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157 , Goiânia, v. 10, n. 2, p. 157-170, jul./dez. 2012 157 FERREIRA, Joel Antonio. Jesus na origem do cristianismo: os vários grupos que ini- ciaram o cristianismo. Goiânia: Ed. da PUC Goiás. 2012, 148 p. E ste é um livro que nos ajuda a compreender os diferentes grupos que, crendo na divindade de Jesus, tornaram-se elementos fundantes para explicar a origem do cristianismo. Para estudar esses diferentes grupos, Ferreira mostra a importância de se considerar, de um lado, as exigências acadêmicas para compreender o Jesus histórico e, doutro lado, a experiência pastoral e a expressão de fé e de esperança do ser humano que crê na transformação da vida a partir do anúncio da Boa Nova. O livro é organizado em 21 capítulos. Seu ponto de partida é o ágape , vivido na ex- periência humana de Jesus e bem assinalado por Lucas, na origem do cristia- nismo, com a manifestação do Espírito Santo, em pentecostes narrado no livro do Atos dos Apóstolos (At. 2,1-12). Para compreender a igreja de Jerusalém, Ferreira explora as cartas de Paulo, de maneira particular a epístola aos Gálatas, e a carta de Tiago. Ao fazer tal escolha, o autor quer mostrar a importância da liderança de Paulo e de Tiago, na origem do cristianismo. Com a expansão missionária cristã no mundo grego, os conflitos tornam-se marcantes entre os cristãos originários do judaísmo e os que vinham de outras etnias e culturas. A circuncisão estava no centro da discussão do que é puro e impuro e tornava-se um elemento de conflito entre os cristãos advindos das diferentes culturas. A comunidade de Antioquia, também conhecida por Síria Ocidental, é a primeira a perceber a diferença entre os judeus cristãos e os outros povos que se convertiam ao cristianismo. E isso contribui muito para que essa co- munidade ajudasse a compreender o conflito erguido em torno da circuncisão e começasse também a criar uma organização social que, aos poucos, foi se estruturando como uma religião. Para abordar a questão do helenismo nos primórdios do cristianismo, Ferreira retoma a história de Estevão, um judeu convertido, que levou o cristianismo para o mundo grego. Estevão é martirizado a pedradas, com a aprovação de Saulo (p. 28). Após esse fato, Saulo se converte, passa a se chamar Paulo e assume a missão de propagar o cristianismo no mundo estrangeiro ou helênico. R E S E N H A S

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FERREIRA, Joel Antonio. Jesus na origem do cristianismo: os vários grupos que ini-ciaram o cristianismo. Goiânia: Ed. da PUC Goiás. 2012, 148 p.

Este é um livro que nos ajuda a compreender os diferentes grupos que, crendo na divindade de Jesus, tornaram-se elementos fundantes para explicar a origem do cristianismo. Para estudar esses diferentes grupos, Ferreira mostra a importância de se considerar, de um lado, as exigências acadêmicas para compreender o Jesus histórico e, doutro lado, a experiência pastoral e a expressão de fé e de esperança do ser humano que crê na transformação da vida a partir do anúncio da Boa Nova.

O livro é organizado em 21 capítulos. Seu ponto de partida é o ágape, vivido na ex-periência humana de Jesus e bem assinalado por Lucas, na origem do cristia-nismo, com a manifestação do Espírito Santo, em pentecostes narrado no livro do Atos dos Apóstolos (At. 2,1-12). Para compreender a igreja de Jerusalém, Ferreira explora as cartas de Paulo, de maneira particular a epístola aos Gálatas, e a carta de Tiago. Ao fazer tal escolha, o autor quer mostrar a importância da liderança de Paulo e de Tiago, na origem do cristianismo.

Com a expansão missionária cristã no mundo grego, os conflitos tornam-se marcantes entre os cristãos originários do judaísmo e os que vinham de outras etnias e culturas. A circuncisão estava no centro da discussão do que é puro e impuro e tornava-se um elemento de conflito entre os cristãos advindos das diferentes culturas. A comunidade de Antioquia, também conhecida por Síria Ocidental, é a primeira a perceber a diferença entre os judeus cristãos e os outros povos que se convertiam ao cristianismo. E isso contribui muito para que essa co-munidade ajudasse a compreender o conflito erguido em torno da circuncisão e começasse também a criar uma organização social que, aos poucos, foi se estruturando como uma religião.

Para abordar a questão do helenismo nos primórdios do cristianismo, Ferreira retoma a história de Estevão, um judeu convertido, que levou o cristianismo para o mundo grego. Estevão é martirizado a pedradas, com a aprovação de Saulo (p. 28). Após esse fato, Saulo se converte, passa a se chamar Paulo e assume a missão de propagar o cristianismo no mundo estrangeiro ou helênico.

