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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 9 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Luís Henrique Araújo Raposo Letícia Resende Davi Paulo Cézar Simamoto Júnior Flávio Domingues das Neves Paulo Vinícius Soares Veridiana Rezende Novais Simamoto Alexandre Coelho Machado Analice Giovani Pereira Paulo Sérgio Borella INTRODUÇÃO O crescente interesse por um padrão estético harmonioso do sorriso e a necessidade de se empregarem materiais restauradores de excelente qualidade foram determinantes no de- senvolvimento de inúmeras aplicações clínicas para os materiais cerâmicos. 1 As cerâmicas odontológicas são caracterizadas por estruturas inorgânicas não me- tálicas compostas de oxigênio com um ou mais elementos metálicos ou semimetá- licos associados. 2 A busca por um sorriso estético e o contínuo avanço nas propriedades dos materiais restau- radores odontológicos resultaram em significativo aumento nas indicações de restaurações em cerâmica pura devido às características de cor, textura e resistência desse material. Além

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 9

RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Luís Henrique Araújo Raposo Letícia Resende Davi Paulo Cézar Simamoto Júnior Flávio Domingues das Neves Paulo Vinícius Soares Veridiana Rezende Novais Simamoto Alexandre Coelho Machado Analice Giovani Pereira Paulo Sérgio Borella

INTRODUÇÃOO crescente interesse por um padrão estético harmonioso do sorriso e a necessidade de se empregarem materiais restauradores de excelente qualidade foram determinantes no de-senvolvimento de inúmeras aplicações clínicas para os materiais cerâmicos.1

As cerâmicas odontológicas são caracterizadas por estruturas inorgânicas não me-tálicas compostas de oxigênio com um ou mais elementos metálicos ou semimetá-licos associados.2

A busca por um sorriso estético e o contínuo avanço nas propriedades dos materiais restau-radores odontológicos resultaram em significativo aumento nas indicações de restaurações em cerâmica pura devido às características de cor, textura e resistência desse material. Além

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de se assemelharem ao esmalte dentário por suas propriedades mecânicas, ópticas e estabi-lidade química, as cerâmicas odontológicas têm:3, 4

§ estabilidade de cor;§ alta resistência e durabilidade;§ excelente lisura superficial;§ resistência à abrasão;§ baixo acúmulo de placa bacteriana;§ coeficiente de expansão térmica; § rigidez compatíveis com as estruturas dentais.

A associação dessas características faz com que os materiais cerâmicos proporcionem exce-lente estética, função e durabilidade quando bem indicados.

Após décadas de evolução, a Odontologia contemporânea tem empregado cada vez mais procedimentos restauradores conservadores (minimamente invasivos), que incluem os pro-cedimentos indiretos, não sendo mais preponderantes preparos extensos objetivando ape-nas a criação de macrorretenções.1 Tais procedimentos conservadores são dependentes de adequada adesão entre os materiais restauradores e os substratos dentários, e a possibilida-de de empregá-los deve-se principalmente à melhoria dos materiais resinosos poliméricos, como: 5

§ adesivos;§ cimentos; § resinas compostas.

A possibilidade de fixação adesiva dos materiais restauradores cerâmicos aos tecidos dentais associada com o sucesso estético de restaurações livres de infraestrutura metálica impulsio-nou avanços no desenvolvimento e na fabricação das cerâmicas odontológicas. Isso resultou em implementações que permitiram melhores propriedades mecânicas, como o aumento da resistência à fratura desses materiais.6-8

Tal ganho de resistência nos materiais cerâmicos deu-se principalmente com a modificação e/ou o aumento do conteúdo cristalino nesses materiais e também com os avanços obtidos nas formas de processamento, o que tem possibilitado maior número de aplicações clínicas para esses materiais, que são, atualmente, empregados na confecção de infraestruturas para determinados tipos de próteses fixas em substituição às estruturas metálicas.9

O potencial estético e a biocompatibilidade das cerâmicas podem ser considerados únicos dentre os materiais restauradores odontológicos. Apesar de apresentarem inúmeras vantagens, as cerâmicas são materiais frágeis, com baixa tolerância a ten-sões de tração e cisalhamento, estando suscetíveis à formação e à propagação de trincas por serem friáveis e de baixa resistência ao impacto. Portanto, o sucesso do tratamento restaurador com restaurações cerâmicas é dependente de adequado planejamento, sendo de extrema importância o conhecimento das propriedades desses materiais para sua correta indicação e aplicação.10

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Para obtenção de desempenho adequado do procedimento restaurador com restaurações totalmente cerâmicas, deve-se ter associação de resistência da restauração e estética satis-fatória. Esses fatores são dependentes de planejamento minucioso que deve ser conduzido envolvendo as seguintes etapas, condicionadas de acordo com cada condição clínica e de-manda estética:§ escolha do sistema cerâmico adequado;§ extensão e forma do preparo no substrato dentário (esmalte e/ou dentina);§ tratamento de superfície da restauração cerâmica (de acordo com o material); § procedimentos de fixação (sistemas adesivos, cimentos resinosos etc.).

OBJETIVOSApós a leitura deste artigo, o leitor poderá:§ conhecer a importância das cerâmicas na odontologia contemporânea, bem com seu

histórico;§ compreender, com embasamento científico, as técnicas que envolvem as restaura-

ções totalmente cerâmicas;§ identificar as diferentes aplicações possíveis das restaurações totalmente cerâmicas;§ distinguir as singularidades dos sistemas cerâmicos disponíveis, com base em ele-

mentos como composição química, classificação e longevidade;§ empregar os fatores determinantes no sucesso dos procedimentos restauradores, tais

como o planejamento minucioso, a correta seleção do sistema cerâmico e a forma de processamento do material;

§ aplicar restaurações totalmente cerâmicas na prática clínica.

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12 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

ESQUEMA CONCEITUAL

HISTÓRICO DAS CERÂMICAS

A origem da palavra cerâmica é derivada do grego Keramos e significa matéria assada ou pertinente à olaria.11 Entretanto, o termo porcelana também é aceito para designa-ção das cerâmicas odontológicas do tipo feldspáticas.

Desde os tempos antigos, a porcelana é utilizada na confecção de louças e utensílios, com registros que datam de 2300 anos A.C. Com o passar dos anos, houve contínuo desenvol-vimento e aumento das aplicações da cerâmica em variados campos, conforme pode ser acompanhado pela linha do tempo, a seguir.

Histórico das cerâmicas

Composição química das cerâmicas

Tipos de cerâmicas

Conteúdo das cerâmicas

Cerâmicas aluminizadas

Cerâmicas infiltradas por vidro

Cerâmicas reforçadas por leucita

Cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio

Cerâmicas com alto conteúdo de cristais

Indicação clínica

Formas de processamento

Temperatura de sinterização

Preparos protéticos

Longevidade – restaurações totalmente cerâmicas

Protocolos para tratamento de superfície e fixação

Casos clínicos

Conclusão

Classificação das cerâmicas

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14 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Seguindo a evolução dos materiais restauradores, diversos sistemas cerâmicos inovadores foram introduzidos no mercado entre final do século passado e o início deste século, a fim de possibilitar a confecção de restaurações totalmente cerâmicas com maior confiabilida-de. Além disso, a implementação dos materiais resinosos, como adesivos e cimentos, e a introdução do agente de união bifuncional (Silano) para promover a união química entre os materiais restauradores foram fatores determinantes na melhora da resistência de união e, por consequência, da longevidade das restaurações em cerâmica pura.16,17

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DAS CERÂMICASAs cerâmicas odontológicas são fundamentalmente estruturas inorgânicas, constituídas pri-mariamente por oxigênio (O) com um ou mais elementos metálicos ou semimetálicos, tais como (Figura 1): 2

§ alumínio (Al);§ boro (B);§ cálcio (Ca);§ cério (Ce);§ lítio (Li);§ magnésio (Mg);§ fósforo (P);§ potássio (K);§ silício (Si);§ sódio (Na);§ titânio (Ti); § zircônio (Zr).

Figura 1 – Diagrama de fases terciário identificando a composição básica das porcelanas (cerâmicas) odon-tológicas.Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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As cerâmicas utilizadas na odontologia podem ser basicamente caracterizadas por duas fases: uma matriz cristalina circundada por uma fase vítrea de silicato.2

A porção vítrea das cerâmicas é caracterizada por cadeias de tetraedros de (SiO4)4-,

em que cátions de Si4+ estão posicionados no centro de cada tetraedro com ânions O- em cada um dos cantos, resultando tanto em ligações covalentes quanto em iônicas. Essa porção Si/O é que define a viscosidade e a expansão térmica do ma-terial. A matriz vítrea é responsável pelas propriedades ópticas do material, como a translucidez. A presença de óxidos metálicos, inseridos em menor quantidade, reforça a fase vítrea e interfere na cor das cerâmicas. Já a fase cristalina relaciona--se com as propriedades mecânicas (resistência e isolamento) e também com as ópticas, de acordo com a quantidade de cristais e natureza da composição.

A composição das porcelanas é relevante para definir as suas aplicações, sejam elas artísticas ou com indicações odontológicas, e a quantidade de feldspato, caulim e quartzo define a utilização das porcelanas/cerâmicas.

As cerâmicas empregadas em procedimentos restauradores odontológicos apre-sentam maior conteúdo de feldspato, seguido por quartzo, o que acarreta um excelente resultado estético devido às suas propriedades óticas. Já as porcelanas utilizadas para confecção de trabalhos culturais e dispositivos domésticos além de apresentarem feldspato, apresentam um equilíbrio entre a quantidade de quartzo e caulim.

O grés porcelânico e a argila, por sua vez, têm reduzida quantidade de feldspato e maior quantidade de caulim e quartzo (Figuras 2 e 3).

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16 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Figura 2 – Diagrama de fases terciário localizando as cerâmicas odontológicas e materiais de uso geral de acordo com a quantidade de feldspato, caulim e quartzo.Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 3 – Exemplos de aplicações das porcelanas/cerâmicas.Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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1. Qual componente adicionado às cerâmicas feldspáticas possibilitou sua utilização como material de cobertura sobre ligas metálicas (compatibilidade entre os coeficientes de expansão térmica dos dois materiais)?

A) Alumínio.B) Leucita.C) Paládio.D) Dissilicato de lítio.

Resposta no final do artigo

2. Qual foi a consequência das oscilações econômicas ocorridas na década de 1970 e da variação nos preços dos metais nobres nas infraestruturas de próteses fixas?

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3. Qual era o objetivo dos novos sistemas cerâmicos introduzidos no mercado nas décadas de 1970-1980?

