revista em transição - piracicaba: que os peixes parem e os cidadãos pedalem

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pag. 10 - Piracicaba: que os peixes parem e os cidadãos pedalem.

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Page 1: Revista em Transição - Piracicaba: que os peixes parem e os cidadãos pedalem

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Piracicaba tem hoje, segundo o IBGE, 364.571 habitantes, distribuídos em 1.377 km2. A maioria são mulheres (51%) e moram na zona urbana (97%). Em 2000, havia aproximadamente 35.000 pessoas a menos no município. A expansão de Piracicaba se dá a olhos vistos. Quem mora aqui há tempos percebe claramente que o número de automóveis nas ruas aumenta, a indústria cresce, os cursos superiores e universidades se multiplicam, a arquitetura se moderniza, a população de árvores diminui e o número de pontes aumenta; parte da cidade enriquece e grande parte dela fica à margem disso.

Para além da exclusão social, temos enfrentado desafios relacionados à quantidade e qualidade da água para a população, poluição do ar, falta de áreas verdes, estreitamento e precariedade das condições de mobilidade urbana (segundo a Semutran, chegamos a 1 automóvel para cada 3 habitantes), pauperização do lazer e cultura, dentre vários outros desafios comuns a cidades brasileiras do porte de Piracicaba.

Entretanto, o que se percebe também é que a sociedade tem procurado cada vez mais espaços de interlocução e enfrentamento a estas questões. Temas como meio ambiente, cidadania, sustentabilidade, direitos humanos, direitos dos animais, mobilidade urbana, transparência pública, juventude, multiculturalismo, arte, bem-estar, saúde pública, entre outros, têm agregado pessoas preocupadas com questões locais, que as atingem diretamente, e têm deflagrado movimentos cada vez mais consistentes de busca de respostas ao modelo de desenvolvimento hegemônico e excludente colocado para o município.Quem são as pessoas, grupos e coletivos que se organizam em nossa cidade em torno destes temas? Quais são as ações da sociedade civil que buscam autonomia e melhoria da vida da população, tendo como ponto de partida e fio condutor a participação social? Como estes grupos são gestados?

Sem a pretensão de responder exaustivamente e esgotar estas perguntas neste editorial, faremos o exercício de começar a elaborar uma lista de iniciativas que, por experiência, vivência ou porque tomamos conhecimento através dos meios de comunicação, tivemos a oportunidade de conhecer.

Em Piracicaba existem movimentos e instituições que têm como foco principal não só o enfrentamento da crise ambiental, mas a construção de outras formas de viver e se relacionar com o ambiente. Listamos aqui iniciativas como a do Instituto Terra Mater e um de seus projetos, a Rede Guandu de Produção e Consumo Responsável; a Florespi, atuando por meio da proteção, recuperação e ampliação de florestas e de recursos hídricos; a Pleno Sol Cozinha Solar, que vem desenvolvendo, aplicando e promovendo o cozimento solar; o SlowFood Convivium Piracicaba; o Instituto Ambiente em Foco; o grupo envolvido com a Mobilidade em Piracicaba; o Projeto Estação Travessia, que atua com jovens da área rural de Tupi; o Instituto Ambiente Total; o Coletivo Educador Piracicauá e suas diversas instituições participantes; entre outros.

Em prol dos direitos dos animais e da promoção de condições de sua saúde e bem-estar, mapeamos a ONG Vira Lata Vira Vida e a SPPA - Sociedade Piracicabana de Proteção aos Animais.

A luta por direitos humanos em seus variados aspectos vem sendo conduzida por instituições como o CASVI (Centro de Apoio e Solidariedade à Vida), com enfoque na sexualidade; pela PASCA, através de projetos sociais com crianças e adolescentes; pela U-topos, Associação de Saúde Mental, Educação e Direitos Humanos de Piracicaba; e pelo Rumo, que atua na promoção social e educacional com crianças, jovens e mulheres de baixa renda, em situação de vulnerabilidade pessoal e social.

Ações que visam o controle social têm sido protagonizadas por projetos como o Piracicaba Sustentável (IMALFORA); o grupo que se reúne em torno da Transparência Pública e Combate à Corrupção; a ONG AmaPira - Associação dos Amigos da Cidadania e do Meio Ambiente de Piracicaba; o Projeto Pira 21 – Piracicaba realizando o futuro; além de diversas associações de moradores de bairro. Com uma perspectiva mais ativista atua o Movimento Pense, composto por diversos jovens da cidade.

A cultura e a comunicação, em interface com as outras temáticas e buscando alternativas contra-hegemônicas, vêm sendo promovidas por grupos como o Ponto de Cultura Educomunicamos!, através do eixos educomunicação, educação ambiental e arte; o SUP – Serviço de Utilidade Pública, que se configura como uma ferramenta de comunicação livre; o Coletivo Piracema, espaço do Circuito Fora do Eixo em Piracicaba; o coletivo de Hip Hop Pegada de Gigante; o Ponto de Cultura Arte Garapa, instrumento de fomento da cultura piracicabana; e a Casa do Hip Hop, que realiza atividades culturais e esportivas voltadas aos jovens.

Diversas são as histórias, as missões, as formas de atuação, o tamanho, a disponibilidade de recursos, os públicos-alvo: tão diversos quanto as iniciativas. Esperamos ter deixado de listar muitas outras que ainda não conhecemos, na expectativa de que elas possam pedir a palavra e se fazer conhecer.

Ao olharmos para este incipiente panorama do movimento social em Piracicaba, algumas percepções surgem: constatamos que não somos poucos; percebemos que estamos atuando em diversas frentes e que as ações podem ser potencializadas se aprimorarmos nossos mecanismos de comunicação e ação conjunta. Reconhecemos que a força que provem de possíveis conexões está latente e em breve vai emergir de forma transformadora.

Uma das propostas do Movimento de Transição é justamente essa: agregar, apoiar e fazer ressoar movimentos que ainda não estão integrados entre si. Através da promoção do diálogo, tanto real quanto virtual, e da aposta na força que reverbera a partir dele, o Movimento de Transição aponta em Piracicaba como um possível catalisador da participação e transformação social.

Temos a expectativa de que esta revista seja um espaço de voz para estas instituições, iniciativas e movimentos; mais que isso, que os grupos se apropriem deste espaço e construam de forma autônoma maneiras de se comunicar, interagir e se fortalecer, na busca coletiva de uma Piracicaba mais equânime e sustentável.

Piracicaba | Ano 0 | Edição nº 2

Editora:Luciana Jacob

Projeto gráfico:Thiago D’Angelo

Concepção:Ricardo Zylbergeld

Colaboradores desta edição:Carlos Canedo Daniel Garnet Guilherme SerzedelloHélio SatoMaurício RodriguesMiriam RotherNinfa BarreirosOtavio Paranhos Ricardo ZylbergeldSara Maria Gomez Rivera

Plataforma:www.piracicabaemtransicao.com.br

Twitter:@piracicabaemtransição

Facebook:facebook.com/PiracicabaEmTransicao

e-mail:[email protected]

FICHA TÉCNICA

Revista Colaborativa Em Transição

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Piracicaba tem hoje, segundo o IBGE, 364.571 habitantes, distribuídos em 1.377 km2. A maioria são mulheres (51%) e moram na zona urbana (97%). Em 2000, havia aproximadamente 35.000 pessoas a menos no município. A expansão de Piracicaba se dá a olhos vistos. Quem mora aqui há tempos percebe claramente que o número de automóveis nas ruas aumenta, a indústria cresce, os cursos superiores e universidades se multiplicam, a arquitetura se moderniza, a população de árvores diminui e o número de pontes aumenta; parte da cidade enriquece e grande parte dela fica à margem disso.

