio social, eram trancados em

suas casas e queimados vivos. Essas ações foram legitimadas pela Igreja Católica,

quando da criação de um rito de sacramento (MESGRAVIS, 1976).

No Brasil não foi tão diferente, a frequente expulsão dos muros das cidades

e a morte civil dos doentes levam a conclusão que as medidas adotadas para o controle

da doença consistiam, em sua essência, na exclusão do indivíduo, com justificativa

religiosa de impureza moral, já que estava associada à ideia de castigo por um pecado

cometido, revelando-se por meio de manchas e deficiências físicas (DIAS, 1997).

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182

Como base em tudo ora exposto, este trabalho tem como objetivo fazer um

breve resgate histórico das políticas públicas de enfrentamento a Hanseníase no mundo

e no Brasil, ao longo dos últimos séculos, buscando resgatar aspectos que possam

justificar a persistência da doença em nosso território.

A ORIGEM DA HANSENIASE NO VELHO MUNDO E AS PRIMEIRAS

PRÁTICAS E POLÍTICAS DE ENFRENTAMENTO

A chegada do Mal de Hansen na Europa, conforme apresenta Sourinia (1984),

estaria relacionada aos grupos guerreiros de Dario e Alexandre, que a adquirindo na

Ásia, teriam levado em direção ao Oeste e ao Próximo Oriente. Os fenícios, por outro

lado, seriam os responsáveis pela expansão em todo o circuito do mediterrâneo e as

legiões romanas no centro da Europa. As invasões árabes reforçaram o panorama.

Na Europa, a Lepra desapareceu no século XV, permanecendo em alguns pontos

isolados, como na Noruega. Não se sabe ao certo as razões que levaram a eliminação da

doença, mas acredita-se que políticas e práticas adotadas associadas às mudanças de

cunho demográfico e socioeconômico influenciaram de modo significante. Queda

demográfica europeia, como resultado da “peste” e da fome, entre 1430 e 1450,

população reduzida e bem alimentada, posteriormente, e, exclusão social relacionada a

interdições sexuais são as principais conjecturas sobre a eliminação da doença no

território europeu (LE GOFF,1985).

No período entre a Alta Idade Média e o fim das cruzadas, o número de

leprosários se multiplicou consideravelmente. Estima-se que 19.000 unidades tenham

sido instaladas somente no território da França, conforme citado por Foucault (1987).

Ainda para esse autor, mesmo com a eliminação da doença na Europa no século XV, os

leprosários continuaram a possuir a ideia da segregação e da discriminação, visto que

passaram a servir para a clausura de vagabundos, pobres, presidiários e loucos.

Portugal, durante o século XV, na busca pela eliminação da doença em seu

território, não poupou esforços. A utilização de métodos de exclusão e segregação foi

corriqueira e utilizada em larga escala. Dentre essas práticas estiveram o envio de seus

leprosos para as colônias marítimas, principalmente para a Ilha de Cabo Verde,

naturalmente isolada, que viria a contribuir para a redução da presença da doença no

território Português (GOMIDE, 1991).

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

183

O que se vê é a pouca preocupação com o ser humano, certamente pelo estigma

criado ao longo dos séculos e reforçado pela religião, baseado principalmente na

conotação de impureza moral, na qual as manchas, feridas e deformidades que se

manifestavam no corpo constituíam a demonstração para a sociedade, do pecado

cometido e do castigo divino (DIAS, 1997).

A Noruega foi o principal país a adotar e defender a política do isolamento

profilático e compulsório dos leprosos. Até no processo de isolamento, uma segunda

ação discriminatória se manifestava claramente: as formas de isolamento ocorriam

conforme a classe social. Os mais ricos eram isolado em seu domicílio, sob a

justificativa de que poderiam manter o tratamento; já os demais, o isolamento deveria

ocorrer em colônias agrícolas, onde trabalhariam para garantir os gastos com seu

sustento. Com essa política, a Noruega reduziu a endemia a níveis muito baixos

(SOUZA, 1956).

Embora a prática do isolamento tenha sido rotineira desde a Idade média, tão

somente passa a ser considerada indispensável para o controle da doença, no final do

século XIX. Foi na primeira Conferência Internacional de Leprologia, realizada em

outubro de 1897, em Berlim, que o norueguês Amauer Hansen legitima, a partir do

discurso científico, as práticas de isolamento, que ganham novo fôlego, visto que até

então a legitimação era essencialmente religiosa (CUNHA, 2005).

Esse período de práticas discriminatórias foi chamado de “Tradição do

Isolamento” ou “Modelo Norueguês” de tratamento, que pouco mudou em relação às

práticas dos séculos anteriores, em termos sociais. O que passa a ser diferente é que em

vez expulsar os doentes das cidades ou queimá-los, eles seriam isolados em instituições,

dentro da própria cidade ou nos arredores. Além disso, tecnicamente, somente os casos

mais avançados eram isolados, numa perspectiva mais humanista, que na prática estava

longe de ser.

REFLEXÕES SOBRE A HANSENIASE NO BRASIL: DO ISOLAMENTO A

POLIQUIMIOTERAPIA

A chegada do Mal de Hansen às terras “tupiniquins”

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

184

O processo de colonização das Américas guarda estreita relação com a chegada

da doença nas terras “tupiniquins”, uma vez que não há citações de doenças que

possuam características semelhantes à hanseníase, em época anterior a vinda dos

colonizadores europeus. Nem no Brasil e nem na América Latina. Então, como a doença

chegou e se instalou no Brasil de modo tão persistente?

Embora não possamos afirmar com certeza e clareza como a hanseníase chegou

ao Brasil, alguns fatos podem nos dar pistas. Embora na Europa do século XV, a doença

tenha sido, ao menos aparentemente, eliminada, alguns países, como foi o caso de

Portugal, ela se fazia muito presente. Uma das razões para o descontrole no combate

nesse país é a questão econômica. Portugal mantinha fortes relações comerciais com a

Ásia e a África, regiões que não possuíam mecanismos de enfrentamento, sendo assim,

a mais importante fonte de contaminação da época (MESGRAVIS, 1976; GARCIA,

2001).

Para Terra (1925), o responsável pela vinda da Hanseníase para o Brasil foi o

movimento migratório para a colônia, que ocorreu de modo desorganizado e anárquico,

no qual se desejava usar as terras brasileiras como expurgo da metrópole, uma vez que

para cá enviou os elementos “ditos” perniciosos ao progresso português, dentre os quais

destaca-se a Lepra.

Embora pareça consistente a hipótese de que a Hanseníase foi trazida por

Portugal, ela não pode ser considerada única. Descartada por Maurano (1939), cogitou-

se que escravos africanos seriam os responsáveis pela transmissão da doença no Brasil

Colonial. Os fortes indícios de que os brancos europeus tenham sido responsáveis pelo

Mal de Hansen não foram os únicos elementos para descartar tal teoria que punha nas

costas dos escravos negros a responsabilidade pelo grande “Mal” que assolava o mundo

naquele período.

Pensando bem, conforme cita Terra (1925), sendo o negro um “ instrumento

precioso de trabalho, a sua aquisição era feita após exame minucioso de seu corpo, e

certo não espaçaria à angústia dos traficantes um mal que se revela por alterações na

superfície do corpo, facilmente reconhecíveis”. Com essa colocação, fica evidente que

os escravos africanos não foram os responsáveis pela instalação da endemia no país.

Da legitimação do discurso científico isolacionista ao atendimento integral

multiprofissional

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185

Com a chegada dos colonizadores portugueses no Brasil, além de todo o

patrimônio cultural e legal trazido, problemas sanitários graves também desembargaram

dos navios portugueses. Mas, em razão da colônia não ser considerada produtiva e

incentivável, os aspectos relacionados à saúde foram deixados de lado por longos anos

(GOMIDE, 1991).

O adoecimento da população pela hanseníase, em especial, levou a uma série de

reclamações com a Metrópole. A razão principal foi a presença de doentes vivendo no

centro do Rio de Janeiro, por volta de 1696. Em 1697, a primeira tentativa de instalação

de um leprosário no Rio de Janeiro falhou, em razão da negativa da Câmara Municipal

em assumir os custos. Em 1740, no governo de D. João V, um relatório do Médico

Euzébio Ferreira constatou que a existência de doentes no Rio de Janeiro era pequena, e

por tal, não havia necessidade de criação de “leprosários” (GOMIDE, 1991). Já que os

problemas brasileiros não afetavam Portugal e o Brasil não gerava tantos bens, a

questão sanitária nunca foi vista como importante.

