resumo

Download Resumo

If you can't read please download the document

Upload: lena-muniz

Post on 29-Sep-2015

4 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Exposição

TRANSCRIPT

CONSIDERAES DA ARTE QUE NO SE PARECE COM ARTEHelio FervenzaUFRGS

No artigo Consideraes da Arte que no se parece com Arte, Helio Fervenza discute como a arte contempornea se relaciona com a sociedade e quais meios utiliza nessa relao. A primeira questo em relao experincia, que traz uma dificuldade de pensar a arte j que ela est em constante deslocamento. Fervenza enfatiza que a democratizao da fotografia (computadores) no sculo XX e atualmente, re-posicionaram as prticas artsticas e tambm o papel do artista e suas condies de trabalho.Fervenza cita o historiador Thierry De Duve (Ressonncias do readymade) que observou que Duchamp estabeleceu que a pintura, como categoria artesanal, estava destinada ao esquecimento. Para rodchenko e Duchamp, o espao artstico era inseparvel da sua relao com o espao fsico. Outro crtico que Fervenza cita Benjamim Buchloh, que relaciona a obra de duchamp e rodchenko, pela transparncia e especificidade material das esculturas, preocupados de tornar visveis os mtodos de produo, propriedades e funes fsicas.No caso especfico do construtivismo, Margit Rowell afirma que em teoria e prtica este era profundamente utpico que produziam materiais reais em espaos reais em um princpio de realidade. Esses materiais, assim como suas formas, seriam portadores de sentido em sua substncia mesma e na dinmica de suas relaes concretas.Ao analisar alguns textos de Malevitch, escritos em 1918, o historiador Andrei Nakov afirma que o "pensamento pictrico de Malevitch no tem mais necessidade de passar pelo visvel enquanto experincia cognitiva preliminar a toda mudana; a reflexo conceitual que preceder a partir de ento a realizao pictrica. Fervenza sublinha fato que Malevitch se interessava por diversos assuntos e enfatiza que a criao poderia emergir de todas as atividades humanas no perodo revolucionrio. Malevitch escreve em um manifesto do grupo UNOVIS: Nossos atelieres no pintam mais quadros, eles constroem as formas da vida; no sero mais os quadros, mas os projetos que tornar-se-o criaturas vivas. Desta forma, o suprematismo apostava na subjetividade, no conhecimento subjetivo nas atividades cotidianas. Na medida em que as escolhas e os interesses de alguns artistas foram avanando cada vez mais no espao do mundo, houve uma maior permeabilidade nessa relao entre o espao artstico e o espao no- artstico, fazendo com que essas distines tornem-se mais complexas. Fervenza cita o Documenta de Kassel, onde produes de artistas participantes ocorreram na internet, na rua ou em outras cidades, assim como o espao das produes artsticas tambm no coincide com necessariamente com o espao, as concepes e os valores estabelecidos por instituies e mercados isso que permitiu a riqueza de prticas que temos hoje, segundo Fervenza, justamente percebendo atravs de um olhar na Histria da arte que as posies minoritrias no so excees. Tambm quer dizer que produes que esto de acordo ou que se instalam dentro de um campo hegemnico da arte tero uma certa circulao enquanto que outros que atuam em espaos fora dessa posio tero outro circuito. Estes espaos estaro sempre se renovando e nem sempre so identificveis a priori. Portanto Fervenza pensa que a propria ideia de circuito no singular no seja talvez a melhor forma de pensar a atuao da arte contempornea j que veiculao e experincia podem ser noes inter-relacionadas mas nem sempre coincidem. Fervenza questiona a noo de dentro e fora de um trabalho (cita Caminhando de ligia Clark). O que estaria dentro e fora de uma experincia de arte e se o artista ainda identificvel, ou que o que se produz de arte hoje identificvel. Fervenza introduz a resposta situando que nem tudo que produziu no sculo XX parece arte, como o ready-made, ou John Cage. Por outro lado, na sociedade do espetculo em que vivemos, muito do que se considera potico assim compreendido pela aplicao de convenes com efeitos culturalmente condicionados.Quando Allan Kaprow prepara um ch como uma resposta aos textos de Brecht (Events, cartes impressos entre 59 e 62), que podiam ser compreendidos como partituras destinadas a serem utilizadas em diferentes situaes. O carto escolhido por Kaprow intitula-se Trs eventos aquosos