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290 Estilos clin., São Paulo, v. 17, n. 2, jul./dez. 2012, 290-305. RESUMO Este artigo pretende tratar dos principais aspectos do método clí- nico e interpretativo de Melanie Klein, das críticas mais contun- dentes que recebeu e, pela pertinência delas, do relativo distanciamento ocorrido entre a rígida postura de Klein e aque- la dos kleinianos da atualida- de. Após um fecundo exercício de reflexão sobre o furor interpretativo kleiniano, foi pos- sível reconhecer que o brincar, por si só, tem, muitas vezes, o poder de permitir a elaboração de determinadas tramas. Assim, a interpretação saiu do foco cen- tral de toda e qualquer sessão e passou a ser utilizada apenas nos casos em que seus recursos técnicos são indispensáveis. Descritores: interpretação analítica; método clínico; psica- nálise com crianças; Melanie Klein. Dossiê AINDA INTERPRETAMOS CRIANÇAS À MANEIRA DE MELANIE KLEIN? 1 Nívea de Fátima Gomes Cassandra Pereira França obra de Melanie Klein dificilmente dei- xa de suscitar críticas vigorosas ao seu estilo interpretativo, o que, por vezes, encerra o risco e o prejuízo de encobrir o mérito de sua criação técnica e de seu desenvolvimento teórico. Mesmo quando pouco se conhece de seu trabalho, sabe-se que ela deu a um certo Dick controversos esclarecimentos a respeito de suas fantasias inconscientes! O vigor e a recorrência dos questionamentos dirigidos ao tra- balho de Klein lembraram a Laplanche (1988) os tempos obscuros da Inquisição, donde seu certeiro questionamento: “É preciso queimar Melanie Klein?”. Sem sequer imaginar que um dia poderia ser colocada às bordas da fogueira, Klein sustentou, com convicção ímpar e desde suas primeiras publicações, em 1920, o alcance terapêutico de suas ousadas in- A Psicóloga. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil. Psicóloga. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.

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290 Estilos clin., São Paulo, v. 17, n. 2, jul./dez. 2012, 290-305.

RESUMO

Este artigo pretende tratar dos

principais aspectos do método clí-

nico e interpretativo de Melanie

Klein, das críticas mais contun-

dentes que recebeu e, pela

pertinência delas, do relativo

distanciamento ocorrido entre a

rígida postura de Klein e aque-

la dos kleinianos da atualida-

de. Após um fecundo exercício

de r eflexão sobre o fur or

interpretativo kleiniano, foi pos-

sível reconhecer que o brincar,

por si só, tem, muitas vezes, o

poder de permitir a elaboração

de determinadas tramas. Assim,

a interpretação saiu do foco cen-

tral de toda e qualquer sessão e

passou a ser utilizada apenas

nos casos em que seus recursos

técnicos são indispensáveis.

Descritores: interpretação

analítica; método clínico; psica-

nálise com crianças; Melanie

Klein.

Dossiê

AINDA INTERPRETAMOSCRIANÇAS À MANEIRADE MELANIE KLEIN?1

Nívea de Fátima Gomes

Cassandra Pereira França

obra de Melanie Klein dificilmente dei-xa de suscitar críticas vigorosas ao seu estilointerpretativo, o que, por vezes, encerra o risco e oprejuízo de encobrir o mérito de sua criação técnicae de seu desenvolvimento teórico. Mesmo quandopouco se conhece de seu trabalho, sabe-se que eladeu a um certo Dick controversos esclarecimentosa respeito de suas fantasias inconscientes! O vigor ea recorrência dos questionamentos dirigidos ao tra-balho de Klein lembraram a Laplanche (1988) ostempos obscuros da Inquisição, donde seu certeiroquestionamento: “É preciso queimar MelanieKlein?”.

Sem sequer imaginar que um dia poderia sercolocada às bordas da fogueira, Klein sustentou, comconvicção ímpar e desde suas primeiras publicações,em 1920, o alcance terapêutico de suas ousadas in-

A

Psicóloga. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.

