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REVISTA DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS • PIRACICABA/SP • ANO 7 N. 13 OUTUBRO/2009 • p.78

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REVISTA DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS • PIRACICABA/SP • ANO 7 N. 13 OUTUBRO/2009 • p.78

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Revista de Negócios Internacionais– Journal of International Business –

UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA

ReitorClovis Pinto de Castro

Faculdade de Gestão e NegóciosDorgival Henrique

Curso de Administração com habilitação em Gestão de Negócios InternacionaisCristiano Morini, coordenador

EditoraRegina Célia Faria Simões

Co-EditorCristiano Morini

Conselho EditorialAcácia de Fátima VenturaAnderson César Gomes Teixeira PellegrinoAndréa Santos de DeusFernando de LimaLeila Rocha PellegrinoSebastião Neto Ribeiro GuedesValdir Iusif DainezValéria Rueda Elias Spers

Conselho Editorial ExternoAnabella Busso (UNR/Argentina)Andréa Oliveira (MG)Carlos Aravechia (CBTA)Carlos Eduardo de Freitas Vian (Esalq/USP)Gustavo Marini (UNR/Argentina)Vivian Helena Capacle (Unicamp)

Revisão (português)Acácia de Fátima Ventura

Revisão (inglês)Eliane Campos de Souza

Produção Gráfica e ImpressãoPrintfit SoluçõesCarlos Terra (Coordenação)Thais Alves dos Santos(Capa e Editoração Ele-trônica)Juraci Vitti (Revisão Gráfica)

REVISTA DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS

Piracicaba: n. 1 • maio 2003

Publicação periódica

Semestral

n. 13, outubro 2009

1. Comércio Exterior – periódicos

ISSN 1679-0693

CDU 330.6

Administração e contato

Revista de Negócios Internacionaishttp://www.unimep.br/rniRodovia do Açúcar, km. 156Tel. (19) 3124-1506/150713.400-911 – Piracicaba, SP, Brasile-mail: [email protected] ou [email protected]

RNI é uma revista dedicada à publicação de trabalhos acadêmi-cos e pesquisas desenvolvidas por alunos e professores. A área de atuação é a dos negócios entre países, sob suas diferentes abor-dagens: comercial, organizacional, mercadológica, logística, le-gal, aduaneira, cambial, financeira, burocrática e contábil.

The Journal of International Business is destinated to com-municate scientific works produced by students and profes-sors. Its focused area is business around the world by different approaches in areas as commercial, organizational, marketing, logistics, legal, customs, exchange, financial, burocratic and ac-countancy.

ANO VII. Nº 13. OUTUBRO. 2009

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Editorial

Há dez anos abríamos à área de Negócios Internacionais na UNIMEP.Era necessário capacitarmos jovens e adultos com conhecimentos e habilidades para compreender, anali-

sar, planejar e decidir sobre as novas “regras” e exigências do jogo global dos negócios internacionalizados.Com essa intencionalidade a Faculdade de Gestão e Negócios lança, em 1999, a primeira turma de

Administração – Habilitação de Negócios Internacionais.A reestruturação do capitalismo que vinha ocorrendo em décadas anteriores, intensificou-se no Brasil, na

década de 90, requisitando pessoas qualificadas para responder a um processo de competição global, liderado por empresas transnacionais concentradas em cadeias produtivas e exigentes em termos de conhecimento para apresentar respostas e soluções cada vez mais integradas e rápidas.

A estratégia competitiva global está cada vez mais intensiva em tecnologia que conecta conhecimentos diversificados e distantes em produtos que possam ser explorados de forma útil nos mercados globais. Essa mesma estratégia de competição global integrada abre suas portas para pequenas e médias empresas apren-derem a mobilizarem-se e ingressarem, com seus produtos e serviços, nas cadeias produtivas, nas brechas dos múltiplos nichos mercadológicos.

Capacitar profissionais em gestão com habilidades cognitivas, analíticas, interpessoais e decisoriais para atuarem em ambientes de negócios com incertezas duras onde à predição é nula. Esse desafio continua na pauta das Universidades. Neste sentido a Faculdade de Gestão e Negócios respondeu a essa exigência com o curso de Gestão de Negócios Internacionais, dialogando com as incertezas do mercado e fundamentando sua aposta numa área que alinhavou, de forma consistente, a formação teórica e técnica com responsabilidade social. Em 2007, por razões de determinantes externos procedentes do Ministério da Educação, deixamos de oferecer essa habilitação em Administração e desenvolvemos o curso de Negócios Internacionais.

O processo de intensificação da globalização, concomitantemente, carrega e tece novos traços culturais, fragmenta as “soberanias” nacionais, produz uma nova sociedade-global, cria novas oportunidades e novos obstáculos de inclusão em função das novas exigências sistêmicas.

O ritmo da velocidade das mudanças e do processo de modernização da razão instrumental tece um novo mundo e a UNIMEP pretende oferecer a esse novo mundo profissionais competentes, com capacida-de de compreensão social e política para transformar esse processo num espaço de convivência mais justo e equilibrado.

Ao celebrar dez anos de existência, a área de Negócios Internacionais pretende se consolidar lançando novos cursos e enfrentando novos determinantes, sejam externos ou internos.

Essa edição foi pensada, concebida e definida como um marco de um curso bem-sucedido em sua traje-tória histórica que colaborou e continuará colaborando com o desenvolvimento regional.

Assim como não é possível falar do desenvolvimento da região de Piracicaba, nos últimos 45 anos, sem destacar o papel da UNIMEP no desenvolvimento regional, não podemos deixar de registrar a importância da área de Negócios Internacionais para essa nova “etapa” de desenvolvimento.

As fronteiras do curso de Negócios Internacionais permeiam nossa região e sua demarcação não é física, mas está diretamente relacionada à troca de energias com as empresas importadoras e exportadoras de bens e serviços, à flutuação de seus negócios e com suas estratégias competitivas.

Temos, portanto, obrigação de melhorar a qualidade de nossos serviços e diversificar, respeitando os condicionantes e direcionamentos externos apontados pelo Ministério da Educação.

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Essa edição da Revista Negócios Internacionais constitui, simultaneamente a comemoração de dez (10) anos de atividades na região de Piracicaba, com a oferta diversificada de novos cursos e uma oportunidade de reflexão e redirecionamento da área. Reafirmamos, com nossa missão, com os objetivos da Universidade Metodista de Piracicaba nosso compromisso com o desenvolvimento de Piracicaba e região.

Os textos incluídos neste número foram selecionados contemplando assuntos tratados em Cursos de Negócios Internacionais, nos dez (10) anos de existência da área na Universidade Metodista de Piracicaba.

Os artigos apresentados contemplam as áreas do Estágio Supervisionado e da Monografia dos Cursos de Administração com habilitação em Gestão de Negócios Internacionais e Negócios Internacionais, escritos por alunos. Além disso, o presente número apresenta artigos de professores de outra instituição de ensino superior.

Dorgival HenriqueDiretor da Faculdade de Gestão e Negócios e

Primeiro Coordenador do Curso daárea de Negócios Internacionais da

Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP

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Sumário

7As Vantagens na Utilização dos Portos Secos

no Despacho Aduaneiro dasImportações e Exportações Brasileiras

Ana Paula Maria da Silva Gustavo Leoce

13China e Brasil: “Os Extremos Tocam-se”

Andreza Lopes Ferreira Acácia de Fátima Ventura

18Commodities Versus Industrialização:

O Panorama Brasileiro nas ExportaçõesCelso H. R. C. Aímola

23Porto de Paranaguá: Seu Perfil e Sua Relevância

no Sistema Portuário BrasileiroClaudinei Vieira

Valmir Luiz Cazon

30O papel das Sogo Shosha

(Trading Companies Japonesas)no processo de comercialização do Etanol Brasileiro

Daniel Frasson Costa Cristiano Morini

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35Um Estudo Exploratório sobre FAIR TRADE

Roberta Bonfiglio Regina Célia Faria Simões

42Observações sobre as Diferenças entre Integração

na América Latina, MERCOSUL e União EuropéiaJosé Eduardo dos Santos Guercio

Regina Célia Faria Simões

49Consórcio de Exportação no Brasil: um estudo de casoaplicado no segmento médico-hospitalar-odontológico

Gustavo Barbieri Lima Sheila Farias Alves Garcia

Dirceu Tornavoi de Carvalho Dante Pinheiro Martinelli

57Investigação Teórico-empírica

sobre Internacionalização de Empresas:o caso Wines from BrazilGustavo Barbieri Lima

Sheila Farias Alves Garcia Dirceu Tornavoi de Carvalho Dante Pinheiro Martinelli

65Estratégias de Marketing Global:

uma reflexão teóricaGustavo Barbieri Lima

Dirceu Tornavoi de Carvalho

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As Vantagens na Utilização dos Portos Secos no Despacho Aduaneiro das Importações e Exportações Brasileiras

ANA PAULA MARIA DA [email protected]

GUSTAVO LEOCEEstágio Supervisionado ADM – GNI – UNIMEP.

[email protected]

Resumo: O comércio internacional é uma atividade de impacto significativo para o país. Com isso, o go-verno brasileiro tem incentivado as exportações nos últimos anos. Os Portos Secos são dentro deste contex-to, uma alternativa no despacho aduaneiro das mercadorias que podem melhorar de forma significativa a qualidade dos processos logísticos. É uma opção para melhorar o escoamento das mercadorias e desafogar portos e aeroportos que estão sobrecarregados com o alto volume das operações. Além de oferecer vantagens nos serviços prestados, como a armazenagem entrepostada, a isenção de impostos e serviços diferenciados aos seus clientes.

Palavras-Chave: Comércio Exterior; Logística; Porto Seco.

Abstract: The international trade market is an activity of significant impact to the country. Thus, the Brazi-lian government has encouraged the exportations in recent years. The Dry Ports within context are an alter-native for customs clearance of the goods that can significantly improve the quality at the logistics processes. It’s an option to improve the flow of the goods and to relief ports and airports that are overloaded with the high volume of the operations. Beyond offering advantages in the given services, as the supplied storage station, the taxes and service exemption differentiated to its customers.

Keywords: International Trade; Logistics; Dry Port.

1. INTRODUÇÃOO crescimento do mercado internacional é notó-

rio em todo o mundo e no Brasil, este não tem sido diferente. No Brasil com o aumento do volume das importações e exportações, apareceram sérios pro-blemas no que diz respeito à estrutura interna. Um desses problemas está relacionado à logística. Muitos portos e aeroportos estão sobrecarregados, porque, não possuem estrutura adequada para suportar tal

crescimento, o que acarreta para as empresas perda de tempo e dinheiro em suas transações.

Conforme Pedelhes (2006) há algum tempo atrás, os portos se configuravam como único canal para a entrada e saída de mercadorias do país, uma vez que os aeroportos apresentavam custo elevado para as transações. Ainda hoje os portos são mais procurados para o escoamento das exportações e no Brasil sua capacidade para escoamento das mercado-rias se tornou insuficiente.

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Para atender a alta demanda e manter a com-petitividade, muitos países estão em busca de me-canismos que possam reduzir custos e aumentar a lucratividade. Os Portos Secos são dentro deste contexto, uma alternativa capaz de agilizar o proces-so aduaneiro nas importações e exportações, além de exercerem outras atividades como o armazena-mento, que agrega valor aos serviços e trazem certos benefícios aos seus usuários, como, por exemplo, a redução do “transit time” (tempo de trânsito), das mercadorias e custos de deslocamento.

Para formulação teórica deste estudo foram uti-lizados os seguintes métodos: observacional e com-parativo. A utilização desses métodos visa apresentar informações precisas e coerentes sobre os Portos Secos para que seus interessados possam entender as vantagens oferecidas como estratégia para o co-mércio internacional.

A pesquisa bibliográfica foi realizada em livros e revistas das áreas de Logística e Comércio exterior e em sites específicos sobre o assunto na Internet.

2. REFERENCIAL TEORICOOs portos secos são os resultados de uma evo-

lução no pensamento logístico, onde se encurtam distancias entre importadores e exportadores, e os pontos de fronteira, por onde entram e saem mer-cadorias do país.

Com o crescimento do comércio internacional e a intensificação das trocas de mercadorias entre produtores e consumidores, existe a necessidade de se integrar os procedimentos de movimentação de materiais, a fim de reduzir tempo de processamento operacional, permitindo que as grandes distâncias entre produtor e consumidor não seja fortemente percebida. A legislação brasileira para importação e exportação, prevê a utilização de estruturas no inte-rior do pais, com as mesmas características legais e funcionais dos pontos de fronteira, seja portos ou ae-roportos, para que boa parte do procedimento adu-aneiro seja efetuado próximo da área de consumo, liberando espaço para o fluxo de entrada e saída de produtos das zonas de embarque e desembarque.

A origem do comércio internacional parte da idade antiga, quando povos como babilônios e cre-tenses reuniam caravanas de camelos com suas rotas terrestres determinadas, em busca de tentativas de

trocas comercias. Tão breve as rotas terrestres dei-xam de ser utilizadas e os atenienses iniciam o ciclo marítimo através do mediterrâneo. Já na Revolução Industrial, acontecem várias transformações de or-dem política, social e econômica no continente eu-ropeu, promovendo uma maneira de produção em grandes quantidades, com tempos reduzidos e oti-mização dos insumos, com a utilização de máquinas e substituição paulatina do trabalho artesanal.

Após a II Guerra Mundial, com a derrota da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), podemos destacar várias alianças e acordos entre os paises como GATT e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

2.1 Comércio Internacional e LogísticaSegundo Sosa (1996), o comércio internacional,

como área específica, é percebido nas trocas comer-ciais havidas entre diversas nações que compõem a comunidade mundial.

A globalização diminuiu a distância entre os pai-ses, permitindo o acesso de mercadorias e serviços de qualquer ponto do mundo, e para qualquer região.

A acessibilidade para a grande oferta de merca-dorias e os serviços prestados e a inclusão de novas alternativas ao mercado, é possibilitada pela logís-tica. Segundo Rocha (2001), a logística pode ser responsável por agregar os valores tempo e lugar a seus produtos diante de seus consumidores, o que pode ser traduzido como aumentar a acessibilidade do produto, no tempo exigido pelo consumidor.

2.2 Logística no BrasilNo cenário atual, a logística brasileira, se encon-

tra pouco desenvolvida, sendo o motivo principal a falta de infra-estrutura e organização de suas ati-vidades.

Alguns setores brasileiros como a indústria au-tomobilística e de mineração, tem utilizado ferra-mentas logísticas como o justin in time, para serem mais competitivos. Porém, outros setores como o de Turismo e o Agropecuário esbarram na má quali-dade das rodovias, ineficiência na segurança, malha insuficiente no caso das ferrovias, custos elevados e infra-estrutura precária nos aeroportos, e verdadei-ros gargalos nos principais portos do país.

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Além disso, o setor logístico sofre com a falta de profissionais que conheçam a área e tecnologia adequada para o seu desenvolvimento.

Uma saída para solução de problemas relaciona-dos à logística são os operadores logísticos que de-senvolvem atividades nas áreas de transporte, arma-zenagem, distribuição interna etc, ou seja, atividades relacionadas à logística.

2.3 AduanaDe acordo com Sosa (1996), compete a aduana

o controle das mercadorias que ingressam ou saem de seu país em operações de importação e exporta-ção, assim como o controle de veículos transporta-dores que demandam os portos, aeroportos e fron-teiras nacionais.

A aduana possui papel regulatório, não somente no que se diz respeito à entrada e saída de mercado-rias, mas, também a imposições fiscais, sendo ela um órgão do governo responsável pela arrecadação de recursos financeiros. Outra característica da aduana é no que se diz respeito aos limites territoriais.

2.4 Recintos AlfandegáriosPara Ludovico (2007), recintos alfandegados

são instalações ou espaços físicos onde, sob controle fiscal onde se realizam operações de carregamento, descarregamento, depósito, movimentação e des-pacho de mercadorias procedentes ou destinadas ao exterior. Os recintos alfandegados são classifica-dos em dois tipos, são eles: Recinto Alfandegado de Zona Primária e Recinto Alfandegado de Zona Secundária.

Os recintos alfandegados de zona primária são os portos, aeroportos e pontos de fronteira alfande-gados, por onde circulam mercadorias e pessoas para a entrada ou saída do país, sob controle aduaneiro. Em zona próxima aos portos temos Terminais Re-troportuários e Estações de Fronteira, Entrepostos e Depósitos, determinados como Zona Secundária.

3. PORTOS SECOSAntes de 1971 eram nos portos, aeroportos e

pontos de fronteira alfandegados em que ocorriam todos os processos referentes à importação e ex-portação de mercadorias. Porém, com o passar dos anos e com o incentivo do governo as exportações

aumentaram, tornando o processo de liberação de carga mais lento e esgotando a capacidade de esto-cagem dessas áreas.

Na tentativa de desafogar essas áreas e contribuir com maior rapidez e agilidade ao processo, o gover-no concedeu aos armazéns gerais a possibilidade de trabalharem como armazéns alfandegados.

Segundo Rocha (2001) os Portos Secos (EADI’s) são terminais de carga em que existe a possibilidade de benefícios fiscais para cargas importadas ou ex-portadas, podendo ser nelas executadas uma série de atividades reguladas pela Aduana, e que deveriam ser para a real acepção de sua definição, terminais rodoviários ou ferroviários que recebessem cargas em containeres recebidas ou destinadas a porto ma-rítimo ou fluvial.

3.1 Funcionamento e EstruturaO funcionamento de um Porto Seco caracte-

riza-se por operações distintas cada qual com suas particularidades, devido aos diferentes regimes adu-aneiros, que abordaremos no item 3.2 deste artigo, a complexidade documental e as diferentes mercado-rias tanto na importação como na exportação.

A principal função de um Porto Seco é receber a mercadoria sob controle fiscal, verificar qual o regi-me que esta se encaixa destiná-la ao armazenamento por período determinado ou ao desembaraço adu-aneiro.

Basicamente para a realização de suas funções, garantindo à operação agilidade na liberação de car-gas é necessário ao Porto Seco à comunicação direta com seus clientes e as zonas primárias.

De acordo com a Instrução Normativa SRF nº 55 de 2002 e Portaria da SRF nº 969 de 2006 deve haver a existência de área delimitada na EADI, onde serão realizados os serviços, previamente aprovados pela unidade local jurisdicionante, segregada daque-las reservadas a movimentação e armazenagem de mercadorias importadas ou destinadas a exporta-ções.

Essa área que será aprovada deve contar com uma estrutura adequada para o recebimento, movi-mentação e despacho das mercadorias.

Itens como informatização, proteção, máquinas e equipamentos são essenciais para uma boa opera-cionalização de um Porto Seco.

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3.2 Serviços Oferecidos e LocalizaçãoConforme o Ministério da Fazenda, no sitio

da Receita Federal, seguem alguns destes serviços que são inerentes às operações de importação e ex-portação: Estadias de veículos e unidades de carga; Limpeza / desinfectação de veículos; Lonamento /deslonamento; Colocação de lacres; Tratamento fitossanitário; Fornecimento de energia; Pesagem de veículos, cargas e volumes; Unitilização / desunitiza-ção de carga; Movimentação / armazenamento das mercadorias; Pesagem, reembalagem, cintamento, etiquetagem, marcação, remarcação, numeração, renumeração, restauração da embalagem; Demons-tração e testes de funcionamento de veículos, má-quinas e equipamentos e Acondicionamento / re-condicionamento;

A localização dos Portos Secos é definida pe-las autoridades aduaneiras, que avaliam o fluxo do comércio exterior na região. A preferência é para as grandes regiões produtoras e consumidoras.

Conforme Instrução Normativa Nº055 de 2002, a Secretaria da Receita Federal formula uma proposta que deve conter os seguintes elementos: Levantamento da demanda; Indicação do local mais proveniente; Disponibilidade de recursos humanos e materiais; Tipo de carga a ser armazenada e Prazo de concessão ou permissão.

4. DESPACHO ADUANEIROA formalização da venda e compra internacio-

nal se dá a partir do procedimento legal junto ao governo brasileiro, comprovando a entrada e saída de mercadorias do pais. A utilização de Portos Secos é viabilizada por tratar-se de recintos alfandegados cuja atividade de despacho aduaneiro é cumprida em determinação à legislação, estando ali, a anuên-cia da autoridade.

4.1 Despacho Aduaneiro na Importação e Exportação

Conforme Morini (2006), o despacho adu-aneiro é um conjunto de procedimentos a serem cumpridos para que se promova o processo legal de importação e/ou exportação, mediante o qual é ve-rificada a exatidão dos dados declarados.

Para o cumprimento das operações de despacho aduaneiro é necessário uma serie de documentos

tanto na importação como na exportação, onde informações como natureza da carga, quantidade, valor, origem, destino, condições de pagamentos, inconterm etc, serão informados, sendo através desta documentação, comprovada a exatidão dos dados. Como exemplos têm-se a Fatura Proforma e Pa-cking List.

Além do controle físico do despacho aduaneiro por meio da documentação apresentada há também o controle da tributação dessas operações que são caracterizados por impostos, taxas e contribuições de melhoria.

Porém, em determinadas operações, conforme o regime aduaneiro adotado pode haver isenções ou a não incidência de determinados tributos.

As operações via Porto Seco, em determinados regimes aduaneiros, disponibilizam desses benefí-cios, sendo esta uma das suas grandes vantagens.

4.2 Regimes AduaneirosOs regimes aduaneiros correspondem ao paga-

mento ou não de tributos das mercadorias que in-gressam ou egressam do território aduaneiro. Estes podem ser classificados como Comuns e Especiais.

Nos regimes aduaneiros especiais as mercadorias gozam da suspensão dos tributos. Estes tipos de re-gime atendem aos diversos tipos de processos tanto na importação como exportação de mercadorias, beneficiando seus usuários e agilizando os processos do comercio exterior brasileiro. Alguns regimes ain-da oferecem os serviços de armazenagem por deter-minado período de acordo com a operação.

Conforme Morini (2006) seguem alguns regi-mes aplicados aos Portos Secos:

Trânsito Aduaneiro; Admissão Temporária; En-treposto Aduaneiro; Entreposto Industrial; Exporta-ção Temporária; Depósito Alfandegado Certificado; Depósito Aduaneiro de Distribuição e Depósito Especial.

5. AS VANTAGENS NA UTILIZAÇÃO DOS PORTOS SECOS

De acordo com Cardoso (2004), os Portos Secos oferecem um leque variado de opções que deveriam ser mais bem explorados, trazendo ganhos substan-ciais de redução de custos da operação e também do tempo, pois os Portos Secos possibilitam melhorar a

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balança comercial brasileira, em face aos problemas logísticos enfrentados, principalmente levando em conta a falta de estrutura da zona primária (portos e aeroportos).

O bom trabalho desenvolvido por um Porto Seco, possibilita o melhor escoamento de cargas e a redução do tempo de trânsito, sendo esta uma das variáveis mais importantes para os empresários bra-sileiros. O recebimento ou o envio de cargas possui impacto significativo no volume de estoque e de produção dentro das empresas, cujo atraso no en-vio de mercadoria a um cliente internacional pode comprometer a confiança comercial quebrando a previsibilidade, e como conseqüência, uma parada na linha de produção por ausência insumos.

5.1 O Fator TempoPara Lopez (2000), o fator tempo dá ao Brasil

uma desvantagem inicial intrínseca, caracterizada pela considerável distância física que o separa da maioria dos seus grandes clientes e fornecedores.

São visíveis os ganhos que um exportador ob-tém com a redução do Lead Time, pois, este fator é resultante na satisfação do cliente, além de ser ex-pressivo no que se diz aos custos.

De acordo com Lopez (2000), devido à sua es-trutura menor, na EADI (Porto Seco) a liberação da mercadoria acontece muito mais rápida, podendo advir redução de 40% do tempo entre a saída da fabrica até inicio do transporte internacional, ou em sentido inverso, do fim do transporte internacional até a chegada da mercadoria no local de consumo.

A seguir o gráfico 1 apresenta comparativo en-tre tempo (em dias) para um processo de importa-ção e em exportação. Esse gráfico mostra o tempo atual demandado o ideal e o obtido com a utilização de um Porto Seco.

Gráfico 1: Comparativo Lead Time

Fonte: Lopez (2000)

5.2 Tarifas PortuáriasA armazenagem é um dos serviços que mais

caracterizam um Porto Seco, principalmente por-que estes quando ainda eram Centrais Aduaneiras (1971), funcionavam basicamente como armazéns. As tarifas cobradas nos Portos Secos estão abaixo das tarifas cobradas nos portos e esta redução, caracteri-za uma grande vantagem ao importador/exportador brasileiro.

A tarifação cobrada para a movimentação de mercadorias é sensivelmente inferior às praticadas nas zonas primárias, como por exemplo, embarque, desembarque, estufagem de container, armazena-gem por período, etc, pelo fato de nas zonas primá-rias a escassez de espaço é atributo que compõem os valores praticados para os serviços e a intenção é evitar que o empresário utilize as instalações portuá-rias como seus próprios estoques.

A seguir algumas outras vantagens oferecidas por um Porto Seco:

• Regime Comum de Exportação: Neste a mercadoria possui seus tributos suspensos até que toda a documentação seja provi-denciada para a exportação.• Regime de Entreposto Aduaneiro: Per-mite a armazenagem de mercadorias des-tinadas à importação/exportação com sus-pensão do pagamento de tributos.• Liberação de containeres: Os agentes fis-cais da Receita Federal podem liberar em zona secundária as cargas vindas direta-mente da zona primária, ou mesmo, lacrar os containeres que serão entregues nos ter-minais no momento exato para embarque.• Regimes DAC e DUB: Mencionados possibilitam maior flexibilidade das opera-ções, além de incentivar as exportações.De acordo com Camparini apud Cardoso (2001): O exportador conclui a transação no momento da entrega da mercadoria em um Porto Seco, transferindo a propriedade para o comprador estrangeiro e fechando o câmbio no momento da entrada da merca-doria no recinto alfandegado.• Liberação de cargas por lotes: Na im-portação as mercadorias em consignação,

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podem ser nacionalizadas e liberadas por lotes, ou seja, o importador nacionaliza a quantidade que desejar, pagando os im-postos referentes ao lote nacionalizado.• Atendimento personalizado: Os Portos Secos possibilitam aos seus clientes checa-rem a mercadoria, onde se pode analisar se houve alguma avaria ou mesmo acompa-nhar a estufagem, garantindo a qualidade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAISAbordaram-se no presente trabalho assuntos

como comércio exterior, logística e os problemas en-frentados no Brasil para manter a competitividade face ao mercado global. É preciso que as empresas e o governo busquem novas alternativas para um fluxo melhor gerenciado que possam tornar nossos produtos mais competitivos e valorizados no comér-cio exterior.

