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REVISTA ÂMBITO JURÍDICO ® A greve no servi?p?co: elementos conceituais e o debate em torno da sua regulamenta? Resumo: O artigo trata da greve no serviço público. Inicia apresentando o conceito de greve e suas particularidades no serviço público. Expõe um histórico da regulamentação da greve no serviço público no Brasil. Avança para o debate da regulamentação atual, especialmente a partir da decisão recente do STF de estender, "no que couber", a lei de greve no setor privado para o setor público. Sumário: Introdução 1. Conceitos de greve 2. Natyureza jurídica da greve 3. classificação 4. A greve no serviço público 5. Histórico da legislação de greve no serviço público 6. Previsão legal de greve no serviço público 7. Breve panorama das greves: esfera privada x esfera pública 8. A polêmica sobre o direito de greve no serviço público 9. Comparativo entre o direito de greve no setor privado e setor público 10. A greve e a negociação coletiva Conclusão. INTRODUÇÃO[1] O presente estudo foi elaborado em meio a uma reviravolta no direito de greve dos servidores públicos. No mês de outubro de 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a Lei de Greve do setor privado seria aplicada ao setor público, “naquilo que couber”, enquanto o Legislativo não normatiza a matéria. Passaram-se quase 20 anos desde que a Constituição Federal garantiu o direito de greve ao servidor público, que até então era considerado um delito penal. Neste sentido, a digressão histórica é necessária para situar o direito de greve na evolução da sociedade. A conceituação e a abordagem de aspectos do Direito Administrativo são de relevância, ante as especificidades deste setor. Por isto, reservou-se alguns capítulos para estes conceitos e a interferência de cada um desses elementos na delineação da normatização do direito de greve. Uma síntese da visão dos atores sobre a greve no serviço público foi trazida, destacando-se seus aspectos polêmicos. As entidades sindicais ficaram receosas com a decisão do STF. Argumentam que o setor público tem especificidades que, se aplicada a lei, impossibilitariam o exercício da greve. Pretendem, ainda, que a regulamentação deste direito seja concomitante à da negociação coletiva. Por fim, traçam-se algumas perspectivas em face da decisão do STF e alguns pontos que poderiam ser aprofundados em um futuro projeto de regulamentação da greve no serviço público. 1. CONCEITOS DE GREVE A greve é um ato social que ocorre a partir do momento em que o Estado deixa de cumprir a sua obrigação de pacificador social. É um fenômeno que existe em decorrência das forças invisíveis de coerção social. Por este motivo, muitos juristas entendem que não é possível alçá-la a um direito: “Carnelutti afirma que a greve seria um ato antijurídico, análogo à guerra, pelo qual o Estado pretende garantir, por sí mesmo e freqüentemente contra o direito, o triunfo de suas pretensões. O direito de guerra é a negação do direito e como o direito subjetivo não pode existir senão como resultado do direito objetivo. A fórmula do direito de guerra ou direito de greve contém uma ‘contradictio in adjecto’”. (RODRIGUES, 1989: 456) O exercício da força é contrário ao direito, para o qual não importa o grau persuasivo do mais forte, e sim a razão daquele que tem o direito. Em que pesem estas considerações sociais sobre a greve, é certo que os ordenamentos jurídicos de vários países passaram a admitir a greve como um direito. E, sendo um direito, será passível de regulamentação, ainda que alguns defendam a inexistência de controle sobre a greve. O conceito de greve dependerá de cada ordenamento jurídico. Será considerado um direito ou uma liberdade, se for admitida. Contudo, se a sociedade proibi-la, será um delito punível. Os doutrinadores conceituam a greve conforme o elemento que pretendem realçar. O conceito abaixo traz um enfoque sociológico, reconhecendo a greve nas seguintes situações sociais: “Greve é toda interrupção de trabalho, de caráter temporário, motivada por reivindicações suscetíveis de beneficiar todos ou parte do pessoal e que é apoiada por um grupo suficientemente representativo da opinião obreira”.DURAND (apud MARTINS, 2001:28) Partindo de um enfoque jurídico, os autores abaixo conceituam a greve das seguintes formas: É a recusa coletiva e combinada de trabalho, manifestando a intenção dos assalariados de se colocarem provisoriamente fora do contrato, a fim de assegurar o sucesso de suas reivindicações.” SINAY (apud MARTINS, 2001: 28) “Greve é uma declaração sindical que condiciona o exercício individual de um direito coletivo de suspensão temporária do trabalho, visando à satisfação de um interesse profissional.” GOMES, GOTTSCHALK (apud MARTINS, 2001:28) “A greve é considerada, em nossa legislação, como a suspensão coletiva, temporária pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços ao tomador.” MARTINS (2001:28) “Greve é o abandono temporário e concertado do trabalho, numa ou mais empresas, estabelecimento ou serviço de qualquer natureza ou finalidade, para a defesa de interesses profissionais econômicos e sociais comuns aos trabalhadores.” GARCIA (2001:28) Pode-se extrair algumas características do objeto em estudo. A greve se manifesta a partir de uma vontade coletiva. Será sempre impulsionada por interesse de um grupo de pessoas ligadas por uma situação profissional. Assim, não será possível a existência de greve de uma única pessoa. Tampouco, vai-se estar diante de interesses que não sejam profissionais. Infere-se, ainda, que a greve importa em suspensão, recusa, interrupção ou abandono de uma atividade profissional. Não obstante, a interrupção parcial não descaracteriza o movimento paredista. São inúmeros os exemplos de greves parciais, principalmente se leva em conta que atualmente deve-se manter as atividades essenciais em funcionamento. Cite-se também, o exemplo da “greve tartaruga” realizada pelos metalúrgicos do ABC Paulista, na década de 80. Ela consistia na diminuição do ritmo da produção ou na paralisação de setores estratégicos da linha de produção. Outro elemento presente nos conceitos de greve é o tempo. A greve não deve ter duração permanente. Caso contrário, é abandono de emprego. Ela pode ter prazo indeterminado, mas os trabalhadores deverão retornar ao trabalho assim que a greve terminar. Por fim, a greve terá como reivindicação a satisfação de um direito ou a defesa de um interesse relacionado à categoria profissional dos trabalhadores parados. Destarte, a greve de solidariedade não costuma ser, posto que o interesse não se restringe à categoria profissional paralisada, mas à satisfação de interesses políticos ou relacionados a outros trabalhadores. 2. NATUREZA JURÍDICA DA GREVE A greve é um direito de coerção que visa à solução de um conflito coletivo. Pode ser considerada um direito potestativo dos empregados. Assim, a parte contrária deve submeter-se à situação. A greve tem um único objetivo: fazer a parte contrária ceder sob um determinado ponto da negociação. Quanto à natureza jurídica deste ato, a greve pode ser analisada sob os efeitos que provoca no contrato de trabalho. Assim, será uma suspensão do contrato de trabalho se não ocorrer o pagamento de salários, com a conseqüente interrupção na contagem do tempo de serviço. Outrossim, caso

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REVISTA ÂMBITO JURÍDICO ®

A greve no servi?p?co: elementos conceituais e o debate em torno da sua regulamenta?

Resumo: O artigo trata da greve no serviço público. Inicia apresentando o conceito de greve e suas particularidades no serviço público. Expõe umhistórico da regulamentação da greve no serviço público no Brasil. Avança para o debate da regulamentação atual, especialmente a partir da decisãorecente do STF de estender, "no que couber", a lei de greve no setor privado para o setor público.

Sumário: Introdução 1. Conceitos de greve 2. Natyureza jurídica da greve 3. classificação 4. A greve no serviço público 5. Histórico da legislação degreve no serviço público 6. Previsão legal de greve no serviço público 7. Breve panorama das greves: esfera privada x esfera pública 8. A polêmicasobre o direito de greve no serviço público 9. Comparativo entre o direito de greve no setor privado e setor público 10. A greve e a negociaçãocoletiva Conclusão.

INTRODUÇÃO[1]

O presente estudo foi elaborado em meio a uma reviravolta no direito de greve dos servidores públicos. No mês de outubro de 2007, o SupremoTribunal Federal (STF) decidiu que a Lei de Greve do setor privado seria aplicada ao setor público, “naquilo que couber”, enquanto o Legislativo nãonormatiza a matéria.

Passaram-se quase 20 anos desde que a Constituição Federal garantiu o direito de greve ao servidor público, que até então era considerado umdelito penal. Neste sentido, a digressão histórica é necessária para situar o direito de greve na evolução da sociedade.

A conceituação e a abordagem de aspectos do Direito Administrativo são de relevância, ante as especificidades deste setor. Por isto, reservou-sealguns capítulos para estes conceitos e a interferência de cada um desses elementos na delineação da normatização do direito de greve.

Uma síntese da visão dos atores sobre a greve no serviço público foi trazida, destacando-se seus aspectos polêmicos. As entidades sindicais ficaramreceosas com a decisão do STF. Argumentam que o setor público tem especificidades que, se aplicada a lei, impossibilitariam o exercício da greve.Pretendem, ainda, que a regulamentação deste direito seja concomitante à da negociação coletiva.

Por fim, traçam-se algumas perspectivas em face da decisão do STF e alguns pontos que poderiam ser aprofundados em um futuro projeto deregulamentação da greve no serviço público.

1. CONCEITOS DE GREVE

A greve é um ato social que ocorre a partir do momento em que o Estado deixa de cumprir a sua obrigação de pacificador social. É um fenômeno queexiste em decorrência das forças invisíveis de coerção social. Por este motivo, muitos juristas entendem que não é possível alçá-la a um direito:

“Carnelutti afirma que a greve seria um ato antijurídico, análogo à guerra, pelo qual o Estado pretende garantir, por sí mesmo e freqüentementecontra o direito, o triunfo de suas pretensões. O direito de guerra é a negação do direito e como o direito subjetivo não pode existir senão comoresultado do direito objetivo. A fórmula do direito de guerra ou direito de greve contém uma ‘contradictio in adjecto’”. (RODRIGUES, 1989: 456)

O exercício da força é contrário ao direito, para o qual não importa o grau persuasivo do mais forte, e sim a razão daquele que tem o direito.

Em que pesem estas considerações sociais sobre a greve, é certo que os ordenamentos jurídicos de vários países passaram a admitir a greve comoum direito. E, sendo um direito, será passível de regulamentação, ainda que alguns defendam a inexistência de controle sobre a greve.

O conceito de greve dependerá de cada ordenamento jurídico. Será considerado um direito ou uma liberdade, se for admitida. Contudo, se asociedade proibi-la, será um delito punível.

