restauraÇÕes de dentes posteriores com resina composta.pdf

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1 RESTAURAÇÕES DE DENTES POSTERIORES COM RESINA COMPOSTA Até a década de 60, os materiais restauradores considerados estéticos eram limitados e não apresentavam resultados muito satisfatórios. Surgiu, então, a resina composta, com a expectativa de substituir estes materiais. De imediato, as resinas compostas eram utilizadas apenas para restaurações estéticas em dentes anteriores, pois apresentavam algumas limitações que as contra-indicavam para dentes posteriores, como a grande contração de polimerização e a baixa resistência ao desgaste. Como prova desse fato, as restaurações de dentes posteriores realizadas com essas resinas compostas, rapidamente demonstravam alteração anatômica em função do elevado desgaste de superfície, manchamento em função da pouca lisura de superfície e, infiltração marginal, sensibilidade pós-operatória e cárie secundária decorrentes, principalmente, da alta taxa de contração de polimerizaçãO (PHILLIPS ET AL., 1971). Quando as resinas compostas foram desenvolvidas a partir dos estudos de BOWEN, em 1962, o único material restaurador direto para dentes posteriores era o amálgama, que apesar de apresentar grande resistência mecânica, integridade marginal e longevidade, deixava a desejar pela falta de adesividade às estruturas dentais e estética insatisfatória (OSBORNE,et al., 1997). A evolução das resinas compostas tem sido constatada na melhoria do seu desempenho estético, no aumento da sua resistência à compressão e à abrasão. Esta evolução, aliada às técnicas adesivas, fez com que ao longo do tempo, este material se transformasse em um dos escolhidos para restaurações, não só de dentes anteriores como também de dentes posteriores (COBB et al., 2000). As resinas compostas de uso universal, disponíveis no mercado nacional, apesar de demonstrarem resultado estético satisfatório, apresentam características que não são ideais para substituírem o amálgama de prata nas

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RESTAURAÇÕES DE DENTES POSTERIORES COM RESINA COMPOSTA

Até a década de 60, os materiais restauradores considerados estéticos

eram limitados e não apresentavam resultados muito satisfatórios. Surgiu,

então, a resina composta, com a expectativa de substituir estes materiais.

De imediato, as resinas compostas eram utilizadas apenas para

restaurações estéticas em dentes anteriores, pois apresentavam algumas

limitações que as contra-indicavam para dentes posteriores, como a grande

contração de polimerização e a baixa resistência ao desgaste. Como prova

desse fato, as restaurações de dentes posteriores realizadas com essas

resinas compostas, rapidamente demonstravam alteração anatômica em

função do elevado desgaste de superfície, manchamento em função da pouca

lisura de superfície e, infiltração marginal, sensibilidade pós-operatória e cárie

secundária decorrentes, principalmente, da alta taxa de contração de

polimerizaçãO (PHILLIPS ET AL., 1971).

Quando as resinas compostas foram desenvolvidas a partir dos estudos

de BOWEN, em 1962, o único material restaurador direto para dentes

posteriores era o amálgama, que apesar de apresentar grande resistência

mecânica, integridade marginal e longevidade, deixava a desejar pela falta de

adesividade às estruturas dentais e estética insatisfatória (OSBORNE,et al.,

1997).

A evolução das resinas compostas tem sido constatada na melhoria do

seu desempenho estético, no aumento da sua resistência à compressão e à

abrasão. Esta evolução, aliada às técnicas adesivas, fez com que ao longo do

tempo, este material se transformasse em um dos escolhidos para

restaurações, não só de dentes anteriores como também de dentes posteriores

(COBB et al., 2000).

As resinas compostas de uso universal, disponíveis no mercado

nacional, apesar de demonstrarem resultado estético satisfatório, apresentam

características que não são ideais para substituírem o amálgama de prata nas

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situações clínicas em que este vem sendo utilizado. Estas resinas não têm boa

resistência à abrasão e, na maioria das restaurações de classe II, não

reconstituem a relação de contato de maneira adequada (Cobb et al., 2000).

