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RESSONÂNCIAS FILOSÓFICAS

XXII Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da UNIOESTE

Volume I: Resumos

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Imagem da capa: https://pixabay.com/pt/coruja-bird-animal-natureza-1996169/

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Célia Machado Benvenho José Dias

Junior Cunha (Organizadores)

RESSONÂNCIAS FILOSÓFICAS

XXII Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da UNIOESTE

Volume I: Resumos

Primeira Edição E-book

Toledo - PR 2018

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Copyright 2018 by Organizadores EDITORA:

Daniela Valentini CONSELHO EDITORIAL:

Dr. Celso Hiroshi Iocohama - UNIPAR Dr. José Aparecido Pereira – PUC-PR

Dr. José Beluci Caporalini - UEM REVISÃO FINAL:

Prof.ª Luciana Bovo Andretto CAPA, DIAGRAMAÇÃO E DESIGN:

Junior Cunha Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Rosimarizy Linaris Montanhano Astolphi Bibliotecária CRB/9-1610

Todos os direitos reservados aos Organizadores

Os textos aqui publicados são de responsabilidade exclusiva de seus autores.

Editora Vivens Conhecer é Poder!

Fone: (45) 3056-5596

Celular: (45) 9-9995-9031

Site: http://www.vivens.com.br E-mail: [email protected]

Ressonâncias filosóficas: volume I: resumos /

R435 organizadores, Célia Machado Benvenho, José

Dias, Junior Cunha. – 1. ed. e-book –

Toledo, PR: Vivens, 2018.

158 p.

“XXII Simpósio de Filosofia Moderna e

Contemporânea da UNIOESTE”

Modo de Acesso: World Wide Web:

<http://www.vivens.com.br>

ISBN: 978-85-92670-62-7

1. Filosofia.

CDD 22. ed. 106.3

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...................................................................................... 13

I A EXTENSÃO COMO ATRIBUTO PRINCIPAL DA

MATÉRIA

o problema cartesiano segundo Malebranche .......................................................... 15

II A IMPORTÂNCIA DE MAQUIAVEL E DA VINCI NO

INÍCIO DO MODERNISMO ................................................................ 17

III A INFÂNCIA COMO QUESTÃO FILOSÓFICA

uma contribuição a partir da concepção de história da filosofia de Gilles Deleuze ... 19

IV A INTERPRETAÇÃO DE QUENTIN SKINNER ACERCA

DO CONCEITO DE LIBERDADE EM MAQUIAVEL ............... 21

V A INTERPRETAÇÃO HEIDEGGERIANA DA

EXPERIÊNCIA CRISTÃ DA VIDA E DE SUA REALIZAÇÃO 23

VI A NATUREZA COMO UMA UTOPIA CONCRETA DE

MUDANÇA QUALITATIVA .................................................................. 25

VII A NATUREZA DO EU CARTESIANO ...................................... 29

VIII A PROPRIEDADE EM JOHN LOCKE .................................... 31

IX A QUESTÃO DO “SER”

Considerações acerca dos sete primeiros parágrafos de “Ser e Tempo”, de Martin

Heidegger ............................................................................................................ 33

X A TEORIA DA IDENTIDADE A PARTIR DE PAUL

CHURCHLAND ......................................................................................... 35

XI A TRADIÇÃO DE PESQUISA EM LARRY LAUDAN

contribuições epistemológicas para o ensino de ciências ............................................ 37

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8 Ressonâncias filosóficas - Resumos

XII ACERCA DAS EMOÇÕES

o colóquio Sartre/Goldstein ................................................................................. 41

XIII AS FILOSOFIAS DA CIÊNCIA DO SÉCULO XX

A metodologia rigorosa como validação do conhecimento versus a crítica aos métodos

........................................................................................................................... 43

XIV COMO CONQUISTAR UMA SOCIEDADE JUSTA E

ESTÁVEL?

contribuições da teoria da justiça como equidade .................................................... 45

XV CRIANÇA E O CORPO SEM ÓRGÃOS

Uma abordagem a partir de Deleuze e Guattari................................................... 47

XVI CRÍTICA DA RAZÃO PURA COMO OBRA DE

METAFÍSICA

evidências textuais ............................................................................................... 49

XVII DELEUZE E O ENSINO DE FILOSOFIA ........................... 55

XVIII DEUS E A PROVA DE SUA EXISTÊNCIA EM

ANSELMO DE CANTUÁRIA ................................................................ 57

XIX DEUS E O DESEJO: O FUNDAMENTO

ANTROPOLÓGICO DA MORAL RELIGIOSA EM

FEUERBACH .............................................................................................. 59

XX EDUCACÃO E SOLIDÃO EM NIETZSCHE ......................... 61

XXI ELEMENTOS PARA PENSAR A CONDIÇÃO

FORMATIVA DO ENSINO DE FILOSOFIA .................................. 63

XXII ENSAIO SOBRE FELICIDADE E MORALIDADE

os (des)caminhos da razão prática ........................................................................ 67

XXIII ENTRE A ANGÚSTIA E A NÁUSEA

Uma comparação dos referidos conceitos ................................................................ 71

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Sumário 9

XXV FILOSOFIA DA CIÊNCIA E ANÁLISE CRÍTICA .............. 75

XXVI FISIOLOGIA NIETZSCHIANA

Uma análise sobre Richard Wagner ..................................................................... 77

XXVII IMPLICAÇÕES DA TEORIA DA

INTENCIONALIDADE DA CONSCIÊNCIA DE EDMUND

HUSSERL PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA

TEOLOGIA DA CULTURA EM PAUL TILLICH ......................... 79

XXVIII KANT E SCHOPENHAUER: UMA REFLEXÃO

SOBRE O FUNDAMENTO DA MORAL .......................................... 83

XXIX LIBERDADE EM HANNAH ARENDT

Conceito de liberdade e suas implicações no pensamento político ............................. 85

XXX MAQUIAVEL E A IMPORTÂNCIA DO CONFLITO ....... 87

XXXI MARCUSE: A OBJETIVAÇÃO DO HOMEM PELA

LINGUAGEM E PELO PENSAMENTO UNIDIMENSIONAL

........................................................................................................................... 89

XXXII MARX E ENGELS

Acerca do Manifesto Comunista .......................................................................... 91

XXXIII MESTRES E POSSUIDORES DA NATUREZA

Concepção e consequências do conhecimento segundo Descartes ............................... 93

XXXIV NIETZSCHE – CRÍTICAS À METAFÍSICA E AO

PRIMADO DA RAZÃO

a arte como afirmação da vida .............................................................................. 97

XXXV NIETZSCHE E A CRÍTICA DA LINGUAGEM COMO

CRÍTICA A METAFÍSICA....................................................................... 99

XXXVI NOTAS INTRODUTÓRIAS ACERCA DO CONTRATO

SOCIAL DE HOBBES E LOCKE ....................................................... 101

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10 Ressonâncias filosóficas - Resumos

XXXVII NOTAS SOBRE A CRÍTICA DE LÉVINAS ÀS

FILOSOFIAS DA MESMIDADE E A QUESTÃO PELA

ALTERIDADE DO OUTRO ................................................................ 105

XXXVIII O AMOR EM O BANQUETE DE PLATÃO ............... 109

XXXIX O COERENTISMO DE WILLARD VAN ORMAN

QUINE ......................................................................................................... 111

XXXX O CONCEITO DE ‘INTELECÇÃO’ EM BERNARD

LONERGAN .............................................................................................. 113

XXXXI O CONCEITO DE DEUS EM ESPINOSA E A SUA

IMPORTÂNCIA PARA A ÉTICA ....................................................... 115

XXXXII O CONCEITO DE PESSOA NO PENSAMENTO

ÉTICO DE MAX SCHELER ................................................................ 119

XXXXIII O CONCEITO DE VONTADE LIVRE NA

ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS FILOSÓFICAS DE HEGEL

......................................................................................................................... 121

XXXXIV O DE ANIMA, DE ARISTÓTELES

e a unidade entre razão e sensação como forma de vida ........................................ 123

XXXXV O ESCLARECIMENTO DOUTRINADOR SEGUNDO

ADORNO E HORKHEIMER.............................................................. 125

XXXXVI O PROBLEMA DA LINGUAGEM ESPECIALIZADA

PARA LUDWIG WITTGENSTEIN ................................................... 127

XXXXVII O PROMETEU ACORRENTADO DE ÉSQUILO

uma investigação sob a perspectiva trágica nietzschiana ....................................... 129

XXXXVIII OS PRINCÍPIOS NORMATIVOS DA POLÍTICA

NAS 20 TESES DE POLÍTICA DE ENRIQUE DUSSEL .......... 131

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Sumário 11

XXXXIX POLÍTICA E LINGUAGEM NA OBRA DE JACQUES

RANCIÈRE ................................................................................................. 133

L POTÊNCIAS UTÓPICAS DA RELIGIÃO

Reflexões a partir de L. Feuerbach e E. Bloch ................................................... 135

LI QUESTIONAMENTOS ACERCA DA

RESPONSABILIDADE MORAL DO CIENTISTA ..................... 137

LII SARTRE E LEIBNIZ

da construção do conceito de Liberdade ............................................................... 141

LIII "SI VIS PACEM, PARA BELLUM"

O problema da "paz" no pensamento de Maquiavel ........................................... 145

LIIII SOBRE A DEFINIÇÃO DE TEMPO (ΚΡΌΝΟΣ) NA

FÍSICA DE ARISTÓTELES ................................................................. 149

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APRESENTAÇÃO

Este livro recolhe os resumos provenientes das Comunicações apresentadas no XXII Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da UNIOESTE, realizado entre 06 e 10 de novembro de 2017, no campus de Toledo-PR. Participantes de diferentes instituições do país discorreram sobre temas de História da Filosofia e da Ciência, Metafísica, Fenomenologia, Estética, Filosofia Política, Ética, Ensino de Filosofia e outras áreas de conhecimento. Os textos completos referentes às comunicações apresentadas estão publicados no volume II desta coleção, assim como os textos decorrentes das Conferências e Minicursos estão publicados no volume III desta coleção.

O Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da UNIOESTE de 2017 foi a vigésima segunda edição consecutiva do evento, promovido pelos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Filosofia de nossa universidade. Esta regularidade do evento, somada ao contínuo crescimento em quantidade e qualidade, mostra a força do trabalho em equipe, que envolve professores, estudantes e técnicos da instituição. Tivemos, em 2017, mais de trezentos e cinquenta participantes inscritos, com expressiva participação de público em todas as atividades oferecidas; recebemos conferencistas da Itália, da Espanha e da Argentina, além de nomes significativos da filosofia do Brasil; sete conferências e três minicursos simultâneos foram apresentados; ocorreram 120 comunicações (nas várias áreas de pesquisa filosófica e das ciências humanas) e apresentamos diversificada agenda cultural, incluindo lançamentos de livros. A comunidade do município se fez presença marcante, tanto na plateia quanto no auxílio ao financiamento e manutenção do evento. Prova-se, assim, que o trabalho sólido é sempre possível, se instituições e comunidade solidariamente se empenham.

Ao longo desses 22 anos, a participação de estudantes e pesquisadores tem se mantido significativa; tanto de universidades do Estado do Paraná, tais como UEL, UEM, PUCPR, UNICENTRO, UENP, UEPG, UNICESUMAR, UEPG, UNIPAR, FAG, UFPR, UNILA, UNESPAR, IFPR, UTFPR, quanto de outros estados brasileiros, dentre as quais podemos citar a PUCRS, UNISINOS, UFRGS, UNIFRA, UFSM, UPF, UFSC, UFFS, UESC, UNICAMP, UFABC, UNESP, USP, PUCSP, UFRJ, UERJ, UFF, UFMG, UFOP, UFSCAR, UFBA, UNB, UFU, UFC, UFPE, UFAL, etc. O mesmo tem ocorrido com jovens

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professores e pesquisadores, muitos deles ainda estudantes em programas de Mestrado e Doutorado de vários Estados, além, evidentemente, dos palestrantes de renome nacional e internacional que prestigiaram nossos eventos com suas conferências, provindos principalmente dos seguintes países e instituições: Lisboa, Udelar/Uruguay, Asheville/EUA, Duisburg-Essen/Alemanha, Évora/Portugal, Univ. Valladolid/Espanha, UBA/Argentina, Univ. Tel Aviv, UCA/Argentina, UMSB/Venezuela, Sorbonne/Paris, Unsam/Argentina, Lille/França, Universidade de Urbino/Itália, Coimbra/Portugal, Piza/Itália.

É sensível a influência do SIMPÓSIO DE FILOSOFIA da UNIOESTE sobre os acadêmicos de Filosofia e sobre seu interesse na pesquisa e na atividade filosófica, no estado e em âmbito nacional. A convivência com outros acadêmicos e docentes tem servido de incentivo em diversas áreas. É, portanto, um evento integrado e vinculado às várias atividades filosóficas, tais como pesquisas, ciclos de palestras, grupos de pesquisa cadastrados no CNPq e na Fundação Araucária, grupos de estudos, seminários, Grupo Pet-Filosofia, Grupo PIBID-Filosofia, cursos de especialização e outras atividades afins; é expressão do trabalho e do desempenho de seus docentes, em nível interno e externo.

Por fim, esta tradição de ser um evento de qualidade e em sua vigésima segunda edição não seria possível sem o apoio financeiro das agências de fomento: Fundação Fausto Castilho, Fundação Araucária, Reitoria e Pró-Reitoria de Extensão da UNIOESTE (PROEX) e PPGFIL/Unioeste (Programa de Pós-Graduação em Filosofia). Sem esse aporte, a participação dos renomados convidados do exterior e de professores brasileiros que sempre abrilhantaram as edições anteriores estaria inviabilizada. Nossa gratidão a todos os mencionados, direta e indiretamente, fica registrada aqui, junto ao convite para que as próximas edições continuem mostrando nosso compromisso brasileiro, paranaense e toledense com a difusão pública da pesquisa, do ensino e da extensão em Filosofia.

Os Organizadores

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I A EXTENSÃO COMO ATRIBUTO PRINCIPAL DA MATÉRIA:

o problema cartesiano segundo Malebranche

Vanessa Henning* RESUMO Esse trabalho tem como objetivo mostrar a objeção de Nicolas Malebranche à definição cartesiana de atributo principal, sobretudo, no que se refere à extensão entendida como essência da matéria. Do mesmo modo que Descartes, Malebranche entende que o atributo principal é aquilo que é capaz de definir essencialmente uma substância. Contudo, Malebranche nega que o atributo seja um modo de ser de uma substância. Para ele, sendo o atributo principal, no caso a extensão, a condição pela qual a matéria é pensada, ela não pode ser concebida como um modo de ser de uma substância, mas ela própria é o ser. O problema de Descartes, segundo Malebranche, foi entender que o espírito é capaz de pensar a matéria como um modo de uma natureza corpórea e exterior ao espírito. Conceber dessa forma exige que o espírito deva pensar a extensão juntamente com a substância da qual esse atributo é modo. Isso porque o espírito, ao perceber o atributo essencial, apreenderia concomitantemente o corpo por ser esse a substância da qual a extensão é modo. Ora, na filosofia cartesiana sabemos que não é possível uma percepção direta do corpo pelo espírito devido à incompatibilidade entre essas duas naturezas. Apesar disso, nos Princípios da Filosofia, o próprio Descartes afirma que a distinção entre atributo principal e substância é apenas uma distinção de razão, sem valor algum. Ele alega que essa separação que fizemos não é de fato possível, porque não há como conceber uma substância sem perceber ao mesmo tempo a natureza ou o atributo principal que dá o ser a ela. São essas dificuldades encontradas em Descartes que Malebranche compreende a extensão como o próprio ser ou a coisa concebida pelo espírito, sem haver relação alguma com algo corpóreo exterior a alma. As consequências da afirmação malebranchiana é que não se pode provar a existência da matéria quando concebemos a extensão, bem como

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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16 Ressonâncias filosóficas - Resumos

Descartes aponta em um de seus argumentos para a prova da existência dos corpos na Sexta Meditação. Para Malebranche, se existe corpos exteriores ao espírito que sejam constituídos de extensão, tal percepção é impossível à razão humana, em razão dela ser capaz somente de conceber a matéria em seu aspecto intelectual, isto é, a extensão enquanto ser que define essencialmente o corpo. PALAVRAS-CHAVE: extensão, atributo principal, substância, corpo, Descartes, Malebranche. REFERÊNCIAS DESCARTES, René. Discurso do Método; Meditações Metafísicas; Objeções e Respostas e Paixões da Alma. In: Obra Escolhida. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo – SP. Editora: Difusão Europeia do Livro, 1962.

_____. Oeuvres de Descartes. Publiées par Charles Adam et Paul Tannery (AT). 11 v. Paris. J. Vrin, 1996.

_____. Princípios da Filosofia. Tradução de João Gama. Lisboa. Editora: Edições 70, s/d.

MALEBRANCHE, Nicolas. A Busca da Verdade. Trad. Plínio Junqueira Smith. São Paulo. Discurso Editorial Paulus., 2004.

_____. Oeuvres Complètes de Malebranche. Direction André Robinet (dorénavant citées OC). Vrin, 1959-76.

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II A IMPORTÂNCIA DE MAQUIAVEL E DA VINCI NO INÍCIO

DO MODERNISMO

Katriel Luiz Kochem* RESUMO Com base na obra Da Vinci e Maquiavel: um sonho renascentista (1999) de Roger Masters, que detalha o contexto da época e de que forma ocorreu o encontro entre estes dois pensadores, pretende-se analisar o encontro entre estes dois importantes personagens, Maquiavel e Da Vinci, e o legado que ambos deixaram para a história ocidental. Ao contrário de outros filósofos que vislumbravam na política um meio para um estado ideal a ser alcançado, Maquiavel trata com extremo realismo este contexto político e seus pensamentos perpetuam até a contemporaneidade dentro da Filosofia Política. Da Vinci é amplamente conhecido por seus feitos artísticos, mas é importante mencionar que Da Vinci buscou unir arte e ciência, na tentativa de se obter uma “ciência visível”. Com sua incrível habilidade de detalhar suas experiências em desenhos, ele produz um vasto portfólio de engenhos militares, mapas, anatomia e inventos mecânicos. Leonardo Da Vinci apresentava assim uma nova forma de ver o mundo. Ainda que de modo sutil, delineou a ciência moderna com base no experimento, utilizando a observação como principal técnica na elaboração de seus projetos. Maquiavel e Da Vinci buscaram assim uma conquista da natureza para que esta pudesse seguir as demandas dos homens, esta ideia de usar o conhecimento humano para controlar as necessidades naturais e os eventos políticos começou a transformar tanto a ciência quanto a política. Posteriormente, a concepção do mundo científico de Da Vinci e o realismo resoluto de Maquiavel se tornam tão naturais que são adotados por diversos filósofos e teóricos políticos. Ao final cabe refletir através desses pensadores como o indivíduo moderno uniu a ciência e a política, buscou cada vez mais alterar a natureza com fins políticos e o questionamento, se nosso controle sobre esses eventos seria mais tênue do que geralmente se supõe.

* Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; E-mail: [email protected]

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18 Ressonâncias filosóficas - Resumos

PALAVRAS-CHAVE: Maquiavel; Da Vinci; Renascimento; Política; Ciência. REFERÊNCIAS MAQUIAVEL, N. Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio. 5. Ed. Trad. Sérgio Bath. Brasília: UNB, 2008.

MASTERS, R. Da Vinci e Maquiavel: um sonho renascentista. Trad. Maria Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

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III

A INFÂNCIA COMO QUESTÃO FILOSÓFICA: uma contribuição a partir da concepção de história da filosofia de Gilles Deleuze

Gustavo Henrique Martins*

RESUMO Essa comunicação tem origem na pesquisa individual realizada no PET-Filosofia/UNIOESTE, seu objetivo é ocupar-se dos usos da História da Filosofia, a partir da filosofia de Deleuze, buscando compreender qual a importância dos conceitos criados pelos filósofos ao longo da história do pensamento que, de certa forma, ajudam a identificar e transformar os problemas contemporâneos. A primeira parte desse projeto foi apresentada na XX Semana acadêmica de Filosofia (UNIOESTE/Toledo-PR) e buscou mostrar a relação do professor Deleuze com a imagem do filósofo Deleuze; destacar como os “retratos conceituais/espirituais” são fabricados, com ênfase na importância de fazer uma filosofia não abstrata; investigar o que Deleuze, em seus movimentos filosóficos, mostrou quando afirmou que a História da Filosofia não é um movimento reflexivo nem contemplativo, mas criativo, isto na medida em que o filósofo é alguém que busca, na criação conceitual, um sentido naquilo que estuda. Com o desenvolvimento do projeto, nessa comunicação, são apresentadas relações ressoantes dos conceitos filosóficos apresentados nos artigos em que Deleuze é citado da revista Childhood e Philosophy (2005-2017), os quais mostram um papel importante para a pesquisa: a transformação dos problemas e a movimentação dos conceitos. Ou seja, nessa apresentação discutirei referências filosóficas de pesquisadores que encontraram na história da filosofia, especificamente a filosofia de Deleuze, conceitos que, mesmo com a transformação dos problemas, não foram esquecidos e continuam a enriquecer/efervescer o pensar contemporâneo. Para tanto, apresentarei a esfera em que os problemas se apresentam e qual a relação dos conceitos desenvolvidos com os problemas expostos. O objetivo principal dessa comunicação é apresentar um movimento que mesclará alguns artigos da revista, expondo seus conceitos e seus problemas, com a

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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20 Ressonâncias filosóficas - Resumos

filosofia de Deleuze. Para que seja feita tal apresentação, primeiro voltar-me-ei as abordagens de Deleuze em seu Abecedário (O Abecedário de Gilles Deleuze) nas letras “Q de Questão” e “H de História da Filosofia”, buscando também referências do seu trabalho nos livros Conversações (1972-1990), Diálogos com Claine Parnet (1998) e Diferença e Repetição (1988 ou 2006). Após expor os conceitos de Deleuze, buscarei nos artigos em que ele é referido na revista Childhood e Philosophy (2005-2017), identificarei quais conceitos foram usados e a quais problemas tais conceitos correspondem. PALAVRAS-CHAVE: Deleuze; História da Filosofia; Revista Childhood e Philosophy (2005-2017). REFERÊNCIAS DELEUZE, Gilles. O Abecedário de Gilles Deleuze. Vídeo. Editado no Brasil pelo Ministério da Educação, “TV Escola”, 2001.

DELEUZE, Gilles. Conversações (1972-1990). Tradução de Peter Pál Pelbart. São Paulo: Ed. 34, 1992, 240 p. (Coleção TRANS).

DELEUZE, Gilles. Diálogos (Gilles Deleuze Claire Parnet). Trad. Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Ed. Escuta, 1998, 184 p.

DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Trad. Luiz Orlandi, Roberto Machado. 2 ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006, 437 p.

HEUSER, Ester Maria Dreher. Pensar em Deleuze: violência e empirismo no ensino da filosofia. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010, 192 p. (Coleção filosofia e ensino; 14).

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IV A INTERPRETAÇÃO DE QUENTIN SKINNER ACERCA DO

CONCEITO DE LIBERDADE EM MAQUIAVEL

Fabiana de Jesus Benetti* RESUMO Dentre os vários temas que permeiam as obras de Skinner, o tema da liberdade teve um grande destaque a partir da problematização que este autor faz da dicotomia entre liberdade negativa e liberdade positiva, exposta por Isaiah Berlin. Se por um lado Skinner pensa na dificuldade de aplicação do conceito positivo de liberdade aos moldes das republicas contemporâneas, por outro lado ele vê a necessidade de ampliação do conceito de liberdade negativa no que tange aos direitos e liberdades dos indivíduos. No processo de formulação desta concepção, o autor retoma os textos de pensadores da tradição republicana de liberdade, que ao seu ver teriam ficado de lado nos debates contemporâneos acerca do tema. Nesta retomada há um grande destaque ao pensamento de Maquiavel, pois Skinner vê nos escritos dele uma clara definição da liberdade, pertinente aos seus propósitos. O que nos propomos neste texto é analisar esta leitura que Quentin Skinner faz do conceito de liberdade republicana no pensamento de Maquiavel, tendo como intuito maior trazer elementos de confrontação a sua leitura acerca dos textos do florentino. PALAVRAS-CHAVE: Liberdade; Maquiavel; Quentin Skinner, Republicanismo. REFERÊNCIAS BERLIN, I. “Two Concepts of Liberty”. In: Four Essays on Liberty. Oxford: Oxford University Press, 1969, pp. 118-172.

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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22 Ressonâncias filosóficas - Resumos

MAQUIAVEL, N. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

SKINNER, Q. As Fundações do Pensamento Político Moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

_____. “Machiavelli on the Maintenance of Liberty”, Politcs, v. 18, n. 2, 1983, p. 3-15.

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V A INTERPRETAÇÃO HEIDEGGERIANA DA EXPERIÊNCIA

CRISTÃ DA VIDA E DE SUA REALIZAÇÃO

Marcelo Ribeiro da Silva RESUMO Em questão na comunicação está o significado da realização na constituição do sentido fundamental da religiosidade, tal como o filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) a apropria do cristianismo do apóstolo Paulo. Nosso objetivo de pesquisa é compreender fenomenologicamente o sentido realizador no modo de ser do cristianismo e, com isso, continuar o empreendimento heideggeriano (observado em suas preleções sobre Fenomenologia da vida religiosa) de busca do sentido fundamental da religiosidade cristã. Para tanto, buscar-se-á primeiramente compreender a posição do filósofo a respeito da experiência fática da vida e entender a peculiaridade do sentido de realização no caminho de acesso ao fenômeno da vida fática. Depois, considerar-se-á a ênfase realizadora constitutiva da religiosidade cristã, sobretudo compreendendo como Paulo tematizou o sentido de realização em suas epístolas. Por fim, procurar-se-á, nas próprias cartas do referido apóstolo, o significado da realização na facticidade da vida cristã, em especial nos conceitos originários: “ter-se-tornado”, “parousia”, “servir” e “esperar”. PALAVRAS-CHAVE: Experiência fática da vida; Sentido de realização; Cristianismo. REFERÊNCIAS HEIDEGGER, Martin. Fenomenologia da vida religiosa. Trad. Enio Paulo Giachini, Jairo Ferradin, Renato Kirchner. 2.ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2014. (Coleção Pensamento Humano). 339p.