Para além da exclusão social, temos enfrentado desafios relacionados à quantidade e qualidade da água para a população, poluição do ar, falta de áreas verdes, estreitamento e precariedade das condições de mobilidade urbana (segundo a Semutran, chegamos a 1 automóvel para cada 3 habitantes), pauperização do lazer e cultura, dentre vários outros desafios comuns a cidades brasileiras do porte de Piracicaba.

Entretanto, o que se percebe também é que a sociedade tem procurado cada vez mais espaços de interlocução e enfrentamento a estas questões. Temas como meio ambiente, cidadania, sustentabilidade, direitos humanos, direitos dos animais, mobilidade urbana, transparência pública, juventude, multiculturalismo, arte, bem-estar, saúde pública, entre outros, têm agregado pessoas preocupadas com questões locais, que as atingem diretamente, e têm deflagrado movimentos cada vez mais consistentes de busca de respostas ao modelo de desenvolvimento hegemônico e excludente colocado para o município.Quem são as pessoas, grupos e coletivos que se organizam em nossa cidade em torno destes temas? Quais são as ações da sociedade civil que buscam autonomia e melhoria da vida da população, tendo como ponto de partida e fio condutor a participação social? Como estes grupos são gestados?

Sem a pretensão de responder exaustivamente e esgotar estas perguntas neste editorial, faremos o exercício de começar a elaborar uma lista de iniciativas que, por experiência, vivência ou porque tomamos conhecimento através dos meios de comunicação, tivemos a oportunidade de conhecer.

Em Piracicaba existem movimentos e instituições que têm como foco principal não só o enfrentamento da crise ambiental, mas a construção de outras formas de viver e se relacionar com o ambiente. Listamos aqui iniciativas como a do Instituto Terra Mater e um de seus projetos, a Rede Guandu de Produção e Consumo Responsável; a Florespi, atuando por meio da proteção, recuperação e ampliação de florestas e de recursos hídricos; a Pleno Sol Cozinha Solar, que vem desenvolvendo, aplicando e promovendo o cozimento solar; o SlowFood Convivium Piracicaba; o Instituto Ambiente em Foco; o grupo envolvido com a Mobilidade em Piracicaba; o Projeto Estação Travessia, que atua com jovens da área rural de Tupi; o Instituto Ambiente Total; o Coletivo Educador Piracicauá e suas diversas instituições participantes; entre outros.

Em prol dos direitos dos animais e da promoção de condições de sua saúde e bem-estar, mapeamos a ONG Vira Lata Vira Vida e a SPPA - Sociedade Piracicabana de Proteção aos Animais.

A luta por direitos humanos em seus variados aspectos vem sendo conduzida por instituições como o CASVI (Centro de Apoio e Solidariedade à Vida), com enfoque na sexualidade; pela PASCA, através de projetos sociais com crianças e adolescentes; pela U-topos, Associação de Saúde Mental, Educação e Direitos Humanos de Piracicaba; e pelo Rumo, que atua na promoção social e educacional com crianças, jovens e mulheres de baixa renda, em situação de vulnerabilidade pessoal e social.

Ações que visam o controle social têm sido protagonizadas por projetos como o Piracicaba Sustentável (IMALFORA); o grupo que se reúne em torno da Transparência Pública e Combate à Corrupção; a ONG AmaPira - Associação dos Amigos da Cidadania e do Meio Ambiente de Piracicaba; o Projeto Pira 21 – Piracicaba realizando o futuro; além de diversas associações de moradores de bairro. Com uma perspectiva mais ativista atua o Movimento Pense, composto por diversos jovens da cidade.

A cultura e a comunicação, em interface com as outras temáticas e buscando alternativas contra-hegemônicas, vêm sendo promovidas por grupos como o Ponto de Cultura Educomunicamos!, através do eixos educomunicação, educação ambiental e arte; o SUP – Serviço de Utilidade Pública, que se configura como uma ferramenta de comunicação livre; o Coletivo Piracema, espaço do Circuito Fora do Eixo em Piracicaba; o coletivo de Hip Hop Pegada de Gigante; o Ponto de Cultura Arte Garapa, instrumento de fomento da cultura piracicabana; e a Casa do Hip Hop, que realiza atividades culturais e esportivas voltadas aos jovens.

Diversas são as histórias, as missões, as formas de atuação, o tamanho, a disponibilidade de recursos, os públicos-alvo: tão diversos quanto as iniciativas. Esperamos ter deixado de listar muitas outras que ainda não conhecemos, na expectativa de que elas possam pedir a palavra e se fazer conhecer.

Ao olharmos para este incipiente panorama do movimento social em Piracicaba, algumas percepções surgem: constatamos que não somos poucos; percebemos que estamos atuando em diversas frentes e que as ações podem ser potencializadas se aprimorarmos nossos mecanismos de comunicação e ação conjunta. Reconhecemos que a força que provem de possíveis conexões está latente e em breve vai emergir de forma transformadora.

Uma das propostas do Movimento de Transição é justamente essa: agregar, apoiar e fazer ressoar movimentos que ainda não estão integrados entre si. Através da promoção do diálogo, tanto real quanto virtual, e da aposta na força que reverbera a partir dele, o Movimento de Transição aponta em Piracicaba como um possível catalisador da participação e transformação social.

Temos a expectativa de que esta revista seja um espaço de voz para estas instituições, iniciativas e movimentos; mais que isso, que os grupos se apropriem deste espaço e construam de forma autônoma maneiras de se comunicar, interagir e se fortalecer, na busca coletiva de uma Piracicaba mais equânime e sustentável.

Esta revista eletrônica é resultado de um esforço colaborativo de entidades, comunidades e indivíduos, engajados em criar canais diretos de comunicação, com intuito principal de tecer uma rede de fomento às mudanças locais. Portanto...

Leia, comente, participe.Todos os textos desta edição podem ser encontrados no site www.PiracicabaEmTransicao.com.b/revista Nesta plataforma social, você poderá deixar seus comentários e conhecer a opinião de outros leitores.Se você deseja enviar textos e sugestões, ou colaborar com a revista, envie uma mensagem para [email protected]

Baixe, divulgue e compartilhe.Sinta-se à vontade para fazer o download desta revista. Divulgue para seus conhecidos e nas suas redes sociais, compartilhe este arquivo livremente*.

Imprima, afixe, empreste.Este documento foi estruturado para facilitar a sua impressão. Imprima uma cópia para ler, emprestar ou afixar no mural de sua comunidade. Se sua comunidade não tem condições de imprimir este material, entre em contato conosco.