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Ferreira mostra que o grande propagador do cristianismo entre as diferentes etnias (gregos, gentios, pagãos e estrangeiros) foi Paulo. Esse empenho de Paulo se dá dentro do Império Romano, adverso ao cristianismo, mas que aceitava a “liberdade grega” na sua dimensão cultural. Os cidadãos gregos de Corinto, Filipos, os tessalonicenses, os efésios e os atenienses se orgulhavam dessa li-berdade cultural, mas Paulo, com o seu grupo, foi mostrando que essa liberdade era falsa, porque uns poucos privilegiados a usufruíam, enquanto os cidadãos escravizados eram dela alijados (p. 31).

Paulo colocou-se como missionário entre os helenistas, para tanto, viajou pela Ásia Menor e chegou até a Europa. Identificou-se, desde o início de seu trabalho missionário, com o Cristo ressuscitado, por isso é que ele vai afirmar “eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (Gl. 2,20); “para mim, de fato, o viver é Cristo” (Fl. 1,21) (p. 36).

Paulo teve uma postura de fidelidade aos ensinamentos de Jesus Cristo. Ele e seu gru-po desenvolviam o trabalho evangelizador de forma itinerante. Opondo-se ao escravagismo e ao patriarcalismo, Paulo abriu-se aos estrangeiros (étnicos), às mulheres e aos escravos e apresentou-lhes a novidade transformadora da Boa Nova.

Essa postura dele é contrária a de outro grupo – os judaizantes ao qual Ferreira prefere chamar de missionários judeus cristãos. Esses eram cristãos, mas defendiam os ensinamentos judaicos relativos às leis da pureza, da circuncisão, da obser-vância do sábado e a outras.

Ferreira perscruta algumas cartas de Paulo, para mostrar como este era conhecedor da marginalização feminina no ambiente judaico patriarcalista e endrocêntrico, o qual colocava o homem no centro das decisões. Para mostrar também como Paulo foi relativizando os padrões de comportamentos impostos e questionando as instituições que sustentavam o patriarcalismo.

Para exemplificar essa atitude paulina, Ferreira aponta a carta aos Romanos, na qual são citados os nomes de várias mulheres: em Rm. 16,1-2, Paulo refere-se a Febe; em Rm 16,3-5, saúda Priscila, mulher de Áquila; em Rm. 16,6, falou de Maria; em Rm. 16,7, lembrou de Júnia; adiante no versículo 12, saúda Trifena, Trifosa e Pérside; no versículo 13, refere-se à mãe de Rufo e, em Rm. 16,15, recorda-se de Júlia. Na carta para Filemon, Paulo dirige-se à Ápia. Na epístola aos filipenses, Paulo dirige-se à Evódia e Sintigue.

Pode-se então dizer que Paulo está atento aos testemunhos das mulheres e que a pre-sença delas gera esperanças e um novo alento para as comunidades cristãs. No final da carta aos filipenses, capítulo 4, Paulo reforça que os homens e as mulheres cristãs devem estar profundamente comprometidos com o trabalho de evangelização e que a alegria cristã se baseia na salvação obtida por Cristo.

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O livro nos coloca diante dos diversos grupos que iniciaram a atividade missionária, das testemunhas que acreditaram no anúncio do evangelho de Jesus Cristo. Ferreira procura mostrar o roteiro de evangelização desses vários grupos e, ainda, que muitos deles, sem se conhecerem ou saberem da existência dos outros, conseguiram elaborar, vivenciar e celebrar a vida cristã. O autor con-segue gestar um trabalho descritivo das ações dos diversos grupos liderados pelos apóstolos e, mais tarde, por Paulo, de forma a evidenciar como esses testemunhos provocaram o surgimento da grande novidade – que tende a transformar pessoas, relações e estruturas da sociedade – a fé em Jesus Cristo ressuscitado.

No plano da fé, podemos encontrar no livro a ação do Espírito Santo prometido, que fez nascer as diversas comunidades cristãs e as impulsionou para o testemunho aberto e corajoso do nome de Jesus Cristo, isto é, para anunciar a palavra e a ação libertadora de Jesus.

A partir do capítulo 10, Ferreira mostra o que é a fonte quelle, cujos textos vão dar origem aos evangelhos sinóticos, isto é, textos que são comuns aos atuais evangelhos de Mateus e Lucas. Em seguida, dedica-se a explicar, de forma objetiva os evangelhos de Marcos e Mateus, no início do cristianismo. De forma agra-dável e bem elaborada ele mostra o que Mateus, Marcos e Lucas escreveram, destacando, em cada evangelho o programa de Jesus, as estruturas teológicas e literárias utilizadas pelos evangelistas.