Page 24: RESSONÂNCIAS FILOSÓFICASfilosofia cartesiana sabemos que não é possível uma percepção direta do corpo pelo espírito devido à incompatibilidade entre essas duas naturezas

24 Ressonâncias filosóficas - Resumos

_____. Ontologia: Hermenêutica da facticidade. Trad. Renato Kirchner. 2.ed. Petrópolis: Vozes: 2013. (Coleção Textos Filosóficos). 133p.

ADRIÁN ESCUDERO, Jesús. El jovem Heidegger: un estudio interpretativo de su obra temprana al hilo de la pregunta por el ser. 2000. Tese (Doutorado em Filosofia) – Facultat de Lletres, Universitat Autònoma de Barcelona, Barcelona, 2000. 543p.

CASALE, Carlos. La interpretación fenomenológica de Heidegger de la escatologia paulina (I). Teologia y Vida. Santiago, n. 3, v. 49, 2008, pp. 399-429.

CERFAUX, Lucien. O cristão na teologia de São Paulo. Trad. José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulinas, 1976. 556p.

DUNN, James Douglas Grant. A teologia do apóstolo Paulo. Trad. Edwino Royer. São Paulo: Paulus, 2003. 907p.

FERNANDES, Marcos Aurélio. Fenomenologia da facticidade da vida religiosa cristã desde o Novo Testamento: mundo, si-mesmo, temporalidade. Revista Brasileira de Filosofia da Religião, Brasília, v. 2, n. 2, pp. 14-34, dez. 2015.

KIRCHNER, Renato. Heidegger: da filosofia fenomenológica à fenomenologia da religião. Numem: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora, v. 17, n. 2, p. 135-168, jul./dez. 2014.

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VI

A NATUREZA COMO UMA UTOPIA CONCRETA DE MUDANÇA QUALITATIVA

Cleberson Odair Leonhardt*

RESUMO Mais do que uma sobrevida, o ser humano precisa se perguntar o que quer de sua existência, o que almeja enquanto ser vivente, racional e se quer apenas prolongar sua existência? Uma leitura evolucionista talvez aponte para o prolongamento de sobrevida da espécie. Mas ampliando um pouco essa visão pode-se contemplar o ser humano como produto desta natureza; seus desejos, sua vontade e até mesmo sua racionalidade são resultados dela. Assim, os impulsos construtivos ou destrutivos (Eros e Thanatos em Freud) estão intimamente ligados com a pergunta. Sobretudo, qualquer análise mais apurada pode apontar diversos caminhos ou hipóteses de resolução; uma sobrevida, uma ideia (crença) inexorável no progresso racional que levaria inevitavelmente a uma vida evoluída, ou uma busca por se desenvolver como seres humanos interligados entre si e o mundo. Aqui a perspectiva se coaduna justamente com a terceira hipótese: buscar de maneira ativa (utopia concreta) a possibilidade de novas relações, que tragam mudanças qualitativas aos seres humanos. No contexto contemporâneo de guerras, ameaças bélicas estratosféricas, exploração desenfreada da natureza e do homem, desastres ambientais, etc., é possível precisar que a natureza esteja ameaçada de permanecer como é conhecida, entretanto, oferece também alternativas e pode ser aliada no processo de mudança qualitativa; ela também anseia por esta mudança, segundo Marcuse. A indagação pertinente então é: como “explorar” mais este potencial da natureza e como essa teoria marcuseana seria viés importante para a questão. Sobretudo, quando ele estabelece que essa natureza racional, tecnológica e instrumentalizada, porquanto intrínseca a existência dos seres humanos é, na verdade, uma entidade histórica encontrada no nascimento. É um “a priori” histórico específico desta sociedade humana atual, não uma natureza codificada geneticamente, imutável. Uma sociedade livre, segundo ele, poderá desenvolver perfeitamente um “a priori” diferente. Nela, talvez as

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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26 Ressonâncias filosóficas - Resumos

pesquisas científicas e tecnológicas possam tomar como base uma experiência de natureza como totalidade de vida a ser cuidada, protegida, cultivada. E ciência e tecnologia poderiam ser aplicadas na reconstrução do meio ambiente, na modificação das relações com a natureza, na interação entre os seres humanos ou outros modos de convivências - homem/natureza - mais harmoniosas que possam surgir. Inicialmente, esta preposição pode parecer utópica, mas o objetivo é delinear as possibilidades estabelecidas no que já existe na realidade e como elas seriam potenciais de mudança qualitativa. Essa problemática precisa iniciar fomentando o desenvolvimento de uma nova sensibilidade de relação com a natureza, de modo que, ela seja um requisito para a modificação do princípio de realidade (para Freud é o que delimita o modo do ser humano viver em sociedade, modificando sua natureza primária e instintiva). E isso só acontece a partir do desenvolvimento de um novo olhar e uma nova conceituação da realidade histórica. Essa conceituação histórica e não natural possibilita o vislumbre da mudança; e a mudança sempre está mais propensa nos grupos e indivíduos mais dispostos a ela, aqueles que não estão satisfeitos nem acomodados diante do “status quo” da totalidade do sistema como ele é. PALAVRAS-CHAVE: Natureza; Utopia; Mudança Qualitativa. REFERÊNCIAS MARCUSE, Herbert. Materialismo histórico e existência. Rio de Janeiro, RJ: Tempo Brasileiro, 1968.

_____. O fim da Utopia. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969.

_____. Ideias sobre uma teoria crítica da sociedade. Trad. Fausto Guimarães. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 1972.

_____. Contra-revolução e Revolta. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 1973a.

_____., et alii. Ecologia caso de vida ou de morte. Trad. Maria da Madre de Deus Pimenta de Souza. Lisboa: Moraes Editores, 1973b.

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A natureza como uma utopia... 27

_____. Um ensaio para a libertação. Trad. Maria Ondina. Lisboa: Livraria Bertrand, 1977.

_____. Razão e revolução: Hegel e o Advento da Teoria Social. Trad. Marília Barroso, 2ª Ed., Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1978.

_____. Ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 1979.

_____. Eros e Civilização: Uma interpretação Filosófica do Pensamento de Freud. Trad. Álvaro Cabral. 8ª Ed., Rio de Janeiro, RJ: LTC, 1999a.

_____. Tecnologia, guerra e fascismo. Coletânea de artigos de Herbert Marcuse. Edit. Douglas Kellner. Trad. Maria Cristina Vidal Borba. São Paulo, SP: UNESP, 1999b.

_____. Cultura e Psicanálise. Trad. Wolfgang Leo Maar, Robespierre de Oliveira, Isabel Loureiro. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2001.

_____. A responsabilidade da Ciência. Trad. Marilia Mello Pisani. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662009000100008> Acesso em: 16 out. 2017.

KANT, Immanuel. Para a Paz Perpétua. Trad. de Bárbara Kristensen. Rianxo: Instituto Galego de Estudos de Segurança Internacional e da Paz, 2006.

_____. Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita. Trad. Rodrigo Naves. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. V. 13. Totem e tabu. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1996.

_____. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. V. 18. Além do princípio de prazer. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1996.

_____. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. V. 21. Futuro de uma ilusão e Mal estar na civilização. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1996.

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28 Ressonâncias filosóficas - Resumos

JAY, Martin. A Imaginação Dialética: História da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro, RJ: Contraponto, 2008.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Vol.1. 3ed. Trad. Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo, SP: Ed. Nova Cultural. 1988.

_____. Manuscritos econômicos-filosóficos. Trad. Jesus Ranieri. São Paulo, SP: Ed. Boitempo. 2008b.

NOBRE, Marcos (org.). Curso Livre de Teoria Crítica. Campinas, SP: Papirus, 2008.

SCHÜTZ, Rosalvo. Trabalho Alienado e Propriedade Privada: desvendando imbricações ocultas. Revista Eletrônica Espaço Acadêmico, v. 87, p. 87, 2008.

_____. Por um outro princípio de realidade: novos lugares e motivos sociais da negação segundo Herbert Marcuse. Educação e Filosofia. Uberlândia, v. 27, n. 54, p. 699-718, jul./dez. 2013. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/17344/12709> Acesso em: 17 out. 2017.

WIGGERSHAUS, Rolf. A Escola de Frankfurt: história, desenvolvimento teórico, significação política. Trad. LilyaneDeroche-Gurgel. 3ed. Rio de Janeiro, RJ: Difel, 2010.

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VII

A NATUREZA DO EU CARTESIANO

Gleyce Kelly de Oliveira* RESUMO O cogito, ou “penso, logo existo”, cartesiano inaugurou o sujeito que através do pensar, renasceu da escuridão medieval enraizada até meados do século XVII. Tal formulação constitui um avanço de séculos para toda a História da Filosofia. Não é por acaso que René Descartes (1596-1650) é considerado o pai da Filosofia Moderna, pois muitos foram os avanços proporcionados por ele para a sua constituição. Uma questão de grande contribuição e originalidade, é a questão do sujeito, o “Eu” cartesiano, foi anunciado através do “cogito ergo sum”. O “Penso, logo existo” é a primeira afirmação do sujeito, mas é preciso definir de que se trata esse “Eu” presente nas obras cartesianas, que se apresenta como questão fundamental levantada para a modernidade. O sujeito moderno foi descrito pela primeira vez na obra Discurso do Método como (ce moi) esse “Eu”, cuja a essência é marcada pelo pensar, foi admitido através da dúvida, pois toda vez que se exercita o caminho em busca da verdade, se pensa e, portanto, o sujeito nasce. Dito isso se observa que o “Eu” ora é definido por substância pensante a qual não depende do corpo para sua existência, ora é descrito por alma cuja a natureza é inteiramente distinta do corpo; e mais tarde nas Meditações Metafísicas chamada de “res cogitans”; que é definida como coisa pensante. Portanto não há precisão na definição do conceito. Apesar de Descartes ter dado luz ao sujeito moderno, esse conceito não é definido linguisticamente em suas obras; Pascal é que mais tarde nomeará o “Eu” como (le moi). Face ao exposto, nos cabe a dúvida de quais seriam a pretensões de Descartes ao descobrir algo de extrema originalidade, e mesmo assim evitar de defini-lo nominalmente com precisão. Compete a esse trabalho, causar uma reflexão acerca do “Eu” o qual promoveu a possibilidade de recorrentes

* Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; E-mail: [email protected]

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30 Ressonâncias filosóficas - Resumos

discussões acerca da imaterialidade da mente, bem como, sua determinação para existência humana. PALAVRAS-CHAVE: Eu cartesiano, Originalidade, Cogito, René Descartes. REFERÊNCIAS CARRAUD, Vincent. L’invention du moi. Paris: PUF, 2010.

COTTINGHAM, John. Descartes: A Filosofia da Mente de Descartes. São Paulo: UNESP, 1999.

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VIII

A PROPRIEDADE EM JOHN LOCKE

Kesia Priscila Gomes Gentil*

José Dias** RESUMO John Locke (1632-1704), um dos principais representantes do empirismo britânico e muitos momentos considerado o “pai” do iluminismo, avesso a doutrina das ideias inatas. Em seu entendimento as ideias são oriundas do que se percebe por meio dos sentidos, sendo assim o homem nasce como uma tabula rasa e as ideias adquiridas ao longo da vida são mediante a experiência sensível. Neste artigo será discutida brevemente a visão política liberal de John Locke e sua postura radicalmente contraria ao absolutismo monárquico, nesta ideia de estado liberal ele defendia a liberdade do indivíduo e uma intervenção mínima do estado na sociedade. Entretanto o cerne das discussões trazidas neste artigo é compenetrado essencialmente no conceito de propriedade na visão de John Locke, atrelando ainda algumas de suas principais ideias referente ao direito de propriedade do indivíduo. O autor tem passagens marcantes em suas obras defendendo o direito natural do homem quanto a posse de propriedade, no pensamento lockiano ainda no período pré-social o ser humano é dotado de direitos, referindo-se ao direito de estado natural do homem, isto é, desde de seu nascimento tem direito a todas as coisas oferecidas pela natureza. John Locke aborda a questão do trabalho de modo bem especifico apresentado também uma relação de propriedade entre o trabalhador e o resultado de seu trabalho, sendo o trabalho propriedade do trabalhador. Por essa ótica é possível que para Locke o trabalho seja critério original de aquisição de propriedade, de modo que ao se trabalhar em determinada terra e produzir na mesma o indivíduo trabalhador toma posse de tal terra, sendo essa propriedade ainda do estado de natureza, já que na concepção lockiana antes mesmo do homem

* UNIOESTE; E-mail: [email protected] ** UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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32 Ressonâncias filosóficas - Resumos

viver em sociedade ou sobre a égide do estado o homem já tem direito a propriedade. PALAVRAS-CHAVE: Propriedade; Direito; Trabalho; Estado. REFERÊNCIAS LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil e Outros Escritos: Ensaio sobre a Origem, os Limites e os Fins Verdadeiros do Governo Civil. Traduzido por Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis: Vozes, 1994.

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IX

A QUESTÃO DO “SER” Considerações acerca dos sete primeiros parágrafos de “Ser e Tempo”, de Martin

Heidegger

Geder Paulo Friedrich Cominetti* RESUMO A temática do texto que se pretende levar ao Simpósio é a recolocação da questão do ser, presente na obra Ser e Tempo, de Martin Heidegger (1889-1976). Como é sabido, Heidegger é o pensador contemporâneo que se dedica à recolocação da questão do “ser” por meio da fenomenologia. A atenção se volta à recolocação da questão do “ser” sobretudo nos primeiros sete parágrafos da obra supramencionada porque Heidegger parece focar seus critérios e caraterísticas neste início da obra. O problema que se enfrenta aqui é o seguinte: quais são as especificidades que a questão do “ser” guarda para si? Com isso, o que se objetiva é esclarecer a maneira que Heidegger coloca a questão do “ser”, tão importante para o seu pensamento. Acredita-se que a pesquisa auxilie o estudo da obra “Ser e Tempo” na medida em que procura enumerar as características daquela que foi a questão de Martin Heidegger. PALAVRAS-CHAVE: Heidegger; Ser e Tempo; a questão do “ser”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA PRIMÁRIA HEIDEGGER, Martin. História da Filosofia de Tomás de Aquino a Kant. Petrópolis: Vozes, 2009.

* Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná; E-mail: [email protected]

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34 Ressonâncias filosóficas - Resumos

_____. Interpretaciones fenomenológicas sobre Aristóteles. Tradução de Jesús Adrián Escudero. Madrid. Trotta, 2002.

_____. Introdução à Filosofia. 2. ed. São Paulo: Wmfmartinsfontes, 2009

_____. Ontologia: hermenêutica da facticidade. Tradução de Renato Kirschner. Petrópolis: Vozes, 2013.

_____. Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo, finitude, solidão. Rio de Janeiro: Forense, 2003.

_____. Que é uma coisa? Tradução de Carlos Morujão. Lisboa: Edições 70, 2002.

_____. Ser e tempo. Tradução de Marcia Sá Cavacante Schuback. Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2015.

BIBLIOGRAFIA SECUNDÁRIA BEAUFRET, Jean. Introdução às filosofias da existência. Tradução de Salma Tannus Muchail. São Paulo: Editora Duas Cidades, 1976.

ESCUDERO, Jesús Adrián. Heidegger y la genealogia de la pregunta por el ser: una articulación temática y metodológica de sua obra temprana. Barcelona: Herder, 2010.

FIGAL, Günter. Introdução a Martin Heidegger. Tradução de Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Via Veritá, 2016.

_____. Oposicionalidade: o elemento hermenêutico e a filosofia. Tradução de Marco Antônio Casanova. Petrópolis: Vozes, 2007.

KAHLMEYER-MERTENS, Roberto Saraiva. 10 lições sobre Heidegger. Petrópolis: Vozes, 2015.

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X

A TEORIA DA IDENTIDADE A PARTIR DE PAUL CHURCHLAND

Lucas Antonio Vogel*

RESUMO A presente comunicação discorrerá sobre teoria da identidade, conhecida também como reducionismo, exposta pelo filósofo Paul Churchland (em seu livro Matéria e Consciência de 1988), para quem o reducionismo tem uma relação com a causalidade. Será verificado ainda, que Churchland enuncia a teoria da identidade como aquela que procura identificar a mente com o cérebro, assim, ela é uma forma de materialismo. Segundo essa teoria quando se demonstrar que a psicologia é reduzida a neurofisiologia, e vice e versa, então será demonstrado que na nossa mente não há nada além do físico. Para isso é preciso dois passos: em primeiro lugar reduzir as duas a mesma linguagem, em segundo lugar, defender que os objetos da psicologia são os mesmos que os da neurofisiologia. Nesse aspecto os filósofos da mente vão esquematizar o reducionismo da seguinte maneira: se procura explicar que a mente é simplesmente o nosso cérebro; sendo o cérebro apenas um sistema biológico; compreendendo esses sistemas biológicos somente por interações químicas e, essas interações químicas, por sua vez, compreendidas simplesmente como interações físicas, ou seja, essa interpretação conclui argumentando que a nossa mente é então um jogo de interações físicas. Se procurará mostrar também que a ideia do reducionismo fisicalista possui a fundamentação da sua ideia em que tudo pode ser reduzido simplesmente ao material, por essa razão que muitos confundem o materialismo com o físicalismo. O autor vai defender que os eventos mentais são iguais aos eventos físicos que ocorrem no cérebro, e ou seja, ele quer demostrar que os estados mentais são os próprios estados físicos. Será demonstrado também que o fisicalismo da identidade terá um aspecto verdadeiro se o estado mental ter uma identificação com o estado cerebral, por exemplo, que o estado mental específico da dor vai se correlacionar com o estado cerebral específico da dor, considerando

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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36 Ressonâncias filosóficas - Resumos

que um estado mental tem a possibilidade de ser produzido por muitos estados cerebrais físicos que são diferentes. Para contra argumentar a ideia do reducionismo fisicalista, outros autores argumentam a ideia do fisicalismo não-reducionista, está teoria mostra a ideia que, mesmo sendo físicos, os estados mentais não se reduzem a propriedades físicas. Está teoria está sendo muito estudada pelos filósofos da biologia e biólogos que procuram defender que já estão fixados nos fatos biológicos os fatos físicos. Para finalizar, será explicado com isso que, das teorias materialistas da mente a teoria da identidade é a mais simples, pois como já foi dito, os estados mentais são estados físicos do cérebro. Mesmo não tendo um conhecimento total sobre o funcionamento do cérebro para poder estabelecer as identidades apropriadas, com as pesquisas atuais em neurociência, a teoria da identidade vai procurar revelar esses mistérios. PALAVRAS-CHAVE: Reducionismo; Materialismo; Fisicalismo; REFERÊNCIAS CHUCHLAND, Paul. Matéria e consciência: uma introdução contemporânea à filosofia da mente. Trad. Maria Clara Cescato. Ed. UNESP, São Paulo, 1998.

CESCON, Everaldo. Quatro perspectivas contemporâneas em filosofia da mente. Revista Internacional de Filosofia, Suplemento 3, ISSN: 1130-0507, 2010.

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XI

A TRADIÇÃO DE PESQUISA EM LARRY LAUDAN: Contribuições epistemológicas para o ensino de ciências

Saulo Cezar Seiffert Santos*

Cléria Maria Wendling** RESUMO A elaboração de propostas para a renovação do ensino de ciências tem se dado por meio de reflexões epistemológicas a respeito da natureza da ciência. Nestas, tem sido enfatizado o movimento da Nova Filosofia da Ciência a partir de epistemologias como Popper, Kuhn, Feyerabend, entre outros (CUPANI; PIETROCOLA, 2002; PRAIA et al., 2002). O objetivo deste ensaio é elencar possíveis contribuições de Larry Laudan para a superação de visões deformadas (CACHAPUZ; PRAIA; JORGE, 2004) a respeito da construção científica como empreendimento neutro, linear, estritamente empírico, acumulativo e feitos por poucas pessoas com capacidade intelectual elevada (GIL-PÉREZ et al, 2001). Laudan (2011) analisa problemas empíricos, conceituais e anomalias das teorias científicas e assume as seguintes proposições sobre o progresso da ciência: a ciência não é acumulativa; normalmente não se refutam teorias por suas anomalias; as mudanças e controvérsias científicas são normalmente resolvidas conceitualmente; os princípios da racionalidade do pensamento científico mudam ao decorrer do tempo; a existência de teorias rivais é comum, de tal forma que o progresso das teorias é uma atividade comparativa. Laudan apresenta o termo tradição de pesquisa como “[...] um conjunto de suposições acerca das entidades e dos processos de uma área de estudo e dos métodos adequados a serem utilizados para investigar os problemas e construir teorias dessa área do saber” (LAUDAN, 2011, grifos do autor, p. 115). No diálogo com seus contemporâneos se opõem a Kunh ao resgatar a racionalidade por meio dos pressupostos cognitivos nos objetivos das investigações numa tradição de pesquisa. Laudan levanta a questão da mudança de paradigma racional por novas opções

* Universidade Federal do Amazonas; E-mail: [email protected] ** UNIOESTE; E-mail:[email protected]

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38 Ressonâncias filosóficas - Resumos

axiológicas, metodológicas e factuais (SALVI, 2011). Propõem o Modelo Reticulado de Racionalidade Científica (MRRC) (LAUDAN, 1984) em função dos métodos, teorias, fins e metas de pesquisa. Entende que demandas axiológicas, metodológicas e factuais estão conectadas. Assim, os objetivos justificam os métodos, as teorias restringem as metodologias, os fins e metas justificam as metodologias, as metodologias tornam factíveis os fins e metas, e as teorias devem se harmonizar com os fins e metas (CUDMANI, 1997). Nesse sentido as reflexões epistemológicas de Laudan são interessantes para a superação de deformações acerca da natureza das ciências apontadas em pesquisas (HARRES, 1999) com professores e alunos, as quais indicam uma ênfase no aspecto empírico-indutivista, na valorização da ideia de método científico unificado, de verdade originada da observação e de uma tendência ao cientificismo. A compreensão de Laudan pode contribuir para refletir o ensino de ciências, ao indicar que: a ciência é uma atividade orientada para a solução de problemas, sendo esses de ordem empírico ou conceitual; as teorias são elaboradas para resolver problemas numa concepção anterior e organizada de mundo associadas a uma tradição de pesquisa; as tradições de pesquisa legitimam formas de pensar e praticar a ciência, pois evitam que o cientista tenha de repensar em todos os pressupostos integralmente; as mudanças científicas podem ser analisadas racionalmente pelo MRRC, que pode ser usado para compreender as escolhas dos cientistas. A ideia é evitar o dogmatismo nos modelos metodológicos e epistemológicos científicos (LAUDAN, 1984). PALAVRAS-CHAVE: Larry Laudan; Tradição de Pesquisa; Epistemologia da Ciência; Ensino. REFERÊNCIAS CACHAPUZ, A.; PRAIA, J.; JORGE, M. Da Educação em Ciência às orientações para o ensino das Ciências: um repensar epistemológico. Ciência e Educação, Bauru, v. 10, p. 363 – 381, 2004.

CUDMANI, L. C. Historia y epistemología de las ciencias. Enseñanza de las ciencias, s.l, v. 17, n. 2, p. 327–331, 1997. Disponível em: <http://www.raco.cat/index.php/ensenanza/article/viewFile/21583/21417>. Acesso em: 28 set. 2017.

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A tradição de pesquisa... 39

CUPANI, A.; PIETROCOLA, M. A relevância da epistemologia de Mario Bunge para o ensino de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianopolis, v. 19, p. 100–125, 2002. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/viewFile/10057/15387>. Acesso em: 5 set. 2017.

HARRES, J. B. S. Uma revisão de pesquisas nas concepções de professores sobre a natureza da ciência e suas implicações para o ensino. Investigações em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v. 4, n. 3, p. 197–211, 1999. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/Ciencias/Artigos/harres.pdf>. Acesso em: 5 set. 2017.

GIL-PÉREZ, D.; MONTORO, L. F.; ALIS, J. C.; CACHAPUZ, A.; PRAIA, E. J. Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Revista Ciência & Educação, 7, 2, 125-153, 2001.

LAUDAN, L. O progresso e seus problemas: rumo a uma teoria do crescimento científico. São Paulo: EdUNESP, 2011.

LAUDAN, L. Science and Values: The aims of science and their role in scientific debate. Berkeley: University of California Press, 1984.

PRAIA, J. F.; et alii. Problema, teoria e observação em ciência: para uma reorientação epistemológica da educação em ciência. Ciência & Educação, Bauru, v.8, n. 1 p. 127–145, 2002.

SALVI, R. F. A rede triádica dos compromissos científicos da Geografia Regional: um olhar sob a perspectiva da Teoria da Ciência de Larry Laudan. Brazilian Geographical Journal, s.l, v. 2, n. 1, p. 86–98, 2011. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/braziliangeojournal/article/viewFile/11750/7577>. Acesso em: 24 set. 2017.

