resumos dos livros - vestibular uva 2013.2.docx

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EEM DONA MARIETA CALS – CARIRÉ – CE EMC VEST – A fórmula certa do vestiular! Nome: Nº: Ano: Turma: Data: ___/___/2012. RES"MO DE O#RAS SEN$ORA – %OSÉ DE ALENCAR &'()*+ CONSIDERA,-ES .ERAIS ACERCA DA O#RA Senhorafoi publicado em 1875. romance pode !er con!iderado uma da! obra!"prima! de !eu autor e uma da! principai! da literatura bra!ileira. #ma $e% &ue trata do tema do ca!amento bur'u(!) ou !e*a) ba!eado no intere!!e +nanceiro) ra%,o pela &ual pode !er con!iderada precur!ora do -eali!mo) ou !e*a) di%"!e &ue en ora um romance rom ntico pr "reali!ta. Alencar cla!!i+ca a obra dentro de !eu! perfs de mulher”, *3 &ue concentra na mul er o papel mai! importante dentro da !ociedade de !eu tempo. Aur lia a prota'oni!ta do romance) uma *o$em mul er di$idida entre o amor e o 4dio) o de!e*o e o de!pre%o pelo omem &ue ama. A per!ona'em Aur lia amar'o ideali%ada como uma rain a) como uma ero6na rom ntica) pelo narrador. De régia ronte, coroada de diadema de cabelos castanhos, de ormosas espáduas ) e!!a per!ona'em) no entanto) ao me!mo tempo ada encantada e nina das chamas, lasciva salamandra . Ao e!tere4tipo da mul er"an*o rom ntica) o narrador acre!centa) a!!im) um elemento demon6aco) elemento &ue) em $e% de e plicitar) dei a !u'erido) sob as pregas do roupão de cambraia que a luz do sol não ilumina ) e tamb m sob a voz bramida, o gesto sublime, escondendo o rêmito que lembrava silvo de serpente ou &uando o braço mimoso e torneado az um movimento hirto para vibrar o supremo desprezo . Tal maneira de caracteri%ar a per!ona'em " pelo! elemento! e teriore! " t6pica do narrador ob!er$ador. Tal caracteri%a9,o) por !ua $e%) umani%a a per!ona'em) afa!tando"a do mani&ue6!mo rom ntico e acre!centando"l e tra9o! reali!ta!. con ito entre o! prota'oni!ta! 'era momento! de 'rande emo9,o e !ofrimento. ; de!!e embate entre o de!e*o de $in'an9a e o de!e*o de amar em plenitude &ue na!ce a a9,o p!6&uica &ue !e tran!forma em enredo. e a tem3tica e o p!i&ui!mo da obra repre!entam antecipa9<e! reali!ta!) ambo! fortemente con!olidado! pela e$idente cr6tica de uma !ociedade &ue $alori%a mai! a apar(ncia e o din eiro &ue o! !entimento! umano!) a ideali%a9,o da! per!ona'en! re ete o uni$er!o rom ntico pre!ente na obra. de!enlace con+'ura) por !i !4) a $it4ria do -omanti!mo em Alencar!obre a po!!ibilidade reali!ta. =ara mel or entendermo! a obra) de$emo! perceber a! intera9<e! do arti!ta &ue a criou. Alencar acredita$a !inceramente na $it4ria do omem na reforma de !i me!mo e da !ociedade. N,o a$ianele ainda o tra9ode pe!!imi!mo profundoe de cetici!mo &ue tanta! páginas mara$il o!a! +%eram na!cer em >ac ado de A!!i!. ; de!!a cren9a no! !entimento! umanit3rio! &ue bruta o -omanti!mo alencariano) do &ual bruta a for9a $ital de !ua! per!ona'en!. Di$idido! entre o 4dio e o perd,o) a nece!!idade +nan apelo! do cora9,o) $encem !empre o! !e'un me!mo ca!o pode !er ob!er$ado na con!tru9 romance uc!ola, ma! com um +nal tr3'ico ambo! o! romance! a premente nece!!i din eiro) $e6culocentral de uma !ociedade ari!tocr3tica e bur'ue!a) obri'a per!ona'en! a trocarem !eu! !entimento! por din eiro. $il,o) o anta'oni!ta) !empre a !ocieda 3bito! doentio! e !eu! co!tume! imorai!. a preten!,o do autor) o !eu recado para a de !eu tempo) de$emo! cla!!i+car Senhora com um romance de co!tume!. e o cen3rio da! per o -io de @aneiro da !e'unda metade do / podemo! tamb m con!ider3"lo como um urbano com tra9o! de p!icolo'i!mo e criti TEMÁTICA: Senhora um romance de caracter6!tica! de+nida! de forma rom &ue *3 tradu% uma tem3tica reali!ta: ca!amento bur'u(!. ESTR"T"RA DA O#RA Senhora é um roma0ce dividido em 1uatro 2artes e 03o oedece a uma or cro0oló4ica/ isto 5/ a 2rimeira 2arte & O Preço+/ 0arra os e2isódios atuais/e01ua0to 1ue a se4u0da 2arte &Quitação+/ fala60os do 2assa de Aur5lia/ se4uem os ca27tulos8Posse e Resgate9 A 0arrativa 5 feita 2or um 0arrado 1ue 2arece 2e0etrar 0a alma de Aur5lia Camar4o 2ara tra0smitir suas co0:d;0cias mais i0timas9 ?!!e! t6tulo! contrariam o!ten!i$amente o e!p6rito de uma i!t4ria de amor) como ef o romance Senhora . >a!) como !e trata de u amor contrariado pelo! 3bito! !ociai!) + ideia de &ue o! t6tulo! foram a!!im e!col ipertro+ar a met3foracontida no li$ro. ?le! e plicitam) em tom caricatural e iperb4l de &ue a compra efetuada por Aur lia uma met3forado ca!amento por intere!!e) muito corrente na poca) ma! !empre di!far9ado por ele'ante! e fr3'ei! encena9<e! !ociai!. enredo de!te romance mo!tra clarame mi!tura de elemento! romane!co! e da real <oco 0arrativo 6 romance narrado em terc pe!!oa por um narrador oni!ciente) o tudo !abe !obre a! per!ona'en!) pene !eu! pen!amento! e em !ua alma. ?!!e narr tamb m intru!o) *3 &ue interfere em $3rio! momento!) apre!entando"!e ao leitor. A t cnica narrati$a empre'ada por Alencar em Senhora !em dC$ida bem moderna) !e tomarmo! como ba!e obra! anteriore!) *3 &ue o autor utili%a Tem2o 6 tempo cronol4'ico) toman ba!e o ! culo B) durante o e'undo Bmp rio. ?ntretanto) n,o 3 linearidade) *3 &ue a contada a partir de "ash#bac$% Es2a=o8 e!pa9o central da narrati$a -

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RESUMO DE OBRAS.

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EEM DONA MARIETA CALS CARIR CE EMC VEST A frmula certa do vestibular!

Nome:N:

Ano:Turma:Data: ___/___/2012.

RESUMO DE OBRASSENHORA JOS DE ALENCAR (1875)

