revisão de literatura - medvep | cursos, eventos e...

9
Atualização em epilepsia canina - Parte I: Classificação, etiologia e diagnóstico Canine epilepsy update - Part I: Classification, etiology and diagnosis Bruno Benetti Junta Torres – Professor Substituto em Anestesiologia e Cirurgia de Pequenos Animais - Universidade Federal de Lavras (UFLA). Doutorando em Ciência Animal – Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (EV/UFMG). E-mail: [email protected] Bernardo De Caro Martins – Mestrando em Ciência Animal – EV/UFMG. Guilherme De Caro Martins – Médico Veterinário Residente II em Clínica Médica – EV/UFMG. Eliane Gonçalves de Melo – Professora Associada II em Clínica e Cirurgia Veterinárias - EV/UFMG. Holger Andrea Volk – Lecturer in Veterinary Neurology and Neurosurgery, The Royal Veterinary College, University of London, UK. Torres BBJ, Martins BC, Martins GC, Melo EG, Volk HA. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação; 2011; 9(31); 682-690. Resumo Epilepsia é um distúrbio do sistema nervoso central, caracterizado por predisposição persistente a gerar crises epilépticas recorrentes e espontâneas, em decorrência da atividade hiperssincrônica de neurônios encefálicos. Representa a afecção crônica neurológica mais comum em caninos. Este traba- lho propõe uma revisão detalhada sobre as crises epilépticas e a epilepsia canina, visando fornecer ao clínico de pequenos animais subsídios para identificar e classificar essas crises, bem como definir sua etiologia, facilitando, portanto, a instituição terapêutica adequada. Palavras-chave: Epilepsia; crise epiléptica; classificação; etiologia; canino. Abstract Epilepsy is a disorder of the central nervous system, characterized by a predisposition to generate per- sistent and recurrent spontaneous seizures, due to the hyper synchronous activity of brain neurons. It represents the most common chronic neurological disorder in canines. This paper proposes a detailed review of seizures and epilepsy in dogs, in order to provide benefits to the clinician to identify and classify the fits as well as define its etiology. Keywords: Epilepsy; seizure; classification; etiology; canine. Revisão de Literatura 682 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 682-690.

Upload: ngodung

Post on 11-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Revisão de Literatura - Medvep | Cursos, Eventos e Ediçõesmedvep.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Artigo-Mv031-17.pdf · de descargas neuronais paroxísticas, excessivas e, especial-mente,

Atualização em epilepsia canina - Parte I: Classificação, etiologia e diagnósticoCanine epilepsy update - Part I: Classification, etiology and diagnosis

Bruno Benetti Junta Torres – Professor Substituto em Anestesiologia e Cirurgia de Pequenos Animais - Universidade Federal de Lavras (UFLA). Doutorando em Ciência Animal – Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (EV/UFMG). E-mail: [email protected] De Caro Martins – Mestrando em Ciência Animal – EV/UFMG.Guilherme De Caro Martins – Médico Veterinário Residente II em Clínica Médica – EV/UFMG.Eliane Gonçalves de Melo – Professora Associada II em Clínica e Cirurgia Veterinárias - EV/UFMG.Holger Andrea Volk – Lecturer in Veterinary Neurology and Neurosurgery, The Royal Veterinary College, University of London, UK.

Torres BBJ, Martins BC, Martins GC, Melo EG, Volk HA. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação; 2011; 9(31); 682-690.

ResumoEpilepsia é um distúrbio do sistema nervoso central, caracterizado por predisposição persistente a gerar crises epilépticas recorrentes e espontâneas, em decorrência da atividade hiperssincrônica de neurônios encefálicos. Representa a afecção crônica neurológica mais comum em caninos. Este traba-lho propõe uma revisão detalhada sobre as crises epilépticas e a epilepsia canina, visando fornecer ao clínico de pequenos animais subsídios para identificar e classificar essas crises, bem como definir sua etiologia, facilitando, portanto, a instituição terapêutica adequada.

Palavras-chave: Epilepsia; crise epiléptica; classificação; etiologia; canino.

AbstractEpilepsy is a disorder of the central nervous system, characterized by a predisposition to generate per-sistent and recurrent spontaneous seizures, due to the hyper synchronous activity of brain neurons. It represents the most common chronic neurological disorder in canines. This paper proposes a detailed review of seizures and epilepsy in dogs, in order to provide benefits to the clinician to identify and classify the fits as well as define its etiology.

Keywords: Epilepsy; seizure; classification; etiology; canine.

Revisão de Literatura

682Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 682-690.

Page 2: Revisão de Literatura - Medvep | Cursos, Eventos e Ediçõesmedvep.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Artigo-Mv031-17.pdf · de descargas neuronais paroxísticas, excessivas e, especial-mente,

683Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 682-690.

Introdução e ProposiçãoEpilepsia é o distúrbio neurológico crônico mais comum

em cães e é caracterizado por atividade epiléptica espontâ-nea e recorrente. A prevalência nesta espécie é estimada em 0,5% a 5,7%(1,2,3).A maioria dos distúrbios epilépticos em cães ocorre devido à epilepsia idiopática, enquanto em ga-tos são frequentemente secundárias a um processo mórbido subclínico (4,5,6). Apenas poucos casos são diagnosticados definitivamente como epilepsia idiopática, uma vez que os métodos de imagem avançada ainda não estão amplamente difundidos na medicina veterinária brasileira (3, 7, 8).