Para situar a pessoa e a ação de Jesus, Ferreira apresenta resumidamente a prática do Império (Roma) e do Templo (Jerusalém). Examinando os aspectos: econô-mico, político, social, teológico, ideológico, religioso, militar e cultural dos diferentes grupos de então (saduceus, fariseus, batistas, zelotas, essênios e o povo geral), o autor nos mostra como se dava a formação das classes sociais naquele contexto, suas relações com os romanos e a visão que cada um desses grupos tinha sobre Deus e a vinda do Messias. Para contrapor a esse projeto social, Ferreira descreve a prática de Jesus e das comunidades, examinando os aspectos econômico, político, social, ideológico e religioso presentes nessas comunidades, para os dar a compreensão de como foi formando o cristianismo.

Concluindo seu trabalho, Ferreira descreve o evangelho de João, que é diferente dos três primeiros. Na sua narrativa, João procura mostrar que Jesus é o enviado de Deus, e que ele revelou o amor e a vontade do Pai para com a humanidade. O último capítulo é dedicado aos cristãos apocalípticos. Ferreira demonstra que, para compreender o universo literário usado no livro do apocalipse (da Apocalíptica), é necessário compreender que ele é composto por textos escritos em tempo de perseguição (p. 136). É o livro sagrado que procura revelar o mistério do que está acontecendo naquela época e do que vai acontecer. Assim, o projeto do apocalipse é o projeto da igreja perseguida, ele é o livro escrito para alimentar

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a fé e fortalecer a esperança do povo oprimido. De sua leitura depreende-se que o julgamento definitivo do mundo realiza-se através do seguimento e do testemunho de Jesus, o Cordeiro imolado (Ap. 5,12).

João de Oliveira SouzaTeólogo. Mestre em Educação. Professor no

Departamento de Filosofia e Teologia da PUC Goiás.

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SOFIATI, Flávio Munhoz. Juventude Católica – o novo discurso da teologia da liber-tação. São Carlos: Edufscar, 2012.

A afirmação inicial de que a Juventude Católica é possuidora do novo discurso da Teologia da Libertação só é compreensível para quem se adentrar na pesquisa realizada pelo sociólogo Flávio Sofiati. A presença dos jovens nos espaços religiosos têm crescido nos últimos anos de maneira notável. Não há como negar que a igreja é um dos espaços de maior referência para a socialização da juventude. As pesquisas já vêm apontando que esta instituição é a terceira mais confiável por parte dos jovens ficando atrás somente da família e da educação. Para garantir essa fatia dos fiéis as igrejas têm buscado se adequar para oferta dos serviços da fé com a cara e a dinamicidade juvenil.

Frente às inúmeras ofertas para a juventude a fé tornou-se mais um espaço de disputa deste seguimento, tanto que mobiliza diferentes expressões massivas de cunho espiritualista, para a garantia de sucesso e uma acomodação dos medos, da busca de segurança ou da afirmação de valores morais. Essas são características das novas configurações da fé na contemporaneidade.

Neste entendimento Flávio Munhoz Sofiati em sua dissertação de mestrado na Universi-dade Federal de São Carlos em seus estudos de sociologia fez a observação do comportamento juvenil no campo religioso, e com elas vêm oferecer elementos para melhor compreender esse fenômeno da nova onda juvenil no espaço sa-grado. Em seu papel de sociólogo buscou mediações para clarear como se dão os sistemas de relações juvenis no espaço sagrado no contexto contemporâneo.

No livro Juventude Católica – o novo discurso da Teologia da Libertação, Flávio Munhoz Sofiati apresenta a trajetória da socialização da juventude católica na Pastoral da Juventude do Brasil. Em sua pesquisa Sofiati revela de que maneira a ação desta organização traduz a Teologia da Libertação como um discurso construído, assimilado e assumido pelos jovens que passaram pelo processo de formação desta pastoral. Afirmação essa que aos ouvidos da atual hierarquia da igreja brasileira pode parecer uma provocação. Para percorrer essa experiência o autor bebeu na fonte histórica da organização juvenil, mas também revelou parte de sua experiência pessoal neste seguimento.

O autor parte da ideia de que a ação católica foi o berço esquerdo da Igreja Católica no Brasil. Sua tese vai ser apresentada no livro via retomada da história da presença juvenil na Pastoral da Juventude. Sabe-se que a igreja católica brasileira sempre teve uma atuação com a juventude, inicialmente a presença desta categoria se deu nas escolas católicas mantidas pelas congregações que tinham em seu carisma a opção pelos jovens.

