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RESTAURAÇÕES DE DENTES POSTERIORES COM RESINA COMPOSTA
Até a década de 60, os materiais restauradores considerados estéticos
eram limitados e não apresentavam resultados muito satisfatórios. Surgiu,
então, a resina composta, com a expectativa de substituir estes materiais.
De imediato, as resinas compostas eram utilizadas apenas para
restaurações estéticas em dentes anteriores, pois apresentavam algumas
limitações que as contra-indicavam para dentes posteriores, como a grande
contração de polimerização e a baixa resistência ao desgaste. Como prova
desse fato, as restaurações de dentes posteriores realizadas com essas
resinas compostas, rapidamente demonstravam alteração anatômica em
função do elevado desgaste de superfície, manchamento em função da pouca
lisura de superfície e, infiltração marginal, sensibilidade pós-operatória e cárie
secundária decorrentes, principalmente, da alta taxa de contração de
polimerizaçãO (PHILLIPS ET AL., 1971).
Quando as resinas compostas foram desenvolvidas a partir dos estudos
de BOWEN, em 1962, o único material restaurador direto para dentes
posteriores era o amálgama, que apesar de apresentar grande resistência
mecânica, integridade marginal e longevidade, deixava a desejar pela falta de
adesividade às estruturas dentais e estética insatisfatória (OSBORNE,et al.,
1997).
A evolução das resinas compostas tem sido constatada na melhoria do
seu desempenho estético, no aumento da sua resistência à compressão e à
abrasão. Esta evolução, aliada às técnicas adesivas, fez com que ao longo do
tempo, este material se transformasse em um dos escolhidos para
restaurações, não só de dentes anteriores como também de dentes posteriores
(COBB et al., 2000).
As resinas compostas de uso universal, disponíveis no mercado
nacional, apesar de demonstrarem resultado estético satisfatório, apresentam
características que não são ideais para substituírem o amálgama de prata nas
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situações clínicas em que este vem sendo utilizado. Estas resinas não têm boa
resistência à abrasão e, na maioria das restaurações de classe II, não
reconstituem a relação de contato de maneira adequada (Cobb et al., 2000).
Recentemente, as resinas compostas foram submetidas a mudanças
consideráveis em sua composição. As resinas chamadas de condensáveis ou
compactáveis, além de conter maior quantidade de carga, cerca de 80% por
peso, associam partículas convencionais e partículas filamentares (fibra de
vidro). Estas partículas de carga apresentam superfícies porosas e irregulares,
o que facilita a penetração da matriz orgânica – BisGMA (Bisfenol A Glicidil
Metacrilato) ou UDMA (Uretano Dimetacrilato) tornando a resina mais densa
(MANHARDT et al., 2000).
Em função da grande variedade de materiais recentemente
comercializados, permanecem dúvidas sobre a nomenclatura ideal para uma
correta classificação dos materiais: cerômeros, polímeros de vidro, polividros,
resinas condensáveis, adaptáveis e compactáveis, são alguns dos nomes
envolvidos.
O termo condensável provém da “condensação” do amálgama, técnica
que possibilita a obtenção de uma massa homogênea bem adaptada às
estruturas internas e que favorece o restabelecimento da relação de contato
interproximal. Para que a resina composta fosse considerada condensável,
deveria suportar a aplicação de 2 a 3 Kgf de carga, se adaptar bem às
estruturas internas, sem, contudo, se desprender da cavidade ou se elevar
junto às bordas do condensador; deveria ainda, sofrer redução de volume
durante a condensação, o que na prática não acontece. Estas resinas são, na
verdade, adaptadas, acomodadas ou compactadas à cavidade. Observamos
na literatura e entre professores e pesquisadores da área, tendência em
padronizar o termo resinas compactáveis, muito embora o mercado tenha
adotado, até como estratégia de marketing, o termo condensável (MANHARDT
et al., 2000).
