revista acessibilidade gourmet
DESCRIPTION
Revista apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Jornalismo, no IESB - Brasília.TRANSCRIPT
Índice
Comer sem barreiras
O direito de participar
“Ao excluirmos qualquer pessoa, negamos a existência dela como sujeito”
Pesquisador afirma que a sociedade não aceita a diversidade corporal
“Machuca muito perder a independência”
Aqui é acessível para você
Vida que vale a pena
4
10
14
16
30
18
Viviane AquinoJoaquim Emanuel BarbosaSheila de SáEdivan Gomes Vilela
27
D E Z E M B R O 2 0 1 0 1
Acessibilidade Gourmet é uma edição especial que oferece, a você, não apenas um guia de restau-
rantes das Asas Sul e Norte de Brasília mas, também, uma prestação de serviço em favor da cidadania
e da igualdade.
Esta publicação apresenta os endereços da gastronomia brasiliense que contam com acessibilidade
para pessoas com deficiência. São locais que respeitam os direitos dos deficientes, garantidos pela legis-
lação, que asseguram a liberdade de ir e vir, e sua dignidade.
Nas páginas seguintes, você encontrará 40 restaurantes que contam com banheiro e espaço interno
adaptado para receber cadeirantes, cardápio em braile e ilustrativo e garçom fluente em Libras.
Além disso, o leitor conhecerá a história de homens e mulheres com deficiência, que viveram experi-
ências referentes à acessibilidade em restaurantes da cidade. Nos encontros, eles contaram histórias de
vida e os problemas que enfrentam em relação à dificuldade de acesso a esse direito.
Acessibilidade e gastronomia formam um prato completo. Aproveite a leitura!
Carta ao leitor
EXPEDIENTE
REPORTAGEM E REDAÇÃO - Marcela Sá [email protected]
EDIÇÃO - Juliana Doretto
PROJETO GRÁFICO - Clarissa Teixeira [email protected]
CAPA E ÍCONES - Marcos André [email protected]
REVISÃO - Marlen Rocha e Moema Pereira
IMPRESSÃO - Gravo Papers
TIRAGEM - 1000 exemplares
2 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
sem barreiras
Sair para almoçar, lanchar ou jantar é um hábito
comum na vida dos brasilienses. Seja para fazer
uma rápida refeição, seja para reunir os amigos,
comer fora de casa é sempre uma opção. A fun-
cionária pública Gabriela Costa é apenas uma
dessas pessoas que gosta de desfrutar da gastro-
nomia da capital. Mas, no caso dela, portadora de
distrofia muscular (doença degenerativa que cau-
sa a fraqueza dos músculos) e cadeirante, esses
momentos de lazer podem ser dificultados pela
falta de acessibilidade. Frequentadora desses lo-
cais, pelo menos duas vezes por semana, Gabriela
Costa garante que falta adaptação para pessoas
com deficiência. “Ainda há muito o que ser feito
pela acessibilidade em geral. No meu caso, geral-
mente, não há espaço para locomover a cadeira
entre as mesas e não há banheiros adaptados no
térreo”, afirma.
A funcionária pública de 35 anos representa uma
parcela das pessoas com deficiência que so-
fre com a falta de adaptação em locais de lazer,
como os restaurantes. As dificuldades acontecem
também com os deficientes auditivos e os visuais,
que não encontram com facilidade cardápios em
braile e intérpretes em Língua Brasileira de Sinais
(Libras). Mesmo que existam legislações que obri-
guem a adaptação dos espaços, para atender
às necessidades dos deficientes (veja na pá-
gina 7), muitas vezes os direitos legais e o
respeito são deixados para trás.
Segundo dados do Censo de
2000, do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística
(IBGE), 336.292 mil pes-
soas com deficiência
física vivem no Distri-
D E Z E M B R O 2 0 1 0 3
336.292 mil pessoascom deficiência física vivem no Distrito Federal
68,93% dos restaurantes não têm acessibilidade
to Federal. Ainda assim, poucos restaurantes são
acessíveis para essas pessoas. Pesquisa feita pela
Acessibilidade Gourmet em 122 casas, localiza-
das na Asa Sul e na Asa Norte, já indicadas em
publicações gastronômicas da capital, mostra
que 32,7% (40 restaurantes) são acessíveis para
algum tipo de deficiência, enquanto 68,93% não
têm acessibilidade. Dos entrevistados, 30 estabe-
lecimentos têm banheiro adaptado, 14 têm car-
dápio em braile e três têm funcionários que sa-
bem Libras. Do total, três restaurantes possuem
todos os requisitos acima. Todos os entrevistados
dizem ter espaço interno para circulação de ca-
deirantes, mas os deficientes afirmam que isso
nem sempre condiz com a realidade.
foto
Mar
cela
Sá
4 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
Os números mostram que os empresários do setor
não tornam seus estabelecimentos acessíveis e, as-
sim, não cumprem a legislação que abrange os di-
reitos das pessoas com deficiência, a começar pela
Constituição Federal de 1988, que garante o direito
à cidadania e à dignidade da pessoa humana. O ar-
tigo 5º diz “que todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igual-
dade, à segurança e à propriedade”. A Constituição
assegura, ainda, que todos têm o direito de ir e vir.
O advogado e presidente da Comissão de Defesa
dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB-DF), Yure Gagarin
Soares, explica que a Constituição é a base para as
outras leis. “A Constituição é a lei maior, que garante
os principais direitos. É como o avô de uma famí-
lia. A partir dela, vêm as outras leis”, diz. Para ele, é
fundamental que a sociedade respeite as normas e
trabalhe para incluir os deficientes.
Além da Constituição, as pessoas com deficiência
são protegidas por legislações específicas que ga-
rantem seus direitos na sociedade. A Lei Federal
10.098/2000 estabelece normas gerais e critérios
básicos para a promoção da acessibilidade. Entre os
deveres contidos nessa lei, determina-se o banheiro
acessível, com equipamentos e acessórios, como as
barras de apoio, para serem utilizados por pessoas
com deficiência.
Em 2004, a Associação Brasileira de Normas Técni-
cas (ABNT) produziu a Norma Brasileira 9.050/2004,
que trata da acessibilidade. Os restaurantes passam
a ser obrigados a ter mesas acessíveis aos cadeiran-
tes, balcões de atendimento com altura adequada
a eles e cardápio em braile. Já, os sanitários devem
obedecer às normas em relação aos acessórios e às
barras de apoio.
Aos deficientes visuais, a Lei Distrital 3.634/2005 es-
tabelece que todos os restaurantes e similares do
Distrito Federal são obrigados a ter cardápios em
braile. Para os cegos que utilizam cão-guia, a Lei
Distrital 2.996/2002 assegura ao deficiente o direito
de entrar e permanecer em qualquer local acom-
panhado de seu cachorro. Leia mais sobre as leis na
página ao lado.
Leis
“A Constituição é a lei maior, que garante os principais direitos. É como o avô de uma família. A partir dela, vêm as outras leis”
D E Z E M B R O 2 0 1 0 5
LEI FEDERAL 10.098/2000
Estabelece normas para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência física, por meio
da eliminação de barreiras e de obstáculos nas vias e nos espaços públicos, no mobiliário urbano, na constru-
ção e na reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação.
Nessa Lei, barreiras são entendidas como qualquer obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de
movimento e a circulação com segurança das pessoas com deficiência e têm diversas classificações. Entre
essas, tem-se as relacionadas às barreiras arquitetônicas na edificação, referentes às barreiras existentes no
interior dos edifícios públicos e privados. Também são classificadas as barreiras relativas às comunicações,
consideradas como qualquer obstáculo que dificulte ou impossibilite o recebimento de mensagens por in-
termédio dos meios ou sistema de comunicação, sejam ou não de massa.
LEI DISTRITAL 3.634/2005
Obriga todos os restaurantes e similares do Distrito Federal a adequar seus cardápios à linguagem braile. Apenas
os estabelecimentos que trabalham exclusivamente com o sistema de “self-service” ficam dispensados.
LEI DISTRITAL 2.996/2002
Assegura, ao portador de deficiência visual, o direito de ingressar e permanecer acompanhado de seu cão-
-guia, em qualquer local público ou privado, meio de transporte ou estabelecimento comercial ou industrial,
de serviços e de saúde. Nos locais públicos ou privados é assegurado ao deficiente, com o seu cão, o uso da
porta de entrada e de elevador principal ou de serviço, sem discriminação.
O que dizem as leis
6 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
Fiscalização
Banheiro adaptado do restaurante Oishi, na SQN 105
Alguns órgãos do Distrito Federal são responsáveis
por fiscalizar o cumprimento das leis referentes aos
direitos dos deficientes. O Instituto de Defesa do
Consumidor do Distrito Federal (Procon-DF) fiscaliza
o uso do cardápio em braile. De acordo com o presi-
dente do órgão, Oswaldo Moraes, a última verificação
ocorreu em agosto e em setembro deste ano, e cinco
empresas foram autuadas. Não foram divulgados os
nomes desses estabelecimentos.