Sofiati recupera a presença dos jovens a partir da Ação Católica Geral que vai marcar o modelo de evangelização dos jovens, pois buscava uma nova forma de en-

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gajamento social dos cristãos leigos/as na sociedade em busca da participação nos diferentes ambientes. Fruto dessa experiência surge a Ação Católica Espe-cializada, chamada conforme o ambiente: Juventude Agrária Católica – JAC, Juventude Estudantil Católica – JEC, Juventude Independente Católica – JIC, – Juventude Operária Católica – JOC e Juventude Universitária Católica – JUC, que terá forte presença na sociedade brasileira até por volta do início dos anos 70. Como demonstra o autor a Ação Católica Especializada possibilitou que os cristãos leigos/as buscarem uma de mudanças e novos posicionamentos dos religiosos diante das desigualdades sociais do país.

Esse movimento foi responsável pela tomada de posição dos cristãos diante das questões da realidade social e cultural, com uma nova pedagogia centrada no testemunho e na metodologia indutiva do ver-julgar e agir, com objetivo de promoção dos ambientes de atuação para a transformação social. Trazendo ao mesmo tempo novas propostas no seu jeito de participar e lutar pela cidadania, de maneira a criar condições de vida e transformações das estruturas sociais, que trouxe uma nova revisão do papel da igreja na história, dando destaque à inserção dos católicos no mundo, e o encontro da igreja com a sociedade e com o desejo de empenhar-se para a transformação das estruturas que promoviam a injustiça.

A trajetória da Ação Católica possibilitou a formação de lideranças com atuação na pers-pectiva social de inserção dos cristãos na realidade. Foi uma mudança de ethos religioso, pois propôs uma nova leitura do que é ser cristão, por isso foram cha-mados de católicos radicais ou de esquerda. Durante o regime militar os grupos da Ação Católica foram alvo de grande perseguição. Assim foi necessário a mudanças de estratégias da organização juvenil, surgindo dai os chamados Movimentos de Encontros que têm como metodologia o impacto emocional.

São esses movimentos que vão preparar o terreno para o surgimento da Pastoral de Juventude nos anos de 1980. A PJ assim chamada pelos jovens vai surgir da ne-cessidade de organização dos jovens em diferentes níveis: paroquial, diocesano, regional e nacional. Os jovens articulados nesta pastoral buscam uma evangeli-zação mais pautada nas dimensões da pessoa como um todo. Essa perspectiva se junta a dinâmica de uma formação processual integral que educa na fé.

As Pastorais da Juventude – PJs, se constituiram nos anos 80 e 90 como a principal ação organizada dos jovens na igreja católica. O autor em seu levantamento possibi-lita a percepção desta articulação e organização em âmbito nacional tendo sua representação maior na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil através do Setor Juventude. Na sua organização encontram-se quatro pastorais: Pastoral da Juventude, Pastoral da Juventude Estudantil, Pastoral da Juventude Rural e Pastoral da Juventude do Meio Popular. Tendo como principal mote “jovens evangelizando outros Jovens”, ou seja atuarna própria Igreja e nos movimentos sociais visando a transformação da sociedade em todo o Brasil. Sua articulação

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principal se da através de pequenos grupos de jovens e por meios específicos, com coordenações em nas instâncias organizativas católica conforme citadas acima.

A Pastoral da Juventude como apresenta o livro estabeleceu cinco opções pedagógicas que têm orientado a sua ação: a formação integral, o grupo, as pastorais especí-ficas, a organização, a assessoria e o acompanhamento. Aqui merece destaque a Formação Integral, que prioriza o desenvolvimento de um processo de vivência grupal: psico-afetiva, social, política, mística e técnica.

A finalidade é possibilitar que os jovens façam a descoberta da comunidade, da socie-dade, da militância e do projeto de vida ou vocacional. A sua evangelização teve como meta desenvolver-se em meios e ambientes próprios em que estão os jovens: escolas, universidades, lugares de trabalho, comunidades indíge-nas, comunidades rurais ou urbanas, jovens em situações de migração ou de marginalização. Essas opções pedagógicas fazem parte da proposta educativa da pastoral, que tem por meta ser uma ação experiencial, transformadora e libertadora. Suas ações são planejadas a partir de linhas de ação explicitadas nos “Planos Trienais”, elaborados nas assembleias.

