maio 2010 as metrópoles no censo 2010: quem...

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www.observatoriodasmetropoles.net Página | 1 Maio 2010 As metrópoles no Censo 2010: quem somos? Introdução Os recentes dados divulgados na Sinopse do Censo Demográfico 2010, que contém os primeiros resultados definitivos do XII Recenseamento Geral do Brasil, mostram que o Brasil tem 190.755.799 habitantes. O Censo a cada dez anos revela um retrato do país. Através desse levantamento que é possível saber, por exemplo, que temos hoje um país mais urbano (cada vez mais), com mais mulheres e que crianças com idade entre 10 e 14 anos chefiam 132 mil lares no Brasil. Os recentes dados divulgados revelam também que população das regiões metropolitanas oficiais chegou a 85.406.427, sendo que destes, 69.115.806 estão concentrados em 15 destas regiões que podem ser considerados de fato metropolitanos. Antes que apresentemos os dados para estas divisões territoriais, que é o objetivo principal destes documentos, vale a pena tecer alguns considerações sobre estas definições, visto que o conceito de metrópole utilizado nos vários trabalhos da Rede Observatório das Metrópoles não se confunde com o de Região Metropolitana, como veremos adiante 1 . Regiões Metropolitanas Oficiais As primeiras regiões metropolitanas no Brasil foram criadas em 1973, através da Lei Complementar 14 que, por sua vez, obedecia a Constituição de 1967. A partir da Constituição de 1988 a responsabilidade pela criação e organização das regiões metropolitanas foi transferida do governo federal para os estados, de acordo com o § 3º do Artigo 25.1. Ao longo dos anos, porém, o quadro metropolitano oficial sofre alterações, tanto na composição interna das RMs, com a inclusão e exclusão de municípios, quanto na criação de novas RMs. O Observatório das Metrópoles, nesse sentido, vem realizando o monitoramento do quadro institucional das RMs brasileiras, procurando acompanhar suas mudanças através de um sistemático estudo sobre o universo metropolitano oficial, ou seja, as regiões cuja existência está definida por lei federal ou estadual. Até 31 de março de 2010, constatamos que o Brasil conta com 35 1 Quanto às definições e conceitos utilizados nas pesquisas do IBGE podem ser encontrados em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/conceitos_definicoes.pdf

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Maio 2010

As metrópoles no Censo 2010: quem somos?

Introdução

Os recentes dados divulgados na Sinopse do Censo Demográfico 2010, que

contém os primeiros resultados definitivos do XII Recenseamento Geral do Brasil,

mostram que o Brasil tem 190.755.799 habitantes. O Censo a cada dez anos revela um

retrato do país. Através desse levantamento que é possível saber, por exemplo, que

temos hoje um país mais urbano (cada vez mais), com mais mulheres e que crianças

com idade entre 10 e 14 anos chefiam 132 mil lares no Brasil.

Os recentes dados divulgados revelam também que população das regiões

metropolitanas oficiais chegou a 85.406.427, sendo que destes, 69.115.806 estão

concentrados em 15 destas regiões que podem ser considerados de fato

metropolitanos. Antes que apresentemos os dados para estas divisões territoriais, que

é o objetivo principal destes documentos, vale a pena tecer alguns considerações

sobre estas definições, visto que o conceito de metrópole utilizado nos vários

trabalhos da Rede Observatório das Metrópoles não se confunde com o de Região

Metropolitana, como veremos adiante1.

Regiões Metropolitanas Oficiais

As primeiras regiões metropolitanas no Brasil foram criadas em 1973, através

da Lei Complementar 14 que, por sua vez, obedecia a Constituição de 1967. A partir da

Constituição de 1988 a responsabilidade pela criação e organização das regiões

metropolitanas foi transferida do governo federal para os estados, de acordo com o §

3º do Artigo 25.1. Ao longo dos anos, porém, o quadro metropolitano oficial sofre

alterações, tanto na composição interna das RMs, com a inclusão e exclusão de

municípios, quanto na criação de novas RMs. O Observatório das Metrópoles, nesse

sentido, vem realizando o monitoramento do quadro institucional das RMs brasileiras,

procurando acompanhar suas mudanças através de um sistemático estudo sobre o

universo metropolitano oficial, ou seja, as regiões cuja existência está definida por lei

federal ou estadual. Até 31 de março de 2010, constatamos que o Brasil conta com 35

1 Quanto às definições e conceitos utilizados nas pesquisas do IBGE podem ser encontrados em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/conceitos_definicoes.pdf

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regiões metropolitanas (RMs) e 3 regiões integradas de desenvolvimento econômico

(RIDE’s). Algumas RMs contam ainda com colares metropolitanos, áreas de expansão

metropolitana e entorno metropolitano definidos em lei. No caso das RIDE’s, vale

lembrar ainda, que a sua composição inclui municípios de diferentes unidades de

federação.

