revista Ênfase cristã

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1 ÊNFASE CRISTÃ Revista Edição 1 - ano 1 - nº 1 - Julho de 2015 Entrevista: Missionário Carlos Heron Descubra mais sobre o projeto Semeadores da Esperança e os desaos de levar Cristo ao coração da África.

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O periódico virtual semestral Ênfase Cristã tem como objetivo oferecer um recurso para nortear nossa mente com uma perspectiva bíblica enquanto navegamos neste oceano de conceitos, constantemente agitado por ventos de cosmovisões contrárias a fé cristã que, se não afundam nossa mentalidade em visões de mundo antibíblicas, em muitos casos, entra em nossa embarcação comprometendo nossa visibilidade da Palavra de Deus como nosso mapa mental.

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ÊNFASE CRISTÃRevista

Edição 1 - ano 1 - nº 1 - Julho de 2015

Entrevista:

Missionário Carlos HeronDescubra mais sobre o projeto Semeadores da Esperança e os desa�os de levar Cristo ao coração da África.

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“Música em ênfase” - Jaime Fernandes da Costa Junior

Licenciatura em Regência pela Universidade do Estado do Amazonas - UEA (2009). Bel. em Teologia pelo Seminário Batista Regular do Sul (2013); Pastor de Música da Igreja Batista Manancial em Fortaleza - CE (2014). Contato: [email protected]

“Missões em ênfase” - Jeraldo Neuman.

Bel. em Línguas Bíblicas e Teologia da Western Baptist Bible College; Mestrados: Ministerial e Teológico em Estudos Veterotestamentários/EUA.Missionário da ABWE desde 1980. Professor de missões, Velho Testamento no SIBIMA. Diretor administrativo da missão Ministérios Multiculturais Maranata desde 2008. Contato: [email protected]

“Pedagogia em ênfase” - Ana Talita Brito de Medeiros Farias

Bel. em Educação Cristã pelo Seminário e Instituto Bíblico Batista Bereiano (SIBB). Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Congregação Batista Regular em Santo Antônio do Potengi/RN. Contato: [email protected]

“Sociedade e igreja em ênfase” – Pr. Addson Araújo Costa.

Bel. Teologia pelo Seminário e Instituto Bíblico Batista Bereiano (SIBB). Mestrado em estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Capelão militar do Exército Brasileiro. Igreja Batista Regular do Pajuçara, Nata/RN. Congregação Batista Regular em Santo Antônio do Potengi/RN.

“História em ênfase” – Pr. Charles Bronson Aquino do Nascimento.

Licenciatura em História pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN). Pós-graduando em Apologética Cristã pelo SIBIMA/CE. Igreja Batista Regular Central de Mossoró, RN. Contato: [email protected]

“Livro em ênfase” – Diego Ramos.

Mestre em Divindade pelo e Master's Seminary (Sun Valley, CA/EUA). Treinamento em Apologética Criacionista pelo Answers in Genesis (Petersburg, KY/EUA). Licenciado em Física pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Igreja Batista Bíblia do Planalto, Fortaleza/CE. Contato: [email protected]

“Entrevista em ênfase” – Carlos Heron Moraes.

Graduado em Odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Teologia, Seminário Batista do Cariri (SBC). Missionário na África desde 2012, em meio ao Povo Wolof. Casado com Ana Laura Moraes e pai de Ana Beatriz e Ana Letícia. Contato: [email protected]

Colaboradores

Editor chefe: Charles Bronson A. do Nascimento

Design editorial:Bruno Leonardo Rocha de Oliveira

Revisão:Geisa Celeste Guedes RebouçasMardônio Luiz Peixoto ChavesSabrina Guedes Miranda Dantas

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EDITORIAL

“A cosmovisão é como um mapa mental que nos diz como navegar de modo e�caz no mundo” (Nancy Pearcey).

O periódico virtual semestral Ênfase Cristã tem como objetivo oferecer um recurso para nortear nossa mente com uma perspectiva bíblica enquanto navegamos neste oceano de conceitos, constantemente agitado por ventos de cosmovisões contrárias a fé cristã que, se não afundam nossa mentalidade em visões de mundo antibíblicas, em muitos casos, entra em nossa embarcação comprometendo nossa visibilidade da Palavra de Deus como nosso mapa mental.

Para isso, convido o leitor aos textos das seções dos artigos com seis temáticas variadas (Igreja/Sociedade, História, Pedagogia, Música, Missões e Per�l) discutidas tendo como referência central o texto bíblico. Uma entrevista com o missionário Carlos Heron, cirurgião-dentista responsável pelo projeto “Semeadores de Esperança”, uma iniciativa para alcançar aldeias africanas através de atendimento odontológico sustentado por Igrejas Batistas Regulares e Igrejas Batistas Bíblicas do Brasil.

Além de uma resenha que avalia uma obra que representa um marco no debate entre os sistemas da Teologia dos Pactos e Teologia Dispensacionalista, especialmente no que diz respeito à Escatologia, ao relacionamento entre Israel e a Igreja, e ao relacionamento entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento.

Boa leitura.

Ênfase cristã para a Glória de Deus!

Pr. Charles Bronson

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Carlos Heron Moraes

ENTREVISTA EM ÊNFASE

Missionário Carlos Heron, cirurgião-dentista responsável pelo

projeto “Semeadores de Esperança”, uma iniciativa para alcançar

aldeias africanas através de atendimento odontológico sustentado

por Igrejas Batistas Regulares e Igrejas Batistas Bíblicas do Brasil.

Questão 1 – Como você conheceu a Cristo como Salvador?No ano de 2000, depois de perambular por religiões e �loso�as mundanas, desacreditar de tudo que se referisse a existência de Deus e decepcionado com a vida, “resolvi” buscar o Jesus do qual alguns crentes insistentes e pacientes haviam me falado. Foi um tempo maravilhoso de descobertas de um Jesus que eu rejeitei durante muitos anos. O texto de 1 Timó-teo 1:12-14 me falou diretamente quando li: “Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou �el, designando-me para o ministério, a mim, que, noutro tempo, era blasfe-mo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o �z na ignorância, na incredulidade. Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus”. E Romanos 5:20-21, que diz “So-breveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abun-dou o pecado, superabundou a graça, a �m de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor”, me fez entender que na abun-dância dos meus pecados a graça maravilhosa de Deus foi muito mais abundante em Cristo Jesus.

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Questão 2 – Descreva como aconteceu seu chamado missionário e por que a África como campo de atuação.Dois anos após minha conversão, comecei a trabalhar na igreja como diretor de Missões e isto me levou a estudar mais a vontade de Deus para Sua igreja como agência proclamadora do Evangelho. Envolvendo-me mais com Missões e Evangelismo, motivei os irmãos a orar, ofer-tar e entregar suas vidas para a obra do Senhor no campo missionário. Certo dia, em uma Con-ferência Missionária, foi feito um apelo para que aquelas pessoas que se sentissem direcio-nadas por Deus para o campo missionário fos-sem à frente, e eu me senti chamado a respon-der ao Senhor naquele momento. Aquele foi o dia do meu “Eis-me aqui, envia-me a mim”. Naquele dia, �z um compromisso público com o Senhor de ir aonde Ele me enviasse.A ida à África surgiu em consequência do cha-mado de Deus para servi-lo no meio do Povo Wolof. A ideia inicial era ir para o Senegal, mas por di�culdades impostas pelo governo daque-

le país quanto a minha área de atuação, que é a odontologia, mudamos a direção para o país que moramos atualmente. O atual país surgiu, como uma alternativa viável para alcançar esse povo, o qual o Senhor havia nos designado.

Questão 3 – Num dos seus relatórios, você cita que viu “a mão de Deus” durante o per-curso do Brasil até a chegada à África. Con-te-nos algumas dessas experiências.Foram muitas experiências. Uma destas foi levantar sustento no Movimento Batista Regu-lar para um projeto missionário audacioso e pioneiro, na área odontológica, como o Semea-dores da Esperança, que envolvia aquisição de veículo, consultório móvel, gerador de ener-gia, compra de material odontológico e sus-tento da família. Foi um grande desa�o. Os custos altos desanimavam os mais céticos. Ouvi um pastor confessar no púlpito que não acreditava que nós chegaríamos à África. Mas, um Deus grande nos impõe grandes desa�os para que, na nossa pequinês, a Sua grandeza

Carlos Heron e família

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seja manifestada. Em cada equipamento com-prado, em cada igreja que se juntava a nós como parceira, a mão de Deus era claramente percebida. Para a compra da caminhoneta que está sendo usada no trabalho missionário, por exemplo, um irmão ofertou um terço do valor do veículo, algo em torno de R$ 25.000,00. E assim, no tempo de Deus, chegamos ao campo missionário. Hudson Taylor disse certa vez que a obra de Deus, feita do jeito de Deus, nunca deixará de ter o sustento de Deus. Creio que ele estava certíssimo e temos comprovado isso em nossas vidas.

