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Caso Clínico
100 Rev Dental Press Estét. 2011 jul-set;8(3):100-6
* Doutoranda em Dentística, Departamento de Dentística, Endodontia e Materiais Dentários, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo.
** Professor Adjunto em Dentística da Universidade Paranaense, Cascavel / PR.
*** Professora Adjunta em Dentística, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Cascavel / PR.
**** Cirurgiã-dentista, graduada pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Cascavel / PR.
***** Professor Associado, Departamento de Dentística, Endodontia e Materiais Dentários, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo.
****** Professor Titular, Departamento de Dentística, Endodontia e Materiais Dentários, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo.
101Rev Dental Press Estét. 2011 jul-set;8(3):100-6
Flavia Pardo salata NAHsAN*, Wagner BAseggiO**, Vera Lucia sCHMiTT***, Carolina schmitt WALkeR****, Rafael Francisco Lia MONDeLLi*****, eduardo Batista FRANCO******
Seleção de cor e estratificação natural para reabilitação estética de dente anterior
Color selection and natural layering for aesthetic reproduction of anterior teeth
Resumo
Em função da excelência em estética e desgaste mínimo da
estrutura dentária, as resinas compostas ocupam uma po-
sição de destaque entre os materiais restauradores atuais.
As novas resinas compostas associadas ao melhor enten-
dimento do comportamento dos tecidos dentários frente à
incidência da luz permitem a estratificação natural dos den-
tes. A estratificação natural consiste em uma abordagem
simples e efetiva para o emprego das resinas compostas nas
restaurações, de modo a torná-las miméticas com a apa-
rência natural do substrato dentário. Compreender e imple-
mentar princípios artísticos e científicos na escolha da cor
dos materiais restauradores e a adequada inserção da resina
composta, contudo, é imprescindível. Os passos operatórios
para obter o sucesso restaurador com esse material serão
descritos no relato do caso clínico.
Abstract
Because of the excellence in aesthetics and minimal wear
of the tooth structure, composite resins hold a prominent
position among the current restorative materials. The
new composite resins associated with better understand-
ing of the behavior of dental tissues facing the incidence
of light allows the natural stratification of teeth. This
natural stratification consists of a simple and effective
approach to the use of composite resins in restoration in
order to make them mimetic with the natural appearance
of the tooth substrate. Understanding and to implement-
ing scientific and artistic principles in choosing the color
of restorative materials and the proper insertion of the
composite, however, is essential. The operative steps for
success with this restorative material will be described in
a clinical case report.
Keywords: Esthetics. Color. Composite resins.Palavras-chave: Estética. Cor. Resinas compostas.
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Seleção de cor e estratificação natural para reabilitação estética de dente anterior
INTRODUÇÃO
As resinas compostas exibem, na atualidade, uma
variedade expressiva de cores e efeitos, são de fácil
inserção e manipulação e permitem o restabelecimen-
to de detalhes específicos e individualizados existentes
na dentição natural, de forma esteticamente satisfató-
ria e praticamente imperceptível à visão humana3,4,9,12.
A intervenção minimamente invasiva e a restaura-
ção com resinas compostas de inserção direta propor-
cionam o restabelecimento da função, forma e estética
do dente afetado.
O melhor entendimento das características ine-
rentes aos tecidos dentários frente à incidência da luz,
associado ao aprimoramento das técnicas restaurado-
ras, permite uma abordagem mais artística, possibili-
tando que a cor seja manipulada em cada incremento
de resina composta, resultando em restaurações vívi-
das e com aspectos extremamente naturais6,11.
O presente artigo descreve, através do relato de um
caso clínico, conceitos relativos à seleção das cores e
das resinas compostas, bem como aspectos técnicos
para a reprodução da anatomia do dente anterior, dis-
cutindo estratégias clínicas que culminam em restaura-
ções imperceptíveis.
RELATO DE CASO E DISCUSSÃO
Paciente do sexo feminino, 18 anos de idade, com-
pareceu à clínica de Odontologia da Faculdade de
Odontologia de Bauru com dente anterior fraturado
(Fig. 1) em função de troca da restauração dos dentes
11 e 21, anteriormente fraturados por uma queda. A
troca da restauração e a reabilitação funcional e estéti-
ca foram realizadas com resina composta (Fig. 1).