Sabe-se que todo encéfalo possui certo limiar para desen-gatilhar crises epilépticas,limiar este que pode ser alterado por fatores variados (6), o que dará origem aos sinais neuro-lógicos associados com a área encefálica acometida. Portanto, o clínico tem que realizar um trabalho investigativo lógico e metódico para obter com sucesso um diagnóstico no paciente com crises epilépticas recorrentes.

Diante deste contexto, este trabalho propõe uma revisão detalhada sobre as crises epilépticas e a epilepsia canina, visando fornecer ao clínico de pequenos animais subsídios para identificar e classificar essas crises, bem como definir sua etiologia.

Revisão de LiteraturaTerminologiaA nomenclatura em epilepsia não é apenas forma de deli-

mitação nosológica, mas é também instrumento útil à comu-nicação entre os profissionais da área, que deve ser utilizado no senso comum (9,10).

A crise epiléptica é definida como a manifestação clínica de descargas neuronais paroxísticas, excessivas e, especial-mente, sincrônicas de uma população neuronal que, geral-mente, são auto-limitantes (6, 9, 11,12).Já o termo epilepsia deve ser utilizado para descrever um distúrbio cerebral cau-sado por predisposição persistente do cérebro a gerar tais crises epilépticas de forma espontânea e recorrente.O termo predisposição persistente do cérebro é a parte mais importan-te do conceito (10).

Assim, pela definição atual da Liga Internacional contra Epilepsia (ILAE), a ocorrência de apenas uma crise epiléptica, desde que exista a probabilidade aumentada de recorrência da mesma, é suficiente para o diagnóstico de epilepsia. Pela definição anterior da ILAE, para diagnóstico de epilepsia era necessário que o indivíduo apresentasse duas ou mais crises não causadas por fator imediato definido, ou seja, sem evi-dências de insultos agudos, como por exemplo, intoxicação (9, 10, 11, 13,14).

O termo inglês “cluster” vem sendo utilizado para des-crever crises epilépticas agrupadas, ou seja, quando ocorrem duas ou mais crises dentro de um período de 24 horas. Quan-do uma crise epiléptica se mantém ininterrupta, ou quando

Atualização em epilepsia canina - Parte I: Classificação, etiologia e diagnóstico

ocorrem crises consecutivas sem que haja um período inter-ictal, por um tempo superior a cinco minutos, utiliza-se o ter-mo status epilepticus, ou estado epiléptico (9, 11,14).

O emprego das terminologias pequeno-mal e grande-mal é obsoleto e não deve mais ser utilizado, devendo-se empre-gar os termos crises epilépticas focais (parciais) e crises epi-lépticas generalizadas - primárias ou secundárias (7). Além disso, o termo “convulsão”, amplamente difundido, não deve ser utilizado como sinônimo de crise epiléptica, uma vez que devemos levar em consideração que nem todas as crises epilépticas são “convulsivas” (15). No dicionário Au-rélio, o termo convulsão é definido como contração violenta e involuntária dos músculos ou dos membros. Convulsão é, portanto, uma terminologia que deve ser utilizada somente para descrever uma crise epiléptica generalizada com envol-vimento de componente motor.

PatofisiologiaQuando o equilíbrio entre sinapses excitatórias e inibi-

tórias de certos grupos de neurônios encefálicos é alterado, o aumento da excitação ou a diminuição da inibição pode gerar atividade epileptiforme. O glutamato e o ácido gama-amino-butírico (GABA) são os principais neurotransmissores excitatórios e inibitórios do sistema nervoso central (SNC), respectivamente (6).

Estes são conceitos muito importantes para serem en-tendidos. Ao ler este texto o seu cérebro terá que processar muitas sensações e impressões simultaneamente - memórias e emoções irão influenciar fortemente seu nível de captação das informações.Ao nível neuronal, diferentes áreas do cére-bro irão interagir umas com as outras por meio de excitação e inibição. Cada excitação é, geralmente, seguida por uma inibição do mesmo circuito. No entanto, se neurônios dispa-rarem simultaneamente e excessivamente, esta inibição pode falhar e crises epilépticas podem ocorrer. Isto pode afetar so-mente uma parte do cérebro ou sua totalidade.

É imprescindível ter em mente que as crises epilépticas são sempre um sinal de disfunção encefálica.Elas podem estar associadas à doença cerebral primária ou secundária, como doenças metabólicas ou tóxicas que afetam a excitabili-dade cerebral indiretamente (7,16).

Classificação das crises epilépticasÉ de suma importância que as crises epilépticas sejam

classificadas, já que isto pode nos guiar no levantamento diagnóstico de nosso paciente.Para que fosse possível clas-sificar as crises epilépticas em cães, foram feitas adaptações baseadas no sistema de classificação de epilepsias da ILAE utilizada em seres humanos (Figura 1) (8,11, 17,18). Essa pa-dronização permite a comparação entre os diferentes traba-lhos de epilepsia canina além da comparação dos tipos de cri-se e síndromes epilépticas encontradas em cães com aquelas encontradas em humanos (8).

Page 3: Revisão de Literatura - Medvep | Cursos, Eventos e Ediçõesmedvep.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Artigo-Mv031-17.pdf · de descargas neuronais paroxísticas, excessivas e, especial-mente,

684 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 682-690.

