revista canto da iracema - edição abril 2011

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Nº 03 > Março 2011 UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO SOCIOCULTURAL CANTO DA IRACEMA > ANO 12 > Nº 65> ABRIL 2011 13 de abril Fortaleza 285 Anos a cultura cearense pertinho de você! a cultura cearense pertinho de você!

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Page 1: Revista Canto da Iracema - Edição abril 2011

Nº 03 > Março 2011

UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO SOCIOCULTURALCANTO DA IRACEMA > ANO 12 > Nº 65> ABRIL 2011

13 de abrilFortaleza 285 Anos

a cultura cearense pertinho de você!a cultura cearense pertinho de você!

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>>>>> as matérias publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores!// TI

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> Q U E M S O M O S !coordenação geral zeno falcão • coordenador adjunto pingo de fortaleza • editora e jornalista resp. joanice sampaio - jp 2492 - ce• produtor executivo arnóbio santiago • assistente de produção tieta pontes • revisão rodrigo de oliveira - tembiu.pro.br • colabora-dores josé maria damasceno / audifax rios / fernando neri / augusto moita / talles lucena / nilze costa e silva / calé alencar / kazane •conselho editorial augusto moita / audifax rios / calé alencar / erivaldo casimiro • diagramação artzen • contatos > canto da iracemarua joaquim magalhães 331 / cep 60040-160 / centro / fortaleza / ceará / (85) 3032.0941 / [email protected] > solar av. dauniversidade 2333 / benfica / fortaleza / ceará (85) 3226.1189 / [email protected]

As águas de março passaram e aqui estamosnovamente com a terceira edição de 2011. Comoo tempo passa! Trouxemos para você, caro leitor,uma crônica na qual Nilze Costa e Silva discorresobre a nossa querida Ponte Metálica ou Pontedos Ingleses, como queira. Vamos conhecer ahistória do gato Taffarel que um dia tirou o sos-sego de Parahyba Kid. Essa quem nos conta é onosso espirituoso Augusto Moita.

Reminiscências, prosa, poesia e imagens, à pági-na 13 de Calé Alencar. E claro, não pode faltar, aFulô do Lácio. Fernando Neri e sua apressadacrônica suburbana.

CAPA FOTO > GOOGLE MAPS

O Ponto de Cultura deste mês é o ponto da Casada Comédia Cearense. Vamos conhecer um pou-co do livro “Fragmentos”, do músico, escritor eprofessor Carlinhos Perdigão. Henrique Beltrãoretorna neste número e nos presenteia com umbelo poema, que nos leva a refletir também.

Ainda temos o cineasta subversivo: Robério Ara-újo. E Audifax Rios, que rememora nosso Dra-gão do Mar, afinal nossa história é importante.Ainda sobre nossa identidade cultural, ÉlidaPricila explana o Maracatu e seus elementos.Boa leitura!

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! Fortaleza é um município brasileiro, capital doestado do Ceará. Pertence à mesorregião Metro-politana de Fortaleza e à microrregião de Forta-leza. A cidade desenvolveu-se às margens do ria-cho Pajeú no nordeste do país, a 2 285 quilôme-tros de Brasília. Sua toponímia é uma alusão aoForte Schoonenborch, construído pelos holan-deses durante sua segunda permanência no lo-cal entre 1649 e 1654. O lema da cidade (pre-sente em seu brasão) é a palavra em latim“Fortitudine”, que em português significa: “for-ça, valor, coragem”.

Está localizada no litoral Atlântico, com 34km de praias, a uma altitude média de 21 metros,e é centro de um município de 313,8 km² de áreae 2 447 409 habitantes, sendo a capital de maiordensidade demográfica do país, com 8 001 hab/km². É a cidade mais populosa do Ceará, a quin-ta do Brasil e a 91ª mais populosa do mundo. ARegião Metropolitana de Fortaleza possui3.655.259 habitantes, sendo a sexta mais populo-sa do Brasil e a segunda do Nordeste. Em recen-te estudo do IBGE, Fortaleza aparece como me-trópole da terceira maior rede urbana do Brasilem população.

Fortaleza, tendo o 15º maior PIB municipal danação e o segundo do Nordeste, com 28,3 bi-lhões de reais, é um importante centro industrial

e comercial do Brasil, com o sétimo maior poderde compra do país. No turismo, a cidade alcançoua marca de destino mais procurado no Brasil em2004, com atrações como a micareta Fortal nofinal de julho e o maior parque aquático do Brasil,Beach Park. Em 2010 foi a capital do Nordestemais requisitada por viajantes nacionais, segundoum estudo do Hotéis.com. No cenário nacional, acapital cearense ocupou a quarta colocação, atrásapenas do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Ésede do Banco do Nordeste, da Companhia Ferro-viária do Nordeste e do DNOCS. Em 1996 a cida-de ingressou no Mercado Comum de Cidades.

Seu aeroporto é o Aeroporto Internacional Pin-to Martins. A BR-116, a mais importante do país,começa em Fortaleza. Batizada de Loira desposa-da do Sol, pelos versos do poeta Paula Ney, acidade é a terra natal dos escritores José de Alencare Rachel de Queiroz, do humorista Tom Caval-cante e do ex-presidente Castello Branco. O Cen-tro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) éatualmente o principal espaço cultural de Fortale-za, com museus, teatros, cinemas, bibliotecas e pla-netário.

