revista cenarium · web viewcarlos alberto souza de almeida filho, ora consulente, a respeito das...

67
PARECER Temática 1. O controle de constitucionalidade. 2. Dos tipos de inconstitucionalidade: a inconstitucionalidade formal e a inconstitucionalidade material – procedimentos absolutamente inconstitucionais. 3. Da ilegitimidade do processo de impeachment instaurado contra Vice-governador de Estado – caso de inépcia das denúncias e do processo de impeachment.

Upload: others

Post on 21-Dec-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

PARECER

Temática 1. O controle de constitucionalidade. 2. Dos tipos de inconstitucionalidade: a

inconstitucionalidade formal e a inconstitucionalidade material – procedimentos absolutamente

inconstitucionais. 3. Da ilegitimidade do processo de impeachment instaurado contra Vice-governador

de Estado – caso de inépcia das denúncias e do processo de impeachment.

São Paulo

2020

Page 2: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

CONSULTA

Consulta-nos o VICE-GOVERNADOR DO ESTADO DO AMAZONAS,

DR. CARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a

respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de

impeachment, tramitando perante a Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas.

O Consulente busca saber, em síntese, à luz da norma, da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, da doutrina e dos precedentes judiciais, se, de

fato, é possível o prosseguimento do processo de impeachment instaurado, bem como,

a respeito da regularidade e da legitimidade do procedimento, em especial, diante das

inconstitucionalidades formais e materiais constatadas no referido processo,

notadamente ante a decisão proferida pelo Pleno do Tribunal de Justiça do Estado do

Amazonas, suspendendo os processos administrativos e/ou judiciais instaurados por

crimes de responsabilidade, por ocasião do julgamento da ADI nº 4002725-

08.2020.8.04.0000.

O presente parecer compreende uma análise detida dos autos, à luz da

jurisprudência e da doutrina, sobre as objeções de cunho formal, material e processual.

Page 3: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

SUMÁRIO

I – SÍNTESE DA CONSULTA....................................................................................4

II – O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE...........................................11

II.1 – DOS TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE: A INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E A INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL – PROCEDIMENTOS ABSOLUTAMENTE INCONSTITUCIONAIS............................................................................................21

III – DA ILEGITIMIDADE DO PROCESSO DE IMPEACHMENT INSTAURADO CONTRA VICE-GOVERNADOR DE ESTADO – CASO DE INÉPCIA DAS DENÚNCIAS E DO PROCESSO DE IMPEACHMENT.......................................................................................................28

IV – CONCLUSÃO..................................................................................................38

Page 4: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

I - SÍNTESE DA CONSULTA

Trata-se de processo de impeachment instaurado em face do

Governador do Estado do Amazonas, Wilson Miranda Lima, e de seu Vice-

governador, Carlos Alberto Souza de Almeida Filho, pela suposta prática de crimes

de responsabilidade, instaurado na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas.

Durante a tramitação do procedimento, foi proposta a Ação Direita de

Inconstitucionalidade de nº 4002725-08.2020.8.04.0000, perante o Tribunal de

Justiça do Estado do Amazonas, visando à declaração de inconstitucionalidade das

normas insculpidas nos arts. 21, inciso XI, 51, inciso I, alínea “e”, 170, inciso II,

176, 177, 178 e 179 da Resolução Legislativa n° 469/2010 (Regimento Interno da

Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas – RIALEAM), mormente no

tocante ao “Processo de Crime de Responsabilidade do Governador, do Vice-

Governador e de Outros Agentes Políticos” no âmbito desta unidade federativa.

Em síntese, alega o requerente que os dispositivos mencionados

estabelecem normas autônomas de processamento e julgamento dos crimes de

responsabilidade, o que contraria o sistema de competências delineado pela

Constituição Federal de 1988 (CF/88) por vício de inconstitucionalidade formal

orgânica, uma vez que esta prevê, em seu art. 22, inciso I, que as matérias penal e

processual são de competência legislativa privativa da União [norma repetida

pelo art. 16 da Constituição do Estado do Amazonas (CEAM)].

Do mesmo modo, aduz ocorrer inconstitucionalidade material em relação

ao disposto nos arts. 28, inciso XXI, e 56, ambos colmatados pela decisão do Supremo

Tribunal Federal (STF) na ADI n° 4.771/AM, de relatoria do E. Min. Luiz Edson

Fachin, que declarou a inconstitucionalidade com redução parcial do texto destes

dispositivos.

Page 5: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Indica que a competência do Tribunal de Justiça para processar e julgar,

originariamente, a Ação Direta de Inconstitucionalidade de lei ou ato normativo

estadual ou municipal, inclusive o respectivo pedido de medida cautelar, em face da

Constituição Estadual, está regularmente estabelecida no art. 72, inciso I, alíneas “f”

e “g”, da CEAM, estabelecendo como parâmetro normativo inicial o art. 16 da

CEAM que dispõe que o Estado exercerá, em seu território, todas as

competências que não tiverem sido atribuídas, com exclusividade, pela

Constituição da República, à União e aos Municípios.

Indica, ainda, o art. 22, inciso I, da CF/88, segundo o qual compete

privativamente à União legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual,

eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho [norma esta de

repetição obrigatória por parte dos Estados].

Com efeito, informa que os diplomas normativos impugnados

desrespeitam os arts. 28, inciso XXI, e 56 da CEAM, dada a redução parcial de

texto imposta pelo STF em virtude da declaração de inconstitucionalidade destes

dispositivos na ADI n° 4.771/AM, bem como o afrontoso desacato ao enunciado da

Súmula Vinculante n° 46 do STF, que diz, expressamente, que a definição dos

crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de

processo e julgamento são de competência legislativa privativa da União.

No mérito, sustenta a inconstitucionalidade formal do inciso XI do art.

21, bem como da alínea “e” do inciso I do art. 51 da Resolução nº 469/2010

(RIALEAM), basicamente:

a) por inconstitucionalidade formal orgânica em virtude da competência

privativa da União para legislar sobre direito penal e processo penal

(art. 22, inciso I, da CF/88 e art. 16 da CEAM);

b) violação da Súmula Vinculante n° 46 do STF;

Page 6: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

c) irregular atribuição de competências processuais específicas à

Secretaria-Geral da Mesa e à Comissão Especial, incluindo a formação

deste último órgão, em processo de crime de responsabilidade;

d) violação direta aos termos da Lei Federal n° 1.079/1950, que já prevê

normas aplicáveis ao processamento e julgamento do Governador e dos

Secretários de Estado por crimes de responsabilidade;

e) violação da simetria em relação ao Regimento Interno do Congresso

Nacional, do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, que seriam

Resoluções, ou seja, espécies normativas primárias previstas diretamente na

Constituição Federal (art. 59, inciso VII).

Sustenta, ainda, haver inconstitucionalidade material quanto aos mesmos

dispositivos, uma vez que, ao julgar procedente a ADI nº 4.771/AM, o Supremo

Tribunal Federal (STF) determinou a redução parcial de texto, suprimindo as

expressões:

a) “processar e julgar o Governador” e “nos crimes de responsabilidade”,

do art. 28, inciso XXI, da CEAM;

b) “Admitida por dois terços dos integrantes da Assembleia Legislativa a

acusação contra o Governador do Estado” e “ou perante a Assembleia

Legislativa nos crimes de responsabilidade”, do art. 56, caput, da

CEAM;

c) “desde o recebimento da denúncia ou queixa-crime pelo Superior

Tribunal de Justiça, quando se tratar de infrações penais comuns”, do

art. 56. §1º, inciso I, da CEAM.

Portanto, sustentam que os dispositivos citados do RIALEAM estariam

em desconformidade com relação ao novo texto da Constituição do Estado, e,

Page 7: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

justamente por isso, seriam normas autônomas se não consideradas

inconstitucionais por arrastamento ou, no mínimo, por alteração do paradigma

(inconstitucionalidade superveniente).

Na sequência, sustenta a inconstitucionalidade material do inciso II do

art. 170 do RIALEAM em comparação com o novo texto do art. 28 da CEAM ,

uma vez que o dispositivo da resolução normatiza que o controle da

Administração Pública a cargo da Assembleia Legislativa e de suas Comissões

compreende, dentre outros, julgar os atos do Governador e Vice-Governador do

Estado e demais agentes políticos estaduais, notadamente aqueles que

importarem crime de responsabilidade, ressalvada a competência do Tribunal de

Contas do Estado.

Afirma que o processamento e julgamento do Vice-Governador por

crimes de responsabilidade é inovação normativa instituída pelo Regimento

Interno da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, e que, em uma

interpretação sistemática de todo o ordenamento jurídico, tanto constitucional quanto

infraconstitucional, inexiste tal previsão de responsabilização, ou seja, a ALEAM

criaria um “novo tipo penal, o qual poderia ser chamado de ‘impeachment de Vice-

Governador”, algo sabidamente inconstitucional e inadequado .

Ato contínuo, sustenta a tese de inconstitucionalidade formal e material

dos arts. 176, 177, 178 e 179 do RIALEAM, topograficamente localizados no

“Capítulo IV – “Processo de Crime de Responsabilidade do Governador, do

Vice-Governador e de Outros Agentes Políticos”. Em suma, alega:

a) invasão da competência legislativa privativa da União prevista no art.