As pastorais sociais entre elas as Pastorais de Juventude foi um modo de expressar o discurso juvenil para uma igreja da libertação, na busca de responder o seria Boa Notícia e libertação para os jovens? As Pastorais de Juventude segundo Sofiati sofreu forte influência das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, e dos movimentos socais e da participação popular e que assim esse seja seu maior legado pois consegue fazer uma síntese dos aprendizados bíblico/litúrgico com os aspectos das reinvindicações pela cidadania, políticas publicas e os direitos humanos. O seu chamado “Processo de Educação na Fé”, formou e preparou lideranças marcada por uma opção pedagógica e metodologia onde os valores cristão foram inspiradores para a presença na sociedade a partir dos/as jovens e dos/das empobrecidos/as, que para Michael Lowyfez da PJ uma das manifesta-ções do cristianismo de libertação ou também chamada Teologia da Libertação.

Como disse o autor a Teologia da Libertação tem como perspectiva interpretar a realidade latino-americana a luz do evangelho, utilizando termos e conceitos materialista, além de fazer a “opção pelos pobres, sendo uma escolha política da presença cristã marcada, sobretudo pela noção de classe. Esses seriam segundo Sofiati aspectos do novo discurso da Teologia da Libertação, em que a percepção de uma maior inserção da igreja na realidade sofrida do povo.

A teologia da Libertação foi à atualização da doutrina social da igreja, marcando forte-mente a maneira da juventude fazer as reflexões e a experiência de leitura da bíblia em meio ao processo de injustiça sofrida pelas juventudes. Essa perspec-tiva gerou causase o desejo de uma teologia com compromisso libertador na realidade, para a construção de uma sociedade justa e fraterna, na qual todos possam viver com dignidade e ser agentes de seu próprio destino.

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Assim a pesquisa reconhece nos jovens novas forma de atualizar a teologia da libertação presente no compromisso juvenil na realidade como condição para acabar com a injustiça e construir a sociedade nova sem opressão, exploração.

Esse discurso é assumido pelos jovens das Pastorais da Juventude que não estão satisfei-tos com o atual modelo de igreja e sociedade a que pertencem, pois querem um mundo mais próximo do modelo apresentado pela visão cristã. Eles/as assumem em esse discurso pois se sentem agentes de mudança. O que sustenta seus dis-cursos são as experiências vivenciadas nos grupos, lhes possibilita adquirirem as habilidades e valores necessários para construírem uma outra sociedade a partir da presença, do engajamento, e do compromisso.

No entanto como demostra Sofiati as Pastorais da Juventude sabem que atualmente são uma pequena célula dentro da imensidão dos fiéis da Igreja Católica no Brasil e, que por isso enfrentam inúmeras dificuldades com a hierarquia (bis-pos, padres) e movimentos, por falta de estratégias de diálogo, comunicação e pela linha de pastoral pela qual as PJs fazem opção. Na atual conjuntura eclesial possuem poucos quadros de acompanhantes, revelando uma ausência de planejamento para ampliar suas bases.

Podemos perceber assim que a Teologia da Libertação impulsionou os/as jovens das PJs a aprofundarem sua prática dentro da resistência alimentada pela espiri-tualidade do testemunho martirial na busca de formar sujeitos concretos que se definem pela sua condição de classe, gênero, raça, credo, cultura, interação com a história, com a natureza.

Lourival Rodrigues da SilvaMestre em Ciências da Religião pela PUC Goiás.

Coordenador da Pós-Graduação Juventude no MundoContemporâneo (PUC/CAJU) e do Programa de Pesquisa da Casa da Juventude

Pe. Burnier, em Goiânia. Trabalha com juventude,políticas públicas e planejamento. E-mail: [email protected]

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BARTOLOMÉ RUIZ, Castor. Os paradoxos do imaginário. São Leopoldo: Unisinos, 2004.

Bartolomé Ruiz possui doutorado em Filosofia - Universidade de Deusto, Bilbao (1999), Pós-Doutorado em Filosofia - Instituto de Filosofia do Consejo Superior de Investigaciones Científicas da Espanha (CSIC, 2006), Mestrado em História - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 1995), Pós-Graduação Latu Sensu em História - Faculdades Ipiranga SP (FAI, 1992), Graduação em Filosofia - Faculdades Ipiranga-SP (FAI, 1990), Graduação em Filosofia - Uni-versidade de Comillas, Madri, 1984. Atualmente é Professor Titular (PT) no Programa de Pós-Graduação-Filosofia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Coordenador da Cátedra Unesco de Direitos Humanos, Secretário da Associação Ibero Americana de Filosofia Política (AIFP), Coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPq, “Ética, biopolítica e alteridade”.