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4. Em relação aos sistemas cerâmicos introduzidos no mercado entre final do século passa-do e início deste século, quais foram os fatores determinantes na melhora da resistência de união química entre os materiais restauradores?

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5. O que define a viscosidade e a expansão térmica das cerâmicas utilizadas na odontologia?

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6. Como a porção vítrea das cerâmicas é caracterizada?

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7. Qual é a importância da composição das porcelanas?

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CLASSIFICAÇÃO DAS CERÂMICASAtualmente, existem variadas classificações sendo empregadas na tentativa de se dividir as cerâmicas odontológicas em diferentes categorias. Serão apresentados na sequência alguns dos tipos de classificação mais comumente utilizados, que dividem as cerâmicas odontoló-gicas quanto a:§ tipo;§ conteúdo;§ indicação clínica;§ temperatura de sinterização.

TIPOS DE CERÂMICAS

As cerâmicas odontológicas podem ser divididas basicamente, quanto ao tipo, em:§ cerâmicas convencionais: feldspáticas; e§ cerâmicas reforçadas: leucita, dissilicato de lítio, spinel, alumina, zircônia etc.

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A cerâmica feldspática foi a primeira a ser utilizada na odontologia, sendo essencialmente uma mistura de feldspato de potássio (K2OAl2O36SiO2) ou feldspato de sódio (Na2OAl2O36SiO2) com quartzo (SiO2).

O feldspato é um mineral cristalino e cinza, facilmente encontrado na natureza.

A composição usual da cerâmica feldspática está descrita na Tabela 1, a seguir.

Tabela 1COMPOSIÇÃO DA CERÂMICA FELDSPÁTICA

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Alumina 17%

Óxido de Boro 7%

Potássio 7%

Sódio 4%

Outros óxidos 2%

Quando o feldspato, na forma coletada da natureza, é aquecido a temperaturas entre 1200-1250ºC, ocorre a sua decomposição e, posteriormente, será desencadeada a fusão incon-gruente. Essa reação propiciará formação de uma estrutura amorfa (vidro líquido) e de uma fase cristalina constituída de leucita (K2OAl2O34SiO2).

Após o resfriamento brusco da massa fundida, ocorre a manutenção do estado vítreo, cons-tituído basicamente por sílica (SiO2). A alumina (Al2O3) é acrescentada à composição das cerâmicas feldspáticas para, junto com outros óxidos metálicos (como ferro, níquel, cobre, titânio, manganês, cobalto e estanho), promoverem a pigmentação e opacidade necessárias para o mimetismo das cores dos dentes naturais.2

A leucita também está presente nas cerâmicas feldspáticas e é relacionada à quantidade de feldspato de potássio. É utilizada em associação com outros óxidos como forma de se con-trolar o coeficiente de expansão térmica, tornando-o semelhante ao do material da infraes-trutura, minimizando o estresse térmico residual. De acordo com sua composição, podem ser utilizadas como material de recobrimento de infraestruturas metálicas ou cerâmicas de diversos tipos (camada de opaco, corpo de dentina, dentina gengival, esmalte e esmalte

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incisal), além de ser utilizada também em restaurações totalmente cerâmicas, como inlays, onlays, facetas laminadas e coroas totais, apesar das limitações para o último caso.

As porcelanas feldspáticas apresentam translucidez e coeficiente de expansão térmica seme-lhante aos dos dentes; são resistentes à compressão e à degradação hidrolítica promovida pelos fluidos orais, além de não possuírem potencial corrosivo. No entanto, apresentam baixa resistência à tração e flexão (60MPa) e elevada dureza (Figura 4).12

Figura 4 – Coroa total em cerâmica feldspática.Fonte: Prado & Neves Odontologia.

Por ser um material friável, as cerâmicas apresentam limitada capacidade de dissipação de tensões, sendo estas acumuladas nas extremidades, nos ângulos e nas fendas da restaura-ção. As cerâmicas têm limitada capacidade de deformação quando são submetidas a forças que tendem a flexioná-las devido ao alto módulo de elasticidade. Assim, as tensões tendem a ser acumuladas no próprio material e, caso haja a presença de fendas, pode ocorrer pro-pagação destas, levando à fratura da cerâmica.

Com base no princípio de que quanto maior a quantidade de matriz cristalina, maior a resis-tência da cerâmica, foram então propostas as cerâmicas reforçadas, que apresentam maior proporção de fase cristalina quando comparadas com as cerâmicas convencionais. Cristais de leucita, dissilicato de lítio, alumina, spinel e zircônia são os mais comumente emprega-dos para atuarem como agentes de reforço da fase cristalina, diminuindo a propagação de trincas nas cerâmicas quando submetidas a tensões de tração, o que aumenta, desta forma, a sua resistência.2,12

CONTEÚDO DAS CERÂMICAS

As cerâmicas odontológicas podem ser também classificadas, quanto ao seu conteúdo, em:§ cerâmicas vítreas: feldspáticas, leucita e dissilicato de lítio; § cerâmicas cristalinas/policristalinas: alumina, spinel e zircônia.

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CERÂMICAS ALUMINIZADAS

As cerâmicas feldspáticas eram as únicas aplicadas na odontologia, para confecção de pró-teses, até a década de 1960. Entretanto, devido à baixa resistência desse material, McLean e Hughes desenvolveram novo material pelo aumento da fase cristalina da porcelana felds-pática com adição de maior conteúdo de óxidos de alumina.15

As cerâmicas aluminizadas são inicialmente indicadas para confecção de coroas em cerâmica pura.

Com composição semelhante à das porcelanas feldspáticas, porém com aumento de 40% da fase vítrea com alumina (Al2O3), as cerâmicas aluminizadas tiveram a resistência à flexão praticamente duplicada (130MPa) quando comparadas às cerâmicas feldspáticas convencio-nais. O maior conteúdo de alumina foi responsável por diminuir a concentração de tensões no interior do material, o que normalmente ocorre durante o resfriamento, além de ocupar espaços estratégicos, impedindo, em parte, a propagação de trincas.

Apesar do aumento da resistência, a inserção de alumina promoveu significante aumento da opacidade da cerâmica. Essa nova formulação foi empregada como recobrimento em lâminas de paládio com 0,5 a 1,0mm (jaquetas de porcelana), sendo posteriormente tam-bém empregada como material de cobertura sobre infraestruturas metálicas e cerâmicas. As coroas produzidas com cerâmica aluminizada eram consideradas mais estéticas do que as coroas metalocerâmicas, porém esse material não apresentava resistência suficiente para suportar áreas de alto esforço mastigatório, como nos dentes posteriores, sendo indicado apenas para aplicações na região anterior (Figura 5).2

Figura 5 – Coroas totais com recobrimento em cerâmica aluminizada.Fonte: Prado & Neves Odontologia.

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22 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

CERÂMICAS INFILTRADAS POR VIDRO

Posteriormente à proposição das cerâmicas aluminizadas por McLean e Hughes, foi intro-duzido novo sistema cerâmico infiltrado por vidro com alto conteúdo de alumina visando a melhorar os problemas relacionados com a capacidade de resistir à fratura e à tenacida-de – cuja resistência flexural média é de 650MPa. Sua composição consiste em duas fases tridimensionais interpenetradas: uma fase de alumina (óxido de alumínio) e uma fase vítrea (à base de lantânio), sendo sua confecção baseada em estrutura de alumina porosa que, posteriormente, é infiltrada por vidro.

Como o sistema cerâmico infiltrado por vidro é ainda mais opaco do que as cerâ-micas aluminizadas, ele é indicado para confecção de infraestruturas para coroas totais anteriores e posteriores, além de próteses fixas de até três elementos para a região anterior.

O sistema cerâmico infiltrado por vidro apresenta três variações, de acordo com o seu prin-cipal componente de reforço, que podem ser verificadas no Quadro 1, a seguir.

Quadro 1VARIAÇÕES DO SISTEMA CÊRAMICO INFILTRADO POR VIDRO

Variação Descrição

Alumina(Al2O3)

Apresenta conteúdo de alumina variando entre 70 e 85% com resistência flexural de 250-600 Mpa; é indicado para infraestruturas de coroas unitárias anteriores e posteriores e próteses parciais fixas de três elementos na região anterior.

Alumina e zircônia (Al2O3ZrO2)

É composta de cerâmica a base de alumina (30-35%) infiltrada por vidro reforçada por óxido de zircônio parcialmente estabilizado (30-35%), o que proporciona maior resistência à flexão (420-700MPa), porém com opacidade semelhante à das ligas metálicas. Esse fato contraindica este material para próteses fixas na região anterior, sendo indicado para coroas unitárias e próteses parciais fixas posteriores de até três elementos.

Spinel (MgAl2O4)

Contém espinélio de magnésio como principal fase cristalina, com traços de alfa-alumina, que proporciona melhora na translucidez da cerâmica, devido ao baixo índice de refração do aluminato de magnésio e da matriz vítrea. Apresenta resistência à flexão entre 280-380MPa, e é indicado para restaurações parciais e coroas unitárias anteriores (Figura 6).10,12,13,18

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 23

CERÂMICAS REFORÇADAS POR LEUCITA

Com os avanços nas formulações das cerâmicas odontológicas, foram produzidos materiais cerâmicos reforçados pelo aumento na quantidade de cristais de leucita (SiO2Al2O3K2O). Essas cerâmicas são materiais vítreos reforçados pela adição de aproximadamente 55% em peso desses cristais. A resistência flexural dessas cerâmicas pode variar entre 90 e 180MPa, o que é até três vezes superior à resistência das porcelanas feldspáticas.

Devido à boa translucidez e à ausência de infraestrutura metálica, as cerâmicas reforçadas com cristais de leucita são indicadas para confecção de inlays, onlays, facetas, laminados e coroas unitárias anteriores e posteriores, alcançando excelen-tes resultados estéticos

Entre as desvantagens das cerâmicas reforçadas por leucita, está a necessidade de alto in-vestimento inicial para aquisição dos equipamentos especiais necessários no processamento da cerâmica (Figura 7).10,12,13,18

Figura 6 – Infraestrutura em ce-râmica reforçada por alumina an-tes e após infiltração com vidro.Fonte: Vita.

Figura 7 – Coroa total em cerâmica reforçada por leucita.Fonte: Prado & Neves Odontologia.

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24 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

CERÂMICAS REFORÇADAS POR DISSILICATO DE LÍTIO

As cerâmicas vítreas reforçadas pelo acréscimo de cristais de dissilicato de lítio (SiO2Li2O) foram apresentadas em sequência e possuem cerca de 60 a 65% desses cristais em sua fase cristalina. Este sistema apresenta resistência flexural de 300 a 400MPa, podendo ser até sete vezes mais resistente quando comparado às porcelanas feldspáticas convencionais; entretanto, sua translucidez é inferior.

