revista arte brasileiro

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  • 7/25/2019 Revista Arte Brasileiro

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    ESPECIAL BERLIM

    ARTE! ...2

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    4

    Aps a iniciativa da edio do EspecialARTE!Brasileiros

    BrasilFrana, recebemos inmeras manifestaes de

    aprovao, sugestes para ajustes e mudanas, o que

    nos leva a pensar que h sim um espao para se acercar

    mais, discutir e apreciar a arte no Brasil e no mundo.Queremos fazer da ARTE!Brasileiros um espao para

    acompanhar uma expresso do ser humano que sem-

    pre foi controvertida. Artistas morreram de fome, cor-

    taram suas orelhas e, muitos deles, foram incensados

    anos depois, transformando-se em cones de museus e

    galerias. Outros, que tiveram sucesso de mercado, fo-

    ram ou so execrados pela crtica. Alguns conseguem

    sobreviver ao tempo.

    Por qu? O que faz com que a arte provoque reaes

    to viscerais?

    A ARTE! no mensurvel. No h na arte a imediata

    possibilidade de medir se isto ou aquilo legal. Lindoou feio. Se vale, e quanto.

    ARTE!Brasileiros vai mergulhar no que acontece no

    mundo das artes, trazendo bimestralmente a experin-

    cia de renomados colaboradores e especialistas, que

    refletem sobre esses aspectos, para podermos, conhe-

    cer mais. Para termos acesso informao mais rica e

    apurada. Para sermos menos pobres.

    Foram nossos colaboradores nesta edio, Tereza de

    Arrudacuradora e crtica de arte, mestre pela Universi-

    dade Livre de Berlim. Participa do cenrio internacional

    da arte, colaborou com projetos na Galeria Vermelho

    (SP), Galerie DNA (Berlim), TactileBosch (Cardiff), ChinaBlue Gallery (Pequim) e foi curadora das exposies

    China: Construo/Desconstruoe O convvio social

    aos olhos de Tatsumi Orimoto. Fabio Magalhes, mu-

    selogo e crtico de arte, ex-diretor da Pinacoteca do

    Estado de So Paulo e do Masp. Integra os conselhos

    da Fundao Padre Anchieta e da Fundao Bienal de So

    Paulo, entre outros, e membro da Associao Brasileira

    de Crticos de Arte (ABCA) e do Icomus/Unesco. Marco

    Aurlio Jafet formado em administrao pela FGV de

    So Paulo, com ttulo de M.F.A. (Master in Fine Arts)

    pela Columbia University, de Nova York. Sonia Guarita

    do Amaral, museloga, participa do Comit de Ao

    Cultural e Educao do Conselho Internacional de Mu-

    seus Icom/Unesco.Tuca Vieira, fotgrafo profissional

    desde 1991. Fez parte da equipe de fotografia do jornal

    Folha de S. Paulode 2002 a 2009. Formou-se em letras

    pela USP. Atualmente mora em Berlim.

    Patricia Rousseaux

    A Revista Mensal de Reportagens

    BRASILEIROS EDITORA LTDA.

    Diretor Responsvel Hlio Campos Mello [email protected]

    Diretora de Planejamento Patrcia Rousseaux [email protected]

    Gerente Administrativa Eliane Massae Yamaguishi [email protected]

    Gerente Comercial Pedro Ivo Peixoto Ferreira [email protected]

    Assistente de Circulao e Marketing Gislaine de Oliveira [email protected]

    Assistente de Marketing Isabel Torello

    [email protected]

    Assinaturas e Parcerias Mario Jos da Silva [email protected]

    Estagirio Edson Lopes da SilvaCopeira Irani Estrela Dantas

    Diretor Responsvel Hlio Campos MelloDiretora de Planejamento Patrcia Rousseaux

    Editora Leonor AmaranteCoordenadora editorial Cndida Del Tedesco

    Reprter Helena WolfensonRevisor Srgio Limolli

    Produtora Fotogrfica Magali GiglioFotgrafa Luiza Sigulem

    Chefe de Arte Marcos Magno

    Rua Mourato Coelho, 798 8andar - Pinheiros05417-001 So Paulo SP

    Tel.: (55 11) 3817 [email protected]

    [email protected]

    CONSULTORIA EMPRESARIALCEA, Consultoria Empresarial & Associados

    Luiz Antonio Castro

    CONSULTORIA CONTBIL, FISCAL E TRABALHISTAOliveira & Nogueira Auditoria e Consultoria, Solues

    Contbeis S/C Ltda.

    IMPRESSOIBEP Grfica

    Avenida Alexandre Mackenzie, 61905322-000 Jaguar SP

    DISTRIBUIOFernando Chinaglia Distribuidora S.A.

    Rua Teodoro da Silva, 90720560-900 Vila Isabel RJ

    Cdigo ISSN 1981-559XTiragem: 30.000 exemplares

    A revista Brasileiros uma publicao da Brasileiros Editora Ltda.

    ARTE!

    Sonia Guarita do Amaral

    Marco Aurlio Jafet

    Tereza de Arruda

    Fabio Magalhes

    Tuca Vieira

    Foto:Arquivopessoal

    Foto:Arquivopessoal

    Foto:M.

    Coil

    Foto:Arquivopessoal

    Foto:Arquivopessoal

    A CAPAA arte pode estar mais perto do que imaginamos. Quem anda no metr paulistano, ao

    chegar estao Sumar, introduzido no universo de Alex Flemming, o artista convidado

    para criar a capa desta edio. Com ele iniciamos o projeto: O ARTISTA FAZ A CAPA, em

    que a cada nmero um artista, desde que seja possvel, ser convidado para cri-la. P.R.

    Auditado pela BDO

    ARTE! ...2!

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    o incio dos anos 1980, Berlim Ocidental ainda estava dividida pelo Muro e era

    o local preferido de quem acreditava que a vida uma festa. Era uma cidade

    nica no planeta, uma espcie de Paris dos anos 1950, Califrnia dos anos

    1960 e Nova York dos 1970. Tudo isso misturado com o agito permanente de

    alemes e estrangeiros que foram para l com a fantasia de concretizar toda

    loucura que lhes passasse pela cabea. Hoje a realidade outra. A cidade ainda mantm

    um certo charme do passado, mas com a Queda do Muro, em 4 de novembro de 1989, seu

    lado alternativo, louco, radical est restrito a alguns bairros, como o Mitte e Kreuzberg. No

    entanto, Berlim se agigantou e tornou-se a melhor vitrine das ousadias arquitetnicas dos

    ltimos dez anos.

    Alex Flemming, brasileiro de descendncia alem de quinta gerao, um dos exemplos bem

    acabados de artistas que chegaram l pelo canto da sereia. Mesmo antes de existir um

    circuito de arte pulsante e profissional como o atual, ele j apostara suas fichas, construindo

    uma trajetria singular. Assim como ele, a brasileira Tereza de Arruda se fixou em Berlim h

    mais de 20 anos. Apaixonada pela cidade, ela nos leva a caminhar pelo circuito das artes

    hoje superefervescente que, alm de manter dezenas de galerias, ainda possui uma bienal

    que a cada ano se firma mais e mais e uma feira de arte que j referncia internacional.

    Nas artes plsticas, o Brasil e a Alemanha mantm dilogo constante praticamente desde

    a criao da Bienal de So Paulo, em 1951. Sonia Guarita do Amaral comenta a coleo de

    obras alems que enriquecem o acervo de alguns museus brasileiros.

    Dividindo as atenes com os 20 anos da Queda do Muro de Berlim, o incndio (ainda no

    bem explicado) que destruiu trabalhos de Hlio Oiticica tambm ocupa nossas pginas.

    Calorosos debates de Norte a Sul do Brasil discutem como o Pas deveria cuidar das obras

    de arte de artistas j mortos e fundamentais para sua histria. Ainda em choque, o circuito

    de arte internacional comenta o assunto e espera um final respeitoso, convincente e digno

    de um dos brilhantes artistas que este pas j teve.

    QUEDA DO MURO DE BERLIM20 ANOSpor Leonor Amarante

    Foto:ArquivoTherryNoir

    N

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    AGENDA DESTAQUES

    Escritrio Central

    da Bienal de Cuenca

    De 22 de outubro

    a 4 de dezembro

    Calle Bolvar 12-60 y Juan Montalvo

    Telefone: 593 72 831 778

    www.bienaldecuenca.org

    So Paulo

    De 27 de novembro

    a 22 de dezembro

    De tera a sex ta, das 10 s 19

    horas. Sbado das 11 s 17 horas.

    Domingos e segundas, fechado

    ao pblico.

    Galeria VermelhoRua Minas Gerais, 350 - So Paulo

    Telefone: (011) 3138-1527

    www. galeriavermelho.com.br

    at4dez

    at22dez

    at6dez

    Bienal de Cuenca

    A Bienal de Cuenca chega sua

    dcima edio levando arte para 15

    locais diferentes da pequena cidade

    histrica equatoriana, considerada

    Patrimnio da Humanidade. Com61 artistas vindos de 15 pases, a

    Bienal teve como curador o cubano

    Jos Manuel Noceda, um dos

    integrantes da Bienal de Havana.

    Essa exposio, que uma das raras

    a ainda atribuir prmios, teve como

    jurado Kevin Power, da Inglater ra;

    Julie Herzberg , dos EUA; Leonor

    Amarante, do Brasil; Cristobn

    Hernandez e Maria Carmen Mendoza,

    do Equador. Os artistas vencedores

    deste ano, com US$ 20 mil cada

    um, foram: Magdalena Fernandez,

    da Colmbia; Saidel Brito, de Cuba/

    Equador e o coletivo argentino de

    fotgrafos Sub.

    Sexo, Morangos e Videotape

    O Pao das Artes e o Museu da

    Imagem e do Som, dois espaos

    paulistanos, dividem as atenes

    com as obras pouco convencionais

    da sua Pipilotti Rist. O primeiro

    exibeA Liber ty Statue for London

    (Uma Esttua da Liberdade

    para Londres), pea criada em

    2005, e adaptada pela artista

    especialmente para o museu.

    Enquanto o Pao mostra dez

    trabalhos que do uma panormica

    do universo de Pipilotti.

    So Paulo

    At 6 de dezembro

    De tera a sexta, das 11h30 s 19

    horas. Sbado, domingo e f eriado das

    12h30 s 17h30 horas

    Pao das Artes

    Avenida da Universidade, 1 - Cidade

    UniversitriaTelefone: (011) 3814-4832

    [email protected]

    MIS - Museu da Imagem e do Som

    De tera a sbado, das 12 s 19 horas

    Domingo das 11 s 18 horas

    Av. Europa, 158 - Jd. Europa

    Telefone: (011) 2117-4777

    Free Beer

    A Galeria Vermelho realiza

    a primeira exposio individualno Brasil, do coletivo dinamarqus

    Superflex que polemizou

    a 27aBienal de So Paulo,

    no ano passado. Com a mostra

    Free Beer (www.freebeer.org),

    os artistas Bjrnstjerne Reuter

    Christiansen (1969), Jakob Fenger

    (1968) e Rasmus Nielsen (1969)

    utilizam a frmula clssica de uma

    cerveja que aparece impressa no

    rtulo do produto, para que qualquer

    pessoa possa produzi-la, agregandoelementos distintos receita

    original e criando a sua.