Entre suas obras mais recentes estão: Justicia, estados de excepción y memoria. Por una justicia anamnética de las vícitmas. Bogotá: Universidad Rosario, 2011; Direito à justiça, memória e reparação: a condição humana nos estados de exceção. São Leopoldo: Casa Leiria, 2010; Justiça e memória. Por uma crítica ética da violência. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2009; Os Paradoxos do Imaginário, São Leopoldo: Unisinos, 2003, dentre outras.

O livro Paradoxos do Imaginário é uma publicação com 263 páginas, bem escritas e distribuídas em três capítulos. Para desenvolver a temática, o autor perpassa o seguinte traçado metodológico: no capítulo I situa o leitor sobre o imaginário, no capítulo II trata da implicação simbólica do imaginário e no capítulo III, e último, Ruiz aborda o simbolismo e a linguagem.

O Autor menciona na sua introdução que esse trabalho é resultado de um longo processo de insatisfação com as posturas clássicas que buscam na racionalidade o segredo último da realidade. Essa insatisfação também não “se resolve com a diluição da razão, com sua negação ou com o mero apelo a dimensões metarracionais ou simplesmente irracionais, como algumas posições pós-modernas defendem (p. 13)”. Ruiz menciona que o ser humano é por natureza criativo e que seu grande desafio é recriar a natureza a partir de si mesmo, no intuito de não pro-curar uma explicação racional para a natureza e sim entender de modo criativo como convivemos com ela, “o mundo adquire nossas feições na medida em que não permanece como algo determinado por uma racionalidade natural (p. 14)”. Enfim, o objetivo da obra é debater “a racionalidade desde a perspectiva do imaginário e suas implicações simbólicas (p. 26)”.

No capítulo I, intitulado o Imaginário, o autor faz “uma intromissão nos terrenos da ontologia com o objetivo de debater as visões deterministas da pessoa e do mundo que formularam a submissão racional do humano às verdades e deter-minações pré-estabelecidos (p. 14). Diante disso o imaginário “ se remete a um sem fundo humano criador que se expressa de modo simbo-lógico. Um sem

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fundo humano que não se explica de modo absoluto, já que se implica sempre de modo criativo em tudo que realiza (p. 15)”. Portanto:

O imaginário é a nossa sombra, companheira fiel dos nossos afazeres. Sombra inseparável que projeta a imagem inapreensível do que somos. Está presente e é inatingível. Quando tentamos abraçá-la, ela se transporta para além da nossa própria vontade. Assombra-nos com sua male-abilidade e persistência” (p. 81).

O imaginário origina-se na fratura humana, sendo um atalho – a psiqué, pois é através do imaginário que se remete aos arquétipos, ou seja, se dá a partir das represen-tações. Ele nos permite a religação e a reconstituição de sentido. No entanto a fissura é real (desejo), já a sutura é simbólica. É através dele que construímos nossa identidade, havendo uma determinação e indeterminação do real.

No segundo capítulo, que versa sobre a implicação simbólica do imaginário, o autor faz um passeio pelos domínios do imaginário e do simbólico, ao encontro do logos e da razão. ”O imaginário e o simbólico habitam o submundo do incom-preensível; para a razão eles estão locados no infra-humano, por isso foram catalogados como instáveis e perturbadores (p. 15).” Portanto o mito para se manifestar precisa do logos, pois o homem é essencialmente mitológico e a racionalidade faz parte do mito. O imaginário ao mesmo tempo que é controlado é controlador. ”As diversas tentativas de submetê-los ao domínio do logos ou de sufocá-lo sob o império da racionalidade frustaram-se (p. 15)”. No simbolismo está imbricado a racionalidade, ou seja, o imaginário e o simbólico fora dessa racionalidade leva o indivíduo ao delírio e consequentemente ao fanatismo. “A compreensão hermenêutica da linguagem sofre uma fecunda inseminação quando a vislumbramos atravessada da dimensão simbólica (p. 15)”. Enfim o símbolo comunica a partir do imaginário, na dimensão do real a representação epifânica do sentido é simbólica, ocasionando a fratura humana – as fissuras.

