revista canto da iracema - edição maio2013

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UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO SOCIOCULTURAL CANTO DA IRACEMA | ANO 14 | Nº 90 |MAIO 2013 a cultura cearense pertinho de você! a cultura cearense pertinho de você! // PARQUE DA LIBERDADE CENTRO | FORTALEZA | CEARÁ

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Page 1: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO SOCIOCULTURALCANTO DA IRACEMA | ANO 14 | Nº 90 |MAIO 2013

a cultura cearense pertinho de você!a cultura cearense pertinho de você!

// PARQUE DA LIBERDADE CENTRO | FORTALEZA | CEARÁ

                         

Page 2: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

realização realização realização realização realização instituto de comunicação sociocultural canto da iracema • coordenador geral• coordenador geral• coordenador geral• coordenador geral• coordenador geral zeno falcão ••••• jornalista responsável jornalista responsável jornalista responsável jornalista responsável jornalista responsável sonara capaverdeMTB 6553 • colaboradores nesta edição • colaboradores nesta edição • colaboradores nesta edição • colaboradores nesta edição • colaboradores nesta edição audifax rios | banda dona zefinha | calé alencar | kazane | klévisson viana | nilze costa e silva | waldenluiz | wellington junior | ramon • conselho editorial• conselho editorial• conselho editorial• conselho editorial• conselho editorial audifax rios | erivaldo casimiro | kazane • diagramação• diagramação• diagramação• diagramação• diagramação artzen • contatos• contatos• contatos• contatos• contatos rua joaquimmagalhães 331 | josé bonifácio | cep 60040-160 | fortaleza | ceará | brasil | fone (55 85) 3032.0941 | [email protected]

| AS MATÉRIAS PUBLICADAS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES | FOTO CAPA > SALVINO LOBO

> > > > > Q U E M S O M O S !

// EDIÇÃO ELETRÔNICA | WEB

02

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6

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ÍND

ICE >

>

>

> MENINOS PERDIDOSNA TERRA DO NUNCAnilze costa e silva...

ABC DA POESIAPOPULAR E MARGINALklevisson viana...

CARTILHA DA MULHERaudifax rios...

PAIXÃO E TEATROwalden luiz...

> IMAGEM, PROSA, POESIAcalé alencar...

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

No último mês de abril comemoramos 14 anos levando a culturacearense para bem pertinho de vocês, caros leitores e leitoras. Sempre

contribuindo na divulgação da arte cearense, partilhando culturasem todas as edições do nosso Canto, este é nosso pensamento.

Sempre acreditando que não é necessário estar comprometidoem produzir uma revista alternativa com meros anúncios comerciais somente.Nossa consciência é que, principalmente o poder público através de governos,administrações, instituições publicas em geral, tem sim a prerrogativa deapoiar iniciativas como esta em criar pequenos veículos de comunicação ealternativos para divulgação de artistas locais e de ações culturais, em todassuas instancias. Não é, e nunca foi nossa proposta criar uma publicaçãocultural conseqüentemente transformá-la em mais um veiculo comercial dacidade.

Como todos têm observado nossas publicações sempre foram através do apoiode instituições como o do Banco do Nordeste do Brasil-BNB e da PrefeituraMunicipal de Fortaleza, que nesses últimos anos nos tem ajudado através depatrocínio. Queremos antes de tudo agradecer a essa parceria pela confiançae principalmente por acreditarem em nossa proposta inicial.

Em 2013 como sabemos houve mudanças nas Administrações do Municípioe na Superintendência do BNB. Isso fez com que as novas administrações nosdesse a triste noticia de que era preciso parar com o apoio ao nosso “Canto”.Portanto, a partir de Janeiro último tivemos que parar com a produção do“Canto da Iracema em forma física (no papel), mas, acreditamos sermomentâneo esta fase. Estamos trabalhando na esperança de que em breveseremos contemplados com novos parceiros, alem de também estarmos deolho nos Editais da Cultura, da Secult, Secultfor, Coelce, etc... Mantemostambém a esperança de que intuições como: Assembléia Legislativa, CâmaraMunicipal, etc., possam nos ajudar a dar continuidade em nosso trabalho eque nos honre com suas parcerias, estamos na luta.