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XII

ACERCA DAS EMOÇÕES: o colóquio Sartre/Goldstein

Caroline de Paula Bueno*

RESUMO O objetivo desse trabalho é analisar as convergências e divergências entre a obra do psiquiatra alemão Kurt Goldstein e do fenomenólogo francês Jean-Paul Sartre. Esse tema, em específico, foi escolhido para conhecermos um pouco mais sobre o trabalho do psiquiatra alemão Kurt Goldstein, que tem uma grande aproximação com os fenomenólogos, sendo considerado um dos pioneiros em neuropsicologia. Para isso foi necessário a tradução de trechos da obra goldsteiniana, visto que esse material se encontra disponível somente em língua inglesa. Levando em consideração a maneira que Goldstein pensou e elaborou seus escritos sobre as emoções, percebe-se certa aproximação com o filósofo Sartre, pois ambos entendem a emoção como uma atitude concreta, que serviria para proteger o agente dos perigos reais e imaginários que o atormentariam; por isso, os dois autores compreendem a emoção como uma relação entre o indivíduo e seu mundo circundante. Para o desenvolvimento do trabalho, além da tradução do capítulo que aborda o tema das emoções, extraído da importante coletânea Selected papers, de Kurt Goldstein, também cotejamos O esboço de uma teoria das emoções de Sartre como texto capital no sentido de se estabelecer um primeiro e frutífero colóquio. Como método de pesquisa para a elaboração deste trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica, desenvolvida por meio da consulta em livros, artigos online, revistas e periódicos científicos. Desse modo, faremos uso de materiais pesquisados e publicados por outros pesquisadores sobre o tema em questão. PALAVRAS-CHAVE: Fenomenologia; Goldstein; Sartre; Teoria das emoções.

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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42 Ressonâncias filosóficas - Resumos

REFERÊNCIAS GOLDSTEIN, Kurt. Selected papers. Hague: Martinus Nijhoff, 1971.

DICIONÁRIO Oxford Advanced Learner’s Dictionary. Oxford University Press. Oxford. 1999.

SARTRE, Jean-Paul. Esboço para uma teoria das emoções. Porto Alegre: L&PM, 2014. Tradução Paulo Neves.

_____. O ser e o nada. 15 ed., tradução de Paulo Perdigão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

SASS, Simeão Donizeti. “Goldstein e Sartre: considerações acerca das emoções”, in Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea, Vol. III, nº 2, 2015, p. 103-112.

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XIII

AS FILOSOFIAS DA CIÊNCIA DO SÉCULO XX A metodologia rigorosa como validação do conhecimento versus a crítica aos métodos

José Luiz Giombelli Mariani*

RESUMO O presente trabalho visa explanar algumas das mais importantes filosofias da ciência do século XX, a saber: O positivismo lógico, que teve início nas primeiras décadas do século XX, com o conhecido Círculo de Viena, com diversos cientistas e filósofos que concebiam a ciência com base na experiência empírica, portanto, é um método de análise científica onde as hipóteses só podem ser comprovadas se as mesmas puderem passar por provas empíricas. Outra filosofia que será abordada é do filósofo húngaro Irme Lakatos, que nitidamente tem a pretensão de estruturar a ciência, através dos chamados programas de pesquisa, para isto são criados meios de garantir o conhecimento científico, como os núcleos irredutíveis, que são as características principais e invioláveis de determinada pesquisa, além de um “cinturão protetor” que corresponde não somente as hipóteses auxiliares que sustentam o núcleo, mas também suposições diversas, como descrições das condições iniciais e demais proposições das observações realizadas para que determinada pesquisa científica aconteça. O cientista que estiver dentro de determinado programa não poderá violar o núcleo, sendo assim, fica claro o objetivo desta filosofia da ciência, que é estruturar e organizar, a partir de um método a ciência. Outras tantas filosofias da ciência como: o falsificacionismo de Popper e os paradigmas de Thomas Kuhn, tem a mesma pretensão, que as duas explanadas anteriormente, que é estruturar através de teorias e métodos a ciência, para que a mesma, tenha uma autoridade de conhecimento infalível e explique a maioria dos fenômenos existentes no mundo. A ciência moderna instaurada por Galileu Galilei busca tal “status” dentro da sociedade ocidental contemporânea e por vezes, esquece que muitos dos seus conhecimentos são equivocados e muitas vezes são apenas hipóteses e teorias que não podem ser comprovadas. Exigir tal rigor, segundo Paul Feyerabend, é

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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impedir que a ciência progrida. Afinal, para este filósofo a ciência não é linear, mas sim caótica e de modo complexo, não podemos restringir a ciência em poucas teorias, mas se deve levar em consideração todas as possibilidades, e não excluir algumas pesquisas em detrimentos de outras que são mais vantajosas ou com rigor metodológico maior. A ciência não pode ter autoridade para dizer que teoria deve ser estudada e qual deve ser abandonada, assim sendo, a ciência aos olhos de Feyerabend deve ser livre e proporcionar a liberdade e a humanização da sociedade. O presente trabalho busca explanar de forma breve as duas filosofias da ciência (positivismo lógico e programas de pesquisa de Lakatos) e elucidar alguns pontos breves da crítica de Feyerabend as metodologias científicas. PALAVRAS-CHAVE: Metodologia; Conhecimento Científico; Experiência; Programas de Pesquisa. REFERÊNCIAS CHALMERS, Alan F. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.

FEYERABEND, Paul K. A ciência em uma sociedade livre. São Paulo: Editora UNESP, 2011

_____. Adeus à razão. São Paulo: Editora UNESP, 2010.

_____. Contra o método. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2011.

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XIV

COMO CONQUISTAR UMA SOCIEDADE JUSTA E ESTÁVEL?

contribuições da teoria da justiça como equidade

Nelsi Kistemacher Welter* RESUMO No momento em que vivemos (no Brasil e no mundo) uma situação de grave instabilidade – que pode ser observada da perspectiva política, social e econômica, mas também da perspectiva da organização das instituições sociais básicas – procuraremos pensar as contribuições do pensamento de John Rawls e da justiça como equidade para o problema da estabilidade social. Embora o filósofo americano tenha deixado incompleta a obra Justice as fairness: a briefer restatement onde, no capítulo quinto mais propriamente, reformule alguns de seus argumentos em favor da estabilidade da justiça como equidade, procuraremos compreender suas contribuições, ao longo de suas obras, para pensar a concepção de justiça que é, segundo ele, a mais adequada à sociedade democrática e que é capaz de torna-la estável. Na obra Uma teoria da justiça, Rawls já manifestará sua preocupação com a estabilidade social ao questionar que forças seriam capazes de garantir que a sociedade bem ordenada – aquela regulada pelos princípios da justiça como equidade – pudesse ser justa e estável. No capítulo quinto da obra, o pensador norte americano busca identificar o que levaria os cidadãos a apoiarem voluntariamente e continuamente as instituições justas contra as forças desruptivas que possam surgir na sociedade. Para ele, a estabilidade social implica na aceitação e apoio contínuo às instituições justas – aquelas às quais são aplicados os princípios da justiça como equidade. Essa situação, no entanto, leva as instituições a imporem algumas restrições aos indivíduos. Mas o que levaria o indivíduo a aceitar essas restrições na sua vida cotidiana? Ainda na mesma obra, o problema da estabilidade está relacionado a dois argumentos: o primeiro se relaciona ao senso de justiça e sua importância

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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e envolve a preocupação em explicar como os cidadãos o adquirem no processo de desenvolvimento psicológico; o segundo trata da congruência do correto e do bom, reforçando a importância do “endosso reflexivo” dos cidadãos aos princípios de justiça. É importante salientar que nas obras posteriores a Uma teoria da justiça, Rawls passa a pensar a possibilidade da estabilidade no contexto de sociedades democráticas, cuja característica é o pluralismo de doutrinas (morais, filosóficas e religiosas) e indica a fundamentação da concepção da justiça como equidade através de uma estratégia política, sendo sua ideia principal a da produção de um consenso sobreposto. Pretendemos nos apropriar das ideias do autor para, a partir delas, refletir sobre a condição de instabilidade que hoje vivemos as possíveis contribuições para pensarmos uma sociedade justa e estável. PALAVRAS-CHAVE: estabilidade social; justiça como equidade; instabilidade. REFERÊNCIAS RAWLS, John. A Theory of Justice. Cambridge: Harvard University Press, 1971.

RAWLS, John. Justiça como Eqüidade: Uma Reformulação. Tradução de Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

_____. Justiça e Democracia. Tradução de Irene A. Paternot. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

_____. Political Liberalism. 2 ed. New York: Columbia Univerity Press, 1996.

WELTER, Nelsi Kistemacher. O problema da estabilidade na justiça como equidade: da teoria moral à defesa de uma concepção política. (Tese). Florianópolis: UFSC, 2013.

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XV

CRIANÇA E O CORPO SEM ÓRGÃOS Uma abordagem a partir de Deleuze e Guattari

Ana Carolina Noffke*

RESUMO Este trabalho tem como intuito investigar de que forma a criança pode ser pensada junto a análise de alguns pontos do primeiro capítulo da obra o Anti-Édipo (2011) de Deleuze e Guattari, principalmente no que se refere ao que eles chamam de processo de produção e os conceitos que perpassam tal processo. O que atravessa a obra aqui referida é a teoria do desejo como força motriz de tal processo, como produção e não como falta, e que a tudo está conectada. A ideia de produção que atravessa a obra baseia-se na definição de produção estabelecida por Marx, bem como o papel do desejo junto a essa produção. Assim, uma breve referência será feita a Marx a fim de estabelecer os dois pontos de processo de produção. Deleuze e Guattari estabelecem diversas vezes, a relação da criança a tal processo, bem como a relação desta com o desejo, afirmando que o inconsciente é órfão e que é pura produção, diferente da teoria freudiana que o tem como um teatro. A criança está desde o nascimento em um processo de produção e de anti-produção. Pensamos, dessa forma, ser válido pensar a criança também a partir da ideia de anti-produção como relacionada ao conceito de “Corpo Sem Órgãos”, que, nesse caso, pode ser pensado como a atividade da criança em fugir de se tornar um organismo. Deleuze e Guattari estabelecem a diferença entre organismo e Corpo Sem Órgãos como uma questão de intensidade. O organismo deve ter controle sobre seus órgãos, e desse modo, eles devem obedecer a uma forma pré-estabelecida de funcionamento. Já o Corpo Sem Órgãos não é passível de uma definição, visto que se estabelece sobre um conjunto de práticas que visam libertar o corpo da representação de organismo. É nítido o esforço para a constituição de um organismo na criança desde a mais tenra idade. Com o passar dos anos, cada vez mais esse corpo se torna alvo de inúmeras outras técnicas de disciplina para que se torne parte

* UNIOESTE: E-mail: [email protected]

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de um grande organismo: o social. A criança não para de tentar extrapolar os limites da lógica, da função, do significante, não apenas com seus órgãos, mas a partir da relação que mantém com os objetos parciais, com a linguagem, e de forma geral, com a forma como esse corpo é tomado no campo social. A denúncia que os autores estabelecem sobre a psicanálise é de que esta, arbitrariamente, realoca tudo na triangulação edipiana. A síntese representativa que acompanha Édipo e que estabelece um vínculo familiar e pessoal a todas as coisas faz escapar as determinações do campo social que incidem sobre o desejo. Nessa perspectiva, estabelecer de que forma se dá a criação do Corpo Sem Órgãos pela criança e de como este é entendido como uma anti-produção pode ser muito frutífero para estabelecermos algumas relações que o capitalismo estabelece com o desejo e com o corpo do ser genérico. PALAVRAS-CHAVE: Desejo; Criança; Produção; Corpo Sem Órgãos. REFERÊNCIAS DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Felix. O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. Trad. Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2011.

_____. Crítica e clínica. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 1997.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.

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XVI CRÍTICA DA RAZÃO PURA COMO OBRA DE METAFÍSICA:

evidências textuais

Luis Cesar Yanzer Portela* RESUMO O propósito do presente trabalho é demostrar a existência de abundantes evidências textuais em várias obras de Kant que corroboram a interpretação de que ele a concebe como uma obra de Metafísica. A primeira parte visa apresentar as mais difundidas interpretações acerca do propósito primordial de Kant na Crítica da Razão Pura. Para fazer isso dividimos as interpretações em dois grupos: Grupo A, composto pelas interpretações que não concebem a Crítica da Razão Pura como uma obra de Metafísica, mas como uma obra de: a) Metodologia ou Epistemologia das Ciências Naturais. Cohen (2001), Wildelband (1951), Cassirer (1986, 1993), Vuillemin (1955), Philonenko (1975, 1989), são exemplo de comentaristas que sustentam tal interpretação; b) Teoria do Conhecimento. Tal interpretação é sustentada, dentre outros, por Russerl (1971), Bennett (1966), Allison (1983) e Guyer (1987); c) Psicologia Transcendental. Patricia Kitcher (1995) é na contemporaneidade a mais conhecida representante desse tipo de interpretação, que segundo ela própria, teve proeminência na primeira centúria da publicação da Crítica da Razão Pura. Outro autor contemporâneo que tem defendido tal interpretação é Brook (1994); d) Semântica Transcendental. Butts (1969), Loparic (2000), Hanna (2004) e Perez (2008), são alguns dos comentaristas e estudiosos que preconizam tal interpretação. Grupo B, composto pelas interpretações que sustentam que a Crítica da Razão Pura é prioritariamente uma: a) Metafisica da Experiência. Paton (1935) e Strawson (1966) são exemplos paradigmáticos desse tipo de interpretação; b) Ontologia. Heiddegger (1996) é sem dúvida o mais conhecido representante desse tipo de interpretação. No entanto, tal interpretação também tem sido sustentada por, Martin (1963), Chenet (1994), Americks (1993) Longuenesse (1993) e Bonaccini (2016), dentre outros. Feito isso

* UNIOESTE/UNICAMP; E-mail: [email protected]

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passamos a demonstrar que as interpretações acima mencionadas para evitar ser consideradas artificiosas e para corroborarem as suas propostas interpretativas se utilizam do expediente da apresentação de evidências textuais extraídas da obra de kantiana. Na sequência nos ocupamos de mostrar algumas deficiências dessas interpretações no que respeita as evidências textuais que utilizam. Quanto às interpretações pertencentes ao Grupo A, mostramos que sua principal deficiência é desconsiderarem uma abundante quantidade de evidências textuais encontradas tanto na Crítica da Razão Pura quanto em outras obras kantianas nas quais Kant atribui a primeira Crítica o caráter de uma obra de metafísica. Quanto às interpretações pertencentes ao segundo grupo, mostramos que sua principal deficiência é a apresentação de insuficientes evidências textuais usadas para corroborarem suas propostas interpretativas. Por último, nos posicionamos frente às interpretações pertencentes tanto ao Grupo A, defendendo que a Crítica da Razão Pura é concebida por Kant como uma obra de metafísica, o que também faz as interpretações pertencentes ao grupo B. Dados as deficiências apontadas às evidências textuais das interpretações pertencentes ao grupo B, e as diferentes concepções de metafísica que os autores sustentam a partir de evidências textuais extraídas da obra de Kant, nos propomos na sequência a apresentar uma série de evidências textuais ínsitas em várias obras de Kant na busca da identificação do significado que atribui à Crítica da Razão Pura como obra de metafísica. PALAVRAS-CHAVE: Crítica da Razão Pura; Interpretações; Evidências Textuais; Metafísica. REFERÊNCIAS ALLISON, H. A. El Idealismo transcendental de Kant: una interpretación y defesa. Trad. Dulce Maria Granja Castro. Barcelona: Anthropos

ALMEIDA, G.A. Kant e o “escândalo da filosofia”. In: Kriterion. nº. 95, p. 49-72, 1997.

AMERIKS, Karl. The critique of metaphysics: Kant and traditional ontology. In: GUYER, Paul (ed.). The Cambridge Companion to Kant. Cambridge: Cambridge, University Press, 1992, pp. 249 – 271.

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Crítica da razão pura... 51

BENNETT, J. La “Crítica de la razón pura” de Kant. 1. La Analítica. Trad. A. Montesinos. Madrid: Alianza Editorial, 1990.

BONACCINI, J. A. Analítica e Ontologia: Sobre a Teoria kantiana dos objetos. In: Princípios - Revista de Filosofia, maio-agosto, p. 295-346, 2016.

BROOK, A. Kant and the Mind. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.

CASSIRER, E. El problema del Conocimiento en la Filosofia y en la Ciencia Modernas. V. 2. Trad. Wenceslau Roces.3ª Ed. México: FCE, 1986.

_____. Kant, vida y doctrina. México: Fondo de Cultura Económica, 1993.

CHENET, F. X. L’assise de L’ontologie critique: L’Esthétique transcendantale.Lille: Presses Universitaires de Lille, 1994..

COHEN, H. La Théorie kantienne de l`expérience. Trad. Éric Dufour et Julien Servois.Paris: Les Éditions du Cerf, 2001.

FREULER, L. Kant et la métaphysique spéculative. Paris: Vrin, 1992.

GUYER, P. Kant and the Claims of Knowledge. Cambridge/Ma: Cambridge University Press, 1987.

HANNA, R. Kant and the Foundations of Analytic Philosophy. Clarendon: Oxford, Univ. Press, 2001.

HEIDEGGER, M. Kant y el Problema de la Metafísica. Trad. Gred Ibscher Roth. México: FCE, 1996.

KANT, I. Crítica da Razão Pura. Trad. Valério Rohden e Udo B. Moosburger. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

_____. Prolegômenos a qualquer Metafísica Futura que Possa Apresentar-se como Ciência. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Eitora Estação Liberdade, 2014.

_____. Lógica. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992.

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_____. Acerca da Pergunta da Academia Real de Ciências de Berlim: Quais são os Verdadeiros Progressos que a Metafísica Realizou na Alemanha desde os Tempos de Leibniz e Wolff? Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1985.

_____. Princípios Metafísicos da Ciência da Natureza. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1990.

KITCHER, P. Kant´s Transcendental Psychology. Oxford, UK: Oxford University Press, 1990.

LONGUENESSE, B. Kant et le pouvoir de juger. Sensibilité et discursivité dans l´Analytique transcendantale de la “Critique de la raison pure”. Paris: Presses Universitaires de France, 1993.

LOPARIC, Z. A Semântica Transcendental de Kant. Campinas: Unicamp, Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência, 2000.

MARTIN, G. Science moderne et ontologie traditionnelle chez Kant. Trad. Jean-Claude Piguet. Paris: Puf, 1963.

PHILONENKO, A. L’École de Marbourg - Cohen-Natorp-Cassirer. Paris: Vrin, 1989.

_____. L’ouvre de Kant: la philosophie critique. Paris: Vrin, 1996.

PATON, H. J. Kant’s Metaphysic of Experience. A Commentary on the First Half of the Kritik der reinen Vernunft. London: Allen & Unwin, 1936.

PEREZ, D. O. Kant Pré-crítico: A Desventura Filosófica da Pergunta. Cascavel: Edunioeste, 1998.

PÉREZ, D. O. Kant e o Problema da Significação. Curitiba: Champagnat, 2008.

RUSSEL, B. The Problems of Philosophy. Oxford: Oxford University Press, 1971.

STRAWSON, P. F. The Bounds of Sense. An Essay on the 'Critique of Pure Reason'. London: Methuen/Reprinted by Routledge, London, 1999.

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Crítica da razão pura... 53

WINDELBAND, W. Historia de la Filosofia Moderna. T.2. Trad. Elsa Tabernig. Buenos Aires: Editorial Nova, 1951.

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XVII

DELEUZE E O ENSINO DE FILOSOFIA

Ana Claudia Barbosa Nunes* RESUMO O filósofo e educador Gilles Deleuze, nos provoca com ideias de pensar e de criar conceitos; a especificidade da filosofia é criar conceitos, “a filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos” (DELEUZE, 1997, p.10). O filósofo pensa sobre um determinado problema, os conceitos surgem a partir de um problema. O filósofo utiliza os conceitos filosóficos existentes, recriando-os, a fim de que sejam satisfatórios para responder ao problema. Ou seja, se utiliza de um mesmo termo da língua, porém o ressignifica a partir de um problema vivido, dando autenticidade a esse termo. Os conceitos devem ser sempre discutidos, reavivados na filosofia, para ganhar força e retornar à vida, para tornar a filosofia viva. Para ele, não cabe ao filósofo somente o refletir sobre as questões educacionais, pois o filósofo é um criador de conceitos e deve ter intimidade com os problemas educacionais, que não são exclusivos da educação, mas fazem parte da vida. Cabe ao pensador da educação ou ao professor de filosofia, se apropriar de conceitos filosóficos para pensar os problemas educacionais. Na sala de aula o professor deve dialogar com os alunos sobre as obras filosóficas e problemas existentes em nossa realidade, para que a partir do pensamento dos filósofos os alunos possam pensar e criar seus próprios conceitos com o intuito de resolver esses problemas. Deleuze, dizia que cada aula deveria ser ensaiada, “uma aula é ensaiada” (DELEUZE, G., 1988, p. 1). O papel do professor é ensaiar suas aulas, para que elas coloquem o pensamento em movimento pelo despertar da emoção, do interesse. O professor de filosofia é uma personagem que deve buscar a linguagem dos alunos, isso não significa que ele deve se tornar aluno, mas que deve pensar e sentir como aluno, para dessa maneira acontecer a filosofia. Nesse ato filosófico ocorre o pensar que é experimentar, ou seja, sempre ver o novo. O professor pode criar milhares de métodos para ensinar seus alunos, mas não conseguirá

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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saber se todos aprenderam, porque o aprendizado ultrapassa todos os limites. “[...] ensinar é como lançar sementes, que não sabemos se germinarão ou não; já aprender é incorporar a semente, fazê-la germinar.” (GALLO, Silvio, pag. 84). O professor ensaiando suas aulas, tendo total dedicação com a educação, lançará essas sementes; às vezes não serão todos os alunos que irão incorporar a semente, mas com o tempo mais alunos terão interesse em aprender. PALAVRAS-CHAVE: Deleuze; Conceito; Ensino; Filosofia. REFERÊNCIAS DELEUZE, Gilles. O que é a filosofia? 2. Ed. Rio de Janeiro: 34, 1997

_____. Gilles. O abecedário de Gilles Deleuze. Vídeo. Editado no Brasil pelo Ministério de Educação, “TV Escola,2001.

DOSSE, François. Gilles Deleuze e Félix Guattari: Biografia Cruzada. Porto Alegre: Artmed, 2010.

ASPIS, Renata Lima; GALLO, Silvio. Ensinar filosofia: um livro para professores. São Paulo: Atta Mídia e Educação,2009.

GALLO, Silvio. Deleuze & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica,2008.

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XVIII DEUS E A PROVA DE SUA EXISTÊNCIA EM ANSELMO DE

CANTUÁRIA

Filipe Luís Brustolin* José Dias**

RESUMO Foi a pedido de seus colegas de monastério1 que Anselmo, sem se utilizar das Sagradas Escrituras, provasse a existência de Deus de uma vez por todas, com um argumento simples e irrefutável. Ele parte do enunciado de que Deus é o “ser do qual não é possível pensar nada maior”. Somente ao pensar em tal ser pode-se provar sua existência. É possível (somente) pensar algo que não exista na realidade, entretanto, se fosse o caso do “ser do qual não é possível pensar nada maior” seria possível pensar algo maior do que ele, o que é irracional, e, ainda, já que existir é melhor do que não existir, e o “ser do qual não é possível pensar nada maior” é perfeito, nada lhe falta, logo, ele existe2. Anselmo continua por descrever a natureza do “ser do qual não é possível pensar nada maior”: é superior a tudo, existe por si, e é causa de ser de todos os outros seres3. “É viva, sábia, onipotente, verdadeira, justa, feliz, eterna e tudo aquilo que, igualmente, é melhor ser do que não ser, de maneira absoluta” 4. A substância divina criou todas as coisas do nada. Não como se o nada fosse algo do qual ela pudesse tirar as criaturas, nem, muito menos, as criou a partir de si mesma, mas do não-ser absoluto5. Mas, antes de a coisa existir de fato, ela existia, de certa forma, antes de sua criação, na inteligência da substância divina6, talvez como um modelo da obra de arte existe já no intelecto do artista, mesmo antes de ele a realizar7. Além

* UNIOESTE; E-mail: [email protected] ** UNIOESTE; E-mail: [email protected] 1 Monológio. Prólogo. P. 5. 2 Proslógio. Capítulo II. P. 101-102. 3 Monológio. Capítulo III. P. 9-11. 4 Ibid. Capítulo XV. P. 27. 5 Ibid. Capítulo VIII. P. 17-20. 6 Ibid. Capítulo IX. P. 20. 7 Ibid. Capítulo X. P. 20-22.

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de criar todas as coisas, a substância divina também as mantém no ser8, ou seja, sem sua ação elas retornam ao nada. Esta razão da coisa que existe na inteligência suprema antes de a mesma ser criada é relacionada por Anselmo a uma palavra, e, instantaneamente, ele diz que se encontra no Verbo eterno, que também é Deus, que nem a substância divina9. Conceitos trinitários aparecem mais posteriormente em sua obra. Devido à sua suma simplicidade, tudo o que se diz a respeito da natureza suprema redunda em uma só coisa10, ou seja, sendo assim, pode-se dizer que ela é justa, mas também a própria justiça (fonte de tudo aquilo que é justo), enquanto todas essas palavras remetem unicamente à sua essência11. Quanto a sua eternidade, deve-se dizer que não é uma mera infinitude, assim como a alma humana, por exemplo, mas que o ser supremo não tem princípio nem fim12. A essência suprema, apesar de ser imutável, está em todo lugar e em todo tempo, ou melhor, em toda parte e existe sempre. Isto é, está presente em tudo, sem ser o tudo, se encontra completa em todos os lugares sem se condicionar13. Ela não se encontra estendida no tempo, nem se altera com o seu passar, apesar de existir sempre não tem no tempo limite14. O Santo também discorre longa e sensacionalmente sobre o mistério da Santíssima Trindade: um único Deus que é Pai, e Filho, e Espírito15. Porém, tal reflexão deixa-se para outro lugar. PALAVRAS-CHAVE: Deus; Existência de Deus; Anselmo; Argumento ontológico. REFERÊNCIAS: CANTUÁRIA, Santo Anselmo de. Monológio. Col. Os pensadores. Trad. Angelo Ricci. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 3-93.

_____. Proslógio. Col. Os pensadores. Trad. Angelo Ricci. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 95-123.

8 Ibid. Capítulo XIII. P. 24. 9 Ibid. Capítulo XII. P. 23. 10 Ibid. Capítulo XVII. P. 29-30. 11 Ibid. Capítulo XVI. P.28-29. 12 Ibid. Capítulo XVIII. P. 31-32. 13 Ibid. Capítulo XXIII. P. 41-42. 14 Ibid. Capítulo XXIV. P. 42-43. 15 Ibid. Capítulo LXXVIII. P. 91-92.

