retomada é desigual e dependente do auxílio do governo · uma base de comparação muito baixa,...

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Sem Opção Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Mercado - Seção: - Assunto: Economia - Página: A19 - Publicação: 15/08/20 URL Original: Retomada é desigual e dependente do auxílio do governo Retomada é desigual e dependente do auxílio do governo Dados mostram força em setores essenciais; para analistas, ritmo vai depender da escala da retirada do benefício social Os sinais de aquecimento da economia verificados pelo IBGE em junho indicam que a retomada ainda é muito focada em artigos essenciais e, segundo economistas ouvidos pela Folha, dependente do auxílio emergencial concedido pelo governo federal após o início da pandemia. Para os especialistas, a manutenção do ritmo de recuperação vai depender da decisão sobre a prorrogação do benefício e de uma recuperação do mercado de trabalho, único dos grandes indicadores do IBGE que ainda não mostrou sinal de melhora . "A reabertura [do comércio] e a transferência de dinheiro nos dão algum otimismo para a transição do segundo para o terceiro trimestre, mas isso pode ser temporário diante do risco de abismo fiscal", dizem os economistas Fábio Ramos e Tony Volpon, do banco UBS. Na comparação com abril, considerado o fundo do poço da pandemia, os dados do IBGE mostraram melhora disseminada nos três grandes setores da economia pesquisados pelo instituto — indústria, comércio e serviço —, mas a evolução se dá sobre uma base de comparação muito baixa, lembra o economista Otto Nogami, do Insper. "Apesar de o valor absoluto [de evolução em relação ao mês anterior] ser grande, os números não necessariamente retratam uma realidade que a economia está vivendo, porque as bases de comparação são extremamente baixas", diz. "E não são garantia de que nos próximos meses estaremos num patamar equivalente ao período anterior o distanciamento social." A comparação com o mês de fevereiro, o último sem nenhuma semana em distanciamento social, já mostra que poucos segmentos da economia conseguiram recuperar o patamar anterior à crise, a maior parte deles ligada ao consumo de bens essenciais . Na indústria, operam no azul os fabricantes de alimentos, bebidas, produtos de higiene e farmacêuticos, por exemplo. Os bens semi e não duráveis se recuperaram do tombo recorde do pico da pandemia,mas ainda estão em nível bem abaixo . Montadoras e o setor calçadista, por exemplo, produzem menos da metade do volume verificado em fevereiro. A fabricação de roupas está em um patamar 37% inferior, e a produção de equipamentos de informática é quase 20% menor. No comércio, a recuperação do patamar de fevereiro foi puxada pelo setor de supermercados , que representa mais de 50% do indicador e não parou durante a crise. Em relação a fevereiro, operam no terreno positivo também material de construção e móveis, vistos como reflexo da injeção de dinheiro do auxílio emergencial na economia. Na avaliação de Nogami, mesmo a leve recuperação de setores não essenciais em relação a abril pode mostrar efeitos de reposição de estoques e da demanda reprimida durante as semanas de isolamento. "Foi um pico em razão da demanda reprimida e agora vai tender a entrar em uma linha de normalidade." O IBGE vê, por exemplo, um aumento nas compras de produtos para o lar, o que explicaria o aumento de 31% nas vendas de móveis em junho. "As pessoas estão passando mais tempo em casa, entendendo as necessidades, e pode ser que a renda do auxílio acabe virando consumo, e não poupança", disse o gerente da pesquisa de comércio do instituto, Cristiano Santos. Mesma percepção tem a indústria têxtil, que vê maior movimentação no setor de cama, mesa e banho do que no de vestuário. As vendas de tecidos, vestuário e calçados cresceram 53,2% em junho. O indicador de serviços, principal motor do PIB brasileiro, reforça as dúvidas sobre o ritmo de recuperação . Mesmo com crescimento de 5% em relação a maio, o volume de serviços no país ainda está perto do piso histórico. O banco Fator lembra que a recuperação desse setor tem forte influência sobre o emprego e a renda do brasileiro. "A recuperação mais lenta do setor preocupa principalmente por seu peso no mercado de trabalho. Segundo o Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados], 47% dos empregos formais em janeiro estavam no setor." De acordo com o IBGE, o número de brasileiros sem nenhuma ocupação é recorde e, em maio, o contingente dos desocupados foi maior do que de ocupados pela primeira vez desde que o o início da pesquisa com o formato atual — situação que se repetiu em junho. Para os economistas, a volta às compras mesmo com o mercado de trabalho em sua maior crise indica que o auxílio tem sido