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    7

    So Paulo

    At 20 de dezembro

    De tera a domingo, das 10 s 21 horas

    Museu de Arte Moderna

    Parque do Ibirapuera - Porto 3

    at29nov

    at20dez

    at28fev Da Estrutura ao Tempo

    Depois do incndio na Fundao Hlio Oit icica,

    no Rio de Janeiro, as exposies do artistachamam a ateno. Afinal, isso quer dizer

    que so trabalhos que esto nas mos de

    colecionadores, portanto no disponveis ao

    pblico o tempo todo. Organizada muito antes

    da catstrofe, a mostr a rene trabalhos de

    Oiticica no Instituto de Ar te Contempornea

    (ICA), que comemora seu terceiro ano no

    Maria Antonia. Entre as 18 obras selecionadas

    pelo curador Cau Alves, os des taques so

    os 14 metaesquemas produzidos por Oiticica

    no incio de sua carreira. Esses trabalhos

    so emblemticos da pesquisa de uma novaestrutura espacial desenvolvida por ele.

    Bienal do Mercosul

    Com a curadoria geral da crtica

    argentina Victoria Noorthoorn e do

    artista chileno Camilo Yez, a stimaedio da Bienal do Mercosul, de Por to

    Alegre, traz como tema Grito e Escuta,

    com o qual pretende refletir a cr ise do

    modelo Bienal, por meio das obras de

    100 artistas, sendo que 60% foram feit as

    especialmente para esta edio.

    Tendo ainda como curadore s adjuntos

    os artis tas Roberto Jacoby (Argentina),

    Laura Lima (Brasil) e Artur Lescher

    (Brasil), Mario Navarro (Chile) e

    cocuradora do progr ama Rdio Bienal

    a poeta brasileira Lenora de Barros,

    a edio deste ano inverte os papis:

    em alguns projetos, os artistas ocupam

    o lugar dos curadores. Para conferir essa

    radicalizao.

    Porto Alegre

    De 16 de outubro

    a 29 de novembro

    De tera a domingo, das 9 as 21 horas

    Armazns do Cais do Porto

    Av. Mau, 1.050

    (entrada A3 e A4) - Centro

    Santander Cultural

    Rua Sete de Setembro, 1.028 - Centro

    Museu de Artes do Rio Grande do Sul

    (MARGS)

    Praa da Alfndega, s/n - Centro

    So Paulo

    De 8 de novembro

    at 28 de fevereiro de 2010

    De tera a sbado das 10 s 18 horas

    Domingo das 12 s 17 horas

    Entrada gratuita

    IAC Instituto de Ar te Contempornea

    Endereo: R. Maria Antonia, 242Telefone: (11) 3255-2009

    www.iacbrasil.org.br

    Divulgao

    Para Estrangeiro Participar

    Ao completar 40 anos, o Panorama

    da Arte Brasileiraque uma das mais

    importantes exposies nacionais,

    sob a curadoria de Adriano Pedrosa,radicalizou. Sob o ttulo Mamyguara

    op mam pup,a edio deste

    ano exibe obras de 30 artistas

    estrangeiros.

    Pedrosa optou por exibir artistas

    de fora do Pas, cujas obras so

    influenciadas pela cultura e art e

    brasileiras em lugar de fazer um

    novo mapeamento da produo de

    artistas nacionais. O recorte gerou

    estranhamento, mas funcionou.

    Fotos:Divulgao

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    DESTAQUES POLMICA

    ESTADO DE ALERTAO INCNDIO DO ACERVO DE OITICICA PRODUZ EFEITOS ALTURA DE SUA OBRA:A TOMADA DE CONSCINCIA COLETIVA DE QUE O PATRIMNIO ARTSTICO NO

    PODE SER TRATADO COMO MATRIA SUPRFLUA NA AGENDA POLT ICA

    A PERDA IRREPARVELde parte significativa do acervo

    de Hlio Oiticica que se encontrava sob a tutela da famlia

    do artista no Rio de Janeiro, preservada sob condies

    inadequadas de armazenamento e com seu acesso pbli-

    co limitado, revela uma problemtica mais ampla, comum

    a toda a Amrica Latina e ao Caribe: o descaso pelo valor

    histrico e patrimonial da arte e da sua potncia crtica.

    O alcance de tal problemtica ultrapassa o terreno espe-

    cfico da arte e diz respeito fragilidade do exerccio da

    vida pensante no Continente. Se esta fragilidade tem sua

    origem na prpria histria colonial do Pas, ela se agrava

    com a brutal interrupo que a vida pensante sofreu por

    parte do terrorismo de Estado que tomou conta da regio

    nos anos 1960-70 (o que inclui as ditaduras, mas no se

    reduz a elas). Como acontece com todo trauma coletivo

    deste porte, seus efeitos txicos perduram mesmo aps a

    redemocratizao: a fora disruptiva da arte s comea a

    recuperar flego nos anos 1990.

    Com esta retomada, surge um interesse crescente por

    acervos, arquivos e fundos documentais relativos pro-

    duo artstica daqueles anos no Continente. No entanto,

    so vrios os tipos de fora que se manifestam e se con-

    frontam neste interesse. Por um lado, uma nova gerao

    de artistas, investigadores e curadores latino-americanos

    que se reconecta com esse passado, ressignificando-o e

    ressignificando sua prpria prtica, face aos problemas

    que se colocam na atualidade. Por outro lado, o siste-

    ma da arte que canoniza tais acervos e arquivos e lhes

    atribui prestgio e legitimidade internacional, os destitui

    totalmente de sua potncia potico-poltica. Ou seja, no

    momento em que a memria sensvel de tal potncia ape-

    nas comea a despertar e antes mesmo que o que estava

    nela incubado tenha voltado a germinar, ela novamente

    esterilizada, mas agora com o requinte perverso e sedutor

    do capitalismo cultural, que opera de forma muito mais

    sutil do que os procedimentos grosseiros e explcitos da

    violncia do Estado que imperou anteriormente em nos-

    sos pases. Ao invs de ser interrompido, o exerccio da

    TE XTOSUELY ROLNIKem nome da Rede Conceitualismos do Sul

    A Rede Conceitualismos do Sul/Conceptualismos del Sur, atualmente

    com 46 membros, uma plataforma de trabalho, pensamento e posicio-

    namento coletivo, formada no final de 2007 por pesquisadores e artistas

    de vrios pases da Amrica Latina. http://conceptual.inexistente.net

    Fotos:Reproduo

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    potncia criadora passa, ao contrrio, a ser incentivado e

    celebrado, mas para ser drenado para o mercado.

    Neste contexto, os testemunhos materiais de tais prticas

    convertem-se numa espcie de butim de uma guerra cog-

    nitiva, amplamente disputado por museus, colecionadores

    privados e instituies corporativas que participam do ca-

    pitalismo global de bens imateriais e suas formas atuais de

    produo de valor. Um novo captulo da histria no to

    ps-colonial quanto gostaramos. Participam deste pro-

    cesso herdeiros de art istas que custodiam as obras e seus

    direitos; alguns deles no tm aproximao alguma com a

    arte, a no ser sua relao pessoal com o artista, frequente-

    mente marcada por uma ambivalncia que eles transferem

    para a obra, o que se agrava pelo uso que fazem da mesma

    para fins narcsicos de pertencimento, poder econmico e

    ascenso social. Esses dois fatores reunidos os levam a

    agir nesta disputa de modo arbitrrio, grosseiro, cruel e ir-

    responsvel, dificultando o acesso pblico ao acervo.

    O desaparecimento de um componente nevrlgico desse

    patrimnio da arte contempornea, que a obra artstica

    e terica de Hlio Oiticica constitui incontestavelmente,

    requer uma resposta precisa e conjunta dos pases da

    Amrica Lat ina e do Caribe, que no pode mais ser adiada

    impunemente. preciso reconhecer que os Ministrios da

    Cultura de diversos pases do Continente tm se empenha-

    do nos ltimos anos em iniciativas relativas ao patrimnio,

    inclusive imaterial; no entanto, ainda no se inseriram em

    tais dinmicas os arquivos de arte. O incndio do acervo

    de Oiticica produz efeitos altura de sua obra: a tomada

    de conscincia coletiva de que o patrimnio artstico no

    UM DOS MAIS CONHECIDOS TRABALHOS DE OITICICA, TROPICLIA, TORNOU-SE UMA ESPCIE DEBANDEIRA DA VIDA LIBERTRIA. ACIMA GLASS BLIDE, EM HOMENAGEM A MONDRIAN, 1965.

    E UM DE SEUS COLORIDOS PENETRVEIS

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    DESTAQUES POLMICA

    pode ser tratado como matria suprflua na agenda pol-

    tica. A conservao e a dinamizao crtica desse tipo de

    patrimnio no devem, porm, entender-se exclusivamen-

    te como obrigaes estatais; imprime-se a necessidade

    de fortalecer instncias dialgicas e cooperativas tanto

    em nvel nacional (entre a comunidade artstica, as ins-

    tituies estatais vinculadas arte e a sociedade civil),

    quanto em nvel internacional (entre iniciativas de mesma

    natureza nos diferentes pases do Continente). Uma coo-

    perao que se deve estender a instituies internacio-

    nais interessadas em articular polticas que contribuam

    para descolonizar o trnsito dos patrimnios materiais e

    imateriais, por um lado, e para reinventar os regimes glo-

    bais de propriedade intelectual, por outro.

    Intervenes incisivas neste estado de coisas teriam entre

    suas prioridades os seguintes objetivos:

    Incentivar e apoiar a investigao, o mapeamento, a di-

    vulgao e a preservao dos acervos e fundos docu-

    mentais existentes (enfatizando que estas so atividades

    polticas e no meramente acadmicas, tcnicas e/ou

    profissionais).

    Pensar metodologias especficas de preservao e aces-

    so para o tipo de prticas artsticas aqui focadas, as

    quais, com diferentes meios e poticas, vm se fazen-

    do desde os anos 1960. Tais prticas no se reduzem

    ao objeto, mas envolvem a experincia como condio

    de sua realizao, o que implica que elas no possam

    ser alcanadas apenas por meio dos objetos utilizados

    em suas aes e/ou dos documentos que restaram das

    mesmas: faz-se necessrio inventar dispositivos de re-

    ativao e registro da memria das sensaes que tais

    prticas propiciaram, bem como do contexto cultural

    onde tiveram suas condies de possibilidade. Esta

    deveria ser uma preocupao no restauro do acervo de

    Hlio Oiticica danificado pelo incndio.

    Estudar as condies polticas, jurdicas e culturais

    para um projeto de lei baseado na corresponsabilidade

    do Estado e da sociedade civil, que permita comparti-

    lhar o cuidado e a tomada de decises acerca da aqui-

    sio, preservao e disponibilizao pblica e gratuita

    AO LADO HLIO OITICICA DURANTE APERFORMANCE MITOS E VADIOSQUE

    REUNIU ARTISTAS QUE FICARAM FORA DA

    BIENAL DE SO PAULO DE 1978. ABAIXO,

    UMA DE SUAS EXPOSIES COM OSBLIDESCRIADOS ENTRE 1963 E 1969

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    11

    dos acervos. Isto inclui o estudo de mecanismos de

    gesto e financiamento.

    Estudar as condies polticas, jurdicas e culturais para

    um projeto de lei que regulamente o trnsito e a comer-

    cializao de documentos, obras, registros e pesquisas,

    sobretudo para fora de seu pas de origem, o que inclui

    a delimitao dos direitos dos herdeiros. fato not-

    rio que muitos dos acervos e fundos documentais mais

    relevantes da arte latino-americana tm sido vendidos

    nos ltimos anos para museus e fundaes estrangeiras,

    sem que se tenham antes estabelecido critrios para

    avaliar a pertinncia de sua sada do pas de origem.