*Este trabalho está registrado com a licença de Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - Sem Derivados. A reprodução deste material é permitida para uso NÃO comercial, perante a citação de seus autores e sem alterações em seu conteúdo.

SUMÁRIO

Em Movimento 04

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A Plataforma Engajados

Piracicaba: que os peixes parem e os cidadãos pedalem

Criança é a alma do negócio

Saco de gatos

Estudo analisa percepção da ciência na cidade de Piracicaba

Batalha Central: três anos de resistência

Minhocário e composteira: gerencie seus resíduos orgânicos em casa

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“O movimento só serve de revelação de nós mesmos quando tomamos cons-ciência do modo pelo qual ele se realiza ou não”. Essa instigante frase é de Thèré-se Bertherat, fisioterapeuta francesa que elaborou uma visão revolucionária sobre anatomia, enxergando o corpo como uma totalidade onde cada elemento de-pende do outro. Mas poderia ser de um ativista social. Ou de um ambientalista.

Nos tempos atuais, em que uma mu-dança de paradigma é necessária dado o colapso cultivado por sua própria in-sustentabilidade, torna-se evidente o conceito de interdependência. Enxer-gamos a realidade de forma cada vez mais complexa, como uma rica teia de relações. Assim, os problemas socioam-bientais da atualidade precisam de res-postas igualmente complexas, que por sua vez demandam transformações pro-fundas na forma com que interagimos com o mundo.

EDITORIAL

Em movimentopor Luciana Jacob

Movimento: efeito ou ato de mover--se, mudança de lugar ou de posição, evolução, agitação, animação. Para onde se movem nossos sonhos? Como se re-alizam nossos movimentos rumo a for-mas mais saudáveis de se viver em nosso planeta?

As ideias se movem e nos movem. Os meios de comunicação movimentam as informações, que movimentam as ideias, que movimentam as ações. Acre-ditamos na construção de formas de comunicação que impulsionem o mo-vimento de ideias numa direção con-frontadora e crítica. Esta construção, para ser legítima, deve se dar de forma horizontal e incluir as vozes silenciadas pelo anestesiador sistema de comunica-ção dominante.

Assim acontece nas ações de coleti-vos que se agregam em torno de ferra-mentas contra-hegemônicas de comu-nicação. A Revista Em Transição desse mês reuniu artigos que evidenciam as transformações socioculturais deflagra-das por alguns deles.

O Serviço de Utilidade Pública (SUP), um grupo de pessoas que acre-dita na possibilidade de mudança de

Em tempos de transição

paradigmática, a ousadia de

se produzir informação que

inspire as lutas e dê voz aos

movimentos é fundamental

na condução de processos

efetivos de mudança.

Foto tirada por Luciana Jacob, na Cúpula dos Povos, Rio +20.

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EDITORIAL

Em movimentopor Luciana Jacob

mobilidade urbana na Rua do Porto; uma pesquisa sobre a relação ciência--comunidade em Piracicaba; e um guia para a construção de um minhocário, exemplo simples e facilmente aplicável de tecnologia apropriada.

São estas as histórias inspiradoras, contadas por seus protagonistas, que compõem a Revista Em Transição desse mês.

Tecer uma rede que fortaleça essas iniciativas, valorizando as experiências locais e o conhecimento acumulado a partir delas, é nossa opção enquanto meio de comunicação-ação. Espera-mos que o espaço da Revista seja cada vez mais apropriado pelas comunidades, grupos e indivíduos que compartilham conosco destas buscas. Venha colaborar com a Revista e fazer parte deste movi-mento!

cultura política através de atos de cida-dania, traz em seu artigo as bases teóricas que o sustentam como uma ferramenta de comunicação livre. A valorização da cultura oral através das rimas de rua – arte e ação política de resistência – é explicitada na atuação do coletivo de rap Pegada de Gigante, que conta nes-ta edição a história da Batalha Central, realizada na Praça José Bonifácio há três anos. Da necessidade de criação de ca-nais de comunicação, divulgação e, prin-cipalmente, formação de redes colabo-rativas, emerge a Plataforma Engajados, que tem seu ambiente descrito em um de nossos artigos.

Nosso futuro comum depende da força com que essas transformações re-verberam em nosso cotidiano. Neste sentido, trouxemos também para o leitor experiências que contam histórias sobre intervenções práticas e que dialogam so-bre questões relacionadas aos hábitos das pessoas em seu dia a dia.

Uma vivência de educação ambiental em escolas do Parque Primeiro de Maio sobre a importância da reciclagem; a in-tervenção de um grupo de pessoas que se apropriou criativamente do espaço público para provocar a reflexão sobre

Partir de um ponto a outro. Movimentar o olhar. Reconsiderar. Olhar de outra forma: re-olhar.

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A Plataforma Engajados é um am-biente digital formado por diversas fer-ramentas para engajamento socioam-biental, que nasceu da necessidade de criarmos canais de comunicação, divul-gação e, principalmente, formação de re-des colaborativas.

Ancorada no Movimento de Tran-sição, baseada no conceito do crowd-sourcing e motivada pelo papel das re-des sociais em muitas mobilizações de grande repercussão internacional (como o Movimento dos Indignados, Occupy Wallstreet e a Primavera Árabe), a pla-taforma estimula o compartilhamento de histórias, atividades e sonhos, per-mitindo que grupos e indivíduos criem identificação entre si, por semelhança ou afinidade, descobrindo pontos de con-vergência e estimulando a conexão de seus esforços. Portanto, tecer uma rede de atividades interconectadas e, assim,

criar um contexto favorável à mudança (solo fértil para plantarmos iniciativas socioambientais criativas, solidárias e em harmonia com a natureza) é o principal objetivo desta plataforma.

Buscando ser reconhecida como tec-nologia apropriada, vem sendo cons-truída sob os valores deste modelo, principalmente quanto à capacidade de replicação. É uma ferramenta de código aberto, disponível para qualquer iniciati-va local que queira adotá-la como instru-mento de engajamento.

A Plataforma é uma ferramenta em constante desenvolvimento, onde novas funcionalidades e soluções (sugeridas, adotadas e viabilizadas pela comunidade de usuários) são implementadas ao longo do tempo. Por causa de sua capacidade de replicação, qualquer nova ferramenta implementada beneficia todas as comu-nidades que a adotam.

PORTAL COLABORATIVO

A Plataforma Engajadospor Ricardo Zylbergeld

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Qual o estado atual da Plataforma?

Em Piracicaba, no ar desde o dia 17 de junho de 2012, a Plataforma se encontra em sua versão alpha. Nesta fase, as ferramentas já podem ser utilizadas normalmente, porém não estão completas. Esta é uma fase oportuna para testes, ajustes e sugestões. As ferramentas implementadas neste momento são:

Portal de Mídia Colaborativa: área destinada aos artigos e notí-cias (textos, fotos, vídeos e áudios) publicados por toda a comunidade de usuários da plataforma.