Somente em 1741 é construído o primeiro local de isolamento dos doentes,

embora alguns esboços tenham sido feitos em anos anteriores, coforme já citado. Com

recursos da iniciativa privada, foi construído o Hospital dos Lázaros do Rio de Janeiro,

fundado em São Cristóvão, em 07 de agosto, por Gomes Freire de Andrade e por ele

mantido até sua morte e 1763, quando foi assumido pela Irmandade do Santíssimo

Sacramento da Candelária (AGRÍCOLA, 1960).

A instalação de leprosários no Brasil não aconteceu de forma uniforme e

organizada, sendo muitas das tentativas frustradas, como ocorreu no Rio de Janeiro no

final do século XVII. A cidade de Recife tem sua primeira construção em 1714. Já em

Minas Gerais, as iniciativas mais antigas datam de 1771, quando foi fundado o Hospital

de Nossa Senhora Mãe dos Homens, para atendimento dos doentes (CURI, 2002).

O atendimento aos afetados pelo Mal de Hansen no Brasil foi, na essência,

realizado por instituições filantrópicas ou religiosas, as chamadas “Santas Casas de

Misericórdia”. Em verdade, a ideia de acolhimento e assistência tinha muito mais o

sentido de proteger a sociedade sadia dos doentes, figurando um processo de

discriminação velada, que somente no século XX, se tornaria a base de uma política

pública escancaradamente segregacional (DUCATTI, 2009; OPROMOLLA;

LAURENTI, 2001; EIDT, 2004).

O olhar para a doença somente ocorre com a transferência da coroa portuguesa

para o Brasil, no inicio do século XIX. A partir de então, singelas e discretas políticas

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186

começam a ser implantadas, tendo como base o confinamento dos doentes, conforme

apresenta Figueiredo (2006).

Seguindo o discurso científico do norueguês Amauer Hansen, bem como a

necessidade urgente de controle da doença, o governo, no início do século XX, sugere a

criação de colônias agrícolas no estado do Rio de Janeiro, embora políticas de

isolamento já ocorressem desde o século XVII (DUCATTI, 2007).

A legitimação da discriminação pela ciência não foi tão forte na Noruega quanto

foi no Brasil. Aqui, a interpretação foi diametralmente oposta à dada por aquele país.

Nesse período, previa-se inclusive a adoção de medidas a fim de coibir o casamento dos

doentes, a venda de produtos manipulados por essas populações, a proibição do

batismo, a perda de direitos, dentre muitos outros (SAVASSI, 2010; DUCATTI, 2007).

Enfim, a morte social se efetivava claramente.

No Brasil, ficou claro que o espírito militar fez raízes nas políticas de saúde. De

um lado, os defensores do isolamento compulsório, uma prática repressiva dentro de

uma mentalidade militar, povoada por ideais nazi-facistas da Europa. De outro, os

humanitários, como Emilio Ribas e Carlos Chagas, que defendiam a proximidade com o

doente e com a problemática da doença, os quais recomendavam formas mais brandas

de isolamento, como o domiciliar. Não é difícil imaginar quem foram os vitoriosos

desse embate (DUCATTI, 2007).

Em meados da década de 1920 surgiram os primeiros planos de intervenção,

como o serviço específico para lepra e para as doenças venéreas. Regidos por uma

legislação própria, tinham como linha de base a criação de hospitais-colônias para o

isolamento dos indivíduos (DUCATTI, 2009; DIAS, 1997). Trata-se da Inspetoria de

Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas, criada pelo Decreto n° 14, de 1920. Como

apresentada por Queiroz e Puntel (1997), a atuação no início do século XX parece

marcada pelo medo da doença e do doente. Como já visto, o principal foco era impedir

o contato da sociedade com o “grande mal”.

Nesse momento, importantes problemas para as políticas públicas de hanseníase

começaram a emergir. A falta de recursos financeiros para a implantação de leprosários,

por exemplo, impediu a efetivação completa dos planos. Isolar pessoas portadoras de

uma doença contagiosa requeria uma série de ações que exigiam uma gama muito

grande de recursos: a estrutura física deveria oferecer condições, não somente para a

separação social dos doentes, mas também condições de que garantissem o tratamento

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

187

compassivo e humanizado, garantindo inclusive a dignidade de pessoas que ficariam

isoladas até o fim de suas vidas (CUNHA, 2005; ALEIXO, 1929). .

Com o fracasso da inspetoria e a sua supressão no governo de Getúlio Vargas,

surgiu a necessidade de um novo plano, que começa a ser pensado em 1935. Um ponto

favorável é a programação para destinação de recursos federais para a construção e

manutenção dos leprosários, dispensários e preventórios. Esse modelo de intervenção

esteve presente até 1960, sendo sustentado por três eixos de funcionamento, o que lhe

conferiu o nome de “modelo de tripé”.

A prática do isolamento dos doentes em leprosários, a fiscalização dos

comunicantes dos doentes através dos dispensários e a separação dos filhos sadios pelos

preventórios, foram os eixos estruturantes da política brasileira de combate à hanseníase

naquele período (CURI, 2002). Aleixo (1929) pontua que “ o isolamento dos doentes é

a que se impõe, em primeiro lugar, e de urgência”.

Em 1941, por meio do decreto-lei nº 3.171, de 02 de abril, é criado o Serviço

Nacional de Lepra - SNL. O SNL passou a ser o órgão responsável pela orientação de

todas as ações de controle da doença no Brasil (BRASIL, 1941). Sua principal missão

era cuidar não somente do doente, mas também da população sã. Quanto as demais

ações, nada mudou em relação às políticas traçadas em 1935.

Mesmo depois de séculos de tentativas de combate e dos importantes estudos de

Amauer Hansen, realizados na segunda metade do século XIX, o tratamento, nas

primeiras décadas do século XX ainda se constituíam uma questão longe de ser

resolvida: vacinas e soros não correspondiam ao esperado; pomadas, emplastos e

radioterapia não modificavam o estado da doença; e substâncias químicas puras ou

composta, além de diversos remédios pouco traziam de melhora para as lesões

(RAMOS; SILVA, 1923). Até então, a cura era uma meta inalcançável.

Nas décadas de 1940-1950, com o surgimento das Sulfonas, a história das

políticas públicas começa, timidamente, a mudar de rumo. Timidamente porque, embora

tenha se tornado possível o tratamento ambulatorial, a prática do isolamento dos doentes

ainda se mantinha sob pretexto de que muitas questões ainda deveriam ser respondidas.

Queiroz e Puntel (1997p. 36) afirmam “a lógica da internação persistia porque havia

hospitais especializados e grupos com interesses nítidos na manutenção desse esquema:

os dermatologistas sanitários e os doentes”.

Outra questão para justificar a manutenção do modelo isolacionista, essa mais

biológica, era a impossibilidade de cultivar o agente causador em laboratório, sem o

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188

qual não poderia conhecer os mecanismos de infecção, bem como os de prevenção e

tratamento (ROSEN, 1994). A única resposta dada pela comunidade cientifica era que

se tratava de um bacilo.

Em 1962, a política de saúde para hanseníase ganha ares de grande mudança: o

internamento é oficialmente extinto, embora na prática, ele ainda tenha ocorrido até

1967, sob a justificativa de que o decreto nº 968, de 07/05/1962 não seria capaz de

revogar a lei nº 610 de 1949, que fixava as normas de profilaxia da Lepra, na qual o

isolamento aparecia como medida a ser executada a todos os doentes contagiantes e

àqueles que constituíssem ameaça à população sadia, pelas suas condições e hábitos de

vida, e pela insubmissão às medidas sanitárias (MARANHÃO, 2004; OPROMOLA;

MARTELLI, 2005; MONTEIRO, 1995).

Nesses três anos, uma centena de doentes foi internada em São Paulo, sem que

sequer fossem observadas as regras de isolamento seletivo. O ano de 1967 ficou

marcado também pela substituição do nome Lepra por Hanseníase, embora, do ponto de

vista legal, a mudança somente ocorreu em 1975, por meio do Decreto nº 76.078, de 04

de agosto. A obrigatoriedade de utilização somente veio a ser firmada em 1995, pela Lei

Federal nº 9.010, de 29 de março (MARANHÃO, 2004; OPROMOLA; MARTELLI,

2005; MONTEIRO, 1995).

Outra mudança importante que caracterizaria a nova política pública é

proveniente das discussões criadas na Conferência Nacional para Avaliação da Política

de Controle da Hanseníase. O doente passou a ser compreendido não mais como um ser

incapaz e marginal, de modo que para a efetivação dessa nova política, ficou clara a

necessidade de acabar o mais rapidamente possível com os leprosários, asilos e

colônias. Outras ideias, agora no campo do ensino e pesquisa, passam a povoar as

mentes dos “fazedores” de políticas públicas, começando a pensar em atendimento por

múltiplos profissionais (BRASIL, 1977).

