resumo o sentimento de horna na sociedade cabília - bourdieu

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Resumo: “O sentimento de honra na sociedade Cabília” – Pierre Bourdieu - Amahbul (singular) e imalbah (plural) → indivíduo desavergonhado, foge-se do enfrentamento com eles, pois se sairia mal, mesmo que tivesse razão. - Narrativas exemplo: 1) Conflito muro entre homem e o amahbul → medo de se envergonhar (bahdel). Diálogo do homem (domínio da dialética do desafio e da resposta) com o irmão do amahbul (sem a técnica da retórica cabília). 2) Conflito proprietário e seareiro → diálogo do proprietário (ignorava a retórica cabília) e o seareiro (implorando perdão) → censura da aldeia por o proprietário não aceitar a clemência → proprietário se envergonha e pede desculpas → vítima da ação de bahdel (elbahadla). 3) Conflito entre dois partidos → homem do partido z sofre intervenção de uma delegação de notáveis (marabus) que, a mando do partido y, faziam propostas que, se fossem aceitas, invocavam a paz (“o que não excluía que se viessem a retomar depois as hostilidades sob um pretexto qualquer, sem que ninguém achasse isso censurável”, p. 161). Mediadores debate → estabelecem o equilíbrio para evitar humilhação total (elbagadla) → desse diálogo z não aceita a proposta (não conhece o jogo retórico). (Relação entre marabus e intermediários esquina e formado em Foote Whyte) - Três narrativas → abstrair as regras do jogo do desafio e da resposta.

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Resumo: O sentimento de honra na sociedade Cablia Pierre Bourdieu

- Amahbul (singular) e imalbah (plural) indivduo desavergonhado, foge-se do enfrentamento com eles, pois se sairia mal, mesmo que tivesse razo.- Narrativas exemplo: 1) Conflito muro entre homem e o amahbul medo de se envergonhar (bahdel). Dilogo do homem (domnio da dialtica do desafio e da resposta) com o irmo do amahbul (sem a tcnica da retrica cablia). 2) Conflito proprietrio e seareiro dilogo do proprietrio (ignorava a retrica cablia) e o seareiro (implorando perdo) censura da aldeia por o proprietrio no aceitar a clemncia proprietrio se envergonha e pede desculpas vtima da ao de bahdel (elbahadla). 3) Conflito entre dois partidos homem do partido z sofre interveno de uma delegao de notveis (marabus) que, a mando do partido y, faziam propostas que, se fossem aceitas, invocavam a paz (o que no exclua que se viessem a retomar depois as hostilidades sob um pretexto qualquer, sem que ningum achasse isso censurvel, p. 161). Mediadores debate estabelecem o equilbrio para evitar humilhao total (elbagadla) desse dilogo z no aceita a proposta (no conhece o jogo retrico).(Relao entre marabus e intermedirios esquina e formado em Foote Whyte)- Trs narrativas abstrair as regras do jogo do desafio e da resposta.

A igualdade na honra:- Para que haja desafio preciso que aquele que o lana considere o que recebe digno de ser desafiado (capaz de receber o desafio) que o reconhea como rival de honra.- Reconhecimento mtuo da igualdade de honra dignidade de homem, conhecimento das regras do jogo e virtudes para respeit-la (pode coexistir com desigualdade de fato).- Desse reconhecimento mtuo decorre trs corolrios regras:1) Desafio e ofensa conferem honra prova a si prprio e aos outros a sua qualidade de homem (thirugza) no h nada pior do que passar despercebido.2) Aquele que desafia um homem incapaz de responder ao desafio (de prosseguir a troca iniciada) desonra-se a si prprio. Humilhao extrema (elbahadla) pode cair no desafiante mesmo aquele que merece humilhao tem honra (nif e hurma).3) Para que haja desafio preciso que aquele que o recebe (a) considere o que lana (b) digno de lanar um indivduo inferior em honra (b) que desafia sofre humilhao se no respondo (a).- a natureza da resposta que confere ao desafio o seu sentido e mesmo a sua qualidade de desafio e no a simples agresso.- Guerras entre partidos/tribos competio ordenada, no ameaa a ordem social, mas a mantm busca pelo ponto de honra (nif amor prprio) atravs de formas institucionalizadas (rituais) objetivo no aniquilar o adversrio, mas mostrar que estava por cima, atravs de um ato simblico. Relao guerra e honra.- Hostilidade permanente entre tribos combate em que se assenta a existncia do grupo e assegura sua conservao toda a espcie de competies rituais e institucionalizadas forneciam assim pretextos para justas de honra. - Todas as ofensas so desafios, mas nem todos os desafios so ofensas.- O que est em causa o amor prprio, o ponto de honra (nif), que vale mais do que a vida. O nif tambm a vontade de superar o outro em um combate de homem a homem (p. 166). No jogo da honra o respeito por si, pela regram pelo adversrio e o convite ao respeito so inseparveis.