Ultimamente estamos produzindo nosso Canto da Iracema somente no formatode WEB, juntamente com nossos colaboradores fiéis, Audifax Rios, Nilze Costae Silva, Calé Alencar Klévisson Viana e Walden Luiz, que nos honra nestaedição. Assim esperamos não esmorecer em enaltecer nossa cultura através denossa pequena e singela contribuição e, no humilde trabalho desenvolvidopor nossa equipe. Agradecemos a todos os leitores, leitoras, colaboradores eincentivadores do nosso trabalho. Logo, estaremos fisicamente em suas mãosbem como em locais fomentadores da cultura de nossa cidade. Um forteabraço e grande beijo no coração de tod@s. Tenham uma ótima leitura!

EDITORIALEDITORIALEDITORIALEDITORIALEDITORIAL

O Brasil precisa

explorar com

urgência a sua

riqueza porque

a pobreza não

aguenta mais

ser explorada.|

Max Nunes

Page 3: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

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Page 4: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

audif

axrio

s@ya

hoo.c

om.br

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Cartilha da MULHER

NÃO É QUE A MULHER NÃO PASSE DE UM VERBETE E POSSA, ASSIM, SER DISSECADA,(DES)CLASSIFICADA, CATALOGADA. LONGE DE MIM. É UMA FORMA QUE ESTEESCRIBA ENCONTROU PARA HOMENAGRÁ-LA EM DIVERSOS ASPECTOS POIS,DEVIDO A SUA GRANDIOSIDADE, NÃO SE PODE ABORDÁ-LA APENAS PELO LADOMÃE COMO FOI ACONTECER NESTE MÊS DE MAIO QUE, OUTROSSIM, É DAS FLORES.E FALANDO EM LOUVOR AQUI VAI UM PREITO DE SAUDADE A UMA GRANDE MULHERQUE NOS DEIXOU RECENTEMENTE: MARIA DE CASTRO FIRMEZA QUE, NÃO SATISFEITAEM SER APENAS A DEDICADA ESPOSA DO PINTOR ESTRIGAS E A MÃE DE MARIA DELOURDES, FOI TAMBÉM PROFESSORA, PINTORA, BORDADEIRA, DOCEIRA EJARDINEIRA. NICE, COMO ERA CONHECIDA, FALECEU NO DIA 3 DE ABRIL, AOS 91ANOS DE IDADE.

Page 5: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

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AVA - A mulher no cinema. A fêmea entronizada como deusa para a nova indústria faturar maisà custa da beleza que do talento de interpretar. Nesse caso o cinema americano pecou mais que osconcorrentes. Ava Gardner, Marilyn Monroe, Greta Garbo, Ingrid Bergman, Elisabeth Taylor, JaneFonda, Nathalie Wood, Rachel Welch, Merril Strip, Angeline Jolie e muitas outras povoaram os varonispeitos dos adões por este planeta afora quando, fora dos sets, viviam conturbados momentos com osparceiros daquele mundo fabuloso. Fora dos cenários de Hollywood, Brifitte Bardot, Cláudia Cardinalle,Sophia Loren, Catherine Deneuve, Gina Lolobrigida, Melina Mercouri, Monica Vitti e a, tambémsaudade, Sarita Montiel, versão romântica da florista do Chaplin que arrebatou os corações de machosna tela e no escurinho do cinema com sua latiníssima beleza, voz maviosa e corpo sensual.

EVA - Como seria mesmo a cara da matriz do Eden se naquele tempo já existisse máquinafotográfica? Segundo Darwin, estaria mais pra Chita que para as divas da literatura, mesmo a decordel, onde a primeira mulher não era feita de barro e sim de madeira, num tamanco de xilogravura.E a maçã, por que uma maçã? Porque não uva ou o nosso caju?: suculento, multicolorido, decontornos variados e não aquela forma planetoide repetitiva do fruto proibido. E onde ficaria mesmoo Paraíso, um oásis em pleno deserto? O tal fruto, então, uma tâmara, e Adão, um sedento tuaregueque encantaria a serpente com um leve sopro de sua flauta. Evas nascem todos os dias, é a fábula damaternidade que os primitivos esculturavam em terracota com imensa barriga, fartos seios e exuberantesexo. Eva, aqui em Fortaleza, já foi nome de conhecida perfumaria popular que, nos anos sessenta,empestava os ares maresiados com seu cheiro de flor do mato.