Pouco mais de duas décadas depois, em 1991, o Ministério da Saúde do Brasil

institui a Poliquimioterapia. O tratamento passou a ser de, no máximo 12 meses. A

noção de cura se efetiva, havendo reforço ainda maior das estratégias de atendimento

ambulatorial e contribuindo, dessa forma, para reduzir substancialmente o estigma

social criado ao longo de muitos séculos de sofrimento.

Nesse mesmo ano, durante a 44ª Assembleia Mundial de Saúde, foi aprovada

uma resolução com objetivo de eliminar a hanseníase enquanto problema de Saúde

Pública no planeta até o ano 2000. No final desse ano, a meta global foi atingida,

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

189

embora dozes países, incluindo o Brasil, fracassaram na sua missão, ensejando a

necessidade de políticas pontuais (FIGUEIREDO, 2005). O Brasil Foi o único país da

América Latina que não conseguiu eliminar a doença.

No final do ano 2000, o Brasil tinha 94% dos casos de Hanseníase das Américas,

segundo afirma Araújo (2003). Para Queiroz e Puntel (1997), o Brasil fez um caminho

inverso aos demais: aqui se verificou o crescimento do número de casos e em

velocidade acelerada. Figueiredo (2001) justifica esse evento afirmando que se trata, na

verdade, de melhoria dos serviços de detecção da doença.

A política pública atualmente em vigor no Brasil preconiza a assistência livre de

discriminação, a defesa social do acometido diante dos direitos sociais e individuais, o

acesso ao direito previdenciário e a garantia de reabilitação física, econômica e social,

de modo a possibilitar a sua inclusão no mercado de trabalho (BRASIL, 2000).

Em 2010, o Ministério da Saúde aprova as Diretrizes para a Vigilância, Atenção

e Controle da Hanseníase no Brasil, portaria 3.125, de 7 de outubro. Segundo esse novo

modelo, a intervenção passou a ser baseada no diagnóstico precoce, tratamento

poliquimioterápico oportuno, prevenção e tratamento de incapacidades físicas e

vigilância dos contatos (BRASIL, 2010).

Essa portaria passa a ser o guia orientador do manejo clínico e epidemiológico

da doença em todo o território nacional, compreendendo desde as ações de vigilância,

diagnostico e tratamento, até a organização da rede de atenção integral e promoção à

saúde, envolvendo a comunicação e a educação em saúde e a mobilização social

(BRASIL, 2010)

O que se observa nesse início de século XXI é a preocupação com o ser humano.

As políticas públicas passaram a reconhecer os direitos e valores dos doentes,

empoderando-os como cidadãos iguais aos demais em direitos e deveres.

CONCLUSÃO

Como vimos, muitas conjecturas se formaram para explicar como a Hanseníase

chegou ao Brasil. Hoje, é consenso na comunidade científica que ela aportou no litoral

brasileiro e desceu dos navios europeus, carregada nos corpos dos brancos do velho

continente.

A Igreja também exerceu forte influência na definição de intervenções públicas

ao longo dos séculos, sobretudo a partir da legitimação religiosa das práticas cruéis

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

190

realizadas contra as pessoas afetadas pela Hanseníase. Mais tarde, já no final do século

XIX, a ciência justifica a prática do isolamento como medida única e necessária para o

combate à doença.

A História das políticas de hanseníase no Brasil possui três momentos

importantes, que possuem características próprias em razão do espírito político e

cultural de cada época. O primeiro ocorreu em 1920, por meio do Decreto nº 14. O

segundo, em 1976, por meio das recomendações da Conferência Nacional para

Avaliação da Política de Controle da Hanseníase. Por fim, o terceiro trata-se da

legislação atualmente em vigor, que tem como marco o ano 2000.

Inicialmente, a política implantada em 1920 tinha caráter isolacionista e

segregacional, onde os direitos eram restringidos e ao estado cabia isolar o doente e

proteger os sãos. A partir de 1976, ocorreu a primeira grande mudança: o estado tem a

responsabilidade de reintegrar o indivíduo à sociedade, garantindo-lhes direitos e

acabando com o isolamento. No último ano do século XX, o estado fortalece sua função

integralizadora e promotora de políticas públicas comprometidas com o bem-estar dos

doentes, garantindo-lhes todo o apoio necessário: diagnóstico, tratamento adequado,

reabilitação multiprofissional sócio-econômica e física e defesa dos direitos de que são

proprietários.

Podemos concluir, por fim, que a doença já poderia ter sido eliminada no Brasil,

como evidenciamos nos demais países do globo, inclusive em nações muito mais

empobrecidas. O fracasso brasileiro pode ser explicado pela perversa história das

políticas de enfrentamento ao problema.

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VERÃO CHEGOU: A MULHER POR TRÁS DE UM GOLE DE CERVEJA

Os signos e significados particulares na construção da ideia geral da propaganda

“Saindo do Mar” da Cerveja Itaipava

Gabriela Alves Canário

Inês S. Guimarães27

RESUMO

Será analisada, neste trabalho, uma propaganda de cerveja da marca Itaipava – “Saindo

do Mar”, onde será atribuído significado aos signos e também identificadas as

estratégias utilizadas pelos produtores da propaganda para persuadir o leitor. A escolha

da propaganda teve como critério a utilização da imagem da mulher como um fato

constante nas peças da marca de cerveja. No caso, a bailarina e modelo Aline Riscado, a

“Verão”. Também será feita uma análise da linguagem da propaganda usada na

divulgação e venda do produto, refletindo como este é apresentado ao público-alvo e

como esses consumidores são facilmente identificados. Desta forma, será atribuído um

significado para a propaganda, observando de que forma ela se utiliza de estratégias

semióticas para alcançar o objetivo de persuadir. Nesta análise foram levados em

consideração as cores, a logomarca, os sinais convencionais, a sinestesia, as relações

entre palavra e imagem, o poder apelativo e os demais itens que foram usados como

estratégias semióticas para alcançar o objetivo, atrair e persuadir seu público-alvo.

Palavras-chave: Semiótica – Propaganda - Discurso

INTRODUÇÃO

Na semiótica, um texto é explicado pela organização dos sentidos, ideias que podem se

referir a outras ideias e a objetos do mundo. A partir dos signos que compõem a peça

publicitária a ser analisada, vamos abordar os mecanismos que o enunciador utiliza para

27

Alunas do curso de pós-graduação lato sensu em Gestão de Marketing e Comunicação, da Faculdade São Francisco de Juazeiro – FASJ.

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196

construir e instaurar o texto e comunicá-lo. (LOPES; HERNANDES, 2005)

De acordo com Santaella (2007, p.13) “a semiótica é a ciência que tem como objeto de

investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objeto o exame dos

modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de

significação e sentido”. Nesse sentido, a publicidade escolhida será analisada de modo a

se demonstrar a construção de significados, buscando apresentar as possíveis razões

para o uso dos ícones, índices e símbolos que a compõem.

Santaella, que se baseia nos estudos de Charles Sanders Peirce – o fundador da

Semiótica norte-americana –, defende que a ciência oferece base para a investigação e o

estudo dos efeitos que as mensagens podem despertar no receptor, podendo ser efeitos

reativos, emocionais e cognitivos (SANTAELLA, 2007). Portanto, a análise da peça

publicitária se dá pela percepção, reflexão e argumentos desses elementos do signo,

sendo fundamental ressaltar a importância do conhecimento de mundo apresentado pelo

receptor para compreender aquilo que está sendo passado, implícita e explicitamente,

pela mensagem. A Semiótica busca enfatizar todos os tipos de signos e explicar como

eles significam e o papel que desempenham na sociedade.

Um signo intenta representar, em parte pelo menos, um objeto que é,

portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo se o

signo representar seu objeto falsamente. Mas dizer que ele representa seu

objeto implica que ele afete uma mente, de tal modo que, de certa maneira,

determine naquela mente algo que é imediatamente devido ao objeto. Essa

determinação da qual a causa mediata ou determinante é o signo da qual a

causa mediata é o objeto, pode ser chamada o interpretante. (PEIRCE, apud

SANTAELLA, 2007, p.58).

Na peça publicitária analisada foram identificados vários índices, símbolos e ícones, na

perspectiva semiótica, como as cores, o ambiente, as vestes da mulher, o

comportamento do homem dentro da água, o discurso verbal, a própria cerveja. Todos

esses elementos articulados estão produzindo um significado, que serão interpretados

em análise adiante.

VERÃO CHEGOU!

Atualmente, um dos jargões que mais tem chamado atenção é o “Vai, Verão!”, utilizado

nas campanhas da cerveja Itaipava, marca do grupo Petrópolis, do empresário carioca

Walter Faria. A frase foi criada pela agência Young & Rubicam para ilustrar os

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

197

comerciais em que a dançarina Aline Riscado desfila entregando cervejas para vários

homens.

