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REVISTA DA ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS Jandir João Zanotelli (organizador) Pelotas Abril - 2010 No.19 1

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Publicação da revista da academia sul brasileira de letras

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REVISTADA ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE

LETRAS

Jandir João Zanotelli (organizador)

Pelotas Abril - 2010

No.19

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REVISTADA ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS

Fundada em 9 de maio de 1970

DiretoriaPresidente: Jandir João ZanotelliVice-Presidente RS: José Moreira da SilvaVice-Presidente SC: Lauro JunkesVice-Presidente PR: João Darcy RuggeriSecretário: Wilma mello CavalheiroTesoureiro: Reyzina Vianna Ramos

Conselho EditorialÂngela Treptow SapperJandir João Zanotelli (organizador)Joaquim MoncksJosé Clemente PozenatoLígia Antunes LeivasMaria Alice EstrelaMaria Beatriz Mecking CaringiSérgio OliveiraWilma Mello Cavalheiro________________________________________________Revista da Academia Sul-Brasileira de Letras- N 19 (Abr..2010)

Pelotas: EDUCAT, 2010.Semestral. 150 p.ISSN 1809-55401. Letras – Periódicos. 2. Literatura – Periódicos.

CDD B869.05 ____________________________________________________Sede: Rua 3 de Maio 1060 – Conj.403 –

Pelotas – RS– 96010-620E-mail- [email protected]

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SUMÁRIO

Apresentação........................................................................5

EVENTOS............................................................................7ASBL 40 anos..................................................................7Discurso – Lígia A. Leivas – Posse Rogério G Xavier.11Lançamento livro - Luiz de Miranda............................20Encontros Santa Catarina e Paraná................................22

POESIA .............................................................................23

Despedida – Ary Albuquerque......................................23Nós – Guilherme de Almeida........................................25Minha Terra - Leno Caldas...........................................26A Morte do Delegado – José Isaac Pilati.......................28Animal Simbólico – Jandir João Zanotelli.....................30Carnavales de Progreso – Carlos Gil Turnês..................32Na volta – Odilon Ramos...............................................36Coração de Mãe – Semente de Paz – Roza de Oliveira..37Tentativa – Nair Solange Pereira Ferreira......................39Onde me descubro sem teu olhar? – Lígia A Leivas......40Dia do Médico – Roza de Oliveira.................................42O Amor, o Sorriso e a Flor – Marísia Vieira..................43Promessa – Marísia Vieira.............................................43Procura-se um Homem – Maria Luiza Kuhn.................45Passos de Neve – P. de Petrus........................................47Timidez – Wilma Mello Cavalheiro...............................48Paz – Wilma Mello Cavalheiro......................................49Venus de Millo –Noemi de Ass. Osório Caringi...........50

POESIA..............................................................................51

TROVAS.HUMORÍSTICAS.............................................58

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CONTOS E CRÔNICAS...................................................59

Vida de Pedro Yamaguchi Ferreira – Paulo Teixeira...59O mal de Ondina – Rogério Xavier..............................83O gato da Irmã Amélia – D. Edson Damian.................87Fim do Caminho – Maria Beatriz Mecking.................89Iluminação – Maria Beatriz Mecking..........................90Ano Novo – Maria Beatriz Mecking............................91Ode ao juiz ladrão – Juremir Machado da Silva..........93

ARTIGOS E ENSAIOS .....................................................95

Sobre Contos Gauchescos de João Simões Lopes Neto –José Moreira...95

Deus é o Criador da Vida – O Homem é seu colaborador– Jandir João Zanotelli...99

RECENSÃO.....................................................................106

ESTATUTO SOCIAL DA ASBL....................................107

ASBL: Cadeiras – Patronos – Titulares............................122

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APRESENTAÇÃO

É época de Páscoa. De Ressurreição. Deabolição da escravatura. De mães e de noivados.Mês de aniversário de nossa Academia. São 40anos. Almoçamos juntos. Declamamos. Fizemosfesta. Eis o que disse Lígia, nossa ex-presidente nacoluna do jornal:

E para concluir a apresentação de nossaRevista semestral, nada melhor do que a mensagemmadura e saborosa desse grande educador e amigoRubem Alves:

“Para os meus amigos com mais de 50 anos,que já não suportam mediocridades. Estou passando para lhes deixar um abraço e umamensagem.“Contei meus anos e descobri que, comabsoluta certeza, terei menos tempo para viverdaqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me comoaquele menino que ganhou uma bacia dejabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente,mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

“Já não tenho tempo para conversasintermináveis para discutir assuntos inúteis sobrevidas alheias que nem fazem parte da minha. Já nãotenho tempo para administrar melindres de pessoasque, apesar da idade cronológica, são

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imaturas. Detesto fazer acareação de desafetosque brigaram pelo majestoso cargo de secretáriogeral do coral ou semelhante bobagem, seja elaqual for.

“Sem muitas jabuticabas na bacia, queroviver ao lado de gente humana, muito humana; quesabe rir de seus tropeços, não se encantacom triunfos, não se considera eleita antes da hora,não foge de sua mortalidade, defende a dignidadedos marginalizados, e deseja tão somente andar aolado de Deus”.

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EVENTOS

1. ASBL – 40 anos “A palavra é como uma abelha: tem mel e

tem ferrão.” Magda Costa, ao reunir um grupo de

escritores para juntos fundarem a Academia Sul-Brasileira de Letras – Casa de

Cultura João Simões Lopes Neto (ata de fundação)– acreditou no ‘mel’ da palavra... da palavraliterária que ‘caindo como orvalho numpensamento, produz milhares, talvez milhões deoutros pensamentos’.

Faz quarenta anos. Era o dia 9 de maio de1970 quando a ASBL começou – a sede emPelotas, abrangendo os três Estados do sul.

Ergueu-se altaneira! Fincou o marco literáriocom a bandeira da ‘arte completa’!

O 40º aniversário de nosso sodalício foicomemorado na fraternidade da convivência dianteda paisagem mansa das águas do São Gonçalo queolhava com olhos de alegria e convidava o céu paranos abraçar.

Éramos amigos, simpatizantes, familiares eacadêmicos prontos para partilhar satisfações nasdependências do Clube Veleiros Saldanha da

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Gama. Celebrarmos a palavra... 'palavra-morada,palavra-viva, palavra-casa do Ser, do homem, damemória, da esperança, da caminhada...'

A palavra sempre sábia, sempre irmã denosso presidente Jandir Zanotelli nos saudou atodos e insistiu na idéia de que o compromisso coma cultura é também de cada um, e de cadaacadêmico em particular. Aprimorarem-se osestudos, as pesquisas, as leituras, mas tambémexpandirem-se ações culturais para a comunidadetoda – eis a meta das academias, de modo que nãosejam estas mantidas apenas como ‘guetos deintelectuais vaidosos cercados por passivosouvintes’. Se a palavra é ‘juízo’, urge que este sejao de construir consciências comprometidas com adignidade e a qualidade de vida para todos, sobpena de, se assim não for, tudo se tornar vazio designificado. Este é o papel da literatura; esta, amissão dos que abraçam a causa cultural comofonte de desenvolvimento.

Enquanto delicioso almoço era servido,ouviram-se manifestações de alguns presentes:Acad. Dr. José Moreira da Silva, vice-presidenteda ASBL-RS e presidente da Academia LiteráriaGaúcha (ALGA-P. Alegre) – emocionado,reportou-se à sua chegada ao convívio com nossosodalício e sua assunção academial; Acad. Zêniade Leon, presidente da Academia Pelotense deLetras, cumprimentando a todos da ASBL;

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Waldemar Souza, presidente do Centro LiterárioPelotense e Acad. Honorário da ASBL,parabenizando o presidente e os acadêmicos,fazendo bonita saudação às mães. Gildo Oliveira,sensibilizado, declamou poemas. Acad. WilmaCavalheiro - também presidente da UBT - recitousonetos de sua autoria e de outros poetas. LígiaAntunes Leivas fez a leitura dos cumprimentosrecebidos pela ASBL, sendo eles: Carlos LeiteRibeiro e Iara Mello, presidente e vice-presidentedo Portal CEN (Brasil-Portugal); DelasnieveDaspet, Embaixadora do Poetas del Mundo;Rozélia Razia, presidente da ALGAS XXI; DalvaMartins, vice-presidente da Acad. Rio-Grandina deLetras; Fátima Armesto, do Centro de EscritoresLourencianos; Pedro Du Bois, presidente daAcademia Itapemense de Letras (SC); LenoCaldas, presidente da Academia de Letras de SãoPedro de Alcântara (SC); Abílio Pacheco, daAcademia de Letras de Belém do Pará; AntonioLuiz Alves, da Academia de Letras de Carrazedode Montenegro (Portugal); Dr. Luiz Caminha, daAcademia de Letras de Blumenau; IedaCavalheiro, presidente da Casa do Poeta Rio-Grandense – CAPORI; dos escritores José R.Moutinho , Fábio Ramos (SC); Maria HelenaCamilos (MG), Gilberto Chaves (Brasília, DF);Marlene Tejada (ES); do jornalista Hélio Freitg –Diário da Manhã, Pelotas; de Maria de Lourdes

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Poetsch, presidente do IHGPEL; de Tristão Oleiro,presidente da Casa Brasileira de Cultura; dosAcadêmicos Joaquim Moncks, Rogério GastalXavier; Blau Souza, Nair Solange Ferreira, Rozade Oliveira (e esposo Julio), João Ruggeri,Sebastião Ferrarini, dentre tantos outros e.mails etelegramas.

O festivo encontro foi encerrado comgloriosa homenagem às mães que receberam rosasvermelhas das mãos do Prof. Jandir Zanotelli. Aosque nos honraram com sua presença, levando suaalma literária para o aniversário da ASBL, os maissensibilizados agradecimentos de nosso presidente,Prof. Jandir Zanotelli, e da diretoria da AcademiaSul-Brasileira de Letras.

“A palavra é a única magia A alma é conduzida e regida pela palavra Pois a palavra é sempre dona do coração.” R

onsard, in ELEGIA Lígia Antunes Leivas

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2. Discurso da paraninfa Lígia Leivas na posse deseu afilhado Rogério Gastal Xavier.

Ilustres Acadêmicos Dignas autoridades anteriormente referidas Distintos convidados: familiares, amigos,

admiradores, leitores de Rogério Gastal Xavier. Uma noite solene! Damos início a uma noite solene. Uma noite

cultural. De festa cultural. Festa da palavra, daliteratura, da poesia em prosa e em versos.

A ASBL sente-se honrada em tê-losconosco; mais do que honrada, sente-se feliz,acarinhada com a presença dos que aqui vêm paracelebrar a assunção academial de Rogério GastalXavier – pelotense ilustre que dentro de momentosserá o mais novo integrante da nossa instituição.

Rogério Gastal Xavier, embora daqui setenha ido há quase meio século jamais cortouvínculos com sua terra e sempre soube fazê-ladigna em decorrência da inteligência, dahumanidade, da competência em sua atuaçãoprofissional e de cidadão.

Desejamos a todos aqui presentes que estanoite não seja uma noite de tempo calado; mas quepermaneça indelével na lembrança de cada um; eque nós, da ASBL, tenhamos a felicidade de

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corresponder plenamente às expectativas trazidasno aconchego da emoção de cada um dos senhorese das senhoras.

Nossa ASBL – sensibilizada – e nossa doce,nobre, majestosa Pelotas agradecem a presença detodos e em particular a dos que vieram de outrascidades para homenagear Rogério e nossosodalício.

Sejam muito bem – vindos! Confrades e confreiras Distintos convidados Meu querido afilhado Rogério Gastal Xavier. Uma solenidade de posse exige, em princípio

e por norma, um discurso formal no tompropriamente acadêmico.

Permitam-me arranhar um qualquer tanto origor, o convencional indicado à ocasião e nãofazer um discurso, mas sim uma saudação em tomquase intimista, ainda que breve, ao novelAcadêmico e fazer sucinto relato sobre a chegada,até nós, de Rogério Gastal Xavier, figura humanaímpar, simples em sua sábia postura.

Abro parênteses para observar que nesta horaalgumas questões afloram imediatamente à nossacuriosidade:

Por que se tornar um acadêmico? O que é ser acadêmico?

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Por que Rogério Gastal Xavier torna-seAcadêmico neste 28 de Novembro de 2008?

Respostas para algumas dessas questõesimplicam necessariamente repassar que RogérioGastal Xavier foi aceito, por unanimidade, paraintegrar nossa academia, em Assembléia Geralrealizada dia 23 de abril de 2008, tendo seu nomesido indicado anteriormente por esta presidênciaem reunião de diretoria do dia 20 de março de2008, na qual também foi aprovado porunanimidade.

Seu nome chegou-nos não ao acaso dascoisas, mas sim porque a produção literária deRogério transcende a montanha e o cedro e vai aalturas que o condor alcança – se usarmos umadefinição de Machado de Assis sobre os poetas.

Se a imaginação é o que mais atua no serhumano, nos poetas ela se estende além dos aléns...O poeta expande as fronteiras do mundo com alinguagem da sentimentalidade, o que, em Rogério,tem o poder de arrebatar o leitor.

Se o escritor profere a palavra que sepulveriza em múltiplos significados, Rogério fazemergir dos recônditos da emoção o poema quearrepia o topo da nossa cabeça e faz correr pelanossa espinha aquele frio que nenhum fogo é capazde aquecer – tomando aqui emprestadas as palavrasda poetisa Emily Dickinson.

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Totalmente entregue ao texto, Rogério une ocoro à orquestra; funde sonho e sonhador. Por issoRogério está conosco.

Saber de Rogério poeta foi umacontecimento passado em uma tarde de fevereiro.

Pelotas ardia de calor. Uma tarde tórrida.Subitamente um temporal assusta a cidade; a tardevira noite. Estaciono no Pq. Dom Antônio Záttera,enquanto aguardo calmar a tormenta. Meu telefonetoca. Do outro lado, um amigo querido - professorNicola Caringi (colega de revisão, na reitoria,compus da UFPel). Não me surpreendo. Souberaque havia me procurado. Ele me fala sobre Rogério– seu contraparente e amigo poeta. Queria este queeu lesse alguns de seus poemas. Naquela noite leioe releio os poemas de Rogério. Lindos! O fascínioda palavra literária! O encantamento.

Eis o e.mail com minhas impressões sobreaqueles não mais que seis poemas:

Doutor ROGÉRIO !!!!!!!!!! MARAVILHA!!!!!!! Seus poemas são lindos!!! Há neles tanta humanidade, tanto sentimento

de compaixão, de saudade, de tristeza, de olhar omundo com os olhos - ainda - da esperança, que é oquanto basta pra que o senhor já seja um poeta

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aclamado! Afinal de contas, poeta é aquele queprofere... é isso mesmo que está não só nas linhas,mas nas entrelinhas de seus versos! Uma profissãode fé pela poesia!

Algumas figuras literárias ( metáforas e, emespecial, metonímias) retocam de um jeitoprecioso suas 'escrituras'.