Moraes informou que as verificações são feitas de
acordo com a sazonalidade. “Não temos previsão para
realizar uma nova fiscalização, mas, se surgirem de-
núncias, vamos trabalhar nesse setor ou restaurante.
Se o consumidor quiser reclamar, é preciso ligar para
disque-denúncia do Procon [151]”, disse.
Ele afirma que, no dia seguinte à denúncia, o setor de
fiscalização é acionado. Se os fiscais constatam que a
lei não é cumprida, o restaurante é autuado com mul-
ta que pode chegar até R$ 212 mil. Os empresários
têm o prazo de dez dias para apresentar suas justifica-
tivas e recorrer da pena.
O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Ba-
res e Similares de Brasília (Sindhobar), Clayton Faria de
Machado, diz que a associação promove ações de in-
centivo, ainda que sem regularidade, para que os em-
presários se ajustem às leis de acessibilidade, porém al-
gumas casas ainda precisam se adequar. A ideia de que
as pessoas com deficiência não vão aos restaurantes é
um erro. “Mesmo que pensem assim, os empresários
devem tornar acessíveis os estabelecimentos para fazer
com que os deficientes passem a frequentá-los”, diz.
A lei, para o presidente do órgão, é essencial, mesmo
que muitos não a cumpram. “Ainda não existe a cul-
tura educacional na sociedade. Por isso precisamos da
legislação. Ainda estamos em um nível de fazer as coi-
sas apenas quando há lei”, declara Machado.
A Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefiz)
é responsável por fiscalizar as obras e o cumprimen-
to das normas urbanísticas e arquitetônicas, como as
rampas e os banheiros adaptados, por exemplo. Pro-
curada pela reportagem por telefone e carta, não res-
pondeu às perguntas.
foto
Mar
cela
Sá
D E Z E M B R O 2 0 1 0 7
Dificuldade antes da porta de entrada Durante a pesquisa realizada pela revista nos diversos restaurantes da cidade, alguns empresários alegaram que a Asa Norte não facilita a adaptação para os deficientes. Segundo eles, as escadas na entrada dos blocos, os desníveis e poucas rampas dificul-tam a chegada da pessoa com deficiência até os estabelecimentos. Na Asa Sul, esses problemas não foram relatados.
Durante seminário realizado em agosto, no Ministério Público do Distrito Federal e Ter-ritórios (MPDFT), a assessora especial do Governo do Distrito Federal (GDF) e presiden-te do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CODDEDE/DF), Már-cia Muniz, confirmou que há pouca acessibilidade nos blocos comerciais da Asa Norte.
Segundo ela, essa parte da cidade não é “totalmente acessível”, embora existam locais com rampas de acesso. A assessora afirmou que há estudos “na fila” para serem reali-zados. “Já chegamos a fazer algumas vistorias e, por mais difícil que pareça ser, não é impossível fazer acessibilidade lá. Não vamos conseguir fazer uma ponte ligando todos os prédios, mas é possível fazer uma rota acessível próximo ao meio-fio, por exemplo”, disse. Márcia Muniz explicou que uma das ideias é fazer, no mínimo, uma rampa de acesso em algum lado do bloco. Não há, no entanto, nenhuma previsão de obras.
A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente (Se-duma) informou que não há estudos relativos às diferenças urbanísticas nos comércios locais Sul e Norte, embora sejam visíveis as diferenças no projeto urbanístico.
Cardápio em brailedo restaurante
Sagres, na SQN 316
foto
Mar
cela
Sá
8 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
O direito de
Se a deficiência é muito citada em questões que envolvem o transporte público e a saúde,
ela é deixada de lado quando o assunto é lazer. O direito de participar da vida social acaba
restrito a poucas opções, por falta de adaptação. Dificuldade de estacionamento, poucas
rampas de acesso, ausência de piso tátil, de textos em braile e de intérpretes em Língua Bra-
sileira de Sinais (Libras) são alguns dos motivos que tornam os espaços inacessíveis, segundo
as entidades de apoio aos deficientes. De acordo com elas, iniciativas do governo, dos em-
presários e da própria sociedade podem colaborar para tornar os espaços adequados para as
pessoas com deficiência.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico (IBGE), 58.477 mil moradores do DF são
deficientes auditivos. Para eles, a comunicação acontece por meio de gestos, sorrisos e olhares.
Assim, para a convivência social, os surdos precisam de intérpretes em Libras, imagens e boa
vontade, elementos pouco presentes nos restaurantes da capital.
De acordo com o coordenador pedagógico da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes
Auditivos de Brasília (Apada/DF), Marcos de Brito, poucos restaurantes de Brasília têm um fun-
cionário fluente em Libras ou mesmo cardápio visual com fotos de todas as opções, para que o
deficiente possa apontar o pedido. Por isso, segundo Brito, os lugares mais frequentados pelos
surdos são os restaurantes tipo “self-service” ou lanchonetes “fast-food” (onde as fotos dos san-
duíches costumam aparecer estampadas em painéis).
Segundo Brito, as casas têm pouca sensibilidade para atender aos deficientes auditivos. “Muitos
acham que escrevendo conseguem uma comunicação, mas tem deficiente que não consegue
ler, por exemplo.” O treinamento dos funcionários, para entenderem a importância dos gestos
na comunicação também é essencial. “É preciso uma educação com as pessoas para que co-
nheçam as necessidades dos deficientes e saibam ajudar”, afirma.
Pouco adaptadas, as áreas voltadas para o lazer são deixadas de lado pelos empresários do setor, dizem associações que protegem pessoas com deficiência
D E Z E M B R O 2 0 1 0 9
Para o coordenador da Apada, uma das alternativas de acessibilidade seria o governo atuar para
promover a inclusão dos deficientes auditivos no mercado de trabalho, a fim de que possam ser
empregados em restaurantes, desempenhando funções de garçom, cozinheiro e copeiro, entre
outras. “A partir do momento que tem um surdo convivendo dentro do estabelecimento, as pes-
soas já vão se sensibilizando, porque vivenciam a realidade dele”, explica.
Ainda, de acordo com a Apada, outra ação importante seria incluir, no currículo das universidades,
principalmente nos cursos de gastronomia e turismo, a disciplina de Libras Básica. Para Brito, essa
atividade é importante, não para que o aluno se torne fluente na língua de sinais, mas para que
entenda essa forma de comunicação visual.
Sons e toques
No caso deles, o toque, o som e as vibrações são essenciais para entender o mundo e os outros.
Ir a um restaurante e pedir uma comida seria uma tarefa fácil, se os estabelecimentos tivessem
cardápio em braile disponível. Essa é apenas uma das necessidades dos deficientes visuais, que
representam, em números, no Distrito Federal, 188.779 pessoas, segundo o IBGE.
Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Deficientes Visuais (ABDV), Flávio Luis da Silva,
os restaurantes de Brasília não são acessíveis para os cegos. Na opinião dele, faltam preparo e
sensibilidade dos atendentes e, principalmente, cardápios em braile. “Alguns até têm, mas normal-
mente são desatualizados. Os locais devem se adequar às leis (leia na página 7), pois é um direito
do cidadão.” Além dos cardápios em braile, Silva destaca a importância da sinalização para os ce-
gos. “Não é preciso ter piso tátil, com ranhuras para informar e direcionar as pessoas, em todos os
lugares, mas seria importante que em locais onde há obstáculos exista alguma referência”, explica.
N O V E M B R O 2 0 1 0 . E D I Ç Ã O E S P E C I A L 9
Para o coordenador da Apada, uma das alternativas de acessibilidade seria o governo atuar para promover a inclusão dos deficientes auditivos no mercado de trabalho, a fim de que possam ser empregados em restaurantes, desempenhando funções de garçom, cozinheiro e copeiro, entre outras.
Marcos de Brito, coordenador pedagógico da Apada/DFfoto
Mar
cela
Sá
10 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
Outra opção de acessibilidade, segundo ele, seria que em cada restaurante tivesse pelo menos
um funcionário habilitado, para oferecer um tratamento acessível. “O treinamento seria para
que o atendente orientasse sobre as necessidades mínimas do deficiente, como ajudar a guiar
e avisar quando servir o prato”, declara.
Ainda, segundo Silva, os lugares mais frequentados pela maioria dos deficientes visuais, assim
como no caso dos surdos, são os “fast-food”. “Nesses locais, a pessoa já sabe o sanduíche que
quer e não precisa passar por dificuldades, então acaba sendo uma opção mais viável”, alerta.