A propaganda da Itaipava mostra uma mulher chamada Vera, padrão das propagandas

publicitárias: peito siliconado; neste caso morena (mas poderia ser uma loira), saia curta

e magra. Toda a complexidade das propagandas da Itaipava resume-se ao fato de que a

mulher é a garçonete e serve alguns homens que dizem “Vai Verão” e “Vem Verão”

dependendo do rumo que ela toma para os servir, sempre com os olhos fixos no corpo

da atriz. No caso da propaganda “Saindo do Mar”, a “Verão” não está como garçonete e

sim como banhista.

A propaganda reforça o comportamento do homem como se ele fosse um animal

irracional olhando para a sua caça, um pedaço de carne com o qual ele sonha comer.

Poucas propagandas tratam a mulher como consumidora, quando, em muitos casos é ela

que está no bar bebendo com as amigas. A mulher é retratada como um simples objeto

que leva a cerveja, satisfaz seu homem, e se retira de cena, não há interação.

Antes do início da análise, é importante destacar que a tônica da imensa maioria das

propagandas de cerveja é a descontração. Porém, existe uma linha tênue entre a ousadia

e o exagero. Pensando nos comerciais de qualquer produto em geral, tem-se: o produtor

do texto, que geralmente é um publicitário, e o receptor, que são os consumidores do

produto. Quando um publicitário cria seu texto para vender um produto, ele tem em

mente o consumidor que quer atingir, dessa forma se usa da ideologia dominante para

convencer o consumidor que aquele é o produto certo para ser consumido.

O Grupo Petrópolis é atualmente o segundo no ranking das cervejarias do Brasil e tem

capital 100% nacional. É dono das marcas de cerveja Crystal, Lokal, Itaipava, Black

Princess, Petra e Weltenburger, dos energéticos TNT Energy Drink e Magneto, do

isotônico Ironage, das vodkas Blue Spirit Ice e Nordka e da água Petra. Com sete

fábricas em operação, o Grupo é responsável pela geração e manutenção de quase 26

mil empregos diretos. Além disso, patrocina atletas brasileiros profissionais e amadores

e promove ações ambientais por meio do Projeto AMA.

Excitação escancarada

O vídeo "Saindo do mar", publicado no canal da marca do Youtube, na internet, faz uma

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“brincadeira” com uma situação embaraçosa: um homem está saindo do mar quando

avista a "Verão", interpretada pela ex-bailarina do Domingão do Faustão e modelo,

Aline Riscado, de biquíni, banhando-se no mar, e fica visivelmente excitado. Entra em

cena outro rapaz, o "mestre da Malandragem 100%", que explica uma técnica para que

o público masculino aprenda a disfarçar a ereção: o "caô da conchinha”.

"Às vezes a gente acaba se empolgando demais com o Verão e deixa a maré subir. Nessa

hora, como é que se faz pra sair do mar sem passar vergonha? Aprenda essa lição com o

mestre da Malandragem 100%", diz o texto de apresentação da propaganda.

A Proibição

Logo após a divulgação da propaganda “Sair do Mar”, o CONAR, agência reguladora

responsável por fiscalizar e coordenar toda a publicidade e propaganda que circula no

Brasil, proibiu a campanha da Itaipava por infringir alguns princípios básicos do Código

Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. A regra geral do órgão salienta que a

publicidade deve “ser estruturada de maneira socialmente responsável, sem se afastar da

finalidade precípua de difundir marca e características” e que “eventuais apelos à

sensualidade não constituirão o principal conteúdo da mensagem; modelos publicitários

jamais serão tratados como objeto sexual”, que são os casos presentes na propaganda

analisada.

De volta ao topo do Mercado

As “propagandas humorísticas”, como descreve os produtores da série de propagandas

com a “Verão”, contribuíram para a volta da Itaipava ao ranking da pesquisa Preferência

de Marcas em Propagandas de TV, realizada pelo Datafolha. No último levantamento,

divulgado em fevereiro de 2015, a marca aparece na segunda colocação28.

O Grupo Petrópolis, responsável pela produção dos vídeos da cervejaria, mostrou-se

satisfeita com os resultados da publicidade. “Toda a campanha é centrada no bom

humor, e ficamos muito felizes ao saber que voltamos ao ranking das marcas mais

lembradas em propagandas de TV. O consumidor entendeu nossa campanha e se diverte

28 Informação retirada do site http://www.administradores.com.br/noticias/marketing/itaipava-

aposta-no-bom-humor-para-serie-de-propagandas/98659/ em 28 de setembro de 2015.

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199

com ela. Estar na memória dos consumidores reforça que estamos no caminho certo”,

comenta Eliana Cassandre, gerente de propaganda do Grupo.

Homens – destinatários da mensagem

A propaganda vem com o objetivo de persuadir o público de que a cerveja Itaipava é

gostosa e consequentemente criar a ilusão de que, ao consumi-la, o homem poderá esta

acompanhado de mulheres belas como a modelo da propaganda, ou mesmo fazer

associação do produto à modelo.

As propagandas de cerveja no Brasil possuem forte apelo sexual. A maioria das

campanhas de cerveja usam de um mesmo referencial nas suas campanhas, mulheres

lindas sendo desejadas pelos homens, que ao mesmo tempo conotam que cervejas são

desejadas pelos homens. Com a Itaipava a estratégia adotada foi a mesma.

Analisando e classificando os signos presentes na propaganda, pode-se identificar que

público alvo são homens, o sexo que é suscetível à excitação exposta, como acontece no

vídeo. O slogan adotado pela propaganda - “Verão é nosso” - induz ao leitor a pensar

que se consumir a cerveja pode fantasiar a possibilidade de ter e estar acompanhado de

uma belíssima mulher como a “Verão”.

No Brasil, dentro de um vocabulário vulgar, as mulheres bonitas, dentro de um

determinado padrão de beleza, são chamadas de “gostosas” e no momento que a mulher

está no lugar da cerveja e a representa, a própria cerveja toma para si esta característica.

A modelo Aline Riscado tornou-se um signo ao ser notório que ela está fazendo

referência a cerveja e que consequentemente, neste contexto, a cerveja é tão “gostosa”

quanto ela. “Verão é Nosso” é o mote da marca, que traz a palavra "verão" com duplo

sentido: a estação do ano e a personagem de Aline no vídeo, chamada Vera, a "Verão".

Desta forma, a propaganda é direcionada para o público masculino, onde o corpo da

Verão é disposto em um espaço que indica momentos de descontração: a praia. O local

escolhido para a produção permite deixar o corpo da modelo à mostra, como um objeto.

A protagonista – se é que se pode chamar assim – nem ao menos possui uma fala na

propaganda. Ela serve apenas para excitar o homem que está ao mar.

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200

Verão: um símbolo sexual

A imagem feminina presente no vídeo é transformada em um símbolo, trazendo em si

indícios do produto a ser vendido, passando a ser um legisigno, isto é uma lei, pois para

se ter uma mulher sedutora, bonita e “gostosa” deve-se pensar e consumir determinada

cerveja. Na análise das cenas, observa-se a representação da mulher no imaginário

masculino como peça ilustrativa e proporcionadora de excitação.

A Verão e a logomarca são associadas como semiose, ambas como da cerveja do

anúncio publicitário. Tanto que, Aline Riscado passou a ser chamada de Verão pelas

ruas depois de protagonizar a campanha dessa marca de cerveja.

Eco apud Noth (sem ano) analisa que para Peirce, signos estabelecidos pela cultura e

convenção são primariamente símbolos, mas esses se distinguem dos ícones e índices,

que não dependem primariamente de codificação. O índice é interpretado como um

signo tendo por base a causalidade ou conexão espaço-temporal entre o signo e seu

objeto, enquanto que o ícone é interpretado como um signo devido a qualidades ou

traços que ele tem em comum com seu objeto. A presença da mulher nas propagandas

de cerveja é um recurso antigo que avança no tempo. O investimento objetiva sempre

alcançar o público, masculino, o maior consumidor do produto em questão.

Sant’Anna apud Brazil (2003) explica que para ser eficiente

O texto de um cartaz deve ser essencialmente de afirmação, enunciado por

meio de uma frase exclamativa ou imperativa. Quanto mais o raciocínio

imposto [...] se revestir de uma forma indiscutível, quanto mais ele for

expresso por palavras que constituam uma imagem ou por palavras ligadas à

imagem, sugerida pela ilustração, tanto melhor será o cartaz. O texto de um

cartaz deve atingir sua finalidade em poucas palavras: aqui não há título, nem

corpo de texto, nem conclusão, mas uma única frase de extrema densidade.