De forma a melhorar o desempenho das ati-vidades logísticas os Portos Secos podem ser uma estratégia para empresários e governo brasileiro na

otimização dos processos e na redução dos custos. Estes desempenham um papel importante para o crescimento e avanços nas áreas de logística e comer-cio exterior no Brasil.

Os Portos Secos nasceram em 1970, sendo pou-co utilizados, principalmente pelo desconhecimento da suas atividades, que eram baseadas na armazena-gem e movimentação das mercadorias que ingressa-vam no país.

Atualmente o tema se mostra de grande impor-tância. Os Portos Secos suprem a falta de capacidade de escoamento das mercadorias nos grandes portos de zona primária. Com a morosidade em melhorar o sistema portuário, os Portos Secos vêm desafogan-do e suprindo as necessidades logísticas no Brasil.

Conclui-se ainda que as atividades dos Portos Secos devam ser mais bem exploradas, pelas univer-sidades, governo e principalmente empresários. Este facilitador não pode ficar escondido esperando que o descubram, deve haver um incentivo para utilizá-lo, para que as atividades de comercio exterior no Brasil sejam impulsionadas e para que possamos ca-minhar a estágios de paises de primeiro mundo.

REFERENCIAS CARDOSO, Fátima. Portos Secos, aliados no desenvolvimento, 2004. Disponível em: http://www.tecnologistica.com.br/site/5,1,2,6130.asp - Acesso 25/02/2008.

LUDOVICO, Nelson. Logística Internacional: um enfoque em co-mércio exterior. Ed. Rev. Atual, São Paulo: Saraiva, 2007.

LOPEZ, José Manoel C. Os Custos Logísticos do Comércio Exterior Brasileiro. São Paulo: Aduaneiras, 2000.

MINISTÉRIO DA FAZENDA. Instrução Normativa SRF 055 de 23 de maio de 2000 – Portaria SRF 969 de 22 de setembro de 2006. Disponível em: http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/Por-tarias/2006/portsrf969.htm - Acesso em: 05/05/2008.

MORINI, Cristiano et al. Manual de Comércio Exterior. Campinas, SP. Editora Alínea, 2006.

PEDELHES, Gabriela Juppa. Portos Secos. Santa Catarina, 2006. Disponível em: www.gelog.ufsc.br/Publicacoes/20062/Portos%20Secos.pdf - Acesso em 03/09/2007.

REVISTA LOGWEB. Portos Secos fundamentais no Comércio Exte-rior. Edição nº 67. Setembro, 2007.

ROCHA, Paulo César A. Logística e Aduana. São Paulo: Aduaneiras, 2001.

SOSA, Roosevelt Baldomir. A Aduana e o Comércio Exterior. São Paulo: Aduaneiras, 1996.

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China e Brasil: “Os Extremos Tocam-se”

ANDREZA LOPES [email protected]

ACÁCIA DE FÁTIMA VENTURAEstágio Supervisionado em ADM – GNI - UNIMEP

[email protected]

Resumo: O presente artigo tem por objetivo apresentar um dos “novos mercados” – China e Brasil – em que o fluxo de comércio (importação e exportação), vem crescendo rapidamente. São abordadas informações sobre como iniciou-se o comércio entre os dois países, as vantagens e desvantagens desta relação, bem como, o futuro da mesma. Conclui-se que há grandes possibilidades e oportunidades de ganhos para ambos os países, com o aumento de seus comércios, entretanto é necessário que os chineses e os brasileiros tornem-se parceiros no âmbito de negociações mundial.

Palavras-chave: Novos mercados; Fluxo de comércio; China/Brasil.

Abstract: The present article has for objective to present one of the “new markets” – China and Brazil – whe-re the trading flow (import and export), has been increasing quickly. Informations about the beginning of the trade between both countries, the advantages and disadvantages of this relationship as well as the future of it are approached. It can be concluded that there are great possibilities and opportunities of benefits for both countries. However a partnership is necessary between the Chinese and the Brazilian regarding the world negotiation.

Keywords: New markets; Trade flow; China/Brazil.

1. INTRODUÇÃOCom a “terceira revolução tecnológica” e a glo-

balização, a integração de economias e mercados está cada vez mais evoluindo. Um dos “novos mer-cados” que vem crescendo rapidamente nos fluxos de comércio (importação e exportação), é entre Bra-sil e China.

De um lado, a China responsável por boa parte da importação de “commodities” do Brasil, e do ou-tro lado, o Brasil importando da china, sobretudo, os segmentos mais dinâmicos. Esta relação está bas-tante ligada com o processo histórico, econômico e social destes dois países.

Com a inserção da China na Organização Mun-dial do Comércio (OMC) em 11 de Dezembro de 2001, houve modificações profundas no comércio mundial, e isto afetou e afeta de maneira significati-va o Brasil, principalmente nos setores de produtos básicos, visto que são grandes as exportações deste para a China. Entretanto há também uma grande quantidade de manufaturados e tecnológicos que o Brasil importa da China, pois seus preços são muito competitivos, seja pela diferença de qualidade como por políticas fiscais e trabalhistas (mão-de-obra ex-tremamente barata), levando os empresários brasi-leiros a sentirem-se prejudicados dentro do mercado

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interno, e os mesmos tentam de alguma forma, con-tornar esta situação.

2. METODOLOGIANeste trabalho foi utilizado processo histórico e

indutivo. A utilização desses métodos visa apresentar informações precisas e coerentes sobre o comércio entre China e Brasil de forma que seus interessados possam entender e avaliar as vantagens e desvanta-gens desta relação internacional. A pesquisa biblio-gráfica foi realizada em livros, revistas especializadas e sites específicos sobre o assunto na Internet. Os dados foram coletados de fontes secundárias.

3. CHINA E SEUS MISTÉRIOSPara que se possa compreender o processo de

inserção da China no comércio mundial e suas rela-ções com os demais países, considera-se importante apontar e analisar os principais acontecimentos his-tóricos, econômicos e culturais, desde o começo de sua história (sete mil anos atrás) até os dias de hoje.

3.1 China Geográfica e suas DinastiasDe acordo com Mendonça (acesso em:

14/08/08), a República Popular da China – que tem como capital Pequim – é o terceiro maior país do mundo, com uma área total de 9.596.960 Km² e o mais populoso, com 1.306.313.812 habitantes.

Para Tao (1996), os chineses constituem cerca de um quinto da população mundial. O território é dividido em 22 províncias controladas pelo governo local, e estes, se reportam ao governo central na ci-dade de Pequim. O nome china vem do termo persa – Cini – que se associa a seda, muito consumida no Império Romano.

Acrescenta o autor, que desde o inicio da forma-ção de uma população produtiva chinesa, houve di-versas dinastias: Shang, Zhou, Qin, Han, Sui, Tang, Song, Yuan, Ming, Qing. Há o fim das dinastias, com uma revolução que transformou a China em uma república (Em 1º Outubro de 1949, Mao Tse-tung proclamou a República Popular da China).

Vicentino (2006) explica que, com a morte de Mao em 1976, houve a ascensão de Deng no poder em 1977. Durante o governo Deng a meta era: Mo-dernizar a agricultura, a indústria, a defesa e as áreas de ciências e tecnologias, isto é, as 04 Moderniza-

ções. Com a morte de Deng em 1997, os sucessores Jiang Zemim e depois Hu Jintao (nomeado sucessor de Zemim em Novembro de 2002), continuaram ampliando a abertura ao sistema capitalista.

3.2 China no Século XX e XXI Aquino (acesso em: 12/12/2008) relata que a

China do século XX, até então monarquia imperial agrária sofreu diversos conflitos e revoltas que gerou mudanças e definições na sociedade até o surgimen-to da República da China, em 1949.

Para o autor, até meados dos anos 60, a China era um país fechado para o comércio internacional. Este quadro muda em 1978, com Deng Xiaoping no poder, que implantou reformas e modificou o sistema econômico. Com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, demonstrou-se por parte de seus dirigentes a intenção de continuar com programas de reformas e modernizações, a fim de competir no mercado in-ternacional de forma mais justa.

4. A RELAÇÃO CHINA E BRASIL NO CON-TEXTO INTERNACIONAL

Para Ribeiro e Pourchet (acesso em: 19/09/08) pode-se identificar três fases nos fluxos comerciais entre Brasil-China desde 1985: a primeira fase (1985 – 1992) baixo nível de importação neste pe-ríodo e, no que refere-se a exportação, flutuações em torno de US$ 500 milhões/ano; a segunda fase (1993 e 1998) com a liberação do comércio exterior brasileiro e a valorização real da moeda brasileira – estabilização do Plano Real – as exportações e as importações, cresceram rapidamente, alcançando US$ 1 bilhão/ano; a terceira fase (1999 e 2003) alto fluxo de exportação e importação, alcançando os va-lores de US$ 4,5 bilhões no âmbito de exportação do Brasil para a China, e US$ 2,15 bilhões de im-portações brasileiras da China.

Acrescentam que, as composições das exporta-ções brasileiras à China são bastante concentradas em poucos produtos e poucos setores, podendo des-tacar que 47,5% das vendas, referem-se aos setores agropecuários e extrativos mineral, sendo que em cada um deles, mais de 90% está ligado a apenas um produto: Soja (setor agropecuário) e minério de ferro (setor extrativo mineral). E as importações bra-

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sileiras provenientes da China, têm como principais setores: Equipamentos eletrônicos e Siderúrgicos, que correspondeu por 40% das importações feitas em 2003.

4.1 O Mercado de Exportação BrasileiroAverbug (acesso em: 27/01/09) define a década

de 90 como um período de mudanças significativas na política de comércio exterior brasileiro, com uma abertura comercial mais abrangente, que começa no governo Collor e estende-se até o governo FHC.

Para Pasin (acesso em: 28/01/09) entre 1996 e 2006, a participação brasileira no total de exporta-ções mundiais, saltou de 0,88% para 1,16%, sen-do considerado este ciclo exportador, como o de maior duração e o mais intenso da história recente da economia brasileira. Explica que, com o proces-so de abertura comercial e a formação do Mercosul, ocorrida no inicio da década de 90, houve mudan-ças quanto ao destino das exportações brasileiras, até então, concentradas em três mercados: Estados Unidos, Japão e os países que hoje formam a União Européia. Nestas mudanças a participação dos paí-ses desenvolvidos nas exportações brasileiras, passou de 64,2% para 42%, enquanto a participação da América Latina aumentou de 10,4% para 22,8%. Outro importante mercado, citado pelo autor, em que houve uma expansão das exportações brasilei-ras, foi o mercado chinês, cuja participação subiu de 1,2% em 1990 para 6,1% em 2006.

4.2 O Mercado de Exportação ChinêsPuga (et. al, acesso em: 10/09/08) analisa que,

em 2003 as exportações da China alcançaram US$ 438 bilhões, em função do ingresso do país na OMC e as reformas em seu comércio exterior. Até meados dos anos 90, os produtos que se destacavam na pauta de exportação, eram artigos têxteis e vestu-ários. Entretanto, esta composição tem sofrido mu-danças, com o aumento significativo do conteúdo tecnológico em suas exportações, como: informáti-ca, aparelhos eletrônicos e de comunicação, além de máquinas e equipamentos.

Com a “economia de mercado socialista”, a Chi-na, para Sukup (2002), destaca-se pela presença de diversificados capitais estrangeiros, como cita: cerve-jaria japonesa Santory, Coca-Cola e o McDonald’s.

Com o tamanho do país, tradições culturais, loca-lização geográfica, herança das filosofias do con-fucionismo e do taoísmo, do revolucionário Mao, bem como do reformador Deng e do manager Jiang Zemin, foi de grande contribuição para explicar o resultado em que a China encontra-se.

4.3 O Início do Comércio Internacional entre China e Brasil

Cabral Filho (acesso em: 15/05/08) descreve que, a primeira iniciativa de estabelecer relações di-plomáticas e comerciais entre Brasil e China, ocor-reu em 1970, com a visita pioneira e por conta e risco, a Feira de Cantão, do empresário brasileiro Horácio Coimbra. Após este acontecimento, em 1972, com a ajuda do Ministério das Relações Ex-teriores, iniciou-se contatos e negociações que levou o empresário e presidente da Associação Brasileira de Exportadores, Giulite Coutinho, chefiar missão empresarial à China.

4.4 Vantagens e Desvantagens do Comércio Chi-na e Brasil

Para Puga (et. al, acesso em: 10/09/08), o de-sempenho econômico chinês foi favorável ao Brasil, com a intensa relação comercial dos dois países, os chineses tornaram-se em 2003 o terceiro mercado consumidor das exportações brasileiras.

Em 2004 o comércio entre Brasil e China, fina-lizou com um superávit comercial brasileiro de US$ 1,7 bilhão, sendo este, representado principalmen-te pela exportação de minério de ferro e produtos agrícolas. E, este setor tem espaço para ampliar-se, devido ao rápido crescimento da população chine-sa, tendo como conseqüência, o aumento do con-sumo e a falta de terras, ocasionando a deficiência destes produtos no país (RESENDE, acesso em: 19/12/08).

4.5 O Futuro da Relação para os Dois PaísesPara Tonocchi (acesso em: 01/03/09), a crise

mundial afetou de maneira expressiva os negócios entre China e Brasil, provocando uma retração no fluxo de comércio entre os dois países. Isto é con-firmado pelo autor, através da demonstração – em porcentagem – das exportações brasileiras para o mercado chinês, que em outubro de 2008, registrou

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queda de 20,78% em relação ao mesmo período do ano anterior, contabilizando US$ 1,4 bilhão (FOB).

Vassalo (2009) aponta a China como grande responsável pelo crescimento da economia brasileira e apesar dos chineses não ter conseguido passar imu-nes a crise, o pacote de estímulos de 586 bilhões de dólares liberado pelo governo de Pequim, pode-se refletir em maior riqueza para outros países e princi-palmente para o Brasil.

5. CONSIDERAÇÕES FINAISAs economias emergentes chinesa e brasileira

vêem ocupando posição de destaque no comércio mundial, seja como parceiras ou concorrentes. No período que antecede a crise mundial, era possível identificar que a China em relação ao Brasil estava mais para parceira à concorrente, principalmente no setor de commodities. Suas economias complemen-tavam-se e, pode-se dizer que uma porcentagem sig-nificativa do crescimento recente do Brasil, associa-se ao gigante consumidor chinês.

Com este novo cenário mundial, rodeado de incertezas e inseguranças, ocasionado pela crise que acomete os países, principalmente os desenvolvidos, já não é mais possível analisar e prever uma tendên-cia de maneira eficiente, de como será o futuro das relações entre China e Brasil, uma vez que, a insta-bilidade entre as economias predomina. Quando os problemas financeiros começaram a abalar as estru-turas econômicas dos Estados Unidos e grande parte

da Europa, esperava-se que a China seria capaz de escapar desta turbulência e firmar-se como nova po-tência mundial, puxando novamente o crescimen-to global. Isto não foi possível, pois a dependência chinesa para com o mercado internacional e, mais especificamente Estada Unidos, é bem maior do que se pode imaginar, e a partir do momento que seus principais parceiros comerciais entrarão em recessão, o governo de Pequim não pode evitar o contágio.

Para combater a crise, o governo chinês lançou um pacote econômico de 586 bilhões de dólares, vi-sando dar fôlego à economia e, estes recursos serão empregados em projeto de infraestrutura e incenti-vos ao consumo. Mas, para realizar todas essas ações não basta ter mão-de-obra em abundância, é neces-sário também matéria-prima; e é justamente neste contexto que surgem grandes oportunidades para o Brasil, pois para construir suas grandiosas obras, dentre elas: ferrovias, rodovias e pontes, haverá ne-cessidade de muito minério de ferro. Outros setores brasileiros que poderão beneficiar-se são: alimentos e produtos agrícolas, pois a China precisa alimentar 1,3 bilhão de pessoas e não possuem terras suficien-tes para tamanha demanda.

Diante destes fatos, parece inquestionável que a relação China e Brasil tem grandes perspectivas e possibilidades de crescimento, porém faz-se necessá-rio que os dois países tornem-se parceiros nesta cor-rida contra o precário cenário em que se encontra o mundo.

REFERÊNCIASAQUINO, Leonardo Cembranelli de. China: Políticas de Comércio Internacional e Desenvolvimento Econômico. Disponível em: http://www.caei.com.ar/es/programas/asia/05.pdf. Acesso em: 12 dez. 2008. 21h00.

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Commodities Versus Industrialização: O Panora-ma Brasileiro nas Exportações

CELSO H. R. C. AÍMOLA Aluno de graduação do Curso de Administração com

Habilitação em Gestão de Negócios Internacionais - [email protected]

Resumo: O presente trabalho, primeiro de uma série, avalia alguns aspectos negativos da nova fase de expor-tação de commodities no Brasil, em detrimento de pesquisa e desenvolvimento. O grande crescimento das exportações desses produtos, somados à exportação de produtos primários, com grande apoio do governo, reduz os investimentos em P&D e limita a possibilidade de surgimento de empresas nacionais com produ-ção e exportação de produtos com alto valor agregado.

Palavras-chave: Exportação; Commodities.

Abstract: The present work, first of a series evaluates some negative aspects of the new phase of exportation of commodities in Brazil, in detriment of research and development. The substantial growth in exportations of these products, plus the exportation of primary products, with strong support from the government, reducing investments in R&D and limits the possible emergence of enterprises with production and expor-tation of products with high added value.

Keywords: Exportation; Commodities.

1. INTRODUÇÃOOs números das exportações brasileiras apresen-

tam superávit comercial, que resulta mais de uma grande elevação dos preços dos produtos commo-dities exportados do que de um efetivo aumento da quantidade exportada (LACERDA, 2007). O aumento dos preços das commodities ajuda o cres-cimento dos números nacionais dos produtos ex-portados e esconde a realidade, que é a fragilidade dos números de exportação de produtos com alto valor agregado, produzidos por empresas de capital nacional.

Os valores do crescimento brasileiro são peque-nos quando comparados aos dos países emergentes: apenas 3,3% em 2006 - metade da média mundial – e, apesar de substancial aumento na tonelagem

exportada, os valores obtidos com tal exportação mantêm-se baixos. O que se observa é aumento nas exportações de commodities e diminuição das ex-portações de produtos industrializados, sendo que em 2008, as commodities já respondem por mais de 60% das exportações.

Dessa forma, concorremos sempre em condi-ções desvantajosas com nossos compradores. Por exemplo, dados de 2007 apontam que compra-mos da China produtos com custo médio de US$ 1.585,25/ton, e vendemos aos mesmos produtos com custo de US$ 86,17/ton. (GUIMARÃES, 2007). De acordo com o mesmo autor, o Brasil importou, principalmente, circuitos integrados, ao custo de US$ 639.241,43/ton, enquanto seu prin-cipal item de exportação foi o minério de ferro, ao

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custo de US$ 25,36/ton. Guimarães ainda afirma que são necessárias 25.600 ton. de minério de ferro para comprarmos uma única ton. de circuitos inte-grados, necessários pra o desenvolvimento de em-presas de tecnologia.

FHC, em 2000, cunhou a frase “Exportar para viver”. Lula da Silva, em 2004, bisou a idéia: “Ex-portar é a solução”, e embora ambos tenham acerta-do no diagnóstico da doença, erraram na prescrição do medicamento, pois o mundo globalizado não exige somente a solução exportadora: a questão hoje é “o que” exportar.

O presente artigo analisa aspectos e a influên-cia negativa da valorização das commodities e dos produtos primários para a industrialização nacional, visando vislumbrar os mecanismos que levam o país a ser um grande exportador primário e importador de bens de consumo tecnológicos.

A pesquisa bibliográfica e informações orais fo-ram as técnicas de levantamento de dados utilizada.

2. NÚMEROS NACIONAISO Brasil mantém-se na mesma trajetória desde

o final dos anos 80: grande exportador de produtos primários e de commodities e pequeno exportador de produtos industrializados. Com isso, torna-se é cada vez menos expressivo no mercado mundial no quesito industrialização e em números exportados, possuindo 1,14% do valor comercializado global-mente. (A. B., 2008)

Em 2006, somente 35% de nossas exportações foram de produtos industrializados, enquanto, no mesmo período, as exportações da Índia chegaram a 70% e da China em torno de 90%. (AE, 2007)

Conforme demonstrado no gráfico 1, no perí-odo que vai de 1980 a 2006, as exportações brasi-leiras cresceram 592,8%, enquanto a Índia cresceu 1.299,6% e a China, 5.254,3%, dados que denotam ainda mais o atraso nacional. Observamos que, em 1980, nossa produção industrial era igual à soma da produção de Índia e China, e, em 2005, a fabricação brasileira de manufaturados correspondia a apenas um oitavo da produção conjunta desses dois países (PALMA, 2007).

Gráfico 1: Crescimento das exportações brasileiras, indianas e chinesas, no período de 1980 a 2006.

Dados: BRASIL... , 2007. Gráfico: do autor.

Paradoxalmente junto com o crescimento do número bruto das nossas exportações, percebe-se o aumento da dependência das commodities e dos pro-dutos primários na balança comercial: os números apontam que, em 2006, os produtos industrializa-dos exportados pelo Brasil corresponderam somente a 37,18%, deixando 62,82% para os produtos com-modities. (GRANDES..., 2006).

3. BAIXO VALOR POR TONELAGEMO grande problema dos produtos exportados

pelo Brasil é seu baixo valor agregado, o que exige que o país exporte muito para comprar os bens ne-cessários a sua sobrevivência. Tal situação se mantém mesmo com a alta nos preços das commodities, pois todos os produtos derivados delas também são infla-cionados. Exportamos minério de ferro com valor inflacionado pela demanda mundial, e compramos produtos que utilizam aço importado, que incorpo-ram em seu preço a inflação do minério de ferro so-mada ao custo de industrialização do produto final.

Assim, segundo O’Neill (2008), nosso país pa-rece sofrer processo de desindustrialização, que po-derá se tornar visível quando houver queda do valor das commodities.

4. PESQUISA & DESENVOLVIMENTOCom a aceleração da globalização, são observa-

dos dois tipos de países disputando o mercado glo-bal: um que lidera o desenvolvimento tecnológico, com altos investimentos em P&D – destaque para os EUA, a Alemanha e o Japão - e outro, que, não dispondo de tecnologia própria, importam ou se torna parceiro dos países desenvolvedores, que ins-talam indústrias nesses locais e passa a fazer parte do nicho de empresas que nele atuam. Nesse segundo grupo, destacamos a China e a Índia.

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A estratégia brasileira na área industrial tende a competir no mercado mundial por “preço”, deixan-do de lado a competição por “diferenciação”, que é o mais lucrativo e que possui menos competidores. Para Negri (2005), as indústrias nacionais tendem a desenvolver somente novos processos industriais, e não produtos em si. Com isso, diminuem o custo de produção sem agregar nada de inovação ao pro-duto e aumentam seus números de exportação para compensar a diminuição do lucro.

Rodrigues (2007) aponta, em um estudo re-alizado para o Banco Mundial, algumas falhas do modelo brasileiro. Dados desse estudo mostram que, “por si só, o custo Brasil não explica por que a economia brasileira não cresce mais, e de forma sustentável”, pois tanto China e a Índia apresentam problemas internos em relação à infra-estrutura, bu-rocracia e ações governamentais, mas ambos tiveram empresários que enfrentaram as situações nacionais e ajudaram seus países a crescer em produtividade e competitividades. O mesmo estudo ainda mostra que dois aspectos servem como principais freios ao desenvolvimento nacional: o baixo nível da mão-de-obra e a incompreensão dos industriais sobre o que significa ser inovador no século XXI.

Além de importar pouca tecnologia, as pesquisas em P&D nacionais são pequenas em relação ao res-to dos países desenvolvidos. Dados da Organización Mundial de la Propiedad Intelectual (FINEP, 2002), mostram que, entre 2000 e 2005, o Brasil aumen-tou seus pedidos de patente nos EUA em aproxi-madamente 33%, enquanto a China aumentou em 1075% e a Coréia em 300%.

Dessa forma, paira a pergunta: há saída para esse problema que parece ser intrínseco à exportação na-cional?

A resposta é: há!

5. EMBRAERA Embraer é a líder mundial na fabricação de

jatos comerciais de até 120 assentos, uma das maio-res exportadoras brasileiras e a 3º maior fabricante de jatos comerciais do mundo (EMBRAER, 2007). O seu crescimento no mercado mundial demonstra a possibilidade de assumirmos um papel prepon-

derante nas exportações, exportando tecnologia e valor agregado. Além disso, sua criação é um bom exemplo de política industrial focada em P&D, que criou uma tecnologia única no país. Mesmo oriun-da de projetos militares, vale frisar que, na época do lançamento da empresa, não possuíamos nem mesmo tecnologia para o desenvolvimento de auto-móveis 100% nacionais, e essa empresa foi lançada sem nenhuma vantagem competitiva preexistente, como recursos naturais, engenheiros qualificados e cientistas aeronáuticos.

Segundo Silva (2007), foram investidos na cria-ção da Embraer, aproximadamente, U$ 5 milhões, sendo que ela gera hoje, por ano, mais de U$ 306 milhões de lucro, além de ser a única empresa nacio-nal líder mundial num mercado de alta tecnologia, não disputando clientes se baseando em preço, e sim em inovações.

6. CONSIDERAÇÕES FINAISAo observarmos os dados apresentados, se tor-

na claro que não adianta reforçarmos nossa infra-estrutura exportadora se continuarmos a exportar produtos com baixo valor, pois basear nossas expor-tações em produtos primários é errar três vezes: 1º) porque já passamos por ciclos da cana-de-açúcar, de café do Sudeste entre outros, e sempre nossos ciclos se fecham de maneiras abruptas e negativas para a região atingida e para o país como um todo; 2º) to-dos os estudos demonstram a fragilidade desse novo ciclo de crescimento mundial, e nossa independên-cia internacional não pode ser atrelada à economia chinesa: quanto muito pode usufruir dela em seu proveito e 3º) somos o país que menos cresceu nos últimos anos e temos uma oportunidade única de crescimento, com o aumento da demanda por pro-dutos primários e commodities.