Atualização em epilepsia canina - Parte I: Classificação, etiologia e diagnóstico

A semiologia ictal é importante para essa classificação, que leva em conta dois parâmetros básicos: o grau de en-volvimento do SNC (generalizado ou focal) e o comprome-timento ou não da consciência do paciente. Assim, as crises epilépticas podem ser focais (parciais) ou generalizadas.Nas focais, uma região específica de um dos hemisférios cerebrais é ativada,e pode ocorrer sem perda da consciência – crises focais simples – ou com perda da consciência – crises focais complexas – sendo que ambas podem evoluir para crises epi-lépticas generalizadas secundárias.

Nas crises generalizadas, sejam primárias ou secundá-rias, há ativação simultânea de ambos os hemisférios, sempre acompanhada de perda de consciência (8, 11, 13,14,18).Alte-rações motoras, sensoriais e / ou comportamentais, estarão presentes de acordo com a região do encéfalo acometida (18).

As crises epilépticas parciais têm sido historicamente con-sideradas raras em cães, e acreditava-se que a maioria dos cães apresentasse crises epilépticas generalizadas, mais fre-quentemente, sob a forma de “convulsões”, ou seja, crises com componente motor tônico-clônico (19). Recentemente, isso tem sido questionado, e cada vez mais estudos sobre a fenomenologia clínica associada com imagem avançada e ele-troencefalografia estão mostrando que crises focais, seguidas ou não de generalização secundária, são mais comuns em cães do que se pensava (7,8,18).

Estágios de uma crise epiléptica (Figura 2)

Os sinais comuns dos períodos pré e pós-ictais são varia-dos, e incluem ataxia, agressividade, fome, farejamento, sede, comportamento destrutivo, agitação, desorientação, perse-guição da cauda, medo, olhar vidrado, exaustão, sonolência, resposta do reflexo de ameaça ausente com ou sem alteração visual, salivação, micção, vômito e defecação (20).

Classificação das epilepsiasAs crises epilépticas recorrentes associadas com doen-

ça cerebral primária podem ser amplamente caracterizadas como epilepsia idiopática (antigamente conhecida como ver-dadeira), sintomática (ou secundária)ou provável sintomáti-ca (anteriormente denominada criptogênica)(Figura 3). Algu-mas crises epilépticas são desencadeadas por anormalidades sistêmicas tóxicas ou metabólicas, que diminuem o limiar de excitabilidade neuronal e devem ser reconhecidas, não como epilepsia, mas sim como crises epilépticas reativas (6,16).

Figura 2 - Estágios da crise epiléptica em cães

Figura 3 - Classificação das epilepsias caninas

A maioria das epilepsias caninas tem sido considerada idiopática, ou seja, epilepsia primária de causa desconheci-da, mas com predisposição familiar (7). Além disso, deve-se notar, que em cães as crises focais, antes relacionadas a altera-ções estruturais centrais, estão cada vez mais sendo associa-das com epilepsia idiopática (3, 6, 8, 21).

Investigação das crises epilépticasMuitos clínicos reconhecem os casos neurológicos como

um grande e difícil desafio. Uma das razões para tal é a de que o sistema nervoso parece ser demasiadamente complexo para se entender. No entanto, uma abordagem passo a passo pode transformar a neurologia clínica em uma disciplina que qualquer profissional pode dominar. Todos os casos neuro-lógicos devem ser abordados da mesma maneira, seguindo estes passos, lembrando que a chave para o sucesso em neu-rologia é determinar a localização neuroanatômica da afecção e, em seguida, elucidar um diagnóstico (22).

Em nossa realidade, o diagnóstico deve ser feito por des-carte, como propõe o Sistema DAMNIT-V, que leva em con-

Figura 1 - Classificação das crises epilépticas em cães segundo adaptação da ILAE

Page 4: Revisão de Literatura - Medvep | Cursos, Eventos e Ediçõesmedvep.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Artigo-Mv031-17.pdf · de descargas neuronais paroxísticas, excessivas e, especial-mente,

685Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 682-690.

Atualização em epilepsia canina - Parte I: Classificação, etiologia e diagnóstico

sideração a evolução da doença subjacente que poderia gerar crises secundárias (22) (Figura 4), já que métodos de imagem avançada ainda são limitados em nossa rotina. Tais métodos permitiriam descartar afecções intracranianas possibilitando, juntamente com demais exames laboratoriais, classificar a epilepsia em idiopática.

dios e têm de recorrer ao proprietário que testemunhou os eventos sugestivos de crise epiléptica. Portanto,o levanta-mento de uma história detalhada é fundamental e a utilização de um questionário criterioso é de extrema importância (18). A primeira etapa a ser investigada em qualquer animal com suspeita de ter apresentado um quadro epiléptico é determi-nar se os episódios são realmente crises epilépticas. Síncope, narcolepsia/cataplexia, fraqueza neuromuscular e crises ves-tibulares são eventos episódicos que podem ser facilmente confundidos com crise epiléptica. Algumas crises epilépticas ocorrem secundariamente a estímulos muito específicos, por exemplo,um estímulo auditivo específico tal como o soar de uma campainha, facilmente observado pelo proprietário. São as chamados crises epilépticas reflexivas (Quadro1).

Questões específicas poderão incitar o proprietário a ava-liar se o animal apresenta um nível de consciência alterado durante o evento. Isto é feito por meio de perguntas do tipo: “Seu cão é capaz de olhar nos seus olhos durante uma crise epiléptica?” ou “Seu cão é capaz de responder ao seu chama-do durante uma crise epiléptica?”. Embora subjetivas,essas informações podem ser preciosas para diferenciar entre crises epilépticas focais simples, complexas ou generalizadas, prin-cipalmente quando associadas à informações de questionário detalhado e observação de filmagens do episódio.

