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FERESPE DIVIDIR PARA REINAR Diz o ditado popular "Quem sai aos seus, não degenera". A família FERESPE é um exemplo disso. por JOÃO FIGUEIRINHAS COSTA Director de Operações da Católica Students' Corporation* e aluno de licenciatura em Economia na Católica Porto PEDRO ABREU LIMA Associado Sénior da Católica Students' Corporation* e aluno do Mestrado em Gestão de Serviços da Católica Porto fotografia PEDRO ABREU LIMA A FERESPE PREVÊ FACTURAR 8 MILHÕES DE EUROS EM 2012. O CRESCIMENTO SUSTENTADO E A DIFERENCIAÇÃO PELO PREÇO CARACTERIZAM ESTA EMPRESA rnpresa familiar, sedeada em Vila Nova de Fama- I lição, foi fundada por Jorge Casais (pai) em 1981. I Agora está nas mãos dos seus dois filhos, Paulo e I Jorge Casais (filho) . Jorge A. Casais, gestor assumi- Ib^^h damente low profile, formado na Católica Porto e ¦ fundador do Curso de gestão nesta Universidade, I valoriza os seus talentos de uma forma muito in- ¦ vulgar no sector industrial português. J A FERESPE dedica-se à fundição de ferros e aços, de diferentes ligas, produzindo em pequenas e mé- dias séries. Acima de tudo, e independentemente de quem a gere ou detém acções, toda a empresa é uma família. Apercebemo-nos dis- so ao entrar na fábrica onde uma fotografia de grupo, com todos os colaboradores, nos convida a entrar. Mais ainda, praticamente todos os novos recrutas são filhos de colaboradores actuais ou reformados. Nesta empresa, a preocupação com os colaboradores e a equipa é mais do que um chavão de relações públicas; faz parte integral da estratégia de gestão, que acredita piamente no retorno deste tipo de abordagem. Sempre que possível a empresa distribui parte dos seus resultados, sob a forma de gratificações, por toda a sua Equipa ou, melhor, por toda a Família FERESPE, como prefere apelidar Jorge Casais. Se- guros de vida, doença, telemóvel são alguns dos "Fring Benefits" que esta equipa usufrui. Por sua vez, já vários colaboradores entraram no ensino superior com o apoio financeiro da empresa - acreditam que o suporte teórico é crucial, ainda que a experiência empírica seja um complemento necessário. Acresce, claro, o cumprimento absoluto das regras de Higiene e Segurança no Trabalho, não procurando poupar nesta área. Ainda que com uma estrutura hierárquica bem vin- cada, o respeito de todos pelo actual gestor é notório, pela quantidade de pessoas que atravessaram os pavi- lhões para nos cumprimentar, enquanto visitamos a fá- brica. Jorge Casais conhece todos os 74 colaboradores, as suas histórias, as suas famílias e aquilo que cada um valoriza, como fez questão de salientar, «já o funda- dor desta empresa, Jorge Macedo Casais o fazia, pelo que apenas me limito a copiar o que teve; é certo que com um estilo diferente, mas a base é a mesma. Prefi- ro relações assentes na confiança», afirma o gestor. A verdade é que não há relógio de ponto, por exemplo. «Cada um sabe o trabalho que tem para fazer e sabe que se faltar ou se atrasar tem que avisar. Não corro atrás do prejuízo», explica Jorge Casais. A perspectiva

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FERESPEDIVIDIR PARAREINARDiz o ditado popular "Quem saiaos seus, não degenera". A famíliaFERESPE é um exemplo disso.

por JOÃO FIGUEIRINHAS COSTA Directorde Operações da Católica Students' Corporation* ealuno de licenciatura em Economia na Católica Porto

PEDRO ABREU LIMA Associado Séniorda Católica Students' Corporation* e aluno doMestrado em Gestão de Serviços da Católica Porto

fotografia PEDRO ABREU LIMA

A FERESPE PREVÊ FACTURAR 8MILHÕES DE EUROS EM 2012. OCRESCIMENTO SUSTENTADO EA DIFERENCIAÇÃO PELO PREÇOCARACTERIZAM ESTA EMPRESA

rnpresa familiar, sedeada em Vila Nova de Fama-I lição, foi fundada por Jorge Casais (pai) em 1981.I Agora está nas mãos dos seus dois filhos, Paulo eI Jorge Casais (filho) . Jorge A. Casais, gestor assumi-

Ib^^h damente low profile, formado na Católica Porto e¦ fundador do Curso de gestão nesta Universidade,I valoriza os seus talentos de uma forma muito in-¦ vulgar no sector industrial português.J A FERESPE dedica-se à fundição de ferros e aços,

de diferentes ligas, produzindo em pequenas e mé-

dias séries. Acima de tudo, e independentemente de quem a gere ou

detém acções, toda a empresa é uma família. Apercebemo-nos dis-

so ao entrar na fábrica onde uma fotografia de grupo, com todos os

colaboradores, nos convida a entrar. Mais ainda, praticamente todos

os novos recrutas são filhos de colaboradores actuais ou reformados.