De acordo com o diretor de Comunicação da entidade, César Aschkar, nos períodos de fiscali-
zação, os estabelecimentos procuram as empresas para fazer seus cardápios, mas, muitas vezes,
não os buscam. “Alguns mandam fazer porque é lei e pode ter multa. Mas temos caixas aqui na
ABDV com cardápios que nunca foram buscados”, informa.
Para tentar conscientizar os empresários da importância do cardápio em braile, Aschkar diz
que seria importante realizar um balanço dos restaurantes que já cumprem a lei e listá-los nos
meios de comunicação. “Assim, os que cumprem ganham um destaque na sociedade e esti-
mulam os outros a serem acessíveis”, disse. Veja nas páginas 30 a 35 a indicação de restaurantes
acessíveis. São 15 os estabelecimentos que oferecem menu em braile, nas Asas Sul e Norte.
A vida sobre rodas
Cerca de 15 mil moradores do DF têm algum tipo de deficiência física. Os dados são do IBGE,
que divide as deficiências como tetraplegia (paralisia dos quatro membros), paraplegia (para-
lisia dos membros inferiores) ou hemiplegia (paralisia que atinge um dos lados), além da falta
de membro ou parte deles.
De acordo com a presidente da Associação dos Deficientes de Brasília (ADB), Maria de Fátima
Amaral, existem “pouquíssimos” restaurantes com adaptação e muitos consideram suficiente
colocar apenas uma rampa. “No entanto, esquecem de adaptar os banheiros, reservar espaços
para que os cadeirantes conduzam suas cadeiras até as mesas ou mesmo se servir”, explicou.
As dificuldades também estão no lado de fora, no estacionamento. “Quando existe uma vaga,
está sempre ocupada por quem não é deficiente”, ressalta.
Segundo dados do IBGE, cerca de 15 mil moradores do DF têm algum tipo de deficiência física
D E Z E M B R O 2 0 1 0 11
12 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
“Ao excluirmos qualquer pessoa, negamos a existência dela como sujeito”
Como a exclusão da sociedade afeta emocional-
mente a vida dos deficientes?
Afeta negativamente em vários aspectos. Ao excluir-
mos qualquer pessoa, negamos a existência dela como
sujeito. Esse fato segrega a pessoa com deficiência a
sua nulidade perante o mundo. Acredito que se deve
ter cuidado ao usar o termo deficiente, pois isso afirma
a incapacidade da pessoa de se inserir na sociedade e
atender as expectativas dessa sociedade. Pelo contrário,
a pessoa com deficiência possui limitações que podem
ser adequadas a cada um, sem a necessidade de con-
dená-lo à “inutilidade social”.
De que forma a sociedade poderia atuar para in-
cluir essas pessoas?
A inclusão deve acontecer através do reconhecimento
dessas pessoas como sujeitos participantes da socieda-
de. As dificuldades encontradas, não só pelas pessoas
com deficiência, mas por toda população que sofre
exclusão, devem-se à tentativa de ignorar a presença
desse público. Sendo assim, cabe a todos modificar o
entendimento perante essa situação e considerar a par-
ticipação do deficiente em todas as políticas públicas e
no mercado de trabalho.
Sem acessibilidade, as pessoas com deficiência ficam condenadas à inutilidade social. É o que afirma a gestora de recursos humanos do Instituto Cultural, Educacional e Profissionalizante das Pessoas com Deficiência no Brasil (ICEP) e psicóloga, Ângela Cezar Almeida.
Em conversa com a reportagem, ela afirmou que os restaurantes devem entender os deficientes como clientes potenciais, que não são atendidos pela falta de acessibilidade.
Ela explica, ainda, que acessibilidade é ter condições acessíveis para qualquer pessoa com algum tipo de limitação temporária ou permanente. “É ter o direito de ir e vir sem muitas complicações.”
D E Z E M B R O 2 0 1 0 13
Como os deficientes precisam agir para enfrentar a sociedade?
A postura da pessoa com deficiência deve ser de superação de tais preconceitos e internalizar seus valores
e potenciais. A sociedade coloca uma barreira a mais para as pessoas com deficiência, por isso é necessário
fortalecer sua autoestima e autoconfiança.
Qual a importância de os restaurantes serem acessí-
veis para receber os deficientes?
Pessoas com deficiência e com dificuldade de locomo-
ção são clientes potenciais e que deixam de usufruir do
serviço oferecido pelos restaurantes devido à falta de
acessibilidade. Nesse caso, o prejuízo é de todos, tanto da
cliente, que não frequentará o estabelecimento, quanto
do próprio restaurante, que perde um leque de clientela.
Como a acessibilidade nesses locais pode influen-
ciar a vida dos deficientes?
Diferencia não só pela questão da inserção, mas pelo
acréscimo de opções dos serviços ao deficiente. É impor-
tante ressaltar que a acessibilidade para as pessoas com
deficiência não deve ser entendida como diferencial, mas
como reconhecimento de um público que necessita de
soluções simples para também usufruir do serviço ofere-
cido, tal como os demais clientes.
“ É importante ressaltar que a acessibilidade das pessoas com deficiência não deve ser entendida como diferencial, mas como reconhecimento de um público”
14 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
A sociedade exclui as pessoas com deficiência? Por quê?
Infelizmente, ainda sim. Por mais que se tenham conquistado avanços,
em quase todas as sociedades, as pessoas com deficiência, em alguma
medida, ainda são excluídas. Elas representam uma diversidade huma-
na em suas habilidades corporais. As sociedades em maior ou menor
grau encontram resistências em assimilar, de forma espontânea, essa
diversidade corporal. Desse modo, o resultado são a exclusão, a dis-
criminação e as desigualdades. Existe uma pressuposição, e isso está
nas práticas sociais, culturais e atitudinais, de que as estruturas sociais
são desenhadas para corpos sem deficiência. É isso que o movimento
das pessoas com deficiência há mais de 40 anos luta para combater.
Eles reivindicam o direito de estar no mundo como fundamental. Eles
querem estar no mundo, mas com toda a beleza que a diversidade de
seus corpos representa. Isso é desafiador para as sociedades porque
são mudanças da ordem do cotidiano que têm de ser promovidas para
a verdadeira inclusão de todas as pessoas.
De que forma a sociedade enxerga as pessoas com deficiência?
Essa pergunta pode ter respostas muito subjetivas. De forma práti-
ca, a cultura da normalidade presente em todas as sociedades aca-
ba pressupondo que as pessoas, ou pelo menos a maioria delas, não
apresentarão corpos com deficiência. Não é a toa que as principais
reivindicações das pessoas com deficiência começaram a aparecer
em momentos de efervescência política nos países anglo-saxões e
depois na Europa nos anos 1970, momento de outras reivindicações
no campo dos direitos humanos e sociais. Foi ali que as sociedades
começaram a perceber que precisavam responder de forma mais efe-
Um dos autores do livro “Deficiência e Discriminação”, o assistente social e doutorando em Sociologia, Wederson Rufino dos Santos, explica, em entrevista concedida à reportagem, que a sociedade ainda resiste em aceitar a diversidade corporal e que, por isso, os deficientes sofrem exclusão e discriminação.
Santos ressalta, ainda, que a sociedade espera sempre que os deficientes sejam heróis e quebrem barreiras com atos solitários. No entanto, ele prega que esse esforço deve ser de todos: governo e cidadãos.
Pesquisador afirma que a sociedade não aceita a diversidade corporal
D E Z E M B R O 2 0 1 0 15
tiva às reivindicações das pessoas com deficiência, que poderiam não necessariamente ser atendidas por
demandas universais ou de outras minorias. É um tema que toca em vários modos de avaliar o quanto uma
sociedade verdadeiramente democrática respeita todos os seus cidadãos em suas particularidades.
Como a deficiência afeta a vida em sociedade?
Não basta o direito a ser livre e o direito ao igual tratamento, se os veículos de transporte não permitem que
todas as pessoas com deficiência possam acessá-los. Não basta as pessoas terem o direito a estar no mundo,
se não há rampas para cadeirantes ou sinais sonoros nos semáforos para cegos, ou o método bilíngue nas
salas de aula, o braile nos elevadores, shoppings, ou adaptações no mercado de trabalho para as pessoas
com deficiência mental. A lista é enorme. A deficiência pode ser um demarcador de como a sociedade ver-
dadeiramente preserva os valores democráticos, da igualdade e da não discriminação.
De que forma a sociedade poderia atuar para incluir as pessoas com deficiência?
Investir em políticas públicas que de fato transformem a sociedade em um lugar em que as pessoas não
sejam discriminadas pela diversidade que seus corpos representam. As legislações tendem cada vez mais a
ser avançadas em muitos países no tema da deficiência, mas é preciso traduzi-las em conquistas cotidianas
para as pessoas com deficiência.