(2003, pág. 55)

Entretanto, no vídeo, os publicitários não informam a qualidade da cerveja Itaipava,

apenas usam a imagem da mulher para vender o produto. Em “Saindo do Mar”, existe a

construção e a disseminação de uma imagem de mulher sexualmente desejável. A

“Verão” é identificada como aquilo que todos os homens devem aspirar e possuir. No

vídeo, a modelo apresenta determinados gestos, posturas e disposições de erotização.

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201

Ela aparece com olhos sedutores e boca entreaberta quando deveria estar apenas

tomando um banho no mar.

O corpo da mulher como objeto de exploração

Quando uma mulher expõe seu corpo nesse tipo de propaganda, ele está repleto de

significados e valores que precisam ser analisados com referência a quem eles estão de

fato favorecendo com a sua exposição. Nesse caso, o corpo da modelo deixou de ser um

aspecto físico para assumir um significado cultural: exploração.

Para Sant’Anna apud Cruz, “liberdade e coações andam juntas, assim como as

valorizações do corpo coexistem com a sua abertura a novos tipos de violência e

exploração.” (XXXX, p.11). O corpo feminino é historicamente submetido ao olhar

masculino e utilizado de forma que inferioriza a imagem da mulher. O significado que o

corpo da Verão assume na propaganda é de um corpo esteticamente explorado e

desejado. A cerveja por ela mesma não cria no imaginário social um poder de venda,

então ela foi associada a outros valores (sexuais) para se tornar um objeto de desejo e

consumo. É uma imagem construída a partir do outro e para a aceitação do outro, no

seguinte esquema: MULHER + exploração = satisfação do HOMEM.

Cor vermelha da paixão (excitação)

No vídeo “Saindo do Mar”, existem muitas possibilidades de associações que são

oferecidas pelos recursos de linguagem. Os objetivos propostos têm sido explorados

levando ao público mensagens com outras intenções, além daquelas apresentadas pelo

autor. Exemplo disso é a cor dos biquínis utilizados pela “Verão” em todas as

propagandas da Itaipava. Esses são associados às letras do rótulo da cerveja Itaipava,

classificada com a representação de motivação, atividade, vontade.

De acordo com Crepaldi (2000), a cor vermelha está associada ao calor e à excitação,

bem como à disposição para agir. Ressalte-se ainda que o amor físico e a paixão carnal

são denominados sinônimos dessa cor. Ele explica que no campo da publicidade, a cor

vermelha “aumenta a atenção, é estimulante e motivadora” (pág. 11). A sua

aplicabilidade é indicada a artigos que demonstram calor, energia, artigos técnicos e de

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

202

ginástica. O autor ainda revela que para ofertar a cerveja através de propagandas

televisivas, as cores mais adequadas são amarelo-ouro e vermelho, visto que ambas

proporcionam o contraste e harmonia como atrativos para aquisição e consumo do

produto.

CONCLUSÃO

Após a análise, foi possível concluir que toda a disposição de signos, símbolos e índices

que compõem a propaganda são baseados numa intencionalidade, previamente

estabelecida para atingir de maneira determinada ao público-alvo. Também, que a partir

de uma análise semiótica é possível ir além do entendimento superficial das

publicidades, como geralmente costuma ocorrer.

No caso da peça publicitária “Saindo do Mar”, o apelo a lugares-comuns da cultura

machista, fortemente reforçada principalmente através de produtos como a cerveja,

expõe estereótipos evidenciados em toda a dinâmica e discurso da propaganda.

REFERÊNCIAS

BRAZIL, Josué Marcos de Oliveira. Mensagens publicitárias de outdoor: um estudo

da polifonia. Taubaté – SP, 2003.

CREPALDI, Lideli. Universo das Cores na Propaganda. 2000.

CRUZ, Sabrina Uzêda. A representação da mulher na mídia: um olhar feminista sobre

as propagandas de cerveja. Ano: sem ano.

LOPES, Ivã Carlos; HERNANDES, Nilton (orgs.). Semiótica: objetos e práticas – São

Paulo: Contexto, 2005.

SANTAELLA, Lúcia. O Que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2007.

NOTH, Winfried. O Limiar Sremiótico de Umberto Eco. Trabalho publicado na

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

203

revista FACE da PUC - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ano: Sem ano.

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204

ENSAIO SOBRE A SEMIÓTICA DE PEIRCE E A SEMIÓTICA DE UMBERTO

ECO APLICADAS A UMA PEÇA PUBLICITÁRIA

Caroline Ramos Freitas

Luiza Nayara Gonçalves Rodrigues29

RESUMO

A semiótica, compreendida como uma teoria geral dos signos e sistemas de signos pode

ser assimilada também como uma ciência que tem por objeto de estudo a semiose. Por

semiose, pode-se designar como o processo de atribuição de significado aos signos.

Segundo Santaella (1983), a semiótica está em processo de crescimento, é uma ciência,

território de conhecimentos ainda não sedimentado por completo, com indagações e

investigações pertinentes em processo. O presente ensaio tem como principal objetivo

desenvolver uma análise semiótica baseada nos conceitos e teorias de Pierce e Umberto

Eco da peça publicitária “#viveramúsica”, veiculada no Brasil pelo banco Itaú em

meados de setembro de 2015, com o intuito de estimular a participação no festival

brasileiro Rock in Rio, que aconteceu entre os dias 18 e 27 de Setembro de 2015.

Palavras-chave: Semiótica; Publicidade; Institucional.

A SEMIÓTICA DE PEIRCE

Charles Sanders Pierce foi um filósofo, pedagogo, matemático e cientista

americano. Nasceu em Cambridge no ano de 1839 e veio a falecer em abril de 1914 na

cidade de Milfrod, no estado da Pensilvânia, Estados Unidos. Ficou conhecido como um

dos fundadores do pragmatismo, ou, pragmaticismo e também como fundador da

Semiótica.

Dentre as principais características da semiótica peirceana, estão a relação com

a fenomenologia, bem como a fundamentação pautada nos conceitos das disciplinas:

estética, ética e especialmente a lógica. Para Peirce, a fenomenologia tem por objeto de

investigação o modo de apreensão dos fenômenos, qualquer coisa, de qualquer tipo que

aparece a nossa mente. Já os ideais que conduzem os sentimentos estão relacionados à

estética; os ideais que orientam a conduta humana estão relacionados à ética; e os ideais

e normas que conduzem o pensamento associam-se à lógica. Lógica que o autor

considera como leis necessárias ao pensamento e das condições para atingir a verdade

29

Alunas do curso de pós-graduação lato sensu em Gestão de Marketing e Comunicação, da Faculdade São Francisco de Juazeiro – FASJ.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

205

(SANTAELLA, 2004).

Ainda de acordo com Santaella (2004), são considerados ramos da semiótica: a

gramática especulativa, a lógica crítica e a metodêutica. A gramática especulativa

refere-se a todo tipo de signo, e as formas de pensamento possibilitadas. A lógica crítica

está baseada nas diversas espécies de signos e estuda as inferências, raciocínios e

argumentos que são estruturados através dos signos. E, por sua vez, a metodêutica

ocupa-se da análise dos métodos a que cada um dos tipos de raciocínios originam.

Salienta-se que há uma relação de interdependência entre estas, e a gramática

especulativa atua como ramo basilar das demais, constituindo-se uma ciência geral dos

signos e fornecendo definições e classificações para a análise de quaisquer signos.

O signo, de acordo com a perspectiva de Pierce, é algo que substitui ou

representa os objetos, representando, a realidade (ALMEIDA; REDIGOLO, 2012).

Relacionando-se a fenomenologia, Pierce discorre sobre os elementos formais e

universais constituintes de todos os fenômenos que se apresentam à percepção e a

mente, chamados de primeiridade, secundidade e terceiridade. A primeiridade relaciona-

se sentido, aos sentimentos, sensações; A secundidade relaciona-se à existência, a

tentativa de racionalização do fenômeno. Já a terceiridade associa-se a manifestação no

signo, à atribuição de significado, aos efeitos no intérprete (SANTAELA, 2004).

A semiótica de Pierce possui caráter geral, estudando, de modo amplo, todo e

qualquer tipo de representação. Não havendo, desse modo, restrições para a

identificação, caracterização de um signo, apenas a premissa da representação

(BLIKSTEIN apud ALMEIDA;REIGOLO, 2012). Sobretudo, os signos são descritos

por Pierce, como uma relação triádica entre o signo, o objeto e o interpretante. Almeida

e Guimarães (2007) salientam que o signo é a união inseparável do objeto, signo e a

relação triádica define o signo perfeito. Os signos variam de acordo com a espécie de

objeto que representam. Um determinado tipo de signo traz à mente objeto de uma

espécie diferente de uma outra revelada por um outro tipo de signo (SANTAELLA,

2004).