CONSIDERAES GERAIS ACERCA DA OBRASenhora foi publicado em 1875. O romance pode ser considerado uma das obras-primas de seu autor e uma das principais da literatura brasileira. Uma vez que trata do tema do casamento burgus, ou seja, baseado no interesse financeiro, razo pela qual pode ser considerada precursora do Realismo, ou seja, diz-se que Senhora um romance romntico pr-realista. Alencar classifica a obra dentro de seus perfis de mulher, j que concentra na mulher o papel mais importante dentro da sociedade de seu tempo. Aurlia a protagonista do romance, uma jovem mulher dividida entre o amor e o dio, o desejo e o desprezo pelo homem que ama. A personagem Aurlia Camargo idealizada como uma rainha, como uma herona romntica, pelo narrador. De "rgia fronte, coroada de diadema de cabelos castanhos, de formosas espduas", essa personagem, no entanto, ao mesmo tempo "fada encantada" e "ninfa das chamas, lasciva salamandra". Ao esteretipo da "mulher-anjo" romntica, o narrador acrescenta, assim, um elemento demonaco, elemento que, em vez de explicitar, deixa sugerido, "sob as pregas do roupo de cambraia que a luz do sol no ilumina", e tambm "sob a voz bramida, o gesto sublime, escondendo o frmito que lembrava silvo de serpente" ou quando "o brao mimoso e torneado faz um movimento hirto para vibrar o supremo desprezo". Tal maneira de caracterizar a personagem - pelos elementos exteriores - tpica do narrador observador. Tal caracterizao, por sua vez, humaniza a personagem, afastando-a do maniquesmo romntico e acrescentando-lhe traos realistas. O conflito entre os protagonistas gera momentos de grande emoo e sofrimento. desse embate entre o desejo de vingana e o desejo de amar em plenitude que nasce a ao psquica que se transforma em enredo. Se a temtica e o psiquismo da obra representam antecipaes realistas, ambos fortemente consolidados pela evidente crtica de uma sociedade que valoriza mais a aparncia e o dinheiro que os sentimentos humanos, a idealizao das personagens reflete o universo romntico presente na obra. O desenlace configura, por si s, a vitria do Romantismo em Alencar sobre a possibilidade realista.Para melhor entendermos a obra, devemos perceber as interaes do artista que a criou. Alencar acreditava sinceramente na vitria do homem na reforma de si mesmo e da sociedade. No havia nele ainda o trao de pessimismo profundo e de ceticismo que tantas pginas maravilhosas fizeram nascer em Machado de Assis. dessa crena nos sentimentos humanitrios que bruta o Romantismo alencariano, do qual bruta a fora vital de suas personagens. Divididos entre o dio e o perdo, a necessidade financeira e os apelos do corao, vencem sempre os segundos. O mesmo caso pode ser observado na construo do romance Lucola, mas com um final trgico. Em ambos os romances a premente necessidade do dinheiro, veculo central de uma sociedade aristocrtica e burguesa, obriga personagens a trocarem seus sentimentos por dinheiro. O grande vilo, o antagonista, sempre a sociedade e seus hbitos doentios e seus costumes imorais. Se essa a pretenso do autor, o seu recado para a sociedade de seu tempo, devemos classificar Senhora com um romance de costumes. Se o cenrio das personagens o Rio de Janeiro da segunda metade do sculo XIX, podemos tambm consider-lo como um romance urbano com traos de psicologismo e critica social.TEMTICA: Senhora um romance de caractersticas definidas de forma romntica, mas que j traduz uma temtica realista: a crtica ao casamento burgus.ESTRUTURA DA OBRASenhora um romance dividido em quatro partes e no obedece a uma ordem cronolgica, isto , a primeira parte (O Preo), narra os episdios atuais, enquanto que a segunda parte (Quitao), fala-nos do passado de Aurlia, seguem os captulos: Posse e Resgate. A narrativa feita por um narrador que parece penetrar na alma de Aurlia Camargo para transmitir suas confidncias mais intimas.Esses ttulos contrariam ostensivamente o esprito de uma histria de amor, como efetivamente o romance Senhora. Mas, como se trata de um amor contrariado pelos hbitos sociais, fica clara a ideia de que os ttulos foram assim escolhidos para hipertrofiar a metfora contida no livro. Eles explicitam, em tom caricatural e hiperblico, a ideia de que a compra efetuada por Aurlia uma metfora do casamento por interesse, muito corrente na poca, mas sempre disfarado por elegantes e frgeis encenaes sociais.O enredo deste romance mostra claramente a mistura de elementos romanescos e da realidade.Foco narrativo - O romance narrado em terceira pessoa por um narrador onisciente, ou seja, que tudo sabe sobre as personagens, penetrando em seus pensamentos e em sua alma. Esse narrador tambm intruso, j que interfere em vrios momentos, apresentando-se ao leitor. A tcnica narrativa empregada por Alencar em Senhora sem dvida bem moderna, se tomarmos como base suas obras anteriores, j que o autor utiliza digresses.Tempo - O tempo cronolgico, tomando como base o sculo XIX, durante o Segundo Imprio. Entretanto, no h linearidade, j que a histria contada a partir de flash-back.Espao: O espao central da narrativa Rio de Janeiro.Personagens: As personagens so bem construdas e j apresentam certa profundidade psicolgica. Ao contrrio de vrias personagens romnticas, no constituem meros tipos sociais, j que so capazes de atitudes inesperadas.1. Fernando Seixas: Jovem estudante de Direito, bem vestido e apreciador da vida em sociedade. A falta de dinheiro o conduz a acreditar que a nica maneira de evitar a runa final casando-se com um bom dote. Envolvido pelo amor de Aurlia, chega a pensar em abandonar os hbitos caros, mas acaba percebendo que no consegue viver longe da sociedade. Depois do casamento por interesse, humilhado, arrepende-se e consegue resgatar o dinheiro que recebeu a Aurlia.2. Aurlia Camargo: Moa pobre. Aurlia decente e apaixonada por Fernando Seixas. A decepo amorosa transforma-a num mulher vingativa e fria, mas que no consegue disfarar seu verdadeiro sentimento por Seixas. Seu comportamento tpico de uma esquizofrnica, j que se v dividida entre sentimentos contraditrios at o final do romance. O amor parece ser sua salvao, redimindo-a de perder o homem que ama por causa de seu orgulho.3. Dona Emlia: Viva, me de Aurlia. Mulher honesta e sria, que amargou imenso sofrimento por causa de seu amor por Pedro Camargo.4. Pedro Camargo: Pai de Aurlia, filho natural de um rico fazendeiro do interior de So Paulo, de quem nutria grande medo. Morre mingua por no conseguir confessar seu casamento contra a vontade do pai.5. Loureno Camargo: Av de Aurlia. Pai de Pedro. Homem duro e rstico, mas que procura ser justo depois que descobre a existncia do casamento do filho.6. D. Firmina: Parente distante de Aurlia e que lhe serve de companhia quando fica rica.7. Lemos: Tio de Aurlia. Velho de pequena estatura, no muito gordo, mas rolho e bojudo como um vaso chins. Apesar de seu corpo rechonchudo tinha certa vivacidade buliosa e saltitante que lhe dava petulncia de rapaz, e casava perfeitamente com seus olhinhos de azougue. Foi escolhido por Aurlia como tutor porque a moa podia domin-lo facilmente.Problemtica e principais temasO conflito amoroso entre os protagonistas nasce desse choque entre os sentimentos e o interesse econmico. Aurlia Camargo uma mulher de personalidade forte, carregada de sentimentalismo romntico. Da sua contradio, sua personalidade marcada por extremos psquicos: d maior valor aos sentimentos, mas vale-se do dinheiro para atingir seu objetivo de obter o grande amor de sua vida, Fernando Seixas. Dessa forma, o dinheiro acaba impondo o valor burgus que lhe era atribudo na sociedade do sculo XIX. A realizao amorosa s se cumpre depois de Aurlia vencer a aparente esquizofrenia que parece conduzi-la dvida quanto s intenes de Fernando Seixas. O comportamento esquizoide manifesta-se nas atitudes antitticas de desejar o amor do marido com todas as suas foras, mas lutar contra o mesmo at suas ltimas reservas.RESUMONa primeira parte, O Preo, Aurlia Camargo apresentada ao leitor: uma jovem de 18 anos, linda, rica e pretendida pelos rapazes do Rio de Janeiro. A principal ao desta primeira parte do romance comea quando Aurlia pede ao tio que oferea ao jovem Fernando Seixas, a sua mo em casamento. Entretanto, uma aura de mistrio cobre o pedido, pois Fernando no deve saber a identidade da pretendente e, alm disso, a quantia do dote proposto deve ser irrecusvel: cem contos de ris ou mais, se necessrio.A habilidade mercantil de Lemos, que chega a ser caricata, e a pssima situao financeira de Fernando - moo elegante, mas pobre, que gastou o esplio deixado pelo pai e que precisava restitu-lo famlia para a compra do enxoval da irm - fazem com que deem certo os planos de Aurlia. Na noite de npcias, Fernando se surpreende ao ver nas mos de Aurlia, um recibo assinado por ele aceitando um adiantamento do dote. Aurlia se enfurece, acusa-o de mercenrio. E ela comea a contar a vida e os motivos que a levaram a compr-lo.Na segunda parte, Quitao, conhecemos a vida de ambos os protagonistas. Aqui h um retorno (flashback) dos acontecimentos em suas vidas, o que explica ao leitor o procedimento cruel de Aurlia em relao a Fernando. Na terceira parte, Posse, a histria retorna ao quarto do casal. Vemos Fernando arrasado de vergonha, mas Aurlia toma o seu silncio como cinismo. o incio da fase de hipocrisia conjugal.Na quarta parte, Resgate, temos o desenrolar da trama. Intensificam-se os caprichos e as contradies do comportamento de Aurlia, ora ferina, mordaz, insacivel na sua sede de vingana, ora ciumenta, doce, apaixonada. Intensifica-se tambm a transformao de Fernando, que no usufrui da riqueza de Aurlia, tornando-se modesto nos trajes, assduo na repartio onde trabalhava, e assim adquirindo, sem perder a elegncia, uma dignidade de carter que nunca tivera.No final, Fernando, um ano aps o casamento, negocia com Aurlia o seu resgate. Devolve-lhe os vinte contos de ris, que correspondiam ao adiantamento do montante total do dote com o qual possibilitava o casamento da irm, e mais o cheque que Aurlia lhe dera, de oitenta contos de ris, na noite de npcias.Emocionada com o gesto de Fernando, Aurlia ajoelha-se a seus ps, lhe pede perdo pelas ofensas e humilhaes ao longo daquele ano e suplica-lhe o seu amor. Fernando a segura nos braos, beija-a, mas teme que o amor de ambos tenha sido para sempre destrudo pelo dinheiro. Entretanto, Aurlia mostrou-lhe o testamento que fizera logo depois do casamento, no qual institua Fernando, herdeiro universal de todos os seus bens. A dvida estava desfeita: Aurlia nunca deixara de am-lo. Fernando se convence e, finalmente, os dois consumam o casamento: As cortinas cerraram-se, e as auras da noite, acariciando o seio das flores, cantavam o hino misterioso do santo amor conjugal.* (IN: www.passeiweb.com adaptado por Maria do Livramento Dias de Oliveira)EXERCCIOS1.(PUC-SP) A questo central, proposta no romanceSenhora, de Jos de Alencar, a do casamento. Considerando a obra como um todo, indique a alternativa que no condiz com o enredo do romance:a) O casamento apresentado como uma transao comercial e, por isso, o romance estrutura-se em quatro partes: preo, quitao, posse, resgate.b) Aurlia Camargo, preferida por Fernando Seixas, compra-o e ele, contumaz caa-dote, sujeita-se ao constrangimento de uma unio por interesse.c) O casamento s de fachada e a unio no se consuma, visto que resulta de acordo no qual as aparncias sociais devem ser mantidas.d) A narrativa marca-se pelo choque entre o mundo do amor idealizado e o mundo da experincia degradante governado pelo dinheiro.e) O romance gira em torno de intrigas amorosas, de desigualdade econmica, mas, com final feliz, porque, nele, o amor tudo vence.

2.(FATEC)Seixas aproximou-se do toucador, levado por indefinvel impulso; e entrou a contemplar minuciosamente os objetos colocados em cima da mesa de mrmore; lavores de marfim, vasos e grupos de porcelana fosca, taas de cristal lapidado, jias do mais apurado gosto. proporo que se absorvia nesse exame, ia como ressurgindo sua existncia anterior, a que vivera at o momento do cataclismo que o submergira. Sentia-se renascer para esse fino e delicado materialismo, que tinha para seu esprito aristocrtico to poderosa seduo e to meiga voluptuosidade.Todos esses mimos da arte pareciam-lhe estranhos e despertavam nele ignotas emoes; tal era o abismo que o separava do recente passado. Era com uma sofreguido pueril que os examinava um por um, no sabendo em qual se fixar. Fazia cintilar os brilhantes aos raios de luz; e aspirava a fragrncia que se exalava dos frascos de perfume com um inefvel prazer.Nessa ftil ocupao demorou-se tempo esquecido. Porventura sua memria atrada pelas reminiscncias que suscitavam objetos idnticos a esses, remontava o curso de sua existncia, e descendo-o, depois o trazia quela noite fatal em que se achava e pungente realidade desse momento.Recuou com um gesto de repulso.(Jos de Alencar,Senhora)

Considerando este trecho no contexto da obra a que pertence, correto afirmar que, nele, a personagem Fernando Seixas:a) rejeita os objetos que o cercam, porque deseja conquistar posio elevada em ambientesb) d-se conta de que aqueles objetos, que tanto valorizara, nesse momento eram a comprovao dos erros que praticara.c) experimenta o fascnio por objetos luxuosos que no so seus e decide lutar para conseguir possu-los.d) sente renascer nele a revolta por no dispor de meios econmicos para possuir objetos luxuosos.e) relembra infantilmente sua existncia anterior, quando podia usufruir do luxo que agora perdia, e lamenta sua situao atual.3.(ITA) O romanceSenhora(1875) uma das obras mais representativas da fico de Jos de Alencar. Nesse livro, encontramos a formulao do ideal do amor romntico: o amor verdadeiro e absoluto, quando pode se realizar, leva ao casamento feliz e indissolvel. Isso se confirma, nessa obra, pelo fato de:a) o par romntico central Aurlia e Seixas se casar no incio do romance, pois se apaixonam assim que se conhecem.b) o amor de Aurlia e Seixas surgir imediatamente no primeiro encontro e permanecer intenso at o fim do livro, quando o casal se une efetivamente.c) o casal Aurlia e Seixas precisar vencer os preconceitos socioeconmicos para se casar, pois ela pobre e ele rico.d) a unio efetiva s se realizar no final da obra, aps a recuperao moral de Seixas, que o torna digno do amor de Aurlia.e) o enriquecimento repentino de Aurlia possibilitar que ela se case com Seixas, fatos que so expostos logo no incio do livro.

4.(UNIFESP) Leia o trecho a seguir, de Jos de Alencar.Convencida de que todos os seus inmeros apaixonados, sem exceo de um, a pretendiam unicamente pela riqueza, Aurlia reagia contra essa afronta, aplicando a esses indivduos o mesmo estalo.Assim costumava ela indicar o merecimento relativo de cada um dos pretendentes, dando-lhes certo valor monetrio. Em linguagem financeira, Aurlia contava os seus adoradores pelo preo que razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial.

O romanceSenhora, ilustrado pelo trecho:a) representa o romance urbano de Alencar. A reao de ironia e desprezo com que Aurlia trata seus pretendentes, vistos sob a tica do mercado matrimonial, tematiza o casamento como forma de ascenso social.b) mescla o regionalismo e o indianismo, temas recorrentes na obra de Alencar. Nele, o escritor tematiza, com escrnio, as relaes sentimentais entre pessoas de classes sociais distintas, em que o pretendente considerado pelo seu valor monetrio.c) obra ilustrativa do regionalismo romntico brasileiro. A histria de Aurlia e de seus pretendentes mostra a concepo do amor, em linguagem financeira, como forma de privilgio monetrio, alm de explorar as relaes extraconjugais.d) denuncia as relaes humanas, em especial as conjugais, como responsveis por levar as pessoas tristeza e solido dada a superficialidade e ao interesse com que elas se estabelecem. Trata-se de um romance urbano de Alencar.e) tematiza o adultrio e a prostituio feminina, representados pelo interesse financeiro como forma de se ascender socialmente. Essa obra explora tanto aspectos do regionalismo nacional como os valores da vida urbana.

5.(PUC-SP) A questo central, proposta no romanceSenhora, de Jos de Alencar, a do casamento. Considerando a obra como um todo, indique a alternativa que no condiz com o enredo do romance:a) O casamento apresentado como uma transao comercial e, por isso, o romance estrutura-se em quatro partes: preo, quitao, posse, resgate.b) Aurlia Camargo, preterida por Fernando Seixas, compra-o e ele, contumaz caa-dote, sujeita-se ao constrangimento de uma unio por interesse.c) O casamento s de fachada e a unio no se consuma, visto que resulta de acordo no qual as aparncias sociais devem ser mantidas.d) A narrativa marca-se pelo choque entre o mundo do amor idealizado e o mundo da experincia degradante governado pelo dinheiro.e) O romance gira em torno de intrigas amorosas, de desigualdade econmica, mas, com final feliz, porque, nele, o amor tudo vence.

6.(UEL) Sobre o romanceSenhora, de Jos de Alencar, correto afirmar:a) Representando a chamada primeira gerao romntica indianista, a obra tem como caractersticas mais relevantes a volta ao passado histrico, o medievalismo, a criao do heri nacional e a religiosidade.b) Alguns ingredientes do Romantismo que podem ser apontados no romanceSenhoraso: personagens dominadas por instintos, preocupao com classes sociais marginalizadas e apresentao de uma condio biolgica do mundo.c) evidente o paralelo temtico entreSenhoraeInocncia, romances de Jos de Alencar e Visconde de Taunay, respectivamente. Em ambos, o recurso paisagem, fauna e flora destina-se a compor as personagens e serve para circunscrever a essncia da prosa realista brasileira.d) O livroSenhoraorigina-se das propostas nacionalistas do movimento romntico porque apresenta uma tendncia representao da cultura popular e prope a volta s origens da nao brasileira.e) Nesse romance os protagonistas mantm um conflito ao longo da narrativa, revelando uma oposio entre o mundo do amor e o do dinheiro. Com isso, a obra traz marcas da sociedade burguesa brasileira em formao.