Mapeamentos & Mobilizações: ferramenta destinada ao mapea-mento de grupos e espaços de in-teresse social, além da divulgação de mobilizações e eventos locais.

Calendário Coletivo: consolida, em um único local, os calendários dos diversos grupos locais (comunidades, movimentos, entidades).

Central de Engajamento: nesta área os usuários conhecem múltiplas formas de contribuir com o movimento local e com as diversas ferramentas que com-põem a plataforma. Por meio desta ferramenta, os usuários inserem seus textos, criam mobi-lizações e eventos, adicionam seus grupos (ferramenta parcialmente implementada) e desenvolvem muitas outras atividades

A Incubadora de ProjetosA próxima ferramenta a ser

implementada no cronograma de desenvolvimento da Plataforma é a incubadora de projetos. Esta aplicação permitirá que qualquer pessoa divulgue um projeto pessoal ou comunitário com o intuito de formar uma rede de colabo-ração que viabilize sua realização. Apesar do aparecimento de inúmeras ferramen-tas de financiamento coletivo (crowdfun-ding), a maioria dos projetos necessitam mais do que recurso financeiro para saí-rem do papel; necessitam de ajuda com leis, ideias, experiências, mão de obra, entre outros. Portanto, a Incubadora de Projetos, em conjunto com as outras fer-ramentas da Plataforma, reunirá esforços coletivos, para realização destes projetos locais (incluindo, também, o fomento fi-nanceiro - crowdfunding).

Futuro da PlataformaMuitas outras ferramentas já foram

idealizadas em conversas com diversas entidades, movimentos e comunidades. Algumas delas já entraram na fase de descrição de projeto. Estas ideias serão adicionadas à incubadora de projetos para serem viabilizadas conjuntamente.

Dentre estas soluções, podemos des-tacar as ferramentas de mobilidade (ca-ronas solidárias, bicicletas), ferramentas de monitoramento (de árvores, obras públicas, transparência e controle social), de hospedagem solidária (para os muti-rões, cursos e outras atividades). Outras possibilidades incluem vitrine social (di-vulgando os produtos comunitários e de empresas sociais), ferramentas motiva-doras, de comércio justo e local para con-sumo consciente, de trocas e freecycle, além de banco de tempo e moeda social, e muitas outras ideias interessantes.

Dica: acesse rapidamente a Central de Engajamento no linkwww.p i r ac i c abaemtr ans i c ao. com.br / cen ta l

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Interlocutores da comunidadePara criar pontes entre o ambiente vir-

tual e a realidade dos nossos grupos locais (comunidades, movimentos e entidades), um grupo de engajados - pessoas que participam ativamente do movimento - é fundamental para seu sucesso: os Repór-teres Sociais. Estes voluntários fazem a interlocução entre a comunidade e a rede de colaboração e estão capacitados para registrarem as histórias de seus grupos

Crowdsourcing: é um modelo de pro-dução que utiliza a inteligência e os conhecimentos coletivos e voluntários espalhados pela internet para resolver problemas, criar conteúdo e soluções ou desenvolver novas tecnologias.

Crowdfunding: traduzido para o por-tuguês como financiamento colabora-tivo, é a obtenção de capital para ini-ciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas na iniciativa.

Movimento dos Indignados (Revo-lução Espanhola ou 15 de maio): são uma série de protestos espontâneos de cidadãos, inicialmente organizados pelas redes sociais. Começaram em 15 de maio de 2011, com uma convocação em cinquenta e oito cidades espanho-las. Tratam-se de protestos pacíficos que reivindicam uma mudança na po-lítica e na sociedade espanhola, pois os manifestantes consideram que os par-tidos políticos não os representam nem tomam medidas que os beneficiem.

Primavera Árabe: onda revolucionária de manifestações e protestos ocorri-dos no Oriente Médio e no Norte da África desde 18 de dezembro de 2010, utilizando técnicas de resistência ci-vil: greves, manifestações, passeatas e comícios, bem como o uso das mídias sociais, como Facebook, Twitter e You-tube.

Occupy Wallstreet: é um movimento de protesto contra a desigualdade eco-nômica e social, a ganância, a corrupção e a indevida influência das empresas - sobretudo do setor financeiro, iniciado em Wallstreet, em setembro de 2011, inspirado nas manifestações da Prima-vera Árabe e motivador de muitas ou-tras “ocupações” por todo o globo.

Tecnologia apropriada (ou tecnologia social): Considera-se tecnologia social todo o produto, método, processo ou técnica, criado para solucionar algum tipo de problema social e que atenda aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade (e reaplica-bilidade) e impacto social comprovado.

Freecycle: diferentemente das redes de trocas, no freecycle as pessoas divul-gam os bens que não lhe são mais úteis, disponibilizando-os, gratuitamente, para os outros membros do coletivo.

Banco de tempo: é um modelo de troca recíproca de serviços onde o “tempo de dedicação” é utilizado como moeda.

Moedas sociais (ou locais): moedas de alcance limitado (comunidade, feiras, bairros) utilizadas para facilitar a troca de serviços e produtos, sem carregarem valor por natureza.

(Textos adaptados da enciclopédia global livre - Wikipedia)

por meio de fotografias, redação e téc-nicas digitais de edição, entre outras ha-bilidades. Para fomentar estes grupos, o Piracicaba em Transição (grupo local do Movimento de Transição), em conjunto com diversas outras entidades locais, está desenvolvendo oficinas gratuitas de ca-pacitação para Repórter Social. As datas e as inscrições para estas oficinas serão divulgadas na Plataforma e nas futuras edições da Revista Em Transição.

Sua cidade deseja adotar a Plataforma Engajados? Entre em contato com [email protected]

Quer saber mais, se envolver e colaborar?

Acesse a Plataforma, entre em contato!

www.piracicabaemtransicao.com.brdialogue@pir acic abaemt r ansic ao.com.br

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Esse título é para nos lembrar de que, fora dos muros das escolas, as crianças ficam quase sempre à frente de uma TV ou jogando vídeo game.

Quando veem TV - e isso desde bebês – as crianças são atacadas por propagandas que as levam a consumir cada vez mais, consumir sem necessi-dade, por puro modismo. Não é bom para os bolsos das famílias como tam-bém não é para o meio ambiente.

Conhecimento é muito bom quando escola, empresa e comunidade se envol-vem nesse cotidiano. Foi o que acon-teceu no último dia 05 de Junho, dia em que se comemora mundialmente o Dia do Meio Ambiente. No período da manhã, 107 crianças da Escola Mu-nicipal Mario Chorilli (na faixa etária de 9 a 10 anos) e, no período da tarde, 87 crianças da Escola Infantil do Pq 1º de Maio (na faixa etária de 1 a 5 anos) se reuniram para ouvir os técnicos An-tônio Marcos Soares de Oliveira e An-

dyara Forti Leite, que informalmente conversaram com as crianças sobre o reprocesso de plásticos realizado pela empresa onde eles trabalham. A pales-tra foi sobre separação de lixo. Orgâni-co de um lado, plásticos, latas e papéis de outro: mostrando todo o processo de fabricação e os produtos que, de forma reciclada, voltam ao mercado como um novo produto. Garrafas Pet se transformam em vassouras, pás, ro-dinhos e rastelo.