Os doutrinadores conceituam a greve conforme o elemento que pretendem realçar. O conceito abaixo traz um enfoque sociológico, reconhecendo agreve nas seguintes situações sociais:

“Greve é toda interrupção de trabalho, de caráter temporário, motivada por reivindicações suscetíveis de beneficiar todos ou parte do pessoal e que éapoiada por um grupo suficientemente representativo da opinião obreira”.DURAND (apud MARTINS, 2001:28)

Partindo de um enfoque jurídico, os autores abaixo conceituam a greve das seguintes formas:

“É a recusa coletiva e combinada de trabalho, manifestando a intenção dos assalariados de se colocarem provisoriamente fora do contrato, a fim deassegurar o sucesso de suas reivindicações.” SINAY (apud MARTINS, 2001: 28)

“Greve é uma declaração sindical que condiciona o exercício individual de um direito coletivo de suspensão temporária do trabalho, visando àsatisfação de um interesse profissional.” GOMES, GOTTSCHALK (apud MARTINS, 2001:28)

“A greve é considerada, em nossa legislação, como a suspensão coletiva, temporária pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços aotomador.” MARTINS (2001:28)

“Greve é o abandono temporário e concertado do trabalho, numa ou mais empresas, estabelecimento ou serviço de qualquer natureza ou finalidade,para a defesa de interesses profissionais econômicos e sociais comuns aos trabalhadores.” GARCIA (2001:28)

Pode-se extrair algumas características do objeto em estudo. A greve se manifesta a partir de uma vontade coletiva. Será sempre impulsionada porinteresse de um grupo de pessoas ligadas por uma situação profissional. Assim, não será possível a existência de greve de uma única pessoa.Tampouco, vai-se estar diante de interesses que não sejam profissionais.

Infere-se, ainda, que a greve importa em suspensão, recusa, interrupção ou abandono de uma atividade profissional. Não obstante, a interrupçãoparcial não descaracteriza o movimento paredista. São inúmeros os exemplos de greves parciais, principalmente se leva em conta que atualmentedeve-se manter as atividades essenciais em funcionamento. Cite-se também, o exemplo da “greve tartaruga” realizada pelos metalúrgicos do ABCPaulista, na década de 80. Ela consistia na diminuição do ritmo da produção ou na paralisação de setores estratégicos da linha de produção.

Outro elemento presente nos conceitos de greve é o tempo. A greve não deve ter duração permanente. Caso contrário, é abandono de emprego. Elapode ter prazo indeterminado, mas os trabalhadores deverão retornar ao trabalho assim que a greve terminar.

Por fim, a greve terá como reivindicação a satisfação de um direito ou a defesa de um interesse relacionado à categoria profissional dostrabalhadores parados. Destarte, a greve de solidariedade não costuma ser, posto que o interesse não se restringe à categoria profissionalparalisada, mas à satisfação de interesses políticos ou relacionados a outros trabalhadores.

2. NATUREZA JURÍDICA DA GREVE

A greve é um direito de coerção que visa à solução de um conflito coletivo. Pode ser considerada um direito potestativo dos empregados. Assim, aparte contrária deve submeter-se à situação. A greve tem um único objetivo: fazer a parte contrária ceder sob um determinado ponto da negociação.

Quanto à natureza jurídica deste ato, a greve pode ser analisada sob os efeitos que provoca no contrato de trabalho. Assim, será uma suspensão docontrato de trabalho se não ocorrer o pagamento de salários, com a conseqüente interrupção na contagem do tempo de serviço. Outrossim, caso

ocorra o pagamento, será considerada uma interrupção do contrato.

3. CLASSIFICAÇÃO

As greves podem ser classificadas quanto à sua legalidade e extensão.

Quanto à legalidade, as greves seriam:

a) lícitas, porque atendem as determinações legais impostas;

b) ilícitas, posto que não observam as prescrições legais;

c) abusivas, em que se cometem abusos, indo além da previsão legal;

d) não abusivas, ou seja, exercidas dentro das previsões da legislação e sem excessos.

No tocante à extensão, as greves podem ser:

a) globais quando atingem várias empresas ou toda a categoria;

b) parciais ao atingirem poucas empresas ou certos setores destas;

c) de empresa quando só ocorrem neste núcleo.

4. A GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO

A greve no serviço público envolve outros parâmetros para a sua análise. Não se deve perder de vista alguns conceitos como o de servidor público,os princípios do Direito Administrativo, a essencialidade da prestação destes serviços. Tratam-se de elementos que não se encontram no DireitoPrivado. Assim, inicia-se este capítulo trazendo alguns conceitos que possibilitarão a compreensão destas variantes próprias do DireitoAdministrativo.

4.1 SERVIDORES PÚBLICOS

Servidores públicos são os que mantêm com a Administração Pública Direta e Indireta relação de trabalho de natureza profissional e caráter nãoeventual sob vínculo de dependência.

O trabalho profissional do servidor público pode ser definido como aquele exercido de maneira habitual em benefício de outrem, mediante umacontrapartida. A não eventualidade é caracterizada pelo vínculo a uma fonte de trabalho que o aproveita de maneira constante, permanente. Quantoà dependência, pode-se afirmar que é a subordinação, onde o trabalhador transfere para um terceiro o poder de direção do seu trabalho e,conseqüentemente, sujeita-se ao seu poder de organização, controle e disciplinar.

A administração pública direta compreende os seguintes entes: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. A administração públicaindireta é constituída das autarquias, fundações públicas, sociedade de economias mistas e empresas públicas.

Existem três espécies de servidores públicos: o estatutário, o empregado público e o temporário. O primeiro é regido pelo estatuto do ente que fazparte e tem cargo público. O segundo é contratado sob o regime da legislação trabalhista (CLT e demais normas) e tem emprego público. O terceiro,é contratado para prestar serviços por prazo determinado e detém uma função pública.

Os entes da administração pública direta, as autarquias e as fundações públicas podem contratar servidores sob qualquer um dos regimes. Contudo,as empresas públicas e as sociedades de economia mista somente contratarão sob o regime da legislação trabalhista.

4.2 REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS

Até 1998 todos os servidores faziam parte do Regime Jurídico Único (RJU), ou seja, eram estatutários. A Emenda Constitucional nº 19/98 alterou oartigo 39 da Constituição Federal, não mais fazendo referência ao RJU. Com isto, entendeu-se que os servidores poderiam ser contratados soboutros regimes.

Saliente-se, contudo, que ao elaborar o presente trabalho, a autora da pesquisa se deparou no dia 02 de agosto de 2007, com o julgamento da ADINnº 2135/2000, que restabeleceu o caput do artigo 39 da Constituição Federal, com efeitos ex nunc . Assim, os servidores desde então contratadospassam a ser regidos novamente pelo RJU. Somente seria possível a contratação de trabalhadores pelo regime celetista se existir legislaçãoespecífica no âmbito do ente federativo, como, por exemplo, a Lei nº 9.962/2000[2], na esfera federal. Cada ente público tem norma específica, quetanto pode ser o regime estatutário, celetista ou misto, na qual parte do pessoal é estatutária e parte é celetista.

4.3 ESTABILIDADE NO SERVIÇO PÚBLICO

São estáveis apenas os servidores nomeados para cargos de provimento efetivo. Os requisito são: ser aprovado em concurso público;

três anos de efetivo exercício no cargo; ser aprovado na avaliação de desempenho após o estágio probatório. Esses servidores somente perdemseus cargos depois de instaurado procedimento administrativo, com direito à ampla defesa ou por sentença judicial transitada em julgado.

4.4 COMPETÊNCIA PARA JULGAR EM MATÉRIA DE SERVIÇO PÚBLICO

A alínea “e”, do artigo 240, da Lei nº 8.112/90, atribuía competência à Justiça do Trabalho para dirimir os dissídios individuais e coletivos decorrentesdo serviço público do regime jurídico único.

O STF julgou inconstitucional referido dispositivo. Ademais, o artigo 114, da CF não confere à Justiça do trabalho esta competência. Estes conflitosestão sujeitos às regras do Direito Administrativo e não do Direito do Trabalho. Assim, seria da Justiça Federal a competência para julgar questõesoriundas dos dissídios dos servidores públicos, bem como compete à Justiça Comum, as decisões pertinentes aos servidores estaduais, distritais emunicipais.

5. HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DE GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO NO BRASIL

No Brasil, a greve oscilou entre ser um delito e um direito, dependendo do contexto político e social vivenciado na sociedade. Durante os anos deditadura e restrições aos direitos, a greve foi repreendida. Em outros momentos de democracia, ela foi tolerada. Mas somente depois da ConstituiçãoFederal de 1988 é que a greve passou a ser um direito do trabalhador.

O Código Penal de 1890 proibia a greve no Brasil. Em 1932, a Lei nº 38 conceituou a greve como um delito. Na Constituição Federal de 1937, agreve ou lockout foram considerados recursos anti-sociais, nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com os interesses superiores daprodução nacional.

O Decreto-lei nº 431 de 1938 tipificou a greve como um crime, pois ela incitava os funcionários públicos à paralisação coletiva dos serviços, induzindoempregados à cessação ou suspensão do trabalho coletiva.

O Decreto-lei nº 1237 de 1939 previa punições em caso de greve, como a suspensão, a despedida por justa causa e até mesmo a detenção.

O Código Penal de 1940, em seus artigos 200 e 2001, considerava crime a paralisação do trabalho, na hipótese de perturbação da ordem pública ouse o movimento fosse contrário aos interesses públicos.

Por sua vez, a CLT, em seu artigo 723, previa penas de suspensão ou dispensa, bem como a perda do cargo de representante sindical, nos casos desuspensão coletiva do trabalho sem prévia autorização do tribunal trabalhista. Além disso, o artigo 724 estabelecia multa para o sindicato queordenasse a suspensão do serviço, além de cancelamento do registro da associação ou perda de cargo, se o ato fosse exclusivo dos administradoresdo sindicato.

A greve passou a ser tolerada nas atividades acessórias com o Decreto-lei nº 9.070/1946, não obstante ser proibida nas atividades fundamentais.

Em 1964, embora a lei não proibisse a greve, ela se tornou quase impraticável ante as inúmeras exigências para deflagrá-la.

A Lei nº 4.330 prescrevia que a greve seria julgada ilegal caso não observasse os seguintes critérios: prazos e condições previstos na lei; seu objetonão se circunscrevesse a reivindicações julgadas improcedentes pela Justiça do Trabalho em menos de um ano em decisão definitiva; a greve nãopoderia ter motivos políticos, partidários, religiosos, morais, de solidariedade ou quaisquer outros que não tivesse relação com a própria categoriainteressada; a finalidade de greve tinha que ser a revisão de norma coletiva, salvo quando as condições pactuadas tivessem sido substancialmentemodificadas.

Esta lei ainda estabelecia a vedação do exercício de greve aos funcionários e servidores da União, dos Estados, dos Territórios, dos Municípios e dasAutarquias.

A Constituição Federal de 1967 não alterou o quadro de então, assegurando a greve nos termos da lei ao setor privado, mas proibindo-a aos serviçospúblicos e às atividades essenciais.

A regulamentação das atividades essenciais veio a seguir com o Decreto-lei nº 1.632/1978 que enumerou as seguintes áreas como essenciais:serviço de água e esgoto, energia elétrica, petróleo, gás e outros combustíveis, bancos, transportes e comunicações, hospitais, ambulatórios,farmácias e drogarias. O Ministério do Trabalho se encarregava de declarar a ilegalidade da greve nas hipóteses mencionadas.