No quatro 1 apresentamos as 38 RMs/RIDEs que comportam 444 municípios,

elas estão distribuídas por 22 unidades da federação, e sua localização de acordo com

as cinco grandes regiões se encontra abaixo.

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste

Belém (PA) Aracajú (SE) Baixada Santista (SP) Carbonífera (SC) Goiânia (GO)

Macapá (AP) Agreste (AL) Belo Horizonte (MG) Chapecó (SC) RIDEDF*

Manaus (AM) Cariri (CE) Campinas (SP) Curitiba (PR)

Fortaleza (CE) Grande Vitória (ES) Florianópolis (SC)

Grande São Luís

(MA)Rio de Janeiro (RJ)

Foz do Itajaí (SC)

João Pessoa (PB) São Paulo (SP) Lages (SC)

Maceió (AL) Vale do Aço (MG) Londrina (PR)

Natal (RN) Maringá (PR)

Recife (PE)

Porto Alegre (RS)

Ride Teresina/Timon Tubarão (SC)

Salvador (BA) Vale do Itajaí (SC)

Sudoeste

Maranhense (MA)

3 13 7 12 3

* A RIDEDF conta com dois municípios do estado de Minas Gerais, portanto da região Sudeste. Para

efeito de contagem optamos por manter essa RIDE na região Centro-Oeste, visto que o núcleo

metropolitano e a maioria dos municípios pertecem a essa região.

38

Vale do Rio

Cuiabá (MT)

Norte/Nord

Catarinense (SC)Ride

Petrolina/Juazeiro

Quadro 1: Regiões Metropolitanas segundo as Grandes Regiões - 2010

Fonte: Assembléias Legislativas Estaduais, Governos de Estado ; www.planalto.gov.br e

www.integracao.gov.br.,para legislação federal

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Maio 2010

Mapa 1 Localização das Regiões Metropolitanas Oficiais

As 15 Metrópoles Brasileiras

A criação de regiões metropolitanas, na maioria das vezes, não obedece a

critérios claros, objetivos e consistentes, tanto na sua institucionalização, quanto na

definição dos municípios que as compõem. Além disso, as 38 atuais regiões

metropolitanas oficiais, apesar de contemplar todas as 20 maiores cidades brasileiras,

foram criadas por diferentes legislações e se configuram em unidades regionais

bastante distintas. Por este motivo, o Observatório das Metrópoles realizou um

trabalho que identificou aquelas que se constituem como “metropolitanas”, por meio

da avaliação da capacidade destes aglomerados urbanos polarizarem o território

brasileiro nas escalas nacional, regional e local, além de hierarquizar os municípios

abarcados pelas RM´s segundo o grau de integração com a dinâmica metropolitana

(Observatório, 2009). A partir deste estudo foram identificados 15 espaços urbanos

metropolitanos: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília,

Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza, Campinas, Manaus, Vitória, Goiânia, Belém e

Florianópolis (ver Mapa 2). Vale lembrar que esses 15 espaços considerados

metropolitanos têm enorme importância na concentração das forças produtivas

nacionais. Eles centralizam 62% da capacidade tecnológica do país, medida pelo

número de patentes, artigos científicos, população com mais de 12 anos de estudos e

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Maio 2010

valor bruto da transformação industrial (VTI) das empresas que inovam em produtos e

processos. Nestas 15 metrópoles estão concentrados também 55% do valor de

transformação industrial das empresas que exportam.