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XIX DEUS E O DESEJO: O FUNDAMENTO ANTROPOLÓGICO

DA MORAL RELIGIOSA EM FEUERBACH

Douglas Monteiro Pinto* José Dias**

RESUMO A moral nas relações humanas, tanto com o outro, quanto consigo mesmo, é marcada por uma profunda relação com o desejo. Mesmo quando não evoca preceitos religiosos, a moralidade carrega consigo algum tipo de lei natural, e mesmo quando nega valores metafísicos anteriores a ela mesma, ainda há um alvo, uma finalidade, um desejo que projeta valor à moralidade e a determinadas formas de comportamento. Apesar de muitos desses comportamentos variarem de acordo com costumes e normas culturais, a existência desses costumes e normas revela muito sobre como o ser humano, ao longo da sua construção histórica, viu a si mesmo num patamar altamente idealizado, e baseado nessa visão, traçou caminhos pelos quais ele deveria submeter-se a fim de alcançar este ideal, ou este desejo. Sendo assim, este trabalho visa analisar esse processo, tal como argumentado por Ludwig Feuerbach em suas “Preleções sobre a essência da religião”. No texto, o autor alemão, ao presumir uma essência humana, não consegue fugir da metafísica, apesar do caráter profundamente materialista de sua filosofia. Isso, no entanto, não torna menos interessante a forma como ele usa essa essência humana e os desejos intrínsecos a ela para fundamentar a própria essência de Deus. E sua conclusão é provocante: A crença que o ser humano tem em Deus é, na verdade, nada mais que a crença que ele tem em sua própria essência. Nessa visão, Deus tem como função realizar os desejos humanos. Para que esse Ser Supremo se torne crível, então, é necessário que o homem creia antes na sacralidade dos seus próprios desejos, ou seja, da sua própria essência. A imagem que o homem cria da Divindade está ligada diretamente à imagem que tem de si mesmo, de sua essência e de seus

* UNIOESTE; E-mail: [email protected] ** UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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desejos. Por isso, construir um aparato moral religioso, ou seja, fundamentado em Deus, é antes de mais nada, projetar os desejos humanos em algo acima de si que em essência é, na verdade, próprio de si mesmo. Feuerbach afirma que a perfeição e a felicidade divinas são como o homem realiza o próprio desejo de ser feliz e perfeito, mesmo moralmente, afinal não há felicidade onde não há perfeição moral. A maldade, a inveja, os ciúmes ou qualquer outra manifestação da ausência de moral são impeditivos para a felicidade, logo, são reprovados por Deus e evitados pelos homens. O desejo de imortalidade é, no entanto, o mais importante em todo esse contexto. Sendo esse o desejo mais profundo do homem, a essência divina imortal nada mais é, segundo Feuerbach, que a projeção do homem acreditado, futuro, que é perfeito, imortal e superior ao homem presente, assim como Deus. O autor, dessa forma, coloca o homem como o cerne da religião espiritual (ou cristã), na medida em que ele é o objeto e a essência dos desejos humanos. PALAVRAS-CHAVE: Moral; Religião; Deus; Desejo. REFERÊNCIAS FEUERBACH, Ludwig. Preleções sobre a essência da religião. Trad. José da Silva Brandão. Campinas: Papirus: 1989.

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EDUCACÃO E SOLIDÃO EM NIETZSCHE

Kelly de Fátima Castilho* RESUMO Este trabalho pretende analisar os escritos de Nietzsche no que se refere à educação e solidão, para tal faremos uma análise dos primeiros escritos do filósofo, no qual ele critica o caráter massificar da educação e da cultura de sua época. Para Nietzsche, uma educação que nivela os homens, suprimindo as singularidades e tornando-os medíocres, não proporciona o surgimento de um tipo mais elevado, tampouco permite a manifestação do gênio e é neste sentido que a educação de sua época é alvo de duras críticas. Ao servir aos interesses do mercado e do Estado a educação massifica os homens e não cumpre seu papel na elevação da cultura, pois valoriza aspectos meramente eruditos e defende a memorização em detrimento da criação. Nietzsche propõe uma educação que não suprima a contradição dos impulsos e instintos, mas que permita o surgimento de singularidades capazes de criar novos valores e verdades. A solidão e o sofrimento possuem papel decisivo neste processo e jamais devem ser suprimidos. Faremos uma análise destes conceitos na obra tardia de Nietzsche a fim de compreender a educação como um processo de formação do homem elevado. PALAVRAS-CHAVE: Nietzsche; educação; solidão; criação. REFERÊNCIAS NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Escritos sobre Educação. Trad. Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: PUC-Rio; Ed. Loyola, 2009.

FREZZATTI, J. Wilson Antônio. A fisiologia de Nietzsche: a superação da dualidade cultura/biologia. Ijuí: Ed. Unijuí, 2006.

* Instituto Federal Farroupilha; E-mail: [email protected]

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ELEMENTOS PARA PENSAR A CONDIÇÃO FORMATIVA DO ENSINO DE FILOSOFIA

José Carlos Mendonça*

RESUMO Tomando por base para reflexão elementos da experiência pessoal do ofício docente no Curso de Licenciatura em Filosofia, tanto das atividades de pesquisas realizadas quanto das do ensino e da prática de orientação e supervisão de estágios, e neste contexto principalmente as advindas da condição (in)formativa do sujeito na prática da filosofia que visa educar, o que se visa com este trabalho é trazer para o centro da discussão um problema no qual se encontram submetidos tanto o professor quanto o aluno em suas práticas de ensino de filosofia, cuja natureza problemática, que coloca em xeque tanto a natureza quanto a efetividade do fim didático da filosofia, pode ser traduzida pela seguinte questão: Como é possível se educar no ensino de filosofia sem o exercício da mesma pelo “sujeito” – ou seja, sem o ‘filosofar’? Na tentativa de resposta à questão, o primeiro passo consiste em localizar os elementos da problemática e analisá-los por algumas variáveis tomadas da própria filosofia as quais nos servem tanto para demarcamos a especificidade quanto o sentido formativo da atividade filosófica no contexto de educação escolar, para então ter as condições de apontar os elementos implicados no processo do ensino de filosofia que, por não preservar uma efetiva relação entre filosofia e educação, acaba por remeter os sujeitos a uma condição não condizente com a natureza e aos fins esperados, principalmente tendo a atividade natureza e função educativo-formativa. Circunscrita a base do problema, tomando como referência conceitos da proposta filosófica de Hadot, Foucault e Wittgenstein, o segundo passo consiste em localizar na prática filosófica alguns elementos que se fazem necessários para sustentar a condição formativa da filosofia, principalmente quando constituída como uma prática de ensino que visa a educar, de modo a situar e compreender o papel reservado tanto ao sujeito quanto ao processo em si da atividade

* Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS); E-mail: [email protected]

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filosófica neste contexto, os quais podem ser assim resumidos: 1) é preciso voltar-se com a filosofia para o presente do “viver”, e aí potencializar novos sentidos; 2) situados, “territorializados” – tanto a filosofia em relação a si, quanto os alunos em relação ao seu modo de viver –, faz-se necessário abrir-se ao movimento do processo filosófico pela própria prática de exercitação; e, por fim, instado em uma prática no mínimo crítica, é preciso fazer mover o sentido, conjecturar possibilidades, ao modo de existir humano pelo trabalho do sujeito sobre si mesmo. Por fim, no terceiro e último passo, tomando como referência de análise elementos conceituais de alguns filósofos tais como Platão, Kant, Rousseau e Deleuze, o que se visa é mostrar que na prática da filosofia que se dá no ensino escolar a condição formativa só encontra seu fim se consubstanciada por um movimento do sujeito que se dê, intermediado por uma prática de escri(lei)tura filosófica, ao mesmo tempo pelo conhecimento e pela experiência, nos quais, se imbricados, o sujeito não pode ser remetido a outra condição que não à educação pelo trabalho formativo de sua própria verdade, pois neste, além de preservar a prática do ensino com a base mencionada, o que se privilegia didático-pedagogicamente com a filosofia é o trabalho de si sobre si no presente da vida que se tem. PALAVRAS-CHAVE: Filosofia; Ensino de filosofia; Experiência e Formação REFERÊNCIAS DELEUZE, Gilles; GUATTARI. Félix. O que é filosofia. São Paulo: Editora 34, 1997.

FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros: curso no Collège de France (1982-1983). Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010a.

_____. A coragem da verdade: o governo de si e dos outros II: curso no Collège de France (1983-1984). Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.

_____. História da sexualidade 2; o uso dos prazeres. 12.ed. Trad. Maria T. Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2007.

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Elementos para pensar... 65

_____. A Escrita de Si. In: FOUCAULT, Michel. Ética, sexualidade, política. 2.ed. Trad. Elisa Monteiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010b (Ditos e escritos; V), pp. 144-62.

HADOT, Pierre. Exercices spirituels et philosophie antique. Paris: Éd. Albin Michel S.A., 2002.

KANT, Immanuel. Manual dos cursos de Lógica Geral. Trad. Fausto Castilho. 2.ed. Campinas: Editora Unicamp; Uberlândia: Edufu, 2002.

PLATÃO. A República: [ou sobre a justiça, diálogo político]. Trad. Anna Lia Prado. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

WITTGENSTEIN, L. Carnets de Cambridge et de Skjolden 1930-1931, 1936-1937. Editado por Ilse Somavilla. Trad. Jean-Pierre Cometti. Paris: Presses Universitaires de France, 1999.

_____. Diario filosófico 1914-1916. Editado por G.E.M. Anscombe e G.H. von Wright. Trad. J. Muñoz e I. Reguera. Barcelona: Ariel, 1982.

_____. Diarios secretos. Edição de Wilhelm Baum. 4.ed. Trad. Andrés Sánchez Pascual. Madrid: Alianza Editorial, Edição bilíngue (alemão-espanhol), 2008.

_____. Remarques Mêlées. Editado por G.H. von Wright. Tradução, apresentação e notas Gérard Granel e Jean-Pierre Cometti. Paris: Flammarion, 2002.

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ENSAIO SOBRE FELICIDADE E MORALIDADE: os (des)caminhos da razão prática

Solange de Moraes Dejeanne*

RESUMO Para as considerações e reflexões que se seguem neste ensaio tomou-se como ponto de partida a contribuição dos professores Osvaldo Guariglia e Graciela Vidiella sob o título “La pregunta por la felicidade”, capítulo 11 de seu livro Breviario de Ética. Neste texto, os autores argumentam no sentido de mostrar como os filósofos gregos que se ocuparam da moral fizeram uso do termo “eû zên, literalmente ‘viver bem’, para referir-se tanto a uma vida feliz como a uma vida moralmente boa” (p. 198). Sobre esse aspecto exploram, sobretudo, o conceito de autarquia, atitude moral por definição, mas, ao mesmo tempo, condição imprescindível para obter-se a felicidade. Os autores ainda notam que a modernidade substitui o conceito antigo de felicidade por uma concepção essencialmente diferente daquela concepção que predomina na Antiguidade, dos tempos de Sócrates até, aproximadamente, o século II da era cristã. Ora, de acordo com Guariglia e Vidiella a pergunta pela felicidade havia sido esquecida, ou apenas colocada parcialmente no cenário filosófico dos últimos três séculos, e reaparece apenas nas últimas décadas do século XX. Aqui importa, sobretudo, explorar a questão no sentido de compreender por que o tema da vida boa, da vida feliz, foi esquecido, ou apenas parcialmente colocado a partir da modernidade. O fato não se discute, mas se pode arriscar uma hipótese que possa facilitar a compreensão do mesmo. Para uma primeira aproximação à questão proposta procura-se considerar o próprio conceito de felicidade que se desenvolve na modernidade. O individualismo moderno faz surgir um ideal de felicidade que, para usar expressão de Kant, não é exatamente um ideal da razão, mas um ideal da imaginação. Ora, é notório que para os filósofos gregos o lugar da razão na prossecução da felicidade é indiscutível. Mas essa condição é favorecida pela identificação, em termos gerais, da felicidade

* Centro Universitário Franciscano (Unifra); E-mail: [email protected]

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com a virtude. Pois, se em Aristóteles, apesar desse filósofo definir a felicidade como atividade da alma de acordo com a razão, atividade da qual resulta o agir virtuoso, a virtude não é ainda suficiente para a felicidade plena, carecendo cada indivíduo ainda de saúde, beleza, amigos, bons descendentes, etc.; no estoicismo encontramos que a virtude, bem supremo que é, é o único componente da felicidade. Mas, na modernidade, Hume vai afirmar sobre os filósofos da antiguidade que “embora afirmem muitas vezes que a virtude nada mais é que a conformidade com a razão, [eles] parecem em geral considerar, não obstante, que a moral deriva sua existência do gosto e do sentimento” (HUME, p. 20-21). Nesse sentido, aqui importa, sobretudo, investigar e refletir sobre essas questões, a) sobre a origem da virtude; b) sobre como a razão incide (ou não) sobre a virtude, e, c) em que medida podemos (se podemos) esperar encontrar na contemporaneidade uma resposta sobre a vida boa, entendida tanto como “fim último de todo ser humano” quanto “fonte das virtudes morais imprescindíveis para levar a cabo uma vida me comum, tal como havia sido instaurado nos começos da ética na Antiguidade clássica” (GUARIGLIA; VIDIELLA, p. 198). PALAVRAS-CHAVE: Virtude; Felicidade; Autarquia; Sentimentos morais; Ideais de vida REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 2 ed. Trad. Mário da Gama Kury. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1992.

CANTO-SPERBER, Monique (org.). Dicionário de ética e filosofia moral. Trad. Ana Maria Ribeiro-Althoff, Magda França Lopes, Maria Vitória K. de Sá Brito, Paulo Neves. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 2013.

CORNFORD, F. M. Antes e depois de Sócrates. Trad. Valter Lellis Siqueira. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

GUARIGLIA, Osvaldo e VIDIELLA, G. Breviário de Ética. Buenos Aires: Edhasa, 2011.

HUME, David. Uma investigação sobre os princípios da moral. Trad. José Oscar de Almeida Marques. Campinas: Editora da Unicamp, 1995.

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Ensaio sobre felicidade e moralidade... 69

RUSSELL, Bertrand. A conquista da Felicidade. 3 ed. Trad. Luiz Guerra. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

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ENTRE A ANGÚSTIA E A NÁUSEA Uma comparação dos referidos conceitos

Guilherme Gonçalves Ribeiro*

RESUMO Quais os pontos de semelhança existentes entre os conceitos de angústia e náusea na obra dos referidos filósofos? Na formulação desse problema se expressa não apenas nosso tema, quanto também a tarefa do presente trabalho, a saber: comparar as experiências de angústia e náusea nas obras de Heidegger e Sartre. Uma tal pesquisa se interessa não apenas por encontrar pontos de semelhança quanto também de dessemelhança entre as duas experiências no âmbito do pensamento dos dois filósofos. Em sua analítica existencial, Martin Heidegger analisa o ser-aí em todos seus traços fenomenais e, dentre outras coisas, indica como o ser-aí é capaz de compreender ser. A pergunta pelo sentido de ser proposta por Heidegger é, no fundo, uma pergunta pela possibilidade dos entes, muito embora o que o autor busque não seja um ente. O ser-aí, portanto, não possui nenhuma determinação de caráter empírico que o designa essencialmente como isso ou aquilo, configurando-se enquanto experiência do humano no mundo é possibilidade, o poder-ser do homem em determinado aí. Será que há algo que possibilite a nós obtermos a percepção do nosso poder-ser? A angústia é a tonalidade afetiva responsável por isso. Tal fenômeno se classifica como uma tonalidade afetiva fundamental, isso significa que ela, ao tonar o ser-aí no mundo, aplica a essa tonalidade uma intensidade maior do que um simples transtorno de humor. Dessa forma, ela revela ao ser-aí o seu caráter ontológico, colocando em suspensão todos os projetos existenciais em que se encontra. Em suma, a angústia coloca o homem à presença do próprio nada. Em seu romance intitulado A Náusea, o filósofo Jean-Paul Sartre narra, por meio de um diário, a vida de Antoine Roquentin, um historiador que está retornando à Bouville (sua cidade natal) para escrever sobre a vida de uma figura histórica que ele estuda, o Marquês de Rollebon. Tal retorno acarreta à Antoine um sentimento que

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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parece neutralizar os sentidos da existência, desfalecendo cada significância impressa no mundo, fazendo com que tome a si mesmo como desprovido de sentidos - é a náusea. No existencialismo proposto por Sartre o sujeito não pode ser pensado como algo concretamente definido, o que nos levaria à uma compreensão delimitada de homem e excluiria a consciência imediata do homem no mundo. Portanto, a Náusea se configura como uma experiência existencial que é capaz de revelar ao homem, ou seja, à essa consciência imediata de mundo, o sentido do seu ser, porque não há sujeito ou consciência fechada em si, mas sim uma consciência que age como um veículo de compreensão que capacita o homem a perceber como sua existência se dá em consonância com o mundo. Pretendemos afirmar que, embora desempenhem um mesmo papel, tais fenômenos podem ser diferenciados em suas bases mais particulares, uma vez que a Náusea se apresenta como um amargor com a própria existência que em seu ápice coloca o homem frente à sua liberdade; já a angústia, por se tratar de uma tonalidade afetiva, desde sempre está presente. PALAVRAS-CHAVE: Náusea; Angústia; Existencialismo; Ser-aí. REFERÊNCIAS HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Tradução de Márcia Sá Cavalcanti. Petrópolis – RJ: Ed. Vozes, 2008.

SARTRE, Jean-Paul. A Náusea. Trad. Rita Braga. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: Ensaio de Ontologia Fenomenológica. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2001.

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FILOSOFIA COMO PREPARAÇÃO PARA A MORTE

Caio Fernando Vellozo* RESUMO Na obra Fédon, Sócrates reponde as perguntas de seus amigos que o acompanham em seus derradeiros momentos antes de tomar cicuta. Durante o diálogo ele é questionado por não estar com medo da morte, a partir disso o filósofo explica porque uma pessoa que se voltou para a filosofia não teme este destino. Então ele explica que por ter dedicado sua vida a filosofia está tranquilo, pois a mesma prepara o indivíduo para este fim, pois o corpo nada mais é, segundo Sócrates que um receptáculo da alma que a perturba, pois ela pertence ao mundo das ideias ontológicas, onde estava antes de se fundir a um corpo que sempre está voltado para os prazeres. Visto isso, a alma, por pertencer ao mundo das ideias tem a mesma natureza que estas: ser imutável, indivisível e conservadora da identidade após a morte, atributos que são o contrário do corpo, que é composto pela participação de várias formas e portando divisível, sensível, mutável. Ai que, a filosofia, faz com que o homem mesmo durante a vida corporal, negue seu corpo e se volte para sua alma que está preocupada com a verdade. Portanto, um filósofo como Sócrates não sentirá diferença entre a vida e a morte, pois ele já morreu em vida por ter conseguido viver para filosofar e assim focando sua vida na alma e rejeitando os extintos corporais dos quais não sentirá falta. Porém, algumas dúvidas surgem durante o diálogo, uma delas é a prova pedida a Sócrates da existência da alma. Para então provar a existência dessa ele recorre as ideias dos contrários, nisso ele demonstra que tudo deriva de seu oposto mutuamente, o justo do injusto, o feio do belo, e assim a vida da morte. Entretanto, para que o ciclo da vida recomece a alma deve ser imortal. Assim o fim da vida corporal passa a ser para o filósofo um alívio, pois este teve que esperá-la, já que este tipo de homem voltado para a filosofia que o aproxima da verdade e o bem durante, não comete injustiça, nem

* UNIOESTE; Email: [email protected]

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contra si mesmo, diante disso não se suicidaria, pois assim não estaria sendo justo consigo mesmo. REFERÊNCIA SOBRINHO, Rubens Nunes Garcia. Platão e a Imortalidade: Mito e Argumentação no Fédon. Uberlândia, Minas Gerais: Editora da Universidade Federal de Uberlândia: 2007.

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FILOSOFIA DA CIÊNCIA E ANÁLISE CRÍTICA

Douglas Antonio Bassani* RESUMO O objetivo desta pesquisa é debater sobre o papel da atividade crítica na filosofia da ciência contemporânea. Esta análise aparece, por exemplo, com o filósofo da ciência Karl Popper quando alertou para os problemas do período da ciência normal na concepção de Thomas Kuhn, em um texto intitulado Os perigos da Ciência Normal apresentado no Congresso Internacional de Filosofia da Ciência em Londres (1965), realizado para análise da Estrutura das Revoluções Científicas de Kuhn, muito difundida na época e também em nossos dias. Neste Congresso estiveram presentes o próprio Thomas Kuhn, bem como Feyerabend, Lakatos, entre outros importantes filósofos da ciência do século XX. O debate da época era sobre os escritos de Kuhn, sua fundamentação filosófica, sua viabilidade enquanto filosofia da ciência, sendo que os ataques de Popper e de outros foram respondidos no texto de Kuhn “Resposta a meus críticos” durante o evento e também publicado em “A crítica e o desenvolvimento do conhecimento”. O debate filosófico gira em torno do cientista adotar ou não uma atividade crítica em todo o processo de investigação científica ou se seria possível conceber que em algum processo do desenvolvimento da ciência, tal atividade poderia ser descartada, ou deveria ser descartada, como no período de ciência normal defendido por Thomas Kuhn. O filósofo americano defende a ciência normal como o período de resolução de quebra-cabeças, como aquele onde o cientista vai ao laboratório fazer suas análises, verificar correlações com outras áreas do conhecimento, aprofundar a pesquisa que o paradigma determina como correta, etc., sem que o paradigma seja questionado, porque considera que este não é o momento para tal questionamento. Esta compreensão de Kuhn “congela” a atividade crítica da ciência em todos os seus períodos históricos, e ela se confronta diretamente com concepções racionalistas importantes da ciência na época, entre elas a de Karl Popper. Por um lado, para Popper,

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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o cientista normal foi alguém “mal ensinado” ou alguém que deveríamos “ter pena”, pois o estímulo ao pensamento crítico é necessário ao aluno-cientista, e jamais deveria ser abandonado em qualquer momento do desenvolvimento das teorias (POPPER, 1979, p. 65). Por outro lado, Kuhn defende a ciência normal e o seu papel de resolução de anomalias, e considera que este trabalho automaticamente é o gerador de crises para as possíveis revoluções científicas na ciência, ou seja, nos seus próprios termos, “a existência da ciência normal é um corolário da existência de revoluções” (p. 288), e quanto mais a pesquisa estiver direcionada a resolução de quebra-cabeças, sem o questionamento crítico do paradigma, mais temos a possibilidade de nos depararmos com anomalias, crises e revoluções científicas. Para ele, “as revoluções através da crítica não exigem menos à ciência normal do que as revoluções através da crise” (KUHN, 1979, p. 288). PALAVRAS-CHAVE: Atividade Crítica; Racionalismo Crítico; Ciência Normal; Thomas Kuhn; Karl Popper. REFERÊNCIAS KUHN, Thomas. Reflexão sobre meus críticos. In: A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. LAKATOS, Imre & MUSGRAVE, Alan (Org). São Paulo: Cutrix & Editora da USP, 1979.

_____. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 9° ed. 2006.

POPPER, Karl. A ciência normal e seus perigos. In: A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. Lakatos, Imre & Musgrave, Alan (Org). São Paulo: Cutrix & Editora da USP, 1979.

_____. Conhecimento Objetivo. Belo Horizonte: Itatiaia, v. 13, 1999.

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FISIOLOGIA NIETZSCHIANA: Uma análise sobre Richard Wagner

Estevão Bocalon*

RESUMO O propósito deste texto abarca as análises do filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, sobre o compositor e ensaísta Richard Wagner, o principal compositor da época. As críticas realizadas pelo filósofo são úteis para entender como seus principais conceitos são aplicados, remetendo também ao seu próprio pensamento, entre eles o conceito de fisiologia. A fisiologia era um estudo em ascensão na época e o pensador em questão teve contato com esses estudos. Apesar disso, o conceito passa a ter uma significação diferenciada no pensamento nietzschiano, pois é intimamente ligado com a configuração de impulsos que compõe um organismo. Esta configuração de impulsos é parte marcante no pensamento de Nietzsche, onde há duas configurações principais: a saudável e a doente. A primeira diz respeito a uma hierarquização e organização dos impulsos, permitindo a potencialização destes. A segunda é antagônica, trata-se de uma estrutura que é desorganizada, sem hierarquia e não há potencialização. Mas como aplicar isso à um organismo? Para isto, há uma análise com este enfoque realizada pelo pensador alemão sobre o compositor conterrâneo Richard Wagner. Por terem uma relação conturbada, há várias interpretações sobre o compositor e para o propósito do texto, a análise se aterá às últimas críticas desferidas pelo filósofo, na sua maturidade filosófica, contidas na obra O Caso Wagner. Nesta obra, o compositor é tido como um artista da décadence, sendo o principal responsável também pela decadência na modernidade em geral. O conceito de décadence está aqui intimamente ligado com o de fisiologia, compondo o que será chamado de fisiopsicologia. A razão para estas relações conceituais está precisamente na análise do pensador sobre Wagner, segundo a qual, o artista da décadence possui uma configuração de impulsos doente, por buscar ideais ascéticos, negando a vida, buscando algo para “além da vida”, e com isso,

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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uma fuga, ou um consolo para o destino inexorável da existência: a morte. São ideais como virtude, redenção e ascetismo que o pensador aponta como negação da vida, ambos muito presentes na obra de Wagner. Desta forma, a partir da produção artística do compositor, realiza-se uma análise do próprio artista, isto é possível analisando não apenas os valores expressos na obra do compositor, mas também as suas motivações, em maior grau, as próprias estruturas da personalidade do mesmo. É devido a valores já difundidos pelo cristianismo e as influências do filósofo Arthur Schopenhauer que o ensaísta, Wagner, procura redimir a si mesmo e não apenas aos personagens em sua ópera. Esta aura positivista na obra se dá justamente como reflexo das configurações de impulsos presentes na persona Wagner, em conjunto com a admiração da filosofia elaborada por Schopenhauer, a qual o encantou fortemente, pois coloca o músico como aquele que compreende e alcança a compreensão da Vontade Universal. É a partir dessas colocações que a análise fisiopsicológica se torna possível. PALAVRAS-CHAVE: Nietzsche; Wagner; Fisiologia; Décadence; REFERÊNCIAS _____. O caso Wagner: Um problema para músicos. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

FREZZATTI Jr., Wilson. Verbete “Fisiopsicologia”. In: GEN. Dicionário Nietzsche. São Paulo: GEN, Loyola, 2016. p. 236-238.