IVA - No Livro dos Nomes de Regina Obata, uma pequena bíblia tira-teima e quebra-galho parasituações vexatórias como a que agora enfrenta o escriba, a coisa mais parecida que encontramos como verbete proposto foi Ivete e Ivone, este, a forma feminina francesa de Ivo que vem do alemão esignifica “o arco feito da madeira do teixo”. Já nos pontos riscados da Umbanda, arco e flecha estãopresentes em todos os símbolos de orixás como também das caboclas Jurema, Jussara, Jandira, Jacirae Jupira. Há também o termo Ivã, adaptação para o português do russo Ivan que é João e quer dizer“o glorioso”. E cuja derivação feminina é Ivana ou Ivanete. E a digressão etimológica foi mais aléme gerou Ivani, Ivanira, Ivanilde, Ivanilse, Vania e Vanessa. E fica difícil encher o espaço, a coisa vinhatão bem, mas nem tudo é perfeito, batizem de Iva mesmo a esperada filhota mesmo que pareça siglauniversitária. Melhor que as invencionices tipo os nomes dos jogadores de futebol. Conselho: Invictanão adianta, a cidadela vai ceder de qualquer forma.

OVA - Segundo o Houaiss, é o conjunto de ovos de um peixe ainda envolvidos pela membrana. Taía mais simplória definição da fertilidade, maternidade e procriação. É o fenômeno do ovo que, aindasegundo o dicionarista que desbancou o Aurélio, é a estrutura expelida do corpo da mãe, outraconceituação igualmente singela. Só que ova, como a nossa língua é riquíssima, tem outros significados:são pequenos tumores que surgem no boleto (?) dos equinos; negação (uma ova!); ovação, aclamaçãopública e... o próprio ato de ovar; ainda, alguma coisa que tenha a forma elíptica como pista decorrida, etecetera e tal. O que nos conduz ao enigma mais antigo da humanidade: Quem nasceuprimeiro, o ovo ou a galinha? Não que a gente imagine as homenageadas deste maio com o estigmada galinhagem. É que nosso idioma, como dissemos acima, é tão generoso que ovo tanto é célulareprodutora feminina madura de animais e plantas como rotula igualmente os testículos,eminentemente masculinos.

UVA - Socorremos novamente ao Houaiss na falta do Gustavo Barroso, Hildebrando Lima, AntenorNascentes ou Caldas Aulete. Lá diz que é fruto da videira, uma baga ovóide (tem a ver) verde, rosada,rubra, azulada ou preta. Comestível e bebestível em refrescos ou vinhos. Veja bem, se o fruto proibidofosse uma uva a Eva estaria embriagada na primeira de copas e o crau não teria tido graçanenhuma. Ou não. Lá na frente o lexicólogo acrescenta: mulher muito bonita. Aí lembro umamusiquinha de carnaval que usa feliz trocadilho: “eu vendo ovo; ovo e uva boa”. Uva é também aprimeira radiação dos raios ultravioletas e sigla da Universidade do Vale do Acaraú. Lá mais embaixodo mapa, no Rio Grande do sul, acontece, anualmente, a Festa da Uva, quando, mais que osprodutos, turistas vãoapreciar a beleza das rainhas que, geralmente, são umas uvas. Foi numadessas festas que o Samuel Wainer resolveu dar um pulinho na estância do Getúlio e ganhou o jornalÚltima Hora. E de quebra uma mulher que ainda hoje balança os galhos das parreiras.

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AAAAAs musas que me inspiram

Da região divinalConduzindo a minha pena

De maneira magistralInspirem meu ABCDa Poesia Marginal.

BBBBBusco agora mergulharNa lira de nossa gente

Do povo que vive a margem

Que na pele tudo senteQue vai buscar liberdade

Na fonte que vem da mente

CCCCCordel, poesia da genteCom origem sertanejaDe um povo lutador

Que não tem quem o protejaSão rimas que riscam a mente

Quando uma idéia lampeja

DDDDDo alto do arranha-céu

A megalópole reclama

Dos políticos indecentesE com bom censo conclama

Seu filho que luta à margemQue trabalha, escreve e ama

EEEEEstro, essência da liraDo poeta sonhador

Que labuta na palavraO seu verso vingador

Ergue a bandeira da lutaContra o vil explorador

FFFFFantasia é a linguagem

Que o poeta se apropriaPrega a paz, a igualdadeNum gesto de rebeldiaFormador de opinião