Assim, saber capitalizar essa vantagem e sair desse processo mais fortes do que entramos é o passo pri-mordial rumo à construção de uma grande nação, e pela primeira vez na história somamos mecanismos para conseguir dar esse passo. Precisamos deixar de sermos os maiores exportadores de minério de ferro e nos tornarmos os maiores exportadores de aço, por exemplo, algo viável ao país, desde que haja vontade

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política, seriedade administrativa e determinação no cumprimento de metas e planos, o aproveitando da facilidade de recursos internacionais e a criação de indústrias e pólos de tecnologia.

Não pregamos aqui o final das exportações das commodities e de produtos primários, mas acredita-mos que devemos fincar nossas bandeiras nos mer-cados internacionais de commodities nos quais so-mos líderes, manter nossos mercados consumidores para produtos de baixo valor e baixa tecnologia, e, ao mesmo tempo, aumentar nossos investimentos em educação e em P&D, privilegiando o direcio-

namento dos recursos às indústrias de produção de tecnologia em detrimento dos exportadores de commodities, para que tenhamos, assim, uma gama ampla de produtos para exportação e, com isso, diminuirmos a dependência de um único tipo de mercado.

Além disso, investimentos em educação e o apoio ao empreendedor são medidas urgentes para que um dia passemos a ser um país com importân-cia estratégica no mercado mundial e para que aban-donemos o eterno rótulo de “país do futuro”, nos tornando o país do presente.

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Porto de Paranaguá: Seu Perfil e Sua Relevância no Sistema Portuário Brasileiro

CLAUDINEI [email protected]

VALMIR LUIZ CAZONEstágio Supervisionado em ADM - GNI - UNIMEP

[email protected]

Resumo: O objetivo deste artigo é discutir o perfil do Porto de Paranaguá e sua relevância em relação ao Sis-tema Portuário Brasileiro. Procurou-se identificar os diferentes tipos de transportes existentes e desenvolver um cenário sobre as reais mudanças efetuadas logo após a implantação da Lei de Modernização dos Portos, com os entraves do Sistema Portuário Brasileiro.

Palavras-chave: Transporte; Sistema Portuário; Porto de Paranaguá.

Abstract: The aim of this paper is to discuss the profile of the Paranaguá Port and its relevance to the Bra-zilian Port System. It looked for identify the different kinds of transport available and develop a scenario on the real changes effected soon after the implantation of the Ports Modernization Law, with the impediments of the Brazilian Port System.

Keywords: Transport; Port System; Paranaguá Port.

1. INTRODUÇÃONo mundo da globalização, tudo circula: dos

capitais ao conhecimento. Se, por um lado, muito daquilo que transita o faz de maneira virtual, por meio de fios, cabos ou fibras ópticas, por outro, pes-soas e mercadorias devem ser deslocadas fisicamente de um local para outro (KONDO, 2001). E para a realização deste deslocamento existem os meios de transportes que são importantíssimos para o funcio-namento do mundo moderno.

Por isso vem se investindo na infra-estrutura desses meios de transportes que inclui a malha ro-doviária, férrea, aérea, fluvial, dutoviário, etc. que é usada através dos terminais como aeroportos, esta-ções de trem, portos, terminais de ônibus.

No que tange os portos, é evidente que para chegar ao sistema portuário brasileiro existente, foi necessário algumas reformas e principalmente intro-duzir uma Lei Portuária, que auxiliou na evolução da tecnologia e na privatização dos portos. Mas é claro que as mudanças não foram tão rápidas assim.

Para elaboração deste artigo será utilizado o mé-todo de pesquisa observacional, no que diz respeito à análise das tendências das exportações e impor-tações do Porto de Paranaguá nos últimos anos, e o método histórico, utilizado principalmente na caracterização da evolução dos portos a fim de pos-sibilitar uma análise atual deste modal, ou seja, do transporte marítimo, focado, é claro, no Porto de Paranaguá.

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2. OS MEIOS DE TRANSPORTEDentre as formas de transportes existentes des-

tacam-se:(a) Transporte Terrestre: é caracterizado quan-

do o deslocamento se dá por terra firme, sendo per-mitidas as variações rodoviárias, ferroviária, e modos especiais, de uso restrito (FARIA, 1998, p. 19). Os principais veículos de transporte terrestre de merca-dorias são principalmente os caminhões e trens.

(b) Transporte Aéreo: é caracterizado princi-palmente por vencer grandes distâncias em curtíssi-mo espaço de tempo, porém a baixa capacidade do veículo de transporte aeroviária torna sua utilização restrita a pequenos lotes de carga, o que resulta no elevado custo médio por tonelada movimentada (FARIA; 1998, p. 27). Os principais veículos de transporte aéreos de mercadorias são: avião, heli-cóptero, avioneta, jato, etc.

(c) Transporte Dutoviário: é utilizado para transportar produtos através de condutas tubulares, como o petróleo e o gás natural. As principais ca-racterísticas desse transporte é a facilidade de cons-trução e manutenção das suas infra-estruturas; custo baixo no transporte de recursos energéticos e o risco de impactos ambientais são baixos.

(d) Transporte Marítimo ou Aquaviário: suas características fundamentais são o baixo consumo de energia por tonelada movimentada e a circulação de grandes volumes de carga a cada viagem (FARIA, 1998). Os principais veículos de transporte marí-timo ou aquaviário são: submarino, navio, barca, transatlântico etc.

3. SISTEMA PORTUÁRIONo geral, o desenvolvimento econômico está

ligado com o papel catalisador dos portos. Adam Smith apud Pádua e Serra (2006, p. 57) afirma que “a força central da economia na sociedade capitalista está na divisão do trabalho, e a extensão em que esta divisão pode manifestar-se está relacionada princi-palmente com o tamanho do mercado que pode atingir”.

A melhoria que se pode notar nos últimos anos na operação portuária causou maior impacto no custo do frete marítimo para os países exportadores do que para os países importadores. As mudanças na operação das atividades portuárias não apenas possi-

bilitarão redução nos custos dos fretes, mas também atrairão tanto serviços adicionais de linhas regulares quanto carga adicional para ser transportada. Tanto a disponibilização de novas linhas regulares quanto o incremento na oferta de carga levarão a uma redu-ção nas tarifas dos fretes.

3.1 Sistema Portuário MundialDe acordo com Oliveira (1996) o sistema portu-

ário mundial está dividido em três grandes grupos: Europa, América do Norte e Ásia. Tais continentes possuem a melhor localização geográfica no que tange às rotas mercantes internacionais. Fora deste contexto, podem-se citar os portos da América Lati-na, África e Oceania.

A Europa representa um extraordinário merca-do consumidor de elevado padrão econômico, sen-do assim, para sustentar o intenso intercâmbio entre os continentes, possuem em sua estrutura diversos portos com movimentações elevadas, destacando-se: o porto de Roterdã na Holanda, Antuérpia na Bélgica, Hamburgo e Bremen na Alemanha, Havre e Marselha na França (FARIA; 1998).

O complexo portuário norte-americano está distribuído pela costa leste (Oceano Atlântico), cos-ta oeste (Oceano Pacífico), golfo do México (sul) e na região dos Grandes Lagos, que faz fronteira com o Canadá. No oceano Atlântico, por exemplo, des-tacam-se os portos de: Nova Iorque, Nova Jersey, Charleston, Baltimore, Filadélfia, Boston, Jackson-ville, Houston, Nova Orleans, Miami, e o complexo portuário de Hampton Roads. Já no oceano Pací-fico: Long Beach, Los Angeles e Portland (FARIA; 1998).

Em relação aos portos da Ásia, destacam-se o Porto de Hong Kong, Cingapura e do Japão (seu complexo portuário é dividido em três baías prin-cipais: a Baía de Tóquio - com os portos de Chiba, Tóquio, Kawasaki e Yokohama; a Baía de Ise - com os portos de Nagoya e Yokkaichi e a Baía de Osaka - destacando-se os portos de Osaka e Kobe (FARIA; 1998).

3.2 Sistema Portuário BrasileiroO sistema portuário brasileiro se caracteriza pela

movimentação predominante dos terminais de uso privativo (FARIA; 1998).

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Por conta disto, o governo federal investiu mais de R$ 270 milhões em portos, por meio de uma ini-ciativa denominada Agenda Portos (grupo intermi-nisterial da Casa Civil da Presidência da República), com objetivo de levantar aspectos legais, institucio-nais e operacionais que comprometem as atividades portuárias de 10 dos 54 portos brasileiros, além de apontar soluções a serem implementadas até 2010. A idéia é melhorar o escoamento da produção agrí-cola e industrial aprimorando a performance das exportações do País e das operações portuária (LAB-JOR, 2004).

Foram analisadas as situações das operações por-tuárias e detectados problemas operacionais (falta de dragagem - retirada de entulhos de rios e do mar, problemas de vias de acesso, congestionamentos de trens e caminhões, além de aspectos gerenciais) em alguns portos brasileiros, que juntos respondem por 89% das exportações brasileiras (LABJOR, 2004).

Entre as soluções apontadas pela Agenda Por-tos estavam o alargamento ou duplicação das vias de acesso, reordenação do trânsito nas localidades próximas às zonas portuárias, além de novas rotas de ligação direta entre as rodovias BR´s e os terminais, pavimentação de ruas e construção de estaciona-mentos para se evitar filas na entrada dos portos e ainda tiveram que ser adotadas medidas administra-tivas com a integração dos sistemas de informações e criação de centros administrativos únicos (LAB-JOR, 2004).

Um dos grandes problemas que normalmente existe nas cidades portuárias é falta de entrosamento entre as administrações portuárias e as prefeituras municipais. Como não existe, na maioria dos casos, uma sintonia entre estes dois instrumentos, o entor-no do porto está sempre congestionado com habita-ções desordenadas e com contingente populacional de baixa renda, trazendo dificuldade para a desocu-pação dessas áreas. Este último aspecto tornou-se relevante nas últimas três décadas, principalmente a partir do estabelecimento da Política Nacional do Meio Ambiente. Assim, as regiões portuárias apresentam cenários de conflito entre os aspectos ambientais, sociais e econômicos, constituindo um desafio para a sociedade e administradores nos dis-tintos níveis do poder (ALBULQUERQUE, et al, 2009).

4. MODERNIZAÇÃO DOS PORTOS E AS REAIS MUDANÇAS EFETUADAS

Os portos brasileiros sofreram uma comple-ta reestruturação através da “Lei de Modernização dos Portos” (Lei nº 8.630/1993), visando torná-los mais ágeis e competitivos frente ao mercado inter-nacional, visto que os custos operacionais são ainda muito superiores aos praticados no exterior. Através desta Lei, praticamente todos os serviços e estruturas até então operados pelo governo (fosse ele federal, estadual ou municipal) foram privatizados através de contratos ou arrendamentos, ficando o governo apenas com a administração em si e com papel de Autoridade Portuária.

Apesar da idéia da reestruturação dos portos com a “Lei de Modernização” nem tudo ainda está como deveria. Atualmente, é possível dizer que o modal marítimo representa cerca de 95% do vo-lume transportado internacionalmente, e mesmo assim, não recebe investimentos de acordo com sua importância para o país.

Pode-se notar um entrave ao sistema portuário brasileiro ao observar as garantias exigidas pelos ór-gãos de financiamentos para a construção das em-barcações, engessando assim o desenvolvimento da indústria de construção naval brasileira (PÁDUA, SERRA, 2006).

Diversos estudos têm sido elaborados nos últi-mos anos, com o objetivo de identificar os principais gargalos dos portos brasileiros. Porém, a conclusão mais sensata que se pode chegar até o momento é de que a precariedade dos acessos rodoviários e ferrovi-ários, bem como a falta de dragagem de manuten-ção, são os grandes entraves.

Outro problema são as filas de caminhões que se estendiam pelas avenidas e estradas dos principais portos do país e sempre no período mais crítico do ano, durante a safra. Algumas soluções apontadas por Basílio e Cardoso (2006) seriam o alargamento ou duplicação das vias de acesso aos portos, reor-denamento do trânsito próximo aos portos, melhor pavimentação das ruas, construção de estaciona-mentos para os caminhões e desenvolvimento e soli-dificação de parcerias público-privadas.

Como se pode perceber, a questão dos portos está centrada na falta de investimentos em infra-es-trutura (BASÍLIO, CARDOSO, 2006).

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Em suma, estes fatores acabam por desequilibrar a oferta e a demanda, gerando atrasos na entrega dos produtos e com isto elevando o preço dos fretes. Resultado ocorre a redução da competitividade dos produtos ao comercializá-lo no mercado externo.

Existem alguns fatores conceituais muito impor-tantes e que tendem a levar um porto a ter melhores condições, tais como (PÁDUA, SERRA, 2006):

(a) Capacidade operacional: definida pelas características físicas de calado (profundidade em que cada navio está submerso na água), número de berços, área de armazenagem e área de expansão e pelas características dos equipamentos e sistemas operacionais;

(b) Proximidade da região produtora: a loca-lização do porto perante os grandes pólos produto-res;

(c) Adequação dos acessos rodoviários e ferro-viários, mesmo se estes forem capazes de atender a demanda futura a fim de melhorar continuamente a logística externa;

(d) Uma boa relação com a cidade próxima ao porto: tal iniciativa busca a definição do uso do solo que fica ao redor porto para atividades que pro-movam seu desenvolvimento e, conjuntamente, o da cidade;

(e) Equilíbrio entre os papéis de administrador, de operador e de alavancador do porto (Conselho de Administração ou outra autoridade responsável);

(f) Maior ou menor dificuldade nos acordos entre empresários e trabalhadores do subsetor: utilização de mão-de-obra própria e/ou existência de acordos de utilização;

(g) Características dos acionistas dos termi-nais portuários: estratégia na gestão de longo pra-zo, interesse em outros segmentos da infra-estrutura para uma atuação integrada, experiência operacio-nal etc.; e

(h) Ofertas econômicas diversificadas aos embarcadores através da existência de operadores logísticos.

5. O PORTO DE PARANAGUÁ E SUAS IN-FLUÊNCIAS

O porto está localizado na cidade de Parana-guá, no estado do Paraná, e sua área de influência compreende o estado do Paraná e parte dos estados

de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Os principais produtos expor-tados são: algodão, containeres, álcool, papel, soja, farelo, veículos, óleo de soja, milho, madeira, sal, fertilizante, congelado e açúcar.

O porto utiliza cinco pontos de atracação para embarque de cereais, soja, farelos, milho e desem-barques de trigo, cevada, malte (extrato de cereal), além de sal, fertilizantes e minério (MINISTÉRIO, 2002).

A transformação do Porto de Paranaguá em um porto moderno ocorreu após o decreto nº 5.053 em 1872. Naquele momento, foi concedido aos Srs. José Gonçalves Pecego Júnior, Pedro Aloys Sherer e José Maria da Silva Lemos, o direito de construção e exploração do porto. Já em setembro de 1889, outro decreto, nº 6.053, foi instaurado, passando o direito de administração do porto ao Governo do Paraná, o qual ficou nomeado como APPA (Administra-ção dos Portos de Paranaguá e Antonina) (APPA, 2009).

Sendo assim, o Porto de Paranaguá é conside-rado o maior porto do sul do Brasil, tendo como principal atividade a exportação de grãos, e também é bastante utilizado pelo Paraguai para o transporte de carga alfandegada, através de um contrato que foi fechado com o Brasil (APPA, 2009).

Este porto é considerado um dos principais do país quando se fala em movimentação de cargas. Ele só é superado, pelos portos de Tubarão, no Espírito Santo; de Itaqui, no Maranhão; de Santos e de São Sebastião, em São Paulo. Porém, é importante men-cionar, que no aspecto das exportações de produtos agrícolas, este porto garante a liderança dos embar-ques de soja em grão e farelo (SUZUKI, WOSCH, 2000).

Nos anos 2000, em relação às importações, os desembarques de fertilizantes lideraram as opera-ções de granéis sólidos. Desde 1973, os embarques de farelo e de soja em grão respondiam pela maior parcela das operações com granéis sólidos. Também é importante destacar que até o ano de 1997 a mo-vimentação de farelo era cerca de três vezes o volume da soja em grão (SUZUKI, WOSCH, 2000).

Quando se olha para a carga de forma genérica, é notório que o Porto de Paranaguá no escoamento a granel da produção agrícola impõe pequena parti-

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cipação em relação a este tipo de modalidade. Den-tre 1965 e 1976, por exemplo, o café foi o principal produto movimentado. Em 1975, por conta da grande geada ocorrida, este tipo de cultura foi prati-camente arrasada, sendo somente retomado a partir dos anos 80. De forma paralela, houve o aumento das cargas de madeira e o aparecimento de produtos tais como: congelados, papel e açúcar (SUZUKI, WOSCH, 2000).

Nos dias atuais, o que se pode notar é que a exportação de soja é um dos carros-chefes entre as commodities comercializadas. De acordo com o site oficial do Porto de Paranaguá (APPA, 2009), a ex-portação de soja pela Companhia Brasileira de Lo-gística (CBL), empresa esta que atua com embarque de granéis, será 20% maior que 2008. De acordo com a empresa, se tem em mente o embarque de 1,8 milhões de toneladas do grão. Isto foi possível por conta de dois novos silos graneleiros, os quais am-pliaram a capacidade de armazenagem da empresa para 110 mil toneladas.

Para se ter um panorama do cenário de itens exportados em 2008, o Porto de Paranaguá movi-mentou mais de 14 milhões de toneladas de granéis sólidos (soja, farelo, milho e açúcar). Em 2009, de janeiro a março, já foram exportadas 1,1 milhão de toneladas de soja. Da mesma forma, as exportações de milho e açúcar seguem esta tendência de cresci-mento, com aumentos de 51% e 13%, respectiva-mente em comparação a 2008 (APPA, 2009).

Atualmente, o Pátio Público de Triagem tem capacidade para cerca de 900 vagas para caminhões com destino ao Corredor Público de Exportação onde a movimentação de caminhões também é in-tensa (APPA, 2009). Diariamente, chega ao porto uma média de 1.000 a 1.200 carretas, sendo que de 300 a 350 caminhões são encaminhados para o terminal público de grãos. Uma novidade em 2009 é que o silo público passará a ter um novo sistema de controle de armazenamento, o qual dará condições para que até 1.400 caminhões girem tranquilamen-te sem a formação de filas ao longo da rodovia em direção ao porto.

Para conter a maior parte dos problemas que o Porto de Paranaguá vinha enfrentando nos últimos anos, a Appa confirmou em fevereiro dez obras e projetos a serem realizados nos Portos do Paraná em

2009: (1) Terminal Público de Fertilizantes, (2) Pátio Público de Veículos, (3) Plataforma Adu-aneira, (4) Pátio de Triagem de Caminhões, (5) Terminal Público de Frigorificados, (6) Aquisi-ção da Draga, (7) Corredor Oeste de Exportação, (8) Remodelação do Cais / Aprofundamento, (9) Porto Público do MERCOSUL e (10) Revitaliza-ção do Porto de Antonina.

Além destas obras, haverá a criação, em 2009, de um recinto industrial alfandegado em Paranaguá que trará empregos e como conseqüência, renda para a região. Este projeto prevê a instalação de 12 indústrias não-poluentes numa área que está em processo de aterramento pela Appa.

Tais investimentos já estão demonstrando re-sultados para a receita do Porto de Paranaguá. A capacidade operacional do Porto de Paranaguá foi fator decisivo para que sete armadores se reunissem num único serviço e optassem por movimentar seus contêineres no terminal paranaense (APPA, 2009, p. 3). Esta medida é o resultado da crise econômica internacional que vem afetando as empresas desde o último trimestre do ano passado (2008), que acabou por obrigando as empresas a se unirem neste perío-do de baixa no comércio externo.

Em contrapartida com a crise econômica, a armadora MSC apliou suas operações. A partir de 13 de março, passou a movimentar 360 contêineres por semana, entre importação e exportação (APPA, 2009).

Sendo assim, é possível identificar a importância que um porto bem estruturado tem em relação à economia de um país, trazendo investimentos ex-ternos por conta da confiabilidade demonstrada por sua infraestrutura moderna.

6. RELEVÂNCIA DO PORTO DE PARANAGUÁ PARA O SISTEMA PORTUÁRIO BRASILEIRO

Atualmente, o Porto de Paranaguá lidera as ex-portações de grãos da América Latina, tendo seu volume equilibrado ao mesmo período de 2007. Ele é responsável por mais de 30% do volume total em-barcado no Brasil.

Em 2009, a previsão para exportação de soja chegará a 23 milhões de toneladas em todo o país e o Porto de Paranaguá deverá alcançar níveis ainda maiores de exportação (APPA, 2009).

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O Porto de Paranaguá teve um forte destaque nas exportações em 2008, o açúcar. Foi registrado um aumento de 28% quando comparado com 2007. Outro ponto que merece destaque foi às ex-portações de contêineres, as quais acabaram por se equiparando ao ano de 2007, com cerca de 297.301 unidades exportadas. Este foi o fato principal que contribuiu para o crescimento da receita cambial da Appa, afinal, a carga exportada via contêineres possuem um valor agregado diferenciado (APPA, 2009).

Por outro lado, as importações realizadas pelo Porto de Paranaguá ficaram centradas em 2008 em veículos, com alta de 35%. No total, foram 80.503 veículos importados, contra 59.546 de 2007 (APPA, 2009). De maneira negativa, a crise financeira que teve início nos Estados Unidos no segundo semestre de 2008 fez cair a importação de fertilizantes. Sen-do assim, houve uma queda brusca nos preços, os importadores diminuíram o ritmo dos negócios e o Porto de Paranaguá fechou o ano com a importação de 5,9 milhões de toneladas do produto, com uma queda de 20% em relação a 2007, porém, mesmo com esta queda, o Porto continua sendo o principal ponto de entrada de fertilizantes no Brasil (APPA, 2009).

Do total geral da movimentação das cargas du-rante o ano de 2008 (33.005.270 toneladas), cerca de 67%, ou seja, 22.147.591 toneladas foram ex-portadas e 33% se deram através de importações (APPA, 2009). Sendo assim, os produtos que mais se destacaram na composição das exportações e importações, em 2008, foram o açúcar, containe-res, cevada e veículos. No contexto geral, a Receita

Cambial, fechou o ano de 2008 com um acréscimo de 18,91%, cerca de 14,02 bilhões de dólares, con-tra 11,79 bilhões de 2007 (APPA, 2009).

7. CONSIDERAÇÕES FINAISEncerra-se este trabalho com a visualização da

relevância do Porto de Paranaguá ao Sistema Por-tuário Brasileiro por ser um grande escoador de produtos brasileiros. Principalmente em relação aos grãos, e mais do que isso, por demonstrar que com os investimentos nele centrados, está sendo possí-vel maximizar sua capacidade produtiva a fim de atender a demanda das exportações e importações. Dessa forma, o ciclo se completa, ou seja, o projeto da criação das empresas na região portuária gera em-prego, aumenta-se a renda e há um impacto positivo em relação à economia brasileira. Neste sentido, ob-servou-se que a Administração dos Portos do Paraná (APPA), está focando os fatores apontados no traba-lho ao idealizar um projeto capaz de minimizar os problemas dos portos de maneira geral: capacidade operacional; proximidade da região produtora; ade-quação dos acessos; o relacionamento com a cidade próxima ao porto; equilíbrio entre os papéis das pes-soas que tomam a frente das decisões nas empresas e nos portos; características dos acionistas e ofertas econômicas diversificadas a fim de serem utilizados para a estruturação do Porto de Paranaguá. Certa-mente os resultados irão aparecer, e a concretização dos investimentos será observada através do retorno obtido pelo aumento da receita portuária e da sa-tisfação dos investidores (empresas que utilizarão os serviços portuários).

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Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 30-34, 200930

O papel das Sogo Shosha (Trading Companies Japonesas) no processo de comercialização do Etanol Brasileiro

DANIEL FRASSON [email protected]

CRISTIANO MORINIEstágio Supervisionado em ADM – GNI - UNIMEP

[email protected]

Resumo: Atualmente um problema enfrentado, em escala mundial, é o aquecimento global e suas con-seqüências catastróficas. Tal dificuldade, sendo criada a partir da queima de combustíveis fósseis (como a gasolina) e a emissão de gases poluidores, gerou a necessidade de um combustível mais limpo e renovável (o Etanol, por exemplo). O Brasil desponta como maior produtor deste combustível e o Japão como maior importador. Assistimos, neste momento, o estreitamento das relações comercias nipo-brasileiras proporcio-nadas pelas Sogo Shosha ou Trading Companies Japonesas.

Palavras-chave: Sogo Shosha, Trading Company, etanol, Brasil, Japão.

Abstract: Currently a faced problem on a global scale, is the global warming and its catastrophic conse-quences. This difficulty has being created from the burning of fossil fuels (as gasoline) and the emission of polluting gases, generated the need for a cleaner and renewable fuel (as ethanol). Brazil stands as the largest producer of this fuel, and Japan as the largest importer. We saw this moment, the strengthening of trade relations Japan-Brazil offered by Sogo Shosha or Japanese trading companies.

Keywords: Sogo Shosha, Trading Company, ethanol, Brasil, Japan.

1. APRESENTAÇÃO HISTÓRICAA recuperação econômica do Japão, no perío-

do pós-guerra, surpreendeu o mundo, atribuindo-se diferentes razões ao sucesso nipônico, como por exemplo, a “religiosidade do povo Japonês” (VER-GARA & YAMAMOTO, 1997, p. 38), ou ainda a “escassez de recursos naturais do território nipônico como fator de incentivo à superação de seus pró-prios limites” (FRIEDMAN & LEBARD, 1991), por sua vez, Webb (1960) e Vizentini (1996) lem-braram das intervenções norte-americanas para com

a Terra do Sol Nascente, principalmente no período pós-guerra.

Durante a segunda guerra mundial, o territó-rio japonês sofreu intensamente com bombardeios (com destaque para o ataque atômico das cidades de Hiroshima e Nagasaki) os quais destruíram grande parte de todas suas estruturas físicas (prédios indus-triais, residenciais, públicos; usinas elétricas, portos e aeroportos) e mataram mais de oito milhões de pessoas, entre civis e militares, durante os anos do conflito.