Mapa 2 Localização dos espaços urbanos metropolitanos

As metrópoles retratadas no Censo 2010

Conforme os resultados do Censo 2010 são publicizados pelo IBGE temos

procurado realizar análises utilizando as definições e recortes espaciais apresentados

acima. Anteriormente já analisamos tais resultados frente a algumas tendências da

metropolização do país identificadas nos últimos 30 anos (Ver: "Censo 2010: as

metrópoles ainda crescem" e "As Metrópoles no Censo 2010: novas tendências?"). Os dados

revelam certamente a confirmação de muitas mudanças já observadas e que já têm

sido objeto de intensos debates. Entretanto, é preciso ter cuidado para não encobrir

as muitas permanências que ainda se observam no território brasileiro, especialmente

o metropolitano, revelados pelos dados demográficos. Neste contexto, consideramos

que é necessário mergulhar na complexidade do sistema urbano brasileiro para que as

definições atribuídas às diversas possibilidades de recortes espaciais em um país de

dimensões continentais como o Brasil não sejam utilizadas de maneira equivocada

frente à importância dessas categorias.

Para uma análise das informações disponibilizadas na Sinopse do Censo 2010

agregamos os dados dos municípios das 35 regiões metropolitanas oficiais e 3 RIDES,

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Maio 2010

considerando também as 15 metrópoles identificadas no estudo do Observatório

mencionado acima.

Com base em análise realizada anteriormente verificamos que os primeiros

dados do Censo 2010 revelam que as metrópoles não perdem população e o quadro

da distribuição da população brasileira é um pouco diferente daquele que às vezes tem

sido veiculado através das recentes notícias nos diversos meios de comunicação.

Levantamentos baseados na comparação entre os Censos Demográficos de

1991, 2000 e 2010 nos mostram que desde 1991 as 15 metrópoles têm aumentado sua

participação no total da população brasileira. Neste ano, as metrópoles representavam

34,9% da população do país. Esse percentual aumentou para 36% em 2000 e 36,2% em

2010. Algumas metrópoles, porém, tem perdido participação na população do país,

como são os casos de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife. No entanto, a

maioria delas mantém sua participação ou tem o percentual de participação alargado.

Composição da população por sexo

No geral a população das 38 regiões metropolitanas oficiais aumentou em 18%

entre 2000 e 2010 e esse aumento foi maior para a população feminina, que sofreu um

acréscimo de 14,3%, enquanto a população masculina aumentou em 13,2%. É

interessante mencionar que, ao analisar separadamente as 15 RMs classificadas como

metrópoles e as demais regiões metropolitanas oficiais, há significativas diferenças no

crescimento da população de homens e mulheres. Nas metrópoles houve um aumento

de 13% na população total. Esse crescimento foi relativamente menor do que nas

outras RMs, onde a população aumentou em 17,3%. As metrópoles registraram um

aumento de 12,4% na população masculina e 13,5% na população feminina. Vale

registrar, neste contexto, que no restante das RMs houve um maior crescimento da

população masculina da ordem de 23,1%, enquanto a população feminina aumentou

em 17,7%, ou seja, neste caso, o resultado se inverte, sendo a população masculina

aquela que apresenta maior crescimento. Com isso, contrariando a tendência do país

como um todo e das 15 metrópoles, nas outras RMs oficiais ocorreu um aumento da

razão de sexo, passando de 0,93 para 0,98 entre 2000 e 2010. Analisando

individualmente verifica-se uma masculinização crescente nas RMs Foz do Itajái (SC),

Vale do Rio Cuiabá (MT), Macapá (AP), Ride Petrolina/Juazeiro (PE/BA), Vale do Itajaí

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(SC), Carbonifera (SC), Norte/Nordeste Catarinense e Chapecó (SC). Entre as 15

metrópoles ocorreu um aumento da razão de sexo apenas em Campinas (SP) e Manaus

(AM). Vale acrescentar ainda que todas essas RMs onde se verificou aumento –

incluindo essas duas metrópoles – apresentam razão de sexo superior à média

nacional que é de 0,96.

Gráfico 1 – Incremento populacional, por divisão territorial, segundo o sexo (%) – 2000/2010

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010.