Contra a vil demagogia

GGGGGuarda a pureza da menteDefende seu ideal

Na poesia popularOu na lira marginal

Colhe a semente da alma

E extrai da terra o sal

HHHHHoje vive intensamente

Tal vivendo o último dia

Declama seus versos livres

O mundo é sua moradia

Carrasco da própria dorNum gesto de tirania

IIIIIrmão da vida boêmia

Perambulando nas praças

Vende versos mão em mão

Toma trago com compassas

Seus poemas são fadadosVirar comida das traças

JJJJJardim de pedra e cimento

Nasce a poesia concreta

Nenhum coração de pedraÉ atingido pela setaRecusa a musa, não sente

O valor que tem o poeta

LLLLLança um olhar descontenteContra tal indiferençaNão obedece a rituais

Mas possui a sua crençaO poeta é quem primeiroSente de Deus a presença

MMMMMusa divina e dileta

Que alimenta a esperançaConduz a pena do vateDo passado traz lembrançaE ele brinca com o verso

Como se fosse criança

NNNNNasce o verso pequeninoCresce o valor do poetaTodo amigo ou conhecidoTem sua obra completaTrocar versos por comidaEsta é a sua meta

OOOOOuve a platéia na ruaO vate com eloqüênciaNos poemas o povo aprende

Filosofia e ciência

É a cultura popularMostrando sua essência

PPPPPatativa é expressão

Da poesia popularNasceu no meio do povo

E com ele vai estar

Vê no campo todo diaSua poesia brotar> Por: KLÉVISSON VIANA

AB

C D

A P

OE

SIA

PO

PU

LA

R E

MA

RG

IN

AL

06

Page 7: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

QQQQQuando vejo um camaradaCom uma bolsa de lado

Com um monte de papeisAndando tão despojadoLendo e recitando versos

Esperando algum trocado

RRRRRepentista cantam tudoMuito bem metricicado

Faze o verso de improviso

Seu discurso é bem rimado

Sua genialidade deixaO doutor desconcertado

SSSSSua mente é um enigmaDeixa a ciência indefesa

A rapidez do juízoTraduz a maior riquezaQuem vê já diz:-Como é grandeO poder da natureza

TTTTTem na vida do poetaUma musa que lhe inspiraAfaga o peito do vate

Fortalece sua lira

A moça que ouve o versoFica corada e suspira

UUUUUma coisa eu não esqueçoO que quer dizer poetaConsultando velhos tomos

Digo a platéia diletaO poeta vê o futuroE é o mesmo que profeta

VVVVVate palavra singela

Tão antiga e tão bonita

Tem sentimento e externa

A sua lira bendita

Uma boa trova tem

O valor de uma pepita

XXXXXilogravura que ilustraEsse ABC em cordel

Imprime grande belezaDa madeira pro papelDa vida do nordestino

É uma cópia fiel

ZZZZZomba da vida que levaCaçoa da própria sortePoetisa para vida

Faz poema para morte

É livre tal passarinhoÉ um fraco e é um forte

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Page 8: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

Meninos perdidos na terra do nunca

A “Terra do Nunca” não tem endereço e que só

existe na imaginação das crianças. Consta quenessa terra elas nunca ficam adultas, não faltacomida, nunca adoecem e nunca são maltratadas.

Era assim que a mãe de Luizinho iniciava ahistória bonita que lhe contava, os dois sentadosna rede armada no pequeno terreiro do barracoonde moravam. Quando o barraco foi destruído

pelas águas da chuva, apareceu um homem queos convidou a participar da ocupação de um terrenobaldio.

A miséria fez crescer um menino sujo de cabelose vestes. Corpo doído, barriga vazia, saiu a

perambular pelas ruas. Às vezes pensava em voltar

ao barraco onde morava, mas não se animava.

As surras que o padrasto lhe aplicava nãocompensava a decisão. A escola não prestava, a

professora tinha nojo dele e sempre falava queLuizinho era um caso sem jeito. Às vezes sentia

falta do jogo de bola com os amigos nodescampado que ficava próximo à nova favela

que se formara. Lá era bastante conhecido, pois amãe era lavadeira das boas.

> Por: NILZE COSTA E SILVA

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Quando seu moço nasceu meu rebentonão era o momento dele rebentar

(Chico Buarque)

Quando seu moço nasceu meu rebentonão era o momento dele rebentar

(Chico Buarque)

Page 9: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

NILZE COSTA E SILVA > é escritora, integrante da AJEB (Associação de Jornalistas e Escritores Brasileiros), fundadora e coordenadorado grupo Poemas Violados. Autora de vários livros de contos, crônicas e romances, entre eles A Mulher sem Túmulo, biografia romanceada dabeata Maria de Araújo, protagonista dos milagres de Juazeiro em 1889. Integra o dicionário de Mulheres Brasileiras de Nelly Novais Coelho.

