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PORTUGUÊS 12º ANO Fernando Pessoa – Ortónimo O Modernismo e os –ismos da vanguarda Modernismo- movimento estilístico em que a literatura surge associada às artes plásticas e por elas influenciada. Nova visão da vida, que se traduz, na literatura, por uma diferente conceção da linguagem e por uma diferente abordagem dos problemas que a humanidade se vê obrigada a enfrentar. Decadentismo- corrente literária que exprime o cansaço, o tédio, a busca de novas sensações. Paulismo- o significado de paul liga-se à água estagnada, onde se misturam e confundem imensas matérias e sugestões. A estagnação remete para a agonia da água, paralisada e impedida de seguir o seu curso. Intersecionismo- entrecruzamento de planos, interseção de sensações ou perceções. Futurismo- propõe cortar com o passado, exprimindo em arte o dinamismo da vida moderna. O vocabulário onomatopaico pretende exaltar a modernidade. Sensacionismo- considera a sensação como base de toda a arte. Segundo Fernando Pessoa, são três os princípios do Sensacionismo: - o objeto é uma sensação nossa; - a arte é uma conversão duma sensação em objeto; - a arte é a conversão duma sensação numa outra sensação. Fernando Pessoa 1

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PORTUGUÊS 12º ANO

Fernando Pessoa – OrtónimoO Modernismo e os –ismos da vanguarda

Modernismo- movimento estilístico em que a literatura surge associada às artes plásticas e por elas influenciada. Nova visão da vida, que se traduz, na literatura, por uma diferente conceção da linguagem e por uma diferente abordagem dos problemas que a humanidade se vê obrigada a enfrentar.

Decadentismo- corrente literária que exprime o cansaço, o tédio, a busca de novas sensações.

Paulismo- o significado de paul liga-se à água estagnada, onde se misturam e confundem imensas matérias e sugestões. A estagnação remete para a agonia da água, paralisada e impedida de seguir o seu curso.

Intersecionismo- entrecruzamento de planos, interseção de sensações ou perceções.

Futurismo- propõe cortar com o passado, exprimindo em arte o dinamismo da vida moderna. O vocabulário onomatopaico pretende exaltar a modernidade.

Sensacionismo- considera a sensação como base de toda a arte. Segundo Fernando Pessoa, são três os princípios do Sensacionismo:

- o objeto é uma sensação nossa;

- a arte é uma conversão duma sensação em objeto;

- a arte é a conversão duma sensação numa outra sensação.

Fernando Pessoa

O ciclo pessoano corresponde ao encontro de novos horizontes poéticos, comunicados numa linguagem nova.

É preciso compreender que o poeta não só assimilou o passado ético do seu povo como refletiu em si as grandes inquietações humanas daquela época.

A sua poesia tornou-se uma espécie de gigantesco painel de registo sismográfico das comoções históricas existentes em torno e em razão da 1ª Guerra Mundial (1914).

Pessoa evolui do saudosismo para o paulismo e daí para o intersecionismo e sensacionismo, graças ao culto exacerbado ao “vago”, ao “subtil” e ao

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“complexo” e a influência simultânea do cubismo e do futurismo. O poeta atinge-as por meio de uma consciente intelectualização daquilo que no saudosismo era apenas uma nota instintiva e emotiva.

Fernando Pessoa parte sempre de verdades apenas aparentemente axiomáticas, e aparentemente porque, primeiro, resultam de um longo e acurado trabalho de reflexão analitica em torno daquilo que é motivo dos seus poemas; segundo, porque contêm sempre uma profunda verdade dialética que lhes destrói facilmente a fina crosta de verdade dogmática.

Características temáticas

Identidade perdida;

Consciência do absurdo da existência;

Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência e sonho/realidade;

Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão;

Anti sentimentalismo: intelectualização da emoção;

Inquietação metafisica, dor de viver;

Autoanálise.

Características Estilísticas

Musicalidade: aliterações, transportes, ritmo, rimas, tom nasal (que conotam o prolongamento do sofrimento e da dor);

Verso geralmente curto;

Predomínio da quadra e da quintilha;

Adjetivação expressiva;

Linguagem simples mas muito expressiva (significados escondidos);

Pontuação emotiva;

Uso de símbolos;

Fiel à tradição poética “lusitana” e não longe, muitas vezes, da quadra popular.

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Figuras de Estilo

Hipérbato – separação das palavras que pertencem ao mesmo segmento por outras palavras não pertencentes a este lugar.

Perífrase – utilizar uma expressão composta por vários elementos em vez do emprego de um só termo.

Ex.: “E os que leem o que escreve” (Autopsicografia)

MetáforaEx.: “Gira, a entreter a razão

Esse comboio de corda” (Autopsicografia)

Aliteração – repetição dos fonemas iniciais consonânticos de várias palavras dispostas de modo consecutivo.

Ex.: “O vento vago voltou” (No entardecer da terra)

Antítese – oposição de duas palavras, expressões ou ideias antagónicas, no intuito de reforçar a mensagem.

Ex.: “Que a morna brisa aquece

(...) Jaz morto, e arrefece” (O menino da sua mãe)

AdjetivaçãoEx.: pobre, feliz, anónima, alegre (Ela canta, pobre ceifeira)

ComparaçãoEx.: “É como que um terraço” (Isto)

ApóstrofeEx.: “Ó céu! Ó campo! Ó canção” (Ela canta, pobre ceifeira)

PersonificaçãoEx.: “E o vento lívido volve” (No entardecer da terra)

Pleonasmo – repetição do mesmo significado por dois significantes diferentes na mesma expressão.