É a capital brasileira mais próxima da Europa,estando a 5.608 km de Lisboa, em Portugal . Étambém uma das 12 sedes da Copa do MundoFIFA de 2014.

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[email protected]

CHICO DA MATILDE EO RESTO DO PESSOAL

FRANCISCO JOSÉ NASCIMENTO, O DRAGÃO DO MAR, SÓ APRENDEUA LER COM VINTE ANOS NOS COUROS. O MAR FOI SUA VERDADEIRAESCOLA E ALI TRAVOU CONHECIMENTO COM MARUJOS DE OUTRASTERRAS ONDE A ESCRAVIDÃO JÁ FORA ABOLIDA. FERVILHAVA EM SEUSANGUE A IDEIA DA LIBERDADE EM DIVERSOS IDIOMAS, COMO OFRANCÊS E O ALEMÃO QUE APRENDERA A ARRANHAR. TIRAVA O SUS-TENTO COM O CONCURSO DE DUAS JANGADAS E ERA O SEGUNDOPRÁTICO DA CAPITANIA DOS PORTOS. DESFILA NAS RUAS DE FORTA-LEZA COM VISTOSA FARDA DE MAJOR AJUDANTE DE ORDENS E É VAI-ADO PELA CANALHA. A MESMA QUE MANGOU DO SOL NA PRAÇA DOFERREIRA. O SOL DA LIBERDADE EM RAIOS FÚLGIDOS.

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SAUDÁVEL AMIZADE, PRETO NO BANCO – José do Patrocínio veio ter aosverdes mares bravios por incentivo do poeta Paula Nei e foi recebido calorosamentepor membros da “Sociedade Libertadora” e “Clube dos Libertos”. Coberto de rosas foibeijado por um escravo e ganhou o apelido de Marechal Negro. Como resposta batizouo Ceará de “Terra da Luz”. Aqui encontrou o Chico da Matilde que lhe perguntou:“Então companheiro, o porto está mesmo bloqueado?”. Resposta: “Não há força nestemundo que o faça reabrir!”. Patrocínio era filho de uma quitandeira preta com ovigário da paróquia de Campos, Padre João Carlos Monteiro. Formado em Farmáciafoi um dos grandes jornalistas que lutaram pela causa da abolição dos escravos noBrasil. Paula Nei era jornalista que não concluiu Medicina. Quase tudo o que escreveuperdeu-se no anonimato das reportagens. Morreu praticamente na miséria. Imortali-zou-se com o poema “Fortaleza”.

TOMÁSIA, ELVIRA, CARLOTA E OUTRAS ABOLICIONISTAS – Dona JoaquinaFrancisca, mulher de Chico da Matilde, diretor da Sociedade Cearense Libertadora,participava ativamente da ala feminina ao lado de Maria Tomásia, Elvira Pinho,Carolina Carlota (esposa de João Cordeiro), Jacinta Augusta, Liduína (mulher dePedro Borges), Eugênia Correia do Amaral, Virgínia Salgado e Estefânia Mello. MariaTomásia era sobralense, filha de José Xerez Linhares e Ana Figueira de Mello. Ficouconhecida como “A Libertadora” ou “A Abolicionista”. Elvira Pinho era natural deMaranguape, professora, tinha apenas 22 anos quando ingressou na Sociedade.Carlota Cordeiro era filha de José Lourenço de Castro e se desfez de todas as joias emprol da campanha da liberdade dos escravos. Tudo isso foi contado pelo cearenseEdmar Morel no seu livro “Vendaval da Liberdade”, cuja primeira edição trazia otítulo “Dragão do Mar, o jangadeiro da abolição”.

DESTEMIDO CABOCLO DO NORTE – João Cordeiro era cearense de Santana doAcaraú (1842/1931). Abolicionista e republicano, foi senador, amigo de FlorianoPeixoto, que o chamava de “meu caboclinho do norte”. Certo domingo (31 de janeirode 1881), numa reunião da Sociedade Cearense Libertadora, preparou uma salaescura em cujo centro pôs uma mesa coberta com um pano negro. De repente, saca docolete um punhal, crava-o na mesa e grita: “exijo de cada um de nós um juramentosobre este punhal, para matar ou morrer, se for preciso, para o bem da abolição dosescravos... Quem não tiver coragem pode sair enquanto é tempo”. Depois de ummomento cabisbaixo, reflexivo, levanta os olhos e percebe que onze dos libertadoreshaviam sumido. Em seguida o bravo abolicionista ditou o que seria a síntese doestatuto da Sociedade: “Um por todos e todos por um. A Sociedade libertará osescravos por todos os meios ao seu alcance.”