Considerando o fator resistência do material combinado com a tenacidade a fra-tura, as cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio podem ser indicadas para con-fecção de inlays, onlays, laminados, coroas unitárias e próteses parciais fixas de três elementos até a região de 2º pré-molar.

Esses materiais também podem ser empregados como infraestrutura para próteses unitárias de até três elementos, recebendo posteriormente, recobrimento com porcelanas feldspáti-cas compatíveis.

As vantagens da utilização das cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio são: au-sência de infraestrutura metálica ou opaca, boa translucidez, resistência e estética adequada. Entretanto, alto investimento inicial é requerido devido à necessidade de equipamentos especiais para seu processamento (Figura 8).10,12,13,18

Figura 8 – Coroa total em cerâmica reforçada por dissilicato de lítio.Fonte: Prado & Neves Odontologia.

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CERÂMICAS COM ALTO CONTEÚDO DE CRISTAIS

As cerâmicas policristalinas podem ser subdivididas em reforçadas por alumina e / ou refor-çadas por zircônia, categorias descritas a seguir.

Cerâmicas policristalinas reforçadas por alumina

O óxido de alumínio foi também utilizado para desenvolvimento de sistema cerâmico poli-cristalino com alto conteúdo de alumina pura (99,9% de Al2O3), densamente compactada e sinterizada. O grande conteúdo de alumina empregado nesse sistema faz com que ele apresente resistência à flexão variando de 450-700MPa e excelente biocompatibilidade.

Cerâmicas policristalinas reforçadas por alumina são indicadas para a confecção de infraestruturas para coroas unitárias anteriores e posteriores, além de infraestrutu-ras de próteses parciais fixas de três elementos com extensão até o 1º molar.

Apesar das excelentes propriedades mecânicas verificadas neste sistema cerâmico, existem limitações na sua utilização para fixação adesiva, pois os tratamentos de superfície conven-cionais podem não ser efetivos nessas cerâmicas devido ao reduzido conteúdo vítreo presen-te nelas (0,01%). Desta forma, tratamentos de superfície alternativos fazem-se necessários como forma de se obter adesão favorável às cerâmicas policristalinas (Figura 9).10,12,13,18

Figura 9 – Pilar protético e infraestrutura em cerâmica reforçada por alumina densamente sinterizada reco-berta por cerâmica feldspática.Fonte: Prado & Neves Odontologia.

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26 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Cerâmicas policristalinas reforçadas por zircônia

Além de estar presente como reforço em alguns sistemas cerâmicos, a zircônia também passou a ser empregada na forma Y-TZP (zircônia tetragonal policristalina estabilizada com ítria), com alto conteúdo (99,5% de ZrO2). Este material foi primeiramente empregado na confecção de próteses ortopédicas e apresentou bons resultados devido às excelentes pro-priedades mecânicas e à sua biocompatibilidade. O óxido de ítrio (Y2O3) é associado à zircô-nia pura com intuito de estabilizar a fase cúbica ou tetragonal dos cristais em temperatura ambiente, obtendo-se assim um material polifásico, a zircônia estabilizada.

Essa estabilização dos cristais de zircônia na fase tetragonal em temperatura ambiente possi-bilita a alta tenacidade à fratura da Y-TZP e resistência à flexão maior em relação aos demais sistemas cerâmicos, variando de 900 a 1200MPa. Em situações de acúmulo de tensões de tração na cerâmica, como no surgimento de trincas no material, estas podem ser contidas pela transformação de fases da zircônia.

A transformação de fases da zircônia é o mecanismo no qual os cristais de forma tetragonal são convertidos para a forma monoclínica gerando aumento volumé-trico localizado (3-5%) e retardando, assim, a propagação de trincas na estrutura cerâmica por meio de tensões de compressão.

A zircônia foi incialmente indicada apenas para confecção de infraestruturas para coroas totais e próteses parciais fixas para as regiões anterior e posterior, necessi-tando ser recoberta com cerâmicas vítreas, devido à estética reduzida causada pela alta opacidade do material. Recentemente, com o aprimoramento das proprieda-des ópticas da Y-TZP, esse material tem sido indicado para utilização em estruturas monolíticas, ou seja, toda a prótese é confeccionada com o mesmo material.

A quantidade de elementos que podem ser envolvidos numa prótese utilizando Y-TZP (Fi-gura 10) dependerá das indicações de cada fabricante, porém existem sistemas capazes de suportar a reabilitação de praticamente todos os dentes de uma arcada em uma única peça (Ex.: 10 a 12 elementos) (Figura 11).10,12,13,18

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Figura 10 – Infraestrutura em cerâmica reforçada por zircônia Y-TZP com recobrimento em cerâmica felds-pática.Fonte: Prado & Neves Odontologia.

Figura 11 – Sistemas cerâmicos odontológicos quanto a sua composição, espessura mínima recomendada para utilização, desempenho estético e resistência.Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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28 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

8. Quais são os principais componentes das cerâmicas feldspáticas?

A) Quartzo e caulim.B) Feldspato e caulim.C) Feldspato e quartzo.D) Apenas caulim.

Resposta no final do artigo

9. Como as cerâmicas odontológicas podem ser classificadas em relação ao seu conteúdo?

A) Convencional e reforçada.B) Media fusão e baixa fusão.C) Prensada e infiltrada por vidro.D) Vítreas e cristalinas/policristalinas.

Resposta no final do artigo

10. De acordo com a classificação das cerâmicas odontológicas em relação a seu conteúdo, assinale a alternativa que contém tipos de cerâmicas vítreas e cerâmicas cristalinas/poli-cristalinas, respectivamente.

A) Reforçada por leucita, reforçada por alumina, feldspática; e reforçada por dissilicato de lítio, reforçada por espinélio de MgAl (spinel), reforçada por zircônia.

B) Feldspática, reforçada por leucita, reforçada por dissilicato de lítio; e reforçada por alumina, reforçada por espinélio de MgAl (spinel), reforçada por zircônia.

C) Reforçada por alumina, reforçada por espinélio de MgAl (spinel), reforçada por zir-cônia; e feldspática, reforçada por leucita, reforçada por dissilicato de lítio.

D) Feldspática, reforçada por dissilicato de lítio, reforçada por zircônia; e reforçada por leucita, reforçada por espinélio de MgAl (pinel), reforçada por alumina.

Resposta no final do artigo

11. Quais são as indicações clínicas das cerâmicas vítreas reforçadas por dissilicato de lítio?

A) Restaurações parciais e coroas totais.B) Coroas totais e próteses parciais fixas de até três elementos.C) Infraestrutura.D) Todas as anteriores.

Resposta no final do artigo

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 29

12. O que acontece quando o feldspato, na forma coletada da natureza, é aquecido a tem-peraturas entre 1200-1250ºC?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

13. O que confere a pigmentação e a opacidade necessárias para mimetismo das cores dos dentes naturais?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

14. A que está relacionada a leucita presente nas cerâmicas feldspáticas?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

15. Quais são as vantagens e as desvantagens das porcelanas feldspáticas?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

16. Qual é a capacidade de deformação e de dissipação de tensões das cerâmicas?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

17. Em quais regiões da restauração é comum o acúmulo de tensões?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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30 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

18. Qual foi o objetivo da adição de maior conteúdo de óxidos de alumina nas cerâmicas?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

19. Além do aumento da resistência, o que a inserção de alumina promoveu nas cerâmicas?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

20. Quais são as fases tridimensionais das cerâmicas infiltradas por vidro?

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21. Qual é a contraindicação do sistema cerâmico infiltrado por vidro, alumina e zircônia?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

22. Devido a que ocorre melhora na translucidez na variação spinel do sistema cerâmico infiltrado por vidro?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

23. Qual material tem sido indicado para utilização em estruturas monolíticas?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 31

24. Por que tratamentos de superfície alternativos fazem-se necessários na utilização das cerâmicas policristalinas reforçadas por alumina?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

25. Qual é a ação do óxido de ítrio associado à zircônia pura?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

26. Como ocorre a transformação de fases da zircônia?

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INDICAÇÃO CLÍNICA

As cerâmicas odontológicas podem também ser classificadas quanto à sua indicação clínica, sendo categorizadas em materiais indicados para confecção de restaurações parciais, como inlay/onlay, facetas e laminados, coroas unitárias, próteses parciais fixas e materiais empre-gados para recobrimento de infraestruturas metálicas (metalocerâmicas) ou infraestruturas cerâmicas (totalmente cerâmicas) (Figura 12).

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32 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

O entendimento da classificação das cerâmicas quanto a sua composição é essencial para a determinação da indicação clínica dos materiais, pois esta irá depender de propriedades específicas de cada cerâmica, como: § coeficiente de expansão térmica;§ resistência flexural;§ tenacidade a fratura;§ características ópticas (translucidez, opalescência, fluorescência etc).

Figura 12 – Classificação das cerâmicas odontológicas de acordo com sua indicação clínica.Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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FORMAS DE PROCESSAMENTO

As cerâmicas odontológicas podem ainda ser categorizadas de acordo com as diferentes formas de processamento que são empregadas na confecção das restaurações indiretas. As principais técnicas utilizadas para processamento de restaurações cerâmicas são:§ estratificação (condensação);§ infiltração de vidro (slip-cast);§ injeção/prensagem (press); ou§ fresagem/usinagem (CAD-CAM).

Os principais sistemas cerâmicos relacionados com suas possíveis formas de processamento estão apresentados na Figura 13.2,12,18

ESTRATIFICAÇÃO

Na técnica de estratificação, modela-se o pó com líquido aglutinador (água destilada pura ou com adições de glicerina, propileno glicol ou álcool) para manter as partículas do pó ce-râmico unidas. Em sequência, a pasta é colocada sobre troquel refratário ou infraestrutura pela técnica do pincel, vibração ou espatulação. A remoção do excesso de água pode ser realizada utilizando-se papel absorvente, vibração ou adição de pó seco à superfície.

Estratificação consiste na aplicação da cerâmica com diferentes opacidades (opaco, dentina, esmalte, translúcido etc.) e saturações de cor em camadas sucessivas por meio da condensação.