Que políticas públicas e ações da sociedade civil
seriam essas?
Em todos os segmentos é preciso levar a sério as de-
mandas das pessoas com deficiência, pois impactam
no cotidiano delas por muitas razões. Habitar um corpo
deficiente não é a mesma coisa que sofrer discrimina-
ção por deficiência. Essa relação não é automática. É a
sociedade que não está preparada para receber essa
diversidade. Criamos uma expectativa em torno do es-
forço pessoal das pessoas com deficiência, e de suas lu-
tas solitárias, para que elas superem as adversidades e
sejam reconhecidas pela sociedade. É preciso inverter
essa lógica: esse esforço não deve ser heróico, indivi-
dual e solitário. Mas tem de partir de toda a sociedade
para mudar profundamente suas práticas, atitudes e
valores, para que não exista tratamento discriminató-
rio pelo fato de as pessoas possuírem uma deficiência.
Nesse sentido, todos são responsáveis, desde gover-
nos, cidadãos e sociedade civil.
16 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
Viviane AquinoJoaquim Emanuel BarbosaSheila de SáEdivan Gomes Vilela
Para entender as principais necessidades e dificuldades enfrentadas pelos deficientes, a reportagem visitou, com eles, diferentes restaurantes das Asas Sul e Norte. Conheça as histórias de:
D E Z E M B R O 2 0 1 0 17
“Vocês vão querer bufê ou cardápio?”, perguntou
a garçonete. A cliente fez sinal para mostrar que
não entendeu. “Vocês vão querer bufê ou cardá-
pio?”, tentou novamente. Sem respostas, a acom-
panhante e intérprete de Libras fez sinais e tradu-
ziu a pergunta. “Bufê”, escolheu Viviane Aquino, 34
anos e deficiente auditiva. Ela é surda desde que
nasceu, comunica-se por meio da linguagem de
sinais (Libras) e vende artesanato em lojas.
A cena aconteceu durante jantar no restaurante
Chilli Pepper, especializado em comida mexicana,
na 215 Sul. Viviane estava acompanhada da repor-
tagem e da amiga e intérprete Tatiana Maximinia-
no. Todas escolheram o bufê, montado no meio
do restaurante, com vários sabores mexicanos.
No bufê, o garçom responsável pelo atendimento
perguntou: “Feijão com pimenta ou sem pimen-
ta?”. Viviane fez um gesto com as mãos, para mos-
trar que não ouviu. Ele insistiu, mas, em seguida,
ficou impaciente e pediu que outra pessoa a ser-
visse. O momento causou constrangimento tanto
para a deficiente auditiva como para as acompa-
nhantes.
Então, a primeira garçonete que atendeu o gru-
po voltou e repetiu a pergunta, dessa vez falando
devagar e olhando para a cliente, que, finalmente,
conseguiu ler o lábio da funcionária e entendê-la.
Viviane apontou e escolheu o feijão sem pimenta.
Com boa vontade, a funcionária passou a explicar
o que era cada prato servido no bufê. Em volta,
muitos clientes repararam a pequena confusão e
os gestos da intérprete. ”Se pelo menos tivesse o
nome embaixo de cada opção, eu poderia me vi-
rar e ninguém perceberia”, afirmou Viviane.
Novamente sentadas à mesa, era hora de escolher
a bebida. Antes disso, uma pausa. A atendente pe-
diu desculpas por não saber a linguagem de sinais.
“Sei que é muito importante para quem trabalha
com o público, gostaria muito de aprender. No
que precisar pode me falar”, disse, olhando para
Tatiana. A intérprete ensinou que ela precisava fa-
lar diretamente com Viviane, e não com os outros.
A artesã diz que é comum que garçons não per-
guntem diretamente para ela. “Eles só falam comi-
go quando vocês pedem.”
Outra funcionária atendeu à mesa para anotar
as bebida. Viviane se esforçou para fazer sinais e
informar o que queria. A garçonete repetiu para
confirmar, e se entenderam sem maiores confu-
sões. O pedido chegou e estava correto, mas a ar-
tesã diz que nem sempre é assim. “Uma vez pedi
um refrigerante, e o funcionário trouxe suco. Até
eles entenderem, eu já desisti. Eles fazem a gente
de bobo.” Além de trocarem o pedido, é corriquei-
ro os funcionários cobrarem na conta tudo que foi
servido, mesmo que o que veio errado e, conse-
quentemente, devolvido. “Eu discuto, brigo e fica
aquele clima chato. Nesse dia acabei pagando.
Mas não volto nunca mais”, declarou.
Além disso, em alguns lugares, já lhe cobraram até
o couvert artístico dos músicos. ”Nessas ocasiões,
Viviane diz que fica magoada, pois se sente lesada.
“Não consigo perdoar quem me trata mal, querem
passar a perna e tirar vantagem. Não sou boba.”
“Era essencial que alguém falasse em Libras”
Viviane Aquino
18 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
No caso do Chilli Pepper, a conclusão de Viviane é
que o restaurante deixou a desejar. “Senti que os
garçons não olhavam e não perguntavam direta-
mente para mim. Eles trocaram meu prato sem eu
pedir, enquanto, no de vocês, eles perguntaram se
podia.” Para ela, seria essencial que os funcionários
soubessem Libras. “Nem precisa ser todos os dias,
mas pelo menos uma vez na semana e que fosse
avisado no local. Teria mais cliente, com certeza.”
Mesmo com tantos problemas de falta de acessibi-
lidade, ela nunca deixa de frequentar restaurantes
na cidade e, principalmente, de reclamar. “Se não
fizermos isso, eles nunca vão lembrar da importân-
cia de oferecer condições de acessibilidade. Se pa-
rarmos de sair, as pessoas deixam de perceber que
existe o deficiente físico e não melhoram”, ressalta.
Quem é Viviane AquinoViviane Aquino Marques nasceu em Ipamerim (GO). Com 1 ano apresentou febre alta e fortes dores de ouvido. Os médicos diagnosticaram surdez, causada por poliomielite, pois sua mãe não havia tomada vacina contra adoença durante a gravidez. Moradora de Taguatinga e mãe de uma criança.
.
O QUE DIZ O RESTAURANTE
O proprietário do Chilli Pepper, Wildemar Silva, afirmou que é importante que os empresários conheçam os problemas que envolvem a pessoa com deficiência, para que as dificuldades sejam dirimidas.
Ele disse que uma funcionária do restaurante é capa-citada em Libras na casa. “Ela tem um parente surdo.” No entanto, ressaltou que é preciso fazer uma reserva, explicando a situação, para que a atendente trabalhe exclusivamente para a pessoa.
Gestos, anotações e indicações são algumas das formas de comunicação utilizadas pelos deficientes auditivos em restaurantes. As alunas da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos (Apada-DF) Altair de Lemos Caitano, Síria Regina Faria dos Santos e Valdirene Soares de Souza, contam que, em visitas a esses locais, costumam apontar o que desejam no cardápio ou escrever para que os funcionários entendam.
Elas dizem que, mesmo com o esforço é comum os garçons errarem os pedidos. Quando isso acontece, recorrem aos gestos. As alunas afirmam que “seria perfeito” se os restaurantes tivessem intérpretes em Libras.
Na falta de intérprete em Libras, as mãos e a caneta
foto
Mar
cela
Sá
D E Z E M B R O 2 0 1 0 19
O burburinho entre as pessoas de cada mesa, a músi-
ca ambiente, a voz do garçom, o choro das crianças,
as freadas dos carros do lado de fora. São esses os
sons mais comuns dentro da Pizzaria Fratello, na 203
Sul. Sons que o analista de sistema Joaquim Emanuel
Barbosa, 31 anos, não ouve. Deficiente auditivo des-
de o dia em que nasceu, com perda total da audição,
Emanuel conhece uma Fratello diferente.
Emanuel é um deficiente auditivo oralizado desde os
4 anos de idade. Isso significa que, embora não ouça
nenhum som, compreende e consegue falar com
as pessoas por meio da leitura labial, que aprendeu
com ajuda de um fonoaudiólogo. Com tanta facili-
dade para entender os outros, ninguém percebeu,
no dia em que foi com a reportagem à pizzaria, que
o analista de sistema não ouve, apesar de ter havido
um certo estranhamento.
Carregando a filha de 1 ano, Laura Barbosa, Emanuel
deixou o carro no manobrista e não encontrou mui-
tos problemas. Segundo ele, o funcionário percebeu
que havia alguma dificuldade de entendimento,
mas, com gestos, conseguiram se comunicar. “Ele fez
sinal para falar que eu deveria pagar dentro do res-
taurante e eles carimbariam”, disse.