    Esta lamentvel situao resulta da ausncia de condi-

    es institucionais adequadas para a manuteno dos

    acervos nos respectivos pases.

    Estudar uma poltica de gesto de museus e seus res-

    pectivos acervos que responda aos problemas aqui evo-

    cados, integrada ao esforo de enfrentamento do atual es-

    tado de coisas no campo mais amplo da arte e da cultura.

    Fomentar a digitalizao dos arquivos de arte como

    estratgia para impedir a perda dos documentos por

    deteriorao ou por acidentes inesperados e facilitar

    sua acessibilidade.

    Estes seriam apenas gestos iniciais na formao de uma

    outra atitude relativa aos arquivos de arte. Gestos, po-

    rm, indispensveis se quisermos reverter os processos

    que resultam na neutralizao das prticas artsticas e,at mesmo, no desaparecimento concreto e irreversvel

    de seus rastros, tal como o que lamentavelmente acaba-

    mos de viver no Brasil.

    HLIO OIT ICICA NUM RARO MOMENTO DE DESCONTRAO EM SEU ATELI. ACIMA E AO LADO,

    OS FAMOSOS PARANGOLSQUE ERAM NADA MENOS DO QUE ARTE PARA VEST IR E SAIR.NOCENTRO, UM DE SEUS RELEVOSDA DCADA DE 1960, ESCULTURAS QUE FAZEM PARTE DOMOVIMENTO NEOCONCRETISTA, DO QUAL ELE FOI UM DOS FUNDADORES

    CONCEPTUALISMOS DEL SUR/SULorganizaco: Cristina Freire e Ana Longoni

    O livro resssalta que as dcadasde 1960 e 70 tm sido revisitadaspela histria e pela crtica de artecontempornea

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    DESTAQUELEILO

    O MERCADO QUE ENSINAA EXPOSIO PAPIS EM DESTAQUEEXPLICA COMO O DESENHO DEIXOUDE SER A BASE PARA O TRABALHO COM LEO E PASSOU A TER VIDA PRPRIA

    TE XTOMARCO AURLIO JAFET

    EM 24 DE OUTUBRO,a Bolsa de Arte do Rio de Janei-

    ro, sob a idealizao e organizao de Thiago Gomide,

    levou a leilo 223 lotes entre arte contempornea,

    fotografias, mveis e objetos de designers famosos e

    tambm street art, dos quais mais de 78% foram ven-

    didos. A arte contempornea colaborou com 83,68%

    desse total, seguida pelos 14,18% dos itens de de-

    sign e 2,14% da street art.

    No total, foram movimentados quase R$ 4 milhes naque-la tarde de sbado, por uma plateia acima de 40 anos,

    diversificada em estilos e que lotava as 220 cadeiras. Es-

    tavam l: Vnia Toledo, Edgar de Souza, Roberto Muylaert,

    Luisa Strina, Ricardo Boechat, Joo Pedrosa, Charl Wha-

    tely, Arnaldo Jabor, entre tantos outros de igual brilho.

    Cabe ressaltar que dentro de cada categoria de arte con-

    tempornea foram arrematados 82,27%; design, 81,25%;

    street art, 78,48% de seus respectivos totais.

    O tom pitoresco ficou por conta de obras retratando o pre-sidente Lula, que causaram constrangimento ao leiloeiro,

    mas arrancaram gargalhadas da plateia quando a pergunta

    soou no salo: Quanto me d por Lulinha paz e amor?.

    Ficou difcil cobrir o preo de base na frente da plateia.

    Os destaques foram as obras: Reversal Black Marilyn, da

    srie Pictures of Diamond Dust, de Vick Muniz, que foi ar-

    rematada por R$ 161 mil; Metros 1, de Cildo Meireles,

    vendido por R$ 140 mil; e as duas obras no arrematadas

    de Janaina Tschpe, cujo trabalho tem sido bem cotado

    Foto:Reproduo

    em Nova York. O pblico que superlotou a sala de leilo

    tambm ocupou as cadeiras do lado de fora, que at po-

    deria ser uma rea para os minguados fumantes presen-

    tes. No mais, gua mineral e cafezinho vontade. Sinal

    dos tempos.

    A COLABORAOentre a Galeria Millan e a Bolsa de Arte

    do Rio de Janeiro, nas figuras de seus representantes Andr

    Millan e Thiago Gomide, rendeu no s uma excepcional

    oportunidade para a compra de trabalhos dos mais reno-mados artistas plsticos contemporneos de vanguarda,

    quanto uma soma considervel para o beneficiado.

    Com mais de 65% das obras vendidas, somando um total

    de quase R$ 300 mil, foram a leilo em 5 de outubro, na

    sala de leiles da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, em So

    Paulo, obras doadas pelos prprios artistas representa-

    dos pelas galerias: Forte Vilaa, Luciana Brito, Luisa Stri-

    na, Vermelho e Millan. Participaram tambm os artistas

    Bob Wolfenson, Carlito Carvalhosa e Lenora de Barros.

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    ARTE CONTEMPORNEA SOB MARTELOEM OUTUBRO, OBRAS FUNDAMENTAIS DE ARTISTAS BRASILEIROS FORAM A LEILOEM DOIS EVENTOS QUE MOVIMENTARAM O CIRCUITO DE ARTE DE SO PAULO

    F o t o s : D i v u l g a o

    A FUNO EDUCATIVAdo Estado que, no caso das artes

    visuais, exercida por museus, centros culturais e afins,

    tem sido um instrumento poderoso como ferramenta

    de comunicao utilizada por agentes do mercado para

    atrair a mdia, visitantes e novos compradores e alavan-

    car vendas, ao mesmo tempo que ensina, esclarece eilustra seus clientes.

    As galerias de arte, que atuam no mercado secundrio nas

    revendas sucessivas de obras de arte, perceberam que no

    basta mostrar as obras venda em um cubo branco.

    necessrio contextualiz-los, mostrar sua importncia, sin-

    gularidades e semelhanas, falar dos aspectos tcnicos e

    histricos que envolvem o artista sua obra e seu tempo.

    A educao tem sido a palavra de ordem para o sculo

    XXI, na esperana de um Brasil melhor e a iniciativa priva-da tem visto na educao de seu prprio pblico uma boa

    estratgia de marketing, cujos benefcios vo muito alm

    da alavancagem de vendas, trazendo o prestgio ao perfil

    corporativo da empresa. Um bom exemplo o da Galeria

    Pinakotheke do carioca Max Perlingeiro, que tem produzido

    exposies dignas de museu, com visitas monitoradas de

    escolas da rede pblica e viagens para vrias capitais.

    Com esse mesmo esprito, a Dan Galeria abre, de 5 de

    novembro a 12 de dezembro, a exposio Papis em

    Destaque, com texto de apresentao de Maria Alice

    Milliet que nos explica como o desenho deixou de ser a

    base para o trabalho com leo e passou a ter vida pr-

    pria como produto final da criao de um artista, e nos

    avisa que se pode adquirir uma tela em vez de um bom

    desenho. So 19 artistas com produo no sculo XX emuito desenhos, todos venda. como se fssemos ao

    museu e levssemos a obra mais apreciada para casa.

    Divirta-se!

    DESTAQUE MERCADO

    Yolanda Mohalyi,

    Vila com casas

    Lasar Segall, Natureza morta com xcara de caf, 1914

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    ARTE BERLIM

    Paisagem de uma Berlim ainda dividida,tendo o Muro como vlvula de escape para asdemocrticas manifestaes artsticas

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    AVENTURAS E DESVENTURASPS-GUERRA FRIA

    TE XTOTEREZA DE ARRUDA

    EM 9 DE NOVEMBRO DE 1989 S 20H30, HEINZ SCHFER, OFICIALSUPERIOR DAS TROPAS DE FRONTEIRAS, D A ORDEM: ABRAM!DEIXEM PASSAR!. A DECISO NO FOI SUA E SIM DE SUPERIORES DO

    GOVERNO DA AT ENTO REPBLICA DEMOCRTICA ALEM

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    ARTE BERLIM

    A PARTIR DE 1961, O MURO DE BERLIM PASSOUDO MUNDO CONTEMPORNEO COM SEUS

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    17Porto de Brandemburgo, obra de Alex Flemming

    A SER UMA DAS MAIS BIZARRAS FRONTEIRAS167,8 QUILMETROS DE EXTENSO

  • 7/25/2019 Revista Arte Brasileiro

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    Foto:Arquivo

    TherryNoir

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    ARTE BERLIM

    EM 9 DE NOVEMBRO DE 1989, s 20h30, Heinz

    Schfer, oficial superior das tropas de fronteiras, d

    a ordem: Abram! Deixem passar!. A deciso no foi

    sua e sim de superiores do governo da at ento Re-

    pblica Democrtica Alem. Estes, impossibilitados

    por inmeros fatores de manter o regime poltico em

    vigor, declaram a abertura do Muro de Berlim e con-

    sequentemente a liberdade de trnsito to cobiada

    desde 13 de agosto de 1961, quando houve sua de-

    marcao e construo da primeira gerao.

    Enquanto o lado oriental era resguardado por um efi-

    caz aparelho de segurana, sua superf cie ocidental

    passou a ser ut ilizada como uma das maiores gale-

    rias de arte a cu aberto. Inmeros artistas re siden-

    tes em Berlim, como Therr y Noir, seguidos por outros

    de renome internacional, como Keit h Haring, tinham

    em 1986 o Muro como um espao pblico para rea-

    lizao de pinturas em site specifice de carter ef-

    mero, pois qualquer cidado poderia se apropriar da

    mesma superfcie.Vinte anos depois nos deparamos com um pas reu-

    nificado e reformulado. Berlim testemunho vivo

    desse processo e passou a ser principal protagonis-

    ta aps sua nomeao como capital da Repblica

    Federativa Alem em 1990, status esse j vivencia-

    do pela cidade em perodos anteriores. O Muro de

    Berlim deixou mais uma cicatriz encravada na cida-

    de, como tantas outras conquistadas, no percurso

    de sua vivncia poltica e histrica.

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    INMEROS ARTISTAS RESIDENTES EM BERLIM, COMO THERRY NOIR, SEGUIDOS POR OUTROS DERENOME INTERNACIONAL, COMO KEITH HARING, EM 1986, TINHAM O MURO COMO UM ESPAO

    PBLICO PARA REALIZAO DE PINTURAS EM SITE SPECIFIC E DE CARTER EFMERO, POISQUALQUER CIDADO PODERIA SE APROPRIAR DA MESMA SUPERFCIE

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    ARTE BERLIM

    A mdia celebrou a queda do muro e a consequente

    reunificao do pas como uma conquista pacifista,

    uma batalha sem armas. Surge a partir da uma gran-

    de metamorfose no mbito poltico, econmico, so-cial e cultural. Este ltimo fator passa a ser determi-

    nante da formatao do per fil da nova capital alem.

    A cultura passa a alinhavar fragmentos de uma ex-

    metrpole esfacelada e desgastada aparentando ain-

    da vestgios da Segunda Guerra Mundial e da Guerra

    Fria em vigor at f inal da dcada de 1980.