Nesta empresa, a preocupação com os colaboradores e a equipa é mais

do que um chavão de relações públicas; faz parte integral da estratégiade gestão, que acredita piamente no retorno deste tipo de abordagem.

Sempre que possível a empresa distribui parte dos

seus resultados, sob a forma de gratificações, portoda a sua Equipa ou, melhor, por toda a Família

FERESPE, como prefere apelidar Jorge Casais. Se-

guros de vida, doença, telemóvel são alguns dos

"Fring Benefits" que esta equipa usufrui. Por sua

vez, já vários colaboradores entraram no ensino

superior com o apoio financeiro da empresa -acreditam que o suporte teórico é crucial, ainda

que a experiência empírica seja um complemento

necessário. Acresce, claro, o cumprimento absolutodas regras de Higiene e Segurança no Trabalho, não

procurando poupar nesta área.

Ainda que com uma estrutura hierárquica bem vin-

cada, o respeito de todos pelo actual gestor é notório,

pela quantidade de pessoas que atravessaram os pavi-lhões para nos cumprimentar, enquanto visitamos a fá-

brica. Jorge Casais conhece todos os 74 colaboradores,

as suas histórias, as suas famílias e aquilo que cada um

valoriza, como fez questão de salientar, «já o funda-dor desta empresa, Jorge Macedo Casais o fazia, pelo

que apenas me limito a copiar o que teve; é certo quecom um estilo diferente, mas a base é a mesma. Prefi-

ro relações assentes na confiança», afirma o gestor. Averdade é que não há relógio de ponto, por exemplo.«Cada um sabe o trabalho que tem para fazer e sabe

que se faltar ou se atrasar tem que avisar. Não corroatrás do prejuízo», explica Jorge Casais. A perspectiva

interna é a de que todos são gestores; desde a D. Ode-te, que é a responsável pela limpeza da empresa, ao

Eng s Joaquim Santos, Director de Produção - a únicacoisa que muda é a escala, mas todos tomam decisões

e resolvem problemas, influenciando o quotidiano da

organização. Foi fácil perceber que a FERESPE acredita

em autonomizar e criar empowerment dos seus cola-boradores. Exemplo disto foi o facto de a empresa ser

representada não pelo director, mas pela Eng« Sandra

Coimbra na sessão com Angela Merkel. As priorida-des? «Qualidade, a transparência e as pessoas.»

A facturação prevista para este ano de 2012 é de 8 mi-lhões de euros, personificando um crescimento susten-tado. «Diferenciamo-nos pelo preço: somos das fábricas

mais caras», assume Jorge Casais. Sempre que a factura-

ção é suficiente, os bónus são distribuídos por todos.

No que toca à captação comercial, a FERESPE está

presente nas principais feiras europeias de sub-con-

tratação, sendo fulcral a distinção do próprio produto.Actualmente, aproximadamente 90% da produção é

exportada para os Estados Unidos e países Europeus,excepto Espanha. Para reduzir riscos e diminuir a ex-

posição a grandes oscilações do mercado, a estratégia é

simples: ter uma quota máxima por empresa e país quenão é ultrapassada. Em termos práticos isto significa

que nenhum cliente pode ocupar mais de 5% da pro-dução da FERESPE. Aqui aplica-se a máxima de "dividir

para reinar". Esta estratégia podia ser importada do ca-

pítulo de "Diversificação de Portfolios" de um manualde introdução a Finanças, mas a verdade é que poucasPMEs portuguesas conseguem atingir este nível de cál-culo de risco. «Sou paranóico em projectar cenários e

planos de contingência», comenta o gestor. Os clientes

variam significativamente, mas há dois sectores clientes

com os quais a FERESPE não trabalha: sector automóvele sector de guerra. Por outro lado, produz peças parainúmeros outros sectores: indústria nuclear, indústriaalimentar e ferroviária, petroquímica, entre outros.