Em uma primeira tricotomia os signos são classificados de acordo com as

propriedades formais que lhes dão capacidade para agir como signo: a qualidade, que dá

origem ao que denomina-se quali-signo e associa-se à semelhança, a sugestão de algo; a

existência, que dá origem ao que denomina-se sin-signo e associa-se à existência, à ação

do signo como parte daquilo o que indica; e a lei, que dá origem ao que se denomina

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206

legi-signo e associa-se à generalidade, a conformação do singular à generalidade,

associando-se também a convenções, leis (SANTAELLA, 2004;1983).

Uma segunda tricotomia classifica os signos baseando-se nas suas relações

com os seus objetos dinâmicos. O ícone associa-se com a propriedade formal da

qualidade, por similaridade de seus caracteres, sugere ou evoca o objeto dinâmico, está

relacionado à possibilidade de efeito sobre os sentidos. Já o índice, associa-se com a

propriedade formal da existência, indica o universo do qual faz parte, indicando o seu

objeto dinâmico. Tudo o que existe pode funcionar como um índice, desde que seja

identificada uma relação de causalidade, uma relação com o objeto no qual está

relacionado. Por sua vez, o símbolo associa-se com a propriedade formal da lei. Sua

relação com o objeto dinâmico se dá por meio da representatividade porque é portador

de uma lei, regra ou convenção que determina que determinado signo representa um

determinado objeto (ALMEIDA; REIGOLO, 2012; SANTAELLA, 2004; 1983).

Uma terceira tricotomia permite a classificação dos signos quanto às suas

relações com os interpretantes, considerando-os como rema, dicente e argumento. O

rema fornecerá uma informação, não ultrapassando a conjuntura de hipóteses

interpretativas, representa um tipo de objeto possível, associa-se à possibilidade. O

dicente, caracteriza, indica uma existência real. O signo representa algo exato, que pode

ser constatado. E o símbolo, por sua vez, é um signo associado há uma lei, regra ou

convenção. Representa o objeto em seu caráter de signo (ALMEIDA;REIGOLO, 2012;

SANTAELLA, 2004;1983). Por fim, as tricotomias podem combinar-se entre si,

resultando em dez classes propostas por Pierce, são elas: 1. Qualissigno, Icônico,

Remático; 2. Sinsigno, Icônico, Remático; 3. Sinsigno, Indicativo, Remático; 4.

Sinsigno, Indicativo, Dicente; 5. Legissigno, Icônico, Remático; 6. Legissigno,

Indicativo, Remático; 7. Legissigno, Indicativo, Dicente; 8. Legissigno, Simbólico,

Remático; 9. Legissigno, Simbólico, Dicente; 10. Legissigno, Simbólico, Argumental

(ALMEIDA; REIGOLO, 2012).

A SEMIÓTICA DE UMBERTO ECO

Umberto Eco foi um escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano.

Nasceu em Alexandria, no ano de 1932. A partir da década de 70, direcionou seus

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

207

esforços para a compreensão da semiose, sendo seus estudos influenciados inicialmente

por Saussure. Para Eco, o mundo está divido em um mundo semiótico e um mundo não

semiótico. O campo semiótico possui limiares, fronteiras. Tais fronteiras podem ser

transitórias ou imutáveis. As fronteiras transitórias subdividem-se em políticas e

epistemológicas (NÖTH, 2005).

As fronteiras transitórias políticas estão relacionadas ao estado da arte, ou seja,

desenvolvimento teórico da semiótica – na decorrência de evoluções, devem ser

ultrapassadas. Já as fronteiras transitórias epistemológicas representam a separação

entre a semiótica como teoria e seu objeto de estudo. Está associada à remodelagem

constante da paisagem semiótica e à intervenção crítica. Por sua vez, as fronteiras

imutáveis também podem ser compreendidas como fronteiras naturais. Limitam os

fenômenos pertencentes ao campo semiótico e os fenômenos que não podem ser

tomados como signos, não exercem funções sígnicas. São caracterizadas como limiar

superior da semiótica e limiar inferior da semiótica (NÖTH, 2005).

Para a semiótica de Eco, só a o que se baseia em códigos e convenções merece

ser estudado. Desse modo, o limiar inferior da semiótica é o que separa os signos dos

objetos e os signos artificiais de signos naturais, é o que divide o mundo semiótico do

mundo pré-semiótico, a natureza da cultura. Já o limiar superior está na distinção entre a

perspectiva semiótica de compreensão do mundo e as várias outras perspectivas não

semióticas dos fenômenos existentes (SANTOS, 2007).

Eco propõe em sua abordagem sobre a semiótica um conceito de signo atrelado

à cultura, às convenções. Ou seja, para o autor, é necessário a desconstrução do preceito

do imperialismo semiótico e o direcionamento dos esforços para o que permite

significação. Por sua vez, utiliza como critérios de signo a convencionalidade, a

codificação e o potencial de utilização para veicular o que não necessariamente é

compatível com a verdade. Salienta-se que para Eco, um fenômeno natural pode ser

apreendido pela perspectiva semiótica, desde que esse atravesse um processo de

aprendizagem e codificação (NÖTH, 2005). “Há signo quando há reconhecimento de

algo como veículo de outra coisa” (ECO, 1976).

BREVE COMPARAÇÃO ENTRE A SEMIÓTICA DE PIERCE E A

SEMIÓTICA DE ECO

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

208

Diante do exposto nos tópicos anteriores, a primeira diferença evidente entre a

abordagem da semiótica de Pierce e a abordagem proposta por Eco, associa-se ao

conceito de signo. Para Pierce, tudo pode exercer função sígnica, representar objetos,

ser dotado de significado. Já para Eco, a definição de signo está relacionada aos critérios

de convencionalidade, codificação e o potencial de utilização para veicular alguma

coisa, que nem sempre é tomada como verdade. Para Eco, o signo é um signo cultural.

Da sua relação com a cultura surgem as funções sígnicas de um fenômeno. Eco

considera a abordagem de Pierce muito ampla (NÖTH, 2005).

De acordo com Santos (2007), Eco só reconhece o que para Peirce pertence ao

conjunto da terceiridade e, portanto, aos símbolos. A principal diferença situa-se no fato

de que o conceito de semiose para Peirce não se está limitado ao mundo humano e não

estabelece nenhum limiar entre mundo natural e mundo cultural, compreendendo

também, o que o autor chamou de conjunto da primeiridade e o conjunto da

secundidade, a compreensão dos fenômenos relacionados à cultura e à natureza.

Por fim, a compreensão dos estímulos é um dos exemplos da distinção

existente entre a abordagem da semiótica de Peirce e a abordagem da semiótica de Eco

citado por Nöth (1989). De acordo com o proposto pelo autor, Peirce compreende os

estímulos como signos, passíveis de interpretação e promover comunicação. Já para

Eco, os estímulos são meros signos naturais que não pertencem ao campo semiótico.

Entretanto, uma vez que estes passem pelo processo de codificação, aprendizagem e

podem ser abordados a partir de uma perspectiva cultural, podem exercer funções

sígnicas, caracterizando-se como signos.

ANÁLISE DE SEMIÓTICA APLICADA À PEÇA PUBLICITÁRIA

#VIVERAMÚSICA VEICULADA EM SETEMBRO DE 2015 PELO BANCO

ITAU

Para a presente análise foi escolhida uma peça publicitária veiculada durante o

mês de setembro de 2015, pelo banco Itaú, com o principal intuito de estimular a ida ao

festival que aconteceria nas duas últimas semanas do mês na cidade do Rio de Janeiro, o

Rock in Rio. A peça foi veiculada na TV e em alguns sites, como o Youtube.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

209

Em suma, a peça publicitária retrata a ida de clientes do banco a uns caixas

eletrônicos do banco, instalados nas principais praias do Rio de Janeiro. Ao se

aproximarem dos caixas eletrônicos, os clientes notam de que são de karaokês, ativados

com a retirada do microfone. Ao retirar o microfone, são convidados a cantar a música

“Love of my life” da banda Queen. Música interpretada pelo então vocalista na época

Fred Mercury e considerada ícone do primeiro Rock in Rio em 1981. Após o término da

música, os clientes recebem tickets para comparecerem ao festival e é compartilhada a

ideia de reforçar a experiência com a música no festival Rock in Rio.

De acordo com a teoria peirceana, em uma análise superficial, o signo seria a

peça publicitária, o objeto a experiência com a música e permitiriam ao interpretante

associá-la a experiências compartilhadas com outros indivíduos, experiências

individuais vividas, identificação do desejo de ir ao festival, identificação de memórias

associadas à edições anteriores do Rock in Rio, dentre outras interpretações que

variariam significativamente de acordo com o interpretante final. Também são

encontrados na peça publicitárias elementos que podem ser classificados como ícones,

índices e símbolos. Dentre eles, a música “Love of my life” pode ser considerada um

ícone, conforme mencionado anteriormente, uma vez que sugere ao interpretante a

edição anterior, sentimentos relacionados à música, desperta emoções e evoca o objeto

dinâmico descritivo ao sugerir a relação entre a música e a banda Queen com o festival

Rock in Rio.