P-A-R-A-B-É-N-S ! ! ! Hoje, depois que saí da ASBL (chovia a

cântaros!), peguei o envelope que o sr. haviadeixado com Nicola (meu queridíssimo amigo que'mora' no meu coração!) na casa da sra. mãe dele( bem pertinho da nossa Academia). Li suas folhascom os olhos não só da curiosidade, mas daexpectativa de encontrar um novo e resplendentePOETA... e 'não deu outra' com certeza!

Deixo-lhe meu abraço e muitos parabénsliterários.

Lígia Antunes Leivas Tenho para mim (acho que aprendi com o

tempo) que o homem não chegou a este mundopara ser entendido ou explicado – afinal, comoescreveu José de Alencar na última frase deIracema, “tudo passa sobre a terra”. O homemtambém passa mas enquanto vivemos – e é bomestar vivo! – Precisamos de emoção, de amor, de

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arrebatamento e o poeta de verdade tem este dom...Rogério tem este dom! Naquele momento em queterminei a leitura dos poemas de Rogério (não maisdo que cinco, seis) pensei: este será nossoacadêmico; ou trazê-lo para nós. Não demoroumuito, mais precisamente em abril, ele nos visitou.Trazia os convites para o seu livro de estréia comopoeta: “Maria dos Mares Lunares”, um livro comcem poemas, abrangendo quatro secções:

Maria dos Mares Lunares, Maria Felicidade,Maria Contigo e Maria Vem.

Alguns desses poemas estão no site da ONU,no Portal Poético das Nações Unidas pela Paz eforam expostos em março deste ano. Outros estãono Portal Hiroshima-Nagasaki - Nunca Mais,exibido no Japão em agosto de 2008, nashomenagens aos mortos da 2ª Grande GuerraMundial.

“Maria dos Mares Lunares” foi lançado em13 de maio de 2008 em Porto Alegre , na LivrariaCultura do Shopping Country Bourbon, com umpúblico invejável. Este livro foi autografado, comgrande sucesso, na Feira do Livro de Porto Alegree na de Pelotas.

Contém poemas em que a inteligência doautor, aliada à sua lírica sentimentalidade,transforma a palavra na mais refinada arte literária.

Rogério Gastal Xavier também tevetrabalhos literários de sua autoria selecionados para

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integrar o livro “Vivo e Conto”, projeto CulturalRoche-ABCâncer, razão pela qual foihomenageado em São Paulo na semana passada.

Sobre Rogério Gastal Xavier – sua

formação, suas atividades, seu nome profissional –todos nós sabemos da sua grandiosidade: ele émédico, pneumologista com graduação naUniversidade Federal do Rio Grande do Sul e temtodos os níveis de pós-graduação também: algunsno exterir – Estados Unidos - e pós-doutorado naFrança. É conhecido internacionalmente. Professorna Universidade Federal do Rio Grande do Sul,orientador de pós-graduandos, responsável pelosetor de Pneumologia no Hospital de Clínicas dePorto Alegre. Em Pelotas estudou no ColégioMunicipal Pelotense e na década de 60, transferiu-se para Porto Alegre.

“Para ser grande, sê inteiro. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim, em cada lago A lua toda brilha, porque alta vive.” Eis Fernando Pessoa, Rogério, de quem tanto

gostamos! “Para ser grande, Rogério, sê inteiro!”

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Rogério, meu afilhado: minhas palavras

finais são para ti com exclusividade. Serás nosso confrade na Academia Sul

Brasileira de Letras. Não fora pela qualidade de nossos

acadêmicos, sua notoriedade, a aptidão de cada umdeles, nosso sodalício já teria preciosa significaçãopor sua territorialidade, porquanto abrange o nossoRS, e mais PR e SC. Hoje com sessenta cadeiras,delas quarenta destinadas ao chão gaúcho e dezpara cada um dos outros estados do sul, a ASBL foifundada em 9 de maio de 1970 por uma mulher –uma mulher simples, modesta; uma advogadapreocupada também com o social, com osdesvalidos – homens e também animais. Fundouela também o Albergue Noturno de Pelotas –Adolfo Fetter.

Circe Palma Monteiro (Magda Costa) –mulher gigante, com o coração do tamanho domundo. Magda Costa: ser humano de verdade, nãosó escritora, mas espiritualizada, visionária,caridosa.

A ASBL vive porque Magda Costa aidealizou e realizou o sonho! E por isso hojeestamos aqui.

Em sua ata de fundação, a Academia Sul-Brasileira de Letras é a Casa de Cultura JoãoSimões Lopes Neto. E assim será.

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Rogério, nasceste em Pelotas, sobre a qual te

manifestaste com versos de Neruda: ..."Y al mirar las cenizas azules del pasado nos sentimos más grandes y más eternizados y sentimos que nace como uma inmensa

flor"... (Neruda, P. En la buena canción) - no mesmo chão de grandes escritores e na

terra que também soube ser mãe adotiva de tantosoutros. Como eles serás, pois a posteridade nãocala, não mente. Entre eles: Lobo da Costa, JoãoSimões Lopes Neto, Mimi Caringi, Márcio Dias,Ápio Antunes, Major Ângelo Moreira, SadyMaurente, Clóvis Alt, Salazar Cavero, HeloísaNascimento, Pedro Baggio, Ivone Amaral, PauloMarques, Maria Amélia Hillal, Jorge Sali Goulart,Juca Xavier de Freitas...

Rogério: Que os “Negros Iluminados” brilhem em

todos os espaços siderais! Que a “Flor da Fortuna”,em seu estoicismo, mantenha-se guerreira, lutandopela vida sem desistir nunca.

Que com os “Olhos de ver” nos possas dar ‘aalegria do poema de cada dia’, como escreveu O.Bilac em um dos versos do conjunto de 35 sonetoslapidares, perfeitos com que compôs “Via-Láctea”!

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Rogério: Na ASBL encontrarás não apenas os

acadêmicos, mas amigos leais que conquistarás eque vão te querer muito bem!

Nossa Academia te recebe orgulhosa,honrada e sabendo que contará com teu empenho,tua sabedoria, teus escritos literários.

Adentra as portas da ASBL com os lírios dabondade nas mãos e as estrelas do saber na fronte!

Sê bem-vindo! Poesia sempre! Obrigada!

3. Abaixo transcrevemos o convite para olançamento da vasta e consistente obra de nossoconfrade Luiz de Miranda, para marcar a memóriade sua intensa atividade literária.

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4. Por outro lado, estamos tentando articular doisencontros, um em Curitiba e outro emFlorianópolis, para fazer acontecer eleições e possede mais acadêmicos afim de somar sócios e darainda maior consistência ao trabalho daquelasoperosas Seções da Academia.

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POESIA

DESPEDIDA

Ary Albuquerque1

Despedimo-nos sem nenhum segredo.Simplesmente, despedimo-nos.

Foi tão natural como se fosse um sair para voltar.Não houve adeusnem lágrimassequer parecia que era para sempre.

A porta aberta, escancaradae ela partindo suavementesem se importar com o tempo.

1 Ary Albuquerque é um poeta de extrema sensibilidade. O poemaacima consta do seu livre intitulado “Tríade Poética’. Na sua vida civilse destaca como um dos mais sólidos empresários do Nordestebrasileiro.

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Não percebia que estava levandoem seus lábios pedaços de meus beijose que em seus seios se encontravamas marcar de minhas mãos.

E assim, devagar e serena,partia, deixando apenasa ausência de sua alma divina.

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NÓS Guilherme de Almeida2

Espero-te, pensando: “Ela não tarda...Prometeu-me: há de vir...” e com que aflitas,longas horas de angústia tu me agitaso coração que, tímido, te aguarda!

E espero, tristes horas infinitas,um momento de vida que retarda.Súbito irrompes, trêmula e galharda,numa nuvem de rendas e de fitas.

Vens a mim. Corro, tomo-te em meus braços,e te estreito, estreitando mais os laçosdo teu, do meu, do nosso grande amor.

E o teu beijo, e o meu beijo, e os nossos beijossão mil rosas vermelhas de desejos,na primavera do teu corpo em flor!

2 Guilherme de Almeida, advogado, jornalista, poeta, ensaista etradutor, nasceu em Campinas, SP, em 24 de julho de l890 e faleceu emSão Paulo em 11 de julho de l969. Ocupou a Cadeira l5 da AcademiaBrasileira de Letras. Também pertenceu a Academia Paulista de Letras;Ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e ao Instituto deCoimbra.

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MINHA TERRA3 Leno Saraiva Caldas pseudônimo - GAIA Se na minha terra eu pudesseapreciar o canto dos pássaroso vôo sutil das coloridas borboletas... Se eu pudesse...deixar o céu com doces matizesfazer mais forte o brilho das estrelas... Se eu pudesse...proteger o magnânimo universoem que minha terra moraeu transformaria o lendário homem em ser quase celeste na transcendência do amor maior! Faria dos sentimentos inferiores essências de compaixãoe trocaria a fome por abundância. Tocaria a harpa divina e no exercício do perdão

3 Primeiro lugar do concurso Minha Terra realizado pela ASBL.

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diria "Graças, Meu Deus!" pelo milagre da vida! Diria a todos de minha terra quão importante é a sabedoriae assim viveríamos a felicidadea fraternidade na energia sutil do coração! Na minha terra... ah! na minha terraseríamos os sonhadores sem doresna união de cada irmão em busca da felicidade de todos nós!

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A MORTE DO DELEGADO

José Isaac Pilati

Vo te mostrá, piá de merdaQuem é que manda pará! Foi de relho sobre o taura,Mas não deu nenhum laçasso:viu um revólver, como clara, e um disparo, comogema:ele mesmo a gemada,a bater-se no tablado. Logo jaz como uma bíblia:ferida e olhos abertosna tristíssima trindade. Já não olha e não sangramas o olham como salmo:encomendam sua almaem nome do pai e do filhoe do mal definitivo, Amém. Em nome da briga e do revólvere em definitivo,Adeus.

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Ei-lo na trindade mortuária hospitaleira:dois olhos e uma ferida exangue, três olhos, mas um só Esquecimento! Na balsa de levá-lo de uma vida madeireiraFoi um cedro com barriga, num destino deUruguai:Trinta almas foi a enchente que o levou pra nuncamais.

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ANIMAL SIMBÓLICO

Jandir João Zanotelli

Ah! Tão perto, tão perto e tão distante...Tão longe de minhas mãos, de meu cálculo, e meu alcance...E tão perto, muito mais perto do que eu estou perto de mim...Mais carne de minha carne,Mais osso do que meus próprios ossos...Antes de meu começo e de meu fim Olhos..., peito arfante e mãos e curvasQue chamam, que convidam, que insinuam...Que apostam e garantem o que eu mais quero, o que eu mais busco... alma, olhos, coração.Mais que meu próprio ser e identidade,e que se entrega tão simples como a chuvatão doce como o leite e como a uvaQue antes de chegar... já dá saudade.

Meu amor!Que não é meu,que não é teu.Nem é de Deus.Nem de ninguém...Que vai e vem...Muito aquém, muito além...Faz tanto mal... faz tanto bem...

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Quero-te perto muito mais perto do que o beijo.Mais íntima e total do que o desejo.Abismal convite e seduçãoque me anima sempre em busca de um caminhoCom mil pedras, mil dobras, mil espinhosMas que é a casa da paz que eu quero ter.

Agarrado ao símbolo de tua vidaque me traz o ausente tão presente e faz o presente tão ausenteque se sentede repenteentre a genteque o amor já começou.

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CARNAVALES DE PROGRESO

Carlos Gil Turnes (2003)

Lindos son los carnavalesCarnavales de ProgresoCarnavales de a vinténCarnavales sin um peso

Lindos son los carnavalesCarnavales de Progreso

Carnavales de tractorO si no de bicicleta

Y p´al que no tiene un mangoCarnavales de chancleta

Carnavales con olorY sabor de chorizada

Con cerveza bien heladaPal´ gusto de la mozada

Carnavales de tabladoCon cantores y murguistas

Payadores guitarrerosY a veces malabaristas

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Carnavales coloridosDe gurisas sin marido

Y de madres preocupadasEn buscar un buen partido

Esos eran carnavalesCarnavales de Progreso

puede usted tener certezaNo hay nada mejor que eso

puede usted tener certezaNo hay nada mejor que eso

Allí está Julio GallegosLo acompaña La Pampitacuando ellos cantan juntos

Todo el mundo aquí se agita

Se presentan saltimbanquisY también los humoristas

Charlatanes que hacen graciasComo ve, todos artistas

Se presentan tamborilesBaten fuerte los murguistasacompañan los mariachis

Con algún saxofonista

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Carnavales con amigosCon Luisito el barraquero

José Acosta tractoristaQue se hizo carnicero

Carnavales con ChichiloQue de la Italia llegó

De Julio, Carlos y MarioGran amigo él quedó

Lindos eran carnavalesCarnavales de ProgresoCarnavales de a vinténCarnavales sin um peso

Esos eran carnavalesCarnavales de Progreso

puede usted tener certezaNo hay nada mejor que eso

puede usted tener certezaNo hay nada mejor que eso

puede usted tener certezaNo hay nada mejor que eso

Eres como la noche, callada y constelada.Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

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Me gustas cuando callas porque estás como ausente.Distante y dolorosa como si hubieras muerto.Una palabra entonces, una sonrisa bastan.Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

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NA VOLTA Odilon Ramos4

Pra não dizer que não te trouxe nada,que tudo é caro, e o dinheiro escasso,eu trago a minha boca pro teu beijoe o meu corpo para o teu abraço.

Pra não dizer que não te trouxe nada,nem uma flor que achasse no caminho,eu trago o peito cheio de saudadee as duas mãos repletas de carinho.

Meia dúzia de frases mal escritas,duas ou três palavras mais bonitas,cortadas pelo trepidar da estrada,

deram um soneto que não é um presente,mas que te entrego agora humildemente,pra não dizer que não te trouxe nada.

4 Odilon Ramos é jornalista, radialista, cantor e poeta. Já publicou doislivros: “Vida e Verso” e “Tu, minha poesia”. Este soneto faz parte deum livro e de um CD cujo título é “Pra ti com carinho”. Odilon tambémé gaúcho e tradicionalista.

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CORAÇÃO DE MÃE – SEMENTE DE PAZ EM TEMPOS DE VIOLÊNCIA Roza de Oliveira Enquanto os decibéis dos canhões das escopetas e das moto serraseliminam a Paz, a Vida e a potência das Florestascomprometendo o equilíbrio universal!Na vocação da Paz, da Vida em abundânciaO CORAÇÃO DE MÃE ENXERGA O VERDE PROMOVENDO ORQUESTRAS NAS CURVAS DO SINAL ABERTO DA ESPERANÇA!

Enquanto há gigantes nucleares – pigmeus moraiscaptando do átomo os mistérios - não da paz!prefaciando o caos universal!O CORACÃO DE MÃE EM VIBRAÇÕES DE LUZO SERMÃO DA MONTANHA REPRODUZ!

Enquanto falsos líderes dão prêmio à violência e a mídia a reproduz contagiosamente COM AS TURBINAS DO AMOR EM EVIDÊNCIAO CORAÇÃO DE MÃE É LUZ, É CONSCIÊNCIA É DA PAZ E DO AMOR VIVA SEMENTE!