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    Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Mercado - Seção: - Assunto: Economia -Página: A19 - Publicação: 15/08/20URL Original:

    Retomada é desigual e dependente do auxílio dogovernoRetomada é desigual e dependente do auxílio dogovernoDados mostram força em setores essenciais; para analistas, ritmo vaidepender da escala da retirada do benefício socialOs sinais de aquecimento da economia verificados pelo IBGE em junho indicam que a retomada ainda é muito focada em artigosessenciais e, segundo economistas ouvidos pela Folha, dependente do auxílio emergencial concedido pelo governo federal apóso início da pandemia.Para os especialistas, a manutenção do ritmo de recuperação vai depender da decisão sobre a prorrogação do benefício e deuma recuperação do mercado de trabalho, único dos grandes indicadores do IBGE que ainda não mostrou sinal de melhora."A reabertura [do comércio] e a transferência de dinheiro nos dão algum otimismo para a transição do segundo para o terceirotrimestre, mas isso pode ser temporário diante do risco de abismo fiscal", dizem os economistas Fábio Ramos e Tony Volpon, dobanco UBS.Na comparação com abril, considerado o fundo do poço da pandemia, os dados do IBGE mostraram melhora disseminada nostrês grandes setores da economia pesquisados pelo instituto — indústria, comércio e serviço —, mas a evolução se dá sobreuma base de comparação muito baixa, lembra o economista Otto Nogami, do Insper."Apesar de o valor absoluto [de evolução em relação ao mês anterior] ser grande, os números não necessariamente retratamuma realidade que a economia está vivendo, porque as bases de comparação são extremamente baixas", diz. "E não sãogarantia de que nos próximos meses estaremos num patamar equivalente ao período anterior o distanciamento social."A comparação com o mês de fevereiro, o último sem nenhuma semana em distanciamento social, já mostra que poucossegmentos da economia conseguiram recuperar o patamar anterior à crise, a maior parte deles ligada ao consumo de bensessenciais. Na indústria, operam no azul os fabricantes de alimentos, bebidas, produtos de higiene e farmacêuticos, porexemplo.Os bens semi e não duráveis se recuperaram do tombo recorde do pico da pandemia, mas ainda estão em nível bem abaixo.Montadoras e o setor calçadista, por exemplo, produzem menos da metade do volume verificado em fevereiro. A fabricação deroupas está em um patamar 37% inferior, e a produção de equipamentos de informática é quase 20% menor.No comércio, a recuperação do patamar de fevereiro foi puxada pelo setor de supermercados, que representa mais de 50% doindicador e não parou durante a crise. Em relação a fevereiro, operam no terreno positivo também material de construção emóveis, vistos como reflexo da injeção de dinheiro do auxílio emergencial na economia.Na avaliação de Nogami, mesmo a leve recuperação de setores não essenciais em relação a abril pode mostrar efeitos dereposição de estoques e da demanda reprimida durante as semanas de isolamento. "Foi um pico em razão da demandareprimida e agora vai tender a entrar em uma linha de normalidade."O IBGE vê, por exemplo, um aumento nas compras de produtos para o lar, o que explicaria o aumento de 31% nas vendas demóveis em junho. "As pessoas estão passando mais tempo em casa, entendendo as necessidades, e pode ser que a renda doauxílio acabe virando consumo, e não poupança", disse o gerente da pesquisa de comércio do instituto, Cristiano Santos.Mesma percepção tem a indústria têxtil, que vê maior movimentação no setor de cama, mesa e banho do que no de vestuário.As vendas de tecidos, vestuário e calçados cresceram 53,2% em junho.O indicador de serviços, principal motor do PIB brasileiro, reforça as dúvidas sobre o ritmo de recuperação. Mesmo comcrescimento de 5% em relação a maio, o volume de serviços no país ainda está perto do piso histórico. O banco Fator lembraque a recuperação desse setor tem forte influência sobre o emprego e a renda do brasileiro."A recuperação mais lenta do setor preocupa principalmente por seu peso no mercado de trabalho. Segundo o Caged [CadastroGeral de Empregados e Desempregados], 47% dos empregos formais em janeiro estavam no setor."De acordo com o IBGE, o número de brasileiros sem nenhuma ocupação é recorde e, em maio, o contingente dos desocupadosfoi maior do que de ocupados pela primeira vez desde que o o início da pesquisa com o formato atual — situação que se repetiuem junho.Para os economistas, a volta às compras mesmo com o mercado de trabalho em sua maior crise indica que o auxílio tem sido