e abaixo do ttulo estava escrito apenas gelo, gua, vapor. A maneira como ele considerou essas palavras e de como isso o levou a fazer um ch tem a ver com sua concepo da arte. Para este artista o ato de prestar ateno e estar consciente da realizao de atividades cotidianas, como preparar ch ou amarrar os cordes dos sapatos, podem ser mais fundamentais do que produzir objetos convencionalmente identificados como artsticos. Kaprow pensa que as pequenas coisas da vida cotidiana poderiam servir para contrabalanar as abstraes em que os grandes problemas se transformam quando lhes damos um nome. Em um artigo chamado de A verdadeira experimentao, Kaprow estabelece uma distino entre arte que se parece com a vidae arte que se parece com arte. A arte parecida com a arte considera que a arte separada da vida e do restante, enquanto que a arte parecida com a vida considera que a arte est ligada com a vida e o restante. Uma est relacionada com a grande tradio ocidental e a outra no est interessada nisso, pois tende a misturar as coisas assim como pode evit-las. Para Kaprow, foram os sucessivos desenvolvimentos e aprofundamentos do modernismo que conduziram a arte a dissolver-se em suas fontes no mundo real. A maneira como a arte que no se parece com arte se relaciona com a sociedade passa pela ateno a qualquer aspecto das formas, meios e situaes de vida dessa sociedade. A atuao desse tipo de arte se produz atravs da vida social.Fervenza cita que um outro artista, Cildo Meireles, tambm na mesma poca ocupava-se com bebida, questionando atravs de sua distribuio os significados por ela veiculados e que abriam para uma reflexo crtica. Ele chamou de A esses atos de inserir Inseres em Circuitos Ideolgicos e no caso das garrafas, nomeou de Projeto Coca- Cola. Cildo utilizava decalques sobre a garrafa, impressos com tinta branca vitrificada, onde se lia, alm do ttulo do projeto, a seguinte proposta: Gravar nas garrafas, opinies crticas e devolv-las circulao. Embaixo via- se as iniciais C.M. e a data. Quando a garrafa est vazia no se percebe o texto, somente contra o fundo escuro da bebida. Fervenza cita um depoimento de Cildo para Antnio Manuel em que diz que na poca, j no trabalhavam com metforas pois estavam trabalhando com situaes reais e no tinha mais o culto de objeto mas sim em funo do que poderiam provocar no corpo social.No mais trabalhar com a metfora da plvora trabalhar com a plvora mesmo. Essa sua preocupao com uma arte que se construa no mundo v-se claramente refletida num outro texto, tambm de 1970, intitulado Cruzeiro do sul, onde na concluso ele declara: Quero algum dia que cada trabalho seja visto no como um objeto de elucubraes esterilizadas, mas como marcos, como recordaes e evocaes de conquistas reais e visveis.Antes de terminar gostaria de deter-me, mesmo que brevemente, nas idias e produes de dois outros artistas: Robert Filliou e Lygia Clark.Filliou pela maneira como criou certas propostas artsticas a partir de uma relao com a economia, princpios de economia potica, verdadeira taxa de troca. Lygia Clark por sua nfase nas proposies, como quando, por exemplo, ela afirma em 1968: somos os propositores: nossa proposio o dilogo. Para Lygia, o nico sentido dessa experincia (caminhadas) reside no ato de faz-la. A obra o seu ato. E Fervenza conclui que: Elas so propositivas no sentido em que no h um objeto artstico pronto para ser apreciado, mas antes um processo. Que a frase de Duchamp aqueles que olham so os que fazem os quadros parece estar de alguma maneira ainda relacionada a uma separao entre produtor e observador. Que existe algum que produz um objeto e algum que produz um certo olhar sobre esse objeto apresentado. Que nas aes de Kaprow ou Cildo Meireles no h um pblico, no h ningum assistindo, no h testemunhas oculares. Dessa forma, ocorre aqui algo que poderamos chamar de auto-apresentao. Que aquele que toma parte nesse processo inclui-se como algum que produz uma experincia de fazer e abre uma experincia de sentir e pensar, ou pensar, sentir, fazer: os termos encontrando-se inter-relacionados e no necessariamente numa ordem estabelecida.Essas produes ou proposies possuem tambm em comum uma nfase nas relaes e investem sobre o mundo, a inscrevendo possibilidades de crtica ou autoconhecimento, subjetividades e questionamentos. Elas so meios e no fins, formas de pensar, de viver e de agir.