Ademais, verificam-se diferenças significativas no que diz respeito à razão de

sexo quando comparamos as RMs entre si. Recife (PE), Salvador (BA), Aracajú (SE) e

Maceió (AL) apresentam as menores razões entre todas, com 0,89. Por outro lado,

Norte/Nordeste Catarinense (SC) e Chapecó (SC) apresentam as mais altas razões de

sexo entre as RMs, com 0,99. Nota-se, portanto, que em nenhuma das RMs existe a

predominância masculina, como acontecia em 2000 na RM de Lages (SC), que neste

ano apresentava razão de masculinidade da ordem de 1,02. O gráfico 4 mostra razão

de sexo para todas as RMs no ano de 2010.

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Maio 2010

Gráfico 2 – Composição da população segundo o sexo – 2000 e 2010

Fonte: Censos demográficos de 2000 e 2010

Gráfico 3– Razão de sexo da população – 2010

Fonte: Censo Demográfico 2010.

0,86

0,88

0,90

0,92

0,94

0,96

0,98

1,00

1,02

2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010

Brasil Regiões metropolitanas

15 Metrópoles Outras RMs Oficiais

Demais Municípios

0,82

0,84

0,86

0,88

0,90

0,92

0,94

0,96

0,98

1,00

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Maio 2010

Estrutura Etária entre 2000 e 2010

A dinâmica demográfica é geralmente analisada pelas alterações nos padrões

de fecundidade, mortalidade e migração. Com a diminuição das taxas de mortalidade e

fecundidade, devido às transformações sociais, econômicas e culturais que ocorreram

especialmente a partir do acelerado processo de urbanização, muitas mudanças

ocorreram no ritmo de crescimento populacional de todas as áreas do país, assim

como na importância das componentes demográficas sobre a distribuição e o

crescimento populacional entre os espaços – a mortalidade, a fecundidade e a

migração. Com a redução especialmente das taxas de fecundidade, observamos uma

tendência geral de diminuição do ritmo de crescimento populacional, que vai

apresentando impacto diferenciado sobre os grupos demográficos de crianças, jovens,

adultos e idosos; assim como segue apresentando comportamento diferenciado entre

as regiões do país, e entre espaços internos nas próprias cidades e áreas

metropolitanas.

A estrutura etária de uma população é bastante representativa da dinâmica

demográfica e pode remeter a outras dimensões de desenvolvimento e urbanização,

uma vez que a composição dos grupos etários e dinâmica inter-geracional é

influenciada pelas condições socioeconômicas da sociedade – essa estrutura contribui

inclusive para o entendimento e previsões sobre o ritmo de crescimento populacional.

Neste sentido, pirâmides etárias com bases mais largas e que vão estreitando

conforme aumenta os grupos de idade geralmente representam populações com

regimes de fecundidade mais altos e que ainda não experimentaram de forma mais

visível o processo de envelhecimento populacional, provavelmente com crescimento

populacional ainda significativo também.

“Na medida em que a fecundidade declina, menos crianças nascem e a base da

pirâmide vai se estreitando, com uma tendência à forma retangular, característica de

uma população envelhecida” (Carvalho, Sawyer e Rodrigues, 1998). O processo de

envelhecimento de uma população está relacionado à mudança em sua estrutura

etária. A fecundidade influencia muito neste processo, pois quando a fecundidade cai,

a base da pirâmide diminui, e a população envelhece mais, mesmo que a mortalidade

permaneça a mesma. Portanto, o envelhecimento populacional não está

necessariamente relacionado à longevidade; longevidade é viver mais tempo, significa

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Maio 2010

alcançar maior quantidade de anos, o que é uma decorrência do processo, o fato de

viver mais pode estar relacionado à melhoria das condições de vida, o que permite que

a longevidade aumente. Já o envelhecimento populacional é a mudança na estrutura

etária da população, quando a proporção de pessoas em idades mais avançadas está

aumentando na população.

No mundo inteiro, as taxas de natalidade e mortalidade eram muito altas. O

processo que foi chamado pelos demógrafos de “transição demográfica” constitui-se,

basicamente, na redução dessas taxas em momentos diferentes, sendo um fenômeno

marcante no século XX e que acontece uma única vez. O Brasil, assim como

experimentou uma “transição urbana” acelerada, passou também por um processo de

transição demográfica que acompanhou o primeiro processo, tendo praticamente

realizado as grandes fases dos anos 40 aos anos 2000.

Mesmo este sendo um processo presente em todo o país, desdobrando essa

realidade em outros recortes espaciais, podemos ainda apreender algumas diferenças.