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Após a derrota, o Japão ficou ocupado pelos Es-tados unidos até 1952. Os Estados Unidos realiza-ram um investimento pesado nas indústrias de base japonesa, em especial nos grandes conglomerados que a partir de então começaram a adquirir novas características operacionais e comercias, sendo reno-meados mais tarde para SOGO SHOSHA., empre-sas japonesa que possui a mesma função básica das Trading Companies ocidentais, sendo a principal o comércio internacional de importação e exportação de mercadorias.

Contudo, as Sogo Shosha não podem ser con-fundidas com as Trading Companies ocidentais, pois a característica mais importante, diferenciadora das demais, está na ampla diversidade de produtos co-mercializados (de reatores nucleares a guloseimas chinesas), assim:

Uma das mais marcantes características de uma trading company japonesa é sua vas-ta gama de produtos, alcançando dez mil diferentes. Assim sendo, é comum dizer-se que as SOGO SHOSHA negociam de tudo, começando por macarrão instantâ-neo a reatores nucleares (HASEGAWA, 1987, p.81).

Atualmente acrescenta-se a essa lista outros se-tores mais modernos, bem como biogenética e bio-seguranca, multimídia além de telecomunicações (satélites e afins) e a indústria espacial, como men-ciona Söderberg (2000). Outro produto marcante é a comercialização de bicombustíveis, como veremos mais adiante.

2. TRADING COMPANY NO BRASILNo Brasil, as Trading Companies tiveram sua

criação e regulamentação em um período de grande prosperidade e desenvolvimento econômico do país, chamado de “milagre brasileiro” (melhor dizendo, durante os anos de 1968 a 1973, fase de consoli-dação do II PND - Plano Nacional de Desenvol-vimento). Tendo em vista esse fato, observaremos e entenderemos uma Trading Company no Brasil, que possui como principal objetivo o desenvolvimento e incentivo à atividade exportadora brasileira, desta-cando ainda que a atividade dessas empresas não se confunde com a de produção para exportação ou de

representação comercial internacional, mas caracte-riza-se, especialmente, pela aquisição de mercado-rias no mercado interno para posterior exportação (EMPRESA..., 2008).

No Brasil, as empresas com atividades produti-vas, industriais ou comerciais, destinadas ao merca-do externo, possuem um tratamento diferenciado no que se diz respeito aos tributos exigidos pelos municípios, estados ou pela federação. As empresas exportadoras estão imunes do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), e beneficiam-se da não incidência do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), entre outros.

Entretanto, um problema enfrentado estava na denominação que estas empresas assumiam no Bra-sil, podendo ser chamadas de Trading Company ou também de Comercial Exportadora. Com essa di-ficuldade, recorreremos a Ratti (1991) e ao seu po-sicionamento, descrevendo uma comercial exporta-dora como “uma modalidade de Trading Company, criada pelo Decreto-lei n.º 1.248/72 e que se dedica à exportação unicamente” (RATTI, 1991, p.90). E, desta forma concluímos que não existem mais divergências legais entre essas empresas, pois estão equiparadas legalmente segundo o DL 1.248/72, e a Portaria SECEX nº 36, de 26/11/2007). A única diferença observada entre uma Trading Company e uma Comercial Exportadora é o termo empregado, apenas uma divergência lingüística.

3. DESENVOLVIMENTO DO ETANOL NO BRASIL

Com o início do conflito armado em território europeu à época da I Guerra Mundial, a falta de gasolina no Brasil era um problema real. Essa situ-ação trouxe motivação para que usinas nordestinas realizassem experiências de misturas de álcool com outros combustíveis, prática que se tornou comum no nordeste.

Com o consumo do álcool carburante em franca ascensão, o governo brasileiro se vê obrigado a criar, em 1933, o Instituto de Açúcar e Álcool (IAA), vi-sando facilitar a liberação de créditos destinados à criação de lavouras de cana-de-açúcar e usinas su-cro-alcooleiras e ainda investir em pesquisas para o aperfeiçoamento da produção de álcool (MAR-COCCIA, 2007).

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Findada a primeira guerra mundial, o período de paz não se prolonga por muito tempo: os países dependentes de petróleo importado sofrem um novo golpe, estando novamente reféns do racionamen-to de combustíveis derivado do petróleo. Durante esse período, no Brasil, a adição de álcool à gasolina atingia a ordem de 42%, elevando o seu consumo a patamares jamais visto (MENEZES, 1980).

Em 1973, mediante o conflito entre árabes e judeus, a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) lança um embargo à produção e oferta de petróleo aos Estados Unidos e Europa, li-mitando quotas diárias de produção, fazendo com que o preço do petróleo alçasse patamares jamais vistos, gerando um fenômeno conhecido global-mente como “primeiro choque do petróleo”. Nesse período o Brasil, detentor de boa tecnologia e vasta experiência na produção e utilização do álcool como fonte alternativa de combustíveis, cria por meio do Decreto 76.593 de 14/11/1975, um agressivo pla-no de investimentos para estimular a produção de álcool, por meio da expansão das áreas cultiváveis e a construção de destilarias, nomeado de Progra-ma Nacional do Álcool, ou popularmente Proálcool (MARCOCCIA, 2007).

Atualmente, o uso do etanol objetiva razões es-tratégicas e ambientais: as constatações científicas acerca do aquecimento global e das mudanças cli-máticas mundial, por meio da emissão do gás car-bônico (sendo o principal agente emissor, veículos automotores movidos por combustíveis fósseis) des-pertou conscientização mundial sobre o efeito estufa e suas conseqüências. O Brasil, sendo o maior e mais experiente produtor mundial de etanol, torna-se re-ferência global em combustíveis renováveis.

3.1 Oferta de EnergiaAo final do século XVIII, a revolução indus-

trial assume o status de marco do desenvolvimento econômico, tecnológico, cultural, político, modifi-cando os padrões e parâmetros das sociedades in-fluenciadas. Contudo, da revolução industrial até o presente momento, a situação pouco mudou, tendo em vista que a matriz energética do capitalismo mo-derno ainda é sustentada pela queima de combustí-veis fósseis (carvão mineral e vegetal, petróleo e de seus derivados), agravando ainda mais o processo

de emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Conforme pode se observar no Gráfico 1, notamos o surgimento de novas fontes de energia, como a hidráulica, a nuclear e os produtos da cana.

Gráfico 1: Oferta de energia no Brasil e suas fontes.

FONTE: MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2007.

O Gráfico 1 apresenta informações que mos-tram que a utilização da lenha e carvão vegetal vem declinando significativamente do século XX para o XXI, frente a outras formas de energia, como pe-tróleo de derivados, cuja utilização se massificou a partir dos anos 1940.

Lançadas as discussões sobre as mudanças cli-máticas, destacamos a Conferência de Kyoto, rea-lizada no Japão em dezembro de 1997, quando os países membros da Convenção sobre Mudanças Climáticas (CMC) assinaram o Protocolo de Kyo-to, documento que cria leis e dita metas de redução e combate ao aquecimento global, e que ainda suge-re a substituição da gasolina por outras fontes mais limpas, como o etanol. Severo (2006) afirma que, para os países desenvolvidos, o álcool carburante brasileiro é o único caso de sucesso no mundo no uso de combustíveis renováveis em grande escala.

4. O COMÉRCIO MUNDIAL DO ETANOLAo lado da euforia aparentemente justificada

pelas oportunidades de negócios que os biocombus-tíveis abrem, deparamo-nos com diversas questões políticas, como o posicionamento oficial da ONU e de seu relator, Jean Ziegler, para o direito à alimen-tação, afirmando que o uso de terras férteis para a produção de álcool reduz a área destinada às culturas tradicionais de grãos, como o arroz e o trigo, sendo este fato “totalmente contrário aos interesses dos po-vos mártires da fome” (DUAILIBI, 2008, p. 34).

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Segundo Marcoccia (2007), mercados compe-titivos do petróleo tendem a inferiorizar a produção de etanol, objetivando macular a imagem e o uso do combustível. Sustentando suas declarações em da-dos do Ministério da Ciência e tecnologia (MCT), o governo brasileiro afirmou que o etanol brasileiro pode substituir 10% da demanda mundial de ga-solina em 2025, sem atingir reservas florestais ou outras fronteiras agrícolas. É, sem dúvida, uma afir-mação polêmica.

5. SOGO SHOSHA E ETANOLPara atender as necessidades nipônicas, é funda-

mental que as Sogo Shosha façam uma pesquisa de mercado, de forma a atender as solicitações contem-porâneas, inserindo novos produtos em sua vasta oferta comercial, como é o caso do etanol, produto diretamente associado ao Brasil, e pertinente a um dos maiores problemas contemporâneos da huma-nidade (o aquecimento global e suas conseqüências catastróficas).

Ao iniciar esta pesquisa acadêmica, acreditáva-mos que o papel de uma Sogo Shosha, durante o processo de internacionalização e comercialização do etanol brasileiro, era o de um interlocutor entre produtor e consumidor. Contudo as Sogo Shosha agem de maneira singular, quando não buscam ape-nas uma etapa da comercialização do etanol, e atu-am ampliando e desenvolvendo a produção, como é o caso da empresa Itochu.

Segundo afirmou Akira Yokota, vice-presidente executivo da trading japonesa: “Muitos se interes-sam apenas pela parte final dos projetos. Sentimos que, para ter sucesso, devemos nos envolver desde a produção e a logística até a exportação” (IMPUL-SO..., 2008).

Além de investirem em pesquisas e produção, as Sogo Shoshas japonesas associaram-se a algumas estatais do Brasil, ansiosos por parcerias cada vez mais longas e sólidas. Como exemplo, temos o caso da Petrobrás, que estabeleceu uma joint venture com uma empresa japonesa. Da associação, originou-se a Brazil-Japan Ethanol Co. Ltd. (BJE), ou ainda, parcerias com a gigante COSAN, líder nacional na produção de açúcar e álcool, com quem japoneses possuem estudos para a construção e instalação de um alcoolduto:

A Cosan negocia um acordo com as tra-dings Itochu e Marubeni para a construção de alcooldutos no Brasil. Se consumada, a parceria vai contrariar os planos confessos da estatal (Petrobras) de controlar de for-ma quase absoluta o transporte de etanol no país. (COSAN..., 2008).

Em síntese, pode-se perceber que há um ama-durecimento nas relações Brasil-Japão em termos de interesses pelo etanol e em termos de estabelecimen-to de parcerias entre o maior exportador de etanol do mundo (Brasil) e o maior importador de etanol do mundo (Japão).

6. CONSIDERAÇÕES FINAISEstudos mostraram o potencial de consumo do

mercado mundial, seja por necessidade (alta inter-nacional nos preços do petróleo), seja pela consci-ência ambiental (mudanças de consumo usando combustíveis alternativos, limpos e mais eficientes), ou seja, pela implementação de novas tecnologias da indústria automobilística (motores bicombustíveis). Esses motivos fizeram com que a consultoria inter-nacional F.O Licht (2006), estimasse que o mercado mundial para o etanol superará 70 bilhões de litros para o ano de 2010, mais de 70% do consumido em 2004, conforme Tabela 1.

TABELA 1: Consumo Mundial de Etanol(estimativa)

ANO VOLUME(Bilhões de Litros)

2004 41

2005 50

2006 54

2007 58

2008(1) 61

2009(2) 66

2010(1) 70

(1) EstimativaFont: F. O. Lincht, 2007.

Não existem estudos que mostrem quais são as principais Trading Companies japonesas importa-doras de etanol brasileiro. O certo é que a presença

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de investidores e investimentos japoneses, para o desenvolvimento e produção de etanol cresce ano a ano, e a maior prova disso é que, segundo a Câmara de Comércio Brasileira no Japão, a Petrobras (e seus parceiros japoneses) tem planos confessos de expor-tar, até 2010, 3,5 bilhões de litros de etanol para o

Japão. O restante da demanda, cerca de 2,5 bilhões, seria disputado entre grandes produtores brasileiros, como, por exemplo, a Cosan e seus parceiros japo-neses. Vale relembrar, que tanto a iniciativa privada (Cosan) quanto a pública (Petrobras e Transpetro) contam com parcerias de tradings japonesas.

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Um Estudo Exploratório sobre FAIR TRADE

ROBERTA [email protected]

REGINA CÉLIA FARIA SIMÕESEstágio Supervisionado em ADM - GNI - UNIMEP

[email protected]

Resumo: O artigo teve como objetivo geral apresentar, analisar e verificar as diferenças entre dois tipos de co-mércio: o comércio tradicional internacional e o recente Fair Trade. Contraponto o comércio internacional tradicional foi apresentado o Fair Trade, seu surgimento foi a quarenta anos atrás como nova oportunidade de se fazer comércio. Pode-se observar que o Fair Trade mesmo pouco difundido no Brasil, representa uma nova prática comercial flexível, caracterizado por proporcionar equilíbrio e justiça nas relações comerciais a nível global, melhorando as condições de vida da comunidade produtora.

Palavras-Chave: Comércio Internacional, Teorias do Comércio Internacional, Fair Trade.

Abstract: This article has as a general goal, analyze and verify the differences between two types of trade: the traditional international trade and the recent Fair Trade. On the contrary to the traditional international trade the Fair Trade, this concept appeared in the 60s as a new opportunity of trading. It can be observed that Fair Trade even not so spread in Brazil represents a new flexible trade practice, characterized by providing a balanced and fair strength in the trading relations globally, improving the life conditions of the producing community.

Keywords: International Trade, International Trade Theories, Fair Trade.

1. INTRODUÇÃOA forma de inserção dos países nas relações co-

merciais a partir das teorias de comércio interna-cional aponta para desigualdade entre países. Surge então o “Fair Trade”, ou comércio justo, um movi-mento internacional, que nasceu na década de ses-senta para beneficiar todos os pequenos produtores rurais de países em desenvolvimento a vender seus produtos para o mercado internacional. O “Fair Trade” é definido mundialmente como sendo co-mércio justo, ético, solidário, onde quem faz parte dele são todos os produtores menos favorecidos no comércio internacional (STRAZER; 2005).

Esses pequenos produtores sem experiência no comércio se organizam por meio de cooperativas onde contam com apoio de instituições nacionais e internacionais que passam a ajudá-los a se estrutura-rem, e tão suporte técnico, administrativo, financei-ro e consultoria, visando melhorias para o comércio justo, facilitando assim futuras negociações (BSD; 2004).

Para que produtores venham ter certificado (selo) “Fair Trade”, foi criado no ano de 1997, a Fair Trade Labelling Organizations (FLO), considera-da a principal organizadora de comércio solidário, onde cada integrante leva o selo FLO.

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Os produtos que tem o certificado FLO tanto no mundo como no Brasil são: café, suco de laran-ja, chá, bananas, cacau, açúcar, mel, manga e outras frutas, sucos tropicais, arroz, e até bolas de futebol. Outros produtos são comercializados sem o certifi-cado são eles: óleo de soja, melão, camisetas, artesa-natos e outros.

Esse sistema beneficia o pequeno produtor dan-do melhores condições de trabalho, cuida e preserva melhor o meio ambiente, protege os menores de idade e prevê melhores condições para as mulheres.

O objetivo do artigo foi apresentar, analisar e verificar quais as perspectivas de crescimento para o comércio “Fair Trade”. De forma mais especifica procurou: a) contextualizar o processo histórico e o desenvolvimento do comércio de forma geral; b) ca-racterizar o comércio “Fair Trade” a partir de concei-tos, dos agentes envolvidos nesse tipo de comércio; e, c) expor o certificado exigido para o comércio, demonstrar quais os produtos que contém selo “Fair Trade” e quem são os maiores beneficiados com esse tipo de comércio.

2. METODOLOGIAPara fundamentação teórica do estudo foi utiliza-

do o método histórico, que procura identificar fatos e acontecimentos ocorridos no passado descreven-do e explicando, para verificar possíveis implicações de sua influência na sociedade atual, (FACHIM; 2001), contribuindo para o desenvolvimento de informações reais e coerentes sobre “Fair Trade”, po-dendo atender as vantagens oferecidas aos pequenos agricultores e a inserção dos mesmos ao comércio nacional e internacional. A pesquisa bibliográfica utilizada foi para embasamento conceitual realizada em livros, revistas especializadas em comércio e em sites específicos sobre o tema na Internet.

3. O MERCANTILISMO E O COMÉRCIO INTERNACIONAL

Segundo Dainez (2006), a primeira forma de se fazer comércio entre as nações se deu com o mercan-tilismo fase de transição do feudalismo para o capi-talismo, que ficou vigente do século XVI ao XVII. Inicia o autor seus estudos apresentando que o mer-cantilismo foi o marco da crise social, no qual estava para surgir um novo sistema, o capitalismo. Nessa

época toda a sociedade estava vivendo um caos, tan-to na economia, como na cultura, na política, na religião e nas ciências.

Os mercantilistas tentavam conceituar a riqueza como sendo a quantidade de metais preciosos esto-cados que um país tem, ou seja, “quanto maior o estoque de metais preciosos, portanto, mais rico é um país e por extensão, sua população”, (DAINEZ, 2006, p. 36). Para se enriquecer nessa época o país teria que contar com minas de ouro, ou procurar novas minas em outro s países, o mais utilizado en-tre as nações era o saque e a pirataria.

Retornando o autor, esse, explica a crítica ao mercantilismo através do filósofo inglês David Hume mostrando que “o poder de compra da mo-eda é inversamente proporcional a sua quantidade”, (DAINEZ, 2006, p. 37). Hume demonstra se a quantidade de metais aumentarem dentro de uma nação e houver uma queda com relação ao poder de compra, isso influenciará em um aumento de moedas, podendo assim está adquirindo mais mer-cadorias, levando a um processo inflacionário. Mas caso a quantidade de metais diminuírem com isso será necessário para comprar qualquer produto uma quantidade e moedas menores, havendo assim um processo deflacionário.

Dainez (2006), conclui através das idéias de Hume que, se caso houvesse um aumento dos preços dos produtos domésticos pode-se afirmar que haverá uma queda nas exportações, pois com os preços elevados os outros países não comprarão ou diminuirá a compra pelos produtos domésticos. Por esse mesmo motivo as importações aumentarão, pois os produtos estrangeiros estão mais baratos que os nacionais, levando a um aumento nas exportações e diminuição nas importações no resto do mundo, todo esse processo permanecerá vigente até que o superávit comercial doméstico desapareça.

3.1 ClássicosA escola clássica, de acordo com os preceitos de

Adam Smith e David Ricardo, teve como foco o es-tudo do comércio entre as nações. Alguns autores relatam o pensamento clássico, conforme exposição a seguir.

Adam Smith publicou, em 1776, A Riqueza das Nações: investigação sobre a natureza e suas causas.

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Smith buscou esboçar as diretrizes de como deveria se dar o comércio entre os países. Portanto, quando uma nação se especializa na produção da commodi-ty em que possua vantagem absoluta, trocaria parte de sua produção pela commodity que apresente des-vantagem absoluta, assim, as nações terminam por consumir mais de ambas as commodities (SALVA-TORE; 1978).

Uma parcela muito pequena do comércio inter-nacional pode ser explicada pelas vantagens absolu-tas, dessa forma, após Smith, coube a David Ricardo explicar os ganhos com o comércio e traçando um padrão para o mesmo.

As leis das vantagens comparativas, formulada por Ricardo em 1817, constitui-se como um impor-tante e incontestável postulado da economia e com diversas aplicações práticas (SALVATORE; 1978). Num sistema comercial perfeitamente livre, cada país naturalmente dedica seu capital e trabalho à ati-vidade que lhe traga maior nível de bem-estar.

De acordo com Gonçalves (et al; 1998), as van-tagens comparativas não explicam o comércio inter-nacional nos dias atuais, visto que não consideram o papel desempenhado pela tecnologia, a diferen-ciação dos produtos e os rendimentos crescentes de escala. Ainda, a lei pressupõe que haja apenas um fator de produção, que o comércio seja entre dois países, que os custos de transporte sejam nulos e que a Balança Comercial esteja sempre em equilíbrio.

3.2 NeoclássicosSegundo Gonçalves (1998), a teoria pura do co-

mércio internacional foi criada por dois economistas suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin. Ohlin começou desenvolver essa teoria pensando primeiramente na dotação de fatores, nas tecnologias, insumos, produ-tos e nas preferências dos consumidores. Alterando parte do modelo usando idéias de Heckscher, po-dendo assim ser utilizado no comércio internacional e inter-regional. Essas idéias partiram do pressupos-to que a economia regional poderia se ter como per-feita em seu interior e imperfeita entre regiões, pois os preços dos produtos poderiam variar em determi-nadas regiões, isso aconteceria porque certas regiões possuíam tecnologias, preferências de consumidores fatores de produções todos distintos.

Retornando, o autor coloca que Ohlin mudou a abordagem, expondo que as regiões são diferentes somente nos fatores de produção, mas possuem em comum tecnologias e preferências, em seu modelo de Ohlin explica, caso duas regiões comecem a fazer comércio haveria de ter dois produtos, essas trocas iriam acontecer quando ambas as regiões deixassem de se isolar e começassem a trocar mercadorias aque-las relativamente mais baratas em cada território.

3.3 Teoria da Troca DesigualEm meados da década de sessenta segundo Sin-

ger (1991), o francês A. Emanuel criar a Teoria da Troca Desigual, essa teoria já existia de forma acu-ada nas teorias de Ricardo e foi mencionada por Marx. Emanuel coletou dados que demonstrou que nos últimos cem a cento e cinqüenta anos a dife-rença nos salários entre países desenvolvidos e não desenvolvidos aumentou, pois pode perceber que essa diferença ocorre também com relação a países desenvolvidos. Pode-se explicar que o motivo para a grande desigualdade de salários em diferentes pa-íses ou mesmo em um mesmo país é pelo fato de haver fatores econômicos, demográficos e institu-cionais, mas que não será ditado. Mas para o autor o que realmente importa com relação a “teoria do comércio internacional é que havendo uma divisão internacional do trabalho relativamente rígida, cada país tendo se especializado em determinadas linhas de produção” (SINGER; 1991, p. 154).

Na divisão internacional do trabalho, são as mercadorias que possuem desenvolvimento tecno-lógico recentes. Por esse motivo quanto mais novo é um produto mais caro ele será, pois exige muita so-fisticação tecnológica, mão-de-obra altamente qua-lificada e consumidores com poder de aquisitivos para comprar esses produtos. Já quando o produ-to envelhece, ou seja, já está no mercado há algum tempo os preços tendem a cair consideravelmente, pelo motivo de haver um baixo custo dos fatores de produção, inclusive mão-de-obra. Por esse motivo que os salários em países industrializados onde há divisão internacional do trabalho são mais elevados e as exportações desses produtos são monopoliza-dos, já os países pouco industrializados os salários são baixos e especializam-se em produtos “velhos”.

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Por fim o autor, conclui que enquanto houver diferenças com relação à tecnologia e salários entre desenvolvidos e não desenvolvidos, o monopólio continuará nas mãos de pequenos grupos de países, ocorrerá a queda dos termos de intercâmbio, como a teoria da troca desigual afirma e uma transformação da divisão internacional do trabalho na qual indús-trias mundiais se deslocarão para países, haverá salá-rios baixos e um mercado interno extenso.

4. CONSIDERAÇÕS SOBRE COMÉRCIO JUSTO

Com o objetivo de reparar as distorções geradas pelo comércio globalizado, de incremento de nego-ciações comerciais e, ao mesmo tempo, de uma dis-tribuição de renda cada vez mais injusta e desigual, e condições de vida insatisfatórias para a maior parte da população do mundo – em especial nos países em desenvolvimento – surgem, neste cenário, novas formas de comércio, de relações econômicas. Trata-se de práticas cooperativistas e solidárias, tais como: o comércio ético; a economia solidária; o comércio justo.

Os conceitos sobre Fair Trade são apresentados por diversos autores e instituições. Neste item apre-sentamos os conceitos para conhecimento do leitor. Segundo BSD (2004), Fair Trade pode ser descri-ta como sendo comércio justo, ético ou solidário, mas no Brasil é conhecido como comércio justo. Durante conferência realizada pela International Fe-deration on Alternative Trade (IFAT), em 2001, de-finiu-se comércio justo da seguinte forma: comércio justo nada mais é do que uma parceria comercial, baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca maior eqüidade no comércio internacional, contribui para o desenvolvimento sustentável atra-vés do oferecimento a produtores marginalizados de melhores condições de troca e maiores garantias de seus direitos.

4.1 Objetivos e Princípios do Comércio JustoVários são os objetivos do comércio justo, en-

tre eles cabe ressaltar as boas condições de trabalho, parcerias em longo prazo, preço justo, proximida-de com o consumidor, igualdade entre gêneros e desenvolvimento local (BSD, 2004). Ainda, com relação aos objetivos esse sistema no Brasil, é cons-

tituído em: ter boas condições de trabalho, garantir vida digna e perspectiva de futuro, promover justiça social, segurança alimentar e nutricional, desenvol-vimento local e remunerar de forma justa os traba-lhadores (FERROS e ZERBINI; 2008).

Já os princípios para participar desse comércio são: produtores desfavorecidos que buscam melho-res condições para praticar o comércio e melhores e maiores garantias de seus direitos. Esses trabalhadores lutam por melhores condições de trabalho respeitan-do o meio ambiente, pela igualdade entre homens e mulheres, proteção à criança e por fim o desenvolvi-mento local dessas comunidades (BSD; 2004).

4.2 Origem do Comércio Justo no Mundo e no Brasil

O comércio justo originou-se há cerca de qua-renta anos, através do diálogo entre organizações não-governamentais e um grupo de produtores de países em desenvolvimento. O intuito era “reverter a tendência injusta dos termos de troca do comér-cio internacional, promovendo o reconhecimento do trabalhado dos produtores do Sul através do pagamento de um preço justo por seus produtos e sensibilizando os consumidores do Norte para que tomem conhecimento desta realidade” (FRETEL; 2003, p. 15).

Nacionalmente a origem do comércio justo no Brasil conforme Brasil (2009) teve seu inicio aproxi-madamente na década de setenta, ligada ao trabalho da igreja com a organização de trabalhadores rurais e na comercialização informal de artesanato. Para as autoras Schmidt e Lages (2008), esse sistema é recente no Brasil, e o seu conceito não está sendo difundido como o desejado.