7.(UNEAL 2007)A voz da moa tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio, e que parecia ringir-lhe nos lbios como ao. Aurlia! Que significa isto? Representamos uma comdia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com percia consumada.Podemos ter esse orgulho, que os melhores atores no nos excederiam. Mas tempo de pr termo a esta cruel mistificao, com que nos estamos escarnecendo mutuamente, senhor. Entretemos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada um ao que , eu, uma mulher trada; o senhor, um homem vendido. Vendido! Exclamou Seixas ferido dentro d'alma. Vendido sim; no tem outro nome. Sou rica, muito rica, sou milionria; precisava de um marido, traste indispensvel s mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem mil cruzeiros, foi barato; no se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento.Aurlia proferiu estas palavras desdobrando um papel no qual Seixas reconheceu a obrigao por ele passada ao Lemos.Jos de Alencar,Senhora

O texto acima est contido na primeira parte do romanceSenhora, de Jos de Alencar. Sobre o trecho e sobre esse romance, analise os enunciados abaixo.1) O livro se divide em quatro partes, sendo a primeira delas intitulada "O Preo", de onde foi retirado o texto; nela, Aurlia revela a Fernando Seixas que o comprara pelo valor de um dote.2) As partes intituladas "O Preo", "Quitao", "Posse' e ""Resgate" remetem o leitor ao universo capitalista de mercado e compreendem, ao mesmo tempo, a histria do romance, ao sugerir que as relaes sociais so mediadas pelo valor de troca.3) No texto, ao dizer a Seixas que os dois esto representando uma comdia, Aurlia demonstra sua lucidez por meio do sarcasmo: como todos no meio social, ela e o esposo representaro felicidade para os demais, apesar de no se sentirem felizes.4) Embora analise as relaes sociais sob uma perspectiva mais realista, o romance Senhoratrai sua condio romntica, na medida em que, no desfecho, a protagonista esquece o passado em nome do verdadeiro amor.Esto corretas:a) 1 e 3 apenasc) 3 e 4 apenas e) 1, 2 e 4 apenasb) 2, 3 e 4 apenasd) 1, 2, 3 e 4

8.(UFMG)"O vestido de Aurlia encheu a carruagem e submergiu o marido; o que lhe aparecia do semblante e do busto ficava inteiramente ofuscado [...]. Ningum o via..."ALENCAR, Jos de.Senhora. So Paulo: DCL, 2005. p. 96. (Grandes Nomes da Literatura)Considerando-se o personagem referido Fernando, o marido de Aurlia , CORRETO afirmar que a passagem transcrita contm a imagema) da anulao de sua individualidade, transformado que fora, como marido, em objeto ou mercadoria.b) da sua tomada de conscincia da futilidade da sociedade, que preza sobretudo a beleza fsica e a riqueza.c) do cime exacerbado, ainda que secreto, que sente da esposa, por duvidar de que ela realmente o ame.d) do orgulho que sente da beleza deslumbrante da esposa, ressaltada nessa ocasio por seus trajes luxuosos.

9.(UFMG) No romanceSenhora,ocorrem choques entre "duas almas, que uma fatalidade prendera, para arroj-las uma contra outra..." (ALENCAR,Senhora, p.131.)Assinale a alternativa em que o par de ideias conflitantes NO se entrelaa, na narrativa, aos choques entre Aurlia e Seixas.a) Amor idealizado X casamento por interesseb) Condio modesta de vida X ostentao de riquezac) Contemplao religiosa X divertimento mundanod) Qualidades morais elevadas X comportamentos aviltantes

EEM Dona Marieta Cals Carir CEEMC VEST A frmula certa do vestibular! - RESUMO DE OBRAS VESTIBULAR UEVA - 2013.1PG. 5RESUMO DE OBRASHELENA MACHADO DE ASSIS (1876)

Espao: Rio de JaneiroFoco narrativo: 3 pessoa (narrador onisciente)Temtica: Amor impossvel e drama de conscincia. Considerado da fase romntica de Machado de Assis, Helena trata do o amor impossvel. O amor pretensamente incestuoso de Estcio e Helena. Machado de Assis usa da sutileza e lana mo da dvida, do "talvez no ser" mas, "mesmo assim sendo" diante de todos. O romance tratar de um sentimentos intensos impedidos pelos valores e costumes da sociedade at hoje enraizados em nossa conscincia social.RESUMOA morte de um ente querido em si mesmo, muitas vezes, causa uma desagradvel surpresa, no entanto ocasionalmente outras surpresas so reservadas aos sobreviventes, e Machado de Assis descreve bem uma dessas surpresas no romance Helena; Vale a pena l-lo.O romance comea com a sbita morte do conselheiro Vale, no bairro do Andara, deixando seu filho Dr. Estcio e sua irm rsula , uma viva de cinquenta e poucos anos solteira que cuidava da casa desde a morte da cunhada. Um dia aps o enterro do conselheiro Vale, o Doutor Camargo, que alm de mdico, era um velho amigo da famlia, foi ter com Estcio e rsula no gabinete particular do finado, onde levantou a questo do testamento que por ventura o finado teria deixado. Como Estcio disse desconhecer essa informao, o mdico props ajudar procurando os documentos na secretria. O testamento foi enfim, encontrado, mas ao ach-lo recusou-se a dar detalhes do contedo, o que faria no dia seguinte na presena dos testamenteiros nomeados previamente pelo falecido. A atitude do doutor Camargo deixou transparecer que algo surpreendente seria revelado por ocasio da leitura do testamento; E assim se deu. Na hora marcada estava l o mdico e o padre Melchior nomeados testamenteiros, a tia e o sobrinho. De incio, nenhuma novidade, at a hora em que se leu a respeito de uma filha que o conselheiro tivera fora do casamento, chamada Helena, e que ele havia includo no testamento como sua herdeira legal, pedindo que fosse aceita como parte da famlia. Tal revelao causou espanto D. rsula que nunca soubera que seu irmo tivera algum filho fora do casamento.A reao de rsula foi de rejeio total ideia, para ela essa filha era uma intrusa que no mereceria tal carinho, muito menos partilhar da herana da famlia, questionara a origem e o tipo de vida que Helena por ventura poderia estar levando. J Estcio aceitou bem a ideia, pois no se preocupava com o lado financeiro, quanto classe da moa sabia que poderia elev-la ao seu nvel; assim, em considerao ao desejo do finado pai, foi solicito para com a ideia. A moa foi trazida para a casa da famlia e ali se dividia entre o ocasional mau humor de rsula e a afetuosidade de Estcio, que procurava lhe mostrar toda a casa, demonstrando estar muito feliz com sua mais nova meia irm. Helena tinha um bom gnio e era bastante socivel, o que fazia com que outros familiares e amigos da famlia gostassem dela. Helena arrumou um jeito de se aproximar do meio irmo, solicitando que ele a ensinasse a montar cavalo, pedido que foi aceito pelo jovem.Os escravos da chcara, cientes da opinio de D. rsula sobre a herdeira, tratavam-na com certa frieza; exceto Vicente fiel servidor do cons. Vale, acatou a deciso do saudoso patro e tornou-se servidor incansvel de Helena, seguindo e protegendo-a sempre. Doutor Camargo, cujo maior objetivo era o casamento de Estcio e Eugnia, convida o futuro genro a se engajar na poltica e, embora este no fosse muito a favor da idia, fica em dvida, principalmente porque v nisso uma forma de se aproximar mais da filha de Camargo, Eugnia, com quem namora, mas no teve coragem formalizar nenhum compromisso. rsula adoeceu gravemente e, por cerca de vinte dias, ficou aos cuidados de Helena. Se h males que vm para bem, esse contribuiu para fazer com que rsula passasse a amar a jovem. Helena cuidou da enferma com desvelo e carinho, sem deixar que a rotina da chcara fosse alterada. Tudo fez como se fosse a prpria D. rsula. Helena j passava a liderar a famlia, enquanto isso Estcio se aproximava mais e mais de Eugnia agora com uma ajuda de Helena, que o incentivava a fazer o pedido de casamento. A chegada de um velho amigo do moo torna a casa ainda mais alegre. Trata-se de Mendona, melhor amigo de Estcio, que mais tarde se tornaria pretendente de Helena, por articulao do Pe. Melchior. Estcio, depois de muito incentivo por parte de Helena, consegue assumir compromisso com Eugnia, e viaja na companhia da famlia da moa para uma cidade vizinha, onde uma parenta - e madrinha da noiva - est prestes a morrer, Neste nterim, Helena aceita namorar Mendona, amigo de Estcio. Ao saber do provvel casamento entre Helena e Mendona, Estcio volta imediatamente para casa e procura meios de dissuadir Helena do casamento com Mendona, que acaba desistindo, par no ser tachado de caa-dote. Mais tarde, Estcio concordaria a contra gosto com o casamento. Quando o romance parece caminhar para seu fim, Estcio se depara com algo que mudaria a histria. Certo dia, ao sair de manh para caar, ele se depara com Helena saindo de um velho casebre na companhia de seu pajem Vicente, numa situao bastante comprometedora. No entanto, sem ser visto pelos dois, aproveita que partiram, se aproxima da casa e procura conhecer o dono da casa. Isto resulta numa crise na famlia, que culmina com Estcio chamando o padre Melchior para contar-lhe a desonra que Helena est trazendo para a famlia. O padre acaba se convencendo de que o cime do jovem se deve ao fato de ele est amando sua meia-irm. No satisfeito com a explicao, Estcio parte a investigao e acaba descobrindo que o homem com quem Helena se encontrava era seu pai verdadeiro, de quem a me dela se separara quando ela era criana, para ficar com o conselheiro. Aps a morte da me de Helena e do conselheiro, o pai voltou a ver a filha, mas no quis tir-la da casa do conselheiro, pois ele no tinha na da para lhe oferecer. Aps contar toda a verdade, some da vida de Helena sem mesmo se despedir. Helena ficou muito envergonhada ao ser descoberta, embora a famlia estivesse disposta a acolh-la e a preservar as coisas como estavam. O pe. Melchior, protetor da moral e dos bons costumes, aconselha Estcio a no concretizar seu amor, pois seria um escndalo. Helena, em profunda depresso, debilitada fisicamente, toma forte chuva, adoecendo gravemente e vindo a falecer alguns dias depois, para desespero de Estcio. O Romance acaba de forma trgica, narrando os ltimos minutos da moa e a solido que se abateu sobre todos na casa em especial sobre o doutor Estcio. Aps o enterro, em sua casa, o Dr. Camargo, vendo que seus planos se concretizariam, d o terceiro beijo em sua filha Eugnia, futura esposa do Dr. Estcio.ANLISEOS PERSONAGENS PRINCIPAIS SO: Helena, alm de ser a protagonista da obra, idealizada por Machado de Assis, sua fonte Inspiradora, era sensvel, emotiva, romntica e muito forte;"... uma moa de 16 a 17 anos, delgada sem magreza, estatura um pouco acima da mediana, talhe elegante e atitudes modestas. A face de um moreno pssego tinha a mesma imperceptvel penugem da fruta de que tirava a cor."; (pag.14)

Estcio protagoniza o romance ao lado de Helena e suposto irmo de Helena;"... tinha 27 anos e era formado em matemtica. O conselheiro tentara encarreira-lo na poltica, depois na diplomacia; mas nenhum desses projetos tiveram comeo de execuo."(pag.7)

OS PERSONAGENS SECUNDRIOS SO: Dona rsula, irm do falecido Conselheiro; Dr.Camargo, mdico da famlia, pai de Eugnia e amigo do Conselheiro; Eugnia, filha de Dr. Camargo e apaixonada por Estcio; Padre Melchior era amigo do Conselheiro e confidente da famlia; Conselheiro Vale pai adotivo de Helena (O qual a deixa a herana); Mendona, Amigo de Estcio; ngela, Me de Helena; Salvador, legtimo pai de Helena.