Psicóloga. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de

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terpretações, comungando com um princípio então defendido porFreud, segundo o qual conteúdos que ganham a consciência per-dem sua força patogênica. Essa noção – um corolário dos passosque levaram Freud à descoberta do Inconsciente – é de tal montaque veio a incidir sobre a própria identidade da psicanálise, como épossível constatar nas palavras de Freud (1919[1918]/1996): “cha-mamos de psicanálise o processo pelo qual trazemos o materialmental recalcado para a consciência do paciente” (p. 173). Tal pro-posição demarcava os limites do efeito pretendido pela interpreta-ção: a ampliação da consciência ou a eliminação das amnésias cau-sadas pelas defesas psíquicas. No entanto, à medida que a técnicapsicanalítica de Freud se desvencilhava da sugestão, da hipnose e dareconstituição mnésica (que se mostravam tecnicamente dificultosase limitadas do ponto de vista terapêutico), passando a utilizar “maisdo material que seus pacientes lhe levavam espontaneamente e ainterpretá-lo” (Chemana & Vandermersch, 2007, p. 202), a associa-ção livre passou a ser cada vez mais valorizada.

Conjuntamente com a associação livre, considerada a regrapsicanalítica fundamental, a interpretação deslocava-se para o âma-go do método freudiano. Apesar disso, Freud logo reconheceu, commuito mais acuidade do que Klein foi capaz de fazê-lo, que o alcan-ce terapêutico desse recurso estava subordinado às regras eidiossincrasias presentes em uma análise. No caso dos adultos, ométodo clássico freudiano pressupunha um cenário psíquico espe-cífico: o recalcamento originário deveria ter constituído a instalaçãoda tópica, colocando em ação no psiquismo conflitos intersistêmicos.

Qual seria, contudo, a função da interpretação na análise da-queles cuja constituição psíquica ainda estava em seu início? Precur-sora da psicanálise com crianças, e apesar de reconhecer as especifi-cidades da análise infantil, Klein parece não ter-se feito essa pergunta.Aliás, nem poderia fazê-la, uma vez que tomava o inconsciente nãocomo um efeito do recalcamento, e sim como inato, o que a levavaa supor que ele podia ser precocemente analisado. Embora não oanunciasse claramente, é razoável crer que, em sua concepção, abarreira que separa os sistemas inconsciente e pré-consciente/cons-ciente era bem mais fluida, algo comparável com a permeabilidadeentre o pré-consciente e o consciente descrita pela psicanálise freu-diana. E, se havia uma incógnita nessa trama, era o modo como seformava o consciente. É claro que, sob essa óptica, não a veríamosfazer como o fez Bleichmar (1993), que se pôs a “encontrar um

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ordenador que permitisse marcartempos de analisabilidade na primei-ra infância situando o conflito psíqui-co (intersistêmico, intrassubjetivo)como eixo da analisabilidade” (p. 176).Mas, diante da constatação de queMelanie Klein não optou por essecaminho, uma pergunta surge, inevi-tável, procurando identificar a prove-niência do êxito que ela diz ter alcan-çado, na análise de crianças, por viade suas interpretações: teria ele sidoobtido graças à interpretação ou adespeito dela?

O método interpretativo da

Sra. Klein

Quando Klein (1955[1953]/1991) iniciou sua prática analítica comcrianças, observou que, então, se es-tabelecera o princípio de que “as in-terpretações deveriam ser dadas mui-to parcimoniosamente” (p. 150). Defato, os pioneiros da psicanálise in-fantil contentavam-se com interpre-tações superficiais, chegando, mesmo,à abstenção de comunicaçõesinterpretativas. Contrária a essa pos-tura (para ela, passível de severas crí-ticas), Klein estabelece, como a prin-cipal marca de seu método clínico, ainterpretação profunda e consistente– recomendação que expressa em di-versos textos, nos quais é possível ver,claramente, a influência de palavrasusadas por Freud na discussão do casoHans.