Na visão do SEBRAE (2004), os benefícios são: ajudar trabalhadores e produtores marginalizados a fazer comércio, respeito às legislações nacionais e in-ternacionais, crianças freqüentando escolas e respei-to ao meio ambiente. Para Strazer (2005), há vários benéficos dos quais considera mais importantes são os lucros obtidos e a valorização social e familiar.

4.3 Participante do Comércio Justo no Mundo e no Brasil

Os principais participantes do comércio justo tanto no mundo quanto no Brasil são as ONGs e as

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associações de produtores, SEBRAE, cooperativas, entidades religiosas e governo ajudam produtores a se organizarem e levam até essas comunidades a “in-clusão social, geração de renda e desenvolvimento local sustentável” (SEBRAE; 2009, p. 2).

Exemplo de comércio justo é o que acontece na Europa e EUA, no qual, as mercadorias são colo-cadas entre produtos de alta qualidade, e são mos-tradas como escolha de estilo de vida. (SEBRAE, 2004). Outro exemplo citado pela Brasil (2009) de comunidades que praticam o comércio justo, são eles: Artesanato para Ambientação (AMBA), Brasil Novo Artesanato, Casa Renascer, todas essas insti-tuições fazem produtos artesanais.

4.4 Certificação Fair TradeNa década de cinqüenta o movimento nasce

através de um missionário que na época trabalhava no México na plantação de café, com esse missioná-rio estava também um funcionário de uma ONG religiosa, que juntos tiveram a idéia de criar um selo que pudessem identificar produtos de origem Fair Trade. Por volta de 1988 em Max Havelaar – Ho-landa foi criado o primeiro selo de certificação Fair Trade, essa idéia se espalhou rapidamente, pois em apenas um ano os produtos com selo de certificação já estava com 3% de participação no mercado.

Essa idéia foi tão significativa que outros países também quiseram ter suas próprias certificações (selo). Outros países adotaram suas próprias marcas como Transfair na Alemanha, Fairtrade Foundation na Grã-Bretanhã e Rattvisemark na Finlândia. No ano de 1989 também na Holanda nascia a Inter-national Fair Trade Association (IFAT), que é uma rede global de organização do comércio justo.

Os principais mercados para o comércio justo segundo a FLO no ano de 2005 foi os “EUA com 344,13 milhões de Euros; o Reino Unido, com 205,6 milhões de Euros; a Suíça com 143,1 milhões de Euros; e a França, com 109 milhões de Euros”. Mas os países que mais cresceram em comerciali-zação de produtos Fair Trade são: Austrália e Nova Zelândia com 178%, Canadá com 99% e Finlândia com 73% (FERROS & ZERBINI, 2008, p. 3).

O mundo está em desarmonia, o cidadão está ficando a cada dia mais consciente e por isso dis-põe-se a pagar mais, pelo produto. O consumidor

que comprará tais produtos será aquele que optar por mercadorias de alta qualidade e que agregam valor social, o potencial consumidor comprará os produtos por ter clareza que um outro mundo po-derá existir. O mercado alvo para esses produtos são mulheres das classes A e B, acima de trinta e cinco anos ou mulheres com maior conscientização social, muitas vezes esse público já é consumidor de produ-tos orgânicos (SEBRAE; 2004).

4.5 Formas de Comercializar Produtos de Co-mércio Justo

As melhores formas de comercialização ou aces-so ao mercado, são em: “feiras locais ou itinerantes, cooperativa de compra; venda institucional e troca de mercadorias – escambo” (SEBRAE, 2004, p. 9). Outras formas de comercialização são em lojas especializadas em produtos de comércio justo, não podendo deixar de lado as exportações, pois é o que gera maior lucro. Além da comercialização em lojas, esse sistema está fazendo parcerias com o pode pú-blico, que tem como objetivo comprar produtos de comércio justo para merendas escolares e também para restaurante municipal dos funcionários da pre-feitura.

5. CONSIDERAÇÕES FINAISO mercantilismo aparece como o primeiro con-

junto de idéias que procurava explicar o funciona-mento do comércio entre os países, enfatizando que as nações deveriam privilegiar o comércio e, final-mente, as exportações para a acumulação de metais.

Smith procurou mostrar que o comércio pode ser benéfico para as partes envolvidas, sugerindo que os países devem especializar-se na produção e comercialização daqueles bens nos quais consigam “vantagens absolutas” em relação aos parceiros co-merciais. Um país possui vantagem absoluta na pro-dução de um bem quando produz tal bem com me-nores custos de produção, em relação a outro país. Portanto, no comércio entre dois países, cada um deveria concentra-se na produção do bem no qual tem vantagem absoluta.

Ricardo aperfeiçoou o modelo de Smith, mos-trando que, para que os países se beneficiem dessa atividade, é necessário que apenas haja vantagens comparativas. Desse modo, na hipótese de comér-

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cio entre dois países, poderia ocorrer que um país obtivesse vantagens absolutas na produção de todos os bens em relação ao seu parceiro.

A teoria das vantagens comparativas foi refinada por Eli Heckscher e Bertil Ohlin, cuja análise, os autores propõem um modelo em que à existência de comércio entre países é explicada pela diferença na dotação de fatores produtivos, ou seja, depen-dendo da dotação de fatores, os preços relativos dos bens produzidos variam de país. Assim, os preços de mercado sinalizam para os agentes econômicos, permitindo uma alocação eficiente dos fatores pro-dutivos.

Com o processo de globalização, há tendência a ocorrer um enfraquecimento do poder explicativo da teoria de Heckscher-Ohlin em razão da crescen-te mobilidade de dotações (THORSTENSEN, et. al., 1994). A nova teoria de comércio internacional, denominada teoria estratégica do comércio, procura dar conta desses fatores, desenvolvendo explicações dos padrões de comércio e da competitividade com base no exame das interações estratégicas das empre-sas e de governos. Nesses modelos, o comércio e os investimentos internacionais ocorrem em mercados imperfeitamente competitivos, nos quais os fatores como barreiras à entrada, diferenciação de produtos, economias de escala, learning-by-doing e progresso tecnológico assumem importante papel.

O Fair Trade consiste em uma parceria comer-cial, baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca maior eqüidade no comércio internacio-nal. É uma modalidade de comércio que contribui

para o desenvolvimento sustentável através do ofe-recimento a produtores marginalizados de melho-res condições de troca e maiores garantias de seus direitos.

Para que haja comércio realmente justo, a fim de beneficiar pequenos produtores rurais deve haver al-guns princípios relevantes como transparência e co-responsabilidade entre todos os envolvidos, melho-res condições de trabalho, igualdade entre gêneros, respeito com o meio ambiente, rejeição ao trabalho infantil, respeito às legislações e produtores organi-zados em cooperativas, devem ser perseguidos.

Em se tratando da origem do comércio justo pode-se observar que os autores pesquisados de-fendem seu surgimento na década de sessenta, na Europa.

O selo de maior importância é o da FLO, que certifica produtos como café, laranja e outras frutas, chá, bananas, cacau, açúcar, mel, suco de laranja, sucos tropicais, arroz, bolas de futebol, óleo de soja, melão, camisetas e artesanato.

Esta prática de comércio vem ganhando cada vez mais força, possibilitando melhores condições de vida, saúde, trabalho, educação para os partici-pantes e a sociedade em que vivem.

Finalizando, o Fair Trade representa uma for-ma alternativa de comércio à forma tradicional já existente, viabilizando a participação de pequenos produtores nas relações comerciais internacionais a nível global, incentivando as práticas cooperativas, promovendo melhores condições de vida para os produtores e suas comunidades.

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Observações sobre as Diferenças entre Integração na América Latina, MERCOSUL e União Européia

JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS [email protected]

REGINA CÉLIA FARIA SIMÕESEstágio Supervisionado em ADM – GNI - UNIMEP

[email protected]

Resumo: O presente artigo teve como objetivo geral apresentar as diferenças e as semelhanças entre os dois blocos econômicos, MERCOSUL e União Européia, e a viabilidade do MERCOSUL se tornar uma União Econômica e Monetária (UEM). Ainda, são objetivos específicos: a) Contextualizar o processo histórico e o desenvolvimento dos dois Blocos Econômicos; b) Mostrar a formação dos blocos econômicos apresentando suas diferenças e como essas diferenças interferem no sucesso e no progresso dos países membros; c) Apre-sentar considerações sobre a viabilidade do MERCOSUL existir como uma União Econômica e Monetária. Utilizou-se o método histórico e a pesquisa bibliográfica para a realização do referido trabalho.

Palavras-chave: Teorias da Integração, Integração Econômica e Regional, MERCOSUL, União Européia, Supranacional.

Abstract: The present article had as a general goal to present the differences and similarities between the two economic blocs, MERCOSUR and the European Union, and the viability of the MERCOSUR to become an Economic and Monetary Union. Furthermore, specific objectives are: a) Contextualize the historical pro-cess and the development of the two Economic Blocks; b) Show the formation of economic blocs presenting their differences and how these differences interfere in the success and progress of the member countries; c) Present ideas about the viability of MERCOSUR exist as an Economic and Monetary Union. It was used the historical method and the bibliographical research for the accomplishment of the related work.

Keywords: Integration Theory, Regional and Economical Integration, MERCOSUR, European Union, Supranational

1. INTRODUÇÃOA globalização é um fenômeno que está ocor-

rendo a tempos no mundo e com ele a integração regional e a formação de blocos econômicos tem se tornado comum.

O MERCOSUL entrou em vigor no dia 1º de Janeiro de 1995 depois de um longo período de ne-gociação que se iniciou quando Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram em 1991 o Tratado

de Assunção. Porém a integração econômica desses países tem como antecedentes outras tentativas de integração de países da América Latina. Essas foram a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC) em 1962 e a Associação Latino-America-na de Integração (ALADI) em 1980.

Já a União Européia, com este nome, tem seu inicio em 1992 depois de assinado o Tratado de Ma-astricht. A Europa sofreu muitos anos com guerras

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que trouxeram conseqüências graves para o conti-nente. Assim, os seus dirigentes perceberam que o melhor modo de conter as guerras e garantir a paz seria a união de suas forças políticas e econômicas. Com isso as integrações foram acontecendo tendo então a União Européia como antecedentes: a BE-NELUX, união aduaneira entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo de 1948, a Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA) criada em 1951, a Comu-nidade Européia da Energia Atômica (EURATOM) e a Comunidade Econômica Européia (CEE) criada em 1957 pelo Tratado de Roma.

Mesmo a integração econômica tendo como objetivo a melhoria do comércio, economia e quali-dade de vida de sua população, países membros do MERCOSUL como Paraguai e Uruguai tem se sen-tido prejudicados no que diz respeito ao comércio por terem Brasil e Argentina como mandantes do bloco.

2. TEORIAS DA INTEGRAÇÃO E GLOBALI-ZAÇÃO

Um movimento chamado de cooperação inter-nacional começou a aparecer na primeira metade do século XX. A cooperação econômica internacional visa interesses comerciais e políticos, mas não dei-xando de lado os problemas sociais. A integração econômica é uma fase mais avançada dessa coope-ração, pois é através dela que se criam condições óti-mas para seu bom funcionamento.

2.1 Integração: Conceitos e DefiniçõesPara Balassa (1961), integração econômica é o

processo ou estado de coisas pelas quais diferentes nações decidem formar um bloco regional. Segun-do Betiol (1968) integrar não somente se justapor, mas sim fazer com que as partes se comuniquem formando um todo.

Perez (1988) define integração como sendo um processo mediante o qual dois ou mais países ado-tam, com o apoio das instituições comuns, medidas conjuntas para aprofundar a sua interdependência e obter assim benefícios mútuos.

Já Gonçalves (1998) define integração econômi-ca como o processo de criação de um mercado sem as barreiras comerciais preexistentes, de uma mobi-lidade de fatores de produção e de instituições que

permitam a coordenação ou unificação de políticas econômicas em uma região geográfica continua ou não.

Morini e Simões (2006) dizem que a integração econômica é um conjunto de acordos, normas, con-vênios, regulamentações que se estabelece entre dois ou mais países para que as econômicas desses países sejam desenvolvidas usando do artifício de vanta-gens econômicas por acordos comerciais, setoriais de produção, eliminação de barreiras, harmonização de políticas econômicas nacionais e internacionais entre outras vantagens.

Existem dentro desse processo de integração vá-rias fases, ou estágios, dependendo do grau de inte-gração entre os países envolvidos.

Betiol (1968) estabeleceu cinco fases até que se atingisse a integração total. A primeira fase é a Zona de Livre Comércio; a segunda é a chamada União Aduaneira; a terceira fase chama-se Mercado Comum que estabelece a livre circulação de fatores de produtivos (trabalho e capital); a quarta fase é a União Econômica; a quinta e última fase, de acordo com o autor, é a chamada Integração Econômica Total que são todas as outras fases juntas acrescida de uma única política monetária, fiscal, social e de desenvolvimento econômico.

Já Gonçalves (1998) observa que as formas de integração são quatro: Área de Livre Comércio, União Aduaneira, Mercado Comum e União Eco-nômica e Monetária.

Ainda, Morini e Simões (2006) colocam cinco fases para a formação dos blocos. São elas: Zona de Preferências Tarifárias, fase anterior a Zona de Livre Comércio, diferente do que os autores Betiol (1968) e Gonçalves (1998) colocam. A segunda fase, ainda de acordo com os autores, é a Zona de Livre Comér-cio, seguida de União Aduaneira, Mercado Comum e União Econômica e Monetária.

Balassa (1961) é considerado um dos principais teóricos da integração. A integração é vista por ele como um processo e como um estado de coisas, vin-culado à ampliação do comércio. Algumas questões tratadas pelos teóricos da integração reaparecem nas análises recentes sobre economia internacional. São de um modo geral, questões que tratam de desvio ou criação de comércio, políticas públicas e a ques-tão do desenvolvimento econômico.

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2.2 Teorias da IntegraçãoAs primeiras contribuições a respeito da teoria

da integração econômica encontram-se nas obras dos economistas clássicos como Adam Smith (1776) e David Ricardo (1817) que já mencionavam a exis-tência de vantagens comparativas como motivo para que o livre comércio gerasse um ganho em termos de eficiência alocativa aos países.

Mas é através da publicação de Viner (1950) in-titulada de “The customs union issue” que a teoria de integração econômica ganha consistência, com seu modelo que apresenta os efeitos da formação de uma união alfandegária, através dos conceitos de “criação de comércio” e “desvio de comércio”.

As primeiras tentativas de integração na América Latina a partir da década de 60 sofreram influencia tanto da teoria tradicional da integração, como da teoria cepalina do desenvolvimento econômico, que propunha a integração econômica como instrumen-to capaz de reduzir os desequilíbrios produzidos pela industrialização periférica com base na substituição de importações.

Ainda, a teoria da integração econômica ressal-ta que o consumo será afetado com a conseqüente substituição de bens produzidos interna e externa-mente por mercadorias dos países participantes, o que modificará a estrutura da produção e o fluxo de comércio.

A formação de blocos regionais para os países em desenvolvimento, que não conseguem garan-tir de certa forma a estabilidade política, pode ser de grande importância na medida em que romper acordos internacionais é muito mais difícil do que mudar políticas internas, tornando irreversíveis as reformas e acrescentando um elemento de estabili-dade das políticas desses países.

Segundo Machado (1993) o MERCOSUL tem que vencer as resistências nacionais ao estabe-lecimento de uma tarifa externa comum, criando as condições para a geração de vantagens comparativas na região de modo permanente.

No MERCOSUL os países membros querem promover ao mesmo tempo uma integração sub-re-gional e uma maior inserção na economia mundial porque o processo de abertura para o exterior já havia começado dentro dos países membros, antes que o Tratado de Assunção fosse realizado, ainda que com

ritmos diferentes. Além do mais, levou-se em conta o fracasso dos esquemas anteriores de integração.

3. INTEGRAÇÃO ECONÔMICA NA AMÉRI-CA LATINA

Kunzler (2002) expõe o processo começan-do pelas iniciativas do general venezuelano Simon Bolívar (1783 a 1830) que lutou pela realização do primeiro tratado de união latino-americana e pela organização de uma outra união denominada de Grãocolômbia. Esse sonho de resgate da unidade latino-americana não foi concretizado. Porém, so-mente em 1948, uma real integração ocorreu na América Latina, bem depois de Simon Bolívar. Em fevereiro de 1948 foi criada a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) para que se esti-mulasse a criação de um Mercado Comum Latino Americano, visando à solução dos problemas econô-micos através de políticas de cooperação e de desen-volvimento para a região.

Em 1960, através do Tratado de Montevidéu, criou-se a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC) focando-se na implantação de um mercado comum pela formação de uma zona de livre comércio. Porém, com todas as crises ideológi-cas e consequentemente financeiras que ocorreram nas décadas de 60 e 70 na América Latina, os em-presários perderam o interesse nesses mercados, dei-xando de lado a ALALC. Grieco (1997) diz que por causa destas limitações, zonas de livre comércio sub-regionais foram se formando na América Latina.

Kunzler (2002) comenta que em 1980 a ALALC foi substituída pela Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) através do Tratado de Monte-vidéu que tinha como foco principal o estabeleci-mento de preferências tarifárias, além de promover o comércio e ampliar mercados.

3.1 A Aproximação Argentina-Brasil na década de 80

Kunzler (2002) atenta para a Declaração de Iguaçu em 1985 que foi um marco na integração e cooperação econômica bilateral. Um ano após a Declaração de Iguaçu, houve a assinatura da Ata de Buenos Aires que estabeleceu o Programa de Integração e Cooperação Econômica entre Brasil e Argentina. Em 1988 foi assinado o Tratado de Inte-

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gração, Cooperação e Desenvolvimento entre Brasil e Argentina.

O espaço econômico comum e a eliminação de barreiras tarifárias estavam prevista para dez anos. Porém, em 1990 assinou-se a Ata de Buenos Aires que adiantava essa integração em cinco anos. En-tretanto, logo após a assinatura desta, houve uma reunião de ministros das Relações Exteriores e de Economia da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai que fez com que Uruguai e Paraguai ade-rissem ao Mercado Comum Sub-Regional. Chile foi convidado, porém ficou na observação.

O Tratado de Assunção criando o Mercado Co-mum entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai foi assinado em 26 de março de 1991, com vigência em 29 de novembro de 1991. Os signatários estabe-leceram um prazo para a constituição do Mercado Comum do Sul em 31 de dezembro de 1994, obje-tivando a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, o estabelecimento de uma tarifa externa comum, uma igualdade em impostos e taxas para os produtos vindo dos países membros do Mercado Comum, entre outros.

Assim, em 1º de janeiro de 1995 o MERCO-SUL passou a ser uma União Aduaneira Imperfei-ta.

3.2 MERCOSUL e ParceriasO MERCOSUL possui alguns acordos com

países e blocos econômicos. Em 1990 o MERCO-SUL celebrou um acordo com os Estados Unidos de comércio e investimento chamado de “Acordo do Jardim das Rosas” ou ainda “Acordo 4+1”. O Chile é parceiro do MERCOSUL e participa como país observador e associado nas rodadas de negociação entre os países membros. Em 1994, a Bolívia foi aceita como observadora das reuniões do bloco. O MERCOSUL tenta estabelecer uma parceria com a União Européia de um acordo comercial até o final de 2009.

4. INTEGRAÇÃO ECONÔMICA NA EU-ROPA

O autor Saba (2002) diz que a integração euro-péia se intensificou após a Segunda Guerra Mundial através de cooperações internacionais como respos-tas dos Estados aos desafios impostos pela ampliação

da interdependência entre eles, além de combater o ideal nacionalista existente nos Estados causadores da Segunda Guerra. Neste contexto, Bélgica, Ho-landa e Luxemburgo intensificaram seus contatos e queriam constituir uma área de livre comércio, adotando tarifa externa comum e posteriormente formando-se uma União Aduaneira, surgindo a BE-NELUX.

As duas Guerras Mundiais mostrou ao povo europeu que a paz era realmente necessária. Assim a integração foi o combustível e a alternativa para esta paz.

Saba (2002) diz que para uma distribuição ho-mogênea da reconstrução do continente europeu financiado pelos EUA, e por desconfiança por parte dos europeus, principalmente dos franceses, de que a ajuda daria a Alemanha uma maior segurança para que se destacasse na Europa como líder econômi-ca, enfatizava-se uma reconstrução a ser realizada de forma a evitar as pretensões alemãs de hegemo-nia no continente. Por isso, criou-se a Organização Européia da Cooperação Econômica (OECE) em 1948, mais tarde transformada em Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômi-co (OCDE).

4.1 O Surgimento da CECA e da Alta Autori-dade

Saba (2002) explica que Monnet queria subor-dinar a produção de carvão e aço franco-germânica a uma autoridade supranacional, fazendo com que a França assegurasse sua reconstrução econômica, podendo controlar o processo de armamento da Alemanha. Esse plano teve uma rápida aceitação na Alemanha de Adenauer, vendo nisso a possibilidade da aumentar o prestígio internacional germânico. Assim surgiu, fruto do entendimento franco-ale-mão, a Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA), em 1951.

Entretanto não tinha neste período a mentali-dade de se aceitar uma transferência de soberania. Porém foi criada uma Alta Autoridade, órgão execu-tivo da CECA que tomava decisões por votos afir-mativos da maioria de seus membros, dando-a um caráter supranacional. Isto era o que diferenciava a CECA das outras organizações internacionais exis-tentes até o momento.

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4.2 O Tratado de Roma, a CEE, a CE e a EURATOM

Depois da CECA, ele afirma que havia a necessi-dade de uma “ação conjunta” do uso da energia atô-mica. Assim, em 1957, eram firmados os Tratados de Roma, começando a vigorar no inicio de 1958, instituindo duas comunidades: a Comunidade Eco-nômica Européia (CEE), depois nomeada Comuni-dade Européia (CE); e a Comunidade Européia de Energia Atômica (CEEA ou EURATOM). Stelzer (2000) afirma que essas três comunidades (CECA, CE e EURATOM) constituiriam o carro chefe da integração européia.

Saba (2002) diz que se percebeu a necessidade de uma fusão entre essas três comunidades e que de acordo com Stelzer (2000) a fusão que unificou as instituições CECA, CEE e CEEA pode ser conside-rada a terceira etapa do processo de construção da União Européia.

O tempo foi se passando, progressos foram acontecendo que outros países se interessaram pela adesão ao grupo. Assim a União Européia, como era chamada depois de 1991, passou a ser conhecida também como Europa dos Quinze.

4.3 Ato Único Europeu e o Tratado de Maas-tricht

Em 1986 foi assinado o Ato Único Europeu que queria realmente desenvolver o mercado europeu de um modo singular, montando uma política comum entre comunidades existentes nela.

Foram ocorrendo vários encontros para se dis-cutir os projetos de tratado sobre essa união política e união econômica e monetária que se fundiram num único documento na cidade holandesa de Ma-astricht, dando origem a um tratado que constituiu a União Européia.

Stelzer (2000) também pensa que o Tratado da União Européia (Tratado de Maastricht) foi um grande passo para o processo de integração por-que as bases foram mostradas. Para Saba (2002) a cidadania européia instituída pelo Tratado seria para reforçar as relações entre os povos europeus en-quanto que para Stelzer (2000) a cidadania foi um instrumento que consagrou o real avanço da União Européia.

Um outro aspecto importantíssimo do Tratado de Maastricht que é relevante, segundo Saba (2002), é que passou a existir um Conselho Europeu.

O Tratado de Amsterdã foi assinado em 1997. Em 2001 foi assinado o Tratado de Nice que mostra os processos de adesão dos países candidatos. Em janeiro de 2002 o Euro é introduzido na Europa como moeda única, assim a União Européia se tor-na uma União Econômica e Monetária.

Em 2004 houve a adesão de países do leste eu-ropeu pondo um fim a divisão existente a muitos anos. Em 2007 mais dois países do Leste Europeu, a Bulgária e a Romênia, se juntam a União Européia formando então um grupo de 27 países. E no mes-mo ano foi assinado o Tratado de Lisboa para que se possam enfrentar os desafios globais que possam surgir.

5. DIVERSIDADES EXISTENTES NOS PRO-CESSOS DE INTEGRAÇÃO

Comparar o MERCOSUL com a União Euro-péia tem sido um bom indicador para se observar o que os países membros do Mercado Comum do Sul deveriam fazer para o sucesso do bloco. O autor Bie-ber (1994) exemplifica e compara as duas integra-ções dizendo que na segunda metade da década de 80 a participação no comércio mundial por parte da Comunidade Européia, então designada e que tinha somente 7% da população mundial, já era de 40%, face aos 4% do comércio mundial que a América Latina (IRELA; 1989).

Outro ponto discutido pelo autor é que a po-breza e a miséria existente na América Latina não podem ser comparadas com as partes do continente Europeu onde há subdesenvolvimento e pobreza. Ainda, os prazos estabelecidos dentro da União Eu-ropéia, ou da Comunidade Européia, foram sempre todos praticamente cumpridos, diferentemente do processo de integração da América Latina onde me-tas e cronogramas tiveram que ser constantemente alterados tornando instável e com pouca credibili-dade.

Os países da Europa, depois da Segunda Guer-ra Mundial não queriam ter mais nenhum tipo de confronto que fizesse com que eles voltassem a perder o poderio econômico, o que fez com que o sentimento nacionalista se reduzisse dentro dos paí-

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ses membros. Assim, a integração européia tem suas raízes na natureza política. Na América Latina o na-cionalismo era visto como um fato positivo, dando mais força para a consolidação do conceito de sobe-rania nesses países.

Balassa (1961) afirma que o principal interesse latino-americano na integração era o de escapar dos efeitos discriminatórios de terceiros mercados do que o de desenvolver a região através da integração.

Bieber (1994) comenta que no processo de in-tegração europeu houve o chamado “spill-over”, isto é, uma integração gradual, com adequadas seleções das áreas a serem integradas. Na América Latina e no MERCOSUL o processo de integração foi pra-ticamente técnico-burocrático focado praticamente somente nas reduções tarifárias.

Ainda o autor observa que a participação estatal no processo de integração na Europa foi limitada, dando uma maior ênfase ao livre comércio, fato oposto ao ocorrido na América Latina.