As resinas compostas chamadas de condensáveis ou compactáveis
apresentam algumas características que as indicam para restaurações em
dentes posteriores, com prognóstico mais favorável que as resinas tradicionais
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de uso universal. Apesar de terem composições estruturais diferentes, estes
materiais apresentam em comum a maior profundidade de polimerização, o
baixo índice de desgaste, alta resistência à compressão e a discutível
condensabilidade (MANHARDT et al., 2000).
Por outro lado, estas resinas compostas apresentam dificuldade de
polimento por terem maior quantidade de partículas inorgânicas e
características filamentares e microembricadas, além de serem muito densas.
INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES
A necessidade estética em um tratamento odontológico é hoje, uma
exigência da sociedade, e deve ser considerada tão importante quanto à
recuperação anatômica e funcional de um dente. Porém, vários fatores devem
ser considerados, além da exigência estética do paciente.
O primeiro passo para a realização de uma restauração direta em dente
posterior que propicie, além da estética, a devolução da anatomia e da função,
é a conscientização, por parte do paciente, que estes resultados são
considerados imediatos e temporários. A vida útil das restaurações bem
executadas é de, aproximadamente, 5 a 6 anos (MOLINARO et al., 2002).
Má higiene e alta incidência de cárie constituem-se, na verdade, em
contra-indicações para todos os tipos de tratamentos, sejam eles com
amálgama, resina ou cimento de ionômero de vidro, ou restaurações indiretas.
Outro ponto importante e muitas vezes desprezado pelo profissional diz
respeito ao registro prévio dos contatos oclusais para a análise da oclusão,
visto que cavidades de cáries limitadas às regiões de dentes fora do contato
em cêntrica, têm prognóstico mais favorável. Assim, com relação à análise da
oclusão, devemos considerar três tipos:
A- Contatos oclusais dispostos exclusivamente sobre esmalte - Como
as resinas compostas compactáveis apresentam baixa resistência ao
desgaste (em torno de 10um de superfície ao ano), quando
comparadas ao esmalte íntegro (em torno de 1um de superfície ao
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ano), este representa o tipo de contato oclusal que nos oferecerá
maior possibilidade de sucesso;
B- Contatos sobre a resina – Como as resinas compostas vêm
apresentando grande evolução quanto à resistência à abrasão, além
da maior exigência estética por parte dos pacientes, a A.D.A. –
Associação Dentária Americana, aceita dentes posteriores com
contatos oclusais sobre a resina composta, desde que, haja outros
pontos de contato sobre esmalte hígido, equilibrando a função
oclusal;
C- Contatos na interface dente/material restaurador – Como a
quantidade de resina composta disposta na região do cavo-
superficial é pequena, contatos sobre essa área aumentam a
possibilidade de fratura e a conseqüente quebra do vedamento
marginal. Portanto, recomenda-se, nestes casos, que se estenda
ligeiramente o término do preparo (BAYNE, 2003).
A interpretação das relações oclusais permite dizer que as cavidades
com pouca extensão vestíbulo-lingual apresentam maior possibilidade de
sucesso, não só pela menor possibilidade de desgaste oclusal da área a ser
restaurada, mas também, pela relação entre área, volume e contração de
polimerização: quanto maior a área envolvida na restauração, maior o volume
de resina composta, menor o remanescente dental, maior contração de
polimerização, maior possibilidade de fendas e, conseqüentemente, maior
reincidência de cárie. Logo, as cáries incipientes que necessitam de
restaurações preventivas e conservadoras correspondem aos casos mais
bem indicados de resinas compostas para dentes posteriores, visto que
envolvem pouco desgaste dental, pouco volume de resina, além de ficarem
restritas às áreas de cicatrículas e fissuras onde, geralmente, não há incidência
de contatos cêntricos (BAYNE, 2003).
As cavidades de classe II com envolvimento oclusal e proximal, porém
sem o comprometimento da crista marginal transversal, chamadas comumente
de cavidades tipo túnel podem ser tratadas de forma conservadora e
restauradas com resinas compostas. Para isto, além de acesso à lesão de
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cárie, a adequação cavitária deve preservar remanescente de crista marginal
transversal que justifique a sua preservação. Da mesma forma, cavidades de
classe II que mantiveram o contorno cavitário circundado por esmalte têm
condições de receber uma restauração de resina composta com maior
possibilidade de sucesso (DICKINSON, 1993).