Muitas vezes corria atrás do garoto para dar-lhe

banho, o que detestava. Limpar o corpo pra quê?

Para apanhar do padrasto quando chegava bêbado

todas as noites?

Agora era apenas mais um pivete das ruas. Às

vezes pensava muito na mãe e se perguntava: por

que alguns meninos viraram pivetes e outroscontinuaram crianças? Será que eles moram na

Terra do Nunca?

Não sabia responder. Rapidamente aprendeu a

usar crack e a roubar. “A vida nas ruas é horrível.

Há muita violência, e todo mundo nos trata mal”

– falou certa vez a um repórter policial no dia emque esteve preso. Roubara a carteira de um idoso

na saída do banco. Pouco tempo depois foi solto.

Quando Luizinho completou 12 anos, completoutambém 1 ano de morador de rua. Só lembrou

do aniversário porque a mãe sempre compravauma fatia larga de bolo na quitanda e fincava aocentro um toco de vela aceso. Até cantava parabéns

e o abraçava. A vela era apagada e os dois batiam

palmas. Onde estaria ela agora, por que não o

procurara depois que fugira das surras do padrasto?

Por que aceitava que ele, bêbado, surrasse tanto

os dois?

Neste seu aniversário o chão estava coberto de

lixo e um forte cheiro de urina aflorava nas calçadasdo beco. Cães vira-latas perambulavam por todosos lados. Lembrou do seu barraco, feito de sacosplásticos, sem água corrente ou eletricidade. Mas

era melhor do que dormir na calçada, forrada porjornais. No barraco não tinha cobertor, mas ele seenrolava com as bordas de uma velha e encardida

rede.

Agora só tinha o cachorro Pirata, um cachorrovira lata e primeiro amigo da  rua. Logo sesolidarizou com Luizinho e o abraçava nas noitesde frio. Afeiçoou-se ao cão e com ele dividia osrestos de comida que catava no lixo dosrestaurantes.

Exatamente no seu aniversário de 12 anos foi

pego roubando na feira. Amarraram suas mãos epés e ameaçaram botar fogo nele. Quando algunscomeçaram a chutar seu corpo, a polícia chegou.Nunca chorou tanto, nem com as surras do

padrasto. Nunca tivera tanto medo do abandono.

Perguntou ao policial se podia levar o cachorro.

Ele apenas riu e deu-lhe um tapa na cabeça. Ouviaos comentários dos passantes sem entender direitoo que diziam:

- Não tem que ter tratamento especial prabandido, só porque é menor...

- Temos que reduzir a maioridade penal!- Esse negócio de direitos humanos não podeexistir...  Por que só vale quando o bandido estásendo maltratado?

Ele não queria saber daquela conversa, que nãolhe dizia respeito. Só queria levar seu cachorro

Pirata que, perto dele, balançava o rabo, aflito.

Diante da pergunta do Juiz, sobre se teria alguémresponsável por ele, respondeu.

- Tenho, sim senhor. Tenho o Pirata.

Como na história que a mãe contava, Luizinhonunca chegou a envelhecer.

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Page 10: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

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É tradiçãoherdada dos

portugueses celebrar aSemana Santa, com muita contrição,

respeito, devoção e participação nos atos

litúrgicos da igraja católica. Entre os cristãos,

celebra-se em comemoração da ressurreiçãode Jesus Cristo, isto é, da sua passagem da

morte para a vida eterna.

Neste período, os santos católicos são

cobertos com pano roxo em sinal de pesar.

Os sinos silenciam, e nos atos, como

a procissão do Senhor Morto, só se

escuta e estridente estalar das

“matracas”, peça de madeira equipadacom aldabras de metal que quandoagitada manualmente, produz umbarulho funesto.

Muitas são as superstições queenvolvem a Semana Santa como:

não cortar o cabelo, não varrer a

casa, não ligar o rádio, não cantar

e nem dar gargalhadas, porque

tudo isso faz mal.

A partirda quarta-feira

de Cinzas o

jejum era absolutodurante todas as

sextas-feiras da

quaresma pois eramtempos de muito respeito

e muita fé.

