retomadas de terras e ocupação militar: a disputa pela ... · sedes de municípios da região ou...

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1 Retomadas de terras e ocupação militar: a disputa pela aldeia Tupinambá de Serra do Padeiro, Bahia * Daniela Fernandes Alarcon (UnB/DF) Resumo Em janeiro de 2014, agentes da Força Nacional de Segurança Pública e da Polícia Federal instalaram uma base policial na aldeia Serra do Padeiro, na Terra Indígena (TI) Tupinambá de Olivença, sul da Bahia. Com isso, tratavam de consolidar sua presença na área onde atuavam desde agosto do ano anterior , dando início à ocupação militar permanente de um território indígena já reconhecido pelo Estado. No mês seguinte, cerca de 500 soldados do Exército deslocaram-se à região, por ordem da presidenta Dilma Rousseff, para garantir a lei e a ordem, pacificandoas relações entre indígenas e não índios contrários à demarcação da TI. No marco da ocupação militar, os indígenas passaram a ser vigiados ostensivamente, sendo alvo de ações de reintegração de posse violentas. Note-se que, em 2013, intensificara-se a realização, pelos indígenas, de retomadas de terras (ações de recuperação territorial que, na Serra do Padeiro, vêm sendo levadas a cabo desde 2004). Tal processo foi acompanhado por uma ofensiva da frente contrária à demarcação da TI e desembocou na mobilização das forças de repressão. Focalizando mais especificamente a Serra do Padeiro, esta apresentação buscará descrever e analisar este novo momento do processo de territorialização dos Tupinambá, caracterizado pela ocupação militar permanente do território indígena, na vigência do Estado democrático de direito. Para tanto, serão consideradas a atuação do Estado em face da disputa, a mobilização da frente contrária à demarcação da TI e as estratégias de resistência indígena. Palavras-chave: Tupinambá; territorialização; retomadas de terras * Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN.

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1

Retomadas de terras e ocupação militar: a disputa pela aldeia

Tupinambá de Serra do Padeiro, Bahia*

Daniela Fernandes Alarcon (UnB/DF)

Resumo

Em janeiro de 2014, agentes da Força Nacional de Segurança Pública e da Polícia Federal

instalaram uma base policial na aldeia Serra do Padeiro, na Terra Indígena (TI) Tupinambá

de Olivença, sul da Bahia. Com isso, tratavam de consolidar sua presença na área – onde

atuavam desde agosto do ano anterior –, dando início à ocupação militar permanente de

um território indígena já reconhecido pelo Estado. No mês seguinte, cerca de 500 soldados

do Exército deslocaram-se à região, por ordem da presidenta Dilma Rousseff, para

“garantir a lei e a ordem”, “pacificando” as relações entre indígenas e não índios contrários

à demarcação da TI. No marco da ocupação militar, os indígenas passaram a ser vigiados

ostensivamente, sendo alvo de ações de reintegração de posse violentas. Note-se que, em

2013, intensificara-se a realização, pelos indígenas, de retomadas de terras (ações de

recuperação territorial que, na Serra do Padeiro, vêm sendo levadas a cabo desde 2004).

Tal processo foi acompanhado por uma ofensiva da frente contrária à demarcação da TI e

desembocou na mobilização das forças de repressão. Focalizando mais especificamente a

Serra do Padeiro, esta apresentação buscará descrever e analisar este novo momento do

processo de territorialização dos Tupinambá, caracterizado pela ocupação militar

permanente do território indígena, na vigência do Estado democrático de direito. Para

tanto, serão consideradas a atuação do Estado em face da disputa, a mobilização da frente

contrária à demarcação da TI e as estratégias de resistência indígena.

Palavras-chave: Tupinambá; territorialização; retomadas de terras

* Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de

agosto de 2014, Natal/RN.

2

Desde 2004, os Tupinambá da aldeia Serra do Padeiro, no sul da Bahia, vêm

levando a cabo ações coletivas conhecidas como retomadas de terras. Em uma

definição sucinta, pode-se afirmar que as retomadas de terras consistem em processos

de recuperação, pelos indígenas, de áreas por eles tradicionalmente ocupadas e que se

encontravam em posse de não índios. Entre maio de 2004 e maio de 2013, 22 fazendas

foram recuperadas, apenas nesta aldeia. Mais recentemente, de junho a dezembro de

2013, os Tupinambá da Serra do Padeiro ocuparam dezenas de novas áreas,

contabilizando-se, hoje, cerca de 70 fazendas retomadas1.

Antes do início do processo de retomada, os indígenas viviam no interior de fazendas

(mantendo com os pretensos proprietários dessas áreas relações de meação ou trabalho

assalariado, entre outras); em pequenos sítios, que haviam logrado manter em sua posse, a

despeito do avanço dos não índios; ou haviam se mudado para outras localidades, como

sedes de municípios da região ou metrópoles do centro-sul do país. Apesar de os indígenas,

nesse período, terem ampliado significativamente a área que ocupam, esta permanece

descontínua, já que persistem no território fazendas e sítios em posse de não índios.

O longo processo de territorialização da população indígena da região tem como

marco o estabelecimento do aldeamento jesuítico de Nossa Senhora da Escada, em 1680,

no que hoje corresponde à sede do distrito de Olivença, localizada a cerca de 21 km da

cidade de Ilhéus2. Ao longo do tempo, os indígenas tiveram as áreas em sua posse

drasticamente reduzidas, conforme grandes porções do território eram fixadas em

fazendas pretensamente pertencentes a não índios. No século XX, a expansão capitalista

sobre essas terras de ocupação tradicional, que visava a conversão de um território

culturalmente construído em fator de produção, intensificou-se. Diferentes mecanismos

de expropriação territorial foram empregados nesse contexto, ao passo que os indígenas

engendraram um conjunto de estratégias de resistência para a defesa de seu território.

1 Mais informações sobre as retomadas realizadas em 2013 serão apresentadas adiante.

2 O processo de territorialização pode ser compreendido como “uma intervenção da esfera política

que associa – de forma prescritiva e insofismável – um conjunto de indivíduos e grupos a limites

geográficos bem determinados” (Pacheco, 1998: 56). Ainda conforme essa caracterização, a

territorialização passa, necessariamente, pela “reelaboração da cultura e da relação com o passado”

(Ibid.: 55). Contudo, alerta o antropólogo, esse processo “não deve jamais ser entendido simplesmente como de mão única, dirigido externamente e homogeneizador”, posto que ele é

atualizado pelos povos indígenas (Ibid.: 60). Para uma reconstituição do processo de territorialização

dos Tupinambá, ver Alarcon (2013).