Recentemente, as resinas compostas foram submetidas a mudanças

consideráveis em sua composição. As resinas chamadas de condensáveis ou

compactáveis, além de conter maior quantidade de carga, cerca de 80% por

peso, associam partículas convencionais e partículas filamentares (fibra de

vidro). Estas partículas de carga apresentam superfícies porosas e irregulares,

o que facilita a penetração da matriz orgânica – BisGMA (Bisfenol A Glicidil

Metacrilato) ou UDMA (Uretano Dimetacrilato) tornando a resina mais densa

(MANHARDT et al., 2000).

Em função da grande variedade de materiais recentemente

comercializados, permanecem dúvidas sobre a nomenclatura ideal para uma

correta classificação dos materiais: cerômeros, polímeros de vidro, polividros,

resinas condensáveis, adaptáveis e compactáveis, são alguns dos nomes

envolvidos.

O termo condensável provém da “condensação” do amálgama, técnica

que possibilita a obtenção de uma massa homogênea bem adaptada às

estruturas internas e que favorece o restabelecimento da relação de contato

interproximal. Para que a resina composta fosse considerada condensável,

deveria suportar a aplicação de 2 a 3 Kgf de carga, se adaptar bem às

estruturas internas, sem, contudo, se desprender da cavidade ou se elevar

junto às bordas do condensador; deveria ainda, sofrer redução de volume

durante a condensação, o que na prática não acontece. Estas resinas são, na

verdade, adaptadas, acomodadas ou compactadas à cavidade. Observamos

na literatura e entre professores e pesquisadores da área, tendência em

padronizar o termo resinas compactáveis, muito embora o mercado tenha

adotado, até como estratégia de marketing, o termo condensável (MANHARDT

et al., 2000).

As resinas compostas chamadas de condensáveis ou compactáveis

apresentam algumas características que as indicam para restaurações em

dentes posteriores, com prognóstico mais favorável que as resinas tradicionais

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de uso universal. Apesar de terem composições estruturais diferentes, estes

materiais apresentam em comum a maior profundidade de polimerização, o

baixo índice de desgaste, alta resistência à compressão e a discutível

condensabilidade (MANHARDT et al., 2000).

Por outro lado, estas resinas compostas apresentam dificuldade de

polimento por terem maior quantidade de partículas inorgânicas e

características filamentares e microembricadas, além de serem muito densas.

INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES

A necessidade estética em um tratamento odontológico é hoje, uma

exigência da sociedade, e deve ser considerada tão importante quanto à

recuperação anatômica e funcional de um dente. Porém, vários fatores devem

ser considerados, além da exigência estética do paciente.

O primeiro passo para a realização de uma restauração direta em dente

posterior que propicie, além da estética, a devolução da anatomia e da função,

é a conscientização, por parte do paciente, que estes resultados são

considerados imediatos e temporários. A vida útil das restaurações bem

executadas é de, aproximadamente, 5 a 6 anos (MOLINARO et al., 2002).

Má higiene e alta incidência de cárie constituem-se, na verdade, em

contra-indicações para todos os tipos de tratamentos, sejam eles com

amálgama, resina ou cimento de ionômero de vidro, ou restaurações indiretas.

Outro ponto importante e muitas vezes desprezado pelo profissional diz

respeito ao registro prévio dos contatos oclusais para a análise da oclusão,

visto que cavidades de cáries limitadas às regiões de dentes fora do contato

em cêntrica, têm prognóstico mais favorável. Assim, com relação à análise da

oclusão, devemos considerar três tipos:

A- Contatos oclusais dispostos exclusivamente sobre esmalte - Como

as resinas compostas compactáveis apresentam baixa resistência ao

desgaste (em torno de 10um de superfície ao ano), quando

comparadas ao esmalte íntegro (em torno de 1um de superfície ao

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ano), este representa o tipo de contato oclusal que nos oferecerá

maior possibilidade de sucesso;

B- Contatos sobre a resina – Como as resinas compostas vêm

apresentando grande evolução quanto à resistência à abrasão, além

da maior exigência estética por parte dos pacientes, a A.D.A. –

Associação Dentária Americana, aceita dentes posteriores com

contatos oclusais sobre a resina composta, desde que, haja outros

pontos de contato sobre esmalte hígido, equilibrando a função

oclusal;

C- Contatos na interface dente/material restaurador – Como a

quantidade de resina composta disposta na região do cavo-

superficial é pequena, contatos sobre essa área aumentam a

possibilidade de fratura e a conseqüente quebra do vedamento

marginal. Portanto, recomenda-se, nestes casos, que se estenda

ligeiramente o término do preparo (BAYNE, 2003).