TODA A RAÇA – As primeiras reuniões da “Perseverança e Porvir” realizaram-se naresidência de José do Amaral, na rua Formosa, apelidada de “Gruta Negra” ou“Castelo da Pedra Negra”. Faziam parte, além do anfitrião, João Cordeiro, FredericoBorges, Antônio Bezerra de Menezes, Miguel A. S. Portugal, Justino Francisco Xavier,Silva Jatahy, Caetano Costa e Eugênio Marçal. A Sociedade Cearense Libertadoramantinha o jornal “O Libertador” que tinha como redatores Bezerra de Menezes e JoséTeles Marrocos. Colaboravam Frederico Borges, Justiniano de Serpa, Martinho Rodrigues,Almino Afonso, Abel Garcia e João Lopes. João Brígido fundou o jornal Unitário, dizia-se defensor da liberdade dos escravos e combatia a Sociedade Libertadora. Os caixei-ros fundaram o Clube Abolicionista Caixeiral, à frente Antonio Papi Júnior, OlímpioBarreto, Francisco Carneiro Monteiro e Francisco Theófilo. Integravam o ClubeAbolicionista Militar Pedro Augusto Borges, Manoel Bezerra de Albuquerque, Pe. JoãoLeite de Oliveira, Alfredo Weyne e Henrique Thebérge. A Libertadora Estudantil eracomandada por Manoel de Oliveira Paiva, Galdino Castro e Silva, José A. G. Angelim,Solon Pinheiro, José da Cunha Fontenele e Francisco Francisco Ramos.

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O Ponto da Comédia!

O grupo teatral Comédia Cearense foi criado em 1957, por inicia-tiva dos artistas Haroldo Serra, Glice Sales, Palmeira Guimarães eoutros atores amadores. Desde então, continuatrabalhando e representando de formadignificante a cultura do estado do Ceará. O gru-po já realizou mais de 80 montagens, participoue foi premiado em eventos em todo o Brasil e noexterior.

Com o grupo, veio a Casa da ComédiaCearense, espaço que oferece cursos e oficinas gra-tuitos para crianças, jovens e adultos. Dispõe de uma biblioteca, umavideoteca, sala de dança e música, sala de informática, cineclube,teatro-jardim e sala que guarda parte do acervo do figurinista cearenseFlávio Phebo. Dois funcionários são responsáveis pela manutenção.

A principio, o que seria apenas um espaço para alocar material,figurino e local de ensaio, também cedeu lugar para o ensino do teatrosob a experiência e didática do ator e dramaturgo Haroldo Serra, deseu filho Hiroldo Serra e de sua esposa, e também atriz, HiramisaSerra.

A Casa da Comédia, como muitos assim a chamam, é um espaçocultural mantido com recursos da família Serra e em parceria com oCentro Cultural do Banco do Nordeste, ofertam o curso de iniciaçãoteatral gratuito.

Localizada no bairro Rodolfo Teófilo, em 2008 a Casa da ComédiaCearense ganhou o título de Ponto de Cultura do Governo Federal erecebeu cinco computadores, filmadora, máquina fotográfica, data-show, micro-system e um home theater.

Em setembro de 2009, iniciou as atividades do Ponto de Cultura,oferecendo cursos de dança, canto coral, teatro, hip-hop, informática,arte circense. Os cursos de fotografia e audiovisual, devido àindisponibilidade dos instrutores, foram suspensos. Atualmente, ofertacurso de dança de salão.

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Um dos grupos teatrais mais atuantes e tradicionais do Ceará, a Comédia Cearense, também amplia seuraio de ação cultural com o Ponto de Cultura Casa da Comédia Cearense.

Segundo a diretora da Casa, a atriz cearense Hiramisa Serra, asatividades estão abertas para um público diverso. “Há a participação

de pessoas da melhor idade nas aulas de teatro einformática”, acrescenta.

Aluno do curso de teatro há um ano e meio, oestudante de informática Ronaldo Lopes confessaque sempre teve vontade de fazer teatro e dança.“O ponto me ensinou muita coisa. A disciplina mefaz envolver com a cultura, ter boa convivênciasocial. É um grande prazer tá aqui (sic).

Ronaldo já se apresentou em duas peças montadas pelo Ponto -a Ópera do Malandro e O Capeta de Caruaru e se prepara para viverum dos soldados na peça A Paixão de Cristo. “Isso é muito gratificantepra mim. Abrem-se as portas. Se você se dedicar ainda pode crescerprofissionalmente”, acrescenta.

Um bom exemplo é o garoto Lucas Cavalcante, 11 anos. Partici-pante do Ponto de Cultura desde o início das atividades, Lucas foiindicado por Hiroldo Serra para participar do teste que escolheria ummenino para viver o comediante cearense Renato Aragão criança noespecial Didi 50, da Rede Globo, exibido em dezembro de 2010. Enão é que Lucas deu vida ao então pequeno Trapalhão!

Ex- aluno do curso de audiovisual e morador do Rodolfo Teófilo,Nito Bates, afirma: “o Ponto de Cultura é uma oportunidade paraquem não tem condição de pagar um curso na área”. Foi ondedescobriu querer viver da arte como cineasta e atualmente participados espetáculos montados pelo Ponto como ator e como iluminadornas peças encenadas pela Comédia Cearense.

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RUA MAJOR PEDRO SAMPAIO, Nº 1190 RODOLFO TEÓFILO

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MARACATU é uma expressão cultural originário das Coroações de Reis do Congo deorigem africana organizado pelas Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos,em Portugal, após um primeiro contato com a imagem na Igreja de São Domingos de Lisboa emmeados do século XV.