A casustica da ddiva e do desafio: - Desafio ofensa ddiva pressupe conformidade das regras.- Ddiva desafio que honra aquele que recebe, pondo prova de sua honra.- O respeito pelo outro exige que seja deixada uma possibilidade de resposta: importncia da engrenagem da troca escolha entre iniciar a troca resposta (aceita jogar o jogo que pode ser infinito) - ou interromper I) recusa de resposta (desprezo positivo) ou II) ausncia de resposta (desonra negativa). Ver diagrama p. 167.(desafio quem prope, ddiva quem recebe)I Recusa de resposta (desprezo) o que desafio desonrado (ex. amahbul). II Incapaz de responder (ausncia resposta) desonrado e a troca suspende-se.Ver nota 11 resposta e Pag. 69 detalhes dos corolrios 1 e 2.- As diferenas no so nunca nitidamente marcadas, de forma que cada um pode jogar perante uma opinio juiz e cmplice nas ambiguidades e equvocos de conduta (p 169).

O tribunal da opinio:- Presso do grupo sobre o indivduo para responder: famlia, comunidade do cl e aldeia lembram que tem a obrigao de vingar uma ofensa.- Se o indivduo A renuncia a responder, a vingana passa para outro B. B cumpre a vingana e A fica desonrado e ameaado por vingana de sangue pela famlia que o desafiou. - O sentimento de honra vivido diante dos outros nif (ponto de honra) a defesa da prpria imagem em relao aos outros. - O homem de bem (com nif) tem que vigiar sua palavra(estar em guarda), pois cada um de seu atos e falas envolve tambm o grupo que pertence. O homem que desprovido de respeito por si prprio aquele que deixa transparecer o seu ntimo.- A vigilncia perptua de si prprio obedece ao preceito fundamental da moral social, aquele que probe que uma pessoa se singularize, que exige a abolio da personalidade sob o vu do pudor e da descrio. (relacionar esses tpicos com a estrutura de grupo da gangue da esquina)- Aquele que renuncia a vingana deixa de existir para os outros e para si prprio.(relacionar com perda de status e problemas psicolgicos Long John/Doc)- Como pe em jogo o ponto de honra, a troca est sempre com risco de transforma-se em competio. Mas, se a troca traz sempre em si a virtualidade do conflito, o conflito de honra permanece ainda troca. O ponto de honra traz sempre em si o risco de frustrar a troca; mas, ao mesmo tempo, ele que faz prosseguir a troca na esperana de vir a ter a ltima palavra. (relao Simmel)

Desafio e ofensa:- Honra nif (amor prprio ou ponto de honra) ordem do desafio lgica prpria da resposta. Rigor de dialtica resposta desafio.- Honra hurma (honra interdito sagrado) ordem da ofensa lgica do sagrado (cultura). Rigor do ultraje e vingana.- Nif (honra que eu estou ligado) impe vingar-se de qualquer atentado a humra (a honra que est ligada a mim). Se a humra se define pela possibilidade de ser perdida (desonra virtual), o nif tem a capacidade de restaur-la. A integridade da humra funo da integridade de nif . Assim, aquele que no tem nif fica exposto a ver sua humra atingida pela ofensa, podendo perde-la completamente por no ter tido corragem de responder.- A honra define-se assim pelo par indissocivel nif e humra.- Se o sagrado (humra-haram) no existe se no pelo sentido de honra (nif) que o defende; o sentimento de honra encontra sua razo de ser no sentido do sagrado.

Sagrado direito e sagrado esquerdo:- Polaridade de sexos bipartio do sistema de representao e valores em dois princpios complementares e antagnicos: Haram (tabu) sagrado esquerdo - universo feminino: segredo, casa x Nif (virtude viril) - sagrado direito - universo masculino: mundo aberto, praa pblica.- A oposio dentro e fora, modo particular da oposio masculino e feminino, aparece como um dos pares fundamentais do pensamento cablio. - A oposio entre o sagrado direito e o sagrado esquerdo como oposio Nif e Haram no exclui a complementaridade. , com efeito, o respeito pelo sagrado direito, pelo nome e renome da famlia agntica que inspira a resposta a qualquer ofensa contra o sagrado esquerdo (p. 178).

Regras implcitas e normas explcitas:- Regras de conduta ocultao da intimidade segredo da casa.- Mulher deve preservar o segredo da intimidade familiar e o homem o segredo de sua casa e suas intimidades (ex. no falar o nome da mulher em pblico).- Intimidade corpo e todas as funes orgnicas relacionadas- Interdies em relao a comida no comer em lugar pblico e no falar sobre o que est comendo.- Pudor tambm em relao aos sentimentos.

A tica da honra: - As condutas de honra s se impem para aqueles que so dignos dela, ou seja, no existem deveres de honra com estranhos.- Valores de honra constituem o verdadeiro fundamento da ordem poltica, assegurada pela solidariedade clnica. Assim, a regra social no pode aparecer como imperativo constrangedor: ela anima a realidade viva dos costumes. O respeito pelas injunes da coletividade fundamenta-se no respeito por si prprio, isto , no sentimento de honra.(Durkheim estrutural-funcionalismo Evans-Pritchard)- O sistema de valores da honra mais vivido que conceitualizado, mais manipulado que manifestado. O essencial talvez que as normas se enrazem no sistema das categorias mais fundamentais da cultura, aquelas que definem a viso mtua de mundos.- V-se assim que as normas explcitas do comportamento encontram e cobrem as categorias mais profundas do mito (crtica LS).- Regras postas em prtica se tornam normas e valores especificamente reconhecidos (teoria da prtica de Bourdieu).