3

Em maio de 2002, o Estado brasileiro reconheceu oficialmente a existência do

povo Tupinambá3. Dois anos depois, respondendo às demandas indígenas, a Fundação

Nacional do Índio (Funai) iniciou o procedimento de identificação e delimitação da Terra

Indígena (TI) Tupinambá de Olivença. Na condução do processo demarcatório, o Estado

violou, em todas as etapas, os prazos estabelecidos pelo Decreto nº1.775/1996. Em 2009,

o órgão indigenista oficial aprovou o relatório circunstanciado elaborado pelo grupo de

trabalho a cargo dos estudos técnicos, delimitando a TI em uma área de 47.376 ha.

Recoberta pela Mata Atlântica e ecossistemas associados, a TI abrange porções dos

municípios de Buerarema, Ilhéus e Una. No sentido leste-oeste, prolonga-se da costa

marítima à cadeia montanhosa conformada pelas serras das Trempes, do Serrote e do

Padeiro, e, no sentido norte-sul, do rio Cururupe à Lagoa do Mabaço.

Em 2 de março de 2012, após analisar e rejeitar as contestações à demarcação, a

Funai encaminhou o processo ao Ministério da Justiça (MJ). Em 5 de abril do mesmo ano,

a consultoria jurídica do ministério manifestou-se pela aprovação dos estudos elaborados

pelo órgão indigenista. Contudo, até a conclusão deste texto, o ministro da Justiça, José

Eduardo Cardozo, não havia assinado a portaria declaratória da TI. Em lugar de encaminhar

o processo para as etapas finais – incluindo o pagamento das indenizações devidas aos

ocupantes não indígenas e o reassentamento daqueles que têm perfil de cliente da reforma

agrária –, Cardozo instalou uma “mesa de diálogo”, mecanismo que o governo federal tem

adotado em regiões onde há forte presença do agronegócio, como se indicará adiante. Em

face da demora, o Ministério Público Federal (MPF) já propôs três ações civis públicas (em

2007, 2012 e 2013) responsabilizando o Estado por não cumprir sua atribuição legal de

proteger os direitos territoriais indígenas, conforme determinam a Constituição Federal de

1988 e tratados internacionais de que Brasil é signatário4.

Não se dispõe de dados precisos acerca do número de habitantes indígenas da TI;

considerando as informações oficiais disponíveis, pode-se estimar uma população de cerca

3 Note-se que, à época, o Brasil ainda não adotara a Convenção 169 da Organização Internacional do

Trabalho (OIT), que determina a autoidentificação como critério de reconhecimento de grupos indígenas. 4 Em 27 de setembro último, o MPF em Ilhéus ajuizou mais uma ação civil pública com pedido

liminar contra a União, requerendo que o Judiciário determine prazo para o ministro da Justiça

decidir sobre o processo demarcatório. Para o Procurador da República Ovídio Augusto Amoedo

Machado, “a conclusão do processo demarcatório é essencial para a pacificação da região, pois trará

segurança jurídica para ambas as partes e eliminará o ambiente de incerteza sobre o real proprietário

das terras em disputa” (MPF, 2013). Na mesma direção, o Procurador da República Eduardo Villas-

Bôas avalia que “a demarcação definitiva trará benefícios tanto aos índios – pelo reconhecimento do seu território tradicional – como aos fazendeiros, que receberão a indenização prevista em lei”

(Ibid.). O processo judicial ainda não foi concluído, mas o juiz que recebeu a ação já observou, em

decisão, que “há indícios de omissão administrativa na conclusão do processo demarcatório”.

4

de cinco mil pessoas5. Os indígenas distribuem-se por diferentes localidades espalhadas

pela TI, unidas historicamente por vínculos de parentesco e pela partilha de uma identidade

comum. Na porção mais interior da TI, situa-se a aldeia Serra do Padeiro, sobre a qual esta

apresentação se debruça e onde vivem cerca de mil indígenas, conforme dados da

Associação dos Índios Tupinambá da Serra do Padeiro (AITSP) para 2012.

Nesta apresentação, buscarei descrever e analisar o atual momento do processo de

territorialização dos Tupinambá, caracterizado pela ocupação militar permanente do

território indígena – iniciada em agosto de 2013, na vigência do Estado democrático de

direito. Para tanto, serão consideradas: 1. a atuação do Estado em face da disputa; 2. a

mobilização contrária à demarcação da TI; e 3. as estratégias de resistência indígena.

Parte das informações aqui reunidas foi produzida no âmbito de pesquisa de

mestrado acerca das retomadas de terras levadas a cabo na aldeia Serra do Padeiro

(Alarcon, 2013)6. Tal investigação, desenvolvida junto à Universidade de Brasília,

contemplou uma incursão etnográfica no território tupinambá, com quatro meses de

duração, além da consideração de fontes primárias e secundárias. Este texto também

apresenta dados recolhidos após a conclusão da pesquisa mencionada, inclusive em duas

visitas à aldeia Serra do Padeiro, realizadas em dezembro de 2013 e maio de 2014. Cabe

observar que, em algumas passagens do texto, pseudônimos são utilizados, com o intuito

de resguardar a intimidade e a segurança de meus interlocutores. Note-se, ainda, que

todos os depoimentos foram transcritos conforme os padrões da chamada norma culta.

“Garantia da lei e da ordem”

Quando tratam de reconstituir sua trajetória como povo, os Tupinambá referem-se

a uma longa (e subterrânea) história de violência expropriatória, pontilhada por aldeias

extintas em massacres, devastadoras enfermidades contagiosas, estupros e tomas de

terras. A mobilização dos indígenas pelo reconhecimento de seus direitos territoriais

inaugurou um novo capítulo de intensa violência – perpetrada, inclusive, por agentes do

5 O Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena, da Secretaria Especial de Saúde Indígena

do Ministério da Saúde (Siasi/Sesai/MS) registra, para 2013, 4.534 indígenas Tupinambá

cadastrados na TI Tupinambá de Olivença. O Censo 2010, por sua vez, contabilizou 5.851

Tupinambá; note-se, contudo, que esse número refere-se a todos que assim se autodeclararam e que

o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não fornece dados desagregados para a TI

em questão (Brasil, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2012). 6 Compreendidas como a principal forma de ação política desenvolvida contemporaneamente pelo

grupo, as retomadas de terras foram examinadas detidamente, considerando-se seus antecedentes,

características e algumas de suas repercussões no sistema de relações interétnicas em que se

inscrevem os Tupinambá.