A interpretação das relações oclusais permite dizer que as cavidades

com pouca extensão vestíbulo-lingual apresentam maior possibilidade de

sucesso, não só pela menor possibilidade de desgaste oclusal da área a ser

restaurada, mas também, pela relação entre área, volume e contração de

polimerização: quanto maior a área envolvida na restauração, maior o volume

de resina composta, menor o remanescente dental, maior contração de

polimerização, maior possibilidade de fendas e, conseqüentemente, maior

reincidência de cárie. Logo, as cáries incipientes que necessitam de

restaurações preventivas e conservadoras correspondem aos casos mais

bem indicados de resinas compostas para dentes posteriores, visto que

envolvem pouco desgaste dental, pouco volume de resina, além de ficarem

restritas às áreas de cicatrículas e fissuras onde, geralmente, não há incidência

de contatos cêntricos (BAYNE, 2003).

As cavidades de classe II com envolvimento oclusal e proximal, porém

sem o comprometimento da crista marginal transversal, chamadas comumente

de cavidades tipo túnel podem ser tratadas de forma conservadora e

restauradas com resinas compostas. Para isto, além de acesso à lesão de

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cárie, a adequação cavitária deve preservar remanescente de crista marginal

transversal que justifique a sua preservação. Da mesma forma, cavidades de

classe II que mantiveram o contorno cavitário circundado por esmalte têm

condições de receber uma restauração de resina composta com maior

possibilidade de sucesso (DICKINSON, 1993).

Restaurações com resinas compostas não são indicadas para

cavidades subgengivais, pois estes materiais não apresentam adequada

lisura de superfície, favorecendo o acúmulo de placa bacteriana e a decorrente

doença periodontal. Além disso, as cavidades subgengivais normalmente se

estendem além do limite amelocementário, fato que representaria, na prática,

término de preparo sem a presença de esmalte (MOLINARO et al., 2002).

PREPARO CAVITÁRIO

Com as constantes evoluções ocorridas na odontologia nos últimos 30

anos e com o conhecimento dos fatores etiológicos e da sua atuação no

processo de cárie, até mesmo a decisão de restaurar pode ser tomada de

forma preventiva e conservadora. Assim sendo, a odontologia moderna não

concebe a remoção de esmalte hígido como forma de prevenção, como

preconizava BLACK no início do século XX, ou seja, o conceito de extensão

preventiva que consistia em estender o preparo até as áreas de relativa

imunidade à cárie, comprometendo todos os sulcos, cariados e não cariados

(TUNG et al., 2000). Portanto, se for inevitável a realização de um preparo

cavitário e uma restauração, com o aprimoramento de brocas e pontas

diamantadas mais eficientes e conservadoras e com a evolução dos materiais

odontológicos, principalmente no que se refere às técnicas de condicionamento

ácido do esmalte e dentina, bem como o surgimento de novos materiais que

permitem abordagens preventivas, como as resinas, os cimentos de ionômero

de vidro, e os adesivos dentinários, materiais que revolucionaram os conceitos

dos “preparos cavitários” e proteção do complexo dentino-pulpar, podemos e

devemos realizar procedimentos mais conservadores e biológicos para o

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tratamento das lesões cavitadas (MJÖR & MOORHEAD, 1998).

Se do ponto de vista dos pacientes a estética se constitui na principal

característica das resinas compostas, para nós, profissionais conhecedores

das limitações clínicas destes materiais, a adesividade e, principalmente, a

possibilidade de realizar preparos conservadores em função dessa

característica é, sem dúvida, a maior vantagem das resinas compostas como

materiais restauradores diretos.

Um preparo clássico para amálgama que envolva paredes laterais

paralelas entre si e perpendiculares a parede pulpar plana e com ângulos

internos vivos não corresponde às possibilidades e necessidades das resinas

compostas. O amálgama, por não ser adesivo, necessita de um preparo auto-

retentivo para que possa ficar retido à cavidade. Isto faz com que o profissional

freqüentemente desgaste remanescente dental íntegro para enquadrar o

preparo às necessidades do material restaurador.