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Diferentemente de Freud, po-rém, Klein reconhecia que a criança,apesar de mergulhada nas relaçõescom os objetos primários, tinha ple-nas condições de estabelecer, imedia-tamente, uma relação transferencialcom um adulto estranho. Essa pre-missa fundamental, que, aliás, foi umde seus grandes méritos para a inau-guração e difusão da psicanálise in-fantil, foi também aquela que tornouplausível e até mesmo imperativa ainterpretação precoce (não raro, naprimeira sessão), sobretudo na preva-lência dos sinais de uma transferên-cia negativa, tais como retraimento,ansiedade, desconfiança e hostilida-de. Afinal, longe de avaliar a transfe-rência negativa como evidência deinsucesso ou de mera inconveniência,o método kleiniano preconizava queela fosse tratada por meios analíticos,isto é, que fosse reconhecida e inter-pretada, a fim de que se criasse, den-tre outros efeitos, sua modulaçãorumo à transferência positiva e aoestabelecimento da situação analítica.

A interpretação, portanto, não foiconsiderada por Klein um dos recur-sos que podem abrir o trabalho analí-tico, mas, sim, o único caminho: “naanálise de crianças é só a interpreta-ção, na minha experiência, que dá iní-cio ao processo analítico e o mantémem andamento” (Klein, 1932/1997,p. 94). Logo, antes que se afirme queKlein atropelou a ordem dos aconte-cimentos, interpretando antes que ovínculo transferencial positivo se con-solidasse, deve-se ressaltar o fato de

que ela transformou o que seria umpré-requisito da interpretação em seuefeito, ou seja, a interpretação foi con-siderada, ela mesma, propiciadora dovínculo analítico. Ao que parece, arazão disso encontra-se na capacida-de da interpretação de desmobilizaras defesas e, assim, de dar aberturaao inconsciente e ao livre jogo entreamor e ódio que domina as relaçõesde objeto iniciais. Desse modo,

Quando a análise já começou e uma certaquantidade de ansiedade já foi resolvida nopacientezinho por meio de interpretações, asensação de alívio que ele experimenta comoconsequência disso – com frequência já apósalgumas sessões – o ajudará a prosseguir otrabalho. Pois, se até então não tivera nenhumincentivo para ser analisado, tem agora uminsight quanto ao uso e valor do trabalho ana-lítico, que é um motivo tão eficaz para seranalisado quanto o insight que o adulto tem arespeito da sua doença. (Klein, 1932/1997,p. 30)

Como se vê, era bastante sólidaa argumentação oferecida por Kleinpara justificar a pertinência da inter-pretação, em seu papel de colocar erecolocar a análise em marcha rumoà resolução dos conflitos infantis. Aautora embasava seus pontos de vistacom inúmeros exemplos, ilustrativosda eficácia da interpretação dentro efora do cenário analítico.

Segundo o referencial kleiniano,a diminuição da ansiedade é o elemen-to que melhor representa a direção dacura e comprova a eficácia da inter-pretação. Além disso, em seu rastro,traz efeitos tais como a diminuição da

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repressão e das inibições e o aumento da capacidade sublimatória.

Klein deixa bem claro que o trabalho analítico, ao interpretarpara a criança o que suas brincadeiras, seus desenhos e todo o seucomportamento significam e, assim, erguer as “comportas” da re-pressão, libera tanto as fantasias quanto a energia dispendida paramanter a repressão. Uma vez liberada, essa energia pode ser investidaem novas direções, donde o incremento da capacidade sublimatória,muitas vezes atingido por meio da análise e visível no surgimentode um grande número de novos interesses.

O uso convicto da interpretação e a correlata defesa de umaanálise conduzida em profundidade ajustam-se à concepção de Kleina respeito do desenvolvimento superegoico ou moral da criança.Uma das inovações da metapsicologia kleiniana é a teorização sobreo superego tirânico e precoce, cujo surgimento se daria bem antesdo que tinha sido estabelecido por Freud. Entende Klein que, emtermos dos objetivos analíticos, a criança só tem a ganhar se a aná-lise conseguir, através das interpretações, abrandar a severidade doseu superego e, com isso, aliviar a pressão exercida sobre seu egopouco amadurecido:

À medida que a análise continua, as crianças vão se tornando capazes em algumamedida de substituir os processos de repressão pelos de rejeição crítica. Isto seobserva quando, num estágio posterior de suas análises, elas se mostram tão distan-ciadas dos impulsos sádicos que antes as governavam e a cujas interpretações opu-nham resistências fortíssimas, que por vezes até acham graça deles. Já ouvi criançasmuito pequeninas rirem, por exemplo, da ideia de que uma vez elas realmente qui-seram devorar a mamãe ou cortá-la em pedaços. (Klein, 1932/1997, p. 33)