22, inciso I, da CF/88 e art. 16 da CEAM, além de violação da Súmula

Vinculante nº 46 do STF;

Page 8: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

b) ampliação indevida do rol de legitimados ativos e criação de novos

sujeitos passivos nos processos de responsabilização de crimes de

responsabilidade (art. 176, caput e §1º, do RIALEAM);

c) estabelecimento indevido da própria Assembleia Legislativa como

órgão julgador dos praticantes de crimes de responsabilidade (art. 176,

caput e §1º, do RIALEAM);

d) inexistência de previsão sequer na Constituição Estadual para

definição do rito de julgamento, o que demonstra o caráter autônomo da

norma (art. 176, §2º, do RIALEAM);

e) criação de normas processuais e de quórum para julgamento sobre

os crimes de responsabilidade em desacordo com o ordenamento

jurídico (art. 177, caput, incisos I a VI, e parágrafo único, do RIALEAM);

f) definição da ALEAM como Tribunal Julgador dos agentes políticos,

relativamente à admissibilidade da denúncia, em violação direta ao que

determina o ordenamento jurídico, inclusive, dispondo sobre a

possibilidade de afastamento funcional e suspensão de direitos

constitucionais (art. 177, inciso V e parágrafo único, do RIALEAM);

g) definição da ALEAM como Tribunal Julgador dos agentes políticos

para condenar, em caso de culpa “lato sensu”, em violação direta ao

que determina o ordenamento jurídico, inclusive dispondo sobre o

afastamento em definitivo e perda de direitos constitucionais (art. 178

do RIALEAM);

h) violação ao princípio da publicidade e transparência por previsão de

voto secreto (art. 178, §3º, do RIALEAM);

i) criação de tipo penal e regras de julgamento em desacordo com o

ordenamento constitucional (art. 179 do RIALEAM).

Page 9: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Após a exposição dos fundamentos da ação, o Requerente pugnou pela

concessão liminar de medida cautelar, indicando atender todos os requisitos legais:

a) fumus boni iuris está no fato de que o legitimado comprovou, de forma

clara e incontroversa, a regularidade do direito que lhe é assegurado, posto

que, houve demonstração cabal de que a Assembleia Legislativa do Estado

do Amazonas usurpou competência da União e legislou sobre temas que

não eram da sua alçada, de modo que, houve violação do art. 16 da CEAM

e art. 22, inciso I, da CF/88, bem como desrespeito aos arts. 28, inciso XXI,

31, §2º, e 56, após decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI n°

4.771/AM, todos dispositivos da CEAM – citados precedentes do Tribunal

de Justiça;

b) periculum in mora por lesão grave e de difícil reparação,

consubstanciado no renitente descumprimento da Súmula Vinculante nº 46

e do julgado na ADI nº 4.771/AM, mormente porque o Chefe do Poder

Executivo enfrenta constantes pedidos de impeachment em seu mandato

sem uma correta limitação da atuação da Assembleia Legislativa, assim

como porque se criou o “ impeachment de Vice-Governador”, em

desacordo com o ordenamento jurídico.

Por fim, defendeu a possibilidade de concessão monocrática da medida

cautelar pleiteada, porquanto, mesmo sendo sabido que, em regra, a medida cautelar

em ação direta de inconstitucionalidade está submetida à reserva de plenário, nos

moldes do art. 97 da Constituição Federal e art. 10 da Lei n° 9.868/1999 , o próprio

Supremo Tribunal Federal, considerando que a lei não pode prever todas as possíveis

hipóteses que possam vir a configurar a urgência da pretensão cautelar, tem

reconhecido a possibilidade de utilização do poder geral de cautela pelo Relator

para que este decida monocraticamente sobre o pedido, fora dos períodos de

recesso forense e férias, em que se anteveja perda de utilidade, caso se aguarde o

Page 10: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

cumprimento do rito burocrático legalmente estabelecido, devendo, de toda

forma, submeter sua decisão cautelar ao referendo do Tribunal, em Sessão

Plenária (art. 21, inciso V, RISTF).

Assim, aos 13 de maio de 2020, reconhecendo a existência do fumus boni

iuris e do periculum in mora (perigo de lesão irreparável ou de difícil reparação),

houve a concessão da medida cautelar, devidamente referendada, por maioria de

votos, pelo Pleno do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, para suspender

a eficácia dos arts. 21, inciso XI, 51, inciso I, alínea “e”, 170, inciso II, 176, 177,

178 e 179 da Resolução Legislativa n° 469/2010 (Regimento Interno da

Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas – RIALEAM), bem como para

suspender os eventuais processos administrativos e/ou judiciais por crime de

responsabilidade que tenham como base os referidos dispositivos do Regimento

Interno. Assim, temos no referido julgado:

“A urgência na apreciação do caso se justifica pela atual vigência e

consequente eficácia normativa do Regimento Interno da Assembleia

Legislativa na condução dos trabalhos do Poder Legislativo em matéria

de crimes de responsabilidade, em franco desrespeito à decisão do

Supremo Tribunal Federal na ADI n° 4.771/AM, relatada pelo E. Min.

Luiz Edson Fachin, em que o Ministro concluiu, monocraticamente e com

base em diversos precedentes vinculantes, pela inconstitucionalidade com

redução parcial de texto dos arts. 28, inciso XXI, e 56 da CEAM. (...)

Os dispositivos impugnados na presente ação, à primeira vista,

aparentam destoar da sobrecitada decisão tomada na ADI nº 4.771/AM,

posto que esta excluiu da Constituição Estadual os termos “processar e

julgar o Governador” e “nos crimes de responsabilidade”, do art. 28,

inciso XXI, “admitida por dois terços dos integrantes da Assembleia

Legislativa a acusação contra o Governador do Estado” e “ou perante a

Assembleia Legislativa nos crimes de responsabilidade”, do art. 56, caput,

Page 11: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

e “desde o recebimento da denúncia ou queixa-crime pelo Superior

Tribunal de Justiça, quando se tratar de infrações penais comuns”, do

art. 56. §1º, inciso I. (...)

O perigo de lesão irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora)

consiste na possibilidade de submissão imediata do Chefe do Poder

Executivo, em conjunto com o Vice-Governador, a um processo de

impeachment por crime de responsabilidade em possível desacordo com o

ordenamento jurídico vigente”.

Ato contínuo, o Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do

Amazonas, Dep. Josué Cláudio de Souza Neto, por intermédio de decisão proferida

aos 07 de julho de 2020, contrariando a decisão judicial que determinou a

suspensão do processo de impeachment , acolheu os Pareceres de nºs 128/2020 e

96/2020 da Procuradoria-Geral da ALEAM, para determinar “o prosseguimento

dos processos por crime de responsabilidade em epígrafe com relação ao segundo

passo, que consiste na eleição da Comissão Especial de que trata a parte final do

art. 19 da Lei 1.079/1950, determinando que os líderes dos partidos políticos e

blocos partidários com representação na ALEAM indiquem os respectivos membros

para comporem a chapa a ser votada em Plenário, a contar notificação desta

decisão em Plenário, devendo as indicações ser feitas o mais breve possível, ainda

nessa mesma sessão ordinária ou até o limite impreterível de 24h, podendo

excepcionalmente ser prorrogado tal prazo por igual período”.

Esse é o estágio processual atual do presente feito sob consulta.

II. O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Page 12: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Sabe-se que o controle1 de constitucionalidade2 é importante mecanismo,

de função altamente complexa e necessária à existência de uma Constituição3 rígida4,

“pois é por meio dele que se garante a estabilidade à Constituição e, sobretudo, sua

consolidação, adequando as normas infraconstitucionais à Norma Constitucional, que

rege o Estado Democrático de Direito”5. Realmente, controlar a constitucionalidade

acaba sendo a efetiva adequação (compatibilidade) de uma determinada lei ou ato

normativo com a Constituição Federal, verificando, naturalmente, seus requisitos

formais e materiais6.

Esse controle de constitucionalidade pode ser realizado de maneira

preventiva ou, até mesmo, repressiva7. Ademais, esse modelo de controle se

desenvolverá quando a norma já esteja editada, podendo ser controlada pelo Poder

Judiciário, enquanto aquele modelo de controle ocorre enquanto a norma ainda não foi

efetivamente editada. Assim, “o controle preventivo é uma forma de se controlar a lei

antes mesmo de ser aperfeiçoada ou publicada, ou seja, antes que a norma passe a ter 1 Sobre a palavra controle, vale trazer as colocações de Sérgio Resende de Barros: “No geral, conceitua-se: controle é a verificação, por um sujeito controlador, da adequação de um objeto controlado a um objeto que serve de paradigma. Aí está claro que o controle não é a adequação de um objeto a outro, que lhe é posto como paradigma; mas é a verificação dessa adequação. Sendo dessa maneira, controle não é binômio entre dois objetos, mas é uma verificação feita por um sujeito sobre esse binômio. Por conseguinte, é trinômio, implicando sempre a presença de três elementos: o sujeito controlador, que realiza o controle, tendo diante de si dois objetos, que são por ele comparados: o objeto controlado propriamente dito e o objeto-paradigma do controle, os quais não raro são chamados, simplesmente, objeto e paradigma do controle” BARROS, Sérgio Resende de. Revista da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo, n. 54, dez. 2000, p. 21-43.2 Para o autor argentino Nestor Sagués, um sistema completo de controle de constitucionalidade requer vários ingredientes, sendo eles: uma Constituição rígida, um órgão de controle independente, faculdades decisórias do órgão de controle, direito aos prejudicados de reclamar e impulsionar o controle e submeter todo o ordenamento jurídico ao controle SAGUÉS, Nestor P. Elementos de Derecho Constitucional. Buenos Aires: Artraz, 1997, t. I, p. 143-144.3 Sobre a prevalência da Constituição em detrimento das demais normas, deve-se observar HAMILTON, Alexander; MADISON, James; JAY, John. The Federalist. Chicago/Londres/Toronto: William Benton, Publisher, Encyclopaedia Britannica, 1952. p. 231. Importante também conferir HAURIOU, Maurice. Derecho público y constitucional. 2. ed. Madrid: Reus, 1927. p. 159.4 Sobre a firmeza da Carta Política, vale observar que “el derecho Constitucional en sentido propio exige una Constitución normativa”. Vide Pérez Royo, Javier. Corso de derecho constitucional. Madrid – Barcelona: Marcial Pons, 1998, p. 92.5ALVIM, Eduardo Arruda. THAMAY, Rennan Faria Krüger. GRANADO, Daniel Willian. Processo constitucional. São Paulo: RT, 2014, p. 70.6 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 49 e ss.7 Nesse sentido, “distingue-se então o controle preventivo do controle repressivo. Aquele opera antes que o ato particularmente a lei, se aperfeiçoe; este depois de perfeito o ato, de promulgada a lei. Aquele é controle a priori. Este, a posteriori”. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 36.