Características de uma crise epiléptica (Quadro 1)

Figura 4 - Sistema DAMNIT-V para diagnósticos diferenciais de afecções neurológicas

Figura 5 - Raças caninas com predisposição hereditária a epilepsias idiopáticas

Fatores predisponentesOs sinais clínicos da epilepsia idiopática canina se iniciam,

mais comumente, entre as idades de seis meses a cinco anos (23). Se as crises epilépticas começarem fora desta faixa etá-ria, o clínico deve estar alerta para a possibilidade de outras causas prováveis. Muitas raças apresentam predisposição para a epilepsia (1, 2, 3, 24-35) (Figura 5).Se o animal apresen-ta uma história familiar de crises epilépticas, isto pode forte-mente apontar para epilepsia idiopática. Recentemente, raças associadas a síndromes epilépticas benignas têm sido descri-tas. Alguns dos cães afetados apresentam crises epilépticas apenas durante o primeiro ano de vida (principalmente crises epilépticas parciais), o que tem sido relatado, por exemplo, na raça Lagotto Romagnolo (34).

HistóricoOs médicos veterinários raramente presenciam os episó-

As crises epilépticas são estereotipadas, ou seja, cada uma assemelha-se com as demais, porque a atividade epiléptica

Page 5: Revisão de Literatura - Medvep | Cursos, Eventos e Ediçõesmedvep.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Artigo-Mv031-17.pdf · de descargas neuronais paroxísticas, excessivas e, especial-mente,

686 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 682-690.

Atualização em epilepsia canina - Parte I: Classificação, etiologia e diagnóstico

originada a partir de um foco epileptogênico tende a seguir um mesmo padrão em um mesmo paciente. Porém, esporadi-camente, podem ocorrer diferentes tipos de crises epilépticas em um mesmo paciente. Por exemplo, nos Dachshunds com epilepsia mioclônica progressiva, podem ocorrer tanto crises epilépticas mioclônicas quanto generalizadas tônico-clonicas (36).

Classicamente, em uma crise epiléptica generalizada tô-nico-clônica, o animal torna-se rígido (fase tônica) e colapsa em decúbito lateral. Se o proprietário descreve o animal como flácido, então o clínico deve considerar improvável a ocor-rência de uma crise epiléptica e deve investigar síncope ou cataplexia como explicações mais prováveis.

Exame físicoDeverá ser dada atenção especial aos sistemas cardiovas-

cular e neuromuscular. Animais com doença cardíaca podem apresentar síncope, enquanto animais com distúrbios intra-cranianos de caráter estrutural ou inflamatório/infeccioso que afetam as meninges, a dor cervical pode estar presente. Todas essas alterações podem gerar sinais clínicos que po-dem mimetizar crises epilépticas (22). Outros exemplos de alterações que podem ser confundidas com crises epilépticas serão discutidos adiante. Animais com crise epiléptica rela-cionada a patologias extracranianas podem apresentar algu-ma evidência de doença sistêmica, daí a importância de um exame físico meticuloso.

Exame neurológicoEmbora o exame neurológico seja uma ferramenta vital

em todas as apresentações neurológicas, inclusive para o paciente epiléptico, devemos considerar que é comum que estes animais apresentem algum déficit neurológico residu-al após uma atividade epiléptica, independentemente da causa da crise epiléptica. Estes déficits tendem a ser sinais da disfunção cerebral e incluem alterações comportamentais tais como ansiedade, agressividade e confusão; cegueira de origem central (reflexos pupilares normais ao estímulo lumi-noso); miose contralateral à lesão (devido à desinibição do núcleo oculomotor); ataxia / paresia e discretos déficits da propriocepção consciente; e déficits da resposta do reflexo de ameaça, mesmo na presença de visão normal (20). Estes si-nais normalmente duram de algumas horas até alguns dias, mas ocasionalmente podem durar mais de uma semana após clusters (crises epilépticas agrupadas) ou status epilepticus. Normalmente, porém, cães com epilepsia idiopática são neu-rologicamente normais nos períodos entre crises epilépticas, uma vez que os sinais pós-ictais tenham desaparecido (16).

EtiologiaIdentificação das causas extracranianas de crises epilép-

ticas (Figura 6)

Identificação das causas intracranianas de crises epilép-ticas (Figura 7)

Figura 6 - Identificação extra-craniana de crises epilépticas

Figura 7 - Identificação das causas intra-cranianas de crises epilépticas

Sinais Clínico-NeurológicosDoenças intracranianas (Quadro 2)Lesões estruturais do prosencéfalo podem causar défi-

cits neurológicos lateralizados, tais como andar em círculos, pressionar a cabeça contra objetos, andar compulsivo e deso-rientado, redução unilateral dos testes de reações posturais, déficit assimétrico da resposta do reflexo de ameaça e déficits sensitivos. Lesões supratentoriais podem causar hiperestesia cervical cranial. Anisocoria pode ser observada se houver pressão intracraniana elevada afetando o nervo oculomotor. A crise epiléptica pode ser o primeiro sinal de uma doença estrutural encefálica, tal qual uma neoplasia cerebral afetan-do especialmente áreas que não são possíveis de se avaliar apenas com o exame neurológico (por exemplo, no lobo olfa-tório). É importante lembrar que a marcha em animais pode estar relativamente normal, mesmo em lesões estruturais gra-

Page 6: Revisão de Literatura - Medvep | Cursos, Eventos e Ediçõesmedvep.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Artigo-Mv031-17.pdf · de descargas neuronais paroxísticas, excessivas e, especial-mente,

687Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 682-690.

