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A água reaproveita-se: da banheira para o autoclismo ou do reservatório de água da chuva para lavar ruas, Municípios e cidadãos têm a missão de evitar o desperdício de água se de cada vez que tomar duche, ao invés de deixar escorrer a água pelo ralo da banheira, a reaproveitar _ para substituir as descargas do autoclismo? A palavra poupança parece gasta, mas ganha vida com números: gastamos, em média, cerca de 80 litros de água por duche. Ora, 10 litros poderão ser descarregados de cada vez que usa o autoclismo. estas ações significam mais de 60% do consumo total de água em cada lar. Escoar água de um sítio para outro é uma forma simples de evitar desperdiçar um bem essencial. Em cálculos médios, a dimensão de uma família portuguesa é de 3,1 pessoas, logo o consumo diário de descargas de autoclismos ronda os 124 litros, se cada elemento pressionar 4 vezes o botão da descarga. este equipamento representa, por ano, 45 mil litros de água, que cabem numa piscina com 5 metros de comprimento, 4,5 de largura e 2 de altura. É possível substituir esta imagem de grandeza por outra mais sustentável: um ciclo de reaproveitamento e de retenção de milhares de litros das chamadas águas cinzentas. Basta reutilizar a água dos duches e dos lavatórios. A adaptação a este cenário requer a instalação de reservatórios para armazenar aquelas águas, além de também poderem servir para reter água da chuva. Na maioria dos casos, os grandes depósitos podem ser subterrâneos, mas os mais pequenos, destinados ao abastecimento dos autoclismos podem ser embutidos numa das paredes da casa de banho ou Reutilizar água O

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Page 1: Reutilizar água O - clipquick.com§ão para lavar ruas pode reduzir o consumo de água potável do município até 9 por cento. Mais: se metade da água usada na rega tiver origem

A água reaproveita-se: da banheira para o autoclismoou do reservatório de água da chuva para lavar ruas,Municípios e cidadãos têm a missão de evitaro desperdício de água

se de cada vez que tomarduche, ao invés de deixarescorrer a água pelo ralo da

banheira, a reaproveitar_ para substituir as descargas

do autoclismo? A palavra poupança parecegasta, mas ganha vida com números:

gastamos, em média, cerca de 80 litros de

água por duche. Ora, 10 litros poderão ser

descarregados de cada vez que usa oautoclismo. Só estas ações significam maisde 60% do consumo total de água em cadalar. Escoar água de um sítio para outro é

uma forma simples de evitar desperdiçarum bem essencial.Em cálculos médios, a dimensão de uma

família portuguesa é de 3,1 pessoas, logo o

consumo diário de descargas deautoclismos ronda os 124 litros, se cadaelemento pressionar 4 vezes o botão da

descarga. Só este equipamento representa,por ano, 45 mil litros de água, que cabemnuma piscina com 5 metros de

comprimento, 4,5 de largura e 2 de altura.É possível substituir esta imagem de

grandeza por outra mais sustentável: umciclo de reaproveitamento e de retençãode milhares de litros das chamadas águascinzentas. Basta reutilizar a água dosduches e dos lavatórios.A adaptação a este cenário requer a

instalação de reservatórios para

armazenar aquelas águas, além detambém poderem servir para reter águada chuva. Na maioria dos casos, os

grandes depósitos podem sersubterrâneos, mas os mais pequenos,destinados ao abastecimento dos

autoclismos podem ser embutidos numadas paredes da casa de banho ou

Reutilizar água O

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»colocados no armário do lavatório. Estão

excluídas as águas negras, originárias de

sanitas, lava-loiças e máquinas de lavar.

Reciclar é prioritário, mas poucoOutra via sustentável é o reaproveitamentode águas residuais urbanas e de chuva.Embora algumas regiões possam jáencarar esta filosofia como prioritária na

gestão sustentável dos recursos hídricos,na prática, poucas são as águasreutilizadas, mesmo em zonas com maiorescassez hídrica, como, por exemplo, o

Alentejo e o Algarve. Trata-se de uma

realidade contraditória face aos períodosde seca prolongada, que reforçam anecessidade de alternativas mais

adequadas do ponto de vista ambiental e

financeiro. As previsões de alteraçõesclimáticas traçam um cenário pessimistano sul do País quanto à disponibilidade derecursos hídricos. Por essa razão, a

reutilização da água para usos não

potáveis deve ser um imperativo,sobretudo na rega agrícola, paisagística,de campos de golfe, no funcionamento de

equipamentos de unidades hoteleiras e

outros usos recreativos, mas também na

indústria e na recarga de aquíferos. Estes

setores representam a grande fatia dosconsumos com requisitos de qualidadeinferiores aos da água para consumohumano. Mas este tipo de reciclagem,muito utilizada noutros países, comoAustrália, Espanha e Estados Unidos da