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Enquanto a doença, a fome e a pobrezapenalizam a criança, o adulto e o ancião...O CORAÇÃO DE MÃE EXPLODE NA BELEZADE SER DAS MÃOS DE DEUS UMA EXTENSÃO DOANDO AMOR, CARINHO E PROTEÇÃO!

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TENTATIVA

Nair Solange Pereira Ferreira

Quisera poder pararo tempo que tenho,torná-lo eterno.Como não consigoapreendo os sonhosantes que eles se desvaneçam.

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ONDE ME DESCUBRO SEM TEU OLHAR?

Lígia Antunes Leivas.

A mente vasculha distânciasas madrugadas se aceleramnuas de presençasplenas de desejos...Nos labirintos das incertezasluas reafirmam palavras mortase o coração segue esse vento frio de maio.Suportaremos tão louco exíliosem adormecer destroçosestilhaços de nós mesmos?Quem eras tu antes daquele espelhomultifacetado em imagens imagináveisdesequilibradas na mudez do mundo? No chão, as cinzas vêm...Varrem as ruas... solitárias...

- Onde me descubro sem teu olhar? Voltar pode não ser o melhor... Abriu a porta... tudo como deixara ao sair. Intacto. O café no bule. A xícara sobre o prato auxiliar.

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O guardanapo dobrado. Fatias de pão cobertas com glacê. Sentou. Com a colherinha pegou um pouco de açúcar. Mexeu a mistura. Tomou alguns goles. Parou. Descalçou as botas. Tirou o casaco. Passou as mãos pelo rosto como se assim retirasse o cansaço. Olhou em volta. Defronte, imagens mentais, lembranças... apenas. O lugar seguiria vazio... a outra cadeira, a outra xícara... ... Nada seria tocado, usado, mudado. A gargalhada ecoou até a guarita na esquina. Em silêncio tumular recolheram o corpo... perfurado pela solidão.

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DIA DO MÉDICO Roza de Oliveira Do nascimento à morte... está presente.Tem a missão de Pai e Protetor. Vive sua vida diligentemente além de seu papel de Professor. Nunca ele dorme em paz, tranquilamente: seu celular dispõe ao sofredor.De seu dever jamais se faz ausenteé seu martírio - do paciente a dor. Para assim nosso médico exaltar componho este soneto que é de amor para nesta emoção reafirmar o quanto agradecemos ao Criador sua existência nobre e dedicada que faz de cada dor sua jornada..

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O AMOR, O SORRISO E A FLOR

Marisia Vieira

O amor nos faz sorrirO sorriso é de alegriaNão sabemos definirDo amor esta magia. A alegria do sorrisoQuantas vezes se desfazE o que era paraísoFicou longe, para trás. O perfume que inebriaO perfume desta florNem sempre é alegriaO sorriso do amor. PROMESSA

Marísia Vieira

Ano a ano... Do desconhecido ao conhecimento. Flores de ouro, brinde à amizade Água no corpo, luz na alma

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No escuro, a casaNo olhar, claridade Dias e noites se escoam... Voz ao longe - promessa. Verdade - ausência,Fruto amargo solidão Horizonte! Sol!Esperança de paz: no olhar, na palavra, no sorriso,no abraço à distância com o respeitoque traz no peito,oferenda de sincero amanhecer de amigo. Noite, chuva, vento, natureza...Tristeza? Horizonte! Sol!Novo dia. Promessa. Vida nova.Alegria, esperança de aurora no caminho do viver!...

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PROCURA-SE UM HOMEM

Maria Luiza Kuhn5

Procura-se um homem

Precisa ser poeta Se não souber escrever versos Deve trazer poesia no olhar. No peito carregar Um tanto de mar Uma inquietude de ondas Um mistério profundo. Deve ter na boca 0 gosto insaciável de beijos. Procura-se um homem com uma certa “finesse” \Gestos gentis sem afetação. Um homem que goste de cheiros Que vez em quando lembre Que eu gosto de flores. Procura-se um homem Que goste de fantasias Quando faz amor Passeie no meu paraíso.

5 Maria Luiza Kuhn é natural da cidade de Três de Maio, mas reside atualmente na cidade de Gramado-RS. Bacharel em Direito, espe- cialista em Administração-RH. MBA em Gestão Empresaria pela ESPM. Poetisa por vocação (assim ela se define).

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Para o meu gosto Melhor se for moreno. Mas imprescindível mesmo É que seja sereno. Um homem que respeite o semelhante Que esteja comigo E com o olhar no mundo Realizando sua missão. Procura-se um homem Que tenha nas veias A virtude dos justos. E na pele o calor De inquietas asas Para voar nos meus sonhos.

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PASSOS DE NEVE

P. de Petrus6

É madrugada! 0 frio é grave e intenso neste inverno em que fico solitário; e amarga-me a saudade quando eu penso naquele Amor, inquieto e visionário!

Vivo a cumprir na vida o meu fadário, qual veleiro a vagar em mar infenso. - Meu caminhar não tem itinerário, somente enxugo prantos no meu lenço.

Quanta ilusão que a mente me descreve! Surpreso, enquanto estava a refletir, eis que batem à porta, bem de leve...

Temeroso, e infeliz, não pude abrir! Porém, depois fui ver, não era a neve: - era a Ventura, em risos, a fugir...

6 P. DE PETRUS é o pseudônimo literário do poeta e trovador PEDRO BANDETTINI. Nasceu na Cidade de São Paulo. Seu estro é fértil, dadivoso e sensibilizante.

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TIMIDEZ

Wilma Mello Cavalheiro7

Quis desatar os nós da timidezque prendem o meu verso na garganta,num momento de louca insensatezmostar ao mundo o que mais me encanta.

Mas o bom senso, o pejo, a altivez,me disseram baixinho: que adiantaperderes num arroubo a lucidezque te faz mais mulher, que te agiganta.

Melhor deixar dormir eternamenteo segredo que guardas ternamentesem ressaibo...sem grande reprimenda...

Se preferes dizê-lo, vai em frente, entrega teu segredo docemente, mas tão baixinho que só ele entenda.

7 Wilma M. Cavalheiro é natural de Pelotas. 0cupa a cadeira 41da Academia Sul-Brasileira de Letras e presidente da União Brasileirade Trovadores em Pelotas.

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PAZ

Wilma Mello Cavalheiro

Trago o rosto marcado pelo tempo,pés cansados por tantas caminhadas,minha vida é um grande contratempo,dissolvida em eternas madrugadas.

A poesia é um simples passatemponum carnaval de rimas mascaradas,onde o verso nem sempre está isentodas ilusões perdidas, naufragadas. Felicidade é canto de sereia,espuma que se joga sobre a areia,interlúdio sonoro de um terceto,

Porém, se me envolvesse em sua teia,se brilhasse em meu céu, qual lua cheia,talvez houvesse PAZ neste soneto.

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VÊNUS DE MILO

Noemi de Assumpção Osório Caringi8

Eu não invejo o teu porte tranqüilo,a tua perfeição, tua grandeza,todo o teu esplendor, toda a purezadas formas do teu ser, Vênus de Milo!

És formosíssima, sim, eu assimilo,e o ideal maior da natureza!Mas nada inveja a mim tua beleza- sou mais perfeita eu, Vênus de Milo.

Porque, estátua antiga, eterna e calmanão vibras...é de mármore a tua alma!...nem tens no olhar do Amor os grandes brilhos!

E a minha vida é Amor, grega escultura!Sou mãe, tenho a mais rara formusurae ainda dois braços pra estreitar meus filhos!...

8 Noemi 0sório Caringi é natural de Pelotas. Nasceu no anode l914 e faleceu em l993. Era membro da Academia Sul-Brasileira de Letras. Este soneto foi extraído do seu livro Alma em Poesia.

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TROVAS

Transcrevemos aqui o conteúdo de nossacoluna semanal no jornal Diário da Manhã dePelotas:

É carnaval. A vida dança. O samba embala.É preciso reconduzir tudo ao originário pela dança,diziam os bantus.

Quando a vida se fez velha, gasta, semsentido, é preciso faze-la voltar à origem. É precisoajuda-la a desvestir-se das formas que o homemlhe impôs: as formas econômicas, políticas, sociaise culturais para que a vida possa reencontrar suaraiz e renovar todas as coisas. Não adianta perdertempo em remendar as formas velhas, ressequidasda vida.

Quando a árvore perde o viço e vigor épreciso uma poda radical. Reencontra-la na matrizoriginal e originária. Os povos antigos chamavameste útero originário da vida de “caos” (indo-europeus), de “ovo primevo”(egípcios), de“neblina primeira” (guaranis), de “informidadevazia” (semitas). A Palavra criadora do amor deDeus fez que, a vida nascesse sob todas as formas.As formas saudáveis da vida que mantém

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permanentemente relação com sua origem edestino vão, aos poucos, permanecendo somenteforma, estrutura, instituição, poder, como se aforma substituísse a vida, fosse a própria vida. Eassim andando, tudo definha, morre no semsentido.

É preciso, ritualmente, pelo poder mágico dapalavra e da dança, reconduzir as instituições, asformas à origem. Não para reforma-las. A vidanão admite reformas. É preciso que as formasmorram para que a vida renasça.

No meio do inverno (no hemisfério norteagora é inverno) quando o rigor da natureza despiua vida de suas folhas, flores e frutos e a reconduziuao coração fértil da terra-mãe, os povos, na noitemais fria, faziam o carnaval. As formas da vidafamiliar, da vida social, da vida econômica epolítica eram suspensas: a chave da cidade eradada a um palhaço e tudo acontecia como se nãohouvessem formas e instituições. As relaçõessexuais entre o rei (elite) e a mais bela mulher era,não apenas um bacanal banal, mas a invocação àvida para que ela retornasse, voltasse e fecundassenovamente a história dos homens. A água das casasera esvaziada, o fogo apagado e, desde uma pedraoriginária, buscava-se o novo fogo, na fonte a águanova. Para que tudo fosse novo.

A fragilidade, a facticidade, a precariedadeda vida precisa encontrar raiz e nascedouro. A

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dança, o ritmo, o frenesi do carnaval são umclamor por vida nova. Hoje também precisa ser.

É preciso retirar do originário aspossibilidades da vida, de uma vida nova, quesupera a morte e se faz canção. Canção defraternidade que, construindo a justiça, prepare apaz.

Enquanto isso, é bom acessar à palavrasimples, singela, bela e completa da trova. É bomaprender a fazer trova.

Wilma Mello Cavalheiro, nossa competentesecretária da Academia Su-Brasileira de Letras,no texto abaixo, ensina e convida, ela que épresidente da UBT (União Brasileira dosTrovadores) de Pelotas. ao mundo da trova, essapoesia curta e plena que nos acompanha desdesempre.

“Hoje, vamos falar sobre a TROVA. O que é a Trova,? Trova é uma composição poética de 4 versos

setessilábicos, rimando o primeiro com o terceiro eo segundo com o quarto verso, e tendo sentidocompleto. Fazer quadras é fácil, mas, transmitir aessência lírica e bela da palavra em apenas quatro

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versos é tarefa difícil. Tão difícil como recolhernuma grupiara pequenos e preciosos diamantes.

Segundo Luiz 0távio, que criou eimpulsionou este fantástico movimentotrovadoresco, não é fácil fazer uma boa trova, eele estava certo, quando dizia: “Todo o bomtrovador é um bom poeta, mas nem todo o poeta éum bom trovador”. Jorge Amado não deixa pormenos ao dizer: “Quanto a TROVA , não podehaver criação literária mais popular , que fale maisdiretamente ao coração do povo. É através da trovaque o povo toma contato com poesia e sente a suaforça. Por isso mesmo, a Trova e o Trovador sãoimortais.”

Hoje, o Movimento Trovadoresco se espalhapor todo o Brasil, de norte a sul, de leste a oeste,e atravessa fronteiras, pois, além de Portugal que jácultivava este gênero literário e continuacultivando belamente, com seus exímiostrovadores e poetas, outros países uniram-se a nós,numa corrente trovadoresca universal, não sóparticipando dos nossos Concursos de Trovas -(Jogos Florais), como fundando seus MovimentosTrovadorescos, com seus respectivos Jogos Florais.Países que ingressaram neste magnífico mundo daTrova: Argentina, Chile, Colômbia, Espanha,Estados Unidos, México, Porto Rico e Venezuela.

E aí está a TROVA, palpitantemente viva,com a sua bandeira, com a sua Rosa Rubra, tão

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rubra quanto o coração dos trovadores que por elapalpitam.

Poeta, vem versejar,meu convite se renova...Deixa teu sonho vagarpelos caminhos da trova.

Com apenas quatro versos,a trova beleza encerra.Este pequeno universohá de florir nesta Terra

Quero ver nossa Pelotascom seus vates e escritorespercorrer a mesma rota,irmanar-se aos trovadores.”

Jandir João ZanotelliPresidente.

Quando a saudade me guia pelas noites do passado, qualquer luz eu trocaria pela penumbra ao teu lado. Carolina Ramos

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Deserto imenso, inclemente,

que martiriza quem ama. é o que mede exatamente a metade de uma cama! Pedro 0rnellas

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Entre os véus da noite, imerso, insone em meu travesseiro, escrevo apenas um verso e a saudade...um livro inteiro! Maria Lúcia Doloce

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Sempre opostos, nem de leve nossos sonhos se aproximam... Na trova que a vida escreve somos versos que não rimam. Sergio Bernardo

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Vais chegar...ouço teus passos... o amor que em meu peito mora, se amplia...abrindo espaços... para o prazer dessa hora. Wilma Mello Cavalheiro

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TROVAS HUMORÍSTICAS

Ganhei um dogue alemão, mas é tão mole o safado... Que se eu quiser proteção só dublando o condenado! Sérgio Ferraz dos Santos

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Foi, as matas, devastando pior que qualquer queimada... ´Éra um português tentando achar a raiz quadrada. Marcelo Zanconato Pinto

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Meu fusquinha anos setenta às vezes pega no tranco, e eu, que passei dos oitenta, ronco...ronco..e não arranco! Renata Paccola

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“O prédio vai ser tombado”! - Decidiram em plebiscito, e o portuga inconformado: - Que castigo...é tão bonito! Sérgio Ferraz dos Santos

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No quarto um cartaz dizia, Lá no motel “Bem Amado” Caro patrício, sorria: você está sendo filmado1... José Paulo Tavares

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CONTOS E CRÔNICAS

SOBR E A VIDA DE PEDROYAMAGUCHI FERREIRA9

Paulo Teixeira

No dia 1 de junho passado, às 19:30h,estava em meu gabinete em Brasília e recebi umaligação de Dom Edson Damiani, Bispo de SãoGabriel da Cachoeira, no Amazonas, dizendo que oPedro, meu filho, tinha desaparecido ao meio-dia,depois de ir tomar banho na águas do Rio Negro.

Parti na manhã seguinte para São

Gabriel da Cachoeira com a esperança deencontrá-lo.