Na hora de olhar o cardápio e escolher a comida,
apareceram mais dificuldades, relacionadas ao uso
de palavras estrangeiras que são desconhecidas,
como shimeji e shitaki (cogumelos). “O menu precisa
ser claro, compreensivo e sem floreios”, afirmou. Ain-
da, segundo ele, é importante, para a pessoa surda,
que os garçons falem em uma posição fácil para a
leitura dos lábios. “Ele tem que falar virado de fren-
te, para facilitar”, recomenda. Para ele, dificulta ainda
mais quando o atendente não tem uma boa dicção.
“Aí tem que ficar pedindo para repetir até conseguir
entender. Uma pessoa é diferente da outra. Por isso,
é difícil ler todas as pessoas.”
Vários garçons atenderam Emanuel, o que gerou
problemas de entendimento. Alguns percebiam di-
ferenças e, talvez por isso, eram mais objetivos, mas
em nenhum momento notaram a surdez. Uns fala-
vam mais alto, outros falavam de frente, outros fala-
vam rapidamente e sem tanta atenção. Com esses,
Emanuel precisou pedir que repetissem.
Para Emanuel, acessibilidade é o conhecimento da
situação do outro. Para ele, um restaurante acessível
é aquele onde os funcionários são treinados para en-
tender e solucionar as necessidades da pessoa com
deficiência. “O sonho é que todos os garçons passem
por curso de oratória para aprender a falar de frente,
com postura, direto para o cliente e que tenham paci-
ência. Que os cardápios sejam fáceis e que exista uma
sensibilidade”, ressaltou. Funcionários que se comuni-
quem em Libras também são essenciais, diz ele.
Emanuel disse que já enfrentou preconceito, mas
não se lembra de nenhum caso para contar. É uma
estratégia adotada por ele para esquecer situações
ruins. “Eu aprendi a perdoar. Quando você perdoa
totalmente uma pessoa, você não se lembra.” Por
isso, embora afirme que os restaurantes sejam ina-
cessíveis, Emanuel não deixa de frequentá-los. E
afirma que tudo em sua vida foi uma questão de
crescimento e adaptação. “Foi preciso me ajustar ao
mundo, enfrentar, correr atrás”, disse. “Sou diferente,
mas sabendo dos meus direitos pude aprender que
também preciso ser respeitado.”
“O sonho é que todos os garçons sejam treinados e tenham paciência”
Joaquim Emanuel Barbosa
20 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
Para Emanuel, a experiência na Pizzaria Fratello foi po-
sitiva. Em nenhum momento se irritou com o aten-
dimento, mas achou confuso o excesso de garçons,
pois alguns eram mais acessíveis que os outros. “Foi
tranquilo, mas pecou pelo exagero de funcionários.
Se eu estivesse sozinho teria sido mais difícil”, disse.
Quem é Joaquim Emanuel Barbosa Joaquim Emanuel Barbosa nasceu em Brasília. Como não ouvia desde que nasceu, foi considerado, até os quatro anos de idade, como autista, deficiente mental ou criança com atraso no desenvolvimento. Aos 4 anos, os médicos afirmaram que ele era surdo. Sem um diagnóstico definido para saber a causa da surdez, os pais de Emanuel ajudaram na sua oralização desde criança. Casado há cinco anos com Bárbara Angelisa de Jesus Barbosa, 32 anos, têm juntos uma filha de 1 ano e 5 meses. Emanuel trabalha há dois anos em uma empresa de informática, na área de manutenção de microcomputadores.
O QUE DIZ O RESTAURANTE
Gabriela Santana, responsável pela área de Marketing do
grupo Dudu Camargo, pediu desculpa pelo ocorrido. Se-
gundo ela, o grupo procura aprimorar os serviços de atendi-
mento aos deficientes. “Já temos contratados, na maioria de
nossas casas, funcionários com deficiência, para que haja um
melhor entrosamento e convivência com a equipe”, afirmou.
foto
Mar
cela
Sá
D E Z E M B R O 2 0 1 0 21
“Nem que eu use todas as palavras será possível
descrever o que o Dino significa para mim. Ele re-
presenta a minha liberdade, minha qualidade de
vida, meu amparo, meu afeto. Eu perdi meus olhos
e ganhei os dele. O Dino é uma extensão de mim.”
Com essas palavras, a bibliotecária e deficiente vi-
sual Sheila Maria Guimarães de Sá, 45 anos, define
seu sentimento por Dino, o cão-guia que lhe acom-
panha há seis anos.
Era terça-feira, no almoço, quando Sheila e Dino en-
traram no restaurante Gordeixo, na 306 Norte. A en-
trada no local foi um pouco difícil, devido às escadas
e à falta de piso tátil para guiar o cego. Os garçons,
assim como os clientes, notaram a presença do cão.
Todos olharam com curiosidade e admiração. Al-
guns abriram sorrisos, outros comentaram entre si
e elogiaram o animal. Os atendentes não ajudaram
Sheila a sentar-se à mesa, mas prontamente busca-
ram o cardápio em braile.
Sentada, Sheila lia o menu em braile para escolher o
prato. Entre as opções, carnes, massas e bufê. “O car-
dápio é muito importante, mesmo que a leitura em
braile não seja muito simples. Mas aqui sinto que es-
tão faltando alguns dados, como preços”, disse. Caso
não houvesse o menu “adaptado”, ela diz que pediria
ajuda ao garçom para ler todas as opções, como já
ocorreu algumas vezes.
Lido o cardápio, escolha feita. Filé-mignon grelhado
acompanhado de fritas, arroz branco e vinagrete.
Para beber, limonada suíça. Enquanto isso, Dino fi-
cou deitado ao lado de sua dona, esperando receber
alguma ordem. “Ele fica tranquilo quando está com
a guia, porque sabe que está em serviço. Porém, se
tivesse sem, teria passeado de mesa em mesa, pois
se comporta como um cachorro normal”, explica.
SERVIÇO
Assim que o suco ficou pronto, o garçom levou-o à
mesa. Colocou o copo na frente de Sheila, junto com
um canudinho envelopado, sem dizer nada a ela. A
reportagem explicou à bibliotecária que o suco esta-
va lá. Ela, então, pediu ajuda para abrir o canudinho
e identificar o local da bebida na mesa. A orientação
deveria ser dada pelos próprios atendentes. Sheila
não reclamou: disse que é normal isso acontecer e
que, por isso, essas atitudes não a deixam chateada
ou irritada.
O mesmo ocorreu ao servir o almoço. O funcionário
colocou o prato em frente à Sheila, assim como faz
com todos os clientes. Os talheres foram dispostos
sobre um prato pequeno, enrolados em um guarda-
napo e longe da bibliotecária. Novamente, a repor-
tagem precisou avisá-la. “Estava sentindo um cheiro,
mas achei que era do restaurante. Deviam ter avi-
sado.” Sheila pediu ajuda à reportagem para cortar
o filé. Alguns garçons estavam por perto, mas não
ofereceram auxílio.
“Acho que os garçons deveriam ter avisado quando
colocaram o prato e ajudado a servir e a cortar. Mas
a culpa não é deles, pois estão acostumados a ser-
vir assim as pessoas sem deficiência. É automático”,
ressalta. Para ela, é necessário levar o problema aos
gerentes, responsáveis pelos treinamentos dos fun-
“Meu cão-guia é uma extensão de mim”Sheila de Sá
22 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
cionários. “A gerência deve perceber as necessidades
do deficiente e rever o tipo de atendimento que é
feito. É função deles orientarem os garçons.”
Quando resolve lanchar fora de casa, Sheila costuma
frequentar locais de “fast-food”. “Nessas lanchonetes
eu já sei o que eu quero porque costumo comer
sempre”. Isso facilita para mim, já que não preciso ler
nenhum cardápio, por exemplo. Mesmo que muitos
Quem é Sheila de SáSheila Maria Guimarães de Sá, 45 anos, é formada em Biblioteconomia pela Universidade de Brasília (UnB). Ela é deficiente visual desde os 27 anos, em decorrência de crises de glaucoma. Mãe de dois filhos, ela mora com o mais velho, Igor de Sá Couto, de 22 anos. Namora um massoterapeuta há 1 ano e 2 meses.
locais não tenham cardápio em braile, ela afirma que
sempre há um garçom que se dispõe a ajudar.
Segundo ela, a principal causa da pouca acessibilidade
é a falta de informação da sociedade, que não conhece
as necessidades da pessoa com deficiência e não sabe
como ajudar. “Não podemos dizer que a acessibilidade
é ideal ainda, principalmente porque, além da falta de
adaptação, existem o preconceito e os estereótipos.”