Questão 4 – Como você desempenha sua pro�ssão de dentista e também evangeli-za o Povo Wolof?O consultório é uma ferramenta, um abridor de portas. Durante o tratamento odontológico não é viável a abordagem para o evangelismo devido o contexto muçulmano em que traba-lhamos. Mas, é através do consultório que desenvolvemos relacionamentos e demonstra-mos o amor de Deus através de atitudes para com o povo. Se perguntado o porquê de estar-mos ali, aí sim, falamos mais abertamente sobre a necessidade de todas as pessoas conhe-cerem a vontade de Deus para elas, através de Jesus Cristo. No entanto, o evangelismo em si acontece nas visitas às casas.

Questão 5 – Quais os principais desa�os que tem encontrado para a evangelização do Povo Wolof na África?A religião deles é sempre uma barreira a ser vencida, pois, tem um conceito de Deus, de criação, de pecado e salvação diferentes do nosso e, para eles, estas são “verdades” ensina-das a séculos. Mas, a maior di�culdade é o aprendizado da língua. Não basta aprender o su�ciente para conversar com eles coisas do dia a dia. Faz-se necessário o conhecimento do sentido e o contexto das palavras para que pos-samos aplicar corretamente o texto bíblico.

Questão 6 – Como foi o desa�o de apren-der o Wolof?Acho melhor colocar esta pergunta no tempo presente: Como está sendo o desa�o de apren-der o Wolof? Porque não acabou ainda e creio que nunca acabará. É um exercício diário. Quando se pensa que se disse a frase correta-mente, há sempre uma correção na estrutura gramatical ou na pronúncia. É sempre uma

vitória quando conseguimos conversar com eles e eles entendem e respondem sem dizer nenhuma vez “degguma ko” (não entendi). Mesmo quando estou no Brasil, não deixo de estudar a língua, revisando a gramática e ouvindo rádios e assistindo vídeo em Wolof. No meu ponto de vista, só podemos dizer que falamos uma língua quando conseguimos dizer qualquer coisa que queremos nessa lín-gua, isto é, expressar qualquer pensamento e se fazer completamente entendido. Se não con-seguirmos isto, nós apenas nos comunicamos na língua, mas não podemos dizer que já fala-mos a língua. Dessa forma, eu falo português, mas apenas me comunico em inglês e Wolof.

Questão 7 – Como a igreja brasileira pode participar da obra missionária na África? Fale sobre as necessidades daquele povo e o que você vê que poderia ser feito.Da mesma forma que pode e deve participar da obra missionária em qualquer lugar do mundo: orando, sustentando e enviando missionários. Isto exigiria um foco maior na responsabilida-de missionária de cada indivíduo dentro da própria igreja e não tratar Missões como uma questão opcional, que investimos quando sobra ou quando convém investir. Temos visto igrejas construindo belos templos, climatiza-dos e espaçosos (não estou criticando e nem discordando), o que quero dizer é que quando focamos em algo que realmente nos interessa vamos até o �m, corremos atrás e fazemos acontecer. Templos �carão e investimos para nós mesmos, mas o investimento em Missões é de valor eterno, é um investimento para o Reino. Então, cabe a pergunta e deixarei a res-posta com os leitores: Porque temos tanta di�-culdade em desenvolvermos projetos missio-nários? Em sustentar missionários? Em aumentarmos o valor do sustento de missioná-rios? Será que temos focado a nossa vida, real-mente, na proclamação do Evangelho, aqui e até os con�ns da terra? Recentemente soube de igrejas que guardam dinheiro em caixa, mas o investimento em Missões é mínimo. Quando Jesus vier buscar a Sua Igreja este dinheiro será “bem utilizado” pelos que não forem arrebata-dos. Temos missionários levantando sustento com muita di�culdade devido a lentidão das igrejas em responder. Tendo em vista, que mui-tos irmãos gastam mais com pizza e Coca-cola do que com Missões. Como podemos crer que Missões é realmente levada a sério por muitos?

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Questão 8 – Quem é Carlos Heron hoje, após as experiências vivenciadas como missionário na África?Bem, ninguém que vai à África volta a mesma pessoa. A visão missionária é ampliada e o sen-timento de urgência da propagação do Evange-lho é aumentado ainda mais, e isto afeta, de uma forma positiva, o nosso trabalho de mobi-lização e desa�o às igrejas quando retornamos ao Brasil. Isso nos faz rogar mais ao Senhor da seara por mais obreiros para Sua seara, não por-que ouvimos falar da urgência de alcançar povos que ainda vivem na completa escuridão, mas por que nós estamos vendo in loco a neces-sidade dele. O Carlos Heron de hoje é um con-vertido ao Senhor Jesus inconformado com a inércia da igreja do seu tempo e com a apatia de muitos irmãos em relação a obra missionária. No entanto, é um Carlos Heron maravilhado com a graça de Deus derramada na cruz através do sangue de Jesus que alcança pecadores, os regenera e os transforma em embaixadores do Seu Reino, utilizando-os como canais da Sua maravilhosa graça para alcançar outros pecado-res.

Questão 9 – Em relatórios nas igrejas do Brasil você já comentou que alguns irmãos em Cristo mostraram uma certa admira-ção e até discordância pelo fato de ter leva-do suas �lhas ainda crianças. Como tem sido essa experiência missionária na vida delas?Quanto a comentários que ouvi a este respeito, atribuo à imaturidade espiritual de alguns que insistem em olhar para a criatura ao invés do Criador. Esquecem versículos como Lucas

14:26, que diz: “Se alguém vier a mim e não abor-recer a seu pai, e mãe, e mulher, e �lhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo”. Isto é, quem não amar menos a sua parentela e a si próprio do que a Ele, não é digno de ser Seu discípulo. Quanto às meninas, a experiência no campo tem sido valiosa. Elas estão tendo a oportuni-dade de, não apenas, verem a obra do Senhor acontecer, mas também participarem ativa-mente dela. Elas estão sendo ensinadas quanto ao verdadeiro sentido das suas vidas: levar às pessoas ao conhecimento da Verdade, procla-mando o Evangelho. Os ensinamentos que elas recebem, hoje, através das Escrituras em casa e, da prática no dia a dia de uma aldeia muçulma-na ouvindo as conversas evangelísticas dos pais com as pessoas, faz uma grande diferença na vida cristã delas. Ana Beatriz, a mais velha, já pergunta: “__ Para onde será que Deus vai me mandar?”. Que recompensa maior eu e minha esposa poderíamos esperar do Senhor além da salvação de minhas �lhas do que vê-las como missionárias a serviço do Senhor Jesus? O mis-sionário inglês William Carey, certa vez disse: “Espere grandes coisas de Deus. Faça grandes coisas para Deus”. O que você está fazendo?

Estudos: Odontologia pela Universidade Fede-ral de Pernambuco (UFPE).Teologia no Seminário Batista do Cariri (SBC).Missionário na África desde 2012, em meio ao Povo Wolof. Casado com Ana Laura Moraes e pai de Ana Beatriz e Ana Letícia.Contato: [email protected]

“Porque dele, e por meio dele,

e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente.

Amém!” Romanos 11:36

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relação família/escola tem sido assun-Ato tratado na universidade como algo de grande relevância social. As pesqui-

sas buscam, entre outros objetivos, apresentar perspectivas para que família e a escola traba-lhem juntas pela promoção da educação. Pen-sando na temática acima e a contribuição de princípios bíblicos para tal discussão, apresen-tei como trabalho de conclusão do meu curso universitário de Licenciatura em Pedagogia (UFRN, 2012), a monogra�a intitulada de “A Família na Educação Hebraica: re�exões para relação família/escola na atualidade”.

Especialistas na temática reconhecem que as relações entre a família e a escola muda-ram ao longo do tempo. Antes, havia uma clara diferenciação de funções: a família era respon-sável pelo cuidado, pela socialização e pela edu-cação moral de seus �lhos, enquanto a escola tinha a responsabilidade pela formação acadê-mica dos alunos. Hoje, a escola assume, ou lhe são atribuídas, cada vez mais funções com rela-ção aos seus alunos, tornando-se cada vez mais necessária a cooperação dos pais.

Partindo do pressuposto que o per�l da educação hebraica baseado nos princípios bíbli-cos auxilia sobremodo a discussão a respeito da relação família/escola, haja vista o núcleo fami-

liar hebreu exercer um papel primordial na edu-cação dos �lhos, a pesquisa se deu por meio de leituras que contextualizam a educação familiar entre os hebreus na história bíblica, o pensa-mento de alguns teóricos da educação conceitu-ando as instituições família e escola e aplicamos um questionário com pais e professores de uma escola pública no Rio Grande do Norte.