Outra tradição da SemanaSanta é a montagem da “Paixão de

Cristo” ou da “Via Sacra”, como ato defé. Os mais antigos tinham por obrigação

assistir ao filme sobre a vida de Cristo ou ir ao

teatro ver “O Mártir do Golgota”, peça sacra quesegundo J. Cabral, diretor do Conjunto Teatral

Cearense, de saudosa memória, foi encenada pelaprimeira vez em 1933, no palco do Centro ArtísticoCearense que ficava na avenida Tristão Gonçalves

esquina com a Duque de Caxias. Um belo Teatro

que foi demolido para o surgimento de uma lojade materiais de construção.

Jesus era desempenhado por J. Oliveira, o qualnão tive o prazer de ver representar, mas que

segundo os atores da época foi um dos melhoresinterpretes do papel de Cristo nos palcos cearenses.

Nesta encenação J. Cabral fazia o papel de Malco.

A peça era apresentada durante toda a SemanaSanta e em 1937 passou a ser encenada no Teatro

José de Alencar, tendo Gasparina Germanom nopapel de Madalena e José Julio Barbosa no papelde3 Judas, duas grandes estrelas de talento

inigualável, coforme a crônica da época.

Dez anos depois, o espetáculo passa a serproduzido por Abel Teixeira, José Limaverde e

Afonso Jucá, com o título de “O Golgata”.

A peça passou pelas mãos de vários diretores,

como B. De Paiva, Clóvis Matias, Marcus

Fernandes e Misael Fernandes, bem como o papelde Jesus Cristo teve muitos interpretes, entre eles:

José Narbal, Olegario Holanda, Oliveira Filho,

José Maria Cunha, Roberto César e Walden Luiz,que fazia São João e assumiu o papel com a idade Roberto César para o Rio de Janeiro.

Paixão e Teatro> Por: WALDEN LUIZ

Page 11: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

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WALDEN LUIZ > é ator, autor, diretor, figurinista e cenográfo. Estreou em 1962 no Conjunto Teatral do Ceará, participou de diversos gruposcomo o Teatro de Amadores Gráficos. Em 1969 ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante do Festival de Teatro de São João do Rio Preto,premiado também pela Associação Paulista de Críticos de Artes (AFCA), em São Paulo.

O Teatro José de Alencar superlotava todos

os dias e na quinta e na sexta-feira Santa e nosábado De Aleluia eram apresentadas duas seções,com uma fila na bilheteria que dobrava a esquinado “Centro de Saúde”, onde hoje é o jardim doteatro.

Existiam outras encenações espalhadas pelosdiversos teatros dos bairros (Circulos Operáriosde Trabalhadores Cristãos , patronatos e circos)com os mais variados nome: “Jesus no Calvário”,“O Mártir do Calvário”, “O Mártir do Gólgota”,“A Paixão de Cristo”, sempre com platéias lotadas

e público visivelmente emocionado e contrito.

Eram comuns as cenas de choro copioso naplatéia nas cenas da “Rua da Amargura” e durante

a “Crucificação” e de muitos aplausos nas cenasdo “Sinédrio”, quando Nicodemus defende Jesus,

no “Enforcamento do Judas “ e na “Ascensão”,quando Jesus Cristo era içado por cabos de aço,

do porão do teatro até sumir da vista do públicoentre as bambolinas.

A tradicional montagem resistiu de 1933 até1983, quando seus produtores, na época Marcus

Fernandes e Misael Fernandes, resolveram parar

com o espetáculo, ressurgindo no ano 2000 pelainiciativa de Haroldo Serra, que se dispos a montaro espetáculo com o titulo de “A Paixão de Cristo”,

numa produção da Comédia Cearense, reunindono elenco antigos atores como:Marcus Fernandes,

Walden Luiz, Hiramisa Serra, Ary Sherlock,Fernanda Quinderá, Haroldo Serra, integrantes

de outas montagens do Martir do Golgota.

A peça que reune cinquenta atores foiapresentada no ano 2000 no Teatro de Arena

Aldeota, tendo que ser transferida, no ano seguintepara a quadra do Colégio Chistus, devido o grande

numéro de espectadores que lotava a platéia doTeatro de Arena. Em 2011, o espetáculo teve que

mudar mais uma vez. Desta feita para a Praça

Verde do Centro Dragão do Mar de Arte e

Cultura, uma vez que a quadra do colégio setornava pequena para acomodar o público quedesejava assistir a encenação da vida, paixão, morte

e ressurreição de Jesus Cristo

//FOTOSDIVULGAÇÃO

Page 12: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

O Circo Sem Teto da Lona Furada dos

Bufões é uma comédia musical infantil que retrata

a história de um circo mambembe nordestino

tentando sobreviver no midiático mundo

contemporâneo. O circo dos Bufões que nopassado fora palco maior de fantásticasapresentações de mágica, malabares,

contorcionismos, trapézio, animais ferozes e tantasoutras, perdera suas atrações. O circo sem teto da

lona furada e sem recursos, sobrevive do

incansável desejo dos palhaços ”Bufão”,“Panfeto” e “Pafim” de não deixar que a magiae a beleza do circo cheguem ao fim, pois oespetáculo não pode parar!