O QUE DIZ O RESTAURANTE
O gerente do Gordeixo, Genivaldo Gonçalves, disse que foi a primeira vez que o restaurante atendeu um de-ficiente visual. “Fizemos de tudo para atender bem, mas as dificuldades surgem pela falta de hábito”, explicou. Segundo ele, o estabelecimento se preocupa em oferecer o melhor atendimento e, por essa razão, irá alertar os funcionários sobre as necessidades informadas por Sheila.
D E Z E M B R O 2 0 1 0 23
Ela chamou a atenção logo na entrada. Uma mulher
baixa, magra, morena e bem vestida. Todos olharam,
se entreolharam e continuaram observando. Um
acessório foi suficiente para causar esse estranha-
mento, comum às pessoas com deficiência visual.
Era a bengala usada pela cega Edivan Gomes Vilela,
48 anos, bancária aposentada.
Era horário de almoço, durante a semana, no res-
taurante Entrecote, que trabalha com grelhados e
massas, na 305 Sul. No salão, ainda vazio, um gar-
çom prontamente atendeu Edivan, ajudando-a a
sentar-se à mesa. A primeira pergunta de Edivan,
que gosta muito de sair para comer, não foi respon-
dida como esperado. “O senhor tem cardápio em
braile?”, perguntou. Não tinham. Essa seria a forma
mais prática para Edivan escolher a refeição. Em si-
tuações como essas, segundo a bancária, alguém lê
para ela as opções.
O garçom sugeriu que ela pedisse ajuda à repórter,
que a acompanhava no almoço. Edivan, no entan-
to, solicitou que ele explicasse. Após saber qual era
a preferência da aposentada, ele leu todos os pratos
relacionados, bem como acompanhamentos e pre-
ços. Precisou ainda repetir algumas opções e explicar
os ingredientes para, enfim, Edivan fazer o pedido.
Ela afirmou que a falta do cardápio em braile é muito
comum, porém sempre existe algum garçom com
boa vontade para ajudar. “Não é o restaurante que é
acessível, mas sim alguns garçons. A boa vontade é
de alguns e não de todos”, disse.
A bancária aposentada recomendou ao funcioná-
rio que falasse com o gerente sobre a importância
Estudantes do Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV) reclamam que os restaurantes não são acessíveis para eles. Falta cardápio em braile, piso tátil e treinamento dos funcionários. É o que dizem Maria Mancio, Antônio dos Reis Costa, Abrão Lincon Alves Vieira e Jonys Ribeiro da Silva.
A falta do cardápio em braile é o problema mais frequente, mas eles também reclamam do atendimento em alguns endereços. Na opinião de Jonys da Silva, quando eles entram nos restaurantes, os garçons ficam perdidos. “Eles não sabem como atender. Nós temos que caçar a cadeira e, por isso, sentamos no lugar errado, por exemplo.” Além disso, os alunos também falaram sobre a importância de ter um funcionário treinado para lidar com todos os tipos de deficiência, que saberia como guiar um cego.
“Nós temos que caçar a cadeira”
do cardápio em braile, tanto para o atendimento
dos funcionários como para a pessoa com defici-
ência. “Eu me torno mais independente, podendo
escolher a minha comida e não tomo tanto o seu
tempo”, afirmou.
Para Edivan, a ausência de cardápio em braile, o es-
paço pequeno para circulação nos restaurantes, a
pouca sensibilidade dos funcionários para ajudar,
“Os restaurantes não são acessíveis, mas alguns garçons têm boa vontade”
Edivan Gomes Vilela
24 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
além da falta de conhecimento sobre deficiência vi-
sual, são os principais problemas de acessibilidade
para os cegos. “O ideal seria que os restaurantes trei-
nassem seus funcionários para receber deficientes.”
Assim que chegou o almoço de Edivan, composto
de arroz colorido, salada e um hambúrguer de pica-
nha, o garçom colocou a refeição na mesa, em fren-
te à cliente. Edivan pediu que ele lhe dissesse onde
estava cada porção do prato. “Quando o garçom me
guia, falando onde está o arroz e a carne, por exem-
plo, eu consigo me virar sozinha, como cortar os
alimentos sem ajuda”, disse. Mas, para isso, é preciso
que o funcionário do restaurante esteja atento para
essa necessidade. “Eu precisei pedir.”
Para servir-se da salada, colocada à parte, foi preciso
novamente pedir ajuda ao garçom que estava mais
próximo. “Ele pareceu ansioso, estranhou a situação”,
disse Edivan, que não se incomodou. “Entendo que
é estranho para eles. Por isso é importante treinar os
funcionários.”
Ao sair do restaurante, naquele momento, cheio de
clientes, apareceu outro problema de acessibilidade.
As mesas, muito encostadas umas nas outras, atrapa-
Quem é Edivan Gomes VilelaEdivan Gomes Vilela nasceu com deficiência visual, tendo 80% da visão comprometida. Na escola, a professora percebeu que ela tinha dificuldades para enxergar tudo que estava no chão. Aos cinco anos, foi diagnosticada com retinose pigmentar, doença que afeta a retina e causa a perda de visão. Médicos que a consultaram disseram que, aos 15 anos, Edivan estaria completamente cega. No entanto, aos 48 anos, ela ainda percebe a diferença entre claro, escuro e vultos. Foi bancária da Caixa Econômica e atualmente é dona de casa, casada com Erival Galdino Soares e mãe de Raquel Soares, de 10 anos.
O QUE DIZ O RESTAURANTE
Procurada pela reportagem, a supervisora do En-
trecote, Viviane Lima agradeceu a visita de Edivan e
afirmou que o cardápio em braile já foi solicitado. “Já
pedimos, antes mesmo de ela vir, e vamos contar com
essa facilidade”, ressaltou. Em relação ao treinamento,
disse que o estabelecimento capacita os funcionários
para oferecer um bom atendimento.
lharam a saída de Edivan do local. Foi preciso encon-
trar espaços para ser guiada e usar a bengala. Embora
tenha havido problemas, a avaliação geral da visita,
para ela, foi boa. No entanto, o fato de os garçons não
terem ido à mesa mais vezes a incomodou. “Eles qua-
se não vieram perguntar se precisávamos de alguma
coisa.”
Ela diz que, por todas essas dificuldades, não costuma
sair sozinha para almoçar ou jantar em restaurantes,
preferindo ter a companhia da filha e do marido. “Se
eu vier sozinha, com certeza sentirei dificuldade. “Mes-
mo que sempre encontre alguém para ler o cardápio,
me sinto dependente”, ressaltou.
D E Z E M B R O 2 0 1 0 25
Pelo telefone, a voz era de ansiedade para conceder a entrevista. Ele chegou na hora combi-
nada. Para sair do carro, teve ajuda da mãe, Nancy Peres e do motorista. Mesmo com as difi-
culdades, Bruno Braga estava tranquilo, estampando no rosto a felicidade de um jovem de 19
anos. Era noite de uma terça-feira. Sushi foi a opção para o jantar. O restaurante escolhido foi o
Sumô Lounge, na 204 Sul. Bruno é tetraplégico, desde os 16 anos, quando sofreu um acidente
de carro.
A reportagem chegou ao local antes de Bruno e pediu uma mesa no térreo. “Não temos mesa
embaixo hoje”, foi a resposta do atendente. Após ouvir que estava chegando um deficiente
físico, o funcionário prontificou-se a conseguir uma. Conseguiram um espaço para quatro
pessoas, mas o garçom nos alertou sobre o procedimento a ser seguido em visitas futuras.
“Aqui embaixo, funcionamos apenas de quinta-feira a sábado. Nos outros dias, é preciso marcar
antes”, explicou.
O estudante e a mãe chegaram quando o local já estava arrumado. Ainda assim, muitas caixas
de papelão ocupavam a área e cadeiras estavam empilhadas. Talvez, para amenizar a pequena
desordem, os garçons ligaram a televisão e colocaram um DVD, com música ambiente. Embora
ali houvesse um bufê, não haviam pratos expostos, como ocorria no andar de cima. Na falta de
um espaço para “self-service”, os garçons informaram que poderíamos pedir o que quiséssemos
das opções oferecidas, e eles as trariam do bufê, montado no andar superior.
Ao saber das dificuldades para conseguir-lhe um local, Bruno disse que embora tenha aprendi-
do a conviver com problemas, algumas situações ainda lhe deixam irritado. “Sempre que acon-
tecem coisas assim eu brigo, fico muito estressado. É uma falta de respeito”, declarou. Chamar
a atenção das pessoas, brigar por estacionamentos e enfrentar dificuldades de acessibilidade
passaram a fazer parte da vida do jovem depois de um acidente de carro.
muito perder a independência”
Machuca“
D E Z E M B R O 2 0 1 0 25
26 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
Por isso, o jovem procura ir sempre a locais que
sejam adaptados para deficientes físicos, mas afir-
ma que é difícil encontrar acessibilidade completa.