Acerca da educação entre as famílias hebraicas segundo princípios bíblicos, destaca-se que um dos mais importantes objetivos da educação hebraica era a transmissão oral da herança histórica e religiosa, sendo os pais res-ponsáveis por essa tarefa (Êx. 10.2; 12. 26,27). No lar, as crianças eram treinadas nas suas tare-fas diárias (I Sm. 16.11; 2 Rs. 4.18), e o ensino artístico era dado ao menos em alguns casos (Jz. 21.21; 1 Sm. 16.15-18; Sl. 137). As meni-nas aprendiam habilidades domésticas com suas mães (Êx. 35. 25,26; 2 Sm. 13.8).”

Durante a liderança de Moisés, ainda não havia escolas formais, e a educação continu-ava sendo a doméstica, mas a partir de 600 a.C., quando os hebreus retornaram do cativeiro da Babilônia, iniciaram as escolas formais. Eram as escolas rabínicas e as escolas dos profetas. Essas escolas funcionavam nas sinagogas. A escola elementar para crianças só veio surgir no séc. I

Família e Escola:caminhos e descaminhos

PEDAGOGIA EM ÊNFASE

Por Ana Talita B. M. Farias.

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da era cristã, fundada pelo sumo sacerdote Josué Ben Gamala.

A responsabilidade dos pais de ensinar seus �lhos provia o requerimento preliminar tanto quanto a alfabetização. Este importante conceito que a família hebraica tinha sobre seu papel na educação dos �lhos precisa ser resgata-do, de maneira que as famílias da atualidade possam assumir mais compromisso com a edu-cação de seus �lhos.

Buscando observar um per�l da prática da relação família/escola aplicamos questioná-rios para três grupos representativos de uma escola pública: pais, professores e direção esco-lar. O estudo de caso se deu na Escola Municipal Dr. Roberto Bezerra Freire, localizada no muni-cípio de São Gonçalo do Amarante/RN. No ques-tionário aplicado aos pais, perguntamos dentre outras coisas: Você tem participado ativamente da educação de seu �lho (s) na escola? De que maneira? Como tem sido a sua relação com a escola? Você já foi convidado pela escola para participar ativamente de reuniões, conselho de escola?

Em suas respostas, todos os pais, a�rma-ram ter muito interesse em participar mais ati-vamente na escola e a maioria deles disse parti-cipar da educação dos �lhos por meio de conver-sas, reuniões e auxílio nos deveres de casa.

Já os professores, em geral, responsabili-zam os pais a falta de participação dos pais no processo de ensino-aprendizagem do �lho juntamente com a escola. Os docentes rea�rma-ram que quando há uma parceria entre a escola e as famílias, o desempenho escolar melhora.

Para o representante da gestão escolar em análise, questionamos: A escola tem estabe-lecido comunicação com as famílias dos alunos? De que maneira? Como você avalia o empenho das famílias em colaborar com a educação de seus �lhos? Como tem sido a participação dos pais na gestão democrática da escola? O que

pode ser feito para melhorar a relação famí-lia/escola?

Do ponto de vista da direção, a escola tem estabelecido uma boa comunicação, mas as famílias não se empenham em participar e a�r-ma que essa relação pode melhorar por meio de projetos (palestras, o�cinas e eventos). A dire-ção da escola respondeu por meio de reunião de pais e mestres a comunicação tem sido mantida. Também a�rmou que poucas famílias se empe-nham em colaborar. Para o gestor falta cons-ciência da família no seu papel da parceria com a escola na educação dos �lhos.

Pelas respostas dos três grupos represen-tados nos questionários, nota-se claramente uma dissonância entre o papel que os pais jul-gam estarem desempenhando e a expectativa dos docentes e gestores quanto a isso.

Há, pois, muitas atitudes que os pais podem tomar para auxiliarem na educação de seus �lhos, e fazendo isso perceberão as melho-rias. A escola também precisa resgatar o apoio das famílias, para que possa atingir seus objeti-vos. Nesse sentido, os princípios bíblicos que enfatizam a atuação dos pais na educação dos �lhos servem como uma diretriz para um melhor desempenho na relação família/escola.

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MMM: uma experiência brasileira com missões transculturais

MISSÕES EM ÊNFASE

Por Jeraldo Neuman

começo real desse projeto não pôde Oser determinado, pois está oculto no eterno projeto de Deus, cujos propó-

sitos não podem ser datados pelo nosso calen-dário. Mas, “a plenitude do tempo” do projeto pode ser delineada cronologicamente.

A primeira ideia de uma nova agência missionária surgiu durante um encontro de pastores promovido pela missão ABWE, em 2004, na cidade de São Paulo. Na ocasião a mis-são se fez representar pelos irmãos David Southwell e George Collins que levantaram a sugestão de um projeto missionário brasileiro. Os idealizadores americanos reconheceram a existência de outras agências missionárias bra-sileiras com campos nacionais e de abrangência regional. Mas faltava ainda uma visão interna-cional que servisse à todo território brasileiro em relação a origem dos missionários e a parti-cipação das igrejas. Na ocasião estavam presen-tes, entre outros, os pastores Jenuan Lira da Igreja Bíblica Batista do Planalto (IBBP) em For-taleza e Walmir Paes da Igreja Batista Shekinah em Natal. O encontro terminou com a escolha de uma diretoria provisória e uma agenda de atividades. Cada pastor saiu com a incumbência de divulgar os resultados no seu campo, �cando clara a necessidade de um reencontro posterior.

As coisas não andaram no ritmo ideal, mas as sementes plantadas em São Paulo não morreram. Durante uma semana de oração por missões mundiais, realizada na IBBP, nasceu o

desejo de uma visita de sondagem missionária ao país de Cabo Verde na África Ocidental. A viagem foi realizada em 10 de março de 2006 pelos pastores Jenuan Lira, George Hicks, Iza-ías Arruda e o irmão Bruno Calíope. Foi um tempo ricamente abençoado em vários aspec-tos, deixando a certeza da necessidade de envio de missionários àquele país africano. Deus incli-nou o coração do Pr. Izaías para ser o primeiro missionário em Cabo Verde.

Em abril de 2006, quando convidado a pregar no Seminário Batista do Cariri, o Pr. Jenuan Silva Lira apresentou o desa�o de Cabo Verde. Em uma tarde, reunidos na casa do semi-narista Marcos Paulo, um grupo de alunos inte-ressados em missões mundiais ouviu um pouco mais sobre a necessidade de Cabo Verde e sobre os projetos de uma nova missão que deveria ser criada. Estavam presentes, entre outros, os seminaristas Manoel Messias da Silva Junior, Carlos Heron Luna de Moraes e Eliane Vieira, os quais, posteriormente tornaram-se missionári-os da Missão Maranata.

Com a decisão do Pr. Izaías Arruda e sua família de irem para Cabo Verde, voltou ao cen-tro das atenções a necessidade de uma agência missionária de propósito transcultural. As sementes adormecidas começaram a dar sinal de vida. Desse modo, Pr. Jenuan Lira - diretor do Seminário e Instituto Bíblico Maranata (SIBIMA) em Fortaleza - convidou os interessa-dos no assunto para se reunirem na biblioteca

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desta instituição que já experimentava as bên-çãos de ministérios por cooperação de igrejas e líderes de vários movimentos eclesiásticos. Assim, no dia 21 de maio de 2006, foi criada uma comissão mista para se pensar sobre a futu-ra agência. Na oportunidade estavam presentes cerca de 15 pessoas, dentre estes, pastores, mis-sionários, professores do SIBIMA e outros irmãos interessados. Outras reuniões foram feitas até outubro de 2006. Na ocasião de uma Conferência Missionária nas dependências do SIBIMA, a agência missionária denominada Ministérios Multiculturais Maranata (MMM) foi formalmente apresentada aos presentes. Entre estes, pastores e líderes de várias igrejas de Fortaleza, alguns que, mais tarde, se torna-ram membros do Conselho Diretor e Deliberati-vo da MMM, juntamente com o Pr. Walmir Paes de Natal, RN (um dos membros do encontro original de 2004). Na oportunidade foram apre-sentados alguns documentos: Declaração de Fé, Anteprojeto do Estatuto, Diretoria Provisória, Planilha de Custos para o sustento dos missio-nários, entre outras coisas. A organização jurí-dica da Missão Maranata se deu em agosto de 2008, em reunião nas dependências da IBBP.

O Pr. Izaías, sua esposa Elda e suas �lhas Débora e Gabrielle, partiram para Cabo Verde (África) em Julho de 2008. Um ano depois, foram o Pr. Manoel Messias da Silva Junior, sua esposa Mônica e suas �lhas Isabelle e Rebeca. Em 2010, foi a missionária Eliane Vieira e, em 2011, o casal Fábio e Danielle Brito se dispuse-ram a ajudar esta equipe por nove meses enquanto Pr.Izaías e família precisavam voltar ao Brasil. Eles levaram sua �lhinha Ester para aprender, desde cedo, acerca da vida missioná-ria. Empolgados com sua experiência, após sua volta ao Brasil, logo ingressaram na MMM. Leva-ram cerca de 2 anos para levantar sustento e voltar para Cabo Verde. Enquanto isso, a missi-onária Aureni Carneiro esteve lá como estagiá-

ria entre 2012 e 2013. A equipe ainda espera a sua volta de�nitiva para este campo.