Ao final da atividade, as crianças re-ceberam uma pá de lixo e as escolas re-ceberam um kit da empresa (vassouras, rodinhos, pás).

Bom para os adultos também apren-derem que reciclando irão ajudar não só na criação de novos empregos, mas também na conservação do meio am-biente. Parabéns às Escolas (diretoras e professoras) e aos colaboradores por essa iniciativa do bem educar para a vida. A natureza agradece.

EDUCAçÃO AMBIENTAL

Criança é a alma do negóciopor Ninfa Barreiros

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MOBILIDADE URBANA

Piracicaba: que os peixes parem e os cidadãos pedalempor Miriam Rother

Uma reflexãoOs ciclos: o dia, a noite, as fases da lua, as estações do ano. O nascimento, o

desenvolvimento, o envelhecimento, a morte: a vida. A organização do tempo: da ampulheta, da clepsidra ao relógio digital, que funde o passado e o futuro em virtualidade. O espaço: onde se respira, onde se coleta, onde se caça, onde se pesca, onde se cultiva e se cria, onde se contempla.

O homem havia enfim objetivado a relação tempo-espaço. Que percepção temporal é essa que nos faz pensar que as horas encurtam sua duração quando estamos felizes? Que percepção espacial é esta que encurta trajetos agradáveis? Que realidade é essa à qual estamos aprisionados pela relação tempo-espaço, consumindo-a e sendo por ela consumidos?

O ContextoDe Janeiro de 2000 a Janeiro de 2011 o

número de veículos motorizados em Pi-racicaba passou de 133.636 para 231.226 (aumento de 73,02%), sendo que neste mesmo período a população do muni-cípio cresceu de 319.104 para 364.872 (14,34%).

Houve um crescimento de 0,41 para 0,63 veículos por habitante. Se tomar-mos o número de habitantes maiores de dezoito anos, ou seja, aptos a tirar uma carteira de habilitação (263.788), esse número cresce para 0,87 veículos por in-divíduos habilitados. (Fonte: Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes de Piracicaba – SEMUTTRAN). Seria esta uma tendência irreversível numa cidade em franco progresso econômico?

O que se observa atualmente são cal-çadas irregulares e esburacadas, muitas vezes com degraus, aclives e declives que privilegiam a entrada suave dos carros nas garagens das casas e comprometem a segurança e liberdade do ir e vir de pe-destres, sobretudo idosos e portadores de necessidades especiais.

O transporte coletivo é insuficiente e precário, o trânsito de veículos automo-tores é caótico e perigoso, desproporcio-nal ao porte da cidade. A presença de veículos de carga pesados em avenidas arteriais é frequente. Junte-se a estes fa-tores as recentes obras de remodelação

urbana realizadas na cidade: reabertura de ruas na região central, onde eram cal-çadões, para o tráfego e estacionamento de veículos particulares; e duplicação de pontes sem vias adequadas à circulação de pedestres e ciclistas. À baixa quali-dade do ar, já bastante prejudicada pelos efeitos das queimadas durante a colhei-ta de cana de açúcar, soma-se a poluição sonora nos bairros centrais da cidade, já bastante incômoda. Esta é a cidade que queremos?

Em Piracicaba, a falta de investimen-tos na infraestrutura cicloviária tem sido justificada pelos gestores públicos pela crescente motorização da população ur-bana e pelo baixo uso de bicicletas por trabalhadores.

Daí a necessidade de políticas públicas específicas que possam oferecer infraes-trutura para o deslocamento seguro das pessoas. A inclusão da bicicleta como meio de transporte, no conceito de Mo-bilidade Urbana Sustentável, além de re-presentar economia para o cidadão, torna a cidade mais próxima do conceito de Cidade Sustentável.

vai entrar uma imagem

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Uma intervençãoNo Largo do Pescador, que fica à mar-

gem do rio Piracicaba, num domingo ensolarado de maio, foi construído um paraciclo-banco feito a partir da utili-zação de costaneiras (sobras de madeira provenientes de desdobro de toras). Para criar empatia com o público presente construiu-se um boneco ciclista a partir da mesma técnica utilizada pelo artesão piracicabano Elias dos Bonecos que, por anos, povoou as margens do Piracicaba com seus personagens construídos com madeira descartada nos lixos da cidade e vestidos com roupas doadas pelos mora-dores. O boneco ciclista foi colocado sen-tado no paraciclo-banco com as bicicletas e uma boneca estilo Nega Maluca. Para destacar a ação proposta, pintou-se com tinta branca o poste e o chão ao redor da estrutura do paraciclo-banco. No poste foi instalada uma placa de trânsito, in-dicando que se deve respeitar a distância mínima de 1,5 metros entre um automó-vel e uma bicicleta.

Buscou-se levantar questionamentos que gerassem múltiplas reflexões coleti-vas quanto à mobilidade urbana. Neste sentido estimulou-se a formação crítica e transformadora dos sujeitos, no intuito de viabilizar um posicionamento políti-co em relação a sua visão de mundo. Em alguns minutos, as pessoas que passavam pelo local começaram a interagir com a instalação. A partir de então deu-se início ao registro fotográfico e, paralelamente, à condução de 50 entrevistas registradas em vídeo.

Constatou-se mais uma vez que a questão da implantação de ciclovias, ci-clofaixas e vias compartilhadas não é só um problema de infraestrutura, mas é cultural também; poucos entrevistados vislumbraram o uso da bicicleta como alternativa à mobilidade urbana sustentá-vel. O medo pela falta de segurança, tan-to de roubos como de acidentes, é uma importante barreira para a utilização de bicicletas; e por último, mas não menos importante, a questão ambiental foi a principal razão levantada em favor do uso da bicicleta como meio de transporte.

Apesar de se reconhecer que a forma como a mobilidade urbana vem sendo tratada pelas esferas públicas federais no Brasil já ter avançado rumo à sustentabi-

lidade, a grande maioria das administra-ções municipais do país não se encontra alinhada com os conceitos de mobilida-de plural, visto que os investimentos na infraestrutura de trânsito e transporte nas cidades ainda privilegiam os veículos motorizados particulares e são emprega-dos na construção de mais ruas, avenidas, estacionamentos etc. Existe a possibilida-de de que a razão desse não alinhamento esteja na continuidade de um processo de sustentação política do sistema econômi-co vigente, com quem a estrutura dessas administrações está burocrática e histori-camente comprometida.

Começamos então a penetrar na com-plexidade da questão da mobilidade ur-bana, que envolve muito mais que ir e vir. Engloba inúmeras facetas da realidade social: a cultura e os valores, a educação, os aspectos geográficos, econômicos e políticos de cada localidade. Junte-se ao todo, como esses fatores dentro de deter-minado sistema-sociedade relacionam-se com outras prioridades locais.

Dessa forma, para podermos criar al-ternativas para o problema atual de mo-bilidade urbana, é imprescindível uma re-flexão coletiva sobre as necessidades que a realidade nos apresenta.