América, quase não tem expressão em

Portugal, a não ser no Algarve, onde

alguns campos de golfe são regados com

água reutilizada.A tecnologia que trata águas residuais, atéao nível de qualidade pretendido, abrecada vez mais o caminho para encarar a

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reutilização como a solução ambiental

para evitar o desperdício. Até porque háuma significativa taxa de cobertura do

serviço de tratamento de águas residuaisurbanas. Em 2013, prevê-se que, com o

Plano Estratégico para o Abastecimento de

Água e Saneamento de Águas Residuais 11,

abranja 90% da população portuguesa.

Poupar um terço de água potávelEspaços verdes, fontanários, jogos de

água, ruas, rega, coletores, lagos elavadouros originam gastos muitoelevados de água. Aliás, quase 50% doconsumo dos municípios relaciona-se coma rega de espaços verdes ou similares.Se tivermos em conta os milhares de litros

gastos com lavagem de ruas e pavimentos,contentores, regas de jardim, entre outros,e sabendo que muitas destas utilizaçõesnão necessitam de água de grandequalidade, esta situação torna-se

preocupante. O enorme potencial de

poupança centra-se no reaproveitamentode águas cinzentas e da chuva. A sua

reutilização para lavar ruas pode reduzir oconsumo de água potável do município até9 por cento. Mais: se metade da águausada na rega tiver origem em águaspluviais e residuais tratadas, haveria umaredução adicional de 23 por cento. A

aplicação das duas medidas permitiriapoupar cerca de 1/3 de água potável. As

câmaras municipais têm a tarefa deinvestir na redução dos consumos e do

desperdício. No terreno, um passoincontornável é ordenar o espaço público,privilegiando, por exemplo, a retenção,aproveitamento e infiltração de águaspluviais, e separar as redes de drenagemde águas pluviais das residuais.Os incentivos para encorajar a instalaçãode dispositivos, equipamentos ou a adoçãode práticas em usos exteriores mais

eficientes, não é ainda uma realidade emPortugal. Porém, e sobretudo em regiõesonde é determinante alterar os padrões de

consumo, é essencial captar os cidadãosatravés de incentivos. Um deles é a

disponibilização de serviços de apoiotécnico gratuitos ou a preço reduzido paraviabilizar economicamente a aplicação desistemas domésticos ou coletivos parareutilizar água, sobretudo ao nível da

construção ou reabilitação de edifícioshabitacionais ou de serviços, noplaneamento de espaços verdes e de zonasagrícolas, por exemplo.

Aproveitamento na rega e nas ruasApesar do elevado grau de contaminação,as águas residuais, provenientes dossistemas de saneamento após tratamentoem Estações de Tratamento de Águas

"A substituição total da águade descarga por águareutilizada permiteeconomizar € 52 por ano"

A reutilização da água é uma ideia, porvezes, mal entendida pelos cidadãos.Quais as razões para esta situação?Em muitos municípios, o preço cobradoestá muito aquém do custo real da água,As águas aptas à produção estão, multasvezes, longe do local onde sãoconsumidas e os custos de tratamentosão cada vez mais elevados. Assim, a

necessidade de poupar e de reutilizar

águas com requisitos mínimos de

qualidade não é ainda percebida damesma forma pelos consumidores. Alémdisso, a maioria dos cidadãos desconheceos sistemas que o permitem fazer.

Qual a Importância e potencial domercado da reutilização de água?As descargas dos autoclismos, a rega de

jardins e a limpeza de pavimentosexteriores, por exemplo, está a ser feitacom água própria para consumo humano.Esta água, captada algures, muitas vezesa mais de 100 quilómetros, é transportadaem redes de distribuição, construídas

propositadamente, desinfetada econtrolada diariamente em laboratórios.Trata-se de água boa de mais para muitosfins a que se destina. Por isso, começam a

aparecer algumas iniciativas nesta área,mas quase só relacionadas com a rega de

campos de golfe e, em raros casos, na

reutilização da água das ETAR na limpezade ruas. Mas é um setor que podedesenvolver-se bastante, desde que hajaa perceção da necessidade da reutilizaçãopor parte dos intervenientes: legisladores,fabricantes de equipamentos,consumidores e municípios.