Page 13: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

validade em todo o território que ela se propôs a abranger. O ponto aqui é que ocorre

geralmente no Poder Legislativo, na comissão de constituição e justiça, podendo,

ainda, ocorrer no Poder Executivo por meio do veto jurídico, que é efetivado pelo

Presidente da República”8.

Assim, na verdade, deve-se buscar, sempre, “afastar do cenário

jurídico-social a inconstitucionalidade9, caracterizada como aquela lei ou ato

normativo10 contrários à Constituição e seu texto”11. De fato, a Constituição Federal é,

hierarquicamente, superior às demais normas12 no Brasil e em outros países, fazendo

com que haja cuidado para que se afastem as inconstitucionalidades13 de leis

infraconstitucionais e atos normativos em geral que se oponham ao determinado na

Constituição.

Explica Jorge Miranda que constitucionalidade e inconstitucionalidade 8ALVIM, Eduardo Arruda. THAMAY, Rennan Faria Krüger. GRANADO, Daniel Willian. Processo constitucional. São Paulo: RT, 2014, p. 80. Nesse sentido, “se lleva a cabo antes que la norma sea tal; es decir, consiste en un control sobre proyectos”. SAGUÉS, Nestor P. Elementos de Derecho Constitucional. Buenos Aires: Artraz, 1997, t. I, p. 150.9 “A inconstitucionalidade, porém, é um problema de relação intrassistemática de normas jurídicas, abordado do ponto de vista interno, conforme os critérios de validade contidos nas normas constitucionais” . NEVES, Marcelo. Teoria da Inconstitucionalidade das Leis. São Paulo: Saraiva, 1988, p. 63. Sobre a ocorrência simultânea da inconstitucionalidade e da ilegalidade conferir MODUGNO, Franco. L’Invalidità della Legge. Teoria della Costituzione e Parametro del Giudizio Costituzionale. v. 1. Milano: Giuffrè, 1970, p. 91 e ss.10STF, RTJ, 164:506, 1998, ADInMC 1.434-SP, rel. Min. Celso de Mello: “O controle abstrato de constitucionalidade somente pode ter como objeto de impugnação atos normativos emanados do Poder Público. Isso significa, ante a necessária estatalidade dos atos suscetíveis de fiscalização in abstracto, que a ação direta de inconstitucionalidade só pode ser ajuizada em face de órgãos ou instituições de natureza pública. Entidades meramente privadas, porque destituídas de qualquer coeficiente de estatalidade, não podem figurar como litisconsortes passivos necessários em sede de ação direta de inconstitucionalidade”.11 THAMAY, Rennan Faria Krüger. A estabilidade das decisões no controle de constitucionalidade abstrato. São Paulo: Almedina, 2016, p. 56.12 Nesse sentido, Oswaldo Luiz Palu refere que “A Constituição deve ter preservada sua força ordenadora e deve ser efetivamente obedecida, gerando efeitos na realidade social (constituição normativa)”. PALU, O. L. Controle de constitucionalidade: conceitos, sistemas e efeitos. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. Clèmerson Merlin Clève refere que “A supremacia constitucional deve vir acompanhada, também, de uma certa ‘consciência constitucional’ ou, como prefere Hesse, de uma ‘vontade de constituição’. Ela reclama a defesa permanente da obra e dos valores adotados pelo Poder Constituinte. Afinal, sem ‘consciência constitucional’ ou sem ‘vontade de constituição’, nenhuma sociedade consegue realizar satisfatoriamente sua Constituição ou cumprir com seus valores”. CLÈVE, C. M. A fiscalização abstrata da constitucionalidade no direito brasileiro. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. Ainda sobre essa supremacia, pode-se conferir HESSE, K. A força normativa da constituição. Porto Alegre: Fabris, 1991. Importante destacar que se utiliza neste artigo os sentidos normativos descritos por Friedrich Müller, distinguindo-se texto normativo de norma. MÜLLER, F. Teoria estruturante do direito. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.13 Sobre as variadas modalidades de inconstitucionalidade, torna-se importante conferir CLÈVE, op. cit., p. 35-56.

Page 14: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

designam conceitos de relação, isto é, “a relação que se estabelece entre uma coisa –

a Constituição – e outra coisa – um comportamento – que lhe está ou não conforme,

que com ela é ou não compatível, que cabe ou não no seu sentido14”.

Desta forma, instituiu-se o processo de controle de

constitucionalidade, como modelo de processo objetivo, regulamentado por duas

relevantes leis infraconstitucionais editadas, quais sejam a Lei nº 9.868, de 10 de

novembro de 1999, e a Lei nº 9.882, de 3 de dezembro de 1999.

Explica Luís Roberto Barroso que “No Brasil, onde o controle de

constitucionalidade é eminentemente de natureza judicial – isto é, cabe aos órgãos do

Poder Judiciário a palavra final acerca da constitucionalidade ou não de uma norma

–, existem, no entanto, diversas instâncias de controle político da constitucionalidade,

tanto no âmbito do Poder Executivo – e.g., o veto de uma lei por inconstitucionalidade

– como no Poder Legislativo – e.g., rejeição de um projeto de lei pela Comissão de

Constituição e Justiça da casa legislativa, por inconstitucionalidade15”.

Essas normas instituíram o sistema de controle de constitucionalidade

abstrato, criando regras peculiares próprias que têm a finalidade de tornar o

controle de constitucionalidade eficiente mesmo em meio às particularidades

próprias. Nesse ponto, é relevante trazer as lições de Friedrich Müller, caracterizando

a distinção entre texto normativo e norma. Refere o autor que:

“Se em termos da teoria da norma, o âmbito normativo é parte

integrante da norma, então a norma não pode ser colocada no mesmo

patamar do texto normativo. Essa conclusão decorre do enfoque feito

até aqui e deve ainda ser discutida. Somente o positivismo científico-

jurídico rigoroso pôde fiar-se em “aplicar” a lei, na medida em que

14 MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional. Coimbra: Coimbra Ed., 2001, p. 273-274.15 BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 43.

Page 15: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

tratou do texto literal desta como premissa maior e “subsumiu” as

circunstâncias reais a serem avaliadas aparentemente de forma lógica

ao caminho do silogismo na verdade vinculado ao conceito e, assim,

vinculado à língua. A ainda predominante compreensão da norma como

um comando pronto, juntamente com seu contexto positivista, corre

igualmente o risco de confundir norma e texto normativo; ou então de

partir do princípio de que o teor de validade da disposição legal seria

fundamentalmente adequado e estaria suficientemente presente no texto

literal, ou seja, seria “dado” com a figura linguística da disposição.

[...]

O nomologismo tem a tendência de ver a lógica normativa no sentido de

uma lógica do texto normativo e de seu contexto linguístico e conceitual.

A “norma pura” não possui uma normatividade concreta, já que não

possui um conteúdo material e uma determinação material. Ela constitui

apenas texto de norma. No sentido do conceito normativo aqui

desenvolvido, entretanto, não constitui nem mesmo isso, mas apenas um

texto que deve ser visto como forma linguística de uma norma.

Uma norma pura é, por exemplo, uma disposição legal de Hammurabi.

O âmbito normativo dela se perdeu. Ela “é válida”, “estabelece regras”

não mais de forma ideal, pois a questão teórico-normativa não é uma

questão de “ideia” e “realidade”, mas porque a normatividade, a

norma e a validade jurídica estão relacionadas a um modo de ser que

está presente apenas na inclusão prévia da estrutura real e material, que

é formada de modo normativo16.

De fato, sabe-se que a Ação Direta de Inconstitucionalidade 17 tem sua

finalidade específica voltada à declaração de inconstitucionalidade de um

determinado ato normativo ou de uma lei que venha a afrontar a Constituição

16 MÜLLER, F. Teoria estruturante do direito. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.17 Sobre a ADI, relevante conferir STRECK, L. L. Jurisdição constitucional e hermenêutica: uma nova crítica do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002.

Page 16: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Federal ou Estadual, mantendo o ordenamento jurídico em conformidade com a

Constituição. Essa ação tem a função de distanciar da Constituição essas

inconstitucionalidades prejudiciais ao sistema, fazendo os atos normativos

declarados inconstitucionais passarem a ser como normas que sequer existam, em

alguns casos, ressalvadas as possibilidades de modulação dos efeitos da decisão

que, ressalta-se, deverá observar os requisitos previstos no art. 27 da Lei nº

9.868/1999.

Veja que a Ação Direta de Inconstitucionalidade genérica é destinada à

decretação da inconstitucionalidade18, em abstrato, de ato normativo ou lei federal ou

estadual em face da Constituição. Essa determinação é expressa no art. 102, I, a, da

Constituição. Essa ação visa simplesmente à decretação, pelo STF, de que

determinada lei ou ato normativo seja inconstitucional por contrariar a

Constituição, tendo como consequência, em alguns casos, a retirada da lei ou do

ato normativo do ordenamento jurídico ou até mesmo sofrendo restrição de

interpretação, de aplicação ou de eficácia, em outros casos, como se verá

seguidamente.

Com efeito, essa ação se caracteriza como meio especial de

provocação da jurisdição constitucional, mediante regras próprias e peculiares,

capazes de manter a inconstitucionalidade afastada da Constituição e preservar-

lhe a higidez e credibilidade.

Por essa razão, pode-se afirmar que essa ação inaugura um processo

objetivo, que se presta a discutir, em tese, a (in)constitucionalidade da norma ou do

18 Segundo Jorge Miranda, a “[...] fiscalização sucessiva, abstrata, concentrada e por via principal é o elemento característico por excelência do modelo austríaco de garantia e encontra-se em todos os países com Tribunal Constitucional, com maior ou menor variação de sujeitos ou entidades titulares do poder de arguição ou iniciativa da apreciação da inconstitucionalidade”. MIRANDA, J. Manual de direito constitucional. 2. ed. Coimbra: Coimbra, 1988. t. 2. Clèmerson Merlin Clève elenca os atos impugnáveis por meio de ação direta genérica: emendas constitucionais; leis delegadas; medidas provisórias; regimentos das casas legislativas; tratados internacionais; atos normativos estrangeiros; regulamentos; regimentos dos tribunais; sentenças normativas; convenções coletivas de trabalho. CLÈVE, C. M. A fiscalização abstrata da constitucionalidade no direito brasileiro. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

Page 17: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

ato normativo em questão, podendo gerar, com a decretação da

inconstitucionalidade, a retirada, de imediato, do ordenamento jurídico, diversa

interpretação, ou, ainda, a futura retirada do ordenamento jurídico, tema a ser

enfrentado em tópico próprio quando se debaterem os efeitos.