Em 2009, a MMM começou sua expan-são para outros continentes. No início do ano, o casal Paulo Henrique e Alcina (portuguesa) apre-sentaram à Missão o pedido para serem aceitos como fazedores de tendas para o ministério mis-sionário em Portugal. Com a mudança deles para Porto (Portugal) em maio desse mesmo ano a MMM começou um trabalho no Conti-nente Europeu. Em Julho deste ano, João Sousa e sua família, Fabiana e Ithiel, que já tinham experimentado 8 meses de ministérios missio-nários na Guiana Inglesa, apresentaram-se à MMM. Eles foram de�nitivamente ao campo guianense em Junho de 2011. Dessa forma, a MMM entrou em mais um continente, o Sul-Americano. Ainda neste ano, os missionários Ricardo e Rita Mafra foram para o campo vene-zuelano, juntamente com o casal estagiário Fer-nando e Lany Lima, para iniciar seus ministéri-os de evangelismo e estabelecimento de igrejas. Os “Lima” voltaram para Brasil depois de seis meses, mas logo que levantaram seu sustento �nanceiro, em março de 2014, voltaram para começar o Seminário Bautista de Venezuela. As missionárias Crizelite Siebra e Duda Arevalo esperam logo ajudar os missionários brasileiros alcançando bolivianos na cidade fronteira de Cobija na Bolívia. Elevando para 4 o número de países no continente sul-americano onde MMM. O casal Adriano e Josiane Silva estão em fase de visitação às igrejas, esperando voltar de�nitivamente ao seu país adotivo Argentina.

Deus colocou no coração do dentista Car-los Heron e sua família – a esposa Ana Laura e as �lhas Ana Beatriz e Ana Letícia um grande interesse por pregar o evangelho para o povo Wolof, no Senegal. Após uma visita ao país, �cou claro que as portas ali estavam temporari-amente fechadas, mas Deus abriu uma oportu-nidade para alcançar o mesmo povo na Gâmbia,

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em parceria com o ministério médico da ABWE. Em abril de 2012, Carlos Heron e sua família chegaram ao campo e começaram aprender a língua do povo e evangelizar pessoalmente.

Os extremos do Oceano Índico podem ser de�nidos pelos países de Madagascar e Timor Leste. A MMM trabalha e trabalhará tam-bém nestes países. Em julho de 2014 o casal Ronaldo e alita Fernandes, levando seu �lho Zadoque, chegaram com a estagiária Leilane Gomes em Timor Leste. Leilane voltou depois de três meses e está esperando voltar em outu-bro de 2015. Em 2013, Danielli Costa aproxi-mou-se da MMM com a proposta de ingressar e ir trabalhar em Madagascar, foi difícil acredi-tar que seria possível. Mas quando soubemos que já teve experiência de estagiária lá com mis-sionários conhecidos, abriram a porta.

Os países lusófonos têm um lugar espe-cial nos corações dos brasileiros. Quando a mis-sionária Jamillena Nery visitou Guiné Bissau, após ter ministrado a Palavra de Deus entre as crianças em Moçambique, logo brotou desejo de voltar ao povo guineense. Em junho de 2014 realizou seu sonho, trabalhando com a missão parceira ALEM (Associação Linguística Evangé-lica Missionária). Já Wesley e Lilian Alencar sonham aumentar os ministérios da equipe por-tuguesa e pretendem ir de�nitivamente para Vila Real, no interior norte do Portugal, em 2016. Mas o mais abrangente ministério entre os lusófonos �ca em solo brasileiro - precisa-mente em Redenção no Ceará. Em 2012 o governo federal lançou a Universidade de Inte-gração de Lusofania Afro-brasileira – UNILAB. Logo, os mais experientes missionários da MMM voluntariaram-se para trabalhar e alcan-çar as centenas de universitários vindo de Por-tugal, Cabo Verde, Guiné Bissau, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Brasil. Se imaginar que um ministério deste é o mais multicultural da MMM é poder sonhar de novo!

Darlene Alencar já ministra em territó-rio brasileiro nos extremos – do Rio Grande do Sul ao extremo norte de Amazonas, nas tribos localizadas na “Cabeça do Cachorro”. E ainda em Panamá, Nicarágua, Venezuela e a República Dominicana no Mar do Caribe. Recentemente a MMM “batizou” este ministério de MITEC (Mi-nistérios Internacionais de Treinamento para Evangelismo de Crianças). Por �m, e capaz de ser o ministério e com a maior abrangência, a MMM adotou o ministério da família de Regis e Jennifer Cordeiro que faz mais de um ano que estão espalhando o evangelho pelo internet. Se buscar no seu Google, Bing, Yahoo, etc. www.youtube.com/user/bibliatv vai encontrar a variedade dos vídeos apresentando verdades bíblicas, incluindo uns para crianças, de Nathan e Grace Cordeiro. Já tem centenas de “hits” de todo canto do mundo.

O alvo de abrangência nacional também tem sido alcançado, pois temos missionários nos seguintes estados brasileiros: CE, SP, RN, AC, PA, PR, AM e uma americana, casada com um brasileiro. Eles têm percorrido mais da meta-de dos 26 estados brasileiros, dos extremos norte e sul, leste e oeste, inclusive o Distrito Federal. É maravilhoso ver como Deus tem feito crescer tão rápido a visão missionária de muitas igrejas e pessoas, motivando-as a participarem do sustento missionário. Também �camos maravilhados com a rapidez com que o trabalho tem se espalhado em diferentes países e conti-nentes. Tudo leva a crer que estamos apenas no começo de uma grande obra que resultará na propagação do evangelho de Cristo até os con-�ns da terra.

Esses são os “humildes começos” da Mis-são Maranata. Seus alicerces são hoje lançados sob a dependência e as bênçãos do Senhor da seara, de Quem ganhamos essa visão e para Quem queremos fazê-la prosperar, até que Ele venha: Maranata!

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Suas origens: um berço missionário.

“Foi em Asbury College and Seminary que eu conheci e me apaixonei por uma jovem que tem sido minha companheira �el desde quando nos casamos em 28 de fevereiro de 1930. Desde os nove anos de idade, ela teve o chamado para o campo missionário, de modo que nunca houve qualquer dúvida em sua mente quanto ao seu futuro serviço para o Senhor”, registrou Carlos Mateus, escrevendo sobre a esposa Adelaide Mateus, na década de 1950.

Em janeiro de 1932, acompanhando seu esposo Carlos Mateus, ela seguia dos Estados Unidos para uma vida missionária no Brasil. Adelaide não sabia, mas naquele ano começava a ser escrita a biogra�a missionária de uma mulher que Deus usou para edi�car a obra evan-gelística da denominação Batista Regular em

vários estados brasileiros.Filha do pastor Ralph Standley, Adelaide

cresceu num lar cristão no estado americano de Ohio, com pais dedicados a obra de Deus e dese-josos de verem seus �lhos à serviço de Cristo. Nasceu num berço missionário. Ralph era con-selheiro membro do Council of Reference – órgão da missão Evangelical Union of South América (União Evangélica da América do Sul). e "help for Brazil" Mission (Missão “Ajuda para o Bra-sil”), dizia o lema da missão. De forma que, o Brasil, o povo brasileiro e sua necessidade do Evangelho de Cristo, eram assuntos literalmen-te familiares para Adelaide Standley.

O lar da família Standley podia ser des-crito como um lar missionário caloroso e edi�-cante – o tipo de lar que tem produzido, fre-quentemente, líderes evangélicos fortes. O desa-�o de auxiliar outros missionários no Brasil, com a proclamação das boas novas de Cristo, chegou aos ouvidos da jovem Adelaide e moveu seu coração para se dispor, se assim Deus qui-sesse usá-la. Uma crente com coração missioná-rio: dobrava os joelhos para orar, estendia as mãos para ofertar e oferecia a vida para ir.

Seus estudos: uma visão missionária.Ainda na juventude, Adelaide decidiu

entrar num seminário teológico. Era um dos

Uma �or americana no sertão brasileiro

PERFIL EM ÊNFASE

ADELAIDE MATEUS

Casal Mateus em aeroporto (local não identi�cado)

Aula de Música com Adelaide Mateus - 1972

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primeiros passos rumo “aos con�ns da terra”. Matriculou-se em Asbury College, onde cursou teologia de 1929-1931. Enquanto aluna, era bastante conhecida no seminário pelo envolvi-mento em grupos de estudos e trabalhos volun-tários. Uma aluna dedicada.