    https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/defender-prorrogacao-indefinida-do-auxilio-e-demagogia-diz-bolsonaro.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/mais-de-40-milhoes-de-brasileiros-querem-trabalhar-mas-nao-conseguem-diz-ibge.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/recuperacao-na-zona-franca-de-manaus-indica-que-economia-ja-reage-dizem-especialistas.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/recuperacao-na-zona-franca-de-manaus-indica-que-economia-ja-reage-dizem-especialistas.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/brasileiro-usa-auxilio-emergencial-para-comprar-comida-diz-datafolha.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/brasileiro-usa-auxilio-emergencial-para-comprar-comida-diz-datafolha.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/industria-do-amazonas-e-a-primeira-a-voltar-ao-nivel-pre-pandemia-diz-ibge.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/comercio-registra-alta-de-8-em-junho-e-tem-segundo-mes-seguido-de-recuperacao.shtmlhttps://search.folha.uol.com.br/?q=ibge&site=todoshttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/taxa-de-desemprego-real-seria-de-215-se-nao-fosse-o-desalento-recorde-dizem-economistas.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/auxilio-emergencial-irriga-negocio-informal-e-banca-puxadinho-em-casas-no-nordeste.shtml

  • fundamental para aquecer a demanda."Se as transferências sociais forem reduzidas muito rápido em relação à recuperação do desemprego, podemos ver crescimentozero ou mesmo resultados piores no início de 2021", avaliam os economistas do UBS, lembrando que o programa custa, emtermos anualizados, 8,5% do PIB e tende a ser reduzido até o fim do ano."Tem aí uma questão de timing", concorda o economista Reginaldo Nogueira, do Ibmec. "Ao retirar o recurso, haverá um granderisco de queda na economia." Beneficiado pelos efeitos da transferência sobre a aprovação de seu governo, o presidente JairBolsonaro (sem partido) vem negociando uma prorrogação.Nogueira vê com maior otimismo os números do IBGE. Na sua opinião, apesar de indicarem um resultado negativo do PIB em2020, eles mostram que a economia já saiu do fundo do poço. "Ficou claro que a gente não está em queda livre", afirma,dizendo acreditar que o mercado de trabalho deve mostrar reação em breve também.Ainda assim, pondera, qualquer previsão sobre o ritmo é prejudicada por incertezas em relação a um eventual repique nocontágio. "Parece que o pior já passou. Temos que considerar, claro, os riscos de uma segunda onda, mas a expectativa é que agente comece a ter números melhores no segundo semestre."

    Atividade econômica cresce 4,89% em junho, dizindicador do BCLarissa Garcia2-3 minutos