Restaurações com resinas compostas não são indicadas para
cavidades subgengivais, pois estes materiais não apresentam adequada
lisura de superfície, favorecendo o acúmulo de placa bacteriana e a decorrente
doença periodontal. Além disso, as cavidades subgengivais normalmente se
estendem além do limite amelocementário, fato que representaria, na prática,
término de preparo sem a presença de esmalte (MOLINARO et al., 2002).
PREPARO CAVITÁRIO
Com as constantes evoluções ocorridas na odontologia nos últimos 30
anos e com o conhecimento dos fatores etiológicos e da sua atuação no
processo de cárie, até mesmo a decisão de restaurar pode ser tomada de
forma preventiva e conservadora. Assim sendo, a odontologia moderna não
concebe a remoção de esmalte hígido como forma de prevenção, como
preconizava BLACK no início do século XX, ou seja, o conceito de extensão
preventiva que consistia em estender o preparo até as áreas de relativa
imunidade à cárie, comprometendo todos os sulcos, cariados e não cariados
(TUNG et al., 2000). Portanto, se for inevitável a realização de um preparo
cavitário e uma restauração, com o aprimoramento de brocas e pontas
diamantadas mais eficientes e conservadoras e com a evolução dos materiais
odontológicos, principalmente no que se refere às técnicas de condicionamento
ácido do esmalte e dentina, bem como o surgimento de novos materiais que
permitem abordagens preventivas, como as resinas, os cimentos de ionômero
de vidro, e os adesivos dentinários, materiais que revolucionaram os conceitos
dos “preparos cavitários” e proteção do complexo dentino-pulpar, podemos e
devemos realizar procedimentos mais conservadores e biológicos para o
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tratamento das lesões cavitadas (MJÖR & MOORHEAD, 1998).
Se do ponto de vista dos pacientes a estética se constitui na principal
característica das resinas compostas, para nós, profissionais conhecedores
das limitações clínicas destes materiais, a adesividade e, principalmente, a
possibilidade de realizar preparos conservadores em função dessa
característica é, sem dúvida, a maior vantagem das resinas compostas como
materiais restauradores diretos.
Um preparo clássico para amálgama que envolva paredes laterais
paralelas entre si e perpendiculares a parede pulpar plana e com ângulos
internos vivos não corresponde às possibilidades e necessidades das resinas
compostas. O amálgama, por não ser adesivo, necessita de um preparo auto-
retentivo para que possa ficar retido à cavidade. Isto faz com que o profissional
freqüentemente desgaste remanescente dental íntegro para enquadrar o
preparo às necessidades do material restaurador.
Assim, muitos dentistas incorrem no erro de realizar o preparo cavitário
para resina composta como se o estivesse fazendo para o amálgama de prata,
fato que acarreta o desgaste excessivo da estrutura dental. Não obstante, as
resinas compostas, em função de limitações inerentes, necessitam artifícios
técnicos para aumentar a longevidade clínica, compensando, principalmente,
os efeitos deletérios decorrentes da contração de polimerização. Durante a
realização do preparo cavitário, inserção e polimerização da resina composta, o
clínico deve ter maior preocupação com as limitações do que, propriamente,
com as vantagens do material durante sua atuação clínica (REIS et al., 2003).
Os dois principais fatores determinantes da extensão do preparo
cavitário são a extensão da cárie em esmalte e dentina, e a relação oclusal
com o antagonista. Assim, aconselhamos que a primeira medida deva ser
instituída antes mesmo do início da remoção do tecido cariado com a
realização, por meio de um carbono fino e de dupla face, dos registros
oclusais em abertura e fechamento, lateralidade e látero-protrusiva. Em
seguida, aplicamos fina camada de adesivo dentinário (sem condicionamento
ácido) ou verniz cavitário para que, durante a realização do preparo em alta
rotação e sob refrigeração, as marcações fiquem mantidas, funcionando como
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um guia para que o clínico mantenha-se, sempre que possível, aquém dos
limites registrados.