Em Asbury, também estudou Química e durante esse período teve uma extensa agenda de atividades acadêmicas, tais como, no Lucy Stone, no Intercollegiate Debate, o Spanish Club e no Asburian Staff. O primeiro era um grupo de debate formado exclusivamente por mulheres, que levava o nome de uma americana do século XIX, proeminente abolicionista e ativista dos direitos das mulheres nos EUA. No Intercollegia-te Debate tinha oportunidade de entender e dis-cutir o funcionamento do seminário. Mas foi no Spanish Club que ela obteve uma das principais ferramentas para o futuro trabalho missionário na América do Sul, a saber, o conhecimento da cultura e língua espanhola. Além da participa-ção no Asburian Staff (anuário estudantil de Asbury College), a jovem Adelaide também já se mostrava uma apaixonada pela música, sendo integrante da Orquestra do seminário no ano de 1930. Participativa, comunicativa e bastante prestativa. Estava sendo capacitada para uma vocação missionária.

Sua vida: um legado missionário.Os estudos teológicos no seminário tam-

bém trouxeram oportunidades de trabalhos práticos, os quais con�rmavam ainda mais, a vocação missionária de Deus na vida de Carlos e Adelaide Mateus. Logo, eles começaram a senti-rem-se chamados não apenas a orar, mas tam-bém a irem.

O envio dos EUA ao Nordeste do Brasil, como missionários em 8 de janeiro de 1932, deu-se pela Evangelical Union of South América, aquela mesma que o pai de Adelaide integrava no Conselho de Referência. Desde os primeiros

dias no Brasil, ela sentiu na pele, literalmente, os desa�os de viver em missões. O Nordeste recepcionou a missionária com o calor escaldan-te da Paraíba e a seca de 1932. Uma mãe com seu �lho de apenas um ano de vida, entre muitas mães que perderiam seus �lhos para o �agelo da seca. Adelaide viu o próprio �lho ser vítima de doenças no Brasil daquela época. “Por causa da seca, o calor era fora do comum. Não era bom para nossa saúde. Depois de três meses lá (na Paraíba), foi preciso levar nosso �lho de um ano para �car com minha família (nos EUA)”, disse Adelaide em artigo que ela mesma escreveu para e Message, a revista da missão ABWE.

Por muitos anos a missionária também ensinou no seminário teológico que havia aju-dado o esposo iniciar no Rio Grande do Norte. Ela fazia este trabalho com muita seriedade, considerando a si mesma como alguém a quem foi concedida grande responsabilidade pelas almas dos seus alunos, por quem ela orava fre-quentemente. “Foi minha professora de Educa-ção Cristã. Extremamente meiga, educada e espiritual. Muito inteligente. Usava muitas ilus-trações das próprias vivências dela como missi-onária. Quando ela chegava ao seminário todos a respeitavam muito”, relata José Nunes de Morais, aluno do SIBB - Seminário e Instituto Batista Bereiano da turma de 1973, . Natal, RN

Adelaide Mateus também se dedicou à música cristã: na participação da Orquestra em Asbury, ensinando no SIBB e na tradução de 51 hinos para o português, editados e publicados na obra Louvores ao Senhor. No livro de 1987, a Imprensa Batista Regular (atual EBR), em reco-nhecimento ao valor do trabalho de Adelaide, registrou assim na dedicatória da obra: é muito grati�cante apresentarmos este trabalho labo-rioso, empreendido por Dna. Adelaide Matt-hews durante a sua vida como missionária no Brasil, onde desenvolveu especial dedicação na tradução e versão de hinos de inspiração e lou-

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vor. Dna. Adelaide Matthews esteve entre nós brasileiros, por quatro décadas, desenvolvendo trabalho missionário entre o povo do Nordeste do Brasil. Esta mulher de �no trato conseguiu ao longo dos seus anos, cristalizar o respeito não somente dos seus companheiros como tam-bém de toda uma geração que a viu passar por este campo. Em reconhecimento aos seus esfor-ços em dar aos evangélicos de língua portuguesa a mensagem dos hinos aqui compilados, é que seus colegas missionários, hoje trabalhando em Natal, conseguiram a permissão para usar as músicas originalmente composta no estrangei-ro.

Adelaide fez amizade com muitas brasi-leiras. Mulheres para as quais falou de Cristo. Mulheres que eram lembra-das em suas orações. Mulhe-res que foram guiadas e enco-rajadas nos primeiros passos da vida cristã. Através da vizi-nha, chamada carisonha-mente de Bibi, Maria Elisa chegou a Cristo. E com os estudos no Seminário Bereia-no, Elisa desenvolveu uma envolvente e terna amizade com Adelaide Mate-us. Suas lembranças da missionária são descri-tas no capítulo Minhas amigas, no relato do seu testemunho registrado em livreto.

“No começo da minha conversão, vínha-mos sempre Bibi e eu no carro de dona Adelaide. Continuávamos no caminho a conversar sobre a Palavra de Deus. Dúvidas e incertezas que ainda tínhamos sobre certos assuntos, ela sempre dissipava, citando versículos da Bíblia e com-provando a sua veracidade. Ás vezes, à noite, �cava preocupada em vê-la dirigir quando morá-vamos em caminho oposto ao seu, porém ela continuava �rme e o Espírito Santo de Deus, dirigindo-a. Dou graças a Deus por tudo isto. Dona Adelaide, obrigada pela sua vida e seu

ministério, pelo qual também ouvi a história de Cristo” (Maria Elisa).

Ela auxiliou Carlos Mateus como esposa espiritual e virtuosa. O casal Mateus havia come-çado os trabalhos missionários em duas cidades paraibanas: os sertões das cidades de Patos e Esperança, num período de três anos (1932-1935), a primeira fase da missão no país. As outras duas, de 1935-1936 em Maranguape, CE, e a partir de 1938, em vários municípios potiguares. Com o auxílio de Adelaide, o esposo Carlos evangelizou em centenas de cidades do Brasil, fundou seis igrejas no Rio Grande do Nor-te, além de um acampamento e um seminário teológico, também entre os potiguares; ainda, idealizou e trabalhou ativamente na criação das

associações estadual (AIBRERN) e nacional (AIBREB) dos Batistas Regulares no Brasil. A trajetória de vida do seu marido não ofus-cou a importância dela como miss ionár i a , antes, fez cintilar com mais intensidade as

virtudes de Adelaide Mateus.Ele faleceu em maio de 1966. O casal teve

quatro �lhos: Carleton F. Matthews Jr., Richard V. Matthews, Florence L. Matthews Milgate e Constance E. Matthew McCleary. Adelaide Mateus viveu por mais 30 anos sem o marido, �el companheiro no lar e em missões. Ela partiu desta vida para estar com o Senhor no primeiro dia de setembro de 1996, vítima de Alzheimer. Sua história de vida é uma biogra�a de amor intenso. Amor pelo marido, pelos �lhos, ao povo brasileiro; mas, acima de todas as coisas, amor a Deus.

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Para que serve a história da Igreja?

HISTÓRIA EM ÊNFASE

Por Pr. Charles Bronson A. do Nascimento.

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Papai, então me explica para que serve a "história!", disse com inquietação a criança para o seu pai historiador. O menino da

frase era o �lho de Marc Bloch (1886-1944), renomado historiador francês e uma das vítimas fatais da barbárie nazista durante a II Guerra Mundial. A explicação para seu �lho rendeu um livro que se tornou um marco no trabalho da construção do saber histórico, “A p o l o g i a d a h i s tó r i a o u o o f í c i o d e historiador”. Nesta obra, Bloch apresentou elementos de metodologia de pesquisa em história, visando expor para leigos e acadêmicos sua visão de história.

E se alguém nos perguntasse ou nós mesmos despertássemos para outra indagação: “Para que serve a história da igreja?”. Qual seria nossa resposta? De que maneira os membros de nossas igrejas pensam sobre isso? Você consegue apontar justi�cativas para que os crentes valorizem a história eclesiástica? Como dizia Marc Bloch, a história não se detém ao estudo do passado posto que é a ciência que estuda os homens ao longo do tempo. Esse saber não se adquire apenas por fatos isolados, detendo-se somente a fontes escritas ou a

documentos o�ciais, mas tem como objetivo compreender, problematizar, contextualizar, visando à construção do saber histórico através de fontes escritas ou não.

Já a história da igreja (HI) é tanto o modo como os crentes ao longo dos tempos têm interpretado e vivido o texto bíblico quanto à história interpretada e organizada da redenção da humanidade e da terra, como destaca Earle E. Carns. Inclusive, o livro bíblico de Atos, onde temos o registro divino dos primeiros trinta anos da igreja, é chamado tanto “atos dos apóstolos” como “atos do Espírito Santo”, já que o e l e m e n t o s o b r e n a t u r a l é s u j e i t o predominante. O seu último capítulo, o 28, intencionalmente não tem uma conclusão literária no padrão das demais obras da Bíblia; como se o próprio Deus estivesse nos ensinando que a obra do Espírito Santo continua na vida da igreja em ação pelo mundo.