Atualização em epilepsia canina - Parte I: Classificação, etiologia e diagnóstico

ves do prosencéfalo. Traumas cranianos podem causar crise epiléptica que se inicia imediatamente após a lesão encefálica ou anos mais tarde, devido possivelmente a reorganização de circuitos excitatórios e alteração da expressão de receptores sinápticos (16,22,37).

Doenças extracranianasUma vez que as alterações metabólicas e tóxicas apresen-

tam efeitos difusos e simétricos sobre o cérebro, as crises epi-lépticas tendem a ser generalizadas e simétricas desde seu início. Pode haver alterações de melhora e piora do nível de consciência.Os animais podem apresentar-se prostrados, com cegueira central - reflexo pupilar normal ao estímulo lumino-so, com ausência de visão e do reflexo de ameaça. Em casos mais graves, o tronco encefálico e o cerebelo podem também estar afetados, mas isso geralmente provoca déficits simétri-cos (22,37).

Levantamento diagnósticoO banco de dados mínimo faz a triagem dos distúrbios

metabólicos ou sistêmicos (Quadros 3 e 4). O banco de dados mais completo inclui a análise de líquido cérebro espinhal e exames de imagem avançada (37).

Quadro 2

Quadro 3

Quadro 4

Análise do líquido cerebroespinhal (LCE)É sempre recomendado em animais comdéficits neuro-

lógicos multifocais ou evidência de inflamação do SNC ao exame de ressonância magnética (RM), a menos que haja sus-peita de aumento da pressão intracraniana, ou caso edema ou hérnia encefálicos tenham sido observados à RM. Pode ser o único método de detecção de uma doença inflamatória do SNC, embora o exame de RM provavelmente indicará sinais de inflamação na maioria dos casos (22).

Imagem de grandes cavidades corporaisTais exames não são, necessariamente,indicados para to-

dos os pacientes com crises epilépticas, porém, eles são im-portantes quando certos achados clínicos, especialmente se uma condição neoplásica ou hepatopatia são consideradas.Imagem abdominal (incluindo portovenografia) é útil para determinar a presença e tipo de anastomose portossistêmi-ca, ou para determinar sinais menos específicos de doença hepática grave, tais como diminuição do fígado ou grandes lesões adquiridas, por exemplo, neoplasia causando anasto-mose portossistêmica adquirida.O aumento das glândulas adrenais,bilateralmente, pode ser visto em hiperadrenocor-ticismo hipófise-dependente.Essas massas hipofisárias irão causar crises epilépticas se o cérebro estiver suficientemente comprimido pela lesão e pode estar associado com déficits visuais (22).

Page 7: Revisão de Literatura - Medvep | Cursos, Eventos e Ediçõesmedvep.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Artigo-Mv031-17.pdf · de descargas neuronais paroxísticas, excessivas e, especial-mente,

688 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 682-690.

Atualização em epilepsia canina - Parte I: Classificação, etiologia e diagnóstico

Tomografia computadorizada (TC)Esta modalidade oferece menos detalhes na avaliação do

parênquima encefálico, no entanto, pode ser uma ferramenta vital em alguns pacientes com crises epilépticas.Em animais com histórico de trauma e suspeita de fraturas no crânio ou hemorragia extra ou intradural, TC pode ser usado em vez de,ou em conjunto com a ressonância magnética (22).

Ressonância magnética (RM)As crises epilépticas são, geralmente, oprimeiro e único

sinalinicial deneoplasiaintracraniana.Portanto, semexames avançados de imagem,esta possibilidade nãopode ser exclu-ída (16).No entanto,a probabilidade de encontraruma lesão estruturalem um cão comcrises epilépticasrecorrentesé supe-rioraos seis anosde idade ou mais, e, nestes casos,RM ou TC são de extrema importância(22). Em animais jovens semdé-ficits neurológicos, é pouco provável que lesões estruturais encefálicas sejam evidenciadas na RM de baixocampo (16).

As crises epilépticas em si podem causar anormalidades transitórias na imagem de RM, sendo mais comuns as mu-danças simétricas de sinal nos lobos temporais e piriformes de cães (38). A imagem de RM nem sempre oferece a resposta definitiva.Ausência de anormalidades específicas tem sido associada com epilepsia idiopática e algumas lesões encefáli-cas são incidentais, por exemplo, ventrículos laterais assimé-tricos e alguns cistos aracnóides. A imagem da RM na medici-na veterinária pode ainda não ser avançada o suficiente para acusar alterações discretas (16), que já podem ser detectadas em seres humanos, tais como a displasias corticais.As lesões mais comuns observadas na RM que provocam as crises epi-lépticas incluem neoplasia intracraniana(como meningiomas ou gliomas) e doença inflamatória do SNC que envolve o cé-rebro (por exemplo, meningoencefalite granulomatosa, toxo-plasmose e neosporose) (6,39, 40).