O elenco, homogêneo, que dança, canta einterpreta, conduz a platéia por um maravilhosojogo de cena. Os palhaços, utilizando as diversas

possibilidades cênicas, revelam grande domínio

da técnica e despertam o interesse da criançada.A comédia, o canto e a dança dialogam com

empolgante entusiasmo em um musical de grande

beleza e ritmo.

Os elementos do espetáculo são acima de tudo,

educativo, criativo e prazeroso, o que desperta aimaginação de crianças e adultos através daslinguagens visuais, do gestual, da simbologia, dasonoridade, do riso, da fantasia, do caráter dejogos, dos brinquedos cantados e dançados e dodivertimento.

A oralidade revela-se como característica

marcante no trabalho. O palhaço nordestinoretratado na narrativa, subvertedor da lógica dosenso comum, é capaz de transformar a realidade.

Picadeiro dos Bufões

// F

OTOSDIV

ULG

AÇÃO

| CONTATOS |Casa de Teatro Dona Zefinha

(88) 3631.3863 | 9972.2871 |casadeteatrodonazefinha.blogspot.com.br/

[email protected]

| MÚSICAS |Circo sem teto da lona furada (Orlângelo Leal)

A Folha (Orlângelo Leal / João Edson)Sapo Cururu (Júnio Santos)

Baratatômica (Orlângelo Leal)Palhaço da Perna de Pau (Orlângelo Leal)

Vaia pro Palhaço (Orlângelo Leal)Aula de Ballet (Orlângelo Leal / Gerson Moreno)

Hey Hou Tcha Tcha (Orlângelo Leal)Marimbondo Azul (Orlângelo Leal / Flávio Paiva)

Comilão (Orlângelo Leal)Romance da Lua (Orlângelo Leal)

Pinóquio e Emília (Flávio Paiva)

Ao ver o mundo de maneira inocente e lírica,encanta e faz rir desmascarando as verdades

ocultas do ser humano.

O cenário e figurinos especiais contribuem paraconsolidação da linguagem lúdica e poética,formando uma áurea de encantamento

mambembe. Além do cuidado estético queenvolve o trabalho, há ainda uma preocupação

pedagógica com as mensagens transmitidas peloespetáculo. O desafio de criar um espetáculo quecontemple a criança dentro de seu universo, que

a trate como criança, respeitando seu espaço,

realizando suas vontades e desejos, resultou num

longo e bem elaborado trabalho musical, teatral ecircense.

Banda Cearense Dona Zefinha - “O Circo Sem Teto da Lona Furada dos Bufões”

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Page 13: Revista Canto da Iracema - Edição Maio2013

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Nossa Senhora do Rosário me abençoe me proteja meilumine me guarde me guie me dê forças pra brincar omaracatu. O maracatu me dê forças pra brincar. Tempo denegros pisando pela cidade pisa o chão da igrejinha devoçãopela irmandade na coroação de reis realeza e atitude. São osserviçais da terra coroados nesse dia são negrinhos são caboclossão nossos reis já ungidos soberana majestade reis rainhas ebatuques em desfile pelas ruas becos praças e vielas mapasdesta Fortaleza índia bela suburbana tem pastel caldo decana tapioca com café. No baticum se alegra o povo enche degente vai um pulando na frente a mundiça vai atrás. E noque vai engrossa o caldo arrastando seu tamanco de piúbatem índio tem preto e branco tudo junto e misturado.

É loa reza é axé e comunhão é também celebração dos reisnegros da cidade. Toca tambor bate no toque do batuque coisa queme dá coragem é poder ser o que quero quando quero e porquequero. E já que quero pego gosto crio jeito faço do peito um tambor dotambor faço um terreiro faço dia bater asa passarim criar horário sapoler dicionário pulga alugar a casa bodega vender juízo velhacoentregar no prazo desse negro faço um rei dessa negra uma rainha.