Esse abrandamento gradativo do superego, implícito nessa ci-tação, ocorre enquanto os objetos edipianos vão sendo introjetadosao longo da primeira infância. Para tanto, o analista deve manter umaescuta acurada voltada para o simbolismo das ações e dizeres da cri-ança e para as manifestações do conflito edípico, que é de tão forteimpacto no desenvolvimento psíquico e no decurso da análise.

Outro aspecto muito peculiar do estilo interpretativo de Kleiné a linguagem usada para comunicar-se com a criança, marcada porreferências a objetos parciais e a termos anatômicos e fisiológicos.Frequentemente, as interpretações evocam a imagem de uma carni-ficina, uma guerra, um filme de terror (onde o pai é assassinado ouassombra com ameaças de morte, o corpo materno é picado, cozi-nhado e comido ou destruído com armas fecais). Essa descrição

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das cenas dantescas que se passam noimaginário da criança é tão pertinen-te que não encontramos analistas decrianças que, mesmo sendo de outrascorrentes teóricas, dispensem a leitu-ra de um livro como A psicanálise de

crianças. O comentário geral dessesprofissionais é de admiração diante daperspicácia com que Klein captava asfantasias do universo infantil. De fato,Klein estava convencida de que a lin-guagem que empregava era compatí-vel com as fantasias inconscientes dacriança e, também, que “em todacriança, assim como em todo adulto,apesar de toda a resistência e das de-fesas, há anseio e prazer pela verda-de” (Segal, 1987/1996, p. 10).

Essa crença kleiniana no valorcurativo da verdade acabava sendoreforçada pelo fato de que as crian-ças pareciam reagir muito bem ao seuestilo de comunicação. Porém, mes-mo captando com prontidão as fan-tasias da criança, Klein, ao contrá-rio do que julgam os críticos, nãodescartava a prudência, conformepodemos observar no excerto que sesegue:

A análise de crianças muito pequenas temmostrado repetidamente quantos significadosdiferentes pode ter um único brinquedo ouum único segmento de uma brincadeira e quesó podemos inferir e interpretar o seu signi-ficado quando consideramos suas conexõesmais amplas e a situação analítica em que seinserem. (Klein, 1932/1997, pp. 27-28)

Portanto, usualmente, ela nãointerpretava o material “até ele ter sido

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expresso em várias representações”(Klein, 1930/1997, p. 260), ou seja,até ter-se repetido em diferentes con-textos e brincadeiras e se fazer acom-panhar pelas palavras da criança. Noentanto, o trabalho de síntese que éexigido de qualquer apresentação dematerial clínico não nos permite afir-mar se ela apenas recomendava pru-dência ou se era, de fato, comedida eesperava a ocasião certa para interpre-tar. Seja como for, a sólida argumen-tação de Klein a favor do recursointerpretativo na análise de crianças,longe de equacionar as divergênciasrelativas ao papel da interpretação,acabou por despertar uma avalanchede críticas ao seu método.

Críticas ao estilo

interpretativo kleiniano

Segundo as críticas que lhe fo-ram rendidas, Klein supervalorizavade tal modo esse recurso que incidiano equívoco do uso de interpretaçõesprecoces e excessivas, que represen-tavam, sobretudo, uma imposição dosaber e da subjetividade do analista,expressa por interpretações baseadasem um sistema simbólico predeter-minado. Essas acusações recaíam,principalmente, sobre o método uti-lizado no tratamento de Dick: o en-xerto do simbólico em seu aparelhopsíquico. A despeito dos resultadosadmiráveis alcançados por Klein,muitos analistas, baseados nesse e em

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outros relatos de caso, fizeram críticas intransigentes ao modelointerpretativo da psicanalista, salientando a desconsideração domovimento associativo da criança, o que constituiria um desvio daregra fundamental da técnica psicanalítica. De acordo com Laplanche(1988):