Deixa-se então uma questão ao leitor: a implantação de uma estrutura ciclovi-ária na cidade teria o papel de elemento reestruturador na cultura de mobilidade de Piracicaba? Esta seria também capaz de provocar mudanças de hábitos de con-sumo e uso do transporte motorizado in-dividual que promovessem a mobilidade urbana sustentável?

Pensemos como Prigogine: “o possível é mais rico que o real”.

INTERVENTORES: • Gustavo Furlan• Léa Dobbert• Márcia Piva• Mirian Rother• Renata Viecili

com a colaboração de Morelato, Jacob das Artes e Murilo Piva.

O clipe da intervenção pode ser visto no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=hZNCnDUyGgM&feature=share

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A partir das reflexões do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, reconhecemos o Movimento de Transi-ção como parte de um período na his-tória da sociedade do século XXI que rompe com o atual paradigma da ciência moderna do “conhecimento\regulação”.

A mudança de cultura multiplica-se por diversas frentes, firmando o desen-volvimento sustentável e a defesa dos direitos humanos de forma colaborativa, resgatando técnicas antigas e agregan-do novas, na direção de um paradigma emergente que, embora ainda pouco visí-vel ou mesmo identificável, vem surgin-do de um “conhecimento prudente” para uma vida mais sustentável.

Passamos então a nos inserir neste contexto, com o objetivo de identificar as ferramentas necessárias ao alicerçamento dos pilares que poderão vir a sustentar essa mudança paradigmática em curso. Mudança que emerge das bases da so-ciedade em uma das pontas de um épico “cabo de guerra”.

Na outra ponta do cabo encontra-se a glo-balização mundial hege-mônica, fomentada nas organizações internacio-nais pelas grandes cor-porações, fundamentada em sociedades patriarcais de produção capitalista e consumismo individu-alista e mercadorizado - dentro de uma demo-

cracia autoritária com desenvolvimento global desigual e excludente, como iden-tificou o professor Boaventura.

O velho paradigma da sociedade con-temporânea é posto em xeque diante da crise econômica que atinge a Europa e os Estados Unidos da América e das espetaculosas e bilionárias guerras que se alastram pelos continentes em detrimen-to do real reconhecimento dos Direitos Humanos, manifestados primariamente

FERRAMENTAS DE COMUNICAçÃO

Saco de gatospor Carlos Canedo, Otávio Paranhos, Guilherme Serzedello e Maurício Rodrigues

na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão na Assembleia Nacional Constituinte da França revolu-cionária, em pleno século XVIII. Revela--se um desgaste deste sistema egoísta, que, míope às suas próprias limitações, coloca uma enorme parcela da sociedade civil em situação de risco.

Em contrapartida à cultura de massa, empregada pelo sistema-capital, existe este momento de transição. Ele se tor-na ainda mais evidente com o Movi-mento de Transição, onde se reúnem e se organizam as ações já existentes - em prol de um desenvolvimento sustentá-vel, ambiental e econômico - ao fomen-tar coletivamente o desenvolvimento de atividades colaborativas, como oficinas e mutirões. Ao mesmo tempo, promove um processo de resgate da identidade comunitária contra a hegemonia-global, em direção a uma autonomia social do indivíduo.

Se por um lado é empolgante a ideia de que vivemos um momento de mudan-ça de paradigma, por outro é cauteloso lembrar que se trata de uma transição delicada. Ela pode simplesmente se de-finir como uma manutenção do sistema de consumo em si, através da sua conve-niente adequação às novas regras.

A mudança de cultura multiplica-se por diversas frentes, firmando o desenvolvimento sustentável e a defesa dos direitos humanos de forma colaborativa.

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É o que podemos chamar de “dilema dos erres”; estamos entre o “erre” da Re-forma do sistema atual para a manuten-ção do consumo excludente e o “erre” da Revolução paradigmática. Nesta linha tênue que divide os dois “erres” correm todas as variáveis determinantes dos pa-râmetros da mudança, que no decorrer do processo definirão qual a palavra a ser escrita. Nesse sentido, existe a necessi-dade de se consolidar um maior número de ferramentas sociais que possibilitem o fortalecimento de um paradigma contra--hegemônico e pluricultural.

As ferramentas de mídia da imprensa - jornais, revistas, rádios, canais de televi-são - são essenciais à manutenção do po-der que sustenta o atual paradigma social. A televisão nos mantém num equilíbrio entre a esperança e o medo. Não por aca-so. A imprensa brasileira possui um papel indispensável na massificação dos ideais neoliberais da globalização hegemôni-ca; como resultado ela deturpa a própria democracia, afogando-a em um mar de demagogias e hipocrisias muito longe do ideal alcançável.

Inserido nesse contexto, com a propos-ta de criar diferentes ferramentas de mí-dia que possam gradualmente contrapor os desserviços prestados pela imprensa brasileira - a curto, médio e longo prazo

- e caracterizada como uma ferramenta específica de apropriação de mídias, está o SUP - Serviço de Utilidade Pública.

O SUP é uma ferramenta de comuni-cação livre. Pessoas que acreditam que é possível uma mudança de cultura políti-ca através de atos de cidadania, por mais autonomia social, contra a globalização hegemônica e por uma sustentabilida-de fundamentada impreterivelmente no “erre” da Revolução cultural.

Este Serviço se materializa na criação de sistemas de comunicação para as co-munidades envolvidas, num processo de documentação audiovisual do diálogo das demandas e dos avanços nas lutas de base dessas comunidades e em suas for-mas de organização, buscando entender suas necessidades e evidenciar suas con-quistas, utilizando a comunicação como um dos pilares do emergente paradigma social.

Estamos entre o “erre” da Reforma do sistema atual para a manutenção do consumo excludente e o “erre” da Revolução paradigmática.

Utilizar a comunicação como um dos pilares do emergente paradigma social é imprescindível para a firmação de uma cultura não hegemônica.

Para ouvir

“Pagode-enredo dos tempos do medo”Tom ZéEstudando o Pagode (Trama 2005)

servicoutilidadepublica.blogspot.com.br

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Este estudo feito em 2009 por Sara Maria Gomez Rivera, Comunicadora Social (UTPL) e Mestre em Ecologia Aplicada pela USP. O estudo “Divulgação científica e conservação da natureza na sociedade de informação” foi publicado no livro “Mídia e Ambiente: estudos e ensaios, publicado pela Editora Hucitec em 2009 e organizado pelos Professores Antônio Ribeiro de Almeida Junior da USP e Thales Haddad Novaes de Andrade da UFSCAR.

Foi também apresentado oralmente na con-venção MEDIA ECOLOGY em 2010 em Orono, Maine, EUA.

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Uma das linhas de ação do Plano Es-tratégico do Ministério da Ciência e da Tecnologia em seu eixo III é a difusão e popularização da ciência e da tecnologia. Esta linha de ação é fundamental para que a população conheça como o país pode gerar ciência, como vai aplicá-la e como ela surge dentro da comunida-de mundial; como essas pesquisas e esse desenvolvimento contribuem nacional e globalmente.