No terceiro e último capítulo, intitulado “simbolismo e linguagem”, Ruiz destaca que “O imaginário e o simbolismo só podem existir na forma de linguagem. Fora da linguagem só subsistem possibilidades criativas não realizadas (p. 191)”. Não existindo nada humano além da linguagem, “a representação produz o simbó-lico, uma característica intrinsecamente humana. Esta distinção representativa provocou a ruptura do instinto animal para autoconsciência humana (p. 192).” A linguagem é recriação simbólica. “O símbolo está enraizado no ser humano, raiz que perfaz sua identidade e caracteriza sua exclusividade no seio da na-tureza. O simbolismo é criatura singular do humano, mas, em contrapartida, o humano só se constitui como tal por meio de significação simbólica” (p. 199)”. A origem da linguagem está enraizada na fratura humana por meio da qual ex-travasa o poder recriador do imaginário (p. 204). “A linguagem se origina na raiz simbólica do sujeito, mas não se reduz ao subjetivismo (p. 204)”. O autor

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menciona que não poderia concluir sua reflexão sem citar a incidência concreta do logos no imaginário humano, pois, “o símbolo o impregna com um sentido denso, e o logos estrutura e organiza os significados (p. 215. A linguagem per-manece vinculada à sua raiz simbólica. Enfim, “[...] a Linguagem e sentido, forma e conteúdo, símbolo e o logos se urdem e implicam numa indistinção que só pode separar-se numa diferenciação artificial” (p. 261).

Apresentei de forma sintética algumas ideias abordadas pelo autor, por entender que vale a pena fazer a leitura da obra completa. Gostaria de enfatizar sua importância e recomendá-la a todos os estudiosos da temática.

Sandra Célia Coelho Gomes da S. Serra de OliveiraDoutoranda em Ciências da Religião

na Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

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ENDO, Shusaku. O Silêncio. Tradução de Mário Vilela. São Paulo: Planeta do Brasil, 2011.

Chinmoku é o título original dessa obra, traduzido para o português como O silêncio. O autor nasceu em Tóquio, em 1923, faleceu em 1996. Católico praticante publi-cou estudos teológicos, ensaios, peças de teatros e filmes. Depois da segunda guerra mundial, veio para o Ocidente. Na França, acabou sofrendo com a dis-criminação racial, contraiu tuberculose ficou depressivo por encontrar-se doente e discriminado. Acreditando que o cristianismo contribuiu para sua doença, passou a questionar profundamente sua fé cristã. Antes de retornar ao Japão, foi para Palestina para pesquisar sobre a vida de Jesus Cristo. Retornando ao Japão, trazia a certeza da sua vivência religiosa cristã e colocou-se a escrever. Através de suas obras passou a questionar o passado histórico em contraste com o mundo moderno, explorando os conflitos existentes entre Ocidente e Oriente, crença e descrença, fé e razão, tradição e modernidade.

Nesse romance, Endo apresenta um recorte da história do catolicismo no Japão, séc. XVII, quando os cristãos estão sendo perseguidos pelo xogunato Tokugawa Ieyasu. Através da trajetória do jesuíta Sebastião Rodrigues, Endo levanta uma série de questões acerca do cristianismo católico no Japão. Um dos argumentos do autor é que o Japão é uma espécie de pântano que absorve as influências culturais de outros povos, mas que as assimila e as transforma numa nova realidade. Isso leva o cristão japonês a viver uma situação particular porque vivencia sua fé numa total falta de referência cultural.

O Silêncio é o mais importante romance de Shusaku Endo. Publicado pela primeira vez em 1966, no Japão, coloca o cristianismo em discussão. É um romance cujo drama revela os duros acontecimentos religiosos do século XVII. Traz o relato das perseguições, torturas e martírio que os cristãos japoneses sofreram durante o império de Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e depois, por Tokugawa Ieyasu.

Segundo a narrativa, em 1643, chegou ao Japão um grupo de dez missionários europeus, chineses e japoneses. Entre eles estava Giuseppe Chiara – no romance chamado Sebastião Rodrigues – padre italiano jesuíta. Foram capturados e todos apos-tataram por causa das terríveis torturas, muito embora a maior parte deles, ou talvez todos, viesse a renegar a apostasia.

Entre os anos 1570 a 1614 os missionários jesuítas portugueses tiveram posição privi-legiada na corte e puderam desenvolver a obra missionária católica no Japão. Com o governo Tokugawa o Japão tornou-se um país mais fechado para o mundo ocidental para proteger a hegemonia do clã que estava no poder. “Ieasu, desde o início, não se mostrara lá muito amistoso para com o cristianismo, embora tolerasse os missionários por causa do comércio de seda com Macau” (p. 15).

Em 1614, promulgou-se o édito de expulsão dos missionários e a perseguição aos cristãos. Em outubro de 1619, 55 pessoas de todas as idades e de ambos os sexos foram

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queimadas vivas no leito seco do rio Kamo, em Kyoto. Segundo o historiador britânico Charles Ralph Boxer, esse martírio foi testemunhado por 150 mil pessoas, que gritavam “Que Jesus receba suas almas”. Durante o suplício, as vítimas e a população que testemunhava entoavam cânticos e orações; no final de tal sofrimento, a multidão cantou o Te Deum laudamus – A ti Senhor nosso louvor –, hino em ação de graças.