No caso da declaração de inconstitucionalidade de ato normativo do

Poder Público, como o RIALEAM, em face da Constituição Estadual, é fato que

as mesmas premissas são empregadas daquelas utilizadas para a propositura das

ADIs perante o Supremo Tribunal Federal, entretanto, ensejando a incidência

das regras das Constituições Estaduais, no nosso caso, do Estado do Amazonas,

notadamente quanto ao art. 72, I, f, e art. 75, regulamentando o julgamento da

ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual ou

municipal, em face da Constituição Estadual.

Realmente, para verificar o alcance e as possibilidades da decisão

proferida no controle de constitucionalidade, relevante seguir para outros pontos, quais

sejam a análise dos efeitos da decisão de inconstitucionalidade de lei ou ato

normativo, considerando-se que essa demanda tem procedimento peculiar próprio,

observando-se, desde já, as eficácias e os efeitos possíveis de uma declaração de

inconstitucionalidade na modalidade genérica.

Importante salientar que o controle de constitucionalidade, sendo uma

significativa forma de manter a higidez do ordenamento jurídico, deve ser realizado

de forma que a norma, que visa a ser avaliada, deva estar em sintonia, não

apenas com artigos em particular, mas com toda a constituição, de forma

sistêmica.

No caso em tela, quando da implementação da decisão no controle de

constitucionalidade, esta decisão necessariamente deve estar em consonância com

os pilares constitucionais, com os seus princípios norteadores, em particular neste

Page 18: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

caso concreto, com a dignidade da pessoa humana e na valorização do trabalho,

princípios inafastáveis, o dito núcleo duro da constituição, desta forma, a decisão

dessa ADI nunca poderá ferir a dignidade humana, os preceitos constitucionais,

os princípios, direitos e regras fundamentais, eventualmente atingidos, com a

decisão da ADI.

Essa posição se deve ao modelo de constitucionalismo vigente, o

neoconstitucionalismo, em que todo sistema normativo, assim como os poderes

estatais, é avaliado e implementado tendo a constituição como núcleo que imana a

forma de agir e se conduzir. Desse modo a decisão final deverá ser dada conforme

a Constituição como um todo, de forma sistêmica.

Assim, como bem informado pelo julgado proferido pelo TJAM, há a

possibilidade de serem questionadas no Poder Judiciário matérias interna corporis, tal

como ocorre com Regimento Interno de Casa Legislativa, no sentido de que, “nada

obstante o entendimento clássico de que os atos jurídicos interna corporis não são

passíveis de controle judicial pela via da ação direta, o Supremo Tribunal Federal

expressou no julgamento da ADI nº 4.587/GO, Relator Min. Ricardo Lewandowski,

que os dispositivos de Regimento Interno das Assembleias Legislativas podem ser

objeto de ADI desde que possuam caráter normativo e autônomo, criando direitos

não compreendidos no ordenamento constitucional”. Assim:

“Dispositivo de Regimento Interno de uma Assembleia Legislativa

pode ser impugnado no STF por meio de ADI, desde que possua

caráter normativo e autônomo. É o caso, por exemplo, de um artigo do

Regimento Interno que preveja o pagamento de remuneração aos

Deputados Estaduais em virtude de convocação para sessão

extraordinária. (STF. Plenário ADI 4587/GO, Rel. Min. Ricardo

Lewandowski, julgado em 22/5/2014 (Info 747).

Page 19: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Ademais, a própria legislação regulamentadora do procedimento das

Ações Diretas de Inconstitucionalidade e das Ações Declaratória de

Constitucionalidades (ADC) (Lei nº 9.868/1998) estipulou a possibilidade de

concessão das medidas liminares, por parte dos seus julgadores, inclusive por

parte do Relator, de maneira monocrática, guardam as simetrias entre o

julgamento pelo Supremo Tribunal Federal e os Tribunais de Justiça,

submetendo, na sequência, a questão ao Tribunal Pleno, respeitando a regra da reserva

de plenário19, nos seguintes termos:

19 REFERENDO EM MEDIDA CAUTELAR EM REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL. LEI Nº 4.882/2019. REVOGAÇÃO DAS EMENDAS FEITAS AO PROJETO DE LEI Nº 134/2018, QUE CULMINOU NA EDIÇÃO DA LEI Nº 4.662/2018. RESTAURAÇÃO DA REDAÇÃO DA RESOLUÇÃO Nº 07/2018 – TJ/AM. POSSIBILIDADE DE JUÍZO MONOCRÁTICO COM CONTRADITÓRIO DEFERIDO EM MEDIDA CAUTELAR DE REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. REQUISITOS PARA A MEDIDA CAUTELAR. PROBABILIDADE DO DIREITO E PERIGO DE DANO OU RISCO AO RESULTADO ÚTIL. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO JUDICIÁRIA. LEI DE INICIATIVA DO PODER JUDICIÁRIO. ATRIBUIÇÃO PRIVATIVA PARA DEFLAGRAR O PROCESSO LEGISLATIVO. PROJETO DE LEI Nº 443/2019, TRANSFORMADO NA LEI Nº 4.882/2019, APRESENTADO POR INICIATIVA PARLAMENTAR. DISTINÇÃO ENTRE A PROVOCAÇÃO INICIAL DO PROCESSO LEGISLATIVO E A APRESENTAÇÃO DE EMENDAS, ASSEGURADA AO PODER LEGISLATIVO PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS. RE Nº 593.727/MG. TEXTO LEGAL QUE NÃO ESPECIFICA AS CIRCUNSCRIÇÕES CARTORIAIS DE CADA UM DOS OFÍCIOS DE IMÓVEIS. TEXTO DA LEI Nº 4.882/2019 NÃO CONTÉM O TEOR DA RESOLUÇÃO Nº 07/2018 – TJ/AM, SENDO APENAS REFERENCIADO. ART. 166, DO REGIMENTO INTERNO DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO AMAZONAS. PREJUDICIALIDADE DO PROJETO APROVADO COM EMENDAS. MEDIDA CAUTELAR REFERENDADA PARA CONCEDER A LIMINAR NOS EXATOS TERMOS DA REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 4004789-59.2018.8.04.0000, DETERMINANDO A INCIDÊNCIA DO ART. 419, §2º, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº 17/1997. 1. Regra geral, a concessão de medida cautelar em sede de Representação de Inconstitucionalidade requer observância à cláusula de reserva de plenário, insculpida no art. 97, da Constituição da República e art. 10, da Lei nº 9.868/99, e ao princípio do contraditório. Excepciona-se a regra nos casos de recesso forense ou em hipótese de extrema urgência, a qual restou constatada dada a relevância da matéria tratada pela Lei nº 4.882/2018. Precedentes; 2. Organização e divisão judiciárias são previstas como matéria cuja iniciativa legal é privativa do Poder Judiciário, motivo pelo qual o processo legislativo não poderia ser deflagrado por provação de parlamentar, sob pena de tornar inócua a previsão; 3. Distinção entre a atribuição privativa do Poder Judiciário deflagrar o processo legislativo e a possibilidade de o Poder Legislativo efetuar emendas parlamentares ao longo da fase de discussão e deliberação do projeto, havendo mitigação do protagonismo do Poder Legislativo apenas no tocante àquele primeiro momento; 4. De acordo com o entendimento do STF, pela Teoria do Poderes Implícitos, se a Constituição outorga determinada atividade-fim a um órgão, significa dizer que também concede todos os meios necessários para a realização dessa atribuição. Precedentes; 5. O texto da Lei nº 4.882/2019 não traz em seu bojo o teor da Resolução nº 07/2018 – TJ/AM, que pretende restabelecer, apenas a ela fazendo referência, disso se depreendendo que seu conteúdo jamais foi levado à votação quando das discussões do projeto de lei nº 443/2019; 6. O projeto de lei nº 134/2018, cujo texto correspondia ao da Resolução nº 07/2018 – TJ/AM, restou prejudicado por expressa previsão do art. 166, do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas, motivo pelo qual não poderia ser reavivado; 7. Medida cautelar referendada para suspender a eficácia da Lei nº 4.822/2018, para determinar a incidência do art. 419, §2º, da Lei Complementar Estadual nº 17/1997 nos exatos moldes deferidos em sede da Representação de Inconstitucionalidade nº 4004789-59.2018.8.04.0000. (Relator (a): Délcio Luís Santos; Comarca: Manaus/AM; Órgão julgador: Tribunal Pleno; Data do julgamento: 03/09/2019; Data de registro: 04/09/2019)

Page 20: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Seção II

Da Medida Cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade

Art. 10. Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação direta

será concedida por decisão da maioria absoluta dos membros do

Tribunal, observado o disposto no art. 22, após a audiência dos órgãos

ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado, que

deverão pronunciar-se no prazo de cinco dias.

§ 1º O relator, julgando indispensável, ouvirá o Advogado-Geral da

União e o Procurador-Geral da República, no prazo de três dias.

§ 2º No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada

sustentação oral aos representantes judiciais do requerente e das

autoridades ou órgãos responsáveis pela expedição do ato, na forma

estabelecida no Regimento do Tribunal.

§ 3º Em caso de excepcional urgência, o Tribunal poderá deferir a

medida cautelar sem a audiência dos órgãos ou das autoridades das

quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado.

Art. 11. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará

publicar em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da

Justiça da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias,

devendo solicitar as informações à autoridade da qual tiver emanado o

ato, observando-se, no que couber, o procedimento estabelecido na

Seção I deste Capítulo.