    A atividade econômica mostra sinais de recuperação e cresceu 4,89% em junho, segundo o indicador IBC-Br do Banco Centraldivulgado nesta sexta-feira (14). Os níveis, no entanto, ainda estão abaixo dos registrados antes da pandemia do novocoronavírus.Em relação a junho de 2019, houve queda de 7,05%.A crise fez com que a atividade econômica brasileira despencasse 9,73% em abril, que teve o pior nível desde outubro de 2006e maior variação entre um mês e outro desde o início da série histórica, iniciada em 2003.Maio já trouxe resultado positivo em relação a abril, de 1,3%, mas ficou aquém das expectativas do mercado, que era de 4,5%.Em março, já sob efeito da pandemia, houve redução de 5,90% no setor produtivo.O número foi calculado com ajuste sazonal (que remove particularidades do período, como número de dias úteis, por exemplo)para facilitar a comparação com outros meses.??No primeiro semestre do ano, houve retração de 6,28% na atividade. Já no acumulado dos últimos 12 meses, o índice mostrouqueda de 2,55%.No segundo trimestre, a queda na atividade chegou a dois dígitos e foi de 10,94% em relação ao primeiro trimestre do ano,puxado pelo resultado de abril. Na comparação mesmo período do ano anterior, a redução foi ainda maior, de 12,03%.O IBC-Br mede a atividade econômica do país e é divulgado desde março de 2010. Ele foi criado para auxiliar em decisões depolítica monetária, já que não existe outro dado mensal de desempenho do setor produtivo.O indicador do BC leva em conta o desempenho dos principais setores da economia: indústria, agropecuária e serviços.

    Recuperação na Zona Franca de Manaus indica queeconomia já reage, dizem especialistasMonica Prestes11-14 minutos

    A forte retomada da produção industrial no Amazonas reflete a capacidade de recuperação da economia após o isolamentosocial. Também pode ser o primeiro interpretada como sinal de recuperação em muitos outros estados brasileiros, uma vez queuma das principais vocações do Polo Industrial de Manaus, mais conhecido como Zona Franca, é a produção de insumos ematérias primas para outras indústrias.A análise é do coordenador de Disseminação do pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Amazonas, AdjalmaNogueira Jaques, com base nos dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada nesta terça-feira (11).Primeiro estado a sofrer um colapso no sistema de saúde por conta da pandemia de Covid-19 e também o primeiro a registraruma tendência de queda nos casos e óbitos, o Amazonas liderou a recuperação da produção industrial entre os 15 estadosbrasileiros analisados no mês de junho, com 65,7% de crescimento em comparação com maio de 2020. Esse resultado em junhoficou bem acima da média nacional para o período, que teve uma alta de 8,9%.A expansão foi impulsionada pela produção de discos fonográficos (84%), borracha e material plástico (26,6%), motocicletas epeças (15,2%), produtos de metal (10,9%) e eletroeletrônicos ( 9,1%).“Nossa indústria produz, na sua maioria, para atender uma demanda de indústrias de outros estados. Significa que essas outrasindústrias já estão tendo ou devem ter em breve aumento de demanda”, analisou Jaques.

    https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/auxilio-emergencial-irriga-negocio-informal-e-banca-puxadinho-em-casas-no-nordeste.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/08/aliados-ligam-aprovacao-de-bolsonaro-a-acoes-na-pandemia-e-oposicao-diz-que-merito-e-do-congresso.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/setor-de-servicos-cresce-5-de-junho-e-ainda-acumula-perdas-de-145-com-pandemia.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/setor-de-servicos-cresce-5-de-junho-e-ainda-acumula-perdas-de-145-com-pandemia.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/06/atividade-economica-despenca-quase-10-em-abril-com-coronavirus-diz-bc.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/07/atividade-economica-em-maio-fica-abaixo-das-expectativas-do-mercado.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/industria-do-amazonas-e-a-primeira-a-voltar-ao-nivel-pre-pandemia-diz-ibge.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/07/retomada-da-industria-depende-da-evolucao-da-covid-19-dizem-especialistas.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/retomada-e-desigual-e-dependente-de-auxilio-do-governo.shtml