A greve no serviço público passa a ser considerado um crime contra a segurança nacional, com a edição da Lei nº 6.620/1978, com puniçõesàqueles que incitassem a paralisação e a cessação coletiva do trabalho.

Por fim, a Constituição Federal de 1988 insere a greve no elenco dos direitos sociais fundamentais dos trabalhadores no setor privado. Prevê que alei definirá os serviços e atividades essenciais e disporá sobre o atendimento às necessidades inadiáveis da comunidade. Apenas os abusos sujeitamos infratores às penas da lei.

A Constituição Federal reconhece ainda, no artigo 37, inciso VII, o direito de greve dos servidores públicos, proibindo-a apenas aos servidoresmilitares. Todavia, o exercício desse direito dependeria da edição posterior de lei complementar para a sua regulamentação. O setor privado éregulamentado pela Lei nº 7.783/1989.

A Emenda Constitucional nº 19/1998 altera o inciso VII, do artigo 37, da CF apenas para dispor que o exercício da greve no serviço público serádefinido por lei específica, até o momento, contudo, esta lei não foi regulamentada.

6. PREVISÃO LEGAL DA GREVE NOS SERVIÇOS PÚBLICOS

O direito de greve está previsto no artigo 37, inciso VII, da CF, que dispõe:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedeceráaos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e também, ao seguinte:(...)

VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica;”

A norma tem eficácia limitada, na medida em surtirá os efeitos somente com a edição de lei infraconstitucional. O efeito é apenas revogador ouparalisante. A necessidade de lei que complete o dispositivo constitucional foi objeto de questionamento perante o STF, por meio do Mandado deInjunção nº 20-4/DF. A lei que definirá os termos e limites do exercício da greve é requisito de aplicabilidade e operatividade da norma constitucional.

Para alguns doutrinadores, com a alteração do inciso VII exigindo apenas lei específica, a regulamentação poderia ocorrer por lei ordinária, nãonecessitando de lei complementar. Outros doutrinadores acrescentam, ainda, que a regulamentação do direito de greve não é privativa da União. Ouseja, poderiam existir regulamentações de todos os entes da Federação (DI PIETRO, 2005).

Enquanto a regulamentação não ocorre, a jurisprudência decorrente das demandas judiciais, que não deixam de ocorrer ainda que inexista a lei,caminha no sentido de considerar lícito o desconto dos dias parados. Muitas vezes aplica sanções de responsabilização civil e até mesmo penal,dependendo da gravidade do caso.

Recentemente, em outubro do ano de 2007, o STF, em uma decisão histórica relativa ao Mandado de Injunção nº 670/712, declarou que é aplicávelao serviço público, enquanto não for disciplinada pelo Legislativo, a lei de greve do setor privado, qual seja, a Lei nº 7.783/1989.

Em seu voto, o Ministro Celso de Mello assim julgou:

“(...) viabilizar, desde logo, nos termos e com as ressalvas e temperamentos preconizados por Suas Excelências, o exercício, pelos servidorespúblicos civis, do direito de greve, até que seja colmatada, pelo Congresso Nacional, a lacuna normativa decorrente da inconstitucional falta deedição da lei especial a que se refere o inciso VII do art. 37 da Constituição da República”

6.1 A DECISÃO DO STF SOBRE A APLICAÇÃO DA LEI DE GREVE DO SETOR PRIVADO AO SETOR PÚBLICO

A referida decisão deverá provocar inúmeras discussões jurídicas sobre este tema, que só o tempo se encarregará de pacificar, até que o legisladorcoloque um ponto final na questão.

O mandado de injunção é instrumento processual previsto na CF, artigo Art. 5º, inciso LXXI, CF, in verbis:

“LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdadesconstitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;”

No presente caso, em se tratando de lei ordinária, a competência para julgar o Mandado de Injunção é do STF, nos termos do artigo 102, inciso I,letra q, da CF, in verbis:

“Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

I – processar e julgar, originariamente (...)

q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da

Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos TribunaisSuperiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal.”

Os Mandados de Injunção nº 670, 708 e 712 que deram origem a esta decisão do STF foram impetrados por três sindicatos profissionais no ano de2003. Foram eles: Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Espírito Santo; Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Paraná, e; Sindicatodos Trabalhadores em Educação de João Pessoa.

Esses sindicatos pediam a garantia para que pudessem iniciar uma greve, a declaração sobre as regras que disciplinariam o movimento e amanifestação sobre a demora do Legislativo em aprovar uma lei de greve e do Executivo em propô-la.

A decisão do STF surpreendeu a todos. Os ministros decidiram a questão por maioria (8 votos a 3), nos seguintes termos:

“Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu do mandado de injunção e propôs a solução para a omissão legislativa com a aplicação da Lei nº 7.783,de 28 de junho de 1989, no que couber, vencidos, em parte, o Senhor Ministro Maurício Corrêa (Relator), que conhecia apenas para certificar a morado Congresso Nacional, e os Senhores Ministros Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio, que limitavam a decisão à categoriarepresentada pelo sindicato e estabeleciam condições específicas para o exercício das paralisações. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie.Lavrará o acórdão o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Não votaram os Senhores Ministros Menezes Direito e Eros Grau por sucederem,respectivamente, aos Senhores Ministros Sepúlveda Pertence e Maurício Corrêa, que proferiram voto anteriomente. Ausente, justificadamente, aSenhora Ministra Cármen Lúcia, com voto proferido em assentada anterior. Plenário, 25.10.2007.”

Com esta decisão, o setor público se submete, no que couber, à Lei nº 7.731/1989. Esta decisão terá validade até a aprovação da lei para o setorpúblico.

Os ministros que votaram em sentido contrário sustentaram que o era necessário estabelecer especificações para o setor público. Ademais,limitavam a decisão apenas aos sindicatos impetrantes.

Depois desta decisão, alguns atores sociais manifestaram suas opiniões sobre o assunto. O Governo Federal sugeriu que deveria ser observado umnúmero mínimo de servidores nas assembléias, devendo ser cortados o ponto nos dias parados, assim como ocorre na iniciativa privada. Além disso,argumentou que se deveria definir quais as áreas essenciais do serviço, com percentual de servidores que deverão assegurar o atendimento àpopulação.

A Advocacia Geral da União enviou uma proposta para a Casa Civil com regras similares à lei do setor privado: comunicado com 48 ou 72 horas deantecedência da greve; dias parados serão considerados como faltas injustificadas; reposição de 50% das horas paradas; no caso de greve abusivahaverá o desconto de 30% dos vencimentos mensais até a quitação dos dias.

O movimento sindical, por outro lado, não se mostrou satisfeito com a decisão do STF. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) exprimiu a seguinteopinião por meio do seu Secretário Geral, Sr. Quintino Severo: “

Boa parte das greves no setor público se dá pela falta de negociação coletiva. Agora será mais difícil ainda negociar.”

A Confederação Nacional dos Trabalhadores nos Serviços Públicos – Condsef – filiada à CUT, também reclamou: “Desde o começo defendemosuma resolução que contemple a negociação coletiva. Vamos continuar brigando por isso na Câmara” (Sergio Ronaldo da Silva – Diretor).

A Força Sindical, embora tenha poucos sindicatos de servidores a ela filiados, reagiu da seguinte forma:

“O movimento sindical não pode ser engessado com legislações limitadoras como essa” (Paulo Pereira da Silva – Presidente da Força Sindical).

De qualquer modo, recentes paralisações, como a dos advogados públicos iniciada em 17 de janeiro de 2008, buscaram obedecer os estritos termosda Lei nº 7.7731/1989 para que o movimento não fosse julgado abusivo. Os advogados observaram os prazos de notificações prévias, o percentualmínimo de 30% para a manutenção do serviço, e o motivo é muito forte, pois o Governo Federal ameaça descumprir acordo de reajuste salarialnegociado outrora[3].

7. BREVE PANORAMA DAS GREVES: ESFERA PÚBLICA X ESFERA PRIVADA

A tabela abaixo demonstra que a quantidade de trabalhadores regidos pelo RJU ainda prevalece em todos os entes da Federação. Nos municípiosencontram-se em proporção maior a quantidade de empregados celetistas, bem como, os menores salários. Nota-se ainda que, no âmbito Federal, ovalor médio do salário é maior entre os trabalhadores regidos pelo RJU. Tabela 1: Quantidade de servidores públicos e rendimentos médios

Elaboração: DIEESE CUT NACIONAL Fonte: Rais 2003

Tabela 2: Quantidade de greves e tempo médio de duração no setor público e privado

Esfera / Setor

Greves

Horas paradas

A) ESFERA PÚBLICA

113

13.252

Funcionalismo Público

103

12.618

Gov. Estado

46

4.498

Gov. Mun.

33

2.720

Gov. Fed.

24

5.400

Empresas Estatais

10

634

Serviços

6

570

Indústria

4

64

Comércio

0

0

B) ESFERA PRIVADA

79

1898

Serviços

43

904

Indústria

35

954

Rural

1

40

Comércio

0

0

Fonte: DIEESE

Denota-se da tabela que há grande quantidade de greves no serviço público brasileiro em comparação com o setor privado. Além disso, em geral as

greves são longas. Uma das possíveis explicação para tal acontecimento, é o fato de que no serviço público não existe previsão legal de negociação

coletiva. Isto forçaria os servidores a parar sempre que aspirarem uma determinada reivindicação para pressionar a negociação.

Em geral, não há desconto dos dias parados, principalmente na esfera federal, em virtude da falta de regulamentação[4]. Cada ente da Federação

acaba disciplinando a forma do desconto ou compensação de eventuais dias parados em greve.

Na administração pública, pelo princípio da legalidade, a vontade administrativa decorre da lei. Assim, o administrador somente poderá executar

aquilo que a lei determina, não podendo se impor determinada conduta. Por isto, a negociação coletiva encontra um óbice que desestimularia as

partes – administrador e servidores – a entabularem tratativas, diante da necessidade da aprovação do legislativo.

O Legislativo, por sua vez, não estaria vinculado aos resultados da negociação coletiva; ou então, a demora na aprovação da lei desestimula

sobremaneira esta via de solução de conflitos.

Ademais, na maioria das vezes o resultado das negociações envolve gastos do orçamento. Desta forma, as verbas destinadas ao pagamento de

negociação coletiva teriam que estar previstas na lei orçamentária, que deve ser aprovada no exercício anterior. Seria necessária uma forte

organização dos servidores, para que suas reivindicações fossem atendidas com um ano de antecedência.

Acrescente-se, ainda, que a Lei da Responsabilidade Fiscal exigiria uma prédisposição da administração pública em se atentar para reserva de

valores suficientes destinados à cobertura com gastos decorrentes destas negociações, o que nem sempre é possível se não existir, frise-se, uma

forte organização dos servidores.

8. A polêmica sobre o direito de greve no serviço público

A opinião quanto ao direito de greve aos servidores públicos dividem-se entre aqueles são contra e aqueles são favoráveis à esse direito nesta

categoria de trabalhadores.