Participei da busca do seu corpoque finalmente foi encontrado, 48 horas depois, a

9 Recebi de D. Damian, bispo amigo da mais longínqua Amazonas anotícia de falecimento de um grande homem Pedro YamaguchiFerreira. O pai dele, deputado federal teceu os comentários que vãoabaixo e que, acredito, todo pai gostaria de dizer de seu filho. Vale porsi só. J.J. Zanotelli.

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50 km abaixo do local onde ele foi tomar seubanho.

Pedro nasceu no dia 11 de abril

de 1983, num parto demorado da Alice. Era oirmão mais velho de nossos 6 filhos. O nome Pedrofoi dado em homenagem a Dom Pedro Casaldáliga,hoje Bispo Emérito de São Félix do Araguaia e aPedro Tierra, escritor, autores da obra emhomenagem aos índios brasileiros:“Missa da TerraSem Males”.

Pedro estudou na Zona Leste deSão Paulo, onde fez grandes amigos, desde oensino fundamental até o colegial.

Adora futebol, e jogava bem,chegou a treinar no Corinthians, mas nãoconseguiu compatibilizar o horário da escola.

Morou nos EUA, na Califórnia,

para apreender inglês e trabalhou numa loja desucos.Mais tarde morou no Japão e trabalhou comodekasségui, numa fábrica de alimentos e depois foivisitar a casa onde nasceu seus avós japoneses, emOkinawa e pode rezar para sua ancestralidade.

Fã do Rappa e do Mano Brown,

nos últimos anos se interessou pelo samba de raiz efrequentava as rodas do “Samba da Vela” emSanto Amaro, que lhe deram cultura musical.

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Frequentava e era amigo do grupo de Jongo, dançade resistência dos escravo na cidade deGuaratinguetá-SP.

Formou-se em Direito pela PUC

de São Paulo e seu trabalho de Conclusão deCurso(TCC) foi sobre o voto do preso.

Trabalhou num grandeescritório de advocacia em São Paulo para custearseus estudos e onde apreendeu grandes lições deDireito.

Na PUC fez grandes amigos, quese somaram aos amigos do colégio e aos amigos deSão Miguel.

Quando da realização de sua

missa de envio, organizado pela PastoralCarcerária, em fevereiro desse ano, disse aosamigos:

“Brindo com todos meus amigos e amigas,

da rua, de colégio, de faculdade, das lutas, da vida.Pela amizade e companheirismo. Obrigado por meensinar. Espero que nossa amizade possa serpreservada e se fortalecer ainda mais, nossentimentos de solidariedade com os outros, noamor pelo país, na luta por mais igualdade social,

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autonomia e liberdade das pessoas e tolerência comas diferenças. Tamo junto!”

Os seus laços com a família

também eram muito fortes e disse na missa:“Quero abraçar todos meus familiares. Meus

tios e tias, pais e mães pra mim, e meus irmãos.Meus primos e primas, que são meus outros irmãose irmãs. Carrego vocês no coração, assim comocarrego a lembrança de meus quatro avós, os quaistive a enorme felicidade de conhecer e conviver.Sinto que eles estão comigo. Sempre os senti porperto e sei que eles nos protegem. Dedico tambéma eles minhas alegrias.”

Para mim e sua mãe Alice,

dedicou: “Aos meus queridos pais, também faltam

palavras. Obrigado pelo exemplo, por nos ensinar aolhar pelo outro, a ter consciência do mundo emque vivemos, a lutar por nossos sonhos. Muitoobrigado por serem parceiros comigo e com meusirmãos em nossas investidas, em nossos projetos.Amo muito você, pai e você, mãe. ”

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Para seu irmãos Ana, Caio, Laís,Manoela e Júlia devotava um intenso amor edeclamou:

“Aos meus queridos irmãos, todo meu amor

e amizade. Vocês são pessoas especiais pra mim,trazem mais energia pra minha vida, são minhasustentação.”

Em 2006, interessou-se pelo

tema da vida carcerária. Trabalhou na Secretaria daAdministração Penitenciária de São Paulo e após,foi convidado para trabalhar na Pastoral Carcerária,pela missionária Norte-Americana Heidi Cerneka epelo Pe . Valdir João da Silveira. Trabalhou comoestagiário e depois como advogado por três anos.Atendia os presos e presas cuidando de seusprocessos e atendendo suas famílias.

A partir da realidade que

conheceu dos cárceres brasileiros passou aparticipar das discussões sobre o sistemapenitenciário. A Pastoral Carcerária exerceu sobreele forte influência e sobre ela disse, na missa:

“Quero agradecer, de forma muito especial

aos meus queridos amigos e amigas companheirosde Pastoral Carcerária. Obrigado pela oportunidade

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que me deram, por confiarem e apostarem emmim. Pela amizade e paciência que tiveramcomigo. E, sobretudo, pelo exemplo de fé ecompromisso com a causa carcerária e humana.Vocês são verdadeiros guerreiros, pessoasiluminadas. Faltam palavras pra descrever tudo oque vivi nestes 3 anos de Pastoral. Quero, do fundodo coração, agradecer a oportunidade de tercompartilhado com vocês momentos dos quaisnunca esquecerei. A presença missionária dentroda Pastoral influenciou a minha escolha. Carregovocês, os presos e as presas, comigo. Quetenhamos dias melhores, em que nossa sociedaderespeite os direitos dos cidadãos presos. Muitoobrigado!”

Sobre o Padre Valdir, seu chefe

e orientador, disse: “Pe Valdir, aliás, que foi o pai desta minha

idéia de ir pra Amazônia. Desde fazer contato como bispo de São Gabriel da Cachoeira, até falar comtodos os padres e irmãs para que autorizassem meuenvio. Muito obrigado por toda a ajuda, Pe Valdir.”

E sobre o trabalho dos

missionários da Aliança da Misericórdia, queimpressionou profundamente:

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“Quero saudar meus amigos da Aliança daMisericórdia. Por ceder essa igreja, que é vossacasa. Saibam que vocês têm enorme influência naminha vida e nessa minha decisão: desde oprimeiro momento, quando conheci um montão dejovens que moravam na favela do moinho e faziampastoral carcerária, logo fiquei encantado com oque vi.

Eram jovens dedicando suas vidas amelhorar a realidade dos mais marginalizados: osmoradores de favelas e os encarcerados.

Nas muitas vezes que estive com eles,sempre me identifiquei com aquela vocação esentia alguma coisa arder mais forte no meu peito.Sabia que faria algo parecido.

Vocês vivem a solidariedade na essência napalavra, vivem pela causa social com compromissoe verdade.

Parabéns e muito obrigado pelo exemplo.” A religiosidade da fraternidade

religiosa dos Irmãos de Charles de Foucauld lheatraía:

“Agradeço o carinho dos amigos de Carlosde Foucauld. Obrigado pela amizade e acolhida.Terei mais oportunidade de conhecer osensinamentos de Foucalt. De alguma forma, já mesinto muito influenciado por essa espiritualidade,

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desde minha infância, através de meus pais, eagora, por todo esse processo da minha decisão,quando estive rodeado por vocês. Muito obrigado.”

A decisão de ir para São Gabriel

da Cachoeira foi também construída quando cursoua Escola de Governo em SP, onde estudou melhoro Brasil.

Como pai, com tantas ausências

pela minha militância, só agora entendo quantaspessoas maravilhosas influenciaram a vida dePedro.

Sua ida para São Gabriel daCachoeira, veio da decisão de atuar maisfirmemente para mudar a realidade brasileira eassim deixou o seguinte pensamento:

“Essa minha decisão de viver essa

experiência na Amazônia é fruto do convívio coma realidade dos cárceres e a realidade social em suaforma mais cruel, o lado B de nosso País: o Paísdos esquecidos, dos humilhados. Pude estar emcontato com a miséria da miséria, a injustiça, asegregação social e racial, a dor, o esquecimento.Ter visto de perto situações desconhecidas pelamaioria das pessoas, ter conhecido um País queainda maltrata seus cidadãos, tudo isso me

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despertou pra necessidade de luta, de trabalho paraa profunda transformação dessa realidade.”

A referência ao lado B, vem da

música do Rappa, “lado B, lado A” e se refere aoambiente de violência com os debaixo. Talmúsica, é uma homenagem aos jovens da periferiae propõe a saída pela luta:

“Eu sou guerreiro, sou trabalhador E todo dia vou encarar Com fé em Deus e na minha batalha Espero estar bem longe Quando tudo isso passar....” A denúncia da desigualdade

social é central no seu discurso: “De forma geral, vejo os poderes de Estado

ainda muito elististas. Não conhecem de verdade arealidade de seu povo, a pobreza, a falta dedignidade e cidadania que sofrem milhões decidadãos, não conhecem os cárceres. Mantêm-sedistantes daquilo que deveria ser a essência de seutrabalho: o bem comum do povo, sobretudodaquele que mais necessita das instituições para agarantia de seus direitos. Privilegiam o status, o

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poder, as facilidades materiais em detrimento dosdireitos fundamentais das pessoas.

As leis, a Constituição Federal infelizmentenão são as mesmas para todos. A justiça é justapara poucos. Os direitos de alguns são maisimportantes que de outros. Lutar pela terra é crime.Mas não é crime a situação daquela pessoa quevive em condições sub-humanas nas favelas, semdignidade nenhuma, sem comida. Furtar é crime.Mas não é crime quando o Estado amontoamilhares de presos e presas numa lata, os torturaimpunemente, e viola todos seus direitos previstosnas leis. Temos dois Países: o País dosprivilegiados, dos que têm acesso à riqueza, àcultura, ao lazer, aos bens materiais, às melhoresoportunidades e o País dos esquecidos, que nãotêm direitos, não têm oportunidades, e ainda sãocriminalizados.”

Ele reconhece avanços nas

políticas que vêm sendo adotadas e indicava anecessidade de aprofundamento das conquistas pordireitos:

“Devemos mudar, acredito que estamosavançando, mas é preciso muito mais, nãopodemos permitir retrocessos nas conquistas dosdireitos. “

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E propunha o engajamento, paracontinuar a mudar o Brasil:

“Não dá para ficarmos tranquilos diante detanta injustiça. Porque preferimos a anestesia àluta? Porque não deixemos de lado um pouconosso conforto para pensarmos e agirmos por umasociedade melhor?”

Sua preocupação social se

somava com a preocupação ambiental e disse emseu discurso:

“Do que adianta exercitarmos uma

consciência ecológica se não questionamos nossopróprio anseio consumista que desgasta acapacidade da natureza e acelera a degradação domeio ambiente? Devemos exigir de nos sacrifíciospelo bem da sobrevivência da natureza e nossatambém.

Apenas para exemplificar, com situaçõescotidianas: será que precisamos ter 50 pares desapatos em nossos armários? Dezenas de peças deroupas que depois ficam armazenadas? Será quetodos precisamos de carro em detrimento dotransporte público? Precisamos tomar duas vezesao dia banhos de 30 minutos? Devemos pensar quenosso padrão de consumo gera desigualdades eagride a natureza, e é preciso abdicar dessemodelo.”

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Dessa compreensão, toma a sua

decisão:“Penso que, diante de toda a realidade

miserável que pude ver, não posso ficar inerte,tocando minha vida como se a vida do outro nadativesse a ver com a minha. Me sinto na obrigaçãode colaborar com nosso povo.”

Na missa da sua despedida para

São Gabriel da Cachoeira, pediu que cantassem amúsica de Mercedes Sosa que dizia:

“Eu só peço a Deus, que a dor não me seja

indiferente, que a morte não me encontre um dia,

solitário sem ter feito o que eu queria...” Para ele, a Amazônia não seria o

único lugar para se engajar na mudança social:“Não é preciso ir até a Amazônia para mudar

essa realidade social brasileira. A cidade de SP estácheia de problemas a serem resolvidos, e todosvocês podem colaborar para mudar essa situação.Visitem a favela do moinho, o jardim pantanal,uma unidade prisional. Certamente lá existemmuitos problemas e as pessoas precisam

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Na ida para a São Gabriel daCachoeira, Pedro vai com o espírito humilde, e usaa palavra colaborar na caminhada do povo daAmazônia.

“Viajo para a Amazônia para colaborar,

como cidadão e advogado, com as comunidadesribeirinhas, os índios, a questão ambiental. Adiscussão que está em voga hoje é a ambiental e,realmente, ela se faz necessária e urgente.”

E na carta de despedida, fala

também dos seus desejos de viver perto danatureza e recita a música do sambista Candeia ecantada por Cartola:

“Mas, nem só de lutas vive o homem. Quero

viver, escrever uma gostosa poesia de minha vida.Poder respirar um ar puro, contemplar a mata e osanimais, estar em contato com culturas diferentes,jogar mais futebol, estar no paraíso natural. Comodiz a poesia do sambista Candeia, cantada na vozde Cartola: “deixe-me ir, preciso andar, vou por aia procurar, sorrir pra não chorar. Quero assistir aosol nascer, ver as águas do rio correr, ouvir ospássaros cantar, eu quero nascer, quero viver”.

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Pedro foi saindo de casa, e de

nossas mãos, devagarinho e serenamente. Doeu nomeu peito a sua partida para São Gabriel daCachoeira.

São Gabriel da Cachoeira orecebe no começo de março desse ano, depois deuma breve passagem por Manaus.

Ali Pedro começa sua missãojunto com o Bispo Dom Edson Damian, os padres,as religiosas, os leigos, no seio da comunidade.

Pedro começa por ondeconhecia,visita com o Bispo, padre Jorge e leigos,a cadeia pública. Escuta os presos, conhece a juíza,o delegado, pede a procuradoria geral da justiça apresença de um promotor. Estuda os processos, ejuntamente com o Bispo, propõe a liberdade dospresos que já teriam direito a benefícios, com ocompromisso de frequentarem o trabalho.

Escreveu sobre esse trabalho de

que a delegacia nunca estivera tão vazia, queestava limpa, que foram divididos condenados eprovisórios e que um preso lhes disse que issoaconteceu depois de suas visitas. Entendia que ocaminho da justiça naquele rincão do país era omodelo de justiça restaurativa.

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Participava junto com osVicentinos da arrecadação de alimentos para asfamílias pobres da cidade e constatava nas visitasas famílias dos presos que viviam muito mal,faltando o básico, a comida. Que a vinda dos índiospara a cidade era ruim,vinham sem muitaestrutura e se perdiam na adaptação, alcoolismo eviolência.Tinha visitado uma família em que doisprimos foram assassinados por outro primo.

Em três meses de trabalhou,

tinha também participado da busca de solução paraos problemas da cidade. Nos seus relatos, fala dasaudiências na Câmara Municipal de S. Gabriel daCachoeira, para buscar solução para a falta deiluminação pública e água tratada em algunsbairros.

Como advogado, jovem eacessível passa a ser demandado pelas demaisorganizações, de igreja e da cidade. A Pastoral daJuventude pede para que fale sobre o Estatuto daCriança e do Adolescente(ECA) no curso defuturos Conselheiros Tutelares. O Centro deReferência da Assistência Social (CRAS) oconvida para trabalhar remunerado. Pedro avaliaque ainda não é hora.

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Assumindo a Vice-Presidênciada Rádio Novo Milênio, fazia um programamusical chamado “Samba e Cidadania”. A gradedo seu último programa, que não foi ao ar, teriamúsicas de Leci Brandão, Cartola e Jorge Aragão.