A primeira utilidade da HI que destacamos está relacionada ao que o historiador cubano-americano Justo González escreveu: “a igreja não vive, nem nunca viveu em um vácuo social,

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político, econômico, cultural”. Nesse sentido, o conhecimento da HI serve para introduzir o estudo das dimensões seculares da fé cristã. Assim, notamos o quanto a HI está entrelaçada na história geral, ou seja, enxergamos um pouco mais os porquês quando procuramos visualizar o onde, quem, quando! O pano de fundo – da Alemanha do século XVI, para melhor entendermos as ações de Lutero; a estrutura social e política do império romano para assimilarmos as palavras do apóstolo Paulo em Romanos 13, tratando da relação do crente com o governo e as obrigações civis; ou as relações de poder religião/governo nos anos de 1940 e os obstáculos vivenciados pelos pioneiros batistas regulares no Nordeste do Brasil. A HI contextualiza a ação dos crentes no tempo e espaço. Há também o valor pedagógico da HI como um guia de valor espiritual tanto para “advertência nossa” quanto para “estimular a correr com perseverança a carreira que nos está proposta”. Quando orientou a igreja em Corinto a lidar biblicamente com questões ilícitas na conduta do crente num contexto de idolatria pagã no século I d.C, Paulo trouxe para re�exão um trecho histórico da trajetória do povo judeu desobedecendo a Deus durante o Êxodo ocorrido por volta do século XV a.C, ressaltando que esses “estas coisas” do passado “foram escritas para advertência nossa” (I Co. 10:11). Já o autor da epístola aos Hebreus, após citar várias sínteses biográ�cas de alguns homens e mulheres que viveram “pela fé”, encoraja os leitores de todas as épocas a considerar o valor didático espiritual da “tão grande nuvem de testemunhas que nos rodeia” (Hb. 12:1). Conectado a este motivo acima, outra utilidade preciosa da HI é o registro de uma herança espiritual. As páginas da HI permitem-nos percorrer os olhos entre frases e

documentos que servem como arquivos de estímulo espiritual, museus que guardam a memória de histórias de vida com erros e acertos, emoções e planos de irmãos na fé durante a proclamação do evangelho. E assim, também compreendemos melhor a identidade das denominações, suas tradições e práticas, reconhecendo que temos uma dívida histórica com os que nos antecederam. A história da igreja também serve como um acervo de ilustrações que ajudam na compreensão de conceitos espirituais. Earle E. Cairns exempli�ca essa função ao dizer que, na sua experiência como professor de teologia e história, comprovou que muitas vezes os alunos assimilam com mais facilidade o saber doutrinário quando lhes é apresentado seu desenvolvimento histórico. Como no caso de estudar a doutrina bíblica da trindade juntamente com a pesquisa acerca do pensamento e contr ibuição dos “pais capadócios”, importantes pensadores cristãos do século IV que se dedicaram ao tema da unidade e diversidade no ser divino. Por �m, mas não menos importante, está o fato de que pela HI glori�camos a Deus reconhecendo, no registro histórico das ações do povo cristão, um testemunho documental do poder de Deus na história extrabíblica. O Espírito de Deus em ação na gênesis da igreja cristã em Jerusalém durante o Pentecostes (At. 2) continua em atividade há dois mil anos e se mostra presente em nós e entre nós, apesar de nós, nos capacitando a sermos personagens dessa história, cujo enredo central já estava escrito no plano eterno de Deus, sendo Seu Filho Jesus Cristo “aquele que dá testemunho destas coisas” e “diz: certamente venho sem demora. Amém!” (Ap. 22:20).

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eus é um ser eterno e pessoal. Sua natu-Dreza triúna revela a harmonia e perfei-ção do Seu ser, pois, entre outras coi-

sas, desde sempre havia comunicação perfeita entre as três Pessoas da Trindade. Por isso, Deus não tinha necessidade de formar o homem para se comunicar com ele. Contudo, o Todo-poderoso criou o mundo e o ser humano para a Sua glória. O homem foi feito à imagem de Deus e conforme a Sua semelhança, diferentemente dos animais. O homem e a mulher, portanto, são seres pessoais, e seres pessoais se comunicam e se relacionam uns com os outros. A comunicação inteligível é uma característica essencial de uma pessoa.

Outra característica do ser pessoal a ser destacada é a moralidade. Deus pôs em todo ser humano um senso moral, o que o faz discernir entre certo e errado, bom e mau. Porém, após a queda do homem no pecado, sua natureza foi totalmente corrompida. Agora, tanto a comuni-cação quanto a moralidade humanas estão man-chadas pelo pecado. A música é obra de um ser pessoal, que se comunica e tem moralidade.

A Bíblia registra que há música no céu,

diante de Deus (Jó 38.7), logo, a arte musical não é algo exclusivo deste mundo. O Criador pessoal também criou a música. E o homem, por ter sido feito à imagem e semelhança de Deus, tem a capacidade de fazer música, como expres-são de seu intelecto, emoções e vontade. O regis-tro bíblico revela que desde o início da existência humana havia música.

Em Gênesis 4.21, Moisés diz que Jubal foi o pai de todos os que tocam harpa e �auta. Isto não signi�ca que foi ele quem criou a músi-ca, mas, que inventou instrumentos de cordas e de sopro, os quais, creio eu, serviriam para acom-panhar o canto e/ou fazer música instrumental, provavelmente, melodias com sons que imita-vam os sons da natureza.

Alguns acreditam que o primeiro cântico registrado nas Escrituras (Gn. 4.23,24) foi feito por Lameque, pai de Jubal, da descendência de Caim. Contudo, não foi algo de cunho religioso, pelo contrário, a motivação para esse possível cântico retratava bem a natureza pecaminosa do homem, falando de dois homicídios cometidos por motivos banais.

Ainda em Gênesis, 31:27, o texto descre-

Gênesis da Arte Musical

MÚSICA EM ÊNFASE

Por Jaime Fernandes da Costa Junior

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ve o momento em que Labão pergunta a Jacó porque ele havia fugido com suas �lhas, sem que ele pudesse saber para se despedir com alegria, e com cânticos, e com tamboril, e com harpa. Sali-entamos que, nesse caso, a música serviria como expressão de alegria, num contexto de festa familiar.

No livro de Jó, o livro mais antigo da Bíblia três referências são signi�cativas nessa temática: 1) No capítulo 21, verso 12, Jó fala que os perversos cantam com tamboril e harpa e se alegram ao som da �auta; 2) No capítulo 30, verso 9, Jó se considera uma “canção de motejo” diante dos homens. Então, havia música por motivo de zombaria; e, 3) No capítulo 35, versos 10 e 11, Eliú falando a Jó, argumenta, dizendo: “Mas ninguém diz: Onde está Deus, que me fez, que inspira canções de louvor durante a noite, que nos ensina mais do que aos animais da terra e nos faz mais sábios do que as aves dos céus?” Observe que Deus é a motivação dos homens para entoarem canções de louvor.

No livro de Êxodo, no capítulo 15, temos o cântico de Moisés, bem como a antífona de Miriã. A motivação do cântico está clara no �nal do capítulo anterior: o grande poder que o SENHOR exerceu contra os egípcios, livrando Israel de suas mãos. A letra do cântico re�etiu bem o temor e a con�ança do povo em Deus. Não sabemos quanto tempo Moisés levou para com-por aquela canção, nem se o povo todo aprendeu rápido para cantá-la logo após a travessia do Mar Vermelho. Também não temos um registro de notação musical para conhecermos a melodia do cântico. Contudo, o povo tinha em mente as maravilhas que Deus realizara, portanto, creio que sua música deveria expressar tudo isso, tanto reverência e temor a Deus, quanto fé, gra-tidão e grande júbilo. A beleza poética expressa-va a nobreza, grandeza e dignidade devidas a Deus. A alegria pôde ser vista nas danças das mulheres. (É importante salientar, porém, que

aquelas danças não se podem comparar com as danças atuais de nossa sociedade. Nem são um padrão ou mandamento para adotarmos danças na igreja hoje).

O capítulo 32 de Êxodo descreve uma situação totalmente diferente da anterior: o povo se corrompe e se prostitui adorando um bezerro de ouro, feito por Arão. Os versículos 18 e 19 deixam claro que haviam cânticos e danças. Mas sobre o que cantavam e como faziam isso? Há algumas pistas no texto: 1) “Então, disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram do Egito” (v.4); 2) “e o povo assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se” (v.6); 3) Josué confundiu o som dos cânticos com alarido de guerra (vv.17,18); 4) “... o povo estava desenfre-ado” (v.25). Então, como seriam os cânticos e as danças do povo naquela ocasião?