Para o entendimento de algumas características do preparo cavitário é
fundamental lembrar que o escoamento é uma propriedade das resinas
compostas, que favorece a sua adaptação junto ás margens cavitárias,
possibilitando um alívio interno do estresse de contração. O escoamento vai
depender tanto das características da própria resina composta quanto das
características do preparo. Uma configuração cavitária com paredes laterais
convergentes para oclusal e ângulos internos arredondados favorece o
relaxamento da resina e possibilita menor desgaste de estrutura dental. Estas
são, portanto, características contrárias ao que se preconiza classicamente
para o amálgama de prata.
As características finais do preparo cavitário são: o término do preparo
deve, sempre que possível, ficar situado supragengivalmente; o esmalte deve
estar presente em toda a margem cavitária, e a não confecção do bisel
cavo superficial.
O bisel tem por objetivo reduzir a infiltração marginal e aumentar a
estética na linha de término. Contudo, nos dentes posteriores acabaria
aumentando a extensão da cavidade e, muito provavelmente, submetendo uma
fina camada de resina aos contatos oclusais. Além disso, sua realização na
caixa proximal de cavidades de classe II seria extremamente difícil sem que se
aumentasse excessivamente o desgaste dental. Ainda, a sua realização na
borda de esmalte da parede cervical fatalmente provocaria total remoção deste,
comprometendo o vedamento marginal da restauração (REIS et al., 2003).
A obtenção de uma restauração estética em dentes posteriores é,
indiscutivelmente, procedimento mais fácil de se alcançar do que em dentes
anteriores. Dos fatores que contribuem para isso, destacamos: diferença no
volume de esmalte e dentina entre as estruturas anteriores e posteriores;
incidência, reflexão e refração da luz diferentes entre os meios; características
anatômicas que aumentam a difusibilidade da luz, entre outras.
Em virtude dessas características, os fabricantes têm disponibilizado kits
de resinas posteriores com dois ou três matizes e saturações, o que simplifica
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muito a atuação do clínico. A Dentsply, por exemplo, fabricante da resina
SureFil disponibiliza três matizes, A, B e C, sem variação da saturação. Já a
3M, fabricante da resina Filtek P60, disponibiliza kits com as cores; A3, B2 e
C2.
Independentemente da resina composta ou técnica restauradora
adotada, a radiopacidade é questão fundamental para o controle da
reincidência de cárie, sendo que quanto mais radiopaca for a resina composta,
maior a facilidade de diagnóstico radiográfico da cárie dental, conhecidamente
de característica radiolúcida (Van MEERBEEK et al., 2003).
TÉCNICA DE INSERÇÃO DA RESINA COMPOSTA
Apesar da grande evolução dos sistemas adesivos e da própria resina
composta, nenhum deles ainda é capaz de evitar a formação de fendas
marginais decorrentes da contração de polimerização. Portanto, como a
contração de polimerização ainda é considerada inevitável, muitas técnicas de
inserção e polimerização têm sido adotadas com o intuito de compensar os
seus efeitos deletérios.
Desde o desenvolvimento das resinas compostas fotopolimerizáveis
discute-se sobre a maneira correta de inseri-las na cavidade. Inserção única ou
incremental; incremento horizontal, vertical ou oblíquo e espessura do
incremento, são os pontos de maior divergência entre os autores (LUTZ &
KREJCI, 1999).
Quanto maior a espessura do incremento, menor será a ativação dos
fotoiniciadores nas áreas mais profundas, podendo comprometer as
propriedades mecânicas da resina composta. Isto ocorre porque quando se
expõe a resina à fotoativação, os radicais livres dispostos na camada
superficial iniciam imediatamente a reação de polimerização. Como a
intensidade de luz vai sendo atenuada à medida que aumenta a profundidade
da restauração, a polimerização só se propaga até o limite de ativação dos
fotoiniciadores. Deve-se considerar ainda, que a presença de monômeros
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residuais nas áreas não atingidas pela luz pode comprometer, também, a
estabilidade de cor e a biocompatibilidade, em função da degradação do
monômero em ácido metacrilato e formaldeído (Peutzfeldt, 1997).