MÜLLER-LAUTER, Wolfgang. Décadence artística enquanto décadence fisiológica. A propósito da crítica tardia de Friedrich Nietzsche a Richard Wagner. Cadernos Nietzsche, São Paulo, n.6, p. 11-30, 1999.

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IMPLICAÇÕES DA TEORIA DA INTENCIONALIDADE DA CONSCIÊNCIA DE EDMUND HUSSERL PARA O

DESENVOLVIMENTO DE UMA TEOLOGIA DA CULTURA EM PAUL TILLICH

Thiago Rafael Englert Kelm*

RESUMO A presente pesquisa tem por objetivo analisar as implicações da teoria da intencionalidade da consciência de Edmund Husserl para o desenvolvimento de uma teologia da cultura em Paul Tillich. A aplicação que Tillich faz da teoria da intencionalidade da consciência de Husserl na fundamentação de seu conceito de religião irá repercutir em sua formulação dos modos como religião e cultura se relacionam. Para o teólogo, a religião é o direcionamento intencional da consciência ao sentido incondicional através das formas culturais postas pelo espírito humano em sua incessante criatividade no mundo da vida. Religião e cultura, ou os correlatos substância e forma, estão, portanto, essencialmente unidos numa relação de interdependência, e nesse sentido, a determinação do caráter religioso ou cultural de um ato depende do direcionamento subjetivo da consciência que pode estar dirigido para à substância ou para a forma. Diante disso, quando a intencionalidade da consciência se volta para a substância, isto é, o sentido profundo ou incondicional da realidade se está diante da religião e quando a consciência se volta para a forma se está diante da cultura. Tillich descreve, portanto, dois estados da intencionalidade da consciência, uma dirigida à forma e a outra à substância e de acordo com ele, a teologia da cultura dirige-se justamente na direção de possibilitar uma análise religiosa das criações culturais segundo a substância que se realiza nelas considerando ambos os polos dessa relação. Sendo assim, a demarcação conceitual dos modos como religião e cultura se relacionam apresentam-se ao ver desta pesquisa como as implicações do desenvolvimento de uma teoria da consciência intencional no pensamento de Paul Tillich que é, como será discutido

* Universidade Metodista de São Paulo; E-mail: [email protected]

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neste trabalho, oriunda de seu contato com a fenomenologia de Edmund Husserl. PALAVRAS-CHAVE: Paul Tillich; Edmund Husserl; Intencionalidade; Cultura; Religião. REFERÊNCIAS ABREU, Fábio Henrique de. Apontamentos sobre a relação entre religião e autorreflexividade nos escritos sobre filosofia da religião de Paul Tillich (1919-1925). In: Revista Eletrônica Correlatio, São Paulo, v. 14, n. 27. p. 85-110, 2015. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/COR/article/view/6012/4874>. Acesso em 09 jun. 2017.

______. “Richtung auf das Unbedingte” and “self-transparency”: Paul Tillich’s Philosophy of Spirit, Meaning, and Religion (1919-1925). Texto não publicado de pós-doc. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2017.

DANZ, C. Tillich’s Philosophy. In: MANNING, R. R. A Cambridge Companion to Paul Tillich. Cambridge: Cambridge University Press, 2009, pp. 173-188.

FINK, Eugene. Die Phänomenologische Philosophie Edmund Husserls In Der Gegenwärtigen Kritik. Disponível em: <https://nasepblog.files.wordpress.com/2012/08/fink-eugen-die-phc3a4nomenologische-philosophie-edmund-husserls-in-der-gegenwc3a4rtigen-kritik 1933.pdf > Acesso em: 10 jun. 2017.

HEINEMANN, Lars. The conception of the Religious Symbol in Tillich’s Early Philosophy of Spirit: Guardian Against Exclusive Claims about the Absolute. In GRAU, Karin; HAIGI, Peter; NORD, Ilona. Tillich Preview 2009.Berlin: LIT Verlag, 2009.

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Implicações da teoria... 81

HIGUET, Etienne Alfred. As relações entre religião e cultura no pensamento de Paul Tillich. Revista Eletrônica Correlatio, São Paulo, v. 7, n. 14. p. 123-143, 2008. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/COR/article/view/1155>. Acesso em 09 jun. 2017.

HUSSERL, Edmund. Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica: introdução geral à fenomenologia pura. Tradução de Márcio Suzuki. Aparecida: Ideias & Letras, 2006.

_____. Investigações Lógicas: Primeiro Volume – Prolegómenos à Lógica Pura. Trad. Diogo F. Ferrer. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014.

_____. Meditações cartesianas: introdução à fenomenologia. Tradução Frank de Oliveira. São Paulo: Midras, 2001.

NEUGEBAUER, G. Die geistphilosophischen Grundlagen der Kulturtheologie Tillichs vor dem Hintergrund seiner Schelling- und Husserlrezeption. In: DANZ, C.; SCHÜßLER, W. (Hrsg.). Paul Tillichs Theologie der Kultur: Aspekte, Probleme, Perspektiven. Berlin; Boston: Walter de Gruyter GmbH & Co. KG., 2011

SCHÜßLER, W. Where does Religion Come from? Paul Tillich’s Concept of Grundoffenbarung. In: DESPLAND, M.; PETIT, J.-C.; RICHARD, J. (Éd.). Religion et culture: Actes du colloque international du centenaire Paul Tillich Université Laval, Québec, 18 août 1986. Québec: Les Presses de l’Université Laval; Éditions du Cerf, 1987

TILLICH, Paul. On the Boundary: An autobiographical sketch. [1936]. London. Collins, 1967.

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82 Ressonâncias filosóficas - Resumos

_____. Paul Tillich – Emanuel Hirsch [1917/1918]: Die große religionsphilosophische Debatte. In: ALBRECHT, R.; TAUTMANN, R. (Hrsg.). Ergänzungs - und Nachlaßbände zu den Gesammelten Werken von Paul Tillich. Band VI: Briefwechsel und Streitschriften. Theologische, philosophische und politische Stellungnahmen und Gespräche. Frankfurt am Main: Evangelisches Verlagswerke, 1983. P. 95-218

_____. Paul Tillich – Richard Wegener. [1917]. Die große religionsphilosophische Debatte. In: ALBRECHT, R.; TAUTMANN, R. (Hrsg.). Ergänzungs- und Nachlaßbände zu den Gesammelten Werken von Paul Tillich. Band VI: Briefwechsel und Streitschriften. Theologische, philosophische und politische Stellungnahmen und Gespräche. Frankfurt am Main: Evangelisches Verlagswerke, 1983. p. 87-94.

_____. The conquest of the concept of religion in the philosophy of religion. [1922]. In: ADAMS, James Luther (Org.). What is Religion? New York, Evanston, San Francisco, London: Harper Torchbooks, 1973.

_____. The philosophy of religion. [1925]. In: ADAMS, James Luther (Org.). What is Religion? New York, Evanston, San Francisco, London: Harper Torchbooks, 1973.

_____. Vorlesung Religionsphilosophie (Sommersemester 1920). [1920]. In STURM, Erdmann: Ergänzungs- und Nachlaßbände zu den Gesammelten Werken von Paul Tillich. Band XII: Berliner Vorlesungen / I. (1919-1920). Berlin/ New York: De Gruyter, 2001. p. 333-566.

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XXVIII

KANT E SCHOPENHAUER: UMA REFLEXÃO SOBRE O FUNDAMENTO DA MORAL

Dayane Aparecida Dias de Souza*

RESUMO Na história da filosofia encontramos diversas teorias éticas, portanto não há “a ética”, mas “éticas”, uma vez que os filósofos a medida que se sucederam aproveitaram-se das teorias anteriores, por vezes criticando-as e modificando-as conforme as indagações e necessidades do seu tempo. Neste trabalho pretendemos analisar a fundamentação do pensamento moral de Kant e Schopenhauer. Enquanto Kant edificou sua teoria ética com base na razão, defendendo que qualquer um, tendo atingido a idade da razão, é capaz e agir moralmente. Basta o sujeito pautar sua ação no imperativo categórico, agindo em conformidade com o dever. Em contrapartida, Schopenhauer não buscou o fundamento da moral no formalismo de uma pretensa razão prática, mas no coração, no sentimento. Em sua ética, a partir da observação empírica, o filósofo de Dantzig elencou três motivações distintas no agir humano: o egoísmo, a maldade e a compaixão, e toda ação tem origem em uma dessas motivações. Segundo Schopenhauer, naturalmente nossas ações tendem a ser egoístas, pois estamos sempre focados em nosso bem-estar ou mal-estar. Mas como o egoísmo é uma fonte infinita de sofrimento, o ser humano precisa cultivar a compaixão. A compaixão age buscando o bem do outro, consistindo em não colocar a vontade própria acima da vontade do outro. Desta maneira, Schopenhauer assumi o seguinte princípio geral como fundamento de uma moral da compaixão: “Neminem laede, immo omnes, quantum potes, iuva!” (“Não prejudiques ninguém, ao contrário, ajuda a todos quanto puderes”). PALAVRAS-CHAVE: Kant; Schopenhauer; ética; dever e compaixão;

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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REFERÊNCIAS VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2005 (Coleção Primeiros Passos).

ABBAGNANO, Nicolas. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

_____. História da filosofia. Lisboa: Presença, 1978.

BARBOZA, Jair. Schopenhauer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.

BARROS, Clovis. A vida que vale a pena ser vivida. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

DURANT, Will. A história da filosofia. Rio de Janeiro: Editora Nova cultural, 1996

KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos costumes. Trad.: Paulo Quintela.

LEFRANC, Jean. Compreender Schopenhauer. 3ª Ed. Trad. Ephraim Ferreira Alves. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

PASCAL, Georges. O pensamento de Kant. Petrópolis, RJ: Vozes,1983.

REALE, G.; ANTISSERI, D. História da filosofia: de Spinoza a Kant - Vol. 4. São Paulo: Paulus, 2005.

SCHOPENHAUER, Arthur. As Dores do Mundo. Trad. José Souza de Oliveira. São Paulo: Edipro, 2014.

_____. Sobre o fundamento da moral. Trad. M. L. M. O. Cacciola. São Paulo: Martins Fontes. 1995.

_____. O mundo como vontade e como representação. Tradução, apresentação, notas e índices de Jair Barboza. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

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XXIX

LIBERDADE EM HANNAH ARENDT Conceito de liberdade e suas implicações no pensamento político

Viviane Arruda Sanches*

RESUMO A presente comunicação propõe a investigação acerca da liberdade no pensamento político de Hannah Arendt. Em Entre o passado e o futuro, a pensadora objetiva suas ideias, principalmente, no ensaio ‘‘— Que é a liberdade?’’, a autora demonstra sua originalidade, distanciando-se do ordinário, do religioso, da psicologia, e de correntes filosóficas sobre o tema, como o existencialismo, por exemplo. Diante da dificuldade de esclarecer de forma objetiva o que seja liberdade, Hannah assemelha a esforço de imaginar um círculo quadrado. O embaraço acontece devido ao caráter interno concebido da liberdade, não possuindo um corpo concreto de estudo, muitas vezes criando um obstáculo intransponível para um conhecimento prático, excluindo do campo da política. O pensamento de liberdade como algo próprio da interação comigo mesmo, obscurece em vez de iluminar qualquer tentativa de tornar tangíveis indagações sobre o assunto. Isto representaria apenas o temor da perca da individualidade. A sugestão de Arendt, portanto, é perceber a questão da liberdade de um outro ponto de vista, não restrito ao intimismo e livre arbítrio. Exposto ao conteúdo prático da ação coletiva, temos a liberdade como algo mais tocável, e assim a politóloga aponta a liberdade como algo evidente, que pode tornar-se parte do dia-a-dia. Somente é possível o ocorrer da liberdade na admissão da política e a ação do homem, sendo a liberdade a razão de ser da política, as próprias leis são fundamentadas com a manifestação fenomênica da liberdade, não como experiência interior, mas algo palpável. A liberdade política não pode ser vivida na interioridade, ela é evidenciada no convívio entre homens, ela necessita ser experimentada, o homem nem seria capaz de conceber isoladamente a liberdade sem vivenciar algo anteriormente entre iguais, distante do jugo das necessidades. No contato

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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com o outro, na organização politizada, é realmente possível à liberdade enquanto que, em organizações sociais não politicas abrem-se espaço para os instintos e as necessidades. Apontando o modelo grego de cidadão da polis, como exemplo de indivíduo livre. Assim sendo, ao contrário do senso comum, liberdade e política não são antônimos, mas coincidem. Aqueles que pensam a impossibilidade da coexistência entre liberdade e a política não se orientam por bons caminhos, pois apenas no agir diante dos demais o homem pode verdadeiramente ser livre. Em vista disso, o conceito de liberdade no pensamento político de Arendt ocupa lugar de destaque, pois sua gênese está enraizada na ação política, que para autora, rege o início do homem, juntamente com discurso, que é o meio possível para a revelação do que ele é. PALAVRAS-CHAVE: Liberdade; Política; Ação. REFERÊNCIAS ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10º ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária, 2000;

_____. Entre o Passado e o Futuro. 5º ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2000.

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MAQUIAVEL E A IMPORTÂNCIA DO CONFLITO

Henrique Zanelato* RESUMO O pensamento político de Nicolau Maquiavel configura-se como um dos mais importantes, não apenas em seu contexto específico, mas em toda a tradição filosófica. Tendo isso em mente pretendemos, na presente comunicação, expor a reflexão do autor acerca de um aspecto controverso: a natureza e o caráter do conflito no meio político. Ao refletir a respeito do contexto político e social da Itália de seu tempo a partir da história da antiguidade, em especial a romana, Maquiavel defende, nos Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, ao contrário do que parece natural e do que era defendido muitos de seus contemporâneos, que o conflito é uma das características que melhor representam a saúde de uma república. Para melhor compreender o que o autor florentino quer dizer com isso, é preciso retornar para a divisão que ele faz dentro do campo social. De acordo com ele, toda sociedade se separa em dois “humores”, a saber, grandes e povo. Assim, o conflito representa a disputa entre ambos pelo desejo de dominar, no caso dos primeiros, e o de manter certa liberdade, de não ser dominado, portanto, no caso dos segundos. Em linhas gerais, Maquiavel caracteriza o conflito como positivo na medida em que entende que ele somente é possível em uma república onde exista certo equilíbrio para o exercício da liberdade. No caso de uma tirania ou ditadura, por exemplo, onde o conflito, caso exista, acaba por ser suprimido, o espaço da liberdade para o equilíbrio entre os dois humores é praticamente nulo. Queremos, assim, seguir a argumentação do pensador italiano para compreender o aspecto peculiar de sua reflexão que, ao fazer uma leitura dos conflitos ocorridos entre nobres e plebeus romanos, lançou luz sobre os problemas políticos italianos de seu tempo e que ainda oferece ferramentas para que pensemos sobre os nossos. PALAVRAS-CHAVE: Maquiavel; Conflito; Liberdade; Humores; Roma.

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REFERÊNCIAS AMES, José Luiz. Lei e violência ou a legitimação política em Maquiavel. Trans/Form/Ação, Marília, v. 34, n. 1, p. 21-42, 2011.

_____. A função do poder militar na vida política segundo Maquiavel. In: Revista Ética & Filosofia Política, vol. 8, nº 1, junho de 2005.

BENETTI, Fabiana de Jesus. O conceito de stato em Maquiavel: elementos constitutivos da modernidade estatal. Dissertação (Mestrado em Filosofia Moderna e Contemporânea) - Universidade Estadual do Oeste do Parana, Toledo, 2010.

BIGNOTTO, Newton. Maquiavel republicano. São Paulo: Loyola, 1991.

MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. Trad. MF. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

_____. O príncipe. Tradução de Maria Júlia Goldwasser. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

ZORZO, Douglas Antônio Fedel. Maquiavel e a função política da arte da guerra. Dissertação (Mestrado em Filosofia Moderna e Contemporânea) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo, 2015.

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MARCUSE: A OBJETIVAÇÃO DO HOMEM PELA LINGUAGEM E PELO PENSAMENTO UNIDIMENSIONAL

Marcelo Barbosa*

RESUMO Este artigo tem o objetivo de discutir dois textos de Herbert Marcuse, que são: O Fechamento do Universo de Locução e A Vitória do Pensamento Positivo: Filosofia Unidimensional. Estes textos compõe o livro: A ideologia da sociedade industrial – o homem unidimensional (1964), onde Marcuse tematiza uma sociedade unidimensional organizada por parâmetros racionais e lógicos, que legitimam uma ordem de dominação que instrumentaliza os homens e a natureza. O primeiro texto é um dos que compõe o primeiro tópico do livro, onde Marcuse discute a unidimensionalização da sociedade. Trata-se de expor, como na sociedade industrializada se atribuiu uma funcionalização da linguagem que ajuda a repelir elementos não conformistas, limitando a linguagem uma característica operacional e instrumental, que contribui para ordenar e organizar a sociedade segundo os interesses de dominação. Além do mais, uma linguagem unidimensional é também anticrítica e antidialética, pois se encontra fechada dentro de um universo de locução, que comunica decisões e sentenças de comando. O segundo texto é um dos que compõe o segundo tópico do livro, onde Marcuse discute a unidimensionalização do pensamento. Trataremos de expor a partir deste texto a crítica de Marcuse à filosofia positivista, que busca uma harmonia entre a teoria e a prática, desde que a realidade possa ser cientificamente compreendida e que se possa tornar industrial e tecnológica. Desse modo, o mudo empírico se mostra como objeto do mundo positivo, aparecendo como o resultado de uma experiência restrita que reduz o sujeito humano a um indivíduo abstrato e mutilado por um comportamento unidimensional. Portanto, o objetivo é mostrar, nos dois casos, o quanto a concepção positivista restrita aos limites de uma Teoria Tradicional cria um véu mitológico sobre a razão, subordinando todos os fatos a uma

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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sistematização de não contraditórios, negando a realidade histórica e seus potenciais revolucionários. Nestes limites da Teoria Tradicional, tanto na sociedade quando no pensamento, institucionaliza-se um determinado tipo de vida e de comportamento que busca fazer do ser humano um reflexo de sua razão instrumental bloqueando os potenciais emancipatórios. PALAVRAS-CHAVE: Unidimensional; Marcuse; Razão; Teoria Tradicional; REFERÊNCIAS MARCUSE, Herbert. A Ideologia da Sociedade Industrial: O Homem Unidimensional. Trad. Giasone Rebuá. Zahar, Rio de Janeiro, 1968.

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MARX E ENGELS: Acerca do Manifesto Comunista

André Felipe Belmirio*

RESUMO “A história de toda sociedade até hoje É a história de lutas de classes” (Marx, 1990). Esta é a frase inicial do manifesto do partido comunista escrita por Karl Marx e Friedrich Engels. Tal frase é um dos critérios fundamentais para se entender com profundidade o pensamento marxista imperado dentro da obra o ‘manifesto do partido comunista’, pois ela traz elementos fundamentais que aprofundam outros conceitos tais como: a alienação, o materialismo histórico e o materialismo dialético. A partir do manifesto do partido comunista assim como as outras obras escritas por Marx, é de se destacar que ele foi um dos primeiros a fazer uma análise crítica e profunda da sociedade, pois ressaltando a luta de classes, ele deu um fundamento para história. Fundamentando a história, a sociedade tem a possibilidade de uma análise profunda das conjunturas que a rege, lutando contra os sistemas que a alienam. Com Engels e, mas de um modo especial com Marx, inicia-se na história da humanidade um estudo crítico de suas conjunturas, isto é, uma análise e uma crítica com a intensão primeira de fazer uma profunda modificação social, além da superfície, mas uma transformação radical de todo sistema. A filosofia marxista surge na história da humanidade com o objetivo de transformação social, sua construção e embasamento histórico é a luta de classes, pois somente quando os operários deste mundo tomarem consciência das estruturas alienantes, é que podem lutar contra o sistema imperador que abnegam o ser humano de seu princípio básico, que é o sentido da vida. Uma pessoa alienada é uma pessoa sem sentido naquilo que se faz. O conceito de alienação é um dos principais elementos para se entender a dinâmica social reinante na época de Marx, e também atualmente, ressaltava alguns tipos de alienação tais com a: política, econômica, religiosa. A alienação religiosa consistia nos mecanismos das religiões em alimentar as desilusões da

* Faculdade Palotina (FAPAS); E-mail: [email protected]

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população, ou seja, a religião tem o objetivo de salvaguardar a alma, no entanto valorizava o sofrimento do povo, numa espécie de conformismo social. Ao invés da religião favorecer a tomada de consciência do povo para as realidades que aprisionam, ela se tornava um mecanismo de alienação, porque; na esperança da vida eterna poder-se-ia sofrer no mundo. Na parte política o estado, para Marx, é o instrumento de poder em favor da classe dominante. Com o advento da sociedade alienada o Estado tem a função de manter o povo cada vez mais inconsciente em relação às estruturas do sistema político. Se o conflito é a base da história, e a grande preocupação marxista é a materialidade, quando alcançaremos uma sociedade em paz? PALAVRAS-CHAVE: Marxismo; Alienação; Luta, História. REFERÊNCIAS MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1990.

_____. Os pensadores. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999

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MESTRES E POSSUIDORES DA NATUREZA: Concepção e consequências do conhecimento segundo Descartes

César Augusto Battisti*

RESUMO Como todo filósofo, Descartes tem sido “fotografado” a partir de, pelo menos, duas perspectivas, aquela construída pelos intérpretes e aquela oriunda da história da recepção de seu pensamento. Não se trata de saber qual é mais adequada ou correta, mas, antes disso, de utilizar cada uma em seu devido lugar. Se quiséssemos torná-las equivalentes ou substituíveis, teríamos que concluir que a avaliação da história de um pensamento geralmente não faz justiça a esse mesmo pensamento. Esse é o caso de Descartes quanto à sua inclusão na perspectiva sintetizada popularmente pelo adágio baconiano “saber é poder”. Não há dúvidas de que a ciência moderna deu no que deu. Ocorre que o domínio e a posse que o sujeito conhecedor exerce, na perspectiva cartesiana, é, antes de tudo, uma atitude teórica constitutiva da própria atividade de conhecer que não implica violação ontológica do objeto na equação envolvida no processo. O idealismo presente na filosofia cartesiana é uma defesa do realismo. A presente comunicação pretende examinar a afirmação cartesiana da Sexta Parte do Discurso do Método sobre a capacidade de o conhecimento nos fazer “senhores e possuidores da natureza”, muitas vezes interpretada dentro de um viés utilitarista e de uma perspectiva de preconização e de autorização do uso da ciência com consequências nefastas e indesejáveis. O primeiro ponto a ser examinado diz respeito à tese de que conhecer não é contemplar a natureza, mas operar sobre ela, o que significa dizer que as ações relativas ao ato de “tomar posse da natureza” são intrínsecas ao conhecer e não uma consequência dele. Assim, ou conhecemos a natureza – e isso implica dominá-la – ou não a conhecemos, de sorte que não é possível conhecê-la e se negar a “subjugá-la” cognitivamente. Disso não se segue que esse ato teórico-operativo determine necessariamente o

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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modo de utilização dos resultados científicos, e, portanto, parece que a acusação do utilitarismo cartesiano se alimenta de uma compreensão parcial de sua concepção de conhecimento. Um segundo ponto diz respeito à tese da indistinção moderna e pré-moderna entre objetos naturais e artefatos, uma tese que nos coloca como imitadores da ação divina ou, se quiserem, que apresenta Deus como grande relojoeiro a ser imitado pelos seres humanos em diferentes ofícios. Acusar os humanos de produzirem uma ciência nefasta é indiretamente acusar a Deus de ter criado uma natureza nefasta. Um terceiro ponto é entender a experimentação, caracterizada como elemento de “tortura” da natureza, também como elemento teórico-operativo da ciência sem implicação utilitarista. Um penúltimo ponto diz respeito aos frutos do saber, encarnados especialmente na ciência moral e na medicina, os quais são incompatíveis com uma atitude imoral e de não conservação ou de destruição da natureza. Finalmente, é preciso dizer que Descartes não afirma que nos tornamos, mas “como que” nos tornamos mestres e possuidores da natureza, de sorte que, segundo ele, devemos apenas simular isso, sem pretender nem substituir nem, rigorosamente falando, imitar o criador nem, muito menos, se autoatribuir plenos poderes sobre o mundo. PALAVRAS-CHAVE: Descartes; Natureza e utilidade do conhecimento; Sabedoria, poder, habilidade; Objetos naturais, artificiais e experiência. REFERÊNCIAS ALQUIÉ, Ferdinand (ed.). Œuvres philosophiques de Descartes. Paris: Classiques Garnier, 1988-89. 3 v.

BATTISTI, César Augusto. O método de análise em Descartes: da resolução de problemas à constituição do sistema do conhecimento. Cascavel (PR): Edunioeste, 2002.

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DESCARTES, René. Discurso do método; Dióptrica; Meteoros; Geometria. Edição organizada por Pablo R. Mariconda e de Marisa Carneiro de O. Franco Donatelli (no prelo, [s. d.]).

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Mestres e possuidores da natureza... 95

_____. Discurso do método; Meditações; Objeções e respostas; As paixões da alma; Cartas. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Pensadores).