De acordo com os historiadores, “logo que chegava o rei com sua corte, entrava a missa, queera cantada, com repiques de sinos e foguetes... acabava a missa, saía o cortejo real de cidade àfora até o palácio, em que passava o resto do dia a comer, a beber, a dançar, festejando as poucashoras de liberdade que todos os anos lhe concediam os senhores da terra”.

Trazido ao Brasil com o consentimento da Igreja e de seus senhores, chegou em nossa cidadeFortaleza/CE por volta do século XX por Raimundo Boca Aberta, fundador do maracatu Áz deOuro e o maior cantador de loa do qual se tem notícias.

O DESFILEO DESFILEO DESFILEO DESFILEO DESFILE do Maracatu repre-senta uma corte. À frente do cor-tejo está o porta-estandarte queanuncia sua presença. Entre ospersonagens participantes, es-tão o rei, a rainha – que é aprincipal e uma referência aRainha Ginga N’Bandi, soberana de Angola – o príncipe, a princesa,seguindo vem as damas de honra, pagens, mucamas entre outros.

REI E RAINHA - MARACATU VOZES DA ÁFRICA

A CALUNGAA CALUNGAA CALUNGAA CALUNGAA CALUNGA é referência aos negros deum mito religioso, chamada também deboneca. É levada pela negra que vai àfrente do cordão de negras. Calunga repre-senta também a geração passada e a se-mente futura. Em outros tempos chegou a

ser usada no mastro do estandarte.

25 de março

// DIA DO MARACATU

A PINTURA A PINTURA A PINTURA A PINTURA A PINTURA no rosto é tradiçãocearense. A origem pernambucana dosMaracatus não pintavam porque jáeram negros.

OS ÍNDIOSOS ÍNDIOSOS ÍNDIOSOS ÍNDIOSOS ÍNDIOS representam o povonativo brasileiro, usam roupas ca-racterísticas, com seus cocares depena e um estandarte.

O DIA DO MARACATUO DIA DO MARACATUO DIA DO MARACATUO DIA DO MARACATUO DIA DO MARACATU passou a sercomemorado no dia 25 de março, datada libertação dos cativos no municípiode Redenção.

ESTANDARTEESTANDARTEESTANDARTEESTANDARTEESTANDARTE: peça confeccionada emcetim ou veludo, tem franjas ou rendas naborda inferior e traz, pintado ou bordadono centro. Marca o passo e anuncia a pre-

sença do maracatu.

FonteFonteFonteFonteFonte: CALÉ Alencar: Origem e Evolução do Maracatu

do Ceará, 2008 | MARACATUS: Vozes da África e Solar

LAMPIÕES, LUMINÁRIAS,LAMPIÕES, LUMINÁRIAS,LAMPIÕES, LUMINÁRIAS,LAMPIÕES, LUMINÁRIAS,LAMPIÕES, LUMINÁRIAS, representam a luze o fogo no caminho do cortejo. Levados pelosguias para iluminar o caminho.

www.clubefotoecompanhia.com.brwww.clubefotoecompanhia.com.br

FotoclubeFoto&Companhia:

Fco. Elian Duarte | Josy FernandesCecília Montenegro | Élida Pricila Brasil

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Estamos a poucospassos do imprevisí-vel. A insistência deexplícita graça emalandragem parecenão revelar a violên-cia real que o noticiá-rio policial espetacu-lariza todos os dias.São tão iguais emtodos os cantos domundo e invariavel-mente parecem-seno conteúdo contra-ditório de suascabeças impensantesque a gente acabapor deixar de ver olado perigoso doprazer sem encontromarcado, sem len-çóis de cetim, sempreliminares sutis e preâmbulos intelectuais.Envolvemo-nos nessa espécie de fascínio pelolado marginal que se abre a todas as experiênciase se deixa levar e nos leva de roldão desejos àdentro. A prontidão com que somos banqueteadosnos dá uma falsa superioridade que a emoçãoengendra sem licença à razão que certamente nãoé a melhor conselheira nesses momentos em queos instintos fazem alarde de suas carências. E lánós vamos pelos desvãos da noite a preparar nossacama ao som de bregas e forrós eletrônicos, aentabular conversas desconexas sobre futebolmulheres viados sapatões tiros facadas brigas defamília brigas de vizinhos... a pauta de umprograma policial tipo rota 22, um nove zero,barra pesada em meio aos reflexos de luz esombra do telão onde dançarinas mostram que amúsica “que o povo gosta” é muito bem dotadade atributos nada musicais.

A fumaça dos cigarros dá ao ambiente aquela

A NOITE É UMA CRIANÇA

Vamos acabar fazendo uma limonada desse limão!

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atmosfera de gelo secode periferia e as mesaslotadas nos remetem aum canecão de quintacategoria. Entrar nobanheiro é uma expe-riência de ressurreiçãoà base de amônia emalta concentração. Oamarelado dos mijosno banheiro remete aoamarelo dos coposamericanos com cerve-ja sobre as mesas deplástico branco encar-didas: entra por cimasai e por baixo porconta da diurese catalisada pelo álcooletílico cada vez maispesando na cabeça!