    O corao revolucionrio de Berlim deixa de pulsar no

    legendrio bairro de Kreuzberg para desvendar novos

    caminhos no lado oriental da cidade, iniciando pelo

    bairro de Mitte. Mitte era tido como o antigo bairro

    habitado por judeus. Dos 40 mil judeus residentes

    em Mitte antes da Segunda Guerra Mundial, somen-

    te uma centena sobreviveu ao genocdio. As bombas

    destruram grande parte do bairro e por fim a cria-

    o do Muro de Berlim isolou essa parte da cidade

    tornando as relaes sociais e econmicas inviveis.

    Esse territrio passou a ser dominado pela Unio So-

    vitica, incluindo a valorizada parte histrica do bair-

    ro, como a Alexanderplatz e demais avenidas largas

    destinadas a passeatas propagandistas.

    O cinza homogneo do inverno berlinense foi rebatido

    por uma avalanche de pessoas a desbravar este terr i-

    trio incgnito, e em princpio terra de ningum, at

    que os inmeros processos de restituio de posse

    fossem esclarecidos. Surge a um dos centros cultu-

    rais mais pulsantes da atualidade e consequentemen-

    te uma das reas de maior especulao imobiliria.

    A Auguststrasse passa a ser palco do novo mecanis-mo cultural local. Em junho de 1992 acontece pelo

    perodo de uma semana a mostra 37 Espaos in-

    tervenes em 37 locais inusitados ao longo da Au-

    guststrasse. Pela primeira vez, a caravana internacio-

    nal presente em Kassel por ocasio da Documentase

    dirige a uma Berlim libertada e espera do desbra-

    vamento. A ocupao de Mitte acontece encabeada

    por muitos aventureiros e alguns visionrios. Nesta

    segunda categoria se inclui o curador alemo Klaus

    Biesenbach, que alugou na poca o prdio de uma

    extinta fbrica de margarina transformando-a no cen-

    tro cultural Kunst-Werk, do qual ainda conselheiro.

    Alm disso, foi recentemente nomeado diretor do P.S.1 de Nova York, aps trabalhar desde 1996 como

    curador chefe do departamento de novas mdias no

    Museum of Modern Art. Klaus Biesenbach criou uma

    importante veia institucional em Berlim fundando ain-

    da, a partir de 1998, a Bienal Berlim com sede no

    Kunst-Werk.

    No mbito comercial surgem as primeiras galerias tam-

    bm no ano de 1992 na Auguststrasse. Um dos pionei-

    ros Gerd Harry Lybke, fundador da Eigen-Art, com um

    vasto programa de artistas provenientes da Alemanha

    Oriental e mais especificamente de Leipzig, onde fun-

    dou sua primeira galeria clandestina em 1983.

    A abertura do Muro desencadeou um novo fenmeno,

    que soterrou em partes uma cena artstica reconhe-

    cida e atuante internacionalmente para dar lugar a

    uma nova tendncia vinda e criada do Leste Europeu.

    A queda do muro teve um efeito domin com con-

    sequncias marcantes e tentculos que se estendem

    at a China contempornea. Na cena das artes pls-

    ticas em mbito berlinense vivenciamos plenamente

    o fim de tendncias como as estabelecidas por gru-

    pos artsticos, a citar os Neue Wilden cedendo lugar

    para a Leipziger Schule. A competio est declarada:

    Oriente contra Ocidente! A fraternidade que pairava

    o ar no final de 1989 d lugar a uma nova batalha

    existencial.

    Nesse meio tempo tambm foi criada a feira de arte ber-

    linense Art Forum, cuja 14aedio encerrou suas portasem 2009 contabilizando a presena de 40 mil colecio-

    nadores nacionais e internacionais. Klaus Wowereit, pre-

    feito de Berlim desde 2002, declarou: Berlim pobre,

    porm sexy. Sua capacidade de seduo atrai pessoas

    de todo o mundo. Em seu histrico prussiano no h

    uma tradio de colecionismo, porm Berlim atual um

    dos maioresthink tankda atualidade. As condies de

    trabalho fazem com que renomados artistas internacio-

    nais, como Taceta Dean, Olafur Eliasson, Mona Hatoum,

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    O BAIRRO DO MITTE SE REVELA, NO FINAL DE 1989, REPLETO DE RUELAS E COMPLEXOS

    HABITACIONAIS SEMIABANDONADOS EM CONDIES PRECRIAS

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    ARTE BERLIM

    Monica Bonvicini, se instalem nesta cidade. Reconhe-

    cidos artistas brasileiros tambm trocaram os trpicos

    pela sobriedade europeia, a citar Alex Flemming, Cris-

    tina Canale e Carla Guagliardi. Surge aqui um laborat-rio dinmico explorado por curadores, crticos de arte

    internacionais e colecionadores, que se infiltram nesse

    patch work singular no contexto nacional comparvel

    vivncia cultural local da dcada de 1920. Naquela

    poca, movimentos como o Dadasmo, ou escolas como

    a Bauhaus, atraram um imenso potencial internacional

    para o territrio alemo.

    A cidade contabiliza hoje a exis tncia de 450 galerias

    de arte pulverizadas em vrios bairros, sempre visua-

    lizando que quantidade no necessariamente sm-

    bolo de qualidade! Os programas e per fis das galerias

    oscilam entre jovens artistas, artistas de carreira m-

    dia e artistas renomados. Houve tambm a criaode Produzenten Galerien (galerias produtoras), cria-

    das e subvencionadas por jovens artistas em incio de

    carreira, coordenadas por um gerente nomeado pelos

    prprios artistas. A destacar Liga, Amerika, Rekord e

    Diskurs. Algumas delas superaram essa fase inicial e

    fazem parte do poolde galerias comerciais atuantes

    na cidade como a Galeria Christian Ehrentraut, ex-

    fundador da Liga sempre apoiado por Gerd Lybke.

    Os museus locais no possuem um oramento ade-

    O BAIRRO MITTE TEM UM CORRESPONDENTE NO LADO OCIDENTAL,QUE KREUZBERG. EM AMBOS ESTO OS ATELIS COMUNITRIOS, OSARTISTAS, OS TURCOS, OS ESTUDANTES E A MASSA CRTICA DA CIDADE

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    quado para seu gerenciamento trivial, aquisio de

    novas obras e manuteno de acervo. Por isso, plei-

    teiam o apoio da iniciativa privada, assim como da

    vasta rede de galerias locais e colecionadores priva-dos por intermdio dos quais adquirem regularmente

    emprstimos para as mostras aqui apresentadas.

    A produo local era, at o incio da crise financeira

    mundial, h um ano, concorrida por colecionadores

    sedentos, que arrematavam nos atelis obras recm-

    acabadas. Surgem a representantes de colees

    privadas, algumas das quais com endereo fixo em

    Berlim e abertas ao pblico em geral em concorridas

    datas preestabelecidas. Uma das pioneiras a Cole-

    o Hoffmann, que apresenta uma seleo de obras

    reunidas nos ltimos 30 anos em sua Penthouse no

    bairro de Mitte, cujo prdio foi const rudo e concebido

    com subsdios pblicos contendo a clusula de torn-la, em contrapartida, aberta ao pblico em geral aos

    sbados. Um dos mais recentes e inovadores projetos

    nesse sent ido a coleo de Christian Boros, sediada

    em um antigo bunkerde 1942, construdo para abri-

    gar at 2 mil pessoas nos bombardeios dos ltimos

    anos da Segunda Guerra Mundial. Aps passar por

    uma reforma muito bem-elaborada, essa construo

    sem dvida um dos locais mais seguros do mundo

    para armazenar obras de arte.

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    ARTE BERLIM

    Art:H nove meses como novo diretor da Galeria Na-cional, o senhor dirige seis museus em Berlim: a NovaGaleria Nacional, a Antiga Galeria Nacional, o Museude Arte Contempornea Hamburger Bahnhof, o MuseuBerggruen, a Coleo Scharf-Gerstenberg e a Friedri-chswerdersche Kirche. Onde exatamente teve incio seutrabalho?Udo Kittelmann: No se deve colocar a carroa na

    frente dos bois. Mas eu me propus a obter clarezasobre certas estruturas, criando uma base para o

    meu trabalho no futuro. Exposies especiais, por

    exemplo, no esto dentro dos objetivos prioritrios

    do museu. Seria bem mais importante iniciar uma de-

    sacelerao. De fato, trata-se de evidenciar mais in-

    tensamente as instituies como locais de colees.

    Portanto, eu iniciei meu trabalho dando enfoque s

    colees, analisando e selecionando o acervo. Como

    primeiro resultado, apresentamos de uma forma nova

    a coleo da estao ferroviria de Hamburgo sob o

    AS IMAGENS NO MENTEMO MUNDO EDITORIAL ALEMO TO RICO QUANTO SUA ARTE. UMA DAS REVISTAS MAIS CONCEITUADASDA ATUALIDADE, AART - MAGAZINABRIU ESPAO PARA O HOMEM DO MOMENTO: UDO KITTELMANN,

    CURADOR APAIXONADO, DINMICO E NETWORKERCOM AMPLA REDE DE CONTATOS, AMANTE OBSTINADODAS ARTES, DIRETOR DA ANTIGA GALERIA NACIONAL E DA NOVA GALERIA NACIONAL. NESTA ENTREVISTA REVISTAART, KITTELMANN CONTA QUAIS SO SEUS OBJETIVOS EM BERLIM, COMO LIDA COM A CRISEE O QUE REVELAM AS PESQUISAS FEITAS NOS DEPSITOS DOS MUSEUS

    Ute Thon, Kito Nedo, entrevista publicada naArt -Magazin, edio outubro 2009 www.art-magazin.de

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    ENDEREO EMBLEMTICO DA ARTE CONTEMPORNEA, A NEUE GALERIE FUNCIONA COM O APOIO DASOCIEDADE AMIGOS DO MUSEU, SEM ELA MUITOS PROJETOS NO SERIAM POSSVEIS

    slogan: A arte fabulosa!. Tambm nos outros mu-

    seus trata-se, antes de mais nada, de medidas de

    carter estrutural.

    Art:A arte fabulosa! isso no parece um poucoanncio de supermercado?U.K.:Mesmo que em um primeiro momento possa parecer,

    penso que o slogan se adqua bem aos dias de hoje. Cada

    um de ns se pergunta o que hoje ainda pode ser chamado

    de fabuloso. No h como negar, claro, a arte.

    Art:A sua primeira grande exposio individual naNova Galeria Nacional ser dedicada ao artista fot-

    grafo Thomas Demand. Isso tambm um sinal dessanova postura?U.K.:A Nova Galeria Nacional um cone arquitetni-

    co. Quando so ali organizadas exposies, percebe-

    se a multiplicidade dos desafios, sobretudo tambm

    pelo seu aspecto histrico. A pergunta fundamental

    : quais exposies devem ou podem ser mostradas

    ali? Em outras palavras, preciso determinar quais

    exposies no devem ser mostradas. Ou seja, no

    so apropriadas para a Nova Galeria Nacional as ex-

    posies que tambm poderiam ser mostradas em

    qualquer outro lugar, sobretudo no que diz respeito

    ao pavilho superior envidraado.

    Art:O que significa Demand para o museu?U.K.:E xaminando-se suas obras mais a fundo, ve-

    rifica-se que muitos dos seus trabalhos de imagens

    so dedicados a lugares e acontecimentos ocorri-

    dos na recente histria alem. Isso foi uma primei-

    ra aproximao. Por isso tambm o ttulo, que para

    a primeira exposio individual de um artista mais

    jovem, sob minha g ide, deve se r programtico:

    Galeria Nacional. A exposio ter como priorida-

    de uma coleo de trabalhos que tematizam nos sa

    mudana social e poltica.