5

Estado. Alvos de emboscadas realizadas por ocupantes não indígenas, os Tupinambá

têm sido vítimas também de recorrente violência policial, em que se comprovou a

utilização de armamento letal e a prática de tortura. Em junho de 2009, durante tentativa

de reintegração de posse, agentes da Polícia Federal (PF) submeteram cinco indígenas a

chutes, socos e choques elétricos, o que foi confirmado por laudo do Instituto Médico

Legal (IML); em 2011, um indígena teve a perna direita amputada após ser alvejado por

agente da PF à paisana. Além disso, lideranças indígenas têm sido ilegalmente presas,

no marco de um agudo processo de criminalização7.

Em 2013, a mobilização das forças repressivas do Estado para atuação na disputa

pelo território tupinambá adquiriu outra escala8. Por determinação do ministro da

Justiça, em 20 de agosto agentes da Forca Nacional de Segurança Pública (FNSP)

instalaram-se nas imediações da TI, com o alegado objetivo de frear o conflito entre

indígenas e não indígenas contrários à demarcação9. Entre os dias 28 de janeiro e 4 de

fevereiro últimos, a FNSP, em conjunto com a PF, empreendeu ações de reintegração de

posse violentas em quatro fazendas retomadas pelos Tupinambá da Serra do Padeiro10

.

Em três delas, os Tupinambá impediram a reintegração; já na quarta, a fazenda Sempre

Viva, os agentes instalaram uma base policial, dando início à ocupação militar

permanente do território indígena. Em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF)

suspendeu a liminar que determinava o cumprimento de uma série de reintegrações de

posse, mas as forças de repressão permaneceram mobilizadas.

Quando das ações de reintegração de posse, os indígenas recolheram mais de duas

dezenas de cápsulas disparadas de munição letal para fuzil. “A estrada ficou vestida de casca

de bala”, conta uma senhora indígena. Conforme relatos, os policiais chegaram a utilizar 7 Para uma descrição pormenorizada do processo de expropriação enfrentado pelos Tupinambá,

assim como da violência no marco do processo demarcatório, ver Alarcon (2013: passim). 8 A reconstituição aqui apresentada baseia-se em documentos oficiais publicados de agosto de 2013

a junho de 2014; em diálogos mantidos pela autora com indígenas e indigenistas (em visitas à área,

por telefone, correio eletrônico e videoconferência); e em notícias e reportagens de veículos de

imprensa de circulação regional, estadual e nacional, publicados no mesmo período (para uma

compilação de textos jornalísticos, ver: <http://campanhatupinamba.wordpress.com/noticias/>). 9 Conforme o MJ, o governador do estado da Bahia, Jaques Wagner (PT), solicitou o envio da FNSP

à área em 16 de agosto de 2013; os agentes, como noticia a imprensa, chegaram quatro dias depois.

Contudo, a primeira menção à operação no Diário Oficial da União dar-se-ia apenas em 2 de

setembro, com a publicação de uma portaria do MJ. 10

No dia 28 de janeiro, as forças policiais realizaram operações nas fazendas Conjunto São José e

Sempre Viva, desalojando 18 famílias indígenas que viviam e trabalhavam nas áreas, conforme

informações dos Tupinambá e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Os pertences dos indígenas

que moravam no Conjunto São José foram retirados do local pelos policiais e abandonados à beira de uma estrada, a cerca de 10 km dali. Em 2 de fevereiro, o Conjunto São José foi alvo de nova ação

policial violenta. Dois dias depois, tiveram lugar duas outras ações de reintegração de posse, desta vez

nas fazendas Lembrança e Rio Cipó, desalojando mais 13 famílias indígenas.

6

cachorros para perseguir indígenas que se refugiavam na mata, reavivando dolorosas

memórias em torno das indígenas “pegas a dente de cachorro”, isto é, caçadas com o uso de

cães ferozes pelos não índios que invadiam seu território e tratavam de “amansá-las”,

tomando-as como esposas ou amantes. “Eles disseram que vinham botar essa base para nos

proteger e ela veio para nos matar. Se nós tivéssemos dado a testa, tinham nos matado”, diz

uma indígena que vive em uma área retomada, cenário de ações policiais truculentas.

Em ação realizada em 2 de fevereiro no Conjunto São José, os policiais utilizaram

bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os indígenas. No tumulto provocado pelo

ataque policial, M.S.M., um indígena de dois anos de idade, desgarrou-se da mãe, Rosilene

Bispo dos Santos, e foi levado pelos policiais. O menino foi retirado da área indígena e

encaminhado pelo delegado Severino Moreira da Silva ao Conselho Tutelar de Ilhéus.

Apenas cinco dias depois, a família pôde levar a criança de volta para casa. Operando uma

impressionante inversão, um texto publicado no sítio da Secretaria de Direitos Humanos da

Presidência da República (SDH/PR) descreve o “emocionante momento do reencontro”

entre a mãe e o menino, “proporcionado por uma ação do governo federal”.

Em meados de fevereiro, cerca de 500 soldados do Exército deslocaram-se à

região, por ordem da presidenta Dilma Rousseff, para “garantir a lei e a ordem”,

“pacificando” a área11

. No marco da presença militar, os indígenas passaram a ser vigiados

ostensivamente. Uma marcha em solidariedade aos Tupinambá, realizada na Serra do

Padeiro em março de 2014, foi acompanhada por rasantes de helicópteros. Em carta de 24

de março, os Tupinambá informaram estar sofrendo constantes ameaças por parte das

forças de segurança. Conforme o documento, em 23 de março, um indígena foi espancado

por policiais. Na véspera, denunciam, os agentes revistaram uma menina indígena de 14

anos que voltava da casa de farinha para sua morada, desacompanhada, e ordenaram que

ela erguesse a blusa, tocando em diferentes partes de seu corpo. Ainda segundo os

11

O emprego das Forças Armadas na “garantia da lei e da ordem”, previsto pela Constituição

Federal, é disciplinado pela Lei nº9.649/1998 e pelo Decreto nº3.897/2001. Como tais operações

desenrolam-se conforme o paradigma bélico, uma pesada capa de sigilo recobre as decisões

governamentais e as ações em curso, dificultando a obtenção de informações oficiais. Em notícia

publicada pela Agência Brasil em 14 de fevereiro de 2014, lê-se: “Será publicada no Diário Oficial

da União da próxima segunda-feira (17) a autorização do governo federal para que 524 homens do

Exército atuem no sul da Bahia. [...] A permissão vale por um mês, até 14 de março. De acordo com

o Ministério da Defesa, os homens terminam de chegar hoje (14) ao município” (Chagas, 2014).