Por outro lado, a espessura do incremento pode influenciar a contração
de polimerização, visto que, incrementos mais espessos permanecem por mais
tempo na fase pré-gel, o que permitiria o escoamento do material, reduzindo a
contração de polimerização (ALSTER et al., 1997).
Para lidar com algumas dessas informações que são muitas vezes
antagônicas, embora algumas pesquisas mostrem resinas com incrementos de
4mm eficientemente polimerizadas e sem comprometimento da microdureza,
recomendamos ao clínico a adoção de incrementos de 2,5 e 3mm de
espessura, suficientemente fotopolimerizado por uma unidade fotoativadora
convencional com intensidade de luz entre 480 e 600 mW/cm2, sem
comprometimento das propriedades mecânicas do material.
A Jeneric Pentron, fabricante da resina ALERT, por exemplo, recomenda
a utilização de incrementos com 5mm de profundidade em função das
partículas filamentares e longas que favorecem a penetração da luz. Estudos
têm mostrado que a polimerização das camadas mais profundas não ocorre de
forma eficiente, comprometendo a longevidade da restauração.
Seguindo essa linha de raciocínio, o incremento único só deve ser
adotado em cavidades pequenas que não excedam 2,5 a 3mm de
profundidade.
CONFIGURAÇÃO CAVITÁRIA E A QUESTÃO DO FATOR - C
Um dado muito importante quando se fala em contração de
polimerização das resinas compostas, é o fator de configuração cavitária ou
fator-C. O fator-C relaciona a área das superfícies aderidas e não aderidas da
restauração, sendo que quanto maior a área das superfícies aderidas, maior o
estresse de contração. O aumento do estresse de contração leva ao
rompimento das ligações adesivas, comprometendo o vedamento marginal
(FEILZER et al., 1998; FEILZER et al., 1995). A preservação das ligações
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adesivas depende, primeiramente, da configuração tridimensional da cavidade,
sendo que as características cavitárias que facilitam o escoamento e
acomodação da resina, como a inclinação das paredes laterais, ângulos
internos arredondados e maior profundidade (espessura da resina), podem
contribuir para a obtenção de restaurações com maior longevidade clínica, em
função do alívio do estresse interno de contração e da preservação da
integridade marginal. Logo, a contração de polimerização será tanto menor,
quanto menor for o fator-C. Nota-se também, a alta correlação entre a largura
da fenda marginal e a proporção de superfícies livres. Quanto menor for o
número de superfícies livres, maior será a largura da fenda marginal, indicando
que o estresse de contração foi maior.
Em síntese, quanto maior o valor do fator-C, menor a possibilidade de
escoamento da resina e, conseqüentemente, maior o estresse desenvolvido
durante a contração de polimerização. Tomando como exemplo uma cavidade
de classe I oclusal preenchida em incremento único, teríamos 5 paredes
aderidas (vestibular, Lingual ou palatina, mesial, distal e pulpar) e uma parede
livre, a oclusal. Nesta condição, encontramos um valor de fator-C igual a cinco
e com grande tensão interna. Já em uma cavidade de classe IV, o fator-C é
baixo, em torno de 1, facilitando a adaptação da resina e aliviando o estresse
de contração.
Portanto, nas situações com altos valores de fator C, como as cavidades
de classes I e V, o clínico necessita de algumas alternativas que possam
compensar o elevado estresse interno de contração.
Recomenda-se, atualmente, a reconstrução por cúspides, promovendo a
inserção e polimerização da resina composta em incrementos de 2,5 a 3mm
envolvendo o menor número possível de paredes cavitárias. Além de
possibilitar um maior controle da contração de polimerização, esta técnica
permite a reconstrução anatômica com menos excesso. O ajuste da relação
oclusal, quase sempre inevitável, mesmo nestes casos, se torna procedimento
menos abrasivo e localizado, importante para a obtenção de uma restauração
com maior lisura e preservação da integridade marginal.