§ 1º A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida

com efeito ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe

eficácia retroativa.

§ 2º A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação

anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido

Page 21: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

contrário.

Art. 12. Havendo pedido de medida cautelar, o relator, em face da

relevância da matéria e de seu especial significado para a ordem social

e a segurança jurídica, poderá, após a prestação das informações, no

prazo de dez dias, e a manifestação do Advogado-Geral da União e do

Procurador- Geral da República, sucessivamente, no prazo de cinco

dias, submeter o processo diretamente ao Tribunal, que terá a faculdade

de julgar definitivamente a ação.

Justamente nesse sentido, o Relator no TJAM, Des. Wellington José de

Araújo, com o devido referendo pelo Tribunal Pleno, determinou a suspensão

imediata dos eventuais processos administrativos e/ou judiciais por crime de

responsabilidade que tenham como base os referidos dispositivos do Regimento

Interno, sobretudo porque “a urgência na apreciação do caso se justifica pela atual

vigência e consequente eficácia normativa do Regimento Interno da Assembleia

Legislativa na condução dos trabalhos do Poder Legislativo em matéria de crimes de

responsabilidade, em franco desrespeito à decisão do Supremo Tribunal Federal na

ADI n° 4.771/AM, relatada pelo E. Min. Luiz Edson Fachin, em que o Ministro

concluiu, monocraticamente e com base em diversos precedentes vinculantes, pela

inconstitucionalidade com redução parcial de texto dos arts. 28, inciso XXI, e 56 da

CEAM”.

II.1. DOS TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE: A

INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E A INCONSTITUCIONALIDADE

MATERIAL – PROCEDIMENTOS ABSOLUTAMENTE

INCONSTITUCIONAIS

Em verdade, é certo que a inconstitucionalidade formal se dá “quando

tais normas são formadas por autoridades incompetentes ou em desacordo com as

Page 22: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

formalidades ou procedimentos estabelecidos pela constituição 20 ”. Segundo

Alexandre de Moraes, a inconstitucionalidade formal pode ser subjetiva ou objetiva,

sendo que a primeira “[...] refere-se à fase introdutória do processo legislativo, ou

seja, à questão de iniciativa. Qualquer espécie normativa editada em desrespeito ao

processo legislativo, mais especificamente, inobservando àquele que detinha o poder

de iniciativa legislativa para determinado assunto, apresentará flagrante vício de

inconstitucionalidade 21 ”.

Ainda, Gilmar Mendes especifica que “os vícios formais traduzem

defeito de formação do ato normativo, pela inobservância de princípio de ordem

técnica ou procedimental ou pela violação de regras de competência22”.

Paulo Bonavides explica sobre o controle formal: “Confere ao órgão que

o exerce a competência de examinar se as leis foram elaboradas de conformidade

com a Constituição, se houve correta observância das formas estatuídas, se a regra

normativa não fere uma competência deferida constitucionalmente a um dos poderes,

enfim, se a obra do legislador ordinário não contravém preceitos constitucionais

pertinentes à organização técnica dos poderes ou às relações horizontais e verticais

desses poderes, bem como dos ordenamentos estatais respectivos, como sói

acontecer nos sistemas de organização federativa do Estado 23 ”.

Também sobre a inconstitucionalidade formal, Pedro Lenza distingue

os dois tipos de vícios formais existentes nas leis, sendo classificados como vício

formal subjetivo e o vício formal objetivo. Desta forma, explica o autor: “(...) o

vício formal subjetivo verifica-se na fase de iniciativa. Tomemos um exemplo: algumas

leis são de iniciativa exclusiva (reservada) do Presidente da República como as que

fixam ou modificam os efeitos da Forças Armadas, conforme o art. 61, § 1º, I, da

20 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 47.21 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 637.22 MENDES, Gilmar Ferreira. Controle de constitucionalidade. In: BRANCO, P. G. G.; COELHO, I. M.; MENDES, G. M. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 1.170.23 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 13. ed., São Paulo: Malheiros, 2003, p. 297.

Page 23: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

CF/88 (...). Em hipótese contrária (ex.: um Deputado Federal dando início),

estaremos diante de um vício formal subjetivo insanável, e a lei será

inconstitucional. (...) por seu turno, o vício formal objetivo será verificado nas

demais fases do processo legislativo, posteriores à fase de iniciativa. Como exemplo

citamos uma lei complementar sendo votada por um quorum de maioria relativa.

Existe um vício formal objetivo, na medida em que a lei complementar, por força do

art. 69 da CF/88, deveria ter sido aprovada por maioria absoluta24”.

Luís Roberto Barroso traz a seguinte classificação: “A primeira

possibilidade a se considerar, quanto ao vício de forma, é a denominada

inconstitucionalidade orgânica, que se traduz na inobservância da regra de

competência para a edição do ato (...). De outra parte, haverá inconstitucionalidade

formal propriamente dita se determinada espécie normativa for produzida sem a

observância do processo legislativo próprio 25 ”.

Do exposto, diante dos posicionamentos apresentados, fica claro que a

inconstitucionalidade formal faz referência ao erro na observância da

competência ou das regras relativas ao processo legislativo definido e estabelecido

pela própria Constituição Federal.

Por outro lado, assim como afirma Rennan Thamay, “a

inconstitucionalidade será material , ou seja, substancial, quando o vício disser

respeito ao efetivo conteúdo da norma, contrário à Constituição, seja ato normativo

ou lei infraconstitucional, se estiverem em desacordo com a Constituição, poderão

ser alcançados pela declaração de inconstitucionalidade, pois de fato já são, em tese,

inconstitucionais, apenas dependendo de sua declaração” 26.

24 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 15. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 232.25 BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 26-27.26 THAMAY, Rennan Faria Krüger. A estabilidade das decisões no controle de constitucionalidade abstrato . São Paulo: Almedina, 2016, p. 57.

Page 24: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Ademais, Clèmersom Merlin Clève refere que “a inconstitucionalidade

material acaba por se reportar ao conteúdo da lei ou do ato normativo, importando

verificar se a lei ou esse ato normativo é compatível com o conteúdo da

Constituição. Não o sendo, a lei e o ato normativo em conformidade com a Carta

Política, será materialmente inconstitucional” 27.

Gilmar Mendes apresenta o seguinte entendimento da questão: “A

inconstitucionalidade material envolve, porém, não só o contraste direto do ato

legislativo com o parâmetro constitucional, mas também a aferição do desvio de

poder ou do excesso de poder legislativo. É possível que o vício de

inconstitucionalidade substancial decorrente do excesso de poder legislativo constitua

um dos mais tormentosos temas do controle de constitucionalidade hodierno. Cuida-

se de aferir a compatibilidade da lei com os fins constitucionalmente previstos ou de

constatar a observância do princípio da proporcionalidade, isto é, de se proceder à

censura sobre a adequação e a necessidade do ato legislativo 28 ”.

Nas palavras de Barroso, “a inconstitucionalidade material expressa

uma incompatibilidade de conteúdo, substantiva entre a lei ou o ato normativo e a

Constituição. Pode traduzir-se no confronto com uma regra constitucional – e.g., a

fixação da remuneração de uma categoria de servidores públicos acima do limite

constitucional (art. 37, XI) – ou com um princípio constitucional, como no caso de lei

que restrinja ilegitimamente a participação de candidatos em concurso público, em

razão do sexo ou idade (arts. 5º, caput, e 3º, IV), em desarmonia com o mandamento

da isonomia. O controle material de constitucionalidade pode ter como parâmetro

todas as categorias de normas constitucionais: de organização, definidoras de direitos

e programáticas29”.

27 CLÈVE, Clèmersom Merlin. A fiscalização abstrata da constitucionalidade no direito brasileiro. 2. ed. São Paulo: RT, 2000, p. 42.28 MENDES, Gilmar Ferreira. Controle de constitucionalidade. In: BRANCO, P. G. G.; COELHO, I. M.; MENDES, G. M. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 1.172.29 BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 29.

Page 25: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Destarte, a inconstitucionalidade material ocorre quando a norma

efetivamente vai contra os parâmetros explícitos da Constituição Federal ou

contra as vertentes do princípio da proporcionalidade (adequação e necessidade).

Desta forma, s. m. j., pode-se afirmar que, no caso em tela, ficou

demonstrado que existiu o vício de inconstitucionalidade formal, pois a

Constituição Federal estabelece ser de competência privativa da União legislar

sobre direito penal e processo penal, incluindo o tipo penal para a imputação de

crime de responsabilidade a autoridade, como no caso do Governador e do Vice-

governador de Estado (art. 22, inciso I, da CF/88 e art. 16 da CEAM), no seguinte

sentido:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,

marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

Art. 16. O Estado exercerá, em seu território, todas as competências

que não tiverem sido atribuídas com exclusividade pela Constituição

da República, à União ou aos Municípios.

Ademais, resta inolvidável verificar a irregular atribuição de

competências processuais específicas à Secretaria-Geral da Mesa e à Comissão

Especial, incluindo a formação deste último órgão, em processo de crime de

responsabilidade, violando diretamente os termos da Lei Federal n° 1.079/1950,

que já prevê normas aplicáveis ao processamento e julgamento do Governador e dos

Secretários de Estado por crimes de responsabilidade, bem como, desrespeitando a

necessária simetria em relação ao Regimento Interno do Congresso Nacional, do

Senado Federal e da Câmara dos Deputados, que seriam Resoluções, ou seja,

espécies normativas primárias previstas diretamente na Constituição Federal

(art. 59, inciso VII).

Page 26: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Aqui também, por certo, evidencia-se que a norma objeto da referida

ADI padece de vício material de inconstitucionalidade, tendo em vista estar em

desacordo com os ditames da Constituição Federal, bem como ao julgar

procedente a ADI nº 4.771/AM, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a

redução parcial de texto, no seguinte sentido:

(i) declarar a inconstitucionalidade da expressão “admitida por dois

terços dos integrantes da Assembleia Legislativa a acusação contra o

Governador do Estado”, constante do caput do art. 56, da

Constituição do Estado do Amazonas;

(ii) declarar a inconstitucionalidade das expressões “processar e julgar

o Governador” e “nos crimes de responsabilidade”; “ou perante a

Assembleia Legislativa nos crimes de responsabilidade”, contidas,

respectivamente, no inciso XXI do art. 28 e no caput do art. 56, todos

da Constituição do Estado do Amazonas.