Desde o inicio do processo, as Comunidades Européias se importaram com a participação popu-lar, através de assembléias e plebiscitos. No projeto de integração da América Latina, e mesmo no bloco sub-regional MERCOSUL, há uma falta de política social, razão pela baixa participação e interesse da so-ciedade no processo de integração. Na Europa existe um movimento para a “cidadania européia”, ou seja, o cidadão que faz parte do bloco tem uma identifi-cação da sociedade com a integração. Já na América Latina e no MERCOSUL não existe isso.

A autora Di Nizo (2006) comenta que Brasil e Argentina não tem se entendido, criando atritos, causando instabilidades nas relações econômicas, mostrando a fragilidade do MERCOSUL.

Di Nizo (2006) expõe a idéia de supranacio-nalidade existente na União Européia, afirmando que a UE está num estágio avançado consideran-do a economia, sua política social e jurídica. Isto quer dizer que a parcela da soberania do Estado na UE está atrelada a organismos internacionais com

poderes supranacionais. Na América Latina, no MERCOSUL, a Constituição de cada país regula seus próprios interesses, as decisões são vinculadas à vontade política de cada Estado-membro. Para Di Nizo (2006), “para total “deslanche” do MERCO-SUL, faz-se necessário a instituição de organismos supranacionais”. Mas como ter organismos suprana-cionais nos países membros do MERCOSUL tendo a Venezuela como próxima aliada no bloco, com um chefe de Estado ultranacionalista com Hugo Cha-vez?

6. CONSIDERAÇÕES FINAISO objetivo geral foi apresentar as diferenças e

as semelhanças entre os dois blocos econômicos, MERCOSUL e União Européia, e a viabilidade do MERCOSUL se tornar uma União Econômica e Monetária (UEM).

Partindo do pressuposto da Teoria da Integração que diz que o principal objetivo é facilitar os fluxos de bens e serviços além dos bens de capitais na re-gião, para que se possa promover a criação de mais empregos, crescimento econômico e estabilização econômica, o MERCOSUL, está um pouco longe de ver uma melhora em alguns aspectos.

O MERCOSUL não está preparado, ética e cul-turalmente falando, para ter um grau de integração como o da União Européia.

Ainda, na América Latina e no MERCOSUL a integração foi basicamente focada na economia para se enfrentar juntos as concorrências mundiais, principalmente de países ricos. A questão social é co-locada em segundo plano, não havendo uma identi-ficação da população com o bloco.

Porém, o ponto crucial citado por diversos auto-res é o fato do MERCOSUL, portanto divergindo da União Européia, não ter organismos supranacio-nais que estão acima de qualquer Constituição dos países membros, freando o progresso e o sucesso do MERCOSUL.

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Consórcio de Exportação no Brasil: um estudo de caso aplicado no segmento médico-hospita-lar-odontológico

GUSTAVO BARBIERI LIMAMestre em Administração – FEARP - USP

[email protected]

SHEILA FARIAS ALVES GARCIA Doutora em Administração – FEARP - USP

[email protected]

DIRCEU TORNAVOI DE CARVALHO Professor Livre Docente – FEARP - USP

[email protected]

DANTE PINHEIRO MARTINELLI Professor Titular – FEARP - USP

[email protected]

Resumo: Consórcio de exportação é a união de esforços de indústrias, geralmente micro, pequenas e mé-dias, dos mesmos segmentos produtivos ou complementares, visando exportar em conjunto seus produtos. O consórcio pode ser apontado como importante estratégia na inserção de empresas de pequeno porte no mercado internacional e apresenta várias vantagens para as empresas consorciadas. O objetivo central deste estudo é analisar o caso do consórcio de exportação Brazilian Health Products (BHP) como organização em rede para pequenas e médias empresas brasileiras. Como objetivos específicos, podem-se mencionar: (a) revisar a literatura sobre consórcios de exportação; (b) apontar as motivações e as dificuldades das empresas integrantes do consórcio BHP; (c) analisar o desempenho do consórcio BHP desde o início de suas ativida-des de promoção comercial de exportação.

Palavras-chave: Consórcio de Exportação, Internacionalização de empresas, Pequenas e Médias empresas.

Abstract: Export consortium is the union of efforts of industries, generally small and medium sized, ope-rating in the same or complementary productive segment, aiming to jointly export their products. The consortium can be pointed out as an important strategy to the insertion of small industries in the interna-tional market and it offers many advantages for the associated industries. The main objective of this study

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is to analyze the case of export consortium Brazilian Health Products (BHP) as a network organization for small and medium sized Brazilian industries. The specific objectives are: (a) to perform a literature review regarding export consortia; (b) to point out the motivations and difficulties of the industries members of BHP consortium; (c) to analyze the performance of BHP consortium since the beginning of its activities of commercial promotion for export.

Keywords: Export Consortium, Business Internationalization, Small and Medium sized industries.

1. INTRODUÇÃOO processo de Globalização de mercados e o ad-

vento da formação de megablocos econômicos po-dem ser considerados ameaças de grande magnitude para as empresas de pequeno porte. A entrada de empresas multinacionais e de produtos importados de baixo custo no mercado brasileiro pode ser consi-derada obstáculos para a sobrevivência e desenvolvi-mento de empresas daquele porte.

Assim, com o intuito de manter sua competiti-vidade, as empresas brasileiras de pequeno e médio porte têm se associado em redes de cooperação inte-rorganizacional como estratégia para maximizar sua eficiência e eficácia seja em Pesquisa & Desenvolvi-mento, capacitação e treinamento (colaboradores), produção, vendas, exportações.

A Agência de Promoção de Exportação e Inves-timentos (2004) define o Consórcio de Exportação: O consórcio de exportação é o agrupamento de em-presas com interesses comuns, reunidas em uma en-tidade estabelecida juridicamente. Esta entidade será constituída sob a forma de uma associação sem fins lucrativos, na qual as empresas produtoras tenham maneiras de trabalho conjugado e em cooperação com vistas aos objetivos comuns de melhoria da oferta exportável e de promoção das exportações.

Dessa maneira, trabalhando conjuntamente, as empresas obtêm várias vantagens em detrimento de uma atuação isolada ou individual em mercados internacionais, que serão apresentadas no decorrer deste estudo.

Vale ressaltar o grande apoio na formação de consórcios concedidos pela Agência de Promoção de Exportação e Investimentos (APEX-Brasil), for-mada no final de 1997, responsável pela sensibiliza-ção, formação, desenvolvimento e financiamento de consórcios no país.

2. OBJETIVOS DO ESTUDOO objetivo central deste estudo é analisar o

caso do consórcio de exportação Brazilian Health Products (BHP) como organização em rede para a internacionalização de pequenas e médias empresas brasileiras do segmento médico-hospitalar-odon-tológico. Como objetivos específicos, podem-se mencionar: a) revisar a literatura sobre consórcio de exportação; (b) apontar as motivações e as dificulda-des das empresas integrantes do consórcio BHP; (c) apontar o desempenho do consórcio BHP desde o início de suas atividades de promoção comercial de exportação.

3. REFERENCIAL TEÓRICO: CONSÓRCIO DE EXPORTAÇÃO

O consórcio de exportação é a união de esfor-ços de pequenas e médias indústrias de um mesmo setor produtivo ou de setores complementares, vi-sando vender seus produtos no mercado internacio-nal (NOONAN, 1999; PALIWODA; THOMAS, 2001). Desta maneira, as empresas consorciadas podem manter sua própria individualidade no mer-cado doméstico e otimizar sua produção e venda de produtos no exterior (MINERVINI, 1997, FRAN-ÇA, 1999, 2003).

Para a United Nations Industrial Development Organization (UNIDO, 2003, p. 03):

Um consórcio de exportação é uma alian-ça voluntária de empresas com o objetivo de promover os produtos e serviços de seus membros no exterior e facilitar a ex-portação destes produtos através de ações conjuntas. Os membros de um consórcio devem se atentar que a cooperação deve prevalecer sobre a competição, com o intuito de acessar mercados-chave e tec-nologia de última geração. Um consórcio

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de exportação pode ser visto como uma cooperação estratégica formal de médio-longo-prazo entre empresas que atua como provedor de serviços, facilitando o acesso aos mercados internacionais.

Segundo França (1999), o consórcio se constitui numa importante ferramenta que, além de facilitar a inserção de pequenas e médias empresas no co-mércio internacional, propicia o aumento de suas exportações. Por meio deste, praticamente todas as dificuldades encontradas pelas empresas quando da atuação isolada na exportação podem ser transpos-tas. A otimização de esforços de produção e comer-cialização, a resposta às demandas de grande porte, a escala de produção, o aumento da competitividade e da especialização das pequenas e médias empre-sas, são algumas possibilidades proporcionadas pelo consórcio de exportação.

Uma definição ampliada de Consórcios de Exportação é fornecida pelo Centro de Comércio Internacional – UNCTAD/GATT (1983): Os con-sórcios compõem-se de empresas independentes, que guardam a sua identidade como produtores e conservam sua própria estrutura administrativa. Elas não fundem seus interesses, mas participam simplesmente da criação de um organismo novo ao qual estão ligadas, como entidades distintas, por um acordo de natureza comercial.

Um consórcio de exportação seria um gru-po de empresas que produzem produtos similares ou produtos complementares, sob o aspecto de mercado, que unidas evi-tariam a dispersão de esforços, mediante tentativas isoladas de exportar, sem con-tar com o volume que requer a demanda e/ ou a capacidade econômica para fazer frente aos gastos naturais que o processo exige (INFANTE; CAMPOMAR, 1986, pg. 22).

Para Minervini (1997), o consórcio de expor-tação é a saída mais inteligente para a maioria das pequenas e médias empresas se desenvolverem no mercado internacional.

Figura 1: Modelo esquemático de um Consórcio de Exportação e possíveis organismos intervenientes.

Fonte: Centro de Comércio Internacional – UNCTAD/GATT (1983), Minervini (1997, 2005), Keedi (1999), Casarotto Filho e Pires (2001), Maciel e Lima (2002), Agência de Promoção de Exportação (2004) apud Lima e Carvalho (2005).

A Figura 1 representa um modelo esquemático de um consórcio de exportação e possíveis organis-mos intervenientes. Pode – se verificar na figura a presença de empresas consorciadas (mesmo seg-mento ou complementares), entidades de classe, que geralmente atuam ou auxiliam na organização dos consórcios (Ex: Associações Comerciais, Fede-rações/Confederações da Indústria, Associações de Classe), o consórcio em si (estrutura física e orga-nizacional), a Agência de Promoção de Exportação (APEX-Brasil), responsável pelo suporte de consór-cios com projetos aprovados na entidade e pelo fi-nanciamento dos mesmos e, finalmente, os clientes internacionais (importadores, atacadistas, varejista, distribuidores).

Conforme alguns autores (UNCTAD/GATT (1983), Infante (1984), Minervini, 1997; Oliveira, 1999; Silva, 1999; Noonan, 1999; França, 1999; Paliwoda e Thomas, 2001; e Site APEX, 2003, UNIDO (2003)), entre as possíveis vantagens dos consórcios de exportação destacam-se a redução de custos gerais de exportação (pois são divididos entre as empresas consorciadas); a diminuição do risco de exportar individualmente; o aumento da competiti-vidade de pequenas e médias empresas no seu mer-cado interno - produto tipo exportação; o aumento do poder de barganha para com clientes, fornece-dores, bancos; o aumento do interesse de importa-dores; a melhoraria da eficiência operacional (oti-mização de recursos); o atendimento de demandas de grande porte, o que não seria possível para uma única empresa; a inovação de rótulo e embalagem; a especialização das empresas consorciadas; o acúmu-

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lo de conhecimentos nas áreas de Comércio Exte-rior e Marketing; a possibilidade de, futuramente, os membros do consórcio, já experientes e estrutura-dos, se lançar individualmente no mercado interna-cional; o efeito “motivador” sobre os participantes; a facilitação da aquisição de equipamentos modernos e nova tecnologia; a possibilidade de exportar com marca própria do consórcio; a participação em feiras e missões internacionais de forma conjunta.

Ainda de acordo com esses autores, as possí-veis desvantagens dos consórcios: Individualismo e a preocupação de que outro consorciado obtenha mais vantagens durante as atividades; os integrantes de um consórcio devem estar cientes de que a não existência de segredos industriais entre os mesmos é favorável ao bom desempenho de um consórcio e à preservação das parcerias estabelecidas; falta de profissionalismo do gerente do consórcio; a maioria dos gerentes contratados não entende do produto que estão comercializando, não sendo capazes de negociar com o comprador internacional; inexistên-cia de preços competitivos (mau planejamento das exportações); investimentos realizados sem planeja-mento prévio; visualizar a exportação como estraté-gia de curto prazo (resultados imediatos); considerar o consórcio como uma válvula de escape de crises; discrepância em demasia no avanço tecnológico das empresas integrantes; inexistir confiabilidade e trabalho em conjunto; selecionar erroneamente os mercados e parceiros no exterior; número ideal de empresas integrantes deve ser de 10 a 15; prevalecer a democracia, e não a vontade de uma ou poucas empresas; a rivalidade e a concorrência devem ficar restrita ao mercado interno.

Os consórcios podem ser classificados em re-lação à sua finalidade: (1) promocionais (dirigem seu foco de atenção para promoção comercial dos produtos, ficando a comercialização sob a respon-sabilidade individual das consorciadas) e (2) vendas ou operacionais (realiza as exportações por meio de uma empresa comercial exportadora). Consórcios também podem ser classificados de acordo com o ramo das empresas membros: (1) monossetorial (agregam empresas do mesmo setor produtor de mercadorias ou derivados da mesma matéria-pri-ma); (2) plurissetorial ou multissetorial (incluem empresas fabricantes de produtos de diferentes seg-

mentos da cadeia produtiva e setores, que podem ser complementares ou heterogêneos, destinados ou não a um mesmo cliente) e (3) consórcios de área ou país (reúnem empresas que destinam seus produtos a uma única área ou país). (MINERVINI, 1997; APEX-Brasil, 2003, França, 1999, MACIEL e LIMA, 2002).

4. MÉTODOS DE PESQUISARealizou-se levantamento e pesquisa da biblio-

grafia sobre Consórcio de Exportação. Uma das formas mais rápidas e econômicas de amadurecer ou aprofundar um problema de pesquisa é através do conhecimento dos trabalhos já feitos por outros, via levantamentos bibliográficos. Este levantamento deverá envolver procura em livros sobre o assunto, revistas especializadas ou não, dissertações e teses apresentadas em universidades e informações publi-cadas por jornais, órgãos governamentais, sindica-tos, associações de classe, etc. (MATTAR, 1996).

Utilizou-se o método de estudo de caso (YIN, 2001) para analisar o consórcio de exportação Brazi-lian Health Products (BHP), estabelecido em Ribei-rão Preto-S.P., assim como para verificar as relações entre a teoria vista e as ações tomadas no caso.

Realizaram-se entrevistas em profundidade semi-estruturadas no consórcio Brazilian Health Products (BHP), com o intuito de obter informa-ções relevantes e complementares para o estudo de caso analisado. As entrevistas foram gravadas, com a autorização do entrevistado e, posteriormente, transcritas para a elaboração do estudo de caso. Para Malhotra (2001), entrevista em profundidade é uma entrevista não-estruturada, direta, pessoal, em que um único respondente é entrevistado por um entrevistador altamente treinado, para descobrir motivações, crenças, atitudes e sensações subjacen-tes a um tópico.

Realizou-se, também, como método de pesqui-sa, a análise documental (análise de documentos e relatórios) no consórcio BHP. Em termos gerais, análise documental consiste em uma série de opera-ções que visam estudar e analisar um ou vários do-cumentos para descobrir as circunstâncias sociais e econômicas com as quais podem estar relacionados (RICHARDSON, 1999).

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Foram investigadas no consórcio pesquisado as seguintes questões de estudo: (1) Como foi o de-sempenho exportador do consórcio BHP? (2) Por que a APEX-Brasil deixou de enfatizar os consórcios como forma de organização para exportação de em-presas de pequeno porte?

As proposições direcionam a atenção para algo que deveria ser examinado dentro do escopo do estudo. A partir do momento em que as proposi-ções são declaradas, o estudo começa a mover-se em alguma direção (YIN, 2001). Consideram-se as se-guintes proposições em resposta às questões apresen-tadas anteriormente: (1) O consórcio de exportação Brazilian Health Products não apresentou um bom desempenho exportador, podendo ser considerado um caso de insucesso; (2) Com o tempo, a APEX-Brasil percebeu que os consórcios eram “limitados” por serem de caráter regional. Passaram a enfatizar os Projetos Setoriais Integrados, projetos organiza-dos setorialmente, de caráter regional, estadual ou federal, dissipando assim menos recursos.

5. HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DO CONSÓRCIO BHP – INVESTIGAÇÃO EM-PÍRICA

Em 1999 um grupo de empresários decidiu montar nas instalações do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, CIESP - Diretoria Regional de Ribeirão Preto, um Grupo Setorial que reunisse indústrias de equipamentos médicos e odontológi-cos instaladas na região da cidade de Ribeirão Preto – SP. O objetivo desta força-tarefa seria aproveitar-se das facilidades intrínsecas em uma ação cooperada, para estudar as oportunidades e desenvolver facili-dades que pudessem viabilizar, no final do estudo, a implantação de um consórcio de exportação que teria por objetivo único o comércio dos produtos fabricados por estas empresas no mercado interna-cional. Nas primeiras reuniões havidas, estes empre-sários decidiram que para dar alicerce e estrutura a tal ação, trabalhariam inicialmente para formar na região um pólo de excelência tecnológica, que con-centraria e reuniria pequenas e médias indústrias voltadas para o setor médico e odontológico, talen-to ou oportunidade que se fazia destacar dentro do parque industrial instalado na região.

Com o desenvolvimento do projeto, o Grupo Setorial, decidiu acionar o Sebrae-SP de Ribeirão Preto, para que, utilizando-se do conhecimento, ex-periência e recursos disponíveis pudessem colaborar no desenvolvimento desta idéia. O Sebrae-SP acei-tou o desafio, colocou seus recursos à disposição e passou a trabalhar absolutamente envolvido com a concretização do projeto. Com o apoio do Sebrae-SP, o grupo que encabeçava o projeto realizou inúmeras reuniões com a participação de empresas da região, algumas palestras de sensibilização com a apresen-tação de casos de sucesso vividos por empresas do setor de outras regiões, seminários, workshops, par-ticipação em cursos direcionados para o assunto ex-portação, culminando com a criação e realização de uma Feira de Exposições.

No segundo semestre do ano 2000, o projeto recebeu o apoio da ABIMO, Associação Brasileira da Indústria de Artefatos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e Laboratoriais, e SI-NAEMO, Sindicato da Indústria de Artigos e Equi-pamentos Odontológicos, Médicos e Hospitalares do Estado de São Paulo. Também recebeu apoio da APEX-Brasil – Agência Brasileira de Exportação, sendo esse o primeiro parceiro a aprovar e apoiar financeiramente o projeto no início de 2002. No final de 2001, foi contratado o primeiro integran-te da equipe e, no início de 2002, após a aprova-ção da APEX-Brasil, começaram a ser realizadas as primeiras ações de promoção comercial do projeto. Alguns meses depois, o Sebrae-SP também aprovou o projeto e passou a apoiá-lo com ações de pesquisa mercadológica, apoio nas certificações e registros de produtos. O BHP é constituído legalmente como entidade sem fins lucrativos.

O consórcio BHP foi integrado por 12 empresas (Web site Consórcio BHP (2005)): LINHA MÉDI-CA: JP Indústria Farmacêutica S/A.; WEM Equipa-mentos Eletrônicos Ltda.; Gigante Recém Nascido - Indústria, Comércio e Representações Ltda.; Hos-pimetal Indústria Metalúrgica de Equipamentos Hospitalares Ltda.; Samtronic Indústria e Comércio Ltda.; Olidef cz Indústria e Comércio de Aparelhos Hospitalares Ltda.; Deltronix Equipamentos Ltda.; LINHA ODONTOLÓGICA: Dentscler Indústria

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de Aparelhos Odontológicos Ltda.; DMC Equipa-mentos Ltda.; A. S. Technology Componentes Es-peciais Ltda – ME; Dent-Flex Indústria e Comércio Ltda.; SIN Implant System.

Os principais objetivos do consórcio de exporta-ção BHP foram: - aumento do volume das exportações (20%); - geração de empregos (empresas participantes), e - melhora da cultura exportadora.

Para a Secretária Executiva do BHP, as motiva-ções ou vantagens para as empresas fazerem parte de um consórcio são: - redução de custos (poder expor-tar, fazer uma promoção comercial com custos redu-

zidos), - ter um escritório, uma equipe profissional trabalhando em conjunto (todas as empresas pos-suem hoje um departamento de exportação), - ino-vação/ atualização de produtos, como resultado de viagens internacionais (produto competitivo inter-nacionalmente e no mercado doméstico – produto tipo exportação). A principal dificuldade no consór-cio é fazer com que as empresas trabalhem coope-rativamente. A parceria existe, porém a rivalidade interna entre as empresas consorciadas é grande.

Os indicadores de desempenho do consórcio BHP estão indicados no Quadro 1.

QUADRO 1 – INDICADORES DO CONSÓRCIO DE EXPORTAÇÃO BHP

Funcionários CLT

2000 2001 2002 2003 2004

524 510 521 597 712

-2,67% 2,16% 14,59% 19,26%

Funcionários Terceirizados

2000 2001 2002 2003 2004

155 145 155 74 90

-6,45% 6,90% -52,26% 21,62%

Estagiários

2000 2001 2002 2003 2004

2 4 8 12 28

100,00% 100,00% 50,00% 133,33%

Faturamento (R$)

2000 2001 2002 2003 2004

41.708.548,59 45.335.522,08 50.957.059,90 54.510.230,16 72.960.198,10

8,70% 12,40% 6,97% 33,85%

Exportações (US$)

2000 2001 2002 2003 2004

607.080,76 793.751,77 1.355.774,19 2.166.995,02 4.991.472,62

30,75% 70,81% 59,83% 130,34%

Importações (US$)

2000 2001 2002 2003 2004

245.222,68 279.405,54 258.800,00 519.095,68 805.446,21

13,94% -7,37% 100,58% 55,16%

Fonte: Consórcio BHP.

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A meta de exportação do consórcio foi de um incremento de 20% anual, ou seja, o dobro da esti-mada do setor (10%). No entanto, o consórcio ob-teve resultados superiores aos esperados.

O consórcio teve um incondicional apoio da APEX-Brasil no período de 2002 à 2005 (com um breve intervalo no período de eleições presidenciais). Todavia, o mesmo encerrou suas atividades em de-zembro de 2005. Juntamente com a ABIMO (As-sociação Brasileira da Indústria de Artefatos e Equi-pamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e Laboratoriais), a APEX-Brasil possui um projeto para continuar com as ações de promoção comercial às exportações para o setor médico-hospitalar-odon-tológico.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICA-ÇÕES GERENCIAIS

O presente estudo apresentou a revisão biblio-gráfica de consórcios de exportação. O estudo de caso apresentado corroborou o que foi apresentado na teoria. Observa-se que a proposição (1) foi nega-da e a proposição (2) confirmada.

O consórcio pode ser considerado como um facilitador na inserção de pequenas e médias empre-sas no Brasil, e é visto como um canal dinamizador das exportações daquelas empresas. Os consórcios apresentam várias vantagens para as empresas asso-ciadas, conforme apresentado na teoria. Este tópi-co também foi observado na pesquisa empírica. O consórcio Brazilian Health Products apresentou um excelente desempenho de exportação desde o início

de suas atividades em Ribeirão Preto (2002), sendo considerado um caso de sucesso pela APEX-Brasil (proposição 1 negada). Reconhecido pólo de exce-lência e destaque na fabricação de equipamentos médicos, odontológicos e hospitalares, importante centro universitário e de pesquisa, a cidade foi esco-lhida para sediar o consórcio BHP.

Apesar do bom desempenho exportador apre-sentado pelo consórcio BHP e outros consórcios no Brasil, a APEX-Brasil decidiu que os consórcios não estavam apresentando os resultados esperados, havendo uma dispersão de esforços e recursos in-vestidos. Dessa forma, passou-se a dar ênfase aos Projetos Setoriais Integrados, que são projetos en-volvendo setores específicos, de âmbito regional, es-tadual ou federal, ou seja, de maior abrangência que os consórcios (regional) (proposição 2 confirmada). Complementando a revisão teórica, vale mencionar que os projetos de consórcios pela APEX-Brasil tem, em média, duração de até 3 anos. Tal fato, contribui para a mortalidade “precoce” dos consórcios no país, que não sobrevivem sem o aporte financeiro da ins-tituição mencionada.

Deve-se considerar o fator “aprendizagem” nos consórcios de exportação. Depois do término do projeto consórcio, as empresas devem continuar exportando seu produto individualmente, devido, principalmente, à estrutura obtida durante o projeto de consórcios. Com o tempo, as empresas devem ser capazes de assimilar conhecimentos nas áreas de co-mércio exterior e marketing e estruturar seu próprio departamento de exportação.

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Investigação Teórico-empírica sobre Internacio-nalização de Empresas: o caso Wines from Brazil

GUSTAVO BARBIERI LIMA Mestre em Administração – FEARP - USP

[email protected]

SHEILA FARIAS ALVES GARCIA Doutora em Administração – FEARP - USP

[email protected]

DIRCEU TORNAVOI DE CARVALHO Professor Livre Docente – FEARP - USP

[email protected]

DANTE PINHEIRO MARTINELLI Professor Titular – FEARP - USP

[email protected]

Resumo: O processo de globalização de mercados, que profetiza a livre circulação de bens, pessoas e capitais, assim como a formação de mega blocos econômicos e o acirramento da competição por melhores preços e qualidade elevada, exigem das empresas uma postura que viabilize a competitividade das mesmas. Neste contexto, a internacionalização de empresas é vista como uma alternativa para que as empresas se mante-nham competitivas neste cenário globalizado e altamente competitivo. O objetivo central deste estudo é analisar o caso do Projeto Setorial Integrado (PSI) Wines from Brazil como modo de organização para a internacionalização de empresas brasileiras. Como objetivos específicos, têm-se: - revisar a literatura sobre Internacionalização de empresas; - observar o desempenho exportador do PSI Wines from Brazil; e - verificar as ações de promoção comercial de exportações do PSI.