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RELAÇÃO DE CONTATO INTERPROXIMAL
A obtenção de uma restauração com qualidade estética semelhante ao
dente natural quanto à reprodução dos detalhes anatômicos e da cor, talvez
seja, para o clínico recém-formado, o maior desafio em restaurações diretas
em dentes posteriores. À medida que o profissional adquire experiência,
aprimora os seus conhecimentos e se adapta aos materiais e técnicas, os
desafios iniciais vão sendo superados e o restabelecimento da relação de
contato interproximal em restaurações de classe II talvez seja, a maior
dificuldade da técnica (LEINFELDER et al., 1996).
Independentemente do material restaurador direto a ser utilizado em
cavidades de classe II, o primeiro passo para o restabelecimento da relação
interproximal é a montagem eficiente do sistema matriz/cunha. A matriz,
metálica ou plástica, dependendo da técnica e do material restaurador, deve
ser delgada, flexível e com contorno que possibilite a remodelação anatômica
da face proximal. As tiras matrizes circunferenciais de 5 e 7 mm não são as
mais recomendadas em função da diferença de contorno anatômico entre os
terços cervical, médio e oclusal do dente. As tiras matrizes em forma de
bumerangue são as mais indicadas, pois, promovem a constrição da região
cervical e abrem em direção oclusal, favorecendo a reconstrução anatômica do
dente. Além destas, os sistemas de matrizes individuais Unimatrix (TDV) têm
sido indicadas devido à praticidade e eficiência no restabelecimento anatômico
e da relação interproximal. Nestes sistemas, um anel metálico promove a
fixação da matriz e, ainda, afasta ligeiramente os dentes compensando a
espessura da matriz. A cunha, refletora ou de madeira, tem como principal
objetivo, pressionar a matriz contra o dente na região cervical, evitando o
extravasamento de material restaurador para o periodonto. Além disso, a cunha
bem posicionada na região cervical afasta ligeiramente os dentes e, assim
como o anel metálico no caso do sistema Unimatrix ou Palodent, compensa a
espessura da matriz, facilitando a obtenção do ponto de contato proximal.
Já destacamos que as resinas compostas, na realidade, não podem ser
consideradas condensáveis. Na maioria dos casos, elas não exercem pressão
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suficiente contra a matriz de modo a compensar a sua espessura e possibilitar
um contato interproximal satisfatório. Contudo, as resinas compactáveis
densas como ALERT (Jeneric Pentron) e SureFil (Dentsply), possibilitam a
obtenção de uma relação de contato interproximal mais satisfatória, quando
comparadas às resinas consideradas de média ou baixa densidade
(PEUMANS et al., 2001).
Algumas técnicas têm sido utilizadas como medida adicional para o
restabelecimento da relação de contato interproximal. Dentre elas, a
polimerização sob compressão do incremento de resina colocado na caixa
proximal é o método mais simples e mais utilizado. Com um condensador
apropriado, deve-se pressionar a resina contra a matriz, enquanto realiza-se a
fotopolimerização do incremento. Com isso, uma pequena parede de resina
composta é formada, mantendo a matriz pressionada contra o dente vizinho.
Quando a restauração é concluída e o sistema matriz/cunha é removido, a
relação de contato interproximal fica restabelecida.
O mesmo objetivo pode ser alcançado com outros métodos como a
aplicação de uma porção pré-polimerizada de resina entre a parede axial da
caixa proximal e a matriz, mantendo-a pressionada contra o dente vizinho.
Porém, esta técnica é pouco empregada em função da dificuldade de
selecionar um incremento de resina que se adapte exatamente à caixa
proximal e ainda exerça pressão entre a parede axial e a matriz.
Os chamados “Inserts” de resina ou porcelana podem ser aplicados
na caixa proximal com o mesmo objetivo, entretanto, também é uma técnica
pouco utilizada em função da maior complexidade e gasto.