Certamente, reproduzir artificialmente todas as ca-
racterísticas intrínsecas ao elemento dentário fratura-
do, que lhe conferem o policromatismo, nem sempre
é uma tarefa simples. O clínico deve possuir sensibili-
dade artística para identificar os detalhes e definir as
diferentes dimensões da cor presentes no dente.
Esmalte e dentina estão intimamente relacionados
na interação com a luz. O esmalte modula o croma e o
valor do matiz dado pela dentina ao dente, em função
da sua espessura. Onde a espessura de esmalte é me-
nor, como no terço cervical dos dentes, a região apre-
senta-se mais escurecida — quando comparado aos
terços médio e incisal —, justamente pela cor conferida
pela dentina estar menos sujeita à modulação pelo es-
malte, sendo mais facilmente percebida. Essa deve ser
a região de eleição para a seleção do matiz do dente.
Com o aumento da espessura do esmalte em direção
ao terço médio, há uma diminuição progressiva da in-
tensidade ou do croma da cor. O matiz permanece o
mesmo, todavia, a maior espessura de esmalte interfere
na sua percepção, conferindo-lhe um aspecto menos
saturado. Dessa maneira, o matiz de um dente é dado
pela dentina e influenciado pela espessura do esmalte1.
A água desempenha um papel fundamental no resul-
tado final da cor. A desidratação do esmalte reduz sua
translucidez em 82%, conduzindo o clínico a selecionar
uma cor de resina mais clara e opaca do que a cor natural
do dente. Como os índices de refração da luz na água
(1,33) e no ar (1,0) são diferentes, ao secar o esmalte a
água evapora, o ar ocupa o espaço interprismático e a
percepção visual é de um dente mais claro e opaco2.
Figura 1 - Aspecto clínico inicial.
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Nahsan FPS, Baseggio W, Schmitt VL, Walker CS, Mondelli RFL, Franco EB
A seleção das cores deve ser feita em dente limpo
e com a umidade natural da cavidade bucal, tendo o
dente homólogo hígido como referência. A opção pela
seleção de cor no dente homólogo hígido é interessan-
te, uma vez que esse se apresenta com o policromatis-
mo natural, guiando o profissional na reprodução das
cores no dente a ser restaurado.
Matiz, croma e valor são três dimensões que
têm sido estudadas em Odontologia8,15. Matiz é o
nome fundamental da cor, como o amarelo, verme-
lho ou azul. Em Odontologia, os matizes são repre-
sentados por letras identificadas nas bisnagas das
resinas (A, B, C e D). Croma é o grau de saturação
ou a intensidade do matiz, como azul claro, azul
escuro, sendo representados na Odontologia por
números, em que a ordem numérica apresenta-se
em ordem crescente de saturação. O valor, por sua
vez, representa a dimensão mais dinâmica dos cor-
pos e corresponde à luminosidade da cor, relacio-
nando-se com a quantidade de pigmentos brancos
ou pretos existentes6,14.
Para realizar a seleção das cores, faz-se a inserção
de pequenos incrementos de resina composta dire-
tamente na superfície do dente a ser restaurado, os
quais são fotoativados, umedecidos na própria saliva
da cavidade bucal e avaliados em relação à similari-
dade da cor, traduzindo-se em uma técnica simples e
eficaz (Fig. 2). Para isso, deve-se procurar identificar as
resinas que melhor reproduzem o dente em todas as
suas características, determinando as sutilezas exis-
tentes, bem como os detalhes dos diferentes terços
do dente, em especial na região incisal13,14.
Estabelecidas quais cores e resinas serão utiliza-
das, deve-se registrá-las em um desenho esquemáti-
co, denominado mapa policromático do dente. Após
o isolamento absoluto do campo operatório, o mapa
policromático guiará o profissional no local onde cada
tipo, bem como cada cor, de resina deverá ser aplica-
do na restauração.
O restabelecimento do esmalte palatino pode ser
feito diretamente com o auxílio de guias personaliza-
dos de silicona (Fig. 3), que incorporam vantagens ao
procedimento restaurador, como: espessura corre-
ta do incremento da resina composta; transpor, para
o elemento dentário a ser restaurado, as dimensões
harmônicas cervicoincisal e mesiodistal idealizadas
no enceramento; facilidade técnica na mimetização
da região incisal; prover suporte para fazer o esmalte
palatino perdido; possibilidade da visualização das di-
mensões finais do dente (largura e comprimento)1,6,10.