Figura 13 – Principais sistemas cerâmicos e suas formas de processamento.Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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34 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Na etapa de sinterização, a cerâmica deve passar pelo processo de secagem, por três a cinco minutos com temperatura inicial de 650ºC (média), para então ser inserida no forno programado até atingir a temperatura de 960º (variável de acordo com o fabricante), pre-ferencialmente em ambiente com vácuo. Após a sinterização, o volume da cerâmica sofre contração de aproximadamente 30%, devido à perda de água durante a secagem e den-sificação. Atualmente, esta forma de processamento ainda é a mais amplamente utilizada nos laboratórios de prótese, sendo empregada principalmente na aplicação de cerâmicas feldspáticas (Figura 14).2,12,18

A remoção do excesso de água na entrada do forno deve ser lenta para evitar a geração de vapor, que pode levar à formação/encapsulação de bolhas.

Figura 14 – Estratificação de cerâmica feldspática de recobrimento sobre infraestrutura cerâmica.Fonte: Vita.

CERÂMICAS INFILTRADAS POR VIDRO

O processamento dos sistemas cerâmicos infiltrados por vidro, também conhecidos como slip-cast ou fundição por suspensão, é aplicado aos exemplos comerciais In-Ceram (Vita Zahnfabrik, Bad Säckingen, Alemanha). Neste método, a infraestrutura cerâmica composta apenas pela fase cristalina é esculpida em um troquel por meio da técnica do pó e líquido, tendo então uma sinterização parcial da cerâmica. Em seguida, por meio da técnica de infil-tração de vidro, uma matriz vítrea (à base de óxido de lantânio) é inserida e sinterizada sobre a estrutura ainda porosa, com a posterior remoção dos excessos de vidro, o que resulta em uma infraestrutura finalizada.

Esse método permite a infiltração de partículas de vidro em materiais com a fase cristalina composta de alumina, espinélio de magnésio-alumina ou zircônia. Essas infraestruturas de-vem então ser recobertas com cerâmicas feldspáticas que possuam coeficiente de expansão térmica compatível com o das cerâmicas infiltradas por vidro, para posterior aplicação do glaze e finalização da restauração (Figura 15).2

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CERÂMICAS PRENSADAS

Os sistemas cerâmicos prensados baseiam-se na técnica da cera perdida, na qual um padrão de cera ou resina acrílica com o formato da restauração é incluído em revestimento refratá-rio e, em seguida, é eliminado em forno com alta temperatura. Desta forma, espaço ade-quado é deixado no revestimento para receber a cerâmica, que será posicionada na forma de pastilhas (lingotes) e posteriormente submetida à alta temperatura e pressão em forno especial para ser injetada no molde, preenchendo assim o espaço existente no interior do revestimento e dando forma à restauração indireta (Figura 16).

Figura 15 – Sequência de confecção de infraestrutura pela técnica slip-cast: Infraestrutura porosa antes e após sinterização, seguido de infiltração de vidro e remoção dos excessos.Fonte: Vita.

Figura 16 – Confecção de laminados cerâmicos pela técnica da prensagem.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

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36 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

A técnica das cerâmicas prensadas amenizou o problema de elevada contração que ocorre durante o processo de sinterização, comum para as porcelanas feldspáticas, devido à alta pressão de injeção da cerâmica no molde em alta temperatura. Essa técnica permite variação de volume apenas durante o resfriamento, a qual é con-trolada com a expansão adequada do revestimento.2,18

CERÂMICAS USINADAS OU FRESADAS

A usinagem ou fresagem das cerâmicas (CAD-CAM) é uma forma de processamen-to na qual os materiais cerâmicos são produzidos pelos fabricantes na forma de lingote ou bloco cerâmico, que pode estar no estado verde (não sinterizado), par-cialmente sinterizado ou completamente sinterizado. É também conhecida como CAD-CAM (Computer-Aided Design e Computer-Aided Manufacturing), ou seja, é um projeto assistido por computador, seguido de fabricação assistida por compu-tador.

Apesar de ser um método estabelecido há mais de 50 anos na engenharia e há cerca de 30 na odontologia, somente nos últimos anos o CAD-CAM vem sendo empregado com maior frequência na prática clínica, pois o avanço dos computadores, softwares e da robótica, além do aprimoramento dos biomateriais, permitiu que profundos avanços fossem obtidos com essa forma de processamento.

Todos os sistemas CAD-CAM odontológicos levam em consideração três etapas principais: § digitalização;§ concepção da restauração; § usinagem.

A digitalização pode ocorrer pela captação da imagem do preparo diretamente da cavidade oral ou a partir do modelo de gesso com auxílio de uma microcâmera ou scanner a laser. Em seguida, em software interligado ao scanner/câmera, a imagem é processada pela uni-dade CAD, para que seja possível o planejamento e concepção da restauração. Por último, o projeto da restauração é então enviado a uma unidade fresadora, na qual é executada a confecção da restauração por usinagem de blocos cerâmicos pré-fabricados.

Após esta etapa, comumente as restaurações cerâmicas produzidas devem passar por pro-cesso de sinterização ou cristalização, dependendo do material cerâmico escolhido, e em se-guida as mesmas são maquiadas (staining) como forma de melhorar as propriedades ópticas e a estética das restaurações. Esse sistema tem como principal vantagem a possibilidade de confecção de restaurações totalmente cerâmicas em seção única e como maior desvanta-gem o alto investimento inicial para aquisição dos equipamentos (Figura 17).2,18,19

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As restaurações produzidas com os sistemas Procera (AllCeram e AllZircon), também são confeccionadas empregando-se tecnologia CAD-CAM, porém com um processo diferencia-do, no qual os pilares são escaneados indiretamente com scanner a laser nos modelos de trabalho gerados a partir dos moldes obtidos pelo profissional por moldagem convencional. Isso possibilita geração de arquivos com modelos tridimensionais dos troquéis, que são en-tão enviados a uma das fábricas do sistema (Suécia ou Estados Unidos).

Na linha de produção são gerados troquéis de tamanho aumentado para compensar a contração das infraestruturas confeccionadas em cerâmica densamente sinterizada. Após o processamento, as infraestruturas são checadas em troquéis com o tamanho original do preparo e, posteriormente, são enviadas ao laboratório de origem que realizou o escanea-mento dos modelos para serem entregues ao profissional e checadas nos pilares protéticos do paciente. Por último, após moldagem de transferência (moldagem para remontagem), é realizada aplicação da cerâmica de cobertura pela técnica da estratificação.2,18

TEMPERATURA DE SINTERIZAÇÃO

Por último, as cerâmicas odontológicas podem também ser classificadas de acordo com seu ponto de fusão, conforme pode ser verificado no Quadro 2, a seguir.

Figura 17 – Confecção de prótese parcial fixa pelo sistema CAD-CAM.Fonte: Prado & Neves Odontologia.

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38 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Quadro 2CLASSIFICAÇÃO DAS CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS CONFORME PONTO DE FUSÃO

Classificação Temperatura de sinterização

Descrição

Alta fusão Superior a 1300ºC

Normalmente utilizada para confecção de dentes para próteses removíveis, infraestruturas cerâmicas de alumina ou zircônia totalmente sinterizados.

Média fusão Entre 1101 a 1300ºC

Utilizada para confecção de dentes para próteses removíveis, para obtenção de blocos de zircônia pré-sinterizada ou para prensagem.

Baixa fusão Entre 850 a 1100ºC

Indicada para recobrimento de infraestruturas metálicas e cerâmicas, prensagem ou confecção de infraestruturas cerâmicas.

Ultrabaixa fusão

Inferior a 850ºC

Temperatura inferior a 850ºC devido à redução da quantidade de leucita e/ou por apresentar cristais de leucita mais finos, resultando em uma cerâmica com menor potencial abrasivo, o que irá preservar a microestrutura da cerâmica e promover resistência similar à cerâmica de média fusão. Desenvolvida para utilização em recobrimentos de estruturas em titânio ou ouro, deve ser aplicada por técnica de condensação/estratificação.

27. Quais são as principais formas disponíveis para processamento das cerâmicas odontoló-gicas?

A) Cocção, sinterização, usinagem, prensagem.B) Estratificação, slip-cast, prensagem, usinagem.C) Sinterização, prensagem, cauterização, cocção.D) Estratificação, usinagem, cocção, sinterização.

Resposta no final do artigo

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28. As cerâmicas odontológicas podem ser classificadas de acordo com a temperatura ne-cessária para sua sinterização. Assinale a alternativa que apresenta o ponto de fusão das cerâmicas de alta, média, baixa e ultrabaixa fusão, respectivamente.

A) 850 a 1100º C, <850º C, 1101 a 1300º C, >1300º C.B) <850º C, 1101 a 1300º C, >1300º C, 850 a 1100º C.C) <850º C, 850 a 1100º C, 1101 a 1300º C, >1300º C.D) >1300º C, 1101 a 1300º C, 850 a 1100º C, <850º C.

Resposta no final do artigo

29. Atualmente, qual é a forma de processamento das cerâmicas mais utilizada nos labora-tórios de prótese?

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30. Na técnica de estratificação, por que a remoção do excesso de água na entrada do for-no deve ser lenta?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

31. Como funciona a técnica da cera perdida?

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32. Qual problema a técnica das cerâmicas prensadas amenizou?

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40 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

33. Quais são as três etapas principais que os sistemas CAD-CAM odontológicos levam em consideração?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

34. Por que razão as cerâmicas usinadas são maquiadas (staining)?

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PREPAROS PROTÉTICOSUm dos fatores determinantes para o sucesso das restaurações totalmente cerâmicas está relacionado com a qualidade dos preparos protéticos. Estes devem fornecer espaço suficien-te para que o material restaurador preserve suas propriedades mecânicas e não interfira na oclusão e contorno dos dentes.

A indicação e aplicação dos sistemas cerâmicos odontológicos devem ser pautadas no atendimento das necessidades de cada material para obter o melhor de suas propriedades. Portanto, deve-se ter atenção especial no planejamento de cada caso e nos detalhes que devem ser respeitados durante a realização dos preparos dos pilares protéticos.

De maneira geral, os preparos totais para restaurações em cerâmica pura devem propiciar, no mínimo, 1,0-1,5mm de espessura nas faces axiais; 1,5-2,0mm na região incisal (área funcional) para os dentes anteriores; e 1,5-2,0mm nas faces axiais e oclusais (área funcional) dos dentes posteriores, com primeira inclinação de até 5º e segunda inclinação de até 10º (Figuras 18A-B).

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Uma exceção à regra existe para as restaurações confeccionadas apenas em cerâ-mica feldspática, que devem ter espessura mínima de 2,0mm em todas as paredes devido à baixa resistência desse material. Os preparos parciais devem seguir as mesmas indicações quanto aos ângulos internos e externos.

A região cervical deverá preferencialmente apresentar término em ombro reto com ângulo axiogengival arredondado, e todos os ângulos do preparo devem ser su-avizados e arredondados como forma de minimizar o acúmulo de tensões nas restaurações cerâmicas.