Contudo, ao contrário do que antecipava a reportagem, nenhum documento oficial relacionado a essa operação foi publicado até hoje. Conforme o manual Garantia da lei e da ordem, a decisão

presidencial de empregar tropas das Forças Armadas em operações desse tipo é expressa em

comunicado ao ministro da Defesa, não sendo necessária a publicação de decreto.

7

indígenas, agentes têm promovido buscas irregulares em moradias localizadas em áreas

retomadas, confiscando instrumentos de trabalho, como facões, enxadas e foices.

As forças de repressão, de acordo com os Tupinambá, têm atuado como “polícia

privada” de fazendeiros. Nesse sentido, a atuação policial não está voltada à garantia da

ordem pública e ao cumprimento da lei, mas tem por objetivo assegurar interesses privados

de grupos e indivíduos contrários à demarcação, inclusive por meio da vigilância de

pretensas propriedades particulares, em evidente desvio de atribuição. Conforme noticiado

pela grande imprensa, no início do ano, o comandante da FNSP na área foi afastado do

cargo para investigação, após denúncias de que agentes da corporação atuaram na

segurança de uma partida de futebol organizada pela prefeitura de Buerarema, em 5 de

janeiro. “Quem está mandando na polícia agora são os fazendeiros”, sintetiza um indígena.

Após a instalação da base, segundo noticiou a imprensa local, a Associação de

Pequenos Agricultores de Ilhéus, Una e Buerarema (Aspaiub), entidade mobilizada

contra a demarcação, enviou comitiva a Brasília, reunindo-se com representantes do

STF, Presidência da República, MPF e Ministério da Defesa para obstruir a

demarcação, agradecer pela presença das forças policiais no território e exigir novas

reintegrações. Nessas gestões, a Aspaiub vem sendo auxiliada pela Confederação

Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) – ponta de lança dos interesses

ruralistas no país, presidida pela senadora Kátia Abreu (PMDB).

Em declarações à imprensa, Cardozo tem defendido “mediação” e “diálogo”,

sugerindo, espantosamente, a ponderação de direitos hierarquicamente desiguais, isto é, o

direito territorial indígena e o direito à propriedade e à posse de terras12

. Em 24 de

setembro último, o ministro instalou um fórum interinstitucional para tratar do caso

tupinambá, com forte presença das forças repressivas do Estado. No dia seguinte, junto a

Wagner, Cardozo reuniu-se com lideranças indígenas e pretensos proprietários rurais em

uma “mesa de diálogo”. Como vem denunciando o movimento indígena, as “mesas de

diálogo” são parte de uma estratégia que busca atrasar ao máximo a demarcação de TIs,

em um quadro de aproximação cada vez maior entre o governo e os interesses ruralistas.

Em outra ocasião, extrapolando suas atribuições legais, Cardozo reportou-se aos

indígenas condicionando a assinatura da portaria declaratória à não realização de

retomadas de terras e à celebração de “acordos” entre índios e não índios, prevendo

inclusive a alteração dos limites da TI, com redução de sua área.

12

Ver, por exemplo, Brandão (2014).

8

À morosidade do processo demarcatório e à militarização do território, some-se

ainda os esforços para a criminalização dos indígenas, que têm sua principal expressão no

encarceramento de lideranças. Na seção seguinte, será analisada a recente prisão de um

cacique tupinambá, caracterizada por evidentes falhas antropológicas e jurídicas.

Orelhas decepadas

No último dia 24 de abril, o cacique Babau (Rosivaldo Ferreira da Silva), da Serra

do Padeiro, foi preso, após se apresentar à PF em Brasília. Cinco dias depois, uma decisão

liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou sua libertação, por estarem

ausentes os requisitos legais exigidos para a aplicação de prisão temporária. O cacique é

acusado de envolvimento no assassinato de um pequeno agricultor, Juracy José dos

Santos Santana, ocorrido em 10 de fevereiro, na zona rural do distrito de Vila Brasil,

município de Una, e teve sua prisão temporária decretada pelo juiz Maurício Alvares

Barra, da Vara Criminal da Comarca de Una, dez dias após o incidente. A existência do

mandado de prisão, contudo, só veio à tona em 17 de abril – menos de 24 horas depois de

o cacique receber o passaporte para viajar ao Vaticano, para efetuar denúncias ao papa.

O inquérito policial que embasou o mandado de prisão temporária correu em

segredo de justiça. Como se indicou, o mandado foi expedido dez dias após o homicídio.

A duração das investigações chama a atenção, quando se sabe que a Polícia Civil em Una

dispõe de um “contingente reduzidíssimo” (dois policiais), como reconhece o próprio

juiz, em sua decisão. Apenas testemunhas de acusação foram ouvidas – a Polícia alegou à

Justiça não ter conseguido encontrar o cacique Babau para que ele prestasse depoimento.

A justificativa para o cerceamento de defesa causa espanto, já que Babau é assistido desde

2010 pelo Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, em razão das

numerosas ameaças de morte que recebe desde que se iniciou o processo de recuperação

territorial13

. Ademais, como se indicou, Babau vive em um território ocupado pelas forças

repressivas do Estado – nada mais conhecido que seu paradeiro.

Note-se ainda que a aplicação de prisão temporária, conforme a Lei nº 7.960/1989,

é cabível quando presentes três requisitos, previstos no artigo 1º, nos incisos I a III:

I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;

II - quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer

elementos necessários de sua identificação.

13

O programa é executado por meio de um convênio entre a SDH/PR, a Secretaria de Justiça, Cidadania

e Direitos Humanos da Bahia (SJCDH/BA) e o Grupo Tortura Nunca Mais - Bahia (GTNM/BA).

9

III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova

admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos

seguintes crimes:

a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°) [...].

Na decisão, nenhum dos requisitos legais está presente. O juiz não indica que a

manutenção do cacique Babau solto atrapalharia as investigações, que ele fugiria ou

ameaçaria eventuais testemunhas. A identidade e a residência do cacique Babau, como

já se comentou, são de conhecimento público. Apesar de haver, de fato, notícia de

homicídio, não há qualquer indício de que Babau tenha tido participação. A decisão

sustenta, apenas, que há relato de testemunha. Qual testemunha? Não somos

informados. Na decisão, lê-se:

Colheu-se que um dos principais suspeitos da execução era um dos

pequenos agricultores contemplados pelo Incra [Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária] com a área [lote de reforma agrária],

contudo, consta que foi arregimentado pelo Cacique Babau (Rosivaldo

Ferreira da Silva) para ‘virar índio’ (grifos nossos)14

.