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    ARTE BERLIM

    Art:Durante a fase de reorganizao, foi tambm umaapresentao programtica o entreato de Imi Knoebelno pavilho superior, no qual os vidros das janelas fo-

    ram vedados com pinturas parecendo vitrines de lojas?U.K.:Sim. A exibio tambm tinha um ttulo muito sig-

    nificativo: Socorro, socorro....

    Art: verdade. A construo de Mies van der Rohe pre-cisa de uma profunda reforma.U.K.: Quando se percorre o edifcio, realmente de

    chorar. As janelas quebradas so apenas as partes

    mais visveis. A construo requer urgentemente que

    se inicie um processo de restauro. No entanto, tenho

    esperanas de que os recursos necessrios para isso

    sejam disponibilizados o mais rpido possvel. Pois,trata-se aqui de uma das mais importantes arquitetu-

    ras de museus, comparvel, por exemplo, ao Museu

    Guggenheim, de Frank Lloyd Wright em Nova York.

    Art: por isso que o senhor v com inveja a Ilha de Mu-seus em Berlim, onde tudo se esmera pela excelncia?U.K.: De forma alguma. Afinal, eu sou responsvel pela

    Antiga Galeria Nacional, tambm um edifcio que gra-

    as restaurao da Ilha de Museus encontra-se em

    excelente situao. Era compreensvel que a Ilha de

    Museus por razes histricas tivesse prioridade at o

    presente momento.

    Art: A arte do sculo XIX, como exibida na Antiga

    Galeria Nacional, no tem muito a ver com sua expe-

    rincia at ento exercida no Museu de Arte Moderna

    (Museum fr Moderne Kunst) em Frankfurt ou na As-

    sociao de Arte de Colnia. Como aproximar essas

    experincias profissionais? No futuro o senhor gostaria

    de interligar mais estreitamente as Galerias Nacionais?

    U.K.:Em primeiro lugar estou feliz que nesse outono vaihaver uma exposio, planejada h mais tempo na An-

    tiga Galeria Nacional sobre Carl Gustav Carus, um dos

    grandes intelectuais universais do sculo XIX. Essas per-

    sonalidades da arte sempre me interessaram muito, e

    Carus est entre eles. Certamente haver um intercm-

    bio mais intenso entre as Galerias Nacionais, entretanto

    sou inteiramente contra o mtodo que parece ser hoje

    uma tendncia, de contextualizao, que coloca a arte

    contempornea em locais com acervos mais antigos.

    Sou a favor do procedimento em forma cronolgica. O

    Obra do artista austraco Otto Zitko

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    UDO KITTELMANN DIRIGE SEIS MUSEUS EM BERLIM: O HAMBURGER BAHNHOF (FOTO ACIMA),A NOVA GALERIA NACIONAL, A ANTIGA GALERIA NACIONAL, O MUSEU BERGGRUEN, A COLEOSCHARF-GERSTENBERG E A FRIEDRICHSWERDERSCHE KIRCHE

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    ARTE BERLIM

    pensamento conjunto de todas as instituies tambm

    pode se expressar de outra maneira: ns planejamos

    para o prximo ano uma exposio com obras de Hans

    Bellmer e Louise Bourgeois. Para essa exposio, o local

    mais apropriado certamente seria a Nova Galeria Nacio-nal, porm iremos mostr-la de forma bem deliberada

    na coleo Scharf-Gerstenberg em Charlottenburg, que

    abriga o grande acervo de obras de Bellmer.

    Art:Como curador, qual sua reao diante da crisefinanceira atual?U.K:Eu tento continuar sendo fiel a mim mesmo e per-

    sistir nos meus princpios fundamentais. No decorrer

    da minha atividade nos ltimos 25 anos houve fre-

    quentemente mudanas na situao econmica. No

    mudo minhas convices fundamentais sobre a atu-

    ao em uma instituio de arte, nem mesmo minha

    linha programtica, s porque as condies externas

    sofreram mudanas. Com certeza torna-se hoje mais

    difcil angariar fundos para a pesquisa. Mas nunca foi

    tarefa fcil realizar um programa voltado para a rea,

    da forma como eu o imaginava.

    Art: Quanto seu oramento para exposies, porexemplo, na Nova Galeria Nacional?

    U.K.: Bem limitado. Isso, alis, sempre foi assim. Asinstituies em boa situao financeira so excees.

    Em Frankfurt tambm no tive um oramento significa-

    tivo para exposies ou aquisies. So cada vez mais

    necessrias ideias criativas que possam ser implemen-

    tadas. preciso, evidentemente, uma proviso bsica.

    Art:Quando se trata de exposies individuais e aqui-sies, a Galeria Nacional e o senhor dependem de um

    parceiro forte, como a Associao dos Amigos da Ga-leria Nacional. Uma relao de dependncia tambmno envolve riscos?U.K.:Sem ela muitos projetos no seriam possveis. Na

    verdade, so justamente os crculos de amigos do museu

    que, com sua parceria, apoiam a autonomia ou indepen-

    dncia de museus. Neste sentido, o Crculo de Berlim,

    graas ao seu profissionalismo, tem carter exemplar.

    Art:H pouco tempo a exposio de Berlim 60 anos 60 obrasprovocou um acalorado debate sobre o tra-tamento dado arte da ex-RDA. Acontece que tambm

    a histria da Galeria Nacional uma histria de div iso

    e de reunificao. Os seus museus se preocupam sufi-cientemente quanto ao patrimnio do Leste?U.K.:Certamente ainda h muito tempo a ser recupe-

    rado. Entretanto, no futuro no se deve prioritariamen-

    te dar continuidade politizao da arte, mas avali-la segundo sua riqueza de imagens e sua qualidade

    artstica. Assim como ns tambm avaliamos outras

    obras de arte de diferentes pocas. Certamente ha-

    via artistas extraordinrios na RDA. Isso incontes-

    tvel. E os melhores quadros desses artistas tam-

    bm deveriam ser incorporados no cnone de outras

    obras de arte que se destacam, sem logo estamp-los

    como arte da RDA. Afinal, as imagens no mentem.

    Art:H na Galeria Nacional acervos relevantes da artedo Leste?U.K.:Claro que sim, por exemplo, de Werner Tbke e

    Bernhard Heisig.

    Art:Ao fazer a seleo das vrias colees da Galeria

    Nacional, o senhor deparou-se com outras surpresas?O senhor tem especial admirao por alguma obra em

    particular?U.K.:Uma verdadeira descoberta foi um relevo de pa-

    rede de Lee Bontecou. No acreditei quando o vi aqui

    no depsito. uma enorme obra pastiche de telas tri-dimensional, concavidades que lembram um casulo

    duplo um trabalho fantstico! Aqui provavelmente

    poucas pessoas conhecem a artista americana. Em

    Nova York nos anos de 1960 ela era considerada uma

    estrela pelos crculos artsticos. Ns vamos mostrar

    pela primeira vez esse trabalho no Museu de Arte Con-

    tempornea por ocasio da nova mostra da coleo.

    Isso tambm significa a importncia que tem o traba-

    lho em museus junto prpria coleo, no sentido de

    que esta pode ser revista e reordenada constantemen-

    te sob diferentes perspectivas. Isso uma das maiores

    vantagens das colees e museus pblicos. A ateno

    deve estar sempre voltada a mudanas internas.

    Art:O senhor sofre presses para produzir exposiesde grande sucesso comercial?U.K.:Considero evidente a possibilidade de se mostrar

    exposies que so notadas pelo pblico. E natu-

    ralmente muito gratificante quando se consegue atrair

    centenas de milhares de pessoas com uma exposi-

    o. A mostra do MoMA obteve um grande sucesso,

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    Udo Kittelmann

    Nasceu em Dsse ldorf em 1958, frequentou o curso de tico e exerceua profisso at mudar para a rea artstica, em 1987. Como curador

    independente organizou inicialmente exposies no Mnchner Lenba-

    chhaus e no Kunstverein Salzburg. No incio dos anos de 1990 dirigiu

    o Frum Kunst Rottweil e o Ludwigsburger Kunstverein. A partir de

    1994, tornou-se conhecido como diretor do Klnischer Kunstverein.

    Na Bienal de Veneza de 2002 foi responsvel pelo pavilho da Ale-

    manha, que apresentou uma instalao de Gregor Schneider, ga-

    nhador do Leo de Ouro. Em 2002 assumiu a direo do Museu de

    Arte Moderna (Museum fr Moderne Kunst) em Frankfurt e provocou

    controvrsias com exposies independentes, como Spinnwebzeit.

    Die eBay-Vernetzunge Murakami. Em novembro de 2008 sucedeu

    Peter-Klaus Schuster na direo da Galeria Nacional de Berlim um

    dos mais importantes cargos em museus da Alemanha.

    tambm porque era uma excelente exposio. Porm,

    uma exposio apenas para ser um blockbuster? Isso

    significaria colocar levianamente em risco o potencial

    criativo de um museu.

    Art:Como o senhor avalia em geral a situao de Ber-lim como cidade da ar te?U.K.:O que chama a ateno so as foras que se

    revelam aqui na sua dinmica prpria. No se pode

    falar realmente de uma atmosfera de crise. Tambm

    no se fala muito sobre dinheiro, mesmo porque a

    maioria no tem, portanto no um assunto em dis-cusso. Nos dias de hoje possvel viver relat ivamen-

    te bem aqui. H uma grande riqueza visual, em cada

    esquina da cidade se v algo diferente, muitas vezes

    depara-se com novas situaes e com diferentes pes-

    soas. Tambm a mescla de cenrios, como a cena

    teatral, a cena cinematogrfica, a cena artstica e a

    cena de moda, tudo isso percebo como algo que faz

    bem e que estimulante.

    Art:O senhor conhecido como grande networker. En-

    contra frequentemente velhos conhecidos?

    U.K.: Certamente. No faz muito tempo que, noite, em

    um bar prximo ao teatro Volksbhne, quase no pude

    acreditar no que vi: ali estavam sentadas pessoas que

    eu j havia conhecido em Colnia nos meados dos anos

    1990, muitos artistas, galeristas e colecionadores. Isso

    foi muito prazeroso. Mas, por outro lado, me perguntei de

    novo, o que leva as cenas artst icas a se deslocarem tan-

    to: em 1995, era o bar Grnes Eck em Colnia, em 2009,

    o Bar 3, em Berlim.