Separamos aqui a estrutura etária para as regiões metropolitanas oficiais e áreas não-

metropolitanas (interior). Entre as primeiras separamos ainda as RMs identificadas

pelo Observatório das Metrópoles como aglomerações realmente com funções

metropolitanas e as demais RMs. Entre estes 15 aglomerados metropolitanos,

dividimos a estrutura etária para os núcleos destas RMs e para as periferias, como

fizemos anteriormente.

Chegamos à virada do século XX para o XXI com uma estrutura etária já

característica de uma sociedade que passou pela transição demográfica, expressando a

fecundidade em declínio, grupos etários referentes aos jovens e adultos mais robustos

e o envelhecimento populacional. No decorrer dos anos 2000, estas transformações se

aprofundam, conforme é possível verificar nas pirâmides etárias a seguir. No geral,

para o Brasil, as faixas até 24 anos vão reduzindo sua participação na composição

etária, enquanto as faixas subsequentes (a partir de 25 anos) ganham maior

participação. Essas ocorrências tornam nítido o avanço do envelhecimento

populacional.

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Gráfico 4 – Brasil: Pirâmides Etárias – 2000/2010

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010.

Diante deste quadro, certamente podemos presumir que a taxa de fecundidade

– que em 2000 era de 2,4 filhos por mulher – será mais reduzida ainda quando puder

ser calculada para 2010. Apesar de que, em 2008, a TFT calculada a partir da PNAD foi

1,89 e voltou a crescer em 2009 – 1,94 filhos por mulher. Isso tem ocorrido em alguns

países, provavelmente devido aos efeitos da inércia demográfica também.

A seguir, observamos as pirâmides etárias dos 15 aglomerados com funções

metropolitanas. Nestes espaços as faixas etárias referentes às crianças se reduzem

ainda mais revelando um processo de mudança de estrutura etária em fase mais

avançada, como esperado em espaços mais urbanizados. Em 2000, as faixas etárias de

15 a 24 anos eram as que tinham maior participação na população total; já em 2010,

são as faixas de 20 a 29 anos (principalmente as de 20 a 24 anos) que se encontram

mais alargadas. A partir dos 30 anos cada faixa subsequente vai reduzindo-se em 2010,

mas podemos notar que a tendência de um ano a outro é a de que essas faixas sigam

ganhando maior participação, especialmente a dos idosos.

Isso mostra que nessa fase do envelhecimento populacional no Brasil e

especialmente nas metrópoles é a população em idade ativa que apresenta maior

participação, com faixas etárias mais robustas, pois o meio da pirâmide se encontra

mais ampliado. Certamente esse processo tem impacto no mercado de trabalho e nas

6% 4% 2% 0% 2% 4% 6%

0 a 4

10 a 14

20 a 24

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70 a 74

80 mais

2010 2000

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condições de inserção ocupacional desta população, revelando maior demanda por

postos de trabalho. O fenômeno da “onda jovem”, um momento no qual, em

decorrência da dinâmica demográfica passada, as faixas etárias de 15 a 24 anos

encontram-se especialmente alargadas” (Bercovich, 2004) ganha menor

expressividade nas regiões metropolitanas. As consequências da constituição dos

grandes grupos etários sobre outros também é relevante. A faixa de 15 a 19 anos que

em 2000 era a mais larga reduz-se, assim como a de 20 a 24, vai ganhando maior

participação os grupos etários em idade mais avançada. Uma população em idade

ativa maior também expressa uma população em idade reprodutiva maior.

Ainda observando as pirâmides etárias das 15 áreas metropolitanas, vemos que

no topo da pirâmide estão as faixas referentes aos idosos, grupo populacional que

apresenta maiores ritmo de crescimento populacional, seguindo a tendência que já

vem sendo observada. As mulheres ainda parecem expressar maior esperança de vida,

visto que as faixas em idade mais avançada – já aproximadamente a partir dos 50 anos

e mais ainda a partir dos 60 – se encontram bem maiores para elas do que para os

homens.

Gráfico 5 – 15 Áreas Metropolitanas*: Pirâmides Etárias – 2000/2010

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010. *Identificadas como metrópoles pelo estudo do Observatório das Metrópoles.