Cabe perguntar: o que o juiz entende por “virar índio”? Ele continua: “não existe

qualquer critério objetivo e seguro para constatação de quem é verdadeiramente índio”.

Em outras passagens, o juiz emprega o termo “biótipo” como sinônimo de identidade

étnica e fala em “supostos índios” e em uma “milícia criminosa travestida de silvícola”15

.

“Fomentar essa „categoria de índio‟ que invade, ameaça, destrói, furta, rouba, comete

extorsão e homicídios é destruir e denegrir por completo a imagem do verdadeiro índio”

(grifo nosso). É evidente o desconhecimento do juiz não apenas da teoria antropológica,

mas da legislação vigente, que determina a autoidentificação como critério de

reconhecimento de grupos indígenas. As falhas antropológicas levam a uma falha

jurídica: o juiz impõe condições próprias para alguém ser considerado índio, não

previstas em qualquer lei, na Constituição Federal ou em documento internacional.

Finalmente, em sua decisão, o juiz afirma ter tomado conhecimento – mais uma

vez, não se sabe de quem – de que Babau tem por hábito exigir que lhe entreguem uma

orelha daqueles que manda executar, “fato já comprovados [sic] em outros crimes na

região” (grifo nosso). Não se tem notícia, contudo, de qualquer comprovação da “prática”.

Com essa imagem, vai-se compondo uma personagem selvagem, brutal. Note-se que

14

Em outra passagem, o mesmo indivíduo é referido como “cria” de Babau. 15

Note-se que “silvícola” é termo utilizado no revogado Código Civil de 1916, para indicar a

incapacidade dos povos indígenas.

10

Babau já foi encarcerado três vezes – em 2010, permaneceu cinco meses preso, parte dos

quais em um presídio de segurança máxima em Mossoró, Rio Grande do Norte16

.

O juiz não é voz dissonante no conjunto de agentes do poder público atuantes hoje

no caso tupinambá. Um funcionário da Funai que prefere não ser identificado relata

acontecimentos que ilustram o desempenho parcial e discriminatório de certas

autoridades17

. Conforme o servidor, em reunião no âmbito da operação de garantia da

lei e da ordem, ocorrida em Ilhéus em 27 de fevereiro, teve lugar o seguinte diálogo,

reconstituído de forma aproximada18

:

Delegado da PF: A polícia está aqui porque a população se sente

hostilizada pelos índios.

Funcionário da Funai: Os índios também se sentem hostilizados. O sem-

terra [Santana] morreu e estão aqui, mas ninguém deu atenção aos três

índios mortos [assassinados em 8 de novembro de 2013]19

.

Delegado: Os índios morreram por causa de bebedeira. Já o sem-terra

[Santana], foram os índios que mataram.

Funcionário da Funai: Como o senhor sabe?

Delegado: Isso está no papel.

Funcionário da Funai: Papel? O papel é um inquérito!

Finda a reunião, o representante do Exército ali presente, dirigindo-se ao

funcionário da Funai e a um representante do Incra, teria se referido à extração de

orelhas, afirmando que Babau as solicitava “para fazer macumba no seu terreiro de

candomblé”. Trata-se de uma caracterização distorcida e pejorativa da religiosidade dos

Tupinambá da Serra do Padeiro – que tem em seu cerne o culto aos encantados,

entidades não humanas que dispõem de domínios territoriais específicos e, conforme a

cosmologia tupinambá, são os verdadeiros donos da terra.

Como assinala o funcionário da Funai, as autoridades públicas que participam da

operação costumam reproduzir o discurso dos setores mobilizados pela não demarcação,

ecoado pela imprensa local, em frases como “precisamos que a Funai diga quem é índio

e quem não é”. Em dada reunião, um agente da PF – integrado à operação no sul da

Bahia sob justificativa de ter “know how para lidar com índios”, por haver participado

da Operação Roosevelt, no território dos Cinta Larga – teria afirmado: “É muito

simples: se a pessoa tiver pelo, não é índio”.

16

Para considerações sobre as prisões anteriores de Babau e de outras lideranças da Serra do

Padeiro, ver Alarcon (2013: 97-102). 17

Comunicação pessoal a Alarcon, 25 abr. 2014. 18

Não se tem acesso às atas de tais reuniões. 19

O caso dos três indígenas assassinados será considerado na próxima seção.

11

Concepções como essas informam a atuação enviesada das forças de segurança,

alegadamente enviadas à área para distender o conflito: como se demonstrou na seção

anterior, indígenas são tratados como “forças oponentes”, ao passo que fazendeiros têm

agentes públicos a seu dispor, nos moldes de uma polícia privada. Nesse quadro,

indivíduos e grupos contrários à demarcação da TI vêm dispondo de ampla margem

para cometer ações violentas contra os indígenas, como se indicará a seguir.

Uma ofensiva contra a demarcação

Inspirando-se no famigerado “Leilão da Resistência”, levado a cabo em Mato

Grosso do Sul em dezembro de 2013, a Aspaiub realizou um bingo na cidade de

Buerarema, em 25 de maio último20

. Amplamente divulgada pelos meios de

comunicação locais, principalmente pelo rádio, a atividade tinha o alegado objetivo de

arrecadar dinheiro para a mobilização contra a demarcação, incluindo despesas com

advogado (para interpor ação judicial pela não demarcação) e outros gastos. As cartelas

estavam à venda na sede do Sindicato Rural de Ilhéus e em outros locais; os

organizadores prometiam o sorteio de prêmios variados, incluindo quatro novilhos. Ao

menos um vereador de Ilhéus (Cosme Araújo, do PDT) confirmou presença no evento.

A atividade ocorreu em um novo período de intensa e visível mobilização da frente

contra a demarcação21

, para o qual se poderia considerar como marco inicial o mês de

agosto de 2013 – sem desconhecer, certamente, o grau de arbitrariedade envolvido em

balizas temporais para processos como o que se analisa aqui. Entre 2011 e agosto de 2012,

os indivíduos e grupos contrários à demarcação permaneceram relativamente “silenciosos”.