Assim, muitos dentistas incorrem no erro de realizar o preparo cavitário

para resina composta como se o estivesse fazendo para o amálgama de prata,

fato que acarreta o desgaste excessivo da estrutura dental. Não obstante, as

resinas compostas, em função de limitações inerentes, necessitam artifícios

técnicos para aumentar a longevidade clínica, compensando, principalmente,

os efeitos deletérios decorrentes da contração de polimerização. Durante a

realização do preparo cavitário, inserção e polimerização da resina composta, o

clínico deve ter maior preocupação com as limitações do que, propriamente,

com as vantagens do material durante sua atuação clínica (REIS et al., 2003).

Os dois principais fatores determinantes da extensão do preparo

cavitário são a extensão da cárie em esmalte e dentina, e a relação oclusal

com o antagonista. Assim, aconselhamos que a primeira medida deva ser

instituída antes mesmo do início da remoção do tecido cariado com a

realização, por meio de um carbono fino e de dupla face, dos registros

oclusais em abertura e fechamento, lateralidade e látero-protrusiva. Em

seguida, aplicamos fina camada de adesivo dentinário (sem condicionamento

ácido) ou verniz cavitário para que, durante a realização do preparo em alta

rotação e sob refrigeração, as marcações fiquem mantidas, funcionando como

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um guia para que o clínico mantenha-se, sempre que possível, aquém dos

limites registrados.

Para o entendimento de algumas características do preparo cavitário é

fundamental lembrar que o escoamento é uma propriedade das resinas

compostas, que favorece a sua adaptação junto ás margens cavitárias,

possibilitando um alívio interno do estresse de contração. O escoamento vai

depender tanto das características da própria resina composta quanto das

características do preparo. Uma configuração cavitária com paredes laterais

convergentes para oclusal e ângulos internos arredondados favorece o

relaxamento da resina e possibilita menor desgaste de estrutura dental. Estas

são, portanto, características contrárias ao que se preconiza classicamente

para o amálgama de prata.

As características finais do preparo cavitário são: o término do preparo

deve, sempre que possível, ficar situado supragengivalmente; o esmalte deve

estar presente em toda a margem cavitária, e a não confecção do bisel

cavo superficial.

O bisel tem por objetivo reduzir a infiltração marginal e aumentar a

estética na linha de término. Contudo, nos dentes posteriores acabaria

aumentando a extensão da cavidade e, muito provavelmente, submetendo uma

fina camada de resina aos contatos oclusais. Além disso, sua realização na

caixa proximal de cavidades de classe II seria extremamente difícil sem que se

aumentasse excessivamente o desgaste dental. Ainda, a sua realização na

borda de esmalte da parede cervical fatalmente provocaria total remoção deste,

comprometendo o vedamento marginal da restauração (REIS et al., 2003).

A obtenção de uma restauração estética em dentes posteriores é,

indiscutivelmente, procedimento mais fácil de se alcançar do que em dentes

anteriores. Dos fatores que contribuem para isso, destacamos: diferença no

volume de esmalte e dentina entre as estruturas anteriores e posteriores;

incidência, reflexão e refração da luz diferentes entre os meios; características

anatômicas que aumentam a difusibilidade da luz, entre outras.

Em virtude dessas características, os fabricantes têm disponibilizado kits

de resinas posteriores com dois ou três matizes e saturações, o que simplifica

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muito a atuação do clínico. A Dentsply, por exemplo, fabricante da resina

SureFil disponibiliza três matizes, A, B e C, sem variação da saturação. Já a

3M, fabricante da resina Filtek P60, disponibiliza kits com as cores; A3, B2 e

C2.

Independentemente da resina composta ou técnica restauradora

adotada, a radiopacidade é questão fundamental para o controle da

reincidência de cárie, sendo que quanto mais radiopaca for a resina composta,

maior a facilidade de diagnóstico radiográfico da cárie dental, conhecidamente

de característica radiolúcida (Van MEERBEEK et al., 2003).

TÉCNICA DE INSERÇÃO DA RESINA COMPOSTA

Apesar da grande evolução dos sistemas adesivos e da própria resina

composta, nenhum deles ainda é capaz de evitar a formação de fendas

marginais decorrentes da contração de polimerização. Portanto, como a

contração de polimerização ainda é considerada inevitável, muitas técnicas de

inserção e polimerização têm sido adotadas com o intuito de compensar os

seus efeitos deletérios.