Figura 2 - Seleção de cores, efetuada com o dente limpo e umidade natural da cavidade bucal, procurando identificar as sutilezas e nu-anças de cor existentes em cada região do dente.
Figura 3 - Guia de silicona em posição, demonstrando as dimen-sões finais cervicoincisal e mesiodistal dos dentes.
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Seleção de cor e estratificação natural para reabilitação estética de dente anterior
A reprodução do esmalte deve ser efetuada com
uma resina composta que apresente características
de translucidez, para atingir características naturais
dos tecidos dentários1,10 (Fig. 4). Frequentemente, a
cor utilizada para o esmalte é correspondente com a
cor da dentina. Entretanto, isso não se constitui em
regra, podendo haver variações nesse croma, em
função da espessura e características individuais do
esmalte. Dentes jovens apresentam-se naturalmen-
te com alto valor e requerem resinas que apresen-
tem essa característica. Existem no mercado resinas
compostas específicas para esmalte e para dentina, e
cores para reproduzir efeitos como manchas hipocal-
cificadas, halo incisal translúcido e o valor.
Nos dentes naturais, há uma redução progressiva do
croma da região cervical para a incisal. A reprodução da
dentina deve ser efetuada com uma resina composta
que apresente características de opacidade (Fig. 5, 6).
Essas diferenças devem ser reproduzidas a fim de se al-
cançar o aspecto harmonioso e natural da restauração.
Além disso, a inserção correta da espessura de cada
camada é imprescindível para o êxito estético restaura-
dor, o que confere naturalidade à estratificação.
Na reprodução da dentina artificial situada mais ex-
Figura 4 - Inserção de resina composta translúcida para reproduzir o esmalte palatino artificial.
Figura 5 - Reprodução da dentina artificial, com característica opaca e maior saturação.
ternamente, ou seja, mais próxima à junção ameloden-
tinária, o matiz e croma selecionados na região cervical
devem ser utilizados8,11 (Fig. 6). Nesse momento, a re-
sina deve ser direcionada levemente aquém do ângulo
cavossuperficial, de forma a mascarar a linha de união
dente/restauração. O emprego de resinas com a pro-
priedade óptica de fluorescência é bastante favorável
nessa etapa. As substâncias fluorescentes presentes
nas resinas absorvem a radiação ultravioleta, invisível
para o olho humano, e irradiam luz visível.
A ausência de resina para dentina na região do
halo incisal (Fig. 6), ou a aplicação de uma resina com
característica opaca e translúcida, pode ser empre-
gada para reproduzir essa região.
Para a restituição do esmalte vestibular, a resina
composta selecionada deve ser inserida em um único
incremento, visando minimizar a ocorrência de linhas
de união na face vestibular da restauração (Fig. 7).
O acabamento e o polimento devem ser realizados
com discos de lixa abrasivos, pontas de borracha e
disco de feltro associado a pasta diamantada. Caso
seja necessário, asperização para caracterizar a textu-
ra superficial vestibular pode ser realizada com o uso
de pontas diamantadas em baixa rotação.
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Nahsan FPS, Baseggio W, Schmitt VL, Walker CS, Mondelli RFL, Franco EB
Figura 6 - Reprodução da dentina localizada mais externamente, com característica opaca e menor saturação, para reproduzir o progressivo decréscimo do croma da região interna para a externa do dente.
Figura 7 - Aplicação de uma fina camada (0,5mm) da resina para esmalte sobre as demais cores, reproduzindo o esmalte vestibular.
A estética final é alcançada após a realização de
todos os passos operatórios, com caracterização de
todos os detalhes do elemento dentário. A durabilida-
Figura 8 - Resultado estético final, após repolimento (controle clínico de 2 anos).
de clínica da restauração está intimamente relacionada
com a higiene bucal, como pode-se observar no con-
trole clínico de 2 anos (Fig. 8).
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Seleção de cor e estratifi cação natural para reabilitação estética de dente anterior
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REFERêNCIAS
Flavia Pardo Salata Nahsan Alameda Octávio Pinheiro Brisolla, 9-75CEP: 17.012-901 – Bauru / SPE-mail: fl [email protected]
Endereço para correspondência
CONCLUSÃO
A realização de uma técnica padronizada que per-
mita a reprodução do esmalte e dentina separadamen-
te, associada ao conhecimento das características
ópticas da resina empregada, proporciona resultados
clínicos estéticos previsíveis.
Enviado em: 15/03/2011Revisado e aceito: 19/03/2011
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