Isso não quer dizer que não se manifestassem em episódios pontuais e, tampouco, que não

fizessem gestões junto ao poder público. À época, um indígena comentou-me: “quando eles

[os opositores à demarcação] estão parados, é que estão se movimentando por outros

canais”. De fato, sabe-se que já ocorreram dezenas de audiências dos fazendeiros com

20

Organizado pela Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul) e pela Federação da

Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), e apoiado pela CNA, o “Leilão da

Resistência” tinha por objetivo angariar fundos para a contratação de segurança privada, visando a

constituição de milícias para atuação em áreas indígenas disputadas por pretensos proprietários não

indígenas. Inicialmente suspenso pela Justiça Federal em Mato Grosso do Sul, foi realizado em 7 de

dezembro, sob a condição de que o valor arrecadado fosse depositado em juízo, em decorrência de

um mandado de segurança (Leilão, 2013). 21

A oposição à demarcação da TI teve o poder de aglutinar em uma mesma coligação heterogênea e temporária – por isso, penso em uma frente – setores da sociedade regional que, muitas vezes, não

guardam entre si qualquer outro ponto de conexão além de um inimigo em comum, qual seja a TI

Tupinambá de Olivença. Para uma caracterização mais detida da frente, ver Alarcon (2013: 65-82).

12

Cardozo, titular do MJ desde 2011. Já em agosto de 2012, manifestantes contrários à

demarcação ocuparam o saguão do aeroporto de Ilhéus por 28 dias, munidos de apitos e

faixas, exigindo providências do governo contra as retomadas de terras. Indígenas

Tupinambá e de outras etnias que passaram pelo aeroporto nesses dias denunciaram haver

sofrido constrangimentos e ameaças por parte dos manifestantes.

De junho a agosto de 2013, como se indicou, os indivíduos e grupos contrários à

demarcação assistiram à realização de copiosas retomadas de terras. Somadas, as áreas

recuperadas nesse período representam quase o dobro da quantidade de áreas recuperadas

até então, isto é, de 2004 a meados de 2013. Nesse quadro, a frente contrária à demarcação

desencadeou uma nova ofensiva. Na noite de 14 de agosto, um caminhão que transportava

estudantes da Escola Estadual Indígena Tupinambá Serra do Padeiro (EEITSP) foi

alvejado por um ou mais pistoleiros. Ninguém foi baleado, mas estilhaços do para-brisas,

que se quebrou, feriram dois estudantes não indígenas, Lucas Araújo dos Santos, 18 anos,

e Rangel Silva Calazans, 25. Segundo Magnólia Jesus da Silva, professora e diretora da

escola estadual, Lucas permaneceu com um estilhaço de vidro alojado perto do olho direito

por dias. “Não podemos levar o garoto ao hospital porque corremos risco”, disse ela à

época. Hoje, os dois jovens não estudam mais na EEITSP, por medo.

Em 16 de agosto, um grupo de não índios bloqueou por horas a BR-101, rodovia

que cruza Buerarema. Pelo menos três veículos de órgãos governamentais que trafegavam

pela via foram retidos e incendiados pelos manifestantes. Um dos carros transportava

indígenas, inclusive crianças, para tratamento de saúde em um hospital próximo; ninguém

se feriu. Uma agência do Banco do Brasil foi depredada e uma unidade da Empresa

Baiana de Alimentos (Ebal), estatal que comercializa alimentos a famílias de baixa renda,

foi saqueada. Um ônibus utilizado para transportar estudantes da EEITSP também foi

incendiado, na madrugada do dia 17, em Vila Brasil, perto da aldeia Serra do Padeiro. O

veículo estava estacionado e ninguém ficou ferido. Segundo relatos dos indígenas, o

proprietário da empresa de transportes que presta serviços à Secretaria Estadual de

Educação sofreu ameaças, inclusive através da Rádio Jornal de Itabuna, para que deixasse

de atender os indígenas, se não quisesse ter outros veículos incinerados.

No dia 20, em Buerarema, os manifestantes atearam fogo a outros três veículos de

órgãos governamentais, entre os quais um da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e outro

do Incra. Em declarações à imprensa, não índios envolvidos nos protestos acusaram os

indígenas de haver cometido os atos de violência, mas as imagens divulgadas por meios de

comunicação locais não deixam espaço a dúvidas de que as ações foram praticadas por não

13

índios. Nesse mesmo dia, como se indicou, instalaram-se na área os agentes da FNSP

mobilizados para alegadamente “pacificar” a região. Sua presença, contudo, não coibiu a

violência contra os indígenas praticada por indivíduos e grupos contrários à demarcação.

Quatro dias depois de sua chegada, indígenas que possuíam imóveis na zona urbana de

Buerarema – seja porque aí vivessem, por herança ou outras razões – tiveram suas casas e

bens pessoais incendiados por não índios. Na véspera, conforme os indígenas, parte de sua

produção agrícola (farinha de mandioca) foi roubada. Além disso, não índios que os apoiam

– comerciantes e professores, entre outros – foram agredidos e suas casas e lojas, atacadas.

Na tarde de 8 de novembro, três indígenas foram assassinados na TI, em uma

emboscada à beira de uma estrada vicinal, quando retornavam da coleta de piaçaba.

Conforme depoimentos, as vítimas – Aurino Santos Calazans (31 anos), Agenor

Monteiro de Souza (30 anos) e Ademilson Vieira dos Santos (36) – foram atacadas a

tiros e golpes de facão por quatro homens, que se aproximaram em duas motocicletas. A

esposa de Aurino – que também se encontrava no local do ataque, mas conseguiu

escapar – descreveu um ataque brutal. Um dos indígenas foi encontrado quase

decepado, apresentando sinais de tortura (foi chicoteado) e muitos ferimentos

provocados por facão. De acordo com o cacique Valdenilson Oliveira dos Santos, os

indígenas assassinados moravam na fazenda São José, localizada no Mamão (distrito de

Lençóis, município de Una), porção sul da TI. Na fazenda, retomada pelos Tupinambá

em 22 de junho último, viviam seis famílias indígenas.

Os recentes assassinatos não são casos isolados. Em diferentes pontos da TI (note-

se que não na Serra do Padeiro), vários indígenas foram assassinados nos últimos anos,

em circunstâncias não esclarecidas; alguns casos, senão todos, enfatizam os Tupinambá,

relacionam-se à disputa territorial. Também várias têm sido as denúncias efetuadas pelos

indígenas sobre a atuação de pistoleiros contratados por fazendeiros. Apesar disso, ainda

segundo os Tupinambá, as investigações policiais têm sido conduzidas desconsiderando

os prováveis vínculos entre os assassinatos e a luta pela terra.