E quando tudo parece que vai terminar por alimesmo, à hora adiantada e ao bolso quase pedindoarrego, eis que a libido combalida resolve dar oar da graça e nos arrastar para um lugar qualqueronde tudo seja possível. Um tanto quantocambaleantes mais, escoramo- nos um no outro eseguimos abraçados a olhar as estrelas que passamvelozes pelo asfalto que temos de atravessar.

E logo ali, mais adiante sob um céu quase semnuvens e uma cama de capim na ribeira do córregourbano, esvaziamos o peso dos nossos desejos jáquase transbordantes. É como se o mundo nãoexistisse à nossa volta e atentado violento ao pudorfosse o caralho de asa, a puta que o pariu!

É tudo tão rápido quanto intenso e muito bemcurtido e fim! Toma lá! Tá bom? Legal! Valeu!Tchau!

Os mundos se separam. Uma noite de aventura.Ou ventura. Ou desventura. Só depois se saberá!

Fernando Neri é poeta e compositor nascido em Fortaleza/CE. Poemas e textos publicados em antologias e jornais de Fortaleza.Músicas registradas em discos e CDs de intérpretes como Pingo de Fortaleza, Calé Alencar, João Claudio Moreno e MarcusCaffé. Atualmente integra o grupo lítero-musical Poemas Violados. Fernando Neri / [email protected]

uma apressada crônica (sub) urbana!

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O incansável agitador cultural Parahyba, que atualmente desen-volve um magnífico trabalho social com jovens carentes, já foi, empriscas eras de sua juventude um dos maiores malucos-beleza queessa Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção já possuiu. E uma dascaracterísticas principais de ser doidão era a total falta de responsabi-lidade com o que quer que fosse. Confundíamos outrorairresponsabilidade com liberdade.

Morava nosso ganhador de festivais musicais no bucólico bairro doFarol, que hoje, preconceituosamente, é chamado de Serviluz. Tinhacomo adoráveis vizinhos, além do cabaré da Bia, o mais inesquecívelboêmio Cláudio Pereira, o Pereirão. Também, em parede e meia, lade-ava-o o pesquisador da cultura nordestina José Rômulo.

Infelizmente não era só de bons vizinhos e notívagos visitantes dazona ali existente que o bairro era frequentado. Devido à proximidadedo cais do porto, havia uma peste insuportável de ratazanas, o quelevou o nosso poeta, seguindo conselhos de uma amiga apaixonadapor bichanos, a adotar um gatinho muito esperto e brincalhão. Como orapazito costumava brincar agarrando bolas de papel em pleno ar – eser época de copa do mundo; e o goleiro do Brasil chamar-se Taffarel –achou-se por bem dar-lhe o nome do arqueiro supracitado.

Taffarel cresceu e por estar relativamente dando conta do recado,foi elevado a uma posição de destaque dentro de casa. Esse fato levouo nosso infelicitado filho dos sertões dos Inhamuns a se sentir muitasvezes relegado ao segundo plano pela sua heróica consorte. Sentia,entre enciumado e invejoso, que sua patroa se preocupava mais com asaúde daquele dorminhoco do que com a dele. Certa madrugada, emque estava desmaiado devido a um homérico porre de cachaça eviolão, sua dedicada Bete ressuscita-o apavorada dizendo-o que Taffarelestava morrendo.

O INGRATO GATO TAFFAREL

- Isso é hora pra morrer? Esse cara nem pra morrer serve. Dá ai umleite pra ele e quando amanhecer a gente leva ao veterinário.

- Mas não pode, o gato vai morrer e blá blá blá...Notando que o ressacado “Pará” estava irredutível quanto à urgên-

cia ao socorro, D. Bete deixa de tentar o processo do convencimento epassa a utilizar o temível método da aporrinhação, infalível em maridocompletamente intoxicado pelo álcool.

- Ele vai morrer. A culpa vai ser sua. Você vai levar pro resto da vidaesse assassinato nas costas. Seu desumano. Exterminador do futuro. Essecrime é pior que dilapidar o patrimônio público. E por aí vai.

Levanta-se o herói da cama, já sem suportar a interminável tortura,pensando em como resolver aquele delicado problema. Àquela época,prezados leitores, nosso mavioso cantor, agora transformado em socorristade gato envenenado, atravessava uma situação economicamente umpouco desconfortável (mas, nada de tão grave que uma boa internaçãode duas semanas no cofre do banco central não viesse a resolver) e sabiaque aquela empreitada demandaria algum custo financeiro. Como fazerse havia em seu bolso uma total falta de numerário?

- Tá bom, eu vou. Mas você me ajuda a pagar.Pegou o carro e saiu à procura de uma clínica veterinária que aten-

desse 24 horas. Ora, da Praia do Futuro pra lá só tem o mar e pra cá, sóbairros nobres. E sabe como é: bairro nobre tudo é nobre, até os preços.

Acha uma. Muito bonita, bem decorada, um néon piscando: urgên-cia e emergência dia e noite. Coisa de granfino. Toca a campainha,aguarda um pouco e atende uma bela jovem. Ela pede um instante evolta toda paramentada de médica veterinária. Nosso infausto salvadorfica gelado só em pensar o quanto custaria toda aquela presteza deatendimento.