O narrador est ausente da histria e o espao no Rio de Janeiro, em um stio na cidade de Andara. O autor descreve a obra com muitos detalhes, por exemplo: quando ele trata de descrever cada personagem e seus feitos. A durao do romance pouco mais de um ano. E o tempo psicolgico se permanece a vida toda, pois no decorrer da histria a vida de Helena vai desde a unio de seus pais, seu nascimento, infncia, sua chegada a Andara, sua desiluso amorosa e finalmente at o momento de sua morte.Neste romance, o leitor encontra uma linda moa, enfeitada pela inocncia, num ambiente burgus de sua poca. Bela e misteriosa, Helena encanta a todos, desperta o amor de Estcio.A verossimilhana da obra Helena, a herona se faz passar por irm de Estcio, a fim de receber parte da herana; mas apaixona-se pelo falso irmo e correspondida; no final, obrigada a confessar sua mentira, para no passar por uma aventureira, deixa-se morrer.A partir da Analise literria entendo que no bastar apenas ler, temos que saber analisar de maneira objetiva, interpretando e observando o que o autor descreve em seu romance e o que retrata. Na obra Helena o leitor, encontra uma linda moa, bela e misteriosa, e que encanta a todos, despertando sentimentos bons e fortes em Estcio, atormentando a vida deste desavisado. Trama simples, carregado de sentimentalismos.Assim, teremos condies de nos pronunciar com segurana sobre o que analisamos, porque conhecemos as caractersticas da obra, tendo o cuidado em observar na anlise as partes que constituem o romance "HELENA."

EXERCCIOS (FAENQUIL / VUNESP) Leia a "Advertncia", escrita por Machado de Assis para apresentar uma das edies de seu romanceHelena, e responda as questes 1, 2 e 3.

Esta nova edio deHelenasai com vrias emendas de linguagem e outros, que no alteram a feio do livro. Ele o mesmo da data em que o compus e imprimi, diverso do que o tempo me fez depois, correspondendo assim histria do meu esprito, naquele ano de 1876.No me culpeis pelo que lhe achardes romanesco. Dos que ento fiz, este me era particularmente prezado. Agora mesmo, que h tanto me fui a outras e diferente pginas, ouo um eco remoto ao reler estas, eco de mocidade e f ingnua. E claro que, em nenhum caso, lhes tiraria a feio passada; cada obra pertence ao seu tempo.

1. Desse texto de Machado de Assis, subentende-se que(A) um livro deve ser lido apenas na poca que foi e escrito.(B) livros escritos por jovens so romanescos e ingnuos.(C) cada livro est intimamente ligado ao contexto em que produzido.(D) um autor no deve ser responsabilizado pelo que escreveu na juventude.(E) as ideias expressas em um livro reproduzem a classe social de seu autor.

2. Com essa apresentao deHelena, Machado de Assis aponta caractersticas divergentes do todo de sua produo literria, a qual se inscreve no Realismo brasileiro, inaugurado com a publicao deMemrias pstumas de Bras Cubas, em 1881. So elementos marcantes de seu estilo:(A) o bom-humor, a objetividade e o uso de uma linguagem popular.(B) O sarcasmo a ironia e a anlise psicolgica das personagens.(C) O pessimismo, o subjetivismo e a explorao exagerada do tema "morte".(D) a critica da realidade, a metalinguagem e a exaltao do homem brasileiro.(E) a objetividade, a espontaneidade da linguagem e a defesa dos interesses nacionais.

3. Ao criticar Helena, o autor deixa implcita uma crtica a um movimento literrio que o antecede. Esse movimento o(A) Barroco a caracterizado pelo uso freqente de antteses es e sinestesias.(B) Romantismo, comumente associado a uma emotividade exacerbada.(C) Arcadismo, marcado por um iderio iluminista e retomada dos clssicos.(D) Simbolismo, voltado para a representao subjetiva da realidade.(E) Parnasianismo, geralmente te criticado pelo uso de uma linguagem artificial.

RESUMO DE OBRASCASA DE PENSO ALUSIO DE AZEVEDO (1884)

Amncio da Silva Bastos e Vasconcelos, rapaz rico e provinciano, abandona o Maranho e segue de navio para o Rio de Janeiro ( Corte) a fim de se encaminhar nos estudos e na vida. um provinciano que sonha com os deslumbramentos da Corte. Chega cheio de iluses e vazio de propsitos de estudar... A me fica chorosa e o pai, indiferente, como sempre fora no trato meio distante com o filho. O rapaz tinha que se tornar um homem.Amncio comea morando em casa do Sr. Campos, amigo do Pai, e, forado, se matricula na Escola de Medicina. Ia comear agora uma vida livre para compensar o tempo em que viveu escravizado s imposies do pai e do professor, o implacvel Pires.Por convite de Joo Coqueiro, coproprietrio de uma casa de penso, junto com a sua velhusca mulher Mme. Brizard, muda-se para l. tratado com as maiores preferncias: os donos da penso queriam aproveitar o mximo de seu dinheiro e ainda arranjar o seu casamento com Amlia, irm de Coqueiro (um sujo jogo de baixo interesses, sobretudo de dinheiro). Naquele ambiente, tudo ocorria para fazer explodir a sensualidade do maranhense.A casa de penso era um amontoado de gente, em promiscuidade generalizada, apesar da hipcrita moralidade pregada pelo seu dono: havia misria fsica e moral, clara e oculta. Com a chegada de Amncio, a penso passou a ser uma arapuca para prender nos seus laos o jovem inexperiente e rico estudante: pegar o seu dinheiro e cas-lo com a irm do Coqueiro. (Amncio passara a pagar todas as contas da famlia).Para alcanar o casamento de Amncio com Amlia todos os meios eram absolutamente lcitos. Amlia, principalmente quando da doena do rapaz, se desdobrou nos mais ntimos cuidados. At que se tornou, disfaradamente, sua amante sempre mantendo as aparncias do maior respeito exigido dentro da penso pelo Joo Coqueiro... Amlia se oferecia o tempo todo.O pai de Amncio morre no Maranho. A me chama o filho. Ele pretendo voltar logo que terminem os seus exames de medicina. Era preciso que o filho voltasse para v-la e ver os negcios que o pai deixara. Mas o rapaz est preso casa de penso e Amlia: esta o ameaa e s permite sua ida ao Maranho, depois do casamento com ela.Amncio explicava que precisava muito ir ver a sua me necessitada. Mas, Amlia, morrendo de cimes dele ir-se embora e conhecer outras mulheres no Maranho, protestava: ele no iria jamais!Ento Amncio prepara sua viagem s escondidas. Mas, no dia do embarque, um oficial de justia acompanhado de policiais o prende para apresentao delegacia e prestao de depoimentos. Amncio acusado de sedutor da moa. Joo Coqueiro prepara tudo: o caso foi entregue ao famigerado Dr. Teles de Moura. Aparecem duas testemunhas contra o rapaz. Comea o enredado processo: uma confuso de mentiras, de fingimentos, de maucaratismo contra o jovem rico e desfrutvel para os interesses pecunirios de Mme. Brizard e marido. H uma ressonncia geral na imprensa e, na maioria, os estudantes se colocam ao lado de Amncio.O senhor Campos prepara-se para ajudar o seu protegido, mas Coqueiro lhe faz chegar s mos uma carta comprometedora que Amncio escrevera sua senhora, D. Hortnsia. (pois Amncio se envolvia sentimentalmente com as mulheres casadas da penso, em especial Hortncia, esposa de Campos). Campos ento se coloca contra quem no soube respeitar nem a sua casa...Amncio continua preso. Trs meses depois de iniciado o processo, Amncio absolvido. O rapaz levado em triunfo para um almoo, no Hotel Paris. Todo mundo olhava com curiosidade e admirao o estudante absolvido. E lhe atiravam flores, Ouviam-se vivas ao estudante e Liberdade. Os msicos alemes tocaram a Marselhesa. Parecia um carnaval carioca.Em outro plano, Coqueiro, sozinho, via e ouvia tudo. Sua alma estava envenenada de raiva. Quando em casa, sua mulher o acusava de todo o fracasso. As testemunhas reclamavam o pagamento do seu depoimento. Um inferno dentro e fora dele. Chegaram cartas annimas com as maiores ofensas. Um homem acuado... Tinham-lhe acabado a vida boa.Coqueiro tambm tinha muita vergonha do que a cidade estava comentando sobre a sua irm prostituda. No poderia isso ficar assim.Pegou, na gaveta, o revlver do pai. E pensou em se matar. Carregou a arma. Acertou o cano no ouvido. No teve coragem. Debaixo da sua janela, gritavam injrias pela sua covardia e mau carter... No dia seguinte, de manh, saiu sinistro. Foi ao Hotel Paris. Bateu no quarto II, onde se encontrava o estudante com a rapariga Jeanete. Esta abriu a porta. Amncio dormia, depois da festa e da bebedeira, de barriga para cima.Foi ento que Coqueiro atirou a queima-roupa em Amncio. E Amncio passa a mo no peito, abre os olhos, no v mais ningum. Ainda diz uma ltima palavra: mame ... e morre.Coqueiro foi agarrado por um policial, ao fugir. A cidade se enche de comentrios. Muitos visitam o necrotrio para ver o cadver de Amncio. Vendem-se retratos do morto. Um funeral grandioso com a presena de polticos, notcias e necrolgicos nos jornais, a cidade toda abalada. A tragdia tomou conta de todos.A opinio pblica comea a flutuar, a mudar de posio: afinal, Joo Coqueiro tinha lavado a honra da irm...Quando D. ngela, envelhecida e enlutada, chega ao Rio de Janeiro, se viu no meio da confuso, procurando o filho. Numa vitrine, ela descobriu o retrato do filho na mesa do necrotrio, com o tronco nu, o corpo em sangue. Uma legenda: Amncio de Vasconcelos, assassinado por Joo Coqueiro, no Hotel Paris...

Personagens Amncio: Jovem preguioso e mulherengo, que odiava e sua vida se resumia em festas e badalaes, e era muito rico; Campos: marido de Hortnsia, descobre depois o relacionamento de Amncio com sua mulher e fica contra ele (sempre esteve do lado de Amncio); Hortnsia: mulher de Campos, sofre assdio de Amncio; Joo Coqueiro: dono da penso, quer que Amncio se case com Amlia; Amlia: irm de Joo Coqueiro; Mme. Brizard: esposa de Joo Coqueiro, apia o romance de Amlia com Amncio,pois ele um garoto estudioso. Lcia e Pereira: hspedes da casa de penso; Lcia tambm uma das pessoas que querem tomar o dinheiro de Amncio, e Pereira seu marido, que no faz nada na vida; Paiva e Simes: "amigos" de Joo Coqueiro que s se interessam por seu dinheiro.

ANLISE DA OBRAA obra foi baseada num fato real: aQuesto Capistrano, crime que sensibilizou o Rio de Janeiro em 1876/77, envolvendo dois estudantes, em situao muito prxima da narrao de Alusio Azevedo. Neste livro, o autor estuda as influncias da sociedade sobre o indivduo sem qualquer idealizao romntica, retratando rigorosamente a realidade social trazendo para a literatura um Brasil at ento ignorada.Autor fiel tendncia naturalista difundida pelo realismo, Alusio Azevedo focaliza, nesta obra, problemas como preconceitos de classe, de raas, a misria e as injustias sociais. Descreve a vida nas penses chamadas familiares, onde se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital. Diferente do romantismo, o naturalismo enfatiza o lado patolgico do ser humano, as perverses dos desejos e o comportamento das pessoas influenciado pelo meio em que vivem.Casa de Penso uma espcie de narrativa intermediria entre o romance de personagem (O Mulato) e o romance de espao (O Cortio). Como emO Mulato, todas as aes ainda esto vinculadas trajetria do heri, nesse caso, Amncio de Vasconcelos. Mas, como emO Cortio, a conquista, ordenao e manuteno de um espao que impulsiona, motiva e ordena a ao. Espao e personagem lutam, lado a lado, para evitar a degradao.As teses naturalistas, especialmente o Determinismo, aliceram a construo das personagens e das tramas.Romance naturalista de 1884, em que o autor, de carreira diplomtica bastante acidentada, move personagens que se coadunam perfeitamente com a anlise dos crticos de que seus tipos so, via de regra, grosseiros, no se distinguem pela sutileza da compreenso, nem pela frescura dos sentimentos. So eixos de relaes da estrutura da presente narrativa a Provncia - Maranho, a Corte - Rio de Janeiro, a casa paterna e a casa de penso.Estilo O naturalismo est plenamente representado em Casa de Penso desde a abertura do romance, quando Amncio aparece marcado fatalisticamente pela escola e pela famlia: uma e outra o encheram de revolta. Por causa de um castigo justo ou injusto,"todo o sentimento de justia e da honra que Amncio possua, transformou-se em dio sistemtico pelos seus semelhantes...". O leite que o menino mamou na ama negra tambm est contagiado e ir marc-lo. O mdico dizia:"Esta mulher tem reuma no sangue e o menino pode vir a sofrer para o futuro." Amncio uma cobaia, um campo de experimentao nas mos do romancista. Nele o fisiolgico muito mais forte do que o psicolgico. o determinismo que vai acompanhar toda a carreira do personagem.Est presente tambm na obra o sentido documental e experimental do romance naturalista, renunciando ao sentimentalismo e evaso, procura construir tudo sobre a realidade. Como j mencionado, a estria do romance se baseia num caso real.