Numa família de 4 elementos, qual o

potencial de poupança na reutilização de

águas cinzentas?Esse cenário pode significar um consumonulo de água potável no abastecimentodos autoclismos, 0 valor exato desta

poupança depende da capacidade do

autoclismo e do número de vezes que éutilizado. Um modelo de 10 litros e sem

dupla descarga é responsável por um

gasto médio anual de cerca de 58 mil

litros. Se a bóia que controla o nível deenchimento for ajustada para o volumede 6 litros de descarga, a poupança anualé de 23 mil litros de água. Ao substituir o

mecanismo de descarga simples por umoutro de dupla descarga (3 a 6 litros) a

poupança pode chegar aos 36 mil litros.A substituição total da água de descargapor água reutilizada é o melhor cenário,permitindo economizar € 52 por ano,tendo em conta o custo médio do m 3deágua, Com usos exteriores, como a

limpeza de pavimentos e rega, a

poupança facilmente atinge o dobro.

Qual a viabilidade de reutilização de

águas cinzentas em edifícios construídosde raiz e em casas em reabilitação?A água dos duches e lavatórios é mais do

que suficiente para abastecer osautoclismos de uma casa. Em espaçosexteriores, como terraços ou outrassuperfícies empedradas, estas águaspodem também ser reutilizadas. Em

projeto, não é complicado instalar uma

parte da rede de distribuição, com origemna banheira e lavatório, passando por um

depósito onde se armazenam as águascinzentas até abastecerem osautoclismos ou torneiras para certosusos exteriores, Esta rede e depósitopode, inclusive, ser abastecida com águada chuva, aumentando a rentabilidade do

processo. Esta estrutura poderá tambémser aplicada com facilidade na

reabilitação de edifícios.

Sílvia Menezes,técnica DECO PROTESTE

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Residuais (ETAR), têm um grandepotencial de aproveitamento. Desde que

adequadamente tratadas e cumprindo os

parâmetros da legislação que permite a

integração das águas residuais na

natureza, podem incluir usos urbanos não

potáveis, como lavagem de ruas e

passeios, veículos, embelezamentourbanístico, combate a incêndios, bem

como a rega. Mas a sua composição deve

assegurar a salvaguarda da saúde públicae do meio ambiente, pelo risco de

disseminação de agentes patogénicos.A este nível, a reutilização de água pararega agrícola é a mais regulamentada,correspondendo também à que reutilizamaior volume. Na rega de relvados, porexemplo, os aspersores de baixo alcancesó devem ser usados em períodosnoturnos. Funcionários e utilizadores das

instalações devem ser informados sobre as

implicações deste tipo de rega. Outra dascondicionantes da reutilização de águaresidual tratada é a distância de

transporte: não é viável em espaços a maisde 25 quilómetros de distância da ETAR.Além disso, é necessário prever umdepósito de armazenamento.

Lavar o carro com água recicladaA recirculação de água nas estações de

lavagem de veículos permite reduzir oconsumo de água, o que significa tambémum menor volume de água a descarregarna rede de drenagem de águas residuais.A recirculação da água deve funcionarcomo critério na seleção do serviço de

lavagem, pelo que as estações de lavagemdevem indicar claramente, através de

publicidade e identificação, a

implementação desta medida.A Câmara Municipal de Lisboa, porexemplo, foi pioneira a reutilizar a águano sistema de lavagem da frota de veículos

pesados. •

DECO PROTESTE aconselha

O A água que enche um copo parasaciar a sede tem a mesma origemda que serve o autoclismo, regar

um Jardim ou lavar um contentor do lixo.

Repensar estas prioridades é apostar no

uso de águas de qualidade inferior, como a

da chuva, domésticas ou residuais tratadas.Reduzir o uso de água potável é o grandepotencial: se aproveitar a água do duche,

por exemplo, pode substituir na totalidade

a descarga dos autoclismos: cerca de 43m 3por ano num lar de 3 pessoas. Estas águasservem ainda para lavar pavimentos, regarrelvados por aspersão e plantas não co-mestíveis em sistema gota-a-gota. A regaé o principal uso da água da chuva, mas

também serve para o autoclismo e limpe-za de pavimentos. É uma medida a aplicare rentabilizar nas moradias, sobretudo emzonas com índice de pluviosidade signifi-cativo. O Regulamento Geral de EdificaçõesUrbanas deveria contemplar esta reutili-zação para fins sem exigência de qualidademáxima. O setor residencial e o turísticosão os principais alvos. Há uma mais-valia

para os municípios: as águas residuais tra-tadas com requisitos de qualidade devemser usadas na rega de jardins e outros es-paços verdes. Por exigirem bastante água,os campos de golfe não deveriam ser licen-ciados sem o uso obrigatório das águasresiduais estar contemplado.