_____. El mundo. Tratado de la luz. Introdução, tradução e notas de Salvio Turró. Barcelona: Anthropos; Madri: MEC, 1989.

_____. Meditações sobre filosofia primeira. Edição em latim e em português. Tradução de Fausto Castilho. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004.

_____. O mundo ou Tratado da luz; O homem. Apresentação, tradução e notas: César Augusto Battisti e Marisa Carneiro de O. Franco Donatelli. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009.

_____. Œuvres de Descartes. Publicadas por Charles Adam e Paul Tannery (AT). Paris: Vrin, 1996. 11 v.

_____. Regras para a Direcção do Espírito. Lisboa: Ed. 70, 1985.

GARBER, Daniel. Descartes’ metaphysical physics. Chicago / London: University of Chicago Press, 1992.

GUENANCIA, Pierre. La nature objet de science et la nature source de sens. Disponível em: <http://www.itereva.pf/disciplines/philo/Enseignement%20de%20la%20philosophie/Bulletins/Bulletin12/pgbull12.htm>. Acesso em: 22 nov. 2015.

GUENANCIA, Pierre. Lire Descartes. Paris: Gallimard, 2000. MARION, Jean-Luc. Sur la théologie branche de Descartes. Paris: PUF, 1981.

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NIETZSCHE – CRÍTICAS À METAFÍSICA E AO PRIMADO DA RAZÃO:

a arte como afirmação da vida

Bruna Barbosa Retameiro* RESUMO Nietzsche propõe uma filosofia que afirme a vida e a existência do mundo com todas as suas possibilidades, incertezas, angústias, em comunhão com o corpo, com os instintos e não se afastando destes, uma visão não metafísica do mundo, mas sim, uma relação de proximidade e afeto (deixar-se afetar pelo mundo). Uma filosofia não niilista que aceita a vida, tem que aceitar a totalidade da vida, com todo seu sofrimento, dor e ausência de sentido e não tentar justificar tais males como algo que faça parte de um propósito maior, de uma verdade, de algo que está além da nossa compreensão. A dificuldade disso, é que o homem suporta o sofrimento, mas não sabe lidar com a ausência de sentido deste sofrimento. É preciso esclarecer que Nietzsche critica o niilismo quando esse é encarado como uma condenação ao nada, um desespero, uma angústia e a partir disso, o homem ao invés de usar deste para se libertar de crenças metafísicas e absolutas, acaba por criá-las, ou por abandonar e apegar-se a outra, como é o caso da ciência, pois com o início da Idade Moderna, o cristianismo começa a ser questionado e muitos descreem dos conceitos metafísicos apresentados por este, mas este momento de descrença, de vazio, logo é preenchido por ela, a nova detentora da unidade, do perfeito, e de um novo modelo a ser seguido – o novo “deus” a partir de então, é a razão. Quando Nietzsche fala de amar o seu destino, ele não está falando de um destino pré-concebido, mas sim de um destino construído, onde cada homem deve viver sua vida amando aquilo que está vivendo de tal modo, que poderia viver isso infinitas vezes. Para ele não existem fatos, o que existem são interpretações, não há uma verdade absoluta, precisamos viver a vida e não a projetar transcendentalmente, o homem tem um corpo, com desejos e instintos e estes não podem ser

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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negados. Além disso, precisamos amar o nosso destino, o destino que construímos, sob a interpretação que fazemos do mundo, vivendo de modo a amar cada instante, com a certeza de que ele se repetirá infinitas vezes. Para chegar a esta visão afirmativa diante da vida, superar os valores que induzem a uma vontade de verdade, Nietzsche nos apresenta uma possibilidade: a arte! Ela é então, a única possibilidade para lidar com a ausência de verdade do niilismo mais extremo, levando à criação e não ao desespero, pois ela interpreta o mundo e cria seus próprios valores para a vida. A vida, que para Nietzsche é vontade de potência e esta é o que impulsiona o movimento da vida, é o desejo de expandir, de crescer, de superar, e criar. Vontade de potência é vida, e a tendência fundamental da vida é o aumento e o crescimento de potência e não a sua conservação. Ela difere-se da ciência e de outras interpretações, porque se reconhece como interpretação, enquanto as ciências e as demais explicações se reconhecem como e buscam por uma verdade absoluta. PALAVRAS-CHAVE: Nietzsche; metafísica; razão; niilismo; arte. REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2012 b.

CONSTÂNCIO, João. Arte e niilismo. Nietzsche e o enigma do mundo. Lisboa: Edições Tinta-da-China, 2013.

DIAS, Rosa. Nietzsche, vida como obra de arte. Rio de janeiro: Civilização brasileira, 2011 a.

NIETZSCHE, Friedrich W. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das letras, 2012 a.

_____. Genealogia da moral. São Paulo: Companhia das letras, 2009.

_____. O nascimento da tragédia. São Paulo: Companhia das letras, 1992.

_____. Zaratustra. São Paulo: Companhia das letras, 2011 b.

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NIETZSCHE E A CRÍTICA DA LINGUAGEM COMO CRÍTICA A METAFÍSICA

Célia Machado Benvenho*

RESUMO A reflexão de Nietzsche sobre a linguagem é um dos elementos fundamentais de sua crítica à tradição metafísica, principalmente por sua pretensão epistemológica de ter acesso à verdade das coisas. Nesta busca pela verdade, a linguagem aparece como um instrumento essencial, pois é tomada como a expressão do conhecimento verdadeiro pelo seu caráter representacional em relação à realidade. Para Nietzsche, os homens não utilizam a linguagem, inicialmente, com a intenção de transmitir uma informação acerca do mundo ou de comunicar um conhecimento efetivo sobre as coisas, mas dela se valem porque desejam expressar uma emoção e uma apreensão subjetiva. Nesse sentido, a função primitiva da linguagem não é referencial nem epistemológica, mas a expressão de vivências. A linguagem apenas designa a relação dos homens com as coisas através de símbolos; ela não é um espelhamento do mundo objetivo, real, verdadeiro ou factual. Conceituar é negar a diferença, fazer do diferente o semelhante. A linguagem opera com simplificações, abreviações e falsificações; assim, longe de ser expressão adequada, é expressão “grosseira” da realidade. O objetivo desse trabalho é identificar como a objeção do filósofo à pretensão metafísica de um discurso que expresse a verdade, objeção típica da crítica genealógica que ele irá empreender em suas obras da maturidade, já está presente, de modo embrionário, em sua obra Curso de Retórica (1872/73), e no escrito Sobre verdade e mentira em sentido extra-moral (1873). PALAVRAS-CHAVE: Linguagem; Metafísica; Verdade; Conceito; Metáfora.

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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100 Ressonâncias filosóficas - Resumos

REFERÊNCIAS NIETZSCHE, F. Curso de Retórica. Tradução: Thelma L. da Fonseca. In: Cadernos de Tradução. São Paulo: 1999.

_____. Escritos sobre retórica. Edição, tradução e introdução de Luis Enrique de Santiago Guervós. Madrid: Editorial Trotta, 2000, p. 9-77.

_____. Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral. (Org. e Trad. Fernando de Moraes Barros). São Paulo: Hedra, 2007.

_____. Fragmentos póstumos (1869-1874). Trad. Luis E. de Santiago Guervós.v. I. 2. ed. Madrid: Tecnos, 2010.

GUERVÓS, L.E.S. Nos limites da linguagem: Nietzsche e a expressão vital da dança. In: Cadernos Nietzsche, n. 14, 2003, p. 83-104.

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XXXVI

NOTAS INTRODUTÓRIAS ACERCA DO CONTRATO SOCIAL DE HOBBES E LOCKE

Gabriela Peixoto Oliveira Barbosa*

RESUMO O presente texto tem por objetivo apresentar dois representantes de suma importância para a teoria dos direitos naturais, a saber, Thomas Hobbes (1588 – 1679) e John Locke (1632 – 1704). Ambos apresentam um modelo semelhante, pois, partem do estado de natureza do homem que através do contrato social, estabelece o Estado. Contudo, veremos no decorrer do texto, que eles conceituam de forma distinta cada um dos termos (estado de natureza, contrato social e estado civil). Os quais tornam a sua lógica de pensamento totalmente peculiar. Para Thomas Hobbes (1588 – 1679), os indivíduos agem racionalmente em função dos próprios benefícios e agindo separadamente, eles vivem disputando uns com os outros constantemente. Por conseguinte, a guerra de todos contra todos se generaliza. No estado de natureza, Hobbes afirma que os homens são iguais, são livres e todos possuem os mesmos direitos. Contudo, são inseguros também em relação a sua própria vida, pois, esta liberdade implica ao indivíduo o risco de pôr fim na vida do outro. Com base nessa insegurança, eles criam um contrato social, ou seja, firmam entre si um pacto de submissão, o qual passa para o soberano todos os seus direitos e abrem mão até mesmo da sua liberdade (já que esta implica também tirar a vida do outro) em função da sua segurança, da sua paz, em suma, da preservação da sua própria vida. Feito isto, o que reina então é a vontade única, a qual fica acima de todos os conflitos, e esta vontade única pode inclusive contrariar os interesses particulares dos indivíduos, porém, como o que está em jogo é a segurança, logo, será o melhor. Em John Locke (1632 – 1704), os indivíduos no seu estado de natureza são livres, são também iguais e possuem direito a propriedade. Eles são basicamente razoáveis e entendem que precisam respeitar os direitos dos outros e jamais ferir os mesmos. O conceito de propriedade é de suma importância

* Universidade Estadual de Feira de Santana; E-mail: [email protected]

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para compreendermos o pensamento de Locke. A propriedade se refere á vida, a liberdade e aos bens. E tudo isso, ou seja, a vida, a liberdade e os bens, os indivíduos já possuem no seu estado natural. O que lhes garante a propriedade (bens) é o seu trabalho, o qual torna a propriedade (bens) algo particular e retira do outro o direito sobre a mesma. O contrato social em Locke é na verdade um pacto de consentimento, o qual os homens de forma livre criam a sociedade civil para assegurar ainda mais o que lhes é próprio no seu estado de natureza, ou seja, a propriedade. A criação do Estado então surge com o propósito de proteger esta propriedade. O qual é estabelecido pelas leis do Legislativo. Caso o Estado não proteja esta propriedade melhor que os homens, eles têm o direito à resistência. PALAVRAS-CHAVE: Estado de natureza; Contrato Social; Estado Civil REFERÊNCIAS HOBBES, Thomas 1992 (1642) Do cidadão, tradução para o português de Renato Janine Ribeiro (São Paulo, Martins Fontes).

JANINE RIBEIRO, Renato 1978 A marca do Leviatã: linguagem e poder em Hobbes (São Paulo: Ática)

JANINE RIBEIRO, Renato 1992 “Apresentação” a Thomas Hobbes, Do cidadão (São Paulo: Martins Fontes).

MACPHERSON, C. B. 1970 (1962) The Political Theory of Possessive Individualism, Hobbes to Locke (Londres: Oxford University Press).

OSTRENSKY, Eunice 1997 A obra política de Hobbes na Revolução Inglesa de 1640 (São Paulo: mestrado defendido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo sob orientação de Renato Janine Ribeiro).

JANINE RIBEIRO, Renato 1999 (1984) Ao leitor sem medo: Hobbes escrevendo contra o seu tempo (Belo Horizonte: Editora UFMG).

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Notas introdutórias acerca do Contrato Social... 103

RIBEIRO, Renato Janine. Thomas Hobbes, ou: a paz contra o clero. En publicacion: Filosofia política moderna. De Hobbes a Marx Boron, Atilio A. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales; DCP-FFLCH, Departamento de Ciencias Politicas, Faculdade de Filosofia Letras e Ciencias Humanas, USP, Universidade de Sao Paulo. 2006. ISBN: 978-987-1183-47-0

WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 14º ed. São Paulo, Ática, 2006.

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XXXVII NOTAS SOBRE A CRÍTICA DE LÉVINAS ÀS FILOSOFIAS DA

MESMIDADE E A QUESTÃO PELA ALTERIDADE DO OUTRO

Thayla Magally Gevehr*

RESUMO Em sua obra Totalidade e Infinito, Emmanuel Lévinas se propõe a pensar a alteridade absoluta do Outro. Tal proposta o conduz a uma análise crítica do que ele denominou de “filosofia da mesmidade”, a que pensa a constituição de sentido como aquilo que só é possível desde o horizonte projetivo do Mesmo (o eu, a consciência, o sujeito, etc.). A título de exemplificação, cabe notar que tanto Husserl quanto Heidegger pensaram a constituição da realidade como uma série de momentos que tem o “eu” ou a “si mesmidade” como “ponto de partida” e de “chegada”. Aparentemente, quando o sentido está em jogo nessas filosofias, a instância que “permanece”, que é “capaz” de transcendência (de ultrapassar compreensivamente o ser dos objetos), abarca o ser de tudo o que é numa totalidade de significância. O problema implícito nesse pensamento, segundo Lévinas, não é que o sujeito seja o ponto de partida para pensar o sentido, mas que tudo – tanto o objeto quanto o Outro – só tenha status de ser enquanto referido a ele (ao sujeito) ou enquanto presente nessa totalidade de momentos do Mesmo (uma totalidade que se completa quando o Mesmo chega a si com a compreensão ou o significado dos entes em geral). O que está em jogo, dito por outras palavras, é que existe uma distinção entre o objeto e o Outro que ultrapassa a mera diferença formal apontada pelas filosofias da mesmidade. Se o objeto não pode resistir o poder captador, abarcador do Mesmo, o Outro lhe faz frente, questiona seu poder de poder, e impede a formação ou a redução de seu ser a uma compreensão, a um conceito. O fato do Outro fazer frente, de ser Outro, não em relação ao “eu” e como outro do “eu”, mas Outro por si, revela que há uma distância entre o Mesmo e o Outro que permanece instransponível, que não pode, em nenhuma medida, ser

* UFG; E-mail: [email protected]

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preenchida. É só essa distância que pode impedir que uma nova totalidade de momentos seja formada e que possibilita que o sentido seja pensado como a relação entre o Mesmo e um ser que permanece exterior, transcendente a ele (o Outro). Nosso objetivo, aqui, será o de apresentar o desencadeamento das teses agora apenas anunciadas. Pensaremos (1) em que medida a constituição de sentido pode ser vista como a relação entre o Mesmo e o Outro e (2) como, a partir da proposta de Lévinas, a exterioridade do Outro pode ser “pensada” sem ele seja parte de uma totalidade de momentos. PALAVRAS-CHAVE: Mesmo. Outro. Sentido. Transcendência. REFERÊNCIAS DESCARTES, René. “Meditações”. In: Coleção Os Pensadores. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. 3. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

FERRETTI, Giovanni. “L’intenzionalità metafisica del desiderio in Emmanuel Levinas”. In: Metafísica do Desiderio. Milão: Vita e Pensiero, 2003, p. 303-326.

KORELC, Martina. O problema do ser na obra de E. Levinas. Goiânia: Editora da Imprensa Universitária, 2017.

LÉVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito. Tradução de José Pinto Ribeiro. Portugal: Edição 70, 1980.

_____. Descobrindo a Existência com Husserl e Heidegger. Tradução de Fernanda Oliveira. Lisboa: Instituto Piaget.

NODARI, Francesca. Il pensiero incarnato in Emmanuel Levinas. Università di Trieste: XXIII Ciclo de Dottorato di Ricerca in Filosofia. Ano 2009/2010.

NODARI, Paulo. “O Rosto como apelo à responsabilidade e à justiça em Levinas”. In: Síntese. Revista de Filosofia de Belo Horizonte, v. 29, n. 94 (2002), p. 191-220.

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Notas sobre a crítica de Lévinas... 107

PAULA, Maria Bernadete Gonçalves. “Ética e metafísica no pensamento de Emmanuel Levinas”. In: Kairós: revista acadêmica da Prainha. Ano II/2, julho/dezembro de 2005, p. 415-422.

REIMÃO, Cassiano. “Rosto, racionalidade e linguagem em Emmanuel Lévinas”. In: Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, n. 13, Lisboa, Edições Colibri, 2000, p. 211-231.

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O AMOR EM O BANQUETE DE PLATÃO

Gustavo Rohte de Oliveira* José Dias**

RESUMO Neste trabalho pretende-se analisar o conceito de Amor presente no diálogo O Banquete de Platão. Observa-se que em seus diálogos com Diotima, Sócrates aprende que: o Amor não é uma divindade, visto que, realmente busca a beleza e a bondade, porém isso não implica que amor seja feio e mau, mas antes há um meio-termo no qual se põe um amor, como um daímon entre o divino e o mortal, todo espiritual ao qual cabe interpretar e transmitir as mensagens dos deuses aos homens, bem como o caminho inverso (PLATÃO, 1995); Amor não sendo um deus, mas um semideus, filho dos deuses Penúria, de quem herda a condição de eterna indigência e a falta da beleza, e Engenho, de quem puxou a incessante busca pela beleza e a virilidade, concebido no dia do nascimento de Afrodite, torna-se seu companheiro e servo. Sua sina será viver entre miséria e riqueza na busca do belo e do saber (PLATÃO, 1995); “Forçosamente o Amor é um filósofo e, sendo filósofo, está situado entre o sábio e o ignorante” (PLATÃO, 1995, p. 76), pois, aspira conhecer. O filósofo não é deus, não é sábio nem ignorante, é um meio-termo entre os dois a semelhança do próprio Amor. O amor é desejo de possuir as coisas belas, e possuindo aquilo que deseja chega-se à felicidade; “o amor, em síntese [...] é o desejo da posse perpétua do que é bom” (PLATÃO, 1995, p.78); O amor é também desejo de imortalidade; pela procriação dos seres mortais, gerados pelo desejo do belo e do bom, garante-se a imortalidade. Assim não há procriação no domínio daquilo que não é belo, mas sim na face divina daquilo que é belo (PLATÃO, 1995, p.79). Tendo os convivas todos dito o que pensam de Eros e tecido seus elogios, vê-se no diálogo platônico um novo rumo, a partir desse ponto os elogios são tecidos à Sócrates, por ser o filósofo por excelência, expressão mais perfeita do ser

* UNIOESTE; E-mail: [email protected] ** UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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daimónico. O banquete tem nova direção a partir da chegada de Alcibíades, personagem embriagado que faz questão de demonstrar seu amor pelo mestre Sócrates, que é capaz de encantar os homens assim como o músico, porém com palavras (PLATÃO, 1995). Platão faz questão de demonstrar que Sócrates, preocupado somente com sua “filosofia”, não dá chances para que seus “discípulos” se tornem seus amantes, como na época era costume acontecer, a ponto de não corresponder ao amor do jovem em suas diversas tentativas de um contato amoroso. Aí, percebe-se que o amor verdadeiro, seria aquele que faz da Sophia sua amante (OLIVEIRA, 2012). Esta postura socrática faz o leitor perceber que o verdadeiro filósofo é aquele semideus que está fora dos desejos humanos e busca a transcendência em seu amor pela sabedoria. No diálogo, Alcibíades é a personificação da paixão, sem regras e despreocupada, Sócrates, porém, é a expressão perfeita e divina do Eros, do amor à sabedoria, filosofo por excelência (OLIVEIRA, 2012). PALAVRAS-CHAVE: Amor; Platão; O Banquete. REFERÊNCIAS OLIVEIRA, José Roberto de. O Banquete e o Eros platônico: narrativas sobre o amor e criação. Eunápolis: Revista Pindorama: 2012. Disponível em:<http://www.revistapindorama.ifba.edu.br/files/edicao_3_o_banquete.pdf> Acesso em: 13/10/2017.

PLATÃO. O Banquete. São Paulo: Cultrix, 1995.

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O COERENTISMO DE WILLARD VAN ORMAN QUINE

Pablo de Carvalho Knierin* RESUMO Deseja-se com esse trabalho abordar a teoria epistemológica do Coerentismo em Willard Quine, e também demonstrar como de tal teoria gerou-se a chamada epistemologia naturalizada. Esse filósofo estadunidense, Willard Quine, causou grande impacto na filosofia contemporânea, como também criticou conceitos basilares da epistemologia tradicional. Para afirmar o seu Coerentismo, Quine desenvolve duas críticas à tradição epistemológica. Primeiramente questiona a distinção entre as proposições sintéticas e analíticas. Em seguida, refuta a tese da redução radical das proposições sintéticas. Através dessas críticas à tradição, já se pode perceber a postura construtivista do autor, que serão expressas em seu holismo semântico e metodológico. Para compor a sua tese coerentista, Quine desenvolve a teoria comportamental do significado e também afirma a impossibilidade de traduções literais. Assim, com essas duas afirmações tem-se os elementos básicos do holismo semântico. Visto que, todo o significado dado por um indivíduo a algo é determinado por uma série de esquemas conceituais e expectativas subjetivas. Dessa forma, não há verdadeira ciência se as proposições não são coerentes com os esquemas conceituais do indivíduo, e esse é o núcleo, a essência do Coerentismo. Após a compreensão desses conceitos, pode-se demonstrar a necessária relação entre o Coerentismo e a afirmação de uma epistemologia naturalizada. Para tanto, deve-se analisar primeiramente a tese do relativismo ontológico. Nessa tese, Quine afirma que dada a impossibilidade de conhecer as coisas tais quais ela são, pelo fato do conhecimento ser uma interpretação do comportamento, todas as categorias e definições dos indivíduos são tão sólidas quanto os deuses homéricos. Contudo, as categorias conceituais ao contrário dos deuses gregos só não são relegadas ao esquecimento pelo fato de que auxiliam as pessoas a organizar os estímulos sensoriais advindos do meio.

* Faculdade Palotina (FAPAS); E-mail: [email protected]

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Desse modo, pode-se afirmar que o homem, não passando de matéria viva, ou seja, um ser sem dimensão espiritual, sem alma no sentido tradicional, somente capta os estímulos do meio pelos sentidos e os processa através do cérebro, que elabora os conceitos, as ideias sobre a realidade. Logo, não cabe mais à epistemologia especular sobre o que é cognoscível, mas sim explorar como dá-se o conhecimento. Cabe à epistemologia entender como os dados recebidos pelos sentidos (imputs) são processados pelo cérebro que elabora uma visão de mundo, da realidade (outputs). Por isso, ao deparar-se com o pensamento de Quine pode-se correr o risco de pensar que ele reduz demasiado a epistemologia e os limites do conhecimento humano, mas tal interpretação é, na verdade, errônea. Pois, ao demonstrar os ‘defeitos’ da epistemologia tradicional busca-se somente um lugar mais adequado para essa ciência. Dado que, como afirma o autor: “[...] nesse ponto seria mais útil dizer, em vez disso, que a epistemologia continua a avançar ainda, embora num novo quadro e com um status clarificado.” (1975, p. 170). Ora, somente através desse novo status da epistemologia será possível progresso no conhecimento. Pois, ao aliar-se ao progresso científico, ela encontra bases empíricas sólidas. E somente o conjunto coerente de conhecimentos científicos poderá garantir a subsistência da epistemologia nas atuais conjunturas da modernidade. PALAVRAS-CHAVE: Coerentismo; Holismo semântico; Epistemologia naturalizada. REFERÊNCIAS QUINE, Willlard Van Orman. Epistemologia naturalizada. São Paulo: Abril Cultural, 1975.

REALE, Giovanni. História da Filosofia: de Freud à atualidade. São Paulo: Paulus, 2006. v. 7.

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O CONCEITO DE ‘INTELECÇÃO’ EM BERNARD LONERGAN

Filipe Gomes de Freitas*

RESUMO A ‘intelecção’ é um conceito fundamental para se entender a proposta epistemológica cunhada por Bernad Lonergan. O autor busca empreender sua jornada filosófica construindo o conceito de Intelecção se perguntando: como se dá o ato de conhecer? Esta pergunta não é uma mera formulação especulativa/biológica representativa de mecanismos funcionais da capacidade cerebral. Mas, uma análise fundamental do ato de conhecer. É destacável na filosofia de Lonergan que o conceito de ‘intelecção’ está intimamente ligado ao conceito de ‘Realidade’, no seu significado mais profundo, ou seja, a realidade metafísica da coisa. Lonergan é um filosofo canadense nascido no ano de 1904, terminando sua jornada terrestre no ano de 1984 sucumbido por um câncer. Deixou um legado escrito de importante significância para o mundo da filosofia, destacando-se com a obra “insight: um estudo do conhecimento humano”. É nesta obra que Lonergan desenvolveu sua teoria sobre a intelecção, o próprio ato de conhecer. “A intelecção surge como uma libertação da tensão da pesquisa, ocorre de modo súbito e inesperado, é uma função de condições internas, e não de circunstancias externas” (LONERGAN, 2010, p. 43). Um dos exemplos utilizados por Lonergan na obra insight é a descoberta de Arquimedes, que desafiado a testar a pureza de ouro de uma coroa, inicia assim o processo de investigação, e como que algo instantânea enquanto estava tomando banho pronto: eureka (descobri). A descoberta de Arquimedes ficou conhecida depois por hipótese universal do peso específico. Quais as intenções de Lonergan com este exemplo? Buscar ilustrar a capacidade humana, que está dentro do sujeito, de inteligir. Não foi pesquisando que Arquimedes conseguiu o seu feito, mas em um banho. O ato de inteligir se dá nos lugares mais inusitados, a luz do conhecimento ocorre quando menos esperamos. Este

* Faculdade Palotina (FAPAS); E-mail: [email protected]

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fato de conhecer que ocorreu com Arquimedes, ora em um momento ele não fazia ideia de sua descoberta, e depois como um estalo ele passou a entender; Lonergan chama este estalo de insight, o justo momento da descoberta e do entendimento humano, momento este que caracteriza a passagem da ignorância para a sabedoria de algo. Desta forma o conceito de intelecção pode ser definido como o ato de descoberta ou de compreensão de algo. A intelecção está vinculada com a realidade, pois são os dados da experiência que permitem o desencadear da descoberta. A intelecção tenta responder, sempre, a pergunta por quê? atrelada intimamente com a pergunta o que é? A descoberta de Lonergan no campo da epistemologia consiste em apresentar ao mundo uma compreensão do próprio ato de conhecer. O insight é o causador e o gerador da compreensão acerca de alguma coisa fora ou dentro de nós. A intelecção vai além do método aplicado. Ora muitos tentaram, metodologicamente, desvendar o mistério da coroa, no entanto, somente Arquimedes, indo além do método de pesquisa, descobriu e exultante gritou “eureka”, o método é “a exploração dessa intenção, pois delineia os passos que devem ser tomados para que se passe da intencionalidade inicial da questão ao conhecimento [...]” (LONERGAN, 2012, p. 37). PALAVRAS-CHAVE: Conhecimento; Intelecção; Insight; Método. REFERÊNCIAS LONERGAN, Bernard. Insight: Um Estudo Do Conhecimento Humano. Trad. Mendo Castro e Artur Mourão. São Paulo: Erealizações: 2010.