Ex.: “Entrai por mim a dentro” (Ela canta, pobre ceifeira)

Hipálage – transferência de uma impressão causada por um ser para outro ser, ao qual logicamente não pertence, mas que se encontra relacionado com o primeiro.Ex.: “No plaino abandonado” (O menino da sua mãe)

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Gradação – apresentação de vários elementos segundo uma ordenação, que pode ser ascendente ou descendente.

Ex.: “Jaz morto, e arrefece

(...) Jaz morto, e apodrece” (O menino da sua mãe)

Sinestesia – mistura de dados sensoriais que pertencem a sentidos diferentes.

Oxímoro – consiste em relacionar dois termos metafóricos perfeitamente antonímicos. Ex.: “Não o sei e sei-o bem”

Quiasmo – repetição simétrica do mesmo tipo de construção simples.

O fingimento artístico

Na perspetiva de Fernando Pessoa, a arte poética resulta da intelectualização das sensações, o que remete para a temática do fingimento poético. Isto significa que, para este poeta, um poema é um produto intelectual e, por isso, não acontece no momento da emoção, mas no momento da sua recordação. Assim, ao não ser um resultado direto da emoção, mas uma construção mental da mesma, a elaboração de um poema define-se como um “fingimento”. Tal significa que o ato poético apenas pode comunicar uma dor fingida, inventada, pois a dor real (sentida) continua apenas com o sujeito, que, através da sua racionalização, a exprime através de palavras, construindo o poema. A dialética sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sentir/pensar percebe-se também com nitidez ao recorrer ao intersecionismo como tentativa para encontrar a unidade entre a experiencia sensível e a inteligência.

Fingir é inventar, modelar, construir, elaborando mentalmente conceitos que exprimem as emoções ou que quer comunicar – processo criativo desenvolvido pelo poeta.

Em suma, a criação poética constrói-se através da conciliação e permanente interação da oposição razão/sentimento.

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A dor de pensar

Fernando pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar, isto é, considera que o pensamento provoca a dor, teoria que alicerça a temática da “dor de pensar”. Na sequência da mesma, o poeta inveja aqueles que são inconscientes e que não se despertam para a atividade de pensar, como uma “pobre ceifeira”, que “canta como se tivesse mais razões para cantar que a vida”, ou como “gato que brinca na rua” e apenas segue o seu instinto.

Assim, o poeta inveja a felicidade alheia, porque esta é inatingível para ele, uma vez que é baseada em princípios que sente nunca poder alcançar – a inconsciência, a irracionalidade –, uma vez que o pensamento é uma atividade que se apodera de maneira persistente e implacável de Pessoa, provocando o sofrimento e condicionando a sua felicidade. Impedido de ser feliz, devido à lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma consciência inconsciente. O poeta deseja ser inconsciente, mas não abdica da sua consciência, pois ao apelar à ceifeira: “poder ser tu, sendo eu!/ Ter a tua alegre inconsciência/ E a consciência disso!”, manifesta a sua vontade de conciliar ideias inconciliáveis.

Em suma, a “dor de pensar” que o autor diz sentir, provém de uma intelectualização das sensações à qual o poeta não pode escapar, como ser consciente e lúcido que é.

A nostalgia da infância

Do mundo perdido da infância, Pessoa sente nostalgia. Um profundo desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da sua efemeridade, isto é, o tempo é para ele um fator de desagregação na medida em que tudo é breve, tudo é efémero. O tempo apaga tudo. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado.

Frequentemente, para Fernando Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão. Por isso, a constante descrença perante a vida real e de sonho. Daí, também, uma nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância, único momento possível de felicidade.

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Síntese das temáticas:

Teoria do fingimento poético; sentir/pensar; consciência/inconsciência;

Intelectualização dos sentimentos teoria do fingimento;

Nostalgia da infância – único momento possível de felicidade plena; evocação da

infância como símbolo de uma felicidade mítica, imaginária e perdida (tempo

onírico);

Fragmentação do “eu”; despersonalização; sensação de estranheza, alheamento e

desconhecimento em relação a si próprio; indefinição da sua identidade;

Interseção da realidade objetiva com a realidade mentalmente construída;

dicotomia sonho/realidade incapacidade de conciliar o que deseja ou idealiza

com o que realiza;

Dor de pensar adesão à teoria de que a lucidez, racionalidade e consciência são

um entrave à felicidade plena;

O tédio, a angústia existencial, a solidão interior, a melancolia;

Teoria do fingimento artístico dialética sinceridade/fingimento; o fingimento

artístico não impede a sinceridade, apenas implica exprimir intelectualmente as

emoções ou o que se quer representar; o poema é um produto intelectual

resultante das emoções vividas;

Criar poesia conversão das emoções vividas para as emoções

fingidas/pensadas;

Problemática da efemeridade do tempo o tempo é um fator de desagregação

na medida em que tudo é breve, tudo é efémero. O tempo apaga tudo;

Supremacia da razão sobre as emoções no ato de criação poética processo de

intelectualização das emoções;

Submissão relativamente ao ato de pensar sente-se condenado a ser

consciente, lúcido, a ter de pensar;

Necessidade de evasão da realidade refúgio no sonho, na música, na noite (que

o permitem ascender a uma realidade onírica, a única capaz de lhe proporcionar

felicidade.

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