Desde o desenvolvimento das resinas compostas fotopolimerizáveis

discute-se sobre a maneira correta de inseri-las na cavidade. Inserção única ou

incremental; incremento horizontal, vertical ou oblíquo e espessura do

incremento, são os pontos de maior divergência entre os autores (LUTZ &

KREJCI, 1999).

Quanto maior a espessura do incremento, menor será a ativação dos

fotoiniciadores nas áreas mais profundas, podendo comprometer as

propriedades mecânicas da resina composta. Isto ocorre porque quando se

expõe a resina à fotoativação, os radicais livres dispostos na camada

superficial iniciam imediatamente a reação de polimerização. Como a

intensidade de luz vai sendo atenuada à medida que aumenta a profundidade

da restauração, a polimerização só se propaga até o limite de ativação dos

fotoiniciadores. Deve-se considerar ainda, que a presença de monômeros

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residuais nas áreas não atingidas pela luz pode comprometer, também, a

estabilidade de cor e a biocompatibilidade, em função da degradação do

monômero em ácido metacrilato e formaldeído (Peutzfeldt, 1997).

Por outro lado, a espessura do incremento pode influenciar a contração

de polimerização, visto que, incrementos mais espessos permanecem por mais

tempo na fase pré-gel, o que permitiria o escoamento do material, reduzindo a

contração de polimerização (ALSTER et al., 1997).

Para lidar com algumas dessas informações que são muitas vezes

antagônicas, embora algumas pesquisas mostrem resinas com incrementos de

4mm eficientemente polimerizadas e sem comprometimento da microdureza,

recomendamos ao clínico a adoção de incrementos de 2,5 e 3mm de

espessura, suficientemente fotopolimerizado por uma unidade fotoativadora

convencional com intensidade de luz entre 480 e 600 mW/cm2, sem

comprometimento das propriedades mecânicas do material.

A Jeneric Pentron, fabricante da resina ALERT, por exemplo, recomenda

a utilização de incrementos com 5mm de profundidade em função das

partículas filamentares e longas que favorecem a penetração da luz. Estudos

têm mostrado que a polimerização das camadas mais profundas não ocorre de

forma eficiente, comprometendo a longevidade da restauração.

Seguindo essa linha de raciocínio, o incremento único só deve ser

adotado em cavidades pequenas que não excedam 2,5 a 3mm de

profundidade.

CONFIGURAÇÃO CAVITÁRIA E A QUESTÃO DO FATOR - C

Um dado muito importante quando se fala em contração de

polimerização das resinas compostas, é o fator de configuração cavitária ou

fator-C. O fator-C relaciona a área das superfícies aderidas e não aderidas da

restauração, sendo que quanto maior a área das superfícies aderidas, maior o

estresse de contração. O aumento do estresse de contração leva ao

rompimento das ligações adesivas, comprometendo o vedamento marginal

(FEILZER et al., 1998; FEILZER et al., 1995). A preservação das ligações

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adesivas depende, primeiramente, da configuração tridimensional da cavidade,

sendo que as características cavitárias que facilitam o escoamento e

acomodação da resina, como a inclinação das paredes laterais, ângulos

internos arredondados e maior profundidade (espessura da resina), podem

contribuir para a obtenção de restaurações com maior longevidade clínica, em

função do alívio do estresse interno de contração e da preservação da

integridade marginal. Logo, a contração de polimerização será tanto menor,

quanto menor for o fator-C. Nota-se também, a alta correlação entre a largura

da fenda marginal e a proporção de superfícies livres. Quanto menor for o

número de superfícies livres, maior será a largura da fenda marginal, indicando

que o estresse de contração foi maior.

Em síntese, quanto maior o valor do fator-C, menor a possibilidade de

escoamento da resina e, conseqüentemente, maior o estresse desenvolvido

durante a contração de polimerização. Tomando como exemplo uma cavidade

de classe I oclusal preenchida em incremento único, teríamos 5 paredes

aderidas (vestibular, Lingual ou palatina, mesial, distal e pulpar) e uma parede

livre, a oclusal. Nesta condição, encontramos um valor de fator-C igual a cinco

e com grande tensão interna. Já em uma cavidade de classe IV, o fator-C é

baixo, em torno de 1, facilitando a adaptação da resina e aliviando o estresse

de contração.