______. Método em Teologia. Trad. Hugo Langone. São Paulo: Érealizações: 2012.

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O CONCEITO DE DEUS EM ESPINOSA E A SUA IMPORTÂNCIA PARA A ÉTICA

Elvio Camilo Crestani Junior*

RESUMO Esta comunicação consiste em uma aproximação com a grande obra Ética (1677) tendo como pretensão explorar o seu primeiro livro De Deus no intuito, de esclarecer conceitos e relações que Baruch Espinosa (1632-1677) nele faz, para poder, dessa forma, apresentar sua concepção de Deus. Com base em nossa análise, buscaremos compreender a crítica realizada pelo pensador holandês direcionada ao conceito de substância cartesiano, e reforçar a hipótese de que Espinosa vai contra uma forte corrente religiosa e dogmática que acredita em um Deus transcendente, para sugerir em sua obra um conceito de um Deus imanente e sempre presente em tudo. Para cumprir com a nossa proposta, será realizada uma análise histórica das crenças religiosas, sobretudo judaicas, predominantes da época e uma caracterização do significado de substância para a filosofia de René Descartes, para então, realizarmos uma identificação direta dos conceitos construídos por Espinosa, tendo em conta o método matemático euclidiano utilizado em sua obra, o que torna a caracterização conceitual mais imediata, de modo que compete à nossa comunicação estabelecer relações entre esses conceitos, a fim de elaborar uma concepção de Deus, e compreender quais as principais diferenças entre as concepções de Deus e de substância mais aceitas em seu tempo, e quais as mudanças conceituais propostas pelo filósofo holandês. Segundo Espinosa, ao observarmos criticamente a natureza a nossa volta, conseguimos notar que existem diversas formas de corpos e mentes se manifestando ao mesmo tempo. Todos esses corpos e mentes são efeitos de alguma relação estabelecida entre outros corpos e mentes. Com base em nossas observações, seria possível concordar que parece existir uma produção infinita desses modos, que emergem sob alguma ordem que age por si, e não compete a nós controlar. É possível, portanto, que estejamos

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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participando de uma natureza ordenada, que tenha produzido tudo o que conhecemos com base em suas características. Essa natureza pode ser compreendida como uma substância eterna e infinita, que é causa de si mesma e na qual a essência envolve a existência, ou seja, que ela existe necessariamente. Dentro de suas características, o filósofo propõe que a substância possui infinitos atributos, e que estão sendo produzidos infinitamente. Nós, seres humanos limitados, conseguimos identificar somente dois desses atributos: a extensão e o pensamento, que dão forma a tudo o que conhecemos partindo de modificações dos atributos dessa substância, que é Deus. Em vista disso, procuraremos afirmar que o conceito de Deus para Espinosa traz uma visão muito diferente da concepção que apela para uma explicação transcendente, e também se difere do conceito de substância de Descartes, o que gerou na época um forte embate com os partidários de outras visões, sendo que nem judeus nem cartesianos se sentiam confortáveis com a bela forma de entender Deus e a natureza do pensador holandês. PALAVRAS-CHAVE: Deus; Substância; Atributo; Modos; Corpo e Mente. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Pablo Joel. A concepção imanente de Deus em Spinoza. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/a_concepcao_imanente_de_deus_em_espinosa.pdf>. Acesso em: 19 set. 2017.

BERNAL, César Colera. O Conceito de Modos em Spinoza. Disponível em: <http://seer.uece.br/?journal=Conatus&page=article&op=view&path%5B%5D=1671&path%5B%5D=1443>. Acesso em: 19 set. 2017.

FRAGOSO, Emanuel Angelo. A definição de Deus na Ética de Benedictus de Spinoza. Revista de Filosofia do Mestrado Acadêmico Em Filosofia da UECE, Fortaleza, v.2, n.4, p.11-31, verão 2005.

MARQUES, Ramiro. A Ética de Espinosa (1632-1677). Disponível em: <http://www.eses.pt/usr/Ramiro/docs/etica_pedagogia/A%20%C3%89TICA%20DEESPINOSA.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2017.

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O conceito de Deus... 117

OLIVEIRA, Leonardo Araújo. A filosofia prática de Spinoza: uma ética da imanência contra a moral transcendente. Revista Urutágua – acadêmica multidisciplinar – DCS/UEM, Maringá, n.27, p. 82-94, novembro 2012 – abril 2013.

SPINOZA, Baruch. Ética. Trad. Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editora: 2016.

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O CONCEITO DE PESSOA NO PENSAMENTO ÉTICO DE MAX SCHELER

Leonan Ferrari Felipin*

RESUMO Como anuncia o título, o tema da pesquisa que ora se apresenta é a noção de pessoa na ética de Max Scheler (1874-1928). Para nos colocarmos no caminho dessa investigação, e diante de um filósofo não tão conhecido do grande público, estrutura o nosso estudo, respectivamente, a tarefa de apresentar sumariamente notícias biográficas do autor e, ainda, caracterizar sua Filosofia ética em vista de suas obras, mais especificamente sua Ética (1913). Scheler desenvolve a sua teoria dos valores partindo de uma aproximação fenomenológica, constatando que os valores não existem fundamentados em um fim (Tomás de Aquino), assim como também não o são por conta de uma norma (Kant), mas valem a priori, validados independentemente das coisas e apreendidos pela intuição emocional das essências a partir da objetivação que o homem faz do mundo, das coisas e de si próprio. Desse modo, o "ir às coisas mesmas" tem por alvo, na ética scheleriana, a pessoa. Destarte, compõe a segunda parte deste artigo enumerar os saldos da busca scheleriana para o conceito de pessoa na Ética, afim de que se possa sustentar a hipótese de que este conceito não é apenas vivo no personalismo enquanto escola, mas também na Filosofia ética e dos Valores do filósofo. Isto posto, vemos que pessoa, aqui, não se refere a uma substância, mas ao centro de um conjunto de atos que formam uma identidade, uma personalidade em cada indivíduo, superando o sujeito lógico do criticismo submisso à lei moral. Pessoa diz da esfera espiritual do ser, é o valor fonte de onde desembocam outros valores e de cujos quais o amor é o que está acima na hierarquia esquematizada pelo autor. O centro de atos do qual se fala é a constituição essencial da pessoa, onde se encontram os valores da esfera sensitiva, vital, espiritual e religiosa. As ações da pessoa têm influência direta desta estrutura e, portanto, este arranjo valorativo é central na ética. Desse

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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modo, vê-se também que, para Scheler, é o aspecto espiritual presente no homem que objetiva as coisas. Para o filósofo bávaro, pessoa tem um mundo; objetivar é abrir-se ao mundo. PALAVRAS-CHAVE: Pessoa; Scheler; Ética; Homem; Valores; REFERÊNCIAS PRINCIPAL SCHELER, Max. Ética – Nuevo ensayo de fundamentación de um personalismo ético. Trad. Hilario Rodrígues Sanz. Madrid: Caparrós, 2001. SECUNDÁRIA: COSTA, José Silveira da. Max Scheler: o personalismo ético. São Paulo: Moderna, 1996. – (Coleção logos)

DERISI, Octavio N. Max Scheler: Ética material de los valores. Madrid: EMESA, 1979.

LÓPEZ, Rodrigo Guerra. Volver a la persona: El método filosófico de Karol Wojtyla. Madrid: Caparrós, 2002. (Coleção Esprit)

SCHELER, Max. A posição do homem no cosmos. Trad. Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

MEISTER, José Antônio Fracalossi. Amor x conhecimento: inter-relação

ético-conceitual em Max Scheler. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994. ‒ (Coleção Filosofia)

PEREIRA, Rosane Maria Batista. O sistema ético-filosófico dos valores de Max Scheler. Porto Alegre: EST, 2000.

VAZ, Henrique C. Lima. Escritos de Filosofia IV: Introdução à Ética Filosófica 1. São Paulo: Loyola, 1999. – (Coleção Filosofia - 47)

WOJTYLA, Karol. Max Scheler e a ética cristã. Diva Toledo Pisa: Curitiba: Champagnat, 1993.

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O CONCEITO DE VONTADE LIVRE NA ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS FILOSÓFICAS DE HEGEL

Patrícia Riffel de Almeida*

RESUMO O presente trabalho investiga a gênese da vontade livre na seção ‘Psicologia’ da Filosofia do Espírito Subjetivo da Enciclopédia das Ciências Filosóficas de Hegel. O espírito subjetivo, que na ‘Antropologia’ acede da imediatez à alma efetiva e à consciência, e ao longo da ‘Fenomenologia’ volve-se consciência universal mediante o reconhecimento recíproco, volta, uma vez mais, no início da ‘Psicologia’, a ser espírito finito e uma totalidade imediata, que deve ser superada a fim de que o espírito conheça a razão que encontra no objeto como idêntica à sua razão. Com efeito, pensamento e vontade, “espírito teórico” e “espírito prático” são de início um saber apenas formal. Por um lado, o pensamento deve elevar-se até “o saber determinado e conforme ao conceito”; por outro, a vontade deve enfrentar “a singularidade excludente do efetivo”. A vontade efetivamente livre em si e para si surge da interpenetração e determinação mútua de pensamento e vontade, operando a transição do espírito subjetivo para o espírito objetivo. Esta transição engendra, concomitantemente, o conceito de direito, e posteriormente Hegel pressupõe a sua dedução aí exposta (Filosofia do direito, §4). Juntamente a comentadores como Siep, Pippin e Williams, argumenta-se no sentido de mostrar que o filósofo altera substancialmente a forma de compreensão da vontade livre, assim como da autonomia individual. A vontade livre não é entendida como a capacidade de uma faculdade independente de eximir-se da influência das inclinações, mas antes o exercício das capacidades é concebido como resultado de interações sociais entre sujeitos desenvolvidos ao longo do tempo em uma comunidade social específica. Hegel desenvolve desta forma uma teoria social da agência. Neste contexto, determinar o grau de liberdade de uma ação não depende da extensão de um poder causal exercido, senão do tipo e qualidade das justificações que são oferecidas.

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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Dentre as dificuldades metodológicas suscitadas pelo capítulo, está a de saber se a Psicologia permanece no nível do espírito subjetivo ou já está no espírito objetivo, e o que levou Hegel a acrescentar o capítulo “O espírito livre” na edição de 1830, o qual não constava nas duas edições anteriores. PALAVRAS-CHAVE: Vontade livre; Espírito; Intersubjetividade. REFERÊNCIAS HEGEL, George W. F. Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio. Trad. Paulo Meneses. São Paulo: Loyola, 1995.

_____. Lectures on the Philosophy of Spirit 1827-8. Translated with an Introduction by Robert R. Williams. Oxford: Oxford University Press, 2007.

HÖSLE, Vittorio. O sistema de Hegel – o idealismo da subjetividade e o problema da intersubjetividade. São Paulo: Loyola, 2007.

MÜLLER, Marcos Lutz. “A gênese lógica do conceito especulativo de liberdade”. Analytica. Rio de Janeiro: UFRJ, v. 1, n. 1, pp. 77-141, 1993.

PIPPIN, Robert. Hegel’s practical philosophy – rational agency as ethical life. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.

SIEP, Ludwig. Anerkennung als Prinzip der praktischen Philosophie – Untersuchungen zu Hegels Jenaer Philosophie des Geistes. Hamburg: Meiner, 2014 [1976].

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O DE ANIMA, DE ARISTÓTELES, e a unidade entre razão e sensação como forma de vida

Matheus Gabriel de Oliveira*

RESUMO Ciências humanas e biológicas questionam a relação entre atividade psíquica e atividade fisiológica. No De Anima, tratado sobre a psykhé (“alma” ou intelecto), a unidade psicofísica é pensada a partir do hilemorfismo, ou seja, o pensamento humano não pode ser concebido sem o corpo. Sabemos que Aristóteles compreende a “razão” em contraste com a sensação: a razão é simples, sem mistura, impassível (não padece afecções). Mas a ordem do tratado mostra que só podemos pensar a partir do que a imaginação fornece a partir das impressões sensíveis. Isto significa que todo pensamento depende do corpo senciente. Será que só podemos pensar o que a sensação nos entrega e de que a imaginação separa a matéria? Não haveria, então, nem alma sem corpo, nem pensamento puro. E como se daria o pensamento, afinal? Essas questões serão examinadas, na comunicação, à luz de dois eixos: (1) a definição aristotélica de psykhé, segundo a qual esta não é uma substância, mas a forma (atividade) de um corpo potencialmente vivo (marcando o tipo de vida propriamente humana) e (2) trecho do comentário Razão e Sensação em Aristóteles, de Marco Zingano – para pôr à prova a tese de que o pensamento depende da sensação mas não como seu efeito, e também para compreender como o início da filosofia ocidental se propôs o problema da existência, origem e autonomia do pensamento “puro”. PALAVRAS-CHAVE: Aristóteles; “De Anima”; Psicofisiologismo

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REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. De Anima. Apresentação, tradução e notas de Maria Cecilia Gomes dos Reis. São Paulo: Editora 34, 2006.

_____. De Anima. Livros I-II, trechos. Introdução, tradução e notas de

ZINGANO, Marco Antônio. Razão e sensação em Aristóteles: um ensaio sobre" De Anima" III 4-5. L & MP ed., 1998.

BERTI, Enrico. "A alma é, para Aristóteles, individual?." Revista Hypnos 24 (2010).

DE ANDRADE MARTINS, Roberto; MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira. Uma leitura biológica do 'De Anima'de Aristóteles. Filosofia e história da biologia, v. 2, n. 1, p. 405-426, 2007.

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O ESCLARECIMENTO DOUTRINADOR SEGUNDO ADORNO E HORKHEIMER

Andressa dos Santos Cizini*

RESUMO A obra Dialética do esclarecimento, regido pelos filósofos Adorno e Horkheimer publicado em 1947, em suma é um estudo direcionado em “[...] por que a humanidade, em vez de entrar em um estado verdadeiramente humano, está se afundando em uma nova espécie de barbárie”. No decorrer da obra utilizam o exemplo sobre a segunda guerra mundial, ressaltando as barbáries que o homem é capaz de fazer quando se coloca toda força e todo crédito na razão, por consequência disso, faz uso da razão instrumental para o extermínio das massas. Devido a isso destacam o esclarecimento como mistificação de massas. A saída da menoridade, ou seja, desse esclarecimento doutrinador, só é possível quando usamos o pensamento emancipatório libertador que buscam benefícios para a humanidade. Ao analisarmos o filme “A Onda” de Dennis Gansel, podemos relacionar com os conceitos na qual os filósofos trabalham: Crítica ao modo do esclarecimento doutrinador de massas x Esclarecimento (emancipação) libertador. A história do filme passa em uma escola na Alemanha na qual um professor tem o desafio de ministrar um conteúdo sobre Autocracia. Em primeiro momento Rainer inicia sua aula expondo os principais fatores que definem um poder Aristocrático; ao questionar seus alunos se seria possível uma ditadura na Alemanha atual, os estudantes em primeiro momento afirmam que esse acontecimento estaria fora de cogitação. O professor decide então fazer uma experiência didática por uma semana, em que o professor passa a ser a figura de governante e seus estudantes os “seguidores”. A partir daí várias características vão sendo criadas ao grupo, com o objetivo de ressaltar o exercício unificador que a ditadura retrata junto de si a liderança e as ordens que devem ser cumpridas, a igualdade entre as pessoas e o padrão na qual todos devem adquirir e respeita-lo. As pessoas que se

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colocaram contra os ideais do movimento eram excluídas do grupo. Investigando de acordo com o pensamento dos filósofos temos a figura do professor como um doutrinador, uma pessoa esclarecida que usa de seu pensamento para manipular as massas. Os alunos que não concordam com o posicionamento doutrinador, são os emancipados. Aqueles que continuam na menoridade, ou seja, os que seguem o pensamento do professor sem questiona-lo sobre sua experiência doutrinadora. A emancipação é a saída da menoridade do homem, ou seja, é a libertação dos domínios da alienação. Os filósofos propõem que o mecanismo para a libertação da massa que tem como base o pensamento emancipado, é através da educação. Os indivíduos devem ser educados desde crianças, a fim de promover atitudes humanitárias para a sociedade. Segundo Adorno, este uso da razão instrumental como forma de dominação é baseado em doutrinas ideológicas que beneficiam um governante, ou um determinado grupo de pessoas. Na prática, suas ações podem levar a destruição de massas. A emancipação ainda é uma ilusão, portanto o que Adorno enfatiza é que devemos sempre olhar ao passado, para evitar que a barbárie no futuro aconteça, emancipação só é possível quando o homem se liberta da alienação. PALAVRAS-CHAVE: Esclarecimento doutrinador; Emancipação; A Onda. REFERÊNCIAS: ADORNO, Theodor W; Horkheimer, Max. Dialética do esclarecimento.

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O PROBLEMA DA LINGUAGEM ESPECIALIZADA PARA LUDWIG WITTGENSTEIN

Robson Raddatz Ramos*

RESUMO Pretende-se com esse trabalho expor a distinção entre a linguagem comum e a linguagem especializada, sendo a primeira considerada solução para a linguagem especializada, por intermédio da lógica procura-se desembaralhar confusões conceituais, causadas pelo uso incorreto das palavras, a linguagem especializada já é o salto em que não mais se precisa utilizar da lógica, mas, ainda necessita de uma linguagem primitiva, qual deve dar bases para seu entendimento e crescimento, diante de uma concepção do autor Ludwig Wittgenstein. Para isso, utilizar-se-á das suas obras, a saber: Livro azul, Livro castanho, Investigações Filosóficas, Tractatus logicus-philosophicus e Gramática filosófica, nas quais Wittgenstein considera acerca da cientificidade da linguagem filosófica. Desse modo, ele considera este aspecto como prejudicial para a produção filosófica, pois necessita de uma generalidade e de regras rígidas para a escrita, enquanto o autor sugere que possamos produzir uma linguagem mais acessível, que privilegie a todos, sendo necessário o desmembramento de conceitos complexos e específicos de áreas do conhecimento, como antídoto. Assim, Wittgenstein propõe tomar as proposições pela linguagem lógica, de tal forma que se possam analisar os argumentos de forma clara, linguagem sem equívocos ou erros, como diria o autor, criando uma linguagem descritiva da realidade, se utilizando de jogos de linguagem, quais são essenciais para uma comunicação efetiva. Diante de tal perspectiva, não nos deteremos em apenas uma das fases de seu pensamento, mas nas suas duas fases, no primeiro Wittgenstein, quando a linguagem figura o real e depois no segundo, quando expressa o real. PALAVRAS-CHAVE: Wittgenstein; Linguagem; Lógica; Jogos de linguagem;

* Faculdade Palotina (FAPAS); E-mail: [email protected]

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REFERÊNCIAS BUCHHOLZ, Kai. Compreender Wittgenstein. Petrópolis: Vozes, 2008.

CHILD, William. Wittgenstein. Porto Alegre: Penso, 2013.

DALL’AGNOL, Darlei (Org.). Wittgenstein em retrospectiva. Florianópolis: Editora da UFSC, 2012.

HACKER, P. M. S. Wittgenstein: Sobre a natureza humana. São Paulo, Editora UNESP, 2000.

STRAWSON, Peter Frederick. Análise e metafísica: uma introdução à filosofia. São Paulo: Discurso Editorial, 2002.

WITTGENSTEIN, Ludwig. O livro azul. Lisboa: Edições 70, 1992.

_____. O livro castanho. Lisboa: Edições 70, 1992.

_____. Tractatus logico-philosophicus. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2001.

_____. Gramática filosófica: a proposição e seu sentido: sobre a lógica e a matemática. São Paulo: Loyola, 2003.

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O PROMETEU ACORRENTADO DE ÉSQUILO: uma investigação sob a perspectiva trágica nietzschiana

Nilson Rodrigo da Silva*

RESUMO Nietzsche em o Nascimento da Tragédia (1871), identifica o desenvolvimento da arte ateniense como uma resultante da união dos impulsos Apolíneo e Dionisíaco, lançando, assim, um novo olhar para o drama grego, um olhar metafísico para a arte, a qual apresenta-se como uma analogia ao próprio movimento do mundo. O impulso Dionisíaco através da destruição das formas, faz com que o múltiplo destrua suas delimitações e retorne ao Uno-primordial, e desse sentimento de Unidade, parte o impulso apolíneo na construção do múltiplo, eis o jogo da vida que se exprimi na arte ateniense: Por meio da música, expressa-se o impulso Dionisíaco, o qual possui por característica o rompimento inebriante, em que se desfaz toda individuação. Neste rompimento, há uma manifestação do sentimento de unidade ante o mundo (Uno-primordial), no qual, ao mesmo tempo, os homens extasiados pelo efeito dionisíaco deparam-se com sua finitude, com o pessimismo da existência. O impulso Dionisíaco explicita-se como a essência por detrás das coisas, a unidade metafísica do mundo; e como representação da música do coro dissonante, por meio do impulso apolíneo, o drama trágico (o mito) representa as imagens ou formas do mundo empírico, imagens que trazem “luz” e “verdade” aos homens. Nesse movimento, análogo ao movimento do cosmos, desenrolava-se a tragédia grega. Para Nietzsche o ápice da tragédia está nas peças de Ésquilo, onde o coro exerce uma notável participação e os heróis são determinados por seus suplícios. Segundo o filósofo os gregos não viam o desenvolvimento da tragédia como uma simples arte estética, outrossim reconhecem no coro trágico uma figura viva, a qual apresenta-se como uma alusão à própria natureza, sem determinações ou conhecimentos. Ante a perspectiva nietzschiana o presente trabalho tem por intento apresentar como o tragediógrafo Ésquilo estruturou seu drama Prometeu

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Acorrentado, perscrutando o modo como os impulsos cósmicos agem no decorrer da narrativa, e como a sabedoria trágica pode ser compreendida como uma afirmação da vida. Visto que para o filósofo alemão na tragédia, mais especificamente, no coro trágico o homem passa a enxergar suas mais profundas emoções pela a experimentação dionisíaca. A voz de Dioniso era ouvida através desses que o louvavam como os sátiros. Destarte, o homem, ao experimentar o êxtase da realidade dionisíaca, que rompe todas as barreiras pessoais, toma consciência de sua realidade cotidiana: sua finitude. E ao deparar-se com todo este horror da existência, vê sua redenção na representação da vida pelo mito (Apolíneo), o qual, apresenta-se ali como uma representação de todos aqueles pensamentos da existência. Como reafirma Nietzsche a respeito dos extasiados pelo trágico: [o heleno] “é salvo pela arte, e através da arte salva-se nele – vida”. PALAVRAS-CHAVE: Tragédia; Nietzsche; Ésquilo; Apolíneo; Dionisíaco. REFERÊNCIAS ÉSQUILO. Prometeu acorrentado. Tradução de Daisi Malhadas e Maria Helena de Moura Neves. Araraquara: UNESP / ILCSE, 1977.

HESÍODO. Teogonia. Tradução de Jaa Torrano. São Paulo, Iluminuras, 1995.

NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos: ou como se filosofa com o martelo. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

_____. O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e pessimismo. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

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XXXXVIII OS PRINCÍPIOS NORMATIVOS DA POLÍTICA NAS 20 TESES

DE POLÍTICA DE ENRIQUE DUSSEL

Evânio Márlon Guerrezi* RESUMO O presente trabalho tem como principal objetivo a apresentação do modo como Enrique Dussel concebe a política por um viés normativo, com ênfase em sua obra 20 teses de política. Para o autor, parece ser possível rastrear um “conjunto ético” com o qual as ações políticas podem ser avaliadas. Esse conjunto ético é tomado como o referencial para a constituição de princípios normativos orientadores da política. Embora essa perspectiva apareça em diversos momentos da obra em questão, circunscreveremos nossa comunicação a dois blocos conceituais específicos. O primeiro se situa na primeira parte do livro, mais especificamente nas teses 9 e 10, e se mostra como uma etapa de constatação dos três grandes princípios normativos da política, a saber, o princípio material, o princípio democrático e o princípio de factibilidade. O segundo, por sua vez, está presente na segunda parte das 20 teses, no bloco composto pelas teses 13 e 14, que tratam dos princípios por meio de uma orientação declaradamente mais crítica, momento em que são utilizados para afirmar a possibilidade de um novo momento histórico. Tornam-se, portanto, instrumentos críticos que norteiam a atividade política em vistas de uma nova possibilidade existencial. Com essa apresentação, pretendemos traçar as diferenças presentes entre esses dois blocos conceituais, expondo as alterações ocorridas nos princípios normativos. Além disso, acreditamos ser possível, ao final, afirmar que os princípios políticos normativos elaborados por Dussel, podem servir como um conjunto de ferramentas avaliativas da política, a fim de constatar se determinados quadros políticos concretos, tais como as recentes democracias latino-americanas, se encontram em processo de corrupção ou regeneração.