(iii) declarar a inconstitucionalidade por arrastamento do inciso I, §1º

do art. 56, da Constituição do Estado do Amazonas.

Ou seja, o Supremo Tribunal Federal, em mais de uma ocasião,

estabeleceu que a previsão do estabelecimento de normas de processo e

julgamento referentes aos crimes de responsabilidade consiste em norma

processual, matéria de competência privativa da União (art. 22, I, da CF) não se

admitindo sua previsão pelas Constituições estaduais.

Page 27: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Tanto é que o tema já se encontra devidamente pacificado pela Corte30,

inclusive em sede de Súmula Vinculante de nº 46. Ademais, o próprio STF, por

unanimidade, aprovou a proposta de conversão da Súmula nº 722, editando, a

posteriori, a Súmula Vinculante nº 46 , que recebeu a seguinte redação:

“A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das

respectivas normas de processo e julgamento são da competência

legislativa privativa da União.”

Ademais, “é vedado às unidades federativas instituírem normas que

condicionem a instauração de ação penal contra o Governador, por crime comum, à

prévia autorização da casa legislativa, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça

dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais,

inclusive afastamento do cargo”31.

Aliás, imperioso verificar o voto do ilustre Ministro Moreira Alves sobre

o tema, por ocasião do julgamento da Reclamação nº 383 em 11 de junho de 1992:

“Eficácia jurídica desses dispositivos constitucionais estaduais. Jurisdição

constitucional dos Estados- membros. – Admissão da propositura da ação direta de

inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justiça local, com possibilidade de

recurso extraordinário se a interpretação da norma constitucional estadual, que

reproduz a norma constitucional federal de observância obrigatória pelos Estados,

contrariar o sentido e o alcance desta.”

A partir dessa ideia, o Ministro Luís Roberto Barroso, na ADPF nº 378,

estabeleceu o rito do impeachment a ser instaurado, o qual decidiu que:

30 A definição das condutas típicas configuradoras do crime de responsabilidade e o estabelecimento de regras que disciplinem o processo e julgamento dos agentes políticos federais, estaduais ou municipais envolvidos são da competência legislativa privativa da União e devem ser tratados em lei nacional especial (art. 85 da Constituição da República). (STF - ADI 2.220, rel. min. Cármen Lúcia, P, j. 16-11-2011, DJE 232 de 7-12-2011.)31 ADI 4.764, rel. min. Celso de Mello, red. p/ o ac. min. Roberto Barroso, P, j. 4-5-2017, DJE 178 de 15-8-2017.

Page 28: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

“Por unanimidade, deferiu parcialmente o pedido para estabelecer, em

interpretação conforme à Constituição do art. 38 da Lei nº 1.079/1950,

que é possível a aplicação subsidiária dos Regimentos Internos da

Câmara e do Senado ao processo de impeachment, desde que sejam

compatíveis com os preceitos legais e constitucionais pertinentes.”

Nesses termos, é evidente que a medida cautelar proferida pelo

Tribunal de Justiça do Amazonas, nos autos da ADI nº 4002725-

08.2020.8.04.0000, ainda que conferida de maneira superficial e inicial, merece

observação obrigatória, em razão de sua força vinculativa e obrigatória,

impossibilitando o prosseguimento de qualquer processo e/ou procedimento

administrativo ou criminal para a apuração de supostos crimes de

responsabilidade cometidos pelas autoridades ora imputadas.

Assim, mesmo que se tenham observados os critérios apresentados na

ADPF nº 378 para o processamento e julgamento de crime de responsabilidade

praticado por Governador de Estado, é certo que, até que haja a autorização por

parte do Poder Judiciário, por critério de segurança jurídica e de respeito às

decisões judiciais, o prosseguimento do feito na via administrativa merece

permanecer suspenso, até porque a determinação de continuidade representou

verdadeiro desrespeito à ordem judicial.

III – DA ILEGITIMIDADE DO PROCESSO DE IMPEACHMENT

INSTAURADO CONTRA VICE-GOVERNADOR DE ESTADO – CASO DE

INÉPCIA DAS DENÚNCIAS E DO PROCESSO DE IMPEACHMENT

De início, importante verificar a necessidade de se afastar o

procedimento criminal para a apuração de supostos crimes de responsabilidade

cometidos por Vice-governador de Estado --- o que no presente caso não ocorreu

Page 29: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

---, especialmente porque inexistente em nosso ordenamento jurídico

constitucional a previsão de tal figura jurídica. Na verdade, o STF determinou o

procedimento adequado para a apuração de tais crimes praticados pelo

Governador de Estado, mas em nenhum momento possibilitou a abertura contra

Vice-Governador 32 .

Na verdade, a figura do “Vice”, assim como instituído em nosso

sistema, consiste na figura política da pessoa eleita juntamente com o titular

(presidente, governador ou prefeito), para o exercício do mandato, entretanto sendo

ele o responsável ou encarregado de substituir o titular do cargo em caso de

impedimento, ausência, vacância ou de exclusão --- garantindo a manutenção de um

projeto político eleito pelo povo. Nesses casos, somente praticarão os atos de

governo, de gestão e de eficácia quando efetivamente atuarem na condição de

Presidente, Governador ou Prefeito em exercício.

A tipificação de crime de responsabilidade, como bem ressaltou o

Ministro Luís Roberto Barroso na ADPF nº 378, encontra-se no art. 4º da Lei

1.079/1950 (Lei que define os crimes de responsabilidade e regula o respectivo

processo de julgamento), em especial contra Governadores e Secretários de

Estado, conforme determina o art. 74, nos seguintes termos:32 A exigência de autorização prévia de Assembleia Estadual para o processamento e julgamento de Governador do Estado por crime comum perante o STJ ofende ainda a separação de Poderes (art. 2º, caput, CRFB), pois estabelece uma condição não prevista pela Constituição para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário. Vale dizer, o Superior Tribunal de Justiça, órgão do Poder Judiciário, fica impedido de exercer suas competências e funções até que se proceda à autorização prévia do Poder Legislativo estadual. Esse tipo de restrição ao exercício da jurisdição é sempre excepcional, devendo ser, assim, expresso pela Constituição da República. A Constituição, no entanto, nada previu sobre isso. Nesses casos, onde a Constituição foi silente, deixa-se claro que vale a regra. Ou seja, se não há previsão constitucional de tal condição de procedibilidade para o exercício da competência do STJ, não podem as Constituições estaduais imporem tal requisito, sob pena de restrição não prevista ou autorizada às competências do STJ. Admitir essa autorização prévia seria aceitar que o Estado, um ente da federação, estabeleça condição de procedibilidade para o exercício da jurisdição pelo STJ, órgão do Poder Judiciário consistente em tribunal nacional, e não federal. Há, assim, evidente ofensa à separação de Poderes (art. 2º, caput, CRFB). (…) Conclui-se, assim, pela inconstitucionalidade da expressão “admitida por dois terços dos integrantes da Assembleia Legislativa a acusação contra o Governador do Estado”, constante do caput do art. 56, da Constituição do Estado do Amazonas, assentando a desnecessidade de autorização da Assembleia Legislativa para o processamento e julgamento do Governador por crime comum pelo STJ. (STF - ADI 4771, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, julgado em 09/06/2017, publicado em PROCESSO ELETRÔNICO DJe-128 DIVULG 14/06/2017 PUBLIC 16/06/2017)

Page 30: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Art. 1º São crimes de responsabilidade os que esta lei especifica.

Art. 4º São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da

República que atentarem contra a Constituição Federal, e,

especialmente, contra:

I - A existência da União:

II - O livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e dos

poderes constitucionais dos Estados;

III - O exercício dos direitos políticos, individuais e sociais:

IV - A segurança interna do país:

V - A probidade na administração;

VI - A lei orçamentária;

VII - A guarda e o legal emprego dos dinheiros públicos;

VIII - O cumprimento das decisões judiciárias (Constituição, artigo 89).

Art. 74. Constituem crimes de responsabilidade dos governadores dos

Estados ou dos seus Secretários, quando por eles praticados, os atos

definidos como crimes nesta lei.

Segundo Alexandre de Moraes, “crimes de responsabilidade são

infrações político-administrativas definidas na legislação federal, cometidas no

desempenho da função, que atentam contra a existência da União, o livre exercício

dos Poderes do Estado, a segurança interna do País, a probidade da Administração,

Page 31: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

a lei orçamentária, o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais e o

cumprimento das leis e das decisões judiciais”33.

Note-se que toda a regulamentação do procedimento para a apuração de

crime de responsabilidade (arts. 74 a 79, da Lei nº 1.079/1950) afirma e possibilita

somente a abertura para a apuração de tais crimes em face de Governadores dos

Estados ou de seus Secretários, não imputável a prática a Vice-governador, até

para a efetiva tutela da sucessão do titular do cargo, em caso de seu afastamento,

mantendo-se, assim, o projeto político escolhido e eleito pelo povo.

Dessa forma, quando o legislador estabeleceu tais normas para o

processamento e julgamento do Governador, o que se buscava era impedir que

membros do poder legislativo estadual usurpassem do cargo aqueles que foram

legitimamente eleitos, como se efetiva cassação da chapa fosse (somente admitida

pela via do Tribunal Eleitoral), bem como para que buscassem afastar

conjuntamente aqueles que, pelo sufrágio popular, foram alçados à condição de

Governador e Vice-governador.

De fato, a partir do julgamento da ADI nº 4771/AM, pode-se aferir da

leitura do art. 28, XXI, e do art. 56 da Constituição Estadual, que o Supremo

Tribunal Federal buscou preservar a própria determinação constitucional da

separação dos poderes, de modo que os dispositivos reconhecidos como

inconstitucionais não se amoldam materialmente ao disposto na Constituição e

violam, sobremaneira, seus princípios.