Jogava no time do Boa

Esperança, time de jovens que participa doCampeonato da Cidade, quase todos eramindígenas, vestia a camisa 10.

Queria a reativação do teatro

para os indígenas e junto com a artista plástica etambém missionária Minnie, fez uma peça teatral,na qual dançava, intitulada: “A morte da marrecada amazônia”, parodiando o Cisne Negro e que naspalavras polidas do bispo Dom Edson, as cenaseram impagáveis.

Deu tempo ainda de se iniciar

nas aulas de Tukano e Nheengatú, paracompreender melhor os índios.

Dom Edson era seu grande

amigo e conselheiro. Devotou ao Pedro um amorfilial. Disse sobre ele:

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“Pedro testemunhou que a vida não é umcapital para ser acumulado, mas um dom de Deuspara ser partilhado. Vida a serviço da vida dospobres, dos Povos Indígenas para pagar-lhes aimensa dívida social que lhes devemos pelosmassacres e genocídios perpetrados desde o“descobrimento”.

A diocese de São Gabriel da

Cachoeira fez uma linda homenagem de despedidado Pedro que está no sitewww.omissionariopedro.wordpress.com

Dom Pedro Casaldáliga escreveu

por ocasião da despedida do Pedro: “Eu também me senti muito afetado porque

o Pedro querido carregava o meu nome e os meussonhos.”

Pedro Tierra, poeta que inspirou

seu nome, enviou: “Ouço a notícia e recolho o impulso do seu

relato, há poucos meses, quando ele escolheu irpara a Amazônia. Percebi naquele instante suaalegria. A orgulhosa alegria de quem se prolonga

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na geração seguinte. Uma geração que se lança àvida, alimentada pela raiz das mesmas crenças quenutriram as lutas que nos coube travar antes dela.”

Alice, sua mãe, disse, na missa

celebrada na catedral da Sé: “Quando soube que o Pedro tinha

desaparecido no Rio Negro tive a sensação de quenão resistiria diante de tamanha dor. Mas, namedida em que fui recebendo uma profusão devisitas, telefonemas, abraços de tantas pessoasamigas, numa rede humana de solidariedade issofoi me reanimando e consolando. Percebi que meufilho era amado e tinha ajudado muitas pessoas. OPedro estava onde desejava muito estar. Através defreqüentes telefonemas sempre me dizia que estavamuito contente. Meu filho morreu feliz no meio dorio, da floresta, entre os Povos Indígenas. Apesarde sua breve existência, ele soube viver tãointensamente que tenho a impressão de que eleviveu 100 anos em 27”.

Paulo Suess, padre e indigenista

escreveu esse lindo poema para ele:Saudade de PedroYamaguchi Ferreira Pedro, pedra de Davi,missionário, testemunha,

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maracá do Reino,veleiro do Rio Negroonde paz e tempestadete abraçaram.Sinal de solidariedade,memória do cárcere,dos injustiçados, furacão,sino de esperança;desde o mundo indígenabadalando indignação.Pequeno irmão dos pobres,apareceste entre os humanosem tempo de vacas magras;sonhaste vinho para todose pão consagrado, repartido -como tua vida.Posseiro do tempo,romeiro sem lar;trocaste a carreira de advogadopela caminhada do peregrino,o grito pela canção -Quixote e Macunaíma. Pedro, pedra preciosa,raiz com asas;na luta pela justiçate fizestes pedra-caminho,agitação divina,dom, presente, Eucaristia.

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Seus amigos cantaram, na sua

despedida, essa linda música de Geraldo Filmes: “Silêncio o sambista está dormindoEle foi mas foi sorrindoA notícia chegou quando anoiteceuEscola eu peço o silêncio de um minutoO Bixiga está de luto O apito do Pato n'água emudeceu” Quero agradecer a todos. Quero

agradecer a todos que compartilharam dessesofrimento pela morte do Pedro.

Quero agradecer ao Exército

Brasileiro que encontrou o corpo dele nas águasdo Rio Negro. Agradeço o Coronel Caminhas, quecoordenou toda operação. Agradeço à Força AéreaBrasileira, por todo apoio dado, na pessoa doBrigadeiro Juniti Saito. Agradeço igualmente aogoverno do Amazonas, na pessoa do GovernadorOmar Aziz.

Agradeço a todos os Bispos que

celebraram as missas: Dom Odílio Scherer, DomAngélico Sândalo Bernardino, Dom Edson

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Damian, Dom Pedro Luis Stringhini, DomFernando Legal e Padre Valdir.

Aos padres co-celebrantes dasmissas e a todos que celebraram as missas emhomenagem a memória do Pedro.

Às religiosas que participaramdesse momento nas suas orações.

Aos leigos que rezaram por nós. Aos amigos que nos deram todo

apoio nesse momento. Aos meus colegas de

parlamento, na pessoa do presidente MichelTemer, aos senadores, deputados estaduais,prefeitos e vereadores que foram solidários.

Agradeço a solidariedade de

todo o povo brasileiro prestada no momento detanta dor.

No momento que o Pedro foi se

banhar ele deixou uma camisa na beira do rio comos seguintes dizeres:

“Aqui tem um bando de

loucos que nunca vai te abandonar” Certamente esse é o nosso lema:

Não vamos abandonar as tuas idéias Pedro, os teus

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propósitos e tentaremos ficar perto da grandeza dastuas obras!

Inspirados por você, Pedrão e

sob a inspiração da obra que te deu o nome,lutaremos por uma “ terra sem males”.

Estaremos voltados às periferias

das grandes cidades, aos jovens com suas aflições eriqueza de expressão que quase sempre nãoentendemos e nos precipitamos em condenar, aosencarcerados e os seus direitos ao respeito a suadignidade e a sua reinserção. Atenderemos osclamores dos povos da Amazônia, dos ribeirinhos,de São Gabriel da Cachoeira. Em relação àsnações indígenas,respeitaremos a sua cultura,falaremos a sua língua.

Enfim, nos esforçaremos para

construir um Brasil mais justo e fraterno! Os navegantes, quando os

aparelhos de navegação lhes faltam, guiam-se pelasestrelas. Sempre olharei para o céu para que suaestrela possa me guiar .

Guimarães Rosa, numa das suas

passagens lapidares dizia: “O correr da vida embrulha tudo

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A vida é assim: esquenta eesfria, aperta e daí afrouxa,

Sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é

coragem.” Não nos faltará coragem , diante

de um intrépido Pedro. Como pai, posso dizer que o

mundo te criou assim: generoso, amoroso, alegre,engraçado,elegante, forte, tenaz e consistente.

Mercedes Sosa, em “Honrar a

vida” cantava das vidas como a sua: “Merecer a vida não é se calar e

consentir Com tantas injustiças

repetidas...” Você honrou a vida Resta a mim, um amor

enorme, as lembranças das partidas de futebol, dasfestas de aniversário, o Natal, o Ano novo, a suaalegria, o seu canto no banheiro, a saudade eterna!

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Você viverá conosco parasempre, ao lado da Alice, da Ana, do Caio, da Laís,da Manoela, da Julia, do Hórus, dos parentes e dosamigos!

Paulo Teixeira13 de julho de 2010

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O MAL DE ONDINA Rogério Xavier

Pouco se fala sobre Ondina, a ninfa, eternaprisioneira nas profundezas das águas. Uma vezlibertada, torna cativo do seu encantamento a quemdela se aproximar. Seria também a BelaAdormecida, ao ser picada pela agulha de cozer,como a lenda determina. Ou, segundo outras quelhe precederam, violada ao assalto das tropas desoldados invasores, somente será acordada sebeijada por um príncipe.

Pois vou contar aquilo que ouvi de antigos,

que ouviram de boca em boca, e que seria a melhorforma de aprender, embora os registros possamdiferir nos detalhes. Porém, para a história sesustentar, sabe o povo mantê-la em sua essência,como quem retém o núcleo para ficar com omelhor ou, por outra, come o pêssego e guarda ocaroço, para um dia vir a plantá-lo ou ceder avizinhos e vê-lo crescer em um novo pessegueiro.

Ondina teria nascido no interior do

município de Osório, região dos lagos de águadoce, para cá de Morro Alto, onde os frutos davamno pé, bastava colhê-los com carinho, sem destruir

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a planta mãe. Aves migrantes e paridas nãofaltavam, a garantir carne e ovos em substância.Tinha por hábito recorrer pelos lagos a qualquerhora e tanto se afeiçoou ao costume que, dizia-se,era capaz de caminhar em sua superfície paravisitá-los em um só percorrido. E, um dia, tagarelacomo são os jovens, perdeu a fala após um susto.Muda e retraída, ficou por longo tempo.

Ao recuperá-la, disse apenas lembrar o medo

pavoroso de quando foi aprisionada como umbicho; a um súbito movimento de tocaia, viuelevados seus braços e algo rude ora vindo, ora sedesprendendo de si. E foi notado logo o aumentode volume do seu ventre, cada vez maior, o quenão foi aceito pelos seus. Após consulta aos queentendiam daquilo, tomou rumo da cidade grande,por própria conta, daí em diante não pregando maisum olho, como se diz dos prevenidos.

Ondina, aquela dos cabelos negros que

evocavam o sangue indígena; dos reflexos ruivosde feixes de luz, como os que se infiltravam entreas folhagens ou, ainda, que ela presenciara nointerior da igreja matriz, dando ar angelical naestatuaria, de época dos colonizadores europeus;buscou trabalho após trabalho para se sustentar, asi e a prole que foi nascendo ano a ano.

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Como? Sem tempo a perder, não dormia ànoite, emendando serão aos empregos diurnos.Pouco falava, vivia como sonâmbula e já perdera aconta do cotidiano. Dos salários sabia bem para osustento da família. Pois, não esquecera que sustosfazem parte da vida e, periodicamente, elevava osbraços, fosse noite ou dia, para nove meses depoisparir um filho. Até que, certa vez, parou. A vê-los,todos. Emocionou-se tanto que os olhos encheram-se de orvalho, daquela umidade que tão bemconhecia e que os últimos anos não lhe haviampermitido senti-lo mais.

E aí, dentro de si, reconquistou um elo

perdido com seu passado, ou consigo mesmo,voltando a sentir-se plena, como fora antes departir. Não se tratava mais de comparar o seudiário no interior do município de Osório com o dacapital. Sempre gostara do que fizera, lá e aqui.Seus filhos e o tempo iriam demonstrar comoforam prolíficos, pela força da matriz que injetaraem cada um deles, estando a se completar.

Recostando a cabeça, sonhou com um rapaz

que se aproximava para lhe abraçar e beijá-la naboca, de um gosto que desconhecera até então.Pareceu que seu corpo lhe respondia com um calorveemente, ultrapassando-a sem limite e que seusbraços deixavam-se mover sobre o rapaz, tocando-

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o em seu corpo, e pensou que, em sonhos,alcançara a felicidade. Dizem que Ondina aí teriase acordado de verdade e dito que agora poderiavoltar a dormir quando quisesse.

Os tempos foram passando, a história de

Ondina contada pelos seus herdeiros e conhecidosao mundo. De uns aos outros, ouvida em silêncio,sem mais a presença da personagem, já entãodesnecessária para explicar os fatos. m ocado bre orapzo lhe respondia com um calor veemente,ultrapassando-a sem limie e que seus braçosdixavam-se fora ntes de pa

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O GATO DA IRMÃ AMÉLIA

Dom Edson Damian10

No dia 14 de dezembro de 2009 um graveacidente de trânsito ceifou a vida de duas queridasIrmãs Missionárias da Consolata que trabalhavamem Roraima. Ir Amélia e Ir Ana eram colombianase viviam na mesma comunidade, na cidade deMucajaí, a 30 km de Boa Vista. Lá estive emvários fins de semana para celebrar a Eucaristiacom as comunidades, pois a paróquia permaneceualgum tempo sem padre.

Relembro agora um fato que certamentepermanecia sem explicação para a Ir Amélia e doqual também fui cúmplice.

Certo dia, Ir Ana desabafou comigo que sedistraia muito na oração porque a Ir Amélia eraafeiçoada a um gato que a acompanhava em toda aparte. Inclusive durante as orações comunitárias. Ecomo criança travessa para chamar a atenção dasvisitas, o gato fazia mil piruetas no meio da capela.10 Bispo de São Gabriel da Cachoeira-AM

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A Ir Ana havia solicitado várias vezes à Ir Améliapara que enxotasse o gato naqueles momentos.Mas ela, além de não atender o pedido, ficavachateada quando alguém ousasse afugentar ovisitante.

Sugeri então à Ir Ana a seguinte estratégia.Numa ocasião em que a Ir Amélia não estivesse emcasa, prendesse num saco o gato rezador. Quandopartíssemos de carro para visitar uma comunidadedo interior, soltaríamos o bichinho na estrada, depreferência perto de alguma casa. Dito e feito.

Nem é preciso descrever a tristeza da Ir Améliacom o desaparecimento do animal de estimação.Procurou-o com aflição em todos os recantos doquintal e também nas casas dos vizinhos.

Agora que as Irmãs partiram, fico imaginando oque teria acontecido quando se abraçaram nomesmo dia em que entraram no céu. Ainda bemque a Ir Ana partiu algumas horas antes para poderacolher sua Irmã, pedir-lhe perdão e oferecer-lhe ogato mais formoso do paraíso.

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FIM DO CAMINHO

Maria Beatriz Mecking

O tema estava escolhido. Nos últimos tempos, ele ficava pairando nasua cabeça como nuvem permanente, dessas queparecem fixas no azul do céu. Esgotara-se a fase de maturação: a suanuvem estava por estourar a qualquer momento. E, quando isso acontecesse, ela se lançaria àação, num ato de pura entrega. Segunda-feira,prometeu-se, tentando postergar. No tempo que lhe restava, foi assistir a umapalestra sobre literatura. Quando a autora começoua discorrer sobre o livro que acabara de lançar, nãoacreditou: quase tudo que vinha construindo, hámeses, estava ali sendo exposto. Perdida, saiu. Anuvenzinha teimava em continuar no seu posto.

ILUMINAÇÃO

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Maria Beatriz Mecking

A lagoa brilha. A lagoa resplandece, na manhã de sol. Os raios douram as águas, repartindo-se emmil cintilações. A lagoa, que não é realmente uma lagoa,mas uma laguna, reverbera ao sol. Ela caminha pela borda. Caminha e pensa, caminha e sente. As águas da lagoa brilham. As águas da lagoa cintilavam assim no diaem que ele foi embora. A lagoa assistiu àquela despedida. Ele, dividido. Ela, angustiada. Veio o outono, passou o inverno, chegou aprimavera. Mais um verão lotou a praia. Na manhã de domingo, as águas da lagoabrilham. Sente que alguém caminha a seu lado. O ausente faz-se presente. Continua a caminhar, como se sozinhaestivesse. Lá no fundo, brilha a lagoa.