Sendo o homem um ser pessoal, ele expressa através de sua obra, arte e música aqui-lo que está dentro dele, fruto de seu intelecto, emoções e vontade. Lameque expressou o seu sentimento em relação aos seus crimes. Moisés expressou o seu louvor ao Deus Salvador e Todo-poderoso. Em Êxodo 32, o povo fabricou o seu próprio deus, então, a música ali, em letra e em estrutura, deve ter re�etido o caráter desse deus falso, ou do próprio povo que o �zera, o qual estava desenfreado.

O Deus verdadeiro criou o homem à Sua imagem e semelhança para o Seu louvor, mas, infelizmente, o homem pecador, muitas vezes, cria suas próprias obras para agradar a si mes-mo, independentemente de Deus.

Através desta breve jornada percorrendo os registros bíblicos da arte musical vimos que esta arte tem servido para expressar elementos pessoais bons ou maus desde o início da existên-cia humana. Então, se somos �lhos de Deus, feitos conforme Sua imagem e semelhança, como deve ser a nossa música?

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Publicado originalmen-te em Inglês em 1988, Continuidade e Descon-

tinuidade (CD) representa um marco no debate entre os sis-temas da Teologia dos Pactos (TP) e Teologia Dispensacio-nalista (TD), especialmente no que diz respeito à Escatolo-gia, ao relacionamento entre Israel e a Igreja, e ao relaciona-mento entre o Antigo Testa-mento (AT) e o Novo Testa-mento (NT). No Brasil, a obra só veio a ser publicada em 2013 pela Editora Hagnos. Antes tarde do que nunca; mas acredito que esse lapso de tempo denuncia o atraso na discussão do assunto em nossa pátria. Tanto é que no Brasil, Sco�eld e Chafer ainda são vistos como poster boys do Dispensacionalismo (especi-almente por Aliancistas, a�nal isto os convém). Espero que não aconteça aqui o mesmo que aconteceu nos EUA, onde o livro foi quase que completa-mente desprezado pelos Ali-ancistas por terem sentido que perderam a batalha.

O título do livro pode ser enganoso, no sentido de que pode levar o leitor a pen-sar que a TP é um sistema mar-

cado apenas por continuida-de, e que a TD é um sistema caracterizado apenas por des-continuidade. No entanto, esta impressão �ca apenas na capa e é desfeita à medida que o leitor mergulha na boa dis-cussão que o livro traz. Ambos os sistemas retém certos níve-is de continuidade e desconti-nuidade, sendo que a TP está mais do lado da continuidade no espectro e a TD está mais do lado da descontinuidade.

O livro é organizado em sete partes. Na primeira parte, Rodney Petersen apresenta uma perceptiva histórica do debate. Partes dois a sete tra-zem discussões sobre seis tópi-cos quanto aos seus relaciona-mentos com o AT e o NT. Estes tópicos são: Sistemas de Teo-logia, Hermenêutica, Salva-ção, Lei, Povo de Deus, e Pro-messas do Reino. Os tópicos são discutidos por represen-tantes de ambos os lados, mas não há interação entre os auto-res. Eles escrevem sobre seus respectivos tópicos, indepen-dentes entre si e não se refu-tam mutuamente.

A forma como o livro é organizado tem para mim um gosto que é ao mesmo tempo

amargo e doce. Embora acredi-te que a escolha de tópicos tenha coberto todas as ques-tões importantes no debate, não acho que ter os lados opos-tos escrevendo independente-mente foi frutífero em alguns pontos. Por exemplo, na parte três, Hermenêutica e os Testa-mentos, O. Palmer Robertson lidou em detalhe com Atos 15:16–17, que é uma passa-gem chave para a discussão sobre como o autor do NT usou o AT. Eu, particularmen-te, discordo com sua conclu-são sobre a passagem, nem que ele deveria ter lidado ape-nas com um passagem em sua discussão de um tema tão amplo. Apesar disso, creio que ele ofereceu um bom exemplo de como uma passagem como aquela é interpretada sob seu sistema. Por outro lado, Paul Feinberg lidou com o tópico em linhas mais gerais, ofere-cendo princípios interpretati-vos sob o sistema de desconti-

Continuidade e Descontinuidade

LIVRO EM ÊNFASE

Por Diego Ramos

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nuidade. Ele também incluiu uma discussão sobre tipologia e analogias no NT, bem como uma discussão sobre Joel 2:28–32 e seu uso no NT como um teste de caso. Contudo, devido ao fato de os autores terem escrito independente-mente, Feinberg não lidou com Atos 15, deixan-do, assim, o leitor com a voz de apenas um dos lados do debate sobre aquela passagem.

Eu muito apreciei o fato de que aqueles no lado da continuidade deixaram claro que eles não veem a TD como um sistema plenamente representado por algumas visões errôneas pre-sentes nas notas da primeira edição da Bíblia de Referência Sco�eld. Por exemplo, com respeito à acusação de que a TD ensina dois meios de salva-ção, Fred Klooster (representando a continuida-de) admitiu que à luz dos desenvolvimentos da TD e da revisão da Bíblia de Referência Sco�eld, “a velha acusação deve ser abandonada” (133). Ele a�rma que a TD ensina apenas um meio de salvação através das Escrituras e que esta con-vergência entre os dois lados “é motivo de ale-gria; o reconhecimento disto não deveria ser feito de má vontade” (133). A atitude de Kloos-ter é exemplar e representa bem o tom da discus-são no livro. O restante da explicação de Kloos-ter deste único meio de salvação é de grande aju-da, exceto pelo fato de que ele pula sobre o Milê-nio na sua narração da história da redenção.

Por outro lado, a discussão de Allen Ross sobre o tópico da Salvação e os Testamentos é muito mais útil, especialmente pelo fato de que ele abordou algo que Klooster ignorou: a consta-tação de que há também pontos de descontinui-dade entre os testamentos no que tange à salva-ção. Ele inclui entres estes pontos de desconti-nuidade, o conteúdo da fé, a expressão da fé, a obra do Espírito Santo e a expectativa da fé. Pela forma como lida com a questão, Ross desfaz a concepção de que se pode sustentar apenas a ideia de continuidade ou descontinuidade com respeito à salvação. Ele demonstra que ambos os

aspectos estão presentes e que se aplicam a pon-tos diferentes da doutrina.

John Feinberg também fez um trabalho excelente em sua listagem das crenças essenciais do Dispensacionalismo. Há questões muito mais importantes para a TD do que simplesmente a ideia de dispensações. Feinberg a�rma que não se de�ne dispensacionalismo simplesmente por meio da de�nição do que é um dispensação. Com efeito, mesmo a TP acredita na existência de dis-pensações. Entre as crenças essenciais listadas por Feinberg estão o reconhecimento de que há múltiplos sentidos em que termos-chave como “Judeu” ou “semente de Abraão” são emprega-dos. Ele também inclui o fato de que a TD man-tém um uso consistente de uma hermenêutica histórico-gramatical em ambos os testamentos. Ele esclarece, no entanto, que o não dispensacio-nalismo não é antiliteralista, mas que sua aplica-ção de uma hermenêutica literal não é consisten-te. Ele desenvolve em grande detalhe o problema do uso do AT no NT e destaca alguns pontos importantes: 1) O NT não precisa rea�rmar uma promessa ou instituição do AT para que perma-neça válida; 2) Não há um padrão de uso do AT no NT; 3) A aplicação de uma passagem do AT no NT não invalida seu signi�cado original. Outra marca do dispensacionalismo é a crença em um futuro distinto para o Israel étnico, que inclui não apenas salvação espiritual, mas também restauração nacional.

Finalmente, Feinberg inclui como crença essencial da TD o fato de que a igreja é vista como um organismo distinto que começou em Pente-costes e que não existiu em qualquer forma no AT. Assim, Israel não é a Igreja do AT, nem a Igre-ja é o Novo Israel.

No que concerne à discussão sobre a Lei, creio que Chamblin faz uma compartimentaliza-ção torcida e injusti�cável como tendo três dimensões: moral, cerimonial e civil. A Lei é sem-pre referida como uma unidade tanto no NT

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como no AT. Ele também apequena o fato de que o Espírito Santo nos livra do jugo da Lei ao a�r-mar que o Espírito Santo é chamado de Espírito de liberdade porque Ele nos livra “de um falso entendimento da Lei (a saber, que alguém é jus-ti�cado pelas obras da Lei)” (192, itálicos no original). Ele ainda vai além ao asseverar que “o Espírito nos liberta para a Lei” (192, itálicos no original). Contudo, Chamblin não oferece fun-damento �rme para sustentar seus pontos, pois as passagens às quais ele se remete não lidam com a questão diretamente.