“Muitas vezes tem banheiro adaptado nos lugares,
mas a chegada até eles não é acessível.”
Bares e restaurantes são ainda menos acessíveis. Me-
sas muito próximas umas das outras e escadas para
chegar ao banheiro são alguns pontos que preju-
dicam o acesso para a pessoa que anda de cadeira
de rodas. Quando sabe que o lugar tem problemas,
ele evita ir novamente, para não passar por cons-
trangimentos. “Ter que pedir licença, incomodar as
pessoas, pedir passagem me constrange e eu acabo
deixando de ir”, declara.
Mesmo nos lugares em que há mesas especiais para
pessoas com deficiência física, podem ocorrer pro-
blemas. É o que explica a mãe de Bruno, Nancy Bra-
ga. “As mesas não acomodam o cadeirante, pois o pé
não é acessível, então não entra a cadeira de rodas.
Quem é Bruno de Paula Braga
Estudante de comunicação social, Bruno tem
19 anos e é tetraplégico desde os 16 anos. Em
2007, quando voltava da aula de tênis com o
pai, os dois sofreram um acidente de carro.
Bruno acordou uma semana depois na Uni-
dade de Tratamento Intensivo (UTI) de um
hospital de Brasília. Chegou a ouvir de um
médico que nunca mais iria falar, estudar, se
mexer e que teria pouco tempo de vida. Três
anos depois, após muitas cirurgias e interna-
ções, o jovem, um exemplo de superação,
fala, faz movimentos parciais com braços e
mãos, estuda e se diverte.
O estudante mora com a mãe, Nancy da Silva
Braga Peres, o pai, Eudo Luis de Paula Peres,
e os irmãos, Renan de Paulo Peres Braga, 26
anos, e Juliana de Paulo Peres Braga, 24 anos.
“As rampas sem inclinação correta
acabam não servindo para nada. O cadeirante
continuará precisando de ajuda, pois não consegue
o impulso necessário para fazer sozinho”
D E Z E M B R O 2 0 1 0 27
As pessoas fazem porque é lei, então fazem de qual-
quer jeito”, explica. Segundo ela, as entradas são
outro problema. “As rampas sem inclinação correta
acabam não servindo para nada, porque o cadeiran-
te continuará precisando de ajuda, pois não conse-
gue o impulso necessário para fazer sozinho”, disse.
No dia do encontro, o atendimento, embora solí-
cito, não foi totalmente satisfatório. Algumas op-
ções foram pedidas uma, duas ou até três vezes.
Não foram servidas comidas quentes e poucas
variedades de sushi vieram à mesa. Ainda assim,
o preço pago foi o mesmo do bufê da parte su-
perior, e os pratos oferecidos não eram iguais. “Se
não tivéssemos pedido aqueles sushis, não tería-
mos comido”, afirma Bruno.
Campanhas
A vida de Bruno mudou completamente após o
acidente. Precisar de ajuda para realizar pequenos
movimentos, não poder sair para namorar como
gostaria e não dirigir são alguns dos “machucados”
emocionais do jovem. “Me machuca muito o afas-
tamento das pessoas e principalmente perder a in-
dependência. É uma dor muito grande.” Mas ainda
assim ele diz que aprendeu a aceitar a situação e a
viver da forma mais feliz que pode. “Meus amigos e
minha família me ajudaram sempre e são os maio-
res responsáveis por eu estar aqui.” A mãe de Bruno,
Nancy, completa. “Ele vive uma superação absurda
o tempo inteiro, sempre foi forte e positivo.”
Para ela, a inclusão do deficiente depende de
medidas institucionais de conscientização.
“Falta a sociedade ter mais conhecimento. Pre-
cisa haver uma campanha educativa por parte
do governo, igrejas e hospitais para despertar
o interesse das pessoas, para elas se acostuma-
rem com a deficiência”, ressalta.
Palavra do restaurante
O gerente do Sumô Lounge, Fábio Andrade, explicou
que o restaurante só oferece serviço de bufê no tér-
reo de quinta à sábado. “Nesses dias, o bufê é mon-
tado na parte inferior. Além disso, a altura é adaptada
para que o deficiente possa se servir sozinho”, afirma.
Em relação ao atendimento oferecido ao Bruno, o
gerente disse que, desde o ocorrido, a casa passou
a ter mais atenção e cuidado no tratamento com os
deficientes físicos. “Nós abrimos o espaço para ele,
tentamos fazer o melhor nesse dia, mas pedimos
desculpa pelos incômodos.” A respeito do treina-
mento para os funcionários, Andrade disse que a
casa ainda não o oferece.
“As rampas sem inclinação correta acabam não servindo para nada. O cadeirante continuará precisando de ajuda, pois não consegue o impulso necessário para fazer sozinho”
Os estudantes Guilherme Marcião da Costa, 19 anos, e Joyce Fernanda de Oliveira, 20 anos, são cadeirantes e, como Bruno Braga, enfrentam dificuldades nos restaurantes pela falta de adaptação. Os problemas mais frequentes, segundo eles, são os banheiros estreitos e sem barras de apoio e escadas, tanto na entrada quanto no acesso a outros pisos.
Para Guilherme, uma outra falha é a má distribuição das mesas, que não permite uma fácil circulação da cadeira de rodas dentro dos estabelecimentos. Na opinião dele, para sanar esses problemas, os empresários deveriam fazer uma pesquisa com os deficientes físicos para identificar suas necessidades. “Esperamos a boa vontade deles para querer mudar”, ressalta. A estudante Joyce também crítica os espaços pequenos, que dificultam a circulação. “A maioria de restaurantes tem escadas e pouco espaço. Todos poderiam ter mais rampas.”
Cadeirantes reclamam: muitas escadas e pouco espaço
28 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
é acessível para você
ÁRABE
Tanoor – O bufê é servido durante o almoço, com opções como pasta de grão-de-bico, coalhada e cordeiro. As esfirras, quibes e caftas são levadas às mesas pelos garçons.
Endereço: SHN, quadra 4, bloco A, Hotel Torre Telefone: 3961-5555
Fazer uma refeição rápida ou demorada, comer sozinho ou com os amigos, beber vinho ou refrigerante. Enfim, degustar de alguma forma a gastronomia encontrada nas ruas de Brasília. Tudo isso, somado à facilidade de acesso para todos os clientes, é o que você vai encontrar nas páginas seguintes. São restaurantes localizados na Asa Sul e Asa Norte que pensam no consumidor com deficiência na hora de servir uma boa e – acessível – mesa. Confira os estabelecimentos acessíveis e anote na agenda.
CARNES
Corrientes 348 – O prato mais pedido da casa é a carne assada na brasa apenas com sal refinado, o ojo del bife, retirado do miolo do contrafilé. Serve duas pessoas.
Endereço: 411 Sul, bloco D, loja 36 Telefone: 3345-1348
Norton Grill – Serviço à la carte de grelhados e acompanhamentos, como saladas.
Endereço: SHS, bloco D, loja A , 2º andar, Hotel Meliá. Telefone: 3218-5550
ALEMÃO
Fred – Especializado em comida alemã, o prato mais famoso da casa é um picadinho de filé-mignon acompanhado de arroz, farofa de pão, banana à milanesa e ovo pochê.
Endereço: 405 Sul, bloco B, loja 10 Telefone: 3443-1450
D E Z E M B R O 2 0 1 0 29
COMIDA BRASILEIRA
Brasil Vexado – O prato mais vendido é a carne de sol acompanhada com arroz, feijão-de-corda, paçoca e manteiga.
Endereço: 102 Norte, bloco C, loja 66 Telefone: 3328-0017
Xique-Xique – O serviço funciona à la carte. O prato mais pedido é a carne de sol acompanhada de feijão-de-corda, paçoca, macaxeira cozida, arroz e manteiga de terra.
Endereço: 107 Sul, bloco E, loja 2 Telefone: 3244-5797
CHINESES
Dragon – Localizado na praça de alimentação do Brasília Shopping, o restaurante trabalha com bufê de comidas chinesas e japonesas.
Endereço: Brasília Shopping, loja 223, Asa Norte. Telefone: 3328-4949
Grande Muralha – Durante o almoço, serve bufê com frango xadrez, arroz colorido, yakissoba, sushis e sashimis e rolinho primavera, entre outros. Também oferece à la carte.
Endereço: 108 Norte, bloco A, loja 44 Telefone: 3272-3695
CHURRASCARIA
Fogo de Chão – Arroz, banana frita, farofa com bacon e salada fazem parte do almoço e do jantar. Entre as carnes, servidas por garçons trajados com roupas gaúchas, estão picanha, costela, maminha e coração de galinha, entre outras.