Historicamente, a doença cerebrovascular vinha sendo considerada pouco comum em cães.No entanto, com a cres-cente disponibilidade do exame de RM vem tornando-se cla-ro que acidentes vasculares encefálicos (AVE), sejam isquê-micos ou hemorrágicos, ocorrem em cães.Especificamente,as crises epilépticas, embora não sejam os sinais clínicos mais frequentes em pacientes animais e humanos com AVE, po-dem desenvolver-se como consequência de infarto secundá-rio a oclusões da artéria cerebral(41).Tipicamente, um AVE isquêmico é caracterizado pela mudança de sinal no exa-me de RM devido a infarto territorial e tendem a ser lesões triangulares bem delimitadas. Crises epilépticas nem sempre ocorrem imediatamente após um AVE, mas podem ocorrer semanas, meses ou anos mais tarde, provavelmente secundá-ria as alterações e reorganizações moleculares, celulares e de redes neurais que seguem a injúria inicial e levam à excitabi-lidade cerebral aumentada (41).

Eletroencefalografia (EEG)

A EEG é um registro de atividade elétrica espontânea do córtex cerebral e é utilizada para estudar a fisiopatologia e características elétricas das crises e auxiliar na definição do tipo da desordem epiléptica (42,43). Tem sido empregada em medicina veterinária desde a década de 1950, embora não seja utilizada atualmente como uma ferramenta rotineira de diagnóstico em muitos centros veterinários.Tecnicamente, torna-se difícil a aquisição de traçados em cães conscientes sem artefatos e, assim, a sedação torna-se necessária, o que também pode gerar artefatos (42, 43). No entanto, é um tes-te funcional, e é a única forma de confirmar atividade epi-leptiforme e identificar um foco epileptogênico (44).Por isso, apresenta um papel fundamental no planejamento da cirur-gia para retirada do foco epileptogênico (6,40). Também tem sido utilizada para monitorar o sucesso do tratamento antie-piléptico, inclusive durante o status epilepticus (45).

Outros eventos que podem mimetizar crises epilépticasSíncope devido à doença cardíaca: perda parcial ou total

da consciência é observada. No entanto, estes eventos geral-mente ocorrem na ausência de qualquer atividade motora, não apresentam sinais pós-ictais e são de duração muito mais curta do que uma crise epiléptica. Além disso, síncope é mais provável de ocorrer durante exercício do que em repouso, ao contrário de crises epilépticas (6).

Narcolepsia: é uma alteração do ciclo sono-vigília. Tem sido relacionada com um defeito no gene do receptor 2 de hipocretina (46) ou a níveis reduzidos de hipocretina (47). A condição é caracterizada por padrões de sono alterados. Alguns dos cães afetados também apresentam ataques cata-pléticos, que podem ser estimulados pela emoção, estresse, alimentação e farmacologicamente (por exemplo: quetamina, fisiostigmina). Durante a queda, os cães estão flácidos, com perda completa de tônus muscular. É uma condição hereditá-ria no Dobermann Pinscher, Labrador Retriever e Dachshund (46).

Dor: animais com dor espinhal grave, apresentados com histórico de rigidez muscular que pode ser grave o suficiente para causar “travamento” abrupto ao caminhar, espasmo no pescoço e flexão de membro secundária à dor radicular (sinal de raiz nervosa) (22). Isto pode ser confundido com atividade epiléptica, mas uma anamnese detalhada e o exame de um ví-deo mostrando o episódio, associados a um cuidadoso exame físico e neurológico, pode elucidar o real problema clínico.

Sinais vestibulares periféricos: podem ser confundidos com crises epilépticas. Entretanto, ataques vestibulares peri-féricos nunca causam alteração da consciência e podem ser facilmente caracterizados por meio de um exame neurológico cuidadoso, atentando para os sinais cardeais de doença vesti-bular: desvios da cabeça, nistagmo e ataxia (22).

Page 8: Revisão de Literatura - Medvep | Cursos, Eventos e Ediçõesmedvep.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Artigo-Mv031-17.pdf · de descargas neuronais paroxísticas, excessivas e, especial-mente,

689Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 682-690.

Atualização em epilepsia canina - Parte I: Classificação, etiologia e diagnóstico

Distúrbios do movimento: têm sido cada vez mais reco-nhecidos em cães, principalmente nas raças Cavalier King Charles Spaniel (48), Terrier Norueguês (49), Boxer (50), Bichón Frise (51). O mais conhecido dentre eles é o Scottie-cramp, ou câimbras do Terrier Escocês (52), que parece estar associado à alteração da serotonina na medula espinhal. Tais câimbras são frequentemente desencadeadas por estresse ou exercício e, os animais podem cair durante um episódio de contração muscular.

Esses distúrbios podem ser diferenciados de atividade epiléptica motora parcial pelo caráter dos episódios, a ausên-cia de aura precedente identificável (atividade epiléptica sen-sorial), ausência de sinais autonômicos e não generalização ou comprometimento da consciência.

ConclusãoA identificação e classificação das crises epilépticas nos

cães podem ser uma tarefa difícil,uma vez que o veteriná-rio raramente tem a chance de testemunhar o evento em si, e, geralmente, tem que confiar nas observações e relatos do proprietário. O exame de eletroencefalografia confirmaria um evento epileptiforme, entretanto, ainda não é utilizado rotineiramente em neurologia veterinária. Portanto, torna-se imprescindível investigar detalhadamente o histórico do paciente, utilizar um questionário para arguir o proprietário, bem como incentivá-lo a registrar em vídeos os episódios em si. O conjunto dessas informações,associado com exames clínico-neurológico e laboratoriais, será útil para determinar a existência,classificar o tipo de crise epiléptica e definir sua etiologia.