Figura 18 – Características desejáveis para preparos totais envolvendo restaurações totalmente cerâmicas na região anterior.Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 19 – Características desejáveis para preparos totais envolvendo restaurações totalmente cerâmicas na região posterior.Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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42 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

LONGEVIDADE – RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICASO contínuo desenvolvimento de sistemas cerâmicos para aplicações odontológicas, asso-ciado ao crescente interesse de profissionais e pacientes por restaurações totalmente ce-râmicas, levou à popularização e à utilização em larga escala desses materiais na prática clínica. Assim, a longevidade dessas restaurações livres de infraestruturas metálicas tem sido continuamente verificada em várias avaliações clínicas retrospectivas e prospectivas ao longo dos últimos anos. Esses dados são importantes para se avaliar a efetividade de diferentes estratégias de tratamento envolvendo esses materiais.

Um ponto de consenso entre os estudos clínicos disponíveis na literatura é que o sucesso na aplicação das restaurações em cerâmica pura é totalmente dependente da habilidade do clínico na seleção do material e nas formas de processamento e procedimentos de cimentação/fixação adesiva, adequados para cada condição clínica e necessidades estéticas.10

A complicação clínica mais comumente relatada resultando na falha de restaura-ções totalmente cerâmicas está relacionada à fratura da porcelana de cobertura e/ou da infraestrutura.20-37 Assim, o sucesso dessas restaurações é intimamente dependente da prevenção de falhas por meio da retardação da propagação de trin-cas.38-41 O emprego de sistemas totalmente cerâmicos para confecção de próteses parciais fixas tem limitações e, por isso, o diagnóstico correto e a adequada seleção de pacientes são fatores críticos para o sucesso dessas restaurações.

Um parâmetro que deve ser levado em consideração para a maioria dos sistemas cerâmicos baseia-se na necessidade de uma altura mínima dos conectores de uma prótese parcial fixa. Estes devem apresentar de 3 a 4mm da papila interproximal até a crista marginal.21,31,37,42-45 Dessa forma, a maximização da altura e largura dos conectores está na base para a concep-ção adequada das próteses fixas em cerâmica pura.

Essas próteses podem ser contraindicadas quando se tem espaço interoclusal reduzido, como nos casos de: 21,43,46

§ coroas clínicas curtas;§ trespasse vertical profundo;§ dente antagonista extruído;§ cantilevers;§ pilares periodontalmente comprometidos;§ pacientes com bruxismo ou atividades parafuncionais severas.

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As causas das falhas dessas restaurações podem ser diversas, como:§ fratura do conector em próteses com infraestruturas à base de alumina,31,35,36 ou

dissilicato de lítio;21,27

§ fratura coesiva da porcelana de cobertura nas próteses com infraestruturas reforça-das por zircônia.47,48

Em paralelo, as falhas mais comumente relacionadas com próteses parciais fixas metalocerâ-micas estão relacionadas com fraturas ou cáries nos dentes pilares.49,50

Um fato comum verificado nos estudos que avaliam a longevidade de restaurações totalmente cerâmicas é que a fratura da porcelana de cobertura e/ou da infraestru-tura cerâmica apresenta-se como a complicação maior e mais comumente relatada como motivo para substituição das restaurações.21-23,25-31,33-37,51

Entre os fatores descritos como motivos para substituição dessas restaurações cons-tam:24,25,27,30,32,52

§ cáries;§ necessidade de tratamento endodôntico;§ fraturas radiculares.

As complicações menores, que não requerem substituição da prótese, mais comumente descritas foram:29,30,32,34,53,54 lascamentos/fissuras limitados à porcelana de cobertura, seguido por necessidade de tratamento endodôntico e posteriormente pelo deslocamento da próte-se (relacionado à cimentação) e cáries.

A literatura mostra que, nos casos em que pequenas fraturas coesivas da cerâmica de co-bertura não impuseram substituição completa das próteses em cerâmica pura, foi realizado apenas o polimento da superfície dessas restaurações,22,23,30 ou o devido reparo utilizando-se resinas compostas.32,37 Os acessos para realização de tratamentos endodônticos também foram restaurados de maneira direta empregando resinas compostas.23,32,37,47

Além disso, esses estudos demonstram que as cáries identificadas nas áreas marginais são normalmente escavadas e também restauradas com resinas compostas.36,53,54

De maneira geral, as taxas de sobrevivência global das restaurações totalmente cerâmicas variam entre 88 a 100% após 2 anos em serviço,21-23,28,34,35,37,47,48,51,52,54 e entre 84 a 97% após 5 a 14 anos em função.24-26,29-33,36

Porém existem diferenças nas taxas de sobrevivência observadas para essas restaurações quando se avalia cada sistema cerâmico isoladamente (Tabela 2).

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44 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Em resumo, observou-se que as restaurações em cerâmica pura apresentam longevidade clínica aceitável, associada à manutenção de características estéticas adequadas por longos períodos de tempo. A evidência sugere que, para restaurações intracoronárias, laminados, facetas e coroas unitárias, o clínico pode escolher entre qualquer um dos sistemas cerâmi-cos disponíveis para restaurações totalmente cerâmicas, baseando-se apenas nas questões estéticas, pois muitos sistemas apresentam taxa de sobrevivência superior a 90% após seis anos em função.55

Evidência razoável demonstrou a eficácia de próteses parciais fixas de até três elementos, na região anterior, confeccionadas com cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio, alumina ou zircônia. Porém, para próteses parciais de três elementos ou mais, que envolvem mola-res como pilares, a literatura sugere que apenas os sistemas reforçados por zircônia Y-TZP sejam empregados para essas regiões. Apesar dos vários avanços obtidos com as cerâmicas de cobertura para restaurações com infraestruturas em zircônia atualmente, o lascamento do recobrimento dessas restaurações ainda figura como importante processo de falha.55-57

Tabela 2TAXA DE SOBREVIVÊNCIA DAS RESTAURAÇÕES DE ACORDO COM O SISTEMA CERÂMICO

Cerâmica reforçada Exemplo comercial Sobrevivência (%)

Tempo médio em função (anos)

Referências

Leucita IPS Empress Esthetic

90,9 3,6 24,25,34

Dissilicato de lítio IPS e.max 90,7 2,5 21,27,37

Al2O3 infiltrado por vidro

In-Ceram Alumina 93,5 3,9 28,31,35,36,54

MgAl2O4 infiltrado por vidro

In-Ceram Spinell 98,7 3,7 22,51

Al2O3 + ZrO2 infiltrado por vidro

In-Ceram Zirconia 94,5 3 52

Alumina densamente sinterizada

Procera AllCeram 95,7 4 23,29,30

Zircônia Y-TZP Lava Zircônia 100 2,3 47,48

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PROTOCOLOS PARA TRATAMENTO DE SUPERFÍCIE E FIXAÇÃOO sucesso clínico das restaurações totalmente cerâmicas é altamente dependente dos pro-cessos de fixação, os quais variam de acordo com a composição dos sistemas cerâmicos.58 A interação dos agentes de fixação com a superfície interna das cerâmicas ocorre basicamente por dois mecanismos:§ adesão mecânica (retenção micromecânica); § adesão química (ligações químicas).

O tratamento da superfície interna das restaurações cerâmicas é um passo im-portante, anterior ao processo de fixação, pois valores reduzidos de resistência de união são observados em superfícies cerâmicas não tratadas.

A alteração da topografia de superfície das cerâmicas promove maior retenção micromecâ-nica dos agentes de fixação e, no caso das cerâmicas vítreas, a exposição da rede de sílica permite também a união química com o cimento resinoso por meio de um agente de união bifuncional (Silano). Entretanto, o protocolo do tratamento de superfície das restaurações produzidas com os diferentes sistemas cerâmicos disponíveis é dependente da composição do material restaurador, sendo modulado de acordo com o tipo de material.5

O tratamento químico da superfície interna das cerâmicas vítreas com ácido fluorídrico é necessário para promover alteração morfológica da fase vítrea, criando topografia com as-pecto de colmeia.5,59 O condicionamento da superfície é gerado pela reação do ácido fluo-rídrico com a sílica presente nessas cerâmicas; portanto, o tempo de aplicação deste ácido tem relação direta com a quantidade de sílica presente em cada cerâmica. Este fato, mais uma vez demonstra a necessidade de se conhecer a composição das cerâmicas utilizadas, e por consequência, o protocolo de tratamento de superfície, que é determinante no sucesso reabilitador.5,58

O emprego de cimentos resinosos na fixação de restaurações totalmente cerâmicas é indica-do pelas inúmeras vantagens inerentes a esses materiais, que são, entre outras:§ a adesão à estrutura dental hibridizada;§ a menor solubilidade no meio oral;§ a adesão às superfícies tratadas das restaurações.

Alguns estudos propuseram que as restaurações em cerâmica pura, principalmente as mais resistentes (policristalinas), poderiam ser fixadas utilizando-se cimentos convencionais, como o cimento à base de fosfato de zinco, cimentos ionoméricos etc.60

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46 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Quadro 3COMPOSIÇÃO DAS CERÂMICAS E PROTOCOLOS PARA TRATAMENTO DE SUPERFÍCIE

Material restaurador Composição Tratamento de superfície

Cerâmica feldspática Noritake NX3: SiO2, K2O, Al2O3, 6SiO2

Duceram: SiO2, Na2O, Al2O3, 6SiO2

Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 120 a 150s; remoção do excesso de ácido e limpeza em cuba ultrassônica por 3min; aplicação de agente de união bifuncional (Silano).Cimentação: cimentos resinosos (fotoativado; dual; químico)*

Cerâmica reforçada por leucita

IPS Empress Esthetic: SiO2, Al2O3, K2O, Na2O, CeO2, outros óxidos

Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 60s; remoção do excesso de ácido e limpeza em cuba ultrassônica por 3min; aplicação de agente de união bifuncional (Silano).Cimentação: cimento resinoso (fotoativado; dual; químico)*

Entretanto, a reação ácido-base que ocorre durante a presa desses materiais gera uma ten-dência em exacerbar as falhas de superfície das restaurações cerâmicas, devido à alta acidez desses cimentos.61 Além disso, os cimentos convencionais são mais suscetíveis a degradação hidrolítica, o que pode iniciar fissuras que facilitariam a propagação de trincas pela restaura-ção cerâmica. Por fim, a fixação convencional é mais dependente da retenção macromecâ-nica do que a fixação adesiva (138 – Conrad, 2007).20 Apesar das restaurações baseadas em zircônia não exigirem uma interface adesiva para sua retenção,44 a fixação adesiva pode ser vantajosa pelos motivos descritos previamente.