Na opinião daqueles que são contrários, os servidores públicos são essenciais para a Administração Pública. Assim, considerando que esta tem

como princípios a continuidade de seus serviços, a greve seria impraticável por prejudica-los. Além disso, outros princípios como o do interesse

público sobre o privado, também entraria em conflito com o direito de greve, dado o caráter particular das reivindicações perseguidas pelos

trabalhadores.

Nestes casos enxerga-se o servidor público não apenas como um trabalhador que busca a sua subsistência no serviço público, mas como um agente

social que se confunde com o próprio Estado. Assim, seriam pessoas sem vontade própria, e destinados a cumprir uma missão além dos seus

interesses pessoais.

É certo que o servidor não deve ser visto como um empregado de instituições privadas. Ele tem responsabilidades diferenciadas, inclusive com

penalizações criminais no caso de descumprimento. Não por outro motivo, a Constituição Federal fez distinção entre a greve no setor privado e no

setor público, com previsão normativa própria para os últimos.

Outro argumento comumente encontrado entre aqueles que são contrários ao direito de greve, é o de que ela compromete toda a comunidade. Em

geral, os que sofrem com as paralisações são os setores menos favorecidos da sociedade.

Também se argumenta que a greve é fenômeno característico das organizações privadas, não podendo ser exercido contra o Estado, que não tem

objetivo de lucro. Além disso, os servidores gozariam de estabilidade e aposentadoria integral e que em alguns países devem lealdade irrestrita ao

Estado, o que implica a limitação de seus direitos, incluindo o de greve.

Acrescente-se, ainda, que os deveres dos servidores públicos são determinados em lei. Logo, resta impossível serem feitas reivindicações por meio

de greve. Deste modo, a negociação coletiva não pode ser exercitada pelas partes, que não estariam livres para entabularem normas que coloquem

fim ao conflito.

Por outro lado, aqueles que defendem o direito de greve dos servidores públicos, fazem-no sob tantos outros argumentos, da mesma forma

convincentes. Para estes, as atividades ditas essenciais também são exercidas por trabalhadores da iniciativa privada. Em alguns casos as

atividades do setor privado são até mesmo mais importantes e nem por isso o direito lhes é cerceado.

Para muitos dos que defendem o direito de greve no serviço público, a greve somente deve ser proibida em relação a certas atividades que

impliquem perigo à vida, à segurança e à saúde da população.

A greve no setor público, atestam, decorre do princípio da liberdade sindical. Entender que o servidor público não pode fazer greve é denegar o

direito de greve.

9. COMPARATIVO ENTRE O DIREITO DE GREVE NO SETOR PRIVADO E PÚBLICO

É evidente que com a recente decisão do STF, de estender para o setor público a lei de greve do setor privado, as decisões judiciais serão nos mais

diversos sentidos. A decisão do STF determina a aplicação da norma apenas “no que couber”, ou seja, quando não puder ser aplicada, a

jurisprudência se encarregará de preencher as lacunas.

É certo também que esta decisão deverá acelerar o processo de elaboração de lei específica para o setor público, o que já era esperado há quase

duas décadas.

Apenas como comparativo para analisar as possíveis controvérsias jurídicas advindas desta decisão, levantam-se a seguir alguns conflitos que

poderão ocorrer na aplicação da norma.

A lei do setor privado prevê que a paralisação deverá ser temporária e pacífica. Este dispositivo deve inibir as greves por tempo indeterminado, tão

comum no setor público.

Outro ponto a ser analisado é a aplicação do dispositivo que determina a deflagração da greve somente depois de frustrar-se a negociação coletiva.

No setor público, a possibilidade de negociação coletiva é mitigada, conforme decisões do STF, consubstanciada na Súmula nº 679[5], algumas

ADINs que declararam a inconstitucionalidade de dispositivos legais que remetiam à negociação coletiva no setor público[6] e pelo Mandado de

Injunção nº 20, que impediu a negociação coletiva neste setor.

No setor privado, a greve deve ser avisada com 48 horas de antecedência, sendo que, nas atividades essenciais, o aviso deve ser com 72 horas. A

questão é crucial, posto que as atividades listadas como essenciais não compreendem todas as atividades do setor público. Não existe, portanto,

parâmetro adequado neste caso.

A greve no setor privado é precedida de votação em assembléia, devidamente convocada. Não se aplica ao setor público o quórum das assembléias

do setor privado, inexistindo, neste aspecto, qualquer previsão legal específica.

A lei de greve do setor privado também prevê a contratação de trabalhadores, caso a atividade seja essencial. Mais uma vez se coloca em discussão

o que seria uma atividade essencial no setor público. Alguns defendem que todo o setor público executa uma atividade essencial. Sob este ponto de

vista, teríamos a obrigatoriedade de contratação de trabalhadores temporários em qualquer greve que ocorresse no setor público.

Além disso, uma grande parte da atividade pública tem atribuições bastante particulares. Determinadas áreas dependem de pessoas devidamente

treinadas para suas atividades, o que causaria um grande risco a contratação de pessoal sem experiência. Ademais, estas contratações poderiam

gerar favorecimentos pessoais, diante da inexistência de concursos públicos. Enfim, é um dispositivo que deverá ser utilizado com cautelas para o

setor público.

No setor privado, também é obrigatório que as partes prestem os serviços indispensáveis. Por serviços indispensáveis pode-se entender aqueles

que, não sendo executados, causem danos irreparáveis. Certamente, ao contrário do setor privado, no setor público esta solicitação será muito

recorrente, dada a natureza de suas atividades.

Outra questão de ordem processual que é inaplicável ao setor público é a competência da Justiça do Trabalho para decidir os dissídios coletivos

derivados da greve. Em relação ao servidor estatutário, há impedimento constitucional para esta forma de solução de conflitos.

10. A greve e a negociação coletiva

As entidade sindicais defendem o dispositivo da negociação coletiva no setor público, e argumentam que, paradoxalmente, parte das greves é feita

para forçar a abertura de negociação. Para eles, a regulamentação da greve deveria seguir pari passu à negociação coletiva no serviço público.

Conforme afirmado anteriormente, o Judiciário vem decidindo no sentido de não permitir a negociação coletiva no serviço público. No entanto, cabe

dizer que a negociação é uma realidade na Administração Pública, como exemplo recente, a negociação resultante da greve realizada pelos

advogados públicos, integrados pelos procuradores da Fazenda, do Banco Central, das autarquias, da União e defensores públicos.

A reivindicação dos advogados na referida greve é para o cumprimento de acordo firmado com o Governo Federal, de reajustamento de

remuneração. Com o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), em dezembro de 2007, o Governo ameaçava não

cumprir o acordado.

Até hoje o Brasil não ratificou a Convenção nº 151 e a Recomendação nº 159 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que dispõe sobre o

direito de greve no serviço público e garantia da negociação coletiva.

O Governo Federal vem discutindo com os servidores, por meio do Sistema Democrático de Negociação Permanente (SINP), criado pela Portaria nº

1.132/2003, uma regulamentação para o setor público. As comissões temáticas de política sindical, seguridade social, política salarial e diretrizes de

plano de carreira trouxeram alguns resultados, como a elaboração de vinte e seis atos normativos aprovados no Congresso Nacional relacionados a

cargos e remuneração; a elaboração de projeto de lei de greve e negociação coletiva, que, no entanto, estão inacabados.

O impasse em relação ao projeto de lei de greve e negociação situa-se no fato de que as Centrais Sindicais querem um único projeto para os dois

temas, haja vista que a desvinculação do projeto de lei poderá levar a um cenário de aprovação de uma lei de greve restritiva, sem aprovação do

direito de negociação. Além disso, não há consenso quanto à definição das atividades essenciais, ao desconto dos dias parados e ao papel dos

aposentados nas assembléias que deflagram a greve.

O Governo considera que a proposta do projeto até então acordado beneficia em muito os servidores, com isso, não pretendia enviar outro projeto ao

Congresso Nacional.

Recentemente, após a já mencionada decisão do STF, foi constituído um novo grupo de trabalho pelo Executivo Federal, conforme Portaria nº 1.486,

de 31 de julho de 2007 e Portaria nº 1953, de 17 de outubro de 2007, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, para deliberarem sobre a

regulamentação das greves.

As entidades sindicais pedem a suspensão, enquanto durar a discussão, da tramitação dos projetos de lei que tratam da negociação coletiva e

resolução de conflitos, incluindo a regulamentação do direito de greve.

Um dos principais argumentos levantados para rejeitar o direito à negociação coletiva no serviço público é de que o regime estatutário exige lei para a

regulamentação das negociações, o que fugiria ao controle do Poder Executivo, interlocutor pelo Estado.

Contudo, o argumento não se sustenta. Neste sentido, é oportuno transcrever os comentários da ilustríssima Ministra do STF, Carmen Lúcia, sobre

esta aparente barreira legal para a negociação coletiva:

“Em primeiro lugar, a lei pode ser o último momento de uma formulação jurídica, tendo, em sua base legitima de formação, a participação dos

interessados, o que se pode dar pela negociação coletiva. De resto, há de se convocarem os representantes do povo, que compõem o Poder

Legislativo, os quais se podem comprometer com as alternativas resolutórias negociadas, apenas formalizando em lei as situações combinadas.

Ademais, as negociações coletivas podem chegar a propor uma política de pessoal, inclusive no que concerne ao elemento remuneratório, que se

implante a partir do ajuste, dando-se à lei que se vier a elaborar a partir da negociação efeito retroativo, o que, inclusive, já ocorreu em mais de uma

ocasião. Nesse sentido, parece que, mesmo não se tendo feito referência expressa em norma constitucional quanto a possibilidade de negociação

coletiva, forma acentuadas as formas de atuação de alguns órgãos estatais para traçar as políticas públicas de pessoal, independente da existências

formal da lei, a qual haverá de se seguir às conclusões adotadas por esses órgãos.” (ROCHA, 1999)

A Ministra exemplifica que a própria CF ao dispor sobre os conselhos de administração, instituído pela Emenda Constitucional nº 19/98, no artigo 39,

mostra claramente a intenção de que a política de pessoal deve ser realizada em bases negociadas. Os conselhos devem ser compostos por

representantes dos servidores, o que leva necessariamente à negociação destas políticas.

10.1 PARADIGMAS INTERNACIONAIS DE NEGOCIAÇÃO COLETIVA NO SERVIÇO PÚBLICO

A OIT tem como marco regulamentação da greve e da negociação coletiva, a Convenção nº 151 e a Recomendação nº 159.

A Convenção 151, de 1978, dispõe sobre as relações de trabalho na administração pública. Ela se aplica à toda pessoa empregada pela

administração pública. Ela define os tipos de empregados que terão restrições por serem do alto escalão, forças armadas e polícia. Prevê, ainda,

proteção contra ato anti-sindical e facilita a atuação do representante sindical dentro ou fora do local de trabalho, sem prejuízo do funcionamento do

serviço.