Palavras-chave: Internacionalização de Empresas, Exportação, Pequenas e Médias empresas.

Abstract: The process of market globalization which predicts the free circulation of goods, people and ca-pitals, as well as the formation of economical blocks and the fierce competition for better prices and high quality, demands from the industries a position which makes possible their competitiveness. In this context, the internationalization of industries is seen as an alternative for them to keep competitive in this globalized and highly competitive setting. The main objective of this study is to analyze the case Wines from Brazil as an organization strategy for the internationalization of Brazilian enterprises. The specific objectives are: - to

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perform a bibliographic review regarding the internationalization of industries/ enterprises; - to analyze the export performance of the case Wines from Brazil; and – to verify the PSI’s export promotion actions.

Keywords: Business Internationalization, Exportation, Small and Medium sized industries.

1. INTRODUÇÃOSegundo Griffin e Daggatt (1995 apud SUEN,

1997) o mundo em que vivemos vem-se tornando uma aldeia global. A expressão aldeia global refere-se ao fluxo de bens, serviços, informação e capital que vem circulando ao redor do mundo, entre po-vos, países e culturas diferentes, também, conhecido por globalização. Trata-se de um processo amplo envolvendo pessoas, empresas, países e economias. Pessoas buscam conhecer outras línguas e culturas para garantir empregabilidade em empresas que buscam sua internacionalização, como forma de sobrevivência. Países incentivam exportações e in-ternacionalização de empresas, assim como se unem formando blocos comerciais com vistas a aumentar sua participação e competitividade na economia global (MARTINELLI; VENTURA; MACHA-DO, 2004, MACHADO, 2000, SUEN, 1997, CAMINO; CARZOLA, 1998).

A globalização é um fenômeno de grandes pro-porções, em que se notam, entre outras coisas, a diminuição das fronteiras e o aumento da interde-pendência da economia dos países. É muito comum a afirmação de que o processo de globalização é um fenômeno diretamente ligado ao progresso da tec-nologia da informação (comunicação e informáti-ca), assim como da modalidade intercontinental do capital. No entanto, seu significado é muito mais complexo e dinâmico, permitindo que se examine o tema por diferentes dimensões como, por exemplo, econômica, política, legal, cultural (SUEN, 1997).

A análise da globalização sob o enfoque econô-mico permite afirmar que para sobreviver neste cená-rio é vital para um país relacionar-se comercialmente com outros países. Assim como para uma empresa ser competitiva é necessário que uma parcela de seus negócios ocorra no mercado internacional (MAR-TINELLI; VENTURA; MACHADO, 2004).

Ainda sob este enfoque, a globalização tem transformado a vida das empresas, à medida que permite que a produção e a distribuição de bens de relativa homogeneidade possam ser feitas em maio-

res quantidades, levando a ganhos de economia de escala. Esta tendência aliada à competição que pas-sou a ocorrer em escala mundial tem levado a uma reestruturação das empresas para atender aos requi-sitos desse novo ambiente global (SUEN, 1997).

2. OBJETIVOS DO ESTUDOO objetivo central deste estudo é analisar o caso

do Projeto Setorial Integrado (PSI), projeto setorial, de âmbito regional, estadual ou federal adotado pela Agência de Promoção de Exportação (APEX-Brasil), como modo de organização para a internacionaliza-ção de empresas brasileiras. Como objetivos especí-ficos, têm-se: a) revisar a literatura sobre Internacio-nalização de empresas; b) observar o desempenho exportador do Projeto Setorial Integrado Wines from Brazil; c) verificar as ações de promoção comercial de exportações do PSI.

3. INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESASA globalização da economia criou novas opor-

tunidades, mas também desafios, que levaram as empresas a desenvolver esforços na adoção de es-tratégias de internacionalização, como forma de sobrevivência. Países incentivam exportações e in-ternacionalização de empresas, assim como se unem formando blocos comerciais com vistas a aumentar sua participação e competitividade na economia global (MARTINELLI; VENTURA; MACHA-DO, 2004, SUEN, 1997).

O conceito de internacionalização de empresa pode ser descrito como a participação da empresa no mercado internacional. A Fundação Dom Ca-bral (2002), propõe uma definição mais precisa: “internacionalização é o processo de obtenção de parte ou totalidade do faturamento a partir de ope-rações internacionais, seja por meio de exportação, licenciamento, alianças estratégicas, aquisição de empresas em outros países ou construção de subsi-diárias próprias.”

Segundo LEMAIRE et. al. (1997), entre os fato-res desencadeantes da inserção de empresas no mer-

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cado internacional destacam-se o inevitável processo de abertura internacional e a tendência globalizante das economias e mercados, que se firmou depois de uma ou duas décadas, dentro de um cenário em que as trocas de bens, serviços e capitais tornaram-se mais complexas.

Para internacionalizarem-se as empresas preci-sam adotar estratégias competitivas adequadas a esse processo, como atitude competitiva, concentração geográfica, mecanismos de gestão e de coordenação de atividades, desenvolvimento interno de compe-tências dinâmicas, absorção e integração de conheci-mento, relação com outras empresas (concorrentes, clientes, fornecedores) e capacidade de adaptação e articulação das diferentes condições locais - espe-cificidades culturais, econômicas, regulamentares e lingüísticas dos países ou regiões (CALDEIRA, 2002).

Segundo Rezende (2002) processos de interna-cionalização de empresas tem atraído a atenção de pesquisadores, tornando-se alvo de debates acadê-micos por mais de quarenta anos. Os estudos nesta área estão bastante adiantados e complexos. Um dos alvos desse debate acadêmico é idéia de gradualis-mo e continuidade em processos de internaciona-lização. Segundo o modelo proposto por Johanson e Wiedersheim-Paul (1975) a internacionalização é vista como um processo de aprendizagem em que a empresa investe recursos de modo gradual e adquire conhecimentos sobre o mercado internacional de modo evolutivo. Através de estudo realizado com empresas suecas, os autores, desenvolveram um mo-delo para internacionalização de empresas, baseado em quatro etapas. Este modelo apresenta grau po-tencial de comprometimento, risco, controle e lucro crescente em cada etapa ou estratégia subseqüente e pressupõe uma entrada gradual e seqüencial em mercados internacionais. A seguir as etapas do mo-delo: a) atividades de exportação inconstantes; b) ex-portação por meio de representantes independentes (agentes); c) estabelecimento de uma ou mais filiais de vendas; d) estabelecimento de instalações de pro-dução no exterior.

Um outro pressuposto do modelo de Johanson e Wiedersheim-Paul (1975) consiste na afirmação de que a distância psíquica entre países é um fator de decisão para a internacionalização. Os autores de-

finem distância psíquica como as diferenças perce-bidas entre valores, práticas gerenciais e educação de dois países. Ainda, segundo eles, existem evidências de que a empresa começa seu processo de interna-cionalização em países considerados culturalmente próximos, a fim de diminuir o grau de incerteza do processo.

A partir destes resultados, Johanson e Vahlne (1977) apresentaram outro modelo, que ficou co-nhecido como modelo de Uppsala, baseado em três pressupostos: a) a falta de conhecimento é o maior obstáculo em processos de internacionalização; b) o conhecimento necessário à internacionalização é principalmente adquirido através das experiências atuais da empresa em determinado mercado-alvo; c) a empresa internacionaliza suas operações investin-do recursos de modo gradual.

Baseado nesses pressupostos, Johanson e Vahlne (1977) introduziram o modelo em que são identi-ficados dois estados: conhecimento e comprometi-mento. O primeiro refere-se ao conhecimento do mercado-alvo e o segundo ao montante de recursos investidos em determinado mercado internacional e ao grau de especificidade desses recursos. Além des-ses estados o modelo apresenta dois aspectos transi-tórios que estão relacionados aos estados: as decisões de investimento e as operações atuais. Existe uma relação direta entre estados e aspectos transitórios: enquanto as decisões de investimento definem o comprometimento da empresa em determinado mercado, as operações atuais constituem-se na prin-cipal fonte de conhecimento da empresa sobre esse mercado. Mas o modelo também sugere uma inte-ração dinâmica entre estados e aspectos transitórios: quanto maior o investimento em determinado mer-cado internacional, maior o grau de conhecimento sobre esse mercado, maior o seu grau de aptidão para efetuar novos investimentos e assim sucessi-vamente. Os aspectos transitórios possuem duplo papel no processo de internacionalização: resultam de conhecimento e comprometimento efetuados no passado; determinam os níveis de conhecimento e comprometimento futuros.

Vários outros autores têm confirmado o pressu-posto de que a inserção de empresas em mercados internacionais se dá de modo gradual e seqüencial (CAMINO; CARZOLA, 1998, CALOF, 1995,

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CHANG, 1995; CHANG; ROSENZWEIG, 1998 apud REZENDE 2002). No entanto, outras pesquisas têm sugerido que a internacionalização de empresas pode ocorrer de maneira descontínua (BENITO; WELCH, 1997; ZANDER, 1997 apud REZENDE, 2002). Alguns autores justificam a ina-dequação do modelo de Uppsala para representar a realidade atual, com base na alteração do cenário. Afirmam que um modelo formulado no final da década de 1970, época em que o ambiente de ne-gócio era menos ligado internacionalmente, não pode mais explicar a realidade com a consolidação da globalização e aumento da interdependência no mercado internacional (REZENDE, 2002).

Forsgren (2000 apud REZENDE, 2002) afir-ma que a relação entre conhecimento de mercado e comportamento incremental é negativa e não po-sitiva como prega o modelo de Uppsala. Segundo o autor, à medida que a empresa aumenta o conhe-cimento sobre determinado mercado internacional, passa a ter uma atitude mais ousada e menos incre-mental, pois diminui sua necessidade de desenvol-ver-se gradualmente para minimizar a incerteza.

Andersen (1997 apud REZENDE, 2002) acredita que a idéia de gradualismo do modelo de Uppsala é demasiadamente determinista, pois a empresa pode seguir diferentes seqüências no modo de entrada em mercados internacionais. Segundo Hedlund e Kverneland (1993 apud REZENDE, 2002) algumas empresas suecas operando no mer-cado japonês não passaram pelos estágios iniciais da cadeia de estabelecimento (modelo de Johanson e Wiedersheim-Paul, 1975). Para Kobrin (1992 apud REZENDE, 2002) em função do ambiente mais in-terdependente em nível global, as empresas evoluem de maneira mais rápida em mercados internacionais para obter economia de escala, escopo e aprendiza-gem por meio da integração de suas operações.

Alguns autores (BENITO; WELCH, 1997, FLETCHER, 2001, ZANDER, 1997 apud RE-ZENDE, 2002) mostram que empresas podem se-guir uma trajetória inversa à do modelo de Uppsala, desinvestindo em mercados internacionais.

Entre tantas críticas ao modelo de Uppsala, surgem propostas alternativas baseadas na teoria de redes industriais, que sugerem analisar processos de internacionalização como resultados de relaciona-

mentos intra e interorganizacionais (BARTLETT; BIRKINSHAW, 1996, GHOSHAL, 1986, FOR-SGREN, 1989, FORSGREN; HOLM; JOHAN-SON, 1992, JOHANSON; MATTSON, 1988; HAKANSSON, SNEHOTA, 1995, RICHARD-SON, 1972 apud REZENDE, 2002).

Partindo da esfera internacional para a nacio-nal, o estudo da internacionalização das empresas brasileiras vem despertando o interesse de muitos pesquisadores (CAMPANHOL; SMITH, 2002, CARVALHO; ROCHA, 1998; FUNDAÇÃO DOM CABRAL, 2002, LOUREIRO; SANTOS, 1991, MARKWALD; PESSOA, 2002).

4. MÉTODOS DE PESQUISARealizou-se levantamento e pesquisa da biblio-

grafia sobre Internacionalização de Empresas. Se-gundo Yin (2001), a revisão de literatura é, portan-to, um meio para se atingir uma finalidade, e não – como pensam muitos estudantes – uma finalidade em si. Os pesquisadores iniciantes acreditam que o propósito de uma revisão de literatura seja determi-nar as respostas sobre o que se sabe a respeito de um tópico; não obstante, os pesquisadores experientes analisam pesquisas anteriores para desenvolver ques-tões mais objetivas e perspicazes sobre o mesmo tó-pico.

Utilizou-se o método de estudo de caso (YIN, 2001) para analisar o Projeto Setorial Integrado (PSI) Wines from Brazil, iniciado como consórcio de exportação (2002), assim como para verificar as relações entre a teoria vista e as ações tomadas no caso.

Realizaram-se entrevistas em profundidade semi-estruturadas (MALHOTRA, 2001) no PSI Wines from Brazil, com o intuito de obter informa-ções relevantes e complementares para o estudo de caso analisado. Realizou-se, também, a análise docu-mental (análise de documentos e relatórios) no PSI Wines from Brazil (RICHARDSON, 1999).

Foram investigadas no Projeto Setorial Integra-do (PSI) as seguintes questões de estudo: (a) Por que o PSI atende à estratégia do governo brasileiro de internacionalização de empresas? (b) Como o PSI pode alavancar as exportações das pequenas e mé-dias empresas associadas?

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As proposições direcionam a atenção para algo que deveria ser examinado dentro do escopo do estudo. A partir do momento em que as proposi-ções são declaradas, o estudo começa a mover-se em alguma direção (YIN, 2001). Consideram-se as seguintes proposições em resposta às questões apre-sentadas anteriormente: (a) O PSI pode auxiliar na internacionalização de empresas, visto que o PSI é um projeto setorial (APEX-Brasil) voltado para ações promocionais de exportação, de âmbito re-gional, estadual ou federal; (b) O aporte financeiro recebido do governo brasileiro, entende-se APEX-Brasil, auxilia a inserção de empresas no mercado internacional e proporciona o incremento das ex-portações das empresas participantes.

5. O CASO WINES FROM BRAZIL: HISTÓ-RICO E CARACTERIZAÇÃO DO PSI

Aproximadamente, a partir de 2002, a Agência de Promoção de Exportações (APEX-Brasil) tem concentrado esforços na organização, avaliação e fi-nanciamento de Projetos Setoriais Integrados (PSI), que englobam pequenas, médias e grandes empresas de todo um setor ou segmento produtivo, sem res-trições regionais, além de seus Projetos de Formação de Consórcios de Exportação (PFC).

Uma definição de Projeto Setorial Integrado de Promoção de Exportações (PSI) dada pela APEX-Brasil (2003) seria: projeto que reúne um conjunto de atividades agregadas em diversos projetos de pro-moção comercial, e que tem por característica essen-cial seu alcance setorial em âmbito estadual, regional ou nacional.

Assim sendo, considerou-se válido e relevante para esta pesquisa inserir e analisar um estudo de caso sobre um PSI de promoção comercial de ex-portações no Brasil que se originou a partir de um consórcio de exportação.

O PSI Wines from Brazil iniciou suas atividades de promoção comercial às exportações em 2002, constituído por 15 vinícolas da região de Bento Gonçalves – RS, como resultado da articulação com entidades, reunião com empresas interessadas (mes-mo segmento produtivo).

Dentre as entidades que iniciaram o processo estão: FIERGS (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul), UVIBRA (União Brasileira

de Vitivinicultura), APROVALE (Associação dos Produtores de Vinhos do Vale dos Vinhedos), IBRA-VIN (Instituto Brasileiro do Vinho), SEBRAE/RS (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), dentre outras. O projeto é gerenciado pelo Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN).

O PSI possui apoio financeiro da Agência de Promoção de Exportação (APEX-Brasil). Na fase consórcio, a duração foi de 12 meses (2002), sendo que na fase PSI o projeto se iniciou em outubro de 2004 e está vigente.

Dentre as vinícolas que participam do PSI en-contram-se:

• COOPERATIVA VINÍCOLA AURO-RA LTDA (Bento Gonçalves – RS)• CASA VALDUGA VINHOS FINOS (Bento Gonçalves – RS)• CAVALLERI VINHOS FINOS (Bento Gonçalves – RS)• VINÍCOLA CORDELIER LTDA (Bento Gonçalves – RS)• VINHOS DON LAURINDO LTDA (Bento Gonçalves – RS)• CHAMPAGNE GEORGES AUBERT S/A (Garibaldi – RS)• LÍDIO CARRARO• LOVARA VINHOS FINOS LTDA (Bento Gonçalves – RS)• VINHOS MARSON LTDA (Cotiporã – RS)• VINÍCOLA MIOLO LTDA (Bento Gonçalves – RS)• SOCIEDADE DE BEBIDAS MIO-RANZA LTDA (Flores da Cunha – RS)• PIZZATO Vinhas & Vinhos (Bento Gonçalves – RS)• VINÍCOLA PETERLONGO S/A (Ga-ribaldi – RS)• VINHOS SALTON S/A - INDÚS-TRIA E COMÉRCIO (Bento Gonçalves – RS)• SULVIN IND. COM. DE VINHOS LTDA (Flores da Cunha – RS)

De acordo com o Gerente de Promoção Co-mercial, os objetivos do PSI são:

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• Incrementar a exportação agregando valor aos produtos, e principalmente divulgando a marca Brasil;

• Aumentar a participação das empresas no ce-nário mundial;

• Desenvolver atividades e materiais promo-cionais para consolidar os vinhos brasileiros no mundo;

• Desenvolver atividades de sensibilização, formação e capacitação para a exportação das em-

presas brasileiras que trabalham com vinhos finos (v.vinífera);

• Desenvolver projetos de pesquisa, para o de-senvolvimento da exportação;

• Desenvolver material promocional com o in-tuito de divulgar e consolidar a marca “Wines from Brazil”;

• Desenvolver atividades de adequação e desen-volvimento de produtos e processos para atender as demandas dos diversos mercados que serão traba-lhados.

Quadro 1 - Ações Promocionais do PSI.

Feiras Internacionais: • Promover institucionalmente e comercialmente os vinhos brasileiros através de ações de comunicação e marketing;

• Integrar as empresas na busca de novos mercados, e principalmente na promo-ção comercial e na venda dos produtos nos mercados selecionados;

• Desenvolver a exportação de vinhos e espumantes;• Desenvolver novos consumidores de vinhos e espumantes brasileiros;

• Feiras: Alemanha, EUA, Reino Unido, República Tcheca e outras.

Degustações: • Organizar eventos onde serão apresentados vinhos e espumantes para profissio-nais do mercado nos países alvo;

• Organizar eventos em parceria com outros projetos da APEX-Brasil que tenham afinidade com o vinho brasileiro. Ex.: carne bovina, pescado, etc.

Projeto Comprador: Facilitar e integrar o produtor e o cliente nos mercados selecionados com o objetivo fundamental de realizar negócio e, ao mesmo tempo, demonstrar a pujança e a tecnologia das empresas na elaboração dos produtos. Os projetos viabilizam

visitas, encontros e possibilitam ao importador entender o funcionamento da cadeia produtiva.

Projeto Imagem: • Estimular a participação das empresas vitivinícolas em campanhas promocionais, feiras e eventos de forma associativa e unificada;

• Desenvolver materiais apropriados e focados para os mercados selecionados (catálogos, vídeos, impressos, participação em revistas especializadas e outros);• Organizar vinda de jornalistas e formadores de opinião dos mercados alvo às

regiões produtoras.Fonte: Wines from Brazil.

O Quadro 2 destaca o Desempenho das Exportações de 2002 a 2005.

Quadro 2 – Desempenho das Exportações de 2002 a 2005.

EXPORTAÇÕES DE 2002 A 2005:

PERÍODO VOLUME (LITROS) VALOR FOB USD USD/litro

2002 169.864,00 165.443,10 0,97

2003 99.458,50 231.018,89 2,32

2004 434.160,00 638.580,34 1,47

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2005 1.202.946,16 1.569.433,25 1,30

TOTAL: 1.906.428,66 2.604.475,58 1,37

VARIAÇÃO:

2003 s/ 2002: (+)39,63%

2004 s/ 2003: (+)176,42%

2004 s/ 2002: (+)285,98%

2005 s/ 2004: (+)145,77%Fontes: WFB: empresas, Brasil: sistema Aliceweb MDIC.

NCM consultadas: 22042100, 22041010, 22042900.

Fonte: Wines from Brazil.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICA-ÇÕES GERENCIAIS

O presente estudo abordou a revisão da litera-tura sobre internacionalização de empresas e retra-tou a realidade brasileira com a internacionalização via Projetos Setoriais Integrados (PSI). Ambas as proposições iniciais foram confirmadas: (1) O PSI pode auxiliar na internacionalização de empresas, visto que é um projeto setorial (APEX-Brasil) vol-tado para ações promocionais de exportação, de âmbito regional, estadual ou federal; (2) O aporte financeiro recebido do governo brasileiro, entende-se APEX-Brasil, auxilia a inserção de empresas no mercado internacional e proporciona o incremento

das exportações das empresas participantes. O estu-do de caso analisado pôde comprovar este tópico.

Observou-se o bom desempenho exportador (evolução das exportações) do PSI Wines from Brazil no decorrer de suas atividades comerciais.

A Agência de Promoção de Exportações tem priorizado a investigação, formação e aprovação de projetos de PSIs no Brasil como forma de incremen-tar as vendas externas brasileiras, diversificar a pauta de produtos exportados e aumentar o número de empresas de pequeno porte exportando seus pro-dutos. Assim, aponta-se a formação de PSI como estratégia do governo brasileiro como forma de in-ternacionalização de empresas.

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Estratégias de Marketing Global: uma reflexão teórica

GUSTAVO BARBIERI LIMA Mestre em Administração – FEARP – Universidade de São Paulo

[email protected]

DIRCEU TORNAVOI DE CARVALHO Professor Livre Docente – FEARP – Universidade de São Paulo

[email protected]

Resumo: Para que as empresas se mantenham competitivas nos mercados em que atuam, as estratégias de marketing internacional (segmentação de mercado, definição de mercado (s) - alvo e posicionamento), assim como as ferramentas de marketing utilizadas (marketing operacional ou gestão do composto de marketing – produto, preço, praça/ distribuição e promoção) para a exportação de produtos e serviços exercem um papel de extrema importância. O objetivo central deste estudo é realizar um ensaio teórico acerca do tema estratégias de marketing global, visando contribuir para o enriquecimento do conhecimento neste campo de estudo.

Palavras-chave: Marketing, Marketing Internacional, Marketing Estratégico.

Abstract: So that enterprises keep themselves a competitive player in the markets in which they act, the international marketing strategies (market segmentation, target-market and positioning) and the marketing tools used, such as operational marketing (or marketing mix – product, price, place and promotion) play a very important role in the exportation of products and services. The central objective of this paper is to perform a literature review about the subject global marketing strategies, intending to contribute to the enrichment of the knowledge in this field of study.

Keywords: Marketing, Global Marketing, Strategic Marketing.

1. INTRODUÇÃO

“Provavelmente, a razão mais comum para uma expansão internacional é o reconhe-cimento de oportunidades existentes nos mercados externos. Competir internacio-nalmente é uma decisão estratégica que fundamentalmente afetará a empresa, incluindo suas operações e gestão (JEAN-NET; HENNESSEY, 2001, p. 262).”

A disciplina de marketing é universal, mas é na-tural que algumas de suas práticas variem de país para país. Por quê? Porque os países e os povos do mundo diferem uns dos outros, e essas diferenças significam que uma técnica de marketing bem-su-cedida em um país não irá automaticamente funcio-nar em outro. As preferências dos consumidores, os concorrentes, os canais de distribuição e os meios de comunicação podem diferir, e é tarefa Importante no marketing global aprender a reconhecer até que

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ponto os planos e os programas de marketing po-dem ser estendidos ao mundo inteiro, bem como até que ponto eles têm de ser adaptados (KEEGAN; GREEN, 2000).

Uma empresa global bem-sucedida deve ser capaz de “pensar globalmente e agir localmente”. Marketing global pode incluir uma combinação de abordagens-padrão (ex.: o produto em si) e al-ternativas (ex.: distribuição ou embalagem). Um “produto global” pode ser “o mesmo produto” em todos os lugares e ao mesmo tempo ser “diferente”. Marketing global exige que as empresas se compor-tem de uma forma que seja global e local ao mesmo tempo, respondendo às similaridades e às diferenças dos mercados do mundo (KEEGAN, 2005).

Segundo Lambin (2000), a função do marke-ting estratégico é orientar a empresa para as oportu-nidades existentes ou criar oportunidades atrativas, ou seja, bem adaptadas aos seus recursos e ao seu saber-fazer, que oferecem um potencial de cresci-mento e rentabilidade.

Como serão apresentadas no decorrer deste estu-do, as bases de sustentação do marketing estratégico são: segmentação de mercado, definição de merca-do-alvo (atratividade) e posicionamento estratégico. Todas estas estratégias visam, entre outros, criarem um diferencial a ser ofertado no mercado, que difi-cilmente poderá ser copiado por seus concorrentes, e que deverá entregar um valor superior aos seus clientes em comparação aos seus concorrentes (CRAVENS, 1994; MYERS, 1996; LAMBIN, 2000; KOTLER, 2000; ANDERSON; VINCZE, 2000).

2. OBJETIVOS DO ESTUDOO objetivo central deste estudo é realizar um en-

saio teórico acerca do tema estratégias de marketing global, visando contribuir para o enriquecimento do conhecimento neste campo de estudo. Os objetivos específicos são: a) sintetizar, com base na literatura, conceitos de estratégias de marketing internacional; b) fornecer um ferramental teórico-conceitual sobre marketing internacional para a gestão de empresas brasileiras.

3. ASPECTOS METODOLÓGICOSPrimeiramente, realizaram-se pesquisas biblio-

gráficas e levantamento do referencial teórico sobre

Marketing Estratégico ou Estratégias de Marketing, focando marketing global. O estudo foi fundamen-tado na literatura do tema proposto. Segundo Yin (2001), a revisão de literatura é, portanto, um meio para se atingir uma finalidade, e não – como pen-sam muitos estudantes – uma finalidade em si. Os pesquisadores iniciantes acreditam que o propósito de uma revisão de literatura seja determinar as res-postas sobre o que se sabe a respeito de um tópico; não obstante, os pesquisadores experientes analisam pesquisas anteriores para desenvolver questões mais objetivas e perspicazes sobre o mesmo tópico.