É surpreendente que uma teoria que se situa tão próxima dos processos mentaismais profundos do inconsciente só tenha conseguido se traduzir num métodoque chega à decodificação mais estereotipada dos ditos e gestos significativos dopaciente, sem considerar o movimento associativo, a referência histórica e indivi-dual, e os mil e um indícios pelos quais descobrimos se a interpretação está ounão num bom caminho. (p. 52)

Apesar de todas essas críticas serem pertinentes, pois Kleinrealmente fez, em alguma medida, o que lhe foi atribuído, temos delamentar o fato de que muitas delas se tornaram até mesmo ácidas,notadamente quando vinham daqueles que leram apenas trechosisolados da obra kleiniana e que desconheciam os fundamentos te-óricos que embasavam essas interpretações e, ao mesmo tempo, sereformulavam com os efeitos delas.

A questão é por demais polêmica, principalmente porque setratava da apresentação de um método clínico novo, que buscavadescobrir um acesso ao inconsciente infantil, uma vez que nem sem-pre é pela expressão verbal que se dão as associações das crianças.Com efeito, quem as atende sabe que elas raramente narram sonhosou episódios angustiantes de sua vida cotidiana e que, através dodiscurso delas, sequer chegam ao conhecimento seus pesadelos oufatos como a morte de entes queridos. Por esse motivo, a propostakleiniana era a da imbricação entre as dramatizações fantasiosas e asexpressões verbais.

Na guerra entre as escolas de psicanálise, todavia, esse assuntoacabou por despertar opiniões controversas de um lado e outro datrincheira, conforme podemos acompanhar pela literatura: enquan-to Santa Roza (1993) pergunta se “estaria de acordo com a inspira-ção freudiana esse método kleiniano que propõe pôr a descobertoo inconsciente da criança através de uma tradução imediata de brin-cadeiras” (pp. 121-122), Cintra e Figueiredo (2004) argumentam quetal método é “uma possibilidade – a única – de dar forma, nome euma certa passagem para a simbolização ao irrepresentável pulsional”(p. 176).

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Embora saibamos que as críticascontundentes trouxeram rearranjosfundamentais à psicanálise kleiniana,elas, infelizmente, desestimularam oestudo sistemático de sua obra, razãopela qual alguns profissionais se va-lem de suas contribuições sem nemmesmo reconhecerem a autoria datécnica, a exemplo do uso que é feitodo brincar como o equivalente da as-sociação livre. Outros, ainda, no afãde entender o que está sendo comu-nicado pelas crianças durante o aten-dimento psicanalítico, dão-se ao luxode ler apenas a casuística clínica – jus-tamente aquela que mais polêmicascriou!

Quando nos dedicamos à leituraatenta de tais registros, imediatamen-te nos salta aos olhos a ausência dedados relativos aos pais das crianças,bem como aqueles referentes à ana-mnese. Poderíamos imaginar que talomissão se deve ao fato de que Kleinse orgulhava em afirmar que o seuinteresse estava nas imagos parentaisda criança, o que, aliás, contaminou aclínica de seus discípulos com a im-pressão de que lidar com os pais ésempre o grande peso da clínica in-fantil, premissa que os levou a seve-ras restrições quanto ao número deencontros com os genitores. No en-tanto, a contextualização históricadesses atendimentos nos faz levantaruma hipótese bem razoável para a fal-ta de dados anamnésicos e da lida comos pais durante o tratamento: o im-perativo de resguardar a identidadedas famílias, uma vez que as suas pu-

blicações eram contemporâneas dostratamentos e os pais das criançasatendidas por Klein pertenciam, fre-quentemente, ao meio psicanalítico,quando não, ao próprio círculo socialda autora. Mas não fossem essas ascondições de seu trabalho, talvez elanem tivesse chegado às profundezasdo funcionamento mental dos sereshumanos nos primeiros anos de vida.