A Convenção 151 disciplina o desenvolvimento da negociação entre a autoridade e os representantes sindicais quanto às condições de trabalho e

propõe solução de conflitos por meio da negociação, conciliação, mediação ou arbitragem.

A Recomendação 159, também de 1978, estabelece critérios objetivos e preestabelecidos do caráter representativo das organizações sindicais.

Procura desestimular a proliferação de organizações que cubram as mesmas categorias de empregados públicos.

A Recomendação prevê que os Estados participantes devem buscar a formulação legal sobre qual autoridade pública irá negociar e quais os

procedimentos e a forma de participação dos representantes dos empregados nas negociações sobre condições de emprego.

Recomenda, ainda, que os acordos devem prever o período de vigência ou o procedimento para o seu término, a renovação ou a revisão, ou ambos.

Não se pretende neste capítulo, realizar a comparação com as legislações de outros países, mas apenas elucidar a forma como alguns países

posicionaram-se em relação à negociação coletiva no serviço público[7].

Na Itália há a Lei Quadro do Serviço Público, de 1993, regulamentando a negociação coletiva. Na Espanha, embora a Constituição Federal seja

omissa quanto ao direito da negociação, em âmbito infraconstitucional ocorreu a sua regulamentação em 1987.

Portugal tem uma das legislações mais avançadas em termos de negociação coletiva e participação dos trabalhadores. O resultado de cada

negociação consta de instrumento autônomo, assinado pelas partes e obriga o Governo a adotar medidas legislativas ou administrativas adequadas

ao integral e exato cumprimento do acordado. Estabelece prazo de 180 dias para matérias de sua competência e 45 dias para submeter à

Assembléia da República as matérias que exigem autorização legislativa.

Além disso, existe em Portugal data-base inicial para a negociação, compatibilizando-a com o calendário legislativo do Orçamento Nacional. Há

também a instalação de processos setoriais permanentes de negociação. As negociações podem regulamentar vencimentos, jornadas,

aposentadorias, carreiras, higiene, saúde, segurança, férias, faltas, licenças, formação profissional, estatuto disciplinar, etc.

A participação dos trabalhadores também é estimulada na experiência portuguesa, a partir da elaboração de programas de emprego, controle de

execução de planos econômico-sociais, auditorias de gestão, melhoria da qualidade dos serviços públicos, dentre outros.

Por fim, prevê a legislação portuguesa a qualificação da interlocução com o Governo, com a obrigatoriedade da participação dos principais escalões,

como o Coordenador de Governo e o Ministro das Finanças.

Na América Latina, há um baixo perfil institucional da negociação coletiva nos serviços públicos. Prevalece um processo informal, com poucas

iniciativas legais, com destaque para o Convenio Coletivo do Trabalho no Setor Público que possibilitou à Argentina ratificar a Convenção 151 e a

Recomendação 159 da OIT.

CONCLUSÃO

A inserção do direito de greve aos servidores públicos, previsto no inciso VII, do artigo 37, da Constituição Federal de 1988, representou um avanço

em termos de garantia de liberdade de agir. Isto significou uma mudança substantiva na medida em que este direito era ignorado ou até mesmo visto

como um ilícito penal.

Do ponto de vista da autora deste trabalho, a greve deve ser regulamentada. Como qualquer fato social, ao ser admitido como um direito e ingressar

no ordenamento jurídico, deve ser regulado. Não existe direito que possa ser exercido de maneira ampla, sem o controle do Estado.

Assim, o dispositivo legal determina que este direito de greve será exercido nos termos de lei específica. Esta lei, contudo, ainda não foi editada, o

que torna ineficaz o direito de greve.

A recente decisão do STF mandando aplicar a lei do setor privado ao público, levará algum tempo até que a jurisprudência seja sedimentada,

mormente quanto às possíveis lacunas que surgirão, ante à incompatibilidade da lei do setor privado quando aplicada ao setor público.

A futura lei de greve dos servidores públicos não poderá restringir em demasia o referido direito, levando à sua invialibilidade. Isto conduziria à

inconstitucionalidade da própria norma.

Conforme sinalizou o STF na decisão de estender ao setor público a mesma lei que rege a greve do setor privado, é possível traçar algumas colunas

que sustentariam este direito.

A norma infraconstitucional deverá trazer um prazo para o aviso prévio de greve. Dependendo da atividade a ser paralizada, este prazo deverá ser o

mais largo possível.

Certamente a lei deverá explicitar quais as atividades essenciais e inadiáveis que deverão ser mantidas em funcionamento. Mais uma vez, a análise

deve ser cautelosa, a fim de que o direito de greve não seja cerceado, posto que apenas aos militares isto é explicitamente vetado.

O exercício da greve - seus limites e termos - deverá ser disciplinado pela lei. Na realidade, esta disposição em negociar já é prática comum entre os

sindicatos e os entes federativos. Em geral, o exercício da greve tem os seus termos estabelecidos pelas partes para que o serviço público não seja

completamente paralisado. A lei deverá prever normas gerais e os acordos as específicas de cada segmento.

Embora não seja o foco do presente trabalho, a regulamentação da greve no serviço público deve ser acompanhada pela normatização da

negociação coletiva.

O exercício da greve implica em buscar soluções para os conflitos existentes. A negociação coletiva é o canal para a solução destes conflitos, e o

resultado desta negociação deve ser transformado em um instrumento, assim como ocorre no setor privado.

O princípio da legalidade não ficará fragilizado com este procedimento. Ao contrário: o ideal é que a lei seja precedida pela manifestação direta dos

interessados. Apenas se deve ter o cuidado de buscar uma articulação com o Legislativo para que a negociação não “caia no vazio”, pela ausência

da regulamentação. Acrescente-se que determinados temas não necessitariam da lei criada pelo Legislativo, tendo em vista que o Executivo

também pode disciplinar determinadas matérias.

Referências bibliográficas AMORIM, Gustavo Henrique Pinheiro de. Direito Administrativo. São Paulo: Barros, Fischer & Associados, 2006. – (Para

aprender Direito). BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 21 ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

– (Coleção Saraiva de legislação). CARVALHO, Ricardo Motta Vaz de. Greve no serviço público. São Paulo: América Jurídica, 2005. DALLARI,

Adilson Abreu. Regime Constitucional dos servidores públicos. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990. DARCIA, Darcie. Os servidores

públicos e o direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1993. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 18ª ed. São Paulo: Atlas, 2005.

GALANTE, Marcelo. Direito Constitucional. São Paulo: Barros. Fischer & Associados, 2005. – (Coleção Para aprender Direito). INTERNACIONAL DO

SERVIÇO PÚBLICO - ISP. Cartilha da negociação coletiva de trabalho no setor público. Brasil, 2002 INTERNACIONAL DO SERVIÇO PÚBLICO -

ISP. Paradigmas da regulamentação da negociação coletiva de trabalho na Administração Pública. Brasil, 2006 LEI DE GREVE no setor privado

aplica-se aos servidores públicos. Jornal do Advogado, São Paulo, nº 323, novembro/2007, p. 19. LÓPEZ-MONIS DE CAVO, Carlos. O direito de

greve: experiências internacionais e doutrina da OIT. São Paulo: LTr: IBRART, 1986. – (Série pesquisa, n. 7). MARTINS, Sérgio Pinto. Greve do

servidor público. São Paulo: Atlas, 2001. MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do trabalho. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2006. MELLO, Celso Antônio

Bandeira de . Curso de Direito Administrativo. O STF REGULAMENTA a greve. O Estado de S. Paulo, 23 set. 2007, Notas e Informações, p. A3.

RECONDO, Felipe. Supremo decide que corte de ponto vale para grevistas do setor público. O Estado de S. Paulo, 26 out. 2007, Nacional, p.A4.

RAPASSI, Rinaldo Guedes. Direito de greve de servidores públicos. São Paulo: LTr, 2005. ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípios constitucionais

dos servidores públicos. São Paulo: Saraiva, 1999. RODRIGUES, Américo Plá. Formas de Regulamentação da Greve. In: LIMA, João; FILHO,

Teixeira (coords.). Relações Coletivas de Trabalho. São Paulo: LTr, pag 455-465, 1989 ROSA, Márcio Fernando Elias. Direito Administrativo. 8ª

edição. São Paulo: Saraiva, 2006.- (Coleção sinopses jurídicas) SILVA, Antônio Álvares da. Servidores não vão se intimidar com medida, avisa CUT.

O Estado de S. Paulo, 26 out. 2007, Nacional, p. A5. YONE, Frediani. Greve nos serviços essenciais a luz da Constituição. São Paulo: LTr, 2001.

ANEXOSANEXO 1: CONVENÇÃO Nº 151 Convenção Relativa à Protecção do Direito de Organização e aos Processos de Fixação das Condições

de Trabalho na Função Pública. La Conferencia General de la Organización Internacional del Trabajo: Convocada en Ginebra por el Consejo de

Administración de la Oficina Internacional del Trabajo, y congregada en dicha ciudad el 7 junio 1978 en su sexagésima cuarta reunión; Recordando

las disposiciones del Convenio sobre la libertad sindical y la protección del derecho de sindicación, 1948; del Convenio sobre el derecho de

sindicación y de negociación colectiva, 1949, y del Convenio y la Recomendación sobre los representantes de los trabajadores, 1971; Recordando

que el Convenio sobre el derecho de sindicación y de negociación colectiva, 1949, no es aplicable a ciertas categorías de empleados públicos y que

el Convenio y la Recomendación sobre los representantes de los trabajadores, 1971, se aplican a los representantes de los trabajadores en la

empresa; Tomando nota de la considerable expansión de los servicios prestados por la administración pública en muchos países y de la necesidad

de que existan sanas relaciones laborales entre las autoridades públicas y las organizaciones de empleados públicos; Observando la gran diversidad

de los sistemas políticos, sociales y económicos de los Estados Miembros y las diferentes prácticas aplicadas por dichos Estados (por ejemplo, en lo

atinente a las funciones respectivas de las autoridades centrales y locales; a las funciones de las autoridades federales, estatales y provinciales; a las

de las empresas propiedad del Estado y de los diversos tipos de organismos públicos autónomos o semiautónomos, o en lo que respecta a la

naturaleza de la relación de empleo); Teniendo en cuenta los problemas particulares que plantea la delimitación del campo de aplicación de un

instrumento internacional y la adopción de definiciones a los fines del instrumento en razón de las diferencias existentes en muchos países entre el

empleo público y el empleo privado, así como las dificultades de interpretación que se han planteado a propósito de la aplicación a los funcionarios

públicos de las disposiciones pertinentes del Convenio sobre el derecho de sindicación y de negociación colectiva, 1949, y las observaciones por las

cuales los órganos de control de la OIT han señalado en diversas ocasiones que ciertos gobiernos han aplicado dichas disposiciones en forma tal que

grupos numerosos de empleados públicos han quedado excluidos del campo de aplicación del Convenio; Después de haber decidido adoptar

diversas proposiciones relativas a la libertad sindical y a los procedimientos para determinar las condiciones de empleo en el servicio público,

cuestión que constituye el quinto punto del orden del día de la presente reunión, y Después de haber decidido que dichas proposiciones revistan la

forma de un convenio internacional, adopta, con fecha veintisiete de junio de mil novecientos setenta y ocho, el presente Convenio, que podrá ser

citado como el Convenio sobre las relaciones de trabajo en la administración pública, 1978: Parte I. Campo de Aplicación y Definiciones Artículo 1

1. El presente Convenio deberá aplicarse a todas las personas empleadas por la administración pública, en la medida en que no les sean aplicables

disposiciones más favorables de otros convenios internacionales del trabajo. 2. La legislación nacional deberá determinar hasta qué punto las

garantías previstas en el presente Convenio se aplican a los empleados de alto nivel que, por sus funciones, se considera normalmente que poseen

poder decisorio o desempeñan cargos directivos o a los empleados cuyas obligaciones son de naturaleza altamente confidencial. 3. La legislación

nacional deberá determinar asimismo hasta qué punto las garantías previstas en el presente Convenio son aplicables a las fuerzas armadas y a la

policía. Artículo 2 A los efectos del presente Convenio, la expresión empleado público designa a toda persona a quien se aplique el presente

Convenio de conformidad con su artículo 1. Artículo 3 A los efectos del presente Convenio, la expresión organización de empleados públicos

designa a toda organización, cualquiera que sea su composición, que tenga por objeto fomentar y defender los intereses de los empleados públicos.