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PALAVRAS-CHAVE: Política; Democracia; Princípios Normativos. REFERÊNCIAS DUSSEL, Enrique. 20 teses de política. Tradução de Rodrigo Rodrigues. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

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POLÍTICA E LINGUAGEM NA OBRA DE JACQUES RANCIÈRE

Fabio Antônio da Silva*

RESUMO A presente comunicação propõe um estudo sobre a relação entre política e linguagem na obra do filósofo argelino Jacques Rancière com o objetivo de esclarecer de que modo, em diferentes obras, o autor afirma o elemento estético como determinante (além do aspecto lógico) na construção de um discurso político convincente. Na tradição filosófica a lógica é, muitas vezes, definida como habilidade racional capaz de avaliar os argumentos de modo seguro e imparcial. Desse modo, nossos ideais estéticos e éticos (da beleza e da justiça), como efeito de nossa produção racional, deveriam ser o resultado de uma avaliação lógica dos argumentos (da verdade) dos discursos. Parece-nos que, para o autor, há uma interação com o âmbito estético, uma vez que a “partilha do sensível” (em seus termos) precede o discurso, que, por sua vez, pode vir a ser capaz de mudar a distribuição dos corpos nessa mesma partilha; e de que há a possibilidade, no interior dessa “loucura retórica” apontada por Rancière, de uma sistematização dos recursos utilizados para alcançar o convencimento. Tais como a metáfora, o performativo “compreendeu?” e a posição da terceira pessoa que ocupa o lugar da primeira pessoa em: “Nós operários...”. Exemplos do poder da escolha das palavras, bem como da ocupação dos espaços de fala no desentendimento que se gera na partilha do sensível. REFERÊNCIAS RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento: política e filosofia. Trad. Ângela Leite Lopes, Ed. 34, São Paulo, 1996.

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_____. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. Trad. Lilian do Valle, Ed. Autêntica, Belo Horizonte, 2002.

_____. A partilha do sensível: estética e política. Trad. Mônica Costa Netto, Ed. 34, São Paulo, 2009.

_____. O ódio à democracia. Trad. Mariana Echalar, Ed. Boitempo, São Paulo, 2014.

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POTÊNCIAS UTÓPICAS DA RELIGIÃO: Reflexões a partir de L. Feuerbach e E. Bloch

Rosalvo Schütz*

RESUMO Talvez uma das argumentações mais duras contra a religião e em favor do materialismo tenha sido desenvolvida por Ludwig A. Feuerbach. Segundo Feuerbach, ao contrário do que de modo geral é atribuído ao ateísmo no sentido de que este seria a negação dos predicados divinos (como o amor, a solidariedade, a capacidade de criação, de conhecimento infinito, justiça, etc.), o ateísmo implicaria apenas a negação do sujeito ilusório destes predicados. Feuerbach entende demonstrar que todos os predicados que geralmente são atribuídos a Deus não passam de predicados da espécie humana como gênero. A ilusão de que existiria objetivamente um ser (que não a humanidade) portador destes predicados gera, segundo este autor, um estranhamento da humanidade em relação a si própria, uma vez que exterioriza/aliena suas próprias propriedades e passa, ilusoriamente, a atribuí-las a um ser independente dele. Retomar e reabilitar estas propriedades humanas/antropológicas seria, portanto, condição fundamental para o desenvolvimento do humanismo. Como, no entanto, tudo o que é projetado/objetivado em Deus não passa de características/propriedades humanas, a religião é a realização indireta daquilo que poder ser considerado essencialmente humano. Só por ser “humano, demasiadamente humano”, é que algo pode vir a ser considerado divino. No entanto, na medida em que esta “essência genérica” da humanidade não é reconhecida como tal, permanecendo projetada em um ser estranho, ela acaba atravancando a efetiva apropriação e desenvolvimento das potencialidades humanas. Em vez de servir à humanidade, o ser religioso passa a venerar e fetichizar uma criatura sua: o criador passa a venerar a sua própria criatura. Ao evidenciar os fundamentos humanos e antropológicos da religião, Feuerbach, mesmo que não explicitamente, colocou sob suspeita todas as estruturas sociais

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baseadas nas supostas verdades religiosas da época. Estas “verdades” eram defendidas pela teologia como dogmas inquestionáveis. Assim, a redução antropológica da religião realizada por Feuerbach permitiu desmascarar a teologia como antropologia disfarçada. Segundo o autor, o que importa é desvendar os fundamentos sociais e antropológicos da teologia, evidenciando seu conteúdo e objetivos ocultos. Vislumbra-se, assim, uma nova forma de abordagem filosófica e produtiva da religião. Esta nova perspectiva é definida por Ernst Bloch enquanto “[...] o divino como imagem do desejo humanamente hipostasiada de primeira grandeza”. Esta potência utópica inerente à religião que pretendemos abordar e explorar. PALAVRAS-CHAVE: Crítica antropológica; materialismo; potência utópica. REFERÊNCIAS BLOCH, Ernst. O Princípio Esperança. Volume I e III. Tradução de Nélio Schneider. Rio de Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 2006.

FEUERBACH, Ludwig. A Essência do Cristianismo. Campinas: Papirus, 1988.

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QUESTIONAMENTOS ACERCA DA RESPONSABILIDADE MORAL DO CIENTISTA

João Marcos Granero Ramos*

RESUMO Séculos atrás, com o avanço da tecnologia e com as descobertas e teorias realizadas nas guerras, decaiu sobre a comunidade científica e intelectual fardos que já estavam presentes com os primeiros pensadores das ciências aplicadas, os fardos da responsabilidade moral do cientista, porém com pesos maiores. Mediante essa questão, vários pensadores oriundos de diversos cantos do mundo, se reuniram em 1968, no Congresso de Viena, para debaterem vários temas, mas em especial o que atinge o cerne da consciência ética do cientista, já citado neste parágrafo. Dentre as personalidades que estavam presentes no evento, a de Karl Popper se destacava. Esse pensador, após o congresso, escreveu sobre o assunto com a intenção de problematizá-lo ainda mais e alargar o seu campo de abrangência. O mesmo possuía a compreensão de que não iria trazer contribuições significativas. Ao escrever sobre o tema, o filósofo destacou alguns pontos que podem contribuir com a compreensão do assunto. Dessa maneira, para Karl Popper, grande parte dos cientistas ou técnicos em ciência da atualidade, não aprofundam os seus estudos e pesquisas devidamente. No decorrer dos tempos pensadores como: Maxwelle e Marie Curie, não sofreram tantas dificuldades ao aplicarem suas teorias, eles aprofundaram e fundamentaram ao máximo suas pesquisas. Esse fato, para o pensador austríaco, não é bem visto. Vários países utilizam a ciência como um meio para vencerem a guerra e não a enxergam como uma área que pode proporcionar o bem-estar da sociedade. A ótica de Popper apresenta a concepção de que o estado deve usar o pensamento científico como um meio para aliviar o sofrimento, visto que a felicidade é uma instância que deve ser alcançada por empenho pessoal, já a primeira pode ser aplicada e proliferada pelos sistemas governamentais. No decorrer do texto, Karl Popper contextualiza o juramento de Hipócrates

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e diz que o mesmo é apenas um pequeno passo, porém significante, para a conscientização moral do cientista, já nos primeiros momentos da sua caminhada científica. Segundo o que é apresentado na obra, o juramento de Hipócrates pode levar à questões mais vastas como o alívio do sofrimento. Assim sendo, um dos meios de aliviar o sofrimento é evitar a guerra. O cientista deve possuir a visão de que se o seu país estiver sofrendo ataques, ele pode desenvolver pesquisas e criar utensílios para defender a si mesmo e a sua pátria. Em um clima pacífico, o mesmo não deve ser obrigado a realizar pesquisas para atacar outros países, por dinheiro ou cismas políticas, deve apenas possuir a responsabilidade de contribuir com o bem-estar do seu país e do mundo. A ciência, como expresso anteriormente, é utilizada e vista como um meio de defesa pessoal, podendo causar, se não for bem manejada, complicações que podem criar sequelas físicas e psíquicas em uma pessoa ou várias. O cientista social nesse contexto, possui um papel importantíssimo, o de relatar a sociedade e a comunidade científica os problemas e os efeitos dos atos realizados pelos estados e por determinados pensadores. PALAVRAS-CHAVE: Moral; Ciência e Responsabilidade. REFERÊNCIAS: ALMEIDA, M. Science and morals. Saúde, Ética e Justiça. 2013; 18(2) ;134-6. Disponivel em: <http://dx.doi.org/10.11606/issn.2317-2770.v18i2p134-136>. Acesso em: 21 de out. de 2017.

ARENDT, Hannah. Responsabilidade e julgamento. Trad. Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

EI-HANI, N. C.; QUEIROZ, J. Modos de irredutibilidade das propriedades emergentes. Scientiæ Zudia, São Paulo, v. 3, n. 1, p. 9-41, 2005. Disponivel em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662005000100002>. Acesso em: 21 de out. de 2017.

GOULART, M. C. V et al. Manipulação do genoma humano: ética e direito. Ciência e Saúde coletiva, 15 (Supl. 1): 1709 -1713, 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232010000700082>. Acesso em: 21 de out. de 2017.

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Questionamentos... 139

HAWKING, S. Uma Breve História do Tempo. Trad. Maria Helena Torres. Rio de Janeiro: Rocco, 1988.

HARRIS, S. A Paisagem Moral - Como a Ciência Pode Determinar os Valores Humanos. Trad. Claudio Angelo. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

LACEY, H. A Imparcialidade da Ciência e as Responsabilidades dos Cientistas. ScientiæZudia, São Paulo, v. 9, n. 3, p. 487-500, 2011. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662011000300003>. Acesso em: 21 de out. de 2017.

LACEY, H. Ciência, Respeito à Natureza e Bem-Estar Humano. Scientiæ Zudia, São Paulo, v. 6, n. 3, p. 297-327, 2008. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662008000300002>. Acesso em: 21 de out. de 2017.

MACDOWELL, S. Responsabilidade Social dos Cientistas: Natureza das Ciências Exatas. Estud. av. v.2 n.3. São Paulo set./dez. 1988. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141988000300005>. Acesso em: 14 de out. de 2017.

MARCUSE, H. A Responsabilidade da Ciência. Trad. Marilia Mello Pisani. ScientiæZudia, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 159-64, 2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662009000100008>. Acesso em: 21 de out. de 2017.

POPPER, Karl. O Mito do Contexto: em Defesa da Ciência e da Racionalidade. Trad. Paula Taipas. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2009.

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LII

SARTRE E LEIBNIZ: da construção do conceito de Liberdade

Cristiane Picinini*

RESUMO O que queremos colocar em questão aqui, é como Jean-Paul Sartre, leitor de Gottfried Leibniz, construiu bases para criar o conceito de liberdade, fundamental ao existencialismo para explicar a condição da existência humana, e mostrar os contrapontos de uma filosofia que se baseia na existência de Deus, e outra que a nega totalmente. O problema da liberdade para Leibniz – e, pois, da determinação do ser do homem – também depende, em sua filosofia, da posição conceitual central de Deus. Segundo Leibniz, Deus “controla”, sem eliminá-la, nossa liberdade: a criação e sustentação do mundo implica que este seja, em seu todo, voltado para o bem. Nossas ações, mesmo quando equivocadas, pretendem alcançar o que nos parece o bem, e participam do conjunto de ações que criam, na mente de Deus, o melhor dos mundos possíveis, se partimos de uma infinidade de movimentos. A filosofia leibniziana nos diz que o mundo é composto por inúmeras mônadas, substâncias determinadas que podem se relacionar entre si, mas que já possuem uma determinação, pensada em Deus. Assim, se em Deus todas as possibilidades de cada ente composto estão simultaneamente presentes, e se as mônadas imutáveis que compõem o universo “em movimento”, da “ação”, já têm em si uma determinação eternamente inscrita, como podemos ter de fato escolha livre? Como podemos escolher de modo a que o mundo tenda ao bem previsto por Deus e ainda assim sermos livres? Não podemos ser inautênticos? Sartre não trata especificamente do conceito de substância. Pelo contrário, na mesma linha aberta, por exemplo, por Husserl e toda a tradição fenomenológica, critica o ideal clássico do substancialismo. No caso mais específico da existência humana, não há outra tarefa senão a de dessubstancializar a situação de fato pela qual a condição humana se institui. E isto porque a noção

* UNIOESTE; E-mail: [email protected]

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filosófica central de Sartre é a da liberdade, uma vez que o existencialismo, aqui sartrianamente proposto, exprime uma filosofia da possibilidade, e não da efetividade substancial. Sartre compreende, portanto, a liberdade como projeto lançado, o encontro sempre já dado entre Para-si e Em-si, movimento este em que nos encontramos aptos para construir nossa essência. Somos livres porque podemos escolher que caminho seguir, uma vez ainda que esta liberdade não emana de nenhuma instância superior: o existencialista só acredita no “poder” do próprio homem. Ao contrário de Leibniz, que determinada as substâncias como simplesmente fechadas, nada podendo afetá-las depois, Sartre dá voz à contingência, considerando a possibilidade ontologicamente. Nossa consciência, a priori, não possui nada, requerendo ser afetada pelo mundo. No súbito irromper do possível, que se dá em meio à situação de um projeto, percebemos nossa existência e reconhecemos a existência do outro diante de nós. É a relação entre Para-si (consciência) e Em-si (objetos), de copertencimento ontológico. Se o Para-si é vazio, sua abertura ao Em-si significa a um só tempo a abertura de um mundo “infestado” pela falta constitutiva do Para-si e uma tendência deste último ao ser, isto é, tendência ao Em-si, à determinação, para Sartre, o possível quer ser efetividade. PALAVRAS-CHAVE: Liberdade; Substância; Deus; Possibilidade; Projeto. REFERÊNCIAS BORNHEIM, G. Sartre, Metafísica e Existencialismo. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005

LEIBNIZ, G. W. A Monadologia e outros textos. Org. e Trad. Fernando Luiz B. G. e Souza. São Paulo: Hedra. 2009.

_____. Leibniz: Escritos en torno a la Libertad, el Azar y el Destino. Madrid: Tecnos, 1990.

_____. Essais de théodicée sur la bonté de Dieu, la liberté de l’homme et l’Origine du mal. Chronol. et introd. par J. Brunschwig. Paris: Garnier-Flammarion, 1969.

_____. Discurso de Metafísica. Trad. Marilena Chauí. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Coleção Os Pensadores).

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Sartre e Leibniz... 143

SARTRE, J-P. O existencialismo é um Humanismo. Trad. Rita Correia Guedes. 13. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

_____. O ser e o Nada: Ensaio de uma Ontologia Fenomenológica. Trad. Paulo Perdigão. 16. ed. Petrópolis, RJ: Vozes 2008.

SILVA, L. D. A filosofia de Sartre entre a liberdade e a história. São Carlos: Claraluz, 2010.

SILVA, A. M. V. B. A concepção de liberdade em Sartre. Revista Eletrônica de Pesquisa e Graduação da Unesp, Vol 6, nº 1. 2013. Disponível em: http://www.marilia.unesp.br/#!/revistas-eletronicas/filogenese/edicoes-anteriores/2013---volume-61/.

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"SI VIS PACEM, PARA BELLUM": O problema da "paz" no pensamento de Maquiavel

Douglas Antônio Fedel Zorzo*

RESUMO A questão da "guerra" ocupa uma posição central no pensamento político de Nicolau Maquiavel. Toda a argumentação do Secretário florentino é construída em torno da iminência dos conflitos armados. Para o autor, a guerra é uma realidade inexorável da política. Contudo, a noção de guerra é estruturalmente conectada àquela de paz. No âmago da teoria político-militar maquiaveliana, identificamos o problema da "paz" ter seu núcleo significativo subversivamente deslocado. Por um lado, a "concórdia internacional" revela-se intimamente atrelada à capacidade militar dos Estados, tornando-se dependente da predisposição para a guerra; por outro, a paz pode representar um risco cáustico para os organismos políticos, responsável pela corrupção das cidades que imergem no estado de abdicação dos conflitos. Assim, diante da importância inovativa dessa problemática, nosso escrito possui duas diretrizes centrais. Em primeiro lugar, buscaremos avaliar como, para Maquiavel, a paz não se constitui como a ausência absoluta da guerra, mas como sua inesgotável preparação. Recuperando a sentença latina do "si vis pacem, para bellum", seu pensamento postula que a garantia da paz reside na preparação das condições de defesa de um Estado. A paz é desejável somente diante da condição que durante sua vigência haja a preparação permanente para a guerra. O exercício militar deve ser uma constante preocupação dos dirigentes políticos. Portanto, a capacidade para a guerra é reconhecida como um dos recursos vitais do Estado, inclusive daqueles que ambicionam manter uma ordenação de paz. Ao invés de antitéticos, a predisposição para a batalha representa a condição de possibilidade para um estado de não beligerância. O binômio "guerra e paz" é operado como dois termos indissociáveis, cada qual sendo útil para pensar o outro, porque a passagem entre eles é frequentemente provável. Em segundo

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lugar, procuraremos analisar o controverso argumento maquiaveliano segundo o qual a paz plena, o completo silêncio dos movimentos militares, representa a corrosão do corpo político por dois vieses: um externo, como vítima de outra potência militarmente preparada; outro interno, com a corrupção propiciada pelo ócio, efeminação e divisão das cidades em grupos partidários. Nessa instância, Maquiavel opera uma clara inversão, apontando não mais para a malignidade da guerra, mas de uma certa inconveniência da paz. Considerando a inevitabilidade dos conflitos, a guerra não deve ser vista como maléfica, mas as ações que são tomadas durante a paz que desconsideram sua iminência. A paz comporta uma consequência profunda, que estabelece a ruína dos Estados: faz nascer o "ócio", condição que torna as cidades "efeminadas". O período intermitente entre os conflitos insere a ociosidade como um elemento corrosivo para o tecido político e social. Tal rovina não deriva exclusivamente do domínio de um Estado estrangeiro, diante da inanição militar causada pela falsa aparência de tranquilidade, mas também internamente, com o ócio espalhando a paralisia da preparação à guerra. O ócio transforma as cidades em "effeminate o divise": frívolas, vistas como presa fácil para uma conquista estrangeira; divididas, sem um inimigo em comum para congregar os indivíduos diante de uma causa compartilhada, aumenta a potencialidade de uma guerra civil. PALAVRAS-CHAVE: Maquiavel; guerra e política; guerra e paz; pensamento militar. REFERÊNCIAS CICERONE, M. Tullio. Le Filippiche. In: Le Orazioni. Vol. IV. A cura di Giovanni Bellardi. Torino: UTET, 1978.

FOURNEL, Jean-Louis; ZANCARINI, Jean-Claude. Guerra e pace. In: SASSO, Gennaro (A cura di). Machiavelli: Enciclopedia Machiavelliana. Vol. I. Roma: Istituto della Enciclopedia Italiana fondata da Giovanni Treccani, 2014, p. 674-679.

MACHIAVELLI, Niccolò. Opere. A cura di Corrado Vivanti. Torino: Einaudi-Gallimard, 1997.

MAQUIAVEL, Nicolau. A Arte da Guerra. Tradução de MF. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

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Si vis pacem, para bellum... 147

_____. Discursos sobre a primeira década de Tito Livio. Tradução de MF. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

_____. História de Florença. Tradução de MF. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

_____. O Príncipe. 2ªed. Tradução de Maria Júlia Goldwasser. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

NEPOTE, Cornelio. Opere. A cura di Leopoldo Agnes. Torino: UTET, 1977.

VEGEZIO, Flavio Renato. L'Arte Militare. Traduzione di Antonio Angelini. Roma: Stato Maggiore dell'Esercito Ufficio Storico, 1984.

ZANZI, Luigi. Machiavelli e gli "Svizzeri": e altre "machiavellerie" filosofiche concernenti la natura, la guerra, lo stato, a società, l'etica e la civiltà. Bellinzona: Edizioni Casagrande, 2009.

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SOBRE A DEFINIÇÃO DE TEMPO (ΚΡΌΝΟΣ) NA FÍSICA DE ARISTÓTELES

Suellen Dantas Godoi*

RESUMO Em suas lições sobre a Física, Aristóteles pergunta pelos entes que possuem em si mesmos a mobilidade ou capacidade de mudança, a fim de investigar o princípio do Movimento, isto é, de toda e qualquer transformação; no Livro IV, depois de tratar da natureza do Lugar (τόπος), o filósofo inicia o que ficaria conhecido pela tradição como “tratado do tempo” (Fís. IV, 10-14). A passagem entre esses temas é consequente, se pensarmos que até mesmo a noção mais elementar de movimento – o deslocamento – transcorre, aparentemente, “em” um lugar e “no” tempo. Qual é, porém, a origem dessa aparência tão determinante de nossa experiência cotidiana? Além disso, parece não haver meio de falar de movimento sem falar de tempo. Por isso, convém perguntar o que é o tempo, em sua distinção relativamente ao movimento. Nosso intento, no presente projeto, é investigar essa questão a partir de algumas recentes abordagens, dado que a leitura do tratado aristotélico foi renovada nas últimas décadas. Para tanto, buscaremos, além de consultar comentadores relevantes (Couloubaritsis, Coope, Berti), analisar especificamente a estrutura da definição aristotélica de tempo, expondo o sentido dos conceitos que a compõem ou que são por ela pressupostos, como

movimento (μεταβολή / κίνησις), anterior-posterior (πρότερον ᾽καί

ὕστερον), magnitude (μέγεθος), número (ἀριθμός) e agora (τὸ νυν). Este último, embora não sendo parte formal da definição, mostrar-se-á de essencial relevância para o entendimento da temporalidade aristotélica. Começaremos fundamentando o objetivo geral da Física como estudo dos entes determinados pelo movimento; prosseguiremos mostrando como e por que se dá a passagem de tema da mobilidade para a investigação sobre o tempo; a partir disso, passaremos ao exame da natureza do tempo, de

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acordo com a definição mencionada, constante do capítulo onze do livro quarto da Física. Ao final, tentaremos responder, ou compreender melhor, algumas questões, como as que seguem. Se o tempo não é movimento, mas algo relativo a ele, como se dá e determina essa relação de “pertença”? Pode-se conceber um movimento sem tempo? Por que o Agora não é uma parte do tempo, para Aristóteles, se cotidianamente se diz que o tempo é uma sequência de agoras (e até se atribui a Aristóteles essa posição)? Por que o Agora, sendo origem do tempo, não aparece na definição? Se na alma (pensamento) só se percebe o tempo quando há percepção de movimento ou mudança, então o tempo é menos originário que o movimento? O tempo é um modo de percebermos o movimento ou existe em si mesmo? PALAVRAS-CHAVE: Aristóteles; Física; Tempo; Movimento; Agora. REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. Física. Trad. Guillermo R. de Echandía. 1ª ed. Madrid: Gredos, 2007.

_____. Metafísica. Livros VII e VIII. Trad. Lucas Angioni. In: Clássicos da Filosofia: Cadernos de Tradução. Nº 11. UNICAMP/IFCH, 2005 – p.16-165.

_____. Metafísica. Livros IV e VI. Trad. Lucas Angioni. In: Clássicos da Filosofia: Cadernos de Tradução. Nº 14. UNICAMP/IFCH, 2007 – p.12-59.

_____. Metafísica. Trad. Valentín García Yebra. Madrid: Gredos, 1990.

_____. Physics. Trad. William David Ross. New York: Oxford University Press, 1936.

BERTI, Enrico. Novos Estudos Aristotélicos II – Física, Antropologia e Metafísica. São Paulo: Edições Loyola, 2011.

BRAGUE, Remi. O tempo em Platão e Aristóteles. Trad.: Nicolás Campanário. São Paulo: Loyola, 2006.

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Sobre a definição de tempo... 151

COOPE, Ursula. Time for Aristotle – Physics IV 10-14. L’avenement: Oxford University Press, 2009.

COULOUBARITSIS, Lambros. La Physique d’Aristote. L’avenement de la science physique. Bruxelles: Ousia, 1997.

PUENTE, Fernando Rey. Os Sentidos do Tempo em Aristóteles. 1998. Tese de Doutorado em Filosofia – UNICAMP, Campinas.

PUENTE, Fernando Rey. “Algumas aporias sobre o conhecimento do Tempo em Aristóteles”. Hypnos, São Paulo, v.12, n.18, p.29-41, 1º sem. 2007.

PUENTE, Fernando Rey. Ensaios sobre o tempo na filosofia antiga. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012.

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OS ORGANIZADORES:

CÉLIA MACHADO BENVENHO é doutoranda em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná; é Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2008), financiado pelo CNPQ, na linha de pesquisa Metafísica e Conhecimento. Possui graduação em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (1994). Especialista em Administração e Planejamento de Sistemas Educacionais pela UNIPAR - Universidade Paranaense (1997), e especialista em Computação Aplicada ao Ensino pela Universidade estadual de Maringá (1998). Atualmente é professor Assistente da UNIOESTE - campus de Toledo.

E-mail: [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/9781758140510682

JOSÉ FRANCISCO DE ASSIS DIAS é Licenciado em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo - RS (1996) e Bacharel em Teologia pela Unicesumar (2014); Especialista em Docência no Ensino Superior pela Unicesumar (2015); Mestre em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (1992); Mestre em Filosofia pela mesma Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (2006); Doutor em Direito Canônico também pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (2005); Doutor em Filosofia também pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (2008). Atualmente é professor Adjunto da UNIOESTE, no Campus de Toledo-PR, onde é Coordenador do curso de Licenciatura em Filosofia; Pesquisador do Grupo de Pesquisa “ÉTICA E POLÍTICA”, da UNIOESTE, CCHS, Campus de Toledo-PR; parecerista de revistas filosóficas e juristas.

E-mail: [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/9950007997056231

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JUNIOR CUNHA é graduando do curso de Licenciatura em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo-PR. É estagiário da Biblioteca Universitária da UNIOESTE-Campus Toledo. Bolsista – no período de 01 de junho de 2016 a 31 de março de 2017 – do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), vinculado a CAPES/MEC. Bolsista – no período de 1 de abril de 2017 até 31 de março de 2018 – do Projeto de Extensão Teatro em Ação, vinculado ao Programa Universidade Sem Fronteiras-USF, financiado com recursos do Fundo Paraná. Atualmente desenvolve pesquisa nas áreas de Teatro e Filosofia com enfoque em William Shakespeare e Friedrich Nietzsche.

E-mail: [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/7824455868007103

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