    A CULTURA PRECISA DE RECURSOS DE PESSOAL E DE RECURSOS FINANCEIROS PARA CORRESPONDER SUA IMPORTNCIA SOCIAL. ELA NECESSITA DE SUBVENES ASSEGURADAS PARA PODER DE FATOCUMPRIR SUA MISSO CULTURAL AFIRMA UDO KITTELMANN, DIRETOR DA ANTIGA GALERIA NACIONAL,FOTO ACIMA

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    ARTE BERLIM

    CONSCIENTIZAO POR MEIO DA OCUPAO DE ESPAOS PBLICOS DAS DUAS CIDADES

    HAMBURGO X BERLIM

    PORTIM SOMMER REDATOR-CHEFE DAART-MAGAZIN

    Fotos:Reproduo

    EM HAMBURGOacontece novamente uma ocupao ile-

    gal de espaos desta vez, porm de forma bem simpti-

    ca e de carter apoltico. O Gngeviertel, bairro histrico

    de Hamburgo, onde durante a noite se instalaram jovens

    artistas, est to colorido e tranquilo como a Hafens-trasse h cerca de vinte anos, logo aps uma srie de

    conflitos ali ocorridos. E, atualmente, a imprensa est

    bem afinada, bem-sucedida, graas ao apoio do folhe-

    tim! Tambm a senadora da cultura de Hamburgo logo

    tomou partido dos intrusos, que antigamente seriam es-

    pantados como moscas sobre o fil. Em todo caso, eles

    trabalham em causa prpria: nesse momento em Ham-

    burgo est sendo fundada uma agncia de criatividade

    que deseja reunir reas temporariamente desocupadas

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    O GNGEVIERTEL, BAIRRO HISTRICO DE HAMBURGO TEM SIDO OCUPADO DE FORMA

    CRIATIVA POR JOVENS ARTISTAS E MSICOS. TUDO MUITO SIMPLES, COLORIDO E TRANQUILO

    e artistas com falta de espao. A noo de que a cul-

    tura certamente um fator dependente de localizao,

    que artistas precisam de atelis, que a alta cultura

    se desenvolve de baixo para cima, chega com bastante

    atraso. Hamburgo, Colnia, Dsseldorf, Munique ondequer que seja, tudo se repete: as escolas superiores de

    arte formam talentos, que depois migram em bando para

    Berlim. As metrpoles de arte de antigamente simples-

    mente esqueceram de tomar medidas em tempo. Em

    Berlim, assim como em todos os outros lugares do leste

    depois da Queda do Muro, so oferecidos automatica-

    mente espaos desocupados pela decadncia industrial.

    Isto no foi e no mrito da poltica cultural de Berlim.

    Ali h tempos a gentrificao expulsa os artistas do

    centro e arredores apesar dos recursos em espaos

    desocupados serem quase infindveis. Em ltima instn-

    cia, o que conta o resultado: a nenhuma outra cidade

    a Art dedicou tantos cadernos especiais como a Berlim

    nunca tivemos dificuldade de encontrar temas a respei-to. A capital pulsa, a despeito da crise: do novo palcio

    para abrigar a Nefertiti ao bar panorama, Berghain Club,

    a capital repleta de histrias de arte. E todas as outras

    ficam de boca aberta...

    Incluso de artistas j!

    O Gngeviertel em Hamburgo foi recm-ocupado de for-

    ma criativa (acima), a Baumwollspinnerei ( esquerda) e

    a rea da fbrica Rotaprint em Berlim-Wedding so espa-

    os para artistas que j foram legalizados.

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    ARTISTA ALEX FLEMMING

    Alex Flemming na sua instalao Sistema Uniplanetrio - In Memorian Galileu Galilei

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    O ARTISTA VIAJANTE

    ALEX FLEMMING HOJE UM DOS ARTISTAS COM MAIOR TRNSITOINTERNACIONAL NO PANORAMA DAS ARTES BRASILEIRAS.H MUITOS ANOS, DIVIDE O SEU TEMPO ENTRE BERLIM E

    SO PAULO, CIDADES ONDE MANTM ATELIS. SUA AGENDAINCLUI AINDA EXPOSIES EM MUSEUS E GALERIAS DE

    ARTE DA EUROPA, DOS ESTADOS UNIDOS E MUNDO AFORA

    TE XTOFABIO MAGALHES

    Fo

    to:BerndBorchardt

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    AS ANDANAS,tpicas do artista de sucesso na contem-

    poraneidade, quase sempre, levam o andarilho a dedicar

    um olhar descuidado, superficial ou, at mesmo, aneste-

    siado, perante as diferentes realidades por onde transita.

    No o caso de Alex Flemming, que tem o hbito de levarsempre consigo um dirio de viagem, no qual anota suas

    reflexes sobre os mais diferenciados aspectos dos luga-

    res visitados e de seus habitantes. Nos dirios de viagem,

    o artista demonstra no apenas sua curiosidade, mas

    tambm sua adeso ou seu repdio frente as situaes

    vividas. Tudo lhe interessa e tudo anotado sem hierar-

    quia, desde aspectos relevantes, como fatos histricos,

    at as ocorrncias mais prosaicas, como um anncio im-

    presso em um jornal local de algum que solicita compa-nhia para enfrentar a solido do cotidiano. Muitas dessas

    anotaes so incorporadas a seus projetos artsticos.

    Ao homenagear o telescpio, Flemming joga com me-

    tforas e com poticas que tratam do tema da viso,

    do olhar, ou seja, de um dos elementos essenciais dalinguagem artstica o saber ver. O telescpio (do grego

    teleque quer dizer longe e scopioque quer dizer obser-

    var) um instrumento que permite estender a capacida-

    de dos olhos humanos, permite observar objetos longn-

    quos. Ou seja, olhar longe um dos objetivos do artista,

    ir at os limites da conscincia possvel de seu tempo.

    A histria registra que, em 1608, Hans Lippershey, fabri-

    cante de lentes holands, construiu em Middelburg, pe-

    quena cidade dos Pases Baixos, o primeiro telescpio. A

    notcia rapidamente chegou ao conhecimento de Galileu

    Galilei, que em 1609 apresentou um aparelho feito por

    ele mesmo a partir de experimentaes e polimento de

    vidro. Nesse mesmo ano, Galileu apontou seu telescpio

    para o cu noturno para observar a Lua e foi o primeiro a

    usar esse tipo de aparelho para investigao astronmi-

    ca. Certamente, por isso, o instrumento ficou conhecido

    popularmente como luneta.

    Para realizar a instalao na Pinacoteca, Alex reuniu 50

    globos escolares que giram sobre toca-discos. Segundo

    afirma o prprio artista, o globo simboliza o mundo que

    cada um de ns, todos iguais, mas ao mesmo tempo

    todos diferentes. Cada um em sua rotao, uns muito

    rpidos, outros j quase parando, outros inclusive j pa-rados para sempre. E os toca-discos so uma espcie

    de arqueologia do cotidiano, que recupera parte da pa-

    rafernlia eltrico-eletrnica com a qual cada um de ns

    se cerca na tentativa de ser feliz.

    A proposta do artista foi apresentar um conjunto que

    contraria as observaes de Galileu, provocando um jogo

    instigante de contradies com a histria. Os globos, ou

    os planetas de Alex, no giram em torno do Sol, nem

    obedecem a nenhuma lgica sistmica, astronmica. Gi-ram em torno de si mesmos, como individualidades, com

    rotaes variadas, lentas ou aceleradas. Alguns globos

    simplesmente no giram e so meros figurantes entre bai-

    larinos. Com essas variantes de rotao e com desempe-

    nhos diferenciados para cada globo, Flemming criou umconjunto estimulante e provocador, pelas ilaes e pelas

    interferncias de outras lgicas e de outras realidades.

    Envereda por novas poticas. Sugere diversas alegorias,

    a de individualidade (cada globo girando em torno de si

    mesmo) e de sociabilidade (a dinmica dos 50 globos).

    Os movimentos silenciosos dos toca-discos e as rela-

    es formais entre a esfera e o disco criam situaes de

    coreografias visuais que nos seduzem e podem, at mes-

    mo, provocar efeitos hipnticos pela constncia e pela

    articulao cronomtrica dos conjuntos em movimento.

    A utilizao de cones da histria e no apenas da histria

    da arte uma atitude recorrente na sua obra. Na instala-

    o da Pinacoteca o prprio ttulo chama nossa ateno

    para os fatos histricos ocorridos na Itlia no sculo XVI

    e reavivam na nossa memria o conflito entre a cincia

    e a religio, entre a verdade e o poder. Galileu, para no

    contrariar dogmas da Igreja, foi obrigado pelo Tribunal

    da Inquisio a retroceder nas suas concluses sobre o

    AGORA, ALEX FLEMMING EST DE VOLTA. A PINACOTECA DO ESTADO DE SO PAULO REALIZA

    NO ESPAO OCTGONO, A PARTIR DE 14 DE NOVEMBRO, UMA INSTALAO SUA: SISTEMAUNIPLANETRIO IN MEMORIAN GALILEU GALILEI

    ARTISTA ALEX FLEMMING

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    FLEMMING NO SEU ATELIEM BERLIM, SITUADO NA

    SCHOENHAUSER ALLEE, 73.FOTO DE TUCA VIEIRA

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    heliocentrismo, sob a ameaa de priso e morte. No h

    dvida de que o significado extraordinrio desse conflito

    motivou Alex Flemming. Os temas da injustia e da violn-

    cia sempre instigaram o artista e esto presentes nas di-

    versas fases da sua produo. Talvez, ao dar ttulo a essa

    instalao, Flemming tenha pensado na frase de Galileu:

    A verdade filha do tempo e no da autoridade.

    Antes de iniciar sua carreira, Alex esteve ligado ao cinema,

    hoje pouca gente se lembra disso. Realizou sete curtas-

    metragens em super-8. Contudo, a experincia cinemato-

    grfica incorporou-se ao seu olhar, ao seu modo de abor-

    dar os mais variados temas. Na sua primeira exposio,

    realizada em 1978, Alex mostrou obras de forte carter

    documental eram nove fotogravuras que compunham a

    srie Natureza Morta. Esse pequeno conjunto impressiona

    pela sua contundncia, pela crueza e pela violncia de

    suas imagens, que denunciam o absurdo da tor tura. Cenas

    de corpos fragmentados, dentes sendo arrancados por

    alicates, o pnis sendo eletrocutado. Na poca, em plena

    ditadura militar, a dor escancarada nas gravuras adquiria

    grande fora dramtica e provocava nossa conscincia

    por retratar situaes que faziam parte da realidade.

    Nos projetos seguintes e ao longo de sua vasta e diversifi-

    cada carreira, Alex Flemming no perdeu o olhar cinemato-

    grfico e documental. Mesmo nas obras em que esse olhar

    no prevalente, percebemos seu apreo ao documento,

    como quem, por meio dele, procura dar mais veracidade sua potica. Na srieAlturas, os sofs usados e os animais

    empalhados so documentos que tentam deter a caminha-

    da do tempo ou se preferir so testemunhos que atestam

    nossa solido, nossos desejos e frustraes.

    A partir da srie Alturas, Flemming passou a acrescen-

    tar letras, que inicialmente tinham a funo de escrever o

    nome dos retratados e depois passaram a ter novo pro-

    tagonismo revelavam e ocultavam conceitos e poticas.

    Textos de Haroldo de Campos, de Heinrich Heine eram

    gravados na superfcie da tela, mas a disposio das

    letras dificultava sua leitura. Os textos seguem uma l-

    gica particular a cada srie. Por exemplo, nos mveis

    pintados, Alex reuniu textos de anncios de jornais. Nos

    retratos realizados para a estao Sumar do metr

    paulistano, o artista selecionou um poema para cada

    personagem, sempre de autores diferentes, abrangendo

    um vasto perodo da poesia brasileira de Jos de An-

    chieta a Haroldo de Campos e Torquato Neto.

    Tudo que se refere ao corpo fascina o art ista. A juven-

    tude e sua beleza, a carnalidade no xtase e na dor,

    mesmo as frias ilustraes de anatomia ou os trabalhos

    de taxidermia. Eros acompanha toda a obra de Alex

    Flemming, revela desejo febril perante um corpo jovem

    e decepo perante a escatologia do tempo. A beleza

    fsica efmera e a juventude fugaz.