LinguagemUma tcnica comum ao escritor naturalista o abuso dos pormenores descritivo-narrativos de tal modo que a estria caminha devagar, lerda e at montona. a necessidade de ajuntar detalhes para se dar ao leitor uma impresso segura de que tudo pura realidade. Essas mincias se estendem a episdios, a personagens e a ambientes. Num episdio, por exemplo, h mincias de tempo, local e personagens. E mveis de uma sala at os objetos mais midos.No se pode dizer que a linguagem do romance regionalista; pelo contrrio, o padro da lngua usada geral e o torneio frasal, a estrutura morfossinttica completamente fiel aos padres da velha gramtica portuguesa.Como Machado de Assis, Alusio Azevedo tambm usa alguns recursos desconhecidos da lngua portuguesa do Brasil, principalmente na lngua oral. Assim, por exemplo, o caso da apossnclise( uma posio especial do pronome oblquo que no escutamos no Brasil, mas comum at na lngua popular de Portugal). So exemplos de apossnclise:"H anos quemeno encontro com o amigo."(H anos que nome...)"Semeno engano, voc est certo."Em Casa de Pensoessa posio pronominal um hbito comum.

Foco narrativoO autor escolheu o seu ponto-de-vista narrativo: a terceira pessoa do singular, um narrador onisciente e onipotente, fora do elenco dos personagens. Como um observador atento e minucioso dentro das prprias frmulas apertadas do naturalismo. No caso deste romance, Alusio Azevedo trabalhou muito servilmente sobre os fatos absolutamente reais.

TemticaComo emO Cortio, Alusio de Azevedo se torna excepcionalmente rico na criao de personagens coletivos: a casa de penso, to comum ainda hoje, no Brasil inteiro, tem vida, uma vida estudante, nas pginas do romance. Alusio conhecia, de experincia prpria, esse ambiente feito de tantos quartos e tantos inquilinos, to numerosos e to diferentes, nivelados pela mediocridade e em fcil decadncia moral. O autor faz alguns retratos com evidentes traos caricaturais (a sua velha mania ou vocao para a caricatura...), mas fiis e verdadeiros. Tudo se movimenta diante do leitor: a casa de penso um mundo diferente, gente e coisas tomam aspectos novos, as pessoas adquirem outros hbitos, informadas ou deformadas por essa vida comunitria to promscua. A se encontram e se desencontram, se amontoam e se separam tantos indivduos transformados em tipos, conhecidos, s vezes, apenas pelo nmero do quarto. EmO Cortioo meio social mais baixo; naCasa de Penso mdio.s doenas morais (promiscuidades, hipocrisia, desonestidades, sensualismos excitados e excitantes, dios, baixos interesses, dinheiro...) se misturam tambm doenas fsicas (o tuberculoso do quarto 7 que morre na casa de penso, a loucura e histerismo de Nini...). Foi o que encontrou Amncio naCasa de Pensode Mme. Brizard. Fora para o Rio de Janeiro, para estudar. E, num ambiente como esse, quem seria capaz de estudar? verdade que o rapaz j trazia a sua mentalidade burguesa do tempo: o que ele buscava no era uma profisso, mas apenas um diploma e um ttulo de doutor. Ele, sendo rico, no precisaria da profisso, mas, por vaidade, de um status, de um anel no dedo e de um diploma na parede. Essa mania de doutor, doena que pegou no Brasil, j foi magistralmente caricaturada em deliciosa carta de Ea de Queirs ao nosso Eduardo Prado: "A nao inteira se doutorou. Do norte ao sul do Brasil, no h, no encontrei seno doutores! Doutores com toda a sorte de insgnias, em toda a sorte de funes!! Doutores com uma espada, comandando soldados; doutores com uma carteira, fundando bancos: doutores com uma sonda, capitaneando navios; doutores com uma apito, comandando a polcia; doutores com uma lira, soltando carnes; doutores com um prumo, construindo edifcios; doutores com balanas, ministrando drogas; doutores sem coisa alguma, governando o Estado! Todos doutores..." O prprio Alusio de Azevedo abandonou a Provncia para buscar sucessos na Corte (Rio de Janeiro) e, certamente tambm, um ttulo de doutor...

EXERCCIOSLeia o texto e responda as questes de 1 a 9. Amncio fora muito mal-educado pelo pai, portugus antigo e austero, desses que confundem o respeito com o terror. Em pequeno levou muita bordoada; tinha um medo horroroso de Vasconcelos; fugia dele como de um inimigo, e ficava todo frio e a tremer quando lhe ouvia a voz ou lhe sentia os passos. Se caso algumas vezes se mostrava dcil e amoroso, era sempre por convenincia: habituou-se a fingir desde esse tempo.Sua me, D. ngela, uma santa de cabelos brancos e rosto de moa, no raro se voltava contra o marido e apadrinhava o filho. Amncio agarrava-se-lhe s saias, fora de si, sufocado de soluos.Aos sete anos entrou para a escola. Que horror!O mestre, um tal de Antnio Pires, homem grosseiro, bruto, de cabelo duro e olhos de touro, batia nas crianas por gosto, por hbito do ofcio. Na aula s falava a berrar, como se dirigisse uma boiada. Tinha as mos grossas, a voz spera, a catadura selvagem; e, quando metia para dentro um pouco mais de vinho, ficava pior.Amncio, j na corte, s de pensar no bruto, ainda sentia calafrios dos outros tempos, e com eles vagos desejos de vingana. Um malquerer doentio invadia-lhe o corao, sempre que se lembrava do mestre e do pai. Envolvia-os no mesmo ressentimento, no mesmo dio surdo e inconfessvel.Todos os pequenos da aula tinham birra ao Pires. Nele enxergavam o carrasco, o tirano, o inimigo e no o mestre; mas, visto que qualquer manifestao de antipatia redundava fatalmente em castigo, as pobres crianas fingiam-se satisfeitas, riam muito quando o beberro dizia alguma chalaa, e afinal, coitadinhas! Iam-se habituando ao servilismo e mentira.Os pais ignorantes, viciados pelos costumes brbaros do Brasil, atrofiados pelo hbito de lidar com escravos, entendiam que aquele animal era o nico professor capaz de endireitar os filhos.Elogiavam-lhe a rispidez, recomendavam-lhe sempre que no passasse a mo na cabea dos rapazes e que, quando fosse preciso, dobrasse por conta deles a dose de bolos.ngela, porm, no era dessa opinio: no podia admitir que seu querido filho, aquela criaturinha fraca, delicada, um mimo de inocncia e de graa, um anjinho, que ela afagara com tanta ternura e com tanto amor, que ela podia dizer criada com seus beijos fosse l apanhar palmatoadas de um brutalho daquela ordem! Ora! Isso no tinha jeito!Mas o Vasconcelos saltava-lhe logo em cima: Que deixasse l o pequeno com o mestre!... Mais tarde ele havia de agradecer aquelas palmatoadas!Assim no sucedeu. Amncio alimentou sempre contra Pies o mesmo dio e a mesma repugnncia. (...)

01. Aeducao que Amncio recebera do pai foi baseadaa) no respeitoc) no dilogoe) na compreensob) no medod) no exemplo

02. uma caracterstica da personalidade de Amncio consequente da educao recebida na infnciaa) fingidoc) amorosoe) responsvelb) dcild) mentiroso

03. Aescola representou para Amncioa) a proteo contra a violncia do pai.b) uma experincia de vida diferente.c) uma continuidade do tipo de educao recebida em casa.d) uma oportunidade de aprender e de crescer saudavelmente.e) um local onde se sentia melhor do que na prpria casa.

04. Segundo as informaes do trecho, as outras crianas da escolaa) apreciavam Antnio Pires.b) implicavam com Amncio.c) eram antipticas com o professor.d) discutiam com o professor para defender Amncio.e) bajulavam Pires por temerem os castigos.

05. Na frase no passasse a mopela cabea dos rapazes, o uso das aspas, no texto, indicaa) reproduo de uma citaob) presena de griac) crtica de uma opiniod) introduo de um dilogoe) expresso de desacordo com a fala destacada.

06.No trecho ... no raro se voltava contra o marido eapadrinhavao filho, o termo em destaque tem sentido dea) patrocinarc) autorizar e) desdenharb) protegerd) humilhar

07. Os pais, que colocavam os filhos na mesma escola que Amncio estudava, tinham a opinio de que Antnio Piresa) era um pouco rgido demais com seus filhos.b) era um mestre afetuoso e flexvel no tratar com as crianas.c) era alm de violento, despreparado para ensinar as crianas.d) era um mestre competente e capaz de educar bem as crianas.e) era um educador tradicional, incapaz de auxiliar no aprendizado das crianas.08. O narrador menciona os sentimentos semelhantes que Amncio nutria pelo pai e pelo mestre. Os sentimentos expressos no trecho que se referem apenas ao mestre soa) dio surdo e medo.b) medo e malquerer doentio.c) repugnncia e desejo de vingana.d) ressentimento e dio inconfessvel.e) amor e respeito.

09. Em alguns momentos, o narrador expressa juzos de valor em relao aos personagens e fatos. Podemos observar isso ema) Os pais ignorantes, viciados pelos costumes brbaros do Brasil...b) Na aula s falava a berrar como se dirigisse uma boiada.c) Amncio agarrava-se-lhe s saias, fora de si, sufocado de soluos.d) Nele enxergavam o carrasco, o tirano, o inimigo e no o mestre;e) Em pequeno levou muita bordoada.

RESUMO DE OBRASO MISSIONRIO INGLS DE SOUSA (1891)