Segundo um estudo feito na Univer-sidade de São Paulo, a percepção da ci-ência e de sua divulgação dista muito da realidade. Diferentes grupos sociais não chegam a distinguir a diferença entre ci-ência e divulgação científica. Alguns ima-ginam que a ciência se reduz às pesquisas da área médica e espacial. Outros acre-ditam inclusive que notícias jornalísticas divulgadas em canais de televisão aberta são divulgação científica. Ainda assim, este panorama não é de todo negativo, já que uma boa parcela da população está interessada na divulgação científica. Cada área da população se interessa por um meio específico para se informar sobre ci-ência. Aqueles que possuem educação de nível superior têm preferência por revistas de divulgação científica, como Super In-teressante e outras publicações nacionais como Isto É, assim como canais de televi-são com alta proporção de documentários científicos, como National Geographic e History Channel, entre outros.

Pessoas de outros grupos sociais en-contram informação sobre ciência e tec-nologia em variados meios de comuni-cação não especializados em divulgação científica, inclusive ajudando os filhos na tarefa de casa ou até mesmo batendo papo com os amigos. Este interesse do piracicabano pela ciência é muito rele-vante, pois ajuda a criar um interesse co-letivo pela ciência e a despertar a curio-sidade das crianças, que serão os futuros cientistas do país.

Estudo analisa percepção da ciência na cidade de Piracicabapor Sara Maria Gomez Rivera

As conclusões do estudo apontam que, quanto mais informados os cidadãos estejam sobre as questões ambientais com um respaldo científico, mais fácil será a tomada de consciência, o que se refletirá nas ações diárias tanto conscientes como inconscientes que realizarão para contribuir com a conservação da natureza.

A divulgação científica de temas am-bientais é uma importante ferramenta que, ao informar a população, contribui para a formação da consciência ecológica e para a mudança de práticas ecologica-mente incorretas, já que existe uma cone-xão indissolúvel entre pensamento e ação. Se a população começar a pensar sobre o meio ambiente, sobre a intrínseca relação do homem com a natureza, esse pensa-mento levará à reflexão e consequente-mente à prática.

Por isso, a divulgação científica deve romper a barreira entre a ciência e os co-nhecimentos do senso comum do público ao qual vai dirigida. Deve não só ser um serviço social, mas contribuir para melho-rar a qualidade de vida, oferecendo uma alta qualidade de educação e de cultura, entendendo por educação um processo de construção da consciência crítica - o que indubitavelmente levará à conservação da natureza. É por isto que o Brasil preci-sa da divulgação para fazer frente a esse reconhecimento ganho entre os países em desenvolvimento, sem esquecer que o sistema precisa de eficiência para tornar ágeis as transações e que as soluções se-jam evidentes. Então, é urgente e neces-sário aplicar esse conhecimento porque, se somente o conhecimento for gerado mas não aplicado, não é feito nada pela economia, pela ciência e pela qualidade de vida no país. É necessário também criar essa atmosfera de busca pelo conhe-cimento para formar o senso crítico meu e seu, do Brasil.

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Desemprego, crise de industrializa-ção, urbanização e violência: esse era o cenário socioeconômico da metrópole nova iorquina nas décadas de 60 e 70. Tal contexto propiciou alguns movimentos denominados Movimentos de Contra-cultura, movimentos estes que surgem em contraponto aos padrões culturais hegemônicos; entre esses movimentos podemos citar o movimento Hippie e o movimento Black Panters. Na cidade de Nova Iorque, mais especificamente no Distrito do Bronx, jovens esquecidos e marginalizados pela cultura vigente pas-saram a suprir suas necessidades através da criatividade. Jovens negros e latinos se juntaram para fazer festas de quartei-rão (block parties), com música, dança, poesia e arte plástica. Algum tempo de-pois, Bambaataa chamaria essa miscelâ-nea cultural de Hip Hop (em português, mexer os quadris).

Bambaataa dividiu esses elementos em: Mc (que faz as rimas), Dj (que toca o som), Break (a dança), Grafite (artes plásticas) e o conhecimento, que dá sus-tento aos outros quatro. A fusão entre o Mc e o Dj originou o Rap, manifestação

CULTURA HIP HOP

Batalha Central: três anos de resistênciapor Daniel Garnet

da linguagem falada incorporada a uma melodia que trabalha uma base rítmica repetitiva, trazendo crônicas dos habi-tantes de um determinado grupo social.

O rap passa a ser a trilha sonora do movimento cultural juvenil denomina-do Hip Hop, reconhecido pelas grandes gravadoras. De lá para cá tem dominado as paradas de sucesso nas rádios e ca-nais musicais televisivos, porém, antes do “boom” midiático, o rap era feito de improviso pelo Mc enquanto o Dj toca-va a parte instrumental. É desse rap que vamos falar aqui, o rap de raiz, o rap de improviso.

O rap de improviso é uma espécie de poesia oral baseada no desafio e impro-viso, mecanismo encontrado também no repente e cururu, manifestações ex-clusivamente brasileiras. Essa prática, comum no surgimento do Hip Hop em Nova Iorque, teve os seus altos e baixos no quesito popularidade desde o seu surgimento até os dias de hoje. Assim como os outros elementos do Hip Hop, o duelo de rimas, além de ser um mo-mento de expressão do lúdico, é uma competição saudável também idealiza-da pelos seus precursores para amenizar os conflitos entre jovens em situação de vulnerabilidade social.

Afrika Bambaataa visava, através dos elementos do Hip Hop, instigar nos jo-vens a busca pela conscientização e re-flexão através da arte, da informação e do protesto pacifista, caminho este mui-to necessário devido à pressão política e social que a população não branca ame-ricana sofria naquele momento.

Desde mais ou menos 2003 até os dias atuais, as batalhas de rima têm feito a cabeça da juventude brasileira, princi-palmente nas capitais. O compartilha-mento de vídeo via internet popularizou batalhas como a Batalha do Real e do Conhecimento (RJ), Batalha da Santa Cruz e Rinha dos Mc`s (SP), Duelo de Mc`s (BH) entre outras.

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Em Piracicaba temos a Batalha Cen-tral, idealizada em 2009 pelo coletivo Pegada de Gigante; este evento tem servido para reunir os jovens amantes da cultura alternativa. Mais do que uma competição de rimas e ritmos, a bata-lha tem sido um ponto de encontro e de convivência. Nele surgem novos grupos de músicas e novos talentos com frequ-ência. É um espaço gratuito de diversão saudável e gratuita, uma verdadeira de-monstração de apropriação do espaço público pelo jovem.

Por falar em jovem, em junho deste ano a Batalha comemorou 3 anos de existência. Durante este tempo a batalha teve diversas modalidades de competi-ção dentro da sua proposta, incluindo oficinas de rima, apresentações em par-ceria com instituições como a Prefeitu-ra, SESC, ONGs etc. Uma delas, muito curiosa, envolveu o diálogo do rap com o cururu, expressão musical caipira à base da viola e improviso tradicional do interior paulista.