Ademais, no caso destas regulamentações, deve ser feita a

interpretação sistemática de todo o sistema, percebendo-se que INEXISTE A

33 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. Editora Atlas, 2007, p. 458.

Page 32: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

FIGURA DO PROCESSO DE CRIME DE RESPONSABILIDADE DE VICE,

tratando-se da criação de uma espécie de julgamento que inexiste, qual seja “o

julgamento do Vice- Governador de Estado por crimes de responsabilidade”. Deste

modo, analisando a Constituição Federal, a Lei 1.079/50, os Regimentos Internos do

Congresso Nacional, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e demais

legislações esparsas, vislumbra-se a inexistência de qualquer menção ou previsão

expressa para a responsabilização por crimes de responsabilidade de “Vice-

Governador”.

Tanto é que o próprio Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento

da ADI nº 4.771/AM, julgou como inconstitucional o art. 28, XXI, da Constituição

do Estado do Amazonas, respectivamente prevendo:

Art. 28. É da competência exclusiva da Assembléia Legislativa:

(…)

XXI - processar e julgar o Governador e o Vice-Governador, nos

crimes de responsabilidade, e os Secretários de Estado, nos crimes da

mesma natureza conexos com aqueles;”

Além do que, “frise-se, por oportuno, que a compreensão acima

exposta permite, com a devida vênia de eventual entendimento em sentido contrário,

que se afaste a compreensão de que a modificação na ordem constitucional realizada

pela Emenda à Constituição 35/2001 limitar-se-ia aos congressistas dado o menor

impacto que o recebimento de denúncia criminal em seu desfavor poderia gerar para

regularidade da ordem institucional. Isso porque efetivamente a Constituição

previu, na figura do Vice-governador, uma autoridade dotada das competências e

da legitimidade popular necessária para dar continuidade às atividades ínsitas do

Governador do Estado”.

Page 33: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

É evidente que, para que se possa cogitar na possibilidade de

impeachment contra ato praticado por Vice-governador que, ressalta-se, não tem

qualquer poder decisório ou poder de administração, mas tão somente de substituir o

Governador em caso de afastamento do cargo, é necessária a comprovação da prática

de ato enquanto titular do cargo (Governador em exercício), caso que não ficou

devidamente comprovado --- por não existir qualquer crime praticado --- nas

denúncias apresentadas. Assim, vejamos:

MANDADO DE SEGURANÇA – DENÚNCIA CONTRA O VICE-

PRESIDENTE DA REPÚBLICA – IMPUTAÇÃO DE CRIME DE

RESPONSABILIDADE – RECUSA DE PROCESSAMENTO POR

INÉPCIA DA PEÇA ACUSATÓRIA: INSUFICIÊNCIA

DOCUMENTAL E AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO ADEQUADA DA

CONDUTA IMPUTADA AO DENUNCIADO – IMPUGNAÇÃO

MANDAMENTAL A ESSE ATO EMANADO DO PRESIDENTE DA

CÂMARA DOS DEPUTADOS – RECONHECIMENTO, NA ESPÉCIE,

DA COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL PARA O PROCESSO E O JULGAMENTO DA CAUSA

MANDAMENTAL – PRECEDENTES – A QUESTÃO DO “JUDICIAL

REVIEW” E O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES – ATOS

“INTERNA CORPORIS” E DISCUSSÕES DE NATUREZA

REGIMENTAL: APRECIAÇÃO VEDADA AO PODER JUDICIÁRIO,

POR TRATAR-SE DE TEMA QUE DEVE SER RESOLVIDO NA

ESFERA DE ATUAÇÃO DO PRÓPRIO CONGRESSO NACIONAL OU

DAS CASAS LEGISLATIVAS QUE O COMPÕEM – PRECEDENTES –

RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. (STF - MS 34099 AgR,

Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em

05/10/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-226, DIVULG 23-10-2018

PUBLIC 24-10-2018)

Page 34: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Ainda, informa o sobredito julgado: “Com base no art. 16 da Lei n.

1.079/1950 e no art. 218, §§ 1º e 2º, do Regimento Interno da Câmara dos

Deputados, rejeito, sem maiores delongas, a presente denúncia, por inépcia porque

não amparada em documentos que a comprovem e desprovida de descrição

adequada das condutas omissivas e comissivas imputadas ao acusado. A alegação

genérica de que o Denunciado, por ser Vice-Presidente da República, teria

praticado crime de responsabilidade em razão de atos praticados pela Presidente da

República não merece guarida. O só fato de ser Vice-Presidente não é causa

suficiente para considerá-lo corresponsável por toda e qualquer irregularidade

eventualmente praticada pela Presidente na condução da política econômica do seu

governo. Além disso, não foram indicados os tais Decretos não numerados que

teriam sido assinados pessoalmente pelo Denunciado em desacordo com a lei

orçamentária. Publique-se. Oficie-se. Arquive-se.”

Dessa forma, assim como afirmado, o simples fato de ser “Vice” não

presume o conhecimento ou, até mesmo, a participação nos atos supostamente

imputados ao titular do cargo pela prática de crime de responsabilidade.

Tampouco é permitida a imputação genérica de crimes de responsabilidade,

sendo, certamente, necessária a indicação precisa dos atos prejudiciais ao

Estado, aos cidadãos e à Constituição.

Por certo, não restou evidenciada qualquer prática efetiva por parte

do Vice-governador, enquanto na função de Governador em atividade, que

pudesse representar ou, ao menos, evidenciar a prática de ato suficiente para

tipificar crime de responsabilidade, essencialmente aqueles mencionados na

denúncia efetivada contra o Vice, qual seja, da assinatura da Mensagem 149/2019;

da autorização de financiamento cultural, e a de pagamento de dívidas das gestões

anteriores.

Page 35: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Ora, enquanto na função de Governador do Estado em exercício, na

substituição do titular, o Vice-governador assinou a Mensagem nº 149/2019,

assim a realizando por delegação do cargo público, mas sem qualquer efeito

prático efetivo, até porque posteriormente a mensagem foi substituída pelo

titular do cargo, tampouco tendo sido comprovado o prejuízo decorrido pelo ato

aos cofres públicos, sendo certo que não se pode imputar a prática de crime ou

de ato de improbidade por presunção, ainda mais considerando que, na sequência,

como afirmado, o Governador titular do cargo assinou a Mensagem nº 151/2019,

Page 36: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

com os mesmos conteúdos da Mensagem anterior, substituindo o ato e

apresentando o Substitutivo do Projeto de Lei Complementar nº 16/20119:

Page 37: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

Assim, o julgamento por supostos crimes de responsabilidade de

titular do cargo (Governador) e de seu substituto legal (Vice-governador), sem

que seja a este imputada a prática de ato lesivo caracterizador de improbidade

administrativa e de crime de responsabilidade, não somente hipóteses abstratas e

genéricas, configura tentativa de cassação de chapa, de retirada ilegítima

daqueles que foram legitimamente erigidos aos cargos pelo sufrágio popular,

conferido constitucionalmente aos seus titulares: o povo.

Destarte, neste caso objeto do parecer, as denúncias apresentadas contra

o Vice-Governador do Estado do Amazonas sequer podem ser objeto de deliberação,

tendo em vista que foram dirigidas contra parte ilegítima e sem pedido juridicamente

possível --- pois absolutamente impossível ---, o que elimina justa causa para seu

recebimento.

Por tudo isso, afirme-se que, além da completa ilegitimidade do

processo de impeachment instaurado contra o Vice-governador de Estado, resta

caracterizada a total inépcia das denúncias e do processo de impeachment , pois

Page 38: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

impossível, considerando a figura do vice-governador, quer por haver total

omissão normativa na Lei Federal, quer por não exercer poder de comando que

é, naturalmente, próprio da figura do Governador e não do Vice.

IV - CONCLUSÃO

Em síntese, pode-se concluir:

1. Com efeito, no caso da declaração de inconstitucionalidade

de ato normativo do Poder Público, como o RIALEAM, em

face da Constituição Estadual ou, até mesmo, da

Constituição Federal, por respeito ao princípio da simetria

constitucional, é fato que as mesmas premissas são

empregadas daquelas utilizadas para a propositura das

ADIs perante o Supremo Tribunal Federal, entretanto,

ensejando a incidência das regras das Constituições

Estaduais, no nosso caso, do Estado do Amazonas,

notadamente quanto ao art. 72, I, f, e art. 75,

regulamentando o julgamento da ação direta de

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual ou

municipal, em face da Constituição Estadual.

2. Realmente, para verificar o alcance e as possibilidades da

decisão proferida no controle de constitucionalidade, relevante

seguir para outros pontos, quais sejam a análise dos efeitos da

decisão de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo,

considerando-se que essa demanda tem procedimento

peculiar próprio, observando-se, desde já, as eficácias e os

efeitos possíveis de uma declaração de

inconstitucionalidade na modalidade genérica.

Page 39: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

3. Assim, como bem informado pelo julgado proferido pelo

TJAM, há a possibilidade de serem questionadas no Poder

Judiciário matérias interna corporis, tal como ocorre com

Regimento Interno de Casa Legislativa, no sentido de que,

“nada obstante o entendimento clássico de que os atos jurídicos

interna corporis não são passíveis de controle judicial pela via

da ação direta, o Supremo Tribunal Federal expressou no

julgamento da ADI nº 4.587/GO, Relator Min. Ricardo

Lewandowski, que os dispositivos de Regimento Interno das

Assembleias Legislativas podem ser objeto de ADI desde que

possuam caráter normativo e autônomo, criando direitos não

compreendidos no ordenamento constitucional ”.

4. Ademais, a própria legislação regulamentadora do

procedimento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade e das

Ações Declaratória de Constitucionalidades (ADC) (Lei nº

9.868/1998) estipulou a possibilidade de concessão das

medidas liminares, por parte dos seus julgadores, inclusive

por parte do Relator de maneira monocrática, guardadas

as simetrias entre o julgamento pelo Supremo Tribunal

Federal e os Tribunais de Justiça, submetendo, na sequência,

a questão ao Tribunal Pleno, respeitando a regra da reserva de

plenário.