6% 4% 2% 0% 2% 4% 6%

0 a 4

10 a 14

20 a 24

30 a 34

40 a 44

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80 mais

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Maio 2010

Ao observar o mesmo processo nas demais regiões metropolitanas oficiais, mas

que não estão entre o grupo de aglomerados com funções metropolitanas identificado

pelo Observatório das Metrópoles, podemos ver que há algumas diferenças. As

primeiras faixas de idade, apesar de também terem apresentado redução em 2010 em

relação a 2000, apresentam-se mais largas do que nas 15 RMs vistas anteriormente.

Nessas áreas, em 2010, é a faixa de 20 a 24 anos que se encontra abarcando maior

parcela da população, e é a partir destas que as faixas posteriores vão apresentando

redução uma após outra. Ainda assim essas faixas etárias referentes aos adultos e

idosos também vem ampliando-se no decorrer dos anos 2000.

Em proporção um pouco menor do que nas 15 RMs, nas demais regiões

metropolitanas do Brasil também há uma participação considerável da população em

idade ativa, apesar desta estar mais concentrada nas faixas mais anteriores,

principalmente dos 20 aos 29 anos.

Gráfico 6 – Outras Regiões Metropolitanas Oficiais: Pirâmides Etárias – 2000/2010

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010.

Já nos demais municípios brasileiros, que configuram o interior do país, a

estrutura etária apresenta maiores distinções ainda, comparando-se com os espaços

metropolitanos apresentados anteriormente. Em 2000, apesar de também já

manifestar a redução das taxas de fecundidade, eram as faixas de 0 a 19 que tinham

maior participação na população total, especialmente as de 10 a 19 anos, revelando

6% 4% 2% 0% 2% 4% 6%

0 a 4

10 a 14

20 a 24

30 a 34

40 a 44

50 a 54

60 a 64

70 a 74

80 mais

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Maio 2010

maior proporção de jovens; a partir destas, as demais faixas iam reduzindo-se. Em

2010, ocorrem mudanças significativas, pois estas faixas apresentam redução, embora

o grupo etário de 10 a 14 anos ainda permaneça com a maior fatia da população total

para homens e mulheres.

A faixa de 20 a 24 anos parece encontrar-se na transição, pois apresentou

pequena redução durante os anos 2000 no interior do país, espaço este que parece

ainda apresentar mais nitidamente os efeitos da “onda jovem” (em relação aos

espaços metropolitanos que já experimentaram primeiramente), é em torno desta

faixa que há maior concentração populacional. Também nesses espaços os idosos

seguem ganhando maior participação. Interessante notar algumas diferenças entre

homens e mulheres nessa faixa, pois no geral, as mulheres apresentam maior

participação com esperança de vida mais expressiva. Enquanto a participação destas é

mais semelhante entre espaços metropolitanos e não-metropolitanos, a participação

dos homens a partir de 70 anos no interior é maior, comparando-se com as 15 RMs,

por exemplo. O que pode sugerir uma investigação sobre maior participação dos

homens idosos no interior.

Gráfico 7 – Demais municípios – Interior: Pirâmides Etárias – 2000/2010

Fonte: Censo demográfico 2000 e 2010

6% 4% 2% 0% 2% 4% 6%

0 a 4

10 a 14

20 a 24

30 a 34

40 a 44

50 a 54

60 a 64

70 a 74

80 mais

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Maio 2010

Destacando a complexidade do espaço metropolitano: as diferenças entre núcleo e

periferia na Estrutura Etária

Entre aquelas 15 regiões metropolitanas identificadas pelo Observatório das

Metrópoles, separamos os municípios que são o núcleo destas regiões, e que a elas

dão nome, dos demais municípios destes aglomerados. Como esperado, nos núcleos

das metrópoles a dinâmica demográfica é representativa de uma sociedade em estágio

mais avançado do processo de envelhecimento populacional, com uma pirâmide que

já tende cada vez mais ao estreitamento da base e distinção um pouco mais reduzida

entre os grupos de idade. Nestes municípios, em 2010, o grupo etário com maior

participação é o de 25 a 29 anos, já expressando o maior envelhecimento de sua

população. Muito semelhante à pirâmide geral das 15 RMs (até pelo fato de serem

estes núcleos sua maior expressão), a população em idade ativa tem maior relevância

na participação da população total. Apesar dessa semelhança, nos núcleos é possível

notar que a base da pirâmide está mais estreita do que nos demais recortes espaciais

analisados, revelando certamente uma fecundidade ainda mais reduzida. Além disso, a

participação dos idosos é maior.