Visando simplificar os procedimentos de fixação das próteses produzidas em cerâmica pura, este artigo traz a compilação dos tratamentos de superfície e fixação mais comumente indi-cados pela literatura de acordo com cada um dos materiais cerâmicos discutidos (Quadro 3).5

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Material restaurador Composição Tratamento de superfície

Cerâmica reforçada por dissilicato de lítio

IPS e.max Press: SiO2, Li2O, Al2O3, La2O3, MgO, P2O5, ZnO, K2O

Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 20s; remoção do excesso de ácido e limpeza em cuba ultrassônica por 3min; aplicação de agente de união bifuncional (Silano).Cimentação: cimento resinoso (fotoativado; dual; químico)*

Cerâmica infiltrada por vidro reforçada por alumina / spinel / alumina + zircônia

In-Ceram Alumina: Al2O3, La2O3, SiO2, CaO, outros óxidos In-Ceram Spinell: MgAl2O4, La2O3, SiO2, CaO, outros óxidosIn-Ceram Zirconia: Al2O3, ZrO2, La2O3, SiO2, CaO, outros óxidos

Opção 1: Jateamento com partículas de Al2O3 de 50µm por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min;Opção 2: Jateamento com partículas de Al2O3 de 50µm revestidas por SiO2 por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min; aplicação de agente de união bifuncional (Silano).Cimentação: cimento resinoso autoadesivo ou contendo monômeros fosfatados (dual; químico)

Cerâmica densamente sinterizada reforçada por alumina

Procera AllCeram: Al2O3 Opção 1: Jateamento com partículas de Al2O3 de 50µm por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min;Opção 2: Jateamento com partículas de Al2O3 de 30-110µm revestidas por SiO2 por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min; aplicação de agente de união bifuncional (Silano).Cimentação: cimento resinoso autoadesivo ou contendo monômeros fosfatados (dual; químico)

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48 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Material restaurador Composição Tratamento de superfície

Cerâmica reforçada por zircônia Y-TZP

Lava Zircônia: ZrO2, Y2O3 Opção 1: Jateamento com partículas de Al2O3 de 50µm por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min;Opção 2: Jateamento com partículas de Al2O3 de 50µm revestidas por SiO2 por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min; Aplicação de agente de união bifuncional (Silano).Cimentação: cimento resinoso autoadesivo ou contendo monômeros fosfatados (dual; químico)

* Dependente da aplicação a que a restauração indireta se destina.

35. No tratamento de superfície de cerâmicas odontológicas vítreas, o tempo de condicio-namento com ácido fluorídrico pode variar de acordo com o tipo de material devido ao conteúdo de:

A) alumina.B) dissilicato de lítio.C) sílica.D) zircônia.

Resposta no final do artigo

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36. Qual é o protocolo para tratamento da superfície interna e fixação das restaurações cerâmicas feldspáticas?

A) Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 120s, seguido de limpeza, ba-nho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso.

B) Condicionamento com ácido fosfórico 32-37% por 60s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso.

C) Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 60s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso.

D) Condicionamento com ácido fosfórico 32-37% por 120s, seguido de limpeza, ba-nho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso;

Resposta no final do artigo

37. Qual é o protocolo para tratamento da superfície interna e fixação das restaurações cerâmicas reforçadas por leucita?

A) Condicionamento com ácido fosfórico 32-37% por 60s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso.

B) Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 20s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso.

C) Condicionamento com ácido fosfórico 32-37% por 20s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso.

D) Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 60s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso.

Resposta no final do artigo

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50 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

38. Qual é o protocolo para tratamento da superfície interna e fixação das restaurações cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio?

A) Condicionamento com ácido fosfórico 32-37% por 60s, limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso.

B) Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 20s, limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso.

C) Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 60s, limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso.

D) Condicionamento com ácido fosfórico 32-37% por 40s, limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso.

Resposta no final do artigo

39. Em que se deve pautar a indicação e a aplicação dos sistemas cerâmicos?

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40. De maneira geral, quais são as medidas mínimas de espessura que os preparos totais para restaurações em cerâmica pura devem propiciar?

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41. Qual é o consenso entre os estudos clínicos disponíveis na literatura em relação ao su-cesso na aplicação das restaurações em cerâmica pura?

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42. Qual é a complicação clínica mais comumente relatada sobre as restaurações totalmen-te cerâmicas?

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43. Quais são as ações descritas na literatura para os casos nos quais pequenas fraturas coesivas da cerâmica de cobertura não impuseram substituição completa das próteses em cerâmica pura?

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44. Atualmente, apesar dos vários avanços obtidos com as cerâmicas de cobertura para restaurações com infraestruturas em zircônia, o que ainda figura como um importante processo de falha?

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45. Quais são as vantagens do emprego de cimentos resinosos na fixação de restaurações totalmente cerâmicas?

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CASOS CLÍNICOSNa sequência, serão descritos quatro casos clínicos envolvendo a utilização de restaurações totalmente cerâmicas para melhor entendimento quanto a seleção do sistema cerâmico, formas de preparo, tratamento de superfície das restaurações, fixação adesiva, ajustes oclu-sais e polimento.

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52 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Após exame radiográfico, verificou-se tratamento endodôntico satisfatório e nenhuma alteração periapical. Devido à alteração de cor do substrato e à perda de estrutura palatina após o acesso endodôntico, indicou-se preparo para coroa total em cerâmica e confecção de restauração indireta em cerâmica reforçada por leucita.

O preparo para coroa total foi iniciado pela separação interproximal do dente 11 (1,0mm em cada face) utilizando ponta diamantada #2200 (KG Sorensen, São Paulo, SP), seguido da confecção de canaleta de orientação na região cervical com ponta diamantada #1014G. Essa canaleta foi realizada com o instrumento rotatório inclinado em 45º em relação ao longo eixo do dente e com profundidade de 0,9mm. Na sequ-ência foram realizados três sulcos de orientação na face vestibular no sentido cérvico--incisal, considerando as três inclinações desta face (#2135G) com profundidade de 1,2mm.

Posteriormente, esses sulcos de orientação foram unidos com ponta diamantada #4147G. Para orientação do desgaste na concavidade palatina, foram realizados pon-tos de desgaste com 0,7mm de profundidade com ponta #1014G. Em seguida, com o instrumento rotatório #3118G, o preparo foi realizado na concavidade palatina. A redução incisal foi realizada com a ponta diamantada #2135G e o preparo foi refinado com pontas diamantadas de granulação fina e extrafina (Figuras 21A-D).

CASO CLÍNICO 1

Paciente adulto, gênero masculino, procurou atendimento por estar insatisfeito com a estética do seu sorriso. Após realização de exame clínico, identificou-se faceta em resina composta no dente 11. Este elemento apresentava alteração de cor devido a tratamento endodôntico prévio, e a restauração direta não foi capaz de mascarar o substrato escurecido (Figura 20).

Figura 20 – Aspecto inicial do sorriso do pacien-te, enfatizando a alteração cromática e a restau-ração em resina composta insatisfatória.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

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Figura 21 – A-C) Sequência do preparo protético para coroa total em cerâmica reforçada por leucita. D) – Preparo finalizado com ângulos internos arredondados e cavossuperficial reto.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

Após a inserção de fio afastador (#000, Ultrapack, Ultradent, South Jordan, UT, USA), procedeu-se à moldagem empregando-se silicone por adição (Figura 22A) e, em segui-da, seleção da cor e confecção de restauração indireta provisória, utilizando-se faceta obtida de dente de estoque. O molde foi enviado ao ceramista, e a restauração foi confeccionada em cerâmica vítrea reforçada por cristais de leucita (IPS Empress Esthe-tic, Ivoclar Vivandent, Schaan, Liechtenstein) na cor A1 (Figura 22B).

Figura 22 – A) Moldagem com silicone por adição. B) Coroa total confeccionada em cerâmica refor-çada por leucita, cor A1.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

A B

C D

A B

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54 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

O tratamento da superfície interna da cerâmica foi realizado utilizando-se condiciona-mento com ácido fluorídrico 10% (Condicionador de porcelanas, Ângelus, Londrina, PR) por 60 segundos, sendo a restauração posteriormente lavada e seca.

Em seguida, aplicou-se ácido fosfórico a 37% (Ângelus) e friccionou-se por 60 se-gundos para remoção dos cristais precipitados (*Este procedimento produz efeitos equivalentes à limpeza da peça em cuba ultrassônica por 3min). Após esse tempo, a prótese foi lavada com jatos de ar/água por 60 segundos e secada com jatos de ar. O agente de união Silano foi aplicado com fricção ativa e se aguardou 60 segundos para a sua volatilização.

O campo operatório foi isolado de maneira relativa e se realizou profilaxia do prepa-ro com soro e pedra pomes. Após a hibridização do substrato dentário com sistema adesivo convencional de três passos (Scotch Bond Multiuso, 3M-ESPE, St. Paul, MN, USA), o cimento resinoso de ativação física (fotoativado) (RelyX Veneer, 3M-ESPE, A1) foi aplicado na superfície interna da prótese, e esta foi então adaptada ao preparo com pressão digital (Figura 23A).

Figura 23 – A) Inserção de cimento resinoso fotoativado no interior da coroa cerâmica. B) Remoção do excesso de cimento com auxílio de um pincel; C) fotoativação de cada face por 60 segundos; D) aspecto final do sorriso do paciente.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

A B

C D

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 55

Após a remoção dos excessos de cimento resinoso extravasado (Figura 23B), cada face da restauração foi fotoativada por 60 segundos com aparelho LED (Radi-Call, SDI, Austrália) com potência de 1200 mW/cm² (Figura 23C). Os contatos oclusais foram verificados em máxima intercuspidação e nos movimentos de lateralidade e protrusão. Foram realizados os ajustes necessários e posterior polimento da restauração com bor-rachas abrasivas de granulação fina e extrafina (Figura 23D).

CASO CLÍNICO 2

Paciente adulto jovem, gênero masculino, foi encaminhado por ortodontista por estar insatisfeito com o aspecto de seu sorriso. Após realização do exame clínico, identificou--se que estava em fase de conclusão de tratamento ortodôntico e que seria necessário procedimento restaurador para fechamento dos diastemas remanescentes (Figura 24).

Figura 24 – Aspecto inicial do sorriso do pacien-te, enfatizando a presença de diastemas.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

Após exame radiográfico, verificou-se que todos os dentes estavam hígidos. Para al-teração da estética do sorriso do paciente, optou-se pela utilização de preparos mini-mamente invasivos e confecção de restaurações indiretas em cerâmica reforçada por dissilicato de lítio (laminados cerâmicos).