A doutora pega delicadamente Taffarel com as mãos já devidamen-te enluvadas e o imobiliza confortavelmente em uma maca apropriadapara felinos convalescentes. Com o estetoscópio pendurado no pescoço,símbolo dos plantonistas recém-formados, passa a auscultar o orgulhosopaciente.

Era revoltante ver aquele sujeito salvo da mendicância e adotadocomo filho ser agora aliado incondicional da pessoa que iria lhe sugar osúltimos parcos trocados. E aquele olhar de desdém para com seus donose de conivência para com a doutora?

- Qual a ração que ele come?- Como assim? Responde perguntando o neófito nutricionista.- Sim, se é a..., e passou a doutora a citar uma porção de rações que

terminavam a nomenclatura com gold, plus, light, fish, só coisa caraimportada.

- Não, doutora, ele come comida mesmo normal.- Mas você pelo menos ferve a carne antes de dar pra ele?Parahyba vendo que aquilo estava se transformando em uma situ-

ação que iria lhe deixar em maus lençóis e, na tentativa de mostrar paraaquela onerosa doutora que ele não fazia parte da nobreza daquelebairro, foi enfático:

- Olhe doutora, eu vou ser franco com a senhora. Esse gato foi lá pracasa pra acabar com os ratos. Agora, se eu for pegar os ratos de um porum, cozinhar e der pra ele, ele perde a função. Então é melhor ficar dojeito que está.

Coisas que Conto...

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CINEMA COM IDEOLOGIA

O cinema político de Costa-GravasCosta-GravasCosta-GravasCosta-GravasCosta-Gravas

Por: Robério Araújo | [email protected]

Com a proximidade de mais um feriado, mui-tos se isolam em casas de praia, sítio, serra e esse éum momento especial para refletir e voltar ao pas-sado muito próximo e mergulhar nas pérolas de um polêmico e impor-tante fazedor de filmes. Prepare a pipoca e mergulhe no universo duroe real de um mestre.

O cineasta grego nacionalizado francês Kostantinos Costa-Gavrasfez verdadeiras obras-primas, que hoje andam meio esquecidas pelopúblico. Mas mesmo em um ano sem eleições, sempre é bom reverclássicos como Z, Desaparecidos e Estado de Sítio. Claramente filmesde esquerda. Estes três retratam uma época não tão distante assim,em que as ditaduras imperavam sem dó nem piedade, principalmen-te na América Latina.

Comecemos por Z, baseado no romance de NikosKazantzakis, o mesmo autor de Zorba, o Grego, eprotagonizado pelo italiano Yves Montand, mas quemuita gente acha ser francês – afinal, ele virou umsímbolo francófono depois de ainda pequeno se mu-dar para a França. Em Z, Gavras retrata a cruel ditadu-ra grega nos anos 1960 (hoje ao se ler sobre o belo país

helênico, fica-se difícil de acreditar que os gregos tenham passado poruma ditadura) e a luta de um grupo liberal em tentar descobrir quemmatou um deputado (Montand) da oposição.

Já Desaparecidos, está mais próximo dos brasileiros. De 1982,mostra um pai, Jack Lemmon, tentando encontrar o seu filho, presodias após o golpe de Pinochet, que derrubou o governo socialista deSalvador Allende no Chile. Nem mesmo a cidadania norte-americanado “desaparecido”, John Shea, o salva da morte no estádio Nacionalde Santiago, à beira dos Andes. E o pior, a descoberta que o governonorte-americano – leia-se CIA – apoiou o golpe. Se você assistir ZuzuAngel, verá muitas semelhanças em ambos os filmes. Com atuaçõesmagistrais de Sissy Spacek e Jack Lemmon, Desaparecidos é mais umfilme retratando os anos de chumbo neste belo país sul-americano(sobre a ditadura de Pinochet recomendo ainda, Chove Sobre Santia-go e Machuca).

Por fim, deixei para falar de Estado de Sítio. Pouco conhecido nosdias de hoje, o filme mostra os piores momentos da ditadura noUruguai, tão violenta quanto a nossa, e organizada pelos EUA nosanos 1970. Fala da guerrilha dos Tupamaros e como foi repressãomilitar. Muita semelhança ao que se passou no Brasil.

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ROCK AND ROLL E FOMENTO CULTURAL EM FORTALEZA! TEM INTERESSE EM NOSSAS ATIVIDADES? ACESSE:

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A SAME OLD SHITSAME OLD SHITSAME OLD SHITSAME OLD SHITSAME OLD SHIT uma banda cearense de punk rock bubblegumnascida em fevereiro de 2010 a partir de uma conversa entre amigos sobreo saudosismo dos tempos em que tocar Rock n´ Roll era de fato apenas sedivertir. Sem nenhuma pretensão maior, a banda foi iniciando um proces-so de composição bastante intenso, já que contava com músicos experien-tes da cena rock de Fortaleza, e quando menos esperavam já estavamensaiando suas músicas autorais que retratam todo aquele espírito derebeldia adolescente tão comum durante os anos 60 e 70.

Músicas que falam sobre ser você mesmo, fazer aquilo que você gosta,sobre aquela garota especial ou simplesmente sobre Rock n´Roll, diversãoe cerveja gelada. E foi nesse espírito que a banda gravou seu primeiro EPintitulado “Más Intenções”, que retrata todo esse universo bubblegum emmúsicas como “Sábado à Noite”, “Um Jeans Rasgado e um All Star”,“Lisa” e Más intenções!!!