Esse é um dos exemplos que mostra que essa expressão jovem é mais antiga do que se parece, quando observamos as suas manifestações mais diversas feitas por diferentes gerações, em diferentes contextos e de diferentes modos. Inde-pendente da temporalidade, as batalhas de Mc`s, assim como os desafios de re-pente e cururu, têm sido uma maneira de estabelecer um diálogo entre as cul-turas, além de ser um modo de preservar tradições por meio da oralidade e, con-sequentemente, um modo de dialogar e refletir sobre os problemas e angústias através da arte e do lazer, transmitindo maneiras de ser desde os tempos dos ancestrais mais antigos. Ironicamente, tudo isso tem sido disseminado nas re-des de compartilhamento da internet.

Parabéns a todas as iniciativas de pre-servação cultural e parabéns também à Batalha Central e todos os seus envolvi-dos e envolvidas (direta ou indiretamen-te), por fazerem dela um espaço de tro-ca, aprendizado, convivência e amizade.

BATALHA CENTRALtoda 2a sexta-feira do mês na praça José Bonifácio

Fotos: Peqnoh

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As palavras que se seguem vão no sentido da responsabilidade, mas por uma via diferente da comum, na qual a atribuímos a outras pessoas: a responsa-bilidade por gerenciar nossos “lixos” na medida do possível. Além da autonomia de fazer a gestão de um bem tão precio-so, que são os nutrientes que alimentam nossas vidas.

A compostagem acelera o processo natural de decomposição de restos orgâ-nicos a partir de técnicas que trabalham com umidade, oxigênio, carbono (palha seca, serragem, folhas secas etc), nitro-gênio (restos orgânicos) e, no caso do minhocário, claro que minhocas tam-bém.

A transformação de restos orgânicos em húmus é um processo sem odores fétidos; caso ocorram tais odores, é sinal de que o processo não está sendo con-duzido de forma correta e possivelmente está liberando metano, um gás tóxico.

As minhocas no processoAs minhocas se alimentam de res-

tos orgânicos e/ou terra e liberam hú-mus. Em seu trajeto, abrem buracos que ajudam o oxigênio a entrar e participar do processo, auxiliando assim os micro--organismos, que também participam da decomposição.

As minhocas ideais para os minhocá-rios são as californianas, que se alimen-tam de restos orgânicos.

TECNOLOGIA APROPRIADA

Minhocário e composteira: gerencie seus resíduos orgânicos em casapor Hélio Sato

HÚMUSÉ a matéria orgânica que possui nutrientes disponíveis para as plantas; é o produto final da decomposição de restos orgânicos.

DECOMPOSIÇÃOA transformação de restos orgânicos em húmus se dá por meio da decomposição, processo que ocorre naturalmente.

Os micro-organismos no processo

São fungos e bactérias que, assim como as minhocas, se

alimentam dos restos orgânicos e os decompõem, deixando como produto final o húmus. Para a

ação desses micro-organismos é necessário que no sistema estejam

presentes oxigênio e umidade.

Construindo um minhocárioExistem muitos formatos para um

minhocário caseiro; eles podem ser uma caixa (de plástico preferencialmente) ou um espaço delimitado forrado com plás-tico, por exemplo. O método a seguir foi pensado para facilitar a manutenção di-ária e a praticidade de manuseio.

Trata-se basicamente de três caixas de plástico que se encaixam uma na ou-tra, com furos na parte inferior, com ex-ceção da última.

Ilustração: Orlando Pedroso

Materiais• 3 caixas de plástico duro• 1 tampa• 1 torneira• Serragem, palha seca ou folhas secas• Restos orgânicos• Minhocas Californianas• Um pouco de terra (somente para início do processo)

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As caixas, a tampa e as torneiras podem ser adquiridas em lojas de ma-teriais de construção e locais onde se vendem artigos de plástico. A torneira é um elemento facilitador, mas é dispen-sável ao sistema, caso se queira facilitar a construção.

As caixas podem ser substituídas por

potes grandes de maionese, baldes de azeitonas, ou qualquer outro recipiente (preferencialmente de plástico) que se encaixe um no outro. Essa alternativa pode diminuir o custo monetário do minhocário, já que podem ser adqui-ridas em padarias, restaurantes, entre outros.

MODO DE FAZER

MANUTENçÃO e o DIA-A-DIA

Fure a parte inferior de duas das caixas. Os furos podem ser feitos com furadeira ou um prego aquecido. Podem ser realizados furos por toda a superfície inferior da caixa; eles servirão para escoamento do “chorume do bem”, mobilidade das minhocas e entrada de

oxigênio. Também faça furos pequenos nas laterais dessas duas caixas, para entrada de oxigênio.Mais caixas podem ser adicionadas caso necessário (de acordo com o volume de restos orgânicos).

Faça alguns furos pequenos na tampa, para entrada de ar.

Instale a torneira na caixa que não fui furada e certifique-se que as laterais ficaram bem vedadas para evitar vazamentos. Como já foi dito, esse passo é dispensável. A torneira é para escoamento do “chorume do bem”, que também pode ser realizado com o tombamento da caixa.

A parte estrutural está pronta! A partir daqui vamos começar a trabalhar com os processos biológicos.

Na caixa do meio coloque um pouco de terra, que introduzirá alguns micro-organismos decompositores ao sistema. Adicione os restos orgânicos e serragem (palha seca, folhas secas etc) numa proporção de 1 para 2, respectivamente. Misture os elementos adicionados até o momento. Por último, coloque as minhocas.

1

2

3

• Para o processo de decomposição ocorrer sem odores desagradáveis, é necessário que a entrada de ar no sistema seja boa. Para isso é recomendado o reviramento do composto diariamente enquanto está ativo (jogando restos orgânicos). A umidade não pode ser suficiente para vedar essa entrada.

• Pouca umidade, apesar de proporcionar maior entrada de oxigênio, faz com que os micro-organismos não se desenvolvam de forma eficaz.

• Para certificar a umidade correta é realizado um teste prático: se pega um punhado do composto e o espreme na palma da mão; a água que escorrer deve ser em quantidade

de pouquíssimas gotas, quando se aperta com força o composto.

• A quantidade de matéria seca (folhas secas, serragem etc) a ser adicionada dependerá da quantidade de restos orgânicos, seguindo a proporção 1 de restos orgânicos para 2 de matéria seca. Tal proporção também dependerá da umidade no sistema.

• Quando a caixa do meio ficar cheia, comece o mesmo processo na caixa de cima, adicionando inicialmente um pouco do composto da caixa do meio. As minhocas migrarão sozinhas para onde tiver mais alimento, desde que os furos entre caixas permitam. • O composto que está em descanso

(sem adição de restos orgânicos) pode começar a ser revirado de dois em dois dias; vai se diminuindo a frequência, até que não se revire mais.

• Quando o composto não apresentar mais restos orgânicos é o indicativo de que está pronto para uso: virou húmus.

É recomendado que NÃO se adicione ao composto:- Restos orgânicos ácidos, como limão e laranja;- Restos orgânicos com sal;- Carnes.

Para saber mais sobre esta matéria entre em contato:www.iandenosso.blogspot.com

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