Endereço: 216 Norte, bloco D, lojas 30/46 Telefone: 3340-9900
foto
Div
ulg
ação
30 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
FONDUE
Le Fondue – Pouca luz, vela e música ao vivo. O clima é propício para quem procura um local calmo e gostoso. Além das opções do cardápio, há rodízio de fondue de queijo, carne e chocolate.
Endereço: 207 Norte, bloco A, loja 56 Telefone: 3272-1527
FRANCÊS
Toujours Bistrot – A entrada do local já demonstra que o clima é agradável. Decorado em cores brancas e verdes, o restaurante serve pato, paleta de cordeiro e outros pratos.
Endereço: 405 Sul, bloco D, loja 18 Telefone: 3242-7067
GALETERIA
Galeteria Gaúcha – A opção mais vendida da casa é o rodízio de galeto com ervas, acompanhado de arroz, salada, maionese, polenta e talharim à bolonhesa.
Endereço: 108 Sul, bloco D, lojas 21/29 Telefone: 3242-2656
COZINHA CONTEMPORÂNEA
4Doze Bistrô – Um lugar pequeno e aconchegante, com mesas na varanda e luz de velas à noite. Serve filés, risotos e saladas. Uma das sobremesas mais saborosas é o petit gâteau com sorvete de baunilha e creme de castanha.
Endereço: 412 Sul, bloco C, loja 3 Telefone: 3345-4351
COZINHA RÁPIDA
Café Savana – Serviço à la carte, oferece grelhados com acompanhamentos e caldos.
Endereço: 116 Norte, bloco A, loja 4 Telefone: 3347-9403
COMIDA NATURAL
Girassol – O cliente encontra alimentos crus, legumes e verduras orgânicas. O bufê oferece trinta tipos de salada e dez pratos quentes.
Endereço: 409 Sul, bloco B, lojas 15 e 16 Telefone: 3242-1542
foto
Div
ulg
ação
PEIXES E FRUTOS DO MAR
Confraria do Camarão – Um dos pratos mais pedidos é o camarão real, grelhado com manteiga de ervas e pimenta-do-reino, servido com arroz negro e purê de maçã verde.
Endereço: 212 Sul, bloco A, loja 4 Telefone: 3234-7350
Peixe na Rede – Os clientes podem optar por salgadinhos, molhos, moquecas e até sanduíches de peixes, como o de tilápia no pão francês, com alface, tomate, cebola e molho de alcaparra.
Endereço: 405 Sul, bloco B, loja 34 Telefone: 3340-6937
MEXICANOS
El Paso Texas – Bufê com pratos clássicos da comida mexicana, como burritos e quesadillas, que acontece todos os dias no almoço e, nas quartas e quintas, à noite. O cliente também pode optar por serviço à la carte. Os funcionários recebem treinamento para atender deficientes.
Endereço: 404 Sul, bloco C, loja 23 Telefone: 3323-4618
Tacolino – A proposta é ser um mexicano fast-food. Uma das opções é o taco big tex-mex, com chilli, cheddar, guacamole e alface.
Endereço: 405 Sul, bloco B, lojas 2 a 6 Telefone: 3242-9426
JAPONESES
Haná – O bufê, no almoço e no jantar, serve pratos quentes, sushis, robatas e sashimis feitos na hora. No cardápio, pastel de salmão cozidos, combinados de sushi e sashimi, caldo à base de gengibre e outros.
Endereço: 408 Sul, bloco B, loja 35 Telefone: 3244-9999
Nippon – O restaurante oferece bufê no almoço, rodízio e cardápio no jantar. Salmão grelhado com molho teriaki, mini yakossoba, sushis e sashimis são algumas opções.
Endereço: 403 Sul, bloco A, lojas 20 a 28 Telefone: 3224-0430
Oishi – Durante almoço e jantar, o restaurante trabalha com cardápio e bufê. Entre as opções, temaki, sashimi, sushi e yakissoba.
Endereço: 105 Norte, bloco C, loja 17 Telefone: 3349-4129
ITALIANOS
Gordeixo – A cantina serve massas e pizzas. Grelhados são oferecidos durante a semana, como pratos executivos.
Endereço: 306 Norte, bloco B, lojas 13/23/39. Telefone: 3273-8525
Villa Tevere – Oferece música ao vivo no final de semana para deixar o dia leve e descontraído. No cardápio tem bruschetta, filé-mignon, risoto e sobremesas.
Endereço: 115 Sul, bloco A, loja 2 Telefone: 3345-5513
foto
Div
ulg
ação
32 A C E S S I B I L I D A D E G O U R M E T
QUILO
Don Durica – Funciona com o serviço de bufê por quilo durante a semana e aos sábados e feriados. À noite, oferece bufê de massas, caldos e frios. No cardápio, tem sanduíches, crepes e saladas.
Endereços: 115 Sul, bloco C, loja 36 Telefone: 3346-8922
PORTUGUÊS
Sagres – Na última quadra da Asa Norte, é um restaurante pequeno e aconchegante, que serve pratos clássicos da comida portuguesa. O mais servido é o bacalhau em postas assado com azeite.
Endereço: 316 Norte, bloco E, lojas 24 e 28 Telefone: 3347-2234
PIZZARIAS
Fornalha Pizza & Cozinha – Serviço de cardápio e rodízio com 43 opções, entre salgadas e doces.
Endereço: 307 Sul, bloco D, loja 35 Telefone: 3443-4251
Fratello Uno – Do chef Dudu Camargo, a pizzaria serve de entrada o pão da casa, feito com massa de pizza e recheado com calabresa artesanal e azeite. Destaque para as pizzas de meio metro de comprimento, que comporta até quatro sabores.
Endereço: 103 Sul, bloco A, loja 36, Telefone: 3321-3213
La Mamma – O forte do restaurante é o rodízio, com cerca de 60 opções. O serviço inclui pratos quentes e saladas.
Endereço: 314 Sul, bloco A, loja 2 Telefone: 3346-0303
Pianino Pizzeria – Rodízio de pizzas no jantar e no almoço.
Endereço: 410 Sul, bloco C, lojas 5 e 7 Telefone: 3245-2911
Vercelli – São 30 sabores de pizza, para serem servidos em sistema de rodízio ou à la carte.
Endereço: 410 Sul, bloco D, loja 34 Telefone: 3443-0100
foto
Div
ulg
ação
VARIADOS
Belle Epoque – As opções são encontradas no cardápio variado em que predominam toques da culinária francesa.
Endereço: SHS, quadra 1, bloco A, piso térreo, Hotel Nacional Telefone: 3217-7575
Café Itália – Bufê no almoço com grelhados e acompanhamentos. À noite, cardápio também com grelhados.
Endereço: 216 Norte, bloco A, lojas 48/64 Telefone: 3340-1300
Chocolat Glacê – Saladas e pratos quentes, como grelhados, arroz e feijão, fazem parte do bufê durante o almoço.
Endereço: Brasília Design Center, Central, Setor de Rádio e Televisão Sul Telefone: 3224-8886
Diamantina - Variedades de carnes, aves e peixes com saladas e risotos são algumas das opções encontradas no cardápio.
Endereço: SHN, quadra 2, bloco E, Kubitschek Plaza Hotel Telefone: 3329-3774
Dona Lenha – No cardápio, risotos de camarão, grelhados com acompanhamentos, saladas, filé à parmegiana e sobremesas.
Endereço: 210 Norte, bloco D, loja 60 Telefone: 3349-2323
Lucca – No almoço e jantar, os clientes encontram bufê com saladas, grelhados e pratos quentes. Sugestões do cardápio também podem ser uma opção, com carnes, peixes, aves e saladas.
Endereço: SHS, quadra 6, bloco F, 1º andar, Hotel Brasil XXI Telefone: 3039-8174
O Convento – Carne, aves, peixes e massas podem ser encontrados no cardápio da casa. O picadinho à franciscano, com milho verde, farofa de ovo, mandioca frita e arroz, é uma pedida. De sobremesa, doces de leite, de figo, de pera e de goiaba com quejo.
Endereço: Entrequadra Sul 208/209, Casa D´Itália, entrada pelo Eixinho L . Telefone: 3443-3104
The Falls – Localizado no Hotel Naoum Plaza desde 1989, oferece bufê e cardápio. Aos sábados, serve feijoada.
Endereço: SHS, quadra 5, bloco H/I, Naoum Plaza Hotel Telefone: 3322-4545
Werner Filé e Vinhos – Um cardápio diversificado, que oferece carnes, frutos do mar, risotos e aves. A carta de vinhos conta com 200 opções.
Observação: Caso seja necessário, o cliente pode pedir o computador para visualizar as opções do cardápio, no site.
Endereço: 212 Sul, bloco A, loja 36 Telefone: 3346-3720
D E Z E M B R O 2 0 1 0 33