Conforme a teoria de Peirce, podem ser compreendidas como índices as praias

escolhidas para a peça publicitária, uma vez que, fazem alusão aos principais pontos

turísticos da cidade do Rio de Janeiro, indicando para o interpretante elementos

existentes e facilmente relacionados à cidade sede do festival. Por sua vez, o corcovado,

é considerado um símbolo. Uma vez que, representa fisicamente e culturalmente o Rio

de Janeiro, sendo mundialmente famoso e associado ao Rio de Janeiro por convenções

culturais, turísticas, etc.. Os caixas eletrônicos e as cores expressas nestes, sugerem a

empresa patrocinadora do evento, também responsável pela veiculação da propaganda,

atuando, desse modo como um ícone. Entretanto, também indicam ao interpretante a

existência de tal empresa e do segmento em que atua, exercendo assim, a atuação como

um índice.

Ainda de acordo com a teoria de semiótica de Peirce os ingressos e o símbolo

do festival atuam como símbolos do Rock in Rio. Uma vez que, o símbolo foi escolhido

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

210

mediante convenção do festival, e os ingressos representam o “passe livre” à

experiência com a música, a possibilidade de entrada no Rock in Rio, e são instituídos

no Brasil praticamente mediante convenção, posto que, na maioria das festas, dos

festivais realizados no país, os ingressos possuem a funcionalidade de garantir a entrada

do indivíduo, permitir o acesso, etc.. Por sua vez, o conjunto de relações afetivas

representadas, configuram-se ícones, evocando a similaridade do “clima” do festival, do

Rio de Janeiro e as sensações e emoções compartilhadas em ambos locais.

Já conforme o proposto por Eco considera-se apenas o que pode ser tomado

como símbolo, pertencente à terceiridade e exerça a função de representar

intencionalmente algo. Desse modo, constituiriam símbolos, o corcovado – mediante a

perspectiva cultural, o símbolo do festival, bem como os ingressos, conforme já foi

exposto, associados às convenções culturais no Brasil. O estilo da música escolhida, o

rock, posto que representa o estilo dominante do festival, uma vez que, encontra-se

convencionado no próprio nome do festival, seria categorizado como símbolo também

os caixas eletrônicos, posto que, por convenção representam simbolicamente bancos,

agências, etc.

Por fim, relacionando-se ao conceito de limiar superior e limiar inferior de Eco,

a música “Love of my life” encontra-se no limiar inferior, uma vez que pertence ao

mundo pré-semiótico e através de um processo de codificação e convenção, poderia se

tornar um símbolo. As praias também se encontram no limiar inferior, não exercendo,

de acordo com a perspectiva de Eco, funções sígnicas, atuando apenas como signos

naturais. Os clientes, por sua vez, podem ser mais bem enquadrados no limite superior

de Eco, uma vez que, não atendem apenas à perspectivas culturais, podem ser

considerados por perspectivas sociais, físicas, etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O campo de estudo da semiótica ainda há muito que ser explorado. O presente

estudo contribuiu para a expansão dos horizontes de conhecimento das autoras e para

uma intervenção teórica na compreensão dos fenômenos cotidianos, extraordinários, etc.

Seja a perspectiva abrangente de Peirce, ou, a perspectiva reducionista e cultural de Eco,

a compreensão dos signos, da semiose e, por sua vez, da semiótica, é uma mina de

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

211

conhecimentos aberta à exploração. Sugere-se, por fim, o aprofundamento das peças

publicitárias através da semiótica. Posto que, sua compreensão fomenta o

desenvolvimento e o posicionamento correto das peças, bem como, constitui uma

ferramenta essencial para que os interpretantes, consumidores, clientes, atribuam o

significado esperado.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, C. C. de; REDIGOLO, F. M. Algumas contribuições da perspectiva

filosófico-semiótica de Peirce para a análise de assunto. DataGramaZero – Revista

de Informação 13. no.3. 2012.

ALMEIDA, C. C.; GUIMARÃES, J. A. C. Peirce e a ciência da informação:

considerações preliminares sobre as relações entre a obra peirceana e a

organização da informação. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM

CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, VIII, 2007, Salvador. Anais... Salvador:

PPGCI/UFBA, 2007.

ECO, U. A Theory of Semiotics. Bloomington, Indiana University. Press, 1976.

NÖTH, W. Semiótica do século XX. 3ª.ed. São Paulo: Annablume, 2005.

NÖTH, Winfried. Panorama da semiótica: de Platão a Peirce. 2ª ed. São Paulo:

Annablume, 1998.

SANTAELLA, L. A teoria geral dos signos: como as linguagens significam as

coisas. 2. ed. São Paulo: Pioneira , 2004.

SANTAELLA, L. O Que é Semiótica. 1ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1983.

SANTOS, G. T. dos. O leitor-modelo de Umberto Eco e o debate sobre os limites da

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

212

interpretação. Revista Kalíope, São Paulo, ano 3, n. 2, p. jul./dez., 2007.

Revista Expansão Acadêmica. Ano 2, n. 2, jan./jun. 2016

213

“CHUPA-CHUPS”: ANÁLISE DO PROCESSO SEMIÓTICO A PARTIR DE

PEIRCE E ECO.

Jacqueline Santos30

RESUMO

Este breve ensaio visa desenvolver uma reflexão sobre a semiótica de dois dos mais

influentes teóricos do assunto: Umberto Eco e Charles Sanders Peirce, evidenciando

suas construções conceituais sobre a formação dos símbolos e seus caracteres

socioculturais. Após esta explanação inicial, que visa delimitar o saber semiótico que

fundamenta nosso aporte teórico, será aplicada uma análise semiótica sobre uma peça

publicitária produzida pela agência Espanhola DDB para a Chupa-Chups, empresa

espanhola de chupa-chupas ou pirulitos, criada no ano de 1955 pelo catalão Enric

Bernat. O objetivo é evidenciar os símbolos utilizados pelos criadores para construir a

ideia de que o produto é livre de açúcar.

Palavras-chave: Propaganda; Semiótica; Símbolos.

INTRODUÇÃO

Entendemos, de uma maneira geral e superficial, que a semiótica trata-se de uma ciência

que estuda os mais variados tipos de linguagem e que tem por objetivo investigar e

analisar como se dá o fenômeno da significação e do sentido. A partir deste conceito

geral e com seus próprios pontos de vistas, alguns pensadores desenvolveram pesquisas

mais aprofundadas sobre a semiótica, contribuindo para um melhor entendimento das

diferentes formas de comunicação.

Um desses pensadores foi Charles Sanders Peirce, que nos leva para uma semiótica

ampla e extensa. Para ele, o estudo semiótico envolve a lógica, a estética e a ética, os

três elementos juntos fornecem o significado que os signos e símbolos nos dão.

Umberto Eco é outro pensador da semiótica e, atualmente, o mais aceito no meio

acadêmico. Eco nos apresenta uma semiótica mais direta, delimitando-a a ciência que

estuda a vida dos sinais no quadro da vida social.

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Aluna do curso de pós-graduação lato sensu em Gestão de Marketing e Comunicação, da Faculdade São Francisco de Juazeiro – FASJ.

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Levando em consideração os conceitos de Peirce e Eco acerca da semiótica,

analisaremos, neste ensaio, uma peça publicitária, tendo como objetivo identificar o

processo semiótico e, portanto, comunicativo que a peça proporciona. Este trabalho

busca também, identificar os elementos semióticos da publicidade, dialogando com cada

autor, analisando-a sob os seus pontos de vista.

Charles Sanders Peirce considera a semiótica a partir da fenomenologia, a qual investiga

a maneira de como aprendemos e assimilamos o que nos é exposto. Essa assimilação

depende de outros fatores como a estética, a ética e a lógica. Segundo Pierce, ao estudar

os signos, nos deparamos com uma tríade, pois cada signo pode ser estudado em si

mesmo, no que ele é; no que ele representa e no efeito que ele pode provocar.

A tríade é, portanto, formada por um signo, o objeto deste signo e um interpretante.

Sendo o signo como algo que representa um outro algo à nossa mente. O que o signo

indica e/ou representa é o objeto do signo e o terceiro elemento da tríade é a

interpretação, ou seja, o efeito que o signo provoca no receptor, no intérprete.