Agora a banda lança dois singles, gravados no estúdio Panela Discos,são elas: “Amnésia Alcóolica” e “Joey”. Confiram o trabalho novo doscaras, assim como entrevista exclusiva e quatro músicas gravadas ao vivopara o nosso PODCAST PANELA DISCOS, em nosso site: paneladiscos.com

SAME OLD SHITSAME OLD SHITSAME OLD SHITSAME OLD SHITSAME OLD SHIT

LANÇAMENTOS PANELA DISCOS!A banda de punk rock SAME OLD SHIT é a

banda do mês de abril do selo PANELA DISCOS!

CONTATO DIRETO COM A BANDA:

[email protected]

FESTIVAL BOMJA ROCKS!16 bandas, diferentes cidades, a mesma paixão!

Programação no Centro Cultural Bom Jardim é fruto

de parceria desta instituição com o selo PANELA DISCOS!

DIA 0216h: ZENOIS - http://www.myspace.com/zenois17h: AGONY - www.myspace.com/agonythrashmetal18h: ESTADO ANESTESIA - www.myspace.com/estadoanestesia19h: ANONIMATO (PB) - http://www.myspace.com/bandanonimato

DIA 0916h: SO SO - www.myspace.com/xdsoso17h: OS MALDITOS ROCK BAND - http://palcomp3.com/osmalditos18h: SÍNTESE - http://www.oinovosom.com.br/sintese19h: INFLAME - www.myspace.com/inflamebr

DIA 1616h- ATIKA - http://palcomp3.com/atika89

17h: BABY LIZZ - http://www.myspace.com/babylizz18h: INSIDE (PI) - http://www.bandainside.com

19h: EUTANÁZIA (TAUÁ) - www.myspace.com/eutanaziataua

DIA 3016h: RAFAEL VASCONCELOS - www.paneladiscos.com

17h: O GARFO - http://www.myspace.com/ogarfo18h: FELIPE CAZAUX - http://www.felipecazaux.com/

19h: REJECTS (RN) - http://www.myspace.com/rejectsrock

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O projeto BOMJA ROCKSBOMJA ROCKSBOMJA ROCKSBOMJA ROCKSBOMJA ROCKS, parceria do selo musical e produto-ra PANELA DISCOS com o Centro Cultural Bom Jardim, nasceu apartir da necessidade do crescente número de apreciadores de mú-sica independente dentro do Grande Bom Jardim. Demanda deterem uma programação voltada, exclusivamente, para amúsica rock e suas vertentes.

A parceria é fruto da união do maior selo musical cearense, cujapropriedade é vasta em produções de shows e bandas, estas últimasoriundas, em sua totalidade, de regiões periféricas de Fortaleza(assim como municípios vizinhos) e com a credibilidade do já acla-mado CCBJ, dentro de seu projeto musical SONS E TONS.

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// FOTO SALVINO LOBO

Eu te asseguro, cidade amada, que a PonteMetálica não vai a lugar nenhum. Não atravessarios, não liga nada a nada. Nem se liga. É umavereda que se estira para o meio do mar e sedeixa ficar até o pôr-do-sol.

A Ponte Metálica é um poema inacabado, cheiode vícios de linguagem e rimas fáceis, indecifráveisnas entrelinhas. Um dia pensaram que ela ia caire consertaram seus tentáculos, maquiaram-na todacom brincos e adereços, plumas e paetês. Queloucura inventaram naquela ponte! Deram-lheluminosidade excessiva para que o turistaenxergasse o que nem podia ver. Mataram naponte aquela doce voluptuosidade dos fins detarde, as doces sensações dos olhares, as caríciasquase invisíveis.

Apego-me ao retrato simples da ponte velhaporque, como ela, recuso-me a morrercompletamente e nunca vou abdicar da tentaçãode resistir a um desabamento. A ponte é o meuelo com o passado. Ela me diz que o sol ainda sepõe e o velho mar continua a lamber com paixãovoraz as eternas longarinas.

Havia outrora uma fonte ali, subterrânea, sub-reptícia. Era uma nascente escondida e o únicoponto iluminado do mar. Mas isso faz muitotempo, eu ainda nem me tinha por gente. FoiPorto de Fortaleza que nasceu a 18 de dezembrode 1902 para servir de viaduto de desembarque.Depois se transformou em Ponte dos Ingleses,tendo a sua construção iniciada em 1920, no

Governo do Presidente Epitácio Pessoa. Suaestrutura foi desenhada por engenheiros daempresa inglesa Nastor Griffts, que mantinhainteresses comerciais no Ceará; daí veio a suadenominação de Ponte dos Ingleses. Era de láque embarcavam e desembarcavam passageirose cargas.

Com a construção do Porto do Mucuripe, aponte foi desativada. O colecionador cearenseNirez, em seu livro “Fortaleza de Ontem e deHoje” diz que toda a sua estrutura é metálica, daío nome pelo a qual ficou conhecida até hoje.