Cerca de dois meses antes dos assassinatos dos três Tupinambá referido acima, o

jornal A Região, de Itabuna, publicou editorial descrevendo a dramática situação dos

pretensos proprietários de terras da região, vítimas da “justiça caolha”, da “suspeita

Funai” e do “governo esquerdóide Dilma”. Na conclusão, o autor convidava ao crime,

repetindo a frase da manchete: “Só restam as armas”22

. Na mesma época, um outdoor

22

Para uma análise sobre a cobertura de imprensa do caso tupinambá, ver Alarcon; Couto (2014).

14

instalado na região acusava os índios de “genocídio” e trazia a imagem de dois homens

sem rosto apontando armas, acima dos dizeres: “Responda [,] governador [,] antes que

seja tarde demais”. De agosto de 2013, para cá, relatam os indígenas, as ameaças contra

eles têm sido cotidianas. Membros de organizações indigenistas que os apoiam e mesmo

funcionários da Funai também denunciaram ameaças23

.Quando da prisão de Babau, a

principal preocupação dos indígenas era com sua segurança.

Em razão das ameaças, os Tupinambá da Serra do Padeiro praticamente não têm

saído da aldeia, o que acarreta significativos prejuízos econômicos, ao dificultar a

comercialização da produção agrícola, e impede o acesso a serviços de saúde, entre

outros impactos. Em maio, em visita à Serra do Padeiro, soube de um jovem indígena

deficiente que havia meses não recebia os benefícios sociais que lhes são devidos, pois

seus pais tinham medo de ir ao fórum de Buerarema para regularizar sua situação. Um

episódio ocorrido no último dia 30 de maio demonstra que sua preocupação não é

infundada. Três indígenas (uma senhora e dois jovens) moradores da região conhecida

como Maruim foram atacados no centro de Buerarema, por cerca de vinte pessoas, que

suspeitavam da participação dos primeiros no assassinato de Juracy Santana, caso que

se comentou na seção anterior. Conforme noticiado pela imprensa, os indígenas estavam

em um ponto de ônibus, retornando à aldeia, quando foram hostilizados; um deles,

espancado e atingido por pauladas na cabeça, teve de ser hospitalizado.

Como se vê, o povo Tupinambá está exposto a uma ampla gama de violações de

direitos e violência cotidiana, praticada por uma parcela da sociedade regional

mobilizada contra a demarcação da TI, no marco da omissão do governo federal no que

diz respeito à sua atribuição legal de garantir os direitos territoriais indígenas. Ainda

assim, como se indicará na seção seguinte, os indígenas seguem mobilizados no

processo de recuperação do território que tradicionalmente ocupam.

Fechando o círculo

“Faz 32 anos que os caboclos estão trabalhando para isso voltar para a gente”,

disse-me uma senhora indígena (a quem chamarei Rosa), ao entrar pela primeira vez em

uma fazenda retomada em 16 de dezembro de 2013, ao pé da formação rochosa que dá

nome à aldeia Serra do Padeiro. Em seu breve comentário, ela aludia a um marco

23

Recentemente, um veículo da Funai foi apedrejado ao passar pela sede de Buerarema; dias depois,

uma funcionária, que prefere não ser identificada, recebeu um telefonema anônimo: “Em Buerarema,

você não passa nunca mais”. Comunicação pessoal à autora, 25 abr. 2014.

15

importante do processo expropriatório sofrido por sua família: a morte de João de Nô

(João Ferreira da Silva), conhecido rezador e pai do pajé da Serra do Padeiro, ocorrida em

16 de agosto de 1981. Na área retomada – a fazenda São João, que passou para as mãos

dos não índios precisamente em 1981 –, ainda se ergue a última morada de João de Nô24

.

Ao mesmo tempo, dona Rosa referia-se aos encantados (utilizando o termo

caboclo como sinônimo) e ao papel desempenhado por esses seres no processo de

recuperação territorial, tanto em episódios de confrontação aberta, quanto nos períodos

de resistência indígena mais ou menos silenciosa e, por vezes, invisível25

. Ela falava do

retorno de uma das fatias de terra subtraídas ao território, sequestradas em fazendas.

Neste caso, de uma fatia especialmente significativa, por ter sido o lugar de um dos

troncos velhos e por dar acesso à Serra do Padeiro, considerada a morada dos

encantados e a principal referência territorial dos indígenas dessa aldeia26

.

Consultados pelo pajé, os encantados haviam deixado claro que 2013 seria um ano

crucial para a luta pela terra, observa o cacique Babau. De junho a agosto, apenas na

aldeia Serra do Padeiro, foram retomadas ao menos 38 fazendas; em dezembro, foram

recuperadas a fazenda São João e áreas contíguas27

. “Foi a melhor coisa: se vai brigar,

briga de uma vez. Nós fechamos o círculo”, analisa Babau. Desde então, apenas a fazenda

Sempre Viva (onde se instalou a base policial) foi desocupada pelos indígenas.

O expressivo aumento de áreas em posse dos Tupinambá da Serra do Padeiro

levou-os a experimentar novas formas de organização e distribuição pelo território,

privilegiando o retorno das famílias extensas para os locais identificados como de

origem de seus troncos. Do mesmo modo, iniciativas que já estavam em curso

anteriormente, como os mutirões semanais nas roças de cacau, vêm sendo combinadas a

24

Para uma reconstituição da trajetória de João de Nô e da história/memória dos Tupinambá na Serra

do Padeiro, articulada em torno do eixo expropriação/resistência, ver Alarcon (2013: passim). 25

Sobre a agência política dos encantados, ver, da autora, “„A luta está no sangue e, além disso, os

caboclos empurram‟: participação de seres não humanos nas retomadas de terras na aldeia

Tupinambá de Serra do Padeiro, Bahia”, aceito para publicação na revista Pós. 26

Categoria nativa que pode ser encontrada em etnografias de diferentes povos indígenas, tronco é

uma expressão comumente utilizada pelos Tupinambá da Serra do Padeiro para demarcar a

existência, em sua aldeia, de dois coletivos indígenas, cada qual referido a um antepassado do sexo

masculino. Ao enfatizar a ascendência comum aos membros de um mesmo coletivo, os Tupinambá

põem em relevo a trajetória histórica por eles compartilhada e seu pertencimento territorial. No caso

Tupinambá, o “sistema de metáforas” operado nesta “solução classificatória” (Arruti, 2004: 265)

assenta-se no par troncos velhos e brotos, conectados pelo sangue. 27

Até a conclusão deste texto, não havia procedido à sistematização dos dados sobre as ações de retomada posteriores a junho de 2012 (nome da fazenda retomada e de seus pretensos proprietários,

extensão aproximada da área em hectares, coordenadas geográficas e data da ação de retomada), o que

se pretende fazer em breve. Falo em 38 áreas baseando-me nas anotações efetuadas pelos Tupinambá.