Portanto, nas situações com altos valores de fator C, como as cavidades

de classes I e V, o clínico necessita de algumas alternativas que possam

compensar o elevado estresse interno de contração.

Recomenda-se, atualmente, a reconstrução por cúspides, promovendo a

inserção e polimerização da resina composta em incrementos de 2,5 a 3mm

envolvendo o menor número possível de paredes cavitárias. Além de

possibilitar um maior controle da contração de polimerização, esta técnica

permite a reconstrução anatômica com menos excesso. O ajuste da relação

oclusal, quase sempre inevitável, mesmo nestes casos, se torna procedimento

menos abrasivo e localizado, importante para a obtenção de uma restauração

com maior lisura e preservação da integridade marginal.

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RELAÇÃO DE CONTATO INTERPROXIMAL

A obtenção de uma restauração com qualidade estética semelhante ao

dente natural quanto à reprodução dos detalhes anatômicos e da cor, talvez

seja, para o clínico recém-formado, o maior desafio em restaurações diretas

em dentes posteriores. À medida que o profissional adquire experiência,

aprimora os seus conhecimentos e se adapta aos materiais e técnicas, os

desafios iniciais vão sendo superados e o restabelecimento da relação de

contato interproximal em restaurações de classe II talvez seja, a maior

dificuldade da técnica (LEINFELDER et al., 1996).

Independentemente do material restaurador direto a ser utilizado em

cavidades de classe II, o primeiro passo para o restabelecimento da relação

interproximal é a montagem eficiente do sistema matriz/cunha. A matriz,

metálica ou plástica, dependendo da técnica e do material restaurador, deve

ser delgada, flexível e com contorno que possibilite a remodelação anatômica

da face proximal. As tiras matrizes circunferenciais de 5 e 7 mm não são as

mais recomendadas em função da diferença de contorno anatômico entre os

terços cervical, médio e oclusal do dente. As tiras matrizes em forma de

bumerangue são as mais indicadas, pois, promovem a constrição da região

cervical e abrem em direção oclusal, favorecendo a reconstrução anatômica do

dente. Além destas, os sistemas de matrizes individuais Unimatrix (TDV) têm

sido indicadas devido à praticidade e eficiência no restabelecimento anatômico

e da relação interproximal. Nestes sistemas, um anel metálico promove a

fixação da matriz e, ainda, afasta ligeiramente os dentes compensando a

espessura da matriz. A cunha, refletora ou de madeira, tem como principal

objetivo, pressionar a matriz contra o dente na região cervical, evitando o

extravasamento de material restaurador para o periodonto. Além disso, a cunha

bem posicionada na região cervical afasta ligeiramente os dentes e, assim

como o anel metálico no caso do sistema Unimatrix ou Palodent, compensa a

espessura da matriz, facilitando a obtenção do ponto de contato proximal.

Já destacamos que as resinas compostas, na realidade, não podem ser

consideradas condensáveis. Na maioria dos casos, elas não exercem pressão

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suficiente contra a matriz de modo a compensar a sua espessura e possibilitar

um contato interproximal satisfatório. Contudo, as resinas compactáveis

densas como ALERT (Jeneric Pentron) e SureFil (Dentsply), possibilitam a

obtenção de uma relação de contato interproximal mais satisfatória, quando

comparadas às resinas consideradas de média ou baixa densidade

(PEUMANS et al., 2001).

Algumas técnicas têm sido utilizadas como medida adicional para o

restabelecimento da relação de contato interproximal. Dentre elas, a

polimerização sob compressão do incremento de resina colocado na caixa

proximal é o método mais simples e mais utilizado. Com um condensador

apropriado, deve-se pressionar a resina contra a matriz, enquanto realiza-se a

fotopolimerização do incremento. Com isso, uma pequena parede de resina

composta é formada, mantendo a matriz pressionada contra o dente vizinho.

Quando a restauração é concluída e o sistema matriz/cunha é removido, a

relação de contato interproximal fica restabelecida.

O mesmo objetivo pode ser alcançado com outros métodos como a

aplicação de uma porção pré-polimerizada de resina entre a parede axial da

caixa proximal e a matriz, mantendo-a pressionada contra o dente vizinho.

Porém, esta técnica é pouco empregada em função da dificuldade de

selecionar um incremento de resina que se adapte exatamente à caixa

proximal e ainda exerça pressão entre a parede axial e a matriz.