Referências1. Bielfelt SW, Redman HC, Mc clellan RO. Sire- and sex-related differences in

rates of epileptiform seizures in a purebred beagle dog colony. Am J Vet Res. 1971;32(12):2039-48.

2. Berendt M, Greda lH, Pedersen LG, Alban L, Alving J. A cross-sectional study of epilepsy in Danish Labrador Retrievers: prevalence and selected risk factors. J Vet Intern Med. 2002;16(3):262-8.

3. Patterson EE, Armstrong PJ, O’brien DP, Roberts MC, Johnson GS, Mickelson JR. Clinical description and mode of inheritance of idiopathic epilepsy in English springer spaniels. J Am Vet Med Assoc. 2005; 226(1):54-8.

4. Quesnel AD, Parent JM, Mcdonell W. Clinical management and outcome of cats with seizure disorders: 30 cases (1991-1993). J Am Vet Med Assoc. 1997;210(1):72-7.

5. Knowles K. Idiopathic epilepsy.Clin Tech Small Anim Pract. 1998;13(3):144-51.

6. Chandler K. Canine epilepsy: what can we learn from human seizure disorders? Vet J. 2006; 172(2):207-17.

7. Berendt M, Gram L. Epilepsy and seizure classification in 63 dogs: a reappraisal of veterinary epilepsy terminology. J Vet Intern Med. 1999; 13(1):14-20.

8. Licht BG, Licht MH, Harper KM, Lin S, Curtin JJ, Hyson LL, et al. Clinical presen-tations of naturally occurring canine seizures: similarities to human seizures. Epilepsy Behav. 2002;3(5):460-470.

9. Fisher RS, Van Em de Boas W, Blume W, Elger C, Genton P, Lee P, et al. Epi-leptic seizures and epilepsy: definitions proposed by the International League Against Epilepsy (ILAE) and the International Bureau for Epilepsy (IBE).Epilep-sia. 2005;46(4):470-2.

10. Guilhoto LMFF, Muszkat, RS, Yacubian EMT. Consenso terminológico da associa-

ção brasileira de epilepsia.J. epilepsy clin.neurophysiol. 2006;12(3):175-7.

11. Engel J JR; International League Against Epilepsy (ILAE). A proposed diagnostic scheme for people with epileptic seizures and with epilepsy: report of the ILAE Task Force on Classification and Terminology. Epilepsia. 2001;42(6):796-803.

12. Berendt M, Greda lH, Ersboll AK, Alving J. Premature death, risk factors, and life patterns in dogs with epilepsy. J Vet Intern Med. 2007;21(4):754-9.

13. Proposal for revised classification of epilepsies and epileptic syndromes. Com-mission on Classification and Terminology of the International League Against Epilepsy. Epilepsia. 1989;30(4):389-99.

14. Engel J JR. ILAE classification of epilepsy syndromes. Epilepsy Res. 2006;70 (Suppl 1):S5-10.

15. Moreno Gómez I. Reflections on classification of epileptic seizures. Rev Neurol. 2002;34(6):532-6.

16. Smith PM, Talbot CE, Jeffery ND. Findings on low-field cranial MR images inepi-leptic dogs that lack interictal neurological deficits. Vet J. 2008;176(3):320-5.

17. Podell M. Seizures in dogs. Vet Clin North Am Small Anim Pract. 1996;26(4):779-809.

18. Berendt M, Gredal H, Alving J. Characteristics and phenomenology of epileptic partial seizures in dogs: similarities with human seizure semiology. Epilepsy Res. 2004;61(1-3):167-73.

19. Schwartz-Porsche, D. Seizures. In: Braund, K.G. (Ed), Clinical Syndromes in Veterinary Neurology. St. Louis: Mosby,1994. p.234-251.

20. Shihab N, Bowen J, Volk HA. Behavioral changes in dogs associated with the development of idiopathic epilepsy. Epilepsy Behav. 2011;21(2):160-7.

21. Volk HA, Matiasek LA, Luján Feliu-Pascual A, Platt SR, Chandler KE. The efficacy and tolerability of levetiracetam in pharmaco resistant epileptic dogs. Vet J. 2008;176(3):310-9.

22. Delahunta A, Glass E. Veterinary neuroanatomy and clinical neurology. 3rd ed. St. Louis:Saunders, 2009.

23. Chandler, K, Volk, HA. Seizures: intracranial or extracranial disease? In PracticePractice2008;30:366-73.

24. Falco MJ, Barker J, Wallace ME. The genetics of epilepsy in the British Al satian. J Small Anim Pract. 1974;15(11):685-92.

25. Srenk P, Jaggy A. Interictal electroencephalographic findings in a family of gol-den retrievers with idiopathic epilepsy. J Small Anim Pract. 1996;37(7):317-21.

26. Jaggy A, Faissler D, Gaillard C, Srenk P, Graber H. Genetic aspects of idiopathic epilepsy in Labrador retrievers. J Small Anim Pract. 1998;39(6):275-80.

27. Hall SJ. Canine idiopathic epilepsy.J Small Anim Pract. 1999;40(4):192.

28. Kathmann I, Jaggy A, Busato A, Bärtschi M, Gaillard C. Clinical and genetic investigations of idiopathic epilepsy in the Bernese mountain dog. J Small Anim Pract. 1999;40(7):319-25.