16

novos modos de organização do tempo, com parte das famílias mobilizada em uma

grande turma de trabalho coletivo permanente28

.

Após a última rodada de retomadas, restam poucas áreas na Serra do Padeiro em

mãos de fazendeiros. A maior parte das áreas ainda não recuperadas ali está em posse de

pequenos posseiros e sitiantes, já que os indígenas mantiveram a diretriz de não ocupar

áreas com essas características29

. É o caso de uma numerosa família não indígena

herdeira de uma área de 80 ha nas imediações do ribeirão da Luzia. Referidos como “o

pessoal de Dete” (pois foi de uma Odete que herdaram a área), eles seguem vivendo e

trabalhando na terra, e mantêm relações amenas com os índios. Já o Conjunto Trindade,

lindeiro àquela área, foi retomado em 4 de junho de 201330

. São pretensos proprietários

do conjunto os herdeiros de Pedro Marques de Sá, que, durante décadas, foi delegado de

polícia de Itabuna e é lembrado pelos indígenas que lhe foram contemporâneos como

alguém que jogou papel importante nas tomas de terras aos indígenas, fossem

protagonizadas por ele próprio, seus prepostos ou outros fazendeiros, seus “amigos”.

Considero que as retomadas fazem a terra falar, isto é, que, após cada ação de

recuperação territorial, desencadeia-se vigorosa circulação de narrativas sobre a fazenda

retomada, sobre as violências ali cometidas e as personagens cujas vidas se entrelaçaram

com aquele ato expropriatório em particular. Com o Conjunto Trindade, não foi diferente.

Só após a ação de retomada, indígenas que trabalhavam na fazenda puderam conviver

livremente com seus parentes. A esse respeito, uma senhora indígena que vivia naquela

fazenda comentou: “Eu conhecia [os parentes]. Mas a gente não tinha bem aproximação.

Através de patrão – você sabe como é, né? Quem trabalha para certo tipo de patrão é

como se fosse escravo”. Outro indígena, trabalhador em uma fazenda limítrofe,

recuperada na mesma data, participava às escondidas das reuniões da Associação dos

Índios Tupinambá da Serra do Padeiro (AITSP). “Eu ia para as reuniões. Mas eu ia assim,

para o dono não estar sabendo, né? Senão, podia ser ruim para mim.”

Uma vez retomadas as áreas, esses indígenas, que conviveram com os fazendeiros,

puderam começar a partilhar com o resto da aldeia as informações que conheciam – neste

caso, numerosos fragmentos sobre violações de direitos trabalhistas e violência contra

sitiantes vizinhos à área. “Ele [Pedro Marques] era um velho assim: gordo, branco. Ele era 28

O escopo deste texto não permitirá uma discussão mais aprofundada sobre as permanências e

transformações observadas com as novas retomadas. Para uma caracterização do processo de

“construção da aldeia” até meados de 2012, ver Alarcon (2013: 167-233). 29

Sobre as articulações entre etnia e classe no caso tupinambá, ver Ibid.: 102-106. 30

Compõem o conjunto as fazendas Trindade, Boa Vista II, Boa Vista III, Belo Horizonte e Santa

Rosa. Os herdeiros reclamam ainda a propriedade da fazenda Boa Vista, também retomada.

17

delegado, delegado regional. Tinha ordem mesmo.” “Era um inferno na vida. O filho do

dono falava para Adelino [pseudônimo] que ia medir a fazenda e, se faltasse, ele ia tomar

da rocinha de Adelino.” “A mulher dele [de Pedro Marques] era uma pessoa boa. Fim de

semana, ela levava pão para a gente. Porque quem trabalha assim em fazenda tem

dificuldade, com aquele salariozinho.” “Ele soltava os burros na roça para comer as

bananeiras nossas.” “Aí o filho de Pedro Marques começou a castigar João [pseudônimo],

diminuir o salário dele.” “Todo mundo que trabalhou naquela roça ali teve vida sofrida.

Ôxi, teve gente que saiu daquela roça ali e morreu de fome.” “O administrador falava que,

se os índios entrassem [na fazenda], mandava bala.”

Documentos encontrados na sede do Conjunto Trindade também contribuem para

definir os contornos do quadro em que se inserem as retomadas de terras. Nas planilhas de

controle de venda de gêneros agrícolas produzidos em regime de “parceria”, vemos que

os indígenas que se desempenhavam como meeiros recebiam menos da metade do valor

daquilo que produziam. O mapa das fazendas, por sua vez, sugere que o fazendeiro estava

em posse efetiva de uma área superior àquela para a qual dispunha de título. Finalmente,

os quadros pendurados na parede – diploma de “delegado de furtos e roubos de Itabuna de

maior destaque” de 1981, concedido pela Rádio Santa Cruz e pela Rádio Cultura de

Ilhéus; certificado “pelo desempenho em sua(s) atividade(s) durante o ano de 1989”,

conferido pelo Rádio Clube de Itabuna – indicam que a proximidade entre a imprensa e os

poderes locais não é fato novo na disputa pelo território tupinambá.

Como se vê, mesmo em face da violência protagonizada por setores da população

regional e pelo Estado, os Tupinambá da Serra do Padeiro seguem no processo de

recuperação territorial. O fato de a retomada da fazenda São João – antigo lugar de João

de Nô, acesso para a morada dos encantados – ter sido retomada com as forças de

repressão já na região parece-me especialmente significativo.

***

Nesta apresentação, buscou-se indicar alguns elementos do atual momento do

processo de territorialização dos Tupinambá da aldeia Serra do Padeiro, que se pretende

investigar de forma sistemática no próximo período. Antes de terminar, cabe informar

que, no último dia 3 de junho, o MJ prorrogou a permanência da FNSP no território por

mais quinze dias, sem dar qualquer sinal sobre a conclusão do processo demarcatório.

18

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violência no litoral sul do Estado da Bahia.

19

___. Portaria nº910, de 2 de junho de 2014. Dispõe sobre a prorrogação da atuação da

Força Nacional de Segurança Pública em apoio ao estado da Bahia nas ações de

combate à violência na região sul do Estado.

___. Portaria nº389, de 21 de fevereiro de 2014. Dispõe sobre a atuação da Força

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20

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