Espao: Silves PAFoco narrativo: 3 pessoa (narrador onisciente)Tempo: sculo XIX Segundo ImprioTemtica: um romance de tese, propondo o conflito entre a vocao sacerdotal e o instinto sexual, instigado pelo relaxamento dos costumes e pelo sensualismo da mameluca Clarinha, que acabam por vencer a frgil resistncia do Pe. Antnio de Morais.RESUMOA narrativa tem incio com os preparativos para a chegada do novo vigrio de Silves, padre Antnio de Morais.Padre Antnio de Morais devia chegar a Silves naquela esplndida manh de fevereiro.A carta que escrevera ao Macrio sacristo anunciava o dia da partida, designando o paquete, e pedia uma casa modesta e mobiliada simplesmente. Macrio fizera o cmputo do tempo necessrio viagem, rio acima at Silves, e espalhara por toda a vila, havia exatamente quinze dias, a notcia da prxima vinda do vigrio enviado pelo Sr. D. Antnio na solicitude paterna de pastor que no descura a salvao das suas mais obscuras ovelhas, conforme lera o professor Anbal na Boa nova da ltima semana. (p. 13)Coube a Macrio, o sacristo, a incumbncia de arranjar casa, moblia, acessrios e de preparar a chegada do novo padre que vinha substituir o falecido padre Jos, conhecido na pequena Silves pela vida de orgias e gastos excessivos.A casa no fora difcil de arranjar, bem perto da Matriz, na melhor situao, olhando para o lago. Era pequena, mas muito arejada e estava caiadinha de novo. Cedera-a por seis mil-ris mensais o presidente da Cmara, que a mandara preparar para si, com umas veleidades de deixar o stio ao rio Urubus e vir morar para a vila; mas a fora do hbito o fizera desistir do projeto, e depois... a D. Eullia... coitada! No queria ouvir falar em tal mudana, por causa dos seus queridos xerimbabos. Assim o Neves Barriga preferira alugar a casinha, branca e asseada, e resignara-se a continuar enterrado naquele serto do Urubus, matando carapans e fazendo farinha de mandioca. O Antnio Capina, por muito empenho, s pudera fornecer uma mesa de pinho, envernizada e decente e a marquesa de palhinha que fora do ltimo juiz municipal, reformada para servir a algum desses esquisitos l de fora que no gostam de dormir em rede. As cadeiras, a mesa de jantar, o lavatrio, a bacia de banho, tinha-os o Macrio pedido emprestado ao capito Mendes da Fonseca, que, em toda a vila, possua as melhores coisas desse gnero. Para ornar a parede do fundo da sala, o professor Anbal emprestara uma grande gravura, representando a batalha de Solferino, e retratos de Pio IX, de Antonelli, de Cavour, da princesa Estefnia e do conselheiro Paranhos. A loua, tanto a de mesa como a de cozinha, compunha-se do que o Macrio pudera arrancar cobia da Chiquinha do Lago, restos do esplio do finado padre Jos, e do que comprara na casa do Costa e Silva. Estava tudo decente. (p.13)O captulo I tambm se ocupa de apresentar a histria de Macrio: Macrio crescera entre os repeles da me e as sovas formidveis com que o mimoseava o sargento para se vingar do marinheiro da taverna, farto de lhe fiar a pinga. Poucas vezes conseguira satisfazer a fome, seno graas generosidade de algum fregus em cuja casa entrava a servio de conduo da roupa lavada; porque na casinha da lavadeira o pirarucu era pouco e mau, a farinha rara, os frutos luxo dos ricos, o po extravagncia de fidalgos de apetite gasto ou de doutores barrigudos e vadios. O estmago do rapaz era exigente, afeioara-se facilmente s gulodices das casas abastadas, onde entrava de cesto cabea, lanando compridos olhos para a mesa de jantar ou para o armrio dos doces, at a senhora, entre um credo! e duas cruzes! tinhoso! lhe mandar dar alguma coisa, para que no aguasse a comida. O duplo tormento da fome e das pancadas exasperava o Macrio, mas, falta de energia, no lhe dava mais remdios do que suspiros, gritos e lgrimas. A sua devota Nossa Senhora do Carmo veio, porm, em seu auxlio.Uma tarde, a me, ocupada em conter os mpetos destruidores do amante, fatais loua e moblia, mandara-o levar um cesto de roupa lavada ao Seminrio, e cobrar a conta do senhor reitor.Nesse dia, a bebedeira do sargento ameaara trovoada grossa, e ao jantar das duas horas faltara a farinha dgua, e o pirarucu fora comido triste e s, sem gosto e s carreiras.Macrio, faminto e assustado, batera porta do Seminrio, uma grande casa sria e limpa, cheia de janelas com vidraas e de meninos alegres, brincando o esconde-esconde no vasto quintal inculto; e esse espetculo aumentara-lhe a tristeza, ao ponto de faz-lo chorar.Mandaram-no entrar no quarto do reitor, que o estava esperando para pagar a conta.(...)Quando o Macrio entrou fez-se uma pequena revoluo no sossegado aposento de S. Revma. O seminarista fechou o livro, ps-se de p e comeou a fazer-lhe gaifonas por trs do grande livro de estampas. O macaco deixou a capivara, e, assustado, trepou rapidamente pela rede e subiu pelos punhos, cordas fora, at s escpulas, donde se ps a olhar desconfiado para o rapazito, fazendo-lhe momices. O periquito desceu para o fundo da rede e escondeu-se entre as pregas amplas da batina do padre. A capivara fugiu para baixo duma cadeira. O pequeno mau deixou de soprar ao fogo de tio, e fixou no recm-chegado os grandes olhos negros, profundos e mudos.O padre reitor largou o cachimbo e atentou na cara magra e doentia do Macrio, que no tinha ainda aquela belida no olho esquerdo, nem aquele lombinho que lhe comeara a surgir do meio da testa aos trinta anos, e agora ostentava a sua protuberncia polida num descaro insolente. O que tens, tu, rapazinho, que ests to assustado e trmulo? Saber V. Revma...O tom do reitor era to paternal e bondoso, inspirava tanta confiana e punha a gente to vontade, que Macrio sem vergonha do seminarista nem do curumim, desatou a chorar. E depois, sentindo uma necessidade de proteo e amparo, comeou a contar quele padre gordo, bondoso e afvel a desgraa que o sujeitava s brutalidades dum soldado bbado e ao desamor da me desnaturada.O padre reitor acendeu o cachimbo muito comovido, e prometeu arranc-lo sua situao. Justamente partia para Silves o seu amigo padre Jos, vigrio-colado daquela freguesia. Vai com o padre Jos, rapazinho, ele te dar boa vida. H-de ensinar-te o catecismo, a ler e a escrever. Mais tarde, se for possvel, e mostrares vocao, fao-te entrar no Seminrio.Notando a alegria do Macrio, o reitor concluiu: Hoje mesmo, noite, talvez fale ao juiz de rfos e ao meu amigo padre Jos.E como se a ideia da projetada diligncia o tivesse fatigado muito, deu um suspiro, descansou o cachimbo sobre a pele de ona pintada, e fechando os olhos ficou silencioso.No dia seguinte Macrio fora arrancado lavadeira por dois oficiais de justia, e uma semana depois viera para Silves, humilde e contente, seguindo o vigrio-colado com um reconhecimento de cachorro socorrido. Vinte anos servira o duplo ofcio de fmulo e sacristo do padre Jos, um pndego! que passava meses nos lagos, tocando violo e namorando as mulatas e as caboclas dos arredores, e gastava em bons-bocados as missas, os enterros e os batizados da freguesia, e, na falta, caloteava ao Costa e Silva e ao Mendes da Fonseca, que era um deus-nos-acuda!A sua mesa era farta, e a casa alegre. (p.15-16)Finalmente o padre Antnio Morais chega. Os homens influentes de Silves o foram receber: tenente Valado, subdelegado de polcia, capito Manuel Mendes da Fonseca, coletor das rendas gerais e provinciais; o alferes Jos Pedreira das Neves Barriga, presidente da cmara; o escrivo da coletoria, Jos Antnio Pereira, o vereador Joo Carlos, o professor Anbal Americano Selvagem Brasileiro, o Pedro Guimares, conhecido em Silves pela alcunha de Mapa-Mndi, dente outros. O presidente da cmara, o Neves Barriga, oferecera-lhe de almoar, uma refeio simples mas abundante, que o seu estmago, acostumado magra pitana do seminrio, achara excelente. O almoo fora dado na casa da Cmara, porque o Neves no tinha casa na vila e estava de hspede duma parenta pobre. Comera padre Antnio com bom apetite, para mostrar que no era de cerimnia. A senhora D. Eullia ficara encantada. No cabia em si de contente pela honra que lhe fazia o senhor vigrio, comendo o seu tucumar cozido, com molho de limo e pimenta, e a sua galinha de cabidela, banhada em louro e aafro. (p.26-27)Aps receber as homenagens dos silvenses, padre Antnio, cansado, recolheu-se em seu quarto, enquanto num flashback relembrava sua origem, o pai, capito Pedro Ribeiro de Morais, homem severo e devasso; a me, D. Braslia, exemplo de submisso e fraqueza sertaneja. Tambm lembrou do tempo de seminrio, de como sua rebeldia e arrogncia foram esmagadas pelos superiores e de como aprendera a conter os impulsos de menino criado sem rdeas, solto nos matos, correndo atrs dos bezerros, banhando-se no rio, comendo goiabas verdes. At entrar para o Seminrio levara uma vida livre, solto nos campos, ajudando a tocar o gado para a malhada, a meter as vacas no curral. Montava os bezerros de seis meses e os poldros de ano e meio. Acordava cedo, banhava-se no rio horas inteiras, e depois corria lguas caa dos ninhos de garas e de maguaris. Satisfazia o apetite sem peias, nem precauo, nas goiabas verdes, nos aras silvestres e nos taperebs vermelhos, de perfume tentador e acidez irritante.Exercera imoderada tirania sobre os irmos pequenos, sobre os escravos e os animais domsticos, sobre as rvores do campo, os pssaros da beira do rio e a pequena caa dos aningais. Trepara aos altos ingareiros, atolara-se na lama dos brejos e dos chiqueiros, espojara-se na relva como um burrico. Escondera-se nos buracos como as lontras dos lagos e as onas das montanhas. Pulara, correra, brincara sua vontade, saturando-se do sol, de ar, de liberdade e de gozo.O pai, o capito Pedro Ribeiro de Morais, pequeno fazendeiro de Igarap-mirim, deixara-o crescer a seu gosto, sem cuidar um s instante em instru-lo e educar. A me, D. Braslia, sempre lhe dera algumas lies de leitura, s escondidas do marido, que no gostava que aperreassem a criana, mas quanto a disciplina e educao nenhuma lhe deram nem podiam dar na pobre fazenda paterna. (p.29-30)O padrinho, o comandante superior, admirava-lhe a viveza, e um dia resolvera tom-lo sob sua proteo e mand-lo sua custa para o Seminrio, a fim de receber educao conveniente. A pobre me quisera, a princpio, opor-se resoluo do compadre coronel, sentindo-se incapaz de resistir s saudades do Antonico, o seu filho predileto, mas o bom senso e a lucidez intelectual de que era dotada venceram a excesso de amor materno, e, debulhada em lgrimas, deixou-o partir, depois de recomend-lo muito aos cuidados do padrinho. Quanto a Pedro Ribeiro, a ideia de vir a ter um filho padre lisonjeara-lhe a vaidade.O despertar da inteligncia, com a curiosidade de saber e a emulao, foram-lhe pouco a pouco tirando o ar palerma e os modos achavascados, amorteceram as saudades da me e da fazenda natal, e incutiram-lhe hbitos de asseio e de ordem.Por outro lado, o seu esprito indmito e a meio selvagem foi paulatinamente cedendo influncia suave do cultivo e da doutrina dos padres-mestres, mas no sem rebeldias bruscas e inesperadas que tonteavam o padre reitor e tornavam necessrias as valentes palmatoadas que lhe aplicava o carrasco do Seminrio, um caboclo robusto e impassvel, de olhar estpido e gestos de bonifrate.No tocante aos ardores juvenis, que as mulatinhas haviam experimentado, pareciam sopiados na atmosfera fria e severa em que se achava, se bem que s vezes - com muito nojo o recordava - se desregrassem em extravagncias, confessadas na quaresma, e justamente punidas com jejuns e maceraes, a que Antnio se dava com um entusiasmo que lhe valia a admirao dos mestres e a zombaria invejosa dos condiscpulos e cmplices.Sofrera muito no Seminrio, mas desses tormentos indizveis, de que apenas recordava os transes principais, sara robustecido na f e na crena, e com a segurana do seu valor prprio, da sua mscula energia, da sua inquebrantvel fora de vontade. (p.39)No captulo III encontramos Francisco Fidncio Nunes, professor de latim, homem revoltado para com o clero, sempre a incitar o povo com seus artigos de jornal, criticando, padres, bispos, at o papa. Inimigo da catequese jesutica, das beatas. Estava deprimido, pois desde a chegada do novo proco no tinha assunto para as suas crnicas. Padre Antnio era um padre irrepreensvel, j havia um ms que chegara e nem um deslize. Havia um ano que o Chico Fidncio se estabelecera em Silves, espantando os pacatos habitantes da vila com as suas teorias irreverentes e ousadas, fascinando-os, tinha presuno disso, com o seu verbo colorido e ardente, espicaando-lhes a mole diferena com o aguilho das suas crticas acerbas e dos seus sarcasmos ferinos, dominando-os pelo esprito desembaraado de convenes e dos prejuzos da estreita vida de aldeia.Era natural do Rio de Janeiro, carioca da gema. Aquilo, sim que era terra! Cursara dois anos da antiga Escola Central. No gostara das matemticas, era mais amigo das cincias