Além disso, dentro da interpretação, Peirce considera categorias da semiose, são elas:

Primeiridade, que diz respeito aos sentimentos que o sigo provoca; Segundidade, que

são as ações, reações e percepções e Terceiridade, como sendo os discursos e

pensamentos, a racionalização do signo. Portanto, segundo Santaella (2005), para

Peirce,

O signo é qualquer coisa de qualquer espécie (uma palavra, um livro,

uma biblioteca, um grito, uma pintura, um museu, uma pessoa, uma

macha de tinta, um vídeo etc) que representa uma outra coisa,

chamada de objeto do signo, e que produz um efeito interpretativo em

uma mente real ou potencial, efeito este que é chamado de

interpretante do signo.

Para Peirce qualquer coisa que esteja em nossa mente pode ser um signo, pois signo é

tudo aquilo que nos faz pensar e provoca emoções e reações. Tudo pode ser signo sem

deixar de ter outras propriedades.

Quando analisamos a semiótica a partir da visão de Umberto Eco, percebemos que ele

inclui a semiótica em um limiar, uma fronteira, dividindo o mundo semiótico de um não

semiótico. Segundo Eco, signo só é o que é construído culturalmente em uma

sociedade. O que é consenso e praticado em um meio social, estabelecido, usado e

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entendido por todos. Portanto, se a semiótica só diz respeito ao que é culturalmente

convencionado, a natureza e a biologia estão fora do campo semiótico.

Eco desconsidera a tríade peirceana porque acha que para a tríade ter resultado é

necessário que haja um receptor humano, podendo não ser emitido por um emissor

humano, o que para o pensamento de Eco, não comtempla a semiótica. Eco também

considera que nem todo processo comunicativo é semiótico.

Comunicação, de acordo com Eco, é mais geralmente o fluxo dos

sinais, que podem ser signos ou não, para um destino, que pode ser

humano ou não-humano, enquanto a significação pressupõe signos e o

ser humano como um destino. Assim, fenômenos de significação

sempre pertencem ao campo semiótico, enquanto a comunicação pode

também ocorrer abaixo do limiar semiótico de Eco. (SANTAELLA;

NOTH, 1999)

O que ambos concordam é que para termos um processo semiótico precisamos de signo,

estabelecidos por convenções culturais em sociedade, como afirma Eco, ou que apenas

nos causem pensamentos, sentimento e reações, como acredita Peirce. O signo, para

ambos, para ser estabelecido como tal, precisa transmitir uma ideia, uma mensagem ao

representar e/ou substituir algo.

Signo, para Eco, precisa ser convencionado e codificado, além de ter potencial para

dizer algo que não é aquilo. Assim, podemos afirmar que existe um signo quando um

determinado grupo de pessoas decidem usá-lo para representar ou substituir uma outra

coisa.

Levando em consideração o que foi explanado sobre as linhas de pensamento acerca da

semiótica de Peirce e Eco. Ao nos deparar com a imagem a seguir, fica claro os vários

signos que ele nos expõe. Analisemos.

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Essa imagem trata-se de uma peça publicitária produzida pela agência Espanhola DDB

para a Chupa-Chups, empresa espanhola de chupa-chupas ou pirulitos, criada no ano de

1955 pelo catalão Enric Bernat. A peça traz a imagem de um pirulito caído no chão,

uma fileira de formigas e, além da marca do produto, traz a seguinte frase: “It´s sugar

free”, que significa “É livre de Açúcar”.

Apesar da frase que a publicidade traz, a mensagem pode ser transmitida e interpretada

apenas pela imagem, através de um processo semiótico que nos fornece indícios e

símbolos. É importante salientarmos que tanto para Peirce, quanto para Eco, o contexto

histórico e social que o signo está inserido também contribui para que ele funcione

como tal. Mas ora, o que essa imagem que mostrar para seu público?

Antes de qualquer coisa, deve ser observado o público o qual a publicidade é destinada.

Está claro que o objetivo da peça é chamar a atenção a um produto que, comumente

teria açúcar, mas que neste caso a marca afirma não ter. Para sustentar e ilustrar esse

argumento ao público, sendo este um consumidor que busca produtos sem açúcar, a

agência publicitária usou indícios para que o interpretante chegue a essa conclusão.

Seguindo o pensamento de Peirce, podemos analisar a natureza triádica da imagem

estabelecendo que o objeto do signo é a falta de açúcar, representado pelo signo, o

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pirulito caído no chão. O que nos leva a pensar que o pirulito realmente não contém

açúcar é o fato das formigas não se interessarem por ele, já que sabemos que as

formigas são atraídas, também, por alimentos doces. O interpretante é a conclusão que o

produto é, realmente, sem açúcar.

Em resumo, o pirulito é o signo, representando um produto que normalmente é feito

com açúcar, mas que neste caso não contém, a constatação vem através de indícios,

como a formigas que são atraídas pelo açúcar, mas que ignoraram o pirulito justamente

por não conter. O objeto do signo é a própria ausência de açúcar que o pirulito

representa. A conclusão que temos de que o pirulito não contém açúcar porque as

formigas não o quiseram, é o interpretante.

Se segundo Eco, signo é aquilo que é convencionalmente estabelecido e entendido em

sociedade podendo ser codificado por todos, podemos afirmar que, de acordo com seu

pensamento, o pirulito, que não é a falta de açúcar, mas o representa, é um signo

também para Eco. Pois, o fato das formigas ignorarem o produto nos leva a entender, a

partir de um conhecimento científico e popular, que aquele pirulito não contém açúcar.

O efeito que a peça publicitária pode causar depende de como o signo representa o seu

objeto, ou seja, o interpretante depende dessa representação. A peça pode causar apenas

emoção ou nos levar às categorias da semiose de Peirce, a primeiridade, que justamente

diz respeito a emoção; a secundidade, que nos provoca reações e percepções e a

terceiridade, que nos faz produzir pensamentos e discursos.

É no interpretante que identificamos o resultado do processo semiótico produzido pela

peça. Segundo Peirce há três tipos de interpretantes. O interpretante imediato

corresponde ao potencial que o próprio signo tem de ser interpretado logo no primeiro

contato com o interprete. O segundo tipo é o interpretante dinâmico que é o efeito

particular que cada signo traz em cada individuo e o interpretante lógico, alcançado

através de uma regra interpretativa que já faz parte do intérprete, o qual, sem essas

regras, o símbolo poderia significar nada, depende de um hábito associativo, como a

associação que fazemos entre formiga e açúcar.

Podemos afirmar que ao olhar a peça publicitária, temos um interpretante imediato pelo

próprio potencial de ser prontamente interpretado que o signo (pirulito) ali possui, até

mesmo pela própria frase que a peça traz. Mas, temos também um interpretante lógico

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ao associar à presença de formiga a presença de açúcar, ou como na peça, o desinteresse

das formigas a ausência do açúcar, seguindo uma lógica um hábito associativo.

Como pode ser ver, os níveis do interpretante incorporam não só

elementos lógicos, racionais, como também emotivos, sensórios,

ativos e reativos como parte do processo interpretativo. Este se

constitui em um compósito de habilidades mentais e sensoriais que se

integram em um todo coeso.(SANTAELLA, 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisar um processo semiótico, como fizemos no presente ensaio, é algo que demanda,

além de uma fundamentação teórica, sensibilidade e prática. Expomos aqui dois dos

maiores pensadores desta ciência com o objetivo de proporcionar uma base para

compreender e identificar como o processo ocorre e de que forma podemos identificá-

los.

Estamos a todo tempo expostos a signos e símbolos que nos transmitem mensagens, que

muitas vezes, são decodificadas sem que paremos para refletir como se dá a

interpretação. O que nos orienta ao guiar um carro em um trânsito turbulento de uma

cidade? Ao dirigir, estamos inseridos em um constante processo semiótico.

A semiótica está presente nas nossas vidas o tempo todo, compreendê-la é, também,

compreender nossa vivência, o nosso cotidiano. Através desse trabalho expomos alguns

argumentos e conclusões que nos dão suporte para entender um pouco mais desta

ciência tão complexa e ao mesmo tempo tão inerente às relações humanas e não

humanas.

Desse modo, a teoria semiótica nos permite penetrar no próprio

movimento interno das mensagens, no modo como elas são

engendradas, nos procedimentos e recursos nelas utilizados. Permite-

nos também captar seus vetores de referencialidade não apenas a um

contexto mais imediato, como também a um contexto estendido, pois

em todo processo de signos ficam marcas deixadas pela história, pelo

nível de desenvolvimento das forças produtivas econômicas, pela

técnica e pelo sujeito que as produz. (SANTAELLA, 2005).

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REFERÊNCIAS

SANTAELLA, Lúcia. Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira, 2005.

SANTAELLA, Lúcia; W, Noth. Semiótica (Bibliografia Comentada). São Paulo:

Experimento, 1999.