Assim, cabe louvar o espírito crí-tico de alguns profissionais, principal-mente daqueles que, após terem de-dicado parte de sua vida ao estudo daobra kleiniana, acompanharam, ain-da, o desenvolvimento das ideias deLacan e de Laplanche. Esses psicana-listas, ao abrirem sua reflexão teóricaa novos paradigmas, constataram avalidade de antigas propostasmetodológicas e puderam ofereceruma grande contribuição para areformulação da prática da clínica in-fantil. Um ícone dessa postura é apsicanalista Silvia Bleichmar, que,como tantos outros psicanalistas ar-gentinos, veio enriquecer a psicanáli-se brasileira com sua produção escri-ta, cursos e grupos de estudo. Graçasa profissionais dessa estirpe, à entra-da da psicanálise nas universidades ea ditames do mercado econômico,que restringia o número de sessõesnos tratamentos, ocorreram mudan-ças significativas no exercício da clí-nica infantil. Se é verdade que Kleinteve um séquito de discípulos que le-varam seu modelo interpretativo aoextremo, daí o dito jocoso segundo oqual “pior que Klein são os

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kleinianos”, é ainda verdade que essazombaria ao fanatismo dogmáticofalou em favor da teoria kleiniana:após as dissensões, tornou-se impe-rioso, a toda uma geração de analis-tas, o exercício de uma reflexão quepudesse levar à reformulação de vá-rios aspectos do método clínico deMelanie Klein. São os benefíciosauferidos quando a discussão acadê-mica não é tomada como um fim emsi mesmo.

Como interpretamos hoje

Atualmente, a clínica psicanalíti-ca de orientação kleiniana apresentareformulações daqueles aspectos dométodo que se revelaram questioná-veis. Houve um aumento da frequên-cia de atendimentos aos pais, provo-cado por pelo menos dois motivos.O primeiro deles foi reflexo da influ-ência da prática lacaniana, que, con-siderando a criança e seu sintoma umefeito do inconsciente dos pais, deuvoz a eles, chegando até mesmo a in-tercalar sessões com a criança e comos pais ou, ainda, a realizar sessõesconjuntas. Um outro fator que con-tribuiu para essa alteração foi a con-dição financeira das famílias, que, con-forme já se disse, impôs-lhes adiminuição do número de sessões se-manais. Assim, o analista foi impeli-do a buscar mais informações sobrea história de vida da família e do per-curso que culminou no pedido de

análise, bem como a fortalecer a ali-ança terapêutica com os pais, de quemse espera, agora, mais paciência coma lentidão dos resultados do proces-so analítico.

Aumentar a proximidade com ospais, e ainda com a escola e com ou-tros especialistas que porventura aten-dem a criança, permite ao analistaobservar melhor a interação entre ahistória singular daquela criança e asfantasias que são desencadeadas paradar conta dos pequenos enigmas quese colocam para ela. Uma ilustraçãopitoresca dessa situação pode ser re-tirada do material clínico de uma cri-ança com graves comprometimentosautísticos, que, depois de muitos anosde análise, inicia um processo desimbolização que lhe permite dizerque se identifica com um super-he-rói, “O Homem de Ferro”. Além dis-so, sua grande dificuldade em incluira mãe em qualquer uma de suasdramatizações ficou esclarecida paraele mesmo quando pronunciou a fra-se: “Eu sei quem é a mãe do Homem de

Ferro: é a Mulher Invisível!”.O exemplo citado reforça a con-

vicção de que o analista kleinianopode esperar pelas equações simbóli-cas armadas pelo próprio paciente,que com elas torna-se capaz deautointerpretar-se ou de “solicitar”uma comunicação interpretativa. Nocaso em pauta, a mãe da criança, ape-sar de comparecer às entrevistas soli-citadas pela analista ou pela escola, erauma presença/ausência, pois nãomostrava o seu aparelho afetivo. As-

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sim sendo, essa percepção conjunta(analista/cliente) pode ajudar a for-mular uma intervenção do tipo: “OHomem de Ferro precisa muito co-nhecer a mamãe dele, mas como vaifazer se ela é invisível?”.