sociais, e se fora rico, teria ido estudar a S. Paulo, teria entrado para a troa do Varela, do Castro Alves, teria sido talvez um lvares de Azevedo. Era, porm muito pobre. Um tio, que o ajudava, fartara-se de o aturar e pusera-o fora de casa, quando sara reprovado em clculo diferencial, ao segundo ano.Francisco Fidncio contava redao do Democrata, por mido as pndegas colossais do vigrio, as aventuras noturnas, as bambochatas em canoa, as orgias nas praias de areia, ao tempo da desova das tartarugas. Citava nomes, falava da Chica da outra banda, da mulher do Viriato, da Lusa, e at da D. Prudncia, veladamente - uma certa Imprudncia. Dizia que o vigrio bebera o dinheiro da provncia com as mulatas, em vez de consertar a Matriz, que seduzia as beatas, que prostitua as confessadas, que era ministro de Barrabs... o diabo! Padre Jos, o vigrio anterior, ficava furioso.O bom era sovar tambm a padre Antnio de Morais. Mas ele parecia irrepreensvel. A sua vida simples e clara no se prestava crtica! Fidncio procurava analisar, por mido, a vida do novo vigrio de Silves, rebuscando no ntimo dos fatos algum sintoma de fraqueza ou de hipocrisia. Recapitulando, nada lhe escapava.Decorridos alguns meses da chegada do padre, a igreja comeou a esvaziar-se. A novidade passara e padre Antnio de Morais via-se-lhe escapar os fieis. A missa diria fatigava a populao, acostumada a ouvir missa aos domingos, quando muito, se o permitia a mandriice daquele pndego de padre Jos.A missa aos domingos era uma distrao salutar. Mas agora todos os dias, cansava seu bocadinho. A igreja j ia ficando deserta, sob pretexto de que o santo sacrifcio se celebrava em horas de trabalho. At os meninos j gazeavam a aula de catecismo, aproveitando o relaxamento dos pais receosos da despesa dos sapatos e da roupa de brim. Um cansao geral invadia a populao, acostumada indiferena religiosa. Tudo pesava, tudo era constrangimento, principalmente para as pessoas gradas, senhoras, havia muitos anos, de fazer tudo quanto lhes convinha. Pois se padre Jos regera a parquia durante vinte anos!Um acontecimento, entretanto, trouxe o povo igreja: o casamento da sobrinha do Neves Barriga, Dona Mariquinha das Dores com o Cazuza Bernardino, filho do tenente Jos Bernardino de Santana, da fazenda Urubus.Padre Antnio, aborrecido com o abandono dos paroquianos, decide fazer-lhes uma surpresa por ocasio do casrio: um sermo apocalptico, lembrando-lhes dos castigos que lhes sucederia pela falta da prtica religiosa, por abandonarem a igreja em nome da ambio. Exortava aos silvenses para que no fossem para as praias, cata dos castanhais.O sermo causou impacto momentneo, apenas. Passada a emoo, os paroquianos do padre Antnio voltaram ao mesmo estado: indiferentes Igreja.Ainda na festa de casamento do Cazuza Bernardinho, um acontecimento fora da linha geral do romance, mas importante para a anlise realista, viria a acontecer. O Totnio e a irm da noiva, a Milu, iniciavam um namoro na Varsoviana. Haviam principiado rindo, metendo bulha os noivos, e danando com desembarao e graa, sobressaindo aos outros pares na elegncia dos passos e dos requebros, mas agora, sentindo uma emoo evidente, estavam srios, com os olhos cruzados num estrabismo de enlevo, parecendo no pisar o cho, quase abraados, ele soprava-lhe os cabelos castanhos com a respirao forte, ela, com o vestido de popelina azul-celeste caindo em pregas sobre os amplos quadris de mulher feita, deitava a cabea sobre o fraque do cavalheiro, abandonando-se. (p.77)Depois do fracasso do sermo, padre Antnio de Morais cismou em fazer-se grande e influente indo ter com ndios ferozes do Baixo Amazonas, os mundurucus.Aquela vida de obscuros e no apreciados sacrifcios, de virtudes negativas que os amigos de Silves resumiam em - no beber, no jogar, no dar escndalos com mulheres - comeava a pesar de modo insuportvel, e padre Antnio entrevia, cheio de profundo e ntimo desespero, um futuro vulgar de padre bem-comportado, preso igreja duma vila de interior, numa colocao perptua, engordando na vadiao estpida dum paroquiato aldeo, e acabando, esquecido do mundo, numa ictercia negra. Agora estava farto das beatas de leno branco na cabea, de andar mido e lngua viperina; cansado de ensinar o catecismo s crianas; enjoado das ladainhas, puxadas numa voz montona, frente de tapuios boais, luz mortia das lmpadas de azeite de mamona. E caminhava, boca da noite, seguindo a curvatura graciosa do lago Sarac, soluante e pardo, para ir rezar uma ladainha! (p.99-100)O cumprimento banal do dever no bastava. Ser um bom padre, no beber, no jogar, nem dar escndalos com mulheres no bastava ambio de padre Antnio de Morais. Demais o interesse da salvao da alma confundia-se singularmente com a sede de reputao e renome que o devorava. Fosse o modelo dos padres, em Silves, no conseguiria vencer a muralha do indiferentismo pblico. Ganhando a glria que perpetua uma personalidade na memria dos homens, asseguraria o triunfo da sua causa perante o tribunal do Juiz indefectvel. Era preciso ser um heri para a humanidade e um mrtir para Deus. A vasta ambio abraaria o cu e a terra. Ser um santo clebre, eis um ideal digno que as circunstncias contrariavam e o seu temperamento punha em risco. (p.103)Macrio tentou convencer o padre a desistir da perigosa aventura, mas padre Antnio estava decidido. Ora Macrio, por mais que parafusasse, no descobria em Silves e em toda a redondeza, ocupao melhor do que a de sacristo da Matriz, depois da chegada de padre Antnio de Morais. Bem vestido, bem nutrido, muito considerado, dormindo farta, fazendo bons ganchos em missas de defunto, em batizados e enterros, sentia-se melhor do que um cnego de prebenda inteira. Quem lhe restituiria todas as vantagens que a resistncia vontade do padre lhe faria perder? Longos anos de humilhao e sacrifcio haviam-lhe enraizado no corao o amor do bem-estar que a sua situao representava, e agora que to prontamente a ela se habituara que a perderia? J no lhe faltavam invejosos.Para ganhar tempo Macrio vai atrasando a viagem. No encontra um canoeiro, ou melhor, ele mesmo os assusta, dizendo que a Mundurucnia longe e que os ndios so canibais. quando aparece o Totnio Bernardino, oferecendo-se para remar at a Mundurucnia. O jovem estava decadente, desejoso de morrer, pois o pai o afastara da amada por achar que o filho era jovem demais para envolver-se em namoro srio.Ele, numa expanso, contou a desgraa da sua vida, sem ocultar coisa alguma, como se se confessasse. Desde a noite do baile do casamento do irmo, em que pela primeira vez depois de anos, vira a irm da noiva, a adorvel Milu, sentira que uma vida nova comeara para ele. O seu corao abrira-se a sentimentos desconhecidos, um afeto forte o enchera, assenhoreando-se pouco a pouco, como numa embriaguez crescente, de todo o seu organismo. Quando o baile acabara, no havia para o Totnio Bernardino outra criatura no mundo seno a graciosa Emlia, a rapariga de olhos pretos e boca perfumada. Que dizia? No havia em todo o vasto universo seno o seu olhar travesso e o seu sorriso divino. Ela era o seu amor, a sua vida, o seu fim, a sua salvao. Amara-a doida e apaixonadamente, e desde logo esse amor dera-lhe a convico profunda e inabalvel de que no poderia viver sem ela. No exagerava, no estava louco, no se tratava de crianada, como lhe haviam dito os amigos. Debalde o pai, o irmo e os amigos haviam tentado afast-lo da rapariga, ridicularizando aquele namoro de criana, metendo bulha a sua paixo ardente, censurando-a e punindo-a por fim. Tudo era intil. Estaria privado de razo, seria um louco, mas amava, e esse amor era a sua vida.Aps esse episdio Macrio viu-se obrigado a efetivar a viagem. Temia que o padre aceitasse a proposta do jovem desesperado. Contratou remeiros e esperava que padre Antnio, exposto s agruras da natureza voltasse atrs na sua obsesso de converter os selvagens.Dois rapazes de um arraial vizinho, no Urubus, alheios inteno de converter selvagens alimentada por padre Antnio de Morais, haviam trazido vila uma canoa de lenha; e Macrio, numa das suas exploraes pela Rua do Porto, vira-os, e fora logo apalavr-los para o remo, dizendo que se tratava de ir boca do Guaranatuba. Em seguida Macrio fora levar a grata nova ao senhor vigrio. Apalavrara dois rapazes do arraial, robustos e bem comportados, um de nome Pedro, o mais velho, e outro Joo, o mais magro. Eram caboclos legtimos, da tribo maus, ao que pareciam, mas muito boa gente. Estavam prontos a partir quando S. Revma. o desejasse, mas ele tomava a liberdade de recomendar a S. Revma. que no conversasse muito com os tapuios, e o melhor, para obedecerem mais facilmente, era no lhes falar na misso.A viagem continuara por trs longos dias, depois de terem, boca do Ramos, encontrado um regato de nome Jos de Vasconcelos, que lhes ensinara o caminho para chegar ao grande rio Abacaxis, enfiando pelo extenso e piscoso furo de Uran. O descontentamento do Macrio crescia, com a diminuio constante de vveres que lhe punha em risco a reputao de previdente e arranjado. Faltava principalmente a farinha porque os malditos tapuios no perdiam ocasio de esvaziar grandes cuias de chib, fazendo consistir a sua alimentao quase exclusivamente nessa mistura refrigerante de farinha com gua de que o sacristo tambm gostava - principalmente com acar mas se privava, pensando no tempo a gastar na volta.Os viajantes encontraram uma habitao tapuia e ali pararam a fim de encontrar outros remadores, pois Joo e Pedro no queriam ir at os mundurucus.Padre Antnio exps ento o motivo da visita. Mas a tapuia o desenganou logo, muito tmida, pedindo mil desculpas. No era culpa dela! A no ser o marido, o seu Guilherme que estava ausente e s voltaria na outra semana, ningum por aquela redondeza se atreveria a adiantar-se pelo Abacaxis acima, e menos pelo Canum, que devia ser agora o caminho preferido, por ficar mais perto, desde que a igarit, em vez de navegar direito pelo Abacaxis, subira at o lago do Canum. Seu Guilherme fora salga no furo de Uran, e ela, a Teresa, ali ficara com os dois filhinhos, sem medo nenhum, j acostumada, porque sabia que os tapuios bravos nunca chegariam boca do lago, e quando chegassem no lhe fariam mal algum... O marido conhecia muito bem o caminho do porto dos Mundurucus, e poderia levar o senhor padre at l, se no estivesse agora na salga do pirarucu.Pela manh, a surpresa: Os tapuios haviam fugido na igarit de padre Antnio, levando-lhe a roupa, as previses, tudo. Passados os primeiros assomos de indignao e o abalo da surpresa, o sacristo a custo continha a alegria, apesar da perda da roupa e de um belo chicote de tabaco de Irituia, furtado pelos camaradas. Imaginava ele que, finalmente, padre Antnio desistiria da viagem.Mas, que nada! O padre estava decidido. Ento, senhor padre vigrio, no h remdio seno voltar para a vila? No, nunca! exclamou padre Antnio, como se acabasse de tomar uma resoluo enrgica.E vendo o efeito da negativa no rosto de Macrio, desculpou-se: E como voltar sem canoa? E como continuar a viagem sem canoa? perguntou o sacristo meio desanimado. Deus Nosso Senhor providenciar, sentenciou padre Antnio, com muita confiana.E acrescentou falando muito tempo e desabafando a contrariedade sofrida no incidente, que estava resolvido quela histria de catequese, e a levaria a efeito, custasse o que custasse. No perderia cinco dias de viagem. Que diriam na vila se o vissem voltar da foz do Canum sem ter avistado um s mundurucu? Pensariam que inventara a histria da fuga dos canoeiros e o cachorro do Chico Fidncio divertir-se-ia com o episdio no Democrata de Manaus, fazendo-o passar por um charlato religioso.Na casa da tia Teresa encontraram uma velha canoa que padre Antnio consertou e com a qual tencionava chegar ao to almejado destino, mesmo sob os protestos de Macrio.Foi uma viagem difcil. Calor, chuva, picadas de insetos. De repente pareceu a padre Antnio de Morais que de tanto cismar no ub de ndios que haviam encontrado pela manh, Macrio enlouquecera. O sacristo, erguendo-se dum jato, e dando um grande grito, pusera-se a correr desadoradamente para o porto. Da sua boca escancarada pelo terror, o padre ouvira o nome da tribo de ndios ferozes que andava buscando por aquelas paragens ermas: Mundurucu, mundurucu!Mas logo o padre conheceu que o Macrio no fugira sem motivo. Quando se voltou para seguir a direo do olhar assustado do sacristo, dois homens, dois ndios, parados a alguns passos de distncia por trs dum matagal que lhes encobria a parte inferior do corpo, do ventre para baixo, ofereciam aos olhos atnitos do padre os troncos nus e a face cor de cobre, que se destacavam no meio da verdura como um baixo-relevo de bronze.Aps a fuga de Macrio, o narrador volta a Silves. Macrio assegura que padre Antnio morrera, vitimado por selvagens. Conta sua verso dos fatos.Macrio escapara aos mundurucus, e ali estava so e salvo, certo de