Um método bastante eficiente e relativamente simples de se
restabelecer o contato interproximal envolve o uso espátulas especiais como
a Contact Pro 1 e 2.
ACABAMENTO E POLIMENTO
O acabamento e o polimento das restaurações com resinas compostas
têm por objetivo não só devolver a estética ao elemento dentário como também
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restabelecer o contorno anatômico e reproduzir a textura da superfície à
semelhança do dente íntegro (KANCA III, 1995).
Portanto, a realização dos procedimentos de acabamento e polimento de
restaurações de dentes posteriores com resinas compostas constitui-se em
etapa fundamental para a finalização das restaurações, visto que, qualquer
descuido ou erro de técnica nesse momento, pode incorrer em restaurações
com rugosidade excessiva de superfície, além de poros e falhas que
comprometem o vedamento marginal e favorecem o manchamento e a
ocorrência de cáries secundárias. Superfícies ásperas aumentam, ainda, o
desenvolvimento de doenças periodontais por induzirem ao acúmulo de placa
bacteriana.
Os procedimentos de acabamento e polimento resultam em diferentes
graus de rugosidade superficial, as quais variam com a forma, tamanho,
composição e distribuição das partículas inorgânicas do material restaurador e
a grande variedade de instrumentos de acabamento que podem ser utilizados.
Como descrevemos anteriormente, as resinas compactáveis apresentam
maior quantidade de partículas inorgânicas em relação às resinas de uso
universal devido à exigência mecânica a que estão sujeitos os dentes
posteriores. Entretanto, as partículas que conferem às resinas compactáveis
maior resistência mecânica, comprometem a lisura superficial, principalmente
após ajuste oclusal e técnica de acabamento e polimento. Embora seja
praticamente impossível a realização de uma escultura em dente posterior sem
que nenhum acabamento seja necessário, a definição da escultura antes da
polimerização com instrumentos apropriados facilita e orienta o ajuste oclusal,
além de torná-lo menos invasivo e abrasivo (OZGUNALTAY et al., 2003).
Quando o desgaste for inevitável, deve ser realizado de forma localizada
e com pontas pouco abrasivas. As brocas com 30 ou 40 lâminas são as mais
indicadas.
O polimento deve ser realizado, preferencialmente, após 24 horas,
período de hidratação e absorção de água pelas resinas compostas, com
pontas siliconizadas seguidas de disco de feltro e pasta diamantada.
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SELAMENTO DE SUPERFÍCIE
Quando realizamos uma restauração estética em dentes posteriores,
deixamos uma superfície irregular e com micro-trincas devido ao estresse de
contração de polimerização e dos procedimentos de acabamento e polimento.
Esses defeitos podem ser minimizados com a aplicação de um selante
de superfície, resina de alta fluidez que penetra nas irregularidades,
melhorando a qualidade superficial das restaurações. Os primeiros autores que
propuseram este selamento foram Dickinson et al., 1993, com a expectativa
que a técnica produzisse uma superfície lisa, regular e que não representasse
nicho de retenção para a placa bacteriana. Foram realizadas 62 restaurações
com a resina Bisfill. Metade das restaurações receberam apenas o polimento
superficial. A outra metade, recebeu polimento e a aplicação do selante de
superfície. Os autores constataram que além destes benefícios já
mencionados, a aplicação do selante de superfície diminui o desgaste médio
anual das resinas, aumentando a qualidade e a longevidade das restaurações.
Para que o selamento seja efetivo, é importante que esta resina com carga e
de baixa viscosidade seja fotopolimerizável, mesmo na presença do oxigênio,
garantido a uniformidade e regularidade da superfície. A técnica é simples e
deve ser realizada com isolamento relativo, após o polimento das restaurações
posteriores. Aplica-se o condicionamento ácido da área restaurada por 10 a 15
segundos para limpeza da superfície. Após lavagem e secagem, o selante é
aplicado sobre a região com auxílio de um pincel ou microbrush em fina
camada e sem jato de ar. Em seguida realiza-se a fotopolimerização e, com um
explorador, confere-se a regularidade da superfície.
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