Parte II. Protección del Derecho de Sindicación Artículo 4 1. Los empleados públicos gozarán de protección adecuada contra todo acto de

discriminación antisindical en relación con su empleo. 2. Dicha protección se ejercerá especialmente contra todo acto que tenga por objeto: a)

sujetar el empleo del empleado público a la condición de que no se afilie a una organización de empleados públicos o a que deje de ser miembro de

ella; b) despedir a un empleado público, o perjudicarlo de cualquier otra forma, a causa de su afiliación a una organización de empleados públicos o

de su participación en las actividades normales de tal organización. Artículo 5 1. Las organizaciones de empleados públicos gozarán de completa

independencia respecto de las autoridades públicas. 2. Las organizaciones de empleados públicos gozarán de adecuada protección contra todo acto

de injerencia de una autoridad pública en su constitución, funcionamiento o administración. 3. Se consideran actos de injerencia a los efectos de este

artículo principalmente los destinados a fomentar la constitución de organizaciones de empleados públicos dominadas por la autoridad pública, o a

sostener económicamente, o en otra forma, organizaciones de empleados públicos con objeto de colocar estas organizaciones bajo el control de la

autoridad pública. Parte III. Facilidades que Deben Concederse a las Organizaciones de Empleados Públicos Artículo 6 1. Deberán concederse a

los representantes de las organizaciones reconocidas de empleados públicos facilidades apropiadas para permitirles el desempeño rápido y eficaz de

sus funciones durante sus horas de trabajo o fuera de ellas. 2. La concesión de tales facilidades no deberá perjudicar el funcionamiento eficaz de la

administración o servicio interesado. 3. La naturaleza y el alcance de estas facilidades se determinarán de acuerdo con los métodos mencionados en

el artículo 7 del presente Convenio o por cualquier otro medio apropiado. Parte IV. Procedimientos para la Determinación de las Condiciones de

Empleo Artículo 7 Deberán adoptarse, de ser necesario, medidas adecuadas a las condiciones nacionales para estimular y fomentar el pleno

desarrollo y utilización de procedimientos de negociación entre las autoridades públicas competentes y las organizaciones de empleados públicos

acerca de las condiciones de empleo, o de cualesquiera otros métodos que permitan a los representantes de los empleados públicos participar en la

determinación de dichas condiciones. Parte V. Solución de Conflictos Artículo 8 La solución de los conflictos que se planteen con motivo de la

determinación de las condiciones de empleo se deberá tratar de lograr, de manera apropiada a las condiciones nacionales, por medio de la

negociación entre las partes o mediante procedimientos independientes e imparciales, tales como la mediación, la conciliación y el arbitraje,

establecidos de modo que inspiren la confianza de los interesados. Parte VI. Derechos Civiles y Políticos Artículo 9 Los empleados públicos, al igual

que los demás trabajadores, gozarán de los derechos civiles y políticos esenciales para el ejercicio normal de la libertad sindical, a reserva solamente

de las obligaciones que se deriven de su condición y de la naturaleza de sus funciones. Parte VII. Disposiciones Finales Artículo 10 Las

ratificaciones formales del presente Convenio serán comunicadas, para su registro, al Director General de la Oficina Internacional del Trabajo.

Artículo 11 1. Este Convenio obligará únicamente a aquellos Miembros de la Organización Internacional del Trabajo cuyas ratificaciones haya

registrado el Director General. 2. Entrará en vigor doce meses después de la fecha en que las ratificaciones de dos Miembros hayan sido registradas

por el Director General. 3. Desde dicho momento, este Convenio entrará en vigor, para cada Miembro, doce meses después de la fecha en que haya

sido registrada su ratificación. Artículo 12 1. Todo Miembro que haya ratificado este Convenio podrá denunciarlo a la expiración de un período de

diez años, a partir de la fecha en que se haya puesto inicialmente en vigor, mediante un acta comunicada, para su registro, al Director General de la

Oficina Internacional del Trabajo. La denuncia no surtirá efecto hasta un año después de la fecha en que se haya registrado. 2. Todo Miembro que

haya ratificado este Convenio y que, en el plazo de un año después de la expiración del período de diez años mencionado en el párrafo precedente,

no haga uso del derecho de denuncia previsto en este artículo quedará obligado durante un nuevo período de diez años, y en lo sucesivo podrá

denunciar este Convenio a la expiración de cada período de diez años, en las condiciones previstas en este artículo. Artículo 13 1. El Director

General de la Oficina Internacional del Trabajo notificará a todos los Miembros de la Organización Internacional del Trabajo el registro de cuantas

ratificaciones, declaraciones y denuncias le comuniquen los Miembros de la Organización. 2. Al notificar a los Miembros de la Organización el

registro de la segunda ratificación que le haya sido comunicada, el Director General llamará la atención de los Miembros de la Organización sobre la

fecha en que entrará en vigor el presente Convenio. Artículo 14 El Director General de la Oficina Internacional del Trabajo comunicará al Secretario

General de las Naciones Unidas, a los efectos del registro y de conformidad con el artículo 102 de la Carta de las Naciones Unidas, una información

completa sobre todas las ratificaciones, declaraciones y actas de denuncia que haya registrado de acuerdo con los artículos precedentes. Artículo 15

Cada vez que lo estime necesario, el Consejo de Administración de la Oficina Internacional del Trabajo presentará a la Conferencia una memoria

sobre la aplicación del Convenio, y considerará la conveniencia de incluir en el orden del día de la Conferencia la cuestión de su revisión total o

parcial. Artículo 16 1. En caso de que la Conferencia adopte un nuevo convenio que implique una revisión total o parcial del presente, y a menos

que el nuevo convenio contenga disposiciones en contrario: a) la ratificación, por un Miembro, del nuevo convenio revisor implicará, ipso jure, la

denuncia inmediata de este Convenio, no obstante las disposiciones contenidas en el artículo 12, siempre que el nuevo convenio revisor haya

entrado en vigor; b) a partir de la fecha en que entre en vigor el nuevo convenio revisor, el presente Convenio cesará de estar abierto a la ratificación

por los Miembros. 2. Este Convenio continuará en vigor en todo caso, en su forma y contenido actuales, para los Miembros que lo hayan ratificado y

no ratifiquen el convenio revisor. Artículo 17 Las versiones inglesa y francesa del texto de este Convenio son igualmente auténticas. ANEXO 2:

RECOMENDAÇÃO 159 DA OIT SOBRE AS RELAÇÕES DE TRABALHO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, 1978 La Conferencia General de la

Organización Internacional del Trabajo: Convocada en Ginebra por el Consejo de Administración de la Oficina Internacional del Trabajo, y

congregada en dicha ciudad el 7 junio 1978 en su sexagésima cuarta reunión; Después de haber decidido adoptar diversas proposiciones relativas a

libertad sindical y procedimientos para determinar las condiciones de empleo en el servicio público, cuestión que constituye el quinto punto del orden

del día de la reunión, y Después de haber decidido que dichas proposiciones revistan la forma de una recomendación que complete el Convenio

sobre las relaciones de trabajo en la administración pública, 1978, adopta, con fecha veintisiete de junio de mil novecientos setenta y ocho, la

presente Recomendación, que podrá ser citada como la Recomendación sobre las relaciones de trabajo en la administración pública, 1978: 1) En los

países en que existan procedimientos para el reconocimiento de las organizaciones de empleados públicos con miras a determinar las

organizaciones a las que han de atribuirse derechos preferentes o exclusivos a los efectos previstos en las partes III, IV o V del Convenio sobre las

relaciones de trabajo en la administración pública, 1978, dicha determinación debería basarse en criterios objetivos y preestablecidos respecto del

carácter representativo de esas organizaciones. 2) Los procedimientos a que se hace referencia en el subpárrafo 1) del presente párrafo deberían

ser de tal naturaleza que no estimulen la proliferación de organizaciones que cubran las mismas categorías de empleados públicos. 3) En caso de

negociación de las condiciones de empleo de conformidad con la parte IV del Convenio sobre las relaciones de trabajo en la administración pública,

1978, las personas u órganos competentes para negociar en nombre de la autoridad pública, y los procedimientos para poner en práctica las

condiciones de empleo convenidas, deberían preverse en la legislación nacional o por otros medios apropiados. 4) En el caso de que existan

métodos distintos de la negociación para permitir a los representantes de los empleados públicos participar en la fijación de las condiciones de

empleo, el procedimiento para asegurar esa participación y para determinar de manera definitiva tales condiciones debería preverse mediante la

legislación nacional o por otros medios apropiados. 5) Cuando se concluyan acuerdos entre la autoridad pública y una organización de empleados

públicos, de conformidad con el párrafo 2, subpárrafo 1), de la presente Recomendación, normalmente debería especificarse su período de vigencia o

el procedimiento para su terminación, renovación o revisión, o ambas cosas. 6) Al determinar la naturaleza y alcance de las facilidades que deberían

concederse a los representantes de las organizaciones de empleados públicos, de conformidad con el artículo 6, párrafo 3, del Convenio sobre las

relaciones de trabajo en la administración pública, 1978, se debería tener en cuenta la Recomendación sobre los representantes de los trabajadores,

1971. ANEXO 3: DIREITO DE GREVE PARA O SETOR PÚBLICO: UM QUADRO COMPARATIVO DA LEI 7783/89 E DO PROJETO

SUBSTITUTIVO DA CÂMARA FEDERAL DO DEPUTADO NELSON MARQUEZELLI EM ANDAMENTO NA CTASP

SUBSTITUTIVO MARQUEZELLI LEI DE GREVE SETOR PRIVADO COMENTÁRIOS

Art. 1º O direito de greve será

exercido pelos servidores públicos

nos termos e limites estabelecidos

por esta lei, competindo-lhes decidir

sobre a oportunidade de exercê-lo e

sobre os interesses que devam por

meio dele defender.