Não é verdade que a Ponte Metálica ficouabandonada até antes da reforma. Os fortalezenses,desamedrontados por natureza, nunca deixaramde lá subir para um papo e um pôr-do-sol diferentea cada dia. Levavam seus violões, namoradas,casos escusos, sua poesia falada e cantada.

Todos sabiam deste fato incontestável: aslongarinas enferrujavam, mas claro que não iamcair. Somente quem não sonha iria acreditar numabobagem dessas. Como imaginar que ostentáculos da Ponte Metálica não iam resistir aobalanço do mar? E que aquele povo todo,misturando fortalezense e turistas iam desabarjunto com a ponte? Somente quem não conheceo povo daqui ia pensar uma coisa dessas.

Não foi à toa que o grande poeta e cantorcearense, Ednardo, poetou: Uma a uma, as coi-sas vão sumindo / uma a uma, se desmilinguindo/ Só eu e a Ponte Velha teimam resistindo...

Ponte MetálicaPonte Metálica

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O curumim vendedor de pirulitos não estava ali pra pedir “eichapa me dá um trocado”.

Só sabia de vender pirulito e eu comprei três por um real e fiqueicom gosto de venha mais. Mais ainda quando atentei para o localonde encontrei o menino e sua tábua de pirulitos e ele tendo que suarno sinal no meio do sol quente.

Uma vez no bairro do meu querido amigo coruja branca AntônioJosé, quero dizer, nessa hora perambulava pelas ruas do Jardim dasOliveiras, recanto mais conhecido da indiada pelo garboso nome deOliva’s Garden, dali o maestro não sai nem a pau Juvenal e é de láque vem inspiração pra ele tocar piano e encanta e enfeitiça EgbertoGismonti e os seres de bom coração de toda a Terra.

“Mamãe eu choro papai eu grito me dê um tostão pra eu comprarum pirulito. Pirulito enrolado num papel e enfiado num palito”. A vozde Luiz Gonzaga chegando pelas veredas da memória trazendo lem-branças de caminhos, os bancos de madeira do trem no rumo daFortaleza e no rumo do Juazeiro do Norte, terra do Padim Ciço, porquem minha avó trajava uma roupa preta todo santo dia 20.

O trem maluco que saiu de Pernambuco vai fazendo vuco-vuco atéchegar no Ceará. Foi assim com os Alencar da minha banda, o calen-dário marcando a década de 1940. As crianças no meio da noite e nomeio da noite os olhos da onça saindo pelas labaredas. A fogueira praespantar a onça e os meninos espantados, os homens espantados, asmulheres espantadas; os pertences nos lombos dos burros e eles feitociganos arranchados no meio do mato e o fogo pra espantar a onça.

O menino não estava ali pra pedir “ei chapa me dá um real, umtrocadim”. Plantou ali aquele menino quem me queria lembrandoFrancisco José, Luiz Gonzaga e os Alencar subindo e descendo a chapadado Araripe pra viver vida de cearense no Juazeiro e quando chegoudona Munda foi a mais querida no mercado de tanto fazer de comer ede tanto distribuir um prato de comida aos que tinham fome.

A rabeca do Cego Oliveira tocou muitas vezes pra agradecer comi-da e café, água e pão ofertados por Raimunda Benevides de Alencar,rainha da Gameleira mais querida e sempre beijada pelo ventocantarino. O menino do pirulito não estava ali pra pedir “ei chapa medá uma ajuda pra interar o almoço”.

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CARLINHOS PERDIGÃO

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Dia 13/04, às 12h, no CCBNB, noespetáculo Poemário Musical, quereúne os poemas do livro que vira-ram letras de música. Dia 22/04,19h, na Livraria Cultura. Todos oseventos são gratuitos.

LANÇAMENTO

MÚSICO, COMPOSITOR E ESCRITOR

O que se espera de um músico? Um show,que lance um disco ou DVD. Por aqui, omúsico, professor e escritor Carlinhos Per-digão registrou sua obra literária que tam-bém permeia sua obra musical, no livroFragmentos.

Lançado em fevereiro deste ano, no auditó-rio do Centro Cultural do Mar de Arte eCultura, a publicação reúne trinta poemasinéditos, com temas que envolvem ques-tões sociais e amorosas, numa mistura en-tre o “eu poético” do autor e o mundovivenciado. Também há dois ensaios literá-rios – um versando sobre asperspectivas relacionais entre o livro e o fil-me Vidas Secas, respectivamente deGraciliano Ramos e de Nelson Pereira dosSantos, e outro sobre o romance MemóriasPóstumas de Brás Cubas, de Machado deAssis. Dentre outros textos, há também umartigo de divulgação científica queproblematiza questões relacionadas à leitu-ra – tema de permanente interesse do autor.O livro é todo perpassado por imagens queremetem à musica, com ilustrações da artis-ta plástica Renata Holanda. O prefácio é deautoria do poeta pernambucano-cearense,Carlos Dantas.

Segundo Perdigão, Fragmentos tem cará-ter histórico, pois reúne textos produzidoshá mais de 30 anos e está sendopublicado em um momento de amadureci-mento pessoal e profissional, resultante desuas diversas experiências em diferentes cam-pos de atuação da cultura no Ceará.

FRAGMENTOSREUNIDOS

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