O xogunato Tokugawa percebeu que esse martírio glorioso não contribuiu para alcançar seu objetivo que era exterminar o cristianismo no Japão. Então aprimorou a tortura aos cristãos para fazer os mártires apostatarem. Entre essas torturas, estavam o Ana-tsurushi, o suplício do poço, que logo se tornaria o modo mais eficaz de levar o crente a negar sua fé. A Apostasia chamada de fumi-e, consistia em pisar nas imagens cristãs. Fumi-e significa: pisadas e imagem. Era uma imagem de Jesus ou de Maria a qual as autoridades do xogunato Tokugawa exigiam que os cristãos a pisassem para provar que era um apóstata. Endo narra como era o suplício do poço.

A vítima era toda amarrada, bem apertado, até a altura do peito (uma das mãos ficava livre para que pudesse dar o sinal de abjuração). Depois, num patíbulo, era pendurada de cabeça para baixo dentro de um poço que, em geral, continha excremento e outras imundícies. A beira do poço ficava alinhada com os joelhos da vítima. Para dar alguma vazão ao sangue, a testa era cortada de leve, à faca. Alguns dos mártires mais fortes sobreviveram mais de uma semana naquela posição; a maioria, porém, não viveu mais que um ou dois dias (p. 18).

O romance de Endo é escrito em forma de um diário. Para escrever esse romance, o autor utilizou de cartas originais, nas quais os missionários jesuítas e católicos japoneses relatam as torturas e perseguições, mostrando a pujança da fé cristã. A partir de 1629, em Nagasaki, o magistrado Uneme Takenaka “infligia aos cristãos os sofrimentos mais desumanos e atrozes, mergulhando-os em poços de água fervente e instando-os para que renunciassem à fé e mudassem de religião” (p. 34).

Endo foi um homem que observou profundamente os dramas e os conflitos cotidianos do ser humano. Essa preocupação do autor é revelada em O Silêncio de forma tenaz. Pode-se afirmar que a sua fé católica é de alguma forma, refletida nessa obra: seus personagens demonstram uma luta contra os dilemas morais, a dúvida na fé em Deus e o silêncio desse Deus diante dos sofrimentos e das mortes de muitos cristãos.

A obra de Endo não é um romance teológico, mas evidencia a postura dogmática do autor diante da religião católica. Através das renúncias aos aspectos materiais da religião de seus personagens, Endo transpõe para seu texto, em várias oca-siões, a compaixão que Cristo teve para com seus algozes e a traição de Judas (p. 121-129) (188-192) (239-242) e mostra o Cristo benevolente, que convida o jesuíta Ferreira a pisar em sua face:

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O padre levanta o pé. Sente nele uma dor surda, pesada. Isto não é mera formalidade. Vai agora pisar naquilo que considera a coisa mais bela desta vida, naquilo que acredita ser a coisa mais pura, naquilo que está repleto dos ideais e sonhos da humanidade. Ah, como lhe dói o pé! E então o Cristo de bronze fala ao padre: ‘Pisa! Pode pisar! Eu, mais do que ninguém, conheço a dor no teu pé. Pisa! Foi para ser pisado pelos homens que nasci neste mundo. Foi para partilhar da dor dos homens que carreguei minha cruz’. O padre pôs o pé na fumi-e. A manhã chegou. E, ao longe, o galo cantou (p. 250).

Concluindo, o tema que Endo desenvolve em seu romance é o conflito entre Oriente e o Ocidente, sobretudo no tocante aos ensinamentos do cristianismo. Para William Johnston (1925-2010), jesuíta da Universidade Sophia de Tóquio, no prefácio da tradução original da obra, O Silêncio expressa o seguinte:

Qualquer um que, no Ocidente, esteja familiarizado com a moderna teologia verá rapidamente que a tese do Sr. Endo é mais universal do que muitos dos leitores japoneses desconfiam. Isso porque, se o cristianismo helenizado não serve no Japão, tampouco serve (segundo a opinião de muitos) no Ocidente moderno; se a noção de Deus precisa ser repensada para o Japão (como este romance enfatiza constantemente), então precisa ser repensada para o Ocidente moderno (p. 24-25).

O prefácio do livro traduzido para o inglês é escrito pelo cineasta Martin Scorsese, que tem o projeto de transformar o romance O Silêncio numa produção cinematográfica.

João Oliveira SouzaTeólogo. Mestre em Educação. Professor no Departamento de Filosofia e

Teologia da PUC Goiás.