Ainda faço aquele padre rezar missa com a multidão na praçacom a graça do cortejo com a bênção do rosário valei-me nossasenhora entre reis e açafatas com o molejo das meninas e a precisãoda cena captada em fotogramas como imagens de poemas. Juro quefaço da vontade um compromisso da chuva faço um feitiço sem botaros pés na grama. Se a aranha tece puxando o fio da teia vou pegarminha candeia pra luzir no teu caminho pra benzer o teu destinoouvir como toca o sino cantar em dia de sol sorrir para o céu azulabraçar minha cidade meu berço e fortaleza que a Senhora do Rosárionos conserve abençoados cantadores encantados como frutos do quintalcajus cajás e oitis tabajaras janduís somos tupis guaranis todas astribos amém. Esta cidade tem cheiro de maresia praia duna ventaniajangadas velas ao mar. Esta paisagem tem gosto de melancia muricimanga coité pitanga seriguela jatobá e graviola cajarana carambolasapoti coco-babão são frutos deste quintal de formigas tanajuras ecapotes e calangos.

E foi-se o tempo e a igreja definhando veio gente veio tinta veioa restauração veio a reinauguração da igreja do rosário daí veio aprecisão de se coroar de novo os negrinhos dos batuques os negrinhosda nação renovando o compromisso de fazer dia de festa com ostambores da alegria pra encher de luz a praça e a igreja de magiapra acender quem vai passando saudando Ginga N’Bandi com orosário de Maria. E aí se deu a coroação de negros pela vontade dopovo da cidade dos brincantes uma ruma de contentes cidadãos e

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| Nossa Senhora do Rosário

| FLÔR DO LÁCIO...

transeuntes unidos pelo brinquedo e lá se vão batucando com muitagraça e orgulho e vão com gosto de gás quem quiser que conte outraquem quiser que cante mais. Os que somos negrinhos cantamosnessa ocasião a loa do Auto dos Congos, conforme nos ensinou omestre Gustavo Barroso: Pretinhos do Congo pra onde é que vãovamos ao rosário festejar Maria festeja festeja com muita alegriavamos ao rosário festejar Maria.

E foi-se o tempo e o tempo trouxe as loas e as loas trazendo versose versos dizendo assim: Cariongo e Gingana pra onde é que vãovamos ao rosário benzer a nação. Teia teia de engomar nossa rainhavai se coroar vira de banda torna a revirar. Bate o bumbo Iaiá, bateo bumbo. E bate o bumbo bate corpo pé pisada bate passo ecaminhada bate com ferro e tambor. Um baticum bate pandeirobatucada bate ferro faz zoada ressoa nessa pancada que tu segura amacumba e eu sustento a pisada. Ó Virgem do Rosário já deu meia-noite levanta a bandeira e vamos embora.

// FOTOSCALÉALENCAR

> Por: CALÉ ALENCAR

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FEITOarte

ZENO FALCÃO, INQUIETO AGITADORCULTURAL E AMANTE DA PRAIA DE IRACEMA,JÁ FAZIA UM FUZUÊ DANADO PELOSARREDORES DA ANTIGA PRAIA DO PEIXE.

QUERIA MAIS. QUANDO DA CHEGADA DOCENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE ECULTURA ANCOROU OU SENTOU PRAÇA EMDUAS ESQUINAS ESTRATÉGICAS DA RUA DOBORIS.

NA DRAGÃO DO MAR MONTOU BAR; NAAQUIDABAN, CASA DE FORRÓ QUE FEZHISTÓRIA: ALFORRIA, ONDE PINTEI PAINELCOM ESCRAVAS LIBERADAS E LIBERTINAS.

NO BAR DA ESQUINA LIMITAVA-ME AALINHAVAR A CRÕNICA PARA OJORNALZINHO QUE NASCIA JÁ BATIZADOCOM O NOME QUE OSTENTA: CANTO DAIRACEMA.

JÁ SE VÃO PRA MAIS DE TREZE ANOS. EU JÁCRUZARA OS CINQUENTA E AQUELASMANGUEIRAS ERAM AS DERRADEIRASCACHAÇAS QUE SABOREAVA.

UM CERTO TREZEUM CERTO TREZEUM CERTO TREZEUM CERTO TREZEUM CERTO TREZE

BENIGNOBENIGNOBENIGNOBENIGNOBENIGNOPor: AUDIFAX RIOS

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