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56 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Para este procedimento, um planejamento rigoroso e detalhista deveria ser executado. Portanto, realizou-se o planejamento digital do sorriso do paciente (Figura 25A) e, com base nos resultados deste método, a simulação das restaurações foi encerada em modelo de estudo (Figura 25B). Para maior previsibilidade, tanto para a equipe execu-tora quanto para o paciente, o ensaio restaurador (mock-up) foi elaborado em resina bis-acrílica utilizando-se como referência guia (matriz) obtido em silicone por adição no modelo de estudo com o enceramento (Figura 25C).

Figura 25 – AspectoPlanejamento reverso: A) Planejamento digital do sorriso. B) Enceramento (wax--up). C) Ensaio restaurado r (mock-up).Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

O preparos minimamente invasivos foram realizados somente em esmalte nos dentes 13 ao 23, empregando-se ponta diamantada #2135 de granulação fina (KG Sorensen) em alta rotação (Figuras 26A-C). Os preparos são mínimos e visam ao arredondamento de ângulos agudos e ao aumento da expulsividade do dente, além de facilitar o eixo de inserção do laminado e exposição do esmalte subsuperficial.

Figura 26 – A-C) – Confecção de preparos minimamente in-vasivos, realizado com ponta diamantada #2135 de granu-lação fina somente em esmal-te.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

A B C

A B

C

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 57

Foi realizada moldagem com silicone por adição e, em seguida, seleção da cor. O molde foi enviado ao ceramista, e as restaurações foram confeccionadas em cerâmica vítrea reforçada por cristais de dissilicato de lítio (IPS e.max Press, Ivoclar Vivadent) na cor A1. Devido à espessura mínima dos laminados, o teste com simulação da cor do cimento resinoso a ser empregado é muito relevante (Try-in).

Para tratamento da superfície interna das restaurações cerâmicas, foi utilizado condi-cionamento com ácido fluorídrico 10% (condicionador de porcelana, Ângelus) por 20 segundos (Figura 27A), sendo a restauração posteriormente lavada para remoção do excesso de ácido. Em seguida, aplicou-se ácido fosfórico a 37% (Ângelus) e friccionou--se por 60 segundos para remoção dos cristais precipitados (Figura 27B). O agente de união Silano foi aplicado com fricção ativa e se aguardou 60 segundos para a sua volatilização (Figura 27C).

Figura 27 – Tratamento de superfície de cerâmica reforçada por dissilicato de lítio: A) Aplicação de áci-do fluorídrico 10% por 20 segundos. B) Aplicação e fricção de ácido fosfórico 37% por 60 segundos. C) Aplicação ativa de agente de união Silano, aguardando 60 segundos para volatilização.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

O procedimento de aplicar ácido fosfórico a 37% (Ângelus) e friccionar por 60 segundos para remover cristais precipitados produz efeitos equivalentes à limpeza da peça em cuba ultrassônica por 3min).

O campo operatório foi isolado de maneira relativa, e foi realizada profilaxia dos den-tes preparados com soro e pedra pomes. O cimento resinoso de ativação física (foto-ativado) (RelyX Veneer, 3M-ESPE, A1) foi aplicado nas superfícies internas dos lamina-dos, e estes foram levados em posição nos preparos já hibridizados. Após a remoção do excesso de cimento extravasado, cada face foi fotoativada por 60 segundos com

A B C

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58 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

aparelho LED (Radi-Call, SDI) com potência de 1200mW/cm² (Figura 28). Os contatos oclusais foram verificados em máxima intercuspidação e nos movimentos de latera-lidade e protrusão; foram realizados os ajustes necessários e posterior polimento da restauração com borrachas abrasivas de granulação fina e extrafina.

Figura 28 – Aspecto final do sorriso do paciente.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

CASO CLÍNICO 3

Paciente adulto jovem, gênero masculino, procurou atendimento por estar insatisfeito com o aspecto de uma restauração posterior. Após realização de exame clínico, foram identificadas restaurações em amálgama no dente 46. Ambas as restaurações esta-vam insatisfatórias por apresentarem margens deficientes, infiltrações e fraturas. Após exame radiográfico, verificou-se que este elemento apresentava-se com tratamento endodôntico satisfatório (Figura 29A).

Figura 29 – Aspecto inicial do dente 36: A) Restaurações em amálgama insatisfatórias. B) Remanes-cente dentário após a remoção da restauração e de tecido cariado.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

A B

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 59

O material restaurador e o tecido cariado foram removidos, possibilitando a avaliação do remanescente dentário integro. Apesar da presença de cúspides linguais quase íntegras, a face vestibular exibia trincas no plano horizontal e longitudinal. A combi-nação das trincas com a cavidade em orifício, consequente da restauração vestibular, tornou a cúspide vestibular frágil (Figura 29B), indicando preparo para prótese fixa parcial posterior (onlay) e confecção de restauração indireta em cerâmica reforçada por dissilicato de lítio.

Após a confecção do núcleo de preenchimento em resina composta nano-híbrida (Fi-gura 30A), foi realizado preparo para restauração indireta tipo onlay, iniciando-se com a separação interproximal com ponta diamantada #2200 (KG Sorensen) (Figura 30B). Na sequência, com a ponta diamantada #3131, realizou-se a abertura da caixa oclusal e, posteriormente, a definição das caixas proximais, com aproximadamente 1mm de profundidade (Figura 30C). Devido à fragilidade do remanescente vestibular, as cús-pides desta face foram envolvidas pelo preparo com as pontas diamantadas #2135G. O término do preparo na vestibular foi estendido apicalmente devido às trincas nessa região.

Figura 30 – A) Confecção do núcleo de preenchimento em resina composta. B e C) Sequência de preparo para restauração tipo onlay em cerâmica reforçada por dissilicato de lítio. D) Aspecto final do preparo.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

A B

C D

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60 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

A redução oclusal foi realizada com a ponta #2135G, com desgaste de aproximada-mente 1,5mm, envolvendo a região em que previamente situava-se restauração em amálgama (Figura 30D). O refinamento do preparo foi realizado com pontas diaman-tadas de granulação fina (#2135F). Foi realizada moldagem com silicone por adição e, em seguida, seleção da cor e confecção de restauração provisória utilizando técnica da resina esculpida.

O molde foi enviado ao ceramista, e a restauração foi confeccionada em cerâmica vítrea reforçada por cristais de dissilicato de lítio cor A2 (IPS e.max Press, Ivoclar Vi-vadent). Para tratamento da superfície interna da cerâmica, foi utilizado condiciona-mento com ácido fluorídrico 10% (Condicionador de porcelanas, Ângelus) por 20 segundos, sendo a restauração posteriormente lavada e seca. Em seguida, a peça foi limpa em cuba ultrassônica por 3min e seca. O agente de união Silano foi aplicado com fricção ativa e se aguardou 60 segundos para a sua volatilização.

O campo operatório foi isolado de maneira absoluta e foi realizada profilaxia do pre-paro com soro e pedra pomes. Cimento resinoso autoadesivo de presa dupla (RelyX U200, 3M-ESPE) foi aplicado na superfície do preparo e na superfície interna da próte-se, que foi levada ao preparo (Figuras 31A-B).

Figura 31 – A) Inserção de cimento resinoso autoadesivo no preparo e interior da onlay cerâmica. B) Adaptação da prótese ao preparo e estabilização por 5 minutos previamente à fotoativação.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

A B

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 61

Após a remoção do excesso do cimento extravasado, aguardou-se 5 minutos, e cada face foi então fotoativada por 60s com aparelho LED (Radi-Call, SDI) com potência de 1200mW/cm² (Figuras 32A-B). Os contatos oclusais foram verificados em máxima intercuspidação e nos movimentos de lateralidade e protusão, sendo realizados os ajustes necessários e posterior polimento da restauração com borrachas abrasivas de granulação fina e extrafina.

Figura 32 – A e B) Aspecto final de onlay confeccionada em cerâmica reforçada por dissilicato de lítio.Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares.

A B

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62 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Paciente adulto, gênero masculino, procurou atendimento odontológico queixando--se que uma prótese fixa metalocerâmica de três elementos, presente nos dentes 44 a 46 – pôntico do 45, tinha se soltado do pilar 44. Após realização de exame clínico, identificou-se prótese deslocada do dente 44 e, como aparentemente não havia infil-tração (lesão de cárie), várias tentativas de se remover o retentor do 46 foram feitas, sem sucesso. Considerando a necessidade de remoção não conservadora da prótese, o paciente manifestou interesse em colocar implante na região do 45 e individualizar os três dentes. Após exame tomográfico, observou-se grande perda óssea vertical e horizontal, provavelmente decorrente de exodontia. Como alternativa, restou a cons-trução de nova prótese fixa convencional.

Com o intuito de se solucionar rapidamente o caso, decidiu-se realizar o tratamento empregando equipamentos de consultório, no caso o sistema CEREC da Sirona. Op-tou-se pela opção multicamadas (multi layer) do software 4.0 do referido sistema, em que a infraestrutura e a cerâmica de cobertura da prótese são usinadas separadamente para posteriormente serem unidas com material cerâmico em alta temperatura. Dessa forma, a prótese anterior foi cuidadosamente removida com a criação de uma canaleta cérvico-oclusal com broca carbide, de maneira a desgastar a cerâmica e o metal em toda a extensão descrita, nos dois retentores.

Em seguida, com uma espátula, as metades foram forçadas para rompimento da linha de cimentação, favorecendo a remoção da peça. Ambos os retentores possuíam trata-mento endodôntico satisfatório e apesentavam retentores metálicos para reconstrução da porção coronária. Os dentes pilares foram então repreparados, apenas melhorando--se a inclinação das paredes axiais e definindo-se a terminação cervical em ombro reto com ombro axiogengival arredondado com ponta diamantada #3097 (KG Sorensen).

Em seguida, utilizando spray de dióxido de titânio (Cerec Optispray, Sirona), foi feita a opacificação das estruturas para permitir a digitalização dos pilares e das estruturas adjacentes com o scanner do sistema (BlueCam, Sirona). Após a digitalização das es-truturas (moldagem digital) da área de trabalho (pilares e tecidos adjacentes), dentes antagonistas e registro intermaxilar (Figura 33A-D), restauração provisória confeccio-nada em resina acrílica autopolimerizável foi cimentada temporariamente, até que a prótese definitiva fosse finalizada no dia seguinte.

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 63

Figura 33 – A) Tela do software CAD (in lab 4.0, Sirona) em que se seleciona o tipo de trabalho que será executado, neste caso a opção multicamadas. B) Digitalizações do arco de trabalho, antagonista e registro intermaxilar, diretamente da boca. C e D) Montagem em articulador, recorte de troquéis, delimitação de término cervical e obtenção virtual da prótese.Fonte: Prado & Neves Odontologia.