Os chamados “Inserts” de resina ou porcelana podem ser aplicados

na caixa proximal com o mesmo objetivo, entretanto, também é uma técnica

pouco utilizada em função da maior complexidade e gasto.

Um método bastante eficiente e relativamente simples de se

restabelecer o contato interproximal envolve o uso espátulas especiais como

a Contact Pro 1 e 2.

ACABAMENTO E POLIMENTO

O acabamento e o polimento das restaurações com resinas compostas

têm por objetivo não só devolver a estética ao elemento dentário como também

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restabelecer o contorno anatômico e reproduzir a textura da superfície à

semelhança do dente íntegro (KANCA III, 1995).

Portanto, a realização dos procedimentos de acabamento e polimento de

restaurações de dentes posteriores com resinas compostas constitui-se em

etapa fundamental para a finalização das restaurações, visto que, qualquer

descuido ou erro de técnica nesse momento, pode incorrer em restaurações

com rugosidade excessiva de superfície, além de poros e falhas que

comprometem o vedamento marginal e favorecem o manchamento e a

ocorrência de cáries secundárias. Superfícies ásperas aumentam, ainda, o

desenvolvimento de doenças periodontais por induzirem ao acúmulo de placa

bacteriana.

Os procedimentos de acabamento e polimento resultam em diferentes

graus de rugosidade superficial, as quais variam com a forma, tamanho,

composição e distribuição das partículas inorgânicas do material restaurador e

a grande variedade de instrumentos de acabamento que podem ser utilizados.

Como descrevemos anteriormente, as resinas compactáveis apresentam

maior quantidade de partículas inorgânicas em relação às resinas de uso

universal devido à exigência mecânica a que estão sujeitos os dentes

posteriores. Entretanto, as partículas que conferem às resinas compactáveis

maior resistência mecânica, comprometem a lisura superficial, principalmente

após ajuste oclusal e técnica de acabamento e polimento. Embora seja

praticamente impossível a realização de uma escultura em dente posterior sem

que nenhum acabamento seja necessário, a definição da escultura antes da

polimerização com instrumentos apropriados facilita e orienta o ajuste oclusal,

além de torná-lo menos invasivo e abrasivo (OZGUNALTAY et al., 2003).

Quando o desgaste for inevitável, deve ser realizado de forma localizada

e com pontas pouco abrasivas. As brocas com 30 ou 40 lâminas são as mais

indicadas.

O polimento deve ser realizado, preferencialmente, após 24 horas,

período de hidratação e absorção de água pelas resinas compostas, com

pontas siliconizadas seguidas de disco de feltro e pasta diamantada.

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SELAMENTO DE SUPERFÍCIE

Quando realizamos uma restauração estética em dentes posteriores,

deixamos uma superfície irregular e com micro-trincas devido ao estresse de

contração de polimerização e dos procedimentos de acabamento e polimento.

Esses defeitos podem ser minimizados com a aplicação de um selante

de superfície, resina de alta fluidez que penetra nas irregularidades,

melhorando a qualidade superficial das restaurações. Os primeiros autores que

propuseram este selamento foram Dickinson et al., 1993, com a expectativa

que a técnica produzisse uma superfície lisa, regular e que não representasse

nicho de retenção para a placa bacteriana. Foram realizadas 62 restaurações

com a resina Bisfill. Metade das restaurações receberam apenas o polimento

superficial. A outra metade, recebeu polimento e a aplicação do selante de

superfície. Os autores constataram que além destes benefícios já

mencionados, a aplicação do selante de superfície diminui o desgaste médio

anual das resinas, aumentando a qualidade e a longevidade das restaurações.

Para que o selamento seja efetivo, é importante que esta resina com carga e

de baixa viscosidade seja fotopolimerizável, mesmo na presença do oxigênio,

garantido a uniformidade e regularidade da superfície. A técnica é simples e

deve ser realizada com isolamento relativo, após o polimento das restaurações

posteriores. Aplica-se o condicionamento ácido da área restaurada por 10 a 15

segundos para limpeza da superfície. Após lavagem e secagem, o selante é

aplicado sobre a região com auxílio de um pincel ou microbrush em fina

camada e sem jato de ar. Em seguida realiza-se a fotopolimerização e, com um

explorador, confere-se a regularidade da superfície.

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