Art. 1º É assegurado o direito de

greve, competindo aos trabalhadores

decidir sobre a oportunidade de

exercê-lo e sobre os interesses que

devam por meio dele defender.

Parágrafo único. O direito de greve

será exercido na forma estabelecida

nesta Lei.

Esse primeiro artigo garante o direito a

greve aos trabalhadores, do ponto de

vista de conteúdo não há diferenças

relevantes.

Art. 2º Para os fins desta lei

considera-se: I – Administração:

órgão da administração direta de

qualquer dos Poderes da União,

dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios, bem como

respectivas autarquias e fundações

públicas; II - servidor: pessoa

legalmente investida em cargo

público; III – legítimo exercício do

direito de greve: suspensão

coletiva, temporária e pacífica, total

ou parcial, da prestação de serviços

públicos.

Art. 2º Para os fins desta Lei,

considera-se legítimo exercício do

direito de greve a suspensão coletiva,

temporária e pacífica, total ou parcial,

de prestação pessoal de serviços a

empregador.

O PL Substitutivo caracteriza

administração pública e servidor, seu

item III é idêntico ao artigo 2º da lei

7783 e dá legitimidade à greve a

caracterizando como suspensão

coletiva temporária.

Art. 3º Caberá à entidade sindical

dos servidores convocar, na forma

de seu estatuto, assembléia geral

para deliberar sobre as

reivindicações da categoria e sobre

a deflagração e a cessação da

greve. § 1º O estatuto da entidade

sindical deverá prever as

formalidades para convocação da

assembléia geral e o quorum

específico exigido para deliberação

quanto à greve. § 2º Se inexistir

entidade sindical representativa dos

servidores públicos, assembléia

geral convocada com pelo menos

48 (quarenta e oito) horas de

antecedência, desde que conte com

a presença de pelo menos 50%

(cinqüenta por cento) dos

integrantes da categoria, poderá

deliberar sobre a greve por maioria

absoluta dos presentes, devendo,

obrigatoriamente, caso a greve seja

aprovada, constituir comissão de

negociação. § 3º A entidade sindical

ou a comissão de negociação a que

se refere o § 2° representará os

interesses dos servidores em greve

nas negociações com a

Administração e, caso seja

necessário, junto ao Poder

Judiciário. § 4º A entidade sindical

ou a comissão de negociação

deverá informar a sociedade, por

meio de anúncios em jornais, rádios

ou canais de televisão, sobre a

proposta de deflagração de greve.

Art. 4º Caberá à entidade sindical

correspondente convocar, na forma do

seu estatuto, assembléia geral que

definirá as reivindicações da categoria

e deliberará sobre a paralisação

coletiva da prestação de serviços. § 1º

O estatuto da entidade sindical deverá

prever as formalidades de convocação

e o quorum para a deliberação, tanto

da deflagração quanto da cessação da

greve. § 2º Na falta de entidade

sindical, a assembléia geral dos

trabalhadores interessados deliberará

para os fins previstos no "caput",

constituindo comissão de negociação.

Art. 5º A entidade sindical ou

comissão especialmente eleita

representará os interesses dos

trabalhadores nas negociações ou na

Justiça do Trabalho.

Nesses artigos estabelecesse os

procedimentos para deflagração da

greve. Quando a uma entidade

sindical de trabalhadores, não há

diferença de conteúdo entre o PL e a

alei. A diferença está no processo em

que não há entidade sindical no

processo, nesse caso o PL

Substitutivo define que os servidores

devém convocar a assembléia com

pelo menos 48 horas e com presença

de pelo menos 50% dos integrantes.

O § 3º do PL Substitutivo

assemelha-se ao artigo 5º da lei e

trata da representação formal dos

interesses dos trabalhadores. O § 4º

do PL Substitutivo acresce aos

servidores públicos a obrigação de

informar a população

antecipadamente a intenção de

deflagração da greve.

Art. 4º Apresentada a pauta de

reivindicações nos termos do art. 3º,

a Administração adotará os

seguintes procedimentos: I –

instalará processo de negociação; II

– manifestar-se-á, no prazo de 30

(trinta) dias contados do

recebimento das reivindicações,

acolhendo-as, apresentando

proposta conciliatória ou

fundamentando a impossibilidade

de seu atendimento.

Art. 3º Frustrada a negociação ou

verificada a impossibilidade de

recursos via arbitral, é facultada a

cessação coletiva do trabalho.

O PL Substitutivo define que após

pauta entregue a Administração

deverá instalar negociação e terá 30

dias para responder as reivindicações.

Esses procedimentos não constam da

Lei pois esses procedimentos já são

regulados no setor privado.

Art. 5º Transcorrido o prazo previsto

no inciso II do art. 4º e tendo a

assembléia geral deliberado pela

deflagração da greve, caberá à

entidade sindical ou à comissão de

negociação comunicar tal fato à

Administração, com antecedência

mínima de 72 (setenta e duas)

horas do início da greve.

Art. 3º - Parágrafo único. A entidade

patronal correspondente ou os

empregadores diretamente

interessados serão notificados, com

antecedência mínima de 48 (quarenta

e oito) horas, da paralisação.

O PL Substitutivo define que a greve

poderá ocorrer após os 30 dias

previstos anteriormente e tem-se a

obrigação dos servidores informarem

a Administração com 72h de

antecedência. No caso da lei 7783,

esse limite é de 48 horas.

Art. 6º São assegurados aos

servidores em greve os seguintes

direitos: I - a livre divulgação do

movimento grevista entre os

servidores; II - a persuasão e o

aliciamento dos servidores visando

à sua adesão à greve, mediante o

emprego de meios pacíficos; lII - a

arrecadação de fundos para o

movimento grevista; IV - a

prestação de esclarecimentos à

população sobre os motivos e

objetivos da greve. § 1º Em

nenhuma hipótese, o legítimo

exercício do direito de greve poderá

servir de justificativa ou atenuante

para quaisquer ações de servidores

ou da Administração que

constituam violação, ameaça ou

constrangimento ao exercício dos

direitos e garantias fundamentais. §

2º É vedado à Administração, sob

pena de responsabilização das

autoridades, por qualquer forma

constranger servidor a comparecer

ao trabalho, bem como procurar

frustrar o exercício dos direitos

previstos neste artigo.

Art. 6º São assegurados aos grevistas,

dentre outros direitos: I - o

emprego de meios pacíficos tendentes

a persuadir ou aliciar os trabalhadores

a aderirem à greve; II - a

arrecadação de fundos e a livre

divulgação do movimento. § 1º

Em nenhuma hipótese, os meios

adotados por empregados e

empregadores poderão violar ou

constranger os direitos e garantias

fundamentais de outrem. § 2º É

vedado às empresas adotar meios

para constranger o empregado ao

comparecimento ao trabalho, bem

como capazes de frustrar a divulgação

do movimento. § 3º As

manifestações e atos de persuasão

utilizados pelos grevistas não poderão

impedir o acesso ao trabalho nem

causar ameaça ou dano à propriedade

ou pessoa.

O artigo 6º do PL Substitutivo se

assemelha ao caput do artigo 6º da lei

7783. Para além, inclui-se a

autorização a livre divulgação da

greve entre os serviços públicos e

esclarecimento à população sobre os

motivos da greve.

Art. 7º Durante o período de greve

são vedados, nos órgãos ou

entidades públicas cujas atividades

estejam interrompidas ou

prejudicadas, os atos de: I -

demissão de servidor, exceto nos

casos previstos no art. 12 ou

quando se tratar de demissão

fundada em fatos não relacionados

à paralisação; II - exoneração de

servidor, exceto em se tratando de

cargos em comissão de livre

provimento e exoneração ou, sendo

cargo efetivo, se a pedido do

servidor; III - contratação por tempo

determinado prevista no art. 37, IX,

da Constituição Federal; IV -

contratação de terceiros para a

execução de serviços prestados

usualmente por servidor. § 1° As

vedações constantes nos incisos III

e IV não se aplicam aos casos

previstos no § 2° do art. 9°. § 2° A

inobservância do disposto neste

artigo implicará a nulidade do ato

respectivo e a responsabilização da

autoridade que o praticou ou

determinou.

Art. 7º Observadas as condições

previstas nesta Lei, a participação em

greve suspende o contrato de

trabalho, devendo as relações

obrigacionais, durante o período, ser

regidas pelo acordo, convenção, laudo

arbitral ou decisão da Justiça do

Trabalho. Parágrafo único. É vedada a

rescisão de contrato de trabalho

durante a greve, bem como a

contratação de trabalhadores

substitutos, exceto na ocorrência das

hipóteses previstas nos arts. 9º e 14.

Esses artigos referem-se ao que é

vedado ao patrão em caso de greve.,

basicamente demissão e contratação

para substituição dos trabalhadores

em greve. A uma diferença jurídica

significativa entre o setor público e

privado neste aspecto, pois no setor

público não há como existir suspensão

do contato de trabalho. Este artigo,

para o setor privado coloca para a

negociação a reposição e o

pagamento dos dias parados, o que

não consta no PL para o setor público.

Art. 8º A Justiça do Trabalho, por

iniciativa de qualquer das partes ou do

Ministério Público do Trabalho,

decidirá sobre a procedência, total ou

parcial, ou improcedência das

reivindicações, cumprindo ao Tribunal

publicar, de imediato, o competente

acórdão.

Este artigo não consta no PL

Substitutivo, pois não há acesso à

Justiça do Trabalho para o Serviço

Público.

Art. 9º Durante a greve, o sindicato ou

a comissão de negociação, mediante

acordo com a entidade patronal ou

diretamente com o empregador,

manterá em atividade equipes de

empregados com o propósito de

assegurar os serviços cuja paralisação

resultem em prejuízo irreparável, pela

deterioração irreversível de bens,

máquinas e equipamentos, bem como

a manutenção daqueles essenciais à

retomada das atividades da empresa

quando da cessação do movimento.

Parágrafo único. Não havendo acordo,

é assegurado ao empregador,

enquanto perdurar a greve, o direito

de contratar diretamente os serviços

necessários a que se refere este

artigo.

Este artigo da lei do setor privado

garante o funcionamento de atividades

cuja sua paralização comprometa

bens e máquinas. Não há previsão

para esses casos no PL do setor

público.