O capítulo de Douglas Moo oferece uma abordagem mais sólida sobre o assunto. Ele vai para passagens-chave que lidam com a questão e as examina minuciosamente. Ele se dirige a Mateus 5:17 e argumenta que o uso em Mateus do verbo “cumprir” é mais amplo do que uma simples designação da realização de predições do AT. Ele também lida com Romanos 10:4 e com a a�rmação de que “Cristo é o �m/alvo da lei.” Ele argumenta que ambos os aspectos (alvo e térmi-no) estão presentes no uso de Paulo da palavra telos. Moo também avalia o signi�cado de expressões como, “lei de Cristo” e “debaixo da lei.” Ele argumenta que há pontos de desconti-nuidade entre a Lei de Moisés e a Lei de Cristo. Ele também responde à acusação de que susten-tar que a Lei de Moisés não é mais obrigatória para esta era leva ao antinomianismo. Ele expli-ca que o Dispensacionalismo não a�rma que o cristão está livre de toda e qualquer lei. No entanto, os cristãos estão debaixo de uma “nova lei” (218).

A impressão geral da obra é que aqueles do lado da continuidade tiveram di�culdades em ser claros em suas explicações dos conceitos refe-rentes às suas posições. Os dispensacionalistas, no livro, �zeram um melhor trabalho em apre-sentar e defender suas posições com clareza e fundamento bíblico. Enquanto isso, aqueles do lado da continuidade basearam a defesa de suas

visões mais em con�ssões históricas do que na exegese do próprio texto bíblico. Além disso, a maioria das objeções feitas pelos defensores da continuidade foi direcionada a desenvolvimen-tos mais primitivos da TD, e não a seus re�na-mentos mais recentes. No �m das contas, creio que o Dr. S. Lewis Johnson (a quem a obra é dedi-cada) foi honrado não apenas pela atitude dos escritores de ambos os lados, mas também pelo fato de que o seu lado (descontinuidade) foi melhor representado.

Mesmo após 27 anos, creio que Continu-idade e Descontinuidade ainda permanece uma leitura atual e necessária a todos aqueles que precisam de uma primeira exposição ao deba-te entre a Teologia dos Pactos e a Teologia Dis-pensacionalista. A maior parte da leitura é aces-sível mesmo para leigos. Mas seminaristas e pas-tores se bene�ciarão mais dela. Embora em minha opinião o livro devesse ter sido formata-do com mais interação entre os campos opostos, eu ainda recomendo com entusiasmo este livro.

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odemos ter uma árvore em nosso pomar Pque a cuidamos com certa frequência. Há uma rotina – sabemos a hora certa de

regar, o tempo de adubar, podar, a época do ano em que �oresce e produz; todo nosso cuidado dedicado a esta árvore é regular, praticamente tudo que ocorre a ela nos é previsível. Até que um incêndio ataca o pomar e chamusca a árvore. Se tentarmos manter a mesma coisa que vínhamos fazendo e não destinarmos a ela cuidados especiais, a árvore provavelmente morrerá.

Esta ilustração da árvore pode muito bem representar uma metáfora da igreja que vivemos. Concebemos a igreja como uma instituição coesa, com dias e horários regulares para se reunir nos cultos, fazer estudos bíblicos, escola dominical, escola bíblica de férias e manter inúmeros programas. A igreja se percebe como uma instituição teológica, jurídica e social; tem seus artigos de fé, seus estatutos e estrutura de liderança religiosa o�cializada, como normalmente ocorre quando ela vive uma situação histórica em um clima de governo democrático regido por um estado de direito, em tempos de paz. Nunca imaginamos como seria uma igreja em uma situação em que nada disso seria possível, quando muitas das convicções teológicas sequer seriam pensadas posto que não haveria aplicabilidade ou necessidade, até que um incêndio nos atinja e sejamos obrigados a re�etir sobre tudo o que já �zemos como hábito e o inusitado nos surpreenda.

Esta situação é possível e se chama tempos de exceção. Tempos de exceção são

aqueles que a�igem a humanidade com grandes catástrofes naturais (terremotos, tsunamis, desastres) ou com catástrofes humanas a exemplo da guerra. Como vivem hoje as igrejas que até então tinham um cotidiano comum em diversas regiões do oriente médio e, de repente, viram sua “pátria” tomada pelo Estado Islâmico. Podemos voltar 70 (setenta) anos na história e lembrar-nos dos eventos que assolaram a humanidade, especialmente a Europa, na Segunda Guerra Mundial. Como seria uma igreja no Gueto de Varsóvia? Uma igreja em um campo de refugiados na Síria? Ou como soldados que desembarcaram na Normandia, em grupos de no máximo 10 (dez), reunir-se-iam para louvar juntos ao Senhor, em um domingo, se uns eram pentecostais, outros batistas, um presbiteriano, outro luterano e outro anglicano? Podemos até pensar como um pastor se despediria de 20 (vinte) de seus jovens que iriam para o campo de batalha, quando, no máximo, 2 (dois) deles voltariam. Como celebrar um casamento sabendo que o noivo viajaria na semana seguinte para a guerra? Sem falar de outras situações na guerra, do excesso de idosos, mulheres e crianças na igreja quando os homens em idade de ir para guerra estariam nela.

Hoje, também, discutimos detalhes demais sobre a mudança das questões éticas. Em tempos de exceção voltamos às questões fundamentais, como se é certo ou errado tirar a vida de um homem, entregar-se à morte seria suicídio, se matar para defender a vida de outrem é justo.

Em um estado de direito, é fácil entender

A Igreja em Tempos de ExceçãoPor Pr. Addson Araújo CostaSOCIEDADE E IGREJA

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que o trabalho da polícia é defender a sociedade, aquele que está do outro lado é um malfeitor, um bandido que nada tem a perder. Em um estado de guerra, a coisa é diferente, o inimigo do outro lado é um �lho, um pai de família, tal qual semelhante aos nossos pais ou tal qual somos. E se for um irmão em Cristo? Durante a Guerra Civil Americana, o fratricídio entre cristãos foi de um horror sem igual. Não apenas de quem se declarava cristão, mas de quem estava com a Bíblia nas mãos e, ao morrer, orava terminando suas orações em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, amém.

Ora, Jesus disse: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edi�carei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:18). O Corpo de Cristo é o Corpo de Cristo em todo tempo, o Senhor mesmo prometeu livrar a igreja dos portais do inferno, das tribulações, dos tempos de exceção. Diferente do que sempre imaginamos, o Novo Testamento não foi escrito para uma igreja regular que tinha seu cotidiano marcado com ações para eventos previstos e determinados. Foi escrito como p r o d u t o d e u m a i g r e j a p e r s e g u i d a , desestruturada, sem um repertório pronto e em constante formação. O apóstolo Paulo já nos alertava: “Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis” (2 Timóteo 3:1). A igreja não foi preparada para a comodidade, mas simplesmente nos acomodamos.

Hoje, exaltamos a igreja enquanto moderna, distinta por denominações, teologia, doutrinas, ideologia, artigos de fé, estatutos, liturgia e convicções. Todavia, esquecemo-nos de perguntar ao Dono da Igreja o que Ele pensa de tudo isso, ou, simplesmente, re�etirmos (eu me incluo) sobre o que realmente importa. Para nosso Deus, a Igreja é uma, mesmo que seja a partir de várias. O Corpo é um. Não existe a ideia de que em tempos de exceção quem não tem cão, caça como gato. O Todo-Poderoso não abre uma exceção no seu íntimo “Porque eu, o

SENHOR, não mudo;” (Malaquias 3:6). A igreja que é cuidada em tempos de paz é a mesma que Ele guarda em tempos de guerra. Esteja a árvore frondosa ou chamuscada, é Ele que dá o crescimento. Nós desenvolvemos o trabalho conforme observamos a necessidade que está diante de nós.

Somos nós que mudamos. Boa parte dos nossos valores está calcada em um sistema de compreensão do que vivemos como condição. Se as condições mudam, passamos a questionar o que é importante. Hoje, achamos salutar, como produto de suprema santi�cação, se uma mocidade canta esta ou aquela música, deste ou daquele grupo; se adora, se louva, como louva. Para o jovem soldado tombado nas trincheiras, a única coisa realmente importante para sua santi�cação é se ele tem Jesus como Único e Su�ciente Salvador.

A Igreja triunfará. Quem enfatiza a apostasia dos últimos tempos jamais deve deixar de ensinar que a Igreja triunfará! Em nada importará a Deus se um dia o louvarmos com um hinário ou outro, com uma canção cristã de compositor tal e qual. Para o mundo danado, a Igreja é um pequeno rebanho, mas, para nós, batistas, regulares, a Igreja dos salvos é uma multidão incontável, centenas de milhares de vezes maior do que nós, que nunca pensaram como nós pensamos, e nunca foram ou serão o que nós somos.

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