5. Justamente nesse sentido, o Relator no TJAM, Des. Wellington

José de Araújo, com o devido referendo pelo Tribunal Pleno,

determinou a suspensão imediata dos eventuais processos

administrativos e/ou judiciais por crime de

responsabilidade que tenham como base os referidos

Page 40: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

dispositivos do Regimento Interno, sobretudo porque “a

urgência na apreciação do caso se justifica pela atual

vigência e consequente eficácia normativa do Regimento

Interno da Assembleia Legislativa na condução dos trabalhos

do Poder Legislativo em matéria de crimes de

responsabilidade, em franco desrespeito à decisão do

Supremo Tribunal Federal na ADI n° 4.771/AM, relatada

pelo E. Min. Luiz Edson Fachin, em que o Ministro concluiu,

monocraticamente e com base em diversos precedentes

vinculantes, pela inconstitucionalidade com redução parcial

de texto dos arts. 28, inciso XXI, e 56 da CEAM”.

6. Desta forma, s. m. j., pode-se afirmar que, no caso em tela,

ficou demonstrado que existiu o vício de

inconstitucionalidade formal, pois a Constituição Federal

estabelece ser de competência privativa da União legislar

sobre direito penal e processo penal, incluindo o tipo penal

para a imputação de crime de responsabilidade a

autoridade, como no caso do Governador e do Vice-

governador de Estado (art. 22, inciso I, da CF/88 e art. 16

da CEAM) .

7. Ademais, resta inolvidável verificar a irregular atribuição de

competências processuais específicas à Secretaria-Geral da

Mesa e à Comissão Especial, incluindo a formação deste

último órgão, em processo de crime de responsabilidade,

violando diretamente os termos da Lei Federal n°

1.079/1950, que já prevê normas aplicáveis ao processamento e

julgamento do Governador e dos Secretários de Estado por

crimes de responsabilidade, bem como, desrespeitando a

Page 41: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

necessária simetria em relação ao Regimento Interno do

Congresso Nacional, do Senado Federal e da Câmara dos

Deputados, que seriam Resoluções, ou seja, espécies

normativas primárias previstas diretamente na

Constituição Federal (art. 59, inciso VII) .

8. Aqui também, por certo, evidencia-se que a norma objeto

desta ADI padece de vício material de

inconstitucionalidade, tendo em vista estar em desacordo

com os ditames da Constituição Federal, bem como ao

julgar procedente a ADI nº 4.771/AM, o Supremo Tribunal

Federal (STF) determinou a redução parcial de texto, no

seguinte sentido .

9. Ou seja, o Supremo Tribunal Federal, em mais de uma

ocasião, estabeleceu que a previsão do estabelecimento de

normas de processo e julgamento referentes aos crimes de

responsabilidade consiste em norma processual, matéria de

competência privativa da União (art. 22, I, da CF) não se

admitindo sua previsão pelas Constituições estaduais.

10. Tanto é que o tema já se encontra devidamente pacificado pela

Corte, inclusive em sede de Súmula Vinculante de nº 46.

Ademais, o próprio STF, por unanimidade, aprovou a

proposta de conversão da Súmula nº 722, editando, a

posteriori , a Súmula Vinculante nº 46 , que recebeu a seguinte

redação: “A definição dos crimes de responsabilidade e o

estabelecimento das respectivas normas de processo e

julgamento são da competência legislativa privativa da

União .”

Page 42: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

11. Aliás, imperioso verificar o voto do ilustre Ministro Moreira

Alves sobre o tema, por ocasião do julgamento da Reclamação

nº 383 em 11 de junho de 1992: “Eficácia jurídica desses

dispositivos constitucionais estaduais. Jurisdição

constitucional dos Estados- membros. – Admissão da

propositura da ação direta de inconstitucionalidade perante o

Tribunal de Justiça local, com possibilidade de recurso

extraordinário se a interpretação da norma constitucional

estadual, que reproduz a norma constitucional federal de

observância obrigatória pelos Estados, contrariar o sentido e

o alcance desta . ”

12. Nesses termos, portanto, é evidente que a medida cautelar

proferida pelo Tribunal de Justiça do Amazonas, nos autos

da ADI nº 4002725-08.2020.8.04.0000 , ainda que conferida de

maneira superficial e inicial, merece observação obrigatória,

em razão de sua força vinculativa e obrigatória,

impossibilitando o prosseguimento de qualquer processo

e/ou procedimento administrativo ou criminal para a

apuração de supostos crimes de responsabilidade cometidos

pelas autoridades ora imputadas.

13. Assim, mesmo que se tenha por justificativa a observação dos

critérios apresentados na ADPF nº 378 para o processamento e

julgamento de crime de responsabilidade praticado por

Governador de Estado, é certo que, até que haja a

autorização, por parte do Poder Judiciário, por critério de

segurança jurídica e de respeito às decisões judiciais, o

prosseguimento do feito na via administrativa merece

Page 43: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

permanecer suspenso, até porque a determinação de

continuidade representou verdadeiro desrespeito à ordem

judicial .

14. Note-se que toda a regulamentação do procedimento para a

apuração de crime de responsabilidade (arts. 74 a 79, da Lei nº

1.079/1950) afirma e possibilita somente a abertura para a

apuração de tais crimes em face de Governadores dos

Estados ou de seus Secretários, NÃO IMPUTÁVEL A

PRÁTICA A VICE-GOVERNADOR, até para a efetiva

tutela da sucessão do titular do cargo, em caso de seu

afastamento, mantendo-se, assim, o projeto político

escolhido e eleito pelo povo .

15. Ademais, no caso destas regulamentações, deve ser feita a

interpretação sistemática de todo o sistema, percebendo-se

que INEXISTE A FIGURA DO PROCESSO DE CRIME

DE RESPONSABILIDADE DE VICE, tratando-se da

criação de uma espécie de julgamento que inexiste, qual

seja “o julgamento do Vice-Governador de Estado por crimes

de responsabilidade”. Deste modo, analisando a Constituição

Federal, a Lei 1.079/50, os Regimentos Internos do Congresso

Nacional, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e

demais legislações esparsas, vislumbra-se a inexistência de

qualquer menção ou previsão expressa para a

responsabilização por crimes de responsabilidade de “Vice-

Governador”.

16. É evidente que, para que se possa cogitar na possibilidade

de impeachment contra ato praticado por Vice-governador

Page 44: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

que, ressalta-se, não tem qualquer poder decisório ou poder

de administração, mas tão somente de substituir o Governador

em caso de afastamento do cargo, é necessária a comprovação

da prática de ato enquanto titular do cargo (Governador em

exercício), caso que não ficou devidamente comprovado --- por

não existir qualquer crime praticado --- nas denúncias

apresentadas.

17. Dessa forma, assim como afirmado, o simples fato de ser

“Vice” não presume o conhecimento ou, até mesmo, a

participação nos atos supostamente imputados ao titular do

cargo pela prática de crime de responsabilidade. Tampouco

é permitida a imputação genérica de crimes de

responsabilidade, sendo, certamente, necessária a indicação

precisa dos atos prejudiciais ao Estado, aos cidadãos e à

Constituição.

18. Por certo, não restou evidenciada qualquer prática efetiva

por parte do Vice-governador, enquanto na função de

Governador em atividade, que pudesse representar ou, ao

menos, evidenciar a prática de ato suficiente para tipificar

crime de responsabilidade, essencialmente aqueles

mencionados na denúncia efetivada contra o Vice.

19. Assim, o julgamento por supostos crimes de

responsabilidade de titular do cargo (Governador) e de seu

substituto legal (Vice-governador), sem que seja a este

imputada a prática de ato lesivo caracterizador de

improbidade administrativa e de crime de

responsabilidade, não somente hipóteses abstratas e

Page 45: Revista Cenarium · Web viewCARLOS ALBERTO SOUZA DE ALMEIDA FILHO, ora Consulente, a respeito das Denúncias nºs. 03/2020 e 04/2020, originárias do processo de impeachment , tramitando

genéricas, configura tentativa de cassação de chapa, de

retirada ilegítima daqueles que foram legitimamente

erigidos aos cargos pelo sufrágio popular, conferido

constitucionalmente aos seus titulares: o povo.

20. Por tudo isso, afirme-se que, além da completa ilegitimidade

do processo de impeachment instaurado contra o Vice-

governador de Estado, resta caracterizada a total inépcia

das denúncias e do processo de impeachment , pois

impossível, considerando a figura do vice-governador, quer

por haver total omissão normativa na Lei Federal, quer por

não exercer poder de comando que é, naturalmente,

próprio da figura do Governador e não do Vice.

É o nosso parecer, sob censura.

De São Paulo/SP para Manaus/AM, 13 de julho de 2020.

Rennan ThamayPós-Doutor pela Universidade de Lisboa. Doutor em Direito pela PUC/RS e Università degli Studi di Pavia. Mestre em Direito pela UNISINOS e pela PUC Minas. Especialista em Direito pela UFRGS. Professor Titular do programa de graduação e pós-graduação

(Doutorado, Mestrado e Especialização) da FADISP. Professor da pós-graduação (lato sensu) da PUC/SP, do Mackenzie e da EPD - Escola Paulista de Direito. Professor Titular do Estratégia Concursos e do UNASP. Foi Professor assistente (visitante) do programa de graduação da USP e Professor do programa de graduação e pós-graduação (lato sensu) da PUC/RS. Presidente da Comissão de Processo Constitucional do

IASP (Instituto dos Advogados de São Paulo). Membro do IAPL (International Association of Procedural Law), do IIDP (Instituto Iberoamericano de Derecho Procesal), do IBDP (Instituto Brasileiro de Direito Processual), IASP (Instituto dos Advogados de São Paulo),

da ABDPC (Academia Brasileira de Direito Processual Civil), do CEBEPEJ (Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais), da ABDPro (Associação Brasileira de Direito Processual) e do CEAPRO (Centro de Estudos Avançados de Processo). Advogado, árbitro,

consultor jurídico, parecerista e mediador.