  • É o caso da produção de borracha e material plástico e de produtos de metal, por exemplo, que estão entre os setores quetiveram os maiores crescimentos em junho.Outro fator que impulsionou a recuperação da economia amazonense, segundo Jaques, é o aumento da demanda doconsumidor, que pode ser medido no crescimento das indústrias de motocicletas e de eletroeletrônicos, especialmentetelevisores e celulares.“Isso pode ter, em parte, ter relação com o isolamento social, que leva ao aumentou a demanda pelos aparelhos eletrônicos eserviços de entrega em motocicletas, mas também pode indicar os efeitos da reabertura do comércio em geral”, explicou ocoordenador do IBGE.Para o presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, a retomada da produção industrial noAmazonas está ligada à flexibilização das regras de distanciamento e isolamento social em todo o Brasil.“Esse é o reflexo do início da flexibilização do isolamento social. O comércio começa a ter atividade e essa atividade gerademanda de produção para a indústria. E agora podemos produzir, porque durante o lockdown em outros estados, os caminhõesnão podiam nem entrar nas cidades”, analisou.Segundo ele, a reposição do estoque de boa parte das indústrias, que estavam com a produção parada não por falta dedemanda, mas de matéria prima, também influenciou essa alta.Boa parte das indústrias da Zona Franca de Manaus depende de insumos importados, muitos deles, da Ásia.Outro fator que pode estar refletindo positivamente na produção industrial, aponta Périco, é a expectativa de melhora nocomércio no fim do ano.“Devido às nossas condições logísticas, os produtos que saem de Manaus levam de duas a três semanas para chegar aomercado consumidor do Sul e Sudeste, e as empresas se planejam para atender a demanda do fim do ano no início do segundosemestre. Muito provavelmente essa atividade já é um reflexo dessa preparação para a demanda de fim de ano”, apontou.Mas nem todos os setores da economia do Amazonas tiveram resultados positivos em junho. Metade dos setores pesquisadospelo IBGE apresentou resultados negativos. Um deles foi a produção de bebidas, que teve queda de 21,9% em junho, emcomparação com maio de 2020, apontou o instituto.Foi a segunda maior redução, menor apenas do que a da fabricação de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis, que caiu35%.Para o IBGE, diversos fatores influenciam essa queda na produção de bebidas no Amazonas, uma vez que a região produz oxarope utilizado para a fabricação de refrigerantes destinados a toda a América Latina, e todos os mercados consumidoressofreram algum nível de impacto.“Se estivéssemos vivendo um momento normal, seria fácil apontar a falta de demanda, mas não é tão simples assim”, disseJaques.Para o presidente do Cieam, Wilson Périco, a queda na produção industrial de bebidas não está ligada à falta de matéria primaou à pandemia, trata-se de uma “flutuação normal”.“O setor de bebidas não sofreu muito com a pandemia, porque os supermercados estavam abertos, o consumo não parou emnenhum momento. Pode ser alguma flutuação normal do segmento, e tem também a questão do inverno no sul e sudeste, quereduz a demanda”, justificou.A maior preocupação do Cieam, aponta Périco, é com o polo relojoeiro que, além da pandemia, enfrenta a concorrência dosprodutos importados. Sem demanda, duas das quatro empresas relojoeiras de Manaus estão operando com 40% da capacidadee, as outras duas, com apenas 25% dos funcionários.“São empresas nacionais que não têm fôlego para suportar tanto tempo de recessão. O risco de demissões existe”, alertouPérico, lembrando que as quatro empresas têm aproximadamente 800 funcionários.Retomada x novo picoCerca de 90% da produção industrial no Amazonas chegou a ser paralisada entre os meses de abril e maio, quando ocorreu opico da pandemia em Manaus. No fim de maio, as empresas começaram a retomar as atividades e, em junho, todas já haviamvoltado a operar, mas cumprindo protocolos de segurança contra a Covid-19, como distanciamento nas linhas de produção erefeitórios, redução da capacidades dos ônibus de transporte para 50% e aferição da temperatura dos operários.De acordo com dados do Cieam, das 15 empresas do setor de eletroeletrônicos, nove estão operando com 100% de suacapacidade e as outras 12 estão trabalhando com 80% da capacidade.No setor de duas rodas, quatro das seis empresas da ZFM estão operando com 100% da capacidade e, as outras duas, com80%.A retomada da atividade nas indústrias da Zona Franca, que têm cerca de 70 mil trabalhadores, coincidiu com a flexibilizaçãodas regras de distanciamento social em Manaus. Manaus foi primeira capital a reabrir as escolas particulares, em 6 de julho, etambém as públicas, na última segunda-feira (10).Esse cenário preocupa muitos trabalhadores, que temem que a flexibilização provoque uma nova onda de casos e mortes,segundo o presidente do Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas), Valdemir Santana.Segundo levantamento do Sindmetal, desde o início da pandemia, 63 óbitos e mais de 700 casos de Covid-19 foram confirmadosentre os metalúrgicos.“Nós defendemos a cautela. Não podemos deixar a situação sair do controle novamente. A volta às aulas trouxe uma

    https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/producao-e-desemprego-na-industria-automotiva-crescem-em-julho.shtml