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ANO NOVO

Maria Beatriz Mecking

Começou a beber cedo. As primeiras doses,saboreou; as outras, engoliu-as maquinalmente.Tocou o telefone: “Não vens? Estou te esperando!”“Pra quê?” – balbuciou. “Para a festa do‘réveillon’, homem.” Estrondos abalaram osilêncio. Pela janela, viu luzes multicores quepipocavam no céu. Tentou levantar-se: foi entãoque desabou sobre o tapete, perdendo toda aconsciência.

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ODE AO JUIZ LADRÃO11

Juremir Machado da Silva

Algumas espécies precisam ser protegidas: aararinha-azul, o cantor com vozeirão e o juiz defutebol ladrão. Confio na Fifa. A Onu é muitofraca. O Ibama é quase tão poderoso quanto aseleção do Chile. A ararinha-azul, o cantor devozeirão e o juiz de futebol ladrão fazem parte dopatrimônio natural e cultural da humanidade.Talvez eu devesse citar também o ladrão de livrosde qualidade, não aquele que rouba Paulo Coelhoou os volumes da saga “Crepúsculo”, mas o caraque se arrisca por Baudelaire, Rimbaud, Flaubert,Balzac e por mim. Soube de um maluco que foipego roubando um exemplar de meu romance“Solo”. Eis alguém que merece todo o meu respeitoe admiração.

11 Correio do Povo, 30 de junho de 2010, pg 4.

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Nelson Rodrigues elogiava o juiz ladrão. Opoliticamente correto praticamente acabou comessa expressão. Agora só se fala em erros dearbitragem. Há uma perda semântica considerável.Há quem defenda o uso da tecnologia para acabarcom os erros de arbitragem. Seria catastrófico. Ofutebol se tornaria tão chato quanto o tênis, o vôlei,o basquete e outros esportes incapazes de produzirpolêmica, contestação e raiva. Só a possibilidadedo erro humano é criadora. A “mão de Deus” deMaradona faz parte do imaginário do futebol tantoquanto os gols perdidos por Pelé. A perfeição dofutebol está também na sua imperfeição. Obandeirinha ensopado, no meio de um temporal,tendo de marcar um impedimento que não enxergaexpõe o ser humano a seus limites. É fantástico. Dáo que falar. Ativa a fúria das paixões.

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O árbitro é um totem que recebe a violênciade nossos sentimentos. Tem um valor simbólicoessencial. Graças a ele e a seus erros, fazemos anossa catarse. Só a ele podemos chamar de ladrão,durante um jogo, das arquibancadas, sem tomar umprocesso. Há um valor digestivo impressionantenisso. A bossa nova matou os cantores de vozeirão.A sociedade industrial está acabando com aararinha-azul. Só nos resta o juiz ladrão comoresquício de um mundo romântico e livre. A mídiaprecisa defender o juiz ladrão e condenar qualquertentativa de uso da tecnologia no futebol. Sem ojuiz ladrão, muitos comentaristas podem perder oemprego por falta de assunto. Os programasesportivos encolherão.

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Esta Copa da África do Sul está sendo umamediocridade genial. Só os erros dos juizes ladrõesem favor da Alemanha e da Argentina estão acimada banalidade. E as holandesas gostosas fazendopropaganda da cerveja Bavária. As moçasacabaram na delegacia. Os juizes, na geladeira. AFifa precisa nos salvar da ideologia tecnicista, dopositivismo dos que não suportam erros e daassepsia dos que desejam transformar o futebolnuma ciência exata. O futebol é o último espaço dohomem decidindo em tempo real, sem GPS nemoutras próteses tecnológicas. Viva o reacionarismono futebol. Eu sou contra qualquer inovação. Nemaquela espuma para marcar o local de uma falta euaceito. Gosto mesmo é daquela incerteza quanto aolugar onde a barreira deve ficar. Na época dos pós-humanos, o erro do juiz é a nossa salvação.

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ARTIGOS

SOBRE "CONTOS GAUCHESCOS"DE SIMÕES LOPES NETO

José Moreira

Na apresentação de Contos Gauchescos,Simões Lopes Neto, inicialmente, fala de suasandan-ças pelo Rio Grande do Sul. Traça umroteiro sentimental, e logo passa a palavra ao seuimaginário guia - o gaúcho Blau Nunes. Daí emdiante a interlocução se es-tabelece entre este e oleitor. Usa, portanto, de uma técnica especial emredação, dando vida e voz ao personagem que,dentro do espaço definido pelo autor da obra, semovimenta, articula e dá autenticidade à formaxucra do dizer campeiro, com todas as suasnuances dialetais. Com isto, nos dá oportunidadede saborear,à volta de um fogo de chão, en-quantoo naco de carne despeja graxa no braseiro e corre o

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amar-go de mão em mão, os causos da gentesimples, galponeira e dos senhores das lidas docampo, com cheiro de terra, mato e flor, o recatodas prendas, os dengues das chinas, as habilidadesdos xirus e peões, seu romantismo e audácia, nasolitude do pampa, entre um e outro crepúsculo,temperando a vida com amor, graça, ironiasmuitas, enquanto o tempo passa.

Nota-se o diálogo, a linguagem gauchescado vaqueano, que chama o leitor para a intimidadeda gauchada, estabelecendo um clima capsular dascasas para a cozinha, onde crepita a lenha no fogãode ferro e das panelas exalam os cheiros decomida. Logo, das mãos da patroa vêm os gostososquitutes da cozinha para o galpão.

O escritor delineia as trilhas, retira-se docenário das narrativas e deixa que corra a palavraentre o "legítimo senhor dos caminhos" e nós,interlocutores no rosário de recordações.

Se o escritor contasse os casos eivados desuas subje-tividades, num linguajar citadino, nãoteria a mesma força de expressão. A grandeza deSimões Lopes assenta-se nos cantares da aldeia,com suas peculiari-dades linguísticas e fidelidadesaos usos e costumes campeiros originais, aindasem a contamina-ção das normas oficiais deortografia acorrentadas à lingua-gem culta,

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enfeitada de metáforas, e confeitada para o sabordas elites.

Blau Nunes fala à sua gente e quer serentendido em toda a sua originalidade, semsofisticação, para ser verdadeiro intérprete degaúchos e gaúchas, sem unifor-midade depontuação, vocabulário academicista e sintaxe, queo afastaria da forma de narrativa em estilotipicamente campeiro.

Venha você, leitor, abra o livro "ContosGauchescos" e delicie-se com a apresentação quefaz o autor Simões Lopes Neto, do "Guasca" BlauNunes, no seu melhor estilo memorialista. Elefinaliza deixando-nos na intimi-dade do benquistotapejara de "desempenado arcabouço de oitenta eoito anos, todos os dentes, vista aguda e ouvidofino, sadio, leal, ingênuo, impulsivo, precavido,perspicaz, de invejável memória laureada dopictórico dialeto gauchesco".

Leia, pense, medite, viaje pelos títulos das"TREZENTAS ONÇAS" aoCONTRABANDISTA e até o final das páginas deouro dessa obra. Depois, impregnado detradicionalismo puro e folclore, vamos marcar umencontro, num lugar tranquilo da campanha, podeser até à sombra de uma figueira, onde não faltelenha para o fogo, uma picanha de engraxar obigode, alguns amigos, uns traguinhos de canha daboa e a roda de mate amargo. Não faz mal se uma

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prenda faceira e dengosa nos brindar com aserventia do mate, com todo o respeito do tradici-onalismo gaúcho. Acaso queira chorar, leia o casodas trezentas onças e veja quão diferentes são oshomens de hoje em relação ao zelo pela coisaalheia, princi-palmente na política. Depois conte ereconte os "casos", como queria João SimõesLopes Neto, "aumentando um ponto a cada conto".

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SÓ DEUS É O CRIADOR DA VIDA -O HOMEM É SEU COLABORADOR

Jandir João Zanotelli

Eis “a primeira célula sintética”, anunciou ocoordenador da pesquisa Craig Venter, célulacompletamente controlada por instruções dohomem.

O homem não pode brincar de Deus, atalhaimediatamente o grupo atento à possibilidade éticado viver...

Mas isto é criar a vida? Ou apenasmanipulação das condições da vida? Como nunca,o modelo moderno epistemológico de interpretaçãoda realidade, das coisas, da vida e do universo éposto em questão.

Na verdade, o Ocidente estabeleceu comocritério de interpretação da realidade a matemática,como expressão prática da lógica constituída comoum sistema de pensamento formal que seria capazde dar conta de toda a realidade. Tudo o que é, éigual à idéia que disso se tem. A idéia, ao contrário

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do que os sentidos sentem, é universal, sempre amesma, intemporal. Assim, a idéia de homemcomo animal racional, é universal, compreendetodos os homens que existiram, existem ouexistirão. Esta idéia universal e vazia de homemnão é, porém, capaz de dar conta do que eu sou, doque tu és, do que alguém que existiu, existe ouexistirá é. A idéia, a forma não é a realidade, não éigual à realidade. A realidade ultrapassa, uma outodas as idéias. Ela é mais do que a forma, do queo conceito, mais ainda do que o conceitomatemático que dela possamos ter. Oconhecimento não se reduz à forma, à idéia, àlógica e seu sistema.

Quando o Ocidente, por interesse que ohomem teve em dominar o universo, em calcular aprodutividade e o lucro, em traduzir as leis danatureza em operações matemáticas, reduziu todoconhecimento às ciências e estas à capacidade deprodução técnica, deixou de ter a possibilidade deconhecer. De conhecer as coisas, o universo, a vidae si mesmo.

Para facilitar o conhecimento e aepistemologia de tudo, o homem moderno, baseadona teoria formal dos gregos, dividiu a realidade em:física, química, biológica... e depois social (?)...psicológica (?)... A teoria geral para tudo seria amatemática, tendo como pressuposto aobservabilidade. Assim, um saber verdadeiro e

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válido, é (ou seria) aquele que provem daobservação dos fatos e da redução destaobservação a equações matemáticas. O que nãocoubesse na observação dos órgãos sensoriais e namatematização não seria científico e, por isso, nãoseria verdadeiro. Seria apenas intuição,superstição, mito, ilusão.

Fez-se depois uma teoria de que o homem,além da cientificidade, da matemática e daracionalidade (assim entendida) teria uma faceobscura, inconsciente, imponderável, do homemque vive fora de si, alienado, perdido em suasilusões e desejos. E quanto a estas, cada um quecuide das suas, porque é impossível falar delas comconhecimento real e válido...

Mas, como interessa aos homens quegovernam o mundo a segurança, a certeza dosistema produtivo que gera acúmulo de capital e daexploração de tudo (da natureza, da vida e dohomem) para este fim, o homem moderno viveiludido de que só a ciência e sua técnica têm valor.

É por isso que confunde, deliberadamente ounão, quatro maneiras de articular os dados darealidade: causa, condição, ocasião e função.

Quando duas variáveis podem seraproximadas entre si (A e B) e, variando uma variana mesma proporção a outra, dizemos que avariação de uma é função da variação da outra. Avariação de uma seria a causa da variação da outra?

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Apressadamente, alguns dizem que sim. Pode,porém, não ser assim. A variação de uma pode serapenas a ocasião da variação da outra. A ocasião éuma circunstância que pode facilitar ou dificultar aprodução de um efeito, mas não explica o efeito.Assim, a presença de adrenalina no sangue podeser ocasião para sentir e manifestar alegrias ouraivas, pode ser condição delas mas, certamentenão será a causa.

A condição é uma circunstância necessária àprodução do efeito, mas não é suficiente para darconta dele. Assim, o cérebro e seu funcionamento écondição para pensar, falar... mas não é sua causa.Não basta o cérebro para que haja o pensamento.Sem ele não há pensamento, mas ele não ésuficiente para dar conta do pensar. Assim como afeminilidade é condição da maternidade, mas não ésua causa. Não basta ser feminina para ser mãe.

Assim, se a ocasião facilita ou dificulta ofuncionamento da causa para produzir o efeito,mas não é nem necessária, nem suficiente para aprodução do efeito; assim, se a condição énecessária mas insuficiente; assim a causa énecessária e suficiente para dar conta do efeitoenquanto efeito; mesmo quando não soubermosqual e como é a causa, o certo é que não podemosreduzi-la à condição.

Assim, também, o ordenamento dascondições e ocasiões físico-biológicas do DNA...

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pode ser ocasião ou condição para o surgimento deuma célula. Não se fala de causa, nem, portanto, dacriação da célula e da vida. A manipulação dascondições para que surja a célula, de uma célulasintética como bem disse Craig Venter, não tem apretensão, por jocosa que seja, de que o homem sefez Deus criador da vida.

Implica, isto sim, novamente oquestionamento ao conhecimento, à ciência, dapossibilidade de reduzir a realidade aoconhecimento, especialmente ao conhecimentoformal-matemático.

Não está resolvida a questão do que seja oreal. Embora facilite, por preguiça mentalinclusive, dividir a realidade em física, química,biológica etc...: como se articula o que é “físico”,com o que é “químico” e o “biológico”? Quemdisse que o físico não é vivo e o químico também?Só por que não correspondem ao conceito que oOcidente se fez do que é vivo? Aliás, embora avida tenha seu código genético, seu DNA..., quemdisse que a vida se reduz ao código? O código,como condição ou apenas ocasião, é capaz de darconta do que seja uma célula viva? Interferir nocódigo, manipular o código é criar a vida?

E, se é verdade que o pensamento dos povosantes do formalismo racionalista grego que foiadotado pelo Ocidente, diz que o homem não sóestá integrado ao universo (sem que pretendamos

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que ele seja apenas um pedaço do universo físico)mas é, em si a síntese do universo; que na vida dohomem integra-se como síntese a vida dos animais,das plantas e a realidade do universo, a questãoética que se põe não é apenas a de dizer: não élícito interferir na vida, máxime na vida humana.

Tudo o que o homem faz interfere na vida ena vida humana. Resta saber em que consisteverdadeiramente a vida humana como síntese ecomo sua atuação é atuação humana digna dohumano. Tirar as ocasiões e condições do viver(econômicas, políticas, sociais, culturais ereligiosas) é indigno do homem, é contra o homem,porque a essência do pensar e do agir não é apenasdominar e sim a gratuidade generosa de ser com ooutro: a essência do homem e da síntese douniverso é o amor. Não é apenas a conjunção nema mútua destruição.

Assim, a manipulação das condiçõesgenéticas da vida humana, pode ser um serviçogeneroso ao outro homem que luta contra a doença,a fome, à falta de abrigo. Como pode ser, e é tudoo que o Ocidente fez com a ciência e a tecnologia,a exploração até a última gota de sangue, da vidado próximo.

O aparecimento da primeira célula sintéticapode significar que o homem se faz colaborador deDeus em cuidar da vida ou a negação (e estapossibilidade também está no horizonte do

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homem) de tudo o que é: do universo, da vida, dohumano a caminho de sua liberdade e comunhão.

E a vida que a sabedoria do homemcompreende, acima de toda a formalidade racional,lógico-matemática, pede licença para vir à tona,para acontecer.

A Academia Sul-Brasileira de Letras, pensaque não se pode aprisionar a palavra, mas que sedeve cuidar dela para que ela seja o clamor e aconclamação para viver a vida digna do homem emcomunidade responsável.