Em segundo e último foi estruturado um ensaio teórico sobre o tema marketing estratégico com en-foque em marketing global, discutindo os principais tópicos envolvidos (segmentação de mercado, defi-nição de mercado-alvo e posicionamento).

4. REFERENCIAL TEÓRICO – MARKETING ESTRATÉGICO: ENFOQUE EM MARKE-TING GLOBAL

4.1 Segmentação de Mercado

“Na maioria dos mercados, é praticamente impossível satisfazer todos os compradores com um só produto ou serviço. Sendo os compradores diferentes, estes têm interesses e desejos variados. Esta diversidade resulta do fato de os compradores terem não só há-bitos de compra diferentes mas, sobretudo, necessidades e expectativas diferentes relati-vamente aos produtos e serviços oferecidos (LAMBIN, 2000, pg. 236).”

Segundo Cravens (1994) as decisões do marke-ting estratégico selecionam que consumidores atin-gir em cada mercado e com quais produtos, e como posicionar os produtos da empresa para cada alvo.

Poucas empresas podem representar tudo para todas as pessoas. Em vez de competir inter frontei-ras, a maioria das empresas identificará e visará aos segmentos de mercado mais atrativos, a que pode atender eficazmente. A variação das necessidades dos consumidores é o principal motivo para a segmen-tação de mercado. Quando as preferências dos con-sumidores variam, as empresas podem desenvolver um programa de composto de marketing que seja

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ajustado às necessidades dos segmentos de mercado específicos visados por elas. Em marketing global, a segmentação de mercado torna-se especialmente importante, dada a ampla divergência nas necessida-des e preferências dos consumidores interfronteiras (KOTABE, 2000).

Segundo Keegan (2005), o processo de subdi-vidir um mercado em vários subconjuntos de clien-tes que se comportam de maneira semelhante ou tenham necessidades similares. Cada subconjunto pode ser escolhido como um alvo de mercado a ser atingido com uma estratégia específica de marketing. O processo começa com uma base de segmentação – um fator específico ao produto que reflita as dife-renças de exigências ou de respostas às variáveis de marketing por parte dos clientes. Como exemplos de variáveis de segmentação, podemos citar: com-portamento de compra, uso, benefícios pretendidos, intenções, preferências ou fidelidade.

De acordo com Myers (1996), segmentos de mercado consistem em grupos de pessoas ou orga-nizações que são similares em termos de como eles respondem à um marketing mix particular ou que sejam significativos para propósitos de planejamen-to de marketing. O objetivo básico da segmentação é identificar subgrupos de consumidores ou poten-ciais consumidores, que, se espera, responderiam de forma similar para determinado marketing mix (produto/ serviço, preço, promoção e distribuição).

A segmentação do mercado global foi definida como “o processo de identificação de segmentos es-pecíficos – sejam grupos de países ou de consumi-dores individuais – de consumidores potenciais com atributos homogêneos e capazes de apresentar com-

portamento de consumo semelhante” (KEEGAN e GREEN, 2000, p. 199).

De acordo com Lambin (2000), a primeira eta-pa de uma análise estratégica tem por objetivo iden-tificar o mercado no qual se pretende concorrer e definir, uma estratégia de presença. Esta escolha do mercado de referência implica uma repartição ini-cial do mercado total em subconjuntos, designados por segmentos de mercado, homogêneo do ponto de vista das necessidades, dos comportamentos, das motivações de compra, e suscetíveis de constituírem mercados potenciais distintos.

A segmentação internacional esforça-se por identificar segmentos de compradores que, para lá das fronteiras nacionais, têm atitudes, expectativas e comportamentos similares. Na medida em que os comportamentos e os estilos de vida se tornam homogêneos no mundo sob o efeito do progresso econômico, as viagens e a comunicação, os segmen-tos, com expectativas homogêneas tendem a multi-plicar-se (LAMBIN, 2000).

Um segmento de mercado se refere a um grupo de países que são semelhantes com relação à sua rea-ção à alguns aspectos de estratégias de mercado. Seg-mentação de mercado pode ser definida como uma técnica para “dividir” diferentes países em grupos homogêneos. O conceito de segmentação é baseado no fato de uma empresa não poder servir todos os países com uma única estratégia de mercado/ políti-cas, pois existem disparidades entre os mesmos, am-bos econômico e cultural. Um profissional de ma-rketing, entretanto, deveria selecionar um ou mais países como mercado(s) – alvo (JAIN, 1990).

As bases para segmentação do mercado consu-midor podem ser visualizadas no Quadro 1:

Quadro 1 – Bases para a segmentação do mercado consumidor.

• Segmentação Geográfica A segmentação do mercado requer a divisão do mercado em diferen-tes unidades geográficas, como nações, estados, regiões, condados,

cidades ou bairros.

• Segmentação Demográfica O mercado é dividido em grupos de variáveis básicas, como idade, ta-manho da família, ciclo de vida da família, sexo, rendimento, ocupação,

nível de instrução, religião, raça, geração, nacionalidadee classe social.

• Segmentação Psicográfica Os compradores são divididos em diferentes grupos, com base em seu estilo de vida, sua personalidade e seus valores.

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• Segmentação Comportamental Os compradores são divididos em grupos com base em seus conheci-mentos de um produto, em sua atitude com relação a ele, no uso dele ou na resposta a ele (ocasiões, benefícios, status do usuário, índice de utilização, status de fidelidade, estágio de prontidão e atitudes em

relação ao produto).Fonte: Autores, baseado em Jain (1990), Kotler e Armstrong (1995), Myers (1996), Kotler (2000), Lambin (2000), Keegan (2005).

Para Anderson e Vincze (2000), o processo de segmentação de mercado é constituído da seguinte forma: a) definir e analisar o mercado; b) identificar e descrever segmento(s) potencial(ais); c) selecionar o segmento a ser atendido; d) determinar a estra-tégia de posicionamento do produto; e) desenhar e implementar o programa de marketing.

Myers (1996) descreve o procedimento geral para a segmentação de mercado como sendo: a) de-cidir sobre as variáveis de segmentação; b) decidir sobre a metodologia de análise de informação; c) aplicar a metodologia para identificar os vários seg-mentos; d) descrever todos os segmentos (usando as variáveis); e) selecionar o mercado-alvo; f) desenvol-ver um mix de marketing para cada segmento alvo.

McDonald e Dunbar (1998, p. 29) apresentam as seguintes vantagens do processo de segmentação de mercado:

Reconhecer as diferenças dos consumido-res como chave para um marketing de su-cesso, pois pode levar a uma maior aderên-cia entre as necessidades dos consumidores com os serviços ou produtos da empresa.

Segmentação pode levar para o marketing de nicho, quando apropriado, onde a com-panhia pode atender todas ou quase todas as necessidades dos consumidores naque-le segmento-nicho. Isso pode resultar na dominação do segmento, algo que quase nunca é possível no mercado total.Segmentação pode levar para a concentra-ção de recursos em mercados onde a van-tagem competitiva é maior e os retornos mais altos.Segmentação pode ser usada para ganhar uma vantagem competitiva por considerar os mercados de forma diferente dos seus competidores.Por meio da segmentação, você pode ven-der sua companhia como especialista nos segmentos de mercado escolhidos, com um melhor entendimento das necessida-des dos consumidores, dessa forma ofere-cendo produtos/ serviços com vantagens sobre os produtos da concorrência.

Quadro 2 - Vantagens que podem ser adquiridas pelas empresas que realizamo processo de segmentação:

(a) A segmentação é uma abordagem muito útil para o marketing de uma empresa menor. Ela possibilita visar mercados adequados às competências da empresa e tornar possível à empresa menor, criar, dentro do mercado,

um nicho defensável.

(b) Ela ajuda a identificar lacunas no mercado, isto é, segmentos não atendidos ou subatendidos. Estes podem fornecer áreas para o desenvolvimento de novos produtos ou a extensão da gama de produtos ou serviços

existentes.

(c) Em mercados maduros ou em declínio, será possível identificar segmentos específicos ainda em crescimen-to. A concentração nos segmentos em crescimento quando o mercado geral está em declínio é uma importante

estratégia nos estágios finais do ciclo de vida do produto.

(d) A segmentação permite ao profissional de marketing adequar melhor o produto ou serviço às necessidades do mercado-alvo. Desta maneira, pode-se construir uma posição competitiva mais forte.

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(e) Nunca é demais enfatizar os perigos de não segmentar o mercado quando os concorrentes o fazem. As van-tagens competitivas assinaladas acima podem ser perdidas para a concorrência se a empresa deixa de aproveita-las. Uma empresa que pratique uma estratégia de mercado de massa em um mercado claramente segmentado

em oposição a concorrentes de estratégia objetiva e delimitada pode se ver numa situação complicada.Fonte: Hooley e Saunders (1996).

4.2 Atratividade do Mercado e LucratividadeOs resultados de uma análise de segmentação

tomam a forma de uma grelha de segmentação que descreve os diferentes produtos - mercados ou segmentos que compõe o mercado de referência. A segunda etapa do trabalho do marketing estratégico tem por objetivos medir a atratividade da oportu-nidade econômica que estes diversos segmentos re-presentam, a fim de instruir a seleção de segmentos-alvo. Uma análise de atratividade visa medir e prever o nível da procura e a fase do ciclo de vida de cada segmento identificado. Estas informações e proje-ções são utilizadas em seguida pela administração da empresa para calibrar o investimento e a capacidade de produção (LAMBIN, 2000).

Conforme Kotler e Armstrong (1995), um seg-mento pode ter tamanho e características de cres-cimento desejáveis mas não ser atrativo em termos de lucro. A empresa deve examinar os vários fatores estruturais importantes que afetam a atratividade do segmento a longo prazo. Por exemplo, o segmento é menos atrativo se já tiver muitos concorrentes fortes e agressivos. A existência de vários produtos substi-tutos, reais ou potenciais, poderá limitar os preços e os lucros a serem obtidos em um segmento. O poder relativo dos compradores também afeta a atrativida-de do segmento. Se os compradores tiverem forte poder de barganha com relação aos vendedores, eles tentarão forçar os preços para baixo, exigir melhor qualidade ou mais serviço, além de colocar alguns concorrentes contra os outros, tudo isso à custa da rentabilidade do vendedor. Finalmente, o segmento pode ser menos atrativo se tiver fornecedores po-derosos, que podem controlar preços ou reduzir a qualidade ou quantidade dos bens e serviços enco-mendados. Os fornecedores tendem a ser poderosos quando são grandes e concentrados, quando têm poucos substitutos, ou quando o produto fornecido é um insumo importante.

4.3 Definição de Mercado-Alvo e Nichos de Mercado

Uma vez que a empresa tenha identificado suas oportunidades de segmento de mercado, deve de-cidir sobre quantos e em quais mercados adentrar (KOTLER, 2000).

Kotler e Armstrong (1995) ressaltam que para o profissional de marketing, “mercado” é o conjunto de todos os compradores reais e potenciais de um produto ou serviço. Mercado é o conjunto de com-pradores, e indústria ou setor é o conjunto de vende-dores. O tamanho do mercado depende do número de compradores potenciais de uma oferta específica de mercado. Os compradores potenciais de um pro-duto ou serviço apresentam quatro características: interesse, renda, acesso e qualificações.

Uma etapa crucial no desenvolvimento de uma estratégia de expansão global é a seleção de merca-dos-alvo potenciais. Para identificar oportunidades de mercado para determinado produto (ou serviço), a empresa internacional geralmente parte de um grande conjunto de países candidatos (digamos, to-dos os países da Europa Central). Para afunilar esse conjunto de países, a empresa fará uma triagem pre-liminar. A meta desse exercício é dupla: minimizar os erros de (1) ignorar países que oferecem oportu-nidades viáveis para o seu produto e (2) desperdiçar tempo em países que oferecem pouco ou nenhum potencial. Posteriormente, os países triados são ava-liados para se determinar o conjunto final de países-alvo (KOTABE, 2000).

Os três critérios básicos de determinação de oportunidade nos mercados-alvos globais são os mesmos usados na determinação dessa oportunida-de em um país só, ou seja: o tamanho corrente do segmento e o potencial de crescimento previsto, a concorrência e a compatibilidade com os objetivos gerais da empresa, assim como a viabilidade de se atingir o alvo determinado com sucesso (KEEGAN e GREEN, 2000; KEEGAN, 2005).

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Para sobreviver e prosperar num mercado global cada vez mais competitivo, muitas empresas estão aprendendo a encontrar e dominar “nichos de mer-cado”. Para empresas de todos os tipos e tamanhos, estratégias de nichos de mercado está se tornando um novo imperativo nos negócios. Uma definição simples de nichos de mercado seria um segmento de mercado relativamente pequeno no qual os prin-cipais concorrentes ou produtores podem ignorar ou ter dificuldade em servir. O nicho deve ser uma área geográfica estreitamente definida. Está relacio-nado com necessidades específicas de um pequeno e específico grupo de consumidores ou pode ser também, algum segmento altamente especializado de um grupo maior de consumidores. Em alguns casos, o nicho de mercado pode de fato grande, especialmente se as empresas operam globalmente (JAIN, 1990).

Ainda segundo Jain (1990), focando em um nicho de mercado específico, as empresas freqüente-mente desenvolvem um excelente “conhecimento” sobre seus clientes e operações e como os consumi-dores gastam seu dinheiro. Este “conhecimento” proporciona facilidades como, por exemplo, iden-tificar oportunidades para novos produtos e pro-gramas de marketing. Esta ênfase em nichos oferece um foco objetivo para o desenvolvimento de estra-tégias de negócios e planos de ação.

4.4 Posicionamento O posicionamento começa com um produto.

Uma mercadoria, um serviço, uma companhia, uma instituição ou mesmo uma pessoa. Talvez você mesmo. Mas o posicionamento não é aquilo que você faz com um produto. Posicionamento é aquilo que você provoca na mente do cliente potencial. Em outras palavras, você posiciona o produto na mente do cliente em potencial (RIES; TROUT, 1972,).

A idéia do posicionamento surge como respos-ta para uma sociedade inundada por um excesso de comunicações, onde seria necessário criar um de-terminado posicionamento na mente do consumi-dor, levando em consideração as forças e fraquezas da empresa, assim como aquelas dos competidores (RIES; TROUT, 1972).

A origem do termo posicionamento pode ser encontrada no artigo “Positioning is a game people play in today’s me-too marketplace”, o qual foi publi-cado na revista Industrial Marketing, em junho de 1969 (RIES; TROUT, 1972). Na seqüência, os mesmos autores publicaram uma série de artigos na revista Advertising Age. Desde então, a literatura de marketing foi profícua em trabalhos que abordam a questão do posicionamento.

Conforme Kotabe (2000), as decisões de seg-mentação são também instrumentos para definição de estratégia de posicionamento de produto da em-presa. Uma vez selecionados os segmentos-alvos, a administração precisa desenvolver uma estratégia de posicionamento para ocupá-los. Basicamente, a empresa deve decidir como deseja posicionar seus produtos e serviços na mente dos consumidores-alvo potenciais. Com freqüência as mudanças no ambiente ou nas preferências dos consumidores forçam a empresa a repensar sua estratégia de po-sicionamento.

Ainda segundo Kotabe (2000), no marketing doméstico, as decisões de segmentação e de posi-cionamento determinam a política de composto de marketing de uma empresa. Pela mesma razão, a segmentação de país orientará suas decisões de com-posto global.

Posicionamento é a estratégia de comunicação baseada na noção de “espaço” na mente; é o ato de colocar uma marca na mente dos consumidores, sobrepondo-a e opondo-a a outras, em termos de atributos e benefícios oferecidos. A palavra posicio-namento, usada formalmente pela primeira vez em 1969 por Al Ries e Jack Trout, descreve a estratégia de “delimitar uma área” ou “preencher um espaço aberto” no cérebro dos consumidores-alvos. Uma estratégia de posicionamento freqüentemente usa-da explora um atributo, benefício ou característica em particular. (KEEGAN e GREEN, 2000; KEE-GAN, 2005). O posicionamento começa com um produto. Uma mercadoria, um serviço, uma em-presa, uma instituição ou até mesmo uma pessoa... Mas o posicionamento não é o que você faz com o produto. O posicionamento é o que você faz com a mente do cliente potencial (KOTLER, 2000).

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Ainda Segundo Kotler (2000), cada empresa deve decidir quantas diferenças (por exemplo, be-nefícios, características) deve promover junto a seus consumidores-alvo. Muitos profissionais de marke-ting defendem a promoção de apenas um benefício central. Ries e Trout são a favor de uma mensagem de posicionamento sistemática. Para eles, cada mar-ca deveria selecionar um atributo e tentar ser “a nú-mero um” nesse atributo.

Posicionamento é o lugar que seu produto ocu-pa na mente do cliente. Portanto, uma das mais poderosas ferramentas de marketing não é algo que um profissional de marketing possa fazer ao produ-to ou a um dos elementos do composto de marke-ting: posicionamento é o que acontece na mente do cliente. A posição que um produto ocupa na mente do cliente depende de uma série de variáveis, muitas das quais podem ser controladas pelo profissional de marketing. Depois que os vários segmentos do mer-cado global foram identificados e um ou mais foram estabelecidos como mercados-alvo, é essencial pla-nejar um modo de atingi-los (KEEGAN, 2005).

O desenvolvimento de uma determinada ima-gem deve ser pautado pela tentativa de criar um posicionamento que seja sustentável e que não seja facilmente copiado pela concorrência. (DOYLE; SAUNDERS, 1985). Essa idéia traz duas impor-tantes considerações. A primeira trata do desenvol-vimento de um posicionamento que seja divulgado junto aos consumidores, tratando da construção de uma determinada imagem (posicionamento psico-lógico). A segunda trata da construção desta imagem com base numa estrutura de entrega do produto ou serviço que realmente entregue o que foi prometido na imagem divulgada (posicionamento competiti-vo). Ao construir uma imagem distinta daquela que os competidores desenvolveram, e tendo desenvol-vido uma estrutura operacional que realmente en-tregue a imagem divulgada, a empresa estará apta a construir uma vantagem competitiva sustentável.

É fundamental para o desenvolvimento desse posicionamento a realização de uma prévia pesqui-sa de posicionamento (HOOLEY; SAUNDERS, 1996). Essa pesquisa teria como principal preocupa-ção identificar como os clientes percebem os produ-

tos e serviços concorrentes. A partir dessa considera-ção, compreende-se que tanto a segmentação como o posicionamento são, portanto, meios de aumentar a nitidez de um quadro que mostra como os clientes podem ser agrupados em um mercado e como estes clientes agrupam os produtos e serviços oferecidos.

5. COSIDERAÇÕES FINAISAs constantes transformações na economia

mundial, advindas do processo de globalização de mercados e da busca incessante por maior compe-titividade e produtividade num ambiente onde a competição se torna altamente acirrada, faz com que os profissionais de marketing, de empresas nacionais ou multinacionais, analisem minuciosamente o (s) mercado (s) em que atuam ou desejam atuar e de-finam estratégias de marketing compatíveis com a realidade com que se deparam.

A realização de pesquisas de mercado, o plane-jamento das atividades de marketing, através da ela-boração (estruturação) de um plano de marketing e a definição de estratégias de mercado são atitudes de extrema importância quando se trata de conquistar vantagem competitiva frente aos seus concorrentes no mercado globalizado, visando à obtenção de maior participação de mercado e rentabilidade.

Assim sendo, este trabalho teve como foco cen-tral conceituar estratégias de marketing internacional (marketing estratégico com enfoque global), através da realização de um ensaio teórico, identificando ações que necessariamente devem ser tomadas por empresas (profissionais) que atuam em mercados internacionais ou que pretendam atuar no comér-cio internacional. Obviamente, não se pode ignorar a gestão do composto de marketing (ou marketing mix), constituído por: produto, preço, praça/ distri-buição e promoção. Todavia o enfoque da presente pesquisa é outro.

Faz-se importante destacar, conforme mencio-nado no decorrer deste artigo, que as estratégias de marketing internacional estão pautadas em três pila-res centrais: segmentação de mercado, definição de mercado (s)-alvo (target-market) e posicionamento (da empresa, marca, produto na mente do cliente).

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REFERÊNCIAS

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MONOGRAFIAS DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO COM HABILITAÇÃO EMGESTÃO DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS, DEFENDIDAS E APROVADAS

(Segundo Semestre 2008)

Temática/Título Aluno(a) “Prof(a).Orientador(a)”

China e Brasil “Os Extremos tocam-se”. Andreza Lopes Ferreira Acácia de Fátima Ventura

O mal do século XX e XXI: Estresse Ocupacional. Mariana Gerage Acácia de Fátima Ventura

Estudo da viabilidade mercadológica para implentação de uma usina de biodiesel a partir da reciclagem do óleo de cozinha na cidade de

Piracicaba.

Edmar Carlos Mazzero Antonio João de Brito

Fusões e Aquisições no Brasil a partir da década de noventa como oportunidades de mercado.

Letícia Bisson Antonio João de Brito

Estudo de Viabilização Mercadológicapara introdução de artigos de cama, mesa

e banho para o Canadá.Marcelo Aparecido da Silva Antônio João de Brito

Produção brasileira de aço a partir da décadade 90 e sua participação no mercado externoMarketing de diferenciação na prestação de

serviços.

Márcio dos Santos Souza Antônio João de Brito

A internacionalização e o desenvolvimento das empresas industriais do Brasil utilizando recursos

disponibilizados pela Internet.Marcos Vinícius Gonzalez Antônio João de Brito

Papel global: estudo das estratégias deconsolidação e internacionalização das

empresas brasileiras de celulose e papel.Tatiane Manzatto Antônio João de Brito

Um estudo sobre a importância da importação. Cleonice de Oliveira Sousa Cristiano Morini

Uma abordagem contemporânea da importação com ênfase na redução de estoques.

Marcela Perissoto Scholl Cristiano Morini

A competitividade da indústria brasileiraa partir da década de 90.

Marina Benato Eliana Tadeu Terci

Experiências de Exportação deprodutos artesanais brasileiros.

Emília Milani Fernando de Lima

Empresas Brasileiras e o desenvolvimento susten-tável nos dias atuais.

Rafael Henrique Abdalla Fernando de Lima

Evolução do Investimento Externo Direto (IED) entre 2002-2008.

Thiago da Silva Vieira Fernando de Lima

O setor calçadista brasileiro:a migração rumo ao nordeste.

Valéria de Moraes Fernando de Lima

Estudo Exploratório sobre viabilidade daabertura dos Bancos aos sábados.

Renata Moura Juodinis Paulo Roberto Palauro

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Comportamento do Crédito para Veículosnos últimos anos no Brasil, suas perspectivas

e riscos futuros.Ricardo Augusto Casemiro Paulo Roberto Palauro

Acordo Automobilístico entre o Brasil e aArgentina no âmbito do MERCOSUL.

Daniel Komatsu Dalla Valle Regina Célia Faria Simões

Observações sobre as diferenças entre Integração na América Latina, MERCOSUL e União Européia.

José Eduardo dos Santos Guércio

Regina Célia Faria Simões

O Regime Aduaneiro Especial: drawback. Isabela Garcia Regina Célia Faria Simões

A estratégia de Aquisição do Grupo Santander:a recente aquisição do Banco Real.

Luciana Celeste dos Santos Regina Célia Faria Simões

Indústria Cinematográfica Indiana: evolução e conquista do mercado internacional.

Luciano Cia Regina Célia Faria Simões

Um estudo exploratório sobre “Fair Trade”. Roberto Bonfiglio Regina Célia Faria Simões

Exportação do Etanol Brasileiro; desafioslogísticos, barreiras internacionais e perspectivas.

Washington Pacheco Ferraz Regina Célia Faria Simões

Protecionismo Agrícola Europeu:Mito ou Realidade.

Welder Vitoriano de Oliveira Regina Célia Faria Simões

Sistema Portuário Brasileiro. Claudinei Vieira Valmir Luiz Cazon

Porto de Santos: desafios a serem vencidos. Estela Rubin Valmir Luiz Cazon

A importância do Porto de Santos para asexportações e importações brasileiras.

Fernanda Biagi da Silva Valmir Luiz Cazon

Panorama do Sistema Portuário Brasileiroe a Lei 8630.

Philippe William Rogers Valmir Luiz Cazon

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MBA (Internacional) em Negócios Internacionais – UNIMEP

INFORMAÇÕES DO CURSO

Carga Horária:Em sala de aula: 384 horas/aula.Fora de sala de aula:

a) Visita Técnica ao Porto de Santos (8 horas/aula); e b) Trabalho de Conclusão de Curso (20 horas/aula).

O módulo internacional é opcional (convênios com universidades dos Estados Unidos, Canadá, Méxi-co, Chile, Argentina e Uruguai).

Total de horas: 412 horas/aula.

Horário das Aulas: 19h20min – 22h40min (terças-feiras e quintas-feiras)

MAIS INFORMAÇÕ[email protected]

OBJETIVOSOs objetivos do Curso são os seguintes:

a) Qualificar profissionais capazes de entender e intervir sobre a “nova ordem internacional”;b) Formar profissionais para atuar criticamente nas áreas de importação, exportação, câmbio e negócios internacionais; ec) Capacitar profissionais com sólida formação teórica e prática.

DISCIPLINASMacroeconoMia

econoMia Política internacional

Gestão de neGócios internacionais iGestão de neGócios internacionais iicontratos internacionais

reGulaMento aduaneiro

loGística internacional e seGuros no coMér-cio exterior

MarketinG internacional

PanoraMa do coMércio exterior Brasileiro

FerraMentas e ações de aPoio ao exPortador

neGociações internacionais

Blocos econôMicos e orGanisMos reGionais

Balanço de PaGaMentos e câMBio

incoterMs e transPortes internacionais

teoria e Práticas caMBiais

classiFicação Fiscal de Mercadorias

traBalho de conclusão de curso

COORDENAÇÃOProFessor dr. cristiano Morini

ProFessora dra. reGina célia Faria siMões

DOCENTESanderson césar GoMes teixeira PelleGrino

cristiano Morini

eduardo euGêncio sPers

Gustao leoce

Paulo césar Faria siMões

reGina célia Faria siMões

saMir keedi

seBastião neto riBeiro Guedes

Valdir iusiF dainez

YVens Marcondes santiaGo

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