Art. 8º São considerados serviços

ou atividades essenciais, além

daqueles especificados na lei de

que trata o § 1º do art. 9º da

Constituição Federal: I - a

representação diplomática do país

no exterior e a recepção a

representantes de governos

estrangeiros ou de organismos

internacionais, em visita oficial ao

país; II – os serviços em aeroportos,

rodovias, portos, ferrovias e

transportes públicos em geral; III –

a segurança pública, o policiamento

e o controle de fronteiras; IV - os

serviços de carceragem e vigilância

de presos e de segurança dos

estabelecimentos do sistema

penitenciário; V - os serviços de

assistência à saúde, inclusive

atendimento ambulatorial de

emergência, e à previdência,

especialmente concessão e

pagamento de benefícios

previdenciários e assistenciais; VI -

os serviços do Poder Judiciário

diretamente vinculados ao exercício

de suas funções; VII – os serviços

que visam possibilitar o

atendimento direto das atribuições

legais das Forças Armadas; VIII – a

arrecadação e a fiscalização

tributária em alfândegas, postos de

fronteira, rodovias, portos,

aeroportos e postos de pedágio; IX

– o tratamento e o abastecimento

de água potável; X – a produção,

distribuição e comercialização de

energia elétrica; XI – a inspeção

agropecuária e sanitária de

produtos de origem animal e

vegetal; XII – a manutenção de

serviços de telecomunicações; XIII

– a defesa e o controle do tráfego

aéreo; XIV – os serviços de

necropsia e funerários; e XV – os

serviços de educação.

Art. 10 São considerados serviços ou

atividades essenciais: I -

tratamento e abastecimento de água;

produção e distribuição de energia

elétrica, gás e combustíveis; II -

assistência médica e hospitalar;

III - distribuição e comercialização de

medicamentos e alimentos; IV -

funerários; V - transporte coletivo;

VI - captação e tratamento de esgoto

e lixo; VII - telecomunicações;

VIII - guarda, uso e controle de

substâncias radioativas, equipamentos

e materiais nucleares; IX -

processamento de dados ligados a

serviços essenciais; X - controle

de tráfego aéreo; XI

compensação bancária.

No que se refere as atividades

essenciais o PL Substitutivo coloca

muitos outros setores como

essenciais, pode-se dizer que a

maioria dos serviços público, inclusive

educação e previdência. Comparando

com o do setor privado há diferenças

substanciais, o que retrata diferença

de concepção do que seja serviço

essencial.

Art. 9º Durante a greve em órgãos e

entidades públicas que executem

serviços ou atividades essenciais,

os servidores, sob a coordenação

da entidade sindical ou da comissão

de negociação a que se refere o §

2º do art. 3º, ficam obrigados a

garantir a prestação dos serviços

indispensáveis ao atendimento das

necessidades inadiáveis de

interesse público, com a presença

de, no mínimo, 45% (quarenta e

cinco por cento) dos servidores em

atividade. § 1º São necessidades

inadiáveis de interesse público

aquelas que, se não atendidas,

coloquem em risco iminente a

segurança do Estado, a

sobrevivência, a saúde ou a

segurança da população, o

exercício dos direitos e garantias

fundamentais e a preservação do

patrimônio público. § 2º No caso de

inobservância do disposto neste

artigo pelos servidores, fica a

Administração autorizada a

proceder à: I - contratação de

pessoal por tempo determinado,

prevista no art. 37, IX, da

Constituição Federal; II -

contratação de serviços de terceiros

para a execução de serviços

prestados usualmente por servidor,

admitida a dispensa de licitação. §

3º Os contratos previstos no § 2º

restringir-se-ão à efetiva prestação

dos serviços a que se refere o caput

e serão rescindidos em prazo não

superior a 15 (quinze) dias após o

encerramento da greve.

Art. 11. Nos serviços ou atividades

essenciais, os sindicatos, os

empregadores e os trabalhadores

ficam obrigados, de comum acordo, a

garantir, durante a greve, a prestação

dos serviços indispensáveis ao

atendimento das necessidades

inadiáveis da comunidade.

Parágrafo único. São necessidades

inadiáveis, da comunidade aquelas

que, não atendidas, coloquem em

perigo iminente a sobrevivência, a

saúde ou a segurança da população.

Art. 12. No caso de inobservância do

disposto no artigo anterior, o Poder

Público assegurará a prestação dos

serviços indispensáveis.

Esses artigos definem o que é

atividade indispensável e inadiável da

população. A Lei 7783, mantém como

inadiável o que coloque em risco a

vida, a saúde e a segurança. No caso

do PL substitutivo amplia-se isso para

o exercício dos direitos e garantias

fundamentais e a preservação do

patrimônio público. (esse acréscimo

coloca como inadiável quase todo

serviço público, uma vez que os

direitos fundamentais estão descritos

na CF em todo o título II e III, ou seja,

tudo que o Estado tem que garantir).

No caso do setor privado, está

garantido que esse atendimento se

dará de comum acordo entre os lados

via negociação, já o PL do setor

público impõe um percentual mínimo

de 45%.

Art. 10. Os dias de greve serão

contados como ausência

injustificada para todos os efeitos.

Esse artigo do PL Substitutivo pune o

servidor grevista para além do corte

do ponto, pois a falta injustificada tem

conseqüências várias na vida

funcional, inclusive exoneração. Como

afirmado anteriormente, no setor

privado essa caracterização não se dá

a priori, ela é objeto de negociação.

Art. 13 Na greve, em serviços ou

atividades essenciais, ficam as

entidades sindicais ou os

trabalhadores, conforme o caso,

obrigados a comunicar a decisão aos

empregadores e aos usuários com

antecedência mínima de 72 (setenta e

duas) horas da paralisação.

Esse artigo no setor privado, aumenta

o prazo de aviso da greve para

atividades essenciais. No caso do PL

do setor público o prazo de 72 horas

está definido para qualquer greve.

Art. 11. Constitui abuso do direito

de greve: I - a paralisação que não

atenda às formalidades para

convocação da assembléia geral

dos servidores e o quorum

específico para deliberação; II - a

paralisação de serviços sem a

devida comunicação à

Administração, com a antecedência

mínima prevista no art. 5º; III - a

recusa à prestação dos serviços

indispensáveis ao atendimento das

necessidades de interesse público

previstas no art. 9º; IV – a utilização

de métodos que visem constranger

ou obstar o acesso dos servidores

que não aderiram à greve ao seu

ambiente de trabalho ou a

circulação pública; e V - a

manutenção da greve após a

celebração de acordo ou decisão

judicial sobre a legalidade das

reivindicações que a tenham

motivado.

Art. 14 Constitui abuso do direito de

greve a inobservância das normas

contidas na presente Lei, bem como a

manutenção da paralisação após a

celebração de acordo, convenção ou

decisão da Justiça do Trabalho.

Parágrafo único. Na vigência de

acordo, convenção ou sentença

normativa não constitui abuso do

exercício do direito de greve a

paralisação que: I - tenha por

objetivo exigir o cumprimento de

cláusula ou condição; II - seja

motivada pela superveniência de fatos

novo ou acontecimento imprevisto que

modifique substancialmente a relação

de trabalho.

Esses artigos se referem ao abuso do

direito de greve. No PL substitutivo ele

é bem mais amplo que no setor

privado, não garantindo, inclusive, a

exceção da greve por descumprimento

do acordo, ressalvado na Lei 7783.

Art. 12. O abuso do direito de greve,

devidamente apurado em processo

administrativo, assegurada ao

acusado ampla defesa, acarretará

as penalidades de: I - suspensão de

até 90 (noventa) dias, que poderá, a

critério da Administração, ser

convertida em multa, na base de

30% (trinta por cento), por dia, da

remuneração, ficando o servidor,

neste caso, obrigado a permanecer

no trabalho; II - demissão, em caso

de reincidência. § 1º A penalidade

de suspensão terá seu registro

cancelado, sem qualquer efeito

retroativo, decorridos 3 (três) anos

de efetivo exercício, se o servidor,

durante esse período, não incorrer

em nova infração disciplinar. § 2º O

sindicato da categoria cuja greve for

considerada abusiva, pelo

Judiciário, ficará sujeito a multa de

até R$ 30.000,00 (trinta mil reais)

por dia de paralisação.

No PL substitutivo está previsto as

penalidades individuais e a entidade

sindical ao abuso do uso do direito a

greve. Estas punições não estão

previstas na Lei 7783.

Art. 13. A responsabilidade pelos

atos praticados durante a greve

será apurada, no que couber, nas

esferas administrativa, civil e penal.

Parágrafo único. As sanções

administrativas, civis e penais

poderão cumular-se, sendo

independentes entre si.

Art. 15 A responsabilidade pelos atos

praticados, ilícitos ou crimes

cometidos, no curso da greve, será

apurada, conforme o caso, segundo a

legislação trabalhista, civil ou penal.

Parágrafo único. Deverá o Ministério

Público, de ofício, requisitar a abertura

do competente inquérito e oferecer

denúncia quando houver indício da

prática de delito.

Aqui os artigos do PL e da Lei se

equiparam nos processos de

responsabilização por atos ilícitos e

crimes.

Art. 16. Para os fins previstos no art.

37, inciso VII, da Constituição, lei

complementar definirá os termos e os

limites em que o direito de greve

poderá ser exercido.

Este artigo é que veda a lei 7883 ser

aplicada ao serviço público, até a

decisão do STF.

Art. 17. Fica vedada a paralisação das

atividades, por iniciativa do

empregador, com o objetivo de frustrar

negociação ou dificultar o atendimento

de reivindicações dos respectivos

empregados (lockout).

Refere-se na Lei 7783 ao Lockou, ou

seja, a paralisação patronal.

Parágrafo único. A prática referida no

caput assegura aos trabalhadores o

direito à percepção dos salários

durante o período de paralisação.

Art. 14. Esta lei entra em vigor na

data de sua publicação.

Art. 18. Ficam revogados a Lei nº

4.330, de 1º de junho de 1964, o

Decreto-Lei nº 1.632, de 4 de agosto

de 1978, e demais disposições em

contrário. Art. 19 Esta Lei entra em

vigor na data de sua publicação.

Artigo de validação da lei.

Fonte: Subseção DIEESE-CUT Nacional. Notas: [1] A autora agradece as contribuições ao texto, feitas pelo Prof. Dr. Jefferson José da Conceição,

responsável pela Disciplina de Economia do IMES-São Caetano do Sul e do Centro Universitário SENAC e técnico do DIEESE. [2] Os servidores

públicos federais estatutários são regidos atualmente pela Lei nº 8.112/90. [3] Procuradoria entra com ação contra greve dos advogados. Gazeta

Mercantil. São Paulo, 21-01-2008, p. A9. [4] No Estado de São Paulo, há muito tempo os dias são descontados. [5] Súmula 679 STF: “A fixação de

vencimento dos servidores públicos não pode ser objeto de convenção coletiva.” [6] A ADIN nº 429-1/DF-STF declarou a inconstitucionalidade da

expressão “negociação coletiva”, da alínea “d”, do artigo 240, da Lei nº 8.112/90. A ADIN nº 112-4/DF-STF declarou inconstitucional o inciso XVI, do

artigo 41 da CF, que garantia o direito à negociação coletiva do serviço público. [7] Elaborado pela autora, com base em estudo realizado pela

Internacional de Serviços Públicos (ISP), Brasil, 2006.