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RECENSÃO

Mello Cavalheiro, Wilma. AmorSubstantivo Abstrato. Pelotas, Edição da autora,2009. São 120 páginas da mais bela e bemtrabalhada poesia. Poemas, sonetos, trovas, frutossazonados no pampa aberto da vida e do amor queintegra terra e céu em horizontes verde azulados dafaina poética desta grande poetisa. Seu quintolivro. O mais maduro deles. Impossível toma-lo,ler uma poesia sem ler todas. Aqui o amor éfecundo. É social. É profundamente político semser partidário ou apenas ideológico. É amorrecolhido das entranhas do mundo e de nossahistória, das filigranas da linguagem simples, bemvestida, bonita como o requer a melhor literatura.O aprumo da forma dá ainda mais leveza e belezaao poema.

Esta Secretária da Academia Sul-Brasileirade Letras leva a público não só sua produçãoliterária como também o incentivo a que todossejamos minimamente poetas no sentido profundoda poesia.

De parabéns está o público leitor. Deparabéns as Letras de nosso país.

Jandir J. Zanotelli.

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ADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS

ESTATUTO SOCIAL

Título IDa Denominação, Sede, Símbolos e Abrangência

Art.1º - A ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRASa qual utilizará a sigla ASBL e, doravante neste EstatutoSocial simplesmente como ASBL, com objetivos culturais eeducacionais é uma associação civil sem fins econômicos,com duração por prazo indeterminado, rege-se por esteEstatuto Social e pelas disposições legais atinentes, estandosediada na Rua 3 de Maio, número 1060, conjunto 403,Pelotas – RS, com foro neste município.

Art. 2º - São símbolos da ASBL:a) O Brasão;b) A Bandeira;c) A Flâmula; d) A Pelerine;e) O Sinete.

Parágrafo único – Os símbolos da ASBL são descritos deforma minuciosa no Regimento Interno.

Art. 3º - A ASBL, para fins de congregação de associados

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acadêmicos, abrange os Estados do Rio Grande do Sul,Santa Catarina e Paran᧠1º – Em cada um dos Estados nominados haverá umaseção da ASBL administrada por um vice-presidente.§ 2º - A Seção 1 será a do Rio Grande do Sul, a Seção 2será a de Santa Catarina, a Seção 3 será a do Paraná.

TÍTULO IIDos Objetivos

Art. 4º - São objetivos da ASBL:a) Congregar literatos e intelectuais de sua área de

abrangência;b) Incentivar a investigação, o desenvolvimento das

atividades culturais, a criação, elaboração e a divulgação deobras literárias na região;

c) Instituir concursos, prêmios e outros incentivos;d) Manter intercâmbio e colaborar com as entidades

congêneres em âmbito local, regional, nacional einternacional;

e) Associar-se e colaborar com instituiçõeseducacionais públicas ou privadas no incentivo ao ensino eaprendizagem da língua pátria.

TÍTULO IIIDo Patrimônio

Art. 5º - O Patrimônio da entidade é constituído de:a)direitos de qualquer natureza suscetíveis de serem

apreciados economicamente;b) bens imóveis e móveis;c) biblioteca, fototeca, pinacoteca, hemeroteca e

demais recursos audiovisuais;d) montante oriundo da contribuição do quadro

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social;e) doações e quaisquer rendas eventuais.

Parágrafo único – A biblioteca, cuja organização efuncionamento serão regulados por Regimento Interno,reúne em seu acervo livros, jornais, revistas, fotografias,arquivos e museu adquiridos com recursos próprios ourecebidos em doação; para constituição de seu acervo, sãopriorizadas as obras dos acadêmicos, dos autores da área deabrangência da ASBL.

TÍTULO IVDa Organização Deliberativa e Administrativa

Art. 6º - A organização deliberativa e administrativa daASBL compreende:

a) a Assembléia Geral;b) a Diretoria;c) o Conselho Fiscal.d) as Seções Estaduais

CAPÍTULO I Dos Sócios

Art. 7º - A ASBL congrega as seguintes categorias deassociados:

a) Fundadoresb) Acadêmicos;c) Beneméritos;d) Honorários;e) Correspondentes.

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§ 1º - São associados Fundadores aqueles que assinaram aAta de Fundação da Academia Sul-Brasileira de Letras, em09 de maio de 1970.

§ 2º - São associados Acadêmicos os literatos dos trêsEstados sulinos que, tendo, pelo menos, um livro publicadoem qualquer gênero literário e que, apresentados pormembro do sodalício, tenham o seu ingresso aprovado pelaAssembléia Geral.

§ 3º - São associados Beneméritos as pessoas físicas oujurídicas que prestarem relevantes serviços à Academia,independentemente de naturalidade ou nacionalidade, ajuízo da Assembléia Geral.

§ 4º - São associados Honorários as pessoas físicas oujurídicas que se destacarem na difusão da cultura,independentemente de naturalidade ou nacionalidade a juízoda Assembléia Geral.

§ 5º - São associados Correspondentes as pessoas físicas oujurídicas, com residência ou sede fora do município dePelotas e que, constantemente trocarem informações deinteresse da ASBL e/ou da cultura, e tiverem o nomeaprovado pela Diretoria.

§ 6º - A proposição à Diretoria de nomes para associadoBenemérito, Honorário e Correspondente é atribuição dosSócios Acadêmicos, acompanhando a indicação curriculumvitae e circunstanciada exposição de motivos.

Art. 8º - O quadro de Associados Acadêmicos se compõe deaté 60 (sessenta) membros, cujas cadeiras têm um patronoespecífico; o de sócios Beneméritos, Honorários e

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Correspondentes não tem limite prefixado.Parágrafo único – A Direção da Academia cuidará

de uma adequada distribuição de vagas que contemple arepresentatividade dos três Estados.

CAPÍTULO II Dos Direitos e Deveres dos Associados

Art. 9º – São direitos dos associados de todas as categorias:a) Participar das atividades da Academia, utilizar o

seu patrimônio, freqüentar os espaços da sede, referir emsuas obras e publicações sua pertinência à entidade;

b) Sugerir, propor, discutir políticas e medidas quevisem ao engrandecimento do ASBL;

Art. 10 – São direitos dos associados Acadêmicos:a)Ocupar cadeira numerada do Quadro Acadêmico;b) Usar o sinete acadêmico;c) Mencionar em suas obras o título de membro da

ASBL, referindo o número da cadeira que ocupa e o nomedo patrono, se assim desejar;

d) Votar e ser votado para os cargos eletivos daASBL, conforme as normas da entidade;

e) Ocupar cargos e desempenhar atividades nosDepartamentos, a convite do Presidente;

f) Representar a ASBL, quando autorizado para isso,por procuração do presidente;

g) Vitaliciedade;h) Renunciar à vitaliciedade.

Parágrafo único – O associado que perder a cadeira naentidade conforme o disposto no parágrafo 3º do Art. 12,não poderá, a partir de então, referir sua pertinência à

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ASBL.

Art. 11 – São deveres dos associados de todas as categorias:a) Cumprir e fazer cumprir o Estatuto Social, o

Regimento Interno, as normas e deliberações da ASBL;b) Contribuir para o bom nome da entidade;c) Incentivar a cooperação com as entidades

congêneres e outras instituições culturais;d) Zelar pela imagem e moralidade pública da ASBL.

Art. 12 – São deveres dos associados Acadêmicos, além dosespecificados no artigo anterior:

a) Participar de reuniões, assembléias, solenidades eeventos promovidos pela ASBL.

b) Pagar mensalmente, ou em outras modalidadesoferecidas pela Diretoria, as contribuições financeirasestipuladas;

§ 1º - É condição para participar das Assembléias Gerais,ordinárias ou extraordinárias, com direito a voto, estar quitecom a tesouraria.

§ 2º - O associado que não cumprir seus deveres serásubmetido a julgamento por uma comissão, designada pelaDiretoria, e com atribuições estabelecidas pelo RegimentoInterno, garantidos ao acusado direito de ampla defesa e decontraditório.

§ 3º São previstas as seguintes penalidades: a) Advertência – Será aplicada ao associado queinfringir os deveres previstos nas letras a), b, e c do Art. 11,e as letras a) e b) do Art. 12. b) Suspensão - Será aplicada ao associado que

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descumprir o previsto na letra d) do Art. 11 ou reincidir nainfringência dos deveres para o que se prevê pena deadvertência.

c) Perda da cadeira – Será aplicada a penalidade deperda da cadeira ao associado que, advertido e suspenso,reincidir em suas faltas, bem como ao associado condenadojudicialmente por atos considerados desabonatórios eindignos de participação na Academia, assegurada apostulação de nova cadeira no quadro.

§ 4º - As penas de advertência e suspensão são de alçada daDiretoria; a aplicação da pena de perda da cadeira propostaao final do processo pela comissão julgadora, é decompetência da Assembléia Geral, sendo que de qualquerpenalidade será notificado o infrator através de documentoescrito expedido pela Diretoria.

CAPÍTULO IIIDa Assembléia Geral.

Art. 13 – A Assembléia Geral, órgão soberano da entidade,é constituída pelos associados acadêmicos em pleno gozo deseus direitos estatutários.

Art. 14 – A convocação para as Assembléias Gerais, com aespecificação da ordem do dia, será feita pelo Presidente,com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, medianteedital afixado no local da sede e/ou em órgão de divulgação,bem como através de correspondência pessoal enviada acada acadêmico, comprovando-se a data de remessa pelocarimbo de postagem.

Art. 15 – A Assembléia Geral Ordinária, bem como aExtraordinária, serão abertas pelo Presidente ou por seu

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substituto legal que, se assim o decidir a Assembléia,passará a direção dos trabalhos ao associado que forescolhido por maioria, convidando auxiliares para odesempenho das tarefas inerentes à reunião.

Art. 16 – As Assembléias Gerais funcionarão, em primeiraconvocação, na hora marcada, com a presença mínima de20% dos acadêmicos com direito a voto e, em segundaconvocação, trinta minutos após a hora marcada, com apresença mínima de 10% dos associados habilitados.

Art. 17 – Para deliberar sobre a destituição do Presidente oua alteração dos Estatutos Sociais da ASBL, a Assembléiaespecialmente convocada para este fim, não poderádeliberar, em primeira convocação, sem a maioria absolutados associados aptos a votar, ou com menos de um terço nasconvocações seguintes, exigindo-se o voto concorde de, nomínimo 2/3 dos presentes.

Art. 18 – Nas Assembléias de caráter eletivo será facultadoo voto por correspondência aos acadêmicos residentes forada sede, sendo o assunto regulado pelo Regimento Interno,vedada a modalidade de voto por procuração.

Art. 19 – São atribuições da Assembléia Geral: a) Eleger a Diretoria da ASBL e os integrantes do

Conselho Fiscal;b) Aprovar o estatuto social e o regimento interno,

assim como suas modificações;c) Apreciar, aprovando ou rejeitando o relatório

financeiro da Diretoria acompanhado de parecer doConselho Fiscal;

d) Apreciar, homologando ou rejeitando as

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propostas de ingresso de novos associados acadêmicos, bemcomo o de associados beneméritos e honorários, medianteexposição de motivos exarada pela Diretoria;

e) Decidir pela aplicação ou não da penalidade deperda da cadeira ao associado julgado conforme o parágrafo3º do Art. 12.

f) Destituir o Presidente com a concordância e oquorum previstos no art. 17.

g) Decidir pela extinção da ASBL conforme odisposto no Art. 35.

CAPÍTULO IV Da Diretoria

Art. 20 – A Diretoria da ASBL compreende os seguintescargos e funções:

a) Presidente;b) 1º Vice-presidente (RS);c) 2º Vice-presidente (SC);d) 3º Vice-presidente (PR);e) Secretário Geral;f) 1º Secretário (RS);g) 2º Secretário (SC);h) 3º Secretário (PR)i) Tesoureiro Geral;j) 1º Tesoureiro (RS);k) 2º Tesoureiro (SC);l) 3º Tesoureiro (PR).

§ 1º – A Diretoria contará ainda, para auxiliá-la, com oDepartamento de Imprensa e Relações Públicas, bem comocom os cargos de Diretor do Patrimônio e outros que julgarnecessários, todos os titulares de livre escolha do Presidente

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e segundo normatização exarada por ele.

§ 2º - Os cargos da Diretoria são eletivos, conforme art.19, a), havendo para cada cargo, excetuado o de Presidente,um suplente que auxiliará o titular em suas funções e osubstituirá em seus impedimentos.

§. 3º - O mandato da Diretoria é de 2 (dois) anos.

Art. 21 – Compete à Diretoria:a) Aprovar e pôr em prática as políticas a serem

implementadas pela Academia;b) Decidir quanto aos valores e formas de cobrança

das contribuições financeiras dos associados acadêmicos; c) Auxiliar a presidência na administração da

entidade;d) Apreciar a indicação de nomes para associados

acadêmicos, beneméritos, honorários encaminhando osnomes aprovados à homologação da Assembléia Geral;

e) Autorizar contratos de locação ou os queimplicarem comprometimento financeiro por parte daASBL;

f) Conceder licença ou aceitar a demissão deassociados, quando solicitadas por escrito pelo interessadoem documento com firma reconhecida;

g) Aprovar a admissão ou demissão de funcionárioscom suas obrigações e salários especificados;

h) Autorizar o ingresso de AssociadoCorrespondente.

Art. 22 – O Presidente será eleito pela Assembléia Geral,para um mandato de 2 (dois) anos e podendo serreconduzido para um segundo mandato.

Parágrafo único – Em caso de vacância do cargo de

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Presidente, com menos de 50% do mandato, far-se-á novaeleição.

Art. 23 – Compete ao Presidente: a) Escolher, empossar e dispensar os titulares de

Departamentos e de cargos não eletivos, dentre osassociados da ASBL;

b) Representar a ASBL ativa e passivamente,judicial e extrajudicialmente, em todos os atos deadministração e gestão, podendo para tanto, quandonecessário, nomear procurador com poderes específicospara representá-lo.

c) Assinar juntamente com o Tesoureiro osdocumentos da tesouraria e especificamente os chequesbancários;

d) Admitir e demitir funcionários;e) Resolver “ad referendum” da Diretoria, os

assuntos considerados de urgência, dando ciência aosdemais diretores na sessão imediata;

f) Convocar e dirigir a Assembléia Geral e os atossolenes realizados pela entidade;

g) Convocar e presidir as reuniões de Diretoria;h) Prestar contas de sua gestão através de relatórios

financeiros apreciados pelo Conselho Fiscal e pelaAssembléia Geral.

Art. 24 – Aos vice- presidentes, eleitos com o presidente, ecom igual mandato, compete:

a) Auxiliar o presidente no exercício de suasfunções;

b) Substituir o presidente em seus impedimentos econcluir o mandato, em caso de vacância do cargo,obedecida a ordem de precedência sucessivamente;Participar das reuniões da Diretoria;

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c) Organizar e executar o protocolo das solenidades;Presidir e administrar a Seção do respectivo Estado,auxiliado por um Secretário e um Tesoureiro,desenvolvendo as atividades da ASBL que melhor julgaroportunas e relevantes, em representação do Presidente.

Parágrafo único – A administração econômico-financeira, a contabilidade e a prestação de contas dasatividades da Seção cabem ao Vice-Presidente.