    Em 1987 inicia as telasAtletase muitas dessas imagens

    foram retomadas em 1989 nos Body-builders. Nas duas

    sries h a clara inteno de seduzir, entretanto, nos

    Body-builders h seduo e violncia poltica. O corpo

    masculino retratado frontalmente, coberto por uma

    sunga que revela o volume de seu contedo, o trax

    musculoso sobre o qual Alex fundiu pele mapas e geo-

    grafias que se referem a conflitos armados, como Bsnia

    e Oriente Mdio. As telas respiram erotismo, mas trazem

    tambm a presena da morte e suscitam ainda questes

    sobre o tempo e a transitoriedade da vida. Na entrevistaa Henrique Luz, o artista afirma: Na srie poltica de

    Body-buildersutilizei textos do Antigo Testamento que

    pregam a guerra e o extermnio do outro.

    Em 1990, eu era diretor do Museu da Arte de So Paulo

    e Alex Flemming props realizar uma instalao na es-

    cadaria do museu situado na avenida Paulista. O art ista

    chamou-a de Tauromaquia Ex-Tourose era composta

    de diversas cabeas de touro empalhadas (daquelas

    que so exibidas em churrascarias), pintadas de um azul

    ALEX FUNDIU PELE MAPAS E GEOGRAFIAS QUE SE REFEREM A CONFLITOS ARMADOS, COMO

    BSNIA E ORIENTE MDIO. AS TELAS RESPIRAM EROTISMO, MAS TRAZEM TAMBM A PRESENADA MORTE E SUSCITAM AINDA QUESTES SOBRE O TEMPO E A TRANSITORIEDADE DA VIDA

    ARTISTA ALEX FLEMMING

    Foto:ArquivopessoalAlexFlemming

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    que lembra Yves Klein e dispostas sobre latas de lixo,

    e colocadas de ponta-cabea sugerem colunas gregas.

    As cabeas foram colocadas ao ar livre ladeando os de-

    graus que davam acesso ao museu. Os Ex-Tourosabri-

    ram caminho para a instalao O Sacrifcioque foi rea-

    lizada, no ano seguinte, na XXI Bienal Internacional de

    So Paulo e serviu de rito de iniciao para os inmeros

    trabalhos de animais empalhados que se seguiram na

    sua obra. Nesta poca, Alex Flemming frequentou o Mu-seu de Histria Natural de So Paulo, que no era aberto

    ao pblico, e convenceu os professores e os cientistas a

    lhe doarem animais empalhados que seriam incinerados

    por j estarem deteriorados ou porque no tinham mais

    interesse cientfico. Com esse lixo da cincia montei

    minha participao na Bienal, diria mais tarde o artista.

    Flemming nunca deu suas costas para a histria, para a

    conjuntura social e poltica. Muitas obras tratam explicita-

    mente dos conflitos polticos, das ideias e das polmicas

    de seu tempo. Pouco depois da ao terrorista s torres

    gmeas de Nova York e em pleno perodo de retaliao mi-

    litar ao Iraque e Afeganisto, desenvolveu o projeto Flying

    Carpet com obras feitas a partir de tapetes persas que

    eram recortados para assumirem as formas de silhuetas de

    avies de caa ou de bombardeio norte-americanos.

    Suas obras esto presentes nos principais museus bra-

    sileiros. Nos ltimos anos realizou uma grande exposi-

    o com curadoria de Ana Mae Barbosa no CCBB (RJ eSP) e recentemente apresentou no Masp uma belssima

    instalao fotogrfica com temas da devoo popular e

    do nosso imaginrio religioso.

    A instalao de Alex Flemming Sistema Uniplanetrio

    In Memorian Galileu Galilei um de seus ltimos traba-

    lhos e foi exposto pela primeira vez em 2008, nas runas

    da Igreja St. Johannes Evangelist, em Berlim, espao uti-

    lizado por art istas e que se situa em lugar privilegiado da

    agitada vida artstica e cultural da capital alem.

    O ARTISTA AO LADO

    DE UMA DAS OBRAS DASRIE BODY-BUILDERS

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    O CHAMADO DE BERLIMTE XTOALEX FLEMMING FOTOSTUCA V IEIRA

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    A primeira vez que morei em Berlim foi na dcada de 1980,

    muito antes da queda do Muro. Alis, para qualquer pessoa

    que conhecesse as duas cidades, Berlim Ocidental e BerlimOriental, a queda do Muro em 9 de novembro de 1989 foi

    uma total surpresa, de to slido ele parecia. E, diga-se de

    passagem, demorou ainda alguns anos para ele realmente de-

    saparecer, pois na mente de muitas pessoas ele ainda divide.

    Vim para c sem saber muito o porqu, atendendo a um

    chamado Berlin ruft (Berlim chama) dentro de alguma

    parte de mim: talvez algo carmtico, sei l. Uma parte

    ancestral de minha formao alem ou talvez, mais es-

    pecificamente, de minha formao luterana. E aqui, nos

    anos 1980, era possvel experimentar um laboratrio exis-

    tencial como em nenhum outro lugar do planeta: do lado

    ocidental uma vida louca, dinmica, frentica, onde tudo

    era permitido, desde homossexualismo a ocupaes decasas. Onde noite eu podia ir pera e de repente ver

    mulheres bastante idosas, cobertas de joias e at com

    tiaras de diamante, e que simplesmente eram princesas

    de verdade, o que restava de uma realeza imperial. Do

    lado oriental um regime esprio, uma ditadura eficientssi-

    ma que de comunista s tinha o nome, pois as benesses

    da sociedade no eram para todos, mas somente para

    os que pertenciam ao par tido ou para os informantes da

    temida Stasi (polcia secreta). Aqui, nestes dois pedaos,

    havia o germe das grandes revolues e aqui que se

    ARTISTA ALEX FLEMMING

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    pode dizer que ruiu o comunismo de Estado la Stalinis-

    mus. Tudo era esquizofrnico. No lado oriental no havia

    nada o que comprar, tudo era proibido, jornais s os do

    partido porm, voc ligava a TV e pegava os programas

    do lado ocidental, com todas as informaes possveis.

    S no podia falar que estava vendo aqueles programas

    (era proibido, imagine s...).

    Em vez de falar sobre as galerias e o marketing de arte

    em Berlim, prefiro trilhar os caminhos mais seguros das

    instituies e dos museus, onde a etapa especulao

    ou dvida j tenha sido ultrapassada. Berlim a ci-

    dade por excelncia da preservao do que memria

    cultural, tanto esttica como puramente histrica. Uma

    das grandes questes da histria da arte alem que

    aqui muitas vezes se considera o histrico documental

    tambm como arte, abrindo o conceito de Zei tgeis t de

    uma maneira inusitada. As instituies de arte contem-

    pornea mais espetaculares so duas colees privadasabertas ao pblico com hora marcada: a Coleo Boros,

    que fica dentro de um bunker no centro de Berlim, e

    a Coleo Hoffmann, onde se entra na casa do casal

    Hoffmann at em seu quarto de dormir e onde ele toma

    caf da manh com os netos, rodeado de Sugimotos,

    Rochters ou Pipilotti Rist s.

    O grande Museu de Art e Contempornea, sem dvida ne-

    nhuma, a imbatvel Hamburger Bahnhof, localizada em

    uma antiga estao de tr ens, e que abriga vrias colees

    particulares doadas cidade de Berlim, sendo as mais

    importantes a Coleo Marx (com o maior Mao Ts Tung

    que Andy Warhol pintou) e a Coleo Flick (com muitos

    artistas que praticamente nunca vemos no Brasil, como

    Jason Rhodes , Franz West e Mar tin Kippernberger).

    H tambm o Museu Berlinische Galerie, sempre com expo-

    sies pontuais, como agora uma que fala da arte que foi

    feita a partir da queda do Muro. O Georg Kolbe Museum,

    situado no prprio ateli do artista Georg Kolbe, mais voltado

    escultura e aos objetos, que realizou h alguns anos uma

    magnfica retrospectiva de um alemo que se refugiou no

    Brasil nos anos 1930: Ernesto de Fiori. Na rea do demoli-

    do Palcio da Repblica (comunista) foi erigido um grande

    galpo que o Temporre Kunsthalle, onde se mostra, por

    exemplo, o trabalho de Bettina Pouttschi.

    Na Casa das Culturas do Mundo, as exposies so sem-

    pre abrangentes e coletivas, como, por exemplo,Arte Bra-

    sileira da Coleo Chateaubriandou Ar te Contempornea

    da ndia. A Fundao Helmut Newton foi criada para pre-servar o acervo deste grande fotgrafo e expe tambm

    obras de pessoas que trabalharam com ele. A Neue Na-

    tional Galerie, o belssimo prdio de Mies Van der Rohe,

    alm do melhor acervo de sculo XX, traz exposies in-

    dividuais que so a consagrao definitiva no Olimpo ger-

    mnico: atualmente esto em car taz as fotos feitas sobre

    obras descartveis em papel de Thomas Demand. E, last

    but not least, h todos os outros 20 museus de arte his-

    trica, cuja nova prola o Bode Museum somente com

    escultura gtica. Haja sola de sapato...

    NA PGINA AO LADO, OS PS DE FLEMMING ETERNIZADOS NA OBRA SIEBENUNDSIEBZIG,SETENTAE SETEEM ALEMO. ACIMA, A PAREDE DA ALEXANDERPLATZ, UMA DAS ESTAES DE METR DAEX-BERLIM ORIENTAL, RETRATADA E TRABALHADA POR FLEMMING

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    So Petersburgo, Rssia (julho 2004)Numa cidade repleta de cpulas cobertas de ouro, a

    mesquita de dois minaretes e um gigantesco domo de

    azulejos azuis, a Bukahra, um smbolo no s de uma

    almejada ou pretensa tolerncia religiosa como um mar-

    co da vastido do imprio czarista. Cheguei ao cruzador

    Aurora pelo outro lado do rio e me preparei psicolgico-

    emocionalmente para visitar uma parte do sculo XX e

    reverenciar criticamente uma de suas realidades com-

    plexas mais determinantes. Para meu espanto, as pes-

    soas entram sem cerimnia tombadilho adentro, no h

    bilhetes de entrada ou controle de pessoas: simbolica-

    mente a Revoluo ainda pertence a todos. O cruzador

    obviamente no se move mais, flutua seguro por gigan-

    tescas pinas de ao presas margem, todo o resto

    original, todos os bronzes muito bem polidos, tudo extre-

    mamente limpo. A maioria absoluta dos visitantes desta

    relquia naval composta por russos homenageando a

    sua prpria histria.

    DIRIO DE UM ARTISTA DO MUNDO

    Siclia, Itlia (setembro 2007)Sobrevoando a ilha nota-se um solo agreste, seco, marrom

    cinza, onde a grande quantidade de reservatrios de gua,

    como os audes do Nordeste, deixa evidente a estiagem a

    que a geografia local est castigada. J em terra, na regio

    de Catnia, surpreende que a quase totalidade do campo

    possvel esteja cultivada, o que torna ainda mais contras-

    tante a existncia de inmeras casas abandonadas e com

    janelas muradas no meio das plantaes. Enigmas. Algumas

    horas depois a gua mediterrnea se afirma como seduo

    irresistvel, apresentando um tal quilate de pureza que at

    as almas mais perversas, como qui a minha, suplicam

    para a serem lavadas. Clamores. Taormina vive de uma fama

    que no condiz com sua realidade. Cidade turstica no pior

    sentido que o sculo XX produziu, suas parcas runas no

    justificam o preo dos sorvetes que a se tomam. O teatro

    grego sim, num stio estupendo, deve ter sido a tragdia dos

    atores da Antiguidade Clssica, tal o potencial de distrao

    que o panorama implica, tornando qualquer encenao su-

    prflua e desnecessria. Quanto ao renome de capital gay,

    nem mesmo o mais perseverante dos desejos suficiente

    para encontrar inexistentes bares ou endereos de putaria.