Gráfico 8 – Núcleos Metropolitanos: Pirâmides Etárias – 2000/2010

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010.

6% 4% 2% 0% 2% 4% 6%

0 a 4

10 a 14

20 a 24

30 a 34

40 a 44

50 a 54

60 a 64

70 a 74

80 mais

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Já nas periferias das regiões metropolitanas, vistas aqui pelos demais

municípios que compõem cada uma das 15 RMs identificadas pelo Observatório das

Metrópoles, o mesmo processo também é observado, entretanto num patamar menos

avançado em relação aos núcleos. Enquanto nestes encontramos uma pirâmide etária,

em 2010, mais robusta no meio, essa robustez ainda é considerável para os grupos

etários de crianças e jovens nas periferias, apesar da redução de 2000 a 2010. Nas

periferias a participação dos idosos é mais reduzida em relação aos núcleos das áreas

metropolitanas. Em 2010, no geral, os grupos de 10 a 29 anos apresentam maior fatia

de participação.

Gráfico 9 – Periferias Metropolitanas: Pirâmides Etárias – 2000/2010

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010.

Abaixo temos a estrutura etária das 15 metrópoles separando núcleo e

periferia na mesma composição. É possível notar a maior participação populacional

dos núcleos metropolitanos em todas as faixas de idade, justamente por estes

apresentarem geralmente maior quantitativo populacional.

Mas nas primeiras faixas referentes à população mais jovem podemos notar

que a participação é quase semelhante entre, enquanto nas faixas mais avançadas

diminui esta participação, confirmando o processo de envelhecimento populacional

mais avançado nos núcleos.

6% 4% 2% 0% 2% 4% 6%

0 a 4

10 a 14

20 a 24

30 a 34

40 a 44

50 a 54

60 a 64

70 a 74

80 mais

2010 2000

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Gráfico 10 – Núcleo e Periferia das 15 Áreas Metropolitanas – 2010

Fonte: Censo Demográfico 2010

Com essas análises preliminares, já podemos identificar como as

transformações decorrentes da transição demográfica e do consequente

envelhecimento populacional tendem aprofundar-se no Brasil. O que se nota, no

entanto, são as diferenças que vão permanecendo entre diferentes recortes espaciais,

pois comparando diferentes espaços num mesmo momento parece que estamos

considerando diferentes períodos, devido às diferenças na estrutura demográfica.

Apesar disso, o processo tem sido semelhante e parece indicar i) a redução da base da

pirâmide etária; ii) maior robustez para os grupos em idade mediana, que tende cada

vez mais para os adultos, ou seja, uma população em idade ativa em idade mais

avançada; e ainda iii) prosseguimento no aumento da participação dos idosos.

Obviamente essas diferenças espaciais constituem reflexos de diferenças

sociais, econômicas, culturais em termos de urbanização, acesso aos serviços de saúde,

escolarização, pluralidade de arranjos familiares, participação no mercado de trabalho,

entre outros aspectos amplamente elencados que influenciam na dinâmica

demográfica, e que também se distribuem desigualmente no espaço brasileiro.

6% 4% 2% 0% 2% 4% 6%

0 a 4

10 a 14

20 a 24

30 a 34

40 a 44

50 a 54

60 a 64

70 a 74

80 mais

Núcleo Periferia

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Referências Bibliográficas

BERCOVICH, Alicia & MADEIRA, Felicia. “Descontinuidades Demográficas no Brasil e no

Estado de São Paulo”. ABEP, 1988.

CARVALHO, J. A. M.; SAWYER, D. O.; RODRIGUES, R. N. Introdução a Alguns Conceitos

Básicos e Medidas em Demografia. São Paulo: ABEP, 1998.

IBGE. Sinopse do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro, 2011

OBSERVATÓRIO das Metrópoles. Hierarquização e identificação dos espaços urbanos.

Rio de Janeiro: Letra Capital/Observatório das Metrópoles, 2009