Art. 25 – Compete ao Secretário Geral:a) Assinar, com o Presidente os documentos

relativos à Secretaria;b) Lavrar, em livro próprio, as atas de todas as

sessões da Diretoria;c) Manter em dia os registros da entidade.

Art. 26 – Compete aos Secretários auxiliar o SecretárioGeral em suas atividades e manter em dia o registro darespectiva Seção.

Art. 27 – Compete ao Tesoureiro Geral:a) Assinar, com o Presidente, cheques e

documentos;b) Conservar sob sua guarda os valores da entidade;

Manter em dia os registros atinentes a seu cargo;c) Manter em dia o registro de imóveis e móveis da

Academia.

Art. 28 – Compete aos Tesoureiros das Seções auxiliar oTesoureiro Geral fornecendo-lhe os dados para a prestaçãogeral de contas da ASBL e auxiliar o Vice-Presidente emtudo o que diz respeito às atividades de tesouraria na Seçãoà semelhança das tarefas exercidas pelo Tesoureiro Geral

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em relação à ASBL.

Art. 29 - As funções de Diretor de Patrimônio, de Assessorde Imprensa e de Relações Públicas serão especificadas noRegimento Interno, de acordo com o estabelecido nopresente Estatuto Social.

CAPÍTULO V Do Conselho Fiscal

Art. 30 – O Conselho Fiscal é composto por 3 (três)membros efetivos e 1 (um) suplente, tendo a função deexaminar os relatórios financeiros e contábeis da Diretoria edas Seções, emitindo parecer para encaminhamento àAssembléia Geral.

Parágrafo Único – A função de conselheiro fiscal éprerrogativa dos associados acadêmicos, eleitos, pelaAssembléia Geral para um mandato de 2 (dois) anos.

CAPÍTULO VI Das Seções estaduais

Art. 31 – Às seções estaduais compete:a) Promover o congraçamento dos associados de

seus respectivos Estados e o entrosamento com os dosdemais Estados;

b) Indicar à Diretoria da ASBL nomes deacadêmicos a serem apreciados pela Assembléia Geral, parao preenchimento de cadeiras vagas.

c) Indicar, dentre os acadêmicos do respectivoEstado, candidatos a Vice-Presidente, secretário e tesoureiropara a Seção, e seus respectivos suplentes a serem eleitos

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pela Assembléia Geral.

§ 1º - Respeitadas as normas do Estatuto Social e doRegimento da ASBL, cada seção organizará seu regimentointerno;

§ 2º - Cada seção, além de participar das atividades geraisda ASBL, administrará suas atividades, mantendocontabilidade própria e arcando com seu ônus financeiro.

TÍTULO VDas Disposições Gerais e Transitórias

Art. 32 – A ASBL comemorará o aniversário de suafundação em 9 de maio, data em que serão empossados osmembros da Diretoria e do Conselho Fiscal eleitos naAssembléia Geral.

Art. 33 – Os associados não respondem, nem pessoal nemsolidariamente, pelas obrigações contraídas pela ASBL.

Art. 34 – Os associados acadêmicos poderão requerer, porescrito , licença por um ano das atividades da ASBL.

Art. 35 – A ASBL somente será extinta por deliberação daAssembléia Geral Extraordinária, convocada para este fim,com a presença de ¾ dos associados acadêmicos em plenogozo de seus direitos e com votos favoráveis de, no mínimo,¾ dos participantes, destinando-se o patrimônio a outraentidade congênere ou ao município em que estiveremsediadas a sede da ASBL e suas respectivas seções naproporção dos bens nelas localizados.

Art. 36 – As regras decorrentes deste Estatuto Social serão

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disciplinadas pelo Regimento Interno ou Interno e porresoluções da Diretoria.

§ 1º - A Diretoria elaborará o Regimento Interno no prazode 120 (cento e vinte) dias.

§ 2º – Na falta do Regimento, e os casos omissos serãoresolvidos pela Diretoria.

Art. 37 – O presente Estatuto Social, aprovado pelaAssembléia Geral, entrará imediatamente em vigor,revogados as disposições em contrário e o Estatuto atéagora vigente, registrado sob o nº 1.280, a fls. 43v/44 doLivro A5, em 12 de novembro de 1973, no Registro dePessoas Jurídicas em Rocha Brito Serviço Notarial eRegistral, de Pelotas.

Aprovado na Assembléia Geral de 06/12/2003 eadequado às novas normas da legislação federal.

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ASBL :CADEIRAS-PATRONOS-TITULARES

CADEIRA No.1 Patrono: Jorge Salis GoulartTitular I: SADY MAURENTE AZEVEDOTitular II: MARÍSIA DE JESUS F. VIEIRAEndereço: G. Telles, 607/901 CEP 96010-310 fone (53) 32274789E-mail: [email protected]

CADEIRA No.2 Patrono:Francisca Marcant GonçalvesTitular: MANOEL JESUS SOARES DA SILVA Endereço: R. João Jacob Bainy, 266 – Pelotas RSE-mail: [email protected]

CADEIRA No.3

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Patrono: Manoelito de OrnellasTitular: I- IVONE LEDA DO AMARALTitular II:Endereço:

CADEIRA No.4Patrono: Nelson Abott de FreitasTitular: JOAQUIM MONCKSEndereço:R. Lima e Silva, 116/401

CEP 90050-100 Porto Alegre RSE-mail: [email protected]

CADEIRA No.5Patrono: Érico VeríssimoTitular: VALTER SOBREIRO JÚNIOREndereço: R. Prof. Araújo, 2149/102

CEP 96020-360 Pelotas RS

CADEIRA No.6Patrono: Fernando Luis OsórioTitular: MÁRIO OSÓRIO MAGALHÂESEndereço: Av. Domingos de Almeida 3030

CEP 96085-470 Pelotas RS

CADEIRA No.7Patrono: Paula Correa LopesTitular: CATARINA SCHENINI CUNHAEndereço: R.Vicente Lopes dos Santos, 200/301CEP 90103-140 Menino Deus, P. Alegre RS –

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[email protected]

CADEIRA No.8Patrono: Francisco de Paula Pinto MagalhãesTitular: JOSÉ ANÉLIO SARAIVAEndereço: R. João da Silva Silveira, 211- B. Na. Sra. Fátima

CEP 96080-000 Pelotas RS

CADEIRA No.9Patrono: Francisco Antônio Vieira Caldas JúniorTitular: SUELLY CORRÊA GOMESEndereço: R. Heinrich Hosang, 165/303

CEP 89012-190 Blumenau SC

CADEIRA No.10Patrono: Francisco Lobo da CostaTitular I: José Vieira EtcheverryTitular II: IRMÃO ELVO CLEMENTEEndereço:

CADEIRA No 11Patrono: Álvaro José Gomes Porto AlegreTitular: FELIPE ASSUMPÇÃO GERTUM

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Endereço: Av. A A Assumpção, 9805CEP 96090-240 Pelotas RS

CADEIRA No.12Patrono: Marieta Mena Barreto Costa AmadorTitular: ANA LUIZA TEIXEIRAEndereço: Av. Borges de Medeiros, 1141/193CEP 90020—25 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 13Patrono: João Simões Lopes NetoTitular: I - ÂNGELO PIRES MOREIRATitular II: Endereço

CADEIRA No l4Patrono: Aurora Nunes WagnerTitular I:LYDIA MOMBELLI DA FONSECATitular II:

CADEIRA No.15

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Patrono: Irajá Moraes NunesTitular: SÉRGIO OLIVEIRAEndereço: R. Leonardo Colares, 137/101

CEP 96020-190 Pelotas RS

CADEIRA No 16Patrono: Raul de LeôniTitular I: IVO CAGGIANITitular II: LÍGIA ANTUNES LEIVASEndereço: R. Dr. Franklin Olivé Leite, 323

CEP 96055-520 Pelotas [email protected]@yahoo.com.br

CADEIRA No. 17Patrono: Demerval AraújoTitular: I -HARLEY CLÓVIS STOCCHEROTitular: II - Endereço:

CADEIRA No .18Patrono Alberto Coelho da CunhaTitular: RONALDO CUPERTINO DE MORAESEndereço: R. Gen. Osório, 938

CEP 96020-000 Pelotas RS

CADEIRA No. 19Patrono: João Cruz e SousaTitular I: Rondon Soares

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Titular II: LAURO JUNKESEndereço: R.Capitão Romualdo de Barros, 251.

CEP 88015-000(Carvoeira)Florianópolis SC

CADEIRA No. 20Patrono: Maria Alzira Freitas TaquesTitular: ZENIA DE LEÓN (Licenciada) Endereço: R. Bernardino Santos, 74

CEP 96080-030 Pelotas RS

CADEIRA No. 21Patrono: Victor RussomanoTitular: JORGE MORAESEndereço: R. Manoel Caetano da Silva, 16

CEP 96025-230 Pelotas RS

CADEIRA No.22Patrono: Januário Coelho da CostaTitular: CLÓVIS ALMEIDA ALT Endereço: R. Cel. Alberto Rosa, 268

CEP 96010-770 Pelotas RS

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CADEIRA No. 23Patrono: Adalberto Guerra DuvalTitular: CLÓVIS P. ASSUMPÇÃOEndereço: Av. 16 de Julho, 165

CEP 90550-220 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 24Pat:Antônio José Gonçalves ChavesTitularI:HELOISAASSUMPÇÃO NASCIMENTOTit. II:MARIA BEATRIZ MECKING CARINGIEndereço: R. Gomes Carneiro, 1881/403 –

CEP 96010-610E-mail: [email protected]

CADEIRA No.25Patrono: Guilherme de AlmeidaTitular: OSÓRIO SANTANA FIGUEIREDOEndereço: R. Procópio Mena, 975

CEP 97300-000 São Gabriel RS

CADEIRA No. 26Patrono: Ceslau Mario Biezanko

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Titular: ANTENOR PEIXOTO DE CASTROEndereço: R. 15 de Novembro, 666/1110

CEP 96015-000 Pelotas RS

CADEIRA No. 27Pat: Roberto Landell de MouraTit I: ENRIQUE SALAZAR CAVEROTitularII:OLGA MARIA DIAS FERREIRA End: Gen. Neto, 625/302 Pelotas RS –CEP 96015-280E-mail: [email protected].

CADEIRA No.28Patrono: José Xavier de FreitasTitular: MIGUEL RUSSOWSKIEndereço: Av. Sta. Terezinha, 321

CEP 89600-000 Joaçaba SC

CADEIRA No. 29Patrono: Aureliano Figueiredo PintoTitular: FRANCISCO PEREIRA RODRIGUESEndereço: R. Vasco Alves, 435

CEP 90010-410 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 30Patrono: Alberto Pereira RamosTitular: ANTÔNIO KLEBER MATHIAS NETTO

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Endereço: R. Castro Alves, 950CEP 25959-075 Teresópolis, RJ

CADEIRA No. 31Patrono: Dionélio MachadoTitular: DANILO UCHAEndereço: R. Lopo Gonçalves, 172

CEP 90050-350 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 32Patrono: Tristão Veloso Nunes Vieira(MárcioDias)Titular: MARIA ALICE ESTRELAEndereço: Largo Gomes da Silva, 3635/201

CEP 96020-240 Pelotas RS

CADEIRA No. 33Patrono: José Vieira PimentaTitular I: JOSÉ BACCHIERI DUARTETitular II:

CADEIRA No. 34 A foto é de Sejanes DornellesPatrono: Josué GuimarãesTitular: JOSÉ TÚLIO BARBOSAEndereço: Av. João Pessoa, 1784/803

CEP 90040-001 Porto Alegre RS

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CADEIRA No. 35Pat: Hipólito José daCostaTit I: Edgar José CurvelloTitular II: ÂNGELATREPTOW SAPPEREnder: Rua Paulo Alcides Porto Costa, 205 - Cep 96090-000 Email: [email protected] – Fone: 53-32264122

CADEIRA No. 36Patrono: Juliné da Costa SiqueiraTitular I: PEDRO BAGGIOTitular II: Endereço:

CADEIRA No. 37Patrono: Antônio Gomes de FreitasTitular I: MARIA AMÉLIA GONÇALVES HILLALTitular IIEndereço:

CADEIRA No. 38Patrono: Ramiro Barcelos

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Titular I: HUGO RAMIREZTitular II:Endereço:

CADEIRA No. 39 Patrono: Arquimedes FortiniTitular: PÉRICLES AZAMBUJAEndereço: R.7 de Setembro, 1561CEP 96230-000 Santa Vitória do Palmar RS

CADEIRA No. 40Patrono: Darci AzambujaTitular: ANSELMO AMARALEndereço: R. Gen. Osório, 2279CEP 96230-000 Santa Vitória do Palmar RS

CADEIRA No. 41Patrono: Mário QuintanaTitular: WILMA MELLO CAVALHEIROEndereço: R. Anchieta 3173/102

CEP 96015-420 - Pelotas RSF: (53) 32255045

CADEIRA No. 42Patrono: Oscar BertholdoTitular: JANDIR JOÃO ZANOTELLI

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Endereço: R. Jaguarão, 643CEP 96090-350 - Laranjal – Pelotas RSE-mail: [email protected] fone (53-)32262662

CADEIRA No. 43Patrono: Noemi Assumpção Osório CaringiTitular: NAIR SOLANGE PEREIRAFERREIRAEndereço: General Telles, 358

CEP 96010-310 - Pelotas RSE-mail: [email protected]

CADEIRA No. 44Patrono: Delminda Silveira TitularI: CHEILA STUMPFTitular II: JULIO DIAS DE QUEIROZ

CADEIRA No. 45Patrono: Noemi Vale da RochaTitular: BLAU FABRÍCIO DE SOUZAEndereço: Av. Juca Batista, 8.000, casa 114Belém Novo, CEP 91.780-070 Porto Alegre RS E-mail: [email protected]

CADEIRA No. 46Patrono: Magda Costa

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Circe de Moraes Palma MonteiroTit:NEUSA MARILÚ DUARTEEnd: Av. Independência, 1196CEP 96300-000 - Jaguarão RS

CADEIRA No. 47Patrono: Carlos Drummond de AndradeTitular: LUIZ DE MIRANDAEndereço: José do Patrocínio, 95/405

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CADEIRA No. 48Patrono: Guilhermino CezarTitular: JOSÉ CLEMENTE POZENATOEndereço: R. Conselheiro Dantas, 1290/301CEP 95054-000(S.Família)Caxias do Sul RS

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CADEIRA No. 49Patrono: Luiz DelfinoTitular I: PASCHOAL APÓSTOLO PÍTSICATitular II: JOSÉ ISAAC PILATI Endereço: Largo Benjamim Constant 691/603

CEP88015-390 Florianópolis SCE-mail: [email protected]

CADEIRA No. 50 Patrono: Virgílio VárzeaTitular: HOYÊDO DE GOUVÊA LINS

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Endereço: R. D. Joaquim, 132CEP 88015-310 Florianópolis SC

CADEIRA No. 51Patrono: Brasílio ItiberêTitular: CLORIS CASAGRANDE JUSTENEndereço: R. Des. Otávio do Amaral 57/142

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