As equações simbólicas que seobservam a partir do faz de conta, dedesenhos, de trabalhos de modelageme afins ficam, sobretudo, a serviço doraciocínio clínico do analista, enquan-to o simbolismo veiculado por suapalavra interpretativa leva em consi-deração temáticas mais abrangentes,distantes daquele formato que esqua-drinhava cada elemento do brincar editava que “isto está no lugar daqui-lo”. Um exemplo pode ser encontra-do no caso de uma paciente que seaplicava, de várias maneiras, para fi-car mais próxima de sua mãe, que ahavia deixado sob os cuidados deoutra pessoa e mostrava-se muito in-constante do ponto de vista afetivo.Num certo momento, a criança trou-xe à sessão uma revista de jogos e fi-cou brincando de percorrer labirin-tos para levar, por exemplo, umcoelhinho até a cenoura. Embora ti-vesse idade suficiente para realizaresses jogos sem dificuldades, não oscompletava; ao invés disso, desenha-va vários impedimentos ao longo dotrajeto. Perguntar à criança “então, sãoassim, cheios de obstáculos, os cami-nhos para recuperar o que foi perdi-do?” foi uma possibilidade de abor-dar, de modo mais abstrato, a questãoque a afligia.

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Sabemos que o setting analítico é sustentado tanto pela estabili-dade dos fatores ambientais quanto pela constância do funciona-mento emocional do analista e da qualidade de sua escuta clínica;no entanto, a singularidade de cada caso é que irá autorizar o analis-ta a escolher a sua metodologia de intervenção. Em algumas situa-ções, é tão satisfatório o nível de elaboração da criança que o brin-car, por si só, produz efeitos que dispensam uma interpretaçãoformal. Essa capacidade aguçada de elaboração, que permite à cri-ança fazer comentários sobre si, indica, sem dúvida alguma, ainternalização da função analítica – possibilidade que Klein não teráexplorado, uma vez que fez a seguinte declaração:

Eu nunca havia visto numa análise qualquer vantagem decorrer de uma políticade não interpretação. Na maioria dos casos em que tentei aplicar esse plano, tivelogo que abandoná-lo porque se desenvolvia uma ansiedade intensa e havia orisco de interrupção da análise. (Klein, 1932/1997, p. 88)

De fato, há alguns casos em que, apesar de um bom estabeleci-mento das condições do setting, será apenas a interpretação que ga-rantirá o aplacamento da angústia.

Seja como for, a interpretação permanece sendo um recursomuito estimado pelos analistas kleinianos, mas seu uso na atualida-de é mais regrado que outrora, pois não há mais a urgência deempregá-la, independentemente de se haver colhido material repre-sentativo das camadas mais profundas do psiquismo desde os pri-meiros atendimentos. E as fantasias sádicas da criança, apesar decontinuarem sendo ouvidas sem assombro pelos analistas kleinianos,recebem agora, no lugar da expressão concreta, “crua”, interven-ções/interpretações anunciadas numa linguagem mais abstrata e queleva em conta a história significante da criança.

Passada a ojeriza do furor interpretativo de Klein, resta-nosreconhecer que a interpretação nunca se tornou um recurso obsole-to, pois a clínica com crianças reafirma, frequentemente, o seu índi-ce de eficácia, razão pela qual ela continua sendo empregada poranalistas de diferentes correntes teóricas. Apesar dessa constatação,fica a impressão de que esse conceito da teoria da técnica psicanalí-tica é um rico veio de pesquisas – afinal, ainda não conseguimosdelimitar qual é, precisamente, a importância da interpretação numprocesso de análise infantil e quais ressonâncias ela produz nopsiquismo da criança em análise. Não obstante, o que é possívelobservar na prática clínica de muitos psicanalistas de orientação

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kleiniana é o uso parcimonioso do recurso interpretativo: ao invésda interpretação ser feita com constância, ela é reservada para aque-les momentos em que se faz imprescindível. A questão que se abreentão é a de como poderíamos identificar, com certa margem desegurança, quais seriam esses momentos.