Para a construção da prótese, inicialmente na parte CAD (Computer Aided Design) do sistema, escolheu-se a opção multicamadas e, na sequência, escolheu-se o material cerâmico da infraestrutura (Zircônia) e de recobrimento, (Dissilicato de Lítio). Os reten-tores e o pôntico foram marcados e, após a montagem em articulador virtual, recorte dos troquéis e delimitação dos términos cervicais, as duas partes foram projetadas, uma sobre a outra.

A parte superior passou por pequenos ajustes de modo que as marcas de contatos proximais e oclusais em vermelho fossem eliminadas, sendo, então, enviadas para usinagem na unidade CAM (Computer Aided Manufacturing) do sistema, que usinou a cerâmica de cobertura (Figuras 34A-D) ou camada superficial, que é a cobertura es-tética e, em seguida a camada interna, que é a infraestrutura de zircônia (Figuras 35A-D). Para fresar as duas partes, o sistema gastou aproximadamente uma hora e meia.

A B

C D

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64 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Figura 34 – A) Características do projeto da camada de cobertura. B) Posicionamento da camada de cobertura bloco virtual com a disposição em que esta parte da prótese será fresada no bloco cerâmico. C) Interior da unidade CAM do sistema (MCXL, CEREC, Sirona) após fresagem do bloco referente à camada superficial. D) Vista oclusal da camada superficial fresada no bloco de cerâmica reforçada por dissilicato de lítioFonte: Prado & Neves Odontologia.

A B

C D

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 65

A infraestrutura em zircônia é fresada aproximadamente 20% maior que o tamanho original da peça, para compensar a contração do material durante o processo de sin-terização e, além disso, encontrava-se branca, sem cromatização. Desta forma, a in-fraestrutura já usinada primeiramente passou pelo processo de cromatização e depois pela sinterização (Figuras 36A-B), que consomem, respectivamente, 120 minutos e 90 minutos no forno (in fire HTC speed, Sirona). O processo completo mais o resfriamento lento chegam a 4 horas. Nesse período, a cobertura em dissilicato de lítio passou pelo processo de cristalização, por cerca de trinta minutos no forno (P300, Ivoclar Viva-dent), quando a cor roxa é convertida para a cor mencionada no bloco, no caso, A3.

Figura 35 – A) Vista vestibular da prótese durante os preparativos para encaminhar a camada inter-na para fresagem, esta camada corresponde à infraestrutura da prótese propriamente dita. B) Bloco virtual com a disposição em que a estrutura da prótese será fresada no bloco retangular. C) Interior da unidade CAM do sistema após fresagem do bloco referente à infraestrutura. D) Vista cervical da estrutura em Zircônia ainda presa ao bloco onde foi fresada.Fonte: Prado & Neves Odontologia.

A B

C D

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66 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Após a conclusão desses processos, pequenos ajustes são realizados, e as partes po-dem então ser unidas. Para a união definitiva das partes, uma massa de cerâmica vítrea (IPS e.max CAD Crystall./Connect, Ivoclar Vivadent) é aplicada sob vibração entre as mesmas e levada ao forno de cerâmica com a programação para queima de cerâmica de dissilicato de lítio (Figuras 36C-D). A prótese ficou pronta para prova em boca. Assim, o provisório foi removido, e a prótese ajustada, inicialmente nos contatos pro-ximais. Como os blocos são retangulares, o sprue ou pino de união da parte usinada com o bloco fica sempre na proximal, obrigando um cuidado maior com esta área, que sempre precisará de ajuste nesta técnica.

Figura 36 – A) Camadas que foram fresadas separadamente (*nota-se que é impossível a estrutura caber dentro da parte referente à camada superficial, porque a zircônia neste sistema é fresada pré-sin-terizada e, neste momento, encontra-se 20% maior para compensar a contração após a sinterização). B) Camadas após a sinterização da infraestrutura em zircônia (parte inferior da foto) e cristalização da segunda – e.max CAD (parte superior da foto). C) IPS e.max CAD Crystall./Connect. D) Prótese após queima em forno de cerâmica e resfriamento lento.Fonte: Prado & Neves Odontologia.

A B

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 67

Em seguida, foi feita a confirmação de assentamento da peça, ajustes oclusais em fechamento e movimentos excursivos e a maquiagem final da prótese que, posterior-mente, recebeu aplicação de glaze (Figuras 37A-B). A fixação definitiva foi realizada com cimento à base de fosfato de zinco (Zinc Cement, SS White) (Figuras 37C-D). Todo o processo levou cerca de onze horas de trabalho executados em dois dias (2h30min – remoção da prótese antiga, repreparo, provisório e moldagem digital; 2h – planeja-mento da prótese e usinagem da mesma; 4h – cromatização e sinterização; 1h – união das camadas; 1h30min – prova, maquiagem e fixação definitiva), o que mostra a apli-cabilidade e viabilidade desta forma de processamento.

Figura 37 – A) Vista vestibular após maquiagem final e glaze da prótese confeccionada pela técnica multicamadas. B) Vista oclusal após maquiagem final e glaze da prótese confeccionada pela técnica multicamadas. C) Vista oclusal após fixação com cimento à base de fosfato de zinco. D) Vista lateral da prótese em posição.Fonte: Prado & Neves Odontologia.

A B

C D

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68 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

CONCLUSÃODiante do discutido neste artigo, pode se concluir que os sistemas cerâmicos disponíveis apresentam excelentes propriedades, e a aplicabilidade/indicação desses sistemas é depen-dente das necessidades de resistência e estética singulares a cada caso. Como visto, a evi-dência científica indica que as restaurações totalmente cerâmicas apresentam longevidade e efetividade aceitável para inúmeras aplicações clínicas.

Porém, o sucesso dessas restaurações está condicionado a um planejamento minucioso que envolve a correta seleção do material, preparos protéticos adequados, processamento do material cerâmico de acordo com as indicações dos fabricantes, tratamento de superfície das restaurações cerâmicas modulado pela composição das mesmas e fixação com agentes cimentantes apropriados. Além disso, a fixação adesiva das restaurações em cerâmica pura com cimentos resinosos favorece o sucesso clínico. Portanto, conhecimento e bom senso são fundamentais nesse sentido.

RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOSAtividade 1Resposta: BComentário: A adição de leucita (K2OAl2O34SiO2) em associação com outros óxidos possibi-lita o controle do coeficiente de expansão térmica, de forma a aproximá-lo do coeficiente de expansão térmica do material de infraestrutura, minimizando o estresse térmico residual na cerâmica.

Atividade 8Resposta: CComentário: As cerâmicas feldspáticas empregadas atualmente para confecção de restaura-ções odontológicas, na sua maioria, não contêm caulim em sua composição, sendo predo-minantemente compostas por feldspato e potássio.

Atividade 9Resposta: DComentário: As cerâmicas odontológicas podem ser também classificadas, quanto ao seu conteúdo, em cerâmicas vítreas (feldspáticas, leucita e dissilicato de lítio) e cerâmicas crista-linas/policristalinas (Alumina, Spinel, Zircônia).

Atividade 10 Resposta: BComentário: As cerâmicas que apresentam grande conteúdo vítreo são as feldspáticas, as reforçadas por leucita e as reforçadas por dissilicato de lítio e, por isso, são denominadas

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cerâmicas vítreas. Já as cerâmicas com maior conteúdo de cristais, como as reforçadas por alumina, espinélio de MgAl (Spinel) e zircônia, são denominadas cerâmicas cristalinas/poli-cristalinas.

Atividade 11Resposta: DComentário: As cerâmicas vítreas reforçadas por dissilicato de lítio apresentam a maior resis-tência dentre as cerâmicas vítreas, podendo ser indicadas para a confecção de restaurações parciais (laminados, inlays e onlays), coroas totais unitárias e próteses fixas de três elementos com extensão até a região de 2º pré-molar.

Atividade 27Resposta: BComentário: As principais formas disponíveis para processamento dos materiais cerâmicos são: estratificação (condensação), slip-cast (infiltração de vidro), prensagem (injeção) e usi-nagem/fresagem (CAD/CAM).

Atividade 28Resposta: DComentário: Quanto o ponto de fusão, as cerâmicas odontológicas são classificadas em cerâmicas de alta fusão (sinterização: >1300º C); média fusão (sinterização: 1101-1300º C); baixa fusão (sinterização: 850-1100º C) ultrabaixa fusão (sinterização: <850º C).

Atividade 35Resposta: CComentário: O tratamento de superfície a ser empregado nas cerâmicas odontológicas é modulado pela composição desses materiais. No caso das cerâmicas vítreas, o tempo de condicionamento da superfície interna das restaurações com ácido fluorídrico 5-10% é dita-do pelo conteúdo de sílica (SiO2) presente nas mesmas (feldspáticas > reforçadas por leucita > reforçadas por dissilicato de lítio).

Atividade 36Resposta: AComentário: Devido ao maior conteúdo de sílica (SiO2), as cerâmicas feldspáticas devem ser condicionadas com ácido fluorídrico 5-10% por 120 a 150s, seguido de limpeza e banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união bifuncional e, por último, cimento resinoso. Pode-se substituir o ciclo ultrassônico pela aplicação de ácido fosfórico 32-37% friccionado ativamente por 1min, seguido de limpeza para remoção dos componentes precipitados previamente pelo condicionamento com ácido fluorídrico.

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70 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE

Atividade 37Resposta: DComentário: Devido ao conteúdo médio de sílica (SiO2), as cerâmicas reforçadas por leucita devem ser condicionadas com ácido fluorídrico 5-10% por 60s, seguido de limpeza e ba-nho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união bifuncional e por último, cimento resinoso. Pode-se substituir o ciclo ultrassônico pela aplicação de ácido fosfórico 32-37% friccionado ativamente por 1min, seguido de limpeza para remoção dos componentes precipitados previamente pelo condicionamento com ácido fluorídrico.

Atividade 38Resposta: BComentário: Devido ao menor conteúdo de sílica (SiO2), as cerâmicas reforçadas por dissi-licato de lítio devem ser condicionadas com ácido fluorídrico 5-10% por 20s, seguido de limpeza e banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união bifuncional e por último, cimento resinoso. Pode-se substituir o ciclo ultrassônico pela apli-cação de ácido fosfórico 32-37% friccionado ativamente por 1min, seguido de limpeza para remoção dos componentes precipitados previamente pelo condicionamento com ácido fluorídrico.

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| PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 71

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