que no cairia noutra. Entretanto, por mais de uma vez vira o caldo entornado, principalmente quando, sentado margem do rio sobre um tronco verde, avistara os dois ndios de terado em punho, avanando para os brancos descuidados, com grande barulho de mato derribado! Oh! nunca pensara o sacristo de Silves ter to boas pernas para correr! Se lho tivessem dito antes, no se acreditaria capaz de galgar em to pouco tempo o espao que o separava do porto, de cortar com tanta segurana a corda que prendia a montaria terra, de saltar para dentro dela com tamanha agilidade, impelindo-a para o largo com to extraordinria fora. O terror dera-lhe fora, agilidade e talento, um talento excepcional, que lhe aguara o maquiavelismo naquelas apertadas conjunturas.Ah! fora s depois de atravessar o rio Mami, ajudado pela corrente favorvel do Canum, que Macrio se julgara livre dos malditos ndios, e comeara a alimentar a doce convico de que se poderia salvar escorreito e so daquela insensata empresa de padre Antnio, de quem se lembrou ento com algum remorso de o ter abandonado sozinho, sem recursos para fugir ou defender-se da sanha dos tapuias. Mas ainda agora, que j o medo lhe no podia obscurecer o juzo, o sacristo reconhecia que aquele remorso no tinha razo de ser. Fizera o mesmo que outro qualquer faria.A verso de Macrio era cheia de herosmo: Fugindo a um ub selvagem, que os perseguira por duas horas, numa terrvel porfia de remos, sob uma nuvem de flechas, tinham ido ele e o senhor vigrio abrigar-se num mato cerrado, esperando que os gentios lhes perdessem a pista. Mal se tinham julgado a salvo dos ndios do ub, foram agredidos por um bando de parintintins; que ali se achavam, naturalmente para dar caa aos mundurucus do ub. Logo ao primeiro golpe os parintintins atiraram ao cho o ardente missionrio que se preparava para lhes fazer um discurso evanglico. Ento ele, Macrio, vendo o seu protetor e amigo, o arrimo da sua vida, o esteio da religio e da moral, banhado em sangue, perdera a noo do nmero e da fora, e num esforo desesperado e louco - confessava-o - investira com os selvagens, armado de remo, e disposto a morrer, vingando o companheiro. Mas o gentio l de si para si pensou que um homem to valente como o Macrio se mostrava no devia morrer sem as habituais cerimnias selvagens. Macrio fora agarrado e amarrado a um castanheiro. Depois os ndios retiraram-se muito alegres para o interior da floresta, levando em charola o corpo do missionrio para lhe servir de prato de resistncia nos seus horrveis festins noturnos. O sacristo ficara por muitas horas atado ao castanheiro, esperando a cada momento ser, como S. Sebastio, convertido em paliteiro, pelas flechas dos parintintins. Mas ao que lhe parecera, ao partirem aqueles selvagens levando o corpo de padre Antnio, avistaram os mundurucus do ub, e trataram de os apanhar numa cilada, esquecendo o pobre prisioneiro branco. Ou seria outro o motivo da demora que permitira Providncia Divina, a rogo de Nossa Senhora do Carmo e do Senhor S. Macrio, realizar em favor do sacristo de Silves um grande e verdadeiro milagre. A embira com que os ndios lhe haviam amarrado os ps era muito verde. Uma cutia, que por ali passara, sentira o apetite aguado pelo cheiro vegetal da fibra tirada de fresco, e a roera de tal sorte que com um pequeno esforo Macrio pudera libertar os ps.Conseguira livrar depois as mos, esfregando com fora a embira na aresta duma pedra grande que ali estava, a modo que de propsito, e correra para o porto.Desde ento, Macrio fora tratado como heri. Toda Silves orgulhava-se dele e do padre-mrtir. At o Chico Prudncio voltara a frequentar a igreja, elogiava a misso da Mundurucnia.Depois de muito sofrimento amoroso, o jovem Totnio morre: Pobre Totnio! Inutilmente lhe prendiam os ps. J no poderia fugir em busca do pitoresco stio do Urubus, onde solitria e triste gemia a sua adorada Emlia, de quem para sempre o separava agora a terrvel fatalidade da morte. Ao menos o seu juramento fora cumprido!Sim, era uma coisa assim esquisita o que Macrio sentia por aquela criana de dezoito anos, roubada vida, ao que se dizia, por uma paixo amorosa, e que to vivos e salientes deixara os traos do seu carter. Quando o vira pela primeira vez no baile do casamento do irmo, a impresso que lhe causara fora desfavorvel. Era um pelintra, um vadio que perdia o tempo palestrando na roda do Chico Fidncio. Demais, era bonito moo e s vestia roupas feitas no Par, umas coisas elegantes e novas, que Macrio admirava, mas que no teria jamais a coragem de pr em si. E Macrio, at ento humilhado, e visto com sarcasmo pelos rapazes alegres da roda do Chico Fidncio, embirrava solenemente com aquelas elegncias. Depois o vira plido, abatido, com um raio de loucura no olhar, as roupas em desalinho, narrando a desgraa da sua vida e falando em morrer para no suportar os tormentos da separao da sua amada. Agora que pela terceira vez o via era frio e imvel naquele caixo morturio, audacioso e terno ao mesmo tempo na sua rigidez cadavrica. E aquela transformao rpida, efetuada em to poucos meses, como numa vertigem assombrosa que se apoderara daquele mancebo de dezoito anos, elegante e frvolo, apaixonado e ardente, devorado pela lava incandescente duma paixo sbita e mortal, enchia de pasmo e confuso o esprito de Macrio. Francamente no o compreendia. Morrer pelo amor duma mulher! E morrer amado! Moo, elegante, instrudo, pertencendo a uma boa famlia, renunciar vida, deixar-se apanhar estupidamente por uma tsica ou coisa que o valha, s porque o papai no consentiu no casamento com uma matutinha do Urubus, era por demais inexplicvel.Mas, o que ocorrera ao padre Antnio?Na verdade os tais ndios no eram selvagens. Os dois tapuios que de terado em punho, cortando o mato que lhes impedia a passagem, se dirigiam para ele, eram o Joo Pimenta e o Felisberto.Eram moradores do furo da Sapucaia, que atravessa do Sucundari para o Mami at o rio Abacaxis, e ali viviam desde que o velho, av do moo, deixara de ser tuxaua duma tribo de mundurucus para batizar-se e vir a ser camarada do vigrio de Maus, o santo padre Joo. Andavam naquela ocasio a colher guaran e castanhas por sua conta, pois que o padre santo morrera, havia j tempo bastante para estar fedendo de velho l no cu.A princpio, padre Antnio achou-se na casa daqueles mestios sem nada lembrar. S alguns dias depois que os acontecimentos lhe vieram mente. Lembrava-se de que ao ver os supostos selvagens anunciados por Macrio, ajoelhara-se, antevendo a morte prxima, enquanto o sacristo fugia. Joo Pimenta era velho, de face enrugada, cabelos pretos e corredios, narinas e beios furtados, fisionomia de selvagem mal iniciado na civilizao, em que sobressaa principalmente a estupidez, estampada numa larga face achatada, sem vida. O outro, o Felisberto, o insuportvel tagarela que com a sua verbiagem tola concorria para aturdi-lo, era moo, muito menos trigueiro do que o velho, nariz grosso, olhos pretos e belssimos dentes, aparados em ponta, o que lhe dava um vago ar canino.Afinal foram ter ao stio de Joo Pimenta, que tinha um aspecto agradvel, com a casa de palha, bem caiada e limpa, os taperebs e mangueiras do terreiro, parecendo mais a casa de vivenda dum cacaulista abastado da beira do Amazonas do que a propriedade dum pobre selvagem meio civilizado dos remotos sertes de Guaranatuba.Fora ali, contemplando aquele delicioso stio, que, logo chegada padre Antnio de Morais vira a Clarinha, a neta de Joo Pimenta, de p sobre o tronco de palmeira que servia de ponte ao bem tratado porto. Era uma mameluca, de quinze a dezesseis anos de idade, uma fisionomia petulante e decididamente desagradvel, to desagradvel que padre Antnio sentiu uma necessidade imperiosa de no se demorar nesta recordao, E da em diante, nos dias seguintes, sempre aquele vulto de mulher, indo e vindo pelo quarto, cuidadosa, falando meigamente, e com uma solicitude incmoda.Aquela mameluca incomodava-o, irritava-lhe os nervos doentes, com o seu pisar firme de moa do campo, a voz doce e arrastada, os olhos lnguidos de crioula derretida. No lhe parecia formosa, tanto quanto podia julgar olhando-a por baixo das plpebras, porque jamais fitara de frente a uma mulher qualquer, ou pelo menos, a sua beleza, se beleza tinha, no o atraa, achava-a petulante demais, provocadora, quase impudente, com o seu arzinho ingnuo, visivelmente enganador, como devem ter todas as mulheres que o demnio excita a tentar os servos de Deus. Assim pensara a princpio o padre.Mas, a solido e o atavismo herdado do pai vo-no impelindo para a mestia. Ademais, tanto o av quanto o irmo da jovem parecem querer deix-los sempre a ss.Padre Antnio cada vez mais sente interesse em saber algo sobre a mameluca. A me, Benedita Pimenta, tivera um romance com o padre Joo da Mata e dessa unio ela viera. Ele tenta fugir daquela situao que ele pressentia perigosa. Exige dos mestios que o levem at a mundurucnia. Entretanto o Joo Pimenta, com ar de lamentao disse que tinha uma viagem j marcada, uma entrega de frutas que deveria ser feita sem atraso.Clarinha, por sua vez, tambm est encantada com o visitante. O seu porte elevado, raro dote no Amazonas, a fisionomia jovem e simptica, a regularidade das feies, e, sobretudo, a melancolia profunda de que eram repassadas todas as palavras que dizia, impressionavam a neta de Joo Pimenta. O hspede tinha hbitos duma elegncia desconhecida, naturalmente apreendida nas cidades em que bebera a instruo que o sagrara superior aos outros homens. A batina e o solidu iam-lhe admiravelmente, as camisas brancas e finas do finado colega, cuidadosamente engomadas pela Clarinha, eram substitudas todos os dias, e saam-lhe do corpo to limpas como as havia vestido. A sua jovem imaginao de matutinha de quinze anos no estava longe de o supor um Anjo do Senhor.Foram noites dum sofrer sem fim! A castidade guardada por muito tempo no meio.A ausncia lhe recordava as formas voluptuosas, os lbios rubros, o olhar demonaco, e a lembrana o mergulhava na mais spera sensualidade. O regime diettico que seguira, o repouso absoluto a que o foravam, excitariam o seu temperamento sensual, robustecendo os instintos egosticos do matuto, criado ao pleno ar, na mais completa liberdade, ou um agente estranho, um ser independente e autnomo tomara a tarefa de o rebaixar a um tal animalismo?Consumia-se em ardores estreis, agarrado aos punhos da rede, numa nsia louca de apertar nos braos um corpo fremente de mulher bonita, e desfalecia por fim, cansado, aborrecido, indignado, enjoado do cheiro a flor de castanheiro que o seu corpo exalava.O sonho da carne nua, palpitante luz do sol, lembrava-lhe aquele trecho de epiderme acetinada e colorida, entrevisto ao chegar, nas formas excitantes da mameluca, e os seus olhos negros e aveludados, cheios de ternura, os cabelos recendentes do cheiro afrodisaco das mulatas paraenses, e tinha alucinaes cruis.Sentia-se vencido. Viver naquela casa, entre as paredes que haviam testemunhado os amores sacrlegos do defunto padre santo, vendo todos os dias a admirvel criatura, que se apoderara do seu corao, enchendo os olhos das suas formas voluptuosas e do seu sorriso meigo, saber-se ali sozinho com ela, porque o Felisberto no entrava em linha de conta, longe do mundo, livre de olhares invejosos e importunos, era um sacrifcio superior s suas foras.Numa manh, estando a ss na mata com a neta de Joo Pimenta, padre Antnio no pode conter-se. O que temia, aconteceu:Ento ele, saindo de uma luta suprema, silencioso, com um frio mortal no corao, com o crebro despedaado por um turbilho de sentimentos contrrios, atirou-se moa, agarrou-a pela cintura e mordeu-lhe o lbio inferior numa carcia brutal. Foi breve a luta. A neta de Joo Pimenta caiu exausta sobre o tapete de folhas midas do orvalho, douradas pelo sol. Entre os ramos dos cacaueiros os passarinhos sensuais cantavam. (p.217)A partir desse dia o padre Antnio desistiu da ideia de converter os mundurucus. Tirara a batina, vivia agora amasiado com a jovem Clarinha.Um acontecimento, porm, veio tirar-lhe desse alheamento. O Felisberto trouxera notcias de Silves. Contou que o sacristo estava vivo e que todos acreditavam que padre Antnio estava morto.Antnio de Morais apavorou-se temendo o escndalo da revelao acerca da vida que levava. Considerou que Felisberto o tinha denunciado, viu-se na boca do Chico Fidncio, pior, viu-se nas pginas do Dirio do Gro-Par. Mas estava errado. Felisberto no contara nada.Na verdade, em Silves ele era considerado um mrtir. Padre Antnio sabendo-se heri em Silves queria voltar antes que o bispo nomeasse outro padre para substitu-lo. Resolveu partir. Levaria Clarinha e a esconderia num lugarejo prximo onde pudesse visit-la com frequncia; tambm o Felisberto poderia figurar como mestio convertido. Estrava decidido Voltaria para Silves.Entre o presente, representado pelo amor da neta do Joo Pimenta, pela vida f