Mesmo na ausência de respostas conclusivas acerca dessesquestionamentos sobre o uso da interpretação, um paradoxo se fazpresente: parece ser mais fácil pensar nos seus limites, ou seja, na-quelas situações em que o emprego da interpretação mostra-se dis-pensável ou, até mesmo, inoportuno. É muito comum que o analis-ta de crianças se veja assaltado por essas questões quando está diantede casos “difíceis”, geralmente, de crianças que sofreram traumasde grande magnitude. Aí, sim, as dúvidas invadem o cenário: quan-do e como fazer (ou não) uma interpretação que toque nas experi-ências dolorosas do paciente – ainda mais se ele não as expressouespontânea e diretamente, ou se declarou, de maneira enfática, nãoquerer falar “daquele assunto”? Fisgado por essas dúvidas, sem sa-ber se deve ou não se reportar às vivências reais da criança ou traba-lhar apenas com as suas reedições nas brincadeiras e nos movimen-tos transferenciais, o analista fica paralisado, presa de suasinquietações. Se, acaso, Klein presenciasse momentos como esse,provavelmente nos lembraria que, para desfazer a trama simbólicaque sustenta o sintoma e envolve a história de vida da criança, querse trate de dados factuais ou fantasiados, é necessário proceder aum rastreamento da interpretação que parta do “aqui e agora” e váaté os objetos e situações originais.

Ao que tudo indica, porém, a conduta mais frequente dessehipotético analista será a de restringir suas intervenções, por umtempo maior, aos personagens e ao roteiro da brincadeira que sedesenrola na sessão. Nesse caso, falará através da boca do persona-gem sobre o assunto lançado pela criança (anteriormente ou naque-le momento), mas, indiretamente, suas palavras poderão fazer alu-são à história de vida da criança, uma vez que a temática eleita porela não é completamente alheia à sua realidade. Poderá, também,complementar a fala do personagem com alguma intervenção emato no interior do jogo e que, de um modo simbólico, represente adinâmica psíquica e familiar.

Enfim, todos sabemos ser possível driblar, no dia a dia, os im-passes clínicos com a ajuda do nosso feeling; mas há um grande desa-fio que precisa ser assumido por todos aqueles que, tal como Klein,

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não são ingênuos em acreditar que ainterpretação é uma panaceia: a ur-gência em teorizar os alcances e limi-tes clínicos da interpretação impos-tos pela prematuridade psíquica dacriança e pelos movimentos fundan-tes de constituição das tópicas psíqui-cas.

DO WE STILL INTERPRET CHILDRENAS MELANIE KLEIN DID?

ABSTRACT

This article aims to approach the main aspects ofthe clinical and interpretative method by MelanieKlein, from the most aggressive criticism that she hasreceived and, once they were pertinent, from the relativedistance existing between the strict attitude of Kleinand the present Kleinian followers. After a fertilereflection exercise on the Kleinian inter pretativepassion, it is possible to recognize that playing hasmany times the power of allowing the elaboration ofcertain plots. This way, interpretation is no longerthe central focus of neither all nor any session andhas become used just in case its technical resourcesare essential.

Index terms: analytical interpretation; clinicalmethod; psychoanalysis for children; Melanie Klein.

¿INTERPRETAMOS AÚN A LOS NIÑOSAL MODO DE MELANIE KLEIN?

RESUMEN

El artículo tiene la intención de tratar de losprincipales aspectos del método clínico y deinterpretación de Melanie Klein, de las más fuertescríticas que recibió y, por su pertinencia, de la distan-cia relativa entre la rígida postura de Klein y aquellade los kleinianos en la actualidad. Después de unfructífero ejercicio de reflexión acerca del furorinterpretativo, fue posible reconocer que el jugar, porsi solo, tiene, muchas veces, el poder de permitir la

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elaboración de determinadas tramas. Así, lainter pretación salió del foco central de toda ycualquiera sesión y pasó a ser usada solamente en loscasos en que sus recursos técnicos son indispensables.

Palabras clave: interpretación analítica; métodoclínico; psicoanálisis con niños; Melanie Klein.

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NOTA

1 Este artigo baseia-se nos resultados da dissertação de mestrado submetida pela primeiraautora, sob orientação da segunda, ao programa de Mestrado em Psicologia da UniversidadeFederal de Minas Gerais. Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní-vel Superior (CAPES).

[email protected] Antônio Alves de Paula Neto, 123

35505-000 – Divinópolis – MG – Brasil.

[email protected]. André Cavalcante, 136/701

30430-110 – Belo Horizonte – MG – Brasil.

Recebido em outubro/2011.Aceito em julho/2012.

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