29. Famula TR, Ober bauer AM. Segregation analysis of epilepsy in the Belgian Tervueren dog. Vet Rec. 2000;147(8):218-21.

30. Patterson EE, Mickelson JR, DA Y, Roberts MC, Mcvey AS, O’brien DP, et al. Clinical characteristics and inheritance of idiopathic epilepsyin Vizslas. J Vet Intern Med. 2003;17(3):319-25.

31. Casa lML, Munuve RM, Janis MA, Werner P, Henthorn PS. Epilepsy in Irish Wolf hounds. J Vet Intern Med. 2006;20(1):131-5.

32. Viitmaa R, Cizinauskas S, Bergamasco LA, Kuusela E, Pascoe P, Teppo AM, et al. Magnetic resonance imaging findings in Finnish Spitz dogs with focal epilepsy. J Vet Intern Med. 2006;20(2):305-10.

33. Jeserevics J, Viitmaa R, Cizinauskas S, Sainio K, Jokinen TS, Snellman M, et al. Electroencephalography findings in healthy and Finnish Spitz dogs with epilepsy: visual and background quantitative analysis. J VetIntern Med. 2007;21(6):1299-306.

34. Jokinen TS, Metsähonkala L, Bergamasco L, Viitmaa R, Syrjä P, Lohi H, et al. Benign familial juvenile epilepsy in Lagotto Romagnolo dogs. J Vet Intern Med. 2007;21(3):464-71.

35. Licht BG, Lin S, Luo Y, Hyson LL, Licht MH, Harper KM, et al. Clinical characte-ristics and mode of inheritance of familial focal seizures in Standard Poodles. J Am Vet Med Assoc. 2007;15;231(10):1520-8.

36. Loh H, Young EJ, Fitzmaurice SN, Rusbridge C, Chan EM, Vervoort M, et al. Expanded repeat in canine epilepsy. Science. 2005;307(5706):81.

37. Lorenz MD, Kornegay JN. Handbook of Veterinary Neurology. 4th ed. Philadel-phia :Saunders, 2004.

38. Mellema LM, Koblik PD, Kortz GD, Lecouteur RA, Chechowitz MA, Dickinson PJ. Reversible magnetic resonance imaging abnormalities in dogs following seizu-

Page 9: Revisão de Literatura - Medvep | Cursos, Eventos e Ediçõesmedvep.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Artigo-Mv031-17.pdf · de descargas neuronais paroxísticas, excessivas e, especial-mente,

690 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 682-690.

Atualização em epilepsia canina - Parte I: Classificação, etiologia e diagnóstico

res.Vet Radiol Ultrasound. 1999;40(6):588-95.

39. Stewart WA, Parent JM, Towner RA, Dobson H. The use of magnetic resonance imaging in the diagnosis of neurological disease. Can Vet J. 1992;33(9):585-90.

40. De Tiège X, Harrison S, Laufs H, Boyd SG, Clark CA, Allen P, et al. Impact of interictal epileptic activity on normal brain function in epileptic encephalopa-thy: an electroencephalography-functional magnetic resonance imaging study. Epilepsy Behav. 2007;11(3):460-5.

41. Garosi L, Mcconnell JF, Platt SR, Barone G, Baron JC, De Lahunta A, et al. Clinical and topographic magnetic resonance characteristics of suspected brain infarction in 40 dogs. J Vet Intern Med. 2006;20(2):311-21.

42. Holliday TA, Williams DC. Interictal paroxy smal discharges in the electroence-phalograms of epileptic dogs.Clin Tech Small Anim Pract. 1998;13(3):132-43.

43. Pellegrino FC, Sica RE. Canine electroencephalographic recording technique: findings in normal and epileptic dogs. Clin Neurophysiol. 2004;115(2):477-87.

44. Greda lH, Berendt M, Leifsson PS. Progressive myoclonus epilepsy in a beagle. J Small Anim Pract. 2003;44(11):511-4.

45. Serrano S, Hughes D, Chandler K. Use of ketamine for the management of refractory status epilepticus in a dog. J Vet Intern Med. 2006;20(1):194-7.

46. Mignot E, Wang C, Rattazzi C, Gaiser C, Lovett M, Guilleminault C, et al. Genetic linkage of autosomal recessive canine narcolepsy with a muimmunoglobulin he-avy-chain switch-like segment. Proc Natl Acad Sci U S A. 1991;88(8):3475-8.

47. Schatzberg SJ, Cutter-SchatzbergK, Nydam D, Barrett J, Penn R, Flanders J, et al. The effect of hypocretin replacement therapy in a3-year-old Weimaraner with narcolepsy. J Vet Intern Med. 2004;18(4):586-8.

48. Herrtage ME, Palmer AC. Episodic falling in the cavalier King Charles spaniel.Vet Rec. 1983;112(19):458-9.

49. Furber, R. Norwich Terriers. Vet Rec. 1984:1.

50. Ramsey IK, Chandler KE, Franklin RJ. A movement disorder in boxer pups. Vet Rec. 1999;144(7):179-80.

51. Penderis J, Franklin RJ. Dyskinesia in an adult bichon frise. J Small Anim Pract. 2001;42(1):24-5.

52. Meyers KM, Schaub RG. The relation ship of serotonin to a motor disorder of Scottish terrier dogs. Life Sci. 1974;14(10):1895-906.

Recebido para publicação em: 28/09/2011.Enviado para análise em: 04/10/2011.Aceito para publicação em: 06/10/2011.