  • preocupação extra, pois são milhares de pessoas a mais circulando na cidade Mas seguimos trabalhando, com cuidadoredobrado”, disse.Segundo Santana, a maioria das empresas mantém as medidas de segurança contra a Covid-19, como aferição de temperatura,distanciamento social, disponibilização de álcool em gel, controle de acesso aos refeitórios e limite de 50% na lotação dos ônibusde transporte dos operários.No entanto, em algumas empresas o sindicato indicou irregularidades, como a lotação dos ônibus, infração mais comum. Desdea reabertura das empresas, em maio, o Sindmetal emitiu 55 notificações a empresas, por descumprimento das medidas.“As grandes empresas do polo industrial, como Honda e Samsung, estão cumprindo o protocolo de segurança com rigidez. Masinfelizmente não são todas. Normalmente, quando há um caso de descumprimento, vem de empresas menores, que queremreduzir custo e acabam expondo funcionários a risco. Mas temos fiscalizado e notificado quando há irregularidade”, explicouSantana.Com 7.000 funcionários, a Moto Honda é uma das indústrias que registrou aumento na produção a partir de junho. Em julho,segundo a empresa, a produção alcançou volumes próximos ao período pré-Covid-19 e, atualmente, a planta de Manaus operaperto da capacidade máxima.“Embora os resultados do período sejam positivos, para o futuro é necessária certa cautela, visto que ainda há um nível deincerteza sobre a dimensão do impacto da pandemia na atividade econômica”, afirmou a empresa, via assessoria de imprensa.A empresa informou que houve demissões, mas aderiu ao programa de redução da jornada de trabalho e de salários criado pelogoverno federal.A Moto Honda também adotou uma série de medidas de segurança, como aferição de temperatura no acesso à fábrica,reorganização de espaços para evitar aglomerações, limitação de pessoas e distanciamento mínimo em ônibus fretados, linhasde produção, refeitórios e salas de reunião, além da instalação de divisórias em mesas de almoço e o uso de máscaras.Segunda ondaA reabertura da economia vem sendo criticada por pesquisadores, que alertam alerta para o risco de uma segunda onda deinfecções na região Amazônica, diante da retomada em massa da circulação de pessoas na capital amazonense, que tem 2,2milhões de habitantes, e do fechamento dos dois hospitais de campanha, ocorridos no mês passado. O Amazonas tinha, naúltima segunda (10), 107.197 casos e 3.384 óbitos confirmados por Covid-19.Um artigo científico publicado na revista Nature no dia 7 de agosto, aponta que a reabertura total da economia sem que acidade tenha passado sequer por um lockdown ao longo de toda a pandemia pode acelerar a uma segunda onda.“Para evitar uma segunda onda da pandemia na Amazônia, medidas efetivas, como fechar escolas e serviços não essenciais,precisam ser implementadas imediatamente”, diz trecho do estudo.Assinado por pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), da Ufam (Universidade Federal doAmazonas), da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e da Universidade Federal de São João Del Rey, o estudo cita queargumentos “não científicos” embasaram a decisão de flexibilização no Amazonas, mediante "pressão do setor industrial".“Estudos mostraram que a Covid-19 pode ser significativamente reduzida por medidas de isolamento social com duração de nomínimo dois meses. O que não foi feito em Manaus, contrariando recomendações de especialistas ao poder público.Infelizmente, o nível de atividade nas ruas e estabelecimentos de Manaus voltou a ‘perto do normal’, apesar da maioria dapopulação não ter imunidade ao vírus [...], o que deixa a região vulnerável a uma segunda onda de infecções”, conclui o artigo.

    https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/07/mais-de-50-das-empresas-manterao-mudancas-adotadas-na-pandemia.shtml