    ARTISTA ALEX FLEMMING

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    Riga, Letnia (junho 2009)No grande mercado, que existe no antigo campo de pouso

    do Zeppelin, vende-se de tudo e mais alguma coisa, a exem-

    plo de roupas, tapetes, legumes, xampu, objetos de jardi-

    nagem, papel higinico, melancias, alpiste ou peixe. Apesar

    da abundncia e variedade da oferta, tem-se, no entanto, a

    impresso de algo pobre, mofado e chego a ficar na dvida

    se os sapatos oferecidos nas toscas prateleiras j no foram

    usados por algum. A misria ps-comunista visvel e pal-

    pvel no triste espetculo de mulheres velhas enfileiradas

    uma ao lado da outra, cada uma vendendo o que tem ou

    o que sobrou de dias melhores: anguas, estolas de pele

    j rotas, casacos, relgios. Como essas pessoas no tm

    quiosques, nem provavelmente eira nem beira, ficam de p

    com a mercadoria e a oferecem com as mos erguidas, num

    gesto evidente de mendicncia. Ao lado desta feira livre, o

    edifcio da Academia de Cincias tambm comea a cair aos

    pedaos, mas eu deixo claro que no tenho nenhuma sim-

    patia por esses marcos exportados da arquitetura stalinista,

    propositadamente repetindo nos Estados satlites, formas

    retrgradas construdas na Moscou dos anos 1950.

    Trieste, Itlia (setembro 2009)Trieste: non-place or cross-roads? A cidade encravada na

    montanha, banhada pelo Adritico, vista da Eslovnia e

    da Crocia, no nenhum nem outro, muito pelo contrrio:

    um mosaico torto de povos e culturas que por aqui passa-

    ram e calcaram em sua atmosfera a aura do impalpvel e

    uma nostalgia de exlio perdido. A sua histria-estria j

    comea com nvoas lendrias e fabulosas, uma delas di-

    zendo que Trieste foi fundada por um filho de No, e outra,

    por um companheiro argonauta de Jaso. Tenho dvidas

    da prpria existncia da arca bem como do velocino de

    ouro, e fico com o fato de que os romanos tinham aqui o

    entreposto comercial de Tergeste j em 178 a.C. Invases

    de godos, bizantinos e lombardos foram mudando a feio

    humana do lugar at 1202, quando os odiados venezianos

    se apossaram da possvel rival. Para escapar a seu jugo,

    os triestinos se ofereceram voluntariamente como vassa-

    los tutela austraca, de longe sua mais marcante herana

    histrica: os Habsburgos a reinaram de 1382 a 1918.

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    ARTISTA ALEX FLEMMING

    Foto:ArquivopessoalAlexFlemming

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    EU ACHO SUPERIMPORTANTEPARA O ARTISTA VIVER EMCIDADES CHAVES: SOU UM SERURBANO, QUE PREZA HISTRIAE GOSTO DE PRESENCI-LA

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    ARQUITETURA ESCRITRIOBRASIL ARQUITETURA

    REQUALIFICAO

    DO BAIRRO AMARELO

    O CONCURSOA queda do Muro de Berlim, alm de todas as conse-

    quncias j conhecidas e vividas pelos alemes, abriu

    no campo da arquitetura uma frente de trabalho de

    grandes propores e sui generis: a recuperao dos

    conjuntos residenciais construdos em concreto pr-fabricado dos anos 60 aos anos 80, marca registrada

    do comunismo sovitico.

    Essa arquitetura, ainda que de boa qualidade de cons-

    truo e de materiais se comparada com as habitaes

    sociais do Brasil, extremamente pobre, visualmente

    feia e repetitiva ao infinito. um mar cinzento de edi-

    fcios que comea em Berlim e se alastra pela plancie

    central at Moscou, alcanando nesse caminho a Pol-

    O LIVRO MOSTRAprojetos de urbanismo, edificao e

    obras pblicas, reunidas desde 1979 no escritrio Brasil

    Arquitetura, sediado em So Paulo.

    No captulo Requalificao do Bairro Amarelo sinte-

    tizada uma experincia indita com a participao dire-

    ta do escritrio Brasil Arquitetura, em Berlim. Como diz

    Cecilia Rodrigues dos Santos, responsvel pelos ensaios

    e anlise de projetos do livro: A dificuldade para en-contrar uma palavra que defina este projeto que j

    foi batizado de revitalizao, recuperao, recaracteriza-

    o, remodelao, repaginao e at de reforma est

    diretamente relacionada ao fato de no se tratar de um

    projeto de arquitetura ou urbanismo na forma tradicio-

    nal (pg. 52, Cosac Naify, 2005).

    O LIVRO DO ESCRITRIO BRASIL ARQUITETURADE FRANCISCO FANUCCI E MARCELO FERRAZ,

    PUBLICADO PELA COSAC NAIFY, TRAZ UMAPRECIOSIDADE PARA A EDIO BERLIM

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    UMA ESCULTURA DE AMILCAR DE CASTRO

    SINALIZA A PRESENA BRASILEIRA NA

    ENTRADA LESTE. AS CORES DAS TRIBOS

    KADIVEU, DO COR AO BAIRRO COM SEUS

    GRAFISMOS ESPONTNEOS

    nia, a antiga Tchecoslovquia, a Hungria etc.

    Todos esses pases adotaram o mesmo sistema construti-

    vo que espelha a burocracia arquitetnica.

    Comeando por Berlim, vrios arquitetos so chama-

    dos, atravs de convites ou concursos internacionais

    (como foi o nosso caso), para se debruar sobre esse

    novo tema/problema, qual seja: humanizar, recaracte-rizar, criar unidades de vizinhana distintas umas das

    outras, dar personalidade a cada grupamento de habi-

    tantes, no sentido de fixar a populao e evitar o xodo.

    A escolha do nosso projeto seguiu-se ao debate de trs

    projetos finalistas (com representantes da populao,

    tcnicos e engenheiros responsveis pela construo do

    bairro, alm de representantes do Senado berlinense) e

    foi definida por um corpo de jurados internacional.

    Procuramos dar carter e identidade prpria quele

    pedao de Berlim atravs de um conceito unificador,

    aglutinando elementos da arquitetura latino-america-

    na e, mais especificamente, brasileira.

    O grande desafio para os arquitetos, a nosso ver, in-

    troduzir novos elementos, criar novos contextos, tra-

    zer a riqueza cultural e espacial sem violentar aquiloque representou o esforo de muitos para resolver

    um dos mais graves problemas da humanidade: a

    falta de moradia. Encarar a questo com deciso e

    delicadeza foi a nossa arma.

    Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz

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    A PRESENA DE ARTISTAS ALEMES NO BRASIL

    ASMMMNMM NONMON NOM NOMON NMN NMN NOMN

    TE XTOSONIA GUARITA DO AMARAL

    O MERCADO DE ARTE NESTE COMEO DE ANO

    POR MARCO AURLIO JAFET

    Estamos em ano eleitoral. Como de praxe, muito dinheiro

    ser gasto em propaganda e divulgao dos nomes dos

    polticos que concorrero na eleio. O governo provavel-

    mente no trar nenhuma surpresa, pelo menos desa-

    gradvel, e, portanto, as previses dos experts em econo-

    mia e mercado indicam um cu de brigadeiro e um mar

    de almirante para o primeiro semestre de 2010 em nosso

    Pas. O mercado de arte tambm pensa do mesmo modo

    e est preparado para aproveitar esta nova era de esta-

    bilidade que tantos preveem aps a marolinha do ano

    passado. Seno vejamos:

    A Bolsa de Arte do Rio de Janeiro est em plena captao

    de peas importantes nas reas de arte moderna, contem-

    pornea, fotografia e mveis de designers brasileiros para o

    leilo programado para o fim de abril em So Paulo. Thiago

    Gomide, o responsvel pelo escritrio em SP, espera mon-

    tar um leilo com peas especialmente selecionadas. A

    economia est bem e o mercado comprador de peas de

    qualidade , diz Thiago.

    Seguindo o mesmo pensamento Aloisio Cravo tambm est

    captando obras para o leilo que dever ser realizado na

    segunda quinzena de abril, no Hotel Unique, em So Paulo.

    A nfase, porm, ser em contemporneos j consagrados

    e fotografia dos mestres e desta vez no haver mveis. Os

    muito novos tm seu lugar nas galerias, diz Aloisio.

    J James Lisboa tem o catlogo pronto para o leilo mar-

    cado para 15 de maro e que nesta edio volta para o

    Leopoldo Plaza. Vamos ter de a a z, diz Acacio Lisboa que

    ajuda o pai em toda a operao da casa de leilo.

    Ao contrrio das casas acima citadas, a James Lisboa Es-

    critrio de Arte traz para esse leilo uma oferta abrangente

    em estilos, tamanhos e qualidade. Conseguimos trazer

    para o leilo obras inditas no mercado, vindas de colees

    particulares. Eu diria que conseguimos o melhor de cada

    um dos acervos que selecionamos, diz James.

    O catlogo do leilo traz fotos e preo-base de obras

    acadmicas, modernas, contemporneas e at leo sobre

    tela de pintores viajantes que raramente so ofertados nomercado. Destaques dessa seleo vo para um Pedro

    Alexandrino de altssima qualidade; trabalhos de Wesley

    Duke Lee e Burle Marx; uma aquarela de 1928 de Ccero

    Dias; Santa Ceia, de Clvis Graciano; trabalhos de Willy de

    Castro; um leo de Portinari; Beatriz Milhazes; e um painel

    dos celebrados Os Gmeos.

    Na rea internacional, cabe ressaltar o trabalho de George

    Mathieu que na Europa j chegou a atingir preos que

    variam de 200 a 300 mil euros. Fica aqui a expectativa

    PATRIMNIO

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    HOMENAGEM AO QUADRADO, JOSEPH ALBERS

    S r g i o G u e r i n i / a c e r v o d o M A C / U S P

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    Museu de Arte Contempornea da USPRua da Reitoria, 160 - Cidade Uni-versitria So Paulo; Pinacoteca do Estado Praa da Luz, 2 So Paulo;Museu de Bellas Artes Av. Rio Branco, 199 Rio de Janeiro; BibliotecaNacional Av. Rio Branco, 219 Rio de JaneiroBIBLIOGRAFIA: Perfil de um Acervo. Museu de Arte Contempornea da Uni-versidade de So Paulo. Organizao e Ensaio de Ar acy Amaral. So Paulo,Ex Libris, 1988.

    de ver o que ir acontecer. Espera-se muito da economia e

    do mercado de arte no Brasil que no sofrer por falta de

    empenho e entusiasmo dos profissionais brasileiros. Viva

    2010!

    MAX ERNST (1891-1976) UM DOS ARTISTAS PONTUAIS DO ACERVO DO MUSEU DE ARTE

    CONTEMPORNEA DA USP. QUADRO PARA JOVENS LEO SOBRE TELA, 1943

    PATRIMNIO

    SrgioGuerini/acervodoM

    AC/USP

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