Esta estratégia confere estabilidade e segurança atoda a equipa. Existe a consciência de que, tendo tantos

pais e filhos a trabalhar na fábrica, as decisões tomadas

podem determinar o futuro de famílias inteiras.

PARA REDUZIR A EXPOSIÇÃOA GRANDES OSCILAÇÕES DO

MERCADO, A ESTRATÉGIA ÉSIMPLES: TER UMA QUOTA

MÁXIMA POR EMPRESA E PAÍS

RESPONSABILIDADE SOCIALPara nós, estudantes de uma escola de referênciacomo a Faculdade de Economia e Gestão da Católi-ca Porto, o mercado de trabalho continua ainda comgrandes oportunidades, mas não deixa de ser feroz e

competitivo. A Responsabilidade Social é um factorcada vez menos importante na análise de candidatu-ras e ficámos extremamente surpreendidos durantea nossa visita à FERESPE, pelas melhores razões. Aconsideração que esta empresa apresenta no que re-mete à Responsabilidade Social é fascinante e con-seguimos perceber o que é um excelente exemplo deboas práticas. Além de todas as práticas devidamente

reguladas pelas normas mais exigentes no que toca à

gestão de resíduos, existem outras,

extremamente criativas, como é

o caso de um pomar variado que

proporciona aos Colaboradores da

FERESPE a possibilidade de colherem aqui a fruta que

desejarem e poupar assim no seu orçamento familiar

Este grau de preocupação, dedicação e respeito porparte da empresa relativamente aos funcionários e

respectivas famílias é mais do que notório. Enquanto

Jorge Casais fazia contas ao número dos filhos meno-

res dos seus funcionários, confirmou o resultado na

contagem dos presentes de Natal já a ser preparados

para as crianças na sala de reuniões. A estreita relação

com as Universidades resulta também num programade bolsas de mérito, acontecendo o mesmo nos 4°,6. s e 9.e anos de escolaridade em algumas das escolas

básicas vizinhas.

INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

«Quando for preciso, investe-se. As fundições na Euro-

pa estão a morrer porque não investem!» É desta forma

que Jorge Casais nos apresenta o laboratório de I&D.

Além dos produtos, há também uma grande preocu-

pação com a eliminação de desperdícios em processos

e energia, seguindo a filosofia LEAN.

Máquinas de prototipagem rápida, espectrómetros

modernos, parcerias com as melhores Universidades

Portuguesas e empresas estrangeiras são as armas da

FERESPE para garantir a máxima qualidade dos seus

produtos e dar resposta às necessidades e exigências

dos clientes. Muitas vezes falamos da colaboração, ou

da falta dela, nas organizações portuguesas - A FERES-

PE já trabalhou em várias situações, com potenciais

clientes, no desenvolvimento de soluções à medida. «É

importante o cliente ter confiança em nós e perceber

que entregamos aquilo que prometemos», afirma de

forma convicta Jorge Casais.

A PREOCUPAÇÃO

COM OS COLABO-

RADORES eaequipa é mais

do que umchavão de

relações públicas;faz parte integralda estratégiade gestão, queacredita no

retorno desta

abordagem

PRODUÇÃOA filosofia LEAN volta a estar em destaque e presen-ciam-se algumas práticas saídas do laboratório de l&D.

As melhores tecnologias e os melhores equipamentossão uma exigência para a FERESPE garantir o melhor

desempenho dos seus profissionais e apresentar um

produto final com qualidade superior. «A equipa temde brilhar», explica Jorge Casais. O controlo de quali-dade é feito em três momentos diferentes da produção

para evitar desperdícios e garantir a qualidade do seu

produto final. No caminho para a normalização NOR-

SOK (requisitos de grande exigência para algumas pe-

ças na indústria petrolífera), Jorge Casais destaca como

esse processo pode trazer à FERESPE ainda mais pres-

tígio e novos clientes nos mercados externos.

A produção de pequenas e médias séries exige muita

concentração e facilidade de adaptação dos colabora-

dores; todas as peças estão devidamente identificadas

e para cada peça podem existir procedimentos de qua-lidade ou produção distintos. Este método aumenta a

produtividade dos colaboradores, elimina desperdícios

e garante a produção contínua, independentementedas especificidades de cada produto. D

* A Católica Students' Corporation é a Júnior empresada Católica Porto. Sem fins lucrativos e compostaexclusivamente por estudantes das diferentesfaculdades da universidade, faz consultoria low cost

a empreendedores e PM Es - www.csc-porto